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Litoral Norte

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Litoral Norte

No verão dos trópicos, todo início de ano, geralmente, é marcado por fortes
chuvas e, muitas delas, resultam em desastres naturais. De acordo com a
pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, empresa de pesquisa e de inteligência
de mercado, de 34 países, o Brasil é o terceiro entre aqueles com o maior
número de áreas de risco para desastres naturais.

Para saber mais sobre o que são desastres naturais, por que esses eventos
tornam a acontecer nesta época do ano e o que pode ser feito para prevenir
este tipo de acontecimento, a Politize! traz este artigo para você.

https://youtu.be/XXNM5bUGYow

Desastres naturais são só naturais?


Os desastres naturais, segundo a Defesa Civil no Brasil, podem ser
classificados como naturais ou tecnológicos e causam grande impacto na
sociedade. O que diferencia uma conceituação da outra é a participação direta,
ou não, do ser humano. Além disso, os desastres naturais ocorrem quando
eventos físicos resultam em danos significativos à moradia, indivíduos e
atividades humanas.

A partir disso, a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade)


divide os desastres em grupos e subgrupo, sendo:

 Naturais: geológicos, hidrológicos, meteorológicos, climatológicos e


biológico;
 Tecnológicos: separados em ocorrências de substâncias radioativas,
produtos perigosos, incêndios urbanos, obras civis e transportes de
passageiros e cargas não perigosas.
Quanto aos subgrupos dos desastres naturais:

 Desastres geológicos: terremotos, emanações vulcânicas, movimentos


de massa e erosões;
 Desastres hidrológicos: inundações, enxurradas e alagamentos;
 Desastres meteorológicos: sistemas de grande escala/escala regional
(ciclone ou frentes frias/zonas de convergência), tempestades e
temperaturas extremas;
 Desastres climatológicos: período de seca, que pode ser dividido em
estiagem, seca, incêndio florestal e baixa umidade do ar;
 Desastres biológicos: epidemias e infestações/pragas.
Quanto aos subgrupos dos desastres tecnológicos:

 Desastres por substâncias radioativas:desastres siderais com riscos


radioativos; aqueles com substâncias e equipamentos radioativos de uso
em pesquisas, indústrias e usinas nucleares; aqueles com riscos de
intensa poluição ambiental provocada por resíduos radioativos;
 Desastres por produtos perigosos: aqueles em plantas e distritos
industriais, parques e armazenamentos com extravasamento de
produtos perigosos; contaminação da água por liberação de produtos
químicos nos sistemas de água potável; derramamento de produtos
químicos em ambiente lacustre, fluvial, marinho e aquífero;
 Desastres por conflitos bélicos: liberação de produtos químicos e
contaminação como consequência de ações militares;
 Desastres por transporte de produtos perigosos: seja por transportes
rodoviário, ferroviário, aéreo, dutoviário, marítimo ou aquaviário;
 Desastres por incêndios urbanos: incêndios em plantas e distritos
industriais, parques e depósitos; incêndios em aglomerados
residenciais;
 Desastres por obras civis: colapso de edificações; rompimento/colapso
de barragens;
 Desastres por transporte de passageiros e cargas não perigosas:
seja por transportes rodoviário, ferroviário, aéreo, marítimo ou
aquaviário.

É a crise climática que tem causado desastres


naturais todo ano?
Nos trópicos, desastres ambientais tendem a acontecer no verão, pois o ar fica
mais quente e com maior capacidade de armazenar umidade, ou seja, vapor. O
que acontece é que com mais calor, mais água evapora da superfície terrestre
gerando mais umidade, logo, mais água na atmosfera, favorecendo a formação
de nuvens. Esse processo é o que torna o ambiente mais propício a enchentes.
Por isso, é comum presenciarmos aumento no volume e na frequência das
tempestades no Brasil.

O meteorologista e climatologista, Carlos Nobre, faz um alerta: desastres


ambientais, como os que aconteceram no litoral de São Paulo em
2023, tendem a ser cada vez mais frequentes e mais graves.

Quanto aos motivos para isso, o meteorologista explica que o aumento da


temperatura global está diretamente associado aos desastres no litoral
brasileiro. A explicação científica diz que o aumento da frequência associa-se
ao aquecimento global. Desde o século 19, a temperatura global já subiu quase
cerca de 1,2ºC, o que tem provocado, desde o século passado, eventos
extremos em relação a desastres ambientais.

“Esse é o risco decorrente de nós continuarmos aquecendo o planeta,


continuarmos lançando gases de efeito estufa, como dióxido de carbono,
metano, óxido nítrico, entre outros. Se continuarmos aumentando, em 2023
teremos o recorde de emissões no planeta, vamos manter o aumento da
temperatura e esses fenômenos que vivenciamos hoje serão brincadeira perto
do futuro”, diz o pesquisador em entrevista ao Congresso em Foco.

O Brasil teria cerca de 13,5 mil áreas de risco mapeadas onde podem ocorrer
desastres naturais, de acordo com o mapeamento feito pelo Sistema Federal
de Proteção e Defesa Civil, através do Serviço Geológico do Brasil
(SGB/CPRM), responsável por realizar o mapeamento para desastres
geológicos e hidrológicos.

Ainda de acordo com o levantamento, os estados com mais municípios


mapeados são:

 Minas Gerais: 199


 São Paulo: 117
 Maranhão: 92
 Bahia: 90
 Santa Catarina: 29

O ministro de Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, diz,


em entrevista à Record TV, que o Brasil tem cerca de 4 milhões de pessoas
vivendo em áreas com altíssimo risco de desastre natural.

Por outro lado, segundo ele, não é somente esperar a catástrofe acontecer, é
preciso preparar a sociedade, o sistema econômico e as populações que
residem em áreas de risco para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.
A prioridade, diz Carlos Nobre, é focar em políticas que tirem essa população
residente de áreas de risco.

Além disso, os desastres não ficam somente na conta das chuvas. O geógrafo
e documentarista, Adriano Liziero, conta em suas mídias sociais, que a
exploração do território tem responsabilidade na ausência de prevenção
desses riscos. Ainda há outro apontamento: o aumento de práticas como o
desmatamento tem agravado ainda mais a situação.

“O desastre é anunciado na paisagem. As casas de veraneio no litoral norte de


São Paulo empurram a mão de obra do turismo para a Serra do Mar, um local
íngreme, de risco, onde ninguém deveria morar.”
Dessa forma, o geógrafo acredita que a recorrência dos acontecimentos já
aponta a necessidade de políticas públicas voltadas a solucionar a falta de
acesso à moradia digna e mais atenção frente aos avisos dos monitoramentos
públicos.

Quem são os mais afetados pelos desastres


naturais
A falta de recursos naturais, os desastres naturais e fenômenos climáticos
impactam grupos e classes sociais de formas diferentes. Grupos
marginalizados frequentemente são aqueles que vivem em áreas mais
afetadas por poluição, logo, são afetados por impactos ambientais de forma
proporcional. Geralmente, estes são locais onde existe risco iminente de
desmoronamento, água contaminada e ar com qualidade ruim.

A falta de preparo para lidar com estas catástrofes naturais, fazem com que as
perdas sejam ainda mais severas. Portanto, o geógrafo Adriano Liziero, diz em
suas mídias sociais que é preciso investir em ações preventivas para
diminuir os custos em termos humanos, materiais e financeiros.

Este fenômeno já foi nomeado em 1981, chamado de racismo ambiental, pelo


Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr., líder afro-americano da luta pelos direitos
civis nos Estados Unidos. O conceito surgiu devido às investigações sobre a
relação entre as irregularidades ambientais e a população negra
estadunidense, na ocasião.

O que pode ser feito para prevenir


Desenvolver políticas públicas é essencial para que se evite catástrofes
futuras por eventos naturais, porém este é um grande desafio para um país
em desenvolvimento, como o Brasil, pois demanda medidas preventivas de
níveis estruturais e não estruturais.

Medidas estruturais seriam obras de engenharia complexas — como


construção de barragens, alargamento de rios — e que são caras, já as
medidas não estruturais são aquelas que envolvem ações de planejamento e
gerenciamento, como criação de sistemas de alerta e zoneamento ambiental.

Segundo o meteorologista Carlos Nobre, no longo prazo, a prioridade é retirar


as milhões de pessoas que residem, hoje, em áreas de risco, sobretudo,
aquelas que vivem em regiões em que não existe solução da engenharia para
reverter a situação, em que a única solução é retirá-las dali. No curto e médio
prazo, o climatólogo diz que será preciso aperfeiçoar os sistemas de alerta, que
já tem atuado dentro das expectativas, mas que pode melhorar.
Para ele, com essas medidas sendo adotadas e com uma Defesa Civil
preparada, o número de mortos tende a diminuir.

Além disso, o climatólogo ressalta ainda que seria preciso treinar e capacitar a
população para que os próprios residentes saibam como agir em situações de
risco. Carlos Nobre cita o caso do Japão, onde há um sistema de educação
voltado para a capacitação em casos de desastres naturais, no qual os
cidadãos aprendem, desde a infância, a lidar com todo tipo de desastre natural,
como terremoto, por exemplo.

Há projetos em trâmite que preveem recursos para ações de prevenção e


combate a desastres naturais, o PLP 146/2021, PLP 257/2019 e PLS
227/2011. O Senado já tem discutido propostas para prevenir e, até mesmo,
diminuir os danos provocados pelas chuvas de verão.

Casos de desastres naturais marcantes no Brasil


Dentre os inúmeros casos de desastres ambientais, a Politize! separou os
acontecimentos mais marcantes nos últimos anos no território brasileiro.

Vazamento de óleo na Baía de Guanabara (2000)


Ocorreu no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara, em janeiro de 2000. Esse
foi considerado um dos maiores acidentes ambientais do Brasil, cerca de 1,3
milhão de litros de óleo combustível vazou pela Baía e atingiu 25 praias, além
de afetar diretamente o ecossistema e o trabalho de famílias que viviam da
pesca. O acidente se deu devido ao rompimento de um duto da Petrobras.

Mariana (2015)
Em novembro de 2015, a barragem do Fundão, em Mariana (MG), rompeu,
espalhando mais de 50 milhões de metros cúbicos de lama pela bacia
hidrográfica do Rio Doce. O acidente alterou a vida de cerca de 500 mil
pessoas de mais de 40 cidades entre Minas Gerais e Espírito Santo, atingidas
pelo vazamento, além de causar a morte de 19 pessoas.

A estrutura da barragem que se rompeu era operada pela mineradora


Samarco, que faz parte da Vale.

Incêndio na Chapada dos Veadeiros (2017)


Outubro de 2017 ficou marcado pelo incêndio na região da Chapada dos
Veadeiros (GO) que durou duas semanas. Cerca de 75 mil hectares foram
destruídos pelas chamas. A região, na época, passava por uma grave crise
hídrica, o que teria contribuído para o incêndio.

Por conta das fumaças, diversas pessoas tiveram problemas respiratórios,


além disso, moradores das redondezas tiveram suas casas impactadas pelo
fogo, pois registrou-se queimação em instalações, pomares, produções, além
do risco de vida que essa população sofreu.
Brumadinho (2019)
Em janeiro de 2019, houve o rompimento da barragem do Córrego do Feijão,
em Brumadinho (MG). Neste acidente, cerca de 270 pessoas morreram e 10
permaneceram desaparecidas. O caso aconteceu devido ao lançamento de
resíduos de mineração diretamente nas águas do Rio Paraopeba pela empresa
Vale. Os impactos foram permanentes, o relatório da Fundação SOS Mata
Atlântica revela que os indicadores de qualidade mostram que a água está
imprópria para uso pelos 356km de rio percorridos.

Incêndio no Pantanal (2020)


Em outubro de 2020, cerca de 28% do Pantanal foi destruído pelo incêndio que
atingiu a região. O local atingido corresponde a mais de sete vezes o tamanho
do Distrito Federal. A fauna e a flora da região foram diretamente impactadas,
além disso, as comunidades tradicionais do bioma também foram atingidas,
sendo detectadas 687 famílias quilombolas, 1.456 indígenas e 221 pantaneiras,
de acordo com dados do Instituto Centro de Vida (ICV) e do Centro Cultural
Casa das Pretas.

Litorais Norte de São Paulo (2023)


O litoral norte de São Paulo foi atingido por fortes chuvas em fevereiro de 2023,
a somatória registrou mortes e inúmeros desalojados e desabrigados, de
acordo com as prefeituras locais e a Defesa Civil do Estado de São Paulo.

Foram registrados como resultado da chuva: alagamento, deslizamento,


soterramento de casas, corte no abastecimento de água e interdições em
rodovias e estradas. Nas cidades atingidas pelas chuvas foi decretado estado
de calamidade pública, sendo São Sebastião, Caraguatatuba, Ubatuba,
Ilhabela e Bertioga as mais afetadas.

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