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Engajamento Docente No Programa de Robótica Na Escola
Engajamento Docente No Programa de Robótica Na Escola
Engajamento Docente No Programa de Robótica Na Escola
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Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife, Recife, PE, Brasil.
Autora Correspondente: flaviasantana@educ.rec.br
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Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Departamento de Ensino e Currículo, Recife, PE, Brasil.
Resumo: Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa que analisou o engajamento
docente em projetos envolvendo a robótica educacional. Após a identificação dos projetos, dois
questionários foram elaborados tomando como base as dimensões da escala de professores
engajados, com adaptações. Os dados foram analisados usando a técnica da Análise de Conteúdo.
Como resultados, identificamos cinco categorias de engajamento docente: incentivo cognitivo ao
estudante; envolvimento emocional; envolvimento cognitivo; comunicação direta com colegas de
trabalho e incentivo ao protagonismo estudantil. Os resultados evidenciaram que o engajamento
docente pode ser identificado quando existem colaboração com a aprendizagem, sentimento
de satisfação, encantamento e entusiasmo, envolvimento cognitivo, parceria com os colegas e
planejamento das atividades focando a atuação significativa do estudante.
Palavras-chave: Prática docente; Perfil do docente; Perfil profissional do professor;
Robótica educacional.
Abstract: This article presents the results of research that analyzed teacher engagement
in projects involving educational robotics. After identifying the projects, two questionnaires
were prepared based on the dimensions of the Engaged Teachers scale, with adaptations. Data
were analyzed using the Content Analysis technique. As a result, we identified five categories
of teacher engagement: cognitive incentive to the student; emotional involvement; cognitive
engagement; direct communication with co-workers and fostering student protagonism. The
results show that teacher engagement can be found when there is collaboration with learning,
a feeling of satisfaction, enchantment and enthusiasm, cognitive involvement, partnership with
colleagues, and planning of activities focusing on student meaningful performance.
Keywords: Teaching practice; Teacher profile; Teacher's professional profile; Educational
robotics.
e-ISSN 1980-850X. Todo o conteúdo deste periódico está sob uma licença Creative Commons
(CC Atribuição 4.0 Internacional), exceto onde está indicado o contrário.
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Introdução
Fonte: Bryk; Driscoll, 1988; Firestone; Rosenblum, 1988; Newmann et al., 1989 apud Lasmar, 2018, p. 62.
Nos anos 90, outra vertente sobre engajamento chamou atenção dos pesquisadores,
apontando que o engajamento está relacionado com as maneiras pelas quais as
instituições alocam seus recursos e organizam os seus currículos. Essas maneiras
devem oportunizar diferentes estratégias para desenvolver a aprendizagem do
estudante.
A dimensão cognitiva está relacionada com o esforço mental que o docente faz ao
planejar e realizar suas aulas; a dimensão emocional refere-se ao estado efetivo do
docente com suas aulas; a dimensão social com os colegas retrata a interação que
o docente tem com seus pares; e a dimensão social com os estudantes simboliza o
quanto o docente se preocupa com os seus alunos, buscando compreender tudo
que pode impactar em sua aprendizagem e desenvolvimento cognitivo, social e
emocional. (NASCIMENTO; BRITO; PADILHA, 2020, p. 957).
Metodologia
Para a análise do engajamento docente, dois objetivos foram definidos: (1) identificar
quais os projetos com a Robótica Educacional (RE) eram desenvolvidos nas escolas de anos
finais e (2) analisar a percepção dos professores, participantes desses projetos, sobre a RE.
A Rede Municipal de Ensino do Recife (RMER) possuía, até 2020, 36 escolas de anos
finais. Todas elas desenvolviam projetos com a RE, tanto com atividades em sala de aula
quanto em clubes de robótica e laboratórios de ciências e tecnologia 1.
Após o mapeamento das escolas, levantamos quais eram os projetos desenvolvidos
e identificamos os professores participantes para aplicação dos questionários. Ressaltamos
que o questionário foi validado ad hoc por 6 pesquisadores da área de engajamento,
membros do Laboratório de Pesquisa Educação, Metodologias e Tecnologias (UFPE/CNPq),
sendo três doutores e três doutorandos. Os especialistas analisaram todos os itens dos
questionários sugerindo mudanças e questões.
Considerando a validação das questões pelos especialistas, os questionários foram
encaminhados aos professores das 36 escolas de anos finais da RMER através do Google
Forms. No total, 15 professores responderam ao questionário com as questões abertas e
fechadas e outros 10 ao questionário com as questões abertas.
Para análise das respostas dos questionários optamos pela técnica da Análise de
Conteúdo (BARDIN, 2011, p. 48), por ser “[...] um conjunto de técnicas de análise das
comunicações visando obter procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens indicadoras sendo essas mensagens quantitativas ou não” e
que “[...] permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/
recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.” (BARDIN, 2011, p. 48).
Na análise de conteúdo, identificamos as mensagens reveladas nas entrelinhas
do processo investigativo. Nesse sentido, seguimos as fases da técnica (a pré-análise,
a exploração do material, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação).
(BARDIN, 2011).
A seguir, detalhamos a quantidade de estudantes atendidos pelo Programa Robótica
na Escola e listamos os projetos com a RE desenvolvidos:
1
Os LCT (Laboratórios de Ciências e Tecnologia) funcionam nas escolas que possuem turmas do 6º ao 9º ano e dispõem de
uma metodologia inovadora, sendo divididos em quatro quadrantes: robótica, espaço maker, experimentação e ciências.
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Resultados
No caso dos professores, do total das 36 escolas que desenvolvem projetos com
RE, apenas 15 profissionais responderam aos questionários, o que consideramos uma
quantidade pequena diante do tamanho da rede de ensino. Ressaltamos, ainda, que a
maioria dos docentes participantes dos projetos são professores de matemática e ciências.
Acreditamos que isso decorre da falta de domínio da linguagem de programação e de
conceitos específicos dessas áreas para o desenvolvimento de projetos com a robótica,
por exemplo.
Nesse sentido, as respostas dos docentes destacaram a importância do envolvimento
cognitivo no trabalho com projeto de RE, como relatado a seguir:
A robótica exige uma habilidade mental maior por ser relacionado a números, códigos, programação
computacional, algo que não tenho facilmente desenvolvido em mim, mais como tenho interesse
enorme em aprender algo novo, encaro o desafio e tento desenvolver essa habilidade de maneira
a encarar como uma conquista, superação de paradigmas internos meus e tentar desempenhar da
melhor forma. (Docente 10).
Por crenças pessoais acredito que o ensino de robótica permite o desenvolvimento cognitivo tanto de
professor como alunos por acelerar o raciocínio lógico e permitir uma maior concentração e foco na
solução de problemas. (Docente 7).
Sempre desenvolvo projetos que sejam interdisciplinares para demonstrar a amplitude que pode alcançar
um projeto desenvolvido na escola, porém percebo muita resistência dos colegas no envolvimento,
de não ter tempo para desenvolver, prefere só dar as próprias aulas etc. Infelizmente é uma cultura
que precisa ainda ser desconstruída, porque o projeto além de envolver as questões curriculares e
extracurriculares, numa conjuntura única, traz também engajamento e motivação para propor uma
solução a um dado problema, dentro da própria aula. (Docente 10).
Foi o fator decisivo para que eu não quisesse mais trabalhar com robótica. Originalmente, os alunos
escolhiam se iriam estudar robótica. Mais tarde, o ensino da mesma passou a ser obrigatório para
uma turma aleatória. Não há horário para um clube de robótica, a eterna falta de material e a falta
de suporte humano (é inviável uma única pessoa ensinar sobre Arduíno para 30 pessoas sozinho, pois
perde-se mais tempo tentando descobrir onde o aluno errou do que ensinando). Tudo isso me levou a
abdicar de dar aula de Arduíno. (Docente 10).
Ponderações finais
Após a análise dos dados, podemos considerar que os bons resultados alcançados
nas competições de robótica pelos estudantes da Rede Municipal de Ensino do Recife
(LAUREANO, 2019) foram frutos, também, do envolvimento e da participação dos professores
nos projetos relacionados com a Robótica Educacional.
Entendemos que, para a criação, o desenvolvimento e a execução de um projeto
relacionado à RE, o envolvimento da instituição é fator decisivo, pois, ações como a
inserção como disciplina no currículo, integração das tecnologias na escola, formação
docente em serviço, entre outras, são responsabilidades da gestão escolar e institucional.
É necessário incluir, nas formações docentes, discussões para a inclusão da RE no
currículo escolar, bem como são imprescindíveis ações que possam consolidar os processos
de ensino e de aprendizagem, dentro de uma prática social mais ativa e protagonista,
pois, quando o sujeito se sente idealizador de um projeto, vê a perspectiva de criar novos
caminhos e possibilidades para sua prática docente.
Sendo assim, continuar com estudos relacionados ao olhar docente em relação à
tecnologia e seu uso na prática como: o engajamento de docentes no uso de tecnologias
disruptivas, o incentivo da participação de jovens, crianças e docentes nessa área e a
desmistificação do uso da robótica nas escolas, possibilita compreender a importância
do professor na mediação desses elementos no contexto educacional.
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