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Primeiro Discurso Sobre A Educação Cristã: João Leon Dehon
Primeiro Discurso Sobre A Educação Cristã: João Leon Dehon
Primeiro Discurso Sobre A Educação Cristã: João Leon Dehon
Senhores,
“É um proverbio, dizia Salomão, que o homem segue durante toda sua vida o 215
caminho de sua juventude”1
Platão dizia: “os começos representam tudo numa natureza jovem e terna que
guarda para sempre o molde inicial”2.
E Leibniz: “Eu sempre pensei que o gênero humano seria reformado, contanto
que a educação fosse reformada”3.
*
Premier Discurs de l’education chretienne, in Oeuvres Sociales, Thèses et Discours 1862-1901, V. IV,
Edizioni Dehoniane, Napoli/Andria/Roma, 1985, pp.274/293 trad. Marie Thérèse Cance. A tradutora
optou por indicar entre colchetes as transições de páginas na edição original.
*
Discurso pronunciado na “Maison d’Enseignement de Saint Quentin”, no dia 4 de agosto de 1877. V. e.
“La semaine Religieuse du Diocèse de Soissons et Laon”, 4 ano, 1877, p. 440, Saint Quentin. Institution
Saint-Jean..
1
Provérbio XXII, 6 “Proverbium est: adolescens juxta viam suam, etiam cum senuerit, non recedet ab eà”
2
Rep. livro II, cp. XVII
3
E. Dutens, t. VI, p. 65
Vocês esperam de nós uma profissão de fé sobre a educação e o ideal que temos
dela a respeito de seus instrumentos, do método que tem nossas preferências, nos frutos
que se deve esperar; vamos fazer uma exposição leal.
Um homem do mundo, daqueles que vivem fora do nosso meio cristão e que não
tem um ideal elevado me responderia: “a educação, é a aquisição dos conhecimentos
necessários para se apresentar com sucesso a um exame, para iniciar uma profissão e se
fazer uma reputação de homem culto. É, ainda, a formação ao saber viver, ao bom tom,
às boas maneiras, numa palavra, a tudo que é necessário para fazer seu caminhar neste
mundo”.
“Todo cristão batizado é uma flor divina ou, antes, um deus florido; cada um de
seus atos deve ser um passo em direção à maturidade, à idade perfeita, até à grandeza e
à altura divina.
4
Um dicionário de pedagogia enumera mais de duas mil obras de educação publicadas em francês,
Buisson, livraria Hachette.
5
Dom Berthaud, Bispo de Tulle.
educação divina que se precisa para elevar a toda sua altura aquele que deve ser a
imagem de Deus no caminho da perfeição e seu convidado para o banquete da eterna
felicidade. ”
Platão, no mundo grego, tinha entrevisto esta nobre finalidade. Ele deu a mais
bela definição da educação: “eu chamo educação, dizia ele, o que dá ao corpo e à alma
toda beleza e toda perfeição de que são capazes”.6 E nesta perfeição da alma, ele não
tinha somente em vista a vida presente. “É uma loucura, para uma criatura mortal, disse
ele, ainda falando da educação, ter mais preocupação com essa curta existência do que 217
7
com a eternidade”. Mas essa visão elevada de Platão foi excepcional e permaneceu um
ideal sem realidade.
Houve o ideal dos povos primitivos, o ideal de Esparta, o de Roma, antes das
guerras púnicas. Para estes povos, o homem perfeito é o soldado valente, que suporta o
cansaço, que aceita a disciplina. Para eles, a educação quase que se reduz ao
desenvolvimento das forças físicas e à habilidade do corpo.
Houve o ideal político. É o ideal dos poderes implantados pela força e que
querem prevenir sua descrença nos espíritos. Foi o da Convenção em 1792. A política
se torna então, a preocupação quase exclusiva dos organizadores da educação nacional.
Tudo mais, religião, delicadeza dos costumes, cultura do espirito, nobreza do coração, é
totalmente desprezado ou deixado em segundo plano. O homem parece ser apenas um
animal político, que veio ao mundo para conhecer, amar e servir a constituição. A
6
Das Leis, liv. VII.
7
Diálogo Fédon
8
Declaração dos direitos do homem [276] já era para Talleyrand, o catecismo da infância.
Para Lepelletier de Saint-Fargeau, Barrère, Danton, e para a Convenção que os aprova,
a família deve renunciar a seus direitos frente ao Estado. As crianças pertencem à
grande família social antes de pertencer à sua família privada.9
Nesta base, se organizava sistemas que gostamos de reler nem que seja como
divertimento. Por exemplo, a proposta era que a educação comum de todas as crianças
fossem feitas longe de suas famílias, a partir da idade de cinco anos, educação que se
limitava aos conhecimentos elementares e se confundia com a aprendizagem
profissional, sem distinção de sexo, e até mesmo, com práticas idênticas.10
8
Assembléia Nacional, 25 de set de 1791.
9
Moniteur, 22 de set. 14 de dez. de 1793.
10
Projeto de Lepelletier de Saint-Fargeau retomado e apresentado por Robespierre na Convenção
(Moniteur, 15 de ago. de 1793) Michelet acha este projeto admiravelmente realista [nullement
chimérique] (História da Revolução Francesa, T. IV, p. 390).
Tudo o que Deus lhe deu como talento ou gênio, tudo o que a educação lhe 219
comunicou de forças intelectuais e morais, tudo isso não será apenas o meio de honrar a
sua vida; será ainda o instrumento do bem que deve realizar. Na esfera de ação onde a
Providência o colocar, ele será o missionário da virtude e a viva imagem de Jesus
Cristo.
II [Continuar aqui]
O mestre exerce, para com seu discípulo, a ação de uma verdadeira paternidade
espiritual. [278] Gera verdadeiramente nele a vida e a semelhança de sua alma. A vida
intelectual e moral passa da alma do educador para a alma do seu aluno por meio de
duas fontes: a palavra e o exemplo. Comunica-lhe seus pensamentos. Revela-lhe a
verdade tal como sua inteligência a concebe; o belo, tal como ele o compreende e soube
amá-lo; o bem, tal como a sua consciência o indica.
Não basta que eles sejam virtuosos, e a fama de homem honesto não é para eles
um diploma. É preciso que eles sejam grandes cristãos afim de que as crianças sintam,
de algum modo, em toda sua pessoa, o Mestre dos mestres, o CRISTO que eles
representam e cuja dignidade os encobrem.
E se com tudo que acabo de supor, o mestre católico recebeu do céu uma 220
vocação que o dedica não só à pratica do dever, mas ao heroísmo da virtude; se ele fez o
juramento, não só da honestidade, mas da santidade; se acrescenta à dignidade que lhe
provêm de sua missão, a grandeza da unção divina e de um caráter sagrado; oh! Então
ninguém pode dizer o que vai produzir na criança, esta ação poderosa e tão elevada
acima da natureza.
Com isso não se quer dizer que só o padre seja capaz de dar a infância o
benefício da educação cristã. Todo homem profundamente cristão, sacerdote ou leigo,
regular ou secular, basta, mas o cristão não pode negar que a dedicação especial a
JESUS CRISTO, imposto pela unção do sacerdócio ou pelos votos de religião, em
geral, não seja na educação, uma força e uma vantagem a mais.
Muitas vezes os educadores leigos, eles mesmos o disseram. Eis, por exemplo,
alguns pensamentos expressos por um professor de Faculdade, numa obra coroada pela
Academia.11 “Certamente muito deve ser dito em favor do ensino dado e dirigido por
eclesiásticos ou religiosos. Nossas preferências pelo ensino leigo não nos impedem de
11
G. Compayré, História crítica das doutrinas da educação na França.
reconhecer as vantagens consideráveis, sobre certos pontos, que seu caráter assegura aos
professores eclesiásticos. A absoluta independência em relação ao mundo, a supressão
de todos os laços que unem cada um de nós à família e a sociedade civil [279] a
renúncia a todo interesse terrestre, a ruptura com as paixões que perturbam, que usam as
forças e devoram o tempo, a solidão e a paz que impedem a dispersão do pensamento
sobre as curiosidades do mundo e os incidentes da vida, que permitem à reflexão
concentrar-se em um único objeto, a elevação do pensamento necessariamente familiar
a quem acredita trabalhar para a eternidade; o costume da disciplina que é mais fácil
impor aos outros quando se é o primeiro a praticá-la; em fim, e acima de tudo, a força
moral, a autoridade que só é maior no homem quando se esquece a si próprio para falar
e agir em nome da divindade: eis as condições favoráveis em que se encontram o
sacerdote ou o religioso que se torna professor”.
12
M. Bersot, Estudos sobre o século XVIII, 1855, p. 224 ss.
Recordando seu passado, quem dentre vocês não encontra na sua alma a marca
profunda de algum livro [280] que deu tal direção a seu espirito, tal ideia predominante
na sua vida?
Este perigo pode encontrar-se no próprio ensino e nas leituras de lazer que
acompanham o ensino. No ensino, há o elemento pagão que deve ser apresentado com
prudência.
A Igreja deseja o ensino misto destas duas literaturas, que têm suas respectivas
obras primas e que pertencem a civilizações diferentes; mas ela deseja também [281]
A arte de bem falar, considerado na sua fonte primitiva, não é uma maravilhosa
emanação do Verbo de Deus, da Palavra de Deus Pai? Portanto, como poderia se
acreditar que o Verbo encarnado, que se dignou dar o dom da palavra as nações que não
o conheciam o teria em seguida recusado à Igreja, sua esposa, que ele adquiriu com o
seu sangue precioso?
A Igreja nunca excluiu os autores profanos do ensino. Por sua prática como por
sua doutrina, ela nos ensinou que eles podem ser os auxiliares da verdade, e os admitiu
em concorrência com os autores cristãos.
Não será vantajoso estudar o belo e o sublime por toda parte onde eles se
encontram? Deve-se tomar em consideração os gênios, mesmo que não tiver sentindo a 223
“Os livros profanos, dizia São Basílio o Grande, são para os Livros santos o que
a folhagem da árvore é para os frutos: ele os precedem, também os cobre e lhes serve de
adornos”.15 E este Santo Doutor admirava, na literatura profana, não só a forma
brilhante e a perfeição do estilo, mas a beleza dos exemplos e a elevação dos
pensamentos. Entretanto, ele pedia que se fizesse uma escolha dos autores, e que fosse
lido assim como as abelhas despojam as flores recolhendo apenas o seu mel. Mas
13
Ver o pronunciamento de Pio IX feito a Dom d’ Avanço, de 1º de abril de 1875.
14
Ver , a esse respeito, a carta endereçada ao Cardeal d’ Avanço de 4 de nov. de 1874, que é um
verdadeiro tratado sobre o assunto ( livraria da Sociedade de São Paulo)
15
Discurso sobre a utilidade que os jovens pode tirar da leitura dos autores profanos.
Ninguém duvida de que tenha sido a prática dos primeiros séculos do período
dos doutores. Mesmo na idade média, a Igreja, em suas escolas monásticas, conservou o
uso dos grandes clássicos pagãos com o dos autores cristãos.
Nosso grande século clássico, o século XVII, não procedia de outra maneira. Os
autores cristãos constituíam o fundamento do ensino. Os autores profanos a ele se
acrescentavam, como convém, no final dos estudos. 224
É assim que se deveria utilizar a literatura profana, para que sirva à fé e não a
destrua.
16
Pronunciamento feito a Dom d’ Avanço, 1º de abril de 1875.
17
Carta ao Padre Fleyry, citado pelos Arquivos das Missões Científicas, agosto de 1850.
Nós reagiremos contra este abuso na medida do possível, sem prejuízo dos
programas que os exames nos impõem.
Quanto às leituras de lazer, cuidaremos para que sejam escolhidas com delicada
prudência afim de que não pequem por excesso de seriedade nem pela ingenuidade. Não
gostamos nem dos espíritos levianos nem dos doutores prematuros. A infância é a
primavera da vida. É a idade das flores, antes da idade dos frutos. O desabrochar e o
frescor lhe convém antes da maturidade. Muitas vezes Deus dá à criança a beleza, e sua
singela bondade é como um perfuma que alegra.
III
Nós o guiaremos pelo temor, pela afeição, pelo sentimento da honra ou da fé?
Em primeiro lugar, é preciso ter como princípio que a criança precisa de uma
orientação poderosa. Quando nasce, ele traz uma mistura de boas e más qualidades, de
instintos funestos e de felizes inclinações.
Qual será este pensamento ou este princípio dominador que sustentará a alma da
criança no trabalho, no dever, na virtude [284], na constância?
O temor humano: não se pode deixar inteiramente de lado a sua ajuda, mas fazer
dele o motivo principal da criança, não será amargurar e ressecar seu coração? Não será
leva-lo à dissimulação? Com certeza, será apagar os mais generosos elãs de sua
natureza, e diminuir a sua alma até dar a todas as suas ações esta finalidade egoísta e
sem nobreza, de evitar uma correção.
Este princípio tem o seu valor. Muitas vezes é um recurso, mas também
permanece superficial e perigoso. Superficial, porque só atinge o aspecto exterior da
virtude. Pouco importa, na maioria das vezes, o que a consciência diz, se as aparências
estão salvas e se não se atinge a honra. Perigoso, porque este princípio se situa no amor
próprio, no egoísmo e na complacência em si mesmo. Que singular preparação para a
vida de dedicação, de dever e de generosidade que a sociedade cristã espera desta
criança!
Os pais colocam sua confiança num terceiro motivo: a afeição filial. A criança,
pensam eles, será fiel ao dever e à virtude para agradar àqueles que ama.
Mas será ele sempre suficiente? Não o vemos fracassar habitualmente na idade
em que o adolescente consulta mais a sua imaginação perturbada e suas paixões
nascentes do que as afeições de sua infância?
Então o que temos para oferecer a fim de preencher todas essas lacunas? Temos
o princípio cristão, e queremos que seja ele que tenha aqui o primeiro lugar.
O pensamento de Deus seu criador e seu mestre, sua onipresença, sua justiça,
sua bondade, suas promessas, o CRISTO redentor e sua Graça, a poderosa ação da
Eucaristia, e a doce influência das nossas festas cristãs, tais são nossos recursos divinos,
que produzirão, disso temos certeza, uma eclosão maravilhosa de piedade cristã e filial,
de trabalho, de doçura, de caridade, de força e de constância.
Além da grande questão do motivo a dar ao aluno, existem cem outras questões
e métodos.
Mas todas estas considerações seriam intermináveis. Temos o método mais 227
simples de lhes fazer conhecer nosso método. Ei-lo: tomaremos no seus conjunto o
grande método cristão, aquele que começou depois da paz da Igreja, com os Padres da
Igreja grega e os da Igreja latina; aquela que se tornou sucessivamente adaptando-se as
necessidades de todas essas épocas, mas conservando sempre seus grandes princípios
fundamentais, o método das escolas monásticas e das escolas episcopais da idade
média, o método das grandes universidades do século XII, Bossuet, Fénelon, Fleury;
aquela que foi codificada pelo sábio e piedoso Rollin no seu tratado dos estudos.
18
História da Literatura francesa, t. IV, p. 122.
Villemain havia dito: “eu não analisarei esta obra, um pouco negligenciada em
nossos dias, como se, depois de Rollin, tivessem descoberto novos métodos para formar
a inteligência e o coração. Infelizmente não é assim: nenhum passo foi dado; não haverá
nada melhor do que o tratado dos estudos”.19
Sim, é bem a maneira de formar o espirito e o coração que Rollin ensina, e a alí
se encontra a finalidade da educação, e seu método é bem o grande método cristão.
Gostaria poder analisá-lo e fazer-lhes observar como ele é excelente na arte de ensinar
as letras e na arte, mais preciosa ainda, de fazer com que as letras sirvam à virtude. Para
a cultura dos costumes e do caráter assim como para o ensino técnico das línguas, da
retorica e da filosofia, Rollin disse tudo, e tudo foi dito de uma maneira excelente. [286]
É verdade que este senado dos mestres da educação não está mais totalmente em 228
moda. Sua virtude sobretudo incomoda. É preciso procurar na história e tentar reunir
alguns irregulares do grande exército dos educadores, fizeram isto em nossos dias e
exumaram Rabelais, Montaigne, Ramus, Condorcet, Rousseau e os Convencionais. Até
alguns de seus escritos foram colocados nos programas.
É preciso boa vontade para fazer deste conjunto uma escola de pedagogia,
chamada progressista, face aos mestres da educação cristã.
19
Quadro da Literatura francesa no XVII, t. I, p. 226
20
Génie du Christianisme, IIIº p. livro III
É Barrère, pedindo para se desembaraçar dos livros, “de toda aquela papelada
que atrapalha o gênero humano”.
É Fourcroy, ele mesmo, Fourcroy o químico, pedindo que não houvesse mais
colégios. “Instruir, é tiranizar; segundo ele, era preciso deixar a criança livre”.
21
Monitor de 16 de julho de 1793.
22
História da Revolução, t. IV
23
Obras políticas, Instituições Republicanas
24
Ver o Monitor de outubro a dezembro de 1793.
organização artificial, baseada em estatutos acadêmicos que não devem mais infectar
uma nação gerenerada”.
E seu projeto foi votado no dia 19 de dezembro de 1793. (29 frimaire ano 11).
Eis muitas ideias novas, às quais educadores cristãos não tinham pensado.
Os progressos das ciências exigem que lhes sejam dados um maior lugar na
educação.
A história, enriquecida pelas descobertas orientais e pelo estudo das fontes, deve
ser ensinada mais completamente.
Estudar o caráter das crianças para bem orientá-las; fazer-se amar por elas tanto
quanto temer; falar lhes de razão; acostumá-las a serem sinceras; formá-la à polidez;
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Ano 17 • n. 1 • jan/jun. 2017-1
________________________________ ÁGORA FILOSÓFICA______________________________________________
tornar os estudos amáveis; e sobretudo fazer reinar neles, a piedade que resume e
contém todas as boas disposições do coração.
IV
Finalmente, senhores, toda esta teoria tão sedutora sobre a educação cristão, sua
finalidade, seus instrumentos, seu método, não provém de uma ilusão? A educação
cristã produz os frutos que prometemos? A tentativa foi feita, correspondeu a esta
concepção?
Gostaria de poder ler nas almas, ou antes, gostaria de poder abrir diante de vocês
os horizontes para que vocês compreendessem melhor os efeitos da educação cristã.
Gostaria de poder lhes enumerar estes efeitos de modo bem imparcial. Talvez o melhor
será, afim de afastar toda desconfiança de parcialidade, deixar falar testemunhas. 231
Existem almas que parecem ter um dom particular para se manifestar, são as
almas dos poetas. A Providência [289] nos fez encontrar o quadro das impressões de um
poeta sentimental que conheceu a dupla educação de um colégio indiferente e de uma
casa religiosa. Eis duas páginas que são de Lamartine, vocês poderão julgar.25
“Semelhante, diz ele, a estes filhos de bárbaros que eram mergulhados ora na
água fervente ora na água geladas afim de tornar sua pele insensível aos efeitos dos
climas, a criança foi jogada na incredulidade e na fé. Ela entra num colégio divido entre
o espirito e as tendências. Precisaria que ela tivesse duas almas, ela só tem uma. Ela é
sacudida, rasgada em sentido contrário; a perturbação e a desordem penetram suas
ideias, há nelas um pouco de fé e um pouco de razão; sua fé se apaga, sua razão esfria,
sua alma resseca e seu entusiasmo se muda em indiferença e em desanimo”.
25
Citado pelo Padre Monfat, Educação, p. 104.
Eis agora a impressão que o poeta guardou da educação cristã numa casa
religiosa.
O nome é pitoresco. Este nome poderia servir para muitas casas de educação
francesas, onde a religião tem tão pouca vida que estas casas poderiam ser classificadas 232
de neutras.
Que dizia portanto este Bispo anglicano: “Que gostaria mais, ver o islamismo ser
ensinado nos internados da sua diocese do que ver implantar nela, escolas onde a
religião é completamente banida”. É a maneira [290] de expressar a sua apreciação
sobre os resultados das escolas sem Deus na América.
O que ele diz no seu relatório sobre o ensino na América? Ele fala da decadência
das escolas neutras e da superioridade incontestável, da prosperidade crescente das
escolas católicas.
26
Discursos políticos, 1850.
27
O Padre Felix, Conferência sobre a Educação.
cólera, sobretudo sua vontade; vocês não encontrarão: a criança sem religião não
domina suas paixões.
A educação, que não é francamente cristã, deixa o coração sem abertura, sem
expansão e sem caridade.
Ela não tem a força e a graça para cultivar a mais bela das virtudes, a pureza,
virtude eminentemente cristã, uma destas virtudes reservadas, com dizia Lacordaire,
virtudes que são a gloria da Igreja.
Com efeito, é preciso que o mestre seja um homem de Deus para fazer uma
guarda santa em torno do coração da criança onde habita uma pureza ignorante e
cândida, ou em torno do coração do adolescente, que contém a tempestade e já conhece
a honra de uma castidade provada.
Portanto, é assim que a razão está de acordo com a experiência para proclamar
que a educação cristã deve presidir aos primeiros anos da vida se se quer orientar esta
vida para o seu verdadeiro ideal e se se quer obter dos espíritos verdadeiramente
esclarecidos, caracteres enérgicos, corações generosos, homens de fé e de ações,
capazes de todos os grandes pensamentos, de todas as resoluções vigorosas, de todas as
dedicações e de todos os sacrifícios para a religião e a pátria.
Eu espero que será a consolação do Bispo de Soissons, nosso tão digno e tão
venerável pontífice, ter estabelecido com a ajuda dedicada do seu vigário geral e sem se
deter diante de nenhum obstáculo, esta casa de São João, que se esforçará, sem deixar
de lado os estudos, em transmitir de geração em geração a educação cristã e a ciência da
salvação.
Agora, queridas crianças, nós as entregamos a seus bem amados pais. Vão
reencontrar a vida em família, e com ela o repouso e o desabrochar do coração.
Os corações das crianças se abrem para sua mãe. Sejam confiantes para com
suas mães. Enquanto seus corações e o delas estiverem de acordo, nada terão que temer.
Nossa afeição para com vocês nos dita esses últimos conselhos; suas boas
disposições nos asseguram de sua fidelidade.
235