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A Introdução Da Metralhadora Na 1 Guerra Mundial

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ACADEMIA MILITAR

DIRECÇÃO DE ENSINO
CURSO DE INFANTARIA

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO APLICADA


(TIA)

A introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial: Implicações


nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria
do Corpo Expedicionário Português

AUTOR: Aspirante Aluno de Infantaria Tiago Baião

ORIENTADOR: Major de Infantaria Fernando Rita

LISBOA, JULHO DE 2011


ACADEMIA MILITAR
DIRECÇÃO DE ENSINO
CURSO DE INFANTARIA

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO APLICADA


(TIA)

A introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial: Implicações


nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria
do Corpo Expedicionário Português

AUTOR: Aspirante Aluno de Infantaria Tiago Baião

ORIENTADOR: Major de Infantaria Fernando Rita

LISBOA, JULHO DE 2011


A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Resumo

O presente trabalho de investigação aplicada tem por objectivo analisar a “introdução


da metralhadora na 1ª Guerra Mundial: implicações nas tácticas, técnicas e procedimentos
das unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português”. Pretendemos assim com o
trabalho que apresentamos, descrever as mudanças que surgiram nas Unidades de
Infantaria do Corpo Expedicionário Português, relativamente às suas tácticas, técnicas e
procedimentos, durante a Grande Guerra com a introdução da metralhadora no campo de
batalha.
Para limitarmos este trabalho procurámos cingi-lo ao espaço e ao tempo disponíveis.
Dentro dos limites temporais definidos para a realização deste trabalho, aplicámos o método
histórico, tendo em perspectiva a sequência temporal, fundamental para a contextualização
histórica, e a análise da evolução do conflito nessa época recorrendo a uma perspectiva
sincrónica e diacrónica.
Este Trabalho de Investigação Aplicada foi então constituído em quatro partes, cuja
organização a seguir se descreve. Na primeira realizámos uma contextualização histórica,
onde identificámos os antecedentes que dão origem ao conflito e o porquê da corrida ao
armamento. Na segunda parte pretendeu-se dar a conhecer melhor as metralhadoras que
equipavam o C.E.P. na altura da 1ªGuerra Mundial, procurando também mencionar as
armas que foram substituídas. Na terceira parte desta investigação, analisámos a
organização do C.E.P. e do Exército Alemão, como comparação, dando importância
particular às unidades de Infantaria, fazendo referência às respectivas alterações efectuadas
para melhor integrar a metralhadora nas forças e para fazer face a este novo modo de
combater. Por último investigámos quais as implicações do uso da metralhadora na Grande
Guerra, fazendo referência à necessidade de alterar o modo de agir das unidades de
Infantaria, e às vantagens e desvantagens da utilização de um grande número de
metralhadoras no campo de batalha.

Palavras-chave: 1ª Guerra Mundial, Táctica, Corpo Expedicionário Português, Infantaria,


Metralhadora.

i
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Abstract

The present work of applied investigation has for objective to analyse the
“introduction of the machine gun in the First World War: implications in the tactics,
techniques and procedures of the infantry units in the C.E.P.” We also wanted to describe
the changes that emerged in the infantry units of the C.E.P., relatively to their tactics,
techniques and procedures, during the Great War with the introduction of the machine gun in
the battlefield.
To limit this work we tried to narrow it in the space and time available. Within the
defined time bounds to the accomplishment of this work, we applied the historic method, by
having in view the time sequence, fundamental to the historic contextualization, and the
analyses of the conflict evolution in that period by using a synchronic and diachronic
perspective.
This work of applied investigation was made into four parts, which organization we
describe next. In the first we made a historical contextualization, where we verified the
background that was in the origin and the why of the arms race. In the second part we tried
to introduce the machine guns that equipped the C.E.P. in First World War, seeking to
mention also the weapons that were replaced. In the third part of this investigation, we
analysed the organization of the C.E.P. and of the German Army, as a comparison, giving
special importance to their infantry units, by making reference to the changes made to better
instate the machine gun in the forces and to deal with the new way of fighting. For last we
investigated which were the implications of the use of the machine gun in The Great War,
making reference to the need to change the way of fighting of the infantry units, and the
advantages and disadvantages of the increasing number of machine guns in the battlefield.

Key words: First World War, Tactics, Corpo Expedicionário Português, Infantry, Machine
Gun.

ii
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Agradecimentos

A minha mais sincera gratidão a todos aqueles que me ajudaram a percorrer este
longo caminho, assim como, aos que me auxiliaram na realização deste trabalho de
investigação aplicada, dispensando o seu tempo e paciência para o tornar um pouco melhor.

iii
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Índice
Resumo........................................................................................................................................ i

Abstract ....................................................................................................................................... ii

Agradecimentos ......................................................................................................................... iii

Índice de Figuras ....................................................................................................................... vi

Índice de Quadros .................................................................................................................... vii

Siglas e Abreviaturas................................................................................................................viii

Introdução ................................................................................................................................... 1

Capítulo I - Contexto Histórico ................................................................................................... 6

1.1. A situação Política que originou a 1ªGuerra Mundial ................................................. 6

1.2. A Corrida ao Armamento ............................................................................................. 8

1.3. A situação Política em Portugal................................................................................. 10

Capítulo II – As Metralhadoras que equipavam o C.E.P. na Grande Guerra ......................... 13

2.1. Metralhadora Lewis 7,7 mm m/917 ............................................................................... 14

2.2. Metralhadora Vickers 7,7 mm m/917 ............................................................................ 15

2.3. Metralhadora Maxim 6,5 mm m/906.............................................................................. 16

2.4. Metralhadora Schwarzlose 8 mm m/907....................................................................... 17

Capítulo III – A Organização das Unidades de Infantaria nos Exércitos Português e Alemão
na Grande Guerra: uma comparação ...................................................................................... 19

3.1. Organização das Unidades de Infantaria no C.E.P. ..................................................... 19

3.2. Organização das Unidades de Infantaria no Exército Alemão ..................................... 20

3.3. Breves Conclusões ........................................................................................................ 21

Capítulo IV - As Implicações da utilização da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial ............... 23

4.1. As vantagens proporcionadas pela Metralhadora ........................................................ 23

4.2. As desvantagens verificadas pela utilização da Metralhadora ..................................... 26

4.3. Modo de actuar das Unidades de Infantaria do C.E.P. ................................................ 28

4.3.1. Nas Operações Ofensivas ...................................................................................... 28

4.3.2. Nas Operações Defensivas .................................................................................... 31


iv
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

4.4. Modo de actuar das Unidades de Infantaria em 1895, na campanha de Moçambique:


uma comparação .................................................................................................................. 33

4.5. Breves conclusões......................................................................................................... 35

Conclusões ............................................................................................................................... 37

Fontes e Bibliografia ................................................................................................................. 41

Anexo A – Fontes Manuscritas e Impressas ........................................................................... 48

Doc. 1: Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Julho e Agosto,
Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10 ...................................................... 48

Doc. 2: Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Setembro e
Outubro, Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10 ...................................... 49

Doc. 3: Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Novembro e
Dezembro, Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10 ................................... 50

Doc. 4: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9 ......................... 51

Doc. 5: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo A e B, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 952

Doc. 6: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo C, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9 ...... 53

Doc. 7: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo E e F, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9 54

Doc. 8: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo H e I, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9 55

Doc. 10: Handbook of the .303-In. Vickers Machine Gun, Nova Iorque, George U. Harvey
Publishing CO., Inc., 1917 .................................................................................................... 57

Doc. 11: ORDENANCE DEPARTEMENT U.S.A., Handbook of the Vickers Machine Gun,
Washington, Government Printing Office, 1917 ................................................................... 58

Anexo B – Figuras .................................................................................................................... 59

Anexo C – Quadros e Tabelas ................................................................................................. 67

v
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Índice de Figuras

Figura 1 – Plano Defensivo Aliado, Sector Português, Flandres, França – 1918 .................. 59
Figura 2 – Sector Português, situação das nossas forças na manhã de 9 de Abril de 1918 . 60
Figura 3 – Formação de Coluna e Quadrado .......................................................................... 61
Figura 4 – Ordem de Batalha do Corpo de Exército Português .............................................. 62
Figura 5 – Metralhadora Lewis ................................................................................................. 63
Figura 6 – França 1917 – Escola de Metralhadoras Ligeiras (Lewis) ..................................... 63
Figura 7 – Campo de Instrução Central de Marthes – Instrução de tiro anti-aéreo com
Metralhadora Lewis .................................................................................................................. 63
Figura 8 – Apontador da Metralhadora Lewis do C.E.P. ......................................................... 63
Figura 9 – Diversas versões da Metralhadora Lewis .............................................................. 64
Figura 10 – Metralhadora Vickers ............................................................................................ 65
Figura 11 – Exposição das peças que compõem a Vickers .................................................... 65
Figura 12 – Campo de Instrução Central em Marthes - Instrução de tiro com metralhadoras
Vickers ...................................................................................................................................... 65
Figura 14 – Carro de Transporte da Metralhadora Vickers ..................................................... 66
Figura 13 – Metralhadora Maxim (1904) e Metralhadora Vickers (1915) ............................... 66
Figura 15 – Metralhadora Schwarzlose ................................................................................... 66
Figura 16 – Metralhadora Nordenfelt ....................................................................................... 66

vi
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Índice de Quadros
Tabela 1 – Metralhadoras que equiparam o Exército Português (1906 - 1917) ..................... 67

vii
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Siglas e Abreviaturas

AHM / Arquivo Histórico Militar


AA. VV. / Autores Vários
C.E.P. / Corpo Expedicionário Português
cx. / Caixa
Div. / Divisão
doc. / Documento
Ed. / Editor
E.U.A. / Estados Unidos da América
fig. / figura
kg / quilogramas
km / quilómetros
m / metros
min / minuto
mm / milímetros
m/s / metros por segundo
n.d. / não disponível
nº / número
p. / página
pp. / páginas
Q.G.C. / Quartel General do Corpo
Sec. / secção
tpm / tiros por minuto
trad. / traduzido
Vol. / volume

viii
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Introdução

No âmbito do Mestrado Integrado em Ciências Militares na Especialidade de


Infantaria, desenvolvemos este Trabalho de Investigação Aplicada. Que representa um
momento importante na vida de um aluno da Academia Militar, não só pelo seu carácter
avaliativo, mas também porque lhe é facultada a possibilidade de se poder escolher um
tema que seja do seu interesse pessoal.
Abordámos este tema na tentativa de dar ênfase à presença desta arma nas
Unidades de Infantaria, em particular durante o período da Grande Guerra. Possivelmente,
se o Corpo Expedicionário Português não estivesse equipado com esta arma, não teria tido
tanto sucesso na tarefa de retardar a ofensiva alemã no dia 9 de Abril de 1918. Graças à
inclusão desta arma, o sucesso alcançado foi substancial e inolvidável.
Outra razão é o facto de na pesquisa realizada não termos encontrado muitos
trabalhos de investigação aplicada que abordassem este tema tão interessante,
principalmente em trabalhos escritos na língua portuguesa.
Pretendemos então abordar este assunto porque a inclusão da metralhadora alterou
significativamente a conduta das operações das Unidades de Infantaria no campo de
batalha, permanecendo ainda hoje como um equipamento de grande importância. Basta
analisar a orgânica das Unidades de Infantaria na actualidade e verifica-se a presença desta
arma quer em forças apeadas, quer em forças montadas.
As pesquisas que realizámos enquadram-se no período de tempo entre 1911 e 1918,
dando uma maior importância ao período em que o Corpo Expedicionário Português esteve
presente na Grande Guerra em França, entre 1916 e 1918, abrangendo, principalmente, as
Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português e as Unidades de Infantaria do
Exército Alemão como termo de comparação, dando ênfase à sua organização e tácticas no
emprego das metralhadoras no decorrer da guerra.
Como militares da Arma de Infantaria e após a utilização da metralhadora na
realização de vários exercícios, sabemos reconhecer a importância desta arma, qualquer
que seja a operação. O facto de escolhermos este período da História, para falar da
metralhadora, tem que ver com o facto de ter sido após a Grande Guerra que se criaram as
condições para reconhecer, verdadeiramente, a importância da metralhadora na
organização militar dos exércitos. Devido à inclusão deste equipamento neste conflito,
muitas técnicas, tácticas e procedimentos, que então foram desenvolvidos, ainda hoje se
verificam e se mantêm válidos.

1
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Pretendemos assim com o trabalho que apresentamos, descrever as mudanças que


surgiram nas Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português, relativamente às
suas tácticas, técnicas e procedimentos, durante a 1ª Guerra Mundial com a introdução da
metralhadora no campo de batalha.
Tendo isto em atenção, levantamos a seguinte questão central: “Quais as
implicações provenientes do uso da metralhadora no campo de batalha da Grande Guerra,
para as Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português?”
No entanto, para aferirmos mais pormenorizadamente os factos, observados pela
introdução da metralhadora, verificou-se ainda a necessidade de elaborar mais algumas
questões que, na sua generalidade, derivam da questão principal.
Assim, com a utilização da metralhadora neste conflito, levantámos a seguinte
questão derivada: “Com a introdução da metralhadora houve necessidade de alterar as
tácticas, técnicas e procedimentos na forma de actuar das unidades de Infantaria do
C.E.P.?”
No âmbito da introdução de novas metralhadoras no Exército Português, articulámos
outra questão: “Quais as metralhadoras que equipavam o Corpo Expedicionário Português
na Grande Guerra?”
No que diz respeito à reestruturação do Exército Português em 1911, que influenciou
também as unidades que estavam equipadas com metralhadoras 1, debruçámo-nos sobre a
seguinte questão: “Quais foram as alterações na organização das unidades de Infantaria
equipadas com metralhadoras no Exército Português?”
Por último, devido à necessidade de procurarmos saber o impacto da metralhadora
neste conflito, colocámos uma última questão: “Quais as vantagens da utilização da
metralhadora nas unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português?”
No passo seguinte da metodologia para edificação do nosso trabalho de
investigação, elaborámos diferentes hipóteses que permitissem traçar um caminho e
articular o nosso trabalho da forma que nos parecesse mais lógica, e procurando dar
resposta às questões por nós levantadas. Foram por isso, colocadas as seguintes
hipóteses:
- “Houve a necessidade de abandonar as cargas frontais em linha e a táctica do
quadrado, para se formarem pequenos grupos em coluna”;
- “Houve uma modernização no equipamento, passando o Exército Português a
utilizar as metralhadoras britânicas Lewis e Vickers”;

1
Ordem do Exército nº14 de 1911, Alterações nas unidades das diversas armas e serviços para
cumprimento do disposto no decreto de 11 de Junho de 1911, p.995.
2
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

- “As unidades equipadas com metralhadoras, com a reestruturação de 1911,


passaram a um escalão inferior, permitindo uma maior flexibilidade e concentração de
meios”;
- “Com a utilização da metralhadora foi possível ganhar uma maior cadência de fogo
utilizando um menor número de efectivos e ganhar uma arma indispensável para todos os
tipos de operações”.
De forma a respondermos às questões levantadas e verificar a validade das
hipóteses formuladas, procedemos à recolha de informações no AHM e na biblioteca da
Academia Militar. Consultámos várias obras, revistas da especialidade, artigos, e opiniões
sobre o tema, tendo sido assim pesquisadas diferentes fontes documentais e bibliográficas.
Recolhemos dados a partir de fontes primárias impressas e manuscritas, que não hesitámos
em integrar na redacção do nosso trabalho, assim como de várias fontes secundárias
assentes em várias obras de diferentes áreas, importantes para a investigação e que
constituíram assim uma base de trabalho extensa e diversificada.
Para limitarmos este trabalho procurámos cingi-lo ao espaço e ao tempo2
disponíveis. Dentro dos limites temporais definidos para a realização deste trabalho,
aplicámos o método histórico3, tendo em perspectiva a sequência temporal, fundamental
para a contextualização histórica, e a análise da evolução do conflito nessa época.
Para uma limitação espacial, procurámos explicar as várias mudanças verificadas ao
nível político e geográfico, tendo também em atenção as influências do meio sobre o
homem4 e as transformações operadas pelo homem 5, procurando a causa que deu origem
aos acontecimentos em estudo e as suas consequências, recorrendo também ao mesmo
método.
A nível político procurámos contextualizar o ambiente que se vivia na Europa nos
anos em que a Guerra ocorreu e enquadrar Portugal no contexto europeu no período que
antecedeu a sua entrada na 1ªGuerra Mundial.
A nível geográfico tivemos em consideração a organização do C.E.P. dentro do seu
sector atribuído pelos Britânicos, dando ênfase à disposição das metralhadoras no terreno
ocupado e à forma como a configuração e os acidentes do terreno tinham influência directa
no posicionamento dessas armas.

2
Mendes, 1987, p.143.
3
“Analisa os fenómenos ou processos em estudo, atendendo à constituição, ao desenvolvimento, à
formação e às consequências do fenómeno”. Sarmento, 2008, p.5.
4
Nas influências do meio sobre o homem pretendemos descrever as influências resultantes do meio
ambiente e dos vários acontecimentos que envolviam os homens participantes da acção. Mendes,
1987, pp. 147-150.
5
Nas transformações operadas pelo homem pretendemos descrever as influências resultantes da
conduta que o homem adopta ao agir sobre as coisas, o modo como se adapta ao ambiente ou o
adapta a si próprio. Godinho, Vitorino in Mendes, 1987, p. 150.
3
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Relativamente às influências do meio sobre o homem e as transformações operadas


pelo mesmo, temos por objectivo demonstrar as vantagens e desvantagens, assim como as
alterações necessárias ao modo de actuar das Unidades de Infantaria presentes no C.E.P.
Para tal, iremos comparar estes factos com outros do Exército Alemão da mesma
época numa perspectiva sincrónica6, de forma a observar as diferenças resultantes do
emprego do objecto deste estudo em sujeitos diferentes, no mesmo espaço temporal.
Utilizaremos ainda uma perspectiva diacrónica7, de forma a comparar a utilização da
metralhadora no Exército Português nas campanhas de Moçambique em 1895 e no C.E.P.
em França a partir do ano de 1916.
Este método permite-nos tentar trazer algo de novo, para o nosso conhecimento, no
que diz respeito aos nossos objectivos de estudo.
Para efectuarmos esse estudo, recorremos então à análise de conteúdo de carácter
qualitativo, através da utilização de várias fontes, procurando retirar a maior informação
possível nas fontes primárias, onde destacamos obras com testemunhos de oficiais que
serviram durante a 1ªGuerra Mundial em França.
Por outro lado, procurámos também, no Arquivo Histórico Militar, documentos da
época que descrevem o planeamento Português realizado para o conflito. Explorámos ainda
as Ordens do Exército de 1911, uma vez que foi nesta data que se realizou a última
reestruturação do Exército Português antes da 1ªGuerra Mundial. Consultámos ainda vários
livros que analisaram a Grande Guerra, vários anos após o conflito, onde procurámos uma
visão mais actual dos factos, recorrendo para isso à vasta colecção de livros disponíveis na
Biblioteca da Academia Militar.
Este Trabalho de Investigação Aplicada foi então constituído em quatro partes, cuja
organização a seguir se descreve.
Na primeira começámos por realizar uma contextualização histórica, onde
procurámos identificar os antecedentes que dão origem ao conflito e o porquê da corrida ao
armamento que se verificou na época, tendo como consequência, um elevado número de
metralhadoras presentes no conflito, em relação ao que se passou em conflitos passados
onde estiveram presentes essas armas.
De seguida, pretendemos dar a conhecer melhor as metralhadoras que equipavam o
C.E.P. na altura da 1ªGuerra Mundial, procurando também mencionar as armas que foram
substituídas pelas metralhadoras Lewis e Vickers, de forma a conhecer as desvantagens
que as armas substituídas apresentavam e que provocaram a troca de equipamento.

6
“Sincronia pressupõe investigação num determinado tempo curto, ou seja, transversal ou em corte”
Berkhofer in Mendes, 1987, p.161.
7
“Diacronia implica a investigação através – ou ao longo – de um tempo dado, isto é, longitudinal”
idem.
4
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Posteriormente, procurámos mostrar a organização do Corpo Expedicionário


Português, dando importância particular às unidades de Infantaria, fazendo referência às
alterações realizadas aquando da reestruturação do Exército em 1911, procurando referir
também onde se encaixavam as metralhadoras nestas unidades e onde elas se
encontravam presentes.
Falámos também na terceira parte, da organização do Exército Alemão, procurando
fazer referência apenas às suas unidades de Infantaria, de modo a servir como forma de
comparação ao Corpo Expedicionário Português, não só na forma de como estava
organizado, mas também referindo como estavam incorporadas as metralhadoras nas suas
unidades.
Por último tivemos a intenção de analisar quais as implicações do uso da
metralhadora na 1ªGuerra Mundial, procurando fazer referência à eventual necessidade de
alterar o modo de como se fazia a guerra e às vantagens e desvantagens da utilização de
um grande número de metralhadoras no campo de batalha.
Optámos por seguir esta estrutura de forma a procurar enquadrar o leitor nos
acontecimentos que deram origem à 1ªGuerra Mundial e o que levou ao fabrico de elevadas
quantidades de material bélico. Em seguida, entendemos que seria lógico apresentar quais
as metralhadoras utilizadas pelo Corpo Expedicionário Português, dando também a
conhecer as armas que foram substituídas, procurando apresentar razões lógicas para a
substituição das mesmas.
Na sequência do assunto exposto no parágrafo anterior, tentámos enquadrar essas
armas na respectiva organização das unidades de Infantaria do Exército Português e do
Exército Alemão, no período em que se encontraram no campo de batalha em França.
Deixando para a parte final, uma tentativa de demonstrar os prós e contras da inclusão
destas armas nos respectivos exércitos, bem como as alterações que esta adopção implicou
na organização das Unidades de Infantaria dos Exércitos analisados.
Finalizámos este trabalho, com a verificação das hipóteses levantadas e respectiva
justificação, algumas recomendações, limitações da investigação e sugestões para
pesquisas futuras, concluindo o trabalho com as indispensáveis reflexões finais.

5
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Capítulo I - Contexto Histórico

1.1. A situação Política que originou a 1ª Guerra Mundial

A situação política que originou a 1ª Guerra Mundial não foi instantânea, foi o
resultado de décadas de crise internacional com várias ameaças de guerra. Foi uma época
de vários confrontos diplomáticos, envolvendo as principais potências europeias da época,
como a França, a Alemanha, o Império Austro – Húngaro, a Rússia, a Inglaterra e a Itália 8.
A primeira aliança a surgir, na década que antecede o início do conflito, foi a Entente
Anglo – Francesa, que mais tarde se tornou na Tríplice Entente, com a entrada da Rússia
em 19079. Esta aliança veio mais tarde a ser a força opositora à Tripla Aliança, que incluía a
Alemanha, a Itália e a Áustria – Hungria, aliança esta que foi formada em 1882 e continuou
em efeito até 1915, dividindo assim o poder europeu em dois blocos contribuindo para o
início da 1ª Guerra Mundial10.
Os vários conflitos coloniais, principalmente em África, vieram também contribuir
para a instabilidade diplomática na Europa. Temos o caso da guerra Anglo – Boer de 1899 a
1902, as duas crises em Marrocos, a primeira em 1905 e a segunda em 1911 11, o caso
português do Mapa cor-de-rosa em 1886, que envolvia a Alemanha e a França, mas ia
contra as ambições de Inglaterra de ligar a cidade do Cabo à do Cairo 12, em suma, a partilha
de África pelas grandes potências europeias 13.
Para além, de toda esta situação, podemos isolar duas principais causas para o
desencadear da Grande Guerra, sendo elas a rivalidade entre a Áustria - Hungria e a Sérvia,
e a rivalidade com o Império Austro - Húngaro e a Rússia14.
A rivalidade entre a Áustria – Hungria e a Sérvia surgiu com as pretensões do
Império Austro – Húngaro expandir o seu território aos Balcãs, anexando a Bósnia e a
Herzegovina, o que acabou por conseguir em 190815. No entanto, a Sérvia demonstrou
descontentamento com esta iniciativa, uma vez, que também ela tinha planos de anexar
esses territórios, numa tentativa de criar uma “Grande Sérvia” 16. A Áustria – Hungria
absorveu estes territórios através da suposição de que a Rússia não iria tomar qualquer

8
Herrman, 1996, p. 3, tradução livre da responsabilidade do autor.
9
Torres, 1968, p. 329.
10
Idem.
11
O governo alemão tentou destabilizar o controlo de Marrocos por parte da França, fazendo
ameaças de que iria entrar em Guerra (Herrman, 1996, p. 37) Tradução livre da responsabilidade do
autor.
12
Torres, 1968, p. 310.
13
“Abolido o direito histórico, seguiu-se a partilha de África. Inglaterra, França, Alemanha e Itália
começaram a ocupar extensos territórios, ora pacificamente, por meio de tratados com os régulos
(chefes tribais), ora militarmente” (Torres, 1968, p. 309).
14
Torres, 1968, p. 330.
15
Herrman, 1996, p. 114, tradução livre da responsabilidade do autor.
16
Torres, 1968, p. 330.
6
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

iniciativa, devido aos sinais de “fraqueza” militar demonstrados pela mesma, que ainda não
tinha recuperado totalmente do confronto contra o Japão, de onde tinha saído derrotada 17.
Com esta anexação começou a prever-se uma futura guerra entre a Sérvia e a Áustria –
Hungria, aumentando assim o clima de tensão naquela região.
A rivalidade da Áustria – Hungria com a Rússia teve a mesma origem, porque assim
como o Império Austro – Húngaro desejava aumentar a sua influência nos Balcãs, também a
Rússia queria. Esta, através de espiões na Sérvia e nos outros Estados balcânicos,
instigava revoltas contra a Áustria-Hungria 18, uma vez que a sua capacidade militar estava
fragilizada em 1908 e a Rússia não se podia dar ao luxo de entrar numa Guerra
convencional19.
O pretexto da guerra surgiu deste ambiente, com o atentado de Sarajevo onde foram
assassinados o arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do império Austro – Húngaro, e a
sua esposa por um estudante bósnio a 28 de Junho de 191420.
Deste acto resultaram os seguintes acontecimentos:
- A Áustria - Hungria enviou um ultimato à Sérvia, exigindo a dissolução das sociedades
secretas eslavas21 e um inquérito sobre o assassínio, com a colaboração de funcionários
austríacos;
- A Sérvia aceitou as propostas, mas negou o acesso às autoridades austríacas ao inquérito;
- A Áustria - Hungria declarou guerra à Sérvia e bombardeou a sua capital;
- A Rússia, para proteger a Sérvia e intimidar o Império Austro - Húngaro, iniciou a
mobilização das suas tropas, que com o receio de uma intervenção da Alemanha, acabou
por realizar uma mobilização geral;
- A Alemanha fez um ultimato à Rússia, para que esta cessasse os preparativos bélicos, e
outro à França, para informar qual a atitude que tomaria perante as acções da Rússia 22,
tendo a Alemanha acabado por declarar guerra à França e à Rússia após estas ignorarem
os ultimatos23,
- À luz da sua aliança com a Alemanha, a Áustria – Hungria declarou também guerra à
Rússia24.
É devido a esta sucessão de eventos que a 1ª Guerra Mundial acaba por ter início no
Verão de 1914, envolvendo as grandes potências europeias que acreditavam que o conflito

17
Herrman, 1996, p. 115, tradução livre da responsabilidade do autor.
18
Torres, 1968, pp. 330 e 331.
19
Herrman, 1996, pp. 117 – 121, tradução livre da responsabilidade do autor.
20
Torres, 1968, p. 330.
21
Investigações realizadas tinham demonstrado que o assassínio tinha sido orquestrado por uma
sociedade secreta, sob o comando de um Oficial Sérvio (Torres, 1968, pp. 330 e 331).
22
A França e a Rússia eram aliadas desde a formação da Tríplice Entente (Torres, 1968, p. 329).
23
Smith & Showalter, 2011, tradução livre da responsabilidade do autor.
24
Torres, 1968, p. 331.
7
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

seria resolvido numa questão de meses, o que acabou por não acontecer, tendo resultados
desastrosos para os diferentes países envolvidos.

1.2. A Corrida ao Armamento

Tendo em conta o capítulo anterior começamos a perceber o porquê da corrida ao


armamento pelas várias potências europeias. A força militar de cada potência europeia era
um assunto vital nas relações diplomáticas, funcionando como principal dissuasor. Esta foi a
razão que veio aumentar a necessidade de um crescente investimento nos exércitos nos
dois anos que antecederam a Guerra, provocando uma corrida ao armamento25.
Já se assistia a uma corrida de armamento naval entre a Inglaterra e a Alemanha
nesta época, contudo, não teve a mesma relevância que a corrida ao armamento terrestre,
uma vez que esta envolveu um maior número de estados. O futuro residia nos exércitos com
elevados números de efectivos, porque se previa que seria em terra que se iriam travar as
grandes batalhas decisivas e que estes conflitos não durariam mais do que alguns meses,
negando a possibilidade de os navios de guerra serem relevantes26.
A guerra Russo – Japonesa, em 1904, foi o preâmbulo da corrida ao armamento,
pois foi nela que se empregaram muitas das novas tecnologias que iriam transformar a
Guerra no século XX. Nesta época, os exércitos das grandes potências estavam longe de
estar preparadas para um iminente conflito continental e o ambiente nacional das grandes
potências europeias não estava muito favorável ao investimento bélico. No entanto, os
exércitos estavam num processo de adopção das várias tecnologias recentemente
desenvolvidas devido à nova era industrial, mas o processo de integração dos
equipamentos não era célere. Estes novos equipamentos tinham a necessidade de ser
avaliados, desenvolvidos, e refinados pelos exércitos, depois tinha de ser assinado um
contrato de produção entre o governo e os fabricantes. Depois de produzido, o material
entrava ao serviço do exército e era necessário constituir unidades especiais e treiná-las
para o utilizarem. Todo este processo era dispendioso monetariamente, em tempo, recursos
humanos e várias horas de treino27.
Em 1904 os exércitos, na sua composição e aparência, ainda eram muito
semelhantes aos exércitos do século dezanove, mantinham-se instituições fortemente
ligadas à tradição. Os Estados preocupavam-se mais em manter os diversos
acontecimentos sob controlo do que em entrar em rivalidades. Mas esta postura alterou-se
quando em 1905 aconteceu a primeira crise Marroquina, onde a Alemanha afirmava que

25
Herrman, 1996, p. 3, tradução livre da responsabilidade do autor.
26
Idem.
27
Herrman, 1996, pp. 7 e 8, tradução livre da responsabilidade do autor.
8
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estaria disponível para ajudar Marrocos a atingir a independência. Apesar de a afirmação


ser um logro28, provocou um estado de pânico nos Estados europeus, que começaram a
ponderar se os seus exércitos estavam preparados para um conflito de grande
envergadura29. Este evento iniciou uma série de confrontos diplomáticos que continuaram
até ao início da Grande Guerra, cada um tomando proporções maiores relativamente ao
anterior, acabando por conduzir a uma separação das potências europeias em dois blocos
opostos de grande poderio militar30.
Como resultado deu-se início, por toda a Europa, a uma gradual modernização do
equipamento e uma inclinação para as tácticas de combate que davam ênfase ao poder de
fogo, particularmente a sua utilização nas operações ofensivas31.
Na Rússia em 1909, após a anexação da Bósnia e Herzegovina pelo Império Austro
– Húngaro, esta modernização foi realizada de uma forma exponencial em relação ao resto
da Europa, pois o governo apercebeu-se que realmente o seu exército era débil em relação
às outras potências europeias e durante o processo de anexação dos territórios eslavos a
Rússia não conseguiu reagir contra os seus opositores. Em resposta à acção ousada da
Áustria – Hungria e Alemanha na anexação dos territórios da Bósnia e Herzegovina, a
Rússia comprometeu-se a estar preparada para um conflito em larga escala num prazo de
dois a três anos. Assim como a Rússia, a Sérvia e Montenegro rapidamente aumentaram o
seu potencial militar de forma a poderem fazer frente à Alemanha e à Áustria – Hungria32.
A Alemanha, a França, a Inglaterra e o Império Austro – Húngaro, ao contrário dos
estados mais ameaçados, realizaram uma modernização das suas forças de forma
moderada, isto verificou-se até 1911, quando a Alemanha se sentiu ameaçada pelo rápido
aumento do poder bélico dos estados a Este das suas fronteiras. Em resposta a esta
situação a Alemanha aumentou os seus investimentos no Exército, com receio de em caso
de conflito ter de se bater em duas frentes33: a Este com os Russos que em 1911 já se
apresentavam como uma ameaça a ser considerada e a Oeste com a França e a Inglaterra,
juntos formavam a Tríplice Entente, o que obrigava cada um destes estados a ir em auxílio
do outro em caso de agressão34.

28
Os políticos em Berlim não tinham qualquer intenção de iniciar uma guerra sobre tais territórios no
Norte de África (Herrman, 1996, p. 37) Tradução livre da responsabilidade do autor.
29
Este processo revelou a debilidade do Exército Russo, a falta de meios do Exército Britânico para
levar a cabo uma guerra continental e a vulnerabilidade dos Franceses enquanto os seus Aliados
eram incapazes de prestar auxílio (Herrman, 1996, pp. 37 e 40) Tradução livre da responsabilidade
do autor.
30
Torres, 1968, p. 329.
31
Herrman, 1996, p. 67, tradução livre da responsabilidade do autor.
32
Herrman, 1996, pp. 131 e 174, tradução livre da responsabilidade do autor.
33
Herrman, 1996, p. 175, tradução livre da responsabilidade do autor.
34
Triple Entente, 2008 (http://history.howstuffworks.com/world-war-i/triple-entente.htm), tradução livre
da responsabilidade do autor.
9
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Após a conquista dos territórios dos Balcãs em posse do Império Otomano, pela
aliança formada entre a Sérvia, a Bulgária e a Grécia, o ambiente nesta região da Europa
atingiu um pico de tensão diplomática entre a Alemanha e Áustria – Hungria e os restantes
Estados dos Balcãs, provocando uma aceleração na corrida ao armamento por parte das
grandes potências face a uma previsão de uma Guerra iminente 35. Esta Guerra foi
despoletada, como já foi referido, em 1914 com o assassinato do Arquiduque Francisco
Fernando por um nacionalista sérvio.

1.3. A situação Política em Portugal

Em 1916 a situação política em Portugal era um tanto ou quanto caótica, devido à


implementação da República em 1910. Vivia-se um clima de grande tensão, especialmente
em Lisboa, onde estava concentrado o poder político, tudo isto devido aos comentários,
especulações e boatos em relação à possível entrada de Portugal na 1ª Guerra Mundial.
Tudo teve início quando em Fevereiro de 1916, o governo britânico36 pediu a
Portugal que fizesse a apreensão dos barcos alemães que se encontravam atracados em
portos portugueses37. Uma vez que o governo português, em Agosto de 1914, tinha
afirmado perante o governo britânico que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para
honrar os deveres da sua aliança, o governo assim o fez, acabando por apreender vários
navios alemães presentes na costa portuguesa, ao abrigo do Decreto nº 2229 38. A afirmação
do governo português foi realizada numa tentativa de assegurar a aliança portuguesa com a
Inglaterra, uma vez que a mesma realizou negociações secretas com a Alemanha
relativamente a territórios coloniais portugueses39.
Desde Agosto de 1914 o Partido Democrático, integrado por Afonso Costa e que
discordava da política do Partido Republicano Português, encontrava-se no governo e via a
intervenção militar portuguesa no palco europeu como a solução para diversos problemas
com que se confrontava. Como pessoa influente da vida política portuguesa, a sua opinião
teve uma relevância importante em relação à entrada de Portugal na guerra. Deste modo,
Afonso Costa incitou a entrada de Portugal na guerra uma vez que pretendia “o
adiantamento do problema das colónias, cobiçadas por ingleses e alemães, ao lutar ao lado
dos presumíveis futuros vencedores; a consolidação do jovem regime republicano na esfera
35
Herrman, 1996, p. 147, tradução livre da responsabilidade do autor.
36
Recorre ao Tratado de Windsor para justificar o pedido ao governo português (Silva, A Entrada de
Portugal na Grande Guerra, 2009 (http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=372)).
37
“É feita uma requisição de vapores alemães surtos em portos nacionais e coloniais”. (Requisições
de navios alemães, 1916 (http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=039379)).
38
Decreto nº 2229 de 24 de Fevereiro de 1916: dava à marinha portuguesa autorização para se
efectuar a requisição dos navios alemães e do império austro – húngaro nos portos nacionais e
coloniais (Entrada de Portugal na I Guerra Mundial (http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=131)).
39
Teixeira, 1998 p. 28.
10
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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internacional; a harmonização das relações luso-britânicas, em pé de igualdade, ao lutar


junto dos ingleses tal como a distinção ou contraste de Portugal face à posição neutral e
germanófila de Espanha, ao recusar a neutralidade num contexto anglófilo” 40.
Relativamente à situação interna, Afonso Costa procurou dissipar os conflitos
político-sociais existentes na sociedade portuguesa41, reforçar o seu Partido Democrático e
criar uma identidade própria dentro da República Portuguesa, tentando mobilizar toda a
sociedade num esforço comum – a Guerra42.
No entanto, os Republicanos eram contra a entrada de Portugal no Teatro de
Operações Europeu, defendendo uma maior preferência em empenhar os esforços militares
portugueses nas colónias, de onde poderiam retirar mais benefícios. Mas o maior obstáculo
à entrada de Portugal na guerra vinha do exterior, a Inglaterra, apesar dos seus esforços e
demonstrações de prontidão do governo português aos seus aliados franceses e ingleses,
estes mostravam-se relutantes em consentir o pedido do governo.
Esta preferência estava no facto de Portugal possuir grandes défices em material,
produção e meios humanos, criando o receio de que Portugal se tornaria num foco de
problemas, em vez de se tornar parte da solução. Portugal era visto pelos ingleses e pelos
franceses como “um potencial aliado colaboracionista, mero fornecedor de equipamento
militar”43, como podemos constatar com o pedido da França de peças de Artilharia
portuguesa44. Com este pedido o governo português aproveitou para enviar um contingente
de militares para acompanharem o respectivo equipamento, conseguindo assim a presença
de militares portugueses na Guerra.
Contudo o governo britânico recomendou a Portugal que não provocasse ou
declarasse guerra à Alemanha, pelo menos, até se encontrar devidamente preparado para o
conflito, isto com o intuito, de o governo inglês, não necessitar de recorrer à aliança, como
justificativo da entrada de Portugal na Guerra45.
À luz dos acontecimentos anteriormente descritos, iniciaram-se protestos por parte
da Alemanha em relação às constantes violações da neutralidade, proclamada por Portugal.
Foi a partir daqui que se iniciou a tentativa do governo português conseguir uma Declaração
de Guerra por parte da Alemanha, evitando assim recorrer à aliança britânica.

40
Marques, 2008 p. 18.
41
A sociedade portuguesa estava dividida, havia quem estivesse a favor da monarquia, a favor da
república, havia população a favor da entrada de Portugal na Grande Guerra, havia quem fosse
contra, também existia um conflito político-social dos políticos que eram pro-inglaterra e dos que eram
pro-alemanha (Marques, 2008, pp. 17 e 18).
42
Marques, 2008, p. 18.
43
Idem, p. 19.
44
Idem, p. 21.
45
Silva, A Entrada de Portugal na Grande Guerra, 2009
(http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=372).
11
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Nesta tentativa Portugal incorreu em várias acções como, o empréstimo das peças
de Artilharia a França, o envio do contingente militar português a acompanhar as peças de
Artilharia, a permissão de passagem a tropas inglesas na Rodésia pela Beira, a instalação
de uma base naval inglesa na Madeira e finalmente a apreensão dos vapores alemães 46, foi
esta última acção, como foi anteriormente descrito, que resultou na declaração de guerra a
Portugal pela Alemanha. A Alemanha justificou a sua declaração de guerra nas acções
conduzidas por Portugal, pois este, apesar da sua proclamada “neutralidade”, levou a cabo
várias iniciativas contra a Alemanha, que para além das acções descritas, ainda proibiu a
cedência de carvão aos vapores alemães, quebrou a neutralidade em águas territoriais,
incorreu na violação dos arquivos do Consulado Alemão em Moçambes, realizou
expedições militares em África contra os alemães, efectuou a prisão de oficiais e
funcionários alemães, e ofendeu e injuriou a Alemanha no Parlamento e na imprensa 47.
O plano português funcionou e Portugal entrou oficialmente na 1ªGuerra Mundial,
com a expectativa de uma guerra curta, o desejo de candidatar-se às indemnizações de
guerra e com a esperança de resolver problemas, internos e externos, do novo regime
português48.

46
Silva, A Entrada de Portugal na Grande Guerra, 2009
(http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=372).
47
Silva, A Entrada de Portugal na Grande Guerra, 2009
(http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=372).
48
Marques, 2008, pp. 19 e 20.
12
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Capítulo II – As Metralhadoras que equipavam o C.E.P. na Grande


Guerra

A metralhadora, completamente automática49, só surge com Hiram S. Maxim que a


desenvolve no período entre 1883 e 188550, sendo adoptada pelo Governo Inglês em
188951. A superioridade desta arma automática é pela primeira vez verificada nas
campanhas coloniais, nas guerras anglo-boer e russo-japonesa, onde se estreou no campo
de batalha52.
Os ingleses para além do modelo Maxim utilizaram também, mais tarde e em grande
escala, as metralhadoras Vickers e Lewis (sobre as quais iremos falar mais
detalhadamente), sendo mais tarde distribuídas às unidades de metralhadoras do C.E.P. 53.
As metralhadoras presentes no Corpo Expedicionário Português em 1917 eram a
metralhadora pesada Vickers 7,7 mm m/91754 e a metralhadora ligeira Lewis 7,7 mm
m/91755, que vieram substituir as metralhadoras Schwarzlose 8 mm m/90756 e a Maxim 6,5
mm m/90657.
As metralhadoras Schwarzlose e Maxim foram substituídas devido às limitações que
apresentavam em relação às metralhadoras Vickers e Lewis, não só na diferença de peso e
mobilidade como também, e mais importante ainda, na cadência de tiro 58. Para além, de que
em termos logísticos, serem melhores devido à vantagem de utilizarem as mesmas
munições, a munição 7,7 mm Britânica, que também era utilizada nas espingardas Lee
Enfield, facilitando o abastecimento das mesmas, que por vezes eram escassas no campo
de batalha. O preço de concepção da metralhadora Vickers e a facilidade de fabrico da
metralhadora Lewis59, foram também importantes para a aquisição das mesmas, uma vez
que era possível obter mais e melhores metralhadoras, rapidamente, a um custo mais

49
Ou seja, não necessitava de ser accionada à mão por uma manivela ou alavanca para executar tiro
automático. Utilizam os gases provenientes da explosão da pólvora para o funcionamento do
mecanismo da culatra (Macieira & Alves, 2007, pp. 1 - 16).
50
Payne, Evolution of the Machine-Gun, 2008 (http://www.westernfrontassociation.com/great-war-on-
land/weapons-equipment-uniform/183-evo-m-gun.html) Tradução livre da responsabilidade do autor.
51
Beça, 1922, p. 120.
52
Godinho, 1927, p. 248.
53
Beça, 1922, p. 121 e AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 890/doc nº 10, Oficina de Espingardeiro, 1917.
54
Ver Anexo B figura 10.
55
Ver Anexo B figura 5.
56
Ver Anexo B figura 15.
57
Herdade, 2001, pp. 27-34. Ver Anexo B figura 13.
58
Ver Anexo C tabela 1.
59
Payne, The story of the Lewis Machine-Gun,2008 (http://www.westernfrontassociation.com/great-
war-on-land/weapons-equipment-uniform/269-lewis-story-gun.html)Tradução livre da responsabilidade
do autor.
13
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

reduzido, numa altura em que se assistia a uma corrida ao armamento por toda a Europa e
a situação política e económica em Portugal já tinham visto melhores dias 60.

2.1. Metralhadora Lewis 7,7 mm m/917

A metralhadora Lewis foi o produto da necessidade britânica em criar uma arma


robusta e fiável no campo de batalha. Esta metralhadora ganhou a sua designação de
Metralhadora Ligeira devido ao seu peso reduzido de 12 kg em relação às outras
metralhadoras da época, cujo peso rondava os 25 kg, o que veio a facilitar a manobra dos
soldados que as operavam61.
O que tornava esta arma tão eficiente era o seu sistema de arrefecimento que veio a
provar ser eficiente e fiável, este sistema consistia na corrente de ar criada ao disparar a
arma, que fazia com que o ar arrefece-se ao atravessar um radiador, baixando assim a
temperatura do cano. Nesta época onde a maioria das armas automáticas eram arrefecidas
a água, este novo sistema veio levantar algumas dúvidas que se dissiparam quando esta
começou a ser utilizada em combate. Uma outra vantagem que esta arma apresentava, era
o facto, de só necessitar de uma guarnição de 2 homens no mínimo, apesar de muitas
vezes este número se elevar para os 4 a 5 elementos, cuja função dos restantes homens
era a de carregar munições extra e de substituírem os carregadores, assim como o segundo
elemento. Estes carregadores transportavam 47 munições e possuíam a vantagem de
conservar as munições minimamente secas e limpas, ao contrário de outras metralhadoras
da época que eram alimentadas por fitas que tinham as munições mais expostas aos
elementos.
A fiabilidade desta arma era tão famosa que para além de ser utilizada nas
trincheiras pela Infantaria no combate em terra, também chegou a equipar a aviação
aliada62, a aviação alemã (foi registado a presença de metralhadoras Lewis em alguns
zepelins alemães), motociclos aliados e mais tarde os carros de combate britânicos. Outra
vantagem que esta arma apresentou foi o seu baixo custo relativamente a outras
metralhadoras da época, e a sua fácil e rápida fabricação. Em 1917 cada Companhia de
Infantaria possuía 3 metralhadoras ligeiras Lewis, o que perfazia um total de 12
metralhadoras por Batalhão, uma vez que os Batalhões eram constituídos por 5
Companhias, sendo uma delas de metralhadoras pesadas, no entanto, estes números

60
Marques, 2008, p.19.
61
Ver Anexo B figura 8.
62
Ver Anexo B figura 9.
14
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

viriam a aumentar com o decorrer da Guerra, não só no Exército Português como também
em todos os exércitos que participaram na Grande Guerra63.

2.2. Metralhadora Vickers 7,7 mm m/917

A metralhadora Vickers64 surge como uma evolução da metralhadora Maxim de 1906


que possuía um calibre de 6,5 mm, passando a possuir um calibre de 7,7 mm que estava
uniformizado a várias armas do Exército Britânico.
A arma por si só era pesada possuindo cerca de 15 kg, no entanto ao
acrescentarmos o tripé, ganhava mais uns 21,5 kg e como necessitava de água para o
sistema de arrefecimento ainda se acrescentava cerca de 3 kg65, perfazendo um total de
aproximadamente 40 kg. No entanto, a sua eficiência no campo de batalha ofuscava o
problema do peso e também é por isso que foi utilizada como metralhadora pesada no
Corpo Expedicionário Português, sendo colocada na segunda linha de defesa, porque para
além do tiro directo, nesta época também se executava o tiro indirecto com as
metralhadoras pesadas66.
Uma das grandes vantagens desta metralhadora, em relação à Lewis, é que as
munições eram alimentadas através de fitas de 250 munições ao contrário dos carregadores
de 47 munições da Lewis. Devido a esta sua característica, a Vickers também foi utilizada
para equipar aeronaves e mais tarde carros de combate. No entanto, uma das
desvantagens das fitas da Vickers é que tinham de ser mantidas limpas e secas, dentro do
possível, porque quando molhadas tinham tendência a inchar o que fazia com que a arma
encravasse.
O seu sistema de pontaria era bastante semelhante ao de uma espingarda, graduado
até cerca dos 2700m, também houve versões com dupla mira, semelhantes a um teodolito,
o que permitia um tiro um pouco mais preciso na realização de fogo indirecto, tal como se
fosse uma peça de Artilharia. Esta arma devido a todo o equipamento que trazia incluído e
uma vez que uma fita de 250 munições na sua caixa pesava cerca de 100 kg, necessitava
de uma guarnição de seis homens67.
A Vickers equipava as Companhias de Metralhadoras pesadas dos Batalhões de
Infantaria, que eram compostas por quatro secções com três máquinas cada. Esta arma

63
Payne, The story of the Lewis Light Machine gun, 2008
(http://www.westernfrontassociation.com/great-war-on-land/weapons-equipment-uniform/269-lewis-
story-gun.html) Tradução livre da responsabilidade do autor.
64
Ver Anexo B figura 12.
65
Beça, 1922, p. 121.
66
Idem.
67
Ver Anexo B figura 11 e 14.
15
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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devido à sua eficácia no campo de batalha conseguiu o feito de estar presente em vários
conflitos até 1967, estando 55 anos ao serviço de forças armadas68.

2.3. Metralhadora Maxim 6,5 mm m/906

A metralhadora Maxim de 190669 surge como uma actualização do modelo de 1906,


ambas de origem alemã, sendo adaptações da primeira metralhadora Maxim. Esta arma fez
o seu nome durante as disputas coloniais, no período compreendido entre 1890 e 190070,
principalmente a versão ao serviço do exército britânico, demorou alguns anos a ser aceite,
mas alterou tudo na arte militar a médio prazo71.
Apesar de o seu inventor ser americano, esta arma é adoptada pelo exército
britânico em 1891, pela primeira vez, após exigentes testes. A Maxim demonstrou as suas
imensas potencialidades nas várias campanhas coloniais dos impérios europeus no final do
século XIX, apesar de na época ainda existirem vários militares que não aceitavam a
presença desta arma nos campos de batalha de bom grado. No entanto com o tempo acaba
por ser aceite, uma vez que a Maxim mostra ser capaz de por termo a todas as resistências
que encontrava, acabando por ser incorporada em vários exércitos europeus. No despoletar
da Grande Guerra foi a Maxim e suas derivadas que se apresentaram como um dos
principais factores para o fim da guerra de movimento, obrigando os exércitos a enterrarem-
se num complexo sistema de trincheiras 72.
A metralhadora vinha num reparo de duas rodas, semelhante ao utilizado por um
pequeno obus de montanha, podendo ser retirada e disparada a partir de um tripé
incorporado no reparo, o que facilitava a sua camuflagem73, no entanto este tripé era
criticado pelo seu enorme peso (40 kg) e por não permitir uma rotação de 360º da arma, não
sendo articulado ou de cremalheira. A arma também podia possuir um escudo blindado para
proteger o atirador, mas para além de ser pesado (13 kg), aumentava a altura da
metralhadora dificultando a sua ocultação e prejudicando a visão do apontador.
Relativamente ao peso, esta arma possuía cerca de 8 kg a mais, com o depósito de água
cheio, que a sua sucessora nas mesmas condições, o que prejudicava seriamente a

68
Roy, British Weapons – The .303’’ Vickers Machine Gun (Part 1 & 2), 2008
(http://www.westernfrontassociation.com/great-war-on-land/weapons-equipment-uniform/807-vickers-
machine-gun.html) Tradução livre da responsabilidade do autor.
69
Ver Anexo B figura 13.
70
The Machine Gun 1718 – 1914, 2002 (http://www.bbc.co.uk/dna/h2g2/A876855) Tradução livre da
responsabilidade do autor.
71
Telo & Álvares, 2004, p. 96.
72
Telo & Álvares, 2004, p. 97.
73
Telo & Álvares, 2004, p. 98.
16
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

mobilidade das unidades. O seu alcance máximo era inferior ao da Vickers, permitindo
executar tiro só até aos 2500 m, menos 200 m que a sua sucessora74.
Apesar de esta arma não apresentar muitos defeitos acabou por ser substituída no
exército português pela Vickers, a sua sucessora, a quando da partida do C.E.P. para
França, como forma de uniformizar o equipamento utilizado com o exército britânico, referido
anteriormente.

2.4. Metralhadora Schwarzlose 8 mm m/907

A metralhadora Schwarzlose75 foi a única arma produzida em larga escala, a possuir


um design com culatra sem mecanismo de travamento, ou seja, o travamento era efectuado
por uma mola. Este simples sistema permitia que esta arma fosse de fácil concepção, o
travamento dependia, para além da mola, da massa da culatra e de uma alavanca que
servia para retardar o recuo da culatra76.
Esta arma era mais leve que a Maxim com cerca de 20 kg, porém não conseguia
rivalizar com os 12 kg da metralhadora Lewis e a sua cadência de tiro também era bastante
inferior em relação às suas rivais, com capacidade para apenas cerca de 400 tiros por
minuto.
Os primeiros modelos entre 1905 e 1907 tinham uma bomba de óleo para lubrificar
as munições à medida que eram alimentadas na arma, de forma a facilitar a entrada da
munição na câmara, mas em 1912 este sistema é abandonado e acrescentaram mais peso
à culatra de forma a conseguir empurrar as munições a seco para a câmara. Este sistema
de travamento não era o mais eficaz, no entanto esta arma ganhou popularidade devido à
sua simplicidade e potência, pois era uma arma extremamente sensível às variações
ambientais e às munições defeituosas.
Produzida no Império Austro – Húngaro, foi comercializada por toda a Europa até
1918 e foi adoptada em vários países no centro europeu, permanecendo em serviço como
arma de segunda linha até 1945 nos exércitos italianos e húngaros. Assim como a Lewis e a
Vickers, esta metralhadora também foi adaptada para equipar aeronaves com uma versão
mais leve, mas o seu curto comprimento do cano e a sua baixa cadência de tiro não lhe
permitiram atingir o sucesso das suas predecessoras77.
Apesar de se apresentar como uma arma simples e potente, a sua fragilidade em
condições adversas e a sua cadência de tiro, não lhe permitiram vingar no campo de batalha

74
Telo & Álvares, 2004, p. 95.
75
Ver Anexo B figura 15.
76
Hogg & Weeks, 1977, p. 8, tradução livre da responsabilidade do autor.
77
Hogg & Weeks, 1977, p. 8, tradução livre da responsabilidade do autor.
17
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

da Grande Guerra, sendo substituída por versões mais fiáveis, mais leves e com maior
cadência de tiro, de fabricantes rivais.

18
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Capítulo III – A Organização das Unidades de Infantaria nos


Exércitos Português e Alemão na Grande Guerra: uma comparação

Os princípios fundamentais da direcção de combate são eternos, em todas as


épocas, foi necessário reconhecer um adversário, iniciar a acção, escolher um ponto de
ataque, constituir uma força de manobra e conservar uma reserva até às fases finais de
combate. A acção da tropa de manobra deverá produzir a acção decisiva, através da ruptura
da frente inimiga, quer pelo envolvimento78 ou ataque de flanco79 duma das alas do
adversário ou então, pela execução duma vigorosa contra ofensiva.
Por isso na fixação dos princípios tácticos, da época, aplicáveis às diversas unidades
procedia-se dedutivamente, ou pela via da síntese; assim, a escola do soldado resultava do
modo de acção da Companhia, no combate; a escola de Companhia, do modo de acção do
Batalhão, sendo a táctica do mesmo o verdadeiro corolário dos processos de combate das
unidades superiores80.

3.1. Organização das Unidades de Infantaria no C.E.P.

A organização do exército português sofreu a sua última alteração, antes da 1ª


Guerra Mundial, em 191181, onde se diminuiu o escalão de algumas unidades de forma a
integrarem os novos regimentos de Infantaria 82. De forma a concentrar os meios disponíveis
e a tornar as unidades mais móveis por serem de escalão mais reduzido.
A Divisão de Infantaria era constituída por 2 Brigadas a 2 Regimentos cada, que por
sua vez, eram constituídos por 3 Batalhões cada83, a Divisão possuía ainda uma Brigada de
Reforço que só integrou o C.E.P. no final de 191684. Todavia neste tipo de combate a
unidade que ganhou mais importância foram as Brigadas de Infantaria85 após a
incorporação no exército inglês na Flandres, que significou uma remodelação na orgânica
para corresponder à do exército inglês.
Assim, com o decorrer da guerra, em vez de se manter o Regimento de Infantaria a
três batalhões, como estava escrito no nosso regulamento táctico, organizaram-se Brigadas

78
“É um ataque mais profundo que obriga o adversário a combater noutra direcção” (EPI, 2004, p.
35).
79
“É conduzido de forma a atacar as forças adversárias de flanco ou pela retaguarda numa
profundidade relativamente pequena” (Idem).
80
Beça, 1922, pp. 153 e 154.
81
Ordens do Exército nº 14 de 1911, p. 995 e 16 de 1911, p. 803.
82
Ordem do Exército nº 14 de 1911, p. 995.
83
Ver Anexo B figura 4.
84
Marques, 2008, p.31.
85
Nos exércitos: inglês, francês e português (Beça, 1922, p. 162).
19
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

a quatro Batalhões, em analogia com a organização inglesa 86. Era, portanto, a Brigada a
maior unidade táctica, base da defesa do sector, ficando-lhe agregados todos os elementos
de combate existentes no respectivo sector87. Esses elementos eram as baterias de
metralhadoras pesadas, as baterias de Artilharia de campanha, as baterias de morteiros
pesados e as baterias de morteiros médios88.
O sector português na Flandres estendia-se ao longo de 10 km, aproximadamente,
guarnecida por duas Divisões do Corpo, cujos Quartéis Generais se estabeleciam nas
povoações de Lestrem e Gorgue89. Delimitado em parte pelo canal de La Lys, a Norte, e
pelo canal de La Basse, a Sul, o sector português era assinalado na sua frente pela linha de
trincheiras avançadas, que se estendiam desde New Bond Street, a Norte, até Schtland
Road, a Sul de Quinque Ruc90. Os sectores atribuídos a cada Brigada eram então
subdivididos em dois subsectores, cada um guarnecido por um Batalhão.
A distribuição das forças do C.E.P. pelos seus sectores implicava em cada Divisão o
dispositivo de duas Brigadas em 1ª linha, ficando as restantes Brigadas na 2ª linha,
evidenciando-se a falta de uma 3ª linha que constituísse uma reserva geral do Corpo. Com a
adopção de um dispositivo de combate em que quatro Brigadas deviam desenvolver na
frente, constituindo a 1ª linha, ficando as duas restantes à retaguarda na 2ª linha, como
reservas parciais de Divisão, era necessário uma 3ª linha, como reserva de Corpo ou
reserva geral, para o dispositivo ficar completo, em harmonia com os princípios tácticos
correntes.
A deslocação das duas Brigadas (reservas divisionárias) para constituírem-se como
reserva de Corpo, como se sucedeu mais tarde no conflito, deixou subsistir a deficiência do
dispositivo91.

3.2. Organização das Unidades de Infantaria no Exército Alemão

Os ensinamentos colhidos no início da 1ª Guerra Mundial em conjunto com as


enormes baixas sofridas pelos alemães levaram à adopção de uma ordem ternária na
Divisão, passando a Infantaria dessa unidade a ser constituída por 3 Regimentos,
desaparecendo a Brigada como unidade intermediária entre o Regimento e a Divisão. Com
o decorrer do tempo torna-se ainda mais flexível a constituição orgânica do Corpo do
Exército, que podia compreender entre 3 a 5 Divisões.

86
Idem.
87
Freiria in Beça, 1922, p. 162.
88
Idem.
89
Ver Anexo B figura 1 e 2.
90
Beça, 1922, p. 163. Ver Anexo B figura 1 e 2.
91
Beça, 1922, pp.161 – 163. Ver Anexo B figura 4.
20
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Todavia neste tipo de combate a unidade que ganhou mais importância foram os
Regimentos de Infantaria, devido à resultante da variedade de elementos auxiliares que se
lhe agregaram, servidos por tropas da própria arma, o que lhe proporcionou os meios
adequados para tornar poderosa e eficaz a sua acção, quer na guerra de trincheiras, quer
na luta em campo aberto92.
Houve várias modificações na constituição do exército alemão, resultado da
experiência acumulada ao longo da Grande Guerra, sendo em 1916 a composição de um
Regimento de Infantaria, a seguinte: 3 Batalhões a 4 Companhias de fuzileiros-granadeiros;
3 Companhias de metralhadoras; 3 Companhias de lança-granadas, a 4 Secções de duas
bocas de fogo; 1 Companhia de lança-minas ligeiras, a 3 Secções de duas bocas de fogo
(morteiros de trincheira); 1 Companhia de canhões de Infantaria, a 2 Secções de duas
bocas de fogo; 1 Secção de sapadores do parque regimental; unidades especiais de lança-
chamas e lança-gases asfixiantes, servidas por tropas do Regimento93.
No decorrer da guerra foram ainda introduzidas algumas modificações na
constituição orgânica do Regimento. Os Batalhões passaram a ter 5 Companhias, sendo
uma de metralhadoras pesadas (4 Secções de três armas), a cada uma das restantes
companhias eram distribuídas 16 metralhadoras ligeiras.
Deste modo podemos verificar que, além das metralhadoras e das espingardas semi-
automáticas, a acção da Infantaria no campo de batalha era poderosamente aumentada
com novos instrumentos de combate, que passaram a fazer parte integrante dos
Regimentos de Infantaria 94.

3.3. Breves Conclusões

A metralhadora no decorrer da guerra nos vários exércitos foi sempre aumentando


em número nas várias unidades que integravam este equipamento, causando algumas
alterações às orgânicas estruturadas no início do conflito. Ambos os exércitos conforme
acumulavam experiência e iam recebendo mais e melhor material, actualizavam a sua
organização de forma a tirar o maior partido do conhecimento apreendido.
Em síntese verificámos então que a organização dos dois exércitos adversários era
semelhante, sendo as diferenças encontradas nos meios e quantidades empregues nas
unidades, e na forma de organizar o dispositivo de combate de forma a torná-lo mais
flexível. Porque até a forma de actuar era semelhante, conforme descobrimos através de
vários testemunhos impressos da época, logo podemos concluir que a vantagem era obtida

92
Beça, 1922, p. 154.
93
Foley, 2003, p. 240; The Times, 2003, p. 155; Beça, 1922, p. 154.
94
Beça, 1922, pp. 154 e 155.
21
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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através dos números dos meios empregues, da qualidade do equipamento e nas tácticas
empregues.

22
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Capítulo IV - As Implicações da utilização da Metralhadora na 1ª


Guerra Mundial

A utilização da metralhadora veio trazer fortes implicações no modo de fazer a


Guerra, especialmente durante a 1ªGuerra Mundial, devido às suas particularidades. A
utilização da metralhadora na 1ªGuerra Mundial teve tal importância no desenvolvimento das
técnicas, tácticas e procedimentos na utilização da mesma no campo de batalha, que até
aos dias de hoje a utilização da metralhadora é fundamentalmente a mesma 95.
Considerada uma arma de grande precisão e notável rendimento, assumiu um papel
de incontestável supremacia no material de fogo, constituindo o esqueleto dos dispositivos
da Infantaria no campo de batalha. Tanto no tiro directo como no tiro indirecto, a sua
presença tornou-se indispensável e a sua acção insubstituível96, por ser ligeira, móvel,
ocupando pouco espaço, regulam rapidamente o seu tiro e, uma vez regulado, seguem o
alvo sem o deixar97.
Devido às suas características tornou-se uma arma indispensável à Infantaria,
acatando vantagens e desvantagens, como poderemos observar no seguimento do trabalho.

4.1. As vantagens proporcionadas pela Metralhadora

No entanto tudo isto surge com o desenvolvimento de novas tecnologias, muitas


delas na última década do século XIX, que foram inseridas no campo de batalha da época,
como o aparecimento do tiro de repetição, do estriamento, do carregamento pela culatra e
das pólvoras sem fumo, que vieram influenciar o desenvolvimento das armas. Tendo como
consequência a redução dos calibres, o aumento dos alcances e trajectórias tensas de
maior alcance, criando zonas perigosas de maior dimensão, todos estes aspectos referidos
vieram dar uma nova forma ao campo de batalha tornando mais difícil o combate da
Infantaria98.
É referido nos livros escritos após a 1ªGuerra Mundial que as guerras futuras iriam
ser guerras de metralhadoras e que todos os meios de acção iriam concorrer para o
emprego eficaz da metralhadora, o que veio a verificar-se no decorrer da 1ªGuerra Mundial,
onde os morteiros, as peças de calibre reduzido, os canos ligeiros de assalto, os tubos

95
FM 23-14, 1994, Apêndice E.
96
Godinho, 1927, p. 254.
97
Soloview (Capitão do Exército Russo na guerra russo-japonesa em 1904) in Godinho, 1927, p. 257.
98
Monteiro in Livro de Ouro da Infantaria, 1920, p. 31.
23
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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lança-chamas e as granadas, tudo armas utilizadas pela Infantaria, cooperam com a


metralhadora para que esta avance em direcção à ameaça99.
Foi esta a inovação que mais revolucionou a Infantaria em 1914, determinando a
alteração orgânica das pequenas unidades e modificando a técnica do combate de
Infantaria100. Como podemos verificar com o uso da metralhadora na “guerra das
trincheiras”, começou a aplicar-se todo um sistema de armas variadas em prol da utilização
mais eficaz de uma arma específica. No entanto, também eram utilizadas de forma a
compensarem outros sistemas de armas, como a Artilharia, que quando os fogos indirectos
já não conseguiam cobrir a frente do avanço das tropas, eram as metralhadoras que
passavam a cumprir o papel principal de apoiar o avanço das tropas no terreno 101.
Esta arma aumentou consideravelmente o poder de fogo das antigas linhas de
atiradores, não só pela quantidade, mas também pela qualidade do fogo, ao mesmo tempo
que diminuía as vulnerabilidades das formações e lhes aumentava a flexibilidade. Fazendo
normalmente fogo por rajadas de poucos tiros 102, podendo mudar instantaneamente de
objectivos e segui-los sem deixar de os ter sobre mirada.
A sua cadência de tiro é a sua característica essencial, no tiro lento tem uma
cadência de entre 60 a 75 tiros por minuto, e no vivo 250 a 300, podendo mesmo atingir a
velocidade de cerca de 600 tiros por minuto. Esta característica indica o valor da
metralhadora nos locais onde não é possível empenhar um grande número de atiradores 103.
A sua cadência produz um elevado efeito moral nas nossas tropas, o seu tiro regular dá
confiança aos nossos soldados e os seus terríveis efeitos e instantâneos, ao mesmo tempo
que reduzem as nossas baixas e aumentam as do inimigo, fornecem um grande acréscimo
de moral.
Tem a possibilidade de fazer fogo através se uma plataforma fixa, permitindo-lhe a
grande justeza de tiro, um grande agrupamento de fogos e a capacidade de fazer tiro
indirecto regulado, assim como as peças de Artilharia através dos elementos de tiro.
A justeza de tiro desta arma, quando bem apontada, permite-lhe colocar os impactos
dentro de uma janela a 450m e dentro de uma porta a 900m, ao contrário da espingarda,
que devido à influência do moral e da fadiga o tiro sai prejudicado em alturas de crise
durante o combate. O fogo da metralhadora é considerado absolutamente eficaz às

99
Monteiro in Livro de Ouro da Infantaria, 1920, p. 32.
100
Godinho, 1927, p. 315.
101
Magno, 1921, p. 115.
102
No caso das metralhadoras ligeiras, nas metralhadoras pesadas, muitas vezes, era utilizado o tiro
contínuo, uma vez que o tiro era geralmente efectuado a partir das médias distâncias (a partir dos
1000m) através do tiro indirecto (Silva, 1920, p. 9; Godinho, 1927, p. 314).
103
A título de exemplo temos as povoações, estradas, pontes e desfiladeiros (Silva, 1920, pp. 12 e
13).
24
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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pequenas distâncias104 porque a tensão da trajectória a esta distância compensa os


eventuais erros do atirador.
O agrupamento de fogos permite uma zona inferior batida em relação a um número
equivalente de espingardas, tornando a metralhadora uma arma própria para ataques
surpresa, permitindo que se faça uma observação do fogo efectuado. Este agrupamento
permite que se efectue, dentro de certos limites, fogo em segurança por cima das nossas
tropas, não só para lhes apoiar o avanço, mas também para aumentar o volume de fogos.
Possui uma rápida produção e aplicação de um grande volume de fogos, o que lhe
confere uma extraordinária potência, tendo uma maior eficácia às pequenas e médias
distâncias, onde o efeito do fogo da metralhadora provoca mais baixas 105 e através do seu
agrupamento de fogos, a sua acção destruidora é superior ao da espingarda. Tem a
capacidade de cortar árvores e, havendo bastantes munições, consegue abrir caminho
através das defesas de arame farpado, às pequenas distâncias, devido à tensão da
trajectória, à força de penetração dos projécteis e à precisão de tiro, os seus efeitos tornam-
se mais devastadores do que o efeito produzido pelas granadas de fragmentação 106.
Estando a metralhadora carregada e apontada pode-se abrir fogo em qualquer
ocasião, isto é vantajoso, especialmente se for de noite ou se estivermos num posto
avançado. Basta premir o gatilho para se aplicar um grande volume de fogo sobre qualquer
direcção em qualquer momento, relativamente à indicação do alvo, a metralhadora apenas
necessita que o alvo seja reconhecido por um homem, em oposição a um número
equivalente de espingardas, que até pode efectuar esse reconhecimento através do tiro de
outra metralhadora que já esteve a disparar sobre o alvo.
O tiro das metralhadoras pode ser fiscalizado por um Oficial, ao passo que é
extremamente moroso verificar as alças e pontarias de uma linha de atiradores. Devido à
sua simplicidade, o tripé confere à metralhadora uma capacidade de fogo em todas as
direcções, sem ser necessário movê-la do seu lugar ou aumentar a sua exposição.
A metralhadora permite economizar recursos humanos, uma vez que ocupa a
mesma frente que dois atiradores, sendo a sua cadência de tiro e a sua precisão muito
superior à cadência e precisão de dois atiradores no seu lugar. Bastam um apontador e um
auxiliar para manejar uma metralhadora107, o pessoal suplementar serve como
remuniciadores, reservas ou ajudantes para montar o aparelho. Tem a capacidade de
aumentar o potencial de combate das pequenas unidades e garante uma maior facilidade

104
Considerando a pequena distância correspondente às 800 jardas, cerca de 730m (Silva, 1920, p.
9).
105
“O seu efeito pode ser comparado ao de uma descarga de um pelotão de Infantaria sobre um
homem isolado” (Silva, 1920, p. 11).
106
Granadas que expelem pequenos fragmentos em todas as direcções causando enormes baixas
em formações de Infantaria a descoberto, no entanto, os seus fragmentos são detidos por obstáculos
ligeiros (Idem).
107
Ver Anexo B figura 7.
25
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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em aproveitar os abrigos naturais, pequenos e isolados, que são facilmente dissimuláveis


por causa da sua reduzida guarnição. Com uma guarnição de dois homens mais reservas
no caso da metralhadora ligeira108 e uma guarnição de três a seis homens no caso da
metralhadora pesada109, tornam mais difícil colocar esta arma fora de combate, uma vez que
todos os homens da guarnição estão instruídos para se poderem substituir em caso de
baixas.
Esta arma com tripé, devido ao seu reduzido peso (no caso da metralhadora ligeira)
pode ir onde vão os soldados de Infantaria, o que permite um acompanhamento de perto e
um apoio em qualquer tipo de terreno, podendo por vezes tomar o lugar da Artilharia como
arma de apoio, principalmente quando a distância já não permite o apoio da mesma ou
quando esta está a mudar de posição. No caso das metralhadoras pesadas, transportando a
guarnição em carros, estas podem mover-se rapidamente de uma posição para outra, de
forma a terem a capacidade de enfrentar imprevistos ou situações críticas. Através da sua
mobilidade e difícil detecção esta arma muda frequentemente de posição, incomodando o
inimigo de pontos diferentes e inesperados, mudando de localização logo que é descoberta.
Esta arma dispõe ainda de uma incrível adaptação a todos os terrenos, indo a toda a
parte, podendo ser instalada em qualquer lugar, mesmo à retaguarda da mais ligeira
ondulação. No entanto devemos sempre ter em conta os seguintes parâmetros: ter um bom
campo de tiro, não facilitar ao inimigo a regulação do seu tiro e ter bons caminhos tanto para
a frente, como para a retaguarda da posição110.

4.2. As desvantagens verificadas pela utilização da Metralhadora

A metralhadora como todas as armas também possui desvantagens, a sua enorme


cadência de tiro produz o inconveniente do enorme consumo de munições, produzindo
também um desgaste mais célere na arma (principalmente os canos), permitindo-nos
apenas fazer tiro contínuo contra objectivos importantes ou nos momentos verdadeiramente
críticos. A grandes distâncias o tiro necessita ser cuidadosamente regulado, só sendo eficaz
quando empregue contra formações densas, reservas, colunas em marcha e baterias.
Exigindo uma guarnição bem treinada, inteligente, calma e corajosa.
Para além disso, o cano aquece excessivamente prejudicando a precisão, para
vencer os atritos torna-se necessário lubrificar a arma frequentemente, isto é, a arma
necessita de cessar-fogo por curtos intervalos de tempo, o que força a restrição do emprego

108
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos
Anexos, 1917.
109
Payne, Evolution of the Machine-Gun, 2008 (http://www.westernfrontassociation.com/great-war-on-
land/weapons-equipment-uniform/183-evo-m-gun.html) Tradução livre da responsabilidade do autor.
110
Silva, 1920, p. 14.
26
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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da metralhadora a acções curtas e importantes, caso contrário existe um rápido desgaste do


material. Uma metralhadora, em caso de avaria, torna-se indefesa e havendo uma
interrupção de tiro perde-se o efeito do fogo, daí a necessidade de uma cobertura de
remoção instantânea para proteger a arma da lama, poeiras ou areia, que introduzindo-se
nos mecanismos poderiam impedir o seu funcionamento111.
A acção da metralhadora deve fazer-se apenas em tempo oportuno e onde se possa
retirar o seu máximo rendimento, deve saber-se economizar as munições para as poder
consumir sem receios no preciso momento.
Esta arma não deve ser empenhada num combate de longa duração, deve-se
procurar desmoralizar e aniquilar o inimigo, fazendo sempre uso da surpresa. Tendo sempre
a preocupação de não chegar ao momento decisivo sem o número necessário de munições.
É necessário, antes de se iniciar o fogo, verificar se o consumo de munições é executado de
acordo com a missão a realizar e pelo efeito provável do tiro. No entanto, uma vez o tiro
iniciado, a questão do consumo de munições passa para um segundo plano, ficando em
primeiro plano o cumprimento da missão, não a descurando. Um efeito insuficiente aumenta
a confiança do adversário, enfraquecendo a moral das nossas tropas.
Não permite que se batam com eficácia alvos muito estreitos ou demasiados
extensos, tal como uma metralhadora ou uma vasta coluna de Infantaria. É exigido um
elevado número destas armas quando a distância ao alvo não tenha sido avaliada com
exactidão, ou quando o objectivo é muito profundo, ou seja, é exigido uma grande regulação
de tiro112.
As vulnerabilidades desta arma, também residiam no facto de não possuírem meios
de defesa no combate corpo a corpo, de necessitarem de ser bem dissimuladas e de terem
apoio por parte dos outros atiradores, uma vez que era constituída como alvo primário num
ataque inimigo, e pelo facto de denunciar-se pelo seu ruído “estridente e enervante”113 e o
vapor da água que começa a ferver dentro do depósito de arrefecimento114.

111
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos
Anexos, 1917. Ver Anexo B figura 9.
112
Silva, 1920, pp. 7 – 17.
113
Soloview in Godinho, 1927, p. 257.
114
Silva, 1920, pp. 15 e 16.
27
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4.3. Modo de actuar das Unidades de Infantaria do C.E.P.

Durante a 1ªGuerra Mundial o papel da Infantaria nos campos de batalha tornou-se


mais árduo e complexo, tornando-se necessária grande e devotada colaboração de todos os
meios materiais e morais de uma Nação para o cumprimento da missão115.
As tácticas lineares das pequenas unidades de Infantaria foram limitadas, em
proveito dos dispositivos em profundidade, assim como as suas formações passaram a ser
mais dispersas. O êxito do combate passou a depender da ligação entre as armas,
especialmente da cooperação entre a Artilharia e a Infantaria, pois esta permitia aos
soldados cumprir a missão que lhes estava incumbida116 mais facilmente.
Estas novas condições e circunstâncias no campo de batalha alteraram o modo de
agir da Infantaria, requerendo que as tropas tivessem uma boa preparação que lhes
permitisse suportar as fadigas, privações e contrariedades de toda a espécie, tornando
indispensável uma grande resistência física em conjunto com uma “sólida envergadura
moral”117. Tudo para que os soldados obtivessem êxito no âmbito de dois tipos de
operações, as operações ofensivas e as operações defensivas.

4.3.1. Nas Operações Ofensivas

Das alterações verificadas no modo de fazer a guerra na época, foi a necessidade de


se evitar o erro antigo de atacar em formações densas, devendo-se conduzir os assaltos
com grupos dispersos, procurando diminuir por todos os meios o número de baixas. Uma
vez que o efeito de rajada de uma metralhadora a 50 m é devastador.
Por isso, apesar de o combate corpo a corpo ainda se verificar quando os
combatentes se encontravam, as “cargas” dirigidas de peito feito ao inimigo e os choques
colectivos não foram presenciados, na zona onde se encontrava o Corpo Expedicionário
Português, no entanto, tais casos ainda se verificaram no início da Guerra 118.
Por vezes o treino nos campos de instrução das Divisões ou Brigadas não era o
necessário, sendo complementado quando as tropas se encontravam na “zona das
operações activas”119. Sempre que possível devia dar-se primazia à instrução de
especialistas de metralhadoras Lewis, numa relação de três para dois nas outras

115
Godinho, 1927, p. 254.
116
“Desalojar o adversário das suas posições, ocupando e conservando o terreno conquistado”
(Godinho, 1927, p. 254).
117
Godinho, 1927, p. 255.
118
Magno, 1921, p. 261 – 264.
119
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Instruções para a preparação de uma Divisão para a
Ofensiva, 1917. Ver Anexo B figura 6 e 12.
28
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

especialidades120. As secções, pelotões e companhias eram organizadas pelos seus


respectivos chefes de maneira a realizarem vários exercícios com as unidades de
metralhadoras, dedicando-lhes um especial cuidado na sua organização121. Estas instruções
tinham como principal ponto a acção de massa de metralhadoras, compreendendo
disposições para o tiro indirecto, barragens122 e horários, devendo ser sempre
acompanhadas de esboços.
Relativamente à posição da metralhadora no dispositivo, em cada vaga de assalto
esta era colocada nos flancos ou num ponto isolado, de forma a fazer face a um possível
ataque envolvente e a estarem cobertas das vistas do inimigo pela vaga que as precedesse,
a uma distância que lhes permitisse actuar rapidamente, tendo em atenção à posição
escolhida. O local escolhido devia possibilitar dissimular a metralhadora, medir as distâncias
a todos os pontos destacáveis no terreno, estabelecer a ligação com o comando, abrigar o
pessoal e garantir o remuniciamento123. Geralmente, só avançavam após as primeiras vagas
terem partido, mantendo-se a uma distância que lhes permitisse apoiar o avanço das
primeiras linhas e tendo por objectivo as metralhadoras adversárias.
As metralhadoras eram incorporadas nas acções de cooperação entre a Infantaria e
a Artilharia, na destruição de obstáculos, na conservação de passagens abertas por entre
obstáculos inimigos e contra objectivos da Artilharia124 por meio do fogo directo ou indirecto
das metralhadoras125.
Relativamente às frentes e formações os Batalhões estavam dispostos em
profundidade e por vagas sucessivas de assalto, de forma a criar a necessária impulsão
num ataque. As primeiras duas ou três vagas moviam-se em linha, com intervalos entre
homens de 3 a 5 passos, apresentando-se como um alvo pouco vulnerável para que não
fossem detidas pelo fogo dominante da metralhadora, as vagas seguintes avançavam em
linha ou em colunas de secção formados numa fila, devido às barragens das peças inimigas
e uma vez que as pequenas colunas eram mais fáceis de dirigir. A distância entre cada
vaga, no assalto inicial, variava entre os 75 e os 100 metros, com o fim de reduzir ao mínimo
o número de baixas, mais tarde, era lançado o maior número de vagas possível, antes de se
iniciar o fogo de barragem inimigo, avançando as vagas com espaços de 50 metros ou

120
Exploradores, observadores, vigias, sinaleiros e maqueiros (AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9,
Instruções para a preparação de uma Divisão para a Ofensiva, 1917).
121
Ver Anexo B figura 6, 7 e 12.
122
Cortina de fogo destinada a impedir o assalto inimigo ou a facilitar o assalto das próprias tropas à
posição inimiga (AA. VV. Dicionário da Língua Portuguesa, 2010).
123
Silva, 1927, p. 14.
124
Objectivos da Artilharia envolviam: trabalhadores e tropas de reabastecimento; trincheiras de
comunicação, estradas, caminhos; bombardeamento de estações de caminho de ferro, depósitos de
munições e locais de estacionamento (AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Instruções para a
preparação de uma Divisão para a Ofensiva, 1917).
125
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Instruções para a preparação de uma Divisão para a
Ofensiva, 1917.
29
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

menos entre cada vaga. A unidade mais pequena utilizada em um assalto era o Pelotão,
organizado e instruído como uma unidade independente126, havendo a possibilidade de ser
acompanhado por uma ou duas metralhadoras.
Após o assalto, dava-se a consolidação, que consistia em formar uma linha
avançada ligada por pequenos postos, cada um composto por um Sargento, cerca de 6
homens e uma metralhadora, uma vez que era a maneira mais eficaz e económica de o
fazer. Os postos deveriam ser intercalados entre 150 a 200 metros ao longo da frente,
ocupando, em geral, crateras que eram rapidamente convertidas em curtas trincheiras de
combate.
Quando o sucesso era alcançado, a sua exploração era executada por pequenas
patrulhas que manobravam velozmente à frente da linha avançada, sendo protegidas por
grupos de metralhadoras ligeiras que estavam preparadas para cobrir a retirada das
patrulhas e ocupar o terreno já conquistado.
Na utilização das metralhadoras havia diferenciação quanto ao emprego das
metralhadoras pesadas e ligeiras. As metralhadoras pesadas eram utilizadas no ataque para
executar as seguintes missões: cobrir com o seu fogo o avanço da Infantaria, cobrir a
retirada da Infantaria em caso de insucesso do ataque, preencher os intervalos que se
produziam na linha de ataque, apoiar a consolidação da posição e repelir contra-ataques.
Nesta arma era ao Oficial que competia os trabalhos de preparação e organização
indispensáveis ao bom emprego da arma, e a fiscalização da forma como era empregue a
metralhadora, tendo em atenção a substituição do pessoal pelas reservas da Brigada.
Relativamente às metralhadoras ligeiras, estas eram empregues em três situações distintas:
antes, durante e depois do assalto. Antes do assalto eram empregues para destruir as
metralhadoras inimigas, para isso avançavam pela “terra de ninguém”127 à noite ou a coberto
do nevoeiro, tomando posição numa cratera de granada tão perto quanto possível da
trincheira adversária. As metralhadoras só rompiam fogo à hora do início do ataque e só
cessavam fogo quando a Infantaria se aproximava perigosamente da posição através do
seu avanço, nestes casos deveriam aguardar no local e só avançavam após a trincheira
adversária ter sido ocupada, para seguirem as colunas de assalto. Durante o assalto, as
metralhadoras ligeiras também poderiam avançar para as trincheiras adversárias com o
resto da Infantaria, de forma a apoiar os granadeiros caso surgissem trincheiras de
comunicação extensas, ou então, caso o Comandante de Batalhão assim o determinasse,
algumas destas armas das Companhias de reserva poderiam ser utilizadas para
preencherem os intervalos nas linhas de assalto. Depois do assalto a metralhadora Lewis
126
Pressuponha que na sua orgânica estivesse presente uma determinada proporção de atiradores,
granadeiros de espingarda, granadeiros, municiadores e estafetas (AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº
9, Instruções para a preparação de uma Divisão para a Ofensiva, 1917).
127
Terreno compreendido pelas trincheiras opostas de cada adversário (AHM/Div. 1/Sec. 35/cx.
511/doc nº 9, Instruções para a preparação de uma Divisão para a Ofensiva, 1917).
30
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

era utilizada para três fins: para a linha de postos avançados, referida anteriormente, para
repelir patrulhas inimigas que procurassem explorar o seu sucesso e para guarnecer a linha
que estava a ser consolidada, de forma a reduzir o efectivo da guarnição nos postos da linha
avançada128.
O sucesso das operações ofensivas dependia em larga escala da aptidão dos
pequenos grupos para a luta, com missões bem definidas e convenientemente instruídos
para as suas diferentes missões particulares129.

4.3.2. Nas Operações Defensivas

As metralhadoras para além de serem eficazes nas operações ofensivas, também


desempenhavam um papel fundamental nas operações defensivas, onde existem relatos de
apenas duas metralhadoras, tendo como guarnição três praças e um sargento, serem
capazes de repelir um ataque inimigo, ataque este onde normalmente cada vaga era
constituída por 20 a 30 homens, formados a 2, cada grupo intervalado entre 50 a 80 passos,
na frente de cada grupo marchava um Oficial, precedido de duas a três metralhadoras
ligeiras130.
Neste tipo de operações, os sectores divisionários eram organizados em
profundidade, sendo o sistema defensivo composto da seguinte forma: 1ª linha de defesa,
linha intermédia (Linha das Aldeias), 2ª linha de defesa e zona de defesa à retaguarda131. As
linhas de defesa compreendidas entre a 1ª linha e a 2ª linha de defesa estavam a cargo do
C.E.P., a zona de defesa da retaguarda estava a cargo do Exército 132.
A primeira linha encontrava-se protegida com redes de arame133 dispostas
obliquamente em relação à linha de apoio e com metralhadoras ligeiras montadas em tripé
em abrigos, de forma a flanquear as redes de arame, conseguindo assim fazer convergir
uma grande massa de fogos, se necessário, sobre os obstáculos com o apoio das restantes
tropas de Infantaria134. Posicionadas numa segunda linha, a cerca de 60 a 150 metros,

128
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Instruções para a preparação de uma Divisão para a
Ofensiva, 1917.
129
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Instruções para a preparação de uma Divisão para a
Ofensiva, 1917.
130
Magno, 1921, p. 113.
131
Ver Anexo B figura 1.
132
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos de Defesa e
Documentos Anexos, 1917.
133
Eram dispostas em profundidade a fim de estorvarem e demorarem a marcha do inimigo
(AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos de Defesa e Documentos
Anexos, 1917).
134
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos de Defesa e
Documentos Anexos, 1917.
31
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

estavam os postos com as metralhadoras pesadas135, também em abrigos bem preparados


com óptimas condições de protecção, dispostas de forma a varrer com os seus fogos os
intervalos entre os postos da linha avançada, a apoiar a retirada das fracções que
ocupassem os postos e a bater os caminhos e faixas de terreno que o inimigo poderia
utilizar para prosseguir o seu ataque136.
A distância entre as duas linhas era variável uma vez que era importante que as
trincheiras não fossem dispostas ao longo de uma linha recta, mas sim ao longo de várias
linhas que se encontravam com ângulos variáveis, sendo de evitar, sempre, o enfiamento e
garantir o cruzamento de fogos das metralhadoras137, para isso existiam os vários postos,
permanentemente guarnecidos, que impediam o avanço inimigo, caso este conseguisse
penetrar a nossa linha avançada, ao efectuarem uma barragem contínua sobre toda a
frente.
Para além destes postos eram planeadas posições de alternativa 138 para as
metralhadoras, geralmente em locais que garantissem uma maior protecção como abrigos
de betão, casas, ruínas ou crateras de granadas. Nestes postos também se incluíam
provisões de munições, víveres e água, nas seguintes dotações: 100 munições por cada
espingarda da guarnição, 5000 munições por cada metralhadora, granadas de mão e de
espingarda até 50 cunhetes, víveres para um dia e água139.
O efeito mais procurado da metralhadora era o seu efeito desorganizador das vagas
de assalto, uma vez que obrigava a força a dispersar, diminuindo assim o seu poder de fogo
e aumentando as probabilidades de soldados inimigos ficarem retidos nos diversos
obstáculos140 montados ao longo do campo de batalha, provocando atrasos na velocidade
de progressão dos assaltos inimigos.
Neste tipo de operações dava-se prioridade à reparação da defesa de arame e dos
abrigos das metralhadoras, entre outras tarefas141, uma vez que representavam elementos
fundamentais para retardar o avanço inimigo, como referido anteriormente.
Em cada sector a defesa através da utilização de metralhadoras constituía uma parte
integrante da organização da defesa da Infantaria, para além de equipar as unidades
activas, também reforçava as unidades em reserva de forma a possibilitar o apoio às

135
Magno, 1921, p. 109.
136
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos de Defesa e
Documentos Anexos, 1917.
137
Magno, 1921, p. 109.
138
São posições à retaguarda da posição principal que são ocupadas quando a posição principal fica
comprometida e não é possível cumprir a missão atribuída a partir daquela posição (FM 3-90, 2001,
p.219).
139
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos de Defesa e
Documentos Anexos, 1917.
140
São acidentes de terreno naturais ou resultantes da acção do homem que impendem, restringem
ou fazem desviar os movimentos de forças militares (IPB, 2003, p. 23).
141
AHM/Div. 1/Sec. 35/cx. 511/doc nº 9, Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos de Defesa e
Documentos Anexos, 1917.
32
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

unidades em 1ª linha, caso fosse necessário, a impedir o avanço inimigo caso este
conseguisse penetrar no nosso dispositivo defensivo ou a apoiar possíveis contra-ataques
por parte do C.E.P.

4.4. Modo de actuar das Unidades de Infantaria em 1895, na campanha de


Moçambique: uma comparação

Nesta época as batalhas do Exército Português travavam-se nos seus territórios


coloniais, onde já imperava a utilização da metralhadora, embora ainda fosse manual com o
modelo Nordenfelt de 1895142 que utilizava as munições de 8mm da espingarda
Kropatschek143. As tácticas utilizadas pelo exército português eram inspiradas na
experiência inglesa nos seus conflitos contra os Zulus, na campanha no Sudão e na guerra
contra os Matabeles144. O princípio básico era simples “as tropas regulares, quer em
marcha, quer em estacionamento, devem estar sempre prontas a receber o inimigo,
qualquer que seja a direcção em que ele se apresenta”145, logo tornou-se necessário
adoptar uma formação que permitisse tirar vantagem do poder de fogo contra a vantagem
numérica do inimigo, do melhor conhecimento do terreno e a sua superior mobilidade. A
melhor formação encontrada foi o quadrado146, típica formação de Infantaria contra a
cavalaria, de forma a contrariar a sua superior mobilidade conseguindo atacar várias frentes
simultaneamente.
No entanto a adopção do quadrado tinha condicionantes, como a mobilidade, no
caso de surgir a oportunidade de se tomar uma postura ofensiva, e a progressão quando o
inimigo se encontrava muito próximo147. Mas as vantagens superavam as condicionantes,
como o deslocamento que era efectuado em duas colunas separadas entre 50 a 100m com
uma coluna avançada em relação à outra, o que permitia adoptar o dispositivo do quadrado
em poucos minutos no caso de um ataque surpresa, as peças de Artilharia e as
metralhadoras, consoante a necessidade, formavam no centro do dispositivo ou então em
redutos nos vértices148.
O fogo de Infantaria no quadrado era executado de forma coordenada, uma vez que
cada face era composta por duas ou três linhas de atiradores, realizavam-se os disparos à
voz, nunca a mais de 400m e aos 200m montavam-se as baionetas. No caso do inimigo em
vez de atacar o quadrado, bate-se pelo fogo próximo a formação, podia-se fazer avançar

142
Ver Anexo B figura 16.
143
Telo, 2004, p. 21.
144
Ornelas in Telo, 2004, p. 29.
145
Instruções da coluna de Chicomo, Mergulhão in Telo, 2004, p. 29.
146
Telo, 2004, p. 29. Ver Anexo B figura 3.
147
Telo, 2004, p. 30.
148
Idem, ver Anexo B figura 3.
33
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

uma linha de atiradores, que também se podia mandar avançar se o inimigo começasse a
retirar.
A coluna era sempre precedida por equipas de reconhecimento compostas por
cavalaria ou auxiliares149, estas equipas actuavam como guarda avançada e guarda da
retaguarda distanciadas entre 20 a 60m da coluna principal, existiam ainda, a uma distância
de 100 a 200m à volta de toda a coluna piquetes de cavalaria e a 100 a 200m dos cavaleiros
seguiam grupos de auxiliares. Tudo isto para que, em caso de ataque inimigo, a coluna
tivesse tempo suficiente para formar o dispositivo em segurança, uma vez que o terreno
nem sempre se apresentava com boas condições de visibilidade.
A força que constituía cada unidade tinha reduzida mobilidade, devido ao forte calor
sentido em África. Em regra a marcha iniciava-se com o nascer do sol, entre as 4 e as 5
horas da manhã, e cessava perto do meio-dia, hora de calor mais intenso, montava-se então
o acampamento para se passar a noite. Marchava-se cerca de 7 a 8 horas por dia com
várias paragens150, o que podia significar cerca de 10 a 30 km por dia, dependendo do
terreno, os pequenos altos eram realizados a cada 2 horas podendo ser realizado um
grande alto entre 1 a 2 horas.
Cada coluna era empenhada em cerca de 5 a 6 dias de campanha, tendo uma
autonomia de cerca de 30 a 60 km a partir do último posto de abastecimentos, no entanto
uma distância de 50 km era pouca, tendo em conta a extensão dos territórios das colónias
africanas, por isso eram criados sucessivos postos de abastecimento de forma a aumentar a
capacidade de projecção das forças. Os mantimentos eram geralmente carregados em
carros de tracção animal à retaguarda da coluna guardados por unidades de cavalaria,
enquanto as munições para as diversas armas iam integradas na coluna.
Os acampamentos eram montados num ponto alto, em forma de quadrado, que
conferissem um campo de tiro de cerca de 300 m e com água potável por perto. Dentro do
acampamento montava-se um curral para guardar o gado, as tendas, cantinas móveis para
o rancho e à sua volta, sempre que possível, uma vedação com arame em estacas e uma
pequena trincheira para abrigo. O dispositivo defensivo, para além disto, dispunha-se com a
Infantaria a formar as faces, a Artilharia nos vértices e o comando, engenharia, cavalaria e
trem de combate ao centro. A vigilância do acampamento era intensa, uma vez que o
inimigo preferia atacar a coberto da noite e de surpresa, em regra pouco antes de o sol
nascer151. Para reduzir a probabilidade de sucesso do adversário eram montadas fogueiras
ou lanternas em estacas a 50 a 100 m das várias faces. Por vezes, também se montavam

149
Auxiliares eram o termo utilizado para os guerreiros nativos que cooperavam com o Exército
Português (Telo, 2004, p. 30).
150
Denominados pequenos ou grandes “altos”, os pequenos altos consistiam em paragens de cerca
de 10 a 15 min, os grandes altos no máximo duravam 24 horas e implicava que os atiradores
montassem um dispositivo de segurança elaborado (Telo, 2004, p. 31).
151
Telo, 2004, p. 32.
34
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

postos de vigília de 100 a 200 m de distância, normalmente ocupados pelos auxiliares. A


alvorada era, por norma, cerca das 4 horas da manhã de forma a estarem mais preparados
em caso de ataque inimigo152.
Os soldados de Infantaria transportavam uma carga mínima devido às elevadas
temperaturas, que consistia numa ração fria, e munições em número suficiente para um
combate prolongado153, para além das peças necessárias do uniforme. O uniforme de
substituição, a manta, capote, tendas e restante material necessário, seguia nos carros à
retaguarda da coluna.
A logística era o ponto mais focado nas campanhas em África na época, por isso os
postos de abastecimento não estavam separados por mais de 50 km, em média, de forma a
permitir um reabastecimento contínuo das unidades em campanha. Estes postos
encontravam-se, geralmente perto de rios navegáveis tornando mais fácil o transporte de
mantimentos para os mesmos. A fortificação era pouco utilizada, mas nos postos estava
sempre presente, utilizavam-se estacas cravadas interligadas por arame farpado,
construíam-se pequenos parapeitos de terra ou chapa de zinco para os redutos nos vértices
elevados, que abrigavam a Artilharia e as metralhadoras, e criavam-se vários obstáculos
nos acessos, recorrendo aos meios naturais no terreno como arbustos espinhosos ou ramos
de árvores. Normalmente o dispositivo adoptado continuava a ser o quadrado ou então o
hexágono, tendo um fosso em redor caso fosse necessário, no centro encontravam-se os
armazéns e o alojamento do comando, o alojamento das praças encontravam-se ao longo
do parapeito, de forma a permitir uma rápida tomada de posição em caso de necessidade 154.

4.5. Breves conclusões

Como podemos verificar o emprego das unidades de Infantaria era bastante distinto
nas duas épocas, especialmente por o teatro de operações ser bastante diferente assim
como o adversário. Em 1895 o emprego da metralhadora, apesar de vantajoso, não assumia
relevância nas formações das unidades, no entanto e pelo contrário, isso já não se vem a
verificar na 1ª Guerra Mundial onde o emprego da metralhadora ganhou uma importância
exponencial em relação às campanhas em África.
A metralhadora não é uma arma perfeita, contudo foi uma arma que começou a
ganhar importância nas campanhas coloniais e mostrou-se extremamente importante para
qualquer unidade de Infantaria na Grande Guerra revelando-se “uma arma de oportunidade,
particularmente apta para o fogo de surpresa, mas menos apta para uma prolongada acção

152
Idem.
153
Mínimo de 120 munições, das quais 60 ou 80 nas cartucheiras (Telo, 2004, p. 33).
154
Telo, 2004, pp. 29 – 35.
35
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
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de fogo”155. Indispensável para o sucesso das operações ofensivas, em que estas


dependiam em larga escala da aptidão dos pequenos grupos para a luta, incluindo as
secções de metralhadoras, com missões bem definidas e convenientemente instruídos para
as suas diferentes missões particulares.
Em cada sector a defesa através da utilização de metralhadoras constituía uma parte
integrante da organização defensiva da Infantaria, para além de integrar as unidades
activas, também reforçava as unidades em reserva de forma a possibilitar o apoio às
unidades em 1ª linha, caso fosse necessário, a impedir o avanço inimigo caso este
conseguisse penetrar no nosso dispositivo defensivo ou a apoiar possíveis contra-ataques
por parte do C.E.P.
Quer já se tenha visto ou pegado numa metralhadora, ou não, este poderoso
dispositivo teve um profundo efeito nas nossas vidas. Esta arma já foi implicada na
dissolução de nações, na repressão de revoluções, no derrube de governos e no término de
guerras. Em termos inequívocos, a metralhadora é um dos desenvolvimentos militares mais
importantes na história do Homem156.

155
Silva, 1920, p. 16.
156
“Whether or not you've ever held a machine gun or even seen one, this powerful device has had a
profound effect on your life. Machine guns have had a hand in dissolving nations, repressing
revolutions, overthrowing governments and ending wars. In no uncertain terms, the machine gun is
one of the most important military developments in the history of man”; Watson & Harris, How Machine
Guns Work, 2001 (http://science.howstuffworks.com/machine-gun9.htm) Tradução livre da
responsabilidade do autor.
36
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Conclusões

Com a entrada de Portugal para a 1ª Guerra Mundial, tornou-se necessário treinar,


preparar e equipar um grande contingente de soldados de forma a conseguir uma
participação influente no conflito. Antes da guerra europeia o exército português estava mais
apto ao combate contra as populações indígenas de África, porém o teatro de operações
europeu apresentava um campo de batalha totalmente diferente dos que se encontravam
em África. Exércitos mais bem equipados, com equipamento moderno, bem organizados e
num terreno que em nada se comparava com o meio ambiente do Sul do continente
Africano.
Contudo o nosso trabalho centrou-se na introdução da metralhadora no C.E.P. na
Grande Guerra, arma que influenciou bastante o decorrer do conflito, não só no modo de
agir das unidades de Infantaria portuguesas como também nas unidades de Infantaria
adversárias. Alterando sucessivamente as tácticas empregues ao longo da guerra, fruto da
experiência acumulada, de maneira a fazer face às várias dificuldades que se encontravam
naqueles campos de batalha.
Com o nosso esforço centrado no impacto que a introdução da metralhadora teve
nas tácticas, técnicas e procedimentos das unidades de Infantaria do C.E.P., verificámos a
primeira hipótese da nossa investigação, ao provarmos que houve uma necessidade de
alterar o modo de actuar até então. Concluímos, com a comparação entre o modo de actuar
das unidades de Infantaria nas campanhas em África em 1895 e em 1916 na Flandres, onde
houve a necessidade de abandonar a táctica do quadrado até então praticada e dos ataques
frontais em direcção ao inimigo através de campo aberto, passando-se então a formar
pequenas colunas que avançavam protegidas pelos acidentes do terreno.
Assim, ao contrário das tácticas desenvolvidas para combater os exércitos indígenas
africanos no fim do século XIX, na Grande Guerra alteraram-se as modalidades de acção
dos exércitos em confronto, adaptando a sua organização e o modo de actuar, à nova
realidade apresentada nos campos de batalha europeus.
Como observámos, o emprego das unidades de Infantaria foi bastante distinto nos
dois conflitos, em 1895 o emprego da metralhadora, apesar de se constituir como uma mais-
valia às unidades de Infantaria, não foi aproveitada ao máximo. Pois as metralhadoras eram
em pequeno número em cada unidade e encontravam-se nos vértices do quadrado, não
permitindo uma sobreposição dos seus sectores de tiro de forma a tirar o máximo partido da
enorme cadência de tiro desta arma em relação às espingardas, que equipavam os
atiradores. A formação do quadrado mostrava-se vantajosa quando se adoptava uma
postura defensiva, todavia quando se pretendia adoptar uma postura ofensiva, esta
formação não se mostrou a mais adequada, sendo necessário separar pequenos
37
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

contingentes, da formação principal, de maneira a prosseguir o ataque fazendo com que


ficassem isolados do resto da força. Nas colónias as unidades de Infantaria faziam
deslocamentos em busca das forças adversárias, sendo o dispositivo de marcha em duas
colunas com carros de tracção animal no meio do dispositivo, carregados maioritariamente
com munições, e na retaguarda, surgiam outros carros que eram utilizados no transporte
dos diversos mantimentos da força, protegidas por unidades de cavalaria e auxiliares. O
dispositivo era composto ainda por unidades de exploração ou reconhecimento, a diferentes
distâncias do grosso da força.
Porém na Flandres as unidades de Infantaria do C.E.P., que estava sob o comando
inglês, combatiam de forma diferente. No âmbito da cooperação dos dois exércitos, as
forças portuguesas foram reestruturadas de forma a se enquadrarem no modo de actuar do
exército inglês.
Quando o C.E.P. entra na 1ª Guerra Mundial a tipologia de guerra era diferente
daquela praticada em África, em vez de uma guerra de movimento tínhamos dois
adversários, frente a frente, estagnados no terreno. O dispositivo adoptado nestas
circunstâncias foi a formação de várias linhas defensivas em profundidade, apoiadas por
peças de Artilharia na retaguarda e as metralhadoras ligeiras e pesadas com a Infantaria
constituíam os elementos ao longo das linhas. Foi aqui que a metralhadora se mostrou
eficaz, apoiando o avanço da Infantaria enquanto na ofensiva e retardando o avanço
inimigo, através de um efectivo reduzido, enquanto na defensiva. Esta arma veio dificultar o
trabalho da Infantaria, obrigando o soldado a mover-se a um ritmo mais lento, protegido das
vistas e linhas de fogo inimigas, o que se tornava difícil devido à cooperação da Artilharia
com a Infantaria, através dos sucessivos bombardeamentos de granadas.
Foram estas causas que vieram a justificar a necessidade de alterar as tácticas,
técnicas e procedimentos na forma de actuar das unidades de Infantaria do C.E.P.
Ainda no âmbito do estudo das alterações no exército português, apurámos a
verificação da segunda hipótese formulada, ao concluirmos que houve uma necessidade de
modernização das armas automáticas que equipavam as unidades de Infantaria
portuguesas, passando a possuir as metralhadoras britânicas Lewis e Vickers.
Devido às inovações presentes nos vários exércitos europeus, houve a necessidade
de modernizar o equipamento no exército português também. Neste trabalho falámos mais
concretamente na modernização das armas automáticas, que em parte sucedeu devido à
integração do C.E.P. no dispositivo inglês. A actualização destas armas aconteceu para
uniformizar o equipamento utilizado pelos dois exércitos, não só na utilização das mesmas,
como também na utilização das mesmas munições. Para além de que uma das armas
substituída tinha origem no Império Austro-Húngaro, assim como as munições necessárias
para executar fogo, logo, uma vez que Portugal se apresentava como adversário desse

38
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

estado o abastecimento de munições tornava-se impossível. Por outro lado temos também o
avanço tecnológico presente nas novas armas, que se apresentaram como argumentos
válidos para a sua incorporação nas unidades do C.E.P.
Com a análise das alterações na organização das unidades de Infantaria equipadas
com metralhadoras no Exército Português, verificámos igualmente a terceira hipótese, onde
se confirmou que com a reestruturação de 1911, as unidades equipadas com metralhadoras
passaram a um escalão inferior, permitindo uma maior flexibilidade e concentração de
meios.
O número de metralhadoras foi aumentando com o decorrer da Grande Guerra, nos
diversos exércitos, causando alterações na orgânica inicial das unidades militares das
diferentes forças em conflito. Estas alterações também foram fruto da vasta experiência que
se foi acumulando com o decorrer do conflito, de forma a retirar o maior proveito do
conhecimento adquirido. Em suma verificámos que as alterações realizadas, em ambos os
exércitos analisados, foram semelhantes, uma vez que as principais diferenças eram nos
meios empregues nas unidades, nas quantidades disponíveis e na forma de organizar o
dispositivo de combate. Até a forma de actuar das várias unidades era semelhante,
conforme verificámos nos vários testemunhos da época, ou seja, conforme um dos
adversários desenvolvia uma nova técnica, após a observação da mesma, o outro lado tinha
tendência a adaptar a mesma técnica ao seu exército, logo a vantagem nas batalhas era
adquirida através dos números empregues dos diferentes meios, da qualidade do
equipamento e da capacidade de estar sempre a inovar as técnicas de combate.
Ao estudarmos as vantagens da utilização da metralhadora nas unidades de
Infantaria do C.E.P., verificámos a quarta hipótese, designadamente a confirmação de que
com a utilização da metralhadora as unidades referidas ganharam uma maior cadência de
tiro empregando um menor número de homens e uma arma indispensável para se adquirir o
sucesso em todos os tipos de operações. Esta pesquisa foi elaborada com base no
planeamento do C.E.P. para o confronto na Flandres e em vários testemunhos de oficiais
que relataram a sua vivência na 1ª Guerra Mundial. Nestes documentos estava descrito as
vantagens, desvantagens, modo de actuar na ofensiva e modo de actuar na defensiva.
Apesar das suas inúmeras vantagens, a metralhadora não se apresenta como uma
arma perfeita, contudo foi uma arma que começou a ganhar relevância desde a sua
invenção até aos dias de hoje, revelando-se extremamente útil durante o decorrer da
Grande Guerra. Com a pesquisa efectuada sobre as vantagens deparámo-nos também com
as desvantagens acarretadas por esta arma, como o seu elevado consumo de munições,
aliada com as dificuldades da logística de, por vezes, não conseguir manter um fluxo
contínuo das mesmas, o elevado desgaste das peças e a fragilidade de algumas peças em
ambientes mais adversos.

39
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

As razões para não estudarmos de forma mais profunda este domínio, relevando
todos os pormenores relativamente à aplicação da metralhadora na Grande Guerra,
resultam de algumas limitações inferidas à nossa investigação. Verificou-se a falta de
informação detalhada sobre a organização do Corpo Expedicionário Português, mais
propriamente em relação às pequenas unidades, como as companhias e os Pelotões. Foi,
no entanto, encontrada no AHM, grande quantidade de informação sobre os escalões
Divisão, Regimento e Brigada do exército português. Uma possível consulta de arquivos
ingleses e alemães especializados, onde se poderá encontrar eventualmente
documentações sobre o tema, certamente poderiam enriquecer o trabalho, mas a
concretização de tal consulta torna-se difícil, por razões logísticas e limitações que se
prendem com as dimensões do trabalho de investigação aplicada e os prazos para a sua
conclusão. Uma investigação futura poderá aprimorar esta investigação que aborda a
história militar portuguesa.
Verificámos, que com a introdução da metralhadora na 1ª Guerra Mundial houve
várias alterações nas tácticas, técnicas e procedimentos das unidades de Infantaria do
Corpo Expedicionário Português. Foi neste âmbito que no C.E.P., as formas de agir das
suas unidades de Infantaria, foram alteradas, o armamento foi substituído e a orgânica das
unidades que estavam equipadas com metralhadoras modificou-se de forma a adaptar-se à
organização dos exércitos dos aliados de Portugal. Estas inovações permitiram verificar as
potencialidades da metralhadora no moderno campo de batalha.
Quer já se tenha visto ou pegado numa metralhadora, ou não, este poderoso
dispositivo teve um profundo efeito nas nossas vidas. Esta arma já foi implicada na
dissolução de nações, na repressão de revoluções, no derrube de governos e no término de
guerras. Em termos inequívocos, a metralhadora é um dos desenvolvimentos militares mais
importantes na história do homem157.

157
Watson & Harris, How Machine Guns Work 2001 (http://science.howstuffworks.com/machine-
gun9.htm) Tradução livre da responsabilidade do autor.

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Fontes e Bibliografia

Fontes Primárias

1.Fontes Manuscritas

1.1.Arquivo Histórico Militar (AHM)

1ª DIVISÃO / 35ª SECÇÃO:

Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Julho e Agosto, Oficina de
Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10

Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Setembro e Outubro,
Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10

Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Novembro e Dezembro,
Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10

2.Fontes Impressas

2.1.Arquivo Histórico Militar

1ª DIVISÃO / 2ª SECÇÃO:

Constituição das Unidades de Divisão, 1917, cx. nº 283

Escola de Metralhadoras Pesadas e Metralhadoras Ligeiras, 1917, cx. nº 1350, doc nº 2

1ª DIVISÃO / 35ª SECÇÃO:

Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano Defensivo do


Corpo Português 1ª Parte, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9

Plano de defeza do sector do centro do XIº Corpo, guarnecido por esta Divisão, 1917, cx. nº
511, doc nº 9

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

2.2.Biblioteca da Academia Militar

BEÇA, General Adriano, Lições da Grande Guerra, Lisboa, Tipografia da Empresa Diário de
Notícias, 1922.

COMISSÃO TÉCNICA DA INFANTARIA, Livro de Ouro da Infantaria, Lisboa, Tipografia


Fernandes, 1922.

GODINHO, Coronel Vitorino, Introdução ao Estudo do Combate da Infantaria, V. N.


Famalicão, Tipografia Minerva, 1927.

Handbook of the .303-In. Vickers Machine Gun, Nova Iorque, George U. Harvey Publishing
CO., Inc., 1917.

MAGNO, Capitão David, Livro da Guerra Vol. I e Vol II, Porto, Companhia Portuguesa
Editora, 1921.

Ordem do Exército nº 22 de 28 de Dezembro, 1ª série, 1904.

Ordem do Exército nº 14 de 7 de Janeiro a 30 de Junho, 1ª série, 1911.

Ordem do Exército nº 16 de 11 de Julho, 1ª série, 1914.

ORDENANCE DEPARTEMENT U.S.A., Handbook of the Vickers Machine Gun,


Washington, Government Printing Office, 1917.

SILVA, Tenente Nunes da, Manual da Metralhadora “Vickers” Vol. II, Secretaria da Guerra,
1920.

3. Fontes Iconográficas e Mapas


Mapas:
Plano Defensivo Aliado, Sector Português, Flandres, França – 1918 (Santos, 2004, pp. 2 e
3).

Sector Português, situação das nossas forças na manhã de 9 de Abril de 1918 (Magno,
1921, p. 174).

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Gravuras:
Formação de Coluna e Quadrado (Telo, 2004, p. 34).

Ordem de Batalha do Corpo de Exército Português (Martins, 1945, p. 55).

Metralhadora Lewis (Telo, 2004, p. 112).

França 1917 – Escola de Metralhadoras Ligeiras (Lewis) (Martins, 1945, p. 58).

Campo de Instrução Central de Marthes – Instrução de tiro anti-aéreo com Metralhadora

Lewis (Martins, 1945, p. 57).

Apontador da Metralhadora Lewis do C.E.P. (Frurcken, 1970, p. 77).

Diversas versões da Metralhadora Lewis (Hogg & Weeks, 1977, p. 225).

Metralhadora Vickers (Martins, 1945, p. 56).

Exposição das peças que compõem a Vickers


(http://www.oryansroughnecks.org/vickers.html).

Campo de Instrução Central em Marthes - Instrução de tiro com metralhadoras Vickers


(Martins, 1945, p. 59).

Metralhadora Maxim (1904) e Metralhadora Vickers (1915) (Hogg & Weeks, 1977, p. 205).

Carro de Transporte da Metralhadora Vickers


(http://www.oryansroughnecks.org/vickers.html).

Metralhadora Schwarzlose (Hogg & Weeks, 1977, p. 199).

Metralhadora Nordenfelt (http://clix.expresso.pt/users/2277/227740/eb26d73f.jpg).

43
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Bibliografia (Citada e Consultada)

1.Teoria e Método

ECO, Humberto, Como se faz uma Tese, Lisboa, Editoral Presença, 2007.

MENDES, José M. Amado, A História como Ciência: Fontes, Metodologia e Teorização,


Coimbra, Coimbra Editora, 1987.

QUIVY, Raymond e CAMPENHOUDT, Luc Van, Manual de Investigação em Ciências


Sociais (J. Marques, M. Mendes e M. Carvalho, Trad.), Lisboa, Gradiva, 2008.

SARMENTO, Manuela, Guia Prático sobre a Metodologia Científica, Lisboa, Universidade


Lusíada Editora, 2008.

2. Enciclopédias e Dicionários

AA.VV., Dicionário de Francês-Português – Escolar, Lisboa, Texto Editora, 1999.

AA.VV., Dicionário da Língua Portuguesa, Porto, Porto Editora, 2010.

AA.VV., Nova História Militar de Portugal Vol. 4, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2004.

3. Obras de Carácter Geral

DRURY, Ian (Ed.), The Times, A História da Guerra (J. Boléo, A. Mendes e A. Marcelo,
Trad.), Lisboa, A Esfera dos Livros, 2006.

FOLEY, Robert T., Alfred von Schlieffen’s Military Writings, Londres, Frank Cass, 2003.

MARTINS, General Ferreira, História do Exército Português, Lisboa, Editoral Inquérito


Limitada, 1945.

SAMARA, Alice, Presidentes de Portugal – Sidónio Pais, Lisboa, Museu da Presidência da


República, 2006.

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SELVAGEM, Carlos, Portugal Militar, Lisboa, Imprensa Nacional, 1931.

TELO, António José, Moçambique 1895 A Campanha de todos os Heróis, Lisboa, Tribuna
da História, 2004.

TORRES, Ferreira, História Universal Vol. 3, Porto, Edições ASA, 1968.

4. Obras de Carácter Militar

Escola Prática de Infantaria, Inimigo Genérico para Exercícios, Mafra, EPI, 2004.

FM 3-90 Tactics, Washington, Headquarters Department, 2001.

United States Infantry School, FM 23-14 M249 Light Machine Gun in the Automatic Rifle
Role, Washington, Headquarters Department of the Army, 1994.

5. Obras Específicas sobre Armamento

FRURCKEN, Fred et Liliane, L’Uniforme et les Armes des Soldats de la Guerre 1914 – 1918,
Bruxelles, Casterman, 1970.

HOGG, Ian V. and WEEKS, John, Military Small Arms of the 20th century, Newbury, Arms
and Armour Press, 1977.

MACIEIRA, Major Carlos e ALVES, Capitão Rodrigues, M 222 Sistemas de Armas da


Manobra e Tiro – Manual do Aluno, Amadora, Academia Militar, 2007.

PASCHOA, Major Armando, Armamento, Lisboa, Edições Infantaria, 1951.

TELO, António José e ÁLVARES, Major Mário, Armamento do Exército Português, Vol. I –
Armamento Ligeiro, Lisboa, Prefácio, 2004.

6. Obras Específicas sobre a 1ª Guerra Mundial

CORTESÃO, Jaime, Memórias da Grande Guerra, Lisboa, Portugália Editora, 1969.

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HERRMAN, David G., The Arming of Europe and the Making of the First World War, West
Sussex, Princeton University Press, 1996.

MARQUES, Isabel Pestana, Das Trincheiras Com Saudades, Lisboa, A Esfera dos Livros,
2008.

SANTOS, José Rodrigues dos, A Filha do Capitão, Lisboa, Gradiva, 2004.

TEIXEIRA, Nuno Severiano, L’entrée du Portugal dans la Grande Guerre, Paris, Economica,
1998.

7. Sítios consultados na Internet

CARDOSO, Rui, A espingarda que derrotou Gungunhana, 3ª Compª Comandos


Moçambique, 2009, recuperado em 24 de Fevereiro de 2011 de
http://3ccomandosmocambique.multiply.com/journal/item/2866.

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2011 de http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=131.

O’RYAN, Weapons of the 107th Vickers Mk. 1, oryansroughnecks.org, (n.d.), recuperado em


18 de Junho de 2011 de http://www.oryansroughnecks.org/vickers.html.

PAYNE, Dr. David, Evolution of the Machine Gun, The Western Front Association, 2008,
recuperado em 27 de Junho de 2011de http://www.westernfrontassociation.com/great-war-
on-land/weapons-equipment-uniform/183-evo-m-gun.html.

PAYNE, Dr. David, The story of the Lewis Light Machine Gun, The Western Front
Association, 2008, recuperado em 1 de Julho de 2011 de
http://www.westernfrontassociation.com/great-war-on-land/weapons-equipment-uniform/269-
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Requisições de navios alemães, Fundação Mário Soares, 1916, recuperado em 19 de Julho


de 2011 de http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/id?id=039379.

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ROY, Bin, British Soldiers Weapons – The Lewis Gun, The Western Front Association, 2008,
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ROY, Bin, British Weapons – The .303’’ Vickers Machine Gun (Part 2), The Western Front
Association, 2008, recuperado em 1 de Julho de 2011 de
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SILVA, Capitão Pedro Ferreira da, Entrada de Portugal na Grande Guerra, Revista Militar,
2009, recuperado em 5 de Julho de 2011 de
http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=372.

SMITH, John & SHOWALTER, Dennis, World War I, Encyclopedia Britannica, 2011,
recuperado em 10 de Julho de 2011 de
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/648646/World-War-I.

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http://history.howstuffworks.com/world-war-i/triple-entente.htm.

The Machine Gun 1718 – 1914, BBC.co.uk, 2002, recuperado em 18 de Julho de 2011 em
http://www.bbc.co.uk/dna/h2g2/A876855.

WATSON, Stephanie and HARRIS, Tom, How Machine Guns Work, howstuffworks.com,
2001, recuperado em 10 de Julho de 2011 de http://science.howstuffworks.com/machine-
gun9.htm.

47
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Anexo A – Fontes Manuscritas e Impressas

Doc. 1: Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Julho e
Agosto, Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 2: Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Setembro e
Outubro, Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10

49
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 3: Relatório dos Trabalhos efectuados nesta Oficina nos mezes de Novembro e
Dezembro, Oficina de Espingardeiros, 1917, cx. nº 890, doc. nº 10

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 4: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9

51
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 5: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo A e B, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9

52
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 6: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo C, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9

53
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 7: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo E e F, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9

54
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 8: Q.G.C. – Missão Portuguesa: Planos defesa e Documentos Anexos, Plano


Defensivo do Corpo Português 1ª Parte, Capítulo H e I, 1917-1918, cx. nº 511, doc nº 9

55
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 9: Plano de defeza do sector do centro do XIº Corpo, guarnecido por esta
Divisão, 1917, cx. nº 511, doc nº 9

56
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 10: Handbook of the .303-In. Vickers Machine Gun, Nova Iorque, George U.
Harvey Publishing CO., Inc., 1917

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Doc. 11: ORDENANCE DEPARTEMENT U.S.A., Handbook of the Vickers Machine Gun,
Washington, Government Printing Office, 1917

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Anexo B – Figuras

Figura 1 – Plano Defensivo Aliado, Sector Português, Flandres,


França – 1918

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 2 – Sector Português, situação das nossas forças na manhã de 9 de Abril de 1918

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 3 – Formação de Coluna e Quadrado

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 4 – Ordem de Batalha do Corpo de Exército Português

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 5 – Metralhadora Lewis

Figura 6 – França 1917 – Escola de


Metralhadoras Ligeiras (Lewis)

Figura 7 – Campo de Instrução


Central de Marthes – Instrução de tiro
Figura 8 – Apontador da anti-aéreo com Metralhadora Lewis

Metralhadora Lewis do C.E.P.

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 9 – Diversas versões da Metralhadora Lewis

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 10 – Metralhadora Vickers

Figura 11 – Exposição das peças que compõem a Vickers

Figura 12 – Campo de Instrução Central em Marthes - Instrução de 65


tiro com metralhadoras Vickers
A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Figura 13 – Metralhadora Maxim (1904) e Metralhadora Vickers (1915)

Figura 14 – Carro de Transporte da Metralhadora Vickers

Figura 16 – Metralhadora Nordenfelt


Figura 15 – Metralhadora Schwarzlose

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A Introdução da Metralhadora na 1ª Guerra Mundial:
Implicações nas Tácticas, Técnicas e Procedimentos das Unidades de Infantaria do Corpo Expedicionário Português

Anexo C – Quadros e Tabelas

Metralhadora Metralhadora Metralhadora Metralhadora


Lewis m/917 Vickers m/917 Maxim m/906 Schwarzlose
m/907
País de origem Inglaterra Inglaterra E.U.A. / Inglaterra Áustria-Hungria
Calibre (mm) 7,7 7,7 6,5 8
Peso (kg) 11,8 (sem 15 (sem água) 26,75 (sem água) 19,9
depósito)
Cadência de tiro 500 a 600 600 500 a 600 400
(tpm)
Velocidade inicial 726 730 750 a 790 625
à boca (m/s)
Alcance útil (m) 1740 2000 2000 1800
Tabela 1 – Metralhadoras que equiparam o Exército Português (1906 - 1917)

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