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09 O Livro de Deus
09 O Livro de Deus
09 O Livro de Deus
O LIVRO DE DEUS
CLÉLIO MONTEIRO
O LIVRO DE DEUS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
● COMPREENDER A FORMAÇÃO DAS ESCRITURAS E SUA DUPLA NATUREZA;
● ENTENDER A COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA E SEUS GÊNEROS LITERÁRIOS;
● ENTENDER UMA METODOLOGIA DE UMA BOA LEITURA E INTERPRETAÇÃO
DOS TEXTOS DAS ESCRITURAS.
INTRODUÇÃO
Nenhum outro livro se assemelha a Bíblia Sagrada. Ela é o único livro que tem tudo que o homem
precisa. É um livro fascinante, e muitos durante toda a história têm se dedicado à sua leitura e
interpretação. Muitos por curiosidade científica, outros por reconhecerem nela a palavra de Deus.
Método de Estudo Bíblico é a disciplina que auxilia para a melhor compreensão da Bíblia, pois o
objetivo de se conhecer e saber aplicar os métodos está na intenção de acessar, através da
Bíblia, o conhecimento de Deus e de sua vontade para o ser humano.
Para que isso ocorra, isto é, para que o objetivo seja alcançado, o estudante precisa partir da
consideração de que a Bíblia é a palavra de Deus na sua totalidade, não existem textos mais
inspirados do que outros dentro da própria Bíblia, e que somente a iluminação do Espírito Santo
pode trazer a verdadeira compreensão da Bíblia.
Há quem diga que os “métodos” são ferramentas precisas na compreensão, já algum dizem que
isto significa tentar entender os Escritos Sagrados com o próprio raciocínio.
Na verdade, quando se utiliza esses métodos, o que ocorre é apenas uma tentativa honesta e
sincera diante de Deus e da comunidade eclesial, a Igreja, de organizar o estudo de forma a
fazer com que o entendimento assimile com mais facilidade o que se deseja aprender, a palavra
de Deus. Para que isto ocorra, o segredo é estar em devota dependência do Espírito Santo.
Faz parte deste “segredo” ter a consciência de que os métodos são ferramentas que auxiliam a
pesquisa, mas o estudante não pode se tomar escravo ou dependente desses métodos. Isto
significa que se no estudo não couber a utilização de todas as ferramentas, o estudante não deve
ter frustração ou pensar que não consegue ou que é muito difícil. Com o passar do tempo muitos
estudantes dedicados criam seu próprio método de estudo da bíblia.
Considerando que o estudo bíblico e a aquisição do conhecimento se dão por etapas, o conteúdo
dessa apostila está dividido em 3 seções: a primeira expõe as informações necessárias que todo
estudante deve saber para se aproximar da Bíblia para estudá-la; a segunda introduz o estudante
ao estudo da Bíblia através de mais informações que o conscientizam da seriedade do estudo;
e a terceira apresenta os métodos propriamente ditos que são as ferramentas necessárias para
o estudo da Bíblia.
A IMPORTÂNCIA DA BÍBLIA
Como já se sabe, a Bíblia é um livro que desperta o interesse das pessoas há muito tempo por
se tratar de uma revelação de Deus ao ser humano. Quando o próprio Deus se dá a conhecer a
qualquer pessoa, só resta adorá-lo.
A história contida na Bíblia é sobre Deus e seu povo, mostrando exatamente os propósitos e as
ações do Senhor na re-humanização desse povo e na retomada de comunhão consigo. Através
da Bíblia percebe-se a preocupação incessante do Criador em levar o povo a segui-lo; e mesmo
diante das falhas, a consciência dessa dependência e comunhão se destaca.
Deus faz uso da Bíblia para alicerçar a fé dos cristãos de hoje como já o fez noutros momentos
expostos pela história. Jerônimo, um dos pais da Igreja ordenado sacerdote em Antioquia,
acreditava que “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”1. Já Ambrósio, Bispo da Igreja na cidade
de Milão, precursor da formulação de muitas doutrinas básicas do Cristianismo, sempre apelava
aos seus ouvintes que jamais deixassem de se dedicarem às Sagradas Escrituras, à meditação
e oração para que a palavra de Deus que está presente nelas fosse sempre eficaz2.
A Bíblia se confirma como divina por ter sido inspirada, por se encontrar nela a revelação e uma
coerência do seu conteúdo, mesmo com a participação de vários autores em momentos culturais
diferentes, em épocas diferentes. Ao mesmo tempo, a Bíblia possui uma essência divina por
causa da atualidade de seu conteúdo.
Palavras que foram inspiradas noutros tempos servem para alimentar espiritualmente as vidas
sedentas de hoje!
Igualmente a Bíblia se confirma como humana por se encontrar em sua produção os mais
diferentes estilos literários como poesias, cartas e narrativas e manifestações culturais diferentes
como o modo de falar, vestir, agir, meio familiar, diferenças políticas, econômicas e sociais. E
tudo isso construído dentro da história. Foram momentos reais, vividos, experimentados pelos
autores bíblicos, os mesmos que receberam a revelação de Deus ou ouviram testemunho
daqueles que receberam a revelação. Deus os usou como instrumentos vivos e conscientes,
respeitando a personalidade de cada um, o idioma que falavam e sua originalidade literária.
Ele é a chave interpretativa que permite ao estudante decifrar o que há de mais belo e profundo.
Toda a Bíblia gira em torno de Jesus Cristo: o Antigo Testamento o vê como esperança e o Novo
o vê como cumprimento dessa expectativa outrora criada e ambos o veem como seu centro.
frutos de diversas leituras das mais variadas pesquisas ao longo do tempo, feitas pelo autor da apostila.
4 Conteúdo do tópico extraído da apostila Métodos de Leitura Bíblica da FATE-BH. Página 9.
Os escritores do Novo Testamento leram e interpretaram o Antigo Testamento buscando e
encontrando Jesus. À luz de Jesus Cristo, tudo se aclara, até os textos mais difíceis de serem
compreendidos e aparentemente menos importantes. Todo o conteúdo bíblico adquire nova e
inesperada dimensão quando se lê buscando compreender a partir da obra de Cristo.
Sintetizando esse tópico, como o próprio Jesus declara em Lc 24.27,44 e João 5.39, os 66
livros podem ser resumidos nas quatro palavras abaixo, todas referentes a Cristo5:
Tendo Cristo como o tema central da Bíblia, podemos resumir todo o Antigo Testamento numa
frase: JESUS VIRÁ, e o Novo Testamento, noutra frase: JESUS JÁ VEIO.
Este capítulo, como se pode notar, possui um conteúdo bem simples, propositalmente de caráter
introdutório, objetivando apresentar a Bíblia enquanto palavra de Deus. Seguindo esta mesma
proposta introdutória, o próximo capítulo dá algumas informações consideradas como
conhecimento geral da Bíblia que todo cristão, estudante ou não de teologia, deve possuir.
AS PARTES DA BÍBLIA
A Bíblia é formada ao todo por 66 livros e dividida em duas partes principais: Antigo e Novo
Testamento. Para fins de estudo, essas partes podem ser subdivididas em partes menores6.
O Antigo Testamento é formado por quatro O Novo Testamento é formado por cinco
conjuntos que agrupam 39 livros7. conjuntos que agrupam 27 livros.
Pentateuco: conjunto que vai de Gênesis até Evangelhos: conjunto que vai de Mateus até
o Deuteronômio; João;
História: conjunto que vai de Josué até Ester; História: somente o livro de Atos;
Poesia: conjunto que vai de Jó até Cantares Cartas Paulinas: conjunto que vai de
ou Cântico dos Cânticos de Salomão; Romanos até Filemon;
A leitura atenciosa e o estudo detalhado desses conjuntos mostram que é um equívoco ver a
Bíblia como um manual legislativo de regras, normas e preceitos. Certamente que se podem
encontrar tais informações, mas a palavra de Deus vai além disso, na Bíblia é encontrada a
“História da Salvação”8. E essa história abarca muitas coisas, como vidas individuais, a vida de
nações e a vida de toda a humanidade. E por ser esse o seu conteúdo, a história da fidelidade
de Deus apesar da infidelidade dos seres humanos, é possível afirmar com a Bíblia possui, no
sentido mais profundo do termo, a História Sagrada9.
Com o objetivo de facilitar o estudo bíblico, é importante saber que as origens da Bíblia se
encontram nas “tradições orais”, histórias, fatos e ensinos transmitidos de pais para filhos. Estes,
na falta dos escritos, tinham muito mais validade e autoridade. As primeiras dessas tradições
remontam ao tempo de Moisés, treze séculos antes de Cristo10.
No que diz respeito ao estudo de cada uma das partes do Antigo, o estudante precisa saber que
o Pentateuco é a base de todo a religião de Israel. Todos os escritos que vem depois tem como
fundamento os eventos relatados nessa primeira parte do A.T. A fé do povo israelita foi
construída a partir de uma série de tradições, como já se sabe. E essas tradições eram sempre
relembradas em cada momento importante da história israelita, dando origem, muitas vezes, a
novas tradições. Não se trata de várias histórias com Deus, trata-se de uma mesma história
composta de várias tradições11.
Deve-se buscar um equilíbrio na leitura da Bíblia. Não se deve restringir tudo ao sentido literal
do que está escrito, mas também não se deve “simbolizar” tudo o que está escrito, como se cada
palavra tivesse um sentido oculto.
É indispensável que o estudante verifique qual é o estilo literário usado em cada passagem,
trecho ou livro bíblico. Sendo a Bíblia um livro humano e envolvendo um longo período histórico
em sua elaboração, vários estilos literários foram utilizados e deram forma os textos. Os
principais são13:
NARRATIVA
É uma forma de prosa que visa contar a história e a verdade através de fatos, histórias, relatos,
biografias, sempre a partir de uma perspectiva teológica. Suas características são:
DISCURSO
É uma forma de prosa que procura apresentar as ideias, conceitos, doutrinas ou fatos de uma
forma lógica e ordenada, geralmente por meio de um argumento, uma carta, um sermão. O livro
de Hebreus é um bom exemplo. Suas características são:
POESIA
É utilizada para comunicar emoções, sentimentos e ideias. No texto bíblico deve ser vista como
uma resposta humana às ações maravilhosas de Deus. O livro dos Salmos é um bom exemplo.
Suas características são:
PROFECIA
É uma forma de linguagem altamente simbólica e figurativa, mas comunica a verdade real. Sua
função é anunciar a aliança de Deus com o povo e exigir seu cumprimento e anunciar a palavra
de Deus (Ex.: leia Deuteronômio 4.32-40 e compare com Amós 9.11-15 e Oséias 8.14).
Para ler as profecias é preciso localizar o momento histórico em que elas aconteceram (a fase
do reinado, do exílio ou do retorno do exílio) e do período específico de cada profeta. É importante
lembrar que os livros proféticos não são uma narrativa linear, isto é, não seguem uma sequência;
mas, sim, um conjunto de declarações em nome de Deus. Um bom exemplo é o livro de Miquéias.
Sua única característica é:
EPÍSTOLAS
Não formam uma coletânea homogenia, isto é, não possuem natureza de conteúdo igual e nem
apresentam semelhança de estrutura. São simplesmente textos endereçados que visam tratar
de situações específicas que envolvem as comunidades e os indivíduos como Filemon e
Timóteo. A 1ª carta de Pedro é um bom exemplo. Suas características estão na estrutura ou
modelo em que foram escritas. Mesmo que uma ou outra não encontre todos esses elementos,
mas a maioria possui:
• Nome do escritor;
• Nome do destinatário;
• Saudação;
PARÁBOLAS
São histórias que ensinam uma lição de moral ou uma verdade. São fictícias, mas refletem a vida
real. São projetadas para mostrar uma proposta central ou ideia sugerida, e cada detalhe da
parábola reforça essa proposta. As parábolas ampliam ou continuam uma doutrina, mas não as
estabelecem por não serem passagens doutrinárias muito claras. Portanto não se deve tentar
sempre um significado ou uma aplicação espiritual a cada detalhe da parábola e nem tornar a
parábola a principal ou única fonte para o estabelecimento de doutrinas. Para identificar
corretamente uma parábola o estudante deve:
APOCALIPSE
O gênero “apocalipse”, muito comum entre os judeus do século II a.C. ao século II d.C,
caracteriza-se por suas revelações, sobretudo a respeito do futuro. Nos apocalipses abundam
visões simbólicas, alegorias enigmáticas, que são o método de interpretação das sagradas
escrituras usadas pelos autores que almejavam transmitir significações morais, doutrinárias,
normativas, ocultas sob o texto literal14, também são encontradas imagens surpreendentes e
informações numéricas. A aparição e desenvolvimento do gênero se deram pelas duras
condições de vida do judaísmo e que despertou um grande desejo de tempos melhores e de
libertação nacional, das mãos das nações opressoras. Dois bons exemplos são os livros de
Daniel e do Apocalipse de João.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Geralmente tem-se a ideias de que o estudo da palavra de Deus de modo mais detalhado fica
restrito a teólogos e pesquisadores, no entanto o estudo serve para todo aquele que deseja se
aproximar e conhecer mais sobre Deus e ter um relacionamento com Ele. Uma das possíveis
explicações para a crença nessa ideia falsa é a falta de referências e de informação sobre a
própria Bíblia enquanto “livro humano”, isto é, enquanto livro histórico que apresenta estilos
literários e culturais diferenciados. Esses dois primeiros capítulos apresentaram informações
cruciais que devem ser previamente assumidas pelo estudante da Bíblia e que são importantes
para uma leitura e interpretação saudável das Escrituras, isto é, informações que produzem o
desenvolvimento de um estudo cujos resultados se voltam para as necessidades individuais ou
Mesmo que introdutoriamente note que este capítulo já revelou detalhes do conteúdo bíblico que
são gerais, mas ao mesmo tempo importantíssimos. Não é possível trabalhar a interpretação de
qualquer tipo de texto se estas informações dadas aqui não forem de conhecimento do estudante
da Bíblia. Daí toda esta seção que se encerra aqui se destinar a mostrar ao estudante que, antes
mesmo de começar a estudar um texto bíblico, é preciso estar fundamentado nas informações
básicas sobre o conteúdo bíblico. A próxima seção encaminha o teólogo ou estudante ao
conhecimento sobre o estudo da Bíblia propriamente.
Mas como a Bíblia não foi escrita com esse propósito, ela exige respostas por parte do estudante,
pois quando lida, interpretada e estudada é Deus falando. E essa resposta tem de ser nada
menos do que obediência à vontade de Deus. Para que essa obediência seja consequência de
um relacionamento saudável com Deus, isto é, seja fruto de estudos adequados, os tópicos a
seguir confirmam a importância de se estudar a Bíblia.
15 HENRICHSEN, p.7.
16 Argumentos desenvolvidos a partir do tópico A importância de se estudar a Bíblia contido na apostila
Introdução Bíblica. Página 4-5.
17 Cf. a 1ª epístola de Pedro 2.9 e a epístola aos Efésios 2.10.
18 Cf a 2ª carta a Timóteo 2.15.
19 Cf. o livro de Isaias 55:11.
20 Cf. o Evangelho de Mateus 4.4; o livro de Jeremias 15.16 e a 1ª epístola de Pedro 2.1-2.
palavra de Deus para que suas orações possam ser respondidas21. O Espírito Santo
deseja encontrar no crente o instrumento com que possa operar a Palavra de Deus.
• Enriquece a vida do cristão espiritualmente: Afirma-se que há cerca de 32.000
promessas na Bíblia. Junto das promessas está a formação do caráter e da vida cristã.
Ela é a revelação de Deus para a humanidade. O que o homem precisa saber quanto a
sua redenção, conduta cristã e felicidade eterna encontra-se na Bíblia. O autor da Bíblia
é Deus, seu real intérprete é o Espírito Santo e seu tema central é Jesus Cristo. O homem
deve estudar a Bíblia para ser sábio, crer na Bíblia para salvo e praticar a Bíblica para
ser santo.
É importante compreender que Deus levou a Bíblia a ser escrita para se revelar através dela.
Jesus indicou o motivo principal de estudá-la quando criticou os fariseus respondendo para que
eles estudassem as Escrituras que testificam dele. Isso significa que os fariseus estudavam
incorretamente por não encontrarem Deus na pessoa de Jesus Cristo na Bíblia.
No mais, o apóstolo Paulo ensinou Timóteo que o conhecimento da Bíblia traz certos resultados
práticos na relação com Deus ao escrever que “toda Escritura é inspirada por Deus e útil
para o ensino”22.
Quando o estudante se aproximar da Bíblia, é igualmente importante entender que ela não é
uma enciclopédia qualquer a ser consultada quando uma pessoa tem o interesse num assunto
religioso, ou uma coletânea de textos isolados para a defesa de certas falsas doutrinas, muito
menos um conjunto de oráculos místicos pelos quais é possível satisfazer a curiosidade sobre o
futuro. Ao contrário, a Bíblia possui autoridade para guiar as pessoas em suas decisões,
modificar para melhor a forma dos homens se relacionarem, corrigir, instruir e orientar
corretamente a visão dos indivíduos sobre a verdade e definir os propósitos pelos quais os seres
humanos vivem.
É por isso a Bíblia não é um livro de teorias, mas, sim, um livro de vida, para a vida. A palavra
“conhecer”, na filosofia, significa “ter informações e conceitos sobre a realidade das coisas”, mas
não produz nenhuma consequência prática. Já na linguagem hebraica e na Bíblia, “conhecer”
significa um relacionamento pessoal e, consequentemente, um compromisso prático. Portanto,
quem não obedece a Deus, não o conhece23.
Porém, em se tratando da Bíblia, a falta de humildade por parte do cristão pode levar à
consequente falta de coerência na interpretação do conteúdo bíblico. Esta falta de coerência, por
certo, levará ao ensino enganoso para a própria vida e se for comunicado à Igreja, igualmente,
esta também será vítima dos ventos de falsa doutrina. Infelizmente tragédias espirituais podem
ocorrer diante da interpretação distorcida. Por isso é preciso refletir sobre a necessidade da
interpretação propriamente levando-se em consideração seus limites idiomáticos, de grafologia,
gramaticais e históricos considerando a existência de contextos específicos em que cada texto
bíblico foi escrito.
A NECESSIDADE DE INTERPRETAÇÃO 24
É comum o estudante da Bíblia se deparar com pessoas questionam a necessidade de se
estudar a Bíblia. Muitos dentre estes afirmam que a Bíblia não é um livro obscuro, de difícil
entendimento, ao contrário, afirmam que é um livro simples e de claro significado. Mas o que não
percebem é que ao verificar essa ideia de que basta ler que o sentido surge, tal argumentação é
ingênua tanto por causa da natureza do leitor quanto da natureza da Escritura.
Todo leitor é ao mesmo tempo um intérprete. A maioria das pessoas quando está lendo o texto
bíblico toma por certo que no decorrer dessa leitura já está entendendo o significado, tendendo
a confundir o entendimento humano com a intenção do Espírito Santo. A questão é que durante
a leitura, o estudante, sem perceber, leva para o texto toda sua personalidade, sua educação,
sua cultura, sua visão de mundo, seu entendimento prévio das palavras e ideias, suas
experiências, correndo o risco de atribuir ao texto ideias estranhas a ele, coisas que não fizeram
parte da intenção do autor original.
Como exemplo pode-se ilustrar a leitura e significado que uma pessoa de cultura ocidental atribui
quando lê a palavra “cruz”. Séculos de arte e simbolismo cristãos levam essa pessoa a pensar
na cruz romana com esse símbolo ( + ). Mas o formato da cruz de Jesus era assim ( T ), um “tê”.
Quando o apóstolo Paulo escreve aos romanos “Nada disponhais para a carne, no
24 Reflexão desenvolvida a partir da leitura da introdução do livro Entendes o que lês? De Gordon FEE.
tocante às suas concupiscências” (Rm 13), as pessoas de culturas e idiomas
ocidentalizados tendem a imaginar que “CARNE” significa “CORPO”, portanto o apóstolo está
falando dos “APETITES FÍSICOS”. Mas a palavra “CARNE” conforme está empregada no texto
refere-se a uma enfermidade espiritual conhecida como “NATUREZA PECAMINOSA”.
Além de todo leitor ser naturalmente um intérprete, a Bíblia, conforme já se viu em tópico anterior,
possui uma dupla natureza: é divina e humana ao mesmo. “A Bíblia é a Palavra de Deus
dada nas palavras de pessoas na história”25. Daí a necessidade de interpretação, pois o
fato de existir um lado humano na Bíblia deve servir como encorajamento e desafio.
É igualmente desafiador determinar o alvo da boa interpretação. Esse alvo não é a originalidade.
A interpretação que visa à originalidade quase sempre pode estar ligada ao orgulho, uma
tentativa de se “mostrar mais sábio” do que o restante das pessoas; ou tentativa de desenvolver
de forma errada a espiritualidade, quando se defende que a Bíblia está cheia de verdades
profundas que estão esperando para serem descobertas por uma pessoa que estiver
“espiritualmente sensível” e com um discernimento especial; ou até mesmo a interesses
suspeitos, misteriosos, ocultos, como a necessidade de apoiar qualquer preconceito teológico.
O alvo da boa interpretação é simples: chegar ao “sentido claro do texto”; e o ingrediente mais
importante que a pessoa traz a essa tarefa é o bom-senso aguçado. O estudante descobre que
a interpretação está correta quando sente a mente aliviada juntamente de uma “cutucada” no
coração.
E já que a interpretação é um “fenômeno” natural em cada ser humano, é preciso refletir sobre
seu papel e seus limites quando usada no texto bíblico.
Mas toda essa reverência não significa que o estudante deve ou pode anular suas faculdades
mentais no decorrer do estudo da Bíblia, haja vista que o próprio Jesus ensinou que as pessoas
devem amar a Deus com todo o entendimento. Por um lado, é verdade que a Bíblia é o livro que
comunica para uma variedade maior de pessoas, mais do que qualquer outro: grupos indígenas,
povos orientais, africanos e europeus, sejam elas estudadas com altos títulos escolares ou não.
Por outro, a interpretação não é um jogo inteligente em que o estudante coloca o significado que
mais o “atrai”, antes, ele deve sempre interpretá-la dentro do contexto textual e histórico
continuando em oração e dependência do Espírito Santo.
Note, seria muita ingenuidade ou reducionismo imaginar que só é possível um tipo de resposta
de um determinado texto bíblico para uma igreja, ou mesmo que uma resposta bíblica serve tanto
para uma igreja que vive na Suécia cujo índice de desigualdade social é mínimo, quanto para
uma igreja na África cujos índices de desigualdade social são os mais altos do mundo.
E isto se dá porque todas as pessoas são naturalmente influenciadas por uma visão de mundo
que até certo ponto é própria, é individual e até certo ponto faz parte de uma cultura sendo
comunitária. Portanto, E é por isso que o intérprete deve assumir a responsabilidade por sua
própria interpretação, ciente de que se ele ensinar uma heresia é ele mesmo quem deve receber
as consequências de sua postura. Por isso é importante que o estudante saiba qual o real papel
do Espírito Santo na leitura da Bíblia. E este é o assunto do próximo capítulo.
Por mais fácil que possa parecer para muitas pessoas, devido à dupla natureza da Bíblia, sua
leitura e estudo tornam-se um processo complexo e ao mesmo tempo único. Porém, a falta de
percepção acerca dessa complexidade promove consequências negativas para o entendimento
do estudante, como a leitura reducionista. É preciso que o estudante saiba identificar quais são
as distorções provocadas para conseguir ler, interpretar e estudar adequadamente26.
Nas leituras populares da Bíblia a leitura reducionista é encontrada na forma de duas falsas
crenças: a primeira é a errônea crença de que a Bíblia é um objeto mágico de modo que seus
textos formam um conjunto de escritos misteriosos e místicos; a segunda é a ideia evangélica
de que o significado do texto bíblico não é entendido através da razão, mas somente da
26Este capítulo foi desenvolvido a partir da leitura do artigo que possui o mesmo título, O Espírito Santo e
a Leitura da Bíblia, de Guilherme V.R. Carvalho.
revelação do Espírito. Ou seja, o Espírito é o intérprete de modo a se crer que a verdade não
está no texto bíblico, mas na voz do Espírito, que usa o texto para comunicar sua verdade, e
desse modo a razão humana está dispensada do trabalho de interpretação27.
A partir dessa crença que surge da leitura reducionista que se faz da Bíblia, o Espírito comunica
o significado do texto sem a mediação da mente e o texto bíblico não tem um único significado,
ao contrário, possui vários. Isso conduz à crença de que o texto bíblico não pode ser
compreendido por nenhum processo racional ou crítico, mas pela revelação imediata do Espírito
sem o auxílio da mente. Como resultado, é possível que pessoas se aproximem da Bíblia vendo
seus escritos como sendo misteriosos, conforme já fora mencionado, ininteligível, isto é, que não
se pode entender, e, sim, legível apenas por meio de um carisma especial. Esse tipo de leitura
é chamado de “leitura pneumática”, que significa exatamente isso, uma leitura totalmente
orientada pelo Espírito sem passar pela razão humana, algo hipnótico. Portanto é muito
importante que o estudante reflita sobre a atuação do Espírito Santo na leitura, interpretação e
estudo das Escrituras.
27 CARVALHO, p.1.
28 CARVALHO, p.3.
29 BRAATEN apud CARVALHO, p.3.
30 RICHARDSON apud CARVALHO, p.5.
31 Cf. o Evangelho de João 15.26,27 e 16.14; o livro de Atos 1.8; a epístola aos Romanos 8.16; a 1ª epístola
Com essa definição é possível afirmar que a iluminação do Espírito Santo, isto é, o meio pelo
qual o Espírito testifica ao ser humano a verdade bíblica, não é, não significa, não acontece a
explicação do significado do texto bíblico de modo separado do pensamento. O Espírito Santo
não é o intérprete e não explica para o estudante o contexto histórico-literário do texto, antes,
Ele capacita para a leitura do texto de modo que seja feita teologicamente, na medida em que
produz o discernimento para as realidades espirituais, e a consequente fé na “palavra escrita”35.
Para que não reste a menor sombra de dúvida sobre o papel do Espírito na leitura da Bíblia basta
diferenciar os conceitos de “significado” e “significância”. “Significado” refere-se ao sentido
histórico-literário comum, isto é, aquilo que o autor quis dizer. Já “significância” é o
relacionamento entre o “significado” e a pessoa que está estudando. O Espírito Santo não passa
o significado, mas capacita para que o estudante desenvolva uma significância que seja
relevante para seu tempo, sua vida e sua comunidade.
Note que este capítulo promove profundo esclarecimento e ao mesmo tempo um inegável
impacto. De repente o estudante descobre que parte de suas interpretações nada ortodoxas e
nada bíblicas não passam de sugestão pessoal e nada tem a ver com o contexto bíblico e muito
menos com o ensinamento adequado das Escrituras. Todavia esta ponderação sobre o papel do
Espírito Santo na leitura da Bíblia é necessária justamente para se produzir um amadurecimento
teológico e a devida seriedade que todos os cristãos precisam ter ao ler e estudar a Bíblia,
principalmente quando estas atividades ocorrem para que algo seja ensinado à Igreja. O teólogo
ou estudante da Bíblia deve ter reverência, mansidão, humildade e acima de tudo reconhecer
que nem sempre ele terá todas as respostas imediatamente e que é necessário estar sob a
orientação do Espírito Santo. Pois, mesmo que Ele não dê o significado do texto bíblico,
certamente Ele ajudará na significância e contextualização para a contemporaneidade daquele
que estuda a Bíblia.
Encerrado este capítulo, encerra-se aqui também a parte mais teórica do conteúdo desta
apostila. De agora em diante, a partir do próximo capítulo, os aspectos mais práticos do estudo
da Bíblia são apresentados.
Uma grande vantagem desse método é a constatação de que o povo da Bíblia era um povo real,
que seguia normalmente o curso da vida, indo mais além do que apenas manifestar
institucionalmente uma religião monoteísta, isto é, uma religião cuja crença está firmada no único
Deus. Essa ideia de um povo isolado não condiz com a evidência bíblica, que mostra muitas
nações e diversos sistemas religiosos. E é justamente com essa proposta de se estudar a Bíblia
que é possível descobrir as semelhanças e as diferenças do povo de Deus e seus vizinhos, que,
em muitas situações, não se diferenciavam tanto assim.
O sentido literal é caracterizado por considerar a história dos personagens centrais como Adão,
Noé, os Patriarcas, Moisés, Davi, os profetas, e os atos fundamentais da história bíblica como o
dilúvio, o chamado de Deus a Abraão, a passagem do Mar Vermelho, a aliança de com Deus no
monte Sinai, e outros mais.
Um exemplo de leitura e interpretação que pode ser feita nos dois sentidos é o oráculo de Isaías:
“... e dará luz a um filho e o chamarás Emanuel”. No sentido literal-histórico, este texto
se refere ao nascimento de um rei da dinastia de Davi; já no sentido alegórico é possível reler o
Não se deve ler o Uma leitura completa e uma interpretação mais atenciosa exigem
texto buscando também a busca dos contextos geográfico, histórico e cultural. Ou
apenas o “sentido seja, toda e qualquer informação que o texto der é importante para
espiritual”: uma interpretação e compreensão mais exata. Depois de coletar
todas as informações, o estudante deve comparar a situação
daquela época com a de hoje.
Não se deve forçar a Não se deve afirmar uma informação que, de fato, o texto não está
interpretação do apresentando. O estudante não deve buscar apenas o que lhe
texto bíblico: convém ou quer interpretar; antes, deve estar aberto aos novos
ensinamentos do texto de modo que sirvam como ferramenta de
Deus para a conversão do coração ao caminho do Senhor.
Ler diariamente38: Constata-se que nos dias atuais cerca de 80% dos cristãos não lêem
a Bíblia diariamente, embora leiam outros tipos de livros, assistam
aos cultos, ouçam e vejam programas.
Com a melhor Estudar a Bíblia como palavra de Deus e não como uma obra
atitude mental e literária qualquer; com o coração e devoção, e não com o intelecto
espiritual: somente; crendo em tudo que ela ensina.
Com oração, Estas regras foram observadas por vários servos de Deus e os
devagar e resultados estão na própria Bíblia39. Na oração as coisas
meditando: imprescindíveis são esclarecidas40. A meditação aprofunda o sentido
da Palavra em nossos corações.
37 Sabe-se que a imparcialidade teológica e a científica não existem, mas é importante que o estudante da
Escritura Sagrada tenha consciência de que há outras possibilidades interpretativas dos textos bíblicos.
Portanto é igualmente importante tentar não ficar preso somente na interpretação que já se sabe, isto é, a
que geralmente já está acostumado.
38 Cf. o livro de Deuteronômio 17.19.
39 Cf. o livro dos Salmos 119.12,18 e o livro de Daniel 9.21-23
40 Cf. o livro dos Salmos 73:16-17.
Este capítulo expôs três argumentações com o intuito de introduzir o estudante no universo do
estudo bíblico, e torná-lo sabedor da seriedade que é estudar a palavra de Deus, quais as
consequências disso e a importância de ser disciplinado.
Nesta próxima seção ver-se-á a introdução ao Método de estudo da Bíblia propriamente dito.
Após a compreensão de que é preciso assumir algumas posturas úteis para o estudo da Bíblia
e as informações introdutórias ao estudo bíblico, finalmente o estudante pode fazer uso dos
métodos para ser bem sucedido nesse estudo.
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
A aplicação dos métodos exige disciplina. A disciplina, por sua vez, exige critérios, normas,
regras, princípios que devem acompanhar o estudante em qualquer época que se dedicar ao
estudo das Sagradas Escrituras41.
OBSERVAÇÃO
Observar nada mais é do que reconhecer, identificar algo ou alguém, e no caso da observação
no estudo da Bíblia é ficar tão familiarizado quanto possível com o que o escritor bíblico está
dizendo. Observação é o fundamento que responde à pergunta “Que vejo?”. Aqui o estudante
da Bíblia aborda o texto como um detetive. Nenhum detalhe é sem importância, cada observação
é cuidadosamente listada para considerações e comparações posteriores. Portanto, para fazer
41 Quando se trata de Métodos de Estudo da Bíblia, há vários autores que se dispõem a desenvolver
técnicas que facilitem o estudo e a interpretação das Escrituras. Dentre estes, o autor Walter A. Henrichsen
foi escolhido por se entender que suas técnicas são as mais fáceis de serem compreendidas inclusive pelos
leigos que compõem as igrejas locais. Portanto, este capítulo foi desenvolvido a partir do conteúdo extraído
e adaptado do livro Princípios de interpretação da Bíblia de Henrichsen.
42 HENRICHSEN, p.8.
43 Ibidem, p.8-9.
uma boa observação, comece sua observação com uma atitude mental certa, isto é, tenha
vontade, disposição, desejo, seja persistente, seja paciente, escreva tudo que observar, seja
cauteloso, procure discernir o que é mais importante e o que não é. Faça as perguntas ao texto,
verifique que forma ou estrutura ou tipo literário é a passagem em questão; encontre as palavras-
chaves do texto.
INTERPRETAÇÃO
A observação condiciona o estudante a reconhecer algo ou alguém, a interpretação o condiciona
a explicar o significado desse algo ou alguém reconhecido anteriormente. Interpretação é o
fundamento que responde à pergunta “Que significa?”. Aqui o intérprete bombardeia o texto com
perguntas como: “Para as pessoas da época, o que significavam estes detalhes que foram
citados, dados ou ensinados?”; “Por que o texto diz isto?”; “Qual a principal ideia que o texto está
procurando comunicar?”. É a partir da interpretação que o estudante chega a algumas
conclusões sobre as observações feitas anteriormente. Recapitulando, de forma bem simples,
tudo se resume no seguinte princípio: enquanto a observação pergunta, “o que é isso?”, a
interpretação pergunta “o que significa isso?”; “Qual a explicação para isso?”.
O Pensamento-chave: É a ideia principal que o autor usa para concretizar seu propósito.
CORRELAÇÃO
O dicionário define correlação como sendo o ato de se “estabelecer relação de duas ou mais
coisas entre si”. Biblicamente não é diferente, podemos extrair outras passagens das Escrituras
e relacioná-las ou compará-las com nosso texto em questão. Correlação, então, é o fundamento
que responde à pergunta “Como isso se relaciona com o restante do que a Bíblia diz?”. Nesse
momento o estudante não deve examinar somente passagens individuais; ao contrário, deve
correlacionar seu estudo com todas as outras passagens existentes na Bíblia sobre o assunto
que já está sendo estudado. Compreender bem a Bíblia, ou o assunto tratado, leva em conta
tudo o que a Bíblia diz sobre aquele assunto.
A Paráfrase Pessoal
A paráfrase pessoal permite que o hermeneuta escreva com suas próprias palavras, porém sem
alterar o significado pessoal o trecho que está estudando.
Esboço Minucioso
O esboço minucioso nada mais é do que um compacto, um resumo de tudo o que estudamos
em forma organizada.
APLICAÇÃO
Finalmente, o 4° e mais importante fundamento para o estudo da Bíblia, a Aplicação. De nada
adianta observar, interpretar, correlacionar e no final não aplicar nada do que foi aprendido.
Aplicação é o fundamento que responde à pergunta “Que significa para mim?”. Esta é a meta
dos outros três fundamentos, conduzirem o estudante à aplicação do que tem sido estudado.
Lembre-se que o propósito principal da Palavra de Deus é mudar nossa vida. Aumentar nosso
conhecimento já é outro propósito, só que não é o principal.
Ser seletivo: Quando sou seletivo significa que dentre as várias aplicações que descobri
aplicarei em minha vida somente aquela que o Espírito Santo me mostrar. Quando sou
específico, significa que Deus quer que eu assuma a responsabilidade de meus erros e
reconheça a necessidade de mudança. Quando sou pessoal, significa que realmente eu não vou
me desculpar com Deus dizendo... "realmente Senhor! Nós somos culpados!" Quem é
“nós”, se o erro é meu?
44 Note que os Princípios da Observação e da Interpretação são resumos do que fora apresentado
anteriormente. É como se o autor que propôs os fundamentos, Walter A. Henrichsen quisesse conduzir o
estudante a compreender que a Observação e a Interpretação são fundamentos indispensáveis para guiar
o estudante a uma Aplicação coerente, correta.
Escrever por extenso a Aplicação: Depois que descobri qual a verdadeira aplicação, devo
escrever por extenso para memorizar melhor e estar todos os dias me avaliando através do
processo de verificação de meu próprio procedimento.
Estes princípios aqui apresentados não são unanimidade entre todos os hermeneutas, exegetas,
linguistas e teólogos no sentido de que o caminho que foi apresentado neste capítulo é o único
que deve ser seguido. Evidentemente que há outros autores e estudantes que na medida em
que amadurecem em sua prática de estudo bíblico desenvolvem outros princípios ou mesmo
ampliam estes já citados. Todavia, os princípios de interpretação que foram expostos são
suficientes para direcionar o estudante da Bíblia de modo saudável ao uso de métodos de estudo
da Bíblia, que é o assunto do próximo capítulo.
Diferente dos princípios de interpretação, os métodos de estudo possuem muita flexibilidade, isto
é, os métodos não são propriamente “regras rígidas”, e, sim, linhas de orientação que se forem
seguidas melhorarão, facilitarão para o estudante no empenho de aprender as Escrituras.
Junto de cada passo do estudo, anote uma das quatro letras acima. Elas visam alertá-lo quanto
à parte empregada naquele passo. São cinco os métodos de estudo da Bíblia45: 1) “Método de
Análise de Versículos”, 2) “Método de Analítico”, 3) “Método Sintético”, 4) “Método Tópico”
e 5) “Método Biográfico”. Vejamos cada um com suas características.
45Os Métodos apresentados, com a estrutura de estudo e os exemplos de como devem ser utilizados foram
extraídos do livro Métodos de Estudo Bíblico de Walter A. Henrichsen.
• Verifique o contexto e assinale os limites. Se for difícil determinar isto, consulte uma
tradução moderna, como a Nova Versão Internacional (Bíblia NVI), que assinala as
divisões em parágrafos. Neste caso, o contexto de 1ª Tessalonicenses 5.17 é o
versículo imediatamente anterior e o que vem logo a seguir: "Regozijai-vos sempre"
(O) (v. 16) e "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo
Passo 1 Jesus para convosco" (v. 18).
(O) Note que é possível inverter a ordem dos modificadores entre si, sem mudar o sentido dos
versículos: "Regozijai-vos sempre, orai sempre, dai graças sempre", e assim por
diante, com os outros elementos modificativos. Dessa forma também é possível fazer uma
aplicação breve de modo que o estudante confesse para si mesmo. Exemplo:
(A) “Dar graças (v. 18) não é um dos meus pontos fortes, tenho a tendência de resmungar
acerca de tudo”.
(I) Todos os modificadores expressam a ideia de coisas perpétuas, isto é, de que nunca haverá
ocasião em que não devam ser feitas.
(I) O versículo 17 pode ser tomado literalmente? É possível orar sem cessar? Ou Paulo aqui está
falando simplesmente de uma atitude?
Ideia central:
• Das possíveis aplicações escolha aquela que Deus quer que você escute
colocando o problema, o exemplo do problema, a solução, e a coisa específica que
(A) Deus quer que você faça para aplicar a solução.
Passo 5
Versículo 18: Sinto-me culpado de ingratidão. Ainda ontem me dei conta de que não tinha
agradecido a minha esposa todo o trabalho duro que faz cozinhando, mantendo a casa e
cuidando das crianças, e muitas outras coisas. Por isso proponho-me diante de Deus a começar
a refrear esta ingratidão e a substituí-la por expressões verbais de agradecimento. Vou
desculpar-me com o Senhor e com minha esposa e pedir-lhes perdão.
Com o propósito de ilustração, a 1ª
Método Analítico carta de Pedro, capítulo 2 será
analisado.
• É o estudo de um capítulo ou trecho
qualquer do capítulo. Analisar é
estudar o objeto em seus detalhes.
É esse o objetivo do estudo
analítico da Bíblia. O propósito é
compreender o que o escritor tinha
em mente quando escreveu para
aqueles a quem se dirigia. No
método analítico o estudante
investiga as partes como por um
microscópio.
• Leia a passagem cuidadosamente, tome uma folha de papel e escreva uma folha
só de informações percebidas contendo: 1) Observações, 2) Problemas, 3)
(O) Referências Bíblicas, 4) Possíveis aplicações.
Passo 1
• Observações: Anote toda e qualquer minúcia que notar. Bombardeie a passagem com
perguntas do tipo “como, quem? quê? onde? quando? por quê? e como?”. Anote
substantivos, verbos e outras palavras-chaves.
• Problemas: Escreva o que não compreende acerca da passagem. Não diga: "Não entendo
o versículo 4". Antes, especifique o que você não entende. Algumas das suas perguntas se
resolverão por si conforme continue o seu estudo. Outras serão resolvidas somente
mediante consulta a uma fonte de fora, como seu pastor ou um comentário. Algumas das
suas indagações nunca serão respondidas.
• Possíveis aplicações: Você observará algumas delas no transcurso do seu estudo. Anote-
as na folha com um (A) na margem. Na conclusão do seu estudo você retornará a estas
possíveis aplicações e escolherá aquela que o Espírito Santo o fará focalizar.
46As observações nesta porção variarão em extensão, dependendo de quanto tempo você pode dedicar
ao estudo. Não se desanime se não "observar" muito nas primeiras vezes que fizer o estudo. Com a prática,
as suas observações crescerão em número e em profundidade.
(I) Versículo 1: Seguir este conselho é alienar-se do mundo, pois é assim que o mundo age.
Não o seguir é alienar-se de Deus.
(O) Versículos 1,11: A santificação é uma das ênfases de 1 Pedro. Ela deve dar-se em três
direções: (1) para com Deus (1.13) — esperar, ter fé, apropriar-se da graça de Deus; (2) para
com os outros (2.1) — relacionada com os últimos seis dos Dez Mandamentos; e (3) para
consigo mesmo (2.11) — estes são pecados que primariamente ferem a pessoa que os comete.
(O) Versículos 4-8: Três citações do Velho Testamento são usadas para explicar o uso de
pedra com referência a Jesus Cristo (Isaías 28.16; Salmo 118.22; Isaías 8.14).
• Raça eleita — a palavra a em 1.2 também. Fomos eleitos para a obediência (1.2) e
fomos eleitos para o serviço (2.9). A santificação é nossa meta, e a obediência é o
processo.
• Sacerdócio real — o versículo 5 fala de sacerdócio santo; aqui é sacerdócio real, com
as figuras tomadas provavelmente de Melquisedeque, o rei-sacerdote do Antigo
Testamento; (Gênesis 14).
• Nação santa — coletivamente somos e formamos o povo de Deus e somo uma nação
singular, cuja marca distintiva é a santidade.
• Propriedade exclusiva, peculiar, especialmente aparelhado para ser povo de Deus. Ele
nos adquiriu para sermos um povo dele.
• Nem sempre fomos ou tivemos essas quatro características, portanto devemos louvar a
Deus por ele ter mudado nossa condição.
(A) Versículo 13: “toda instituição humana”. Devemos obedecer a todas as leias que não
violam as Leis de Deus, que o governo seja favorável ou não, por causa do Senhor (ver Atos
4).
(O) Vs. 15,19,20: as duas razões, neste trecho, para a submissão e serviço são: (1)
Demonstrar ao mundo que a vocação de Deus é para uma vida em prol do bem, e, não do mal;
e (2) Deus agrada desse posicionamento pois reflete o caráter de Jesus Cristo (ver versículos
21-25).
(O) Vs. 13,15: as duas ordens dadas nesse trecho são sujeição e serviço (“sujeitai-vos” ...
“pela prática do bem”).
(O) Versículos 13, 14, 18: os dois grupos aos quais devemos sujeitar-nos e aos quais
devemos servir são o governo e os empregadores.
(O) Versículos 13-20: possível esboço desse trecho: "Servos Submissos — o Exemplo do
Crente para o Mundo".
(O) Versículo 25: somos bem parecidos com ovelhas extraviadas, mas Cristo nos trouxe de
volta para Si. Ele é:
• Pastor — uma das mais antigas descrições de Deus na Bíblia (ver Isaías 40.11). Ele
tomava conta das Suas ovelhas do Seu povo — melhor do que o pastor da Judéia
tomava conta das suas ovelhas — dos animais.
• Bispo, ou Supervisor — esta palavra designa aquele que superintende, guarda e
protege. É o que Cristo é para o Seu povo (ver Mateus 28.20).
• Tome uma terceira folha de papel perto da folha usada no Passo Dois. Agora você
está pronto para ligar num todo o capítulo. Olhando seu Sumário de Pensamentos-
chaves, divida o capítulo conforme seus parágrafos. Estes são determinados
facilmente pelo fluxo do pensamento do escritor. Escreva um pensamento-chave
(I) para cada parágrafo. O que você está fazendo nesta parte é afunilar o texto de
Passo 2 modo tal que se destile o seu sentido.
2. Sumário de pensamentos-chaves: serve para notar o fluxo das ideias de uma passagem,
isto é, a relação dos versículos uns com os outros. Às vezes o escritor faz uma declaração
geral, e depois a explica dando exemplos47. Procure determinar o que o escritor está
fazendo na apresentação (observe como ele se move de uma ideia para a próxima ideia).
O Anexo da Figura 1, a seguir, traz como exemplo exatamente o sumário do referido texto de 1ª
Pedro48.
Versículo 13: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor”. O Senhor
me falou sobre o fato de que habitualmente excedo a velocidade estabelecida por lei. Quando
dirijo o meu carro, quase sempre ultrapasso o limite de velocidade. Por exemplo, outro dia eu
dirigia em direção à cidade e me surpreendi com intercalações de olhares para frente e para o
retrovisor para ver se a polícia me pegaria por excesso de velocidade. Eu sei que o Senhor
gostaria que eu andasse mais devagar. Na maioria das vezes, corro porque estou atrasado para
algum compromisso. Isto acontece por preguiça da minha parte. Então, para fazer aplicação
desse estudo eu:
• Leia o livro atentamente. Tome uma folha de papel e anote observações no alto.
Ela será usada durante o estudo inteiro. Inclua nesta folha: 1) Observações, 2)
(O) Dificuldades, 3) Referências, 4) Aplicações possíveis
Passo 1
1. Observações: Anote os pensamentos-chave ou argumentos principais que fluem pelo livro.
Arrole as palavras importantes. Anote lugares, acontecimentos e nomes importantes.
Registre curiosidades que queira estudar mais tarde.
2. Dificuldades: Quando for incapaz de seguir o pensamento do escritor, anote quando isto
ocorre e exatamente o que não entende.
4. Aplicações Possíveis: Várias delas chamarão a sua atenção enquanto ler e reler o livro.
Anote-as para uso posterior em seu estudo.
• Leia o livro inteiro pela segunda vez, envolvendo-se num processo de exploração
intensiva. o seu objetivo é compreeder o argumento do escritor. Enquanto lê,
registre sob as suas "Observações" os pensamentos-chaves ou temas importantes
do livro. Procure colocá-os com suas palavras. Não deixando que as divisões de
(I) capítulos e versículos destruam a unidade do livro, pois elas não estavam ali
quando o escritor escreveu originalmente. Faça tudo para conseguir ler tudo de
Passo 2 uma vez.
49 Figura retirada do livro Métodos de Estudo Bíblico de Walter A. Henrichsen. Página 37.
Obs.: Note que a ilustração do PASSO DOIS já está incluída no PASSO UM na lista-exemplo
acima.
• Leia o livro com atenção pela terceira vez. Desta vez, procure o tema principal
(ideia maior). O pensamento-chave do livro é o princípio organizador que lhe dá
unidade. Há algum ponto em particular no livro em que se menciona o pensamento-
chave de modo mais sucinto do que qualquer outro? Anote-o com suas próprias
(I) palavras. Quando você comparar este pensamento-chave com os temas
Passo 3 relacionados no Passo Dois, a unidade deverá patentear-se.
ROMANOS — PENSAMENTO-CHAVE
Continuando a síntese conforme o passo 4 temos: ROMANOS: ESBOÇO com títulos próprios
às várias divisões e ao livro.
Um Catecismo Cristão
I. Doutrina, 1.1-5.21
A. Introdução, 1.1-17
B. O Problema do Homem, 1.18-3.20
C. A Solução de Deus, 3.21-5.21
II. Implicações, 6.1-11.36
A. Crentes, 6.1-8.39
1. e o pecado, 6.1-23
2. e a lei, 7.1-25
3. libertos, 8.1-39
B. Judeus, 9.1-11.36
1. Escolha soberana, 9.1-33
2. Mensagem universal, 10.1-21
3. Um futuro para Israel, 11.1-36
III. Aplicações, 12.1-16.27
A. O Crente e a Igreja, 12.1-21
B. O Crente e o Mundo, 13.1-14
C. O Crente e a Liberdade Cristã, 14.1-15.7
D. Planos para o Futuro e Observações Finais, 15.8-16.27
• Resuma os dados históricos do livro. Você pode extrair muito desta informação do
próprio livro; para alguma parte dela terá que consultar acessórios de estudo da
(O) Bíblia, tais como, dicionários bíblicos.
Passo 5
• Quem escreveu o livro? Como o escritor é apresentado no livro? Que revela ele acerca de
si mesmo?
• Para quem foi escrito o livro? Onde viviam os destinatários? Como era a geografia e que
tipo de gente eram eles?
• Quando e onde foi escrito? Em que circunstâncias e ambiente estava o escritor quando o
escreveu?
• Por que foi escrito o livro? Que estava na mente do escritor quando se sentou para
escrever? Havia problemas especiais que ocasionaram a produção do livro? O livro foi
destinado a comunicar algo em particular?
50Os chamados pais da igreja e outros através dos séculos referem-se a Paulo como o escritor que a
produziu.
• Escolha a palavra para estudar e os limites do estudo, como um livro, uma parte da
Bíblia, ou a Bíblia toda. Escreva o propósito ou objetivo do estudo. Usando um
acessório de estudo bíblico, do tipo comentário, dicionário, enciclopédia, Bíblia de
(C) estudo, localize as referências que serão incluídas no estudo. Numa folha de papel
registre essas referências verticalmente, usando o lado esquerdo da folha.
Passo 1
• Assim como nos métodos "analítico e sintético", pegue uma folha de papel e
escreva as "Observações" no alto. Será usada durante o estudo todo. Inclua nesta
(O) folha: 1) Observações, 2) Dificuldades, 3) Aplicações possíveis.
Passo 2
No dicionário encontramos várias palavras cognatas, com os sentidos variando entre acolher,
abrigar e abrigar e cuidar de doentes. Eis as principais:
(O) Mateus 25.35: O juízo de Jesus sobre as nações por sua aceitação ou rejeição dele e dos
seus irmãos, no contexto da provisão.
(O) Lucas 7.44-46 — Jesus contrasta o hospedeiro que faz a recepção, com a forasteira
hospitaleira. O hospedeiro não providenciou nenhuma cortesia para o seu convidado, ao passo
que a estranha providenciou água, saudação e unção.
• Jesus revela que os motivos de uma pessoa se revelam no fato da hospitalidade ser
oferecida por amor ou por obrigação.
• Quais as cortesias da hospitalidade hoje, na cultura a que pertenço? Uma saudação de
boas-vindas, algo para beber, demonstração de interesse pelo visitante, alimento, e
outras amenidades.
• Contraste Simão com Marta e Maria, que ofereceram ardente acolhida a Jesus em sua
casa (Lucas 10.38 / João 12.2).
• Atitudes que manifestam hospitalidade: 1Pedro 4.9; Tito 1.8; 1Timóteo 3.2;
Romanos 12.13
• Definição de hospitalidade: Mateus 25.35; Lucas 7.44-46; Romanos 12.13
• Custos e prêmios da hospitalidade: Lucas 11.5-8; Hebreus 13.2
Frequento uma igreja na qual é fácil a gente ficar perdido no meio do povo. Eu não me movo
para cumprimentar as pessoas que não reconheço. Simplesmente sigo o meu caminho. Isso
contraria o ensino da Bíblia, de que devo ter o estilo de vida de quem é hospitaleiro. Portanto,
procurarei saudar aqueles que estão por perto de mim, acompanhando o serviço do culto,
apresentar-me e perguntar se são visitantes. Dar-lhes-ei boas vindas e perguntarei se lhes posso
prestar algum serviço (como o de achar-lhes uma classe da Escola Dominical).
Com o propósito de ilustração, a
Método Biográfico história de Raabe é usada neste
método.
• É o estudo sobre um personagem
bíblico qualquer. Essa espécie de
estudo da Bíblia dá ao estudante a
oportunidade de sondar o caráter
das pessoas que o Espírito Santo
colocou na Bíblia e de aprender
com suas vidas.
• Escolha a pessoa que você quer estudar e estabeleça os limites do estudo (por
exemplo, "Vida de Davi, antes de tornar-se rei"). Usando uma concordância ou
um índice enciclopédico, localize as referências que indicam textos bíblicos sobre a
(C) pessoa em estudo. Leia-as várias vezes e faça resumo de cada uma delas.
Passo 1
• Tome uma folha de papel e anote "Observações" no alto. Use esta folha durante o
estudo todo e inclua nela: 1) Observações, 2) Dificuldades e 3) Aplicações
(O) possíveis.
Passo 2
1. Observações: Anote todo e qualquer detalhe sobre essa pessoa. “Quem era?; Onde
morava?; Quando viveu?; Por que fez o que fez?; Quando viveu?”.
2. Dificuldades: Escreva o que você não entende acerca dessa pessoa e de acontecimentos
de sua vida.
3. Aplicações possíveis: Anote várias dessas durante o estudo, não se esquecendo de deixar
a letra (A) precedendo cada uma delas. Como nos métodos anteriores você deverá voltar a
fazer uso daquela que o Espírito conduzir!
Raabe era uma prostituta da cidade de Jericó, situada além do rio Jordão na terra de Canaã. Ela
e outros conterrâneos ouviram falar sobre como Deus tinha permitido os israelitas atravessarem
o Mar Vermelho e como tinham derrotado dois reis amorreus.
Quando os espias chegaram à sua porta, ela os acolheu em paz e os escondeu do rei de Jericó,
que buscava suas vidas. Raabe solicitou segurança aos espias, para si e para sua família dando-
lhes testemunho de que cria no Deus de Israel.
Então os espias lhe prometeram salvamento, juntamente de sua família, quando tomassem
Jericó. A vida de Raabe foi poupada na queda de Jericó e mais tarde a vemos como trisavó de
Davi e, assim, na linhagem de Jesus Cristo.
Virtudes: Baseada em bem pequeno conhecimento (rumores), Raabe apostou toda a sua vida
e as vidas da sua família no que ouviu. Aplicou o que sabia. Deus considera grandeza isto —
crer nele e agir com o que você tem. O povo de Raabe recebera a mesma informação, e, contudo,
não creu.
Raabe se dispôs a correr riscos com Deus, baseada em pouca informação, e Deus considerou
isso uma autêntica grandeza.
É fácil cair no hábito de ler a Bíblia para obter novas compreensões, e omitir os aspectos de
aplicação que transformam a vida. Sou culpado disto. Desde que o segredo de uma vida
transformada está em aplicar a Palavra de Deus à minha vida, e não em aumentar o meu
conhecimento, vou orar e me comprometo a aplicar a verdade da Escritura toda vez que eu ler a
Bíblia.
Observe que, com exceção do método de estudo de versículos, os demais seguem “uma espinha
dorsal”, uma linha que direciona o estudo ANALÍTICO, o SINTÉTICO, o TÓPICO e o
BIOGRÁFICO. Basicamente todos são iniciados pelo estudante com os PASSOS 1 E 2: a
escolha da passagem bíblica no método analítico, do livro no método sintético, do tema ou
assunto no método tópico e o personagem bíblico no método biográfico; e a lista de observação
com anotações sobre observações, dificuldades, referências (quando necessário e possível) e
aplicações possíveis. Do PASSO 3 em diante os métodos possuem suas respectivas
adequações.
Em resumo, esta é a estrutura usada na junção dos métodos com os fundamentos de estudo da
Bíblia:
Análise de
Analítico Sintético Tópico Biográfico
Versículos
Obviamente que o propósito foi o de familiarizar o estudante ao mesmo tempo em que desperta
nele o desejo de prosseguir em sua pesquisa neste campo tão vasto que é a hermenêutica (uma
das áreas da Teologia que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos,
especialmente das Sagradas Escrituras)55.
Portanto, é interessante que o cristão que aprende Métodos de Estudo da Bíblia não pare neste
ponto, antes, que dê continuidade aos seus estudos e pesquisas se aperfeiçoando cada vez
mais, pois a demanda de uma interpretação e contextualização correta da Bíblia para hoje é algo
cada vez mais necessário!
CONCLUSÃO
As regras de interpretação usando-se os fundamentos de estudo foram dadas juntamente com
os métodos. Como se viu, algumas considerações como as informações que precedem o estudo
da Bíblia e uma breve introdução ao estudo da Bíblia, com informações também conceituais,
foram primeiramente expostas tendo em vista a necessidade de reconhecimento de sua
importância, isto é, por se entender que não é possível estudar coerentemente a Bíblia se tais
noções não forem assumidas pelo estudante.
Houve uma época, possivelmente, cerca de uma ou duas gerações atrás, em que não era
necessário escrever sobre tantas informações; mas o contexto era outro. A sociedade atual é
caracterizada pelo relativismo que questiona os valores absolutos, como a crença na Bíblia como
palavra de Deus, ou a crença de que é possível encontrar uma interpretação bíblica que unifique
as denominações em se tratando de doutrinas básicas. Tais questionamentos são feitos não
para confirmar a fé, e, sim, para confirmar a dúvida. Note que o que é por si mesmo evidente
para uma pessoa familiarizada com a Bíblia, soa como novidade para aqueles que não têm
conhecimento bíblico.
Daí as de regras de interpretação para o estudo da Bíblia terem se tornado uma necessidade.
Entretanto, repare que o conteúdo desta apostila não propõe “a interpretação” da Bíblia, mas,
sim, o estabelecimento de regras básicas que podem ser usadas em junção com cinco métodos
propostos. Isso porque há uma enorme diferença entre qual é a regra interpretativa correta e o
modo como usá-la. Um martelo é a ferramenta adequada para pregar o prego, mas isso não
garante que a pessoa não entortará o prego pela falta de prática. Portanto, somente a prática
constante dos princípios interpretativos em parceria com os métodos pode assegurar
aperfeiçoamento.
Espera-se que o estudante coloque em prática o conteúdo visto nesse material didático e, com
isso, amplie, ainda mais, sua relação com Deus, com o próximo e consigo. Que consiga refletir
com mais cautela acerca dos ensinamentos supostamente bíblicos que têm sido anunciados de
forma leviana nas várias comunidades e se prontifique a ajudar, buscando sinceramente
respostas que sejam verdadeiras confirmações do propósito de Deus para aqueles que o
buscam.
• http://www.bibliaonline.net/biblia
o Versões em português:
▪ NVI; RA; NTLH; ACF; AA.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
HENRICHSEN, WALTER A. - MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO. SÃO PAULO:
EDITORA MUNDO CRISTÃO, 1999.