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Roteiro Descarbonizaçao Setor Saude SSD RGDSS Roteiro-Completo pt-BR4

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Roteiro Global para

Descarbonização
do Setor Saúde
Uma ferramenta de orientação
para alcançar emissões zero
com resiliência climática
e equidade em saúde

Saúde sem Dano


Série inteligência climática na área da saúde

Green Paper
Number Two

Produzido em colaboração com a ARUP


Sobre este Roteiro: Este é o segundo em uma série de pesquisas • Howard Frumkin, professor emérito, School of Public Health,
e policy papers que a Saúde sem Dano e a Arup produziram University of Washington, Estados Unidos 
juntas para identificar um conjunto de medidas que o setor saúde • Stephen Alan Hammer, conselheiro, Global Partnerships and
pode tomar para alinhar-se com as ambições do acordo de Paris Strategy (Climate Change), World Bank Group
e, simultaneamente, atingir objetivos globais na área da saúde. O • Dan Hamza-Goodacre, diretor e conselheiro, Kigali Cooling
Green Paper One definiu a pegada climática e as oportunidades Efficiency Program, Reino Unido
de ação para a área da saúde. Este documento constitui um guia • Arunima Malik, professor, University of Sydney, Austrália
amplo e abrangente para que o setor caminhe em direção à • Peter Paul Pichler, více-líder, Social Metabolism and Impacts,
descarbonização. Pesquisas futuras continuarão a desenvolver Potsdam Institute for Climate Impact Research, Alemanha
esta visão. • Dan Plechaty, Diretor de programas, ClimateWorks Foundation
• K. Srinath Reddy, presidente, Public Health Foundation of India
CARTOGRAFIA • Jodi Sherman, diretor, Program in Health care Environmental
Sustainability, Yale University, Estados Unidos
Autores: O relatório foi escrito por Josh Karliner e Sonia Roschnik • Nick Watts, diretor de sustentabilidade, NHS, Inglaterra
da Saúde sem Dano. Richard Boyd, Ben Ashby e Kristian Steele, • Sophie Wilson, líder do setor saúde, UNFCCC Climate
da Arup, contribuíram para a escrita ao desenvolver e aplicar a Champions Team
metodologia e ao fornecer a análise de dados, essencial a este
relatório. Renzo Guinto produziu os quatro trabalhos de intervenção Agradecimentos: Além dos listados acima, a equipe do projeto
em saúde contidos no Anexo D para a Saúde sem Dano. gostaria de agradecer aos seguintes indivíduos pelas suas
contribuições, tempo, revisões e/ou conselhos: Sir Andy Haines,
Grupo de consultoria técnica: Saúde Sem Dano estabeleceu um
David Nabarro, Jonty Roland, and Anne Owen. From Arup: Lakshika
grupo de consultoria técnica para orientar o desenvolvimento
Juneja, Shahid Padhani, Thompson Reed, Maria Sunyer Pinya,
do quadro teórico, metodologia, análise e outras pesquisas para
Clare Perryman, Alan Newbold, Chris Pountney, Christina Lumsden,
este Roteiro, para garantir acurácia e integridade, integração de
and Anna Tuddenham. From Health Care Without Harm, our team
aspectos únicos da saúde quanto à medição da pegada climática,
members from around the world: Fiona Armstrong, Ana Belluscio,
alinhamento com as melhores práticas no campo, flexibilidade
Scott Brady, Will Clark, Gary Cohen, Kevin Conway, Lindsey Corey,
para diferenças regionais dos sistemas de saúde e adoção pelos
Andrea Hurtado Epstein, Rico Euripidou, Arianna Gamba, Peter Orris,
principais atores envolvidos.
Leah Potter, Poornima Prabhakaran, Antonella Risso, Ted Schettler,
O grupo consultivo, que se encontrou virtualmente nos principais Emma Sirois, Ruth Stringer, Winston Vaughan, Pamela Wellner, Clare
momentos no desenvolvimento do projeto, é oriundo de Westwood, Susan Wilburn, Jennifer Wang, and Jessica Wolff.
organizações internacionais, instituições de saúde e de serviços de
saúde, organizações contra o aquecimento global e acadêmicos. Os Saúde sem Dano gostaria de reconhecer o apoio das fundações da Skoll
membros incluem: e IKEA, cujo generoso suporte ajudou a fazer este Roteiro possível.

• Don Berwick, presidente emérito e membro sênior, Institute for


Health care Improvement, Estados Unidos
• Gabriel Blanco, professor titular, Universidad Nacional del Centro
de la Provincia de Buenos Aires, Argentina
• Charlotta Brask, diretora de sustentabilidade, Region Stockholm, Green pa·per
Suécia /grēn/ 'pāp r/
• Diarmid Campbell-Lendrum, líder da equipe, Climate Change and
Health, World Health Organization
• Mandeep Dhaliwal, diretor, HIV, Health and Development, UNDP 1. Um documento de políticas de saúde ambiental.
• Asha Devi, diretor associado, ARUP, Reino Unido 2. Um primeiro esboço de uma área específica de políticas é
• Joseph Dieleman, Institute for Health Metrics and Evaluation, distribuído entre as partes interessadas, que são convidadas
Estados Unidos    a tomar parte em um processo de consultoria e debate. O
• Sally Edwards, conselheira regional, Climate Change and Health, objetivo de um Green Paper é chegar a um consenso antes
Pan American Health Organization de esboçar a versão oficial da política, o white paper.
• Ramiro Fernandez, vice-presidente do painel consultivo,
Momentum for Change, UNFCCC Publicado por Saúde sem Dano, April 2021
healthcareclimateaction.org/roadmap

2
Saúde sem Dano é uma ONG internacional que busca Arup é a força criativa no coração de muitos dos
transformar o setor saúde em todo o mundo para projetos mais importantes do mundo no ambiente
que o setor reduza sua pegada ambiental e se torne construído e em toda a indústria. Oferecemos
um líder no movimento global pela defesa da saúde uma ampla gama de serviços profissionais que se
e justiça ambiental. A Saúde sem Dano trabalha há conjugam para fazer uma diferença real para os
25 anos com o setor saúde para reduzir o uso de nossos clientes e as comunidades em que atuamos.
produtos químicos tóxicos e a geração de resíduos,
ao mesmo tempo que transforma a cadeia de Somos globais de verdade. Com 89 escritórios em
suprimentos e promove a ação climática. 34 países, nossos 14.000 planejadores, designers,
engenheiros e consultores entregam projetos
Com escritórios nos Estados Unidos, Europa e Ásia, inovadores em todo o mundo com criatividade e paixão.
uma equipe regional na América Latina, e parcerias
com organizações nacionais na Austrália, Brasil, Fundada em 1946 com um conjunto duradouro de
China, Índia, África do Sul e Nepal, a Saúde sem valores, nossa propriedade fiduciária única promove
Dano é líder na mobilização do setor saúde para uma cultura distinta e uma independência intelectual
concretizar essa visão. que incentiva o trabalho colaborativo. Isso se
reflete em tudo o que fazemos, o que nos permite
A equipe de profissionais de saúde, pesquisadores desenvolver ideias significativas e nos ajuda a definir
e defensores da Saúde sem Dano trabalha com agendas e entregar resultados que frequentemente
hospitais, sistemas de saúde, governos e agências superam as expectativas de nossos clientes.
internacionais para acelerar a descarbonização,
resiliência e liderança em políticas climáticas do setor A equipe da Arup é motivada a encontrar as melhores
saúde. A Rede Global Hospitais Verdes e Saudáveis maneiras de resolver problemas e oferecer melhores
da Saúde sem Dano tem mais de 1.450 membros soluções para os nossos clientes.
institucionais em 72 países, todos trabalhando para
trazer o setor saúde para o movimento pelo clima e Damos forma um mundo melhor.
expandir sua missão de cura para além das quatro
paredes de suas instalações.

3
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Nota sobre a tradução

Este documento foi traduzido para o português pelo


Projeto Hospítais Saudáveis, parceiro estratégico da
Saúde sem Dano no Brasil.

Para consultar a versão original (em inglês), acesse:


healthcareclimateaction.org/roadmap

Para obter mais informações sobre este estudo,


seus anexos e fichas informativas, consulte:
accionclimaticaensalud.org/hojaderuta

4
Siglas e terminologia

Acrônimo Termo por extenso


AR5 Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
B2DS Cenário Abaixo de 2 Graus
BAU Operação Usual (Business as usual em inglês)
CQNUMC Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC em inglês)
EEIO Modelo de Insumo-Produto Ambientalmente Estendido
ETP Energy Technology Perspectives (relatório da IEA)
GHG Gases de Efeito Estufa
GMRIO Modelo Global Multirregional de Insumo-Produto
IEA Agência Internacional de Energia
IHME Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde
INDC Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida
IO Insumo-Produto (modelo)
IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
TIC Tecnologias da informação e comunicação
MDI Inaladores dosimetrados
NDC Contribuição Nacionalmente Determinada
NHS Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra
ODS3 Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
RoW Resto do Mundo (Rest of World em inglês)
RTS Cenário de Tecnologia de Referência (Reference Technology Scenario em inglês)
SDU Unidade de Desenvolvimento Sustentável do NHS
SPA Análise de caminho estrutural
UHC Cobertura universal de saúde
WIOD Base de Dados Mundial de Insumo-Produto

5
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Prefácio

Está se tornando cada vez mais claro que a crise A modelagem no Roteiro implica que soluções
climática também é uma crise de saúde e que, inovadoras são necessárias. A pandemia de COVID-19
embora cada setor tenha um papel a desempenhar mostrou que os desafios técnicos e operacionais no
na proteção dos sistemas naturais de nosso planeta, o setor saúde podem ser resolvidos em ritmo acelerado
imperativo para o setor saúde é especialmente forte. quando são suficientemente focados e recebem
recursos adequados e apoio político consistente.
Saúde e bem-estar para todos não será possível em Um esforço bem direcionado também é necessário
um mundo aquecido a mais de 1,5°C. Isso significa que para lidar com os impactos das mudanças climáticas
os líderes de saúde em todos os níveis e em todos na saúde. Tal esforço deve ter como objetivo
os países têm um papel urgente e fundamental a garantir sistemas resilientes e proteger aqueles que
desempenhar. Eles devem abordar o próprio impacto provavelmente serão os mais afetados.
ambiental do setor saúde e usar toda a influência que
puderem para apoiar os outros enquanto eles também Os líderes de saúde têm muitas oportunidades de
transformam suas realidades. O Roteiro estabelece contribuir para a ação climática de forma inequívoca,
trajetórias claras e ações práticas que cada liderança de maneiras que refletem a urgência da crise
de saúde deve considerar. climática. Espero que isso catalise um envolvimento
público mais amplo na regeneração e proteção dos
Este relatório é sobre ações que ajudam a transformar preciosos recursos do nosso planeta pela saúde e o
as sociedades em direção a um futuro resiliente, bem-estar de todos. Estes desafios exigem uma ação
sustentável e saudável. Ele contém detalhes sobre urgente agora, implementada de forma a enfocar
como os líderes de saúde podem contribuir da as necessidades daqueles que são mais difíceis de
melhor forma. E reconhece que os sistemas de saúde alcançar e correm o risco de ficar para trás – agora e
enfrentam desafios muito diferentes na busca da nos próximos anos. A tarefa é enorme e não há tempo
cobertura universal de saúde e que a busca equitativa a perder.
de caminhos de descarbonização é essencial. Isso
inclui equipar todos os sistemas de saúde para
as futuras tensões e choques que as mudanças
climáticas trarão.

Os líderes de saúde têm


muitas oportunidades de
contribuir para a ação climática
de maneiras que refletem a David Nabarro
urgência da crise climática. Presidente da Global Health
e codiretor do IGHI Imperial College London
Enviado especial da OMS COVID-19

6
Executive summary

Context and background

O SETOR SAÚDE TEM A RESPONSABILIDADE · Equidade em saúde: Uma agenda de assistência à


DE TOMAR MEDIDAS CONTRA AS MUDANÇAS saúde inteligente para o clima, deve ter em conta
CLIMÁTICAS. os diferentes níveis de desenvolvimento e acesso à
saúde em diferentes países e dentro dos mesmos,
A crise climática é uma crise sanitária. As mudanças de forma que esta agenda também contribua para
climáticas são a maior ameaça à saúde que o mundo alcançar uma maior equidade em saúde e cumprir
enfrenta neste século.1 objetivos globais, como a cobertura universal da
saúde (UHC)i. Há muitas áreas de sinergia entre a
Os serviços de saúde contribuem para o problema. resiliência e a descarbonização.
Os serviços de saúde constituem mais de 4,4% do total
das emissões líquidas globais. Se fosse um país, seria o O setor saúde pode ser um líder da sociedade
quinto maior emissor climático do planeta.2 na proteção da saúde pública no mundo contra
as mudanças climáticas. Ao traçar um plano para
Prevenção, prontidão e equidade são primordiais. O atingir emissões zero, o setor saúde pode liderar
setor saúde deve ter uma operação inteligente em pelo exemplo, ao mesmo tempo que mobiliza a sua
relação à mudança do clima, traçando um plano para influência ética, econômica e política para inspirar e
atingir emissões zero, o qual está, indissociavelmente, acelerar a mudança em outros setores da sociedade.
ligado à construção de resiliência climática e ao
cumprimento dos objetivos de saúde global. A pandemia da COVID-19 exige uma aceleração
desta transformação. O surgimento da COVID-19
· Descarbonização: Como um dos segmentos com enfatizou o papel essencial que o setor saúde deve
maior e mais rápido crescimento na economia ter na preparação para catástrofes, ao mesmo tempo
mundial, e com a missão de cuidar e curar, que reforça fortemente o quanto as desigualdades
o setor saúde deve avançar rapidamente na sociais e raciais se evidenciam e se agravam na crise
descarbonização, transformando-se e alinhando global. O investimento na resposta e recuperação da
o seu crescimento e desenvolvimento com COVID-19 requer um nível inédito de resiliência do setor
os objetivos do Acordo de Paris de limitar o saúde. A resposta e recuperação da pandemia também
aquecimento global a 1,5°C e atingir emissões zero. proporciona uma oportunidade de reconstruir melhor
e investir em serviços de saúde inteligentes (resilientes
· Resiliência: A agenda de emissões zero do setor e sem emissões) como uma estratégia de prevenção e
saúde deve também evoluir em paralelo com a preparação para catástrofes.3
criação de infraestruturas, sistemas e resiliência
comunitária, no intuito de resistir aos impactos da
crise climática. Há muitas áreas de sinergia entre a
descarbonização e a equidade em saúde.

i UHC (Universal health coverage) é definida pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como "O acesso a serviços essenciais de saúde
de qualidade para todas as pessoas. Inclui o acesso comum a vacinas e medicamentos essenciais que sejam seguros, eficazes, de qualidade
e a preços acessíveis."
7
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Principais conclusões

O SETOR SAÚDE PODE REDUZIR objetivos de descarbonização das suas economias, com
SIGNIFICATIVAMENTE AS SUAS EMISSÕES DE base nas Contribuições Nacionalmente Determinadas
GASES DE EFEITO ESTUFA. (NDC) prévias a 2017, presentes no Acordo de Paris, o
desenvolvimento dos serviços de saúde começará a
As emissões dos serviços de saúde estão dissociar-se do crescimento das emissões.
aumentando. Para um cenário de operação usualii —
sem executar nenhuma ação de mitigação climática Porém, a contribuição dos serviços de saúde para a
dentro e fora do setor — as emissões globais crise climática ainda está projetada para crescer e
absolutas dos serviços de saúde aumentariam continuar a ser substancial. Mesmo que os governos
enormemente, comparadas com a linha de base mundiais cumprissem os seus compromissos do Acordo
de 2014, triplicando-se até 2050, atingindo seis de Paris até 2017, a pegada climática global anual dos
gigatoneladas por ano. serviços de saúde continuaria a aumentar, atingindo
mais de três gigatoneladas por ano até 2050.
O uso de combustíveis fósseis é a fonte dominante
de emissões relacionadas às mudanças climáticas As soluções existem. Este Roteiro ressalta como os
nos serviços de saúde. A utilização de carvão, serviços de saúde podem fechar a lacuna e reduzir
petróleo e gás para suprir hospitais, assim como significativamente as suas emissões, inclusive para
as viagens relacionadas aos serviços de saúde e além daquelas consideradas nos compromissos do
a manufatura e transporte de produtos médicos Acordo de Paris.
compreendem 84% de todas as emissões climáticas
do setor. Isso inclui a operação das unidades de • Propõe ações, com redução de emissões
saúde, a cadeia de suprimentos, e toda a economia acumulativas, que totalizam 44,8 gigatoneladas de
do setor saúde em geral. CO2eq de 2014 a 2050.
• Esta redução cumulativa é equivalente às emissões
Os compromissos nacionais do Acordo de Paris totais de GEE da economia mundial em 2017.
poderiam reduzir em 70% o crescimento previsto das • E equivale a deixar mais de 2,7 bilhões de barris de
emissões. Se os países conseguirem atingir os petróleo no solo todos os anos, durante 36 anos.

Pegada 7000
projetada de
GEE do 6000 Operação usual
setor saúde
por ano 5000 Progresso alinhado com os
(MMt CO2e) compromissos governamentais
4000 de energia e clima até 2017

3000
Oportunidades adicionais de
descarbonização pelos três
2000 Trajetória
-alvo caminhos e as sete ações
deste Roteiro
1000
Território inexplorado
0
2014 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Figura i. Diretriz global da SSD e Arup para a descarbonização dos serviços de saúde.

ii "Business as usual" em inglês.


8
Traçando uma rota em direção a emissões zero

TRÊS CAMINHOS INTERLIGADOS E CONECTADOS


ÀS SETE AÇÕES DE ALTO IMPACTO DEFINEM A ROTA • Por fim, todos os sistemas de saúde terão que
PARA DESCARBONIZAÇÃO DO SETOR SAÚDE aproximar-se de emissões zero até 2050. Embora os
países em desenvolvimento possam ter um pico de
Todos os sistemas de saúde devem agir. As nações emissões tardio, todos devem começar a transição
do mundo concordaram que todos os países devem agora, a fim de evitar ficar presos numa trajetória
ajudar a estabilizar o clima global. Por conseguinte, de desenvolvimento intensivo em carbono. Esta
todos os sistemas de saúde, em todos os países, transição pode exigir um maior apoio das economias
devem fazer parte deste esforço de descarbonização. desenvolvidas para reforçar a capacidade dos
sistemas de saúde nos países em desenvolvimento
Todas as instituições de saúde, juntamente com os e melhorar o seu acesso à tecnologia necessária.
fornecedores e fabricantes do setor em todos os
países, precisam de atingir emissões zero em suas Para a descarbonização, os serviços de saúde
atividades até meados do século. Uma transformação devem atingir uma transição completa para uma
tão fundamental exigirá uma colaboração sólida e energia limpa, renovável e saudável. A prestação
inovação por parte deste relevante setor da sociedade. dos serviços de saúde, as unidades de saúde e as
operações neles, incluindo a cadeia de suprimentos
A descarbonização da saúde deve basear-se e a economia do setor em geral, devem fazer toda a
num compromisso comum, porém, com transição, abandonando os combustíveis fósseis.
responsabilidades diferenciadas e considerando as
capacidades particulares. As soluções para mitigar as mudanças climáticas
na área da saúde podem ser mais rentáveis do que
• Os países de alta renda, cujos sistemas de manter, sem alterações, a operação usual. Soluções
saúde são os principais responsáveis pelas climáticas inteligentes podem economizar dinheiro dos
emissões globais da área da saúde (per capita e custos operacionais dos sistemas de saúde reduzindo
historicamente), precisam agir mais rapidamente e a carga das doenças causadas pela poluição.
assumir a maior responsabilidade para enfrentar a
crise climática. OS TRÊS CAMINHOS

• Os países de renda média devem investir no Avançar na descarbonização dos setores econômicos
desenvolvimento de sistemas de saúde que os dos quais o setor saúde depende vai permitir a plena
levem a um caminho de emissões zero e que evite a execução dos compromissos do Acordo de Paris.
replicação do modelo de serviços de saúde dos países Desse jeito, o setor saúde de cada país terá que
mais ricos, que utilizam carbono intensivamente. percorrer apenas um trecho do caminho para alcançar
emissões zero (região azul na Figura i). Assumindo que
• Os países de baixa renda precisam implementar todas as NDC apresentadas até 2017 sejam cumpridos
tecnologias de baixo carbono e emissões zero que (e isto já exigirá o envolvimento do setor saúde na sua
aumentem a sua capacidade de desenvolver os promoção), haverá ainda uma quantidade significativa
seus sistemas de saúde e proporcionar acesso e de emissões que só poderá ser mitigada através de
assistência em saúde para todos. intervenções nos serviços de saúde.

9
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Este Roteiro identifica três caminhos de


descarbonização, inter-relacionados e simultâneos, Caminho 3: Acelerar a descarbonização da
que o setor necessita percorrer a fim de mitigar estas economia e da sociedade em geral. Todos os
emissões. Por sua vez, há sete ações de alto impacto aspectos da cadeia de suprimentos e da assistência
que conectam e interligam estes caminhos. Para traçar à saúde dependem de outras indústrias que
uma rota para atingir emissões zero, os serviços de fornecem energia, químicos, materiais de construção,
saúde devem seguir estes caminhos interligados embalagens, infraestruturas, transportes, alimentos,
e implementar simultaneamente as ações de alto e muito mais. Uma descarbonização mais ampla da
impacto relacionadas (região em roxo na Figura i). sociedade é crucial para que o setor saúde atinja
emissões zero, enquanto protege mais amplamente a
Caminho 1: Descarbonizar a prestação dos serviços saúde das pessoas e do planeta contra os impactos
de saúde, as unidades de saúde e as operações. das mudanças climáticas. As instituições e profissionais
A prestação e operação dos serviços de saúde está de saúde podem desempenhar um papel de liderança
no núcleo da pegada climática do setor. Os hospitais como defensores da descarbonização, a qual reduz a
e sistemas de saúde ao redor do mundo devem incidência de doenças.
assumir as suas emissões de gases de efeito estufa
e implementar ações para descarbonizar totalmente SETE AÇÕES DE ALTO-IMPACTO
todos os aspectos da assistência à saúde, incluindo
os sistemas auxiliares, mantendo e melhorando ao Para atingir o objetivo das emissões zero será
mesmo tempo a atenção aos pacientes. necessária uma série de ações transversais de
alto impacto que abranjam os três caminhos. A
Caminho 2: Descarbonizar a cadeia de suprimentos implementação destas ações resultará em uma grande
da assistência à saúde. Mais de 70% da pegada redução das emissões de gases de efeito de estufa no
climática do setor saúde provém das emissões setor saúde. O potencial de redução de emissões que
do escopo 3, grande parte das quais tem origem cada ação proporciona pode ser apreciado na Figura ii.
na cadeia de suprimentos global. Esta cadeia de
suprimentos abrange os caminhos 2 e 3. A O caminho 1. Suprir o setor saúde com eletricidade 100%
2 inclui a redução das emissões da eletricidade limpa e renovável. Garantir que a assistência
adquirida pelas instalações. Inclui também a produção, à saúde seja abastecida com eletricidade de
embalagem e transporte de produtos utilizados pelo emissões zero através dos três caminhos.
setor saúde. Os sistemas de saúde podem, por meio
de decisões de compras, exigir a descarbonização 2. Investir em instalações e infraestruturas de
da sua própria cadeia de suprimentos e potencializar emissões zero. Garantir que todos as instalações
a influência coletiva do próprio setor, aliando-se para de assistência à saúde e todas as instalações
fazer compras conjuntas dentro dos países e além de manufatura de produtos de saúde e as suas
das fronteiras. Ao mesmo tempo, os fornecedores de respectivas infraestruturas promovam a eficiência
produtos e serviços de saúde devem tomar medidas energética, atinjam emissões zero e promovam a
imediatas para alcançar emissões zero. resiliência climática.

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3. Iniciar uma transição para transportes e viagens 6. Implementar serviços de saúde circulares e
sustentáveis e de emissões zero. Transição total com uma gestão sustentável dos resíduos
para uma frota, e uma infraestrutura de transporte, decorrentes da atividade. Implementar os
de veículos de baixas emissões ou de emissões princípios da economia circular para adquirir
zero, incentivando ao mesmo tempo a mobilidade suprimentos, implementar tecnologias limpas,
ativa e os transportes públicos para pacientes e reduzir o volume e a toxicidade dos resíduos
trabalhadores sempre que for possível. sanitários, e gerir os resíduos de forma sustentável.

4. Abastecer o setor saúde com alimentos 7. Alcançar uma maior efetividade do sistema de
saudáveis cultivados de forma sustentável e saúde: Reduzir as emissões através da melhoria
apoiar uma agricultura resiliente às mudanças da eficácia do sistema, incluindo a eliminação de
climáticas. Fornecer alimentos saudáveis, práticas ineficientes e desnecessárias, conectando
produzidos localmente e de forma sustentável, a redução do carbono à qualidade dos cuidados
frescos e sazonais, sem desperdício alimentar. em saúde, e reforçando a resiliência.

5. Incentivar e produzir produtos farmacêuticos


de baixa pegada de carbono. Reduzir o uso
desnecessário de farmacêuticos, substituir
produtos com elevadas emissões por alternativas
mais amigáveis com o clima, e incentivar a
produção de medicamentos acessíveis e de
menor impacto ambiental.

Pegada 3500 1. Suprir o setor saúde com


projetada de eletricidade 100% limpa e
GEE do setor 3000 renovável
saúde por ano 2. Investir em instalações e
(MMt CO2e) 2500 infraestruturas de emissões zero
3. Iniciar uma transição para
2000 transportes e viagens
sustentáveis e de emissões zero
1500 4. Abastecer o setor saúde com
alimentos saudáveis cultivados
1000 de forma sustentável e apoiar
uma agricultura resiliente às
500 mudanças climáticas
5. Incentivar e produzir produtos
0 farmacêuticos de baixa pegada
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050
de carbono
6. Implementar serviços de saúde
circulares e com uma gestão
Figura ii. Redução das emissões no setor saúde entre 2014 e 2050 possibilitada pelas
sustentável dos resíduos
sete ações de alto impacto. As áreas de diversas cores representam uma desagregação
decorrentes da atividade
da região em roxo mostrada na Figura i. acima.
7. Alcançar uma maior efetividade
do sistema de saúde

11
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

TERRITÓRIO INEXPLORADO: FECHANDO • Abordar os determinantes sociais e ambientais da


A LACUNA DAS EMISSÕES DO SETOR SAÚDE saúde, estabelecendo a prevenção de doenças como
prevenção das alterações climáticas e vice-versa.
Mesmo com a implementação das sete ações de
alto impacto, projetamos que, sem transformações • Reinventar os sistemas de financiamento para
adicionais, as emissões anuais da assistência à promover pessoas saudáveis num planeta saudável.
saúde ainda representarão 1,1 gigatoneladas em
2050. Esta lacuna nas emissões dos serviços de • Desenvolver soluções de gestão das emissões
saúde precisa ser minimizada ao longo das próximas residuais do setor saúde.
três décadas.

Para fechar a lacuna será necessário aumentar a


escala das ações quantificáveis de mitigação climática
na área da saúde. Isso enquanto se implementam
novas iniciativas que exigirão pesquisa, inovação e
a exploração de iniciativas de gestão de emissões
residuais baseadas em critérios de saúde. Por
outro lado, fechar a brecha apresenta também uma
oportunidade para repensar e redefinir a forma como
os serviços de saúde são compreendidos e prestados.
Entre as áreas chave que oferecem oportunidades, no
longo prazo, incluem-se:

• Investir em mais pesquisa e centros de inovação


climática e sanitária para aprofundar a redução de
emissões em todo o setor.

• Estabelecer uma cobertura universal em saúde que


seja verde, ou seja, que integre a sustentabilidade
com o conceito de cobertura universal em saúde.

• Maximizar os serviços virtuais de saúde.

• Integrar serviços e infraestruturas sanitárias


inteligentes em matéria de clima na resposta a
emergências e na preparação para pandemias.

12
Impulsionar a mudança: Recomendações de alta prioridade

TODO O SETOR DEVE MOBILIZAR-SE E comprometendo-se a reduzir em 50% as emissões até


TRANSFORMAR-SE PARA AJUDAR A PROTEGER 2030 e atingir emissões zero antes de 2050.
A SAÚDE PÚBLICA E PLANETÁRIA DAS
MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Incluir os serviços de saúde nas contribuições
nacionalmente determinadas (NDC): A
A assistência à saúde tem a oportunidade de ser uma descarbonização dos serviços de saúde precisa fazer
liderança climática e, no processo, promover não só um parte das NDCs incluídas no Acordo de Paris.
planeta e uma sociedade mais saudáveis, mas também
melhores desfechos em termos da saúde dos pacientes. Tomar medidas legislativas, regulatórias e
financeiras: Uma análise completa, focada nas
Este Roteiro contém uma série de recomendações mudanças climáticas, da legislação, da regulação e dos
de alta prioridade, aqui resumidas para os principais mecanismos de financiamento dos serviços de saúde
atores envolvidos. no nível nacional e subnacional. Adicionalmente, a
criação de um conjunto de recomendações políticas
AÇÃO GOVERNAMENTAL especificamente adaptadas e de análises de custo-
benefício, pode ajudar a acelerar a descarbonização
Declarar as mudanças climáticas como emergência e a preparação para as alterações climáticas tanto nos
sanitária: Todos os governos podem começar por serviços de saúde públicos quanto privados.
emitir uma declaração afirmando que a crise climática
é uma emergência sanitária e requer uma ação Desenvolver a liderança climática dos serviços de
articulada no nível nacional e mundial. saúde: Fomentar o desenvolvimento das capacidades
dos trabalhadores da saúde, incluindo liderança, em
Desenvolver diretrizes nacionais e subnacionais: todos os níveis.
Todos os governos devem desenvolver diretrizes
e planos de ação nacionais e/ou subnacionais para Incluir a saúde nas políticas climáticas nacionais e
a descarbonização dos serviços de saúde. Como subnacionais: Seguindo uma abordagem de incluir
parte deste esforço, os governos devem estabelecer a saúde em todas as políticas públicas, o setor saúde
os sistemas e garantir a capacidade de medir e deve trabalhar em estreita colaboração com todos os
acompanhar a pegada climática dos serviços de saúde setores relevantes para assegurar que os governos
nos níveis das instalações, nacional e subnacional. desenvolvam políticas climáticas intersetoriais fortes
que protejam a saúde pública das alterações climáticas,
Assumir compromissos para atingir emissões zero: apoiando simultaneamente a descarbonização e a
Os sistemas nacionais de saúde podem assumir resiliência da assistência à saúde.
compromissos públicos semelhantes ao assumido
pelo Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (NHS,
sigla em inglês), que sinalizou a sua intenção de
atingir emissões zero líquidas até 2045. Hospitais
públicos, sistemas de saúde, e serviços de saúde
governamentais prontos a comprometer-se com o
objetivo de emissões zero também podem aderir à
campanha Race to Zero da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC),

13
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

NAÇÕES UNIDAS E OUTRAS ORGANIZAÇÕES financeiros de acordos ambientais multilaterais, como


GOVERNAMENTAIS o Fundo para o Ambiente Global e o Fundo Verde
para o Clima – devem integrar a saúde nos seus
Uma ampla variedade de agências das Nações programas e critérios de concessão de financiamento.
Unidas, instituições financeiras internacionais, agências
de cooperação bilateral e grandes fundações, prestam O SETOR PRIVADO
assistência para o desenvolvimento da saúde. Todos
esses órgãos precisam desempenhar um papel O setor privado é onipresente na prestação de
importante em alinhar e alcançar, simultaneamente, os serviços de saúde - mesmo nos sistemas de
objetivos globais climáticos e a saúde global. saúde públicos - e tem um papel central e uma
responsabilidade a desempenhar no alinhamento
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a das necessidades da saúde às da mitigação às
Mudança do Clima: A CQNUMC, através dos seus mudanças climáticas. Embora a regulação deva ter
líderes da ação climática global (UNFCCC High- uma função importante na definição de uma proposta
level champions), pode adotar este Roteiro para a para a descarbonização do setor privado, tanto as
descarbonização dos serviços de saúde, ou uma versão infraestruturas de saúde privadas, quanto a "indústria
adaptada, como uma das suas rotas de ação climática, dos serviços de saúde" devem também exercer
que delineiam as visões setoriais para um mundo uma liderança, particularmente na descarbonização
resiliente à mudança de 1,5°C até 2050 e estabelecem da cadeia de suprimentos global da prestação dos
as ações necessárias para alcançar esse futuro. serviços de saúde.

As Agências das Nações Unidas: A Organização Sistemas e instalações de serviços de saúde


Mundial da Saúde (OMS), o Programa das Nações privados e sem fins lucrativos: Hospitais e sistemas
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Programa de saúde geridos por corporações sem fins lucrativos,
das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e organizações religiosas e empresas com fins lucrativos
outras agências das Nações Unidas têm um papel podem estabelecer objetivos ambiciosos para a
de liderança crucial a desempenhar na defesa e descarbonização, integrando os seus esforços com
aceleração da descarbonização do setor da saúde, iniciativas de resiliência. Os hospitais e sistemas
fornecendo orientação política e técnica essencial aos de saúde prontos para se comprometerem com a
ministérios da saúde no mundo inteiro. campanha Race to Zero da CQNUMC podem aderir
comprometendo-se com a redução de 50% das
Instituições financeiras internacionais e cooperação emissões até 2030 e com atingir emissões zero antes
bilateral: Instituições como o Banco Mundial, os de 2050.
bancos regionais de desenvolvimento, as agências de
ajuda bilateral e as grandes fundações, que prestam Fabricantes e fornecedores: Fabricantes e
apoio significativo ao desenvolvimento da saúde fornecedores podem tomar ações para descarbonizar
em países de baixa e média renda, devem integrar a sua manufatura, embalagem e transporte de
princípios e estratégias inteligentes, em matéria produtos. Podem também criar produtos altamente
de mudanças climáticas, no seu apoio à saúde, à eficientes em termos energéticos ou de baixas ou
concessão de empréstimos e à orientação política. emissões zero. Adicionalmente, podem inovar e
Aqueles que financiam a mitigação e adaptação às projetar os seus produtos para uma economia circular
alterações climáticas – especialmente os mecanismos que seja sustentável, não tóxica, e que minimize

14
o desperdício e fomente a reutilização, enquanto À medida que começamos a superar COVID-19, estes
defendem uma descarbonização da sociedade e da heróis podem ajudar a liderar o seu setor alertando
economia em geral. sobre a próxima crise que se aproxima, uma crise
que já está sobre nós e que continuará a acelerar
Seguros de saúde e financiamento da saúde: nos próximos anos. Eles podem ajudar a proteger a
As seguradoras podem estabelecer calendários saúde pública da crise climática, levando o setor da
de reembolso para promover intervenções custo- saúde a traçar uma rota para atingir emissões zero
efetivas de baixas emissões em detrimento de ações e impulsionar a mudança necessária para alcançar a
intensivas em carbono. As instituições que fornecem equidade em saúde e a justiça climática. .
financiamento dentro da área da saúde podem
estabelecer o impacto nas mudanças climáticas como
um critério para avaliar a construção de infraestruturas
e a compra de bens de capital. Todas as instituições
que administram ações e aposentadorias devem
desinvestir em combustíveis fósseis.

SOCIEDADE CIVIL

As dezenas de milhões de médicos, enfermeiros,


os profissionais da saúde, as suas associações
profissionais, sindicatos, as amplas redes de
pesquisadores da saúde, juntamente com
organizações locais, nacionais e globais de defesa da
saúde, são fundamentais para mobilizar o próprio setor
a tomar medidas.

Ao mesmo tempo, a sociedade civil no setor da saúde


deve desempenhar um papel central como defensora
da descarbonização na economia e na sociedade em
geral. Os profissionais da saúde podem influenciar
o comportamento tanto dos pacientes quanto dos
políticos. A voz da saúde – de médicos e enfermeiros
em particular – é a voz de maior confiança na maioria
das culturas. Os prestadores de serviços de saúde vão
emergir da pandemia da COVID-19 como heróis que
serviram nas linhas de frente.

15
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Conteúdo
1 Introdução: Setor saúde e crise climática 17
Provendo saúde em um planeta em aquecimento 18
Pegada climática do setor saúde 19
Reinventando a assistência à saúde no século XXI 20
Race to Zero: Um movimento crescente pelo clima na área da saúde 21
Como ler este roteiro 28
2 Metodologia: Medindo e projetando emissões globais do setor saúde 31
Limitações e pressupostos 34
3 Topografia: Compreendendo o panorama de emissões do setor saúde 35
A pegada climática da saúde: Green Paper One 36
Resultados da análise de caminho estrutural 38
Ampliando a cobertura de cada país 40
4 Trajetórias: Atravessando um futuro incerto 41
A lacuna de emissões globais 42
Cenários de descarbonização 43
Três cenários globais de descarbonização do setor saúde 45
Descarbonizando em um mundo desigual 48
5 Traçando uma rota em direção a emissões zero no setor saúde 57
Três caminhos para a descarbonização do setor saúde além das NDCs (2017) 61
Caminho um: Descarbonizar a prestação de serviços de saúde, as unidades
e as operações 61
Caminho dois: Descarbonizar a cadeia de suprimentos do setor saúde 64
Caminho três: Acelerar a descarbonização da economia e da sociedade em geral 66
Sete ações de alto impacto 67
1. Suprir o setor saúde com eletricidade 100% limpa e renovável 70
2. Investir em instalações e infraestruturas de emissões zero 71
3. Iniciar uma transição para viagens e transportes sustentáveis e de emissões zero 73
4. Abastecer o setor saúde com alimentos saudáveis cultivados de forma sustentável
e apoiar uma agricultura resiliente ao clima 74
5. Incentivar e produzir produtos farmacêuticos de baixa pegada de carbono 75
6. Implementar serviços de saúde circulares e com uma gestão sustentável dos
resíduos decorrentes da atividade 77
7. Alcançar uma maior efetividade do sistema de saúde 79
Território inexplorado: Fechando a lacuna das emissões do setor saúde 83
6 Impulsionar a mudança: Recomendações políticas de alta prioridade 93
Ação governamental 94
Nações unidas e outras organizações internacionais 96
O setor privado 97
Sociedade civil 98
Uma palavra final 99

Anexos
A. Relatório técnico
B. Fichas informativas por país para 68 países
C. Intervenções recomendadas para a implementação das sete ações de alto impacto
D. Quatro artigos sobre a prevenção de doenças como prevenção das mudanças climáticas
(Acesse os anexos em português e/ou espanhol: accionclimaticaensalud.org/hojaderuta)

16
1

Introdução
Setor saúde e crise climática
“A pandemia nos obrigou a refletir sobre a importância
da saúde humana e sua relação com a saúde do
planeta. A mudança climática é uma realidade que
afeta toda a humanidade e, portanto, requer uma ação
coordenada imediata de todos os líderes mundiais.”

Alberto Fernández, Presidente da República da Argentina

17
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Provendo saúde em um planeta em aquecimento

A pandemia de COVID-19 forneceu ao mundo uma Enquanto a mudança climática afeta a todos, assim
compreensão angustiante do que é uma crise como vimos com a COVID-19, aqueles com menos
multidimensional em escala planetária. Entre outros acesso a recursos e saúde são os que mais sofrem.
aspectos, ela trouxe à tona a centralidade do setor No caso da crise climática, os menos responsáveis
saúde na linha de frente. Ela lançou luz sobre as por criar o problema – os países e comunidades
profundas desigualdades no acesso à saúde e dentro dos países que consumiram menos recursos
nos cuidados de saúde dentro e entre os países. A e emitiram a menor quantidade de gases de efeito
pandemia também destacou o imperativo de fortalecer estufa – arcam com as consequências dos impactos
e transformar nossos sistemas de saúde para que da crise. Seja um pequeno estado insular enfrentando
estejam preparados para futuras pandemias, bem a elevação do nível do mar, um país de baixa renda
como para outros grandes desafios de saúde do enfrentando a insegurança alimentar induzida pelo
século XXI, incluindo as mudanças climáticas. clima ou uma comunidade empobrecida localizada
do outro lado da cerca de uma refinaria de petróleo
Como os tentáculos da crise climática se entrelaçaram respirando ar tóxico, os impactos da mudança
e agravaram a pandemia de COVID-19 (e vice-versa), o climática na saúde e suas forças motrizes não
surto do vírus demonstrou a interconexão entre saúde e serão suportados de forma igual ou justa. Os mais
meio ambiente como nunca antes. Ele também ressaltou vulneráveis – incluindo comunidades de baixa renda,
a urgência da ação climática para proteger a saúde das mulheres, povos indígenas, idosos e crianças –
pessoas e do planeta, o que o Secretário-Geral da ONU sofrerão as consequências dos impactos climáticos.6 
chama de “a questão definidora de nosso tempo,” e uma
“ameaça existencial” para a humanidade.4 Em seu cerne, a mudança climática levanta uma
série de questões de direitos humanos (conhecidas
O relatório especial de 2018 do Painel coletivamente como “justiça climática”), e uma
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) conexão íntima com o direito à saúde. Por exemplo, há
sobre o aquecimento global de 1,5°C documenta os uma correlação clara entre os países que enfrentam
impactos significativamente mais devastadores que as ameaças climáticas mais graves e aqueles que
poderiam ser esperados com a meta de 2ºC do Acordo precisam avançar mais em direção à cobertura
de Paris. Mais importante ainda, postula que agora universal de saúde. De fato, a mudança climática não
temos apenas uma década para instituir "mudanças mitigada prejudicará seriamente a capacidade dos
de longo alcance e sem precedentes em todos os países de atingir suas metas de saúde e pode muito
aspectos da sociedade", a fim de limitar o aumento bem reverter o progresso feito ao longo de muitas
da temperatura média global a menos de 1,5°C em décadas e aumentar a carga de doenças.7
relação aos níveis pré-industriais até o final do século.
O único cenário em que isso é possível é se atingirmos Por outro lado, enfrentar a mudança climática exige que
emissões líquidas zero globalmente até 2050.5 Para serviços de saúde climaticamente inteligentes sejam
conseguir isso, devemos acelerar as transformações uma parte central da solução. Este Roteiro visa ajudar a
no uso da energia e do uso, construções, transporte, traçar um plano nessa direção. Com isso, pretende-se
indústria, desenvolvimento urbano e no próprio setor catalisar e contribuir com um diálogo entre os líderes
saúde. Devemos fazê-lo para evitar uma emergência da saúde sobre as profundas mudanças estruturais e
climática e de saúde com efeitos ainda mais graves do sistêmicas necessárias para enfrentar o maior desafio
que os da pandemia de COVID-19.      da nossa geração e dos que virão depois de nós:
recuperar a saúde planetária e fomentar uma economia
fundamentada em justiça e equidade.
18
Pegada climática do setor saúde

Em setembro de 2019, Saúde sem Dano e Arup


publicaram o Green Paper One, chamado Health Na última década, os
Care’s Climate Footprint8.Esta primeira estimativa global
revelou que o setor saúde, cuja missão é proteger e integrantes do setor saúde
promover a saúde, contribui significativamente para a reconheceram as mudanças
crise climática e, portanto, tem um papel importante a
desempenhar na sua resolução. climáticas como a maior
Especificamente, o Green Paper Oneconcluiu que,
ameaça à saúde global no
com base nos dados de 2014, a pegada climática da século 21.
saúde é equivalente a 4,4% das emissões líquidas
globais (o equivalente a 2 gigatoneladas de dióxido de Para atingir esse objetivo ambicioso e necessário, o
carbono). Para contextualizar, essa pegada climática documento fez uma série de recomendações, incluindo
global de saúde é equivalente às emissões anuais de o desenvolvimento de um roteiro global para traçar
gases de efeito estufa de 514 usinas movidas a carvão. um plano para a assistência à saúde com emissões
Se o setor saúde fosse um país, seria o quinto maior zero até 2050. Tal roteiro, argumentou o documento,
emissor do planeta. é necessário para identificar os principais caminhos
a seguir, ao mesmo tempo em que estabelece
O Green Paper One concluiu que a saúde deve cronogramas e estruturas de ação entre os países.
responder à crescente emergência climática não
apenas tratando os doentes, feridos ou agonizantes Este Roteiro segue essa recomendação. Ele
pela crise climática e suas causas, mas também efetivamente fornece e traça um plano para levar
praticando a prevenção primária e reduzindo a área da saúde a zero emissões. Ele considera as
radicalmente as suas próprias emissões para emissões do setor saúde em todas as suas partes
alinhar-se à ambição de 1,5ºC do Acordo de Paris. constitutivas. Ele analisa esses elementos para
O setor, segundo o documento, deve empreender estabelecer onde as emissões são mais prevalentes
esse esforço e, ao mesmo tempo, cumprir as metas e explora as intervenções que podem contribuir para
globais de saúde, como a cobertura universal de reduzi-las. Ele o faz em âmbito global e, no anexo que
saúde, e trabalhar para alcançar os Objetivos de o acompanha, no âmbito nacional para 68 países.
Desenvolvimento Sustentável.
O Roteiro define como os países mais ricos – cujos
O documento também concluiu que, se o setor saúde setores de saúde são os maiores poluidores do
em todo o mundo se unisse para enfrentar a crise clima – devem tomar as medidas mais rápidas para
climática, poderia influenciar mais do que sua própria descarbonizar. Ele explora como os países de renda
pegada. Se o desenvolvimento, o crescimento e o média podem investir num desenvolvimento da
investimento na saúde podem se alinhar com as metas saúde que os leve a um caminho para emissões
climáticas globais, pontuou o documento, os 10% da zero, e como os países de baixa renda precisam de
economia mundial que a saúde representa, junto com acesso a tecnologias de baixo carbono e emissões
sua influência política em todos os níveis de governo, zero que aumentem sua capacidade de fornecer
bem como sua influência ética como um comunicador acesso e serviços de saúde. Ele demonstra como
confiável, o setor poderia ajudar a fornecer liderança todos devem agir.
para um futuro de baixo carbono, inteligente em
matéria de clima, mais equitativo e mais saudável.
19
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Reinventando a assistência à saúde no século XXI

Em um cenário de operação usual (BAU, sigla em inglês À medida que enfrenta a crise climática, o setor saúde
para business as usual), a pegada climática da área da também deve redobrar seus esforços para atingir
saúde triplicará entre agora e 2050. Isto não é aceitável. as metas do terceiro Objetivo de Desenvolvimento
O setor saúde deve se reinventar para enfrentar a Sustentável da ONU (ODS 3) –"Saúde e Bem-Estar."
urgente ameaça das mudanças climáticas à saúde no As nove metas vão desde a redução da mortalidade
século XXI. Isso requer uma mudança de sistema dentro materna global até o fim de epidemias como HIV-
e fora do setor saúde.9 Trata-se de um enorme desafio AIDS e outras doenças transmissíveis, incluindo a
e, ao mesmo tempo, de uma oportunidade. redução da mortalidade prematura por doenças não
transmissíveis e a redução de mortes por produtos
Os serviços de saúde devem fazer sua parte para químicos perigosos e pela poluição do ar, água e solo.
contribuir para uma redução de 45% das emissões Talvez o mais importante, o ODS 3 estabelece a meta
globais de gases de efeito estufa até 2030 (partindo de alcançar a cobertura universal de saúde (UHC, sigla
dos níveis de 2010) e "zero líquido" até 2050, como em inglês) até 2030, que inclui "proteção contra riscos
o relatório do IPCC indica.10 Este Roteiro tem como financeiros, acesso a serviços essenciais de saúde de
objetivo identificar os caminhos disponíveis para qualidade e acesso a medicamentos e vacinas seguros,
ajudar o setor saúde a alcançar essa transformação. eficazes, de qualidade e acessíveis para todos.”13

Enquanto a despesa da saúde continua a crescer, Alcançar o ODS3 e fomentar a equidade em saúde
o setor deve desvincular este crescimento de requer uma transformação fundamental do setor,
suas emissões climáticas. O setor deve reinventar incluindo grandes aumentos no financiamento para
maneiras de prestar cuidados e repensar como os ampliar o acesso à saúde. As decisões de implementar
produtos e tecnologias que utiliza são feitos, usados a UHC irão travar por décadas os modelos de entrega
e descartados. O financiamento da saúde deve de saúde dos países de baixa e média renda. É vital
ser renovado para incentivar os serviços de saúde que os princípios de sustentabilidade e cuidados
inteligentes em matéria de clima. O setor saúde deve de saúde com inteligência climática influenciem os
se unir a outros setores para isso, ao mesmo tempo modelos de UHC que os países irão adotar.
em que trabalha de forma colaborativa para reduzir a
carga global de doenças e, portanto, a demanda por A descarbonização, a resiliência climática e a
recursos intensivos em saúde. equidade em saúde podem ser mutuamente
reforçadas. Elas são transformações vitais que muitas
Encontrar uma rota global para emissões zero na vezes podem ser entregues sinergicamente. Se e
saúde é apenas um componente da transformação como o setor saúde os enfrentará é algo que irá
que a crise climática exige urgentemente da área da definir, em grande parte, seu sucesso ou fracasso em
saúde. O setor saúde também deve simultaneamente assumir os desafios do século XXI.
construir resiliência – resiliência de instalações11 e
resiliência de sistemas12– ao mesmo tempo em que Este Roteiro toma como ponto de partida a relação
reforça seu papel como membro integral de muitas indissociável e interconectada entre a necessidade
comunidades para servir como uma âncora para o de mudanças abrangentes quanto a equidade em
clima comunitário e a resiliência econômica. (ver box saúde, resiliência e adaptação climática da assistência
"resiliência climática dos serviços de saúde") à saúde, e a descarbonização destes serviços. A
orientação que este trabalho oferece, no entanto, está
no último item: como o setor pode avançar em direção

20
a emissões zero no contexto dessas outras prioridades reduzindo e até eliminando todos os contaminantes
transformadoras. Ele reconhece que a transformação ambientais de suas operações.15”
necessária para descarbonizar deve andar de
mãos dadas com uma transformação mais ampla A área da saúde, em países de baixa, média e alta
e profunda do setor para abordar completamente renda, também tem a oportunidade de traçar um plano
as mudanças climáticas e melhorar a saúde global. para emissões zero. Ao fazê-lo, pode aproveitar sua
Nesse sentido, este Roteiro é apenas um diagrama relevante posição como um mensageiro confiável
perto do verdadeiro atlas que é necessário para a para dizer a verdade sobre os impactos das mudanças
transformação do setor saúde. climáticas na saúde e as ações necessárias para
enfrentá-los, ajudando a liderar uma resposta global
à emergência climática. A área da saúde já está indo
Race to Zero: nessa direção.
Um movimento crescente
Em janeiro de 2020, o Serviço Nacional de Saúde
pelo clima na área da saúde da Inglaterra (NHS, sigla em inglês) anunciou o
compromisso de se tornar o primeiro sistema nacional
Na última década, legiões crescentes no setor saúde de saúde do mundo a alcançar emissões líquidas zero.
– médicos, enfermeiros, hospitais, sistemas de saúde, Em outubro, apesar dos desafios apresentados pelo
ministérios da saúde, acadêmicos, ONGs de saúde, a COVID-19, o NHS emitiu um plano que estabelece a
Organização Mundial da Saúde e outras organizações direção, escala e ritmo de mudança para chegar ao
internacionais – reconheceram a mudança climática zero líquido. O plano define um conjunto de trajetórias
como a maior ameaça global à saúde no século a serem alcançadas com uma redução de 80% até
XXI.14 Esses líderes tomaram uma série de medidas 2032, e zero líquido até 2040 para as emissões
para identificar as conexões entre a saúde pública controladas diretamente. O NHS pretende atingir
e um clima saudável para assim defender soluções emissões líquidas zero até 2045 para as emissões
que protejam a saúde pública contra as mudanças que eles podem influenciar, incluindo a cadeia de
climáticas, construam maior resiliência e capacidade suprimentos global. O relatório também começa a
de resposta à crise climática, além de reduzir suas definir as intervenções necessárias para se alcançar
próprias emissões. essa ambição, incluindo a construção de 40 novos
hospitais a emissões líquidas zero, a adaptação e a
Por exemplo, em uma orientação para instalações modernização das instalações existentes, a instalação
de saúde em países de baixa e média renda, de energia renovável in situ e a transição da frota
a Organização Mundial da Saúde reconheceu de transporte do NHS para veículos de emissão
recentemente que, "as unidades de saúde e de forma zero, incluindo o desenvolvimento da primeira
mais ampla o setor saúde, embora profundamente ambulância de emergência híbrida do mundo, movida
impactados por choques e estresses relacionados ao a eletricidade e hidrogênio.16
clima, têm a oportunidade de reduzir significativamente
as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). O plano de emissões líquidas zero do NHS também
Portanto, as instalações podem responder à crescente requer a influência do poder de compra do próprio
emergência climática construindo resiliência a eventos sistema para alcançar uma cadeia de suprimentos
climáticos extremos e tensões de longo prazo para de zero líquido baseada em um uso mais eficiente
continuar protegendo a saúde de sua população, de suprimentos, substituições por itens de baixo

21
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

RESILIÊNCIA CLIMÁTICA DO SETOR SAÚDE 2. Gestão sustentável e segura de serviços de


água, saneamento e resíduos de serviços de saúde.
À medida em que serviços de saúde tentam 3. Serviços de energia sustentável. 4. Infraestrutura,
orientar-se quanto às oportunidades de tecnologias, produtos e processos adequados
descarbonização, as instituições muitas vezes para o funcionamento eficiente das instalações. A
encontram uma sobreposição significativa entre OMS recomenda que, com a mudança climática
resiliência climática ou medidas de adaptação. aumentando o risco de impactos graves nas
O inverso também é verdadeiro, onde muitas instalações de saúde e impondo demandas
instituições de saúde que priorizam a resiliência complexas, multifacetadas e imprevisíveis nos
climática encontram soluções de baixo carbono sistemas de saúde, todos os novos investimentos
que ajudam a cumprir essa agenda (Figura 1). no setor saúde devem contribuir para construir
resiliência às mudanças climáticas.17
Embora este Roteiro se concentre na
descarbonização dos cuidados de saúde, é Resiliência climática do sistema de saúde: A
importante destacar a conexão com a resiliência. resiliência do sistema é definida pela OMS como
Na verdade, a resiliência deve constituir uma “a capacidade de atores, instituições e populações
pedra angular da agenda de descarbonização e da saúde preparar-se e responder com eficácia às
vice-versa. A resiliência climática nos cuidados crises; manter as funções essenciais quando uma
de saúde pode ser dividida em três categorias crise chegar; bem como manter-se informados
inter-relacionadas: resiliência das instalações e da sobre as lições aprendidas durante a crise e
infraestrutura, resiliência dos sistemas e resiliência reorganizar-se caso as condições assim o exigirem.
da comunidade. É a capacidade de absorver perturbações, de
adaptar-se e de responder com a prestação dos
Resiliência climática de instalações e serviços necessários.” A resiliência do sistema
infraestrutura: A Organização Mundial da Saúde de saúde também depende da colaboração
define “unidades de saúde resilientes ao clima e intersetorial para obter soluções aprimoradas.18
ambientalmente sustentáveis como aquelas que se
antecipam, respondem, enfrentam, se recuperam Resiliência da comunidade: A redução das
e se adaptam a choques e tensões relacionados desigualdades em saúde é um componente
ao clima, minimizando os impactos negativos no negligenciado, porém fundamental para fornecer
meio ambiente e aproveitando as oportunidades serviços de saúde mais sustentáveis e resilientes.
para restaurá-lo e melhorá-lo, de modo a levar O papel do setor saúde em alcançar a resiliência
cuidados de saúde contínuos e sustentados à da comunidade pode envolver o foco na redução
população-alvo e proteger a saúde e o bem-estar das desigualdades e o enfrentamento da injustiça
das gerações futuras.” social por meio de investimentos econômicos para
abordar os determinantes sociais da saúde. Esses
A OMS identifica quatro áreas centrais da resiliência esforços comunitários podem ir além do simples
de instalações da área da saúde: 1. Uma força gerenciamento de distúrbios ou dos sintomas de
de trabalho de saúde qualificada e informada, desigualdade. Isso deve incluir o investimento
empoderada para enfrentar os desafios ambientais. em sistemas resilientes de atenção primária e

22
quadros de trabalhadores de atenção primária, os sistemas terapêuticos locais, apoiar as culturas
especialmente em países de baixa e média alimentares saudáveis e atender às necessidades
renda.19 A promoção da resiliência comunitária de grupos marginalizados são medidas que podem
deve incluir o apoio ao direito à subsistência e ajudar na resiliência climática da comunidade.
aos recursos produtivos, garantindo que nenhum Ao abordar os determinantes sociais da saúde,
indivíduo viva em situação de pobreza alimentar comunidades, famílias e indivíduos podem estar
ou energética, deixe de ter acesso a água potável mais bem posicionados para responder aos
e saneamento e acesso à moradia segura, e que impactos das mudanças climáticas, incluindo
os adultos tenham a oportunidade de trabalhar e, eventos climáticos extremos.
de maneira significativa, melhorar sua capacidade
de levar uma vida mais saudável.20 Apoiar a
educação em saúde da comunidade, fortalecer

IA CLIMÁT IA CLIMÁT
ILIÊNC ICA ILIÊNC ICA
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TRA Trabalhadores
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SUSTENTÁVEIS E SU e pro d utos L
R E SI L IE N
TES AO CLIMA ST
EN N TA
TABI
LIDADE A M BI E

Figura 1. Estrutura operacional da OMS em 2015 para sistemas de saúde resilientes ao


clima21 (à esquerda) e nova orientação de 2020 para instalações de saúde resilientes ao
clima e com sustentabilidade ambienta22 (à direita)

23
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

carbono e inovação de produtos, ao mesmo tempo


em que garante que seus mais de 80 mil fornecedores
estão descarbonizando seus próprios processos. O
plano busca evitar compensações de carbono tanto
quanto for possível e foca em promover inovações
para abordar lacunas na redução de emissões. Por
fim, ele exige um novo modelo de prestação de
serviços de saúde que ofereça cuidados baseados
em sustentabilidade, maior equidade e emissões zero.
O compromisso do NHS faz dele o principal sistema
de saúde climático do mundo – aquele que mostra a
aplicação dos contornos deste Roteiro, e que pode
ajudar outros sistemas a traçar seu próprio plano.

No mesmo mês em que o NHS fez seu anúncio, e em


meio a um aumento da COVID-19 no país, a Academia
Nacional de Medicina dos Estados Unidos publicou
um artigo de escopo, encomendado por ela para
"propor potenciais estratégias para mitigar o impacto
do sistema de saúde dos EUA sobre as mudanças
climáticas." O artigo recomendou ao setor saúde dos
EUA a seguir um caminho semelhante ao do NHS.
Ao declarar que "agora é hora de líderes de saúde e
membros das profissões da área da saúde – alguns
dos que gozam de maior confiança na sociedade –
seguirem na direção da saúde planetária e humana", o
artigo convidou o sistema de saúde dos EUA, o maior
poluidor climático no setor saúde do planeta, a entrar
em ação. Chamando-o de "um primeiro passo crucial
em direção a um eventual sistema de saúde livre de
carbono'', a Academia declarou que "o setor saúde
dos EUA deve reduzir sua pegada de carbono em
50%, em termos absolutos, até 2030, em comparação
à linha de base de 2010.” Eles sugeriram que isso
seria alcançado reduzindo a demanda por serviços
e iniciando um redesenho dos serviços de saúde,
da cadeia de suprimentos, da infraestrutura e dos
sistemas de financiamento.23

O relatório da Academia se baseia no ímpeto


crescente de descarbonização no setor saúde dos
Estados Unidos, com vários hospitais e sistemas de

24
saúde importantes assumindo compromissos com e sistemas de saúde na Ásia, África e América Latina
a neutralidade de carbono, principalmente em suas que estão implementando estratégias de saúde
emissões de energia operacional e adquirida (escopos inteligentes para lidar com o clima.25
1 e 2). Isso inclui as organizações Providence (881
hospitais e unidades de saúde), Cleveland Clinic De modo geral, hospitais, sistemas de saúde,
(191 hospitais e unidades de saúde), Mass General ministérios da saúde e outras organizações de saúde
Brigham (39 hospitais e unidades de saúde) e Kaiser de todo o mundo estão se unindo como parte de
Permanente (723 hospitais e unidades de saúde). um crescente movimento climático global de saúde.
Muitos fazem parte do Desafio a Saúde pelo Clima,
O impulso nos Estados Unidos e no Reino Unido promovido pela Saúde sem Dano, uma ferramenta
também se reflete em cada vez mais atitudes tomadas para as instituições de saúde comprometerem-se com
em outros sistemas de saúde que são os principais a ação climática ao longo dos três pilares principais
emissores do clima na Europa. Em países como a que são mitigação, resiliência e liderança. Lançado
Nova Zelândia, onde os Conselhos de Saúde do em 2015, o Desafio pelo Clima cresceu para incluir
Distrito de Auckland e Manukau representam um total mais de 300 participantes institucionais de 34 países
de 45 hospitais e unidades de saúde, planos também que representam os interesses de mais de 22.000
foram estabelecidos para alcançar a neutralidade de hospitais e unidades de saúde. Essas instituições
carbono. O governo da capital australiana anunciou estão definindo metas de mitigação e resiliência e
em 2020 que um novo hospital de USD$ 500 milhões documentando seu progresso anual. De pequenas
em construção no sul de Camberra será totalmente clínicas rurais a grandes sistemas de saúde urbanos,
elétrico, descartando o uso de gás para aquecimento instituições de todo o mundo estão se preparando
e refrigeração de equipamentos, permitindo que o para o Desafio a Saúde pelo Clima e comprometendo-
hospital se torne um dos primeiros totalmente movidos se a fazer parte da solução.
a energia renovável.
No início de 2021, o Desafio a Saúde pelo Clima
A mudança também está em andamento nos países da Saúde sem Dano se uniu aos Líderes de Ação
de renda baixa e média cujos sistemas de saúde Climática da Convenção-Quadro das Nações
são responsáveis por muito menos emissões de Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC) para
gases de efeito estufa, especialmente considerando estabelecer um componente de saúde na campanha
as emissões per capita. Em muitos desses países, Race to Zero. Isso proporcionará a hospitais e
as estratégias de baixo carbono ou líquido zero se sistemas de saúde em todo o mundo a oportunidade
enquadram no contexto de obtenção de resiliência de tornar-se parte da Race to Zero, campanha
climática. Por exemplo, no estado de Chhattisgarh, multissetorial da CQNUMC.
Índia, o governo se comprometeu a solarizar todos
os seus estabelecimentos de saúde e torná-los Finalmente, fabricantes e fornecedores importantes
eficientes em matéria de energia em suas operações. de cuidados com a saúde também estão assumindo
Isso fortalece a capacidade do sistema de oferecer compromissos climáticos. Por exemplo, várias
serviços de saúde, de resistir a eventos climáticos empresas farmacêuticas comprometeram-se a
extremos e outras crises, e coloca os sistemas fornecer eletricidade 100% renovável, incluindo
de saúde deste estado no caminho para 100% de AstraZeneca (até 2025), Novo Nordisk (2030), Merck &
eletricidade renovável e emissões zero.24 Existem Co. (2040) e Johnson & Johnson (2050).26
muitos outros exemplos documentados de hospitais

25
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

COVID-19 E CUIDADOS DE SAÚDE Por exemplo, a resposta de emergência à COVID-19


CLIMATICAMENTE INTELIGENTES27 inclui investimentos maciços em tecnologias e
infraestrutura da cadeia de frio que correm o risco
A pandemia de COVID-19 oferece lições e de "prender" os sistemas de saúde de muitos países
oportunidades para transformar os serviços em sistemas de vacinas intensivos em carbono nas
de saúde na era das mudanças climáticas. Por próximas décadas. Por outro lado, o investimento
exemplo, em alguns países, a COVID-19 apressou em cadeias de frio climaticamente inteligentes e
a transição para a telessaúde, uma ação que traz com eficiência energética oferece a possibilidade
benefícios climáticos significativos em termos de de reconstruir melhor para uma transformação
redução de emissões decorrentes de viagens de climaticamente inteligente capaz de fornecer vacinas
pacientes e operação de instalações. Em outras e estabelecer uma cadeia de frio robusta e de baixas
nações, o investimento em eletricidade renovável emissões para o futuro.29
in situ para alimentar a saúde em ambientes com
pouca energia levou a uma maior resiliência das Os sistemas de saúde podem implementar
instalações e dos sistemas durante a pandemia. intervenções transversais que abordam tanto a
preparação para pandemias quanto a resiliência e
À medida que as nações, instituições financeiras adaptação ao clima, incluindo sistemas integrados
internacionais e organizações de saúde de vigilância de doenças com base na abordagem
investem numa resposta contínua dos sistemas de Saúde Única (One Health), que inclui informações
de saúde ao COVID-19, bem como em grandes robustas e sistemas de alerta precoce, recursos
iniciativas de recuperação da pandemia, haverá humanos adequados e bem treinados para a saúde,
uma oportunidade significativa de alavancar sistemas eficazes para comunicação de risco e
esses trilhões de dólares em investimentos cadeias de suprimentos resilientes de origem local.
para promover mudanças transformadoras que
coloquem o setor em um caminho para emissões A mitigação climática na área de saúde também pode
zero e resiliência climática.28 ser incorporada às atividades de resposta à COVID-19
por meio da implantação de fontes renováveis de
Uma ampla gama de intervenções climaticamente energia, eficiência energética, aquisições de baixo
inteligentes – cobrindo adaptação e mitigação – carbono e gestão sustentável de resíduos.
pode ser incorporada aos diferentes componentes
da resposta à pandemia e recuperação, incluindo Olhando para o futuro, a fase de recuperação da
testes e tratamento contra a COVID-19, a garantia pandemia oferece uma oportunidade de reconstruir
de fornecimento estável de EPIs e outros produtos melhores serviços de saúde que sejam climaticamente
médicos, a redução do desperdício de vacinas, inteligentes, sistemas de saúde robustos, resilientes
o planejamento da aquisição de vacinas contra e descarbonizados que contribuam para a cobertura
a COVID-19, distribuição equitativa e gestão de universal de saúde, mitigação climática social mais
resíduos, e a preparação de uma recuperação ampla e melhoria da saúde populacional.
saudável e sustentável de longo prazo (Figura 2).

26
PREPARAÇÃO PARA PANDEMIAS
RESILIÊNCIA
Sistemas de vigilância Apoio às
de doenças pessoas Apoio à saúde Suporte à
vulneráveis Resiliência Mecanismos de
Planos de mental dos comunidades da cadeia de adaptação
continuidade dos Intervenções não profissionais vulneráveis suprimentos
negócios farmacêuticas, Instituições âncora
Eventos e Prontidão, Conservação
Capacidade ex.: lavar as mãos da água
sistemas de planejamento e
de reação e vigilância de recuperação em
Planejar para Programas focados nos
disponibilidade de doenças emergências
cenários de ativos da comunidade
estoque da cadeia
pandemia
de suprimentos
Resiliência de
Preparação dos Liderança, governança, habilidade Arrefecimento infraestruturas,
trabalhadores: EPIs reutilizáveis e capacidade sustentáveis ex.: elevação
por design natural ou
planejamento e Telessaúde Cadeias de frio sustentável do sistema de
desenvolvimento sustentável energia
Recuperação Cobertura Conservação da
Prontidão universal de Cadeias de
verde saúde verde água Avaliação de
no acesso, suprimentos locais,
planejamento e sustentáveis e vulnerabilidade,
Instalações resilientes Biodigestores capacidade e
distribuição de Efetividade do WASH
vacinas sistema Alimentos adaptação
sustentáveis Geração
renovável in-situ saudáveis e
Planejamento Mudanças Modelos de sustentáveis
climáticas nos cuidados Sistemas de Risco integrado,
da capacidade de saúde financiamento para
currículos monitoramento e
para testagem, sustentáveis sustentabilidade Reduzir a poluição sistemas de
isolamento e do ar e da água
Cuidados de Prevenção de doenças e alerta precoce
tratamento da
força de trabalho saúde perto promoção da saúde com Cadeia de
de casa abordagem de determinantes suprimentos
sociais e ambientais de saúde Planos para
local
climas quentes
e frios
Eficiência Economia Projeto e localização
dos recursos Circulae de prédios verdes
Fármacos,
anestésicos e
inaladores de Infraestrutura e tecnologia Gestão sustentável
baixo carbono zero carbono: instalações, dos recursos
viagens e TICs
Adquirir energia Produtos de emissões
renovável Alimentos de baixa zero em toda a cadeia
pegada de carbono de suprimentos

DESCARBONIZAÇÃO

Figura 2. A descarbonização da saúde, a resiliência e a prontidão para pandemias frequentemente


se sobrepõem. Elas têm potencial para reforçar-se mutuamente e demonstrar sinergia.

27
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Como ler este roteiro

Este Roteiro estabelece uma visão, um conjunto de O ROTEIRO É DIVIDIDO EM QUATRO SEÇÕES
ferramentas de orientação e um conjunto de caminhos PRINCIPAIS:
pelos quais o setor saúde pode traçar um plano em
direção a zero emissões, ao mesmo tempo em que 1. Compreendendo a topografia: Usando uma análise
cria resiliência climática e atinge as metas globais de de caminho estrutural, esta seção aprofunda nosso
saúde (ver Figura 3 para o infográfico do Roteiro). entendimento, derivado do Green Paper One e
outras pesquisas, sobre a pegada climática da
É um documento vivo, cujo intuito é ajudar a atravessar saúde, operacionalmente e dentro da cadeia de
um panorama em constante mudança. Ele pode suprimentos global da saúde. Um entendimento
ser discutido, debatido, emendado e adaptado às mais profundo dessa topografia é essencial para
circunstâncias nacionais e locais. Pode ser adotado traçar um plano de transformação.
como um guia por líderes da área de saúde e da luta
contra as mudanças climáticas em todo o mundo, tanto 2. Analisando as trajetórias do setor: Esta seção
para quem é do hemisfério Norte quanto do hemisfério leva em consideração onde o setor está agora, a
Sul, e pode ajudar o setor a traçar um caminho para direção que ele está tomando e as correções de
se reinventar e fornecer liderança social na era da curso que são necessárias para o alinhamento com
mudança climática. Ele estabelece uma visão global e, as ambições do Acordo de Paris e atingir emissões
no Anexo B, informações específicas de para que 68 zero até 2050. Ela propõe quatro trajetórias
países comecem a desenvolver suas próprias análises de emissões para o setor saúde, levando em
e diretrizes nacionais ou planos de ação. consideração a responsabilidade comum, porém
diferenciada, de cada país pelas emissões e suas
respectivas capacidades, níveis de desenvolvimento
Este Roteiro fornece um econômico e caminhos de desenvolvimento no
setor saúde.
conjunto de orientações e traça
uma rota para a assistência à 3. Traçando uma rota: Com base na análise da
topografia e nas trajetórias previstas, esta seção
saúde alcançar emissões zero, traça um plano de ação climática na área da saúde.

resiliência climática e metas Três caminhos: Três caminhos principais inter-


globais de saúde. relacionados definem os contornos desta rota em
direção a emissões zero. São eles:
- Descarbonizar a prestação dos serviços de saúde
e construir resiliência
- Descarbonizar da cadeia de suprimentos dos
serviços de saúde
- Acelerar a descarbonização da economia e da
sociedade em geral

Para ajudar a orientar o setor ao longo de cada


caminho, fornecemos uma série de prescrições de
primeira linha ou de alta prioridade.

28
Sete ações de alto impacto: Ampliando e
conectando esses caminhos estão sete ações
de alto impacto que o setor deve realizar para
transformar a saúde em um setor descarbonizado
e resiliente ao clima. Essas ações abordam
eletricidade, instalações e infraestrutura, viagens
e transporte, alimentos, produtos farmacêuticos,
saúde circular e melhor efetividade do sistema. Para
cada área de ação, no Anexo C, recomendamos
intervenções específicas que sigam os contornos
dos caminhos descritos acima.

Explorando territórios inexplorados: Nesta seção,


começamos a explorar oportunidades de reduções
adicionais para fechar a lacuna de emissões da saúde
ao longo do tempo. Esse território inexplorado inclui
o aumento da telessaúde, garantindo o investimento
em UHC climaticamente inteligente, a redução da
carga de doenças para reduzir a necessidade de
intervenções de saúde com uso intensivo de recursos
e outras mudanças transformacionais. Identificar
e forjar essas soluções para enfrentar este "último
quilômetro” da descarbonização é um componente
crucial desse esforço que exigirá criatividade e uma
inovação significativa.

4. Impulsionando a mudança: TEmbarcar nesta


trilha significa impulsionar a mudança em um setor
que gasta US$ 8 trilhões por ano, compreende
10% do PIB mundial e emprega 170 milhões de
trabalhadores. Isso requer liderança para construir
consenso e impulsionar a transformação nos
níveis local, nacional e global. Também requer
alinhamento com objetivos globais quanto ao
clima e à saúde, e colaboração intersetorial para
alcançar a equidade em saúde, justiça climática e
resiliência da comunidade. Nesta seção final do
Roteiro, propomos uma série de recomendações
de políticas de alta prioridade para governos,
instituições internacionais, setor privado e
sociedade civil.

29
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Como o roteiro Operação usual

traça uma rota


para emissões zero

Progresso alinhado
com os compromissos
climáticos dos
governos até 2017

Ca
mi
nh
o2

Escopo 1 Trajetória-a
lvo
Caminho 1

Alimentos saudáveis

Escopo 2
Farmácos de baixo
Energia renovável

Escopo 3
emissões zero

Efetividade do
e sustentáveis
emissões zero

Saúde circular
Caminho 3

Transportes
Instalações

carbono

sistema
Ação 5

Ação 6
Ação 2

Ação 4
Ação 3

Ação 7
Ação 1

Emissões zero,
Território inexplorado
setor saúde
resiliente

2014 2014-2050 2050

Caminho 1: Caminho 2: Caminho 3:


Instalações e operações Cadeia de suprimentos Economia geral

Figura 3. Supondo que os países cumpram seus compromissos iniciais do Acordo de Paris,
três caminhos interligados conectados a sete ações de alto impacto levam a um setor de saúde
resiliente com emissões zero.

30
2

Metodologia
Medindo
e projetando
emissões globais
do setor saúde

31
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Saúde sem Dano e Arup tiveram a ambição de criar


um Roteiro de emissões de GEE do setor saúde global O objetivo do Roteiro é
com o objetivo de estruturar a conversa e catalisar a acelerar a ação climática
ação climática em todo o setor e em sua comunidade
de profissionais. Existem poucos métodos de análise em todo o setor e sua
formalizados ou padronizados para estabelecer tal
abordagem baseada em evidências, e nenhuma existe
comunidade de profissionais.
atualmente no setor saúde em escala global com
detalhes entre os países. Etapa 1. Para maximizar a cobertura de países, o
Roteiro combina dados de duas fontes; a base de
Para ajudar a trazer definição para o escopo, dados WIOD, que cobre 43 países de renda mais alta,
cobertura, análise, metodologia e formatação de e um estudo de Lenzen et al. com dados da EORA,
como este Roteiro poderia ser, Saúde sem Dano e cobrindo outros 25 países. Os dados WIOD para a
Arup desenvolveram uma abordagem estruturada em categoria "resto do mundo" (RoW) cobrem todos os
seis componentes para fornecer ao setor saúde um outros países, proporcionando assim uma visão global.
método robusto e uma base de evidências, que inclui Independentemente da fonte de dados, uma linha de
as seguintes características: base de 2014 e uma projeção de 2050 são fornecidas.

• Relatório de emissões de GEE do setor saúde e sua Etapa 2. Selecionamos um cenário de aquecimento
cadeia de suprimentos para as categorias do GHG global alinhado com a manutenção do aquecimento
Protocol de escopos 1, 2 e 3 a 1,5°C a partir do qual as cotas nacionais de
• Estabelecimento de bases para a análise de emissões e os caminhos do setor saúde poderiam ser
cenários futuros dentro dos caminhos de emissão do determinados. Isso é ilustrado pela linha tracejada e
IPCC seu ponto final na Figura 4.
• Informe de perspectivas nacionais
• Projeções baseadas em tendências específicas dos Etapa 3. Utilizamos dados do Instituto de Métricas e
serviços de saúde Avaliação em Saúde (IHME, sigla em inglês)39 para
• Incorporação de ações climáticas que atores do modelar o crescimento da demanda de cuidados de
setor saúde podem efetuar saúde de 2014 a 2050 para cada um dos 68 países
• Granularidade suficiente para informar ações da e para o RoW. Utilizamos essa modelagem para gerar
cadeia de suprimentos um perfil de emissões previsto com base na premissa
de que nenhuma ação climática futura foi tomada.
Este cenário é denominado Operação Usual. Ao
Uma descrição completa da metodologia e seus seis projetar dessa forma, a suposição é de que a estrutura
componentes para o desenvolvimento do Roteiro do sistema de saúde e da economia mais ampla é
estão no relatório técnico (Anexo A). A Figura 4 consistente com a linha de base de 2014 durante
fornece uma visão geral resumida da cronologia todo o período projetado. Essa hipótese/pressuposto,
e da relação entre cada etapa, com cada número suas limitações e seu impacto na modelagem são
vinculando-se a um resumo de cada componente na descritos com mais detalhes na seção “Limitações e
explicação a seguir. pressupostos” abaixo e no relatório técnico (Anexo A).

32
Etapas 4 e 5 (destacadas nas áreas azul e roxo Etapa 6. Aplicamos essas ações à situação de cada
na figura 4, respectivamente). A etapa 4 envolveu nação, e como um agregado em escala global para a
a modelagem das reduções das Contribuições atenção à saúde, apresentando assim um perfil único
Nacionalmente Determinadas (NDCs) enviadas até de descarbonização de emissões como o Roteiro
dezembro de 2017 e a etapa 5 inclui a modelagem de global para descarbonização do setor saúde.
ações de descarbonização que podem ser realizadas
no setor saúde, na sua cadeia de suprimentos e na
economia em geral. Essas intervenções foram extraídas
de modelos de terceiros e evidências publicadas, ao
lado de pesquisas mais focadas e novas realizadas por
Saúde sem Dano e Arup para determinar o escopo, a
escala e o ritmo das ações viáveis.

Pegada 7000
projetada de
GEE do setor 6000 3
saúde por ano
(MMt CO2e)
5000

4000
4

3000

2000 1 5

1000 6
2
0
2014 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050

Figura 4. Representação do fluxo de trabalho da metodologia elaborada pela Saúde sem Dano
e Arup para o Roteiro. Os números referem-se às descrições das etapas de trabalho fornecidas
acima.

33
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Limitações e pressupostos

A metodologia incorpora os pressupostos e as lim-


Limitação ou
itações considerados apropriados para uma projeção pressuposto Descrição
de 36 anos de emissões de um setor global heterogê-
neo. Consulte o relatório técnico (Anexo A) para obter Trajetórias das As trajetórias de emissões apresentadas
uma lista mais completa e a discussão de limitações e emissões aqui representam caminhos de emissões
pressupostos. Um sumário é fornecido na Tabela 1. plausíveis. Elas são uma ilustração do
esforço exigido pelos países para reduzir
as emissões e atingir a cota alocada para
o setor saúde global. Deve-se enfatizar
Limitação ou
que estas não devem ser interpretadas
pressuposto Descrição
como previsões.
Estrutura estática A projeção é baseada em um modelo
Tendências de Os dados usados para projetar a
estático da economia de 2014; nenhuma
descarbonização descarbonização são bastante citados
mudança na estrutura da economia é
e respeitados na literatura. Essas
considerada. Trata-se, portanto, de uma
projeções são prognósticos e, como tal,
projeção, não de uma previsão, e é apenas
têm um grau de incerteza; no entanto,
uma de um número indeterminado de
elas representam os melhores e mais
possíveis futuros de emissões. Como tal,
abrangentes estudos disponíveis.
fornece apenas um guia de como o setor
pode descarbonizar em ritmo acelerado.
Ações de As ações de mitigação modeladas neste
descarbonização estudo não são exaustivas; por exemplo,
Crescimento O crescimento projetado do setor saúde
nenhuma mitigação das emissões diretas
consistente supõe que todas as partes do sistema
de resíduos, água e saneamento foi
crescem em uma taxa consistente dentro
modelada. As estimativas projetadas
de cada país.
de emissões evitadas são, portanto,
provavelmente subestimadas.
Limitações O modelo utiliza dados de gastos que se
entre o setor alinham à definição de saúde da OMS,
Efeito rebote Quando mudanças comportamentais e
saúde, varejo de que inclui atividades, como por exemplo
reduções de gastos são modeladas, o
insumos do setor a venda direta de medicamentos para
impacto dos gastos resultantes que foram
e organizações pessoas físicas por farmácias. O limite
evitados e potencialmente redirecionados
de saúde do setor como um todo difere, portanto,
para outras atividades sobre as emissões
daquele de um típico provedor nacional
não é considerado porque é muito complexo
de saúde, como por exemplo o NHS.
de modelar. Medidas políticas também
Esta não é uma limitação como tal, mas
podem ser consideradas para a limitação da
sim uma consideração importante ao
escala de qualquer efeito de rebote.
comparar os resultados deste estudo
com as pegadas organizacionais,
Mudança das O modelo não contabiliza a mudança
particularmente aquelas que cobrem as
demandas de das demandas de saúde (por exemplo,
emissões de escopo 3 do GHG Protocol.
saúde e base a mudança na distribuição de doenças
de custos da infecciosas) ou a mudança da base de
Produto O modelo assume uma única intensidade
crise climática custos de saúde (por conta de choques
homogêneo de emissões para o setor saúde. Essa
climáticos, seguros mais altos e climas
suposição vale para considerar o setor
extremos mais frequentes, por exemplo).
como um todo, mas deve ser reconhecida
quando se considera o impacto sobre as
emissões da reorganização dos gastos de
uma parte do sistema de saúde para outra.
Tabela 1. Sumário das limitações e dos pressupostos
da metodologia

34
3

Topografia
Compreendendo o panorama
de emissões do setor saúde
“ A saúde humana e as mudanças climáticas foram identificadas
como uma questão de alta prioridade para a Academia
Nacional de Medicina daqui para frente... A descarbonização
do setor saúde [é] um objetivo ambicioso e importante.”

Dr. Victor Dzau, Presidente da Academia Nacional de Medicina, Estados Unidos

35
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

A pegada climática da saúde: Green Paper One

Em setembro de 2019, Saúde sem Dano e Arup


publicaram o Green Paper One, que constatou que, 17%
Escopo 1
com base em dados de 2014, a pegada climática da
saúde equivale a 4,4% das emissões líquidas globais
(o equivalente a 2 gigatoneladas de dióxido de
carbono). O documento da Saúde sem Dano e Arup 12%
Escopo 2
foi construído, validado e recebeu contribuições de
um conjunto crescente de evidências de estudos
nacionais e internacionais sobre a contribuição da
saúde para a crise climática.30
71%
Escopo 3
O documento constatou que os três principais
emissores, os Estados Unidos, a China e coletivamente
os países da União Europeia, compõem mais da Figura 6. Pegada global do setor saúde dividida por
escopos do GHG Protocol.
metade da pegada climática de saúde mundial (56%).
Os 10 maiores emissores do setor saúde compõem
75% da pegada climática global dos cuidados de Fonte: Green Paper One.
saúde (Figura 5). O setor saúde dos Estados Unidos é
o emissor número um do mundo em termos absolutos
e per capita. Ele produz 57 vezes mais emissões por
pessoa do que a Índia. O Green Paper One também alinhou seus achados
com as categorias do GHG Protocol, estabelecendo
17% que 17% das emissões da saúde foram produzidas in
17% União Europeia situ (escopo 1), 12% eram de energia adquirida (escopo
China
5% Japão 2) e 71% provenientes de emissões indiretas (escopo
3) incluindo a cadeia de suprimentos global (Figura
4% Rússia
6.). Em geral, e em todos os países, o artigo constatou
2% Brasil
2% Coréia do Sul que o consumo de combustíveis fósseis está no centro
2% Índia das emissões da área da saúde porque ele alimenta
2% Canadá
27% 2% Austrália a energia, as fábricas e o transporte de operações e
Estados produtos de saúde.
Unidos
25%
All other nations Uma perspectiva adicional a esse respeito é
resumida na Figura 7, onde os setores de produtos do
componente de escopo 3 são definidos.
Figura 5. Os dez principais emissores e todos os outros
países e sua porcentagem da pegada global do setor saúde.

Fonte: Green Paper One.

36
Categorias do Categorias WIOD
escopo GHG
Protocol
13% Emissões operacionais do setor
Escopo 1
saúde
17%

7% Transporte

Escopo 3
71% 11% Outras manufaturas

9% Agricultura

8% Outros setores e serviços

5% Produtos químicos e farmacêuticos

3% Tratamento de resíduos
3% Outras indústrias primárias
1.3% Produtos de borracha e plástico
0.2% Computadores, eletrônicos e
equipamentos óticos

40% Distribuição de eletricidade, gás,


aquecimento ou resfriamento

Escopo 2
12%

Figura 7. Emissões globais do setor saúde apresentedas


no Green Paper One divididas por setor produtivo e por
categoria de escopo.

37
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Resultados da análise de caminho estrutural

O Green Paper One apresentou dados do escopo 3 Escopo 1


com granularidade limitada e descrições das categorias 17.5%
setoriais mostradas na Figura 7 que não correspondem Escopo 2
exatamente às categorizações mais familiares aos 12.6%
tomadores de decisões da área da saúde. Serviços corporativos
10.7%
Este Roteiro aborda esse problema usando uma Construção

técnica chamada Análise de Caminho Estrutural para 5.6%


Eletricidade (Escopo 3)
apresentar os dados de forma mais útil e impactante.
5.1%
A SPA é uma abordagem avançada de modelagem de
Alimentação, refeições e hospedagem
insumo-produtoiii. Uma descrição completa do método
7.2%
dos resultados pode ser encontrada no Anexo A.
Combustíveis fósseis (carvão e petróleo)
2.5%
Os resultados do Green Paper One foram modelados Tecnologias de informação e comunicação
por meio de uma SPA. Isso gerou produtos mais 1.0%
familiares e práticos para os envolvidos em políticas de Combustíveis manufaturados, químicos e gases
saúde, compras e gestão da cadeia de suprimentos. 5.2%
A Figura 8 mostra uma perspectiva da produção de Equipamentos e instrumentos médicos
SPA, a significância das emissões de escopo 3 da 3.3%
cadeia de suprimentos e a variação da distribuição em Outros produtos manufaturados
muitas categorias diferentes. Destacam-se os serviços 6.8%
corporativos, o setor alimentício, a construção civil e Produtos de papel

os produtos farmacêuticos, cada um com um aumento 1.2%


Produtos farmacêuticos
entre 5% e 12% da pegada climática da saúde. A Figura
12.0%
9 mostra as mesmas emissões através das categorias
Transporte
do GHG Protocol.
4.5%
Resíduos, água e saneamento
A implementação da SPA permitiu que esses 2.4%
resultados fossem aplicados no Roteiro para informar Outras aquisições Escopo 1
Escopo 2
caminhos futuros e ações de alto nível essenciais para 2.4% Escopo 3
a descarbonização do setor saúde. Os achados do
Green Paper One, juntamente com a SPA, formam a Figura 8. Pegada global de emissões do setor saúde por
análise fundamental, ou a topografia na qual se baseia categorias da cadeia de suprimentos.
o Roteiro.

iii A análise de insumo-produto prevê emissões por meio da associação de dados de despesas com a intensidade de emissões por unidade
de gastos para setores da economia. Para prever o futuro crescimento das emissões, as mudanças previstas nos gastos com saúde têm sido
utilizadas, pois esses dados são diretamente compatíveis com a metodologia do modelo de insumo-produto, que é introduzida no seguinte
artigo: Kitzes J. An Introduction to Environmentally-Extended Input-Output Analysis. Resources. 2013; 2(4):489-503. https://doi.org/10.3390/re-
sources2040489

38
Escopo 1
17.5%
Escopo 2
12.6%
Bens e serviços adquiridos
43.3%
Bens de capital
12.5%
Atividades relacionadas a combustível e energia
7.6%
Transporte, distribuição e viagens de negócios
4.6%
Resíduos gerados em operações Escopo 1
Escopo 2
1.8% Escopo 3

Figura 9. Pegada global de emissões do setor saúde por


categorias e subcategorias da cadeia de suprimentos do
GHG Protocol

39
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Ampliando a cobertura de cada país

Os 43 países tratados em detalhe no modelo de


insumo-produto da WIOD tendem a apresentar renda Para manter a temperatura
mais alta. Outros estudos, utilizando diferentes fontes global em 1,5 graus e alcançar
de dados e metodologias, forneceram estimativas para
outras nações. Um desses estudos, de Lenzen et al.31, a ambição do Acordo de
produziu uma pegada do setor saúde global com base
no Eora, um modelo de insumo-produto diferente, e
Paris, as nações do mundo
forneceu a pegada do setor saúde para um grupo de concordaram que todos os
países complementares àqueles presentes na WIOD.
países devem agir.
A partir do trabalho de Lenzen et al., 25 pegadas
nacionais adicionais foram incluídas neste estudo,
ampliando assim o número de países de baixa e média
renda perfilados. Os países adicionais são mostrados
na Tabela 3, e todos os perfis estão incluídos nas fichas
dos países no Anexo C. A integração dessas pegadas
publicadas para mais 25 países permite que o Roteiro
seja mais abrangente do que o Green Paper One.

Estas pegadas foram determinadas com uma


metodologia diferente (Eora), utilizando uma fonte
diferente para as despesas do setor saúde; as
definições do setor e as atividades cobertas têm
delimitações diferentes daquelas no modelo baseado
na WIOD. As projeções de metas e o crescimento
antecipado das despesas ajudaram a estabelecer o
cenário de operação usual e as trajetórias-alvo para as
pegadas nacionais adicionais. Entretanto, a estrutura
da pegada do setor saúde para estes países não
estava disponível. Em vez disso, a escala potencial de
redução de emissões para estes países foi estimada
usando as reduções médias globais derivadas do
modelo WIOD. Estas estimativas são mostradas para
destacar a potencial economia se estes sistemas da
saúde descarbonizassem de acordo com a média
global e, portanto, não capturam a variabilidade
esperada associada ao contexto nacional. É
recomendado que estes países investiguem ainda
mais a pegada do seu sistema nacional de saúde e
seu potencial de descarbonização para capturar o
contexto nacional com mais detalhes.

40
4

Trajetórias
Atravessando um futuro incerto

“Nunca antes na história da humanidade fomos tão


avisados de um destino condenado. Mas nunca antes
na história da humanidade estivemos tão armados com
o conhecimento e as ferramentas para alterar o curso
deste destino.”

Dr. K. Srinath Reddy, Presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia

41
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

A lacuna de emissões globais

Se o mundo continuar em seu caminho atual, as embarcar em uma direção diferente se quisermos
emissões de gases de efeito estufa aumentarão evitar a catástrofe climática.32
inexoravelmente e estimularão o aquecimento global
além de 4 graus Celsius durante este século. As Sob o Acordo de Paris, os governos de todo o
ramificações de tal aumento de temperatura são mundo comprometeram-se a alterar suas trajetórias
difíceis de contemplar, mas essencialmente levariam de emissões para estabilizar a mudança climática
a inundações costeiras massivas, fome, extinção global. No entanto, quando todos os compromissos
generalizada de espécies, aumento do potencial para governamentais no âmbito do Acordo de Paris,
pandemias devastadoras e grandes áreas do planeta conhecidos como Contribuições Nacionalmente
se tornariam inabitáveis para humanos, acompanhadas Determinadas (NDCs), são somados (e muitas dessas
por migração massiva. promessas não estão sendo cumpridas), ainda há
o que o Programa das Nações Unidas para o Meio
Esses fenômenos levariam inevitavelmente a uma Ambiente (PNUMA) chama de “lacuna de emissões
série de impactos sociais, incluindo o profundo alarmantemente alta” entre a ambição do acordo de
enfraquecimento da infraestrutura de saúde, o estabilizar o aumento das temperaturas globais em ou
potencial colapso de alguns sistemas de saúde e abaixo de 1,5°C, e o que os governos prometeram por
uma carga crescente de doenças em grande parte meio de suas NDCs (Figura 10). Reconhecendo essa
da população mundial. Embora essas mudanças lacuna, o PNUMA expressou “uma necessidade urgente
extremas possam não se manifestar por alguns anos, de ação acelerada de curto prazo e maior ambição
já estamos vendo seus precursores e temos apenas nacional de longo prazo para que os objetivos do
uma década para mudar de curso e realmente Acordo de Paris permaneçam alcançáveis".33

Emissões de 200
GEE
(Gt CO2e/ano)

150
Linha de base 4,1 - 4,8 graus Celsius

100

50
Políticas atuais 2,7 - 3,1 graus Celsius
Linha histórica Promessas e metas 2,4 - 2,7 graus Celsius
2 graus Celsius consistente 1,6 - 1,7 graus Celsius
0
1,5 graus Celsius consistente 1.3 graus Celsius

-50
1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060 2070 2080 2090 2100

Figura 10. Projeções de aquecimento para 2100 – emissões e aquecimento esperado com
base em promessas e políticas atuais; Fonte: Climate Action Tracker, Setembro de 2020.
Disponível em: https://climateactiontracker.org/global/temperatures/.

42
Cenários de descarbonização

À medida que os impactos das mudanças climáticas Fechar a lacuna entre o ponto para onde o atual
aumentam em todo o mundo, muitos governos conjunto de compromissos nos leva e onde
nacionais estão de fato acelerando a ação, incluindo o precisamos estar para estabilizar o equilíbrio
desenvolvimento de NDCs aprimoradas antes da COP climático global significa que precisamos transformar
26 em Glasgow para ajudar a implementar o Acordo de e descarbonizar fundamentalmente a economia
Paris. Esses compromissos nacionais, alguns dos quais mundial, particularmente no domínio da energia. A
são promessas de emissões líquidas zero até ou por Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês)
volta de 2050, podem ajudar a fechar parte da lacuna, estabeleceu dois cenários para a descarbonização de
mas não serão suficientes. O PNUMA aponta que a sistemas de tecnologia e energia que usamos como
ação de atores subnacionais e não-estatais, incluindo marcadores-chave neste Roteiro.
governos e empresas regionais e locais, também é
fundamental para aumentar as ambições futuras. O primeiro é o Cenário de Tecnologia de Referência
(RTS, sigla em inglês), que fornece um cenário de linha
Ao traçar uma rota para a descarbonização, o setor de base que leva em consideração os compromissos
saúde, responsável por mais de 4,4% das emissões existentes de energia e clima dos países, incluindo
globais líquidas, pode desempenhar um importante NDCs prometidas sob o Acordo de Paris.
papel de liderança nesse esforço, ao mesmo tempo
em que alavanca sua força ética e se soma a outros O segundo é o Cenário Abaixo de 2°C (B2DS,
setores da sociedade. sigla em inglês), que estabelece um caminho de
descarbonização rápido, em linha com os objetivos
da política internacional. O B2DS analisa até onde as
tecnologias de energia limpa conhecidas poderiam
ir se levadas até seus limites práticos, alinhadas à

GtCO2 40 Agricultura
35
Instalações
Indústria
30 Transporte
Energia
25
Outras transformações
20

15

10

-5
2014 2020 2030 2040 2050 2060

Figura 11. Cenário Além de 2 graus da IEA apresentando queda acentuada nas emissões de
CO2 do uso e geração de energia.35

43
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

ambição do Acordo de Paris. O cenário apresenta um


rápido declínio nas emissões de GEE da geração e
uso de energia (Figura 11).34

O B2DS é um cenário altamente ambicioso,


apresentando uma adoção agressiva de alternativas
de baixo carbono ou emissões zero em toda a
economia global. É o que usamos neste Roteiro
como um cenário-chave, essencial para alcançar a
descarbonização dos serviços de saúde.
Conforme discutido ao longo deste documento,
enquanto o setor saúde precisa transformar a
forma como fornece assistência à saúde e serviços
de saúde, também será essencial para este
setor participar e ajudar a acelerar esta profunda
transformação energética a fim de reduzir suas
próprias emissões, além de proteger mais amplamente
a saúde pública das mudanças climáticas.

Os sistemas de saúde de
todos os países devem
descarbonizar ao mesmo
tempo que cumprem as
metas globais de saúde –
são dois objetivos que se
reforçam mutuamente.

44
Três cenários globais de descarbonização do setor saúde

Este Roteiro estabelece uma linha de base da por exemplo, ocorreu entre 2000 e 2014 em muitos
operação usual (BAU) e um conjunto de três cenários países europeus, onde a pegada de saúde diminuiu
potenciais para a redução das emissões climáticas à medida que os gastos do setor aumentaram, e
globais do setor saúde de 2014 a 2050. Tais cenários em vários outros países, como Estados Unidos,
mostram as correções de curso que o setor precisará Canadá, Austrália, Coreia do Sul e Japão, onde houve
fazer para se alinhar com a ambição do Acordo de desaceleração em relação ao crescimento.36
Paris e atingir emissões zero até 2050.
Atualmente, a maioria dos governos ainda não está
Esses cenários são baseados na pegada climática no caminho certo para cumprir os compromissos do
da saúde de 2014, estabelecida no Green Paper Acordo de Paris. Assim, a linha de base de Operação
One, juntamente com as projeções de crescimento Usual ainda é um lembrete importante da trajetória de
dos gastos com saúde de 2014 a 2050, conforme crescimento das emissões do setor saúde quando os
projetado pelo IHME. Essa previsão estabelece a linha esforços para descarbonizar não são ampliados. Ela
de base e a base para os três cenários explicados deve servir como um estímulo à sensatez para que
abaixo e mapeados na Figura 12. o setor defenda que os países cumpram e excedam
seus compromissos do Acordo de Paris.
Caso de referência: Operação usual
Operação usual não pressupõe nenhuma mudança
Cenário de tecnologia de referência:
na matriz energética de 2014 em diante. Os gastos Cumprindo os compromissos
globais com saúde cresceriam em mais de US$ 10 climáticos dos países
trilhões em 2030 e US$ 15 trilhões em 2050. Neste
cenário de operação usual, a linha vermelha na O primeiro cenário é baseado no RTS da IEA discutido
Figura 12 estima que, sem ação climática, as emissões na seção acima. O RTS pressupõe que os países
globais per capita da saúde dobrariam e mais do que cumprirão todos os compromissos e metas que
triplicariam em termos absolutos, chegando a mais de estabeleceram como parte de suas NDCs para o
6 gigatoneladas anualmente. Acordo de Paris até 2017. Ele então modela as reduções
de emissões alcançadas em toda a economia global
Embora demonstre o perigo da inação, o cenário e as aplica à pegada climática da saúde por meio da
de operação usual certamente não será o caso. modelagem de insumo-produto. A IEA não considera
A matriz energética mundial já está começando a o setor agrícola. Aumentamos o RTS considerando a
se afastar dos combustíveis fósseis em direção a descarbonização da agricultura em Popp et al.37, um
energias limpas e renováveis. Enquanto os sistemas estudo que descreve a redução de emissões originada
de energia dos países descarbonizam, tem sido de possíveis mudanças no uso da terra.iv
demonstrado que o crescimento da pegada climática
da saúde diminui ou até se reverte em relação ao
rescimento dos gastos com saúde. Essa dissociação,

iv Popp et al. usam uma interpretação sistemática dos Caminhos Socioeconômicos Compartilhados (SSPs, sigla em inglês) para, pela primeira
vez, considerar possíveis mudanças no uso da terra e suas consequências para o sistema agrícola e para as emissões de gases de efeito
estufa. As mudanças no sistema que eles consideram estão resumidas no Anexo A. A mudança na intensidade das emissões decorrente des-
sas mudanças, alinhadas ao SSP2, são representadas no modelo de insumo-produto da mesma forma que os dados da IEA; neste artigo, as
referências ao cenário RTS incluem considerações sobre a descarbonização da agricultura.

45
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

No cenário RTS, a linha verde na Figura 12 (diferença Cenário abaixo de 2 graus:


entre as linhas verde e roxa na Figura 12), até 2050, Acelerando a ação climática
as emissões anuais da saúde serão reduzidas em
3,2 gigatoneladas, ou 53% da trajetória BAU se O B2DS é o cenário altamente ambicioso da IEA
os países puderem realmente cumprir as metas e que leva os impactos das emissões para bem
compromissos que já estabeleceram. No entanto, abaixo de 2 graus Celsius. Ele contempla uma
dadas as tendências de crescimento no setor, a profunda descarbonização da produção e uso de
pegada climática global anual da saúde ainda seria energia. Semelhante ao RTS, a redução de emissões
40% maior em 2050 do que era em 2014, somando potencialmente alcançada sob o B2DS em toda a
2,8 gigatoneladas de emissões de carbono a cada economia global é aplicada à pegada climática da
ano, o equivalente às emissões anuais de 719 usinas saúde por meio da modelagem de insumo-produto.v
movidas a carvão.
Há uma diferença significativa entre RTS e B2DS
(diferença entre as linhas verde e roxa na Figura 12)
que impactaria positivamente a pegada climática dos
cuidados de saúde. Estimamos que atingir o cenário
B2DS de descarbonização do sistema de energia
eliminaria dois terços da pegada climática global da
saúde até 2050.

Emissões per 0,7 Operação usual (BAU)


capita do setor Compromissos existentes de
saúde gloval
0,62
0,6 redução de emissões na economia
(CO2e) em geral (RTS)
0,5 Descarbonização ambiciosa da
economia em geral (B2DS)
0,4
Trajetória-alvo

0,3 0,29

0,2 0,21

0,1

0,02
0
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050

Figura 12. Projeções de emissões globais per capita da saúde sem ações – operação usual
(crescimento na demanda), cumprimento dos compromissos do Acordo de Paris firmados até 2017
(RTS), descarbonização ambiciosa da economia em geral (B2DS) e profunda descarbonização na
saúde (trajetória-alvo: inclui os três caminhos, sete ações de alto impacto e território inexplorado
discutido no Capítulo 6).

v Mudanças adicionais no setor agrícola não foram consideradas para o B2DS, apresentando mais uma oportunidade de ação na cadeia de su-
primentos ao abordar as emissões da agricultura que contribuiriam para a redução das emissões de saúde.
46
Este resultado positivo exigiria a adoção de NDCs de 500 usinas termelétricas a carvão. Sem ações
aprimoradas com compromissos de mitigação adicionais, os serviços de saúde continuarão a ser
significativamente mais ambiciosos em cada ciclo um grande poluidor do clima, constituindo talvez
de atualização de cinco anos, bem como sua uma porção maior das emissões globais.
implementação total por todas as partes do Acordo de
Paris. Também seria exigido que atores não estatais – Assumir suas emissões climáticas (que podem ser
empresas, governo local, sociedade civil e setor saúde vistas na diferença entre as linhas verde e roxa e a
– conduzissem essa profunda transformação dos linha amarela levando a emissões zero na Figura 12)
sistemas de energia da sociedade. exigirá que o setor saúde tome uma série de ações
para reduzir as emissões de suas operações e de sua
Na verdade, o setor saúde não pode simplesmente cadeia de suprimentos, enquanto transforma a forma
"relaxar" e ser um mero passageiro dessas trajetórias como a saúde e os serviços de saúde são prestados
para a descarbonização. Em vez disso, para alcançá- para prevenir doenças e reinventar a assistência.
las, como líder social e uma parte importante da
economia global, deve desempenhar um papel O setor saúde enfrenta uma tarefa tripla. Estabelecer
central na aceleração e implementação de RTS e uma trajetória para emissões zero exigirá ações
B2DS, descarbonizando a energia incorporada em simultâneas para descarbonizar a entrega, as
seus produtos e gasta em suas próprias operações e instalações e as operações, para descarbonizar
cadeias de suprimentos. Para descarbonizar, o setor sua cadeia de abastecimento global e para ajudar
saúde também deve defender mudanças sociais a liderar a aceleração de uma transformação social
mais amplas – mudança de políticas e transformação e econômica mais amplas. Como o setor pode
tecnológica – tanto de sua posição dentro do governo trilhar simultaneamente esses três caminhos para a
quanto de sua posição externa, colaborando com descarbonização é o assunto do Capítulo 6 deste
outros setores para pressionar por essa mudança. Roteiro: “Traçando um plano para emissões zero na
área da saúde.”

Cenário de 1,5 graus, com emissões


zero pelo setor saúde
Dado o crescimento global projetado para a
saúde, mesmo se o mundo atingisse a profunda
descarbonização prevista no cenário B2DS, a
pegada climática da saúde ainda seria significativa.
Na verdade, em um cenário B2DS, embora
parassem de crescer, as emissões climáticas da
saúde seriam quase as mesmas em 2050 e em
2014. A menos que o setor tome medidas para
reduzir sua própria pegada em suas operações
e cadeia de suprimentos, as emissões anuais da
saúde ainda seriam de quase 1,9 gigatoneladas de
CO2e em 2050, o equivalente às emissões de cerca

47
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Descarbonizando em um mundo desigual: Quatro tipos de


trajetórias para países com emissões zero no setor saúde

Para manter as mudanças climáticas em 1,5°C e de referência do Green Paper One) e 2050 para
alcançar as ambições do Acordo de Paris, as nações descarbonizar ao longo de um caminho de 1,5 graus.
do mundo concordaram que todos os países devem A cota permitiria que o setor atendesse às ambições
entrar em ação. Conclui-se que todos os sistemas do Acordo de Paris, linha verde na Figura 12, limitando
de saúde em todos os países devem fazer parte suas emissões a 50,3 gigatoneladas de CO2e ao
desse esforço, descarbonizando seus sistemas e, longo deste período de 36 anos.
simultaneamente, esforçando-se para cumprir as
metas globais de saúde – dois objetivos que se Outra forma de ver essa questão é que a média global
reforçam mutuamente. de emissões de saúde em 2014 foi de 0,27 toneladas
de CO2e per capita (2 gigatoneladas de emissões
Esta parte do Roteiro estabelece quatro diferentes anuais absolutas). Para alcançar o alinhamento com
trajetórias de descarbonização para o setor saúde a ambição de Paris de 1,5°C, os serviços de saúde
e atribui cada país a uma delas, levando em precisam permanecer dentro desta cota de 36 anos,
consideração a responsabilidade comum, mas totalizando 50,3 gigatoneladas de CO2e (Tabela 2),
diferenciada, dos países pelas emissões de GEE com enquanto reduzem as emissões globais per capita
base em seus níveis de desenvolvimento econômico, para 0,05 toneladas de CO2e por ano até 2050 (ver
seu produto interno bruto e vias de desenvolvimento Figura 12).
do setor saúde.
Cenário de 1,5
Essas trajetórias diferem com base em níveis de graus Celsius
desenvolvimento profundamente díspares entre os
Cota de emissões cumulativas
países. No entanto, para alcançar a descarbonização
restantes para o setor saúde de
do setor saúde global, todos os países, embora em 50,3
2015 a 2050 (GtCO2e)
trajetórias diferentes, precisam agir agora para definir
um plano para chegar a emissões zero até 2050.
Tabela 2. As emissões globais do setor saúde
Todos os sistemas de saúde, públicos e privados,
devem agir de forma completa e contínua. Todos os
fornecedores e fabricantes precisam descarbonizar.
Os profissionais de saúde e suas organizações, Responsabilidades comuns, porém
acadêmicos e agências internacionais precisam diferenciadas e considerando as
desempenhar um papel para tornar a ação climática
respectivas capacidades
um pilar central das agendas de saúde locais,
nacionais e globais.
A crise climática está evoluindo em um mundo
profundamente desigual. Além dos impactos das
Uma cota global de emissões do mudanças climáticas na saúde serem muito mais
setor saúde graves em países e comunidades de baixa renda,
um punhado de sistemas de saúde de países ricos
Este Roteiro estabelece uma cota global de emissões emite substancialmente mais gases de efeito estufa
dos serviços de saúde. Ela quantifica a quantidade do que todos os outros, especialmente em uma base
total que todas as instituições de saúde no mundo per capita e, portanto, têm uma responsabilidade
podem emitir coletivamente entre 2014 (o ano descomunal pelo problema. Ao mesmo tempo, muitos

48
países de renda baixa e média precisam desenvolver países abrigam simultaneamente hospitais e unidades
extensivamente seus sistemas de saúde – incluindo o de saúde altamente desenvolvidos que são grandes
fornecimento de eletricidade às instalações de saúde consumidores de recursos, e também sistemas de
sem acesso à rede – para atender à demanda por saúde com recursos extremamente escassos, que
serviços básicos de saúde. lutam para fornecer serviços básicos. Traçar um plano
em direção a emissões zero pode e deve ser uma
Para complicar ainda mais as coisas, muitos países ação planejada para lidar com essas desigualdades
têm disparidades internas de saúde que refletem entre as nações e dentro delas.
a desigualdade dentro de uma sociedade. Muitos

Maiores emissores: Emissores importantes: Emissores acima da Emissores abaixo da Desconhecidos


(mais de 1t per capita) (entre 0,50t média: (entre a média média
e 1t per capita) global de 0,28t e 0,50t
per capita)

Austrália Áustria Bulgária Brasil RoW


Canadá Bélgica Chipre China
Suíça Dinamarca República Tcheca Croácia
Estados Unidos Estônia França Hungria
Finlândia Grécia Índia
Alemanha Itália Indonésia
Irlanda Malta Letônia
Japão Polônia Lituânia
Coreia Portugal México
Luxemburgo Eslovênia Romênia
Países Baixos Espanha Eslováquia
Noruega Suécia Turquia
Rússia União Europeia
Taiwan
Reino Unido

Países adicionais

Singapura Irã Argentina Colômbia


Israel Chile Equador
Nova Zelândia Cazaquistão Geórgia
Uruguai Kuwait Quênia
Ilhas Maurício Quirquistão
Macedônia do Norte Malásia
África do Sul Paraguai
Peru
Filipinas
Tailândia
Ucrânia
Uzbequistão
Vietnã

Tabela 3. Emissões do setor saúde per capita por país.

49
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

As emissões per capita são uma métrica importante baixa gastaram menos com saúde e aqueles com
para entender as diferenças e forjar soluções para as a pegada maior gastaram consideravelmente mais.
mudanças climáticas com base em equidade (a Tabela Por exemplo, em média, os países de baixa renda
3 fornece uma análise das emissões per capita dos 68 gastaram US$ 120 per capita em saúde em 2014; os
países para os quais este Roteiro possui dados). países de renda média baixa e média alta gastaram
US$ 267 e US$ 914 per capita, respectivamente, e os
Por exemplo, o Green Paper One descobriu que países de renda alta gastaram US$ 5.221 per capita. O
a Índia, que tem a sétima maior pegada climática IHME prevê que os gastos per capita futuros deverão
absoluta do setor saúde no mundo (39 Mt CO2e), tem crescer mais nos países de renda alta e média.39 A
as menores emissões per capita relacionadas à saúde Figura 13 mostra as disparidades nos gastos com
(0,03 toneladas métricas) de todos os 43 países no saúde entre os países.
estudo da WIOD (inferior à meta de 0,07). Enquanto
isso, o setor saúde dos Estados Unidos, o emissor
número um do mundo em termos absolutos e per
capita (546 Mt absolutos; 1,72 toneladas métricas per 100

Porcentagem do total
capita), produz 57 vezes mais emissões por pessoa
do que a Índia. Outros emissores importantes do setor
80
saúde, como Austrália, Canadá e Suíça, emitem entre
30 e 50 vezes mais per capita do que a Índia.
60
A China, número dois em termos de emissões
absolutas do setor saúde, tem emissões per capita
40
(0,25 t) que ficam um pouco abaixo da média mundial
(0,28 t). Essa taxa de emissões significa que o setor
saúde da China produz seis vezes mais gases de 20
efeito estufa por pessoa do que o da Índia. Ao mesmo
tempo, o sistema de saúde da China emite um sétimo
0
dos gases de efeito estufa per capita em comparação
Gastos com População Anos de vida
aos Estados Unidos, um terço em comparação saúde ajustados por
à Coreia e pouco menos da metade per capita incapacidade
Países de alta renda
comparado à União Europeia.38
Países de renda média alta
Países de renda média baixa
O impacto descomunal dos grandes emissores da Países de baixa-renda
saúde é um reflexo de como esses sistemas de saúde
são estruturados – os processos e tecnologias com Figura 13. Gastos com saúde, população e anos de vida
uso intensivo de recursos para prestar assistência corrigidos por incapacidadevipelo grupo de renda do Banco
à saúde – e também das enormes desigualdades Mundial, 2017.40
globais nos gastos com saúde.
Os países com a pegada climática de saúde mais Fonte: Financial Global Health Database 2019 e estudo GBD 2017.

vi Um ano de vida corrigido por incapacidade representa a perda do equivalente a um ano de saúde plena e é considerado mais representativo
da carga de doenças do que as taxas de mortalidade.

50
O desafio é atingir a descarbonização global e, ao
mesmo tempo, atender às necessidades globais
de saúde no contexto de gastos globais altamente
distorcidos e necessidades e resultados de saúde
muito diferentes em várias partes do mundo. Nesse
contexto, é possível que as emissões precisem
continuar crescendo em alguns países de renda baixa
e média nos próximos anos, ao mesmo tempo em que
diminuem acentuadamente nas nações mais ricas. Ao
mesmo tempo, como todos os países traçam um plano
em direção a emissões zero, os gastos com saúde
precisam ser dissociados das emissões de gases de
efeito estufa.

A vasta desigualdade na responsabilidade pelas


emissões e, ao mesmo tempo, a responsabilidade
coletiva de tomar medidas climáticas é tratada na
CQNUMC e no Acordo de Paris sob o princípio
de "responsabilidades comuns, mas diferenciadas
e respectivas capacidades à luz das diferentes
circunstâncias nacionais.”41 O que isso significa na
prática é que os maiores poluidores per capita devem
descarbonizar mais e mais rápido que os outros. Os
emissores mais baixos também devem agir, mas em
um período de tempo diferente, que permita que os
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo
o ODS 3 – saúde e bem-estar para todos – sejam
cumpridos. Este Roteiro descreve quatro trajetórias
para o setor saúde se descarbonizar com base
neste princípio de responsabilidades comuns, mas
diferenciadas e respectivas capacidades.

Contração e Convergência
As quatro trajetórias do Roteiro são baseadas e
calculadas usando um modelo de “contração e
convergência.42 Este modelo faz uso da cota global de
emissões dos serviços de saúde e o divide entre os
quatro grupos de países mostrados na Tabela 4 com
base no PIB nacional. Ele estabelece trajetórias de
redução de emissões para cada grupo (contração) e,
em última análise, converge para um nível comum de

51
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Trajetória Descrição Ano de Tendência até Taxa de redução de


pico o ano de pico emissão

Queda acentuada Países devem iniciar imediatamente uma redução - - Acentuada


acentuada nas emissões per capita.

Queda constante Países devem iniciar imediatamente uma queda mais - - Constante
constante de suas emissões per capita em relação aos
países da queda acentuada.

Pico adiantado Países podem aumentar suas emissões até o ano de 2022 Linear Constante,
pico de 2022 antes de diminuí-las constantemente. queda constante

Pico tardio Países podem aumentar suas emissões até o ano de 2026 Linear Constante,
pico de 2026 antes de diminuí-las constantemente . queda constante

Tabela 4. Descrição e principais características das quatro trajetórias

emissões per capita para todos os setores de saúde a declinar suas emissões em 2026 ou logo depois.
que são compatíveis com o cenário de 1,5ºC. A Tabela Alcançar qualquer uma dessas trajetórias exigirá
4 lista os países atribuídos a cada trajetória. ação imediata de todos os sistemas de saúde para
começar a mudar em direção a emissões zero. Parte
Os tipos de trajetórias utilizados neste Roteiro dessa mudança pode ser o investimento dos sistemas
baseiam-se naqueles utilizados pelo grupo C40 Cities, de saúde em prontidão ou resiliência climática para
em colaboração com a Arup, para definir trajetórias preparar-se para a crescente crise climática e outras
e ações como parte de um roteiro para cidades emergências, como pandemias. Ao construir uma
produzido em 2019 com o objetivo de atingir os maior resiliência climática na área da saúde, os países
objetivos do Acordo de Paris.43 podem muitas vezes implementar estratégias de
baixo carbono, como oferecer eletricidade a serviços
Como mostram a Figura 14 e a Figura 15, as trajetórias de saúde em ambientes sem acesso ou instáveis,
do Roteiro exigem uma queda acentuada ou constante conduzindo na direção de um caminho de emissões
das emissões dos setores de saúde mais ricos e mais zero (ver box: “resiliência climática dos serviços de
poluentes, enquanto abrem espaço para um aumento saúde” e Figura 1).
nas emissões que atingem o pico entre agora e o final
desta década. Com isso, obtém-se maior equidade, Para os países ricos atribuídos à curva de queda
crescimento do setor saúde e desenvolvimento nos acentuada na Figura 14 e Figura 15, como os Estados
setores de saúde de países de renda baixa e média. A Unidos, Austrália e Alemanha, as emissões per capita
alocação das trajetórias entre os países está resumida são modeladas para reduzir de uma média de 1,1
na Tabela 5. tCO2e per capita por ano para emissões zero no
final dos anos 2040. Esta curva de queda acentuada
É importante ressaltar que, embora a queda acentuada se alinha com o plano Net Zero do NHS publicado
e o pico tardio sejam trajetórias muito diferentes, recentemente, que pretende atingir emissões zero
mesmo os países do pico tardio precisarão começar entre 2045 e 2047.

52
Emissões 0,9 Queda acentuada
líquidas anuais Pico adiantado
0,8
[GtCO2e/ano] Pico tardio
0,7 Queda constante

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050

Figura 14. Quatro trajetórias de descarbonização - emissões absolutas.

Emissões 1,4 Queda acentuada


líquidas anuais Queda constante
per capita 1,2 Pico adiantado
[tCO2e/capita/ Pico tardio
ano] 1,0 Média

0,8

0,6

0,4

0,2

0
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050

Figura 15. Quatro trajetórias de descarbonização – emissões anuais per capita.

53
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Ao mesmo tempo, para países de baixa e média


renda, como Índia e Indonésia, que estão alocados
no pico tardio, na Figura 14 e Figura 15, as emissões
per capita crescerão de uma média de 0,11 tCO2e per
capita por ano em 2014 para um pico de 0,13 tCO2e
per capita por ano em 2026, antes de reduzirem
para 0,1 tCO2e per capita por ano até 2050. Mesmo
com esse crescimento de emissões estimado, será
necessário que os países de pico adiantado e tardio
dissociem o crescimento previsto em gastos com
saúde e desenvolvimento de sua intensidade de
carbono atual, a fim de definir sua trajetória para
chegar a emissões zero.

Queda acentuada Queda constante Pico adiantado Pico tardio

Austrália Chipre Brasil Índia


Áustria República Tcheca Bulgária Indonésia
Bélgica Estônia China Geórgia
Canadá Grécia Croácia Quênia
Dinamarca Coreia Hungria Quirguistão
Finlândia Letônia México Filipinas
França Lituânia Polônia Ucrânia
Alemanha Malta Romênia Uzbequistão
Irlanda Portugal Rússia Vietnã
Itália Eslováquia Turquia RoW
Japão Eslovênia Argentina
Luxemburgo Espanha Chile
Países Baixos Taiwan Colômbia
Noruega Israel Equador
Suécia Irã
Suíça Cazaquistão
Reino Unido Malásia
Estados Unidos Ilhas Maurício
Kuwait Macedônia do Norte
Nova Zelância Paraguai
Singapura Peru
África do Sul
Tailândia
Uruguai

Tabela 5. Alocação de países às quatro trajetórias de contração e convergência. Países


adicionados do trabalho de Lenzen et al. são mostrados em itálico.

54
DEFININDO TERMOS: 1,5 GRAUS, EMISSÕES
ZERO, ZERO LÍQUIDO E NEUTRALIDADE DE
CARBONO

1,5 graus: Este roteiro traça um plano para emissões


zero, utilizando as projeções globais do IPCC
para um mundo compatível com 1,5 graus Celsius.
Isso sugere que as emissões globais devem
chegar perto de zero até 2050. A modelagem
para este relatório estabelece uma cota global de
emissões do setor saúde e apresenta uma trajetória
de descarbonização até 2050. Essa trajetória
corresponde à redução total de emissões necessária
para que o setor faça sua parte ao contribuir para a
possibilidade de limitar o aumento da temperatura
global a 1,5ºC ou menos.

Garantir a rápida descarbonização entre agora e


2030 deve ser o foco imediato dos serviços de saúde
para contribuir com a meta de 1,5ºC. Os esforços que
fazemos hoje e nos próximos 10 anos determinarão
aonde chegará o setor saúde nas décadas seguintes.
Dependendo do nível da ação agora, a dimensão das
emissões futuras dos serviços de saúde poderia variar
consideravelmente. Minimizar as emissões o mais
rápido possível agora reduzirá o risco de mudanças
climáticas perigosas e diminuirá a necessidade de
ações mais drásticas no futuro. 

Emissões zero significa exatamente isso. É o ponto


em que uma entidade não produz emissões de CO2
e é totalmente livre de emissões, sem quaisquer
mecanismos de compensação (por exemplo, offsets).
Esse deveria ser o objetivo final da descarbonização.
A maioria dos setores só tem probabilidade de
alcançar isso com o tempo, com investimentos
significativos, inovação e pesquisa tecnológica.  
 

55
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Zero líquido e neutralidade de carbono são


termos usados para marcar o ponto em que uma
entidade alcançou um equilíbrio entre seus esforços
de redução de emissões e a compensação de
emissões remanescentes ou residuais por meio de
atividades de remoção de emissões (por exemplo,
esforços de reflorestamento ou captura de carbono)
e/ou compra de uma quantidade equivalente de
compensações. Muitos esquemas de compensação
são altamente questionáveis em sua eficácia para
alcançar a redução absoluta de emissões, ao mesmo
tempo que levantam uma série de questões éticas.
Ainda assim, o termo zero líquido é frequentemente
preferido à neutralidade de carbono porque é mais
rigoroso e cobre um escopo mais amplo de emissões
de GEE. Ele aponta para um ritmo mais rápido de
descarbonização em todos os escopos e considera
apenas os mecanismos de compensação para
emissões que são particularmente difíceis de mitigar,
apesar de todas as intervenções, investimentos e
enfoque direcionados.

Prevê-se que as emissões residuais nos cuidados de


saúde diminuam ao longo do tempo à medida que
outros setores inovem e descarbonizem, tornando as
tecnologias e suprimentos alternativos amplamente
disponíveis e o próprio setor saúde usa sua influência
política e poder de compra para mover mercados
e promover a inovação. A modelagem para este
relatório estima que, sem transformação adicional,
as emissões anuais de assistência médica ainda
ficarão em 1,1 gigatoneladas em 2050. Essa lacuna
de emissões de assistência à saúde precisará ser
minimizada nas próximas três décadas, aprofundando
a ação climática da assistência à saúde por meio
de inovação transformadora e/ou com mecanismos
de compensação equitativos e eficazes (consulte a
seção “Território Inexplorado”).

56
5

Traçando uma rota


em direção a emissões zero no setor saúde
“As instalações do setor saúde de todo o mundo emitem
CO2 …Isso talvez seja irônico – como profissionais da
área da saúde, nosso compromisso é 'primeiro, não
causar danos.' Locais de tratamento devem liderar o
caminho, e não contribuir para a carga de doenças.”

Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral da OMS

57
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Os setores de saúde dos países têm


responsabilidades comuns, mas diferenciadas, e
respectivas capacidades para chegar a emissões zero. 84%
Combustíveis
Os países de renda alta com sistemas de saúde com fósseis
altas emissões precisarão seguir trajetórias de queda
acentuada ou constante, enquanto os países de renda
média e baixa precisarão seguir as trajetórias de pico
adiantado ou tardio descritas no capítulo anterior.

Reconhecendo essas distinções, permanece o fato de


que todas as instituições de saúde, juntamente com 16%
os fornecedores e fabricantes do setor em todos os Combustíveis não
países, precisam atingir emissões zero até meados fósseis, incluindo
emissões de gado,
do século, se o setor saúde quiser fazer sua parte uso de fertilizantes,
globalmente para minimizar e reverter a crise climática. emissões da indústria
e uso farmacêutico
Essa transformação fundamental exigirá colaboração
e inovação maciça em todos os níveis de um enorme
Figura 16. Proporção da pegada de saúde atribuível aos
setor da sociedade que é ao mesmo tempo altamente combustíveis fósseis em 2014
globalizado e profundamente localizado, que
abrange as esferas pública e privada, que representa
10% do produto interno bruto mundial e que tem
recursos desiguais entre os países, o que beneficia
desigualmente as populações dentro e entre as Na verdade, além dos enormes esforços necessários
nações e atinge quase todas as pessoas do planeta. dentro do setor, a descarbonização dos serviços
de saúde está inextricavelmente interligada com a
Como disse Diarmid Campbell-Lendrum, chefe descarbonização da economia em geral. A mudança
da unidade de mudança climática da OMS, “Nós nos sistemas de saúde deve ocorrer em colaboração
realmente precisamos que o pensamento inteligente com outros setores da sociedade que devem percorrer
em relação ao clima seja uma parte integrante do um caminho semelhante. Por outro lado, a ação
planejamento e implementação do sistema de climática em outros setores pode dar contribuições
saúde. Para que isso aconteça, precisamos de importantes para a proteção da saúde pública.45
iniciativas apoiadas pelo governo cobrindo toda a
gama de funções do sistema de saúde, incluindo A transformação também deve ocorrer em conjunto
desenvolvimento de produtos de saúde, projeto com o cumprimento de uma série de prioridades
e gestão da cadeia de suprimentos e sistemas de interligadas de saúde, equidade e clima. Isso inclui:
informação de saúde. Também precisamos pensar manter e, em muitos casos, melhorar a qualidade
e agir intersetorialmente, algo que exigirá uma dos cuidados que os pacientes recebem, investir na
abordagem de todo o governo”44 prevenção de doenças e abordar os determinantes
sociais da saúde de modo a limitar a necessidade
de muitas intervenções de saúde, alcançar cobertura
universal de saúde, construir resiliência climática e
promover uma transição justa para área da saúde

58
em geral e outros trabalhadores. Atender a essas por 84% por cento de todas as emissões climáticas
prioridades constitui uma oportunidade para sistemas da saúde (Figura 16). As emissões da queima de
de saúde bem estabelecidos em nações mais ricas combustíveis fósseis também são o principal fator
empreenderem uma reforma de saúde transversal, de poluição do ar em exteriores, que, segundo a
enquanto países de baixa e média renda podem OMS, mata mais de 4 milhões de pessoas todos os
ter a oportunidade de estabelecer um novo modelo anos.46 Uma pesquisa recente usando métodos de
de desenvolvimento de sistema de saúde que não modelagem atualizados estimou que a mortalidade
repita os erros dos países de alta renda, mas, em vez da poluição por partículas finas que penetram no
disso, desenvolva soluções que funcionam nessas pulmão—from fossil fuel combustion alone—could
diferentes agendas. be more than double that figure, or 8.7 million
premature deaths in 2018.47 apenas da combustão de
A queima de combustíveis fósseis para fornecer combustível fóssil – poderia ser mais do que o dobro
energia, transporte e produtos para a saúde, bem registrado, ou 8,7 milhões de mortes prematuras em
como de produtos derivados de combustíveis fósseis, 2018. Independentemente do número específico,
como plásticos, são a fonte dominante de emissões a evidência é clara que, além da combustão de
para a saúde em todos os caminhos e áreas de ação. combustíveis fósseis ser o principal motor da mudança
A combustão de carvão, óleo e gás é responsável climática, a poluição do ar por estes combustíveis é

Pegada projetada 7000


de GEE do setor
saúde por ano 6000 Operação usual
(MMt CO2e)
5000 Progresso alinhado com os
compromissos governamentais
4000 de energia e clima até 2017

3000
Oportunidades adicionais de
descarbonização do setor saúde
2000
pelos três caminhos e sete ações
deste Roteiro
1000
Território inexplorado
0
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050

Figura 17. Área superior (azul) é o impacto projetado dos compromissos de NDCs até 2017 Progresso alinhado com os
na pegada global do setor saúde entre 2014 e 2050. Alcançar as NDCs proporcionará compromissos de NDC até 2017
uma redução cumulativa de 45,4 Gt CO2e nas emissões em comparação com o cenário de Caminho 1: Instalações e operações
operação usual. Prevê-se que as emissões restantes ao longo desse período atinjam 97,9 Caminho 2: cadeia de suprimentos
Gt, destacando a necessidade de ações mais ambiciosas sobre as emissões. A área do Caminho 3: Economia e sociedade
meio (três cores) é a redução projetada nas emissões do setor saúde para as três vias de em geral
descarbonização exploradas neste estudo entre 2014 e 2050. Esses caminhos assumem
um ponto de partida onde os compromissos globais da NDC até 2017 são cumpridos. A
área inferior é a lacuna de emissões estimada a partir da modelagem do Roteiro.

59
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

uma das maiores fontes de morbidade e mortalidade


no mundo hoje. A transição para energia 100% limpa,
renovável e saudável em instalações e operações
de saúde, na cadeia de abastecimento global e
na economia em geral, trará benefícios de saúde
imediatos com a redução da poluição por partículas,
ao mesmo tempo em que evita danos contínuos
causados por perturbações climáticas.

Com esse contexto em mente, identificamos três


caminhos de descarbonização inter-relacionados e
sobrepostos que o setor deve seguir para traçar um
plano em direção a emissões zero (Figura 17). Sete
ações de alto impacto estendem e conectam estes
caminhos (Figuras 18a e b). Para traçar um plano
para alcançar emissões zero, a saúde deve abordar
esses caminhos entrelaçados e simultaneamente
implementar as ações de alto impacto relacionadas.

Ao mesmo tempo, o Roteiro destaca que seguir


esses caminhos e realizar essas ações por si só
não é o suficiente para chegar a emissões zero. Ao
final da estrada, por assim dizer, está a “lacuna de
emissões” de um setor saúde letárgico que fica entre
ele e seu futuro descarbonizado (Figura 17, território
inexplorado). Essa lacuna representa a diferença
entre o que a saúde pode alcançar seguindo todos
os caminhos e implementando as sete ações de alto
impacto, e o que é necessário para chegar a zero.
Ela destaca a necessidade do setor saúde atuar com
urgência, para fomentar mais inovações e expandir o
campo do que é possível em relação à redução das
emissões de carbono. No final deste capítulo (Seção
“Território inexplorado”), o Roteiro faz uma incursão no
interior desse território desconhecido para começar a
identificar como fechar a lacuna até zero emissões.

60
Três caminhos para a descarbonização do setor saúde além
das NDC (2017)

Para traçar um plano para emissões zero, o setor Hospitais e sistemas de saúde em todos os
deve seguir simultaneamente esses três caminhos lugares devem implementar intervenções que irão
entrelaçados. descarbonizar totalmente todos os aspectos da
prestação de cuidados de saúde e suas funções de
apoio, mantendo e melhorando o atendimento ao
Caminho um: paciente. Essa transformação deve incluir cuidados
clínicos e serviços de suporte, bem como instalações
Descarbonizar a e infraestrutura. Os sistemas de saúde devem tomar
prestação de serviços de medidas econômicas para avançar em direção a
saúde, as unidades e as energia, instalações, viagens e transporte e gestão
de resíduos de emissão zero, bem como produtos
operações
farmacêuticos de baixa emissão, serviços de
alimentação sustentável e muito mais. Alcançar essas
Instalações e intervenções operacionais podem mudanças requer ação por parte da liderança do
reduzir a pegada climática cumulativa dos serviços sistema e das unidade de saúde, bem como iniciativa
de saúde até 2050 em 19,9 gigatoneladas de CO2e "de baixo para cima" por médicos e departamentos de
a partir de uma linha de base RTS. atendimento clínico dentro das unidades. Certamente,
a liderança de médicos é fundamental para a
A máxima "primeiro, não causar dano" se aplica como descarbonização dos serviços de saúde.
o ponto de partida para o Caminho Um. A entrega
e as operações dos serviços de saúde estão no Ao mesmo tempo, os países de renda baixa e
núcleo da pegada climática do setor. A assistência à média em particular, muitas vezes exigirão o apoio
saúde, dedicada à promoção da saúde, prevenção de mecanismos de financiamento, como o Fundo
de doenças e prestação de serviços de saúde que Verde para o Clima, o Fundo Global para o Meio
restaurem e mantenham a saúde, devem reduzir e, em Ambiente, bancos multilaterais de desenvolvimento
última instância, eliminar sua contribuição direta para a e ajuda bilateral para tornar seus sistemas de
crise climática—a maior ameaça à saúde deste século. saúde climaticamente inteligentes. À medida que as
inovações surgem, também será importante garantir o
Ao enfrentar os GEE, pelos quais são diretamente acesso equitativo a novas tecnologias com inteligência
responsáveis, e ao posicionar-se em uma trajetória climática. Este Roteiro pode ser usado como base
para emissões zero, hospitais e sistemas de saúde para que países de baixa e média renda desenvolvam
podem economizar dinheiro, limpar seu próprio seus próprios planos nacionais e subnacionais para a
ambiente e servir de liderança para o setor como descarbonização da saúde. Também pode ajudar os
um todo. Essas ações não apenas impedirão que países a começar a identificar potenciais economias
gigatoneladas de carbono atinjam a atmosfera, e custos de implementação, ao mesmo tempo em
protegendo diretamente a saúde pública contra que identificam uma carteira de projetos associados
mudanças climáticas (e contra a poluição do ar), mas que requerem financiamento, aumentando assim sua
também darão suporte para a saúde liderar pelo elegibilidade e capacidade de mobilizar recursos
exemplo e ter uma influência importante na cadeia de de uma gama de fontes mais ampla, incluindo
suprimentos global da saúde, bem como na sociedade mecanismos de financiamento internacionais.
e na economia em geral.

61
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Embora às vezes dispendiosas, as próprias soluções


climáticas para a saúde podem ser mais econômicas
do que a operação usual dos serviços. Soluções de
sustentabilidade, como o investimento em eficiência
energética e energia renovável, maior efetividade
e eficiência do sistema de saúde e a prática de
compras sustentáveis, podem economizar quantias
CAMINHO UM. PRESCRIÇÕES PARA
significativas de dinheiro para os sistemas de saúde
DESCARBONIZAR A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS,
durante a transição para emissões zero. Por exemplo,
INSTALAÇÕES E OPERAÇÕES DA SAÚDE
na Inglaterra, o NHS descobriu que o fornecimento
de telessaúde e teleatendimento para pessoas com
Fazer da prevenção e preparação para as
problemas de saúde de longo prazo na comunidade
mudanças climáticas uma prioridade máxima em
poderia trazer retornos de £ 5,1 milhões em economia
todos os sistemas e unidades de saúde e em todos
de saúde, uma redução de 67 mil toneladas de
os departamentos de todos os hospitais, ministérios
CO2e 5.671 anos de vida ajustados pela qualidade
e organizações de saúde.
ao longo de um período de cinco anos. Um estudo
publicado pelo The Commonwealth Fund nos Estados
Unidos examinou dados de hospitais selecionados Governança
que implementaram programas para reduzir o uso • Assumir um compromisso organizacional com
e desperdício de energia e alcançar eficiência de uma trajetória de emissões zero, implementando
abastecimento da sala de cirurgia. Generalizando os a descarbonização e gerando resiliência;
resultados para hospitais em todo o país, a análise desenvolver um roteiro e/ou plano de ação.
conclui que a economia alcançável por meio dessas • Estabelecer mecanismos de governança,
intervenções pode ultrapassar US$ 5,4 bilhões em incluindo a introdução de expertise em clima e
cinco anos e US$ 15 bilhões em 10 anos. Embora sustentabilidade no conselho administrativo e/ou
até o momento nenhum estudo tenha sido realizado em altos níveis no ministério da saúde.
com foco nos sistemas de saúde dos países em • Estabelecer, quando relevante, a
desenvolvimento, uma série de estudos de caso responsabilização do conselho e vincular a
produzida pela Rede Global Hospitais Verdes e remuneração de executivos e/ou objetivos ao
Saudáveis fornece evidências anedóticas dos muitos alcance da descarbonização e outras metas de
benefícios econômicos relacionados à implementação sustentabilidade.
de medidas inteligentes quanto ao clima e iniciativas • Nomear um diretor de sustentabilidade e equipe
sustentáveis em unidades de saúde de diversos de com forte apoio da liderança do sistema para
países de baixa e média renda.49 liderar a criação e/ou implementação de uma
diretriz de descarbonização e/ou plano de ação.

62
Finanças instalações e operações de saúde para catalisar
• Integrar o clima no processo de tomada de decisões mudanças mais amplas no setor saúde, em
financeiras do sistema de saúde. comunidades atendidas e em outras instâncias.
• Construir apoio financeiro e clínico para a ação • Construir sinergia com outros setores que
climática. trabalham pela descarbonização.
• Incorporar critérios climáticos com o objetivo de
descarbonização e resiliência com boa relação Educação e comunicações
custo-benefício em todos os níveis de financiamento • Investir no desenvolvimento de lideranças
do sistema de saúde. Isso inclui a cota de emissões da força de trabalho da área de saúde e em
do setor saúde público e privado, assistência, treinamentos para prevenção e preparação para
empréstimos e outras formas de financiamento. as mudanças climáticas.
• Estabelecer incentivos financeiros para impulsionar • Integrar clima e saúde, incluindo cuidados de
mudanças, como remuneração favorável para modos saúde climaticamente inteligentes em currículos
de viagem de baixo carbono, critérios de licitação de educação médica, enfermagem e de
que incluem uma forte porcentagem de pontos profissionais da saúde.
de sustentabilidade e esquemas de reembolso • Mobilizar as instalações de saúde e a infraestrutura
clínico com base em resultados de saúde positivos de comunicações do sistema para comunicar aos
conectados a caminhos de baixo carbono. pacientes, funcionários, formuladores de políticas
e ao público sobre os impactos da mudança
Operações climática na saúde, as medidas que os hospitais e
• Medir as pegadas climáticas da instalação, itinerário sistemas de saúde estão tomando e as mudanças
terapêutico e do sistema, estabelecer metas e mais amplas necessárias na sociedade para lidar
comunicar o progresso ao público. com a crise climática.
• Dedicar recursos humanos e financeiros para • Motivar e inspirar os profissionais de saúde
transformar as instalações e reorganizar as a defenderem mudanças dentro de suas
operações de saúde e serviços clínicos em direção próprias organizações, com os pacientes, nas
à emissão zero de carbono; e ao mesmo tempo comunidades e com os formuladores de políticas.
contribuir para a resiliência da comunidade.
• Utilizar investimentos na transformação de

63
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Caminho dois: garantir reduções na produção, transporte, consumo


Descarbonizar a cadeia e descarte de todos os itens que adquire. Muitas
vezes, isso pode levar a uma maior eficiência e a uma
de suprimentos do setor
economia significativa.
saúde
Ao mesmo tempo, os fabricantes e fornecedores de
As intervenções que colocam a cadeia de produtos farmacêuticos, outros produtos químicos,
suprimentos diretamente ligada à saúde em um dispositivos médicos, alimentos, materiais de
caminho para emissões zero podem reduzir a construção e veículos também devem tomar medidas
pegada climática cumulativa da saúde em 11,5 imediatas e estabelecer suas próprias diretrizes para
gigatoneladas de CO2e até 2050 partindo de uma chegar a zero emissões.
linha de base RTS.

Utilizar a demanda da assistência à saúde para a


descarbonização da cadeia de suprimentos, ao
mesmo tempo que encoraja as empresas da cadeia
de suprimentos a assumir o desafio de alcançar a
produção, embalagem e transporte com emissões
zero, é essencial para a descarbonização dos
cuidados de saúde.

Mais de 70% da pegada climática da saúde vem


das emissões do escopo 3, a maioria das quais se
originam na cadeia de suprimentos global. A cadeia de
suprimentos global abrange tanto o Caminho 2 quanto
o Caminho 3; o Caminho 2 quantifica as emissões
diretas que podem ser reduzidas do abastecimento
de eletricidade da rede, bem como a produção,
embalagem e transporte de produtos usados no setor
saúde, enquanto o Caminho 3 considera os efeitos de
toda a economia da descarbonização dos setores de
produção primária.

O setor saúde pode influenciar o impacto do carbono


de todos os produtos necessários para a prestação
de cuidados. O setor pode reunir seu poder de
compra aliando-se para fazer compras conjuntas
dentro dos países e além das fronteiras para exigir
a descarbonização de sua cadeia de suprimentos e

64
CAMINHO DOIS: PRESCRIÇÕES DE PRIMEIRA • Juntar-se a outros setores nos esforços de
LINHA PARA DESCARBONIZAR A CADEIA DE transformação do mercado como forma de criar
SUPRIMENTOS DO SETOR SAÚDE: impulso para a mudança.
Fabricantes e fornecedores:
Sistemas de saúde • Comprometer-se com emissões zero na
• Sinalizar e reafirmar o compromisso com produção, embalagem e transporte, e
a transformação para emissões zero e a com a produção de produtos que sejam
expectativa de que cada fornecedor deve energeticamente eficientes, seguros, reutilizáveis
integrar esse caminho em seus planos de e recicláveis.
desenvolvimento. • Trabalhar com o setor saúde para garantir que
• Estimar a pegada de carbono da cadeia de o design dos produtos seja coerente com
suprimentos para estabelecer uma linha de base as necessidades de saúde, zero carbono,
e identificar prioridades. contribua para uma economia circular e esteja
• Mirar itens da cadeia de suprimentos com a maior alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento
pegada climática e construir uma estratégia de Sustentável.
compra colaborativa, multinacional e abrangendo • Impulsionar a inovação em materiais sustentáveis
diversos sistemas de saúde para substituir esses e ecológicos, bem como os processos de
itens e impulsionar a redução de emissões. emissões zero.
• Colaborar com fabricantes e fornecedores para • Comprometer-se com a divulgação completa e
reduzir sistematicamente emissões de carbono e a verificação das metas de redução de carbono
comprometer-se com abordagens de economia que correspondam à ambição do setor saúde,
circular em suas próprias organizações e cadeias bem como publicar publicamente sobre o
de suprimentos. progresso no cumprimento dessas metas.
• Exigir que os fornecedores com altas emissões • Investir na formação e treinamento de equipes
estabeleçam metas de redução de emissões para prevenção, preparação e resiliência quanto
baseadas na ciência, alinhadas à limitação das a mudanças climáticas.
mudanças climáticas em 1,5°C.
• Exigir a publicação anual completa e verificação
dos principais fornecedores para checar se suas
metas estabelecidas correspondem às ambições
do setor saúde.
• Revisar sistematicamente produtos e materiais
utilizados e adquiridos para garantir que sua
produção, consumo e descarte não contribuam
para as mudanças climáticas ou outros problemas
ambientais e relacionados a direitos humanos.
• Assegurar critérios rigorosos em mecanismos
de pré-qualificação, aquisição e contratuais para
incentivar produtos de baixo ou zero carbono.

65
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

ao mesmo tempo o setor saúde, ao atuar para


Caminho três: Acelerar descarbonizar suas próprias operações e cadeia de
suprimentos (Caminhos 1 e 2), pode contribuir para
a descarbonização essa transformação e deve influenciar esses outros
da economia e da setores a acelerar a mudança.
sociedade em geral
Ao mobilizar seu poder ético, político e econômico,
a saúde também pode desempenhar um papel
A descarbonização da economia e da sociedade, de liderança em todos os níveis da sociedade.
de forma mais ampla, tem o potencial de reduzir a Usando vários pontos de alavancagem, o setor
pegada climática cumulativa da saúde até 2050 em pode ajudar a mover o mundo para muito além dos
mais 13,4 Gt a partir de uma linha de base RTS. compromissos existentes dos países sob o Acordo
de Paris, em direção a uma descarbonização mais
profunda, acelerando a transição para a energia
A descarbonização das atividades em geral é crucial limpa. Esse engajamento pode ajudar a construir uma
para que o setor saúde atinja emissões zero, ao infraestrutura mais sustentável e resiliente, produzir
mesmo tempo em que protege mais amplamente a materiais mais sustentáveis e promover uma transição
saúde das pessoas e do planeta dos impactos das para a agricultura sustentável. Contribuindo para
mudanças climáticas. Os compromissos dos governos um ciclo virtuoso, essa transformação da sociedade
sob o Acordo de Paris (o cenário RTS discutido no em geral pode gerar uma série de cobenefícios
capítulo “Trajetórias”) avançam uma parte do caminho substanciais para a saúde.51
nessa direção (ver Figura 11). No entanto, para que a
assistência à saúde se aproxime das emissões zero, é Todos os países podem usar a ação climática como
preciso que haja uma descarbonização mais profunda medida preventiva de saúde que pode ajudar a reduzir
na sociedade em geral (o cenário B2DS discutido no a carga de doenças reduzindo a poluição, ao mesmo
Capítulo 5). tempo em que ajudam a financiar uma melhor prestação
de serviços de saúde. Por exemplo, um estudo
Todos os aspectos da cadeia de suprimentos realizado pelo governo mexicano descobriu que, ao
e entrega de serviços de saúde dependem de atender à NDC do país e gerar 43% de eletricidade
indústrias que fornecem energia, produtos químicos, a partir de fontes limpas até 2030 – e, assim, reduzir
materiais de construção, embalagens, infraestrutura, doenças relacionadas à poluição do ar—o país poderia
transporte, alimentos e muito mais. As emissões de economizar US$ 2,7 bilhões em custos de saúde, o
carbono desses setores, alimentadas principalmente equivalente a 41% do orçamento anual do Ministério da
por um sistema econômico global e infraestrutura de Saúde em 2019.52 Outros sugeriram que medidas pró-
rede baseada na combustão de carvão, petróleo e clima, como a redução dos subsídios aos combustíveis
gás, é o principal motor da crise climática. Para que o fósseis, poderiam ser acompanhadas por ações pró-
setor saúde se descarbonize totalmente, deve fazê-lo saúde, como a redirecionamento desses subsídios para
em conjunto com muitos outros setores da economia a saúde, a redução das emissões, o fortalecimento dos
e da sociedade. sistemas de saúde e a suavização do impacto de uma
medida impopular (aumento dos custos de energia e
Enquanto a descarbonização da assistência à saúde combustível) com uma política potencialmente popular
depende dessa transformação social mais ampla, (saúde melhorada e diminuição dos custos de saúde).53

66
Sete ações de alto impacto

Chegar a emissões zero exigirá uma série de ações


CAMINHO TRÊS. PRESCRIÇÕES DE PRIMEIRA
transversais de alto impacto em áreas importantes que
LINHA PARA O ENGAJAMENTO DO SETOR
abrangem os três caminhos.
SAÚDE EM UMA TRANSFORMAÇÃO DA
ECONOMIA E DA SOCIEDADE EM GERAL
Ao implementar esse conjunto de sete ações de
alto impacto, a assistência à saúde pode se colocar
• Demonstrar liderança ao assumir um firmemente no caminho rumo a emissões zero, ao
compromisso do setor saúde em fazer a mesmo tempo em que ajuda a exercer a liderança
transição das operações, instalações e para que o resto do mundo viaje na mesma direção.
cadeias de suprimentos da saúde para um
futuro resiliente e de emissões zero, ao A implementação dessas ações nos três caminhos
mesmo tempo incentivar outros setores a e ao longo das trajetórias dos países descritas no
fazer o mesmo. capítulo anterior resultará em uma grande redução
• Defender, em todos os países, que o governo das emissões de GEE dos serviços de saúde.
cumpra e aumente consistentemente sua Cumulativamente, essas reduções potenciais de 2014
NDC para o Acordo de Paris, e inclua os a 2050 totalizam o equivalente a 44,8 gigatoneladas
compromissos de descarbonização dos de dióxido de carbono (Figuras 18a e 18b, Tabela 6).
serviços de saúde como parte de sua NDC. Esse não é um número pequeno. Por comparação, é
• Defender, de posições internas e externas ao quase o equivalente a todas as emissões de CO2e
governo, políticas específicas, regulamentos geradas em todo o planeta em 2017 (47 gigatoneladas,
e legislações que acelerem a transição para excluindo o uso da terra.54
emissões zero nos principais setores, como
a energia, o transporte e a agricultura, que Quando distribuído e medido uniformemente ao longo
afetam a pegada climática da saúde pública e dos 36 anos que o Roteiro abrange (2014-2050),
de cuidado de saúde própria. a economia anual com a implementação dessas
• Conscientizar e exercer liderança com ações de alto impacto é de 1,2 gigatoneladas, ou o
outros setores para abordar determinantes equivalente a deixar mais de 2,7 bilhões de barris de
socioambientais da saúde. petróleo no solo a cada ano por 36 anos.55
• Apelar para a liderança e a inovação em todos
os setores para responder às necessidades Muitas dessas ações em si também estão inter-
específicas do setor saúde quanto a soluções relacionadas. Por exemplo, para descarbonizar-se, o
de emissão zero (por exemplo, ambulâncias, setor saúde deve, em última análise, funcionar com
cadeias frias, dispositivos médicos, anestésicos, energia 100% renovável. Isso exigirá a instalação de
armazenamento de energia de backup). renováveis in situ, como painéis solares em telhados
• Apelar para a pesquisa e financiamento de dos hospitais, o desenvolvimento e implementação de
materiais e processos que proporcionem novas tecnologias para aquecimento e resfriamento
melhor saúde, resiliência e reduzam o térmico, a inovação de instalações e dispositivos
carbono a zero. médicos com ultra eficiência energética, a implantação
de renováveis in situ para fábricas da cadeia de
fornecimento de energia e a descarbonização da rede
da qual tanto hospitais quanto fabricantes da cadeia
de suprimentos compram sua eletricidade.

67
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Pegada 7000
projetada de
GEE para o 6000 Operação usual
setor saúde
por ano 5000
(MMt CO2e) Progresso alinhado com os
compromissos de energia e clima
4000 dos governos 2017

3000
Oportunidades adicionais de
2000
descarbonização do setor saúde
pelos três caminhos e sete ações
deste Roteiro
1000
Território inexplorado
0
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050

Pegada 3500
projetada de
GEE para o 3000
setor saúde
por ano
2500
(MMt CO2e)
2000

1500

1000

500

0
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050

1. Suprir o setor saúde com eletricidade 100% 4. Abastecer o setor saúde com alimentos 6. Implementar serviços de saúde circulares e
limpa e renovável saudáveis cultivados de forma sustentável e com uma gestão sustentável dos resíduos
2. Investir em instalações e infraestruturas de apoiar uma agricultura resiliente ao clima decorrentes da atividade
emissões zero 5. Incentivar e produzir produtos farmacêuticos 7. Alcançar uma maior efetividade do sistema
3. Iniciar uma transição para transportes e de baixa pegada de carbono de saúde
viagens sustentáveis e de emissões zero

Figuras 18a e 18b. Redução resultante das emissões do setor saúde entre 2014 e 2050 possibilitada pelas sete ações de alto
impacto destacadas nas páginas seguintes.

68
Ação Categorias da SPA Economia acumulada
de amissões até 2050
(Gt CO2e)

1. Suprir o setor saúde com • Escopo 2: Eletricidade adquirida, incluindo transmissão, 12,7
eletricidade 100% geração e nas cadeias de suprimento a montante
limpa e renovável

2. Investir em instalações • Escopo 1: Operação de instalações (incluindo combustão 17,8


e infraestruturas de in-situ)
emissões zero • Construção

3. Iniciar uma transição


• Escopo 1: Transporte; 1,6
para transportes e
• Escopo 3: Viagens e transporte
viagens sustentáveis e de
emissões zero

4. Abastecer o setor saúde • Alimentação, refeições e hospedagem 0,9


com alimentos saudáveis
cultivados de forma
sustentável e apoiar uma
agricultura resiliente ao clima

5. Incentivar e produzir • Produtos farmacêuticos 2,9
produtos farmacêuticos de
baixa pegada de carbono

• Fabricação e distribuição de combustíveis fósseis 4,8


6. Implementar serviços
• Combustíveis manufaturados, produtos químicos e gases
de saúde circulares e com
• Plásticos
uma gestão sustentável
• Equipamentos e instrumentos médicos
dos resíduos decorrentes
• Outros produtos manufaturados
da atividade
• Produtos de papel
• Resíduos, água e saneamento
• Outras aquisições

7. Alcançar uma maior


• Serviços corporativos 4,1
efetividade do sistema de
• Tecnologias de informação e comunicação
saúde
• Efetividade do sistema

Economia total de emissões das ações de alto impacto 44,8

Tabela 6. Impacto potencial das sete ações na redução de emissões do setor saúde. Consulte o Anexo A para
obter uma definição das categorias da análise SPA e uma descrição das atividades abrangidas por cada um.

69
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Acompanhando cada ação estão múltiplas Ação 1. Suprir o setor saúde


intervenções que o setor pode tomar ao longo dos com eletricidade 100%
três caminhos. Essas intervenções estão descritas
limpa e renovável.
no Anexo C. Algumas delas são cobertas pela
modelagem de redução de emissões do Roteiro, Garantir que a assistência à saúde seja alimentada
outras não. Para aquelas intervenções que não são, in situ com eletricidade de emissões zero por meio
elas podem contribuir para resolver a lacuna de de energia comprada e na economia em geral.
emissões de cuidados de saúde descrita na seção
"Território inexplorado" abaixo. A ação tomada para descarbonizar a eletricidade
adquirida pelo setor saúde pode proporcionar uma
Em cada uma das sete intervenções, há um conjunto redução cumulativa de emissões de pelo menos 12,7
de ações de implementação mais específicas que Gt CO2e entre 2014 e 2050.
podem ser tomadas, que não estão totalmente
detalhadas no Anexo C. Saúde sem Dano, trabalhando O setor saúde é um grande consumidor de
em conjunto com a Organização Mundial da Saúde, eletricidade na maioria dos países, com a maior parte
o Banco Mundial e o PNUD, desenvolveram vários dessa energia derivada da queima de combustíveis
quadros e documentos de orientação para tal fósseis. Essa pegada de energia abrange as
implementação, que também estão listados no Anexo operações das instalações, a cadeia global de
C. Os formuladores de políticas e profissionais da fornecimento de serviços de saúde e o contexto mais
saúde podem consultá-los para mais detalhes. amplo da dependência contínua da maioria das redes
elétricas de carvão, petróleo e gás.
Além disso, os líderes de saúde que estão
considerando como mover seus sistemas para Em muitos países de baixa e média renda, os
emissões zero seriam bem aconselhados a consultar sistemas de saúde geralmente operam em ambientes
a abordagem desenvolvida pelo Serviço Nacional de baixa energia e exigem um melhor acesso à
de Saúde da Inglaterra, em particular em relação eletricidade para poder operar de forma ideal sem
à descarbonização da prestação, instalações e interrupções por corte de energia. Outras instalações
operações de assistência à saúde.56 estão em áreas remotas sem acesso à rede elétrica.
Essas unidades de saúde contribuem marginalmente
para as emissões provenientes da geração de
energia elétrica, e a prioridade é conceder-lhes
acesso à eletricidade o mais rápido possível. Como
a OMS observa, nessas situações, as soluções
de emissões zero – como energia solar, eólica ou
hidrelétrica de pequena escala – podem fornecer
eletricidade limpa, econômica e confiável para
instalações de saúde e comunidades locais.57

A prestação de assistência padrão à maioria dos


grandes hospitais dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento requer um uso significativo de
eletricidade (muitas vezes ao lado de outras fontes

70
de energia) – para aquecimento e bombeamento empurrar essas empresas para a transição para um
de água, controlar a temperatura e umidade do futuro de carbono zero.
ar ambiente, iluminação, ventilação e numerosos
processos clínicos – com custos financeiros Essas ações, além de sustentar o caminho do setor
significativos associados e emissões de GEE. saúde para emissões zero, podem ter benefícios
Equipamentos médicos, como máquinas de raio-X e significativos para a saúde. Por exemplo, de acordo com
ressonância magnética, bem como condicionadores um estudo na Lancet, uma rápida transição global para
de ar e outros equipamentos de resfriamento, podem a energia limpa não só ajudaria a cumprir as metas do
criar altas cargas de demanda de eletricidade (e Acordo de Paris, mas também melhoraria a qualidade
energeticamente ineficientes) e, portanto, ser caros do ar a tal ponto que os ganhos de saúde resultantes
para operar. Muitos estabelecimentos da área da pagariam em dobro o custo do investimento.58
saúde precisam operar continuamente e requerem um
intenso controle de clima interno e ventilação para a Consulte o Anexo C para as intervenções
segurança e o bem-estar dos pacientes e funcionários. recomendadas para a implementação de eletricidade
Essa eletricidade é gerada tanto in situ (ver seção 100% renovável nos três caminhos.
sobre “Instalações e infraestruturas” abaixo) quanto ex
situ (em outros locais), onde a eletricidade é comprada Ação 2. Investir em
da rede elétrica por sistemas de saúde.
instalações e infraestruturas
Como discutido, uma parcela significativa da pegada de emissões zero
climática da saúde relacionada à eletricidade é
derivada da intensidade dos combustíveis fósseis na Garantir que todas as instalações de assistência
sociedade e na economia mais ampla em que o setor à saúde e de fabricação de produtos de saúde e
opera. Portanto, para que o setor seja descarbonizado, as suas respectivas infraestruturas promovam a
além de tomar medidas para reduzir sua própria eficiência energética, atinjam emissões zero, e
pegada operacional, ele deve defender a rápida promovam a resiliência climática.
descarbonização dos sistemas dos quais depende.
Por exemplo, os serviços de saúde devem comprar Ao mirar o uso e a geração de eletricidade in
eletricidade da rede na área geográfica onde estão situ, empregando menos carbono e práticas de
sediados e, portanto, podem influenciar a política local construção mais circulares, ações sobre as emissões
e/ou nacional relacionada a eles. de instalações e infraestrutura do setor saúde
podem levar a uma redução cumulativa de emissões
Muitos sistemas de saúde já estão engajados, de pelo menos 17,8 Gt CO2e entre 2014 e 2050.
direta ou indiretamente, em questões políticas e
regulatórias relacionadas à eletricidade nos níveis Em 2020, os projetos de construção da saúde ativos
local, subnacional e nacional. Muitos sistemas de monitorados por uma empresa de pesquisa global
saúde, particularmente privados, também têm ativos foram avaliados em mais de USD$ 500 bilhões
financeiros e/ou fundos de pensão investidos em (incluindo todos os projetos do estágio anunciado
combustíveis fósseis e podem se juntar a outros até sua execução). Os projetos regionais de dutos
setores da sociedade no desinvestimento de tais incluem USD$ 159 bilhões na América do Norte,
ativos ou usar seu poder como investidores para USD$ 138 bilhões na Europa, USD$ 110 bilhões
na Ásia e Pacífico, $ 77 bilhões no Oriente Médio

71
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

e África e USD$ 20 bilhões na América Latina.59 acompanhadas por custos operacionais mais
Junto a essa construção atual, o setor saúde deverá elevados. Alternativamente, ao seguir um conjunto
crescer e construir um número significativo de novas claro de princípios climaticamente inteligentes, esses
instalações até 2050 em todas as regiões. Assim, investimentos poderiam ser canalizados para sistemas
com um número significativo de estabelecimentos de de aplicação de vacinas que sejam resilientes, com
saúde existentes sendo reequipados e reformados baixo consumo de energia e eficientes.60
nos próximos 30 anos, é claro que instalações e
infraestrutura são uma enorme área na qual o setor Além disso, todos os esforços devem ser feitos no
deve concentrar-se se quiser se descarbonizar. planejamento, projeto e reforma das instalações para
garantir que a utilização do espaço seja maximizada e
Na verdade, é imperativo que o planejamento, apenas estabelecimentos absolutamente necessários
projeto e construção de espaços para a prestação de sejam construídos. Por exemplo, a necessidade
serviços de saúde sejam orientados para emissões de grandes prédios para serviços de saúde com
zero. Isso requer a reutilização ou obtenção de uso intensivo de recursos, bem como extensas
materiais de construção reutilizados, como vigas instalações ambulatoriais, pode ser reduzida pela
de aço, sempre que possível. Também requer o adoção generalizada de telessaúde e de assistência
emprego ou inovação de materiais alternativos e mais próxima de casa (consulte a seção “Território
ecologicamente sustentáveis que contenham baixo inexplorado” abaixo). Em termos mais gerais, a
ou zero carbono incorporado. Além disso, requer o infraestrutura de saúde no século 21 deve ser
projeto e a construção de prédios totalmente elétricos concebida e planejada como parte de um novo
com alta eficiência energética e que funcionem com modelo de prática que leva em consideração o clima, a
energia renovável (ver a Ação 1 acima). O investimento cobertura universal de saúde, as questões mais amplas
em estabelecimentos energeticamente eficientes de equidade em saúde e os avanços tecnológicos.
e movidos a energia renovável pode economizar
recursos financeiros significativos ao longo do O projeto e a construção também devem levar
tempo. Também será necessário inovar e melhorar as em consideração os crescentes impactos da crise
soluções de energia renovável para aquecimento e climática na infraestrutura de saúde. O setor saúde
resfriamento térmico para contribuir totalmente para deve se preparar para os requisitos não apenas de um
a redução de emissões zero em instalações e na mundo com emissões zero, mas também para resistir
infraestrutura de saúde. ao ataque crescente de tempestades, inundações,
secas e incêndios. Por exemplo, a localização dos
A pandemia de COVID-19 apresenta um desafio estabelecimentos e o uso seletivo de materiais de
adicional e uma oportunidade para o setor saúde construção podem garantir a mitigação e a resiliência
avançar em direção a instalações e infraestrutura climáticas.61 Em última análise, as instalações de
com emissões zero. A implantação bem-sucedida saúde estão na linha de frente e devem permanecer
e universal das vacinas contra a COVID-19 exigirá operacionais durante eventos climáticos extremos,
grandes investimentos em infraestrutura e construção outras emergências e interrupções.62
para abordar as lacunas de capacidade da cadeia
de frio, particularmente em países de baixa e média Para definir um plano para instalações e infraestrutura
renda. Sem propósito estratégico, esses investimentos resistentes e inteligentes quanto ao clima, os
podem priorizar, inadvertidamente, infraestruturas líderes de saúde podem se valer de um conjunto
e tecnologias prejudiciais à saúde e poluentes, de ferramentas de design de prédios verdes e

72
mecanismos de acreditação, incluindo ferramentas
específicas para estabelecimentos de saúde.63 O setor saúde pode
Embora essas ferramentas tenham sido projetadas impulsionar o mundo para uma
principalmente em um contexto desenvolvido, elas
também foram implantadas com sucesso em vários descarbonização mais profunda,
países em desenvolvimento. Também há uma ampla e
bem-documentada diversidade de exemplos de prédios
acelerando a transição para
sustentáveis na área de saúde em ambientes de baixa energias renováveis.
e média renda.64 Um estudo conduzido pela Escola de
Saúde Pública Harvard TH Chan descobriu que prédios
projetados com a ferramenta de construção verde LEED é um componente essencial da descarbonização
nos Estados Unidos, China, Índia, Brasil, Alemanha e dos cuidados de saúde e também terá um impacto
Turquia evitaram que 33 milhões de toneladas de CO2 benéfico significativo em termos de redução da
entrassem na atmosfera, resultando em uma economia poluição do ar e seus impactos na saúde. A promoção
de US$ 2,7 bilhões em saúde.65 da mobilidade ativa, como caminhar ou andar de
bicicleta, também pode reduzir as emissões de
Consulte o Anexo C para as intervenções carbono, ao mesmo tempo que melhora os resultados
recomendadas para implementar instalações e de saúde da população. Limitar as viagens de
infraestrutura com emissões zero nos três caminhos. negócios em favor de reuniões virtuais têm um
impacto importante na redução da pegada climática
Acão 3. Iniciar uma dos sistemas.

transição para viagens e À medida que a inovação tecnológica avança, os


transportes sustentáveis e sistemas de saúde serão cada vez mais capazes de
de emissões zero adquirir veículos elétricos e/ou movidos a hidrogênio,
e infraestrutura, como estações locais de recarga.
Transição para uma frota de veículos e Em algumas circunstâncias, bicicletas, e-bikes ou
infraestrutura de transporte de emissões zero, ao motocicletas podem ser mais eficazes na entrega do
mesmo tempo que incentiva a mobilidade ativa e serviço necessário devido ao congestionamento do
o transporte público para pacientes e funcionários, tráfego ou acesso limitado às estradas. O poder de
sempre que possível. compra e a influência política da assistência à saúde
podem ajudar a acelerar a transformação mais ampla
Ao longo dos próximos 30 anos, as emissões do mercado, necessária para construir economias de
dos serviços de saúde podem ser reduzidas em escala e tornar esses meios de transporte limpos mais
pelo menos 1,6 GtCO2e cumulativamente até universalmente acessíveis, reduzindo assim a carga
2050, reduzindo a necessidade de viagens ou global de doenças provocadas pela poluição do ar
deslocamentos, mudando para modos de transporte associadas ao uso de transporte e mudanças climáticas.
de emissão zero ou baixo carbono e otimizando o
uso de veículos ao longo do tempo. Implementar emissões zero ou estratégias de
transporte e viagens com baixo teor de carbono
Implementar emissões zero ou estratégias de é um componente essencial da descarbonização
transporte e viagens com baixo teor de carbono dos cuidados de saúde e também terá um impacto

73
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

benéfico significativo em termos de redução da Consulte o Anexo C para as intervenções


poluição do ar e seus impactos na saúde. A promoção recomendadas para implementar viagens e
da mobilidade ativa, como caminhar ou andar de transportes sustentáveis e de emissão zero nos três
bicicleta, também pode reduzir as emissões de caminhos.
carbono, ao mesmo tempo que melhora os resultados
de saúde da população. Limitar as viagens de Ação 4. Abastecer o setor
negócios em favor de reuniões virtuais têm um
impacto importante na redução da pegada climática
saúde com alimentos
dos sistemas. psaudáveis cultivados de
forma sustentável e apoiar
À medida que a inovação tecnológica avança, os
uma agricultura resiliente
sistemas de saúde serão cada vez mais capazes de
adquirir veículos elétricos e/ou movidos a hidrogênio, ao clima
e infraestrutura, como estações locais de recarga.
Em algumas circunstâncias, bicicletas, e-bikes ou Fornecer alimentos frescos e sazonais saudáveis,
motocicletas podem ser mais eficazes na entrega do produzidos localmente e de forma sustentável com
serviço necessário devido ao congestionamento do desperdício zero de alimentos.
tráfego ou acesso limitado às estradas. O poder de
compra e a influência política da assistência à saúde No geral, essas ações podem economizar pelo
podem ajudar a acelerar a transformação mais ampla menos o equivalente a 0,9 Gt de emissões de
do mercado, necessária para construir economias carbono até 2050.
de escala e tornar esses meios de transporte limpos
mais universalmente acessíveis, reduzindo assim a Alimentos nutritivos não são apenas um pilar da
carga global de doenças provocadas pela poluição boa saúde, mas também são servidos em muitos
do ar associadas ao uso de transporte e mudanças estabelecimentos da área da saúde. Ao mesmo
climáticas.66 O planejamento de instalações de saúde tempo, o IPCC estima que a agricultura e as mudanças
com acesso ao transporte público também melhora o no uso da terra são responsáveis por quase um
acesso às instalações para pacientes e profissionais quarto das emissões globais68 LA produção pecuária
de saúde.67 As instalações de saúde localizadas perto é responsável por aproximadamente 60% dessas
de centros de transporte público podem dar suporte emissões agrícolas e das mudanças no uso da
a viagens mais limpas de pacientes e funcionários. Os terra.69 In many countries, health systems purchase
líderes da área da saúde também podem defender significant amounts of food and can help to reduce
modos mais sustentáveis de transporte público, bem the climate impact from agriculture by purchasing and
como modos seguros de transporte ativo, contribuindo serving healthy foods that are produced less carbon
assim para uma transição para sistemas de transporte intensively.70
limpos e sustentáveis em geral. Além disso, muitas
formas de prestação de serviços podem ser Os sistemas de saúde geralmente operam seus
alcançadas por meio de estratégias de telessaúde que próprios sistemas internos de gestão de alimentos,
fornecem assistência à saúde de qualidade e reduzem desde a seleção de cardápios e escolha de fontes de
as emissões de transporte do paciente. alimentos até a preparação e distribuição de refeições
para pacientes, funcionários e, frequentemente,
visitantes. Eles também devem gerenciar as sobras

74
de alimentos. Agir em cada etapa do caminho dos Ação 5. Incentivar
alimentos da área da saúde pode reduzir as emissões e produzir produtos
de carbono equivalente e fornecer alimentos nutritivos.
farmacêuticos de baixa
Alguns exemplos incluem reduzir a quantidade
de carne servida, criando refeições inovadoras e pegada de carbono
aumentando as opções sem carne; comprar alimentos
cultivados e produzidos localmente e de forma Reduzir o uso desnecessário de farmacêuticos,
sustentável; reduzir, recuperar e reaproveitar os substituir produtos com elevadas emissões por
restos de alimentos e usar equipamentos de cozinha alternativas melhores para o clima, e incentivar a
eficientes em matéria de energia e recursos. produção de medicamentos verdes e sustentáveis.

A aquisição de alimentos produzidos localmente de Ações sobre as emissões decorrentes da produção e


forma sustentável pelos sistemas de saúde também utilização de produtos farmacêuticos podem reduzir
pode ajudar a construir economias e comunidades a pegada cumulativa do setor saúde em 2,9 Gt de
agrícolas locais mais sustentáveis, equitativas, CO2e entre 2014 e 2050.
biodiversas e resilientes. Isso, por sua vez, também
pode apoiar a melhoria da saúde da população. Incentivar a inovação para uma produção
Ao alavancar a demanda de alimentos para o setor farmacêutica segura e de baixo carbono. Incentivar
saúde para ajudar a promover uma agricultura de o desenvolvimento de produtos farmacêuticos
baixo carbono, sustentável e equitativa, os sistemas verdes72 é crucial para descarbonizar o setor e reduzir
de saúde podem apoiar a agricultura comunitária sua pegada ambiental geral. Em alguns países, os
local, gerar empregos na preparação de alimentos e produtos farmacêuticos representam a maior parte da
desenvolver uma fonte de alimentos saudáveis para pegada climática do setor. Esses países incluem China
seus sistemas internos.71 (33,5%), Japão (19,4%) e Coreia do Sul (24,4%) (Anexo
B, Fichas informativas dos países).
De forma mais ampla, as intervenções de saúde para
uma boa nutrição e a redução do consumo de carne Todos os medicamentos levam em si uma pegada
vermelha para lidar com doenças não transmissíveis de carbono. A redução dessa pegada deve ser
relacionadas a este consumo, como doenças considerada como parte de uma prática clínica
cardíacas e obesidade, também podem ajudar a eficaz e segura, particularmente onde há alternativas
reduzir significativamente as emissões de gases de disponíveis, como farmacêuticos com baixo teor
efeito estufa na economia em geral. Ao reduzir a de carbono, prescrição social ou intervenções que
carga de doenças, tais intervenções também podem melhoram a saúde por meio de suporte personalizado
ter o impacto adicional de reduzir a pegada dos e envolvimento da comunidade. Com efeito, o setor
próprios cuidados de saúde ao diminuir a demanda saúde tem a responsabilidade de minimizar o uso e
por intervenções de saúde para tratar dessas doenças o desperdício de produtos farmacêuticos, garantindo
(consulte a seção “Território inexplorado” e o Anexo D que sejam prescritos e utilizados da forma mais eficaz e
para mais detalhes). eficiente possível. Este também pode ser um motivador
para muitas outras iniciativas de melhoria da saúde e
Consulte o Anexo C para as intervenções otimização de medicamentos.73
recomendadas para a implementação de alimentos
sustentáveis e cultivados localmente nos três caminhos.

75
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

O Instituto Nacional de Excelência Clínica da Inglaterra Inaladores dosimetrados (MDIs), normalmente


já demonstrou que os impactos ambientais podem utilizados para o tratamento da asma e outras
ser incluídos na avaliação da efetividade geral da condições respiratórias, usam hidrofluorcarbonetos
medicação.74 A Lista Sueca de Medicamentos também como propelentes. Esses são GEEs altamente potentes,
propõe práticas de prescrição aprimoradas que com potencial de aquecimento entre 1.480-2.900 vezes
incluem considerações ambientais.75 o dióxido de carbono.77 Embora os dados globais
sobre as emissões de MDIs não estejam disponíveis, os
A gestão aprimorada e os processos de aquisição países do Anexo 1 da CQNUMC disponibilizaram dados
sustentáveis para produtos farmacêuticos podem sobre as emissões desta fonte.78 Para esses países, as
reduzir a quantidade geral de produtos fabricados emissões de uso de MDIs totalizaram 6,9MtCO2e, um
e comprados. Isso pode levar a emissões reduzidas adicional de 0,3% sobre a pegada global da assistência
de uma pegada energética reduzida na produção à saúde. Espera-se que as emissões globais completas
e transporte de produtos farmacêuticos e produtos dos MDIs sejam substancialmente maiores do que
não utilizados/expirados. Também pode reduzir a esse número se os dados estivessem disponíveis em
quantidade de energia necessária para a eliminação de países não listados no Anexo 1. Mecanismos de entrega
resíduos devido à redução e substituição de produtos alternativos aos MDIs, sem propelentes potencialmente
químicos tóxicos. Por exemplo, a redução do uso de causadores de aquecimento global, como inaladores à
produtos farmacêuticos em 2,5% foi identificada como base de pó seco, estão disponíveis e são adequados
uma das intervenções de redução de carbono de maior para a maioria dos pacientes.
impacto em um estudo na Inglaterra.76
Gases anestésicos: A substituição de gases
A indústria farmacêutica utiliza componentes químicos anestésicos e o controle de gases residuais podem
que fazem parte de uma complexa cadeia de ter um impacto significativo nas emissões gerais de
suprimentos que poderia reorientar-se para soluções GEE dos sistemas de saúde. Por exemplo, o impacto
baseadas em materiais orgânicos e em química do óxido nitroso (N2O) no aquecimento da atmosfera é
sustentável. A indústria também deve avançar em quase 268 vezes maior que o do dióxido de carbono.79
direção à produção de medicamentos limpos e de Estima-se que anestésicos, como isoflurano, desflurano
emissões zero que protejam o clima e a saúde das e sevoflurano, tenham um potencial de aquecimento
comunidades adjacentes ao que muitas vezes são global que seja de 500 a 3.700 vezes igual o potencial
instalações industriais petroquímicas altamente tóxicas. do CO2 em um período de 20 anos 80,81 e de 130 a
2.500 em um período de 100 anos. Um estudo do
Um bom ponto de partida para começar a lidar com o NHS na Inglaterra descobriu que, para organizações
impacto climático dos fármacos são os gases de alta de cuidados intensivos, como hospitais, o impacto do
potência, atualmente utilizados tanto em propelentes aquecimento global dos gases anestésicos residuais
de inaladores quanto na prática anestésica. Os dados equivale a cerca de metade das emissões usadas
disponíveis indicam que as emissões combinadas para aquecer edifícios e água.82 Para regiões onde
desses dois usos farmacêuticos representam pelo a cobertura completa está disponível nos dados
menos 0,9% da pegada do setor saúde global. Optar da CQNUMC, a anestesia com óxido nitroso soma
por alternativas e ações disponíveis para evitar um adicional de 0,7% à pegada da saúde norte-
as emissões das salas de cirurgia representa uma americana e 1,0% à pegada da União Europeia. Para
oportunidade real para agir sobre esse contribuinte gases fluorados usados na anestesia, as emissões
significativo para as mudanças climáticas globais em 2014 foram estimadas em 3,1±0,6MtCO2e,

76
incluindo medicina veterinária e laboratorial.83 Quando negócios, a mudança do modelo de negócios para
combinadas, estas estimativas adicionam 0,2% à pegada uma abordagem "produto como serviço" e logística
global da assistência à saúde. Devido ao aumento da reversa, para que os proprietários percebam o valor
adoção dos gases de alta potência, espera-se que da recuperação de materiais.86
a pegada dos gases anestésicos aumente. Gases
anestésicos contribuem, portanto, com pelo menos Mudanças nas estratégias de negócios significarão
0,6% do impacto climático global dos serviços de novas estratégias para tratar materiais. Os materiais
saúde. A adoção mais ampla de sistemas de captura precisam ser não tóxicos, reutilizáveis, reciclados
e reutilização de resíduos pode ter o potencial de ser e recicláveis, duráveis, de baixo carbono e
uma medida eficaz de mitigação climática específica renováveis. As cadeias de suprimentos devem ser
para a assistência à saúde; no entanto, novas pesquisas geograficamente o mais curtas possível.
são necessárias para determinar todo o seu potencial.
Em todos os casos, todos os materiais precisarão ser
Consulte o Anexo C para as intervenções saudáveis e seguros, pois não faz sentido reciclar
recomendadas para incentivar e produzir produtos infinitamente materiais que têm um impacto tóxico nas
farmacêuticos de baixo carbono nos três caminhos. pessoas e na biosfera. Da mesma forma, o descarte de
resíduos precisa ser reduzido a um mínimo absoluto,
Ação 6. Implementar uma vez que os materiais perdidos nas etapas de
instalação e retorno, ou de consumo e decomposição,
serviços de saúde circulares precisam ser substituídos por recursos virgens
e com uma gestão retirados da natureza.
sustentável dos resíduos
Um número crescente de organizações, incluindo a
decorrentes da atividade
OCDE, a UE, o PNUMA e a Fundação Ellen MacArthur
Implementar princípios de economia circular para estão trabalhando para construir princípios e
adquirir suprimentos, implantar tecnologias limpas, abordagens para a economia circular.87 Outros buscam
reduzir o volume e a toxicidade dos resíduos da assegurar que essa abordagem seja relevante e
saúde e gerir os resíduos de forma sustentável. inclusiva para países de baixa e média renda.88

A ação nessas áreas pode levar a uma redução das O setor saúde tornou-se cada vez mais dependente
emissões acumuladas do setor saúde de pelo menos de dispositivos médicos descartáveis de uso único,
4,8 Gt CO2e entre 2014 e 2050. particularmente em países de alta renda. Alguns
dispositivos médicos de baixa complexidade, como
Uma abordagem de economia circular implica seringas e agulhas, são melhor projetados como
dissociar gradualmente a atividade econômica do sendo descartáveis, e deveriam ser reciclados
consumo de recursos finitos e do descarte de resíduos como parte de uma abordagem circular dos
fora do sistema.84 Ela pode reduzir as emissões, serviços de saúde. Outros dispositivos de alta e
conservar recursos e minimizar o desperdício.85 média complexidades podem ser reformulados
TA transição para uma economia circular na saúde para circularidade, incluindo maior longevidade,
requer uma reformulação sistêmica das cadeias de reprocessamento e reutilização de materiais.89
suprimentos e da prestação da assistência à saúde.
Essa reformulação começa com o planejamento de

77
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Os plásticos à base de combustíveis fósseis em risco de ameaças ocupacionais, ambientais ou de


tornaram-se indispensáveis no setor saúde, facilitando saúde pública geradas por resíduos médicos tratados
o trabalho dos profissionais de saúde em todo o de forma inapropriada.92
mundo. O baixo preço do plástico e sua relativa
facilidade de fabricação levaram, no entanto, ao uso A incineração de resíduos de serviços de saúde
excessivo de produtos plásticos e embalagens na envolve a geração de emissões climáticas,
área da saúde, muitas vezes em situações em que principalmente CO2 e óxidos de nitrogênio, uma gama
não são necessários. No entanto, como todos os de substâncias voláteis (metais, ácidos halogênicos,
outros setores, o setor saúde pode examinar como produtos de combustão incompleta) e material
reduzir seu consumo, e garantir que o que é utilizado particulado, além de resíduos sólidos na forma de
seja descartado de forma segura e sustentável. Os cinzas.93 SIncineradores de pequena escala, que são
profissionais de saúde em todos os níveis têm papel a tecnologia de tratamento mais comum usada em
essencial na redução do impacto dos plásticos que países em desenvolvimento, emitem GEE e outros
utilizam e descartam. Eles também podem ser um poluentes tóxicos, como dioxinas e furanos.94 A
modelo para sua comunidade local e compartilhar descarbonização do setor saúde exigirá que a gestão
lições de sua própria experiência para aconselhar e de resíduos seja conduzida com emissões e outros
inspirar mudanças mais amplas.90 impactos ambientais mínimos, garantindo segurança
para proteger pacientes, trabalhadores da saúde e
A minimização de resíduos, por exemplo, através comunidades do entorno.
do desenvolvimento de soluções sem embalagens
e segregação de materiais (para coleta segura, Alternativas à incineração para o tratamento de
esterilização para reuso e/ou reciclagem) é um resíduos dos serviços de saúde foram recomendadas
componente importante da economia circular e para reduzir a emissão de dioxinas e furanos exigida
o ponto de referência para processos eficazes pela Convenção de Estocolmo sobre Poluentes
de gestão de resíduos. Isso requer um esforço Orgânicos Persistentes. Apenas 20% dos resíduos
conjunto em toda a cadeia de suprimentos desde em ambientes da área da saúde são perigosos.95
o design do produto, escolha de materiais usados A segregação eficaz de resíduos é necessária
nos produtos, embalagens, reutilização, adaptação, para garantir que apenas os resíduos perigosos
reprocessamento e reciclagem. recebam tratamento especial conforme necessário,
enquanto outros resíduos podem ser reciclados ou
Ao mesmo tempo, o setor saúde gera volumes reprocessados. A OMS pediu a eliminação gradual
significativos de resíduos que devem ser descartados da incineração como uma estratégia de longo
com segurança, incluindo resíduos infecciosos, prazo.96 AReciclar e utilizar a autoclave, o biodigestor
como objetos cortantes e curativos, tecido humano e outras tecnologias sustentáveis de gestão de
e outros resíduos perigosos (por exemplo, metais resíduos da saúde têm pegadas de carbono mais
pesados, produtos farmacêuticos e outros produtos baixas do que a incineração. Por exemplo, um
químicos). A má gestão dos resíduos dos serviços de projeto piloto comparando o custo e as emissões de
saúde foi registrada pelo Relator Especial das Nações CO2 da incineração e queima externa de resíduos
Unidas como uma violação dos direitos humanos em de imunização em comparação com o tratamento
muitos países.91 Uma revisão de 2009 concluiu que usando uma autoclave mostrou que as autoclaves
aproximadamente 50% da população mundial está produziam menos emissões de gases de efeito estufa
e eram menos caras para operar.97 São necessárias

78
pesquisas adicionais sobre os métodos de tratamento melhorar sua prestação de cuidados. Uma trajetória
de resíduos dos serviços de saúde que mitigam as em direção a emissões zero deve ser projetada para
mudanças climáticas. melhorar a qualidade e a prestação da assistência à
saúde e vice-versa. Ao reunir propositalmente essas
O setor saúde e cada indivíduo que trabalha para duas prioridades, o setor saúde pode alcançar múltiplas
influenciar ou entregar serviços de saúde de qualidade vitórias, como melhor qualidade do atendimento, melhor
pode se assegurar de que o uso de cada produto aproveitamento dos recursos, descarbonização e
inclua considerações sobre o quão necessário ele é e economia financeira.
sobre onde ele pode ser descartado. Isso inclui luvas,
uniformes, gases anestésicos, inaladores, todos os Como um artigo recente encomendado pela Academia
instrumentos médicos e qualquer produto utilizado em Nacional de Medicina dos EUA avalia, "Melhorar a
assistência à saúde. A gestão, reutilização, reciclagem qualidade e a segurança da assistência à saúde é
ou descarte de produtos e materiais é uma importante uma estratégia climática fundamental. A prescrição
consideração para a assistência à saúde, pois aborda excessiva, o excesso de tratamento, os erros
sua pegada climática, contribuição para a poluição do médicos evitáveis e a prestação de assistência de
ar e outras questões de saúde ambiental. baixa qualidade levam ao aumento da demanda por
serviços e às emissões de carbono evitáveis. Assim,
Consulte o Anexo C para as intervenções o movimento climático e o movimento pela qualidade
recomendadas para implementar serviços de saúde estão fortemente conectados.”98
circulares e gestão sustentável de resíduos da saúde
nos três caminhos. Por exemplo, os modelos de atendimento para
especialidades ou tratamentos individuais precisarão
ser orientados por critérios de qualidade e carbono.
Isso envolverá rever a forma como a assistência
Ação 7. Alcançar uma maior é prestada, como os materiais são usados e
efetividade do sistema de descartados, e garantir que cada ação e decisão leve
saúde em conta a sustentabilidade e o clima.

Reduzir as emissões através da melhoria da eficácia Nesse contexto, os países podem aprender com
do sistema, incluindo a eliminação de práticas as experiências e resultados uns dos outros.99 Por
ineficientes e desnecessárias, conectando a redução exemplo, há uma diferença de 20 vezes na quantidade
do carbono à qualidade dos cuidados em saúde, e de emissões entre a cirurgia de catarata no País de
reforçando a resiliência. Gales e na Índia, com resultados semelhantes para
os pacientes. E dentro do Reino Unido, a pegada de
Uma maior eficácia do sistema de saúde pode contribuir carbono da diálise renal pode variar em quatro vezes,
para uma redução cumulativa das emissões globais dependendo da técnica e localização.100 Quando
do setor saúde de pelo menos 4,1 Gt CO2e entre 2014 surgem tradeoffs inevitáveis, como equilibrar medidas
e 2050, com potencial para superar essa economia de controle de infecções que exigem alto consumo
através de ações ambiciosas e transformadoras. de energia com a redução do uso de energia,
será necessário empregar uma gestão adaptativa
O setor saúde deve alinhar seus esforços para cuidadosa baseada na rigorosa coleta e análise de
descarbonizar e construir resiliência com iniciativas para dados para gerar soluções.101

79
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Evitar tratamentos desnecessários pode tanto Alinhando a eficácia do sistema de saúde, UHC e a
melhorar a qualidade do atendimento quanto redução de emissões
reduzir as emissões. Por exemplo, os sistemas de
saúde podem mirar no excesso de tratamento e na A eficácia de um sistema em garantir resultados
prescrição excessiva como importantes linhas de ação de qualidade na assistência à saúde e em
no combate às mudanças climáticas que reduzem fornecer cobertura universal de saúde (UHC) varia
o uso e, portanto, a demanda por procedimentos significativamente, embora cada sistema esteja
e farmacêuticos desnecessários. Garantir que trabalhando para obter maiores ganhos em saúde e
apenas tratamentos eficazes sejam visados ajudará otimizar o uso dos recursos disponíveis. Diferentes
a garantir que a capacidade do setor saúde esteja caminhos e diferentes níveis de efetividade para
melhor adaptada para atender às necessidades da alcançar a UHC podem afetar o nível de emissões que
população. Abordar a eficiência e efetividade das um sistema de saúde gera. Quanto mais eficiente for
amplas categorias de serviços empresariais de saúde, um sistema de saúde em alcançar a cobertura global
bem como a tecnologia da informação e comunicação, de saúde, mais alinhado com as metas climáticas
também são passos importantes. globais ele se tornará.

Índice de 100
JPN
cobertura
efetiva de SGP SMR CHE
ISL FRA IRL LUX AND
UHC, 2019 KOR ESP AUS NOR
FIN GBR NLD
CAN
ITA DNK
PRT MLT NZL BEL AUT DEU USA
EST CZE
CVP GRC ISR
80 CRU KWI BMU
PER QAT
LBN CHI SVK TWN
PRI CUB
THA BHR
JOR BLR
URY
LKA MYS MDV
BRN
BRA
GUM SAU
BHS ARE
60
ZAI ARG
JAM BWA
MUS TTO
VIR
SUR Super região CGM (Carga global de mortalidade)
MNG PLW Europa Central, Leste Europeu e Ásia Central
FJI
TKM MRU Renda alta
GUY América Latina e Caribe
40 TUV
LSO Norte da África e Oriente Médio
KIR
FSM Ásia Meridional
GIN Sudeste Asiático, Ásia Oriental e Oceania
TCD
África Subsaariana
SOM
CAF
20

0 500 1000 2000 4000 8000


100
Gastos da saúde agrupados (PPC em US$), 2017

Figura 19. Fronteira do índice de cobertura efetiva de UHC em relação ao gasto total com saúde per capita.

80
O IHME publicou um documento expressando a relação Países que conseguiram um bom equilíbrio estão
entre a despesa da saúde per capita e os resultados demonstrando modelos de entrega de UHC mais
de UHC.102 A Figura 19 ilustra o custo de paridade per eficientes. A maioria dos países, especialmente os de
capita de cada país gasto em saúde mapeado para um renda baixa e média, precisará aumentar seus gastos
total de 17 indicadores de UHC.103 O documento sugere com saúde para alcançar a UHC e precisará fazer isso
que aumentos nos gastos com saúde podem melhorar de uma forma climaticamente inteligente (consulte a
a cobertura UHC, mas a eficácia de cada dólar adicional seção sobre “UHC verde” abaixo). Ao mesmo tempo,
gasto varia muito entre os países e tem retornos alguns países mais ricos podem alcançar uma cobertura
decrescentes à medida que os gastos per capita com de saúde mais eficaz reduzindo seus gastos, tornando-
saúde aumentam. Isso tem uma correlação direta com se assim mais efetivos na alocação de recursos, bem
as emissões da assistência à saúde. como no desenho dos modelos de atenção. Essas
reduções também podem levar a uma redução nas
emissões de carbono, alinhando assim a eficácia, a
cobertura universal de saúde e os objetivos climáticos.

CURVE DE MELHOR
Índice de 100 PERFORMANCE
D JPN
cobertura
efetiva de SGP SMR CHE
ISL FRA IRL LUX AND
UHC, 2019 ESP
KOR AUS NOR
FIN GBR NLD
CAN
ITA DNK
PRT NZL BEL AUT DEU
EST CZE MLT USA
CVP GRC ISR C
80 CRU KWI BMU
PER QAT
LBN CHI SVK TWN
PRI CUB
THA BHR
JOR BLR
URY GRL
LKA MYS MDV
BRN
BRA
GUM SAU
BHS ARE
60
ZAI ARG
JAM BWA
MUS TTO
VIR
SUR Super região CGM (Carga global de mortalidade)
MNG PLW Europa Central, Leste Europeu e Ásia Central
FJI
TKM MRU Renda alta
GUY América Latina e Caribe
40 TUV
LSO Norte da África e Oriente Médio
KIR
FSM Ásia Meridional
GIN Sudeste Asiático, Ásia Oriental e Oceania
TCD
África Subsaariana
SOM
CAF
A B
20

0 500 1000 2000 4000 8000


100 $1400
Gastos da saúde agrupados (PPC em US$), 2017

Figura 20. Alocação de países a um dos quatro grupos delineados por um limite de UHC de 80,
com uma despesa de saúde de US$ 1,400 por pessoa por ano.

81
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

O quadrante C da Figura 20 identifica os países onde,


ao melhorar a efetividade dos sistemas de saúde,
as reduções de despesas podem ser alcançadas
sem reduzir o nível da cobertura universal de saúde.
Supondo que esses países possam se tornar mais
eficientes e efetivos na forma como gastam seus
recursos de saúde e alcançar uma redução projetada
de 20% nas despesas até 2050, estimamos que
essa medida de eficiência também permitirá que
eles reduzam suas emissões climáticas cumulativas
em até 1,9 Gt de CO2e de 2014 a 2050, que foi
aproximadamente o equivalente à pegada climática
total dos serviços de saúde em 2014 (para obter mais
detalhes, consulte o relatório técnico no Anexo A).

Consulte o Anexo C para as intervenções


recomendadas para estabelecer uma maior
efetividade do setor de saúde nos três caminhos.

Emissões do 2500 Escopo 1


setor de saúde Escopo 2
por ano após
Serviços corporativos
intervenções de 2000
descarbonização Construção
e redução de Eletricidade (escopo 3)
emissões Alimentação, refeições e
1500
(Mt CO2e) hospedagem
Combustíveis fósseis (carvão e gás)
1000 Tecnologias de informação e
comunicação
Combustíveis manufaturados,
500 químicos e gases
Equipamentos médicos e
instrumentos
0 Outros produtos manufaturados
2014 2018 2022 2026 2030 2034 2038 2042 2046 2050
Produtos de papel
Produtos farmacêuticos
Figura 21. Detalhe do território inexplorado da Figura 17. Pegada projetada para o setor saúde Transporte
após as ações de mitigação de emissões e descarbonização econômica, mostrando as emissões Resíduos, água e saneamento
por categoria. Outras aquisições

82
Território inexplorado: Fechando a lacuna das emissões do
setor saúde
Mesmo se o setor conseguisse realizar com sucesso conhecido pela sigla WASH. WASH é essencial para
todas as intervenções modeladas acima nas qualquer provisão segura de assistência à saúde e está
operações de saúde, na cadeia de suprimentos e na faltando em muitos países de renda baixa e média. É um
descarbonização da sociedade e economia em geral, objetivo importante melhorar a WASH nas unidades de
estimamos que, sem ação adicional, as emissões saúde. Há uma série de estratégias para desenvolver
anuais de saúde ainda ficariam em 1,1 gigatoneladas uma WASH com inteligência climática, como coleta de
em 2050. água da chuva, distribuição de água com eficiência
energética e tratamento de águas residuais, que podem
Essas emissões restantes precisam ser minimizadas ao abordar simultaneamente a pegada da área da saúde
longo das próximas três décadas por meio de medidas enquanto expandem a WASH.104
que exigirão pesquisa, inovação e a exploração de
iniciativas específicas de gestão de resíduos do setor Esta seção investiga esse território desconhecido
saúde. Percorrer este território inexplorado e abordar e identifica um conjunto inicial de oportunidades
a lacuna de emissões da prestação de serviços de ação. É um terreno que não fomos capazes de
de saúde também apresenta uma oportunidade traçar, medir ou modelar sistematicamente com
para repensar e redefinir como tais serviços são a metodologia deste Roteiro. Em vez disso, ao
compreendidos e prestados. considerar a questão de como lidar com essas
emissões residuais, pretendemos iniciar uma
A Figura 21 ilustra o tamanho e a natureza da lacuna e exploração e discussão sobre reduções adicionais
mostra em detalhes o que é representado na Figura 17 necessárias para fechar a lacuna ao longo do tempo.
como “território inexplorado''. Ela mostra a lacuna total Essas oportunidades também podem fornecer
de emissões em relação à trajetória geral do setor uma chance de reinventar a forma como a saúde
saúde até 2050. As categorias de emissões ilustradas é fornecida para que haja uma maior equidade e
são as emissões restantes após serem realizadas melhoria da qualidade do atendimento.
todas as ações de descarbonização descritas Quanto mais cedo o setor for capaz de administrar
anteriormente que pudemos modelar. essas emissões residuais, mais fácil será chegar
a emissões zero. De fato, agir hoje para começar
A Figura 20 destaca as áreas em que as previsões a minimizar essa lacuna e abordar esse “último
de modelagem do Roteiro exigirão maior foco para quilômetro” de descarbonização é crucial para garantir
fechar a lacuna. As emissões dos escopos 1 e 2 são que o setor possa cumprir sua parte em um mundo
reduzidas proporcionalmente ao longo do tempo, livre de emissões. Os seguintes aspectos podem
enquanto outras áreas da cadeia de suprimentos, desempenhar um papel significativo.
como produtos farmacêuticos e alimentos, aumentam
sua participação. Essa mudança projetada nos padrões • Aprofundamento da redução de emissões nas sete
de emissões das próximas três décadas exigirá uma áreas de ação de alto impacto.
mudança das respostas ao longo do tempo, incluindo • Estabelecimento de uma UHC sustentável,
o estabelecimento de novas soluções inovadoras. integrando sustentabilidade e resiliência em todo o
sistema com cobertura universal de saúde.
Outra área com aumento previsto da pegada climática • Maximização da telessaúde e cobertura do último
da saúde é água e saneamento, que inclui resíduos quilômetro para locais e comunidades de difícil acesso.
sólidos, água, saneamento e higiene, grupo também • Integração de assistência de saúde climaticamente

83
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

inteligente na resposta a emergências e preparação Fomentar inovações climáticas


para pandemias. e na saúde para aprofundar a
• Estabelecimento da prevenção de doenças como
redução de emissões nas sete
prevenção da mudança climática.
• Reinvenção de sistemas de financiamento para dar áreas de alto impacto
suporte a pessoas saudáveis em um planeta saudável.
• Desenvolvimento de soluções baseadas no setor À medida que as práticas, as operações e a gestão
saúde para compensações de carbono. da prestação de serviços de saúde evoluem no
• Preparação para soluções futuras, investindo em século XXI, a tecnologia, os materiais e a cultura
pesquisa e inovação. do setor também precisam evoluir. A ação climática
para emissões zero e resiliência precisarão se tornar
critérios importantes, que ajudem a determinar a
direção dessas inovações no setor, sejam elas nas
áreas de telemedicina, produção farmacêutica, novos
tratamentos de doenças ou em outras áreas do
“território inexplorado''. É essencial investir e fomentar
essa inovação.

O modelo que usamos é inerentemente limitado,


pois só pode medir parcialmente as reduções de
emissões globais em cada uma das sete áreas de
ação de alto impacto. Portanto, não fomos capazes
de modelar, em escala global, todas as reduções de
emissões que poderiam ser alcançadas por todas as
intervenções específicas propostas. Sabemos a partir
de evidências específicas de países ou de sistemas de
saúde que são intervenções com boa relação custo-
benefício e, se dimensionadas totalmente em todo
o mundo, podem reduzir significativamente a lacuna
de emissões dos cuidados de saúde apresentada
neste roteiro. Essas áreas precisam ser mapeadas
de forma mais sistemática e inovações precisam ser
desenvolvidas para dimensionar a próxima geração de
intervenções com inteligência climática.

Além disso, poucos países estabeleceram medição


granular, análise ou rastreamento de sua pegada
climática da saúde. Como uma ferramenta de orientação,
este Roteiro global traça o esboço básico das direções
que devemos seguir (e as fichas informativas fornecem
um esboço inicial para 68 países), mas os detalhes a nível
nacional não foram explorados.

84
Além disso, especialidades inteiras ainda não avaliaram de saúde. Perturbações climáticas em uma parte
sua contribuição específica para a crise climática e a do mundo podem colocar em risco as cadeias de
melhor forma de mitigá-la. A maioria dos tratamentos suprimentos da saúde em outras, o que impacta a
e suas alternativas não foram totalmente analisados prestação de serviços. A mudança climática aumentará
com lentes climáticas. Também já sabemos que várias a carga geral de doenças. A crise climática pode
áreas precisam de soluções específicas de cuidados arrastar mais de 100 milhões de pessoas de volta à
de saúde, incluindo o desenvolvimento sistemático de pobreza extrema até 2030, sendo grande parte dessa
caminhos de assistência de baixo carbono; o design reversão atribuível a impactos negativos na saúde.106
de materiais livres de substâncias tóxicas e de baixo
carbono clinicamente adequados, que podem ser Na era das mudanças climáticas, os padrões de
reutilizados ou reciclados; a redução das emissões de necessidades de saúde provavelmente mudarão
carbono da pesquisa médica, combinando garantia de significativamente, enquanto a demanda por
qualidade com sustentabilidade; o desenvolvimento serviços provavelmente mudará devido à migração
de uma UHC sustentável, e muito mais. É necessário humana desencadeada pelas perturbações no
desenvolver e aprofundar a compreensão em todos clima. À medida que a crise climática evolui, ela
esses níveis para identificar, aprimorar e inovar as também gerará crises financeiras que podem afetar
soluções mais adequadas. negativamente o financiamento do sistema de saúde.
Em última análise, se não formos capazes de manter
O setor saúde deve assumir a responsabilidade pelos o aumento da temperatura global em 1,5ºC, a UHC
elementos que lhe são específicos, incentivando a pode ser inatingível.
pesquisa e a inovação na saúde e em outros setores
relacionados. O tempo está se esgotando e é vital O oferecimento e contínuo desenvolvimento da UHC
acelerar esses esforços. Estabelecer e investir em uma devem levar em consideração esses e outros riscos
série de centros de inovação climática e de saúde apresentados pela crise climática. Ao integrar-se
ou fundos que se concentram em alcançar emissões sustentabilidade e assistência à saúde climaticamente
zero e resiliência climática na saúde são medidas que inteligente na UHC, uma série de oportunidades
poderiam aprofundar e acelerar a descarbonização surgem para construir sistemas de saúde mais
por meio das sete áreas de ação de alto impacto e robustos e eficazes.
identificar caminhos inovadores para o futuro.
Os formuladores de políticas e profissionais de saúde
precisam integrar o fortalecimento, a descarbonização
Estabelecer UHC verde integrando e a resiliência do sistema de saúde em uma
abordagem coerente para o investimento e prestação
sustentabilidade e resiliência à de serviços de saúde. Por exemplo, a UHC deve,
cobertura universal de saúde por design, garantir que a assistência à saúde seja
A crise climática ameaça o fornecimento da cobertura alimentada por energias renováveis para aumentar o
universal de saúde de várias maneiras, incluindo o acesso, a resiliência e a redução de emissões. Isso
risco que representa para os serviços de saúde, para também garantirá que os resíduos sejam minimizados
a saúde da população e para o financiamento da e gerenciados de forma sustentável, os produtos
saúde.105 Eventos climáticos extremos têm impactos utilizados sejam ecologicamente corretos e projetados
diretos em instalações e infraestrutura de saúde, ao para reutilização, as cadeias de vacinas frias sejam
mesmo tempo que colocam em risco os profissionais amigáveis ao clima e os sistemas de saúde se

85
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

concentrem nas intervenções de saúde à montante para pacientes que vivem em áreas rurais – e
(upstream) e na resiliência da comunidade. Com o diminuição dos custos de cuidados de saúde.108
tempo, esses investimentos podem gerar economia
nos custos de instalações e infraestrutura, permitindo Naturalmente, a telessaúde ajuda a minimizar as
que recursos financeiros sejam usados para a viagens dos pacientes e, por sua vez, contribui para a
prestação de serviços de saúde. redução das emissões de GEE, diminuição da poluição
do ar e uma comunidade mais saudável. Embora
Todas essas medidas podem, em última análise, nossas estimativas da pegada global da saúde não
melhorar o acesso à saúde e os resultados tenham conseguido incluir as viagens dos pacientes,
sanitários, e construir melhores instalações, sistemas sabemos que isso pode ser uma parte significativa
e resiliência da comunidade, tudo isso enquanto da pegada da saúde em muitos países. Por exemplo,
reduzem o clima e a pegada ambiental do setor no Reino Unido, as viagens de pacientes compõem
saúde. Para atender às metas globais de saúde e aproximadamente 8% da pegada de carbono do
clima, a UHC verde precisa tornar-se a norma e deve NHS.109
ser integrada aos investimentos, planejamento e
prestação de serviços em saúde. À medida que a telessaúde se torna mais comum,
ela também pode reduzir a demanda de grandes
instalações de saúde, reduzindo potencialmente o uso
Maximizar a telessaúde e cobrir o e a necessidade de instalações e infraestrutura com
uso intensivo de carbono. Em um sistema de saúde
"último quilômetro" até localidades climaticamente inteligente do futuro caracterizado por
e comunidades com pouco acesso serviços de saúde fornecidos localmente e telessaúde,
à saúde os cuidados hospitalares com uso intensivo de recursos
devem se tornar o último recurso, utilizado apenas para
A evolução da internet e dos sistemas online anunciou aqueles cujos cuidados não podem ser prestados com
uma nova era que poderia reduzir as emissões globais segurança perto de suas casas.110
de gases de efeito estufa em 15% ao minimizar os
requisitos de transporte.107 Além disso, muitas formas É importante evitar o aumento das desigualdades
de prestação de serviços podem ser realizadas por quando as comunidades pobres estão menos
meio de estratégias de telessaúde que fornecem conectadas. Ao mesmo tempo, a telessaúde tem
assistência à saúde de qualidade e reduzem as o potencial de aumentar a equidade em saúde ao
emissões de transporte do paciente. De modo geral, melhorar o acesso de comunidades isoladas, ajudar
a telessaúde oferece a capacidade do setor saúde a mudar o paradigma da saúde para focar na saúde
tornar-se mais resiliente, menor, menos intensivo em comunitária, e liberar recursos para a prestação de
recursos e mais econômico. mais serviços de saúde.111 Enquanto a garantia do
acesso universal a uma escala larga de serviços de
Por exemplo, durante a pandemia de COVID-19, muitos tratamentos médicos e assistência à saúde deve
sistemas de saúde transformaram seus sistemas continuar a ser priorizada, um foco na digitalização e
de agendamento e passaram a oferecer consultas na telessaúde pode ajudar a assegurar que muitos
médicas online sempre que possível. Nos Estados serviços possam alcançar comunidades isoladas e
Unidos, isso resultou em conveniência melhorada, de baixa renda, e que estas comunidades recebam o
maior acesso à assistência à distância – especialmente mesmo acesso a estes serviços que o público geral.

86
Integrar serviços e infraestruturas em formas de viver e trabalhar, minimizando as
sanitárias climaticamente inteligentes desigualdades, mitigando os determinantes sociais da
saúde e abordando as injustiças sociais.
na resposta a emergências e na
preparação para pandemias
Estabelecer a prevenção contra
O setor saúde costuma reagir na linha de frente em
tempos de crise e terá um papel cada vez maior a
doenças como prevenção contra
desempenhar nos casos de pandemias e crescentes alterações climáticas
emergências relacionadas ao clima. Garantir a
resiliência da equipe, dos sistemas e da infraestrutura Em teoria, a redução da carga de doenças também
é crucial para um serviço responsivo em que as pode diminuir as emissões climáticas da assistência
operações precisam se concentrar em garantir que as à saúde ao reduzir a necessidade de tratar essas
comunidades mais marginalizadas não fiquem ainda doenças. Como a Dra. Rene Salas e seus colegas
mais para trás. escreveram na revista científica BMJ, “A prevenção
primordial e primária – incluindo redução da pobreza
Ao mesmo tempo, as vastas redes de resposta a e da desigualdade, fortes redes sociais, controle
emergências e desastres do setor saúde – com base do abuso de tabaco e outras substâncias, dietas
nos sistemas de saúde locais, ministérios nacionais saudáveis e atividade física – são intrínsecas à
e organizações internacionais – podem implementar transformação porque reduzem a necessidade de
medidas de descarbonização e sustentabilidade serviços de saúde e, portanto, de tratamentos com uso
que alinhem seu trabalho com a trajetória do setor intensivo de energia e recursos” 113
em direção a emissões zero enquanto melhoram a
eficácia e resiliência dos cuidados que prestam. O Como parte de nossa análise do território inexplorado
Programa de Hospitais Inteligentes da Organização neste Roteiro e como uma forma de testar essa teoria,
Pan-Americana de Saúde, por exemplo, integra avaliamos as potenciais reduções de emissões da
componentes de sustentabilidade em suas área da saúde de quatro grandes intervenções de
listas de verificação (checklists) de preparação saúde destinadas a abordar as prioridades globais da
para desastres.112 Muito mais pode ser feito para saúde: restringir o uso do tabaco, reduzir o consumo
integrar estratégias climaticamente inteligentes de carne, reduzir a obesidade e combater à poluição
no planejamento de resposta a emergências e do ar ambiente.
preparação para desastres (e vice-versa). Isso permite
uma abordagem mais eficaz e resiliente e pode ajudar Embora existam dados consideráveis sobre a
a desenvolver a capacidade de reconstruir serviços redução de emissões que o mundo pode alcançar
mais fortes e sustentáveis após as crises. reduzindo a poluição do ar ou o consumo de carne,
perguntamos: se o mundo cumprisse as metas de
O setor saúde também precisa responder de forma saúde estabelecidas internacionalmente nessas quatro
proativa com um foco voltado para a comunidade, áreas, poderíamos medir a redução nas emissões
a fim de reduzir a carga de doenças que pode climáticas adicionais da saúde que acompanhariam
aumentar devido a essas emergências e ser ainda tais conquistas?
mais cara para remediar. Apoiar a resiliência baseada
na comunidade pode ajudar a transformar a saúde

87
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Baseamos nossa modelagem em metas, como a meta de alta prioridade. Essas descobertas ressaltam a
da OMS de redução relativa de 30% na prevalência necessidade de mais pesquisas e maior compreensão
do uso do tabaco até 2025 em relação aos níveis de do papel que a saúde individual e populacional pode
2010 e, em seguida, ampliamos a meta e aplicamos desempenhar na contribuição para a redução do
uma redução na prevalência do fumo de 60% até impacto climático.
2050. Para uma redução no consumo da carne,
usamos a meta colocada pela Comissão Com-Lancet, Reconhecendo essas limitações, a modelagem para
que visa reduzir o consumo global de carne a 43 g/ essas intervenções (descritas em mais detalhes no
dia per capita até 2050 em relação aos níveis atuais, Anexo A) nos permite estimar que, juntas, elas podem
reconhecendo que para obter uma nutrição melhor, resultar em reduções cumulativas de cerca de 1,5
alguns países podem aumentar seu consumo da gigatoneladas de emissões de carbono de 2014 a
carne. Para a obesidade, assumimos que o índice de 2050. Isso poderia contribuir para reduzir a lacuna de
massa corporal de cidadãos obesos seria rebaixado emissões da saúde em cerca de 8%.
de classe para "sobrepeso". E para a poluição do
ar, presumimos cumprir a meta declarada da OMS Colocando isso em perspectiva, quando tomada em
de uma redução de dois terços na poluição do ar conjunto (e entendendo a ressalva de que esses
até 2030 e, em seguida, estendemos isso para uma custos de saúde podem ser substituídos por outros),
redução adicional de dois terços entre 2030 e 2050. a economia potencial acusada pelas projeções de 36
Em seguida, estimamos as economias de custos em anos no Roteiro é análoga a não queimar mais de 4
saúde de cada uma dessas reduções e as inserimos bilhões de barris de petróleo, ou desativar 468 usinas
em nosso modelo de insumo-produto do Roteiro para termelétricas a carvão por um ano (ver Tabela 7).
estimar a pegada climática e a redução (para obter
detalhes sobre a metodologia, consulte o Anexo A, e
os documentos detalhados sobre cada intervenção de Reinventar sistemas de
saúde no Anexo D).
financiamento para apoiar pessoas
Reconhecemos que essa abordagem é saudáveis em um planeta saudável
necessariamente falha, pois pode muito bem ser que
os gastos e, portanto, as emissões evitadas por essas À medida que investe em saúde, o setor financeiro
intervenções sejam simplesmente realocadas para um e muitos de seus mecanismos financeiros focados
momento posterior na vida de uma pessoa ou para no setor saúde podem ajudar a impulsioná-
outra parte da cota do sistema de saúde. Isso também lo em direção a emissões zero, incentivando a
é conhecido como efeito rebote, que é difícil de descarbonização sempre que possível, fornecendo
modelar em detalhe e, portanto, muitas vezes não é modelos de negócios baseados em saúde e
considerado em exercícios de modelagem climática. resiliência e integrando a filosofia de uma economia
circular. Esses novos modelos de negócios podem
Apesar dessas limitações, os resultados que geramos garantir que o foco do setor saúde na reutilização
são ilustrativos tanto do impacto climático de estilos de de materiais para construção e outros fins torne-se a
vida pouco saudáveis que levam a grandes problemas nova norma, fornecendo serviços como manutenção
e despesas de saúde, quanto dos benefícios segura de equipamentos médicos e valorizando os
climáticos potenciais das intervenções de saúde componentes restantes.

88
As instituições financeiras públicas e privadas que o desenvolvimento de modelos de serviços de
oferecem subsídios, empréstimos e outros incentivos saúde financeiramente reativos, insustentáveis e
podem garantir que esses instrumentos sejam com uso intensivo de carbono. Os consumidores
usados para acelerar o investimento em um setor devem procurar adotar modelos de atendimento mais
climaticamente inteligente, apoiando a implementação sustentáveis e inteligentes em relação ao clima.
de energia limpa e renovável, materiais sustentáveis
e reutilizáveis, bem como a inovação e pesquisa Os seguros de saúde privados e nacionais podem
que fornecerão as soluções para um mundo garantir que caminhos de baixo carbono sejam
descarbonizado e resiliente. Todo investimento em incentivados por meio de seus mecanismos de
saúde deve, como parte do processo de tomada de reembolso para indivíduos e instituições. Os
decisão, ser considerado tanto por seu retorno social consumidores de assistência médica têm uma
quanto ambiental. grande influência nos modelos de assistência que se
desenvolvem em um sistema de saúde (público ou
Mecanismos de seguro saúde privados e públicos privado), principalmente por meio de seus modelos
podem garantir que caminhos de baixo carbono de reembolso, pacotes de benefícios e protocolos
sejam incentivados. Eles têm significativa influência de assistência. Atualmente, esses modelos estão
em modelos nacionais de atendimento que se aumentando rapidamente em todo o mundo com
desenvolvem por meio de suas práticas de reembolso, a adoção de modelos nacionais de seguro saúde
pacotes de benefícios e protocolos de atendimento. voltados para alcançar a UHC. No entanto, muitos
Essa influência está aumentando rapidamente em desses esquemas estão inadvertidamente apoiando
todo o mundo com a adoção de programas nacionais o desenvolvimento de modelos de assistência
de seguro saúde voltados para alcançar a UHC. No reativos, de estilo ocidental, que não produzem os
entanto, muitos desses mecanismos estão apoiando melhores resultados em saúde e são financeiramente

Área de Redução cumulativa Equivalência de Equivalência em


intervenção de emissões do emissões anuais em número de barris
setor saúde número de usinas de petróleo
(MMT CO2e) de carvão

Tabaco 770 198 1.780.000.000

Poluição do ar 238 61 550.000.000

Obesidade 215 55 515.000.000

Carne 350 90 812.000.000

Total 1573 404 3.657.000.000

Tabela 7. Benefícios potenciais para o clima em termos de reduções de emissões do setor


saúde das quatro principais intervenções na saúde

89
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

insustentáveis e intensivos no uso de carbono. Os Desenvolver alternativas


consumidores (sejam públicos ou privados) devem baseadas no setor de saúde para
buscar adotar ou ser apoiados para alavancar sua
compensação de carbono
influência financeira e criar modelos de assistência mais
sustentáveis e climaticamente inteligentes que serão
financeiramente melhores para eles (no longo prazo), Apesar de todos os esforços que o setor saúde
para seus beneficiários e também para o planeta. pode realizar para descarbonizar, algumas emissões
persistentes permanecerão, mesmo que possam
Em última análise, os protocolos financeiros do setor diminuir com o tempo. O setor deve se esforçar
saúde precisarão redefinir o que significa retorno para garantir que essas emissões residuais sejam
sobre o investimento para incluir a economia da ação gerenciadas de forma a apoiar um futuro mais
climática e estabelecer resultados financeiros para saudável e sustentável. O setor saúde tem um papel
refletir os bens ambientais e sociais. fundamental a desempenhar para que a gestão de
emissões residuais promova a saúde, a equidade e a
resiliência da comunidade.

90
O setor saúde pode estar na vanguarda do O setor saúde poderia identificar soluções inovadoras
desenvolvimento de uma abordagem para lidar ao investir nas comunidades nas quais os sistemas de
com as emissões remanescentes mais persistentes, saúde existem como um meio de melhorar a saúde
estabelecendo soluções personalizadas baseadas e reduzir as emissões. Por exemplo, isso poderia
na saúde, e que se concentram nos investimentos ser obtido identificando intervenções adicionais
em saúde como meio de descarbonização. específicas que melhorem a vida das pessoas
Essas soluções iriam além das opções atuais e reduzam as emissões permanentemente. Tais
de compensação para garantir que quaisquer intervenções poderiam incluir iniciativas à montante
compensações do setor saúde realmente melhorem (upstream) que melhorem a saúde da comunidade,
a saúde, reduzam a desigualdade e aumentem melhorem a equidade e criem resiliência, como
a resiliência, ao mesmo tempo que reduzem as mecanismos locais que melhoram a habitação pública,
emissões. As compensações típicas, como soluções nutrição ou transporte público, reduzem a poluição do
baseadas na natureza (aumento do sumidouro de ar localmente, minimizam o uso de materiais tóxicos
carbono), não fornecerão compensação suficiente e reduzem a necessidade de cuidados médicos
para o nível de gerenciamento residual necessário altamente intensivos.
no mundo e muitas vezes não são consideradas
suficientemente permanentes nem equitativas.114

91
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Mais pesquisas são necessárias para definir esta


abordagem. Isso pode incluir a definição de como
essas intervenções podem ser, e como medir o
benefício para a comunidade e a redução nas
emissões de carbono. Também seria importante
garantir a adicionalidade (em relação à ação de
mitigação previamente comprometida), fornecer
verificação e garantir a permanência das soluções.
Evitar a dupla contagem das reduções de emissões
pode exigir procedimentos de autorização
nacional, registros públicos internacionais e outros
mecanismos de transparência.

Esta é claramente uma área complexa de território


inexplorado, com questões éticas e práticas
complexas. Uma próxima etapa é uma pesquisa
robusta sobre como tais soluções e intervenções
baseadas na saúde podem apoiar reduções de
emissões permanentes que podem atender aos
critérios mais estritos de compensações padrão,
evitando suas armadilhas.

92
6

Impulsionar a mudança
Recomendações políticas
de alta prioridade
“Governos, agências internacionais e sociedade civil,
todos devem agir para colocar os serviços de saúde
no rumo das emissões zero, para construir resiliência e
proteger a saúde das pessoas das mudanças climáticas.”

Dr. Esperanza Cabral, ex-Secretária de Saúde das Filipinas

93
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Ação governamental

O setor saúde tem a oportunidade de ser um líder As autoridades de saúde nacionais e subnacionais
climático e, ao fazê-lo, lograr não apenas um planeta e controlam várias políticas e alavancas financeiras que
uma sociedade mais saudáveis, mas também melhores são essenciais para a descarbonização da saúde. As
resultados de saúde. Ao abraçar este Roteiro – as ações de alto nível que elas podem realizar incluem:
quatro trajetórias típicas dos países, os três caminhos
e as sete áreas de ação prioritárias discutidas nos INCLUIR A QUESTÃO CLIMÁTICA NAS POLÍTICAS
capítulos anteriores –, o setor pode começar a DE SAÚDE
traçar um plano para emissões zero que seja justo e
equitativo. Isso, por sua vez, poderia fornecer liderança Declarar as mudanças climáticas como emergência
para ajudar a impulsionar e acelerar a transformação sanitária: Todos os governos podem começar
social mais ampla necessária para proteger a saúde emitindo uma declaração de que a crise climática
pública das mudanças climáticas. é uma emergência de saúde e requer uma ação
nacional e global conjunta. A declaração pode
Para chegar lá, todo o setor deve se mobilizar e compelir as autoridades de saúde a tomar medidas
transformar, trabalhando em colaboração com outros para preparar os sistemas de saúde para os impactos
setores da sociedade para caminhar rumo ao futuro. A das mudanças climáticas e prevenir as emissões
seguir, uma série de recomendações de alta prioridade. de gases de efeito estufa, enfrentando sua própria
pegada climática.

Assumir compromissos para atingir emissões zero:


O setor saúde pode liderar Os ministérios da saúde e os sistemas nacionais
de saúde podem assumir compromissos públicos
a ação climática. Ao fazer semelhantes ao assumido pelo NHS da Inglaterra,
isso, pode promover a saúde que sinalizou sua intenção de chegar a zero líquido
até 2045 e divulgou um plano de ação inicial para
ambiental juntamente com fazê-lo.115 Ministérios da saúde e serviços de saúde
melhores resultados de saúde. do governo, bem como hospitais e sistemas de saúde
sob sua jurisdição, também podem participar de uma
iniciativa global do setor saúde para tomar medidas
climáticas: o Desafio a Saúde pelo Clima, que apoia
hospitais e sistemas de saúde de uma lista crescente
de mais de 34 países para prevenir as emissões
climáticas, construir resiliência e tomar medidas
de liderança.116 Os hospitais, sistemas de saúde
e serviços de saúde do governo prontos para se
comprometerem com o zero líquido podem se juntar
a uma colaboração entre o Desafio e a CQNUMC,
que é um componente de saúde da Campanha Race
to Zero – a maior coalizão global de todos os tempos
de iniciativas de zero líquido – ao se comprometer
com a redução de 50% das emissões até 2030 e
emissões zero antes de 2050.117

94
Diretrizes nacionais e ferramentas de medição: INCLUIR A SAÚDE NAS POLÍTICAS CLIMÁTICAS
A fim de estabelecer e implementar uma política
de descarbonização sistemática, os governos em Contribuições nacionalmente determinadas
todos os níveis precisam desenvolver suas próprias (NDC): Sob o Acordo de Paris, todas as nações
diretrizes (roteiros). Essas diretrizes devem incluir o devem fazer uma NDC – um compromisso voluntário
estabelecimento da capacidade de medir, rastrear com a redução de emissões – e fortalecer esse
e relatar a pegada total do setor em nível nacional, compromisso ao longo do tempo. Na preparação para
usando dados nacionais granulares. As diretrizes as negociações climáticas globais em Glasgow no final
também devem incluir um plano de ação para a de 2021, a Argentina, que estabeleceu a saúde como
implementação de estratégias de descarbonização uma questão transversal em sua submissão da NDC à
nos três caminhos e sete áreas de ação descritas no CQNUMC, também se tornou o primeiro país a incluir
capítulo anterior e a capacidade de acompanhar o a descarbonização da saúde em uma NDC. A NDC
progresso ao longo do tempo usando uma abordagem argentina pede uma avaliação das emissões de gases
padronizada.118 Os sistemas de saúde nacionais de efeito estufa do setor saúde e o estabelecimento
e subnacionais devem fornecer uma capacidade de medidas para reduzir essas emissões.120 Outros
semelhante a instalações individuais e a grupos de governos podem aproveitar os esforços iniciais
hospitais para que eles possam tomar medidas de da Argentina e prometer implementar serviços de
descarbonização de baixo para cima.119 saúde com inteligência climática como parte de seus
compromissos climáticos globais.121
Ação legislativa e regulatória: Uma série de leis,
regras e regulamentos regem especificamente a Política climática nacional e subnacional: A
atividade do setor saúde em todos os países. Esses implementação da política climática do governo, tanto
regimes geralmente não levam em conta o clima e na variedade legislativa quanto regulatória, geralmente
muitas vezes podem ser revisados para reduzir as é incorporada e executada por uma série de entidades
emissões, protegendo a saúde e mantendo a qualidade diferentes, incluindo aquelas ligadas ao meio
do atendimento. Uma revisão climática completa da ambiente, energia, finanças, agricultura e ministérios
legislação e regulamentações de saúde nos níveis das relações exteriores. Muitas dessas políticas afetam
nacional e subnacional, juntamente com um conjunto ou têm potencial para impactar a saúde e a prestação
de recomendações de políticas especificamente de assistência à saúde. Por outro lado, o setor saúde
adaptadas, podem ajudar a acelerar a descarbonização tem o potencial de afetar essas políticas. Seguindo
e a resiliência. Os governos também devem estimar a abordagem da saúde em todas as políticas, o
os benefícios e/ou custos financeiros gerais da setor saúde deve trabalhar em estreita colaboração
implementação de tais políticas e estabelecer os com todos os setores relevantes para assegurar
mecanismos de financiamento apropriados para cobri- que os governos desenvolvam políticas climáticas
los. Isso pode incluir recursos orçamentários destinados intersetoriais fortes que protejam a saúde pública das
e uma carteira de projetos financiáveis que, em alguns mudanças climáticas e apoiem a descarbonização e
casos, podem ser financiados por meio de cooperação resiliência da saúde.
bilateral e multilateral.

95
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

Nações unidas e outras organizações internacionais

Uma ampla gama de agências das Nações Unidas, de sua liderança em abordar a pegada climática
instituições financeiras internacionais e agências da cadeia de abastecimento de saúde global em
de cooperação bilateral ou grandes fundações que colaboração com outras agências da ONU125 e
oferecem assistência ao desenvolvimento da saúde Saúde sem Dano.126 Ambas as iniciativas podem
precisam desempenhar um papel importante no ser ampliadas para apoiar serviços de saúde com
alinhamento e, simultaneamente, atingir as metas inteligência climática.
globais de saúde e clima.
Instituições financeiras internacionais e agências
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre de cooperação bilateral: Instituições como o Banco
Mudança do Clima (CQNUMC): Sob a liderança de Mundial, bancos de desenvolvimento regional,
seus líderes de ação climática global, a CQNUMC agências de ajuda bilateral e grandes fundações que
desenvolveu um conjunto de caminhos de ação fornecem apoio significativo para o desenvolvimento
climática que delineiam as visões setoriais para da saúde em países de baixa e média renda
um mundo de 1,5°C resiliente ao clima até 2050, e também precisarão desempenhar um papel central
definem as ações necessárias para alcançar esse na formulação da política de saúde, investimento e
futuro. Esses caminhos fornecem uma visão geral das estratégias de desenvolvimento da saúde em geral.
ações transformadoras e marcos necessários para Essas estratégias precisarão alinhar os compromissos
as transformações do sistema dentro dos setores.122 dos países com o Acordo de Paris e o imperativo
Por meio do trabalho dos líderes da ação climática, a de desenvolver o setor saúde, alcançar a cobertura
CQNUMC pode adotar este Roteiro, ou uma versão universal de saúde e os Objetivos de Desenvolvimento
adaptada dele, como um caminho de ação climática Sustentável. Para isso, esses bancos multilaterais de
de assistência à saúde que incentiva o setor a avançar desenvolvimento e agências de ajuda devem integrar
para emissões zero no contexto do Acordo de Paris. princípios e estratégias climaticamente inteligentes
O secretariado da CQNUMC também pode encorajar em sua ajuda à saúde, empréstimos e orientação de
os governos nacionais a incluir a descarbonização políticas.127 Os ramos dessas instituições que financiam
dos cuidados de saúde em suas NDCs. a mitigação e adaptação ao clima, bem como os
mecanismos financeiros focados no clima, como o
Agências das Nações Unidas: A OMS, o PNUD, o Fundo Verde para o Clima e o Fundo Global para o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Meio Ambiente, devem integrar a descarbonização e
e outras agências da ONU têm um papel de liderança resiliência da saúde em seus programas.128
crucial a desempenhar na defesa e aceleração
da descarbonização do setor saúde. A OMS pode
fornecer orientação técnica e política essencial
para os ministérios da saúde em todo o mundo,
especialmente em países de baixa e média renda,
onde a transição para emissões zero e resiliência
deve ser acompanhada pela abordagem simultânea
de outras necessidades de saúde urgentes, incluindo
UHC.123 O PNUD está desempenhando um papel de
liderança na implementação de cuidados de saúde
inteligentes para o clima a nível local, por meio de
sua iniciativa Solar for Health initiative,124 e por meio

96
O setor privado

A presença do setor privado na área da saúde eles podem participar de um movimento global de
se manifesta de várias formas. Quer se trate de saúde para tomar medidas climáticas por meio do
corporações sem fins lucrativos, religiosas e com Desafio a Saúde pelo Clima.129 Os hospitais e sistemas
fins lucrativos que possuem e administram hospitais de saúde prontos para se comprometerem com o zero
e sistemas de saúde, ou empresas que produzem a líquido podem se juntar a uma colaboração entre o
maioria dos bens na cadeia de suprimentos de saúde Desafio e a CQNUMC, que é o componente da saúde
global, o setor privado é onipresente, mesmo em da campanha Race to Zero, discutida acima.
sistemas de saúde administrados publicamente. Ele
tem um papel central e a responsabilidade de alinhar Fabricantes e fornecedores: Como discutido
os imperativos de saúde e clima. no capítulo anterior, há uma série de ações que
fornecedores e fabricantes podem e devem tomar
A regulamentação governamental pode e deve para descarbonizar sua fabricação, embalagens e
desempenhar um papel central no estabelecimento transporte de produtos utilizados na área da saúde. A
de uma estrutura para a transição do setor privado demanda dos sistemas de saúde pode incentivar isso,
em direção à descarbonização. Isso inclui a enquanto empresas ágeis podem antecipar e ajudar a
supervisão de sistemas e instalações privadas de impulsionar a transformação que está em curso. Essas
saúde, bem como de fabricantes e fornecedores de empresas também podem, se assim o desejarem,
tudo o que a área da saúde consome. Os sistemas exercer liderança. Eles podem juntar-se aos esforços
de saúde – públicos e privados – também podem para defender a descarbonização da sociedade e da
agregar sua demanda por produtos e, assim, economia em geral, principalmente da rede elétrica,
influenciar os fabricantes e fornecedores a mudar da qual depende a maioria de suas fábricas. Podem
suas práticas de produção e distribuição. Ao mesmo fabricar os produtos que são altamente eficientes
tempo, as unidades de saúde privadas e o setor em energia e/ou baixos em emissões quando
saúde de maneira geral devem responder à crise empregados em um contexto da área da saúde, que
climática, assumir responsabilidade, demonstrar contribuam para a redução pegada do clima das
liderança e avançar em direção a zero emissões. instalações dos serviços de saúde e reduzam os
custos de energia. Finalmente, eles podem inovar e
Sistemas e instalações de serviços de saúde projetar seus produtos para uma economia circular
privados e sem fins lucrativos: Hospitais e sistemas de que minimize o desperdício e promova a reutilização.
saúde administrados por corporações sem fins lucrativos,
organizações religiosas e empresas com fins lucrativos Seguros de saúde e financiamento da saúde:
devem definir metas ambiciosas para a descarbonização, Os consumidores de seguro saúde (privados ou
atuando ao longo dos três caminhos e sete áreas de públicos) e as empresas de investimento financeiro
ação discutidos no capítulo anterior. Eles também devem são importantes influenciadores no setor e podem
combinar seus esforços de descarbonização com alavancar sua influência para apoiar os serviços
iniciativas de resiliência que reforcem a infraestrutura, de saúde climaticamente inteligentes. As ações
se envolvam com sistemas multissetoriais e apoiem a dos consumidores podem incluir a definição
saúde e a riqueza de comunidades equitativas. Devem de cronogramas de reembolso para favorecer
colaborar e apoiar as autoridades e sistemas de saúde intervenções econômicas e de baixas emissões
públicos, bem como a sociedade civil, para construir uma que produzam resultados de saúde iguais ou
abordagem intersetorial. melhores em relação a ações mais intensivas em
Semelhante aos hospitais administrados pelo governo, carbono. O financiamento da saúde pode definir

97
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

critérios climaticamente inteligentes para construção, das culturas. Essa confiança só cresceu durante a
infraestrutura e compra de bens de capital na área pandemia de COVID-19.
da saúde. Sistemas públicos e privados de saúde e
empresas de saúde também podem desfazer-se de À medida que começamos a superar a COVID-19, os
suas carteiras de investimentos atualmente tomadas profissionais da saúde de todos os países devem
por combustíveis fósseis e, em vez disso, investir em agora voltar suas atenções para seu setor e ajudar a
energia limpa, saudável e renovável. liderá-lo, alertando suas sociedades sobre a próxima
crise iminente – uma que já está sobre nós e que
cada vez mais tomará proporções emergenciais. Eles
devem pedir uma transição rápida dos combustíveis
Sociedade civil fósseis e da agricultura industrializada para a
energia renovável limpa e a sustentabilidade. Eles
A sociedade civil no setor saúde é tão vasta quanto devem fazê-lo para proteger a saúde pública da
diversificada. Ela vai de dezenas de milhões de crise climática e ajudar a levar o próprio setor saúde
médicos, enfermeiros, profissionais de saúde pública a traçar um plano de emissões zero e promover
e outros profissionais de saúde até suas associações mudanças que alcançarão a equidade em saúde e a
profissionais, uma ampla rede de pesquisadores de justiça climática.
saúde, acadêmicos, organizações locais, nacionais e
globais de defesa da saúde.

Esse conjunto de atores da saúde é um elemento


crítico para mobilizar os próprios serviços de saúde
para descarbonizar e tornar-se resiliente ao mesmo
tempo em que alcança a justiça climática e a equidade
em saúde. Muitos profissionais de saúde trabalham
nas próprias unidades de saúde e são vozes
importantes defendendo a mudança. Outros trabalham
em organizações que podem influenciar hospitais
e profissionais de saúde a nível nacional ou mesmo
global. Os profissionais de saúde podem implantar
uma abordagem baseada na ciência do setor saúde
para pesquisar e documentar problemas e soluções.
Além disso, eles podem organizar-se para a mudança,
construindo sobre décadas de experiência com os
flagelos do HIV-AIDS, da indústria do tabaco e agora,
da COVID-19.

Ao mesmo tempo, a sociedade civil no setor saúde


deve desempenhar um papel central na aceleração
da descarbonização da economia e da sociedade
em geral. A voz da saúde – a voz de médicos e
enfermeiros – é a voz mais confiável na maioria

98
Uma palavra final

Mudanças transformadoras muitas vezes não


ocorrem de forma linear. Em vez disso, acontecem
rapidamente e com pouco aviso prévio. Estamos
vivendo sob a sombra iminente de tal mudança
radical na forma de uma emergência climática
acelerada. Ao mesmo tempo, podemos ter esperança
no fato de que o mundo está se tornando mais
consciente dessa ameaça existencial e acelerando
rapidamente sua resposta, preparando o cenário
para uma mudança transformadora na direção da
descarbonização. É uma corrida contra o tempo
e uma corrida contra nós mesmos. Devemos
urgentemente forjar essa esperança de mudança
em um movimento mundial inclusivo para pessoas
saudáveis em um planeta saudável. O setor saúde
pode e deve ajudar a liderar o caminho.

99
Roteiro Global para Descarbonização do Setor Saúde

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