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09 Amor em Possessao-Mackenzie 09-Nathalia Marvin PDF

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Amor em Possessão

Os Mackenzies 9

Nathalia Marvin
Amor em Possessão

Os Mackenzies
Livro 9

NATHALIA
MARVIN

.
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados. Os personagens e eventos retratados neste livro
são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é
coincidência e não é intencional por parte da autora. Nenhuma parte deste
livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação, ou
transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a permissão
expressa por escrito da autora.
Para Hilarena Guerra.
Você foi um presente de Deus na minha vida.
Te amo, raposo!
Capítulo 1

Continuo sentado, observando toda a minha família grande e barulhenta


demais fazer um alvoroço em minha festa de boas vindas. É uma boa forma
de recepção, é claro, mas não sou muito da algazarra. Na verdade, eu detesto
barulho.
Vejo minha irmã e seu marido aparecerem em meu campo de visão.
Ainda estou acostumando com o fato de que a minha irmã mais nova, a
minha neném, está casada. Pelo menos, está feliz. Sem dúvida alguma,
Nicholas a faz feliz e isso é a única coisa que me deixa mais calmo. Não
gosto da ideia de não ter podido aproveitar mais da companhia dela, então
poderia facilmente dar uma lição no cara. Esse mesmo cara que outrora foi
meu melhor amigo. A vida e como ela trabalha.
— Assim você magoa nossa mãe — ela murmura, sorrindo.
— Por quê? — pergunto desviando o olhar para meu cunhado que
também está sorrindo abertamente.
— Porque ela fez isso tudo e você está sentado aí, como se não desse a
mínima importância. Vai dançar um pouco de Justin Timberlake com o
Brandon.
Olho para a sala ampla da casa dos meus pais, observando minha prima
Amy e o irmão Brandon dançarem loucamente enquanto Megan, minha outra
prima, dá sorrisinhos mais ao lado junto com seu também marido.
Aconteceu toda uma mudança inesperada e repentina enquanto eu estava
fora e estou me sentindo muito deslocado.
— Nossa, Luke — Amber resmunga. — Ao menos um sorriso. Isso não
vai te matar.
— Estou sorrindo — forço os cantos da boca.
— Vem, amor. Ele deve estar cansado. Vamos ajudar sua mãe — o
marido a chama.
Ouço-a balbuciar qualquer coisa e então eles saem de perto de mim, me
fazendo soltar o ar, aliviado.
Sorrir seria tão falso e hipócrita nesse momento, duas das coisas que não
sou e abomino.
— Vem, Isabelle! Ele não morde — ouço a voz da minha prima
endiabrada Amy e levanto a cabeça, observando que ela puxa uma menina
consigo. A companheira não quer se aproximar, é bem nítido.
Respiro fundo e me preparo para dispensar mais uma pessoa da forma
mais educada que conseguir.
— Oi, Lukezinho! — cantarola, enquanto a outra menina tem a mão
segurada por ela, mas olha para o lado.
— Oi, Amy. Que linda você está. Tudo bem?
Ela dá um risinho e joga os cabelos para trás dos ombros.
— Eu não estou linda, baby, eu sou. Já nasci maravilhosa — parece
realmente falar sério, então se inclina e ignoro quando sua mão minúscula
toca um dos meus braços. — Bendito exército existente. Que braços
maravilhosos.
Tento sorrir.
— Cadê seu namorado? — pergunto, querendo fazê-la sumir.
Ela dá uma risada alta demais.
— Que namorado nada. A gente aproveita as beldades da vida sem
esperar um idiota enchendo a paciência toda hora — olha para o lado e puxa
o braço da menina. — Quero que você conheça minha amiga Isabelle.
Essa não me olha e está completamente desconfortável.
— Olá, Isabelle — a cumprimento.
— Olhe para ele! — Amy cochicha. — Isa, é falta de educação não
responder.
Ela puxa o braço com força e a olha, irritada. Eu me perco por algum
tempo observando a cena.
— Você é louca, Amy. Eu devia estar trabalhando — sussurra em
repreensão à minha prima.
— Você só pensa em trabalhar. Precisa se divertir.
— Eu não preciso, não. Estou bem assim.
— Não está nada! — minha prima sibila e me olha de novo, abrindo um
sorriso. — Isabelle é um pouco tímida.
A menina ameaça sair de perto, mas Amy a puxa pelo braço.
— Por favor, Amy... — sussurra em súplica.
— Este é o Luke, meu primo — me apresenta e é quando, pela primeira
vez, Isabelle me olha. A garota arregala os olhos e sua boca forma um O.
Faço um aceno com a cabeça, em sinal de cumprimento, mas ela parece
um pouco assustada.
— Ah, eu não acredito! — Amy grita, de repente. — BackStreet Boys,
eu amo o meu irmão ser o DJ! Vou encher aquele peste de beijos! — então
sai correndo para o meio da sala, deixando a amiga para trás.
Eu a olho e ela parece incomodada, mas seus olhos ainda estão em mim,
sem desviar.
Cruzo os braços e ela fecha a boca, piscando algumas vezes.
Ela é pequena, somente pouco mais alta que minha prima, mas tem um
jeito muito diferente da Amy. É notável.
— Eu vou... — engasga, então desvia o olhar, balançando a cabeça. —
Vou...
— Sente-se — eu sugiro. — Você não parece estar gostando da festa
tanto quanto eu.
— Não... Eu deveria estar em outro lugar.
— Amy arrastou você para cá?
— Sim.
— Ela é chata quando quer.
Isabelle assente, me olhando de novo e eu reforço o convite.
— Sente.
Ela olha para meu lado, vendo o espaço do sofá livre, mas então balança
a cabeça.
— Eu devo ir. Seja bem-vindo — fala e vira-se, mas esbarra em
Brandon, que parece eufórico, como sempre.
— Gatinha — ele a segura pelos ombros. — Onde vai?
— Embora — mal responde.
— Embora? Vamos botar fogo nessa casa antes — ele a puxa para si.
Brandon é alto para caramba, não mais que eu, mas a garota bate abaixo de
seu ombro. — E aí, cara. Curtindo a festa?
— Não, deixo você curtir por nós dois.
Ele ri.
— Qual foi, cara. Tio Philip está maior feliz que você voltou e parece
que você nem curtiu.
— Não, só estou cansado.
— Ok — ele assente e olha a menina. — Vamos balançar essa bunda,
Isabelle?
Ela faz uma careta e sai de seu contato.
— Eu tenho que ir. Avise à sua irmã, por favor — sai andando.
Brandon suspira e balança a cabeça em negativa, sentando ao meu lado.
— Isabelle — diz pensativo.
— Sua namoradinha? — pergunto sem interesse.
— Não. Ela passou por um momento difícil há pouco tempo.
Como não falo nada, meu primo se sente instigado a continuar:
— Ela e a irmã pequena foram abandonadas pelos pais e foram criadas
pela a avó, mas a irmãzinha morreu há uns meses e ela ficou arrasada.
Viro-me para ele, conturbado.
— Quantos anos tinha a irmã?
— Sete. Ela nunca tinha falado para ninguém sobre, mas aí a Amy
passou a vê-la chorando nas aulas e resolveu perguntar.
— Estudam juntas?
— É.
— Pensei que Amy já tivesse se formado no colegial.
— Faculdade, cara.
— Então elas não se conhecem há muito tempo?
— Não. Há um ano, eu acho.
— Entendi.
— De qualquer forma, Isabelle se fechou para o mundo. Foi um
sacrifício ter vindo aqui hoje.
— Deixe a menina ter o tempo dela. Coisas assim não são fáceis,
Brandon — aviso.
— Não devem ser — ele suspira. — E aí, quer dançar com a gente?
— Dispenso.
Ele sorri do seu jeito travesso.
— Beleza. A gente se esbarra — então levanta e sai.
Eu levanto também, de forma discreta, e começo a caminhar em direção
às escadas, louco para ir ao meu quarto, mas sinto uma mão no ombro antes
de sequer encostar nos degraus.
Me viro, deparando de cara com os olhos claros do meu pai que já me
botaram muito medo outrora.
— Filho — ele bagunça meus cabelos, um gesto de costume desde que
sou pequeno. — Acho que vou chorar. Olha que só chorei pela sua mãe.
Falando nisso, cadê aquela safada? — olha ao redor, inspecionando o local e
eu me controlo para não sair às pressas.
Meu pai e minha mãe. Nunca vi nada igual. E não quero testemunhar um
de seus beijos loucamente apaixonados. Eles sempre parecem que vão engolir
um ao outro.
— Não a vi, pai — divago.
Ele me olha, sorrindo com os olhos claros me analisando.
— Você se tornou um homem tão rápido — suspira. — Ainda lembro
quando você era uma batatinha.
— Pois é, mas o senhor devia ter estado de olho na Amber. Não acredito
que ela está casada — me debruço no corrimão.
— Ela está feliz, com um homem que a valoriza e a faz feliz, então eu
também estou feliz.
— Muita felicidade.
— Muita! — ele afirma sorridente.
— Ai, meu Deus! Eu tenho os dois homens mais lindos do mundo
dentro da minha casa e os dois são meus! — ouço a voz da minha mãe e em
um instante ela está sendo virada e colada à parede ao lado da escada, meu
pai a sugando com a boca.
Solto uma lufada de ar, de pura exasperação. Eles não têm qualquer
limite.
Espero, até que eles se afastam com risinhos e voltam à minha frente.
— Vocês são preocupantes com esse fogo todo — esclareço.
— Sua mãe é a lenha perfeita — meu pai olha para ela com um sorriso
malicioso.
— Agradeço a festa, mas posso subir? Estou exausto.
— Claro, filho — minha mãe se aproxima, me beija e abraça. — Estou
feliz em ter meu garotinho de volta.
— Estou feliz por estar de volta, mãe — abraço-a também, inspirando
seu cheiro que me funciona como um calmante. Então me viro, recebendo um
abraço do meu pai, e subo as escadas, louco por dormir por uns três dias.
Capítulo 2

Eu já sabia que trabalharia com o meu pai, mas não sabia que era tão
cansativo. Estou há dois meses vendo e observando seus movimentos para
saber o que tenho que fazer, já que ele me criou para ser um Mackenzie.
Contento-me com isso. Estou feliz com o que deve ser feito. Principalmente
porque agora eu o substituo. Não é o que sonhei, mas o que quero.
Meu celular toca e enfio a mão no bolso interno do terno, obtendo o
aparelho. Número desconhecido.
— Alô?
— Alô? Luke Mackenzie?
— O próprio. — Tenho vontade de bufar, mas me contento em respirar
fundo e tomar paciência.
Odeio que me liguem e estejam incertos. É o meu número e sabem meu
nome, então sou eu.
— Aqui é o Frank. Frank Widmore.
— Widmore! — finjo animação. — A que devo a honra, meu senhor?
— Como vai, filho?
— Bem, e o senhor?
— Ótimo! Estou ligando porque queria convidá-lo para a festa da minha
filha. Ela vai fazer dezoito anos, mas é meio tímida, não conhece muita
gente… Então, a maioria dos convidados são meus — solta uma risada.
Widmore é major. Tenho maior respeito pelo cara. Obviamente não vou
recusar o convite. Mas, aniversário de uma menina de dezoito anos? Não
mereço.
— Será um prazer.
— Ótimo! — respira fundo, parecendo aliviado. — O convite deve
chegar para você mais tarde. Nos vemos em breve.
— Até, senhor.
Desligo e jogo o celular na mesa.
Eu mereço.
***

A festa é chata. Tenho vontade de abrir um buraco no chão para me


enfiar.
Levanto da mesa e vou circular pelo lado de fora do jardim.
Widmore tem uma casa incrível, completamente aconchegante. Dá um
ar de felicidade para quem mora aqui. Mas não levo lá muita fé nisso, ainda
mais depois de ter conhecido a "adorável" Sra. Widmore.
Levo as mãos aos bolsos da calça e me aproximo da piscina, que está
decorada com coisas estranhas.
— Oi — ouço uma voz e olho para o lado, me surpreendendo ao ver a
aniversariante.
— Oi — a cumprimento sem vontade. — Bela festa. Meus parabéns.
— Obrigada — sorri e seu olhar me percorre de cima a baixo. — O que
está fazendo aqui?
— Quis explorar — respondo simplesmente.
— Quer me explorar?
Ergo as sobrancelhas.
— Perdão?
Ela sorri e olha para trás, então me olha de novo, aproximando-se.
— Me explorar — sussurra, se inclinando para frente e passando a mão
em meu peito.
Um castigo duplo. Devo ser amaldiçoado.
— Não me leve a mal, mas não estou afim.
— Eu deixo você afim. Sou muito boa — ela afirma.
— Não, declino o convite, apesar de me sentir honrado.
— Por favor… — choraminga. — Você é muito lindo. Estou louca por
você desde que passou pelas portas.
— Como já disse — tiro a mão dela de mim —, não, obrigado.
— Eu só quero que faça sexo comigo, não estou pedindo para me dar
mais nada! — bate o pé, irritada.
— Você é uma menina.
— Ah, tá. Você é gay — ela bufa.
— Não, estou dizendo que é muito nova para mim. Acabou de
completar dezoito anos.
— E você tem quantos, sessenta? — ironiza.
— 25.
— Viu, só? Não é errado!
— Aparentemente.
— Ninguém liga para as aparências.
— Você ligou para a minha.
Ela estreita os olhos e bufa.
— Me dá isso de presente de aniversário, por favor! — insiste. — Vai
ser o melhor da minha vida.
— Sem chance — recuso novamente. — Não vou tocar na filha de um
dos homens que mais respeito.
— Sempre por culpa do meu pai! — ela cruza os braços, irritada.
Desvio a vista, vendo se alguém foi testemunha dessa conversa
vergonhosa.
— Acho melhor você ir andando. Não vamos querer ninguém abrindo o
bico por aí.
— Qual o seu problema, hein? Não me acha bonita?
— Você é bonita, mas já disse que não vai rolar. Eu não volto atrás com
minha palavra — declaro firme e me afasto.
Só me faltava essa.
Me retiro do lugar imediatamente. Não vou querer ver a insistência
dessa menina de novo.
Atravesso o monte de pessoas, esbarrando com uma mulher que está
trabalhando no bufê. As taças de vidro caem e ela também, me fazendo ter
que parar. Mas, quando vou me abaixar para ajudar, ouço a voz histérica de
alguém.
— Imprestável! — olho para trás, vendo a aniversariante vir na direção
da cena. — Você não serve nem para carregar uma bandeja?
— A culpa foi minha — digo depressa, pois todos estão observando a
cena de imediato.
— Não me importa! É o trabalho dela estar atenta! — ela olha para mim
e de novo para a menina no chão. — Levanta e limpa tudo! Agora!
Sinto um toque no cotovelo e sou puxado para longe, olhando para meu
lado e vendo Widmore.
Será que ele sabe que deveria ter batido na filha algumas vezes para ela
aprender a ser gente? Acho que não.
Vejo a garota berrar com a moça caída no chão, que tenta levantar para
se arrumar, mas não consegue e posso ver seu rosto contorcido quando tenta
novamente se pôr de pé. Ela está com dor, é bem óbvio.
Tiro meu braço do de Widmore e o ouço protestar, mas não ligo, então
começo a caminhar de volta para perto da garota caída.
Me abaixo e a pego no colo, ignorando a outra que continua berrando,
então caminho para dentro da casa, em busca de um banheiro. Uma das
empregadas me indica um corredor próximo e eu vou, com a garota nos
braços.
Sento-a na bancada e volto para trancar a porta, não querendo ver a
histérica e mimada entrar para gritar.
Me viro novamente e então dou de cara com um par de olhos
arregalados.
Eu me lembro desses olhos.
Caminho de volta até a menina e então seguro sua perna, levantando e
puxando a bainha da calça.
— Está doendo?
Ela tenta tirar a perna e parece imediatamente inquieta.
— Estou bem, não se preocupe — responde baixo.
— Sinto muito. Não vi você em meu caminho.
Deixo a perna dela e caminho até o canto da parede, pegando um pouco
de papel, então volto.
— Mostre onde foi — peço.
— Sério, eu estou bem — ela faz impulso para levantar, mas eu a olho
da forma mais ameaçadora que consigo. Parece funcionar, já que ela para no
ato e então ergue rapidamente a calça até o joelho.
— Foi fundo — seguro a parte de baixo de seu joelho e me inclino para
olhar mais de perto. — Por pouco não precisa de pontos.
— Que… Exagero.
Olho para ela de novo, que parece nervosa e desvia o olhar.
— Não é exagero. Sei o que estou falando. Fique quieta, isso pode doer
— aviso e começo a passar o papel ao redor e pressiono em cima do corte em
seguida, olhando para cima quando a garota dá um grito e segura meus
ombros.
— Ah, minha nossa! — balança a cabeça. — Mais devagar, você é
muito forte.
Não diminuo a força, porque preciso estancar o sangue.
— Por favor! — ela quase chora e bate em meus ombros. — Dói!
Retiro a mão, sem parar de olhar para seu joelho e percebo que o sangue
ainda sai, mas não como antes. Dobro a perna da calça dela, de forma que
não precise segurar. Me afasto e jogo o papel no lixo, então me debruço sobre
a pia e lavo as mãos.
Ouço sua respiração ofegante e entrecortada.
Ela se põe de pé em uma perna e exala a respiração.
— Isso doeu mais que o próprio corte — murmura olhando o joelho.
— Você precisa ficar parada, se não vai começar a sangrar de novo já
que não me deixou estancar totalmente.
— Está tudo bem. Não foi.
Observo quando ela começa a tentar caminhar novamente, mas não
consegue, soltando uma respiração pesada, cheia de impaciência.
— Aonde você quer ir? — questiono.
— Tenho que voltar a servir.
— Você não pode.
— Eu devo — ela toca o joelho e analisa, enquanto seus cabelos caem
para frente, em cascatas.
Eu me pego indo em sua direção novamente, então me abaixo sobre os
calcanhares, meus olhos pairando bem em frente sua nuca exposta.
Ela levanta a cabeça e sua respiração suspende enquanto me encara.
Observo atentamente quando ela corre a língua lentamente pelo lábio inferior.
Parece sem pretensão, mas é completamente atraente.
— Ajeite-se — peço.
Ela o faz rapidamente, voltando a endireitar o corpo e observo suas
mãos segurarem as beiradas da bancada. Meu rosto está bem de frente para
sua barriga, de forma que devo me inclinar para olhar o ferimento.
— Sem chance. Você deve estar com a perna em repouso. Foi fundo.
Ela bufa, desdenhando completamente.
— Você acha que eu posso escolher? — pergunta. — Eu tenho que
voltar.
Me levanto e ela arregala novamente os olhos e só então observo como
devo olhar para baixo para falar com ela. Muito para baixo. Ela parece miúda.
— Por que você não pode escolher?
Ela não responde. Ao contrário, me olha, estática. Muito estática.
— Vem, eu vou te ajudar — insinuo aproximação para pegá-la nos
braços novamente.
— Ah, por favor — se esquiva para trás, o som de dor que emite quando
movimenta a perna me impulsionando a sentá-la novamente sobre o
mármore. — Ai.
— Você não vai a lugar algum, Danielle — falo de ímpeto.
— Meu nome não é esse — ela grunhe, me empurrando, mas não saio
do lugar e isso parece aterrorizá-la. — Você é muito grande.
Não digo nada, apenas caminho até a porta e saio, então me deparo com
a menina birrenta plantada bem em frente, parecendo irritada.
— O que você está fazendo? Ela tem um monte de pessoas para servir!
— ruge.
Mantenho minha compostura e simplesmente levo a mão à calça e
obtenho minha carteira.
— Quanto é o serviço dela? — pergunto.
A garota parece furiosa.
— Não é questão de dinheiro!
— Ela não está em condições de voltar ao trabalho — tiro algumas notas
da carteira. — Aqui. Isso deve dispensá-la.
Ela não faz menção de pegar o dinheiro e então percebo seus olhos me
fulminando. Puxo sua mão, abrindo a palma e colocando as notas em cima.
— Seu pai viu o que houve, ela não teve culpa. — Volto para dentro do
banheiro, vendo a garota tentar se mover.
Me aproximo, a pegando no colo em meio a alguns protestos e gritinhos
por parte dela, então saindo, passando pela birrenta e não me dando tempo de
olhá-la.
Devo agradecer pela menina ter me dado um motivo de sair desse lugar
lastimável. Mal sabe que me fez um bem imenso.
Capítulo 3

— O que está fazendo? — a garota pergunta enquanto nos levo até meu
carro.
— Vou deixar você na casa da Amy.
— Eu não posso ir para casa nenhuma. Eu preciso ir de volta ao meu
trabalho. Você poderia me colocar no chão, por favor?
— Poderia, mas não vou.
Eu abro a porta do carro com uma mão e sento-a no banco.
— Olhe os pés e coloque o cinto — aviso, voltando a fechar a porta,
então faço o caminho para me sentar atrás do volante.
— Não é absolutamente correto o que está havendo aqui. Eu não vou
receber se não trabalhar — ela diz.
Ligo o carro e nos tiro do estacionamento, ignorando-a.
— Isso foi só um corte, moço. Eu não preciso ir embora. É algo banal!
— insiste.
— Meu nome é Luke e não é banal. Agora, agradeço se você calar a
boca um instante.
Ela solta um resmungo baixo e eu quase rio, mas não o faço. Até porque
não tenho motivos para rir.
Depois de um momento de silêncio, eu a ouço respirar fundo e então
virar a cabeça para mim.
— Sabe, eu poderia ter lidado com aquele vexame. Não foi o primeiro e
nem será o último.
Eu permaneço em silêncio, dirigindo, mas por algum motivo não estou
fazendo o caminho da casa da minha prima e sim da minha própria.
— Luke, não é? — A garota persiste. — Tudo bem, você pode me levar
até a casa da minha avó.
— Esse seu corte está precisando de cuidados. — Não sei por que falo
isso. Talvez porque seja verdade. — O vidro perfurou duas camadas da sua
pele.
Ela ri.
— Ah, pelo amor de Deus. Um cortezinho desse não vai me matar.
— Não vai te matar, Gabrielle, mas vai inflamar e você pode até perder
a perna por isso.
Ouço seu grunhido baixo.
— Meu nome não é Gabrielle e, fala sério, você é um exagerado! Isso
foi um hematoma, no máximo.
Eu a olho por um momento, só um instante, só o tempo de deixar claro
que sua falação e teimosia não estão me agradando nenhum pouco.
Ela se remexe no assento e desvia o olhar.
Nós seguimos em silêncio novamente, eu me perguntando por que estou
indo para meu apartamento. Talvez porque eu tenha ficado tão desnorteado
com a proposta daquela menina louca, que até parei de raciocinar. Mas, que
seja, estou levando uma pessoa que precisa de ajuda. Isso está fazendo falta
nos meus dias. Ajudar as pessoas. Eu tinha isso no exército. Eu treinava um
grupo de cinco caras e era bastante gratificante. Gosto muito de ajudar. Está
em mim.
— Você pode me deixar nesse ponto. Eu pego um ônibus até em casa —
ela fala.
— Não, garota — respiro fundo, tomando controle. — Você não está em
condições de andar. Vai te prejudicar. Fique quieta, por favor.
— Você é um chato — resmunga, mas volta a se calar, no entanto, eu
sinto seu olhar persistente em mim. Está me analisando, mas de uma forma
que me incomoda.
— O que você está olhando? — questiono sem desviar o olhar da pista.
— Estou olhando o vento.
— Interessante. Eu sou o vento agora?
— É uma falta de sorte... — resmunga e abaixa a cabeça. — Você podia
ter se esbarrado em outra pessoa. Eu precisava disso hoje. Do trabalho.
— Eu não tive a intenção. — Faço a volta e entro na garagem, indo para
o elevador privativo do meu carro. Esse apartamento foi do meu pai quando
era solteiro. Ele vendeu, mas comprou de volta e me deu. Eu gosto. Parece
bem familiar.
— O que é isso? — ela se remexe soltando o cinto e olhando para os
lados, alarmada. — É algum tipo de cápsula? Para onde estou indo?
Quase rio, mas não o faço.
Solto meu cinto também.
— É o meu apartamento. Eu vou ter que analisar seu corte mais de perto
— olho para o joelho dela, que está roxo e vermelho, com muito sangue que
escorreu. — Está doendo? — olho-a.
— Não — ela não me olha, está perplexa olhando o lado de fora. —
Menino, que lugar é esse de paredes brancas? É algum tipo de esconderijo?
— É um elevador para carros, Michelle.
Então sim ela me olha, me dando a chance de ver seus olhos claros de
perto.
— É Isabelle, entendeu? — diz. — I-sa-bel-le. Não outro nome.
— Desculpe.
Ela me analisa, soltando uma lufada de ar.
— Desculpado. Minha avó também tem lapso de memória.
— Eu não tenho lapso de memória — debato, surpreso. — Só não me
lembrei. Não que seu nome seja tão importante que eu deva me sentir na
obrigação de lembrar.
Ela abre a boca, horrorizada aparentemente.
— Claro, porque um mauricinho como você não deve estar nem aí para
fazer o esforço de sequer lembrar o nome de alguém.
— Como é?
— Exijo que me tire deste buraco e me leve até à rua. Eu vou embora
caminhando porque a minha perna está ótima.
— Está bem — destravo a porta e me inclino, abrindo a dela. — Você
está tão perfeita assim, saia e comece a caminhar. Vamos comprovar toda a
sua certeza.
A garota ri.
— Eu não vou sair aqui. Estou me sentindo em uma casca de ovo.
— Está com medo.
— Não — ela cruza os braços e olha para fora. — Aquilo é uma porta?
— Sim, a da entrada. Vou te levar para dentro e peço que não faça
escândalos e seja uma boa garota — aviso, sem qualquer paciência.
Ela resmunga alguma coisa em voz baixa de novo, mas não me impede
quando chego ao seu lado e a pego nos braços, caminhando com ela até a
porta.
— A chave está no bolso direito da minha calça. Pegue, por favor. Não
vou conseguir.
— Que coisa — resmunga quase um chiado, e eu sinto toda a tensão do
seu corpo. Quero rir. É esquisito.
A garota se ajeita um pouco e estica o braço direto por baixo do meu, o
rosto ficando contra meu ombro enquanto ela faz um esforço para alcançar o
bolso e pegar a chave.
— Mas que bolso grande e desnecessário, menino... Estou quase...
Peguei.
— Você fala demais — balanço a cabeça, enquanto ela se ajeita. —
Abra a porta.
— Abra a porta — ela me imita, mas faz o que pedi e logo estou
entrando na sala e levando-a para o sofá. — Agora você fica sentadinha aí
que eu vou ver o que posso fazer por você.
Ela bufa, mas assente e eu saio, em busca de... Quê?
Nem eu sei.
Capítulo 4

Eu me remexo sobre o sofá macio e branco, meus olhos percorrendo em


volta, o cômodo. É uma sala linda. Masculina. Sim, isso grita masculinidade.
Tem tons verde musgo misturados a cores mais claras, nunca sendo muita
informação e nem deixando de ser suave e agradável. Seja lá quem decorou,
merece parabéns.
Minha atenção é chamada para a porta em que o tal Luke entrou há
poucos instantes. Estou desentendida e muito agoniada porque isso é
realmente esquisito. Quer dizer, foi praticamente um sequestro. Não que eu
esteja reclamando porque a cara daquela mocréia e vagabunda foi ao chão. —
Também não é uma vingança, apenas uma colocação. E que sequestrador!
Não me leve a mal, mas o cara é mesmo bonito.
— Você gosta de milk shake? — Ele pergunta enquanto as mãos
bagunçam os cabelos lisos e castanhos.
— Eu pensei que você fosse analisar o meu corte traumático e muito
grave.
Seus olhos se estreitam para mim e eu poderia ter medo. Ele é alto,
exibe força não só no físico, mas também na voz; mas eu não ligo.
— Você gosta de responder, não é? — é uma retórica. — Existem
castigos muito eficazes no exército para pessoas que resolvem ter a língua
grande, sabia?
— O quê? Vai me trancar na solitária?
Ele ri. Não é exatamente uma risada que se diga que ele está mesmo
rindo, mas não deixa de mostrar os dentes.
— A solitária comigo, só se for — responde. — E eu uso métodos mais
que eficazes.
— Tipo o quê?
— Tipo te amarrar em uma camisa de forças e deixar de cabeça para
baixo até eu cansar.
Meu riso é instantâneo.
— Isso se chama tortura, não castigo.
— É o castigo, se fosse tortura, você não viveria.
— Que coisa — resmungo, então observo quando ele volta a caminhar
para perto de mim, todo o seu perfume se espalhando pelos ares quando
abaixa para olhar meu joelho.
— Precisa de água e remédio. Vamos para a cozinha.
— É sempre assim? — questiono e ele me olha, uma sobrancelha
erguida. — Você está sempre dando ordens e esperando que te obedeçam?
— Sim — a resposta é imediata. — É como funciona.
Então eu rio com vontade.
— Eu não gosto da sua língua — ele grunhe, mas eu não presto atenção
porque estou boquiaberta com tal prepotência.
Onde já se viu uma coisa dessas? Está certo que a prima dele também é
um pouco exibida, mas não de um jeito tão arrogante. Amy é doce e meiga
quando quer, esse cara, não.
Eu controlo o riso, olhando-o em seguida. Ele não está nada contente.
— Você já acabou com seu pequeno show? — questiona.
— Sim — sorrio, limpando as lágrimas.
— Ótimo — ele puxa minha perna de uma vez, me fazendo gritar, então
aperta bem em cima do machucado com força.
— Aaaaaaaai, seu desgraçado! — berro. Isto doeu! Doeu muito. Eu
quero chorar, principalmente porque ele persiste apertando.
— Você é uma fraca — bufa. — Pare de escândalo. Isso nem deve doer
tanto assim.
— Dói! — ofego. — Dói muito!
— Você quer que eu pare?
— Por favor — peço, agoniada com a dor forte e aguda.
— Então peça.
— É o quê? — aperto minha coxa com a força da dor que estou
sentindo.
— Você vai ter que pedir. Mas tem que ser direito ou não paro.
— Você está de palhaçada?!
— Estou — ele aperta com mais força ainda, me fazendo dar um pulo do
sofá, então começa a rir. — Hora de pedir, Michelle.
— É Isabelle! — grito. — Solta a minha perna, seu sádico!
— Isso soou ofensivo — ergue as sobrancelhas e quando meu joelho já
está dormente de toda sua tortura, só assim ele o solta e analisa o local, me
olhando em seguida. — Agora eu posso limpar. Você está bem?
— Não. — Respiro com dificuldade. — Doeu de verdade.
Luke assente e põe a mão sobre minha coxa, acariciando de um jeito
leve, com toda a sua palma grande, quente e áspera. Muito masculina.
Eu abro a boca, sem fala. Ele é louco?
— Já, já, passa — afirma e levanta. — Eu vou trazer os remédios.
Espere aqui.
Somente observo ele se perder por alguma porta de novo e respiro
fundo, toda a dor sendo perdida por conta da quentura que fica onde sua mão
esteve. Muito, muito estranho.
Quando Luke volta, meu queixo vai ao chão ao vê-lo só em um short
branco, completamente à vontade enquanto caminha para perto com uma
bacia em mãos e uma sacola transparente.
Que barriga é essa? Não é uma barriga. Barriga tem gordura, ele ao
menos deve saber o que significa isso. Estou impressionada e um pouco mais.
Ele senta no chão à minha frente e agarra meu tornozelo, pondo minha
perna em cima das suas, então pega uma gaze e passa na água, começando a
limpar meu ferimento. Um simples corte.
— Há quanto tempo você esteve no exército? — pergunto por impulso.
— Um tempo bom — ele mal fala. — Não importa.
— Não gostava?
— Amava — ele pega outra gaze para ser mais rápido. — Doendo
ainda? — me olha rapidamente. Nego.
— Está feliz por ter voltado?
— Estou. — Ele não parece muito interessado no assunto, então me calo
e somente fico observando sua atenção em dar cuidado ao machucado e a
forma minuciosa em que ele faz tudo; desde limpar, colocar o remédio e
cobrir com mais gaze e esparadrapo. — Logo você fica boa — avisa,
colocando minha perna no chão de novo.
— Obrigada.
— Disponha. — Ele guarda tudo na bolsa de novo e levanta, os cabelos
lisos caindo para frente, quase em cima dos olhos e ele bufa.
— Poderia me levar embora? — questiono.
Luke me olha de cima, seu olhar escuro voltando a um tom meio
nublado, o que intimida.
— Eu levo, não agora.
— Não?
— Não.
— Por que não? — Estou nitidamente desentendida e imediatamente
agoniada.
— Porque eu não deixo alguém vir à minha casa e sair sem experimentar
nada.
— O que vou experimentar?
Ele dá um sorriso de canto e eu fico alarmada quando o vejo deixar a
sacola cair no chão e então se inclinar em minha direção.
O que significa isso?
Capítulo 5

— O quê... — A garota pergunta e bate em meus ombros quando me


inclino para pegá-la no colo novamente.
— Por que você está me batendo? — questiono.
Ela arregala os olhos.
— O que você vai fazer?
— Eu vou te levar até a cozinha e te dar algo para comer, obviamente.
— Quando é que vou poder andar? — Parece toda apreensiva e entendo
que talvez seja devido à aproximação.
Me afasto e pego a sacola do chão. Eu só ia dar para ela experimentar o
meu bolo de baunilha. Todo mundo gosta. E eu gosto que me elogiem porque
sei da minha capacidade também culinária.
— Você já pode andar, já estancou o sangue.
Ela suspira aliviada então pega impulso nos próprios braços e levanta-se,
meio desequilibrada.
— Vai lá, dê uma voltinha por aí para acostumar — gesticulo a sala.
Ela dá uma risadinha, mas não de quem achou graça, nossa atenção
sendo atraída para o toque de um celular.
Eu a observo pegar o aparelho no bolso atrás da calça e atender, com um
olhar preocupado.
— Oi, vó. Está tudo bem? — pergunta, preocupada. — Eu sei, desculpe.
Ah, não. Não estou no trabalho. Não foi nada, mas estou voltando para casa
agora. Devo chegar em uns quarenta minutos. Não diga! — tampa a boca. —
Eu pensei que ela fosse castrada. Sim, vó, eu avisei que a Rapariga não era de
confiança. Vamos ter que doar essa próxima ninhada, chega de gatos. — Ela
ri com algo dito. — Beleza. A gente se ajeita. Até logo. Amo a senhora.
Ela me olha quando desliga o celular, toda sorridente.
— A gata da minha avó está grávida e nós pensávamos que era comida
na barriga dela — dá risada.
Como eu permaneço sério, ela para de rir num instante.
— Ahn... Eu vou indo. Agradeço o alarde aparentemente desnecessário
para com o meu joelho nitidamente ótimo — sorri sarcástica. — Você pode
me mostrar a saída e como passar daquele lugar estranho, por favor?
— Eu te levo lá, garota — coloco a bolsa sobre a mesinha de centro,
ignorando a implicância explícita. — Vou pegar uma blusa.
Como ela não rebate nada, eu saio para o meu quarto.
Uma carona a mais não vai me fazer mal, não é?

***

— É ali. Naquela esquina — a garota aponta quando já estou agoniado


pelo lugar muito distante. É uma vila um pouco longe demais do movimento
típico. Chega a ser quase deserto o cenário.
— É aqui que você mora? — pergunto e estaciono o carro ao ver uma
pequena casa geminada e cheia de flores logo à frente.
— É, sim — ela parece toda empolgada. — Obrigada pela carona e…
— Eu vou te acompanhar até a entrada — a interrompo e não sei bem
porque falo isso. Ela poderia sair e entrar sozinha, mas, tudo bem, eu posso
confirmar se vai conseguir chegar bem com o joelho como está. — Consegue
descer sozinha?
— Consigo — ela sorri e abre a porta, saindo do veículo e eu faço o
mesmo. — É estranho ver um rosto diferente aqui.
— Por quê? É um lugar desabitado?
— Quase isso.
— Vá à frente — gesticulo para ela passar e a garota sai andando com
certa dificuldade pelo caminho de terra barrenta até a porta branca
descascada.
Eu evito ter que olhar para como ela é bonitinha vestida nessa roupa de
garçonete. A calça preta colada e a blusa branca de mangas, deixando ela
ainda menor.
— Você quer entrar? — pergunta, virando para me olhar. — Eu posso te
servir um suco. Não é muito, mas… — sorri, deixando no ar.
— Pra que eu entraria?
A porta é aberta, evitando que ela grite como premedito que vai fazer
devida sua expressão, então eu olho, me deparando com uma senhora negra e
de cabelos brancos. Ela tem um sorriso tão enorme e maternal que
automaticamente eu estou sorrindo também.
— Nós temos uma visita!? — Ela grita. — É isso mesmo? A minha neta
arrumou um amigo?!
Sou puxado para um abraço sem esperar, então rio porque a senhora
parece ainda menor que a neta, de forma que eu preciso me curvar muito para
corresponder ao gesto.
Só depois de me apertar bastante é que ela se afasta, me olhando de
baixo com os olhos escuros e carinhosos.
— Que rapaz tão lindo e cheiroso!
— Pelo amor de Deus, vó. Que vergonha. — A garota tampa o rosto
com as mãos.
— Ora, mas ele é! — Ela segura meus braços, me avaliando de cima a
baixo. — Que porte físico! Você é lutador, meu bem?
— Não, senhora — balanço a cabeça, tentando não sorrir muito.
— Modelo?
— Ele é soldado, vó. Deixe o menino quieto. — A garota parece muito
constrangida.
— Menino? Esse homenzarrão? — A vó dá risada. — Não seja boba,
Isabelle. Ele é um homem formado. Venha — ela me puxa para dentro —,
você é muito bem-vindo.
Então eu vou, sendo arrastado para dentro de um pequeno cômodo que
eu identifico como a sala. Não há nada muito exorbitante, apenas um sofá,
duas poltronas, uma cômoda e uma mesinha. O que chama a atenção mesmo
é a limpeza do lugar, juntamente com o clima de paz, que é instantâneo.
— Sente-se aí. Eu vou colocar o jantar — ela avisa. — E eu não me
apresentei, olha que indelicada eu sou! Meu nome é Abigail. E o seu?
— Luke Mackenzie — aceito seu cumprimento, segurando sua mão e
trazendo aos lábios, onde deixo um beijo em cima. — Encantado.
Ela sorri, dando uma risadinha.
Vejo a neta revirar os olhos e tomo nota de perguntar o porquê do gesto
indigente.
— Oh, minha nossa. Esse rapaz… — Abigail se abana, fazendo a garota
resmungar algo. — Eu já volto. Isabelle, faça sala ao nosso convidado.
— A senhora nem sabe quem é ele! — protesta.
— Eu vi o jeito que ele segurou você para não cair. Isso me basta —
sorri e se afasta, me deixando desentendido e uma neta muito boquiaberta
para trás.
Capítulo 6

Luke senta no sofá, todo elegante, costas eretas e o calcanhar contra o


joelho, em uma postura muito masculina, seu braço se esticando contra as
costas do sofá. A mão livre circula a barba benfeita enquanto ele parece
avaliar a sala.
— Gostei daqui. Sua avó é bem simpática. Você nem parece neta dela.
Abro a boca, um pouco surpresa.
— Você só sabe me insultar, é isso mesmo?
— Não seja tola — ele dá um sorriso cínico para mim, mas mesmo
assim é lindo.
— Você é tão ridículo.
— Eu não te dei essa intimidade, garota — seu olhar me analisa de cima
a baixo, parando em minha cintura.
— O que você está olhando? Eu também não te dei intimidade
nenhuma!
Ele sorri. Agora sim é um sorriso verdadeiro e Luke me olha, meio
sensual demais. Não sei bem porque acho isso. Talvez porque sua língua
dance pelo lábio inferior muitas vezes e ele emite um estalinho com a boca. É
fofo.
— Estou olhando para você, não posso? No exército aprendemos a
identificar um bom corpo ou até mesmo criá-lo.
— E eu com isso?
— Você não tem um nem outro.
Sento na poltrona, muito embasbacada.
— Eu não te perguntei nada, pelo que me lembro.
— Claro que perguntou. Quis saber o que eu estava olhando — ele faz o
barulhinho de novo e eu evito sorrir.
— Não sou para ter corpo de soldado — resmungo. — Eu sou uma
mulher.
— Você tem quantos anos?
— Não é da sua conta.
— Te dou vinte e dois, no máximo.
— Vinte e dois o quê?
— Anos, é óbvio — ele ri. — Sabe, eu gosto de conhecer pessoas novas
— alisa a barba. — Você é bonitinha. Está saindo com alguém?
Balanço a cabeça, muito alarmada de repente.
— Estou.
— Não está — rebate. — Se estivesse, teria lembrado de me avisar.
— Por que eu avisaria?
— Porque, em minha contagem, te peguei nos meus braços mais de três
vezes, em menos de três horas. E eu sei que você gostou ou não teria ficado
toda tensa.
— Que horror — minha boca está aberta e é inevitável. — Você é
sempre tão arrogante assim? Seu ego pode explodir.
— Não é ego ou arrogância, é sinceridade — Luke balança a cabeça. —
As pessoas não podem mais ser sinceras hoje em dia que já acham que é ego.
O que posso fazer se sou amável, empático, lindo, gostoso, inteligente e bom
exemplo? É a vida.
Então eu rio. Sim, por que o que mais posso fazer?
— Você é estupidamente iludido — deixo claro. — Só falta o nariz de
palhaço.
— Se for uma fantasia sua, eu posso colocar para você — ele dá uma
piscadinha e eu abro a boca mais uma vez.
— Eu não estou gostando do rumo da sua conversa.
Luke bufa, balançando a cabeça.
— Eu estou brincando, garota.
Faço uma careta.
— Toda brincadeira tem o seu fundo de verdade — tampo os olhos, em
um gesto automático.
— Que foi? É romântico. Eu sou um homem romântico. Sou uma
raridade.
— Você é um iludido — reforço minha conclusão. — Sua prima me
disse que você não gosta de romantismo.
— A Amy mal sabe que dia é hoje — ele bufa. — Aliás, o que te fez ser
amiga daquela louca?
— Ela é uma boa garota. Gosto demais dela.
— Não disse que não é, mas, é como dizem, água e óleo não se
misturam. A minha prima é uma safada e você… — ele me analisa uns
segundos. — Você é o que eu chamaria de escondida. Não acho que você
seja quietinha. Aposto que não é — o sorriso volta. — Você sabe, a gente
pode se surpreender com esses rostinhos angelicais.
— Você está sempre emitindo ambiguidade? — finjo não estar afetada
pelo comentário.
— Não, é sem querer — dá de ombros. — Me fala um pouco de você,
está mesmo saindo com alguém?
Dou outra risada.
— E se não estiver?
— A gente sai hoje à noite. Te levo para comer em um lugar legal.
Então eu gargalho, porque é mesmo muito inusitado e estranho tudo o
que está acontecendo.
— Isso é um pedido ou um aviso? — questiono.
— É um convite — ele faz o barulhinho de novo e eu sorrio mais. — O
que foi, vai mesmo deixar a oportunidade passar? Um homem como eu
chama você para sair e vai fazer desfeita? Olha que não é todo dia, hein. A
sorte está batendo em sua porta, só estou avisando.
Então eu percebo que ele está mesmo tentando ser divertido quando dá
um sorrisinho de canto e, não sei... Parece tão sincero, acolhedor e amigo,
que eu me impressiono pelo que digo, mas não ligo.
— Aceito o seu convite.
Luke para de sorrir, uma expressão estranha tomando conta de seu
semblante e então eu me pergunto se talvez tenha dado a resposta errada.
Capítulo 7

Estou muito surpreso por ela ter aceitado e tento não demonstrar. Quer
dizer, eu não esperava que a garota fosse aceitar de fato. Eu só estava
tentando fazê-la rir um pouco para dissipar a forma ruim como o trabalho
dela se deu no fim. Mas, vejam só, ela aceitou.
— Não era de verdade? — ela gesticula. — O convite?
— Claro que sim. Por quê?
— Você parece que não gostou da minha resposta.
— Eu já sabia o que você ia responder — sorrio. — Você está bem com
seu joelho? Ainda dói? — aponto a perna do ferimento.
Ela olha rápido para o machucado e balança a cabeça em negativa.
Eu não sei, é esquisito. A garota não parece ter mais de vinte anos e eu
já soube que teve que enfrentar um monte de coisas, mas ela não parece triste
e nem nada.
— Você disse no dia da minha festa de boas-vindas que não gostava de
barulho.
— Não disse, não — ela nega.
— Não disse de forma explícita, mas disse. Com seu corpo, expressão e
movimentos. Essas coisas se notam.
— Por que o meu corpo sempre está em questão?
— Não está. Você está equivocada.
— Que seja, não é só porque o seu corpo é aparentemente perfeito que
você pode ficar julgando o dos outros assim.
— Não estou fazendo isso, Gabrielle — erro o nome de propósito dessa
vez e dou risada com a cara que ela faz.
— Isabelle — me corrige. — Isa.
— Bela — completo.
— Belle.
— Bela, não seu nome, você que é bela.
Ela estagna no lugar, parecendo surpresa pelo comentário. Foi de
ímpeto, mas gosto imediatamente do resultado.
— O que foi, você nunca foi elogiada? — me inclino para frente,
trazendo os cotovelos aos joelhos, ciente de que estou invadindo o espaço
invisível íntimo e pessoal da garota, mas por uma boa causa. Ela precisa
sorrir mais.
— Claro que sim — a voz quase não sai. — Sou muito elogiada.
— E por que ficou assim? Não faz nenhum sentido. É o mesmo que uma
pessoa me chamar de lindo e eu ficar sem graça. Ouço tanto que é normal.
Então eu sorrio quando ela dá uma risadinha. É deliciosa e agradável.
Bem-vinda. Gratificante. Essa é a sensação de conseguir fazê-la rir. Gratidão.
Isso sim não faz o menor dos sentidos.
— O jantar está colocado — nossos olhares são atraídos para a porta ao
lado, de onde vem a senhora Abigail. — Está sendo bem tratado, querido? —
sorri para mim.
— Além do que podia esperar, vovó — me levanto, piscando para a
garota, que fica nitidamente desconfortável. — Precisa de ajuda para ir até à
sala de jantar?
— Nós não temos sala de jantar. Comemos na cozinha.
— Desculpe. — Me sinto imediatamente envergonhado. — Precisa de
ajuda para ir até à cozinha?
Ela nega, levantando com o dobro de tempo.
— Estou bem — afirma. — Aliás, desculpa, eu esqueci que íamos jantar
aqui. Seu convite vai ter que ser recusado.
— Do que está falando? — a avó pergunta.
— O Luke me chamou para jantar com ele, mas a senhora já aprontou a
janta, então não vai rolar. — Ela está implicitamente satisfeita por não dar
certo, quase posso apostar, mas também estou um pouco intrigado por ter
ouvido meu nome em sua boca mais uma vez. Saiu tão… Eu não sei.
— Ora, mas eu não sabia dessa! — Abigail parece alarmada. — Não
tem nenhum problema! Eu chamo Elizabeth para jantar comigo. Você pode ir
sair com o lindo rapaz.
— Não, vó — parece horrorizada. — Não vou fazer essa desfeita com a
senhora.
— Não é desfeita, pare de ser boba — a vó a repreende e me olha. —
Você pode levá-la.
Eu sorrio, satisfeito.
— Obrigado, vovó, mas acho que nós podemos jantar com a senhora
hoje e depois eu levo a Isabelle para conhecer um lugar mais legal ainda.
Ela parece avaliar a proposta, então nos olha por um momento,
concordando enfim.
— Tudo bem, mas só porque quero conversar um pouco com você.
Sorrio, assentindo, então ela se vira e sai sorridente, meu olhar voltando
à neta.
— Que lugar vai ser esse? — pergunta, curiosa.
— Eu gosto de fazer um suspense — me aproximo dela e ergo a mão,
levando os dedos aos seus cabelos e pondo atrás da orelha, acariciando o
lóbulo com o polegar. Gosto imediatamente da maciez dela e do suspiro que
recebo. — Mas não vou te decepcionar.
Também me viro e saio andando por onde a vovó entrou.
Capítulo 8

Eu nem sei por que estou fazendo isso. Depilando as pernas. Mal me
lembro de ter que fazer isso. Só vivo de calça. Mas não, minha avó tinha que
me lembrar de passar a lâmina só não na cabeça. É uma droga.
— Eu não sei por que estou fazendo isso! — grito do banheiro. — Isso é
demorado demais, vó!
— Pare de reclamar! — ela grita de volta. — Você vai sair pela primeira
vez com um homem e quer ir parecendo o Sasquatch?
— O Pé-Grande não se depila!
— E nem você, por isso está tendo que levar duas horas para fazê-lo!
— Isso é frustrante! Eu não acho que aquele cara valha meu tempo de
arrumação! — resmungo.
— Não é por ele, é por você! Você merece uma noite boa, assim como
toda mulher!
— Eu já tenho noites boas! Pipoca e séries! Ver Suits por acaso não é ter
uma noite maravilhosa?
Dou risada quando minha avó pragueja.
— Você precisa viver mais, Isabelle! Esses homens de filmes não vão te
dar filhos e uma casa!
— Alarme desnecessário, vó! — bufo.
Luke jantou aqui, mas minha avó decidiu que seis da tarde ainda era
cedo demais e então o convenceu a me levar para sair mesmo assim.
Constrangedor, absolutamente, mas tenho certeza que ele entendeu que é só o
pedido desesperado de uma avó encantada pela beleza dele.
Que seja. Não estou empolgada.
Ele voltou para casa, dizendo ter que trocar de roupa, e que voltaria para
me buscar às nove. Nove. Essa hora já estou no terceiro céu do sono. É quase
absurdo. A única coisa que não me fez recusar com ímpeto foi o brilho nos
olhos da minha avó. Ela ficou feliz com isso, então, por ela, eu posso fazer
isso. Sair com um lindo e arrogante, por que não?
Saio do banheiro depois de mais meia hora, os cabelos enrolados na
toalha e o corpo também.
— Tenho a impressão de que vou voar — comento e minha vó ri.
— Sasquatch mesmo — fala e caminha até minha cômoda, pegando
meu óleo corporal que nunca uso e um vidro de perfume. — Tome banho
com esses aqui — ordena e coloca os potes em minha cama.
— Óleo? Sério? Isso é agonizante, deixa meu corpo estranho.
— Por Deus, Isabelle! Você é uma mulher ou um peão de obra?
Eu sorrio.
— Acho que uma mistura dos dois. O que esse vestido está fazendo fora
do armário? — Aponto o vestido ultramente inapropriado que está sobre a
cama também. Talvez não seja tão inapropriado, mas é escandaloso. Esse
decote é avassalador.
— Não é inapropriado, é sexy — ela então me joga uma calcinha
branca. — Eu estou frustrada porque a minha neta tem vinte e dois anos e não
tem uma calcinha que preste.
— Minhas calcinhas são ótimas — discordo. — Todas bem cuidadas.
— Bem cuidadas e calcinhas que são apropriadas para eu usar, e não
você.
— Que coisa — murmuro ofendida e visto a peça de algodão. — São
muito confortáveis.
— Elas não seduzem um homem.
Dou risada.
— Essa não é mesmo a intenção, vó. Os homens estão em último lugar
no meu pensamento.
— Eu já disse a você que tem que parar de pensar assim, Isabelle — ela
suspira, parecendo cansada. — Não é porque seu pai foi um homem ruim que
todos os homens vão se assemelhar a ele.
— Que pai? — dou risada. — Eu ao menos o conheci!
— É disso que estou falando. Existem muitos homens bons por aí. Você
precisa dar uma chance.
— Bom só Deus e eu estou dando uma chance, não estou? — Evito me
estressar, então caminho até a cama e me desenrolo da toalha, começando a
passar o óleo no corpo.
Eu não me sinto nenhum pouco ruim com o meu jeito. Talvez, sim, seja
mais difícil para mim ter que me relacionar com homens, mas não não é um
problema. Eu estou bem como estou. Não acho que algum ser do sexo oposto
vá transformar a minha vida para melhor.
Veja só minha avó. Ela mesma foi trocada por outra mulher assim que
deu à luz. Um dia após chegar do hospital. Que tipo de homem faz uma coisa
dessas? Hãn? Não é nem humano!
Então também minha mãe. Meu pai a largou quando soube que ela
estava grávida e, como se não fosse idiota e burra o suficiente, ela engravidou
dele de novo. Teve minha irmã e, quando a bebê nasceu, ela também sumiu.
Não sei se por conta da doença incurável que minha irmãzinha tinha, mas não
justifica. Ela tinha que ser forte por nossa família. Por nós. E ela não foi.
Minha avó arcou com tudo.
Se eu não levo fé nas pessoas, não, a culpa não é definitivamente minha.
Mas eu tenho minha vó e ela é tudo para mim. Ela foi tudo para nós. Mulher
forte e autêntica. Única. O espelho da bondade.
— Você não precisa de sutiã — ela reclama quando vou colocar.
— Como não? Meus peitos vão pular para fora! — aponto o vestido.
— Deixe que pulem — dá um risinho, seguido de uma risada de verdade
quando vê minha expressão. — Não seja tão boba, Isabelle. Você precisa
destacar o que tem de melhor em si, ou seja, os olhos, os cabelos e o seu
lindo corpo.
— O meu lindo corpo vai estar bem seguro em uma calça e uma blusa.
— Pode ser, mas você não vai conseguir se sentir bem enquanto o rapaz
usa smoking e você um jeans surrado.
— Quem disse que ele vai de smoking?
— Eu o vi chegando pela janela — ela aponta a janela do meu pequeno
e aconchegante quarto. — Está lindo de matar nós meras mortais.
Eu fico imediatamente alarmada, meus olhos arregalando.
— Ele já chegou? Que horas?
— Acho que foi no momento que você gritou que ele não valia o seu
tempo de arrumação.
Meu queixo vai ao chão e até a toalha cai da minha cabeça, numa
surpresa instantânea.
— Deu para ouvir nossa conversa? — sussurro, derrotada.
Minha avó sorri despreocupada.
— Espero que sim — gesticula e vai até a porta. — Vista-se e arrume os
cabelos. Eu vou fazer companhia ao rapaz enquanto você termina.
Então ela me deixa no quarto, sozinha e frustrada.
Será que ele ouviu? Que seja. Eu não acho mesmo que ele valha todo o
meu tempo de produção.
Agarro o vestido e o passo pela cabeça, resmungando ao mesmo tempo
em que vejo que ele exibe minhas coxas muito brancas. Isso não vai dar
certo.
Capítulo 9

— Então você tem uma irmã? — Dona Abigail questiona. Nós estamos
em uma conversa bacana sobre minha família. Na verdade, parece mais uma
entrevista.
— Isso. Gêmea.
— Mesmo? Tão linda quanto você?
— Ela é mais — sorrio. — Somos gêmeos dizigóticos, não parecemos
um com o outro fisicamente. Ela é parecida com meu pai, e eu com minha
mãe.
— Isso de dizigóticos não tem a ver com a aparência idêntica ou não, já
foi provado cientificamente.
Viro a cabeça para o lado ao ouvir o comentário. É a Isabelle e posso
apostar que meu ar escapou dos pulmões por um milésimo de segundo.
— Você não sabia disso? — ela continua. — Oh, que impressionante.
Algo que você não saiba.
— Que princesa linda — eu me levanto, ignorando completamente a
forma ríspida que ela me trata porque, é claro, se tem uma mulher
maravilhosa dessas prestes a ficar sozinha comigo, não é uma língua afiada
que vai me fazer perder a oportunidade.
Ela bufa e a avó solta um risinho.
— Eu estou com um machucado bem aqui. Não vou sair assim —
gesticula a perna.
— Não se preocupe. O lugar que vamos é completamente particular. Ou
você acha que as pessoas vão dizer, "ei, garota, você está com o joelho
machucado"?
— Engraçado.
— Sou — sorrio para ela e me aproximo de Abigail. — Esse é o cartão
do meu pai — entrego um cartão de visita a ela, que tiro do bolso do
smoking. — Ele ainda atende esse número, apesar de não trabalhar mais.
Esse o da minha mãe — pego outro e mais dois. — Esse o da minha irmã e o
do meu cunhado. O meu a senhora já tem. Todas essas pessoas tem contato
direto comigo.
— Tudo bem, vou guardar o da sua mãe — sorri. — Não sou tão boa
com memória.
— Certo, a senhora pode me ligar caso fique preocupada com algo.
Tenho um horário específico para trazer sua neta de volta?
— Sim, quando ela quiser vir — olha para a garota. — Se comporte,
está bem, Isabelle?
Ela abre a boca, surpresa com o pedido e eu evito rir.
— É claro que vou me comportar, vó.
— Vai saber… — murmuro. — Nunca se sabe.
Isabelle resmunga alguma coisa e caminha até a avó, dando-lhe um beijo
e um abraço apertado, então passa por mim e caminha até a porta, o cheiro
bom que emana dela me deixando inebriado e anestesiado. Talvez essa noite
saia melhor do que a encomenda.
— Vamos ou não? — questiona e eu ergo o olhar para ela, dando-me
conta de que estava enfeitiçado no decote discreto.
— Vamos — sorrio. — Até logo, vovó — também deixo um beijo em
seu rosto, encabulado quando ela sussurra algo para mim.
— Tenha paciência com ela, por favor.
Me afasto, confuso, mas dou meu melhor sorriso. Seja lá o que significa
isso.
Caminho até Isabelle, que sai na frente, meio lerda por causa da perna.
Meu olhar recai para o balanço sensual que ela faz enquanto caminha. Ela é
mesmo bonitinha.
— Você quer que eu pegue uma tartaruga para fazer uma competição
com você? — pergunto passando por ela e chegando ao carro.
— Ai, que engraçado. Vou rir tanto que não sentirei o meu abdômen —
sorri irônica.
Abro a porta e seguro, aguardando por ela. Aproveito a visão. Claro, por
que não? Ela é mais branca do que deveria, os cabelos estão ondulados e o
colo cheio me faz quase salivar. Será que ela é toda macia e cheirosa?
Aliás, qual foi a última vez que eu estive com uma mulher? Uns três
meses. Isso. Antes de vir embora. A despedida dos amigos. Foi uma festa
entre o pessoal e apareceram umas garotas da vizinhança. Eram estudantes.
Mas, foi uma boa noite. De diversão. Descontração. Despedida. Só
queríamos um bom momento. Ok, não foi o meu melhor porque eu ao menos
sabia quem era ela, mas foi bom.
— Onde você vai me levar? — Isabelle pergunta enquanto entra no
carro. — Poderíamos dar uma volta e aí você me trazia de volta e diria à
minha avó que o restaurante estava fechado, que tal?
— Péssima ideia, garota. Coloque o cinto — bato a porta e dou a volta,
tomando meu lugar atrás do volante. — Por que é que você está querendo
fugir de mim?
Ela ri, sua risada chamando minha atenção e o seu cheiro bom todo se
espalhando por dentro do meu carro.
— Eu não estou querendo fugir de você e sim me livrar de você. São
coisas completamente diferentes.
— Assim você pode me ofender.
— Duvido muito. O seu ego não pode recair.
Ligo a chave de ignição, escondendo um sorriso.
— Já falei, não é ego, é realismo. O que posso fazer se sou maravilhoso?
— Fala sério. Você é no máximo… — gesticula — Bonitinho, nada
mais.
— Bonitinho? — nos coloco em movimento. — Eu sou lindo. Incrível.
Maravilhoso.
Ela ri.
— Vou rir muito da sua cara quando alguém ferir seu ego de verdade.
— Isso jamais vai acontecer porque eu sei da minha capacidade.
— Da sua capacidade de ser idiota?
— De ser o melhor — olho-a rapidamente, a tempo de vê-la revirar os
olhos. — Logo mais você vai confessar que eu tenho razão.
— ‘Tá maluco? — dá risada. — Quero ficar longe de você o quanto
antes. Só aceitei isso de verdade por causa da minha avó, se não nem estaria
aqui.
— Sua língua grande é o seu defeito.
— Fala sério! Minha língua grande? E a sua?
— Outras coisas minhas são grandes, não minha língua. Mas ela é boa
— dou um sorriso rápido para ela, querendo rir quando bufa de novo.
— Onde vai me levar?
— É surpresa.
— Eu não gosto de surpresas.
— Não perguntei do que você gosta.
— Mas eu estou dizendo! — resmunga. — Fala logo, por favor!?
— Não.
— Que saco!
— Você é muito estressada.
— Não sou. Só não quero sair com você.
— Pare de reclamar, vai ser uma boa noite.
— Meu joelho está doendo.
— Mentirosa — olho-a de relance. — Você ficou dizendo que não
estava.
— Mas está agora.
— Eu dou beijinho para sarar.
Ela ri alto.
— Devo ter jogado pedra na cruz — suspira.
Eu sorrio, voltando a atenção à pista.
Não é de todo mal levá-la para meu apartamento de novo, não é? Aliás,
é bem mais agradável do que um restaurante e, sem dúvida nenhuma, mais
privativo.
Tem que ser.

***

— A sua casa? — questiona.


— O meu lar — sorrio e tiro o cinto, soltando uma respiração profunda.
— Eu vou fazer ser um bom momento. Afinal — aponto para mim —, você
está comigo.
— Eu desisto de tentar te fazer cair na real.
— Não sei o que significa essa palavra. Ela não existe no meu
vocabulário.
Isabelle bufa, consternada.
— Que palavra?
— Desistir.
— Você é muito chato.
— Isabelita.
Ela me olha, com uma careta.
— Que é isso?
— Seu apelido — informo. — Gostou?
— Eu não gostei e não gosto disso.
— Disso o quê?
— Essa sua voz nesse tom — ela aponta para mim. — Eu estou muito
desacreditada no que se tornou o meu dia. Eu não devia ter ido àquela festa.
À sua festa.
— Ah, pare — sorrio. — Você está reclamando de estar comigo?
Comigo? Um homem tão maravilhoso?
— Quem te fez ser assim? — ela está boquiaberta.
— Eu sei o que sou e sou mais eu.
— É tudo charme, não é? Você está tentando ser engraçado. Pois, deixa
eu dizer, você não está conseguindo.
Eu rio.
Ela é legal.
— Eu já nasci charmoso, Isabelita. O meu jeito só é uma soma à minha
beleza natural.
— Isabelita — repete e suspira quando o elevador para. — Esse seu
carro é bem grande, não acha?
— Acho — abro a porta e saio, dando a volta para abrir a dela, que é
mais rápida e o faz antes.
— Preciso estar em casa antes da meia-noite. Eu trabalho amanhã —
avisa.
— Pode deixar.
Saio andando na frente, porque estou evitando os olhares "físicos". Não
é culpa minha, mas, é claro que estou premeditando um encontrinho casual.
Por que não? A garota é bonitinha.
Nós entramos em meu apartamento e tranco a porta, virando em seguida
para observar Isabelle sentar. Ou quase.
— Não é para sentar. Venha comigo. Eu vou te levar para um lugar mais
legal.
Ela bufa, mas me segue. Passo pelo corredor principal que leva à
academia e então a sala de jogos.
— Caramba — ouço-a sibilar atrás de mim. — Esse lugar não tem fim,
não?
— Tem — caminho até a mesa de bilhar. — Você sabe jogar?
— Não — olha em volta. Parece bem surpresa pelo tamanho do
cômodo. — Eu sei jogar dominó.
— Dominó é jogo para idiotas.
Então ela me olha, os olhos estreitos.
— Eu conheço por dominó, não sabia que se chamava Luke também.
Sorrio, apontando o assento de madeira maciça e vinho embutido na
parede.
— Queira sentar — peço.
— Por que mesmo você está usando um smoking e estou bem vestida?
— cassoa.
— Porque nós vamos jogar Perguntas e Respostas.
— É o quê?
— Um jogo — dou risada da cara que ela faz.
— ‘Tá, eu sei, mas eu nunca ouvi falar.
— É porque eu acabei de inventar.
— Não quero jogar.
— Por que não?
— Porque sinto que não vai prestar — ela senta.
— Claro que vai, garota — caminho até perto dela, Isabelle erguendo o
olhar para me ver de baixo. — É um jogo muito interessante. Vai servir para
eu conhecer você e vice-versa. Me aguarde aqui. Vou pedir nossa janta.
— Você vai pedir nossa janta?
— Pizza.
— Pizza? Eu coloquei uma roupa dessa para comer pizza?
— É quatro queijos, não se dispensa — sorrio e a deixo resmungando
sozinha, gostando muito da sensação de ter uma companhia em minha casa
que não seja da minha família.

***

— Vai ficar só olhando? Pode pegar — aponto a caixa aberta à nossa


frente.
Isabelle lambe os lábios e estica os braços, pegando uma fatia.
— Eu adoro queijo, mas é muito ruim porque eu fico com o cheiro dele
— ela fala.
— Também adoro.
— Estou vendo — sorri. — Você comeu três fatias enquanto eu decidia
qual pedaço pegar.
— Não pense que vou me desculpar. Me esqueço o que é educação
quando vejo uma pizza.
— Eu não ligo — ela morde um pedaço e geme, minha mente
imediatamente dando uma embolada legal. — Isso está...
— Delicioso.
— Muito — fecha os olhos, aproveitando o gosto.
— Não mais que eu, obviamente.
Isabelle ri, então abre os olhos.
— É, não mais que você.
— Você está admitindo que estou certo? — finjo-me emocionado.
— Não, estou tentando fazer você calar a boca. Aliás, achei muito
estranho mesmo nós estarmos tão bem vestidos para comer pizza.
— Você pode tirar a roupa, se quiser, já que está tão incomodada assim.
— Muito engraçado. Estou falando porque eu poderia ter vindo com
meu jeans surrado.
— E por que não veio?
— Porque a minha vó disse que eu me sentiria mal por você estar de
smoking e eu de jeans — ela faz um beicinho que nem percebe.
— Eu gostei da sua avó. É uma mulher muito simpática e gentil.
— Ela é — concorda. — Foi a mãe que eu não tive.
— É mesmo? — Não sei como não soar invasivo e curioso, então me
finjo não muito ligado à pergunta enquanto pego outra fatia da pizza.
— É mesmo. Mas e você, também tem avó?
— Tenho — assinto, mas não quero muito falar de mim e sim dela.
Primeiro, pelo menos. — Estamos indo para o jogo.
— Perguntas e Respostas?
— Isso. Você começa. Pode me perguntar o que quiser. Mesmo. —
Limpo o canto da boca com o polegar, gostando imediatamente de como isso
chama a atenção de Isabelle.
— Você é o quê?
— Sou o quê?
— É — ela gesticula. — O que você faz agora que saiu do exército?
— Ah, sim. Sou executivo.
— Mesmo? — Está surpresa.
— Mesmo.
— Mas você é muito jovem.
— Sou, e daí?
— Credo — ela faz uma careta. — Você me dá umas respostas muito
grossas.
Sorrio, me divertindo com as expressões dela.
— É impressão sua. Minha vez — chupo os dedos e quero rir quando ela
abaixa a vista, fingindo prestar atenção na pizza. — Há quanto tempo não sai
com ninguém?
— É uma pergunta muito indecorosa visto a que te fiz.
— Problema seu. Eu disse que podia perguntar o que quisesse.
— Eu não vou responder.
— Bem — sorrio —, a regra é que, se você não quer responder uma
pergunta, tem que tirar uma peça de roupa ou fazer algo que eu peço.
Isabelle ri.
— Isso só pode ser palhaçada! É claro que não vou concordar com isso!
— Ah, vamos lá. Não seja chata. É uma boa brincadeira e eu sou tão
legal que não vou pedir nada que possa te constranger.
— Não é ser chata, seu maluco — ela abre a boca. — É não querer
entrar em furada.
— Então — ignoro o alarde —, vai querer qual das opções?
— Não tem a opção de ter dar uns socos?
— Posso abrir uma exceção, contanto que você me dê beijinhos para
sarar depois.
— Você é um idiota — ri. — ‘Tá. O que eu vou ter que fazer? Saiba que
vou me vingar, então se prepara.
Sorrio, me endireitando.
— Quero que... — hesito, de propósito, Isabelle me olhando toda
apreensiva. — Quero que você me toque.
— Como assim?
— Me tocar, vamos lá.
— Tocar como assim?
— Você é de que planeta, garota? — toco seu braço. — Isso se chama
tocar.
Ela dá um sorriso irônico, mas ergue a mão e toca meu ombro. Nem
chegou a ser um toque mesmo.
— Pronto.
Dou risada.
— Vou deixar essa passar — aliso a barba. — Sua vez.
— Eu não tenho nada para perguntar mais.
— Para de estragar, garota. Pergunta qualquer coisa.
Ela se irrita, resmungando em voz baixa.
— Qual seu nome completo?
— Luke Turner Mackenzie.
— E o da sua irmã?
— É uma pergunta só — relembro. — Minha vez. Qual a cor da sua
calcinha?
Ela abre a boca mais uma vez, perplexa. Seguro o riso.
— Não vou te dizer.
— Por quê? Você está sem?
— Você é um pervertido! — Ela está absorta.
— A cor da minha cueca é azul, qual a da sua calcinha?
Então não me seguro quando ela começa a olhar para os lados,
parecendo que vai desmaiar. Começo a gargalhar, ainda vendo-a perder toda
a cor do rosto.
Talvez seja maldade, mas as expressões faciais dela são impagáveis.
— Tudo bem — tento me controlar. — Vou mudar a pergunta. Você já
se apaixonou?
Isabelle se remexe, então nega.
— Nunca, graças a Deus. E você?
— É a sua pergunta?
Ela assente.
— Já, sim — suspiro, me recuperando. — Já e foi muito.
— O que aconteceu?
— É a minha vez — sorrio. — No que você trabalha?
— Eu não tenho trabalho fixo. Faço uns extras por semana para ajudar
minha avó. Então, o que aconteceu com sua paixão?
— Ela não era a mulher — balanço a cabeça, já não tão incomodado por
ter que me lembrar de Lindsay. Foi um baque, foi uma queda feia, me
quebrou, mas, vida que segue. Tudo é perdoável.
— É uma resposta muito vaga.
— O quer que eu diga? — sorrio. — Não tem o que dizer. Não deu
certo. Eu não fui o suficiente para ela.
— Como você sabe?
— Porque ela estava grávida e não era um filho meu.
Isabelle emite um murmúrio alto, de indignação e algo mais.
— Caramba, que pesado.
— Muito — respiro fundo. — É a minha vez — olho-a. — O que você
gostaria de pedir nesse momento se fosse se tornar realidade?
Ela sorri, os olhos brilhando de repente.
— Essa é fácil — suspira —, uma vida feliz. Para mim e para minha vó.
— Vocês não tem uma vida feliz?
Ela respira fundo, um som entrecortado, então desvia o olhar para o
meio da sala.
— Não mais — sussurra —, não depois que… Não depois que a Olivia
se foi.
Eu me sinto imediatamente mal e entendo que ela fala da irmã, meu
instinto falando mais alto e eu me levanto, só para me abaixar de novo em
frente a ela e puxá-la para um abraço apertado.
Capítulo 10

Eu não sei exatamente definir o que sinto quando Luke me rodeia com
seus braços fortes. É tranquilidade, uma paz súbita, conforto e calor. É muito
bom com certeza e um dos melhores abraços que já recebi na vida.
— Eu lamento pela sua irmã — diz tão baixo que tudo que quero é me
agarrar mais a ele, mas me mantenho imóvel. Também não sei como ele sabe
que é minha irmã, talvez Brandon ou Amy tenham aberto as bocas enormes
no dia da festa. Mas eu não ligo. Não ligo porque Luke está me dando
conforto em seu abraço e é mais que bom.
— Tudo certo — falo depois de uns segundos de silêncio.
Ele se afasta um pouco, ainda segurando meus ombros, então me olha.
— Sabe, eu não quero parecer intrometido, mas eu acho que você
deveria ir a um especialista. Suas emoções parecem conturbadas.
— Como assim?
— Desculpe — desvia o olhar, parece envergonhado e eu fico
desentendida. — Eu acabei ouvindo sua conversa com sua avó.
Balanço a cabeça. Agora eu estou envergonhada.
— Hãn... — Tento achar algo para falar, mas não tenho.
Luke senta no chão, de frente para mim, me olhando de baixo com um
sorriso de canto.
— Tudo bem, não estou falando da parte que você usa calcinhas de
velha — dá um risinho divertido —, mas sim da questão de basear a opinião
que tem por conta de uma só pessoa, na maioria. Isso é até perigoso.
— Eu não faço isso — agarro a borda do vestido e finjo me entreter com
o pano, não querendo olhar para ele.
— Você faz. Eu sei que só está aqui porque sua avó quer. Quando foi a
última vez que fez uma coisa porque queria?
— Acabei de comer pizza porque eu queria — respondo, sem vontade.
— Não pareceu.
— Mas foi — o olho rapidamente e ele parece muito avaliativo. — Você
está parecendo intrometido já.
— Eu só estou tentando ser legal — faz o barulhinho com a boca e eu
sorrio. — Você não quer ser minha amiga?
— Não.
Dou risada da cara que ele faz.
— Pois você está perdendo, porque sou um amigo maravilhoso.
— A pessoa não se torna amiga de outra em um dia, não sei se você
sabe.
— Constância, querida — sorri. — Eu tenho uma ideia, não sei se você
vai gostar.
— Me conte.
Luke sorri, mostrando todos os dentes praticamente e eu sorrio
automaticamente, em resposta à sua beleza óbvia. Ele é mesmo bonito.
— Eu posso te dar um trabalho na minha empresa. Você fica um tempo
comigo vendo o que precisa ser feito, depois vai se promovendo por seus
próprios méritos.
Minha boca se abre. Então se fecha. E abre novamente.
— Sério isso? — Estou… Sem palavras.
— Seríssimo — ele olha para o lado, dando um riso esganiçado e
passando a mão no pescoço. — Sabe, foi assim que minha mãe conseguiu
trabalho e minhas tias também.
— Não entendi. Assim como?
— Por indicação — o sorriso permanece. — Todas se tornaram uma
Mackenzie.
Estreito os olhos. Não entendi mesmo.
— O que isso quer dizer? — questiono.
— Não quer dizer nada — Luke levanta, então vai até a mesa de bilhar e
agarra o taco, debruçando-se e mirando uma bola azul. — Você nunca se
apaixonou mesmo? — o olhar dele não está em mim.
— Não e nem tenho a intenção.
— Mas é legal — a bola branca acerta a azul, que tintila por duas
laterais e acerta o buraco. — A sensação. É muito boa.
— Eu não ligo — dou de ombros.
— Você devia experimentar.
— Eu não quero.
Ele ri.
— Que teimosa.
— Não bastou seu coração ter sido esfarelado?
Me arrependo de dizer as palavras, mas Luke não parece nenhum pouco
incomodado enquanto caminha até o outro lado da mesa, para acertar mais
bolas.
— Não — responde. — Apesar disso ter acontecido, ela me fez feliz por
pouco tempo. Esse pouco valeu muito, é isso que importa.
— Hm — desdenho, nenhum pouco interessada em sua vida amorosa.
— Que legal.
— Você não pode ter medo de tudo.
— Eu não tenho medo.
— Como chama isso então?
— Precaução — cruzo as pernas. — Eu viverei sozinha e feliz.
Ele sorri.
— Boa sorte, se é o que quer.
— Não acredito em sorte.
Luke me olha rapidamente, então se endireita e põe o taco sobre a mesa.
— No que você acredita, Isabelle?
— Acredito em mim.
— Não em quem, no quê.
— Não sei o que essa pergunta quer dizer.
— Você vive baseada em quê? O que pretende, o que quer, como se
realiza?
Então eu rio, porque não há mais nada que eu possa fazer.
— Tanto faz.
— Essa é uma resposta tão medíocre quanto seu pensamento.
— Não ligo.
Luke dá um suspiro profundo e eu me sinto imediatamente incomodada
quando começa a se aproximar de mim, em passos lentos e calculados.
Seu perfume me inebria e, quando está perto o suficiente, ele se abaixa,
os olhos mirados nos meus.
— É um desperdício que uma garota tão bonita pense assim.
— Minha aparência é o que conta? — dou risada. — Que novidade! Se
eu fosse feia, imagino que não merecia então.
— Não foi isso que eu quis dizer e você sabe.
— Não, eu não sei! E também não gosto que fique falando dessas
coisas!
— Porque você é cheia de medo.
— Eu não sou — grunho. — Apenas estou esclarecendo os pontos.
Gostaria de ir embora, por favor.
— Você vai começar o trabalho amanhã. Eu pego você às seis na sua
casa.
— Isso é uma informação ou uma pergunta?
— Informação — ele sorri e levanta novamente, estendendo a mão em
minha direção. — Eu vou levá-la. E seu joelho, melhorou?
— Sim e obrigada — me levanto incomodada e caminho para a porta,
Luke vindo em seguida, seu olhar não desviando do meu nem um instante.
— Constância, Isabelita — repete. — Constância.
Balanço a cabeça, não entendendo o que ele quer dizer. E nem quero. Só
vou aceitar a ajuda porque preciso realmente. Minha avó e eu precisamos
comer, afinal de contas.
Suspiro e o sigo para a saída, meu olhar sendo atraído para um porta-
retratos na estante do corredor. É ele beijando o rosto de uma mulher linda.
Dou um sorriso.
Definitivamente o cara ainda é apaixonado.
Capítulo 11

Três toques são suficientes para a porta velha abrir à minha frente e
então tenho uma garota aparentemente não feliz me olhando. Esse é um
detalhe apenas porque o que me chama a atenção mesmo é o corpo escultural
moldado por uma saia social preta e a blusa vinho de botões também pretos.
Maravilhosa, devo admitir.
— Bom dia, flor do dia — cumprimento-a segurando um riso. — Que
bela manhã, não?
— Você está cego? — aponta atrás de mim. — Está uma chuva
torrencial!
— Está mesmo, por isso é uma bela manhã. Agradeça eu não ter te
levado pra escalar umas montanhas antes do expediente.
— São seis horas da manhã, Luke! Você é retardado ou o quê!? Tira
esse sorriso idiota da cara.
Enfio as mãos nos bolsos da calça e a analiso de cima a abaixo, com
calma. Muito bonitinha mesmo.
— Você não gosta de acordar cedo? — pergunto.
A garota se remexe um pouco, incomodada.
— Não, eu detesto. Não funciono antes da uma tarde e tudo que eu fizer
é no modo automático. Também não gosto de falar até acordar de verdade.
— Eu não te perguntei nada disso, só se não gostava de acordar cedo.
Sua avó está dormindo?
— Não, ela foi ao mercado, mas te deixou um beijo, um abraço e um
muito obrigada — ela faz uma careta.
— Encantado com essa mulher. Obrigado — gesticulo para fora. —
Vamos?
Isabelle resmunga alguma coisa, então sai, fechando a porta e trancando.
— O meu guarda-chuva foi levado pelo último vendaval — murmura
virando-se para mim. — Você tem um para eu usar até o carro?
Dou risada. Muito inevitavelmente.
— Do que você está rindo? — ela junta as sobrancelhas.
— Que guarda-chuva, garota. Vai ir na chuva mesmo, para se molhar.
Eu, hein… Nem parece homem.
Isabelle arregala os olhos, então eu rio mais.
Deixo-a na varanda e corro até o carro, entrando rapidamente. Abro as
janelas e a vejo parada no mesmo lugar, boquiaberta.
— Vem logo! — grito, controlando a risada. — Se demorar muito, te
deixo aí.
— Você não fez isso! — balança a cabeça. — Menino, eu fiquei
arrumando o cabelo por uma hora! Eu… — hesita. — Que droga!
— Se ferrou, perdeu tempo!
— Eu posso não ir!
— Ah, para de frescura!
Ela resmunga alguma coisa em voz baixa e tira a bolsa do ombro, pondo
sobre a cabeça e começando a descer os degraus, logo dando um grito quando
se molha e corre até o carro, mas eu travo a porta antes de ela conseguir abrir.
— Luke! Não está abrindo! — berra.
— Puxa com mais força!
— Não está indo — me olha pela janela. — Luke! Abre por dentro, deu
problema!
— Só abre por fora…
— Oh, merda! — ela balança a cabeça, então tira a bolsa da cabeça,
abaixando os ombros e soltando um suspiro de decepção. — Eu me molhei.
Quando começo a rir demais, Isabelle me olha, então levanto a mão e
levo ao painel, destravando a porta e abrindo.
Sua boca se abre, no nível máximo. Ela está perplexa e mais um pouco,
e isso é como me fazer cócegas.
— Você não… — hesita, muito tempo. — Você não… Eu não… Que
tipo de pessoa faz uma coisa dessas?
— Uma pessoa que quer o bem da outra. Entre.
Ela fica parada, encarando o carro, parecendo sem ação.
— Por que você fez isso? — pergunta cabisbaixa. — Eu fiquei muito
tempo me arrumando...
— Eu não ligo, você não está indo desfilar — tamborilo os dedos no
volante. — Quanto mais tempo você fica aí, mais vai ficar molhada.
Ela já está ensopada, mas fazia tempo que eu não me divertia tanto.
Isabelle entra e fecha a porta, então me olha e eu sorrio, contendo outra
gargalhada.
Ela sorri de volta e, quando estou prestes a ligar o carro, ela embola o
cabelo nas mãos e aperta, a água caindo toda no painel do meu carro.
— O quê... — a olho, pasmo.
— A vingança é um prato que se come frio, meu bem — sorri
cinicamente e cruza os braços. — Anda, vai lá, dirige.
— Garota… — minha voz não sai. — É o meu carro.
— E eu ligo? — ergue os ombros. — Não te perguntei.
Balanço a cabeça, perplexo.
— Se ele não ligar…
— Você vai fazer o quê? — ela me interrompe. — Nadinha. Eu poderia
ter feito pior, para você deixar de ser babaca.
Respiro fundo, me controlando.
Tudo bem, posso lidar com isso. É só consertar. É o meu Porsche. Não
foi nada. Está tudo bem…
— Você vai se arrepender — deixo claro, então fecho as janelas e tento
desesperadamente ligar o aquecedor que, para minha sorte, funciona. — Não
se mexe no carro de um homem.
— Não se brinca com o cabelo de uma mulher! — grita. — Seu ridículo!
— Abaixa o tom de voz.
— Eu não quero! — se inclina em minha direção, um desafio. — Falo
alto o quanto eu quiser!
— Não comigo — deixo claro, olhando-a de cima. Não preciso gritar,
minha voz já tem o timbre certo e eu sei disso, principalmente quando
Isabelle vacila um pouco, os lábios tremendo um pouco também e os olhos
perdendo o brilho. — Comigo você maneira a voz.
— Você é um idiota — ela vira a cabeça para o outro lado.
Eu respiro fundo e viro a chave, agradecendo aos céus pelo carro ligar,
então nos ponho em movimento. Um longo dia vai ser, com toda certeza.
Capítulo 12

Eu evito com que meu queixo vá ao chão muitas vezes enquanto eu


caminho com Luke para o elevador. Ele está todo calado e quieto, andando à
minha frente com as mãos nos bolsos da calça, dando bom dia para quem
passa. É muito estranho.
Muito estranho, inclusive, eu estar em um lugar tão, tão, tão chique. É
agonizante. Dá nervoso até de pisar nesse chão e estou muito envergonhada
pela primeira vez na minha vida por não ter um salto e ter que estar de
sapatilha. Todas as mulheres usam saltos. Estou me sentindo deslocada.
Ainda mais toda molhada. A roupa colada ao corpo… É uma vergonha.
O elevador chega e ele entra, eu indo atrás. Logo duas mulheres se
juntam a nós e elas estão muito sorridentes de repente.
— Sr. Mackenzie — uma delas se pronuncia após ele as cumprimentar
com um aceno de cabeça. Eu me encolho no canto, com um pouco de frio. —
É verdade que vamos passar por uma obra no RH?
— Ainda não é certeza — ele responde simplesmente.
A outra mulher se vira também, ficando ambas de frente para ele, que
está bem à vontade contra a parede do elevador.
— E onde nós vamos ficar? — pergunta de um jeito muito ridículo. Que
tom é esse? Zero profissional.
— Provavelmente em outro andar. Não vai demorar muito.
— Pensei que íamos ficar com o maioral — a primeira dá uma risadinha
e a outra avalia Luke de cima a baixo.
É como se eu estivesse de repente invisível.
— Não, minha sala é só minha — ele sorri. — Gosto de trabalhar em
paz.
— Várias coisas trazem paz, Sr. Mackenzie — ela anuncia e a outra ri.
Estou me sentindo imediatamente como um peixe fora d'água, querendo
arrumar uma forma de tampar os meus olhos e ouvidos.
— De fato. O silêncio, por exemplo — ele responde.
A segunda sorri largamente, então suspira.
— As coisas difíceis, também — fala.
O elevador para, abrindo as portas, então Luke se ajeita, pedindo licença
de forma muito educada e saindo. Eu vou atrás, as duas mulheres virando a
cabeça para olhá-lo, então cochicham alguma coisa e dão risadinhas.
Ele caminha por um corredor e abre uma porta, que dá em lances de
escadas, então se aproxima e começa a subir, de dois em dois degraus.
Balanço a cabeça, desacreditada, começando a subir também, mas de
forma mais lenta, sem dúvidas.
Isso nem faz sentido. Eu nem deveria estar passando por isso, mas, é um
trabalho, apesar de tudo. Eu vou ganhar dinheiro, poder ajudar minha vó e ela
não vai precisar trabalhar mais.
Concentro-me nessa certeza e persisto subindo os degraus, parando um
pouco quando minhas pernas doem e o suor começa a escorrer.
Olho para cima, nem vendo mais sinal dele, então respiro fundo e
continuo a subir, agarrando a bolsa nas mãos para não cair enquanto não paro
até alcançar o fim das escadas.
Chego a uma porta de madeira escura, a qual abro e dou de cara com
uma sala ampla, com uma mesa em frente, onde há uma senhora sentada.
Ela me nota assim que chego, seus olhos me analisando por trás dos
óculos redondos.
— Bom dia — falo, estranhamente desorientada.
— Bom dia. A sala do Sr. Mackenzie é ali — aponta uma porta no meio.
— Pode entrar.
Assinto, sorrindo nervosamente
Dou uma batida antes de abrir e entrar.
Luke já está sentado, perfeitamente elegante, como se não tivesse
acabado de subir incontáveis degraus. Seus olhos estão em direção ao
monitor à sua frente e parece bem concentrado com a mão no queixo, os
olhos estreitos e os lábios em uma linha fina.
— Puxe essa cadeira daí e venha sentar ao meu lado — ele pede, sem
me olhar.
— Que cadeira? — me esforço a tornar a respiração compassada
novamente.
— A que está em frente à mesa.
Eu me aproximo, então puxo a cadeira preta de couro até ao lado da dele
e sento, pondo a bolsa nas pernas e levando as mãos aos cabelos, para
prendê-los.
A sala é enorme. Uma parede revestida de vidro nos oferecendo o
vislumbre da manhã chuvosa, duas estantes repletas de livros, um sofá de
couro na extrema direita, um jarro com uma folha linda e grande ao lado da
porta e um tapete grosso no chão de madeira brilhante e escura.
— Você sabe o que é isso? — Luke pergunta, chamando minha atenção.
— Não — balanço a cabeça quando ele me aponta umas tabelas
estranhas.
— Isso aqui são livros.
— Livros?
— Sim, livros. Existem dois, que usamos na administração. O Razão e o
Diário. O Diário nos mostra todo o uso do dinheiro no dia, o Razão, é mais
amplo, pode ser do mês ou do ano. Entendeu? — ele me olha.
— Entendi.
— Ok, eu não vou confiar isso a você, mas vou te deixar olhando as
coisas em volta.
— Como assim? Eu não sou boa com números.
— Se você sabe um mais um, tudo bem — ele aponta para a tela, só
então eu percebo que está sem o paletó e somente com a camisa azul claro. —
Eu tenho, por exemplo, que verificar como está a distribuição de produtos em
uma loja nossa aqui próxima. É de bebês.
— Eu não entendi.
Luke bufa e volta a me olhar.
— Então você tem que prestar mais atenção — resmunga. — Estou
dizendo que você vai analisar a distribuição de produtos em algumas lojas e
vai verificar com os registros diários se o Razão está batendo.
— Parece difícil… E complicado.
— Você aprende a se virar.
Respiro fundo, levando a mão rosto e esfregando a bochecha, em busca
de algum calor.
— Pega um café para mim, por favor. No terceiro andar tem uma sala
que o café é o melhor — ele vira para a tela de novo. — Vá logo.
Balanço a cabeça, então me levanto, caminhando para fora da sala e
sorrindo nervosamente para a secretária, que me olha de um jeito carinhoso.
— Você está indo onde? — pergunta quando eu vou em direção à porta
que cheguei.
— Buscar um café para o troglodita. Quer dizer, para o Sr. Mackenzie.
Ela sorri, fingindo não ouvir o meu erro absurdo em insultar a porcaria
do chefe ridículo e idiota.
— A porta do elevador é mais rápida — aponta atrás de mim.
— E tem um elevador? — Estou imediatamente boquiaberta.
— Tem, sim — ela ri.
— E por que ele… — Nem termino e balanço a cabeça. — Deixe.
Obrigada.
Caminho em direção ao elevador e entro, apertando o número três. As
portas se fecham e eu dou um suspiro.
Não gosto da ideia de ficar buscando café, mas o que é melhor: buscar
café ou não ter certeza de um trabalho? Com certeza a primeira opção.
Aguardo com paciência e, quando o elevador para, estou de encontro a
um corredor amplo, com salas para os dois lados. Me sinto imediatamente
perdida, mas começo a caminhar, meio hesitante.
Junto as mãos, meus olhos indo para os dois lados, em busca de uma
cafeteira ou de uma garrafa térmica, então levo um susto quando esbarro em
alguém.
Dou um passo para trás, já pronta para pedir desculpas e comunicar à
pessoa que não diga nada ao mal amado do Mackenzie, mas tudo que
encontro é um sorriso bondoso e contagiante.
— Desculpe — falo depressa.
O homem alonga o sorriso e inclina a cabeça para o lado.
— Você parece um pouco perdida.
— Estou — admito, muito nervosamente. — Estou em busca do melhor
café do terceiro andar.
Ele ri, uma risada contagiosa, e logo estou rindo também, apertando os
dedos uns nos outros.
Muito estranho. Tudo isso. Até esse ar. Esse cheiro. Isso é o cheiro da
riqueza definitivamente. Não estou acostumada nenhum pouco. Me sinto uma
estranha.
— Então nós, do terceiro andar, temos o melhor café? — ele ergue as
sobrancelhas loiras, seus olhos verdes acentuando a cor.
— Disseram, eu ainda não sei.
— Então deixe que eu faça as honras — gesticula. — Fica por aqui.
— Muito obrigada — agradeço aliviada. — Eu estava mesmo perdida.
Ele dá um risinho, então começamos a andar.
— Me chamo Lian — sua mão direita estende em minha direção. —
Lian Stanton.
Sorrio e aperto.
— Sou Isabelle.
— Senhorita…?
— Isabelle Monaghan — balanço a cabeça. — É um prazer.
— O prazer é meu, senhorita Monaghan.
Fico imediatamente tensa ao ser chamada desse jeito. É muito estranho.
— Você está trabalhando em qual área? — pergunta e abre uma porta na
qual chegamos, logo eu vendo uma mini cozinha bem arrumada e bem
equipada.
— Eu comecei agora praticamente — dou um riso nervoso. — Não faz
nem vinte minutos. Ainda nem sei bem o que vou fazer porque o tal
Mackenzie falou que vou ficar visitando lojas para ver produtos, mas me
mandou vir buscar café.
— Ah, então você está com o tal Mackenzie da vez? — ele assobia e
caminha até a bancada de mármore que ocupa toda uma parede do cômodo.
— Dizem que o cara é mais chato que o pai. Eu não tive muito contato com o
pai dele, mas nunca dei problema. Só o via por aí, dava bom dia ou boa tarde.
O lance com os Mackenzies é — abre um armário e pega uma xícara —, se
você faz seu trabalho bem, eles estão felizes. É o que vale. Para você ver…
— Lian me entrega a xícara e eu seguro. Ele cruza os braços e encosta-se à
bancada. — O meu pai achou que eu não ia durar aqui.
— Por quê? — dou um gole no café, soltando um gemido, muito
aliviada pelo calor que me invade em meio ao local gélido.
Lian sorri largamente.
— Bom?
— Muito — admito, suspirando. — Obrigada.
— Disponha — ele pisca. — O lance foi que meu pai se meteu com o
cara ou algo assim, eu não sei bem, ele nunca contou, mas foi demitido. Só
que eu consegui um estágio e fui crescendo. Ele disse que, quando vissem
meu sobrenome, não iam me aceitar, mas não foi o que aconteceu.
— Seu pai se meteu com o tal pai do tal Mackenzie?
Ele ri.
— Isso. Vai entender — balança a cabeça. — Eu só sei que eu estou
bem alocado aqui e nunca arrumei problema com ninguém.
— Que bom para você — sorrio, bebericando o café. — Também espero
que aconteça o mesmo comigo.
— Vai, sim. Você vai almoçar que horas?
— Não sei… Qual o horário?
— Nós fazemos nosso horário de almoço. Eu saio ao meio-dia, você
pode almoçar comigo, se quiser. Eu te mostro um pouco do prédio, para você
se familiarizar.
Respiro fundo, muito aliviada. É como minha avó diz, sempre há
pessoas boas em todos os lugares.
— Vai ser ótimo — eu concordo. — Onde eu encontro você?
— Eu estarei te esperando em frente ao elevador, fechado?
— Fechado — sorrio. — É melhor eu levar o café do troglodita.
Lian ri e assente, virando-se novamente para o armário e pegando um
copo térmico, enchendo-o com café e me entregando.
— Tenha um bom dia de trabalho, Isabelle — me deseja.
— Obrigada. De verdade. Para você também — pego o copo de sua mão
e, talvez seja impressão, mas ele acaricia meus dedos de propósito em um
contato rápido, e eu saio depressa, muito aflita.
O início não foi bom, mas pelo menos eu encontrei o Lian.
Capítulo 13

A garota volta com um sorrisinho na cara e o meu café em uma das


mãos. Não acredito que ela já esqueceu o que aprontou.
— Por que você está sorrindo? — questiono quando estende o copo em
minha direção.
Isabelle me olha, ainda em pé, então junta as sobrancelhas, em uma
expressão desentendida.
— Se for proibido em ambiente de trabalho, por favor, me avise porque
não quero ser demitida no meu primeiro dia.
— Não é proibido, mas eu quero saber o motivo visto que você quase
acabou de dar problema em uma coisa que custa quase um milhão de dólares.
Ela resmunga em um som baixo, caminhando até a cadeira ao lado da
minha e se senta.
— Eu achei a cozinha bonita, só isso. O que eu tenho que fazer?
— Você está sorrindo porque achou a cozinha bonita? — a olho. —
Quantos anos acha que eu tenho?
— Visto o que fez comigo ainda há pouco, cinco de mentalidade, no
máximo — também me olha, então observo-a abraçar o próprio corpo, em
um movimento automático.
Me viro novamente para o monitor, agarrando o copo de café e sorvendo
uma quantidade considerável, o líquido quente sendo muito bem-vindo.
Eu até poderia cogitar ser legal e perguntar se ela prefere que eu peça
para aumentarem o ar, mas não vou fazê-lo porque todas as vezes que fui
legal, me ferraram; então, deixa que tudo transcorra da forma que tem que
ser. É como se diz, o que tem que ser, será.
— Vou te dar um endereço e você pega um táxi. Você vai levar esse
envelope aqui — aponto sobre a mesa — e vai verificar se está tudo correto
até o fim do dia.
— E o horário de almoço? — questiona e leva a mão à boca, roendo as
unhas. É um ato de nervosismo e apreensão, eu logo percebo.
— Você mal começou e está pensando em horário de almoço? — quase
rio. — Fala sério, garota. Eu sou o chefe e você faz o que mando, entendeu?
Ela balança a cabeça desorientada, mas concorda, para minha grande
surpresa. Não sei se fico feliz ou suspeito.
— Qual foi, cara! Pega leve com a garota — eu ouço a voz do Brandon
e viro a cabeça, o vendo entrar.
Seu olhar já está na Isabelle e ele sorri largamente, caminhando em
direção a ela.
— Que grande honra conhecer alguém tão bela — ele se inclina, em
uma reverência desnecessária. — Muito prazer, eu sou Brandon Mackenzie,
ao seu dispor para ser seu mais submisso sacerdote, se quiser.
Ela dá uma risadinha, que é muito estranhamente graciosa e eu solto um
grunhido de descrença.
Fala sério que ela vai se encantar pelo Brandon!
Ele levanta a cabeça e segura sua mão, levando aos lábios e beijando em
cima.
— É um prazer, também, Brandon — Isabelle fala, tossindo em seguida.
— Sim, gatinha, muito prazer. É o meu segundo sobrenome, aliás — ele
sorri.
— O que você quer aqui? — pergunto impaciente. — Ainda são sete da
manhã e você já está com insinuações?
Meu primo se endireita, dando uma piscadela para Isabelle, mas logo se
volta para frente da mesa, ajeitando o terno.
— Saiba que para um homem jovem e viril, toda hora é hora — o
sorriso volta e eu bufo, Isabelle rindo ao meu lado, mas logo para quando a
olho.
— O que você quer? — repito.
— O Dean está com problemas.
— Que tipo de problemas?
— Não sei. Algo como não estar dando conta sozinho da parte
comercial.
— Ele é da administração.
— Também comercial — Brandon suspira. — Ó, eu tentei ajudar, mas
também já estou atolado. Sem falar que, com esse lance do tio Adam também
estar se aposentando, está tudo uma merda. Nós temos que nos organizar.
— Eu não posso fazer tudo por vocês. Na semana passada já estive
pegando um monte de coisas do Dean para fazer.
Meu primo abaixa o olhar, então tamborila os dedos sobre minha mesa e
dá um suspiro profundo.
— Olha, cara, pega leve com ele. Acho que ele está numa época difícil.
Eu não sei, parece algo como ter vontade de ser pai, mas não ter encontrado
ninguém.
— Ah, pelo amor de Deus! No que isso tem a ver?
— Ele ‘tá numa crise, é o que estou tentando dizer — meu primo me
olha, em busca de compreensão urgente. — É meu irmão, mas ele tem umas
frescuras. Você sabe que é um pouco difícil.
— Se ele quer um filho, é só ele ir arrumar uma mulher e ir acasalar!
Problema resolvido!
— Que horror! — Isabelle murmura ao meu lado, horrorizada, só então
eu me lembrando de que ela está presente.
— O que você ainda está fazendo aqui? — questiono. — Se manda. Eu
já falei o que você tem que fazer.
Ela arregala os olhos, mas levanta e agarra o envelope, saindo e dando
um sorriso curto para meu primo antes.
— É só isso que você quer? — pergunto para ele.
— Que isso, cara — parece chocado. — Não é assim que se trata os
outros, quanto mais uma mulher.
— Eu não tratei de jeito nenhum.
— Você é louco? Não viu como ela ficou? Totalmente envergonhada.
Isso foi ridículo.
— Não sei do que você está falando — agarro meu copo de café e bebo
o restante. — Eu vou ligar para o Dean e ver como posso ajudar, mas, se for
só isso que tem para dizer, pode ir embora.
— Falou — Brandon dá um tapinha na mesa. — Se cuida, a gente se vê.
Então eu sou deixado em paz. Sozinho. Tranquilo. Em silêncio. Mais
uma vez.
Como sempre.
Capítulo 14

Chego a rua um pouco perdida e abro o envelope, obtendo as folhas e


procurando desesperadamente o endereço da loja, então ouço meu nome
sendo chamado.
Olho para trás, vendo Brandon vir correndo em minha direção.
— O que está fazendo com o Luke? — pergunta ao me alcançar e eu
balanço as folhas.
— Ele me ofereceu trabalho. Foi algo muito repentino.
— Por que você deixou que ele te tratasse daquele jeito? Eu posso bater
nele, se você quiser. É meu primo, tenho licença para isso.
Sorrio, em discordância.
— Ele só é idiota — murmuro. — Você pode me ajudar, por favor?
Estou perdida...
— Sempre, gatinha — pisca e pega as folhas. — O que ele mandou você
fazer?
— Ir nessa loja e conferir os produtos, o valor… Tipo isso. Eu não sei o
endereço.
— Eu levo você, é perto de onde trabalho. Vamos.
Eu o acompanho, mais uma vez agradecendo aos céus por ser ajudada.
Sempre ouvi que pessoas como chefes são uma, e como pessoas, outra. Não
estou impressionada.
— Você tá legal? — Brandon questiona quando entramos em seu carro
ridiculamente grande e bonito. Eu já tinha visto, mas nunca entrado.
— Estou — sorrio.
— Por que você está toda molhada assim?
— Eu peguei chuva — balanço a cabeça. — Seu primo travou a porta
para eu me molhar de propósito.
— Ele fez isso?
Eu assinto.
— Que idiota — Brandon resmunga e liga o carro. — Vamos dar um
jeito nisso.
Suspiro, agradecendo quando ele liga o aquecedor.
— Ontem eu estive falando com minha irmã sobre você… —fala
evasivo.
— É mesmo? — o olho, curiosa.
— É mesmo. Ela me disse que você não liga muito para mim porque é
mais da calmaria — faz uma cara triste e me olha. — Fico tão tristinho.
Dou risada.
— Não entendi.
— Sei lá — sorri voltando a olhar a pista —, eu também posso ser
calmo.
— Você é mais novo que eu.
— Eu já saquei isso, mas gosto de tentar. Ó, não desisto antes de tentar.
Tento, tento, até conseguir.
— Não sei do que você está falando mesmo — cruzo os braços. —
Aliás, esse seu primo é sempre ranzinza assim? Quer dizer, às vezes ele
parece legal, aí do nada se torna péssimo.
Brandon ri.
— Ele é assim mesmo, um mala. Se ele encher muito seu saco, fala
comigo e eu te transfiro. Posso fazer isso — me olha rapidamente. — Não sei
como não pensei nisso antes.
— No quê?
— Em colocar você com a gente. Era para você estar comigo, não com
ele. O Luke pode ser bem chato, principalmente agora, que voltou há pouco
tempo. Ainda tem resquícios do quartel com ele.
— Eu não ligo. Não me ofendo fácil.
— Sei que não, mas, é sério, se ele pegar pesado, fala comigo — me
olha de novo, bem sério, reforçando o pedido.
— Eu falo — sorrio.
— Ótimo. Agora vamos tirar essa roupa molhada, tomar café e depois te
deixo onde vai ficar.
— Ele vai reclamar…
— Não vai, porque ele não vai saber — Brandon garante, com uma
piscadinha, então acelera.
Eu respiro fundo, uma calma súbita me invadindo.
Não são nem oito horas e eu já estou mais agitada que garrafa de chope.
Acho que posso gostar dessa sensação diária.
Posso mesmo.
Capítulo 15

Eu me levanto e pego meu paletó, suspirando de satisfação por ser o fim


de mais um dia. Cansado é pouco.
Visto a peça, pegando meu celular da mesa e enfiando no bolso, então
caminho para fora da sala. Minha secretária já foi embora há muito tempo,
mas eu só estou conseguindo ir agora. Dez da noite.
Entro no elevador e apanho as chaves no bolso, encontrando a da porta
da entrada lateral. O prédio também já está fechado essa hora.
Meu celular toca enquanto saio e caminho pelo hall até o outro lado.
Atendo, sem muita vontade.
— Alô?
— E aí, cara. Sou eu, o Brandon — ele parece um pouco ofegante. — A
Isabelle tá legal? Você a dispensou que horas?
Então eu paro onde estou, a garota vindo à minha cabeça.
Droga!
— Luke?
— Ela está bem — digo depressa. — Preciso desligar.
— Ok, fiquei preocupado porque ela não tem celular e eu não consegui
entrar em contato.
Balanço a cabeça.
— Certo, tchau — desligo e caminho depressa até à porta, me sentindo
péssimo.
Está chovendo à beça, então corro até o outro lado da rua, onde deixei
meu carro e entro depressa, limpando o rosto e em seguida levando uma mão
ao volante e outra à chave de ignição, mas meu olhar volta à rua quando o
para-brisa fica limpo e eu a vejo.
É ela mesmo que está encolhida em um canto, tentando olhar dentro do
prédio que já está trancado.
Estou mal de verdade e rapidamente ligo o carro, seguindo até onde ela
está. Buzino, chamando sua atenção.
Isabelle se vira em um pulo, levando a mão ao peito.
Abro as janelas e a porta de passageiro.
Ela olha. Hesita. Parece pensar. Então corre para dentro, eu me sentindo
três vezes pior quando fecha a porta e rapidamente abraça o próprio corpo,
tremendo.
— O que você estava fazendo na chuva!? — É só o que consigo
perguntar.
Ela me olha, toda trêmula.
— Por que você está gritando? — rebate. — Você me mandou ir até
àquela loja, mas não disse que eu tinha que voltar. Deu a hora de fechar, eu
saí. Não tinha dinheiro de táxi, porque eu não tenho dinheiro para ficar de
mordomia, então peguei o ônibus e aí eu cheguei aqui e estava fechado o
prédio — começa a gesticular. — Eu chamei e bati, mas não tinha mais
ninguém. Eu tive que ficar ali. Já estava indo embora... Eu só… — respira
fundo.
— Desculpe, eu me esqueci de você.
A garota ri. É um riso completamente sem graça.
— Não faz mal. Eu só gostaria que você me levasse para casa, por favor.
Minha avó deve estar preocupada.
— Ela não tem um telefone?
— Tem, o de casa, mas... Eu não sei o número — suspira, então me
olha, me deixando péssimo. — Eu lamento porque, quando estava
atravessando a rua, eu deixei o envelope cair e caiu bem em uma poça. Tentei
pegar, mas ele praticamente se desfez nos meus dedos.
— Fala sério!
Ela desvia o olhar, acanhada.
— Desculpe.
Me ajeito e ligo o carro, nos levando embora.
— Coloque o cinto — peço.
A garota o faz, então passa as mãos no rosto e olha para o outro lado.
Eu não estou preocupado com o envelope e sim com ela. É o segundo
banho de chuva do dia!
Olho-a de relance, percebendo que ela está de vestido.
— O que fez com sua roupa? — questiono.
— Brandon me comprou outra. Ele percebeu que eu estava molhada e
com frio.
— O que isso quer dizer?
— Não quer dizer nada, só estou falando.
— Quer dizer que você esteve com ele, que engraçado.
Isabelle me olha, as sobrancelhas juntas.
— Não entendi.
— Você não entende a maioria das coisas, pelo visto — concluo. —
Você pensa o que, estando com outra roupa e ele me ligando preocupado vai
dar a entender o quê?
— O que você está insinuando? — Ela não parece nada mais que
surpresa.
— Não estou insinuando nada, você que está.
— Quer saber? — suspira então ri. — Eu não sou obrigada. Não mesmo.
Não tenho que ficar lidando com isso. Com nada disso.
— Deixa disso, garota. Você é adulta, faz o que quer.
— Tem razão. Para o carro, eu quero descer.
— Não vou parar coisa nenhuma. — Agora eu estou surpreso. — Ficou
maluca?
— É, Luke, eu estou maluca — me olha. — Eu sou maluca. Para o
carro. Eu vou descer.
— Não.
— Não é um pedido. — Ela não parece nada mais que cansada. Nem
alteração na voz tem. — Eu só quero ir para casa em paz.
— Você vai.
Isabelle suspira profundamente, então vira de novo a cabeça. O silêncio
nos embala, junto com o barulho da chuva que está abafado por conta dos
vidros fechados. As ruas estão calmas. É um bom tempo. Tem tudo para ser.
É quando um ruído chama minha atenção e olho automaticamente para o
lado, um pouco confuso quando percebo que é ela, de cabeça baixa entre uma
mão.
Estou mesmo confuso.
— Você está chorando? — questiono.
Ela treme um pouco, mas faz que não com a mão que está sobre a perna.
Estaciono no lado da rua assim que possível, me sentindo incomodado.
— Isabelle? — chamo.
O corpo pequeno treme e ela soluça.
— Eu… — Não sei o que fazer. — Não se preocupe com o envelope. Eu
dou um jeito.
Parece que não é a melhor resposta, já que a outra mão vai ao seu rosto
também e ela começa a chorar mais alto.
Tiro meu cinto de uma forma muito instintiva e me inclino um pouco, só
para conseguir puxá-la para mim. Ela não resiste, para minha surpresa e
alívio, e eu fico pior ao me dar conta do quanto ela está gelada.
Passo meus braços ao seu redor, ela soluçando contra mim.
É muito estranho e esquisito. Eu não tenho paciência demais para isso e,
bem pior, não sei o que fazer nessas situações.
Isabelle fica um bom tempo chorando e soluçando. Eu espero,
observando a chuva. Eu sou mesmo muito sortudo.
Quando parece se acalmar, ela se afasta de cabeça baixa e seca o rosto.
Eu não digo nada, apenas volto a por o cinto e nos coloco novamente em
movimento, me apressando em deixá-la em casa.
Só me dou mal, não sei por que ainda não acostumei.
Grande novidade.
Capítulo 16

— Você não precisa ir amanhã, se não quiser — Luke fala, após


estacionar.
Não digo nada, apenas saio do carro e começo a caminhar para casa,
muito triste e angustiada. Meu dia foi péssimo do início ao fim. Eu não soube
fazer funcionar. Claro que a culpa é toda minha. Como sempre foi. Eu tenho
consciência disso.
Alcanço a porta e entro em casa, estranhando somente a luz da sala estar
acesa, então caminho até a cozinha e acendo também, meus olhos indo até o
papel grudado na geladeira à minha frente. São letras vermelhas e grandes.
"Vovó foi dormir na casa da amiga Elizabeth, que está doente. Tome
cuidado e tranque a porta direito. Amo você, mil beijinhos."
Suspiro, desanimada.
O barulho da porta chama minha atenção, então corro de volta à sala e
me surpreendo ao ver Luke em pé, segurando-a aberta.
— Eu sinto muito se fui um pouco rude — sua voz está suave e calma,
quase me levando às lágrimas novamente. — Você fez um bom trabalho
hoje. Gostaria que voltasse amanhã.
— Eu vou voltar — afirmo. Claro que vou. Eu não posso recusar a
oferta. Nem estágio consegui quando estava na faculdade, que precisei
trancar há um mês.
Ele balança a cabeça, assentindo, então olha em volta, um raio clareando
as janelas. Me assusto.
— Onde está sua avó?
— Ela não está, foi dormir casa de uma amiga do clube de crochê que
está doente.
Luke ergue as sobrancelhas e faz o barulhinho com a boca. É muito fofo
mesmo e não parece o idiota que é na maioria das vezes.
— Você vai dormir sozinha?
— Vou — afirmo. — Eu durmo, às vezes.
— Hm... — ele olha em volta de novo. — Mas está maior temporal e
essa casa é no meio do nada. Pode ser perigoso.
— Não é — tusso. — Aqui é bem tranquilo. É melhor você ir logo,
antes que aumente a chuva. Eu preciso trocar de roupa.
Luke assente, parecendo meio desorientado, então se vira, indo para fora
novamente.
Eu me aproximo, já querendo trancar a porta, mas ele se volta
novamente em minha direção.
— Sabe, eu posso dormir aqui, se quiser. Para te fazer companhia.
Eu me surpreendo, é claro.
— Sério? — pergunto, de uma forma muito pasma. Ele assente. — Você
está com medo da chuva?
— Claro que não. Estou tentando me redimir. É o mínimo que posso
fazer, eu acho.
— Não preciso da sua remissão.
Ele ergue as sobrancelhas, parecendo surpreso.
— Tudo bem, então boa noite — se vira novamente, saindo, mas então
um raio cai praticamente no chão à frente dele e eu paraliso no lugar, o
coração acelerando de tal forma que posso ouvir as batidas.
Minha nossa… Por pouco…
A risada dele me traz de volta.
— Você viu isso? — ele me olha. — Que demais!
— Que… Demais? — Estou tremendo, só sendo um pouco interrompida
do choque devido à tosse que me invade.
Demoro uns segundos para me recuperar, Luke me olhando de onde
está.
— Você quase foi atingido — falo meio engasgada.
— Teria uma boa história para contar.
Balanço a cabeça incrédula então me aproximo dele, segurando seu
braço.
— Fica, você não vai sair com tantos raios. Pode atingir o seu carro.
Ele sorri e entra, sem debater, então fecha a porta e vira a chave.
— Você pode dormir no sofá, eu vou buscar uns lençóis — digo e me
viro, indo para meu quarto. Ouço Luke me seguir, mas não o repreendo. Ele
já está mesmo aqui.
Abro a porta e vou direto até minha cômoda.
— É o seu quarto?
Viro a cabeça, o vendo escorado no batente da porta. Ele não devia
parecer tão alto.
— É — suspiro, tossindo novamente. — Que droga.
Abro a gaveta e pego dois lençóis, voltando, mas sendo surpreendida
novamente quando Luke já está ao meu alcance.
Suas mãos vêm até as minhas e ele pega os lençóis, colocando em cima
da cômoda, então agarra novamente minhas mãos e aperta nas suas que, de
uma forma muito estranha, estão muito quentes.
— Você está tossindo demais — ele salienta. — Precisa se aquecer.
— É verdade — digo, mas não tiro as mãos. Está sendo um contato
bem-vindo. — Vou ver se esquento água para tomar banho.
— Como assim?
— Para não pegar mais frio ainda — explico.
— Você não tem água quente no chuveiro?
Dou risada, muito esganiçada, minha garganta doendo.
— Não — nego desfazendo o contato e caminho para fora do quarto, ele
me acompanhando também à cozinha.
— Essa casa é muito pequena, você não acha? — questiona.
— É o tamanho perfeito. — Caminho até o armário e obtenho uma
panela grande, levando até a pia e abrindo a torneira, para encher de água.
Meu estômago ronca, me lembrando que só tomei café com o Brandon.
Suspiro, frustrada.
Levo a panela ao fogo e volto aos armários, pegando um saco de
biscoitos e indo me sentar em uma cadeira para comer.
Luke está na porta, já sem o paletó.
De alguma forma não estou me sentindo estranha por ele estar comigo, o
que é mais estranho ainda.

— Quer? — aponto o saco para ele, que assente e se aproxima, enfiando


a mão e pegando alguns; então puxa uma cadeira ao lado da minha e se senta.
Os trovões fazem barulho ao lado de fora e eu suspiro.
— Por que você chorou? — questiona e eu não o olho.
— Eu não sei. Sou sensível — dou de ombros.
— Não parece.
— Você também não me pareceu um idiota, a princípio, mas é — o
olho. — Eu não sei o que você fazia, mas não precisa agir como um general
toda hora.
— Eu sei… Estou aprendendo a lidar com isso — me encara. — Você
não parece o tipo sensível mesmo.
— Mas eu sou — deixo o saco sobre a mesa e respiro fundo. — Não
estou justificando, apenas esclarecendo. Não choro por nada, só que o dia
hoje foi muito turbulento e somou a outras coisas.
— Por exemplo?
Suspiro, querendo não falar, mas querendo ao mesmo tempo.
— Eu não sei — penso um pouco. — As coisas não têm sido muito
fáceis para mim.
— Hm...
Ergo os olhos para ele, o vendo me observar.
— Você sabe quando não quer morrer, mas não se importa se parar de
viver? — pergunto.
Luke cruza os braços, mastigando depressa, então ergue as sobrancelhas.
— Não sei, não. Mas parece um pouco assustador.
— É cansativo, na verdade — levo uma das mãos para trás do pescoço e
massageio a região. — Não sei o que fazer, na maioria das vezes.
— Isso é um pouco depressivo, não acha?
Dou um riso, sem graça.
— Todo mundo é um pouco depressivo, em minha opinião.
— Certo, agora parece um pouco pessimista — ele se ajeita. — Tem
algo que eu possa fazer para você se sentir menos… Péssima?
Sorrio, olhando o chão, então tusso, um estrondo quase me fazendo
pular da cadeira.
— Não — nego.
Me levanto e caminho ao fogão, a água começando ir à fervura. Desligo
o fogo e me viro novamente para o Luke.
— Eu vou tomar banho. Quando eu sair, você pode ir também —
informo.
Ele me encara um pouco e inspira fundo.
— O que vou vestir? Minha roupa está molhada.
Balanço a cabeça.
— A gente dá um jeito — digo e apanho a panela, saindo em direção ao
corredor que leva ao banheiro.
Eu só preciso de uma boa noite de sono. Só isso. Mais nada.

Quando saio do banheiro, os cabelos e o corpo enrolados na toalha,


corro até meu quarto e fecho a porta, soltando um suspiro de frio. Luke deve
ainda estar na cozinha.
O barulho da chuva é alto e constante, e eu agradeço interiormente por
ele estar aqui porque, apesar de não ter dito, eu sinto medo de tempestade.
Além do mais, o carro dele poderia ter sido atingido, não poderia?
Poderia... Ele capotar...
Não colou.
Balanço a cabeça e caminho até a cômoda, abrindo a gaveta e pegando
um pijama mais quente, então desenrolo a toalha do corpo e visto a calça,
tirando a dos cabelos e jogando no chão, para conseguir passar a blusa pela
cabeça.
Quando estou devidamente vestida, pego os panos do chão e sacudo o
cabelo, então me viro, pronta para ir até ele dizer que pode usar banheiro; e é
quando meu corpo falha. Miseravelmente. De todas as formas possíveis e
impossíveis.
Luke está ao lado da minha janela, parado, a boca entreaberta, os olhos
cerrados em minha direção.
Ai, caramba…
— Como é que você entrou? — Minha voz mal sai quando tomo nota de
que a porta não se abriu depois que entrei. Ele já estava aqui. Antes. De mim.
— Que…
— Eu vim… — ele pigarreia. — Vim ver se tinha aumentado a chuva.
Ela está vindo no sentido da janela da sala, a do quarto está pegando o fim
dela. Eu não sabia que você… — hesita. — Ia entrar.
— Por que eu entraria no meu quarto, não é mesmo? — deixo as toalhas
caírem em um som inaudível. Estou desconcertada.
Luke se remexe ainda no mesmo lugar. Parece agoniado agora.
Ele leva as mãos aos cabelos e puxa um pouco, desviando o olhar para o
chão. É um momento muito constrangedor, se vale dizer. A um nível que
nem posso definir.
— Você já pode tomar banho — aviso e me viro para a cômoda
novamente, pegando uma toalha limpa.
Caminho até ele, muito nervosamente e estendo-a em sua direção.
Ele levanta os olhos para mim, os seus perfurando os meus quando me
encara, a mandíbula cerrada.
Imediatamente retrocedo um passo, meu peito subindo e descendo em
um movimento muito involuntário por uma busca de mais ar quando
finalmente ergue uma mão e pega a toalha, saindo em seguida com passos
definitivos e firmes.
Solto toda uma respiração, aliviada e pesada ao mesmo tempo.
É completamente constrangedor e estranho. Luke me tratou mal, me viu
chorando e ainda pelada. Tudo no mesmo dia. É mais falta de sorte do que
posso expressar.
Respiro fundo, em busca de concentração, então volto à cozinha,
pegando leite para esquentar.
Não sei em como ter acontecido tantas coisas em tão pouco tempo.
Sento na cadeira, já com o leite morno em mãos e envolvo a xícara, em
busca de mais calor possível. Tusso novamente, um resmungo me escapando.
Foram dois banhos de chuva, mantendo a roupa molhada no corpo. Isso não
vai ser legal.
A chuva continua feroz ao lado fora, caindo sem parar, os trovões sendo
altíssimos, os raios iluminando as janelas. É tão caótico.
Suspiro, minha atenção voltando à porta quando ouço os passos e então
Luke reaparece, dessa vez com a toalha enrolada na cintura e os cabelos
molhados. Eu me encolho imediatamente onde estou, buscando olhar o chão
de uma forma desesperada.
Triplamente constrangedor. A barriga sem qualquer gordura e
levemente morena está visível de novo. Dessa vez, ele não parece tão
confortável como quando estive em seu apartamento. O ar está pesado. Sinto
tanto que quase posso tocar.
Ergo os olhos para ele novamente, que está mais próximo da mesa, me
olhando de cima de um jeito muito esquisito.
— Você quer leite? — pergunto.
— Não — a resposta é rápida e imediata, me fazendo encolher.
— Você pode dormir no sofá, eu já estou indo também.
— Para o sofá?
— Não — balanço a cabeça —, dormir. No meu quarto.
Luke assente. É muito esquisito. Não sei também porque especifiquei. É
claro que estou indo dormir em meu quarto. Onde mais seria?
— Estou com frio — ele fala, chamando meu olhar de volta. — Suas
roupas não cabem em mim. O que eu faço?
Então eu rio, não tendo mesmo — e nem sabendo — o que posso fazer.
— Eu não sei — elevo os ombros.
— No exército — pigarreia, a voz ficando mais rouca e grossa, de um
jeito quase assustador. Certamente que Luke já tem uma voz muito grave,
mas está muito, muito mais, e isso me deixa confusa —, lá nós usamos
contato humano para quando não tem para o que recorrer.
Eu estreito os olhos, confusa se realmente ouvi certo.
Calor humano?
— O que isso quer dizer? — questiono.
— Quer dizer que você pode me transferir calor do seu corpo.
Eu começo a rir, depois de um segundo pega pela surpresa da resposta.
— Você não está falando sério — murmuro.
— Falo muito sério. Vai servir principalmente para você que está
propensa a um resfriado forte. Talvez nem tenha. Dois corpos podem muito
em seus efeitos.
Meu riso esvai quando percebo que ele fala mesmo sério.
— Não vou fazer isso de… Transferir calor para você — deixo claro,
absorta.
— Você está sendo egoísta. Isso nem te custa nada.
Custa a minha sanidade, tenho vontade de dizer.
— Custa o meu desconforto.
— Vai ser muito confortável — seu tom de voz abaixa, o contraste com
o barulho alto da chuva sendo muito perturbador. — Eu garanto que vai ser o
mais confortável que você já experimentou.
A respiração dele está completamente descompassada e eu fico
preocupada, me levantando de forma cautelosa e deixando o leite onde está,
querendo fugir. Algo não está parecendo certo.
— O que está fazendo? — Luke pergunta.
— Não estou fazendo nada. Você está estranho… — aponto atrás dele.
— Eu vou ir dormir. Pode dar licença, por favor?
Ele balança a cabeça levemente, em uma negativa, então suspira.
— Pode ir — fala e eu caminho depressa, passando por ele e quase
correndo em direção ao meu quarto, fechando a porta e trancando, me
encostando nela em seguida, um pouco amedrontada.
— Não é uma chave que mantém uma porta segura — o ouço dizer do
outro lado. — Boa noite, Isabelle.
Solto o ar, correndo para a cama e me enfiando embaixo do edredom.
O que exatamente significou tudo isso?

***
Eu me remexo na cama, de um lado para o outro, como estou fazendo há
incontáveis minutos. Muito tempo. O barulho da chuva não para. É uma
tempestade sem aparente fim. Estou agoniada, nervosa e com medo.
Me sento quando um relâmpago clareia meu quarto, meu coração
palpitando descontrolado.
Decido levantar, um estrondo me fazendo gritar e corro para a porta,
destrancando-a e saindo imediatamente em direção à sala, ofegante.
Encontro Luke deitado no sofá, olhando o teto, parecendo muito
relaxado e confortável enquanto o mundo parece desabar ao lado de fora. Ele
está com a toalha ainda e eu ignoro o incômodo que me invade.
— Acordada ainda? — pergunta, me assustando mais ainda.
— Está chovendo demais — ofego. — Estou… Preocupada.
— Com o quê?
— Com a minha vida, obviamente.
Ele me olha, virando a cabeça só um pouco. Nós nos encaramos por um
tempo, então o céu faz um barulho tão alto que sinto o chão tremer sob meus
pés.
Dou um grito, instintivamente correndo para o sofá e, de uma forma
muito rápida, Luke se senta e eu me encolho ao lado dele, juntando as pernas
e os braços, suada de medo.
— Você é uma medrosa. Está sob um teto.
Eu o olho, cabisbaixa. Sou medrosa mesmo.
— Além do mais, está comigo — um sorrisinho brinca no canto dos
seus lábios e ele põe um braço por trás de mim, nas costas do sofá. — Eu vou
ter coragem por nós dois, se sente melhor assim?
Outro trovão, me fazendo tremer.
— Não devia chover tanto… — murmuro, agoniada.
— Fala sério. Só estão caindo umas gotinhas e fazendo uns barulhinhos.
Eu o olho, absorta.
— Você não pode estar falando sério.
— Por que o medo? — ele ri quando outro trovão faz um barulho
altíssimo e resmungo, fechando bem os olhos e me encolhendo mais ainda.
Fico inteiramente tensa quando sinto o calor me envolver. Eu me
lembro. São os braços do Luke. Claro, porque são incomparáveis.
— Para de tremer — pede. — Está me deixando nervoso já.
— Eu não consigo parar de tremer com tantos relâmpagos e trovões —
respondo, imóvel. É muito esquisito mesmo, mas agradeço por ele estar
sendo um pouco prestativo. Eu estou mesmo assustada.
— Essas coisas são naturais — fala baixinho, eu apertando os olhos
ainda mais firmemente. Meu ar todo some quando sinto os seus dedos
chegarem aos meus cabelos e se infiltrarem por meu couro cabeludo, uma
massagem relaxante sendo muitíssimo bem-vinda. — Logo passa. Está tudo
bem. Eu estou aqui com você e não precisa ter medo.
Suspiro calmamente, o toque me relaxando de uma forma consequente e
inesperada para mim; e, antes que eu me dê conta, estou ficando muito mole
e leve.
Luke agarra uma quantidade de cabelos pequena e faz mais pressão,
com certa força, puxando de um jeito que me arranca um suspiro longo,
minha cabeça inclinando para trás e meus lábios entreabrindo-se.
— Melhor?
Eu ofego com a pergunta feita bem perto da minha boca, todo o ar
quente da dele passando para a minha, e abro os olhos; prendendo a
respiração ao vê-lo tão perto, me olhando de cima. Muito perto...
— Você está muito maravilhosa desse jeito, vulnerável — fala, um tom
tão grave que eu quero derreter onde estou. — Você é maravilhosa.
Tento dizer algo, mas estou com os lábios secos e pesados. Ressecados.
Não consigo me pronunciar e ao menos colocar a língua para fora e umedecê-
los. O que é isso?
Luke pressiona novamente meu cabelo, a sensação me enviando um
choque em ondas por todo corpo e eu suspiro onde estou, anestesiada.
A mão livre se ergue em direção ao meu rosto e eu prendo a respiração
quando ele esfrega meu lábio inferior com o polegar, em uma carícia leve e
decidida.
Estou perdidamente desorientada.
— Você tem uns lábios macios. Quero sentir nos meus — sussurra e eu
estremeço.
Abro mais a boca, para falar algo, mas estou perdida em sensações e
nesse momento descabido de lógica e sentido.
Luke inclina a cabeça em minha direção, eu soltando o ar, sabendo que
estou em uma situação sem volta e, quando sua boca se choca na minha com
uma vontade absurda, quase choro.
Ele respira fundo, me fazendo sentir o corpo aquecer, sua mão em meus
cabelos me fazendo erguer mais os lábios quando puxa um pouco minha
cabeça para trás, uma sensação deliciosa.
O frio se foi e estou imediatamente febril. Quase podendo suar de calor.
Os lábios dele parecem em um desespero quando puxam os meus,
exigindo que eu faça o mesmo; e eu faço.
Luke tem um gosto muito bom. É algo fresco misturado a doce. Muito
bom mesmo. Os lábios são firmes, se tornando suaves quando suspira.
Nós estamos suspirando. Na boca um do outro. Sua mão me mantém
com a cabeça parada, somente entendendo os movimentos impetuosos e sem
ritmo do seu beijo. Ele está quase como se estivesse com sede, mas eu não
preocupo muito com isso, só em tentar corresponder. Não é tão agradável
dizer que meu primeiro beijo foi aos dezesseis e eu mal me lembro o que se
faz.
Porque, claro, beijar Luke não tem comparação. Ele sabe beijar. Ou eu
acho que sabe.
Grito quando ele afasta um pouco, só para morder meu lábio inferior,
me deixando trêmula, então puxa meu cabelo para trás, seus dentes indo para
meu pescoço, onde começo a receber mordidinhas. Minha nossa…
— Você é muito macia. Estou me controlando para não arrancar esse
seu pijama ridículo.
Abro os olhos, ofegante, rogando aos céus que eu mantenha minha
mente centrada em meio à tortura cerebral e corporal.
— Você também quer? — ele afasta a cabeça para me olhar. — Quer
que eu te beije inteirinha?
Arregalo os olhos, a boca aberta, sem conseguir emitir nada. Eu quero e
a verdade me deixa horrorizada.
— Fala que você quer e eu faço isso — seus dedos acariciam o canto da
minha boca. Engulo em seco, desnorteada e ofegante.
Balanço a cabeça, incapaz de elaborar uma resposta audível.
— É um sim? — pergunta. — Você está me dizendo sim?
Novamente balanço a cabeça, negando mais firmemente.
Eu não posso. Nunca.
Empurro seus ombros, vacilante demais, me levantando toda bamba e
quente, voltando ao meu quarto de um jeito automático e surpreendente.
Tranco a porta rapidamente com os dedos trêmulos e corro para a cama.
Um trovão me traz de volta e levo a mão ao peito, sentindo o coração
martelar.
Oh, minha nossa…
Escondo o rosto entre as mãos, agoniada porque, sim, eu queria muito
que Luke me beijasse inteirinha.
— Que droga — lamento falha, sozinha e quente.
Eu não vou ser mais uma mãe minha no mundo.
Capítulo 17

Já estou vestido, sentado no sofá e esperando impacientemente Isabelle


aparecer. Já são seis e cinco. Estamos atrasados. Eu estou atrasado.
Corporalmente falando também. Nem os três banhos congelantes que
tomei ao longo da madrugada foram suficientes para me esfriar.
Estou quente e mal posso suportar me lembrar do beijo quente de poucas
horas atrás. Estava perfeito. Ela estava toda entregue. Por que disse não? Ela
me queria que eu sei. Eu senti.
Me levanto, evitando puxar os cabelos e enfio as mãos nos bolsos da
calça, começando a andar de um lado para o outro.
O barulho da porta chama minha atenção para o corredor, então Isabelle
aparece instantes depois, usando um vestido branco e sapatilhas pretas. Meus
olhos passeiam pelo corpo curvilíneo, inevitavelmente.
— Ahn... — ela pigarreia.
— Você está cinco minutos atrasada — olho em seu rosto, deixando
claro a minha decepção por sua atitude. — Vamos logo.
Me viro e saio na frente, o sol da manhã abafada me deixando aflito.
Tinha que estar desabando o céu ainda, para ela se aninhar de novo nos meus
braços e derreter os lábios nos meus como antes. Não precisava ser tudo tão
difícil.
Entro no carro, Isabelle também entrando ao lado, colocando o cinto e
ajeitando os cabelos, pigarreando.
Eu ignoro — ou pelo menos tento ignorar — seu cheiro suave e doce. É
algum perfume inebriante e sexy, exatamente como a pele macia do pescoço
dela.
Levo a mão à chave e ligo o carro, nos levando embora.
— Estranho como a chuva acabou rápido, não é? — Está nitidamente
tentando puxar assunto não estou conseguindo pensar.
Não é uma reclamação. Eu sou um homem muito controlado. Sou ciente
do meu corpo e dos meus movimentos. Sei respeitar limites. Eu aprendi isso
no exército. Autocontrole, claro que sim. Tenho muito.
Mas, não agora. Não quando fui explicitamente rejeitado sem qualquer
motivo aparente. Eu não ia tê-la totalmente, seria só um pouco de calor
mútuo.
— Eu acho que vai voltar a chover… — ela torna a falar. — Quando
fica assim…
— Fique quieta. Eu não estou a fim de conversar.
Isabelle tosse, então resmunga.
Eu a olho rapidamente, vendo-a com a mão no peito.
— O que foi?
Ela me olha, vermelha.
— Você é louco? — tosse mais. — Acabou de relinchar que não quer
conversar e…
— Eu não estou querendo conversar, mas perguntei por que você parece
com dor — interrompo-a, voltando a olhar a pista.
Aumento a velocidade, querendo ocupar o mais rápido possível minha
mente com o trabalho. Isso serve. Tem que servir.
Talvez sejam os longos três meses sem ninguém, mas estou quase
delirando só de lembrar o calor que Isabelle me trouxe. Ela é perfeita e tem
um beijo moldado para mim. Os lábios dela se encaixam perfeitamente nos
meus. O que dirá nós…
— Eu vou ter que voltar àquela loja? — questiona meio engasgada.
Bato no volante, o som da sua voz me fazendo lembrar os suspiros
baixos e entrecortados que ela estava dando mais cedo. Eram para mim. Por
mim. E por minha causa.
— Você vai fazer o que eu mandar fazer — respondo.
— Eu sei disso! — ela grita, esganiçada. Sua voz está muito estranha. —
Por isso que estou te perguntando, droga! Por que você tem que fazer tudo ser
mais difícil?
— Eu estou fazendo tudo ser mais difícil, Isabelle? — a olho, perplexo.
— Eu? Foi você que me deixou sozinho pela madrugada! Você!
Ela arregala os olhos e então balança a cabeça de forma frenética.
— Como você pode… Isso? — questiona, falando baixo e de um jeito
rouco. Suas mãos avançam para a garganta e ela parece desesperada. —
Luke… — É o meu nome, em uma súplica. — Minha voz…
— Fresca — resmungo e volto os olhos à pista, ignorando-a como
posso.
Me sinto mal pela forma que estou falando, mas não posso me conter.
Não há algo mais doloroso do que ser negado em um bom momento tão
bom… Tão quente… Tão prazeroso… Foi, sim. Negado. Droga.
Isabelle se cala completamente e agradeço aos céus por isso, nos
levando o mais rápido que posso para algo que vai tirar nossa atenção um do
outro.
Grande idiota eu sou, como se atenção dela estivesse em mim.

***

Termino de conferir a última demanda do mês, então me levanto para


também ir almoçar.
Isabelle foi há uma meia hora. Eu disse que ela poderia ir, mas isso só
porque me lembrei que ela não comeu nada desde a manhã. Ainda preciso
aprender que nem todo mundo é como eu, que aguento e não sinto problema
em ficar muitas horas sem comer. É tranquilo.
O clima entre nós está mais que estranho. Muito mais que estranho.
Saio para o elevador, dando um aceno para minha secretária, que está
atendendo alguém ao telefone.
Espero paciente até ser deixado no andar do refeitório. Não venho aqui,
mas não vou perder o meu tempo indo a outro lugar. Posso comer a comida
que estou pagando para ser feita.
Muitos olhares se voltam para mim quando começo a atravessar o
refeitório, mas eu não ligo. Eu sou o chefe agora e sou ciente que muitas
pessoas não gostam de mim.
Como se já tivessem gostado do meu pai um dia…
Respiro fundo e caminho até o balcão de atendimento, uma senhora
vindo me atender com um sorriso.
Peço o almoço normal, do cardápio já elaborado e me recosto no balcão,
enquanto ela sai para buscar.
Meus olhos serpenteiam pela multidão, eu vendo muitos olhares em
minha direção, mas algo em particular chama minha atenção.
É a Isabelle. Ela está gargalhando.
Estranho a imagem. Por que ela está gargalhando?
Meu olhar se atrai à sua frente, onde vejo um cara. Ele está com um
caderno, mostrando algo escrito na folha.
Ele também ri e vejo-a também erguer um caderno, com algo escrito.
Eles estão conversando por caderno? Por quê?
Isabelle balança a cabeça em negativa e o cara se finge triste, logo
escrevendo outra coisa e levantando, tornando a rir.
Não gosto nenhum pouco e, sem nem perceber, logo estou caminhando
em direção à cena. O cara ergue o olhar primeiro, me notando; e ela, logo em
seguida.
— Que merda é essa? — questiono de uma forma automática e, quando
Isabelle me encara, com a boca aberta, sei que falei a coisa errada.
Capítulo 18

Meus olhos se arregalam de uma forma imediata quando Luke


praticamente berra a pergunta indecorosa no meio da sala. Estou absorta.
— Boa tarde — Lian fala. — Nós estamos almoçando.
Luke o olha, parecendo nenhum pouco contente.
— Para você, o tratamento é Sr. Mackenzie — resmunga.— E vocês não
estão almoçando, estão de palhaçada, como dois idiotas — me olha. — Não
te liberei para vir brincar e sim para se alimentar.
Abro a boca, já gritando, mas nada sai. Nadinha. Somente uns ruídos
esganiçados.
— Ela está sem fala por causa do resfriado — Lian explica, novamente
atraindo a atenção de Luke para si.
— Eu te perguntei alguma coisa? Nem ao menos falei com você.
— Só estou dizendo porque parece que você espera que ela vá te
responder.
Ele grunhe alguma coisa e me olha.
— Você vem comigo — declara.
Eu me levanto, incapaz de acreditar no que ouvi, e começo a falar "não"
de uma forma frenética, nada além de ruídos saindo, já me deixando
agoniada.
Luke ri, então segura minha mão, pegando minha bolsa de cima da
mesa.
— Eu te pago para trabalhar, não para ficar de gracinha com as
funcionárias — rosna para Lian, que parece não gostar da advertência, já que
se levanta e fica quase a mesma altura dele, olhando-o com um sorriso
sarcástico.
— Não me leve a mal, mas estou no meu horário de almoço — aponta o
prato —, almoçando, como pode ver.
— Não te perguntei, te dei um aviso — ele me olha e começa a andar,
eu indo junto, sem muita alternativa já que ele tem minha bolsa e estou sem
voz.
Logo estamos no elevador e eu respiro de forma dificultosa, tamanha a
raiva que estou. Estava sendo um bom momento. Lian estava me divertindo.
— Eu não entendo, sinceramente — Luke bufa quando as portas se
fecham. — Quem é aquele cara? — me olha.
Balanço a cabeça, querendo berrar. Quase quero chorar também.
— Não quero nem saber, na verdade — se auto responde.
Ele solta um suspiro profundo e em alguns segundos estamos de volta à
sua sala de recepção, a secretária nos olhando com as sobrancelhas erguidas.
Luke não fala nada, apenas me leva consigo para seu escritório. Ele solta
minha mão, só para trancar a porta e eu praticamente corro em direção ao
sofá, desentendida e triste.
O que ele fez?
Depois de ficar um tempo parado onde está, começa a caminhar em
minha direção. Estou com muita raiva. Muita mesmo. Posso quase me sentir
tremendo.
Abro a boca e o xingo, mas minha garganta só arde e nada sai. Nada
mesmo.
Ele se abaixa à minha frente, para meu grande espanto e surpresa, então
suas mãos avançam para meu rosto em um gesto rápido e ele começa a
acariciar minhas bochechas.
— Por que não esperou para almoçar comigo? — pergunta.
Eu fico toda tensa, desentendida e completamente desconfortável. Ele
foi de uma mudança abrupta em apenas segundos.
— Tudo bem, olha só… Isso não fez qualquer sentido. Eu vou tentar
recolocar a minha frase. Penso que você poderia ter deixado para almoçar
comigo porque nós poderíamos ter conversado sobre o trabalho.
Abro a boca, querendo muito dizer o quanto tudo está parecendo
ridículo. Ele é ridículo.
Luke estreita os olhos.
— Você não está podendo falar? O que houve?
Balanço a cabeça, quase sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos.
Como assim o que houve? Ele sabe e Lian disse!
— Espera, era por isso que você estava escrevendo? — ele ergue as
sobrancelhas. — Entendi. Quer um papel? Vou pegar.
Luke levanta, me deixando muito desentendida, indo até a mesa e
pegando uma agenda com uma caneta, voltando para perto de mim. Dessa
vez se senta ao meu lado no sofá.
Aceito o papel e a caneta.
— Escreva o que está tentando dizer — pede.
Escrevo rapidamente, não permitindo que ele veja até eu acabar.
— "Você é um tremendo idiota" — ele lê em voz alta, então dá risada e
me olha. — Só isso?
Resmungo e viro a folha, escrevendo em outra e mostrando novamente.
— "Estou querendo te bater com toda minha força" — um sorriso chega
aos seus lábios e ele ergue as sobrancelhas. — Isso é muito cruel, não acha?
Nego.
— Tudo bem. Do que você estava gargalhando e quem era aquele cara?
— pergunta e estou desacreditada, mas viro a folha para responder.
Luke aguarda, batendo os sapatos de couro no chão, em um barulho
abafado.
Viro a agenda para ele.
— "Aquele é Lian, um novo amigo. Ele me comprou remédio quando
percebeu que eu estava resfriada e sem voz. Você estragou nosso almoço" —
me olha, parecendo incrédulo. — Eu estraguei o almoço? Fala sério! Só te
impedi de ficar de palhaçada no ambiente de trabalho.
Quero gritar, mas não posso então só solto um suspiro frustrado e volto
a escrever.
— "Não entendo o que fez" — lê e me olha, apertando os lábios e,
quando desvia um pouco o olhar, quase acho que está envergonhado. —
Desculpa, eu acho. Não sei, fiquei irritado com aquela palhaçada. Janta
comigo no sábado?
Eu quase fico muito absurdamente assustada com a pergunta.
— Nada a ver com trabalho — pondera. — Uma coisa para ser
divertida. Sabe, como na pizza.
Viro a folha de novo, depois de me recuperar do pequeno espanto e
escrevo um não em letras grandes mostrando para ele em seguida,
balançando a cabeça juntamente para firmar minha resposta e dar ênfase.
Luke sorri e assente.
— Está certo — murmura e se levanta. — Vou demorar meia hora e,
quando voltar, quero que você tenha arrumado minha mesa.
Ele sai, me deixando triste para trás. Não por ele, não pelo que disse,
mas porque eu tive que deixar Lian justamente no momento que estávamos
marcando o local de jantar no sábado.
Capítulo 19

Não fui almoçar, fui à academia e malhei quarenta minutos sem parar,
usando os ferros mais pesados que consegui. Depois, passei na lanchonete e
comi um sanduíche enorme com muita proteína, tomei banho e só então estou
voltando à minha sala.
Vai entender. Ainda estou com um enorme calor. Desde a noite anterior.
Isso não me estava sendo um problema até então, até porque eu não toquei
em um corpo feminino moldado, quente e perfeito. Que grande merda. Eu ao
menos estava mais focando nisso.
Caminho de volta ao meu escritório, ciente de que talvez eu encontre
uma garota muito irritada e pronta para me xingar por uma folha de papel;
mas, quando entro e passo o olhar em volta, sou imediatamente atraído para o
sofá, onde Isabelle está deitada, encolhida, abraçando o próprio corpo e
chorando.
Droga!
— Isabelle? — Meus passos me levam até ela, eu me abaixando junto ao
sofá. — O que foi?
Ela abre os olhos e minha preocupação aumenta quando seu olhar
encontra o meu. Ela está com medo e tremendo. É nítido.
Ergo as mãos e levo ao seu rosto, um murmúrio me escapando ao senti-
la quente como fogo.
— Você está ardendo em febre — resmungo e logo me levanto de novo,
envolvendo-a em meus braços e caminhando de volta por onde acabei de
passar.
Isabelle me abraça com força e eu fico imediatamente muito
desesperado.
Ela está com medo e é tudo que se repete em minha mente.
— Não vou voltar pelo resto do dia — informo à minha secretária, então
entro no elevador e nos levo para o hall, eu passando pelas pessoas e não me
importando que todas olhem para mim. Para nós.
Isabelle me aperta de novo e eu atravesso a rua, rapidamente dando um
jeito de abrir o carro e colocá-la dentro. Também entro e me inclino para
colocar seu cinto, e o meu próprio, ligando o automóvel e nos levando para a
clínica mais próxima.
Ela está com medo e você não faz nada, a frase me dita antes, há uns
anos, me deixando angustiado.
Ela estava com medo e eu não fiz nada.
Nada.
Dirijo o mais rápido que consigo, tentando tirar as palavras da mente,
mas, se anos não foram capazes de fazer isso, não é um minuto que vai ser.

***

Isabelle está deitada em minha cama agora, adormecida. Ela está com
muita febre, de acordo com o médico, trinta e oito graus. Foi ruim demais vê-
la trêmula enquanto era medicada, então eu me aproximei e fiquei perto dela,
tentando me desculpar. A culpa foi minha e só na hora me dei conta disso.
Suspiro e me sento na borda do colchão, levando as mãos ao rosto e
esfregando. Estou aflito. Tudo nunca parece dar certo para mim.
Viro a cabeça quando sinto o movimento do colchão e logo vejo Isabelle
abrir os olhos lentamente, os lábios secos. Ela os umedece e pisca algumas
vezes, me focando.
Ergo a mão, de um modo muito automático e ponho sobre suas pernas,
que estão cobertas pelos lençóis.
— Se sente melhor? — pergunto muito culpado.
Ela balança a cabeça afirmando e um suspiro abafado.
Me levanto e pego uma caneta e um caderno na minha prateleira, então
coloco ao seu lado, ela olhando os objetos de forma preguiçosa e voltando os
olhos para mim em seguida.
Não tem forças, é o que está me dizendo.
Eu suspiro longamente, voltando a sentar ao seu lado.
— Desculpa, Isabelle — lamento. — Não pensei que… Quer dizer, eu
não me preocupei se você poderia ficar doente. Fui um insensível e idiota.
Peço desculpas.
Ela olha para baixo, quase com muito trabalho. Sua respiração funda
também parece muito difícil para o corpo pequeno.
— Eu vou buscar algo quente para você beber — aviso. — Já volto.
E eu saio, me sentindo, pela segunda vez, culpado por conta do
sofrimento de outra mulher. Talvez seja assim. Talvez eu não possa estar
querendo muito a companhia de alguém.
Sempre acaba péssimo. Eu sempre estrago de alguma forma.
A culpa sempre é minha.
Como nunca parou de ser…
Capítulo 20

Estou me sentindo toda quebrada e dolorida. Quente, de um jeito


péssimo, e mal consigo lamber os lábios ressecados, devido a dificuldade de
se formar saliva em minha boca e eu poder controlar o nível, por causa da
garganta inflamada. Estou horrível, péssima, desgastada.
Foi tão repentina a situação. Eu estava limpando a mesa e comecei a
ficar trêmula, mal conseguindo me manter em pé. Fui correndo para o sofá e
então só piorou com o passar dos minutos.
Respiro fundo ao ver Luke voltar ao quarto. O desgraçado tem uma
bandeja prateada em mãos e está um pouco bagunçado.
— Você gosta de chocolate, não é? — questiona. — Eu demorei um
pouco porque fui comprar o leite. Consegue se sentar?
Eu o olho de baixo, seu olhar amendoado triste em minha direção me
deixando desconfortável enquanto ele faz o barulhinho com a boca. Me
esforço um pouco e me sento, quase ainda deitada.
Luke põe a bandeja na cama e agarra a xícara, me entregando.
— O médico disse que você precisa de banho. Eu vou arrumar a
banheira. Você ainda está com medo?
Balanço a cabeça em negativa, não entendendo porque ele está tentando
parecer caridoso. A culpa é dele por eu estar assim.
— Eu vou ligar a TV depois e podemos ver um filme juntos, o que
acha?
Digo não com a cabeça novamente. Ele só pode estar louco.
Luke suspira e levanta-se, indo para uma porta e começando a remexer
em algo lá dentro.
Bebo o chocolate, cada gole demorando um minuto para conseguir seu
caminho, tudo parecendo doer muito.
Suspiro, gemo, lamento…
Olho as janelas, os chuviscos recomeçando a bater nos vidros. Reclamo.
Ainda não é noite e eu não sei como vou ir para casa desse jeito. Mal consigo
me mexer.
Ele retorna, agora sem a camisa, somente a calça preta e os cabelos
desarrumados. Parece triste.
Caminhando até mim, ele pega a xícara de minhas mãos e põe na
bandeja, colocando-a sobre o criado-mudo. Sua mão volta à minha testa e ele
faz uma careta. Sim, eu estou queimando. Posso sentir quase a fumaça exalar
da minha boca.
— Pior que voltou a chover — ele fala e puxa os lençóis de cima de
mim. Quero falar que não faça tal coisa, mas estou incapaz de comandar
meus próprios movimentos ou gestos. Estou inútil, no momento. — Vamos
tomar banho.
Vamos tomar banho? O que isso quer dizer?
Fico tensa totalmente quando ele me pega nos braços e me carrega para
o banheiro, eu vendo a banheira redonda cheia. Não é exatamente um
banheiro, é a minha casa dentro do cômodo. Que desperdício.
Luke me senta na beirada, onde há um assento de madeira junto, então
tira meus cabelos do rosto e começa a juntá-los, tentando prender com os
próprios fios.
— Seu cabelo é muito liso. Espera — ele caminha até as bancadas que
ficam embaixo da parede espelhada, procurando algo e voltando para perto
de mim rapidamente. Vejo uma liga em sua mão. — Não se preocupe, eu não
vou apertar muito para não danificar seu cabelo.
Eu quero rir, mas não posso, então só rio na cabeça.
Depois de prender meu cabelo, ele começa a procurar o zíper do meu
vestido, que está nas costas. É ultramente, inominavelmente, constrangedor;
mas, tanto faz, ele me viu pelada mesmo e já me beijou. Posso lidar com isso.
Ele pode lidar com isso.
O gelado do banheiro entra em contato com a minha pele quente sendo
exposta e eu gemo, um som ridículo.
— Sinto muito — Luke suspira. Eu o olho, querendo mesmo perguntar
se ele tem algum problema, mas recordo que passou um tempo em um
quartel, não pode ser totalmente normal.
Com um pouco de dificuldade e mais tempo que deveria, ele consegue
me deixar livre da peça.
Suspiro, o movimento tendo me deixado muito cansada e eu olho-o.
Ele está em um aparente momento de transe, olhando meu sutiã, mas
estou incapaz de perceber a gravidade da situação devido meu estado péssimo
de saúde.
— Certo — pigarreia. — Eu vou… Terminar de tirar suas roupas — me
olha.
Não digo nada. Que mais opções eu tenho?
Luke abaixa sobre os próprios pés e leva as mãos às minhas costas,
desatando o fecho do meu sutiã e logo puxando a peça pelos braços.
Seu olhar se direciona inteira e diretamente para os meus seios e eu
quero abrir um buraco para me enfiar, mas mal estou conseguindo respirar.
— Ahn... — ele está com a voz baixíssima. — Tudo bem. Vou terminar.
Balanço a cabeça, o gesto sendo pesaroso e Luke agarra as bordas da
minha calcinha e começa a puxá-la, tendo mais dificuldade por eu estar
sentada.
Quando a peça passa pelos meus pés, ele fica um tempo olhando para o
chão, antes de enfim balançar a cabeça e se levantar rapidamente, mirando o
meu rosto.
— Vou colocar você na água — informa e se inclina, me pegando nos
braços mais uma vez.
Eu grito, um grito horrível e esganiçado, não saindo mais que ruídos
quando minha pele encosta na água, eu agarrando Luke por impulso.
Está congelando!
Ele dá uma risadinha.
— Precisa ser gelada — explica e me senta de uma vez. Arregalo os
olhos, começando a me tremer. Ai, céus…
Ele senta onde eu estava e passa algo nas mãos, então se inclina e
começa a passar em meus ombros, braços e descer até as pernas. São toques
rápidos, firmes e cientes do que estão fazendo.
Meus dentes começam a bater uns nos outros enquanto eu me tremo.
— Nós vamos esquentar você rapidamente — garante, me olhando.
Me envolvo com meus próprios braços, buscando desesperadamente
algum calor.
Luke passa água no meu rosto, seu toque sendo leve e suave, e eu gosto.
Suas mãos passam em meus braços novamente e ele respira fundo,
levantando em seguida e pegando uma toalha na prateleira.
— Consegue ficar em pé? — questiona.
Com o triplo do tempo, uma dificuldade absurda, visto que minhas
forças pareceram esvair, eu me apoio na borda da banheira e me coloco de pé.
Ele fica parado, olhando nítida e descaradamente para todo o meu corpo,
o que poderia me deixar querendo desmaiar de vergonha, mas tudo que quero
de verdade é me aquecer.
— Eu… — sussurra e eu quase me desequilibro, mas Luke rapidamente
se aproxima e envolve a toalha em meu corpo, me pegando no colo com mais
rapidez ainda, me levando de volta ao quarto, para a cama.
Sou colocada na borda e ele puxa a toalha, respirando como um cão
desidratado enquanto seca o meu corpo de forma muito ágil, quase
desesperada.
Ele sai andando e vai para a outra porta, se perdendo dentro dela e
retornando em minutos com um moletom e uma calça escura.
Luke se abaixa à minha frente, segurando cada pé meu para colocar
dentro da calça e então subi-la por minhas pernas, me vestindo de forma
rápida.
— Levante os braços — pede e pega o casaco, passando as mangas e
terminando de me vestir. — Se sente melhor? — me olha e leva as mãos aos
meus cabelos, soltando-os.
Suspiro, acenando que sim.
Ele sorri, estranhamente de uma forma muito doce, então me ajuda a
deitar e me cobre com o edredom.
— Já venho — avisa e deixa uma carícia em meu rosto, saindo para o
banheiro novamente.
Fecho meus olhos, quase não entendendo realmente o que está
acontecendo, mas totalmente ciente de que tudo foi estranho.
Estranho e um pouco mais.
Capítulo 21

Acordo estranhamente confortável e quente. Está quente mesmo. De um


jeito bom. Eu estou confortável. Gosto muito da sensação, então sorrio e
respiro fundo, buscando mais dela enquanto me encolho um pouco mais.
— Melhor?
Eu estremeço com a pergunta feita junto à minha orelha e meus olhos se
arregalam, eu me dando conta de que estou sendo circundada por braços
grandes. Os braços do Luke.
Ai, caramba…
Fico imóvel, sem saber como processar a situação. Já não bastou ser
ultramente constrangedor tudo que já tive que passar na presença dele, ainda
tem mais essa.
— Você esfriou um pouco mais durante a madrugada — ele murmura,
sua voz quase abafada em meus cabelos.
Madrugada!?
Me viro abruptamente, Luke tendo que se afastar um pouco, mas me
arrependo imediatamente.
Oh, droga… Ele está tão… Gostoso, somente com um short vermelho e
os cabelos desarrumados, a barba o deixando mais quente do que estou. Ah,
meu Deus…
Tento falar, mas não consigo.
Ele senta, passando as mãos no rosto. Eu fico com a boca aberta, o
olhando, pasma.
Por que ele está aparentemente tão bonito? Mais ainda.
— Eu dei seu endereço ao Brandon e pedi que ele avisasse para sua avó
que você dormiria na minha casa, por conta de um imprevisto. Não falei que
está doente, para não preocupá-la — ele avisa. — Está melhor?
Me sento, gesticulando e querendo falar.
Ele sorri e se levanta, indo até o outro lado e pegando o caderno e a
caneta, os trazendo para mim e colocando em minhas pernas.
Eu abro e escrevo, feliz por estar sentindo meu corpo de novo. Ainda
estou um pouco com a sensação de estar quebrada, mas muito melhor.
Ergo a folha para Luke ler.
— "Quantas horas se passaram?" — me olha. — Umas seis ou sete.
Balanço a cabeça e volto a escrever, mostrando de novo.
— "Sinto como se tivesse sido atropelada por um trator" — ele ri,
gesticulando. — Logo você melhora. Eu coloquei o remédio que o médico
passou no seu chocolate. Parece que não perdeu o efeito.
Ergo as sobrancelhas surpresa, virando a folha e escrevendo novamente.
— "Você vai me levar embora?" — Luke sorri. — Não hoje. Pensei que,
como esse clima está meio estranho aqui, eu acho que posso... — desvia um
pouco o olhar. — Eu tenho um lugar que provavelmente está mais quente.
Meus olhos se arregalam, em mais uma surpresa.
— Um lugar… — gesticula. — Sabe, é da minha família, mas raramente
alguém vai lá. Quero dizer… O que estou dizendo é que o clima lá deve estar
muito melhor do que aqui. Mais quente, entende? Vai te ajudar a melhorar.
Balanço a cabeça, confusa.
— Eu posso te levar lá. Podemos ir até agora — agora ele quase parece
apressado. — É uma casa muito legal e, além do mais, vai servir também
para eu matar um pouco da saudade… Que estou de lá.
Agarro a caneta mais firmemente e volto a escrever, levantando a folha
em seguida .
— "Por que eu aceitaria isso?". — Luke sorri, quase parecendo
acanhado, então leva uma das mãos para trás do pescoço e aperta. — Ah, eu
não sei... Talvez porque você queira melhorar rapidamente… Além do quê,
vai ser bem legal. Lá é uma casa bem confortável.
Ele me olha um pouco, fazendo o barulhinho com a boca. Parece quase
nervoso de um jeito agoniado.
É algo muito louco estar com o Luke, é só o que posso concluir. Ele
nunca parece a mesma pessoa, o que chega a ser perturbador.
— "Não entendo você" — é o que escrevo e ele lê. — Você não é a
única — dá uma risadinha. — O que me diz? Eu te prometo que vai ser muito
legal. Vou fazer ser. Vou me esforçar para ser.
Minha boca se abre e logo se fecha. E se abre de novo.
Luke levanta e bagunça os cabelos, minha atenção sendo chamada para
o corpo aparentemente esculpido por algum escultor. O homem é lindo e não
há qualquer dúvida. Parece tão…
— O que você está olhando? — pergunta, a voz alguns tons mais baixo
e me sinto imediatamente ruborizar.
Estou admirando seu belo corpo moreno e suculento, tenho vontade de
dizer; mas, somente levanto os olhos para os dele e o vejo sorrir.
E que sorriso…
Como um escape, balanço a cabeça, dizendo sim veemente.
— Está dizendo sim? — ele questiona. — Está dizendo que quer ir?
Assinto novamente. Mais firmemente. Tudo para que disperse sua
atenção por eu ter estado observando seu tanquinho.
— Ótimo — sorri. — Eu vou ligar para o piloto.
Ele sai quase correndo e eu fecho a boca, recapitulando o que acabei de
concordar.
Ir para algum lugar quente, mais quente, com Luke, que também é
quente. E estou quente. Vai ser muita quentura e isso não me parece certo.
Nenhum pouco certo.
Capítulo 22

Eu estou louco.
Louco a um nível que eu não posso descrever. Isabelle está ao meu lado,
segurando minha mão. Na verdade, ela está desde o início do voo e agora
estamos aterrissando, o sol começando a nascer.
É loucura. Muita loucura… Eu estou louco por ela.
Quando o helicóptero pousa, rapidamente trato de separar nossas mãos e
tirar os nossos cintos, abrindo a porta ao meu lado e jogando a mala pequena
que trouxe ao lado de fora, descendo em seguida. Estendo os braços, para
segurar Isabelle, ajudando-a descer.
Vou rapidamente até à frente e faço um gesto para o piloto, o liberando.
Volto e seguro a mão dela, que parece incrivelmente atraente dentro da minha
roupa. Minha roupa.
Ficou tão…
Agarro a alça da mala e tiro do chão.
— Venha, por aqui — começo a caminhar em direção a casa no centro
da praia.
Isabelle parece um pouco hesitante e eu a olho.
— Tudo bem — a tranquilizo, sem parar os passos. — Essa casa foi o
meu pai que comprou quando tinha mais ou menos minha idade. Foi para
minha vó, que estava um pouco entediada. Acabou que se tornou uma casa de
férias nossa quando minha irmã e eu éramos pequenos. Agora, quase nunca é
usada já que meu pai está ansioso viajando o mundo com minha mãe.
Isabelle sorri lindamente para mim e eu sorrio de volta. Ela é tão bonita.
Angelical. Eu quero beijar cada pedacinho dela e isso é muito insano.
Suspiro e logo estamos subindo os degraus que levam à varanda, eu
colocando a mala no chão e vasculhando o bolso do short em busca da chave.
Abro a porta, entrando no hall de recepção.
Dou um sorriso, gostando de todas as lembranças que me invadem.
Recordações boas. De felicidade, alegria, amor… Minha família.
Olho para Isabelle, que parece muito impressionada enquanto sua boca
faz um O e ela olha em volta.
— Esse é o hall de entrada — solto sua mão, voltando para porta e
pegando a mala para colocar dentro de casa. Vou em direção à escada, que
leva ao piso superior. — Nós podemos andar um pouco na areia mais tarde,
se você quiser.
Ela me olha, parece mesmo muito impressionada.
— Vamos lá em cima. Eu vou te mostrar como é — chamo-a e vou subir
os degraus, sentindo Isabelle me seguir.
Ela demora um pouco mais que eu para chegar, mas consegue e eu fico
feliz que esteja melhor. O clima da Carolina do Norte não é tão quente, mas
no momento está melhor que o de Nova York.
Eu sigo pelo corredor do andar de cima, até o meu quarto que é um dos
quatro da casa.
Abro a porta e entro, vendo tudo bem arrumado. Faz muito tempo que
não venho aqui e logo estou caminhando em direção à minha cama, sentando
em cima e sorrindo.
Isabelle fica parada na porta, parecendo indecisa se entra ou não. Meus
olhos a percorrem de cima a baixo, parecendo que consigo vê-la sem as
minhas roupas. Eu já vi e é uma visão indescritível, sem qualquer sombra de
dúvidas.
— Pode entrar — digo, gesticulando. — Este é o meu quarto.
Ela hesita, mas, depois de longos segundos, suspira e entra. Parece
incerta do que fazer, então eu me levanto e caminho até ela.
Seu olhar se ergue para mim, os lábios bonitos se entreabrindo e
parecendo muito convidativos.
— Aqui é bem mais quente, não é? — pergunto, minha mão se erguendo
e meus dedos percorrendo a pele macia de seu rosto. — Você vai ficar boa
rapidinho.
Isabelle dá um passo para trás, vacilante, mas eu rapidamente circundo
sua cintura com os braços e a puxo para mim, nossos corpos se chocando de
um jeito que me deixa muito mais louco. Muito, muito mais.
Ela abre a boca e solta um suspiro contido, fazendo com que eu
responda inclinando minha cabeça e levando meus lábios ao seu pescoço,
onde imediatamente sou tentado a beijar e mordiscar; porque é impossível
sentir o cheiro da pele dela e não querer se perder.
Isabelle leva as mãos aos meus braços e aperta com força, as unhas
quase perfurando minha pele e isso só me deixa mais ligado, eu puxando-a
mais juntamente ao meu corpo.
Mexo as mãos, uma subindo até estar por entre os cabelos macios e a
outra por dentro do casaco, onde eu sinto a pele macia e quente,
aparentemente perfeita. É perfeito.
Ela completamente amolece em meus braços, meu corpo a amparando
de forma tão natural que eu perco a noção e ergo a cabeça, dessa vez
chocando nossos lábios.
Isabelle suspira alto com o contato, eu também; nossos suspiros se
misturando e sendo os únicos barulhos sendo ouvidos.
Meus dedos apertam os fios de seu cabelo, minha mão em sua cintura a
pressionando mais contra mim.
— Luke… — ela me chama quase inaudível, de uma forma muito rouca,
e é quando eu plenamente perco qualquer controle e a pego no colo, levando
para a minha cama.
Ela arregala os olhos e respira com muita dificuldade, me olhando de
baixo.
— Está tudo bem — me deito lentamente sobre seu corpo, ela
prendendo a respiração quando coloco meu rosto na curva de seu pescoço. —
Isabelle... — Seu nome simplesmente escapa de meus lábios, sem qualquer
motivo aparente.
Ela remexe embaixo do meu corpo, o dela macio e perfeito.
Sinto suas mãos irem para os meus braços e me apertarem de novo. A
garota parece perdida no que fazer.
Levanto a cabeça, mirando seus olhos que estão brilhantes e muito
abertos.
— Quero muito te beijar inteira — confesso. — Quero saber o sabor da
sua pele na minha língua — reforço a declaração quando inclino o rosto e
levo a boca ao seu queixo, circulando minha língua ali. — Diz que quer o
mesmo, por favor. Diz para eu poder fazer isso.
Suas mãos sobem aos meus cabelos, os dedos apertando.
— Isso é um sim? — questiono, quase implorando para que seja. —
Sim, por favor, diga que é um sim.
Ela se remexe uma e outra vez, então essa é a minha resposta quando
Isabelle pressiona a palma da mão na minha nuca, incitando minha cabeça a
ir para baixo.
Entendo seu pedido, então me inclino e a beijo novamente; dessa vez,
nossas línguas se enroscando e desesperadas. Ela começa a dar suspiros
abafados, baixinhos, roucos, mas que terminam de acabar com minha
sanidade.
Me apoio em um braço para conseguir por a mão dentro do moletom,
onde acaricio a pele tão macia. Quero isso tanto...
— Luke! — O grito é no mesmo momento que mordisco a carne macia
de sua barriga.
Afasto a cabeça para olhá-la. Ela está vermelha e com os lábios abertos,
os olhos em minha direção, a respiração descompassada. Ofegante.
Correspondendo.
— Isabelle — aproximo novamente nossos rostos e um grunhido de
insatisfação escapa dos meus lábios quando meu telefone começa a tocar. E é
o toque da minha família.
Que grande droga.
Capítulo 23

Luke se vira para mim assim que desliga o celular. Ele parece ofegante
e os cabelos estão novamente bagunçados. Lindos…
— Era o meu pai — diz. — Minha irmã teve outro alarme falso. Ela está
grávida e prestes a ter os bebês. São gêmeos.
Eu não sei o que dizer, então me sento, muito desconcertada e
envergonhada.
— Ela está bem? — É o que acho cabível perguntar.
— Sim — ele assente, jogando o celular no chão, em cima do tapete. —
E você, bem?
Não, é o que tenho vontade de dizer. Não estou bem porque, estou em
uma praia deserta, na casa da família dele, deitando em sua cama enquanto
ele me dá uns beijos quentes e, Deus me ajude, eu quase o deixei fazer
demais.
— Estou… — abaixo o olhar, mas minhas mãos se direcionam para
minha boca. — Minha voz voltou…
— Não com total potência — ele troveja diante de mim e eu ergo o
olhar, vendo-o já bem perto. — Mas deve voltar logo. Você se sente melhor
com seu corpo? Ainda parece que foi atropelada? — sorri.
Ele está agindo normalmente, como se não tivesse estado me beijando
com vontade há poucos minutos.
— Hm, eu... — desvio o olhar. — Um pouco melhor.
— Você achou bonita a casa?
— Achei.
— Certo. Vamos lá fora?
Eu olho para cima quando vejo sombras de movimentos e o vejo tirar a
blusa branca e dobrar, colocando em cima da cama.
— Vamos dar uma volta — emenda.
Assinto e me levanto. Em instantes estamos caminhando de volta para o
andar de baixo.
É melhor estar caminhando na areia do que estar propensa a fazer
besteira sobre a cama e sob o corpo quente do Luke.

Quando chegamos à varanda, me inclino e dobro as pernas da calça até


os joelhos, então desço pela escadinha e acompanho-o, que já está
caminhando pela areia.
A sensação perfeita é imediata, meu corpo exalando uma respiração
profunda de prazer quando sinto o contato gostoso sob meus pés.
Luke se vira para mim, lindo demais contra a paisagem à minha frente,
então sorri.
— É bom, não é? — questiona.
— Muito.
Ele me chama com a mão e eu caminho, o acompanhando. Estamos indo
em direção ao mar, que está bem calmo e tranquilo.
— Você sabe nadar?
— Não — admito. — A única vez em que nadei foi numa piscina
pequenininha. Era a bacia de roupas da minha avó, quando eu era pequena —
dou risada.
Ele ergue as sobrancelhas, surpreso, mas sorri.
— Isso não parece tão divertido quanto o mar.
— Mas era muito também. Você sabe nadar? — devolvo a pergunta.
— Tenho que saber, coelhinha. Estive no exército, é preciso.
— Coelhinha? — minhas sobrancelhas que se erguem dessa vez.
Luke ri.
— Desculpe, é porque você estava guinchando.
— Guinchando? — paro os passos.
Ele se vira para mim, ainda rindo.
— As coelhinhas se comunicam guinchando — explica. — Sabe, por
sons, barulhinhos, como os que você estava fazendo quando tentava falar.
Minha boca se abre, só para fechar. Então se abre novamente. Não sei o
que dizer.
Luke segura o riso e se aproxima, seu dedo indicador tocando meu nariz.
— Mas você é bem mais bonita que as coelhas, se melhora minha
colocação.
— Ainda bem que eu não chamo você de tudo que tenho vontade —
bufo.
— Ah, mas do que seria? Lindo, maravilhoso, muito gostoso? Dessas
coisas eu já sei — finge desdém.
Eu o olho, perplexa, então ele começa a rir.
— Você é só bonitinho.
— Ah, para — ele balança a cabeça e aponta para si. — Bonitinho? Eu?
Fala sério.
— Pois é, um feio arrumado — resmungo e o deixo onde está, tornando
a caminhar.
— Olha, se eu não fosse tão ciente de que sou maravilhoso, poderia até
me chatear com essa sua maldade comigo — diz fazendo uma voz melosa e
muito fofa, então começa a me seguir. — Sou sensível.
Dou risada.
— Você é sensível? Você?
Luke passa por mim, andando de costas para ficar à minha frente. Suas
mãos vão ao peito e ele se finge triste.
— Você acha que estou brincando? Falo muito sério.
— Acho que você é um idiota — respondo.
— Eu… — ele finge limpar uma lágrima. — Eu choro à toa. Para de ser
malvada.
— Ah, tá. Eu sou malvada quando foi você que travou a porta do carro
para eu não conseguir entrar e me esqueceu no trabalho, eu tendo me
ensopado da chuva duas vezes e perdido a voz, além de me adoentar — sorrio
irônica. — É verdade. Sou tão malvada.
Ele faz um beicinho, logo o barulhinho com a boca, sua expressão sendo
tomada por culpa. É real e ele parece envergonhado.
— Me ajuda? — questiona.
— Em quê?
— A voltar a saber tratar bem uma dama.
Novamente paro os passos, para poder rir.
— Do que você está rindo? — Luke pergunta.
— Do que você disse — o olho. — Bem idiota mesmo.
— É sério, Isabelle. Eu esqueci isso desde que meu coração foi
pisoteado.
Sua voz assume um tom meio grave demais, eu parando de rir para olhá-
lo e perceber que ele realmente fala sério, parecendo triste pelo que disse.
— As coisas não são tão fáceis de superar todas as vezes e nem para
todas as pessoas — continua. — Eu ainda tenho muita coisa do que
aconteceu infiltrada em mim e isso me trouxe consequências. Estou tentando
lidar com isso. Você pode me ensinar como gosta de ser tratada e isso já vai
facilitar alguma coisa.
Estou bem surpresa. Muito surpresa.
— Tá bom — concordo, com um pouco de receio. Fiquei com pena.
— Tá bom. Agora você me pega.
Abro a boca para perguntar do que ele está falando, mas tudo que sai é
um grito, porque sou empurrada na areia, vendo-o sair correndo e rindo.
Não acredito nisso...
Não estou mais com pena.
Capítulo 24

Luke está delicioso vindo em minha direção enquanto emerge da água.


Eu poderia facilmente babar. Ele passou a manhã toda nadando e eu fiquei só
observando porque não posso piorar o meu estado.
— Por que você está com a boca aberta? Falta de ar? — ele pergunta
quando chega ao meu alcance, passando as mãos no rosto para tirar a água.
Estou com a boca aberta porque quero babar por você, tenho vontade de
dizer; mas, somente me concentro em umedecer os lábios e piscar os olhos.
— Um pouco sem ar — respondo, porque estou mesmo.
— Vamos entrar. Está na hora de comer. Com fome? — sua mão se
estende em minha direção.
Eu aceito o apoio e logo estamos voltando à casa. Olho um pouco para o
lado, só o canto dos olhos. Ele todo.
Isso é uma bonita visão. Nunca havia reparado em um corpo masculino.
Este é maravilhoso, sem qualquer sombra de dúvidas.
— Você está me observando demais, não acha? — ele pergunta e eu
estremeço.
Luke me olha e olho para frente, constrangida.
Engulo em seco.
— Não estava te olhando — finjo indiferença.
— Você estava e esteve. Gosta do que vê?
Finjo rir, em desdém.
— Já falei que não estava te olhando — repito.
— Pode confessar, não faz mal.
— Não sei do que você está falando — gesticulo.
Ele dá um riso baixo e sobe a escadinha, eu indo atrás. Nós entramos na
casa e sigo-o pelo hall, onde ele pega a mala que trouxe; então vamos até um
corredor e logo estamos em uma cozinha bonita e muito bem equipada, toda
iluminada pela luz natural.
— Do que você gosta, Isabelle? — questiona enquanto caminha até a
ilha e abre a mala, tirando uma bolsa de dentro. A bolsa de mantimentos que
ele arrumou.
— Como de tudo.
Ele dá uma risadinha e me olha, as sobrancelhas erguidas.
— Não, Isabelita. O que você gosta em geral? O que te agrada? O que
diverte você? — explica.
— Ah… — penso um pouco, me escorando no batente com os braços
cruzados.
Penso mais. Busco alguma coisa na cabeça.
— Ahn... — coço a bochecha.
— Precisa de tanto tempo assim? — ele parece surpreso.
— É que eu não sei — confesso. — Não me lembro.
— Você não se lembra? — Luke pega duas caixas de lasanha. — Que
estranho. A gente tem que descobrir então.
— Eu não sei… — pareço uma sonsa respondendo coisas sem nexo,
mas é que realmente não sei. — Não tenho tempo para descobrir… —
gesticulo. — Sabe, descobrir o que gosto. De comida, eu tenho preferência a
doce de leite com banana.
Ele caminha até o forno elétrico e põe os recipientes, então se vira para
mim, os olhos castanhos me percorrendo de cima a baixo.
— Doce de leite com banana? — seus lábios repuxam, em um sorriso de
canto.
— Sim, é muito bom. Você já provou?
Luke ri.
— Gosto das frutas mais… — ele passa uma mão na barba, parecendo
pensativo. — Sabe, com mais suco.
— Ah, tipo laranja e tal?
— Tipo pêssego, bem molhadinha ou — ele se desencosta do balcão e
começa a caminhar em minha direção, a pele morena estando muito mais
acentuada e chamando minha atenção — morango. Você sabe, o morango é
bem vermelhinho e também molhado. Uma delícia. Além de ser muito doce.
— É, não é? — eu sorrio. — Também gosto de morango. Fica bom no
chocolate quente. Não o chocolate quente, mas o chocolate sólido estando
quente, entendeu?
Luke balança a cabeça, emitindo um som. Não é exatamente um som
comum, parece um rosnado.
Então minhas sobrancelhas se erguem quando ele lambe os lábios e o
seu olhar serpenteia por mim de novo, de cima a baixo.
— Bem... — olho para trás em um instinto, procurando um meio de
escapar. Ele está vindo em minha direção com o mesmo olhar em que
levantou-se da cama mais cedo. — Eu realmente acho que banana com doce
de leite é... Melhor.
— Por que você está andando para trás?
— Porque você está na minha frente — dou um riso nervoso.
— Estou caminhando para você.
Pigarreio, imediatamente preocupada. Se ele me tocar, não serei
inteiramente responsável por meus movimentos.
— Por isso mesmo… — murmuro.
Luke não para, ao contrário, seus passos ganham mais velocidade e eu
me vejo também retrocedendo mais rapidamente, quase tropeçando, mas ele é
mais ágil e me segura antes que eu vá de encontro ao chão.
— Oh, merda… — reclamo assim que sinto os braços quentes me
envolverem, minha respiração se tornando imediatamente descompassada.
Luke respira na minha boca e geme, um gemido baixo e abafado.
— Me beije — ele pede. Não parece um pedido na verdade, mas uma
súplica.
Olho para seus lábios, então para seus olhos. Estou desconcertada.
— Luke, eu… — tento achar algo conveniente para dizer. Mas o que
vou dizer? Ele está me pedindo um beijo.
— Por favor — uma de suas mãos se ergue para meu rosto e seu polegar
alisa meu lábio inferior. — Ou você prefere que eu te beije?
— Não parece certo… — hesito. — Isso… Eu acho…
— Não parece certo? — ele acaricia meu rosto, em seguida meu cabelo
e minha orelha, seus olhos mirando os meus. — Por que não?
— Eu não sei… — engulo em seco.
— É muito certo, Isabelle — a voz dele está rouquíssima. — Nós
queremos e não há motivos para nos impedir. É só um beijo.
Suspiro, minhas pernas fraquejando, então coloco as mãos em seus
ombros e fico nas pontas dos pés, levando meus lábios aos dele.
Luke suspira, inclinando a cabeça para melhor acesso a nós dois e
nossos lábios se juntam, em uma dança perfeita, o ritmo certo.
Sua mão vai para minha nuca enquanto a outra encontra a base da minha
coluna, e logo estou andando para trás novamente. Mas, eu não ligo, porque
ele não me deixaria cair. Eu acho.
Em instantes sinto o contato com minha panturrilha e sou impulsionada
a sentar, Luke não separando nossos lábios no processo, enquanto me
conduz.
Ele parece tão certo do que fazer e eu só estou torcendo para que não
perceba que sou uma leiga. Ou perceba e não ache graça. Isso seria bem
idiota.
Suas mãos estão em minha cintura e ele me puxa para a beirada do sofá,
minhas pernas moles e eu formigando.
Aperto seus braços por impulso, ele gemendo em minha boca e
apertando minha cintura. Subo o contato para seus cabelos, meus dedos se
perdendo por entre os fios macios e lisinhos.
As mãos dele sobem e passam por dentro do casaco, o contato sendo
perfeito e eu suspiro. Luke me alisa de cima a baixo em movimentos retos e
circulares, usando só as pontas dos dedos.
Estou me sentindo cada vez mais mole.
Sua boca desvia para meu pescoço, onde ele parece ter todo o tempo do
mundo, enquanto beija e dá sugadinhas. É uma sensação esplendorosa. Eu
não sei como descrever.
Ofego quando uma das mãos grandes vai para frente e ele a sobe até um
dos meus seios, sua palma grande o envolvendo e apertando.
Dou um gemido talvez exagerado, mas que é suficiente para ele voltar à
minha boca e me calar. Estou pegando fogo.
Luke me inclina para trás, eu quase deitando, mas ainda sentada. Ele
está ofegante, me olhando de cima. Também estou. Principalmente vendo
seus lábios inchados do beijo que demos.
Lambo os lábios em reflexo, ele apertando minhas coxas e eu tendo que
me remexer.
Ele olha para baixo e agarra a base do casaco, subindo-o, então
abocanha meus mamilos sem hesitação, soltando uns gemidos tão alucinantes
que posso afirmar quase veemente que estou derretendo.
— Deliciosa — grunhe, intercalando entre um seio e outro, sem
qualquer paciência.
Me arqueio para sua boca, puxando seus cabelos úmidos, querendo
mais. É impossível não querer mais.
Sua mão direita abaixa e de um jeito rápido e decidido, se infiltra em
minha calça e Luke aperta minha bunda com força, me fazendo quase chorar.
Chorar de prazer.
— Luke! — Tenho consciência do meu grito e quase me condeno, mas
tudo só parece deixá-lo mais ligado quando ele desce a boca por minha
barriga, lambendo e mordiscando.
— Ah, nossa… — Estou parecendo uma cobra, uma minhoca, uma
lagartixa; não consigo ficar quieta.
Luke tem um braço por baixo de mim, me segurando no lugar, os lábios
na minha pele e a outra mão… Oh, céus. A outra mão está puxando a calça
por minhas pernas.
— O quê... — Estou ofegante, incapaz de raciocinar cem por cento. —
Luke...
— Vamos descobrir o que você gosta, minha bela.
Balanço a cabeça, quase preocupada demais em não conseguir respirar
normalmente.
Solto um grito, quase pulando do sofá quando sua mão encontra o meio
de minhas pernas, sem qualquer pudor, Luke colocando uma pressão absurda.
— Isso sim é o paraíso — ele me olha, movendo os dedos, ou tentando,
já que minhas pernas se juntam uma na outra de forma automática. — Mostra
para mim.
Meus olhos estão arregalados e minha cabeça balançando freneticamente
de um lado para o outro. Oh, céus…
— Mostra, vai... — É outra súplica, baixa e rouca, Luke parecendo
quase sem ar; não mais que eu, certamente.
— Eu… — hesito, mas ele me cala com seus lábios chocando-se contra
os meus.
Suspiro, destruída.
Luke empurra a língua em minha boca, só para tirar e chupar a minha,
tornando o beijo mais quente e desesperado.
Ofego, meu corpo virando purê e meu cérebro gelatina.
Ele mexe a mão, minhas pernas se separando de uma forma muito
involuntária, então preciso afastar a boca para puxar todo o ar que consigo.
— Meu Deus… — ele também afasta o rosto e quero desmaiar quando
sua cabeça desce diretamente para o meio de minhas pernas, eu não tendo
tempo de impedi-lo em sua ação ultramente inapropriada. Eu estou sendo
inapropriada.
Como a minha mãe…
— Luke! — grito e ele me olha, respirando com a boca aberta. — É
errado! — consigo dizer.
Ele pragueja alguma coisa, colocando minha perna esquerda em cima do
ombro e se sentando no chão, seu olhar no meu, mas ele bem onde eu não
gostaria de estar — ou gosto muito —.
— Te parece errado, Isabelle? — seus dedos me alisam de uma forma
judiante. — Parece errado que eu te dê prazer?
— Sim — mal consigo pronunciar as três letras. Estou aérea.
— Mas não é — ele vira a cabeça e chupa o interior da minha coxa,
meus olhos revirando e se fechando quando ele circula a língua na pele. — É
muito certo.
Então eu realmente penso estar derretida quando seus lábios me
envolvem o meio das pernas, meus dedos indo para seus cabelos, onde eu
puxo com toda força.
Luke grunhe, sua língua circulando lugares que eu jamais pensei que
pudessem me dar sensações tão indescritíveis. Estou acabada.
— Luke... — choramingo, péssima das ideias.
— Isso, querida. Pode vir pra mim.
Oh, droga…
Meu corpo parece entender exatamente o que ele pede quando a
explosão acontece, Luke pressionando uma mão sobre minha barriga para me
manter no lugar, enquanto a outra aperta meu seio e sua boca não desgruda de
mim.
O choque sobe por meu corpo inteiro, dos pés à cabeça, eu mal
conseguindo gritar porque minha cabeça parece explodir e tudo fica escuro,
eu ouvindo somente zumbidos e sentindo meu corpo inerte. Estou grogue.
Acho que não sobrevivi.
Capítulo 25

Isabelle ronrona e parece grogue, seus olhos tentando abrir de uma


forma insistente. Eu estou desesperado ainda mais agora, depois de sentir ela
na minha boca. É a perdição. Estou tão e tão desesperado.
— Você é ainda melhor que morango — digo, inclinando a cabeça e
distribuindo beijos no interior de suas coxas. O cheiro dela está me deixando
pirado. Estou pirado desde que a vi sem roupas. — Por que você é virgem?
Parecendo levar um choque, ela rapidamente abre os olhos e se remexe,
sentando de uma forma abrupta e abaixando o casaco, cobrindo-se
Isabelle põe o cabelo nervosamente atrás da orelha e olha para todos os
lados, menos para mim.
— Não precisa ficar acanhada — ponho a mão em sua panturrilha e
aliso.
Ela pigarreia, sua voz estando muito desestabilizada quando fala.
— Não sou... Virgem.
— É, sim.
— Não, não sou — Isabelle me olha, parecendo quase com raiva agora.
Ergo as sobrancelhas, pela mudança abrupta.
— Por que se irritou? Não tem nada demais em ser virgem. Eu só
perguntei porque…
— Por que está dizendo que sou? Não sou! — ela levanta-se, me
interrompendo. É mesmo raiva?
— Além de você parecer perdida e hesitante em seus movimentos? —
sorrio. — Bem, tem também o seu hímen que eu vi.
Ela arregala os olhos, então cai novamente sentada e esconde o rosto
entre as mãos.
— Por que você não...
— Chega — ela ofega. — Não sei o que… O que penso que estou
fazendo.
Me levanto, um pouco confuso, então me sento ao seu lado.
— Tecnicamente, eu fiz a coisa toda — sorrio, mas Isabelle não vê, pois
está escondendo o rosto. — Isabelle é porque você era bela mesmo, ou não
tem semelhança?
— Como você pode estar reagindo normalmente? — ela me olha,
vermelha.
— Por que não reagiria?
— Porque… Porque é tudo… Diferente.
— Bem, é — concordo. — Não tanto. Quer dizer, um pouco para você,
mas é bom e é isso que importa.
— Como pode dizer isso? — parece horrorizada. — Não é só isso que
importa. É por isso que tudo está desandando como está! As pessoas só ligam
por ser bom e danem-se as consequências!
— Quais as consequências disso, Isabelle? — Estou assustado. — A
única consequência é você ter quase desmaiado.
— Você está rindo? — ela levanta-se. — É sério isso?
— Desculpa, o que mais posso fazer?
— Pois eu não vejo a menor graça!
— Nem eu. Estou quente, não é mesmo engraçado. Você quer me
ajudar?
Meus risos aumentam com a expressão que denota seu rosto.
— É brincadeira.
Isabelle arregala os olhos novamente, então balança a cabeça.
— Estou com fome, vamos comer — chamo-a, levantando. — Nossa
lasanha deve já estar pronta.
Saio andando na frente e, quando chego à cozinha, vou direto para o
forno, tirando os recipientes e colocando na bancada.
— Você pode se queimar — ouço a voz dela, então me viro e sorrio. Ela
está mesmo deliciosa somente no meu casaco, os cabelos bagunçados e a
carinha de quem precisa de mais.
— Não me queimei aqui, mas, minha boca, com certeza, já que você
estava pegando fogo.
Sua respiração desestabiliza e ela caminha até o banquinho, sentando-se.
— Posso pedir uma coisa? — questiona cabisbaixa.
— O quê? — Eu me aproximo dela, intrigado.
— Não conte à minha avó que eu… — suspira. — Que eu aprontei. Ela
ficaria decepcionada.
Então eu rio. Mesmo.
— Isabelle, eu não…
— Falo sério — ela me interrompe, o olhar duro. — Ela já sofreu
demais com a filha que teve, não precisa sofrer também comigo. Eu só...
Peço que você não… Luke, não pode dizer a ela.
Então eu fico sem ação quando ela começa a chorar.
Capítulo 26

Estou um pouco envergonhada. Ou muito envergonhada. Eu não sei


exatamente o que me deu na cabeça para começar a chorar. Está bem, eu fiz
algo horrível. A minha avó ficaria chocada, mas, vamos lá, Luke não tem
mesmo que ficar me vendo pagar tantos micos.
Agora estou deitada no quarto que ele me disse que eu poderia dormir.
Há duas horas me remexo para os lados, mas não consigo dormir. É
agonizante a sensação.
Não só por não estar com nenhum sono, mas também porque não
consigo esquecer a sensação que tive. O que foi aquilo? Era tão… Bom. O
Luke foi tão… Masculino. Aquilo foi muito, muito prazeroso.
Levo um susto quando ouço a batida na porta, então viro a cabeça e o
vejo aparecer. Ele está gostosamente despenteado, o rosto entristecido.
— Você quer dar uma volta na praia comigo? — questiona.
Eu me sento e levanto, nem afirmando e nem negando, somente
caminhando até ele. Não ligo se estou usando só o casaco, o Luke me aquece.
Nós nos dirigimos para o andar de baixo, então saímos pela porta do hall
de entrada, o vento gelado da noite nos embalando de forma muito receptiva,
é instantâneo. Eu suspiro, inevitavelmente.
Ele caminha à minha frente, se dirigindo até estar próximo ao mar e logo
senta sobre a areia, olhando para trás e me observando o acompanhar na ação.
Está perfeito o clima. O mar está calmo, em ondas suaves e que se
quebram antes de chegarem totalmente à superfície, a lua parece maior, mais
brilhante e reluzente, enquanto empurro mais meus pés para se infiltrarem na
areia deliciosa. É mesmo a perfeição.
— Obrigada por trazer aqui — me pego dizendo, ainda olhando para
frente.
— De nada — Luke também não me olha. — Eu sempre gostei daqui.
Sabia que foi o primeiro lugar em que meus pais viajaram juntos?
— Deve ser um lugar especial para eles, sem dúvidas.
— É, sim. Minha mãe adora aqui.
Nós nos silenciamos um instante, somente o barulho do mar falando por
nós. É um clima gostoso, se não pela sensação que tenho de que Luke não
parece totalmente bem.
Seu suspiro fundo me faz ter mais certeza disso, então eu o olho, vendo-
o cabisbaixo.
— Eu fiz uma coisa errada há um tempo e que me incomoda muito hoje
em dia — fala. — Lembra do que eu disse? Sobre a garota que esteve grávida
enquanto era minha noiva?
— Sim — afirmo, mas ele não me olha.
— Eu não a quis, eu a abandonei — ele quase geme. — Na hora, no
momento, eu não pensei que fosse ser algo tão horrível, mas hoje eu percebo
que foi. Eu a amava, então por que fiz isso? — Só assim me olha, parecendo
decepcionado e desentendido.
Eu fico em silêncio, ele me encarando, esperando uma resposta.
— Talvez você não a amasse — digo cautelosa.
— Como não, Isabelle? Amar é uma escolha, e eu escolhi isso com a
Lindsay.
Eu desvio o olhar, um pouco incomodada em ele se lembrar de outra
mulher quando acabou de fazer algo tão... Íntimo comigo. É um pouco
constrangedor, e não posso deixar de me sentir arrependida e, como sempre, a
segunda ou terceira opção.
— Bem… — pigarreio. — Talvez você só tenha ficado confuso ou com
raiva.
— Sim, mas, ela precisou de mim e eu… — ele grunhe. — Eu fugi!
Fugi! Que tipo de homem faz isso com a mulher que ama?
— Você, meu pai e meu avô — o olho, sorrindo, as palavras
simplesmente saindo da minha boca.
Luke me encara de volta, sem expressão, então eu desvio o olhar,
voltando-o ao mar.
— Você quer conversar sobre isso? — A voz dele está mais suave e
mais baixa, me transparecendo um carinho inexistente.
— Não há nada o que conversar — junto os joelhos e os abraço com
meus braços, apoiando meu queixo. — Eu não vivo de passado.
— Não?
— Não.
— Acho que não estou tão certo disso, já que você mencionou umas três
vezes sobre estar ou ser parecida com sua mãe.
Eu não o olho, não preciso.
— Não tenho que te dar explicações de alguma coisa — deixo claro.
— Não mesmo, estou apenas querendo que você fale um pouco sobre
isso. A sua avó é uma pessoa que, eu imagino, você não queira que relembre
do que aconteceu e a Amy é uma boa garota, mas não tem mesmo como
conversar algo assim com ela e, bem, suponho que você não seja cercada de
amigos.
— E você é o que meu? — o olho. — Simplesmente um cara que se
acha a última bolacha do pacote, mas que vale nada, assim como todos os
outros.
Luke sorri. Não é um sorriso de verdade, apenas o esboço de uma
reação, então ele desvia o olhar.
— Eu falo essas coisas brincando, Isabelle — murmura depois de uns
segundos. — Não me acho tudo isso e sou horrível pelo que fiz, mas a vida
tem que seguir.
— A vida está seguindo, Luke.
— Com você, não é o que parece.
Dou risada, o olhando.
— Bem, não me leva a mal, mas eu realmente não preciso te demonstrar
ou provar nada.
— Não, não precisa — ele concorda. — Nem estou te dizendo para fazer
isso, o que estou falando é o que se nota. Eu realmente não me importo com o
que você faz ou deixa de fazer da sua vida. Não é nenhum pouco da minha
conta e não estou te cobrando nada.
Sorrio.
— Isso. Então para de me perguntar coisas que eu não vou responder —
olho para cima, desejando sumir então. Estava bom e ficou péssimo.
— Não te fiz qualquer pergunta, fiz um comentário e você enlaçou em
algo nada a ver.
— Está bem.
— Você deveria ser um pouco mais complacente, as pessoas gostam
disso. — Ele está um pouco mais exaltado, é notável.
— Não me importo com o que as pessoas gostam, Luke.
— Pois você deveria ou vai morrer frustrada.
— Por mim, já teria morrido.
— Você não se cansa de falar tantas idiotices? — ele vira meu rosto
para si, parecendo nervoso. — Se não tem algo de bom para falar, é melhor
que nem abra a boca.
Tiro sua mão, também nervosa, então me levanto e limpo o casaco,
virando e começando a caminhar de volta para a casa.
O que ele espera? Que eu fique ótima enquanto fala o quanto ama sua
ex-noiva? Desculpa, mas essa força eu não tenho.
Suspiro, tendo mais certeza de que, sim, eu nasci destinada ao
sofrimento.
Capítulo 27

A cada dia que passa, eu tenho mais certeza que não sei lidar com
alguém, a não ser eu mesmo. As pessoas sempre saem triste depois que se
aproximam de mim. Não sei o porquê disso, mas é assim que acontece.
Deito na areia, as mãos cruzando e indo para trás da cabeça, então como
em flashes o passado volta à minha mente. Lindsay chorando. Me segurando.
Implorando para eu não ir. Dizendo que me amava. Ela pequena, encolhida,
cheia de pavor e medo.
E o que fiz? Simplesmente me virei e fui embora, como se não fosse a
mulher que eu amava. Como se ela não valesse nada.
Olho para cima mais atentamente quando ouço um barulho, e ele vai
ficando mais alto, então me sento, meus olhos estreitando quando vejo um
helicóptero se aproximar.
Me levanto, surpreso e já ficando na defensiva. Ninguém vem aqui,
somente minha família, então passo as mãos no rosto e começo a me
aproximar do local em que ele vai pousar.
Em instantes o helicóptero se abaixa sobre a areia, meus olhos
começando a se arregalar quando a porta do piloto se abre e ninguém mais e
nem menos que meu pai desce, caminhando para o outro lado e tirando
também minha mãe de dentro.
— Mas que… — começo a me apavorar.
Eles estão rindo de alguma coisa, então começam a caminhar em minha
direção de mãos dadas. Eles sabem que estou aqui. É claro que sabem.
Estou pasmo e perplexo. Meu pai ergue a mão livre e acena, se
aproximando de mim.
— Oi, filho — me cumprimenta e minha mãe sorri largamente. —
Viemos te visitar.
— Vieram me visitar? — Eu praticamente cuspo a pergunta.
— É, o seu pai queria experimentar se aprendeu mesmo a pilotar — ela
explica. — Eu fiquei morrendo de medo de cair, mas, fazer o que, eu confio
no meu homem.
Balanço a cabeça, incrédulo.
— Estou acompanhado — é a única coisa que sai da minha boca.
— Você está com alguma mulher aqui? — Meu pai arregala os olhos e
minha mãe o aperta por reflexo, provavelmente temerosa de que ele dê um
ataque.
— Sim, pai, eu estou. Ela já não está à vontade, e quando virem que os
meus pais apareceram de surpresa, vai ficar pior.
Minha mãe leva a mão livre ao peito, fingindo indignação.
— Nós somos uma ótima companhia, Luke.
Meu pai dá uma risadinha.
— Exceto quando você está embaixo de mim — ele a olha, dando um
sorriso. — Ou em cima.
Ela ri de volta, assentindo.
Passo as mãos no rosto, não acreditando no que estou vendo.
— Vocês tem que voltar — falo.
Eles negam, então me ignoram e começam a caminhar em direção à
casa.
— Não acredito nisso — vou atrás, frustrado. — Vocês precisam voltar.
— Nós acabamos de chegar, rapaz — meu pai troveja. — Não vamos
voltar agora.
Balanço a cabeça, desacreditado.
Eu os sigo quando entram na casa, indo direto para a cozinha, e estagno
no lugar quando vejo que Isabelle está nela, vestida em minha calça de novo,
os cabelos presos, enquanto limpa o balcão.
— Boa madrugada — meu pai fala e ela leva um susto, soltando o pano
e levando uma mão ao peito, a boca abrindo e emitindo um gritinho.
Isabelle demora uns instantes até olhar para cima, então seus olhos se
arregalam quando olha do meu pai para minha mãe, parecendo mais
assustada ainda.
— Eu já vi você — minha mãe se pronuncia.
— Eu também — ele concorda. — Ela estava na festa do Luke.
— Ah, sim. É mesmo. Você é a menina que Amy estava fazendo passar
vergonha.
— Mãe — eu me aproximo e eles me olham. Suspiro. — Essa é a
Isabelle, ela está trabalhando comigo agora. Isabelle — a olho —, estes são
meus pais, Natalie e Philip.
Meu pai é o primeiro a se debruçar na bancada e estender a mão a ela.
— Muito prazer, Isabelle. Philip Mackenzie, ao seu dispor.
Ela aperta a mão dele, pigarreando, ainda de olhos arregalados.
— Muito… Prazer — responde e em instantes minha mãe está ao seu
lado, a analisando de cima a baixo.
— Você está com a roupa de aula do Luke — ela murmura. — Ele tem
ciúmes dessa roupa — sorri e a puxa para um abraço. — Bem-vinda à nossa
casa.
— Obrigada — Isabelle responde, mas parece muito sem reação.
— Você veio visitar ou… — meu pai deixa no ar.
Ela se afasta da minha mãe, chegando mais para o lado, o olhar de
incômodo, parecendo agoniada.
— Estava doente e o seu filho disse que eu poderia me sentir melhor
aqui — responde.
— Entendo. Essas desculpas esfarrapadas… — meu pai me olha. —
Você não se envergonha?
— Como se você soubesse o que significa isso — minha mãe debocha,
então volta a se aproximar de Isabelle, que novamente pega distância.
— Nós já íamos embora pela manhã. Isabelle estava resfriada e eu achei
que o clima daqui ajudaria — explico, não deixando passar o olhar curioso
que minha mãe lança a ela.
— Sem dúvidas, o clima — meu pai bufa. — Você se sente melhor,
Isabelle?
— Bastante, obrigada — ela tenta sorrir, mas não consegue olhar bem
para ele.
— Nós estamos incomodando — minha mãe enfim percebe.
— Não estamos incomodando coisa nenhuma — ele discorda.
— Philip! — Ela o repreende.
Ele me olha, os olhos sempre grandes, estreitos para mim.
— Vamos lá fora bater um papo, garoto — fala com a voz mais alta e sai
na frente.
Minha mãe assobia e me dá um aceno, então eu o sigo para fora,
lembrando que, seja o que for, não passa despercebido aos olhos de Philip
Mackenzie.
Capítulo 28

— E então? — meu pai pergunta. — Eu vou precisar perguntar ou você


vai me dizer por conta própria o que fez com a garota? — ele gesticula com a
cabeça para dentro.
Eu sento ao seu lado, na cadeira da varanda. Ele está em seu posto de pai
autoritário, e eu nem ouso questionar.
— Não fiz nada, ela é cheia de traumas — admito entre um suspiro.
— Olha para mim quando eu falar com você e isso não é tom de usar
quando está bem óbvio para mim que a tocou além do permitido.
— Do que o senhor está falando? — Finjo rir.
— Ela está decepcionada com algo, é a mesma expressão que vi no rosto
da sua mãe várias vezes quando fiz merda, e isso depois que a toquei —
resmunga. — Você não pode tocar uma mulher intimamente e depois fazer
merda, Luke.
— Não fiz, pai — nego. — Eu já falei, ela tem uns traumas.
— Ah, dois traumáticos, que maravilha — ele bufa e leva as mãos aos
cabelos, puxando. — A sua mãe também era cheia de traumas. Opiniões
baseadas em coisas que ela ainda nem tinha vivido.
Bufo.
— E eu com isso, pai?
— E você com isso? — me encara, os olhos arregalados. — Está
maluco? Você tem muito com isso — aponta a porta, sem desviar o olhar de
mim. — Você não trouxe essa garota só por trazer! É a nossa casa na praia!
Ela é constituída de amor, carinho e intimidade. Aqui tem história. Não
começa a negar, Luke. Você não a trouxe aqui por causa de um resfriado,
sabe bem disso.
— Não sei o que o senhor quer dizer — bufo.
— Você sabe sim o que eu quero dizer. Eu não sei exatamente o que
aconteceu com você já que não quis contar para nós, mas, vou já te adiantar
uma coisa, filho — seu olhar se acentua quase me dando medo. — A pior
coisa que você pode guardar consigo pelo resto da vida, é a lembrança de ter
feito mal a quem você mais valoriza.
Eu sei disso...
— Ok, recado dado — desvio o olhar.
— O que houve com a garota?
— Eu não sei — gesticulo, sem interesse. — Ela perdeu a mãe, a irmã,
não tem pai e mora com a avó, que também foi abandonada. É uma família
desestruturada, a afetou em várias coisas. Ela mal sabe conversar sem ter que
me atirar cinco flechas e sete pedras. Além de dizer que não se importaria em
não estar viva.
Meu pai se silencia, então respira fundo.
— É uma situação complicada. Você não deveria tê-la trazido aqui. Se
queria extraviar, arrumava outra mulher, não uma garota fragilizada e
traumatizada — me repreende. — Isso não se faz. Você sabe que mulheres
são sensíveis e mais propensas a…
— Pelo amor, pai! — me irrito. — Eu não fiz nada com ela! Apenas a
trouxe porque foi culpa minha que ela ficasse doente e eu quis me desculpar
de alguma forma. Essa foi a melhor maneira. Não tinha nenhuma intenção,
não prometi nada a ela.
— Você não prometeu, demonstrou — ele balança a cabeça. — A garota
é intocada?
Bufo, levando aos cotovelos aos joelhos, incomodado.
— Ela é.
Ele grunhe, resmungando em voz baixa.
— Se você ainda estivesse sob meu teto, ia levar uma surra. Luke,
caramba, que droga!
— Eu não fiz nada, pai! Que droga! — me levanto. — Ela ainda está do
mesmo jeito!
Ele também levanta, apontando o dedo em meu rosto.
— Eu vou te dizer uma coisa — grunhe —, e estou dando uma ordem.
Você tem duas opções, ou você continua próximo a ela e tenta ajudá-la, ou
você se afasta dela. Mas se afasta mesmo. Deixe-a em paz. Ninguém merece
sofrer mais do que ela já parece estar sofrendo.
Sorrio.
— Ok, pai. Não pretendia estar perto dela.
Ele bate em meu peito. Um tapinha que deveria ser um cumprimento,
mas soa como um soco.
— Ótimo. Você vai fazer isso o mais rápido possível e ficar na sua, ou
eu mesmo vou me meter.
— Ok — reafirmo, me afastando.
— Ok — ele concorda e me dá um último olhar definitivo, então entra
de volta para casa.
Eu suspiro, passando as mãos no rosto.
É claro que vou me afastar. Não pretendia ficar perto dela mesmo.
— Luke — ele me chama de novo.
— Que droga, pai! Isabelle não significa a merda de nada para mim,
inferno! Eu já falei! — grito, me virando, já sem qualquer paciência, mas
então me calo, porque não é só meu pai que está ali; mas, minha mãe também
e...
Isabelle.
Capítulo 29

Um silêncio assustador pesa por uns segundos entre nós, mas logo é
dissipado quando começo a rir.
Todos me olham de olhos arregalados como se eu fosse louca — talvez
eu seja. Não é a primeira vez que ouço palavras duras e não vai ser a última.
Luke fez apenas menos mal que os outros, apenas falou. Não há nada demais
em ser sincero, e é exatamente o que digo, mas em outras palavras.
— Seria bom que todas as pessoas fossem tão sinceras — sorrio, mas o
olhar do pai dele é o que me atrai. Ele parece… Enxergar mais do eu gostaria.
Me viro para a mãe. — A senhora disse que já íamos…
— Sim, sim — ela pigarreia, me respondendo rapidamente. — Vamos
indo. Philip…
— Ok — ele responde simplesmente e então desce os degraus, a mão da
senhora Mackenzie envolvendo a minha e me passando um calor confortável,
algo que não estou acostumada a sentir exceto por minha vó.
Nós seguimos em silêncio pela praia, até onde está o helicóptero. O pai
dele abre a porta atrás e me ajuda a subir, subindo em seguida para colocar os
apetrechos de segurança em mim. Então eu me surpreendo quando ele
também envolve minha mão nas suas e me olha de perto, com os olhos verdes
tão claros, diferente dos do filho.
— Peço perdão em nome da nossa família — fala baixinho, só para
mim. — Não leve em consideração o que você ouviu. O Luke precisa se
achar.
Eu sorrio, assentindo.
Ele sorri também, mas é um sorriso com dor, então desce, para
acomodar a esposa.
Suspiro, juntando as mãos no colo e apertando os dedos uns nos outros,
meu sorriso alongando.
Eu não vou chorar por causa do que um homem me disse. Não vou. Até
porque ele não disse nada do que eu já não soubesse. Eu não valho nada
mesmo.

***

Entro em casa, minha avó vindo correndo em minha direção para me


abraçar. Com força. Demorado. Exatamente o que eu precisava.
— Estou morreeeeendo de saudades — ela alonga a palavra de
propósito e se afasta, sorrindo e alisando meus braços com as mãos. — Você
está bem, meu amor? De quem são essas roupas? Por que você chegou de
madrugada?
— Estou bem, vó. São do Luke. E estou com essas roupas porque ele me
levou até sua casa na Carolina do Norte, mas os pais dele me trouxeram de
volta porque fiquei com muitas saudades da senhora — sorrio, a abraçando
novamente.
Ela dá risadinhas e me afasta depois de outro abraço longo.
— Quando ele virá aqui de novo? — pergunta, indo rapidamente até o
sofá e me ergue um casaco inacabado. A estampa é do exército. Engulo em
seco. — Você acha que ele vai gostar? Estou fazendo para ele.
— Acho, vó — tento sorrir, engolindo o bolo que se formou em minha
garganta. — Ele irá adorar. Está ficando lindo.
Ela sorri, toda contente.
— Eu teria feito um para seu avô, mas não sabia costurar na época —
ela observa o casaco e eu percebo a expressão triste encher seu rosto de
repente. — Ele sempre quis ir para o exército, mas por causa do problema na
perna, não pôde.
Limpo uma lágrima que ameaça escapar, então respiro fundo e me
aproximo dela, pegando o casaco e observando, dando meu melhor sorriso.
— O Luke vai amar, vovó. Aposto que ele vai querer pedir outros, com
outras estampas.
Ela sorri largamente novamente, os olhos brilhando. É a sua paixão
costurar, depois de cuidar do nosso jardim.
— Eu vou gostar de tirar as medidas daquele bonitão — sorri. — Seu
avô me dizia que eu seria uma boa cantora, mas acho que nasci para ser
costureira.
Eu sorrio como posso.
Eu não entendo. Ela sempre se lembra dele. Do meu avô. Mesmo depois
do que ele fez a ela, com ela, para ela… Não entendo mesmo.
— O que a senhora acha de um chá para me contar as novas fofocas das
suas aulas? — pergunto.
— Ora, sim — ela aumenta o sorriso e eu me alivio por dispersar sua
atenção. — Você não sabe o Rose andou aprontando. Esteve roubando os
netos para sua casa por causa da esposa do filho. Ela não queria deixar que
Rose os visse.
Eu dou risada.
— É mesmo?
— É mesmo. — Minha avó está boquiaberta. — Deus me abençoe que
você não negue que eu veja seus filhos.
Eu sorrio simplesmente, abraçando-a pelo ombro e a incentivando a
caminhar comigo para a cozinha, então guardo só para mim a informação de
que, não, não quero ter filhos.
É melhor morrer sozinha do que viver morta todos os dias, como eu sei
que ela vive.
É bem melhor.
Capítulo 30

Respiro fundo mais uma vez e vou para o elevador, esperando que eu
possa ainda ter o emprego que me foi oferecido. Se não tiver, tudo bem, acho
que posso falar com Brandon que garantiu me ajudar.
Solto um suspiro, me acomodando no fim do cubículo então um homem
entra também. Ele sorri para mim e eu sorrio de volta.
— Bom dia, senhorita Monaghan. Que prazer em revê-la.
— Lian... — aceito sua mão em cumprimento.
— Você está me devendo um almoço, eu não me esqueci. O nosso foi
interrompido.
Assinto, gostando muito do sorriso que ele me dá. É sincero.
— É verdade — eu concordo.
— Não sou um fofoqueiro — ele finge cochichar para mim em segredo
—, mas dizem que o Mackenzie que está no comando é um pouco louco por
conta do exército.
Eu sorrio, assentindo.
— Ele é.
— Você viu a forma como ele nos tratou? — Lian assobia. — Sorte a
dele que eu estava na sua companhia e me mantive calmo, ou poderia ter
usado meus golpes de luta nele.
Dou risada.
— Falo sério — ele reforça. — Eu tenho aulas de luta e sou bom nisso.
Gosto de bater.
Eu paro de rir, um pouco surpresa.
— Você fala sério?
— Falo — ele sorri, as portas do elevador abrindo em seu andar. — Eu
tenho que ir, mas te espero no refeitório ao meio-dia para gente dar uma
volta. Tenha um bom dia.
Lian sai depois que aceno e afirmo, então as portas se fecham
novamente e eu vou para o último andar, suspirando com um pouco mais de
alívio.
Ao menos ainda tenho o Lian por aqui.
Quando adentro a recepção, a secretária sorri para mim. Dou bom dia,
sorrindo de volta e caminho sem muita vontade para a sala de Luke.
Bato duas vezes antes de abrir a porta e entrar, fechando-a de volta e
virando para caminhar até a mesa, onde ele está muito concentrado em algo
que está lendo.
— Bom dia — me pronuncio.
Ele tem um leve momento de surpresa, é notável, seus olhos se erguendo
para mim e abrindo um pouco mais.
— Você veio.
— Sim, é o meu trabalho agora. Ou estou demitida?
— Não está — ele pigarreia, então gesticula a cadeira de couro em
frente à mesa para eu sentar. — Não pensei que você fosse vir.
Eu sorrio, ajeitando minha bolsa sobre meu colo.
— Onde preciso ir hoje?
Ele me encara por uns instantes, mas abaixa a vista.
— Pensei que você poderia visitar nossa loja de roupas que fica no
shopping também.
— Tudo bem, é só me dar o endereço — abro a bolsa e pego meu
bloquinho e uma caneta. — Pode dizer — o olho, mas Luke já está com a
atenção em mim, o semblante estranho, me deixando, de algum jeito, pior.
— Tem o endereço aqui — ele desvia e me passa uma pasta preta
parecida com um fichário. — Você vai fazer o mesmo que fez da última vez.
Provavelmente vai acabar antes das oito, a loja fecha às nove. Você pode ir
embora de lá.
— Ok.
— Pode tirar o seu horário de almoço a hora que quiser.
— Ok — balanço a cabeça e pego a pasta, depois de guardar o
bloquinho. — Mais alguma coisa?
— Por enquanto, não. Eu não vou estar por aqui, caso você queira falar
comigo, eu vou te dar o meu número pessoal e…
— Não quero o seu número pessoal — nego. — Qualquer coisa eu ligo
para a sua secretária e ela te passa o recado. Se eu tiver alguma dúvida muito
urgente, pergunto ao Brandon.
Ele fica me encarando por uns segundos, mas assente.
— É que o Brandon me disse que você não tinha celular, então pensei
que…
— Eu não tenho mesmo — o interrompo. — Mas com certeza há
telefones em sua empresa. Eu prometo achar uma forma de me virar — me
levanto. — Bom dia para o senhor.
Dou as costas a ele e caminho de volta por onde acabei de entrar.
É por minha avó e só por ela.

***

Confiro uma última vez os números e suspiro satisfeita quando tenho


certeza que está tudo certo.
Guardo tudo no fichário de volta e me dirijo para fora da loja, onde
imediatamente me surpreendo ao ver Lian. Ele acena e sorri para mim.
Caminho ao seu encontro, desentendida.
— Lian?
— Oi — ele ajeita o paletó. — Vim buscar você.
Balanço a cabeça.
— Por quê? Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. Eu fiquei com saudades. Nosso almoço não foi suficiente
para mim — ele me estende a mão que está sem a maleta. — Você gostaria
de me fazer um pouco mais de companhia? — sorri.
— Bem — olho para a palma estendida, muito confusa —, acho que
tudo bem. Mas eu moro um pouco longe e devo chegar em casa o mais cedo
possível.
— Não se preocupe, eu levo você. Meu carro não é nenhum Porsche,
mas ele corre também — ele dá uma risadinha, seus olhos com expectativa.
Eu suspiro.
— Não me importo com o seu carro.
— Que bom — Lian captura minha mão e faz um carinho com o
polegar. — É impressão minha ou você está mais gelada do que deveria?
— Estou bem — tiro a mão da sua e agarro a alça da bolsa. — Apenas
quero descansar.
— Vamos te fazer rir um pouco, você parece tensa.
Tento sorrir, em uma forma de não parecer desagradável porque Lian é
legal e não merece que eu jogue minhas frustrações em cima dele. Quer dizer,
ele veio me buscar e é uma coisa muito bacana, além de ter me feito ter uma
hora de almoço muito tranquila e ter me passado algumas dicas relacionadas
ao trabalho.
— Nós vamos para onde?
— O que você acha de eu te levar em um lugar que gosto muito? — ele
confere as horas no relógio. — Ainda está aberto.
— Acho que, se não demorar, eu aceito.
— Ótimo! — seu sorriso é instantâneo e ele gesticula para irmos
caminhando, onde nos dirigimos para fora do shopping até o estacionamento.
Nós entramos em seu carro e ele nos tira dali rapidamente.
— Você melhorou totalmente do resfriado? — pergunta.
— Sim, ainda bem.
— Ainda bem mesmo, não gosto de você sem voz porque é muito bom
ouvi-la.
Sorrio.
— Obrigada — o olho, encostando a cabeça no apoio do banco. — Eu
não sei exatamente se vou continuar nesse trabalho, mas quero dizer que foi
legal ter te conhecido.
— Ah, que pessimismo. Nem faz uma semana que você está
trabalhando. Vamos mandar essa energia negativa para lá — ele liga o som
do carro em uma música eletrônica. — Atenção senhores passageiros,
estamos dispersando o clima de desânimo — faz uma voz mais grave. —
Somente é permitido alegria e sorriso.
Dou risada.
— Desculpe.
Lian me olha rapidamente, sorrindo.
— Você ainda aceita jantar comigo no sábado?
— Sim — assinto. — Eu não mudei de ideia.
— Ótimo, porque eu dei meu rim esquerdo pela reserva — ele finge
limpar a testa, num gesto de alívio.
Rio mais.
— Você não escolheu algo muito caro, né? É que não sou muito fã de
requinte. Esse nosso patrão acha que as coisas giram ao seu redor justamente
porque tem tudo…
— Não se preocupe — Lian me tranquiliza —, não é nada demais, até
porque eu não sou rico, meu pai que é.
— As pessoas ricas costumam dizer isso…
Ele ri.
— Mas é verdade. Eu ainda estou construindo minha riqueza. Não quero
depender dele, até porque nem seria legal.
Eu assinto e depois de alguns minutos ele estaciona em frente a um
edifício escuro, com o nome Force escrito na frente em letras leds verdes. É
muito masculino, sem qualquer sombra de dúvidas.
— Você vai adorar — Lian sorri para mim e sai do carro, eu saindo
também.
— É aqui? — Agarro a alça da bolsa mais firmemente, um pouco
temerosa.
— É, sim — ele se aproxima e agarra minha mão livre. — Está tudo
certo. É só um lugar de ação.
— Ação?
— Sim, você vai ver.
Eu respiro fundo e deixo que ele nos conduza por entre as portas grandes
de vidro escuro, logo os murmúrios alvoroçados vindo de todos os lados do
enorme galpão.
— O que é aqui? — pergunto olhando em volta e vendo aparelhos
estranhos, sacos de boxe, locais de ringues e pesos espalhados por todos os
lados.
— É onde eu treino. Quer me ver lutando?
Eu o olho, assustada.
— Não.
— Você não gosta?
— Não gosto de violência — balanço a cabeça e percebo quando um
homem alto, três vezes o tamanho de Lian, se aproxima de nós. Ele tem
faixas enroladas nas mãos e está só de short preto, seu corpo inteiro coberto
de puro músculo.
— E aí, Lian! — estende a mão, o cumprimentando. — Você aqui na
semana?
— Vim trazer minha amiga para conhecer — ele gesticula para mim. —
Essa é a Isabelle.
— Oi, prazer. Sou David, tio do Lian.
Eu sorrio, muito desconcertada por estar no meio de um lugar estranho,
com pessoas estranhas, que eu não me sinto à vontade.
— Venha por aqui — meu colega de trabalho agarra minha mão e me
leva até um ringue. — Você vai ver como é legal isso. Sente aí — gesticula
um banco.
Eu sento, um pouco agoniada, meus olhos desviando para os lados
quando ele começa a desabotoar a blusa, então vejo alguns outros homens
espalhados pelo grande local, em seus respectivos treinos, todos parecendo
muito raivosos.
— Preste atenção nos movimentos que vou fazer caso você precise
utilizar algum com algum patrão engraçadinho — Lian diz, chamando minha
atenção de volta, então sobe no ringue, onde já tem um cara o esperando com
um sorriso.
Eu me remexo.
Tudo bem, isso pode ser legal. Eu vou me dar uma chance de ver a coisa
toda com outros olhos.
Pode mesmo dar certo.
Capítulo 31

Estou respirando com irregularidade enquanto a vejo caminhar em


minha direção. Parece cansada e… Diferente. Muito diferente. De todas as
formas.
Quando chega perto da mesa, ela parece sem reação enquanto me olha
de cima, os olhos claros mais abertos e um pouco amedrontados.
Me levanto e gesticulo a cadeira do outro lado.
— Olá, pode sentar, por favor — peço.
Ela o faz, mas parece nitidamente desconfortável. Não vou tirar sua
razão. Eu também estou. Mais do que poderia sequer imaginar.
Nós nos encaramos por um tempo e respiro fundo, decidindo iniciar o
diálogo.
— Obrigado por ter aceitado vir.
— Não foi nada — Lindsay põe o cabelo atrás da orelha. — Só não
posso demorar porque meus filhos estão na escola e preciso pegá-los —
sussurra, a vista baixa.
Engulo em seco.
— São três, não é?
— Sim. Dois meninos e uma menininha — sorri para a mesa, parecendo
gostar de lembrar deles.
— Estão todos bem?
— Estão, obrigada — ela respira fundo e então me olha, cautelosa e
insegura. É tão perceptível que tudo está errado. — O que você queria em me
pedir para vir aqui?
— Pedir o seu perdão — respondo, sem hesitação. — Me sinto culpado
pela forma que eu me afastei de você. Não fui homem, fui um idiota.
Lindsay tem um pequeno momento de surpresa, mas logo suspira.
— Não se preocupe. As coisas entre nós nunca teriam dado certo. Eu
estava grávida de um filho que não era seu e ainda por cima era uma burra.
Você nunca mereceu alguém como eu — sorri, um sorriso sem qualquer
brilho, que não alcança os olhos.
— Eu sinto muito — admito. — Sinto tanto, Lindsay. Se eu pudesse
voltar atrás, faria de uma forma diferente. Eu fui imaturo e idiota — ergo a
mão sobre a superfície da mesa e agarro a sua, o contato não me trazendo a
mesma sensação que guardava na memória. — Me perdoe, por favor. Eu me
sinto mal a cada dia pelo que fiz com você.
Ela me olha, dando um sorriso fraco.
— Já disse que você não precisa se preocupar. Os dias bons substituíram
o péssimo, o último. Eu precisei daquilo ou nunca teria caído na real.
— Não, você não precisava. Fui um insensível. Eu te amava, não devia
ter te deixado — respiro fundo. — Se você quiser, e ainda tiver algum jeito,
nós podemos tentar novamente.
Ela tira a mão da minha, em um reflexo. Parece assustada.
— Não, Luke — nega. — De jeito nenhum. Meus filhos ainda estão se
acostumando comigo, eu já os decepcionei tirando-os de perto do tio e agora
vou infiltrar outro homem na vida deles dessa forma... — balança a cabeça.
— Não. De jeito nenhum. Nós tentamos, mas não somos para dar certo. Eles
são minha prioridade agora. Já os fiz sofrer demais.
— Não quero prejudicar, só tentar restaurar o que tivemos…
— Tivemos, Luke — balança mais veemente a cabeça em negativa. —
É passado, não funcionou. Eu também não vou pegar meus problemas e jogar
em cima de você, que é livre. Isso não é nenhum pouco agradável de pensar
ou fazer.
— Mas nós tínhamos algo bom, Lindsay. Você lembra, eu me lembro.
Ela está chocada.
— Mas não temos mais, nunca teremos mais. Eu fui apaixonada por
você, sim, mas passou. As coisas sempre acontecem com um propósito,
Luke.
— Eu posso esperar, ser paciente...
— Não — ela insiste, definitiva. — Você precisa arrumar outra pessoa,
eu não quero mais homens na minha vida, não agora, com meus filhos. Eu te
perdoo e, de certa forma, agradeço por sua atitude, ou eu não teria aprendido
o que a vida pode me dar, mas não quero ficar com você.
— Lindsay, eu… — Pareço desesperado. Talvez esteja. — Não foi de
propósito. O que fiz. Eu estava de cabeça quente e fiquei apavorado. Pensei
que você tinha me traído.
Ela desvia o olhar e morde o lábio, então suspira fortemente.
— Sim, Luke — respira fundo. — Eu… — leva as mãos ao rosto. — Eu
acabei estando com outro homem enquanto namorávamos, porque não pensei
que fosse sério entre nós.
Minha boca se abre, em um movimento de impulso.
— Você disse que não tinha… — engulo em seco. — Me traído…
— Eu disse porque não queria que você se fosse — ela não me olha, está
envergonhada. — Mas, sim, eu traí você pouco antes de me pedir em
casamento. Eu sabia que precisava contar e… — suspira. — Eu estava
apaixonada.
— Você estava apaixonada e me traiu? — Somente um sussurro sai da
minha boca. Estou... Nem sei. — Que tipo de amor faz isso, Lindsay?
— Eu não disse amor, Luke — ela me olha e suspira. — Só estava
apaixonada.
— Você falou que me amava. — Estou tão perplexo que minha voz não
quer sair direito.
— Falei para você não ir, porque eu não queria enfrentar tudo sozinha.
Mas, eu preciso ser sincera com você, estou vivendo de sinceridade agora.
Não teria dado certo — afirma. — Mesmo que tivéssemos nos casado, eu era
uma garota, não iria ser uma boa esposa. Eu só te traria dor de cabeça, assim
como dei ao meu irmão. Ele sofreu por causa dos meus pecados, e isso era o
que teria acontecido com você. Eu só estou aprendendo o que é amar agora,
por conta dos meus filhos. Isso tem sido uma coisa gradual e eu pretendo
manter, mas sem alguém para tirar meu foco.
Ela suspira, então suaviza o olhar para mim.
— Eu te perdoo — repete. — Você sempre foi uma ótima companhia e
me fez feliz enquanto estivemos juntos e é isso que guardo comigo. Mas peço
que as coisas entre nós sejam esquecidas e que, por conta de nossos irmãos
serem casados, se nós tivermos que nos encontrar, tudo não passe de cordial e
social. Nunca nutri nada por você e, no fim de tudo, acho que eu que tenho
que te pedir perdão.
Dou uma risada. Porque é exatamente isso. Ou chorar. E eu não tenho
lágrimas, então escolho rir.
— Ok, Lindsay. Perdoada — respondo desorientado.
Ela me encara por uns segundos, então assente, se levantando em
seguida.
— Tenha uma boa vida, Luke. Você merece — diz e sai, me deixando
sentado e incapaz de conseguir respirar normalmente.
Capítulo 32

Estou indo novamente para o escritório do Luke em uma nova manhã.


Um novo dia. Ainda estou sorrindo por lembrar da noite com o Lian. Ele
tomou alguns socos, mas fingia não doer, depois o tio veio me dizer que era
só porque eu estava junto e ele não queria parecer frouxo.
Cumprimento a secretária e me dirijo à porta, dando duas batidas antes
de entrar.
Luke está em pé, olhando alguma coisa pela janela, parecendo distraído.
Me aproximo da mesa e pigarreio, para chamar sua atenção.
Funciona, pois ele se vira para mim em um instante. Parece… Eu não
sei.
— Bom dia — o cumprimento e coloco a pasta do dia anterior sobre a
mesa. — Aqui está o que me pediu. Houve duas entregas que não deram
tempo chegar e serão feitas hoje à tarde.
— Bom dia, Isabelle — ele parece profissional e nenhum pouco além,
então captura a pasta da mesa e a abre, conferindo as páginas por bastante
tempo.
Eu aguardo, ansiosa.
— Está certo. Já me enviaram a confirmação para a entrega de hoje —
ele me olha. — Bom trabalho pela boa organização aqui dos números.
Balanço a cabeça, em um aceno.
— Hoje você não precisa sair daqui. Não há algo para confirmar. Eu vou
te entregar uns documentos e quero que você os separe em pastas para
quando eu procurar saber o que é cada um. Minha secretária faz isso, mas ela
está ocupada devido a um monte de ligações que estamos recebendo por
conta da nova construção.
— Ok.
Luke caminha até uma estante e pega um monte de envelopes. Uma
pilha enorme. Ele vem em minha direção e me entrega, voltando rapidamente
para onde estava quando se certifica de que segurei bem.
— Pode sentar no sofá para fazer isso. As pastas estão dentro do armário
embutido naquela parede — aponta com a cabeça. — Fique à vontade e pode
perguntar se tiver alguma dúvida.
Eu assinto e caminho para o sofá de couro, onde sento e coloco os
envelopes ao meu lado. Levanto novamente para ir até o armário, onde
capturo seis pastas coloridas, duas folhas de papel adesivo e um pilot preto,
então volto para o sofá.
Começo a abrir os envelopes, então pegar as muitas folhas de dentro e
me ocupar em separá-las por ordem e igualdade.
Gasto a manhã inteira fazendo isso, meu olhar se erguendo para olhar
Luke vez ou outra, que parece imerso em sua própria tarefa, não desviando de
jeito algum.
Depois que todos os documentos estão separados, pego as folhas
adesivas e escrevo os nomes devidos. Feito isso, me levanto para voltar ao
armário em busca de uma tesoura. Quando acho, volto para me sentar e corto
os nomes em retângulos, colando os adesivos nas pastas.
A voz dele de repente chama minha atenção e eu levanto os olhos, o
vendo falar ao telefone. É com a secretária.
Retorno ao que estou fazendo e, depois de terminar, me levanto e levo as
pastas para a estante, as organizando nas prateleiras.
Pego os recortes de cima da mesa e os envelopes vazios, levando para o
lixo, então guardo a tesoura e me direciono para a mesa de Luke.
— Acabei — aviso. — O que preciso fazer agora?
Ele não me olha, apenas fala.
— Você pode ir almoçar. Quando voltar, não vou estar aqui. Terei que
viajar. Não sei por quanto tempo vou ficar fora. Dependendo, meu primo
mais velho deve assumir meu lugar por uns tempos — ele começa a escrever
alguma coisa em uma folha. — Já pode ir.
Eu simplesmente viro e caminho de volta à mesa, obtendo minha bolsa e
saindo porta afora, ansiosa por encontrar Lian.

***
— Você quer entrar? — pergunto ao Lian quando ele me deixa em
frente à minha casa.
Ele me olha e sorri. Está com os cabelos loiros ensopados por causa do
treino da vez. Foi melhor ainda do que no dia anterior. Dessa vez ele não
aguentou e acabou gemendo um pouco de dor, o que me deixou preocupada.
— Eu quero. Sua avó não vai ficar com raiva?
— Não. Ela vai gostar de te conhecer. Você está bem?
— Estou — ri e passa a mão no queixo, onde ficou um pequeno corte
então eu saio do carro, Lian me acompanhando.
Nós caminhamos até a porta, onde a destranco e logo avisto minha vó
sentada em sua poltrona, costurando como sempre.
Ela nos olha e parece um pouco surpresa quando percebe que estou
acompanhada.
— Oh, você chegou — diz e levanta-se, dando um sorriso.
— Sim, vó. Esse é o Lian, um amigo do trabalho. Ele me trouxe hoje —
o olho. — Lian, esta é minha avó Abigail.
Ele caminha até ela e dá um beijo em sua bochecha, minha avó sorrindo
pelo gesto e eu também.
— Prazer em conhecer a senhora.
— Igualmente, rapaz — ela me olha. — O que houve com o Luke? Por
que ele não trouxe você hoje?
Balanço a cabeça, Lian me olhando também, as sobrancelhas erguidas
em um óbvio tom de indagação.
— O Sr. Mackenzie está viajando e não sabe quando vai voltar —
respondo.
— Senhor Mackenzie? Quem é esse?
— É o Luke, vó. — Estou desconfortável.
— Viajar para onde? — insiste.
— Eu não sei.
— Ele foi? — É a vez de Lian.
— Ele disse que iria — o olho.
— Eles tem essa tendência — ele ri. — Meu pai disse que o pai desse tal
Luke fez a mesma coisa. Abandonou a empresa nas mãos do irmão e sumiu
por um tempo grande. Depois voltou cheio de marra.
Estreito os olhos pelo tom de nojo e desdém que ele faz o comentário.
Minha avó também parece perceber, pois o avalia.
— Bem, é melhor eu ir — Lian volta a sorrir e acaricia o ombro dela. —
Foi um prazer conhecê-la, Abigail.
— A você também — vovó sorri, mas não é seu sorriso habitual.
Ele se aproxima de mim e me deixa um beijo na bochecha, me
desejando boa noite e saindo em seguida.
Respiro fundo e observo quando ela volta a sentar e recomeçar sua
costura.
— Para onde o Luke foi? — questiona, sem me olhar.
— Não sei mesmo.
— E você nem perguntou?
— Não, porque não é da minha conta.
Minha avó assente, se calando, então eu peço licença e vou para meu
quarto, tomar banho e querendo dormir. E só dormir.
Capítulo 33

Dois meses depois…

Me concentro em ultrapassar a sala de recepção sem derrubar a pilha de


pastas. É só isso que me colocam para fazer, mas o que importa é que
consigo.
Abro a porta com dificuldade e logo me direciono para a mesa, deixando
os objetos em cima e respirando fundo, enquanto meu olhar se volta para o
homem sentado à minha frente.
— Você demorou um pouco — Dean fala. — Está tudo certo? — Ele
sempre parece tão sério, mas tão sério, que dá agonia.
— Estou — suspiro, tentando sorrir e fazer com que minha respiração
volte ao normal. — Quer dizer, está. O senhor precisa de mais alguma coisa?
— Você pode sentar um pouco — gesticula a cadeira ao meu lado. —
Parece estar cansada.
— Sim, o elevador parou em muitos andares e as pastas estão pesadas
— me sento.
— Entendo — ele apoia os braços na mesa e me encara. Eu fico um
pouco desconfortável porque os olhos dele são bem claros, contrastando com
o cabelo um pouco escuro e a pele alva. Eu já o conhecia de vista, mas
trabalhando, ele parece bem mais velho. Talvez seja a postura que ele admite.
Pigarreio, tentando sorrir.
— Posso fazer um comentário que talvez não te agrade e talvez você
queira me xingar? — pergunta.
Eu ergo as sobrancelhas, surpresa, mas assinto.
— Eu acho que a cada dia que passa você parece mais caída.
— Caída? — estreito os olhos.
— Sim, horrível. Você está parecendo meio morta ou algo assim.
Dou risada, um pouco envergonhada.
— Ah, obrigada pela… Pelo comentário — gesticulo.
Dean assente, se esquivando para trás, sem desviar o olhar.
— Não quero parecer um intrometido, mas costumo conhecer meus
funcionários e eu fui até minha irmã, perguntar um pouco sobre você.
Me remexo, imediatamente incomodada.
Toda sua família parece intrometida, é o que tenho vontade de dizer;
mas, apenas fico quieta.
— Não é incluso nos benefícios da nossa empresa, mas eu poderia te
encaminhar para um psicólogo, se você quiser — fala, soando muito
cauteloso, é perceptível.
Sorrio.
— Agradeço de verdade, mas não é necessário. Tudo que aconteceu
comigo faz muito tempo e já está tudo certo.
Dean assente.
— Tudo bem. Você pode ir embora. Deu o seu horário.
Me levanto e recoloco a bolsa no ombro, então aceno e dou tchau,
saindo o mais rápido que consigo para não perder tempo nenhum.
Psicólogo? Caída? Morta ou algo assim?
Engraçado.
Quando chego ao hall de entrada, Lian já está me esperando. Ele está
sorridente. Sorrio de volta.
— Você está pronta para a aula de hoje?
Eu assinto, muito contente.
Isso tem sido a perfeição nos fins dos meus dias. Lutar, quero dizer.
Lian me incentivou quando eu pedi para dar uns socos em um dos sacos de
pancada. Gostei tanto que ele me disse para bater nele mesmo e então
estávamos em uma luta sem que eu percebesse.
É divertido. É engraçado. Traz leveza. Alívio. Distração. Paz. E, o
melhor, eu paro de pensar tanto na minha vida. Porque pareço morta ou algo
assim...
— Com quem vou lutar hoje? — devolvo outra pergunta, animada.
Acho que estou. Isso deve ser animação.
— Comigo. Quero ver você me derrubar como fez com o Denis ontem.
Dou risada.
— É, mas foi só porque ele me desafiou.
— Vou te desafiar também, sua Junior.
Rio mais, animada por já poder ser apelidada como uma lutadora Junior.
É o único prazer que eu ainda posso ter. Que me alegro em ter.
E, o melhor, não sou proibida de sentir.

***

Estou concentrada enquanto tento não deixar o café cair de uma mão e
as pastas dos braços. Cumprimento a secretária e me apresso em chegar à sala
rapidamente. Dou duas batidas e entro, segurando as pastas embaixo do
queixo, como apoio.
Coloco em cima da mesa, juntamente com o café, e ponho as mãos na
cintura em seguida, suspirando.
Dean não está na cadeira, o que é estranho, então eu me viro para
procurá-lo, mas meus olhos se abrem um pouco mais ao ver Luke. É ele
mesmo, em pé, ao lado da porta, por onde acabei de passar.
Ele está escorado, as mãos nos bolsos da calça, o cabelo arrumado e a
barba bem feita. O olhar escuro está em mim, me encarando.
— Bom dia — digo um pouco surpresa. — Não sabia que o senhor ia
voltar… Hoje.
Luke inclina a cabeça um pouco para o lado.
— Voltei. Tinha que voltar.
Eu assinto e me viro novamente para a mesa.
— Estas são as análises de todos os departamentos de ontem para hoje
— aponto as pastas e agarro o café. — Eu trouxe o café favorito do Sr.
Mackenzie, seu irmão, mas vou pegar o que o senhor gosta, já que ele não
está mais aqui.
Já estou caminhando de volta à porta, quando Luke chega para o lado e
intercepta antes que minha mão chegue à maçaneta.
Retrocedo um passo.
— O senhor prefere que eu faça algo aqui?
— Como está sua avó? — ele cruza os braços.
— Bem, obrigada. Ela ficou um pouco doente, mas já está melhorando.
— Posso levar você hoje? Gostaria de vê-la.
Balanço a cabeça, tentando esconder minha surpresa.
— Você pode ir vê-la, se quiser, mas me deixar não.
— Por que não?
— Porque vou para a aula com o Lian, só depois vou embora.
— Aula? — Ele ergue uma sobrancelha e faz o barulhinho com a boca,
eu desviando o olhar porque sempre quero sorrir quando ouço e isso é muito
esquisito.
— De luta — explico.
— De luta?
— Posso ir? — Aponto a porta.
— Que luta? — ele insiste.
— Não tem algo a ver com o trabalho.
— Claro que não — ele se afasta da porta e dá um passo em minha
direção, ficando um tanto próximo, seu cheiro invadindo meu ar. — É por
isso que você está com o rosto roxo?
— Meu rosto não está roxo — minhas mãos vão à minha face em um
instante, num impulso.
— Claro que está — Luke se aproxima mais e sua própria mão se ergue,
seus dedos passando desde o meu queixo até minha bochecha. — Está muito.
Eu pensei que você tinha caído.
— Não caí — me afasto. — Gostaria de pedir para me retirar para…
— Para com isso — ele faz uma careta. — Por que isso de luta? Por que
você está tendo que deixar que te batam?
— Por que você está pedindo satisfação do que faço? — Estou irritada,
mas me contenho.
— Talvez porque eu deva me preocupar ao te ver cheia de hematomas.
— Não, você não tem. Eu quero passar.
— Mas não vai, merda — ele entra à minha frente, seu rosto pairando
acima do meu, os lábios juntos em um sinal de desagrado. — Quem te bateu?
Estou imediatamente perplexa.
— Não me bateram, foi um treino.
— Não se deixa o rosto de uma mulher assim, você é louca?
— Você é louco! — elevo as mãos, desacreditada. — Quem você acha
que é?
Luke me encara, os olhos mais abertos.
— Lian, não é? — questiona, então volta à porta e a abre, saindo
rapidamente em direção ao elevador.
Não sei o que pensar, mas meu instinto me diz para segui-lo e eu vou,
um pouco apreensiva e temerosa.
Capítulo 34

Eu estou cego.
Simplesmente ignoro o elevador e desço pela escada, tentando esvair
minhas emoções de alguma forma enquanto me esforço nos andares; mas,
quando chego ao terceiro, não tem funcionado.
— Lian — eu falo para a primeira pessoa que se aproxima então ela
aponta para um grupo de pessoas perto de uma mesa. Estão conversando e
distraídos.
Menos mil pontos para todos. Não se fica de papinho em horário de
expediente. Principalmente em uma empresa do meu comando.
Eu caminho até eles, alguns olhos já arregalando de surpresa ao meu
notar, mas, dane-se. Eu não me importo.
— Quem é Lian? — questiono sentindo meu ouvido zumbir. Já ouvi
esse nome.
— Eu sou — um cara responde. Também já vi esse rosto.
— Você é — eu confirmo antes de chegar até ele e destilar um soco em
seu lado direito do rosto, sua cabeça indo para o lado oposto e ele levando a
mão para onde bati.
Eu não aguardo ele se recuperar. Estou cego mesmo. Agarro seu
colarinho com a mão esquerda e o soco mais duas vezes no rosto, antes de
jogá-lo sobre a mesa.
Ele se levanta rapidamente e me olha com fúria, vindo para cima de mim
com tudo, mas eu desvio, passando a perna por baixo das suas e o fazendo
cair, então me sento sobre ele e encho seu rosto de socos.
Quantos eu consigo. Quantos posso. Até minha mão cansar.
— Sabe por que você está apanhando? — questiono, o fazendo me
olhar. O cara é forte, admito, está com os olhos bem vivos para mim. — Me
fala, seu desgraçado!
— Você é um homem morto — ele cospe sangue na minha cara, mas eu
dou outro soco em seu rosto.
— Você está apanhando porque não se bate no rosto de uma mulher
daquele jeito! E nem de jeito nenhum! — rosno, dando uma cotovelada em
seu queixo, seus dentes tintilando uns nos outros. — Simplesmente não se
bate em mulher!
Ele grita de dor e eu me levanto, chutando suas costelas.
— Levanta, caramba! Você não gosta de bater? Bate em mim!
— Desgraçado — ele geme, se contorcendo.
— Meu Deus! — É a voz de Isabelle. Não é exatamente a voz. Ela está
rouca ou algo assim, mas eu não consigo me concentrar nela, e sim no idiota
que está levantando do chão.
Nada se ouve, apenas nossas respirações.
— Eu não bati nela — ele fala, o rosto em fúria óbvia, então vem para
cima de mim. — Era um treino, babaca!
— Treino merda nenhuma! — o paro com um tapa em seu peito na hora
que ele se aproxima, ao tempo que rapidamente se esquiva para trás, por
impacto; e eu enlaço seu pescoço, o arrastando até o chão e prendendo sua
cintura entre minhas pernas, meus braços o enforcando. — Você sabe que
não foi um treino! Você queria machucá-la!
— Ele não quis! — Isabelle grita. Ela está com a voz trêmula. — Eu que
não desviei a tempo!
Eu a ignoro, então aperto mais o pescoço do cara.
— Eu devia te matar por deixá-la com o rosto assim. Devia te torturar
por ter deixado ela se machucar. Devia tirar o seu coração por ter se
aproximado dela — o largo só para levantá-lo junto comigo e o fazer cair de
novo com um soco forte no meio do rosto.
Ele rosna. Agora parece mesmo furioso.
— Levanta, desgraçado! — grito, cuspindo no chão.
Ele levanta com dificuldade e vem para cima de mim de novo com tudo,
mas eu o chuto, ele indo para trás, mas voltando e quase conseguindo acertar
meu rosto. Agarro seu braço a tempo e viro para suas costas, torcendo. Ele
grunhe e quando percebo que a dor já foi o suficiente, solto.
Ele cambaleia para trás e cai de volta no chão, então me aproximo e
chuto seu estômago, não para causar um estrago, mas para que fique ciente da
merda que fez. Muitos chutes. Consecutivos.
Ele está ensanguentado, mas não vai morrer. Não é para morrer, ao
menos, não ainda.
— Por favor! — Isabelle grita. — Meu Deus! Sem brigas! Por favor!
Eu olho para o lado, vendo-a com o rosto inundado em lágrimas.
Meu peito contorce.
Ela não está me olhando. Eu vejo. Consigo ver. Ela quer que eu pare,
mas não por ela, mas pelo tal Lian. A atenção dela está toda nele.
Rosno, desacreditado.
— Ele te machucou! — grito, incrédulo.
Isabelle corre de repente, me ignorando completamente.
Para ele.
Estou prestes a me afastar, pasmo, desacreditado, completamente
arrependido de ter causado a merda de uma cena à toa porque ela ainda está
preocupada com o babaca que deixou seu lindo rosto machucado.
Então é muito rápido quando sinto o impacto contra meu peito e, logo
em seguida, o grito esganiçado.
Meus olhos não focalizam bem, mas ela correu para minha frente e eu só
vejo a perna do cara abaixar e Isabelle caindo contra mim.
Em um reflexo, me abaixo com ela para o chão, as mãos dela indo para a
barriga, Isabelle se arqueando em busca de ar, os olhos lacrimejando.
— Luke… — ela geme.
Minha boca seca, meu corpo treme e eu não consigo pensar.
Os olhos dela se fecham de uma vez e eu tenho certeza que parei de
respirar.
Capítulo 35

Estou sem me sentir enquanto minhas mãos pressionam o tórax de


Isabelle, em uma forma de ajudá-la a respirar.
— Isabelle! — grito, mas não passa de um sussurro esganiçado. Tudo
sumiu para mim e apenas ela, deitada, desacordada e inerte, é o que vejo. —
Acorda, por favor!
Persisto na ação de chamá-la e tentar reanimá-la, mas não funciona.
Aproximo meu ouvido de sua boca, nenhum som e fico desesperado.
— Isabelle! Pelo amor de Deus, abre os olhos! — pressiono mais
veemente em seu peito, minhas mãos querendo tremer, mas não me dou
tempo, preciso fazer com que ela abra os olhos e respire.
Estou alucinado. O tempo parou.
— Ela não vai respirar assim — alguém diz, mas ignoro, minhas mãos
prosseguindo na ação.
O corpo frágil parece ainda menor com ela assim e eu a agarro em meus
braços, correndo porta afora, entrando no elevador depressa e esperando que
ele faça seu percurso o mais rápido possível.
Eu corro assim que as portas se abrem novamente, então saio pela rua,
mas logo vejo uma ambulância estacionando no mesmo momento. Alguém
chamou e eu agradeço mentalmente.
Caminho em direção. As portas traseiras se abrem e dois paramédicos
saem, então tentam se aproximar para pegá-la, mas eu subo no veículo e a
deito na maca.
— Acelera! — Eu grito. — Ela não está respirando! Não está
respirando!
Os paramédicos retornam imediatamente e começam seu serviço, o
motorista saindo no mesmo instante, Isabelle estando mais branca. Eu me
desmonto.
— Pelo amor de Deus, faz isso rápido! — eu agarro a mão dela gelada
na minha. — Ela não pode morrer!
Eu sei que golpe foi esse. Foi para me matar, sem sombra de dúvidas.
Era para ser em mim.
— Ah, meu Deus! — meu antebraço vai aos meus olhos, em reflexo
para tirar o suor. — Ela não pode morrer! Deus, não pode!
As portas da ambulância se abrem e já estão médicos nos esperando com
outra maca. Rapidamente Isabelle é colocada na segunda e eu vou, correndo
junto com eles.
Sou barrado quando chego quase na sala para qual a levam.
— O senhor não pode passar daqui — alguém fala, mas só consigo vê-la
sumir da minha vista. — Traremos notícias.
— Trarão notícias!? — grito. — Eu vou com ela! Ela não vai morrer!
Ela não pode morrer! Não está morta!
— Faremos o possível, senhor. Agora o senhor tem que esperar aqui.
— Vocês… — minhas palavras morrem. Eles farão o possível. O
possível para reviver alguém que levou um golpe fatal.
Tudo escurece de repente e eu cambaleio para trás, já sem ter muita
certeza de nada, só de que, sim, vou matar aquele desgraçado com minhas
próprias mãos.

***

Eu abri os olhos e estava em uma sala. A enfermeira disse que desmaiei,


mas não me lembro e não me importo, a única coisa que quero saber é sobre
Isabelle.
Minhas pernas estão presas e pesadas ao chão, enquanto eu observo um
médico se aproximar. É o que me impediu de entrar, tenho certeza, já que ele
está olhando exatamente para mim.
— Você está com a menina que chegou sem respirar? — questiona
assim que se aproxima.
— Ela não estava morta — digo, me sentindo trêmulo.
— Não estava — ele assente, como se me entendesse. Mas não entende,
ninguém entende. — Porém, infelizmente, ficou sem respirar por alguns
minutos. Mas, já está bem e respira aos poucos. Está tomando controle de si
novamente. Por pouco ela não teve alguma hemorragia interna e o que
aconteceu quase alcançou a bacia.
— Deus — minhas mãos vão ao rosto. — Como ela se sente?
— Ela está se recuperando. Pode vê-la, se quiser. Mas não a deixe fazer
muito esforço. Ela vai precisar de uns dias para ficar totalmente boa.
Eu assinto, meus pés me levando até onde o médico me guia, por entre
um segundo corredor, então a uma porta.
Eu a vejo deitada, a boca aberta, nitidamente em busca por um controle
sobre o próprio corpo. Meu peito aperta.
Me aproximo da cama, o corpo ameaçando falhar. Isso foi a morte de
perto. Quase tocável.
— Oi — me pronuncio chegando ao seu lado, Isabelle virando o rosto
para me ver. Está pálida como um papel. Eu sou o culpado.
Um sorriso, ou um indício de um, surge em seu rosto e ela respira mais
profundamente.
A olho de cima, meus dedos levantando e percorrendo sua face. Estou
esmiuçado. Eu só sirvo para prejudicar as pessoas que se aproximam de mim.
— Você... Está bem? — ela pergunta, quase não falando.
— Isabelle… — fecho os olhos um instante, não querendo ver o que
quase vi. — Por que fez isso?
— Você… — tosse, então geme de dor. Acaricio seu rosto com mais
veemência, buscando passar algo melhor a ela. — Você estava… Distraído.
Lian ia… Ele ia acertar você.
— Deixava me acertar… — inclino meu rosto até estar próximo ao dela.
— Não acredito que você entrou na frente. Poderia ter… — Não termino.
Não consigo.
— Poderia… — ela concorda, então encosto nossas testas e fecho os
olhos, uma respiração profunda me escapando porque, sim, ela gostaria que
isso tivesse acontecido. É bem óbvio pelo seu tom ao falar.
Isabelle queria ter morrido. Ela sabia que isso poderia ter acontecido.
Ela queria.
— Você não pode morrer, minha bela — murmuro, querendo passar
meu ar para ela de alguma forma. — Nós ainda precisamos descobrir.
— O quê? — pergunta, tão baixinho que eu penso que foi apenas minha
imaginação.
Afasto o rosto para conseguir olhar em seus olhos.
— Precisamos descobrir como fazer a vida valer a pena — revelo. — E
nós vamos. Eu prometo que vamos.
Ela sorri, tão desanimada que perco o chão.
— Vamos, Luke… — então fecha os olhos, querendo submergir em um
sono, fugindo assim da realidade.
A realidade que está prestes a mudar. Eu vou fazer mudar e vou fazer
acontecer, porque já chega de sofrer ou eu não me chamo Luke Mackenzie.
Capítulo 36

— Eu não estou apaixonada por você — Isabelle diz, depois de se


recuperar dos risos. — Quero dizer, eu não sinto absolutamente nada por
você.
— Nada? — questiono um pouco entristecido. — Você entrou em
minha frente quando eu ia levar um golpe.
— Aquilo foi uma reação, Luke. Impulso. Não teve absolutamente a ver
como algo que sinto por você. Desculpe.
— É um não?
Ela balança a cabeça.
— Sim, é um não.
Mordo o lábio, desviando o olhar.
Sim, na minha cabeça faz muito sentido. Isabelle e eu namorarmos. Duas
pessoas completamente diferentes tentando se entender. Poderia funcionar. A
ideia é boa. Só o que eu temia aconteceu: ela não aceitou.
— Você é apaixonada por ele? — eu pergunto e ela ri mais um pouco.
— Não seja idiota, eu não me apaixono.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer o que eu disse, não me apaixono.
— É impossível — rebato.
— Não, não é. Obtive muito êxito até agora e pretendo continuar assim.
— Você não me daria uma chance? Em nenhuma circunstância?
— Por que está me pedindo isso? — pergunta, agora um pouco suspeita.
— Não faz qualquer sentido.
— Não faz, mas é uma tentativa...
Talvez eu esteja um pouco louco, mas, depois da conversa com Lindsay,
onde realmente consegui entender toda a verdade — a merda de toda a
verdade — só quero fazer com que esse peso saia de cima de mim. Essa
impressão de que não posso ser algo para alguém.
Eu posso. Também consigo. Mesmo que eu tenha uns problemas, uns
empecilhos… Essas coisas podem ser irrelevantes, se assim eu resolver
decidir.
— Não quero — Isabelle reafirma.
— Pode ser legal. Pode funcionar — eu a olho, porque, sim, eu quero
tentar. Mesmo que não faça qualquer sentido para ela. — Você nunca
experimentou o que pode ser um namoro.
— A ignorância é uma bênção.
Suspiro. Estou um pouco decepcionado. Muito.
— Isabelle — ergo meu olhar para ela o mais firme possível. Tenho
noção de que pareço um cachorro abandonado mendigando um lar, mas, não
me importo, sinceramente. — O que importa é que você precisa aprender a
perdoar sem ter esse medo, entende? Esse medo de recomeçar.
— Recomeçar o quê? — ela sorri.
— Sua vida.
— Minha vida está boa, Luke.
Faço uma careta, o sorriso dela insistente nos lábios, mas sem qualquer
brilho.
— Você sabe que não está — suspiro. — Podemos fazer funcionar um
relacionamento. Eu posso te mostrar que é bom. Consigo fazer isso.
— Já ouviu dizer que, o que você faz fala tão alto que eu não consigo te
ouvir? — ela respira fundo. — É isso. Eu não posso entender ao menos aonde
você quer chegar se a primeira impressão é a que fica. E a que você me
passou não foi nenhum pouco legal. Sim — Isabelle balança a cabeça —, não
vou ser uma ingrata. Sua atitude de me resgatar das garras da víbora na festa,
foi ótima, e eu agradeço de coração, mas, fora isso — ri. — O que posso
falar? Você foi bruto, imaturo, estúpido e frio comigo.
Seus ombros caem, como se ela lamentasse.
Eu também lamento…
— Não entendo, Luke. Não mesmo. Se não valho a merda de nada para
você, por que me fez essa proposta?
Desvio o olhar, arrependido e envergonhado.
— Eu não sei, Isabelle — suspiro, destruído. Estou assim. Não consigo
me situar e pareço um pouco carente. Talvez seja só isso. Carência. — Não é
verdade o que eu disse. Eu não sei por que falei aquilo.
— A boca fala do que está cheio o coração.
Eu a olho.
— Você tem sempre uma frase para cada coisa? — questiono.
Ela dá uma risadinha, o roxo de seu rosto chamando minha atenção e eu
me controlo para não ficar irritado em como ela pode ter deixado isso
acontecer.
— É inconsequente — dá de ombros. — Você já viu a Pérola?
— Não conheço essa cachorra — suspiro, indo para a cabeceira de novo.
Ela ri.
— Pérola não é uma cachorra, Luke, é a sua funcionária da recepção da
loja de roupas do shopping — me olha, gesticulando. — Ela é uma boa
mulher. Você devia pedi-la em namoro.
— Não é assim. Eu não vou fazer isso com alguém que não conheço.
— Ué — ela ergue as mãos. — Você também não me conhece.
— Superficialmente, conheço.
— É, mas só desse jeito.
— E vai ser só assim, pelo visto…
— Vai mesmo — ela confirma e se remexe. — Para onde você foi esse
tempo todo?
— Espanha. Fui ver se conseguia comprar uma casa por lá, mas não
tinha nenhuma que me agradasse.
Ela ri.
— Oh, que vida difícil — dramatiza irônica.
Eu a olho.
— Estive trabalhando de lá. Dean me disse que você é muito boa em
obedecer — comento.
Ela suspira e se abana.
— Belo homem. Difícil trabalhar com ele todo sério daquele jeito. Uma
falta de ar constante quando ele está por perto...
— O que você está dizendo? — me ajeito, surpreso e incomodado.
Isabelle ri.
— Estou brincando. Aliás, todos os homens da sua família são lindos?
— Somos, é a genética.
Ela ri mais alto.
— Você nem está brincando, não é?
— Não — nego.
— Um dia espero ter sua autoestima.
— Você vai ter — sorrio, ou tento. — Quer assistir um filme então?
Está sentindo dor?
— Um pouco dolorida na barriga — se remexe. — Acho que não vou
poder tocar nela por um tempo, mas bem, obrigada.
Suspiro e me levanto, caminhando para pegar o notebook e trazê-lo para
a cama.
Entro embaixo do edredom com ela e sento ao seu lado.
— Gostaria de um suspense, por favor — fala.
— Já viu Hush?
— Não — ela se apoia em mim.
Sorrio.
— Então é esse mesmo — ligo o notebook e apago a luz ao lado da
cama.
— Eu vou poder dormir? — Isabelle pergunta.
— Espero que sim — rio.
Fui negado, mas ao menos ela aceitou ver um filme na minha
companhia. Não fui repelido. Isso é um bom sinal.
Ao menos uma amiga eu vou ter.
Não é?
Capítulo 37

Eu estou um pouco assustada pelo filme e muito incomodada porque


Luke só ri ao meu lado. O que é tão engraçado? A pobre moça está sofrendo
horrores.
— Se ela namorasse comigo, nunca que ia passar esses perrengues —
ele murmura, me olhando um pouco.
— Isso é muito tranquilizante de saber — rebato irônica e ele ri mais.
— Ah, deixa disso. Por que esses olhos arregalados? É só um filme.
— Um filme de terror.
— Suspense — corrige.
— Que seja. Está me dando medo do mesmo jeito.
Ele sorri e ergue um braço, passando por trás de mim e me puxando
mais para seu lado. Eu me aconchego mais nele, mas só porque estou com
muito medo.
— Melhor? — questiona sua voz quase abafada em minha têmpora, mas
estou mais concentrada em ver a mulher fugir do assassino que já entrou na
casa. — Responda — Luke pede.
— Estou — falo, então sinto seus dedos percorrerem meu braço em um
toque leve.
Me remexo, só para me ajeitar melhor nele.
Sem dúvida alguma, Luke é bem maior do que eu, o que me deixa pouco
abaixo de seus ombros. Tendo a certeza de que estou junto o suficiente,
inclino a cabeça para o lado e apoio em seu peito.
O conforto é imediato, apesar de dever ser estranho, mas ele acaricia
mais meu braço, e eu deixo, porque estou temerosa.
Minha barriga está doendo um pouco, uma dor muito desconfortável,
mas eu tento não me concentrar nela porque minha atenção está voltada ao
filme. Ou estava, porque logo sinto o ar quente contra o lado do meu rosto.
É um ar quente e suave, e eu suspiro, quase fechando os olhos porque é
muito bom. O clima está confortável. As luzes apagadas, a maciez do colchão
sob mim, a sensação do corpo firme junto ao meu… Pode ser bom. Apesar de
eu quase ter morrido por um chute de alguém que eu estava considerando
meu amigo…
— Você está tremendo… — Luke diz em meu ouvido e eu estremeço.
— Medo ou frio?
— Medo.
Ele fecha o notebook bem na hora que o assassino é morto, e eu me
esquivo, surpresa.
A luz do abajur é acesa e Luke levanta, abrindo uma porta e sumindo
dentro; quando volta, é com um violão marrom.
Ele torna a sentar na borda da cama e bagunça os cabelos com uma mão,
antes de apoiar o instrumento na perna e se endireitar.
— Vamos tirar o seu medo — informa e toca um acorde, pigarreando.
Estou mais que impressionada quando ele começa a cantar.
Luke começa a cantar... Para mim?
Quer dizer, ele sabe cantar? Desde quando? E… Que voz é essa?
Meu queixo provavelmente está indo para o chão.
— Aguente… Aguarde… Não se assuste… — ele me olha rapidamente.
— Você nunca mudará o que aconteceu e passou... Que o seu sorriso
brilhe...
Eu me remexo. Oh, nossa… Isso é esquisito...
— Não tenha medo, seu destino talvez te mantenha aquecida. Porque
todas as estrelas estão desaparecendo. Apenas tente não se preocupar, você
as verá algum dia... Pegue o que você precisa e siga seu caminho, e faça seu
coração parar de chorar.
Pigarreio, incomodada.
O que é isso?
— Levante, vamos… — sua voz se torna mais baixa, me dando um
certo… não sei, é estranho. — Por que você está assustada? Você nunca
mudará o que aconteceu e passou…
Coço a cabeça, sem saber o que fazer então cruzo os braços.
— Porque todas as estrelas estão desaparecendo — Luke continua
cantando, a voz perfeita. — Apenas tente não se preocupar, você as verá
algum dia. Pegue o que você precisa e siga seu caminho, e faça seu coração
parar de chorar…
Ele só toca por algum tempo, olhando para o violão, então novamente
para mim.
— Nós somos todas as estrelas, nós estamos desaparecendo… Apenas
tente não se preocupar… Apenas pegue o necessário e siga seu caminho,
Isabelle, minha bela…¹
Que merda de apelido, quero dizer; mas, ele mantém o olhar no meu, me
dando calafrios.
— E faça seu coração parar de chorar… — completa. — Parar de
chorar.
Luke toca por mais uns segundos antes de colocar o violão no chão e me
olhar novamente.
Estou buscando algo em minha mente para dizer, mas é quando ele
engatinha pela cama e me alcança de novo, seu rosto vindo de encontro ao
meu e ele encaixa nossos lábios, murmurando:
— Eu posso fazer o seu coração parar de chorar — e me beija. Um beijo
suave. Calmo.
E eu ainda não estou pensando porque...
O que acabou de acontecer?
Eu não sei como reagir porque é completamente inusitado o que está se
passando. Luke está me beijando. Isso depois de ter tocado e cantado. Mas
também após ter falado um monte de merdas sem qualquer sentido ou
cabimento.
Correspondo seu gesto, esperando que ele se afaste por conta própria,
porque é bem óbvio que parece que está muito triste com algo. Eu não me
importo, sinceramente, a única coisa que sei é que minha vida era um bicho
de sete cabeças e se tornou de um milhão, depois que o conheci. É até
drástico.
Ele me dá pequenos selinhos e se afasta. É muito estranho.
Quase acho que ele parece decepcionado quando me olha e percebe que
estou de olhos abertos. Mas como poderia ser? Nem sei por que ele fez o que
fez. Como poderia fechar os olhos?
Sua respiração profunda quase me faz sentir culpa.
Coço a bochecha, um pouco desconcertada.
Luke dá um sorriso fraco, tão sem vida que eu desvio o olhar.
— Você quer ir para casa?
— Por que é que você não me conta porque está agindo como um
maluco? — palpito.
— Não estou — ele suspira. — Sabe quando falei aquilo na casa da
praia? Sobre você?
— Claro que sei. — Como eu poderia esquecer?
— Eu estava irritado — me olha. — Comigo, por sempre fazer a coisa
errada; com a vida, porque sempre me dá umas coisas que não sei enfrentar; e
com meu pai, porque ele tinha me dito umas coisas que eu não queria ouvir
— uma respiração profunda e Luke vagueia o olhar, sem focar em nenhum
lugar. — Sabe quando você acha que as consequências da vida de uma
pessoa foram por sua culpa? Eu achava isso da minha ex-noiva.
Me remexo, incomodada.
— Acho que você tem que parar de ser como um livro de história, ficar
vivendo no passado, lembrando dessazinha que deve ao menos querer saber
se você sofreu algum arranhão enquanto estava no exército. — As palavras
simplesmente escapam da minha boca e eu me recrimino.
Luke, no entanto, somente assente, concordando comigo.
— Eu estive indo conversar com ela, sabe?
Me surpreendo, mas não demonstro.
— Ela me disse umas coisas que eu não sabia. Foi como se eu tivesse
levado um soco, porque… — ele dá um riso rápido — Uma das piores coisas
que existe na vida é você pensar que foi uma coisa, quando na verdade tudo
não passou nem perto do que você imaginava. Chega a ser… Doloroso.
— Eu lamento por você — pois lamento mesmo, principalmente porque
Luke parece perdido na própria mente.
— Demonstrei o que não devia para quem não merecia…
— As pessoas não merecem a maioria das coisas, Luke. Acho que você
deve parar de se martirizar pelo seu passado com essa mulher e seguir a sua
vida. Você não pode ficar focado em alguém que já passou, já era. O que
passou, passou e o feito não pode ser refeito.
Ele me olha, assentindo.
— É um pouco doloroso, mas eu até tentei me prontificar a ficar com ela
de novo porque eu queria me redimir por como tudo se deu — ele hesita. —
Mas no fundo, foi só egoísmo. Eu queria aliviar a minha própria culpa e não
era por ela totalmente. Só queria me sentir bem de novo.
— Você é um homem muito confuso e complicado — deixo claro. —
Eu imagino que você precise fazer umas coisas novas, sabe? Esquece essa
mulher, aproveita o seu dinheiro e vai viver um pouco. Também acho que
você precisa tirar esse mau humor. Você ainda tão jovem e já carrancudo
assim... Uma coisa é ser sério, como seu belo primo, outra é ser chato e
causar nas pessoas a vontade de te atirar de um prédio.
Ele ergue as sobrancelhas, mas logo dá um risinho contido.
— Você sente vontade de me atirar de um prédio?
— Não, mas metade do RH, sim.
— Deixe que tenham.
— E o que você resolveu com a mulher?
— Perdoados e vida que segue — ele volta a sentar ao meu lado. — Ela
não me quer.
— Bom para outras — dou risada e o olho.
Luke ergue uma sobrancelha, dando um sorriso de canto. É charmoso.
Ele é.
— Você quer ouvir algumas histórias interessantes? — questiona. —
Sobre o exército…
— Eu quero, apesar de achar que o seu interessante deve ser um pouco
pesado para mim — me viro para ele, contendo um suspiro de incômodo pela
minha barriga. Acho que posso golpear Lian fortemente pelo que ele me fez.
Ou pelo que ia fazendo ao Luke.
Ele parece imediatamente empolgado com minha resposta.
— Outro dia, em um treino na selva, eu caí e quase quebrei o braço —
parece mesmo muito animado. — Mas um amigo sabia que era só um jeito e
resolveu para mim.
— E como ele resolveu?
— Colocou no lugar.
Faço uma careta.
— Isso deve ter doído.
— Não tanto quanto o arame que atravessou minha barriga. Por pouco
não me fura gravemente — ele ri. — Foi um dia engraçado porque foi quase
na mesma hora que eu ia pisar em uma cobra.
— Meu Deus, que azar…
— Não é azar, é que essas coisas acontecem mesmo. Nós acordamos
muito cedo para ir treinar e precisamos estar atentos mesmo que estejamos
morrendo de sono — ele balança a cabeça. — Uma vez, tomei uma garrafa de
um litro de café para conseguir ficar acordado e não me atrasar. Foi uma
loucura. Passei o dia ligado no 220.
Dou risada.
— Acho que você não precisa tomar café para ficar no 220.
— É verdade… — ele hesita, seu olhar se tornando mais sério. — Não
preciso. Muita coisa me deixa ligado de verdade, só preciso do incentivo
certo…
— Deve ser — eu sorrio, mas Luke não responde ao meu gesto, somente
fica me encarando, todo sério. — O que foi?
— Eu posso te levar para jantar? Falando sério. De um jeito legal, sem
palhaçada ou premeditando alguma coisa.
Minhas sobrancelhas se erguem em surpresa e eu quase rio.
— Não sei porque essa sua insistência, Luke — despejo.
— Porque, eu já disse, nós podemos dar certo. Somos como cargas
negativa e positiva — ele se aproxima mais —, quando perto, nós nos
ligamos e funcionamos. E isso nem é uma cantada, é só a ciência.
— Bem, pois para mim somos duas cargas negativas.
— Não, Isabelle. Somos diferentes, é o que quero dizer. Só estou
fazendo um convite. Se você aceitar, maravilha. Se não, tudo bem também.
— E quando seria?
— Sexta à noite.
Desvio o olhar, um pouco apreensiva.
— Está bem, mas, Luke — eu o olho —, se você vier com palhaçadas,
agora eu sei lutar um pouco, e falo sério, eu te machuco.
Ele olha para minha barriga, então assente.
— Você não vai precisar. Eu prometo.
Eu não sei exatamente o que vale a promessa dele, mas assinto.
Um jantar e ok.
Capítulo 38

— O que está fazendo? — Minha vó pergunta quando entra em meu


quarto.
— Estou me arrumando.
— Mas você acabou de chegar.
Eu me viro do espelho, segurando o vestido em frente à barriga, para
que ela não perceba o hematoma e me questione.
— Sim, mas o Luke me convidou para jantar em um lugar ou algo
assim.
Ela estreia os olhos, suspeita.
— Convidou? Por que você não me disse?
— Porque eu me esqueci, desculpe.
Minha vó me olha e então desvia para a cama, onde vê a sacola do
vestido que comprei. Não só o vestido.
Suspiro quando ela começa a se aproximar e a abre, obtendo o conjunto
íntimo que também gastei o meu dinheiro.
— O vestido precisa de um sutiã mais discreto — explico quando ela
pega as peças na mão e se vira para mim, o olhar questionativo. — Eu não
tinha um bom, resolvi comprar.
É verdade que ela me obrigou a guardar meus dois últimos pagamentos,
mas esse eu resolvi, ao menos, usar para isso. Luke me garantiu que a janta
não seria em sua casa, o que me deixou entristecida, porque eu gosto de lá.
— Que bom que resolveu tomar vergonha na cara, Isabelle — ela volta a
colocar as peças na cama. — Ainda quero o Luke jantando conosco amanhã.
— Ele vai, vó — me direciono para a cama. — A senhora poderia me
deixar terminar de me arrumar, por favor? — sorrio, um pouco sem graça por
ela continuar olhando a calcinha e o sutiã.
Não é nada extravagante, apenas de um tecido macio e de um vermelho
escarlate brilhante. Eu gostei tanto que não pude evitar.
— Você sabe que esse sutiã não tem nada de discreto, né? — ela
questiona.
— Para o vestido preto, ele é.
— Hm — murmura e sai, sem dizer mais nada.
Exalo a respiração, um tanto envergonhada. Podem ser peças ousadas,
eu concordo, mas não foi a minha intenção. Eu só gostaria de ver como fico
nelas. Se fico bonita. Devo ficar. Qualquer mulher teria de ficar com o preço
que cobraram.
Tiro o vestido da frente do corpo e agarro as peças, ansiosa por colocá-
las. Quando o faço, corro para o espelho e estou imediatamente sorrindo
porque fico maravilhosa.
Quero ficar me admirando, mas lembro que Luke vai chegar logo, então
termino de me arrumar.
Ainda não sei o que se passa na mente dele em insistir com isso de ficar
por perto, mas estou contente pelo meu bom investimento e simplesmente me
contento por isso.

— Sempre vai conseguir fazer minha avó babar por você? — questiono
ao Luke, enquanto nos direcionamos ao seu carro.
— Sim, porque eu sou demais.
Eu o olho e lá está a expressão que demorou a aparecer. E, de alguma
forma, fez falta.
— Você é muito idiota.
Ele sorri, abrindo a porta do carro para mim e, antes que eu entre, sinto
sua respiração muito próxima. Pode ter sido impressão, é claro, mas também
ouvi um som. Um ruído ou algo assim.
Luke está ao meu lado em instantes e o seu cheiro se espalha pelo
veículo.
— Pronta para a melhor noite da sua vida? — questiona, com um sorriso
de canto.
— Estou com fome, na verdade.
Ele estreita os olhos e sorrio.
— Ok, vamos te levar para comer — fala.
— Vamos comer.
— Nós vamos — ele me dá uma piscadinha e liga o carro, nos tirando
do meio do nada.
Eu não sei para onde estamos indo, mas quando ele faz várias curvas e
dá voltas por lugares que não conheço, começo a me remexer. Está um pouco
frio por conta do ar gelado do carro e eu o olho, a fim de perguntar.
— Onde vamos?
— É uma surpresa.
— Pois eu não gosto de surpresas.
— Você vai gostar.
— Não vai me dizer?
— Não, Isabelle. Se não deixa de ser uma surpresa.
Suspiro, contrariada.
— Por que você não me deixou sair da sua sala nos últimos três dias? —
pergunto. Ele não deixou, e isso me incomodou, porque eu já estava
acostumada a carregar pastas pelo prédio e a ir em vários lugares atrás de
números.
— Porque o médico me disse que você precisava de uns dias para se
recuperar.
— Certo, mas me sinto bem.
— Que bom.
Suspiro de novo.
— Você não vai mesmo me dizer para onde estamos indo?
— Apenas saiba que você vai gostar.
Me recosto no banco, indignada. Mas, tudo bem, se eu vou gostar, posso
esperar.
Depois do que parecem muitos minutos, Luke finalmente estaciona.
— Nós chegamos — avisa e sai do carro, a porta ao meu lado sendo
aberta em instantes e a mão dele se estendendo à minha frente para eu
segurar.
Estou um pouco em conflito, mas tiro o cinto e aceito sua ajuda. Olho
em volta, um pouco perdida, então estou boquiaberta.
— Um Porto? — indago. — O que estamos fazendo aqui?
— Não é o que estamos fazendo, é o que vamos fazer — ele fecha a
porta e segura minha mão mais firmemente, me incentivando a caminhar com
ele pelo caminho que estão distribuídos alguns barcos pequenos.
Estou impressionada e incapaz de falar.
— Eu não sei nadar — digo, impulsiva.
Luke não responde, apenas para ao lado de um iate e sobe. Me afasto um
passo, embasbacada.
— Venha — ele estende a mão novamente para mim. — Vamos
conhecer o Gabe.
— O Gabe?
— O meu iate — sorri.
Estou tão pasma que apenas me aproximo de novo e ponho minha mão
na sua, Luke me ajudando a subir.
Quando estou firme sob o chão, ele sorri para mim.
— Vamos nos divertir — diz e leva minha mão aos lábios, beijando.
Ainda estou tentando entender, mas assinto e o deixo me levar para o
meio do transporte, temerosa, porém confiante de que pelo menos uma
comida boa eu vou comer.

***

Estou sentada nesse sofá marfim que, posso afirmar com certeza, é mais
macio que a minha cama. Luke me deixou aqui e foi por uma portinha,
sumindo lá dentro por uns cinco minutos.
Eu deixo meu olhar percorrer o pequeno cômodo, que tem uma estante
com TV e alguns outros aparelhos eletrônicos; também um bar, uma poltrona
preta de couro e uma mesinha de xadrez com duas cadeiras. É bem
confortável e íntimo. Na verdade, tudo relacionado ao Luke parece ser assim.
O escritório, a casa dele, a casa na praia e agora o Gabe.
— Você está sorrindo — ele reaparece, chamando minha atenção. Está
muito bonito em uma camisa social azul clara e o jeans escuro, contrastando
com os sapatos de couro marrom e o relógio prateado reluzente em seu pulso.
É uma cena bonita.
— Estou pensando que os lugares que você tem são muito agradáveis de
estar.
— São mesmo — Luke traz uma panela de porcelana cinza que está
tampada e coloca sobre a pequena mesinha de centro que está bem em frente
ao sofá. — Fondue — tira a tampa. — De queijo. Você gosta?
— O que é? — ergo a sobrancelha, mas imediatamente o cheiro
delicioso me embala e sei que vou gostar.
Ele dá um risinho.
— É uma receita boa para o inverno. Se não comeu, vai experimentar.
O observo sair novamente e, quando volta, traz dois pratos com garfos
normais e outros dois grandes.
Ele põe um prato com cada talher em minha frente e o outro onde vai
sentar, ao meu lado.
— Você que fez? — pergunto, passando as mãos nervosamente no
vestido. Luke parece sempre tão à vontade com tudo que faz, que é um pouco
intimidante.
— Sim. Esqueci o principal — ele ri e levanta de novo, voltando bem
rápido com dois recipientes de vidro. Um contém pãezinhos cortados e o
outro, carne, todos cortados em quadradinhos pequenos. — Agora sim.
— Parece… Bom.
Ele sorri e pega o garfo maior de seu prato. Bem maior.
— É assim, você espeta o pão ou a carne aqui. Espeta bem para não ter o
perigo de soltar quando levar ao molho — ele mergulha o garfo na tigela —,
aí, quando você for levar para o prato, dá uma voltinha assim para não
respingar na mesa e pode tirar com o garfo. Esse aqui — mostra o garfo
maior —, você pode apoiar aqui em cima, não tem problema — põe sobre a
panela.
Eu sorrio.
— Obrigada pela aula.
— Disponha — pisca para mim e pega o pãozinho com os dedos,
jogando na boca.
— Ei, isso não é nenhum pouco educado — dou risada.
— Eu sei — gesticula a mesa —, pode se servir. Vamos ser sem
educação juntos.
Eu assinto, me debruço e pego o garfo maior, espetando na carne e
levando à panela, obtendo o molho e fazendo como Luke disse, então trago
ao meu prato e tiro com o garfo normal, trazendo até a boca.
Um gemido de satisfação é inevitável. Está perfeito.
— Hmmm — Luke me imita. — Tão bom assim?
— Excelente — respondo com a boca cheia.
Ele sorri, todo convencido.
Mastigo e engulo.
— Você é um ótimo cozinheiro — admito, lambendo o pouco de molho
no canto da boca.
Luke acompanha o movimento com os olhos.
— Eu sou — concorda.
Ignoro o fato de que ele parece em um pequeno transe e volto a comer.
Está perfeito e mais um pouco. Nunca comi algo tão bom.
Ele levanta e vai até o bar, voltando com duas taças longas e uma
garrafa.
— Vinho branco — ele diz. — Você já bebeu?
— Uma vez — o olho, tampando a boca —, eu estava servindo em uma
festa. Bebi vinho tinto. Depois fui querer beber uma taça, mas era um pouco
salgado… Sabe, o preço.
Ele assente e coloca as taças na mesa, preenchendo-as em seguida com o
vinho. Só uns dois dedos, quase nada.
— Combina muito com o fondue. Tudo quentinho. — A voz dele está
mais grave e suave. Gostosa de ouvir.
O silêncio. A paz. O conforto. O relaxamento. É bom. Um momento
agradável. Gosto mesmo do que estou sentindo.
Nós comemos em silêncio, Luke vez ou outra me lançando um sorriso
gentil. Estou à vontade, algo que não é mesmo comum, mas, não sei, com ele
é simples. Torna-se simples.
Quando estou satisfeita, suspiro e bebo o vinho, gostando muito do
gostinho meio forte e ao mesmo tempo suave, que realmente combina muito
com o molho, o tal fondue.
Solto uma respiração funda quando termino e levo a taça de volta à
mesa, então olho para Luke, que já está com sua atenção em mim.
Sua mão se ergue e ele limpa embaixo da minha boca, onde caiu um
pouco do vinho, então espalha um pouco do respingo pelo meu lábio inferior,
avaliando a ação.
Respiro fundo.
— Você gostou do que eu fiz para você? — questiona, um sussurro
abafado.
Assinto, maneando a cabeça.
Seus olhos se erguem para os meus, mas ele não quebra o contato, ao
contrário, seu corpo também vem para mais próximo de mim.
Não quero me afastar, apesar de saber que, talvez, eu devesse porque ele
está com os olhos brilhantes como quando chegou perto de mim na casa da
praia. E eu sei como acabou…
— Você é linda, sabia? — ele pergunta, mas não acho que deseja uma
resposta, já que seus dedos passam a acariciar todo o meu rosto, desde a
minha boca, bochecha, testa e sobrancelhas. — Fico me perguntando se sente
tão à vontade na minha companhia como me sinto na sua.
— Sinto — admito, porque sinto. Isso é bem notável para mim.
Luke sorri. Um sorriso curto.
— Você lembra o que sentiu no sofá, quando eu te toquei?
Engulo em seco. É uma pergunta muito… Capciosa.
— Lembra? — ele insiste. — Porque eu não me esqueci o que senti e o
que te vi sentir.
— Eu… — hesito, estremecendo um pouco quando ele inclina a cabeça
e beija o canto da minha boca.
— Você tremeu sob meus lábios — sussurra, lambendo o cantinho do
meu lábio inferior, sua mão indo para debaixo dos meus cabelos e agarrando
minha nuca, numa pressão que me faz estar ciente da sua pretensão. — E
você gritou o meu nome, sabia? Eu ainda quase posso escutar. Me diga, você
gostou do que eu te fiz sentir?
Ele leva a boca até minha orelha e morde a pontinha, um calafrio me
percorrendo.
— Você está me provocando — consigo dizer, meus olhos se fechando.
— E você gosta, não é? Gosta que eu te provoque.
— Não é bem assim que funciona — as palavras se arrastam da minha
boca, a voz rouca, porque seu perfume me deixa imobilizada.
— Então me diga como funciona. Estou curioso. — Luke roça os lábios
em minha têmpora e estremeço.
— Não desse jeito. — Estou fraca de repente. — Eu… Luke, não dá pra
falar assim.
— Assim como? — ele enfia os dedos em meu cabelo e beija meu rosto.
— Você me… — respiro fundo. — Está me hipnotizando desse jeito —
confesso, já com dificuldade para respirar.
— É mesmo? E você gosta, não é?
— Na verdade, não.
— Hmmm... — ele dá um risinho e beija meu pescoço, a corrente
elétrica sendo imediata. — Tão racional.
— Você não é. Alguém precisa ser...
Minhas pernas estão dormentes. Eu estou dormente. Estou mole, mole.
Luke ri baixinho e passa a mão direita até minha garganta, onde
impulsiona minha cabeça para trás, a outra mão me segurando a nuca ainda,
me mantendo como quer.
Suspiro, embalsamada por ele.
— Me diga, querida, o que faço agora? — pergunta, encostando a boca
em minha orelha.
Estou muito mole. Derretida. Me sinto em brasas.
— Por favor… — as palavras fluem, em uma petição desesperada.
— Por favor o quê? — Luke raspa os dentes em minha garganta.
— Me solta.
— Não vou soltar até me dar a resposta correta. Você sabe disso, não é?
— Essa é a resposta correta.
Estou perdida.
— Não, não é. O que você quer realmente é a resposta correta.
— É o que eu quero — afirmo, sem forças.
— Seja sincera comigo. Diga o que você realmente quer, Isabelle — ele
está calmo e tranquilo.
— Por favor, me solta… — peço em uma última tentativa.
Luke beija meu queixo, até minha orelha, onde me lambe e também
mordisca. Agarro seus pulsos, por puro reflexo.
— Não seja teimosa — pede, um sussurro rouco. — Estamos perdendo
tempo aqui. Diga pra mim o que quero ouvir.
— O que você quer ouvir é diferente do que quero dizer — inclino meu
rosto ao seu toque.
— Não estou pedindo para me dizer o que quer, e sim o que tem
vontade.
— Luke, por favor… — imploro.
Sinto seu suspiro em meus cabelos.
— Adoro que diga meu nome — ele suspira e solto um grito em
surpresa e choque quando me impulsiona a ir para trás, deitando no sofá.
Seu rosto paira acima do meu e em segundos os lábios dele se juntam
aos meus, o grunhido que dá reverberando por todo o meu corpo e me
fazendo queimar.
Minhas mãos se erguem para seus cabelos, que estão macios e naturais,
meus dedos se infiltrando por entre os fios sedosos.
Luke arrasta uma mão para baixo, acariciando a lateral do meu corpo,
me ligando de uma forma descomunal.
Me sinto em um mar de prazer, relaxando aos poucos; principalmente
quando sinto o veludo quente e molhado ultrapassar por meus lábios. A
língua do Luke. Ele a movimenta em ritmos sincronizados dentro da minha
boca, gemendo loucamente e eu só posso amolecer mais. Mais e mais…
Meus olhos se apertam quando o sinto desviar para meu pescoço, onde
suga e lambe, parecendo desesperado. Eu também estou. Agora eu estou.
Precisando também de mais.
— Você é tão cheirosa — ele troveja, grave.
Aperto mais seus cabelos, puxando. Luke grunhe, descendo os lábios
mais para baixo, para meu colo.
Estou me erguendo para sua boca, ofegante.
— Minha bela está quente — me olha de cima, então fico um pouco em
transe quando ele rapidamente puxa meu vestido, expondo meu sutiã. Não
sabia que a peça me deixava tão vulnerável.
— Também está ofegante.
Eu estou, não nego.
Luke sorri e olha para meu sutiã. Gosto imediatamente da expressão que
toma seu rosto. Um misto de surpresa, dor e desejo. Muito desejo.
— Uau... — ele quase sussurra, então seus olhos voltam aos meus
enquanto aproxima a boca, começando a beijar minha pele disponível,
intercalando entre lambidinhas e mordidas indolores.
Estou formigando.
Me remexo, seu nome saindo dos meus lábios em um tom mais que
desesperado.
É demais. Simplesmente demais para suportar ter Luke tão perto, me
tocando assim, sendo assim… É tão novo. Bom.
Ele se endireita, só para puxar a alça direita do meu sutiã para baixo,
meu seio sendo exposto.
Luke morde o lábio, só para me olhar por uns segundos e então cair de
boca, sugando toda a carne que consegue e chupando, enquanto rosna.
Estou alucinada...
— Nossa... — meus olhos querem se fechar, mas eu não quero permitir.
Ver Luke me tocar é muito bom.
Em instantes estou com os dois seios sendo agraciados por sua boca,
língua e dentes, e nem sei como. Mas, nem importa, só o que importa é isso
que estou sentindo. A liberdade…
— Preciso sentir o seu gosto de novo, minha bela — ele informa. É um
aviso, na verdade.
Luke se abaixa em frente ao sofá e puxa minhas pernas, eu estando tão
mole que me deixo ir.
Ele começa a alisar minhas pernas e beijar, lamber, chupar, gemer…
— Oh, Deus… — minha cabeça está zumbindo.
Luke vai abrindo-as conforme seus lábios sobem, e eu permito, porque
ele parece tão maravilhoso no que está fazendo. Minhas pernas já viraram
gelatina.
Ele grunhe quando meu vestido sobe totalmente, se afastando um pouco
para me olhar.
— Você se preparou para essa noite? Sabia que eu te teria para mim? —
questiona. — Sabia que me deixaria tão louco?
Meu peito está subindo e descendo fortemente, em uma óbvia falta de ar
total.
Luke não espera uma resposta, abaixa-se novamente e começa a
distribuir beijos pelo interior das minhas coxas, de uma forma lenta e
torturante.
Meus dedos dos pés estão se contorcendo em uma reação e não consigo
soltar o lábio inferior de entre os dentes. Estou derretendo…
— Luke… — chamo seu nome, sem motivo aparente.
Ele não me responde, apenas me surpreende quando leva a boca ao meio
de minhas pernas e envolve, sem eu esperar.
Minha cabeça impulsiona para trás, um grito esganiçado saindo da
minha boca por consequência da ação prazerosa.
Luke grunhe, seus dedos apertando minhas coxas, mantendo-as abertas,
enquanto ele suga praticamente minha calcinha para dentro da boca.
É entorpecedor.
Ele afasta a boca, só para me dar tapinhas por cima da calcinha e eu
ofego, desesperada.
— Você é perfeita — ele grunhe.
O olho, já sem saber se estou focando muito bem. Estou alucinada, é
verdade.
— Fala para mim, você me quer? — ele traz o rosto para perto do meu,
seus dedos me acariciando entre as pernas, em uma fricção que me faz
agarrar seus ombros, choramingando.
Engulo em seco, começando a suar. Estou aflita.
— Diz — ele roça os lábios no meu. — Fala para eu ouvir da sua boca.
— Sim — admito, trêmula, Luke estreitando os olhos quando respondo,
meu nome saindo de seus lábios em um sussurro.
— Eu sei — geme, um grito me escapando quando sua mão se infiltra
para dentro da minha calcinha e ele rosna.
— Vem para mim — ordena e berro quando sinto seu dedo longo e
grosso me penetrar, em uma fricção perfeita e eu me deixo ir.
O choque sobe desde os meus pés até a cabeça, explodindo como uma
bomba, que me destrói em milhões de pedaços. Meu Deus do céu... Mal
respiro.
Eu não sei como, mas, quando abro os olhos, trêmula, estou abraçada ao
Luke. Abraçada fortemente, enquanto ele mordisca minha orelha e eu sinto
seu dedo me acariciar por dentro. Poderia querer a sensação para sempre,
com certeza. É mais que esplendorosa.
— Você me quer, Isabelle? — ele sussurra. — Você quer que eu te faça
mulher de verdade?
Gemo, escondendo meu rosto em seu pescoço e inalando o cheiro dele.
Masculino, bom, prazeroso.
— Eu quero — sussurro de volta. Quero muito.
Luke geme, eu me surpreendendo novamente quando sou erguida e, sem
qualquer dificuldade, ele nos leva para uma outra porta, onde eu vejo que é
um quarto.
Ele me deita no meio da cama, deixando um beijo demorado no canto da
minha boca, antes de se levantar e ficar ao lado, suas mãos indo para os
botões da blusa e desfazendo-os enquanto se livra dos sapatos.
Eu me remexo, ansiosa por vê-lo.
Deveria ser uma vergonha, meus peitos de fora e eu quase com a roupa
rasgada, mas tudo que sinto é calor e prazer. Anseio por mais.
— Tire sua roupa também — ele pede. — Faz isso para mim?
Balanço a cabeça, um pouco conturbada, mas não estou pensando tão
bem mesmo, então me sento e termino de tirar o vestido junto com o sutiã,
jogando-os no chão, então me deito e agarro as bordas da calcinha, tirando-a
pelas pernas e também jogando.
Mordo o lábio, agarrando os seios e apertando-os com força, enquanto
junto bem as pernas.
— Não, baby. Abre — Luke abaixa a cueca e, quando se ergue, minha
boca é que se abre e um gemido é inevitável.
É tão… Nossa. Longo, largo, simétrico, chamativo…
Levanto o olhar para seus olhos novamente e Luke me encara, firme,
então eu o vejo agarrar o membro ereto e movimentar a mão de cima a baixo;
um movimento tão forte, que os nós de seus dedos ficam brancos e ele grita.
Um grito todo masculino e forte.
Minhas pernas se abrem de forma automática e ele rosna, vindo para a
cama e caindo de boca em mim de novo.
Meus olhos reviram e balanço a cabeça, o choque sendo mais do que
bom demais. Estou nas nuvens.
— Luke! — grito, agarrando seus cabelos.
Ele geme e rosna, sua boca em mim sem qualquer pudor ou controle, me
sugando e puxando, sua língua me lambendo até que seu dedo volta para
dentro de mim e ele faz voltas, me deixando louca.
— Eu vou… — começo, mas não termino, apenas vou, sentindo todo
meu corpo falhar mais uma vez, em um ataque de contrações e choques.
Sinto os beijos quentes por minha coxas e, quando consigo abrir os
olhos, vejo Luke já ajoelhado entre minhas pernas, suas mãos envolvendo a
grande extensão no preservativo.
Me contorço, agarrando novamente os seios em um aperto forte.
— Ansiosa, minha bela? — ele me olha, então lambe os lábios. — Você
me quer?
— Quero — assinto, estranhando minha própria voz. Um fio de voz.
Luke assente e se debruça sobre mim, seus braços aos lados da minha
cabeça, apoiando o próprio peso.
Ele se inclina até me beijar, um beijo todo quente e que vai se
intensificando conforme se abaixa mais, nossos corpos se aproximando e eu
prendo a respiração quando sinto o toque entre minhas pernas.
— Hmmmm — mordisca meu lábio inferior.
Acaricio suas costas, braços e ombros, até erguer os dedos para seus
cabelos novamente, onde puxo.
Luke grunhe, então eu grito quando o sinto impulsionar para dentro de
mim, em um movimento mais forte.
— Isabelle... — ele me olha de cima, parecendo desfocado, tanto que
pisca os olhos algumas vezes. — Você está tão pronta…
Puxo seus cabelos, sem saber o que dizer. Não quero pensar. Não posso.
Ele respira fundo, parecendo ofegante, então novamente grito quando o
impulso é total e forte, a dor e ardência instantâneas.
Agora foi…
Fecho os olhos, apertando-os.
Luke respira descompassadamente em meu ouvido, gemendo.
— Minha bela — sussurra, mas estou buscando respirar, tentando não
focar na dor. — Tão perfeita e maravilhosa…
— Luke, por favor — estou choramingando e isso faz com que ele
balance os quadris e se puxe para fora, sua boca reclamando a minha em um
beijo alucinante e que dispersa minha atenção da dor.
Mas outro grito é inevitável quando volta no mesmo instante.
Então ele se afasta, me olhando de cima, parecendo fora de si e muito
selvagem, o olhar escuro no meu, seus movimentos iniciando e se tornando
sem controle; o vaivém desesperado, alucinante, sem medidas, até que ele
grunhe e sua cabeça balança um pouco.
— Isabelle… — ele geme e não fecha os olhos, mas eu sinto quando
algo dentro de mim parece esquentar mais. Muito mais.
Luke murmura roucamente, seus lábios tremendo, ele inteiro tremendo,
parecendo sofrer.
Seus dedos ainda se erguem para meus lábios, ele os circulando, mas os
olhos nos meus.
— Minha Isabelle — sussurra, em um gemido, então afunda a cabeça
em meu pescoço, minhas mãos indo para suas costas e alisando…
E eu já não tenho mais certeza de nada.
Capítulo 39

Estou um pouco alucinado. Ainda. A noite foi tão perfeita que eu não
quis dormir, mas foi inevitável quando rolei para o lado e Isabelle se
encolheu em mim, seu cheiro doce, uma mistura da tentação e inocência, me
inebriando de forma inexplicável. Simplesmente me livrei do preservativo e a
puxei para mim, tendo tido um sono incrível.
Persisto olhando para baixo, ao meu lado, onde ela continua me
abraçando e dormindo com tanta serenidade, que sou incapaz de me mover
para não perturbar seu sono.
Os cabelos emaranhados caídos para frente e um pouco para trás, nas
costas nuas que estão descobertas pelo lençol. A respiração dela está
compassada e tranquila. É a perfeição. Mais que emoção...
Eu poderia querer isso para mim. Acordar assim em todas as manhãs,
por que não? Isabelle me transmitindo tudo que estou sentindo… Exceto pelo
fato de que ela é um pouco perturbada e isso, com certeza, é um pequeno
problema. Mas pode ser resolvido. Se ela me deixar ajudar, podemos resolver
juntos. Eu posso ajudar. Podemos nos ajudar.
Deixo que meus dedos percorram a pele do seu braço, em um carinho
leve, tocando a maciez que ela tem. Ela é mesmo muito macia. Eu senti e só
de lembrar minha boca fica seca.
Depois de alguns minutos, ela se remexe muito lentamente, então
suspira. Seu corpo para por uns segundos e observo quando ergue a cabeça,
seus olhos claros me vendo e focando, enquanto ela engole em seco.
— Bom dia, flor do dia — sorrio, pela sua expressão. — Dormiu bem?
Isabelle pisca algumas vezes, então engole em seco de novo, só para
desviar o olhar e voltar a se aconchegar em mim, seu rosto se escondendo em
meu peito, e eu sorrio coberto de satisfação.
— Vou entender você estar feliz hoje — fala, um sussurro abafado e
rouco. — Eu também estou.
Subo minha mão por suas costas, até infiltrar meus dedos por entre seus
cabelos e fazer uma massagem.
Ela geme.
— Estou mais que feliz — admito. — Não me lembro da última vez que
me senti tão leve e em paz.
É verdade.
Fecho os olhos quando recebo uma mordidinha no peito, Isabelle dando
um riso baixo.
— Desculpe, eu queria ver como era a sensação de morder tantos
músculos — diz. — Fico feliz por você estar feliz.
Abaixo minha cabeça e afundo meu rosto em seus cabelos, o cheiro
deles me fazendo suspirar.
— Você é tão quente — ela acaricia minha barriga. — Isso é uma
cicatriz?
— Sim — abro os olhos e faço uma pequena pressão nos fios. —
Levante a cabeça, quero olhar para você.
Isabelle o faz, o sorriso que ela me lança me deixando de boca aberta.
— Está contente? — pergunto.
Ela assente, os olhos brilhando.
— Sim, eu não sabia que minha noite ia terminar desse jeito. Ao menos
consigo entender o que aconteceu, na verdade.
Sorrio, pegando impulso e nos virando, meu corpo sobre o dela.
Isabelle ofega, seus olhos nos meus, ela parecendo tão… Leve. Porque
está comigo. É, sim. Por minha causa. Isso eu fiz certo, pelo menos.
— Você me perdoa? — pergunto, muito culpado. — Pelo que falei na…
— Esquece isso, Luke — me interrompe, como se não fizesse caso. —
Eu já disse, ouvi coisas bem piores.
— Eu não quis dizer aquilo.
Ela sorri, concordando. Ao menos o sorriso em seu rosto está constante
e isso me enche de alívio.
— Estou sentindo... — Isabelle desvia um pouco o olhar. — Estou
sentindo vontade novamente.
Meu sorriso também é instantâneo.
— Está, é?
— Sim — volta a me olhar, parece envergonhada. — Sabe, daquele
molho de ontem. Ainda tem, não é?
— Depende qual — me ergo um pouco para tirar o lençol de nossos
corpos e Isabelle ofega, o dela perfeito ficando descoberto e sob meus olhos,
minha vontade já muito evidente.
Suas mãos avançam para meus braços e ela me aperta por reflexo.
— Qual você quer primeiro? — pergunto, abaixando a cabeça e levando
minha boca para um dos seios redondinhos e perfeitos.
— Luke! — É o meu nome em um suspiro, cheio de desejo.
— Responda — mordisco o biquinho já eriçado entre meus dentes,
soltando só para passar a língua em volta. Isabelle se arqueia, pedindo por
mais. E eu dou mais a ela, porque ela se entregou para mim.
A verdade me preenche, me fazendo ter noção do que foi. Sim, ela se
entregou. A mim. Porque quis. Para mim.
— Você quer a mim primeiro? — sussurro a pergunta contra sua pele,
meus olhos na tarefa, eu me perdendo gradativamente; mesmo sabendo que
não posso permitir que isso aconteça. Não de novo.
— Oh, nossa… — ela arranha meus ombros quando sugo o outro
mamilo para dentro da minha boca e o movimento entre meus lábios. —
Você. Sim.
Sorrio, satisfeito com a resposta, então respiro fundo enquanto desço
minha mão livre por seu corpo, até o meio de suas pernas, onde a encontro
molhada e pronta. Porque sou eu.
Espalho sua umidade com meus dedos, deixando-a bem lubrificada para
mim, então me ajeito entre suas pernas, guiando-me para dentro do seu corpo.
Só o início, só o suficiente para Isabelle se agitar e gemer.
— Você foi mesmo feita para mim — o pensamento escapa da minha
boca em palavras e ela prende a respiração em resposta, seu corpo me
apertando, em um movimento involuntário.
Fecho os olhos, tomando equilíbrio, mas me assusto quando ela de
repente grita e me empurra, parecendo desesperada para que eu saia de cima
dela.
Eu saio realmente, em reação.
Ela senta, se encolhendo, ofegante, os olhos um pouco arregalados.
— Isabelle, o que foi? — questiono quase assustado demais.
— Você… — murmura, olhando para o lado. — Não vi você colocando
o preservativo.
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Não, é verdade — digo, tentando me aproximar, mas ela senta e se
afasta, parecendo de repente isolada enquanto se cobre com o lençol e olha
para o chão. — Mas eu não ia fazer mal a você.
— Poderia se repetir… — sussurra, mas não é para mim. Ela parece
muito distante de repente, estando em uma conversa interior. — Poderia
acontecer novamente.
— Do que você está falando? — pergunto um pouco agoniado.
— A minha mãe — fecha os olhos e abaixa a cabeça —, a história dela
quer se repetir comigo e eu quase deixei isso acontecer.
Então fico um pouco abalado, mas mais preocupado porque, droga, a
culpa é inteiramente minha se a deixei pensar que eu seria capaz de fazer a
mesma coisa.
Capítulo 40

Estou em pânico.
É bem óbvio, mas não consigo evitar. As coisas aconteceram muito
rápido e estou desesperada, sem saber como reagir.
O que vou fazer?
— Desculpe — Luke sussurra e o sinto passar os braços ao meu redor,
me puxando para seu corpo.
Eu me esforço a deixar, porque ele não é culpado pelas merdas que
enfrento, mas tem sim total culpa pelo que senti. Muito prazer misturado. Me
confundiu.
— Eu não quero prejudicar você, Isabelle — ele afirma, acariciando
minha têmpora com os lábios. — Nós tivemos algo bom e eu quero manter
assim. Eu te disse que pode funcionar, e pode mesmo, se você quiser arriscar
junto comigo.
— E se eu não quiser?
Luke suspira. Um suspiro de contrariedade.
— Se você não quiser, eu vou fazer algo para te fazer mudar de ideia.
Eu me remexo, virando o rosto para sua pele e inspirando seu cheiro
bom que, de todas formas, me acalma muito, mas me deixa agitada ao mesmo
tempo.
— Vamos comer — me afasta um pouco e me olha. — Está com fome,
não é?
— Estou — assinto, estremecendo quando ele sorri para mim.
Observo quando Luke alisa meu braço e levanta, saindo do quarto sem
nenhuma roupa e não parecendo nenhum pouco incomodado por isso. E nem
deveria. Ele é perfeito de corpo. Parece uma pintura em holograma, só que
sendo real.
Suspiro e seguro o lençol junto ao corpo, me perguntando o que pensará
minha avó. Ela não deve estar preocupada, claro que não, o fato de Luke ser
um ex-soldado a faz ter certeza de que estou bem. Deveria me sentir, mas não
consigo completamente.
Sempre que penso que estou bem, alguma coisa me atrapalha e isso é
decepcionante porque, é muito óbvio, ninguém é obrigado a sofrer comigo as
consequências da minha vida. Ninguém.
Prendo os cabelos e em instantes Luke retorna ao quarto, trazendo a
mesinha que estava na pequena sala para o quarto, com a comida em cima.
Minha boca se abre, em uma surpresa. Ele sorri e pisca para mim, seu
corpo grande, suculento e moreno parecendo mais alto, enquanto os músculos
dos braços se flexionam pela força e o seu… Oh, minha nossa. Que
chamativo.
— Vem aqui, coelhinha — ele me chama e eu mesma me surpreendo
enquanto levanto rápido da cama, segurando o lençol enrolado ao redor do
meu corpo.
Luke não parece muito satisfeito, pois, quando chego perto dele e ele
coloca a mesa no centro do tapete do quarto, suas mãos avançam para o pano
e ele o puxa de mim, me fazendo ter um pequeno sobressalto.
— Você é muito bonita para ficar coberta — fala, então se senta no
chão, me puxando junto para si, eu me apoiando em frente ao seu corpo, o
dele atrás do meu. — Nós vamos comer assim —
beija meu ombro e dá uma mordida.
— Assim como? — Não estou tão confortável sentindo a dureza e
quentura no meio das minhas costas, mas ao mesmo tempo estou pelo corpo
do Luke, tão grande e confortável.
— Agarradinhos — ele beija meu pescoço e em seguida leva as mãos à
mesa, cortando um pedaço do bolo de massa branca e colocando em um
pratinho, que logo está ao meu alcance. — Coma — pede.
Eu não hesito, também levanto as mãos e o trago à boca, comendo com
a mesma fome que estou, os farelos escapando da minha boca e caindo.
Luke enche um copo com um suco amarelo e coloca ao lado, enquanto o
sinto se mexer um pouco.
— Você não vai comer? — questiono quando suas mãos passam a alisar
minhas pernas, que estão juntas e encolhidas por causa da mesa.
— Não estou com fome… — hesita e mantém uma mão sobre minha
perna direita, enquanto a outra volta à mesa e ele pega uma maçã. — Mas
vou comer para não te deixar nessa sozinha.
Sorrio, terminando o bolo.
— Você fez essas coisas? — questiono.
— Não, essas eu trouxe já feitas — ele morde um pedaço da fruta e
mastiga. — Eu sou muito organizado e trouxe tudo mais cedo, antes de trazer
você.
— Hmmmm — estendo as mãos e corto outro pedaço de bolo, Luke
rindo atrás de mim. — O que foi? — viro um pouco a cabeça para vê-lo.
— Você está faminta — murmura, sua boca úmida da maçã chamando
minha atenção. Os lábios atrativos. Ele os lambe e sei que é de propósito.
Desvio o olhar e volto a comer.
Depois de alguns minutos, quando já estou acabando, o sinto me apertar
mais contra seu corpo, um suspiro me escapando.
— Sabia que o maior que podemos cometer na vida é o de não tentar,
Isabelle? — questiona em minha orelha, sua voz rouca e controlada.
Eu me remexo, um arrepio me percorrendo, então abandono o copo
sobre a mesa e olho para baixo, tentando controlar minhas próprias emoções.
— Você se sente bem assim comigo? — faz outra pergunta, sua mão
abandonando a maçã e Luke puxando meu cabelo para o lado, começando a
distribuir beijos molhados em minha nuca.
Me remexo, evitando suspirar.
— Eu sei que você se sente e eu também me sinto. É muito bom — diz
seus beijos descendo mais e meu corpo indo para frente de um jeito
involuntário; os beijos dele passando por minhas costas, onde suas mãos
também vão e eu posso mesmo achar que vou derreter.
— Isso é… — tento falar, mas não tenho palavras.
— É bom — Luke completa, continuando com seu carinho por uns bons
minutos, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.
Suspiro, relaxando totalmente sob seus lábios.
— Venha cá — ele me puxa e estou tão maleável que ao menos percebo
como consegue me fazer deitar no chão, suas pernas abrindo as minhas e ele
deitando sobre mim, sua boca me dando vários beijos rápidos nos lábios.
Me remexo embaixo dele, só para observar Luke se ajoelhar e pegar a
garrafa de vinho do dia anterior sobre a mesa, sorrindo para mim.
Eu sinto um arrepio pela sua expressão, mas ele simplesmente a
destampa e vira, deixando um pouco do líquido gelado cair em minha
barriga.
— Luke… — me contorço, desacreditada, tanto por sua ação como pela
sensação.
— Isabelle ao vinho branco — ele sorri e se inclina, beijando e sugando
minha barriga, me deixando limpa. — Uma delícia. Eu aprovo muito.
Agarro seus cabelos, em reflexo, Luke deitando no chão de barriga para
baixo e mordendo o lábio.
— Você é uma delícia — revela e grito quando também sinto ser
molhada pelo vinho entre as pernas, dessa vez, bem mais.
Ele não perde tempo, imediatamente traz a boca até mim, rosnando
enquanto me suga, chupa e lambe; minhas pernas tremendo em reação.
— Hmmmm… — morde o interior da minha coxa, me fazendo dar
quase um pulo, mas logo acalma a dor com a língua. — Gostosa.
Engulo em seco, tentando focar o teto, mas meu coração falta pular da
boca quando me sinto ser erguida novo, mas dessa vez para sentar em seu
colo.
Estou ofegante, o olhando com os olhos arregalados.
Como ele consegue ser tão rápido e me movimentar como se eu não
fosse nada mais que um peso pena?
Levo minhas mãos aos seus ombros, em busca de apoio. Luke sorri.
Parece, como sempre, bonito demais e convencido na mesma medida.
— O que está fazendo? — pergunta, suas mãos indo para trás e
agarrando meus glúteos com força, me fazendo remexer.
— Eu não sei — admito.
Ele dá uma risadinha rouca e me ergue um pouco, então sinto a pressão
entre as pernas, me fazendo prender a respiração.
— Tudo bem. Pode relaxar, eu não vou machucar você.
— Grande — digo, engolindo em seco.
— E grosso — ele me dá um tapinha e ri quando me arqueio.
— Não estou vendo graça… — respiro com dificuldade.
— Nem eu — ele estreita os olhos e os meus se arregalam quando me
puxa de uma vez para baixo e me senta sobre si, meu corpo tendo um
espasmo violento.
— Luke! — grito, o choque me deixando inerte por uns segundos e ele
agarra meus quadris, me incentivando a remexer para os lados. — Meu Deus!
— Eu vou morrer — ele espalma uma mão nas minhas costas e me puxa
para frente mais um pouco, seu rosto indo para entre meus seios, onde ele
geme. — Morrer, Isabelle.
Não, eu vou, tenho vontade de dizer; mas estou queimando e pulsando
por dentro, ansiosa por ele, então agarro seus cabelos e me remexo, gemendo
pela pressão boa.
— Isso… — me incentiva. — Rebola com força.
Seguro-o mais firmemente, me mexendo aos poucos, a sensação ficando
cada vez mais desesperadora.
Luke me incentiva a subir e descer, parecendo descontrolado enquanto
treme embaixo de mim.
— Eu não vou aguentar… Tanto… — geme, então sinto seus dedos
entre minhas pernas, no lugar que tudo parece desmoronar. — Vem, Isabelle,
pra mim.
Olho-o de cima, Luke também me olhando ao mesmo tempo e
sussurrando alguma coisa em voz baixa, mais semelhante a uma súplica, e eu
me deixo ir, gritando e mantendo os olhos abertos porque quero vê-lo, mas é
completamente impossível quando ele insiste me tocando e eu caio para
frente, tremendo.
Ele nos deixa cair para trás e suas mãos voltam aos meus quadris, ele
estocando dentro de mim com uma força desesperada e grunhindo alto; até
que geme, o rosto indo para meu pescoço de novo, seus braços ao meu redor,
me pressionando contra si.
Estou alucinada.
— Eu estou ferrado… — o ouço sussurrar, tão baixo que seria inaudível,
se eu não tivesse prestando tanta atenção.
Capítulo 41

Luke está em uma conversa descontraída com minha avó, enquanto eu


estou sorrindo como uma idiota porque, com toda certeza, uma das melhores
sensações da minha vida é ter a minha vozinha feliz.
Ainda não consigo parar de me remexer por esses arrepios que
percorrem meu corpo toda vez que tenho que olhar para o lindo homem à
minha frente também. Quer dizer, está certo que eu não sou a senhora
experiência, mas com certeza Luke tem um parâmetro diferenciado de
qualquer outro homem.
Ele tem isso na forma de rir, de falar, de fazer gestos, de sorrir, de se
impor; ele é a masculinidade em pessoa.
— Eu não acredito! — Minha vó tampa a boca, desacreditada. — Você
realmente fez isso?
— Eu fiz — Luke afirma. — Foi legal poder ajudar, mas não faria de
novo.
Eu nem sei do que estão falando, porque estou um pouco aérea
pensando: o que vai ser agora?
— Isabelle, você não acha que o Luke é maravilhoso? — minha vó
chama minha atenção, parecendo encantada.
— Sim — concordo, para que ela mantenha-se como está. — Ele é.
Luke sorri largamente, seu sorriso sendo maravilhoso e bem-vindo.
— Eu gosto muito que você tenha aparecido na vida da minha neta. Até
calcinhas novas ela andou comprando.
Eu teria cuspido se tivesse algo em minha boca.
Ele dá uma risadinha pela minha cara de espanto.
— Vó! — Estou absorta.
Ela parece tranquila quanto ao próprio comentário.
Luke sorri para mim, como se não fosse problema o que ouviu e como
se estivesse realmente concordando com ela.
— Isabelle é um pouco difícil de se apegar às pessoas — ela continua.
— Mas, quando ela gosta, é mesmo de verdade.
Me levanto, então peço licença e começo a tirar a mesa, Luke estando
concentrado nas coisas que minha avó começa a falar de mim.
Eu levo tudo para a cozinha e começo a organizar, meus pensamentos
me fazendo ficar apreensiva quanto ao que tivemos logo pela manhã. Sei que
as consequências podem ser péssimas, mas, eu não sei, não tenho vontade de
ir a um médico. Não quero ir mais.
Deveria, sim, estar mais que horrorizada com a quase certeza que posso
estar prestes a formar um bebê. Mas não soa completamente maravilhoso?
Um bebê do Luke. Um Lukezinho. É muito bom de imaginar. Mas, talvez, só
mesmo na minha cabeça.
Eu não entendi porque ele fez o que fez, já que teve a minha histeria
minutos antes justamente por esse motivo. Também não quero comentar
nada, porque, se ele não falou, é bem óbvio que não está nem aí. E não pensei
que seria diferente. Eu que fui burra e fraca.
Suspiro com pesar, então ouço um "psiu", meu olhar se erguendo para a
porta, onde Luke está de braços cruzados, me olhando com um sorriso.
— Tudo bem? — questiona.
Balanço a cabeça, afirmando.
— Sua avó me disse umas coisas legais sobre você — ele entra na
cozinha.
— Uhum.
— Uhum — me imita e vem para o lado da pia, meu corpo tendo um
pequeno arrepio quando ele ergue a mão e passa uma mecha do meu cabelo
para trás da orelha. — Você quer me dizer alguma coisa?
— Não — engulo em seco, embalsamada de emoções estranhas. Para
que não persista um silêncio constrangedor, eu me apoio em outra coisa: —
Minha avó colocou a mesa na sala por sua causa.
Ele dá uma risadinha, me observando.
— Eu quero que você durma na minha casa hoje e amanhã. Você aceita?
— Não — eu nem o olho. — Eu não posso.
— Por que não pode? Vai mesmo recusar a minha maravilhosa
companhia?
Tento sorrir, porque Luke parece contente.
— Vou porque…
— Olha que deu chuva para hoje e sua avó vai visitar a amiga Elizabeth
— ele murmura, como se me desse um aviso perigoso. — Vamos lá, vai ser
legal. Você não gosta que eu esteja por perto?
— Você voltou diferente… — digo, o olhando. — Por quê?
— Eu disse que a gente vai descobrir como fazer a vida valer a pena —
sorri e prendo a respiração quando o vejo se aproximar, até estar por trás de
mim, sua boca se inclinando para mordiscar meu pescoço.
— Luke! — protesto, horrorizada. — A minha avó!
— Ela foi lá fora buscar alguma coisa, vai demorar um tantinho.
— Não! — digo, mas não tenho muita opção quando um braço seu se
estica para a pia e o outro para dentro do meu vestido, Luke remexendo os
dedos sobre minha calcinha. — Luke!
— Shhhh — ele morde meu ombro. — Quanto mais silêncio você fizer,
menos atenção vai chamar.
— Minha nossa! — balanço a cabeça, desesperada para que ele pare
com a ação que pode me arruinar dentro de casa.
— Só relaxa — ele sussurra e eu ofego quando seu dedo me invade,
minhas mãos indo para a beirada da pia, onde eu aperto com força. — Relaxa
e goza.
Eu estremeço ante sua risadinha no meu ouvido, um segundo dedo se
juntando ao primeiro e eu sei que não vou poder me controlar.
— Isso, assim... — sua voz está baixa e grave, enquanto seus dedos
passam a entrar e sair de dentro de mim com certa força. — Não precisa se
preocupar, eu vou estar aqui e você não vai cair. Não vai, minha bela — ele
impulsiona o corpo mais junto ao meu, seu polegar fazendo uma volta em
meu ponto sensível.
Sou obrigada a me jogar para trás, minha cabeça dando voltas por
dentro, enquanto meu corpo estremece.
Ouço minha avó, mas não consigo me mexer. Luke rapidamente puxa a
mão e ajeita meu vestido, deixando um beijo em meu ombro.
— Ah, vocês... — ela hesita e eu ao menos consigo olhá-la. Estou
trêmula. — Desculpem.
— Tudo bem, vovó — ele diz, acariciando meu braço. — Eu estava
ajudando a Isabelle.
Ela dá um risinho de felicidade.
— Ela vai dormir na sua casa?
— Sim, ela aceitou.
Minha vó faz um alvoroço e continua a falar mais coisas, mas estou
muito desfocada, somente pensando que Luke disse que...
Ele não vai me deixar cair.

***

Eu estou sorrindo porque Luke está feliz demais. É segunda e estamos


trabalhando com tanta vontade, que eu mesma estou me questionando como
isso pode ser possível. Ele parece alegre demais cada vez que faz alguma
ligação ou recebe, me olhando vez ou outra e sorrindo; ou então me contando
umas piadas sem graça e rindo por eu errar alguma coisa ou ter problemas
com seu grande grampeador.
Nosso final de semana foi, de longe, perfeito. Luke e eu assistimos
filmes, ele me colocou para malhar em sua academia. cozinhamos juntos; ele
me ensinou a fazer fondue de chocolate e nem preciso dizer que isso acabou
comigo em cima da ilha, coberta de chocolate e sua boca passando por meu
corpo. Tremo só de me lembrar.

A única coisa ruim, no entanto, é que eu não sei como tudo vai se dar
daqui para a frente.
O que é isso que parecemos estar tendo? E se eu me apegar? E se eu
estiver gostando demais e não percebendo os riscos? Eu posso estar
formando um filho neste exato momento.
Um calafrio me percorre ao pensar nisso e tomo uma decisão de
imediato, me levantando e caminhado até sua mesa.
— Bela Isabelle — seus olhos se erguem para mim e ele sorri. —
Precisando de algo?
— Sim, eu gostaria de saber se posso tirar o horário de almoço agora.
Luke faz um beicinho.
— Eu pensei que nós íamos almoçar juntos - murmura.
Tento sorrir, meu peito contorcendo.
— Seria ótimo, mas eu prometi comprar uma coisa para minha vó. Sabe,
as linhas de costura dela estão acabando e…
Ele se levanta.
— Eu levo você — diz —, podemos aproveitar e tomar um sorvete.
— Não! — protesto, imediatamente. — Não precisa. Eu até volto mais
rápido, se você quiser almoçar comigo mesmo.
Sua sobrancelha se ergue, ele desconfiado, mas acaba concordando e
volta a sentar.
— Tudo bem, vá lá — sorri. — Mas, não demora muito, ou eu posso
ficar tristinho.
Dou risada, tentando me controlar para não me aproximar e abraçá-lo,
então tirar suas roupas e beijá-lo enquanto ele me invade incansavelmente
e…
— Céus — eu suspiro, a boca seca de repente. — É melhor eu ir — digo
depressa e então vou até minha bolsa e a pego, saindo de sua sala.
É o certo a fazer. Eu sei que é. Não posso me dar esse luxo. Luxo
nenhum, na verdade. O que estou pensando? Tenho 22 anos, Luke 25. Mal
sabemos o que pode acontecer conosco. Nem sei o que ele pensa ou quer.
Deve estar empolgado com a novidade de poder me convencer a fazer tudo
que quer tão facilmente. Eu, sinceramente, não sei o que pensar, mas decido
agir pela razão.
Saio para a rua e chamo um táxi, pedindo para que me deixe em uma
clínica o mais perto possível, preferencialmente de saúde para mulher.
É o certo. Tem que ser.

***

Quando volto, depois de duas horas e meia, me sinto mais aliviada.


Parece que um peso saiu de cima de mim, ao mesmo tempo que meu coração
bate aceleradamente e meu peito contorce.
Deus, o que Luke fez com minha vida?
Suspiro, passando pela recepção de sua sala e dando um sorriso morto à
secretária, então entro em seu escritório. Até me esqueço de bater à porta.
Me surpreendo ao ver duas mulheres sentadas nas poltronas de couro
que ficam em frente à sua mesa. Eles estão gargalhando. Eles. Luke incluso
nas risadas, muito animado.
Abaixo a cabeça e caminho para o sofá à extrema direita, onde fiquei
desde a manhã, grampeando folhas, separando documentos para xerox, e
guardando outros em pastas e envelopes.
— Oh, mas isto é mesmo muito legal — uma delas diz. — Eu adoraria
ter me dependurar em uma árvore.
— Não tinha nada de divertido enquanto se tem jacarés sob você —
Luke ri.
— Ah, mas ia ser uma picadinha de leve se eles mordessem — a outra
fala, arrancando risos de todos.
Eu me remexo, incomodada.
Suspiro e me concentro no que estou fazendo.
— Você é mesmo muito mais do que dizem — a primeira expõe. — Eu
pensei que fosse um arrogante, mas é lindo e educado.
— Eu sei disso — Luke dá um risinho.
— E agora nós também sabemos — a segunda se junta ao riso.
Eles falam por mais algum tempo, ele sendo convidado para uma festa à
noite, onde elas prometem diversão e mais; e eu só posso fingir que não estou
ouvindo nada disso.
O que pensei que fosse ser?
Ouço o barulho da porta, mas não levanto a cabeça, então logo vejo
quando o par de sapatos de couro aparece em meu campo de visão, mas não
quero olhá-lo.
— Isabelle? — Luke me chama.
— Oi — dou meu melhor tom, mas não paro de separar as folhas.
— Você demorou um pouco. Onde estão as linhas?
Engulo em seco, tentando não demonstrar o nervosismo que me invade.
— Não encontrei as que ela queria…
Luke se abaixa sobre os calcanhares de repente, sua mão pousando em
meu joelho e me transferindo um calor imediato que tem em tudo a ver com
leveza e segurança.
Aperto os olhos, então o olho.
Ele está sereno, sua boca projetando o barulhinho característico dele,
sinal que está pensativo.
— Está mentindo para mim? — pergunta depois de uns segundos me
estudando.
— Não — respondo de ímpeto —, apenas que… — suspiro, desviando
um pouco o olhar. — Eu precisava de um pequeno tempo só para mim.
Luke respira fundo, então se inclina um pouco para cima, sua boca
vindo para a minha, mas eu desvio, seus lábios parando em minha bochecha.
Ele não diz nada, apenas os mantém ali, sua mão em meu joelho
passando a acariciar.
Sinto uma mordidinha na pele, seguida de uma série de beijos rápidos e
calmos. Luke está carinhoso e isso me desmonta.
— Você vai? — a pergunta escapa dos meus lábios.
— Vou aonde?
— Para essa festa — sussurro.
— Não vou — seus beijos abaixam para meu pescoço, onde ele deita a
cabeça. — Eu prefiro estar com você na minha cama.
Respiro fundo, abalada.
— E por que essas mulheres estavam te fazendo rir tanto?
Ele dá um pequeno riso.
— Elas estão prestes a fechar um negócio grande para a Silver, preciso
ser o mais persuasivo possível — ele raspa a barba em minha pele, me
fazendo suspirar. — Isso é ciúmes, minha bela?
Me remexo, apertando os olhos.
— E se for?
— Então eu vou gostar muito — Luke levanta a cabeça e sorri. —
Significa que você está gostando de estar comigo e isso é muito bom.
— Não significa nada — discordo.
— Significa que você quer que eu seja seu — ele aperta meu joelho. —
Você quer, não é?
Eu estremeço, minha respiração querendo parar. Eu quero.
— Você nunca seria — sussurro.
— Por que não? — ele sorri.
— Você está de muito bom humor, isso está me deixando confusa.
Luke ri. Uma risada deliciosa, então levanta-se e, quando olho para
cima, ele me surpreende com um beijo. Um beijo cheio de calor, fogo,
paciência, ternura… Diferente.
— Eu posso, sim, Isabelle - murmura contra meus lábios. — Você só
tem que querer.
Então ele me deixa, voltando à sua mesa.
Eu me levanto, um pouco desconcertada, pedindo licença e querendo,
desesperadamente, um café.
Sim, um café pode ajudar.
Capítulo 42

Acho estranha a demora da Isabelle, então me levanto e, quando vou


caminhar até à porta, sua bolsa chama minha atenção em cima da mesa. Sei
que é completamente errado se mexer na bolsa de uma mulher,
principalmente quando ela não confia em você — mas, estou tentando, ok?
Estou tentando mostrar a ela que eu posso ser um homem ideal para ela. Eu
posso ser.
Caminho para a mesinha e abro, observando de imediato duas caixas e
alguns apetrechos. Eu só quero conhecer mais dela. Só isso. E investir. Estou
sentindo uma atração forte por ela, é notável, e pode ser bem mais. Claro que
pode.
Seguro a bolsa em um braço, enquanto vasculho dentro com a mão. Ela
pode ter alguma coisa acabando e eu vou e compro uma nova, assim ela vai
ver que estou tentando e quero vê-la sorrindo.
Minha mão bate nas caixas, então eu tiro do caminho, olhando
rapidamente pensando ser algum tipo de medicamento para o resfriado que
ela teve, mas minha mente me lembra imediatamente que já vi esta caixa em
especial em outro lugar. Vi, sim. No armário do banheiro da minha mãe.
Estranho e coloco a bolsa na mesa, analisando a embalagem. Decido
digitar o nome no computador para ter certeza do que se trata e o meu sangue
gela quando vejo que são pílulas anticoncepcionais. Mal consigo pensar
porque...
Merda…
Caminho para fora do escritório, parando um instante para perguntar a
Marie onde Isabelle foi, recebendo a notícia de que estava indo buscar um
café.
Respiro fundo e entro no elevador, apertando o número três, então
aguardo impaciente, meus dedos trêmulos.
Ela impediu…
Quando as portas se abrem, saio andando depressa até a penúltima sala à
esquerda, onde é a cozinha; cego de raiva, tristeza, desapontamento…
Mas, isso não é o pior como o que vejo quando chego ao batente.
Quase rio.
Claro que poderia ser pior…
Isabelle está sendo beijada por Lian, o desgraçado que quase matou,
enquanto ele a segura perto de si como se ela fosse sua. Dele, não minha…
— Isabelle — o nome dela sai dos meus lábios, não sei se em pergunta,
em choque ou em profundo lamento. Um misto de tudo.
O casal se afasta. Ela, na verdade, porque o homem que odeio somente
resmunga algo.
Eu me controlo de todas as formas possíveis e impossíveis, meu corpo
tremendo visivelmente.
— Luke? — Ela está espantada. É uma surpresa? Eu não sei. Não quero
saber a realidade. Nossa, isso dói.
Respiro fundo, meus ombros querendo cair em sinal do meu sofrimento
imediato.
— O quê... — Isabelle começa, mas não termina.
Nós nos encaramos, então o tal Lian se vira para mim, seu rosto
estragado e isso me enche com um pouco de felicidade, mas não muito
porque, no fim, nunca foi a mim que Isabelle iria preferir.
— Eu achei isso — digo, erguendo a caixa em minha mão.
Ela corre até mim, parecendo horrorizada, então puxa para si, querendo
esconder, parecendo ofegante.
— Você podia ao menos ter me contado — falo, sem emoção.
— Luke... — ela engole em seco. — Isso não foi nada do que pareceu.
— Eu não sei o que pareceu, sinceramente.
— Pareceu que estava… — hesita. — Fazendo algo errado.
— E estava? — Meu tom sai sarcástico, de forma inevitável. — Porque,
olha, eu estava tratando de negócios com duas mulheres e você ficou
enciumada sendo que logo depois te vejo beijando na boca do cara que ia te
matar. Isso soa muito certo para você?
— Ele não ia me matar, ia matar você — ela está cautelosa, o corpo
começando a tremer enquanto segura a caixa no peito.
Levanto os braços, em pouco caso e desdém.
— E daí? — questiono. — Quem te mandou entrar na frente? Será que
por nenhuma vez você consegue pensar como uma pessoa normal? Tem
sempre que ser uma louca, paranoica e frustrada?
Isabelle se encolhe, olhando para os lados, nervosamente.
— Olha para mim, caramba! — eu grito quando entendo que, mais uma
vez, fui traído. — Você não tem vergonha de ficar se enroscando nos cantos
com outro homem, mas tem de olhar para mim!?
— Luke... — Ela dá um passo para trás, parece amedrontada.
— Não era para você ter impedido o que tivesse que acontecer, inferno!
— agarro a caixa de sua mão e jogo no chão. — Se não me queria, saía de
perto de mim, sua burra, mas não impedia um filho meu de se formar!
Isabelle começa a tremer histericamente e eu já não sei o que estou
fazendo.
— Vai embora daqui — cuspo a ordem. — Some! Você está demitida.
Sempre foi a esse idiota que você quis, então fica com ele. Vai sofrer um
pouco mais se é o que você gosta. Espero que aprenda a lição, sua otária. Vai
ser frustrada e desgraçada em outro lugar. Você não passa de uma maluca!
Uma maluca que nunca vai ser feliz! — me viro. — Leva umas porradas para
ver se você volta ao normal, coisa que eu acho que nunca foi — e saio, cego
de raiva.
Eu nem sei mesmo o que estou fazendo.
Capítulo 43

Termino de encher minha xícara de café e levo aos lábios, sorvendo


uma quantidade considerável, meu corpo reclamando a sensação. Não sei o
que pensar. Em como Luke está agindo comigo. É bom, mas...
— Isabelle.
Eu ouço meu nome e viro a cabeça, a xícara quase caindo da minha mão
ao ver Lian.
Lian.
— Meu Deus... — sibilo, horrorizada ao ver seu rosto.
Deixo a xícara no balcão e me afasto para trás, as mãos na boca. Seu
rosto está destruído. Completamente. Minha nossa…
Lian entra, parecendo cabisbaixo.
— Fico tão feliz que você esteja bem… — ele fala, mas hesita. — Por
favor, Isabelle, eu peço perdão. Eu não a vi aparecer à minha frente, pensei
que… — começa a caminhar em minha direção, gesticulando energicamente.
— Era para acertar a ele, não você. Ele, Isabelle.
Balanço a cabeça.
— Esquece isso — fico um pouco nervosa e agoniada. Nem cheguei a
pensar qual seria minha reação ao vê-lo novamente. Sequer me lembrei dele
enquanto estava junto ao Luke.
— Você me perdoa? — pergunta, ainda se aproximando, ao que
retrocedo.
— Sim, Lian — estou assustada por seu rosto. Meu Deus, é de ficar
boquiaberta. Luke acabou com sua face.
— Você disse que eu tinha te batido? — questiona, então para quando
percebe que cheguei no limite que podia andar para trás, o outro balcão me
impedindo de afastar mais. — Foi isso que pensou, que eu estava te batendo?
— Não — nego imediatamente, nervosa por ter que olhar seu rosto. Está
dando agonia. — Não disse.
— Porque eu não te bati de forma violenta, Isabelle — sua voz acentua
mais. — Eu não nunca te machucaria. Gosto demais de você, sabe disso. Nós
somos bons amigos e…
— Está tudo bem, Lian — o interrompo. — É sério. Foi só um acidente.
O Luke também perdeu a cabeça. Está tudo certo.
— Luke? — ele repete. — É assim que você o chama? Mesmo? O
chefe?
— Sim… — estou um pouco apreensiva quanto à expressão que denota
seu rosto.
— Você não me disse que tinham intimidade.
Engulo em seco, porque agora parece com um pouco de raiva.
— Isabelle — ele respira fundo, então se aproxima, ficando à minha
frente, bem perto —, eu realmente não quero acreditar que você me deixou
ficar próximo da forma como ficamos, só para depois me trocar. O que eu
era? Uma segunda opção?
Meus olhos se arregalam e minha boca também.
— Claro que não, Lian — digo, com toda minha perplexidade. — Você
e eu somos amigos.
— Amigos — repete e ri em deboche. — Não passei disso? — começa a
gesticular novamente. — Será que você não percebeu?
— Percebi o quê? — Estou desentendida também agora.
— Tudo, Isabelle. O fato de eu estar sempre me doando você nesses
últimos dias. Gosto para caramba da sua companhia, te faço rir, sempre fico
com você… — bufa. — E para quem você foi permitir ser íntima? Do cara
que te humilha toda vez que se aproxima de você.
— Você não o conhece — digo, de ímpeto, absorta e confusa.
— Não — ele ri. — Eu não conheço e nem quero conhecer, porque se
ele machuca a garota por quem estou apaixonado, não quero nem ter que vê-
lo.
Eu paraliso no lugar, mal crendo no que ouvi. Oh, merda…
Lian respira fundo, então fica tão próximo que tenho que olhar para
cima para vê-lo. Estou pasma.
— É isso — fala. — O que você vai fazer por mim?
— Nada — respondo, minha voz saindo de forma automática e imediata.
— Não te vi desse jeito, Lian…
— Mas eu vi você — declara e segura meus pulsos, sua boca vindo à
minha em milissegundos; o susto me tomando por completo, principalmente
quando imediatamente tento empurrá-lo, mas minhas mãos não vão a
qualquer lugar.
Quando abro a boca para morder a sua, a fim de afastá-lo, é quando
ouço meu nome ser dito. Me chamando…
É o Luke e eu mal processo o que se prossegue.
Capítulo 44

— Isabelle, você está bem? — É a voz do Lian. Eu acho que é. Não


estou conseguindo enxergar muito bem também para saber se é realmente ele.
Parece que tenho alguns quilos de coisas pesadas na garganta e os meus
olhos estão queimando. Meu corpo quer desfalecer onde estou mesmo e
começo a virar para os lados, caminhando sem saber onde é a saída. Sinto
que não estou raciocinando.
— Ei, Isabelle? — A voz repete, então eu tusso, umas lágrimas caindo
juntamente dos meus olhos.
— Demitida… — digo, não sei para quem. — Eu fui… É melhor eu ir
embora — agarro as mãos uma na outra e consigo sair pela porta, indo para o
elevador de uma forma automática, não sentindo o chão sob meus pés.
Meu peito está doendo, os meus lábios estão tremendo e eu mal consigo
processar se estou bem. Estou…
Saio pelo hall quando as portas se abrem, ansiosa para saber como
provavelmente chegarei em casa. Meu dinheiro está na minha bolsa. Eu não
sei o que fazer, então decido me sentar na calçada um pouco; só então
percebendo que estou com falta de ar, como se fosse asmática ou algo assim.
Tudo dói.
Ponho as mãos no peito, inspirando o ar tanto quanto posso, buscando
me acalmar, fazer meu corpo compreender que está tudo bem. Vai ficar tudo
bem. Tudo está certo. Sempre deu certo. Pode dar mais uma vez. Está tudo
ok. Eu sempre saberei lidar. Sim, eu posso... Eu aguento.
Mas os segundos parecem demais e só estou sentindo as lágrimas
escorrerem pelos cantos dos meus olhos de forma insistente.
— Eita, o que é isso? — eu ouço uma voz masculina, mas não estou
assimilando nada. Ao menos sei se foi realmente comigo. — Eu me esqueci o
seu nome… Ah, não importa.
Eu me sinto ser segurada e tirada do chão e até gritaria por ajuda, mas
estou sem estar em mim. Não sei o que está se passando à minha volta. Não
sei mesmo.
— Médico ou casa? — A voz pergunta, mas não acho que está
esperando uma resposta, já que me sinto ser colocada em um lugar macio e
logo depois estou em movimento. — Casa — conclui e sinto meus olhos se
fecharem, tudo preto e silencioso me fazendo ter um pouco de paz, enquanto
minha respiração parece falhar.

***

— O que você acha? — continuo de olhos fechados ao ouvir a pergunta


feita pela voz de uma mulher. Acordei há alguns minutos, mas não consigo
me mover.
— Eu não sei — um homem responde. — Falta de ar ou ataque de
pânico.
— Pode ser — ela parece avaliativa. — Você já contou a ele?
— Eu não vou contar nada a ele.
— Por que não? — Agora está surpresa.
— Porque, se eu o conheço, a culpa foi totalmente dele ou ela não
estaria em uma calçada quase sendo atropelada sem ar.
A mulher ri. Uma risada de deboche e escárnio.
— Ah, Philip, você conhece tão bem seu próprio esperma.
— Você não exagera, Natalie — ele bufa. — Eu só gostaria de saber o
que ele fez. Pedi que ele se afastasse dela se não queria ajudá-la, mas não fui
ouvido.
— Você pediu?
— Eu ordenei, na verdade — o homem bufa. — Pobre garota. Não
merecia ter esbarrado justo com nosso filho.
— Nesses momentos, gosto de dizer que ele é seu filho porque, você
sabe, o gene em fazer merda em cima de merda, é totalmente seu.
Ele dá um grunhido, de descrença.
— Me dá licença, mas você não pode jogar a culpa toda para cima de
mim. Veio do seu pai também.
— O meu pai?! — A mulher está perplexa. — Você não tem nada que
falar do meu pai, Philip Mackenzie.
— Não? É um arrogante, cabeça dura, que nem a filha — bufa, então
resmunga em um gemido. — Ai, droga. Não me joga isso, menina.
— Você para de falar mal do meu pai!
— Prefere que eu fale da sua mãe? — ele ri.
— Seu cretino! — Ela está indignada. — Minha mãe te adora.
— Eu também a adoro, mas não significa que eu não possa falar mal
dela — dá uma risadinha baixa, seguida de uns gemidos. — Ai, ai! Ai,
Natalie! Parou, parou!
— É melhor você se calar — ouço um último barulho —, ou vai ficar de
castigo.
Ele dá outro grunhido, de descrença.
— Castigo não, sua chata — resmunga, então eu acabo tossindo sem
querer, as vozes se silenciando e sei que chamei atenção, mas me forço a ficar
quieta novamente.
Depois de um tempo, parece que obtive êxito.
— Acho que ela não acordou — a mulher fala. — É tão pequena a
coitada.
— É mesmo, parece com você quando… — ele hesita, então bufa. —
Não parece, não. Estou confundindo com a Alice. Você sempre foi gorda.
— Seu…
Outro barulho de algo caindo no chão, ao que o homem começa a rir,
sem parar.
— Nem vem procurar a gorda à noite então, seu ridículo — ela fala, sua
voz bem próxima, então me sinto ser coberta. — Vamos deixá-la dormir em
silêncio.
— Tudo bem — eu ouço o homem dizer. — Você a olha e eu vou ter
uma palavrinha com meu esperma desenvolvido.
A mulher rir, emitindo um som de perplexidade em seguida.
— Eu ainda me questiono por que te amo tanto — murmura.
— Porque eu sou o melhor.
Ouço um estalo, seguido de um, "Ai, minha bunda", então ouço o
barulho de porta se fechando.
Pensando e acreditando, mais querendo acima de tudo, estar em um
pesadelo, aperto bem o olho e tento dormir. E só dormir.
***

— O que a senhora está fazendo? — pergunto para minha avó, assim


que chego à porta de seu quarto.
Ela me olha. Está um pouco surpresa.
— Querida, você chegou mais cedo! — sorri, então levanta e já vem até
mim de braços abertos. — Estou terminando o casaco do Luke.
— Ah, sim — a abraço de volta, com toda minha força. É isso. É só da
minha vozinha que preciso. — Eu estou disponível para ajudar no jardim
novamente.
— O que isso quer dizer? — ela se afasta, as sobrancelhas brancas
arqueando em desentendimento.
— Quer dizer que estou desempregada porque o Luke teve que me
demitir — explico, soando normal.
E estou. Depois que acordei, percebi que estava na casa dos pais dele, o
que foi muito estranho, principalmente porque, quando abri os olhos, vi a
mãe dele sentada me olhando, enquanto acariciava um gato que estava
deitado ao seu lado.
Foi um sacrifício explicar que não havia ocorrido nada demais e que eu
apenas havia sentido um certo desconforto por não ter tomado café. Depois
de muita relutância, eu ser entupida por bolos, frutas e comida de todo tipo,
consegui sair de sua casa, sendo convidada para a festa de casamento dela e
do esposo, que acontecerá dentro de um mês.
Fui praticamente obrigada a dizer que iria, apesar de não ter certeza se
vou. São os pais do Luke, no fim das contas.
Não estou chateada. Falo sério.
Vamos lá, não vou ficar me martirizando por um cara que ao menos
conheço mais que o superficial. Quer dizer, o que eu esperava? Além do
mais, ele não disse nada do que não fosse verdade. Sou maluca, frustrada e
mal amada também, não nego. No entanto, não o obriguei a querer tentar
nada comigo.
— Ele teve que demitir? Como assim? — minha avó parece
decepcionada agora.
Eu sorrio, a abraçando pelos ombros.
— Quer dizer que ele é um bom chefe, age de acordo com o melhor para
sua empresa. Pessoal não é capacitado, então não é o seu pessoal.
— Isso não faz jus, Isabelle… — sua voz está baixa.
— Tudo bem, vovó — afirmo, então caminho para a cozinha, me
sentando na cadeira e pegando uma maça da mesa. — O Brandon, primo
dele, pode me arrumar um trabalho também. Vou ver se falo com ele.
Ela aparece na porta, o semblante morto.
— Isabelle… — suspira. — Vocês ainda vão se ver? Mesmo você tendo
sido demitida?
— Não, vovó — mordo a fruta e mastigo. — Ele está muito ocupado
trabalhando. Não tem tempo.
— Mas ele disse que arrumaria tempo.
Assinto.
— Talvez ele venha ver a senhora — coço a bochecha, a
impossibilidade me fazendo sentir mal pelo que estou dizendo a ela. — Sabe
o que pensei?
— O quê? — ela caminha lentamente até sentar em uma cadeira, de
frente à minha.
— Que nós poderíamos sair um pouco, o que acha? — palpito. — Outro
dia recebi um email de uma promoção de passagens para qualquer outro
estado daqui, por um preço pequeno. O dinheiro que juntei dá para uma
viagem boa.
Minha vó ergue as sobrancelhas. Está muito surpresa.
— Você nunca falou em viagem, filha — diz, suspeita.
Eu sorrio.
— O Luke que me deu a ideia.
Então ela sorri também.
— Ele deu?
— Uhum — mordo a maçã. — O que a senhora me diz?
— Está bem, se o Luke acha que vai ser bom para você — ela concorda.
— Eu vou, sim. Mas você vai dizer a ele?
Balanço a cabeça, assentindo.
Deus, isso pode dar certo. Se eu fizer minha avó acostumar em outro
estado, nem precisaremos voltar mais para cá. Nunca mais. Nunca mais
mesmo.
Capítulo 45

Saio do banheiro e caminho direto com a intenção de ir para a cozinha,


no entanto, ao passar pela sala, tenho um pequeno sobressalto ao ver meu pai
sentado em meu sofá.
Ele está bem à vontade, as pernas levemente abertas e os braços
esticados sobre as costas do sofá.
Eu o encaro, ele retribui, então um sorriso imperceptível brinca no canto
dos seus lábios.
— E aí? — ele fala.
Minhas sobrancelhas se erguem, em uma indagação óbvia.
— O que o senhor está fazendo aqui?
Então ele ri de verdade. É uma risada esquisita. Parece um misto de
desagrado, com raiva e graça. Algo meio psicopata.
— Luke, Luke… — balança a cabeça em negativa quando se recupera.
Seus olhos claros estão um pouco escuros, como sempre ficavam quando eu
levava uma surra por fazer algo errado. — Vamos lá, eu vou repetir a
pergunta e você vai me responder certo, ok? Ótimo. E aí?
Cruzo os braços, mantendo-me centrado.
— O senhor poderia explanar do que se trata.
Então ele bufa e se levanta, em um movimento rápido e exasperado.
— Por que eu encontrei a menina da casa da praia tremendo em uma
calçada?
— Eu não sei — minha resposta é rápida.
Meu pai ri.
— Olha só, você é adulto, mas isso não me impede de te dar umas
porradas.
— E por quê?
— Vai falando, Luke — ele puxa os cabelos, em uma óbvia
demonstração do que não sabe fazer com as mãos e o estresse. — Por que a
menina estava daquele jeito se eu te mandei se afastar dela?
— Porque ela é uma desgraçada, talvez — tento manter o tom. — Eu
tentei ficar por perto para ajudá-la e o senhor sabe o que aconteceu? Eu a
peguei beijando o cara que deu um golpe fatal no estômago dela! Por pouco
ela não morreu! Por culpa dele! — também puxo meus cabelos agora,
perdido. — Mas o que ela fez? Foi beijar o cara! Beijar, inferno!
Meu pai grunhe. Está nitidamente incrédulo.
— Além de ter tomado a maldita pílula que pode ter impedido o meu
filho de se formar — completo, desorientado.
— Filho? — ele cospe a pergunta. — Mas, que merda... Você anda se
drogando e eu não sei, moleque!?
Fico em silêncio.
Seria perfeito. Um filho com ela. Nos uniria. Nós teríamos que ficar
juntos e Isabelle entenderia que nem todos os homens são como seu pai e
avô. Eu não a abandonaria. Eu estava disposto a isso. Queria. Eu a manteria
segura comigo.
— Você disse isso a ela? — Meu pai questiona depois de morder o
canto da boca por uns segundos. — Chegou a dizer que queria um filho com
ela?
— Não… Mas seria bem certo um filho já que ela era virgem e eu não
me preveni.
— Meu Deus! — ele joga as mãos para o alto e olha para cima. — Onde
diabos foi que eu errei? Só faz merda! — me olha. — Nem parece ser filho
meu!
Ele bufa e puxa novamente os cabelos.
— Deixa eu te explicar uma coisa, Luke — caminha até estar bem
próximo. — Uma mulher precisa decidir sobre seu próprio corpo, não é você
quem decide por ela. Se fosse assim, você tinha uns dez ou onze irmãos.
— É, mas meu nascimento e da Amber não foi planejado — despejo.
Meu pai arregala os olhos.
— Quem te disse isso?
— A minha mãe!
Então ele dá um risinho.
— Sua mãe era um pouco lerda — gesticula. — Eu sempre a distraía na
hora de tomar o remédio e ela tomava atrasada. Vocês demoraram a chegar,
na minha opinião. Até para isso você foi lerdo.
Balanço a cabeça. Agora eu estou incrédulo.
— E como o senhor tem a cara de pau de vir me dizer que uma mulher
decide sobre o próprio corpo se engravidou minha mãe sem que ela
percebesse?
— Pera lá — ele estende as mãos —, ela já estava me mandando umas
indiretas quando ficava olhando lojas de bebê e comentando das crianças
alheias, além de parar sempre pra fazer carinho nos bebês dos outros. Essas
coisas a gente entende. Ela tinha que ter o próprio filho. Nós tínhamos.
Meu pai volta a sentar.
— Nisso você pode ter razão — ele continua. — Um bebê pode unir em
muito o casal, mas pode também separar. Você já se imaginou com um filho?
— Claro que sim.
— Pois eu acho que não — balança a cabeça. — Não acho que seja tão
simples, a menos que você queira isso mais que tudo.
— Eu quero, pai — afirmo. — Queria, no caso, porque ela… — respiro
fundo, minha cabeça dando umas voltas por dentro e eu fico quase enjoado.
— Ela impediu.
— Bem — ele suspira —, quão idiota você foi com ela?
— Muito — a verdade sai simplesmente e eu quase me assusto com
minha própria confissão.
— O que você vai fazer? — Ele está mais firme e sério, enquanto me
estuda com os olhos muito claros.
— Como assim? — quase dou risada. — Eu não vou fazer nada. Ela
errou. Ela estava beijando outro cara e fez algo sem me consultar.
Meu pai grunhe.
— Pelo amor de Deus, Luke! Presta atenção no que você está dizendo.
Está achando ela culpada por querer impedir uma gravidez sendo que você
também não a informou que queria que isso acontecesse — gesticula. — E
esse cara? O que ele é dela?
— Amigo, eu acho. — Já estou agoniado, querendo quebrar alguma
coisa.
— Você nem sabe dos fatos! Nem sabe o que aconteceu direito! — Ele
está enérgico. — Eles estavam se beijando, mas por quê? Foi eles mesmo ou
só ele? Eu estar com a boca na de uma pessoa não significa que estou
beijando. Para de ser babaca.
Balanço a cabeça, desacreditado.
— Eu vi, pai. Não foi alguém que me falou.
— Dane-se — levanta novamente. — Eu não vou deixar que você, o
meu filho, seja responsável por mais um sofrimento na vida da garota. Me
recuso — ele vem até mim e grunho quando recebo três tapinhas ao lado do
rosto, que dói e arde. — Vai agora resolver essa merda comigo. Veste uma
roupa, você vai até ela.
— O senhor não manda em mim, pai. Não mais.
Então ele ri e recebo um tapa mais forte.
— Fala direito comigo — troveja. — Você tem dois minutos — declara
e volta para o sofá, eu, mesmo sem entender, voltando ao quarto para me
vestir.
Ainda não sei o que estou fazendo.

***

— O senhor vai levar multas — aviso, agoniado. Ele está acima do


limite ou quase isso.
— Cala a boca, garoto. Eu posso, você não — resmunga, enquanto
finalmente começa a atravessar a grande estrada que leva à casa dele.
Em instantes estamos estacionados e saindo do carro para entrar.
Não vou mentir, estou borbulhando de raiva. Não sei exatamente o que
vou fazer ao ter que dar de cara com Isabelle novamente. Eu tenho a razão e
não ela. Estou tão certo disso quanto o ar que eu respiro.
Meu pai entra na frente pela porta principal, então eu estou atrás e logo
vejo minha mãe, estranhando ela estar com um gato em seu colo.
— Natalie, cadê a garota? — ele pergunta, ao que ela vira a cabeça onde
está sentada, notando nossa presença.
— Foi embora — responde e coloca o felino no sofá, levantando e vindo
até nós. — Ela acordou bem e me garantiu que nosso filho não fez nada com
ela, que apenas estava passando mal por não ter comido.
Meu pai ri.
— Você acreditou nisso?
— Acreditei — minha mãe me olha, então estreita os olhos. — Não era
verdade, Luke?
— Devia ser — respondo.
Ele se vira, balançando a cabeça.
— Você sabe a verdade, seu safado — volta a olhá-la. — Para onde ela
foi?
— Disse que iria embora. Tinha que ver a vó, que estava sozinha em
casa.
Meu peito aperta então. A vovó. E tudo que ela me disse…
— O que você fez, Luke? — Minha mãe parece quase com medo. —
Não me diga que você a tratou mal fisicamente… Não foi isso, não é? Você
não a largou de qualquer jeito após ter o que queria e saiu…
— Natalie… — Meu pai agora parece com dor, e ela o olha.
— Foi isso? — ela está temerosa.
— Não… — ele sussurra.
Minha mãe suspira.
— Por que estão todos preocupados com ela? — questiono já irritado.
— Vocês ao menos a conhecem!
— Nem você, pelo visto — meu pai grunhe.
— Não sei por que estão dando tanta importância — levo as mãos ao
rosto, desesperado, aflito, conturbado…
— Por que nós estamos dando tanta importância? — minha mãe vem
para minha frente, pondo uma mão na cintura e outra apontando para mim. —
Por que você está dando tanta importância, Luke? Por acaso já passou pela
sua cabeça isso?
— Porque eu esperava que ela ficasse grávida! — confesso abalado.
Ela tem um pequeno sobressalto, os olhos arregalando-se.
Meu pai começa a morder a boca, olhando-a.
Depois de uns segundos, ela se recupera.
— Por que você queria que ela engravidasse? — questiona, agora mais
branda.
— Porque sim, mãe! — a olho, desesperado. Alguém precisa enxergar o
que estou sentindo... — Porque ia nos fazer bem! Eu queria que ela
entendesse que as coisas ruins não precisam ter que acontecer, nem sempre é
assim, que pode ser bom viver. Eu queria me doar a ela e mantê-la segura
comigo. Queria dar motivos para ela sorrir! Só isso! — tampo o rosto. — É
tão difícil querer dar algo para alguém? Será que é tão difícil?
Meu pai emite um som parecido com descrença.
— Puta merda… — sibila.
Sinto os braços ao meu redor, o cheiro inconfundível da minha mãe.
— Estou querendo te bater, mas nem dá por você ser tão burro — ela
diz.
— Não era a fazendo ficar em desespero que você conseguiria dizer
tudo que nos disse — meu pai suspira.
— O que você pretende fazer agora? — ela questiona.
Me afasto, me negando a sentir culpa. Não é culpa minha. Não é.
— Nada — respondo. — Vou voltar para minha vida e fingir que nunca
a conheci. Nunca deveria.
Minha mãe resmunga e olha para meu pai.
— Tem certeza disso? — ele questiona.
— Nunca tive tanta certeza na minha vida — admito, enterrando os
dedos pelos cabelos.
E é verdade. A certeza de algo nunca foi tão grande, exceto pela de
querer manter Isabelle comigo.
Mas não tinha que ser. Nunca foi para ser.
Capítulo 46

Mesmo minha cabeça estando a mil por hora, me esforcei a vir


trabalhar. Não é uma questão emocional que me abala tão fácil. Nunca foi e
não será agora. Principalmente depois de quase ser blindado ao caos.
Vida que segue.
Meus olhos se erguem do computador para a porta, onde eu me
surpreendo bastante ao ver meus três primos passarem por ela.
— Oi, Luke — Amy é quem se pronuncia primeiro e caminha até estar
sentada em uma das cadeiras de frente para minha mesa. — Está um calor
danado.
— Fala aí — Brandon caminha até o sofá.
— Boa tarde — Dean é o único que vem até mim e me cumprimenta
com um aperto de mão, me entregando uma pasta em seguida. — Tudo bem?
— O que estão fazendo aqui? — pergunto muito confuso.
— Eu estou vindo com o Brandon e encontramos o Dean no caminho —
minha prima responde.
— Continuo sem entender.
Ela dá um sorrisinho esnobe e olha as unhas da mão, enquanto Brandon
deita em meu sofá.
Dean caminha até a cadeira ao lado da irmã e também senta, mirando
sua atenção para o celular.
Bufo e volto ao que estava fazendo, ignorando que toda a minha família
parece não ser normal.
— Eu não sabia que você tinha posto a Isa para trabalhar com você —
Amy diz de repente. — Brandon que me contou.
Ignoro e continuo avaliando as pendências, mas tudo que vejo são bolas
pretas, como se meus olhos se impedissem de focar o que estou fazendo.
— Ela foi embora hoje cedo. Passou lá em casa para me dar tchau.
Eu a olho, inevitavelmente, algo em mim não processando muito bem a
informação que acabei de ouvir.
— O que isso quer dizer? — questiono.
Minha prima não está com uma cara muito boa de repente, então dá de
ombros.
— Eu não sei, talvez algo como ela querer recomeçar a sua vida em
outro lugar. Segundo ela, em um que não lembre tristeza.
— Que ela seja feliz — digo, as palavras saindo como farpa da minha
boca.
— Ela vai ser — Amy sorri. — Tem tudo para ser.
— Não, ela não tem — discordo, num riso.
— Por que está dizendo isso?
— Porque eu sei.
— O Luke não gosta nenhum pouco dela — É o Brandon quem diz. —
Eu o vi tratar a garota super mal, além de ter deixado ela se molhar na chuva
de propósito.
Minha prima está com os grandes olhos verdes arregalados.
— Se não gostava dela, por que a empregou?
— Fiquei com pena — respondo por impulso. — Ela era sofrida. Não
passou de pena.
Amy ri. Um riso verdadeiro de descrença.
— Algo que Isabelle não precisa é de pena — diz, levantando-se,
parecendo chocada. — Ela é a pessoa mais forte que já conheci.
— Forte? — debocho. — Não sei onde.
— Eu não estou acreditando nisso — ela balança a cabeça em negativa.
— Você a colocou para trabalhar por pena e depois a tratou mal?
— Não tratei, não. Apenas estava agindo como um chefe.
Brandon ri.
— Aquilo não era ser chefe, cara — senta-se e me olha. — Aquilo era
humilhar.
— Isabelle era uma ótima funcionária. Nunca precisei alterar a voz com
ela — Dean murmura. — Era sempre pontual e pró-ativa. Não havia mesmo
nada do que reclamar.
— Você a demitiu, isso eu sei — Amy me olha. — Mas, por quê?
— Ela apenas não cumpriu sua função.
— Meu irmão não concorda com você. Acabou de dizer que não tinha
motivos para se queixar dela.
Me levanto, já exaurido.
— Eu não sou o Dean, Amy! Inferno! — reclamo e os deixo ali, saindo
da minha sala para ir ao elevador, então descer no terceiro andar.
As péssimas lembranças do dia anterior voltam à minha mente como
uma avalanche e eu quase retrocedo os passos, mas não o faço, ao contrário,
prossigo para pegar um café.
Tudo pode se dar como antes. Claro que pode. Isabelle foi só mais um
aprendizado para mim.
Caminho pelo corredor e adentro a cozinha, indo diretamente para a
máquina de café, onde me sirvo de uma xícara média.
Me escoro no balcão e deixo o líquido quente queimar a minha garganta,
querendo me livrar de toda tensão do corpo.
— Posso falar com você um instante? — Quase levo um susto com a
voz, mas então os meus olhos focam o homem junto à porta.
Lian.
Sorrio, sorvendo mais um gole.
— Aquilo realmente não foi o que pareceu — ele fala, mesmo sem eu
responder. — Isabelle não estava me beijando, apesar de ser o que eu mais
queria.
— E eu com isso? — minha mão livre aperta a borda de granito. Estou
tentando soar civilizado por um momento.
— Você me bateu por ela, isso eu aguento, mas a forma como a deixou
ontem, isso — ele ri — é inadmissível. Tudo não passou de ciúmes seu, não
precisava tratá-la daquela forma.
Minhas sobrancelhas se erguem. Pareço sarcástico, mas estou mesmo
fumaçando de raiva.
— Eu não sabia que tinha pedido sua opinião.
— Não estou dando a minha opinião — ele rebate —, estou te dizendo o
que houve de fato. Ela saiu daqui desorientada, só não fui atrás porque pensei
que você o faria. Você me bateu sem motivos, mas eu tenho muitos para
fazer isso com você.
— Você vai me bater? — dou risada. — Você?
— Não, porque eu não preciso — ele cruza os braços. — Eu conheço
Isabelle mais que você, e sei que ela é uma garota sensata, sabe se virar
sozinha.
— Bem, sim, visto que ela preferiu o cara que socou seu rosto —
cassoo.
— Você está enganado, eu apenas a ensinei se defender. Ao menos já te
ocorreu que você que a fez mal sempre que estava por perto dela,
maltratando-a e fazendo escândalo? — ele sorri. — Não estou aqui falando
com você por causa de alguma mágoa e sim porque só quero o bem dela. Se
em muitos dias ela não foi capaz de preferir arriscar comigo, não vai ser em
outro momento. Ela te deu a chave, mas você preferiu jogar o cadeado fora.
Apenas saiba que eu a beijei, ela não quis em nenhum momento. Eu estou
aqui dizendo também que, se você não quer me ver mais, vai ter que me
demitir, porque por livre e espontânea vontade, não saio.
Eu observo o homem se virar e sair, tendo que colocar a xícara sobre o
balcão, em busca de alguma lógica para como tudo se deu em minha vida.
— Você quase conseguiu — ele volta para dizer. — Ela te defendeu. E
isso é o péssimo, porque de quases, o mundo está cheio.
Então vai embora.

***

Mesmo após três semanas, a dor ainda continua insistente. Mesmo que
eu esteja me forçando a não lembrar. Mesmo que nada pareça me ajudar. É
quase caótico.
Observo minha irmã amamentar seus bebês, como se fosse a coisa mais
maravilhosa do mundo. Ela sim, com certeza, está feliz.
Confesso que esses almoços de família não são meus programas
favoritos, mas é a minha irmã e seus filhos, então me esforcei para vir.
— Isso não dói? — questiono a ela. — Os dois ao mesmo tempo?
Amber me olha e sorri.
— Não, dói menos que a boca do pai deles, com certeza.
Faço uma careta, bem no mesmo instante que Nicholas chega e adentra
o quarto dos bebês, indo até eles e se abaixando, então beija cada um e, em
seguida, minha irmã.
— Você precisa de alguma coisa? Está com fome? — questiona a ela,
que sorri brilhantemente para ele.
— Não, amor. Estou bem e para de querer me deixar gorda.
— Eu amo você como for — ele declara e levanta, dando um beijo em
seus cabelos.
Depois de aguardar mais uns minutos, ele pega os filhos no colo, um de
cada vez, e leva para os berços, os beijando e voltando para ajudar Amber a
levantar.
— Você pode ir descansar, eu vou ficar com o Luke por perto, se eles
chorarem — diz, guiando-a para fora.
— Está bem, mas não deixa meu irmão pegá-los fortemente porque ele
tem a mão pesada como meu pai.
Nicholas ri e assente, e até eu riria, mas não estou conseguindo achar
muita graça.
— Entra. Senta aí — meu cunhado aponta a poltrona que minha irmã
estava. — Como está tudo depois que você voltou?
— Bom — sento, ele tomando assento em uma cadeira de balanço.
— Ficamos muito felizes que você pôde voltar a tempo de ver os bebês
nascerem — ele está falando mais baixo por causa do sono dos pequenos.
— Foi bom — concordo. — Ainda é estranho ver minha irmã como
mãe, ou até você como pai. Nós jogávamos videogame um dia desses. É
mesmo estranho.
Ele ri.
— É maravilhoso — olha os bebês. — Trabalhoso, muito, mas também
muito bom. Gosto da vida que tenho. Não foi fácil consegui-la.
Assinto.
— Cara, sei que houve algumas coisas entre a gente — Nicholas hesita e
suspira —, mas ainda somos amigos. Você pode contar comigo para o que
for.
— Como você soube que era apaixonado pela minha irmã? — A
pergunta simplesmente sai dos meus lábios.
Ele ri, então respira fundo.
— Foi quando eu percebi que não tinha graça ficar sem ela, mesmo que
ela não estivesse falando comigo ou, até estivesse, mas me jogando sete
pedras, como aconteceu na maioria das vezes — sorri. — Mas, eu a queria, a
companhia dela, tinha que vê-la, era… Sabe, é estranho de dizer, mas mesmo
que a pessoa esteja te repelindo, você necessita dela. Era uma necessidade
constante.
— Que bom — olho para o chão, incomodado, fingindo que não
entendo; mas, eu entendo tão bem que é quase assustador.
— Não foi fácil — Nicholas suspira. — Ter a Amber, quero dizer. Eu
sofri um inferno, ela também. Era desgastante para mim ficar tentando e
tentando algo que eu nem sabia se era real. Eu sentia, mas não sabia se era
correspondido. Ela dizia que não, os atos que sim, e eu ficava me sentindo
perdido — respira fundo, como se não quisesse lembrar.
Eu o olho, vendo a dor em seus olhos.
— Foi horrível, cara. Achei que não ia ficar com ela nunca. Mas ela me
amou — o sorriso volta, junto com um suspiro de alívio. — Ela me quis tanto
quanto eu a quis, eu só precisei persistir e não desistir. Uma hora veio e, olha
só para mim — gesticula —, sou o homem mais sortudo da Terra, não?
Sorrio pela felicidade óbvia dele.
— Fico feliz que você esteja assim e faça a Amber igualmente feliz —
digo sincero.
— Eu a amo — ele sorri —, sempre vou amar. E você, está solteiro?
— Sim, não é… — pigarreio. — Ninguém parece se dar muito bem
comigo.
— Fica frio, você vai encontrar alguém que te faça feliz. Todo mundo
encontra, em algum momento.
Eu concordo, meus olhos se fechando enquanto escondo o rosto entre as
mãos.
Esse é o meu medo.
Ter encontrado, mas não ter percebido.
Capítulo 47

Ainda não entendo como minha avó pode ter odiado nossa viagem. Foi
tudo lindo. O lugar, os passeios… Tudo! Simplesmente não entendo como ela
quis voltar. Estou chateada de verdade.
— Você ainda me ama? — ela pergunta chegando ao meu quarto e
sentando na beirada da cama, onde estou deitada.
— Não amo — murmuro, ao que ela ri.
— Vamos ser sinceras, querida. Estava um saco. Eu ao menos te via
contente. E, você sabe, eu só estou feliz se você estiver.
Eu sorrio, me virando de barriga para cima.
— A gente podia tentar em outro lugar. Um outro país, que tal?
Minha vó suspira com impaciência.
— Não, Isabelle. Essa casa foi comprada com muito suor meu. Seu avô
e eu moramos aqui — ela desvia o olhar. — É a minha única lembrança. Não
quero sair daqui.
— Vovó, não se pode viver do passado.
Ela me olha, parece espantada.
— Não é passado, é o amor da minha vida — diz, as mãos indo ao peito.
— Mesmo que tenha acontecido tudo como se deu, eu o amava, Isabelle.
— Ele não merecia seu amor — sento, um pouco incomodada. —
Homem nenhum merece ser amado. São todos uns idiotas. Eu os odeio.
Para minha surpresa, minha avó rir.
— Posso saber o motivo da sua revolta? Será o mesmo de você querer
mudar?
— Não — coço a bochecha —, eu apenas estou dizendo a verdade.
— E por que você acha isso?
— Ora, vó! Olhe para a senhora, minha mãe… Esses homens que
apareceram para vocês…
— Mas eram apenas dois homens — ela arqueia as sobrancelhas
brancas. — Você não pode basear as ações de dois homens sobre os milhões
que existem na Terra, filha. É até injusto.
Bufo, em descrença.
— E tem também o Luke! — despejo. — Ele só não me abandonou com
um filho porque eu consegui raciocinar a tempo e me preveni.
Ela então parece assustada, e eu arrependida, porque falei algo com a
cabeça quente e sem pensar. Que grande merda…
Minha vó direciona os olhos para baixo, para minha barriga, então abre
a boca. Seu olhar só se ergue para mim novamente depois de muitos
segundos.
— Você… E o Luke… — ela pisca algumas vezes. — Deus, Isabelle!
Por que você não me contou?
— Não era mesmo relevante — me remexo, desconfortável. — Ele me
insultou depois, então tanto faz.
— Eu esperava que ele fosse pedi-la em namoro em algum momento…
Então eu rio. É inevitável.
— A senhora foi mais iludida que eu, vovó.
— Como assim iludida? — questiona. — Luke não me pareceu um mau
rapaz.
— Bem, eu pensei que não — desvio o olhar. — Ele pareceu, em algum
momento, que queria realmente tentar alguma coisa comigo.
— Você também queria?
— Eu não sei — junto as mãos. — Não é estranho pensar que alguém
quer estar junto a você? — respiro fundo. — O ponto, no entanto, é que, não
sei, fiquei morrendo de medo de ser abandonada. Até pensei que ter um bebê
pudesse ser prazeroso, mas eu não tinha a certeza se ele ia estar comigo, o
Luke. Soa confuso para a senhora? Eu querer ser mãe, mas ao mesmo tempo
temer isso?
— Claro que sim — ela parece desesperada por me responder. — Você
não tinha certeza se ele ia estar com você. Ou tinha?
— Não, ele não disse nada. Mas, eu não sei, pareceu irritado quando
achou a caixa do medicamento — suspiro. — Na maior parte do tempo, eu
odeio ter que tê-lo conhecido, mas… A senhora sabe quando fica uma
confusão muito grande na cabeça?
Minha avó ri.
— Você está parecendo um pouco perdida, Isabelle.
— Estou — admito. — Não consigo parar de pensar em como ele me
humilhou, mas também me lembro de como ele me tratou bem. Vó… —
aperto as mãos. — Ele até cantou para mim. A voz dele é muito bonita. Eu
fiquei tão… — procuro a palavra. — Sabe, fiquei… — me remexo. —
Emocionada.
Ela dá uma risadinha.
— Parecem ter sido muitas emoções as que ele causou em você.
— Foi — eu suspiro, me sentindo péssima. — Não era fugindo, sabe?
Mas, sei lá, talvez tentar a vida em um lugar que não me lembrasse dele ou
qualquer homem que nos fez sofrer, fosse ser bom.
— Meu amor — ela senta ao meu lado e acaricia meus cabelos —,
talvez houvesse um pequeno detalhe nos homens que sua mãe e eu
conhecemos que eu não lhe falei.
— Qual?
— Eles não nos amavam — ela sorri, tristemente. — Nunca se
preocuparam em demonstrar isso. Nós é que estávamos apaixonadas e não
quisemos raciocinar, mas, seu avô e pai, nunca prometeram amor ou
demonstraram.
— Eu sinto muito, vovó — suspiro, a abraçando. — A senhora merecia
toda a felicidade do mundo e um homem que valesse a pena.
— Eu fui feliz, Isabelle — ela alisa minhas costas. — Apesar de ele não
corresponder, eu pude ser feliz, porque ele me deu sua mãe — me afasta,
então sorri — e ela me deu você.
Também sorrio.
— Nós temos uma a outra, é o que importa — digo, tentando soar
esperançosa.
Minha vó olha novamente para baixo, minha barriga, então seu sorriso
alonga.
— Sim, nós temos — concorda.

***

— Ai, meu Deus! — grito, tampando os ouvidos quando outro estrondo


irrompe o céu.
A chuva nos pegou de surpresa. Minha vó ainda estava na casa de
Elizabeth, o que foi ótimo porque não quero pensar no que poderia ter
acontecido se ela saísse nesse temporal.
Corro para baixo da mesa, com medo de as telhas saírem voando. Isso é
caótico. Eu odeio tempestades e nós sempre pegamos a pior parte por morar
no meio do nada.
Abraço as pernas e fecho os olhos, tentando não deixar que o medo tome
conta de mim. Estou apavorada. Pensei que ia poder ter uma noite tranquila,
coisa que não consigo há um bom tempo, quando do nada começou a chover
sem parar juntamente com o alvoroço dos raios e trovões.
Assustada e assustada. Estou tremendamente assustada.
Tento controlar a respiração quando um barulho na porta me faz ter um
sobressalto, minha cabeça batendo no teto da mesa.
Meus olhos se arregalam quando a ouço quase quebrar pelas pancadas.
— Vovó! — um grito irrompe pela minha boca e eu me levanto
depressa, temendo que ela tenha sido teimosa e saído.
Não sei por que isso agora. Ela anda preocupadíssima comigo nestes três
últimos dias. É quase irritante.
Minhas mãos destrancam a porta de jeito atrapalhado, enquanto tento
parar de tremer tanto e faço mentalmente uma oração.
Respiro descompassadamente e então giro a maçaneta, mas todo meu
restante de ar se esvai com quem eu vejo.
Não é a vovó.
— Isabelle, espera, não bate a porta — Luke ergue as mãos. Ele está
completamente ensopado, os cabelos grudados no rosto, a respiração
ofegante. — Eu só quero te dizer que... — hesita, tentando recompor a
respiração.
Estou em um momento de inércia, perplexa, mas então um trovão me
faz gritar e eu corro para baixo da mesa novamente, meu coração ameaçando
pular pela boca.
Observo quando Luke entra e fecha a porta, então caminha para perto de
onde estou e quase fico muito assustada quando ele tira a mesa de cima de
mim, colocando-a ao lado, e senta-se à minha frente, no chão.
— Você está muito assustada. — Não foi uma pergunta e, mesmo que
fosse, eu não precisaria responder.
— O que está fazendo aqui? — consigo questionar, apesar da
tremedeira.
— Eu não sabia que você tinha voltado — ele suspira. — Arrisquei te
achar. A Amy me disse que você havia se mudado.
Eu não digo nada, porque não preciso. Não tenho que explicar ou dar
satisfações a ele de nada.
— Precisava te dizer que... — ele respira fundo. — Está doendo,
Isabelle.
— O quê?
— Tudo — ele leva as mãos ao rosto, parecendo aflito. — Minha
cabeça, meu corpo, minha mente, o meu coração... Dói tudo — suas mãos
vão para o peito. — Eu sei o que falei, sei que te disse coisas que são
imperdoáveis, mas, Deus...
Então eu fico muito confusa quando Luke começa a chorar. É realmente
um choro. Um choro alto.
— Eu não estou conseguindo lidar com esse peso, Isabelle — suas mãos
se erguem e ele tenta me tocar, mas eu me afasto por reflexo, confusa e
assustada. O que está acontecendo?
— Me sinto horrível — ele continua, parecendo desorientado. — Eu
queria ter um filho com você. Eu queria muito, mas fiquei perdido quando
pensei que você não queria o mesmo... Fiquei cego de raiva por você preferir
outro homem. Eu não pensei — ele enxuga as lágrimas. — Eu não pensei,
Isabelle.
— Eu não estou entendendo... — mal consigo falar. Não sei o que foi
isso. Muito rápido.
— Eu também não estou — ele chora e ri, parece sofrido e triste. —
Eu... Não imaginava, não pensei que fosse... Isso... — Luke gesticula. —
Isabelle, eu te encontrei quando precisava, mas também não queria de novo
errar. Eu não queria mais me apaixonar. Eu fiquei aflito.
— Luke — eu não sei como me expressar, não sei mesmo, então me
levanto, ficando de pé no canto da sala —, realmente não estou entendendo.
Por que veio à minha casa e está chorando como se você precisasse de
alguma coisa vinda de mim?
— Não, Isabelle — ele balança a cabeça, então levanta também. — Não
preciso de algo vindo de você, preciso de você.
Minha boca se abre muito quando Luke se ajoelha.
— Eu não sei o que fazer. — Ele está ofegante. — Mal consigo pensar.
Estou sem dormir há quatro dias, não sinto fome e nem nada. Tudo que
invade minha mente é você e só você. Tudo se resume a você, minha bela.
Nós nos encaramos. Eu estou sem ar enquanto ele está ajoelhado, me
olhando, sem nunca desviar o olhar.
— O que você quer que eu diga? — questiono. — Se te desculpo? Sim,
desculpo.
— Não — suas mãos tentam novamente me tocar, mas está estranho.
Luke está estranho. — Eu quero você comigo. Para ser minha namorada.
Minha mulher. O que você quiser ser. Eu posso te dar tudo que você precisa,
Isabelle. Só não... — seu choro recomeça e é a primeira vez que Luke quebra
nosso olhar só para tampar o rosto com as mãos. — Só... Por favor, ou... Ou
eu posso não suportar tanta dor.
Então meus olhos também se enchem de lágrimas.
Luke me olha de baixo, tremendo tanto que eu fico desnorteada e com
medo, pensando que ele está com alguma dor. Dói tudo, ele mesmo disse. E é
mesmo verdade. Em mim, também.
Dói tudo e mais um pouco…
— Não… — eu hesito, embaraçada. — Eu não sei o que dizer, Luke…
— Apenas que… — ele funga. — Você também sente algo por mim?
Por menor que seja, só alguma coisa, alguma empatia ao menos? Eu vou…
— balança a cabeça. — Mesmo que você me diga não, que me rejeite, eu vou
ficar mais esperançoso e persistir, se houver alguma chance que seja, mas…
Dependendo do que você disser, uma palavra sua e eu vou embora. Vou
mesmo, eu prometo, e vai ser para sempre.
Engulo um nó na garganta, meus sentidos normais falhando
miseravelmente.
Me abaixo também, sentando de frente para ele. Nós nos encaramos. É
um momento estranho. Não parece nenhum pouco confortável para nenhum
de nós.
— Por que está me dizendo essas coisas, Luke? — questiono, dolorida
por dentro. — Você ao menos esqueceu sua noiva… Esteve indo falar com
ela e também tem uma foto de vocês em sua casa... Você me maltrata e
humilha, é confuso, porque também demonstra simpatia às vezes. Você é
confuso. Está desse jeito. Nem deve saber o que está fazendo ou falando.
— Eu posso ser sim um desgraçado — ele diz, imediatamente —, mas
tenho plena, certeza e absoluta noção do que estou falando e sentindo.
— Eu não acho isso e ao menos pode me culpar por isso. Apenas estou
dizendo que isso é muito estranho, não acha? Por que eu deveria acreditar
que o que está me dizendo é real?
— Não sei. Você me daria uma nova chance? Para tentar de verdade?
Mordo o lábio, quase o fazendo sangrar.
— Eu senti muito a sua falta — admito, desviando a vista —, mas ainda
não sei o que realmente quero. Não sei se seria uma boa ideia arriscar com
você.
— Me certificarei de que seja, Isabelle — ele garante, parecendo tão
convicto. — Eu posso fazer dar certo.
— Você também disse isso antes e mesmo assim falou e agiu daquela
forma...
Luke parece engolir em seco, mas acena com a cabeça, concordando.
— Eu não pensei, como disse a você. Eu apenas queria liberar a
frustração e… Sei que agi errado e me arrependo, e quero te provar isso. Só
preciso de uma chance. Só mais uma —novamente estende as mãos, tentando
me tocar —, a última, minha bela. Se não der certo, eu te deixo viver a sua
vida. Como era antes de nos conhecermos. Eu faço isso, mesmo que me doa
dizer, mas eu faço.
Engulo em seco, minha boca ficando seca de repente e eu tendo que
umedecê-la com a língua.
— A festa de casamento dos meus pais é daqui a três dias — ele fala,
secando as lágrimas. — Eu gostaria que você fosse. É um bom momento para
minha família, vão estar todos reunidos. Quero que me vejam com você e
perguntem, para eu dizer quem é você.
— E quem eu sou? — pergunto, suspeita.
— Você logo vai saber — ele se levanta, então passa as mãos no rosto.
— Eu pego você na sexta, às sete horas. Dê um beijo na sua avó — se vira e
caminha para fora.
Eu me levanto também, o seguindo.
— O coração não é um bom conselheiro, Luke. Não esquece disso —
aviso, então fecho a porta, um trovão soando, mas estou tão impactada que
nem ouso me mover.
Capítulo 48

Estou me sentindo estranha enquanto Luke me guia pelo caminho de


pedras que levam a um salão. Um Salão mesmo porque é um lugar enorme.
Está cheio, completamente, tanto de gente quanto de luzes. Há um altar
redondo no meio também.
Eu não sei mesmo definir o que estou sentindo. É tremedeira, frio, calor,
apreensão, arrependimento e sem falar no enjoo que amanheci e quase me fez
desmaiar. Não deveria ter concordado em vir. O que estou fazendo aqui? É
uma festa de família. Eu ao menos sou da família.
Acontece que, desde que Luke saiu da minha casa, eu não pude deixar
de pensar em suas palavras. No que minha avó me disse. No que eu posso ter
ou não ter. No que posso me arriscar a ter...
Respiro fundo enquanto ultrapassamos a entrada, o burburinho de vozes
sendo ouvidas e todo o requinte que me faz imediatamente sentir mais
estranha e querendo dar meia-volta para ir embora, mas de repente sinto o
toque quente contra minha lombar.
— Está tudo bem — Luke diz em meu ouvido e é o primeiro contato
físico que temos depois de como tudo se desenrolou. É estranho, não vou
negar, mas me sinto segura ao mesmo tempo.
Ele me guia pelo grande salão e eu me sinto tremendamente estranha.
Tudo está.
Logo estamos indo para uma mesa de seis lugares, dos quais dois já
estão ocupados por um casal que está muito sorridente.
Nós nos aproximamos e ele puxa uma cadeira para mim, sentando em
seguida ao meu lado.
— Boa noite, tio Michael — ele diz quando o homem nota sua presença,
então a mulher também. — Tia Kate.
— Oi, amor — a mulher sorri e acena.
— Oi, Luke — o homem o cumprimenta, então me olha. Deve não
passar dos cinquenta anos, mas é muito bonito. Só podia ser da família. —
Boa noite.
— Boa noite — eu respondo, sorrindo o mais agradavelmente que
consigo.
— Essa é a Isabelle — Luke me apresenta.
Eu quero abrir um buraco no chão e me enfiar quando os dois ficam me
olhando, como se eu fosse um ser de outro planeta. É justamente como me
sinto.
— É um prazer conhecer você — é a mulher que se pronuncia primeiro.
— Eu sou Katherine.
— O prazer é meu...
— Estes são meus tios — Luke fala —, Kate e Michael.
Eu sorrio novamente, quase suando. Estou um pouco enjoada, é verdade.
Acho que de puro nervosismo. Como eu disse, é uma situação muito
estranha. Completamente fora da minha zona de conforto. Sim, frequento
esse tipo de ambiente, mas como a garçonete, não convidada.
Respiro fundo, levando as mãos ao rosto e batendo os dedos nas
bochechas.
Somos servidos com alguns doces e aperitivos que eu não faço ideia do
que são. Me sinto arrependida mesmo.
Olho para todo o amplo lugar, várias pessoas sorrindo e elegantes,
bebericando seus drinks e comendo; então solto um suspiro fundo, meu olhar
sendo atraído ao meu lado, onde Luke tem os olhos mais gentis do mundo
enquanto me encara.
— Você está bem?
— Arrependida — tento sorrir. — Esse lugar não é para mim, não me
sinto confortável e é muito esquisito — admito.
— Eu estou aqui — ele sussurra, parecendo decepcionado pela minha
resposta. — Dê uma chance. Se você continuar sem gostar em dez minutos,
eu te levo de volta para casa. Eu prometo.
— Sim, é claro — eu concordo, porque não quero parecer chata, mas a
verdade é que meu enjoo da manhã parece querer voltar com tudo.
Suspiro, meus olhos se voltando à frente, onde vejo o pai do Luke no
pequeno altar coberto de pétalas de rosas brancas. Ele está com um microfone
e toda a atenção se volta para o centro do salão.
— Calma — ele fala, sorrindo. — Esse não é o momento que eu venho
falar um monte de coisas bonitas — ri. — Só gostaria de agradecer a
presença de todos, inclusive da minha família. Todos são muito bem-vindos.
Eu estranho quando Luke se levanta e sai, sem ao menos me olhar.
O tio dele se vira para mim, me avaliando e tento sorrir, um pouco
agoniada.
Estou triplamente arrependida.
Eu vejo Luke sair pela entrada e sumir na escuridão e minha garganta dá
um nó, o bolo se formando imediatamente e os meus olhos queimando, meu
estômago ameaçando me fazer passar vergonha.
Ele ao menos não pensou em dizer que ia sair?
Aguardo nervosamente enquanto o pai dele termina de falar seja lá o que
está dizendo, porque eu já não entendo.
Escondo o rosto entre as mãos, tentando ficar tranquila. Está tudo bem.
Tudo vai ficar bem. Sempre fica.
Minha respiração está desestabilizada, completamente. Estou até mesmo
com medo de passar mal de verdade. Minha avó não deveria ter me
incentivado tanto a vir... Não deveria. No fim, foi por ela. Claro que é por ela
que estou.
Mas então meu corpo gela quando ouço uma frase. Uma frase cantada. E
não é a voz do pai do Luke. Não, não é.
Eu destampo os olhos, lentamente, então eu o vejo. O Luke. Está
sentado em uma cadeira, no pequeno altar, com seu violão e o microfone
apoiado em um suporte.
Ele testa um acorde e seu olhar se levanta, diretamente para o meu.
Estou um pouco assustada. Não, não. Muito.
— Poderia ser uma homenagem aos meus pais — ele fala —, mas é
apenas o que o meu coração quer dizer para você — um toque do violão soa e
Luke sorri.
Engulo em seco, sentindo que algo está parecendo muito errado.
— Eu não tenho que parecer perfeito para fazer você feliz — ele
começa, seus olhos em mim, a voz deliciosa, o som baixo e agradável. —
Acredito que nós dois vamos dar certo, foi isso que eu antes quis...
Aperto as mãos uma na outra, já um pouco desconcertada.
Ele está cantando para mim?
— Mesmo parecendo um louco, piorando tudo um pouco — Luke sorri,
desanimado —, eu te digo que eu me comprometo com e para você.
Respiro fundo, meu coração palpitando.
— Para ser conhecido de dentro para fora, de um modo completo,
precisei de você, bela, linda bela... Estou tão aliviado de ser encontrado...
por ter te encontrado.
Ele silencia o violão um momento e agarra o microfone, cantando em
sussurro em seguida, como se fosse um segredo.
— Não há nenhuma vergonha em admitir, eu não sou o mesmo quando
você olha para mim. Só estou descobrindo agora o que realmente significa
— então volta a tocar, o som delicioso. — É como se eu estivesse com os pés
descalços, na areia do mar... Você se lembra, baby, como é boa a sensação?
— Seu sorriso é tão grande que eu sinto meu peito apertar.
Me remexo no assento, o bolo em minha garganta se tornando mais
pesado.
— Seu perdão, parece flutuar no ar, e eu quero a ele me agarrar —
Luke balança a cabeça, como em desespero. — Bela, minha bela, quando
você olha para mim, não há vergonha nenhuma em admitir, eu não sou o
mesmo...
Suspiro e ouço uns barulhos, parecem choros, mas não sou eu, disso sei.
— Eu me sinto vivo por dentro, baby... — continua, mais suave então.
— Você cura o meu coração, eu vou cicatrizando aos poucos... Eu posso
sentir, é como se o peso do mundo saísse de cima de mim.
Luke sorri de repente, abalando minhas estruturas e muito mais, os
acordes se tornando mais ritmados.
— E eu posso ser apenas quem você me fez ser, porque eu estou
apaixonado, linda bela. E não há vergonha em admitir. Eu nunca mais vou
ser o mesmo, porque você olhou para mim. Olhou dentro de mim.
Eu ouço aplausos, assobios e estou tão desnorteada, que apenas me
levanto e saio do local, sentindo minha cabeça girar e o meu mundo desabar.
Não consigo chegar muito longe. Caio de joelhos na grama já a caminho
da rua, minhas pernas falhando com força total. Minha cabeça está a mil por
hora e eu sinto o indício de um vômito forte, preferindo deixar que meu corpo
demonstre outra forma de expressar o que estou sentindo, então eu choro.
— Isabelle. — É a voz do Luke e logo estou sentindo seu cheiro abalar o
resto do meu raciocínio, se é que sobrou algum. — Você está bem? — se
ajoelha à minha frente e eu o olho. Parece triste.
— Estou com medo — admito. — Muito medo.
— Eu também — ele responde, me surpreendendo e sua mão se ergue
para tocar meu rosto, acariciando minha bochecha de forma quase intocável,
a carícia terminando de me desmontar. — Mas podemos ter medo juntos e
isso não vai ser tão difícil.
Me sento, aflita e desesperada.
— Vamos tentar, Isabelle — Luke reforça. — Pode ser bom.
— Eu vou ficar na corda bamba? — o olho, tentando inutilmente secar
as lágrimas. — Vou ter ficar que cautelosa quanto a você poder mudar a cada
segundo?
— Não — balança a cabeça em negativa ao mesmo tempo. — Vou me
esforçar. Eu posso mudar. Vou tentar isso, por nós dois. Dá uma chance,
Isabelle. Vamos tentar, por favor.
Eu fungo, escondendo o rosto entre as mãos, querendo explicar o que
estou sentindo.
Luke acaricia meus cabelos e nós ficamos em silêncio por um tempo. O
vento frio me faz estar ciente de que não estou tendo um sonho ou algo do
tipo. Porque realmente poderia ser. Um sonho.
— Está bem — eu digo, levantando a cabeça quando ouço um suspiro
profundo, de puro alívio. — Vamos… Tentar.
— Isso — ele sorri, passando as mãos no rosto, parecendo ansioso. —
Vamos. Nós vamos.
Assinto e ele se inclina em minha direção, seu cheiro tão próximo me
fazendo suspirar e abraçá-lo, inevitavelmente.
Luke me aperta em seus braços, me transmitindo uma série de sensações
que me dão alívio e receio. Eu gosto dele. Senti falta. Ele. Ele...
— Eu sei que… — faz uma carícia em meu braço. — Sei que posso
fazer você confiar em mim, Isabelle. E, quando isso acontecer, nós vamos ter
uma coisa linda para viver.
Eu suspiro, fechando os olhos, me concentrando nele e em seu calor.
— Vamos voltar lá para dentro? — questiono. — Devem estar me
achando uma… Idiota. Você canta daquele jeito por minha causa e eu saio
como uma pomba doida.
Ele dá uma risada baixa.
— Deixe que achem o que quiserem — sussurra contra meus cabelos.
— Você diz umas coisas bonitas quando não está no seu modo ogro —
me afasto para olhá-lo e ele tem um misto de vergonha e diversão no rosto.
— Eu gostei muito da música.
— Gostou? — parece apreensivo. — Eu que fiz. Foi rápido, mas foi de
coração. Mesmo.
Eu sorrio, encantada.
— Gostei demais. Se eu não estivesse tão conturbada, eu teria gritado
que a música era para mim.
Ele ri, exibindo quase todos os dentes.
— Eu acho que gostaria de ver você fazendo esse papel.
— O de louca? Sempre faço, já virou normal.
Luke balança a cabeça, como se não concordasse, então se levanta,
estendendo as mãos para mim. Eu as agarro e ele me ajuda a ficar de pé, seu
toque acariciando meus braços logo após e eu solto uma respiração profunda,
de puro prazer.
— Vamos voltar, eu quero que todos me vejam com você — diz, então
põe minha mão na sua e sorri.
De alguma forma, eu busco coragem e o deixo me guiar de volta para o
salão, onde as pessoas estão novamente conversando entre si, mas não posso
passar despercebido que a maioria das atenções se volta para nós e quase
posso me sentir tremer.
Luke nos leva para a mesa novamente e eu me sento, secando o rosto do
suor e lágrimas.
— Ah, isso foi tão emocionante — a tia dele fala e eu olho para o casal,
que está sorrindo para mim.
— Eu não sabia que você estava namorando — o tio fala para ele e sorri
para mim.
Luke somente sorri.
— Ai, meu Deus! — ouço um tapa na mesa e olho para frente, vendo
Amy com os olhos arregalados. — Eu estou me sentindo tão emocionada que
posso mesmo chorar! — olha Luke. — Estou ainda mais impressionada
porque pensei que seu coração só servisse para te manter vivo.
— Isso poderia ter sido ofensivo — ele agarra minha mão por baixo da
mesa e dá um aperto suave, me deixando mais tranquila em meio à situação
esquisita.
— Eu acho que foi mesmo muito romântico — Brandon aparece,
comendo alguma coisa. Ele puxa a irmã pelo ombro e os dois ficam nos
olhando.
— Hm — eu digo, porque todos estão esperando que eu diga algo, é
notável. — Foi muito inesperado.
— Foi mesmo — ele concorda. — Eu acho que não tenho a capacidade
de fazer algo assim.
— Também acho que não — Amy o olha. — Você só sabe ser um
safado e pervertido.
— Amy! — a tia a repreende.
— Estou dizendo a verdade, tia Kate. Nós dois não sabemos ser
românticos.
— Falei apenas o que estava sentindo — Luke pondera. — Todo mundo
tem capacidade de fazer isso.
— Gosto de pensar só na minha capacidade na cama.
— Que isso, Brandon — o tio resmunga. — Vou falar com seu pai sobre
a linguagem de vocês.
Os dois irmãos riem, como se fosse uma piada a queixa do tio.
Eu me remexo, querendo dizer também umas coisas ao Luke. Coisas que
estou sentindo. Porém, apenas o olho de novo quando ele passa a acariciar
minha mão e os primos ocupam os dois lugares vazios, começando a puxar
assunto, enquanto vejo que os pais dele estão se aproximando.
Um calafrio me percorre. Isso pode ser legal. Eu vou tentar fazer
acontecer. Pode dar certo.
Capítulo 49

Isabelle está dormindo ao meu lado e isso é mesmo muito estranho,


porque me sinto cheio de paz. É uma sensação boa. Dar paz a ela. É mesmo
incrível.
Passo meu braço ao seu redor e a puxo para mim, enquanto estamos
indo para casa. A minha casa. Eu a quero lá. Para ficar comigo. Gosto muito
de pensar que posso ter isso. Mesmo tendo sido um desgraçado, ela me deu
outra chance.
Meu pai está nos dando carona e eu não posso deixar de notar o olhar
que ele me lança pelo espelho retrovisor vez ou outra. Minha mãe também
está dormindo ao seu lado, cansada da própria festa.
— Foi inusitado para ela — ele diz, sua voz transmitindo seu riso. —
Ela ficou muito sem reação. Eu morri de rir com a sua mãe.
— Ótimos sogros vocês são — brinco.
— Nós somos, Nicholas que o diga.
Então eu rio porque meu cunhado me disse o quanto apanhou dele por
diversas vezes. Todas as vezes, na verdade, antes do casamento. E, vez ou
outra, ainda se encontram na academia para lutarem escondidos.
— Mas, é sério, filho — ele suspira —, você precisa prestar atenção no
que vai fazer daqui para frente.
— Eu sei, pai. E vou.
— Não sei, não — balança a cabeça. — Eu mesmo estando apaixonado
por sua mãe, fiz burrada.
— Porque o senhor é um cabeça dura.
Ele emite um som de deboche e incredulidade.
— Isso não é verdade. Apenas precisei errar para aprender. Quase não
consigo ficar com a Natalie. Foi por muito pouco.
— Que bom que ficou ou não teria um filho maravilhoso como eu.
Ele dá risada.
— Isso aí. Sendo um Mackenzie, não tem como não ser maravilhoso —
concorda.
Ouço um risinho abafado, então olho para o lado, vendo que é Isabelle.
A puxo mais para mim, encostando meus lábios em seus cabelos que eu
soltei para ela relaxar mais.
— É feio escutar a conversa dos outros — sussurro.
— Desculpe, não pude evitar.
Ela está um pouco tensa desde que estamos tendo algum contato físico,
eu consigo sentir, mas também entendo que não tinha como ser de outro jeito.
— Eu pedi para o Brandon avisar a sua avó que você ia ficar comigo.
— Obrigada — ela levanta a cabeça, então parece desconfortável.
Meu pai pigarreia.
— O que achou da festa, Isabelle? — pergunta.
— Linda.
— Eu sei. Eu estava lá, não tinha como ser diferente.
Então ela ri, um riso verdadeiro.
— Falo sério — ele reforça. — Onde Philip Mackenzie está, não tem
como não ser menos que perfeito.
— Menos, pai. Quase nada — resmungo.
— Está duvidando? — ele questiona. — Pergunta à sua mãe. Natalie —
olha rapidamente para o lado —, acorda, sua preguiçosa. Depois de velha
ficou assim — bufa —, preguiçosa.
— Vai se ferrar! — minha mãe bate em seu ombro, ao que ele ri.
— Não me atrapalha, eu tô dirigindo.
— Eu estava só descansando as pálpebras, não dormindo — ela explica.
— Uma preguiçosa — meu pai repete. — Pode tirando a ideia de dormir
da cabeça, que hoje você não vai. Tenho outros planos.
Isabelle gargalha ao meu lado, ao que eu faço uma careta.
— Pelo amor de Deus, tenham modos, vocês estão na frente da minha
namorada.
Ela suspira ao meu lado, retesando no lugar.
— Eu não falei nada além da verdade — meu pai diz —, só trabalho
com verdades.
Minha mãe dá uma risadinha.
— Você tem sorte de eu te amar muito, Philip, porque algo que você
demorou admitir foi a verdade.
— Bem, mas admiti e é o que importa. Aliás, você achou o presente que
escondi pra você?
— Aquele…
— Isso — ele a olha e sorri maliciosamente, Isabelle tentando não rir, o
que também está me fazendo sorrir. — Gostou?
— Achei um pouco absurdo — ela fala —, você é um safado.
— Eu sou, mas você gosta.
— Eles são sempre assim? — Isabelle sussurra para mim, ao que eu a
olho.
— São. Bem-vinda à minha família — balanço a cabeça, fingindo
lamentar.
Ela sorri lindamente para mim e vejo seus olhos brilharem.
— Obrigada, eu acho que posso gostar de sempre rir assim.
— Meu Deus — meu pai fala de repente e voltamos a prestar atenção
neles —, aqueles recém-nascidos são umas coisas.
— Eles até que são quietos — minha mãe discorda.
— Eles berram mais que você, Natalie.
— Isso é um exagero. Choram menos que o Luke e a Amber.
— Luke chorava mais — ele olha para Isabelle do espelho e sorri.
— Então ele era um chorão? — questiona e eu gosto muito que ela
esteja tentando conversar com meus pais.
Minha mãe vira a cabeça para trás, para nos olhar.
— Chorão? — sorri. — Não, querida, ele era um berrante. Depois que
cresceu, ficou que nem o pai, não falava, relinchava. Espero que agora
apaixonado ele mude um pouco.
— Eu não gostei disso aí — meu pai diz. — Você me chamando de
cavalo. Vai me pagar.
— A Isabelle já fez a mesma comparação — digo ao que minha mãe ri.
— Viu, só? Eu sei das coisas.
Então eu sorrio quando ela deita a cabeça em meu ombro de novo e
suspira, se sentindo confortável.
— Chegamos — meu pai anuncia, então eu também me alivio, porque,
de alguma forma, já estava impaciente para ter Isabelle para mim.
Só para mim.
Isabelle suspira assim que entramos na minha casa, mas o olhar que ela
me lança me deixa tranquilo. Vai dar certo.
— Vamos tomar banho — eu anuncio levando as mãos ao blazer e o
tirando, então caminho até ela e seguro sua mão. — Juntos — emendo.
Ela ofega, nitidamente surpresa.
Nos levo pelo corredor até meu quarto, sentindo sua mão se desprender
da minha e ela se cobre, em um movimento de insegurança inconsciente.
— Luke, eu… — me olha. — Estou um pouco… Hm... Longe, talvez.
Eu assinto. Entendo perfeitamente o que ela quer dizer e tomo toda a
culpa para mim, porque foi mesmo por minha causa.
Mesmo assim, levo minhas mãos aos botões da minha camisa e os
desfaço, jogando a peça na poltrona; então o cinto, para me desfazer da calça.
Isabelle desvia o olhar, parecendo conturbada e inquieta.
Eu me aproximo, é inevitável; a forma como ela me faz sentir e tudo o
mais.
— Eu me lembro da parte boa que tivemos — falo, pegando suas mãos
nas minhas, acariciando. — Me deixa te fazer lembrar também.
Ela ofega, puxando quase todo o ar do quarto.
— Vire — eu peço e me surpreendo quando ela o faz no mesmo
instante, sua respiração nitidamente alterada.
Primeiro eu bebo um pouco da imagem dela, porque é impossível não
fazê-lo. Acaricio seus braços, enquanto levo meu nariz aos seus cabelos e
fecho os olhos, minha respiração também querendo se alterar.
É completamente novo. Tudo que vai se dar daqui para frente. Um
recomeço, para mim; para ela, um início. Juntos.
Suspiro, tomando o calor dela para as palmas das minhas mãos. A pele
macia e quente ficando arrepiada.
Corro as pontas dos dedos até os ombros, Isabelle soltando uma
respiração entrecortada.
Procuro o zíper do vestido, tateando seu corpo em movimentos fluídos e
leves, encontrando-o na lateral, então puxo para baixo, logo enfiando os
dedos por dentro, tocando na pele macia.
Isabelle geme, um som lindo e que me motiva a continuar, porque ela
está me querendo.
Espalmo minhas mãos em sua barriga e a puxo para trás, colando nossos
corpos e também gemendo pelo contato quente e perfeito. Ela é perfeita para
mim.
— Gosto muito de como você está arrepiada — confesso quando ela
impulsiona a cabeça para trás, contra o meu ombro.
Seus lábios se entreabrem e eu acompanho o movimento com os olhos,
enquanto percorro minhas mãos por dentro do vestido então as subo para as
alças, para deixar Isabelle livre da peça.
Ele cai no chão, em ondas, o corpo lindo ficando liberto para minhas
mãos, para o meu toque.
Viro a cabeça, abaixando um pouco para mordiscar sua orelha, ela
gemendo no mesmo instante, seu corpo remexendo contra o meu e me
deixando mais louco.
— Luke… — ofega, o que é mesmo surpresa para mim, porque ao
menos comecei a tocá-la como planejei.
Acaricio sua barriga com as mãos, a pele arrepiada, ela ofegante, me
mostrando o quanto está me desejando; então agarro os montinhos médios,
que são do tamanho perfeito para minhas mãos.
Aperto um pouco, eriçando ainda mais os biquinhos.
— Vamos para o banho — digo, massageando-os.
— Depois — ela me surpreende e se vira de uma vez, sua boca vindo à
minha em um baque, Isabelle gemendo, parecendo desesperada por fazê-lo.
Certo. Muito estranho, mas não quero pensar entender o que significa,
então somente pego impulso e a seguro, nos levando para cama, nos deitando
imediatamente, sem desgrudar nossas bocas.
Ela está mesmo desesperada, suas mãos indo para os meus braços e
arranhando, logo para minhas costas, até seus dedos se infiltrarem por meus
cabelos, Isabelle puxando-os enquanto geme em minha boca.
Nossos corpos estão colados e ela logo abre as pernas, eu me encaixando
entre elas e me esfregando nela.
Ela desvia a boca e leva ao meu ombro direito, onde recebo uma
mordida, me fazendo ofegar.
Me ajoelho e observo-a de cima. Ela tem os olhos mais escuros e
brilhantes do mundo enquanto se contorce contra o colchão.
— Você está com muita vontade — declaro, ao que ela me dá um
gemidinho como resposta.
Sorrio, satisfeito e aliviado, encaixando meus dedos nas laterais da
calcinha de lacinhos, que é uma gracinha, e puxo para baixo, querendo
Isabelle nua para mim.
— Eu não estava esperando por isso — ela fala, a voz rouca. — Essa era
a melhor... Hm… Calcinha para o vestido.
Eu sorrio, balançando a cabeça e jogando o pedaço de pano no chão,
enquanto me deito de barriga na cama e passo a acariciar as coxas macias, ela
juntando as pernas uma na outra com força.
— Você está com medo? — pergunto, olhando-a.
Isabelle fita o teto, a barriga subindo e descendo, demonstrando sua
respiração descompassada.
— Estranho… Tudo.
— Você vai me deixar continuar ou quer que eu pare?
Ela morde a boca e fecha os olhos, respirando fundo, então me olhando
como dá.
— Eu gostaria de dizer que quero, mas estou nervosa.
Eu sorrio e arrasto para seu lado, me apoiando em meu próprio braço,
Isabelle me olhando de baixo com a respiração errática.
Coloco minha mão livre em sua barriga e acaricio em círculos, ela
gemendo no mesmo instante.
— Não precisa ficar nervosa. Eu vou estar aqui em todo momento e
dessa vez é para valer.
Ela desvia o olhar uns segundos, então me olha de novo, parecendo
triste.
— Posso pedir uma coisa? — questiona.
— Sim, é claro.
— Você poderia tirar aquela foto da sua ex-noiva do corredor? É
estranho que...
— Do que você está falando? — Agora estou um pouco assustado.
— No corredor tem um porta-retratos com uma foto sua com uma
mulher… Sabe, talvez, eu não sei… Mas não me sinto bem em te deixar me
tocar com aquela foto lá.
Eu me levanto, então estendo as mãos.
— Venha, me mostre onde está essa foto — peço.
Isabelle parece hesitar, mas por fim agarra minhas mãos e eu a puxo, ela
ficando de pé com um risinho.
— Você é muito forte.
— Eu sou — beijo o canto da sua boca e me afasto para o lado,
gesticulando para que ela vá na frente. — E, sem vergonha, por favor. Não
precisa ter vergonha quando estiver comigo. Eu amo o seu corpo, já pode ter
certeza disso.
Ela sorri, então puxa o lençol mesmo assim e se enrola, saindo.
Dou risada, a seguindo para fora, aonde vamos até o outro corredor,
perto da sala de jogos.
Ela se aproxima da cômoda do corredor e pega uma foto, então estende
em minha direção.
— Aqui, ou você joga fora ou eu vou embora.
Capítulo 50

Seguro o porta-retratos e quase rio pelo olhar de Isabelle.


Isso é ciúmes? Bem, se for, posso muito bem me acostumar que ela
tenha.
— Desculpa, Bela, mas não vou jogar a foto da minha irmã fora.
Ela está imediatamente muito surpresa, as sobrancelhas se erguendo.
— Irmã? — questiona. — Você não era gêmeo?
— Se você tivesse mesmo prestando atenção, eu disse claramente que
nós não éramos gêmeos parecidos fisicamente.
— Não — balança a cabeça —, não prestei.
— Pois é — sorrio e coloco o objeto em seu lugar novamente, Isabelle
coçando a bochecha e parecendo constrangida.
— É... Ahn... — hesita, me olhando. — Você me desculpa? É que
achei...
Me aproximo dela, ao que ela retrocede até a parede, então seus olhos
brilham mais intensamente.
Seguro sua mão que está mantendo o lençol junto ao corpo e puxo.
— Vou desculpar, mas mais rápido se você tirar isso aqui de onde eu
quero me perder.
Ela solta um gemidinho entre uma respiração profunda, e eu estranho
novamente. Muito excitada, é o que eu diria.
Olho para baixo quando observo o lençol cair no chão, Isabelle se
contorcendo contra a parede, prendendo os lábios entre os dentes e soltando-
os em seguida, a respiração já ofegando.
— Gosto de ter esse efeito sobre seu corpo — admito e me colo a ela,
inclinando a cabeça e juntando nossas bocas em um beijo quente, ardente e
cheio de desejo.
Porque isso é maravilhoso. Ter Isabelle louca por mim. Querendo a
mim. Com ciúmes de mim.
Eu sorrio contra seus lábios ao que ela ofega e aproveito para enfiar
minha língua por entre eles, entrando e saindo, como quero fazer entre essas
pernas maravilhosas que ela tem.
Desço minhas mãos pelas laterais de seu corpo e vou apertando por onde
passo, Isabelle dando gemidos profundos e roucos, me dizendo o quanto
gosta do que estou fazendo.
Nos separo de repente, só para virá-la de encontro à parede, então nos
colo novamente, mordiscando sua orelha, ao que ela joga a cabeça para trás, e
eu pressiono minha ereção dolorida contra sua bunda quente e perfeita. Ela é
perfeita.
— Você quer que eu te possua aqui, em pé? — questiono em seu
ouvido, ficando quase louco quando ela se esfrega contra mim no mesmo
instante, me dizendo que gostou do que ouviu.
Agarro sua cintura e aperto, enquanto me movimento junto com ela,
meu pau querendo explodir como está mesmo. Sou controlado, mas não sei
se vou durar tanto do jeito que estou.
Quero dizer, isso está além. Agora eu sei que Isabelle é minha. Ela quis
ser, está se entregando a mim de verdade, e isso me deixa tão louco que eu
quero tê-la de todas as formas só para reafirmar o que já sabemos.
Me abaixo, então aperto o interior de suas coxas, ela se arqueando para
trás e abrindo as pernas para mim, se empinando pelo meu toque, o cheiro
dela me fazendo querer agarrar meu pau e me aliviar logo, porque estou
inenarravelmente duro, pesado, pulsante.
— Você vai gozar na minha boca primeiro — aviso, deixando uma
mordidinha no bumbum macio, tentando buscar controle.
— Ah, Luke… — ela geme, ficando na ponta dos pés e se arqueando
mais, então agarro suas nádegas e abro, exibindo Isabelle molhada, quente,
rosada e excitada. Só para mim.
Levo minha boca aos lábios do seu sexo, grunhindo pelo gosto dela,
primeiro doce e depois suavemente salgado, me fazendo perder a razão.
Fecho os olhos, me abaixando um pouco mais para chupar o clitóris que
está durinho e ansioso para explodir logo, assim como eu; mas, sou paciente e
dou apenas uma chupadinha de leve, só para vê-la se tremer toda e gritar.
Aproveito a forma que ela se arqueia e levo os dedos para sua
entradinha, que está tão molhada e pronta.
Enfio o dedo médio, Isabelle engolindo-o aos poucos, gemendo louca.
Bem, ela está louca há muito tempo, e isso é um contraste muito diferente de
quando a tive pela primeira vez.
Inspiro seu cheiro de mulher, minha mulher, enquanto lambo seus lábios
menores e consigo penetrá-la inteira com meu dedo, começando um vaivém
lento; a forma como ela vai ficando mais molhada, me deixando tão quente e
pulsante que eu preciso descer uma mão para baixo e puxar meu pau para
fora, acariciando-o.
— Luke! — Isabelle grita e eu sei que vai gozar, então acelero o
movimento da língua em seu clitóris, mantendo o vaivém lento do meu dedo,
sentindo-a pulsar e inchar por dentro. — Minha nossa!
Grunho, chupando seu pontinho intumescido com força, prendendo
entre meus lábios, e fecho os olhos, acompanhando todo o momento quando
ela goza, com força; gritando o meu nome e chamando por mim. Eu.
Continuo com meu dedo acalmando suas paredes internas, ela
choramingando, e eu buscando um controle que... Bem, eu não preciso ter.
Me levanto, beijando cada parte do corpo dela, até o pescoço, onde
deixo chupadinhas.
Ela se esfrega em mim e fecho os olhos, inspirando profundamente.
— É aqui que você quer? — questiono de novo. Vai ser tudo como ela
quiser. Quero dar tudo que ela quer. — Responde pra mim.
— Sim! — Isabelle está toda trêmula quando sinto seu toque contra
minhas costas, ela me puxando de encontro a si, fortemente.
— Aqui? — mordo sua orelha, já sentindo meu pau querendo liberar
meu alívio. — Você gosta da ideia de eu te comer aqui, em pé?
— Sim… — ela está tão entregue que eu só posso ficar cada vez mais…
Claro que sim... Mais apaixonado.
A verdade pura me deixa sem fôlego e me abaixo um pouco, só para me
enterrar nela de uma vez, a sensação nos fazendo gemer juntos, de forma alta.
Minhas pernas tremem e eu preciso fechar os olhos e buscar controle,
enquanto enfio meu nariz em seus cabelos, sentindo seu cheiro doce para
acalmar meu coração.
Isabelle está arranhando a parede, parecendo desesperada.
— Minha nossa… Minha nossa… — ela repete baixinho, então faço
uma volta com os quadris, meu pau a alongando mais para mim.
— Você está quente como fogo — ofego. — Uma delícia.
Ela se arqueia toda, gemendo roucamente, então viro seu rosto para
mim, num movimento rápido. Os olhos dela estão como em brasas.
— Você gosta, não é? — pergunto, ao que ela morde o lábio, me
olhando toda dengosa. — Gosta de ouvir umas sacanagens.
Ela sorri, um sorriso que faz meu pau pulsar.
Sibilo, puxando para fora, só para empurrar com tudo de novo.
— Sorri safada assim de novo para mim.
Isabelle abre a boca e geme, me confirmando o que eu perguntei.
— Quero te ouvir gritar bem louca — deixo claro, então saio de dentro
dela, agarrando sua cintura e a virando de frente para mim; agarrando sua
perna direita e colocando em meu quadril, a penetrando novamente com um
movimento fluído e rápido.
Ela engasga, segurando meus ombros, os olhos arregalando.
Saio novamente e empurro com força, já alucinado, então começo um
vaivém louco e insano.
— Luke, meu Deus do céu! — ela grita, tentando se apoiar na parede.
Me inclino e colo nossos lábios de novo, enfiando minha língua por sua
boca e circulando o interior quente, ela me correspondendo na mesma
medida; quente e molhada.
De repente eu solto um gemido sofrível, quando ela rebola no meu pau,
ao mesmo tempo que morde meu lábio inferior.
Deixo uma mão segurando sua perna em mim, enquanto levo a outra à
parede, acima da sua cabeça, me apoiando para não desabar.
Isabelle me olha, lambendo os lábios, então repete o movimento várias
vezes, parecendo ainda mais atiçada ao me ouvir grunhir.
— Isso… — incentivo, apertando sua coxa, sem desconectar nossos
olhares, sentindo-a latejar por dentro, eu já em desespero puro e completo. —
Engole meu pau com essa sua bocetinha doce, sua gostosa.
Ela arregala os olhos e espalma as mãos no meu abdômen, me
arranhando com força enquanto joga a cabeça para trás e grita, gozando
loucamente no meu pau.
Então é impossível eu me segurar, somente aperto sua coxa e dou um
último impulso, suficiente para gozar dentro dela e não pensar, só sentir.
Sentir o quanto isso é bom porque… Eu estou apaixonado.
Mas... E se eu estiver novamente enganado?
Capítulo 51

Eu não sei exatamente o que aconteceu, só sei que abro os olhos e


imediatamente meu corpo levanta e vou para o banheiro, me abaixando sobre
o sanitário e vomitando o que não me lembro de ter comido.
Oh, droga… Isso está péssimo. Os chás de minha avó não funcionaram.
Solto um gemido frustrado, enquanto me sento, a cabeça girando.
Fico um tempo sentada, aguardando a ânsia passar.
— Isabelle?
Eu viro a cabeça e vejo Luke entrando no banheiro, lindo como só ele,
uma expressão de preocupação tomando seu rosto.
— O que está fazendo aí? — se abaixa, então faz uma careta. — Está
enjoada?
Não respondo, apenas me endireito e vomito outra vez, minha barriga
contorcendo por dentro. Quero chorar.
— Você comeu alguma coisa?
— Não — nego, minha voz falhada.
É verdade. Meu corpo também está fraquíssimo. Principalmente depois
daquilo no corredor. Porque, minha nossa… O que exatamente foi aquilo? Eu
mal me lembro o que aconteceu depois que explodi como um vulcão. Agora
sei que estava deitada. No quarto do Luke.
— Deve ser por isso… — ele hesita. Sinto seu toque quente em meus
ombros e levanto a cabeça, me sentindo uma inútil momentaneamente.
Ele me dá um sorriso lindo, que me faz querer derreter exatamente onde
estou.
— Se eu não estivesse apaixonado, poderia rir da sua cara de morta —
fala e se levanta, me ajudando também a levantar. — Nós vamos te ajudar —
ele alisa meu rosto então envolvo meu corpo com meus braços, vendo Luke
se afastar para ir até dentro do box e ligar o chuveiro, testando a temperatura
da água.
Ele me chama com a mão, sorridente, e eu vou, mais automaticamente
do que qualquer outra coisa.
Logo estou junta a ele no cubículo, seus lábios em meus cabelos, onde
Luke beija, então me vira, me empurrando para baixo do jato de água.
Solto um suspiro contido, a temperatura morna me sendo um grande
alívio.
Eu deixo que ele corra suas mãos por meu corpo, logo colando o dele
atrás de mim e coloco a cabeça contra seu peito, fechando os olhos e
suspirando porque, tudo que quero no momento, é isso. A sensação de
conforto.
— Você dormiu tão rápido — ele sussurra, suas mãos circulando minha
barriga em movimentos suaves e eu respiro fundo, meu coração acelerando.
— Obrigado por me dar uma chance.
— De nada — pigarreio, então me endireito quando Luke parece muito
tempo em sua carícia.
Ele não diz nada, apenas persiste a passar as mãos por meu corpo. Em
seguida, pega o sabonete na pequena prateleira e passa em mim, os
movimentos preguiçosos e muito bons.
Eu estou relaxada e confortável.
Suas mãos massageiam meus ombros, eu apoiando as minhas contra o
vidro, buscando apoio.
— Pronto — ele fala, beijando meu ombro esquerdo. — Está molinha?
Eu sorrio. É inevitável.
— Acho que estou — confesso.
— Hm, bom — ele dá um riso baixo. — Vou pegar a toalha.
Espero, apoiada contra o vidro e logo sinto o tecido felpudo e macio me
envolver.
Luke me vira de frente para si e avalia meu rosto, parecendo muito sério
de repente.
— O que foi? — pergunto, ficando na defensiva. Só me faltava ele
mudar de ideia e começar a falar coisas sem sentido novamente.
— Nada — balança a cabeça e volta a atenção para baixo, onde seca
meu corpo. — Apenas tive um pensamento, não é nada.
Eu suspiro e o deixo fazer o que quer, Luke terminando e me olhando
novamente, de um jeito diferente. Não é rude, mas não deixa de ser diferente.
— Vamos — fala, saindo novamente para o banheiro, então eu o
acompanho para fora do quarto e ele vai direto para a cama, eu não
conseguindo tirar os olhos do seu corpo escultural. — Você fica aqui me
esperando. Eu já volto.
— Aonde vai?
— Pegar alguma coisa para você comer — ele sorri e vira, saindo do
quarto.
Eu vou para a cama, deitando e puxando o edredom para me cobrir, mal
lembrando que meus cabelos estão molhados. Mas, não sei, pareço tão
cansada que não me importo com isso.
Fico olhando para o quarto grande e que tem o cheiro do Luke, minha
mente me lembrando do que tivemos há algum tempo — que eu não sei
quanto foi. Ainda está noite, isso estou vendo porque ele abriu as cortinas e a
janela, o vento frio invadindo o ambiente.
Suspiro, tão relaxada que dou um sorriso.
— Alegre? — Eu ouço a voz dele e levanto a cabeça, o vendo se
aproximar, igualmente com um sorriso.
Assinto, me sentindo bem.
— Eu também — ele responde e senta na cama, colocando o prato que
trouxe em cima. — Sanduíche com muita proteína boa para você. Pode
comer tudo e eu vou ficar olhando para confirmar.
Ergo as sobrancelhas.
— Vou comer tudo, sim — afirmo, agarrando o sanduíche com as duas
mãos e dando uma bocanhada. Parece de repente que meu estômago rejeita a
comida, mas tampo a boca, sorrindo para Luke, que me olha suspeito.
— Está ruim?
— Não — nego, apertando os olhos e colocando de volta no prato. —
Apenas… Parece que fiquei sem fome.
Então ele parece apreensivo, olhando de mim para o sanduíche e vice-
versa.
— Só mais umas três mordidas e eu te deixo dormir — avisa. — Coma,
por favor.
Respiro fundo, então agarro de volta e dou duas mordidas à força,
empurrando pela garganta o alimento.
— Pronto — digo, querendo apenas me aninhar nos braços fortes dele.
— Boa menina — ele pega o prato com metade do sanduíche e coloca
no criado-mudo, então estranho quando levanta e vem para o meu lado.
— O quê... — Não termino a frase quando Luke me pega nos braços e
sorri para mim.
— Pegue o edredom.
Eu o faço e estranho quando ele nos leva pelo quarto, até a janela aberta,
onde vejo que é uma varanda.
Ele senta em uma poltrona, então suspira.
— Por que estamos aqui? — questiono, querendo muito chorar.
— Para você tomar um ar e — ele leva uma mão ao meu rosto,
mantendo a outra por trás de mim — porque eu quero aproveitar cada
momento com você.
Eu suspiro, então Luke ajeita o edredom em cima de mim, me deixando
tão emocionalmente fraca que apenas abaixo a cabeça e ponho em seu
pescoço, inspirando seu cheiro enquanto sinto algumas lágrimas escaparem
dos meus olhos.
Isso é tão bom que sinto medo.
Capítulo 52

Acordo sentindo a quentura em meu pescoço. Estranho. Esquisito.


Engraçado…
— Bom dia.
Desperto de verdade, ouvindo a voz do Luke.
Oh, meu bom Deus…
— Você dorme muito, garota — ele morde meu ombro, então pisco os
olhos para focá-lo quando sua cabeça se ergue e ele me olha de cima. — Nós
vamos passear. Está um dia lindo de sol.
Tampo a boca em um movimento automático, não querendo falar.
— Vamos levantar? — questiona, erguendo a sobrancelha. — Se sente
melhor?
Balanço a cabeça, concordando, ainda me situando.
— Ótimo — ele sorri e se arrasta de cima de mim, ficando de pé e
estendendo as mãos. — Vamos.
— Eu estou com sono ainda — reclamo, só querendo dormir mais. Na
verdade, acho que estou num sonho. Minha voz mal sai.
Ele sorri.
— Eu sei. Depois você dorme mais. Vamos aproveitar o domingo.
Me sento, então esfrego os olhos, só assim prestando atenção em Luke e
minha boca se abre. Meu Deus…
Ele está impecavelmente lindo vestido em uma roupa esporte. O short
branco e a camiseta preta, contrastando com o relógio em seu pulso e os tênis
em branco e preto.
Me abano, inconscientemente.
— Gosta de olhar para mim? — ele questiona, um sorrisinho brincando
em seus lábios.
Se eu gosto? Eu amo! É uma visão fenomenal. Realmente não dá para
saber como eu prefiro. Vestido ou não?
Mas, quem se importa? Eu posso ter os dois.
— Você está muito bonito — eu digo, as palavras arrastadas.
Luke ergue as sobrancelhas, então cruza os braços, minha boca
salivando pela pose. Está quente. Muito quente.
— Obrigado — ele sorri —, mas eu já sabia.
Quero rir, mas apenas o olho de cima a baixo de novo, meu corpo
remexendo no mesmo instante quando me lembro do quanto Luke pode ser
quente.
Ouço sua risada rouca, então ele caminha pelo quarto, até a poltrona,
voltando em seguida com meu vestido e minha calcinha.
— Eu lavei suas roupas — ele avisa. — Na verdade, eu fiz muitas coisas
enquanto você babava no meu travesseiro.
Estou babando agora por você, é o que tenho vontade dizer; mas apenas
seguro as peças e me levanto, para vesti-las.
Luke me observa e sorri largamente quando o olho de novo.
— Hm, domingo de sol? — eu pergunto, então ele assente e se
aproxima, segurando minha mão.
Eu nem hesito quando sou impulsionada a andar com ele para dentro do
banheiro, indo para a bancada.
Luke solta minha mão e abre um dos armários de baixo, pegando
alguma coisa. Então, quando volta à posição anterior, vejo que é uma escova.
Ele põe a pasta e me entrega, sorrindo.
— Os dentes, então o rosto e eu espero você na cozinha — diz e então
beija meus cabelos, me deixando sozinha.
Talvez eu ainda esteja um pouco dormindo, porque quando me viro de
frente para o espelho, me vejo sorrindo. E não consigo parar. Repito, é tão
bom que sinto medo.
Suspiro, extasiada, então agarro a escova e escovo os dentes. Com
calma. Lavo o rosto em seguida e desembaraço os cabelos, prendendo-os de
qualquer jeito.
Respiro fundo e saio, à caminho da cozinha.
Meu queixo falta ir ao chão quando vejo Luke na cozinha. Ele está
concentrado enquanto arruma algo em um prato, mas, meu Deus, ele está tão
lindo. Ainda mais agora, com o boné.
Eu vou derreter…
Solto um suspiro tão fundo, mas tão fundo, que me sinto envergonhada.
Ele me olha, então sorri.
— Vem comer, Bela — me chama, então aponta o banquinho da ilha.
Eu vou. Leve, flutuante, sorridente…
Me sento, vendo vários pedaços de frutas cortados em um prato e em
outro um omelete com pedaços de queijo em cima.
— Você quem fez? — Eu o olho.
— Eu fiz — Luke sorri e gesticula. — Pode passar tudo para dentro.
Não está enjoada agora, né?
— Não, acho que é um mal-estar bobo.
Ele apenas assente, então fica esperando ao lado, e eu começo a comer,
porque estou realmente faminta.
As frutas são leves e doces, e combinam perfeitamente com o
salgadinho da omelete, me dando uma sensação de alívio no corpo.
Perfeito. É muito bom. Acho que estou me elogiando interiormente por
ter dado outra chance a ele. Minha avó também vai ficar feliz. Sei que vai.

***

Meia hora depois, Luke e eu estamos saindo de seu apartamento


diretamente para rua, o sol nos recebendo e eu suspiro, sorrindo.
Olho para baixo, onde nossas mãos estão juntas. Ele segurou assim que
entramos em seu elevador.
— Você está enjoada? — ele me olha quando faz a pergunta.
— Não, estou ótima.
— Ótimo — acaricia minha mão com o polegar. — Vamos dar uma
volta por aí. Se sentir mal, me avise.
Eu assinto, então o deixo me guiar pela rua, e poderia ser algo monótono
ficar só andando, sem destino, mas não é. Por mais incrível que possa
parecer, não é. Muito pelo contrário, é maravilhoso.
— Vamos entrar aqui — diz quando chegamos ao lado de uma loja,
depois de certo tempo. Eu observo a frente e já quero voltar no mesmo
instante. Melhor, nem entrar. As roupas devem custar o meu rim.
Mas, eu vou, porque estou com Luke e provavelmente ele quer comprar
algumas roupas para si.
Assim que entramos, uma atendente vem em nossa direção. Ela está
muito sorridente.
— Oi, Lin — ele fala.
— Luke, que bom te ver — ela o cumprimenta com um beijo em cada
bochecha. É uma mulher loira e deve estar na casa dos cinquenta, mas mesmo
assim não gosto da sensação de que ela esteja tão perto dele.
— Bom ver você também.
— Nunca mais nenhum Mackenzie apareceu — ela sorri e me olha. —
Olá.
Eu sorrio, forçadamente.
— Essa é Isabelle, minha namorada — ele me apresenta assim. Sua
namorada. Parece algo tão bom que novamente estou com um sorriso idiota
na cara. — Viemos comprar algumas roupas para ela.
Imediatamente meu sorriso morre e eu o olho, alarmada.
— Você pode mostrar algumas peças a ela? — Luke pergunta, mas eu
sei que ele está vendo que o estou olhando, embasbacada.
— Claro que sim — a mulher assente, então estou ainda mais absorta
quando ele se vira para mim e sorri.
— Bela, eu venho te buscar em uma hora. Você pode se sentir à vontade
e pegar o que quiser — diz. — Eu vou correr em volta do quarteirão — me
dá um beijo rápido nos lábios e faz um aceno com a cabeça para a mulher,
saindo em seguida; e eu só vejo quando ele olha o relógio e depois sai
correndo.
Engulo em seco, ainda me situando, mas saio do transe quando a mulher
chama meu nome.
— Pronta para restaurar o guarda-roupas? — sorri.
Oh, meu Deus… O que ele fez?
Capítulo 53

Estou ultramente incomodada quando Luke retorna, mas não por muito
tempo porque, assim que se aproxima de onde estou, esperando-o sentada em
uma poltrona mais macia que o sofá da minha avó, ele se inclina e seus lábios
se chocam com os meus, em um beijo longo e quente, que me rouba qualquer
ar e raiva.
Ele só se afasta depois de um bom tempo, suas mãos em minha face
fazendo um carinho delicioso.
— Se divertiu?
Pisco os olhos, evitando babar na imagem dele. Suado e gostoso.
Sorridente. Meu namorado.
— Não — respondo, então abaixo a vista quando o sorriso dele some,
Luke parecendo decepcionado.
— Não tinha roupas que você gostou? Podemos ir à outra loja.
— Não é isso — abano as mãos, então me levanto. — Apenas não me
divirto com isso e, quer dizer, eu não estou tentando ser uma ingrata e nem
nada, mas vou pedir que você me avise quando for fazer algo assim, por
favor.
Luke parece estranhar qualquer coisa, porque faz o barulhinho com a
boca e passa as mãos no rosto.
— Está certo… — hesita. — Eu só pensei em uma surpresa ou algo
assim. Desculpe, não sabia que você não gostava.
— Além do mais — agora demonstro todo meu desespero — a moça, a
Lin, colocou umas roupas que eu não precisava e nem disse que queria. Se
você quiser devolver, pode fazer isso.
Estou aflita de novo. É verdade, a mulher foi me entregando roupas e
roupas, cada uma ficando mais bonita que a outra e eu só pensava em gritar
para que ela parasse, ou eu estaria carregando a loja comigo.
— Você não tem que se preocupar quanto a isso — me tranquiliza, se
aproximando novamente e trazendo as mãos ao meu rosto, me acariciando.
— Eu disse para pegar o que quiser.
Então eu estou chorando. Sim, do nada. Eu começo a chorar. Por nada.
Luke parece assustado, mas logo me puxa para si e eu repouso a cabeça
contra seu peito, nem ligando se ele está todo molhado de suor, porque o
cheiro dele continua ali; e me traz paz.
— Está tudo bem, bela — ele sussurra, só para mim. — Eu estou aqui,
lembra?
Agarro sua camisa e choro mais alto, soluçando.
É uma vergonha. Por que estou chorando?
Luke acaricia meus cabelos com uma mão, enquanto a outra está
espalmada em minhas costas, fazendo um carinho bem-vindo.
Ele me deixa ficar pelo tempo que eu quero, muito tempo. Quando me
vejo mais tranquila, suspiro profundamente.
— Melhor? — ele me afasta para perguntar.
Ah… Eu poderia suspirar. Ele está tão lindo, a barba recém-feita o
deixando tão mais jovem, mas nunca menos lindo.
Dou risada, balançando a cabeça, ao que ele também ri.
— Do que você está rindo? — pergunta.
— Eu não sei, e você?
— Estou rindo de você, obviamente — me puxa de volta e inclina a
cabeça, seus lábios circulando os meus, uma carícia branda. — Vamos
embora. Você já disse para Lin enviar as roupas?
— Ela falou que tinha o endereço.
Ele assente e segura minha mão, nos levando para fora da loja.
— Está enjoada? — pergunta.
Eu nego e sorrio, Luke nos guiando pela calçada, sem pressa. Está um
ventinho leve e confortável, e eu respiro fundo tantas vezes, de pura paz, que
ele chega a me olhar.
— Está cansada? Quer sentar? — Ele parece preocupado demais e isso
me deixa um pouco desconfiada.
— Seria bom sentar um pouco — admito.
Ele assente e caminhamos mais uns cinco minutos, até chegarmos a um
pequeno parque, que está repleto de famílias.
Luke nos leva até uma grande árvore e senta contra o tronco, me
puxando pela mão para eu fazer o mesmo.
Ele me ajuda a sentar entre suas pernas, eu me apoiando totalmente nele,
sentindo os músculos quentes dele e suspirando, em um conforto surreal.
Ele beija meu ombro e entrelaça nossas mãos, acariciando.
— É bonito, não é? — sussurra contra meu ouvido. — Todas essas
famílias. As crianças...
— É, sim — concordo, num suspiro.
— Acho que eu vou ser um bom pai — ele fala e eu reteso no lugar
porque, eu não tomei mais os comprimidos.
Engulo em seco, ficando desesperada. Eu não tinha esse costume de
fazer essas coisas que estou gostando de fazer, então não me lembrei.
Luke deve perceber minha tensão, porque logo me questiona se estou
bem.
— Eu… — pigarreio. — Sim. — Me lembro de que a médica me disse
que em até 72 horas podia fazer efeito. Estou orando interiormente para que
assim o seja ou estarei em desespero completo.
— Você está gostando da minha companhia? — Ele questiona.
— Muito — eu suspiro. — Minha avó precisa saber que… Estamos
juntos. Ela vai ficar muito contente.
— Espero que sim — ele mordisca minha orelha, me arrancando um
gemido. — Porque eu não pretendo me separar da neta dela.
Então estou sorrindo longamente pelas palavras dele. Mas… Não vou
levar a sério. Ainda é novidade. Preciso estar centrada porque, sim, Luke
pode se separar.
É bom estar atenta.
Capítulo 54

A senhora Abigail está exultante. Ela nos abraça direto enquanto repete
o quanto é uma das melhores notícias que ela já recebeu na vida.
Eu também acho...
Mas, Isabelle não está parecendo tão bem no momento. Já quando
viemos, ela parecia branca mais que o normal, e agora está com os lábios
roxos.
Seguro sua mão, enquanto ela está sentada ao meu lado no sofá.
Ela me olha, os olhos tristes.
— Está enjoada? — eu questiono, tendo certeza da resposta.
— Eu acho que… — ela suspira, uma ânsia vindo. — Vou ao banheiro.
Já volto — tampa a boca e se levanta, saindo depressa.
Eu suspiro, um sorriso no rosto, só me dando conta porque sua avó diz.
— Você sabe, não é? — questiona, sorrindo igualmente.
— Penso que sei — suspiro. — Não sei como ela… Ainda não
desconfiou.
— Isso não vai ser fácil para ela, Luke. Quando se der conta de que está
grávida.
Passo as mãos por cima do short, em um gesto de nervosismo. Eu não
imaginei que seria aparentemente tão agonizante. Estou louco para que ela
perceba.
— Você está feliz com isso? — vovó pergunta, seu semblante parecendo
um pouco cauteloso.
— Estou demais — admito, meu sorriso voltando.
— Ela precisa estar confiante de que não vai ser abandonada.
Infelizmente, o que ocorreu na minha vida e na da mãe dela, afetou—a
profundamente e isso é muito ruim para ela.
— Eu percebi — me levanto. — Vou falar com ela. Não pretendo me
afastar. Principalmente agora, que eu sei que ela está carregando meu bebê.
Encontro Isabelle no banheiro, abaixada sobre o vaso, vomitando. Eu me
junto a ela, segurando seus cabelos e a ouvindo gemer, parecendo com dor.
— Logo você melhora — digo, tentando soar convicto, mas a verdade é
que não sei quanto tempo ela vai ficar assim.
Ela me olha e a vejo chorando. Está horrivelmente pálida
— Vou te levar ao médico — aviso, ao que ela balança a cabeça, em
negação.
— É só um mal-estar, Luke — sussurra, seu olhar desviando para baixo
e ela suspira. Sei que não acredita nas próprias palavras. — Eu vou… —
então se debruça e volta a vomitar.
Eu aguardo, em silêncio, segurando seus cabelos.
Eu estou realmente feliz por saber que ela está grávida. É tão óbvio para
mim como se eu já pudesse sentir o meu filho. Ou filha. Ou ambos. Estou
sorrindo imediatamente.
— Isabelle — chamo sua atenção, ao que ela me olha. Suspiro e me
levanto, pegando papel e voltando para perto dela, para limpar sua boca. —
Você sabe por que está assim?
Ela geme, apertando os olhos. É um lamento em meio a uma dor, talvez.
Eu não sei. Só quero que ela entenda que estou disposto a isso. A nós.
— Estou com medo — sussurra. — Não sei se… Luke, eu… — ela
tampa o rosto.
— Está muito óbvio para nós o que é — eu me sento no chão e agarro
suas mãos, puxando-as para mim. — Precisamos mesmo ver um médico.
Então ela começa a chorar fortemente, parecendo desesperada.
A puxo para mim e a aninho em meus braços, sentindo-a gelada.
— Está tudo bem — a tranquilizo, porque está mesmo. — Eu vou estar
com você.
— Estou grávida, não é? — ela questiona, entre o choro, mas não acho
que precisa de uma resposta.
— Sim, você está — eu sorrio, uma satisfação imensa me embalando.
Ela treme contra mim, então me empurra um pouco, querendo se afastar.
Eu deixo que o faça e percebo seus lábios trêmulos.
— Eu não… — ela hesita, me olhando.
— Eu estou feliz, Isabelle — sorrio. — De verdade — meu olhar recai
para baixo, para sua barriga. — Um bebê nosso.
Ela esconde o rosto entre as mãos e chora novamente, então acaricio
seus cabelos, me certificando de passar que ela estará bem. Comigo. Eu vou
me certificar disso.
— Nós vamos a um médico amanhã cedo — eu aviso, então ela soluça.
— E, depois de confirmar o que já sabemos, vamos contar à minha família.
— Você realmente está feliz? — Ela me olha, tremendo um pouco e
soluçando.
— Eu estou — reafirmo e é no mesmo instante que meu celular toca e
tiro do bolso, vendo o nome do meu cunhado na tela. — Um segundo — peço
a ela e atendo, sem tirar uma mão de seus cabelos. Quero que ela se sinta
confortável e ciente do meu apoio o tempo inteiro.
— Oi, Nicholas — atendo.
— Oi — ele parece ofegante e fico preocupado no mesmo instante.
— Minha irmã e meus sobrinhos estão bem?
— Sim, sim — ele se apressa em dizer. — Não é sobre eles — suspira.
— É a minha irmã. Ela foi atropelada com o filho e… Está quase... Cara, ela
pediu para te ver... Eu não sei o que fazer... Preciso que venha para cá.
Meu coração para um instante e meu olhar recai em Isabelle.
Lindsay está quase o quê?
Capítulo 55

Meu estômago contrai e eu poupo outro vômito, principalmente porque


Luke está me olhando de olhos arregalados.
— Não — ele fala com a pessoa do outro lado, balançando a cabeça. —
Eu lamento, Nicholas, mas não posso ir. Minha namorada está grávida e
muito mal. Não vou deixá-la.
As palavras me desconcertam e fazem algo em mim lampejar, num
prazer interior, então ele bufa por algo que é dito.
— Não, eu não tenho mais nada para falar com ela. O que tinha, já
acertamos pessoalmente — ele pontua a última palavra. — Ela
provavelmente está achando que vai dar tudo errado e quer uma segurança
novamente. É sua irmã, você pode dar isso a ela. Eu lamento pelo ocorrido e
desejo melhoras, mas não vou deixar minha garota sozinha. Tchau, cara.
Eu estremeço quando Luke me olha novamente, tudo em mim se
acalmando pelo o olhar que ele me lança.
— Ei, baby, vamos te levar para outro lugar — ele levanta e segura
minhas mãos, me ajudando a levantar; então me conduz para a pequena pia
do banheiro e fica por trás de mim, suas mãos juntando meus cabelos e ele os
prende.
— Vamos lá, lave seu rosto com a água fria — pede e eu o faço
imediatamente, soltando uma respiração bem funda.
Quando termino, Luke me estende uma toalha e eu seco, suspirando e o
olhando.
— Quem era no telefone? — pergunto.
— Meu cunhado — ele não me olha enquanto pega minha escova rosa e
coloca pasta, estendendo para mim. — Escove os dentes.
Eu o faço rapidamente, meu corpo meio mole, mas com certeza a
sensação de que Luke está comigo, me deixa mais aliviada.
Acabo e coloco a escova no lugar, olhando-o e soltando um suspiro.
Me surpreendo então quando ele agarra minha nuca com uma mão e
minha cintura com outra, me puxando para si e sua boca vindo de encontro à
minha, em um beijo lento, porém agoniado.
Tem algo. Eu sinto. Ele está dizendo algo. Não sei definir. Somente
agarro seus braços e o deixo me segurar contra seu corpo grande e quente, a
sensação sendo demasiada reconfortante.
— Somos só nós — ele diz, seus lábios no canto da minha boca, em um
sussurro. — Eu falei sério, Isabelle.
— Obrigada — eu consigo dizer, me controlando para não chorar
novamente.
Luke impulsiona minha cabeça para trás e estuda meu rosto.
— Você acredita no que estou dizendo? — ele pergunta.
— Sim — respondo. — Acredito.
— Ótimo, porque não quero que haja dúvidas — sua voz parece um
pouco grave. Mais que o normal. — Agora nós vamos para minha casa e
amanhã cedo, ver um médico.
— A minha avó não pode ficar sozinha tanto tempo, Luke — pareço um
pouco nervosa no sentido preocupado. — Ela tem passado muito tempo
sozinha e não gosto disso.
— Nós podemos levá-la conosco, mas você vai ficar sob meus olhos —
é uma declaração concreta, que não deixa espaço para debates. — Você está
com meu filho agora e isso é mais que minha obrigação, é o meu direito.
Mordo a boca, apreensiva.
— Você é minha, eu te disse isso, Isabelle, e não estava brincando —
Luke está quase agoniado, seu olhar me avaliando de cima a baixo. — Eu
vou te levar comigo para outro lugar amanhã. Você precisa conciliar o que
está acontecendo com sua vida a partir de agora.
Eu respiro fundo quando ele segura uma de minhas mãos e me puxa para
fora do banheiro, então vamos ao encontro de minha avó, que está na sala.
— Parabéns, vovó — ele anuncia, a voz divertida. — A senhora vai ter
outro netinho ou netinha.
Ela nos olha, os grandes olhos arregalados e levanta depressa e vem nos
abraçar, começando a chorar.
Ainda estou aérea, é verdade. Luke tem razão, preciso de um tempo para
conciliar o que está acontecendo em minha vida.
— Eu vou fazer um bolo para comemorar — diz, então enxuga as
lágrimas, nos olhando emocionada. — Esperem. Não vão agora. — vovó sai
depressa para a cozinha.
Luke me olha e sorri, então eu me forço a sorrir também porque, se
todos estão felizes, por que eu também não posso estar?

***

Eu acordo com os olhos pesados, mas meu corpo todo está leve. Leve
como pluma. Depois que saímos da casa da minha avó, e ela rejeitou
veemente a ideia de ir conosco para casa do Luke, nós chegamos lá e fomos
dormir. Ele dormiu abraçado comigo. Foi muito bom. Eu me senti tão bem,
exceto pelo fato que fui diretamente para o banheiro de novo pela madrugada
e manhã.
Logo cedo fomos para uma clínica e eu fiquei muito emocionada quando
recebemos o exame de sangue confirmando uma gravidez. É mesmo verdade
que estou grávida. Vou voltar em uma semana para iniciar as consultas.
Tentei não ficar muito emotiva quando Luke me levantou nos braços e me
rodopiou na sala do médico, chorando logo após.
Eu ao menos posso entender os acontecimentos. De verdade. Não soa
tudo tão estranho? Mas é bom, e isso que me faz me achar louca. É muito
bom.
Agora, de olhos abertos, um sorriso é inevitável quando vejo onde estou.
Está noite, mas esse cheirinho é inconfundível.
Praia.
— Ela acordou — eu ouço atrás de mim e viro a cabeça, vendo Luke
sentado em uma cadeira, com um livro sobre as pernas. — E está sorrindo.
— Eu estou — me sento, não conseguindo tirar o sorriso do rosto. — Oi.
— Oi — ele sorri também. — Espero que não queira me matar por eu
ter colocado uma dosezinha de um sonífero para você. O médico disse que
não ia te prejudicar — seu olhar desce — e nem ao nosso bebê.
Nosso bebê.
— Tudo bem, eu me sinto até melhor — suspiro. — Nos trouxe para a
casa da praia de novo.
— Isso — ele põe o livro de lado e levanta, vindo em minha direção. —
Eu queria apagar a última lembrança que você teve daqui.
Eu sorrio mais largamente, querendo chorar, mas me impeço.
— Gosto de estar aqui — confesso.
— Que bom — ele se abaixa e segura minhas mãos, beijando—as em
seguida. — Você está melhor? Enjoada?
— Estou bem — sorrio pela verdade. — Nenhum enjoo agora.
Luke suspira, aliviado.
— É horrível ver você passando mal e eu não poder fazer nada. Fico
péssimo.
— Vai acontecer muitas vezes, de acordo com o médico.
Ele acaricia minhas mãos com os polegares.
— E eu vou estar com você em todas elas — sorri.
Eu suspiro, me derretendo.
— Você quer dar um mergulho? A água gelada deve fazer bem — ele
palpita.
— Aceito — respondo, animada, então tiro minhas mãos das suas e saio
da cama, ficando de pé.
Luke sorri largamente.
— Alguém melhorou muito.
— Melhorei — eu caminho para ele quando se coloca de pé e o abraço,
fortemente. — Obrigada.
Ele me abraça de volta.
— Vamos logo nadar — sussurra, então me afasto, acanhada.
— Ok — concordo e o deixo passar na frente.
Rapidamente chegamos ao andar de baixo, na varanda, e depois estamos
já na areia gelada, o vento gostoso da noite me fazendo suspirar.
Eu olho para baixo quando sinto Luke entrelaçar a mão na minha, então
para seu rosto, e ele sorri para mim.
— Está bem com isso de entrar na água?
— Estou — sorrio também. — Só não deixa eu me afogar, porque não
sei nadar.
— Vou sempre te segurar, bela — ele aperta um pouco mais minha mão
e eu sinto a certeza da voz e do contato.
Em instantes estou dando uns pulos rápidos quando a água chega aos
meus pés. Luke dá risada, então solta minha mão para tirar a blusa e jogar na
areia, juntamente com o short e… Ai, meu Deus.
Engulo em seco, meus lábios também secando igualmente ao ver seu
mastro delicioso de novo. Isso é muito bom. Estou quente no mesmo instante.
Suspiro, desviando a vista, ao que Luke agarra minha mão de novo.
— Vamos — ele chama e me incentiva a entrar com ele no mar, as
ondas brandas, então eu grito quando caio.
Imediatamente ele me levanta, e eu o vejo rir, puxando-me para seu
corpo. Eu ofego no mesmo instante.
— Calma, espera ao menos a gente chegar à borda para você cair — ele
diz e torna a rir.
Eu finjo um murmúrio, mas logo estou rindo também, então grito
quando ele me pega no colo e nos leva mais além na água.
— Vou te soltar — avisa e me solta mesmo, a água quase muito acima
de mim, mas Luke se certifica de que eu não caia. — Vou te ensinar a nadar
pela manhã. Vamos aproveitar enquanto você continua magrinha.
Eu sorrio porque ele pisca para mim, me deixando maravilhada. Essa
sensação… É tão boa.
Nós ficamos na água um bom tempo, Luke me levantando algumas
vezes e me empurrando em outras, mas o sorriso não saindo de seu rosto,
exceto quando ele mergulha e agarra meu corpo, emergindo à minha frente;
lindo, molhado, meu namorado.
Eu suspiro quando ele envolve minha cintura com os braços, então cola
nossos corpos, o dele tão quente mesmo na água fria.
— Bela, Bela — ele respira em minha boca, minhas mãos indo para seus
ombros. — Se sente bem?
— Ótima.
— Que bom — sua cabeça se inclina e Luke me beija. A princípio, um
beijo lento, calmo e paciente. Ele está gentil, suas mãos acariciando minhas
costas em toques gentis.
Abro a boca para suspirar, ele aproveitando a oportunidade para enfiar a
língua quente, dançando-a em todos os cantos.
Eu me desespero no mesmo instante, querendo-o muito. Imediatamente.
Luke grunhe em minha boca, parecendo me entender.
Em um movimento rápido, ele me pega em seus braços e nos leva de
volta à areia, me deitando ali mesmo, perto do mar.
Eu ofego, já muito desesperada, querendo Luke todo para mim.
Seu rosto paira acima do meu e ele sorri. Eu fico louca.
Ele se ajoelha e rapidamente tira meu short, beijando minhas coxas,
então sobe para minha camisa, jogando-a em qualquer lugar junto com o
sutiã.
Eu mesma levo minhas mãos à calcinha e tiro, ofegante.
Luke grunhe, abrindo minhas pernas e levando uma mão ao membro,
tocando-o por um tempo, enquanto traz a mão livre para meu sexo e me
acaricia gentilmente.
Balanço a cabeça, o toque parecendo muito para eu suportar.
— Luke! — grito, agarrando os seios, apertando-os, querendo esvair na
areia. O meu corpo. Principalmente quando sinto seu dedo longo me penetrar.
— Meu Deus, Isabelle — ele geme. — Você está tão quente por dentro.
Eu arregalo os olhos, me deparando com o céu estrelado, ao mesmo
tempo que ouço o barulho das ondas e sinto o cheiro do mar; enquanto tenho
o toque dele. Do Luke. E é demais para eu suportar.
A explosão orgásmica acontece de forma maravilhosa, subindo por todo
meu corpo, igualmente, parecendo nunca querer cessar. Eu amoleço, sentindo
as lágrimas caírem dos meus olhos.
— Minha Bela — ouço-o murmurar, então sinto seu cheiro muito perto.
— Abra os olhos.
Eu abro, seu rosto próximo ao meu, então eu o vejo me observar, seu
corpo apoiado em um só braço enquanto o outro abaixa por entre nossos
corpos e ele se coloca em minha entrada, nossas respirações se misturando.
— Minha Isabelle — ele sussurra e se enterra em mim de uma vez,
minha respiração irrompendo, enquanto recomeço um choro contido; muitas
emoções e acontecimentos para eu assimilar.
Luke, por sua vez, dá um rosnado que ecoa pelos ares, e tudo parece tão
perfeito...
Ergo as mãos e enfio meus dedos por seus cabelos, seus olhos se abrindo
e nossos olhares se conectando assim como nossos corpos.
Nós gememos quando ele começa o vaivém preguiçoso e lento,
parecendo ter total controle do que está fazendo. E eu só posso me entregar a
cada vez mais, meu corpo relaxando sobre a areia, Luke me possuindo de
todas as formas. E eu gosto disso. Da sensação. Dele.
Meu corpo o recebe pelo tempo que parece muito, maravilhoso,
incrível… É inominável. Estou flutuando.
— Vamos juntos, Bela — ele sussurra, nossos olhares não
desconectando em nenhum momento. E eu entendo. Meu corpo entende.
Luke se ajeita e remexe os quadris, ondulando-os, a sensação sendo
perfeita e jogo minha cabeça para trás enquanto sua pélvis estimula meu
clitóris, e eu me deixo ir; ele segurando minha nuca e me fazendo olhá-lo,
enquanto grunhe, se derramando dentro de mim durante meu próprio
orgasmo.
Talvez não devesse, mas me assusto quando ouço seu soluço e Luke
abaixa a cabeça para meu pescoço, tremendo um pouco o corpo e pulsando
dentro de mim, ele chorando baixinho.
Acaricio seus cabelos, enquanto observo o céu escuro acima de nós,
então penso estar mesmo sonhando porque tudo está tão bom e perfeito, que
eu só posso concluir que…
Droga...
Estou tão apaixonada.
Capítulo 56

1 mês depois…

Acordo com a sensação de vazio ao meu lado, me virando para ter


certeza do meu pensamento. Luke não está na cama.
Resmungo sozinha porque sempre é muito bom acordar rodeada por
seus braços, por seu cheiro, por seu calor… por ele.
Suspiro e me sento, esfregando os olhos e sorrindo, minhas mãos logo
descendo para minha barriga, onde nosso bebê está crescendo. É tão
maravilhoso. Luke não passou um dia sequer sem me mostrar sua
preocupação comigo e com nosso filho.
Eu me levanto, me sentindo leve, então vou para o banheiro e tiro o
pijama, entrando no box e tomando um banho relaxante e morno, acariciando
minha barriga enquanto tento cantar como Luke tem feito em algumas
manhãs para nós. Nós. Nosso bebê e eu.
Estou chorando imediatamente enquanto as lágrimas se perdem junto
com a água que desce pelo meu corpo. É tão bom. O que estou vivendo
agora. Tão maravilhoso. Eu só posso mesmo me sentir muito emocionada.
Minha avó está tão feliz quanto eu, ou até mais, e por isso hoje,
domingo, Luke e eu vamos passar o dia com ela. É muito verdade que tenho
passado mais tempo na casa dele do que na dela, mas vovó entende que ele
me quer por perto sempre.
Protegendo nós dois, é o que ele gosta de dizer.
Eu rio sozinha embaixo do chuveiro, soluçando ao mesmo tempo,
acariciando minha barriga. Estou muito feliz.
Com essa certeza, saio do box e me enrolo na toalha, pegando outra para
secar os cabelos. Faço todo o processo de me secar e passar hidratante. Eu
não sei, mas gosto porque sempre que Luke me toca, ele me elogia em ser
cheirosa e eu gosto disso, então sempre faço de tudo para ficar assim, do jeito
que ele gosta.
Sorrio de novo, penteando os cabelos e volto ao quarto, entrando em seu
closet para pegar uma roupa. Luke colocou minhas roupas em um lado das
suas. Não são muitas, por isso não pegou espaço, mas a sensação de que
nossas roupas estão juntas, até elas, é também muito boa.
Eu me visto e suspiro, já ansiosa por encontrá-lo. Acho que posso amar
essa sensação sempre. Ela é muito boa.
Caminho para fora do quarto, pelo corredor que vai me levar à sala de
estar, para eu poder chegar à cozinha, onde tenho quase certeza que é onde
Luke está. Nos fins de semana, ele sempre fica lá.
Nós não contamos à sua família ainda. Ele está ansioso pelo próximo
fim de semana para fazer isso, que é onde fomos convidados para ir à fazenda
dos tios dele, tudo isso para me conhecerem. Parece que, depois que ele
acabou falando para o cunhado que tem uma namorada, a família toda ficou
sabendo.
Fofoqueiros, foi como Luke os chamou, mas eu nem liguei, porque
estou feliz. Bem, ele também não se importou, apenas porque disse que
gostaria que fosse uma surpresa para todos.
Enfim, não importa agora. Não importa porque eu sou mesmo sua
namorada.
Estou prestes a chegar ao meu cômodo de destino, quando ouço o
burburinho de vozes. É confuso então me esgueiro na parede, para ouvir
quem pode estar na casa do Luke. Ele me disse que ninguém tinha seu
endereço, exceto sua família.
— Eu lamento — é uma voz feminina. — Me senti culpada depois que
saí e você ficou com aquela cara.
— Bem, eu lamento por você. — É o Luke. — Não acho mesmo que
seria necessário ir até você.
— Não, não foi — ela suspira. — Eu apenas queria que alguém me
passasse conforto, mas meu irmão ficou desesperado, ele não sabia o que
fazer. Ele ama demais os sobrinhos.
— Eu sei — ele respira fundo. — Bom, eu vou te ajudar, sim. Mas, vou
pedir, de todo meu sincero coração, que você não apareça mais, Lindsay. Eu
tenho a minha vida e quero mantê—la assim.
Eu prendo a respiração, não resistindo a olhar um pouco, então vejo
Luke de frente para uma mulher pequena e loira.
Ela o abraça, inesperadamente, mas logo Luke faz o mesmo. É um
abraço com carinho, eu percebo, porque ele não a solta logo e nem ela se
afasta.
As lágrimas estão rolando por minha face sem que eu perceba.
— Você vai nos visitar? — ela pergunta, em um sussurro.
Luke dá um risinho e é o mesmo que ele me dá constantemente. O de
alegria e felicidade. Ao menos, eu pensava que fosse.
Quando minha pele esfria muito rápido, percebo que não posso mais
presenciar a cena, então volto pelo corredor, até a porta que me leva ao
elevador privado.
Eu vou embora então, magoada de um jeito que não sei explicar porque,
é claro, apesar de um filho seu em minha barriga, que outro tipo de
compromisso Luke tem comigo? Nenhum.
Mordo o lábio.
Lindsay, meu cérebro me lembra. Sua ex noiva. E meus olhos pesam,
nada parecendo mais tão certo porque ela estava em sua casa, o abraçando e
perguntando se ele vai visitá—la.
Meu Deus...

***

Esmiuçada, é como me sinto. Apenas disse à minha avó que vim mais
cedo e ela me deixou aqui para ir ao mercado, ansiosa por fazer algo que
Luke gosta de comer.
Luke.
Fecho os olhos com força, apertando-os bem, mas não quero ficar triste.
Nosso bebê pode sentir e eu não quero que ele sinta. Ele precisa sentir amor e
somente.
Somente amor…
Choro um pouco, levando um susto quando ouço as batidas fortes na
porta. Batidas rápidas.
Me sento, meu coração acelerando porque, isso soa como desespero, os
toques na porta e eu me lembro quem bateu assim da última vez.
Eu me levanto, trêmula, o coração palpitando, então chego à sala, as
pancadas insistentes.
Estou ofegante, quase sem ar.
Então a porta se abre em um baque, batendo contra a parede e roubando
meu fôlego.
Luke.
Ele está parecendo incrivelmente mais alto e suas narinas infladas me
dizem que não está com qualquer paciência.
Imediatamente me movo, retrocedendo, indo em direção ao meu quarto,
sabendo que é uma ação idiota, mas não posso deixar de pensar em fazer
qualquer outra coisa.
— Aonde você vai? — ouço o grunhido, já dentro do cômodo, então me
viro, ofegante, buscando ar para meus pulmões.
Luke simplesmente entra em meu quarto e tranca a porta, seus passos o
trazendo imediatamente para cima de mim e sei que estou perdida.
Sua boca colide contra a minha e solto um gemido do fundo da garganta
quando nossos lábios se encontram. O que posso fazer? É inevitável.
Ele se inclina um pouco para baixo, sem desgrudar nosso contato, então
me pega no colo, eu sendo obrigada a segurar seus ombros para não cair.
Luke me coloca em minha cama, ainda passeando a língua por dentro da
minha boca, então se afasta, desviando para meu pescoço, me deixando
louca.
Não é justo…
— Eu fico louco com o gosto do seu beijo, e mais ainda quando você me
diz não quando na verdade está louca pra me ter — fala, grave. Muito grave.
— Fico louco.
— Sai, Luke — peço, tão falha que eu mesma quero rir de mim. — Sai
daqui.
— Merda nenhuma — ele levanta a cabeça, segurando meus braços
presos na cama. — Eu vou te fazer gozar até você perder o raciocínio e parar
de pensar tanto.
— Isso não... — me remexo para sair. Ele não pode estar brincando. —
Não é justo.
— É muito justo — ele monta em mim, o peso de seu corpo nos joelhos,
então tira a camisa, exibindo o peito sólido e delicioso que não tem qualquer
grama de gordura. Abençoado peitoral, posso estar salivando.
Não deveria…
Oh, meu Deus…
Fecho os olhos, Luke se inclinando e subindo minha blusa e sutiã, só
para trazer a boca aos meus seios e me deixar louca, eu me retorcendo
embaixo dele.
— Você estava com sua ex-noiva! — eu grito. — Eu vi!
— É o que estou te dizendo! — ele levanta a cabeça e me olha. Está
vermelho. Parecendo furioso e além. — Você pensa demais! E pensa tudo
errado!
— Você me disse que ninguém tinha seu endereço! — cuspo as palavras
e ele grunhe, parecendo um animal deliciosamente feroz em cima de mim.
— Erros, Isabelle — fala, a voz um trovão. — Tem drogas de erros em
minha vida que não posso mudar, mas não foi o que você deve ter pensado!
Achei que estava te mostrando, inferno!
Balanço a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.
Luke agarra meus pulsos e junta-os acima da minha cabeça, segurando
com uma só mão enquanto a outra ele traz ao meu pescoço, me mantendo
parada, nossos olhares um no outro.
— Você não percebe? — ele abranda a voz, parecendo triste de repente.
— Que droga, Isabelle. Estou apaixonado por você e é só você. Tudo agora
se resume a você.
Balanço a cabeça, contendo um choro.
— Por que você a abraçou? — eu sussurro.
— Porque ela precisava de apoio e, por mais que o que ela tenha feito
comigo possa ter sido errado, eu gosto de ajudar as pessoas. Faz parte de
mim. Está em mim e você precisa aprender a lidar com isso.
— É isso que pensa que está fazendo por mim!? — estremeço, gritando.
— Me ajudando?!
— Droga! — ele abaixa a mão do meu pescoço até chegar ao meu
vestido, subindo só o suficiente para conseguir afastar minha calcinha e se
enterrar em mim, com um grunhido enquanto eu engasgo. — Presta atenção
no que estou fazendo por você, Isabelle!
Estou engasgada, é verdade, buscando ar desesperadamente;
principalmente quando Luke pega impulso e começa um vaivém nervoso.
— O que estou te dizendo no que faço, Isabelle? — grunhe, virando meu
rosto para si e conectando nossos olhares.
— Está tentando… — engulo em seco, meu corpo não querendo
cooperar quando grito, as investidas sendo tudo e mais um pouco.
— Estou tentando te mostrar o que sinto por você! E vou continuar, até
você acreditar em mim!
Viro o rosto, não querendo olhá-lo, então ele parece não gostar da minha
ação, porque sai de dentro de mim com um rosnado e logo sou virada de
bruços.
— Você não me ouve, garota! — ele rosna e dou um grito quando ouço
meu vestido ser rasgado, Luke se enterrando em mim novamente com força.
Meu corpo treme inteiro, minha boca contra o travesseiro e eu começo a
babar com as investidas dele, querendo chorar ao mesmo tempo.
Sinto seus beijos ao longo de minhas costas, até que Luke chega à minha
orelha e morde, respirando ali, seu calor me envolvendo de todas as formas.
— Entende, Bela — ele sussurra e com um último impulso, eu grito
contra o pano, a explosão me atingindo em cheio, Luke gemendo baixinho
em meu ouvido, enquanto estremeço por dentro e por fora.
— Entende logo que eu amo você — diz e eu penso que posso ter
sentido meu coração parar de bater.
Capítulo 57

Estou ansiosa. Muito. Conhecer a família inteira do Luke. Quem não


gostaria? Apenas é diferente, mas é um diferente bom. Até porque, os pais,
que são os principais, já conheci e, nesse momento, assim que saímos do
carro, eles são as primeiras pessoas que vejo.
Logo estou rindo, Luke vindo para meu lado e segurando minha mão na
sua, enquanto emite um som de incredulidade.
Os pais dele estão agarrados, é verdade. Chega a ser mesmo engraçado.
— Vamos indo, depois falamos com eles — ele diz e me incentiva a
caminhar pelo lugar verdejante.
É uma fazenda enorme e logo um pessoal sai da casa grande que está à
nossa frente. Um pessoal mesmo. Estão rindo e animados.
Conheço a maioria. Dean, Brandon, Amy, os pais deles e os tios que
conheci na festa, mas também há rostos novos e diferentes; porém, como era
de esperar, todos bonitos.
— Luke! — Amy grita e vem correndo em nossa direção, nos
encontrando no caminho, então se joga nos braços dele. Eu não gosto da
ação, apesar de ela ser minha amiga.
Bem, eu lamento mesmo por ela, mas é o meu namorado.
— Que bom que chegaram! — o solta e vira para mim, olhando do meu
rosto para a minha barriga, então dá um grito histérico e cai de joelhos à
minha frente. — A titia já comprou sua primeira roupa!
Luke faz uma careta e eu dou risada.
— Isa! — Ela me abraça do jeito que está. — Nem acredito, amiga!
— Oi, Amy — abraço-a também do jeito que dá. — Obrigada — é o que
digo.
Porque, sim, se não fosse ela, Luke e eu nunca teríamos nos conhecido e
eu não estaria tão apaixonada e extasiada, principalmente porque ele me disse
o que sente. Luke me ama.
— De nada, de nada, de nada! — ela começa a chorar, então Brandon
também chega até nós e ri, se inclinando para colocar a irmã em pé de novo e
puxá-la para seu lado.
— Desculpem minha irmã — ele murmura. — A coitada anda emotiva
porque todos estão casando e ninguém aceita seu duro coração.
— Idiota! — ela resmunga e ele ri mais, eu o acompanhando.
O restante do pessoal vem para perto também e eu sinto a maioria dos
olhares em mim. Fico imediatamente nervosa, Luke agarrando minha mão
novamente e apertando um pouco.
— Oi, gente — ele praticamente ruge e eu tenho que olhá—lo pelo tom
que sua voz está. Oh-meu-Deus... Gostoso e gostoso.
— Luke, finalmente consegui te ver, garoto — um homem se pronuncia
e se aproxima de nós, tocando o ombro dele e olhando para mim em seguida.
— Muito prazer em conhecê-la, Isabelle.
Ele sabe meu nome e… Ok, isso é estranho porque nunca o vi.
— Isabelle, este é meu tio Adam — Luke fala e o homem vem para
minha frente, se inclinando e me dando um beijo em cada bochecha.
— Prazer — sorrio, mas não sei se obtenho muito êxito quando vejo
seus olhos claríssimos tão perto. Lindo. Novidade…
Ele sorri e eu tenho que desviar porque… Abençoado o meu filho pela
genética que o pai dele tem.
— Bem-vinda à nossa fazenda, Isabelle — é o pai da Amy. — Ou
melhor, bem-vinda à terra do amor.
Eu sorrio, muito feliz.
— Obrigada, Brian.
— Vamos todos lá para trás da casa, que hoje o dia é especial e, como
não poderia ser diferente — ele puxa Amanda para seu lado —, minha linda
esposa e eu passamos a madrugada cozinhando.
— Vou comer como um elefante — Brandon diz. — Comer a comida.
O pai o olha, incrédulo, e ele ergue as mãos, em desculpa.
— Estamos em família, é bom especificar — justifica.
Amanda tampa o rosto e balança a cabeça, Amy rindo discretamente
junto com o pai.
Luke acaricia minha mão e eu suspiro.
Nós ouvimos risadinhas e olhamos para trás, os pais dele chegando junto
a nós.
— Oi, Isabelle — Natalie me cumprimenta com um abraço apertado,
então se afasta e alisa minha bochecha. — Você está tão mais coradinha —
sorri e então vai para Luke, o apertando até ele reclamar. — Oi, filho.
— Oi, oi e oi — Philip faz um aceno, então fica me olhando quando
olho para ele. Tento sorrir.
Depois de uns segundos, ele emite um murmúrio.
— Eu sou o pai dele, dependendo do nível de sofrimento que ele te fez
passar, posso dar uma surra nele — me avisa e eu rio.
Foi muito, tenho vontade de dizer, mas fico quieta.
— Ethan! Parou… — nós olhamos para o lado e um novo casal se junta.
A garota parece imediatamente envergonhada quando todos a olham. — Ahn,
oi, pessoal.
— Ethan, eu estou aqui, você se esqueceu? — o tio que conheci na festa
se pronuncia.
— Bem, eu não fiz nada, Michael — o tal Ethan se defende. — Apenas
não posso encostar nela que ela já fica pegando fogo.
— Ethan! — ela bate em seu ombro, horrorizada.
— Mas estou explicando ao seu pai — ele se defende.
— Megan safadinha — Brandon ri.
— Cala a boca — ela bufa e uma outra garota se aproxima, segurando
um bichinho nas mãos.
— Bea? — Luke está impressionado.
Ela sorri simplesmente e passa direto.
— Beatrice Mackenzie! — Adam grita. — Volte aqui e seja educada.
— O Bigorno está dormindo, pai — ela sussurra e sai, depressa.
— Meu Deus, ela não muda? — Luke questiona, o pai dela soltando um
suspiro.
— Ela está inquieta ultimamente — uma mulher fala.
— Tia Alice — Luke sorri. — Ela nunca foi muito normal, a senhora me
desculpa.
Amy ri.
— Pobre Bea, precisa de um bom incentivo dentro do próprio corpo para
poder… — começa a dizer, mas tampa a boca, Brian a repreendendo com o
olhar.
Dean dá uma piscadinha para mim quando o olho e eu sorrio. Lindo
demais.
— Cansada, baby? — mais sinto a voz de Luke do que ouço e viro o
rosto para ele, que aguarda uma resposta.
— Estou bem — sorrio mais abertamente e satisfeita.
— Fiquei triste porque a vovó não quis vir — ele faz um beicinho.
Eu concordo e ele inclina o rosto, deixado um beijo na ponta do meu
nariz e, sem perceber, envolvo meus braços ao redor do seu pescoço e fico na
ponta dos pés, o abraçando com força e inspirando seu cheiro. Me
acalmando, suspirando, apaixonada…
— Eu acho que vou chorar — ouço a mãe dele e me separo
imediatamente, envergonhada porque todos estão nos olhando.
— Também estou louco para chorar — o pai dele a olha, com um
sorrisinho —, mas não pelos olhos.
— Vou colocar o gigante pra chorar, falando nisso — Brandon diz e se
afasta.
— Menos, Philip, pelo amor de Deus — Michael bufa e sua esposa
começa a rir. — Não dá corda, meu anjo. Ele vai achar que você está
gostando de ouvir essas merdas.
— Mas todo mundo gosta de me ouvir, Michael — Philip diz. — Eu sou
assim, conquisto a todos.
— Eu também acho — uma outra mulher se aproxima e eu reconheço no
mesmo instante. Irmã do Luke. Ela tem um bebê no colo. — O senhor é o
melhor.
Philip ergue as golas da camisa, como se dissesse, "eu sei".
— Meu toquinho acordou? — pergunta, indo até ela e pegando o bebê
de seus braços. — Poxa vida, se não fosse tão ruim o nome, eu mesmo me
chamaria de vovô.
Todos riem e ela caminha até Luke, o abraçando.
— Bom ver você — diz e então me olha, mas não sorri, o que é muito
estranho e me deixa desconfortável.
— Essa é a minha namorada, Isabelle — ele me apresenta.
Estendo a mão, um pouco envergonhada e ela mal aperta.
— Eu não sabia que você viria — Luke diz para ela, que sorri.
— Vim, o Nicholas está com a Mandy lá em cima.
Desvio o olhar, porque a irmã do meu namorado não foi com a minha
cara.
— Beleza, chega de papo! — Brian bate palmas. — Todo mundo
circulando. Vamos aproveitar a linda manhã.
Todos começam a se dispersar para o mesmo lugar e somente ficamos
Luke e eu, ele me puxando para seu corpo e deixando um beijo estalado em
minha bochecha.
Eu me acolho nele.
— Você disse que sua família toda estava sabendo da minha gravidez…
— sussurro.
— Não todos, apenas minha irmã e o marido, e Amy e o Brandon,
porque eu contei, já que eles são mais próximos a você.
Suspiro, fechando os olhos e quase dizendo as palavras que quero tanto,
mas não tenho coragem.
— Vamos — Luke me afasta e sorri, segurando minha mão e me
incentivando a caminhar com ele.
E eu vou porque... É ele. Comigo.
Capítulo 58

Estou tentando parar de rir enquanto vejo Brandon e o pai dançarem na


frente de todo mundo. Luke parece não estar achando a menor graça
enquanto tamborila os dedos sobre a mesa, parecendo impaciente.
Então ele se levanta e me dá um beijo na bochecha, murmurando que já
volta.
Eu suspiro, apaixonada, ficando sozinha na mesa e observando toda sua
família em outras, todos alegres.
De repente a irmã dele senta à minha frente, a semelhança com o pai me
deixando um pouco impressionada.
— Oi — ela fala.
— Oi — devolvo, nada à vontade.
— Há quanto tempo você e meu irmão estão namorando?
Pigarreio.
— Não muito tempo, por quê?
— Apenas que… — ela suspira. — Vou pedir para que você tenha
paciência com ele. É muito esquisito isso de o ver com uma namorada, mas…
— começa a gesticular. — Meu irmão é traumatizado — sussurra, só para
mim. — Você entende? Traumatizado com algumas coisas. Ele também não
demonstra muito o que sente, e isso é um problema porque nós somos
mulheres, somos sensíveis, gostamos de ouvir coisas bonitas… — então ela
começa a chorar e eu fico desconcertada, sem saber o que fazer.
Olho ao redor e logo vejo o homem que me foi apresentado como seu
marido, aproximando-se.
— Chorando de novo? — ele ri, colocando as mãos nos ombros dela. —
Quando você vai voltar ao normal?
— Estou com pena da namorada do meu irmão — ela soluça. — Vai
sofrer com ele…
O marido balança a cabeça, me pedindo desculpas só com o gesto dos
lábios, então sorri e a faz levantar, dando um abraço nela e sussurrando algo.
Desvio o olhar, muito desentendida.
Mas então eu vejo Luke reaparecer e ele tem um violão nas mãos. Não é
o dele, mas não deixa de ser um.
Todo mundo se silencia enquanto ele arrasta uma cadeira para o centro
das mesas espalhadas e então deixam-o sozinho ali, ele testando o
instrumento por uns segundos.
Quando seu olhar se ergue, é diretamente para mim, e eu perco o ar por
um nonassegundo.
— Sempre vai ser tudo para vocês — é quase um sussurro, mas eu
entendo.
Vejo o pai dele aparecer ao seu lado de repente, colocando uma cadeira,
então me chama com a mão.
Eu fico perplexa.
— Vai lá — Brandon grita.
Me levanto, então caminho para perto do Luke, não sei bem como
porque me esqueci totalmente os movimentos de andar.
Eu me sento e ele sorri para mim.
— Você parece nervosa — sussurra e eu respiro fundo umas muitas
vezes, buscando o ar.
— Estou — devolvo outro sussurro.
Luke dá um risinho e começa a tocar, seu olhar no violão por uns
segundos, até que ele ergue os olhos para mim e eu derreto mais um pouco,
abrindo a boca e suspirando, como uma autêntica boba e apaixonada.
Ele começa a cantar. E eu nunca vou me acostumar.
— Antigamente as coisas eram diferentes. As ruas tinham cheiro de flor
(de você, amor) — ele mesmo faz uma segunda voz e eu me sinto começar a
tremer.
— E a primavera a gente via quando abria a janela — sorri. — Bom
dia, meu amor... Antigamente nada era muito urgente, devagarinho a gente
ia longe. E se houvesse muita, muita, muita pressa, ora essa, se pegava um
bonde…
Eu rio, nervosa. Com o silêncio ao redor, porque tudo sumiu e se resume
a nós, Luke e eu. Nós dois. Três.
— E desse jeito eu fui arriscando, caminhando para o seu coração. E de
repente você me olhou tão contente que eu vi que não era só ilusão... — As
lágrimas irrompem por meus olhos e não é mentira. Estou chorando porque é
verdade.
— Olha que de um jeito arriscado, totalmente alucinado, eu fui
quebrantando a mim e o meu passado porque você era todo o meu poder —
ele ri. — (Acredita, Bela?).
Estou trêmula, minhas mãos trêmulas, eu inteira, mas ninguém fala nada
ou faz qualquer barulho.
— Quando eu errei, (e foram várias vezes, confesso), eu estava perdido,
mas foi bom que sempre te encontrei — os acordes ficam mais suaves. — Se
a minha vida existia antes, eu não quero nem saber, tudo que importa é que o
meu mundo se resumiu a você (a vocês).
— Seu gay! — É o Brandon e eu começo a rir, em meio ao choro,
trêmula, fraca, apaixonada…
— Perdão, meu amor, eu te peço — ele parece apreensivo quando me
olha. — Vamos fazer acontecer de verdade, vamos ser um do outro até a
eternidade (você sempre foi minha e eu sou seu). O tempo nos uniu e eu não
vou te perder (nunca mais).
Então eu me desconcerto quando Luke põe o violão no chão e se
levanta, segurando minhas mãos para eu fazer o mesmo e estou sem ar
quando ele abaixa até ficar de joelhos à minha frente.
— Palavras cantadas, minha bela — sorri —, mas foi tudo que eu queria
te dizer. Você me perdoa por tudo que te fiz? Por favor, me perdoa? — suas
mãos ainda seguram as minhas e Luke as aperta um pouco, parecendo
nervoso de um jeito temeroso.
Tento engolir o choro.
— Sim, te perdoo.
Ele assente, suspirando, parecendo aliviado.
— Eu falo sério quando digo que te amo e quero, porque você sempre
foi minha e sempre será. Vou me certificar disso — então suas mãos deixam
as minhas e Luke as leva para o bolso na frente da bermuda, trazendo uma
caixinha azul.
— Meu Deus… — minhas mãos vão à minha boca, o choro sendo tão
alto que me engasgo.
Ele dá uma risadinha.
— Completa a minha vida e faz ela ter todo o sentido, Isabelle? — Luke
me olha, abrindo a caixinha e eu vendo o brilho do anel. — Casa comigo,
meu amor?
— Meu Deus, meu Deus… — abano as mãos, desesperada e
desacreditada. — Sim — sussurro. — Meu Deus, sim.
Eu ouço palmas e assobios, mas tudo se resume ao Luke e o seu sorriso
à minha frente. Ele põe o anel em meu dedo e beija minha mão, para em
seguida puxa minha cintura e beijar minha barriga.
Estou tremendo quando ele se levanta e se põe de pé, me dando um
abraço apertando e beijando meus cabelos.
— Minha Isabelle — o ouço dizer, mas estou chorando tão alto que
penso que vou desfalecer.
Epílogo

— Você precisa respirar fundo ou vai ter uma parada cardíaca — vovó
me repreende.
— Eu também acho — Amy concorda, então me olha de cima a baixo.
— Que bom que vocês resolveram casar em pouco tempo, porque quando o
Luke te ver, coitado do bebê depois da cerimônia.
— Amy! — Amber a repreende, limpando as lágrimas. — Deixe…
Ela… Está… — um soluço. — Linda.
— Alguém me ajuda, eu não consigo parar de chorar — é a Natalie e eu
sorrio.
Sim, é verdade. Pouquíssimo tempo. Luke decidiu nosso casamento para
um mês depois do pedido. Não tive tanto trabalho, porque a família dele tem
muitas mulheres e todas aliviaram bastante o meu lado. A única parte louca
mesmo foi na hora de escolher o vestido.
Eu fiquei louca e tonta, mas, no final, todas nós gostamos do mesmo —
o que foi uma grande sorte.
Por mim, não seria nada grande, não precisaria; mas o Luke insistiu,
pois disse que queria que todas as pessoas que o conhecem, saibam que ele
está casando comigo.
Eu estou muito trêmula e isso não é nenhum pouco legal. Estou nervosa.
Tremendo. Agoniada. Nervosa. Suando. Ofegando. Eu já disse nervosa?
— É a hora — eu ouço a voz de Philip e levanto o olhar, vendo-o
adentrar a sala.
Ele sorri para mim, parecendo contente.
— Isabelle, você está mesmo bela, como o Luke diz — vem até mim e
segura minha mão, dando um beijo em cima. — É muito bom ter você na
nossa família.
— Obrigada, Philip — eu agradeço. — Não posso chorar.
Ele ri e olha para baixo.
— Tudo bem com vocês dois?
— Sim — respiro fundo, levando as mãos à barriga. — Tudo ótimo.
— Ótimo. Nós temos que ir, o Luke já está arrancando os cabelos.
— Se fosse o meu casamento — Amy se pronuncia —, eu quebrava os
quinze minutos. Demorava meia hora, só para o meu noivo achar que eu tinha
desistido.
— Acho que você vai engolir as próprias palavras — minha avó diz e
todos riem.
— Vovó, não vou — ela discorda. — Está para nascer o homem que vai
me fazer querer ir a um altar.
— Para de dizer asneiras, Amy — Philip a repreende. — Por que a
Amber está chorando?
— Eu não… sei… — soluço — pai.
— Eu, hein… — ele bufa. — Vamos logo, vocês todas. Amy deveria
estar lá dentro já.
— Eu faço o que eu quero, não sigo regras — ela se levanta, sorrindo.
Philip pega minha mão novamente e coloca em seu antebraço.
— Obrigada por entrar comigo — eu digo, agradecida.
— É um prazer — ele acaricia minha mão e nós esperamos todo mundo
sair na frente, minha avó vindo me beijar antes.
Ela está evitando chorar muito também, o que é um incentivo para mim.
Respiro fundo e deixo Philip me conduzir. Não vou negar, nem sei por
onde estamos indo porque minha vista não foca nada, tudo está apenas
parecendo preto e preto.
— Isabelle? — Olho para o lado, então ele para. — Você está bem?
— Nervosa e nervosa — respiro fundo.
Ele assente, sorrindo.
— Nós chegamos.
Olho para a frente, vendo a porta da igreja fechada, então meu coração
acelera de verdade, Philip apertando um pouco minha mão, me dando um
pequeno conforto.
— Quero que saiba que não poderia ter feito melhor escolha em sua vida
do que a de fazer parte da nossa família — diz para mim. — Nós nos doamos
às mulheres que amamos e isso pode ter certeza.
— Obrigada — é tudo que consigo dizer.
Ele sorri e o vejo fazer um aceno para o homem ao lado da porta, então
logo a marcha nupcial começa a tocar.
— Eu não consigo respirar! — ofego, Philip apertando minha mão de
novo.
— Calma — ele ri. — Vamos lá, inspira, expira… Isso…
Eu o acompanho, alarmada.
— Muito bom. Inspirou, expirou… Um, dois… Pronto, agora sorria
porque as portas vão se abrir e você pode logo em seguida recomeçar o treino
da respiração.
Dou risada, nervosa, então é no mesmo instante que as portas realmente
se abrem e eu sinto todos, mas o único que eu vejo, é ele.
Luke.
Lindo. Meu noivo.
Meu coração acelera a um nível que penso que vai pular pela boca.
— Precisamos andar — ouço o sussurro de Philip. — Inspirou,
expirou… Um, dois…
Eu me forço a mover, as pernas bambas, então estou tremendo quando
Luke leva as mãos à boca, parecendo estupefato ao me ver.
— Inspirou, expirou… — o pai repete ao meu lado.
Alguns convidados soltam murmúrios, sussurros… Mas, não, tudo se
resume a ele. Ao Luke.
Estou sorrindo, emocionada, ele no altar, me esperando,
impecavelmente lindo.
Acho que estou chorando.
— Um, dois…
Prendo a respiração e, quando finalmente estou me aproximando, Luke
desce do altar, me encontrando no caminho.
Estou mesmo chorando.
Ele me abraça, com força, eu não sabendo em que momento Philip se
afasta, apenas o ouço murmurar algo sobre como só podia ser filho dele.
— Meu amor — Luke me aperta. — Deus do céu, estou sem fôlego.
— Não estou diferente — sussurro.
— Vamos, precisamos oficializar, eu preciso de você — ele se afasta e
logo suas mãos vêm ao meu rosto, acariciando. Seus olhos estão lacrimejando
e eu me emociono mais. — Tão linda e minha...
Eu sorrio, ele se inclinado e beijando minha testa. Fecho os olhos,
embalsamada de amor.
Sim, puro e genuíno amor.
Luke segura minha mão e beija, pondo—a em seu braço em seguida e
nos conduzindo para o altar.
Eu suspiro, apaixonada.
Quando vejo o pastor, meu coração acelera.
É real e está mesmo acontecendo. Comigo.
Estou casando com o amor da minha vida e esperando um filho seu...
Nada poderia ser mais perfeito.

Depois do que parece uma eternidade, estamos, enfim, casados.


Casados.
E, quando o pastor declara, pode beijar a noiva, Luke me puxa para seu
corpo, sussurrando contra meus lábios:
— Noiva nada, esposa — e me beija, inclinando meu corpo para trás e
tirando todo o meu fôlego… o que não é novidade.
Talvez o beijo seja maior do que o esperado, pois ouço o alvoroço dos
convidados.
— Deixa pra lua de mel! — Alguém grita e, mesmo não olhando, posso
ter quase certeza de quem é.
Ele me coloca em pé novamente e me deixa um beijo na ponta do nariz,
eu não aguentando e começando a chorar mais uma vez.
Eu provavelmente sou a única noiva que terminará a cerimônia sem
qualquer maquiagem no rosto.
Luke me puxa para si e me abraça forte.
— Nunca estive tão feliz — sussurra.
— Nem eu — inspiro seu cheiro, me acalmando. — Nunca, nunca.
Obrigada, Luke. Por tudo.
Ele beija meus cabelos e se afasta, me surpreendendo quando leva a mão
ao bolso da calça e tira um lenço, trazendo ao meu rosto e secando minhas
lágrimas.
Estou… Sem palavras.
— Eu te amo — soluço, tremendo todo o corpo. — Eu te amo muito,
muito, tanto, tanto…
Um sorriso lindo toma os seus lábios e ele se inclina, encostando nossos
rostos e suspirando para mim.
— Sei que sim, você me mostrou que sim e, acredite, está fazendo com
que eu me torne o homem mais feliz do mundo.
O abraço novamente, cansada de chorar, mas não conseguindo fazer
nenhuma outra coisa porque… Somos nós.
Luke, eu e o nosso bebê. Nosso bebê. Eu não poderia estar mais
realizada.
— Eu estou com fome, agiliza aí — nós ouvimos e ele ri.
— Eu mato o Brandon na festa — murmura.
— Obrigada por compartilhar também sua família comigo e minha avó
— suspiro.
Ele alisa minhas costas e eu me afasto, segurando sua mão na minha.
— Vamos logo porque enquanto mais rápido for a festa, mais rápido
vamos ficar sozinhos — sorrio.
Luke também sorri, um sorriso lindo e que eu amo.
— Acho que gosto dessa ideia, Sra. Mackenzie — ele estreita os olhos,
malicioso.
Dou risada, seu nome no meu e eu simplesmente derreto, precisando que
a cerimônia e a festa terminem logo.

____

Quando chegamos ao salão, é completamente agitação por mais de


horas. Meus pés doem, mas eu não ligo, porque esse momento nunca vai
poder se repetir e eu quero usufruir ao máximo.
Tiramos fotos, cumprimentamos n pessoas e quase não comemos, ou
melhor, Luke não comeu, mas lembrou de mim a todo instante, o que só me
deixou mais quente por ele.
— Preciso da minha neta um segundo — vovó diz, levantando e vindo
até nós. Ela está na mesa com a família dele.
Luke beija meu rosto e sorri, assentindo, dizendo que vai ao banheiro.
Minha vó nos conduz até os bancos do bar e nós nos sentamos, ela
agarrando minhas mãos e começando a chorar.
Eu a abraço imediatamente, chorando junto.
— Você merece, meu amor — ela soluça. — Isso sempre foi tudo que
desejei para você. Um amor verdadeiro.
Deus, isso é doloroso.
— Vovó, a senhora não vai ficar sozinha — digo. — Eu vou visitá-la
todos os dias.
— Eu sei — ela ri, então se afasta, tocando meu rosto. Agarro sua mão e
beijo, mantendo os lábios em sua pele. — Estou tão emocionada e preciso lhe
contar uma coisa. Deixei para agora. Acho que é o momento certo.
Abro a boca, preocupada.
— O que houve?
— Eu estou namorando — ela dá uma risadinha e estou imediatamente
boquiaberta.
— De verdade?!
— Sim, você sabe… — ela parece envergonhada. — Sabe a Elizabeth?
Ela tem um irmão e nós nos apaixonamos.
— Por isso a senhora estava indo para lá… Vovó! — dou risada e ela
também. — Por que não me contou? Ele poderia estar aqui!
— Ah, não — abana as mãos. — Ele é um tímido. Não gosta de
multidão.
Eu sorrio, emocionada.
— E ele vai morar comigo, para eu não ficar sozinha — emenda.
— Oh, nossa — estou rindo. — Isso é muito estranho, vó, mas também
muito legal. Estou muito feliz pela senhora e quero conhecer o senhor…
— Rudolph — ela suspira e rio mais.
— Certo, a senhora está muito apaixonada. Está até suspirando.
— Não estou? Ele beija tão bem! — se abana e eu gargalho, ela me
acompanhando em seguida.
— Isabelle Mackenzie — ouço e então me viro, um pouco na defensiva
quando vejo somente as luzes da pista de dança acesas. — Pode se
aproximar, por favor? — É o meu sogro.
Olho vovó, que me incentiva a levantar e ir; então eu vou, ele me
apontando uma cadeira vazia quase no centro.
Me sento, um pouco suspeita, mas, com o sorriso que Philip me lança,
sei que é coisa boa.
— Divirta-se — ele diz no microfone. — Ah, e depois agradeça à minha
esposa porque a ideia foi dela — e se afasta.
— Gostoso! — Natalie grita.
Estou prestes a indagar do que se trata quando ouço umas batidas de
música começarem.
Então meus olhos se arregalam com o que vejo.
Uma fila de homens chegam à pista de dança, comandados por Luke,
mas essa não é a melhor parte. Não! A melhor parte é que estão vestidos com
a farda do exército.
Levo as mãos à boca, desacreditada, meu coração acelerando quando
eles se dividem e começam a dançar, Luke sorrindo e piscando para mim.
Estou rindo, impressionada, babando...
Oh, meu bom Deus… Ninguém dorme no hotel onde vamos ficar esta
noite, com toda certeza.
Ele está completamente lindo, de boné e tudo, totalmente sexy,
dançando para mim.
Para mim.
Acho que vou ter um enfarte.
Me assusto de nervoso quando alguns caras rodeiam minha cadeira e
começam a dançar à minha volta, todos muito bonitos e, com toda certeza,
convidados dele. Muito sexy e muito calor... Muito, muito...
Quando pareço muito ofegante, quente, louca pelo meu… Ai, meu
Deus... Marido; então eu vejo o Brandon. Ele é um dos caras. E ele está
sorrindo quando vem em minha direção e me levanta da cadeira, me fazendo
dançar com ele.
Estou rindo, mas é por diversão.
— Amostra grátis do que você perdeu, gatinha — ele me rodopia e eu
não consigo parar de rir, logo vendo Luke o empurrar, o primo começando a
gargalhar.
— Minha — Luke me lembra e choca nossas bocas, minhas mãos o
puxando mais para mim e eu amolecendo totalmente sob seus braços.
— Sua — afirmo, mordendo seu lábio inferior e ele grunhe, me
apertando mais e me fazendo sentir no contato que a noite promete.
E não só a noite, mas toda a nossa vida.
Referências:

¹ Oasis - Stop Crying Your Heart Out

² Início de canção transmitida em um programa de distribuição livre.


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Amor em Pretensão
Amor em Obstinação
Amor em Depressão
Amor em Ambição
Amor em Solidão
Amor em Exceção
Amor em Emoção
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