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Lembranças Da Leitura - Ebook 2020

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Concurso

LEMBRANÇAS DA LEITURA
2020
Concurso
LEMBRANÇAS DA LEITURA
2020
“Quem escreve, tece. A palavra texto se origina do la-
tim ‘textum’ que significa tecido. Com fios de palavras
vamos dizendo, com fios de tempo vamos vivendo. Os
textos são como nós: tecidos que andam”
Eduardo Galeano
ÍNDICE

Apresentação........................................................................................7

Um olhar sobre o Círculos de Leitura.................................................9

Círculos de Leitura:
metodologia e ser multiplicador........................................................19
Gustavo Cléber Silva dos Santos
Ana Clara Moraes de Sousa
Antonia Juscilene Oliveira Dias
Gabriela Ferreira Fernandes
Alynne Ferreira Sousa

Sonhar................................................................................................35
Pauliana Lima
Alícia Araújo
Chris Bianca Melo da Silva
Sarah Cristina Lucas de Moraes
Antônio Gabriel Nobre de Arruda
Emilly Menezes Leite
Mariane Souza de Brito

O Pequeno Príncipe: introdução ao amor........................................49


Bianca Galante Farias de Souza
Letícia Pereira de Assunção
Micaella Ribeiro Teotônio Dos Santos
Jamyle de Almeida Aguiar

Amor..................................................................................................59
Julia Viana Sobrinho Rocha
Antonio Vanutti Galvão da Silva
Rayan Fernandes da Silva
Francisca Vanessa de Sá Souza

5
A Comédia Humana: empatia............................................................71
Moisés Valério Caetano
Milena Barbosa dos Santos
Ciely da Silva Santos Lima

A importância das ajudas..................................................................79


Isabella de Cássia Romeo
Vitoria Silva de Andrade

Superação...........................................................................................85
Andrya Braga Nunes
Laine da Silva Carvalho
Priscila da Silva Araújo
Sabrina Estevão Ferreira Da Silva
Marcos André Barbosa de Oliveira
Raiane Ferreira Lima
Wérgila Laiza da Silva Macêdo
Suelir da Silva Lima

Determinação em Fernão Capelo Gaivota.......................................103


Manoel Vieira do Nascimento Junior
Fábio José Martins Monteiro
Maria Julia Miranda
Darlen Santos do Nascimento
Maria Luiza Pessoa
Geovanna da Silva Holanda

Vocação para a arte..........................................................................121


Darla Monique
Laura da Silva Pereira

Criatividade.....................................................................................127
Ingrid Cosmo Lopes
Pedro Emanuel Beserra Martins
Maria Eduarda Rodrigues Marques
Lana Catarina Alves da Cruz

6
O Conto da Ilha Desconhecida
e a busca pelo autoconhecimento....................................................139
Odete Vitória Sabino Ferreira
Rita de Cássia
Anne Carolline Lima Sousa
Daniel dos Santos Silva

O livro como herança......................................................................149


Thiago da Silva de Sousa
Raiane Costa Pereira
Maria Aparecida Freire Batista
João Pedro Tic
Esterfany do Nascimento Albino
Patrício da Costa Fonseca
Cauê Bull Gonçalves de Sousa
André de Carvalho Costa Silva

Escolas participantes........................................................................171

Lista de obras que inspiraram os textos dos jovens.........................175

Agradecimentos...............................................................................177

7
APRESENTAÇÃO

Queridos professores , colaboradores e entusiastas,

Quem lê as cartas dos jovens se emociona. Em cada carta se


faz presente a felicidade e a alegria de ver como o conhecimento se
amplia quando é compartilhado. O orgulho e privilégio de terem
sido multiplicadores do Programa Círculos de Leitura, são os temas
mais recorrentes.
Essas cartas são testemunhos que dão luz a possibilidade de
o Brasil e os jovens brasileiros serem o celeiro do mundo, com a sua
originalidade, força e coragem. Junto com as escolas, o Círculos de
Leitura é um meio para que essa possibilidade se torne real.
Somos muito gratos pela parceria e queremos continuar esse
diálogo sobre os livros, as cartas dos jovens e os temas que surgem
nos nossos encontros.
Equipe do Programa Círculos de Leitura

Entre em contato conosco, estamos preparados para novas


parcerias!
circulosdeleitura@braudel.org.br
8
UM OLHAR SOBRE O CÍRCULOS DE LEITURA

O escritor Neil Gaiman registrou em 2013, em um artigo


para o jornal britânico The Guardian, uma inquietante informação:
para prever o crescimento do mercado de prisões e quantas celas
a mais seriam necessárias dentro de quinze anos, empresas que lu-
cram com a construção e administração de penitenciárias privadas
nos Estados Unidos usaram um algoritmo baseado na porcentagem
de crianças entre dez e onze anos que ainda não eram capazes de ler
e, por consequência, viviam privadas de um contato direto com a
literatura e as capacidades a que conduz o aprender a ler e escrever,
algo que a literatura, mesmo que utilizada apenas como ferramenta
do processo de letramento, ajuda a desenvolver.
Ainda no mesmo artigo, o escritor britânico também re-
latou que, ao participar de um congresso na China sobre literatura
de fantasia e ficção científica em 2007 – o primeiro a ser autorizado
pelo partido comunista no país –, perguntando-se sobre o motivo
para a mudança de postura do governo, que até então não permitia
encontros dessa natureza, externou sua curiosidade a um alto oficial
do partido comunista presente no evento. A resposta teve um tom de
confissão: os chineses eram brilhantes para produzir coisas se outras
pessoas levassem-lhes os projetos já prontos, mas eles não inovavam
e não inventavam; eles não imaginavam.
Foi necessário, por esse motivo, que enviassem uma
delegação aos Estados Unidos, a empresas como Apple, Microsoft
e Google, e perguntassem quem eram as pessoas que estavam
inventando o futuro. Com isso acabaram por descobrir algo em
comum aos funcionários encarregados de inovações: todos haviam

10
lido ficção científica quando jovens. Dessa forma os chineses passaram
a crer que a literatura de fantasia ajudaria a estimular a criatividade
de sua população e, em algumas décadas, certamente amparados por
outras medidas governamentais de controle e incentivo ao mercado
literário, aumentariam a competitividade do país em relação às
inovações produzidas no ocidente.
Tomando como base essas informações, podemos nos per-
guntar: Como é possível que a literatura não seja tratada na nossa
sociedade como uma fonte vital de crescimento pessoal e coletivo?
Felizmente, como disse o eterno Guimarães Rosa em seu conto O
Espelho, “quando nada acontece, há um milagre que não estamos
vendo”.
Se nos fixarmos apenas na nossa realidade de conexões
cada vez mais rápidas, de automatismos facilitadores que capturam
todas as nossas atenções por meio de aparelhos multifuncionais que,
no limite, podem provocar um atrofiamento da nossa sensibilidade
estética quanto a outras formas possíveis de percepção e relação com
o mundo, a maioria de nós não perceberá um certo tipo de milagre
acontecendo, pois esse milagre se dá de mansinho, como também
acreditava o autor mineiro do Grande Sertão.
É assim, de mansinho, que cada vez mais adolescentes estão
lendo literatura e transformando suas vidas em pequenos milagres,
pequenos fogos capazes de brilhar com luz própria. Entretanto são
fogos que não se acendem espontaneamente. Para que seja possível
brilharem, é preciso haver um preparo delicado, sensível, capaz de
despertar sensações esquecidas ou embotadas em meio a ordenações
lineares das ideias e dos corpos comumente contidos por muros,
horários, tarefas.

11
Para que não se apaguem e nem se queimem de uma vez,
extinguindo-se, esses fogos que incendeiam as noites escuras e a von-
tade de ir além precisam ser insistentemente alimentados e cuidados.
E é isso o que fazem, com um trabalho delicado e sensível, os Círcu-
los de Leitura já há mais de vinte anos.
Essa sensibilidade não é retórica e nem tampouco mero
componente de um método de ensino ou de leitura. Ela é a chave
mestra que abre todas as portas. Ela é o que torna possível pensar
por meio de sensações. É assim que o antigo dualismo cartesiano a
compreender razão e emoção como polos distintos cai por terra e
fertiliza novas ideias que preparam a vida para os sentidos que pode-
mos dar a ela.
Pensar por sensações é próprio da arte. É por sensações que
ela produz pensamento, algo que não acontece enquanto interpre-
tamos textos “apenas” racionalmente. Essa forma interpretativa de
lidar com a literatura pressuporia pontos de partida e de chegada,
reduzindo o percurso do leitor a apenas uma possibilidade. Não fa-
lamos, portanto, de interpretação, mas de busca por sentidos.
Para compreendermos melhor a diferença entre essa busca
e a interpretação, podemos relembrar a distinção que, a partir dos
estudos literários, se convencionou estabelecer entre poética e her-
menêutica. Enquanto a primeira indaga como os sentidos são obti-
dos ou o porquê da ambiguidade de um texto, a hermenêutica quer
interpretar os textos, saber o que eles exatamente significam a fim de
usá-los como respostas prontas, como se fossem textos religiosos ou
de leis a serem seguidas.
Os Círculos de Leitura estão muito mais próximos da poé-
tica, que abre portas à percepção, do que da hermenêutica, que visa a

12
respostas. Não há nos Círculos uma busca por respostas prontas, não
há apenas a busca por interpretar o que autores e seus textos querem
dizer, mas uma busca por dotá-los de sentidos, no plural, porque
também não há um sentido único a seguir.
A partir do momento que não existe uma única forma de
organizar as pistas deixadas pelos autores, os pontos de vista de alguns
leitores são impregnados, durante a leitura conjunta, pelos pontos de
vista de outros leitores. A construção do nosso edifício existencial, a
partir da prática coletiva em que o ouvir é tão importante quanto o
falar, também passa a ser conjunta e funda-se na alteridade.
Esse ato de fala só é significativo, neste caso, pois há alguém
com quem compartilhar as experiências e torná-las expressivas. Se
algo for produzido, se algum conhecimento for alcançado, não será
segundo uma reprodução ou interpretação, não será fazendo como
alguém determinou que fosse feito, mas com alguém, ou seja, em
conjunto.
Temos, assim, um importante tripé sobre o qual assentam-
se algumas das premissas dos Círculos de Leitura: ler em conjunto,
ouvir outras sensações que complementarão as nossas e darão novos
sentidos às leituras, e compartilhar por meio da fala as nossas pró-
prias sensações.
Ler em conjunto, a primeira parte desse tríptico, certamen-
te não é o mesmo que ler sozinho. Pressupomos, desde o início, uma
companhia; sabemos de antemão que não estamos sós; faremos par-
te daqueles que viveram a experiência provocada por esta ou aque-
la leitura: compartilharemos a emoção de encontrar personagens
que podem parecer falar diretamente conosco ou, pelo contrário,

13
dividiremos o desgosto provocado por algum antagonista cujas ati-
tudes desarrazoadas frequentemente culminam em alguma tragédia.
Ao ler os textos reunidos nesta coletânea, poderemos per-
ceber a satisfação de fazer parte desse “espírito de coletividade onde
todos leem e buscam aprender juntos”, como a certa altura revela
um dos autores selecionados para compô-la. Essa satisfação pode ser
creditada ao conjunto que, como sinos badalando ao mesmo tempo
para que uma cidade inteira os ouça, intensifica as sensações e nos
faz acordar de apatias, insensibilidades e automatismos a que nos
condicionamos diariamente sem nem mesmo perceber.
Ouvir algo que nos desperte é comum nos Círculos, desde
que estejamos atentos durante essa segunda parte do tripé que sus-
tenta as reuniões em grupo. Entretanto este é um estado de atenção
a que os participantes se entregam com devoção, pois o que se ouve
não são demandas de algo a cumprir, não são imposições, não são
palavras que carregam consigo certezas às quais temos que nos afer-
rar e obedecer. Há nelas um prazer insuspeitado de algo que ainda
não está pronto, mas formando-se; algo do qual podemos participar
com nossas próprias palavras a fim de construir em conjunto.
Esse conjunto do qual fazemos parte nos faz ir muito
além do que iríamos sozinhos. Em vez de patinarmos sobre a fina
superfície de textos congelados por anos de interpretações idênticas,
como as que condenaram Capitu e deram razão a Bentinho, o Dom
Casmurro, acabamos mergulhando e percebendo, segundo uma
relação de intensidade, a profundidade das águas sobre as quais apenas
deslizaríamos inocentemente se estivéssemos desacompanhados.
Nos Círculos não é possível estarmos sozinhos. Sempre
temos com quem compartilhar nossas sensações por meio da

14
fala. Essa terceira sustentação a formar o tripé, no entanto, não se
confunde com um diálogo que pressupõe, muitas vezes, a tentativa
de uma concordância a partir de visões diferentes sobre um tema.
Mais do que um diálogo, o que os Círculos promovem são um tipo
de fala plural. Não se trata de convencer alguém sobre o seu ponto
de vista, não se trata de argumentar em defesa de uma opinião para
reafirmá-la sobre as opiniões dos demais participantes; não se trata
de dividir, mas de somar.
Uma afirmação pode ser retomada e ampliada pelas sen-
sações de outros participantes que, por sua vez, a transformarão em
algo até então impensado, evidenciando o comprometimento do
grupo com a produção de novas sensações e ideias, ou seja, o pen-
samento por meio da arte. Entra-se, então, em uma “espiral entre
aprender e compartilhar”, como também registrou um participante
desta coletânea.
Há nisso uma riqueza tremenda porque não se joga um
jogo contra alguém, joga-se uma ideia, uma sensação para alguém
que irá transformá-la em algo cada vez maior e mais complexo do
que fomos capazes de imaginar, elevando ao infinito o jogo do pen-
samento.
A propósito, esse compartir não se dá apenas
presencialmente. Em 2020 os encontros foram possíveis de serem
desenvolvidos também por meios eletrônicos que encurtaram
milhares de quilômetros de distância. Além disso, desde há muito
esse compartilhamento é levado adiante pela prática da escrita de
cartas que participantes dos Círculos em uma escola, por exemplo, do
Ceará podem enviar com suas impressões a estudantes de São Paulo
que leem a mesma história, ampliando ainda mais as possibilidades

15
de partilhar impressões e ideias a respeito dos textos.
Esse tripé ler-ouvir-compartilhar cria uma experiência
única, algo que acontece apenas naquele momento de reunião,
com aquelas pessoas envolvidas nas sensações e nas falas de uma e
de outras e que não se repete, seja porque os grupos alteram-se ou
porque estamos, o tempo todo, sujeitos à influência de tudo o que
nos cerca: nossos problemas pessoais ou sociais, nossas conquistas e
esperanças, nosso humor. Ou seja, não podemos, como Heráclito
explicou, entrar duas vezes no mesmo rio.
Essa forma de experimentar a literatura, embora aconteça
em grupo e carregue consigo um sentido de comunidade, é também,
por ser única, uma experiência de liberdade, pois não teremos que
repetir as mesmas ideias e, de resto, nem seríamos capazes de repro-
duzi-las exatamente, pois elas já foram transformadas. Dobradas e
redobradas, ganharam novas formas: folhas que se tornaram origa-
mis.
Um tal tipo de experiência não é algo que apenas nos acon-
tece, mas algo que acontece em nós, e de uma forma profunda. É
por isso que poderemos encontrar, em um dos textos aqui publica-
dos, o relato de uma epifania que se deu durante a leitura de Fernão
Capelo Gaivota, algo intenso e potente o suficiente para, conforme
descreveu a autora, renovar suas forças e dar coragem para enfrentar
seus medos e inseguranças.
Essa intensidade com que se dão algumas sensações é capaz
de provocar alterações na maneira como nos vemos, como nos senti-
mos, como pensamos, no que cremos cegamente ou desacreditamos
sem motivo, no que nos compreendemos capazes de realizar ou não.
Passar por um processo dessa natureza, pensar outras maneiras de

16
pensar, nos possibilita criar soluções quando potências de extinção
da vida emergem e nos fazem parar diante de obstáculos que se apre-
sentam como se fossem muito maiores que nós.
Uma possibilidade como essa só existe porque levar o po-
tencial da literatura a sério, acolhê-la como fonte eternamente re-
novada, um lugar “onde tudo é possível”, como diz a autora de um
outro texto, altera precisamente as condições do que é possível ou
impossível nas nossas próprias vidas que, em vez da necessidade de
serem compreendidas conforme a interpretação de um modelo a se-
guir, passam a ser, elas mesmas, narrativas que devem ser autonoma-
mente construídas.
Essa autonomia vai contra as repetições, contra os automa-
tismos que nos causam sofrimento porque constrangem-nos a repe-
tir ações como se houvéramos sido, tal qual Sísifo, condenados ao
eterno rolar de uma pedra gigantesca morro acima. Ela é, portanto,
uma forma completamente diferente de lutar contra o caos com o
qual nos deparamos a todo o tempo.
É por isso que os Círculos são compreendidos, segundo a
definição de outra participante desta coletânea, como um momento
de aprendizado para a vida. Ou seja, não é um lugar de treinamento,
mas de produzir alianças com a vida, para a vida.
Parte do resultado dessas alianças pode ser encontrado nesta
coletânea. Aqui será possível perceber, segundo as palavras daqueles
que são o motivo dos Círculos de Leitura existirem, que há algo
acontecendo, não à feição de gritos de alarde, mas como sussurros;
não como ventania que destrói ou traz tempestades, mas como
brisa que facilita a jornada e provoca uma sensação que, embora
incompreensível a princípio, ou incompreensível a muitos, impõe-se

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por intensidade e passa a exigir cada vez mais atenção porque nos faz
pensar em nós e no mundo que nos cerca.
São eles, os autores desta coletânea, que nos lembrarão
das obras lidas nos Círculos e revelarão o que os afetou, o que fez
sentirem-se menos sós, mais fortes ou mais esperançosos. Falarão,
por exemplo, de seus aprendizados e de como as leituras foram
importantes para formá-los como pessoas, além das diferenças entre
estudar um livro e aprender com ele sem o objetivo de obter notas;
falarão sobre a “vida em bando”, em conjunto, sem que isso signifique
ser sempre igual aos outros; falarão sobre a superação de angústias
profundas e o papel da literatura para torná-las menos perigosas;
sobre como é intenso o conhecimento que se forma por meio de
sensações; sobre a busca de uma Ítaca que pode ser reconhecida ou
criada à nossa feição, um lugar onde seja possível desenvolver nossas
capacidades sem abrir mão dos afetos que nos unem.
Para eles e para nós, a viagem está apenas começando.

Danilo Gonçalves é participante curioso dos Círculos


desde 2018. É escritor em horas de descuido e mestre
em Educação pela Unifesp.

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Tema 01:
Círculos de Leitura:
metodologia e ser multiplicador

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1. Gustavo Cléber Silva dos Santos
EEEP Dom Walfrido

Um círculo igual a cem mil outros círculos?

Eu ouvi uma vez e acredito que tudo ocorre naturalmente,


tudo acontece porque deveria acontecer. Falo isso porque não consi-
go lembrar o motivo que me fez participar da formação dos Círculos
de Leitura nos meus primeiros anos do ensino médio, pois o nome
era sugestivo e, aparentemente, era algo simples.
A princípio, a escola ainda era um ambiente desconhecido,
o que adicionou mais magia ainda na experiência. Eu era o Pequeno
Príncipe chegando em outro planeta. Em uma sala isolada, estáva-
mos eu e outros alunos participantes junto ao multiplicador, o qual
iria conduzir a leitura, com o apoio de um coordenador. Tudo ocor-
reu de forma natural, ninguém havia sido cativado ainda, éramos
uns para os outros apenas pessoas ordinárias até então.
De início, era só uma roda, mas depois parecia que as cadei-
ras estavam de mãos dadas, nós estávamos de mãos dadas e também
os livros em nossas mãos. Apresentações, expectativas, orientações e
então foram recitadas as primeiras palavras, as quais deviam ser má-
gicas pois de súbito estávamos em outro lugar e eu poderia visualizar
tudo que era lido. E todos se divertiam. Todos? Sim, pois, em um
círculo, não há exclusão.
Fomos a vários planetas até voltarmos ao nosso. E eu fui
apresentado a cada um pelo multiplicador que era como um guia de
turismo. E eu sabia que eu deveria assumir essa função e iniciar meu
próprio círculo. Foi rápido compreender isso, mas foi difícil aban-

21
donar minha raposa, soltar as mãos, pois, quando eu menos percebi,
aquilo já havia me cativado.
Então, o círculo foi fragmentado em vários outros. E com
uma nova roda eu pude sentir a conexão: eu estava conectado a
vários círculos, por meio de pessoas ou pelos livros, como vários
universos, como trilhões de células formando um organismo. Um
sorriso e continuei a missão. Eu sabia que aquilo era mais do que um
círculo e, por isso, eu nunca iria esquecer. O círculo ficou tatuado
no meu coração.

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2. Ana Clara Moraes de Sousa
EEM José Ferreira Barbosa

Círculo Encantado

Vim falar pra vocês


De uma boa experiência
Que eu tive prazer de viver
E aproveitar com toda inteligência.

O Círculos de Leitura
Nos deixa encantados
Pois cada história
Traz um aprendizado.

Ser uma multiplicadora


É uma grande responsabilidade
É ser sonhadora
E descobrir habilidades.

A cada texto lido


Você fica entusiasmado
Pois vê o aprendizado
Que dali pode ser retirado.

23
A maioria das obras
É voltada para delicadeza
Algumas falam mais de crianças
Outras já são voltadas para a realeza.

Todas têm o seu valor


E o seu ensinamento
A mensagem passada pelo autor
É de grande esclarecimento.

Os títulos marcantes
Mostram bem os personagens
Que são fortes
E cheios de coragem.

A cada livro lido


Podemos perceber
Que somos até parecidos
Com o personagem e seu jeito de ser.

Espalhados por esse mundão


Existe sempre
Um Ulisses, um Fernão
Que buscam ir mais à frente.

24
Tem sempre aquela pessoa
Que está a procurar
Pela sua ilha desconhecida
E com determinação ela irá encontrar.

Tem aquela menina


Curiosa e animada
Que nos lembra Teresinha
E nos deixa encantada.

E aquele menino
Pequeno e tão sonhador
Com pensamento bonito
Dono de um jeito encantador.

São tantos personagens


Cada um com sua personalidade
Todos passando suas mensagens
Nos apresentando a diversidade.

Esse foi o meu depoimento


Sobre esse incrível projeto
Que é feito com comprometimento
E nos faz ser tão completo.

25
3. Antonia Juscilene Oliveira Dias
EEM José Ferreira Barbosa

De algumas experiências que já tive na vida, ter a oportu-


nidade e privilégio de ser multiplicadora do programa Círculos de
Leitura, foi a que mais me acrescentou como ser humano.
Sempre amei ler e depois desse programa passei a praticar a
leitura de outra maneira, comecei a ler e a trazer maior aprendizado
para o meu cotidiano. Fazendo, assim, de cada livro a porta de en-
trada para o meu crescimento intelectual.
Um dos livros que mais me tocou e encantou foi Fernão
Capelo Gaivota de Richard Bach, pois o mesmo me indagava cons-
tantemente sobre a severa realidade da vida. À medida que ia de-
senvolvendo a leitura, também percebia que me identificava com
aquela gaivota que ousou quebrar padrões e tabus para ir em busca
da construção do novo eu.
Fernão Capelo Gaivota é um jovem frustrado com o mate-
rialismo e a limitação da vida de uma gaivota. Ele é apaixonado pelos
voos de todos os tipos, e a sua alma decola com suas experiências e
emocionantes triunfos de ousadia e feitos aéreos.
O fato de não se conformar com a limitada vida, leva-o a
entrar em conflito com o seu bando. Mesmo com todas as contradi-
ções dos seus, ele continua a busca incessante de atingir o que tanto
almeja.
Embora seja tomado por uma determinação sem igual, o
sentimento de rejeição também o domina. Todo o esforço feito por
ele, era para o bem comum do bando, o seu propósito era aprimorar
o voo para que pudesse mergulhar nas mais profundas águas e trazer

26
os melhores peixes para a refeição dos seus, já que se alimentavam
com restos que os navios pesqueiros deixavam.
Esse livro me mostrou que buscar me aprimorar não seria
benéfico somente a mim, mas para todos os que convivem ao meu
redor, uma vez que influenciaria no meu posicionamento perante ao
próximo, passando assim a ter um olhar mais humano e humilde.
Então, que sejamos como Fernão Capelo Gaivota, que todos
os dias busquemos aprimorar o vôo e decolar até o mais alto, profun-
do e longo de todos os caminhos.

27
4. Gabriela Ferreira Fernandes
Etec Tiquatira

Experiência de voo

Foi no auditório escuro e cheio,


Cheio de jovens, de sonhos.
De pesadelos.

Ali, olhei para o horizonte,


Pouco entendi. A luz era forte
Logo me cegou.

Mas curiosidade me moveu.


Então, me vi por três dias,
No aconchego de um círculo na biblioteca.

Em meio aos que antes viam só migalhas,


Alguém voava alto. Aline se chamava,
Nunca me esquecerei.

E ela nos conduziu pelos três dias.


Um dia. Um texto. Um encontro
Muitas histórias.

28
Arrumou nossa postura,
Estendeu nossas asas,
Observou o vento,
E encorajou-nos!

Levantei com aqueles,


O primeiro grande voo.
Achamos juntos os diferentes céus.
Céus esses, que estavam dentro de nós.

Ao aterrissarmos,
Ela orientou:
Que multipliquem!
O que aprenderam,
O que sentiram.

Ainda voávamos desengonçados,


Mas não poderia guardar o céu
Apenas em mim.
Então fomos,
Páginas viradas,
Ideias exaltadas,
Diversidade aflorada,
Corações adentro...
Durante o ano,
Tive a honra de ser chamada assim:
Multiplicadora.

29
Mesmo com o voo se aprimorando,
Há sempre algo novo
Dentro do outro,
Ou de nós mesmos
Nas entrelinhas
E no encontro.

E quando ocorre alguma falha nesse voo?


Paramos para o conserto,
No anafado deserto
Conhecemos príncipes,
Cobras e raposas,
Plantamos rosas
Desenhamos carneiros.
Logo, o erro vira brilho,
Como o da Estrela.
E voo volta!

Muito temi,
Ao pensar que aquilo acabaria....
Mas vi que é algo que não acaba!

E cá estou ainda com o voo dentro de mim.


As lembranças constroem-me diariamente.

Sempre digo:
“A vida é feita de momentos.”
Esses momentos fizeram parte da construção de minha vida.

30
“Nossa mente é sustentada por lembranças”
As lembranças da leitura ajudaram na sustentação de meu
intelecto.

E o carinho e o aconchego dos encontros?


Eles ainda são presentes
No olhar crítico,
No repertório adquirido,
Nas cartas trocadas.
Presentes com a responsabilidade de quem cativou o prazer
do conhecimento.

Agora, já que é poesia,


Falemos de amor!
Mas não esse amor simplório e estereotipado,
Longe disso...
O amor ampliado,
O que é uma escada para o conhecimento,
Aquele despertado nas trocas do diálogo,
Licença peço a Guimarães para usar seu neologismo que ex-
pressa o meu EU restabelecido: PENSAMOR

Ah! Esse amor...


Nos momentos de crise trouxe-me
Gratidão,
Nos bons momentos,
Realização!
As vozes cavernosas,
Afastou.
31
Richard Bach,
Dostoiévski,
Guimarães Rosa,
Homero,
Shakespeare,
Hanna Arendt,
Saint-Exupéry
Machado de Assis.
E muitos outros...
Verdadeiros fidalgos,
Com o abraço eternizado em suas palavras.

Hoje percebo,
A luz que antes me cegou
Ajudou-me a olhar ao alto,
Para dentro e para fora.
Poderia ser o acaso?
O destino ou a vocação?
O Senhor?!
Talvez tudo isso,
Talvez haja certa substância,
Uma vaquinha que nos guie,
Pelos desconhecidos caminhos que nos elucidam
pelas páginas lidas, relidas e debatidas.

32
5. Alynne Ferreira Sousa
EEEP Professora Luíza de Teodoro Vieira

Desde que os livros entraram na minha vida, sou tocada de


formas diferentes. É incrível como podemos viver tantas vidas e ver
tantos pontos de vista apenas por ler. Parece que não precisamos
passar por todos os problemas da vida para aprender como lidar
com eles. Cada personagem nos ensina coisas diferentes. Quando
nos identificamos com algum, podemos sentir suas dores, alegrias e
conquistas. Por mais de uma vez, terminei livros aos prantos, para-
da em uma estação de metrô qualquer. Tudo isso por conseguir ver
cada história com um novo olhar. Olhar treinado pelos livros que os
Círculos de Leitura me apresentaram.
Com o Fernão Capelo Gaivota aprendi a não desistir dos
meus objetivos, por mais estranhos que pareçam às pessoas ao meu
redor. Ele foi capaz de treinar, mesmo com todo o julgamento que
recebeu. Mesmo que todo seu povo tenha virado as costas para ele. E
apesar de tudo, teve a humildade de voltar e se oferecer para ensinar.
Ao ler O Caminho de Homero, aprendi mais sobre a empatia.
Se colocar no lugar do outro, principalmente nas condições em que
os personagens se encontravam, não é nada fácil. Fazer piadas para
aliviar a dor das pessoas que viviam uma guerra é um ato heroico.
Homero queria fazer do mundo um lugar melhor. Acho que ele me
ajudou um pouco nisso.
O Pequeno Príncipe era insistente. Mas não é insistente em
um sentido ruim. Ele sempre tinha suas perguntas respondidas, não
importava o quanto precisasse perguntar. É um exemplo de persis-
tência, assim como Fernão. A raposa tem um papel importante no

33
que diz respeito a criar vínculos. Ela foi capaz de mostrar que, apesar
de se deixar cativar por alguém, também é importante deixar a pes-
soa livre.
Kouros sempre foi o livro que mais gostei de ler em forma-
ções. A leitura dramática traz uma dinâmica diferente no dia a dia
dos alunos. Eu diria até que facilita a conexão com a obra. Entre as
frases de impacto, as três que mais me marcaram foram as seguin-
tes: “Lutar, vencer, sem matar”. No contexto em que o Teseu tinha
apenas duas opções - matar ou morrer - foi apresentado uma terceira
opção: transformar. “Ser forte é saber controlar a própria força” me
ensinou que não basta ter uma capacidade absurda. É preciso saber
controlá-la. E por último, “os velhos têm tempo, os jovens não”. De
início pode parecer que não faz tanto sentido, mas quando paramos
para pensar, os jovens estão sempre correndo. Nunca têm tempo
para nada. Os velhos entenderam que correr não é necessário. Tudo
se resolverá no tempo certo.
Por fim, cada enredo foi capaz de moldar uma parte do que
sou hoje. Sou muito grata por conhecer personagens que, sozinha,
eu não teria conhecido. Cada formador e aluno que passaram por
mim e dividiram suas vozes, suas ideias, seus tempos, foram e são
importantes pela pessoa que me tornei.

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Tema 02:
Sonhar

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1. Pauliana Lima
EM Flávio Rodrigues

O chão adormecido no baú dos sonhos


(sonhei e aprendi).

Sonhei logo no início que a confiança é uma das mais im-


portantes virtudes, que através dela conseguimos construir nossos
alicerces;
Sonhei que a solidão é como um vazio, que só pode ser
preenchido quando recebemos ajuda;
Sonhei que as histórias contadas por nossos antepassados,
são histórias que fazem parte do nosso ser, e através delas, tecemos
nossas vidas;
Sonhei que nossas vidas podem ter vários obstáculos, mas
mesmo assim a esperança pode brotar em nossos corações, como um
mar de água salgada que consegue ter vida;
Sonhei que diante do imenso mundo somos como pequenas
pedras e que como elas, temos nossa devida importância;
Sonhei que a compreensão é a melhor forma de curar dores
interiores;
Sonhei que a ingratidão nos torna infelizes e retira toda nos-
sa beleza interior e consequentemente a exterior;
Sonhei que necessitamos da ajuda do próximo, para conse-
guirmos construir melhor nosso chão;
E sonhando por meio do conto aprendi que esse sonho é na
verdade a vida, na sua forma mais singular.

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2. Alícia Araújo
EEEP Maria Cavalcante Costa

Era domingo, daqueles sem sol, um domingo calmo, sem


grandes eventos, nem muitas vontades, onde só se quer passar o dia
deitado. Mas, ao decidir desligar o celular, lembrei-me de que há
tempos não lia nada por puro prazer, e resolvi concluir a leitura de
um livro que há alguns meses havia largado na metade, O Pequeno
Príncipe, uma história que gira em torno das aventuras, descobertas
e aprendizados do Pequeno Príncipe, e que, até onde me recordo, me
trouxe inúmeras reflexões. Desejei começar a lê-lo do começo nova-
mente, e assim o fiz. Fui lendo sem pausas, nem sequer vi o tempo
passar diante dos meus olhos, apenas quando cheguei à última pala-
vra do livro, notei que já estava para anoitecer. Com o passar da noi-
te, uma onda de pensamentos crescia acerca do que eu havia acabado
de ler, tinha certeza de que precisava compartilhá-los com alguém, e
então resolvi ligar pra Gabrielle, uma ótima amiga e ouvinte. Passa-
mos quase a noite inteira citando as frases mais marcantes do livro e
refletindo sobre cada uma delas.
Com a frase “O essencial é invisível aos olhos, só se pode
ver com o coração” entendemos sobre a importância de admirar o
simples, um abraço, nossos amores, as belezas da vida. O trecho “As
pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de pontes”,
fala sobre a dificuldade das pessoas de se conectarem umas com as
outras, e todas as questões acerca das não demonstrações de afeto. “É
preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as bor-
boletas”, nos faz pensar sobre a importância de momentos difíceis
em nossas vidas e como eles, no fim das contas, nos ajudam a crescer

38
e a nos tornarmos mais fortes. Depois de horas de muita conversa
no telefone, decidi que estava na minha hora de dormir, me despedi
de minha amiga e desliguei. Deitei-me ainda com aquilo tudo na
minha cabeça, a conversa, o livro, as reflexões, a vida, o Pequeno
Príncipe, até que caí no sono gradativamente e, naquela noite, eu
sonhei, sonhei que era eu quem estava naquele deserto, viajando por
todos aqueles planetas, conhecendo, aprendendo, me aventurando.
E desejei que todos os meus dias fossem assim.

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3. Chris Bianca Melo da Silva
EEEP RITA MATOS LUNA

Houve um tempo em que me sentia mais sem chão do que


hoje… E realmente não sabia que ser sem chão era o “estar” daquela
forma. Talvez eu não me sentisse como a personagem principal da
obra O Chão Adormecido no Baú dos Sonhos, a Terezinha, me sentia
mesmo era como o pai dela, sonhador demais, tão sonhador que
esquece que precisa de algo sólido.
Tão sonhadora (eu) que esquece o que está fazendo e deva-
neia, inventa, se distrai. Talvez daí eu tenha recebido tantos apelidos
característicos e tenha me advertido tanto para ser mais atenta, mais
cuidadosa, menos destrambelhada e ter uma risada mais branda.
Terezinha se preocupa com à família, mais precisamente
como o pai porque ele gosta de coisas perigosas, porque talvez não
tenha passado da fase sonho com desempenho, e eu não o culpo,
porque já estive onde ele está e porque quase todo mundo já esteve
preso no sonho igualzinho ao Sonhador… E acordar não é simples,
requer que te amparem, requer que você aceite aquela sua parte...
Aceite que sonhar é você também. Mas principalmente que você
proponha um equilíbrio.
Algumas pessoas começam a construir o chão mais cedo, e
percebem que têm urgência de descobrir a que lugar pertence. A
menina tinha fome de ser compreendida, talvez queira compreender
o porque de ser tão jovem e ter tantos pesadelos e preocupações com
o pai.
“- Às vezes na barriga da gente tem um buraco
sem fim. - É isso, como você sabe Lucy? Tem a sensação

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de ser reconhecida no sentimento da outra, sente espe-
rança e chora de alívio. A fome passa, as cores voltam às
faces, e a menina se percebe ávida não de comida, mas
em ser vista, escutada, entendida. Para isto a viagem.”

Terezinha em toda sua jornada me lembrou como eu me


sentia quando não era compreendida nem por mim, e que tinha
fome de saber o que eu era, o que sou. Ser entendida através de um
livro fez das palavras nele escritas o próprio banquete para a alma e
foi por isso que me emocionou tanto.
Uma vez eu fui o Pai de Teresinha, outra fui a Lucy que
sacia a fome com compreensão. E é assim que funciona, toda essa
odisseia que trilhamos nos leva a conhecer o mundo que somos e
suas possibilidades, não nascemos prontos e não é fácil, mas se não
começarmos a percorrer esse caminho não é possível descobrir nada.
Todos o s dias temos que nos lembrar do que somos e ter orgulho...
Quando descobrir que é tua risada e teu jeito de ser que te faz es-
pecial no planeta você vai amar e continuar aprendendo a viver em
equilíbrio... No mundo do sonho e no mundo real, que somados, é
o próprio CHÃO.

41
4. Sarah Cristina Lucas de Moraes
EE Professora Irene Branco da Silva

O outro lado da história do Mágico de Oz

Dorothy era uma garotinha muito rebelde, que morava com


os seus tios em uma cidade bem pequena. Certo dia, ela resolveu dei-
xar tudo para trás e viver simplesmente sem rumo. Andando por aí,
a garotinha foi parar em uma cidade mal-assombrada, onde tudo era
velho e meio desgastado, onde sempre era noite, onde havia trovões
e tempestades, mais conhecida como a cidade de Oz.
Sozinha na escuridão, Dorothy encontrou um túnel e, no
final desse túnel, parecia haver uma luz. Sem ter o que fazer, a garo-
tinha foi em direção a esta luz, só que o que ela não esperava era que
isso lhe traria consequências. Quanto mais ela andava, mais distante
ficava o final.
Ela parou para descansar um pouco quando, atrás dela, apa-
receu um espantalho meio sujo e um homem de lata enferrujado dos
pés à cabeça. O espantalho abaixou e disse em seu ouvido:
– Está com medo? Enfrente!
E logo em seguida, o homem de lata disse:
– Não tem problema, pode chorar!
Sem pensar no que poderia acontecer depois, ela, simples-
mente, saiu correndo. Um pouco mais à frente, ela resolveu parar de
novo e, atrás dela, apareceram duas pequenas fadinhas, e uma delas
disse:
– Você tem que parar!
E a outra, logo em seguida, falou:

42
– Você consegue!
Com medo e desesperada, ela saiu correndo novamente.
Chegando no final, ela se deparou com um mágico sozinho, olhan-
do para o nada. Ela se aproximou e perguntou o que ele estava fa-
zendo ali, só. E ele disse:
– Estava observando a sua jornada e percebi o quanto tem para
aprender. O espantalho e o homem de lata representam o seu cére-
bro e o seu coração; as duas fadas, as decisões que você tem de tomar
ao longo de sua vida. Você tem de entender que fugir quando você se
sente perdida, nem sempre é a melhor opção e que errar e aprender
com os seus erros faz parte. Agora, volte para a casa e enfrente os seus
problemas.
Chorando muito, ela abraçou o mágico, quando, de repente,
ouviu-se um som como o de alguém batendo na sua porta. Ela abriu
os olhos e viu que tudo não passava de um sonho. Desde então, tudo
foi diferente, pois Dorothy compreendeu que errar e aprender com
os erros faz parte do processo.

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5. Antônio Gabriel Nobre de Arruda
EEEP Maria Cavalcante Costa

Lembranças do chão adormecido

Minhas lembranças desse livro são incríveis, ele me fez lite-


ralmente viajar. Logo no início, não criei muita expectativa, porém,
no decorrer da leitura fui despertando uma curiosidade muito gran-
de pela história. Também gostaria de destacar, toda a ambientação
que a autora criou no texto, você realmente consegue embarcar na
história.
O livro conta a história de uma criança, que no decorrer de
uma viagem vai descobrindo e absorvendo muitos aprendizados, e
durante cada capítulo, vive uma aventura diferente, um ensinamen-
to diferente. Os trechos que achei bastante interessantes foram: “A
confiança é o fermento do chão que a gente carece construir” e “Às
vezes na barriga da gente tem um buraco sem fim.”. Com esses tre-
chos eu acabei fazendo analogias com os acontecimentos do nosso
dia a dia e na nossa sociedade.
No primeiro trecho, por exemplo, é possível comparar com
um trabalho, pois é necessário confiar no seu colega de trabalho para
que a tarefa seja feita. Já no segundo trecho eu fiz referência com
a depressão por exemplo, pois quem sofre ou já sofreu com isso,
sente um vazio dentro de si, creio que muitos de nós também temos
momentos assim, de um vazio, que muitas vezes se faz necessário na
vida.

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6. Emilly Menezes Leite
EEFM Lions Clube

Busca diária pela compreensão da vida

Muitos de nós passamos a vida inteira ou metade dela nos


questionando sobre para que nascemos ou o que estamos procuran-
do. Na minha humilde opinião, acho que somos quase oito bilhões
de pessoas tentando encontrar o nosso baú de chão e sonhos. É, eu
acho que é exatamente isso que estamos constantemente em busca.
Carecemos de chão para nos firmarmos e só atingimos a plenitude
da felicidade quando o encontramos.
Quando começamos a procurar o chão que nos carece, a
primeira pergunta que fazemos a nós mesmos, é: por onde se deve
começar? E eu sinto muito lhe informar, mas não tem dia, hora,
mês e ano exatos para começarmos, afinal somos bilhões de pessoas
distintas em busca do mesmo objetivo.
A vida com todo seu toque especial nos dá orientações para
onde devemos seguir, porém mais uma vez eu sinto lhe dizer que ela
não coloca setas de sinalização gigantes e brilhantes, dizendo exata-
mente para onde devemos ir. No lugar das setas, ela nos oferece algo
muito melhor, como: lugares e pessoas. Nos proporciona pessoas
como Lucy, que nos compreende, pois possuímos uma grande fome
de compreensão. Nos oferece muitas Dalilas, para aprendermos a fir-
mar o nosso caminho em paciência. Nos presenteia com Sá Antônia,
pois a vida sabe que temos que ter em quem confiar.
É meus caros, a nossa vida não é tão diferente da de Terezinha,
na verdade, ela é bem parecida. Constantemente devemos conhecer

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novas histórias e persistir na nossa. Nesta busca diária pelo nosso chão,
iremos ter medo das novas experiências que irão surgir, podem ser
elas: plantar uma flor, cozinhar, dançar nas brasas ou outras situações
que nos causarão dúvidas no início, mas com persistência e coragem
venceremos cada uma delas. Pois, todas as fases que percorremos são
camadas de chão da nossa vida que estamos construindo.
Assim como Terezinha, quando vamos ao encontro de chão,
nós crescemos, e isso é fato. Mas, eu não falo só de um crescimento
que nos faz não caber mais em uma roupa. Falo em crescimento de
sabedoria e discernimento. E todo esse crescimento nos faz obser-
var tanta vida que existe ao nosso redor, nos faz compreender assim
como Época, que por fora podemos ser belos, mas é o nosso interior
que determina a nossa verdadeira beleza.
A vida é tudo isso e muito mais. Tenho a plena certeza que
não citei nem um por cento das graças e dos desafios que ela nos traz,
mas quero lhes dizer que no final o que realmente importa, é o que
cada um carrega dentro do seu baú de chão e sonhos.

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7. Mariane Souza de Brito
Etec de Carapicuíba

O Beijo, conto de 1887 escrito por Antón Tchékhov, tem iní-


cio com a chegada de um grupo de soldados à aldeia de Miestietchko,
local onde são convidados para um jantar na casa do Tenente-Ge-
neral Von Rabbek, como acontece a todos os militares de passagem
pela região. Entre os visitantes encontra-se o Capitão Riabóvitch, o
protagonista, uma figura muito tímida e retraída, como podemos
observar a seguir:
(…) oficial pequeno, um tanto curvado, de ócu-
los e de suíças que lembravam um lince. Enquanto uns
dos seus colegas aparentavam seriedade e outros tinham
um sorriso forçado, o seu rosto, as suíças de lince e os
óculos pareciam dizer: ‘Sou o mais tímido, o mais mo-
desto, o mais incolor dos oficiais de toda a brigada!’
(O Beijo - Antón Tchékhov, p. 04).

Por sua introversão e insegurança, Riabóvitch, permanece


isolado, silencioso, apenas observando os companheiros de farda
que conversam e dançam com as mulheres presentes na reunião. O
protagonista não demonstra tristeza, apesar da consciência de que
sua aparência e sua timidez não façam dele alguém popular como
os colegas. Porém, sua suposta resignação com a própria realidade
é abalada a partir de um fato surpreendente. Nesta mesma noite,
Riabóvitch se perde na casa do anfitrião, e após entrar em um dos
quartos, um ambiente totalmente escuro, é surpreendido da seguin-
te maneira:

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(…) inesperadamente para ele, ouviram-se passos
apressados e um frufru de vestido, uma ofegante voz
feminina murmurou: “”Até que enfim!”” e dois braços
macios, cheirosos, indiscutivelmente femininos, envol-
veram-lhe o pescoço; uma face tépida apertou-se con-
tra a sua e, ao mesmo tempo, ressoou um beijo. Mas,
imediatamente, aquela que o beijara soltou um pequeno
grito e, foi a impressão de Riabóvitch, afastou-se dele
com repugnância, num movimento brusco. Ele também
por pouco não gritou, e correu para a fenda fortemente
iluminada da porta […]
(O Beijo - Antón Tchékhov, p. 07).

Apesar de saber que não é aquele por quem a mulher esperava,


o protagonista dá total importância àquele fato que para qualquer
um de seus jovens companheiros de brigada se tornasse motivo de
piada. Para Riabóvitch, o engano adquiriu uma aura mítica, com o
poder de dar a ele a felicidade que antes não fazia parte de sua vida.
Ao retornar à sala, Riabóvitch tenta em vão reconhecer a mu-
lher misteriosa entre as demais, o que é impossível, pois ele não teve
sequer uma breve visão do rosto dela. Porém, aquele beijo roubado
traz à tona os desejos ignorados de se relacionar com alguém.
Mas, novamente, toda essa tomada de consciência é deixada
de lado. Pois, ironicamente, quando Riabóvitch retorna ao acampa-
mento, avisam-no de que, durante a sua ausência, os oficiais de sua
brigada saíram à casa do General Fontriábkin que os convidara:
[…] por um instante, a alegria acendeu-se no pei-
to de Riabóvitch, mas ele a apagou imediatamente,

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deitou-se na cama e, por pirraça ao seu destino,
como que desejando fazer-lhe birra, não foi à casa do
general.
(O Beijo - Antón Tchékhov, p. 19).

Assim, Tchekhov finaliza seu conto. O que ainda surpreende


é que o seu protagonista não é, por exemplo, um homem sedentário
que conhece o mundo mais através dos livros do que pela experiên-
cia direta, mas um homem que, apesar da sensibilidade extrema, se
entrega, voluntariamente ou não, à vida ativa, um militar, alguém
que supostamente possui ou deve possuir domínio de si mesmo, al-
guém que supostamente foi treinado ou adestrado para enfrentar os
mais absurdos perigos.
Mas o valor e a reação emocional dada a uma determinada
experiência variam de pessoa a pessoa, de cultura a cultura. Dessa
forma, a aventura amorosa com uma mulher, ou ao menos, a sua re-
mota possibilidade, pode ser um conflito tão ou mais intenso quanto
estar na carnificina de uma batalha real. A hierarquia dos medos,
dos anseios e das vergonhas não é universal; a morte e a dor física
não são, necessariamente, os piores acontecimentos da vida humana.

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Tema 03:
O Pequeno Príncipe:
introdução ao amor

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1. Bianca Galante Farias de Souza
Etec de Carapicuíba

Sendo um dos livros mais vendidos da história da humani-


dade, O Pequeno Príncipe é um marco cultural. Amado e questiona-
do, existe uma pergunta que alcança a nossa mente por pelo menos
uma vez: Afinal, por que essa obra é tão popular?
Para crianças, o livro é uma obra divertida, cativante, bonita
e educativa, que estimula a criatividade e a imaginação. Para adultos,
é uma obra igualmente cativante e bela; contudo, tocante e emocio-
nal. No entanto, quando adultos, enxergamos mais na obra do que
as mentes cheias de fantasias e engenho dos pequenos. E por qual
razão, exatamente?
O Pequeno Príncipe é uma obra sobre o nosso crescimento e
a nossa realidade; essa a qual só entendemos quando crescemos. A
primeira coisa que percebemos enquanto amadurecemos é simples,
óbvia e eterna: não somos todos iguais. Não temos a mesma oportu-
nidade. Sentimos essa realidade na pele.
Pela falta de opção, presos na vida que nos foi imposta, aca-
bamos nos enclausurando nos personagens que o pequeno príncipe
encontra em sua jornada; o viciado em trabalho, o rei que governava
sobre nada, o bêbado que declina a realidade, e os restantes que nos
fazem refletir sobre quem somos e como agimos – indiretamente,
interpretamos cada personagem como um espelho de nós mesmos e
das nossas decisões.
Por fim, detidos em uma vida tão pacata, o que podemos
fazer a respeito?

51
É exatamente nessa pergunta que O Pequeno Príncipe guarda
seu significado e sua grandeza. É quando nos questionamos em nos-
sa própria consciência “Como podemos atuar para mudar?” que a
obra passa a nos carregar em uma onda de sentimentalismo que nos
leva a desembarcar em uma aventura memorável.
Crescer não precisa ser sobre deixar no passado a alegria e as
brincadeiras da infância. O processo de crescer é sobre tentar até se
cansar, e então levantar mais uma vez e tentar de novo. É sobre errar
muitas vezes, e acertar muitas vezes. É sobre improvisar, arriscar, se
dedicar e se empenhar até o dia que você finalmente irá se encontrar.
Amadurecer é se arrepender, aprender, corrigir, e continuar
tentando; ser adulto não significa se prender ao usual e pacato. Ser
adulto é continuar na estrada do conhecimento próprio, se desco-
brindo cada vez mais, cometendo os mesmos erros e os consertando
em seguida.
Talvez seja clichê dizer que temos que viver cada segundo
como se fosse o último, mas é inegável a veracidade de que cada
instante é único e nunca poderemos voltar atrás. Quando errar, não
se arrependa; aprenda. E continue vivendo até cativar a si próprio
com suas próprias conquistas e seu próprio fascínio, dado que uma
vez que aprendemos a cativar a nós mesmos, é questão de tempo até
cativarmos aqueles ao nosso redor.
E o que torna cada um de nós único, é a forma como nos
cativamos.
(E a melhor parte de viver é compreender que o essencial é
invisível aos olhos.)

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2. Letícia Pereira de Assunção
Etec Maria Augusta Saraiva

Meu Pequeno Príncipe

Já faz tempo que ele se foi


Eu pedi a ele que não fosse
Pedi que ficasse comigo
Mas já era tarde demais...
Ele me deixou

Pelo meu egoísmo...


Pelas minhas mentiras...
Eu havia magoado meu Pequeno Príncipe

Eu magoei a única pessoa


Que cuidava de mim
A única que me amava
Me amava porque eu era bela
E porque eu perfumava o seu pequeno planeta
Pequeno como era meu pequeno príncipe

Ele era único no mundo para mim


Eu espero que eu também tenha sido
Éramos apenas crianças...
Espero que um dia eu me encontre
Novamente com meu Pequeno Príncipe

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Mas há uma coisa que me consola
Ultimamente quando eu olho
Para as estrelas
Ouço a risada do meu pequeno príncipe
Como se fosse um presente para mim
Apenas para mim...
Minhas pétalas começaram a cair...
Lentamente...
Uma por uma...
Eu sinto falta dele...

Ouço sua risada mais forte...


De repente não ouço mais nada...
E tudo fica escuro...

- Rosa?

Subitamente escuto uma voz


No fundo daquela imensa escuridão...
Uma voz que pensei que nunca mais ouvir
Mas aquela foi a última vez que pude ouvi-la....

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3. Micaella Ribeiro Teotônio Dos Santos
Etec Ferraz de Vasconcelos

Deserto do Saara, 30 de dezembro de 1935

Para: Minha rosa


Oi, amor. Há quanto tempo não lhe escrevo? Tive saudades
de lhe descrever minhas aventuras, mas essa carta será mais como um
desabafo. Tenho pensado muito nessa última viagem. Até me lembrei
de nossas desventuras e do quanto elas nos foram importantes.
Minha viagem foi simples e com várias paradas. Na primeira,
visitei o planeta 325, e meu bom amigo “prepotente”. Ele me trouxe
várias lições de vida. Uma em especial me chamou a atenção: “Só
se pode cobrar algo de alguém quando a pessoa tem a capacidade
de fazer”. Ouvindo aquilo, lembrei de quando nos separamos,
justamente por cobrar um do outro, algo que ainda não estávamos
prontos pra sentir. Lembra de quantas vezes quisemos que o outro
alcançasse uma maturidade que nem mesmo a gente tinha? Quantas
vezes já não quisemos que o outro fosse menos ou mais carinhoso,
menos ou mais, isso ou aquilo?
A verdade é que éramos muito jovens, novos em amar e
entender nossos próprios sentimentos, quem dirá um do outro.
Então me afastei. Precisei pensar, e imagino que você também.
Prosseguindo minha viagem, fiz uma breve visita no planeta
327. Lá, conheci um senhor ébrio e melancólico. Perguntei a ele
porque ele estava bebendo tanto e a resposta me tocou.
Disse ele que era pra esquecer, justamente o fato dele beber...
Nessa situação, qualquer pessoa pensaria que é algo simples de

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resolver, não é? “Ora, se ele bebe para esquecer que está bebendo,
é melhor que ele pare de beber”. Parece bem simples, mas veja, não
é difícil parar de fazer mesmo as coisas que nos fazem mal? Desde
deixar de admitir um erro, apenas por orgulho, ou mesmo fingir que
não se importou com o erro de alguém que ama e... bem, deixe para
lá.
Mais tarde, no planeta 329, conheci um exausto acendedor
de lampião. Senti-me mal por ele. Ele nunca parava para descansar,
seguindo à risca um regulamento extenuante.
Vendo aquela situação, refleti sobre o quanto nos colocamos
em posições onde esquecemos completamente nossas próprias
vontades para satisfazer os caprichos de alguém. Sabe, isso é
adoecedor, murcha os resquícios de vida do planeta de qualquer um.
É uma catástrofe.
Todas essas emoções e lembranças que carrego comigo,
finalmente fizeram sentido na minha parada final, a Terra, onde
aprendi verdadeiramente o que é cativar.
Passei por diversos lugares. Em um deles me deparei com
várias rosas, que, para alguém que não lhe conhece como eu, seriam
iguais a você. Mas para mim, que reconheço teu perfume como o
único e o melhor em todo o universo, os perfumes delas são como
qualquer outro.
Foi então que entendi: cativar se trata de crescer contigo,
entender pouco a pouco nossos sentimentos um com o outro, se trata
de deixar o orgulho pra pedir desculpas e agradecer, falar e ouvir, se
trata de saber que nem sempre vamos concordar, mas sempre vamos
nos amar.

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Minha rosa, saiba que eu sou eternamente feliz em ser
responsável por ter te cativado. Estou voltando para casa.

De: Seu Príncipe

57
4. Jamyle de Almeida Aguiar
EEEP Maria Cavalcante Costa

Ceará, 06 de novembro de 2020

Querido Pequeno Príncipe,


Por meio desta carta, busco expressar toda minha gratidão. Por
ter ensinado-me tanto! Lições sobre a beleza da imaginação de uma
criança, a criatividade existente na mente humana, enquanto conhe-
ce o universo.
Meus agradecimentos por mostrar que o mundo, pode ser visto
de várias formas, as pessoas têm importância e valor, e somos res-
ponsáveis por laços que cativamos. Aprendi em cada linha, que a
infantilidade do coração deve ser conservada por toda a vida e não
permitirmos que ele seja “adultizado” por sentimentos rabugentos.
“Todas as pessoas grandes foram um dia crianças – mas poucas se
lembram disso.”
Me ensinaste tanto sobre o amor, o quanto devemos cuidar
de quem amamos, a responsabilidade que adquirimos quando nos
unimos afetivamente à alguém. As pessoas não são efêmeras, “Aqueles
que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um
pouco de si, levam um pouco de nós.” A partir do laço entre duas
delas, jamais serão indiferentes. Depois que me perdi lendo as
páginas de sua aventura, Principezinho, encontrei-me para a vida.

Carinhosamente,
A menina Jamyle.

58
Tema 04:
Amor

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1. Julia Viana Sobrinho Rocha
EE Pe. Manoel da Nóbrega

O amor possessivo

Nascemos já com mães e pais dizendo eu te amo e, ao longo


dos anos, descobrimos o que é o amor. Mas agora eu te pergunto, o
que é o amor?
Há algum tempo nós, do Círculos de Leitura, lemos um conto
chamado A Menina e O Pássaro Encantado, de Rubens Alves, e eu
achei um texto tão importante, pois devemos sempre falar sobre os
tipos de amor que temos à nossa volta, e sempre se perguntar, é um
amor saudável?
Somos todos pássaros, implorando a cada segundo para ficar-
mos livres, voar para o verde, ou para o mar, ou simplesmente para o
parque da esquina, mas como somos pássaros também podemos ser
uma menina, uma menina que ainda não descobriu o amor próprio,
uma menina que vive pelos outros, que tenta se descobrir a cada
noite, mas falha, e quando o sol toca sua pele, ela se sente sozinha e
prende o único ser que sempre quis aquecer seu peito.
Devemos começar a nos perguntar, até quando é bom amar?
sim existe um limite, o amor não pode e nunca poderá ser obsessão
e possessão, o amor é puro, nós que fazemos uma imagem comple-
tamente distorcida dele.
Ele é tudo o que vemos, até a dor tem ele, lá no fundo desse
sentimento tão cortante já existiu o amor, mas todos nós acabamos
com a leveza dele, colocamos nossos sentimentos em cima de outros,

61
e proibimos a pessoa que juramos amar de fazer algo que ela goste,
fechamos os ciclos sociais e limitamos os lugares que ela pode sair.
Que amor é esse, que prende e sufoca?
Aprendemos a amar desde pequenos, será que estamos fazen-
do certo? Ou como tudo nesse mundo, destruímos a coisa mais pura
que existia nele.

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2. Antonio Vanutti Galvão da Silva
EEEP Manoel Mano

Falar de amor é um tanto quanto difícil. Confesso que


por muito tempo tive o pensamento de que só existisse o amor
romântico entre duas pessoas, até chegar Dostoiévski, Nástenka e
o Sonhador para mudarem por completo minha concepção. Por
meio da obra Noites Brancas, descobri que existem vários tipos de
amores, dentre eles aquele amor de amigos, aquele amor fraterno,
aquele amor de almas, além do amor romântico, e que todos têm
sua devida importância e faz seu coração palpitar de felicidade. Já
parou para pensar que sua alma gêmea pode não ser a pessoa que
você vai se relacionar fisicamente pelo resto da sua vida? Nástenka
e o Sonhador me ensinaram isso, nossa alma gêmea pode ser aquele
amigo que está do nosso lado, aquele que não te abandona nunca,
pode ser a profissão dos teus sonhos que te faz acordar todos os dias
com um brilho nos olhos que contagia as pessoas ao seu redor, pode
ser aquela música que te deixa feliz e que te faz ser parte daquela
história que está sendo contada...Esse amor não precisa ser físico
para ser verdadeiro, ele só precisa ser recíproco todos os dias. Existe
uma singela particularidade nos girassóis que poucas pessoas sabem,
quando o sol se põe eles se viram um para o outro, no intuito de que
ambos sejam suporte. Nástenka e o Sonhador eram esses girassóis,
eram esse suporte, no sentido de ajudar, de compartilhar amor,
carinho e muita fraternidade, eles eram almas gêmeas. Desde então,
me inspiro completamente no amor deles, pois minha alma gêmea
pode estar na minha profissão, nos encontros com os amigos, nas
formações dos círculos, numa música que me faça feliz, na felicidade

63
em dançar São João e em muitos outros momentos. O amor não precisa
ser carnal, ele precisa ser verdadeiro, recíproco, saudável, contagiante
e feliz, assim como o amor de Nástenka e Sonhador. Existem pessoas
que aparecem no momento certo, oportuno, no momento kairótico
e que despertam o sentimento de amizade e confiança, que te
estimulam a ser melhor a cada dia e que transformam teus encontros
mais felizes. Essas pessoas te fazem contemplar a beleza e maravilha
do céu, do canto dos pássaros, do barulho do vento batendo nas
folhas, de uma leitura prazerosa. É aí que percebemos que nossa
história se renova a partir dos encontros e que o poder da lembrança
é capaz de inundar toda uma vida, pois por meio dos pensamentos
você consegue reviver encontros e ser feliz outra vez. Dostoiévski
sempre me fez pensar em relação às pessoas que chegam em nossas
vidas e a mudam completamente para melhor. Hoje, consigo ver
que tive e que ainda tenho bons encontros, que conheci e ainda
vou conhecer muitos Sonhadores e “Nástenkas”, que posso reviver
e ser feliz novamente através das minhas lembranças e que posso
me apaixonar e ter vários amores diferentes. Meu sentimento é só
de gratidão por ter conhecido a história desses dois personagens.
Gratidão a Dostoiévski por apresentar ao mundo o amor de amigos,
por meio do encontro de almas gêmeas do Sonhador e da Nástenka.

64
3. Rayan Fernandes da Silva
Etec Juscelino Kubitschek de Oliveira

O Espelho Mais Onírico

Uma noite branca?


O quê posso eu dizer
Do que pude ler?
Do texto que tédio arranca
Do estimado Fiódor
Falando sobre amor

Estranho pode soar


Mas mesmo sendo incomum
Não é devaneio algum
Todo mundo pode amar
Desde o maior escritor
Até eu, aqui, seu interlocutor

Tenho complexidade
É a mente de sonhador
É de uma casa sentir dor
Ao passear pela cidade

65
É ver moça a chorar
Tentar ela consolar

Viver em quatro noites, paixão


Noites brancas, de céu claro
À uma estranha dar amparo
E entregar o coração
Nisso tenho pensamento amigo
Aconteceria fácil comigo

Também vivo em devaneio


E fácil me apaixono
Em romantismo tenho trono
Amor eu anseio
No momento, não o tenho
Tê-lo-ei! Nisso me empenho

E o quê tem essa história


Que me chama a atenção?
Talvez a pura noção
De ver minha trajetória
Contada por outro alguém
Que narra-me tão bem

66
Foi como olhar em um lago
De água tão límpida
Ver minha aparência ríspida
Imperfeições que ainda galgo
Busco elas apagar
Para a mim mesmo melhorar

Rejeitado fui também


Nunca tive recíproco amor
Amei, assim como, o sonhador
Sendo trocado por outro alguém
E dor encontrei em demasia
Recuperando-me até hoje em dia

E nisso eu reflito
Dostoiévski me ajuda
Ao viver paixão que não é muda
Gero sempre um conflito
Com quem penso em amar
Quem tive a me declarar

67
Mas é pior calar o peito
É viver dentro do casco
Mesmo amor sendo carrasco
Fugir a ele não tem jeito
Mesmo que a si mesmo rogue
Ele insiste e nunca foge

É tão bom enquanto dura


Entrega verdadeira felicidade
Deve ser por minha idade
Minha mente imatura
Que eu me iludo fácil assim
Deixo paixão tomar conta de mim

E quando acaba a aventura


Quando resta só a dor
Cessa-se aquele ardor
Recordar vira tortura
E memória inquietante
Faz-se presente em cada instante

68
Se no lugar daquele moço
Estivesse eu em pessoa
Perder amor que em mim ressoa
Seria o fundo do poço
Não saberia o quê fazer
Qual sentimento iria ter

Mas seria meu conforto


Que feliz estivesse
Que cessaria seu estresse
Haveria a ela seguro porto
Mesmo que não seja eu
Quem amar ela escolheu

E obra é meu reflexo


Minha Nástenka, eu procuro
Vivo ainda no escuro
De ser a mim mesmo complexo
Ainda haverão paixões francas
Haverão outras noites brancas.

69
4. Francisca Vanessa de Sá Souza
Liceu Marcionílio Freitas

Minhas Faces

Homens não se apaixonam por nós,


Homens se apaixonam pelo o rosto
Que vai com a água corrente

Se apaixonam pelo os nossos olhos


Esfumados e nossos lábios vermelhos.

Homens vêm e vão como a água


Sem interesse em conhecer a pele limpa
Sem nossos pincéis,
A noite é fria e ao teu encontro
Eu vou com meu vestido modelado e saltos finos

E meus sombreamentos em minha face


Carregando a obra no rosto para te apreciar aos teus olhos escu-
ros pelo o desejo

70
Tema 05:
A Comédia Humana:
empatia

72
1. Moisés Valério Caetano
EE Joaquim Adolfo de Araujo

A Comédia Humana

O livro fala muito comigo, sua história mostra as belezas e


grandezas que habitam o simples da vida, a luz dos olhos de uma
criança.
É lindo aprender com um garoto que sabe viver, coloca amor
no que faz e vive plenamente. Não se trata de tempo, mas da energia
empregada em viver.
Ulysses, menino observador, livre de preconceitos, sente a
beleza, pois tem tempo e pureza para olhar. Para ele, o mundo é um
infinito de belezas e um universo de coisas para se aprender, parece
muito, mas havia tempo para contemplar, da beleza de um ovo, a ca-
reca de um senhor, que o fascinou, assim como a música, ah! a músi-
ca! Transforma semblantes de formas que a razão desconhece, quem
tem o semblante alterado, não encontra os caminhos do como, é
simplesmente tocado e o milagre acontece. A música compartilha
a felicidade do homem, veja o Senhor Negro, o do trem, se sentia
realizado por rumar ao seu lugar, sua Ítaca. Existem várias Ítacas,
que podem ser qualquer lugar, desde que seja o seu. Aquela música
marcou Ulysses, um pequeno trecho, virou uma enorme lembrança,
não em tamanho, mas em importância, um homem que cantava e
compartilhava sua porção de felicidade.
O senhor foi o único que respondeu ao aceno de Ulysses,
um homem sem posses, mas rico de amor, que foi enviado ao garoto
em ato de gentileza. A tristeza, o cansaço e a falta de olhos de ver,

73
fecham as pessoas para a gentileza, o aceno de alguém feliz é uma
dádiva.
Que nunca percamos a felicidade, que mora nesse olhar para
dentro de si, que nos mostra quem somos. Tema presente na pas-
sagem do missionário, que passou 30 anos se doando à igreja, e foi
questionado sobre sua salvação.
Na igreja, novamente a música levou Ulysses a sonhar, “ves-
tia roupas de domingo” É importante estar pronto para encontrar
leões, não enfrentar, pois aquele leão não transmitia medo ou perigo,
havia vida em seus olhos. Sobre roupas, as de domingo são especiais.
De maneira simbólica, essas roupas são as vestes da alma, nos veste
de bons sentimentos, pureza, amor, verdade e força para enfrentar os
leões da vida, que desafiam, mas não assustam o pronto.
Sobre olhos, aprendi que são a porta da alma, o caminho
que conduz a essência de um ser. Ulysses não vê vida nos olhos do
Mecano, pela primeira vez, experimenta o medo, a sensação de morte
de olhos sem vida. Eis que surge o jornaleiro, combatendo notícias
ruins e tragédias, consideradas falta de educação e indignas de gritos.
Coisas ruins? Não é de bom tom dar voz! Que sejam elaboradas e
curadas, mas sem gritar, seu barulho amedronta e paralisa. Coisas
ruins, curamos com vida, como as árvores, fortes, renováveis, e se
replantadas, renascem e dão frutos.
O medo de Ulysses, foi vencido pela esperança de encontrar,
na rua, alguém familiar. A família é nosso porto seguro, renova
esperanças e guia na busca de sermos, bons, pela família. Alguém que
nos é familiar, que carregue consigo tudo o que a família representa,
é família, pois a palavra família dá vida e origem a palavra familiar.

74
2. Milena Barbosa dos Santos
EEEP Irmã Ana Zélia da Fonseca

Ulisses

Ulisses é em menino admirável


Com o seu diferente olhar
Pra ele, tudo é interessante,
E a ele tudo faz encantar
Tem outra visão do mundo
E a todos sabe alegrar

Ele admira os mínimos detalhes


Até um trem chama sua atenção
Acena aos passageiros
Com uma grande emoção
Porém o que mais o admira
É ao homem cantar uma canção

Para Ulisses,
Conhecimento é poder
É um mocinho curioso
Que está disposto a aprender
Ele não se limita
E de tudo quer saber

75
Ulisses com interesse
Foi numa loja da cidade
Quando viu uma armadilha
Despertou curiosidade
Queria saber como funciona
E se tinha agilidade

Mas ao cair na armadilha


Big Chris despertou preocupação
Pediu para que o dono do local
Encontrasse a solução
Mas o Senhor da loja
Não prestou nem atenção

Agora pergunto, e se fosse você?


Que cargo iria ocupar?
Seria Big Chris, um homem,
Que estava disposto a Ulisses ajudar
Ou seria o dono da loja
Que estava preocupado com o que os outros iam pensar?

Muitos momentos de nossa vida


Encontramos pessoas para nos amparar
Mas temos que entender
Que nem todos vão nos encorajar
É preciso seguir em frente
Para nossos sonhos conquistar

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Ulisses enfrenta um momento apavorador
Conhece um homem máquina
Que lhe transmite terror
Tem olhos frios, sem vida,
Sem esperança e amor

O garotinho corre assustado


Para dali fugir
Está perdido na cidade
E não sabe pra onde ir
Até que encontra um amigo
Que está disposto a lhe acudir

Ulisses em todo o livro


Nos mostra a felicidade
Ele admira as coisas simples
Ver as belezas invisíveis da cidade
Podemos aprender com o menino
a despertar nossa curiosidade!

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3. Ciely da Silva Santos Lima
EE Padre Romeo Mecca

Doce lembrança

Começo este pequeno texto, relembrando cada momento


vivido nos Círculos de Leitura, que foram maravilhosos. Hoje sou
muito grata por ter participado deste projeto e ter tido a oportuni-
dade de me aproximar ainda mais da leitura e descobrir um mundo
cheio de aventuras.
Como é bom reviver cada momento deste. Aqui digitando
este texto me pego chorando ao escrever sobre o livro de William
Saroyan A Comédia Humana. Esse foi o primeiro livro que ganhei de
presente da ex-multiplicadora Camila, é um anjo que hoje não está
entre nós. Mas que deixou com cada um as mais lindas lembranças e
a vontade de seguir em frente mesmo com os obstáculos.
Aqui descreverei um pouco da história de Homero Macauley,
um adolescente de 14 anos que é mensageiro de telégrafo, que passa
por diversas situações e sentimentos pela sua vida, que se despede
de sua inocência para enfrentar a dura realidade da vida e que
por muitas vezes sente-se confuso e não sabendo lidar com tanta
responsabilidade que o cerca.
A partir daí ele percorre a sua cidade de Ithaca, conhecendo pes-
soas e lidando com um mix de sentimentos e principalmente tendo
que suportar a saudade de seu irmão mais velho que está em guerra
pelo seu país, sem saber se ele voltará para casa um dia.
Assim ele se depara com um telegrama de seu irmão Marcus, em
que descreve o que ele precisava saber naquele momento, seu

78
eterno carinho e amor por ele e como ele deveria seguir se ele não
voltasse. Então, Homero sente-se com raiva em perceber que isso
poderia acontecer.
De fato, aconteceu, seu irmão não voltou para casa, nunca iria
voltar. Como ficariam as coisas? Como Homero ficaria? Como iria
enfrentar o luto?
Esse foi o sentimento que senti ao finalizar essa linda história
e pensar como a família Macauley seguiria. Para minha surpresa,
a mãe de Homero, mesmo nervosa com toda situação, olha para
o amigo de Marcus que retornou para a cidade e foi ao encontro
deles, sorriu e o chamou para conhecer a sua casa. Pois é, isso foi
uma grande lição de vida e força para enfrentar tais sentimentos e
me pego recordando também dos encontros que tive com a Camila,
que foram exatamente como a mãe de Homero fez, mesmo eu so-
frendo pela ausência de uma amiga, eu posso sorrir por tudo que ela
nos ensinou e seguir em frente com aquilo que sonhamos. Por isso,
essa história foi tão marcante pra mim e dou a esse pequeno texto
o título de Doce Lembrança, pois através desse livro posso recordar
cada momento em que vive neste círculo e olhar para onde estou
hoje e ter orgulho de ter tido a oportunidade de conhecer uma das
mais lindas almas Camila, como os amigos de Marcus e a família de
Homero o conheceram.

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Tema 06:
A importância das ajudas

80
1. Isabella de Cássia Romeo
EE Maria Aparecida de Castro Masiero

A Princesa Viajante

Eu aprendi a amadurecer da forma mais difícil possível, per-


dendo o que amava, no começo foi doloroso, ninguém gosta de per-
der seu melhor amigo, seja ele real ou imaginário, mas com o tempo
comecei a entender que amadurecer é necessário, por mais que não
seja o que queremos.
Ainda guardo as cartas que minha amiga imaginária me man-
dava, elas até hoje me mostram que a felicidade não está em algo,
mas sim em alguém.
Estava andando naquela mesma praça, fazendo os mesmos
caminhos de criança, só que agora com outra visão de mundo, o
sumiço da boneca amada não era mais minha prioridade, crescer me
machucava, mas era necessário.
Tinha uma menininha sentada no banco, estava de máscara
e não tinha cabelos, mas usava um belo vestido de princesa, infeliz-
mente seus olhos estavam tristes, senti que era necessário falar com
ela, eu conseguira me ver exatamente com aquela mesma feição há
muitos anos atrás, me sentei ao seu lado
-Por que uma princesa tão bonita está tão triste? -perguntei
para a menina que me olhou com os olhos marejados
-Eu não sou uma princesa...- a menina respondeu triste
-Eu discordo, seu vestido é simplesmente lindo
A menina não me olhava nos olhos, hora ou outra tossia um
pouco, depois de um longo silêncio ela disse em meio a lágrimas

81
-Princesas não são doentes... elas têm cabelos lindos e estão
sempre sorrindo...
Finalmente tinha entendido a situação, ela se sentia diferente
do que conhecia, naquele momento senti na pele o que o “carteiro
de bonecas” sentiu quando me viu chorar.
-Nem todas as princesas são iguais... olhe para mim... sou uma
princesa que nem sempre está sorrindo ou se sente linda, porém con-
tinuo sendo uma princesa...
A menina me olha espantada, totalmente incrédula
-Você é uma princesa!? – perguntou a menina, que pela pri-
meira vez me olhou nos olhos
-Claro que sou, somente uma princesa reconheceria outra!
A menina me olha com carinho, mas não estava totalmente
convencida da minha resposta.
-Nem todas as princesas usam coroas o dia todo, muitas estão
trabalhando, cuidando de seus reinos e também se cuidando... O
que te faz uma princesa não é seu cabelo esvoaçante, mas sim seu
coração generoso e seu amor pelos seus súditos...
A menina parecia menos triste, mas ainda não tinha sorrido
-Me encontre aqui amanhã, nesse mesmo horário -disse sor-
rindo para a pequena princesa
No dia seguinte ela estava lá, com o mesmo vestido magnífico
e com a mesma feição triste, me sentei ao seu lado e entreguei uma
coroa para ela.
-Essa foi a coroa que ganhei do meu reino, ela ficaria linda
com seu vestido!
A menina olha para a coroa com um olhar feliz e amoroso,
naquele momento coloquei a coroa em sua cabeça

82
-Como pensei, ficou magnífico!
-Mas... não posso ficar com ela, é sua
-Eu prometi que a entregaria para uma princesa de coração
puro, depois de anos de procura finalmente a achei, e sem dúvida
você é a princesa mais bela de todos os reinos
Pela primeira vez a menina sorriu, ela brincava com a coroa e
corria com ela para todos os lados. Todos os dias era isso, nos encon-
trávamos e eu contava a história do meu reino e de todas as aventuras
que eu vivi, pelo menos que ela acreditava que vivi, ela sempre ficava
extasiada com as aventuras e me perguntava quando seria as dela,
todos os dias ela sorria e se sentia a princesa que ela acreditava ser, e
no fundo realmente era.
Ela infelizmente não apareceu mais, demorei para aceitar que
a pequena princesinha poderia não estar mais feliz e cheia de vida,
não sabia como era sua vida longe daquela praça, mas sabia que onde
quer que ela estivesse ela ainda seria a princesa mais linda de todos
os reinos, hoje agradeço o “carteiro de bonecas” por ter me mostrado
que o sorriso de uma criança é o presente mais precioso que pode-
mos ganhar.

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2. Vitoria Silva de Andrade
EE Maria Aparecida de Castro Masiero

Survive Now, Cry later

Quando li Kafka e A Boneca Viajante, percebi o valor do


cuidado a coisas que, aos nossos olhos, não são detalhes importantes.
Tratamos a perda como um fato, um acontecimento, um momento
a ser urgentemente superado. A perda é um detalhe, pois faz parte
de uma passagem, a que chamamos de maturidade. Ao nascer, a pri-
meira coisa que perdemos é o ambiente ao qual nos desenvolvemos,
e choramos. É doloroso perder um lugar, uma pessoa, um objeto de
carinho, um lar, uma boneca... Já senti falta de momentos que nunca
vivi, e me perguntei por um tempo “o que leva alguém a sentir falta
de momentos que nunca viveu?”, acho que é um efeito colateral da
expectativa, e para que nos serve isso, além de projetarmos uma rea-
lidade inexistente que conforte nosso presente? A expectativa pode
vir com efeitos colaterais, um dos mais frequentes é a decepção. Sei
que ao longo da vida me deparei com alguns efeitos colaterais, assim
como a Elsie, senti, muitas vezes, a expectativa do infinito sobre coi-
sas boas demais para acabar, ou melhor contextualizando, para par-
tir. Eu cresci e vi que a vida não é feita principalmente de comemo-
rações, formaturas, medalhas e prêmios, e sim de frações do meu dia
como pegar uma chuva de verão, pintar o cabelo de outra cor, olhar
para um amor e enfrentar seus olhos furiosos, ouvir da minha mãe
antes de sair de casa que Deus vai me acompanhar. No dia-a-dia,
também há perigo, pois somos esvaziados com a nossa trivialidade,
por nós e pelos outros. E quando menos se espera, de repente você

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se vê, outra vez, naquele lugar do seu coração, em pedaços, e percebe
que esse espaço, ou seja, o amor, é preenchido de tempos em tempos.
É preenchido por um cachorrinho na rua que recebe seu gesto, ou
em dias de frio que você sente aquele cheiro do café e do conforto
que ele traz, ou acaso você lê algo que te arrebata e é exatamente
aquela dose de palavras que preenchem seu espaço, novamente. Mas
veja bem o que estou escrevendo. O tempo precisa passar, senão, dói.
Podemos supor que o tempo é a vida, se ele não passar, nada acon-
tece, não tem futuro. Sei que precisamos de explicações melhores do
que essa. Mas o tempo é necessário, em cada aspecto da vida cotidia-
na se faz presente a fagulha da esperança que carregamos, é isso que
deve nos dar a energia para viver, os detalhes, o todo. Concluo que,
temos em nós, uma percepção oculta de onde deveríamos estar ou
não, alguns chamam de pressentimento. E Kafka estava exatamente
no lugar ideal para ir de encontro ao maravilhoso, esse lugar é ele
próprio, havia dentro de si, uma alma cheia de empatia. Então, para
todas as Elsies, que estão agora sentindo a perda, a devastação não é
tão cruel quando é acompanhada de cura, precisamos nos permitir
curar, uma dor, uma perda... Um sentimento é um processo, não
deve ser segurado mais do que o necessário. Como é esplêndida a
razão de que tudo há de passar!

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Tema 07:
Superação

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1. Andrya Braga Nunes
EE Maria Aparecida de Castro Masiero

Quando me mataram…

Na minha percepção, nós morremos diversas vezes durante


a nossa vida, e somos assassinados por diversas pessoas diferentes,
pode parecer exagero, mas toda boa história tem um fundo de exa-
gero, eu vou explicar.
Hoje me mataram, ontem também, e talvez quem fez isso
não se dê conta nem se fosse me enterrar hoje, foi uma morte interna
e silenciosa, uma morte de alma, ninguém nem notou, só eu.
Desde que me conheço por gente tenho coisas muito bem
definidas na minha cabeça e sentia como se tudo fosse possível, até
hoje.
Morri pela primeira vez quando me deixaram, viraram as
costas para mim e eu nunca soube o motivo, e até hoje todos os
dias eu tenho tentado recuperar a minha vida, até que me mataram
de novo, só que foi uma pessoa diferente, em um local diferente e
por razões diferentes, e desde então nunca tenho me sentido viva de
novo.
Eu sei exatamente quem me matou, onde me atingiu com
a sua ignorância, sua soberba, sua falta de cuidado com as palavras,
eu sei, eu ainda sinto, mas a pessoa não, e este é um fardo na vida.
Mas assim como podemos morrer tão facilmente podemos
matar aqueles que amamos somente com meia dúzia de palavras,
mas não sentimos o impacto da mesma maneira que aquele para
quem dizemos aquelas coisas.

87
Acredito que pelo menos alguma vez na vida todos nós já
morremos e já matamos, alguns simplesmente conseguem achar a
sua vida de volta mais rapidamente.
Quando me mataram foram as pessoas que eu mais amava,
aquelas a qual eu entreguei o meu coração e lá eles me tinham sem
qualquer armadura ou forma de defesa, arrancaram pedaço por pe-
daço do meu coração que já havia sido partido.
O mais engraçado é que esse tipo de morte, morte de alma,
parece doer mais do que a morte de corpo.
Não me esqueço daquele dia, não me esqueço daquelas
palavras, não me esqueço do rosto daquela pessoa, a qual eu só
esperava amor. Mas agora eu estou aqui, com minha alma morta, e
meu corpo procurando por um sopro de vida por ela, vou ficar bem,
não se desespere, tomara que eu tenha outra chance, de escrever
sobre a minha próxima morte. Estou buscando a minha vida, até
que alguém me mate novamente.

88
2. Laine da Silva Carvalho
EEM Jaime Laurindo

Minhas experiências nos Círculos de Leitura foram ótimas,


recomendo muito para pessoas que sofrem de ansiedade e depressão,
pois ele ajuda muito.
As pessoas que conduzem os Círculos, conversam e brincam
comigo, e isso é muito bom. Os livros que mais me inspiraram fo-
ram O Pintor, A Cidade e O Mar e A Ilha Desconhecida, porque ele
me representou bastante. Desde que entrei no círculo, eu não desejo
sair; nele eu consigo me expressar de uma forma que não consigo em
casa ou na escola em si. Esse projeto foi um dos mais importantes
na minha vida, eu estou saindo de uma fase muito cansativa, por
causa dele. Os livros são bem escolhidos e bem refletidos. Eu me
sinto mais à vontade, participando desse círculo. Eu falava muitas
gírias, e desde que comecei a ler com os participantes do Círculos,
que eu comecei a falar um português bem aceito. No começo eu não
me senti à vontade em falar sobre o livro, mas depois que os livros e
meus amigos leitores começaram a me tocar, eu consegui refletir os
livros, comecei a trazer novas coisas ao Círculos. me sinto grata por
participar desse projeto”. Eu sou uma ilha desconhecida, perdida
algures neste oceano. Não me conheço, não me sinto, não me tenho
e quando me procuro, não me encontro. Tento dar um pouco de
mim, todos os dias. Tento libertar-me e gritar quem sou. De que me
serve tudo isso? Sou uma ilha desconhecida, igual a qualquer outra.
E como qualquer outra, espero um barco que me mostre, afinal de
contas, quem sou eu e o que faço perdida no oceano, no meio de
tantas ilhas todas diferentes, todas distantes.

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3. Priscila da Silva Araújo
EEM Jaime Laurindo

O pintor

De tudo vi, pintei, guardei


De tudo vivi, aqui, sozinho
As cores na tela, toda essa aquarela
Não falam de mim,
Talvez seja sobre você

Não há graça em continuar neste topo


Se não me vejo no esboço
Se não estou na pintura
Se não encontro nenhuma chave
Para a misteriosa fechadura.

Depois de tudo que vi, pintei, guardei,


Nada me resta, meu bem.
E não me encontro,
Não me encontro tão bem.

Sei que não faz sentido


Tenho meu material, agora conheço o mar, as ondas, o que a
ronda

90
Só resta, para mim, me conhecer,
Eu nem sei sobre a palma da minha mão
Nem sei com exatidão.

São tantas rimas irritantes,


Tudo tão semelhante.

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4. Sabrina Estevão Ferreira Da Silva
EE Maria Aparecida de Castro Masiero

Eu sou corrupta, infelizmente eu sou, talvez não no exato sen-


tido que Tereza, personagem da peça Alma Despejada, não lembro
exatamente todos os erros que a fez ser corrupta, mas, no meu caso,
digo corrupção no sentido de me corromper pelos outros, desgas-
tando-me mentalmente e fisicamente e, esses outros não valerem
nenhuma pena. Mesmo assim, eu cometi o mesmo erro que Tereza
e percebi que esse também é um dos meus maiores erros, porém,
percebi também, esse erro (e uns outros) a tempo, a tempo de viver,
a tempo de aproveitar, a tempo de me descobrir, a tempo de ser eu
mesma…
Essa história é bem marcante e impactante pois ela sabe bem
mesclar os estilos, trazendo até mesmo partes cômicas. Na história, a
própria Tereza fala isso, sua amiga a ensinou a levar a vida com picos
de comédia para viver com equilíbrio. Fazendo-me, também, refletir
que todos somos os protagonistas na nossa própria história, e os de-
mais são coadjuvantes ou até mesmo figurantes, assim, eu entrei em
um conflito de ideias.
Sinto-me como uma mistura de água com qualquer tipo de sa-
bão, detergente..., na verdade, todos nós (na sua visão, ou seja, sendo
o protagonista), pense comigo, olhando na minha visão para eu te
explicar melhor, eu sou essa mistura dentro de um potinho próprio
para fazer bolhas de sabão, e cada bolha que dele sai, é formada uma
bolha social que a própria sociedade (coadjuvantes) impõe, então, eu
infelizmente vivo em várias bolhas, não porque eu criei, apenas, por
ser a água e o sabão que faz ela existir, mas não foi eu que soprei, a

92
sociedade soprou e criaram-me nelas já.
Eu e muitas pessoas apenas mantemos essa bolha no ar, pois
temos medo de furá-la, com medo de perder algo ou alguém, na
verdade, a maioria das pessoas já nascem nas bolhas, mas também,
muitas pessoas entram em bolhas, não tem muito como medir isso,
mas sei, que eu vivo em bolhas sim! É muito difícil de estourarmos,
você vê poucas pessoas falando disso, e as que falam, geralmente são
pessoas que estão no processo ou já saíram delas, mas essas pessoas
dizem que é libertador, você ganha ar, fazendo com que você pare de
ser sufocado, também, faz com que nossa visão seja mais ampla da
realidade, fazendo nós enxergarmos fora da visão do protagonista, e
após a bolha ser estourada, viramos todos ar, mostrando que somos
iguais e nos conectamos, assim como mostra Tereza quando fala na
história, quando ela está na sua pós morte.
Eu já estourei várias das bolhas que eu estava, mas eu sei, é ex-
tremamente estranho ter ar de novo, as coisas vão acontecendo e eu
só sigo o barco, nem chego a me questionar, apenas vou refletindo,
após estourar as bolhas fica tudo novo, as vezes parece aquela questão
de “você atrai o que você sonha” ou “você atrai coisas boas e ruins,
mas isso depende das suas atitudes e pensamentos”, e simplesmente
essas coisas foram acontecendo nas bolhas, e por mais que pessoas
apareçam nelas, poucas permanecem, por minha causa ou por deci-
são própria delas. E aí você vai sufocar ou vai querer respirar?

93
5. Marcos André Barbosa de Oliveira
EEEP Balbina Viana Arraes

As lembranças da leitura deixaram marcas fortes e importantes


na minha vida. Quando criança, na fase da alfabetização, fui diag-
nosticado com transtornos de aprendizagem: dislexia e dislalia. A
escola não conseguia me alfabetizar. Por meio de estímulos à leitura,
consegui sanar minhas dificuldades com as letras. A leitura me fazia
sonhar, despertava em mim projeções futuras, foi luz que me enca-
minhou para a aprendizagem.
Tive acesso a diversos textos, cresci em volta de coleções de
livros infantis, revistas e gibis e à medida que o tempo passava, eu
me apegava a outras leituras, como, livros de sagas HQs da DC e
mangás japoneses. Aprendi que qualquer leitura é válida, porém não
podemos consumir apenas um tipo de conteúdo. É necessária uma
certa maturidade intelectual para agregar na nossa vida outras leitu-
ras. Foi justamente o que o projeto Círculos de Leitura me possibi-
litou perceber.
Os Círculos chegaram no momento certo da minha vida. No
primeiro ano do ensino médio, ingressei no Programa como parti-
cipante e assim pude externar meus pensamentos e sentimentos. A
alegria foi contagiante quando fui convidado para exercer a função
de multiplicador. Sonhava em repassar meus conhecimentos sobre
os livros que li, sobretudo O Pequeno Príncipe, livro que conheci e li
diversas vezes. Entretanto, para minha decepção, me deparei com o
conto O Espelho de Machado de Assis. No auge dos meus 15 anos,
como grande parte dos jovens, odiava ler qualquer obra que fosse
desse autor. Sempre soube o quanto ele foi e é de grande importân-

94
cia para a literatura brasileira. Contudo, a forma como suas obras
são trabalhadas nas escolas, deixam a leitura entediante e forçada.
Tudo se resume numa Ficha de Leitura com o fim de obter uma
nota. Minha surpresa foi total quando o conto foi apresentado. O
modo como os multiplicadores conduziram toda leitura e discussão
foi essencial para o aproveitamento. Assim, conheci e passei a amar
o conto do Jacobina, e a forma como Machado descreve um homem
simples e comum pode se perder totalmente do seu verdadeiro “eu”
por receber um simples status. Provavelmente se meu encontro com
essa obra tivesse acontecido em uma ficha de leitura, seria só mais
um livro lido que eu iria esquecer logo em seguida. Discutir, refletir
e compartilhar opiniões durante a leitura me proporcionou muitos
questionamentos. Conversar em Círculos sobre as metáforas usadas
no livro, o que entendemos sobre ter duas almas, uma com olhar
interno e outra com olhar externo, mas que precisam ter equilíbrio
para não gerar conflitos sociais e pessoais. Depois de concluir O Es-
pelho, eu finalmente entendi o porquê de Machado de Assis ser tão
prestigiado e admirado. Isso me fez refletir: Por que nossas escolas
não trabalham nossa literatura da mesma forma que os Círculos tra-
balham?
A leitura nos Círculos me aprimorou como leitor e multipli-
cador. Isso tudo foi de tamanha importância para minha formação
como pessoa. O projeto foi um leque de oportunidades para meu
conhecimento.

95
6. Raiane Ferreira Lima
EEEP Napoleão Neves da Luz

Me vi perdida num mundo, que não era meu, nem seu, nem
nosso, nem dele, nem dela;
Me vi numa melancolia eterna, que nunca teve fim, até crescer
e entender que o mundo era assim;
Uma reviravolta de alegria, tristeza, saúde, doença, sem perce-
ber, que o mais terrível era crescer e assim eu aprendi, que o mundo
só vai ser ruim, se a gente quiser ser;
E quanto mais a vida passa, mas fica sem graça, e a graça quem
faz é a gente, que pode fazer diferente e tornar-se um mundo melhor;
O mundo pode ser cruel, mas se sair do papel os planos que
temos para ele, poderíamos nos aceitar mais, nos entregar mais e
nos tornar ainda mais livres, como uma gaivota que voa sem cessar,
livre, leve e solta, assim podemos passar de um mundo cruel para
um melhor;
Podemos fazer diferente, ser diferentes, mostrar diferença, o
mundo só será melhor, quando nos aceitarmos só, sem medo, sem
insegurança, apenas com alma, com lembranças, de um mundo an-
tigo e sofrido, que evoluímos sem dó;
E assim a gente vai vivendo, caindo e aprendendo, que a vida
só vai ser sofrida, se a gente se deixar levar pelo sofrimento, pois a
paz vem de dentro, basta enxergar.
Eu sei, só queríamos ser criança novamente, com a inocência
estridente de um ser espetacular, sem medo do futuro, apenas com
um riso puro, onde de longe podemos enxergar;

96
Talvez o problema seja crescer, mas a solução seja amadurecer,
e assim entender o que quando criança nunca pôde.
E vamos vivendo o mundo agora, sem medo da demora, do
fim que pode chegar, esperando o futuro, tentando um riso puro, da
criança que já fomos um dia, sem esquecer da alegria, que conosco
sempre está.

97
7. Wérgila Laiza da Silva Macêdo
EEMTI Tabelião José Pinto Quezedo

Desde criança, eu sempre sonhei com os números. Desejava


ter muito dinheiro, muitas casas, muitos carros e não via a hora de
conseguir isso tudo. Aos 15 anos, eu tive o meu primeiro namorado,
ele estilhaçou meu coração de um jeito inexplicável, mas eu tinha
sonhos, sonhos bem maiores do que aquele amorzinho de quinta.
Aos 17, eu encontrei uma pessoa incrível, ah...ele me completava de
todos os jeitos e eu nunca tinha sentido aquilo por alguém, nunca
mesmo! O mundo parecia encolher quando estávamos juntos, os
problemas sumiram e minha vida vivia estampada com várias, trans-
bordando de felicidade. Bom, eu dei uma nova chance para o amor,
mas sempre lembrando que a minha prioridade eram os números e
uma vida digna de luxo.
Aos 18 anos, eu consegui entrar para a faculdade dos meus
sonhos, nossa...que alegria!! Que coisa boa!! Era como se eu pudesse
ver a sementinha dos meus sonhos germinando os primeiros frutos.
No entanto, o garoto que eu amava teria que ser deixado para trás,
ele era a minha rosa, mas eu tinha que ir desbravar o mundo e con-
quistar os meus objetivos. Então, não cheguei a pensar duas vezes e
me fui. Fui conquistar o mundo inteiro para mim, porque isso de
fato me preenchia, me fazia plenamente feliz.
Aos 25 anos, eu me formei, consegui o meu primeiro empre-
go, porém continuava sozinha. O que continuava me movendo era
o gosto pelos números.... isso sim me importava de verdade. No
meu primeiro ano de trabalho, consegui a minha primeira promo-
ção e pude ver os meus desejos cada vez mais próximos da realidade,

98
mas uma coisa me incomodava, eu tinha uma colega que sempre se
saía melhor que eu em tudo e, é claro, que não pude deixar as coi-
sas assim. Então, em prol dos meus sonhos e do meu incontrolável
amor pelos números, causei a demissão dela. Como eu fiz isso? Bom,
algumas mentiras bastaram, mas veja bem, era por mim, pelos meus
sonhos. Aos 30 anos, eu continuava sem ninguém, todos me julga-
vam por isso, eu não tinha amigos, namorado e nem familiares por
perto. Nunca quis muita proximidade, pois eu sabia que uma hora
ou outra eles atrapalhariam os meus objetivos.
Aos 35, eu já tinha desbravado o mundo, tinha o melhor em-
prego, muitos carros, casas e dinheiro, pelo visto eu consegui né? Aos
40 anos, sair com um carro diferente a cada dia ficou sem graça, as
casas quase não eram visitadas, o dinheiro, ah....não me encantava
mais!!
Aos 60, os números perderam a graça e eu não entendia o
motivo, as minhas condições me permitiam ser feliz e mesmo assim
eu não era. Agora com 80 anos, sentada nesse sofá sozinha, eu só
consigo lembrar-me da minha rosa, do meu bem deixado há anos
para trás. Será que ele continua a exalar o seu perfume? Será que ele
continua colorindo o mundo de outras pessoas, ou eu o transformei
em alguém cinza como eu? Sinto saudade de mim, não sei quando
me tornei essa pessoa sem cor que escolheu viver sem o que existe de
mais lindo no mundo, o amor. Quem me dera ter entendido aquela
frase “O essencial é invisível aos olhos”, daquele livro lido aos meus
16 anos, se eu tivesse refletido, teria entendido que as coisas mais
valiosas do mundo não custam nenhum número.

99
8. Suelir da Silva Lima
EEEP Dr. José Iran Costa

É tão curioso eu me lembrar


daquela simples canção de ninar
Não posso explicar o que aconteceu
mas da memória não pude apagar

Ao passar tantas noites chorando


Eu sempre andava buscando
A coragem para ser mais forte
E poder realizar um tal sonho

Se houver um destino cruel a me esperar


E que tire todas as forças do que eu ainda vá acreditar
Se tiver um momento em que eu consiga respirar
Todas essas dificuldades não vão me importar

Algum dia, chegaremos ao sol,


Estaremos lá antes do amanhecer surgir
Tingidos em uma cor ardente
Nós podemos correr juntos e sorrir.
Pelas ruas dessa cidade escura
Vamos criar o nosso destino
Entrelaçados nessa nossa alvura

100
Eu te julguei ser uma pessoa fraca
Só porque queria muito te proteger
Mas, lá no fundo, eu quem era fraco
Por não conseguir entender

Naquelas noites em que chorava de dor


“Vou viver sozinho”, era o que eu pensava
Depois de tudo isso, posso lhe confessar:
Que eu só quero agora ao seu lado estar

Estou machucado e sem forças, mal consigo respirar


Meu corpo quebrado reclama, insistindo em parar
Não tenho esperança o suficiente para continuar
Mesmo assim, eu ainda quero tentar te alcançar

Algum dia, chegaremos ao sol,


Estaremos lá antes do amanhecer surgir
Tingidos em uma cor ardente
Nós podemos correr juntos e sorrir.
Pelas ruas dessa cidade escura
Vamos criar o nosso destino
Entrelaçados nessa nossa alvura

101
Durante os dias cheios de destruição
E o presente desgastado e escuro
As palavras que ecoam vão revelar
A alma selada dentro desse casulo
Esse sonho que abandonei sem terminar
Vamos dar a ele outra motivação

Algum dia, chegaremos ao sol,


Estaremos lá antes do amanhecer surgir
Tingidos em uma cor ardente
Nós podemos correr juntos e sorrir.
Pelas ruas dessa cidade escura
Vamos criar o nosso destino
Entrelaçados nessa nossa alvura

Nós com certeza alcançaremos o sol


Entrelaçados nessa nossa alvura.

102
Tema 08:
Determinação em
Fernão Capelo Gaivota

104
1. Manoel Vieira do Nascimento Junior
EEEP Monsenhor Expedito da Silveira de Sousa

O meu amigo Fernão

O meu amigo Fernão


É um cara de valor
Que me fez enxergar a vida
Com perseverança e fervor
E me mostrou que os obstáculos
É que constroem um vencedor

Fernão era uma gaivota


Que pensava sempre à frente
Que buscava o voo perfeito
E incomodava muita gente
E sofreu as consequências
De quem tenta ser diferente

Para essa gaivota


Voar era mais do que uma necessidade
Era a forma mais deslumbrante
De buscar a liberdade
De desafiar os medos
E alcançar a felicidade

105
Nessa busca incessante
De buscar a perfeição
Ele sentiu o medo do fracasso
E o peso da tradição
E por seguir o seu sonho
Foi posto à condenação

Fernão tornou-se um pária


Sem apoio e sem lar
Teve que partir pra longe
Pra continuar a sonhar
Até que alcançou o céu
Onde pôs-se a brilhar

Ao longo da caminhada
Muitas coisas ele aprendeu
Adquiriu novas habilidades
e confiou no seu eu
com a ajuda de grandes mestres
que a providência lhe deu

Nessa etapa da sua vida


Já com mais experiência
Fernão aprende em equipe
E vive a resiliência
De quem já sabe que pra vencer
É preciso ter paciência

106
O trabalho em equipe
Passou a ter muita importância
Para aperfeiçoar as técnicas de voo
E driblar as circunstâncias
Que nos afastam do caminho
E que nos tiram a esperança
Fernão também aprendeu
A ter empatia e discernimento
De que é preciso compartilhar
Todo bom conhecimento
E ajudar outras gaivotas
A ter empoderamento

O aluno estava pronto


e chegou a hora de separar
de deixar seus queridos mestres
e ao seu antigo bando voltar
pois as maravilhas que aprendeu
queria aos seus irmãos ensinar

Essa etapa nos mostra


A importância da separação
Onde as almas se enobrecem
E adquirem mansidão
Pois já sabem que a finalidade de viver
É encontrar e ostentar a perfeição.

107
E assim Fernão voltou
Pra mudar a realidade
De tantas gaivotas aprisionadas
No padrão da sociedade
Que limitava suas asas
E as privava da liberdade

Tudo isso nos faz repensar


Qual é de fato nossa missão
Será se nós já sabemos
O que é essa tal de perfeição?
E vos digo, meus amigos
É seguir as vozes do coração.

Só quem já lutou por um sonho


Sabe as dores que passou
Sabe o tamanho dos obstáculos
E dos leões que enfrentou
Mas sabe também valorizar
Tudo aquilo que conquistou

E isso foi só um resumo


Do que aprendi com Fernão
E esses seus ensinamentos
Sei que nunca morrerão
Espero que você também os conserve
No mais íntimo do seu coração.

108
2. Fábio José Martins Monteiro
EEEP Maria Cavalcante Costa

A história de Fernão Capelo Gaivota se inicia com Fernão


indignado com tamanha monotonia de o voo ser simplesmente uma
maneira de se locomover das aves e de arranjar alimento. Fernão
queria sempre novas maneiras de aproveitar esses voos e a partir disso
nasceu sua paixão por acrobacias e por não querer essa vida limitada
ele foi banido de seu bando e quando ele levanta seu voo para outro
lugar ele se depara com duas outras gaivotas que estavam dispostas a
lhe ajudar mais e mais a conhecer o mundo dos voos.
Nessa nova sociedade ele encontra várias gaivotas com a
mesma paixão que a dele, porém ele só consegue o seu tão almejado
sonho de fazer acrobacias enquanto voa depois de muitas e muitas
horas de treino.
O processo de aprendizagem que ligava professores e alunos
era tão alto que poderia chegar a ser comparado a nível dos deuses,
ou seja, um nível sagrado para as gaivotas.
Fernão depois começa a entender que o seu espírito não po-
deria ser livre sem a capacidade de perdoar e seu progresso não iria
continuar somente como aluno, mas sim teria de passar pelo cami-
nho de professor, ensinando tudo o que já havia sido lhe ensinado.
Para concluir essa parte de sua tão sonhada liberdade, ele voltou ao
bando do qual foi banido para passar todos os seus conhecimentos
adquiridos em tanto tempo fora de lá. Ele tinha a noção de que não
seria fácil a passagem destes conhecimentos para o seu antigo bando,
já que ele ia chegar e não teria uma aceitação total de todos, porém,
essa etapa era a mais importante para esse processo, o ato de perdoar
e amar.
109
Toda essa história de superação, amor e gratidão a respeito
de Fernão me fez abrir os olhos para o mundo, que sempre devemos
perdoar quem nos fez o mal, pois somente assim iremos conseguir
alcançar novos vôos, ou seja, nossos objetivos, pois aquele peso na
consciência de não termos perdoado quem nos machucou, no futu-
ro pode se tornar um peso extremamente alto e no fim acabar nos
derrubando.

110
3. Maria Julia Miranda
Escola Estadual Reverendo Tércio Moraes Pereira

Fernão Capelo Gaivota & Eu

Há três anos eu iniciava um novo ciclo da minha vida.


Embarquei no ensino médio e em uma nova escola, após nove anos
estudando numa mesma instituição. Essa escola, lugar não só físico,
que foi minha casa pelos três anos que se sucederam me abriu muitas
portas, e uma delas, talvez a mais especial, tenha sido o Círculos de
Leitura.
Me lembro que o primeiro livro que li, sentada em uma roda
com mais dez jovens, foi Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach.
Naquele dia, do ano de 2017, a semente havia sido plantada e eu,
mesmo sem saber, já era, assim como Fernão, uma gaivota que queria
alçar vôos, que precisava descobrir o significado da vida e encontrar
a vocação destinada. Naquele mesmo dia eu dava início a mais uma
de minhas “mil vidas”.
Minha iniciação não poderia ser diferente, minha primeira
obra como participante também não. Tudo parecia perfeitamente
calculado para que ali eu me encontrasse. Folheando as páginas do
livro junto aos meus amigos e multiplicadores eu me sentia atingin-
do cento e cinquenta quilômetros por hora em dez segundos, com
direito a loop e outras acrobacias. Com o Círculos e com Fernão
aprendi sobre o “voo das ideias”, sobre como quebrar as “cadeias de
pensamento” e, consequentemente, romper as do corpo. Aprendi a
ouvir a “voz cavernosa”, mas também, por vezes, ignorá-la. Ali, eu
aprendi a voar.

111
Alguns meses se passaram e com imensa felicidade me tornei
multiplicadora. Com os “Chiangs” que já me acompanhavam e com
os que ganhei durante os grandes encontros, compreendi, assim
como Francisco, que cada vez que se inicia um processo de ensino
e aprendizagem é inaugurado um ciclo que não tem fim. Nesta
nova etapa entendi, de forma concreta e prática, que compartilhar o
conhecimento é o verdadeiro significado do amor.
Li novamente Fernão Capelo Gaivota, mas dessa vez como
multiplicadora. Me emocionei. Naquele instante, assim como
Francisco estava quando seu mestre partiu, me senti pronta. Voei.

112
4. Darlen Santos do Nascimento
EEEP Lysia Pimentel

Seria o vôo de uma gaivota unicamente uma forma de caça


ou seria ele capaz de alcançar outros horizontes além daqueles já
desvendados? Esta é uma pergunta que o livro Fernão Capelo Gaivota
nos questiona. Este livro, em especial, me contou uma corajosa
história, com uma bela mensagem e aumentou meu amor pela
leitura através de um simples e modesto conto de uma ave. Pude
me encontrar e me reconhecer no próprio personagem, uma gaivota
que se encontrava limitada, angustiada e não satisfeita com a vida
fatídica, que pelo fato de ser uma Gaivota, estava predestinada a
seguir. Gaivotas realmente se sentem dessa maneira? Não, mas nós
seres humanos, sim. Fernão Capelo Gaivota aos meus olhos, foi uma
representação de um lado que existe em nós. Sedento por mudanças,
não compartilhava o mesmo pensamento que seu bando, pois para
ele, o vôo deveria ser mais que uma estratégia de caça, deveria haver
muito mais, sem limitações, mas por pensar diferente, fora rejeitado,
oprimido e humilhado pelos outros. Quantos de nós não pensamos
diferente, nos sentimos diferentes e SOMOS diferentes? Esta é a
palavra que define tanto o personagem, quanto a nós, diferente. Uma
gaivota que queria voar mais alto, fazer do vôo uma obra viva aos
olhos e que se sentia diferente pois pensava de outra maneira e não
igual a todos? Creio que todos se identificaram com este personagem
e por conta disso, esta obra se torna tão engenhosa e sincera para
mim. Me apaixonei pela perseverança desta ave ao não se importar
em alçar vôo pelo desconhecido, ir em busca de fazer acrobacias em
meio a um céu vasto e solitário, onde fora o único que se rebelara

113
contra o conformismo em que os outros viviam. Ao decorrer da
leitura, eu e meus colegas parávamos para discutir sobre o livro, e o
que observei foi em que todos os relatos e dentro de cada um de nós,
havia um Fernão Capelo Gaivota, sedento pela coragem que aquele
personagem do livro tinha para fazer a diferença e escolher o que
para ele, parecia ser a escolha correta. Para mim, percebi o mundo
real dentro daquelas poucas páginas, com uma sociedade onde
pessoas diferentes tinham medo de suas diferenças. Seja no amor,
amizade, na fé, nas roupas, ou opções pessoais das pessoas, hoje vejo
a diferença alçando vôo sem medo de julgamentos ou acusações, e
creio que Fernão Capelo Gaivota esteja orgulhoso pela coragem que
estes tiveram ao dizer não ao “normal”. Ao relembrar este conto,
sinto meu coração vibrar um pouco com este personagem, que se
tornou um exemplo para mim. O círculo de leitura sem sombra
de dúvidas, assim como os horizontes alcançados por essa gaivota,
amplia os nossos próprios horizontes. Agradeço por esse projeto
por ter me dado a oportunidade de conhecer este singelo e corajoso
personagem. Sou grata ao Fernão Capelo Gaivota que habita dentro
de mim pela lição aprendida com este livro, e que tenhamos coragem
para mergulhar em outros livros e, descobrir cada vez mais outros
personagens que existem em cada um de nós.

114
5. Maria Luiza Pessoa
EEMTI Tabelião José Pinto Quezedo

Mais um dia amanheceu! Eis aquele dia em que sair da cama


é muito mais complicado, pois está muito frio lá fora e talvez aqui
dentro de mim. Hoje também é aquele dia em que nos pegamos an-
dando pela casa, aleatoriamente, apenas com uma xícara de café na
mão, tentando entender que mais um dia se passou e o outro acaba
de começar. Novos dias, novas rotinas, novas atividades, novos ciclos
se abrindo e se fechando a todo momento, novas páginas, novos ca-
pítulos, novos livros... assim é o grande dia de viajar na leitura, sair
do mundo real e embarcar no da fantasia.... De repente, me assusto
com o toque do meu celular, recebo uma notificação do Círculos de
Leitura, dia de viajar na leitura e isso acaba colorindo aquele dia frio
e cinza.
Penso no quão inspirador é aquele momento das nossas leituras,
em que multiplicamos conhecimento e dividimos experiências....
saber que ganharemos mais ainda é um luxo, entender que temos o
nosso tempo é preciso, como o Pequeno Príncipe, que se afastou da
Rosa para poder se conhecer e entender o valor que ela possuía na
sua vida, que aceitou o espaço, que mudou suas opiniões e que viu
até onde sua imaginação e força de vontade poderia levá-lo, tudo no
seu instante e na sua etapa.
Entro no Google Meet e vejo vários alunos na sala, cada um é
uma realidade, imersos em um mesmo universo e compartilhando o
mesmo desejo: aprender. Mergulhar na história escolhida para o dia
ou tentar entender o que ela significa para cada um de nós? Com-
partilhar conhecimento ou me limitar a apenas escutar? Eu escolho

115
ser como Fernão Capelo Gaivota, compartilhar o que eu sei e tentar
sempre aprender. Coloco minha xícara na mesa e começo a escutar
tantas coisas bonitas, tantos significados para uma só história, tantas
verdades em palavras e até dores perceptíveis no desenrolar da leitu-
ra, pois como afirmara Drummond “a dor é inevitável, o sofrimento
é opcional”.
O tempo vai passando e eu vou escutando, lendo e falando
como aquela história me representou, entro em uma espiral entre
aprender e compartilhar.
Infelizmente o momento do encontro acabou! Quanto conhe-
cimento compartilhado, quanto sentimento descarregado!!
O Fim é uma palavra tão esquisita, tão cruel que não mede
forças. Em algumas ocasiões, toma o contorno da tristeza, do luto,
do choro, porém em outras vem com o sentido de recomeço, de an-
siedade para uma nova leitura. Entender o fim, o momento de parar
e não insistir é uma das maiores fases da maturidade. Mas esse fim é
diferente, é um bom fim, pois agora eu sei que tudo que eu aprendi
ficará comigo para sempre.
Pego meu café ... Está frio, assim como o clima lá fora. Mas
eu te juro, aqui dentro está quentinho.

116
6. Geovanna da Silva Holanda
EEEP Balbina Viana Arrais

Algumas de minhas melhores memórias são meio confusas,


como se tivesse vivido tanto o momento que esquecesse de guardá-lo
para a posteridade, portanto, para alguns dos fatos narrados a seguir,
não há tanta precisão. Em alguma manhã do meu primeiro ano do
ensino médio, ao chegar na escola, fui instruída para ir ao auditório,
onde alguns alunos iriam nos apresentar a um projeto. Reunindo
toda minha coragem e meu sono, como todo adolescente que se pre-
ze, me encaminhei para lá e aguardei a apresentação, porém, o que
eu não sabia era que muitos dos meus pensamentos e escolhas para o
futuro iriam mudar a partir daquele dia, que ao aceitar o desafio de
participar deste projeto, acima de tudo, eu iria descobrir coisas novas
sobre mim mesma. Ao fim da apresentação, eu me sentia eufórica,
ter um momento voltado apenas para a leitura, na escola, seria per-
feito para a louca por livros que habita em mim.
O primeiro livro que li em conjunto se chamava Fernão Capelo
Gaivota, e apesar do meu amor genuíno pelos livros, o título não me
chamou muito a atenção, entretanto, eu havia aceitado o desafio e
não iria me deixar desanimar logo no início. Meus multiplicadores,
como se apresentaram, explicaram do que se tratava e então iniciamos
a leitura de um livro que me deu mais do que apenas uma história ou
palavras, me deu de presente um amigo e o mais incrível de tudo é
que não era um novo amigo, mas na verdade um amigo que já existia
em mim, porém, que estava adormecido. Meu amigo livro resolveu
chamá-lo de voz cavernosa, mas para mim, a nomeei de Fernão, não
podia deixar de homenageá-lo, não é mesmo? Ok, ok, você deve

117
estar se perguntando do que estou falando, bem, para isso tenho
que voltar um pouco no tempo, bem antes da minha jornada com
Fernão começar e assim sendo, desde já peço desculpas a você caro
leitor, caso algumas dessas lembranças não fiquem tão claras.
Minha pequena jornada começa no jardim de infância,
onde tive uma professora muito bacana, apaixonada pelo que fazia,
amorosa, uma excelente profissional, mas claro que na época eu só
pensava em como ela era legal e me deixava levar livros para casa, hoje
eu sei que ela foi minha primeira “mestra”, foi ela que me inspirou
a ter sonhos e me apaixonar pela leitura, e assim como todo bom
aprendiz, eu colhi todos os seus ensinamentos. Como por osmose
adquiri seu amor pela licenciatura e aos seis anos estava decidida
que iria me tornar professora, me tornar uma líder, repassar tudo
aquilo que iria aprender e para que tal coisa acontecesse, me esforcei
muito ao longo da minha carreira como estudante. Contudo, ser
uma jovem sonhadora em um mundo como o que vivemos não é tão
fácil quanto os filmes fazem parecer e as dificuldades de carregar um
sonho que parecia ser tão grande foi pesando ao longo do caminho
e apenas essa minha força de vontade inicial não foi suficiente para
carregá-lo sozinha.
Ao chegar no ensino médio, eu já não tinha mais tanta certeza
sobre o que eu queria fazer para minha vida e coisas como estabili-
dade financeira, status e sucesso social eram fatores que haviam se
tornado mais importantes, porque também era o que a maioria das
pessoas me diziam. Aos poucos, depois de todas as reações que vi
ao contar o meu grande sonho de vida, poucas delas positivas, fui
deixando ele de lado e outras profissões mais valorizadas socialmente
foram entrando em foco, fui me deixando ser levada pela maioria,

118
fui me misturando ao bando, deixando de ser a pária para fazer parte
da multidão, era mais fácil e parecia ser o mais certo.
Ao ler a história de Fernão, mesmo que metaforicamente eu
sabia como ele se sentia, e apesar da comparação não tão válida, eu
não via tanto sentido naquilo que eu fazia se não fosse para algum
dia repassar, ensinar outras pessoas, era isso que me motivava e ainda
motiva. Ao longo das semanas de leitura do livro, eu tinha grandes
momentos de reflexões sobre a pessoa que eu gostaria de me tornar,
e na medida que a história de Fernão ia evoluindo, eu adquiria
consciência de que apesar da falta de apoio da maioria, eu ainda
poderia alcançar meus sonhos, que não fazia sentido abandonar
quem eu era, quem sou. Me dei conta desse fato ao ler um trecho
específico do livro, que novamente não irei lembrar em detalhes, o
qual conta que Fernão caiu de uma grande altura durante um de seus
treinos, ao recuperar os sentidos, Fernão quer desistir, deseja morrer
ao fracassar e uma voz interior, que ele chama de “voz cavernosa”, o
faz refletir se desistir realmente o fará feliz. Foi nesse dia específico,
como em uma epifania, que Fernão, meu velho e ao mesmo tempo
novo amigo, renovou as minhas forças, me deu coragem para
enfrentar todos aqueles meus medos e inseguranças, me deu uma
nova perspectiva sobre os obstáculos que eu tinha a enfrentar.
Provavelmente, o motivo pelo qual tenho tanto carinho pelas
memórias dessa leitura é que eu compreendia o amor que Fernão
tinha pelo conhecimento e por repassa-lo, entendia como os sonhos
e aquilo que nascemos para ser, nossas vocações, é parte daquilo que
somos. Ao fim daquele ano, ao saber que seria uma multiplicadora,
que poderia ajudar outros jovens, assim como essa leitura havia
me ajudado, foi uma das melhores notícias que recebi. Me recordo

119
que nas férias daquele ano, procurei o livro para lê-lo na integra
e ao ler a dedicatória do autor – “Ao verdadeiro Fernão Capelo
Gaivota que vive em todos nós”, naquele exato momento, me senti
verdadeiramente grata ao meu Fernão por ter me guiado pela minha
própria jornada de autodescoberta.
Assim como Fernão, tive vários mestres, perdi alguns ao longo
do caminho, uns para sempre, outros como um até logo e reconheço
como todos foram importantes na minha formação, assim como sei
que ainda terei vários, que uma nova fase de aprendizado na minha
jornada está apenas começando, entretanto, gosto de pensar que a
leitura desse livro também foi uma espécie de “mestre” para mim.
Uma das poucas lembranças que tenho claramente do meu caminho
até agora, foi minha inscrição no vestibular, o momento de realmen-
te colocar em prática aquele sonho que há tanto estava internalizado
em mim, me recordo de lembrar de Fernão, na sensação que ele
descreve ao voar e a liberdade da escolha, de escolher não abrir mão
da vontade de aprender.
Para finalizar, caro leitor, aconselho que você também encon-
tre seu próprio Fernão e assim com vários outros párias, possamos
formar nosso próprio bando. Indico-lhe também a leitura desta obra
e desejo que assim como a mim, ela possa lhe guiar pela sua própria
pequena jornada, bem como também, lhe faça ter boas lembranças
dessa leitura.

120
Tema 09:
Vocação para a arte

122
1. Darla Monique
EE Maria Aparecida de Castro Masiero

Inspiração: Alma Despejada

Me abraço na escrita
sempre escrevo porque não sei o que dizer
e por muitas vezes
escrevo, mas nem tenho o quê escrever...

porém de alguma forma ou de outra


sinto que preciso.

porque machuca;
porque sara;
porque arde;
porque alivia;
porque inunda como rio
e às vezes,
esse rio seca.

quando seca,
penetram gotas em meu corpo e queima.

queima meu rosto


queima minha pele
queima como se fosse a última chama depois de uma grande
explosão.

123
e eu me abraço
na escrita.

e feito anjo do fogo,


vôo e me recupero das queimadas,
da cinza encontrada na chuva

logo após que a fauna e flora se separaram.

mas alguma coisa


sempre
me
acende

então eu me reinvento e escrevo.

e sempre que volto logo após de


guerras com lápis, caneta e papel

a borracha sempre sorri quando apaga alguma parte de mim.

e me torno a mesma

que erra;
que acerta;
que se alegra;
que chora;
reclama;
declama.
124
que é escrava
do que sente

e que sente muito,


muito mesmo.

nessas voltas de sentir muito


você bagunçou meu lar,
minha alma,

e desta vez

eu te despejo da minha casa,


na verdade, eu não queria;

eu queria mesmo é receber seu amor...


mas hoje me encontro de frente ao sol

me tornei “solzinha”

125
2. Laura da Silva Pereira
EE Alexandre Von Humboldt

Quando me atento e paro para pensar no poder de algumas


coisas sobre minha alma, a primeira lembrança que se faz nítida e ar-
repia cada centímetro de cada pêlo presente no meu corpo é o teatro.
Talvez porque eu acredite que em uma outra vida essa arte foi a razão
da minha euforia, assim como é hoje. E que o brilho nos meus olhos
quando vejo um palco prestes a se encher de luzes e atores pode ser
comparado como paixão, ou até maior que isso, amor.
Recordo-me de em um conto de Guimarães Rosa ser destacado
o imensurável poder artístico em uma mente. Logo, tornou-se
minha leitura favorita do autor, a ponto de sentir a necessidade
de reler algumas vezes na semana. Para alguns são os livros, para
outros a música ou até pintura, mas para mim sempre foi e será o
teatro. Existe algo sobre ele que há anos venho tentando verbalizar
e explicar, mas não consigo. Simplesmente não sou capaz de fazê-lo.
As energias em cima de um palco, nas cadeiras da plateia,
ou mesmo a fila lotada de uma bilheteria têm um efeito quase
que alucinógeno para mim. Seguir com os olhos a enorme cortina
vermelha se abrir e ouvir a voz do ator iniciando a peça agem como
o pó de pirlimpimpim dentro de mim.
Por vezes me pego em outro plano reprisando cada cena que
me fez arrepiar e chorar em um teatro. Foi em 2017 que esse amor
tomou conta de cada pedacinho meu, quando fui assistir a um mu-
sical pela primeira vez. Ao toque da primeira música senti a maior e
melhor vibração já existente, senti o sangue correr mais rápido em
minhas veias e o brilho em meu olhar até pareceu fazer a vista para

126
o palco mais clara e nítida. Gosto até de brincar dizendo que meu
olhar dentro de um teatro é mais brilhante que os holofotes de lá.
Desde então sigo refletindo e tentando entender melhor como
é possível que a arte teatral libere mais serotonina, endorfina, ocito-
cina e dopamina em mim do que apaixonar-me por alguém. Esse tal
quarteto da felicidade já me apareceu outras vezes, quando eu estava
à beira da coxia, quase entrando no palco para dançar.
A única conclusão que consigo consolidar em mente é que
para aqueles movidos pela arte, pelo amor e pela paixão de poder
assumir diversas personalidades e, a partir disso, sentir cada emoção
de forma diferente, todo e qualquer resquício, por mínimo que seja,
fará lembrar e consequentemente emocionar o espírito artístico. Até
meu último dia em uma plateia ou em um palco seguirei sendo hip-
notizada e apaixonada pelo pó de pirlimpimpim. Meu pózinho de
pirlimpimpim, o teatro.

127
Tema 10:
Criatividade

128
1. Ingrid Cosmo Lopes
EE Mário Kozel Filho

O homem que andava sempre de cabeça baixa e com muita


atenção nos objetos que recolhia, na verdade parecia estar à procura
de algo além do alcance material. Parecia, nem ele mesmo saber ao
certo qual a finalidade de sua procura, mas estava tão focado nela,
que sequer tinha tempo para apreciar a natureza, responder um bom
dia, ou até mesmo perceber as pessoas ao seu redor - o que refletia à
ele - pois sua imagem de homem focado, apagado meio ao dia-a-dia
turbulento, fazia sua presença passar despercebida.
Na busca incansável por mais objetos, só evidenciava a sua
solidão, sendo que sua felicidade momentânea estava justamente
reportada a eles, numa tentativa de preencher o vazio que lhe
consumia.
O mais interessante é que mesmo não tendo uma finalidade
clara ao procurar por objetos, sua procura era incansável, não
desistia, dia após dia lá estava ele com seus bolsos cheios e à procura
de mais. Mesmo sem saber, estava prestes a encontrar, o que talvez
inconscientemente, procurava desde o início.
Quando o homem à procura de uma chave bateu à sua porta,
era nítido que sequer sabia como foi lembrado e observado, o que
lhe gerou estranheza, pois até então era só mais um pelas ruas.
Todas as fases da história se encaixam muito bem, a ponto de
nos levar a crer que, inconscientemente, o homem encontrou o que
procurava, pois no momento em que ficou conhecido por todos, por
recolher objetos perdidos e ter sua imagem solitária percebida, o que

129
no geral não acontecia, deixara a porta aberta, não mais fechada, ou
entreaberta timidamente como antes.
O que facilitou a entrada da mulher, que muito parece ser
a mesma que se fazia de cega com o pretexto de observar-lhe,
pois naquele momento já deveria ter perdido o juízo e esperava o
momento certo - quando o homem estivesse aberto para o mundo -
para lhe pedir ajuda e foi o que fez.
Após ele ter sido visto por alguém e não somente ficar na posi-
ção de procurar, mas sim ser procurado, estava apto para receber um
pedido de ajuda, daqueles!
A mulher com o juízo perdido e ele sem saber onde encontrá-
-lo para ajudá-la e mesmo assim foram à procura juntos, o que ele
não estava acostumado.
Ela sem abaixar a cabeça, ao certo, para lhe direcionar novos
caminhos e ele com a cabeça ainda baixa na procura do juízo perdido
por ela, dispendendo sua confiança nela ao som do “taque-taque”
do sapato dela, mesmo que por caminhos desconhecidos, ele conti-
nuou, o que demonstra mais uma vez um ato de persistência de sua
parte.
O caminho era outro, os obstáculos, o cenário já não era mais
o mesmo, se prendeu os detalhes da natureza, como se finalmente
chegasse ao seu objetivo inconsciente.
Ao encontrar a primeira violeta da primavera se vê que sua
alegria não mais era por encontrar objetos materiais perdidos e sim
percebeu o significado do não palpável, de um sentimento que ele
carregava consigo para finalmente endireitar o corpo e expressá-lo.

130
Assim, de muito procurar, ele descobriu o significado da pro-
cura nos detalhes, saiu da sua caverna e conseguiu expressar o que
tanto procurava desde o início, mesmo que sem saber.

131
2. Pedro Emanuel Beserra Martins
EEEP Antonio Valmir

O sentimento mais peculiar da galáxia

Baseado em O Pequeno Príncipe

Às vezes me pego no mais profundo pensamento sobre o


estranho sentimento que o mundo gosta de chamar de amor. Ele é
simplesmente bizarro, e não, eu não falo no sentido de algo horrível
ou macabro (em alguns até pode-se classificar dessa forma, porém,
quando se estende para esse nível, para mim, o amor não se encontra
mais no recinto), e sim, pela estranheza que ele nos causa. Acho que
todos nós alguma vez em nossas vidas sentiram as benditas borboletas
em nosso estômago, as mãos suadas, a taquicardia, a vontade de
sorrir incontrolável e lá se vai uma lista quase que infinita de padrões
que se afloram em nosso corpo por causa do amor. Bem, em todos
esses anos de indústria vital (quem assistiu Pica-Pau vai entender a
referência) eu já ouvi e vi ele de todas os prismas possíveis e com
todos os significados possíveis, uns dizem que é um sentimento,
outros que é um estado de espírito e até alguns que dizem que ele
é um instrumento da indústria capitalista do chocolate que criou
essa mentira para enriquecer mais e mais. Brincadeiras à parte, na
humilde opinião desse projeto de escritor, o amor nada mais é que
a jornada mais maluca que pode acontecer na sua vida. De verdade,
digno das odisseias gregas. Oh! Por amor, seu humilde escritor já
correu, pulou e até fugiu. E cara, valeu a pena sentir aqueles dois
lábios que se juntaram como dois rios sem direção, é, eu sei, uma

132
completa loucura, certo? Porém, não se engane, assim como qualquer
coisa em nossa vida, o amor, tem efeitos colaterais. Imagine ele como
uma rosa com espinhos. Por mais cuidadosos e incríveis jardineiros
que nós pudermos ser, em alguma hora vamos nos cortar, pois não
se trata de experiência. Esse é o grande paradoxo desse sentimento.
Como algo tão profundo pode ser tão dolorido? Bem, de dor, eu
consigo entender muito bem, pois além de um garoto apaixonado
por uma rosa, sou vascaíno roxo, então… é realmente uma vida
dolorida.
Enquanto escrevo isso entro e saio de diversos suspiros de
um sentimento que parece se confundir em meio a um mundo de
sonhos e uma realidade que a cada dia, mês e ano se torna cada vez
mais cruel e insensível com os sentimentos sinceros limitando-os a
suspiros e mais suspiros. Mas eu, o seu escritor e mais a infinidade
de outros apaixonados por rosas lhe pede com grande veemência
que da próxima vez que vir sua rosa, girassol, lírio ou margarida,
se lembre de cada pequeno momento que vocês viveram, seja de
forma fraterna ou romântico. E ah! A compre um espiga de milho-
cozido (isso é opcional tá?). Brincadeiras à parte, lembrem-se de
cada singelo momento que tiveram, pois, o essencial sempre será
invisível aos olhos. Sempre lembre dessa frase, pois ela se estende
aos mais diversos sentidos possíveis. O sorriso, o cheiro, a presença,
o sentimento verdadeiro, tudo isso que é o verdadeiro essencial
para a nossa longa e misteriosa jornada de amor pela nossa extensa
galáxia. Sendo esses detalhes e subjetividades que tornam o amor, o
sentimento mais peculiar que já passou pela nossa galáxia é algo que
mudou a vida desse projeto de escritor.”

133
3. Maria Eduarda Rodrigues Marques
EE Professora Irene Branco da Silva

O cérebro do Espantalho e
o coração do Lenhador de Lata
ENTREVISTA CEDIDA AO JORNAL TELEVISIVO
DE OZ

Entrevistador: Boa noite! Hoje, em nosso telejornal, entrevistaremos


dois personagens muito queridos do público e que passaram, recen-
temente, por uma grande aventura: o Espantalho e o Lenhador de
Lata. Após a partida de Dorothy, os habitantes de Oz se interessaram
pelo que havia acontecido por ali; por isso, recebemos nossos convi-
dados especiais, a fim de entender um pouco melhor a sua história.
Senhor Espantalho, por que você acompanhou Dorothy em sua jor-
nada?

Espantalho: Por que eu queria ter um cérebro e Dorothy disse que o


Mágico poderia me dar um.

Entrevistador: Por que o senhor queria um cérebro?

Espantalho: Eu me sentia um fracassado por não ter um. Eu queria


ser inteligente, queria poder pensar. Eu achava que se eu tivesse um
cérebro, seria mais feliz.

Entrevistador: E o Mágico deu o que o senhor queria?

134
Espantalho: O Mágico me fez perceber que, muitas vezes, o que nós
mais queremos está bem debaixo de nosso nariz; porém, nós acaba-
mos não percebendo, apenas por estarmos concentrados em coisas
fúteis.

Entrevistador: Obrigado, senhor Espantalho. Seguiremos com o


próximo entrevistado. Senhor Lenhador de Lata, por que você
acompanhou Dorothy e o Espantalho nessa jornada?

Lenhador de Lata: Por que eu queria um coração e Dorothy disse


que o Mágico poderia me dar um.

Entrevistador: Por que o senhor queria um coração?

Lenhador de Lata: Eu ficava imaginando que, se eu tivesse um co-


ração, poderia até ser humano. Eu veria a beleza nem que fosse na
tristeza, se eu tivesse um coração.

Entrevistador: E o Mágico lhe deu um coração?

Lenhador de Lata: O Mágico me deu, sim, algo material. Mas ele


também me fez ver que ter um coração é muito mais que senti-lo ba-
ter... É amar, é chorar, é sorrir, é sentir o que acontece em sua volta,
e isso eu já tinha.

Entrevistador: Caros telespectadores, nossa breve entrevista com


esses carismáticos personagens termina aqui. Entretanto, antes de
dormir reflitam um pouco e respondam pela hashtag #JTOz. O que

135
é mais importante para vocês? Ter um cérebro ou um coração? Parti-
cipem! Boa noite e até amanhã.

136
4. Lana Catarina Alves da Cruz
EEPe. Manoel de Nóbrega

Princesa Sofia

Hoje vou contar a história de uma princesa, que era super


mimada pelos pais e não tinha noção de como realmente era a vida
fora do seu castelo, essa história é da Princesa Sofia.
Sofia era uma princesa muito curiosa, ela sonhava em conhe-
cer a vida fora do castelo, já que seus pais eram superprotetores e não
deixavam a menina sair. Até que um dia, Sofia resolve fugir na calada
da noite e conhecer mundo afora.
No amanhecer seus pais surtaram e obrigaram todos os sol-
dados a ir à procura de Sofia, que naquele momento já estava muito
distante do castelo.
Ela chegou em uma vila muito simples, resolveu pedir um
copo de água a uma mulher, esta moça negou o copo d’água à Sofia.
Como estava com muita sede, resolveu ir em outra casa, onde foi
muito bem recebida por uma senhora, que lhe deu a água, ofereceu-
lhe um suco e um bolo que acabara de sair do forno, ela aceitou.
Acabando de comer, Sofia agradeceu e disse que precisava ir,
pois sua viagem seria muito longa. Então a senhora muito sábia lhe
perguntou:
- Por que estás a fugir de seus pais? Eles a sufocam?
Sofia assustada pergunta:
-Como a senhora descobriu?
A senhora então disse a ela que havia feito a mesma coisa
quando era nova, por esse motivo ela descobriu.
137
A senhora convida Sofia para dormir aquela noite ali, pois a
noite era muito escura e perigosa. Ela aceitou e no amanhecer con-
tinuaria a sua viagem.
Pela manhã Sofia fez questão de fazer seu próprio café, po-
rém, não sabia fazer e acabou sujando tudo, tentou limpar, piorou as
coisas. A senhora ao ver toda aquela sujeira e a menina em desespero,
se ofereceu a ensinar Sofia a sobreviver, ela aceitou e ficou muito
contente.
Passaram-se dias até que Sofia então resolve ir à procura de
novos lugares, experiências novas, novas alturas e muito mais. Agra-
decida pelos ensinamentos da senhora, começa uma nova jornada.
E assim foi a jornada da princesa Sofia que saiu por aí em
busca de novas aventuras e conhecimentos.

138
Tema 11:
O Conto da Ilha Desconhecida
e a busca pelo autoconhecimento

140
1. Odete Vitória Sabino Ferreira
EEEP Maria Cavalcante Costa

A procura do autoconhecimento

A ilha desconhecida e a busca por ela são uma metáfora


que o autor usa para evidenciar que o protagonista busca por uma
melhor versão de si mesmo.
Assim, evidentemente no início do livro o homem
apresenta características de sua melhor versão sendo elas persistência
e autoconfiança pois ele busca seu desenvolvimento pessoal.
Justamente essas características incentivam a mulher da faxina a criar
pensamentos que por fim se tornaram concreta “decisão”, fazendo
alusão a nossa realidade em que pessoas inspiram outras, como ele a
inspirou a sair de sua zona de conforto que era a limpeza do palácio,
para limpar barcos embarcando na aventura do autoconhecimento.
A mulher torna-se essencial na jornada e para o homem pois
incentiva-o em momentos difíceis em que ele pensava em desistir já
que não tinha se apresentado às pessoas para compor a tripulação.
Ao fim do livro, a frase “a ilha fez-se enfim ao mar; em busca
de si mesma” termina o livro com perfeição, pois somos ilhas que
devem ser descobertas, e o explorador deve ser nós mesmos, tratando
de nos encontrar em meio ao mar extenso mas não infinito que é a
vida, trate de navegar por si mesmo e confronte o rei que é a parte de
si conformada com o que a vida lhe deu e confinado em sua própria
visão desta mesma ilha.

141
2. Rita de Cássia
EEEP Maria Cavalcante Costa

A ilha desconhecida somos nós mesmos. Precisamos sair da


ilha para vê-la e precisamos sair de nós, da nossa zona de confor-
to, para descobrirmos quem realmente somos. Precisamos enfrentar
nossos medos para nos tornarmos mais fortes. A busca do impossível
nem sempre pode ser conseguida individualmente, precisamos de
suporte de pessoas semelhantes a nós. A esperança é algo indispensá-
vel na busca de seus sonhos, pois quando tudo parecer difícil temos
que prosseguir e não medir as dificuldades. O lançar-se no mar para
navegar é o avançar para um objeto de desejo e realização, às vezes
próximo, contudo, não enxergado, não percebido pela nossa própria
incapacidade pessoal de objetividade e percepção do desconhecido.
Nós, em alguns momentos de nossas vidas, queremos estar longe de
nós mesmos para, então, enxergarmos nossa natureza.
Se arriscar é uma tarefa que temos que praticar cada vez
mais, procurar o novo e evoluir. Deixar de lado o que é contínuo,
uma rotina. Permitir-se fazer coisas novas é essencial para a nossa
evolução, só assim percebemos que nós mesmos é que medimos o
nosso limite e que qualquer pessoa pode ir e chegar onde quiser.
Ninguém é menos que ninguém. Há sempre uma igualdade com
todos, afinal, todos nutrimos sonhos que por vezes consideramos
impossíveis. Sabemos que não somos personagens que vivem scripts,
que temos nosso papel e que podemos e devemos assumir o controle
da nossa embarcação, da nossa vida, da nossa ilha desconhecida.
Que só conhecendo a ilha, conhecendo a nós mesmos, conseguimos
esse protagonismo. Entendemos que podemos e devemos tomar o

142
controle da embarcação e que, se errarmos o rumo, nós mesmos
que acharemos o destino final, se não conseguirmos manter o barco
firme durante as incontáveis e imprevisíveis tempestades, somos nós
que sofreremos as consequências e teremos que lidar com elas. Não
é o rei. Não é o reino. Somos nós. Sou eu. É você.

143
3. Anne Carolline Lima Sousa
EEM José Ferreira Barbosa

Lembranças da Leitura

O Círculos de Leitura de imediato me chamou a atenção,


pois, sempre fui fascinada por literatura, com passar do tempo li
os mais diversos livros que possuem características únicas, tramas
intrigantes, com versos apaixonantes e seus personagens complexos
que com desenrolar da história se tornam nossos entes queridos e
nos emocionam com suas partidas, porém, já tive o descontamento
de ler obras entediantes, de narrativa preguiçosa e fúteis. Isso faz
parte da experiência de ser um leitor e creio que me fez bem de
certa forma. Contudo, fiquei encantada com o projeto, vi uma
grande oportunidade de compartilhar o meu amor pela leitura
com quem está envolvido e melhor ainda, fazer com que outras
pessoas adquiram o gosto de ler. O hábito de ler tem seus benefícios
como, melhorar nosso vocabulário, estimular o processo cognitivo e
criatividade, reduz o estresse e nos acrescenta conhecimento. Eu, por
exemplo, sou uma caloura na escola José Ferreira Barbosa e me sentia
deslocada, porém, com ajuda dos saraus realizados encontrei o meu
lugar, me sinto bem comigo mesma e pretendo continuar assim.
Ao decorrer do ano li um número razoável de obras literárias
graças ao projeto que nos possibilita desfrutar de trabalhos
maravilhosos dos mais distintos escritores. Todavia, o que mais me
chamou a atenção foi O Conto Da Ilha Desconhecida de José Saramago,
que narra a história de um homem que sonha navegar até uma ínsula
que ninguém jamais viu ou sequer sabe da sua existência, entretanto,

144
o protagonista se aventura e persiste com sua determinação e fé e
segue seu caminho em busca do autoconhecimento e amor-próprio.
Simpatizei por completo quando o li, sua trama é envolvente, as
emoções que o autor transmite para leitor é surreal e por um minuto
me esqueci de absolutamente tudo, do mundo em que habito e me
teletransportei para aquele barco em alto mar, quando me peguei a
pensar, já estava no último parágrafo.
Um conto tão simples e necessário para maioria dos jovens,
que estão entre a infância e vida adulta, ou seja, a adolescência, fase
que descobrimos nossa essência e quem somos, a dificuldade em en-
contrar o nosso lugar no meio de uma sociedade tão perversa e im-
previsível. Não é apenas uma obra fictícia, mas sim um dos motivos
pelo qual existe o Círculos de Leitura e sua proposta de propagar
conhecimento e mostrar a importância da interpretação, pois, ela é
crucial para a formação do cidadão independente, engenhoso, jus-
to e cordial. Ser denominada como multiplicadora é uma honra, e
com certeza mudou a minha vida, a perspectiva sobre o mundo e as
pessoas. Agora entendo o que é de fato empatia e me reinventei em
meio ao caos, porque livros salvam os que escrevem e os que lêem.

145
4. Daniel dos Santos Silva
EE Mário Kozel Filho

A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar,


à procura de si mesma

Encontros dos Círculos de Leitura são encontros de


aprendizados e descobrimentos, além do fator místico onde em
cada discussão, livro ou conto apresentado e discutido, há traços do
cotidiano, da vida pessoal e de nós.
São exercícios de autorreflexão a partir da história de outros,
atrelando e entendendo a história do eu.
Escrevo, portanto, sobre o livro O Conto da Ilha Desconhecida
de José Saramago, com a história de um homem que decide ir à
procura de uma ilha desconhecida, e para isso, na porta das petições,
pede ao rei um barco.
O homem que pede o barco está certo de seu propósito, e não
sairá da porta das petições até que o rei o atenda pessoalmente.
Percebemos uma pessoa que se coloca firmemente à procura
de algo, e que se questionado, não tarda em responder com firmeza
sem desmotivar-se pelos empecilhos colocados sobre a inexistência
de ilhas desconhecidas.
Outro ponto relevante é que, mesmo o homem pedindo um
bem material, ele tem ciência de que este serve apenas como ins-
trumento ao seu propósito, trazendo reflexões sobre a forma como
nos relacionamos com bens materiais e como esse relacionamento
interfere em nossa formação pessoal. Isso é evidente quando o rei,
querendo demonstrar poder, diz que todos os barcos do reino são

146
seus e o homem responde que mais pertence o rei aos barcos do que
os barcos ao rei, e que este sem eles é nada, mesmo que eles, sem o
rei poderão sempre navegar.
Ou em outro trecho do livro, quando o homem em uma con-
versa com a mulher da limpeza refere-se ao barco como sendo dela,
afirmando que gostar é provavelmente a melhor maneira de ter.
Outro ponto sempre discutido e que reafirmado diariamente,
seria o se colocar à procura de algo, focado e com propósito, pois
contagia as pessoas ao redor. O homem nem sonha que, não tendo
ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a
futura encarregada das baldeações e outros anseios.
Sem que percebamos, pessoas ao nosso redor tomam decisões
inspiradas nas nossas ações, tornando-se aliados ou parceiros de mis-
sões ou projetos. Um exemplo na história está ao lermos que, além
dos pedintes na fila, algumas mulheres da janela se movimentam
em favor do homem gritando ao rei que lhe dê o barco e quando a
mulher da limpeza é chamada no castelo, mas a mesma já saiu com
o balde e a vassoura pela porta das decisões, que é raro ser usada, mas
quando o é, é.
Claro que nem todos se contagiaram, e um deles é o Capitão,
que fica encarregado de entregar o barco dado ao homem. Ele insiste
que já não há mais ilhas desconhecidas, ao que o homem responde
ser estranho ele dizer que já não há ilhas desconhecidas, pois, mesmo
sendo homem da terra não ignora que todas as ilhas são desconheci-
das enquanto não desembarcarmos nelas.
Cada personagem na história se apresenta como pessoas que
encontramos ou encontraremos na vida, além de ensinar como se
colocar à procura.

147
Não basta apenas estar a procurar, sem preparo para o desco-
nhecido, e isso se torna evidente quando a mulher da limpeza ao
conhecer o barco diz que um barco que vai procurar a ilha desconhe-
cida não pode ter um aspecto, como se fosse um galinheiro, ou refle-
tindo sobre o estado psíquico da procura, ao não encontrar pólvora
disponível, que não há nenhuma lei dizendo que ir em busca duma
ilha desconhecida tenha de ser uma empresa de guerra.
Reafirmando a necessidade de procura por ilhas desconheci-
das, o homem e a mulher discutem sobre encontrar a ilha desconhe-
cida para saber quem ele será quando nela estiver interligando com
a ideia de que nenhum homem é uma ilha e é necessário sair da ilha
para ver a ilha, que não vemos senão sairmos de nós.

148
Tema 12:
O livro como herança

150
1. Thiago da Silva de Sousa
EEEP Monsenhor Odorico

O sonho de Théo

Hoje falarei de um certo garoto chamado Théo. Ele morava


no interior da cidade de Tauá, tinha apenas 11 anos de idade.
Morava somente com seu pai, sua mãe já era falecida há 5 anos.
Diariamente ele andava pelos campos da fazenda, onde seu pai
trabalhava. Certo dia, acompanhado de seu cachorro de estimação,
chamado Bob, enquanto caminhavam perceberam algo se mexendo
nos arbustos, curiosamente viram que se tratava de um livro rasgado.
Théo ficou entusiasmado por encontrar um livro na floresta, decidiu
levá-lo para sua casa. Se passaram alguns dias, o aniversário de Théo
se aproximava, seu pai percebendo que aniversário de seu filho estava
chegando, resolveu perguntá-lo o que ele queria de presente. O
menino com alegria disse:
- Pai Eu quero apenas um livro.
Seu pai sem entender disse:
- Tudo bem.
No dia do seu aniversário, ele esperava ansiosamente a che-
gada do pai da cidade, pois havia viajado. Antes de retornar a Tauá,
o pai de Théo passando em frente uma Loja, viu o Senhor Ricardo
Vale, dono de uma biblioteca, falando em voz alta:
- Olá senhores e Senhoras de todo o Brasil, é com muita ale-
gria e satisfação que vos faço a seguinte promoção. Estou precisando
de um jovem para conhecer a minha biblioteca, os interessados po-
dem realizar o cadastro pelo site “https://www.Alfacomvoce.com.br”,

151
as inscrições serão somente hoje, e estarão disponíveis durante todo
o dia, boa sorte a todos.
O pai de Théo ficou muito animado com a notícia e espe-
rançoso, viu essa proposta como uma grande oportunidade de seu
filho realizar seu sonho, o de mostrar a importância da leitura para
sua comunidade, algo que em outro momento havia relatado. O
Pai de Théo se dirige a uma lan house, preenche todos os dados e
aguarda ansiosamente que o seu filho seja selecionado a uma vaga.
Chegando em casa, mesmo com todas as dificuldades financeiras, ele
consegue comprar um livro, na verdade não se tratava de um livro
comum, era um dicionário Aurélio. Seu pai lhe deu um dicionário
para que ele pudesse aprender novas palavras, melhorar a sua forma
de se comunicar, conseguisse interpretar vários textos de linguagens
complicadas. Finalmente chegou o dia do resultado da seleção, o dia
definido para quem iria conhecer a grande Biblioteca Alfa. O pai de
Theo, muito preocupado com as tarefas de casa, como por exemplo
cuidar dos animais, e da roça, esqueceu de verificar o resultado. E
por incrível que pareça o jovem sorteado, foi Théo, com direito a
viagem e passeio gratuitamente. A notícia chegou ao pai de Théo,
ele muito feliz, diz ao seu filho:
- Théo não sabia o que fazer com uma notícia tão especial e
não lembrei de conferir o resultado, era uma surpresa que tinha para
você.
No outro dia Théo e seu pai viajaram para São Paulo. Três
dias se passaram, finalmente chegaram à Capital. Théo foi recebido
com uma apresentação de teatro e com uma citação de poesia. O
garoto estava muito feliz, de repente chega o dono da Biblioteca
“Ricardo Vale “, e diz:

152
- Você é o jovem premiado?
O garoto responde:
- Sim senhor, prazer em conhecê-lo.
Ricardo Vale mal respondeu o menino. Théo então falou:
- O senhor está bem?
- Que ousadia é essa, respondeu Ricardo
- Desculpa senhor, só queria ajudar.

Ricardo percebe algo diferente nesse garoto, e pede para ter


uma conversa particular com ele. Durante a conversa, Ricardo se
abre para o garoto é diz:
- Caro jovem, tive 5 filhos, nenhum está atualmente comigo.
Dois estão nos EUA, outro está preso, outro é médico, e o último
morreu em um acidente. Tenho essa grande biblioteca, é nenhum
quer continuar meu legado. Estou muito doente e preciso de alguém
que possua responsabilidade para cuidar dessa biblioteca. Aqui en-
tram os pensamentos mais lindos e sai as mais belas reflexões da vida.
O garoto diz:
- A beleza da leitura não é o saber ler, mas sim, o saber inter-
pretar. Assim como a escritora Simone Helen diz: “A leitura é as asas
da imaginação, ler é voar por caminhos infinitos”. Senhor Ricardo a
vida é feita de escolhas, alguns querem correr atrás dos seus sonhos,
outros então seguem como diz o ditado “deixe a vida me levar””.
Sabe, sou pobre, mas não me envergonho. Só tenho dois livros, mas
não reclamo disso. Na vida tenho apenas meu pai, mas não o deixo
por nada. A Vida é passageira e rápida, acredito que o papel dos
livros não é ficar em prateleiras, e sim, devem ficar nas mãos das pes-
soas. Saber ler é uma virtude, saber interpretar é um privilégio. Que

153
eu possa fazer com que as pessoas possam ler mais, ser mais felizes
através das leituras. Leitura é vida, leitura é a fonte de pensamento e
sabedoria. O Mundo precisa da leitura.
Ricardo ficou tão emocionado com o discurso de Théo, que
fez uma proposta:
- Garoto, você aceita a partir de agora ser o dono dessa bi-
blioteca?
Théo não estava acreditando naquele convite. Ele pensou e
disse:
- Como eu vou contribuir sendo que sou muito novo?
- Eu serei seu ajudante, enquanto eu viver estarei com você.
Quero ver você compartilhar, distribuir conhecimentos e leitura por
todos o planeta terra.
- Aceito seu convite, senhor Ricardo.
Anos se passaram, Théo não era rico. Continuava pobre, mas
pobre financeiramente e não de conhecimento. Ele não queria luxo,
o sonho dele estava se realizando, fazer o mundo todo amar a leitura.
Faça como Théo, se você é amante da leitura, incentive as
pessoas ao seu redor a ler, porque feliz é o homem que faz uma lei-
tura. Ler não é só um prazer, ler é viajar no mundo mais diverso que
existe. É imaginar, é contribuir com a escrita, com a interpretação,
e o mais importante, contribuir para desenvolvimento intelectual.
Que a leitura venha diariamente fazer parte da vida dos brasileiros.
A leitura transmite um dos maiores conhecimentos já vistos na hu-
manidade. Permite a transmissão de conhecimentos ou saberes por
gerações. Além de tornar a vida mais saudável e até prevenir doenças.
Viva a leitura!

154
2. Raiane Costa Pereira
EEEP Doutor José Alves da Silveira

Sobrevoando como uma gaivota

Aos 18 anos, ao fim do ensino médio, eu me despedia do


Círculos de Leitura. Mas, o que eu não imaginava naquele momento,
envolvida em abraços e saudades já esperadas, é que iria vivê-lo
profundamente, nos próximos anos da minha vida e trajetória. A
verdade é que em cada traço da minha história pós Projeto, tem um
pouquinho dos personagens lidos e histórias vividas e debatidas em
conjunto. Mas hoje, sobretudo, irei relatar sobre o grande impacto
da obra Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach.
É infinitamente complexo tentar resumir a obra em duas
palavras: amor e bondade. Penso que, o escritor em seu momento de
inspiração e escrita, há muitos anos, sabia da influência da gaivota
Jonathan para o leitor, mas em nenhum momento, imaginou que
o comportamento da gaivota, do bando, dos líderes, do mar e até
mesmo do céu, poderiam em conjunto traduzir de forma literária
acontecimentos contemporâneos de jovens de diferentes classes,
culturas, preferências, etnias.
Posto isto, inicio minha carta aberta, ao próprio personagem
fictício Jonathan. Primeiro, dizendo-lhe o quanto sou agradecida por
ter me ensinado que voar, embora amplamente mais difícil, a médio
e longo prazo é o que nos dá a vista mais satisfatória, mais alta, mais
segura. Foi assim, que lancei meu primeiro voo. Naquele avião em
janeiro de 2017, indo em busca do que eu acreditava e sentia que
era o melhor para mim e principalmente para a minha família –

155
meu bando. Era uma sensação de medo, mas quase não comparado
ao tamanho do sentimento de início de uma nova e bela jornada,
deixando pra trás pessoas com as quais pude aprender muito sobre a
vida, mas que a caixa da rotina conseguiu, sem ser notada, ser mais
pesada. Embora fosse caixa, não tanto fechada, mas sempre caixa. E
eu, queria abri-la e ver o que tinha por fora.
No momento do primeiro voo, eu pensei em Jonathan,
era manhã, olhando as nuvens pela janela, me imaginei gaivota.
Sobrevoando meus sonhos, e carregando neles, a responsabilidade
de fazer de cada um, resultados positivos não só para mim, mas
para quem pudesse tropeçar sobre meu caminho. A vida em bando,
definitivamente, nos edifica pela troca e coragem de sermos únicos
em um conjunto de seres (gaivotas) diferentes.
Segundo, gaivota Jonathan, eu te falo que o mar pode ser
realmente muito perigoso e que precisei me molhar muitas vezes
para continuar batendo minhas asas e tentando de novo, de novo e
de novo. Molhar as minhas asas, foi frustrante. Cada gotícula que
encostava, deixava a sua marca e a asa mais pesada. Como foi difícil,
eu mesma achei que não ia conseguir. E de novo, cancelando um
projeto antes muito sonhado, lembrei novamente de você. Observei-
-me, de novo como uma gaivota, que precisava acreditar e reinventar
novas formas de voar e principalmente mostrar para as outras gai-
votas que passavam por mim, que era possível se refazer, se costurar,
pegar um ar e tentar de novo.
A caixa, do lado de fora, não era toda florida. Não tinha uma
cor vibrante, não tinha laço, não tinha nome. E foi pensando nisso,
que eu, chegando aos 20 anos, compreendi que do lado de fora não
tinha nada, porque quem precisava florir, pintar, enfeitar, era eu. E

156
foi assim, que de novo gaivota Jonathan, eu decidi perseverar em mi-
nha própria liberdade, e mais do que isso, um dia voltar para aqueles
que tanto me ensinaram para dizer para todos, o quanto o mundo
pode ser extremamente ilimitado, e cheio de infinitas possibilidades.
Eu, gaivota, aprendendo a voar, a me molhar no mar, me refazer e
agora perseverar para um dia reencontrar aqueles que talvez até mes-
mo acharam um desvairo eu rasgar a caixa.
Terceiro, bati tanto as minhas asas que encontrei um céu
limpo, com gaivotas que batiam ao mesmo ritmo, que acreditavam
da mesma forma, que me reconheceram como sendo do seu bando.
Me encontrei. Provei do meu próprio esforço, minhas asas já secas
podiam lançar voos cada vez mais altos, seguros e confiáveis. Depois
de tanto tempo, eu pude dizer que consegui. Que era possível co-
criar desejos que antes só existiam no meu imaginário.
Foi nesse lugar, Jonathan, que o líder veio até a mim e disse
que eu precisava seguir voando, mas dessa vez, demonstrando para
todos que ficaram dentro da caixa como era possível tudo que eu
estava fazendo. De fato, os mistérios da vida, fictícia ou real, existem
para que a gente possa parar um momento e pensar em como foi
possível, em qual momento nos tornamos aptos para as grandes rea-
lizações, depois de muitos pesares, e choros e lamentações. Me sentia
viva, uma gaivota plena, cicatrizada e principalmente muito feliz de
ter compreendido tudo que acontecia em minha volta.
E quando houve de fato o retorno, era nítido aquilo que
aconteceu na obra com você. Lideramos não porque temos maiores
capacidades, mas porque tivemos a coragem de acreditar e seguir
firme com os nossos sonhos. Liderei pelo exemplo, sem pretensão,
sem saber o que cada etapa até o voo final poderia me proporcionar.

157
Algumas gaivotas foram chegando aos pouquinhos, afinal, eu mes-
ma já tinha experimentado da dor que é olhar em volta da caixa e ver
que ela não tinha nada demais, além de infinitas possibilidades que
você mesma pode desenhar e contornar.
Hoje, Jonathan, te reencontrar é ler de forma esporádica a
obra em que você foi inserido. É ouvir por plataformas diversas a
narração de sua história e perceber o quanto ela pode ser parecida
e inspiradora para os meus dias, para os dias de todas as gaivotas
que decidiram optar pelo caminho mais difícil e infinitamente mais
agradável pelos frutos gerados. Obrigada, gaivota, por me fazer com-
preender que um dia nossas asas vão ficar mais fracas, e que de tudo
vale a pena se tivermos em um ímpeto de segundo, deixado um
legado de que é possível viver conforme nossos princípios, vontades,
determinação e, sobretudo, liberdade. A liberdade de voar é a liber-
dade de viver.

158
3. Maria Aparecida Freire Batista
EE Maria Daurea Lopes

O poder de um livro

A leitura é algo surpreendente, não acha? Como pode um livro


nos fazer navegar nos mares do conhecimento, voar com as asas da
imaginação, visitar tantos lugares sem ao menos tirar os pés do chão?
Ademais, repassar grandes ensinamentos que pessoa alguma ensina-
ria? Pois é! Mas, tudo isso é possível ao ler um livro. Se não acredita,
pegue um e verá.
Lembro-me de uma obra a qual li no Ensino Médio de nome
Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach. Desde o início da leitura,
a ave me marcou fortemente, sendo um exemplo de vida a seguir. A
seguinte frase nunca saiu da minha mente: “Não creia no que seus
olhos lhe dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olhe com o en-
tendimento”; esse trecho era e ainda é minha lição de vida. Sempre
me recordava de Fernão a fim de, tal como ele, ultrapassar a barreira
de limitação.
Após terminar o ensino regular, não consegui entrar em
nenhuma faculdade e várias pessoas me diziam que eu não subiria na
vida. E de nada ajudava o fato de meu sonho ser tornar-me médica.
Muitos jogavam na minha cara dizendo eu ser a escória de meus
pais, que eu não teria capacidade para sequer entrar na universidade,
muito menos formar-me. Diziam para me conformar, nunca iria
realizar tal sonho, era melhor aceitar viver na mesmice. Dessa forma,
assim como Fernão, fui julgada e humilhada. Escutava bastante:

159
“Um absurdo! Uma garota pobre como você querer ser uma
médica! Você não é capaz! ”...
Fernão Capelo Gaivota jamais desistiu. Para ele não existia
limites para realizar os sonhos. Batalhou mais e mais, sem passar por
cima de ninguém, conseguiu por seu mérito e esforço. Buscando
sempre melhorar e ajudar os outros. E com ele aprendi a de modo
algum abandonar o que eu tanto almejo na vida, independentemen-
te de as pessoas acreditarem ou não em mim. Hoje, estou cursando
Medicina e não é fácil, contudo, igualmente à gaivota, de maneira
nenhuma irei me render. Isso compreendi com a leitura de Fernão
Capelo Gaivota.
Agora termino o meu texto como iniciei, reafirmando como
é incrível o que um livro pode nos ensinar! Experiência melhor não
há. Um livro é um novo mundo, onde tudo é possível e muito mais.
Se não acredita, pegue um e verá.

160
4. João Pedro Tic
Major Arcy

Como os livros mudaram minha minha vida

Não sei ao certo quantos anos eu tinha, mas sei que ainda era
bem pequeno quando tive o meu primeiro contato com um livro.
Lembro-me da alegria em ter em mãos um livro: Extraordinário de
R. J. Palácio. Recordo-me de sua capa extraordinária que levava a
frase:”nunca julgue um livro pela capa”. Isso me fascinara tanto que
não me contive e desbravei todas aquelas páginas que contavam a
emocionante e inspiradora história de Auggie Pullman.Assim, foi-se
formando em mim o gosto por ler, é como dizem: “o nosso primeiro
livro a gente nunca esquece”.
Passaram-se os anos e continuei desbravando os mundos
dos sonhos que os livros nos transportam. Até que em certo
momento,acabei me deparando com o programa Círculos de Leitura
na escola em que estudava e me surpreendi com a proposta de leitura
em grupos,pois só conhecia a leitura solitária.
Foi então que li meu primeiro livro em grupo: Fernão Capelo
Gaivota, de Richard Bach e a experiência foi sensacional, pois se o
ato de ler era solitário, compartilhar a leitura foi um prazer que nos
uniu.A história de Fernão trouxe à tona diversas trocas de ideias e
acabei aprendendo muito sobre vários aspectos da vida,como que es-
colhemos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendemos
neste,ou seja,não aprender nada significa que o próximo mundo será
igual a este, com as mesmas limitações a vencer.

161
Logo após, lemos A Comédia Humana, de William Saroyan
que, à primeira vista, poderia ser sobre a desgraça humana, mas
embora o pano de fundo seja a guerra (o que há de pior no homem),
o livro relata justamente o oposto. Ele mostra pessoas (como a família
Macauley) que conseguem sobrepor a maldade com o amor. Acho
que o livro tem esse nome porque William é tão otimista que não
poderia nomear um livro seu, como A desgraça humana.
Por fim,chegamos ao clássico O Pequeno Príncipe de Antoine
de Saint-Exupéry e nele houveram diversas lições de vida, mesmo
sendo considerado como uma literatura infantil.Com seu alto teor
poético e filosófico,nós discutimos sobre a perda da inocência e fan-
tasia ao longo dos anos,pois as pessoas abandonam a infância a me-
dida que vão crescendo,por conta disso,concluímos que o livro passa
a ideia do resgate da criança interior que existe em cada um de nós.
Quando passei a frequentar a Casinha mais vezes, obtive
experiências incríveis, como as tragédias de Shakespeare: Rei Lear,
Hamlet e Macbeth.Posso dizer que abriu a minha mente sobre a vida
e acabei levando como ensinamento que chorar sobre as desgraças
passadas é a maneira mais segura de atrair outras.Já nos colóquios,
acabei me deparando com a obra de Yascha Mounk: O Povo Contra
A Democracia,que me habituou a questionar a política e economia
do país, assim me tornando um cidadão muito mais consciente e
engajado a mudar a sociedade em que vivemos.
Concluo que sem a experiência dos Círculos e dos livros que
li até o momento, eu não seria quem sou, pois, os livros que lemos e
gostamos, mostram quem somos.

162
5. Esterfany do Nascimento Albino
EEEP Lysia Pimentel

Com meus 13/14 anos conheci o mundo dos livros e, é estra-


nho parar para pensar agora, em como passei tantos anos sem beber
dessa fonte de conhecimento e fantasias. Hoje eu entendo como os
livros têm um poder que nada mais tem. O Círculos de Leitura foi
um projeto que eu conheci somente no ensino médio e, pensando
agora: quem dera eu o tivesse conhecido mais cedo. As experiências
que adquiri naquele círculo ninguém conseguirá arrancá-las de mim.
Um dos livros que conseguimos concluir no ano passado -
antes que a pandemia nos envolvesse - foi O Pequeno Príncipe. Como
um livro tão pequeno e curto consegue nos envolver de tal forma
e nos ensinar tanto? Não sei, ainda me pergunto também. Foram
muitos ensinamentos em pouquíssimas páginas, um livro gostoso
de se ler e totalmente reflexivo. O Círculos de Leitura ter trazido
essa obra maravilhosa para ser trabalhada em nossa escola foi muito
importante, pois trouxe aos alunos - que não gostam muito de ler -,
inúmeras reflexões importantes pra vida. É isso que torna o Círculos
um programa incrível: o fato de que não é um simples conteúdo
para provas ou vestibulares ao qual nos preparam desde o ensino
fundamental, mas sim um momento que aprendemos para a vida.
Aprendi com este livro que devemos cativar as pessoas e que o
resultado de cativar e ser cativado, é a ansiedade e felicidade quando
a pessoa amada vai visitar-lhe. Muitos personagens apresentados
neste livro parecem com personalidades das pessoas reais: um
bêbado que bebe para esquecer que bebe; um homem de negócios
ganancioso que vende o que não lhe pertence e nem ao menos

163
cuida; um acendedor de lampião que trabalha no automático e
que não tem tempo nem para si mesmo; um homem vaidoso que
necessita de elogios mesmo que esteja sozinho no seu planeta, e um
menino inocente que anda pelos planetas e se depara com adultos de
comportamentos incoerentes. São muitos exemplos que são retirados
do comportamento humano, sempre muito ocupado, trabalhando,
mandando nos outros, querendo elogios... resumidamente, esse livro
tem seus motivos de estar na estante de quase todas as pessoas e
bibliotecas espalhadas pelo mundo.
Ela transmitiu, transmite e transmitirá às gerações futuras, um
sentimento de paz e desconforto ao mesmo tempo. Paz por saber que
somos pessoas rodeadas de mais pessoas que devem ser cultivadas
e que também nos cultivam, e desconforto pois nos mostra que
muitas vezes as pessoas podem ser egoístas ou supérfluas. O fato de
este livro ser trabalhado no programa Círculos de Leitura e chegar a
mais de 19000 alunos, com mais de 19000 realidades diferentes, é
muito incrível, pois alcançou milhares de pessoas que talvez nunca
buscariam conhecer um livro na vida. Entre tantos outros livros que
li no Círculos de Leitura, O Pequeno Príncipe foi o que mais me
ensinou a refletir e viver. Ler nos Círculos de Leitura me fez conhecer
mais livros, conhecer a mim mesma e aos outros. Que esse projeto
continue espalhando essa diversidade de universos que são os livros.

164
6. Patrício da Costa Fonseca
EEEP José Maria Falcão

Todo ser humano tem alguma experiência na vida na qual


nunca irá esquecer. Alguns, nunca esqueceram o primeiro beijo,
outros nunca esqueceram o primeiro amor. Faço parte daqueles
que, também, nunca esquecerá o poder transformador que um livro
pode causar na vida das pessoas. O Programa Círculos de Leitura
proporcionou momentos tão genuínos na minha vida e possibilitou
o grande prazer pela leitura que descobri no ensino médio com o
programa, até então, nunca tinha lido sequer um livro.
Fernão entrou na minha vida em um momento em que eu
não acreditava no meu potencial, era sempre mediano, não me
dedicava como deveria. Entretanto, tudo mudou quando li a obra. A
determinação, a persistência que ele demonstrava a cada dificuldade,
a coragem, e principalmente, a vontade em dar o melhor de si, fez
com que eu parasse e refletisse o que eu estava fazendo com a minha
vida, e esse sentimento será impossível de reproduzir neste texto.
Na obra Caminho de Homero, um grande impacto que jamais
esquecerei, a empatia que Homero tratou a mãe de Alan. Nunca
consegui me imaginar dando uma notícia tão triste para uma mãe e,
ele apenas com seus 14 anos conseguiu. Essa parte da obra me dói
tanto! É cada vez mais difícil encontrar pessoas que sentem empatia
pela dor do outro, que mostrem de verdade que estão ali para te
apoiar, te escutar. Às vezes, o ser humano somente precisa de uma
palavra amiga, nada mais. Infelizmente, as pessoas julgam muito as
outras, e acabam perdendo encontros genuínos na vida. A empatia
de Homero fez com que eu alterasse a forma de escutar o próximo,

165
fez com que me colocasse realmente no lugar do outro, e não ser
egoísta, afinal, qual a vantagem que esse sentimento agregaria à mi-
nha vida? NENHUM! Homero, apesar da pouca idade, mostrou um
sentimento puro, verdadeiro, e, principalmente, sincero. Em suma,
uma reflexão espetacular para a vida.
O Pequeno Príncipe foi o primeiro livro que me fez chorar,
nunca pensei que seria possível tal feito pela leitura. Durante toda a
obra geram-se reflexões que fazem com que reflitamos sobre a nossa
vida. Uma delas é: “É preciso que eu suporte duas ou três larvas
se quiser conhecer as borboletas”. Essa citação reflete a situação de
muitos indivíduos, aquelas pessoas que esquecem que para conse-
guir o seu objetivo, passarão por várias dificuldades, existirão vários
obstáculos para desistir e abandonar seu sonho, porém, se não desis-
tirmos conseguiremos alcançar as nossas metas. Nada na nossa vida
é fácil, a única coisa que não podemos permitir é a auto-sabotagem
que nos faz desistir de um sonho.
Todas essas experiências, competências e aprendizados, fa-
zem com que eu sempre me lembre com muito carinho, felicidade e
saudade do Programa. Afinal de contas, o Círculos de Leitura pro-
porcionou-me momentos genuínos e únicos, e assim, faz com que
sempre me lembre que, “Quando a vida lhe proporciona algo que
vai muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar
quando isso chegar ao fim”. (Stephenie Meyer.)

166
7. Cauê Bull Gonçalves de Sousa
EE Professora Irene Branco da Silva

A poesia de Oz

Às vezes, tenho vontade de ter um coração


para poder sentir um amor maior
pelas coisas que eu faço...

Então, eu tento lutar para achar o meu Mágico de Oz,


para que ele me faça perceber que o meu coração existe,
só preciso sentí-lo.

Tenho vontade também de ter um cérebro,


para eu poder pensar; pensar como eu posso ser forte
para aguentar todo o peso das consequências...

Mas eu tenho de lutar para achar o Mágico De Oz,


a fim de que ele me faça
sentir o meu cérebro!

Depois de eu ter sentido meu cérebro,


percebo que sou igual a Dorothy, pois
as coisas que me fazem bem vão acabar se destruindo...

167
Eu, às vezes, me sinto um covarde, mas como eu já disse,
preciso encontrar o meu Mágico de Oz para que ele me faça
perceber
que eu posso achar minha coragem no meu interior!!

E no final, eu percebo
que tudo o que eu queria, eu já tinha!
Eu só precisava olhar para dentro, nas profundezas do meu ser...

Mas... Pois é, sempre tem um “mas” ...


As pessoas que fizeram você perceber os seus detalhes
sempre irão sumir, como o Mágico!

Então, dê valor para as pessoas, que,


por acaso, em algum momento, se tornaram o seu Mágico de
Oz,
mesmo que um dia elas desapareçam....

168
8. André de Carvalho Costa Silva
Etec Irmã Agostina

Uma das leituras que mais me marcaram nos Círculos de


Leitura foi coincidentemente de um dos autores que eu mais tenho
apreço e vontade de ler, Dostoiévski.
Carrego comigo a certeza de que se eu me aventurasse em Os
Irmãos Karamazov sozinho, como já me aventurei em outros escritos
do autor, não entenderia um terço comparado à experiência que ti-
vemos ao ler em grupo.
E não digo isso insinuando que o livro seja de difícil com-
preensão ou coisa do tipo, na verdade, reafirmo uma problemática
minha: a dificuldade de me aprofundar no texto.
Começo relatando isso pois penso que graças ao grupo, esse
espírito de coletividade onde todos leem e buscam aprender juntos,
é que consegui entender o amor ativo presente como uma das mais
bonitas mensagens do texto. Há de se destacar, porém, a profundi-
dade do livro, sendo o amor ativo a “ponta do iceberg”.
Os escritos de Alexei sobre a história de seu mestre, Zózimo,
nos contam como Markel, o falecido irmão de Zózimo, reagiu aos
seus últimos dias de vida. Ele dizia que “a vida é o paraíso, e nós
todos estamos no paraíso, mas não conseguimos reconhecer isso; to-
davia, se nós pudéssemos compreender isso, amanhã mesmo a terra
seria o paraíso”.
Penso que a opinião de Markel gere certos questionamentos,
ele estava à beira da morte, doente, de súbito mudando toda sua
filosofia de vida e costumes e agora até mesmo adotando práticas re-
ligiosas “para agradar sua mãe”, como ele dizia. Porém, acredito que

169
a profundidade dessa fala acaba respondendo a qualquer pergunta
que surja contra Markel.
Pouco depois ele pergunta se é digno de ser servido pelos
empregados e afirma que “cada um de nós é culpado de tudo em
relação a todos”, reforçando a ideia da “coletividade” necessária para
que a terra se torne o paraíso que tem capacidade de se tornar caso
nós compreendêssemos isso.
Escolho essa passagem, por ser uma das minhas favoritas do
livro, acredito que ela reforce ainda mais a experiência que passei no
Círculos onde nós mergulhamos na leitura. Parafraseando Gandhi,
quem não vive para servir não serve para viver, e foi graças aos
momentos de leitura onde recebi a ajuda de muitos que pude ver o
tal paraíso ao qual Markel se referia.

170
ESCOLAS PARTICIPANTES

São Paulo
EE Maria Aparecida de Castro Masiero
EE Deputado Manoel de Nóbrega
EE Reverendo Tércio Moraes Pereira
EE Alexandre Von Humboldt
Etec Tiquatira
Etec Juscelino Kubitschek de Oliveira
EE Prof Irene Branco
Etec de Carapicuíba
Etec Maria Augusta Saraiva
Etec Irmã Agostina
Etec Ferraz de Vasconcelos
Joaquim Adolfo de Araujo
EE Padre Romeo Mecca
EE Major Arcy
EE Mário Kozel Filho

Ceará
EEEP Maria Cavalcante Costa - Quixadá, 87.728 habitantes
EEEP Balbina Viana Arrais - Brejo Santo, 49.109 habitantes
EEMTI Tabelião José Pinto Quezedo - Aurora 24.654 habitantes
Escola Jaime Laurindo - Barroquinha, 14.475 habitantes
EEEP Irmã Ana Zélia da Fonseca - Milagres,, 28.316 habitantes
EEEP Monsenhor Odorico - Tauá, 58.119 habitantes
EEM Professora Luiza Távora - Cariús, 18.567 habitantes

172
EM Flávio Rodrigues - Croatá, 17.802 habitantes
EEEP Dom Walfrido - Sobral,, 210.711 habitantes
EEEP Dr. José Iran Costa - Várzea Alegre, 40.903 habitantes
EEEP José Maria Falcão - Pacajus, 70.911habitantes
EEEP Professora Lysia Pimentel - Sobral, 210.711 habitantes
EEM José Ferreira Barbosa - Aiuaba, 17.399 habitantes
EEMTI Lions Club - Crateús, 75.074 habitantes
EEEP Professor Antônio Valmir - Caucaia, 361.400 habitantes
EEEP Doutor Napoleão Neves da Luz - Jardim, 26.697 habitantes
EEEP Rita Matos Luna - Jucás, 23.809 habitantes
Liceu Marcionílio Gomes de Freitas -
Senador Pompeu, 26.494 habitantes
EEM José Ferreira Barbosa - Aiuaba, 17.399 habitantes
EE Maria Daurea Lopes - Iguatu, 102.013 habitantes
EEEP Doutor José Alves da Silveira -
Quixeramobim, 85.565 habitantes
EEEP Manoel Mano - Crateús, 75.074 habitantes
EEEP Monsenhor Expedito da Silveira de Sousa -
Camocim, 63.661 habitantes
EEM Maria José Coutinho - Quiterianópolis, 19.918 habitantes
EE Monsenhor José Augusto - Camocim, 63.661 habitantes
EEEP Francisco das Chagas Vasconcelos -
Santana do Acaraú, 29.977 habitantes
EEMTI Belarmino Lins de Medeiros - Abaiara, 11.663 habitantes
EEM Gov. Cesar Cals de Oliveira Filho -
Quixadá, 87.728 habitantes
EEM Mons Horácio Teixeira - Baixio, 6.196 habitantes
EEM Monsenhor José Carneiro da Cunha -
Chaval, 12.617 habitantes
173
EEEP Aderson Borges de Carvalho - Juazeiro do Norte, 276.264
EEEP Deputado José Walfrido Monteiro - Icó, 67.456 habitantes
EEEP Valter Nunes de Alencar - Araripe, 20.689 habitantes
EEEP Francisca Castro de Mesquita - Reriutaba,18.491 habitantes
EEEP Governador Virgílio Távora - Crato, 133,031 habitantes
EEEP Joaquim Filomeno Noronha - Parambu, 31.213 habitantes
EEEP José Augusto Torres - Senador Pompeu, 26.494 habitantes
EEEP Professora Rosângela Albuquerque de Couto -
Itarema, 41.445 habitantes
EEM Aristarco Cardoso - Porteiras, 14.996 habitantes
EEM Coelho Mascarenhas - Novo oriente, 27.453 habitantes
EEM Dona Antônia Lindalva de Morais -
Milagres, 28.316 habitantes
EEM Filgueiras Lima - Lavras da Mangabeira, 31.508 habitantes
EEM Mauro Sampaio - Barro, 21.556 habitantes
EEMTI Alda Férrer Augusto Dutra -
Lavras da Mangabeira, 31.508 habitantes
EEMTI Padre José Alves de Macedo - Icó, 67.456 habitantes
EEMTI Deputado Murilo Aguiar - Camocim, 63.661 habitantes
EEM Antônio Reginaldo Magalhães de Almeida -
Potiretama, 6.129 habitantes
EEMTI Valdo de Vasconcelos Rios - Itarema, 41.445 habitantes
EEEP Prof. Francisca Moreira de Sousa -
Beberibe, 49.334 habitantes
EEEP Alfredo Nunes de Melo - Acopiara, 53.931 habitantes
EEEP Antonio Mota Filho - Tamboril, 26.225 habitantes
EEEP Deputado José Maria Melo -
Guaraciaba do Norte, 40.784 habitantes

174
EEEP Gonzaga Mota - Maracanaú, 229.458 habitantes
EEEP Guilherme Teles Gouveia - Granja, 52.670 habitantes
EEEP Guiomar Belchior Aguiar - Cariré, 18.802 habitantes
EEEP Júlio França - Bela Cruz, 30.873 habitantes
EEEP Pedro de Queiroz - Beberibe, 49.334 habitantes
EEMTI de Irauçuba - Irauçuba, 24.156 habitantes
EEM Epitácio Pessoa - Orós, 21.392 habitantes
EEM José Correia Lima - Várzea Alegre, 40.903 habitantes
EEM Luzia Araújo Barros - Itarema, 41.445 habitantes
EEM Maria Stela Rocha Aguiar - Camocim, 63.661 habitantes
EEM Nazaré Severiano - Santana do Acaraú, 29.977 habitantes
EEM Olímpio Sampaio da Silva - Uruoca, 12.894 habitantes
EEM Prefeito Dario Campos Feijó -
Martinópole,, 10.220 habitantes
EEM Ricardo De Sousa Neves - Marco, 24.703 habitantes
EEMTI Simão Ângelo - Penaforte, 9.010 habitantes
EEM Vicente de Paulo - Acaraú, 62.557 habitantes
EEMTI Anchieta - Maranguape, 126.486 habitantes
EEM Vivina Monteiro - Icó, 67.456 habitantes

175
LISTA DE OBRAS QUE INSPIRARAM
OS TEXTOS DOS JOVENS

Fernão Capelo Gaivota - Richard Bach


O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint Exupéry
A Comédia Humana - William Saroyan
O Chão Adormecido no Baú dos Sonhos - Eliane Fonseca
O Mágico de Oz - Frank Baum
Kouros - Nikos Kazantzakis
Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski
Os Irmãos Karamazov - Fiódor Dostoiévski
Kafka e A Boneca Viajante - Jordi Sierra i Fabra
Alma Despejada - Andrea Bassit
O Conto da Ilha Desconhecida - José Saramago
O Pintor, A Cidade e O Mar - Monika Feth
Pirlimpsiquice - Guimarães Rosa
Sequência - Guimarães Rosa
O Espelho - Machado de Assis
O Beijo - Anton Tchekov
A Menina e O Pássaro Encantado - Rubem Alves
De Muito Procurar - Marina Colassanti
As tragédias de Shakespeare: Rei Lear, Hamlet e Macbeth.

176
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os alunos, ex-alunos, professores,


parceiros e amigos dos Círculos de Leitura que contribuíram para a
realização deste concurso.
Nosso agradecimento especial à nossa banca avaliadora
composta de professores e voluntários do Programa Círculos de
Leitura!
Este livro é resultado de um maravilhoso trabalho em conjunto.

Nossos corretores:
Rita Depieri
Nícia Lira
Adriana Coppi
Arara Xestal
Camila Barbosa de Oliveira
Crélis da Silva Machado
Danilo Gonçalves
Denise Guaranha
Denise Santos
Deulza Ratti
Fernando Rangel
Luana Maria Ferreira
Mirna Colazingari
Myriam Bulhões
Fátima Simone Pereira
Valstilde Ferreira Lima
Vanessa Oliveira
178
AGRADECIMENTO

Agradecemos imensamente o apoio recebido pelas pessoas físicas listadas


abaixo, que acreditam e contribuem com nosso trabalho:
Armínio Fraga
Carlos Eduardo e Rita Depieri
Jayme Garfinkel
Sandrine Ferdane
Antonio Carlos Barbosa de Oliveira
Eduardo José Bernini
Idel e Anita Metzger
Projeto gráfico: Gabriela F. Fernandes

Capa: Papoulas, de Kitagawa Sōsetsu - pintura - séc.: 18 - Japão


The Metropolitan Museum of Art

Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial


Rua Ceará 2, São Paulo - SP CEP 01243-010
Tel.: 11 3824-9633 E-mail: ifbe@braudel.org.br
Instagram: @circulosdeleituraoficial
https://www.site.braudel.org.br/

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