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09 O Livro de Deus

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CLASSE DE FUNDAMENTOS

O LIVRO DE DEUS

CLÉLIO MONTEIRO
O LIVRO DE DEUS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
● COMPREENDER A FORMAÇÃO DAS ESCRITURAS E SUA DUPLA NATUREZA;
● ENTENDER A COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA E SEUS GÊNEROS LITERÁRIOS;
● ENTENDER UMA METODOLOGIA DE UMA BOA LEITURA E INTERPRETAÇÃO
DOS TEXTOS DAS ESCRITURAS.

INTRODUÇÃO
Nenhum outro livro se assemelha a Bíblia Sagrada. Ela é o único livro que tem tudo que o homem
precisa. É um livro fascinante, e muitos durante toda a história têm se dedicado à sua leitura e
interpretação. Muitos por curiosidade científica, outros por reconhecerem nela a palavra de Deus.

Método de Estudo Bíblico é a disciplina que auxilia para a melhor compreensão da Bíblia, pois o
objetivo de se conhecer e saber aplicar os métodos está na intenção de acessar, através da
Bíblia, o conhecimento de Deus e de sua vontade para o ser humano.

Para que isso ocorra, isto é, para que o objetivo seja alcançado, o estudante precisa partir da
consideração de que a Bíblia é a palavra de Deus na sua totalidade, não existem textos mais
inspirados do que outros dentro da própria Bíblia, e que somente a iluminação do Espírito Santo
pode trazer a verdadeira compreensão da Bíblia.

Há quem diga que os “métodos” são ferramentas precisas na compreensão, já algum dizem que
isto significa tentar entender os Escritos Sagrados com o próprio raciocínio.

Na verdade, quando se utiliza esses métodos, o que ocorre é apenas uma tentativa honesta e
sincera diante de Deus e da comunidade eclesial, a Igreja, de organizar o estudo de forma a
fazer com que o entendimento assimile com mais facilidade o que se deseja aprender, a palavra
de Deus. Para que isto ocorra, o segredo é estar em devota dependência do Espírito Santo.

Faz parte deste “segredo” ter a consciência de que os métodos são ferramentas que auxiliam a
pesquisa, mas o estudante não pode se tomar escravo ou dependente desses métodos. Isto
significa que se no estudo não couber a utilização de todas as ferramentas, o estudante não deve
ter frustração ou pensar que não consegue ou que é muito difícil. Com o passar do tempo muitos
estudantes dedicados criam seu próprio método de estudo da bíblia.

Considerando que o estudo bíblico e a aquisição do conhecimento se dão por etapas, o conteúdo
dessa apostila está dividido em 3 seções: a primeira expõe as informações necessárias que todo
estudante deve saber para se aproximar da Bíblia para estudá-la; a segunda introduz o estudante
ao estudo da Bíblia através de mais informações que o conscientizam da seriedade do estudo;
e a terceira apresenta os métodos propriamente ditos que são as ferramentas necessárias para
o estudo da Bíblia.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A BÍBLIA


A Bíblia é a revelação de Deus à humanidade. Tudo o que Deus tem preparado para o homem,
bem como o que o homem precisa saber da parte dele para uma comunhão saudável está
revelado na Bíblia.

A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA
Como já se sabe, a Bíblia é um livro que desperta o interesse das pessoas há muito tempo por
se tratar de uma revelação de Deus ao ser humano. Quando o próprio Deus se dá a conhecer a
qualquer pessoa, só resta adorá-lo.

A história contida na Bíblia é sobre Deus e seu povo, mostrando exatamente os propósitos e as
ações do Senhor na re-humanização desse povo e na retomada de comunhão consigo. Através
da Bíblia percebe-se a preocupação incessante do Criador em levar o povo a segui-lo; e mesmo
diante das falhas, a consciência dessa dependência e comunhão se destaca.

Deus faz uso da Bíblia para alicerçar a fé dos cristãos de hoje como já o fez noutros momentos
expostos pela história. Jerônimo, um dos pais da Igreja ordenado sacerdote em Antioquia,
acreditava que “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”1. Já Ambrósio, Bispo da Igreja na cidade
de Milão, precursor da formulação de muitas doutrinas básicas do Cristianismo, sempre apelava
aos seus ouvintes que jamais deixassem de se dedicarem às Sagradas Escrituras, à meditação
e oração para que a palavra de Deus que está presente nelas fosse sempre eficaz2.

AS DUAS NATUREZAS DA BÍBLIA


A Bíblia parece ser um livro comum, mas em sua razão de ser, em sua origem e ideia central, a
Bíblia é a “palavra de Deus”, e como tal possui duas naturezas: é ao mesmo tempo divina e
humana, fruto de revelação, escrita por inspiração, e serve para trazer iluminação a todo aquele
que busca o Senhor3!

A Bíblia se confirma como divina por ter sido inspirada, por se encontrar nela a revelação e uma
coerência do seu conteúdo, mesmo com a participação de vários autores em momentos culturais
diferentes, em épocas diferentes. Ao mesmo tempo, a Bíblia possui uma essência divina por
causa da atualidade de seu conteúdo.

Palavras que foram inspiradas noutros tempos servem para alimentar espiritualmente as vidas
sedentas de hoje!

Igualmente a Bíblia se confirma como humana por se encontrar em sua produção os mais
diferentes estilos literários como poesias, cartas e narrativas e manifestações culturais diferentes
como o modo de falar, vestir, agir, meio familiar, diferenças políticas, econômicas e sociais. E
tudo isso construído dentro da história. Foram momentos reais, vividos, experimentados pelos
autores bíblicos, os mesmos que receberam a revelação de Deus ou ouviram testemunho
daqueles que receberam a revelação. Deus os usou como instrumentos vivos e conscientes,
respeitando a personalidade de cada um, o idioma que falavam e sua originalidade literária.

O TEMA CENTRAL DA BÍBLIA 4


O tema central da Bíblia é o Senhor Jesus Cristo. O fato de a Bíblia ser dividida, como se verá
detalhadamente no próximo capítulo, em Antigo e Novo Testamento, não significa que Jesus não
tenha nenhuma ligação com o Antigo Testamento. Em termos figurados pode-se dizer que a
Bíblia é uma planta que aprofunda suas raízes no Antigo Testamento e floresce no Novo, de
modo que as duas partes encontram sua unidade em Cristo.

Ele é a chave interpretativa que permite ao estudante decifrar o que há de mais belo e profundo.
Toda a Bíblia gira em torno de Jesus Cristo: o Antigo Testamento o vê como esperança e o Novo
o vê como cumprimento dessa expectativa outrora criada e ambos o veem como seu centro.

1 Citação extraída da apostila Métodos de Leitura Bíblica da FATE-BH. Página 4.


2 Ibidem, p.4.
3 As definições expressas no decorrer desse capítulo que não apresentarem citações ou bibliografias são

frutos de diversas leituras das mais variadas pesquisas ao longo do tempo, feitas pelo autor da apostila.
4 Conteúdo do tópico extraído da apostila Métodos de Leitura Bíblica da FATE-BH. Página 9.
Os escritores do Novo Testamento leram e interpretaram o Antigo Testamento buscando e
encontrando Jesus. À luz de Jesus Cristo, tudo se aclara, até os textos mais difíceis de serem
compreendidos e aparentemente menos importantes. Todo o conteúdo bíblico adquire nova e
inesperada dimensão quando se lê buscando compreender a partir da obra de Cristo.

Sintetizando esse tópico, como o próprio Jesus declara em Lc 24.27,44 e João 5.39, os 66
livros podem ser resumidos nas quatro palavras abaixo, todas referentes a Cristo5:

• Preparação: Todo o Antigo Testamento trata da preparação do mundo para o advento


de Cristo.
• Manifestação: Os evangelhos tratam da manifestação de Cristo ao mundo, como
Redentor.
• Propagação: Os Atos dos Apóstolos tratam da propagação de Cristo por meio da Igreja.
• Consumação: O Apocalipse trata de Cristo consumando todas as coisas.

Tendo Cristo como o tema central da Bíblia, podemos resumir todo o Antigo Testamento numa
frase: JESUS VIRÁ, e o Novo Testamento, noutra frase: JESUS JÁ VEIO.

Este capítulo, como se pode notar, possui um conteúdo bem simples, propositalmente de caráter
introdutório, objetivando apresentar a Bíblia enquanto palavra de Deus. Seguindo esta mesma
proposta introdutória, o próximo capítulo dá algumas informações consideradas como
conhecimento geral da Bíblia que todo cristão, estudante ou não de teologia, deve possuir.

CONHECIMENTOS GERAIS SOBRE A BÍBLIA


Todo estudante da Bíblia deve começar aprendendo e conhecendo a Bíblia de modo
generalizado para, somente então, se aprofundar em algum conhecimento bíblico específico ou
alguma metodologia específica com ferramentas próprias de interpretação. De nada adianta
querer estudar as técnicas hermenêuticas e as línguas bíblicas (hebraico, aramaico e grego) se
não sabe ao menos as informações básicas sobre o conteúdo da Bíblia.

AS PARTES DA BÍBLIA
A Bíblia é formada ao todo por 66 livros e dividida em duas partes principais: Antigo e Novo
Testamento. Para fins de estudo, essas partes podem ser subdivididas em partes menores6.

O Antigo Testamento é formado por quatro O Novo Testamento é formado por cinco
conjuntos que agrupam 39 livros7. conjuntos que agrupam 27 livros.

Pentateuco: conjunto que vai de Gênesis até Evangelhos: conjunto que vai de Mateus até
o Deuteronômio; João;

História: conjunto que vai de Josué até Ester; História: somente o livro de Atos;

Poesia: conjunto que vai de Jó até Cantares Cartas Paulinas: conjunto que vai de
ou Cântico dos Cânticos de Salomão; Romanos até Filemon;

Profetas: se subdividem em Maiores e Cartas Universais: conjunto que vai de


Menores. O conjunto dos maiores vai de Hebreus até Judas;
Isaías até Daniel e o conjunto dos menores
vai de Oséias até Malaquias.

5 Introdução Bíblica, p. 13.


6 As divisões que se seguem são sugeridas do livreto Introdução ao Estudo da Bíblia, da série Leitura Bíblica
produzido pela FATE-BH.
7 Esta proposta de divisão dos livros não é única. Outras literaturas, como A Origem da Bíblia e Introdução

ao Antigo Testamento de William Lasor, citam a divisão feita pelos judeus.


Profecia: Apocalipse;

A leitura atenciosa e o estudo detalhado desses conjuntos mostram que é um equívoco ver a
Bíblia como um manual legislativo de regras, normas e preceitos. Certamente que se podem
encontrar tais informações, mas a palavra de Deus vai além disso, na Bíblia é encontrada a
“História da Salvação”8. E essa história abarca muitas coisas, como vidas individuais, a vida de
nações e a vida de toda a humanidade. E por ser esse o seu conteúdo, a história da fidelidade
de Deus apesar da infidelidade dos seres humanos, é possível afirmar com a Bíblia possui, no
sentido mais profundo do termo, a História Sagrada9.

Com o objetivo de facilitar o estudo bíblico, é importante saber que as origens da Bíblia se
encontram nas “tradições orais”, histórias, fatos e ensinos transmitidos de pais para filhos. Estes,
na falta dos escritos, tinham muito mais validade e autoridade. As primeiras dessas tradições
remontam ao tempo de Moisés, treze séculos antes de Cristo10.

No que diz respeito ao estudo de cada uma das partes do Antigo, o estudante precisa saber que
o Pentateuco é a base de todo a religião de Israel. Todos os escritos que vem depois tem como
fundamento os eventos relatados nessa primeira parte do A.T. A fé do povo israelita foi
construída a partir de uma série de tradições, como já se sabe. E essas tradições eram sempre
relembradas em cada momento importante da história israelita, dando origem, muitas vezes, a
novas tradições. Não se trata de várias histórias com Deus, trata-se de uma mesma história
composta de várias tradições11.

Já o Novo Testamento apresenta o cumprimento, em Jesus Cristo, das promessas relatadas no


Antigo Testamento. É o registro escrito da manifestação do Reino de Deus através de Jesus
Cristo e o relato do início da Igreja como cumprimento da eterna vontade de Deus12.

OS GÊNEROS LITERÁRIOS ENCONTRADOS NA BÍBLIA


Como já se sabe a Bíblia não é um livro, no sentido de ter apenas um conteúdo com início meio
e fim, como qualquer outro livro, e, sim, uma enciclopédia compactada com uma variedade de
conteúdos que formam a “grande história da Salvação”. Nela são encontrados relatos históricos,
narrações, códigos legislativos, orações de diversos tipos, oráculos proféticos, poemas de amor,
parábolas, refrões, cartas e registros de genealogias.

Deve-se buscar um equilíbrio na leitura da Bíblia. Não se deve restringir tudo ao sentido literal
do que está escrito, mas também não se deve “simbolizar” tudo o que está escrito, como se cada
palavra tivesse um sentido oculto.

É indispensável que o estudante verifique qual é o estilo literário usado em cada passagem,
trecho ou livro bíblico. Sendo a Bíblia um livro humano e envolvendo um longo período histórico
em sua elaboração, vários estilos literários foram utilizados e deram forma os textos. Os
principais são13:

NARRATIVA
É uma forma de prosa que visa contar a história e a verdade através de fatos, histórias, relatos,
biografias, sempre a partir de uma perspectiva teológica. Suas características são:

• Revela a verdade de forma indireta;

8 Métodos de Leitura Bíblica, p. 17.


9 Ibidem, p.17.
10 Ibidem, p.17.
11 Introdução ao Estudo da Bíblia, p.18.
12 Ibidem, p21.
13 Identificação e sequência de gêneros sugerida na apostila Métodos de Leitura Bíblica, p. 14-16.
• Apela para as emoções e para a imaginação;

DISCURSO
É uma forma de prosa que procura apresentar as ideias, conceitos, doutrinas ou fatos de uma
forma lógica e ordenada, geralmente por meio de um argumento, uma carta, um sermão. O livro
de Hebreus é um bom exemplo. Suas características são:

• Revela a verdade de forma direta;


• Apela para a mente e ao intelecto (conteúdo racional e ordenado);
• Demonstra desenvolvimento e progressão do raciocínio;
• Geralmente inclui exortação e mandamentos;
• Conduz a uma conclusão ou tomada de atitude (ação de obediência);

POESIA
É utilizada para comunicar emoções, sentimentos e ideias. No texto bíblico deve ser vista como
uma resposta humana às ações maravilhosas de Deus. O livro dos Salmos é um bom exemplo.
Suas características são:

• Revela a verdade através das figuras de linguagem, da forma e do conteúdo;


• Utiliza-se de uma linguagem figurativa, descritiva e simbólica para criar imagens mentais;
• As palavras empregadas, geralmente não visam ser interpretadas literalmente, mas
comunicam sentido e verdade com clareza;
• O conteúdo é altamente emotivo e mexe com os sentimentos;
• Utiliza-se de paralelismo quando quer enfatizar, ou contrastar, ou reforçar algo ou uma
ideia;
• O estilo da poesia hebraica não possui rima métrica.

PROFECIA
É uma forma de linguagem altamente simbólica e figurativa, mas comunica a verdade real. Sua
função é anunciar a aliança de Deus com o povo e exigir seu cumprimento e anunciar a palavra
de Deus (Ex.: leia Deuteronômio 4.32-40 e compare com Amós 9.11-15 e Oséias 8.14).
Para ler as profecias é preciso localizar o momento histórico em que elas aconteceram (a fase
do reinado, do exílio ou do retorno do exílio) e do período específico de cada profeta. É importante
lembrar que os livros proféticos não são uma narrativa linear, isto é, não seguem uma sequência;
mas, sim, um conjunto de declarações em nome de Deus. Um bom exemplo é o livro de Miquéias.
Sua única característica é:

• Contém visões que pedem interpretação cuidadosa.

EPÍSTOLAS
Não formam uma coletânea homogenia, isto é, não possuem natureza de conteúdo igual e nem
apresentam semelhança de estrutura. São simplesmente textos endereçados que visam tratar
de situações específicas que envolvem as comunidades e os indivíduos como Filemon e
Timóteo. A 1ª carta de Pedro é um bom exemplo. Suas características estão na estrutura ou
modelo em que foram escritas. Mesmo que uma ou outra não encontre todos esses elementos,
mas a maioria possui:

• Nome do escritor;
• Nome do destinatário;
• Saudação;

TEXTOS SAPIENCIAIS OU DE SABEDORIA


É o tipo de literatura que busca aplicar a verdade à vida em seu cotidiano. No caso do
sapiencialismo bíblico parece ser uma teologia para a vida. O livro de Provérbios é um bom
exemplo. Suas características são:

• Os textos de sabedoria mais antigos se apresentam na forma de sentenças, enquanto


que os mais recentes apresentam uma unidade literária mais definida.
• É comum a literatura sapiencial ter como foco as pessoas, seu comportamento e vivência
na sociedade.
• Os textos de sabedoria devem ser estudados como orientações sobre como conduzir
sabiamente a vida, tendo como princípio o temor do Senhor.

PARÁBOLAS
São histórias que ensinam uma lição de moral ou uma verdade. São fictícias, mas refletem a vida
real. São projetadas para mostrar uma proposta central ou ideia sugerida, e cada detalhe da
parábola reforça essa proposta. As parábolas ampliam ou continuam uma doutrina, mas não as
estabelecem por não serem passagens doutrinárias muito claras. Portanto não se deve tentar
sempre um significado ou uma aplicação espiritual a cada detalhe da parábola e nem tornar a
parábola a principal ou única fonte para o estabelecimento de doutrinas. Para identificar
corretamente uma parábola o estudante deve:

• Identificar o motivo da parábola;


• Procurar a explicação do sentido da parábola;
• Identificar a ideia central da parábola;
• Procurar o elemento central e identificar os detalhes importantes e os não importantes;
• Interpretar as parábolas pelos antecedentes culturais da época da Bíblia e não pela
cultura de hoje;

APOCALIPSE
O gênero “apocalipse”, muito comum entre os judeus do século II a.C. ao século II d.C,
caracteriza-se por suas revelações, sobretudo a respeito do futuro. Nos apocalipses abundam
visões simbólicas, alegorias enigmáticas, que são o método de interpretação das sagradas
escrituras usadas pelos autores que almejavam transmitir significações morais, doutrinárias,
normativas, ocultas sob o texto literal14, também são encontradas imagens surpreendentes e
informações numéricas. A aparição e desenvolvimento do gênero se deram pelas duras
condições de vida do judaísmo e que despertou um grande desejo de tempos melhores e de
libertação nacional, das mãos das nações opressoras. Dois bons exemplos são os livros de
Daniel e do Apocalipse de João.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Geralmente tem-se a ideias de que o estudo da palavra de Deus de modo mais detalhado fica
restrito a teólogos e pesquisadores, no entanto o estudo serve para todo aquele que deseja se
aproximar e conhecer mais sobre Deus e ter um relacionamento com Ele. Uma das possíveis
explicações para a crença nessa ideia falsa é a falta de referências e de informação sobre a
própria Bíblia enquanto “livro humano”, isto é, enquanto livro histórico que apresenta estilos
literários e culturais diferenciados. Esses dois primeiros capítulos apresentaram informações
cruciais que devem ser previamente assumidas pelo estudante da Bíblia e que são importantes
para uma leitura e interpretação saudável das Escrituras, isto é, informações que produzem o
desenvolvimento de um estudo cujos resultados se voltam para as necessidades individuais ou

14 14 Conceito extraído do Dicionário Eletrônico Houaiss.


comunitárias; de acordo com as solicitações que o teólogo, ministro e/ou estudante da palavra
recebe da sociedade.

Mesmo que introdutoriamente note que este capítulo já revelou detalhes do conteúdo bíblico que
são gerais, mas ao mesmo tempo importantíssimos. Não é possível trabalhar a interpretação de
qualquer tipo de texto se estas informações dadas aqui não forem de conhecimento do estudante
da Bíblia. Daí toda esta seção que se encerra aqui se destinar a mostrar ao estudante que, antes
mesmo de começar a estudar um texto bíblico, é preciso estar fundamentado nas informações
básicas sobre o conteúdo bíblico. A próxima seção encaminha o teólogo ou estudante ao
conhecimento sobre o estudo da Bíblia propriamente.

A IMPORTÂNCIA DE SE ESTUDAR A BÍBLIA


Por certo, algumas pessoas costumam dizer que cada pessoa tem a sua própria interpretação
da Bíblia, todavia se esta crença é correta o cristianismo perde seu sentido e a Bíblia não tem
mensagem que norteia a vida. “Se um indivíduo pode fazer a Bíblia dizer o que ele
quer que ela diga, então a Bíblia não pode guiá-lo”15. E se a Bíblia não pode orientar a
vida de ninguém, não passa de uma arma nas mãos de alguns para dar apoio às ideias pessoais.

Mas como a Bíblia não foi escrita com esse propósito, ela exige respostas por parte do estudante,
pois quando lida, interpretada e estudada é Deus falando. E essa resposta tem de ser nada
menos do que obediência à vontade de Deus. Para que essa obediência seja consequência de
um relacionamento saudável com Deus, isto é, seja fruto de estudos adequados, os tópicos a
seguir confirmam a importância de se estudar a Bíblia.

PORQUE É IMPORTANTE ESTUDAR A BÍBLIA 16


O estudo das Escrituras é uma necessidade, pois estudar é mais do que ler. O estudo da Bíblia
é de grande importância, pois nela tem-se a revelação especial de Deus. Conforme os textos de
1 Pedro 3.15; 2 Timóteo 2.12; Isaías 34.16; e Salmo 119.130 a necessidade de tal
estudo é real e imprescindível. Abaixo, alguns argumentos para a motivação do constante estudo
das Escrituras:

• É a referência do crente na vida cristã e no trabalho do Senhor17: Assim como um bom


profissional sabe empregar bem as ferramentas de seus ofícios porque estudou e
praticou o mesmo, todo cristão deve saber manejar bem a Palavra de Deus18. A Palavra
de Deus não volta vazia19. Quando alguém toma tempo e estuda com propósito a Palavra
os seus resultados serão gloriosos.
• Alimenta as nossas almas: O estudo da Bíblia é tão indispensável à alma como o pão é
para o corpo20. Deve-se ter bom apetite pela Bíblia, pois o mesmo é sinal de saúde
espiritual.
• É o Instrumento que o Espírito Santo usa: Uma pessoa que diz ter o Espírito Santo e não
conhece a Bíblia pode ser conduzida ao fanatismo. Por outro lado, se essa mesma
pessoa se disser conhecedora da Palavra, mas não tiver o Espírito pode tornar-se
formalista. São dois extremos que devem ser evitados. O cristão deve ser cheio da

15 HENRICHSEN, p.7.
16 Argumentos desenvolvidos a partir do tópico A importância de se estudar a Bíblia contido na apostila
Introdução Bíblica. Página 4-5.
17 Cf. a 1ª epístola de Pedro 2.9 e a epístola aos Efésios 2.10.
18 Cf a 2ª carta a Timóteo 2.15.
19 Cf. o livro de Isaias 55:11.
20 Cf. o Evangelho de Mateus 4.4; o livro de Jeremias 15.16 e a 1ª epístola de Pedro 2.1-2.
palavra de Deus para que suas orações possam ser respondidas21. O Espírito Santo
deseja encontrar no crente o instrumento com que possa operar a Palavra de Deus.
• Enriquece a vida do cristão espiritualmente: Afirma-se que há cerca de 32.000
promessas na Bíblia. Junto das promessas está a formação do caráter e da vida cristã.
Ela é a revelação de Deus para a humanidade. O que o homem precisa saber quanto a
sua redenção, conduta cristã e felicidade eterna encontra-se na Bíblia. O autor da Bíblia
é Deus, seu real intérprete é o Espírito Santo e seu tema central é Jesus Cristo. O homem
deve estudar a Bíblia para ser sábio, crer na Bíblia para salvo e praticar a Bíblica para
ser santo.

É importante compreender que Deus levou a Bíblia a ser escrita para se revelar através dela.
Jesus indicou o motivo principal de estudá-la quando criticou os fariseus respondendo para que
eles estudassem as Escrituras que testificam dele. Isso significa que os fariseus estudavam
incorretamente por não encontrarem Deus na pessoa de Jesus Cristo na Bíblia.

No mais, o apóstolo Paulo ensinou Timóteo que o conhecimento da Bíblia traz certos resultados
práticos na relação com Deus ao escrever que “toda Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino”22.

Quando o estudante se aproximar da Bíblia, é igualmente importante entender que ela não é
uma enciclopédia qualquer a ser consultada quando uma pessoa tem o interesse num assunto
religioso, ou uma coletânea de textos isolados para a defesa de certas falsas doutrinas, muito
menos um conjunto de oráculos místicos pelos quais é possível satisfazer a curiosidade sobre o
futuro. Ao contrário, a Bíblia possui autoridade para guiar as pessoas em suas decisões,
modificar para melhor a forma dos homens se relacionarem, corrigir, instruir e orientar
corretamente a visão dos indivíduos sobre a verdade e definir os propósitos pelos quais os seres
humanos vivem.

É por isso a Bíblia não é um livro de teorias, mas, sim, um livro de vida, para a vida. A palavra
“conhecer”, na filosofia, significa “ter informações e conceitos sobre a realidade das coisas”, mas
não produz nenhuma consequência prática. Já na linguagem hebraica e na Bíblia, “conhecer”
significa um relacionamento pessoal e, consequentemente, um compromisso prático. Portanto,
quem não obedece a Deus, não o conhece23.

Assim, o resultado do estudo bíblico coerente é a mudança de crença, de pensamento e de


atitude, como uma demonstração sincera de tentar andar de modo que seja cada vez mais
consolidada a relação com Deus.

A LEITURA E INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NO DECORRER DO S TEMPOS


Para reforçar esse argumento acerca da importância do estudo da Bíblia, a história está repleta
de exemplos sobre a dedicação de pessoas dedicadas ao estudo da palavra de Deus e ao
aperfeiçoamento próprio em várias épocas.

• Na época do Antigo Testamento: Apesar de a Tradição Oral prevalecer como método de


se propagar a revelação de Deus, a pouca escrita que existia também era usada para a
compreensão dessa revelação. Desse modo tanto as informações obtidas por tradição
como as registradas eram lidas, relidas, interpretadas e reinterpretadas pelo povo de
Israel, sempre com o intuito de atualizar as memórias históricas, tendo como principal
objetivo a contextualização da tradição para o momento em que viviam.

21 Cf. o Evangelho de João 15.7.


22 Cf. a 2ª carta a Timóteo 3.16,17.
23 Cf. a 1ª epístola de João 2.3 a 6.
• Nos tempos de Jesus: Nessa época as Escrituras eram lidas em hebraico, que era a
língua da religião. O idioma falado em todo o império romano era o grego e o idioma
popular da Palestina era o aramaico. Os escribas, doutores da lei e estudiosos da época,
é que se responsabilizavam pelos comentários interpretativos, pelo ensino nas
sinagogas e pela tradução dos escritos para o aramaico.
• Na época das Primeiras Comunidades: Os primeiros cristãos faziam uma leitura e uma
interpretação apologética, que pretendia provar um ponto de vista da fé da comunidade
frente aqueles que não liam o texto sagrado como eles. Era um esforço para provar que
Jesus, de fato, era o que é. Ao mesmo tempo buscavam nas Escrituras uma orientação
para as novas situações que surgiam a cada dia, momentos que estavam vivendo.

Como se pode observar, a leitura e a interpretação da Bíblia receberam modificações no decorrer


do tempo. Mas a essência permaneceu, isto é, o mais importante que é a resposta certa,
verdadeira que orienta o ser humano, a Bíblia continua a conceder. O próximo capítulo trata do
ponto complementar deste capítulo: a importância da interpretação durante o estudo da Bíblia.

A IMPORTÂNCIA DE SE INTERPRETAR A BÍBLIA


Refletir sobre a importância de se interpretar a Bíblia é agir com honestidade diante de Deus e
dos homens. É inevitável que haja qualquer tipo de interpretação por parte do ser humano.
Interpretar está na capacidade existencial das pessoas, como se fosse uma ferramenta que nos
permite funcionar e viver na realidade cotidiana. Interpretamos as notícias que ouvimos, os filmes
que assistimos e os textos que lemos. Interpretar é uma ação natural no ser humano.

Porém, em se tratando da Bíblia, a falta de humildade por parte do cristão pode levar à
consequente falta de coerência na interpretação do conteúdo bíblico. Esta falta de coerência, por
certo, levará ao ensino enganoso para a própria vida e se for comunicado à Igreja, igualmente,
esta também será vítima dos ventos de falsa doutrina. Infelizmente tragédias espirituais podem
ocorrer diante da interpretação distorcida. Por isso é preciso refletir sobre a necessidade da
interpretação propriamente levando-se em consideração seus limites idiomáticos, de grafologia,
gramaticais e históricos considerando a existência de contextos específicos em que cada texto
bíblico foi escrito.

A NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO 24
É comum o estudante da Bíblia se deparar com pessoas questionam a necessidade de se
estudar a Bíblia. Muitos dentre estes afirmam que a Bíblia não é um livro obscuro, de difícil
entendimento, ao contrário, afirmam que é um livro simples e de claro significado. Mas o que não
percebem é que ao verificar essa ideia de que basta ler que o sentido surge, tal argumentação é
ingênua tanto por causa da natureza do leitor quanto da natureza da Escritura.

Todo leitor é ao mesmo tempo um intérprete. A maioria das pessoas quando está lendo o texto
bíblico toma por certo que no decorrer dessa leitura já está entendendo o significado, tendendo
a confundir o entendimento humano com a intenção do Espírito Santo. A questão é que durante
a leitura, o estudante, sem perceber, leva para o texto toda sua personalidade, sua educação,
sua cultura, sua visão de mundo, seu entendimento prévio das palavras e ideias, suas
experiências, correndo o risco de atribuir ao texto ideias estranhas a ele, coisas que não fizeram
parte da intenção do autor original.

Como exemplo pode-se ilustrar a leitura e significado que uma pessoa de cultura ocidental atribui
quando lê a palavra “cruz”. Séculos de arte e simbolismo cristãos levam essa pessoa a pensar
na cruz romana com esse símbolo ( + ). Mas o formato da cruz de Jesus era assim ( T ), um “tê”.
Quando o apóstolo Paulo escreve aos romanos “Nada disponhais para a carne, no

24 Reflexão desenvolvida a partir da leitura da introdução do livro Entendes o que lês? De Gordon FEE.
tocante às suas concupiscências” (Rm 13), as pessoas de culturas e idiomas
ocidentalizados tendem a imaginar que “CARNE” significa “CORPO”, portanto o apóstolo está
falando dos “APETITES FÍSICOS”. Mas a palavra “CARNE” conforme está empregada no texto
refere-se a uma enfermidade espiritual conhecida como “NATUREZA PECAMINOSA”.

Além de todo leitor ser naturalmente um intérprete, a Bíblia, conforme já se viu em tópico anterior,
possui uma dupla natureza: é divina e humana ao mesmo. “A Bíblia é a Palavra de Deus
dada nas palavras de pessoas na história”25. Daí a necessidade de interpretação, pois o
fato de existir um lado humano na Bíblia deve servir como encorajamento e desafio.

É igualmente desafiador determinar o alvo da boa interpretação. Esse alvo não é a originalidade.
A interpretação que visa à originalidade quase sempre pode estar ligada ao orgulho, uma
tentativa de se “mostrar mais sábio” do que o restante das pessoas; ou tentativa de desenvolver
de forma errada a espiritualidade, quando se defende que a Bíblia está cheia de verdades
profundas que estão esperando para serem descobertas por uma pessoa que estiver
“espiritualmente sensível” e com um discernimento especial; ou até mesmo a interesses
suspeitos, misteriosos, ocultos, como a necessidade de apoiar qualquer preconceito teológico.

O alvo da boa interpretação é simples: chegar ao “sentido claro do texto”; e o ingrediente mais
importante que a pessoa traz a essa tarefa é o bom-senso aguçado. O estudante descobre que
a interpretação está correta quando sente a mente aliviada juntamente de uma “cutucada” no
coração.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTERPRETAÇÃO


O tópico anterior apresentou argumentações que conduzem o estudante à compreensão sobre
a importância de se interpretar. Inevitavelmente todas as pessoas são leitoras e intérpretes das
mais variadas situações, das experiências pessoais ou de outras pessoas que tiveram a
experiência e são mais próximas e acontece o mesmo quando se trata de adquirir conhecimento.
Então, não poderia ser diferente com diante do estudo da Bíblia.

E já que a interpretação é um “fenômeno” natural em cada ser humano, é preciso refletir sobre
seu papel e seus limites quando usada no texto bíblico.

Interpretar é explicar ou mostrar o significado de algo. Entretanto esse “significado” procurado,


não é o que significa para o estudante, mas, sim, o que significava para o autor, isto é, qual a
intenção do autor, qual a influência que ele estava recebendo em seu contexto que o conduziu a
também interpretar a situação assim.

Daí se conclui que o propósito da interpretação é entender a mensagem central da passagem;


por isso sua interpretação é uma tarefa importante que deve ser feita em oração, com seriedade,
humildade e cuidado.

Mas toda essa reverência não significa que o estudante deve ou pode anular suas faculdades
mentais no decorrer do estudo da Bíblia, haja vista que o próprio Jesus ensinou que as pessoas
devem amar a Deus com todo o entendimento. Por um lado, é verdade que a Bíblia é o livro que
comunica para uma variedade maior de pessoas, mais do que qualquer outro: grupos indígenas,
povos orientais, africanos e europeus, sejam elas estudadas com altos títulos escolares ou não.
Por outro, a interpretação não é um jogo inteligente em que o estudante coloca o significado que
mais o “atrai”, antes, ele deve sempre interpretá-la dentro do contexto textual e histórico
continuando em oração e dependência do Espírito Santo.

25 25 LADD apud FEE, p. 17.


Como se pode perceber, este capítulo procurou apontar para a necessidade que todos nós temos
de buscar interpretar corretamente a Bíblia. Portanto devemos sinceramente considerar a
diversidade interpretativa como resultado de qualquer método de estudo da Bíblia.

Note, seria muita ingenuidade ou reducionismo imaginar que só é possível um tipo de resposta
de um determinado texto bíblico para uma igreja, ou mesmo que uma resposta bíblica serve tanto
para uma igreja que vive na Suécia cujo índice de desigualdade social é mínimo, quanto para
uma igreja na África cujos índices de desigualdade social são os mais altos do mundo.

Evidentemente que no momento de buscar a explicação de como aproveitar para hoje o


significado do texto nas mais variadas culturas e igrejas, é certo que as informações textuais têm
como serem as mesmas, pois se trata da mesma Bíblia e dos mesmos textos e dos mesmos
autores e da mesma inspiração e mesma revelação. E os parâmetros que consideramos neste
capítulo sobre a necessidade de interpretação e as considerações sobre a interpretação são as
mesmas. Entretanto, é fato que os resultados interpretativos vão variar de uma sociedade para
outra, de uma cultura para outra no momento da contextualização. Isto é, no momento de explicar
o significado bíblico para os dias de hoje conforme o contexto vivido por cada igreja local.

E isto se dá porque todas as pessoas são naturalmente influenciadas por uma visão de mundo
que até certo ponto é própria, é individual e até certo ponto faz parte de uma cultura sendo
comunitária. Portanto, E é por isso que o intérprete deve assumir a responsabilidade por sua
própria interpretação, ciente de que se ele ensinar uma heresia é ele mesmo quem deve receber
as consequências de sua postura. Por isso é importante que o estudante saiba qual o real papel
do Espírito Santo na leitura da Bíblia. E este é o assunto do próximo capítulo.

O ESPÍRITO SANTO E A LEITURA DA BÍBLIA


Até o momento reflexões foram feitas sobre informações introdutórias que conduzem o aluno ao
estudo da Bíblia. O presente capítulo preocupa-se em mostrar que todas as crenças que
precedem ao estudo da Bíblia, todas as informações preliminares, ou qualquer tipo de
conhecimento prévio do texto bíblico de nada vale, de nada adianta, de nada resolve para revelar
as verdades da palavra de Deus se não houver uma ação do Espírito Santo.

Por mais fácil que possa parecer para muitas pessoas, devido à dupla natureza da Bíblia, sua
leitura e estudo tornam-se um processo complexo e ao mesmo tempo único. Porém, a falta de
percepção acerca dessa complexidade promove consequências negativas para o entendimento
do estudante, como a leitura reducionista. É preciso que o estudante saiba identificar quais são
as distorções provocadas para conseguir ler, interpretar e estudar adequadamente26.

LEITURA REDUCIONISTA: CONSEQUÊNCIA DA FALTA DE PERCEPÇÃO SOBRE A


COMPLEXIDADE DA LEITURA BÍBLICA
A leitura reducionista é aquela que tende a minimizar fundamentos importantes que antecedem
a leitura da Bíblia. Algumas pessoas, ao fazerem uso desse tipo de leitura, tenderão a anular a
autoridade das Escrituras, tentarão fazer uma interpretação meramente científica, e outros não
levarão em consideração o contexto em que o texto foi escrito, deixando de lado as questões
histórico-gramaticais.

Nas leituras populares da Bíblia a leitura reducionista é encontrada na forma de duas falsas
crenças: a primeira é a errônea crença de que a Bíblia é um objeto mágico de modo que seus
textos formam um conjunto de escritos misteriosos e místicos; a segunda é a ideia evangélica
de que o significado do texto bíblico não é entendido através da razão, mas somente da

26Este capítulo foi desenvolvido a partir da leitura do artigo que possui o mesmo título, O Espírito Santo e
a Leitura da Bíblia, de Guilherme V.R. Carvalho.
revelação do Espírito. Ou seja, o Espírito é o intérprete de modo a se crer que a verdade não
está no texto bíblico, mas na voz do Espírito, que usa o texto para comunicar sua verdade, e
desse modo a razão humana está dispensada do trabalho de interpretação27.

A partir dessa crença que surge da leitura reducionista que se faz da Bíblia, o Espírito comunica
o significado do texto sem a mediação da mente e o texto bíblico não tem um único significado,
ao contrário, possui vários. Isso conduz à crença de que o texto bíblico não pode ser
compreendido por nenhum processo racional ou crítico, mas pela revelação imediata do Espírito
sem o auxílio da mente. Como resultado, é possível que pessoas se aproximem da Bíblia vendo
seus escritos como sendo misteriosos, conforme já fora mencionado, ininteligível, isto é, que não
se pode entender, e, sim, legível apenas por meio de um carisma especial. Esse tipo de leitura
é chamado de “leitura pneumática”, que significa exatamente isso, uma leitura totalmente
orientada pelo Espírito sem passar pela razão humana, algo hipnótico. Portanto é muito
importante que o estudante reflita sobre a atuação do Espírito Santo na leitura, interpretação e
estudo das Escrituras.

PROBLEMAS CAUSADOS PELA LEITURA PNEUMÁTICA 28


A preocupação da leitura pneumática é tornar possível a aceitação de uma interpretação do texto
bíblico que não possa ser questionada de nenhum modo. Um dos problemas resultantes dessa
proposta é a arbitrariedade, isto é, o não seguimento e cumprimento de regras ou normas; é a
ausência de fundamento lógico, apenas dependendo da vontade ou arbítrio daquele que
interpreta. Essa arbitrariedade é nociva por quatro motivos:

• PRIMEIRO: Nega a autoridade das Escrituras na medida em que não demonstra


interesse pelo real significado do texto bíblico.
• SEGUNDO: Ignora a inimizade do homem contra Deus e o pecado que bloqueia sua
capacidade de entender o texto bíblico ou de receber revelações. Isso o conduz a
deturpar, distorcer o significado das Escrituras.
• TERCEIRO: Torna impossível a obediência ao princípio bíblico de que a interpretação
não pode ser arbitrária e pessoal, mas, sim, propriedade de todos, ou seja, clara e
acessível a todos os que se dedicam ao estudo das Escrituras.
• QUARTO: Esse tipo de leitura minimiza o aspecto humano da Bíblia ao não admitir que
a palavra de Deus possa estar condicionada à linguagem humana.

Em resposta à leitura pneumática, cabe aqui o comentário de Carl Braaten:

“A Palavra de Deus não está apartada da humanidade; antes, Deus utiliza


palavras e conceitos humanos, mãos e lábios humanos, a história humana em
sua glória e tragédia. O meio de sua revelação é inteiramente encarnacional”29.

O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO NA LEITURA DA BÍBLIA


Desde os primeiros dias do cristianismo a Igreja crê que é preciso uma obra especial da graça
de Deus para que o homem compreenda as Escrituras30. Só Deus pode dar testemunho de suas
próprias palavras, e Ele o faz produzindo a convicção interior da verdade da Palavra, que é
confirmado nos textos bíblicos31.

27 CARVALHO, p.1.
28 CARVALHO, p.3.
29 BRAATEN apud CARVALHO, p.3.
30 RICHARDSON apud CARVALHO, p.5.
31 Cf. o Evangelho de João 15.26,27 e 16.14; o livro de Atos 1.8; a epístola aos Romanos 8.16; a 1ª epístola

aos Coríntios12.3; e a 1ª carta de João 5.7.


O estudo detalhado desses textos revela que o testemunho que o Espírito Santo dá é sobre
Cristo, e esse testemunho é inseparável do testemunho apostólico de modo que, a compreensão
desse testemunho dado pelo Espírito envolve a fé e a segurança pessoal nas promessas do
evangelho32. O Espírito Santo é o responsável por produzir a fé nas Escrituras: elas são o
testemunho profético e apostólico escrito; desse modo tanto a Escritura quanto o Espírito
testificam de Cristo33. Assim, a conclusão é evidente: o papel do Espírito Santo é, antes de tudo,
o de produzir a fé na autoridade das Escrituras; em outras palavras, é Ele quem capacita o
estudante a reconhecer o aspecto divino da Bíblia e torna que seja vista como registro inspirado
e revelado. É o Espírito que torna o estudo bíblico, um estudo teológico34.

Com essa definição é possível afirmar que a iluminação do Espírito Santo, isto é, o meio pelo
qual o Espírito testifica ao ser humano a verdade bíblica, não é, não significa, não acontece a
explicação do significado do texto bíblico de modo separado do pensamento. O Espírito Santo
não é o intérprete e não explica para o estudante o contexto histórico-literário do texto, antes,
Ele capacita para a leitura do texto de modo que seja feita teologicamente, na medida em que
produz o discernimento para as realidades espirituais, e a consequente fé na “palavra escrita”35.

Para que não reste a menor sombra de dúvida sobre o papel do Espírito na leitura da Bíblia basta
diferenciar os conceitos de “significado” e “significância”. “Significado” refere-se ao sentido
histórico-literário comum, isto é, aquilo que o autor quis dizer. Já “significância” é o
relacionamento entre o “significado” e a pessoa que está estudando. O Espírito Santo não passa
o significado, mas capacita para que o estudante desenvolva uma significância que seja
relevante para seu tempo, sua vida e sua comunidade.

Note que este capítulo promove profundo esclarecimento e ao mesmo tempo um inegável
impacto. De repente o estudante descobre que parte de suas interpretações nada ortodoxas e
nada bíblicas não passam de sugestão pessoal e nada tem a ver com o contexto bíblico e muito
menos com o ensinamento adequado das Escrituras. Todavia esta ponderação sobre o papel do
Espírito Santo na leitura da Bíblia é necessária justamente para se produzir um amadurecimento
teológico e a devida seriedade que todos os cristãos precisam ter ao ler e estudar a Bíblia,
principalmente quando estas atividades ocorrem para que algo seja ensinado à Igreja. O teólogo
ou estudante da Bíblia deve ter reverência, mansidão, humildade e acima de tudo reconhecer
que nem sempre ele terá todas as respostas imediatamente e que é necessário estar sob a
orientação do Espírito Santo. Pois, mesmo que Ele não dê o significado do texto bíblico,
certamente Ele ajudará na significância e contextualização para a contemporaneidade daquele
que estuda a Bíblia.

Encerrado este capítulo, encerra-se aqui também a parte mais teórica do conteúdo desta
apostila. De agora em diante, a partir do próximo capítulo, os aspectos mais práticos do estudo
da Bíblia são apresentados.

INSTRUÇÕES PRELIMINARES AO ESTUDO DA BÍBLIA


Depois de estudar todas as considerações e todos os aspectos teóricos dos Métodos de Estudo
da Bíblia, o estudante se depara, a partir de agora, com um aperfeiçoamento nos rumos de seus
estudos. É o momento de fazer uso de ferramentas específicas que são muito úteis no estudo
da Bíblia, no sentido de encontrar o significado histórico-literário de qualquer texto bíblico
investigado. Mas, para tanto, é preciso começar a usar os parâmetros que delimitam teológica e
eticamente até onde o estudante pode ir sem interferir na autoridade das Escrituras e sem correr

32 R.C. SPROUL apud CARVALHO, p.5.


33 Cf. o Evangelho de João 5:39 e 15:26,27.
34 CARVALHO, p.6.
35 Ibidem, p.6.
o risco de usar de arbitrariedade em suas interpretações e contextualizações. Estes parâmetros
são as orientações sobre como estudar e interpretar a Bíblia e quais critérios utilizar.

COMO ESTUDAR A BÍBLIA


A Bíblia pode ser estudada de duas maneiras36:

COMO PRODUTO DO ANTIGO ORIENTE


Como tal, o estudante pode destacar seu aspecto histórico e literário. Dessa forma ela pode ser
estudada junto com as outras literaturas que se aproximam da mesma época em que o respectivo
texto bíblico está sendo estudado.

Uma grande vantagem desse método é a constatação de que o povo da Bíblia era um povo real,
que seguia normalmente o curso da vida, indo mais além do que apenas manifestar
institucionalmente uma religião monoteísta, isto é, uma religião cuja crença está firmada no único
Deus. Essa ideia de um povo isolado não condiz com a evidência bíblica, que mostra muitas
nações e diversos sistemas religiosos. E é justamente com essa proposta de se estudar a Bíblia
que é possível descobrir as semelhanças e as diferenças do povo de Deus e seus vizinhos, que,
em muitas situações, não se diferenciavam tanto assim.

PERCEBENDO O QUE A BÍBLIA DIZ DE SI MESMA


Isso exige uma leitura de caráter mais teológico, o que não significa ignorar a história e a
geografia do Oriente Médio, ou as religiões e as culturas diversas do mundo bíblico. Fazer uma
leitura de caráter mais teológico é saber perceber as características mais marcantes da religião
bíblica, da forma como a crença em Deus se manifesta. E o que se pode perceber de início é
que nem sempre esta crença é homogênea, isto é, segue um padrão moral perfeito de crença e
comportamento durante a história, mas em diversas situações é totalmente diferente das outras
religiões, de modo a glorificar a Deus. Por exemplo, o conceito de que o Deus dos patriarcas
Abraão, Isaque e Jacó, deseja manter relações e se comunicar com o povo que ele mesmo
formou, é totalmente inédito. Outro conceito diferente das demais religiões é o cuidado na
totalidade da vida que Deus tem para com seu povo: o mesmo Deus que cria, é o que dá o
sustento, faz com que as colheitas sejam fartas e também é o que trava as batalhas intensas
contra a incredulidade das outras nações.

COMO INTERPRETAR A BÍBLIA


De acordo com os estudos teológicos investigativos a Bíblia apresenta basicamente dois
sentidos: o “literal”, que é o sentido histórico e literário, a o chamado “alegórico”, reconhecido por
alguns como “típico”, “figurativo” ou “cristológico”.

O sentido literal é caracterizado por considerar a história dos personagens centrais como Adão,
Noé, os Patriarcas, Moisés, Davi, os profetas, e os atos fundamentais da história bíblica como o
dilúvio, o chamado de Deus a Abraão, a passagem do Mar Vermelho, a aliança de com Deus no
monte Sinai, e outros mais.

O sentido alegórico é caracterizado pelo simbolismo. Um exemplo claro disso é a parábola; é


uma forma comum de simbolismo na linguagem oriental. A Escritura está cheia de alegorias que
conseguem expressar a realidade tão bem quanto o sentido literal.

Um exemplo de leitura e interpretação que pode ser feita nos dois sentidos é o oráculo de Isaías:
“... e dará luz a um filho e o chamarás Emanuel”. No sentido literal-histórico, este texto
se refere ao nascimento de um rei da dinastia de Davi; já no sentido alegórico é possível reler o

36 Métodos de Leitura Bíblica, p.6-7.


texto e reinterpretá-lo, sendo isto o que Mateus fez ao afirmar que Jesus é o “filho de Davi” por
excelência e, como ninguém, Deus conosco, dando novo sentido ao texto.

CRITÉRIOS PARA O ESTUDO DA BÍBLIA


É muito importante que o estudante tenha a consciência de que a Bíblia é uma enciclopédia que
constitui a “Palavra de Deus”. Assim, ao estudá-la deve fazer isso com uma atitude de fé. As
orientações a seguir em muito ajudarão o estudante da palavra de Deus:

Deve-se evitar fazer Isto é, conceitos pré-definidos de interpretação; principalmente as


a leitura do texto pré-concepções doutrinárias.
com “pré-conceitos”: Antes, o estudante deve tentar não restringir sua mente a uma única
forma de interpretação37.

Não se deve ler o Uma leitura completa e uma interpretação mais atenciosa exigem
texto buscando também a busca dos contextos geográfico, histórico e cultural. Ou
apenas o “sentido seja, toda e qualquer informação que o texto der é importante para
espiritual”: uma interpretação e compreensão mais exata. Depois de coletar
todas as informações, o estudante deve comparar a situação
daquela época com a de hoje.

Não se deve fazer Ao contrário, o estudante deve ter a consciência e a humildade de


nenhuma pesquisa reconhecer que não sabe, mas vai aprender na Bíblia.
na Bíblia pensando
que já
se sabe tudo:

Não se deve forçar a Não se deve afirmar uma informação que, de fato, o texto não está
interpretação do apresentando. O estudante não deve buscar apenas o que lhe
texto bíblico: convém ou quer interpretar; antes, deve estar aberto aos novos
ensinamentos do texto de modo que sirvam como ferramenta de
Deus para a conversão do coração ao caminho do Senhor.

Ler diariamente38: Constata-se que nos dias atuais cerca de 80% dos cristãos não lêem
a Bíblia diariamente, embora leiam outros tipos de livros, assistam
aos cultos, ouçam e vejam programas.

Com a melhor Estudar a Bíblia como palavra de Deus e não como uma obra
atitude mental e literária qualquer; com o coração e devoção, e não com o intelecto
espiritual: somente; crendo em tudo que ela ensina.

Com oração, Estas regras foram observadas por vários servos de Deus e os
devagar e resultados estão na própria Bíblia39. Na oração as coisas
meditando: imprescindíveis são esclarecidas40. A meditação aprofunda o sentido
da Palavra em nossos corações.

O estudo da Bíblia produz consequências benéficas. Não apenas o ganho do conhecimento


sobre a história e o contato com uma vasta produção literária de outra cultura, mas também,
considerando a Bíblia como ferramenta usada por Deus, o ganho maior é uma mensagem que
impacta a vida humana e a transforma; a re-humaniza.

37 Sabe-se que a imparcialidade teológica e a científica não existem, mas é importante que o estudante da
Escritura Sagrada tenha consciência de que há outras possibilidades interpretativas dos textos bíblicos.
Portanto é igualmente importante tentar não ficar preso somente na interpretação que já se sabe, isto é, a
que geralmente já está acostumado.
38 Cf. o livro de Deuteronômio 17.19.
39 Cf. o livro dos Salmos 119.12,18 e o livro de Daniel 9.21-23
40 Cf. o livro dos Salmos 73:16-17.
Este capítulo expôs três argumentações com o intuito de introduzir o estudante no universo do
estudo bíblico, e torná-lo sabedor da seriedade que é estudar a palavra de Deus, quais as
consequências disso e a importância de ser disciplinado.

Nesta próxima seção ver-se-á a introdução ao Método de estudo da Bíblia propriamente dito.
Após a compreensão de que é preciso assumir algumas posturas úteis para o estudo da Bíblia
e as informações introdutórias ao estudo bíblico, finalmente o estudante pode fazer uso dos
métodos para ser bem sucedido nesse estudo.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
A aplicação dos métodos exige disciplina. A disciplina, por sua vez, exige critérios, normas,
regras, princípios que devem acompanhar o estudante em qualquer época que se dedicar ao
estudo das Sagradas Escrituras41.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA


Cada pessoa leva a vida com algumas pressuposições básicas, alguns princípios de crença que
norteiam seu viver. Esses fundamentos não são iguais para todas as pessoas, em algumas há
maior grau de variação ou diversidade do que em outra. Quando se trata do estudo da Bíblia,
alguns princípios também precisam ser assumidos. São eles42:

• A Bíblia tem autoridade;


• A Bíblia contém as suas próprias leis de interpretação que, quando entendidas e
aplicadas apropriadamente, produzem o sentido correto de determinada passagem.
• O objetivo primário da interpretação é descobrir o sentido que a passagem tinha para o
autor.
• A língua pode comunicar verdades espirituais
• Para tudo que ouço ou aprendo, devo fazer uma investigação original;
• Quando estiver investigando, devo fazer uma reprodução escrita do que penso;
• O estudo deve ser constante e sistemático;
• O estudo deve ser passável, isto é, entendido e em condições de ser usado por outros;
• O estudo dever ser aplicado de forma prática na vida;

FUNDAMENTOS PARA ESTUDO BÍBLICO


Para estudar a Bíblia fazendo uso dos métodos deve-se primeiramente utilizar quatro
fundamentos de estudo da Bíblia que são43:

Métodos de Estudo da Bíblia

OBSERVAÇÃO
Observar nada mais é do que reconhecer, identificar algo ou alguém, e no caso da observação
no estudo da Bíblia é ficar tão familiarizado quanto possível com o que o escritor bíblico está
dizendo. Observação é o fundamento que responde à pergunta “Que vejo?”. Aqui o estudante
da Bíblia aborda o texto como um detetive. Nenhum detalhe é sem importância, cada observação
é cuidadosamente listada para considerações e comparações posteriores. Portanto, para fazer

41 Quando se trata de Métodos de Estudo da Bíblia, há vários autores que se dispõem a desenvolver
técnicas que facilitem o estudo e a interpretação das Escrituras. Dentre estes, o autor Walter A. Henrichsen
foi escolhido por se entender que suas técnicas são as mais fáceis de serem compreendidas inclusive pelos
leigos que compõem as igrejas locais. Portanto, este capítulo foi desenvolvido a partir do conteúdo extraído
e adaptado do livro Princípios de interpretação da Bíblia de Henrichsen.
42 HENRICHSEN, p.8.
43 Ibidem, p.8-9.
uma boa observação, comece sua observação com uma atitude mental certa, isto é, tenha
vontade, disposição, desejo, seja persistente, seja paciente, escreva tudo que observar, seja
cauteloso, procure discernir o que é mais importante e o que não é. Faça as perguntas ao texto,
verifique que forma ou estrutura ou tipo literário é a passagem em questão; encontre as palavras-
chaves do texto.

AS FERRAMENTAS DA OBSERVAÇÃO SÃO:


As Perguntas: Quem? Quando? O quê? Por quê? Onde? Como?

Forma ou Estrutura da Passagem em estudo: Relatos de como as coisas são; Admoestação


ou exortação; Ensino; Parábola; Narrativa; Poesia; Conselhos Práticos;

Palavras-chaves: É importante que o intérprete pergunte ao texto quem são os envolvidos na


história, o que realmente aconteceu, onde foi que tudo aconteceu, quando foi que tudo
aconteceu, por que e como foi que tudo se sucedeu. Após termos todas ou algumas respostas,
procuremos então entender a forma coma o autor quis passar a orientação de Deus. E para
finalizarmos, descubramos então qual ou quais as palavras que transmitem a ideia ou objetivo
principal ao escritor.

INTERPRETAÇÃO
A observação condiciona o estudante a reconhecer algo ou alguém, a interpretação o condiciona
a explicar o significado desse algo ou alguém reconhecido anteriormente. Interpretação é o
fundamento que responde à pergunta “Que significa?”. Aqui o intérprete bombardeia o texto com
perguntas como: “Para as pessoas da época, o que significavam estes detalhes que foram
citados, dados ou ensinados?”; “Por que o texto diz isto?”; “Qual a principal ideia que o texto está
procurando comunicar?”. É a partir da interpretação que o estudante chega a algumas
conclusões sobre as observações feitas anteriormente. Recapitulando, de forma bem simples,
tudo se resume no seguinte princípio: enquanto a observação pergunta, “o que é isso?”, a
interpretação pergunta “o que significa isso?”; “Qual a explicação para isso?”.

AS FERRAMENTAS DA INTERPRETAÇÃO SÃO:


O Propósito: O propósito ou “o porquê” de o autor ter escrito o versículo, ou o capítulo, ou o
assunto, ou sobre algum personagem é consequência de alguma ação positiva ou negativa que
o autor ou a situação presenciada pelo autor sofreu.

O Pensamento-chave: É a ideia principal que o autor usa para concretizar seu propósito.

CORRELAÇÃO
O dicionário define correlação como sendo o ato de se “estabelecer relação de duas ou mais
coisas entre si”. Biblicamente não é diferente, podemos extrair outras passagens das Escrituras
e relacioná-las ou compará-las com nosso texto em questão. Correlação, então, é o fundamento
que responde à pergunta “Como isso se relaciona com o restante do que a Bíblia diz?”. Nesse
momento o estudante não deve examinar somente passagens individuais; ao contrário, deve
correlacionar seu estudo com todas as outras passagens existentes na Bíblia sobre o assunto
que já está sendo estudado. Compreender bem a Bíblia, ou o assunto tratado, leva em conta
tudo o que a Bíblia diz sobre aquele assunto.

AS FERRAMENTAS DA CORRELAÇÃO SÃO:


As Referências Bíblicas:
• Referência de Palavras: As referências de palavras servem quando o estudante quer
saber o quanto é importante a palavra que está pesquisando não só no texto em estudo,
mas também em outras porções da bíblia.
• Referências Paralelas: A referência paralela mostra se o trecho que está sendo estudado
fora dito pelo mesmo autor ou por outro em outro lugar nas Escrituras e talvez com
algumas palavras diferentes, mas trazendo o mesmo significado. Assim é possível
comparar o sentido do trecho em questão nos lugares onde ele foi encontrado.
• Referências Correspondentes: A referência correspondente permite comparar, sempre
que possível, textos do Antigo Testamento com o Novo e vice-versa. Também nos
permite comparar situações que se referem ao mesmo acontecimento, mas escrito em
lugares diferentes.

A Paráfrase Pessoal

A paráfrase pessoal permite que o hermeneuta escreva com suas próprias palavras, porém sem
alterar o significado pessoal o trecho que está estudando.

Esboço Minucioso

O esboço minucioso nada mais é do que um compacto, um resumo de tudo o que estudamos
em forma organizada.

APLICAÇÃO
Finalmente, o 4° e mais importante fundamento para o estudo da Bíblia, a Aplicação. De nada
adianta observar, interpretar, correlacionar e no final não aplicar nada do que foi aprendido.
Aplicação é o fundamento que responde à pergunta “Que significa para mim?”. Esta é a meta
dos outros três fundamentos, conduzirem o estudante à aplicação do que tem sido estudado.
Lembre-se que o propósito principal da Palavra de Deus é mudar nossa vida. Aumentar nosso
conhecimento já é outro propósito, só que não é o principal.

AS FERRAMENTAS DA APLICAÇÃO SÃO 44:


Princípio da Observação: Através dos princípios da observação, eu posso fazer
questionamentos que me levem a uma conclusão (aplicação). Perguntas a serem feitas na
leitura: Há algum exemplo que deve seguir? Há alguma ordem que devo obedecer? Há algum
erro que devo evitar ou abandonar? Há alguma promessa que devo reivindicar? Há algum
pensamento novo sobre Deus?

Princípio da Interpretação: Pelo princípio da interpretação, procurarei entender meu estudo de


modo que procurarei aplicar o que eu entendi em minha vida.

Ser seletivo: Quando sou seletivo significa que dentre as várias aplicações que descobri
aplicarei em minha vida somente aquela que o Espírito Santo me mostrar. Quando sou
específico, significa que Deus quer que eu assuma a responsabilidade de meus erros e
reconheça a necessidade de mudança. Quando sou pessoal, significa que realmente eu não vou
me desculpar com Deus dizendo... "realmente Senhor! Nós somos culpados!" Quem é
“nós”, se o erro é meu?

44 Note que os Princípios da Observação e da Interpretação são resumos do que fora apresentado
anteriormente. É como se o autor que propôs os fundamentos, Walter A. Henrichsen quisesse conduzir o
estudante a compreender que a Observação e a Interpretação são fundamentos indispensáveis para guiar
o estudante a uma Aplicação coerente, correta.
Escrever por extenso a Aplicação: Depois que descobri qual a verdadeira aplicação, devo
escrever por extenso para memorizar melhor e estar todos os dias me avaliando através do
processo de verificação de meu próprio procedimento.

Estes princípios aqui apresentados não são unanimidade entre todos os hermeneutas, exegetas,
linguistas e teólogos no sentido de que o caminho que foi apresentado neste capítulo é o único
que deve ser seguido. Evidentemente que há outros autores e estudantes que na medida em
que amadurecem em sua prática de estudo bíblico desenvolvem outros princípios ou mesmo
ampliam estes já citados. Todavia, os princípios de interpretação que foram expostos são
suficientes para direcionar o estudante da Bíblia de modo saudável ao uso de métodos de estudo
da Bíblia, que é o assunto do próximo capítulo.

MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA


Diante do texto bíblico, é importante que o estudante se pergunte: qual o método mais
adequado? Definido o método, como colocá-lo em prática? Esse capítulo restringe-se
exatamente a introduzir o aluno no “mundo do estudo bíblico por meio dos métodos”.

NECESSIDADE DE MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA


Nem todo mau uso que se faz da Bíblia pode ser atribuído a um ataque de Satanás; na verdade
percebe-se que o mau uso interpretativo das Escrituras ocorre com certa frequência devido à
própria pessoa quando se ignora o que a Bíblia diz sobre algum assunto, principalmente de
cunho moral e ético, como a ordenação de homossexuais confessos e praticantes ao ministério.
Também é possível afirmar que qualquer pessoa faz “mau uso” da Bíblia quando se toma um
versículo fora do contexto, ou essa pessoa força a interpretação de uma passagem lida, cujo
significado não é o explicado por ela.

Diferente dos princípios de interpretação, os métodos de estudo possuem muita flexibilidade, isto
é, os métodos não são propriamente “regras rígidas”, e, sim, linhas de orientação que se forem
seguidas melhorarão, facilitarão para o estudante no empenho de aprender as Escrituras.

MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA


Os métodos de estudo da Bíblia, apresentados neste tópico, são desenvolvidos fazendo-se uso
dos fundamentos expostos no capítulo anterior. O desenvolvimento ocorre por meio da anotação
da letra inicial do nome de cada fundamento no decorrer do uso do método: (O) OBSERVAÇÃO,
(I) INTERPRETAÇÃO, (C) CORRELAÇÃO, (A) APLICAÇÃO.

Junto de cada passo do estudo, anote uma das quatro letras acima. Elas visam alertá-lo quanto
à parte empregada naquele passo. São cinco os métodos de estudo da Bíblia45: 1) “Método de
Análise de Versículos”, 2) “Método de Analítico”, 3) “Método Sintético”, 4) “Método Tópico”
e 5) “Método Biográfico”. Vejamos cada um com suas características.

Com o propósito de ilustração, a 1ª


Método de Análise de Versículos carta aos Tessalonicenses 5.17
será o versículo analisado. "Orai
• É o estudo de um versículo sem cessar".
qualquer da Bíblia com referência
ao seu contexto imediato. Se o
contexto for um trecho muito longo é
possível subdividi-lo, ou escolher
outro versículo para estudar.

45Os Métodos apresentados, com a estrutura de estudo e os exemplos de como devem ser utilizados foram
extraídos do livro Métodos de Estudo Bíblico de Walter A. Henrichsen.
• Verifique o contexto e assinale os limites. Se for difícil determinar isto, consulte uma
tradução moderna, como a Nova Versão Internacional (Bíblia NVI), que assinala as
divisões em parágrafos. Neste caso, o contexto de 1ª Tessalonicenses 5.17 é o
versículo imediatamente anterior e o que vem logo a seguir: "Regozijai-vos sempre"
(O) (v. 16) e "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo
Passo 1 Jesus para convosco" (v. 18).

• Anote quaisquer observações e/ou possíveis aplicações. Procure também


dificuldades, estabelecendo especificamente qual é a dificuldade. Você precisará
constantemente acrescentar notas nesta parte do seu estudo enquanto for
(O) seguindo os outros passos.
Passo 2

Assim, analisando, então, 1ª TESSALONICENSES 5.16-18, conforme a passo 2,


observamos:

• Há três ordens: regozijai-vos, orai, dai graças.


• Todas estas ordens têm modificadores: sempre, sem cessar, em tudo.
• A frase "esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" parece
aplicar-se aos três versículos.

(O) Note que é possível inverter a ordem dos modificadores entre si, sem mudar o sentido dos
versículos: "Regozijai-vos sempre, orai sempre, dai graças sempre", e assim por
diante, com os outros elementos modificativos. Dessa forma também é possível fazer uma
aplicação breve de modo que o estudante confesse para si mesmo. Exemplo:

(A) “Dar graças (v. 18) não é um dos meus pontos fortes, tenho a tendência de resmungar
acerca de tudo”.

(A) “Eu me regozijo (às vezes), mas nem sempre”.

(I) Todos os modificadores expressam a ideia de coisas perpétuas, isto é, de que nunca haverá
ocasião em que não devam ser feitas.

(I) O versículo 17 pode ser tomado literalmente? É possível orar sem cessar? Ou Paulo aqui está
falando simplesmente de uma atitude?

• Reescreva resumidamente cada um dos versículos com suas próprias palavras.


Tente expressar o cerne do pensamento, ou a ideia principal que o escritor está
(I) comunicando.
Passo 3
Continuando a análise conforme o passo 3 temos: 1ª Tessalonicenses 5.16-18

Ideia central:

• Versículo 16: nunca pare de regozijar-se;


• Versículo 17: nunca pare de orar;
• Versículo 18: nunca para de dar graças;

Conclusão: ESSA É A VONTADE DE DEUS PARA MIM

• Veja as referências Bíblicas de cada um destes versículos, verificando outra ideia


parecida na Bíblia. Lembre-se, o melhor comentário da Escritura é a Escritura.
Procure por versículos que ajudem a explicar ou ilustrar ou esclarecer a ideia
(C) descoberta no versículo investigado.
Passo 4

Continuando a análise conforme o passo 4 temos: 1ª Tessalonicenses 5.16-18

Correlação com outros versículos que sugerem a mesma ideia:

• Versículo 16: Filipenses 4.4;


• Versículo 17: Efésios 6.18;
• Versículo 18: Romanos 1.21 e Efésios 5.20;

• Das possíveis aplicações escolha aquela que Deus quer que você escute
colocando o problema, o exemplo do problema, a solução, e a coisa específica que
(A) Deus quer que você faça para aplicar a solução.
Passo 5

Exemplo: 1ª Tessalonicenses 5.16-18 — APLICAÇÃO

Versículo 18: Sinto-me culpado de ingratidão. Ainda ontem me dei conta de que não tinha
agradecido a minha esposa todo o trabalho duro que faz cozinhando, mantendo a casa e
cuidando das crianças, e muitas outras coisas. Por isso proponho-me diante de Deus a começar
a refrear esta ingratidão e a substituí-la por expressões verbais de agradecimento. Vou
desculpar-me com o Senhor e com minha esposa e pedir-lhes perdão.
Com o propósito de ilustração, a 1ª
Método Analítico carta de Pedro, capítulo 2 será
analisado.
• É o estudo de um capítulo ou trecho
qualquer do capítulo. Analisar é
estudar o objeto em seus detalhes.
É esse o objetivo do estudo
analítico da Bíblia. O propósito é
compreender o que o escritor tinha
em mente quando escreveu para
aqueles a quem se dirigia. No
método analítico o estudante
investiga as partes como por um
microscópio.

• Leia a passagem cuidadosamente, tome uma folha de papel e escreva uma folha
só de informações percebidas contendo: 1) Observações, 2) Problemas, 3)
(O) Referências Bíblicas, 4) Possíveis aplicações.
Passo 1

• Observações: Anote toda e qualquer minúcia que notar. Bombardeie a passagem com
perguntas do tipo “como, quem? quê? onde? quando? por quê? e como?”. Anote
substantivos, verbos e outras palavras-chaves.

• Problemas: Escreva o que não compreende acerca da passagem. Não diga: "Não entendo
o versículo 4". Antes, especifique o que você não entende. Algumas das suas perguntas se
resolverão por si conforme continue o seu estudo. Outras serão resolvidas somente
mediante consulta a uma fonte de fora, como seu pastor ou um comentário. Algumas das
suas indagações nunca serão respondidas.

• Referências bíblicas: Usando um livro de referências bíblicas ou as referências que estão


na margem da página de sua Bíblia, compare as referências da palavra, citação ou ideia
com um texto semelhante na Bíblia. Isto o ajudará a compreender a passagem.

• Possíveis aplicações: Você observará algumas delas no transcurso do seu estudo. Anote-
as na folha com um (A) na margem. Na conclusão do seu estudo você retornará a estas
possíveis aplicações e escolherá aquela que o Espírito Santo o fará focalizar.

Abaixo, o exemplo de uma lista-modelo de observações extraídas de 1 Pedro 2. É importante


saber que lista não se completa no PASSO UM antes de prosseguir para o PASSO DOIS. As
observações são acrescentadas durante o estudo inteiro. Não se preocupe com a sequência das
observações. Se você está no meio do capítulo, e lhe ocorre novo pensamento sobre o
versículo 1, por exemplo, anote-o ali mesmo. Não se aflija tentando colocá-lo apertado no alto
da página46.

1ª PEDRO 2: INFORMAÇÕES PERCEBIDAS

46As observações nesta porção variarão em extensão, dependendo de quanto tempo você pode dedicar
ao estudo. Não se desanime se não "observar" muito nas primeiras vezes que fizer o estudo. Com a prática,
as suas observações crescerão em número e em profundidade.
(I) Versículo 1: Seguir este conselho é alienar-se do mundo, pois é assim que o mundo age.
Não o seguir é alienar-se de Deus.

(C) Versículo 3: Salmo 34.8.

(O) Versículos 1,11: A santificação é uma das ênfases de 1 Pedro. Ela deve dar-se em três
direções: (1) para com Deus (1.13) — esperar, ter fé, apropriar-se da graça de Deus; (2) para
com os outros (2.1) — relacionada com os últimos seis dos Dez Mandamentos; e (3) para
consigo mesmo (2.11) — estes são pecados que primariamente ferem a pessoa que os comete.

(O) Versículos 4-8: Três citações do Velho Testamento são usadas para explicar o uso de
pedra com referência a Jesus Cristo (Isaías 28.16; Salmo 118.22; Isaías 8.14).

(O) Versículos 9,10: Quem somos? Somos...

• Raça eleita — a palavra a em 1.2 também. Fomos eleitos para a obediência (1.2) e
fomos eleitos para o serviço (2.9). A santificação é nossa meta, e a obediência é o
processo.
• Sacerdócio real — o versículo 5 fala de sacerdócio santo; aqui é sacerdócio real, com
as figuras tomadas provavelmente de Melquisedeque, o rei-sacerdote do Antigo
Testamento; (Gênesis 14).
• Nação santa — coletivamente somos e formamos o povo de Deus e somo uma nação
singular, cuja marca distintiva é a santidade.
• Propriedade exclusiva, peculiar, especialmente aparelhado para ser povo de Deus. Ele
nos adquiriu para sermos um povo dele.
• Nem sempre fomos ou tivemos essas quatro características, portanto devemos louvar a
Deus por ele ter mudado nossa condição.

(A) Versículo 13: “toda instituição humana”. Devemos obedecer a todas as leias que não
violam as Leis de Deus, que o governo seja favorável ou não, por causa do Senhor (ver Atos
4).

(O) Vs. 15,19,20: as duas razões, neste trecho, para a submissão e serviço são: (1)
Demonstrar ao mundo que a vocação de Deus é para uma vida em prol do bem, e, não do mal;
e (2) Deus agrada desse posicionamento pois reflete o caráter de Jesus Cristo (ver versículos
21-25).

(O) Vs. 13,15: as duas ordens dadas nesse trecho são sujeição e serviço (“sujeitai-vos” ...
“pela prática do bem”).

(O) Versículos 13, 14, 18: os dois grupos aos quais devemos sujeitar-nos e aos quais
devemos servir são o governo e os empregadores.

(O) Versículos 13-20: possível esboço desse trecho: "Servos Submissos — o Exemplo do
Crente para o Mundo".

1. Despotismo Divino (v. 16) — perspectiva certa


2. Demonstração (v. 17) — atitude certa
3. Diretriz Divina (v. 13,18) — estilo de vida certo
4. Dois Grupos (v. 13,14,18)
5. Duas Razões (v. 15,19,20)

(O) Versículo 25: somos bem parecidos com ovelhas extraviadas, mas Cristo nos trouxe de
volta para Si. Ele é:

• Pastor — uma das mais antigas descrições de Deus na Bíblia (ver Isaías 40.11). Ele
tomava conta das Suas ovelhas do Seu povo — melhor do que o pastor da Judéia
tomava conta das suas ovelhas — dos animais.
• Bispo, ou Supervisor — esta palavra designa aquele que superintende, guarda e
protege. É o que Cristo é para o Seu povo (ver Mateus 28.20).

• Tome uma terceira folha de papel perto da folha usada no Passo Dois. Agora você
está pronto para ligar num todo o capítulo. Olhando seu Sumário de Pensamentos-
chaves, divida o capítulo conforme seus parágrafos. Estes são determinados
facilmente pelo fluxo do pensamento do escritor. Escreva um pensamento-chave
(I) para cada parágrafo. O que você está fazendo nesta parte é afunilar o texto de
Passo 2 modo tal que se destile o seu sentido.

1. Pensamento-chave: o ensino, assunto ou pensamento principal que o escritor está


comunicando no conteúdo do versículo.

2. Sumário de pensamentos-chaves: serve para notar o fluxo das ideias de uma passagem,
isto é, a relação dos versículos uns com os outros. Às vezes o escritor faz uma declaração
geral, e depois a explica dando exemplos47. Procure determinar o que o escritor está
fazendo na apresentação (observe como ele se move de uma ideia para a próxima ideia).

O Anexo da Figura 1, a seguir, traz como exemplo exatamente o sumário do referido texto de 1ª
Pedro48.

47 Cf. a Epístola de Tiago 2:4-17.


48 Figura retirada do livro Métodos de Estudo Bíblico de Walter A. Henrichsen. Página 26.
• Tome uma terceira folha de papel perto da folha usada no Passo Dois. Agora você
está pronto para ligar num todo o capítulo. Olhando seu Sumário de Pensamentos-
chaves, divida o capítulo conforme seus parágrafos. Estes são determinados
facilmente pelo fluxo do pensamento do escritor. Escreva um pensamento-chave
(I) para cada parágrafo. O que você está fazendo nesta parte é afunilar o texto de
Passo 3 modo tal que se destile o seu sentido.

Continuando a análise conforme o passo 3 temos:1ª PEDRO 2: ESBOÇO

1. Versículos 1-10: Estudando a Palavra de Deus, o cristão deve refletir o caráter de


Cristo que é a pedra angular de Deus rejeitada pelos homens.
a. Abster-se do mundo; beber da Palavra (VS. 1-3);
b. Pedra de tropeço ou salvação (VS. 4-8);
c. Mostra de contrastes (VS. 9-10)
2. Vs. 11-25 — Cristo estabeleceu um exemplo sobre como reagir ante um mundo que
não o conhece.
a. A vida santificada é o melhor testemunho (VS. 11,12);
b. Submissão: o exemplo cristão para o mundo (VS. 13-20);
c. Submissão: o exemplo de Cristo para o cristão (VS. 21-25);

Exemplo: 1ª PEDRO 2 — APLICAÇÃO

Versículo 13: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor”. O Senhor
me falou sobre o fato de que habitualmente excedo a velocidade estabelecida por lei. Quando
dirijo o meu carro, quase sempre ultrapasso o limite de velocidade. Por exemplo, outro dia eu
dirigia em direção à cidade e me surpreendi com intercalações de olhares para frente e para o
retrovisor para ver se a polícia me pegaria por excesso de velocidade. Eu sei que o Senhor
gostaria que eu andasse mais devagar. Na maioria das vezes, corro porque estou atrasado para
algum compromisso. Isto acontece por preguiça da minha parte. Então, para fazer aplicação
desse estudo eu:

1. Pedirei perdão a Deus.


2. Vou abrir-me sobre este ponto com minha família e com meus amigos, e vou pedir-lhes
que me lembrem quando eu correr mais do que manda a lei.
3. Sairei a tempo para todos os compromissos; assim, não me sentirei pressionado a
desobedecer à "instituição humana".

Com o propósito de ilustração, o livro


Método Sintético
de Romanos será sintetizado.
• É o estudo de um livro qualquer que
compõe a Bíblia. O método de
estudo sintético aborda cada livro
da Bíblia como uma unidade e
procura entender o seu sentido
como um todo. Esse método não se
interessa pelos detalhes, mas pelo
escopo global do livro. Com o
método sintético o estudante
investiga através do telescópio. O
que o escritor tinha em mente
quando escreveu o livro? Qual o
pensamento-chave ou ideia central
do livro? Como atinge ele o seu
objetivo?

• Leia o livro atentamente. Tome uma folha de papel e anote observações no alto.
Ela será usada durante o estudo inteiro. Inclua nesta folha: 1) Observações, 2)
(O) Dificuldades, 3) Referências, 4) Aplicações possíveis
Passo 1
1. Observações: Anote os pensamentos-chave ou argumentos principais que fluem pelo livro.
Arrole as palavras importantes. Anote lugares, acontecimentos e nomes importantes.
Registre curiosidades que queira estudar mais tarde.

2. Dificuldades: Quando for incapaz de seguir o pensamento do escritor, anote quando isto
ocorre e exatamente o que não entende.

3. Referências: Anote quaisquer acontecimentos importantes ou citações que o escritor usa


doutras partes da Bíblia. Por exemplo, Romanos 10.18-21 reporta-se a uma série de
citações do Velho Testamento (Salmo 19.4; Deuteronômio 32.21; Isaías 65.1,2).
Entender o contexto de cada uma dessas citações o ajudará a descobrir o fluxo da
argumentação de Paulo no livro de Romanos.

4. Aplicações Possíveis: Várias delas chamarão a sua atenção enquanto ler e reler o livro.
Anote-as para uso posterior em seu estudo.

• Leia o livro inteiro pela segunda vez, envolvendo-se num processo de exploração
intensiva. o seu objetivo é compreeder o argumento do escritor. Enquanto lê,
registre sob as suas "Observações" os pensamentos-chaves ou temas importantes
do livro. Procure colocá-os com suas palavras. Não deixando que as divisões de
(I) capítulos e versículos destruam a unidade do livro, pois elas não estavam ali
quando o escritor escreveu originalmente. Faça tudo para conseguir ler tudo de
Passo 2 uma vez.

O anexo da Figura 649 apresentada uma lista-modelo de observações tomadas do livro de


Romanos. São todas registradas numa página. Evidentemente que as “OBSERVAÇÕES” não
se completam no PASSO UM antes de passar pelo PASSO DOIS. Neste caso é melhor usar
essa folha durante o estudo acrescentando-lhe outras durante o percurso se houver
necessidade.

49 Figura retirada do livro Métodos de Estudo Bíblico de Walter A. Henrichsen. Página 37.
Obs.: Note que a ilustração do PASSO DOIS já está incluída no PASSO UM na lista-exemplo
acima.

• Leia o livro com atenção pela terceira vez. Desta vez, procure o tema principal
(ideia maior). O pensamento-chave do livro é o princípio organizador que lhe dá
unidade. Há algum ponto em particular no livro em que se menciona o pensamento-
chave de modo mais sucinto do que qualquer outro? Anote-o com suas próprias
(I) palavras. Quando você comparar este pensamento-chave com os temas
Passo 3 relacionados no Passo Dois, a unidade deverá patentear-se.

ROMANOS — PENSAMENTO-CHAVE

Romanos 1.16,17 — O justo viverá por fé.


• Leia o livro inteiro pela quarta vez. Feito isso, desenvolva um amplo esboço do
livro. Interesse-se mais pelo fluxo do pensamento do escritor do que pelas divisões
de capítulos. Resista à tentação de usar o esboço que se encontra em muitas
(C) Bíblias de estudo. Esta é sua exploração; portanto, faça o seu próprio esboço.
Passo 4

Continuando a síntese conforme o passo 4 temos: ROMANOS: ESBOÇO com títulos próprios
às várias divisões e ao livro.

Um Catecismo Cristão

I. Doutrina, 1.1-5.21
A. Introdução, 1.1-17
B. O Problema do Homem, 1.18-3.20
C. A Solução de Deus, 3.21-5.21
II. Implicações, 6.1-11.36
A. Crentes, 6.1-8.39
1. e o pecado, 6.1-23
2. e a lei, 7.1-25
3. libertos, 8.1-39
B. Judeus, 9.1-11.36
1. Escolha soberana, 9.1-33
2. Mensagem universal, 10.1-21
3. Um futuro para Israel, 11.1-36
III. Aplicações, 12.1-16.27
A. O Crente e a Igreja, 12.1-21
B. O Crente e o Mundo, 13.1-14
C. O Crente e a Liberdade Cristã, 14.1-15.7
D. Planos para o Futuro e Observações Finais, 15.8-16.27

• Resuma os dados históricos do livro. Você pode extrair muito desta informação do
próprio livro; para alguma parte dela terá que consultar acessórios de estudo da
(O) Bíblia, tais como, dicionários bíblicos.
Passo 5

Procure determinar o seguinte:

• Quem escreveu o livro? Como o escritor é apresentado no livro? Que revela ele acerca de
si mesmo?

• Para quem foi escrito o livro? Onde viviam os destinatários? Como era a geografia e que
tipo de gente eram eles?
• Quando e onde foi escrito? Em que circunstâncias e ambiente estava o escritor quando o
escreveu?

• Por que foi escrito o livro? Que estava na mente do escritor quando se sentou para
escrever? Havia problemas especiais que ocasionaram a produção do livro? O livro foi
destinado a comunicar algo em particular?

Respondendo cada pergunta na ordem que se encontram dispostas as perguntas, temos:


ROMANOS — QUADRO DE FUNDO

1. A carta começa reivindicando a autoria de Paulo (1.1). Quando o escritor descreve o


seu ministério mais tarde (capítulo 10), o tom é de Paulo, As ideias, o estilo da carta e
o vocabulário confirmam a alegação de que Paulo a escreveu50. Jamais tendo visitado
Roma em suas viagens missionárias, Paulo comunica entusiasmo e acolhida aos
romanos (1.4-12); afirma que o seu contato com eles será mutuamente edificante.
2. Existem muitas teorias sobre como teve início a igreja de Roma (como a de que foi
fundada pelo apóstolo Pedro), mas a melhor delas é a de que foi iniciada pelos judeus
de Roma, convertido em Jerusalém no dia de Pentecoste (Atos 2). Muitos judeus viviam
em Roma, tendo sido levados para lá quando a Palestina foi conquistada por Roma em
63 a.C.
3. Paulo afirma que terminou a primeira fase do seu ministério e está pronto para ir para a
Espanha (ver cap. 15.22). De caminho pretende visitar Roma, viajando primeiro para
Jerusalém. Como Febe é mencionada nessa carta (cap. 16.1), e ela é de Corinto, isto
indica que provavelmente Paulo estava em Corinto quando escreveu “Romanos”, o que
se deu durante a sua terceira viagem missionária, por volta de 57, 58 d.C.
4. Visto que Paulo nunca tinha exercido seu ministério em Roma, não tinha de enfrentar
problemas especiais. Queria apresentar-se à Igreja e obter apoio dela para sua posterior
atividade missionária na Espanha.

• Das aplicações possíveis listadas nas "observações", escolha aquela em que


Deus quer que você trabalhe.
(A)
Passo 6

Para fins de ilustração, o tema


Método Tópico
“hospitalidade” será desenvolvido.
• É o estudo sobre um assunto
qualquer na Bíblia. Nesse método o
estudante investiga um tópico
escolhido através da Bíblia. Ex.: a
fé, a graça, a justificação, o Espírito
Santo, o pecado.

50Os chamados pais da igreja e outros através dos séculos referem-se a Paulo como o escritor que a
produziu.
• Escolha a palavra para estudar e os limites do estudo, como um livro, uma parte da
Bíblia, ou a Bíblia toda. Escreva o propósito ou objetivo do estudo. Usando um
acessório de estudo bíblico, do tipo comentário, dicionário, enciclopédia, Bíblia de
(C) estudo, localize as referências que serão incluídas no estudo. Numa folha de papel
registre essas referências verticalmente, usando o lado esquerdo da folha.
Passo 1

Continuando o desenvolvimento do tema “hospitalidade” temos: HOSPITALIDADE —


TÓPICO, PROPÓSITO E REFERÊNCIA

• Tópico para Estudar: HOSPITALIDADE


• Propósito do Estudo: Aprender o conceito bíblico da hospitalidade de modo que seja
usado nos lares como a Bíblias ensina.
• Referências: Mateus 25.35; Lucas 7.44-46; Lucas 11.5-8; Romanos 12.13;

• Assim como nos métodos "analítico e sintético", pegue uma folha de papel e
escreva as "Observações" no alto. Será usada durante o estudo todo. Inclua nesta
(O) folha: 1) Observações, 2) Dificuldades, 3) Aplicações possíveis.
Passo 2

1. Observações: Anote todo e qualquer detalhe observado. “Bombardeie” as referências com


perguntas tais como: “Quem?; Quê?; Onde?; Quando?; Por que? Como?”. Anote os
substantivos, os verbos e outras palavras-chaves.

2. Dificuldades: Escreva o que não entende das referências do tópico51.

3. Aplicações Possíveis: Anote na folha todas as possíveis aplicações, sempre precedidas


da letra (A). Na conclusão do estudo, deve- se escolher aquela que o Espírito Santo quer
que seja focalizada.

Continuando o desenvolvimento do tema “hospitalidade” temos: HOSPITALIDADE —


OBSERVAÇÕES

(O) Definições: Hospitalidade é “acolher e fazer favores a estranhos”52.

No dicionário encontramos várias palavras cognatas, com os sentidos variando entre acolher,
abrigar e abrigar e cuidar de doentes. Eis as principais:

• Hospedaria: casa de hospedagem paga.


• Hospício: hospital para insanos mentais.

51 Quando se trata de escrever na folha de “Observações” sobre as dificuldades encontradas no estudo de


tópicos, é importante que o estudante tenha consciência de que algumas questões serão resolvidas por si
no decorrer do estudo, outras serão resolvidas somente mediante a ajuda externa como comentários
bíblicos ou até mesmo o pastor ou discipulador. Todavia, pode acontecer de que algumas questões nunca
sejam resolvidas.
52 Open Bible apud HENRICHSEN.
• Hospedável: que pode hospedar ou ser hospedado. O que se destina à generosa e
cordial recepção de visitas53.
• Hospital: casa em que se recebem e tratam doentes. Hospitaleiro: aquele que
bondosamente dá hospedagem, acolhedor.
• Hospitalidade: tratamento, recepção ou disposição hospitaleira54.

(O) Mateus 25.35: O juízo de Jesus sobre as nações por sua aceitação ou rejeição dele e dos
seus irmãos, no contexto da provisão.

• A lista é um dos elementos puramente essenciais: comida, bebida, abrigo, roupa e


companhia.
• Justamente por ser dada ênfase a estrangeiros ou forasteiros é que a igreja, que
estivesse dispersa e o crente em viagem podia encontrar acolhida e provisão no contexto
do corpo local de crentes; portanto, os santos deviam esperar estrangeiros. Também
nunca sabiam quando poderiam estar hospedando anjos (Hebreus 13.2).
• Minha tendência é acolher os que eu conheço, em vez de suprir o forasteiro.

(O) Lucas 7.44-46 — Jesus contrasta o hospedeiro que faz a recepção, com a forasteira
hospitaleira. O hospedeiro não providenciou nenhuma cortesia para o seu convidado, ao passo
que a estranha providenciou água, saudação e unção.

• Jesus revela que os motivos de uma pessoa se revelam no fato da hospitalidade ser
oferecida por amor ou por obrigação.
• Quais as cortesias da hospitalidade hoje, na cultura a que pertenço? Uma saudação de
boas-vindas, algo para beber, demonstração de interesse pelo visitante, alimento, e
outras amenidades.
• Contraste Simão com Marta e Maria, que ofereceram ardente acolhida a Jesus em sua
casa (Lucas 10.38 / João 12.2).

(O) Lucas 11.5-8: Há um preço na satisfação da necessidade dos outros: a inconveniência


(repare que era tarde e a família se acomodara para passar a noite), tempo e recursos.

• Por causa de uma amizade a pessoa necessitada sentiu-se na liberdade para ir ao


encontro do amigo em busca de ajuda numa hora de necessidade.
• Hospitalidade é atender as necessidades dos outros, não apenas entreter os convidados
como a cultura brasileira o faz.

(O) Romanos 12.13: O suprimento das necessidades e a prática da hospitalidade são


mencionados em conjunto.

• Os cristãos são os destinatários únicos.


• Sinônimos: dedicados, entregues, consagrados (1ª Coríntios 16.15).
• A hospitalidade não é um procedimento, mas o reflexo de um estilo de vida.

53 Novo Dicionário Colegial Webster apud HENRICHSEN.


54 Ibidem.
• Na folha usada no Passo Um, escreva o pensamento-chave para cada referência
registrada. O pensamento-chave é a essência destilada ou a principal ideia do
versículo enunciada com as suas próprias palavras. Enquanto estiver trabalhando
(I) no Passo Três, você deve fazer uma lista de muitas das suas observações
sugeridas no Passo Dois.
Passo 3

Continuando o desenvolvimento do tema “hospitalidade” temos: HOSPITALIDADE —


PENSAMENTOS-CHAVE

• Tópico para Estudar: HOSPITALIDADE


• Propósito do Estudo: Aprender o conceito bíblico de hospitalidade, de modo a ser usado
nos lares como a Bíblia ensina.
• Referências:
o Mateus 25.35: aceitação do estranho e provisão para ele;
o Lucas 7.44-46: providenciar as cortesias da hospitalidade;
o Lucas 11.5-8: o preço de satisfazer as necessidades de outros;
o Romanos 12.13: suprindo necessidades; entrega à prática da hospitalidade

• Disponha os versículos segundo categorias. Os pensamentos-chaves mencionados


no Passo Três o ajudarão a selecionar as suas categorias. Faça a si próprio
perguntas como: "Quais são as principais categorias sugeridas por estes
(C) versículos? Como poderia eu esboçar este assunto para outra pessoa?" (Pode ser
que alguns versículos se enquadrem em mais de uma categoria).
Passo 4

Continuando o desenvolvimento do tema “hospitalidade” temos: HOSPITALIDADE —


CATEGORIAS

• Atitudes que manifestam hospitalidade: 1Pedro 4.9; Tito 1.8; 1Timóteo 3.2;
Romanos 12.13
• Definição de hospitalidade: Mateus 25.35; Lucas 7.44-46; Romanos 12.13
• Custos e prêmios da hospitalidade: Lucas 11.5-8; Hebreus 13.2

• Esboce as categorias produzidas no Passo Quatro, incluindo as divisàes principais


e as subd ivisàes importantes. Coloque os versículos-chave junto de cada divisão e
subdivisão procurando obter uma ordem lógica e simplicidade de estrutura. Não
(C) faça esboço complicado, afinal quanto mais simples for o esboço, mais fácil de
compreender. Mantenha constantemente em mente o propósito do estudo.
Passo 5

Continuando o desenvolvimento do tema “hospitalidade” temos: HOSPITALIDADE —


ESBOÇO
I. A hospitalidade definida (Romanos 12.13; Mateus 25.35-40)
II. A hospitalidade demonstrada (Lucas 7.44-46)
A. Atitudes para com a hospitalidade (Tito 1.8; 1Pedro 4.9; 1Timóteo 3.2)
B. Custos e benefícios da hospitalidade (Lucas 11.5-8; Hebreus 13.2)

• Escreva o pensamento-chave para cada divisão importante, lembrando que este


pensamento-chave é o seu enunciado da ideia principal em uma sentença. Depois
escreva um pensamento-chave para o estudo completo. Este vem a ser a "ideia
(I) maior" ou o tema do estudo. No processo você afunila a organização de seu
estudo do pensamento-chave de cada versículo ao pensamento-chave do todo.
Passo 6

Continuando o desenvolvimento do tema “hospitalidade” temos: HOSPITALIDADE —


PENSAMENTOS-CHAVE DO ESTUDO COMPLETO

I. A hospitalidade definida: Ser sensível às necessidades das pessoas ao meu redor,


incluindo-se o estranho, e prover o necessário auxílio para satisfazer aquelas
necessidades.
II. A hospitalidade demonstrada: Cumprindo as cortesias comuns da cultura a que
pertenço, de modo que o hóspede saiba que é bem-vindo.
A. A atitude de prática da hospitalidade, e de amor a esta, é essencial.
B. Tempo, esforço e provisões fazem parte do custo, mas os benefícios podem
constituir-se num hóspede celestial inesperado.

Pensamento-Chave para o Estudo Completo:

Hospitalidade é dar-me a outros, incluindo-se o estranho, e comunicar genuíno interesse por


eles, estendendo-lhes cortesias sociais e suprindo às suas necessidades.

• Das passiveis aplicações listadas na folha de "Observações", escolha aquela em


que Deus quer que trabalhe.
(A)
Passo 7

Exemplo: HOSPITALIDADE — APLICAÇÃO

Frequento uma igreja na qual é fácil a gente ficar perdido no meio do povo. Eu não me movo
para cumprimentar as pessoas que não reconheço. Simplesmente sigo o meu caminho. Isso
contraria o ensino da Bíblia, de que devo ter o estilo de vida de quem é hospitaleiro. Portanto,
procurarei saudar aqueles que estão por perto de mim, acompanhando o serviço do culto,
apresentar-me e perguntar se são visitantes. Dar-lhes-ei boas vindas e perguntarei se lhes posso
prestar algum serviço (como o de achar-lhes uma classe da Escola Dominical).
Com o propósito de ilustração, a
Método Biográfico história de Raabe é usada neste
método.
• É o estudo sobre um personagem
bíblico qualquer. Essa espécie de
estudo da Bíblia dá ao estudante a
oportunidade de sondar o caráter
das pessoas que o Espírito Santo
colocou na Bíblia e de aprender
com suas vidas.

• Escolha a pessoa que você quer estudar e estabeleça os limites do estudo (por
exemplo, "Vida de Davi, antes de tornar-se rei"). Usando uma concordância ou
um índice enciclopédico, localize as referências que indicam textos bíblicos sobre a
(C) pessoa em estudo. Leia-as várias vezes e faça resumo de cada uma delas.
Passo 1

Continuando o estudo biográfico temos: RAABE — REFERÊNCIAS

• Josué: 2.1: prostituta residente em Jericó;


▪ 2.2: o rei de Jericó manda tomar de Raabe informações sobre os espias;
2.4: ela escondera os espias e mente ao rei;
▪ 2.5: de propósito desvia dali os homens da cidade;
▪ 2.6: esconde os espias sob as canas de linho;
o 2.8,9: reconhece que o Senhor tomara posse de Jericó;
o 2.10: os rumores do êxodo e da vitória sobre os amorreus;
o 2.11: o medo do povo e o fato de que o Senhor é Deus de todos e de tudo;
o 2.12,13: Raabe roga segurança para si e para a sua família;
▪ 2.14: os espias fazem a promessa;
▪ 2.15: ela lhes providencia o meio de fuga;
▪ 2.16: dá-lhes um plano para segurança deles;
o 2.17-20: os espias planejam a segurança dela;
o 2.21: o sinal do compromisso dela;
o 6.22,23: salvamento de Raabe e de sua família;
• Mateus 1.5: lugar de Raabe na genealogia de Jesus Cristo;
• Hebreus 11.31: pela fé Raabe não morreu, porque acolheu aos espias;
• Tiago 2.25: foi justificada por sua ação de fazer partir em paz os espias;

• Tome uma folha de papel e anote "Observações" no alto. Use esta folha durante o
estudo todo e inclua nela: 1) Observações, 2) Dificuldades e 3) Aplicações
(O) possíveis.
Passo 2
1. Observações: Anote todo e qualquer detalhe sobre essa pessoa. “Quem era?; Onde
morava?; Quando viveu?; Por que fez o que fez?; Quando viveu?”.

2. Dificuldades: Escreva o que você não entende acerca dessa pessoa e de acontecimentos
de sua vida.

3. Aplicações possíveis: Anote várias dessas durante o estudo, não se esquecendo de deixar
a letra (A) precedendo cada uma delas. Como nos métodos anteriores você deverá voltar a
fazer uso daquela que o Espírito conduzir!

• Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida da pessoa. Inclua os


acontecimentos e as características importantes, declarando os fatos, mas sem
(O) interpretação, apenas declarando os fatos.
Passo 3

Continuando o estudo biográfico temos: RAABE — ESBOÇO DE SUA VIDA

Raabe era uma prostituta da cidade de Jericó, situada além do rio Jordão na terra de Canaã. Ela
e outros conterrâneos ouviram falar sobre como Deus tinha permitido os israelitas atravessarem
o Mar Vermelho e como tinham derrotado dois reis amorreus.

Quando os espias chegaram à sua porta, ela os acolheu em paz e os escondeu do rei de Jericó,
que buscava suas vidas. Raabe solicitou segurança aos espias, para si e para sua família dando-
lhes testemunho de que cria no Deus de Israel.

Então os espias lhe prometeram salvamento, juntamente de sua família, quando tomassem
Jericó. A vida de Raabe foi poupada na queda de Jericó e mais tarde a vemos como trisavó de
Davi e, assim, na linhagem de Jesus Cristo.

• Registre as virtudes e as fraquezas da pessoa. Por que Deus a considerou grande?


Quando ela falhou?
(I)
Passo 4

Continuando o estudo biográfico temos: RAABE — VIRTUDES E FRAQUEZAS

Virtudes: Baseada em bem pequeno conhecimento (rumores), Raabe apostou toda a sua vida
e as vidas da sua família no que ouviu. Aplicou o que sabia. Deus considera grandeza isto —
crer nele e agir com o que você tem. O povo de Raabe recebera a mesma informação, e, contudo,
não creu.

Fraquezas: Ela foi mentirosa e traidora da sua pátria.


• Escolha o versículo-chave para a sua vida. Trata-se do versículo ou passagem que
mais que qualquer outro sintetiza a orientação da vida daquela pessoa. Exponha a
(I) realização ou contribuição que coroa aquela vida.
Passo 5

Continuando o estudo biográfico temos: RAABE — VERSÍCULO-CHAVE

"Pela fé Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque


acolheu com paz aos espias" (Hebreus 11.31).
Sua fé foi exercida enquanto ela era meretriz, e Deus a considera grande naquele estágio da sua
vida, e não somente depois de ser aceita na comunidade judaica. Com base no escasso
conhecimento que tinha, ela agiu ocultando os espias e creu que Jeová era o verdadeiro Deus
de céus e terra.

• Numa sentença, expresse o pensamento-chave quanto à vida da pessoa. Pode ser


positivo ou negativo. Aqui você está procurando resumir a vida da pessoa numa
sentença. Deve haver correlação entre este pensamento-chave e o versículo-chave
(I) do Passo Cinco.
Passo 6

Continuando o estudo biográfico temos: RAABE — PENSAMENTO-CHAVE

Raabe se dispôs a correr riscos com Deus, baseada em pouca informação, e Deus considerou
isso uma autêntica grandeza.

• Das aplicações possíveis registradas em suas "Observações", escolha aquela que


Deus quer que você ponha em ação.
(A)
Passo 7

Exemplo: RAABE — APLICAÇÃO

É fácil cair no hábito de ler a Bíblia para obter novas compreensões, e omitir os aspectos de
aplicação que transformam a vida. Sou culpado disto. Desde que o segredo de uma vida
transformada está em aplicar a Palavra de Deus à minha vida, e não em aumentar o meu
conhecimento, vou orar e me comprometo a aplicar a verdade da Escritura toda vez que eu ler a
Bíblia.

Observe que, com exceção do método de estudo de versículos, os demais seguem “uma espinha
dorsal”, uma linha que direciona o estudo ANALÍTICO, o SINTÉTICO, o TÓPICO e o
BIOGRÁFICO. Basicamente todos são iniciados pelo estudante com os PASSOS 1 E 2: a
escolha da passagem bíblica no método analítico, do livro no método sintético, do tema ou
assunto no método tópico e o personagem bíblico no método biográfico; e a lista de observação
com anotações sobre observações, dificuldades, referências (quando necessário e possível) e
aplicações possíveis. Do PASSO 3 em diante os métodos possuem suas respectivas
adequações.

Mas, independentemente dessa ordem, se os fundamentos interpretativos forem corretamente


desenvolvidos nos métodos, como foi mostrado neste capítulo, é possível formular uma
sequência de aprendizagem que se aplica a qualquer dos métodos apresentados. Veja:

1º) Através da OBSERVAÇÃO é possível que o estudante questione os textos. Como


consequência:
 O questionamento conduz naturalmente para uma conclusão.
 A conclusão imediata conduz naturalmente para o e exercício da interpretação.
2º) Através da INTERPRETAÇÃO é possível compreender os rumos tomados durante o
estudo, isto é, as opções interpretativas. Como consequência:
 A compreensão conduz naturalmente para a escolha de uma das opções interpretativas,
isto é, a que mais “instrui” no contexto vivido pelo estudante.
 A opção interpretativa conduz naturalmente para uma aplicação.
3º) Através da APLICAÇÃO o estudante assume para si o que Deus quer para ele.
 Como consequência o estudante toma para si a responsabilidade diante de Deus e de
si mesmo, qualquer que seja o propósito divino, e o reconhecimento da necessidade de
mudança para melhoria, seja na relação com Deus, seja na relação com o próximo, seja
na relação consigo mesmo.

Em resumo, esta é a estrutura usada na junção dos métodos com os fundamentos de estudo da
Bíblia:

Análise de
Analítico Sintético Tópico Biográfico
Versículos

Qualquer um dos 5 Métodos de estudo usa os 4 Fundamentos de estudo da Bíblia

Observação Interpretação Correlação Aplicação


• Perguntas • Propósito do • Referência • Princípio da
• Gênero autor Bíblica Observação
Literário • Pensamento- • Paráfrase • Princípio da
• Palavra-chave chave Pessoal Interpretação
• Esboço • Seleção de
Simplificado uma das
opções
interpretativas
• Pessoalidade
na aplicação
Este capítulo foi o mais longo e é o clímax dos estudos sobre os métodos de estudo da Bíblia.
Trata-se do capítulo de conteúdo mais pragmático em que o cristão tem a oportunidade de
experimentar alguns métodos mais comuns e mais simples de interpretação do texto bíblico.

Obviamente que o propósito foi o de familiarizar o estudante ao mesmo tempo em que desperta
nele o desejo de prosseguir em sua pesquisa neste campo tão vasto que é a hermenêutica (uma
das áreas da Teologia que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos,
especialmente das Sagradas Escrituras)55.

Portanto, é interessante que o cristão que aprende Métodos de Estudo da Bíblia não pare neste
ponto, antes, que dê continuidade aos seus estudos e pesquisas se aperfeiçoando cada vez
mais, pois a demanda de uma interpretação e contextualização correta da Bíblia para hoje é algo
cada vez mais necessário!

CONCLUSÃO
As regras de interpretação usando-se os fundamentos de estudo foram dadas juntamente com
os métodos. Como se viu, algumas considerações como as informações que precedem o estudo
da Bíblia e uma breve introdução ao estudo da Bíblia, com informações também conceituais,
foram primeiramente expostas tendo em vista a necessidade de reconhecimento de sua
importância, isto é, por se entender que não é possível estudar coerentemente a Bíblia se tais
noções não forem assumidas pelo estudante.

Houve uma época, possivelmente, cerca de uma ou duas gerações atrás, em que não era
necessário escrever sobre tantas informações; mas o contexto era outro. A sociedade atual é
caracterizada pelo relativismo que questiona os valores absolutos, como a crença na Bíblia como
palavra de Deus, ou a crença de que é possível encontrar uma interpretação bíblica que unifique
as denominações em se tratando de doutrinas básicas. Tais questionamentos são feitos não
para confirmar a fé, e, sim, para confirmar a dúvida. Note que o que é por si mesmo evidente
para uma pessoa familiarizada com a Bíblia, soa como novidade para aqueles que não têm
conhecimento bíblico.

Daí as de regras de interpretação para o estudo da Bíblia terem se tornado uma necessidade.
Entretanto, repare que o conteúdo desta apostila não propõe “a interpretação” da Bíblia, mas,
sim, o estabelecimento de regras básicas que podem ser usadas em junção com cinco métodos
propostos. Isso porque há uma enorme diferença entre qual é a regra interpretativa correta e o
modo como usá-la. Um martelo é a ferramenta adequada para pregar o prego, mas isso não
garante que a pessoa não entortará o prego pela falta de prática. Portanto, somente a prática
constante dos princípios interpretativos em parceria com os métodos pode assegurar
aperfeiçoamento.

Espera-se que o estudante coloque em prática o conteúdo visto nesse material didático e, com
isso, amplie, ainda mais, sua relação com Deus, com o próximo e consigo. Que consiga refletir
com mais cautela acerca dos ensinamentos supostamente bíblicos que têm sido anunciados de
forma leviana nas várias comunidades e se prontifique a ajudar, buscando sinceramente
respostas que sejam verdadeiras confirmações do propósito de Deus para aqueles que o
buscam.

SITES DE MATERIAIS E BÍBLIAS PARA ESTUDAR

• http://www.bibliaonline.net/biblia
o Versões em português:
▪ NVI; RA; NTLH; ACF; AA.

55 Dicionário Eletrônico Houaiss.


o Versão em grego (el-Gr):
▪ LXX (apenas o AT).
o Versões em hebraico (he-IL):
▪ BHT (transliterado); BHSW (texto hebraico com acentuação).
• https://cafecomhebraico.wordpress.com/2011/04/26/toda-a-biblia-hebraica-em-audio/
• http://www.hebraico.pro.br/
o Bíblia Hebraica Transliterada;
▪ Texto em hebraico; Transliteração; versão em português ARCA e áudio
em hebraico de alguns livros.
• https://biblia.gospelprime.com.br
o Textus receptus NT (grego);
o Versões em português: ACRF; ARIB (Almeida Revisada Imprensa Bíblica); SBB;
Versão Católica
• https://www.bibliacatolica.com.br/
o Septuaginta e NT transliterado;
o Septuaginta e NT em grego com acentuação;
o Vulgata Latina;
• http://www.codexsinaiticus.org/en/
o Site de acesso a cópias de manuscritos encontrados no Sinai.
• https://digi.vatlib.it/view/MSS_Vat.gr.354/0169
o Site de acesso a cópias de manuscritos no Vaticano.
• http://textusreceptusbibles.com/Stephanus/45/10
o Site de acesso de transcrições dos textus receptus utilizado pela Reforma.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HENRICHSEN, WALTER A. - MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO. SÃO PAULO:
EDITORA MUNDO CRISTÃO, 1999.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA. SÃO PAULO: EDITORA MUNDO


CRISTÃO, 1995. FEE, GORDON; STUART, DOUGLAS. ENTENDES O QUE LÊS? SÃO
PAULO: EDITORA VIDA NOVA, 2005.

SATURNINO, RODRIGO ET AL. APOSTILA DE MÉTODOS DE LEITURA BÍBLICA.


CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA. BELO HORIZONTE: FATE- BH, 2003.

SANCHES, REGINA DE CÁSSIA FERNANDES. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA


BÍBLIA. SÉRIE COMO LER A BÍBLIA. BELO HORIZONTE: FATE -BH, 2002.

CARVALHO, GUILHERME V. R. O ESPÍRITO SANTO E A LEITURA DA BÍBLIA. BELO


HORIZONTE: FATE-BH.

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