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Roberio Jose Santos Junior
Roberio Jose Santos Junior
Roberio Jose Santos Junior
SÃO CRISTÓVÃO/ SE
2021
1
ROBÉRIO JOSÉ SANTOS JUNIOR
Dissertação de Mestrado
apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em História da
Universidade Federal de Sergipe,
como requisito para obtenção do
grau de Mestre em História.
SÃO CRISTÓVÃO/ SE
2021
2
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CDU 930:242-557(813.8)
3
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca examinadora:
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa (UFS)
___________________________________________________________________
Profª. Dra. Verônica Maria Menezes Nunes (UFS)
Examinadora externa
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro dos Santos (UFS)
Examinador interno
4
Dedico esta dissertação de mestrado a Deus, a minha mãe
Eliana de Andrade Nascimento e a minha irmã Paula Roberta
de Andrade Nascimento Santos, por sempre estarem presentes
em minha vida.
5
AGRADECIMENTOS
6
À professora, Anailta Dias Rabelo, do Colégio Estadual Governador Roberto
Santos, pois foi a pessoa que me fez despertar o desejo de fazer uma graduação em
História.
Ao meu brilhante e inesquecível professor, Alexandre Barreto Júnior, por
sempre me incentivar e mostrar o caminho certo a ser seguido. Obrigado por todos
os momentos que me mostrou como seria tudo difícil, mas que somente com meu
esforço e minha dedicação seria capaz de quebrar todas as dificuldades
encontradas no percurso da vida, se não fosse as suas palavras sábias eu não teria
feito um curso de nível superior e tampouco conquistado um título acadêmico tão
importante como o mestrado.
À professora, Mariana Emanuelle Barreto de Gois, coordenadora do Centro
Universitário AGES, pelos puxões de orelha que me trouxeram até aqui; graças a
você consegui perceber que o sucesso é relativo ao esforço que se faz, se não fosse
por você e pelos seus incentivos eu não teria seguido em frente e alimentado o
sonho da formação acadêmica e do mestrado.
Ao professor e amigo, Rafael Santa Rosa Cerqueira, do Centro Universitário
AGES, por me apoiar e ser meu parceiro de pesquisa; com ele e por causa dele parti
para uma área de estudos relativamente nova, que é a morte, e percebi que era
justamente esse o caminho no qual deveria seguir em frente; olhando para este
trabalho dissertativo de mestrado, lembro-me das vezes que me ajudou
emprestando seus livros para que eu pudesse estudar. Obrigado mestre! Seguirei
seus ensinamentos.
Aos meus queridos professores, Santiago Andrade, Igor Fonseca de Oliveira,
Francisco José, João Freire, Elaine Lima, Társio Roberto Macedo, por todas as
contribuições que forneceram no decorrer dessa jornada acadêmica. Muito obrigado
por todos os conhecimentos passados de forma sábia, divertida e inspiradora.
Agradeço profundamente a todos vocês e espero encontrá-los sempre nas jornadas
acadêmicas.
A todos que fazem parte da Universidade Federal de Sergipe, instituição que
me acolheu de braços abertos, fazendo jus a sua linda história como grande e
inspiradora universidade que é.
Aos funcionários do departamento de História da Universidade Federal de
Sergipe (PROHIS).
7
Aos meus professores do mestrado, pois posso afirmar que nunca tinha
adquirido tanto conhecimento em História como o que adquirir com eles nesses
últimos dois anos de Universidade Federal de Sergipe.
Ao professor, Carlos de Oliveira Malaquias, pelas brilhantes aulas e pelos
debates em sala; aprendi muito com o senhor, muito obrigado por tudo!
Ao professor, Claudefranklin Monteiro Santos, pelas brilhantes aulas e pelos
seus ensinamentos tanto no campo da História quanto da vida.
À professora, Camila Barreto Avelino, por ter nos ensinado muito e pelo
carisma e compreensão nos nossos momentos mais difíceis.
Ao professor, Thiago Lenine, o meu primeiro professor quando ingressei no
curso de mestrado, pelas brilhantes aulas e debates em níveis altíssimos, sem
dúvida aprendi muito com o senhor.
À professora, Edna Maria Matos Antônio, coordenadora do programa de
mestrado em História da Universidade Federal de Sergipe, além das instigantes
aulas, tenho que destacar o lado humano, pois, enquanto coordenadora a mesma
sempre esteve disposta a nos ouvir, sempre ajudando naquilo que estava ao seu
alcance, muito obrigado por tudo minha querida professora Edna!
Agradeço veementemente, ao meu professor e orientador do mestrado,
Antônio Lindvaldo Sousa, pela brilhante orientação na construção da minha
dissertação, sempre apontando os meus erros para que pudesse corrigi-los, além de
exaltar meus acertos. Gostaria de reforçar meus agradecimentos ao senhor, pois
passei por momentos muito complicados, por causa da distância que me atrapalhou
muito nesse processo de curso de mestrado, mas o senhor sempre esteve disposto
a ajudar e compreender esses problemas. Agradeço-lhe por tudo, tê-lo como meu
orientador numa jornada tão importante como essa do mestrado foi uma das
melhores coisas que aconteceu na minha vida. Muito obrigado por tudo!
Não poderia deixar de agradecer aqueles que sofreram comigo nesses
últimos dois anos de mestrado na Universidade Federal de Sergipe, isto é, aos meus
colegas, que tanto me ajudaram e proporcionaram debates em excelentes níveis,
desde o primeiro até o último dia de aula. Fiz muitos colegas e amigos para a vida
toda, foi uma honra e uma enorme satisfação adquirir esse título de mestre ao lado
de todos vocês, dizer que todos são excelentes professores e pesquisadores e que
Deus ilumine cada vez mais a vida de cada um. Muito obrigado por tudo! Miriam,
Pricila, Taís, Pedro André, Sakay, Max Cardoso, Renata Mascarenhas, Jane Silva,
8
Johnatas Santos, Dário, Taylane, Edilene Muniz, Mallu Ticiane, Bruno, Pedro Samyr,
Matheus.
Enfim, agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente com minha
pesquisa acadêmica a qual resultou nesta dissertação de mestrado. Sem dúvida
alguma, se hoje estou conseguindo finalizar um curso tão importante como este, é
por causa de todos vocês. Gratidão!
9
“A antiga atitude segundo a qual a morte é ao mesmo tempo familiar e próxima, por
um lado, e atenuada e indiferente, por outro, opõe-se acentuadamente à nossa,
segundo a qual a morte amedronta a ponto de não mais ousarmos dizer seu nome.”
Philippe Ariès
10
RESUMO
11
ABSTRACT
The present work analyzes the representation of death in Paripiranga-Bahia between the
decades of 1919 to 1961, bringing up the main events that were directly or indirectly linked to
death. A priori, it was possible to understand the main facts that marked the initial formation
of the city, highlighting the character of Father João de Matos Freire de Carvalho, as well as
the entire process of building a new cemetery for the site, meeting the desires of the new
hygienist laws. from Europe, which gained strength in Brazil in the first decades of the
twentieth century. Then, I present the funeral representations in the speeches produced by
the press men who worked at the newspaper O Paladino (1919-1938), observing, above all,
the obituary notes and the annunciations focused on the subject in question. Finally, I
examine the role of the newspaper O Ideal for the realization of new funeral practices in the
city of Paripiranga-Bahia (1953-1961), listing the trajectory of the periodical as an important
means of social communication, the criticisms printed and the chronicles of the day of the
dead. Thus understanding that it was not only Father João de Matos and the Catholic Church
who were solely responsible for matters related to death. But that also, newspapers and
pressmen contributed in this social and religious context.
12
LISTA DE IMAGENS
13
Paripiranga-Bahia. Década de 1950...............................................................96
14
LISTA DE SIGLAS
15
LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS
16
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 18
I
A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CEMITÉRIO NA VILA DE NOSSA SENHORA DO
PATROCÍNIO DO COITÉ .................................................................................................... 29
1.1 A formação inicial de Paripiranga-Bahia .......................................................................31
1.2 A importância da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio e do Padre João de
Matos Freire de Carvalho para a consolidação do catolicismo na região..............................39
1.3 A Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité antes do cemitério
novo........................................................................................................................................47
1.4 O fim de algumas práticas religiosas de enterramento com a introdução das novas leis
higienistas...............................................................................................................................63
II
OS DISCURSOS SOBRE A MORTE NO JORNAL O PALADINO (1919-
1938)................................. .................. ...................................................................................70
2.1 O surgimento do jornal O Paladino e suas características .............................................71
2.2 Produção inicial do periódico e suas principais dificuldades...........................................74
2.3 Os eventos fúnebres como meio de socialização............................................................77
2.4 Os diferentes discursos sobre a morte dos indivíduos mais e menos influentes na
sociedade da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité................................................83
2.5 As notas necrológicas como meio de comunicação social acerca dos processos
fúnebres..................................................................................................................................91
2.6 A importância dos jornais na Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.................94
III
O PAPEL DO JORNAL O IDEAL PARA A CONCRETIZAÇÃO DAS NOVAS PRÁTICAS
FÚNEBRES (1953-1961).......................................................................................................99
3.1 A trajetória do jornal O Ideal..........................................................................................100
3.2 As críticas estampadas no periódico e o código de posturas da cidade ......................108
3.3 Morte e poesia: os escritos do dia de finados no impresso e suas representações......118
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 127
FONTES...............................................................................................................................131
REFERÊNCIAS............................................................................................................... .... 133
17
INTRODUÇÃO
18
país ideias higienistas – vindas da Europa – que buscavam combater a proliferação
de miasmas” (CERQUEIRA, 2014. p. 15).
Os estudos sobre a temática da morte vêm sendo cada vez mais
trabalhados no campo da historiografia brasileira, pois possibilitam um bom
entendimento acerca de uma determinada sociedade que se deseja estudar, claro
que dentro da proposta da pesquisa em questão. Partindo desse pressuposto, é
possível dizer que o estudo da morte pode ser feito do ponto de vista cultural e das
mentalidades, visto que as práticas fúnebres entrelaçadas aos aspectos religiosos
de uma determinada comunidade expõem as relações e as representações sobre o
tema.
A cidade de Paripiranga-Bahia dentro do recorte temporal deste trabalho era
denominada Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, nomenclatura aplicada
pela Lei Provincial n.º 2.553, de 01 de Maio de 1886, mas depois de algum tempo
houve outra mudança com relação à nomenclatura, feita Pelo Decreto Estadual n.º
7.341, de 30 Março de 1931, o município de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité
tomou o nome de Paripiranga. Não esquecendo que anteriormente a esses dois
nomes existiu um primeiro que era Malhada Vermelha, nomenclatura que surge
assim que o lugar é ocupado pelos colonos, “A primeira penetração no território
ocorreu no século XVII, quando colonos portugueses se fixaram no município,
fazendo nascer à povoação de Malhada Vermelha, cujo nome foi mais tarde,
mudado para Patrocínio do Coité, hoje cidade de Paripiranga” (PARIPIRANGA-BA,
2011, p. 01).
Já com relação à dinâmica social da Vila de Patrocínio do Coité, podemos
dizer que era basicamente advinda das práticas e comemorações religiosas,
sobretudo porque o povoamento do lugar ocorreu ao redor de uma capela, onde,
consequentemente as pessoas eram bastante religiosas e praticavam seus atos de
fé. Porém, segundo (ANDRADE, 2016, p. 06) as pessoas que moravam nessa
região não viviam exclusivamente de rezas e comemorações religiosas, para além
dessas, existiam meios de laser, tais como um cinema que recebia com certa
frequência os seus espectadores para a realização de festas e danças.
Visto isso, é importante salientar que o presente trabalho se baseia
basicamente entre as décadas de 1919-1961, e busca analisar no campo da história
cultural, o significado da morte e as diferentes representações dela na comunidade
paripiranguense. Com isso, pode-se afirmar que a delimitação do espaço e do
19
tempo, para a pesquisa na qual discorre este trabalho, são equivalentes no que
tange a temática, pois, no início do século XX as pessoas passaram a perceber mais
a modernização no que diz respeito às práticas fúnebres. As ideias vindas da Europa
ganharam cada vez mais espaço nos debates públicos sobre a temática da morte e
suas consequências nas vidas das pessoas, logicamente, vale ressaltar que tais
ideias chegaram mais tardiamente no município em questão, porém, foram os
pequenos resquícios de modernização anteriores que possibilitaram a ampliação de
debates sobre o assunto, tais como a higiene de locais santos como as Igrejas e
cemitérios.
Exemplo disso seria a ideia oitocentista de se enterrar os indivíduos em
Igrejas nas quais os finados faziam parte quando ainda viviam para cultuar os seus
Santos, como as confrarias na cidade de Salvador; além de não serem tomadas as
devidas precauções para que pudesse se praticar o ato fúnebre, tal como não
manter o caixão aberto por muito tempo, e até mesmo com relação aos cemitérios
das Vilas, que em sua grande maioria se encontravam cercados de pessoas, ou
seja, as necrópoles eram nos centros das Vilas e/ou em pequenas propriedades
municipais, por isso não tinham uma estrutura adequada, além das próprias práticas
de enterramento que não eram também adequadas. “As práticas de inumação até
então vigentes foram consideradas pelos médicos como passíveis de serem
extintas, uma vez que as emanações cadavéricas poluiriam o ar, o que era agravado
pelo fato de serem muitas as Igrejas localizadas no perímetro urbano”
(RODRIGUES, 1997, p. 22).
Diante do supracitado, a Europa teve papel importante para a implantação
das novas práticas fúnebres, os debates higienistas, sobretudo, advindos da França
fizeram com que os líderes eclesiásticos e públicos mudassem as maneiras de
praticar os atos fúnebres e religiosos aqui no Brasil.
Na cidade de Paripiranga-Bahia não foi diferente, como o cemitério se
encontrava no centro, teve-se que construir um novo mais afastado, pois, agora já
sabiam que os miasmas (toda sujidade associada ao mundano; ares podres) dos
cemitérios prejudicavam a saúde das pessoas que viviam ao seu redor, e de acordo
com os jornais circulantes na cidade e com o próprio livro de tombo da Paróquia,
essa foi uma mudança que se iniciou em 1923, com debates públicos e políticos, e
que sem sombra de dúvidas se fez necessário tal ação, para que assim, fosse
possível diminuir e/ou acabar com as contaminações.
20
Dessa maneira, este trabalho irá abordar sobre a temática da representação
da morte e todos os meios e aspectos que forem considerados relevantes para a
construção crítica acerca do assunto, tais como as principais mudanças fúnebres,
incluindo os cânticos de encomendação das almas, as rezas para os finados,
incluindo missas para purificar as suas almas; o espaço físico do cemitério antigo e
do novo; a morte como forma de socialização principalmente no que tange aos
velórios e cortejos fúnebres; as características dos processos de enterramento bem
como a anunciação das mortes que eram veiculadas nos periódicos da cidade; as
principais causas de mortes que eram provocadas pela grande insalubridade do
período; as práticas de enterramento em casa quando os mesmos eram pagãos e
eram enterrados no fundo de casa e/ou nas encruzilhadas e a dinâmica sociocultural
com relação aos aspectos religiosos que amenizavam a dor da perda, além de
preparar as pessoas para sua própria morte.
Para tanto, torna-se necessário questionar como a comunidade
paripiranguense se comportava com relação à morte? Como eram feitas as práticas
que deram origens as representações da mesma? Bem, de acordo com os estudos
realizados até o presente momento, podemos dizer que a religião e seus aspectos
culturais e de mentalidade fizeram com que as pessoas, mesmo diante de um
assunto como este, se solidarizassem de modo profundo para com os mortos e os
vivos; todavia, os sentimentos dos pêsames sempre eram maiores do que para com
o próprio morto, salvo nos casos particulares nos quais os finados eram pessoas da
própria família. Além disso, verificou-se que era preciso rezar e viver nas graças de
Deus, mesmo quando era chegada a hora derradeira da vida do indivíduo, como por
exemplo, as mortes sociais, onde as pessoas morriam cercadas por parentes e
amigos.
Podemos resumir a visão dos paripiranguenses para com a morte e os
mortos; os aspectos religiosos que cercavam a morte, como por exemplo, as
práticas fúnebres de rezar para encomendar as almas, e algumas delas antes
mesmo de partirem desta vida, tal como fora citado anteriormente, fizeram com que
se amenizasse o medo da morte, tanto por parte de quem vivia, e em alguns casos
por parte do próprio moribundo (indivíduo doente em fase terminal).
Por fim, é importante ressaltar que a problemática deste trabalho é
justamente o impacto social com relação às novas práticas de enterramento e os
meios de cultuar os mortos por diversos motivos, muito pelo fato de estarmos
21
abordando uma cidade no interior da Bahia, nas primeiras décadas do século XX,
onde as pessoas eram predominantemente católicas, e em tal religião as práticas
ante mortem e post-mortem são de suma importância para os vivos e para os
“mortos”.
Além disso, o trabalho busca compreender o papel dos homens de imprensa
(Pessoas letradas, de formação acadêmica), que atuavam nos jornais O Paladino
(1919-1938) e O Ideal (1953-1961), verificando as trajetórias dos impressos, bem
como todas as representações imbricadas nele. Analisando que não somente os
padres e a Igreja católica eram os únicos a tratar sobre os assuntos de natureza
fúnebres, mas que também, os próprios homens de imprensa faziam esse trabalho
de informar, criticar e elogiar as ações existentes na Vila de Patrocínio do Coité.
Para iniciar a fala acerca do tema em si, é necessário dizer que a Vila de
Nossa Senhora do Patrocínio do Coité como em boa parte das Vilas do sertão
brasileiro era por natureza um local sossegado, onde as pessoas passavam boa
parte das suas vidas trabalhando e orando. Justamente por isso, Nossa Senhora do
Patrocínio do Coité surgiu ao redor da Igreja. As pessoas começaram a fazer suas
moradias próximas a capela, daí surge à povoação que de início chamava-se
Malhada Vermelha (Denominação atribuída a Paripiranga/BA no período estudado
neste trabalho). Ou seja, a povoação surge após a construção da Igreja de Nossa
Senhora do Patrocínio em 1846. Dessa forma, “ao redor da capela desenrolaram-se
os processos de povoamento, organização social e administrativa de Paripiranga na
segunda metade do século XIX”. (OLIVEIRA, 2016, p. 10).
Nota-se que a religiosidade das pessoas que foram contemporâneas a Villa
de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, de certa forma foi uma herança do
catolicismo e das crenças da população residente no mesmo espaço trabalhado.
Tudo isso, contribuiu para que o sentimento com relação à morte não fosse
indiferente das dos mandamentos cristão, ou seja, a fé em Deus e em Cristo que
levará o finado aos “céus”, bem como sua vida voltada às práticas religiosas e às
obras de caridade.
Nessa perspectiva, surge o pensamento e a representação da morte e do
morrer na região estudada; a partir daí começa os estudos aprofundados deste
trabalho. Com isso, a presente dissertação foi dividida em três capítulos
relacionados em ordem cronológica dos fatos, onde cada um é o complemento do
outro, e todos tratam das representações da morte em Paripiranga-Bahia.
22
A Villa de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité durante a última década da
primeira República, onde se inicia o recorte temporal deste trabalho, era um lugar no
qual os debates políticos acerca da saúde pública ainda estavam começando, claro,
de forma mais tardia, porém se iniciaram basicamente em 1919. A perspectiva
desses debates, estava claramente relacionada às questões da salubridade pública,
nas quais a morte estava ligada direta ou indiretamente. Questões como o cemitério
da Villa ainda se encontrar no centro, os enterros que ainda eram realizados em
algumas capelas e/ou Igrejas e uma série de outras questões ligadas à morte foram
debatidas entre políticos, população e membros do clero, visando uma
modernização, para, consequentemente, acabar com os miasmas que afetavam as
pessoas que conviviam ao redor ou próximos aos mortos.
Faz-se mister, ressaltar que este trabalho buscará uma compreensão de
todos esses processos ligados à morte, além do importante papel da imprensa que
existia na Villa de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, através dos jornais O
Paladino (1919-1938) e O Ideal (1953-1961).
Dessa maneira, o recorte temporal desta pesquisa, parte justamente das
fontes que trouxeram uma melhor compreensão sobre a dinâmica social existente no
período e no espaço estudado. E baseia-se, basicamente nos anos de existências
dos jornais o Paladino (1919-1938) e O Ideal (1953-1961), circulantes na sociedade
em questão.
Para além de tudo isso, os estudos sobre a morte vêm ganhando cada vez
mais espaço no cenário nacional e mundial, pois, os mesmos abordam questões
sobre as representações humanas acerca de várias coisas antes despercebidas ou
não estudadas pela grande maioria dos historiadores. Estudar a morte e a
sociedade, ajuda na compreensão da organização social do período trabalhado, e
pesquisar sobre o assunto possibilita a interpretação com relação às práticas
religiosas da mesma. Ou seja, estudar a morte por meio da história cultural é um
bom caminho para criar uma historiografia confiável e de bons debates literários
acerca do assunto.
Muitos historiadores vêm cada vez mais se debruçando sobre as
representações envolvendo a morte e, assim, ampliando os debates acadêmicos
relacionados a esse tema cultural e social.
Em cenário mundial nós temos os clássicos e pioneiros nas pesquisas sobre a
morte tal como o Historiador Phillipe Àries, cuja sua principal obra, nesse âmbito, é A
23
História da Morte no Ocidente: Da Idade Média aos nossos dias (2012), onde o
mesmo trabalha com a longa duração e faz um brilhante apanhado sobre a morte e
a religiosidade na Europa durante o período medieval.
Outro autor bem renomado em âmbito mundial é o Michel Vovelle, em sua
obra, Imagens e Imaginário na História: Fantasmas e certezas nas mentalidades
desde a Idade Média até o século XX (1987), o autor analisa as representações da
morte através da História das Mentalidades e faz, assim, um brilhante e aprofundado
discurso sobre o cotidiano e os medos imbricados nas antigas sociedades.
Em cenário nacional, temos a brilhante historiadora Cláudia Rodrigues, cujos
trabalhos são de grande relevância para a historiografia crescente da morte no
Brasil; em sua obra, Lugares dos Mortos na cidade dos vivos: tradições e
transformações fúnebres no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro (1997), a autora
descreve, sobretudo, as grandes transformações ocorridas nos ritos fúnebres,
principalmente com relação ao mercado mortuário que estava cada vez mais em
ascensão, sobretudo depois das últimas décadas do século XIX e início do século
XX.
Outro autor muito importante para se referenciar aqui, é o Historiador João
José Reis, em sua obra A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no
Brasil do século XIX (1991), onde o mesmo trabalha com a morte de forma direta e
indireta, principalmente durante o período de escravidão negra no Brasil, elencando
vários assuntos de grande relevância, tal como a revolta da cemiterada, que por sua
vez, tinha relação com o emergente mercado mortuário e capitalização da morte,
indo contra rituais de enterramento de vários anos e séculos de tradição.
É importante ressaltar que autores e Historiadores, como estes que foram
citados, serviram como mola propulsora para uma grande geração de pesquisadores
que se debruçaram e debruçam sobre as fontes para trabalhar com a representação
da morte, não só no Brasil, mas também na América Latina e na Europa. Além disso,
como já foram citadas anteriormente, as pesquisas dessa natureza estão
espalhadas por todo o país e também no próprio Estado de Sergipe, onde faço
referência à dissertação de mestrado do professor Rafael Santa Rosa Cerqueira,
cujo tema de abordagem foi Nos domínios de Hades: A representação social da
morte em Aracaju/Se durante a Primeira República (2014), o autor foi um dos
pioneiros que trabalhou a morte na sociedade sergipana, e, dessa forma, quebrou
um paradigma sobre a escrita da História da morte.
24
Por isso, o presente trabalho tem por objetivo central, analisar com base na
História Cultural, a Representação da morte em Paripiranga no interior baiano, nas
décadas de 1919 a 1961, quando a mesma ainda era denominada oficialmente
como Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.
Para isso, partimos da hipótese de que a morte não era um evento isolado e
que não existiam outras manifestações que eram englobadas a sociedade da Vila
naquela época. Muito pelo contrário, tentaremos demonstrar que tanto a morte
quantos os acontecimentos fúnebres no geral, foram fundamentais para o processo
de socialização das pessoas em tais eventos, ou seja, a morte não era, somente, um
evento para lamentações e para a despedida dos familiares, na realidade era muito
mais do que isso. De acordo com o Cerqueira (2014), os eventos fúnebres dentro do
período da Primeira República, eram, também, lugares de grande socialização e até
mesmo de alguns assuntos políticos, além dos parentes e amigos que lamentavam a
dor da perda do ente querido, também passou a existir as pessoas que iam aos
enterros e cortejos, justamente para conversar sobre política local, economia e
tantas outras coisas que antes eram inimagináveis de serem trabalhadas num
ambiente fúnebre.
A presente dissertação partirá dos jornais circulantes na Villa de Nossa
Senhora do Patrocínio do Coité, a atual Paripiranga-Bahia. Desse modo, os
periódicos foram as principais fontes históricas para o processo de escrita deste
trabalho. Sendo também usadas as entrevistas que foram realizadas, como forma de
interligar os fatos trazidos e abordados nos impressos, além dos importantes
registros paroquiais, tais como os Livros de Tombo, os quais nos ajudarão a
compreender os limites paroquiais e os processos eclesiásticos e políticos que
juntos deram origem legal ao lugar que mais tarde se tornaria Paripiranga-Bahia.
É importante salientar que boa parte da pesquisa foi realizada no Laboratório
de Ensino e Pesquisa em História (LEPH), do Centro Universitário AGES, sediado
em Paripiranga-Bahia. Laboratório esse, que por sua vez, possui um vasto acervo
Histórico, como por exemplo, Jornais, Códigos de postura, livros sobre a cidade de
Paripiranga-Bahia dentre outras tantas documentações que foram imprescindíveis
para a realização deste trabalho dissertativo, além de ser fonte de pesquisa para
tantos outros Historiadores que escrevem sobre a cidade e sobre as regiões
circunvizinhas a Paripiranga-Bahia. Desde já, deixo aqui a minha eterna gratidão a
todos que fazem parte do LEPH.
25
Gostaria de enfatizar aqui o meu crescimento enquanto pesquisador e
escritor, que se deu muito graças as participações nos projetos Nutium e Clio e
GPCIR (Grupo de Pesquisa “Culturas, Identidades e Religiosidades”), além do
evento ocorrido no ano passado, Clio Digital: memórias e histórias de Sergipe, 200
anos da independência. Cujos coordenadores foram o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo
Sousa (UFS) e Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (UFS) e a comissão
organizadora composta pelo Prof. Dr. Carlos de Oliveira Malaquias (UFS), Prof. Dra.
Edna Maria Matos Antônio (UFS), Prof. Ma. Josineide Luciano Almeida, Prof. Ma.
Maristela do Nascimento Andrade, Prof. Me. Reinaldo Ribeiro Rocha e ao meu
colega de mestrado Johnatas dos Santos Costa, além dos discentes do (DHI- UFS),
José dos Anjos Filho e João Eduardo Freire Coelho.
Agradecer a comissão científica, nas pessoas de Maria de Deus Manso
(Universidade de Évora), Mônica Liz Miranda (UFVJM), Pedro Abelardo de Santana
(UFAL), Marilza Oliveira (USP), Marcos Ferreira de Andrade (UFSJ), Paulo Heimar
Souto (UFS) e Elizabeth Aparecida Duque Seabra (UFVJM).
Ter a oportunidade em participar desse evento repleto de professores
gabaritados e com trajetórias consolidadas, bem como dos grupos de pesquisa,
proporcionou-me uma chance ímpar em desenvolver novas habilidades, tanto na
escrita, como também na leitura e na construção da história. Agradeço
veementemente ao meu orientador, Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, meu muito
obrigado!
Por último, gostaria de agradecer aos membros da minha banca de defesa
de mestrado, nas pessoas da Profª. Dra. Verônica Maria Menezes Nunes (UFS), que
sempre foi precisa em suas observações e críticas construtivas, sem dúvida me
ajudou bastante no processo de construção do meu trabalho. Ao prof. Dr.
Claudefranklin Monteiro Santos (UFS), pelas críticas construtivas e pelos elogios que
me fizeram acreditar cada vez mais no meu trabalho e em meu potencial enquanto
escritor. E, sobretudo, agradecer mais uma vez ao Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Sousa
(UFS), presidente da banca e meu orientador, por sempre acreditar em mim e me
mostrar os melhores caminhos para a minha escrita, além de sempre me motivar e
nunca me deixar desistir. Meu muito obrigado aos membros da minha banca de
defesa de mestrado.
Sendo assim, o primeiro capítulo intitulado A construção de um novo
cemitério na vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, irá dissertar em ordem
26
cronológica, sobre a construção de uma nova “morada” para os mortos Da Vila no
ano de 1923, compreendendo, sobretudo os debates anteriores ao processo de
construção, debates estes que se iniciaram por volta de 1919. Por isso, é importante
começar o capítulo falando um pouco sobre a história do lugar e do processo de
povoamento, além de ressaltar a importância da introdução das novas leis
higienistas que entraram em vigor através do código de posturas da Vila, trazendo à
baila os debates e sessões realizadas no paço municipal, com o intuito de abordar
essas questões tanto com os políticos quanto com as pessoas da sociedade, além
de representantes do clero, onde se destaca a figura do pároco João de Matos
Freire de Carvalho; padre este, que foi responsável por iniciar as tratativas para
construir um novo cemitério. Por último, mas não menos importante falaremos sobre
o fim de algumas práticas religiosas de enterramento que se fizeram necessárias
graças às novas leis higienistas sobrepostas no código de posturas.
O segundo capítulo, Os Discursos sobre a Morte no Jornal O Paladino
(1919-1938) abordará, a priori, o surgimento e as dificuldades encontradas pelo
periódico nos seus primeiros anos de produção. Em seguida, analisará a
representação da morte no impresso, de forma que se possibilite a compreensão e a
utilidade das notas necrológicas, justamente como meio de comunicação social
sobre a morte e seus processos. Além de verificar os diferentes discursos existentes
no jornal, discursos de distinção fúnebre sobre os falecidos, de tal forma que fica
explícito as diferentes classes sociais e, consequentemente, os diferentes tratos
mortuários para com os indivíduos que detinham melhores condições sociais e/ou
políticas. E por fim, este capítulo abordará sobre os eventos fúnebres como meio de
socialização, os quais eram noticiados no próprio impresso.
O terceiro e último capítulo desta dissertação, O papel do jornal O Ideal para
concretização das novas práticas fúnebres (1953-1961), será discutido com base no
periódico e abordará um pouco sobre a sua trajetória dentro da sociedade,
verificando assim, o surgimento e as características literárias do impresso,
apontando o papel social do jornal e suas críticas construtivas sobre os mais
variados assuntos ligados à morte, principalmente, sobre a salubridade pública e
sobre as leis do código de posturas do município. Por fim, mas não menos
importante, o terceiro e último capítulo deste trabalho dissertativo, versará sobre os
poemas e crônicas escritas nos dias de finados, elencando assim, as
representações sobre a morte de forma individual e coletiva.
27
Esse tema ainda pode ser considerado como um tema tabu para a
sociedade em que vivemos, visto que, a ideia de que um dia teremos que deixar
esse plano terreno e partir para uma segunda construção cósmica, a depender,
claramente da religiosidade de cada indivíduo, deixa-nos muito preocupados e com
bastante medo, logicamente algumas pessoas encaram esse processo biológico
com maior compreensão e aceitação.
Na Vila de Patrocínio do Coité não era muito diferente disso, as pessoas
pensavam muito na morte, justamente pelo fato da mesma ser mais presente
naquele tempo e espaço, devido às questões de insalubridade e de higiene pública
e/ou individual. Visto isso, esperamos que os leitores desapeguem do sentimento
sombrio que a morte nos proporciona ao lembrarmo-nos dela e, que assim, possam
compreender como a comunidade trabalhada se comportava perante a morte e
todos os seus processos fúnebres.
28
I
A CONSTRUÇÃO DE UM NOVO CEMITÉRIO NA VILA DE NOSSA SENHORA DO
PATROCÍNIO DO COITÉ
29
forma cuidadosa e sempre aproveitando os materiais que seriam usados na nova
obra”.
Com cuidado na hora de retirar as lápides que marcavam onde cada pessoa
estava enterrada, e para que não houvesse algumas desavenças ou desrespeito em
relação aos restos mortais e, consequentemente, às almas dos entes falecidos, o
padre João de Matos chama as pessoas que tinham parentes e amigos enterrados
naquele cemitério do centro da Vila, e de antemão havia falado com seus superiores
como deveria proceder com relação às lápides antigas, e, sobretudo, com os restos
mortais de várias pessoas. A solução encontrada pelo Cônego João de Matos foi
perguntar aos parentes e/ou amigos se queriam deixar os restos mortais dos seus
parentes no antigo cemitério ou levá-los para a nova necrópole.
A maioria das pessoas resolveu levá-los para onde seria construído o novo
cemitério, já uma parte resolveu deixá-los onde seria erguida uma praça pública com
um jardim; sobre isso, João de Matos afirma: “lembro-me perfeitamente de uma
mulher que aparentava ter uns 30 anos, ter dito: padre irei deixar minha mãe
enterrada aqui mesmo na praça, será aonde virei para lembrar-me dela e será o
lugar que ela sempre irá me encontrar também” (CARVALHO, 1923, p. 03). O padre
responde que a entendia e que a sua mãe sempre estaria com ela
independentemente de onde estivessem os seus restos mortais.
Feito a retirada dos restos mortais, o coveiro João Inácio da Silva,
juntamente aos pedreiros, começou a transportá-los para o novo cemitério, onde
haviam deixado em dias anteriores às covas abertas e já com as cruzes ou lápides
com os nomes dos finados. O mestre de obras Pedro Piedade, assim que acabara
com o serviço disse ao Padre João de Matos ter passado uma semana fazendo isso
cuidadosamente, logo depois de ter começado a levar as pedras e adobes
queimados para o novo cemitério. Afirma ainda ter tido muita ajuda de várias
pessoas que viviam na própria cede da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do
Coité, mas, teve também a ajuda de pessoas que chegaram de outras regiões,
como, Lagoa Preta, Queimada, Pau Preto e tantas outras localidades.
No dia 05 de janeiro de 1926, depois de cinco anos, a obra foi finalizada,
claro que já se faziam os sepultamentos naquele novo local, porém aos poucos e
com auxílio de várias pessoas, por exemplo: políticos, a própria Igreja e alguns
comerciantes da Vila, o espaço físico do cemitério novo foi concluído, incluindo uma
30
linda capela onde seriam rezadas e encomendadas a Deus todas as almas dos
cidadãos, pertencentes à Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.
Alguns anos mais tarde, em 23 de setembro de 1929 o padre pagou o último
valor, proveniente da finalização do cemitério, no qual ainda faltava murar todo o
arredor e colocar um portão de ferro com cadeado. João de Matos entregou a
quantia de mil contos de réis ao estimado pedreiro José Antônio de Santana,
encerrando assim, a construção de uma nova morada para os mortos coiteenses.
(CARVALHO, 1923, p. 02).
****
31
pessoas que viviam no lugar começaram a derrubar as matas e a explorar cada vez
mais a região, sobretudo na agricultura e pecuária.
Com o passar do tempo, por volta de 1840 começou a se pensar em
construir uma capela, a qual mais tarde iria impulsionar o processo de povoação do
lugar. Assim como aponta Ana Maria Ferreira de Oliveira (2016):
32
império era a Católica Apostólica Romana. Dessa maneira, o início de um povoado
tinha que ser feito através da intervenção do Estado por meio de representantes
legais do Clero.
Sobre a oficialidade da religião Católica Apostólica Romana, os demais atos
de fé por parte de outras religiões, incluindo as de matrizes africanas tinham que ser
velados e feitos em casa, ou seja, até então não poderia existir templos religiosos de
qualquer outra natureza. Sobre esse assunto, Oliveira (2016) afirma que:
33
Freire de Carvalho, no qual o mesmo presta contas aos seus superiores dos limites
da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio. Sobre isso, o Cônego escreve:
34
Figura 1: Mapa de limites da Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.
Fonte: Livro do Tombo II. Acervo da Paróquia de Nossa Senhora do patrocínio. Paripiranga-Bahia.
35
Figura 2: Mapa de limites do Município de Paripiranga-Bahia. 2020.
Fonte: Acervo pessoal de Robério José Santos Junior.
36
Oliveira (2016), existia poucas casas próximo ao Engenho do Coité, e, além disso,
também existiam os conflitos de jurisdição territorial entre Bahia e Sergipe, que
aconteceram, por sua vez, no século XIX e se seguiram até meados do século XX.
Nesse contexto, Paripiranga sendo divisa com Simão Dias foi palco de inumeráveis
conflitos paroquiais e, consequentemente, político-administrativos, assim como
afirma Oliveira (2016):
37
consequentemente, políticos com a paróquia da cidade vizinha (Simão Dias) e sua
jurisdição paroquial, além de reforçar a religiosidade do lado baiano, estando a nova
Capela sob comando da Matriz de Bom Conselho.
A partir de tudo isso, o lugar foi se desenvolvendo aos poucos e as missões
religiosas se intensificaram cada vez mais. A Igreja Católica Apostólica Romana
havia exercido o seu papel para o desenvolvimento da região de Malhada Vermelha
enviando Párocos para o lugar. Dentre esses clérigos podemos destacar dois
personagens muito importantes para a história de Paripiranga-Bahia: o Padre
Vicente Valentim da Cunha que em sua atuação como Primeiro Intendente fez
vastas melhorias no espaço físico do lugar, e o Padre João de Matos que veio
posteriormente assumir a Paróquia de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, onde
foi bastante popular e fez também várias obras, incluindo o novo cemitério fora do
perímetro urbano da Vila, destacando ainda que o antigo cemitério havia sido
construído pelo seu antecessor Padre Vicente Valentim da Cunha. Sobre esse
assunto Oliveira (2016) afirma que:
38
segundo as faculdades constitucionais, ou leis orgânicas. Em 1886,
por força da Lei Provincial de n° 2.553, promulgada em 1° de maio, o
Arraial de Coité torna-se município, desmembrado do território de
Bom Conselho, porém a lei só entra em vigor em 1° de fevereiro de
1888. (IBDEM).
A Igreja Católica deu início as suas missões pelo sertão brasileiro por
39
meados do século XIX, surgiram assim inúmeras localidades que com o passar dos
anos foram se desenvolvendo cada vez mais. Com Paripiranga no interior do sertão
baiano não foi muito diferente, como já vimos anteriormente, o lugar passa a
prosperar a partir da construção da Capela, depois vão surgindo as povoações e,
assim, o lugar e sua massa populacional vão crescendo gradativamente.
É preciso, contudo, compreender que todos esses processos não ocorrem
apenas em Paripiranga, mas na maioria dos lugares, por isso não foi uma tarefa fácil
para a instituição do catolicismo. Os lugares eram longícuos e sem tantas atrações
até mesmo para um Pároco, por isso, de acordo com Silva (1982) muitos Padres
recusavam essas missões de povoamento dos lugares, e mais uma vez Paripiranga
também se encaixa nesse cenário. De toda maneira, a fé já era algo presente entre
as populações dos lugares antes mesmo da presença constante da Igreja Católica,
as pessoas já faziam seus rituais de acordo com as tradições já existentes e
conhecidas por eles, “Assim, ao adentrar as terras do sertão baiano, a Igreja, de
algum modo, criou espaço para que as populações que ali se formaram recriassem o
catolicismo adaptando-o aos aspectos culturais que já traziam consigo”. (OLIVEIRA,
2016, p. 27).
A importância da Igreja Católica em Malhada Vermelha serviu para aflorar as
representações religiosas do lugar. Segundo Oliveira (2016), a Paróquia de Nossa
Senhora do Patrocínio do Coité serviu como organizadora das instituições essenciais
para o desenvolvimento da região; visão essa, embasada nos mandamentos cristãos
até então meio que distorcidos pelas comunidades que praticavam seus próprios
rituais de cunho religioso. Com a matriz, bem como com a presença do Pároco e de
outros importantes representantes do Clero no lugar, a vida voltada ao sagrado
ganha importante reforço e respaldo. A partir disso, é possível analisar um maior
número de rituais religiosos além do surgimento de uma identidade própria do lugar,
ou seja, a Igreja e a padroeira de Malhada Vermelha impulsionaram um sentimento
de pertencimento e identidade local. O papel da instituição, bem como dos seus
membros seria “regular” a vida das pessoas em âmbito cristão, para assim,
proporcionar-lhes uma vida voltada para as obras de caridade e de solidariedade
cristã. Sobre a organização paroquial em Paripiranga, Oliveira (2016) aponta:
40
religiosa dos mandamentos e ensinamentos da Igreja; bem com a
prática social que se regula pelas obras de caridade, pelo controle
moral em que o desenvolvimento confraternal é particular
testemunha; E que se configuram nas preces e devoções que
atraiam os favores e proteção divina, contidos nas orações, cânticos
e ritos, na grande Invocação da Virgem e a mística da cruz; na
devoção fervorosa pela busca da proteção dos santos; a padroeira
da paroquia e os demais de culto geral e local mobilizam a
comunidade pra a sua preparação para a vida espiritual, para a
Morte e a vida do Além, tendo a mística da cruz e todos os seus
significados, como alimento e sustentação na vivência cotidiana.
(IDEM, 2016, p. 28).
41
Figura 3: Igreja de Nossa Senhora do
Patrocínio nos primeiros anos do século
XX.
Fonte: Acervo do LEPH – UniAGES.
Outra questão que vale a pena ser ressaltada nesse aspecto da história
inicial de Paripiranga-Bahia, é que o primeiro cemitério existente se encontrava na
praça onde até então não existia a Capela, depois disso o Padre Vicente Valentim
construiu um novo cemitério no centro da Vila e, por último, graças às novas leis
higienistas, foi construído o cemitério mais afastado da Vila, nessa obra estava
encarregado o Padre João de Matos Freire de Carvalho. Ao ser construída a Capela
houve alguns importantes problemas a serem resolvidos. Segundo Oliveira (2016),
em 1846 o Vigário da Freguesia de Bom Conselho, território ao qual a Parórquia de
Malhada Vermelha era incorporada, encaminha correspondência ao presidente da
Província da Bahia, no qual se queixava sobre a capela ter sido construída em cima
do primeiro cemitério, e dizia:
42
Illmº e Exmº Sr. –Em observancia ao officio de V. Exa.datado de 26
de março do ano andante, cumpre-me responder que tendo-se esta
matriz arruinado no frontespicio, fendendo um dos campanários de
cima abaixo, tem-se- este separado da parede quase três
pollegadas, e deste modo puchando todo o frontespicio e parte do
corpo da igreja, a ponto de vir abaixo toda a obra a não acudir-se
com diligencia a este reparo; tanto é a ruína ameaçada que os
fregueses temem já nella assistir os officios Divinos. Agora pelo
inverno mais se tem arruinado e cada vez mais vae exigindo maior
soma dispêndio pedreiros que só os há por aqui. Laranjeiras daqui
distante trinta e duas e com despeza de fazer acarretar o cal que se
há de fazer daqui distante seis léguas e meia por não haver aqui
pedras. Quanto a ornamentos, que tanto cocorrem para o luzimento
do culto Divino, acha-se esta Matriz com um banco, e este velho que
tendo então dois véus, um branco e outro encarrado, com estes faço
differença que me prescreve a rubrica; por isso torna-se de grande
necessidade dois ornamentos brancos, um melhor para certos dias
de publica festividades e outro para o quotidiano; dois encarrados
para os mesmos dias acima, um verde e um roxo para os enterros de
réquiem, cada uma destas cores ou ornamentos com sua
componentes dalmáticas, além de duas Capas de Asperges, alvas e
outaras ornamentos necessários, tudo falta a esta pobre Matriz. Duas
Capelas filiais tem esta Freguesia: uma de Santa Cruz defronte da
Matriz em um elevado monte, tendo sido fundada pelo falecido Frei
Apollino de Toddy Missionário Capuchinho, sem dote algum e
bastante arruinado. Nas matas desta Freguesia, acha-se o Major
José Antônio de Menezes, erigindo outra, mas ainda não apresentou
dote, o que pretende fazer e eu exigirei, achando-se Ella pronta.
Deus guarde a V.Exa. Freguesia do Bom Conselho Dos Montes do
Boqueirão, 22 de Junho de 1846. (ass.) o Vigário Caetano Dias da
Silva. (PARÓQUIA DE BOM CONSELHO DOS MONTES DO
BOQUEIRÃO, LIVRO DE TOMBO II, 1846, p. 42).
43
dos Alves e Dias; nesta época aqui já estavam as famílias Santana,
Matos, Rabelo e muitas outras. 24 PARÓQUIA DE CÍCERO
DANTAS. Livro de Tombo Nº II, Compilação. p. 5 - 5 v. Acervo da
Paróquia de Nossa Senhora do Bom Conselho. Cícero Dantas.
Bahia. p. 42 32 A região já dava conotação de um progresso
florescente, muitos colonos instalados em sítios e fazendas davam
mais incremento à região, quando aqui começaram a cultivar o rico
produto que era o café A região se destacava rapidamente com o
plantio do café, que cada vez mais invadia as matas, o progresso
notável. De imediato, como o progresso já era notado por todos; o
proprietário do Engenho Santa Cruz já era conhecido como Capitão
José Vitorino de Meneses, e o proprietário do Engenho do Coité,
também como Capitão Joaquim José de Carvalho. Este povoado não
foi muito além, em decorrência de algumas inconveniências trazidas
pela política da época, com ressonância já aos problemas de
jurisdição, haja vista este arruada de casas simples estar muito
próximo da linha que divide os dois territórios, ou seja, Bahia e
Sergipe. (OLIVEIRA, 2016, p. 31-32).
44
a realizar várias obras muito importantes para a região, incluindo um novo cemitério
mais afastado da Vila, já que o antigo, construído pelo Padre Vicente Valentim da
Cunha, encontrava-se no centro do lugar. Sobre um pouco da biografia e da
importância do Cônego João de Matos Freire de Carvalho, Oliveira (2016) verificou
que:
45
.
46
1. 3- A Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité antes do cemitério novo
No Brasil imperial a prática de enterrar as pessoas nas igrejas era tida como
algo natural, principalmente se o indivíduo pertencesse a algum tipo de confraria ou
fosse membro do Clero. A crença popular da época, inclusive, que alguns clérigos
diziam era que enterrando as pessoas nas Igrejas estariam mais próximas do reino
dos céus.
Em Salvador, por exemplo, havia muitas confrarias que enterravam os seus
membros. Uma das primeiras comunidades religiosas dessa natureza foi a confraria
da Santa Casa da Misericórdia da Bahia, criada por volta de 1549. Sobre essa
importante fase da história baiana é importante observar que:
50
índice de mortalidade da população da Vila no dito período. Contudo, como já era de
se esperar a maioria das mortes era fruto de contágio por bactérias advindas do
cemitério. Exemplo disso é a citação abaixo, a qual demonstra uma nota necrológica
trazendo a anunciação de um óbito proveniente da falta de saneamento básico na
Vila.
Visto estes problemas e com a chegada das novas leis higienistas era hora
de mudar o cenário da Vila. A construção de um novo cemitério passou a ser
destaque nos jornais da época, sendo necessário conseguir as verbas para tal, e
assim poder arrumar outro local mais afastado da Vila para a construção da nova
casa para os mortos.
Os redatores do jornal O Paladino já estavam muito preocupados com a
atual situação da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, principalmente com
relação à higiene pública. Com isso, os mesmos passaram a tecer críticas sobre o
assunto em suas páginas:
Diziam que não poderiam existir cemitérios nos centros das Vilas nem em
qualquer outro lugar cercado pela população, tão pouco enterrar pessoas em
pequenos cemitérios feitos em suas próprias casas e dentro das Igrejas. Além das
novas leis implementadas pelo Código de Posturas do município em 1926, que
delimitava algumas ações para com o cortejo fúnebre: “Art. 128. Fica prohibido os
caixões abertos conduzindo cadáveres, sejam de creanças ou de adultos. Pena de
30$000 de multa” (CÓDIGO DE POSTURAS, 1928, p. 19), e ainda outro importante
artigo do mesmo código que proibia os enterramentos depois das 18 horas.
Essas práticas eram bastante comuns no Brasil imperial, por exemplo,
membros das confrarias eram enterrados nas Igrejas, até mesmo os padres eram
enterrados nesses ambientes. Mas essas práticas foram banidas justamente por
causa da higiene pública.
Pois a Igreja era um local público, onde várias pessoas frequentavam, e que
por isso o risco de contágio era muito grande. Contudo não foi diferente com os
cemitérios residenciais nos quais as mães enterravam seus filhos pagãos, (termo
designado para as crianças ou qualquer outra pessoa que nunca tivera sido batizada
sob as leis canônicas do catolicismo). Sobre esse assunto, Paulo Segundo da Costa
(2007) afirma que:
53
Os enterros feitos nesses ambientes começaram a cessar com o
advento da lei do Governo Imperial brasileiro, de 12 de novembro de
1828, que atribuiu poderes às Câmaras Municipais para disciplinar:”
o estabelecimento de cemitérios fora dos templos”, visando a
melhorar o saneamento das cidades brasileiras. Os médicos
sanitaristas, principalmente no Rio de Janeiro, no começo do século
XIX, exerceram forte pressão junto aos poderes públicos para
proibirem enterros em ambientes confinados: igrejas, conventos, etc.
preocupados com a disseminação dos miasmas, teoria existente
naquela época; o miasma era tido como o principal agente de
contaminação das doenças infecciosas. (COSTA, 2007, p. 35).
54
lado ecológico da geografia em que estava inserida, mas principalmente é
importante frizar que as cidades eram construídas através de interesses familiares e
políticos. Tudo o que se fazia numa cidade era pensado politicamente, essa é a
ideologia social que move as obras físicas e também os projetos de leis que
regulamentam determinada sociedade.
As ações em uma cidade são, por sua vez, pré-determinadas pelas classes
atuantes no seu tempo histórico, ou seja, tudo que existe hoje numa sociedade
passou por vários processos históricos como, por exemplo, debates, brigas,
assassinatos políticos, interesses elitistas e o próprio interesse público, assim como:
55
perspectiva o padre João de Matos Freire de Carvalho iniciou os debates em prol da
construção do novo cemitério.
Figura 5: Na fotografia, Professor Francisco de Paula Abreu, Padre João de Matos Freire de
Carvalho e Ismael Trindade. Reunião para tratar da construção do novo cemitério. Vila de Nossa
Senhora do Patrocínio do Coité. Década de 1920.
Fonte: Acervo pessoal de Roberto Santos de Santana. Adustina-Bahia. 2020.
56
Aos 27 dias do mês de maio de 1923, reunidos no paço municipal,
cidadãos representantes de todas as classes sociais sob a
presidência do coronel Joaquim de Mattos Carregoza, eleito por
aclamação, foi dada a palavra a quem dela se quisesse utilizar. A
pedido, falou o professor Francisco de Paula Abreu, explicando os
motivos da reunião. Trocaram-se ideias e destas conversações
resultou em constitui-se uma Comissão Geral do Município e outras
subcomissões dos Arraiais. São estes os nomes escolhidos para a
comissão Geral: Coronel Joaquim de Mattos Carregoza, Presidente
João Carregosa da Trindade, Vice Presidente; Deocleciano Fraga
Dias, Tesoureiro, Jonathas de Menezes Lima, 1º Secretário; Manoel
Coelho Cruz; Segundo Secretário; Professor Francisco de Paula
Abreu, Orador Francisco Dias Sobrinho, José Rabello de Mattos,
Manoel de Mattos Santa Reza, Aristeu de Vasconcellos Bittencourt,
Ismael Quirino da Trindade, Antônio José Das Virgens´, Jeronymo
Evangelista de Carvalho, Antônio Domingues de Sant´Ana, Antônio
de Carvalho Santa Rosa, José Ferreira de Menezes, João Correia
Pimentel, Virgílio Ferreira Lima, Aprígio Doria, Francisco Déda,
Demostenes Borges, José Dias da Silva, Odilon Ferreira Lima, Isaias
de Miranda Mattos, José Sodré dos Santos, Altamirano de Carvalho,
Manoel Rodrigues Santiago e João Correia de Andrade;
Subcomissões: para o arraial de Queimadas, José Ribeiro de Jesus,
Antônio Ramos da Silva, Alcides José de Sant’Anna; para o arraial
do Saco: Graciliano Leal, Manoel Carcino dos Santos e José Lino
Ferreira; para o Arraial de Barreiras: Joaquim Correia, Paulo Virgíneo
e Florestino José de Carvalho. Pelo Coronel Francisco Dias
Sobrinho, reconhecida por todos a impreendível necessidade da
construção do Cemitério, foi assentada a ideia da reunião de um
conselho municipal para votar uma verba em auxilio. Igualmente,
falou-se sobre um dos pontos vitais do novo cemitério, isto é, o
terreno. Diante disso, ficou assuntado que o obteriam com facilidade,
dada a boa vontade do pessoal. Pelo senhor João Barbosa da
Trindade, foi declarado o que antes de qualquer outra providência e
que a comissão se dirigirá ao Rev. Pároco no sentido de adquirir por
compra o terreno em o qual foi localizado um novo cemitério
eclesiástico no uso da resposta negativa, a comissão agirá de modo
mais conveniente aos interesses da população. Esta proposta obteve
aprovação unanime. E para constar, de tudo lavrou-se a presente ata
que lida e achada conforme, foi subscrita pelos presidentes e por
Francisco Silveira Deda, Secretário interino que a escreveu.
Seguiram-se numerosas assinaturas. (O PALADINO, 03/06/1923, p.
02-03).
Isso foi bem visto, entretanto, houve alguns prejuízos. Vândalos atacavam de
forma solapada, deixando algumas perdas no cemitério, era comum que grupos
passassem a noite na necrópole fazendo rituais macabros, nos quais existiam
aqueles que consumiam bebidas alcoólicas nos crânios dos mortos, e houve para,
além disso, um caixão que fora brutalmente retirado do túmulo e posto a céu aberto,
e por mais incrível que se pareça, não existia cadáver no mesmo, sendo muito
provavelmente vítima de algum ritual de magia negra (ANDRADE, 2016).
Outras atitudes não muito agradáveis foram denunciadas pelo redator do
jornal Francino Silveira Déda (1953), o mesmo faz duras críticas sobre o zelo que
não estava sendo dado nem pela população e muito menos pelo poder público e,
assim, relata os fatos:
59
tempo; que tivera a audácia de cavar aquele formidável “Olho
d’água” que chegamos a conhecer no “Tanque da Missão” que fizera
aquele antigo cemitério com formidável muralha de pedra e cal,
revestida de perfeita e durável argamassa, com uma capelinha de
igual edificação e que depois foram demolidos a muito custo, por
ficarem no centro do perímetro urbano. Mas ao sair de Coité o
saudoso Vigário, vem se repetindo sempre as queixas contra o
descaso aquele ou este cemitério. Já no ano de 1923 se levantavam
queixas a respeito do cadáver de uma criancinha que teria sido
desenterrada no cemitério em abandono por cães famintos que a
devoraram. Naquela época se atribuía uma frase de menosprezo aos
nossos mortos, preferida por pessoa responsável pela nossa
necrópole e que teria sido ouvida pelo Senhor Pantaleão Santana.
Naquele tempo, certo jornalista mantinha uma sessão intitulada DE
LEVE, com os versos picantes a respeito da frase depreciativa, o
qual usava o pseudônimo de P. Drito. Vem depois o velho Pantaleão
a ser desmentido pela imprensa e vai ao Cartório confirmar em
documento público a sua afirmativa como testemunha de ouvida; e
assim, a Vila passou uma temporada cheia de comentários
comprometedores da sua vida social. E nunca mais deixou-se de
ouvir queixas a respeito da morada dos mortos. Também ali tenho eu
os meus mortos queridos e venho sentindo de mim para comigo
mesmo, esses descasos ao repouso dos mortos. Agora é “O IDEAL”
que traz constantes noticias desse mesmo descaso e uns apelam
para o povo; outros insinuam um cemitério puramente civil. É
verdade que as nossas Constituições, repetindo a primeira desde a
República, dizem que os cemitérios terão caráter secular e serão
administrados pela autoridade municipal; mas, o nosso diploma
permite as associações religiosas, manter cemitérios particulares. E,
em muitos municpios, como o nosso, perdura ainda o espirito da Lei
789 de 27/9/1890 que dizia – Enquanto não forem criados cemitérios
civis, nos municípios em que os existentes estiverem a cargo de
quaisquer autoridades ou corporações religiosas, as municipalidades
farão manter a servidão publica neles existentes, providenciando
para que os enterramentos não sejam embaraçados por motivo de
religião. E convenhamos... Se na localidade há um cemitério mantido
pela Igreja, que necessidade temos de um outro? O que é necessário
é um franco entendimento entre o poder publico e o eclesiástico,
entre as autoridades responsáveis que deverão esquecer os seus
interesses partidários, toda vez que necessário se torno o respeito e
acatamento aos nossos mortos; e ao povo, ajudar umas e outras
autoridades para a conservação, acatamento e respeito a nossa
necrópole. Se nos cemitérios a cargo da Igreja, com o freio da
religião já vemos tantos desrespeitos aos cemitérios religiosos como
nós sabemos daqueles 5 jovens que no dia 15 de setembro de 1951,
deram aquele atestado infamante a uma população de princípios
religiosos como é Feira de Santana, a ponto da Justiça condená-los
e a Igreja a declarar-lhes INFAMES. Se nós vemos como vimos
nesta Cidade de Simão Dias, no mês passado a depredação que
fizeram no bem cuidado cemitério da Igreja, o que não fariam os
infames nos cemitérios puramente civis? E Paripiranga ainda não
registrou casos como tais, reclama apenas o descaso. Por isso
pensamos que ali está necessitando, é franco entendimento entre as
autoridades municipal e eclesiástica para captar do povo o
60
verdadeiro interesse pela nossa necrópole e assim, sem quebra de
respeito, as lei do país, iremos dando a Cezar e a Deus o que é de
Deus. (DÉDA, 1953, p. 03-04).
61
Figura 6: Vista da fachada da Escola Reunidas Professor Francisco de Paula Abreu. Praça onde se
encontrava o antigo cemitério da Vila do Patrocínio do Coité. Paripiranga-Bahia. Década de 1945.
Fonte: Acervo pessoal de Roberto Santos de Santana. Adustina-Bahia. 2020.
62
Figura 7: Documento da finalização dos muros do novo cemitério na Vila de
Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.
Fonte: Acervo do LEPH, Laboratório de Estudos e Pesquisa em História.
Paripiranga-Bahia. 2016.
Com todas essas mudanças, sobretudo com relação aos processos fúnebres
e de religiosidade, é importante questionar: como se deu as principais mudanças
com relação às antigas culturas relacionadas à morte? Como uma Vila no interior da
Bahia na primeira metade do século XX se comportou com as novas orientações
higienistas?
Todos esses questionamentos nos remetem a uma análise mais
aprofundada acerca das antigas atitudes dos homens com relação à morte e aos
mortos. Nessa perspectiva é importante que se debata sobre tais mudanças e como
se deu todas elas, visto que transformações como essas são alterações de
pensamentos, mentalidades e concepções, o que de fato acarreta uma maior
rejeição por parte da população, sobretudo, por se tratar de um tema que aborda a
religiosidade.
63
Seguindo com as análises acerca das transformações nos processos de
enterramento, não se pode deixar de citar um dos mais importantes acontecimentos
que marcam de fato a mudança das práticas relacionadas ao morrer aqui no Brasil.
Foi em Salvador, no ano de 1836 quando a população se revoltou contra as
novas leis que diziam não poder enterrar os membros das confrarias, nem ninguém,
dentro das Igrejas. Segundo os médicos higienistas da época as doenças estavam
se alastrando rapidamente devido a essas práticas religiosas. João José Reis
(1991), observa que:
64
as doenças que assolavam a população na época. As notas necrológicas traziam
essas lamentáveis notícias:
Com base na citação fica claro que as doenças eram rápidas e atacavam
principalmente as crianças e os idosos. Neste caso em específico, um jovem de
apenas 17 anos de idade acabou por morrer de uma moléstia que o atingiu de forma
rápida e mortal. Estudando este tipo de fonte, pôde-se observar que a morte era
algo que chegava a qualquer momento para as pessoas e que a falta de higiene era
a principal causa, sobretudo, a falta de higiene coletiva e pública; por exemplo: o
contato diário com os ares podres das praças e ruas próximas ao cemitério que se
encontrava no centro da Vila.
Agravando a situação ainda mais, o saneamento básico também não existia,
entretanto aos poucos foram surgindo alternativas para tentar amenizar esses males
que assolavam tantas vidas. Nessa perspectiva, o planejamento fúnebre e social
teve que ser refeito e/ou sofrer grandes alterações para que se pudesse atender aos
anseios da modernidade que havia chegado ao país. Dessa forma:
66
referência para os médicos higienistas que trataram de realizar grandes projetos
para as práticas de enterro.
Partindo desse pressuposto, verifica-se que essas mudanças iniciaram,
sobretudo por volta de 1830, ainda no período imperial do Brasil. Os médicos e as
novas literaturas médicas trouxeram ainda naquele período, um olhar mais atento
sobre as questões higiênicas e, assim, contribuíram para a formulação de estudos
sobre a higiene pública e, principalmente, sobre os surtos de epidemias, assim como
relata Cláudia Rodrigues (1997):
Com isso, fica de forma explícita a grande contribuição que as novas leis
higienistas trouxeram para as pessoas e para as cidades e Vilas. Certamente mudou
radicalmente as práticas culturais das pessoas, mas percebe-se que para a saúde
em especial, foram mudanças que contribuíram excepcionalmente.
As covas, assim como afirma Philippe Ariés (2012), não são mais covas
comuns e coletivas. Os cemitérios vieram modificar e dar valor ao morto, as artes
funerais e as covas únicas são exemplos disso.
Agora o morto tinha que ter a sua própria casa e de forma isolada das
demais. Na Idade Média, por exemplo, as pessoas eram jogadas depois que
morriam em covas coletivas, não se prestava com frequência as homenagens aos
mortos, isso também devido à grande quantidade de mortes que assolava a época.
As lutas, as guerras e, sobretudo, as pestes, matavam de forma descarada boa
parte das populações, talvez por isso não se tivesse o apego ao morto “O
espetáculo dos mortos, cujos ossos afloravam à superfície dos cemitérios, como o
crânio de Hamlet, não impressionava mais os vivos que a ideia de sua própria morte.
Estavam tão familiarizados com os mortos quanto com sua própria morte”. (ARIÈS,
2012, p. 49).
As pessoas tinham que se preocuparem em manterem-se vivas o máximo
de tempo possível, dessa forma, elas evitavam o contato com o morto e falar sobre a
morte, a qual aparecia por si só em qualquer hora e com uma grande frequência.
Essa era a Idade Média, a morte era mais natural por ser corriqueira, e não se
prestava grandes condolências para com o morto. Porém, com o passar dos séculos
essa mentalidade foi se transformando.
69
II
OS DISCURSOS SOBRE A MORTE NO JORNAL O PALADINO (1919-1938)
70
daquele que em vida era tão estimado em Patrocínio do Coité e que
se chamava Dr. Antônio Ferreira Santos. Foi assim, que naquela
segunda-feira 16 de Agosto 1926, os coiteenses assistiram uma
Missa de Defunto. (DÉDA, 1958, p. 03).
****
73
várias partes do Brasil e da Europa, o que de fato mantinha os homens de imprensa
bem informados sobre os principais acontecimentos do Brasil e do mundo.
Depois do século XIX e início do XX, a imprensa brasileira passou a fazer
notícia de forma mais diversificada, onde antes só se falava de política e economia,
passou a entrar em pauta assuntos como moda, fofocas, lazer, cultura, festas e
tantas outras formas de manter a sociedade bem informada.
Para, além disso, a imprensa passou a ser uma forma de ganhar muito
dinheiro com a divulgação dos negócios e comércios, como bem explica a autora
Beatriz Dornelles (2005):
74
Manoel Coelho Cruz “[...] Vencendo difficuldades de todo o gênero,
realizou o seu nobilissimo idéal, e hoje tem a satisfação de ver O
Paladino, impresso em prelo proprio e, a cada dia, augmentando o
ambito de sua circulação. Espirito yankee, infatigavel, Manoel C.
Cruz nada vê que lhe possa entibiar o animo e antevê os melhores
destino para O Paladino, seu filho intellectual e ao qual dedica todo o
seu carinho. Ao nosso querido director um amplexo fraternal, com
votos de imperecíveis felicidades”. (O PALADINO, 03/12/1922, p.
03).
A priori, o jornal não era produzido na oficina do seu próprio dono, muito pelo
contrário era impresso nas oficinas do periódico “A LUCTA” da vizinha cidade de
Simão Dias, pelos seus amigos que eram os donos da dita tipografia. Como bem
explica a edição de 22 de julho de 1923:
75
No ano de 1921, O Paladino conseguiu aumentar as folhas de impressão,
aumentando assim, a dimensão do periódico. Agradecendo aos conselhos do
redator do jornal “A LUCTA” da cidade vizinha de Simão Dias, Émilio Rocha, que
ajudou o impresso O Paladino entre os anos de 1919 e 1921.
No dia 05 de março de 1922, O Paladino adquiriu prelos próprios e uma
propriedade para funcionar sua tipografia. As oficinas funcionavam numa extensão
do Armazém Cotinguiba do seu proprietário Manoel Coelho Cruz. Dentro do próprio
jornal, tinha as notas explicativas sobre as grandes dificuldades de impressão, já
que eram máquinas manuais o que dificultava a impressão em larga escala.
Percebem-se também as notas em que o seu proprietário Manoel Coelho
Cruz, relata as grandes dificuldades na produção e divulgação do jornal O Paladino.
E ressalta que mesmo com todos os empecilhos continuou com o seu sonho de
tornar O Paladino um periódico de sucesso dentro da sociedade da Vila e também
reconhecido por toda região. Sobre essas e outras questões relacionadas à
imprensa em Paripiranga-Bahia, Oliveira (2016), afirma que:
O Paladino era lido basicamente por uma elite local, não sendo alcançado
pelas classes mais baixas da sociedade Coiteense. Mesmo assim, é notório que o
periódico lançou sobre a sociedade do período estudado, uma “luz” de civilização e
de cultura, para além de ser uma forma de entretenimento. Inclusive, abordando
assuntos de cunho religioso e fúnebre, assuntos que antes só eram abordados pela
Igreja Católica e pelos padres. Dessa maneira, podemos observar que a morte não
era ferramenta exclusiva de debates eclesiásticos, mas também, dos homens de
imprensa que se interessavam pelo assunto cada vez mais, ressaltando ainda os
poemas, as notas necrológicas e tantos outros textos que se referiam à morte direta
ou indiretamente.
Este trabalho dissertativo tenta mostrar justamente isso, a importância dos
jornais na produção e propagação dos assuntos relacionados às representações da
76
morte, além de mostrar uma forma de representação dos homens de imprensa
acerca dos assuntos fúnebres. Este capítulo, em específico, tentará abordar essas e
outras características do impresso e, assim, verificar que não somente o Padre João
de Matos e a Igreja Católica Apostólica Romana foram os únicos responsáveis pela
mudança e construção do novo cemitério na Vila de Patrocínio do Coité e de outros
tantos assuntos fúnebres, mas que também os jornais e os homens de letras que
neles trabalhavam tiveram um importante papel social no desenvolvimento e
adaptações dos processos funerários.
77
por mais incrível que se pudesse imaginar essas conversas eram sobre o próprio
cotidiano, sobre política em alguns casos e quase nunca sobre a vida e as boas
ações do falecido. Esses fatos evidenciam, sem sombra de dúvida, que os eventos
fúnebres eram meios de grande socialização.
A representação da morte de forma coletiva vem mudando com o passar dos
anos e, consequentemente, com o passar da história, porém, essas mudanças, são,
por sua vez, mudanças no campo mental das pessoas e por isso ultrapassam
grande período de tempo para se concretizarem de fato, além de demonstrar,
também, as mudanças dos vivos para com os mortos, assim, como relata Suelayne
Oliveira Andrade (2019):
Figura 8: Cortejo fúnebre Saindo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio, no ano de 1961.
Fonte: Acervo pessoal de Robério José Santos Junior. Paripiranga-Bahia. 2016.
80
De acordo com a imagem acima podemos concluir que se tratava de um
cortejo fúnebre de alguma pessoa querida na cidade de Paripiranga-Bahia, desta
meneira podemos observar na imagem pessoas bem vestidas, alguns de terno,
pessoas mais simples, e que todos juntos nos mostram um pouco sobre o que foi
abordado em termos de socialização e, principalmente, em termos de aparição
política nos eventos fúnebres.
Como as pessoas enxergavam os políticos que participavam dos eventos
fúnebres? Bem, a grande maioria das pessoas sabiam que a depender das
condições financeiras do finado e da amizade que existia entre o mesmo e o político
ou a falta dela, chegavam a conclusão de que o indivíduo político só ia para os
eventos fúnebres para justamente fazer políticas de forma indireta, ou seja, prestar
condolências e pêsames aos parentes e amigos do finado, mesmo não o
conhecendo enquanto era vivo; então podemos concluir que esses políticos iam
para tentar ganhar um pouco mais de prestígio e de amizades no meio popular,
sobretudo, com aquelas pessoas que tinham uma certa influência no meio social,
como por exemplo, os pequenos comerciantes e fazendeiros, pessoas essas que
seriam os cabos eleitorais dos grandes políticos nas Vilas e nas cidades.
Como já sabemos, desde os primórdios da humanidade todos nós
morreremos um dia, possamos ser ricos, pobres ou miseráveis. No entanto, a classe
política aparecia com maior frequência nos enterros das pessoas mais ricas das
Vilas e cidades. A pompa, a estrutura e o número de participantes, além do nível de
classe social bem mais alto do que nos processos fúnebres de uma pessoa pobre,
atraíam cada vez mais os políticos que iam em busca de futuros apoios nos
processos eleitorais.
81
Figura 9: Cortejo fúnebre Saindo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio, no ano de 1961.
Fonte: Acervo pessoal de Robério José Santos Junior. Paripiranga-Bahia. 2016.
82
e esperam uma morte sem sofrimento e dor, e isso é ainda mais forte em nossa
sociedade contemporânea. De acordo com Andrede (2019):
Resumindo tudo isso, podemos concluir que os eventos fúnebres eram sim
meios de socialização, e para além disso, eram eventos, intrinsecamente, políticos,
pois reunia várias pessoas e alguns políticos que iam para esses eventos em busca
de se consolidarem no cenário local e para ficar mais próximo dos seus eleitores.
Podemos dizer que funcionava, visto que, as pessoas não reclamavam pelo simples
fato de um político/uma figura pública ir a um velório e depois acompanhar todo o
processo de enterramento.
Quando falamos de morte e de religiosidade estamos nos referindo a
mentalidade em conjunto, mentalidades essas que podem odiar, amar, questionar
ou aceitar determinadas condutas e/ou transformaçoes por força de leis, sejam elas
de cunho eclesiástico ou judicial.
83
práticas ritualísticas de encomendação das almas bem como do tratar o corpo do
finado para o seu sepultamento.
Com isso, a construção de um novo cemitério no lugar trouxe também um
aumento no mercado funerário, mercado esse que passou a se consolidar em todo
o território nacional. Passou a existir o conceito de boa morte ou morrer bem; de
toda maneira sabemos que os finados não escolhiam as ornamentações do seu
próprio velório, salvo naqueles casos em que o indivíduo estava em estado de
moribundo e com a sua consciência e sua fala propícios para pedir tais coisas. Em
alguns casos o próprio enfermo pedia para algum familiar anotar tudo aquilo que
queria que fosse realizado depois da sua partida, desde a cor do caixão até a
quantidade de missas que deveriam ser realizadas em prol da sua alma.
A partir dessa análise, podemos dizer que as representações da morte eram
feitas em sua grande maioria pelos vivos e em alguns casos iniciada pelo próprio
morto antes da sua partida. E que esse conjunto de simbologias formou as
práticas ritualistas de enterramento não só na Vila do Patrocínio do Coité, mas
também em grande parte do Brasil.
Logicamente temos que nos lembrarmos de que nem todo indivíduo em uma
sociedade possui os bens materiais para ter uma boa morte, nesse caso a pompa
e as práticas fúnebres poderiam sofrer alterações de pessoas para pessoas. Não
obstante conseguimos analisar essa mesma questão em nossa sociedade
contemporânea, onde o número de pessoas nos velórios varia muito e, claro, a
estrutura funerária também.
Porém, anteriormente a segunda metade do século XX, os testamentos
faziam parte de um processo no qual o finado havia deixado tudo aquilo que
queria explicitado a próprio punho e/ou escrito por outras pessoas e assinado pelo
mesmo. Nos testamentos o moribundo geralmente colocava os seus bens e sua
distribuição aos herdeiros, e também em alguns casos descrevia como queria o
seu enterro. Então, dessa maneira, o testamento é uma forma da pessoa fazer,
por hora, seus últimos atos na vida e também tratar da sua própria encomendação
da alma, assim como Ariès (2012) descreve:
84
para cada individuo exprimir, frequentemente de modo muito
pessoal, seus pensamentos profundos, sua fé religiosa, seu apego
às coisas, aos seres que amava, a Deus, bem como as decisões que
havia tomado para assegurar a salvação de sua alma e o repouso de
seu corpo. O testamento era, então, mais que um simples ato de
direito privado para transmissão de sua herança, um meio para cada
um afirmar seus pensamentos profundos e suas convicções. O
objetivo das cláusulas piedosas, que por vezes constituíam a maior
parte do testamento, era o de comprometer publicamente o executar
testamentário, a fabrique e o padre da paróquia ou os monges do
convento, e, assim, obrigá-los a respeitar as vontades do defunto.
(ARIÈS, 2012, p. 71).
Hoje em dia são gritantes tais diferenças entre o velório e até mesmo as
necrópoles onde se enterram as pessoas, e voltando para o nosso recorte
temporal e espacial essas diferenças eram ainda mais escancaradas. No enterro
de uma pessoa rica ou muito bem quista na sociedade da Vila do Patrocínio do
Coité era comum que os jornais O Paladino e O Ideal anunciassem antes mesmo
da morte da pessoa o seu estado de saúde, ou seja, quando uma pessoa se
encontrava enferma, as páginas dos impressos sempre traziam uma parte na qual
se demonstrava a solidariedade dos donos dos periódicos para com o indivíduo
que se encontrava naquele estado; depois dessa primeira chamada de como
estava a saúde da pessoa enferma, sempre atualizavam a situação semanalmente
caso piorasse e em muitos casos até o momento do seu falecimento.
Depois disso, o próprio jornal tratava de espalhar a notícia do prestigiado ou
prestigiada que viera a falecer naquela Vila, além de anunciar tudo de forma
detalhada ainda colocava-se em alguns casos poemas para homenagear o finado,
resumindo, as notas de necrologia dos ricos eram bem mais pomposas do que as
notas dos pobres e/ou pessoas menos influentes naquele meio social. Além, de
explicitar melhor a vida do finado:
85
Continuando a verificação de anunciações de mortes nos jornais, de uma
pessoa rica ou influente no meio social; era comum também as notas de convite
para as missas de sétimo dia, e sempre trazendo os vastos elogios sobre o finado,
enaltecendo a figura que o mesmo fora um dia e suas amizades naquele meio
social. Por fim, a morte e até mesmo antes dela os donos dos impressos já
representavam a figura que os mesmos conheciam e prestigiavam. Em alguns
casos até banda de filarmônica participava dos cortejos e recitavam cânticos
religiosos no percurso até o cemitério, assim como a nota necrológica abaixo
demonstra:
Rendeu alma ao credor, às 21 horas de domingo passado 21, a
senhorita d. Adalgisa Trindade, victima de padecimentos que, de há
muito, a traziam presa ao leito de dor. A inhumação realizou-se na
manhan de 22, figurando no préstito fúnebre muitas senhoritas,
numerosos cavalheiros, tendo comparecido também a filarmônica
local. Aos srs. Ismael e Arthur Quirino da Trindade, irmãos da extinta,
e aos demais membros da família nossas expressões de pesar. (O
PALADINO, 09/01/1926, p. 05).
Banda essa que fazia parte de eventos fúnebres e também eventos festivos
na Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, sobretudo as festas missais da
Paróquia.
Figura 10: Evento festivo na Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité. Participação da banda
de música Lira Coiteense. Década de 1940.
Fonte: Acervo pessoal de Roberto Santos de Santana. Adustina-Bahia. 2020.
86
Em contrapartida, a morte de um pobre ou pessoa menos influente no meio
social recebia menos destaque e na maioria das vezes ninguém sabia que o
indivíduo se encontrava enfermo, pois, os jornais não anunciavam; claramente
essa informação só era conhecida entre os parentes e amigos da pessoa que se
encontrava em enfermidade e/ou em estado de moribundo. Nesse âmbito, após o
falecimento da pessoa, se o impresso o noticiasse, essa nota necrológica seria
bem menor e sem a pompa da anunciação da morte de uma pessoa rica ou
benquista pela sociedade, assim como aponta a necrologia abaixo:
87
determinada sociedade. Essa era a imprensa da primeira metade do século XX,
homens de imprensa, intelectuais e que geralmente estavam inseridos num
determinado grupo politizado, automaticamente os impressos também tinham um
viés político. Sobre isso, Goodwin Jr (2007) compreende que:
88
Entretanto, essas não eram as apresentações dos jornais, nem no Brasil e
muito menos na Europa, na verdade os periódicos sempre se diziam servidores das
sociedades em que os mesmos estavam inseridos, dessa maneira, seriam
imparciais e bem organizados, prezando assim, pela verdade inabalável; e tudo isso,
toda essa “credibilidade” dos impressos eram personificadas nas figuras dos
homens de imprensa, intelectuais que trabalhavam na sua grande maioria em outros
serviços, mas que se debruçavam também na produção dos jornais. Então, essa era
a imagem que os donos desse meio de comunicação queriam passar para a
população:
Figura 11: Capela que marca a fundação de Queimada, distrito da Vila do Patrocínio do Coité.
Construída pelo cidadão Justino Correia de Andrade. Década de 1905.
Fonte: Acervo Pessoal de Roberto Santos de Santana. Adustina-Bahia. 2020.
90
Dessa maneira, podemos observar que em Patrocínio do Coité os discursos
muito influenciavam nos processos fúnebres, os jornais eram detentores de uma
narrativa sobre os finados e, claramente, quando a narrativa era positiva para a
família do finado ninguém reclamava ou questionava os produtores dos jornais,
muito pelo contrário, aumentavam-se as amizades entre homens de imprensa e
população.
Os veículos de comunicação possuem grande influência sobre uma
determinada sociedade, se hoje em dia temos os jornais eletrônicos, a televisão, o
rádio e a internet no geral, naquela época os periódicos eram os principais meios
de construção de uma narrativa unitária e que influenciava não só em assuntos
religiosos e, consequentemente, fúnebres, mas também influenciavam em
assuntos políticos, principalmente em se tratando de uma Vila no interior baiano
onde se dava ainda mais credibilidade aos redatores dos jornais e aos próprios
impressos, além de não existir veículos que concorriam entre si, pois os dois
jornais eram um só, visto que, primeiro surgiu o jornal O Paladino em 1919 e
depois muda o nome para O Ideal. Dessa maneira, quando não existe um
confrontamento entre os discursos e a própria narrativa, costumamos a acreditar,
veementemente, naquilo que está posto nas páginas dos jornais e/ou de qualquer
outro meio de comunicação social.
91
comunicação, principalmente em se tratando do Brasil no final do seu período
imperial e primeira metade do século XX.
Não era normal que em todas as Vilas do Brasil tivesse um jornal que era
periódico, mas, isso acontecia nas regiões que tinham uma maior massa
populacional e, consequentemente, houvesse uma maior demora em se noticiar os
fatos ocorridos na mesma sociedade.
As necrologias surgem no momento em que os jornais se consolidam,
sobretudo, no que se refere à propagandas e outros assuntos de interesse público e
político, pois, os impressos eram, em sua grande maioria, frutos de um aparato
político, ou seja, o dono ou os donos dos mesmos sempre tinham uma tendência ou
uma ideologia política. Automaticamente existiam discursos diferentes entre os
jornais, sobretudo a partir de 1889 quando o Brasil se lança nos moldes
republicanos e onde também se afloram os sentimentos sobre política.
Necrologia, uma parte do jornal onde anuncia a morte de algum membro da
sociedade, e como já explicado anteriormente existe diferenças entre uma nota
necrológica e outra, entre as notas de uma pessoa benquista na sociedade e uma
pessoa comum. Porém, o simples fato de se demonstrar e anunciar a morte do
indivíduo pertencente àquela sociedade ou a outra sociedade vizinha já o torna
“democráticos” em alguns termos, como por exemplo, em se tratando da fé e da
solidariedade cristã.
Geralmente as notas necrológicas traziam informações básicas, as quais
pudessem ser identificadas por parente e amigos e para evitar possíveis confusões
acerca de nomes iguais ou parecidos. As informações que eram mais recorrentes
nas necrologias eram o nome do finado, a causa da morte, a hora que aconteceu o
óbito e, por último, faziam uma homenagem ou uma conclusão da nota com os
pêsames.
Mesmo que isso fosse uma forma de bajulação na maioria das vezes, mas
era algo que tornava a sociedade mais bem informada e, principalmente, quando se
tratava de algo tão sério e ao mesmo tempo tão religioso como é a morte de alguém.
Claro que os discursos variavam muito, pois, como já foram explicitados
neste capítulo os discursos existiam e se diferenciavam de pessoa para pessoa,
ainda mais quando os finados eram assinantes dos jornais e/ou pertenciam à
92
mesma classe social e política dos redatores e donos dos periódicos. Assim como
Michel Foucault (1996) relata, os discursos sempre possuem um viés ideológico:
94
em Patrocínio do Coité. Sobre essa nova modalidade de informação dos impressos
brasileiros, Cerqueira (2014) analisa que:
95
Claramente podemos concluir que determinados assuntos não eram para
leigos ou pessoas que não sabiam ler, mas essa questão de estar ouvindo o que o
outro fala e, sobretudo, sobre o que o outro ler, acabou por acarretar uma espécie
de coletividade nas informações e também um maior aprendizado para aqueles que
não sabiam ler ou não entendiam sobre o que era determinado assunto.
As pessoas falavam sobre suas experiências, sobre o seu cotidiano na Vila,
mas, principalmente, sobre os assuntos que eram expostos nos periódicos, em
especial quando os mesmos traziam anunciação de uma enfermidade ou de uma
morte. Essa coletividade vivida no lugar possibilitou uma abrangência das
informações e também da cultura e da sociedade. Enquanto as mulheres, ficavam
em casa, iam para as missas, participavam de grupos de orações e,
consequentemente, fomentavam uma maior ideia sobre religiosidade, os homens
trabalhavam na roça, cuidavam das suas criações, bebiam cachaça e conversavam
sobre tantos outros assuntos, como política local e do Brasil no geral, economia e
sociedade. Majoritariamente, esses debates diários eram realizados nas praças
públicas, como esta:
Figura 12: Vista do jardim suspenso à frente do Largo dois de Julho. Paripiranga-Bahia. Década de
1950.
Fonte: Acervo pessoal de Roberto Santos de Santana. Adustina-Bahia. 2020.
96
Entretanto, não podemos generalizar e também afirmar que os homens de
Patrocínio do Coité só faziam isso e não se apegavam ou frequentavam os eventos
religiosos, muito pelo contrário, era muito grande a frequência de homens que iam
semanalmente para as missas na Paróquia, sobretudo aos domingos
acompanhados da sua família, e também para velórios e cortejos fúnebres.
Resumindo, a comunidade de Patrocínio do Coité tinha uma rotina muito fiel e
religiosa, mas tratava com maestria sobre os outros afazeres, além de se reunir para
tratar sobre vários assuntos, e como já foi explicitado neste capítulo, o jornal era
algo muito importante para a manutenção desses assuntos que foram abordados
aqui, então podemos dizer que o impresso em si proporcionou também uma melhor
qualidade de vida para a população na qual o mesmo estava inserido.
Não podemos esquecer que Patrocínio do Coite tinha os seus povoados
mais distantes e que por isso merecia uma atenção muito especial em termos de
anúncios nos jornais. Povoados como Queimada, Pau preto e Maritá eram muito
longe da Vila, os periódicos deveriam ser enviados de manhazinha por volta das
quatro horas, para que se pudesse chegar por volta das nove horas nas mãos dos
assinantes. Como não existiam carros e motos em Patrocínio do Coité, esses
impressos eram enviados a cavalos, burros ou jumentos, com isso o jornal tinha que
ter muitos funcionários para que se pudesse sair distribuindo os mesmos nessas
regiões.
Resumindo, o jornal tinha que chegar a toda a Vila e em todos os povoados
nos quais existiam seus assinantes, e manter as pessoas informadas era primordial
na sociedade, sobretudo em se tratando de notas necrológicas, pois poderia
anunciar a morte de parentes e amigos, além de pessoas com grande prestígio no
meio social. A comunicação era fundamental para que se pudesse realizar um
grande cortejo fúnebre e, consequentemente, todos pudessem prestar a sua
solidariedade para com os parentes e amigos do finado.
Assim foi o cotidiano das pessoas que viviam em Patrocínio do Coité até o
ano de 1961, os jornais O Paladino (1919-1938) e O Ideal (1953-1961) eram parte
da vida e da morte das pessoas. Esses periódicos prestaram um grande serviço
para a comunidade e, principalmente, deixou vários rastros e vestígios muito
importantes sobre a atual cidade de Paripiranga-Bahia.
97
Figura 13: Jornal O Paladino.
Fonte: Acervo pessoal de
Robério José Santos Junior.
****
100
O Ideal – memorável, animado e com profundo espírito de civismo,
concorreu para o engrandecimento e prosperidade dessa terra. Este
jornal, inegavelmente, reacendeu as esperanças da nossa gente,
acabando com o desanimo que se faz presente quando O Paladino
deixou de circular na inesquecível Vila de Nossa Senhora do
Patrocínio do Coité. (LIMA, 1998, P.01).
Segundo Robério Dias Lima (1998) que era filho do ex-prefeito, coronel e
proprietário do jornal O Ideal; a imprensa é, sobretudo, a “luz” que ilumina a
sociedade, os jornais têm que cumprir um verdadeiro papel social e proporcionar um
trabalho justo, digno e de serviços prestados à sociedade a qual está inserido.
Porém, sabemos que os periódicos tinham um certo interesse na política local, desta
maneira, não existia uma isenção total dos fatos e daquilo que a sociedade viria a
apoiar dentro do âmbito político.
Outro fator que ajudou na implantação do jornal O Ideal na cidade de
Paripiranga-Bahia, foi sem sobra de dúvidas o aumento do número de pessoas
letradas. No período de criação de O Ideal uma boa parte da população já sabia ler.
Isso graças ao aumento da produtividade agrícola e do paulatino início incipiente do
processo urbano existente na cidade, os quais atraíram cada vez mais um
seguimento social letrado.
De acordo com o autor Juan Kleber Silva Menezes (2020), os fazendeiros
que se assentaram na região já eram, por sua vez, herdeiros dos grandes
proprietários de terras dos tempos da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité.
Esses fazendeiros e donos de comércio local foram fundamentais para a criação de
um novo periódico na cidade de Paripiranga-Bahia. E assim o fizeram e surge o
jornal O Ideal, impresso este que circulava aos domingos e era entregue aos seus
assinantes, que pagavam semanalmente ou mensalmente, para além das vendas
nos pontos da cidade, ou seja, qualquer pessoa poderia ler o jornal, se soubesse ler
e tivesse o dinheiro para adquiri-lo. Sobre essas questões, Menezes (2020)
compreende que:
101
vezes prefeito na década de 1940. Os que contratavam o jornal,
eram os chamados assinantes, faziam uma espécie de contrato
firmando responsabilidade de receber os jornais pós-pagamento,
mensalmente, anualmente ou avulso que era comprado num ponto
determinado da cidade. (MENEZES, 2020, p. 36).
Com base no que foi visto até o presente momento, é possível observar que
os assuntos fúnebres e de outras categorias e importância foram cada vez mais
adentrando no campo da imprensa (circulação de coletores de lixo, cuidados com o
espaço físico do cemitério, estimulação a vacinação e outros), e assim passando a
fazer mais parte do cotidiano social da Vila. A Igreja passou a não ser mais a única e
exclusiva dona dos assuntos políticos, administrativos e eclesiásticos.
Até o ano de 1919 o Padre Vicente Valentim da Cunha era o responsável
eclesiástico da região e encarregado de propagar a fé entre os cidadãos que ali se
encontravam. Além disso, foi muito importante para iniciar e acabar algumas
construções bem relevantes para a Vila de Nossa Senhora do Patrocínio do Coité,
como por exemplo, o tanque da missão.
No fim do mesmo ano de 1919 surge outro padre mais esclarecido e letrado
que se tornou um personagem atuante para a comunidade da Vila (padre e Doutor
João de Matos Freire de Carvalho), como já mencionamos no primeiro capítulo
deste trabalho, este foi o encarregado de construir um novo cemitério para a Vila de
Nossa Senhora do Patrocínio do Coité e de tratar sobre assuntos de administração e
limites paroquiais.
O cônego João de Matos inicia seus trabalhos na Vila de Nossa Senhora do
Patrocínio do Coité depois que o Brasil se tornou um Estado Laico em 07 de janeiro
de 1890. Esse acontecimento foi um marco importante para a progressão do
pensamento liberal e progressista, tanto no Brasil quanto para a Vila de Nossa
Senhora do Patrocínio do Coité, visto que:
104
pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca.
(PORFÍRIO, 2021, p. 02).
106
As crônicas de Francino Silveira Déda, publicadas desde 1953, no
semanário O Ideal, possuem como tema base as suas memórias de
infância e juventude em malhada Vermelha e depois Patrocínio do
Coité, (primeiras denominações de Paripiranga). Em cada um de
seus textos, Déda revela momentos da História de Paripiranga, e
descreve com riqueza de detalhes, aspectos sociais, culturais,
econômicos e políticos que compunham a estrutura organizacional
de Paripiranga, desde a sua fundação em 1846, às primeiras
décadas do século XX” (OLIVEIRA, 2016, p. 07).
Com base no que foi visto neste tópico, foi possível analisar e conhecer um
pouco sobre o surgimento do jornal O Ideal. Apresentamos aspectos de suas
principais características, assim como os seus homens de imprensas, ou seja,
pessoas que eram responsáveis pelo impresso. Desde seus fundadores e donos até
a figura do cronista Déda. Para além de tudo isso, pudemos observar que o
surgimento e o fortalecimento da imprensa, na cidade de Paripiranga-Bahia,
ocasionaram um importante debate sobre questões que antes não eram abordadas
por outras pessoas fora da Igreja Católica. Como por exemplo, os assuntos de
salubridade pública envolvendo os eventos fúnebres, tais como enterros e
sentinelas, além de trazerem importantes críticas sobre a necrópole da cidade.
Esse tópico introdutório serviu de base para a escrita dos demais e ajudará a
tentarmos responder uma série de outros questionamentos envolvendo o jornal O
Ideal e os assuntos relacionados à morte. Sendo assim, nos próximos tópicos deste
último capítulo, continuaremos a observar as características do impresso e seu
papel social no que diz respeito à salubridade pública, críticas sociais construtivas,
as propagandas e mercado mortuário e poesias dos escritos do 02 de novembro (dia
de finados).
Esperamos compreender a dinâmica desse jornal para a cidade de
Paripiranga-Bahia, bem como o elo que liga os três capítulos dessa dissertação de
mestrado, que é justamente a compreensão de que não somente o Padre João de
Matos e Vicente Valentim, além do clero, eram os únicos responsáveis pelos
assuntos fúnebres e de salubridade pública, mas sim, que após o 07 de janeiro de
1890, quando o Estado brasileiro se torna laico, abriu-se um debate maior e a
imprensa ganha cada vez mais força para criticar e dialogar com os poderes
públicos sobre diversos assuntos de ordem pública e cujo o interesse é de todos os
setores sociais.
107
3.2- As críticas estampadas no periódico e o código de posturas da cidade
109
Estava sentado em um dos bancos do nosso aprazível jardim, sem
ter em mente nenhum pensamento, apreciando somente a beleza
das flores e sentindo o inebriante perfume natural das belíssimas
rosas que neste domingo de sol o nosso jardim ostentava. Neste
interim veio á mente de que naquele local onde eu me divertia com a
natureza, era também o lugar onde fora edificada a Cidade dos
mortos. Concentrei o pensamento e rendi uma prece, àqueles que
jaziam sob nosso jardim, e fitei comovido, aquele obelisco, no qual a
administração passada eternizara a saudade da geração atual, aos
nossos antepassados. Daí resultou em mim o desejo de fazer uma
visita ao Cemitério local. Resolvi de logo, e fui andando. Ao
aproximar-me senti tristeza pelo aspecto de abandono de nosso
Cemitério; a murada que o cerca está inacabada; um portão
improvisado de última hora; as ervas daninhas cobrindo os túmulos;
os carneiros enegrecidos e mal cuidados. Aqui, túmulos de gente
humilde mas bem cuidados, com pés de flores, assinalados por
cruzes, dando assim uma demonstração viva da lembrança e a
saudade dos parentes. Ali, dois ou três mausoléus recém-
construídos trazendo sobre o mármore a inscrição: lembrança do
papai, ou recordação do esposo. Acolá, os túmulos dos pobres;
coitados! Sem uma cruz, sem inscrição alguma, somente vestígios
de que ali está sepultado alguém. Apesar de não haver distinção de
cor nem de posição social, pois todos ali estão, em igualdade de
condições, há sim, e a demonstração de amor ou de desprezo aos
que partiram para a outra vida. Mais adiante, tudo é desolação, e
abandono. Tenho até pudor em escrever para conhecimento geral do
público as condições do nosso Cemitério. Será que o povo esqueceu
os entes queridos que lá estão? ou os restos mortais não merecem a
nossa dedicação, veneração e até mesmo o nosso afeto?
Lembremo-nos dos nossos irmãos que dormem tranquilamente o
sono da eternidade, e façamos de sua morada uma sala de visita de
nossa Cidade. Aqui fica lançada a ideia; lutemos, pois povo e
autoridades para que seja reconstruída e melhorada a nossa futura e
eterna morada, assim procedendo, estamos praticando um ato de
humanidade, cumprindo uma obrigação para com os mortos que são
dignos de maior e melhor tratamento. (DIAS, 1953, p. 01).
110
precário da necrópole, além de tecer comentários acerca da falta de cuidado e de
zelo dos parentes e amigos com os túmulos dos finados.
A proposta do periódico em liberar colunas como esta era justamente
apontar falhas na sociedade e buscar fazer com que os órgãos responsáveis
resolvessem os problemas elencados, destacando, assim, o importante papel da
imprensa para a manutenção da estrutura social, econômica e religiosa.
Além disso, Goodwin Junior (2007) aponta que estudar a imprensa é
compreender o poder que envolve os discursos e a própria escrita de forma dura e
contundente, nas quais buscam lançar na sociedade uma ideia de técnica, sabedoria
e autoridade acerca dos assuntos abordados nos periódicos. Sobre isso, o autor
compreende que:
111
sanitários existentes em outras cidades do Brasil e do mundo. Esse colunista faz a
seguinte crítica no periódico O Ideal:
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sua casa de forma escondida e sem avisar ao poder público, sob pena de pagar
multa e sofrer processos na esfera civil e penal.
Prosseguindo com as observações acerca do código de posturas da Vila de
Nossa Senhora do Patrocínio do Coité, surge um artigo bem interessante, o qual
afirma que: “Art. 99. – É prohibido a vendaem de drogas venenosas em casa de
molhados ou de gêneros alimentícios, sob pena de 30$000 de multa ou prisão por 8
dias. Paragrapho único. – Taes drogas só poderão ser vendidas nas Pharmarcias”.
(CÓDIGO DE POSTURAS DA VILA DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO DO
COITÉ, 1927, p. 16). De certa forma, podemos compreender que a proibição de
ervas naturais por terceiros que não fossem farmacêuticos ocorreu graças as
perseguições religiosas, ou seja, as pessoas deveriam procurar a ciência ou a
religião católica (padres e membros do clero), de forma a não apelar pelo saber
popular e de religiões de matrizes africanas ou indígenas.
Sobre mortes por motivo de doenças contagiosas o artigo a seguir aborda
que: “Art. 100. – É obrigado ao inquilino ou proprietário de casas onde se derem
casos de morte, por moléstias contagiosas, procederem logo após o funeral, a
competente desinfecção do prédio, sob pena de 20$000 de multa”. (CÓDIGO DE
POSTURAS DA VILA DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO DO COITÉ, 1927,
p. 16). Essa lei do código de posturas é interessante porque trata da morte de forma
direta, pois a tradição do velório não foi proibida, todavia, era preciso tomar certo
cuidado para que as demais pessoas presentes no evento não acabassem por
contrair a doença. Nota-se com isso, que a “visão” e a literatura médica já estavam
imbricadas na sociedade brasileira e na Vila em questão, onde o cuidado para com o
próximo deveria existir, a partir de então a higiene passou a ser caso de polícia, ou
seja, além da higiene pessoal era necessário zelar pela higiene coletiva e isso tinha
que ser seguido de acordo com o então código de posturas vigente na Vila de Nossa
Senhora do Patrocínio do Coité.
Com o conhecimento sobre a origem das doenças cada vez mais
aprimorado, as leis de higiene foram sendo criadas e apresentadas à população de
forma geral, como explica o artigo seguinte do código de posturas “Art. 101. – É
obrigado todos os habitantes desta Villa, conservarem as frentes, muros e quintaes
de suas casas e estado de asseio e livre de estagnação de águas, sob pena de
10$000 de multa ou 2 dias ne prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DA VILA DE
115
NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO DO COITÉ, 1927, p. 16). Observando essa lei
chegamos à conclusão de que se tratava justamente de possíveis criatórios de
insetos e mosquitos capazes de transmitirem as doenças para os seres humanos,
hoje em dia é possível ver algo parecido nas orientações estaduais e federais acerca
do mosquito da Dengue. Ou seja, cada cidadão dono de uma propriedade deveria
zelar dela e não deixar água parada no chão ou em qualquer outro reservatório
descoberto, evitando assim, os possíveis focos de doenças.
O código de posturas também fazia considerações aos
estabelecimentos comerciais que recebiam mais clientes com frequência, tais como
as barbearias:
117
detentora exclusiva desses assuntos, agora divide as atividades com a imprensa e
com o poder público. Sendo o jornal, responsável pelas críticas construtivas e pelas
cobranças, seja por parte dos membros do clero ou da política.
E, continuaremos a verificar a importância do jornal O Ideal para a história
de Paripiranga-Bahia, bem como para os assuntos fúnebres, pois no próximo tópico
analisaremos as características dos escritos do 02 de novembro (dia de finados), e
das crônicas relacionadas ao assunto. Com isso, pretendemos mostrar que além de
criticar e buscar melhorias sociais, O Ideal também tinha um viés poético e
relacionado com a morte e com a religiosidade; na realidade os homens de imprensa
que trabalhavam no jornal gostavam de escrever sobre tais questões, assim como
veremos a seguir.
118
finados e como as pessoas encaravam essa data para relembrar seus entes
queridos. Relatando o dia dos mortos, Santana (1956) dissertou da seguinte forma:
119
óbito e fotografias, vez ou outra alguma espécie de texto ou passagem bíblica
estampada sobre o mármore.
Observando passagens como esta, fica de forma explícita a representação
da morte de forma individual e coletiva, ou seja, cada indivíduo prestava a sua
solidariedade de forma única e exclusiva. Todavia, o ato de frequentar as necrópoles
no dia de finados, em grupos, missões ou romaria configura um simbolismo coletivo
capaz de mobilizar um alto número de pessoas. Sobre isso, Sandra Jatahy
Pesavento (2008) afirma que:
122
Logo ao amanhecer, Nascimento (1953) percebe que o dia não é “igual” a
todos os outros, para ele o clima e o tempo estavam “pesados” diferentes dos
normais, e isso é reforçado pela data que se encaixou no mesmo dia (finados).
Em seguida ele vai ao cemitério para prestar sentimentos a alma do seu
querido pai, e ao entrar na necrópole já começa a fazer suas reflexões acerca da
vida e da morte, pois, segundo ele aquele local seria a morada derradeira de todos
os seres humanos. E de forma concisa vai descrevendo os seus sentimentos.
Chegando ao túmulo do seu pai continua com seus pensamentos sobre a
vida e a morte. E compreende que a morte não liga para o que o finado foi enquanto
estava vivo, completa ainda analisando que os homens fazem muito em vida, mas a
morte não os consideram e não os dão crédito por aquilo que fizeram em tempos de
estadia no plano terrestre.
De certa maneira, ao analisarmos tudo aquilo que Nascimento (1953)
escreveu, podemos compreender que o consolo pela perda do seu pai, era a sua
própria morte. A reflexão termina quando o mesmo percebe que aquele destino era
inevitável e incontrolável. O morrer biológico aconteceria de qualquer forma, o que
restava era somente rezar pelos que já se foram e se preparar para a sua própria
partida.
Todas essas lembranças e descrições do dia de finados, fazem-nos
questionar como de fato é composta a representação da morte, as lembranças vivas
daqueles que não mais estão vivos, por isso, seria a junção do presente com o não
presente. O autor Roger Chartier (1998), faz a seguinte constatação acerca da
representação:
123
como o mesmo idealiza todo o sistema em sua volta, incluindo o físico e o não
palpável.
O sentimento que Nascimento (1953) teve ao perceber que aquele dia de
finados estava diferente dos demais era puramente fruto do seu interior, da forma
como o mesmo representou aquela data. E toda a reflexão que ele fez sobre a sua
vida e sobre a sua morte, para além do ato de ir visitar o túmulo do seu pai, foi
comparável ao novo processo de consciência individual que o historiador Philippe
Ariès (2012), descreve em sua obra “Historia da morte no ocidente”; onde segundo o
autor, as pessoas depois da Idade Média passaram a se preocupar mais com a sua
própria partida, e existiu uma autorreflexão acerca do seu término biológico. Sobre
isso, Ariès (2012), faz a seguinte análise:
126
CONSIDERAÇÕES FINAIS
128
No terceiro e último capítulo deste trabalho dissertativo, continuamos com a
hipótese de que não foi somente o Padre João de Matos e a Igreja Católica
Apostólica Romana, os únicos responsáveis pelos assuntos fúnebres e de
salubridade pública.
Muito pelo contrário, conseguimos analisar a importante participação dos
homens de imprensa que atuavam em Paripiranga-Bahia.
O capítulo final vem mostrar a criação do jornal O Ideal (1953-1961), e a sua
trajetória dentro da comunidade paripiranguense. Verificamos a atuação dos homens
de imprensa que trabalhavam no impresso e seus escritos dentro de diversas
perspectivas ligadas à morte direta ou indiretamente.
Dentre os escritos do jornal O Ideal, pudemos trazer à baila as críticas
estampadas nos periódicos. Os homens letrados que trabalhavam no impresso
criticavam de forma veemente a atuação do poder público e da Igreja com relação
aos assuntos fúnebres e de salubridade pública, como por exemplo, o displicente
cuidado com o cemitério e com a saúde da população de forma geral.
Além de criticar os órgãos religiosos e políticos, O Ideal prestava um relevante
papel dentro da sociedade de Paripiranga-Bahia. A visibilidade do Código de
Posturas no impresso, durante anos ajudou a formar nas pessoas um conhecimento
do que era legal ou não perante a justiça, além de ajudar a modificar os costumes
perante os eventos fúnebres, desde a morte até o momento derradeiro do
enterramento.
O Ideal também abriu espaço para a reflexão e para a filosofia associada à
morte direta ou indiretamente. Os homens de imprensa que nele trabalhavam,
sempre faziam textos poéticos no dia 02 de novembro (dia de finados). textos esses
que, por sua vez, eram uma narrativa da realidade local e crônicas que refletiam o
pensamento individual e coletivo acerca da morte.
As poesias em forma de crônica trazem com riqueza de detalhes o que
acontecia no dia de finados em Paripiranga-Bahia e a sua importância para a
reflexão dos seus contemporâneos com relação à morte.
Observamos que O Ideal era noticioso, poético e crítico. Essa diversidade e
autoridade em poder opinar sobre a política, a economia, a sociedade e a
religiosidade fez do periódico um importante e único meio de ajuda social e de
ordem pública.
129
Logo, é inegável a atuação dos impressos dentro da sociedade de
Paripiranga-Bahia. Tanto o jornal O Paladino (1919-1938), nos tempos de Patrocínio
do Coité, quanto O Ideal (1953-1961), lançaram sobre seus contemporâneos à “luz”
de uma nova sociedade mais civilizada e mais letrada.
Por fim, esperamos que este trabalho dissertativo tenha mostrado um pouco
sobre a história cultural de Paripiranga no interior da Bahia, e compreendido o
conceito de representação da morte por diversos vieses, como por exemplo, a
atuação dos homens de imprensa através dos jornais O Paladino e O Ideal, da Igreja
católica através do Padre João de Matos e do poder público através, sobretudo, das
elites locais que pertenciam à classe política. E verificado que não somente o clero
era responsável pelos assuntos fúnebres, mas também os periódicos que se faziam
presentes na sociedade, elencando, assim, o desenvolvimento social de um
determinado lugar que dispunha de um veículo de imprensa tão importante quanto
foram os jornais.
Nosso desejo é que esta dissertação sirva de inspiração a outros
pesquisadores da morte e da religiosidade, e que seja um arcabouço para futuros
trabalhos sobre a história local, regional ou até mesmo nacional, visando assim, um
enriquecimento da historiografia brasileira.
130
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