LivroTeórico-ELetras V4 2022
LivroTeórico-ELetras V4 2022
LivroTeórico-ELetras V4 2022
Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em período integral, com aulas e Estudo
Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos
alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:
Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta
editoração eletrôniCa
Felipe Lopes Santos
Letícia de Brito Ferreira
Matheus Franco da Silveira
imagenS
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)
Pixabay (https://www.pixabay.com)
ISBN: 978-85-9542-213-1
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusi-
vo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
posição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos
direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre-
sentando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
2022
Todos os direitos reservados para Hexag Sistema de Ensino.
Rua Luís Góis, 853 – Mirandópolis – São Paulo – SP
CEP: 04043-300
Telefone: (11) 3259-5005
www.hexag.com.br
contato@hexag.com.br
SUMÁRIO
ENTRE LETRAS
GRAMÁTICA 5
AULAS 27 E 28: PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES COORDENADAS E SUBORDINADAS ADJETIVAS 7
AULAS 29 E 30: PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS 10
AULAS 31 E 32: PERÍODO COMPOSTO: ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS 12
AULAS 33 E 34: COLOCAÇÃO PRONOMINAL 14
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 17
AULA 14: TEXTOS EM VERSO I 19
AULA 15: TEXTOS EM VERSO II 22
AULA 16: LEITURA DE IMAGENS I: ARTE RUPESTRE E ARTE DA ANTIGUIDADE 25
AULA 17: LEITURA DE IMAGENS II: DA ARTE MEDIEVAL À ARTE RENASCENTISTA 32
LITERATURA 41
AULAS 27 E 28: PRÉ-MODERNISMO 43
AULAS 29 E 30: TEORIA DA VANGUARDA 50
AULAS 31 E 32: MODERNISMO PORTUGUÊS I 62
AULAS 33 E 34: MODERNISMO PORTUGUÊS II 68
MATRIZ DE REFERÊNCIA DO ENEM
Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida.
Competência 1
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas e grupos sociais.
Competência 2
Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da identidade.
Competência 3
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade.
Competência 4
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e
H14
étnicos.
Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
Competência 5
Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constitu-
Competência 6
Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
Competência 7
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da
Competência 8
própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social,
Competência 9
no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tec-
nologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem.
ENTRE
LETRAS
4
LINGUAGENS
CÓDIGOS
GRAMÁTICA
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Todos os temas deste livro têm alta inci- Compreender como os pronomes fun-
dência no Enem. cionam dentro do período, contribuindo
para sustentar as relações de coordena-
ção e subordinação dentro dos períodos
pode ser um diferencial ao candidato.
Aborda o uso dos pronomes apresenta- Compreender a importância das conjun- Ocorre com certa frequência as fun-
dos neste livro. Além disso, perceber a ções em relação ao estudo dos períodos ções pronominais dentro de orações e
importância das relações de coordena- simples e compostos coordenados e períodos. Assim, o conteúdo deste livro
ção e subordinação dentro dos períodos subordinados será a chave para o bom aborda os elementos que constituem o
será um diferencial para questões que desempenho. período e as relações de coordenação e
envolvam textos, literários ou não. subordinação.
A resolução dos exercícios exige conhe- Além de saber reconhecer as regras Aborda os sentidos possíveis decor- A objetividade de que se compõe dá
cimentos sobre a especificidade de cada da colocação pronominal, o candidato rentes das relações de subordinação e margem para questões bastante diretas
classe gramatical. É relevante, então, deverá reunir a maior quantidade de coordenação. Compreender como essas sobre os usos dos pronomes e os efeitos
saber reconhecer como as próclises e ên- conhecimento sobre as construções sin- relações se constituem e por meio de de sentido decorrentes das relações den-
clises atuam, bem como as conjunções táticas de coordenação e subordinação. quais termos elas se estabelecem será tro do período composto.
para efeitos distintos de sentido dentro de grande ajuda ao candidato.
de um período.
UFMG
Frequentemente apresenta textos con- É comum questões que se atentem aos
A relação entre linguagens verbal e não
figurados por linguagens verbal e não elementos sintáticos de que um texto se
verbal é uma constante neste vestibular.
verbal. Assim, compreender como os vale para a sua composição. Portanto,
Propagandas e charges, então, acabam
pronomes e as relações dentro do perí- convém estar seguro sobre o uso correto
sendo fonte para questões. Reescrever
odo produzem determinados efeitos de dos termos que compõem os períodos
frases pode ser comum, para tanto, saber
sentido será essencial ao candidato. compostos.
utilizar corretamente os pronomes será
um diferencial.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
O uso dos pronomes pode aparecer em A abordagem deste vestibular ampa- Bastante direto, apresenta muitas ques-
questões de aplicação direta, por isso, ra-se na atenção aos diferentes usos tões a respeito de conhecimentos sobre
compreender as funções e regras de das conjunções, de modo a construir a colocação pronominal. É comum, tam-
ênclise e próclise será muito importan- efeitos de sentido dentro de um período bém, que questões ligadas aos efeitos de
te. Ademais, este caderno traz estudos composto. Ademais, entender o uso dos sentido advindos das relações de subor-
sobre os períodos simples e compostos. pronomes trabalhados neste caderno dinação apareçam.
poderá ser de grande ajuda.
6
sentença, podem ser classificadas como adjetivas, subs-
7
Exemplos: Exemplos:
Eles embarcariam para a Europa dentro de uma Vá com cuidado, que o caminho é perigoso.
hora, mas perderam o voo. Mudou de emprego, porque estava farto da rotina.
O cachorro não é bonito; no entanto, é simpático. Ligue para ela, pois hoje é o seu aniversário.
O problema é grave; contudo, há solução.
1.3. Orações subordinadas adjetivas
Importante Uma oração subordinada adjetiva tem valor e função
Dependendo do contexto em que for empregada, a de adjetivo, ou seja, equivale a essa classe de palavras.
conjunção “e” pode indicar ideia de adversidade. As orações adjetivas vêm introduzidas por pronome
relativo e exercem a função de adjunto adnominal do
Exemplo: antecedente.
Resolveu deitar mais cedo e não conseguiu dormir.
Exemplo:
Este é o livro que te indiquei como referência.
c) As alternativas expressam ideia de alternância de
fatos ou escolha. Regularmente é usada a conjunção ou. No exemplo apresentado, a conexão entre a oração su-
Além dela, empregam-se também os pares ora... ora; já... bordinada adjetiva e o termo da oração principal que ela
já; quer... quer e seja... seja. modifica é feita pelo pronome relativo “que”.
Exemplos:
Diga agora ou cale-se para sempre.
Atenção: apenas a segunda oração é sindética, mas am-
bas são alternativas, dada a ideia de escolha.)
Ora mostra-se alegre, ora expressa tristeza profunda. multimídia: poema
Estarei lá, quer você aceite, quer não.
Atenção: nesse último exemplo, a segunda oração fica su- O poema a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, é
bentendida, para evitar a redundância do mesmo verbo.) constituído por meio de um encadeamento de diversas
orações adjetivas. Avalie o tipo de oração adjetiva que
d) As conclusivas exprimem conclusão ou consequên- foi usado e os sentidos que ela incorpora ao poema.
cia referentes à oração anterior. As conjunções típicas são:
logo, portanto e pois (pospostos ao verbo). Usa-se Quadrilha
ainda então, assim, por isso, por conseguinte, de
modo que, em vista disso etc. João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
8
A ausência de vírgula restringe o sentido da palavra homem,
Exemplo: designando um tipo de homem entre vários.
Refiro-me ao livro que é referência.
Trata-se de oração subordinada restritiva que apre-
(ou)
senta valor sintático de adjunto adnominal, uma vez que
Refiro-me ao livro o qual é referência.
qualifica o termo anterior.
DIAGRAMA DE IDEIAS
ORAÇÕES ORAÇÕES
COORDENADAS ADJETIVAS
9
Substituindo a oração subordinada em destaque pelo
PERÍODO pronome “isso”, temos:
LC AULAS
29 E 30
verbo “ser”). Percebemos então que a função sintática
do pronome “isso” na construção é de objeto direto.
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6 e 8 1, 18 e 27
1.1. Classificação das orações
subordinadas substantivas
De acordo com a função que exerce no período, a oração
1. Orações subordinadas subordinada substantiva pode ser:
10
d) completiva nominal: exerce a função de comple- § Oração principal: Eu espero a seguinte solução
mento nominal (complementa o sentido de um elemento
§ Oração subordinada: que religuem a energia elétri-
não-verbal que pertença à oração principal; também vem
ca da casa. (sintaticamente exerce função de aposto da
marcada por preposição).
oração principal).
Exemplo: Atenção: a oração subordinada substantiva apositiva é
Sou favorável a que o absolvam. a única que pode prescindir da conjunção integrante. Isso
§ Oração principal: Sou favorável ocorre por conta do sinal de "dois pontos" que a introduz
funcionar também, como elemento integrante.
§ Oração subordinada: a que o absolvam. (sintati-
camente exerce função de complemento nominal da
oração principal.)
Importante
Não podemos esquecer que as orações subordinadas
substantivas objetivas indiretas integram o sentido de
um verbo, enquanto as orações subordinadas subs- multimídia: música
tantivas completivas nominais integram o sentido de Fonte: Youtube
um nome. Para distinguir uma da outra, é necessário Eu sei que vou te amar – Tom Jobim
levar em conta o termo complementado.
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
e) predicativa: exerce o papel de predicativo do sujeito do Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente, eu sei que vou te amar
verbo da oração principal e vem sempre depois do verbo “ser”.
Exemplo: E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
O grande mal é que me esqueço das coisas. Por toda minha vida
§ Oração principal: O grande mal é Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
§ Oração subordinada: que me esqueço das coisas. Mas cada volta tua há de apagar
(sintaticamente exerce função de predicativo da oração O que esta ausência tua me causou
principal.)
Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver
f) apositiva: exerce a função de aposto de algum termo A espera de viver ao lado teu
da oração principal. Por toda a minha vida
Na canção apresentada, de Tom Jobim, vemos que o
Exemplo: autor mobiliza orações substantivas na composição de
Eu espero a seguinte solução: que religuem a certos versos, como “Eu sei que vou te amar”.
energia elétrica em casa.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
DIAGRAMA DE IDEIAS
ORAÇÕES
SUBSTANTIVAS
11
§ Oração subordinada: Como ninguém se interessou
pelo projeto (assume valor de adjunto adverbial de cau-
PERÍODO sa, uma vez que provoca um determinado fato, ao mo-
tivo do que se declara na oração principal.)
COMPOSTO: b) consequência
ORAÇÕES Exemplo:
SUBORDINADAS Sua fome era tanta que comeu com casca e tudo.
31 E 32 c) condição
Exemplo:
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1, 6 e 8 1, 18 e 27 Se o torneio for bem estruturado, todos sairão
ganhando.
§ Oração principal: todos sairão ganhando.
Exemplo: f) conformidade
12
§ Oração subordinada: conforme a receita (assume va- § Oração principal: traga-me um presente.
lor de adjunto adverbial de conformidade, pois exprime
§ Oração subordinada: Quando você for a Londres
uma regra, um modelo adotado para a execução do que
(assume valor de adjunto adverbial temporal, uma vez
se declara na oração principal).
que acrescenta uma ideia de tempo ao fato expresso
g) finalidade na oração principal, podendo exprimir noções de simul-
taneidade, anterioridade ou posterioridade).
Exemplo:
Li o manual a fim de aprender mais sobre como Importante
usar o produto.
Não confundir as orações coordenadas explicativas
§ Oração principal: Li o manual com as subordinadas adverbiais causais. As orações
§ Oração subordinada: a fim de aprender mais sobre coordenadas explicativas caracterizam-se por forne-
como usar o produto (assume valor de adjunto adver- cer um motivo que explica a oração anterior.
bial final, pois expressa a intenção, a finalidade daquilo
que se declara na oração principal). Exemplo:
h) proporção A criança devia estar doente, porque chora-
va muito. (o choro da criança poderia não ser
Exemplo: a causa de sua doença.)
Viaja ao exterior à medida que a empresa soli- As orações subordinadas adverbiais causais expri-
cita seu trabalho. mem a causa do fato.
DIAGRAMA DE IDEIAS
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
ORAÇÕES
ADVERBIAIS
POSSUEM VALOR DE ADVÉRBIO OU ADJUNTO ADVERBIAL E SÃO INTRODUZIDAS POR CONJUNÇÃO SUBORDINATIVAS
A questão era tão difícil que ele não conseguiu resolver.
oração adverbial consecutiva
13
c) Nas orações em que existam pronomes indefinidos ou
advérbios, sem marcas de pausa.
Exemplos:
LC AULAS
33 E 34
d) Nas orações iniciadas por pronomes ou advérbios de
tipo interrogativo.
14
b) A mesóclise é uso exclusivo da língua culta e da mo-
dalidade literária. Não a encontramos na comunicação
oral mais básica.
c) Com esses tempos verbais (futuro do presente e futu-
ro do pretérito) jamais ocorrerá a ênclise.
multimídia: poesia
1.3. Ênclise
Pronominais
Temos ênclise quando o pronome surge depois do verbo.
Dê-me um cigarro Seu emprego obedece às seguintes regras:
Diz a gramática
Do professor e do aluno a) Nos períodos iniciados por verbos (desde que não este-
E do mulato sabido jam no tempo futuro), pois, segundo a gramática normati-
Mas o bom negro e o bom branco va, não podemos iniciar frases com pronome oblíquo.
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada Exemplos:
Me dá um cigarro Fale-me o que está acontecendo.
(Oswald de Andrade)
Compravam-se muitos produtos antes da crise.
O poema de Oswald de Andrade, publicado no início
do século, coloca em cena a discussão a respeito dos b) Nas orações imperativas afirmativas.
usos linguísticos coloquiais e não-coloquiais que faze-
mos dos pronomes oblíquos. É importante perceber que
Exemplos:
esse assunto ultrapassa o campo linguístico e literário e
problematiza o que seriam as possíveis relações entre Ligue para seu primo e avise-o do horário
uma cultura fundamentalmente brasileira e os dados
Ei, ajude-me com essa receita!
culturais aqui inseridos pelo colonizador português.
c) Nas orações reduzidas de infinitivo.
rei + lhe)
Encontrar-me-iam se realmente quisessem. (en- A mãe adotiva ajudou a criança, dando-lhe cari-
contrar + me) nho e proteção.
Ele se desesperou, deixando-se levar pela situação.
Observações:
Observação: Se o verbo não estiver no início da frase, nem
a) Havendo condições para a próclise, esta prevalece conjugado nos tempos Futuro do Presente ou Futuro do
sobre a mesóclise: Pretérito, é possível usar tanto a próclise como a ênclise.
Exemplo:
Exemplos:
Sempre lhe contarei os meus segredos. (O ad-
vérbio “sempre” exige o uso de próclise.) Eu me encontrei com ela.
Eu encontrei-me com ela.
15
multimídia: site
DIAGRAMA DE IDEIAS
SINTAXE DE
COLOCAÇÃO
16
ENTRE
LETRAS
4
LINGUAGENS
CÓDIGOS
INTERPRETAÇÃO
DE TEXTOS
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
Por ser um vestibular crítico, a ideia de Boa parte das questões da frente de lin- A prova conduz a interpretação de
interpretação acontece, sobretudo, pela guagem diz respeito à interpretação. Re- textos em paralelo aos textos literários,
habilidade compreensiva do candidato. conhecer textos não verbais e ser capaz majoritariamente. Compreender e inter-
Interpretar textos em versos poderá ser de amplificar os seus diálogos com as pretar corretamente textos em versos
uma ferramenta eficaz no trato com os áreas artísticas será uma habilidade útil. será um diferencial.
textos literários.
Dentre as habilidades pedagógicas, a A interpretação de textos pode ser a É uma prova de conceitos. A inter- De forma geral, a prova equilibra bem as
prova costuma trabalhar, em suas ques- chave para um bom resultado. Saber ler pretação de textos ocorre de maneira frentes da área de Português, de modo
tões, a aplicação. Assim, relacionar rapi- um texto em verso será de grande ajuda. direcionada, por isso, saber reconhecer, que as questões de interpretação se
damente textos não verbais a elementos de forma rápida e eficaz, os elementos tornam bastante direcionadas. Conhecer
artísticos pode ser uma forma de avaliar artísticos de um texto não verbal será os conceitos por trás da produção dos
a capacidade interpretativa do aluno. uma ferramenta extra. textos em versos ajudará o candidato a
interpretá-los.
UFMG
A prova alinha a interpretação de textos O exame é objetivo e exige uma capaci-
A habilidade interpretativa trabalha com
às obras literárias que costuma exigir na dade leitora fundamental, que demons-
questões que exigirão do candidato uma
sua lista obrigatória. Por isso, este livro tre aptidão em reconhecer, em textos
leitura cuidadosa. Desse modo, com-
traz duas aulas sobre como interpretar não verbais, os elementos artísticos que
preender que textos em verso têm suas
textos em versos, para que o candidato os compõem. Saber estruturar um texto
peculiaridades, bem como os textos não
possa dominar todo e qualquer tipo de em verso pode ser um diferencial na
verbais, será um diferencial.
texto literário. hora de resolver as questões.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
De caráter mais material, trabalha com Perceber que essa frente se alinha às A interpretação de textos é a chave para
questões interpretativas que exigem frentes de Gramática e Literatura é resolução da grande maioria das ques-
um senso crítico apurado. Por isso, seja um excelente primeiro passo. Por isso, tões da prova. Manter-se alerta para
diante do texto em verso ou do texto compreender os recursos artísticos dos questões que trabalhem com textos em
não verbal, ter em mãos as ferramentas textos não verbais e em versos será de versos será muito importante.
necessárias para a interpretação será um grande ajuda ao candidato.
primeiro passo essencial.
18
(No centro da Praça o busto de D. Pedro escuta.)
Batuta pra esquerda: relincham clarins,
requintas, tintins e as vozes meninas da banda do 20.
Batuta à direita: de novo os trombones
e as trompas soluçam. E os bombos e as caixas: ban-ban!
TEXTOS EM Vêm logo operários, meninas, cafuzas,
mulatos, portugas, vem tudo pra ali.
VERSO I Vem tudo, parecem formigas de asas
Rodando, rodando em torno da luz.
Nos bancos da Praça conversas acesas,
apertos, beijocas, talvezes.
D. Pedro II espia do alto.
(As barbas tão alvas
14 E os pares passeiam,
parece que dançam,
que dançam ciranda,
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
em torno do Rei.
5 15, 16 e 17
(Jorge de Lima. Poemas negros. Cosac Naify, página 41, 2014).
19
fecho no último verso. Vejamos um exemplo de soneto, de cerrada na última sílaba tônica da última palavra do verso (a
Carlos Drummond de Andrade: palavra “futuro” é paroxítona; sua tônica é a sílaba “-tu”).
Já no segundo verso encontramos outra regra que deve ser
Oficina Irritada
obedecida (sublinhada no verso): a junção da vogal final de
Eu quero compor um soneto duro uma palavra com a vogal inicial de outra (des-per-te em).
como poeta algum ousara escrever.
Também é um verso decassílabo. De acordo com a variabili-
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler. dade de sílabas poéticas, as estrofes terão nomes diferentes:
Quero que meu soneto, no futuro, § 5 sílabas poéticas: pentassílabo ou redondilha menor
não desperte em ninguém nenhum prazer. § 6 sílabas poéticas: hexassílabo
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. § 7 sílabas poéticas: heptassílabo ou redondilha maior
do poema sílabas mais fortes nas mesmas posições de cada verso (no
caso, a sexta e a décima são as mais fortes). Esse padrão
cria um ritmo que dá certa musicalidade ao poema, quan-
2.1. Métrica do este é recitado.
A métrica é a medida dos versos, ou, em termos mais cla- Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
ros, a quantidade de sílabas de cada linha que compõe o 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
20
3. Versos brancos
São chamados de versos brancos aqueles quem sistema mé-
trico organizado, mas não apresentam nenhum tipo de rima.
Exemplo
Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Carlos Drummond de Andrade - Elefante (fragmento)
21
b) Rima rica: quando as rimas são feitas com palavras
pertencentes a classes gramaticais diferentes
§ altar (substantivo) / mudar (verbo)
§ contente (adjetivo) / certamente (advérbio)
TEXTOS EM Exemplo:
LC AULA
15
ções entre classes fechadas e verbos pronominalizados
§ Elêusis (substantivo que dá nome à cidade grega /
deuses (substantivo comum)
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
§ cabelo (substantivo comum) / fazê-lo (verbo prono-
1, 4 e 5 1, 2, 15, 16 e 17
minalizado)
Exemplo:
Por que ninguém me deu um aviso?
1. Estrutura dos textos em Pra quê que serve essa porra de bip?
Assim não dá. Que falta de juízo,
verso (aprofundamento) de... de... sei lá! Eu lá em Arembipe
(Paulo Henriques Britto)
O objetivo dessa segunda parte da aula é fornecer um
aprofundamento a respeito das teorias sobre a formação 1.1.2. Classificação por tonicidade
estrutural dos textos em verso.
Ela envolve a capacidade do poeta em estabelecer siste-
mas rímicos a partir de variações entre as tonicidades das
1.1. Tipos de rimas palavras que fecham o verso.
Na aula anterior, vimos o conceito geral de rima. a) Rima aguda (masculina): quando as rimas são feitas
Agora veremos seus detalhamentos. As rimas podem com palavras oxítonas ou monossílabos
ser classificadas de acordo com o valor, a tonicidade,
§ per-der / per-cor-rer (oxítonas)
a correspondência fonética e posição no texto. Veja-
mos os tipos: § mun-da-réu / céu (oxítona + monossílabo)
Exemplo:
1.1.1. Classificação por valor Um sussurro também, em sons dispersos,
Ouvia não há muito a casa. Eram meus versos.
Ela envolve a capacidade do poeta em estabelecer siste- De alguns, talvez, ainda, os ecos falarão.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
mas rímicos a partir de variações entre classes gramati- E em seu surto, a buscar eternamente o belo,
cais ou combinações inusitadas de palavras. misturado à voz das monjas do Carmelo,
subirão até Deus nas asas da oração.
a) Rima pobre: quando as rimas são feitas com palavras
(Alberto de Oliveira)
pertencentes a mesma classe gramatical
b) Rima grave (feminina): quando as rimas são feitas
§ amor / dor (substantivos) com palavras paroxítonas
§ correr / perder (verbos) § gar-ra-fa / es-ta-fa (paroxítonas)
Exemplo: Exemplo:
De repente do riso fez-se o pranto Foste o beijo melhor da minha vida,
Silencioso e branco como a bruma ou talvez o pior... Glória e tormento,
E das bocas unidas fez-se a espuma contigo à luz subi do firmamento,
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. contigo fui pela infernal descida!
(Vinícius de Moraes) (Olavo Bilac)
22
c) Rima esdrúxula: quando as rimas são feitas com pa- b) Rima interna: as coincidências sonoras aparecem no
lavras proparoxítonas interior de um único versos, geralmente entre palavras que
§ es-tá-ti-co / a-pá-ti-co (proparoxítonas) estão no meio e no fim desse verso (é um tipo menos co-
mum de rima, encontrado geralmente em poemas de ma-
Exemplo: triz oriental, chamados de haicai).
Começou de súbito Exemplo:
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe Rosa (que exibida!)
Ele procurava a próxima que posa assim toda prosa
é prova de vida.
(Samuel Rosa / Rodrigo Fabiano Leão)
(Guilherme de Almeida)
23
(B) - e o Ganges, que no céu terreno mora.
(A) - Ora sus, gente forte, que na guerra 3. As relações entre forma
(B) - quereis levar a palma vencedora:
(A) - Já sois chegados, já tendes diante e conteúdo no poema
(B) - a terra de riquezas abundante! É muito importante para um bom desempenho nas provas
(Camões) de vestibular que os alunos entendam que o conteúdo de
f) Rimas mistas (ou misturadas): as rimas existem, mas um poema (seu assunto) muitas vezes dialoga com sua for-
apresentam combinações variadas ao longo do poema (ri- ma (estrutura de versos). Vejamos exemplos.
mando em alguns pontos e não rimando em outros) RÁPIDO E RASTEIRO
Os navios existem, e existe o teu rosto vai ter uma festa
encostado ao rosto dos navios. que eu vou dançar
Sem nenhum destino flutuam nas cidades, até o sapato pedir pra parar.
partem no vento, regressam nos rios. aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida
As palavras que te envio são interditas (Chacal)
até, meu amor, pelo halo das searas
se alguma regressasse, nem já reconhecia Nesse poema, do poeta carioca Chacal, ele fala sobre uma
o teu nome nas suas curvas claras. experiência de dançar indefinidamente. Esse seria o conte-
(Eugénio de Andrade)
údo (assunto) do poema. Conseguimos perceber que a for-
ma (estrutura) espalha os versos pela página, para a direita
2. Cavalgamento (enjambement) e para a esquerda, como se estivessem dançando. Vemos
então que o conteúdo dialoga com a forma.
O cavalgamento (mais conhecido pela palavra francesa
DA SUA MEMÓRIA
“enjambement”) consiste em um processo poético de pôr
no verso seguinte uma ou mais palavras que completem o mil
sentido do verso anterior. e
mui
Trata-se de um recurso que atende a algumas estratégias tos
semânticas do poema, como out
ros
§ criar expectativa em relação à conclusão de uma ideia ros
§ chamar a atenção para alguma palavra / complemento tos
que surgirá no verso seguinte sol
tos
§ ampliar as possibilidades interpretativas de um verso pou
coa
Exemplos: pou
Debaixo dos pés duros dos ardentes coa
Cavalos treme a terra, os vales soam pag
(Camões) amo
meu
Nesse exemplo, de Camões, vemos que a palavra “cavalo” (Arnaldo Antunes)
chama a atenção por não estar na sequência natural da sen-
Nesse poema, de Arnaldo Antunes, vemos que o assun-
tença, antes do adjetivo (...pés duros dos cavalos ardentes...)
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
24
envolviam, caça, pesca e outros tipos de contatos com
animais. Por esse motivo, os estudiosos ressaltam que
LEITURA DE são pinturas pautadas pela técnica do naturalismo,
que consiste na tentativa de registrar fielmente (realísti-
IMAGENS I: camente) aquilo que se vê.
LC AULA
16
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
1e4 1, 12, 13 e 14
1. Leitura de imagens I
1.1. Introdução
Os estudos dessa aula abordarão especificamente expres-
sões artísticas que englobarão um arco que vai da pré-his-
tória (arte rupestre) até o que foi produzido pelos povos
antigos do Egito, da Grécia e de Roma (período conhecido
como Arte da Antiguidade).
25
1.3. Arte egípcia de frente para o espectador, enquanto a cabeça e as pernas
eram vistas de perfil.
Engloba o período que vai de 2649 a.C. e 1070 a.C, e
apresenta uma notável variedade de expressões artísticas, De acordo com estudiosos, como a arte egípcia estava
como pinturas (em afrescos e papiros), esculturas, cerâmi- intimamente ligada a experiências dinásticas e religiosas
cas e obras arquitetônicas. Importante salientar que, nesse (mesmo as relações de trabalho, como a que é vista na
período, não havia ainda a distinção entre “arte” e “arte- imagem, estavam conectadas à ideia de servir ao faraó), as
sanato”, que aparecerá no Renascimento. imagens não deveriam representar as individualidades (a
criatividade) do artista. As pinturas também não deveriam
Suas obras, em geral, retratavam doutrinas políticas, sociais ter um caráter altamente naturalista (o observador não
e espirituais, com função dinástica, religiosa e cultural. Ape- deve confundir uma pintura com o indivíduo), ela deveria
sar de existirem alguns sistemas de regras para produção ser explicitamente representativa.
artística, nota-se grande criatividade no desenvolvimento
de certas obras.
1.3.2. Escultura
É muito importante conhecermos as bases artísticas egíp-
A escultura egípcia foi trabalhada de maneira bastante
cias, pois elas serão altamente influentes para as produ-
detalhista e naturalista, diferente da pintura. Era comum
ções artísticas gregas e romanas em momento posterior.
que se encomendassem esculturas que reproduzissem não
apenas os dados físicos do indivíduo (por exemplo, fisiono-
1.3.1. Pintura mia e traços raciais), mas também traços de sua condição
A arte pictórica egípcia, apesar de não apresentar sistemas social. Vejamos a imagem a seguir:
adequados de proporcionalidade (diferença ideal de altura/
largura entre figuras humanas ou mesmo entre humanos
e animais), ou sistema de perspectiva (recurso gráfico que
utiliza o efeito visual de linhas convergentes para criar a ilu-
são de tridimensionalidade do espaço e das formas), traba-
lhava com a peculiar “regra da frontalidade”, que veremos
detalhada na imagem a seguir. A pintura se concentrava
em papiros funerários e afrescos realizados, em geral, no
interior de construções como pirâmides.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
A pintura acima é um afresco (aplicação de tintura sobre Trata-se de uma das esculturas mais impressionantes da
estrutura previamente preparada com pedra ou gesso) que arte egípcia. Talhada em calcário fino, conserva até hoje
retrata a vivência nos campos de plantação egípcios. Nela sua base constitutiva original (no Louvre, onde está insta-
vemos um sujeito, à esquerda, que inspeciona os campos lada, passou por leve restauração em 1998). O que mais
de trabalho para o Faraó Nebamun (que teria vivido em chama a atenção é o detalhamento do rosto e do corpo
meados de 1350 a.C.). (que influenciará muito, mais adiante, a arte grega). Há
Sobre a parte estética, é possível reparar que – além de também a preocupação em registrar fielmente o trabalho
não ter perspectiva nem proporcionalidade adequada – se- do escriba, com a mão em forma de pinça, como se esti-
guiam uma estética rígida chamada de “regra da frontali- vesse segurando um instrumento de escrita, além de um
dade”, na qual o tronco e um dos olhos eram retratados documento na mão esquerda.
26
1.3.3. Arquitetura
A arquitetura egípcia destacou-se pelo fascinante trabalho
com construções de pirâmides, esfinges e templos. Esses
monumentos eram realizados para atestar a grandiosidade
e a imponência do poder político e religioso dos faraós.
lizada próxima às três pirâmides da imagem anterior. A Na arquitetura grega, as edificações que mais despertaram
gigantesca construção (20 metros de altura e 74 de com- interesse foram os templos, que eram locais utilizados não
primento) tenta representar a figura do faraó Quéfren, no apenas para reunir pessoas para atividades religiosas, mas
entanto, a ação erosiva do vento e das areias do deserto também para proteger de intempéries climáticas (excesso
desgastaram a imagem (o nariz, por exemplo), dando-lhe de chuva ou sol). Sua construção obedecia a regras bem rí-
um aspecto misterioso. gidas que foram evoluindo com o passar do tempo, e essas
mudanças deram origem ao que chamamos de (novas) or-
Quanto aos templos, o mais conhecido é o “Templo de dens arquitetônicas (que consistiam em modificações pon-
Luxor”, cujas apresentam um aspecto artístico importante: tuais na ornamentação e reforço da construção). Vejamos
são decoradas com uma espécie de flor de papiro enro- as três principais ordens:
lada na base (corpo da coluna) e no capitel (a cabeça da
coluna). Esse tipo de decoração servirá de inspiração para I. Ordem dórica
a composição de outros modelos de colunas e capitéis que A ordem dórica surge nas costas do Peloponeso, em mea-
veremos na arte grega. dos do século V a.C. É a mais simples das ordens. Foi muito
27
empregada no exterior de templos mais baixos, de caráter III. Ordem coríntia
sólido. A coluna não tem base, tem entre quatro a oito mó- A ordem coríntia é característica do final do século V a.C.
dulos de altura, o fuste apresenta vinte estrias (sulcos ver- É um estilo predominantemente decorativo. A coluna apre-
ticais na coluna). O capitel é simples, sem ornamentação, e senta na base um fuste que é composto por vinte e quatro
se assemelha a uma almofada. sulco afiados. O capitel apresenta uma exuberância deco-
rativa que imitavam folhas de uma planta chamada acanto.
Foi um sistema de ornamentação que, posteriormente, foi
muito utilizado na arte romana. Também, o teto difere da
ordem anterior: passa a ser horizontal.
28
quebrando-se facilmente (como vemos na perna do guerrei-
ro, na imagem apresentada acima). A partir daí, começarão,
no século V a.C., as produções de esculturas em bronze, um
material mais resistente, que permitiu inclusive maiores de-
talhamentos da escultura (como, por exemplo, permitir ao
espectador perceber a alternância entre membros tensos –
com veias saltadas – e membros relaxados).
1.4.3. Pintura
A pintura na Grécia antiga não foi o elemento artístico de
maior destaque, e como em outras civilizações, apareceu
como elemento de decoração da arquitetura e da escul-
Colunas de Erecteion (c. 420 a.C.), na Acrópole de Atenas
tura. São muito comuns os grandes painéis pintados que
O templo de Erecteion apresenta um conjunto de orna- recobriam paredes de templos ou outras construções. O
mentação ordem jônica, que consistia em corpo das colu- maior destaque fica por conta das pinturas realizadas em
nas mais fino, firmado em uma base (um pequeno círculo cerâmica, mais especificamente em vasos e ânforas.
decorado). O capitel era ornamentado. A arquitrave era Essas pinturas ficaram conhecidas por valorizarem o equi-
marcada por três faixas horizontais. Sobre ela havia uma líbrio e a simetria entre os desenhos apresentados e o for-
faixa de esculturas em relevo. mato curvo dos vasos, além do uso de cores intensas que
davam maior destaque às imagens.
1.4.2. Escultura
A escultura grega se desenvolve no século VII a.C. Muito
influenciados pelos artistas egípcios, os gregos esculpiam
seus trabalhos em grandes blocos de mármore. Seus traba-
lhos escultóricos prezavam o naturalismo das figuras (ten-
tativa de imprimir grande realismo), valorizando a simetria
natural do corpo humano. Nesse sentido, havia preferência
pela pintura de corpos nus, normalmente em posição frontal,
para que a distribuição simétrica fosse mais adequada. Ao
final da composição, a obra deveria ser não apenas realística,
mas também bela em sim mesma (ou seja, havia um ideal de
beleza / perfeição humana na composição das obras).
A escultura grega, por não estar presa a regras religiosas,
pode se desenvolver mais livremente. Desse modo, passa-
mos a ver em períodos posteriores esculturas mais ousa-
das, em que o corpo humano aparece não apenas de pé,
mas em outras posições, como vemos na imagem a seguir:
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Exéquias – Ânfora da Ática com figuras negras (c.540 a.C. – 530 a.C.)
29
1.5. A arte romana apresenta uma planta com uma cúpula circular fechada, que
cria um espaço isolado do exterior onde o povo se reunia
A arte romana recebeu influência definitiva da arte gre-
para o culto. Enquanto os monumentos gregos chamavam a
ga, especialmente no que diz respeito à manutenção do
atenção pelas peculiaridades de seu exterior, os monumen-
caráter naturalista das obras (esculpidas, em sua maio-
tos romanos trarão a atenção para o interior de suas obras.
ria, em bronze). Vemos também um grande número de
inovações na arquitetura, especialmente pela influência O trabalho com os arcos e as abóbadas permitiu também
dos povos etruscos, que deixaram como legado para os outros avanços: enquanto os templos gregos tinham que ser
romanos o uso dos arcos e das abóbadas nas constru- assentados próximos a colinas (tanto para favorecer a segu-
ções. Isso permitiu aos romanos desenvolverem cons- rança, evitando desmoronamentos, quanto para permitir a
truções não só mais amplas, mas também com espaços reunião do povo no entorno do templo), os romanos conse-
internos mais livres (uma vez que os arcos e as abó- guiam sustentar suas obras em qualquer espaço, indepen-
badas ajudavam a eliminar o excesso de colunas que dentemente da topografia, permitindo melhor sustentação e
habitualmente sustentavam as construções gregas). favorecendo boa visão do espaço interno. O Maior exemplo
Já na pintura, destacam-se os afrescos e as composições desse tipo de construção é o Coliseu romano.
em mosaicos de mármore. Um importante avanço desse
período é o fato de notarmos já em algumas obras os pri-
meiros trabalhos com a técnica da sobreposição (colocação
de um objeto opaco diante de outro, criando uma sensa-
ção de profundidade).
1.5.1. Arquitetura
Os templos romanos – grande destaque do período –
eram, em geral, construídos em um plano mais elevado Coliseu – Roma, Itália (68 – 79 d.C.)
e a entrada só era alcançada através de uma escadaria
É possível notar que o Coliseu é circundado externamente
construída diante da fachada principal. Estes elementos
por vários arcos que favorecem sua sustentação, e sua ele-
arquitetônicos – pórtico e escadaria – faziam com que a
vação e formato circular criam um sistema de auditório que
fachada principal fosse bem distinta das laterais e do fundo
favorece a visão do espaço interno.
do edifício, como vemos na imagem a seguir:
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
30
1.5.2. Escultura 1.5.3. Pintura
Como dito no início dessa aula, a escultura romana se Embora circunscrita ao interior de templos e outras cons-
inspira na arte grega, pelo menos no que diz respeito ao truções, a arte pictórica romana também apresentou al-
caráter naturalista das esculturas. No entanto, não ha- guns avanços interessantes. Inicialmente, era comum que
via uma preocupação com os ideais de beleza cultivados as paredes de monumentos fossem decoradas com uma
pelos gregos. Para os artistas romanos, a preocupação camada de gesso que imitava placas de mármore. A partir
era mais pragmática, por isso é comum percebermos que desse trabalho, os artistas começaram a perceber que ape-
as esculturas dos indivíduos são esculpidas valorizando a nas com a pintura, era possível criar a ilusão de que na pa-
indumentária (ou seja, não há a preocupação em produ- rede existia um bloco de mármore saliente. Daí, da suges-
zir um corpo nu detalhado). A valorização da vestimenta tão da saliência para a sugestão de profundidade foi um
também está ligada ao fato de que ela, muitas vezes, pequeno salto. Em suma, os artistas romanos, aos poucos,
consolidava uma forte representação política, como ve- passaram a manipular a sugestão de frente e fundo, não
mos na imagem a seguir: só nos afrescos, mas também nos mosaicos, técnica muito
desenvolvida no período, e que vemos na imagem a seguir:
31
da capital do Império, dando origem a obras que assumem
um caráter mais majestoso (que exibem poder e riqueza).
LEITURA DE Foi um tipo de arte centrada em exaltar a religião cristã e a
A arte bizantina é uma vertente que surge mais precisa- Umas das características que mais chama a atenção na Basí-
mente após o Imperador Teodósio decretar o cristianismo lica de Santa Sofia é a sua enorme cúpula (domo), que é sus-
como religião oficial do império romano (em 391 d.C.). Nos tentada por outras abóbadas esféricas. Essa cúpula central
anos anteriores, havia predominado uma produção deno- é vazada por quarenta janelas em arco que permitem a en-
minada arte cristã primitiva, que tinha como característi- trada da luz, dando leveza à estrutura e oferecendo a ilusão
ca – além da forte religiosidade – obras simples, de base de um anel celestial que se projeta para o centro do salão.
popular. Por outro lado, a produção artística bizantina vai Vemos também que a parte interna é marcada por grande
coincidir com um momento de grande esplendor e riqueza opulência, com muitas ornamentações em cor dourada.
32
1.1.2. Pintura e escultura A obra acima é uma das mais importantes da arte bizan-
tina e foi produzida já próximo à queda de Constantino-
A pintura e a escultura também apresentavam demarcação
pla. Trata-se de um monumento de contemplação espi-
religiosa e ficaram bastante conectadas à arquitetura (ser-
ritual na fé cristã. É importante notar que a pintura não
vindo muitas vezes como ornamentação das basílicas). Na
é essencialmente realística, mas figurativa, atendendo a
pintura, destacaram-se técnicas variadas, como o mosaico
demandas de contemplação.
(que dava à obra um ar, muitas vezes, de riqueza) e a têm-
pera (técnica em que se misturavam pigmentos a algum
aglutinante, como gema de ovo, a fim de se conseguir um
resultado de tintura mais brilhante e luminoso). Na escultu-
ra, destacam-se alguns belos trabalhos com marfim.
1.2.1. Arquitetura
As igrejas românicas ficaram conhecidas pela sua arquite-
tura peculiar, formada pelas abóbadas, pilares maciços e
paredes espessas. São igrejas grandes e sólidas (com orien-
tação horizontal), conhecidas como “fortalezas de Deus”.
Abóbada de berço: consistia num semicírculo, também
chamado de arco pleno, ampliado lateralmente por pare-
Andrei Rublev – Santíssima Trindade (1410) – Têmpera sobre madeira des solidas. Apresentava algumas desvantagens, como o
33
peso excessivo que ficava sobre o arco central, correndo colunas com capitéis que lembravam muito os vistos na arte
riscos de desabamento, além da baixa luminosidade no greco-romana. Também são muito comuns os tímpanos (es-
interior das construções, devido ao fato de se ter pouca pos- paços geralmente triangulares ou em arco, lisos ou ornados
sibilidade de inserção de janelas com esculturas, limitados pelos três lados do frontão por um
ou mais arcos ou por linhas retas que assentam sobre o por-
Abóbada de aresta: consistia numa intersecção em ângu-
tal de entrada de uma igreja, catedral ou templo).
lo reto de duas abóbadas de berço apoiadas sobre pilares.
Com isso distribuía-se melhor o peso das pedras para evitar
desabamentos, além de transmitir leveza para a construção
e melhorar a luminosidade dos espaços internos.
34
Vemos que o tímpano é uma escultura que se insere nos
portais das igrejas, basílicas e abadias, e que seguem a
mesma orientação religiosa do período.
35
avançasse do ponto de vista da exploração socioeconô- seriam a Bélgica e Luxemburgo); o Renascimento italiano
mica), mas também de projetos culturais (as artes como e também o Renascimento na Alemanha e Países Baixos.
consolidação da imagem e do poder financeiro do bur-
guês na sociedade do período). Também, o pensamento 2.1.1. O gótico flamengo
de ordem mais racional (antropocêntrico) que começava
O gótico flamengo foi uma expressão artística ligada aos pri-
a operar no período faz com que os valores medievais
meiros anos do Renascimento, e que marca justamente uma
(vinculados a um pensamento católico-cristão) sejam dei-
procura por uma pintura mais realista não apenas do ponto
xados de lado pelo homem do Renascimento, que passa-
de vista da imagem, mas também da temática, retratando
rá a buscar novos valores na Antiguidade Clássica.
com maior frequência cenas da vida doméstica (sem deixar
Do ponto de vista estético, o investimento do mecenato fez de lado o dado de espiritualidade que ainda era muito forte).
com que houvesse grandes inovações artísticas no período.
Embora despertem a atenção pela alta qualidade realística,
Os estudos aprofundados em geometria, perspectiva, anato-
os artistas flamengos não costumavam organizar suas com-
mia humana e tridimensionalidade fizeram com que as obras
artísticas ganhassem uma dimensão de perfeição nunca an- posições a partir de rigorosos métodos matemáticos para
tes vista. Essa ideia de obra de arte que reproduz o indivíduo cálculos de perspectiva e proporção (como veremos com
a partir de uma preocupação em representa-lo perfeitamen- frequência no Renascimento Italiano). Eles preferiam traba-
te em suas dimensões corporais remete justamente aos ide- lhar de modo mais intuitivo, sendo os primeiros a explorar
ais de beleza e perfeição da representação do indivíduo que mais intensamente as possibilidades da pintura a óleo.
vimos nos estudos de arte grega e romana.
Vale ressaltar que foi um período artístico em que os gran-
des destaques ficaram por conta da arte pictórica e da arte
escultórica. A arquitetura apresentou alguns avanços mais
simples em relação ao projeto gótico, investindo em cons-
truções que articulassem a proporcionalidade entre suas
partes (ou, em termos mais práticos, uma edificação que
respeitasse uma geometria mais organizada).
36
2.2. Renascimento italiano
Nessa famosa pintura de Sandro Botticelli, vemos um trabalho que é inspirado claramente nas fontes greco-romanas. A re-
tomada de deuses e outras figuras mitológicas da antiguidade (temos Vênus ao centro, Zéfiro e Clóris à direita, entre outras
figuras) é um dos traços marcantes da pintura renascentista italiana. Além disso, podemos ver que o trabalho com os corpos
tenta seguir o ideal de beleza da Antiguidade Clássica.
37
O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, é um desenho
à lápis feito pelo autor, acompanhado de algumas anota-
ções. Tornou-se famoso por indicar em um pequeno espa-
ço uma variedade de estudos, como anatomia, geometria,
proporcionalidade e simetria. Tais estudos acabaram viran-
do a base não apenas do trabalho pictórico de da Vinci,
mas de quase todo o tipo de pintura naturalista que foi
produzida posteriormente.
38
A obra acima faz parte de uma coletânea de quinze xilogravuras (técnica de gravura na qual se esculpe a imagem na madeira
para posterior reprodução da imagem gravada sobre o papel ou outro suporte adequado. É um processo muito parecido com
um carimbo) batizadas de Apocalipse. É possível notar que as técnicas do desenho são muito avançadas, com profundidade
e grande detalhamento dos corpos, no entanto a temática é de tonalidade religiosa.
Hieronymus Bosch, O jardim das delícias (1500 – 1505) – Óleo sobre tela
Uma das obras mais fascinantes do período, O jardim das delícias de Hieronymus Bosch chama a atenção pelo caráter
fantasioso (chegando a lembrar uma obra surrealista). Trata-se de um tríptico com muitas referências religiosas. O painel da
esquerda mostra uma espécie de paraíso (vemos figuras bíblicas como Adão e Eva, que parece ter acabado de ter sido criada
a partir da costela de Adão). O painel da direita seria um inferno repleto de instrumentos musicais (vemos sujeitos sendo
torturados). Já o painel central, apresenta o tal Jardim das delícias, um local onde estariam os prazeres terrenos (conseguimos
ver figuras tendo relações sexuais).
39
Nessa pintura, Pieter Bruegel, apesar de já estar inserido no contexto do Renascimento, retrata a realidade das pequenas al-
deias que ainda conservavam a cultura medieval. Vale a penas ressaltar, no entanto, que embora retrate a cultura medieval, a
temática da pintura não tem vínculos religiosos. Ela chama a atenção pelo volume de personagens em cena e pela sensação
de movimento que dimensões circulares das personagens imprime na imagem.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Hans Holbein talvez tenha sido o pintor do Renascimento alemão que mais valorizou a característica humanística / racional
que víamos na vertente italiana. Em gera, suas obras retratam personagens dotadas de um realismo tranquilo, sem que exis-
tam as agitações que vimos nas obras anteriores. Na imagem acima, vemos também a inserção na pintura de uma curiosa
técnica que surge no período: a pintura anamórfica. Trata-se da inserção de uma imagem distorcida em algum ponto da
pintura que só adquire forma natural quando vista de determinado ângulo, ou com o suporte de algum espelho cilíndrico
posicionado no centro do quadro.
40
ENTRE
LETRAS
4
LINGUAGENS
CÓDIGOS
LITERATURA
e suas tecnologias
TEORiA
DE AULA
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS
O Enem exige que o candidato tenha co- A maior parte das questões de Literatura
nhecimento das diferentes escolas lite- se refere às obras de leitura obrigató-
rárias. Neste livro, encontram-se alguns ria. Neste livro, encontram-se alguns
exercícios a respeito de dois assuntos exercícios a respeito do Modernismo
recorrentes nessa prova: Modernismo e português, movimento do qual algumas
vanguardas do século XX. das leituras exigidas pelo exame fazem
parte.
A maior parte das questões de Literatura As questões contemplam o conheci- As questões contemplam o conheci-
se refere às obras de leitura obrigatória. mento acerca das escolas literárias, bem mento acerca das escolas literárias,
Neste livro, encontram-se alguns exer- como de seus principais representantes. bem como de seus principais represen-
cícios a respeito do Modernismo portu- Neste livro, encontram-se alguns exer- tantes. Neste livro, encontram-se alguns
guês, movimento do qual faz parte “O cícios a respeito da estética modernista exercícios a respeito do Modernismo
marinheiro”, de Fernando Pessoa. europeia e das vanguardas europeias português.
que a influenciaram.
Parte das questões de literatura dessa A prova exige conhecimentos acerca dos As questões contemplam o conheci- A prova exige conhecimentos acerca dos
prova se baseia nas obras de leitura diversos movimentos literários. Neste mento acerca das escolas literárias, bem movimentos literários no Brasil e em Por-
obrigatória da Fuvest. Neste livro, en- livro, estão presentes questões sobre a como de seus principais representantes. tugal. Neste livro, estão presentes ques-
contram-se alguns exercícios sobre o estética modernista europeia, conteúdo Neste livro, encontram-se alguns exercí- tões que abordam como o Modernismo
Modernismo português, estética literária cios a respeito da estética modernista e se desenvolveu em território nacional e
bastante frequente nesse vestibular. das vanguardas europeias que a influen-
que aparece com alguma frequência lusitano.
neste exame. ciaram.
UFMG
A maior parte das questões de Literatura A prova avalia os conhecimentos acerca
A maior parte das questões de Literatura
se refere às obras de leitura obrigatória. dos gêneros literários e dos movimentos
se refere às obras de leitura obrigatória.
Neste livro, encontram-se alguns exercí- literários brasileiros. Neste livro, encon-
Entretanto, para interpretar corretamen-
cios a respeito das vanguardas europeias tram-se alguns exercícios a respeito da
te tais obras, é essencial conhecer bem
e do modernismo europeu. estética modernista, em suas bases eu-
os movimentos literários e seus princi-
ropeias, e das vanguardas europeias que
pais representantes.
a influenciaram.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
As questões desse exame vestibular con- A prova avalia os conhecimentos acerca A maior parte das questões de Literatura
templam o conhecimento acerca dos di- dos gêneros literários e dos movimentos se refere às obras de leitura obrigatória.
ferentes gêneros literários e das escolas literários brasileiros. Este livro contém No entanto, também são comuns exercí-
literárias brasileiras, bem como de seus exercícios sobre a estética modernista, cios que cobrem o conhecimento do can-
principais representantes. em suas bases europeias, as vanguardas didato acerca dos movimentos literários
e o estilo de seus principais represen- em geral, bem como de seus principais
tantes. representantes.
42
2. Euclides da Cunha
PRÉ-MODERNISMO
LC AULAS
27 E 28
Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (1866-1909) termi-
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s) nou o curso de Engenharia Militar na Escola Superior de
5 15, 16 e 17 Guerra, em 1892. Trabalhou na construção da Estrada de
Ferro Central do Brasil e, mais tarde, atuou na cidade de
São Carlos do Pinhal (SP) como engenheiro-assistente, na
O termo Pré-modernismo foi criado em 1939 por Tris- Superintendência de Obras. Ao mesmo tempo colaborava
tão de Athayde (pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, com artigos para o jornal O Estado de S. Paulo, que o con-
1893-1983) para denominar o “momento de alvoroço vidou para ser correspondente em Canudos – cidade do
intelectual, marcado pelo fim da grande guerra [1914- interior da Bahia – durante o conflito entre o líder Antonio
1918] e, entre nós, por toda uma ansiedade de renova- Conselheiro e as forças governistas. Permaneceu no ser-
ção intelectual, que alguns anos mais tarde redundaria
no movimento modernista” tão baiano de agosto a outubro de 1897 e testemunhou o
massacre de Canudos.
– Jean Marcel Oliveira Araujo
Ao regressar, em 1899, foi transferido para o município de
São José do Rio Pardo, no interior de São Paulo, onde de-
1. O pré-modernismo veria construir uma ponte sobre o rio Pardo. Lá escreveu Os
O pré-modernismo compreende um período histórico. sertões, obra que publicaria em 1902 e que o consagraria
Por isso, é importante compreendê-lo como um mo- no panorama cultural brasileiro.
mento de transição, em vez de uma escola literária, de
fato. Há de se perceber, assim, dois fatores que podem
provocar unidade no conjunto selecionado e estudado
comumente: a recusa aos modelos passados, o realis-
mo, o romantismo, entre outros, seja ela em partes ou
total, o que resulta em uma inventividade e uma plu-
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
43
2.1. Os sertões
44
grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma
simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em
tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar
desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na
tendência constante à imobilidade e à quietude. multimídia: vídeo
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Fonte: Youtube
Guerra de Canudos
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de
improviso. Naquela organização combalida operam-se, em Em 1893, Antônio Conselheiro (José Wilker) e seus se-
segundos, transmutações completas. Basta o aparecimen- guidores começam a tornar um simples movimento em
to de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das algo grande demais para a República, que acabara de
energias adormidas. O homem transfigura-se. [...] ser proclamada e decidira por enviar vários destacamen-
tos militares para destruí-los. Os seguidores de Antônio
Conselheiro apenas defendiam seus lares, mas a nova
ordem não podia aceitar que humildes moradores do
sertão da Bahia desafiassem a República.
3. Lima Barreto
Lima Barreto foi um importantíssimo escritor brasileiro, “o
romancista da primeira república''. Sua obra antecede o
movimento modernista, caracterizando-se, assim, como
uma pré-modernista. No entanto, isso não quer dizer que
seus textos não se alinhem com as implicações políticas
típicas dos grupos modernistas e nem que não obtivessem
êxito em realização estética e formal da literatura moderna.
Filho de um tipógrafo e de uma professora, ambos pobres
Os Sertões – Carlos Ferreira e Rodrigo Rosa. e, à época, designados como mestiços, Lima Barreto sofre
45
preconceito durante toda sua vida. Seja pela cor de pele, Permanece na função até se aposentar. Em 1905, adentra a
seja pela questão financeira. Temas que o autor irá abordar área do jornalismo com algumas reportagens escritas para o
de maneira intrínseca em sua obra. Sua mãe morre quando Correio da Manhã. Funda a revista "Floreal", em 1907, que
o autor tem apena sete anos. Por ser afilhado do Visconde lança apenas quatro números.
de Ouro Preto, pode ter acesso a uma educação de quali-
Sua estréia literária é marcada pelo romance Recordações
dade, estudando no Colégio Pedro II e, seguidamente, na
do Escrivão Isaías Caminha (1909). O texto conta a história
Politécnica do Rio de Janeiro.
de um jovem afrodescendente que vem do interior para a
cidade e sofre sérios preconceitos raciais. Há alto tom auto-
biográfico bem como uma bela satira do jornalismo carioca.
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Policarpo Quaresma, herói do Brasil
O major Policarpo Quaresma é um sonhador. Um visio-
nário que ama o seu país e deseja vê-lo tão grandioso
Afonso Henriques de Lima Barreto (Laranjeiras, quanto, acredita, o Brasil pode ser. A sua luta se inicia no
RJ 1881 - Rio de Janeiro, RJ 1922). Congresso. Policarpo quer que o tupi-guarani seja adota-
do como idioma nacional. Ele tem o apoio de sua afilha-
da Olga, por quem nutre um afeto especial, e de Ricardo
Coração dos Outros, trovador e compositor de modinhas
que contam a história do nosso herói do Brasil.
realizar um perfil biográfico que abrangesse o corpo, a sem... Em que lhe contribuía para a felicidade saber o
alma e os livros do escritor de Todos os Santos. Essa, nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante
que é a mais completa biografia de Lima Barreto des- é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das
de o trabalho pioneiro de Francisco de Assis Barbosa, coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrí-
colas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfa-
lançado em 1952, resulta da apaixonada intimidade de
ção? Nenhuma! Nenhuma!
Schwarcz com o criador de Policarpo Quaresma, e de
um olhar aguçado que busca compreender a trajetória O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o
do biografado a partir da questão racial, ainda pouco escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricul-
tura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil
discutida nos trabalhos sobre sua vida.
como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu
patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decep-
Durante o terceiro ano do curso de Engenharia, em 1903, ções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele a viu
Lima Barreto se viu obrigado a largar o curso. Seu pai ha- combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros,
via enlouquecido e cabia a ele sustentar os irmãos. No ano inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção,
seguinte, tornou-se escriturário do Ministério da Guerra. uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
46
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma cria- documentalmente que o autor era filiado a um grupo
do por ele no silêncio de seu gabinete. paulista de eugenia. A revisão necessária, contudo, não
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível anula o fato de que por anos o autor foi estudado dentro
em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.
do pré-modernismo brasileiro, seja como autor, seja como
ponto polêmico, seja como conservador, seja como um in-
4. Monteiro Lobato centivador da literatura infantil.
evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada A poética de Augusto dos Anjos nasceu de uma situação
a põe de pé. […] Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, histórica híbrida. Influenciado pelas ciências da época, o
maravilhoso epitome de carne onde se resumem todas poeta parecia encantado com o uso de termos científicos.
as características da espécie. […] De pé ou sentado, as Seria uma forma de inovar a poesia. Embora empregasse
ideias se lhe entramam, a língua emperra e não há de
dizer coisa com coisa. De noite, na choça de palha, aco-
conceitos de origem científica, traduziu para o leitor verda-
cora-se em frente ao fogo para “aquentá-lo, imitado da deiras essências misteriosas, despertando-lhe um fascínio
mulher e da prole. […] Pobre Jeca Tatu! Como és bonito por aquilo que ele não conhecia.
no romance e feio na realidade!
Pode-se considerar Augusto dos Anjos como um poeta de tran-
(LOBATO, 2004. p. 166-168.) sição entre o Simbolismo decadente e a modernidade, muito
Hoje, a literatura de Lobato parece estar sendo revista, identificado sempre com os sofrimentos da população do cam-
uma vez que se percebe a reprodução de certos preconcei- po e da cidade marginalizada pelo progresso capitalista.
tos (étnicos e regionais) dentro de suas obras. Além disso, A doença, a dor e a desilusão de viver estão muito presentes
os mais atentos às polêmicas sabem que foi confirmado em seus poemas.
47
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
multimídia: livro Escarra nessa boca que te beija.
(Augusto dos Anjos) Euclides da Cunha
Antologia poética de Augusto dos
Anjos – Ivan Cavalcanti Proença
Augusto dos Anjos é um poeta estranho, perturbador, in-
quietante e, como não poderia deixar de ser, capaz de
grande sedução. O vocabulário pouco comum, a multipli-
cidade de influências literárias que recebe e recria, tornan-
do-se inclassificável, e principalmente, o desespero radical
com que tematiza o fim de todas as ilusões românticas
são alguns motivos de sua rejeição e paradoxal aceitação.
5.1. Eu
48
DIAGRAMA DE IDEIAS
PRÉ-MODERNISMO
UM PERÍODO DE TRANSIÇÃO
TRISTE FIM DE
OS SERTÕES EU POLICARPO
QUARESMA
EUCLIDES DA CUNHA AUGUSTO DOS ANJOS
LIMA BARRETO
1922 1918
SEMANA DE
URUPÊS
ARTE MODERNA
49
Vanguardas: o futuro é agora!
Do francês avant-garde, a palavra vanguarda significa
“o que marcha na frente”. Artística ou politicamente,
TEORIA DA vanguardas são grupos ou correntes que apresentam
uma proposta e/ou uma prática inovadora. Como se
VANGUARDA tivessem “antenas” que captam as tendências do fu-
turo, as vanguardas acreditam perceber, ou compreen-
der antes de todos aquilo que mais tarde será o senso
comum. Sua intenção é fazer o futuro acontecer agora,
por isso, suas ações muitas são incompreendidas.
LC AULAS
29 E 30
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
4e5 12, 15, 16 e 17
1. O conceito de vanguarda
Guernica. Picasso.
2. As vanguardas
Na Europa, não houve uma arte moderna uniforme, mas
um conjunto de tendências artísticas – provenientes de pa- 2.1. Futurismo
íses diferentes – com propostas específicas, embora certos
traços as aproximassem, como o sentimento de liberdade 2.1.1. Arte em movimento
criadora, o desejo de romper com o passado, a expressão
da subjetividade e certo irracionalismo.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
50
Retrato de Marinetti. Prampolini.
51
2.2. O Cubismo Apollinaire realizou experiências que ainda despertam gran-
de interesse. No Brasil, nas décadas de 1950-1960, essa
técnica influenciaria o Concretismo.
2.2.1. A simultaneidade de perspectivas
e o geometrização das formas Ilogismo, humor, anti-intelectualismo, instantaneísmo, simul-
taneidade, linguagem predominantemente nominal são ca-
O movimento cubista teve início na França, em 1907, com
racterísticas da literatura cubista.
o quadro Les demoiselles d’Avignon, do pintor espanhol
Pablo Picasso. A partir de então, em torno de Picasso e do As principais expressões do Cubismo europeu foram Picas-
poeta francês Apollinaire, formou-se um grupo de artistas so, Léger, Braque, Gris e Delaunay, na pintura; e Apollinaire
que cultivaria as técnicas cubistas até o término da Primei- e Blaise Cendrars, na literatura.
ra Guerra Mundial, em 1918.
A convivência entre os escritores e artistas plásticos des- Picasso no cinema
se grupo favoreceu uma rica troca de ideias e técnicas Aos 60 anos e no auge de sua carreira, o pintor Pablo
de modo que os poetas familiarizavam-se com técnicas Picasso convidou uma jovem de 23 anos a morar com
pictóricas enquanto os pintores assimilavam ideias filo- ele, iniciando com ela um relacionamento que dura-
sóficas e poéticas. ria dez anos. Esse é o enredo do filme Os amores de
Os pintores cubistas opõem-se à objetividade e à line- Picasso (1996), de James Ivory, com o ator Anthony
aridade da arte renascentista e realista. Buscam novas Hopkins no papel de Picasso.
experiências com a perspectiva, procuram decompor os
objetos representando-os em diferentes planos geomé-
tricos e ângulos retos, em espaços múltiplos e descontí-
nuos, que se interceptam e se sucedem, de tal forma que
o olhar do espectador possa retomá-los e obter uma
visão do todo, de face e de perfil, como se tivesse dado
uma volta em torno deles. Outra técnica introduzida
pelos cubistas foi a colagem, que consiste em montar
a obra a partir de diferentes materiais: figuras, jornais,
mamadeiras, etc.
Hípica
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
Les demoiselles d´Avignon. Picasso. 1907. As meninas
As mulheres da esquerda identificam-se com a cultura ibérica e as
da direita revelam influência da arte negra pesquisada pelo pintor. E a orquestra toca
Na literatura, essas técnicas de pintura correspondem à Chá
fragmentação da realidade, à superposição e simultaneida-
Na sala de cocktails
de de planos – reunião e mistura de assuntos aparente-
(Poesias reunidas. 5. ed. Rio de Janeiro:
mente sem nexo, com espaços e tempos diferentes. Com Civilização Brasileira, 1978. p. 129.)
base na disposição espacial e gráfica do poema, o poeta
52
2.3. Expressionismo Durante e depois da Primeira Guerra, o Expressionismo as-
sumiu um caráter mais social e combativo, denunciando os
horrores da guerra, as condições de vida desumanas das
2.3.1. Liberdade de expressão
populações carentes, etc.
do mundo interior
Segundo o crítico de arte Giulio Argan, “o Expressionismo
põe-se como antítese do Impressionismo, mas o pressu-
põe: ambos são movimentos realistas, que exigem a dedi-
cação total do artista à realidade, mesmo que o primeiro
a resolva no plano do conhecimento e o segundo, no pla-
no da ação” (Arte moderna. São Paulo: Companhia das
Letras, 1993. p. 227).
Dentre os principais fundamentos do Expressionismo, des-
tacam-se:
§ A arte não é imitação, mas criação subjetiva, livre. A
arte é expressão dos sentimentos.
§ A realidade que circunda o artista é horrível; por isso,
ele a deforma ou a elimina, criando a arte abstrata.
§ A razão é objeto de descrédito.
O Impressionismo consistia de uma pintura que valorizava § A arte desvincula-se do conceito de belo e feio e torna-
a impressão, a captação da realidade mediante uma arte -se uma forma de contestação.
sensorial e subjetiva. A relação entre artista impressionis- As características da literatura expressionista são mani-
ta e realidade compreendia o movimento da criação do festadas por:
mundo exterior para o mundo interior. O Expressionismo,
por sua vez, propunha o oposto: o movimento da criação § linguagem fragmentada, elíptica, frases nominais sem
partia da subjetividade, do mundo interior do artista em di- sujeito, aglomeração de substantivos e adjetivos;
reção ao mundo exterior. A obra de arte seria reflexo direto § despreocupação com a organização do poema em es-
de seu mundo interior cuja atenção estaria voltada para a trofes, rimas ou musicalidade; e
expressão: forma e conteúdo uniam-se livremente para dar
vazão às sensações do artista no momento da criação. Essa § temas voltados para o combate à fome, à inércia e aos
liberdade de expressão assemelhava-se à que os futuristas valores do mundo burguês.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
pregavam com o lema “palavras em liberdade”. Dentre os artistas ligados ao Expressionismo, destacam-
-se: Kandinsky, Paul Klee, Chagall, Munch, na pintura;
Erich Mendelsohn, na arquitetura; August Stramm, Ka-
simir Edschmid e, mais tarde, Hermann Hesse e Thomas
Mann, na literatura; Kayser e Brecht (fase inicial), no teatro,
Schoenberg, na música; e Wiene, no cinema.
Leia abaixo um fragmento do poema expressionista O meu
tempo, do poeta alemão Wilhelm Klemm. Observe como a
aglomeração de frases nominais realçam a externalização
das sensações do poeta:
Cantos e metrópoles, lavinas febris,
Terras descoradas, polos sem glória,
Karl Johan ao anoitecer. E. Munch. 1892. Miséria, heróis e mulheres da escória,
53
Sobrolhos espectrais, tumulto em carris.
Soam ventoinhas em nuvens perdidas.
Os livros são bruxas. Povos desconexos.
A alma reduz-se a mínimos complexos.
A arte está morta. As horas reduzidas.
(Apud Lúcia Helena. Movimentos da vanguarda europeia
São Paulo: Scipione, 1993. p. 33.)
2.4. Dadaísmo
2.4.1. A antiarte
Para os dadás, com a Europa banhada em sangue, o cultivo
Durante a Primeira Guerra Mundial, a Suíça, que tinha se
da arte não passava de hipocrisia e presunção. Em razão
mantido neutra no conflito, recebeu em Zurique artistas e
disso, adotaram procedimentos que tinham em vista ridi-
intelectuais de todos os pontos da Europa. Esses “fugidos da
cularizá-la, agredi-la, destruí-la.
guerra” reuniam-se no “Cabaret Voltaire”, ponto de encon-
tro e espaço cultural no qual nasceu o movimento dadaísta. Foram muitas as atitudes demolidoras dos artistas dada-
Criado a partir do clima de instabilidade, medo e revolta ístas a partir de 1916: noitadas em que predominavam
provocados pela guerra, o movimento dadá pretendia ser palhaçadas, declamações absurdas, exposições inusitadas,
uma resposta à nítida decadência da civilização represen- além de espetáculos relâmpagos que faziam de improviso
tada pelo conflito. Dessa postura, provêm a irreverência, o nas ruas, em meio a urros, vaias, gritos, palavrões e à total
deboche, a agressividade e o ilogismo dos textos e mani- incompreensão da plateia.
festações dadaístas. O Dadaísmo suíço produziu um pequeno acervo de obras
artísticas, mas o movimento foi reforçado pelas montagens
e colagens de Max Ernst e Hans Arp, e pela técnica do
ready-made desenvolvida por Marcel Duchamp, que satiri-
za o mito mercantilista da civilização capitalista. Essa téc-
nica consiste em extrair um objeto do seu uso cotidiano e,
sem alguma ou com pequenas alterações, atribuir-lhe um
valor. Ficaram famosos certos objetos, como um urinol de
porcelana, uma roda de bicicleta enxertada numa cadeira,
um rolo de corda, uma ampola de vidro, um suporte para
garrafa, todos elevados por Duchamp à condição de
objetos de arte.
Na literatura, o Dadaísmo caracteriza-se pela agressivi-
Le violon d’Ingres. Man Ray. 1924. dade, improvisação, desordem, rejeição a todo tipo de ra-
cionalização e equilíbrio, bem como pela livre associação
de palavras – técnica da “escrita automática”, mais tarde
O que significa dadá?
aproveitada pelo Surrealismo – e pela invenção de pala-
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Segundo Tristan Tzara, líder dadaísta, a palavra dadá vras com base na exploração de seu significante. Este poe-
não significa nada: ma fonético Die Schlacht (A batalha), de Ludwig Kassak, é
“Encontrei o nome casualmente ao meter uma es- um bom exemplo dessas propostas:
pátula num tomo fechado do Petit Larousse. Ao abrir o
livro, a primeira linha que me saltou à vista foi DADÁ.”
Um fragmento do “Manifesto do Senhor Antipirina” da
primeira exposição pública do pensamento dadaísta dizia:
“Dadá permanece no quadro europeu das fraquezas,
no fundo é tudo merda, mas nós queremos doravante
cagar em cores diferentes para ornar o jardim zoológi-
co da arte de todas as bandeiras dos consulados”.
Urinol de porcelana. Duchamp.
54
Berr... bum, bumbum, bum... com coerência, significados, adequação etc. Na literatura, esse
procedimento recebeu o nome de escrita automática.
Ssi... bum, papapa bum, bumm
Outra linha de atuação surrealista, a onírica, busca a trans-
Zazzau... Dum, bum, bumbumbum posição do universo dos sonhos para o plano artístico.
Prã, prà, prã... ra, hã-hã, aa...
Hahol...
Francis Picabia, Philippe Soupault e André Breton des- O Surrealismo. Max Ernst.
tacaram-se como dadaístas. De orientação anarquista e
niilista sem um programa de arte, o movimento não teve
longa duração. Tristan Tzara e André Breton desentende-
ram-se. Como o fim da guerra, era hora de reconstruir o
que fora demolido: a Europa e a arte. Tzara insistia em
manter a linha original do movimento. Breton rompeu
com o Dadaísmo e abandonou o grupo para criar o mo-
vimento surrealista, uma das mais importantes correntes multimídia: livro
artísticas do século XX.
A necessidade da arte – Ernst Fisher
2.5. Surrealismo Muito utilizada na disciplina História da Arte, nos cursos
de História, Turismo e Design, a nona edição brasileira
2.5.1. O combate à razão dessa excelente obra concebe a arte como substituto da
Nascido na França, o movimento surrealista apareceu com a vida, como uma forma de colocar o homem em estado
publicação do “Manifesto do Surrealismo” (1924), de André de equilíbrio.
Breton. Interessados nas propostas de Breton, que, psicana-
lista, procurava unir arte e psicanálise, diversos pintores ade- Na concepção freudiana, o sonho é a manifestação das zo-
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
riram ao movimento, que optou por experiências criadoras nas ocultas da mente, do inconsciente e do subconsciente.
automáticas e pelo imaginário extraído do sonho como linhas Os surrealistas pretendiam criar uma arte livre da razão,
de atuação. que correspondesse à transferência direta das imagens ar-
tísticas do inconsciente para a tela ou para o papel, uma
Freud, na psicanálise, e Bergson, na filosofia, já haviam destacado arte produzida num estado de consciência em que o artista
a importância do mundo interior do ser humano, as zonas pouco estaria “sonhando acordado”.
ou propriamente desconhecidas da mente humana. Encaravam o
Nessas duas linhas de pesquisa e trabalho predominam
inconsciente, o subconsciente e a intuição como fontes inesgotá- o ilogismo, o devaneio, o sonho, a loucura, a hipnose, o
veis e superiores de conhecimento humano, legando a segundo humor negro, as imagens surpreendentes, o impacto do
plano o pensamento sensível, racional e consciente. inusitado, a livre expressão dos impulsos sexuais, etc.
O automatismo artístico consiste em extravasar sem controle O Surrealismo teve repercussão na literatura, com André
algum da razão ou do pensamento os impulsos criadores do Breton, Louis Aragon, Antonin Artaud; nas artes plásticas,
subconsciente. Ao proceder assim, o artista leva para a tela ou com Salvador Dali, Max Ernst, Joan Miró, Jean Harp; no
para o papel seus desejos interiores profundos sem se importar cinema, com o cineasta espanhol Luis Buñuel.
55
A bela da tarde
Esse é o titulo de um filme de Luis Buñel, premiado no Festival de Veneza, em 1967, cuja protagonista é Catherine Deneuve.
Trata-se de um debate sobre a relação entre repressão sexual rígida e moral burguesa. O filme narra as aventuras amorosas
de Séverine, uma jovem rica e infeliz no casamento, que busca realizar suas fantasias num discreto bordel da cidade.
56
VIVENCIANDO
Conhecer sobre arte é conhecer o próprio ser humano. Quem interpreta o mundo sob a óptica da arte tem mais
noção crítica sobre quem é e o que está fazendo no mundo. Noções estéticas em mimeses com a realidade dão
dimensão e clareza do mundo, fazem sujeitos críticos afastados do mal da alienação e da massa de manobra. Os
movimentos artísticos do início do século XX registram o processo de fragmentação do sujeito que a violência
das guerras e da busca irremediável por poder e dinheiro trouxe ao mundo pós-industrialização.
O cavalo azul. Franz Marc. 1911. Casas d’estaque. George Braque. 1908 Quadro I. Piet Mondrian. 1921
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
Estado de espírito II. Umberto Boccioni. 1911. A persistência da memória. Salvador Dali. 1931
57
VIVENCIANDO
58
multimídia: vídeo multimídia: vídeo
Fonte: Youtube Fonte: Youtube
Metropolis Meia-noite em Paris
Metrópolis, ano 2026. Uma cidade dividida em duas: Gil (Owen Wilson) sempre idolatrou os grandes escri-
de um lado estão os operários, em regime de escravi- tores estadunidenses e sonhou ser como eles. A vida o
dão, vivendo na miséria e explorados por máquinas. Do levou a trabalhar como roteirista em Hollywood, o que
outro, estão os poderosos, os políticos, que desfrutam fez com que fosse muito bem remunerado, mas que
de um jardim idílico, o Jardim dos Prazeres. Uma história também lhe rendesse uma boa dose de frustração. Ago-
de amor surge entre os dois extremos da cidade. ra, ele está prestes a ir a Paris ao lado de sua noiva, Inez
(Rachel McAdams), e dos pais dela, John (Kurt Fuller) e
Helen (Mimi Kennedy).
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
The moderns
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Nick Hart é um artista estadunidense que se esforça,
que vive entre a comunidade de expatriados na dé- 1900
cada de 1920, em Paris. Ele passa a maior parte do Na Itália, a vida de dois amigos de infância separados
tempo bebendo e socializando-se nos cafés locais e por seus destinos. Olmo Dalcò (Gérard Depardieu), filho
irritando o dono da galeria Libby Valentin para vender bastardo de um camponês, é um trabalhador inverter:
suas pinturas. Envolve-se em uma trama da rica patro- politicamente consciente. Alfredo Berlinghieri (Robert De
na de arte Nathalie de Ville para forjar três pinturas. Niro), filho de um proprietário de terras, vive do dinheiro
Isso leva a vários episódios com o magnata da borra- da família, sem maiores preocupações. De classes opos-
cha estadunidense Bertram Stone, que se casou com a tas, os dois compartilham um contexto: o crescimento do
ex-esposa de Hart, Rachel. fascismo e do comunismo.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
59
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM
HABILIDADE 12
Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
Esta competência trata de um conhecimento humano fundamental que é dominar as generalidades das
expressões artísticas existentes. Entender que a arte é um tentáculo da cultura e, assim sendo, como se
comporta em sua concepção levando em consideração o autor, seu processo criativo (estética, técnica,
suporte, objetivo, etc.) e relação como o contexto de produção. Estudar esta competência na disciplina de
Literatura faz parte de um movimento contemporâneo das bases educativas que buscam interdisciplinari-
dade entre os conteúdos, sobretudo por conta do fato de que a literatura é arte. A partir dessa premissa,
infere-se que também recebe as mesmas influências que os artistas de outros gêneros (como é o caso da
pintura) e de movimentos artísticos receberam, como aconteceu com as vanguardas artísticas europeias.
Estas habilidades pressupõem que o aluno tenha conhecimento das concepções artísticas, no caso o con-
ceito de uma vanguarda artística do século XX específica: o Surrealismo. A construção dos procedimentos
artísticos e sua função está ligada aos fatores estéticos que podem levar em consideração a forma e/ou
conteúdo do texto em relação à concepção artística do contexto (meios culturais).
MODELO 1
ANÁLISE EXPOSITIVA
O movimento surrealista apresenta como principais características a ausência da lógica, a fusão consciente
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
da realidade com a ficção, a exploração do mundo onírico e a exaltação da liberdade de criação, entre
outros. Magritte é conhecido pelas obras provocadoras que desafiam as percepções dos observadores,
como a tela “A reprodução proibida”, em que a imagem do homem refletida no espelho contraria a lógica.
RESPOSTA Alternativa A
60
DIAGRAMA DE IDEIAS
VANGUARDAS EUROPEIAS
DO SÉCULO XX
61
1.1. Orfismo
O primeiro tempo do Modernismo português, conhecido
como Orfismo, associou-se à profunda instabilidade polí-
tico-social da primeira República, e recebeu esse nome por-
MODERNISMO que, à luz das modernas vanguardas europeias, em 1915,
alguns jovens – Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro,
PORTUGUÊS I Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada Negreiros e o brasileiro
Ronald de Carvalho, entre outros – resolveram fundar uma
revista que os congregasse. Surgiu a revista Orpheu.
A Orpheu era uma publicação porta-voz dos ideais de
renovação futurista desejados pelo grupo. Ela teve dois
LC
números. No primeiro, Luis de Montalvor e Ronald de Car-
AULAS valho pretenderam aproximar o Modernismo português do
31 E 32 Modernismo brasileiro. Além disso, a revista tinha como
proposta tirar Portugal de seu descompasso em relação à
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
Europa. Sua poesia, irreverente e alucinada, tinha por obje-
5 15, 16 e 17 tivo preciso irritar o burguês.
No segundo número, sob a direção de Fernando Pessoa e
Mário de Sá-Carneiro, declarou-se o fim do Simbolismo.
1. Contexto histórico Em decorrência de questões financeiras e de outras situ-
ações, a revista não prosseguiu, encerrando-se em 1916.
Os primeiros anos do século XX em Portugal foram conturba-
dos. Com a descrença na monarquia, em 1910 foi proclama-
da a República, mas as mudanças sociais que eram esperadas
não aconteceram. Desse modo surgiram dissidências inter-
nas, o que levou à instabilidade da democracia portuguesa.
2. Características do
modernismo em Portugal
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
62
2.1. Crise do progressismo
burguês e Intuicionismo
A instabilidade europeia do início do século XX atingiu Por-
tugal e representou um período de grande insatisfação e
também de crise da sociedade liberal burguesa.
Nessa época imperou um novo individualismo, que os
primeiros modernistas cultivaram como determinação do
próprio eu e não como algo imposto pela sociedade. Surgiu
também o Intuicionismo, como um conhecimento do mundo Almada Negreiros
que vem da espontaneidade, de forma natural, e não pela ci-
Em 1917, o poeta e pintor Almada Negreiros ressaltou
ência ou pela técnica, como é possível perceber neste poema
a necessidade de transformações e, vestido de operário,
de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa:
apresentou no Teatro da República, a conferência “Ultima-
“O que nós vemos das cousas são as cousas. tum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX”.
Por que veríamos nós uma cousa se houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir? Ultimatum futurista
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores.”
(PESSOA, Fernando. Poemas de Alberto Caeiro. Obra completa
de Fernando Pessoa. Rio de Janeiro. Aguilar. 1977.)
63
Cultivem o amor do perigo, o hábito da energia e da ousadia! O título desse quadro é o mesmo do conto de Almada Ne-
Virem contra a parede todos os alcoviteiros e invejosos do greiros, de característica cubofuturista.
dinamismo!
Declarem guerra aos rotineiros e aos cultores do hipnotismo!
Livrem-se da choldra provinciana e da safardanagem
intelectual!
Defendam a fé da profissão contra atmosferas de tédio ou
qualquer resignação!
Façam com que educar não signifique burocratizar! multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Sujeitem a operação cirúrgica todos os reumatismos
espirituais! Entrevista de Almada Negreiros - 1968
Florbela Espanca
64
4.1. Nacionalista místico
Em Mensagem, de 1934, o poeta faz uma réplica de Os
Lusíadas a partir de uma perspectiva nacionalista mística.
Atuando como um verdadeiro sebastianista, prega a volta
de el-rei D. Sebastião – morto na África em 1578 – para
restaurar Portugal e o Quinto Império. Divide-se em três
multimídia: livro partes: Brasão, Mar português e O encoberto. Brasão tem
como referência o brasão português, representado por sete
castelos amarelos em um campo vermelho e cinco quinas
Os anos vinte em Portugal – José Augusto França
azuis. Cada castelo equivale a uma figura historicamente
“Este livro é, como o que o autor publicou há 25 anos ligada à formação do Estado português. Abrange desde
sobre ‘O Romantismo em Portugal’, um estudo de fatos Ulisses – o fundador de Lisboa, segundo o mito – até D.
socioculturais, de informação e de reflexão sobre um pe- João I, o mestre de Avis, responsável pelas grandes navega-
ríodo da história nacional – arredado e ainda perto de ções. Mar português focaliza os navegadores e o desejo de
nós. A primeira data que nele nos aparece é, ao fim da conquistar os mares. O encoberto, última parte, concentra-
guerra, o assassinato de Sidónio Pais, e a última, a ins- -se no mito do Sebastianismo e do Quinto Império, que re-
talação de Salazar no poder, a meio de 1932, ao termo tirariam Portugal da decadência experimentada a partir do
de um lento processo de seis anos.” século XVIIII até o momento da enunciaçaõ, o século XX.
65
“Autopsicografia Herdeiro do Decadentismo/Simbolismo, seu modo de en-
O poeta é um fingidor. xergar a vida não aceitava os limites. Isso é o que se pode
Finge tão completamente depreender da leitura de alguns de seus poemas.
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Da dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só os que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.” multimídia: livro
(Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.)
A morte de Mário de Sá-Carneiro
– João Pinto de Figueiredo
5. Mário de Sá-Carneiro Apesar do seu título, é da vida de Mário de Sá-Carneiro
que nos fala esse livro. Efetivamente, para o autor de
”Céu em fogo” a vida não passou de uma morte pro-
longada, de uma morte vivida. (...) Na escassa bibliogra-
fia sobre o grande poeta, A morte de Mário de Sá-Car-
neiro constituirá doravante uma referência obrigatória.
Dispersão
66
Não sinto o espaço que encerro Obras
Nem as linhas que projecto:
Se me olho a um espelho, erro –
Não me acho no que projecto.
Regresso dentro de mim,
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada,
Sequinha, dentro de mim.
[...]
E tenho pêna de mim,
Pobre menino ideal...
Que me faltou afinal?
Um elo? Um rastro?... Ai de mim!...
67
trata de pseudônimos, mas heterônimos, pois são várias
projeções do eu, cada qual com personalidade, biografia,
estilo e características específicas e distintas do seu brilhan-
te criador, Fernando Pessoa.
MODERNISMO
PORTUGUÊS II
LC AULAS
33 E 34
COMPETÊNCIA(s) HABILIDADE(s)
5 15, 16 e 17
O próprio Fernando Pessoa assim se
expressa a respeito de sua heteronímia
“Por qualquer motivo temperamental que me não
1. Os heterônimos de proponho analisar, nem importa que analise, construí
68
Ode triunfal 1.1. Alberto Caeiro
“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Dentro da heteronímia, o poeta Alberto Caeiro tem uma
Tenho febre e escrevo. trajetória de vida e características que o identificam. Era ór-
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, fão de pai e mãe, só teve instrução primária e viveu quase
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. toda a vida no campo, sob a proteção de uma tia.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Poeta bucólico, em contato direto com a natureza, Caeiro
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! dá importância às sensações, registrando-as sem a media-
Em fúria fora e dentro de mim,
ção do pensamento.
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Para Caeiro, “tudo é como é”, todo “é assim porque assim
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, é” – o poeta reduz tudo à objetividade, sem nenhuma ne-
De vos ouvir demasiadamente de perto, cessidade de pensar.
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações, O guardador de rebanhos
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas! “[...]
[...] Sou um guardador de rebanhos
Eia todo o passado dentro do presente! O rebanho é os meus pensamentos
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia! E os meus pensamentos são todos sensações.
Eia! eia! eia! Penso com os olhos e com os ouvidos
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita! E com as mãos e os pés
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô! E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais. Por isso quando num dia de calor
Giro dentro das hélices de todos os navios. Me sinto triste de gozá-lo tanto.
Eia! eia-hô! eia! E me deito ao comprido na erva,
Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade! E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Sei a verdade e sou feliz.”
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá! (Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1984.)
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! Ho-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!”
Situando a relação entre o homem do começo do século
XX e o mundo tecnicizado, a Ode triunfal tem um ritmo
nervoso e trepidante. Trata-se de um poema futurista, assi-
nado pelo heterônimo Álvaro de Campos, que demonstra
completa adesão à proposta de Marinetti, que integra à
poesia elementos da civilização industrial: motores, máqui-
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
O Desassossego Pessoano - Teresa Rita Lopes Caricatura de Alberto Caeiro. Mário Botas.
69
Tabacaria
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
multimídia: livro Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém
[sabe quem é]
O espelho e a esfinge – Massaud Moisés (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Essa obra reúne em nova edição, revisada e aumenta- Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente
da, alguns ensaios que Massaud Moisés escreveu com [por gente,]
o propósito de divulgar aspectos menos conhecidos da Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
produção literária de Fernando Pessoa. Desde 1957, o [...]
autor vinha se dedicando à interpretação das múltiplas
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
facetas desse grande poeta português da modernidade.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
1.2. Álvaro de Campos E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Álvaro de Campos nasceu no extremo sul de Portugal, em Falhei em tudo.
Tavira, a 15 de outubro de 1890. Estudou Engenharia na- [...]
val, na Escócia. Todavia, não exerceu a profissão por não Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
suportar viver confinado em escritórios. Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Homem sujeito à máquina, à cegueira de seus semelhantes, Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
de espírito inconformado com o tempo, é completamente E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode
inadaptado ao mundo que o rodeia; vive marginalizado, [haver tantos!]
sendo uma personalidade do não.
[...]
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
[...]
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a
[confeitaria.]
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
70
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
E a língua em que foram escritos os versos. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
[...]
(Enlacemos as mãos.)
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Sigo o fumo como uma rota própria, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
E gozo, num momento sensitivo e competente, Mais longe que os deuses.
[...]
A libertação de todas as especulações
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
E a consciência de que a metafísica é uma consequência Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
[de estar mal disposto.] Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Depois deito-me para trás na cadeira Ouvindo correr o rio e vendo-o.
[...]”
E continuo fumando.
(Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.)
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira
[das calças?).]
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.) multimídia: livro
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Dicionário de Fernando Pessoa –
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Fernando Cabral Martins
[Tabacaria sorriu.”] Esse volume de quase mil páginas reúne a soma dos
(Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.) conhecimentos sobre Fernando Pessoa, a sua obra e o
Modernismo. Um conjunto de mais de 80 especialistas
1.3. Ricardo Reis oferecem quase 600 artigos de síntese aos principais
nomes, títulos, imagens e temas relacionados a Fernan-
Ricardo Reis é natural do Porto; nasceu a 19 de setembro
do Pessoa, ou que ajudam a definir os traços culturais
de 1887. Teve formação em escolas de jesuítas e estudou
do seu tempo – e marcam, sobretudo, o período da sua
Medicina. Monarquista, autoexilou-se no Brasil por não
atividade pública entre 1912 e 1935.
concordar com a Proclamação da República em Portugal.
Foi profundo admirador da cultura clássica, tendo estuda-
do latim, grego e mitologia. O poeta latino Horácio foi um
grande inspirador de sua poesia, principalmente no que diz
respeito à filosofia do carpe diem, isto é, de usufruir o mo-
mento. Sua musa inspiradora se chamava Lídia.
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
multimídia: livro
71
multimídia: vídeo
Fonte: Youtube
Biografia - Fernando Pessoa
multimídia: livro
multimídia: livro
VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
72
VIVENCIANDO
Pintura
As banhistas / Retrato de Fernando Pessoa (1964) – Almada Negreiros
73
Pintura
74
DIAGRAMA DE IDEIAS
HETERÔNIMOS DE
FERNANDO PESSOA
ALBERTO CAEIRO NASCEU EM LISBOA. É O MESTRE DOS HETERÔNIMOS, VIVEU SUA VIDA NO
CAMPO E FICOU ÓRFÃO DE PAI E MÃE MUITO CEDO, PASSANDO A VIVER COM UMA TIA-AVÓ.
MORREU DE TUBERCULOSE. SUA POESIA VALORIZA A SIMPLICIDADE, NA QUAL MAIS IMPOR-
TANTE QUE PENSAR É SENTIR. SEGUNDO ELE, TODO O CONHECIMENTO SE DÁ A PARTIR DA
EXPERIÊNCIA SENSORIAL, SOBRETUDO JUNTO À NATUREZA.
RICARDO REIS NASCEU EM 1887, NO PORTO, E NÃO SE SABE A DATA DE SUA MORTE, O QUE
FAZ O LEITOR PENSAR QUE ELE TERIA MORRIDO APÓS A MORTE DE FERNANDO PESSOA. ESTU-
DOU EM COLÉGIO DE JESUÍTAS E SE FORMOU EM MEDICINA. FOI VIVER NO BRASIL APÓS A INS-
TAURAÇÃO DA REPÚBLICA EM PORTUGAL, POIS ERA MONARQUISTA. TRADICIONAL, HELENISTA,
LATINISTA, PARA ELE, A MODERNIDADE É UMA MOSTRA DE DECADÊNCIA. SUA LINGUAGEM É
CLÁSSICA E SEU VOCABULÁRIO, ERUDITO. SUA MUSA É LÍDIA. VOLUME 4 LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
ÁLVARO DE CAMPOS NASCEU EM TAVIRA, EM 1890. A DATA DO SEU FALECIMENTO, TAL QUAL
DE RICARDO REIS, NÃO É CONHECIDA. CAMPOS É FORMADO EM ENGENHARIA, NA ESCÓCIA,
E NÃO EXERCEU A PROFISSÃO. É O MAIS MODERNO DOS HETERÔNIMOS, VALORIZA A MODER-
NIDADE. É UM PESSIMISTA, POIS APESAR DO GOSTO PELO PROGRESSO, O TEMPO PRESENTE O
ANGUSTIA. SUA OBRA É DIVIDIDA EM TRÊS FASES: DECADENTISTA, FUTURISTA E PESSIMISTA.
75
ANOTAÇÕES
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
VOLUME 4 LÍNGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
76