Educacao Intercultural Letramentos de Resistencia e Formacao Docente
Educacao Intercultural Letramentos de Resistencia e Formacao Docente
Educacao Intercultural Letramentos de Resistencia e Formacao Docente
Educação intercultural,
letramentos de resistência
e formação docente
Rodriana Dias Coelho Costa
Edinei Carvalho dos Santos
Kleber Aparecido da Silva
(Orgs.)
Educação intercultural,
letramentos de resistência
e formação docente
Campinas, SP
2021
Palavra dos editores
KANAVILLIL RAJAGOPALAN
UNICAMP, UESB, UFT E CNPQ
19 A P R E S E N TA Ç Ã O
Rodriana Dias Coelho Costa
Edinei Carvalho dos Santos
Kleber Aparecido da Silva
27 C A P Í T U LO 1
O C U R R Í C U L O E N Q U A N T O E S PA Ç O D E
C O N S T R U Ç Ã O D A I D E N T I D A D E E D I Á LO G O
DE SABERES INDÍGENAS
Rosilene Cruz de Araujo
51 C A P Í T U LO 2
C O R R I D A D E T O R A S : J O G O D I D Á T I C O PA R A
U M E N S I N O I N T E R C U LT U R A L
Elisa Augusta Lopes Costa
81 C A P Í T U LO 3
E D U C A Ç Ã O I N T E R C U LT U R A L E C U R R Í C U L O :
N O P R O J E T O P O L Í T I C O - P E D A G Ó G I C O, O
REENCONTRO COM A ANCESTRALIDADE, A
I D E N T I D A D E E O “ S E R I N D Í G E N A”
Ema Marta Dunck Cintra
105 C A P Í T U L O 4
I N T E R C U LT U R A L I D A D E E E D U C A Ç Ã O
ESCOLAR INDÍGENA EM NÍVEL SUPERIOR
Maria Gorete Neto
129 C A P Í T U L O 5
O L U G A R D E P E RT E N C I M E N T O É T N I C O N A
UNB: UM OLHAR DISCURSIVO CRÍTICO DA
DIVERSIDADE
Núbia Batista da Silva- Nubiã Tupinambá
155 C A P Í T U L O 6
I N T E R C U LT U R A L I D A D E E E D U C A Ç Ã O
INDÍGENA NO CONTEXTO BRASILEIRO:
ALGUMAS REFLEXÕES
Rodriana Dias Coelho Costa
Kleber Aparecido da Silva
191 C A P Í T U L O 7
“TEM MOMENTOS QUE A GENTE TEM QUE
S E C O M P O RTA R C O M O TA L” : P R Á T I C A S
DE LETRAMENTOS COM UMA ACADÊMICA
INDÍGENA AKWẼ XERENTE
Suety Líbia Alves Borges
221 C A P Í T U L O 8
EDUCAÇÃO INDÍGENA E OS DESAFIOS NA
FORMAÇÃO LINGUÍSTICA DOS PROFESSORES
– R E L AT O D E E X P E R I Ê N C I A S
Áurea Cavalcante Santana
237 C A P Í T U L O 9
L E T R A M E N T O S : A E S C R I TA N O C Á R C E R E
Maria Aparecida de Sousa
265 C A P Í T U L O 10
A E S C R I TA D E P E S S O A S P R I VA D A S D E
LIBERDADE: O LETRAMENTO COMO
REEXISTÊNCIA
Amanda Moreira Tavares
Tânia Ferreira Rezende
301 C A P Í T U L O 11
LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA EM
C O N T E X T O D E L U TA P O R T E R R A E
T E R R I T Ó R I O N A C H A PA D A D O A P O D I
N O RT E - R I O - G R A N D E N S E
Glícia Azevedo Tinoco
Adriana Vieira das Graças
337 C A P Í T U L O 12
L E T R A M E N T O S E VA R I A Ç Ã O L I N G U Í S T I C A
EM CONTEXTO CIGANO
Maria Marlene Rodrigues da Silva
Rosineide Magalhães de Sousa
367 C A P Í T U L O 13
PRÁTICAS E EVENTOS DE LETRAMENTOS
E M C O N T E X T O S D E L U TA E R E S I S T Ê N C I A :
UMA EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA NO
Q U I L O M B O M E S Q U I TA - G O I Á S ( G O )
Edinei Carvalho dos Santos
Kleber Aparecido da Silva
411 P O S F Á C I O
LENDO CRÍTICOS, CRITICAMENTE
Wilmar da Rocha D’Angelis
417 S O B R E O S / A S O R G A N I Z A D O R E S / A S
419 S O B R E O S P R O F E S S O R E S C O L A B O R A D O R E S
Apresentação
19
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
20
Apresentação
21
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
22
Apresentação
23
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
24
Apresentação
25
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
26
CAPÍTULO 1
27
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
28
Capítulo 1
29
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
30
Capítulo 1
31
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
32
Capítulo 1
33
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
34
Capítulo 1
35
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
36
Capítulo 1
37
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
38
Capítulo 1
39
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
40
Capítulo 1
41
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
42
Capítulo 1
43
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
44
Capítulo 1
45
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
pelas escolas, objeto desta pesquisa e por outras, fruto da minha ca-
minhada frente à educação escolar indígena, ainda são muito fragi-
lizadas, fragmentadas, pontuais. Reconhecemos e defendemos que
estão no caminho certo e costumo dizer que esse instrumento, esse
modelo tão desejado pelos povos indígenas, ainda está em cons-
trução e, para firmar essa construção, consideramos importante a
pedagogia de projetos e da pesquisa, na reformulação do currículo
por área do conhecimento, na promoção da interdisciplinaridade,
através de um projeto de estudo ou um projeto de trabalho, que
ajude a minimizar os problemas da educação escolar, favorecendo
uma educação de qualidade.
Propor mudanças para um modelo de educação enraizada-
mente tradicionalista, difundido, construído por séculos de domi-
nação e dele apropriar-se, tem sido muito difícil para o povo Pataxó
e Tuxá, mesmo não estando sós, mesmo apoiados na legislação in-
dígena e no movimento social organizado dos povos indígenas do
estado da Bahia e do Brasil.
A formação crítica com vistas para uma intervenção social di-
nâmica na reorientação das práticas educacionais escolares e na
reformulação do currículo da escola indígena é urgente, pois não
queremos aqui destruir a base do modelo que se inspira nas práti-
cas tradicionais de ensino, mas mostrar, e provar, que o modelo de
educação que perdura na sociedade baiana e brasileira é pouco ou
menos útil para esses povos, que buscam um contexto específico e
diferente do modelo vigente. Sabemos e reconhecemos que houve
conquistas importantes, as quais não se podem negligenciar. Sa-
bemos também que não se destrói um modelo de estrutura social
importante sem outro para substituí-lo, simplesmente por discor-
dância em relação a alguns aspectos e parte de seu funcionamento.
Enquanto professores e professoras indígenas pesquisadores
e pesquisadoras, que vivenciamos o processo da busca de novos
46
Capítulo 1
REFERÊNCIAS
47
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia – Coleção Leitura. Paz e Terra, São Paulo, 1996.
48
Capítulo 1
LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre
os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília. Ministério da Educação, Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. LACED/Museu Nacional, p.
128-171, 2006.
MELIÁ, B. Educação indígena na escola. Cadernos CEDES, v. 19, n. 49. p. 14, 1999.
49
CAPÍTULO 2
INTRODUÇÃO
51
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
52
Capítulo 2
53
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
54
Capítulo 2
55
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
56
Capítulo 2
57
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
58
Capítulo 2
59
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
60
Capítulo 2
61
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
62
Capítulo 2
A educação bilíngue não deve ser apenas uma ponte para che-
gar à sociedade nacional. A educação bilíngue deve considerar as
culturas dos povos indígenas para, posteriormente, gerar um di-
álogo crítico e criativo com outras culturas. Nesse aspecto, uma
educação bilíngue bem entendida deve estar orientada para uma
interculturalização regional, nacional e internacional. (MORI,
2001, p. 167).
63
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
64
Capítulo 2
65
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
66
Capítulo 2
67
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
68
Capítulo 2
69
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
70
Capítulo 2
71
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
72
Capítulo 2
Assim ... a gente escreve o nome ... por exemplo, das frutas. Para
falar, eles aprendem mais rápido ...mas na leitura ... eles tem di-
ficuldade de relacionar o que está escrito com o que foi falado ...
e eles precisam então treinar mais. E eles gostaram, também, da
brincadeira ... então ... ((o material)) ajudou sim, porque antes, na
hora das perguntas, eles ficavam com medo, mas agora, com a
corrida, eles já ficam mais animados, porque pensam: se eu acer-
tar, a torinha vai andar, já vai chegar primeiro no final. (Prof. E).
Sim ... no primeiro dia, ... eles ... como eles são tímidos, eles têm,
assim, vergonha ... mas aos poucos foram se adaptando. Agora, eles
gostam, porque também é uma aula dinâmica e eles aprendem. [...]
Eles participam, participam agora ... Perderam a vergonha ... agora,
eles participam bastante. Foi muito bom para eles. (Prof. I).
73
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Ajudou ... eles gostaram ... perguntaram é só isso que pode brin-
car? Não, eu falei, pode brincar também na matemática ... outras
coisas também ... eu falei assim pra eles, e eles gostaram ... quero
usar de novo ... eu usei também aquele da torinha ... eu pergun-
tava algumas coisas ... perguntei assim 3x3, 4x5 ... e cada partido,
quando acertava, a torinha andava... com isso, eles animaram, foi
bom. (Prof. H).
74
Capítulo 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
75
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
76
Capítulo 2
ed.
BRASIL. Diretrizes para a Política Nacional de Educação Escolar Indígena. 2.
Brasília: MEC/ SEF/DPEF, 1994.
BRASIL. Lei federal 10.172. Plano Nacional de Educação. Brasília: MEC, 2001.
FREINET, C. Pedagogia do bom senso. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
77
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
78
Capítulo 2
MORI, A. C. A língua indígena na escola indígena: quando, para que e como? In:
VEIGA, Juracilda; SALANOVA, A (Orgs). Questões de educação escolar indígena: da
formação do professor ao projeto de escola. Brasília: FUNAI/DEDOC, Campinas/
ALB: 2001. p. 160-171.
PLATÃO. A república. Trad. Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
79
CAPÍTULO 3
INTRODUÇÃO
1 * Este texto traz parte da tese acadêmica (não publicada) intitulada Do silêncio à
vitalidade sociocultural dos Chiquitano do Portal do Encantado, Mato Grosso, Brasil
(DUNCK-CINTRA, 2016).
81
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
3 O povo vivia num único território, porém as coroas de Portugal e Espanhol di-
vidiram o espaço e, consequentemente, uma parcela menor ficou no lado brasileiro.
82
Capítulo 3
83
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
84
Capítulo 3
85
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
86
Capítulo 3
87
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
88
Capítulo 3
89
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
90
Capítulo 3
91
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
10 Erozina Divina Pimenta Ando, técnica da Educação Escolar Indígena, mediadora
do processo da construção do PPP na comunidade, relatou que após a abertura dos
trabalhos, em uma reunião ampliada, quando questionados se os pais e os anciãos de-
veriam permanecer no evento, eles afirmaram: “Precisam ficar, sim. Vocês vão ajudar
a pensar o que é melhor para nossa comunidade”.
92
Capítulo 3
93
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
94
Capítulo 3
95
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
12 No PPP aparece a voz que nos remete à política educacional vigente no país em
relação aos povos indígenas. Nos relatos das entrevistas com os anciãos, estão claras a
proibição da língua materna na escola e a imposição da língua portuguesa: “Aí quando
comecei na escola, já aprendi a falar o português. Proibiram. Não, não vai falar na lín-
gua. Aí foi largando, largando. Professor proibiu. Apanhava com um negócio que tinha
um buraquinho, batia na mão, na cabeça” (L. R. R., 70 anos); “A escola que teve aqui é
em português, escola dos brancos. Caso que a gente já foi na escola dos brancos, e
aprendeu a falar português. Até o idioma da gente ficou de lado” (M. A., S. 32 anos). O
objetivo maior da política educacional para os povos indígenas era a integração deles
à comunhão nacional.
96
Capítulo 3
Se ao povo não foi dada outra possibilidade, a não ser silenciar sua
língua materna, com o PPP reitera-se a importância de se estudar a
língua ancestral como um símbolo poderoso de identidade:
Pra mim foi bom, porque é uma escola que é nossa, onde nós
aprendemos a nossa cultura e que também outras pessoas assim
97
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
98
Capítulo 3
REFERÊNCIAS
99
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. Trad. Izidoro Blikstein et al. São Paulo:
Cultrix, 2007.
100
Capítulo 3
FREIRE, P. Educação e mudança. 12. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 58. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.
LUCIANO, G. S. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas
no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação/Secad; Museu Nacional, 2006.
101
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
SACRISTÁN, J. G. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3. ed. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2017.
102
Capítulo 3
103
CAPÍTULO 4
Interculturalidade e educação
escolar indígena em nível superior
MARIA GORETE NETO
UFMG
INTRODUÇÃO
Este trabalho faz uma reflexão sobre o conceito interculturalidade
partindo de algumas experiências no curso de licenciatura em For-
mação Intercultural para Educadores Indígenas (FIEI) da Univer-
sidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Assumo de antemão que
compreendo o conceito interculturalidade, a partir de Walsh (2006,
2012), como algo a ser sempre construído, um desafio que implica
diálogo e negociação constantes e predisposição à desconstrução
de certezas teórico-medotodológicas e epistêmicas, com o intuito
de desestabilizar estruturas que sustentam a desigualdade social.
O debate sobre interculturalidade vem sendo realizado há al-
gumas décadas na América Latina (WALSH, 2006, 2012; CANDAU,
2009, CANDAU; RUSSO, 2010, dentre outros). Candau (2009) afir-
ma que a primeira definição deste termo é atribuída a dois linguis-
tas-antropólogos venezuelanos: Mosonyi e Gonzales (cf. CANDAU,
2009, p. 1) que buscavam descrever suas experiências junto a povos
indígenas do Rio Negro, na Venezuela, no contexto da educação es-
colar indígena, na década de 70.
105
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
106
Capítulo 4
107
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
108
Capítulo 4
1 Tradução livre.
109
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
110
Capítulo 4
111
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
112
Capítulo 4
113
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
114
Capítulo 4
115
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
116
Capítulo 4
117
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
118
Capítulo 4
119
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
120
Capítulo 4
121
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
122
Capítulo 4
123
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
124
Capítulo 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
125
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
BRAZ, U. C. O ensino de língua patxôhã na Escola Indígena Pataxó Barra Velha: uma
proposta de material didático específico. 2016. 73 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Licenciatura), Habilitação em Línguas, Artes e Literatura. – Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2016.
126
Capítulo 4
construção plural, original e complexa, Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 10, n. 29, p.
151-169, jan./abr. 2010.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix. (Org. Charles
Bally e Albert Sechehaye), 1970.
127
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
128
CAPÍTULO 5
INTRODUÇÃO
Este artigo tem como intenção trazer uma reflexão sobre as narra-
tivas do lugar de pertencimento étnico na UnB: um olhar discursivo
da diversidade. Tendo como objetivo mostrar como os estudantes
indígenas afirmam o seu pertencimento étnico frente ao não reco-
nhecimento por parte da instituição sobre a diversidade étnica pre-
sente em seu câmpus. O contexto de pesquisa deste trabalho está
relacionado ao resultado da minha pesquisa de mestrado defendida
em 2017, que tem como título: Identidades, vozes e presenças indíge-
nas na UnB: sob a ótica da Análise de Discurso Crítica.
A referida pesquisa mostrou que na Universidade de Brasília há
a reprodução de diversos tipos de discriminação (olhares surpresos
no sentindo negativo, a negação do lugar de origem, a negação da
presença do outro, a invisibilidade da diversidade, a manutenção da
129
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
130
Capítulo 5
Por esse motivo, as vozes que faço ecoar aqui, unidas a minha
voz, estão a perseguir os valores descritos pela própria Instituição
em sua Missão Institucional1
2 O termo parente siginifa sentir que somos pertencentes a única família. A dos Po-
vos originários. E que pode ser expandido para todos que somos filhos de uma única
mãe. A nossa Mãe Terra.
131
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
132
Capítulo 5
133
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
“Hoje eu me orgulho muito de, por quê porquê, você sabe mui-
to bem, que, mesmo com toda essa ancestralidade, mesmo que
essa ancestralidade que nós carregamos, dentro de nós, nós so-
mos seres humanos, somos seres humanos, e que nós estamos aí,
abertos também a contaminação a não a abertos a contaminação,
poluição mundana” (Cf. SILVA, 2017, p. 122).
134
Capítulo 5
135
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
136
Capítulo 5
137
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
138
Capítulo 5
139
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
140
Capítulo 5
141
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
142
Capítulo 5
143
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
144
Capítulo 5
145
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFLETINDO
146
Capítulo 5
147
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
148
Capítulo 5
DIAZ, R.; ALONSO, G. Cultura, pedagogia e política. Algunas refl exiones acerca de
los cruces entre interculturalidad y educación popular. XX Encuentro Nacional de
Antropologia Social. La Plata: agosto, 1998.
149
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FREIRE, P. Educação como Prática da Liberdade. 19º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1967.
______. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 23 ed. São
______. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
______. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
______. Por uma Pedagogia da Pergunta. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1985.
150
Capítulo 5
SANTOS, B. S. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. Coleção para
uma novo censo comum. 3ª Edição. São Paulo: Cortez, 2010.
151
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios
de comunicação de massa. 9ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
152
Capítulo 5
153
CAPÍTULO 6
Interculturalidade e educação
indígena no contexto brasileiro:
algumas reflexões
(JECUPÉ, 2002)
INTRODUÇÃO
A realidade educacional indígena brasileira revela momentos de
incertezas. As políticas indigenistas, que propagam discussões e
tensões decorrentes de movimentos sociais, reivindicam o direito à
155
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
1 Saberes tradicionais se referem aos diversos saberes culturais que cada sujeito
constrói a partir de seu conhecimento de mundo e suas experiências.
156
Capítulo 6
157
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
158
Capítulo 6
159
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
160
Capítulo 6
161
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
162
Capítulo 6
3 Educação bancária é uma concepção formulada por Freire, em que “o saber é uma
doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber [...] na concepção bancária
que estamos criticando, para a qual a educação é o ato de depositar, de transferir, de
transmitir valores e conhecimentos, não se verifica nem pode verificar-se esta supe-
ração” (FREIRE, 2005, p.67).
163
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
164
Capítulo 6
165
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
166
Capítulo 6
167
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
168
Capítulo 6
169
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
170
Capítulo 6
171
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
[...] nestes trinta anos, desde que o termo foi acunhado na região,
a aceitação da noção transcendeu o âmbito dos programas e pro-
jetos referidos aos indígenas e hoje um número importante de
países, do México à Terra do Fogo, veem nela uma possibilidade
de transformar tanto a sociedade em seu conjunto como também
os sistemas educativos nacionais, no sentido de uma articulação
mais democrática das diferentes sociedades e povos que inte-
gram um determinado país. Desde este ponto de vista, a intercul-
turalidade supõe agora também abertura diante das diferenças
étnicas, culturais e linguísticas, aceitação positiva da diversidade,
respeito mútuo, busca de consenso e, ao mesmo tempo, reco-
nhecimento e aceitação do dissenso, e na atualidade, construção
de novos modos de relação social e maior democracia.
172
Capítulo 6
173
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
7 Operação Anchieta (Opan), Comissão Pró-índio de São Paulo (CPI-S P), Comis-
são Pró-índio do Acre (CPI-Acre), Centro Ecumênico de Documentação e Informação
(Cedi), que se desvinculou do Centro e criou o Núcleo de Direitos Indígenas (NDI),
que posteriormente, tornou-se Instituto Socioambiental (ISA), Associação Nacional
de Apoio ao Índio (ANAI), Centro de trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista
Missionário (CIMI), Organização de Professores Indígenas do Pernambuco (Copipe),
Organização dos professores Indígenas de Rondônia (Opiron), dentre outros (Conse-
lho indigenista Missionário-CIMI, 2002).
174
Capítulo 6
175
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
176
Capítulo 6
177
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
178
Capítulo 6
METODOLOGIA DE PESQUISA
179
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
180
Capítulo 6
181
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
ALGUMAS REFLEXÕES
182
Capítulo 6
183
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
184
Capítulo 6
REFERÊNCIAS
BHABHA, H. K. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 2013.
185
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
JECUPÉ, K. W. Oré Awé Roiru’a Ma. Todas as vezes que dissemos adeus. 2ª ed. São
Paulo: Trion, 2002.
186
Capítulo 6
______. Uma linguística aplicada transgressiva. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.) Por
uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
187
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
QUIJANO, A. Colonialidad del poder y clasifi cación social. In. CASTRO-GÓMES, S.;
GROSFOGUEL, R. El giro decolonial: reflexiones para uma diversidad epistémica más
allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2007.
188
Capítulo 6
189
CAPÍTULO 7
1 * Este trabalho constitui parte de uma pesquisa mais ampla sobre o tema, compon-
do assim, minha tese de doutorado. Agradeço as contribuições da leitura crítica feita
pelo professor e orientador Dr. André Marques do Nascimento, grande referência na
área dos estudos da linguagem, e eu acrescentaria vida, linguagem e vida em suas
nuances sociais mais sensíveis.
191
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
INTRODUÇÃO
Inspirada por esta epígrafe que tem Foucault como autor, há que
se prevenir que, neste artigo, sou envolvida e levada pelas palavras,
antes mesmo de qualquer possível ambição e ou preocupação desta
escrita ser ou não considerada como ciência, a fim de não incorrer
no risco alertado por Ailton Krenak (2019, p. 63), um dos maiores
líderes do movimento indígena, no Brasil: “Na verdade, a ciência in-
teira vive subjugada por essa coisa que é a técnica. Há muito tempo
não existe alguém que pense com a liberdade do que aprendemos a
chamar de cientista”. Portanto, é reivindicando essa liberdade que
este texto se faz. Esse mesmo autor critica, ainda, que, é sob a égide
do que se (auto)denomina humanidade, que se pratica uma infinida-
de de atos desumanos, violentos. Krenak (2019, p. 10-11) pergunta:
“como é que, ao longo dos últimos 2 mil ou 3 mil anos, nós construí-
mos a ideia de humanidade? Será que ela não está na base de muitas
escolhas erradas que fizemos, justificando o uso da violência?”.
Logo após a leitura do livro Ideias para adiar o fim do mundo, de
Ailton Krenak (2019), embriagada com tanta beleza e sabedoria do
autor, li parte do Dossiê O pós-humano é agora: pós-humanismo,
ação e significação do periódico “Trabalhos em Linguística Apli-
cada”2 e a palavra que ficou impregnada em mim foi esperança,
em especial, ao ler Ribas (2019, p. 615) afirmar: “temos estudiosos
que acreditam que já estamos vivendo uma época pós-humana, no
sentido de que não nos conformamos mais ao modelo humanista
de humano”.
“Espiando”, brevemente, alguns dos artigos, comecei a pensar
se os letramentos que pretendo abordar podem ser considerados
192
Capítulo 7
3 Adoto a definição trazida por Street (2012, p. 76), para quem “o conceito de prá-
ticas de letramento é realmente uma tentativa de lidar com os eventos e com os pa-
drões de atividades de letramento, mas para ligá-los a alguma coisa mais ampla de
natureza cultural e social. E parte dessa ampliação envolve atentar para o fato de que
trazemos para um evento de letramento conceitos, modelos sociais relativos à natu-
reza da prática e que o fazem funcionar, dando-lhe significado”.
193
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
194
Capítulo 7
195
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
196
Capítulo 7
197
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
198
Capítulo 7
199
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
200
Capítulo 7
201
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Portanto, o ser humano pode ser letrado com o que está a sua
volta: o som ou até o silêncio do lugar. Perto do rio, ar puro e
fresco, o contato com a natureza onde há a renovação da espe-
rança. Tem, também, a comunicação do luar: quando um casal
está longe, com a única lua alumiando os dois, ao mesmo tempo,
é quando acontece o espírito do encontro (BRUPAHI, SAWREPTE
e BORGES, 2018, p. 71).
202
Capítulo 7
203
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
AS PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES
204
Capítulo 7
4 Assim como Street (2012, p. 75), “penso que ‘eventos de letramento’ é um conceito
útil porque capacita pesquisadores, e também praticantes, a focalizar uma situação
particular onde as coisas estão acontecendo e pode-se vê-las enquanto acontecem”.
205
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
O EXTRAESCOLAR
206
Capítulo 7
207
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
208
Capítulo 7
209
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
210
Capítulo 7
211
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
8 No Curso, os/as estudantes decidem sobre a forma de registro que melhor atende
à pesquisa deles/as e, também, à sua comunidade. Não é obrigatório que seja escrito,
podendo ser no formato audiovisual, por exemplo.
212
Capítulo 7
213
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
214
Capítulo 7
215
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
216
Capítulo 7
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 51ª ed.
São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção questões da nossa época; v. 22).
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1ª ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2019.
217
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
218
Capítulo 7
B) “Portanto, o ser humano pode ser letrado com o que está a sua
volta: o som ou até o silêncio do lugar. Perto do rio, ar puro e fresco,
o contato com a natureza onde há a renovação da esperança. Tem,
também, a comunicação do luar: quando um casal está longe, com a
única lua alumiando os dois, ao mesmo tempo, é quando acontece o
espírito do encontro” (BRUPAHI, SAWREPTE e BORGES, 2018, p. 71).
219
CAPÍTULO 8
Educação indígena e os
desafios na formação
linguística dos professores
– relato de experiências
INTRODUÇÃO
221
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
222
Capítulo 8
223
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
224
Capítulo 8
escola pode ser apropriada pelos povos indígenas e que eles podem
dar a ela um novo significado e um novo sentido, transformando
essa instituição tipicamente ocidental em um instrumento a seu
favor. Se historicamente a escola foi utilizada para promover a inte-
gração dos índios à comunhão nacional, por meio do aprendizado
do idioma português e pelo progressivo abandono de suas línguas
nativas e práticas culturais, hoje esse aprendizado ocorre parale-
lamente a processos de sistematização, registro e valorização de
saberes e conhecimentos tradicionais.
É verdade que já se avançou muito, e que muitas são as ex-
periências em curso, tanto de formação de professores, quanto no
funcionamento das escolas em terras indígenas. Também é fato que
muitas são as dúvidas, as questões não resolvidas, os impasses para
que estes consensos se generalizem, gerando novas e produtivas
práticas e projetos escolares.
225
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
226
Capítulo 8
227
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
228
Capítulo 8
229
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
230
Capítulo 8
231
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
AS OFICINAS PEDAGÓGICAS
232
Capítulo 8
CONSIDERAÇÕES FINAIS
233
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
234
Capítulo 8
235
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
conteudo/3572/formacao-de-professores-para-educacao-indigena . Acesso em 22
de setembro de 2019.
236
CAPÍTULO 9
237
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
238
Capítulo 9
239
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
240
Capítulo 9
241
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
242
Capítulo 9
1 Tradução nossa. Texto original: if ‘reading and writing are means by which people
reach – and are reached by – other contexts, then more is going on locally than just
local practice’.
243
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
[3.1] Eai Ana veai com a Divina se ela vendeu meus bagui se ven-
deu ve ai com ela pra ela manda 250 R$ pra mim compra uma
jega pra minha mãe não fica durmindo no chão e quando vcs for
compra roupas vcs traz azul E traz o balde Pede pro advogado
vim aqui pra nos mudar de bloco quero ir pro bloco 3 pra minha
mãe remi pq eu jatou na remição só que minha mãe ainda não ta e
la no bloco 3 é mais fácil remição. Bjss! Saudades. Manda as fotos
já estou no bloco 7 e traz os meninos quando vc vim. [...].3
3 A palavra jega faz referência à cama e a palavra azul, à pílula para ansiedade. Repro-
duzi os textos das mulheres em situação de cárcere como foram escritos.
244
Capítulo 9
245
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
4 Os nomes que uso neste artigo para identificar as mulheres em privação de liber-
dade são fictícios.
246
Capítulo 9
247
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
248
Capítulo 9
249
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
LETRAMENTOS DE REEXISTÊNCIA
250
Capítulo 9
251
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
252
Capítulo 9
253
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
5 Todos os textos são multimodais (KRESS; van LEEUWEN, 2006), mesmo que sejam
compostos apenas por meio do sistema da escrita. Nos gêneros situados investigados
na prisão, a presença de desenhos como flores, arma, sol, estrela e diversas repro-
duções de emojis evidenciam o quanto as produtoras investiram na acentuação de
alguns sentidos. Pelas limitações desta pesquisa, esses aspectos semióticos não foram
explorados.
254
Capítulo 9
255
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
256
Capítulo 9
[3.9] Meu amor, quando tudo parece está perdido, Deus está sem-
pre do nosso lado para demonstrar que podemos nos reerguer.
7 As funções do letramento coincidem, em alguns casos, com o propósito do gê-
nero e/ou as atividades com as
[3.10] Agora quais
vou ele está
ficando por envolvido. Os conceitos
aqui torcendo e vibrandonão sãosua
pela inter-
vi-
cambiáveis, mas estão
tória, em diálogo,apois
e pedindo Deussepela
ancoram no conceito
sua liberdade de linguagem
e quando eu sair como
tam-
elemento da prática social.
257
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
[3.11] Amiga quinta feira fiquei muito feliz quando minha mãe fa-
lou que seus filhos e sua irmã estavam lá fora. Graças a deus eles
vinheram para acalmar seu coração. Estou morrendo de sauda-
des, faz o corre daí para vim pra cá, aqui tem uma cela de provi-
sória que só tem 4 [...] Estou louca pra você vim pra cá cumadre
estou fazendo o corre também manda um requerimento pra che-
fe de Pátio da mole não, que aqui e noiscabulozo sempre.
[3.13] Escolhi vc pra ser minha mulher, porque o nosso santo ba-
teu. Saiba que vc ganhou acima de tudo uma amiga e no que pre-
cisar eu estarei ao seu lado, vamos dominar o mundo!
258
Capítulo 9
para desafiá-las, pois não tenho medo de lutar pelo que eu quero.
Ainda mais sabendo que não estou só. É nois aqui dentro, e lá fora
e vc não vai se arrepender. pelo contrário vai é se surpreender.
[3.16] [...] essa foi minha primeira cadeia e eu creio que vai ser
última, pois não pretendo voltar para esse inferno. De tudo que
já vivi em minha vida, eu jamais poderia imaginar que vinha parar
nesse lugar de tanto sofrimento.
[3.17] Amiga pesso pra Deus que em nome do filho dele, ele ti der
(+) essa chance de ir embora, na moral quero que vc vai logo logo
embora, (+) não vou menti vou fica muito triste longe de vc! Ami-
ga sinto um grande carinho por vc, amiga te pesso que em nome
de Jesus de (+) valor nu mundão da (+) valor na sua família essa ñ
e a nossa vida sabe qual e a nossa vida e ser feliz então te pesso ñ
voute (+) pelo amor de Deus.
[3.18] Vou falar pra minha mãe levar seu nome pra igreja e fazer
uma campanha por você. Confie em Deus, tudo vai dar certo.
259
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
BARTON, D. Vernacular Writing on the Web. In: BARTON, David; PAPEN, Uta. The
Anthropology of Writing: Understanding Textually Mediated Worlds. London:
Continuum, 2010. p. 109-125.
BARTON, D.; HAMILTON, M. Local literacies: reading and writing in once community.
London: Routledge, 1998.
260
Capítulo 9
DINIZ, D. Cadeia, relato sobre mulheres. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2015.
261
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
STREET, B. Literacy in theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press,
1984.
KRESS, G.; van LEEWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. London:
Routledge, 2006.
262
Capítulo 9
263
CAPÍTULO 10
INTRODUÇÃO
265
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
266
Capítulo 10
267
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
268
Capítulo 10
269
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
ção básica da escola pública para essas pessoas, por mínima que
seja sua vivência na escola.
A evidenciação empírica desta discussão são as petições es-
critas por pessoas privadas de liberdade, dirigidas ao magistrado,
solicitando benefícios para o próprio emissor. Na leitura e interpre-
tação das petições, levamos em consideração a situação de enun-
ciação, as condições de produção dos textos, o gênero discursivo ‘pe-
tição’ e sua função comunicativa, de acordo com Bakhtin (2016). O
Paradigma Indiciário Semiótico, de Carlo Ginzburg (2016), é adotado
para a leitura e interpretação das petições.
COMPARTILHAMENTO DE SABERES:
POSTURAS POLÍTICO-TEÓRICAS
270
Capítulo 10
271
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
METODOLOGIAS
272
Capítulo 10
273
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
274
Capítulo 10
275
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
LETRAMENTO
276
Capítulo 10
277
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
278
Capítulo 10
zadas, e têm uma parte que se impõe como todo, isto é, como su-
perior a outra, e, assim, invisibiliza a outra parte, que é sua contra-
-parte inferior: Europa/América, branco/negro, homem/mulher,
conhecimento científico/conhecimento tradicional etc.
De acordo com a Sociologia das ausências, o que não existe é,
na realidade, invisibilizado, por ser, cuidadosamente, produzido
como inexistente. Se assim é, pode-se transformar o que é impos-
sível em possível, o que é ausente em presente e o que é inexistente
em existente. Não é simples nem fácil, pois
279
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
280
Capítulo 10
281
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
282
Capítulo 10
ENDEREÇAMENTO – em regra:
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CRIMINAL DA
COMARCA DE___
Em razão dos fatos que passa a dispor (ou seguem/abaixo descritos/descritos a seguir).
FATOS
Fazer um resumo ou descrição – observando-se os critérios básicos de uma boa reda-
ção, respeitada a cronologia dos acontecimentos: princípio, meio e fim.
283
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
DIREITO
Apresentar todos os argumentos jurídicos possíveis – observando-se os critérios bá-
sicos de uma boa redação, e respeitando a ordem de relevância dos argumentos.
PEDIDO
Ordenar os pedidos a serem formulados, de forma clara e objetiva, porém minuciosa,
se necessário em tópicos.
Fechamento
Nestes termos
Espera deferimento
Local e data.
Advogado/OAB
284
Capítulo 10
Continua...
285
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
286
Capítulo 10
287
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
288
Capítulo 10
Continua...
289
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
290
Capítulo 10
291
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
292
Capítulo 10
Continua...
293
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
294
Capítulo 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este estudo podemos constatar, por um lado, que a escola bási-
ca cumpre um papel fundamental para a aprendizagem da tecnologia
da escrita. Sem um mínimo de escolarização, é impossível caminhar
nas práticas sociais de letramento. Os anos iniciais de escola são de
suma importância na vida das pessoas, sobretudo das crianças das
minorias subalternizadas, que podem ter poucas chances de seguir
nos estudos. Com uma base sólida, bem feita, essas crianças, quan-
do adultas, qualquer que seja sua condição e situação, poderão fazer
dessa base um instrumento poderoso de luta social. Por isso, ensinar
bem a tecnologia da escrita, nos anos iniciais de escolarização, é uma
forma de luta e de resistência, num país em que as oportunidades são
poucas e para poucos; uma forma de rasurar o sistema é dar condi-
ções para as pessoas das minorias subalternizadas, no futuro, deso-
bedecerem às estruturas de opressão.
Por outro lado, foi possível perceber que a ideia-força que sus-
tenta as minorias subalternizadas, seu quilombismo histórico, ainda
que inconscientemente, as leva a mover e a construir estratégias de
letramento, como instrumento de luta. Ou seja, numa situação de
comunicação, em que o silêncio é a norma, e a escrita, uma habili-
dade distante da maioria, é a comunicação autorizada, as pessoas
entendem a oportunidade, desobedecem às regras e promovem seu
letramento, pela práxis, a prática que é ação (FREIRE, 1992), e fazem
valer o direito que a Lei Magna do país lhes garante. Além de letra-
mento de resistência, isso é letramento de e para a existência.
O magistrado, independentemente da forma, considera o con-
teúdo da escrita e respeita o direito à linguagem e o direito de es-
crever como um direito à cidadania, lendo e respondendo ao pedi-
do – deferindo ou não o requerimento feito. Dessa maneira, essas
pessoas, com seus corpos e suas vozes privadas de liberdade, com
295
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
296
Capítulo 10
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. (Org. Trad. Paulo Bezerra). Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora
34, 2016.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1961. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 15 fev. 2019.
BRASIL. IPEA. Atlas da violência 2018 – Junho de 2018. Disponível em: <http://www.
ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_
da_violencia_2018.pdf >. Acesso em: julho de 2018.
297
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
FREIRE, P. A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 1992.
298
Capítulo 10
SANTOS, B. S. A gramática do tempo: para uma nova cultura política, para um novo
senso comum. Porto: Afrontamentos, 2006.
299
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
300
CAPÍTULO 11
Letramentos de resistência
em contexto de luta por terra e
território na chapada do apodi
norte-rio-grandense
GLÍCIA AZEVEDO TINOCO
UFRN
INTRODUÇÃO
301
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
302
Capítulo 11
303
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
304
Capítulo 11
305
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
306
Capítulo 11
6 O Perímetro Irrigado Santa Cruz do Apodi não foi implementado até a data desta
publicação (primeiro semestre de 2021). Porém, tendo em vista que o atual governo
federal se pauta por ideais neoliberalistas, a luta das famílias do campo tem sido ainda
mais desigual desde janeiro de 2019, e nossas forças precisam estar redobradas para
defender as terras norte-rio-grandenses da Chapada do Apodi da ganância do agro
e hidronegócio.
307
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
308
Capítulo 11
309
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
310
Capítulo 11
311
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
8 “[...] literacy events: occasions in which written language is integral to the nature
of participants’ interactions and their interpretive processes and strategies.”
312
Capítulo 11
313
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
314
Capítulo 11
9 Para efeito de organização dos dados, estamos tomando quatro eventos distin-
tos. Salientamos, porém, que essa organização não corresponde, necessariamente, à
quantidade de dias de trabalho que cada evento exigiu.
315
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
316
Capítulo 11
Foi reunida uma turma... Vieram pra cá, pro sindicato... A gente
foi dizendo o que queria, o que não queria... A gente foi fazendo
a carta aqui, no sindicato [...] a gente conversou mais ou menos
o que queria – e todo mundo queria a mesma coisa, né, contra
esse projeto.
10 No semiárido nordestino, “quintal produtivo” é uma área ao redor da casa onde
há uma produção diversificada. Nela, há o cultivo de plantas fitoterápicas, frutíferas
e hortaliças, a criação de pequenos animais (aves, caprinos, ovinos, suínos) e o be-
neficiamento da produção, gerando renda para a família e fazendo girar a economia
local. É também um importante espaço de preservação de sementes crioulas, ou seja,
sementes adaptadas à região e conservadas pela família. Esse quintal é ainda utilizado
para momentos de organização de ações coletivas na comunidade.
11 Mastruz é o pseudônimo escolhido por essa trabalhadora que participou ativa-
mente das ações dos eventos 1 e 2. Ela nos concedeu entrevista em 30 de abril de 2018.
317
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
318
Capítulo 11
12 Para melhor legibilidade, digitamos os trechos da carta reivindicatória que utili-
zamos neste capítulo. Salientamos, porém, que, no original, essa carta é manuscrita
(ver anexo), bem como as outras 1.999 enviadas à então Presidenta Dilma Rousseff.
319
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
320
Capítulo 11
321
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
13 Outro recurso semiótico utilizado pela Comissão de Mulheres da STTR se refere
à escolha do envelope. Essa escolha foi feita no primeiro evento, mas nos ateremos
a ela no segundo porque é nele que a simbologia do envelopamento se faz junto às
mulheres das comunidades e dos assentamentos.
322
Capítulo 11
323
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
324
Capítulo 11
325
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
326
Capítulo 11
14 Segundo a Portaria no 245, de 09 de outubro de 1995, a carta social é remetida por
pessoa física, tendo limite máximo de peso igual a 10 gramas; endereçamento manus-
crito, com a indicação “carta social”; franqueamento por meio de selo postal adesivo.
No período, o valor da Carta Social custava dois centavos.
327
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
328
Capítulo 11
329
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
BAKHTIN/VOLOSHINOV [1929]. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico da linguagem. 6a ed. São Paulo: Hucitec. 2009.
330
Capítulo 11
HEATH, S. B. What no bedtime story means: narrative skills at home and school,
Language in Society. 1982. p. 49-76.
331
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
MOITA LOPES, L. P. Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola,
2006.
332
Capítulo 11
333
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
ANEXO
334
Capítulo 11
335
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
336
CAPÍTULO 12
INTRODUÇÃO
337
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
338
Capítulo 12
339
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
340
Capítulo 12
341
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Excerto 1
Esta é uma luta constante para que possam ser ouvidos. Na fala
de ES, ele diz “Levando ao conhecimento das autoridade, tentando
levar, né?”. Muitas vezes, os ciganos acham que devido ao baixo letra-
mento escrito, que no caso seria a escrita de ofícios ou relatórios, eles
dificilmente conseguem acesso às políticas públicas para o acampa-
mento. Em outros momentos, acreditam que não são atendidos por
342
Capítulo 12
não terem um letramento oral mais específico para lidar com as ins-
tituições. Vejamos o depoimento da cigana VM:
Excerto 2
343
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Excerto 3
344
Capítulo 12
345
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
346
Capítulo 12
O dia da professora D. Naná mostra bem isso: ele se inicia para ela,
como dona de casa, na esfera doméstica ou cotidiana, deixando
bilhete para sua diarista e telefonando à oficina autorizada; neste
meio tempo, ela liga a tv e toma contato com a esfera jornalística,
como consumidora de notícias, e com a publicitária, como consu-
midora de produtos; em seguida, como consumidora, se desloca
para a esfera burocrática do comércio, fazendo um depósito ban-
cário pelo computador e deslocando-se por meio de transporte
público, para adentrar, em seguida, como professora, a esfera es-
colar. Retornando a sua casa, embora cansada, ainda tem energia
para assumir o papel de expectadora de produtos da esfera do en-
tretenimento (midiático), vendo a novela televisiva, para, depois,
como namorada, dialogar com seu parceiro pelo MSN na esfera
íntima e, finalmente, voltar à esfera escolar, dessa vez como aluna,
para fazer atividades online de seu curso semi-presencial.
347
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
348
Capítulo 12
349
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
350
Capítulo 12
351
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Excerto 4
352
Capítulo 12
353
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
354
Capítulo 12
A) O CONTÍNUO DA URBANIZAÇÃO
_____________________________________
variedades rurais área rurbana variedades urbanas
isoladas padronizadas
355
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Excerto 5
Pesquisadora: Senhor E., aqui nesta tenda já foi formada uma tur-
ma de alfabetização, mas sei que aqui tem alunos que já têm o ensi-
no médio, gostaria de saber do que vocês mais precisam ...aprender.
ES.: Formou aqui a primeira turma. Agora precisamo de ajuda para
escrever os documento para consegui as política pública aqui pro
acampamento.
Pesquisadora: O senhor quer dizer escrever ofícios para mandar
para os órgãos do governo?
ES.: É isso, professora. A sinhora pode ajudar? O meu filho pode
aprender...
Pesquisadora: Posso sim. Quando ele quiser começar, é só falá.
356
Capítulo 12
Excerto 6
357
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
que ele conhece de suas leituras prévias, então este evento passa a
ter influências de letramento. Eis a representação do contínuo de
oralidade – letramento.
___________________________________
eventos de oralidade eventos de letramentos
358
Capítulo 12
______________________________________
monitoração + monitoração
359
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
360
Capítulo 12
Excerto 7
E.: ... “Professora ... eu não quero professora cigana aqui no acam-
pamento, porque ser cigana, eu já sei. Eu quero é aprender a falar
como vocês fala”. [(Aqui, a cigana Dona E. fala da necessidade de
saber se expressar bem em língua portuguesa mais formal, pois
assim ela entende que será ouvida)].
361
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFLEXÕES FINAIS
362
Capítulo 12
REFERÊNCIAS
GEE, J. P. The New literacy studies. In: D. Barton, M. Hamilton &R. Ivanic (Eds.)
Situated literacies: reading and writing in contex. London: Routledge, 2000.
HEATH, S. B. “What no bedtime story means: narrative skills at home and school”,
Language in society 11, 1992.
KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática,
1986.
363
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
SCRIBNER, S.; COLE, M. The Psychology of Literacy. Harvard University Press, 1981.
364
Capítulo 12
1) Contínuo da urbanização;
2) Contínuo da oralidade-letramento;
2) Contínuo da monitoração estilística.
365
CAPÍTULO 13
INTRODUÇÃO
367
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
368
Capítulo 13
369
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
370
Capítulo 13
371
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
372
Capítulo 13
373
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
374
Capítulo 13
1 Kleiman, em seu livro Os significados do letramento, cita alguns desses mitos: ma-
nutenção das características da espécie, modernidade, ascensão e mobilidade social,
desenvolvimento econômico, distribuição de riqueza, aumento de produtividade,
emancipação da mulher, avanço espiritual (KLEIMAN, 1995, p.34-36).
375
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
376
Capítulo 13
377
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
378
Capítulo 13
379
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
EVENTOS DE LETRAMENTO
380
Capítulo 13
381
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
382
Capítulo 13
PRÁTICAS DE LETRAMENTO
383
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
384
Capítulo 13
385
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
386
Capítulo 13
O CONTEXTO DA PESQUISA
387
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
OS PARTICIPANTES DA PESQUISA
AS FERRAMENTAS ETNOGRÁFICAS
388
Capítulo 13
389
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
390
Capítulo 13
391
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
392
Capítulo 13
393
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
394
Capítulo 13
395
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
396
Capítulo 13
tam. Então, é uma maneira de você viver. Ler não só o livro, mas
você ler o que passa por perto de você. Então, a partir do mo-
mento da leitura, você tem como tá transmitindo isso como uma
dramatização. Não precisa você ler um livro. A pessoa transmite
uma leitura através de uma dramatização, de um jogral, de algo
(Professora quilombola Niara)
397
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Então, eu acredito que algo assim no meio me fez falar que a lei-
tura ela é importante a todo instante, que ela não pode parar.
Então, cada lugar desse que eu passei, eu vivenciei, eu aprendi
um pouquinho da leitura. E as pessoas também me ensinaram a
398
Capítulo 13
399
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
com meu avô, Benedito Antônio. Então, ele me transmitia essa alegria
de leitura, ela me falava que a gente tinha que estudar). Situando-se
dentro desse contexto, ela afirma: “acredito que a leitura é tudo e
sem ela nós não somos nada”. Dentro dessa concepção ideológica,
portanto, o letramento é visto de maneira mais ampla. Ou seja, está
associado à realidade social do povo quilombola, mesmo nas ações
executadas no contexto escolar.
A título de exemplo, apresento dois eventos de letramento ob-
servados na escola por conta do Dia da Consciência Negra. O pri-
meiro, diz respeito a um chá literário com o tema “A poesia é para
comer: iguarias para o corpo e o espírito”. Essa ação, promovida por
Niara e outras professoras quilombolas, resultou em uma série de
microeventos de letramentos produzidos no interior da escola: es-
crita e leitura de poemas e poesias; produção de acrósticos, elabo-
ração de receitas culinárias; produção de cartazes, degustação de
comidas, bebidas e iguarias locais. Todas essas atividades - media-
das por diferentes formas de linguagens - foram desenvolvidas de
forma associada e imbricada à temática quilombola e ao contexto
sociocultural das crianças negras do Mesquita.
Vejamos, na sequência, exemplo de atividades produzidas nes-
ses eventos:
400
Capítulo 13
Negra sim...
Sou negra, sou feliz
Não tenho medo de ser assim...
Porém, muitos tiveram um dia
Muitos já sofreram
Mas não sofrerão...
(Maria Eduarda, 2º ano B).
401
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
Esperança Guerreiro
Irei falar do que é preciso no dia da Consciência Negra.
Aquele que fez uma boa e guerreira liderança, para fazer da vida dos escravos, a última
grande esperança.
Vida minha, que através de um líder da nossa raça fez criar dentro de nós força e cora-
gem, para enfrentar a diversidade.
Escravo do mundo “Negro”, fizeram da nossa vida uma escravidão.
Terra minha, esquecida e sofrida, ter por ela se afastado e caído nas mãos da “Amargura”
do estado nefasto...
Agora então, esconde-se e aparece em vão em alguma estação a verdadeira cara da
escravidão...
Vamos fazer disso uma lição, aprender o que sabemos então;
Fazer dessa judiação uma campanha de libertação;
“Fora Escravidão”.
(Katharine Lara, 8º ano).
402
Capítulo 13
Assim como na proposta de Freire e Macedo (2011) o letramen-
to aqui é visto com um processo social e político que tem como
base a leitura crítica do mundo. Dentro desta perspectiva, como
destaca Zavala (2002, p. 95), “a educação letrada eficaz é um ato
de libertação e empoderamento pelo qual a comunidade pode ex-
plorar e analisar suas condições de opressão” e, assim, buscar uma
sociedade mais igualitária. A concepção de leitura da professora
Niara – distante de uma visão autônoma de letramento, vai nessa
direção ao colocar em cena os socioletramentos locais, principal-
mente aqueles que tematizam a realidade quilombola e os proble-
mas sociais da comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
403
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
REFERÊNCIAS
AMES, P. Para ser iguales, para ser distintos. Educación, escritura y poder en el Perú.
Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 2002.
404
Capítulo 13
CASSANY, Daniel. Para ser letrados. Voces e miradas sobre la lectura. Barcelon:
Paidós, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
______, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 46.
ed. São Paulo: Cortez, 2005.
405
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
GRAFF, Harvey J. T (1979) The literacy myth: literacy and social structure in the 19th
century. Nova York, Academic Press.
HAMILTON, M. Sustainable literacies and the ecology of lifelong learning. In: HARRISON,
R. R. F.; HANSON, A.; CLARKE, J. (Org.). Supporting lifelong learning: perspectives on
learning. London: Routledge/Open University Press, 2002. v. 1, p. 176-187.
______, M. The social contexto of literacy. In: HUGHES, Nora; SCHWAB, Irene
(eds.). Teaching Adult Literacy: Principles and Practice. London: Open University
Press, 2010.
HEATH, S. B. (1983). Ways with Words. Language, Life, and Work in Communities and
Classrooms. Cambridge: Cambridge University Press.
406
Capítulo 13
407
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
408
Capítulo 13
409
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
410
POSFÁCIO
Rodriana D. C. Costa
411
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
412
Posfácio
413
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL, LETRAMENTOS DE RESISTÊNCIA E FORMAÇÃO DOCENTE
414
Posfácio
415
Sobre os/as organizadores/as
CONSELHO EDITORIAL
Adeilson P. Sedrins (UFRPE/UAG) Juciane Cavalheiro (UEA)
Adelia Maria Evangelista Azevedo (UEMS) Leonel Figueiredo de Alencar
Ana Paula Scher (USP) (UFC)
Aniela Improta França (UFRJ) Luiz Francisco Dias (UFMG)
Atilio Butturri Junior (UFSC) Mailce Mota (UFSC)
Carlos Alberto Faraco (UFPR) Marcelo Ferreira (USP)
Carlos Piovezani (UFSCar) Marcos Lopes (USP)
Carmem Luci Costa e Silva (UFRGS) Marcus Lunguinho (UnB)
Cassiano R. Haag (MPSC) Maria Eugenia Duarte (UFRJ)
Cátia de Azevedo Fronza (Unisinos) Mariangela Rios de Oliveira (UFF)
Cláudia Regina Brescancini (PUCRS) Pablo Ribeiro (UFSM)
Claudia Toldo Oudeste (UPF) Plínio Barbosa (Unicamp)
Dermeval da Hora (UFPB) Rafael Minussi (Unifesp)
Eduardo Kenedy (UFF) Renato Basso (UFSCAR)
Edwiges Maria Morato (Unicamp) Ronice Muller de Quadros (UFSC)
Eliane Silveira (UFU) Ruth Lopes (Unicamp)
Elisa Battisti (UFRGS) Simone Guesser (UFRR)
Esmeralda Negrão (USP) Simone Sarmento (UFRGS)
Heloisa Monteiro Rosário (UFRGS) Sirio Possenti (Unicamp)
Heronides Moura (UFSC) Sonia Cyrino (Unicamp)
Ingrid Finger (UFRGS) Tânia Maris de Azevedo (UCS)
Jairo Nunes (USP) Ubiratã K. Alves (UFRGS)
Janaína Weissheimer (UFRN) Vitor Nóbrega (UFSC)
João Paulo Cyrino (UFBA) Viviane de Melo Resende (UnB)
ORGANIZAÇÃO
Rodriana Dias Coelho Costa
Edinei Carvalho dos Santos
Kleber Aparecido da Silva
REVISÃO
Oseas Bezerra Viana Júnior
Kleber Aparecido da Silva
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 978-85-68990-10-0
21-81233 CDD-370.733
editora.abralin.org