Horne, B. Depois Do Passe
Horne, B. Depois Do Passe
Horne, B. Depois Do Passe
XUAÇÃO
DEPOIS DO PASSE
Bernardino Horne
Introdução
Desde o momento fundador da psicanálise, a estratégia de Freud
consistiu em construir a teoria pautando-se no que a clínica lhe indi-
evidências clinicas
Canaliticae também modificá-la à medida que as
isso
Exigiam. Assim, o dispositivo lugar fixo (a rigor,
se tormou o
se move,
mantem desde antes 1900) e a teoria, o lugar daquilo que
Lacan que, ao propor
a. procedimento freudiano é claro para
Esse
seus
o faz estudando
CLOrno à obra de Freud, a seus fundamentos,
em rans
casos clínicos. Depois da morte de
Lacan, quando
Ades un
havi uietação, desorientação e esperava-se,
até certo ponto,
e pela
Psicanálise (EBP)
Brasileira de
da Escola (AME), pela Escola
bro
Associação Mundial de Psicanálise.
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retorno d Lacan, Jacques-Alain Miller propós um retorno à eli
uma orientação lacaniana, no campo abertO por Freud, com h clinica:
na
perspectiva clínica. Mais recentemente, corroborando essa
manei-
ra de proceder, Miller afirmou que a prática da teoria,
como dizia
Althusser, não tem lugar entre nos. Acrescenta que nosso interesse
deve estar voltado unicamente para a teoria da clínica!.
Ss
Em 1967, quando Lacan' propös o passe (nome genérico dado por
ele ao final da análise), possibilitou que diversas formas de final
vies-
sem agrupar-se como passe. Isso tem grandes vantagens heurísticas.
pois permite, por meio do estudo de cada passe, fazer teoria da clinica
do final de análise e propor novas formas de pensá-lo, teorizá-lo. Essa
é uma das tarefas centrais da Escola, uma vez que as diferenças na
concepção do final de análise estão presentes nos diversos grupos
analíticos.
Assim como o dispositivo analítico é o ponto fixo que permitiu
criar a teoria e, dia a dia, ajustá-la, o passe, no que concerne ao final
da análise, funciona como dispositivo permanente, possibilitando que
a teoria do final de análise vá sendo elaborada e modificada com base
no estudo de cada passe, das transformações da teoria que são, sem
dúvida, articuladas ao trabalho sobre os casos clínicos que os Analis-
tas da Escola (AEs) oferecem à Escola como tarefa a ser realizada.
Ao receber sua nomeação, um AE se defronta com duas questöes
centrais. Uma diz respeito ao relato do momento crucial de seu passe
clinico para, desse modo, oferecê-lo à elaboração teórica de seus cole-
gas Membros da Escola. A outra implica o fato de ele mesmo realzar
uma elaboração teórica de seu passe com as ferramentas conceuals
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A seguir, apresentarei, na
perspectiva dos dias de hoje, alguns
pontos de meu passe realizado em 1995,
1. A satisfação no final
direção ao Nome-do-Pai.
COmo satisfação da pulsão de morte, em
d
ue contémo pintinho esmagado,
mas que não estaesmagado
PCSse "Não!" do Supereu. Nessa nova perspectiva, o pintinno es
feminino dentro do Varão e o coneea con
4d0 toma a forma do
certas delicadezas da VIda, como a poesia e o amor. Em
Em seu texto
sobre o humor, Freud se interessa
por essas manobras do suicito
que
permitem grandes transposições de libido.
Ea satisfação da pulsão depois do final?
Escrevi a travessia da fantasia como um saber do sujeito: S =a
a,
saber que o sujeito barrado é igual ao objeto a da fantasia, Assim
pode-se entender Miller quando diz que a travessia da fantasia de.
signa, em termos freudianos, uma abertura da condição de amor nas
escolhas de objeto do sujeito".
Abrem-se tanto a dimensão do amor quanto a evidência da fixação
de gozo-pura satisfação da pulsão de morte - dessefalasser singu-
2. O inconsciente real
uma ficção. [...] Ao mesmo tempo [...], é uma experiência que cou
da
SISte em desfazer essa ficção. [..] A psicanálise não é o trunto
re-
ficção. Nela, a ficção é posta à prova em sua impotência pald
solver a opacidade do real".
do
Em
alguns testemunhos, relato que, em seguida à interpic
primeiro Sonho e como efeito do desenvolvimento da transferência,
ietro
dOIS lapsos. Um deles foi o equívoco que cometi ao
s na
quando, ao invés de ta, desci
dirigir-me ao consultório d0 aid de conhecer
direção contrária e fiquei
completamente perdido, apesa u r o de um
u t o bem uro de un
o
lugar. Num certo momento, parei diante do
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aitério, totalmente desorientado, sem saber onde estava ou
para
nde it. Cheguei tarde a sessao. O cemiterio conduziu-me à interpre-
à morte do pai, o que foi muito bem
relativa
tação pontuado porqueeo
Qutro lapso me havia levado em direção ao filho.
Tempos depois, já terminada a análise, lembrei-me de um episódi0
de minha vida que fora muito estranho e se referia a algo do nunca
analisado. Na época em que estudava medicina, quando fui me ma-
tricular para as disciplinas do 5° ano, dirigi-me a um andar elevado da
Faculdade, porque havia entendido que era ali, e comecei a caminhar,
completamente perdido, por corredores vazios. Havia um sentimento
estranho. A sensação foi a de que nunca mais poderia sair dali. Senti-
me num momento subjetivo extremamente dificil. Tudo vazio, tudo
fechado, e eu sem reação. Por associação, tive também outras lem
branças caracterizadas por algo de estranho, autístico.
A interpretação da morte do pai, do luto, etc., cobriu essa borda
do inconsciente real, algo que não sei explicar. Trata-se de algo sem
palavras, embora agora, vez por outra, eu o detecte, por exemplo,
quando tenho de me inscrever em um congresso e me parece quase
de 1995
3. Hå um mais além do franqueamento. O passe
de
centrado na "Proposição
Meu passe de 1995 está teoricamente
frase: "Essa
em torno da seguinte
d e outubro". O eixo central gira
SOmbra espessa que encobre a junção
de que me ocupo aqui, aquela
Escola
psicanalista, é ela que nossa
que psicanalisante passa a
o
pode empenhar-se em dissipar"
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Equiparei a sombra espessa a fantasia. Vali-me da frase do
Sinthoma
S0a
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Sabemos, porèm, que o ser e o
ODjeto a sao semblantes. E, a rigor,
cerá que podemos diZer algo que não fosse
semblante? Quando che.
mos ao inconsciente real, sera que podemos dizer algo?
Em ianeiro de 1997, numa apresentaço feita por mim no Curso
de Orientação Lacaniana, ao anrmar a perspectiva de meu passe do
ponto de VIsta do gOZo, disse o seguinte:
4. Feminino
modos: 1) como
Em 1995, posição feminina de dois
concebi a
do gozo em posição de
aceitação da castração e 2) como aceitação
o Outro
ODJeto (essa posição, na lógica do varão, é rechaçada para
Sexo e se torna, assim, seu objeto e seu sintoma).
de objeto
Como a é uma mulher, sujeito em sua posição
o gozo do
na posição
de objeto da
Cum gozo de mulher. O S masculino goza
ser transferidos
à mulher
dc, C Os traços (a) de seu gozo devem
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que causa seu desejo. Mediante diversoS mecanismos obsesoi.
Avellar Ribeiro
Tradução: Vera
Tradução:
Sérgio Laa
Revisão da
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NOTAS
semunario ocor
Essa frase foi pronunciada por Mauricio Tarrab em uma lição de um
TIdo na Escuela de Orientación Lacaniana (EOL) em 2009. N.E.: Essa lição encontra-se
traduzida e publicada neste número da Correio.
REFERENCIAS Amorrortu,
Buenos Aires:
FREU gmund. Duelo y melancolia.
Completas de
19R0 das Obras Psicológicas
Edição Standard Brasileira
SSigmund Freud, v. XIV,14).
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FREUD, Sigmund (1927). O humor. Rio de Janeiro
(EdiçãoStandard Brasileira das Obras Imago, 1974
Psicológicas Completas1974
Sigmund Freud, 21). de
GUÉGUEN, Pierre-Gilles. Observaçoes sobre o conceito de Fiv
em sua relação com o tempo. Opço Lacaniana, São Paulo, n. cierung 1 mar
1994.