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Do Conhecimento À Ideia, e Da Ideia
Do Conhecimento À Ideia, e Da Ideia
Do Conhecimento À Ideia, e Da Ideia
DUSAN SCHREIBER
Resumo
Este artigo tem como objetivo compreender de que forma ocorrem
os processos de gestão do conhecimento e gestão da inovação vi-
sando identificar como a gestão do conhecimento contribui para
a fase de ideação. Foi desenvolvido um estudo de caso em uma
subsidiária de uma multinacional do setor agroindustrial locali-
zada no Brasil. Os dados foram coletados por meio de entrevistas,
levantamento e análise de documentos, com colaboradores de
diferentes níveis gerenciais. Foi possível identificar que existe
uma relação direta entre a gestão do conhecimento e o processo
de ideação na empresa. O registro da busca por ideias, a seleção
e implementação constituem o processo interno de inovação, no
qual a organização e os colaboradores aprendem juntos e inovam
de forma cíclica. A interface entre essas áreas pode colaborar para
o melhor desempenho organizacional e o desenvolvimento de
novas estratégias organizacionais, permitindo o melhor uso do co-
nhecimento, reduzindo riscos e acelerando processos de inovação.
Palavras-chave: Conhecimento. Ideias. Criatividade. Inovação.
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Moema Pereira Nunes
Abstract
This article aims to understand how knowledge management
and innovation management processes occur in order to identify
how knowledge management contributes to the ideation phase.
A case study was developed in a subsidiary of a multinational
in the agro-industrial sector located in Brazil. Data were collec-
ted through interviews, survey and analysis of documents, with
employees from different management levels. It was possible to
identify that there is a direct relationship between knowledge
management and the ideation process in the company. The re-
gistration of the search for ideas, selection and implementation
constitute the internal innovation process, in which the organi-
zation and employees learn together and innovate in a cyclical
manner. The interface between these areas can collaborate for
better organizational performance and the development of new
organizational strategies, allowing the best use of knowledge,
reducing risks and accelerating innovation processes.
Keywords: Knowledge. Ideas. Creativity. Innovation.
Introdução
O conhecimento resulta da cognição e habilidades que os in-
divíduos utilizam para solucionar problemas e gerar algo novo. O
conhecimento emerge de dados e informações que estão diretamente
ligados às pessoas (PROBST; RAUB; ROMHARDT, 2002). O conheci-
mento é um conjunto formado por experiências, valores, informação
de contexto e criatividade aplicada. Para transformar dados em infor-
mações são necessárias ferramentas, e para transformar informação
em conhecimento é necessário tempo (TEIXEIRA FILHO, 2000). O
conhecimento tem a sua origem diretamente conectada aos indiví-
duos, sendo criado a partir da criatividade empregada no processo
de interpretação de dados e informações sob o filtro perceptivo e
idiossincrático de cada indivíduo, bem como é construído a partir de
experiências, valores, intuição, insights e expertise. O conhecimento
provido do indivíduo e aliado a uma estratégia pode gerar conheci-
mento orientado a resultados (PROBST; RAUB; ROMHARDT, 2002).
A produção de conhecimento é estimulada pela criatividade,
liberdade e pelo contexto favorável, aliando novas formas de pensar
às experiências e valores de cada indivíduo, tornando o conheci-
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Gestão do conhecimento
O conhecimento representa um recurso ilimitado, um ativo
que se valoriza com o uso. Como destacam Davenport, Marchand
e Disckson (2000), o conhecimento é um dos principais ativos das
organizações, sendo fonte de vantagem competitiva sustentável.
O conhecimento é algo inseparável das pessoas (TEIXEIRA FI-
LHO, 2000), sendo criado apenas pelos indivíduos (TAKEUCHI;
NONAKA, 2008). Para que efetivamente se transforme em recurso
organizacional, as empresas precisam apoiar e estimular as ativida-
des criadoras de conhecimento pelos indivíduos, proporcionando
contextos apropriados. O conhecimento é mais profundo e rico
que a informação, pois atribui especialização, experiência, valores
e insights estruturados (BESSANT; TIDD, 2009).
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Geração do conhecimento
A geração do conhecimento ocorre no âmbito interno de cada
indivíduo. As informações do ambiente externo, filtradas pelo
indivíduo, agregam-se aos valores e ao modelo mental do agente
observador e gerador do conhecimento. De acordo com De Sordi
(2015), a ciência de fatos, verdades e informações são agregadas às
experiências anteriores dos indivíduos, e trabalhadas conforme sua
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Processo de inovação
O processo de GI fomenta a geração de ideias inovadoras, por
meio da criação de um contexto e ambiente adequado para tal. Este
processo ocorre desde a geração de ideias até a sua implementação,
podendo ter aplicabilidade em produtos, práticas, processos ou
serviços (PIERACCIANI, 2008; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; RO-
CHA; SANTOS; VIEIRA, 2018). O processo de inovação é composto
por etapas que são relacionadas de formas diferentes na literatura:
busca, seleção e implementação (BESSANT; TIDD, 2009); busca,
seleção, implementação e aprendizagem (TIDD; BESSANT; PAVITT,
2008); ideação, conceituação, experimentação e implementação
(SCHERER; CARLOMAGNO, 2009); iniciação, informação, ideação,
invenção, implementação e instrumentação (BES; KOTLER, 2011);
inspiração, ideação e implementação (BROWN, 2010).
De modo geral, as primeiras etapas do processo de inovação
referem-se à busca, a qual contempla a ideação, fomento de ideias,
motivação a fazer e pensar diferente. Esta fase é realizada por meio
de rotinas genéricas de busca, inspiração, captura e articulação.
Estas ações exigem conexão e relacionamento entre a organização e
o indivíduo colaborador e suas ideias, por meio de incentivos inter-
nos, ambientes que estimulem a criatividade e uma gestão próxima.
Nessa fase é identificado o indivíduo, como elemento central para
a inovação organizacional, e a ideação, como princípio fundante da
GC (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008; BESSANT; TIDD, 2009; SCHE-
RER; CARLOMAGNO, 2009; BROWN, 2010; BES; KOTLER, 2011).
A segunda etapa consiste na seleção das ideias geradas. Esta
fase é orientada por rotinas de contextualização das ideias com
a missão e valor da organização e com uma perspectiva externa
de mercado, para posterior aplicação das ideias. A aplicação está
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Criatividade e Ideação
A ideação ou o fato de gerar ideias tem como matéria prima
a criatividade. A criatividade é originada de um processo social
relacionado à informação e ao conhecimento, que por sua vez gera
inovação (GALUK; ZEN; BITTENCOURT; MATTOS; MENEZES,
2016). Amabile (1998) destaca três elementos como itens basilares
na criatividade: expertise, raciocínio criativo e motivação. Kao (1997)
ressalta que a criatividade envolve o lançamento de novas ideias e
a disciplina de transformá-las em realidade, por meio da execução.
Todos podem ser criativos (KAO, 1997; ROCHA, 2009) pois a criati-
vidade está presente em cada ser humano. Cabe a cada um encontrar
a melhor forma de manifestá-la, explorá-la e desenvolvê-la.
A primeira fase do processo de inovação, a ideação, consiste na
captação de ideias advindas tanto do interior como do exterior da
empresa. Como as ideias são a matéria-prima da inovação, deve-se
estimular constantemente a alimentação de novas ideias (SCHERER;
CARLOMAGNO, 2009). A ideação nas organizações deriva de uma
série de determinantes multidisciplinares organizacionais, tais como
práticas de gestão, delineações estratégicas, políticas de incentivo, re-
des de relacionamentos e cultura corporativa (PIERACCIANI, 2008),
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Método de pesquisa
Para atender aos objetivos desta investigação foi desenvolvida
uma pesquisa aplicada, de natureza descritiva. Como procedimento
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Considerações finais
A relação entre as atividades de GC pelas organizações e a
condução do processo de inovação, em especial no que tange a fase
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