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Capela de Nosso Senhor Do Bonfim

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NYOTA

Repensar
o sagrado
As tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

Diogo Jorge de Melo


Luane Bento dos Santos
Nathália Lima Romeiro
Thayron Rodrigues Rangel
Organização
Diogo Jorge de Melo
Luane Bento dos Santos
Nathália Lima Romeiro
Thayron Rodrigues Rangel
Organização

REPENSAR O SAGRADO:
AS TRADIÇÕES RELIGIOSAS
NO BRASIL E SUA DIMENSÃO
INFORMACIONAL

Florianópolis, SC
Rocha Gráfica e Editora Ltda.
2021
Coordenação do Selo Nyota
Franciéle Carneiro Garcês da Silva
Nathália Lima Romeiro
Site: https://www.nyota.com.br/

Comitê Científico e Editorial


Daniella Camara Pizarro (UDESC) Mariana Cortez (UNILA)
Felipe Meneses Tello (UNAM) Wellington Marçal de Carvalho (UFMG)
Mary Luz Alzate (UNAL) Márcio Ferreira da Silva (UFMA)
Didier Álvarez Zapata (U. de A.) Fábio Francisco Feltrin de Souza (UFFS)
Fernanda Oliveira (UFRGS) Gerson Galo Ledezma Meneses (UNILA)
Maria do Carmo Moreira Aguilar (UFRGS) Lourenço Cardoso (UNILAB)
Leyde Klébia Rodrigues da Silva (UFBA) Edilson Targino de Melo Filho (UFPB)
Carina Santiago dos Santos (UDESC) Barbara Barcellos (UFS)
Rubens Alves da Silva (UFMG) Lia Vainer Schucman (UFSC)
Vanessa Jamile Santana dos Reis (UFBA) Tatiana de Alemida (UNIRIO)
Elisa Larkin Nascimento (IPEAFRO) Ueliton dos Santos Alves (SP Escola de Teatro)

Comitê de Avaliadores Ad Hoc


Frederico Moreira (UFMG) Marta Ferreira (UNICAMP)
Luzia Gomes Ferreira (UFPA) Marlise Vinagre (UFRJ)
Taissa Tavenard de Luca (UEPA) Jacqueline Ribeiro Cabral (UFF)
Mariana Novaes de Medeiros (UFSB) Ivanir dos Santos (UFRJ)
Elisa Larkin Nascimento (IPEAFRO)

Diagramação: Nathália Lima Romeiro; Franciéle Carneiro Garcês da Silva


Arte da Capa: Lembá Reis - Tata Kambondo.
Revisão textual: Pedro Giovâni da Silva

R425

Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão


informacional. / Diogo Jorge de Melo, Luane Bento dos Santos, Nathália
Lima Romeiro, Thayron Rodrigues Rangel (Org.). - Florianópolis, SC:
Rocha Gráfica e Editora, 2021. (Selo Nyota)
470 p.

Inclui Bibliografia.
Disponível em: https://www.nyota.com.br/.
ISBN 978-65-87264-47-9 (E-book)
ISBN 978-65-87264-48-6 (Impresso)

1. Informação. 2. Religiosidade. 3. Religião. 4. Tradições religiosas. I.Melo,


Diogo Jorge de. (Org.). II. Santos, Luane Bento dos. (Org.). III. Romeiro,
Nathália Lima. (Org.). IV. Rangel, Thayron Rodrigues. (Org.). V. Título.
ESSA OBRA É LICENCIADA POR UMA
LICENÇA CREATIVE COMMONS

Atribuição – Compartilhamento pela mesma licença 3.0 Brasil 1

É permitido:
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de cada capítulo e às organizadoras da obra.

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Se você remixar, transformar ou criar a partir desta obra, tem de
distribuir as suas contribuições sob a mesma licença2 que este
original.

1 Licença disponível em: https://goo.gl/rqWWG3. Acesso em: 01 jun. 2021.


2 Licença disponível em: https://goo.gl/Kdfiy6. Acesso em: 01 jun. 2021.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 9
PREFÁCIO - FÊMEA DE SETE EXUS ........................................................ 15
Elisa Larkin Nascimento
A ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO RELIGIOSO: ANÁLISE DA
REPRESENTAÇÃO DO CANDOMBLÉ, DO ISLAMISMO E DA
UMBANDA EM SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO DO
CONHECIMENTO ............................................................................................ 21
Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda
Deniz Costa
Fabio Gomes da Silva
“NARCISO ACHA FEIO O QUE NÃO É ESPELHO”: INDUMENTÁRIA,
SEMIOSE E RACISMO RELIGIOSO ........................................................... 45
Maria Aparecida Moura
Nayara de Oliveira Santos
A SALVAGUARDA DOS LUGARES SAGRADOS: AÇÕES
AFIRMATIVAS PARA A VALORIZAÇÃO DA MEMÓRIA E DO
PATRIMÔNIO CULTURAL AFRO-BRASILEIRO ................................... 69
Luciane Barbosa de Souza
O PÁRAMO DAS POLÍTICAS DE INFORMAÇÃO E A EMERGÊNCIA
PATRIMONIAL DE EX-VOTOS NO BRASIL .......................................... 89
Ismaelly Batista dos Santos Silva
Genivalda Cândido da Silva
DAS TRÊS MARIAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO ÀS MARIAS
DOS TERREIROS AFRO-DIASPÓRICOS: DESCOLONIZANDO A
ARQUIVOLOGIA, A BIBLIOTECONOMIA E A MUSEOLOGIA ..... 119
Diogo Jorge de Melo
Thayron Rodrigues Rangel
A CAPELA DO NOSSO SENHOR BOM JESUS DO BONFIM DA
ÁGUA VERMELHA DE JOÃO DE CAMARGO COMO UM ESPAÇO
MUSEAL DA CIDADE DE SOROCABA (SP) ......................................... 145
Diogo Jorge de Melo
Lidiane da Costa Monteiro
A IMPORTÂNCIA DAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE PARA
A DIFUSÃO DA TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO ................................... 171
Luciano Araujo Monteiro
AS RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS NA LIBRARY OF
CONGRESS SUBJECT HEADINGS: UMA ABORDAGEM AOS
ESTUDOS CULTURAIS ................................................................................ 183
Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda
LEITURA ICONOGRÁFICA DA CATEDRAL DA SÉ (SÃO PAULO, SP)
E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL, HISTÓRICO E
RELIGIOSO ...................................................................................................... 209
Pamela Cristine Rebelato Santana
Paula Ferreira Vermeersch
Zaira Regina Zafalon
NARRATIVAS ORAIS, MEMÓRIAS E SABERES: UM DIÁLOGO
ENTRE O CANDOMBLÉ E AS EPISTEMOLOGIAS DO SUL ........... 239
Jorge Gomes Junior
O REFLEXO DO ABEBÊ - O FEMININO DO CANDOMBLÉ
TRANSBORDADO NAS REDES SOCIAIS ............................................. 257
Cristiano Sant’Anna
Isadora Souza Silva
ASPECTOS POLÍTICOS E ARQUIVÍSTICOS DA DOCUMENTAÇÃO
SOBRE FREI TITO DE ALENCAR LIMA ................................................. 279
João Marcus Figueiredo Assis
REPENSAR O SAGRADO A PARTIR DA IGREJA DAS SANTAS
PRETAS: DEBAIXO DA GRANDE ÁRVORE, DURANTE O CHÁ DA
DONA JOVEM! ............................................................................................... 297
Mauro Luiz da Silva
MACUMBARIAS NOS CARNAVALISMOS: DISSEMINAÇÃO DE
NARRATIVAS PRETAS ............................................................................... 327
Rennan Carmo
A BANTUNIZAÇÃO NA NGANA KINGONGO: RECENTRANDO OS
REFERENCIAIS ............................................................................................... 349
Lembá Reis - Tata Kambondo
Tata Walter de Nkosi - Walter José Teixeira da Silva
Mam’etu Madozã - Rosemary Alves Queiroz
KILOOMBO CONTEMPORÂNEO: UNZÓ IA KISIMBI RIA MAZA
NZAMBI ............................................................................................................ 367
Tássio Ferreira
A REPRESENTAÇÃO DO PROFANO NO REGISTRO DO CÍRIO
COMO PATRIMÔNIO IMATERIAL BRASILEIRO: O CASO DO AUTO
DO CÍRIO EM BELÉM/PA ........................................................................... 385
Nicolle Manuelle Bahia Bittencourt
Hamilton Vieira de Oliveira
ENTRE A ÉTICA E A TOLERÂNCIA: RELATOS DE EXPERIÊNCIAS
SOBRE AS POSSIBILIDADES DA AFROPERSPECTIVA PARA A
DECOLONIALIDADE.................................................................................... 405
Wudson Guilherme de Oliveira
TESES E DISSERTAÇÕES SOBRE RELIGIÃO NA CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO BRASILEIRA ..................................................................... 421
Bruno de Almeida
Nathalia Romeiro
Franciéle Carneiro Garcês da Silva
SOBRE OS/AS ORGANIZADORES/AS .................................................. 449
SOBRE OS/AS AUTORES/AS ................................................................... 453
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

A CAPELA DO NOSSO SENHOR BOM JESUS


DO BONFIM DA ÁGUA VERMELHA DE JOÃO
DE CAMARGO COMO UM ESPAÇO MUSEAL
DA CIDADE DE SOROCABA (SP)
Diogo Jorge de Melo
Lidiane da Costa Monteiro

1 INTRODUÇÃO
Museus são instituições que se consolidaram no âmbito
das culturas ocidentais que acabaram por se difundir por todo
o planeta. Muitos autores atribuem sua origem ao Mouseion
de Alexandria e, em outras instituições, que possuem
tradições semelhantes, como os Gabinetes de Curiosidades
no século XVII. No entanto, devemos ter em mente que a
constituição e a consolidação dos museus estão diretamente
ligadas aos processos de preservação da memória e da
construção de identidades.
Ao serem reconhecidos como agentes patrimoniais, os
museus se tornaram importantes ferramentas para a
implementação dos nacionalismos, como nos foi mostrado
por Benedict Anderson (2008). Tal autor considerou os
Museus – assim como os censos e a cartografia (mapas) –
instrumentos utilizados na constituição das nacionalidades no
século XIX, a dita era da reprodução mecânica. Essas
categorias

[...] juntas, elas moldaram profundamente


a maneira pela qual o Estado Colonial
imaginava o seu domínio - a natureza dos
seres humanos por ele governados, a
geografia do seu território e a
legitimidade do seu passado (ANDERSON,
2008, p. 227).

Sem dúvida podemos compreender, a partir do que foi


mencionado, que os Museus são instituições que se
___
145
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

estabeleceram como instrumentos colonizadores.


Estruturados como elementos de conhecimento
enciclopédico, voltados para o domínio e exploração do
mundo, a partir da ótica eurocêntrica. De tal modo que, vemos
na história, o estabelecimento e expansão dos Jardins
Botânicos e dos Museus de História Natural, como ocorrido no
Império Português, conforme apontado por Melo (2020),
subsidiado por Domingues (2001).
Entendemos que os Museus, em sua grande maioria,
encontram-se atrelados às práticas e às epistemes vinculadas
às estruturas coloniais, que na contemporaneidade são
repensadas, no sentido de conscientização descolonizadora.
Uma evidência desta estrutura de pensamento, vemos forjada
pelo estabelecimento da filosofia cartesiana (cógito
cartesiano).
A partir do “penso logo existo”, inaugura-se uma
arquitetura de poder atrelada ao saber, que dentre outras,
estabelece analogamente o “penso logo conquisto” ou
“penso logo domino”. Uma estruturação de poder que se
estabelece a partir de uma ordem eurocêntrica, masculina e
branca, onde o pensar e o saber se constituem como uma
primazia do homem branco europeu, como nos foi desvelado
por Grosfoguel (2016) e Dussel (2008). Assim, é possível
visualizar, como seres colonizados em processo de resistência
e sobrevivência, que existem caminhos para se pensar novas
possibilidades de Museus. É igualmente cabível, identificar e
reconhecer aspectos museais em distintos lugares, não
tradicionais, que antes eram destinados ao descaso e o
esquecimento.
Justamente pensando nestas possibilidades de
descolonização, que passamos a direcionar nossos olhares
para outras instituições ou lugares sociais, não
convencionados como museus, mas que, em nosso ponto de
vista, podem ser reconhecidas como espaços museais.
Aqueles que, em seu cotidiano, já lidam com aspectos
patrimoniais, de constituição de memórias e identidades.
Entretanto, temos grande dificuldade de entender um

___
146
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

“terreiro de macumba”33 com a mesma propriedade, tendo


em vista que os terreiros, historicamente, são instituições que
foram colocadas em um papel de
subalternidade/inferioridade, desde o contexto colonial
(MELO, 2020). Além disso, os terreiros sofrem ataques
fortemente, em decorrência das estruturas racistas presentes
em nossa sociedade.
Por isso, entender instituições afro-diaspóricas (os
terreiros), como espaços museais ou como museus, ainda que
simbolicamente, é um exercício de rompimento com os
agentes da colonialidade. Isso nos permite alçar novas
interpretações e possibilidades, no que tange ao fazer e
saber museológico, diretamente atreladas à produção da
área acadêmica denominada Museologia. Deste modo,
podemos pensar nestes outros lugares e inclusive apontar
reflexões para com os espaços museais mais tradicionais,
demonstrando que o fazer museal/museológico é capaz de
transgredir as amarras coloniais que lhe são postas.
Devemos lembrar que o conceito de terreiro que
estamos utilizando, situa tal instituição a partir das culturas
afro-diaspóricas, e abrange uma complexidade de saberes e
fazeres, que movimentam relações de memória e de
entidades. O terreiro possui diversos planos de atuação, onde
se destacam o concreto dos acontecimentos ritualísticos das
suas manifestações litúrgicas, como: o toque dos tambores,

33 O termo “macumba” apesar de muitas vezes possuir um aspecto negativo,

aqui é utilizado como um agente potencializador e integrador, entre todas


as religiões afro-diaspóricas, por ter uma conotação extremamente
abrangente. Entendida como “[...] aquilo que apresentaria as marcas da
diversidade de expressões subalternas codificadas no mundo colonial,
investida de tentativas de controle por meios de produção do estereótipo.
Encruzada a esta perspectiva, está a macumba como uma potência híbrida
que escorre para um não lugar, transita como um “corpo estranho” no
processo civilizatório, não se ajustando à política colonial e ao mesmo
tempo o reinventado. Como signo ambivalente que é, desliza e encontra
frestas nos limites do poder, como potência do corpo que carrega em si
parte possível de coexistência e de interpenetração” (SIMAS; RUFINO, 2018,
p. 15).
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147
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

as entoadas de cânticos e as incorporações e contatos com o


mundo dos invisíveis.
Evidenciamos também as instâncias do próprio corpo,
presente no terreiro, sendo ele um agente conector, que
agencia o plano dos invisíveis, com suas inúmeras entidades
em manifestação. Desta forma, Rufino (2017) nos lembra que
o terreiro é um espaço de reconstrução dos saberes africanos
de outros territórios, sendo eles criados por processos
culturais e não – apenas – por materiais. Assim, o terreiro
pode habitar espaços temporários e efêmeros, como os das
rodas de capoeira, coco, jongo, terreiros de macumba, ou
ainda, terreirizar a rua ou outros teritórios.
Neste sentido, localizamos a instituição a qual nos
reportamos neste capítulo fazendo, justamente, o exercício
outrora apontado, de pensá-la como um espaço museal: a
Capela do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água
Vermelha34, criada por João de Camargo (1858/1861-1942).
Uma instituição socialmente reconhecida como um santuário,
que associamos à condição de terreiro, quando percebemos
que seu complexo monumental foi erguido e estruturado por
um homem negro peculiar. João de Camargo, ex-escravizado
cujas bases epistêmicas/espirituais não nos permite negar a
relevância dos processos culturais afro-diaspóricos ali
presentes.
Deste ponto, reconhecemos João de Camargo como
uma personalidade histórica, que pode ser entendida com
similaridade aos sacerdotes das religiões afro-diaspóricas, ao
ter desenvolvido, no decorrer de sua vida, uma Igreja (templo,
culto, religião)35. Estabeleceu-se e ganhou notoriedade na

34 Deve ser entendida como um conjunto arquitetônico, que se soma à


concepção de Igreja/Religião que foi profetizada por João de Camargo.
35 Preferimos usar o termo “religião”, pois “culto” é um conceito que tende

a menosprezar ou diminuir a fé, a cultura do outro. No entanto, não


observamos que a religião de João de Camargo teve grande difusão como
a Umbanda, por exemplo. Ela pode também ser reconhecida como um
segmento do catolicismo popular, mas com bastante interseções com as
religiões afro-diaspóricas. Devemos também frisar o uso da palavra “Igreja”
___
148
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

cidade de Sorocaba, em São Paulo, onde construiu seu


santuário, ao qual destacamos a relevância do espaço, que
caracterizamos como um pequeno complexo cultural (Figura
1). Um espaço com influências pluriculturais, cujo alicerce nas
culturas da negritude afro-diaspóricas, não pode ser negado.
Um local onde os “sincretismos” religiosos ocorreu em sua
plenitude.

Figura 1 - Imagens da Capela Nosso Senhor do Bonfim de


João de Camargo em 2020.

Fonte: Fotografias dos autores (2020).


Legenda: Da esquerda para direita: escultura aparentemente de
bronze representando a cabeça de João de Camargo, localizado em
um espaço a céu aberto, na frente da Capela; vista frontal da Capela;
vista interna do altar principal da Capela; vista interna da Capela,
sentido de quem está saindo.

Salientamos que, paralelamente a história de Nhô João


de Camargo, em um período mais ou menos sincrônico, no Rio
de Janeiro, Zélio de Moraes estava profetizando e
sistematizando, por meio de seus guias36, a religião da
Umbanda (TRINDADE, 2014). Acreditamos inclusive que esses

que aqui extrapola o sentido físico de templo, devendo ser compreendido


como instituição religiosa.
36 Com maior destaque do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

___
149
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

aspectos históricos são capazes de produzir dados


comparativos bem interessantes. A propósito, pensamos –
para trabalhos futuros –, a possibilidade de aproximações e
tensionamentos que reflitam os dois contextos religiosos,
através das estruturas sincréticas da diáspora negra africana,
relacionadas ao catolicismo e ao espiritismo, apontando
nuances que os permeiam.
É preciso, assim, ressaltar, que Zélio Fernandino de
Moraes e João de Camargo são sujeitos históricos que
ocupavam distintos lugares sociais. O primeiro, em uma
cidade mais cosmopolita e socialmente reconhecido, como
branco de classe média; e, o segundo, um ex-escravizado,
negro, pobre em uma cidade interiorana, mesmo que
relativamente próxima à São Paulo.
Justamente com base no apresentado acima,
elucidamos o objetivo deste trabalho, que é apresentar um
breve panorama histórico da Capela do Nosso Senhor Bom
Jesus do Bonfim da Água Vermelha e de seu criador. Ao
pensar suas relações histórico-sociais, junto à cidade de
Sorocaba, observamos não apenas seus aspectos religiosos,
mas, principalmente, o que tange ao espaço museal,
reconhecendo-a em seu lugar de fato. Espaço de fortes
relações: patrimoniais, de memória, de identidade. Mas,
sobretudo, um espaço da negritude.
Buscamos, assim, auxiliar na compreensão de que este
é um lugar de valorização da cultura negra/afro-diaspórica, na
contramão do apagamento histórico, de uma memória racista.
Destacamos que este capítulo foi desenvolvido com base em
pesquisas bibliográficas somada à visita técnica realizada no
dia 14 de fevereiro de 2020, onde fizemos inúmeras
observações e fomos atendidos por Ingrid Rabello37, uma das
pessoas responsáveis pela manutenção do espaço.

37Gostaríamos de expressar nossa gratidão aos mantenedores da Capela


do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha (Associação
Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim) durante a nossa visita.
___
150
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

2 HISTÓRIA DE JOÃO DE CAMARGO E A CAPELA DO


NOSSO SENHOR BOM JESUS DO BONFIM DA ÁGUA
VERMELHA
Como sabemos, há enorme problemática histórico-
documental referente à maioria das personagens negras
historicizadas, pois seus registros nem sempre são precisos,
existindo poucos, inconsistentes ou registros históricos
contraditórios. Com Nhô João de Camargo esta realidade não
ocorre tão diferente, particularmente, na primeira fase da sua
vida.
No entanto, ele deixou um legado documental38 muito
amplo e interessante, com relação à segunda fase, como a
formação da sua Igreja, de arquitetura singular, além dos
objetos que são encontrados no seu interior, sendo de maior
evidência, as imagens sacras. Inúmeras fontes documentais
históricas atestam a sua trajetória como líder religioso, dentre
outras atribuições. João de Camargo inclusive parece como
compositor, havendo registros em partituras.
Salientamos ainda, que a tradição oral foi e é
demasiadamente importante para o conhecimento de sua
história, pois João de Camargo transita entre personagem
histórica, imaginada e mítica. Desta forma, reconhecemos
todos os documentos, objetos e estruturas deixadas por ele
em seu contexto histórico, como um potencial acervo, que
poderiam facilmente se configurar em inúmeras
coleções/fundos de natureza distintas, como as
museológicas, arquivísticas e bibliográficas39.

38 A concepção de documento aqui é apresentada em um aspecto amplo,

podendo existirem diversas conotações para o termo, que podem ser, por
exemplo, documentos históricos, de arquivo, livros e museália (DODEBEI,
2000).
39 Aqui nos referimos às três principais áreas do conhecimento ligadas à

preservação da memória, a Museologia, Arquivologia e Biblioteconomia,


que podem ser consideradas áreas irmãs, que dialogam com a Ciência da
Informação (SMIT, 2000; ARAÚJO, 2011). Essas questões são melhores
desenvolvidas no capitulo deste livro escrito por Diogo Jorge de Melo e
Thayron Rodrigues Rangel, intitulado “Das Três Marias da Ciência da
___
151
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

Apesar deste fato, devemos mencionar que, em nossa


visita técnica, não percebemos a existência de nenhum
tratamento informacional e preservacionista específico para
com estes documentos. Logo, os mesmos estão dispostos
conforme suas circunstâncias contextuais, de seus usos
sociais, ou mesmo, sujeitos aos imperativos de seus zeladores,
que podem ou não ter consciência do cuidado documental.
Apesar do tratamento leigo em relação ao espaço e ao
acervo, observamos que existe um grande zelo pela
manutenção do local, estando muito limpo e organizado,
mesmo diante do fluxo de pessoas. A nossa interlocutora,
durante a visita ao espaço, mostrou grande interesse na
preservação dos diversos documentos ali presentes, com
destaque para os objetos históricos ligados ao próprio João
de Camargo. Todavia, lamentou a perda de materiais, por
conta de cuidadores anteriores que não teriam dimensão da
importância dos mesmos.
Devemos destacar que averiguamos que existiram
intervenções “restaurativas” no acervo, por exemplo, nas
imagens que foram produzidas por e no período de Nhô João
de Camargo. Estas foram realizadas, aparentemente por
leigos, sem uma instrução técnica e normativa característica
de um processo de restauro. Tal procedimento, por um lado,
manteve aqueles objetos vivos em seu contexto litúrgico, mas
sem dúvida os descaracterizaram do seu contexto histórico.
O principal trabalho sobre a história de Nhô João de
Camargo foi o realizado por Carlos de Campos e Adolfo Frioli
(1999), intitulado “João de Camargo de Sorocaba: o
nascimento de uma religião”, que inclusive vem servindo de
base para diversas pesquisas sobre ele e sua Igreja. Mas não
podemos deixar de apontar que muitos pesquisadores
escreveram sobre ele, como Florestan Fernandes, em seu
livro “O Negro no Mundo dos Brancos: contribuição para o
estudo de um líder Carismático”; Genésio Machado, em
“João de Camargo e seus milagres”; Roger Bastide, em

Informação às Marias dos Terreiros afro-diaspóricos: descolonizando a


Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia”.
___
152
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

“Estudos Afro-Brasileiros” e a “A Macumba Paulista”,


dentre outros (SIMONE, 2018).
Nhô João de Camargo ficou conhecido por diversas
adjetivações, como a de missionário, compositor, médium,
curandeiro, mágico dos pobres, santo do povo, milagreiro,
Papa Negro e preto-velho. Expressões que o caracterizam e o
colocam em um status de uma representação mítica e
imaginada, que se constituiu com base na oralidade e em
fatos históricos. Representações materializadas em seu
legado, que é a Capela do Nosso Senhor Bom Jesus do
Bonfim da Água Vermelha40. Uma religião que, segundo
Simone (2018), congrega cerca de 70.000 devotos e, que é
visitada por uma diversidade de pessoas, em busca de
aspectos religiosos ou que possuem o desejo de conhecer
mais sobre este santuário e a história por trás dele41.
Historicamente, existem diversas informações sobre o
nascimento de João de Camargo, a primeira que ele teria
nascido no bairro dos Cocais no Município de Sarapuí no dia
16 de maio de 1858 (CAMPOS; FRIOLI, 1999; SAN’T ANNA,
2013). Outras fontes mencionam que ele nasceu no dia 05 de
julho de 1858 ou 1861, sendo filho de uma escravizada da
fazenda de propriedade de Camargo Barros em Sapucaí,
região de Sorocaba (SÁEZ, 1998).
Sabe-se que seu nome de batismo era João de Camargo
Barros e ele foi um herdeiro de um legado cultural afro-
diaspórico, recebido por meio de sua mãe, Nhá Chica, e dos
outros negros com quem conviveu em sua infância e
juventude, quando escravizado. Com eles é possível que
tenha aprendido sobre processos de cura, benzimentos, uso
de ervas medicinais e diversos outros aspectos culturais afro-

40 Uma das histórias, sobre a Capela possuir o nome de “Água Vermelha”,


pois por volta do ano de 1859, havia em Sorocaba, uma estrada que era
chamada de “Estrada da Água Vermelha”, pois quando chovia se formava
muita lama barrenta e avermelhada. Justamente na parte mais alta desta
estrada havia um córrego com o mesmo nome.
41 Apesar de não mencionar como esses dados foram obtidos, supomos que

estes foram estabelecidos com base empírica, através das visitações que
ocorrem na Capela.
___
153
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

diaspóricos. Assim, conheceria muitas de suas referências e


concepções religiosas, como algumas das entidades, com as
quais teve contato, ao longo de sua vida. Sendo –
provavelmente – batizado por vontade dos seus senhores e,
consequentemente, inserido nas doutrinas religiosas do
catolicismo, apesar de não ter aprendido a ler, foi capaz de
deixar um legado cultural fantástico (SÁEZ, 1998; CAMPOS;
FRIOLI, 1999). Como dito, a primeira fase de sua vida foi como
escravizado, ficando sobre os cuidados de sua mãe, que
trabalhava na casa do senhorio, onde era mucama e
cozinheira. Quanto ao seu pai, não temos informações.
Segundo San’t Anna (2013), João de Camargo viveu até sua
adolescência realizando serviços domésticos, inclusive
cozinhando.
Apenas mais tarde deixou a casa grande, passando a
trabalhar na lavoura. Foi, justamente, neste período de sua
vida, que adquiriu seu vício, o alcoolismo, que segundo
Simone (2018), curou-se ao assumir sua missão espiritual. Sua
alforria só ocorreu com a abolição da escravatura, quando já
estava para completar cerca de 30 anos de idade42. Então,
começou uma vida nova, trabalhando em diversas atividades,
como prestador de serviços domésticos de manutenção.
Inclusive sabemos que em 1893 se alistou como voluntário no
batalhão de paulistas para lutar em Itararé, em defesa do
governo (SAN’T ANNA, 2013).
Com relação à sua vida conjugal, sabemos que se casou
em 1895, com uma mulher branca, de nome Escolástica do
Espírito Santo. No entanto, as condições de vida, o vício por
bebida, o fim da paixão e o envolvimento dela com outro
homem, contribuíram para o término do seu relacionamento,
que durou cerca de cinco anos. Foi justamente após esse
período que se iniciou seu chamado religioso, com suas visões
mediúnicas. Ainda com relação à Escolástica, ela foi
considerada morta, mas esta reapareceu depois da morte de

42 Sorocaba foi uma cidade que antecedeu a data oficial da abolição da

escravatura, no Natal de 1887. Momento em que foram alforriados 460


escravizados existentes na cidade (SIMONE, 2018).
___
154
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

João de Camargo, reivindicando a sua herança (SAN’T ANNA,


2013; SIMONE, 2018).
Com relação ao seu chamado espiritual, ele costumava
rezar na capelinha do menino Alfredinho43 perto do riacho da
Água Vermelha; esta era uma criança que aos oito anos havia
morrido naquele local, vítima de um acidente com cavalo. Ao
ficar pendurado, pelo pé, na sela do cavalo, foi arrastado até
a sua morte e, posteriormente, foi considerado milagroso. O
cavalo

[...] o arrastou por todo canto, deixando


um rastro de sangue por onde passou e
que escorria para o riacho, “fazendo nascer
com sua imolação, o córrego da Água
Vermelha, fonte de vida muitos anos
depois”44 (SIMONE, 1998, s.p.).

Foi justamente em um momento de suas rezas que Nhô


João de Camargo começou a ter visões deste menino e
recebeu as instruções sobre a construção de sua Igreja (SAN’T
ANNA, 2013; SIMONE, 2018).
Um outro ocorrido histórico, que marcou a trajetória de
Nhô João, foi a epidemia de febre amarela, que assolou a
cidade em 1899. Nesse contexto, a cultura popular associou o
término da epidemia ao Monsenhor João Soares do Amaral.
Um padre que se dedicou aos doentes e desvalidos, que em
1900, na segunda onda do surto da febre amarela, trouxe da
Capela de Aparecidinha de Sorocaba, a imagem de Nossa
Senhora Aparecida e fez uma oração, na frente da Igreja
Matriz, pedindo o fim da epidemia45. Ele faleceu em 21 de
fevereiro de 1900, vítima de febre amarela, mas parece que

43 Conhecida também como a Cruz de Alfredinho ou Capelinha do Negro


André, nome do escravizado que encontrou o corpo de Alfredinho.
44 A citação dentro desta citação se refere a um trecho do livro de Campos

e Frioli (1999, p. 120).


45 Sabe-se, no entanto, que ocorrem medidas sanitárias realizadas

principalmente pelo médico Emilio Ribas (DALL’AVA; MOTA, 2015; SIMONE,


2018).
___
155
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

sua devoção acabou ficando marcada no imaginário social. Tal


atuação histórica possui grande relevância, pois o Monsenhor
João Soares se tornaria um dos principais guias espirituais de
Nhô João de Camargo.
Conta-se que em uma noite de 1906, João de Camargo
estava bebendo e foi acender velas na Cruz de Alfredinho e lá
adormeceu, sendo acordado pelo brilho de um relâmpago e o
som de um trovão, quando teve sua revelação. Uma voz de
uma linda mulher, que se encontrava envolvida por um brilho
lhe disse, “Ainda continuas a desobedecer-me? Será que não
entendes? Será que não queres mesmo cumprir as ordens que
trago do Altíssimo? Vamos, João!” (SAN’T ANNA, 2013, p. 75).
Ela prosseguiu falando “Vamos, João, põe fora essa garrafa!
Prepara-te para receber a incumbência de uma missão para a
qual foste eleito pela bondade e misericórdia de Deus” (SAN’T
ANNA, 2013, p. 75).
Ela teria falado, ainda, que quem o levava a acender
aquelas velas, era ela, preparando-lhe para sua missão. Em
seguida, o mandou subir na Serra de São Francisco, onde
prosseguiu com a sua revelação. Lá, recebeu a instrução de
erguer uma Igreja perto do riacho da Água Vermelha. Nessas
revelações, Nhô João foi capaz de identificar quatro aparições
distintas: a do menino Alfredinho, a da mulher, Nossa Senhora
da Aparecida, e de São Benedito, que chamava de
Rongondongo46 e que se transmutava no Monsenhor João
Soares do Amaral. Deste processo, a capela foi erguia em
1907, em um terreno doado por seu primo Pedro de Camargo
e sua esposa Maria Rosa. Nesse local surgiu um complexo
social, que se transformaria em uma vila, ou como falaremos
mais a frente, em um quilombo urbano.

46 Segundo Florestan Fernandes (2013), essa nominação parece ser uma


influência bantu, cambinda: “[...] há outros elementos, como os nomes
africanos com que designava os santos, quando entre os iniciados, como
acontece com São Benedito, o qual ele chamava de Rogondongo. Até agora,
este santo era conhecido apenas por Lindongo, conforme registra João do
Rio” (FERNANDES, 2013, p. 229-230).
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156
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

A Capela do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim da


Água Vermelha se estruturou como uma religião simples na
aparência e na prática, mas alicerçada numa grande
diversidade cultural, como proferido por Campos e Frioli
(1999). Sobressaem as influências das religiões afro-
diaspóricas, as do catolicismo e, posteriormente, as do
Kardecismo. Estes autores inclusive ressaltam, que

A Capela é dedicada ao Bom Jesus do


Bonfim, que na verdade é transunto de
Oxalá. Em sua constituição há sete portas,
que se referem a sétima Linha das Almas
da Umbanda, referente aos pretos velhos,
espíritos dos africanos” (CAMPOS; FRIOLI,
1999, p. 233).

Dentre outras inferências.

3 A CAPELA DO NOSSO SENHOR BOM JESUS DO


BONFIM DA ÁGUA VERMELHA
Segundo San’t Anna (2013), a ideia de Igreja reporta um
caráter misterioso ou místico, em um sentido de congregação
ou egrégora de seres sagrados e a Capela do Nosso Senhor
Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha, sem dúvidas, não
foge a esta concepção, principalmente, por João de Camargo
praticar o que este autor entende como profetismo religioso.
Pelo fato de João de Camargo se sentir chamado para o
desenvolvimento de “[...] uma missão que o transcendia de
sua condição social de ex-escravo e de mero curandeiro”
(SAN’T ANNA, 2013, p. 81).
Desta forma, entende-se que a Igreja de Nhô João se
constituiu como um quilombo urbano, por ser uma
congregação negra sobre uma liderança carismática, que se
instalou no entorno da Capela. Um quilombo extemporâneo,
constituído em um espaço diferenciado, mas que não se
fechou a sua etnoculturalidade e que assim agregou outras
contribuições socioculturais. Um lugar onde Nhô João é mais
conhecido como Pai João e assume analogamente a função
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157
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

de um pai de santo, ou de um preto-velho: “[...] Ele é o baba, o


pai da comunidade de ex-escravos que não tinham um rumo
certo na vida e que ali, em sua companhia, descobriram a sua
missão e passaram a ser colaboradores diretos [...]” (SAN’T
ANNA, 2013, p. 82).
Com o tempo, esse quilombo urbano foi se tornando
um epicentro de outros bairros vizinhos de predominância
negra, o que gerou núcleos residenciais próximos. Neste
sentido, a presença de João de Camargo era o centro, e
estimulava a circulação, pois na Capela transitavam centenas
de pessoas. Segundo San’t Anna (2013), esse caráter de
quilombo urbano só teve seu fim com a morte de João de
Camargo e, quando a sua ex-mulher reclamou seu direito à
herança. Nesse momento, a comunidade foi forçada a
abandonar as casas no entorno da Capela, para que não a
perdessem. Uma escolha que, sem dúvidas, preservou a
Capela, mas desestruturou toda a sociabilidade ali existente.
Em sua igreja, Nhô João recebia todos que o
procurassem sem qualquer distinção. Ele costumeiramente se
posicionava sob o altar, atendendo a todos, ficando em transe
“[...] para cada um recebia do sírio de Deus, a mensagem
adequada para aquele aflito, doente ou simplismente alguém
à procura do bom conselho” (SAN’T ANNA, 2013, p. 85).
Podemos também evidenciar que neste lugar sagrado,
no período de Nhô João, aconteciam festas em devoção dos
santos ao longo do ano, sempre muito animadas pela banda,
formada por ele, e que tocavam, inclusive, muitas de suas
composições. Também sabemos que ele manteve uma escola
mista, que atendia a comunidade e a todos que quisessem
estudar.
Seguindo orientações jurídicas, com o intuito de acabar
com as perseguições de seus adversários47, foi criada a

47 A história aponta que seu principal adversário era a Igreja Católica, que

gerou diversas perseguições. Como acusações que levara a João de


Camargo a ser preso por curandeirismo em 1913, mas conseguiu absolvição.
Devido a isto, foi criada a Associação Espírita. Um fato corriqueiro,
relacionado aos diversos terreiros de Umbanda, que acabaram se
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158
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do


Bonfim, em 01 de fevereiro de 1921, que segundo San’t Anna
(2013), foi um flerte com o Kardecismo, que facilitou a
inserção de características do espiritismo europeu no culto.
De acordo com nossa percepção, pensamos que esta
aproximação permitiu a instauração de um outro poder, que
até hoje está à frente deste santuário e que demarcou
inclusive a transição de uma representação e um domínio
cultural essencialmente negro para uma representação mais
embranquecida. Lembramos que a Capela do Nosso Senhor
Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha é administrada por
uma congregação essencialmente masculina, que atualmente
parece estar se abrindo.
No presente momento, ninguém realiza rituais de
consultas, passes ou atendimentos mediúnicos no local.
Destacamos a existência de avisos proibindo que ocorram
incorporações e passes espirituais no recinto. Todavia,
sabemos que – em um passado recente – um médium, ligado
ao kardecismo, dava atendimento em uma das salas laterais à
nave da Igreja.

4 CONSIDERAÇÕES MUSEAIS E DESCRIÇÃO DA


CAPELA DO NOSSO SENHOR BOM JESUS DO BONFIM
DA ÁGUA VERMELHA
Como a Capela do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim
da Água Vermelha é detentora de diversos aspectos
simbólicos e diversos documentos de distintas naturezas,
principalmente museálias, ela pode ser facilmente descrita e
entendida como um espaço essencialmente museal. Logo,
neste item, faremos uma descrição espacial e,
consequentemente, destacaremos alguns objetos (que
consideramos documentos museológicos), que estão
presentes neste espaço, assim como destacaremos possíveis
relações museais e simbólicas observadas no espaço.

aproximando do Kardecismo, como uma estratégia de proteção contra


perseguições. Embora as duas religiões fossem espíritas, as de matriz negra
sofreram diretamente as consequências do racismo religioso.
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159
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

Esta Capela é composta por diversos ambientes, mas o


mais importante é a “nave principal” (Figura 1). Atrás dela,
temos mais dois salões, dispostos como uma sacristia, e ao
lado esquerdo mais um salão, que dá acesso a outros recintos
que são restritos à visitação. Este salão esquerdo também faz
contato com um outro grande salão, estruturado para
orações, e fica em uma área na frente da área principal da
Capela. Este dá acesso às salas menores, onde funcionam um
escritório e um pequeno recinto, onde o médium citado
anteriormente fazia seus atendimentos. Destacamos ainda,
que na frente da Capela existe um pátio e que na frente dele
temos a área do velário, dois banheiros e uma área arborizada,
organizada como uma praça, cercada, onde temos o
monumento com a escultura da cabeça de João de Camargo
(Figura 1).
Dentro da capela, é notável a grande quantidade de
imagens sacras, sendo elas associadas a diversos contextos
religiosos, intercalando-se imagens católicas e de entidades
ligadas às religiões afro-diaspóricas, como caboclos, pretos
velhos, erês ou ibejis (crianças espirituais), ciganos e até
orixás e malandros (Figura 2). Inclusive, perguntamos se
existiam imagens de exus no espaço, e nos foi respondido que
existiam, porém, ficavam em um recinto em que os visitantes
não têm acesso. Nesta sala, também ficariam algumas
firmezas espirituais do santuário.
Notamos a existência de alguns avisos no recinto. O
primeiro, informando que a instituição não aceitava doações
de imagens, o que nos leva a crer que, muitas delas podem ter
sido doadas ou deixadas por fiéis, no passado.
Outro destaque é que nas imagens das crianças
espirituais, também nominados erês ou ibejis, encontravam-
se juntas às de Cosme e Damião, santos católicos que foram
sincretizados com estas entidades, inclusive com a
representação de Dom Um48. Também observamos a

48 Nas tradições afro-diaspóricas, principalmente nos segmentos


autonominados de Umbanda, foi agregado à imagem católica dos santos
Cosme e Damião, um terceiro irmão, que é denominado de Dom Um.
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160
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

presença de oferendas de doces, constando um segundo


aviso, o de que eles aceitavam doações deles.
Também em relação à devoção às entidades infantis,
encontramos dispostas em diversas partes da Capela as
imagens e quadros de crianças milagrosas, como a Menina
Izildinha e Julieta, a santinha de Sorocaba. Não conseguimos
visualizar referências ao Menino Alfredinho, mas sabemos
que existe foto de João de Camargo na frente da sua
capelinha.
No altar principal devemos relatar a presença de uma
imagem sacra que representa a Santíssima Trindade, que se
encontra na parte mais alta. Abaixo dela, uma imagem de
Nossa Senhora Auxiliadora, seguida de três imagens
extremamente relevantes para o espaço – ao centro, uma
imagem de Nosso Senhor do Bonfim, ao seu lado esquerdo,
a de Nossa Senhora de Aparecida, ambas feitas em argila
(Confeccionadas no período de Nhô João) e, do lado direito
uma imagem mais típica de Nosso Senhor do Bonfim.
Sobre este altar, temos a imagem de João de Camargo,
quase que em escala natural, sentada em sua posição mais
característica e com uma fita vermelha larga, que os fiéis
costumam tocar, no momento de suas orações. Ao longo
deste espaço nos foram mostradas outras imagens que
remetem ao período de Nhô João, como o Cristo em pé –
negro –, segurando um lírio branco e o Cristo sentado, com
uma cruz e um cajado de cana (Figura 3).
Também devemos destacar que na “nave principal”, ao
lado esquerdo de quem entra, existe uma pia, que libera água
provavelmente de uma fonte, onde os fiéis enchem garrafas
e bebem dessa água, por acreditarem ter propriedades
milagrosas (Figura 4). Do outro lado, um pouco mais a frente,
existe uma bancada pequena, sob a forma de uma caixa, para
que sejam escritos pedidos e agradecimentos.

Diversas são as lendas e histórias sobre este terceiro irmão, supostamente


mais novo.
___
161
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

Figura 2 - Diversidade de imagens sacras. Capela do Nosso


Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha.

Fonte: Fotografias dos autores (2020).


Legenda: Da esquerda para direita: agregado de imagens
relacionadas a entidades afro-diaspóricas, em destaque, a imagem
do orixá Oxum em amarelo e de Jesus Cristo como Oxalá ao seu
lado, característico da Umbanda; diversas imagens de pretos velho;
imagem de Jesus Cristo e na frente imagens de Cosme, Damião,
Dom Um e erês; imagem de Santa Sarah Kali acompanhada por
diversas imagens de ciganos.

Não identificamos nenhuma proposição em um sentido


expográfico, como painéis explicativos, contando a história,
explicando ou valorizando o espaço ou sobre o próprio João
de Camargo, assim como as justaposições dos objetos
parecem postas aleatoriamente ou em uma disposição de
culto, com agregações de afinidades. Também não
observamos placas comemorativas a não ser algumas que
mostram relações com outras congregações religiosas.
Existem poucas explicações de símbolos, como os
deixados pelo próprio João de Camargo, como um quadrinho
que explica uma liturgia simbólica de mosaicos. Menciona
que, na entrada, existe um conjunto de quatro mosaicos, cada
um com uma estrela. O primeiro, representa a meditação
sobre o primeiro mistério, sob o qual, se deve fazer pedidos
para as atividades diárias, de trabalho e estudo. Este mosaico
é denominado “Coração de Jesus e Maria”.

___
162
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

Figura 3 - Nhô João de Camargo, Cristo de pé com o lírio,


Cristo sentado, com cruz e cajado de cana.

Fonte: Fotografias dos autores (2020).


Legenda: Da esquerda para direita: altar principal da Capela do
Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha; imagem
de Nhô João de Camargo em escala quase natural com fita
vermelha; imagem do Cristo de pé com o lírio; imagem de Cristo
sentado, com cruz e cajado de cana.

O segundo seria um mosaico com uma estrela, solitária,


sob o qual se deve meditar a respeito do segundo mistério e,
deve-se fazer pedidos sobre atividades da vida social e
familiar. Tal mosaico é denominado “Bom Jesus Oxalá do
Bonfim e Nossa Senhora das Graças”49. O último símbolo
consiste em um mosaico vermelho e se refere ao terceiro
mistério; sobre ele se deve fazer pedidos de saúde e bem-
estar. Este mosaico é denominado “São Jorge – Ogum, São
Roque e Nossa Senhora das Dores”.
Cabe destacar que além das imagens sacras, existem
diversos quadros com fotos antigas, reportagem de jornais e
diversas pinturas. Também existem diversos objetos
históricos, como os dispostos em uma vitrine, no salão ao lado
da nave principal, que esboça uma intencionalidade
expográfica existente no local.

49 Acreditamos que era para estar escrito Nossa Senhora das Graças.
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163
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

Dispostos na vitrine, um estandarte e diversos


instrumentos musicais, que nos passa a percepção de que
eram os artefatos referentes à banda criada por João de
Camargo, conforme fotografia antiga ali presente. No
entanto, não existem maiores explicações (Figura 4).

Figura 4 - Pia com água supostamente milagrosa, estandarte


e fotografia, referente a banda criada por João de Camargo.

Fonte: Fotografias dos autores (2020).


Legenda: da esquerda para direita: pia com água supostamente
milagrosa, utilizada pelos fiéis; vitrine com diversos instrumentos
musicais, estandarte e fotografia, referente a banda criada por João
de Camargo.

Todas as justaposições espaciais apresentadas para a


Capela do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água
Vermelha nos demonstram que estas modificações estão de
acordo com a prática religiosa de seus fiéis e dirigentes,
existindo uma disposição que transita entre espaços sacros
católicos e de terreiros. Isso nos remete diretamente às
estruturas presentes nos antigos Gabinetes de Curiosidades
no século XVI (LOUREIRO; FURTADO; SILVA, 2007), que
continham uma diversidade de objetos dispostos em todos os
espaços possíveis e, a priori, com uma organização pouco

___
164
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

reconhecível. Então, nos cabe aqui questionar: por que razão


esse santuário ainda não é visto como um espaço museal?

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao encerrarmos a nossa visita, quando já estávamos na
calçada, de saída, observando o monumento dedicado ao
João de Camargo, localizado na praça externa, uma cena nos
chamou bastante atenção. Um rapaz, com roupa de
estudante, ao passar por nós, também naquela calçada,
cumprimentou o monumento, falando “boa tarde João”. Ou
melhor, o rapaz saudou à representação simbólica de João de
Camargo. Tal cena nos deixou bastante reflexivos.
Percebemos, naquele momento, o quanto Nhô João de
Camargo está vivo e ativo, naquele contexto social, como os
mortos-viventes das culturas afro diaspóricas (RAMOSE,
1999, 2002).
Logo, as relações imaginadas dessa comunidade estão
postas, relacionalmente, com Nhô João de Camargo. Fato
este que, sob nosso ponto de vista é um aspecto
importantíssimo, que nos conduz a pensar numa concepção
de musealidade50 presente nesta Igreja, reconhecendo as
existências de importantes relações patrimoniais, mas
principalmente relações fratrimoniais51, de trânsitos dos
corpos, com nosso passado, memória, imaginário,
materialidade, imaterialidade e sentidos.

50 Conforme apresentado por Soares (2012) com base em diversos autores,


musealidade seria o valor não material, ou o significado atrelado a um
objeto, nos dando o motivo para a sua musealização. Uma ressignificação
que permite que estas museália se mantenham nos seus contextos
museais/museológicos. Também compreendida como o ato de produzir
objetos inalienados e inalienáveis, representar o irrepresentável, e
entendida sociologicamente como um consenso dentre os grupos
humanos, que lhes conferem seu caráter simbólico.
51 Termo apresentado por Mario Chagas (2003, 2016) e desenvolvido por

Melo (2020) em um sentido de relações afetivas mais horizontais ao se


pensar em processo patrimoniais. Ela é também uma tentativa de
rompimento com a semântica do termo “patrimônio” considerado
altamente machista e colonial.
___
165
Diogo Melo, Luane Santos, Nathália Romeiro, Thayron Rangel (Org.).

Neste contexto, entendemos que a Capela do Nosso


Senhor Bom Jesus do Bonfim da Água Vermelha, apesar de
normalmente pensada como um santuário, um território
sacro, ou até como um ponto turístico, ela é claramente um
lugar de memória (NORA, 1993). Funciona como um museu,
onde a história ou o mito52 de João de Camargo é mantido
vivo e, assim, permanece ativo no social. Talvez, apontar esse
lugar como um espaço museal soe um pouco redundante, mas
a intencionalidade desse ato, logo deste trabalho, é
evidenciar as epistemes que atravessam este lugar,
demarcando o fio da memória afro-diaspórica53.
Principalmente, para que este espaço seja amplamente
entendido como um lugar de memória e de resistência da
cultura negra e afro-diaspóricas, que demarca um quilombo
urbano e atesta a existência de um homem negro, que nasceu
escravizado e teve uma trajetória de vida demasiadamente
interessante e singular.
Sabemos que este lugar ainda é um local de
comemorações festivas, inclusive com relação ao movimento
negro e, que recebe apoio de diversas instituições afro-
religiosas. Mas gostaríamos de evidenciar o que a
corporeidade e a imagem de João de Camargo demarcam e,
não deixa esquecer, que este território, que esta Capela, foi
construída e mantida ao longo da história, por negros, sendo
até reconhecida como o núcleo principal de um quilombo
urbano.
No entanto, não devemos, ingenuamente, acreditar que
não houveram apagamentos, infelizmente, produzidos pelos
contextos racistas, sob os resquícios coloniais da nossa
sociedade. Logo, destacamos que a marca da negritude

52Como Simone (2018) apresentou em seu trabalho.


53 É importante registrarque, a Casa onde foi fundada a Umbanda na cidade
de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, foi demolida em 2011, não havendo
esforços por parte do governo, no que se refere à manutenção daquele
lugar de memória. Assim, a Capela do Nosso Senhor Jesus do Bonfim da
Água Vermelha, configura-se mesmo como um patrimônio, remanescente
das religiões afro-diaspóricas, sincréticas, anteriores à Umbanda.
___
166
Repensar o Sagrado: as tradições religiosas no Brasil e sua dimensão informacional

precisa ser evidenciada neste espaço, como episteme afro-


diaspórica, imaginário e corporeidade.
Lembramos que um tratamento museológico mais
especializado seria apenas para complementações. Por meio
de agentes facilitadores de comunicação e conservação, para
orientação e/ou tratamento do acervo e dos inúmeros
documentos ali encontrados, principalmente as museálias. No
entanto, de maneira alguma, este processo seria a essência
museal da qual estamos tratando. O caráter museal está
presente enquanto ente, uma aura, justaposta pela
materialização histórica, existente no espaço e,
principalmente, pelas relações humanas que ali habitam. Suas
corporeidades, materialidades e suas interações com o
mundo invisível, das entidades, divindades e santidades – de
sua história –, e apresentam-se nas dinâmicas, usos e laços
com o espaço.
Devemos, por fim, frisar que eleger e demonstrar a
musealidade em espaços não convencionados como museus,
nos favorece em processos de reintegração com as epistemes
que foram massacradas pelas estratégias de dominação
colonial. Possibilitam, desta forma, processos de
descolonização, particularmente, quando estes lugares estão
ligados a contextos culturais que historicamente foram
subalternizados, apagados e inferiorizados. Como no caso em
questão, cujas culturas da negritude afro-diaspórica, foram
marginalizadas diante dos processos racistas de nossa
sociedade. Desta forma, reivindicar a musealidade da Capela
do Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim das Águas
Vermelhas é um ato decolonial, no sentido de reempossar o
status ôntico perdido, revitalizando e injetando
potencialidades para esses espaços e suas relações.

REFERÊNCIAS
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