Science">
Entre A Liberdade e A Dependência - MINAYO E COIMBRA
Entre A Liberdade e A Dependência - MINAYO E COIMBRA
Entre A Liberdade e A Dependência - MINAYO E COIMBRA
MINAYO, MCS., and COIMBRA JUNIOR, CEA., orgs. Introdução: Entre a liberdade e a
dependência: reflexões sobre o fenômeno social do envelhecimento. In: Antropologia, saúde e
envelhecimento [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002. Antropologia & Saúde collection,
pp. 11-24. ISBN: 978-85-7541-304-3. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.
All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution
4.0 International license.
Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons
Atribição 4.0.
Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative
Commons Reconocimento 4.0.
INTRODUÇÃO
Introdução
Entre a Liberdade e a Dependência: reflexões
sobre o fenômeno social do envelhecimento
Maria Cecília de Souza Minayo & Carlos E. A. Coimbra Jr.
Reinauguração
Nossa idade – velho ou moço – pouco importa.
Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados
mais uma vez, e revestidos de beleza, a exata
beleza que vem dos gestos espontâneos e do
profundo instinto de subsistir enquanto as coisas
em redor se derretem e somem como nuvens
errantes no universo estável.
Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos olhos
gulosos a um sol diferente que nos acorda para
os descobrimentos.
Esta é a magia do tempo.
Esta é a colheita particular que se exprime no
cálido abraço e no beijo comungante, no
acreditar na vida e na doação de vivê-la em
perpétua procura e perpétua criação.
E já não somos apenas finitos e sós.
Carlos Drummond de Andrade
Somos sempre o jovem ou o velho em relação a alguém.
Pierre Bourdieu
11
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
reinaugurando, ano a ano, seu frágil projeto de felicidade após os 60, “entre o gasto
dezembro e o florido janeiro, entre a desmistificação e a expectativa, tornando a acredi-
tar, a ser bons meninos e, como bons meninos, reclamando a graça dos presentes
coloridos” (Andrade, 1966:56).
O Brasil dobrou o nível de esperança de vida ao nascer em relativamente poucas
décadas, numa velocidade muito maior que os países europeus, os quais levaram cerca
de 140 anos para envelhecer. Para se ter idéia do que isso significa, a esperança de vida
ao nascer dos brasileiros era de 33,7 anos em 1900; 43, em 1950; 65, em 1990; chega
quase a 70 anos na entrada do novo século; e prevê-se que ultrapasse os 75 anos em
2025. De 1950 a 2025 terá crescido 15 vezes, quando o restante da população terá
conseguido um incremento de 5 vezes. Apesar de todo esse incremento, a maioria das
pessoas nessa faixa etária está entre os 60 e os 69 anos, constituindo ainda menos de
10% da população total (Veras, 1995), quando na Europa, por exemplo, são as faixas
acima de 70 anos as que mais crescem. No entanto, um país já é considerado ‘velho’
quando 7% de sua população são constituídos por idosos.
A previsão dos demógrafos é de que no ano 2020 existam cerca de 1,2 bilhão
de idosos no mundo, dentre os quais 34 milhões de brasileiros acima de 60 anos, que,
nesse caso, corresponderão à sexta população mais velha do planeta, ficando atrás
apenas de alguns países europeus, do Japão e da América do Norte. Por tudo isso, é
muito importante ouvir a “lógica interna desse grupo socioetário” e contar com ele
para a realização de seus anseios e para a construção de um padrão de vida que lhes
seja adequado.
O que nos chamou a atenção, ao programarmos o trabalho aqui apresentado, é
que, até o momento, quase sempre outros atores têm falado pelos idosos. Se a focalizá-
los existem vários tipos de lentes, as fotografias das câmeras curiosas costumam não ir
além de luzes, sombras e cores que as aparências revelam. E como os que observam são
parte da perspectiva que adotam, o que fica das imagens são a contundência dos sinais
de desgaste dos corpos, os vincos nas faces, a voz mais cadenciada, o andar mais
vagaroso ou trôpego, a queda inexorável dos músculos e a fragilidade dos movimentos.
Esse retrato, que é feio em relação aos padrões de beleza que adotam o jovem como
símbolo, costuma receber um veredicto de quem o produz e de quem o contempla. É o
veredicto que assinala a velhice como problema e como doença.
Nosso interesse foi tentar ir além; fazer novas perguntas, olho no olho dos que estão
em plena estrada, ‘na chuva para se molhar’, e que por isso resistem ao rótulo que a socie-
dade quer lhes impor. Mais que isso, entender também os véus que cobrem a destinação
antecipada ao lugar social estereotipado que o aparente cuidado social lhes reservou: o
‘recolhimento interior’ (eufemismo para o afastamento do trabalho); a ‘inatividade’ (rotulação
dos aposentados e aposentadas); a ‘prevenção das possíveis doenças’ (medicalização da
idade) ou as ‘festinhas da terceira idade’ (infantilização dessa etapa da vida).
Foi dessa vontade de encontrar um espaço alternativo de reflexão, em que várias
possibilidades pudessem emergir – produzindo uma compreensão mais real das vivências,
dos desejos e da avaliação de sua situação que essa vasta camada da população
brasileira faz de si própria –, que surgiu a idéia de organizar este livro. Não optamos pela
realização de uma pesquisa original de cunho etnográfico, mas sim por reunir em uma
12
INTRODUÇÃO
13
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
14
INTRODUÇÃO
15
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
apoio da experiência dos velhos. Os mitos demonstram que, em face dos dilemas de
difícil solução, os novos dirigentes sucumbirão se não trouxerem, em seu socorro,
algum daqueles anciãos abandonados em cavernas para morrer. Assim, o saber ances-
tral dessas sociedades evidencia a importância da conciliação e do reconhecimento
intergeracional na obtenção do equilíbrio necessário à organização social.
16
INTRODUÇÃO
17
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
18
INTRODUÇÃO
19
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
20
INTRODUÇÃO
21
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
22
INTRODUÇÃO
R EFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, C. D. Poesias Completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1966.
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1981.
BOURDIEU, P. Questões de Sociologia. São Paulo: Marco Zero, 1983.
DEBERT, G. G. A antropologia e os estudos dos grupos e das categorias de idade. In: LINS DE
BARROS, M. M. (Org.) Velhice ou Terceira Idade? Estudos antropológicos sobre identi-
dade, memória e política. 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
DE MASI, D. O Ócio Criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
ELIAS, N. O Processo Civilizador: uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
23
ANTROPOLOGIA, SAÚDE E ENVELHECIMENTO
24