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Apostila ANTROPOLOGIA
Apostila ANTROPOLOGIA
Apostila ANTROPOLOGIA
ANTROPOLOGIA
GUARULHOS – SP
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 3
2.2 Ramos da antropologia.......................................................................................... 8
2
6.2 Estratégias e objetivos da etnografia ................................................................... 47
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
3
2 HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA
4
Cabe enfatizar que a antropologia é um movimento epistemológico importante
no pensamento científico, pois o homem deixa de se perceber como o “centro da
humanidade” e passa a olhar o outro, a fim de acessar, conhecer, estudar e
compreender o seu modo de habitar o mundo. Ou seja, perceber-se em meio a
outros é um exercício de reflexão que nos desloca a compreender as múltiplas
possibilidades de viver em sociedade, apreendendo que não cabe impor um único
estilo de vida para todos os seres humanos (LAPLANTINE, 2003, p. 12).
5
O autor François Laplantine, antropólogo francês, na obra Aprender
antropologia (1989), afirma que o conceito de homem e a fundação de uma ciência
para estudar, não apenas especular, as questões e complexidades próprias da
existência humana ocorreram somente a partir do século XVIII:
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fontes de pesquisa, os antropólogos podem utilizar desde livros, documentos e
objetos até depoimentos, vivências e observação (LAPLANTINE, 1989).
Dessa forma, os principais métodos de estudo utilizados na antropologia
envolvem pesquisas de campo, como a etnografia e a observação participante —
que consiste basicamente em vivenciar experiências e práticas de outras culturas,
com imersão, para entendê-las. Essas pesquisas foram desenvolvidas por
importantes antropólogos ao longo da história, como:
o antropólogo polaco Bronislaw Malinowski, que conviveu com povos
nativos australianos no século XX e registrou os seus estudos etnográficos
no livro Os argonautas do Pacífico Ocidental;
o americano Franz Boas, que estudou povos nativos e esquimós norte-
americanos;
o francês Marcel Mauss, que estudou a reciprocidade entre sociedades,
além de religiões e sociedades esquimós;
o francês Claude Lévi-Strauss, que escreveu sobre antropologia estrutural,
mitos e parentesco, além de ter vivido alguns anos no Brasil, considerado
fundador do estruturalismo na antropologia;
o estadunidense Clifford Geertz, da antropologia contemporânea, realizou
estudos de campo e publicou obras como O saber local: novos ensaios em
antropologia interpretativa.
9
Antropologia social — abrange a inserção do homem na estrutura social, que
envolve as diferentes sociedades e instituições; considera as diferenças existentes
entre grupos humanos e as relações sociais travadas nos diferentes âmbitos da vida
social, como o familiar, o econômico, o político, o religioso e o jurídico.
10
conhecer a cultura de uma sociedade que não mais existe a partir dos seus vestígios
materiais permite acessar elementos que compõem a identidade dessa sociedade.
Como o arqueólogo Pedro Funari (2013, p. 101) reforça sobre essa disciplina, “a
criação e a valorização de uma identidade nacional ou cultural relacionam- -se,
muitas vezes, com a Arqueologia”.
A metodologia utilizada para esse trabalho também é científica, uma vez que
a disciplina estabelece procedimentos sistemáticos para acessar os objetos e
desenvolve um arcabouço teórico para interpretar a relação entre esses objetos e os
antepassados. Conforme Bahn e Renfren (1998), os passos e técnicas empregadas
na Arqueologia envolvem: o levantamento de informações sobre o local, que pode
ser através da escrita ou da oralidade; a prospecção do local, que são intervenções
no subsolo para buscar primeiros vestígios materiais para definir a área de interesse;
a escavação da área, que pode ser realizada com a utilização de instrumentos
elétricos ou mesmo com a ajuda de objetos usando a força humana; e a análise
arqueológica, que é quando os materiais, encontrados nos sítios arqueológicos, são
levados para análise no laboratório.
Esses locais onde ocorre o trabalho de campo são os chamados sítios
arqueológicos. Nesses sítios, existem indícios de ocupação humana no passado, e,
a partir de uma pesquisa arqueológica, podem ser encontrados diversos materiais
que denotam a vida de sociedades antepassadas, como: ossos humanos,
artesanatos, cerâmicas, pedras, representações rupestres, restos de alimentos,
entre outros. Sobre esses “dados”, o arqueólogo Gordon Childe (1961, p. 11) lembra
que “Todos os dados arqueológicos constituem expressões de pensamentos e de
finalidades humanas e só tem interesse como tal”.
Assim, analisando o material colhido, tanto de cunho cultural como biológico,
é possível compreender as mudanças e proximidades entre o modo de vida dessas
sociedades com as culturas atuais. Nesse sentido, até mesmo o avanço tecnológico
pode ser estudado por meio dos instrumentos e ferramentas descobertas, como as
lanças feitas de pedras lascadas.
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3.2 Antropologia linguística
Uma das principais questões que diferencia os animais dos seres humanos é
a linguagem. Ainda que os animais emitam som em sua comunicação, há um limite
nesse alcance comunicativo. Já a complexa linguagem humana é um atributo
relevante do desenvolvimento dos seres humanos, uma vez que, através dela,
acessamos o modo como os indivíduos vivem e se relacionam. Segundo a teoria da
gramática universal (VITRAL, 1998), existem aspectos sintáticos da linguagem que
são comuns a todas as línguas do mundo. Então, essa linguagem permeia uma
gramática bastante desenvolvida há milhares de anos, o que torna possível refletir
sobre as características universais da língua, que se difundem pelas culturas
existentes.
Um profundo estudioso no assunto, o antropólogo e linguista alemão Edward
Sapir fez uma análise, em sua obra Language (1921), de que as próprias culturas
poderiam ser pensadas como linguagens, uma vez que ele estava interessado
justamente em como as formas culturais – e então as linguagens – são apropriadas
e recriadas para expressar a comunicação de outras sociedades. Cabe perceber que
até uma mesma língua, como o português, por exemplo, pode ter variações
interpretativas e utilizações de palavras com formas distintas a partir das mudanças
de sons, diferenças gramaticais e de vocabulário.
Assim, também é possível fazer a reconstituição de línguas antigas
comparando com a linguagem dos descendentes contemporâneos, traçando, então,
um paralelo cultural histórico e desvendando relações entre sociedades que
estabeleceram trocas culturais e influenciaram umas às outras. Pela linguagem,
descobre-se como os povos avaliam, classificam, separam e percebem o que está
em torno deles, sendo que esse modo de ver o mundo traz a especificidade cultural
e até mesmo as relações desta sociedade com as outras que foram contemporâneas
a ela.
Ao mesmo tempo, questões culturais que envolvam os estudos de linguagem
podem ser estudadas e aprofundadas por outras disciplinas. Uma dessas áreas, que
a pesquisa sobre o assunto pode ser bastante frutífera, é a área da Educação, como
diz Collins (2015, p. 1197):
12
O campo da antropologia linguística, por causa de sua ênfase no significado
interacional situado e seu estudo intensivo de eventos comunicativos e
princípios estruturantes interevento, tem contribuições específicas para dar
à pesquisa educacional sobre práticas de letramento.
13
3.4 Antropologia social e cultural
15
Logo, podemos dizer que a Antropologia foi ganhando feições e apostando
em subáreas de conhecimento conforme as especificidades estudadas sobre o
homem, como: a Antropologia da Saúde, Antropologia da Religião, Antropologia
Visual, Antropologia Urbana, Antropologia da Alimentação, Antropologia Econômica,
Antropologia Política, entre outros. Nesse sentido, criam-se problematizações
teóricas que envolvem os diferentes modos de vida dos indivíduos que convivem na
mesma sociedade (BALI, 2007).
Soma-se a isso a questão de que a antropologia permite desnaturalizar as
ações e as vivências humanas, como algo único e imutável em todas as sociedades,
e ao mesmo tempo permite estudar os elementos culturais em cada contexto social.
Mais do que aprender sobre o Outro, cabe, neste capítulo, questionar a nossa
cultura como a única e a mais importante no universo.
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começará conhecendo como foram os primeiros contatos com povos distantes que
originaram a formação de uma literatura etnográfica.
Nos séculos XVI-XIX, as viagens às Índias, as descobertas realizadas pelos
europeus para expansão colonial e o comércio exterior nos altos mares do Oceano
Pacífico resultaram em relatos, escritos e descrições. Esse material era produzido
por viajantes, aventureiros, missionários, administradores coloniais, sobre a
experiência dos encontros com outras culturas e sociedades, integrando os
primeiros registros do encontro com o outro. As descrições apresentavam, muitas
vezes, esses povos como pitorescos e assustadores, principalmente aqueles que
tinham a prática do canibalismo. Mas, pela forma de se organizar socialmente, de
habitar o mundo e de se comportar, os povos indígenas eram vistos pelos europeus
como seres primitivos, selvagens, mais próximo dos animais do que dos humanos. O
historiador e cronista português Gândavo (2004, p. 135) conta as impressões sobre
os indígenas:
A língua que usam, por toda costa [...] Carece de três letras convém a
saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque
assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e essa maneira vivem
desordenadamente, sem terem além desta conta, nem peso, nem medida.
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4.2 Influências do trabalho antropológico
19
fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a reação,
ou pelo menos a estranheza, em relação aos estrangeiros.
20
Assim, a antropologia passa a desenvolver estudos sobre o homem, mas
esses estudos não são algo focado em um ou outro homem, e sim nas sociedades
humanas como um todo. Com isso, a pretensão da antropologia é de “[...] constituir
os ‘arquivos’ da humanidade em suas diferenças significativas” (LAPLANTINE, 2003,
p. 12).
Mas o que faz o antropólogo? Ele vai a campo e faz etnografia ao conversar
com as pessoas, anotar o que vê e o que dizem, tirar fotos ou fazer vídeos e
pesquisar documentos. Posteriormente, ele produz relatórios, discute com seus
pares e reflete sobre o que viu e ouviu. Ou seja, essa disciplina envolve o fazer
antropológico, que é aprendido na teoria e também no cotidiano de trabalho. Agora
você pode se perguntar o seguinte: quem não é antropólogo pode utilizar algumas
metodologias próprias do fazer antropológico? A resposta é sim. Contudo, para
haver legitimidade, deve-se ter o cuidado de não banalizar as metodologias do fazer
antropológico. É o que evidencia Oliveira (2011, p. 120–121):
Desse modo, você pode perceber que o fazer antropológico implica conhecer
as ferramentas e teorias da área da antropologia, mas também requer certa postura
do pesquisador em meio ao grupo social estudado. Afinal, como o objeto de estudo
é o ser humano, os desafios da pesquisa incluem as formas de relacionamento entre
pesquisadores e pesquisados. A seguir, você vai ver algumas metodologias do fazer
21
antropológico que compõem a cientificidade da disciplina e que a consolidam como
mais um dos campos de estudos das ciências humanas.
A primeira metodologia que você vai conhecer aqui é a etnografia. Ela propõe
a observação e a participação em grupos sociais orientadas por problemas de
pesquisa. Assim, o pesquisador busca se inserir no grupo com certas ideias
preconcebidas, podendo retificá-las ou modificá-las completamente. A proposta de
Malinowski (1998) inclui ficar um longo período de tempo com o grupo para
compreendê-lo, evitando fazer apenas viagens rápidas. Cuche (1999, p. 45) reforça
essa mesma ideia ao dizer que “A transformação de uma etnografia de viajantes
‘que apenas passam’ em uma etnografia de estada de longa duração modificou
completamente a apreensão das culturas particulares”. Então, ainda que o modo de
pesquisar cada grupo social tenha suas especifidades, cabe compreender os
principais pontos a que o pesquisador deve estar atento a fim de encarnar uma
postura condizente com o fazer antropológico proposto. Eckert e Rocha (2008, p. 2)
explicam melhor essa questão:
23
O primeiro deles considera o fazer antropológico circunscrito ao trabalho
acadêmico. Antes mesmo de iniciar o estudo, essa questão se impõe como desafio
para o pesquisador. Isso ocorre porque o contexto de realização da pesquisa afeta
diretamente os resultados do estudo. Silva (2009, p. 28) explica melhor esses
pontos:
[...] não se pode esquecer que a antropologia é uma forma de conhecimento
definida segundo os limites impostos pelas regras da academia. O
desenvolvimento do trabalho de campo sofre, portanto, os constrangimentos
relacionados com o modo pelo qual a escolha do tema, das hipóteses e das
perspectivas teóricas, para citar apenas alguns itens presentes num projeto
de pesquisa, é negociada na academia que o acolhe e legitima. E nessa
negociação, além dos “méritos científicos” inerentes ao projeto de pesquisa,
deve-se considerar a influência das políticas acadêmicas (linhas de
pesquisa institucionalizadas, estabelecimentos, reorganização ou
fortalecimento dos núcleos de pesquisadores, afirmação de lideranças
intelectuais, etc.) na escolha dos temas, regiões geográficas, grupos sociais,
etc. que compõem o “recorte” das pesquisas.
Mesmo que se trate de uma pesquisa pontual de disciplina, cabe refletir sobre
os pontos evidenciados a fim de que se possa realizar um exercício fidedigno à
proposta do fazer antropológico. Assim, o pesquisador não tem controle total de sua
pesquisa, mas pode direcioná-la da maneira mais adequada, de acordo com os
objetivos em questão.
O segundo ponto a ser ilustrado enfoca justamente o diálogo entre o
pesquisador e o grupo pesquisado. Segundo Oliveira (2000, p. 24), esse diálogo
“Faz com que os horizontes semânticos em confronto — do pesquisador e do nativo
— abram-se um ao outro, de maneira a transformar um tal conjunto em um
verdadeiro ‘encontro etnográfico’”. Em algumas situações, esses diálogos
possibilitam trocas mais densas; em outras, essas trocas são mais truncadas por
conta de questões subjetivas. Nesse sentido, não apenas o pesquisador escolhe
quem vai pesquisar, mas também precisa ser escolhido pelos nativos, uma vez que
a pesquisa envolve o relacionamento entre seres humanos.
Assim, esse diálogo implica não somente um pesquisador que demanda algo
do pesquisado. O próprio pesquisador tem de aprender, de negociar e de
compreender como se dá a comunicação discursiva de quem ele pesquisa. Ferreira
(2010, p. 147) evidencia essa questão quando argumenta que o diálogo
antropológico implica uma aprendizagem da conversa com o nativo:
24
Já que as metodologias usadas pelos antropólogos dependem
fundamentalmente de processos linguísticos, é preciso considerar as
dimensões comunicativas da aquisição de informações como requisito tanto
para a adequação da metodologia aos contextos culturais a serem
estudados (BRIGGs, 1986) quanto para a garantia de uma postura ética na
relação de pesquisa. Dessa forma, podemos evitar situações em que as
questões formuladas pelo pesquisador são incompatíveis com o sistema de
comunicação nativo.
25
nomes dos envolvidos por nomes de anjos, fazendo um paralelismo com o fato de o
senso comum dizer que os anjos não têm sexo. Esse é um exemplo de estratégia e
subterfúgio que os pesquisadores podem utilizar para manter a ética de pesquisa.
Quando você escreve um relatório sobre aqueles que pesquisa, é importante
não só disponibilizar o produto final para eles, que gentilmente lhe concederam seu
tempo e sua convivência, como também buscar saber a opinião deles sobre os
resultados da pesquisa. Esse processo é conhecido como restituição dos dados.
Veja:
Na pesquisa, podemos pensar que a restituição dos dados também pode
ser uma forma de prolongar o trabalho de campo, as interações, a relação
com os nativos. Nesse caso, a receptividade da pesquisa e a restituição
confundem-se em relação às interações estabelecidas, engajamento e
responsabilidade com o campo. O duplo produto final da enquete, seja sob
a forma de relatório para o projeto de financiamento ou artigo para a revista
científica, sublinha a distinção entre dois papéis: ciência “pura” versus
ciência “aplicada”. Entretanto, trata-se de distinção ideal. Nas situações
concretas, observa-se ambiguidade entre esses dois papéis, uma vez que
um ou outro é reivindicado e um ou outro argumento pode ser utilizado
segundo o contexto. A publicação de artigos e livros é uma forma importante
de difusão da pesquisa no meio acadêmico, no entanto, essas publicações
tendem a repercutir pouco para os pesquisados (FERREIRA, 2015, p.
2.645).
26
5 RAMIFICAÇÕES E ATRIBUIÇÕES DA ANTROPOLOGIA
27
Frazer era escocês, mas atuou como professor na Inglaterra. Ele queria
encontrar leis gerais que pudessem ser presumidas de fatos particulares nas
diferentes sociedades. Na sua obra O Ramo de Ouro (1890), ele estudou a magia
nas sociedades primitivas como sendo o embrião de um processo contínuo e
evolutivo para chegar no desenvolvimento da ciência, tal qual se dá nas sociedades
contemporâneas.
Fundada por Émile Durkheim, no final do século XIX, essa escola defende
que a sociedade é uma realidade sui generis. Em 1895, ele publicou o livro As
regras do método sociológico, apresentando esta proposta metodológica para o
estudo da sociedade. Portanto, caberia a sociologia estudar os ‘fatos sociais’, sendo
que eles agiriam sobre os indivíduos de forma coercitiva, externa e geral.
O seu sobrinho, Marcel Mauss (1974, p. 41), deu continuidade às suas ideias
e aprofundou a abordagem de estudo, pois, para ele, o estudo da sociedade, a partir
de características, poderia elucidar a totalidade dessa sociedade, chegando, então,
ao conceito de “fato social total”. Com isso, por meio do método comparativo, Mauss
estudou a reciprocidade e a troca de objetos entre pessoas ou grupos sociais
defendendo a dádiva como fundamento da vida social.
Esse compromisso é entendido como o vínculo das almas em que se deve
dar um presente, não se deve recusá-lo e ainda é preciso retribuí-lo. A leitura feita
por Mauss é de que o objeto ainda tem algo do doador, mas permanece com o
recebedor, e, entre eles, se estabelece uma parceria e também uma condição
hierárquica. Ou seja, as trocas sociais que fundam a reciprocidade estão em um
“sistema de prestações totais”, (MAUSS, 1974, p. 45) que tem caráter voluntário
(aparentemente livre e gratuito) e obrigatório (imposto e interessado), e essas trocas
perpassam fenômenos jurídicos, econômicos, religiosos, estéticos e mesmo
morfológicos.
28
5.3 Funcionalismo
29
Os principais conceitos funcionalistas de Durkheim
30
Outra obra seu importante foi Sexo e repressão na sociedade selvagem
(1927), em que questiona algumas ideias da psicanálise tidas como universais,
como o complexo de Édipo, a sexualidade infantil na puberdade, o papel materno na
criação, os mitos e tabus familiares como o incesto, o parricídio como fundação da
cultura, a transição dos instintos naturais para a formação da cultura civilizada, etc.
Alfred Reginald Radcliffe-Brown (1881–1955) foi outro expoente importante da
escola funcionalista de antropologia social na Inglaterra. Ele considera as
instituições sociais, como casamento, direito, religião, mitos e ritos, como chaves
para a manutenção da ordem social e do equilíbrio, como organismos vivos.
Contudo, seu funcionalismo é mais corretamente chamado de estrutural- -
funcionalismo. A função de uma prática social é seu papel em manter o todo da
estrutura social.
Por fim, Sir Edward Evans-Pritchard (1902–1973) foi um antropólogo inglês,
professor da Universidade de Oxford. Sua principal obra é Bruxaria, oráculo e magia
entre os Azande (1937), um estudo sobre religião entre um povo da África Centro-
Norte. Ele notou que os Azande têm a tendência em atribuir a causa de vários
infortúnios à bruxaria e que seria impossível compreender a religião Azande sem seu
contexto social e sua função social, a saber, que a bruxaria e os oráculos tinham a
função de resolver disputas entre os Azande, constituindo um meio de explicação
tão plausível e lógico dentro do sistema interno da cultura Azande quanto a ciência
no mundo civilizado.
31
Franz Boas (1858–1942) se doutorou em física na Universidade de Kiel, em
1881, com a tese Contribuições para a percepção da cor da água, e sempre se
interessou muito em psicofísica e geografia. Em 1883, ele participou de uma
expedição na Ilha Baffin, no Canadá, para pesquisar sobre o impacto do meio
ambiente nas migrações do povo esquimó Inuit e, então, escreveu a etnografia
chamada The central eskimo (1886) para privatdozent (título universitário próprio das
universidades de língua alemã na Europa) em geografia na Universidade de Berlim.
Contudo, ele se mudou para os Estados Unidos no ano seguinte e se tornou
professor de Antropologia na Universidade Clark em 1888. Alguns anos depois, em
1899, ele se tornou professor de antropologia na Universidade de Columbia.
Boas dizia que a civilização não é algo absoluto, mas relativo, e que as ideias
e os conceitos são verdadeiros somente na medida da própria civilização. Nessa
medida, o culturalismo é uma rejeição do evolucionismo antropológico. Boas não
concordava com a ideia de evoluções lineares, ou seja, que todas as sociedades
estão na mesma trajetória linear histórica e atingem seus níveis particulares de
evolução e desenvolvimento do mesmo modo como as outras sociedades. As
sociedades, para Boas, alcançam o mesmo nível de desenvolvimento cultural por
diferentes e variados caminhos paralelos. Para Smith, (1929), a cultura humana é
maleável, plástica, apreendida por educação social e, portanto, as diferenças
comportamentais, sociais, morais entre as culturas são distintas entre si, e não se
devem a predisposições inatas biológicas. Portanto, os fatores biológicos,
geográficos e naturais não são relevantes para compreender as diferenças culturais
dos indivíduos. Boas, assim, rejeita a classificação e a gradação em escalas
evolutivas do evolucionismo e, portanto, hierarquias evolutivas. As sociedades, em
seu ponto de vista, são resultado de processos históricos particulares e não
universais.
32
A principal obra de Boas, A mente do homem primitivo (1911), é uma crítica
ao conceito de cultura primitiva, conceitos raciais ultrapassados, ideias eugênicas
sobre raça e inteligência, supremacia branca, hereditariedade da inteligência e o
conflito entre nature e nurture. Sua afirmação de que não há relação entre fenótipos
e dotes mentais foi polêmica à época, quando muitos médicos, biólogos e nutrólogos
a sustentavam. Ele também argumentava que é a linguagem que molda o
pensamento, não o contrário. Essa tese igualmente foi polêmica e criou toda uma
corrente de pesquisa na antropologia, seguida por seu discípulo Sapir.
De forma semelhante, Boas sustentava que a ideia de estágios evolutivos
histórico-culturais é absurda, porque nem todos os estágios estiveram presentes em
todas as culturas. Por fim, desfaz a ligação histórica entre raça e cultura, dizendo
que o desenvolvimento cultural de uma sociedade não tem nada a ver com o
desenvolvimento racial de um povo e que, portanto, a raça não influencia o
desenvolvimento econômico e cultural de um povo, pois fenótipos e biologia não
podem ser determinantes em questões de ordem histórica e cultural. As conclusões
lógicas, as premissas, os silogismos e as relações de causalidade feitas por outros
povos se devem ao conhecimento acumulado passado, e não a questões de monta
biológica (ERIKSEN, 2012).
Em suma, a obra de Boas é uma crítica ao naturalismo antropológico e moral
que dominava as ciências humanas no século XIX e no início do XX. Ele corta toda a
ligação e possibilidade de ligação que poderia haver entre questões de ordem
epistemológica, moral, cultural e social com questões de ordem biológica, natural e
geográfica. De modo sucinto, ele separa dois campos distintos: a psicologia da
biologia. A mente humana, e seu subproduto, a cultura, independem da biologia e da
natureza. Está inaugurada, assim, a antropologia social moderna.
A principal contribuição de Edward Sapir (1884–1939), um dos discípulos de
Boas, foi o conhecimento sobre as relações entre a linguagem e a cultura, ou entre
linguística e psicologia e antropologia. Ele estudou como ambas se inter-relacionam,
como a linguagem molda a cultura e como a organização social reflete a
organização linguística mental de um povo. Essas relações são conhecidas como a
hipótese Sapir-Whorf. Além disso, ele fez importantes contribuições para a
classificação das línguas indígenas da América do Norte e desenvolveu o conceito
de fonema. Seu trabalho todo é uma tentativa de compreender como os padrões
33
culturais são moldados pelas personalidades individuais por meio da linguagem.
Uma de suas obras importantes é Linguagem: uma introdução ao estudo do discurso
(1921).
Ruth Benedict (1887–1948) se doutorou na Universidade de Columbia sob a
orientação de Boas em 1923 com a tese O conceito de espírito guardião na América
do Norte. Assim como Sapir, ela também estava interessada nas relações entre
cultura e personalidade, em antropologia e psicologia. Suas principais obras foram
Padrões de cultura (1934) e O crisântemo e a espada: padrões da cultura japonesa
(1946). A ideia-chave da autora é que as culturas são personalidades, pois as
culturas, assim como os indivíduos, são padrões de pensamento e ações (ERIKSEN,
2012).
Margaret Mead (1901–1978) também fez parte da escola americana
culturalista de antropologia social. Seu principal livro é Sexo e temperamento em três
sociedades primitivas (1935), no qual ela relata o comportamento dominante das
mulheres entre os Tchambuli da Papua Nova Guiné e conclui que os Arapesh eram
pacíficos, os Mundugumor eram bélicos e os Tchambuli continham diferenças de
gêneros, sendo que os homens passavam muito tempo decorando a si mesmos,
enquanto as mulheres eram mais práticas.
5.5 Estruturalismo
34
com os outros. Assim, o significado só pode ser compreendido por sua estrutura, e
não pelos elementos singulares isolados. Por exemplo, as palavras “cat” e “bat” se
diferenciam apenas pelos fonemas “c” e “b”, pois são fonemas contrastantes. É essa
oposição entre eles que formam o significado de ambas as palavras.
O estruturalismo na linguística nasceu a partir das ideias de Saussure e foi
seguido por Louis Hjelmslev, Émile Benveniste, Roman Jakobson e Nikolai
Trubetzkoy. A ideia central se encontrava na fonética, na relação entre os fonemas
na formação do significado. Além da dicotomia entre os fonemas, há a dicotomia
entre língua e fala, sincronia e diacronia, significante e significado, sintagma e
paradigma. Em antropologia, seu principal expoente foi Lévi-Strauss.
Claude Lévi-Strauss (1908–2009) foi um antropólogo francês que aplicou
largamente as noções do estruturalismo linguístico no estudo das culturas primitivas.
Ele compreendia a mente humana (e seu subproduto, a cultura) analogamente à
linguagem para encontrar os universais, os padrões, as estruturas e os irredutíveis
culturais que formam as sociedades. O pensamento humano, reproduzindo a
linguagem dos mitos, opera por pares de oposição simples, como cru e cozido, dia e
noite, frio e quente, vivo e morte, sol e lua, etc. As estruturas formam uma gramática
social profunda e são visíveis na linguagem e no inconsciente, na mente
(LOURENÇO, 1997).
O principal livro de Lévi-Strauss foram as estruturas elementares do
parentesco (1949), cujos temas centrais são o parentesco e suas várias formas de
organização, o incesto e suas teorias e uma defesa da teoria da aliança.
Lévi-Strauss considera o tabu do incesto a origem da sociedade, a passagem
primordial da natureza para a cultura, o ponto fundante da sociedade, porque
estabelece uma regra para as relações sexuais e, com essa regra, seleciona e reduz
as possibilidades infinitas de cópula na natureza e, assim, direciona o instinto. Ao
estabelecer regras sociais, a proibição do incesto delimita com quem alguém pode
casar-se, copular e reproduzir-se, ou seja, com alguém fora do círculo familiar
próximo. Ao fazê-lo, ele estimula a ampliação do círculo social, a saída do nubente
da vigília paterna e materna e, por conseguinte, sua entrada em outro mundo, o do
cônjuge. O tabu do incesto estimula a exogamia. A ideia é uma troca recíproca no
fundamento da aliança matrimonial. A mulher troca de família quando se casa, e é
essa circulação de fêmeas que liga grupos sociais diversos e famílias em uma única,
35
a sociedade. Lévi-Strauss fala de dois tipos de estruturas de parentesco: as
complexas e as elementares. Quando as mulheres são oferecidas a outro grupo
explicitamente definido, fala-se de estruturas elementares. Para Lourenço (1997,),
quando as mulheres são oferecidas a um grupo indeterminado e aberto, fala-se de
estruturas complexas. Desse modo, ele tenta explicar os fenômenos dos
casamentos cruzados entre primos em sociedades de estrutura elementares de
parentesco (Figura abaixo).
36
5.6 Diálogos entre as escolas
37
As diferenças entre as várias escolas de antropologia são apenas distinções
metodológicas ou de pressupostos teóricos de abordagem, mas não distinções
essenciais, que as façam profundamente diversas umas das outras. Elas todas se
unem na ideia de que há várias sociedades e povos, e que o papel do cientista deve
ser compreender suas diferenças (GEERTZ, 2008, p. 15). Veja, no Quadro abaixo,
um comparativo dessas escolas para melhor fixá-las, com as devidas palavras-
chave de cada autor.
Comparativo entre as principais escolas de antropologia
38
Continua
6 ETNOGRAFIA
Assim, por meio das representações dos relatos dos viajantes é que a
população acessava a cultura de sociedades distantes e mesmo de culturas que não
41
mais existiam. Muitas vezes, essas descrições registradas pelos viajantes eram
caricatas, exageradas e até mesmo fantasiosas, mas como era a única maneira de
conhecer o que faziam outras culturas, esses relatos eram bastante difundidos.
O pesquisador compreende a partir desse momento que ele deve deixar seu
gabinete de trabalho para ir compartilhar a intimidade dos que devem ser
considerados não mais como informadores a serem questionados, e sim
como hóspedes que o recebem e mestres que o ensinam. Ele aprende
então, como aluno atento, não apenas a viver entre eles, mas a viver como
eles, a falar sua língua e a pensar nessa língua, a sentir suas próprias
emoções dentro dele mesmo. Trata-se, como podemos ver, de condições
de estudo radicalmente diferentes das que conheciam o viajante do século
XVIII e até o missionário ou o administrador do século XIX, residindo
geralmente fora da sociedade indígena e obtendo informações por
intermédio de tradutores e informadores: este último termo merece ser
repetido. Em suma, a antropologia se torna pela primeira vez uma atividade
ao ar livre, levada, como diz Malinowski, “ao vivo”, em uma “natureza
imensa, virgem e aberta” (LAPLANTINE, 2003, p. 57–58).
43
Logo, realiza-se uma observação participante, na qual os membros da cultura
observada precisam estar de acordo com a presença daquele que vai realizar a
etnografia, como explica Oliveira (2000, p. 24):
44
Assim, temos o contexto da discussão sobre o conceito de etnografia e
podemos avançar na nossa discussão, a fim de compreendermos como esse
conceito é utilizado no âmbito da antropologia — e até mesmo além dessa disciplina.
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Assim, a disciplina de antropologia compreende a etnografia como parte do
processo de pesquisa que possibilita estudar o outro a partir de critérios científicos.
Como explica Mattos (2011, p. 53), a:
46
comunicam e produzem resultados. E palavras não são o único meio de
comunicação: silêncios comunicam. Da mesma maneira, os outros sentidos
(olfato, visão, espaço, tato) têm implicações que é necessário avaliar e
analisar. Dito de outra forma, é preciso colocar no texto — em palavras
sequenciais, em frases que se seguem umas às outras, em parágrafos e
capítulos — o que foi ação vivida. Este talvez seja um dos maiores desafios
da etnografia — e não há receitas preestabelecidas de como fazê-lo
(PEIRANO, 2014, p. 386).
Por último, Mattos (2011) ainda sistematiza três questões da etnografia que
contribuem com o campo da pesquisa qualitativa:
1. A preocupação com uma análise holística ou dialética da cultura, isto é, a
cultura não é vista como um mero reflexo de forças estruturais da
sociedade, mas como um sistema de significados mediadores entre as
estruturas sociais e as ações e interações humanas.
2. A introdução dos atores sociais com uma participação ativa e dinâmica no
processo modificador das estruturas sociais.
3. Apresentação das interações e evidência dos processos engendrados e
de difícil visibilidade para os sujeitos que dela fazem parte.
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Logo, a etnografia nos permites conhecer outra cultura de forma mais
aprofundada, pois se utiliza de estratégias específicas, de acordo com os objetivos
da pesquisa. Nesse sentido, para conhecer os grupos sociais que são diferentes de
nós, não basta chegarmos até eles: precisamos ter um olhar mais cuidadoso e
atenção redobrada, e também fazer notas sobre aquilo que queremos compreender.
Com isso, vamos explicitando os procedimentos da pesquisa científica e
reconhecendo essas estratégias dentro de um arcabouço teórico-metodológico
guiado pela disciplina da antropologia.
7 CULTURA E ANTROPOLOGIA
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desse conceito que os antropólogos estudam o “outro”. O antropólogo evolucionista
Tylor (1920, p. 1) definiu cultura, em 1871, como “aquele todo complexo que inclui
conhecimento, crença, arte, moral, direito, costume e outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Com o tempo, outros
autores vão problematizando essa noção totalizante de cultura, tornando-a mais
interpretativa, mais parcial, mais polissêmica, saindo da ideia do todo para
apresentar feições da cultura.
De qualquer modo, podemos dizer que a cultura se “manifesta por meio de
diversos sistemas” (DIAS, 2010, p. 67) – como o sistema de valores, o de normas, o
de ideologias, o de comportamentos, entre outros – dentro de um território
específico, em determinada comunidade cultural, e influencia os indivíduos na
concretização das suas ações sociais. É na interação entre os indivíduos e os
grupos que são construídos e negociados os parâmetros culturais nos quais as
ações sociais se realizam, constituindo, assim, uma identidade própria para cada
cultura, como é o caso da cultura brasileira.
Portanto, podemos dizer também que a cultura é exclusiva das sociedades
humanas, já que, a partir dela, se pode traçar a diferenciação entre o homem e o
animal. O homem é o único ser vivo que tem capacidade para o acúmulo cultural,
tanto pela quantidade dessa produção, como pela complexidade da sua natureza.
Nesse sentido, a linguagem humana é fundamental para a comunicação simbólica, e
sua importância se dá não só pelo idioma em questão, mas também pelos gestos,
sotaques e expressões locais que denotam a circulação de sentidos em determinada
cultura. Logo, tudo o que é criado pelas sociedades humanas, para satisfazer as
suas necessidades e viver em sociedade, seja tangível ou intangível, está englobado
na cultura.
Para aprofundar a discussão, vamos nos inspirar nas características que
envolvem a atuação do conceito de cultura apresentada por Roque Laraia (2001).
Ele propõe cinco pontos para mostrar a operação desse conceito, são eles: a cultura
condiciona a visão do homem, a cultura interfere no plano biológico, os indivíduos
participam diferentemente de sua cultura, a cultura tem uma lógica própria e a
cultura é dinâmica.
52
7.1 A cultura condiciona a visão do homem
54
de acordo com sua origem histórica e o território habitado. O que faz sentido para os
membros de uma comunidade pode não fazer nenhum sentido para outra
sociedade. Como nos diz Laraia (2001, p. 87), “A coerência de um hábito cultural
somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence”. Como compreender
as pinturas corporais entre os povos indígenas? Como não se impressionar com as
danças populares?
Como interpretar a fé religiosa nas diferentes sociedades? Como os
indivíduos buscam os processos de cura para suas enfermidades? Assim, para
compreendermos a lógica de outra pessoa, temos de nos afastar da nossa lógica, ou
pelo menos estabelecer relações que permitam desvendar e acessar a explicação
do outro indivíduo, sem as referências da nossa própria lógica.
A cultura não está parada. A todo momento, diversos elementos culturais são
reavaliados, conscientemente e inconscientemente, sendo que alguns são
descartados, outros reinventados. Você pode comparar como estavam vestidas as
pessoas nas fotos antigas guardadas no fundo da gaveta do armário com as
vestimentas atuais, de quando saímos na rua. Pode pensar nas músicas da sua
infância e nas músicas que tocam nas rádios hoje em dia. Analisar as gírias e
palavras faladas pelos seus parentes mais antigos em relação às gírias que você
fala com seus colegas. Essas mudanças e modificações se mantêm
momentaneamente até que novas transformações na cultura modifiquem-nas.
Podemos dizer que as mudanças culturais ocorrem de modo endógeno ou
exógeno. O modo endógeno pode ser decorrente do próprio sistema cultural, a partir
dos membros que participam dessa sociedade. O modo exógeno se dá por meio de
um contato cultural, com outros povos, que acaba interferindo em práticas culturais
estabelecidas antes do contato. As mudanças podem ser específicas ou até mesmo
modificar completamente os elementos culturais que antes faziam sentido para
aquela cultura. Assim, quando descrevemos uma determinada cultura, para um
estudo científico, temos de saber que ela não permanece estática em relação ao seu
modo de estar no mundo.
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7.6 O estudo antropológico sobre a cultura
56
seus elementos culturais. Se acompanha as mudanças culturais nas sociedades,
será necessário compreender as modificações culturais ao longo dos tempos.
E é buscando essas significações, expressas na cultura, que vamos
reconhecer as diferenças culturais. Isso é fundamental para um mundo que convive
com inúmeras culturas e sociedades, próximas, cada vez mais, umas das outras,
pelos avanços tecnológicos que se popularizam rapidamente mundo afora. Pensar
na cultura como um conceito antropológico, como propõe Laraia (2001), torna-se
chave para aprofundar o olhar sobre a sociedade, além de possibilitar aplicar esse
mesmo olhar em outras áreas do conhecimento, como Educação, História, Políticas
Públicas, entre outras.
Logo, o que se deseja é reconhecer a potência das categorias de análise
dessa disciplina para a compreensão dos homens em sociedade. E aqui, o conceito
de cultura possibilita uma virada epistemológica de pensar em nós através do olhar
do outro, de modo que, ao analisar a cultura deste indivíduo, tendo a cultura do
observador como referência, seja possível questionar nossos próprios parâmetros
culturais. Nesse sentido, para entender outras culturas, é preciso aprofundar o
entendimento da nossa própria cultura, e, por mais proximidade que tenhamos com
ela, é necessário o esforço de avaliá-la pelo olhar do estrangeiro, que suspende seu
julgamento, participa e se deixa vivenciar a cultura junto com outra pessoa.
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Bibliografia Básica
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Janeiro: Zahar Editora, 2005.
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PIRES, V. Uma breve análise acerca da atuação interétnica dos indígenas da costa
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Faculdade de Letras: História, Porto, v. 3, n. 1, p. 9-28, 2013.
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WEBER, F. A entrevista, a pesquisa e o íntimo, ou: por que censurar seu diário de
campo? Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 15, n. 32, p. 157-170, 2009.
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