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Aula Sobre Elias

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Norbert Elias e a teoria

dos Processos
Civilizadores
Célio Juvenal Costa
(Breve) – Elias nasceu em 1897 na cidade de Breslaw (na época pertencia a
Alemanha, hoje Polônia) e faleceu em Amsterdã (Holanda) no ano
Biografia de 1990.
– Cursou Medicina e Filosofia.
“Os homens, sabemos, – Depois de se formar nas duas faculdades, escolheu fazer
doutorado em Filosofia. Como estudou Psicologia durante o curso
não são unívocos; ao recebeu o título de Doutor em Psicologia também.

contrário dos livros, não – Depois de formado e de ter trabalhado um tempo, se mudou para
Heidelberg, uma cidade universitária, e teve contato com Alfred
se pode esperar que não Weber, irmão mais novo de Max Weber, e Mannheim. Em
Heidelberg Elias estudou a relação entre arte e poder.
apresentem – Entre 1930 e 1935 morou em Frankfurt, como assistente de
Mannheim. Em 1935, depois de ficar um tempo em Paris, vai para
contradições.” a Inglaterra (Londres e depois Leicester), onde fica até 1975, com
interrupção de dois anos em que foi para Gana.
– Em 1975 vai para a Holanda, onde atinge a maturidade de sua
produção intelectual. Morre em 1990 em Amsterdã.
–Figuração
Conceitos
importantes –Poder
para a –Civilização
compreensão –Processos Sociais
do –Sociedade de Corte
pensamento
–Psicogênese
de
Norbet Elias –Sociogênese
–Indivíduo-social
– “A teoria do processo civilizador e da formação
Uma definição do Estado, a teoria simbólica do saber e das
da teoria ciências e, num sentido mais amplo, a teoria do
---------------- processo e da figuração, que eu empenhei em
elaborar, não são marxistas, liberais, socialistas
ou conservadoras. As doutrinas partidárias
ocultas, os ideais sociais mascarados pelo véu
da ciência parecem-me falsificações; acho-as,
além disso, estéreis. Era – e ainda é sem dúvida
uma das razões que explicam as dificuldades
colocadas por essas teorias e as obras que as
contêm.” (p. 148)
Teoria dos – A primeira obra escrita por Norbert Elias, em que começa a pensar
no Processo Civilizador é A Sociedade de Corte. Escrito em 1933
Processos como tese universitária. Publicada somente em 1969.
Civilizadores (1) – Por que estudar a Sociedade de Corte? O que foi a Sociedade de
Corte?
----------------
– Discussão sobre a relação entre a Sociologia e a História. A
necessidade de uma História Sociológica ou Sociologia Histórica.
– “Qual era a estrutura do campo social em cujo centro uma tal
figuração podia ser construída? Qual era a distribuição de poderes,
quais as exigências criadas socialmente, quais as relações de
dependência em jogo para que os indivíduos desse campo social
viessem a renovar ao longo de gerações sucessivas essa figuração,
convivendo na corte, numa sociedade de corte? Que exigências eram
transmitidas, a partir da construção da sociedade de corte, para
aqueles que desejavam prosperar ou apenas manter-se dentro
dela?”. (p. 61)
– A preocupação de Elias com o estudo da Corte
Teoria dos “Absolutista” é entender a formação da sociedade
Processos profissional-burguesa-urbano-industrial.
Civilizadores (2) – Duas nobrezas na Corte: noblesse d’épée (espada -
---------------- nobreza de sangue) e noblesse de robe (toga - nova
nobreza oriunda da alta burguesia).
– A etiqueta e o cerimonial dos reis.
– “É à etiqueta e ao cerimonial que todos os seus passos
estão ligados [Luís XIV], e é através deles que, em meio à
enorme afluência de pessoas, fica estabelecida com
precisão a distância que ele precisa conservar em relação
a elas, e vice-versa. Vistos assim, a etiqueta e o
cerimonial são instrumentos de dominação, formas de
expressar a coerção que o próprio poder exerce sobre o
seu detentor”. (p. 152)
– Publicado pela primeira vez em 1939, mas somente com a
republicação em 1969 é que teve repercussão.
Teoria dos
– Como ocorreu realmente a mudança na sociedade moderna,
Processos um processo “civilizador” do Ocidente? Em que consistiu e
quais foram as forças motivadoras ou causas desse
Civilizadores (3) processo? “É intenção deste estudo contribuir para a solução
dessas principais questões”. (p. 13)
----------------
– O conceito de civilização é o conceito que o Ocidente tem
de si mesmo, como distintivo das sociedades menos cultas
e, portanto, menos civilizados ou até incivilizadas.
– O conceito de civilité encontra-se relacionado à Sociedade
de Corte e teve como marco inicial a obra de Erasmo de
Roterdã, Da Civilidade Pueril.
– A mudança no comportamento dos indivíduos: a
psicogênese da Sociedade de Corte.
– A marca distintiva (ou pelo menos uma delas) do
comportamento civilizado moderno é o desenvolvimento da
“parede individual de emoções que parece hoje se erguer entre
um corpo humano e outro...” (p. 82). Na Idade Média se
comia no mesmo prato e se bebia na mesma taça e, ainda,
não se inibia os barulhos do corpo...
– Elias mostra que os conceitos de cortesia, civilidade e
Teoria dos civilização assinalam três estágios de desenvolvimento
Processos social, correspondentes (mais ou menos) aos séculos XVI,
XVII/XVIII e XIX. O uso frequente da palavra civilização indica
Civilizadores (4) que a sociedade considera que o processo atingiu seu final,
incluindo toda a sociedade (europeia) que se tornou
---------------- civilizada, e que, daí em diante, quis estender o status a
outras nações.
– Os manuais de bom comportamento, que se tornam
comuns a partir do século XVI.
– a criança deve em poucos anos, na nossa sociedade,
aprender a ter nojo e repugnância de certos
comportamentos, daquilo que a sociedade levou séculos
para desenvolver. A pressão pela civilidade das crianças não
vêm somente dos pais, mas é “sempre a sociedade com um
todo, todo o conjunto dos seres humanos, que exerce pressão
sobre a nova geração, levando-a mais perfeitamente, ou
menos, para seus fins” (p. 148).
– APÊNDICE: escrito em 1968.
Teoria dos
Processos – A teoria de Elias se contrapõe às teorias sociológicas
em voga, especialmente as positivistas.
Civilizadores (5)
– Para ele é tarefa da Sociologia compreender as
---------------- mudanças sociais de longo prazo, por isso a
necessidade de uma sociologia histórica (ou uma
histórica sociológica).
– Há a necessidade, nos estudos sobre o
desenvolvimento e mudanças na sociedade, de
estabelecer a ligação entre as estruturas psicológicas
individuais e as estruturas sociais, tomando-as como
interdependentes no desenvolvimento a longo prazo.
– O individual e o social são dois aspectos do mesmo ser
humano, pois há uma inter-relação indissolúvel.
– APÊNDICE:
Teoria dos
– As grandes teorias do século XIX (Comte, Spencer,
Processos Marx) se fundamentavam em concepções políticas e
Civilizadores (5) ideológicas de um futuro melhor e, portanto, tais
---------------- teorias se baseavam na evolução, na direção do
progresso da sociedade.
– Há duas correntes de pensamento e de política que
defendem ou a primazia do indivíduo (liberalismo) ou
do social (socialismo). Em ambas Elias vê parcialidades
que impedem o entrelaçamento do indivíduo com o
social.
– A teoria do processo civilizador de Elias se contrapõe à
concepção do homo clausus, ou seja, de que o homem é
um sujeito com sua individualidade e liberdade
intactas.
Teoria dos
Processos – APÊNDICE:
Civilizadores (5) – Para sair do “beco sem saída” das concepções que
---------------- isolam o indivíduo e a sociedade, é preciso considerar
tanto um quanto outro de “maneira tal que os dois
conceitos sejam levados a se referirem a processos”.
– Elias utiliza a metáfora da dança para entender a
sociedade como uma configuração de indivíduos. A
dança pode existir enquanto uma definição, mas existe,
de fato, somente quando duas pessoas dançam.
Teoria dos – APÊNDICE:
Processos – Elias define, ao final desta introdução, a sua teoria
Civilizadores (5) como Sociologia Configuracional: “A imagem do
homem como ‘personalidade fechada’ é substituída aqui
---------------- pela de ‘personalidade aberta’, que possui um maior ou
menor grau (mas nunca absoluto ou total) de autonomia
face de outras pessoas e que, na realidade, durante toda
vida é fundamentalmente orientada para outras pessoas
e dependente delas. A rede de interdependências entre os
seres humanos é o que os liga. Elas formam o nexo do
que aqui é chamado configuração, ou seja, uma estrutura
de pessoas mutuamente orientadas e dependentes. (...)
Muito mais apropriado será conjecturar a imagem de
numerosas pessoas interdependentes formando
configurações (isto é, grupos ou sociedades de tipos
diferentes) entre si.” (p. 249)
– A Sociogênese da Sociedade de Corte
Teoria dos – “É uma aristocracia de corte que abraça toda a Europa
Processos Ocidental, com seu centro em Paris, dependências em todas as
Civilizadores (6) demais cortes e afloramentos em todos os outros círculos que
alegavam pertencer à ‘Sociedade’, notadamente o estrato
---------------- superior da burguesia e até, em certa medida, as camadas da
classe média”. (P. 17-18)
– Segundo Elias, o aumento da quantidade de moedas em
circulação nos reinos fez com que os preços aumentassem, e
a nobreza empobrecesse devido o fato de que os alugueis de
suas terras era fixo, e fez, também, com que a riqueza do rei
aumentasse devido a arrecadação dos impostos. Essa foi
uma das pré-condições para que a monarquia passasse a ter
um caráter absoluto e ilimitado. Outra pré-condição foi,
derivado da primeira, a formação de um exército real que
tornava o rei independente dos seus vassalos. A terceira pré-
condição foi a transformação das técnicas militares.
Teoria dos – A sociedade denominada de moderna ocorreu no Ocidente
e foi resultado de um certo nível de monopolização. “Apenas
Processos quando surge esse monopólio permanente da autoridade
Civilizadores (7) central, e o aparelho especializado para administração, é que
esses domínios assumem o caráter de ‘Estados’”. (p. 97)
---------------- – A Sociedade de Corte como uma “teia geral de
interdependências” (p. 106)
– Elias mostra que a existência da sociedade monopolizada,
que se inicia com a Sociedade de Corte, ganha nova feição
com a burguesia que refinou a existência dos monopólios,
tanto que a existência da democracia não está em
contradição com a existência dos monopólios, muito ao
contrário: “pressupõe monopólios altamente organizados e só
pode surgir ou sobreviver em certas circunstâncias, numa
estrutura social muito específica e num estágio bem avançado
de formação de monopólios”. (p. 105)
Teoria dos – Na Sociedade de Corte o rei, na tarefa de manter o equilíbrio
social, não pode se aproximar demais de qualquer dos grupos, pois
Processos pode colocar contra si o(s) outro(s) grupo(s) que compõem a
Civilizadores (8) sociedade. Tem, também, que, de certa forma, manter a rivalidade
entre os grupos para que eles não se unam e, dessa forma, não
---------------- mais necessitem de um poder central que os mantenha em
equilíbrio. Esse jogo do equilíbrio entre as partes tensionadas é
exemplificado por Elias pela brincadeira do cabo de guerra (p. 150).
Só assim o governante central manterá sua força, pois
individualmente ele é muito inferior.
– A passagem dos monopólios pessoais, característica da sociedade
de corte, para os monopólios estatais, é o que marca o
surgimento, de fato, do Estado: “Só nessa ocasião, os monopólios
pessoais passaram a tornar-se monopólios públicos no sentido
institucional. Numa longa série de provas eliminatórias, na gradual
centralização dos meios de violência física e tributação, em
combinação com a divisão do trabalho em aumento crescente e a
ascensão das classes burguesas profissionais, a sociedade francesa
foi organizada, passo a passo, sob a forma de Estado”.
Teoria dos – Assim como no vol. 1, no segundo volume, também
publicado em 1939 e reeditado em 1969 com bem mais
Processos sucesso, Elias escreve um apêndice (parte II) em que
Civilizadores (9) sugere uma Teoria dos Processos Civilizadores.
---------------- – Mostra em que consiste o comportamento civilizado:
uma segunda natureza, um novo habitus, em que a
razão, o autocontrole deve prevalecer.
– Elias afirma que o processo civilizador “constitui uma
mudança na conduta e sentimentos humanos rumo a
uma direção muito específica”. Mas nada de forma
planejada conscientemente. Tal mudança nos
comportamentos não “constitui uma mera sequência de
mudanças caóticas e não-estruturadas”. A mudança não
é nem racional (deliberação proposital) e nem irracional
(incompreensível). (p. 193)
– Uma síntese da mudança de comportamento do ser humano ao longo
Teoria dos da história, desde a Idade Média até a atualidade: “Mas, ao mesmo
Processos tempo, o campo de batalha foi, em certo sentido, transportado para
dentro do indivíduo. Parte das tensões e paixões que antes eram
Civilizadores (10) liberadas diretamente na luta de um homem com outro terá agora que
ser elaborada no interior do ser humano. As limitações mais pacíficas a
---------------- ele impostas por outras relações com outros homens espelham-se dentro
dele; um padrão individualizado de hábitos semi-automáticos se
estabeleceu e consolidou nele, um ‘superego’ específico que se esforça
por controlar, transformar ou suprimir-lhe as emoções de conformidade
com a estrutura social. Mas os impulsos, os sentimentos apaixonados
que não podem mais manifestar-se diretamente nas relações entre
pessoas frequentemente lutam, não menos violentamente, dentro delas
contra essa parte supervisora de si mesma. Essa luta semi-automática
da pessoa consigo mesma nem sempre tem solução feliz, nem sempre a
autotransformação requerida pela vida em sociedade leva a novo
equilíbrio entre satisfação e controle das emoções. Frequentemente, fica
sujeita a grandes ou pequenas perturbações -, à revolta de uma parte da
pessoa contra a outra, ou a uma atrofia permanente – que torna o
desempenho das funções sociais ainda mais difícil, se não impossível. As
oscilações verticais, os saltos do medo à alegria, do prazer ao remorso,
se reduzem, ao mesmo tempo que a fissura horizontal que corre de lado
a outro da pessoa, a tensão entre o ‘superego’ e o ‘inconsciente’. – os
anelos e os desejos que não podem ser lembrados – aumentam.” (p. 203)
– O ser humano não é, de fato, civilizado; ele está (ou pode estar)
em um processo civilizatório: “Só com a eliminação das tensões e
Teoria dos conflitos entre os homens é que esses mesmos tensões e conflitos
que operam dentro dele podem se tornar mais brandos e menos
Processos nocivos às suas probabilidades de desfrute de vida. Neste caso, não
precisará ser mais a exceção, talvez venha a tornar-se mesmo a
Civilizadores (11) regra que o indivíduo possa alcançar o equilíbrio ótimo entre suas
paixões imperiosas, a exigir satisfação e realização, e as limitações a
---------------- ele impostas (sem as quais continuaria a ser um animal selvagem e
um perigo tanto para si mesmo como para os demais) – enfim, possa
chegar àquela condição a que com tanta frequência nos referimos
com palavras altissonantes, como ‘felicidade’ e ‘liberdade’: um
equilíbrio mais durável, uma sintonia mais fina, entre as exigências
gerais da existência social do homem, por um lado, e suas
necessidades e inclinações pessoais, por outro. Se a estrutura das
configurações humanas, de sua interdependência, tiver essas
características, se a coexistência delas, que afinal de contas é a
condição da existência individual de cada uma, funcionarem de tal
maneira que seja possível a todos os assim interligados alcançar tal
equilíbrio, então, e só então, poderão os seres humanos dizer a
respeito de si mesmos, com alguma justiça, que são civilizados. Até
então, estarão, na melhor das hipóteses, em meio a um processo de
se tornarem civilizados. Até então poderão dizer, quando muito: o
processo civilizador está em andamento, ou como o velho d’Holbach:
‘la civilisation... n’est pas encore terminée.’”. (p. 273-274)
– O livro é constituído de 3 partes. A primeira foi escrita em 1939,
com base em uma passagem de O Processo Civilizador; a segunda
parte foi concebida entre 1950 e 1960; a parte III é mais recente,
da década de 1980.
– O dualismo eu-nós (indivíduo X sociedade), como entidades
separadas, deve ser superado: “[...] Continuaremos a criar
problemas de debate e de pesquisa no que diz respeito à relação
entre indivíduo e sociedade que assim permanecerão inacessíveis,
enquanto imaginarmos o ser humano, e desde logo nós próprios,
como um Eu desprovido do Nós”. (p. 18)
– A história é resultado das imposições da teia de
interdependências: “[...] Assim – portanto a partir de imposições da
teia de interdependências – se produziram e produzem tanto os dias
mais pacíficos da história como os dias mais belicosos e revoltosos,
tanto tempos de ouro como períodos de decadência, tanto fases de
arte sublime como as de epigonismo [tempos de imitação]. Todas
estas transformações têm a sua origem não na natureza de seres
humanos singulares mas na estrutura de coabitação de muitos. A
história é sempre a história de uma sociedade, mas com toda a
certeza a de uma sociedade de indivíduos”. (p. 65)
– Elias reflete sobre a distância entre a vida adulta e a infância.
Numa sociedade como a nossa, em que ser adulto significa o
controle das pulsões e a sua introjeção (a formação do superego),
a distância é muito maior; na sociedade medieval, a distância era
menor. E isto se reflete na educação: “[...] Quanto mais intensa e
abrangente for a regulação dos impulsos, quanto mais sólida a
formação do superego, que as funções de adulto de uma sociedade
exigem para o desempenho das mesmas, tanto maior se torna
irremediavelmente a distância entre o comportamento das crianças
e o dos adultos; tanto mais penoso se torna o espaço de tempo
necessário à preparação da criança para o desempenho das funções
de adulto. É precisamente pelo facto de o abismo, entre a conduta
das crianças e a que se espera de um adulto, ser tão profundo que a
pessoa em crescimento não é diretamente colocada tão cedo como
criança, à semelhança do que sucedia em sociedades mais simples,
no primeiro degrau da carreira de funções cujo último deverá um dia
alcançar. Ela não aprende e não se forma directamente pelo
trabalho ao serviço de um mestre adulto da sua futura função, como
ainda acontecia com o escudeiro do cavaleiro ou o aprendiz o mestre
na Idade Média, mas é inicialmente apartada da sociedade e da
esfera vital dos adultos por um longo período ainda em crescimento.
A juventude das camadas funcionais cada vez mais largas já não é
directa mas indirectamente pré-formada para a vida adulta em
institutos especializados , na escola e na universidade”. (p. 47-48)
– Um resumo interessante acerca da disputa entre os que defendem
a primazia do indivíduo e os que defendem a sociedade no
movimento da história: “Já várias vezes acima se tem feito
referências a um certo jogo social ao qual determinados grupos da
sociedade ocidental se dedicam sempre do [sic] novo com grande
entusiasmo. Aí, defrontam-se dois partidos. Uns dizem ‘Tudo
depende do indivíduo’. Os outros dizem: ‘Tudo depende da
sociedade’. Os primeiros dizem: ‘Mas são sempre, e exclusivamente,
os indivíduos singulares que se decidem a fazer ou não determinadas
coisas’. Os segundos dizem: ‘Mas as suas decisões são condicionadas
pelas da sociedade’. Uns dizem: ‘Mas aquilo a que vós chamais o
‘condicionamento’ social de uma pessoa só se dá pelo facto de
outras quererem e fazerem algo’. Os outros dizem: ‘Mas aqui que
esses outros seres humanos singulares querem e fazem é por sua vez
socialmente condicionado’. // Lentamente começa a dissolver-se o
encanto que mantém o pensamento do homem preso a alternativas
desse tipo. Na verdade, também a maneira como um ser humano
singular se decide e age se desenvolveu pelas suas relações com os
outros, pela assimilação social da sua natureza. Contudo, o que
assim é desenvolvido não é apenas algo de passivo; não é apenas
uma moeda idêntica a outras mil mas o centro de atividade da
pessoa singular, a sua direcção de impulsos e vontade pessoal, em
resumo, o seu verdadeiro ‘si mesmo’. O que assim é desenvolvido é
ao mesmo tempo algo que marca: é a autocondução individual da
pessoa singular em relação com outras pessoas que impõe limites à
autocondução destas. O ser humano singular é, falando em
palavras-chave, simultaneamente a moeda e o cunho”. (p. 75)

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