Climate Change">
Analisedesituacaoemsaudecursoopasfiocruzatualizado
Analisedesituacaoemsaudecursoopasfiocruzatualizado
Analisedesituacaoemsaudecursoopasfiocruzatualizado
Análise de Situação
em Clima e Saúde
Outubro, 2017
2
2
MINISTÉRIO DA SAÚDE
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE - OPAS
FUNDAÇÃO INSTITUTO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ
INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - ICICT
Outubro, 2017
3
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
MÓDULO 1
Mudanças climáticas e os impactos na saúde
MÓDULO 2
Avanços e desafios da agenda governamental-legislação, plano setorial,
perspectivas sobre clima e saúde.
MÓDULO 3
Análise de situação de saúde voltada para o clima e ambiente
MÓDULO 4
Unidade 1- Doenças Relacionadas a Problemas de Saneamento Ambiental (Água)
Unidade 2- Doenças Relacionadas a Poluição Atmosférica (Ar)
Unidade 3 -Doenças Transmitidas por Vetores
Unidade 4- Eventos Extremos (Desastres Naturais)
MÓDULO 5
Métodos Quantitativas em Análise de Situação de Saúde e Clima
MÓDULO 6
Aquisição de informações clima, ambiente e saúde
Observatório Nacional de Clima e Saúde
4
4
APRESENTAÇÃO
A mudança global do clima apresenta expressiva relevância na agenda de governos, das empresas e da sociedade.
Embora apresente algumas divergências, o aquecimento do planeta, fruto da atividade humana é, hoje, reconhecido pela
comunidade científica internacional e pelo Governo Brasileiro, como fenômeno que demanda amplo comprometimento no
desenvolvimento de ações voltadas para a redução das emissões de gases do efeito estufa, chamadas ações de mitigação e as
Nesse contexto, não faltam evidências de que o setor saúde deve se preocupar com as mudanças climáticas, uma vez
que elas podem influenciar na propagação de vetores, na poluição do ar, na qualidade das águas para consumo humano, dentre
outras questões pertinentes ao setor. Ressalta-se também a ocorrência de desastres naturais, como objeto a ser articulado com
a saúde pública, envolvendo iniciativas relacionadas à contribuição de conhecimento para a redução de desastres e seus
Este material busca articular a utilização da plataforma de informações do Observatório Nacional de Clima e Saúde
com métodos de análise de situação de saúde capazes de auxiliar no diagnóstico de problemas de saúde influenciados pelo
clima. Para isso são levantadas informações adquiridas junto a especialistas que contribuíram e contribuem com o observatório
apontando fontes de informações hoje sistematizadas e disponibilizadas no site para análises específicas e locais, possibilitando
5
MÓDULO 1 – UNIDADE 1
Mudanças climáticas e os impactos na saúde
Christovam Barcellos, Diego Ricardo Xavier
como um dos principais problemas de saúde pública que atmosfera, como a temperatura, umidade e precipitação
podem decorrer do aquecimento global. As flutuações definem o tempo de permanência dos poluentes na
climáticas produzem mudanças na dinâmica das doenças atmosfera, que podem ser transportados a longas distâncias
vetoriais, como por exemplo, a maior incidência da dengue em condições favoráveis de altas temperaturas e baixa
no verão e da malária na Amazônia durante o período de umidade. Estes poluentes associados às condições climáticas
estiagem. Os eventos extremos introduzem uma forte podem afetar a saúde de populações distantes das fontes
perturbação sobre estes ciclos, podendo afetar a dinâmica geradoras de poluição, de modo similar aos efeitos das
6
6
queimadas, ocorridas no arco do desmatamento, e sentidos
até mesmo nas regiões sul e sudeste.
7
7
Os níveis dos oceanos mais elevados atmosférica (ex: < 950 hPa) e atividade de tempestade bem
devem resultar em maiores riscos para as regiões costeiras organizada, não estando associados a frentes. Eles ocorrem
tais como: maiores taxas de erosão, aumento dos riscos de sobre regiões oceânicas tropicais ou subtropicais,
inundações e contaminação do lençol freático devido a comumente possuindo diâmetros de centenas de
intrusão de águas salinas oceânicas (Mcleod et al. 2010 apud quilômetros. Apresentam ventos ciclônicos com velocidades
Marengo et al., 2017). Se considerarmos ainda as possíveis maiores que 33 m/s (categoria I na escala Saffir-Simpson) e
consequências do degelo na Groenlândia e na Antártica chuvas intensas, podendo causar grande destruição ao longo
poderíamos ter um aumento de até 7 metros no nível dos da sua trajetória e levar a morte um número significativo de
oceanos pela simples adição deste enorme volume de água pessoas. Para sua formação a temperatura da superfície do
nas bacias oceânicas. Entretanto, os dados atuais, embora oceano deve ser superior a 26,5°C, gerando uma alta
indiquem a perda inequívoca de massa de gelo em ambos os humidade do ar em larga escala, e condições de circulação
polos, não são suficientes para uma avaliação quantitativa do atmosférica vertical calma (cisalhamento vertical do vento
risco de mudanças abruptas e irreversíveis ou mesmo da menor que 8 m/s). Estes fenômenos têm sido observados e
magnitude do aquecimento global necessário para que registrados ao longo do tempo nos oceanos Pacífico, Índico e
ocorram essas mudanças. Contudo, a elevação do nível do no Atlântico Norte. Nunca havia sido registrado um furacão
mar somada a tendência de aumento de eventos extremos no Atlântico Sul até março de 2004, quando um ciclone
de precipitação, detectada recentemente, resultará em extratropical, denominado Catarina, se transformou em
maiores riscos de inundações nas regiões costeiras, ciclone tropical (i.e., núcleo quente cercado por massa de ar
principalmente nas grandes cidades litorâneas. mais frio) e atingiu o litoral do estado de Santa Catarina no
Estes riscos são maximizados nos grandes Brasil. De acordo com os dados existentes, a combinação das
centros urbanos onde a infraestrutura urbana é deficiente ou condições meteorológicas (exemplo: alta temperatura da
inadequada, como nos países em desenvolvimento, e que já superfície do oceano, grande bloqueio atmosférico entre as
sofrem diversos outros impactos antropogênicos, o que por médias e altas latitudes, baixo cisalhamento vertical do
sua vez diminui a resiliência dessas comunidades (Hinkel et vento) que favoreceram o surgimento do furacão Catarina
al. 2010 apud Marengo et al., 2017; IPCC, 2014). Deve-se são bastante incomuns para a região. Segundo Pezza &
ainda considerar que cerca de 7 % de todas comunidades no Simmonds (2005) existem evidências que sugerem que o
planeta se desenvolveram em áreas baixas (i.e. menos de 5 desenvolvimento do furacão Catarina esteja associado a
m acima do nível histórico dos oceanos) e que maior parte mudanças climáticas na circulação atmosférica do Hemisfério
dos 60 milhões de pessoas pobres vivendo em áreas Sul (i.e., fase crescentemente positiva da Oscilação Antártica
propensas a inundações residem em apenas 15 países, – sistema mais importante de circulação atmosférica do
incluindo o Brasil (Seto et al. 2011; Wong et al. 2014; Hemisfério Sul) e que a probabilidade da futura ocorrência
Reguero et al. 2015 McGranahan et al. 2007 apud Marengo de outros furacões no Atlântico Sul é maior em condições de
mudanças climáticas globais, são o aumento da frequência e previstas no clima da Terra, resultantes do aquecimento
da magnitude das tempestades. Ciclones, furacões e tufões global, estão as alterações no ciclo hidrológico (exemplo:
são termos genéricos para essencialmente o mesmo aumento de secas e enchentes), à elevação dos níveis dos
sistemas com um centro definido de baixa pressão projeções indicam um possível aumento da temperatura
8
8
média global da Terra entre 1,4°C e 5,8°C para o final do Referencias Research, Special Issue No. 65, pp.
1933-1938, 2013.
IPCC, Climate Change 2014: Synthesis
século XXI, o que resultaria no aumento do nível dos
Report. Contribution of Working
oceanos. Estima-se que isto aumentaria de 75 para 200 Groups I, II and III to the Fifth Patz, J.A. Campbell-Lendrum, A.
Organização Mundial da Saúde, as mudanças climáticas Figueiredo, S.A. Modeling climate doenças infecciosas: cenários e
9
9
MÓDULO 2
Avanços e desafios da agenda governamental-legislação, plano setorial,
perspectivas sobre clima e saúde.
A s mudanças climáticas tem trazido E para que esse objetivo seja atingido de maneira a
assegurar a produção de alimentos e o desenvolvimento
muitas discussões em nível mundial em decorrência dos
econômico sustentável, compromissos e obrigações foram
impactos que podem gerar. Essas mudanças ocorrem tanto
definidos a todos os países signatários, conhecidos por
por processos naturais quanto pela ação humana. E de
Partes da Convenção (Smith, 2006).
acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC), órgão das Nações Unidas criado em 1988, O Brasil foi o primeiro país assinar a
responsável por produzir informações científicas sobre o Convenção que passou a vigorar em maio de 1994, 90 dias
tema, o aumento de temperatura na Terra está sendo após sua aprovação e ratificação no Congresso Nacional.
causado principalmente pela ação do homem (IPCC, 2007). Diante da ratificação da Convenção, o Brasil assume os
Após a criação do IPCC, em 1992 desafios propostos pela convenção bem como os desafios
elaborou-se a Convenção Quadro sobre Mudança Climática, internos enquanto país, que passa, por exemplo, pela
iniciativa que demonstrou o reconhecimento político da necessidade de harmonizar a legislação brasileira sobre
às mudanças climáticas. A Convenção Quadro foi criada Nesse sentido, serão apresentadas neste
durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio documento as legislações brasileiras que abordam o tema de
Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro mudança climática e saúde bem como as convenções
– Rio – 92. Neste evento estavam presentes representantes internacionais das quais o Brasil faz parte. Além disso serão
de 179 países que trabalharam no sentido de buscar um apresentadas as perspectivas do setor saúde considerando
equilíbrio entre o crescimento econômico e a preservação as mudanças climáticas e os impactos à saúde.
ambiental considerando as alterações climáticas e a
preservação da biodiversidade. Além da Convenção Quadro
Atuação do Brasil no Contexto Internacional
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), neste
momento, foram elaboradas também a Convenção sobre
Diversidade Biológica e a Convenção das Nações Unidas para Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do
A convenção traz como objetivo principal participação do Brasil nas convenções internacionais,
a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa ressalta-se a ratificação do Brasil na Convenção Quadro das
(GEE) na atmosfera em um nível que impeça uma nações Unidas em 1994. E a partir do momento em que se
interferência antrópica perigosa no sistema climático global. torna signatário passa a assumir os seguintes compromissos:
10
10
“- elaborar inventários nacionais de emissões de gases de “- examinar periodicamente as obrigações das Partes e os
efeito estufa; mecanismos institucionais estabelecidos por esta
Convenção;
- implementar programas nacionais e/ou regionais com
- promover e facilitar o intercâmbio de informações sobre
medidas para mitigar a mudança do clima e se adaptar a
medidas adotadas pelas Partes para enfrentar a mudança
ela; do clima e seus efeitos;
- promover o desenvolvimento, a aplicação e a difusão de - promover e orientar o desenvolvimento e
tecnologias, práticas e processos que controlem, reduzam aperfeiçoamento periódico de metodologias comparáveis,
a serem definidas pela Conferência das Partes para
ou previnam as emissões antrópicas de gases de efeito
elaborar inventários de emissões de gases de efeito estufa
estufa;
por fontes e de remoções por sumidouros;
- promover e cooperar em pesquisas científicas, - examinar e adotar relatórios periódicos sobre a
tecnológicas, técnicas, socioeconômicas e outras, em implementação desta Convenção 5”
observações sistemáticas e no desenvolvimento de bancos A COP é realizada anualmente entre os
de dados relativos ao sistema do clima; e países signatários. Em 2017 será realizada a vigésima terceira
em Bonn, na Alemanha que tem dentre seus objetivos:
- promover e cooperar na educação, treinamento e
preservar o consenso multilateral sobre as causas da
conscientização pública em relação à mudança do clima.”
mudança climática; defender os avanços afetos ao Acordo de
Considerando o número de países Paris; discutir sobre as estratégias de resiliência para todas as
signatários, os compromissos assumidos e a necessidade de nações vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas,
organizar esses processos bem como a discussão entre os incluindo eventos de mudanças climáticas extremos e
aumento do nível do mar; formar uma grande coalisão entre
países e a avaliação da implementação da Convenção, foi
sociedade civil, comunidade científica, setores privados e
criada a Conferência das Partes (COP). A COP é o órgão
todos os níveis de governo para acelerar as ações referentes
supremo da UNFCCC que reúne anualmente as Partes e
às mudanças climáticas. Considerando a importância de se
tomam as decisões que devem ser coletivas e consensuais e entender o histórico da atuação no contexto de mudanças
se tornam soberanas, passando a valer para todos os países climáticas, abaixo apresenta-se o histórico das 22 COP
signatários (CETESB, 2017). realizadas até 2016 com os destaques de cada Conferência .
Assim, a figura abaixo sumariza a linha do tempo em que
Além do processo organizacional,
decisões importantes foram tomadas em COPs (UNFCC,
também compete à COP:
2017).
11
11
COP 3 e 4 - realizada nos anos de 1997 e 1998 futuro acordo de Paris.
representam um grande marco pois foi estabelecido COP 21 – realizada em 2015, onde houve a
e ratificado o Protocolo de Kyoto. negociação do Acordo de Paris com ações e metas
COP 7 – o correu em 2001 e foi estabelecido o Acordo específicas para reduzir as emissões de gases, para
de Marraquexe que trouxe a definição dos mitigação e adaptação aos efeitos afetos às
mecanismos de flexibilização, a decisão de limitar o mudanças climáticas e financiamento aos esforços
uso de créditos de carbono gerados de projetos referentes à adaptação e mitigação dos países em
florestais do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo desenvolvimento.
além do estabelecimento de fundos de ajuda a países COP 22 - realizada em 2016 onde regras foram
em desenvolvimento voltados a iniciativas de estabelecidas para a implementação do Acordo de
adaptação às mudanças climáticas. Paris.
COP 10 – realizada em 2004: momento em que foram O Brasil tem, entretanto, uma série de
aprovadas regras de implementação do Protocolo de outros compromissos estabelecidos na Convenção, tais como
Kyoto. elaborar inventários nacionais de emissões antrópicas de
COP 13 - realizada em 2007, quando foi elaborado gases de efeito estufa, formular programas nacionais de
um road map (mapa do caminho) até 2009, com mitigação e adaptação à mudança do clima, promover
metas de emissão e, principalmente, a inclusão de cooperação tecnológica, científica e educacional em matéria
florestas no texto da decisão final. de mudança do clima, promover o manejo sustentável de
COP 15 - realizada em 2009, onde foi consolidado o sumidouros e reservatórios de carbono, e comunicar à
tema climático nas agendas públicas, corporativa e da Conferência das Partes informações relativas à
12
12
Legislação Nacional entanto, outras legislações importantes foram criadas a
Embora a Constituição traga a defesa ao partir do trabalho desenvolvido pela Comissão Especial e
meio ambiente equilibrado e devendo ser protegido pelo Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas
Poder Público e pela coletividade uma vez que é essencial à apresentados em ordem cronológica.
qualidade de vida sadia. No Brasil, a temática de clima e Decreto nº 6.263, de 21 de novembro de 2007 – traz em seu
saúde começou a ganhar corpo político entre 2007 e 2009 escopo a instituição do Comitê Interministerial sobre
com a instalação da Comissão Mista Especial (CMEsp) e, Mudança do Clima (CIM) e orientações para elaboração do
posteriormente a Comissão Mista Permanente sobre Plano Nacional sobre Mudança do Clima.
Mudanças Climáticas (CMMC). A CMMC é composta por Lei nº12.114 de 9 de dezembro de 2009 – cria o Fundo
Deputados e Senadores que visam debater os impactos das Nacional sobre Mudança do Clima e altera os artigos 6º e 50
mudanças climáticas sobre a qualidade de vida e promover da Lei nº9478 de 6 de agosto de 1997.
um equilíbrio entre as legislações federal, estadual e Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009 – institui a
municipal acerca do tema. (BRASIL, 2013). Política Nacional sobre Mudança do Clima – PNMC
As políticas públicas e os marcos Lei nº12.114 de 9 de dezembro de 2009 que cria o Fundo
regulatórios nacionais são ancorados pela Convenção Nacional sobre Mudança do Clima – FNMC
Quadro e pelo Protocolo de Kyoto que por meio do Decreto
Decreto nº 343, de 26 de outubro de 2010 – regulamenta a
N º5.445 de 12 de maio de 2005 passaram a vigorar como
Lei nº12.114 de 9 de dezembro de 2009 que cria o Fundo
Leis Ordinárias (NOSCHANG , 2009).
Nacional sobre Mudança do Clima – FNMC
Apesar do trabalho mais intenso entre
Decreto nº 7390 de 9 de dezembro de 2010 – regulamenta
2007 e 2009, algumas normativas a respeito do tema foram
os artigos 6º, 11 e 12 da Lei nº 12.187 de 29 de dezembro de
elaboradas e implementadas em anos anteriores. Em Julho
2009 que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima
de 1999, por exemplo, foi criada por meio de Decreto a
– PNMC.
Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, cuja
Conforme apresentado no documento
competência era de articular as ações de governo
elaborado pela Comissão Mista Permanente sobre
decorrentes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças, climáticas, além das normativas Federais, vinte e
Mudanças do Clima e seus instrumentos subsidiários de que
dois Estados também elaboraram suas normas a respeito de
o Brasil fosse parte. Já em 2000, o Decreto nº 3.515, de 20
mudanças climáticas conforme tabela a seguir. Alguns, como
de junho instituiu o Fórum Brasileiro de Mudanças
Amazonas, de Goiás, Santa Catarina e São Paulo, publicaram
Climáticas, que tem por objetivos conscientizar e mobilizar a
suas normas antes mesmo da Lei nº 12.187, de 29 de
sociedade para a discussão e tomada de decisão sobre os
dezembro de 2009, que instituiu a Política Nacional sobre
problemas decorrentes da mudança do clima por gases de
Mudança do Clima.
efeito estufa, bem como sobre o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (DCM) definido no artigo 12 do
Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, ratificada pelo Congresso Nacional
por meio do Decreto Legislativo nº 1, de 3 de fevereiro de
1994.
13
13
Legislações Estaduais sobre Mudança Climática
Regiões UF LEI
Norte AC Lei nº 2.308 de 22 de outubro de 2010 - Cria o Sistema Estadual de Incentivos a Serviços Ambientais – SISA, o Programa de Incentivos por Serviços Ambientais – ISA Carbono e demais
Programas de Serviços Ambientais e Produtos Ecossistêmicos do Estado do Acre e dá outras providências.
AM Lei Ordinária nº 3.135, de 5 de junho de 2007 - Institui a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, e
estabelece outras providências.
Lei Ordinária nº 3.184, de 13 de novembro de 2007 - Altera, na forma que especifica, a Lei n.° 3.135, de 05 de junho de 2007, e dá outras providências.
Decreto nº 26.581, de 25 de abril de 2007 - Estabelece critérios para o estabelecimento de política estadual voluntária de mudanças climáticas, conservação da floresta, eco-economia
e de neutralização das emissões de gases causadores do efeito estufa, e estabelece outras providências.
Decreto n° 28.390, de 17 de fevereiro de 2009 - Decreto que institui o Fórum Amazonense de Mudanças Climáticas Globais, Biodiversidade e Serviços Ambientais e da outras
providências.
AP Lei nº 1491, de 27 de maio de 2010 - Estabelece a política de Redução e Compensação de emissões de dióxido de carbono CO2, incentiva a utilização de Biocombustíveis que
contribuam para a amenização do aquecimento global e melhoria da qualidade do ar e dá outras providências.
PA Decreto nº 1.900, de 22 de setembro de 2009 - Institui o Fórum
Paraense de Mudanças Climáticas e dá outras providências.
RO Decreto nº 16.232, de 4 de outubro de 2011 - Institui o Fórum de Mudanças Climáticas, Biodiversidade e Serviços Ambientais de Rondônia.
RR
TO Decreto nº 3.007, de 18 de abril de 2007 - Cria o Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade.
Lei nº 1.917, de 17 de abril de 2008 - Institui a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Tocantins, e adota outras
providências.
Nordeste AL
BA Decreto nº 9.519, de 18 de agosto de 2005 - Institui o Fórum Baiano de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e dá outras providências.
Decreto nº 10.256, de 22 de fevereiro de 2007 - Altera dispositivos do Decreto nº 9.519, de 18 de agosto de 2005, que instituiu o Fórum Baiano
de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade.
Lei nº 12.050 de 7 de janeiro de 2011 - Institui a Política sobre Mudança do Clima do Estado da Bahia, e dá outras providências.
CE Decreto nº 29.272, de 25 de abril de 2008 - Institui o Fórum
Cearense de Mudanças Climáticas e de Biodiversidade e dá outras providências.
MA Decreto nº 22.735 de 29 de novembro de 2006 - Institui o Fórum Maranhense de Mudanças Climáticas, e dá outras providências.
PI Decreto nº 12.613, de 4 de junho de 2007 - Cria o Fórum Estadual de Mudanças Climáticas e Combate à pobreza, e dá outras providências.
Lei nº 6.140, de 6 de dezembro de 2011 - Institui a Política Estadual sobre Mudança do Clima e Combate à Pobreza e dá outras providências.
PE Decreto nº 33.015, de 16 de fevereiro de 2009 - Institui o Fórum Pernambucano de Mudanças Climáticas, e dá outras providências.
Decreto nº 31.507, de 14 de março de 2008 - Institui o Comitê
Estadual de Enfrentamento das Mudanças Climáticas (CEEM) e dá outras providências.
Lei nº 14.090, de 17 de junho de 2010 - Institui a Política Estadual de Enfrentamento às Mudanças Climáticas de Pernambuco, e dá outras providências.Plano Estadual de Mudanças
Climáticas de Pernambuco
PB Lei nº 9.336, de 31 de janeiro de 2011 - Institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas – PEMC.
RN
SE
Centro-Oeste GO Lei nº 16.497, de 10 de fevereiro de 2009 - Institui a Política
Estadual sobre Mudanças Climáticas.
Lei nº 16.611, de 25 de junho de 2009 - Dispõe sobre a Política Estadual de Conscientização sobre os Efeitos do Aquecimento Global.
MT Lei n° 9.111, de 15 de abril de 2009 - Institui o Fórum Matogrossense de Mudanças Climáticas e dá outras providências.
Lei nº 9.878, de 7 de janeiro de 2013 - Cria o Sistema Estadual de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, Conservação, Manejo Florestal Sustentável e
Aumento dos Estoques de Carbono Florestal – REDD+ no Estado de Mato Grosso e dá outras providências.
MS
DF Lei nº 4.797, de 6 de março de 2012 - Lei que estabelece
princípios, diretrizes, objetivos, metas e estratégias para a Política de Mudança Climática no âmbito do Distrito Federal
Sudeste ES Decreto nº 1833-R, de 19 de abril de 2007 - Institui o Fórum
Capixaba de Mudanças Climáticas Globais, do Uso Racional da Água e da Biodiversidade – FCMC.
Lei nº 8.797, de 11 de janeiro de 2008 - Dispõe sobre a
obrigatoriedade da execução de filme publicitário com mensagens cívicas sobre as consequências do aquecimento global e a importância da defesa do meio ambiente em todas as
sessões de cinema exibidas no Estado do
Espírito Santo. Lei promulgada pela ALES.
Lei nº 9.531, de 15 de setembro de 2010 - Institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas – PEMC, contendo seus objetivos, princípios e instrumentos de aplicação.
MG Decreto nº 44.042, de 9 de junho de 2005 - Institui o Fórum Mineiro de Mudanças Climáticas.
Decreto nº 44.543, de 13 de junho de 2007 - Altera o Decreto nº 44.042, de 9 de junho de 2005, que institui o Fórum Mineiro de Mudanças Climáticas.
Decreto nº 45.229, de 3 de dezembro de 2009 - Regulamenta
medidas do Poder Público do Estado de Minas Gerais referentes ao combate às mudanças climáticas e gestão de emissões de gases de efeito estufa e dá outras providências.
RJ Decreto n° 40.780, de 23 de maio de 2007 - Institui o Fórum Rio de Mudanças Climáticas Globais que fornecerá suporte à implementação da Política Estadual de Mudanças Climáticas e
dá outras providências.
Decreto nº 41.318, de 26 de Maio de 2008 - Dispõe sobre
mecanismo de compensação energética de térmicas a combustíveis fósseis a serem instaladas no Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências.
Lei nº 5.690, de 14 de abril de 2010 - Institui a Política Estadual sobre Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável e dá outras Providências.
Decreto nº 43.216, de 30 de setembro de 2011 - Regulamenta a
Lei nº 5.690 de 14 de abril de 2010, que dispõe sobre a Política Estadual sobre Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável.
SP Decreto nº 49.369, de 11 de fevereiro de 2005 - Institui o Fórum Paulista de Mudanças Climáticas Globais e de Biodiversidade e dá providências correlatas.
Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009 - Institui a Política
Estadual de Mudanças Climáticas – PEMC.
Decreto nº 55.947, de 24 de junho de 2010 - Regulamenta a Lei nº 13.798, de 9 de novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças Climáticas.
Sul PR Lei nº 16.019, de 19 de dezembro de 2008 - Institui o Fórum
Paranaense de Mudanças Climáticas Globais, com os objetivos que especifica e adota outras providências.
Lei nº 17.133, de 25 de abril de 2012 - Institui a Política Estadual sobre Mudança do Clima.
Decreto nº 7.520, de 4 de março de 2013 - Aprova o Regulamento do Fórum Paranaense de Mudanças Climáticas Globais, instituído pela Lei nº 16.019, de 19 de dezembro de 2008 e dá
outras providências.
RS Decreto nº 45.098, de 15 de junho de 2007 - Cria o Fórum Gaúcho de Mudanças Climáticas e dá outras providencias.
Lei nº 13.594, de 30 de dezembro de 2010 - Institui a Política
Gaúcha sobre Mudanças Climáticas – PGMC -, fixando seus objetivos, princípios, diretrizes e instrumentos e dá outras providências.
SC Lei nº 14.829, de 11 de agosto de 2009 - Institui a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável de Santa Catarina, e adota outras providências.
Decreto nº 3.273, de 21 de maio de 2010 - Institui o Fórum
Catarinense de Mudanças Climáticas Globais e estabelece outras providências.
14
14
A ratificação do Protocolo de Kyoto, do Portanto, os objetivos trazidos pela
Acordo de Paris bem como a elaboração de Leis Federais e PNMC apontam para a necessidade das ações de âmbito
Estaduais acerca do tema de mudança climática, são indícios nacional considerarem e integrarem as ações promovidas
da preocupação do Brasil acerca do tema. nas esferas estadual e municipal, sejam as entidades públicas
No entanto, ainda são muitas ações ou privadas. Além disso, seus objetivos corroboram com o
necessárias ao Brasil tanto no que diz respeito a desenvolvimento sustentável, buscando o crescimento
harmonização das leis e nos seus cumprimentos bem como econômico, a erradicação da pobreza e a redução das
na realização das metas e ações postas na Política Nacional desigualdades sociais (MASSA, 2006). Com intuito de
de Mudanças Climáticas, no Plano Nacional de Mudanças permitir a execução da Política Nacional de Mudança
climáticas, no Plano de Mitigação e Adaptação e nos Planos Climática, instrumentos como o Plano Nacional sobre
Embora o Brasil não tivesse metas Clima e a Comunicação do Brasil à Convenção-Quadro das
estabelecidas no Protocolo de Kyoto por ser um país em Nações Unidas sobre Mudança do Clima foram criados.
combate às ações que geram mudanças climáticas com o esforço de diminuir a emissão de gases de efeito
considerando os setores que mais impactam nas emissões de estufa além de propor o desenvolvimento de condições
gases de efeito estufa que são Energia, Processos Industriais, internas para lidar com os impactos das mudanças climáticas
Agropecuária, floresta e resíduos. Assim ações foram globais (adaptação). O plano abrange as diversas interfaces
tomadas com intuito de estabelecer metas para o combate relacionadas à mudança climática e assim se estrutura em
ao aumento da temperatura e propiciar a mitigação dos quatro eixos: 1) oportunidades de mitigação; 2) impactos,
15
15
Protocolo de Montreal, além de fornecer uma descrição realizado em setembro de 2008, ministros da saúde e
geral das providências para implementar a Convenção. O delegados discutiram a elaboração de um Plano de Ação
documento é de responsabilidade do Ministério da Ciência, Regional para proteger a saúde dos efeitos das mudanças
publicou 3 relatórios e conta com a parceria de diversos Além da Política Nacional sobre Mudança
setores, dentre eles o setor saúde. Ressalta-se que o setor do Clima e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, o
saúde passou a contribuir com este documento no terceiro Brasil estabeleceu também os Planos Setoriais de Mitigação
relatório elaborado em 2016 (BRASIL, 2004). e de Adaptação ás Mudanças Climáticas, dentre os quais
Atuação do Setor Saúde tem-se o Plano do Setor Saúde. Embora o Plano Setorial da
Há alguns anos, estudos têm sido Saúde para Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima
realizados e evidenciado que o clima e as variações tenha sido publicado em 2013, o processo de internalização
climáticas provocam grandes impactos na saúde humana. O do tema “mudança do clima” na área da saúde foi
primeiro informe científico sobre mudança do clima e saúde intensificado em 2006 a partir do reconhecimento da sua
humana foi publicado pela Organização Mundial de Saúde importância e de seus impactos na saúde humana pelo
(OMS) em 1990. Em 1995, a Organização Pan-Americana de Governo Federal que resultou na inclusão do Ministério da
Saúde (OPAS) apresentou o tema para a Academia Nacional Saúde como membro permanente do Comitê
de Ciências durante uma conferência sobre as mudanças Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) conforme
climáticas e a saúde humana (OPAS, 2009) consta no Decreto Nº 6.263, de 21 de novembro de 2007 que
preocupação em virtude das conclusões do Painel em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador realizou uma
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que Oficina de Trabalho sobre mudanças climáticas, produção e
indicavam que os efeitos sobre a saúde já estavam sendo propagação de doenças. Um dos resultados dessa oficina foi
observados em virtude do aumento de temperatura; que a instituição, por meio da Portaria GM/MS n. 765/2008, de
países em desenvolvimento deveriam ter impactos piores um grupo técnico de caráter permanente, composto por
em decorrência da falta de preparo para adaptação e que a seus órgãos, Unidades Vinculadas e demais órgãos
elevação da temperatura poderia afetar a saúde de milhões colegiados vinculados. Esse grupo técnico tinha o objetivo de
de indivíduos por meio do aumento da desnutrição e do subsidiar as discussões e definições do Setor Saúde no
número de mortes e ferimentos devidos a eventos climáticos âmbito do CIM. E, abaixo tem-se alguns resultados como
extremos, carga de doenças diarreicas e frequência de parte do trabalho desenvolvido pelo grupo:
16
16
a) a inserção do objetivo de fortalecimento de ações para a da Portaria GM/MS n. 3.244/2011, de cunho técnico-
redução das vulnerabilidades das populações no Plano
Nacional de Mudanças Climáticas; consultivo e também deliberativo para possibilitar as
b) a formalização da Cooperação Técnica entre o Ministério discussões técnicas até as deliberações no âmbito
da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente, visando a
integração e a implementação de ações comuns e a estratégico e político.
consolidação de agenda bilateral, por meio da Portaria
Interministerial nº 822/2008; Ressalta-se que no âmbito do Ministério
c) a proibição da produção e importação de medicamentos da Saúde, além de atuar nas representações afetas ao tema,
que utilizam clorofluorcarbono como princípio ativo, por
meio da Resolução RDC nº 88, de 25 de novembro de a questão de Clima e Saúde está ligada aos trabalhos
2008, bem como a proibição de aquisição desses produtos
desenvolvidos pelas áreas de Vigilância em Saúde Ambiental
pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria GM/MS nº
2.799, de 30 de outubro de 2007;
dos Riscos Associados aos Desastres – Vigidesastres e de
d) a participação do Ministério da saúde na elaboração da Vigilância em Saúde de Populações Expostas à Poluição
publicação de documentos técnico-científicos sobre a
saúde e mudanças climáticas no Brasil, volume 1 e 3 da Atmosférica – Vigiar, ambas inseridas no Departamento de
série ‘Saúde Ambiental’, Caderno de Mudanças Climáticas
e ambientais e seus efeitos na saúde: cenários e incertezas vigilância em Saúde ambiental e Saúde do Trabalhador –
para o Brasil, em parceria com a Fiocruz e a Organização
Pan-Americana de Saúde (OPAS); e DSAST (BRASIL, 2017). E nesse contexto as responsabilidades
e) o trabalho conjunto entre o Ministério da Saúde e a OPAS do Sistema Único de Saúde são:
na elaboração do Plano Regional de Mudanças Climáticas
e Saúde, com foco na proteção da saúde frente aos efeitos “Estabelecer processo de gestão de risco frente aos impactos da
das mudanças climáticas na região das Américas para mudança do clima sobre a saúde humana, com perspectiva de
subsidiar a elaboração dos planos nacionais de cada país, gestão corretiva (trabalhar em riscos já existentes) e prospectiva
adaptados a peculiaridade de cada um. (trabalhar em prováveis riscos futuros), incluindo medidas de
prevenção, preparação, alerta, resposta e recuperação;
diretrizes e instrumentos das políticas públicas e programas Identificar e priorizar políticas e programas locais a fim de
abordar os riscos à saúde já existentes e os que podem ser
de governo aos da Política Nacional sobre Mudança do projetados em consequência da mudança do clima;
Clima, o Ministério da Saúde ficou responsável pela Identificar e/ou assegurar recursos humanos, materiais e
financeiros para aumentar a capacidade de resposta frente à
compatibilização das políticas públicas de saúde com as de mudança climática;
mudança do clima. Assim, em 2011, o Ministério da Saúde Elaborar plano de ação com medidas de adaptação, incluindo
vigilância, alerta e resposta, envolvendo todas as áreas de
saúde e a sociedade civil;
iniciou a organização do processo de elaboração do Plano
Estabelecer medidas para aumentar capacidade de resiliência da
Setorial da Saúde de Mitigação e de Adaptação às Mudanças população e do setor;
Saúde.
estava previsto no PSMC e não houve acesso a nenhum tipo de recurso para esta finalidade. Para o cumprimento dessas metas,
o Ministério da Saúde enfrenta dificuldades como a falta de empoderamento dos profissionais de saúde e da população
brasileira em relação ao tema. A sensibilização, a orientação e a capacitação são fundamentais para que os profissionais do SUS
entendam o que é mudança do clima, quais os seus impactos no meio ambiente, na sociedade e na saúde humana para que se
tornem agentes de mudança, de evolução e multiplicadores junto às comunidades que atuam, frente ao cenário de mudanças
climáticas.
O Ministério da Saúde tem trabalhado em parceria com a FIOCRUZ e outras instituições no sentido de
propiciar capacitações acerca do tema e assim conseguir vencer os desafios. Para planos futuros o setor saúde percebe a
necessidade de interação entre os diversos planos setoriais, uma vez que ações previstas e executadas nos demais podem
impactar positivamente no ambiente e na saúde. Observa também a necessidade de ampliar o fomento à realização de estudos
e pesquisas específicos que visem a adoção de tecnologias menos intensivas em carbono, a substituição de combustíveis e a
eficiência energética, a produção do conhecimento sobre as doenças sensíveis ao clima e as regiões mais suscetíveis, os cenários
e projeções das vulnerabilidades, riscos e impactos da mudança do clima na saúde humana. Além disso é preciso desenvolver
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Coordenação Geral de BRASIL. Ministério da Saúde. Mudanças Climáticas.2015 Acesso em
Mudanças Globais de Clima. Comunicação nacional inicial do Brasil: à 22/08/2017. Disponível em:
IPCC, 2007. Climate change 2007: synthesis report [Internet]. XXVII Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima. http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-
Plenária do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima; 12- Brasília: [s.n.], 2004. 274 p. Disponível em: ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/1152-secretaria-
17 de novembro de 2007; Valência, Espanha. Genebra: IPCC; 2007. http://sirene.mcti.gov.br/publicacoes. svs/vigilancia-de-a-a-z/vigidesastres/l2-vigidesastres/18549-
Disponível em: https://www.ipcc.ch/pdf/assessment- mudancas-climaticas.
report/ar4/syr/ar4_syr_full_report.pdf Acesso em 14/08/2-17 BRASIL. Legislação Brasileira sobre Mudanças Climáticas. 2013.
Elaborado pela comissão Mista Permanente do Congresso Nacional. BRASIL. Fundação Oswaldo Cruz. Observatório Nacional de Clima e
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda 21. Acesso em Saúde. Acesso em 02/082017. Disponível em:
07/08/2017. Disponível em: NOSCHANG, Patrícia Grazziotin. A Teoria de Triepel e o Recurso http://www.climasaude.icict.fiocruz.br.
(http://www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda- Extraordinário 80.004. Revista Ius Gentium 2(1): 97-114. Florianópolis:
21/agenda-21-global. Universidade Federal de Santa Catarina, 2009.rt/ar4/syr/ar4_syr.pdf.
Kaku, William. Smith. A Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre MASSA - ARZABE, Patrícia Helena. Políticas Públicas: reflexões sobre o
Mudança do Clima e o Contexto Brasil. 2006. Acesso em conceito jurídico. In: BUCCI, Maria Paula Dallari. (org.). Dimensão
01/08/2017.Disponível em: jurídica das políticas públicas. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 66. 13 Lei nº
http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/14434- 12.187/09, art. 4º, Parágrafo único. 14 Lei nº 12.187/09, art. 4º, I.
14435-1-PB.pdf. nacional15.
CETESB. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Plano Nacional sobre
Conferência das Partes. Acesso em: 01/08/2017. Disponível em: Mudança do Clima. 2007. Acesso em 08/08/2017. Disponível em:
http://proclima.cetesb.sp.gov.br/conferencias/negociacoes- http://www.mma.gov.br/clima/fundo-nacional-sobre-mudanca-do-
internacionais/conferencia-das-partes-cop/. clima.
UNFCC, 2017. Disponível em: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Acesso em 09/08/2017.
https://unfccc.int/meetings/bonn_nov_2017/meeting/10084.php. Disponível em: http://www.mma.gov.br/clima/grupo-executivo-
Acesso em 03/08/2017. sobre-mudanca-do-clima/comit%C3%AA-interministerial-sobre-
mudancasclimaticas.
UNFCC, 2008. Kyoto Protocol Reference Manual. Disponível em
http://unfccc.int/resource/docs/publications/08_unfccc_kp_ref_manu OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde. Mudança climática e
al.pdf. Acesso em 09/08/2017 Saúde: um perfil do Brasil. 2009.
20
20
MÓDULO 3 - Análise de situação de saúde voltada para o clima e
ambiente
Christovam Barcellos
de situação de saúde (ASS) é produzir conhecimento útil para processo saúde-doença no seu contexto socioambiental, isto
ações de saúde pública. Ao contrário das análises é, na relação dialética entre sociedade e natureza.
epidemiológicas clássicas, a ASS não pretende estabelecer A diversidade de concepções sobre os problemas de saúde
associações entre um fator de risco e um desfecho de saúde decorre igualmente dos diversos campos de atuação da
(agravo). O que se pretende é analisar um conjunto de dados saúde coletiva, que compreendem ações de vigilância de
que permita compreender a situação de saúde, os problemas doenças e agravos, a atenção à saúde e a promoção de
de saúde e necessidades de uma determinada população em saúde, esta de desenvolvimento mais recente. Estudar os
de suas partes relevantes: é necessário produzir uma sociais, econômicos, políticos e ambientais. Para isso, deve-
síntese”. se recorrer a técnicas de integração, antes mesmo de
A ASS é, portanto, um processo de começar a fase de análise de dados. Isto porque os
geração de conhecimento a partir da transformação de fenômenos climáticos não se realizam nas pessoas, isto é,
dados em informação oportuna e útil para a ação. A figura não são atributos individuais. Uma pessoa não “chove”. A
acima mostra o ciclo de produção de conhecimento a partir chuva ocorre em um território em um período de tempo.
das ASS. Neste mesmo território há uma população, que pode ser
Neste texto vamos mostrar diversas afetada por este fenômeno climático. Para relacionar a
estratégias e técnicas de análise de dados para os estudos chuva, ou outro fenômeno climático, com as características
sobre clima e saúde. Estas técnicas permitem a reunião e da população é necessário circunscrever este fenômeno a
análise de um conjunto de dados para a geração de um território e a um período. Não por acaso, dois conjuntos
informação. Também não podemos esquecer que um dos de técnicas são amplamente utilizados para a análise de
produtos da ASS é a interpretação e disseminação do saúde, ambiente e clima: a análise espacial e as séries
conhecimento, seja na forma de relatórios, seja usando temporais. Ambos os desenhos de estudo são considerados
ferramentas de visualização de indicadores, como gráficos e como estudos ecológicos e são especialmente úteis quando
mapas. se fixa um período de tempo e se analisa a distribuição
climáticas, são necessários diversos dados, oriundos de espaciais) ou ao contrário, quando se considera um território
diferentes fontes, que precisam ser organizados e integrados e a variação do problema de saúde ao longo do tempo
para uma análise de situação. Isto porque o clima não afeta a (estudos de séries temporais). Estas são estratégias de
saúde diretamente, mas esta relação é sempre mediada por integração de dados de ambiente, clima e saúde, lembrando
globais, que vêm se intensificando nas últimas décadas, Em um cenário de aquecimento global, a
podem produzir impactos sobre a saúde humana por incidência de doenças respiratórias tende a se agravar
impactam de forma direta a saúde e bem estar da população períodos de seca e redução acentuada de umidade, que
como a ocorrência de eventos extremos como secas, ondas resultaria em uma maior vulnerabilidade da vegetação às
de calor, furacões, tempestades, enchentes, dentre outros. queimadas. As alterações de temperatura, umidade e o
No entanto, na maior parte das vezes, esse impacto é regime de chuvas podem potencializar os efeitos das
indireto, sendo mediado por mudanças no ambiente como a doenças respiratórias, assim como alterar as condições de
Dentre os grupos de doenças que podem ainda aumentar a incidência de doenças de veiculação
ser afetados pelas mudanças climáticas e ambientais, hídrica. De um lado podem agravar as situações de
chamadas de Doenças Sensíveis ao Clima (DSC) encontram- vulnerabilidade de populações que não possuem redes de
se as doenças transmitidas por vetores, as doenças abastecimento de água, dificultando o acesso à água com
respiratórias e cardiovasculares, as doenças de veiculação qualidade e quantidade adequadas. De outro lado, os grupos
hídrica e diversos problemas de saúde decorrentes da seca populacionais servidos por esses sistemas também podem
ou inundações prolongadas, como a fome, a desnutrição e as ser afetados pela ameaça de interrupção do suprimento ou
doenças mentais. É importante ressaltar que o fato de uma contaminação de mananciais de água.
doença ser influenciada por fatores sazonais, pela incidência Nestes e em diversos outros casos, os
de chuvas ou secas e pela temperatura não quer dizer eventos e ciclos climáticos estão intrinsecamente ligados aos
necessariamente que esta doença seja sensível ao clima ou padrões de uso do solo e da apropriação de recursos
que seu padrão está se alterando com as mudanças naturais. Por exemplo, o processo de adensamento urbano
climáticas. A variabilidade climática é um processo natural produz e concentra calor sobre uma porção da superfície
em todo o mundo e se deve as variações nas estações do ano terrestre, ao mesmo tempo em que as mudanças climáticas
extremos também têm grande impacto sobre a saúde (Xavier que os impactos dessas mudanças sobre a saúde são
et al., 2014). Estudo mostram que as mudanças climáticas extremamente diferenciados, dependendo da
estão produzindo eventos extremos com maior frequência e vulnerabilidade dos grupos populacionais, sua capacidade de
vulnerabilidades, entendida como a capacidade de resposta territórios e em períodos de tempo. Estes eventos podem
de indivíduos, grupos e comunidades aos potenciais perigos ser o adoecimento, a internação hospitalar, os óbitos, entre
outros, que permitem contagens e medidas de frequência, e
deflagrados por eventos relacionados a mudanças climáticas
que deverão ser transformadas em indicadores,
e ambientais ao longo dos processos saúde-doença. Segundo
padronizados por população.
esta concepção, a vulnerabilidade destas populações está
Para monitorar e analisar os processos de
associada aos territórios de sua vida cotidiana, e sua
clima e saúde é necessário também observar a
caracterização não pode prescindir de uma visão ecológica e
vulnerabilidade em saúde de grupos populacionais aos
social.
potenciais cenários climáticos futuros, como a distribuição
espacial da população e sua dinâmica, os indicadores locais
ASS de Clima e Saúde de pobreza e segregação socioespacial, a situação dos
programas de monitoramento e controle, bem como a
Diante da complexidade dos processos
dinâmica dos ecossistemas em que estão inseridos.
que estão envolvidos entre as mudanças ambientais e
climáticas globais e seus efeitos sobre a saúde, é
imprescindível a reunião e análise de dados de forma a
VULNERABILIDADE- Vulnerabilidade, de maneira clássica,
subsidiar a sociedade, agências governamentais e a mídia
pode ser definida como a susceptibilidade a uma ameaça,
com informações sobre essas mudanças. A interação entre que incide sobre uma população ou lugar. O Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) define
gestores, população e pesquisadores é de grande
a vulnerabilidade às mudanças climáticas como o grau em
importância para o aperfeiçoamento das ações de vigilância que um sistema é susceptível aos efeitos adversos da
variabilidade e mudanças climáticas, ou é incapaz de
em saúde deve ser vista não apenas como produtora de
enfrentá-los (IPCC, 2007).
dados, mas principalmente como espaço para a formulação A vulnerabilidade climática se define
em função da natureza, magnitude e amplitude da
de políticas a partir da ASS. Para a realização dessas análises
variação climática a que está exposto um determinado
é necessário um conjunto de dados nas dimensões do clima, sistema, sua sensibilidade a esta exposição e sua
capacidade de evitá-la e preparar-se, bem como12
ambiente, população e saúde.
responder eficazmente frente a esta exposição caso a
Para a ASS, é importante reunir e magnitude supere os padrões estimados na variabilidade
atual. Neste sentido, as mudanças climáticas atuam como
organizar dados originados de diferentes fontes de amplificadores de forças motrizes como crescimento
informação sobre clima, ambiente, população e saúde e populacional (Corvalan et al., 1996), que podem aumentar
os impactos negativos de outros fatores - como as
selecionar um conjunto mínimo de dados que permitam o mudanças demográficas e de uso do solo – ao aumentar a
acompanhamento de tendências a médio e longo prazo. vulnerabilidade dos indivíduos, das comunidades e das
instituições frente aos diversos fatores que geram pressão
Os dados sobre clima se referem, na como consumo e o descarte (WHO, 2010).
verdade a processos meteorológicos, tais como temperatura,
precipitação e umidade, medidos ou estimados em um Segundo Vera e cols., os principais
determinado momento. Há necessidade de se agregar e desafios para a disseminação de dados sobre clima são: a
estabelecer medidas médias para se acompanhar as construção de parcerias entre gestores, usuários e sociedade
tendências do clima a longo prazo. civil e os produtores de dados sobre clima; a tradução de
dados de longo prazo em informações na escala regional e
Os dados de saúde se referem a uma
local, de acordo com os níveis de decisão; manutenção de
determinada população e para se reconhecer o impacto das
um sistema global de observação do clima; e procedimentos
24
24
Referências Bibliográfica LOWE R, BAILEY TC, STEPHENSON DB, GRAHAM RJ,
para a integração, avaliação da qualidade, processamento e COELHO CAS, CARVALHO MS, BARCELLOS C. Spatio-
BARCELLOS, Christovam; SABROZA, Paulo Organization by M.V.K. Sivakumar, B.S. Nyenzi and
que possuem entre suas atribuições a coleta e divulgação de Chagastelles. The place behind the case: A. Tyagi, 2010, Pages 275-286.
indicadores específicos segundo temas de análise e que situación de salud. Boletín Epidemiológico, 10(4): 1-
7.
podem auxiliar nas analises de situação em saúde e clima.
DUARTE, Elisabeth Carmen e MORAIS NETO,
Otaliba Libânio de. Introdução à Análise de Situação
de Saúde Brasil. In:. Asis - Análise de Situação de
Saúde / Ministério da Saúde, Universidade Federal
de Goiás. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 3v.
: il.
25
25
MÓDULO 4 - UNIDADE 1
DOENÇAS RELACIONADAS A PROBLEMAS DE SANEAMENTO
AMBIENTAL (ÁGUA)
Renata Gracie
de outra forma, estima-se que meramente 42,7% de todo
A ocorrência de algumas doenças esgoto gerado sofre algum tratamento, antes de lançados no
inadequado (DRSAI), que englobam doenças de veiculação valores são as médias nacionais, porém existem grandes
hídrica, transmitidas por vetores, por falta de higiene, e por diferenças regionais nesses índices de atendimento no país,
contato com águas contaminadas. Dessa maneira para sendo os maiores valores nos estados da região Sudeste (>
melhor entender os determinantes e condicionantes da 90%) e os menores na região Norte (< 70%). Além dessas
ocorrência dos casos deste grupo de doenças no Brasil,
diferenças regionais, existem elevadas inequidades na oferta
tornou-se necessário trabalhar com informações referentes a
de serviços de saneamento quando se comparam áreas
demografia, ao saneamento bem como mortalidade e
urbanas e rurais, independentemente da região ou estado,
internações por essas doenças (Gracie et al, 2014).
ou mesmo entre áreas urbanizadas e periféricas das grandes
O tema da qualidade da água tem sido
bastante debatida no âmbito da saúde, uma vez que se a cidades brasileiras (SNSA/MCIDADES, 2017).
água consumida estiver micro-biologicamente contaminada Os dados do SNIS contrastam com outros
pode transmitir diversas doenças infecciosas através de levantamentos sobre serviços de saneamento como o do
diferentes formas de exposição, tais como: falta de higiene e
IBGE, por exemplo. Enquanto os levantamentos do IBGE são
de limpeza por falta da água (“water-washed diseases”); por
oriundos de censos demográficos e pesquisas domiciliares,
contato com águas contaminadas por parasitas presentes em
onde as informações são coletadas junto aos moradores, o
organismos que vivem na água ou por vetores com ciclo de
vida na água (“water-based and water-related insect vector SNIS é um banco de dados gerido pela Secretaria Nacional de
diseases”) e diretamente pelo consumo de água Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, que
contaminada (“water-borne diseases”). reúne informações e indicadores tanto sobre a prestação dos
Segundo os dados do último Diagnóstico serviços de água, esgotos quanto de manejo de resíduos
dos Serviços de Água e Esgotos, do Sistema Nacional de sólidos a partir de dados fornecidos pelos prestadores
Informações sobre Saneamento (SNIS), 83,3% dos municípios (companhias estaduais, autarquias ou empresas municipais,
brasileiros possuem rede de água de consumo, sendo 97,4%
departamentos municipais e empresas privadas).
destes serviços concentrados em áreas urbanas, enquanto
Atualmente o banco possui informações sobre
somente 50,3% possuem rede coletora de esgotos, sendo
abastecimento de água de 91,3% dos municípios brasileiros,
58% dos serviços em áreas urbanas. Cabe ressaltar que do
total de volume de esgoto coletado, apenas 74% sofrem mas apenas 68,2% dos municípios, sobretudo das áreas
tratamento antes de serem lançados em corpos d’água, ou urbanas, possuem dados sobre esgotamento sanitário,
26
26
(SNSA/MCIDADES, 2017). Sendo assim, a comparação desses Outro fator importante é a intermitência
bancos torna-se difícil, principalmente porque possuem do abastecimento de água, que gera a necessidade de
unidades de análise diferentes. No IBGE utilizam-se armazenamento muitas vezes em recipientes inadequados,
domicílios como unidade de coleta de dados, enquanto no com manipulação precária e falta de higiene, aumento de
SNIS usa-se o município como um todo, sem considerar suas criadouros para doenças de transmissão vetorial e
possíveis diferenças internas. contaminação da água o que resulta exposição as DRSAI
vivem em áreas urbanas não contam com água potável. A própria contaminação da água deve ser
Outras 21 milhões que vivem em áreas rurais também não tomada, não só como causa de agravos à saúde, mas
têm acesso à água tratada. Além disso, apenas 46% dos também como consequência de processos sociais e
domicílios brasileiros contam com coleta de esgoto. ambientais, configurando uma cadeia de eventos
(Funasa/Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento relacionados ao saneamento que são monitorados através
Básico – 2010). Além deste fato, aponta-se a necessidade de de indicadores específicos (OPAS, 2001). No Brasil, a maior
um monitoramento constante, pois se todos os elementos parte da população urbana vem adquirindo acesso à água,
do saneamento não forem avaliados, a população através da expansão de redes de abastecimento, sem que
compreendida pela rede de abastecimento pode estar seja promovida a coleta e tratamento de esgoto e lixo. A
consumindo em seus domicílios águas de qualidade combinação entre a universalização do acesso a redes de
discutível e assim se expondo a riscos (Barcellos, 2012). abastecimento de água e a crescente vulnerabilidade das
fontes superficiais e subterrâneas de água pode, ao invés de
proteger a população, magnificar os riscos à saúde (COMITÊ
DE SAÚDE E AMBIENTE, 1998).
inadequados nas cidades configuram risco de adoecimento climática e o aumento na frequência de eventos climáticos
devido inundação de áreas e exposição da população ao extremos, áreas populosas podem estar cada vez mais
agente etiológico (Almeida et al. 1994; Barcellos et al, 2001). susceptíveis ao incremento no número de notificações,
Vários autores descrevem as condições de habitação sobretudo em situações de chuvas mais intensas, e com o
precárias e falhas no sistema de coleta de lixo como possível aparecimento de casos mais graves (Coelho &
causadores da doença (Barcellos & Sabroza, 2000; Costa et. Massad, 2012). Os fenômenos El Niño e La Niña também
al., 2001). Alguns trabalhos evidenciam fatores ambientais e configuram importante elemento a ser analisado na relação
relacionam condições socioeconômicas e de saneamento em entre chuva e leptospirose, uma vez que os mesmos
áreas de favela a elevados gradientes de exposição (Reis et provocam consideráveis e conhecidas alterações na
al., 2008; Maciel et al., 2008; Gracie et al, 2014). distribuição e na quantidade das precipitações (Paula, 2005).
. 28
28
DOENÇAS DIARREICAS Em áreas da região amazônica a utilização
de rios e poços sem tratamento como soluções alternativas de
A diarreia, sobretudo infantil, é um
abastecimento de água podem ocasionar problemas
importante problema de saúde pública em todo o mundo,
diarreicos, pela contaminação da água. Em áreas do nordeste,
principalmente nos países em desenvolvimento como o
onde ocorrem secas intensas, a água disponível pode não
Brasil (Black et al., 2003; Teixeira et al., 2005). A doença
apresentar padrões de potabilidade adequados, o que pode
diarreica aguda (DDA) é uma síndrome causada por
provocar surtos de doença diarreica aguda na região. Como
diferentes agentes etiológicos (bactérias, vírus e parasitos). A
agravantes, as condições de renda, escolaridade e
manifestação clinica mais comum consiste no aumento do
esgotamento sanitário das populações, sobretudo dessa
número de evacuações, com fezes aquosas ou de pouca
região, podem contribuir para o aumento no número de casos
consistência. Pode ocorrer presença de sangue ou muco,
da doença.
acompanhadas de dor abdominal, febre, náusea e vômito. Determinantes socioeconômicos Determinantes Ambientais
Densidade demográfica Áreas inundáveis
Em geral é autolimitada, com duração de 2 a 14 dias. O Abastecimento de água Áreas de secas e
quadro clínico do agravo pode variar de manifestações leves intermitente estiagens.
Coleta sistemática de lixo Água para consumo
até graves, com desidratação e distúrbios eletrolíticos, Esgoto a céu aberto humano sem tratamento
Domicílios com banheiro Água para consumo
principalmente quando associadas à desnutrição (BRASIL, Responsáveis pelo humano que não atenda
2014). O contágio pela doença varia dependendo do agente domicílio com pelo menos ao padrão microbiológico
o ensino médio completo (Escherichia coli)
etiológico, entretanto, as vias oral ou fecal-oral são as mais Responsáveis pelo
domicílio que ganham
comuns. Locais de uso coletivo, tais como escolas, creches, menos de um salário
hospitais e penitenciárias apresentam maior risco de mínimo por mês
População residente em
transmissão (BRASIL, 2014). áreas de favela
População residente em
DETERMINANTES E CONDICIONANTES DA DDA áreas de seca
População residente em
Vários fatores ambientais e áreas de inundação
socioeconômicos podem explicar o aumento no número de O CLIMA E A DDA
casos e notificações de doenças diarreicas agudas, dentre O risco de surtos de doenças diarreicas
eles destacam-se a escolaridade materna, abastecimento de agudas após catástrofes naturais é maior nos países em
água e destino dos dejetos (Campos et al., 1995), renda desenvolvimento do que nos países industrializados (Watson
familiar, densidade domiciliar, local de residência (rural e et al., 2007). O clima pode atuar como agente na
urbano), desnutrição, escolaridade materna, entre outros manifestação de doenças diarreicas agudas quando
condicionantes e determinantes do agravo que abarcam as considerarmos contextos socioeconômicos e ambientais
condições de vida das populações. Além dos fatores desfavoráveis, sobretudo em situações de desastres. O
biológicos e das condições ambientais (saneamento básico, elevado volume de chuvas, por exemplo, pode propiciar o
moradia), as condições nutricionais (padrão alimentar da aumento do índice de contaminação de águas de poços do
família), sociais (idade dos pais, grau de instrução), lençol freático superficial (Amaral et al., 2003).
econômicas (renda familiar) e do acesso aos serviços de
Com relação à seca, Gerrant et al., (1983)
saúde. Alguns autores destacam também os hábitos
evidenciou na região do nordeste brasileiro que as doenças
adquiridos por questões culturais, que podem explicar a
diarreicas rotavirais ocorrem com maior prevalência nesta
manifestação da doença em determinadas áreas (Pereira et
situação climática, já durante estações chuvosas são mais
al., 2008).
frequentes diarreias originadas pela bactéria E. coli.
29
29
ESQUISTOSSOMOSE Os condicionantes sociais e econômicos quando associados
aos ambientais podem favorecer a transmissão da
A esquistossomose é uma Infecção
esquistossomose. A análise nas áreas de principal ocorrência
produzida por parasito trematódeo digenético. No Brasil é
da esquistossomose apontou como variáveis mais expressivas
encontrado o Schistosoma mansoni, da família
as condições de renda, a baixa escolaridade, o acesso à água e
Schistosomatidae. A doença possui baixa letalidade e as
a condições de esgotamento sanitário precário.
principais causas de óbito estão relacionadas às formas
Determinantes socioeconômicos Determinantes Ambientais
clínicas graves. No período de 2009 a 2013, houve uma
Baixa escolaridade Espécie do caramujo
média de 294 internações e 490 óbitos no país. Ausência de saneamento biomphalária
(domicílios sem banheiro Pequenas Coleções
O hospedeiro intermediário no Brasil são e caixa de esgoto hídricas (rios, pequenas
os caramujos do gênero Biomphalaria: B. glabrata, B. doméstico, valas, lagoas até pequenas
abastecimento de água, poças)
tenagophila, B. straminea, responsável pela transmissão.
drenagem, limpeza e Áreas rurais
Para que ocorra o contágio do S. mansoni no homem, retificação de margens de Pontos de água parada ou
coleções hídricas e etc.) com pouca correnteza
principal reservatório, os ovos são eliminados pelas fezes do
Serviços de saúde (esgoto a céu aberto,
hospedeiro infectado (homem) na água, que eclodem, Aspectos socioculturais valas com água doméstica
Pobreza servida)
liberando uma larva ciliada, que infecta o caramujo. Após
Obras de Transposição Inundação, enxurrada em
quatro a seis semanas, abandonam o caramujo, na forma de (Rio São Francisco) áreas endêmicas
cercária, ficando livres nas águas naturais. O contato humano
com águas infectadas pelas cercárias é a maneira pela qual o O CLIMA E A ESQUISTOSSOMOSE
30
30
HEPATITE A
A hepatite A é uma doença viral aguda, pode não apresentar padrões de potabilidade adequados, o
de manifestações clínicas variadas, desde formas subclínicas, que pode vir a provocar surtos de doença diarreica aguda na
oligossintomáticas e até fulminantes, o que ocorre em região. Como agravantes, as condições de renda, escolaridade
menos que 1% dos casos. A ocorrência dos quadros ictéricos e esgotamento sanitário das populações, sobretudo dessa
aumenta com a idade, variando de 5 a 10% em menores de 6 região, podem contribuir para o aumento no número de casos
31
31
REFERENCIAS ÁGUA
Almeida, L. P. et al. Levantamento soroepidemiológico de Leptospirose em trabalhadores do serviço de Gracie, R., Barcellos, C., Magalhães, M., Souza-Santos, R., & Barrocas, P. R. G.. Geographical Scale Effects
saneamento ambiental em localidade urbana da região sul do Brasil. Revista de Saúde Pública, 28 (1): on the Analysis of Leptospirosis Determinants. International journal of environmental research and
p.76-81, 1994. public health, v. 11, n. 10, p. 10366-10383, 2014.
Amaral LA, Nader Filho A, Rossi Jr. OD, Ferreira FL, Barros LS. Drinking water in rural farms as a risk Hadler SC. Global impact of hepatitis A virus infection: changing patterns. In: Hollinger FB, Lemon SM,
factor to human health. Rev Saúde Pública 2003; 37:510-4 Margolis HM, editors. Proceedings of the 1990 International Symposium on Viral Hepatitis and Liver
Diseases. Baltimore: Williams & Wilkins; 1991. p. 14-20.
Barcellos, C & Sabroza, PC. O lugar do caso: leptospirose e riscos associados a condições ambientais
durante o surto de 1996 na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública [online]. 2001, vol.17, HELLER, L.. Saneamento e Saúde. Organização Panamericana da Saúde, Brasília, 1997. OPAS. Água e
suppl., pp. S59-S67. Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde, escritório regional da Organização Mundial de Saúde
(OMS), Brasil, 30/05/2001.
BARCELLOS, Christovam; GRACIE, Renata ; Barros, H. ; MAGALHÃES, M. A. F. ; REDIVO, A. ; Feitosa,
Patricia ; MATOS, V. P. . Disseminação de informações sobre água, saúde e saneamento do Brasil: Leal Neto Onicio Batista, Gomes Elainne Christine de Souza, Oliveira Junior Fernando José Moreira de,
Aspectos institucionais e tecnológicos da construção do Atlas da água - DOI:10.3395/reciis.v6i2.551pt. Andrade Rafael, Reis Diego Leandro, Souza-Santos Reinaldo et al . Biological and environmental factors
RECIIS. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde (Edição em Português. associated with risk of schistosomiasis mansoni transmission in Porto de Galinhas, Pernambuco State,
Online), v. 6, p. 1, 2012. Brazil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 29, n. 2, p. 357-367, Feb. 2013 .
Bensabath G, Hadler SC, Soares MC, Fields H, Maynard JE. Epidemiology and serologic studies of acute Naumova PT, Jagai JS, B. MATYAS, A. Demaria, IB MacNeill e JK GRIFFITHS (2007). Sazonalidade em seis
viral hepatitis in Brazil's Amazon Basin. Bull Pan Am Health Organ,; 21:16-27, 1987. doenças transmissíveis e enterically temperatura ambiente. Epidemiology and Infection, 135, pp 281-
292. doi: 10,1017 / S0950268806006698.
Black RE, Morris SS, Bryce J. Where and why are 10 million children dying every year? Lancet 2003; 361:
2226-34. Oliveira LHS, Yoshida CFT, Monteiro SS and Câmara FP. Seroepidemiologic Survey for Hepatitis A and B
Markers in Health Care Students From a Public University of Rio de Janeiro, Brazil. Rev Microbiol,
Brasil. Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. Ministério da Saúde Secretaria de 22(3):226-31,1991.
Vigilância em Saúde. Série A normas e manuais técnicos 6ª ed. Editora MS, Brasília (DF) (2005).
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças PAULA, E. V. Leptospirose Humana: uma análise climato-geográfica de sua manifestação no Brasil,
Transmissíveis. Guia de vigilância de epizootias em primatas não humanos e entomologia aplicada à Paraná e Curitiba. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, p. 16-21, 2005.
vigilância da febre amarela / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.
PEREIRA, Ivonete Vieira; CABRAL, Ivone Evangelista. Diarreia aguda em crianças menores de um ano:
subsídios para o delineamento do cuidar. Esc Anna Nery Rev Enferm, v. 12, n. 2, p. 224-9, 2008.
Campos, G. D. J. D. V., Reis Filho, S. A. D., Silva, A. A. M. D., Novochadlo, M. A. D. S., Silva, R. A. D., &
Galvão, C. E. (1995). Morbimortalidade infantil por diarréia aguda em área metropolitana da região
Nordeste do Brasil, 1986-1989. Rev Saúde Pública, 29, 132-9. Silva, P. B. D., Barbosa, C. S., Pieri, O. S., Travassos, A., & Florencio, L. (2006). Aspectos físico-químicos e
biológicos relacionados à ocorrência de Biomphalaria glabrata em focos litorâneos da esquistossomose
em Pernambuco. Quim Nova, 29(5), 901-6.
Clemens SAC , Fonseca JC Da, Azevedo T, Cavalcanti A, Silveira TR, Castilho MC, Clemens R.
Soroprevalência para hepatite A e hepatite B em quatro centros no Brasil. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical. 33(1):1-10, jan-fev, 2000. TEIXEIRA, Júlio César; HELLER, Léo. Fatores ambientais associados à diarréia infantil em áreas de
assentamento subnormal em Juiz de Fora, Minas Gerais. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., Recife , v. 5, n.
4, p. 449-455, dez. 2005
Codeço C T, Lele S, Pascual M, Bouma M, Ko AI. A stochastic model for ecological systems with strong
nonlinear response to environmental drivers: application to two water-borne diseases. J R Soc Interface,
Oswaldo Cruz Foundation, Avenida Brasil, 4365, Residência Oficial, Rio de Janeiro, RJ 21045-900, Brazil, VIANA, D.V. & IGNOTTI, E. A ocorrência da dengue e variações meteorológicas no Brasil: revisão
2008, 5, 247-252. sistemática. Revista Brasileira de Epidemiologia. 2013; 16(2): 240-256.
Coelho, Micheline ENS; Massad, Eduardo. O impacto do clima sobre leptospirose em São Paulo, Brasil. Wang, Y., Rao, Y., Wu, X., Zhao, H., Chen, J. A method for screening climate change-sensitive infectious
International journal of Biometeorologia , v 56, n. 2, p. 233-241, 2012. diseases (2015) International Journal of Environmental Research and Public Health, 12 (1), pp. 767-783.
http://www.mdpi.com/1660-4601/12/1/767/pdf doi: 10.3390/ijerph120100767
Costa E, et. Al. Formas graves de Leptospirose: aspectos clínicos, demográficos e ambientais. Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, 34(3): 261-267, mai-jun, 2001.
DE CASTRO SILVA, Patrícia et al. Hepatite A no Município do Rio de Janeiro, Brasil: padrão
epidemiológico e associação das variáveis sócio-ambientais. Vinculando dados do SINAN aos do Censo
Demográfico Hepatitis A in the city of Rio de Janeiro, Brazil. Cad. saúde pública, v. 23, n. 7, p. 1553-1564,
2007.
32
32
MÓDULO 4 - UNIDADE 2
DOENÇAS RELACIONADAS A POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA (AR)
Beatriz Fátima Oliveira, Sandra Hacon
afetariam a saúde respiratória, citam-se, aumento de norte, o aumento das concentrações de poluentes durante o
eventos extremos como ondas de calor, precipitações e período de estiagem, e seus efeitos na saúde já foram
secas, aumento dos incêndios florestais, aumento das reportados na literatura (Ignotti et al., 2010, Oliveira et al.,
aeroalérgenos, incluindo polens, mofo e fungos. inicialmente tiveram caráter retrospectivo, descritivo e
Considerando as vias de exposição e os potenciais efeitos das exploratório, mostrando os efeitos de variações sazonais e
doenças preocupantes são asma, rinossinusite, doença morbimortalidade. Esses e outros trabalhos contribuíram
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e infecções do trato para o entendimento do incremento dos efeitos da
respiratório. Grupos com maior risco de efeitos da mudança exposição à poluição gerada pela queima de biomassa,
climática incluem indivíduos com doenças cardiopulmonares evidenciando que as taxas de internação por doenças
pré-existentes ou indivíduos desfavorecidos. No Brasil, em respiratórias nesses grupos alcançavam valores três vezes
áreas urbanas alguns efeitos da poluição atmosférica sobre maiores no período da seca quando comparado ao período
as doenças respiratórias podem ser potencializados com a chuvoso na Amazônia (Ignotti et al, 2010, Oliveira et al.,
35
35
INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA (IRA)
As doenças respiratórias têm sido al., 2011; Ribeiro et al., 2012). Entre os fatores
importantes causas de morte e morbidade, especialmente demográficos, destacam-se a idade da criança como um fator
durante a infância, período de vulnerabilidade biológica relevante, pois quanto menor a idade da criança, mais
relacionada à imaturidade do sistema respiratório e imaturo se apresentará o trata respiratório (Benguigui,
imunológico. Entre as doenças do aparelho respiratórios, as 2006).
infecções respiratórias agudas (IRA) são as causas mais No âmbito nacional, destacam-se as
frequente de morte e consultas ambulatoriais em todo diferenças regionais na distribuição dessas doenças, a
mundo (Walker et al., 2013), sendo os casos graves desigualdade em saúde entre as populações e os grupos
consideradas causas evitáveis. socioeconômicos diferentes (Duarte et al., 2002). Em geral,
As IRA constituem uma síndrome clínica os óbitos e internações em menores de 5 anos por doenças
cujos agentes infecciosos mais comuns são vírus respiratórias nas regiões Sul e Sudeste do País podem ser
respiratórios e bactérias, como Streptococcus pneumoniae e atribuídos em parte, por motivos relacionados ao clima, à
Haemophilus influenza. São particularmente suscetíveis as poluição urbana e às aglomerações. Nas regiões Norte e
crianças, os idosos e populações socialmente menos Nordeste as disparidades sociais e de acesso aos serviços de
favorecidas de países em desenvolvimento e minorias saúde, assim como o aumento de queima de biomassa
étnicas (Cardozo, 2010; Walker et al., 2013). As infecções durante período de estiagem, como observado na Amazônia
respiratórias de etiologia viral são conhecidas popularmente Brasileira, respondem por aumento no numero de agravos.
por viroses e, apresentam quadro de manifestações clínicas No que se referem a sua distribuição, as
menos graves. Ocorrem durante o período de inverno e, IRA podem ser influenciadas pela sazonalidade climática,
uma vez apresentando a sintomatologia, há uma regressão principalmente quando se relaciona com algumas variáveis
espontânea desse quadro dentro de 5 a 7 dias. Coriza, meteorológicas, tais como a temperatura ambiente,
obstrução nasal, tosse, febre e dores de garganta, ouvido e umidade relativa do ar e precipitações pluviométricas
cabeça costumam ser os principais sintomas. (Andrade et al., 2015). As mudanças bruscas do clima pioram
a qualidade do ar respirado, principalmente durante o
DETERMINANTES E CONDICIONANTES DAS INFECÇÕES inverno em que a massa de ar frio dificulta dispersão de
Dentre os diversos fatores de risco que significativo de casos de pneumonia, asma e bronquíolite
36
36
INFLUÊNCIA DO CLIMA NO COMPORTAMENTO DAS podendo ser transportados a longas distâncias em condições
extremamente relevantes na ocorrência de doenças no trato aumentar os efeitos das doenças respiratórias como as IRA’s.
comportamento podem modificar a distribuição do risco fenômeno propicia a ocorrência cíclica da doença na
para ocorrência de infeções no trato respiratório. população, motivo de absenteísmo escolar e no trabalho, e
uma grande sobrecarga de atendimento nos serviços de
Em relação aos poluentes atmosféricos,
saúde (Brasil, 2016).
os efeitos das mudanças climáticas podem ser
A doença é causada pelos vírus Influenza,
potencializados, dependendo das características físicas e
da família Ortomixiviridae. São vírus com RNA de hélice
químicas dos poluentes e das características climáticas como única, que se subdividem em três tipos antigenicamente
temperatura, umidade e precipitação. Essas características distintos: A, B e C (Brasil, 2016). Os vírus influenza A são mais
definem o tempo de residência dos poluentes na atmosfera, suscetíveis a variações antigênicas. Os vírus influenza B
37
37
sofrem menos variações antigênicas e, por isso, estão Determinantes sociodemográficos e Determinantes
associados com epidemias mais localizadas, enquanto que os fatores de risco Ambientais
vírus influenza C são antigenicamente estáveis, provocam População idosa (acima de 60 Temperatura
anos) Chuvas
doença subclínica e não ocasionam epidemias. Os vírus
População infantil (menor de Umidade
influenza, periodicamente, sofrem alterações em sua 5 anos) Poluição
Densidade de moradores por atmosférica
estrutura genômica, contribuindo para a existência de
domicílio
diversos subtipos. Sobretudo o tipo A são responsáveis pela Imunização
Hábitos de higiene
ocorrência da maioria das epidemias de gripe. São
classificados de acordo com os tipos de proteínas que se
localizam em sua superfície, chamadas de hemaglutinina (H)
e neuraminidase (N). INFLUÊNCIA DO CLIMA NO COMPORTAMENTO DA
INFLUENZA
DETERMINANTES E CONDICIONANTES DAS INFECÇÕES No Brasil, o padrão de sazonalidade da
RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRA) influenza varia entre as diversas regiões, sendo mais
A Influenza acomete principalmente marcado naquelas que têm estações climáticas bem
populações imunologicamente vulneráveis, como gestantes, definidas, ocorrendo com maior frequência nos meses mais
indivíduos com fatores de risco, crianças e idosos (Freitas,
frios, em locais de clima temperado, ou no período chuvoso,
2013; Thomazelli et al, 2007). Além de variações sazonais
em locais de clima tropical. A influenza sazonal pode
que provocam maior incidência da influenza por conta da
manifestar-se por meio de surtos anuais de magnitude,
alteração no regime de chuvas, temperatura e umidade
gravidade e extensão variáveis. É também frequentemente
(Tamerius et al, 2013), destaca-se também situações de
confundido com outras viroses respiratórias, por isso o
poluição atmosférica que podem prejudicar a função
diagnóstico para confirmação geralmente é feito mediante
pulmonar e indiretamente provocar susceptibilidades
imunológicas e adoecimento por influenza (Martins, 2002). exame laboratorial específico.
2013). Cabe ainda ressaltar que medidas de higiene provocar disseminação de agentes patogênicos, aceleração
adequadas, como o hábito de lavar as mãos pode reduzir a na mutação genética e consequentemente contágio em
Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) hospitalizados, poluentes atmosféricos podem estar associados com o
demonstrada recentemente, contudo as evidências deste (DPOC) é uma doença caracterizada pela limitação crônica do
risco ainda são inconsistentes (Gowers et al., 2012). Em um fluxo aéreo em razão de alterações fisiopatológicas nos
cenário de aquecimento, com elevação da temperatura e, tecidos pulmonares. Essa obstrução do fluxo aéreo é
consequentemente piora da qualidade do ar, a tendência é o geralmente progressiva e está associada a uma resposta
aumento de patologias respiratórias e da exacerbação de inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas
Em áreas urbanas alguns efeitos da DPOC afeta mais de 200 milhões de pessoas, sendo que 65
exposição a poluentes atmosféricos são potencializados milhões de pessoas sofrem das condições moderada a grave,
quando ocorrem alterações climáticas, principalmente as e cerca de três milhões morrem por ano, tornando–se a
inversões térmicas. Isto se verifica em relação à asma, terceira causa de morte em nível mundial; e os números
alergias, infecções bronco-pulmonares e infecções das vias estão aumentando a cada ano (Burney et al., 2015).
aéreas superiores (sinusite), principalmente nos grupos mais Embora a DPOC comprometa os
vulneráveis, que incluem as crianças menores de 5 anos e pulmões, ela também produz consequências sistêmicas
indivíduos maiores de 65 anos de idade. significativas (GOLD, 2014). Pacientes com DPOC apresentam
Outros impactos poderão ser observados diversas co-morbidades, entre as quais, as doenças
nos próximos anos, como por exemplo, as mudanças na cardiovasculares são responsáveis por aproximadamente são
distribuição de alérgenos. Com o aumento do CO2 na responsáveis por aproximadamente 50% de todas as
atmosfera, verifica-se também um amento da sincronização hospitalizações e 20% de todas as mortes (Sin, Man, 2008;
da liberação de pólen de plantas, promovendo o Almagro et al., 2010). Entre os fatores mais importantes na
crescimento e a esporulação de alguns fungos no solo história natural desta doença, o consumo de tabaco é
(D’Amato et al., 2016). Em invernos mais quentes, a estação marcadamente a principal causa que leva ao
de pólen de grama ou de outras plantas pode ser antecipada, desenvolvimento da doença. O consumo de tabaco causa a
aumentando sua concentração na atmosfera. Essa destruição do tecido pulmonar e a obstrução das pequenas
característica pode aumentar a incidência de rinite alérgica e vias respiratórias, levando a enfisema e bronquite, que são
asma e intensidade e duração de sintomas, por isso que, em as principais doenças das DPOC. Além disso, a emissão de
algumas partes do mundo têm aumentado devido ao partículas em ambientes internos, exposições e inalações
aumento da temperatura. Importante ressaltar ainda que as ocupacionais em agricultura, mineração, construção,
partículas provenientes de diesel são agravantes, pois transporte e fabricação representam riscos de DPOC em
transportam esses alérgenos para os pulmões intensificando todo o mundo (Eisner et al., 2010).
40
40
DETERMINANTES E CONDICIONANTES DAS DOENÇAS mortalidade respiratória em pacientes adultos e idosos com
CRÔNICAS OBSTRUTIVAS doenças pulmonares crônicas comuns, como a DPOC
(Bernstein, Rice, 2013). Durante eventos extremos, como as
A doença pulmonar obstrutiva crônica ondas de calor, as pessoas com doenças pulmonares
(DPOC), caracterizada por limitação do fluxo aéreo obstrutivas podem ir a óbito algumas semanas antes do
pulmonar, é resultante da interação entre a exposição a esperado, evento esse também chamado de ‘efeito colheita’.
fatores de risco ambientais, como a fumaça do cigarro, e Por outro lado, em eventos de extremo frio, há um aumento
presença de fatores individuais. Entre os fatores individuais, de infecções respiratórias, especialmente em pacientes com
destacam-se fatores genéticos como a deficiência de alfa-1 DPOC (Ayres et al., 2009).
prematuridade e infecções respiratórias recorrentes ameaça também nossa capacidade de atender aos padrões
(Consenso Brasileiro sobre Doença Crônica Pulmonar II, de qualidade do ar o que, consequentemente, impactará na
2004). Em relação aos fatores ambientais, o fator de risco saúde respiratória da população, principalmente elevando as
mais importante para ocorrência da DPOC é a fumaça de concentrações de ozônio e material particulado (Xu et al.,
cigarro, incluindo o cachimbo, charuto e outros tipos de uso 2012). Com isso, o aumento das concentrações de poluição
Vale ressaltar que as maiores as maiores aumento da utilização dos cuidados de saúde e morte
prevalências de DPOC são encontradas em indivíduos com prematura e, entre os indivíduos mais sensíveis, estão
idade superior a 60 anos, sendo esta associação muitas vezes aqueles com DPOC.
41
41
DOENÇAS CARDIOVASCULARES ASSOCIADAS ÀS associado à temperatura ambiente, especialmente em
extremos de temperatura e eventos de ondas de calor, com
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
significativa associação com causas específicas como
acidente vascular cerebral (AVC), infarto e síndrome
Futuras projeções da mortalidade
coronária agúda (Ye et al., 2012).
associada ao aumento da temperatura mostram que esse é
No que se refere a saúde ocupacional, o
um dos impactos mais prováveis no setor de saúde, tanto
aumento da temperatura no Brasil reduz a capacidade de
pelo aumento nas temperaturas médias sazonais quanto no
trabalho em diversas áreas da economia. Na agricultura, por
aumento da frequência e intensidade de eventos de ondas
exemplo, além da perda de produtividade, riscos à saúde do
de calor (IPCC, 2013, 2014). Em geral, as populações
trabalhador podem ser mais extremos como demonstrado
humanas são adaptadas às temperaturas locais, mas desvios
por Bittencourt et al (2012). Esses autores analisaram a
em relação à variabilidade climática podem contribuir para o
condição atmosférica no dia da morte de 14 trabalhadores
aumento do número de mortes, tanto em temperaturas frias
de corte de cana-de-açúcar no estado de São Paulo e
quanto quentes. Muitos estudos têm quantificado efeitos do
constataram que essas mortes foram associadas à
frio e calor separadamente, assumindo uma resposta linear
temperatura do ar elevadas, sendo que em 50% dos casos, as
de um limiar de temperatura (Hajat, Kosatsky, 2014,
temperaturas registradas nos dias dos óbitos foram
Gasparrini et al., 2015).
superiores a 27°C, sendo a maioria das mortes conhecidas
Os efeitos de temperaturas altas ou
específicas para doenças cardiovasculares.
baixas na saúde humana são bem conhecidos (Stewart et al.,
Além do efeito direto da temperatura,
2017) e atuam como componente importante sobre sistema
outras exposições ambientais, como a poluição do ar estão
cardiovascular. Provavelmente, o aquecimento global
relacionadas às doenças cardiovasculares. A elevação da
reduzirá a mortalidade por doenças cardiovasculares no
concentração de poluentes atmosféricos tem sido associada
inverno, mas a adaptação fisiológica ao aumento das
a inúmeros desfechos cardiovasculares (Uzoigwe et al., 2013)
temperaturas afetará muito esse benefício em razão dos
e esses efeitos podem ser potencializados com a relação
impactos causados pelo calor extremo. Em geral, o aumento
estreita entre aumento da temperatura e piora na qualidade
do risco de doenças cardiovasculares pode ocorrer por
do ar. No Brasil, os efeitos da poluição atmosférica sobre
diferentes vias, entre as quais, destacam-se os efeitos
indicadores de morbimortalidade por doenças
diretos das condições extremas da temperatura ou
cardiovasculares foram relatados em áreas urbanas e em
indiretamente pela exposição a poluentes atmosféricos (Friel
regiões de queima de biomassa (Oliveira et al., 2011).
et al., 2011).
Figura 3. Identificação de áreas de alto risco para mortaldidade geral considerando o aumento da temperatura
em relação ao limiar de temperatura estabelecido por Gasparrini et al. (2015), segundo cenários climáticos
RCP 4.5 e RCP 8.5 para janelas de tempo 2011 – 2040; 2041 – 2070 e 2071-2099.
43
43
HIPERTENSÃO ARTERIAL
às mudanças climáticas (Blois et al., 2015; Dapper et al.,
A pressão arterial refere-se à força que o
2016; Infonet et al., 2017).
sangue faz contra as paredes das artérias para conseguir
circular por todo corpo. Geralmente, os valores da pressão
arterial caem quando dormimos ou estamos relaxados, e DETERMINANTES E CONDICIONANTES DA HIPERTENSÃO
sobe com a atividade física, agitação, estresse. Quando os ARTERIAL
níveis pressóricos se elevam e mantém-se, de forma A hipertensão arterial é uma condição
sustentada, a valores ≥ 140 e/ou 90 mmHg, denominamos multifatorial, herdada dos pais em 90% dos casos. Além de
essa condição de hipertensão arterial. Esta doença está associada com outros distúrbios metabólicos, como diabetes
associada a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e alterações da tireoide, pode ser influenciada por diversos
e/ou estruturais de órgãos-alvo, sendo agravada pela fatores, entre os quais, destacam-se idade, sexo, obesidade,
presença de outros fatores de risco como dislipidemia, ingestão de sal e álcool, dieta, obesidade, estresse e baixo
obesidade, intolerância à glicose e diabetes mellitus nível socioeconômico (VII Diretrizes Brasileira de
(Lewington et al., 2002). Hipertensão Arterial, 2015). Além dos fatores individuais
A hipertensão mantém uma associação comportamentais e genéticos, os fatores ambientais
independente com eventos como morte súbita, acidente também podem exercer influência sobre os níveis
cerebrovascular, infarto agudo do miocárdio, insuficiência pressóricos, como a temperatura.
cardíaca e doença renal crônica, fatal e não fatal (Lewington Condicionantes sociodemográficos e Condicionantes
et al., 2002; Weber et al., 2014). Dados mostram que, em fatores de risco Ambientais
População idosa Temperaturas
populações como os norte-americanos, a hipertensão está
Sexo e etnia extremas
presente em 69% dos pacientes com primeiro episódio de História familiar Poluição
Ingestão de sal e álcool atmosférica
IAM, 77% dos acidentes cerebrovasculares, 75% de pacientes
Dieta e Obesidade Exposição ao
com insuficiência cardíaca e 60% daqueles com doença Sedentarismo e estresse tabagismo
Baixo nível socioeconômico Salinização
vascular periférica (Lewington et al., 2002; Weber et al.,
Eventos
2014). Portanto, é uma condição de saúde pré-existente e extremos/Desas
associada a eventos cardiovasculares mais graves, tres
fenômeno de salinização, todos esses eventos associadas da temperatura corporal em função da baixa temperatura.
44
44
Enquanto, alguns estudos sugerem que quanto maior a e intensidade de eventos extremos, como as secas
temperatura maior o risco de hipotensão em virtude da prolongadas, o aumento no risco para picos hipertensivos
torna-se uma preocupação para os serviços de saúde
atuação do mecanismo hipotensor do calor que provoca
durante esses eventos. Isso porque as secas prolongadas
vasodilatação (James et al., 1990; Cheung et al., 2002). Em
provocar o avanço do mar para áreas de água doce,
termos de plausibilidade biológica, a morbimortalidade
comprometendo o abastecimento de água potável nas áreas
cardiovascular associada às mudanças climáticas sazonais atingidas, fenômeno esse conhecido como salinização.
pode ser mediada através da resposta da PA às variações de Recentemente, o avanço do mar sobre águas da Bacia do São
temperatura (Aubinière-Robb et al., 2013). Francisco em razão da seca que se alastra na região tem
acendido um alerta para os setores da saúde, pois a
Embora os estudos tenham explorado os
salinização da água nesta região pode causar um aumento no
efeitos agudos da temperatura na PA, poucos foram aqueles
número de casos de picos hipertensivos na população,
que analisaram as mudanças longitudinais da PA em relação
inclusive em jovens (Infonet, 2017).
as flutuações climáticas (Aubinière-Robb et al., 2013).
Com aumento da frequência, magnitude no fluxo sanguíneo ao tecido cardíaco. A iminente falta de
45
45
sangue ou isquemia provoca dor intensa e imediata e a falta IAM apresenta em sua história natural os fatores de risco
de oxigênio causa a morte gradual dos tecidos que depois de bem definidos, que incluem os fatores de risco
algumas horas pode se torna irreversível (Davies, Thomas; comportamentais, genéticos e ambientais. Assim, é uma
1985). doença multifatorial provocada por diversos fatores que
As mortes por IAM ocorrem nas agem conjunta e simultaneamente. Classicamente, os
primeiras horas da manifestação da doença, sendo 40 a 65% fatores de risco clássicos para a aterosclerose (tabagismo,
na primeira hora e, aproximadamente, 80% nas primeiras 24
hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes e obesidade
horas, portanto a maior parte das mortes por essa causa
abdominal) “explicam” a quase totalidade do risco
ocorre fora do ambiente hospitalar (Sociedade Brasileira de
populacional atribuído para o IAM. Dos fatores ambientais, o
Cardiologia, 2015). Dados epidemiológicos mostram que o
tabagismo, associado a obesidade corresponde aos mais
IAM é a primeira causa de morte entre as doenças
potentes fatores de risco para IAM (Sociedade Brasileira de
cardiovasculares na população Brasileira, somando os
Cardiologia, 2015). Desse modo, locais com aumento das
últimos 5 anos. No sistema público de saúde do país, a
concentrações de poluentes atmosféricos também
mortalidade hospitalar dos pacientes internados por IAM se
mantém com valores entre 16,1%, em 2005, e 15,3%, em apresentam risco para IAM, assim como eventos traumáticos
Embora o desencadeamento exato do das doenças coronarianas, desde que associado a outros
importantes na ocorrência desta doença (Clayes et al., 2016). coronários agudos como IAM. Entre os diferentes
DETERMINANTES E CONDICIONANTES DO INFARTO AGUDO têm sido relacionadas à incidência de IAM. Não apenas a
DO MIOCÁRDIO temperatura extrema (frio e calor), mas também a
Como uma das principais causas de variabilidade na temperatura pode desencadear a doença.
mortalidade e morbidade por doenças cardiovasculares, o Em geral, os registros de morte relacionados à temperatura
46
46
demonstraram ser atribuíveis muito mais durante o inverno, proteção contra ondas de calor, como o uso de ar
maiores incidências terem sido relatadas no inverno, o efeito Além das mudanças de temperatura, as
incremental das diminuições de temperatura ocorre mudanças climáticas estão associadas a eventos catastróficos
desaparece com as temperaturas frias e ocorre durante as mais abruptos, como inundações, erupções vulcânicas,
temperaturas mais elevadas (Clayes et al., 2016). terremotos, tempestades de neve, furacões ou tornados.
Estes eventos ameaçam a vida e podem causar eventos
Fisiologicamente, quando as temperaturas caem, ocorre
cardiovasculares agudos através do estresse emocional e
estimulação de receptores na pele levam a um aumento nos
físico aumentado. A exposição crônica a fatores de risco
níveis de catecolaminas e subsequente vasoconstricção, com
ambientais, através de mudanças sustentadas no ambiente,
aumento da frequência cardíaca e pressão arterial que
também pode predispor a gênese das doenças
podem precipitar a isquemia miocárdica e a instabilidade da
cardiovasculares, particularmente através da potencialização
placa coronária. Além disso, a queda na temperatura resulta de fatores de risco como diabetes e hipertensão. Por fim, o
em aumento da diurese, diminuição do volume plasmático e impacto das mudanças climáticas na saúde dependerá
hemoconcentração e aumento da viscosidade sanguínea. também da demografia, pois alguns subgrupos de população
Esses fatores são, provavelmente, responsáveis pelo como pessoas idosas e empobrecidas, podem ser mais
aumento das concentrações plasmáticas de fatores de vulneráveis aos efeitos adversos destas mudanças porque
coagulação e plaquetas, que promovem o desenvolvimento têm capacidade limitada de se aclimatar a extremos térmicos
da trombose (Neild et al., 1994). (Neild et al., 1994; Greenough et al., 2001).
47
47
cada ano. No Brasil, as doenças cardiovasculares Em geral, a população mais vulnerável a essa condição são os
correspondem a principal causa de morte, representando idosos e pessoas com doenças pré-existentes, especialmente
aproximadamente 30% das mortes, somando os últimos hipertensão e diabetes. Além disso, estão associados a essa
anos. Entre as causas específicas das causas cardiovasculares, doença, os seguintes fatores de risco: a) fatores de estilo de
as mortes por AVC aparecem como a principal causa, vida como dieta, tabagismo, bebidas alcoólicas e atividades
correspondendo a 30% (Datasus, 2017). Além da sua físicas e, b) fatores ambientais como poluição atmosférica,
magnitude epidemiológica, essa doença gera um grande temperaturas extremas e eventos pós-traumáticos como,
impacto econômico e social, especialmente pela sua por exemplo, inundações e; c) fatores socioeconômicos
gravidade, levando na maioria das vezes ao óbito e à como renda, escolaridade e condições de moradia e
48
48
O aumento da temperatura é talvez o Claramente, as ondas de calor
efeito mais característico das mudanças climáticas. representam uma preocupação para ocorrência de eventos
Especificamente, as ondas de calor afetam os sistemas cardiovasculares como AVC, mas outros eventos climáticos
cardiovasculares e cerebrovasculares, e a exposição em vêm sendo associados com essa doença. Xavier et al. (2014)
longo prazo a altas temperaturas diminui a capacidade do verificaram uma elevação acima do esperado no número de
corpo de ter uma temperatura constante, levando a internações no período que antecede algum desastre, como
insolação, síncope e exaustão ao calor. Estudos mostram que as inundações. Esses resultados podem estar associados a
os indicadores de morbidade e mortalidade por doenças estresse pós-traumático, cujo quadro ocorre devido a pessoa
cardiovasculares e cerebrovasculares aumentam com a ter sido vítima de situações traumáticas que representaram
elevação da temperatura e que em eventos como ondas de ameaça à sua vida ou à de terceiros. Nessa situação
calor, o AVC é o dobro das demais doenças cardiovasculares específica, podem indicar tensões vividas pela população
(Yoon et al., 2014). Esses achados são importantes, pois que antecedem a ocorrência do desastre, em função das
enfrentamento do setor saúde frente as mudanças no clima. Em outra situação, indiretamente, com
ondas de calor e, consequentemente um aumento da internações por AVC foram associadas ao incremento da
mortalidade. Em dias de exposição ao calor, o aumento no poluição atmosférica em São José dos Campos (SP).
número de mortes em indivíduos com condições médicas Verificou-se que para o mesmo dia de exposição, o
pré-existentes são também maiores e, fisiologicamente, isso acréscimo de 10 µg/m³ de PM implica em um incremento de
estaria associado a incapacidade de manutenção da 12% nas internações por essa causa. Em 2016, um estudo
temperatura corporal e a uma resposta inflamatória publicado sugere que mais de 90% da carga de AVC é
sistêmica que leva a uma disfunção multiorgânica em que atribuível a fatores de risco modificáveis e que a poluição do
predomina a encefalopatia. Além disso, o estresse por calor ar surgiu como um fator contribuinte significativo,
é uma condição ambiental importante para as pessoas com principalmente em países de baixa renda, ocupando o
trabalho pesado, uma vez que o excesso de calor interno sétimo lugar em termos de impacto na vida saudável (Fiegin
gerado pelo trabalho muscular poderá também et al., 2016). Cenário este que pode se tornar ainda mais
sobrecarregar a função do sistema cardiovascular (Blois et agravante com as previsões climáticas futuras.
al., 2016).
49
49
Referências Bibliográficas
Almagro P, López García F, Cabrera F, Montero L, Morchón D, Díez J, et al. Gouveia N, Freitas CU, Martins LC, Marcilio IO. Respiratory and cardiovascular Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares. Diretrizes para tratamento do
Comorbidity and gender-related differences in patients hospitalized for COPD. The hospitalizations associated with air pollution in city of São Paulo, Brazil. Cad Saúde acidente vascular isquêmico – Parte I. 2012.
ECCO study. Respir Med. 2010;104(2):253-9 Pública. 2006; 22(12):2669-77.
Gouveia N, Fletcher T. Time series analysis of air pollution and mortality: effects by Son JY, Gouveia N, Bravo MA, de Freitas CU, Bell ML. The impact of temperature on
Andrade DO, Botelho C, Silva Junior JLR, Faria SS, Rabahi MF. Sazonalidade climática cause, age and socioeconomic status. J Epidemiol Community Health 2000; mortality in a subtropical city: effects of cold, heat, and heat waves in São Paulo,
e hospitalizações médicas em crianças menores de cinco anos com doença 54(10):75-5. Brazil. In J Biometeorol. 2016; 60(1):113-21.
respiratória, Goiânia 2015. Hygeia 2015; 11(20):99-115.
Gowers AM, Cullinan P, Ayres JG, Anderson HR, Strachan DP, Holgate ST, et al. Does Sousa CAE, César CLG, Barros MBA, Carandina L, Goldbaum M, Pereira JCR. Doença
Aubinière-Robb L, Jeemon P, Hastie CE, Patel RK, McCallum L, Morrison D et al. outdoor air pollution induce new cases of asthma? Respirology. 2012;17(6):887-98. pulmonar obstrutiva crônica e fatores associados em São Paulo, SP, 2008-2009.
Blood pressure response to patterns of weather fluctuations and effect on Revista de Saúde Pública, 2011 45(5), 887-896.
mortality. Hypertension. 2013 Jul;62(1):190-6. Greenough G, McGeehin M, Bernard SM, Trtanj J, Riad J, Engelberg D. The potential Stewat S, Keates AK, Redfern A, McMurray JJV. Seasonal variations in cardiovascular
impacts of climate variability and change on health impacts of extreme weather disease. Nature Reviews Cardiology. 2017. doi:10.1038/nrcardio.2017.76.
Ayres JG, Forberg B, Annesi-Maesano I, Dey R, Ebi KL, Helms PJ, et al. Climate change events in the United States. Environ Health Perspect 2001;109(Suppl. 2):191–198
and respiratory disease: European Respiratory Society statement. Eur Respir Tamerius J, Perzanowski M, Acosta L, Jacobson J, Goldstein I, Quinn J, et al.
J 2009; 34: 295–302. Grizenko N, Osmanlliu E, Fortier MÈ, Joober R. Increased Risk of Asthma in Children Socioeconomic and Outdoor Meteorological Determinants of Indoor Temperature
Becker JA, Stewart LK. Heat-related illness. Am Fam Physician 2011;83(11):1325-30. with ADHD: Role of Prematurity and Maternal Stress during Pregnancy. J Can Acad and Humidity in New York City Dwellings. Weather Clim Soc. 2013 Apr;5(2):168-179.
Child Adolesc Psychiatry. 2015 Fall;24(2):109-15. Thomazelli LM, Vieira S, Leal AL, et al. Surveillance of eight respiratory viruses in
Benguigui Y. Infecções respiratórias agudas na infância como problema de saúde clinical samples of pediatric patients in southeast Brazil. J Pediatr. 2007; 83(5):422-8.
pública. Bol. Pneumol. Sanit. 2006; 1(10):14-22. GuarnierI M, Balmes JR. Outdoor air pollution and asthma. Lancet, 2014;
383(9928):1581-92. Uzoigwe JC, Prum T, Bresnahan E, Garelnabi M. The emerging role of outdoor and
Bennet H, Jones R, Keating G, Woodward A, Hales S, Metcalfe S. Health and equity Harpsøe MC1, Basit S, Bager P, Wohlfahrt J, Benn CS, Nøhr EA, et al. Maternal indoor air pollution in cardiovascular disease. N Am J Med Sci. 2013; 5(8):445-53.
impacts of climate change in Aotearoa-New Zealand, and health gains from climate obesity, gestational weight gain, and risk of asthma and atopic disease in offspring:
action. N Z Med J. 2014; 127(1406):16-31. a study within the Danish National Birth Cohort. J Allergy Clin Immunol. Walker CL, Rudan I, Liu L, Nair H, Theodoratou E, Bhutta ZA, et al. Global burden of
2013;131(4):1033-40. childhood pneumonia and diarrhoea. Lancet. 2013 Apr 20;381(9875):1405-16.
Bernstein AS, Rice MB. Lungs in a warming world: climate change and respiratory
health. Chest 2013; 143:1455–1459. Ignotti E, Hacon S, Junger WL, Mourão D, Longo K, Freitas S, et al. Air pollution and Wallace JC, Denk CE, Kruse LK. Hospitalizações pediátricas devido à asma: o uso de
hospital admissions for respiratory diseases in the subequatorial Amazon: a time um arquivo vinculado para separar risco e admissão em nível pessoal. Prev Chronic
series approach. Cad Saude Publica. 2010 Apr;26(4):747-61. Dis 2004; 1: A07.
Bitencourt DP, Ruas AC, Maia PA. Análise da contribuição das variáveis
meteorológicas no estresse térmico associado à morte de cortadores de cana-de-
açúcar. Cad. Saúde Pública 2012; 28(1): 65-74. Infonet. Pesquisadores analisam salinidade do rio São Francisco [acessado em Weber MA, Schiffrin EL, White WA, Mann S, Lindbolm LH, Venerson JG, et al. Clinical
agosto de 2017]. Disponível em: practice guidelines for the management of hypertension in the community: a
http://www.infonet.com.br/noticias/educacao//ler.asp?id=170077 statement by the American Society of Hypertension and the International Society of
Blois J, Kjellstrom T, Agewall S, Exekowitz JA, Armstrong PW, Atar D. The effects of
climate change on cardiac health. Cardiology. 2015; 131(4):209-17. Hypertension. J Hypertens. 2014;32(1):3-15.
Intergovernmental Panel on Climate Change. Climate Change 2014: Mitigation of
Climate Change. New York, NY: Cambridge University Press;2014. World Bank 4C: Turn Down the Heat. A Report for the World Bank by the Potsdam
Brasil. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Informações sobre
mortalidade e internações hospitalares [acessado agosto de 2017]. Disponível em: Institute for Climate Impact Research and Climate Analytics, November 2012,
http://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude James GD, Yee LS, Pickering TG. Winter-summer differences in the effects of Washington DC 20433, 2012.Xavier DR, Barcellos C, Freitas CM. Eventos climáticos
emotion, posture and place of measurement on blood pressure. Soc Sci extremos e consequências sobre a saúde: o desastre de 2008 em Santa Catarina
Med.1990;3: 1213-1217. segundo diferentes fontes de informação. Ambiente & Sociedade 2014; 17(4):273-
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em 294.
Saúde: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação Geral
de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. – 1. ed. atual. – Brasília: Kovats RS, Hajat S, Wilkinson P. Contrasting patterns of mortality and hospital
Ministério da Saúde, 2016. admissions during hot weather and heat waves in Greater London, UK. Occup Ye X, Wolff R, Yu W, Vaneckova P, Pan X, Tong S. Ambient temperature and
Environ Med 2004; 61: 893–898. morbidity: a review of epidemiological evidence. Environ Health Perspect. 2012
Jan;120(1):19-28.
Burney PG, Patel J, Newson R, Minelli C, Naghavi M. Global and regional trends in
COPD mortality, 1990- 2010. Eur Respir J 2015; 45: 1239–1247. Lewington S, Clarke R, Qizilbash N, Peto R, Collins R; Prospective Studies
Collaboration. Age-specific relevance of usual bloodpressure to vascular mortality: a Yoon SJ, Oh IH, Seo HY, Kim EJ. Measuring the burden of disease due to climate
meta-analysis of individual data for one million adults in 61 prospective studies. change and developing a forecast model in South Korea.Public Health. 2014 Aug;128(8):725-33.
Cançado JED, Braga AP, Amador LA, Arbex MA, Saldiva PHN, Santos UP. Lancet. 2002;360(9349):1903-13. Erratum in: Lancet. 2003;361(9362):1060
Repercussões clínicas da exposição à poluição atmosférica. J Bras Pneumologia
2006; 32:S5-S1
Lipovetzky N, Hod H, Roth A, Kishon Y, Sclarovsky S, Green MS. Emotional events
and anger at the workplace as triggers for a first event of the acute coronary
Cardoso AM. A persistência das infecções respiratórias agudas como problema de syndrome: a case-crossover study. Isr Med Assoc J 2007;9:310 – 315. 6.
Saúde Pública. Cadernos de Saúde Pública 2010;26(7): 1270-1271.
Costello A, Abbas M, Allen A, Ball S, Bell S, Bellamy R, et al. 2009. Managing the
Martins LC, Latorre Mdo R, Cardoso MR, Goncalves FL, Saldiva PH, Braga AL. [Air
health effects of climate change. Univ. Coll. Lond. Inst. Global Health, Lancet
pollution and emergency room visits due to pneumonia and influenza in São Paulo,
Comm.Lancet 373:1693–733.
Brazil]. Rev Saude Publica. 2002 Feb;36(1):88-94.
Dapper SN, Spohr C, Zanini RR.Poluição do ar como fator de risco para a saúde: uma
Mittleman MA, Mintzer D, Maclure M, Tofler GH, Sherwood JB, Muller JE. Triggering
revisão sistemática no estado de São Paulo. Estud. av. [online]. 2016, vol.30, n.86,
of myocardial infarction by cocaine. Circulation 1999;99:2737 –2741.
pp.83-97. ISSN 0103-4014.
Nascimento e Francisco (2013)
Davies MJ, Thomas AC. Plaque fissuring—the cause of acute myocardial infarction,
sudden ischaemic death, and crescendo angina. Br Heart J 1985;53:363–373. Neild PJ, Syndercombe-Court D, Keatinge WR, Donaldson GC, Mattock M, Caunce
M. Cold-induced increases in erythrocyte count, plasma cholesterol and plasma
fibrinogen of elderly people without a comparable rise in protein C or factor X. Clin
Duarte EC, Schneider MCS, Rômulo P, Silva JB; Salgado CC. Expectativa de vida ao Sci (Lond) 1994;86:43 –48
nascer e mortalidade no Brasil em 1999: análise exploratória dos diferenciais
regionais. Pan Am J Public Health, 2002;12(6):436-44
Oliveira BF, Ignotti E, Artaxo P, Saldiva PH, Junger WL, Hacon S. Risk assessment of
PM (2.5) to child residents in Brazilian Amazon region with biofuel production.
Eisner MD, Anthonisen N, Coultas D, Kuenzli N, Perez-Padilla R, Postma D, et al. An Environ Health. 2012b; 11:64.
official American Thoracic Society public policy statement: Novel risk factors and
Organização Mundial da Saúde. Ficha de Asma Brônquica 206.
the global burden of chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care
www.who.int/mediacentre/ factsheets/fs206/en.
Med 2010; 182: 693–718.
Feigin VL, et al. Global and regional burden of stroke during 1990–2010: findings
from the Global Burden of Disease Study 2010. Lancet. 2014;383:245–254 Picon, RV, Fuchs FD, Moreira LB, Fuchs SC. Prevalence of hypertension among
elderly persons in urban Brazil: a systematic review with meta-analysis. Am J
Hypertens. 2013;26(4):541-8
Fletcher C, Peto R. The natural history of chronic airflow obstruction. Br Med J 1977;
1: 1645-1648.
Pope CA, 3rd, Dockery DW. Health effects of fine particulate air pollution: lines that
Freitas ARR, Francisco PMSB, Donalisio MR. Mortality Associated with Influenza in
connect. J Air Waste Manag Assoc. 2006;56:709–742
Tropics, State of São Paulo, Brazil, from 2002 to 2011: The Pre-Pandemic, Pandemic,
and Post-Pandemic Periods. Influenza Res Treat. 2013; 2013: 696274.
Ribeiro BB, Eckert JB, Figueiredo AC, Galhardi WMP, Campanaro CM. Experiência de
Ensino em Medicina e Enfermagem: Promovendo a Saúde da Criança. Rev Bras Educ
Freitas CM, Silva DRX, Sena ARM, Silva EL, Sales LBF, Carvalho ML, et al. Desastres
Méd 2012; 36(1supl II):89-96.
naturais e saúde: uma análise da situação do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva,
19(9):3645-3656, 2014.
Sevelsted A, Stokholm J, Bisgaard H. Riskof asthma from Cesarean delivery depends
on membrane rupture. J Pediatr. 2016 Apr;171:38-42.e1-4
Friel S, Bowen K, Campbell-Lendrum D, Frumki H, McMichael AJ, Rasanathan K.
Climate Change, Nomcommunicable Diseases, and Development: The relationship
and Common Policy Opportunities. Annu Rev Public Health 2011; 32:133-47. Sherwood SC, Huber M. An adaptability limit to climate change due to heat stress.
Proc Natl Acad Sci U. S. A, 107(21): 9552-5.
Gasparrini A, Guo Y, Hashizume M, Lavigne E, Zanobetti A, Schwartz J, et al.
Mortality risk attributable to high and low ambient temperature: a multicountry Sin DD, Man SF. Impact of cancers and cardiovascular disease in chronic obstructive
observational study. Lancet 2015; 6736(14):62114-0. pulmonary disease. Curr Opin Pulm Med. 2008;14(2):115-21
Gilbert M, Xiao X, Pfeiffer DU, Epprecht M, Boles S, Czarnecki C. Mapping H5N1
highly pathogenic avian influenza risk in Southeast Asia. Proc Natl Acad Sci USA Smith LT, Aragão LE, Sabel CE, Nakaya T. Drought impacts on children's respiratory
2008; 105(12): 4769-74. health in the Brazilian Amazon. Sci Rep. 2014; 16(4):3726.
Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease Global Initiative for Chronic
Obstructive Lung Disease. Global strategy for the diagnosis, management, and Sociedade Brasileira de Cardiologia. VII Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial.
prevention of chronic obstructive pulmonary disease: GOLD Executive Summary, Arq Bras de Cardiol 2015; 107(3):1-83.
update 2014. Available from: http://www.goldcopd.org/
50
50
MÓDULO 4 - UNIDADE 3
DOENÇAS TRANSMITIDAS POR VETORES
Izabel Cristina dos Reis
As doenças transmitidas por vetores são animais pertencentes ao filo Arthropoda como mosquito,
enfermidades causadas por patógenos e parasitas em pulgas, piolhos flebotomíneos, incluindo também animais do
humanos. Essas doenças constituem importante causa de filo Mollusca como alguns caramujos de água doces, que
morbidade e mortalidade no Brasil e no mundo, sendo um podem transmitir agente infectante ou agente etiológicos
dos principais problemas de saúde pública. Segundo a WHO (vírus, protozoários, helmintos e bactérias) entre humanos
(2017), são responsáveis por mais de 17% de todas as ou através de animais ao homem (WHO 2014; 2017). Além
doenças infecciosas, causando anualmente mais de um de transmitir o agente infeccioso, parte do ciclo de
bilhão de casos e mais de um milhão de óbitos. Ocorre desenvolvimento desses patógenos ocorre dentro dos
condições de moradia são precárias e serviços públicos de A maioria dos vetores é hematófaga, ou
saneamento básico inexistente ou de baixa qualidade, em seja, ingere microrganismos causadores de doenças durante
geral populações com baixa escolaridade, e implicam em um repasto sanguíneo em um hospedeiro infectado
aumento da pobreza, diminuição na produtividade (humano ou animal) e, posteriormente, o injeta em um novo
econômica e sistemas de saúde sobrecarregados com hospedeiro susceptível durante a sua subsequente
procedimentos de alto custo (WHO 2014, OPAS 2014a, OPAS alimentação sanguínea. Os artrópodes constituem o maior
2014b). grupo do reino animal, tanto em número de espécies como
por vetores como malária, febre amarela, tifo, foram que possuem pernas articuladas e corpos segmentados com
responsáveis por numerosas epidemias devastadoras no simetria bilateral, revestido por um exoesqueleto de quitina.
século XVII até inicio do século XX (Gubler 1998). Entretanto, O filo Arthropoda apresenta seis classes, sendo as classes
foi somente no final do século XIX e inicio do século XX que Insecta e Arachnida (ácaros, carrapatos) as de maior
houve a comprovação de que alguns microrganismos e importância médica, pois incluem espécies hematófagas,
(pulgas)
Peste Xenopsylla, Pulex
Pulicidae
Tifo murino Xenopsylla
Tungidae Tunga penetrans
Ordem Anoplura
Pediculidae Pediculis humanus, Phtirus
Tifo exantemático epidêmico
(piolhos, chatos) pubis
Ordem Acarina
O ciclo de vida dos vetores, assim como dos reservatórios e hospedeiros que participam da cadeia de
transmissão de doenças, está fortemente relacionado à dinâmica ambiental dos ecossistemas onde eles vivem sendo limitadas
por variáveis ambientais como temperatura, precipitação, umidade, padrões de uso e cobertura do solo. As evidenciais sugerem
que a variabilidade climática inter-anual e inter-decadal têm apresentado influência direta sobre a biologia e ecologia de vetores
e consequentemente o risco de transmissão das doenças por eles veiculadas.
Atualmente, a mudança climática tem gerado uma preocupação sobre a possível expansão da área atual de
incidência de algumas doenças transmitidas por vetores. Um dos maiores efeitos da mudança climática sobre as doenças
vetoriais pode ser observado nos eventos extremos, os quais introduzem uma forte flutuação no ciclo das doenças. Os padrões
de precipitação podem ter efeito a curto e em médio prazo. O aumento da precipitação tem o potencial de aumentar o número
e a qualidade dos locais de reprodução dos vetores tais como mosquitos, carrapatos e caramujos.
52
52
Os extremos de temperatura podem Quanto a doenças vetoriais de
retardar ou acelerar o desenvolvimento e sobrevivência dos característica mais urbana como a Dengue, Zika e
insetos vetores, assim como o período de incubação Chikungunya pode se destacar a difusão do agravo para
extrínseco de alguns patógenos. Contudo, deve-se áreas do território nacional onde não eram observadas
epidemias recorrentes. Foi realizado estudo sobre a difusão
considerar que o clima sozinho não explica o
e extensão atual da área de transmissão de dengue no Brasil,
comportamento das doenças transmitidas por artrópodes,
adotando medidas de intensidade, permanência e
mas é um componente importante na distribuição temporal
temporalidade de casos de dengue para verificar a expansão
e espacial dos vetores tanto limitando a sua propagação
desta área de transmissão. Os resultados apontam uma
quanto influenciando na dinâmica da transmissão.
relação entre padrões temporais e espaciais de difusão de
Alterações do ambiente podem dengue no Brasil. Os picos de transmissão (no tempo)
potencializar as ações do clima criando ambientes ideias correspondem a pulsos invasivos (no espaço) da doença.
para propagação de vetores, e consequentemente, Estes pulsos podem atingir áreas distantes e serem mais
incremento no número de casos. Como exemplo, o efeito agressivos, isto é, provocarem maiores incidências que em
combinado de padrões de uso do solo e clima podem influir áreas onde os vírus não circulavam, já que alcançam
na transmissão da malária, tanto pelo desmatamento, populações suscetíveis. A concentração de cidades com
quanto pela extração seletiva de madeira, queimadas, surtos verificada ao longo da franja de transição entre climas
pode representar o maior risco que correm estas cidades,
urbanização e construção de estradas (Hahn et al., 2014).
antes isoladas de circuitos de circulação dos vírus (Barcellos
e Lowe, 2013).
Expansão da área de transmissão de dengue no Brasil, de 2001 a 2012. Barcellos et al., 2013.
53
53
DENGUE
A dengue é uma doença infecciosa milhões de casos de dengue por ano, dos quais 96 milhões
causada por um vírus de genoma RNA, do gênero Flavivirus, apresentam manifestação clínica (Bhatt et al, 2013).
família Flaviviridae, do qual são conhecidos quatro sorotipos
(DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) (BRASIL, 2015). A DETERMINANTES E CONDICIONANTES DA DENGUE
infecção pelo vírus dengue pode ser assintomática ou
sintomática. Quando sintomática, causa uma doença A dengue apresenta manifestação mais
sistêmica e dinâmica de amplo espectro clínico, variando frequente em regiões onde condições socioeconômicas e
desde formas oligossintomáticas até quadros graves, ambientais desfavoráveis encontram como agravantes
podendo evoluir para o óbito, mesmo em primo-infecção condições ambientais e climáticas propicias para proliferação
(BRASIL, 2011). No Brasil, o padrão epidemiológico tem do vetor. Variáveis como esgotamento sanitário e coleta de
variado ao longo dos anos. Inicialmente, casos de dengue lixo insuficientes são variáveis que ajudam a explicar o
ocorriam, principalmente, em adultos jovens. A comportamento do agravo, e em áreas que apresentam essas
susceptibilidade ao vírus é universal, no entanto, fatores de características podem apresentar maior número de casos em
risco individuais, tais como idade, etnia, presença de co- relação a demais regiões (Costa et al, 1998). O abastecimento
morbidades e infecção secundária podem determinar a intermitente ou irregular de água pode implicar situações
gravidade da doença. Entre 2007 e 2009, observou-se extremamente favoráveis a procriação do vetor, sendo
aumento das formas graves, atingindo, principalmente, determinante na transmissão. Nessas situações a população
crianças (BRASIL, 2015). pode recorrer ao estoque de água de forma inadequada
sazonal no País, ocorrendo, principalmente, entre os meses A dengue apresenta sazonalidade marcada
de outubro a maio. Dessa forma, o monitoramento de com pico de casos durante o verão. Nessa estação o conjunto
pode detectar precocemente a vulnerabilidade para disponibilidade de criadouros acaba por provocar epidemias.
ocorrência da doença em determinado local. Caracteriza-se Entretanto cabe ressaltar que para que isso ocorra ainda é
grande parte do País, tendo como importantes fatores a (Johansson et al, 2009; Lana et al, 2014; Lowe et al, 2014).
circulação simultânea dos quatro sorotipos virais e a Apesar da pouca referência bibliográfica com relação a
presença do vetor. Ressalta-se a importância da alternância variável elevação do terreno, no Brasil essa variável associada
ou da substituição do sorotipo predominante em áreas a temperatura parece funcionar como fator de bloqueio a
endêmicas ou em regiões não endêmicas (BRASIL, 2015). manifestação de epidemias. Contudo, estudo realizado na
pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti que tem altitude de 1.700 metros acima do nível do mar confirma a
apresenta grande capacidade de adaptação em diferentes capacidade de Aedes aegypti para se adaptar a novos
situações ambientais consideradas desfavoráveis (Tauil, ambientes, e o potencial para epidemia se espalhar nas
2002). O número real de casos de dengue é subestimado cidades em altitudes comparáveis ou superiores (Herrera-
devido à subnotificação, já que muitos não são devidamente Basto et al, 1992).
entre as variáveis contextuais destaca-se o espaço geográfico elevado potencial de disseminação em áreas com densidade
vetorial que favoreça sua transmissão. Os vetores da malária
no qual esta população está inserida e suas condições
são mais abundantes nos horários crepusculares, ao
ambientais e de vida.
entardecer e ao amanhecer. O agente etiológico da doença é
o protozoário do gênero Plasmodium. No Brasil, três
espécies causam a malária em seres humanos: P. vivax, P.
falciparum e P. malariae. A malária é uma doença de
notificação compulsória regular e todo caso suspeito deve
ser notificado em até sete dias quando ocorrido na região
Amazônica. Na região Extra-Amazônica, a malária é uma
doença de notificação compulsória imediata. Dessa forma,
todo caso suspeito deve ser notificado em até 24 horas pelo
Aedes aegypti
meio mais rápido disponível (Brasil, 2015).
55
55
DETERMINANTES E CONDICIONANTES DA MALÁRIA Integrando informações (inteligência epidemiológica),
A malária, assim como outras doenças de coordenação das ações de controle da malária e
areas de florestas tropicais, resulta de processos interativos aproveitamento das complementaridades dos sistemas
entre o homem e o meio ambiente que, por vezes, acabam locais de saúde, com a participação e cooperação das
por provocar ruptura do equilíbrio ecológico existente populações fronteiriças (PEITER, 2013).
Anopheles darlingi
56
56
FEBRE AMARELA
A febre amarela é uma doença infecciosa por maior exposição profissional nos ambientes silvestres
febril aguda, transmitida por vetores artrópodes, que possui das áreas endêmicas (BRASIL, 2009). Além de variáveis
dois ciclos epidemiológicos distintos (silvestre e urbano). A climáticas deve-se considerar, a cobertura vegetal, da
doença apresenta gravidade clínica e elevado potencial de hidrografia, do uso do solo, e outras que possam indicar
padrões de transmissão ou aspectos ambientais e ecológicos
disseminação em áreas urbanas (BRASIL, 2009). Na febre
favoráveis à emergência da doença (BRASIL, 2014). A
amarela silvestre, os transmissores são mosquitos com
presença de Ae. albopictus em áreas de risco para epizootias
hábitos estritamente silvestres. No Brasil, a espécie
de febre amarela tem chamado a atenção para a importância
Haemagogus se destaca na transmissão, embora outras
do seu monitoramento no ambiente florestal (Gomes et al.,
espécies tenham sido documentadas com vírus da febre
1999), esse monitoramento busca evitar o risco para a
amarela. Na febre amarela urbana, o Ae. aegypti é o
formação de uma ponte entre os hábitats naturais e áreas
principal mosquito transmissor e por conta da alta
urbanas.
capacidade de adaptação desse mosquito ao ambiente
urbano, e o A. albopictus em áreas rurais o que torna o Condicionantes Condicionantes Ambientais
socioeconômicos
agravo de extrema importância potencial epidemiológica
Pendularidade Cobertura vegetal e
(BRASIL, 2009). populacional - campo uso da terra
x cidade População de primatas
A principal medida de controle da febre Nível de escolaridade não humana com o
Taxa de migração vírus
amarela é a vacinação, sendo recomendada nas áreas
População rural Temperatura
consideradas endêmicas, de transição e de risco potencial, Turismo Pluviosidade
População masculina
assim como para todas as pessoas que se deslocarem para acima de 15 anos
essas áreas. Recomenda-se também, a vigilância de casos
humanos e de epizootias, a vigilância sanitária de portos,
aeroportos e fronteiras para viajantes internacionais,
controle do vetor urbano para eliminar o risco de
reurbanização do agravo (BRASIL, 2009).
climáticos e recursos disponíveis nos ecótipos (Brasil, 2014). Rio Branco – AC, área central do estado do Mato Grosso,
Segundo o IPCC epidemias de febre amarela urbana divisa entre o estado do Pará e Maranhão, extremo norte do
começam a ocorrer na América tropical, espera-se que este estado do Ceará, interior de Minas Gerais, norte do estado
do Paraná e uma área importante de transmissão no estado
vírus se mova rapidamente através de meios de transportes
da Bahia.
para a Ásia e Pacífico, onde nunca ocorreu (McMichael et al,
2000; Gubler et al, 1984).
LEISHMANIOSE TEGUMENTAR
AMERICANA
58
58
heterogênea do agravo no país. Estes três padrões sobre a doença demonstraram que inicialmente considerada
apresentam variáveis determinantes e condicionantes para o zoonose de animais silvestres, que acometia ocasionalmente
agravo que podem representar maior importância pessoas em contato com florestas, a LT passou a ocorrer em
dependendo da área em que ocorre a doença. zonas rurais já praticamente desmatadas e em regiões
zoonose de animais silvestres, que pode acometer o ser Condicionantes Condicionantes Ambientais
humano quando este entra em contato com o ambiente socioeconômicos
Densidade de Índice de estado da
silvestre, onde esteja ocorrendo enzootia (Brasil, 2007). O
habitantes por vegetação (NDVI)
padrão ocupacional ou de lazer está associado à exploração domicílio Percentagem de área
Nível de urbana
desordenada da floresta e derrubada de matas para
escolaridade Proporção de
construção de estradas, usinas hidrelétricas, instalação de Responsáveis pelo domicílios com
domicílio que arborização no
povoados, extração de madeira, desenvolvimento de
ganham menos de entorno
atividades agropecuárias, de treinamentos militares e um salário mínimo Taxa de
por mês desmatamento
ecoturismo (Brasil, 2007), coincidindo com áreas de alto
Razão de sexos Cobertura vegetal
grau de destruição da vegetação nativa (Lima et al, 2002), Taxa de migração e uso da terra
População de área (vegetação
processos de ocupação do solo (Kawa & Sabroza, 2002) áreas
rural secundária)
proximas a matas (Teodoro et al, 2001) e tipos de ocupação
a maiores densidades de vetores, que, por conseguinte, pode representar maior presença de casos humanos (Ximenes et al,
2006). Contudo, como destaca De Almeida et al (2006), estudos realizados no Brasil geraram resultados divergentes sobre a
relação entre temperatura e abundância do vetor. Há estudos que encontraram relação direta entre a temperatura e
reprodução do vetor, outros estudos apresentam relação inversa, alguns ausência de associação em diferentes locais
estudados mesmo considerando o mesmo município. Dentre os diversos possíveis motivos para tais discrepâncias destacam-
se a dependência de flebotomíneos de outras variáveis climáticas, como umidade, que, por sua vez, também pode se
correlacionar com temperatura, diferenças nos microambientes estudados e no tipo de método estatístico utilizado para
análise (De Almeida et al, 2006). Esse cenário demonstra a necessidade de aprofundamentos em estudos que evidenciem a
61
61
Referências Bibliográficas
Andrade BB 2010. Identificação de potenciais determinantes imunológicos de Lourenço-de-Oliveira R 2013. Principais insetos vetores e mecanismos de Vanconcelos PFC 2015.Doença pelo virus zika: um novo problema emergente nas
gravidade da malária humana, Tese de doutorado, Universidade Federal da Bahia, transmissão das doenças infecciosas e parasitárias. In: Coura J R. Dinâmica das Américas? Rev Pan-amaz Saude 6: 9-10
Salvador, 162 pp. doenças infecciosas e parasitárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013.
WHO 1990. Potential health effects of climatic change. Geneva: World Health
Assis MC 2011. Abordagens espaciais para caracterização dos condicionantes Marengo JA, Nobre CA, Salati E, Ambrizzi T 2007. Mudanças climáticas globais e Organization.
socioambientais associados ao risco de malária em novas fronteiras na Amazônia: seus efeitos sobre a biodiversidade: Caracterização do clima atual e definição das
o caso de Lábrea, Amazonas, Dissertação de mestrado, Instituto Nacional de alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do Século XXI. Ministério WHO 2002. The World Health Report 2002; reducing risks and promoting healthy
Pesquisas Espaciais, São José dos Campos, 164 pp. do Meio ambiente – Secretaria de biodiversidade e florestas (SBF) – Diretoria de life. Geneva: World Health Organization.
Barcellos C, Monteiro AMV, Corvalán C, Gurgel HC, Carvalho MS, Artaxo P, Hacon conservação da biodiversidade. 55p.
S, Ragoni V. Mudanças climáticas e ambientais e as doenças infecciosas: cenários
WHO 2007. Infectious Disease .Disponível em:
e incertezas para o Brasil. Epidemiol Serv Saúde 2009; 18: 285-304 Marengo JA, Nobre CA, Chan Chou S, Tomasella J, Sampaio G, Alves LM, Obregón http://www.who.int/topics/infectious_diseases/en/. Acessado em: 10 de
Barcellos C, Lowe R. Expansion of the dengue transmission area in Brazil: the role GO, Soares WR 2011. Riscos das mudanças climáticas no Brasil: análise conjunta fevereiro de 2017
of climate and cities. Trop Med and Internal health 2014; 19: 159-168. Brasil-reino Unido sobre os impactos das mudanças climáticas e do
desmatamento na Amazônia. 56p.
WHO 2012. Strengthen control of vectorborne diseases to lessen the impact of
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) 2017. Doenças infecciosas e parasitárias. climate change in the Western Pacific Region with focus on Cambodia, Mongolia
https://www.bvsdip.icict.Fiocruz.br/vhl/sobre-a-bvs/o-que-sao- Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) (Org.), 2014: Estimativas and Papua New Guinea. Geneva: World Health Organization.
doencasinfecciosas- e-parasitarias/ . Acessado em 10 de fevereiro de 2017 anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. 2. ed. Brasília: Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2014. 168 p.
WHO 2014. A global brief on vector-borne diseases. Geneva: World Health
Brasil P, Zalis MG, Pina-Costa A, Siqueira AM, Júnior CB, Silva S, Areas ALL, Pelajo- Organization.
Machado M, Alvarenga DAM, Santell ACFSi, Albuquerque HG, Cravo P, Abreu FVS, Ministério de Minas e Energia 2015. Emissão de CO2 no Brasil é menor que média
Peterka CL, Zanini GM, Suárez Mutis MC, Pissinatti A, Lourenço-de-Oliveira R, Brito mundial. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/meio-
CFA, Ferreira-da-Cruz MF, Culleton R, Daniel-Ribeiro CT. Outbreak of human ambiente/2015/09/emissao-de-co2-no-brasil-e-menor-que-media-mundial. WHO 2016a. Vector borne diseases. Disponível em:
malaria caused by Plasmodium simium in the Atlantic Forest in Rio de Janeiro: a Acessado em 20 de julho de 2017 ww.who.int/mediacentre/factsheets/fs387/en/. Acessado em 30 de julho de
molecular epidemiological investigation. The Lancet Global Health 2017. 2017.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde 2005a. Ações de controle
Bouma MJ, Poveda G, Rojas W, Chavasse D, Quinones M, Cox J, Patz J: Predicting da malária: manual para profissionais de saúde na atenção básica. Ministério da
high-risk years for malaria in Colombia using parameters of El Niño Southern Saúde, Brasília, 56 pp.
Oscillation. Trop Med Int Health 1997; 2: 1122-1127. Ministério da Saúde (MS) 2008. Mudanças climáticas e ambientais e seus efeitos
na saúde: cenários e incertezas para o Brasil / BRASIL. Ministério da Saúde;
Braz RM, Duarte EC, Tauil PL. Epidemiology of malaria in the municipality of Organização Pan-Americana da Saúde. – Brasília: Organização PanAmericana da
Cruzeiro do Sul, state of Acre, Brazil, in 2010: uses of a control chart at the local Saúde.
level. Rev Soc Bras Med Trop 2012; 45: 526-529
Ministério da Saúde (MS) 2013a. Mudanças climáticas. Disponível em:
Braz RM, Guimarães R F, Carvalho Júnior OA, Tauil PL. Dependência espacial das http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-
epidemias de malária em municípios da Amazônia Brasileira. Rev Bras de ministerio/1152-secretaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/vigidesastres/l2-
Epidemiologia 2014; 17: 615-628 vigidesastres/18549-mudancas-climaticas. Acessado em 30 de junho de 2017.
Catão RC. Expansão e consolidação do complexo patogênico do dengue no estado Ministério da Saúde 2013 b. Plano setorial da saúde para mitigação e adaptação à
de São Paulo: difusão e barreiras geográficas. Tese de doutorado. Universidade mudança do clima. Ministério da Saúde: Brasília. 98p.
Estadual Paulista. Presidente Prudente, São Paulo. 2016. 274p
Ministério da Saúde 2015. Boletim Epidemiológico. Disponível em:
Cazelles B, Chavez M, McMichael AJ, Hales S Nonstationary influence of El Niño on http://portalsaude.saude.gov.br/. Acessado em julho de 2017.
the synchronous dengue epidemics in Thailand. PLoS Med 2005; 2: e106
Ministério da Saúde 2016. Boletim Epidemiológico. Disponível em:
Chaves LF, Pascual M. Climate cycles and forecasts of cutaneous leishmaniasis, a http://portalsaude.saude.gov.br/. Acessado em julho de 2017
nonstationary vector-borne disease. Plos Med 2007; 4(3): e123
Ministério da Saúde 2017a. Boletim Epidemiológico. Disponível em:
Carreira JCA, Magalhães MAFM, Silva AVM. The geospatial approach on eco- http://portalsaude.saude.gov.br/. Acessado em julho de 2017
epidemiological studies of leishmaniasis. In: Claborn DM. Leishmaniasis – Trends
in epidemiology, diagnosis and treatment. Intech, 2015. Disponível em: Ministério da Saúde 2017b. Descrição da Doença. Disponível em:
https://www.intechopen.com/books/leishmaniasis-trends-in-epidemiology- http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/descricao-da-doenca-febreamarela.
diagnosis-and-treatment Acessado em 01 de setembro de 2017.
Confalonieri, UEC, Chame M, Najar A, Chaves SAM, Krug T, Nobre C, Miguez JDG, Ministério da Saúde 2017 c. Situações epidemiológicas – Dados. Disponível em:
Cortesão J, Hacon S. Mudanças globais e desenvolvimento: importância para a http://portalsaude.saude.gov.br. Acessado em 01 de setembro de 2017.
saúde. Inf Epidemiol SUS 2002; 11: 139-154.
Oliveira-Ferreira J, Lacerda MVG, Brasil P, Ladislau JLB, Tauil PL, Daniel-Ribeiro CT.
Donalísio MR, Glasser CM. Vigilância entomológica e controle de vetores do Malaria in Brazil: na overview. Mal J 2010; 9:2-15
dengue. Rev Bras Epidemiol 2002; 5: 259 – 272
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (2009). Mudança Climática e Saúde:
Franke CR, Ziller M, Staubach C, Latif M. Impact of El Niño/ Southern Oscillation um perfil do Brasil / Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde –
on visceral leishmaniasis, Brazil. Emerg Infect Dis 2002; 8: 914-917. Brasília, Organização Pan-Americana da Saúde. 48p
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) 2013. Leishmaniose. Disponível em: OPAS 2014a. Dia Mundial da Saúde 2014: Pequenas picadas, grandes ameaças.
https://agencia.fiocruz.br/leishmaniose. Acessado em: 01 de setembro de 2017. Disponível em:
http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=461
Gibbs SEJ, Wimberly MC, Madden M, Masour J, Yabsley MJ, Stallknecht 1:dia-mundial-da-saude-2014-pequenas-picadas-grandes-ameacas&Itemid=812).
DE. Factors affecting the geographic distribution of West Nile virus in Georgia, Acessado em 30 de julho.
USA: 2002–2004. Vector Borne Zoonot 2006; 6: 73–82.
OPAS 2014 b. Pequenas picadas, grandes ameaças é o tema do Dia Mundial da
Gubler DJ 1998. Resurgent vector-borne diseases as a global health problem. Saúde 2014. Disponível em:
Emerg Infect Dis 4: 442-450 http://www.paho.org/bireme/index.php?option=com_content&view=article&id=
235:pequenas-picadas-grandes-ameacas-e-o-tema-do-dia-mundial-da-saude-
2014&Itemid=183. Acessado em: 30 de julho de 2017
Gubler DJ, Reiter P, Ebi KL, Yap W, Nasci R, Patz JA. Climate variability and change
in the United States: potential impacts on vector and rodent-borne diseases.
Environ Health Persp 2001; 109: 223-233. OPAS: 2017. 10 vector-borne diseases that put the population of the Americas at
risk. Disponível em:
Institude of Medicine. Vector-Borne diseases: understanding the environmental
http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_content&view=article&id=9438
human health and ecological connections. Washington, DC: The National
%3A2014-10-vector-borne-diseases-that-put-population-americas-at-
Academies Press. 2008. Disponível em: https://books.google.com.br
risk&catid=1443%3Aweb-bulletins&Itemid=135&lang=en. Acessado em 30 de
julho de 2017.
IPCC 2001. Summary for policymakers: A report of working group I of the
Intergovernmental Panel on Climate Change. Disponível em:
Patz JA, Graczyk TK, Geller N, Vittor AY. Effects of environmental change on
http://www.ipcc.ch/ipccreports/tar/vol4/english/pdf/wg1spm.pdf
emerging parasitic diseases. Int J Parasit 2000; 1-11
PBMC 2013. Contribuição do Grupo de Trabalho 2 ao Primeiro Relatório de
IPCC 2014. Human Health: Impacts, adaptation and co-benefits. (Draft). Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Sumário
Disponível em: https://www.ipcc.ch/pdf/assessment- Executivo do GT2. PBMC, Rio de Janeiro, Brasil. 28 p
report/ar5/wg2/drafts/fd/WGIIAR5-Chap11_FGDall.pdf. Acessado em 20 de julho
de 2017.
PBMC 2016. Mudanças Climáticas e Cidades. Relatório Especial do Painel
Brasileiro de Mudanças Climáticas [Ribeiro, S.K., Santos, A.S. (Eds.)]. PBMC, COPPE
IPCC 2017a. Working group II: Impact, adaptation and vulnerability. Future: – UFRJ. Rio de Janeiro, Brasil. 116p
Climate Scenarios Disponível em:
Parmesan C, Ryrholm N, Stefanescu C, Hill JK, Thomas CD, Descimon H, Huntley B,
http://www.ipcc.ch/ipccreports/tar/wg2/index.php?idp=524. Acessado em: 20
Kaila L, Kullberg J, Tammaru T, Tennent WJ, Thomas JA, Warren M. Poleward
de julho de 2017.
shifts in geographical ranges of butterfly species associated with regional
warming. Nature 1999; 399: 579-583.
IPCC 2017b. Working group II: Impact, adaptation and vulnerability. Vector-borne
Disease. Disponível em:
Paz S. Climate change impacts on West Nile virus transmission in a global context.
http://www.ipcc.ch/ipccreports/tar/wg2/index.php?idp=540. Acessado em: 20
Philos Trans R Soc 2015; 370: 20130561.
de julho de 2017.
62
62
MÓDULO 4 - UNIDADE 4
EVENTOS EXTREMOS (DESASTRES NATURAIS)
Diego Ricardo Xavier
desastre, é necessário um conjunto de fatores que envolvem processo de aquecimento do planeta influencia diretamente
condições físicas e sociais que combinadas se constituem em no aumento da ocorrência e intensidade de eventos extremos
fatores de riscos de desastres. Em outras palavras um no mundo (IPCC, 2007). Os eventos extremos podem ser
desastre não se realiza sem que haja ameaças, que se classificados como climáticos ou meteorológicos. Os eventos
relacionam à qualidade dos eventos físicos que podem ser extremos climáticos estão relacionados com a alteração na
63
63
padrão observado em séries históricas de dados dos rios da região e inundaram a cidade, desabrigando
meteorológicos. Os eventos extremos meteorológicos estão inúmeros residentes. No ano seguinte, foi registrada uma das
relacionados com a manifestação de uma determinada maiores secas da história, e em 2012 novamente ocorreu uma
variável meteorológica, sem que se observe de fato, cheia que superou a cheia de 2009 (SILVA, 2014).
alteração da variabilidade desta variável ou longo do tempo. Segundo o IPCC (2007), os impactos à
Por exemplo, chuvas intensas que provoquem inundações saúde decorrentes de eventos extremos podem ser divididos
em um determinado local e que não apresentem em imediatos, em médio prazo e longo prazo. Os impactos
recorrência ao longo das observações históricas. Os imediatos incluem óbitos, afogamento, soterramento e
desastres naturais, por sua vez, são classificados segundo a ferimentos traumáticos. Em médio prazo podem ocorrer
ocorrência de eventos extremos meteorológicos e seus doenças devido à ingestão ou contato com água e alimentos
impactos na população humana. Desse modo, chuvas por si contaminados (cólera, hepatite A, leptospirose), resultantes
só não produzem desastres, mas outros fatores, como o de superpopulação em condições inadequadas de habitação.
processo de ocupação do espaço, determinam se um evento Em longo prazo, após as enchentes, pode ocorrer o
meteorológico extremo pode ou não provocar um desastre crescimento de fungos que resultam em aumento de
(MARENGO et al., 2010). manifestações alérgicas, depressão, fraturas devido ao
No Brasil no período entre 1991 e 2010 processo de reconstrução, insegurança alimentar e falta
ocorreram 38.996 registros de desastres, 22% (8.5151) d’água, em casos de secas extremas, entre outros impactos
ocorreram na década de 1990, 56% (21.741) ocorreram na (FREITAS et al., 2014).
década de 2000 e os outros 22% (8.740) ocorreram a partir
do ano de 2010 e somente no ano de 2012 ocorreram 10%
do total de eventos (UFSC/CEPED, 2013). Apesar dos
números apontarem aumento na frequência de eventos
extremos, principalmente por conta da melhora do sistema
de informação e de registros da Defesa Civil, a gravidade
destes eventos e a recorrência de eventos de grande
gravidade, parece apresentar um padrão de maior
incidência, e esse comportamento não pode ser relacionado
unicamente à melhoria do sistema de registros. Em março
de 2004, o litoral gaúcho e catarinense foi impactado pelo
Furacão Catarina, fenômeno incomum no Atlântico sul. Em Os impactos destes eventos podem
agosto de 2005, um tornado atingiu o município de Muitos perdurar por longos períodos de acordo com a capacidade de
Capões, estado do Rio Grande do Sul. Em 2008, um evento resposta das populações atingidas e aplicação de políticas
extremamente atípico provocou deslizamentos em extensas para restabelecimento da situação de saúde dessa população.
áreas de Santa Catarina. No Rio de Janeiro, chuvas intensas No Brasil, uma das fontes de dados sobre
provocaram deslizamentos no ano 2010, e em 2011 o mais desastres naturais causados por eventos climáticos extremos
catastrófico desastre natural da história do país ocorreu na são os decretos de situação de emergência ou estado de
região serrana do estado (EM-DAT, 2012). Em Manaus, no calamidade pública, reconhecidos pelo governo federal. A
primeiro semestre do ano de 2009, chuvas intensas sistematização desses dados permite identificar a ocorrência
provocaram cheias que ultrapassaram os limites históricos de desastres naturais, especialmente os de baixa intensidade,
64
64
os quais não levam os municípios a decretarem situação de
emergência, mas já causam prejuízos à sociedade. No
entanto, esses dados devem ser complementados e
comparados a registros de chuvas, ventos e níveis dos rios
de modo a refletir a variabilidade climática e suas
tendências a médio e longo prazo. Por outro lado, é
necessário selecionar e acompanhar eventos de saúde
(internações, notificações de agravos, óbitos) que permitam
detectar e avaliar o impacto dos eventos extremos sobre a
saúde da população. Outra questão relevante é que as
A sistematização desse conjunto de informações levantadas pela Defesa Civil descrevem como se
dados é um dos caminhos para suprir a falta de dados deu a ocorrência do desastre, embora não sejam padronizadas
organizados sobre desastres naturais e eventos climáticos e sempre incluídas, informações quantitativas sobre o
extremos no Brasil. A continuidade dessa sistematização processo desencadeador do evento. Por exemplo, em
permitirá em longo prazo, a formação de um importante decretos de inundações a informação sobre a quantidade de
banco de dados sobre desastres. chuva, ou em secas o número de dias sem chuva. Os órgãos
Apesar de disponíveis e com melhor governamentais meteorológicos dispõem destes dados,
qualidade, as informações capazes de descrever o processo entretanto não existe uma interface de inclusão destas
de desastre natural ainda estão dispersas no diferentes informações. Além disso, as informações levantadas no
sistemas de informação disponíveis. O Ministério da momento dos desastres apontam apenas os impactos
Integração dispõe de uma base de dados com série histórica imediatos e diretos do evento, os impactos em médio prazo e
a partir de 2003 com os desastres naturais reconhecidos longo prazo não são contabilizados, embora estejam
pelo Governo Federal e são estes decretos reconhecidos disponíveis nos sistemas de saúde, e, em alguns casos, podem
que implicam na ajuda do Governo Federal para apresentar maior relevância que os impactos imediatos
enfrentamento do desastre. O processo de decreto de (XAVIER et al, 2014).
situação de emergência ou estado de calamidade pública Os desastres naturais refletem a
exige as informações disponíveis no AVADAN (Formulário de necessidade de preparo dos serviços governamentais para
Avaliação de Danos) e no FIDE (Formulário de Informações contenção dos efeitos imediatos que estas situações impõem,
do Desastre) (BRASIL, 2013) e estes documentos trazerem bem como gerenciamento dos problemas tardios oriundos
informações sobre danos humanos, contudo inexiste um destes fenômenos. Para isso, é necessário avaliar variáveis
banco de dados unificado que aponte tantos os decretos contextuais, não apenas ambientais (físicas, químicas
reconhecidos e seus impactos descritos pela Defesa Civil. e/biológicas), mas aquelas que promovam o entendimento
sobre a estrutura e dinâmica social, política e econômica,
tendo foco diferentes dimensões do desenvolvimento
socioeconômico, com o objetivo de propor políticas públicas
de prevenção e decisões específicas em áreas vulneráveis.
Os impactos com gênese em eventos
climáticos extremos exigem medidas prévias com a finalidade
de que não se instale o caos na saúde da população exposta.
65
65
padrão observado em séries históricas de dados dos rios da região e inundaram a cidade, desabrigando
meteorológicos. Os eventos extremos meteorológicos estão inúmeros residentes. No ano seguinte, foi registrada uma das
relacionados com a manifestação de uma determinada maiores secas da história, e em 2012 novamente ocorreu uma
variável meteorológica, sem que se observe de fato, cheia que superou a cheia de 2009 (SILVA, 2014).
alteração da variabilidade desta variável ou longo do tempo. Segundo o IPCC (2007), os impactos à
Por exemplo, chuvas intensas que provoquem inundações saúde decorrentes de eventos extremos podem ser divididos
em um determinado local e que não apresentem em imediatos, em médio prazo e em longo prazo. Os impactos
recorrência ao longo das observações históricas. Os imediatos incluem óbitos, afogamento, soterramento e
desastres naturais, por sua vez, são classificados segundo a ferimentos traumáticos. Em médio prazo podem ocorrer
ocorrência de eventos extremos meteorológicos e seus doenças devido à ingestão ou contato com água e alimentos
impactos na população humana. Desse modo, chuvas por si contaminados (cólera, hepatite A, leptospirose), resultantes
só não produzem desastres, mas outros fatores, como o de superpopulação em condições inadequadas de habitação.
processo de ocupação do espaço, determinam se um evento Em longo prazo, após as enchentes, pode ocorrer o
meteorológico extremo pode ou não provocar um desastre crescimento de fungos que resultam em aumento de
(MARENGO et al, 2010). manifestações alérgicas, depressão, fraturas devido ao
No Brasil no período entre 1991 e 2010 processo de reconstrução, insegurança alimentar e falta
ocorreram 38.996 registros de desastres, 22% (8.5151) d’água, em casos de secas extremas, entre outros impactos
ocorreram na década de 1990, 56% (21.741) ocorreram na (FREITAS et al, 2014).
década de 2000 e os outros 22% (8.740) ocorreram a partir
do ano de 2010 e somente no ano de 2012 ocorreram 10%
do total de eventos (UFSC/CEPED, 2013). Apesar dos
números apontarem aumento na frequência de eventos
extremos, principalmente por conta da melhora do sistema
de informação e de registros da Defesa Civil, a gravidade
destes eventos e a recorrência de eventos de grande
gravidade, parece apresentar um padrão de maior
incidência, e esse comportamento não pode ser relacionado
unicamente à melhoria do sistema de registros. Em março
de 2004, o litoral gaúcho e catarinense foi impactado pelo
Furacão Catarina, fenômeno incomum no Atlântico sul. Em
agosto de 2005, um tornado atingiu o município de Muitos
Capões, estado do Rio Grande do Sul. Em 2008, um evento
extremamente atípico provocou deslizamentos em extensas
áreas de Santa Catarina. No Rio de Janeiro, chuvas intensas
provocaram deslizamentos no ano 2010, e em 2011 o mais
catastrófico desastre natural da história do país ocorreu na
região serrana do estado (EM-DAT, 2012). Em Manaus, no
primeiro semestre do ano de 2009, chuvas intensas Região Serrana Fluminense, 2011: Marino Azevedo/Governo do Estado do Rio de Janeiro
67
67
DESASTRES DE ORIGEM HIDROLÓGICA DESASTRES DE ORIGEM GEOFÍSICA E GEOLÓGICA
As inundações que ocorrem no país Os desastres de origem geofísica e geológica dizem respeito a
podem ser classificadas como alagamentos, inundações grandes deslizamentos e corridas de massas, eventos quase
bruscas e inundações graduais. As inundações bruscas e os sempre associados a elevados volumes pluviométricos que
alagamentos são mais frequentes em áreas urbanas com atingem áreas de encostas e onde a ocupação se deu de forma
pouca drenagem e escoamento de água de chuvas, e desordenada. Os eventos geofísicos e geológicos apresentam
municípios em vales e serras próximos a rios. As inundações pouca frequência, entretanto a maior taxa de letalidade é
graduais são mais comuns em áreas da Amazônia brasileira, observada nestes eventos (Xavier et al, 2014). Os desastres de
onde grandes rios caudalosos da região apresentam origem geofísica e geológica se concentram, principalmente,
comportamento de cheias e vazantes determinados, e em em áreas de serra como na Serra Fluminense e no Vale do
situação de cheias extremas provocam desastres. Itajaí (Brasil, 2014).
Inundações bruscas
Vulnerabilidade
Pessoas afetadas
68
68
Referências Bibliográficas
ALPINO, TAIS ARIZA ; SENA, ADERITA RICARDA MARTINS DE OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. Ministério da
; FREITAS, CARLOS MACHADO DE . Desastres relacionados à Saúde. Desastres Naturais e Saúde no Brasil. Brasília, DF: XAVIER, DIEGO RICARDO , BARCELLOS, CHRISTOVAM ,
seca e saúde coletiva ? uma revisão da literatura científica. OPAS, Ministério da Saúde, 2014. 49 p:. il. (Série FREITAS, CARLOS MACHADO DE . Eventos climáticos extremos
Ciência & Saúde Coletiva (Online), v. 21, p. 809-820, 2016. Desenvolvimento Sustentável e Saúde, 2). e consequências sobre a saúde: o desastre de 2008 em Santa
Catarina segundo diferentes fontes de informação. Ambiente
& Sociedade (Online), v. 17, p. 273-294, n. 2014.
de Freitas, C. M., Silva, D. R. X., de Sena, A. R. M., Silva, E. L., RUFINO, RENATA ; GRACIE, RENATA ; SENA, ADERITA
Sales, L. B. F., de Carvalho, M. L., ... & Costa, A. M. (2014). ; FREITAS, CARLOS MACHADO DE ; BARCELLOS, Christovam .
Natural disasters and health: an analysis of the situation in Surtos de diarreia na região Nordeste do Brasil em 2013,
Brazil. Ciência & Saúde Coletiva, 19(9), 3645. segundo a mídia e sistemas de informação de saúde ?
Vigilância de situações climáticas de risco e emergências em XAVIER, DIEGO RICARDO; BARCELLOS, CHRISTOVAM ;
saúde. Ciência & Saúde Coletiva (Online), v. 21, p. 777-788, FREITAS, CARLOS MACHADO DE . Eventos climáticos extremos
EIRD. Marco de Acción de Hyogo para 2005-2015: Aumento 2016. e consequências sobre a saúde: o desastre de 2008 em Santa
de la resiliencia de las naciones y las comunidades ante los Catarina segundo diferentes fontes de informação. Ambiente
desastres. Japón: EIRD, 2005. SENA, ADERITA ; EBI, KRISTIE L. ; FREITAS, CARLOS ; & Sociedade (Online), v. 17, p. 273-294, 2014.
CORVALAN, CARLOS ; BARCELLOS, Christovam . Indicators to
measure risk of disaster associated with drought: Implications Xavier, DR; FREITAS, CARLOS MACHADO DE ; Barcellos, C ;
EM-DATA/CRED. The International Disaster Database / Centre for the health sector. PLoS One, v. 12, p. e0181394-16, 2017. SILVA, ELIANE LIMA . Emergência em saúde pública por
for Research on the Epidemiology of Disaster. Classification. inundações e deslizamentos: os impactos das chuvas sobre a
2009. Disponível em:< http://www.emdat.be/classification> . saúde. Saúde Brasil 2013: uma análise da situação de saúde e
Acessado em: 16 abr. 15. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Centro das doenças transmissíveis relacionadas à pobreza. In: Jarbas
Universitário De Estudos E Pesquisas Sobre Desastres Barbosa da Silva Jr. (Org.). Saúde Brasil 2013. 1ed.Brasília-DF:
(CEPED). Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2012. Ministério da Saúde, 2014, v. 10, p. 195-224.
GURGEL, H. C. ; Barcellos, C ; Xavier, DR . Desastres climáticos 2º ed. ver. ampl. – Florianópolis, 2013. 126P.
e saúde humana: riscos e vulnerabilidades.. In: Francisco
Mendonça. (Org.). Riscos Climáticos. 1ed.Jundiaí-SP: PACO,
2014, v. 1, p. 1-388. XAVIER, DIEGO RICARDO , BARCELLOS, CHRISTOVAM ,
BARROS, HEGLAUCIO DA SILVA , MAGALHÃES, MONICA DE
AVELAR FIGUEIREDO MAFRA , MATOS, VANDERLEI PASCOAL
IPCC, 2007. Climate change 2007: synthesis report [Internet]. DE , PEDROSO, MARCEL DE MORAES . Organização,
XXVII Plenária do Painel Intergovernamental sobre Mudança disponibilização e possibilidades de análise de dados sobre
do Clima; 12-17 de novembro de 2007; Valência, Espanha. desastres de origem climática e seus impactos sobre a saúde
Genebra: IPCC; 2007. Disponível em: no Brasil. Ciência e Saúde Coletiva (Impresso), Artigo
https://www.ipcc.ch/pdf/assessment- Publicado - JCR v. 19, p. 3657-3668, n. 2014.
report/ar4/syr/ar4_syr_full_report.pdf Acesso em 14/08/2-17
69
69
MÓDULO 5 - Métodos Quantitativas em Análise de
Situação de Saúde e Clima.
Neste módulo busca-se apresentar diferencia de um trabalho acadêmico é sua continuidade de
técnicas de análise que podem ser aplicadas aos dados avaliação por longo de períodos. Desse modo, a
disponibilizados no Observatório Nacional de Clima e Saúde retroalimentação dos sistemas de informação é essencial para
no emprego da Analise de Situação de saúde e Clima. Os a avaliação, sua eventual reformulação e aprimoramento,
métodos não serão exaustivamente abordados, embora sejam proposição e formulação de intervenções, monitoramento e
apresentados e discutidas questões conceituais sobre analise avaliação dos resultados.
de tempo e espaço, na perspectiva de clima e saúde. Algumas abordagens referentes à análise
Inicialmente é importante ressaltar que as de situação de saúde podem ser destacadas, por exemplo; as
informações contidas nos sistemas de informação são análises de tendência que buscam avaliar mudanças da
utilizadas para subsidiar análises de situações de saúde que situação de saúde a médio e longo prazo, o que subsidia a
vão além da identificação de padrões de incidência ou elaboração de cenários e a avaliação de políticas; a avaliação
prevalência de um determinado agravo de saúde. A análise de de efeito ou impacto em saúde que busca sistematicamente o
situações de saúde corresponde a uma área da vigilância da entendimento e a influência de uma determinada ação ou
saúde que considera grupos populacionais, particularmente programa; e a análise de conjuntura que considera o contexto
vulneráveis, definidos em função de suas condições de de situações definidas transversalmente e busca avaliar e
vida/exposição a situações adversas (desastres naturais, monitorar desigualdades em saúde segundo grupos
contaminações etc.) (BARCELLOS et al., 2002). Ou seja, trata- socioeconômicos distintos, e fornecem elementos
se de um processo analítico e sintético que caracteriza empiricamente robustos para a discussão sobre iniquidades
mensura e discute o processo de adoecimento de uma em saúde (BRASIL, 2015). Para essas avaliações é primordial a
população, descrevendo danos ou problemas de saúde e seus aplicação de técnicas de análise no tempo e no espaço em
determinantes. Esse processo contribui para a identificação de dados agregados.
necessidades e prioridades em saúde, subsidiando
intervenções, programas apropriados, assim como o Análises de séries temporais
monitoramento e avaliação de seus impactos (OPAS, 1999).
Séries temporais, também denominada
Nesse sentido, os dados secundários dos
série histórica, são sequência de dados obtidos em intervalos
sistemas de informação em saúde de base nacional oferecem
regulares de tempo durante um período específico (LATORRE
vantagens relevantes para a análise da situação de saúde,
et al., 2001). Este tipo de dado apresenta relação de
como a oportunidade de intervenção e a utilização de séries
dependência da informação observada com as informações
históricas de dados, validade externa dos achados, relativa
vizinhas, e é esse comportamento que se busca modelar
simplicidade dos procedimentos necessários ao uso das bases
através de técnicas de análise distintas. As análises de séries
de dados e menor custo (frente a pesquisas empíricas
temporais buscam descrever o comportamento/dinâmica da
originais). As desvantagens dizem respeito à qualidade dos
série, elaborar estimativas e, por fim, avaliar quais os fatores
dados e cobertura do sistema de informação (BRASIL,
que influenciaram o comportamento da série histórica.
2015).As análises de situação de saúde apresentam diversas
abordagens metodológicas e um importante fator que as
70
70
A análise pode também buscar definir Nas séries históricas não estacionárias
relações de causa e efeito entre duas ou mais séries (por observa-se variação constante dos dados entorno de uma
exemplo, entre variáveis sociodemográficas e ocorrência de média (figura - cotas Rio Negro). Desse modo, diz-se que a
agravos). Um conjunto de técnicas estatísticas pode ser série não apresenta tendência ou apresenta tendência
utilizado dependendo do modelo proposto para a análise, estacionária. Nas séries não estacionárias os dados
com base na estrutura da série analisada e do objetivo do apresentam tendência crescente ou decrescente (PORTA,
trabalho (LATORRE et al., 2001). 2014).
As séries temporais podem ser Três componentes básicos compõem
classificadas em séries determinísticas, quando seu uma séries temporal, são eles: a tendência que expressa o
comportamento futuro pode ser descrito perfeitamente por comportamento da série ao longo do tempo; a
uma função matemática, ou estocástica quando é composta sazonalidade, que é a variação ondulatória que ocorre em
por um componente determinístico e um componente uma série temporal no intervalo de um ano, em geral
aleatório, que trás um grau de incerteza para previsão do pronunciada (daí a utilização eventual de métodos de
comportamento futuro da série. Na prática, as séries de dados dessazonalização (MCLEOD et al., 2013), e o componente
de saúde apresentam esse componente aleatório que pode aleatório ou ruído branco não modelável, atribuído ao
ser descrito como uma variação (erro) da série atribuída ao acaso ou evento não esperado no contexto da série (DIGGLE,
acaso . 1992). Ainda podem ser considerados ciclos que são
Como classificação, as séries temporais variações que ocorrem em períodos mais longos de tempo.
ainda podem ser estacionárias e não estacionarias, e esses Os componentes da série temporal apresentam um
comportamentos influenciam na escolha do modelo relacionamento aditivo ou multiplicativo que descrevem a
estatístico mais adequado para analise da séries. série (MORETTIN et al., 1985; DIGGLE, 1992; LATORRE et al.,
2001).
estende até que se esgote o número de suscetíveis. A curva sequência de dados obtidos segundo sua localização
pode apresentar várias ondas epidêmicas (BRASIL, 2009). geográfica. Neste tipo de informação, assim como nas séries
de tempo, as observações apresentam relações com
observações vizinhas e busca-se analisar esse
comportamento, incorporando o espaço.
A avaliação dos contextos onde estão
inseridas as unidades de análise e suas vizinhanças tornam-se
de extrema importância para os processos de disseminação
das doenças. Se o tempo pode indicar quando a disseminação
de um determinado problema de saúde, as análises no
domínio de espaço indicam onde.
Esta abordagem permite manejar dados
espaciais de diferentes formatos e obter informações
adicionais a partir destes dados (BAILEY, 1994). A
popularização de ferramentas de Sistemas de Informação
Geográfica (SIG) e a disponibilidade de infraestrutura
computacional têm contribuído para o avanço da área na
saúde pública. O espaço tem valor inerente na análise das
relações entre saúde, sociedade e ambiente. Desse modo, a
análise espacial de condições de saúde pode constituir um
instrumento importante na avaliação do impacto de processos
estruturas sociais e na determinação de eventos de saúde
(BARCELLOS et al., 2002).
O geoprocessamento carrega o conceito
de processamento informatizado de dados georreferenciados
Adaptado de Xavier et al., 2014 utilizando os Sistema de Informação Geográfica (SIG), que
saúde auxiliam na compreensão do processo de adoecimento digital e os sistemas de gerenciamento de bancos de dados
de uma população como demonstrado nas figuras acima. espaciais, que permitem conectar dados numéricos e de texto
Contudo, deve-se considerar a história natural da doença, a aos objetos dos mapas.
defasagem entre o contágio e as manifestações clínicas e o Quatro etapas fundamentais podem ser
lugar que apresenta fatores econômicos, sociais, históricos , descritas e devem ser seguidas para o trabalho com séries
entre outros fatores, que ajudam a entender como o clima espaciais. A primeira delas trata da aquisição de informações
pode afetar na manifestação de determinados agravos de tabulares e gráficas, ajuste e padronização de informações ,
73
73
O trabalho com dados espaciais requer
Geográfica).
https://www.capacita.geosaude.icict.fiocruz.br/.
Fonte: Ramalho et al., 2007
A segunda etapa consiste do É necessário destacar que a estrutura
gerenciamento do banco de dados importados para que as informações espaciais assumem como representação
ambientes SIG. Como as informações são relacionadas geográfica são distintas e implicam tratamento diferenciado.
através de indexadores que trazem o atributo espacial é Os dados espaciais podem assumir formato matricial que
possível incluir informações de diversas fontes de dados e consiste numa matriz onde cada quadrícula dessa matriz de
relacioná-las considerando sua posição geográfica. Desse linhas e colunas assume um valor. Este tipo de estrutura é
modo, formatos distintos de informações com diferentes usualmente utilizada em dados climáticos.
representações geográficas podem ser incluídos. Contudo, é
A outra estrutura de informação espacial
necessário respeitar a estrutura do banco de dados
são os dados vetorias que podem ser classificados como
elaborado de modo que se torne possível realizar o
dados de linhas, pontos e dados de polígonos. Estes dois
relacionamento das informações.
últimos são estruturas de dados são usualmente utilizadas
A terceira etapa trata da visualização para aquisição e gerenciamento de informações de saúde.
gráfica das informações relacionadas dentro do ambiente
(BRASIL, 2015).
74
74
Pontos – guardam um par de coordenadas e são
utilizados para representação de eventos de saúde ou
mesmo municípios em pequenas escalas.
correlação de uma mesma variável entre as unidades de desenvolvido estudos voltados à detecção de aglomerados de
análise do fenômeno estudado a partir de uma matriz de eventos, em áreas específicas ou conjuntos de casos
vizinhança. As técnicas mais conhecidas para essas análises georreferenciados, modelos de regressão espacial ecológica
são os índices de Moran e Geary locais e globais esta análise para identificação de variáveis associadas a áreas sob maior
permite identificar clusters, e consequentemente, possíveis risco, identificação de redes de atenção, análise ambiental e
Em determinadas situações ocorrem exposição ou risco (BECK et al., 2000). Nos serviços de saúde o
flutuações aleatórias dos indicadores devido a pequenos uso de ferramentas de SIG contribui para definição da área de
números no indicador, técnicas como média móvel espacial e cobertura de unidades de saúde (CARVALHO et al., 2005). Os
estimadores bayesianos podem ser empregados para modelos de estatística espacial empregados em estudos
suavização dos dados no espaço, além disso formas diretas de consideram explicitamente a possível importância do arranjo
agregação dos indicadores em períodos também são espacial na análise ou interpretação dos resultados (BAYLEY;
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Antunes JL, Waldman EA, Borrell C, Paiva TM. Effectiveness of influenza vaccination and its impact on LATORRE, Maria do Rosário Dias de Oliveira; CARDOSO, Maria Regina Alves. Análise de séries temporais
health inequalities. Int J Epidemiol. 2007 Dec;36(6):1319-26. em epidemiologia: uma introdução sobre os aspectos metodológicos. Rev. bras. epidemiol., São Paulo , v.
4, n. 3, p. 145-152, Nov. 2001
Bailey TC. A review of statistical spatial analysis in geographical information systems. In: Fotheringham S,
Rogerson P. Spatial analysis and GIS. Londres: Taylor & Francis; 1994. p.13-44. MCLEOD, A. Ian; GWEON, Hyukjun. Optimal deseasonalization for monthly and daily geophysical time
series. Vol. 4, Issue 11, Apr 2013
Barcellos, C. D. C., Sabroza, P. C., Peiter, P., & Rojas, L. I. (2002). Organização espacial, saúde e qualidade
de vida: análise espacial e uso de indicadores na avaliação de situações de saúde. Informe epidemiológico Morettin PA, Toloi CMC. Previsão de séries temporais. 2ª . ed. São Paulo:Atual Editora; 1985.
do SUS, 11(3), 129-138.
Porta M. A dictionary of epidemiology. 6th ed. New York: Oxford University Press; 2014.
BECK, Louisa R.; LOBITZ, Bradley M.; WOOD, Byron L. Remote sensing and human health: new sensors and
new opportunities. Emerging infectious diseases, v. 6, n. 3, p. 217, 2000. SANCHES, Odécio. Princípios básicos de procedimentos estatísticos aplicados na análise de dados de
vigilância em saúde pública: uma revisão. Cad Saúde Pública, v. 16, p. 317-33, 2000.
Benjamin, R.A.; Rigby, M.A.; Stasinopoulos, M.D. (2003), Generalized autoregressive moving average
models. Journal of the American Statistical Association, 98(461), 214-223. The National Academies Press. " Front Matter ." Decade-to-Century-Scale Climate Variability and Change: A
Science Strategy [Internet].
Brasil, Ministério da Saúde. Sistemas de Informação em Saúde e Vigilância Epidemiológica. In: Guia de Washington, DC; 1998 [acessado em 2014 jan 21] Disponível em:
Vigilância Epidemiológica. 7ª Ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2009. p. 63-71. http://books.nap.edu/openbook.php?record_id=6129.
Brasil. Ministério da Saúde. Asis - Análise de Situação de Saúde / Ministério da Saúde, Universidade Federal Trevor Hastie (2013). gam: Generalized Additive Models. R package version 1.09. http://CRAN.R-
de Goiás. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015. 3v. : il. project.org/package=gam
Câmara G, Monteiro AM, Fucks SD, Carvalho MS. Análise espacial e geoprocessamento. INPE 2001 [livro na Xavier, DR; FREITAS, CARLOS MACHADO DE ; Barcellos, C ; SILVA, ELIANE LIMA . Emergência em saúde
Internet] pública por inundações e deslizamentos: os impactos das chuvas sobre a saúde. Saúde Brasil 2013: uma
análise da situação de saúde e das doenças transmissíveis relacionadas à pobreza. In: Jarbas Barbosa da
CARVALHO, Marilia Sá; SOUZA-SANTOS, Reinaldo. Análise de dados espaciais em saúde pública: métodos, Silva Jr. (Org.). Saúde Brasil 2013. 1ed.Brasília-DF: Ministério da Saúde, 2014, v. 10, p. 195-224.
problemas, perspectivas Analysis of spatial data in public health: methods, problems, and perspectives.
Cad. Saúde Pública, v. 21, n. 2, p. 361-378, 2005
Diggle PJ. Time series: a biostatistical introduction. Oxford:Oxford University Press; 1992.
75
75
MÓDULO 6 - Aquisição de Informações de Clima,
Ambiente e Saúde. Observatório Nacional de Clima e
Saúde
Observatório de Clima e Saúde
O projeto Observatório Nacional de Clima A terceira fase, voltada para a
e Saúde vem disponibilizando informações sobre clima e comunicação, tem como alvo os possíveis usuários do sistema:
saúde por meio de uma página na Internet, onde podem ser gestores, especialistas e cidadãos. Percebe-se, portanto, que a
acessados dados de diferentes origens em uma plataforma simples disponibilização de dados não permite a realização
comum.As oficinas e grupos de trabalho instituídos no âmbito plena dos objetivos do Observatório, sendo necessário
do Observatório tiveram como um dos resultados um também promover o debate entre esses usuários sobre as
diagnóstico sobre a situação atual dos dados sobre clima, tendências e eventos relacionados com as mudanças
ambiente, população e saúde. Este levantamento permitiu climáticas. Estas fases de implantação contribuíram para a
desenvolver alternativas tecnológicas para o acesso seleção de dados e indicadores que estão sendo utilizados
distribuído e integrado a estas bases de dados. As diversas para estudos e monitoramento dos efeitos das mudanças
necessidade de levantamento e reunião de dados sobre clima, www.climasaude.icict.fiocruz.br. O acesso a dados é livre e
ambiente, população e saúde. A segunda fase, de análise de gratuito, podendo ser feito a partir de uma janela de mapa, ou
dados, é constituída pela junção entre experiências, técnicas e na seção Indicadores, onde são listados indicadores de saúde
teorias e subsidiada pelo acesso a dados. que podem ser visualizados no mapa ou em gráficos.
76
76
O Observatório de Clima e Saúde é integrante da Rede Brasileira de pesquisa sobre Mudanças Climáticas
Globais, coordenada pelo INPE e tem a missão de gerar e disseminar conhecimentos para que o Brasil, por meio de seus
pesquisadores, responda aos desafios representados pelas causas e consequências das mudanças climáticas globais. A Sub-Rede
Mudanças Climáticas e Saúde agrega uma equipe interdisciplinar de pesquisadores nacionais e internacionais que integra
diferentes campos do conhecimento e reflete o processo coletivo de desenvolvimento de estudos e pesquisas que ao longo do
tempo são traduzidas em dados e informações que estão subsidiando ações de ensino e capacitação, assessorias técnicas-
científicas, evidencias para as políticas públicas.
77
77
Áreas de Alerta – Sítios Sentinelas
• Mudanças do clima, alteração de ecossistemas e
As informações do Observatório buscam, expansão das áreas de transmissão de doenças
entre outros serviços, dar suporte para ampliação de relacionadas a vetores;
pesquisa, desenvolvimento e inovação envolvendo as relações
• Eventos meteorológicos e climáticos extremos e os
entre as mudanças ambientais e climáticas e seus efeitos
agravos gerados por impacto direto (causas externas)
sobre a saúde da população. Também busca proporcionar
de ondas de calor, ciclones tropicais e extratropicais,
subsídios à tomada de decisão dos gestores, através da
inundações desabamentos de encostas e secas;
habilitação da comunicação destas informações no âmbito
É importante destacar que os impactos
governamental e junto à sociedade.
dessas mudanças sobre a saúde são extremamente
Os dados do observatório estão
diferenciados, dependendo da vulnerabilidade dos grupos
organizadas em temas específicos e os indicadores foram
populacionais e de sua resiliência.
definidos em reuniões específicas com especialistas, gestores
Em Porto Velho foi realizada um oficina
e sociedade civil. Os temas debatidos nas oficinas consistiram
sobre qualidade do ar e agravos de saúde relacionados com a
em :
poluição atmosférica, sobretudo, derivada de queimadas na
• Crise de escassez da água e o aumento dos riscos de
Amazônia. Em Manaus e Brasília foram realizadas oficinas que
incidência de Doenças Relacionadas ao Saneamento
discutiram problemas relacionados a água . No rio de Janeiro
Ambiental Inadequado (DRSAI) que engloba doenças
foram realizadas oficinas que discutiram doenças de
de veiculação hídrica, transmitidas por vetores, por
transmissão vetorial (dengue febre amarela e leishmaniose) e
falta de higiene, por contato com águas contaminadas;
eventos extremos. Nestas oficinas foram selecionadas
• Poluição atmosférica, queimadas e a potencialização indicadores e fontes de dados que foram reunidos e estão
dos efeitos sobre doenças respiratórias e disponíveis no sistema de informação do Observatório.
cardiovasculares;
78
78
Sistema de Indicadores
As consultas no sistema podem ser realizadas através de tabulações nas quais o usuário pode relacionar
informações sobre determinantes socioambientais, dados climáticos e indicadores de saúde. Os dados podem visualizados
através de gráficos ou podem ser baixados através de tabelas em formato .csv ou .xls e transportadas para softwares de
79
79
As pesquisas mais detalhadas em Na Amazônia, o foco recai sobre a
lugares específicos com refinamento dos indicadores são água e doenças relacionadas à água e ao saneamento,
como hepatite A, leptospirose, dentre outras; link:
agrupadas nos chamados Sítios Sentinelas ou Áreas de
http://www.climasaude.icict.fiocruz.br/manaus/ .No
Alerta segundo os temas selecionados:
Cerrado e partes da Amazônia legal, a preocupação se dá
Queimadas poluição e problemas respiratórios e com as queimadas e o aumento de doenças
cardiovasculares respiratórias; link:
80
80
A participação da Sociedade Civil no monitoramento e nas
decisões sobre Clima e Saúde
Entrada de informação
Georreferenciamento do dado
81
81
82
82