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2017 Spa Vii Ppgac Eca Usp Caderno Resumos
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Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
CDD: 792
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO …………………………………………………………………… 5
PROGRAMAÇÃO …………………………………………………………………… 8
RESUMOS ……………………………………………………………………..……… 18
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APRESENTAÇÃO
O Seminário de Pesquisas em Andamento (SPA) é uma iniciativa dos alunos do
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da USP, que ocorre desde 2011, e tem como
objetivo criar um espaço de troca de experiências entre pesquisadores das Artes Cênicas para
ampliar a difusão das pesquisas em andamento e recém-concluídas na área.
Sua 7ª edição ocorreu nos dias 05, 06, 07 e 08 de setembro de 2017 (de terça a sexta-
feira), nas dependências do Departamento de Artes Cênicas da USP, em São Paulo - capital,
com a participação de 136 pesquisadores de 84 Universidades, perfazendo 142 horas de
atividades de aprofundamento e compartilhamento artístico e científico.
A conferência de abertura, “Anatomia de uma Decisão”, foi proferida pelo artista e
coreógrafo português João Fiadeiro.
As comunicações se deram em dois formatos: Comunicação Oral e Comunicação com
Demonstração Técnica. Foram aceitas submissões de comunicações relativas a pesquisas de
iniciação científica, trabalho de conclusão de curso, especialização, mestrado, doutorado, pós-
doutorado e pesquisa docente. Os trabalhos de iniciação científica e de conclusão de curso
foram aceitos desde que a pesquisa se concluísse até a data de apresentação no seminário.
Também foram aceitas inscrições de comunicações de Grupos de Pesquisas de universidades
interessados em apresentar suas linhas de pesquisa.
Nesta edição o seminário apresentou inovações estruturais significativas, como a
abertura para o envio de propostas de Oficinas e Palestras aos pesquisadores com trabalhos
aprovados para apresentação no evento; e a realização de seu primeiro Grupo de Trabalho:
Música e Voz nas Artes Cênicas.
Todas as atividades foram certificadas e os participantes tiveram seus trabalhos
publicados neste Caderno de Resumos (ISSN 2318-8928) com 470 páginas, contendo 138
resumos expandidos produzidos por 171 autores; o qual também inova ao apresentar a partir
desta edição o Índice Remissivo e o Índice Onomástico para auxiliar a localização dos títulos
e autores dos resumos, os Dados Estatísticos do evento, bem como Registros Fotográficos -
inovações que vão de encontro ao intuito de valorizar e preservar a memória do Seminário.
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FICHA TÉCNICA
COMISSÃO DE ORGANIZAÇÃO DO SEMINÁRIO & EDITORAÇÃO DO
CADERNO DE RESUMOS
MONITORES
Camilla Silva Gabrielle Távora
Chis Alexander Martins Guilherme Rodrigues
Fernanda Machado Victor Walles
APOIO TÉCNICO
Gustavo Gus e Marco Antonio Del Solle (CAC, ECA - USP)
REGISTRO FOTOGRÁFICO
Carolina Camargo De Nadai / Marcello Amalfi
SECRETÁRIA DO PPGAC/ECA-USP
Tamara Elizabeth Cury Sciré
PROFESSORA RESPONSÁVEL
Profa. Dra. Elizabeth Silva Lopes
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DADOS ESTATÍSTICOS
EVENTO:
Período de pré-produção: novembro de 2016 à Setembro 2017
Duração: 4 dias
COMISSÃO ORGANIZAÇÃO: 18
Docentes: 1
Discentes Graduação: 6
Discentes Pós-graduação: 9
Apoio técnico: 2
FEIRA DE LIVROS:
Editoras participantes: 4
Lançamentos realizados:
Livros doados para a Biblioteca Central da ECA: 8
ABERTURA DO EVENTO:
Duração: 4Hs
Espectadores: 152
ATIVIDADES:
Oficinas: 11 (44Hs)
Palestras: 3 (9Hs)
Mesas de comunicação / Demonstrações técnicas: 29 (87Hs)
Apresentações Artísticas: 3 (2Hs)
CADERNO DE RESUMOS:
Páginas: 470
Resumos: 138
Autores: 171
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9h00 - Credenciamento
9h40 - Café da manhã
10h00 - Abertura Oficial do evento
10h20 - Palestra de abertura Anatomia de uma Decisão com João Fiadeiro
14h00 - Comunicações (orais e com demonstração técnica)
17h00 - Café da tarde
17h10 - Apresentação artística Vulvar – no lugar dela, de Marta Baião (USP)
18h30 - Oficina com João Fiadeiro
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OFICINAS:
VAMOS PREPARAR UM ENSAIO? (Ana Paula Zanandréa, UFRGS)
PALESTRA:
O TRÁGICO NA CENA CONTEMPORÂNEA: UMA EXPRESSÃO CORAL? (Carmem
Gadelha, UFRJ)
OFICINAS:
O PACOTE DE ESTÍMULOS COMO DISPARADOR DE PROCESSOS CRIATIVOS
DENTRO E FORA DA SALA DE AULA (Amanda Duarte, UFBA)
PALESTRA:
A MONETIZAÇÃO DO ARTISTA E OS MEIOS DIGITAIS COMO NOVAS
PERSPECTIVAS DE PRODUÇÃO E CRIAÇÃO ARTÍSTICA (Laura Inês Sada Haddad,
USP)
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REGISTROS FOTOGRÁFICOS
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Palavras-Chave
cineficação da cena, filme de teatro, intermidialidade, cena expandida
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trazendo um contexto teórico como baliza. Assim, no primeiro capítulo, introduzi algumas
reflexões sobre o cinema e o teatro, suas imbricações e influências, tendo como referências
teóricas as análises dos autores BAZIN, AUMONT, SONTAG, XAVIER, e PAVIS. Em
seguida, me detive sobre os conceitos de “Filme de Teatro” e “Cineficação da Cena”,
propostos por Beatrice Picon-Vallin, e “Intermedialidade”, por Isabella Pluta, como
ferramentas para uma análise das relações entre teatro e cinema no teatro contemporâneo. Ao
final deste capítulo apresento uma análise histórica do percurso do Théâtre du Soleil, tendo
como guia a sua dupla vocação como companhia de teatro e equipe de cinema. No segundo
capítulo, iniciei a análise do espetáculo em questão com um estudo sobre as notas de ensaio
de “Les Éphémères” presentes no programa oferecido ao público na temporada francesa, sob
a ótica dos escritos de artista e das pesquisas sobre material de arquivo. Em seguida, propus
um aprofundamento na análise do processo criativo que originou o espetáculo, seu
alinhamento com o teatro performativo (FÉRAL, 2015) e com a ideia da
“autoetnografia” (VERSIANI, 2002), tendo como foco principal o trabalho do ator do Théâtre
du Soleil. Por fim e para exemplificar, tomando como base a entrevista realizada com a atriz
Juliana Carneiro da Cunha em junho de 2016 e com Ariane Mnouchkine em março de 2017,
analisei o processo criativo a partir do olhar das artistas, desde o ponto de partida do processo
até as reações do público que se seguiram durante a temporada e turnê mundial do espetáculo.
No terceiro capítulo, propus uma análise do espetáculo elegendo algumas cenas
emblemáticas, observando os efeitos da hibridação da cena e do filme produzido a partir
deste. Procurei mostrar por que “Les Éphémères” se caracteriza como um momento único no
percurso do Théâtre du Soleil. Também procuro enfocar o teatro biográfico e autobiográfico
sob a ótica da diretora Ariane Mnouchkine, que tem episódios marcantes da sua vida pessoal
transformados em cenas do espetáculo. Em seguida, proponho uma análise do espetáculo
seguinte, “Os Náufragos do Louca Esperança” (2010), levando à hipótese de que “Les
Éphémères” inaugura uma nova plataforma de trabalho para a companhia. Por fim, segue-se a
conclusão desta pesquisa, onde incluo algumas reflexões sobre o momento presente da
companhia, quando estão se dando as apresentações de “Une Chambre en Inde”, o mais
recente espetáculo em cartaz na Cartoucherie. A partir de uma fala de Ariane Mnouchkine,
percebe-se que a força motriz da trupe está intimamente ligada ao eterno movimento e a um
olhar sempre voltado ao porvir. Mnouchkine é uma encenadora que carregando um percurso
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de cinquenta e três anos de trabalho ininterrupto é capaz de não ter certezas, de tatear. É uma
pensadora do teatro contemporâneo mais ligada à prática do que à teoria. Ela não escreveu
livros, tampouco se preocupou em organizar e categorizar seu trabalho de forma sistemática.
Finalizei, portanto, com mais interrogações do que quando comecei a pesquisa, especialmente
porque se procurei reter um sentido e um alinhamento de ideias, me dei conta que enquanto as
palavras se sedimentam, elas deixam escapar muitos outros sentidos, que talvez evidenciem
outros caminhos. Percebi que, assim como o cinema, a escritura é também uma tentativa de
capturar um instante, de circunscrever no tempo e no espaço uma matéria volátil, fugidia e
sempre inacabada. Envelhece a cada ponto final. E como o que nos mantém vivos é o
movimento, imagino novas páginas em branco, assim como todo o porvir que o Théâtre du
Soleil tem pela frente. A metodologia de trabalho adotada se iniciou através do mapeamento
da bibliografia e videografia a respeito do Théâtre du Soleil, sua história, processos de criação
e, em especial, a produção intelectual realizada em torno do espetáculo “Les Éphémères”,
além do registro fílmico e programas das temporadas do espetáculo a que pude ter acesso.
Vale atentar que a maior parte deste material encontra-se em língua estrangeira, sobretudo
francês e inglês. Também pesquisei as principais linhas de pensamento teórico no que tange às
relações entre o cinema e o teatro, desde o início do século XX, e suas influências na
contemporaneidade. Pesquisei as principais análises teóricas voltadas ao trabalho do ator com
relação ao teatro performativo. Realizei uma entrevista ao vivo com a atriz Juliana Carneiro
da Cunha, na presença de alguns alunos do curso de Direção Teatral da Escola de
Comunicação da UFRJ, iluminando muitas das lacunas que foram surgindo ao longo da
pesquisa. Também tive a chance de obter algumas respostas da própria diretora, Ariane
Mnouchkine, o que elevou o patamar desta pesquisa e aumentou a responsabilidade diante dos
resultados a se alcançar. Por fim, reuni todo este material para a escritura desta dissertação,
procurando trazer um enfoque original ao trabalho, tanto pelas articulações quanto linha de
análise, mas especialmente por realizá-lo em língua portuguesa, traduzindo textos importantes
para a análise e contribuindo para ampliar as fontes de pesquisa sobre o Théâtre du Soleil no
Brasil.
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Palavras-Chave
bufão, máscaras, ritual
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elementos satíricos com as situações sérias, alinhando valores opostos como o sagrado e o
profano, vida e morte, representação e realidade. (LOPES, 2005, p.10). Da mesma maneira
que o bufão representa o louco, ao revelar verdades ocultas, o xamã também é visto por
alguns, como louco. A ideia de loucura se dá pelo fato de ser o xamã “fazedor de mundos”-
como nos sugere Joana Overing (1990) - quem faz a ponte entre o mundo espiritual e o
mundo material, podendo se transformar em diferentes seres e então revelar novas
perspectivas para o seu povo. “Magos e xamãs tem poderes extraordinários para ajudar e
proteger os seres humanos porque podem entender-se com espíritos invisíveis de todos os
tipos e enfrentá-los. ” (FRAZER, 1982, p. 47). Desta forma, para tentar entender essas
relações que motivam a pesquisa, analiso as máscaras que fazem parte do ritual “A Festa da
Moça Nova” da etnia ameríndia Ticuna , um rito de passagem de menina para mulher. Essas
máscaras de corpo inteiro com características grotescas, que em um primeiro momento podem
remeter à figura do bufão, me levaram a querer conhecer os Ticunas, e hoje, mesmo sabendo
que suas funções e usos são completamente diferentes, percebo que possuem características
em comum e elementos de teatralidade que podem nos ajudar a refletir sobre a arte do ator na
atualidade. A metodologia de trabalho que está sendo utilizada é a pesquisa etnográfica, que
surge na antropologia pela necessidade de dados mais precisos para analisar os modos de vida
de diferentes culturas. Além disso, esse tipo de pesquisa se caracteriza também como um
ritual de iniciação. “ O campo – mais do que a formação acadêmica, a atividade profissional
ou a tese- faz o antropólogo, e assim a ida a campo é muitas vezes vista como um ritual de
iniciação. ” (SÁEZ, 2013, p. 133). Esta ideia, ajuda a compreender o porquê de muitos artistas
utilizarem essa metodologia de pesquisa, já que abre possibilidades para que vivenciem na
prática suas inquietações de estudo, o que de certa forma reverbera em seus processos
criativos. Acredita-se, que a relevância da pesquisa está em trilhar e refletir sobre novos
caminhos para a criação do ator/performer, pensando em um resgate da máscara primitiva no
desejo de fortalecer e renovar a arte desse artista que compartilha diretamente com o público,
no momento presente, possibilitando a abertura de espaços para a multiplicação de
sensibilidades poéticas. Para refletirmos sobre estas questões, temos como referência os
estudos da performance desenvolvidos por Richard Schechner, que abolindo as técnicas do
ator, caminha em direção à antropologia onde vida e arte se misturam, jogando com a
atemporalidade, espacialidade, reflexão e autorreflexão. Richard Schechner atenta para a
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Referências bibliográficas
FRAZER, James George. O Ramo de Ouro. São Paulo: Guanabara Koogan, 1982.
LOPES, Elisabeth Silva. A Blasfêmia, o prazer, o incorreto. São Paulo: Sala Preta (USP), v.
5, p. 9-21, 2005.
OVERING, Joanna. 1990. The Shaman as a maker of worlds: Nelson Goodman in the
Amazon. Man, vol 25(4).
SÁEZ, Oscar Calavia. Esse obscuro objeto da pesquisa: um manual de método, técnicas e
teses em Antropología. Edição do autor: Santa Catarina, 2013.
SCHECHNER, Richard. Performance Studies: the broad spectrum approach. In: The
Performance Studies Reader. Editado por Henry Bial. Nova Yorque: Routledge, 2004. P. 7-10.
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Palavras-Chave
Autoria, Dança Contemporânea, Remontagem
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ideia, o estímulo para a mesma. Por outro lado, o intérprete tem reconhecida sua parcela de
autoria por conta da movimentação de seu próprio corpo para a obra. Mesmo que haja passos
codificados e pré-estabelecidos, devemos ter em mente que cada corpo é diferente do outro, é
atravessado por saberes e experiências únicas que o moldaram até aquele momento. Deste
modo, por ser único, cada corpo possui um modo distinto de executar determinada instrução,
estímulo ou codificação. Assim, se concede autoria a este corpo que dança, e que é a própria
obra, na forma de reconhecimento pelo seu trabalho realizado em determinada obra. Uma
remontagem pode possuir múltiplos significados e diferentes objetivos finais, o que pode
acarretar em várias nomenclaturas, assim como as demandas podem partir de frentes distintas:
do próprio criador da obra, de uma companhia outra, de uma necessidade de atualização e
exposição a novos públicos, de memória. Mesmo que a remontagem ocorra com elenco e
coreógrafo diferentes do da primeira montagem, eles também têm sua parcela de autoria nesta
criação. Isto é, são novas maneiras de pensar, novos corpos novas formas de se mover, são
novos gestos que estão sendo inseridos em uma obra “antiga”. Há autoria quando falamos de
remontagem, pois a maneira como a obra foi remontada remete às peculiaridades de a quem a
remontou e as circunstâncias em que isso ocorreu (CERBINO, 2009). Esta obra que é
remontada está sujeita aos atravessamentos pelos quais seus remontadores foram submetidos
ao longo do tempo; são as particularidades e os novos gestos autorais de quem remonta que
nos permitem percebê-los como coautores. Ao remontar um novo gesto está dando nova vida,
permite que a obra tenha uma nova maneira de existir. A remontagem é exatamente isso, uma
nova maneira que uma obra realizada em outro tempo encontrou para existir, circular e
funcionar na sociedade e no atual intervalo de espaço-tempo. Portanto, uma remontagem não
é uma cópia de uma obra, muito menos uma outra obra, ela é uma nova existência de uma
obra em um outro intervalo de espaço-tempo; logo, possui autenticidade e originalidade
próprias. Consequentemente, quando falamos de remontagem de uma obra a autoria deve
encontrar uma nova maneira de maneira existir e funcionar na sociedade. Cada companhia de
dança acerta esta questão de um determinado modo, e, cabe dizer aqui, não há certo nem
errado. Mas, através das entrevistas realizadas , pudemos constatar que a questão da autoria
na remontagem acontece de forma semelhante à da criação de uma nova obra, trata-se, mais
uma vez, de uma demanda por reconhecimento do trabalho prestado em favor da obra que
está sendo remontada. Assim, o autor está ligado a uma necessidade por reconhecimento e
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prestígio e, não necessariamente por uma exigência de ser proprietário da obra. Não quero
dizer aqui que o autor não possui propriedade de sua criação, mas pelo menos durante as
pesquisas e entrevistas realizadas, entendeu-se que é importante ser reconhecido pelo trabalho
desenvolvido, pela criação, pela colaboração, e não necessariamente possuir a obra em si,
como uma propriedade. A autoria, outrora assumida como punição, hoje é percebida não
apenas como uma maneira de valorizar uma obra, mas como um modo de dar reconhecimento
àquele que criou ou que esteve envolvido em um processo de criação. A autoria se tornou uma
forma de conhecer e reconhecer quem criou o que dentro do processo artístico; a autoria,
portanto, é a forma encontrada para designar, dar reconhecimento e prestígio – dentro de um
determinado meio - aos profissionais envolvidos com a criação de uma obra artística.
Referências bibliográficas
AGAMBEN, Giorgio. O Autor como gesto. In: Profanações. São Paulo: Boitempo Editorial,
2007.
CERBINO, Beatriz. Dança e memória: usos que o presente faz do passado. Primeira
estação: ensaios sobre a São Paulo Companhia de Dança. São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 2009.
FOUCAULT, Michel. O que é um autor?. In: Ditos e Escritos: Estética – literatura e pintura,
música e cinema (vol. III). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
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Palavras-Chave
experiência, jogos teatrais, vivência
A presente pesquisa busca analisar a metodologia dos jogos teatrais desenvolvida por
Viola Spolin (1906-1994) sob o ponto de vista de um aprendizado pela experiência,
examinada a partir dos conceitos de experiência desenvolvidos por William James
(1842-1910) e John Dewey (1859-1952). Trata-se de uma pesquisa teórica, bibliográfica,
qualitativa, que busca compreender especificamente os conceitos de experiência na
perspectiva destes autores em suas várias formulações, evidenciando ainda possíveis diálogos
com a prática dos jogos teatrais. A metodologia improvisacional dos jogos teatrais, conforme
definida por Viola Spolin é fruto de uma longa construção realizada entre os anos de 1924 a
1990, resultando em uma prática do processo de conhecimento em ato. Prática que configura-
se primordialmente a partir de vivências físicas de jogos, pela sua ação continuada no aqui e
agora e pela reflexão durante o jogo e posterior a ele, um conhecimento obtido
fundamentalmente a partir da experiência significativa. O resultado deste aprendizado dos
jogos é produto de uma experiência completa e integral, na qual a vivência é estruturadora do
processo de conhecimento, o qual é elaborado e consuma-se, finaliza-se, aprimora-se como
vivência e pela vivência. Podemos dizer, seguindo o pensamento do filósofo grego Aristóteles
(384 a.C.-322 a.C.), que os jogos teatrais consumam-se como uma experiência construída na
integração vivenciada com as múltiplas memórias que configuram-se ou executam-se, num
processo em continuum. Experiência, como conceito e ideia, tem uma larga e complexa
trajetória, parte de Aristóteles e atravessa as principais discussões teóricas da modernidade.
Porém, neste trabalho, buscamos relacionar a metodologia dos jogos teatrais de Viola Spolin
apenas com o conceito de experiência desenvolvido por William James e John Dewey. Mas
por que procurar relacionar os jogos teatrais apenas com os princípios filosóficos por eles
desenvolvidos? Há uma razão prática inicial. Ressalte-se, primeiramente, a proximidade
geográfica e temporal das ideias de Dewey com o trabalho de Spolin, que se construiu na
intervenção prática de jogos recreativos e de grupo desenvolvidos por Neva Leona Boyd
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(1876-1963) na Hull House, lugar onde Dewey e Spolin também realizaram suas atividades
pedagógicas, não necessariamente semelhantes, mas com claros ecos das ideias de Dewey nas
proposituras de Spolin. Dewey nos leva diretamente a William James em suas semelhanças e
diferenças dentro do pragmatismo norte-americano. Jane M. Dewey (1939), filha de John
Dewey, na biografia de seu pai, destaca a importância do pensamento de William James nos
escritos paternos. Afirmando que a obra Principles of Psychology de William James [1890] é
a maior influência individual na mudança de direção do pensamento filosófico de Dewey nos
seus primórdios, principalmente na concepção dos conceitos de discriminação, comparação,
raciocínio e consciência. Spolin inicia seu livro Improvisação para o Teatro com um
importante capítulo intitulado Teoria e Fundamentação. No tópico A Experiência Criativa
(SPOLIN, 2005), define primeiramente o caráter democrático de sua metodologia afirmando
que todas as pessoas são capazes de atuar no palco, o que é fundamental em seu processo.
Demonstrado ainda pelo paradoxo de que aprendemos através da experiência, e ninguém
ensina nada a ninguém. Neste processo, Spolin compreende que a experiência nasce do
contato direto com o ambiente, por meio de envolvimento orgânico com ele. Isto significa
envolvimento em todos os níveis, sendo eles: intelectual, físico e intuitivo. Está claro, aqui, e
em todas as suas letras, o conceito de experiência de Spolin indo ao encontro dos conceitos
apresentados por James e Dewey. Pois de acordo com William James e John Dewey, um dos
aspectos importantes na concretização da experiência, é a consciência da experiência. Ambos
compreendem a experiência como um conhecimento que se constrói dentro do processo de
vivência, da relação reflexiva, ou seja, da relação consciente do indivíduo com o seu meio.
Dewey, em sua obra Como Pensamos, escrita em 1910, afirma que a experiência ocorre a
partir da interação do indivíduo com o meio, uma interação que resulta em uma cadeia de
atividades psíquicas. Descreve ainda o caráter consciente da experiência, pontuando que a
mesma exige a reflexão. Refere-se, também, ao caráter de continuidade das experiências: da
relação que as experiências passadas estabelecem com as experiências presentes, visando
experiências futuras, levando ao conhecimento e ao estabelecimento de novas verdades. Esse
caráter de continuidade das experiências é uma constante também nos estudos de James (1974
[1912]) que afirma que a principal função que uma experiência pode desempenhar é conduzir
a outra experiência. No processo de aprendizagem a partir dos jogos teatrais, a interação entre
indivíduo e meio com o contato direto com o ambiente é primordial ao processo da
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experiência, já que nele deve estar implícita a atitude reflexiva, pontuada por Spolin como
“envolvimento orgânico”, pois somente assim chegaremos a uma atitude intelectual que leva
o indivíduo ao conhecimento. Deste modo, este trabalho busca demonstrar que James e
Dewey apresentam uma densidade filosófica que embasa toda a metodologia desenvolvida
por Viola Spolin.
Referências bibliográficas
______. Metafísica. Tradução: Vinzenzo Coco. São Paulo: Abril Cultural, 1984. DEWEY,
John. Arte como Experiência. Tradução: Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, [1934]
2010.
HAHN, Lewis E. (Eds.). The Philosophy of John Dewey. Chicago: Northwestern University,
1939. In https://brocku.ca/MeadProject/Dewey/Dewey_1939.html. Acesso em 12 out 2016.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. 5ª edição. Tradução: Ingrid Dormien Koudela
e Eduardo José de Almeida Amos. São Paulo: Ed. Perspectiva, [1963] 2005.
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Palavras-Chave
teatro e educação, jogo teatral, texto e jogo, modelo de ação
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não consegue apresentar todas as soluções cênicas, existe um abismo entre essas duas
instâncias (RYNGAERT, 1995). Entender em que universo Rabelais está inserido nos faz
perceber as condições reais do comportamento quinhentista. Ao evocar um período do
passado conseguimos olhar com mais generosidade para os acontecimentos de nossa época e,
aos poucos, entender o lugar da construção do texto cênico (Pavis, 1999). Rabelais invoca o
tempo histórico do século XV através da literatura, do romance, no qual opera com a lenda, a
alegoria e com diversos elementos da cultura popular que, dada a devida cor local de nossa
terra, nos faz degustar músicas, histórias e lembranças de nossa infância nos parques enquanto
brincávamos e realizávamos nossas primeiras interações inter-pessoais. Alegorias
Pantagruélicas ressalta, inclusive, a oralidade latente no texto rabelesiano, embebido pelo
vocabulário da praça pública medieval e fortalecido pelas músicas tradicionais do carnaval
brasileiro, que compõe a trilha sonora executada ao vivo no espetáculo. Há infinitas formas de
trabalhar com o texto no teatro. Se ele pode constituir-se no valor principal do espetáculo,
fazendo convergir todos os outros elementos como atores, diretor, organização do espaço e
acompanhamento musical para a sua emissão, ainda assim ultrapassa a obra literária enquanto
escritura, em função da experiência sensorial da cena por meio do som, da visão e o corpo. As
palavras escritas se transformam em voz e presença física, pensamento em ação (KOUDELA,
1984), como poderá ser observada nas construções imagéticas que permeiam o experimento.
Um dos procedimentos que estudaremos na construção do texto cênico é o método de leitura
ativa utilizado durante o processo de criação que expõe o texto como material a ser moldado,
a ser contextualizado propiciando a experiência artística pelo movimento de mão dupla entre
o fazer e a apreciação estética. É a possibilidade de ir além do plano meramente intelectual e
buscar a percepção sensório-corporal para provocar o processo de estranhamento de gestos e
atitudes corporais - remontando a proposta pedagógica de Bertolt Brecht e tornando-a singular
(KOUDELA, 2010). O objetivo da aprendizagem é unir a percepção da vida cotidiana à
evocação da história, sem reduzir uma à outra, mas sim, com vistas ao reconhecimento de
características que são típicas e que podem ser identificadas em determinado contexto. O
estranhamento, entendido como procedimento didático-pedagógico, visa possibilitar, pelos
meios do ator brincante, do jogo teatral e da coralidade, o conhecimento veiculado pela forma
estética, que está prefigurada no modelo de ação. O trabalho é de natureza teórico-prática,
uma vez que pretendemos nos debruçar sobre os pilares que fortalecem na teoria e na prática a
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busca por uma pedagogia teatral. Para isso, elegemos o método indutivo pois, através dele,
vislumbramos algumas possibilidades de regularidade em procedimentos do ensino de teatro
que demonstram efetividade. As experiências são fundamentais para dar contorno à
metodologia dessa pesquisa. Os estudos e cruzamentos das obras, alinhados aos encontros
com a orientadora e com a realização das disciplinas oferecidas pela Universidade de São
Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pretendem ampliar ainda mais
o lastro dessa pesquisa e expandir as relações criadas a partir das novas descobertas do
percurso formativo. Em todos os casos, os materiais e métodos são imprescindíveis para a
realização e produção de uma dissertação coesa, clara e que, de alguma forma, seja uma porta
de acesso para futuros educadores teatrais. Os resultados serão analisados por meio de
registros escritos (protocolos e avaliações), registros fotográficos (ensaios, aulas, oficinas e
apresentações), registros videográficos (confecção de vídeos relacionados aos projetos
realizados) e cruzamento entre os registros e o estudo teórico que fundamenta a pesquisa.
Referências bibliográficas
RYNGAERT, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. Col. Leitura e Crítica. São Paulo
Martins Fontes, 1995.
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Palavras-Chave
cinema, direção teatral, montagem
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
Ator, cena, dialética.
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atuativas por nós vivenciadas. Segundo que me debrucei sobre as publicações produzidas pela
Companhia – livros, revistas e jornais, assim como periódicos de terceiros que continham
entrevistas com os dramaturgos e diretores da equipe, a fim de extrair suas opiniões
registradas a respeito do tema das minhas análises. Naturalmente que eu não poderia deixar de
revisitar a bibliografia brechtiana e de e sobre Stanislavski, além de outros teatrólogos, como
um terceira ponto de apoio, as quais, aliadas as minhas memórias de um ator que esteve
presente em todos os processos da Companhia, compuseram a estrutura em que me pautei
para a escrita da tese. De acordo com a avaliação feita pela Banca de Qualificação do projeto,
que foi composta pela Profa. Dra.Maria Silva Betti (FFLCH-USP) e pela Profa. Dra. Cibele
Forjaz Simões (PPGAC/ECA-USP), além do meu orientador – o Prof. Dr. Armando Sérgio da
Silva, o texto do doutorado está bem encaminhado, com a recomendação de poucos aspectos a
serem mudados. Após a reescritura do material, que se pautou pelas indicações dos
integrantes da Qualificação, submeti ao Prof. Armando S. da Silva novamente o material
elaborado e dele recebi a observação de repensar a conclusão da redação. Deduzi que a minha
tese está prestes a ser completada, uma vez que discorrer sobre os procedimentos por mim
utilizados para me tornar um ator dialético, na última seção do texto (conforme recomendou
meu orientador), não é tarefa das mais complexas. E é neste estágio em que me encontro:
refazendo a conclusão para enviá-la ao orientador para, seguindo suas opiniões, terminá-la.
Desde 2016, como integrante do CEPECA - Centro de Pesquisa em Experimentação Cênica
do Ator (PPGAC/ECA-USP) e do LAPCA - Laboratório de Processos de Criação Atorais (IA-
UNESP), venho experimentando performar os conteúdos artísticos transcritos para os
capítulos da minha tese. Escolhi um tópico sobre cada espetáculo da Companhia do Latão e os
retomei em suas formas cênicas originais. Ao acrescentar comentários a respeito das cenas,
sobre obras e referências que deram sustentação às peças teatrais, gradativamente elaborei
uma espécie de demonstração prática/teórica de como nos aproximamos da representação
épica/dialética. É este composto que será apresentado no 7o. Seminário de Pesquisas em
Andamento, caso eu seja para ele aprovado. Para que tenha uma noção do conteúdo do plano
em preparo, reproduzo um trecho do doutorado que, associada à cena dois do vídeo que estou
enviando aos senhores, fornecerá uma amostra do que farei no SPA: “No que diz respeito à
representação de Bocarra, havia uma particularidade: ele falava do processamento industrial
de enlatar carnes como se fosse alta poesia: “Lembra-te, ó Cridle, o dia Em que percorrendo o
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Referências bibliográficas
BRECHT, Bertolt. Escritos sobre teatro, vol 1. Buenos Aires: Nueva Visión, 1970.
______. Escritos sobre teatro, vol 2. Buenos Aires: Nueva Visión, 1970.
______ El trabajo del actor sobre sí mismo en el proceso criador de la vivencia (I) e de la
ercanación (II). Barcelona: Alba Editorial, 2003.
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ATOR CAÇADOR
Thardelly Pereira Lima, Robson Carlos Haderchpek
Palavras-Chave
ator contado, contadores de historias, processos criativos
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recontam histórias que remontam a modelos seiscentistas e até mesmo medievais. Segundo
Dario Fo (1998), os fabulatori tinham como objetivo impressionar os espectadores, e, para
isso, buscavam sempre a clareza e a vivacidade. A capacidade gestual no narrador contribuía
bastante para a clareza e a vivacidade desejadas e eles não só gesticulavam, mas, também
dominavam a linguagem gestual, representando sozinho uma história inteira com vários
personagens distintos. Conversando sobre esse estado de entrega e comunhão que a contação
transporta, com a colega de trabalho, professora e coordenadora do Programa de Pós-
graduação em Letras da UFPB, Ana Marinho, obtive conhecimento do cordel: Histórias de
Cazuza Sátyro, o matador de onça, de João Melquíades de Ataíde . E foi a partir daí e dessas
ideias de Dario Fo que comecei a minha caçada sobre os contadores de histórias de duas
cidades do interior da Paraíba que vivenciaram momentos de caçadas a onças e outros animais
silvestres da região. No entendimento de Busatto (2003) o conto de literatura oral se eternizou
na história da humanidade através da voz dos contadores de histórias, até o dia em que
antropólogos, folcloristas, historiadores, literatos, linguistas e outros afeiçoados do imaginário
popular saíram a campo para coletar e registrar estes contos, fosse através da escrita ou outras
tecnologias. Na tentativa da materialização dessa caçada, desenvolver tocaias metodológicas
no intuito de preservar e manter vivo o ciclo dos narradores, capturando novos contadores.
Catalogando e registrando essas histórias que fazem parte da memoria viva dessas regiões e
de outras. Por isso, essa pesquisa tem como motivação principal a possibilidade de unir essas
narrativas tradicionais de caçadores ao rico universo de narrativas e dramas que têm como
inspiração as relações entres homens e feras e todos os significados políticos, sociais,
culturais e histórias que permeiam essas relações. Assim como também, verificar as
possibilidades do uso da máscara na construção de personagens e na preparação do ator,
tomando como local de pesquisa o sertão nordestino, espaço rico em narrativas de caçadas e
caçadores. Essas memórias, intenções, histórias de vida, identidades pessoais são organizadas
em padrões narrativos. Histórias não acontecem simplesmente, elas são contadas, embora nem
sempre esteja explícito quem é e onde está o contador da história. Às vezes, o narrador é uma
só pessoa, outras vezes a história é criada conjuntamente. De qualquer modo, cada história e
cada palavra são polifônicas, seu significado é dado pelos incontáveis contextos onde
apareceu antes, fato que semelha ao princípio dialógico do discurso, onde Bakthin (1987) diz
que a psicologia narrativa sustenta um enfoque de um eu narrador e um eu narrado, onde um
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Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Magia e Técnca, arte e politica. São Paulo: ed. Brasiliense,
2000.
BUSATTO, Cléo. Contar & encantar: Pequenos segredos da narrativa. Rio de Janeiro: Vozes,
2003
FO, Dario. Manual Mínimo do Ator. Organização Franca Rame. São Paulo: Senac, 1998.
VENEZIANO, Neyde. A cena de Dario Fo: O exercício da imaginação. São Paulo: Códex, 2002.
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Palavras-Chave
Iluminação Cênica; Oficina; Pedagogia do Teatro;
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sombras, posicionamento dos artistas em relação à luz, efeitos luminosos que não ocorreram
como o desejado por questões técnicas etc. Em um dos encontros, foi realizado um exercício
de transição de cenas, a partir de uma luz pré-determinada, para iluminar um ou mais atores
parados em cena. No final desse encontro, uma participante relatou ter percebido a luz como
um dispositivo de criação cênica, complementando ainda que teve um grande fluxo de ideias
durante a realização do jogo para construir através da dramaturgia da luz. Outros
complementaram a fala demonstrando interesse no processo inverso de criação, criar a partir
da luz, invertendo a lógica de criar a luz somente depois que o espetáculo ou a cena já estão
concretizados. Para o pesquisador, esse relato é uma indicação que a compreensão da luz
como linguagem está sendo desenvolvida entre os participantes da oficina. A pequena
quantidade de materiais teóricos em relação a outras áreas do teatro é grande motivadora para
este estudo, principalmente no que tange ao ensino de iluminação. Através das experiências
do pesquisador enquanto estudante de Artes Cênicas (licenciatura) e estagiário do teatro da
Universidade (onde desempenha funções técnicas nos espetáculos e eventos) observa-se um
contraste nos trabalhos de estudantes que tiveram um contato prévio com iluminação. Além
isso, elencar as contribuições acerca da prática poderá permitir que os próprios profissionais
da área busquem mais conhecimentos sobre a iluminação, não somente para seguir a carreira
de iluminador mas, especialmente, como complemento e aprofundamento da sua formação
profissional.
Referências bibliográficas
CARMARGO, Roberto Gill. Função estética da luz. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.
174p.
PAVIS, Patrice. A análise dos espetáculos: teatro, mímica, dança, dança-teatro, cinema. 2.
ed. São Paulo: Perspectiva, 2015. Tradução: Sérgio Sálvia Coelho.
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Palavras-Chave
Jogo dramático, Jogo lúdico, Jogo teatral, Pedagogia do Teatro, Teatro educação
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dos Jesuítas, ele contribui para ampliar o desenvolvimento cognitivo do ser humano. No jogo
dramático, para Japiassu (2010), todos que jogam são fazedores da ação imaginária sendo,
assim, um tipo de jogo que possibilita a desinibição do sujeito e o trabalho coletivo no
desenvolvimento da ação. Por último, o jogo teatral proposto por Spolin (2000), propõe um
problema para os participantes resolverem, acarretando a interação social entre esses que,
juntos, trabalham para solucionar o problema a partir das regras dramáticas estabelecidas pelo
grupo. O método de Spolin (2000), para Koudela e Almeida Junior (2015), possibilita ao
estudante ser sujeito da sua própria educação, pois está livre para produzi-la nas práticas
teatrais propostas. O trabalho da oficina, foi a partir de planos de aula oriundos do estudo dos
teóricos apontados. Estes planos foram compostos por quatro jogos, em média, dependendo a
duração de cada sessão. A oficina foi dividida em dois módulos. No primeiro módulo
enfatizou-se os jogos lúdicos e dramáticos, com o objetivo de criar o ambiente favorável para
o jogo, expandindo as relações grupais colaborativas. No segundo módulo introduziu-se os
jogos teatrais visando aguçar o autoconhecimento e a percepção do outro em cena. As aulas
eram finalizadas com feedbacks entre os participantes, sempre destacando o jogo e suas
percepções. Ao analisar os resultados das pesquisas notou-se pontos que foram trabalhados na
oficina, constata-se que desenvolveu-se a partilha com o grupo, o autoconhecimento, o
controle da ansiedade e do exibicionismo, a generosidade, a timidez, e a criatividade, entre
outros. A título de exemplo, uma situação que corrobora as percepções, ocorrida no Módulo II
da oficina: Os estudantes estavam especialmente agitados durante a realização de um jogo de
concentração que, obviamente, exigia silêncio de todos os participantes. Em virtude disso, um
estudante propôs o jogo da “cabra cega”, pois acreditava que, assim, os outros colegas
entenderiam o silêncio que a atividade requer. Quando essa ideia foi exposta, os outros
também quiseram partilhar ideias de jogos e aplicá-las. Por conseguinte, desenvolveu-se a
prática de que toda semana um participante ficaria encarregado de trazer uma atividade,
explicando o motivo de trazê-la e como executá-la, o que ampliou a percepção sobre o quanto
um ambiente favorável para a criação pode resultar em experiências criativas (e) autônomas.
Ao final das oficinas, foram realizadas conversas também com os pais dos participantes,
visando esclarecer quaisquer questionamentos que eles desejassem expor. O pai de um dos
estudante questionou sobre o desenvolvimento de seu filho, se ele era tímido ou não durante
as atividades. A ministrante esclareceu, então, que seu filho era mais reservado no início da
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oficinas, porém com o desenvolvimento dos jogos lúdicos e dramáticos a relação de grupo foi
criada e, assim, esse estudante ficou mais predisposto e aberto para jogar com seus colegas.
Outro pai quis falar sobre seu filho ser muito energético, afirmando que o teatro possibilitou a
ele explorar a energia de uma forma que potencializasse seu desenvolvimento. Tal avaliação
foi ao encontro da percepção da ministrante, de que seu filho soube, durante os jogos,
canalizar a energia e explorá-la nas ações. Considera-se que as práticas pedagógicas por meio
dos jogos contribuíram para o desenvolvimento, nos participantes, da capacidade de
identificação de problemas e os motivaram a se empenhar tanto individual quanto
coletivamente para as suas resoluções. As atividades potencializam a ludicidade no campo
educacional, o que facilita o desenvolvimento, consequentemente, da criticidade e a interação
entre os participantes. O ser, como afirmam alguns teóricos estudados, são fazedores de sua
própria ação, estão no comando de sua “vida” com sua imaginação os guiando. Com isso,
pode-se afirmar a relevância e necessidade da linguagem teatral no âmbito educacional, pois,
a partir do que observou-se e refletiu-se durante a realização dos dois módulos da oficina, as
atividades contribuíram visivelmente para o desenvolvimento dos participantes no que tange a
socialização, por meio da expressão e da comunicação.
Referências bibliográficas
KOUDELA, Ingrid Dormien; ALMEIDA JUNIOR, José Simões de. Léxico de Pedagogia do
teatro. 1 ed. São Paulo: Perspectiva: SP Escola de teatro, 2015.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. 4 ed. São Paulo, Perspectiva, 2000.
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Palavras-Chave
dialética, dramaturgia, radical
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acesso aos meios de produção para sua concretização, à realidade socioeconômica dos
criadores e sua formação (formal e informal) quanto no que diz respeito aos posicionamentos
axiológicos presentes nas pedagogias ocultas reconhecíveis em complexas composições
textuais cuja construção paradigmática e sintagmática plural (UBERSFELD, 2010) resulta na
vetorização de sentidos de uma organização artística (PAVIS, 2010). A proposição de uma
dramaturgia radical enfoca a criação artística a partir de uma análise filosófica, no sentido
proposto por Bakhtin (2010) quando refere que sua pesquisa textual transcorre em campos
limítrofes, relacionando distintas disciplinas. Nesse sentido, a postura de Bakhtin vem ao
encontro de outros autores nos quais esse trabalho está embasado. Brecht (1967) afirmava
buscar conhecimentos na psicologia moderna, psicanálise, behaviorismo, sociologia,
economia e história. Por sua vez, Patrice Pavis embasa sua teoria em estudos teatrais,
linguísticos, semiológicos, filosóficos, antropológicos, sociológicos e psicanalíticos. A partir
desse pressuposto, vale ressaltar que as citações de ideias dos autores são um diálogo com
suas elaborações teóricas e não uma subordinação a suas teorias como um todo. É possível
apresentar novos enfoques e distintas percepções dos textos originais, por vezes, resultando
em elaborações que convergem com o pensamento de um autor nos aspectos citados, mas
divergem em outros momentos teóricos, sendo esse, a meu ver, o modus operandi do
pensamento dialético. Além disso, não há nenhum comprometimento com a aplicação de
modelos de construção estética. Esse posicionamento radical – desenvolvido por meio da
práxis –, não se deixa prender em círculos de segurança que o aprisionem, definam e
delimitem, mas inscreve-se na realidade, podendo transformá-la internamente (FREIRE,
1987). Na dramaturgia radical, a pessoa criadora precisa refletir sobre si mesma e reconhecer
que há processos com escolhas conscientes e construções inconscientes, fatores culturais e
pessoais, subjetivos e objetivos, identificáveis e não identificáveis. A autora precisa se colocar
em uma situação de “risco responsável” – uma posição desconfortável que pode ser
comparada, metaforicamente, com o equilíbrio precário que Barba (1995) sugere ao ator –
sendo possível ousar, assumindo suas escolhas estéticas, éticas, políticas e pedagógicas. Uma
dramaturgia radical busca instigar o apreciador a assumir um papel ativo, crítico e autêntico;
portanto, reflete sobre as especificidades que precisam ser abarcadas em cada contexto. O
respeito à lógica lúdica do pensamento infantil no teatro para crianças (JUGUERO, 2014) e a
potencialidade provocativa de metáforas e analogias abstratas, no teatro para adultos, sem
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Referências bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. 5ª
ed.
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas – 8ª ed. – Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
BRECHT. Bertold. Teatro dialético: Ensaios. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
DE MARINIS, Marco. En busca del actor y del espectador. Comprender el teatro II.
Buenos Aires: Galerna, 2005.
FREIRE, PAULO. Pedagogia do Oprimido. 17ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.
GIROUX, Henry. Escola crítica e política cultural. São Paulo: Cortez: Autores Associados,
1988.
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Palavras-Chave
teatro, dança, formação em dança
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tradicionais, como o balé clássico - conduzindo o artista a trazer mais “vida” para a técnica
por ele desenvolvida, sem pensar apenas no virtuosismo físico e/ou na sistematização estética,
mas também num corpo presente - até a dança moderna, colaborando com a ampliação da
expressividade e a busca de uma sensibilidade cênica orgânica, ampliando a consciência
corporal e rompendo com automatismos tanto nos momento de preparação corporal e de
criação quanto na atuação em cena. Neste sentido, Jean-George Noverre, nos diz muito sobre
essa quebra com o virtuosismo e a sistematização: ele teoriza sobre a necessidade de inovar
na figuração que a dança se encontrava, interessando-se pela subjetividade do bailarino. Ao se
questionar sobre o tipo de formatação que era imposto ao artista da dança de seu tempo, criou
o “Ballet d’Action” – uma ação pela dança – com o intuito de fazer emergir uma expressão
verdadeira, um balé dramático, cujo objetivo era transmitir emoções para o espectador e
atingir a sua alma. Esta perspectiva abre a possibilidade (e até a necessidade) da inovação de
técnicas e formas de trabalho dentro da dança, da busca por novas possibilidades para a
criação. De forma análoga, também é possível encontrar uma busca por inovações nos
exercícios e escritos de alguns teatrólogos. No âmbito da formação em teatro, o polonês Jerzy
Grotowski considerava a técnica cênica e pessoal do ator como o coração de sua arte. Este
autor se ampara em exercícios para a liberação do corpo como forma de eliminar as
resistências do seu organismo e expandir a gama de possibilidades de criação. A partir de suas
ideias, tecemos a compreensão que tanto para a dança quanto para o teatro o corpo precisa
estar livre. Na linguagem da dança, a bailarina e coreografa americana Isadora Duncan frisava
esta ideia: era totalmente contra o academicismo e tinha certa aversão ao balé clássico.
Lutando constantemente contra a instituição de práticas opressivas, queria devolver na dança
a sua significação humana. Tais pressupostos também foram guardadas as devidas proporções,
teorizados e investigados por Stanislávski para a formação de seus atores no Teatro de Artes
de Moscou. Além de realizar estudos sobre a segmentação do corpo, propunha improvisações
para dar suporte na busca da expressão física das personagens, enaltecendo a necessidade de
não haver excessos na linguagem corporal, procurando tenuidade. Stanislávski estuda,
também, a relação entre palco e plateia, ou seja, do artista com o espectador. Visto que essa
relação é, em última instância, também elemento fundamental para a formação do artista na
linguagem da dança, torna-se relevante acessar seus postulados sobre como a “mensagem”
pode ser passada, seja pela via cognitiva, emocional ou imagética. Tais preceitos, quanto bem
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trabalhados, consequentemente tornarão mais rica a comunicação artística, seja pelos efeitos
produzidos, seja pela ampliação da experiência do artista ao expandir seu repertório de
possibilidades estéticas e comunicativas. O bailarino pode, obviamente, dançar “apenas” para
si, mas quando se coloca numa perspectiva cênica, há que nos preocupar com o olhar do
outro, a quem se pretende comunicar, expressar, tocar. Sendo Grotowski um grande seguidor
de Stanislávski, fica claro o uso que ele faz dessa significação humana, ademais da utilização
das ações físicas, que estão ligadas a desejos e vontades do indivíduo, lembrando que é
necessária a consciência sobre o corpo, mesmo que a ação venha do subconsciente. As
técnicas utilizadas pelos dois teóricos buscam, além de tudo, aumentar as possibilidades
expressivas. Há aqui um evidente aspecto em comum com a linguagem da dança, buscar
colocar em cena toda a potencialidade corpórea do intérprete. Na mesma perspectiva de
Noverre, acima citado, diversos coreógrafos inspiraram-se em seus postuladas, Azevedo
(2014) coloca que, para Laban, o intérprete deve conhecer todos os esforços para conseguir
usá-los conscientemente, e mudar essas qualidades quando preciso, enfocando o
enriquecimento do movimento, ou seja, também visando aumentar as possibilidades
expressivas, tanto para atores quanto para bailarinos. Nesta pesquisa, podemos observar a
vasta gama de possibilidades de inter-relacionar as técnicas e práticas das linguagens do teatro
e da dança, visando uma formação mais ampla e consciente. Visto que esta pesquisa encontra-
se em sua fase final, foi possível obter resultados, a partir dos estudos realizados, no que tange
a associação de aspectos em comum das linguagens da dança e do teatro e confirmando a
congruência existente entre elas e suas práxis no âmbito da formação artística.
Referências bibliográficas
AZEVEDO, Sônia Machado de. O papel do corpo no corpo do ator. São Paulo:
Perspectiva, 2014.
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Palavras-Chave
Augusto Boal, Oficina, Zé Celso, Exílio
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1960 e um apontamento para o futuro de suas posições. Embora Zé Celso e o Oficina tenham
chegado no centro do furacão dos eventos revolucionários, em Portugal eles buscaram
confrontar a suposta relutância da sociedade portuguesa em revolucionar as práticas culturais,
morais, sexuais. O grupo atacava o que consideravam os limites de uma revolução somente
político-social, “careta”, e propõem “carnavais revolucionários”. Organizaram intervenções a
partir de cenas reelaboradas do espetáculo Galileu Galilei (montado no Brasil em 1968). Eram
pequenas peças de agitação contracultural apresentadas em fábricas, bairros operários, terras
ocupadas e em festas populares com o objetivo de confrontar o povo com uma possibilidade
supostamente ainda mais radical do exercício da liberdade. As investidas criaram desconforto
e constrangimento na relação do grupo com as forças políticas de esquerda como o
Movimento das Forças Armadas (MFA) e o PCP, mas não conseguiram gerar o choque social
pretendido. Ao mesmo tempo, é naquele momento que realizaram uma das experiências mais
radicais de vida em comunidade. Habitaram em um antigo casarão salazarista e faziam
seguidas sessões coletivas de happenings regados ao uso de substâncias lisérgicas. Segundo
Luiz Fernando Ramos (2005), daí brotaria uma nova relação com a ideia de grupo/coletivo/
coro decisiva para desenvolvimento futuro do Oficina. Além disso, pouco após os impasses
em torno de Galileu, Zé Celso e Celso Luccas dedicaram-se ao trabalho cinematográfico com
uma ênfase nova. A prática até então residual e à reboque do teatro, passou a ser central na
história do grupo a partir desse momento e o cinema a ser visto como parte constitutiva de seu
híbrido trabalho artístico (SILVA, 2006). Boal, ao contrario, viajou ansioso para trabalhar
junto com as forças políticas da revolução, mas quando chegou em 1976 elas já haviam
perdido o protagonismo. As experiências sociais mais avançadas tinham sido interrompidas e
a política do país já assumia feição reacionária. As reflexões e práticas no exílio argentino do
ex-diretor do Teatro de Arena (entre 1971 e 1976) estavam cada vez mais voltadas para um
tipo de ação artística conjugada à luta social. Técnicas como o Teatro Jornal, o Teatro
Invisível, o Teatro Fórum (organizadas ao longo de sua vida em torno da ideia de Teatro do
Oprimido) vinham sendo experimentadas e defendidas como a chance de um teatro mais
radicalmente alinhado à luta de classes. A possibilidade de aplicar as técnicas em um
ambiente revolucionário apareciam como a conexão ideal imaginada pelo autor. Na extensa
correspondência que trocava com o crítico português Carlos Porto desde 1974 Boal deixa
claro que mais do que contribuir para edificar uma nova cultura no país, o seu desejo era de
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trabalhar com o “teatro como linguagem” e não como “produto acabado”, “transferir ao povo
os meios de produção do teatro” (BOAL, 1975, p. 127. E em carta para Carlos Porto de
10/5/75). Porém em Portugal ele encontrou somente uma tênue imagem do tempo aberto que
fora a revolução entre abril de 74 e novembro de 75. Seu trabalho viveu portanto o impasse
entre a vontade de encontrar fissuras para experimentar um teatro em conexão direta com a
luta social – um teatro que se recusa a ser somente teatro – e, de outro lado, o trabalho
possível dentro do campo da cultura. Embora organize alguns experimentos com Teatro
Fórum, encontra pouquíssima reverberação de suas ideias e o campo no qual consegue mesmo
trabalhar é como diretor do grupo profissional A Barraca. Após deixar Portugal, em 1978,
Boal reorganizará na França a ideia de Teatro do Oprimido subtraindo aos poucos justamente
sua face mais popular e radical e aproximando-o de uma concepção mais estética e
universalista. O trabalho teatral que Boal e Zé Celso realizaram no país revela também algo
da leitura e da avaliação que ambos fizeram de seu próprio trabalho anterior no Brasil. Afinal,
os dois diretores optaram por trabalhar com peças centrais encenadas pelo Oficina e pelo
Arena entre os decisivos anos de 1967 e 1968. Boal montou com A Barraca a peça Barraca
conta Tiradentes e organizou o evento Ao Qu’isto Chegou: feira portuguesa de opinião, em
torno do modelo da Primeira feira paulista de Opinião.. Já a Comunidade Oficina trabalhou a
partir do espetáculo Galileu Galilei. Essa justaposição entre passado, presente e futuro – tão
característica da violência do exílio – foi marcante para a vida artística de ambos e os anos
vividos ali parecem mesmo ter sido um ponto de inflexão. Dali em diante houve uma
paradoxal reviravolta em seus programas artísticos. Por um lado, ganharam destaque e
reconhecimento mundial, mas, por outro, perderam algo do revolucionário espírito modernista
que tanto animou os debates e práticas nas décadas de 1960 e 1970.
Referências bibliográficas
RAMOS, L. F. Dez anos de Usina Uzona e trinta anos do exílio português. In:
MARGATO, I.;
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Palavras-Chave
Ruggero Jacobbi, Teatro brasileiro, TPE, Teatro de Arena
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Piccolo Teatro di Milano (VANNUCCI, 2014). No Brasil Jacobbi entrou em contato com um
movimento que de certo modo visava a um desenvolvimento menos elitista da modernização,
como o Teatro Popular de Arte (TPA) e o amador Teatro do Estudante. Paschoal Carlos
Magno, um dos principais nomes e entusiastas do teatro amador, atribuía ao teatro um valor
educativo, social. Estimulou e procurou encenar autores novos, lançou muitos dos mais
proeminentes atores, professores e diretores do teatro de seu tempo (FERNANDES, 2013). O
movimento de teatro amador teve na década de 1940 grande importância e extensão por todo
o país. Diversos projetos estéticos avançados, perspectivas de outra relação social do teatro e
práticas modernas ainda que incipientes foram experimentadas e mudaram de fato o panorama
do pensamento teatral no país. Foi a partir da experiência junto ao TEB, e pelo incentivo do
amigo Paschoal Carlos Magno, que Ruggero Jacobbi começa sua batalha em defesa do teatro
amador empenhando-se, nos anos seguintes, em criar uma vertente paulista das possibilidades
abertas no Rio de Janeiro e também em Pernambuco. No curto espaço de tempo em que
Vianinha, Guarnieri e Vera Gertel estiveram a frente do TPE, o grupo montou cinco
espetáculos. A peça de estreia, A Rua da Igreja, do irlandês Lennox Robinson sugerida e
orientada por Ruggero Jacobbi, foi cancelada por vontade de parte dos integrantes logo após a
primeira apresentação, marcando um racha político no grupo. Em seguida reuniram-se em
nova formação e levaram para o II Festival de Teatro Amador a peça Está lá fora um inspetor
de J. B. Priestley. Naquele Festival apresentaram ainda uma tese que expunha um avançado
programa do grupo em direção a um projeto de teatro popular. Logo em seguida montaram
ainda duas peças curtas de Artur Azevedo e, por fim, a comédia O impetuoso capitão Tic
escrita em 1861 por Eugene Labiche, estreou no Teatro de Arena e permaneceu algumas
semanas em cartaz. Foram experiências que resultaram num constante impasse, mas que
abriram os caminhos para ao menos dois momentos decisivos no teatro brasileiro: a fase
engajada do Teatro de Arena e as experiências de democratização da arte na década de 1960,
como os Centros Populares de Cultura (CPCs) em todo o Brasil. Os impasses gerados pelas
apresentações aliados às dificuldades de manter um grupo de teatro amador de notável
autonomia e atuação política levaram-nos a fundir-se ao Teatro de Arena. Nesse sentido, o
TPE figura como um projeto que não chega a se realizar propriamente, mas que demarca
posições centrais para o debate sobre teatro e sociedade no Brasil e, com isso, abre as trilhas
para as experiências mais avançadas de teatro engajado socialmente que virão a seguir. Além
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Referências bibliográficas
FERNANDES, Nanci. Amadores Paulistas. In: FARIA, João Roberto (Org.). História do
teatro brasileiro 2 – do modernismo às tendências contemporâneas. São Paulo: Editora
Perspectiva e SESC/SP, 2013.
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Palavras-Chave
conhecer, cuidar, performance
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caminho de autonomia por meio da arte que o trabalho requer, são afirmações de Cohen
(2013), dentre elas, salienta a performance art como evento um ritualístico e envolvente, pois
ela concede ao público uma cumplicidade ao que eles veem ocorrendo no momento presente.
Sendo assim, o performer está mais propriamente disposto como alguém que encaminha os
outros e a si mesmo para uma partilha e uma construção conjunta de opiniões e pensamentos.
Em processo de construção do eu, eterno sujeito inacabado, ou seja, cuidando de si e assim
conhecendo-se, Michel Foucault (2006) defende o retorno para dentro de si, antes de voltar-se
para a esfera do outro, dizendo que este é um trabalho paralelo ao meio social e não solitário.
Gabriela Fregoneis (2015) cita a obra "A hermenêutica do sujeito" de Foucault, defendendo o
caráter autônomo do sujeito "foucaultiano", este que se dá regras, se constrói e se transforma.
A reflexão sobre si, o cuidado de si, a autoconstrução e voltar a si mesmo, caracterizam o
conhecer a si, gerando autonomia e autenticidade do ser. Conceitos da performance art e os
conceitos "foucaultianos" encontrados nela, desde sua programação, performance em ação e
problematizações causadas, são aspectos que mantêm-se interligados em minha pesquisa, pelo
fato de que a performance encontra-se organizada a partir do self as context que envolvem,
não apenas o objetivo e o resultado da pesquisa, mas o cerne da performance: o grito do
performer. Por conseguinte, após a vivência da performance "Farta Penúria" coletei minhas
ações e reações, além das diversas interpretações dos observadores e questionei-me sobre o
lugar de onde falo referente a fome, as fomes existentes em mim e no mundo, na qual
levaram-me a repensar sobre a anorexia: transtorno alimentar pelo qual vivenciei durante
minha pré-adolescência. Com isso, tenho prioridade para falar sobre o outro lado da fome,
essa fome marginalizada que contorce os nervos, que busca alcançar o controle de si e tenta
constantemente ajustar-se aos padrões que a sociedade nos impõe. Todo o embasamento
teórico e prático serviram para fundamentar minha experiência e compreendê-la. Por
enquanto, consegui retomar ao meu passado para examinar-me e, assim, percebi que a
temática escolhida - fome - tem um porquê envolto para as minhas experiências pessoais do
passado que recaem no meu eu hoje em traumas e também como forma de empoderamento e
emancipação, se o ser conseguir observar-se, cuidar de si e, por fim, conhecer-se ou
reconhecer-se. Lutei para conseguir sobreviver durante a anorexia e superá-la fundamentada
no entendimento das razões pelas quais fui vítima alienada desse distúrbio. Concluindo, o
trabalho em processo está sendo encaminhado para o aprofundamento dos conceitos voltados
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Referências bibliográficas
COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2013.
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Palavras-Chave
exortação, exotopia, parangolé, performance
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transformada através do diálogo, que inclui o que ainda não sabemos sobre nós mesmos,
assim como o que o outro não sabe sobre si mesmo. No mundo concreto não podemos ocupar
o lugar do outro. Mesmo que estejamos onde o outro estava, o lugar será percebido de
maneira distinta. O lugar do outro só pode ser imaginado. No entanto, podemos encurtar esta
distância pelo conhecimento. A partir do conhecimento é possível construir um universo único
e de significado geral, já que o sujeito do conhecimento não ocupa um lugar concreto na
existência. Bakhtin (2003[1979]) nos adverte que com o conhecimento só é possível construir
um mundo suposto. É preciso entrar em empatia com o outro, ocupar o lugar dele no mundo,
retornar ao nosso lugar, olhar, sentir e conhecer o mundo com o excedente de visão obtido
com a experiência. As interações sociais se fundamentam em grande parte no que eu não sei
sobre o que o outro sabe de mim. As imagens que oferecemos de nós mesmos e que os outros
nos oferecem são interpretadas e compreendidas a partir do excedente de visão, que as
completa. Não ocupamos dois lugares no mundo ao mesmo tempo, mas somos constituídos de
muitos de nós mesmos. Aprendemos com Erving Goffman (1956) que na atuação da vida
cotidiana apresentamos - através do desempenho de funções profissionais, sociais, religiosas,
familiares, etc. muitas características tidas como não sendo nossas. Os outros que nos
constituem podem também ser exteriorizados como personagem nas atuações artísticas. Tanto
a atuação artística, quanto a dos afazeres do dia a dia são aqui pensadas como possibilidades
de construção de conhecimento. Vivências cotidianas e não cotidianas afetam os sentidos; que
afetam os sentimentos, os pensamentos e os comportamentos. O corpo e a mente se expandem
com a exteriorização do nosso mundo interior e com a interiorização do mundo exterior. O
atuar/performar – lugar dos sentidos incorporados; e o observar – lugar dos sentidos afetados
são lugares distintos e complementares de construção de experiência e de conhecimento. A
aposta de Oiticica (1986) é que as experiências sensoriais, vivenciadas com a movimentação
corporal na performance Parangolé encorajem transgressões de comportamentos
condicionados. O Parangolé foi inventado em um período de muitas transformações na cena
artística e na política brasileira. O final da década de 1950 e começo da de 1960 constituíram
a cena de mudanças na pintura, na escultura e na poesia, engendradas pelo movimento
concretista que contestava, dentre outras coisas, o figurativismo na pintura daquela época. Em
seguida este foi contestado pelo neoconcretismo, que se opunha ao formalismo “excessivo”
dos concretos. Na política o golpe militar de 1964 deflagrou repressão aos artistas de
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
corpo, cidade, videocartografia
Em uma apropriação poética da cidade como suporte e/ou campo ampliado de/para
trocas culturais e experimentações estéticas, problematiza-se as relações entre corpo e espaço
urbano por meio de oficinas de criação que utilizam como ferramenta o hibridismo entre
dança e cinema. Considerando que o lugar é a condição geral de nosso estar juntos
(MASSEY; 2009: p.220), aciona-se uma moradia ocupacional localizada na região central da
cidade de São Paulo – Ocupação Hotel Cambridge – para o exercício estético, convidando as
crianças e os adolescentes para as experimentações envolvendo corpo e cidade. O local em
questão foi escolhido por acolher uma pluralidade de estórias em processo, em diferentes
configurações e articulações dentro das mais amplas geometrias do poder do espaço
(MASSEY, 2009: p.190). Todavia, almeja-se impulsionar os processos criativos através da
vivência na cidade, que pode ser classificada como uma constelação de trajetórias (MASSEY,
2009: p. 221). Partindo do pressuposto de que corpo e espaço urbano estão co-implicados no
processo de formulação de vida pública, a cidade é acionada como campo de investigação e
criação de performances, que tem como intuito provocar fissuras nas previsibilidades
citadinas que configuram os modos de habitar dos envolvidos no processo, inclusive o próprio
pesquisador, provocando devires outros: poéticas do corpo que se abrem para dramaturgias do
espaço. Interessa-se saber que tipos de exterioridade estão afetando o corpo no centro da
cidade, no âmbito pessoal e grupal, o que toma o lugar em seu sentido político. Para tal, como
estratégia metodológica e artística, a cartografia é selecionada, na elaboração de imagens
através da produção de videocartografias. Mais do que se apropriar do conceito de cartografia,
contudo, intenta fazê-la funcionar por meio da criação de outro conceito, a videocartografia,
como estratégia operacional. Trata-se de uma possibilidade de apreensão da cidade pelos
recursos audiovisuais, como câmera filmadora. A videocartografia se apresenta como
agenciamento , em conexão com outros agenciamentos, propondo a produção de imagens a
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é o lugar de incidência de inúmeras correlações de força, contudo, deve-se abrir espaço para
que seja percebido como lugar de encontro com o outro, com o mundo, com a diferença,
liberando novos modos de vida que produzem novas ligações e conexões no todo que o
constitui. Afinal, no presente espacial, o que somos é realmente o que fazemos (MASSEY,
2009: p.274) e o que fazemos é reverberação das forças espaciais – trajetórias coetâneas,
estórias-até-agora – que atravessam nossos corpos. Assim, o foco está nas experimentações do
corpo, na sua força de invenção. O pleno reconhecimento da contemporaneidade implica uma
espacialidade que é a multiplicidade de estórias-até-agora (MASSEY, 2009: p.267).
Considera-se, as processualidades corporais pertinentes ao próprio movimento da vida, como
possibilidade de ruptura a qualquer padronização generalizada do sujeito, como campo de
força viva com a qual é possível criar nossos espaços existenciais e os contornos cambiantes
de nossa subjetividade espacializada.
Referências bibliográficas
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo:
Editora 34, 1995. v.1.
MASSEY, Doreen. Pelo espaço: uma nova política de espacialidade. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2009.
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Palavras-Chave
dramaturgia da atriz e do ator, odin teatret, oposição
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uma estética própria, proveniente de diversos aspectos, entre eles, do fato de que as atrizes e
os atores assumem o papel de criadoras e criadores protagonistas da cena. Ao mesmo tempo,
tem um caráter formativo, visto que é construída com o intuito de permitir o
compartilhamento dos processos e técnicas acumuladas e desenvolvidas pelas atrizes e atores
formados na cultura do Odin. Lúcia Romano (2013) define este trabalho como uma
metalinguagem do processo criativo, configurando-se como “aula-espetáculo”, rompendo
com a separação entre discurso e prática artísticos.A demonstração O oposto, criada durante o
mestrado, sob direção artística de Julia Varley, configura-se como uma obra artística
resultante de procedimentos artísticos em âmbito de pesquisa acadêmica, cujas apresentações
estão sendo realizadas desde março de 2016. Para fins de registro, a obra em dois formatos:
DVD e texto dissertativo, descrevendo todas as cenas, com reflexão sobre o processo de
criação da obra, do conteúdo ao qual ela se refere (conceito e história) e fotografias. A cena 1,
chamada Apresentando a oposição, mostra o início do trabalho de criação dos meus materiais
enquanto atriz-pesquisadora, cujo ponto de partida é o oposto. Na cena 2, As faces da
oposição, destrincho meu treinamento pessoal em partes, a saber, a contraposição (e a
contraposição sutil), a resistência, a pré-ação e a introversão e extroversão; dando exemplos
corpóreos de minha investigação sobre estes princípios. Na cena 3, intitulada Inspirações,
apresento os mesmos princípios, agora de acordo com inspirações históricas incorporadas, ou
seja, observando de onde estes princípios são oriundos. Sua construção, portanto, corresponde
ao resultado direto da análise das fontes teóricas, sempre com enfoque em sua aplicabilidade
prática. Para tanto, discorro sobre as oposições nos trabalhos de Delsarte, Decroux e
Meyerhold. Para ressaltar uma prática atual e que esteja presente em meu treinamento e
cultura, apresento a oposição na Capoeira Angola e no samba brasileiro. Após discorrer sobre
estes princípios de forma ampla, com enfoque histórico, contextualizo como os aprendi na
prática teatral junto ao grupo Odin Teatret, exibidos na cena 4, intitulada A oposição no
treinamento do Odin Teatret, os exercícios aprendidos com as atrizes e atores Julia Varley,
Iben Nagel Rasmussen, Roberta Carreri e Jan Ferslev, em que reconheço a presença da
oposição. Por fim, na cena 5, nomeada A oposição em cena, apresento a presença destas
oposições numa criação artística, através da exposição da criação de personagens e cenas dos
espetáculos solos em que atuo. Como a obra tem duração aproximada de 01 hora, focaremos
nesta edição do SPA na apresentação da cena 05, a Oposição em cena. Nesta cena,
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Referências bibliográficas
ROMANO, L. A escrita da atriz: Julia Varley, Iben Nagel Rasmussen e Roberta Carreri.
Urdimento, Santa Catarina, v.2, n. 21, p. 98-110, dez/2013.
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Palavras-Chave
corpo, feminismo, pesquisa qualitativa
Nome: Kátia Silva Souza dos Anjos; Marília Balbi Silveira; Renata Frazão Matsuo;
Priscila Sayuri Mori; Marília Velardi Instituição: Universidade de São Paulo Linha de
Pesquisa: pesquisa qualitativa Orientador: Marília Velardi Contato: marilia.velardi@usp.br
Quatro mulheres em cena e uma na direção. Em março de 2017 nós resolvemos fazer um
trabalho performático, dançado. Cada uma possui experiência em alguma técnica dança, e por
essa via queríamos dizer, sentir e provocar algo de maneira sensível. Nossa inspiração: o que
é ser mulher? Nosso objetivo: transbordar sensações que reverberassem nos olhos, na pele, no
corpo de quem assistia o que é tornar-se mulher. Para nós um desafio, uma investigação que
partiu de um insight e foi ganhando forma e moldando a dramaturgia. Um poema de Clarice
Lispector, “Se Eu Fosse Eu”, narrado, e disponível no youtube, na voz de Débora Wainstock
fechou nossa performance: nos encontramos com ele “depois”, mas poderia, agora, iniciar
nossa escrita. “Se eu fosse eu parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a
entrada nova no desconhecido”. O feminismo sempre foi e será necessário, ser mulher num
mundo ainda patriarcal é um desafio cotidiano. Adichie (2014), autora negra e nigeriana,
relata que uma vez certo homem a questionou sobre o porquê dela se posicionar como mulher
e não como ser humano. Sensivelmente a autora respondeu afirmando que sabia que ela era
um ser humano, mas que havia certas coisas, específicas, que ela vivenciava por ser mulher.
Somos singulares e isso afeta nosso lugar no mundo; assim como ser negra implica
particularidades num mundo ainda racista. Beauvoir (1970) também já afirmou que a mulher
é um ser humano, mas que isso é abstrato demais, ressaltando que todo ser humano de fato é
visto e localizado de maneira singular. Falar em feminismo, especialmente no tempo em que
vivemos, se faz necessário em reconhecimento das atrocidades e desigualdades sociais,
políticas e econômicas ainda presentes. Sim, precisamos falar de gênero, e do que é ser
mulher. Como Adichie (2014) destaca, a questão de gênero tende a prescrever modos de ser e
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agir ao invés de reconhecer como nós somos. Ser significa, então tornar-se, para Beauvoir
(1970) é uma feitura assentada no social manifestado. Podemos dizer que o método que
usamos para produzir essa pesquisa, e esse texto, está apoiado na “investigação baseada nas
artes” (Arts Based Research). O método (compreendido como o nosso caminho) ganhou
corpo no processo investigativo, este assentado na produção artística, cênica, coreográfica. O
que fizemos foi problematizar nosso corpo feminino a partir de uma obra coreografada;
dançamos, trocamos de roupas em cena, nos maquiamos, falamos. A teoria, aqui posta, surgiu
depois, não foi a base para nossa produção, mas sim, nossas experiências como mulheres, e
artistas, nos levaram a esse resultado cênico e escrito. Como aponta Oliveira (2016) esse tipo
de pesquisa, baseada nas artes, vem para ampliar nosso entendimento de certas atividades
humanas a partir, ou por intermédio, de processos artísticos. A cinco vozes definimos as
inspirações para cada composição coreográfica. Marília: A direção foi observação, foi
trabalho sobre a ação, sobre a contação de histórias e as minhas memórias; foi a identificação
dos sentidos que se exacerbaram ao longo dos encontros coletivos. Dirigi o meu olhar, dirigi
as minhas sensações. O encontro com o poema Se eu fosse eu, narrado sem inflexões ou
entoações, descrito e não interpretado foi a síntese das cenas, ao mesmo tempo em que nos
mostrou o sentido que nos uniu, aquilo que nos agrupou. Assim como as autoras que trazemos
neste texto e que iluminam o que vivemos, o poema nos mostra que o nosso encontro com as
coisas do mundo e conosco mediam a nossa trajetória intelectual, acadêmica e científica. O
feminismo encarnado encontrou lugar de reflexão. Renata: Uma pergunta me norteou para
criar essa coreografia / cena. Que mulher é essa? E quando comecei a compor essa mulher,
uma outra pergunta me soava… O que você tem dessa mulher? E quando me dei conta, eu era
essa mulher também… Somos tantas e somos únicas! Minha personagem mulher, que
também sou eu, traz as dificuldades, as incertezas, as prisões, as tristezas e principalmente as
amarras que nos são impostas desde que nascemos (ou até antes do nascimento). Inspirada na
obra canônica de Martha Graham, Lamentation, me propus a retratar essa dor de viver presa
na própria pele… Kátia: Meu corpo é um corpo de mulher, disseram… Esse corpo sou eu. A
roupa que uso me coloca e desloca de lugar. Visto, desvisto, transformo e dou forma… Um
corpo dado, que me foi dado; A natureza me deu, e é meu, sendo meu posso mudar, ser quem
eu quiser. Vestir, despir; na ação que o verbo sugere vão dizendo meu lugar, e não lugar.
Mulher… Gênero (não) biológico. É gênero feminino, feminina. Travesti é um eu vestida de
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mulher (Tra)Vestida, sou eu vestida de uma mulher, das várias que posso ser… Usei a música
de Elza Soares “Mulher do fim do mundo” para essa coregrafia. Marília Silveira: O processo
de criação para performance das Travestidas foi guiado pelas reflexões de como ser mulher e
as diferentes facetas que assumimos na vida. Na composição envolvendo a Dança do Ventre e
o despir-se do glamoroso figurino e vestir-se em roupas comuns do dia a dia, busquei ressaltar
a importância da flexibilidade, impermanência e resiliência nas formas de ser. Ora,
assumimos lugares de destaque, estamos em evidencia. Ora, somos pessoas comuns,
ordinárias. E cabe a nós ressignificarmos esses papéis a nós mesmas, tomando cuidado com as
supervalorizações vindas do externo, e não credibilizar o desvalor em muitas situações
cotidianas também atribuídas pelo meio social. Ou, correremos o risco de nos perdemos, e
acreditarmos ser o que enxergam-julgam de nós. Sermos em essência, a verdade em nós,
independente de como nos travestimos, para que os trajes que escolhemos usar estejam a
serviço do que somos e não do que querem nos tornar. Sayuri: Eu me teço história, entre
tantas coisas ou quaisquer metades que nos “costuram”, vou desatando os nós.
Desconstruindo as angustias caladas as tristezas descompensadas, vou me permitindo. Sendo
então um pouco do que quero e menos do que sou, uma hipérbole eu diria. Costurando fio a
fio novos sentidos, caminhos… Sempre em movi-mento(e) Embalançando Despertando por
dentro para que eu possa existir por fora. Minha coregrafia apoiou-se na narração do poema
de Clarice Lispector já citado nesse texto. Livres, cada uma de nós escreveu sua inspiração
para compor. O que sobra está aqui nesse texto, mas ainda fica a ressonância de um fazer
artístico que não acabou. Essa obra teve duração de 15 (quinze) minutos e nos apresentamos
duas vezes, mas sentimos que pode continuar. Precisamos compor, experimentar, deixar fluir.
Referências bibliográficas
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. São Paulo; Companhia das
Letras. 2014
BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. São Paulo; Difusão europeia do
livro.1970
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Disponível: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0102-46982016000100365&lng=en&nrm=iso>.
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Palavras-Chave
aprendizagem, princípios, trabalho de ator
A pesquisa à qual tenho me dedicado teve início em 1996 e, ao longo desses vinte anos
de trajetória artístico-acadêmica, o fio condutor tem sido o trabalho de ator em contexto de
treinamento. Três momentos distintos constituem esse percurso: na graduação, o projeto
“Ator: Ofício e Tradição. Em busca de uma identidade”, que constituiu um grupo de pesquisa
do PIBIC-UnB; no mestrado, a composição de um treinamento pré-expressivo (BARBA,
1991), “O Caminho do Ator Buscador” (MELLO, 2006) e o terceiro momento constituiu o
doutorado, no qual o treinamento era o espaço de identificação e categorização dos
fundamentos do ofício de ator, “Improvisação por Princípios: análise de um curso/treinamento
baseado em princípios específicos do trabalho de ator” (MELLO, 2011). Quando me refiro a
esses três momentos percebo três perspectivas: a experiência de um treinamento como atriz, a
estruturação dessa prática e a identificação dos seus fundamentos. Ainda que aqui esses ciclos
se apresentem numa cronologia, entendo que todas as etapas desse percurso estejam presentes
na pesquisa atual. E, neste sentido, me reconheço como atriz-professora-pesquisadora. Essa
perspectiva de pensar o trabalho de ator a partir dos seus fundamentos, ou seja, de seus
princípios, não se deu apenas do ponto de vista da Antropologia Teatral, ou seja, dos
princípios-que-retornam (BARBA, 1993), mas igualmente dos princípios que são a base da
preparação do ator e da sua atuação (MELLO, 2011). A busca pelos aspectos que
fundamentam o trabalho de ator se deu enquanto pesquisa prática, na sala de treinamento,
tendo como suporte teórico o pensamento de mestres do teatro do século XX, que se
debruçaram sobre o ofício de ator, e daqueles que pesquisam na atualidade a partir de suas
poéticas e caminhos de preparação. Desse modo, o que se identificou na literatura como sendo
essencial ao trabalho de ator foi investigado na prática, ao mesmo tempo em que os aspectos
detectados no treinamento foram igualmente localizados nas teorias. Outro fio condutor, que
gradativamente ganhou força na trajetória acima descrita, foi a necessidade de proporcionar a
outras pessoas, não diretamente ligadas ao teatro, as experiências que o fazer teatral
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oportuniza. Esse desejo seguiu contíguo à pesquisa sobre o trabalho de ator e foi sendo
satisfeito em meu cotidiano como artista-docente (ARAÚJO, 2016), na medida em que, das
minhas experiências como atriz-em-treinamento encontrava o caminho como professora de
teatro. No momento atual, como professora efetiva do curso de Licenciatura em Teatro da
Universidade Regional do Cariri, encontro um campo fértil para desenvolver pesquisa acerca
dos possíveis diálogos a serem estabelecidos entre esses dois campos de meu interesse: a
Pedagogia do Ator e a Pedagogia do Teatro, que trazem, respectivamente, o fazer teatral do
ator e do público em geral que experiencia o teatro enquanto meio de expressão. Ainda que o
exercício desse diálogo seja o objetivo principal da pesquisa, incluindo nessa meta a oferta de
um espaço de treinamento de ator e de oficinas para o público em geral, como professora de
uma licenciatura, mantenho constante a formação do professor de teatro como escopo. E a
perspectiva de identificar conexões manifesta-se também na intenção de perceber as possíveis
relações entre as Pedagogias em foco, ou seja, a do Ator e a do Teatro. O grupo de pesquisa
Pedagogias do Teatro no Cariri – PETECA e, mais especificamente, a linha de pesquisa
Processos de Aprendizagem de Teatro – PATE, dedica-se justamente à pesquisa acerca de
processos diversos de aprendizagem em teatro, tanto no que tange à diversidade de
metodologias possíveis, quanto no que tange às diferenças de público alvo. Pensando
enquanto pesquisa de longo prazo, a proposta do projeto Pedagogia do Ator e Pedagogia do
Teatro em Diálogo é justamente de investigar a práxis do teatro e as aproximações e
distanciamentos entre os dois grupos comumentes chamados de ator e não-ator. Nesse
primeiro ano de pesquisa os Viewpoints de Anne Bogart e Tina Landau (2005) foram eleitos
como eixo metodológico central da investigação, estando presente no corpo do treinamento e
nas proposições de oficina de teatro. Os Viewpoints apresentam em sua essência um caráter
investigativo fundamental para o espaço de treinamento de ator, ao mesmo tempo em que
aponta de maneira profícua para a aplicação no ensino de teatro como espaço de expressão
pessoal. E os objetivos aqui propostos tornam-se alcançáveis justamente por meio de uma
metodologia que se pauta na permanente imbricação entre teoria e prática (CARREIRA,
2006). Desse modo, o exercício da pesquisa será um fluxo de reflexão constante entre a
experiência pessoal como atriz/ator de cada integrante do treinamento, os estudos acerca do
trabalho de ator e das questões didáticas sobre o ensino de teatro e, por fim, as práticas como
docentes nas oficinas propostas. Ainda que se tenha iniciado há apenas 4 meses, a prática
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Referências bibliográficas
ARAÚJO, Valéria Gianechini de. Da Experiência Artística à Poética Docente. São Paulo:
Ed. Chiado, 2016.
BOGART, Anne e LANDAU, Tina. The Viewpoints Book: a pratical guide to Viewpoints
and Composition. New York: Theatre Communications Group, 2005.
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Palavras-Chave
aprendizagem, pedagogia do ator, pedagogia do teatro
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Referências bibliográficas
ARAÚJO, Valéria Gianechini de. Da Experiência Artística à Poética Docente. São Paulo:
Ed. Chiado, 2016.
BARBA, Eugenio. Além das Ilhas Flutuantes. Campinas: Hucitec, 1991. ______. A Canoa
de Papel: tratado de Antropologia Teatral. Campinas: Hucitec, 1993.
BOGART, Anne e LANDAU, Tina. The Viewpoints Book: a pratical guide to Viewpoints
and Composition. New York: Theatre Communications Group, 2005.
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Palavras-Chave
Autonomia, Teatro, Mulher.
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paciente precisa se desvincular de tudo aquilo que ele era anteriormente e criar um novo
aspecto de vida, o que rejeita primordialmente sua cultura e características pessoais. Aos
poucos esse fator reforça a desfiguração do sujeito, que vai preterindo os cuidados com a
aparência e da própria personalidade. As pacientes estão abaladas psicologicamente,
abandonando seu eu interior, estão diariamente esquecendo quem são, principalmente por
terceiros reforçarem suas condições de reprimidas. Nas Instituições Totais, como aponta
Goffman, essa relação estabelecida entre interno e dirigente provoca cada vez mais
“desfiguração pessoal” no sujeito que já acredita ser inferior. Ernesto Sang (2011) também
ressalta que esses sujeitos são vistos como indivíduos marginalizados pelo próprio ego, se
observam como impossibilitados de resolução dos conflitos vividos, dos traumas, das dores e
de superar o vazio permanente que sentem. Ou seja, há uma grande perda da subjetividade, do
impulso de viver e de se encontrar. É importante ressaltar que nesses locais que “abrigam”
pessoais com necessidades de tratamento psíquico, muitas atrocidades humanas acontecem e
já aconteceram durante anos. Mas atualmente, os tratamentos utilizados para a reabilitação
desses indivíduos se designam por dosagens de remédios, muitas vezes altíssimas, e
isolamento: isto quando o paciente não obedece às ordens pré-determinadas pela instituição
ou “dão trabalho” quanto ao seu comportamento. Este controle e a supervisão das atividades
diária dos internos provocam relações de confrontamentos, tanto da parte do interno quanto da
parte de quem administra, cria-se assim um ambiente de hierarquia, aquele que oprime e o
que é oprimido. A pessoa que comanda tem do paciente um olhar minucioso, acredita que este
não é digno de confiança, refere-se a ele com indignidade, ressalta seus defeitos e até mesmo
lembra quem está na posição de doente e o tratamento com este é baseada aos gritos; já o
interno, que é o que obedece, aceita as condições impregnadas à ele pois acredita que é
inferior, indigno, fraco e merece ser punido pelas ações que teve em sua vida (GOFFMAN,
1974). A maioria das mulheres que estão internadas no HPM veio de um contexto de muita
pobreza, violência e drogas, consequentemente são pessoas que passaram e ainda passam por
constantes humilhações e dificuldades (em geral) na sociedade. Tendo percebido esse
contexto político-social do universo feminino no Hospital Psiquiátrico de Maringá, o objetivo
da pesquisa em desenvolvimento é possibilitar as internas, por meio de uma pedagogia teatral,
olhar para si sob uma nova e modificada reflexão, poder criar, expandir e experimentar um
corpo que já estava esquecido, maltratado, rejeitado. E, principalmente, compreender que este
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corpo tem liberdade e autonomia, sendo também um corpo artístico com potencialidades e
expressividades latentes. Pretende-se com isto, fazer com que as pacientes, mesmo dentro de
um espaço que as limita diariamente, reconhecer-se, amar-se, aceitarem suas qualidades e
defeitos como parte integrante do todo, analisar por outro ângulo a própria vida e conseguir
por meio do teatro, emancipar-se das correntes sociais que as tiram da sanidade física e
psicológica. Cabem as propostas pedagógicas teatrais, capacitar essas mulheres – já perdidas
no seu próprio eu – resolucionar problemas ou conflitos que parecem impossíveis de ter saída.
É pelo jogo, pela dinâmica e por meio das relações estabelecidas que se pretende encontrar a
superação dos problemas.
Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
coro, jogo teatral, texto
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modelos sociais. Todas essas possibilidades musicais podem fornecer ferramentas para
elaboração do jogo coral, e dentro dessas possibilidades musicais estão inseridos os cantos
polifônicos gregos, cantos que mantém vivo o canto imemorial da Trácia, pátria de Orfeu e
Dioniso e são focos brilhantes das sonoridades presentes no mundo. (Wisnik, 2002). E, nessa
manifestação popular grega, onde texto, musicalidade, e jogo se coadunam que podemos
retirar procedimentos pedagógicos de coros de “iniciados” que aproximariam público atuante
da experiência da cena jogada, através dos instrumentos catárticos presentes nesse jogo
comunitário. Temos pequenos coros uníssonos, alguns coros de sons da natureza, corifeus que
improvisam sonoridades, que narram estórias, uma dinâmica de embates, etc. A partir dessa
manifestação, é possível pensar em variações que sustentem posições sociais, tanto brincando
com graves e agudos, quanto jogando com as oitavas e as quintas musicais. Este é um
caminho que eu começo a percorrer, em aulas de musicalidade que tenho feito, e que junto do
conhecimento dos experimentos de Brecht, e de Muller, começo a intuir um caminho de jogos
corais. Seria um processo de jogo, com regras mais específicas, que buscassem na
composição entre coro e som/música processos sensíveis de experiências do social. Minha
ideia é transformar essas experimentações coletivas em jogos dialéticos com papeis sociais.
Referências bibliográficas
______. (Org.) HEINER MÜLLER – O Espanto no Teatro. São Paulo: Perspectiva, 2003.
WISNIK, Jose Miguel. O SOM E O SENTIDO. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
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Palavras-Chave
produção teatral, hibridismo, ator-produtor
O referente trabalho apresenta algumas atividades realizadas pela artista que são
pautadas na relação hibrida do ator-produtor, ou diretor-produtor. Uma pesquisa que tenta
discutir a relação do artista com o teatro de grupo e a suas possíveis inserções no mercado
cultural. No primeiro capítulo denominado A delimitação do objeto. Foram discutidas ideais
referentes ao conceito de produção cultural, fazendo uma breve contextualização com o
século XIX e início do XX. Refletindo sobre os meios de sobrevivências dos grupos teatrais
da época e como na contemporaneidade suas atitudes refletem na existência de outros grupos
teatrais. Podemos ainda, refletir algumas questões: Como a produção acontece dentro de
grupos de teatro? Quais as estratégias que um produtor pode usar para auxiliar no espetáculo
ou em algum evento? E qual a relação entre a Arte e o mercado apresentados na atualidade?
Como os profissionais envolvidos estão pensando a produção teatral em sua região?
Englobando a realidade acerca da produção e atuação na Região do Cariri, esta pesquisa foi
construída para uma reflexão a respeito das políticas públicas para o teatro, suas relações
entre Governo/administradores/ e a cultura principalmente na região local. Podemos notar
uma breve analise a respeito das leis de incentivo. Percebendo, brevemente a falta de editais
públicos para a região e o descaso da falta de incentivo por parte dos administradores
públicos. Essa carência, reflete na precariedade dos grupos, que na maioria das vezes,
necessitam de suas verbas para a manutenção de sedes e sobrevivência. No segundo capítulo
O Hibridismo entre a produção e o ator - Qual a realidade? Atores se preocupam com isso?
vamos refletir a respeito do hibridismo existente no trabalho do produtor e do ator, como esta
relação acontece na prática dos artistas - produtores. Como se estabelece a relação de produzi
e atuar. A polifonia (MALETTA, 2005) é um termo utilizado e emprestado da música. Em sua
tese são apresentadas discussões a respeito do conceito de artistas-polifônicos (MALETTA,
2005) que deixaram de ser especialistas em uma só área artística para tornarem-se artistas
múltiplos. Acreditando que através da formação o artista poderá encontrar diferentes
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habilidades que contribuirão de forma expressiva na obra artística. Por fim no terceiro
capítulo A produção Teatral pela criatividade: A artista e as experiências com produção.
Partimos para as vivências desenvolvidas pela minha experiência como artista-produtora.
Mesclando e tecendo conceitos discutidos até aqui como: ator-polifônico, ator-autônomo,
dentre outros. É também aqui, exposta uma cronologia de algumas vivências dentro e fora da
Universidade Regional do Cariri. Falaremos sobre a Scac-Sociedade de Cultura Artística do
Crato, espaço onde diversos artistas locais iniciaram/ou tiveram sua primeira experiência na
arte. Através do grupo de Pesquisa LaCriCe – Laboratório de Criação e Recepção Cênica,
lugar onde foi criado o espetáculo “O Evanescente Caminho” direção de Cecília Raiffer, foi o
lugar onde desenvolvi boa parte de minha experiência como atriz-produtora. Alguns autores
que serviram como suporte metodológico para as reflexões aqui estabelecidas foram: Ernani
Malleta, Romulo Avelar e Samantha Cohen. A análise parte de um olhar acerca do processo
de produção de espetáculos de teatro no cariri cearense, unidos pela produção do teatro de
grupo e a produção realizada na universidade. Reflexão esta que é explorada pela perspectiva
do hibrido ator produtor. O autor Romulo Avelar em seu livro O avesso da Cena (2008)
discuti a respeito do papel do produtor cultural e a produção em termos bastante profissionais
quais os caminhos trilhados por este na trajetória artística. Os elementos abordados nesta
referência foram bastantes esclarecedoras para o desenvolver da pesquisa colocando-a no
lugar de conceituação e profundidade no campo pesquisado. A respeito de como é tratada a
questão do teatro de grupo nesta pesquisa é embasada teoricamente pela jovem autora
Samanth Cohen, que faz uma análise crítica acerca de experiências desenvolvidas por grupos
que assumem esse lugar do Teatro de Grupo como conceito técnico no âmbito do teatro
(COHEN, 2010), fala das experiências de produção desenvolvidas por grupos com bastante
proporção artística no país e como estas analises se assemelham aos demais grupos
contemporâneos. Dentro das disciplinas Processo de Encenação I, II e III, que foram
desenvolvidas e colocadas em prática, possibilitando para os atores através da condução que
foi data pela encenadora-produtora estratégias para desenvolver e incentivar os atores a serem
atores-polifônicos, isto é, poderia ter autonomia para criar/sugerir na composição da cena; já
que nessas disciplinas o aluno deve desenvolver um processo artístico/encenação. Podemos
refletir sobre a Cia Engenharia Cênica como os grupos de teatro podem dar suporte para a
formação do estudante, até mesmo lhe permitindo a inserção no mercado de trabalho após o
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Referências bibliográficas
AVELAR, Romulo. O avesso da cena: notas sobre produção e gestão cultural. DUO
EDITORA. 3º Ed. Belo Horizonte, 2013.
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Palavras-Chave
corpos diferenciados, dança contemporânea, habilidades mistas
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reflexão lhe possibilita a pesquisa sobre o tema desde a graduação, tendo o olhar a partir do
teatro e da performance, o que culminou em uma apresentação prática a partir da vida e obras
de Frida Kahlo. Essa apresentação artística se tornou sua pesquisa para o projeto de mestrado,
sendo, assim, um dos poucos relatos de experiência em português sobre a questão de pessoas
com deficiência nas artes a partir do viés artístico. Assim, a pesquisa se propõe ao estudo da
obra de Oliveira (2013), considerando tanto seu estudo na íntegra quanto a leitura dos
referenciais utilizados por ele, possibilitando o estudo dos seguintes eixos: referenciais
bibliográficos que abordam a questão da deficiência, referenciais bibliográficos sobre as artes
cênicas, referenciais bibliográficos sobre a construção histórica de corpo e referenciais
bibliográficos sobre Frida Kahlo. Ainda, antes do término da pesquisa, espera-se um encontro
com o autor visando aprofundar as reflexões já geradas pelo estudo destes referenciais. O
contato inicial com a Cia Dança sem Fronteiras, sob direção de Fernanda Amaral, se deu
durante a vigência da pesquisa anterior. Desde o início se estabeleceu uma boa relação com a
diretora da companhia, também pelos questionamentos levantados por ela, e seu interesse pela
pesquisa, levando ao convite por parte da companhia da continuidade de relação,
possibilitando à pesquisadora estar presente nos ensaios, ações e apresentações. Fernanda
Amaral apresenta sua própria companhia como tendo um elenco com habilidades mistas,
sendo essa terminologia adotada por ela e que esta pesquisa também se propõe a estudar.
Como professora do método DanceAbility, desenvolvido Alito Alessi, os ensaios e processo
de sua companhia também vivenciam dinâmicas deste. Por ser um método que busca desde
sua concepção, formas de divulgação e atuação, incluir todas as pessoas, com ou sem
deficiência, de diversas idades e vivências, é possível observar o termo “habilidades mistas”
sendo adotado na prática, sempre buscando despertar as potencialidades de cada intérprete, e
não visando uma busca por ideal de corpo ou movimentação. Embora a pesquisa ainda se
encontre na metade de sua vigência, já é possível perceber como muitos dos padrões adotados
hoje pela sociedade são visões de corpo e “normalidade” que vêm sendo construídas e
possuem forte influência da Igreja Católica especialmente nos séculos XVII a XIX, algumas
das quais permanecem nos dias atuais. Também se percebe como essa reflexão de corpo,
estereótipos e “normalidade” chegam às artes da cena, especialmente com o surgimento das
performances que, desde seu início, possuem um forte caráter político. A performance,
estando nos entremeios das linguagens artísticas, permitiu que artistas elaborassem assuntos
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que lhes diziam respeito e que estavam em efervescência na sociedade, tendo espaço
especialmente a abordagem das temáticas feministas, da questão homossexual, da presença
dos negros nas artes, e também aqui se inclui a ideia de apresentar o corpo como ele
realmente é, sem a necessidade de se mascarar e estar por detrás de um personagem. O corpo
em sua veracidade carrega o peso que a sociedade lhe aplica, e nessa relação se dá a
possibilidade de corpos “diferenciados” protagonizarem seu próprio papel no campo das artes
da cena. Somado a estas reflexões, a partir da vivência com a Cia Dança sem Fronteiras, é
possível a percepção do termo “habilidades mistas” na prática, quando os laboratórios e
ensaios buscam que cada intérprete persiga sua própria potencialidade, podendo esta vir a ser
geradora para uma criação artística. Ainda, está sendo possível vislumbrar como uma
companhia com um elenco de habilidades mistas é vista na atual cena da dança
contemporânea da cidade de São Paulo, considerando suas formas e possibilidade de fomento
e atuação.
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Palavras-Chave
Arte, Escola, Teatro
O presente estudo trata de um relato sobre uma prática de ensino de Teatro que aborda
o exercício da Máscara Neutra com alunos do 1º ano do ensino médio do Colégio de
Aplicação da UFRJ. É possibilitado pela bolsa PIBIC/UFRJ (Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica da Universidade Federal do Rio de Janeiro) que está vinculada
ao Projeto Fazendo Gênero, que toma por base a teoria de sua ação, a pedagogia do ator
Jacques Lecoq e a pesquisa de mestrado da orientadora (Celeia Machado) Identidade
Expressiva (2010). O Projeto Fazendo Gênero, desenvolvido desde 1996, investiga um
exercício de criação teatral de forma processual e coletiva resultando na manifestação
artística, sob a perspectiva de um estudo no ambiente escolar, desta forma, o escopo do
projeto volta-se para o aprofundamento do estudo sobre o conjunto de competências
fundamentais para que o aluno do Ensino Médio se torne capaz de enfrentar a dinâmica da
criação com conhecimentos e habilidades que o possibilitariam empreender e compreender
esse percurso capacitando-o a apropriar-se dos meios que lhe permita pensar e fazer arte
legitimando sua autonomia. O Projeto Fazendo Gênero se baseia nas práticas com a Máscara
Neutra e com os Territórios Geodramáticos. Seu percurso de ensino se organiza da seguinte
forma: introduz-se o uso e conceitos teóricos da Máscara Neutra e dos territórios, a cada
início de trimestre depois segue-se com as práticas de cada um deles. Os jogos preparatórios
com a Máscara Neutra têm por objetivo buscar o corpo de atenção para cena, trabalhando os
aspectos de foco, apresentação e percepção do corpo/espaço. O exercício de foco se dá através
da atenção do olhar no registro de um ponto fixo e das distinções com e sem a Máscara, já a
apresentação busca prontificar esse corpo a ser percebido no espaço e como este interage com
o mesmo, sem nenhum tipo de ação determinada e sim buscando equilibrar suas forças, deste
diálogo entre foco e apresentação é que a percepção se amplia. Meu objetivo em direcionar
um estudo sobre a Máscara Neutra no ensino médio, vem do primeiro estranhamento que ela
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provoca, do desafio de busca de uma nova corporeidade que ela propõe, deixando assim o
adolescente, que muitas vezes é pré-disposto à falta de atenção, em estado de alerta e abertura
para recepção do novo. Minha observação parte das turmas que acompanhei, 21A em 2016 e
21 A e B em 2017. Ao chegar nas turmas pude notar que o anseio deles pelo teatro ainda
estava baseado na construção da cena, só e unicamente, pelo texto dramático, sendo assim,
teatro só era por eles considerado quando resultava em uma situação com diálogos e
personagens ou um espetáculo. Contudo o exercício com a Máscara Neutra apresenta uma
nova maneira de fazer teatro, apresenta a noção de preparação do corpo para cena, exige
disciplina e um outro tipo de postura. Dito isso minha proposta é relatar como se deu esse
caminho e quais foram as suas reverberações. No primeiro momento é feito a
contextualização da Máscara Neutra para eles, nessas primeiras aulas, são apresentadas as
diversas máscaras, desde as lavrarias até as máscaras expressivas, como as da Commedia
Dell’arte. Chama atenção, nesse primeiro contato, a associação que a grande maioria fez com
figuras conhecidas de seus universos, como desenhos animados, séries, entre outros; após o
apontamento teórico, partimos para prática como já havia citado acima, o primeiro dos nossos
exercícios práticos é o trabalho sobre o foco. Nesta etapa, é solicitado aos alunos que
caminhem pela sala e observem o que os cerca, os colegas ao seu entorno, o espaço que está
se compondo com TODOS e TUDO que nele existem, após a observação corpo/espaço
partimos para o que chamamos de suspensão corporal, que é o estado de cena, a presença do
corpo pronto para cena esse estado é galgado com os alunos com alguns exercícios de
impulsão que ligados a percepção de espaço/corpo, foco e atenção, sugere um equilíbrio de
tensões aos alunos, que é o necessário para a colocação na Máscara. “A máscara neutra é um
objeto particular, um rosto dito neutro, em equilíbrio [...]. Esse objeto colocado no rosto deve
servir para que se sinta o estado de neutralidade que precede a ação. ” (LECOQ, 2010, p.69).
A neutralidade que Lecoq sugere ao uso da Máscara é justamente esse ponto de equilíbrio de
tensões que se propõe aos alunos, ela é um rosto genérico, sem passado ou conteúdo
psicológico, ela vive sempre o presente, o seu ser é sempre estar, pois só se desenvolve na
face de outro, apesar de ser uma face carregada de signos, ela só se potencializa, ou não, na
utilização pelo outro. Assim, um primeiro caminho de disponibilização do corpo para
recepção da Máscara foi traçado: os alunos reconhecem e se percebem nesse estado de
atenção é hora de colocar um novo rosto. Vestir a Máscara requer alguns cuidados e regras
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como: não tocar na máscara, não a segurar pelos olhos, sempre tomar cuidado para não a
manusear pelo nariz, é preciso aprender a manipulá-la pelo queixo ou pela testa. Além disto, a
máscara demanda que o ator se vista com uma roupa que interfira no movimento com o
menos possível de informações pessoais, por isto solicita-se que os alunos venham de camisa
preta, lisa sem estampas, pois julgamos ser uma cor neutra e também que retirem os
acessórios e cobre-se o cabelo com uma touca preta. Como resultado, aponta-se as
observações dos alunos, os quais mencionam impressões distintas que vão desde a sensação
de dilatação e suspensão do corpo até sufocamento e incômodo; propiciando-me uma gama de
falas e compreensões que dão ponto de partida ao foco da pesquisa sobre a relação do olhar
com e sem a Máscara. E, sobretudo o uso da Máscara Neutra, em alunos do ensino médio,
proporciona, não só a percepção da corporeidade cênica, como a sensibilidade da visão corpo/
espaço para além de uma sala de teatro, de um palco, eles passam a ganhar escuta do externo
e a comungar as suas percepções com o outro.
Referências bibliográficas
LECOQ, Jacques. O Corpo Poético – Uma Pedagogia da Criação Teatral. São Paulo:
Editora SENAC São Paulo, 2010.
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Palavras-Chave
bordado, matei visniec, traje de cena
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a criação de um traje de cena baseado na peça “A mulher como campo de batalha”. Esse traje
tinha uma particularidade: ele deveria ser ao mesmo tempo parte do cenário e traje de cena.
Para isso, se propôs a criação de paineis (2,00m X 1,40m) têxteis que comporiam o cenário e,
em determinado momento da peça, seriam retirados das estruturas que os seguravam para se
tornar trajes usados pelas personagens. Esses trajes deveriam contar com bordados como parte
fundamental para a sua criação. Para atingir esse objetivo, antes da criação do traje em si
foram propostas algumas atividades para familiarizar os alunos com a técnica e a ideia geral
da peça e da proposta de trabalho: - Oficina de bordado livre: Os alunos foram apresentados
aos materiais para a realização do bordado livre e ensinados de três a cinco pontos básicos que
permitissem maior possibilidade de criação. - Leitura da peça: Foi feita uma leitura branca da
peça em sala de aula. Assim, os alunos podiam discutir entre si sobre os momentos que
achassem relevante no texto, bem como o compreender melhor. - Exercício 1 - Quadrados
bordados: partindo de um corte de tecido quadrado de algodão cru (0,4m X 0,4m), os alunos
deveriam pensar em alguma parte ou assunto que lhes tivesse chamado a atenção na leitura da
peça e criar uma peça bordada. Além do bordado, o quadrado poderia contar com tinta,
tecidos, fotos e outros materiais que o aluno achasse pertinente. Este trabalho também
contaria com sons e aromas para compor uma obra que fosse sensorial. - Exercício 2 –
Bordado sobre fotografia: a partir de um transfer de uma fotografia em um corte de tecido do
mesmo tamanho do exercício anterior, os alunos deveriam criar uma obra que promovesse
intervenções sobre a imagem. Essas intervenções deviam ser bordadas e podiam modificar a
foto, complementá-la, etc. As imagens eram fotografias de guerra. Dando início ao
planejamento e concepção do traje de cena para a peça em si, lhes foi pedido que pensassem
em pontos e temas que mais lhes chamasse a atenção no texto e depois que se dividissem em
grupos. Uma vez divididos, eles deveriam pensar em algum tema que achassem que permeava
toda a peça e dividir o texto em partes guiadas por esse eixo temático. Para definir melhor
como seria o trabalho final, os alunos deveriam pensar em uma série de pontos sobre o traje
de cena a ser criado: - Conceito gerador: a partir do tema, os alunos deveriam desenvolver
melhor a ideia, dizendo qual seria sua abordagem e quais aspectos seriam trabalhados. - Como
vestir/pendurar: por ser um trabalho que ao mesmo tempo deveria ser exposto (como
cenografia) e usado no corpo (como traje de cena), era preciso um descritivo detalhado de
como se dariam essas ações. - Desenhos, materiais e cores: croquis dos dois momentos do
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traje, com amostras e referências. - Orçamento: quanto seria o custo do trabalho como um
todo. Desse exercício surgiram algumas interpretações muito interessantes sobre o texto da
peça. Em uma delas, os alunos entenderam que as duas personagens da peça eram uma só:
Kate seria um alterego de Dorra, uma espécie de estratégia para conseguir lidar com seu
trauma da guerra. Por isso, para esse grupo, a peça deveria ser um monólogo e a atriz deveria
ter em seu traje elementos que remetessem à outra personagem – que só existia em sua mente.
Outro grupo entendeu que o mais importante era pensar na questão das guerras interétinicas
nos Bálcãs, principalmente diante do quadro de crise de refugiados no mundo. Por isso, o
grupo decidiu trabalhar não com as personagens da peça, mas sim com as diversas etnias
mencionadas ao longo do texto. Para aproximar ainda mais o público dessa questão, o grupo
optou por fazer um traje que fosse colocado na plateia: uma camisa de força, que seria
amarrada com faixas contendo símbolos dos países envolvidos na guerra. Esse trabalho
produziu também resultados muito interessantes quanto aos usos do bordado. Os grupos o
utilizaram majoritariamente para bordar frases da peça nos trajes de cena e símbolos dos
momentos que queriam chamar mais a atenção. Um dos grupos utilizou o bordado de maneira
bastante narrativa, criando um painel dividido em 4 partes diferenciadas pelo tipo de bordado
presente em cada uma. Com o tema “esperança”, o grupo tratou da questão da esperança em
momentos de guerra e como ela transita entre inexistente e ressurgida. Cada parte do painel
tinha bordados com símbolos, cores e texturas que de alguma maneira contassem a história da
esperança na peça.
Referências bibliográficas
VISNIEC, Matéi. A mulher como campo de batalha ou Do sexo da mulher como campo
de batalha na Guerra da Bósnia. Tradução: Luiza Jatobá. São Paulo: É Realizações, 2012.
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Palavras-Chave
drama, pedagogia do teatro, processo colaborativo
Há, na prática cênica atual, uma premissa que, apesar de não poder ser facilmente
contestada, parece muitas vezes ser esquecida, ou mesmo ser retirada, dos debates avançados
entre artistas: a pedagogia do teatro e a criação teatral em grupos profissionais são duas
aplicabilidades de uma mesma forma artística. Assim sendo, ainda que elas promovam olhares
diferenciados sobre a cena, baseados em seus objetivos particulares, não parece sensato
visualizar as duas áreas de maneira tão separatista que não se possa olhar para as
similaridades entre suas estruturas e pensar nas possibilidades mútuas que uma tem a oferecer
para a outra – assim como a possibilidade de criar uma versão nova, que una ambas. Partindo
dessa compreensão, me proponho, na minha trajetória pelo mestrado, a pesquisar as
articulações teórico-práticas visíveis entre o drama (ou process drama) – metodologia de
ensino para crianças de origem inglesa – e o processo colaborativo – metodologia de criação
em grupos profissionais sistematizada por Antônio Araújo. Para isso, me aproximo do quadro
histórico, teórico e metodológico de ambas as modalidades na tentativa (que parece
improvável, dentro de um recorte de tempo e de espaço de escrita) de olhar para o todo
individual delas e, a partir daí, pinçar os pontos de aproximação e de distanciamento,
pensando em como e com quais objetivos práticas com similaridades tão basilares poderiam
se unir de maneira satisfatória para iniciar e desenvolver crianças na linguagem teatral.
Visando cumprir com o objetivo da revisão teórica sobre as formas de criação, me aproximei,
durante o primeiro ano de curso, dos principais autores que trataram sobre os temas citados.
Assim, sobre process drama, até o momento entrei em contato com as obras de Beatriz Cabral
(2012), Gavin Bolton (2007), David Hornbrook (1991), Flávio Desgranges (2006), Heloise
Vidor (2010), entre outros. Já sobre o processo colaborativo, acessei os escritos de Antonio
Araújo (2009), Vicente Concílio (2010), Stela Fischer (2003), Rafael Ary (2015), entre outros.
De acordo com os levantamentos já realizados pela leitura desenvolvida, temos alguns
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Referências bibliográficas
ARY, Rafael. Princípios para um processo colaborativo. Revista Cena, Porto Alegre, n 18,
p 1-7, 2015.
ARAÚJO, Antonio. O processo colaborativo como modo de criação. Revista Olhares, São
Paulo, n 1, p 48-51, 2009.
BOLTON, Gavin. A history of drama education: a search for substance. IN: BRESLER,
Liora (Edição). International Handbook of Research in Arts Education. Dordrecht: Springer,
2007.
CABRAL, Beatriz. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec, 2012. CONCÍLIO,
Vicente. A pedagogia do teatro em processos colaborativos: o caso do Grupo XIX de Teatro.
In: VI Congresso de Pesquisa e Pós-graduação em artes cênicas, 6º, 2010. Anais, ABRACE,
2010.
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Palavras-Chave
Percepção, Ritmo, Trabalho do Ator e da Atriz
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sons, das composições cênicas, dos textos e de tudo que envolvem a cena, o ambiente de
ensaio, o grupo, o movimento e etc. Devido a esta constatação, os estudos para a tese “O
Ritmo no Teatro e na Euritmia: estudos para o trabalho do ator” (2011-2016), se centraram na
prática da Euritmia artística, criada por Rudolf Steiner (1861-1925), que propõe abordagens
antroposóficas sobre percepção e práticas pedagógicas aplicadas ao movimento, à música e ao
ritmo. Para melhor compreensão sobre percepção, foram estudados, além de Steiner, Alain
Berthoz (1939-) e Michel Serres (1930-) cujos pensamentos estão pautados no entendimento
de corpo, cujos membros, partes e órgãos são vivos, têm funções independentes e também
conectadas, sendo cada um único e ao mesmo tempo, interligados. Para estes estudiosos,
todos os órgãos e sentidos estão envolvidos em todos os processos, assim como estamos e
somos suscetíveis a tudo que pode chegar ao corpo. A pele, os olhos, os ouvidos, o olfato, a
boca e o movimento estão interligados e processam juntos qualquer informação que se
conecta conosco. Do mesmo modo, este mesmo processamento não exclui o fato de que
estamos mergulhados, submersos, misturados ao mundo, ao universo e que isto interfere na
forma como o absorvemos, registramos e o compreendemos. A partir destes estudos, a
elaboração do projeto “O Ritmo do Ator e da Atriz na Cena Teatral” são permeados pelos
estudos da percepção, amparados pelos estudos teóricos sobre percepção nas concepções de
Rudolf Steiner, Alain Berthoz e Michel Serres, juntamente com os estudos rítmicos. Como
todos os participantes são iniciantes no universo da pesquisa, para fazer uma introdução ao
universo teórico destes autores e discutir pesquisa e, principalmente, metodologias de
pesquisa em artes (conceitos e métodos), foi feita uma parceria com o Prof. Dr. Carlos Tolovi,
pesquisador na área de filosofia da URCA, para iniciar um debate sobre a Fenomenologia,
passando pelos estudos de Husserl e Merleau Ponty, tema das leituras atuais dos encontros
teóricos do grupo. Paralelamente aos estudos teóricos, nos encontros práticos são
experimentados exercícios de percepção e sensibilização como uma prática corporal cênica,
que pretende se transformar em exercícios, composições cênicas e espetáculos teatrais. Os
exercícios práticos objetivam desenvolver a atenção dos participantes para assimilar, perceber,
deglutir, ruminar e dialogar ritmicamente entre si e com os elementos da cena. Para isto, faz-
se exercícios que procuram sensibilizar os atores aos fenômenos corporais (respiração, piscar
dos olhos, batimentos cardíacos, circulação, salivação); aos fenômenos externos (qualquer
som, ruído, vento, areia, cheiro, gosto, qualquer evento externo ao participante que possa ser
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captado por ele); exercícios que exploram músicas, instrumentos percussivos, os ambientes
externos como parques, rua, o trajeto cotidiano de cada ator, texturas de tecidos, papéis, etc. A
partir da percepção, do detalhamento de cada um destes elementos, o objetivo é fazer o
praticante perceber que está rodeado de ritmos e, portanto, de infinitas possibilidades e
materiais não só de percepção e aprendizagem, mas de diálogos e consequentemente,
composições. A composição rítmica pode surgir do detalhamento, assimilação do processo de
contaminação dos participantes com estes ritmos e do diálogo entre eles. Assim, o objetivo é
sensibilizar o artista para que perceba este universo e micros sistemas rítmicos ao seu redor
objetivando proporcionar-lhe a ampliação da sua potencialidade expressiva, já que estamos
mergulhados, ficcionalmente ou não, nestes eventos táteis, sonoros e cheirosos e a proposta é
que a composição surja deste estágio de percepção e contaminação. Por isso, a importância
dos estudos de percepção. Devido ao pouco tempo do grupo de pesquisa “O Ritmo do Ator e
da Atriz na Cena Teatral” não tem nenhum resultado para mostrar, a não ser contribuir para a
alimentar e promover a discussão sobre o ritmo na cena teatral e sobre os estudos de
percepção para o trabalho de atuação. Assim como pretende encontrar parceiros e pesquisas
que possam dialogar com este trabalho.
Referências bibliográficas
SERRES, Michel. Os Cincos Sentidos: filosofia dos corpos misturados 1. Trad. Eloá
Jacobina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
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Palavras-Chave
arte pública contemporânea, dramaturgia performativa, esfera pública, processos de criação
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desta pesquisa: Em que medida as práticas dos artistas pesquisados geram condições de
reestabelecer a dimensão de esfera pública nas sociedades nas quais se fazem presente? Como
a prática de uma dramaturgia performativa pode propor procedimentos e imagens poéticas
capazes de gerar visibilidade aos conflitos e contradições presentes na esfera pública,
proporcionando uma experiência tanto aos artistas envolvidos na obra em questão quanto ao
público? Quais passam a ser, então, as competências necessárias para a realização de uma
dramaturgia performativa potente? Entendendo dramaturgia enquanto articuladora de
processos, discursos, imagens poéticas, sentidos e sensações e não somente como produtora
de uma materialidade textual, o conceito de “dramaturgo performer” pretendido não se limita
a um manual de dramaturgia performativa, mas, antes, se apresenta como uma proposta de
modos de habitar este campo. A busca é por compreender os mecanismos de uma forma de
atuação artística que seja capaz de criar a dimensão de esfera pública, não como arte
relacional, mas como instauradora de fluxos perceptivos – ou, em outras palavras, da
multiestabilidade perceptiva proposta por Fischer Lichte (2008) em The Transformative
Power of Performance - que se estabeleça em um lugar liminar, instável, capaz de acessar
artistas e espectadores tanto pela via sensorial quanto pela dimensão interpretativa, através da
criação de imagens poéticas capazes de dar visibilidade a conflitos e contradições. Para tanto,
prevê-se a realização de práticas dramatúrgicas que compreendam processo de criação de obra
teatral junto ao Núcleo Tumulto! de Investigação Cênica (coletivo no qual a pesquisadora atua
como dramaturga desde 2013), além de práticas acadêmicas como a realização de evento
envolvendo artistas e pesquisadores das artes cênicas performativas e das artes visuais
públicas contemporâneas. A abordagem se dá de forma fenomenológica, considerando o que
Gaston Bachelard (2009) propõe como fenomenologia da imagem poética. São traçadas ainda
interlocuções com o linguista Roman Jakobson (1995) - a partir da definição de função
poética da linguagem - e com o filósofo Jacques Rancière (2005) - ao abordar a “partilha do
sensível”. Ainda em sua etapa inicial, o momento da pesquisa atém-se à revisão bibliográfica
e coleta e análise de materiais dos artistas selecionados como estudo de caso, além do exame
atencioso dos textos dos interlocutores teóricos a fim de ter uma perspectiva mais sólida das
noções a partir das quais se pretende analisar as obras e construir as práticas que compõem o
eixo experimental da pesquisa. Com base nas primeiras aproximações aos estudos de casos -
diante da perspectiva do caminhar como prática estética realizada tanto por Francis Alÿs
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quanto por Banksy em seus processos criativos - traçam-se os primeiros paralelos entre
criação visual e dramatúrgica, considerando a elaboração de imagens poéticas como elemento
de interseção entre ambas as práticas. A partir destas primeiras elaborações é possível traçar
caminhos para este estreitamento de diálogo entre Artes Cênicas Performativas e Artes
Visuais Públicas Contemporâneas diante da emergência de um retorno à esfera pública que os
tempos atuais parecem clamar, com suas inúmeras rearticulações coletivas em torno de
práticas artísticas e sociais em todo o mundo.
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2007.
FRADE, Isabela. Cartografia Criativa no Desafio dos Limites da Esfera Pública. In:
Revista Poiésis, Niterói, n.19, pp. 87-106, julho de 2012.
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Palavras-Chave
Artaud, teatro ritual, xamanismo
Esta investigação se estrutura a partir das matrizes: ator, xamã, espetáculo e ritual.
Essas quatro palavras nos servirão de base para a pesquisa e a escrita dissertativa acadêmica
sobre o tema proposto, bem como a realização de uma experimento artístico que envolva
ritual e teatro. Propõe-se analisar como o interprete e sua relação com os signos teatrais se
organizam e se estruturam no processo de construção do espetáculo-ritual. Pretende-se
observar o funcionamento do código teatral como um catalisador que envolve diversos
sistemas de signos na construção da obra cênica e dos signos apropriados dos cerimoniais e
seus sistemas simbólicos. Neste projeto serão observados os elementos rituais adotados pelo
ator enquanto artista-xamã durante a execução do espetáculo-ritual de forma organizada,
percebendo a relação das partes com o todo e os níveis de aproximação/distanciamento de
cada elemento identificado. Objetivamente, se propõe elaborar um experimento artístico com
aspectos de um ritual, com a finalidade de servir de objeto de análise para a dissertação
teórica sobre o tema. Desde o mês de novembro de 2016, este aluno-pesquisador e os atores
da Associação de Atores Dupla Face de Teatro iniciaram um processo de criação e pesquisa
deste espetáculo-ritual. A experimentação criativa que recebe o nome de “Y”, letra que
imageticamente simboliza um caminho bifurcado. Para o desenvolvimento dramatúrgico se
escolheu um bosque particular como espaço/cenário/palco. Este ambiente se configura como
uma espécie de templo sagrado como sonhava Artaud (1985) Em Paris em 1931 houve uma
extensa temporada de apresentações do teatro de Bali, que por sua vez teria encantado um
grupo imenso de pensadores que idealizavam a volta as bases do teatro como cerimônia e
ritual, entre eles, estava o ator Antonin Artaud. O pensamento destes artistas se afina com o
moderno pensamento antropológico, representado por Mircea Eliade (2013) e Lévi-Strauss
(2004), que valorizaram a contemplação das práticas culturais da ação ritual. Os elementos da
expressão teatral podem ser analisados em observação aos rituais antigos. BERTHOLD
(2008) aponta a pré-história, a historia da religião, a etnologia e o folclore oferecem material
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abundante sobre danças rituais e manifestações populares de caráter religioso das mais
diversas forma que carregam a semente do teatro. FORTUNA (2000) defende que o teatro
antes de tudo é um ritual mágico, ligado às forças psicológicas espirituais, baseado em uma
religião, crenças efetivas, e cuja eficácia se traduz por gestos. Verificamos nos apontamentos
de MOUSSINAC (1957) que o teatro ocidental, assim como o oriental surgiu do culto aos
deuses da natureza, da fertilidade, aos ritos de iniciação – nessas manifestações religiosas
podia-se realizar uma série de ritos: Meditação, drogas alucinógenas, dança, música, evocação
a espíritos da natureza, bem como a produção de ruídos ensurdecedores. Este mesmo
pensamento pode ser encontrado nos estudos de etnocenologia de LOMMEL ( 1970) segundo
ele, além do transe, o xamã irá se utilizar dom mais variados fins de representação artística
para curar o doente; o xamã é frequentemente muito mais um artista e deve ter sido mais em
tempo ancestrais. Com base nessa ideia podemos enxergar nos xamãs do ritual primitivo a
semente do ator teatral. Lévi-Straus (2004) na abordagem sociológica sobre o feiticeiro e sua
magia, irá descrever alguns casos em que o xamã recorre a práticas próximas a representação,
prestidigitação e pantomima como um recurso de cura ao doente. Os estudos de Lévi-Straus
(2004) sobre o feiticeiro e sua magia nos possibilitam comparar os procedimentos do xamã
com os procedimentos de interpretação do ator. Desta forma é possível traçar uma linearidade
entre o trabalho do “ator primitivo”, e o xamã Entre os defensores do teatro-ritual se destaca o
ator francês Antonin Artaud, que abandonou as práticas do teatro em voga na Europa dos anos
de 1930 e se dedicou ao tema do ritual, das transmutações, das práticas xamânicas, do corpo
sacralizado e das relações com o teatro não falado. Para Antonin Artaud o teatro ocidental
deveria passar por uma reformulação que priorizasse a ideia de que o teatro deve ser “antes de
tudo ritual e mágico. Os procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa estão
centrados nas ações paralelas de leituras cientificas e experimentação artística dos atores no
espetáculo “Y”. servem-se de base as leituras e discussões de textos referentes às
contribuições trazidas pelas Ciências Sociais para o teatro. Para isto, pretende-se tomar como
referência as obras de LÉVI-STRAUSS (2004), ELIADE (2013), OTTO (2007). Paralela a
estas leituras, serão elaborados fichamentos, resenhas, seminários e painéis relacionados à
temática da pesquisa, relacionando se com as leituras e discussões em torno do Teatro-Ritual
enquanto sistema simbólico e imaginário:PAVIS (2005), AMARAL (1996), ARTAUD (1985),
MOUSSINAC (1957), FORTUNA (2000), BROOK (1970; 2014). Posteriormente a esta fase
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da pesquisa, almeja-se partir para a análise dos elementos cênicos experimentados pelos
atores no espetáculo “Y” para isto, será utilizada uma série gravação em vídeo de todo o
processo de construção cênica, bem como o estudo minucioso dos ritos que compõem o
espetáculo-ritual. Será adotado no estudo do roteiro de ações (roteiro teatral) inserção de ritos
convencionados para este ator-xamã como uma forma de acesso ao ato teatral. Durante a
experimentação e encenação com os atores convidados, irá se verificar se os elementos do
ritual conseguem imergir nas ações criativas dos participantes. Depois de estudar os diversos
sistemas simbólicos e imaginários que constituem o experimento cênico-ritual, a análise
pretende se voltar para o papel do Ator-Xamã como um todo, encontrando no sistema as
relações e as marcas que permitem pensar no Espetáculo-Ritual como um ato de sacralidade.
Referências bibliográficas
AMARAL, Ana Maria. O Teatro de Formas Animadas -3.ed. São Paulo: EDUSP, 1996
ARTAUD. Antonin. O Teatro e seu Duplo, São Paulo: Max Limonad, 1985
MOUSSINAC. Léon. História do Teatro: das Origens aos Nossos Dias. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1957
PAVIS, Patrice. A análise dos espetáculos: teatro, mímica, dança, dança-teatro, cinema.
Trad. Sérgio Sávia Coelho. São Paulo: Perspectiva, 2005.
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Palavras-Chave
composição coreográfica, pesquisa artística, processos de criação
Como artistas, percebemos que o trabalho não pode ser quantificado, não há um
caminho lógico, nem mesmo uma maneira de colocar o rendimento em forma de gráfico.
Assim, escolhemos escrever um texto concomitante ao processo de criação artística,
entendendo que as diferentes materialidades se retroalimentam. Neste processo, o disparador
é a numerificação, tendo a improvisação como estratégia criativa. Por compreendermos que a
complexidade do mundo é que possibilita a criação artística e a produção de novos
conhecimentos, não concordamos com a visão de Santos (2010), quando evidencia a invalidez
das pesquisas que não são quantitativas. Ao contrário, o que foi encontrado no processo de
criação em dança, mostra um contraponto: ao levarmos em consideração a questão de autoria
para a inovação e o ineditismo científico, o número, por si só, jamais poderia ser um dado
válido. O caminho para se chegar ao número sim, valida o novo conhecimento. A criação
tende ao infinito. Em função destas e de outras muitas inquietações sobre a relação prática-
teoria-prática e pesquisa quantitativa e qualitativa é que arriscamos jogar com a numerificação
de dados. Por isso, é preciso ressaltar que os números aqui expostos não são 100%
verdadeiros. A intenção, tanto no texto, como na dança, é potencializar o jogo e a imaginação,
tanto d% artista e d% escritor%, quanto d% espectador% e d% leitor%. Ainda, cabe relatar
que cerca de 72,38% do experimento artístico aconteceu durante o 1° Semestre de 2017 em
Pelotas (RS), enquanto o restante aconteceu em vivências pregressas. Um território que
começa a ser cultivado para culminar, enfim, na criação, na coreografia propriamente dita, no
corpo em movimento no espaço, na sala de ensaio e no não-saber, no ficar perdido
caminhando pela sala e falando números, porcentagens e frases rememoradas das experiências
já vivenciadas. Sentimos dificuldade de estabelecer um caminho metodológico com início,
meio e fim, indo ao encontro do que Zamboni (2012) coloca sobre o processo de trabalho na
pesquisa em arte, afirmando que este não é linear, mas cheio de idas e vindas. Então,
experimentamos a criação por um tempo, até chegar à materialização. Aos poucos, iniciamos
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esse desafio corporal e escrito em meio a números, que vieram e continuam a chegar como
ondas que impulsionam novos movimentos e pensamentos. Um balanço que indica estratégias
de criação conhecidas e desconhecidas, acessando memórias e instigando inusitadas
possibilidades de composição coreográfica. A coreografia e o texto assumiram o acaso e a
efemeridade como características principais, tornando-se a metodologia base para o trabalho.
Assim, a umidade do ar, por exemplo, influenciou em 70% no momento da criação, uma vez
que o trabalho foi realizado em Pelotas . Todavia, outros elementos também foram
importantes nesse processo, como: 13% voz do google ; 29% objetos que estavam no local;
37% trilhas sonoras utilizadas no aquecimento e na cena; 40% experiências anteriores; 76%
do acaso . Na perspectiva escolhida para realizar esta pesquisa, era necessário que a prática
artística disparasse teorizações, o que acreditamos ter 60% de chance de dar certo, em termos
metodológicos. Concordamos com Abib (2016), ao mencionar que no processo de compor há
um posicionamento inerente ao artista, ou seja, a composição passa e movimenta tudo o que
há e tudo aquilo que constitui o criador. Ainda, consideramos o trabalho de improvisação
como uma Composição em Tempo Real (FIADEIRO e CASPÃO, 2016) e entendemos essa
experiência como um conhecimento que acontece na própria experiência do fazer, sendo
menos um modo de conhecimento e mais um conhecimento de um modo (XAVIER e
MEYER, 2016). Aos poucos, o trabalho que tinha como objetivo realizar uma improvisação
sem o compromisso de assumir partituras corporais que pudessem ser repetidas em algum
momento futuro, passou a demonstrar a necessidade de acordar previamente alguns aspectos.
Entre eles, podemos citar a elaboração de uma trilha sonora, a trajetória espacial que cada
bailarin% desenharia em cena, a necessidade de pontos específicos na iluminação e a busca
por um figurino que tivesse coerência com a proposta investida. Por fim, assumimos que a
abertura do processo não diz respeito apenas a uma criação improvisacional, mas também foi
instigada pela realidade do nosso cotidiano. Existem lacunas que não podem ser preenchidas
e/ou finalizadas neste trabalho artístico tais como: a incompatibilidade de agendas e a busca
contínua por salas de ensaio na Universidade; a discussão teórica e a definição do que é
pesquisa em arte; a explanação ininterrupta de o porquê fazer arte no ambiente acadêmico;
entre tantos outros aspectos que podem se configurar como uma abertura ao novo. Em
momento algum, com o trabalho, menosprezamos as pesquisas quantitativas, pois entendemos
a relevância e a necessidade de cada tipo de pesquisa em sua respectiva área de conhecimento.
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Porém, pensamos que o papel d%s artistas é o de propor novas formas de conhecer e perceber
o mundo, que se afastam da mera quantificação científica.
Referências bibliográficas
ABIB, Marina. O ato de inventar-se. In: XAVIER, Jussara et al. (org.). Tubo de Ensaio:
composição [Interseções + Intervenções]. Florianópolis: Instituto Meyer Filho, 2016. p.
241-248.
FIADEIRO, João; CASPÃO, Paula. O fim dos princípios. In: XAVIER, Jussara et al. (org.).
Tubo de Ensaio: composição [Interseções + Intervenções]. Florianópolis: Instituto Meyer
Filho, 2016. p. 195-209.
LOBO, Lenora; NAVAS, Cássia. Arte da composição: Teatro do Movimento. Brasília: LGE
Editora, 2008.
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em arte: um paralelo entre arte e ciência. 4 ed. Campinas,
SP: Autores Associados, 2012.
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Palavras-Chave
Interdisciplinaridade, Teatralidade, Cia. Nova Dança 4
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compuseram alguns dos territórios percorridos por essas obras e suas duas diretoras, em que
suas posturas éticas e críticas diante das questões do mundo encontraram vias de manifestação
e se objetivaram sensivelmente. Alguns dos conceitos que possivelmente atravessaram os
trabalhos dessa companhia surge através da noção de Teatralidade, trazida nessa pesquisa pela
perspectiva da pesquisadora Sílvia Geraldi (2012). Esse conceito, pensado e desenvolvido
para o campo da dança, traz em suas semânticas as respectivas relações com os discursos
críticos e narrativos emergidos nesse fazer, assim sendo, a dança não seria mais pautada pela
sua relação com a forma ou com o bailarino/virtuosismo, mas passaria a ser tornar propositora
de outros meios de sentido pautados na relação com o mundo. Neste tipo de experiências
cênicas, o corpo expressa predominantemente estados, intensidades, fluxos energéticos,
pulsões, presenças, sensações, afastando-se da mera representação mimética da realidade
(GERALDI, 2012). No iniciar do grupo, ainda em meados da década de 1990, Cristiane Paoli
Quito relata algumas questões e prerrogativas acerca da aceitação e da compreensão dos
processos improvisacionais na dança e dos atravessamentos desse campo com o teatro,
estabelecidos sob esse período. Nesse contexto a movimentação das estruturas enrijecidas e as
ressignificações do papel dado ao coreógrafo/diretor diante de um determinado grupo passam
a ser um pouco mais reavaliadas pelo universo da dança. Volta-se para o corpo enquanto
dispositivo vivo e autônomo de enunciação; seu autoconhecimento, suas percepções, suas
capacidades criativas e cognitivas passam a ter uma alta relevância dentro das elaborações
coletivas: “é uma fase em noventa e poucos, em que o intérprete da dança está começando a
tomar uma certa autonomia, pelo menos em São Paulo. A figura do coreógrafo começa a ser
mais questionada” (QUITO, 2015, p.110). Fernando Villar (2005) inflama essas concepções
sobra a Cia. Nova Dança 4, destacando o caráter ético e também político de suas proposições,
tendo no jogo que compõe as estruturas da cena uma atitude que vai além dos limites
estabelecidos entre as linguagens artísticas. É político e anárquico ao repassar direitos e
deveres iguais para uma criação, questionando as hierarquias fixas. No querer de Lemos e
Quito, este terreno artístico expandido inclui os corpos, almas, estéticas e éticas dos jogadores
e jogadoras atuantes, em contínua, total e ininterrupta improvisação (VILLAR, 2005). Suas
duas diretoras, sendo pessoas incontestavelmente importantes no que diz respeito a
determinadas práticas - Lemos como uma grande conhecedora da improvisação e contato
improvisação, Quito em sua forte referência com o palhaço e a commedia dell’arte -
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Referências bibliográficas
QUITO, Cristiane Paoli. Depoimento concedido a Hariane Georg. Anexo II, São Paulo, 19
jun., 2015; 11 mai., 2016. In: GEORG, Hariane. Entre Bombas e Palavras: a resistência nas
poéticas da Cia. Nova Dança 4. 2017. 124 p. Dissertação (Mestrado em Artes da Cena) –
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2017.
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Palavras-Chave
circo social, arte, professores de circo
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projetos sociais com Circo, com recorte no projeto Fábricas de cultura, olhando para a
produção ética e estética produzida como construção de discurso e produção de sentido. Os
resultados esperados desta pesquisa são de criar um pequeno panorama da formação de
pensamento sobre Circo no Brasil a partir da formação no Circo Social, que de acordo com
extensa bibliografia, formaram a base do Circo no Brasil.
Referências bibliográficas
PERIM, J. Circo Social brasileiro: da ação social educativa à produção estética. In:
ROCHA, G. O Circo no Brasil – Estado da Arte. BIB, São Paulo, n. 70, 2o sem. 2010.
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Palavras-Chave
encenação, teatro brasileiro, teatro musical
Esta pesquisa visa ao estudo do teatro musical brasileiro político dos anos 1970
através da análise da primeira encenação de Calabar (escrita em 1973 por Chico Buarque e
Ruy Guerra). A montagem foi dirigida por Fernando Peixoto no mesmo ano, e censurada às
vésperas da estreia. O estudo se dedica ao exame detalhado das relações entre forma cênica,
condições produtivas e contexto histórico. O centro do trabalho está na análise da montagem,
de suas formações estéticas, num esforço de reconstituição de suas possibilidades artísticas,
tendo em vista a perspectiva da formação relativa de um projeto de teatro musical crítico.
Esse exame terá que partir, entretanto, do estudo do contexto de trabalho e do momento da
produção cultural no país. O objetivo da pesquisa é reavaliar essa encenação não finalizada
com vistas a compreender um momento específico do trabalho teatral mais crítico do país,
quando politização, interesses profissionais, pesquisa estética, diálogo com outros setores
artísticos se reuniam em torno do projeto de um teatro musical politizado brasileiro. Calabar:
o Elogio da Traição, revê o episódio histórico em que Domingos Fernandes Calabar se aliou
aos holandeses durante a Insurreição Pernambucana. Ao invés de reiterar a versão oficial que
o acusa de traição à pátria, a peça discute o que significa trair o colonizador. Mais do que
debater o fato histórico, o espetáculo construía uma crítica ao Regime Militar e suas
construções simbólicas – por exemplo, o slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o” veiculado pelo
governo Médici. O processo de censura de Calabar foi iniciado em abril de 1973, e a
dramaturgia a princípio foi liberada pela censura federal. Os autores convidaram Fernando
Peixoto para dirigir a peça, e Fernando Torres e Fernanda Montenegro assumiram a produção.
Porém, “Quando os produtores solicitaram a censura do ensaio geral, com uma grande
produção já em andamento, teve início uma sequência de ações que fugiam aos padrões da
DCDP/DPF [Divisão de Censura de Diversões Públicas / Departamento de Polícia Federal] e
que culminaram no veto da peça, em janeiro do ano seguinte”. (HERMETO, Miriam. 2013).
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Dois dados são relevantes no processo de censura de Calabar: em primeiro lugar, o papel de
resistência exercido por Chico Buarque, que levou o caso à justiça e impetrou mandado de
segurança contra a decisão da DCDP/DPF. Essa ação, somada à expectativa frustrada dos
espectadores no aguardo da estreia, tornou o caso público e gerou debates na sociedade da
época. Em segundo lugar, é importante assinalar que o texto havia sido liberado, mas a
encenação foi vetada. É plausível a hipótese de que elementos da linguagem teatral
potencializaram a crítica apontada pela dramaturgia – pretendemos investigar quais eram
essas opções cênicas. Apesar de a peça ter sido impedida de estrear, possuímos algumas
informações sobre a encenação relevantes para este início de pesquisa. Calabar se propunha a
realizar um teatro musical político, revendo a tradição construída no Brasil dos anos 1960
(tradição que Fernando Peixoto ajudou a construir, ao integrar os grupos Arena e Oficina). Foi
um projeto de “superprodução” para os parâmetros da época – empregava mais de 80 pessoas,
e contava com Fernando Torres e Fernanda Montenegro na equipe de produção. A direção
musical era assinada por Dori Caymmi, que posteriormente realizou a direção musical de
Gota d’Água, também de Chico Buarque – espetáculo que oferece fontes documentais mais
detalhadas, pois permaneceu cinco anos em cartaz (de 1975 a 1980). A montagem também
contratou um coreógrafo, figura pouco frequente nos musicais políticos: Zdenek Hampl. Em
entrevista realizada por nós com vistas a esta pesquisa, Mário Masetti (diretor assistente da
primeira encenação de Calabar) descreveu a abordagem de Zdenek: O trabalho dele era quase
que de direção. Tinha muita música. (...) . E ele fazia coisas maravilhosas. Desde números de
dança comuns até… Como é que eu vou te falar? Movimentação de guerrilha no palco. Uns
caras pendurados. O cenário eram duas esteiras de porto. Sabe umas cordas que pegam os
contêiners? E eram essas cordas esticadas e as pessoas escalavam, pulavam de corda pra
corda, tinha uma movimentação ali . O depoimento de Mario Masetti revelou o dado de
coralidade presente na encenação, e a relação dos atores com a cenografia. Segundo ele, não
havia coxia, e o espetáculo era demarcado pela luz: “Os atores estavam praticamente o tempo
todo em cena, servindo à cena”. Diversas músicas eram interpretadas com o canto coral, o que
conferia um impacto cênico poderoso: um bom exemplo mencionado por Masetti é a canção
“Cala a Boca Barbara”. Dezenas de vozes mandavam Barbara se calar. Segundo Anselmo
Vasconcelos , ator do coro entrevistado por nós, haviam atores vestidos de soldados rondando
a cena durante essa canção. Ao sussurrar para Barbara se calar, o coro buscava protege-la da
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perseguição política que já condenara Calabar. Outro material importante para a pesquisa são
os escritos do diretor. A 13ª edição de Calabar conta com três textos de Peixoto, além de uma
entrevista. Em suas palavras, Calabar “(...) é um texto “mau comportado”. E por isso estimula
a elaboração de um espetáculo debochado, capaz de assumir a quase anárquica mas
organizada colagem e a justaposição de imagens e épocas”. (PEIXOTO. 1980). Calabar,
segundo o diretor, possuía traços cômicos com função crítica, e também aspectos grotescos. O
método de pesquisa aqui apresentado prevê: pesquisa de campo que reúna materiais
documentais tais como fotografias, diários de trabalho, registros e reflexões produzidos
durante o período de ensaios de Calabar; realização de entrevistas (até o momento foram
realizadas duas entrevistas – com o diretor assistente Mário Masetti e com o ator Anselmo
Vasconcelos); mapeamento histórico-crítico do teatro musical político no Brasil (visando
contextualizar Calabar em seu momento histórico, e considerando as experiências anteriores
de grupos como o Teatro de Arena, o Oficina e o Opinião). Este trabalho embasará uma
análise da encenação de Calabar como caso exemplar do teatro musical político no período
mais severo do Regime Militar. Tem-se como objetivo compreender de que maneira essa
encenação se inscreveu em propostas sistematizadas nos anos 1960, ao mesmo tempo que
lidou com um novo contexto produtivo (com mudanças no mercado teatral) e político
(especialmente na relação com os órgãos de censura do Estado).
Referências bibliográficas
MASETTI, Mario. Entrevista sobre Calabar. São Paulo, 29/11/2016. Entrevista a Nina
Hotimsky.
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Palavras-Chave
Corpo, Jacques Lecoq, Licenciatura em Dança, Fazendo Gênero, Máscara Neutra, Análise
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projeto que permitiu dois percursos de análise: a observação do uso da Máscara Neutra que
possibilita ao ator perceber e dissolver os resquícios de gestos e ações pessoais que interferem
na sua atuação, desenvolvendo um estado corporal para o jogo/cena, o qual pode ser definido
como estado de neutralidade (pesquisa com enfoque da graduanda em Direção Teatral); e a
apreciação do percurso criativo corporal dos adolescentes, com base na análise e registro das
mudanças que se apresentam nos seus corpos a partir dos exercícios com a Máscara Neutra e
a cada território geodramático (meu foco de observação e estudo). Os dois percursos tem em
vista refletir sobre as relações entre escola, arte e corpo, articulando ações e práticas de
criação cênica que contribuem para afirmação e formação do corpo na escola a partir da teoria
e dos conceitos teatrais abordados, ampliando a instrumentalização na formação do
profissional de teatro e um olhar pedagógico de grande valia para um graduando do Curso de
Licenciatura em Dança. O projeto me proporciona uma grande oportunidade de afirmar a
necessidade da educação, coscientização e expressão corporal com os adolescentes. Todo o
projeto é realizado sem ignorar as questões do ambiente de ensino ou as particularidades dos
alunos. As discussões com a Orientação são de grande valor para a construção do tipo de
docente que pretendo me tornar e mantém acesa a consciência da importância da profissão do
professor e do ensino das Artes em época de resistência. O Projeto Fazendo Gênero tem sido
uma grande fonte de pesquisa e desenvolvimento como bolsista oriundo de um curso de
Licenciatura: A primeira parte do protejo se caracteriza pelo trabalho com a Máscara Neutra e
as observações são fantásticas visto que quando os alunos experimentam esse dispositivo seus
corpos sofrem dilatações gritantes e se potencializam de tal forma que partes antes reprimidas
visivelmente ganham nítido desenvolvimento. Mas antes de se chegar à Máscara é feito todo
um trabalho de preparação com forte enfoque corporal, que se complementa ou encontra
maior território ao colocar a máscara, trabalho esse que abrange desde aquecimentos
específicos à exercícios que auxiliem em questões corporais particulares de alguns alunos e
que eu tenho o oportunidade de pensar e aplicar sob Orientação e acompanhamento do
docente em sala. Atualmente trabalhamos o Trágico como território geodramático e a
preparação corporal tende à fazer vir à tona um corpo mais vertical, do herói trágico e em
seguida um corpo que entenda o trabalho de coro. Os corpo não são mais os mesmo de antes
do trabalho com a Máscara Neutra e os alunos vez ou outra fazem colocações sobre o que já
foi vivenciado no início do processo fazendo relação com o trabalho atual, logo, percebe-se
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que o projeto faz todo um sentido para eles, mesmo que por vezes o grande número de
exercícios corporais praticados pelas turmas os deixem com vontade de fazer teatro com texto
por esta ser a grande concepção que caracteriza a maioria de uma geração influenciada. O
trabalho com o Trágico será concluído com uma montagem de pequenas cenas de tragédias na
quais duplas farão percursos de movimentações e trajetos diferentes na arena utilizando
ferramentas dos processos em aula: trabalho com bambú, cadeira, tecido, etc. Como bolsista
que enfoca o trabalho corporal no projeto, é nítida a progressão que se dá nos corpos das duas
turmas, cada uma a seu modo e com suas particularidades, e como licenciando em Dança, é
clara toda a potência que o trabalho corporal desenvolvido no Projeto faz reverberar na
atuação de alguns alunos no ambiente escolar, o que destaca mais uma vez a importância da
manutenção do ensino das Artes no Ensino Fundamental e Médio. Em breve abordaremos os
territórios geodramáticos: Melodrama e Cômico, continuando toda a pesquisa particular
necessária a cada um deles e alternando o nível dos exercícios corporais e preparação de
acordo com a evolução e progresso das turmas.
Referências bibliográficas
LECOQ, Jacques. O corpo poético: uma pedagogia da criação teatral / Jacques Lecoq;
com a colaboração de Jean-Gabriel Carasso e de Jean-Claude Lallias; tradução de Marcelo
Gomes. - São Paulo: Editora Senac São Paulo: Edições Sesc São Paulo SP, 2010.
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Palavras-Chave
diário de bordo, escrita, experiência
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como materiais para serem compartilhadas,estas brochuras trazem à tona um modo próprio e
particular de expressar o vivido e oimaginado por seus donos.Ao propor sua utilização nas
componentes curriculares que ministro, tenho aintenção de que os meandros do processo de
ensino-aprendizagem e criação individuaisnão se percam ao longo do tempo. Em uma viagem
em busca do conhecimento, entendoque, tanto docente, quanto discentes devem dar forma-
conteúdo, ou materialidade, aosrastros da memória das situações que vivenciam. E, ainda,
unir a estes, relatospensamentos, reflexões, devaneios...Para além de se estabelecerem como
índices de um percurso (único) de ensino-aprendizagem e criação e serem uma fonte para
pesquisas e/ou práticas pedagógicas –conforme os utilizei durante meu mestrado -, os diários
podem ser vistos ainda comouma espécie de criação de natureza diversa à do processo
documentado, como umcatalisador para as constantes (re)criações do sujeito, fazendo-o
refletir a partir de suas“experiências” (LARROSA, 2002), e, até mesmo, como instrumentos
de (auto)avaliação.Deste modo, “o saber da experiência” (LARROSA, 2002) é o conteúdo
centraldos diários de bordo, que, por meio das linguagens verbal e/ou não-verbal, revelam
edesvelam seu autor. Sendo este o discente ou o docente, seus registros podem ir, aolongo de
sua elaboração, deixando transparecer que junto ao fio da meada (assunto,tema) que
compõem os diários, questões relacionadas à essência do próprio autor sãoenunciadas,
demonstrando seu envolvimento com o foco de estudo e atribuindo a simesmo a característica
de ser um importante referencial para o material em questão. Quando na elaboração dos
diários o discurso verbal se torna o meio pelo qual oautor realiza seus registros, alguns
apontamentos podem ser feitos acerca da escritaacadêmica. Nos diários de bordo, ela encontra
uma possibilidade de se fazer mais fluida,como também romper com algumas das políticas de
linguagem que ainda perduram nas universidades. E, seu autor passa a se comportar como um
ensaísta, aquele que descobretudo à medida que anda, vivencia e/ou escreve. (LARROSA,
2003). Compreendo que escrever é um exercício, assim como, aperfeiçoar a escrita eexplorar
o estilo da mesma devem ser uma busca constante, pelo menos, do artistainserido no universo
do ensino superior. Por isso, parece-me que os diários de bordopodem ser um recurso útil
nesta empreitada, uma vez que possibilitam a exploração dacriatividade do artista, não
sistematizando obrigatoriamente suas reflexões em umpadrão de normas pré-estabelecidas,
que muitas vezes se fazem presentes em certasmodalidades de trabalhos acadêmicos.Como a
pesquisa se dá em meu próprio fazer pedagógico, este trabalho se utilizada observação de
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trechos de diários de bordo elaborados por mim e por estudantes emalgumas disciplinas que
ministrei recentemente, numa tentativa de reconhecer a riquezade conteúdo (memorialístico)
presente nos diferentes diários. E, mais ainda. Numatentativa de compreender até que ponto
as escritas contidas nos diários de bordo podemevidenciar os diferentes saberes da experiência
de discentes e de um docente quevivenciaram uma mesma situação de ensino-aprendizagem e
criação no contextoeducacional das Artes (Cênicas).
Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
artes cênicas, campo, contra-hegemonia
A relação entre teatro e política no Brasil ficou muito marcada pela atuação de grupos
teatrais dos anos sessenta do século passado, em especial aqueles que marcaram posição
contrária e combativa com relação à ditadura militar. As contribuições de tais grupos para a
popularização dos temas e das formas teatrais, para o pensamento crítico nas artes cênicas,
para a nacionalização dos textos e para a expressão cultural de extratos sociais subalternos
repercutem ainda hoje em boa parte do que assistimos nos palcos do país. Nesta segunda
década do século XXI, em um contexto de instabilidade política, de ocupação das ruas por
grandes protestos, sempre reprimidos por força policial de truculência superior a eles,
momento de acirramento de binarismos e de afloramento de posições conservadoras e
reacionárias na sociedade, a cena teatral encontra-se ocupada, em inúmeros exemplos, pela
crítica do sistema político na sua totalidade ou ainda por reivindicações de variadas vertentes,
passando pela melhoria dos serviços públicos, justiça social e cumprimento dos direitos
humanos (civis, econômicos, culturais). Nesse contexto, alguns coletivos de teatro e de dança
são constituídos em sua maioria (quando não exclusivamente) por representantes diretos de
grupos sociais marginalizados, tais como indivíduos residentes nas periferias, negros,
homossexuais. São artistas que, na maior parte das vezes, assumem o desafio e as dificuldades
de fazer cumprir na prática o lema “arte para todos”, mas que também reivindicam, através de
suas obras, o direito à expressão cultural da identidade. Grupos como Teatro da Laje, Cia.
Marginal e Cia. Abraço da Paz, no Rio de Janeiro; Treme Terra, Coletivo Negro, Os Crespos,
Teatro de Narradores, Coletivo Legítima Defesa, em São Paulo; e Coletivo As Travestidas, no
Ceará, têm alcançado relativos reconhecimento e espaço nas artes cênicas brasileiras. Em que
medida, as experiências pessoais, as performances e a insistência desses artistas em
permanecer atuantes interferem no campo das artes? Considero que as artes cênicas no Brasil
constituem um campo nos termos da sociologia de Pierre Bourdieu pois estabelecem códigos
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bastante específicos no que tange à análise e ao juízo crítico de seus artefatos, códigos esses
que não são facilmente decifrados pelo público leigo. Esta linguagem específica denota
fronteiras simbólicas, que delimitam “seu território, seus agentes, seus troféus, seus
mecanismos de ingresso e de exclusão” (BARROS, 2003, p. 30). Entendo então por campo
das artes cênicas, o espaço social ocupado por agentes - dentre os quais aqueles enfocados
neste estudo – que possuem interesses comuns, mas que dispõem de diferentes capitais
econômico, cultural e social. Neste campo, os indivíduos dotados de maior capital contam
com maior número e variedade de recursos para conservar posições de liderança, acabando
por definir regras para a participação. Também o pensamento do italiano Antonio Gramsci é
uma referência por ser um dos mais destacados, no âmbito do materialismo histórico, a tratar
da relação entre a dominação política e econômica e as expressões culturais e intelectuais das
diferentes classes sociais. Para ele, a produção artística e cultural não-hegemônica traz
consigo “uma série de inovações, frequentemente criadoras e progressistas, determinadas
espontaneamente por formas e condições de vida em processo de desenvolvimento, e que
estão em contradição com a moral dos estratos dirigentes, ou são apenas diferentes
dela” (GRAMSCI, 2011, p. 151-2). Esta compreensão trazida por Gramsci permite entender
as classes populares para além da condição de submissas, mas como indivíduos que
encontram na ação hegemônica certa utilidade para suas necessidades e que conseguem
realizar práticas independentes e “não funcionais” para a reprodução do sistema. Assim, a
teoria gramsciana aponta para interações mais complexas, onde as posições sociais não se
encontram fixadas para sempre. Minha hipótese é que as trajetórias daqueles grupos trazem
contribuições importantes para a ética do trabalho coletivo, para a construção dramatúrgica,
para a estética da encenação e para o trabalho do ator, daí o estabelecimento de uma
metodologia de pesquisa que se concentra no acompanhamento e na análise de seus processos
de criação e de seus artefatos, mas também suas trajetórias sociais e familiares e sua relação
com instâncias hegemônicas deste campo social específico. Busca refletir sobre o impacto
desses coletivos nas “regras” do fazer artístico no país, nas noções estéticas em vigor,
registrando e produzindo visibilidade sobre seu trabalho.
Referências bibliográficas
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______. As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. Tradução: Maria Lúcia
Machado. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
______. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP,
1997.
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Palavras-Chave
experiência, produtor-criador, teatro de grupo
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Carreira e Oliveira (2003, p.95), atualmente o conceito teatro de grupo está diretamente ligado
a “manifestações teatrais que se definem pelo uso do treinamento do ator, pela busca da
estabilidade do elenco, por um projeto de longo prazo e pela organização de práticas
pedagógicas”. Perpassando por esse raciocínio, alguns grupos da capital maranhense possuem
essas características, além da preocupação formação de seus membros. A participação do
produtor como criador da obra, particularmente, tem interferido nas suas resultantes estéticas,
onde a partir de um longo processo de treinamento dos atores, bem como as discussões
teóricas e intercâmbios com grupos de outras localidades do Maranhão e do Brasil vai instituir
um novo fazer teatral na cidade. A pesquisa ora proposta advém de nossa experiência dentro
do Núcleo de Pesquisas Teatrais Rascunho grupo de teatro da cidade de São Luís, que
demonstra em seus processos, que o produto final apresentado no palco, é influenciado
também pela participação do produtor que está para além da organização estrutural e
financeira do coletivo, bem como em determinados momentos vai se modificando conforme a
participação efetiva ou não dos demais membros nos projetos. O produtor contribui para a
construção das obras deste coletivo participando de reuniões, ensaios e atividades que
influenciam na tomada de decisões para a criação artística, pois nesse caso o produtor faz
parte do coletivo. Como dito acima, os alguns grupos de teatro ou “Teatro de Grupo” na
cidade São Luís, optam por desenvolver perspectivas cênicas variadas, com propostas, quando
comparadas, que dialogam com certas vertentes teatrais. Ao levar em conta a pertinência das
circunstâncias apresentadas, nos questionamos: como a relação do produtor-criador influencia
na estética do grupo? Qual é o papel do produtor dentro do teatro de grupo? Na criação, quais
os níveis de relação estabelecidos entre os membros na composição de seus espetáculos?
Quais são as metodologias utilizadas nas produções dos trabalhos? Existe uma identidade
construída pelo grupo a escolher trilhar certos caminhos e não outros? É possível estabelecer
caminhos na resultante cênica do grupo que podem ser colocadas pela não unanimidade de
ideias dentro do grupo e como? A partir desses questionamentos e contextos, queremos com
esta proposição investigativa realizar um debate em torno do produtor-criador dentro do
Teatro de Grupo onde a comunidade artística e acadêmica do Maranhão e demais localidade
do Brasil, possam vislumbrar e aprofundar o fazer teatral ludovicense. Portanto, é com o
objetivo de analisar o papel do produto-criador no contexto do teatro de grupo em São Luís
que visamos ampliar a reflexão e observância dos desafios da produção teatral brasileira.
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
corpo, ensino, experimentação
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a de ter sempre múltiplas entradas. Uma série de conexões de sentidos realizados pelos
estudantes são tecidas e ressignificadas. Caracteriza a educação inserida no seu tempo, e que,
portanto, é capaz de tecer o conhecimento, capaz de produzir grandes transformações sociais,
políticas, econômicas e culturais. A cartografia é a metodologia acolhida pois está em sintonia
com as relações e o percurso da pesquisa, o acompanhamento de processos inventivos. Ela
encaminha ao contato entrelaçado com o processo, tecendo um corpo pesquisadora, que
também é aberto e que caminha junto à pesquisa. A cartografia traz o olhar que capta os
cruzamentos que surgem no processo, as afetações, proporciona o registro não como simples
seleção de informações, traz o registro como criação. “A política da escrita deve incluir as
contradições, os conflitos, os enigmas e os problemas que restam em aberto. ” (PASSOS;
KASTRUP; ESCÓSSIA, 2015). A composição traz as vozes da pesquisa para o texto, nos
apresenta diferentes texturas em uma criação/escrita potente, viva, que respira e que está
realmente nos entres, nas idas e vindas da pesquisa, carregada de afetos e afetações presentes
e tecidas no processo. Ainda no processo inicial de pesquisa Corpos dançantes entre poéticas
e políticas: uma experimentação já é perceptível o intercâmbio permanente do corpo, dos
afetos, dos acasos, das dúvidas deslizando para uma organização complexa do corpo
interligado com o meio. O corpo que é este lugar do encontro, onde são acionadas outras
formas de agir frente às experimentações.
Referências bibliográficas
KASPER, Kátia M. Dos corpos sentados aos gestos em fuga: estatutos dos corpos em
processos de formação. Revista da Faculdade de Educação. Ano IX n.15, Jan/Jun., 2011.
PASSOS, Eduardo; KASTRUP, Virgínia; ESCÓSSIA, Liliana da. (org.). Pistas do método da
cartografia: Pesquisa- intervenção e produção de subjetividade. Porto Alegre: Sulina,
2015.
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Palavras-Chave
Análise do movimento, pesquisa, poética
Este artigo visa refletir os processos dos alunos Gabriel Ângelo de Luna Silva e
Ranielle Ferreira Lessa no Grupo de Pesquisa Ritmo do Ator/Atriz na Cena Teatral, com
orientação da Prof. Dr. Andreia Paris. Ambos os processos surgiram na disciplina Processo de
Encenação I, disciplina do sexto semestre do curso de Licenciatura em Teatro, sob a
orientação do Professor Me. Luiz Renato Moura, no primeiro semestre de 2017, também
ganhando espaço no Grupo de Pesquisa Ritmo do ator/atriz na Cena Teatral, espaço em que
nos permitiu o caráter de processo, continuidade e fluxo continuo, concomitantemente ao
Programa de Iniciação Científica - PIBIC/URCA na qual somos bolsistas. As pesquisas em
questão encontraram nestes três espaços possibilidades de estudos, discussões e
experimentações. Vale salientar que ambas as pesquisas fazem parte apenas de uma pequena
parcela do que é desenvolvido dentro do grupo, sendo assim, focaremos nos processos
individuais desenvolvidos por cada aluno e sua relação com o grupo de pesquisa. Cada um
dos integrantes pôde assim trazer suas pesquisas, ainda que em processo de amadurecimento
da questão, para dentro do grupo. Primeiramente como território de discussão, ampliando para
orientação e experimentação. Temporalmente os estudos iniciaram no primeiro semestre de
2017. Os trabalhos contém em si um resultado cênico, fruto das primeiras experimentações:
Ausência e Encaixotadas. Entendemos estes resultados cênicos como base primeira de uma
poética, que necessita também de expansão. Ausência traz em seu processo de criação dois
pontos significativos para discutirmos: a primeira, o movimento criado a partir do jogo com a
máscara expressiva; e a segunda, a análise deste movimento, dividindo-o em partes,
descobrindo os seus micro-movimentos. Neste período a vivência e orientação acerca da
análise do movimento foram fundamentais no processo criativo, explorando as articulações,
(PARIS, 2010), entendendo-a como primeiro ponto a ser trabalhado no estudo do movimento.
Após isso, a partir dos estudos dos textos de Lecoq, analisamos o processo inicial com as
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máscaras, na qual buscamos (LECOQ, 2010), tocar e senti-las, com intuito de estabelecer as
primeiras relações com os atores/atrizes, para que assim pudessem surgir os movimentos. A
partir também dos estudos de Meyerhold (CHAVES, 2001), passaremos a estudar cada
mínimo detalhe, explorando dinâmicas, procurando entender como esse movimento é
realizado, suas variações rítmicas e suas nuanças. Encaixotadas, parte do silêncio, o silêncio
não apenas entendido como ausência de voz, ou ruído, mas na perspectiva Cageana, que
estudou esta temática a maior parte da sua vida. Para John Cage som e silêncio não se opõem
se interpenetram, descobrindo desse modo que o silêncio não existe (HELLER, 2008). Nessa
perspectiva a cena Encaixotadas surge de questionamentos: Como criar a cena a partir do
silêncio? Como seria um corpo silencioso? Existe uma palavra silenciosa? Nos ensaios a
intensão era buscar as formas de silêncio, a caixa, um elemento presente na cena, era o meio
pelo qual provocava as atrizes para a criação e a busca desse silêncio que veio como forma de
solidão na cena apresentada. O silêncio ainda é uma busca, pois não existe apenas um tipo de
silêncio, existem vários e é nessa busca que a pesquisa se desenvolve. Diante das cenas
pensadas e construídas ao longo do primeiro semestre de 2017, percebemos pontos que se
entrecruzam das nossas pesquisas. Se pensarmos em silêncio e ausência juntos, percebe-se aí,
a primeira impressão de que são quase sinônimos. No entanto, o silêncio é pensado como a
presença invisível de algo, e a ausência como a falta de, e nessa perspectiva se opondo.
Contudo o ponto comum é que nossas cenas possuem uma composição rítmica, tornando as
cenas menos linear, embora esse também seja um ponto da pesquisa que ainda está em
processo. Vale destacar que na Universidade Regional do Cariri-URCA, e mais
especificamente no Centro de Artes Maria Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau, no curso de
Licenciatura em Teatro haviam poucos grupos de pesquisa relacionado a questão do trabalho
do ator e da atriz, e esses poucos grupos que tinham estavam parados, retornando e surgindo
novos grupos somente nesse primeiro semestre de 2017. Nesse viés é válido destacar a
importância que um Grupo de Pesquisa possui para a formação do estudante nas
Universidades. A pesquisa nos levam a refletir nossa prática enquanto artistas, professores e
pesquisadores. Encontramos então, o espaço do jogo, da experimentação poética, estas ainda
que em processo de maturação/gestação.
Referências bibliográficas
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HELLER, Alberto Andrés. John Cage e a poética do silêncio. Tese apresentada ao Curso de
Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.
LECOQ, Jacques.O corpo poético: uma pedagogia da criação teatral I. Jacques Lecoq;
com a colaboração de Jean -Gabriel Carasso e de Jean Claude Lallias; tradução de Marcelo
Gomes. - São Paulo: Editora Senac São Paulo: Edições SESC SP, 2010.
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Palavras-Chave
Conectividade, receptividade, espacialidade.
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ele e a obra, apenas contemplação e uma suposição de consenso; a contemplação ativa, que se
apresenta como uma experiência na qual o espectador é provocado a sair de seu local de
conforto e a buscar novas referências (seja dentro de si, seja no entorno cultural) para poder
acessar a obra; a contemplação emotiva, que se dá pela provocação ou evocação do artista à
participação do público, com um caráter muito mais de obediência do que de participação
propriamente dita, como acontece em shows de rock, em que o músico pede para a plateia
gritar e bater palmas; e, por fim, a contemplação experimental, que acontece quando a obra é
pensada de tal maneira que ela só se dá com ação direta do público e, sem essa participação, a
obra perde seu sentido – como se pode ver nos Parangolés de Hélio Oiticica, por exemplo.
Para além desses quatro tipos de participação, temos um outro tipo, que podemos chamar de
compositiva, proposta pelo artista português João Fiadeiro (FIADEIRO, 2012). Neste
contexto, o público é agente compositor da obra, e as relações não são estabelecidas a partir
de uma suposição de consenso entre os participantes, mas sim mediadas em suas relações de
dissenso. Como estudo de caso dessa relação, citamos a ação/acontecimento/espetáculo
“Soturnos e Latindo Alto” (2016), que teve como ponto de partida o desejo de fazer do espaço
urbano um campo de experimentação artística. O que foi compartilhado com o público
resultou da imersão do Grupo Os Profiçççionais, através de criação coletiva, com habitantes
de bairros “esquecidos” da cidade de Ribeirão Preto-SP. A ação, em uma zona periférica de
Ribeirão Preto, local rodeado de indústrias e de pessoas “invisíveis”, se propõe a fazer notar o
quanto estamos desertados do olhar do Estado, ou melhor, como fomos esquecidos por ELE.
Ainda assim, antes que a ação em si pudesse estrear, o “poder paralelo” da região negou
permissão para a execução do espetáculo, submetendo a equipe de produção a um processo
organizado, conhecido como “tribunal do júri” – sendo um dos motivos, mas não o único,
dentro de um longo e complexo raciocínio cabível a uma comunidade que precisa lutar com
seus próprios meios e suas próprias armas para sobreviver, o fato de o programa do espetáculo
conter a logomarca obrigatória do Estado de São Paulo (já que havia sido contemplado com o
apoio da Secretária de Estado da Cultura de São Paulo). Neste universo, o Estado é o inimigo,
e eles não só não queriam ter nada a ver com ele, como também não podiam confiar em quem
tivesse. Ao fim, o grupo decide seguir a orientação dos líderes da comunidade, mudando
algumas premissas do espetáculo, em nome da segurança de toda a equipe, mas também em
respeito a um espaço e a um universo que não lhes pertencia, e que não lhes cabia julgar. Este
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caso nos obriga a refletir que, como coloca SANTOS (2008), os espaços possuem história, e
se constituem de elementos fixos e fluídos que potencializam todo o processo do artista que se
disponibiliza a estar nos locais da cidade, permitindo-se desta forma ser influenciado e ainda
agregar ao seu corpo potencialidades que somente esta relação corpo-espaço propicia. Isso
também nos faz lembrar de BRITTO (2013), quando diz que a cidade é um campo de
processos em que o corpo está co-implicado, e a experiência urbana fica inscrita no corpo
daquele que experimenta. Um corpo – um artista – que atravessa e se permite ser atravessado
pelo lugar potencializa as descobertas de processos sensíveis e criativos em relação com
lugares específicos, gerando novas possibilidades de corporeidade, as quais não são acionadas
somente por meio das respostas automáticas do corpo cotidiano, mas pelos diálogos e criações
de resistências sociopolíticas, entre o artista e o lugar que ele se propõe ocupar.
Referências bibliográficas
BRITTO, F.D. A ideia de Corpografia Urbana como pista de análise. Redobra, Salvador,
EDUFBA, n.12, ano 4, 2013.
SANTOS, M. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4.ed. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2014.
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Palavras-Chave
corpo-cidade, intervenção urbana, performatividade cênica, poéticas híbridas
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deflagradoras da pesquisa, essa rede é agenciada pelo corpo na relação com espaço-tempo que
atravessa e pelo qual é atravessado. Isso diz respeito ao princípio do “corpomídia”: o corpo
como resultado de agenciamentos, negociações e mediações entre informações e referências
internas e externas, num ciclo de trocas com o que o cerca (GREINER, 2005). No contexto
dessas poéticas, surge, também, a demanda determinante de uma percepção, como sugere
Barja (2015), do espaço, de tudo que o atravessa e suas múltiplas enunciações. Logo,
considerando o suporte/cidade e o “interator” da ação artística, é preciso abordar o espaço
urbano em toda a sua complexidade, seu percurso histórico, sua lógica sócio-espacial, sua
geografia física e humana. Essas dimensões devem se articular com os elementos, os
conceitos e processos implicados no projeto artístico-cultural da outra dimensão que é
inerente aos processos provocadores dessa pesquisa, a intervenção urbana. Esse olhar
demanda considerar sujeitos, fluxos diversos, a arquitetura, as culturas e outros fenômenos
presentes nesse espaço. Com essas dimensões em vista, o corpo será abordado como potência
expressiva que transita e reformula estes espaços, embaraçando os limites entre linguagens/
expressões/manifestações na criação cênica. Configura-se, assim, como um território “entre”,
um território de trânsito quando em construção do estado cênico, e, por isso,
desterritorializado, ao mesmo tempo em que se encontra engajado e atento a si mesmo, ao
outro e ao meio. À luz dos princípios norteadores que vêm sendo elencados, essa investigação
fricciona elementos da pesquisa artística do Núcleo Fuga!, laboratório prático de pesquisa em
Artes Cênicas, vinculado ao LUME Teatro - UNICAMP, do qual a Prof. Dra Dora de Andrade
faz parte, e da poética da encenação Ruína de Anjos, da Outra Companhia de Teatro, de
Salvador-BA, da qual o Prof. Dr. Vinícius Lírio é criador, encenador e preparador de elenco.
Alguns princípios, dispositivos e/ou elementos dessas investigações e processos artísticos
encontram-se numa poéisis de desterritorializações, de transformação do cotidiano em poesia,
do belo no “banal”, numa busca de desconstrução do sentido unívoco, do reforço ao plural e
do ambíguo, dos deslocamentos de sentido(s) da cena. Os lugares de pesquisa, experiências e
experimentos poéticos dos pesquisadores dialogam em propostas nas quais a inscrição mútua
corpo-cidade se constrói na fragmentação, no paradoxo, na sobreposição de significados e
significações, nas múltiplas textualidades, na fricção entre real e ficção. Diante disso e do
reconhecimento dos lugares fronteiriços dos pesquisadores, também como artistas-criadores,
para essa pesquisa, vem sendo desenvolvidas sistematizações, análises, reflexões e
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Referências bibliográficas
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora
34. 2000.
FÉRAL, J. Além dos limites: teoria e prática do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2015.
GREINER, C. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. 2a ed. São Paulo: Annablume,
2005.
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Palavras-Chave
tragicidade, linguagem, filosofia
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trágico e cômico. A instauração do diálogo (logos partido) faz indagar sobre o que separa e
une singular e múltiplo. Coro e cena euripidianos vislumbram um mundo de harmonia, livre
de turbulências. Dão voz ao homem teórico (força crítica e desanimadora), em oposição ao
homem trágico, afirmativo e criador (NIETZSCHE, 1982). Esse ascetismo permitiu moldar
uma “moral de sacerdote” correlata à ressentida “moral de escravos”: apego ao passado que
impede viver o presente e vislumbrar futuros (NIETZSCHE, s.d.). A inépcia para a dor estirpa
a alegria e garante uma modernidade voltada para o cálculo, o conhecimento binarizado –
cabeça separada do corpo, rosto dividido em significância/subjetivação (DELEUZE &
GUATTARI, 1996) e sujeitado à dívida com Deus, inscrita no Livro (DELEUZE, 1997). Ética
e estética de catecismo dominam o Ocidente – falsa tragédia convertida em melodrama; o
corpo esquece-se das dores da (in)diferenciação e se torna-se histrionismo mimético
(NIETZSCHE, 1999). Ambições de “objetividade” tentam controlar o mundo produzindo
imagens de perfeição para apoiar o Estado soberano (SZANIECKI, 2007) e definir moral e
estética burguesas. Mas, Nietzsche (s.d) argumenta: em Kant, o entendimento sabe que seus
objetos são ininteligíveis. Em dobra, os opostos se tensionam, encontrando, na linguagem,
porções arcaicas. Um “excesso de sentido” transborda da paisagem e dos rostos. Entre
poderes e devires, desfazem-se dicotomias do tipo pai-filho (DELEUZE & GUATTARI,
1996). O coro agora é de bacantes: des-identidade que liberta a tragicidade. A ação clássica
tem suporte em duas retas coincidentes: princípio, meio, fim; causalidade e tempo
cronológico. Cadeias quebradas, afirmam-se sentidos opostos; o presente é indistinção de
passado e futuro (Aion). A “ação” tornou-se agir: verbo no infinitivo, cujos paradoxos são
potências de acontecimentos multidirecionais. Faltam “bom senso” (seta a indicar a “boa”
direção) e “senso comum”, que identifica o diferente sobre o pano de fundo do Mesmo
(DELEUZE, 1994). O corpo adota regime grotesco (proliferação de simulacros). A
personagem perde profundidade histórica e psicológica, assumindo espessura de simples
figura. Sem unidade de sentido, o espetáculo abriga trocas de posição atores-público, ainda
que no palco italiano “arborescente”. A reterritorialização na árvore – tronco dos paradigmas,
provedor de sentido para os ramos sintagmáticos – não retorna ao aristotelismo, porque se
mantêm potências de rostidade e paisageidade. Com Zé Celso, não há rostos, mas quase-
máscaras: corpos multidimensionais transmutando-se uns em outros. As páginas de Os sertões
são arrebatadas das unidades históricas. O rosto é uma política; desfazê-lo também é; as
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Referências bibliográficas
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad, 1985
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
DELEUZE, Gilles & GUATARI, Félix. Mil platôs. São Paulo: Ed. 34, 1996, v. 3.
GADELHA, Carmem. Corpo, espaço, tempo – indagações sobre poética do teatro. Rio:
Editora Aretê, 2013.
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______. O caso Wagner: um problema para músicos / Nietzsche contra Wagner: dossiê de
um psicólogo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
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Palavras-Chave
Grotesco, trágico, Woyzeck, Álbum C.
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Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2013.
BOZAL, Valeriano. “Dibujos Grotescos de Goya”. In: ANALES de historia del arte. Madri,
Volume Extraordinário, 2008. Pag. 407-426.
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REDONDO, Tércio Loureiro. A Corda e o Travessão. São Paulo: USP, 2006 (Tese).
SECA, Jorge. La caricatura goyesca en el Woyzeck de Büchner. Magazin, n. 21, 2013, pp.
28-33.
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Palavras-Chave
cage, ruído, silêncio
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próprio fluxo de acontecimentos da vida cotidianos. Para Cage o propósito da música sem
propósito seria conseguido se as pessoas aprendessem a ouvir. Quando elas ouvissem,
deveriam descobrir que preferiam os sons da vida cotidiana àqueles que hoje ouviriam nos
programas musicais (CAGE, 2013). A obra 4’33” não é, portanto, uma negação da música, e
sim uma afirmação da onipresença sonora (NYMAN, 1999), numa compreensão tal qual os
hindus, há muito tempo, sabiam que a Música transcorria permanentemente e que ouvir era
como olhar por uma janela para uma paisagem que não deixava de existir quando parávamos
de olhar (CAGE, 2013). Na utilização do ruído e do silêncio em produções artísticas,
observamos que o silêncio é um elemento empregado em contextos diversos, visando
diferentes intenções. Sua presença é percebida em contextos políticos, em situações
espirituais com intuito transcendental, além de ser utilizado em contextos onde adquire
significados estéticos e conceituais, entre muitos outros. Assim como o vazio, na arte o
silêncio se fez presente em momentos em que se almejou algo a mais fazendo algo a menos. A
crítica de arte Susan Sontag afirma que o silêncio nunca deixa de implicar seu oposto e
depender de sua presença (SONTAG, 1987), o que evidencia que o silêncio, seja qual for o
contexto, está sempre lidando com um outro elemento. Sontag afirma que assim como o
silêncio não existe, também não existe o espaço vazio, já que na medida em que o olho
humano está observando, sempre há algo a ser visto. Olhar para alguma coisa que está vazia
ainda é olhar, ainda é ver algo. Nesse sentido, o silêncio surge como uma metáfora, com a
busca de algo a mais, e aparece então como pré-condição para uma “visão asseada” Essa
utilização metafórica é característica tanto da obra 4’33” de John Cage, quanto da Caminhada
Silenciosa de Vivian Caccuri. O silêncio no sentido de uma ruptura, como a abertura de
espaço para o novo proporciona um estado meditativo preparatório para o amadurecimento, e
pode ser analisado como uma tomada de consciência do ser. Acerca do silenciar da fala,
Sontag aponta que apenas após um momento de silêncio vem a consciência da palavra
proferida. Sontag está falando da dupla tensão a que está submetido o artista, tanto a nível
interno onde se confronta com suas emoções que, se são, por um lado, de difícil expressão, o
são, por outro lado, “bombas de tempo”, isto é, têm que imperativamente “sair para fora”,
tomar forma. Do lado externo, o artista tem a cobrança do público e a dificuldade do diálogo
(muitas vezes criador e receptor não estão sintonizados na mesma frequência). Essa angústia
interna e essa ruptura no diálogo conduzem ao silêncio. O silêncio do artista tanto é
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representado pela não-produção quanto pela produção de obras que intencionalmente, ou não,
não comuniquem (COHEN, 2002). Como praticante do Zen Budismo, Cage aprendeu com o
Zen a prerrogativa de que se algo está desinteressante depois de dois minutos devemos tentar
por quatro minutos, se mesmo assim continua desinteressante então devemos tentar por oito,
dezesseis, trinta e dois minutos, e assim em diante. Eventualmente se descobrirá que aquilo
não é entediante, mas muito interessante. (CAGE, 1973). Esse ensinamento diz sobre nossa
percepção, uma vez que nossas impressões não são fixas, mas mutáveis, nossa percepção
sobre um mesmo evento pressupõe variações em decorrência do tempo, mesmo que esse
tempo seja de dois minutos. O tempo age, nesse sentido, enriquecendo nossa experiência.
Dessa forma, Cage abordava o tempo em suas proposições como a possibilidade de uma
expansão da percepção. A pesquisa foi apresentada anteriormente no SPA/USP com o enfoque
na experiência do Caminhada Silenciosa da artista Vivian Caccuri. Essa apresenta busca trazer
o tema central do trabalho acerca da utilização do silêncio e seus desdobramentos.
Referências bibliográficas
CAGE, John. De Segunda a um ano. Tradução de Rogério Duprat; revista por Augusto de
Campos. 2. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2013.
COHEN, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002.
NYMAN, Michael. Experimental music: Cage and beyond. New York: Cambridge Uni-
versity Press, 1999.
SONTAG, Susan. A Vontade Radical. Companhia das Letras, São Paulo, 1987.
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Palavras-Chave
história do teatro brasileiro, espectador teatral, pateada, polícia
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Artes Cênicas que vem delegando protagonismo à figura do espectador no interior das
discussões entre teatro e política no Brasil. De acordo com Flávio Desgranges, pesquisador
dedicado às relações entre teatro, educação e espectador, o modo de produção de coletivos
teatrais, nas últimas décadas, viria deixando de se restringir às montagens de espetáculos, e
redundando em algo que intitula espectador em processo. Parte dos artistas de teatro teria
passado, inclusive, a convidar o público para integrar processos criativos ou a atuar em
diversas outras frentes de trabalho, tais como oficinas, workshops, laboratórios de vivência
etc. De maneira análoga, políticas públicas vêm propondo a realização de monitorias,
mediações de espetáculos e oficinas de iniciação à linguagem para a população em geral.
Como exemplo dessa modalidade de ação, temos o extinto Programa de Formação de Público,
situado na cidade de São Paulo em 2001, que se encarregava de operar uma formação
gradativa da população na linguagem teatral. Pode-se observar aí uma firme articulação
discursiva entre teatro, educação e políticas governamentais, tendo como leitmotiv as relações
entre os artistas e os espectadores. Nesse cenário, como afirmam os manifestos do movimento
Arte Contra a Barbárie, organização de artistas responsável pela implantação da Lei de
Fomento ao Teatro, as práticas teatrais deveriam ser consideradas como um espaço social tão
fundamental quanto a educação, uma vez que se contraporiam à barbárie generalizada,
resultante do sistema capitalista. O teatro, portanto, deveria ser considerado pelo movimento
como responsável pela formação de cidadãos críticos. A partir dessa fina articulação entre
arte, educação, crítica social e cidadania, não parece gratuita a intensa circulação dos escritos
sobre arte e política de Jacques Rancière no país. A edição brasileira de seu livro O espectador
emancipado foi lançada em 2012 e vem sendo largamente comentada por pesquisadores de
diversos campos de pensamento das Artes Cênicas, como teatro-educação, pedagogia do
espectador e teatro e política. Em geral vinculadas à aplicabilidade dos conceitos elaborados
por Rancière com vistas a engendrar análises ou novas proposições artístico-pedagógicas, são
poucas as pesquisas, no entanto, que partem da problemática formulada pelo pensador franco-
argelino para interrogar o presente dos discursos artísticos e pedagógicos. Menos afeito à
prescrição ou ao aconselhamento de formas mais propícias de gestão artística, Rancière
afirma que, para que seja possível traçar alguma relação entre a ideia de emancipação
intelectual e a questão do espectador nos dias de hoje, seria preciso reconstituir a rede de
pressupostos que põem a questão do espectador no cerne da discussão sobre as relações entre
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arte e política. Mais além, seria necessário descrever toda uma racionalidade veridictiva sobre
a qual passamos a julgar as implicações políticas do espetáculo teatral, por meio da incidência
de tal prática no corpo dos espectadores. Assim sendo, a intenção da comunicação texto é a de
se vincular a uma problematização dessa natureza, reportando-se a uma atitude teórica
experimental, cuja tentativa trataria de organizar um estranhamento em relação aos próprios
discursos e regimes de veridicção que se desdobram no tempo presente. Trata-se, portanto, de
experimentar fazer o presente resfolegar e, de alguma forma, perder o passo, atrasar-se um
breve instante com o intuito de devolver algum pasmo em relação aos seus lugares comuns
discursivos. O recorte de pesquisa proposto para o seminário trata de apresentar a recorrência
das práticas escandalosas do teatro do século XIX e evidencia a prática da pateada,
desaparecida nos dias de hoje, a qual consistia num ruidoso bater dos pés a ser disparado a
qualquer momento da representação por parte dos espectadores insatisfeitos em relação ao
que viam e ouviam. A pateada é aqui exibida tanto em sua manifestação legitimada
socialmente quanto no período que concerne a sua contestação e coerção policial. Recorrendo
à análise da prática da pateada, objetiva-se apresentar um momento histórico em que o
comportamento e a subjetividade do espectador começariam a ser regulados em direções
diversas e um novo tipo de endereçamento público-cena emergiria. Assim, trata-se de
descrever e analisar a emergência de toda uma nova ordem de governo da conduta do
espectador, tendo como fim a normalização de seus comportamentos, que diz respeito, em
certa medida, às suas configurações contemporâneas.
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Palavras-Chave
dança, outros mundos, coreografia
Parados, me olham, nos olham. Se mostrando à nós. Caminham para trás até parar.
Mas não param. Algo acontece neles, quase imperceptível, mas a transformação se revela.
Esperam que as forças se revelem na própria anatomia. Lidam com essas forças para
manusear as próprias formas. Que intensidade tem essas forças que operam sobre eles? Que
intensidade tem eles ao operarem nessas forças? Vejo serem afetados por desejos que
emergem da própria situação. Eu me sinto capturada neles. Uma captura pouca, que duvida,
que observa e tenta desvendar o que acontece. A luz me cega ao mesmo tempo em que
começo a ouvir um coro que não é nem choro nem lamento. Um som que vem do gesto. Uma
reverberação daquilo que eles dão forma. Eles seguem a partir das forças que os afetam, cada
um a seu tempo, mas não separados: um coro de corpos. O som sai deles mas não é só deles, é
do espaço e contém o espaço. Fecho os olhos e deixo essa voz me invadir. Ela entra por todos
meus poros, ela ocupa as minhas células. Eles vem chegando cada vez mais perto de mim e eu
consigo ver seus rostos. Quem são esses? Um olhar que olha e não olha? Uma voz que fala e
não fala? Não consigo dizer, consigo somente sentir que essas pessoas estão deixando de ser
pessoas. Estão deixando de ser pessoas como eu conheço pessoas, estão deixando de ser
pessoas como se entende pessoa. O som ocupa cada partícula de ar que me envolve. Eles
circulam entre nós. Não é apenas o som que nos toma de perto, são essas criaturas. Eles
passam por mim se colocando pra nós. Caminham, mas não é só caminhar. Eles voltam a se
encontrar no espaço ritual. Enquanto uns acolhem o desejo do próprio peso, outros usam o
peso num giro no próprio eixo: permitem que cada parte do corpo seja agida por algo que não
é exatamente eles, mas que, de algum modo, também não deixa de sê-lo. O giro que não
cessa, as caminhadas inertes, o som contínuo, o peso que age: tudo aparenta ser diferente mas
são a exata mesma coisa. Xamãs? Sacerdotes? Alienígenas? Fantasmas? Animais? São tudo
isso. Fico confusa e atraída. Estou cada vez mais tomada. Devagar pegam bastões de metais.
Batem com eles em placas e no chão. Ressoam como sinos violentos. Violentos mas não
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agressivos. Como ser violento sem agressividade? Os bastões são parte deles... Parte que
ecoam uma outra voz que se dissipa. Duas dessas criaturas começam a girar com os bastões
nas mãos. O girar faz criar o gesto. O girar transforma a relação desses corpos com o espaço.
Elas giram muito rápido. Seguem girando e deixando com que esse looping, que parece poder
durar pra sempre, as transforme. Elas são transformadas e eu vou me transformando junto.
Começo a perceber que eu também entro em giro. É uma hipnose. Não é possível isso não ser
um transe. Tem um controle... Não é um controle, é uma certa qualidade de atenção. Não é
atenção. É estar em consonância com sua própria percepção. Será que isso existe? Eu não
sei... Não sei se sei alguma coisa disso aqui. Acho que não consigo mais saber. Só sei me
altera. É inominável. Eles seguem girando como se o tempo houvesse pausado. Como se não
houvesse início, como se só fosse. Uma pausa no tempo, sem pausar. Parece que dura uma
eternidade; uma suspensão contínua. E eles giram, giram, giram. Há outro som... Uma
orquestração que parece cordas de metal em roldanas, rodas de um trem... não... são ondas
metálicas que giram tanto quanto eles. O giro aumenta, o som fica mais veloz e eles batem
com o bastão no chão. Juntos. Sino: pulso que marca o não tempo. Uma hipnose que não me
tira daqui, mas afirma e confirma minha presença. A luz me cega de novo. Uma mulher bem
no centro. Um bastão que cai quase em cima dela. Ela não se assusta e pega o bastão. Deixa
esse bastão habitar seu corpo, ele transita por ela, ela não o controla, ela permite que ele esteja
nela e ela nele, sem cessar. O bastão voa nela e quando ela o perde, ela não perde, ela deixa
sua reverberação atuar sobre ela. A reverberação dela age nos outros como uma ação
fantasma. Que que isso? Não são duas coisas: é um e outro. Não é um e outro, é um e um. É
um. Quando o bastão cai e eles se separam, o bastão continua reverberando em seus corpos. O
gesto segue, não como lembrança, mas como realidade. Não é uma lembrança da relação, é a
relação em outra ordem, ela ocupa os outros corpos. Não é um domínio de instrumento, de
artefato. É uma simbiose. Um fantasma de ação... Será que isso é um fantasma? Não é um
fantasma porque é materializado. Um fantasma materializado; eles criam coisas impossíveis!
Um fantasma em matéria não existe, mas existe porque estou vendo isso. Eu vivo isso. Eu já
não respiro. Já não me separo deles. Quem são eles? Não é quem: o que são eles? Não me
interessa responder, mas continuo perguntando porque não há como não questionar. Tem uma
espera, tem um vazio. Repleto.. Um vazio que espera, que percebe. O corpo pulsando em cada
célula. Pulsando o espaço. Um espaço sem limite. Será que é assim que é estar fora da terra?
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Mas não é fora da terra... O som segue, eles seguem com o som, o som segue com eles.
Alternam-se entre girar com o bastão e deixar o bastão habitar o corpo. O que que é isso?
Como acontece isso? Sou levada com eles. Não sei onde estou, não sei dizer o que sinto. É
outro lugar, é outro espaço, é outro tempo. É outra coisa. É outro tudo. A luz volta a cegar e
eles são espectros de tudo aquilo que aconteceu até agora. Tudo aquilo que vivi/vi/passei,
retorna. Tudo aquilo que eles fizeram, retorna. Ali o vestígio de tudo: o bastão sendo tomado,
o giro. Tudo de novo: fantasma materializados, sacerdotes, xamãs, monges, animais,
alienígenas. Cada vez com mais força. São todos esses juntos... Estou num abismo que não é
um abismo para o nada, é um abismo para o tudo. É uma bruxaria. É um feitiço que eu
preciso. Eu quero estar aqui, eu preciso estar aqui, não quero estar em outro lugar. Eu quero
continuar aqui, eu quero que o tempo pare. Continua! Me deixa aqui, porque eu não quero
saber quem eu sou. Me enfeitiça, me leva junto. Me encanta. Por favor, me encanta. Não me
tira daqui. E eles se revelam cada vez mais. Nus, fica evidente que eles não estão humanos.
Isso aqui é outra ordem de vivo. É outra ordem de mundo. São os encantados. SIM Eu não
quero saber nada. Eu quero ficar aqui. Eu quero ficar nisso. Eles param, e eu me sinto
flutuando fincada no chão. Eles criam céu. Um céu que nasce deles e nos invade. O som
volta. Aquele som, aquele coro. Percebo meu corpo inteiro formigar, enquanto o som me
invade, enquanto o céu me invade. Do que que eu sou feita? Eu não sei dizer, não quero dizer.
Não quero existir. Não, eu quero existir aqui. O céu ocupa todo o espaço. Não estou nesse
mundo. Quero permanecer aqui. Eles agora giram com cordas que cortam o céu. Pequenos
brilhantes. É lento. Me contém ao mesmo tempo que me faz transcender. Como é que pode
isso? Como é possível fazer isso? Não tem mais tempo. Não tem mais pausa. Não tem mais
suspensão. Não tem mais espaço. Só tem isso. Tem esse som. Não tem mais eu. Não tem mais
eles. Não tem mais tempo. Não tem mais espaço. Mas tem nisso. Eu sou isso. Eu não existe.
Isso.
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Palavras-Chave
dança, aprendizagem, desterritorialização
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
jogo, política, teatro
A relação entre teatro e política remonta às origens das artes cênicas. Os rituais
predecessores da encenação teatral tinham um caráter mágico ou religioso, no geral, mas eram
realizados em sociedades nas quais as autoridades religiosas e políticas eram exercidas pelo
mesmo grupo e, muitas vezes, a mesma pessoa. É o caso das manifestações cênico-religiosas
pré-colombianas e orientais estudadas pelo teórico, ator e encenador francês Antonin Artaud .
Na Grécia antiga, temas políticos eram recorrentes nas tragédias. O texto mais antigo de teatro
grego que sobreviveu aos dias de hoje é Os Persas, de Ésquilo, encenada pela primeira vez em
472 a.C., trata de um acontecimento histórico real envolvendo conflitos bélicos e políticos
entre Esparta e Pérsia, nos quais o próprio autor participou como combatente. Ao longo da
História do Teatro, outras temáticas políticas podem ser destacadas, como a obra renascentista
A Mandrágora, de Maquiavel, ou o drama barroco A Vida É Sonho, de Calderón de La Barca,
entre outras. No entanto, a definição do que seria um "teatro político" só irá aparecer após a
chamada "crise do drama", no início do século XX (A crise do drama tem como expoentes os
dramaturgos August Strindberg, Antonin Tchekhov, Henrik Ibsen, Maurice Maeterlink e
Gerhart Hauptmann e o encenador André Antoine. Trata-se de um momento específico da
História do Teatro, no qual os padrões dramáticos de escrita dramatúrgica e de encenação
foram colocados em questão). Entre os primeiros encenadores a tematizarem especificamente
sobre o teatro político está Erwin Piscator e Bertold Brecht. Não por acaso, inclusive nos dias
de hoje, são vários os trabalhos que envolvem o sistema de jogos teatrais, um dos alvos dessa
pesquisa, e as proposições de Bertold Brecht, destacando-se o trabalho de Ingrid Koudela. A
pesquisa aqui proposta, que se insere na área de Pedagogia do Teatro, propõe-se analisar o
sistema jogos teatrais como propulsor do trabalho com a linguagem cênica e,
consequentemente, propiciar no momento da avaliação, questões de ordem política, partindo
da concretude da construção cênica que o jogo teatral estabeleceu anteriormente. A concepção
de um sistema de jogos teatrais foi fomentado por Viola Spolin, numa ruptura com a
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“produção brodway” do fazer teatral, sistema este que será recorrente à criação de espaço e
relação não só para atores. O jogo, segundo Spolin (2015), é o modo de trabalho grupal que
exige envolvimento pessoal e liberdade, necessários para a criação e envolvimento com a
experiência. Dessa forma, o jogo teatral caminha para a criação de uma experiência estética
que parte do encontro entre jogadores e as regras, impulsionador da criação. O trabalho
debruçou-se sobre o sistema de jogos teatrais para analisar a potencialidade da discussão
política fomentada a partir do jogo da cena. Para isso, num primeiro momento foi realizado
um estudo bibliográfico, cujo tema abrangia principalmente a conjuntura política brasileira
em contraste com a produção teatral. Já a segunda etapa, configurou-se numa pesquisa de
campo no SESC Belenzinho em novembro, onde a Cia. Teatro Documentário (fundada em
2006 na cidade de São Paulo) fez um trabalho de mediação com alunos do 8º e 9º do Ensino
Fundamental II, 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio, EJA e professores. Após a experiência,
seguiu-se um período de entrevistas, discussões com o orientador sobre o que foi presenciado
e uma revisitação a bibliografia, num caminho de formular um ponto de vista analítico e a
preparação da parte prática da pesquisa, que se caracteriza numa oficina de Jogos Teatrais
direcionada para os professores que acompanharam a mediação no SESC Belenzinho. Com
isso, foi observado e analisado um projeto de formação de espectadores com professores da
rede municipal de São Paulo (diretoria regional de ensino da Penha), sob a coordenação da
Cia. Teatro Documentário, a qual motivou um trabalho pratico em torno desse grupo de
professores. A proposição foi realizada no período de formação integrada (JEIF) da escola
municipal Infante Dom Henrinque. Durante as discussões, pode-se compreender a
importância da criação coletiva e do papel fundamental da plateia dentro do sistema de jogos
teatrais, e em qualquer outra proposta metodológica, tanto para o refinamento estético dos
envolvidos, quanto para alimentar as discussões de ordem política que surgiram mediante a
fruição das apresentações.
Referências bibliográficas
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 2006 [1938].
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. São Paulo: Sesc/Cosac Naify, 2015.
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MARX, Karl. Manuscritos econômicos e filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2005.
SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno (1880-1950). São Paulo: Cosac Naify, 2003.
PUPO, Maria Lúcia de Souza Barros. Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: uma aventura
teatral. São Paulo: Perspectiva, 2005.
SOLER, Marcelo. Teatro Documentário: a pedagogia da não ficção. São Paulo: Hucitec,
2010.
______. “O campo do teatro documentário”. Sala Preta, n. 13. São Paulo: PPGAC/USP, pp.
130-143, 2013.
______ BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São
Paulo: Brasiliense, 1996.
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BRECHT, Bertold. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
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Palavras-Chave
trabalho sobre si, novos modos de subjetivação, subjetividade antropofágica
O projeto que se tornou a pesquisa que ponho em curso no nível de mestrado tratava,
inicialmente, de um estudo das performances rituais dos Borum Krenak, considerados os
últimos botocudos do leste. O termo pejorativo botocudo foi atribuído a uma grande
quantidade de grupos Macro-Jê que habitavam do sul da Bahia até a altura do Rio Doce, no
estado do Espírito Santo e leste das Minas Gerais, e que usavam grandes alargadores labiais e
auriculares, que remetiam ao colonizador aos botoques de tapar barris. Sabe-se que nos
últimos séculos culturas não-ocidentais tem sido continuamente revisitadas pelo ocidente com
o intuito de repensar a arte européia, promover rupturas ou novas possibilidades de
alargamento de técnicas, poéticas e treinamento. É também do conhecimento dos estudiosos
de teatro que no século XX vemos uma crescente nas investigações sobre culturas
extraocidentais - orientais, primitivas, arcaicas -, sobretudo a partir de movimentos de
vanguardas como o surrealismo e dadaísmo. No Brasil, as religiões de matrizes africanas, as
manifestações populares, as culturas indígenas começaram a ganhar espaço, como projeto
sistemático de reconstrução identitária nacional, com os modernistas nas artes plásticas,
música, literatura, nas artes da cena. Investigações de grande importância a serem citadas são
as de Artaud, Grotowski, Brook , Barba; no Brasil, temos o Teatro Oficina, o LUME, a Cia
dos Atores, dentre outros. Seguindo essa linha de pensamento e um desejo cultivado desde a
infância, me propus a investigar a ritualidade Krenak a fim de encontrar elementos caros ao
fazer teatral contemporâneo. No entanto, algumas questões ainda pairavam: Como direcionar
a pesquisa? Quais ferramentas e métodos poderiam se mostrar eficazes no exercício do
encontro no trabalho de campo? Quais os métodos de análise? Ou, ainda, o que realmente
busco nesses rituais? Nesse momento apareceram a antropofagia e a cartografia como
possibilidade de habitar o mundo e se fazer artista, pesquisador, vivente. “Só me interessa o
que não é meu. Lei do Homem. Lei do Antropófago.” (ANDRADE, 1928) Para o ator-xamã
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de subjetivação; por último, mas não nessa ordem, espera-se criar ações e performances que
dialoguem com as experiências da pesquisa. Trata-se de um laboratório de investigação do
trabalho do ator e seus modos de fazer/ ser no mundo. Evoco os trabalhos de Antonin Artaud,
do Teatro Laboratório, alguma nuance do método Stanislavski, de Zigmund Molik e Eugênio
Barba para repensar minhas práticas – portanto não se trata de reproduzir o trabalho dos
citados, mas de me deixar afetar para a construção de outro caminho, atravessado pelas
experiências pessoais, os desejos, a voz das alteridades. Pensar o corpo vibrátil do ator,
noções de escuta, presença, outramento, novos modos de subjetivação, poéticas da
transformação de si. Sem mais, essa pesquisa se pretende que haja um fluxo - do modo que
está e até a data de sua defesa - aberto a alterações, transformações, assimilações, devires e
devorações. Uma cartografia antropófaga por um ator-xamã.
Referências bibliográficas
GROTOWSKI, Jerzy. “Performer”. eRevista Performatus, Inhumas, ano 3, n. 14, jul. 2015.
ISSN: 2316-8102 HAN, B. Sociedade do Cansaço. Ed. Vozes, 2015.
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______. Metafísicas canibais: elementos para uma antropologia pós-estrutural. Ed. Cosac e
Nayfi, 2015.
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Palavras-Chave
cantos de Tradição, corporeidade, Grotowski, Maud Robart, Candomblé
A pesquisa tem por objetivo propor que os cantos de Tradição Afro-brasileira (banto)
possibilitam gerar alterações nos padrões do uso do corpo a partir de qualidades neles
inerentes, suscitando novas potências que se desdobram, ampliam e expandem pelas
percepções advindas dos cantos. Esta pesquisa relaciona-se com o trabalho dos cantos de
Tradição Vodu haitiano da Maud Robart e do Workcenter of Jerzy Grotowski and Thomas
Richards. Os cantos que têm a capacidade de expandir a nossa consciência e percepção
sensorial, trazendo vibrações diretas na cabeça, coração e corpo. E por esta capacidade de
expansão da consciência - de si, do outro, do espaço, tempo - e percepção sensorial, tornam-se
atrativos para o performer como experiências poderosas, como fita de Moebius. E o performer
que se propõe a fazer uma pesquisa com os cantos de Tradição viverá um processo que é uma
conversação entre a percepção, espontaneidade e a disciplina, é o aqui e agora, rendendo-se
aos impulsos e ações advindos deles. Os cantos de Tradição Afrobrasileira (Banto) podem ser
pontes para uma experiência perceptiva, portanto, para uma experiência corporal, pois nos
deslocam do pensamento científico. Eles nos ajudam a recobrar o que havíamos desaprendido
a ver, a ouvir e sentir, seria o rompimento com a noção de corpo-objeto. Os cantos
proporcionariam um novo sentido para o logos, realizando-se como uma leitura de dimensão
poética e plástica do corpo em movimento e percepção. Nesta pesquisa, tratamos a
experiência com os cantos de Tradição como performance, pois também nos interessa
investigar o que eles produzem nas pessoas, e como interagem e se relacionam com elas
(cf.SCHECHNER, 2002:28-29). O trabalho com os cantos são experiências de performances
liminares, em que ocorrem transições e transformações, levando a estados de vulnerabilidade
que empoderam aberturas de mudanças, de caminhos para novas situações em que há
possibilidade criativa. E que, muitas vezes, leva o performer a um “ [...] fugaz estado de
êxtase e sentido de união (com duração frequente de somente alguns segundos) que pode ser
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descrito como um arrepio – nada mais que isso – que desce pelas costas até um certo
ponto.” (d'AQUILI et al.1979: 177); tratamos também como campo de possibilidades para
experiência do sensível, como um modo de ampliação da percepção, procurando qualidades e
significados de uma experiência que esteja intimamente relacionada com o corpo, tornando
este corpo uma ferramenta de manifestação e interação com o mundo. A pesquisa é prática.
Sem intenção de criar uma nova metodologia de trabalho para o ator, queremos investigar
como potencializar as percepções d(n)o corpo do performer advindas das qualidades inerentes
nos cantos de Tradição Afro-brasileiro (Banto), pois, ao darmos atenção à consciência
perceptiva, seria possível induzir uma nova articulação de dados preexistentes, portanto, seria
dar corpo e voz aos outros que cantam o canto antes de mim. Propomos conduzir uma práxis
a, no máximo, quatro atores/performers convidados, porém observando, sob nossas
perspectivas, como os cantos de Tradição banto podem alterar os padrões do uso do corpo a
partir das qualidades inerentes que os cantos trazem em si, e se podem atuar como
disparadores de percepções d(n)o corpo do performer e, a partir disso, abrir potências d(n)este
que se ampliarão, desdobrarão e expandirão para o ato criativo. Faremos a formulação de
questionários para serem respondidos pelos participantes durante os encontros de pesquisa,
além da escrita em diários individuais de suas percepções, sensações, vontades e
necessidades, material este que será utilizado como parâmetro para reflexão. Gravação de
material áudio-visual de cantos de Tradição praticados pela comunidade de terreiro, Nzo
Musambu Hongolo Menha – Casa do Arco-Íris, para ser acoplado aos exemplares finais da
tese. A conclusão da pesquisa se dá na elaboração final e escrita da tese. Temos como
objetivos gerais: propor uma nova travessia para o ator/performer, por meio de cantos da
Tradição Banto. Ativar novas percepções de si, do outro e do espaço, lançando este ator/
performer a um campo de possibilidades para a experiência do sensível como reflexão
corporal. Usar os cantos, o corpo, a percepção como ferramenta para o ato criativo e de certo
modo compreender o mundo contemporâneo. Romper com as respostas automáticas do ator/
performer em cena. Alargar a compreensão de funcionamento de nós mesmos, de processos
de percepção, espontaneidade e de criatividade. A nossa pesquisa segue a via das práticas no
Teatro Contemporâneo, visando uma formação do artista teatral em nível transcultural. Ao
começarmos com a presença de elementos (cantos de Tradição/corporeidade/percepção) e
processos interculturais, transdisciplinares no trabalho do ator, podemos colocar a inserção
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deste projeto, por sua similaridade, com as pesquisas realizadas pela haitiana Maud Robart,
pelo diretor teatral polonês Jerzy Grotowski, e seu Workcenter of Jerzy Grotowski and
Thomas Richards. É uma pesquisa que passa e atravessa vários estudos, tais como a História
da África, as Diásporas no Transatlântico, os cantos de Tradição no Sul dos Estados Unidos,
Haiti, Cuba e Brasil; a Fenomenologia da percepção de Merleau Ponty, que nos orienta a
entender o fenômeno da percepção no corpo; a Memória da percepção de Henry Bergson,
uma vez que não podemos falar de percepção sem tratar da memória, pois uma é imbricada na
outra; a Antropologia da corporeidade de Thomas Csordas, pois ao tratarmos do fenômeno da
percepção no corpo, falamos deste corpo que é sujeito da cultura, da corporeidade que situa o
indivíduo no mundo; o conceito de Habitus do sociólogo Pierre Bourdieu, que nos conduz a
entender o como se dá a percepção do corpo que está engajado em uma cultura e no mundo; a
Antropologia da performance de Victor Turner e Richard Schechner, em que vemos as
questões performativas do cantar e de como podemos observar nas práticas de Maud e
Grotowski/Workcenter, processos estes de liminaridade; os estudos de Etnomusicologia de
Kazadi wa Mukuna, que nos explica as questões da relação das línguas tonais banto com a
sonoridade dos cantos e música.
Referências bibliográficas
D’AQUILI, E.G.; LAUGHLIN JR., C. D. & McMANUS, J. (eds). The Spectrum of Ritual,
New York: Columbia University Press, 1979.
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Palavras-Chave
brecht, companhia do latão, teatro épico
Este trabalho tem como objetivo geral analisar a peça A Comédia do Trabalho da Cia
do Latão, compreendendo sua forma de recepção do teatro épico brechtiano. Como objetivos
específicos, buscou-se: a) compreender algumas passagens da história do teatro brasileiro que
se apropriaram do teatro épico; b) conhecer o percurso da Cia do Latão até a peça em estudo;
c) apresentar algumas proposições do teatro épico brechtiano e d) discutir, a partir da análise
da peça, especificidades do trabalho do teatro épico. A Companhia do Latão foi criada no ano
de 1997. Em 1996 já haviam encenado (CARVALHO; MARCIANO, 2008) uma adaptação de
A morte de Danton, de Georg Büchner, mas será com a retomada dos estudos sobre Teatro
Dialético e a encenação de Santa Joana dos Matadouros que Brecht, Marx e outros pensadores
importantes surgem como referência distanciando-se do modelo dramático tradicional. Mas,
para compreender a constituição do grupo e as razões pelas quais eles seguiram por esse
caminho precisa-se contextualizar a trajetória do teatro brasileiro, pois os questionamentos em
relação ao drama já não eram inéditos. Porém, ainda não se havia conquistado uma superação
tão efetiva quanto conseguiu a companhia paulista. Para isso, mencionam-se as formas
teatrais da década de 30, 60 e 90, anos que foram marcados por importantes tentativas de
superar o drama, sugerindo e transformando-o em outras possibilidades formais. Em 1930,
autores como Oswald Andrade e Mário de Andrade iniciaram a discussão e tentativa de
renovação do debate artístico, introduzindo questões políticas em suas obras que, em certa
medida, remetem ao teatro épico. Porém, suas peças não foram encenadas e o novo
movimento não teve força suficiente para dar início a uma nova estética teatral. Em 1960,
essa tentativa reaparece com artistas como Boal, Guarnieri e Vianinha, no âmbito do Arena,
com muito mais força que no ciclo anterior. Isso permitiu uma renovação da direção teatral
que foi tornada mais coletiva e na forma de pesquisa e encenação, com críticas duras à
mercantilização da arte (CARVALHO, 2003). O último ciclo – e o mais efetivo no que diz
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respeito à superação do drama, pois o fez no plano da forma e do conteúdo -, se deu na década
de 90, período em que a Cia do Latão foi criada. Analisando a trajetória trilhada pelo teatro
brasileiro, é notável que este grupo deu continuidade a uma pesquisa que vinha sendo
atualizada no decorrer do século, porém a fez com tamanha originalidade, consciência e
efetividade que o tornou grupo reconhecido no cenário nacional quando se pensa em teatro
político. A originalidade e a efetividade se dão no plano da apropriação e atualização do teatro
épico brechtiano. Eles conseguiram escapar do perigo de uma leitura unilateral da estética
brechtiana, que instrumentaliza algumas técnicas e, consequentemente, diminuem o seu
potencial dialético, pouco afeito à normas rígidas. Brecht se preocupava em falar sobre
questões sociais (conteúdo), utilizando recursos formais como narração, paródia, ironia e
música (forma), para suscitar a reflexão crítica no público que o assistia, de modo a fazê-los
reconhecer as mazelas sociais e as injustiças a que estavam submetidos. A peça A Comédia do
Trabalho, de 2000, fala sobre a relação entre patrão e empregado e os abusos e explorações a
que estão submetidas as classes inferiorizadas e que são, muitas vezes, alienadas das
condições precárias e exploratórias de trabalho, aceitando-as com naturalidade. A peça, cujo
título alude a uma comédia, pode ser lida em dois planos distintos: o da tragédia – que mostra
a impossibilidade de fugir da determinação social - representado por Núlio e os demais
desempregados e o plano da comédia, que, por meio do tom paródico e farsesco, caracteriza
os personagens que representam os empresários e banqueiros (PERUCHI, 2016).
Basicamente, a peça se divide em dois núcleos dramáticos: o dos empregadores (banqueiros e
governadores) e o dos empregados (desde recém-desempregados até mendigos). A peça
retrata as dificuldades do desemprego gerado pelas demissões em massa do banco da cidade.
A peça faz referência ao capitalismo financeiro, modelo econômico adotado no Brasil em
meados de 1980 e cujo objetivo era a flexibilização do trabalho e a redução de estoques
(PAULANI, 2006), tornando necessária a demissão da maioria dos trabalhadores. Este
modelo econômico acentua ainda mais a desigualdade social existente no país. Essas questões
são tratadas pelo Latão com ironia e alguns efeitos de distanciamento que permitem a reflexão
elevada à crítica, como será apresentado em alguns exemplos a seguir. Um dos pontos
apresentados de forma irônica é a subdivisão da classe trabalhadora em pequenos grupos
distintos, como se vê quando uma mendiga se aproxima do grupo de pedintes e sugere a união
dos grupos. Ela ouve como resposta que a união não será possível, pois são grupos distintos:
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os mendigos são a versão inferior dos pedintes, que se consideram habilidosos na abordagem
do cliente (maneira como eles mencionam os transeuntes). (CARVALHO; MARCIANO,
2008). Essa passagem evidencia a dispersão dos grupos que torna a classe ainda mais
fragilizada e enfraquecida. Enquanto um grupo se mostra desunido, a classe empregadora se
vangloria das estratégias encontradas para demitir seus funcionários de modo despercebido,
para que eles não sejam responsabilizados pelos efeitos da crise econômica (idem). Para
encontrar subterfúgios e maneiras naturalizadas de encarar o problema, os desempregados
criam uma imagem confortável da demissão, como se fosse uma condição essencial do Brasil,
um efeito irreversível da economia. Dessa forma, percebe-se que o grupo apresenta, no
mínimo, quatro perspectivas possíveis: a da classe dominante, cujas peripécias são tratadas
com ironia; a dos trabalhadores, que naturalizam a demissão; a dos mendigos e pedintes, que
escancaram a desigualdade social e revelam os mecanismos de manutenção do status quo e,
por fim, a visão engajada dos atores do grupo, que utilizam efeitos de distanciamento para
evidenciar a semelhança das situações fictícias da obra com a realidade brasileira. A
alternância entre os quatro pontos de análise explora o potencial dialético e didático do teatro
brechtiano, concedendo o distanciamento necessário ao público para identificar as críticas ao,
nesse caso, sistema capitalista.
Referências bibliográficas
CARVALHO, Sérgio de. Atitude modernista no teatro brasileiro. Folha de São Paulo, São
Paulo, 2003.
CARVALHO, Sérgio de, MARCIANO, Márcio. Companhia do Latão: 7 peças. São Paulo:
Cosac Naify, 2008.
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Palavras-Chave
dramaturgia, programas teatrais, teatro
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David Gilbert, em relação a espetáculos canadenses e que levaram o professor Walter Lima
Torres Neto (2013) a criar uma nomeação dos discursos presentes nos programas. Esses
discursos foram nominados de ênfase, separadas segundo o professor como ênfase histórica,
ênfase didascália, ênfase genética e ênfase estética. Em relação a ideia de discurso, estaremos
trabalhando num sentido mais amplo em consonância com as indicações e pensamento de
Michel Foucault a respeito do assunto. Segundo Foucault, em seu livro A Arqueologia do
saber (2008), o discurso seria uma representação culturalmente construída pela realidade, não
uma cópia exata. Sendo assim, o discurso não deve ser pensando como algo natural e
despretensioso, é uma construção social, uma produção intelectual que busca um determinado
objetivo. Foucault (2008), ainda propõe que o discurso seria o conjunto de enunciados, sob
uma dada formação discursiva, praticados ao longo do tempo. Sua proposição no texto A
Ordem do Discurso (1971), também corrobora com as indicações propostas acima, quando o
autor indica, que supõe que em toda a sociedade a produção do discurso é simultaneamente
controlada, selecionada, organizada e redistribuída por um certo número de procedimentos
que têm por papel exorcizar- lhe os poderes e os perigos, refrear- lhe o acontecimento
aleatório, disfarçar a sua pesada, temível materialidade. Portanto, o discurso se confirma
como uma produção humana, intencional que se insere nas esferas sociais e políticas, mais
precisamente, no nosso caso, na esfera da arte. Sendo os conteúdos escritos, a escolha do
formato, cores e fotos dos programas elementos que expressam os pressupostos do coletivo
sobre determinado espetáculo em determinado período. Desta maneira, nosso trabalho
converge em uma análise do conjunto de enunciados presentes nos programas da Companhia
Brasileira de Teatro (CBT) ao longo de sua trajetória. A respeito da Companhia Brasileira de
Teatro, esta foi criada por Márcio Abreu em 1999, em Curitiba e junto com Giovana Soar,
Nadja Naira e Cassia Damasceno vem desenvolvendo um trabalho voltado para a pesquisa
teatral, a criação de espetáculos e a formação de público. As linhas de atuação identificadas na
sua trajetória são: criação de dramaturgia original; releitura de clássicos; encenação e tradução
de dramaturgia contemporânea inédita. Segundo as palavras da atriz, iluminadora e diretora
Nadja Naira (2010), a companhia se auto define como inspirados na força das palavras
poéticas de Cortázar, Gonçalo M. Tavares, Leminski, Pommerat na fala cotidiana e prosaica
de Minyana e nas palavras mudas e reveladoras de Lagarce. Nos programas da Companhia
Brasileira de Teatro que estamos analisando, percebemos algumas tendências, como uma
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variedade de mescla destas ênfases, uma escolha por criação e montagem de dramaturgias não
tradicionais, que problematizam questões relativas ao conflito, ação, personagem e fábula.
Além disso, uma expansão e diferenciação na utilização do termo dramaturgia em relação a
texto dramático e roteiro. Também mapearemos algumas tendências nos processos e
dinâmicas de edificação cênica e autoria do espetáculo, levando em conta o leitmotiv da
companhia, o texto dramático. Criaremos um diálogo entre os discursos dos programas
teatrais da CBT, os materiais teóricos e de crítica especializada. O denominador comum,
mesmo que bastante abrangente, da nossa pesquisa seria a ideia de um conjunto de
enunciados criativos, contidos nos programas teatrais, de autoria da CBT, que serão
analisados dentro de suas variáveis e pontos de convergência, menos como uma unidade
estável, mas como um processo em movimento.
Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
dança, espaço, performatividade
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não saber, na tentativa de encontrar brechas para mobilizar modelos pré-definidos de espaço,
corpo e dança, já que parte da ideia de abertura, multiplicidade e relação. Lidar com a
possibilidade de experienciar a abertura para a criação implica direcionamento da atenção
para a experiência do corpo no espaço, não considerando o corpo como um receptáculo de
informações que recebe sobre o entorno, e que também não age em um espaço passivo e
acabado. A tentativa é de afastar-se das dicotomias e aproximar as distâncias, buscando
experienciar como é dançar a partir da ideia de um espaço que é móvel e inacabado. No que
diz respeito às abordagens sobre corpo e experiência essa pesquisa é pautada nos estudos da
epistemóloga argentina Denise Najmanovich (2001). A autora traz no livro "O sujeito
encarnado: Questões para a pesquisa no/do cotidiano" um panorama dos entendimentos de
corpo, onde ela também apresenta o paradigma que diz respeito a afirmação da corporalidade
do sujeito, defendendo que conhecer implica perceber e, logo, relacionar-se, o que reforça a
ideia de co-dependência e co-evolução entre corpo e meio. Ao pensar corpo e espaço em
estreita relação, a partir das abordagens de Najmanovich (2001) e Massey (2008), o conceito
de performatividade (SETENTA, 2008) colabora para problematizar as relações entre corpo,
espaço e dança, mobilizando discussões na prática artística. Segundo Setenta, a
performatividade relaciona-se com um modo de estar no mundo que está sempre atento para o
“como” se faz ou como são construídas nossas relações com o entorno. Esse modo de operar
tem a ver com movimentos de reflexão crítica e de questionamentos sobre a prática,
instigados pela ideia de dança que se constrói a partir da estreita relação com o contexto. A
construção do discurso performativo, para Setenta, apresenta questões próprias do corpo que
dança como assunto e, por isso, inventa um jeito específico para discutir e posicionar-se no
mundo, atualizando seus modos de dançar. E essa dança que realiza a própria ideia que
comunica, inventando seu formato e jeito de dançar, é denominada pela autora de “fazer-
dizer”, o qual privilegia questões implícitas no próprio fazer e busca não fixar procedimentos,
ampliando a atenção do corpo que dança para o entorno. Entende-se a criação de modos de
produzir discursos encarnados como possibilidade de mobilizar noções sobre a prática
artística, pois impulsiona a reinvenção do jeito de dançar a partir de um corpo que move
atento a si e ao espaço e se reconhece enquanto sujeito, pois descola lugares fixados, afim de
gerar discurso e aproximações entre sujeito, dança e espaço. Assim, é possível reorganizar
noções que fixam procedimentos ideais ao considerar o caráter performativo, que se encontra
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em ressonância com questões que deslocam o jeito que se dança no enquanto da ação de
dançar. A cartografia (método formulado por Delleuze e Guatarri, 1995) tem surgido como
possibilidade de metodologia para essa pesquisa, tendo em vista que, segundo Kastrup (2009),
ela visa acompanhar um processo de produção de dados em pesquisas de campo a partir da
perspectiva construtivista do conhecimento. Sendo assim, o processo de ensino-aprendizagem
é entendido pela noção de cultivo, tendo a cartografia para assegurar o rigor enquanto método,
mas também olhando para a imprevisibilidade do processo. Ao apresentar uma estreita relação
com o espaço, com o acompanhamento dos percursos, isto é, como um método móvel que
acompanha e se atualiza no decorrer da pesquisa; a cartografia instiga mobilizar também os
modos de dançar, os quais tensionam entendimentos de corpo, articulando outras
possibilidades de experienciar o espaço.
Referências bibliográficas
MASSEY, D. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2008.
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Palavras-Chave
abjeção, autobiografia, performatividade
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incompatibles con la vida” na qual ela está nua, com os pés presos numa placa de gesso, com
projeções de ruas, mercados e fotos de família e onde, durante 30 minutos ela golpeia o
próprio sexo com uma pedra enquanto faz uma espécie de manifesto sobre sua recusa em ter
filhos. Llega un momento en que la sociedad se excita, se impacienta y procrea, procrea
porque sí, procrea. ¿Qué motivos tienen?? Me pregunto, ¿qué motivos tienen?? Pero mi
decisión es anormal. Perdón por la violencia.? Mi violencia verbal es mi lucha contra la
violencia real.? Mi cuerpo es mi protesta. (LIDDELL, 2005) “Lesiones incompatibles con la
vida” comporá o que ela chama de “ações” ou os “Actos de desobediencia” inaugurando um
novo ciclo em sua obra. Quando a artista é questionada sobre se fala ou não em seu próprio
nome, Liddell responde: Nas minhas últimas criações, sim. Totalmente, completamente.
Tentando, para além disso, ultrapassar a barreira do pudor. O impudor ofereceu-me uma
liberdade brutal. O impudor referente à minha própria vida: como uma defecação em cena.
Quebrar a barreira do pudor pressupõe um esforço. É como passar a barreira do som.
Dediquei-me a isso nas minhas três últimas criações: duas peças pequenas, Anfaegtelse e Te
haré invencible con mi derrota, que culminam em La casa de la fuerza. Trabalho com os meus
sentimentos, que pertencem às minhas noites, ao que se passou na minha vida. Acontece-me
convocar novamente sentimentos que ultrapassei, porque é com isso que trabalho. Foi esse o
meu objetivo nestes dois últimos anos. Tudo isso torna-se objeto de uma construção, mas
atenção: construir não significa fingir. Desloco-me numa linha ténue entre a construção e os
sentimentos reais. (LIDDELL, 2012) Angélica Liddell é então uma artista que empreende um
projeto teatral no qual assume radicalmente a fala em primeira pessoa, sem, com isso, reiterar
as ilusões narcisistas que sustentam grande parte dos empreendimentos autobiográficos tão
comuns e banalizados na contemporaneidade. Sem, tão pouco, recair em uma espécie de
reinvindicação identitária, seja do ponto de vista do sujeito, seja do ponto de vista de alguma
categoria de pertencimento coletiva. A des-identidade é então o aparente paradoxo sobre o
qual pretendemos nos debruçar visto que partiremos de uma obra que se declara
“pornograficamente” pessoal. O trabalho de Liddell e, em especial, o recorte que estamos
propondo, nos interessa sobretudo porque parece propor um agenciamento peculiar entre
teatralidade e performatividade, cujos termos nos interessa investigar. Liddell parece empurrar
“o ilusionismo até o ponto do real” (FOSTER, 1996), através de sua teatralidade excessiva,
quase barroca, de signos ostensivos. Ao mesmo tempo que rejeita o ilusionismo, “numa
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tentativa de evocar o real enquanto tal” (id) através da emergência do corpo, da confissão e do
sacrifício, que nega a mediação, ao propor a literalidade como única maneira de se aproximar
do horror. Nos parece que no teatro de Liddell o excesso da confissão, numa autoexposição
pornográfica (ou abjeta?) do corpo, da própria vida, termina por dissolver o “eu” (o sujeito da
memória, ancorado no imaginário) em uma zona de difícil simbolização, quando não de
impossível captura. É o que parece acontecer também nos trabalhos em que Liddell opera
com ficções, como em “Ricardo III”, parte da trilogia “Atos de resistência contra a morte”. A
ficção, no seu caso, parece ser um “outro” para a experiência pessoal através do qual o “eu”
também pode se “despossuir”. Para refletir sobre a articulação em seu trabalho, entre vida e
obra, performatividade e teatralidade, nossa hipótese é de que os conceitos de negatividade
(articulado por Lacan na teoria das pulsões) e de abjeção (tal qual proposto por Júlia Kristeva
em “Os Poderes do horror”) podem ser importantes instrumentos para pensar o teatro de
Liddell – e, avançando, a própria cena contemporânea como um todo – evitando os
incontornáveis impasses da dicotomia real e ficcional. São esses também conceitos
fundamentais para pensar o trabalho de autorrepresentação como experiência de despossessão
(referência aqui a Judith Butler ao pensar o “relato de si” que se produz a partir do encontro
com a opacidade do outro).
Referências bibliográficas
FOSTER, Hal. O retorno do real: A vanguarda no final do século XX. São Paulo: Cosac
Naif, 2014.
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Palavras-Chave
teatro e prisão, teatro e resistência, teatro do sentenciado
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da sociedade brasileira. Para proceder nossa análise, este trabalho foi dividido em três partes.
Na primeira parte apresentaremos um pouco da trajetória de Abdias Nascimento, iluminando
momentos que se relacionam de forma mais ou menos direta com a experiência do Teatro do
Sentenciado. A trajetória de Abdias é marcada por sua militância no movimento negro
interligada à sua atuação artística, portanto é importante destacar alguns elementos
relacionados ao desenvolvimento do movimento negro no Brasil. Por volta de 1930 foi criada
no Brasil a Frente Negra Brasileira – FNB, que mais tarde se tornou um partido político e que
em 1937 foi colocado na ilegalidade com advento do Estado Novo. Se o período foi de
endurecimento do regime no Brasil, no contexto internacional a partir de 1938 o conflito
predominante é o da Segunda Guerra Mundial, que impacta de muitas maneiras as lutas
sociais em diferentes contextos. Nos Estados Unidos, por exemplo, é no pós-guerra que há o
ascenso das lutas da resistência negra face ao modelo de segregação racial. Na segunda parte
trataremos de situar o contexto político dos primeiros anos da década de 1940 e de destacar
alguns pontos para o debate da tradição da história do teatro brasileiro. No intuito de
contextualizar o período em que se inscreve o Teatro do Sentenciado, cabe identificarmos o
momento histórico internacional, bem como as particularidades do cenário brasileiro. Por
volta de 1910 se disseminavam na imprensa paulista e carioca inúmeros jornais voltados a
tratar a questão negra e dirigidos a esta parcela da população. Esse movimento não é isolado
em relação ao contexto da esquerda internacional, tanto que, em 1920, ocorre em Moscou o II
Congresso do COMINTERN, amplamente conhecido como a 3ª Internacional Comunista, em
que pela primeira vez se coloca em pauta a questão dos negros na América. Na terceira parte
faremos o debate sobre cultura e política considerando o teatro no contexto da luta de classes,
utilizando como referenciais teóricos as ideias de Roberto Schwarz (2014) e de Iná Camargo
Costa (1996). A partir da obra “Cultura e política, 1964-1969” de Roberto Schwarz, bem
como sobre o teatro no contexto da luta de classes, tema amplamente desenvolvido por Iná
Camargo Costa em várias de suas obras, compreendemos que ambos tratam da questão da
política de colaboração de classes do PCB naqueles anos. Iná (1996), por sua vez, estabelece
seu eixo de análise do golpe de 64 como o momento que promove a interrupção no processo
de socialização dos meios de produção das linguagens artísticas por força do Estado. Para
Schwarz (2014), o ciclo que, em maior ou menor grau, compunha uma unidade de projeto
econômico e estético - com o nacional-desenvolvimentismo e com o debate do nacional
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popular tendo em vista a constituição de uma frente ampla para conquistar as reformas de
base - se quebra com o golpe, no entanto uma cultura de esquerda conquista relativo espaço
em determinados nichos sociais. O debate dos dois autores enfoca período posterior aos anos
iniciais da década de 40, se referenciando em termos de teatro e estética em movimentos que
ocorrem a partir de 1944 com a fundação do TEN. No entanto, muitos elementos de suas
análises dão pistas e permitem inferências que reportam a outros momentos históricos. Com
apoio no pensamento de Roberto Schwarz, de quem tomamos emprestado para nossa reflexão
a ideia de que a periferia tem condições de revelar algo específico do global, nos
perguntamos: a experiência do Teatro do Sentenciado na periferia do capitalismo não teria
também algo a revelar da experiência social e cultural global? Referências
Referências bibliográficas
COSTA, Iná Camargo. Panorama do Rio Vermelho: Ensaios sobre o Teatro Americano
Moderno. São Paulo: Nankin Editorial, 2001
______. Nem uma lágrima: teatro épico em perspectiva dialética. São Paulo: Expressão
Popular, 2012.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, vol. 5. Caderno 25. Edição e tradução: Carlos
Nelson Coutinho, Co-edição: Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira; Rio de
Janeiro; Ed. Civilização Brasileira, 2002.
SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar: Ensaios Selecionados. São Paulo: Penguin
Classics Companhia das Letras, 2014.
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Palavras-Chave
cognição, mente, modo operativo AND
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estrutura corporal. Isto quer dizer que, a razão imagina conceitos através das mesmas
estruturas neurais e mecanismos cognitivos que o corpo utiliza para perceber o mundo. As
ideias de Lakoff e Johnson me levaram a concluir que, para entender melhor o MO_AND,
muitos pontos deveriam ser levados em consideração: o corpo e sua singularidade, o ambiente
e suas relações, o acontecimento e ainda, a estrutura do pensamento, ou seja, como
percebemos e como nos relacionamos com o mundo à nossa volta. A partir de então, os
mecanismos cognitivos para criação de conceitos e aqueles que tem relação com a percepção,
passaram a ser as ferramentas que utilizo para estudar e praticar o MO_AND. Além destes,
para discutir a maneira como nos relacionamos no MO_AND e a experiência em si, utilizo o
conceito de integração conceitual ou blending que Gilles Fauconnier e Mark Turner (2002)
desenvolvem em seu livro. Para Fauconnier e Turner (2002), o blending é um sistema que
organiza, aciona e afere os significados e conceitos com objetivo de entendê-los de uma
forma consciente, mas que também é operado, em sua grande parte, de uma maneira
inconsciente. Os linguistas cognitivos explicam que a identidade, a integração e a imaginação
são as operações básicas para a construção de significado. A integração conceitual, como
centro da imaginação, é regida por espaços mentais, que são espaços que construímos com as
imagens que manuseamos em nossa mente. No MO_AND também construímos espaços
mentais pois manuseamos imagens no intuito de combiná-las entre si para que possamos
compor e também para lidar com acidentes que possam vir a acontecer. Segundo os autores a
identidade, a integração e a imaginação são as operações básicas para a fabricação de
significado, dos mais simples aos mais intrincados. É claro que estas operações não são
simples, são complexas, inconscientes, enigmáticas e interligadas; na verdade, elas são a base
tanto para percebermos simples significados no nosso dia a dia quanto para grandes insights,
ideias ou explosões de criatividade humana. Para estabelecer estes espaços mentais nós nos
utilizamos de relações conceituais chamadas de relações vitais, que aparecem
sistematicamente comprimidas no blending, são elas: Mudança; Identidade; Tempo; Espaço;
Causa e Efeito; Parte – Todo; Representação; Papel; Analogia; Diferenciação; Propriedade;
Similaridade; Categoria; Intencionalidade e Unidade. Irei explicar cada uma delas mais
adiante. Estas relações vitais são comprimidas e descomprimidas constantemente, movendo-
se e associando-se entre si, criando, ainda, significados emergentes, sendo este processo
chamado de integração conceitual. (FAUCONNIER; TURNER, 2002) A partir dessa chave de
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Referências bibliografias
BLAIR, Rhonda. The Actor, Image and Action: Acting and Cognitive Science. USA and
Canada: Routledge, 2008.
EUGENIO, Fernanda; FIADEIRO, João. O Jogo das Peguntas: O Modo Operativo “AND”
e o VIVER JUNTOS SEM IDEIAS. In Fractal, Rev. Psicol. v 25, n.2, p.221 – 246. Maio/
Agosto 2013.
FAUCONNIER, Gilles; TURNER, Mark. The Way We Think: Conceptual Blending and
the Mind’s Hidden Complexities. Cambridge: University Press, 2002.
LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Philosophy in the Flesh: The Embodied Mind and
its Challenge to Western Thought. New York: Basic Books, A Member of the Perseus
Books Group, 1999.
VARELA, Francisco J.; THOMPSON, Evan; ROSCH, Eleanor. The Embodied Mind:
Cognitive Science and Human Experience. Massachusetts: Massachusetts Institute of
Technology Press, 1993.
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Palavras-Chave
ensino de teatro, teatro do oprimido, teatro político
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se num processo de interpretação do mesmo e das experiências ali vivenciadas com os seus
sujeitos. Ademais, as questões da poética e do processo de ensino e aprendizagem, em si,
atravessam a autora, em dimensões pessoais, artísticas e profissionais. O que justifica o
enfoque numa prática autoetnográfica nessa sistematização. A história pessoal, nesse tipo de
abordagem, deve de se tornar o trampolim para uma compreensão maior. Não se trata de
narcisismo. O discurso do praticante pesquisador, ao se voltar sobre si, não pode “ficar lá”,
deve ir em direção a outros. Na escrita desse estudo monográfico, considerou-se não apenas a
perspectiva de professora da autora, mas também traços autobiográficos que se entrecruzam
com sua prática profissional. Assim como seus alunos, a mesma também é moradora da região
metropolitana de Belo Horizonte - MG e vivencia, em meu cotidiano, relações de opressão
que se assemelham às vividas por eles. Diante de reconhecimentos como esse, percebeu-se,
então, uma interlocução entre a perspectiva metodológica acerca do sujeito da pesquisa e do
pesquisador na autoetnografia com a poética do Teatro do Oprimido, na qual, no exercício
político e estético da cena do Teatro - Fórum, o ator não fala pela voz do oprimido. São os
próprios espectadores que, ao se identificarem com as situações opressivas representadas,
entram em cena e podem, com sua voz, seu corpo e sua ação combater o opressor. Além de
treinar reações a opressões vivenciadas em seu dia-a-dia. Assim, empreendeu-se um exercício
de teorização, articulando estudos sobre o Teatro do Oprimido e a dramaturgia do Teatro-
Fórum, tendo como foco o processo com esses alunos da Casa Sr Tito. Para tanto, utilizou-se
como referenciais teóricos os estudos de Augusto Boal (1980; 2002; 2013; 2015), Flávio
Sanctum (2017), Bárbara Santos (2010), Suzana Schmidt Viganó (2006). Nesse sentido,
foram descritos e analisados alguns procedimentos utilizados para mapeamento das opressões
vividas pelos alunos e para apreensão de conceitos-chave do Teatro do Oprimido. Foi
introduzida, ainda, a estrutura dramática do Teatro - Fórum, cujas bases atravessaram a etapa
de criação dramatúrgica. E, por fim, refletiu-se acerca das reverberações do TO no cotidiano
dos sujeitos envolvidos nesta poética. O estudo leva a coadunar com a perspectiva de que não
há segmentação entre arte e vida, compreensão sustentada por Augusto Boal, criador do TO, e
que, aqui, é reflexo da prática com os alunos. Logrou-se, com o processo, interferir numa
dada situação de opressão vivida pelos moradores do bairro, gerando transformações inclusive
nos participantes do processo. Compreendeu-se, numa experiência prática, que, através das
técnicas do TO, é possível estimular e provocar os alunos – bem como os demais sujeitos em
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Referências bibliográficas
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. São Paulo: Cosac Naify, 2015.
______. O arco-íris do desejo: o método Boal de teatro e terapia. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 2002.
______. Stop: c’est magique! Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1980.
______. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
BOAL, Julián. Posfácio. In.: BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas.
São Paulo: Cosac Naify, 2013.
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Palavras-Chave
encenação, espaço, espectação
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alia as artes visuais para habitar outros espaços. No teatro serão tratados de modelos
configurados sobre o palco italiano e a proposta Wagneriana da obra de arte total, onde o
público é posicionado no espaço da plateia, frequentemente sentado em cadeiras. Esta
proposta será vista também a partir da noção de obra de arte viva de Adolphe Appia, onde o
autor se utiliza das ideias de Wagner, problematizando-as no processo. Percorreremos, então,
possibilidades onde o espectador é envolvido intelectual e fisicamente. Os estudos teóricos de
Antonin Artaud, a partir da obra O teatro e seu duplo, contribuirão para a ideia de um público
que é colocado no centro da ação; essa mudança levanta problemas. Para este estudo a
performance entra como um exemplo de linguagem disparadora e provocadora desta condição
de participante do espectador, possibilitando um modo diferenciado de inclusão. Nela é
possível ver traços de uma dinâmica que prioriza o coletivo e cede espaço à reação e
posicionamento sobre o que é visto e vivido. Deste modo, serão através destes exemplos, nas
artes visuais, no teatro e no cinema, que será traçado uma ponte e demonstrarei como
características presentes nas teorias da performance são vistas nos processos de diversas áreas
artísticas. Utilizarei as pesquisas de Richard Schechner (2006) e Renato Cohen (2002) com
seus estudos e revisões sobre as teorias da performance e a linguagem da performance art.
Será acrescentado também a visão mais recente de Josette Féral (2015) sobre as influências
mutuas do teatro e da performance. Neste processo, poderá ser observado o modo como é
entendida a noção de obra de arte, como ela é produzida, assim como a sua atuação. Tais
questões apontam para uma noção central sobre a ideia de arte moderna e influenciam
diretamente a relação entre obra/artista e público. A partir desta mudança, será possível
perceber como a linguagem da performance apresenta questões que são referentes a uma nova
forma de se pensar a arte. Dentro de um espaço entre a performance e o teatro busca-se
elementos que demonstrem novas relações. A partir do levantamento das diferentes
características, os termos que serão utilizados para definir determinadas qualidades
observadas, como a noção de obra de arte “ficção” e “tempo real”, entre outros, serão
desenvolvidos e analisados ao longo da pesquisa. A princípio pode aparentar ser um trabalho
de contrapontos e delimitações de diferenças, contudo o intuito aqui é um aprofundamento
maior. Primeiramente, porque os limites entre tais características não são fixados e inflexíveis,
pelo contrário, eles se movimentam o tempo inteiro. Tais limites estão localizados
simultaneamente entre polos como realidade e ficção e pertencem em trânsito e/ou mesmo
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tempo aos dois extremos. Esta possível trajetória sobre a condição do espectador vem
demonstrar uma mudança sobre a relação da arte com o público. A co-presença espectador/
ator ou performer é uma condição participativa que impõe abordagem de aspectos políticos.
Vê-se um espectador que adota um apassivamento físico para participar intelectualmente do
espetáculo, em contraponto a um espectador envolvido fisicamente na ação. Esta trajetória
não acontece de modo linear e progressiva; na verdade, é um processo muito mais complexo,
em que ambos aspectos são encontrados em épocas distintas e em alguns casos
simultaneamente. Esta pesquisa pretende compreender os desdobramentos de uma condição
de espectador onde ele se torna um co-criador da cena, transitando entre o dentro e fora da
situação do artista.
Referências bibliográficas
ARTAUD, Antonin, O Teatro e Seu Duplo. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FÉRAL, Josette. Além do limite: teoria e prática do teatro. Tradução de J. Guinsburg. São
Paulo: Perspectiva, 2015.
WAGNER, Richard. The artwork of the future IN: TREITLER, Leo. Strunk’s Source
Readings in Music History. Nova York, Norton, 1998.
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Palavras-Chave
ensaio, pensamento, tradução, poesia
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buscas (quests), que o colocam em cena a partir de gestos que oscilam entre a ficção da peça e
a realidade dos atores, dos habitantes e das ruas de uma cidade. Os gestos de Al Pacino expõe
para seu público a procura por formas de traduzir para o cinema aquela outra língua do texto,
sem buscar alguma compreensão “verdadeira” que o texto poderia evocar naqueles que se
especializam na obra, pelo contrário, os especialistas que aparecem no filme também são
mostrados com certa ironia. A forma contida nos filmes e os autores que escolhemos para
estudá-las nos direcionam também a Michel de Montaigne, o primeiro que se tem notícia que
nomeou seus escritos como Ensaios (Essays) (STAROBINSKI, 2011). Para Jean Starobinski
(2011), em Montaigne, o exercício da reflexão interna é inseparável da inspeção da realidade
exterior. É depois de ter abordado as grandes questões morais, escutado a sentença dos autores
clássicos, enfrentado os dilaceramentos do mundo presente, depois de se dirigir para muitos
espaços que procurando comunicar suas cogitações, ele se descobre consubstancial ao seu
livro, oferecendo de si mesmo uma representação indireta, que pede apenas para ser
completada, enriquecida (STAROBINSKI, 2011). Em cada ensaio dirigido à realidade
externa, ou ao seu corpo (STAROBINSKI, 2011), Michel de Montaigne experimenta suas
forças intelectuais próprias, em seu vigor e em sua insuficiência (STAROBINSKI, 2011).
Corrigan aponta que na trajetória do ensaio desde Montaigne, o mais interessante não é como
ele privilegia uma expressão pessoal e subjetiva, mas como complica e gera um problema
para a própria noção de expressividade e sua relação com a experiência (CORRIGAN, 2011).
Em seu último ensaio, intitulado Da Experiência, Montaigne escreve que os eruditos falam e
anotam suas ideias mais precisa e minuciosamente. Ele, que só vê as que a experiência lhe
informa, sem ordem, apresenta as dele no geral, e tateando (MONTAIGNE, 2010). Corrigan
aproxima essas características do ensaio ao texto Sobre a essência e a forma do ensaio, de
Georg Lukács, a partir da ideia de poemas intelectuais (LUKACS, 2008). Essa noção nos
desloca até Jacques Rancière. Para o autor, na exposição de seu pensamento, em seu ato de
palavra, o homem não transmite seu saber, ele poetiza, traduz e convida os outros a fazer a
mesma coisa (RANCIÈRE, 2008). O pensamento nos filmes que estamos analisando pode ser
tomado talvez como uma invenção, uma criação literária, uma ficção, um poema. Mas, como
afirma Rancière, a ficção, em geral, não é a bela história ou a vil mentira que se opõem à
realidade ou que se querem fazer passar por ela. Fingire não significa inicialmente fingir, mas
forjar (RANCIÈRE, 2010). Segundo o autor, é a impossibilidade que é a nossa de dizer a
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verdade, mesmo quando a sentimos, que nos faz falar como poetas (RANCIÈRE, 2008).
Nesse sentido, os filmes analisados a partir da relação que estabelecem entre a ficção e a não
ficção, conjugam um modo poético de expor um pensamento sobre um texto ou um assunto,
sem privilegiar o ponto de vista do artista, pelo contrário, são movimentos que questionam a
própria capacidade do observador. Desejamos com essa pesquisa contribuir para uma
discussão da cena teatral contemporânea que se caracteriza por uma tensão entre realidade e
ficção, entre o real e o fictício (FISCHER-LICHTE, 2013). No olhar de Fischer-Lichte
(2013), a proposta de alguns espetáculos contemporâneos, é diluir a oposição entre real e
ficcional, gerando um estado de crise à ponto que qualquer certeza quanto a saber se devemos
nos posicionar num mundo real ou ficcional se desvanece (FISCHER-LICHTE, 2013).
Referências bibliográficas
CORRIGAN, T. The Essay Film: from Montaigne, After Marker. Nova York: Oxford
University Press, 2011.
LUKACS, G. Sobre a essência e a forma do ensaio: Uma carta a Leo Popper. Revista
UFG, ano X, n. 4, p. 104-121, jan./jun. 2008.
MONTAIGNE, M. Os Ensaios: uma seleção. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
TRUFFAUT, F. Welles e Bazin. In: Orson Welles. Trad. André Telles. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2006.
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Palavras-Chave
Dramaturgia, drama, fragmentação, literatura, teatro.
A atual pesquisa propõe abrir uma reflexão sobre a obra do escritor e diretor alemão
Heiner Müller, cuja dramaturgia se desvinculada do teatro com raízes fincadas em formas
tradicionais da escrita dramática literária. Após revisão bibliográfica para contextualização
sobre vida e obra do autor e para instrumentalização conceitual para abordar sua obra, serão
analisadas três obras teatrais, dividindo o trabalho em duas partes. No primeiro momento um
embate entre as peças de aprendizagem A Decisão (1930) de Bertold Brecht e Mauser (1970)
de Müller, buscando formular sua principal crítica referente ao modelo de teatro épico
brechtiniano. No segundo momento, através da análise da peça Hamletmáquina (1977),
mostraremos o uso da poética da fragmentação tanto na estrutura textual quanto na
interpretação do ator, partindo da ideia que Müller desenvolve de corpo contra o conceito,
revelando que a fragmentação pode abranger um espaço maior para a reflexão do público em
contraposição ao teatro de fábula clássica. Este projeto visa pesquisar a dramaturgia de Müller
e seu teatro que foge dos padrões relativos à prática dramática cristalizada, abrindo outras
possibilidades de dramaturgias e fazeres teatrais, que reverberam em nossa
contemporaneidade cênica. Esta investigação propõe-se também a fundamentar uma futura
direção e encenação de Müller por este orientando. A abordagem metodológica utilizada por
esse projeto será feita por meio da leitura e levantamento de referências bibliográficas
relacionadas à vida e obra do autor, focando na cisão do teatro com a literatura dramática para
assim, construir a primeira linha de raciocínio do artigo. E a partir disso, estabelecer um fio
cronológico ligando às Vanguardas Históricas do começo do século XX e investigar sua
influência sobre a obra de Müller. A segunda etapa consistirá no estudo transdisciplinar de
algumas obras do autor, dialogando com os conceitos de desconstrução de Jacques Derrida e
de historicidade de Walter Benjamin, visando abrir o entendimento do caráter fragmentado
dos seus textos, buscando explicitar a forma de sua estrutura dramática e seu sentido. Por fim,
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pretende-se levantar uma discussão sobre a importância de uma escrita livre de amarras e
conceitos pré-estabelecidos, que parta para uma arte mais democrática na sua criação,
desprendida do textocentrismo. Logo, espera-se aprofundar o entendimento de questões que
abrangem a nossa contemporaneidade teatral, como a estrutura fragmentada de seus textos ou
como a materialização das obras do dramaturgo alemão se faz por meio da ação, entre outros
aspectos e características que estamos analisando. Além disso, com o término dos estudos
pretende-se criar uma base conceitual e analítica para um salto futuro, em uma segunda
iniciação científica teórico/prático, que inclua em sua metodologia e investigação uma
montagem, caracterizada pela relação de leitura e entendimento de um texto de Müller
conduzido pelo corpo do ator. Essa ambicionada montagem certamente se beneficiará desta
pesquisa e os novos caminhos que este estudo adentrará. Essa reflexão, pertencente a uma
iniciação cientifica em andamento, tem como finalidade debater a importância de Müller na
construção de um teatro mais autônomo da tradição literária dramática. Por meio da reescrita
da peça clássica Hamlet do escritor William Shakespeare e o questionamento da fábula
clássica como característica das peças de aprendizagem de Brecht, o autor reivindica através
de sua crítica à literatura dramática, um empoderamento do teatro, que bastasse a si mesmo,
dando prosseguimento às reflexões levantadas pelos autores que compuseram as vanguardas
históricas no começo do século e que continuam em nossos dias. Portanto conclui-se, que a
discussão nunca foi contra a palavra, mas sim pelo papel hegemônico, logocêntrico e
hierárquico que ela ocupava no teatro ou pelo esvaziamento de seus sentidos na inconsciência
da primazia da ação criativa na arte teatral que materialize esteticamente essa palavra. Assim
como George Fuchs usava como lema a reteatralização do teatro (FUCHS apud SANCHES,
1999). contra os literatas, Müller acrescenta seu grito radical por um teatro em oposição e
resistência à literatura, que aumentaria sua contundência política, estética e cultural em textos
que não pudessem ser representados pelo teatro convencional, como dizia ele (MÜLLER
apud RÖHL, 1997). Além dos conterrâneos de Müller citados anteriormente, outros
professores pesquisadores brasileiros e de outras nacionalidades – que se debruçaram sobre as
obras de Brecht, Müller e sobre poéticas do diverso e múltiplo teatro contemporâneo – são
aliados conceituais e contextuais fundamentais. Podemos destacar o francês Jean Jacques
Roubine sobre o teatro contemporâneo, o espanhol José Antonio Sánchez sobre as Vanguardas
Históricas, a paulistana Ingrid Koudela (USP), sobre o teatro de Heiner Müller, Ruth Röhl
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(USP) auxiliando na abordagem analítica das peças do autor alemão e Luciano Gatti com o
estudo da metodologia das peças de aprendizagem de Brecht e Müller. Os conceitos de
dialogismo, de Mikhail Bakhtin, e de historicidade, de Walter Benjamin, também estão sendo
investigados para averiguar outras portas de entrada para a obra de Heiner Müller e para
discussão das poéticas teatrais contemporâneas, mais distantes da hegemonia da escrita de
gabinete, do drama logocêntrico e desteatralizado, que desaproveita as articulações e fissuras
entre o semiótico e o semântico, ou entre o verbal e o cênico ou performativo, que a
linguagem teatral pode proporcionar de forma única, como Müller clamava.
Referências bibliográficas
RÖTH, Ruth. O teatro de Heiner Müller. São Paulo: Editora Perspectiva, 1997.
SANCHEZ, José A.. La escena moderna: Manifestos y textos sobre teatro de la época de
las vanguardias. Madri: Ediciones Akal, 1999.
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Palavras-Chave
corporeidade da contradição, melancolia, Walter Benjamin
A pesquisa investiga uma corporeidade melancólica que pode ser vista como um
reflexo das contradições do estado de exceção da experiência social hipermoderna
(Lipovetsky). A importância da melancolia para esta pesquisa se funda na possibilidade que
ela parece oferecer de reflexão sobre este corpo hipermoderno, fundado em uma estrutura
social produtora de experiências subjetivas de pauperização, ao mesmo tempo que pode ser
visto como potência de resistência a este contexto. Toma-se este corpo como um corpo social
em estado de desordem e de suspensão, mas que, contraditoriamente, está engajado em uma
reflexão e criação críticas diante de sua própria falência. Investiga-se uma experiência social
subjetiva hipermoderna por meio de um estudo centrado na ideia de melancolia, aqui
entendida como sintoma de um sistema econômico, social e político gerador de miséria
subjetiva e, de outro lado, como potência de resistência e de criação de uma nova anatomia de
nossa experiência física e social. A potência deste corpo ancora-se na sua capacidade de
revelar nossa condição hipermoderna como um estado de exceção, interessando-nos pesquisar
a linguagem artística e os enunciados dramatúrgicos que podem ser elaborados neste processo
de tradução do “vazio melancólico” em corporeidade. Esta pesquisa partiu de um processo de
criação artística, o solo Anatomia da Melancolia – experiência I, em que o material teórico foi
experimentado como corporeidade e dramaturgia e a partir do qual foram criados enunciados
compositivos. Esses enunciados nascem, assim, em uma perspectiva dialética, no limiar de
uma reflexão filosófica, sociológica e histórica, tendo como referências bibliográficas
principais os autores Walter Benjamin, Georges Didi-Huberman, Giorgio Agamben, Julia
Kristeva e Theodor Adorno. A palavra melancolia, no Ocidente, designa uma estrutura de
sensibilidade que caracteriza o sujeito que se vê em posição excêntrica frente à norma de sua
época. Da Grécia homérica até o romantismo, passando por Aristóteles e pela crise do
Renascimento, o melancólico era considerado como um ser de exceção, sujeito à alternância
entre momentos de inspiração poética e ataques de fúria ou de inapetência para a vida.
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Segundo Jackie Pigeaud, a reflexão sobre a melancolia tem sido, desde Aristóteles,
indissociável da pergunta sobre a criação estética, já que se relaciona sempre com uma
experiência subjetiva e anímica. O diálogo negativo entre o eu do artista e a realidade que o
envolve é base fundante deste corpo melancólico, aquele que ainda conseguiria ser afetado
pelos choques e contradições entre sua subjetividade e o progresso da modernidade. É desse
choque que parece emergir sua potência de resistência: a melancolia evidencia a inadequação
do sujeito a sua época, ao mesmo tempo que atesta a contaminação deste corpo pela mesma.
Esta contradição pode ser vista na afirmação da autora Julia Kristeva (1987) ao dizer que “o
artista consumido pela melancolia é ao mesmo tempo o mais implacável a combater a
demissão simbólica que o envolve”. Em nosso presente estudo, a ideia de melancolia é
tomada tanto como um estado do corpo, como alegoria de uma condição existencial, cultural e
social. Bastante anterior ao conceito psiquiátrico do termo, a melancolia é, desde Homero,
uma cólera ligada à existência humana, podendo ser vista como um estado de recusa de tudo
que parece não ser justo ao homem, ou ainda, como sintoma da consciência de nossa miséria.
É possível buscar em Walter Benjamin aspectos da melancolia como um sintoma social do
nosso século, relacionando o desencanto do melancólico ao efeito de uma inadequação ou de
uma recusa em relação as suas condições sociais. A desvalorização da experiência da vida
conduziria ao fatalismo que está na origem da indolência do coração do melancólico. Em
"Origem do drama barroco alemão" de Walter Benjamin, a acedia melancólica refere-se ao
sentimento de um "mundo vazio" em que as ações humanas são privadas de todo o valor. A
desvalorização da experiência da vida, para Benjamin, conduziria ao fatalismo que está na
origem da acedia, da “indolência do coração” do melancólico. O choque, para Walter
Benjamin, estaria relacionado ao impacto que a realidade causaria sobre a subjetividade,
tornando sua recepção incompatível com a experiência. O autor relacionou a crise da
experiência e da linguagem à nossa incapacidade de transformar uma experiência vivida em
experiência autêntica, devido ao impacto do trauma sobre o corpo e da impossibilidade de
assimilarmos o choque. Se à época de Benjamin, os corpos ainda ressentiam e não
assimilavam o choque, o trauma que vivemos em nossa hipermodernidade parece ser a
distorção perversa desta situação: estamos a tal ponto traumatizados que já absorvemos o
choque, o assimilamos sem estranhamento, não ressentimos seu impacto sobre nossos corpos,
tornamo-nos apáticos em relação àquilo que nos violenta. Nossa capacidade de espanto e de
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choque face à realidade foi neutralizada, no entanto, esta aparente neutralidade gera uma nova
qualidade traumática, deixando, inevitavelmente, rastros latentes (abatimento, angústia,
ansiedade, entre outros sintomas) de incompreensão e inadequação a esta violência
emudecida. Um desses traços é a melancolia, contraditoriamente, sintoma e antídoto de
resistência a esse mesmo trauma. Este corpo melancólico procura encontrar em suas ações e
enunciados, uma dramaturgia que possa reconstituir o choque, trazendo à tona as contradições
de sua época, evidenciando o trauma e, assim, talvez resistindo à apatia hipermoderna. Um
dos enunciados encontrados em Anatomia da melancolia – experiência I para trazer à tona o
choque normatizado, foi o de fazer o corpo operar a partir de contradições: se de um lado este
corpo melancólico se encontra em total paralisia, petrificado, tragado pela gravidade da Terra
e pelas leis terrenas do capital, de outro, é justamente a partir da insistência sobre esta
imobilidade, do trabalho sobre esta impiedosa anulação subjetiva, que pode emergir uma ação
de resistência melancólica. Nesta proposta de comunicação oral, procurarei compartilhar os
enunciados que foram criados a partir desta chave da contradição. Buscarei igualmente expor
o caminho teórico-prático a partir do qual foi possível nomear e conceber esses mesmos
enunciados, em vista da criação desta corporeidade.
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Palavras-Chave
canção, cena, gesto
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partir de então, foi possível perceber a canção em sua particular especificidade: nem
exclusivamente música, nem só poesia, mas um objeto único intrinsecamente ligado à
oralidade, à melodia da fala, à entoação. Porém, quer estejam alinhadas à formulação teórica
proposta por Tatit, quer não, podemos notar que a maior parte das pesquisas (assim como boa
parte do acervo bibliográfico que vem se constituindo no país) privilegia o exame da obra do
cancionista, o compositor de canções. Há também aqueles trabalhos que se debruçam sobre
movimentos, como a Bossa Nova e a Tropicália, ou sobre gêneros, como o samba e o rock; a
presença de estudos sobre os intérpretes não-compositores é espantosamente menor. Há, no
entanto, uma outra questão a ser destacada: de um modo geral, as pesquisas, sejam elas
voltadas para a análise de canções, sejam elas voltadas para a interpretação do cantor, têm
como principal fonte o registro fonográfico. Nesse processo de tornar mais compreensíveis os
procedimentos e as escolhas dos artistas, os pesquisadores se amparam principalmente na
escuta de seus fonogramas. De fato, no Brasil, assim como em diversos outros países, a
história da canção popular se confunde com a história das tecnologias de gravação,
reprodução e difusão. Às primeiras técnicas de gravação ela deve a sua configuração básica: a
de uma peça breve com duração variável de três a quatro minutos. Aos suportes de reprodução
e difusão – disco, fita cassete, rádio, TV, internet – ela deve o seu imenso alcance. Se é
inegável que a canção popular, tal como a conhecemos hoje, se conforma e se projeta como
obra mediatizada, não podemos tampouco negar o caráter performático e cênico que lhe é
próprio. E mais do que próprio: fundante. Pessoas cantavam para ser ouvidas por outras
pessoas muito antes da invenção das máquinas falantes, como eram chamados os primeiros
fonógrafos, e da descoberta de que ondas eletromagnéticas poderiam propagar o som (e
posteriormente a imagem) – e continuaram a fazê-lo mesmo depois de a revolução digital ter
transfigurado o mundo. Assim, a partir da premissa de que a canção é também uma arte da
cena, a pesquisa se dedica à análise das performances de palco da cantora brasileira Mônica
Salmaso e da cantora e compositora portuguesa Maria João. Para compreender a especial
força poética de um concerto de canções e de que forma as atuações das duas artistas podem
ser tão catalisadoras e criadoras de sentidos, o estudo procura perceber as diferenças e as
aproximações entre seus procedimentos cênicos, elegendo como conceito central a noção de
gesto, tal como é proposta pelo medievalista suíço Paul Zumthor. Gesto é entendido aqui
como um movimento ou atitude corporal que encontra seu equivalente em um certo uso da
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voz e vice-versa; unidos, eles projetam no espaço da performance o corpo daquele que canta.
O trabalho recorre também a outros conceitos e noções: proposições como gestualidade oral,
de Luiz Tatit (2002); vocalidade, de Mirna Spritzer (2010) e Paul Zumthor (1993, 2005, 2007,
2010); grão da voz, de Roland Barthes (2009) e gesto expressivo, de Christine Roquet (2001),
deslocam-se pelo texto, envolvendo e acompanhando a noção central de gesto, ao lado de
outros termos importantes como performance, performance mediatizada, acontecimento,
presença, corpo e corporeidade. Colocados em relação, eles nos possibilitam reconhecer e
apreender, ainda que parcialmente, os gestos de Mônica Salmaso e Maria João. A metodologia
contempla, além do mapeamento documental (discos, DVD’s, registros em vídeo, entrevistas
e depoimentos impressos e gravados), a observação de concertos, a realização de entrevistas e
a análise dos documentos de acordo com os referenciais teóricos escolhidos. A expectativa é
de que, ao final da dissertação, seja possível ultrapassar o senso comum que reduz a força e o
fascínio de uma performance de canções ao magnetismo, ao carisma pessoal do intérprete. E
que, ao fim, possamos perceber nas perfomances de Mônica Salmaso e de Maria João aquilo
que elas são: uma construção, uma criação, uma poética.
Referências bibliográficas
TATIT, Luiz. O cancionista: composição de canções no Brasil. São Paulo: Edusp, 2002.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a “literatura” medieval. São Paulo: Companhia das
Letras, 1993.
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Palavras-Chave
arte relacional, teatro interativo, teatro e mediação
O projeto Teatro de Água: uma Estética Relacional por meio da Mediação Artística
surge a partir de uma inquietação à respeito da participação do espectador na cena teatral
aliada à experiência de quase dois anos de estágio, trabalhando como mediador em exposições
de Artes Visuais promovidas pelo Serviço Social do Comércio (SESC). Ainda hoje, quando
pensamos em “teatro”, não é difícil cairmos em certas convenções remanescentes do teatro de
tipo burguês e uma das mais evidentes, tanto ao imaginário popular quanto nas próprias
produções atuais, está na famigerada divisão entre palco e plateia: os atores em seu espaço
podem realizar várias ações e dialogar entre si, mas para que isso ocorra os espectadores, em
contrapartida, necessitam guardar silêncio e permanecerem sentados para o deleite do que há
de vir aos seus olhos (SOLER, 2013). Cada grupo assume seu respectivo “papel” para que
assim seja possível acontecer o espetáculo. Neste teatro, como no cinema, não se pode
comentar diretamente ao que se vê: qualquer fala a ser emitida pelo espectador deve ficar para
depois do espetáculo (BOURRIAUD, 2009). A experiência de visitar uma exposição de arte,
por outro lado, revela-se como um momento de diálogo em si, dentro e durante a visitação.
Ainda que o espaço expositivo possua, muitas vezes, uma arquitetura intimidadora, sua
configuração é toda construída para uma proximidade entre espectador e obra, ou seja, para
que eles possam se relacionar. Quando uma obra de arte se encontra no espaço expositivo ela
se abre ao diálogo, à discussão com os espectadores, fomentando também a discussão deles
entre si (BOURRIAUD, 2009). É verdade que toda manifestação artística propõe formas
específicas de socialidades, constituindo-se um objeto relacional, pois a participação do
espectador se faz necessária para dar sentido à obra (BOURRIAUD, 2009), mas o que é
importante se perguntar é qual o tipo de relação queremos proporcionar: uma relação que
ocorre através de uma divisão espacial e de contratos tácitos? Ou uma relação em que o
espectador não necessita ser privado de nada para que a obra de arte possa acontecer? Com o
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arte relacional em instituições sociais. Essas atividades são programadas como encontros
episódicos que exploram os elementos constituintes da linguagem teatral, não se restringindo
apenas à criação de cenas. Independentemente do que é proposto e da forma como ocorre a
proposição, a arte só acontece na ação resposta dos participantes, cabendo aos proponentes
estarem prontos à se adaptar ao universo de possibilidades guardado em cada indivíduo. Tal
característica é o que cunhou o nome Teatro de Água. A água foi imortalizada como elemento
representativo de adaptabilidade por Bruce Lee quando, em uma entrevista, se referiu à
capacidade maleável deste elemento que pode assumir qualquer forma, não importando quais
sejam as particularidades de seu recipiente. Por fim, este projeto almeja para o futuro
conceber um experimento cênico final destinado às instituições parceiras que englobe todos
os resultados gerados a partir dos encontros em cada atividade, sendo construído na base da
estética relacional, com a mediação artística, afim de consolidar novas formas de relações
humanas na arte.
Referências bibliográficas
SCHMITT, Eva. Mediação artística enquanto arte? Arte enquanto mediação artística?
Ou: por que, às vezes, arte e mediação artística são a mesma coisa. Mediação Artística.
Humboldt. Ano 52, n.104, p.5-6, 2011. Disponível em: <http://www.goethe.de/wis/bib/prj/
hmb/the/156/pt8622694.htm>. Acesso em: 20 març. 2017.
MOARES, Diogo de. A mediação como compartilhamento. 2009. Disponível em: <http://
www.canalcontemporaneo.art.br/arteemcirculacao/archives/002646.html>. Acesso em: 10 jan.
2017.
BOAL, Augusto. Teatro como arte marcial. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
I AM Bruce Lee. Direção: Pete McCormarck. Fotografia: Derik Murray. 82 min, HD, color,
2012. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=R-80RBQCUCA>. Acesso em: 10 jan.
2017.
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Palavras-Chave
acontecimento teatral, corpos-negativos, entre, presenças, subtextos
A pesquisa almeja conceber uma reflexão de base intersticial para discutir a respeito
do acontecimento teatral. O objetivo é tratar das formas de interação existentes nesse
acontecimento no qual, inclusive, os corpos acontecem, evento que se dá na relação de suas
incompletudes (daquilo que não está, que não é dito, que não é visto). O acontecimento teatral
é abordado como experiência limite, pois faz do limiar entre os corpos envolvidos um espaço
de forças ativas ao considerar o exercício de alteridade um motor de criação artística e
corpórea. A pesquisa de doutorado apresentada se organiza a partir de ensaios que dialogam
sobre e a partir da esfera do entre. Não se propõe, dessa forma, a uma reflexão sobre a
especificidade dos campos do processo criativo dos artistas ou da recepção teatral em si. As
relações entre os corpos-sujeitos espectadores e atores, e as relações autônomas que essas
relações operam entre si são objeto de discussão. O trabalho do artista, a partir dessa reflexão,
é o de propor espaços para o nascimento do sentido e o espectador, por sua vez, comparece
acionando o espaço da participação entre os corpos. Já o pesquisador desse fenômeno, só
pode se aproximar da possibilidade de tocar a relação realizada entre esses agentes se
colocando em risco, se lançando nos lugares de experiência entre os tocantes, tentando
enxergar e escutar o que surge e sobra, buscando por vestígios de um transborde inerente ao
próprio tocar. A pesquisa está pautada em estudos das artes cênicas e da filosofia e também
fundamenta parte da reflexão em relatos sobre experiências artísticas vinculadas de diferentes
formas à ideia de acontecimento teatral. No campo das artes cênicas os principais autores
estudados são Constantin Stanislavski (1997), Antonin Artaud (1985), Jorge Dubatti (2016) e
Erika Fischer-Lichte (2011). Na filosofia, a principal inspiração parte das obras de Jean-Luc
Nancy (2006) e Georges Bataille (2016), pensadores de aporte inestimável para as reflexões
sobre a ideia de entre. O entre, entendido aqui como campo autônomo, é a condição para a
relação entre os corpos, não como laço de união, mas como diferença e lugar de acesso. Além
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de condição para e parte do fruto das relações, o entre excede ambos os aspectos e em seu
excesso possui camadas próprias que agenciam outras operações. A partir dessa proposta de
reflexão, dentre os pontos operadores dos acontecimentos do entre (ou do interstício do entre)
está o corpo na perspectiva de corpos-negativos, os subtextos e as presenças. No interstício se
relacionam os corpos na perspectiva de corpos-negativos, não na medida de uma falta que
possa ser preenchida ou sanada, mas de uma insuficiência e incompletude como condição de
existência. Nenhum corpo “é” na totalidade de ser, a negatividade pulsa na irrealização de si
como totalidade ou completude. Realiza-se apenas na presença do outro e em provisoriedade.
A singularidade do outro oferece um “a que” se singularizar, a pluralidade dos corpos, faz da
existência uma produção em comum, na qual, segundo Nancy (2006), o ser é compartilhado.
Na relação com o outro, os corpos se ex-cedem, excedendo suas fronteiras num deslocamento
infinito que faz do outro parte da produção de si. Corpos-sujeitos plurais e singulares de
contornos abertos, rasgados, irrealizáveis como totalidade encerrada. A partir desse
pensamento, ator e espectador só reafirmam suas existências (junto a suas funções e papéis)
no ato de seu encontro, onde um torna necessária e atual a existência do outro como tal. Onde
um deseja, busca e realiza o outro. Não há uma capacidade que exista independente em
nenhuma dessas partes que não alcance sua potência no encontro entre elas. Outra camada do
interstício se refere à comunicação entre os subtextos criados pelos atores e pelos
espectadores. A partir da continuidade da reflexão iniciada na ocasião do mestrado em Artes
Cênicas, o subtexto, conceito trabalhado por Stanislavski, é tratado aqui como um repertório
ativo corpóreo que é matéria para e criador de ações cênicas. A relação entre texto e subtexto,
faz da visibilidade e invisibilidade uma esfera só, na qual o subtexto se manifesta no texto
que, no ato de sua atualização, recria o subtexto, reenviando o texto à outro lugar. Como
elemento produtor de sentido para ações físicas e vocais, o subtexto se desdobra no
espectador que se vê autônomo no espetáculo do qual é também agente da criação. Os
subtextos e textos dos atores acionam subtextos nos espectadores e essas criações se
encontram em contato no entre que partilham, reverberando reenvios e realizando
comunicações ocultas para além da linguagem. Entre ocultação e revelação temos ainda a
presença, que não é aqui compreendida como a capacidade do ator de reter atenção do
público, ou como habilidade do espectador a partir do campo criativo da recepção. No campo
do interstício, a presença não é um objeto, mas relação. Relação que se ausenta no mesmo
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momento de sua manifestação como presença. Dá lugar ao que ela causa, ao que ela faz
aparecer, ao que é sentido, que, por sua vez, só é sentido como corpo. A relação de presença
entre os corpos atores e espectadores é a condição primeira do acontecimento teatral. Esse
estado de convívio em presença, segundo Dubatti (2016), faz da matriz do teatro um ponto
ontológico importante para reflexão sobre uma arte que tem na efemeridade dos corpos em
criação conjunta, a sua possibilidade de surgimento. Assim como existem coisas que
simplesmente não se pode ver ou tocar (mas que podem ser sentidas e escutadas), existem
coisas que tornam possível ver o que se pode ver e tocar o que se pode tocar. Mas no ato do
deslocamento entre essa possibilidade e o seu acontecimento como visão e toque, elas se
retiram como coisas, dando lugar ao próprio acontecimento junto ao que ele faz acontecer no
corpo que viu e que tocou e, igualmente, no que foi visto e tocado. Trata-se de uma relação de
nascimento, tais elementos atuam em níveis de visibilidade e invisibilidade sem pertencer a
uma ordem dicotômica de oscilação, mas a um terceiro estado formado das duas partes –
sobrepondo corpos de imaterialidades e imaterialidades corporificadas.
Referências bibliográficas
DUBATTI, Jorge. O teatro dos mortos: introdução a uma filosofia do teatro. São Paulo:
Edições Sesc São Paulo, 2016.
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Palavras-Chave
experiência, forma, teatros do real
Não é de hoje que os ares sentem o frescor de uma reiterada premissa, nos estudos
artísticos: o grau máximo de incidência política das obras encontra-se em sua forma de
composição. Tão conhecido diagnóstico propaga-se a despeito dos que insistem em considerar
os debates estéticos apenas envoltos em seus inerentes contornos e ao lado daqueles que
compreendem que, por mais descontextualizados ou a-históricos que possam parecer alguns
materiais, todo objeto utilizado em determinada criação ainda carrega em seu âmago as
matrizes do contexto no qual foi possível sua irrupção primeira. Dentre outras coisas, a
perspicácia desta forma de entendimento reside em sua percepção de que todos os elementos
estão em constante transformação. Em outras palavras, isso significa dizer que um bom
estudo sobre o teatro contemporâneo não deve se isolar nas aparências difusas de um tempo
sem qualidades, mas investigar profundamente suas matrizes de composição, sempre em
incessante alteração, por mais que a necessidade do movimento em grande parte dos casos
acabe apenas por repor o esperado, ou gerar figurações de uma ininterrupta paralisia. Todavia,
se as alterações históricas parecem ser um dado da realidade, que se transforma em sua
permanência e permanece enquanto ruptura, talvez um novo pressuposto possa ser formulado
às análises que ainda insistem em aproximações entre os campos da arte e da política: hoje, é
provável que o grau máximo de incidência política das obras esteja e não esteja em sua forma.
Se o protesto de Duchamp calou-se no exato instante de sua institucionalização, talvez algo
semelhante esteja a se revelar na neblina de uma teoria que encontrou seus limites na
exaltação de seus preceitos. Era Adorno quem declarava a alta probabilidade dos artistas, ao
evocarem a si mesmos e a seus trabalhos ares de uma inquestionável potência revolucionária,
apenas tentarem esconder ou ofuscar a intrínseca margem de impotência que reverbera em
toda sua criação. O otimismo irrefutável, porque descontextualizado, de parte da teoria
produzida atualmente, cujos resultados por vezes independem dos próprios objetos analisados,
tem relação e parentesco com isso. Foi o psicanalista Tales Ab’Sáber quem, em um texto
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recente, afirmou que uma das grandes transformações vivenciadas durante a segunda metade
do século XX consistiu no esgotamento dos impulsos políticos da geração protagonista dos
anos 1960, embora sua derrota seja passível de aclamação em ares razoavelmente
progressistas, somado ao subsequente nascimento de uma nova geração: os derrotados de
1968 não demoraram a se mostrar incrédulos a respeito de qualquer possibilidade de
transformação social, embora ainda permanecessem profundos sonhadores, atirados sob a
promessa de uma improvável experiência – termo que, ao que tudo indica, parece menos uma
matriz de análise recorrente sobre o teatro contemporâneo e mais o resultado de um conflito e
derrota históricos. Como aos recentes trabalhos artísticos interessa o processo e não mais a
obra, ao mesmo tempo em que a essa ainda se estipula um preço no aparentemente
incontornável reino das mercadorias, resta aos espectadores e à crítica a possibilidade de
elaboração da atravessada experiência, sempre única e radical, como tanto se diz. Com tão
comum diagnóstico, encerra-se a maior parte das análises desenvolvidas atualmente, em
especial aquelas que se dedicam aos intitulados teatros do real. Excluído da equação
permanece um singelo apontamento, feito por Helena Silveira, acerca da produção
cinematográfica desenvolvida após os anos da década de 1930: no fundo, o fato é que o real
dá muito mais bilheteria que a fantasia! Se é verdade que, desde sua fundação, o fenômeno
teatral precisou assegurar a si mesmo um lugar entre a realidade e a ficção, um irrestrito
limiar, na medida em que aqueles dois âmbitos permaneciam operantes na profundidade de
sua estrutura, como intrínsecas e irreconciliáveis substâncias, quando se fala sobre os
famigerados teatros do real, concebidos por Maryvonne Saison em 1998, talvez não sejam as
considerações e apontamentos sobre representação que devam ocupar o centro dos casos e
debates, mas o estudo inescapável das condições que propiciaram o advento de uma
configuração na qual a verdade do mundo do trabalho tornou-se uma irrestrita condição ao
advento das obras. No limite, anunciada a irrupção de uma sociedade inteiramente
unidimensional, fundada na paralisia da crítica, incapaz de vislumbrar o avesso das coisas,
coube às obras uma profunda adaptação ao existente, ou, na melhor das hipóteses, a
possibilidade de vislumbrar um outro qualquer, ainda fincado no sempre igual. E, na medida
em que permanecem intocadas as bases econômicas de sustentação da realidade, o barulho
feito pode até ser grande, mas orquestra uma sinfonia pouco incômoda. Todavia, parece certo
que sob o estatuto de uma experiência muita coisa pode acontecer. Seguramente, cabe-nos
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
dança, dramaturgia, processo de criação
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residência foi aberta para toda a comunidade de Piracicaba, no segundo encontro o Núcleo
apresentou a célula de vinte minutos para o grupo, que depois respondeu com impressões; os
temas e as respostas que emergiram foram muito fortes: como se fosse a vida dando força,
imagens de sangue, lama e água, o rio e sua natureza selvagem contrastavam com o corpo
humano. Ocorre que após intervenção dos jogos investigados ao longo do processo de
residência, os quais adentraram a cena e fermentou o trabalho, o significado daquele “estudo”
havia se transformado por completo. Esta realidade nos atenta para questões dramaturgicas e
de como a relação estabelecida entre dança e público, no caso as crianças, faz com que a cena
transforme seu sentido. O desempenho da dança que o Núcleo trouxe foi uma forma distinta e
o significado para o público era forte, claro e pessoal. Ao abrir isso para a resposta de crianças
e crianças muito pequenas, o significado transformado. Neste sentido, Salles, 2004 nos
apresenta a reflexão de que forma e conteúdo estão intimamente ligados, uma vez que o
conteúdo se manisfeta a partir da forma alem disto esta autora enfatiza a relação inerente no
processo de criação entre o artista e os meios que o mesmo seleciona. Percebemos desta
maneira que ao combinarmos o jogo, a participação e a dança transformaram por completo o
significado e sentido do trabalho. Este breve exemplo, estudo, experiência nos faz crer, assim
como nos aponta Salles, 2004 em relação à forma sendo ela o que constitui o conteúdo, e
assim, invariavelmente, uma vez que a forma se modifica, o conteúdo e sentido também irá se
transformar. Neste sentido gostaríamos de discutir em especial na obra do grupo Australiano,
de que maneira a corporeidade ganha novo sentido na cena e como o contexto de uma obra
pode influenciar no contexto de sua realização. Estaria a dramaturgia passível de se deslocar
pelo espaço tempo de uma mesma obra? Para Macedo, 2016, a compreensão da dramaturgia
se da em sua processualidade, é ela quem propõe uma estruturação do sentido da obra,
levando em conta a singularidade artística de cada processo; em sua tese de doutorado, a
autora nos apresenta visões distintas sobre dramaturgia a partir do olhar de coreógrafos
atuantes na cena da dança, ela ainda nos apresenta a dramaturgia como sendo o coração, o
lugar no qual pulsa a obra cênica. Como este processo pulsante estaria então vinculado ao seu
tempo/espaço e relações estabelecidas? De que forma estaria a dramaturgia fixada na essência
de um trabalho? A pesquisa, que segue em ampla escavação, compartilha da ideia de
“meshwork” apresentada pelo antropólogo Ingold, 2010 e vislumbra compreender quantos
caminhos uma mesma obra pode ter e de que maneira sua dramaturgia se transforma diante
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dessas escolhas. Para tanto tem como impulso a obra de Polyglot, sendo experiência acima
propulsora desta indagação. O estudo pretende analisar as fronteiras e espaços de
compartilhamento entre atores-autores e do público presente nas performances, e de que
forma a realidade local teria impacto neste tipo de construção artística sugerida pelo grupo
australiano.
Referências bibliográficas
INGOLD, Tim. Being alive: Essays on movement, knowledge and description. New York:
Routledge, 2011.
SALLES, Cecília Almeida. Gesto Inacabado – Processo de Criação Artística. São Paulo:
Annablume/ FAPESP, 2002.
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Palavras-Chave
imaginação, imagens, corpo
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Podemos dizer que, se Stanislavski perseguia a criação da experiência viva em cena, a busca
de Artaud estava intimamente ligada a explorar a experiência viva no corpo. Sua obra é farta
em imagens do corpo humano, de seus órgãos, músculos, funções fisiológicas, de sua
enfermidades. No entanto, elas não surgem nunca seguindo uma lógica anatômica funcional.
O corpo não surge nem como um objeto a ser dissecado, nem como figura de linguagem, mas
como o lugar da transformação de si. Ao expressar a urgência em modificar a realidade na
qual ele se encontrava, o autor fala sobre a necessidade de uma "revolução fisiológica" e de
uma "metamorfose orgânica verdadeira do corpo humano" (ARTAUD apud VIRMAUX,
1978, p .321 -324). A revolução teria de ser feita no corpo e através do teatro. O teatro se
tornaria então o lugar em que o corpo se transforma e, através dele, se reorganiza- ou se
desorganiza- a realidade em que vivemos. Ou seja, em Artaud, ao contrário de Stanislavski, a
imaginação não está a serviço da obra teatral, mas, assim como a própria obra teatral, está
subordinada ao objetivo principal de realizar esta "revolução fisiológica". A partir da idéia de
que a imaginação opera concretamente no corpo do artista da cena e pode, assim, transformá-
lo, nos propomos problematizar esta relação, investigando e articulando, nessa discussão
inicial, algumas abordagens do corpo da antropologia e das ciências cognitivas. Através das
ciências cognitivas falamos, por exemplo, da prática da “imagética motora”, uma técnica,
aplicada principalmente na área da saúde e de esportes para a recuperação e aperfeiçoamento
de atividades musculares, em que, através da imaginação de uma atividade, observa-se uma
ativação de estruturas neuronais análogas às que seriam ativadas no exercício da atividade em
si. Comentamos em nossa pesquisa experimentos realizados com atores que nos fornecem
indícios similares acerca da eficácia corporal do uso da imaginação. Contudo, embora estes
estudos tenham o rigor comum dos experimentos científicos, eles não podem ser considerados
isoladamente, por não darem conta de todas as camadas do fazer artístico. Tendo em vista o
trânsito que almejamos entre materiais que analisam e organizam o corpo e materiais que
levam em conta a experiência e a subjetividade deste corpo, necessitamos recorrer a outras
formas de entendê-lo. Neste sentido, nos interessa o texto “Eficácia Simbólica” de Lévi-
Strauss, em que o autor narra um processo de cura xamânico em uma mulher parturiente da
tribo indígena Cuna. Neste processo o xamã é chamado para ajudar uma mulher com
dificuldades no trabalho de parto. Através de um canto ele vai narrando todo o processo de
fecundação, gestação e nascimento por meio de imagens que se referem a mitologia desta
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cultura. Neste texto, Lévi-Strauss está menos interessado em precisar o que acontece no corpo
da mulher do ponto de vista fisiológico do que explicitar a potência do uso de símbolos na
transformação da situação descrita. Não existe aí um experimento rigoroso que demonstre
empiricamente a eficácia das imagens, mas a transformação - a “metamorfose orgânica” -
através delas é igualmente legítima. Estes materiais nos levam a dois pontos cruciais para uma
investigação da imaginação no teatro: 1) a eficácia da imagem está ligada diretamente a
relação do indivíduo com aquela imagem; ou seja, o nosso repertório de possibilidades está
relacionado ao nosso contexto cultural e a nossa história pessoal - seja o exercício da
imaginação por um treinamento como na técnica da imagética motora, seja uma prática
cultural ligada à imagens como a da tribo Cuna e 2) imaginar não é uma ação que é dada de
imediato, é uma ação a ser construída e que se constrói levando em conta a subjetividade
daquele que imagina. Embora sejam pesquisas de caráter bastante distintos, todos elas nos
levam a pensar que existe uma potência no uso de imagens para uma transformação do corpo.
Entretanto, nenhum destes materiais nos apresentam um treinamento claro desta imaginação.
Para que nossa pesquisa possa se aprofundar nesta exploração, será iniciado no próximo
semestre a parte prática da pesquisa, em que serão explorados exercícios que se utilizem da
imaginação, revisitando exercícios tradicionais e elaborando novos, na criação de um caderno
de exercícios.
Referências bibliográficas
ARTAUD, Antonin, O teatro e seu Duplo, São Paulo: Martins Fontes, 2006
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Palavras-Chave
Bufonaria, jogo, performance
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ovos e medos visa contaminar as relações entre o corpus da pesquisa e a própria carne deste
artista-pesquisador. Eleonora Fabião (2011) desenvolve o conceito de programa performativo
como motor de experimentação, ativador de experiência capaz de afetar e criar corpos tanto
para aqueles que realizam a ação como para os que a recebem – seja como espectadores,
participantes ou até coautores – compondo camadas de experienciação que fazem girar noções
como aprendizagem por tentativa e risco. Partindo da definição de corpo criada por Espinosa,
e defendida por Deleuze (2002) – segundo a qual um corpo é definido por duas perspectivas
concomitantes: como relações de velocidades diferentes entre as partículas que o compõem,
em dinâmicas de repouso e movimento, acelerações e lentidões (não é definido um corpo por
sua forma, órgãos ou funções); e, em outro viés, é definido por seu poder de afetar e ser
afetado, pelos afetos de que o corpo é capaz – o Programa Performativo Entre ovos e medos
objetiva investigar que mudanças de velocidades e afetos podem ser geradas no corpo do
espectador através de uma ação de provocação, mesmo que a provocação seja uma proposição
muito simples como a possibilidade de o participante ser atingido por dois ovos crus. Assim,
este programa consiste na leitura de um contrato cuja aceitação de seu conjunto de regras
implica ao participante a condição de poder ser alvo de um ato de rebaixamento, a quebra de
dois ovos reais (serão mesmo reais?), caso deseje acompanhar a performance até o seu final.
Além da possibilidade de ser vítima da sujeira ao sabor da decisão do performer, este contrato
coloca o participante diante de diversas outras provocações que põem em jogo a sua
autonomia, as suas escolhas enquanto espectador e o que as move, criando coletivamente uma
enunciação verbal de voltagem performativa, gerador de experimentação psicofísca. O desejo
de realizar esta demonstração técnica vem do compartilhamento entre as questões que
moveram a criação da ação e as dúvidas que vêm sendo investigadas na construção da tese,
perguntas disparadoras como: a partir da observação das experiências artísticas singulares de
Leo Bassi, e inspirado por elas, do que estamos tratando ao falar de bufonaria? O que Bassi
entende como o trabalho de um bufão? Como a bufonaria pode privilegiar a criação de um
fenômeno cênico desestabilizador e/ou político? Que relações podemos estabelecer entre a
bufonaria desenvolvida por Bassi e uma cena de caráter performativo? Como desenvolve
Elizabeth Lopes (2001), os bufões configuravam uma espécie de espelho invertido da
sociedade, destacando os vícios e defeitos das relações sociais. Lecoq (2010), por sua vez,
destaca que estas figuras cômicas e, ao mesmo tempo, ácidas, tratavam da dimensão social
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das relações humanas, para denunciar seus absurdos. Bufões falam do poder e sua hierarquia,
invertendo através do rebaixamento estes valores. Abrindo mão das deformidades corpóreas
comumente associadas aos bufões, Leo Bassi busca potencializar a lógica de marginalidade e
provocação associada à bufonaria, travestindo-se de “homem sério”, vestindo terno e gravata
e adotando atos sóbrios, para se aproximar e ampliar as críticas e denúncias sobre o poder e
seus representantes, a partir do interior de suas estruturas, presentificando a deformação dos
ordenamentos sociais. Ainda segundo Lopes (2001), a bufonaria transcende características
histriônicas e a excepcionalidade física para presentificar o ser humano em sua complexidade
e amoralidade. Nesse sentido, a criação de um contrato performativo segue a estratégia de
apropriação de um dos mecanismos mais utilizados pelos ordenamentos jurídicos como forma
de produzir um conjunto de regras absurdas e, ao mesmo tempo, provocar o espectador em
sua autonomia e escolhas. Aqui a performance visa transitar pela capacidade política da arte
apontada por Rancière (2012) como mecanismo capaz de embaralhar lugares e funções
criando fenômenos intersubjetivos desestabilizadores. Esta ação foi desenvolvida em 2014 e
tem sido realizada em eventos como Corpo, Política e Performatividade, em julho de 2015, na
cidade de Porto Alegre/RS, Esforços #2 – mostra de performances, maio de 2016, na cidade
do Rio de Janeiro e no IX Congresso da Abrace (Uberlândia, 2016). Seu compartilhamento
tem se mostrado como fundamental à discussão disparada pela tese, presentificando questões
e instabilidades na investigação de um fenômeno cênico capaz de criar corpo e mover artista-
pesquisador e seus participantes. Assim, diante do risco do embotamento cotidiano dos
sentidos e dos jogos de poder que atravessam nossas relações, a experiência cênico-
performativa de Entre ovos e medos tem demonstrado cada vez mais a contundência e os
curtos-circuitos que a buforaria pode privilegiar.
Referências bibliográficas
LECOQ, Jacques. O Corpo Poético: Uma Pedagogia da Criação Teatral. São Paulo:
SENAC, 2010.
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LOPES, Elizabeth Silva. Ainda é Tempo de Bufões. São Paulo: Tese - Doutorado, USP,
2001.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
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Palavras-Chave
história, memória, teatro maranhense
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afirmar um ou outro lado, mas provocar uma reflexão ao longo da sistematização de sua
história, buscando entender em quais pressupostos a escola foi assentada durante dez anos,
como se relacionou com as esferas do poder público; como se configuravam as relações de
ensino e aprendizado na escola; como se regularizou uma escola de teatro em São Luís num
contexto instável de produção teatral. Para a elaboração da pesquisa alguns pressupostos
conceituais se mostraram fundamentais no embasamento do estudo. Esses conceitos foram
essenciais na medida em que serviram como um trampolim para guiar as ações e
argumentações no desenvolvimento do texto. Esses conceitos, que deram sustentação
argumentativa e orientações no caminho metodológico, são a saber: Memória, Narrativa,
Experiência e Formação. Este último sempre ligado à formação artística ou mais precisamente
do ator. O estudo em questão faz das narrativas e das experiências advindas dessas uma fonte
fundamental para construção argumentativa do texto. O auxílio a outrem é uma constante ao
tentarmos trazer de volta informações do passado, eventos que de uma forma ou outra
queremos ratificar ou até mesmo reiterar. Ainda assim podem chegar-nos obscuros e
fragmentados. (HALBWACHS, 2006). Assim, a tentativa de reconstruir a história de uma
escola de teatro onde a sua documentação está esparsa em vários espaços e sob posse de
várias instituições se apresentou como uma das grandes dificuldades encontradas nesta
pesquisa. Ao longo do trabalho percebemos que nem mesmo a própria escola tinha o domínio
de todos os registros que compõem a história daquela instituição. Considerando as
dificuldades de acesso a documentos contundentes da escola e a sua falta, optamos por lançar
mão de mecanismos que nos permitissem ter acesso às informações até então não registradas
acerca da história da escola. Os caminhos sugeridos pelo campo metodológico da História
Oral nos pareceram pertinentes para alcançar nosso propósito. Esta, pensada após a II Guerra
Mundial, tem-se configurado nos últimos anos como uma potente ferramenta que possibilita
equilibrar as fontes orais às consideradas acadêmicas dando importância às memórias que
outrora não faziam parte das matérias-primas do conhecimento histórico. Este procedimento,
segundo Rabetti (2006, p. 46) é com se colocasse a meio caminho entre o rigor de linhagem
cientificista e o laboratório de um imaginário a serviço de mitos e devaneios intermináveis.
Este tipo de metodologia nos proporcionou uma abordagem histórico-analítica, enaltecedora
de subjetividades, pois a objetivação à interlocução entre os “atores” da história e o
“historiador” será permeada por um alto teor interpretativo. Para a investigação dos dados
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
clown, máscara, pedagogia teatral
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Academia Piolin de Artes Circenses, foi fundada no Brasil e funcionou em São Paulo, entre
1978 e 1983. Outras importantes escolas foram fundadas posteriormente, dentre as quais
podemos destacar a Escola Nacional de Circo (RJ), a Picadeiro Circo Escola (SP) e o CEFAC
– Centro de Formação Profissional em Artes Circenses (SP). Apesar da crescente oferta de
cursos nas últimas décadas, a qualificação do profissional circense ocorre ainda sem o
reconhecimento do Estado (DUPRAT, 2014) e a formação do palhaço, que tradicionalmente
acontecia por transmissão oral dos conhecimentos, compartilhados apenas na esfera restrita do
núcleo familiar, passa a ser estruturada e ofertada através de cursos informais. Porém, o que
se desconhece é que os Doutores da Alegria - um coletivo de atores que funda uma instituição
não governamental e, desde 1991, utiliza-se da linguagem do palhaço para realizar
intervenções artísticas em hospitais públicos - fundam um curso de formação de palhaços em
2004 em São Paulo. Na equipe que compõe o quadro de artistas que coordenam esta proposta
pedagógica identificamos um perfil bastante definido: são artistas que estudaram na Escola de
Arte Dramática – EAD - e na Escola Livre de Teatro em Santo André e formam uma equipe
de profissionais que se tornaram referência no estudo da linguagem das máscaras em São
Paulo. O Programa de Formação de Palhaço para Jovens dos Doutores da Alegria é um curso
gratuito voltado ao artista que deseja se aprofundar na linguagem do palhaço, com uma carga
horária expressiva. Com aulas diárias por dois anos consecutivos e um terceiro ano de
acompanhamento, o curso integra as atividades da escola dos Doutores da Alegria, que
oferece ainda outros cursos na linguagem das máscaras como “Palhaços para Curiosos”,
“Introdução ao Jogo Cênico”, “Máscara Neutra”, “Comédia Humana”, dentre outros. Ao
passar pela escola na função de assistente de coordenação artística, nos anos de 2014 e 2015,
descobri que a escola desenvolve uma séria investigação pedagógica que se inicia com o
estudo da máscara neutra, da expressão corporal e das técnicas circenses. Uma segunda etapa
é dedicada à exploração do estudo de máscaras como a Commedia Dell´Arte e o curso de
Comédia Humana, com aulas práticas e teóricas, para, só então, chegar ao estudo da menor
máscara do mundo: a do palhaço. Apesar da influência direta da metodologia de artistas
estrangeiros como Jacques Lecoq, Phillipe Gaulier e Francesco Zigrino, o curso associa o
trabalho com a pedagogia das máscaras, o estudo corporal e a descoberta do seu próprio
clown, fundamentada na proposta metodológica da escola de Lecoq, na França, ao estudo do
movimento através dos ritmos e danças populares brasileiros - como o frevo, o cavalo-
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Referências bibliográficas
LECOQ, Jacques. O corpo poético. Uma pedagogia da criação teatral.; com a colaboração
de Jean-Gabriel Carasso e de Jean Claude Lallias; tradução de Marcelo Gomes – São Paulo:
Editora Senac São Paulo: Edições SESC SP, 2010.
SANTOS, Leslye Revely dos. A pedagogia das máscaras por Francesco Zigrino: uma
influência no teatro de São Paulo na década de 80. UNESP. Instituto de Artes. São Paulo,
2007
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Palavras-Chave
Artista do Corpo Nipobrasileiro (nikkei); Mestiçagem; Ma; Do
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partir da relação com o ambiente que ele "vai sendo". O corpo do nikkei lida hoje com
questões que seus antepassados imigrantes não lidavam. Nascidos e criados no Brasil, muitas
vezes não são reconhecidos como brasileiros, podendo até sofrer racismo e xenofobia. Ao
mesmo tempo, se esse nikkei vai ao Japão, é considerado gaijin, ou seja, estrangeiro. São
questões novas, frutos de interações resultantes de diásporas e imigrações, processos de
globalização e novas mídias que conectam diferentes (e distantes) partes do planeta. Apesar
dos possíveis embates resultantes, consideramos a mestiçagem (PINHEIRO, 2013;
LAPLANTINE & NOUSS, 2016; GRUZINSKI, 2001) decorrente desse encontro algo que
enriquece e complexifica de maneira positiva o contexto apresentado. Alguns
questionamentos nem seriam possíveis caso o encontro não tivesse acontecido. A partir do
entendimento da mestiçagem, os processos se dão em "vaivém" e "ziguezague". "Mestiçagem
aqui não remete ao cruzamento de raças, ainda que obviamente o inclua, mas à interação entre
objetos, formas e imagens da cultura. A mestiçagem não opera por fusão, que apaga as
diferenças, nem por mero reconhecimento das diversidades, que as mantém isoladas: é sim
um conhecimento a partir do bote canibalizante no alheio, em vaivém e ziguezague,
montagem em mosaico móvel dessas multidões de outros, suas linguagens e civilizações.
Está, portanto, aquém das lógicas binárias da identidade e das oposições: as dualidades dos
centros e das periferias não lhe servem. A mestiçagem é uma onça alegre que se alimenta de
todas esses outros (bichos, gentes, objetos) escondidos, abandonados e
rejeitados." (PINHEIRO) Nos utilizamos alguns termos da cultura japonesa, Ma e Do,
devidamente deslocados em seus sentidos e ressignificados no contexto mencionado para
entender a suspensão e a diáspora, respectivamente. Para falar do termo Ma, utilizamos o
estudo da professora e pesquisadora Michiko Okano. Segundo esse estudo, Ma não é
facilmente explicável e não é visível, apesar de fazer parte do cotidiano dos japoneses. É um
gap, uma pausa. O momento certo. Seu ideograma significa literalmente um portão por onde
se entrevê o sol. Também está presente em contextos mais artísticos. Quando o dia não está
bom e nada está dando certo, usa-se a expressão "Ma ga warui", literalmente, "Ma ruim".
Quando o artista acerta o timing da entrada, da deixa, ele acertou o "Ma". Ele pode ser usado
tanto espacial quanto temporalmente. Para nós, deslocado e ressignificado de seu contexto
original, representa o "entre-lugar" do nikkei, estrangeiro tanto no Brasil quanto no Japão. Do
é literalmente caminho, curso. O caminho oriental é muito mais do que uma filosofia ou
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religião, mas se aproxima da noção de um estilo de vida. No Brasil, Do é conhecido por causa
das artes marciais - um dos caminhos do pensamento japonês. Para nós, Do tem a ver com as
diásporas geográficas e cognitivas que são desencadeadas desses encontros. Os estudos de
Hashiguti (2008) e Takeuchi (2016), que tratam especificamente do corpo nipobrasileiro,
também compõem as referências teóricas deste estudo, no qual lançamos a possibilidade de
olhar para estes indivíduos através de outra perspectiva, que tenta fugir dos estereótipos e
clichês historicamente embutidos neles. Afinal, o que é ter um corpo japonês? Uma voz
japonesa? Mas tudo isso dentro de um contexto brasileiro? E que é também um corpo artista,
que atua na cena, que resiste e insiste em ser reconhecido como o que é - um corpo brasileiro?
A presença de artistas nikkeis no cenário artístico paulistano representa uma luta importante
por representatividade. Esta apresentação tem o caráter de mostrar parte de um processo de
pesquisa teóricoprático que foi sendo desenvolvido (e que ainda está sendo) durante quase
dois anos e meio de reflexões e pesquisa sobre bibliografia específica sobre o tema.
Referências bibliográficas
GRUZINSKI, Serge. O pensamento mestiço. São Paulo. Companhia das Letras. 2001
KATZ, Helena e GREINER, Christine. Por uma Teoria do Corpomídia. In: O Corpo: pistas
para estudos indisciplinares. Org: GREINER, Christine. São Paulo. Annablume. 2005.
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Palavras-Chave
corpo, instalação, vídeo
O grupo Midiactors foi criado em 2013 pela Profª Dra Aline Mendes de Oliveira
(Aline Andrade) e está vinculado ao Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal
de Ouro Preto. Seu foco de pesquisa consiste na análise e na prática das relações criativas
produzidas a partir da manipulação de elementos mutimidiáticos, especialmente audiovisuais,
e dos possíveis diálogos com conceitos ligados à noção de imagem cênica, teatro, presença e
do uso de novas tecnologias aplicadas à cena. No ano de 2016, através de projeto financiado
pela FAPEMIG - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, o Midiactors
teve a oportunidade de construir uma experiência cênica que se aliou à computação, produção
videográfica(1), edição de imagens e operação de vídeo mapping (projeção mapeada)(2). A
experiência, intitulada “Ressuscitações e outras formas de sangue”, teve estreia em dezembro
de 2016 e foi reapresentada em maio de 2017. A seguir, compartilharemos alguns
desdobramentos sobre o processo de criação. Partimos de uma ideia inicial de investigação de
espaços possíveis para a construção de projeções mapeadas, que oferecessem um diferencial
na estrutura de apresentação e relação entre imagem e cena. Nosso desejo era criar uma
experiência imersiva para o espectador através de visualidades, sonoridades, texturas e
ambiências que propusessem uma relação sensorial com o audiovisual. Consideramos, então,
um esboço de encenação que remetia a uma galeria de arte, com espaços distintos, como
“cubos”(3), que pudessem abrigar uma variedade de propostas, que partiam das seguintes
ideias: Estrutura "cabe-tudo" - instalações que ocupam o espaço e se apropriam dele. Cada
cubo, uma ação, uma ideia. Atravessamento entre as ações. A potência da indicação do trajeto
(Reflexão sobre como fazer o espectador seguir um trajeto sem mediação ou indicação
humana). O espetáculo foi construído, portanto, com base em quatro “cubos”. Procuramos
estabelecer alguns parâmetros para pensar, em relação à espacialização, a concepção da
instalação cênica que desejávamos investigar e nos deparamos com a definição de Pavis
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(2005), que nos norteou no trabalho e que reflete que a instalação insere no espaço elementos
plásticos, meios de comunicação de massa, palavras, música, trajetos pela obra. Porém,
exclui, entretanto, atores ou performers vivos. Vídeos, projeções, imagens de computador
fazem parte da composição espacial e favorecem o deslocamento do público, de forma livre
ou conduzida. O que se percebe é que a noção do tempo ganha primeiro plano; os
espectadores determinam a duração do seu trajeto, observando detalhes ou seguindo em
frente. A temporalidade interfere na proposição da obra. Portanto, nossa ideia inicial, a partir
dessa referência, era criar um percurso, plástico, sonoro, de ações e imagens que pudessem
compor uma trajetória narrativa para o espectador. Um trajeto de situações e sensações que
produzissem múltiplos significados em jogos de interação com o público. A interferência
audiovisual na espacialidade promove diálogos entre o tempo real, presente, e o tempo
abstrato, imaginado. No primeiro cubo, a imagem de um globo terrestre gira até que toda a
área de projeção seja inundada por imagens de um mar. A princípio, o foco é conduzir o olhar
do espectador, de fora para dentro, entrando no azul da imagem que se transforma no
movimento das águas. No mapa destacado no globo, a região da Síria fica em destaque,
antecipando o universo temático da cena. O ator atravessa o mar com um barquinho de papel
nas mãos e desvanece em uma das extremidades. No segundo cubo, as imagens evocam
texturas, em função de suas cores e objetos como plantas, estradas, paisagens no horizonte e
janelas. Estas imagens decorreram dos registros em vídeo que fizemos no bairro Morro São
Sebastião, no município de Ouro Preto-MG. Ao longo do processo de criação, observamos o
potencial de interatividade entre o ator e as imagens projetadas, concebidas como instalação
no espaço. Corpo e vídeo criam formas e volumes, e traçam relações dialógicas sob o olhar do
espectador. No terceiro cubo, alguns trechos de filmagens de ensaios são utilizados para criar
um deslocamento espacial e temporal em relação aos movimentos do ator. A ideia era
multiplicar sua imagem, provocando ecos da mesma, relacionando o ator real, presente, e sua
imagem situada no passado, reflexos de sua memória. No quarto e último cubo, trabalhamos
com frases projetadas sobre o corpo do ator. A aparição destas frases remete ao ato da
datilografia e diversos efeitos de distorção são aplicados ao vivo conforme a movimentação
do ator no espaço. Nesse momento, a forma gráfica da linguagem textual oscila entre as
funções de narração, iluminação, personificação e abstração poética. A imagem do texto
projetado adquire um sentido opressor em relação ao corpo do ator e, com ele, se desenvolve
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Referências Bibliográficas:
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. Trad. J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo:
Perspectiva, 2005.
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Palavras-Chave
corpo, morte, performance
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ação ritualística que provoca o revolvimento da energia própria da matéria com que a imagem
é construída no corpo e a partir do corpo. Mendieta se multiplica e se dissolve em suas
Silhuetas, deixando rastros do seu corpo e tornando-se ela própria não mais que esses rastros.
Identifico aqui como a poética elaborada por Mendieta revela a materialidade dos elementos
envolvidos, não os limitando apenas a uma mera matéria-prima para a construção de
silhuetas. A força nesse trabalho se constrói da maneira com que a matéria é moldada e no que
emana dela. Cada silhueta reverbera distintamente, visto que parte da relação do corpo da
artista com elementos diversos, com corpos-matérias outros. Assim, apesar da ação ser
aparentemente a mesma, cada experiência de silhueta é singular. Cada elemento trabalhado
afeta singularmente o corpo da artista e vice-versa. Nesse encontro, nenhum dos corpos
parece sobrepor-se ao outro, pois ambos dissolvem-se numa espécie de performance da morte.
Na performance em Super 8 Chicken Piece e nas fotografias Death of a Chicken, Ana
Mendieta permanece de pé, posicionando uma galinha agonizante com o pescoço cortado na
altura da sua vagina, manchando de sangue toda essa região do seu corpo. Assim, faço uma
leitura do sacrifício do animal e do sangue como elementos potentes na poética ritual da
artista, presentes em vários rituais sacrificiais. As ações remetentes aos rituais são: a relação
de incorporação com o corpo sacrificado, sua incorporação como gerador de sacrifício, a
manipulação do objeto simbólico e a conversão do instrumento de sacrifício em outro – nesse
caso, a conversão da ave em corpo da artista. Tania Bruguera, na performance The Burden of
Guilt, veste-se com a carcaça de um carneiro e, lentamente, durante uma hora, come terra
cubana de um vaso de barro e bebe água com sal. Nesse trabalho, a artista reencena uma ação
ritual realizada por indígenas cubanos que, como forma de resistência diante da colonização
espanhola, comeram terra como forma de suicídio. Identifico, nessa experiência, uma forma
de Bruguera acessar sua ancestralidade, ao reiterar uma ação vivida pelos índios em Cuba,
com o intento de estes convocarem os seus ancestrais para um encontro em um ritual de
morte. Percebo, nesses trabalhos, elementos poéticos relevantes para uma investigação sobre
o corpo em experiência ritual da/com morte, preparando assim uma base conceitual para uma
leitura dos elementos que permeiam o meu próprio processo de criação artística. É então no
último momento dessa pesquisa que compartilho uma experiência estética com a morte
através de um relato do processo de criação do trabalho Ossuário. Trata-se do relato de um
processo de composição artística como oportunidade de experimentar no corpo as operações
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Referências bibliográficas
BEHRENS, Roger. Seres Limiares, Tempos Limiares, Espaços Limiares. In: OTTE,
Georg; SEDLMAYER, Sabrina; CORNELSEN, Elcio. Limiares e passagens em Walter
Benjamin. Belo Horizonte: UFMG, 2010.
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO,
G. L. (Org.). O Corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2000.
FABIÃO, Eleonora. Corpo Performativo. In: BARDAWIL, Andrea. (Org.). Tecido afetivo:
por uma dramaturgia do encontro. Fortaleza: Cia das Artes Andanças, 2010.
SEREMETAKIS, C. Nadia. The last word women: death and divination in inner mani.
Chicago: Chicago Press, 1991. ______. The senses still: perception and memory as material
culture in modernity. Chicago: Westview Press, 1994.
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Palavras-Chave
Direção de atores, encenação, processo de criação
Existe uma urgência em aprofundar estudos acerca da direção teatral. Este ofício é
consideravelmente recente se comparado com aquele do ator ou do dramaturgo. Por séculos, a
direção de um espetáculo ficou sob a responsabilidade do melhor ator da companhia, do
escritor ou de outro artista envolvido no processo. Apenas no século dezenove esta função
começa a ser encarada como um ofício artístico que exige um conhecimento específico e
aprimorado. Deste então, em pouco mais de um século, o diretor ganha importância dentro do
fenômeno teatral, tornando-se figura chave no processo de criação cênica contemporâneo.
Esta importância não se reflete na produção bibliográfica teatral. É inegável a existência de
diversas obras teóricas acerca da poética e da estética alcançada ou almejada por alguns
encenadores. Porém, o estudo da direção de atores, faceta fundamentalmente manifestada ao
longo do processo de ensaio, resta pouco abordada. Entende-se por direção de atores o
trabalho do encenador com os atores durante o processo de criação de um espetáculo. Esta
dinâmica é caracterizada pela maneira na qual ele guia seus companheiros na empreitada
teatral. Dentre as atribuições da direção de atores podemos destacar a organização dos
encontros, a escolha dos procedimentos a serem propostos a cada dia e a adequação deste
planejamento à realidade pulsante no ensaio. Como relembra Sophie Proust (2004, 01), a
noção de direção de atores faz referência direta ao trato com os indivíduos atores e não com a
atuação, o movimento cênico ou as personagens, o que remete a existência de uma relação
particular entre os artistas envolvidos no processo que extrapola àquela profissional. Esta
relação particular é construída não apenas pelas propostas verbalizadas pelo diretor: o seu
corpo está plenamente engajado no processo. Consequentemente, ele também é veículo de
comunicação – intencional ou não - da sua direção. Deste modo, poucos diretores
permanecem estanques nos seus lugares de espectadores, afastados da cena. Para além do
cliché que atribui ao encenador a posição sentada e a função de assistir a evolução dos atores
à uma certa distância propícia à visão geral do trabalho, ao longo de um processo de criação
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Referências bibliográficas
______. The postcards: from Socrates to Freud and Beyond. Chicago: The University of
Chicago Press, 1987.
______. Le corps du metteur en scéne. Revue DEMéter, Lille, Université de Lille-3, junho
2004. Disponível em www.univ-lille3.fr/revues/demeter/corps/proust.pdf.
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Palavras-Chave
artes marciais, artes da cena
Introdução A colaboração das artes marciais para os artistas da cena tem sido alvo de
investigação na construção pré-expressiva do corpo do artista cênico, como material para
criação poética na transposição de um princípio marcial ou como experiência em seu contexto
abrangente. Introduzidas em estruturas culturais, as artes que se encontram em um mesmo
nicho, são atravessadas pelos mesmos contextos políticos, sociais, históricos e filosóficos.
Assim é possível perceber a performatividade das artes marciais chinesas e da marcialidade
na ópera de Pequim (HUNT, 2003) ou reconhecer a filosofia zen-budista em diversas artes
com caligrafia, pintura e escultura. (WHEELER, 1984) Imbuídos desse espírito de
marcialidade na cena propomos aqui a reunião de três artistas marciais com diferentes
especialidades em cena: uma praticante uma de gong fu, uma do kenjutsu e um de karatê-do e
judô respectivamente com enfoques de trabalho no teatro, na dança e na performance.
Intencionamos detectar pontos de confluência de diferentes processos, um de cada artista, ao
trazer as artes marciais para o contextos e configurações da cena. Na prática de Luciana
Mizutani, a demonstração terá enfoque no processo de criação do desenho de movimento do
espetáculo “O dragão de fogo” com texto de Cássio Pires e direção de Marcelo Lazzaratto.
Para esta encenação, inspirada na ópera de Pequim, os atores contaram com preparação
corporal de gong fu que foi ponto de partida para a construção da gestualidade das
personagens. A demonstração técnica de Fernanda Santos será a desmontagem do espetáculo
Miradas do Caos #1, um solo realizado em 2013. Neste trabalho, o arquétipo do guerreiro e
do samurai haviam sido explorados esteticamente. No trabalho desenvolvido atualmente no
doutorado, o solo You will be unafraid, o kenjutsu será utilizado enquanto exploração
coreográfica. Já no trabalho teórico-prático de André Sarturi serão apresentados elementos de
Karatê-Dô e Judô utilizados na performance Ilinx: Jogos e Memórias (2015), que é parte
integrante da sua pesquisa de doutorado. Neste trabalho o pesquisador explora suas memórias
a respeito de questões relativas a equilíbrio e desequilíbrio e instiga o público a participar do
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Referências bibliográficas
HUNT, Leo. Kung Fu Cult Masters: from Bruce Lee to Crouching Tiger. Londres:
Wallflower press, 2003.
MUSASHI, Miyamoto. O livro dos cinco anéis. São Paulo: Conrad, 2006.
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Palavras-Chave
Apreciação, Arte-Educação, Teatro
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educadores esteja voltada também, para uma percepção que valoriza a dimensão da
apreciação na arte teatral.
Referências bibliográficas
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991.
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sérgio
Paulo Rouanet. 8ªEd. São Paulo; Brasiliense, 2012.
BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras Poéticas Políticas. 2ª Ed. Rio de Janeiro;
Civilização Brasileira, 1977.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras.
Educ. [online]. 2002, n.19, pp.20-28. ISSN 1413-2478. Disponível em: <http://dx.doi.org/
10.1590/S1413-24782002000100003>. Acesso em: 05 de agosto de 2015.
KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos Teatrais. São Paulo: Editora Perspectiva, 2001.
______. O jogo com o modelo da peça didática de Bertolt Brecht. Curso realizado durante
o V Congresso Internacional SESC de Arte/Educação, Recife/PE: no período de 25 a 29 de
julho de 2016.
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Palavras-Chave
Composição cênica, corpo e tecnologia, tempo real
Este trabalho tem o objetivo de abordar a relação do corpo e tecnologia em tempo real
em um contexto cênico, a partir da análise do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),
realizado ao final do ano de 2016 para o curso de Licenciatura e Bacharelado em Dança
(UNESPAR, Campus de Curitiba II - FAP). Partindo então da prática que se constrói em
tempo real, entre corpo e tecnologia, ou corpo que dança e corpo projetado, percebe-se que a
produção de presença e a produção de sentido (GUMBRECHT, 2008) é algo que pode ocorrer
de maneira natural, a partir da inter-relação entre as duas partes, ao entender que ambos se
colocam no espaço cênico a fim de compartilharem o momento, e assim juntos construírem a
composição cênica. Para tanto, a prática parte do conceito de Interface que de maneira breve
permite que dois ambientes semelhantes ou distintos se comuniquem, como no exemplo de
apertar um simples botão onde o mesmo processe tal ação e devolva ao usuário (ARANTES,
2005). Além deste, outro conceito que ajuda a aprofundar a relação que este trabalho tem
interesse, se encontra no conceito de “Corpo Interface” (SANTAELLA, 2013) e seus vetores
(dentro-fora, intersticial e fora-dentro) que possibilitam a relação do indivíduo com o entorno.
Partindo então destes conceitos que permitem que o indivíduo troque informações com o
meio externo, o trabalho se reveste de uma possibilidade de composição cênica pautada na
relação entre humano e máquina. O recorte desta análise se encontra no ‘Interstício’,
entendido aqui como o lugar do ‘entre’. Este intermeio é entendido como o lugar em que a
ação do compor em tempo real acontece, ou seja, quando o corpo que dança e corpo projetado
se dispõem no espaço-tempo para que a obra seja construída. Este lugar onde ocorre tal ação
não é um lugar palpável, mas sim um lugar onde as ações convergem para o momento, desta
maneira o corpo que dança tem que canalizar suas emoções a fim de construir uma inter-
relação com o corpo projetado em detrimento da obra. Entende-se que por mais que a relação
tenha a possibilidade de ocorrer de maneira mais confortável, o corpo que dança ainda assim
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possui traços biológicos que podem interferir sendo necessário filtrar. Espera-se que o corpo
que dança tenha afetação dos estímulos causados a partir do feedback do corpo projetado e de
todas as possibilidades contidas na cena, as mesmas são entendidas como potência de
desenvolvimento da obra. Este fator não deverá ser entendido a partir do sentido de estar
reagindo de diversas maneiras aos estímulos gerados. Mas espera-se que o corpo que dança a
partir da sua percepção possa se utilizar desses estímulos como potência para a criação cênica.
Isto vem de encontro também ao momento de “re-parar” (EUGÊNIO; FIADEIRO, 2013).
Além disso, esta prática tem sua influência no Modo Operativo AND (EUGÊNIO;
FIADEIRO, 2013) que tem sua base em composição em tempo real. Desse modo a
composição cênica proposta entre corpo e tecnologia acontece na medida em que o espaço-
tempo são alargados e a constante pergunta “o que há?” (EUGÊNIO; FIADEIRO, 2013),
norteia toda a construção da obra. A obra performática é construída pela constante ação-
reflexão-ação do corpo que dança, ou nas palavras de João Fiadeiro na “pensação”. E assim, o
“como não ter uma ideia” influenciam o trabalho proposto porém em um contexto entre corpo
e tecnologia. Nesta ação o corpo que dança, vai produzindo presença e sentido
(GUMBRECHT, 2008), a partir desta relação entre o corpo projetado, possibilitando que o
corpo que observa a também participar desta produção. Então, é essencial a ação de “re-parar”
(EUGÊNIO; FIADEIRO, 2013) tais mudanças de sentido e presença, e utiliza-las como
potência para a construção cênica. Por fim, corpo e tecnologia tornam-se codependentes para
que a obra ocorra, ao se disporem neste espaço-tempo a fim de produzir/compor na esperança
de como Fiadeiro menciona “saborear o que há” e deste modo a partir deste ato poder dar a
possibilidade para o corpo que observa, produzir presença e sentido (GUBRECHT, 2008).
Desta forma, partindo da prática em tempo real influenciada pelo conceito de Composição em
tempo real, porém alargada para uma inter-relação entre corpo que dança e corpo projetado,
percebe-se que este processo composicional tem relação com o pensamento de Arlindo
Machado (2007) quando ele menciona que o artista subverte a funcionalidade da tecnologia,
ou seja, que nós criamos ou alargamos as funcionalidades para qual determinada tecnologia
foi destinada (MACHADO, 2007). É possível inferir, portanto, que a partir desta prática o
corpo e a tecnologia são entendidos com a mesma relevância cênica, sendo outro modo de se
trabalhar a relação entre corpo e tecnologia que difere dos trabalhos realizados por grupos
como: MOMIX, Käfig, David Middendorp, entre outros, que possuem a característica do
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movimento corporal extremamente afinada e em sincronia perfeita com a projeção, onde não
é aberto espaço para o improviso na cena e onde a estética proporcionada entre corpo e
projeção/tecnologia é meticulosamente planejada.
Referências bibliográficas
ARANTES, Priscila. @rte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Senac,
2005.
EUGENIO, Fernanda; FIADEIRO, João. Jogo das perguntas: o modo operativo “AND” e
o viver juntos sem ideias. Fractal Revista de Psicologia, v.25, nº2., 2013.
MACHADO, Arlindo. Arte e Mídia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2007.
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Palavras-Chave
corpo, leitura, performance, poema, voz
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mais próximos à forma propriamente dita do poema, à sua duração, à sua dinâmica tempo-
ritmo, às suas texturas acústicas, às suas provocações e convites às sensações e memórias. A
leitura silenciosa e individual, diferentemente da leitura vocalizada compartilhada, favorece a
nossa aproximação e persistência em torno da dimensão do significado, não favorecendo o
contato com a amplitude de sentidos para os quais a vocalização de poema pode apontar. Até
o momento foram explicitadas a experiência com a vocalização de poesia~poema. A
performance que está sendo construída joga com as atitudes do performer em cena, buscando
criar experiência em jogo com o público. Essa dimensão do outro, de um interlocutor, está
presente o tempo todo, visto que é no diálogo que a poesia acontece.
Referências bibliográficas
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a “literatura” medieval. São Paulo: Companhia das
Letras, 1993
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Palavras-Chave
atualização, coreografia, memória, tempo, transmissão
É possível pensar que a transmissão de uma obra cênica seja comparável a um tipo de
“história oral”, pela fluidez de sua forma de apreensão, por ser trazida do passado e repassada
para bailarinos da contemporaneidade. A presente comunicação oral refere-se a um recorte, da
pesquisa em andamento que esta sendo realizada no grupo de pesquisa LAPETT-ECA-USP
(Laboratório de Pesquisa e Estudos em Tanz Theatralidades da Escola de Comunicações e
Artes da Universidade de São Paulo) através do processo de transmissão da obra cênica
Caminhos (1998), que foi criada e dançada pela coreógrafa Sayonara Pereira (1960),
transmitido à sua orientanda a bailarina Luiza Banov (1985). Na pesquisa questiona-se de que
forma gestos, movimentos, palavras, canções e sentimentos, arquivados nas memórias
corporais dos intérpretes ao longo de suas existências, podem vir à tona durante os processos
de criação. No caso específico da transmissão de Caminhos (1998), pretende-se discutir a as
relações que se estabelecem entre autor-intérprete original e o novo intérprete. É possível que
a obra permaneça através da memória do autor e do registro em vídeo. Todavia quando a obra
original é transmitida para outro corpo, que possui outra história e memórias corporais, o
quanto esta obra irá se modificar, e se atualizar? Como o outro corpo perceberá as intenções
dos movimentos, da musicalidade, do manuseio com os adereços da obra, além, do uso do
tempo, e do espaço? Com isso, novas possibilidades de atualização vão surgir, garantindo que
a obra persista no tempo. CAMINHOS (1998-2017) "Eu somente posso procurar mostrar,
procurar dizer e procurar encontrar o que está perto de meu coração (...). Entretanto isso é
algo absolutamente concreto. É a única medida que se tem: para alcançar o que se procura, e
para dar origem a alguma forma." Pina Bausch Quando em 1998 depois de ter criado os solos
SAUDADES (1996) e PULS (1997) seria natural seguir com novas criações. E assim veio o
terceiro solo criado por mim CAMINHOS no idioma alemão weg, que teve o início de sua
criação em outubro de 1997 na cidade de Essen e estreou em maio de 1998 na Fabrik Heeder -
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no organismo em sua totalidade, numa união de corpo e mente. Neste sentido, manifesta-se o
parentesco consanguíneo do saber com sabor: saber implica em saborear elementos do mundo
e incorporá-los a nós (ou seja, trazê-los ao corpo, para que dele passem a fazer parte). Sempre
me emociono em pensar que conheci Luiza Banov quando ela tinha 19 anos, e desde então,
temos tido uma parceria profissional, que se mistura com laços de amizade e afetividade. Sua
vivacidade sempre me conectou, são fragmentos de juventude misturados com a carreira de
profissional cênica, pesquisadora, diretora de núcleo de pesquisa e mãe. Tudo isto em uma
pessoa só. Durante o processo de transmissão a bailarina tem composto, criado, recriado,
atualizado de forma dinâmica e instável em diferentes fluxos as cenas originais. Os
movimentos são atravessados e ao mesmo tempo são renovados. Temos nos esquivado de
separações ou comparações entre o que foi e o que está sendo, entre forma e conteúdo,
essência ou existência; e, no entanto, sua dança me traz novas imagens, saberes, sabores e
singularidade própria. Para o profissional de dança, grande parte do conhecimento que ele irá
adquirir ao longo de toda a sua vida é passada corpo a corpo e depois é experimentado “na
pele”, quase como um patrimônio cultural-imaterial que comporta valores das tradições e
costumes herdados de diferentes culturas, do passado, reapropriando-os no presente. Heranças
estas que muitas vezes não são tocadas, mas sentidas com o coração e se encontram no
imaginário das pessoas. Qualquer que seja o código, o estilo, a configuração da dança poderá
ser preenchida por um significado atualizado e a compreensão será imediata. A dança por
diferentes caminhos busca uma significação e também um modo de torná-la significativa para
outros. Provavelmente este seja um dos seus maiores mistérios.
Referências bibliográficas
BAUSCH, Pina. O-Ton Pina Bausch -Tanz ist die einzig wirkliche Sprache -Norbert
Servos,1990 Interviews und Reden 01- Wädenswil-Germany:
DUARTE JR. João Francisco. O Sentido dos Sentidos. 2ª ed. Curitiba: Criar Edições Ltda.,
2003
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Palavras-Chave
conceito, desmontagem, treinamento técnico
Este trabalho tem como principal objetivo apresentar o processo do primeiro capítulo
da pesquisa de mestrado O Treinamento Técnico e a Criação Artística como Construção de
Desmontagem. Para essa apresentação pretendo seguir os rastros do termo Desmontagem,
buscando quando ele começou a ser utilizado e em quais circunstâncias, na tentativa de
conceituá-lo; refletir sobre as práticas que tenham características semelhantes da
desmontagem, para tensionar e entender os limites do conceito com outros procedimentos,
como, por exemplo, o da demonstração técnica; e assimilar esse procedimento como prática
pedagógica para a formação do ator. A desmontagem cênica é a apresentação do processo de
criação daquele ator para uma plateia, ou seja, a partir de uma montagem o ator recria o passo
a passo da sua construção e dialoga com o público, que acompanha como foi o processo do
ator. As demonstrações de trabalho feitas pelos atores na América Latina começaram a ser
chamada de desmontagem cênica em 1993, na X Oficina da Escola Internacional de Teatro da
América Latina e Caribe, que aconteceu em Havana, Cuba (DIEGUEZ, 2014). Durante o
festival o ator Victor Varela, do grupo de Teatro Obstáculo, apresentou o seu processo de
trabalho e chamou de desmontagem. Em 1995, este mesmo festival ocorreu em Lima, Peru, e
nesta ocasião teve o seguinte título, Desmontagem: encontro com Yuyachkani. Desde então, o
termo vem sendo utilizado por alguns atores nas apresentações dos seus processos na América
Latina. A prática de atores abrirem para o público o seu processo de construção e treinamento
não começou com as desmontagens, mas sim, nos anos 1980 pelo Odin Teatret, dirigido por
Eugênio Barba. O grupo que foi fundado em 1964 na Noruega tem o hábito de fazer
demonstrações técnicas e cada ator possui a sua demonstração, compartilhando com o público
o rigor técnico no cotidiano do grupo norueguês. As demonstrações técnicas têm como
principal objetivo revelar o trabalho técnico daquele ator, isto é, os atores do grupo têm uma
rotina de treinamento, no qual eles desenvolvem a precisão dos seus movimentos, o controle
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do próprio corpo e seus aspectos energéticos e é sobre esta rotina que eles demonstram,
compartilhando as dificuldades e crescimentos possíveis do treinamento técnico. No caso, a
criação de um personagem para um espetáculo não é, necessariamente, o foco da
demonstração e, sim, as técnicas que aquele ator acumula no seu cotidiano dentro do grupo e
as possíveis trocas que aqueles atores vivenciam com outros mestres, de fora do grupo. No
caso das desmontagens cênicas, elas possuem um espetáculo “por trás”, ou seja, o
procedimento narrativo da desmontagem, tem como pressuposto uma montagem. A partir de
um espetáculo feito por aquele ator ou vários espetáculos, a desmontagem apresenta como foi
a construção técnica, corporal, afetiva daquele(s) personagem(ens) específico(s). O ator
mostra para o público a sua construção artística, levando em consideração, todos os elementos
que o atravessaram durante o processo, quer dizer, aquele ator tem as suas práticas técnicas
com o grupo e durante determinado processo ganha abrangência poética, pessoal e política e
são todos esses elementos que o ator divide com o público. Nesse caso, a montagem é o ponto
de partida da desmontagem. O limite entre a desmontagem cênica e a demonstração técnica é
bem tênue, pois o trabalho técnico do ator faz parte do processo de um espetáculo, o que estou
pesquisando é como esse treinamento é modificado durante o processo para se transformar na
criação do personagem e do espetáculo. Há a técnica daquele ator nas desmontagens, mas
com o objetivo de transformá-la na sua construção artística específica. Além da construção
técnica, as desmontagens têm como característica todos os outros atravessamentos daquele
ator durante o processo. Diante disso, creio que surjam questões pertinentes à construção do
ator contemporâneo que tem acesso a muitos treinamentos técnicos direcionados a sua relação
com o espaço, com outros atores, com textos, com objetos, etc., e, também, a outros tipos de
treinamento que podem auxiliar nos seus procedimentos de criação, sendo de suma
importância considerar que todos esses elementos podem ser atravessados pelas suas questões
pessoais e transformados para a cena. Ou seja, o ator como sujeito de sua criação, colocando-
se como autor de sua construção. Trazendo a tona, a multiplicidade que um processo criativo
pode ter. A desmontagem recupera a abundância do ato de criação, possibilita ao ator entrar
em contato novamente com todo o material levantado durante o seu processo. No entanto, não
dá pra dizer que a desmontagem é um ator, realmente, revelando os seus processos, porque
tem na desmontagem algum caráter espetacular e que não pode ser deixado de lado, ela
também é um novo espetáculo. Aquele ator escolhe o que vai mostrar para os espectadores,
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Referências bibliográficas
DIÉGUEZ, Ileana. Desmontagem cênica. Revista Rascunhos. Uberlândia, v.1, n.1, 2014.
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Palavras-Chave
arte pública, criação cênica, subúrbio
Este trabalho objetiva abordar reflexões sobre pontos da minha pesquisa de mestrado,
ainda em andamento, que envolve a relação da criação cênica, a partir de processos
colaborativos, com a cidade, mais especificamente com o subúrbio do Rio de Janeiro. A ideia
é pensar em um teatro que surge no espaço urbano do subúrbio e nele se concretiza, buscando
este espaço não apenas como palco, mas como propulsor para a criação da cena teatral. Para
esta comunicação pretendo debruçar-me sobre os seguintes pontos, na ordem que se segue:
contextualização da história do subúrbio do Rio de Janeiro, acompanhada de um breve
levantamento sobre editais públicos destinados ao fomento do teatro nesta região; uma breve
conceituação de espaço público e de arte pública; proposições de como este espaço urbano
interfere na criação cênica e dramatúrgica. Para esta última parte, parto de exemplos e
questões advindos da minha vivência como diretora junto ao grupo Trupe de Lá TAG, que
surgiu em janeiro de 2014, como parte da programação da ocupação do Teatro Armando
Gonzaga, da FUNARJ, tendo hoje 12 integrantes moradores dos bairros de Marechal Hermes
e arredores, como Bento Ribeiro, Oswaldo Cruz e Madureira. No ano de 2015, o grupo foi
contemplada por dois editais da Prefeitura do Rio de Janeiro, para realização do projeto “Se
essa praça fosse minha”, por meio do qual criamos um espetáculo de teatro de rua, realizado
em 18 praças do subúrbio da cidade, no ano de 2016. Atualmente, o grupo tem pesquisado
formas de atuação nas ruas de Marechal Hermes, além de realizar ensaios e intervenções nas
praças locais. O artista é um constituinte da esfera pública e a arte pode constituir-se como
uma maneira diferente de apropriar-se do espaço e criar vínculos sociais. No primeiro
Seminário de Arte Pública do Rio de Janeiro, o teatrólogo Amir Haddad, diretor do grupo
carioca “Tá na Rua”, proferiu um discurso promovendo uma noção de arte pública e
defendendo que a arte é latente em toda a cidade e não deve se restringir a espaços fechados a
ela destinados, mas precisa ser coisa pública que se manifesta em toda e qualquer parte da
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c i d a d e ( D i s p o n í v e l e m : h t t p : / / w w w. c u l t u r a . r j . g o v. b r / s e c a o 2 / d o c /
gps_teatro__final_amir_haddad_a_miseria_do_latifundio_cultural_135473). A estrutura
social e geográfica da cidade sempre me atravessou, já que estive inserida, durante toda a
minha formação, no contexto de viver em uma grande metrópole – o Rio de Janeiro –, embora
não desfrutasse de todos os benefícios e alegorias que dizem ser propiciados pela vida em um
grande centro urbano. Isso porque cresci no subúrbio do Rio de Janeiro e, assim, percebi
desde cedo que a cidade – aquele grande amontoado de serviços, possibilidades e
oportunidades – não é para todos. Logo que comecei a me envolver com a arte e, em seguida,
mais especificamente com o teatro, dei-me conta de como a estrutura de organização urbana
interferia na arte, fosse na forma de produção, de acesso ou de criação. Trago o enfoque para
o teatro no subúrbio também porque esta é região da cidade ainda pouco incorporada pelo
teatro ou por algumas outras artes, como as favelas têm sido, por exemplo. Ocorreu nos
últimos anos um processo de abordagem da realidade sociocultural das favelas – não
necessariamente positivo, segunda a maneira como é feito – que fez com que esses espaços
fossem um pouco mais inseridos em discussões sobre a cidade e também no cenário artístico e
teatral. Já os subúrbios permanecem esquecidos e muito pouco ainda é abordado sobre essas
regiões. O subúrbio do Rio de Janeiro apresenta características próprias que o diferem dos
conceitos tradicionais e da própria etimologia da palavra. Segundo o professor de geografia da
Universidade Federal Fluminense, Marcio Piñon de Oliveira, o subúrbio no Rio de Janeiro
ultrapassa o sentido etimológico e geográfico da palavra, referindo-se a regiões com
características econômicas, sociais e culturais próprias, com uma identidade (OLIVEIRA,
2013). Já Nelson da Nóbrega Fernandes, também professor de geografia da UFF, o conceito
carioca de subúrbio é decorrente de um fenômeno ideológico de desmoralização da classe
operária diante da região da cidade para onde grande parte desse grupo social migrou
(FERNANDES, 2011). Assim, essas áreas acabam por configurarem-se como lugares
genuinamente populares e destinados às classes sociais mais baixas da sociedade e, em geral,
desenvolvidos ao longo da linha ferroviária. Proponho, então, refletir como essas
características tão específicas se desdobram na criação artística, que meios podem ser usados
em um processo artístico para que esses atravessamentos se deem e até que ponto elas podem
ser capazes de produzir diferentes estéticas teatrais. Isso porque, além da existência de poucos
teatros, da baixa quantidade de fomento a grupos de regiões periféricas, há também uma
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Referências bibliográficas
CARREIRA, André. Sobre um ator para um teatro que invade a cidade. Florianópolis,
Universidade do Estado de Santa Catarina. Revista Moringa, 2011.
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Palavras-Chave
América Latina, earth-body-art, performance
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Referências bibliográficas
ROMANINI, Moacir. Tocar a paisagem: por uma poética neoconcreta nas artes
presenciais. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena do
Instituto de Artes da Unicamp. Campinas, 2017.
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Palavras-Chave
centro, corpo, movimento
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Referências bibliográficas
BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação. 2ª ed. Campinas, SP:
Editora Unicamp, 2009.
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Palavras-Chave
Técnica de Alexander, Reeducação Psicomotora
Este artigo tem objetivo o estudo da Técnica de Alexander. Como o trabalho dessa
técnica pode ajudar na reeducação psicomotora, o uso do corpo, a forma vocal e respiração
Palavra- Chave: Técnica de Alexander, Reeducação Psicomotora O trabalho de Alexander
iniciou ainda na juventude quando tornou-se um renomado ator shakespeariano na Austrália e
Nova Zelândia. Sua saúde, que já era frágil na infância, foi piorando em função de suas
constantes apresentações teatrais, problemas como rouquidão e respiração foram tornando-se
cada vez pior. Alexander procurou ajuda médica e lhe foi recomendado repouso vocal. Esse
tratamento trazia um resultado paliativo, positivo e sua voz se restaurava a normalidade. No
entanto, ao voltar a recitar o problema reincidia (ALEXANDER, 1992, p.27-28; MAISEL In:
ALEXANDER, 1993, p. 24-27). Sem sucesso com os médicos e sem saber como solucionar
esses problemas, Alexander iniciou uma pesquisa usando a si mesmo como objeto de
observação, percebendo que o modo como usava seu corpo e pensamento afetava diretamente
o funcionamento geral do organismo, seus problemas de voz e respiração eram apenas
conseqüências de um desequilíbrio total de seu corpo. Então, percebi que tinha duas opções:
ou abandonominha carreira ou tento resolver o problema. Imagino que, se a fala comum não
causa rouquidão, ao passo que a declamação sim, devia haver algo de diferente entre o que
faço ao declamar e o que faço ao falar normalmente. Deste modo, imagino que se pudesse
descobrir qual era a diferença, isso poderia ajudar resolver o problema (ALEXANDER, 1992,
p. 28). A partir daí, desenvolveu uma prática com base na unidade psico-física do homem,
hoje chamada de Técnica de Alexander. No ano de 1930 iniciou o primeiro curso de formação
para professores, no que mais tarde ficou conhecido como Técnica Alexander, e continuou
ensinando a sua Técnica até 1955, ano de sua morte. Difícil, no primeiro momento do estudo
da técnica, perceber seu objetivo, é provável que consigamos entendê-la em um segundo
momento ou talvez alguns anos, como foi o meu caso. Estive em contato com a Técnica de
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Alexander , participando das aulas ministradas pelo prof. Ulfred Tölle , que vinha todos os
anos para o Brasil, ministrar seus cursos. Acho de extrema importância falar sobre o trabalho
desta técnica, que aqui no Brasil era tão pouco conhecida, mas que tive o prazer de trabalhar e
conhecer, quando ainda não era estudante da Graduação em música, cursava na época, anos
90, o curso de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/ UFRGS, direcionado
a comunidade. Este curso foi destinado aos estudantes, professores e comunidade em geral, ou
seja, aberto também aos estudantes de extensão e demais cursos da Universidade, é preciso
dizer que foi tão importante o curso que o Prof. Ulfried retornou todos os anos para ministrar,
fiz durante cinco anos seguidos o curso sobre a Técnica de Alexander e levei para meus
estudos e vivência musical. Partindo da hipótese de que seu problema deveria se originar de
algo que ele fazia consigo mesmo, Alexander testou e observou a reação do seu corpo ao usar
a voz e com a ajuda de espelhos, ele iniciou seus trabalhos, observando e experimentando em
si mesmo várias posições e assim repetindo-as sucessivamente. Em uma dessas observações,
descobriu que a origem do problema estava, não diretamente em sua voz, mas no seu corpo
como um todo, ao começar a declamar, por exemplo,“tendia a inclinar a cabeça para trás,
comprimir a laringe e sorver o ar através da boca de tal modo que produzia um som ofegante”
(ALEXANDER, 1992, p. 29). Alexander deduziu que esses três fatores forçavam em demasia
sua voz, constituindo um mau uso do órgão fonador. Posteriormente, Alexander percebeu que
havia uma sincronia do uso incorreto da cabeça, pescoço, laringe, pregas vocais e órgãos da
respiração, “o que determinava um quadro de tensão muscular excessiva em todo o [...]
organismo” (ALEXANDER, 1992, p, 36). Com o aprofundamento dessas observações,
Alexander descobriu que todo seu corpo estava trabalhando em conjunto, tanto no bom
quanto no mau funcionamento. Quando sua cabeça se inclinava para trás, além da compressão
de sua laringe, havia também uma tendência associada de “erguer o tórax e reduzir a
estatura”, de forma que “o funcionamento dos órgãos da fonação era influenciado pela [...]
maneira de usar todo o tronco. Alexander relata que, a partir da prevenção do mau uso,
“observou-se grande melhora nas condições da laringe e das cordas vocais”. Mais tarde
compreendemos que o objetivo principal da Técnica de Alexander é que tenhamos uma
reeducação psicomotora, ou seja, aprender que corpo e mente podem funcionar juntos no
desempenho de todas as atividades diárias, pois ajuda a detectar e a reduzir o excesso de
tensão promovendo harmonia e bem estar: viver com menos esforço e maior liberdade, tanto
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de movimento quanto de pensamento. E era nesse ponto que o prof. Ulfried fazia questão de
salientar que, a técnica é um método de reeducação prático e simples, não é um tratamento e
não deve ser identificado com técnicas de relaxamento, massagem ou expressão corporal, é
uma prática que resulta em um melhor funcionamento dos reflexos naturais do organismo.
Referências bibliográficas
ALEXANDER, Frederick Matthias. O uso de si mesmo. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
______. Re-education of the kinaestehetic systems, (Early Articles, 1908). In: ALEXANDER,
Frederick Matthias. Articles and lectures. London: Mouritz, 1995. p. 79-85.
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Palavras-Chave
Alzheimer, Memória, Samuel Becket
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texto Cadeira de Balanço com a memória compartilhada pelos idosos portadores da doença de
Alzheimer, a fim de verificar implicações criativas que visem a criatividade na experiência
artística, ao buscar concatenar a realidade e a ficção como norteio da pesquisa.
Especificamente, os objetivos da pesquisa visam relacionar numa dramaturgia corporal alguns
parâmetros observados a partir da relação em que Beckett não distingue as personagens dos
espaços, desconstruindo, portanto, uma certa lógica, como se houvesse um hibridismo entre o
humano e a coisa, numa espécie de continuação ou confusão entre o humano e a paisagem na
qual está inserido, tal como os objetos em cena, que servem como extensões das figuras ou
um corpo-caco em anexo. O corpo que se confunde com os objetos e palavras estendem-se
pela paisagem, exemplifica a “descorporificação” das personagens, que assumem nada mais
fazer. Perdidas, tentam se encaixar pela memória, repetindo ações e diálogos vazios sem
sentido algum. Para o corpo que tenta se permanecer como sujeito, torna-se carcaça. Não há
memória. A história está excluída, aparecendo apenas como seu produto final: o declínio. As
personagens denunciam a dissociação da unidade da consciência onde a interioridade
destruída (sem memória, animalizada, aguardando evacuação- nas palavras de Adorno) e a
exterioridade coisificada confundem-se, sem demarcação clara. A realidade exterior, de
significados insólitos e inconscientes, não permite ao sujeito senão uma não-identidade
fragmentada, muitas vezes igualada ao inventário disparatado da sucata sem proveito que
constitui seu tesouro e herança (ANDRADE, 2001). Com isso, creio que é possível traçar
semelhanças e disparidades encontradas no comportamento de atitudes nos portadores da
Doença de Alzheimer e investigar como tais estados corporais se dão em mim, como
observadora ativa na criação e no desenvolvimento cênico. Portanto, é a partir da costura
entre as memórias e relatos compartilhados comigo que busco construir intervenções do olhar
externo, como estímulo poético ao que vejo e presencio. Deste modo, é possível seguir esta
trajetória com o olhar fenomenológico, ao se deixar levar pela observação e condensamentos
próprios da imagem e imaginação independente, e do onírico que se busca navegar em prática
escrita. Creio que pela via fenomenológica é possível fortalecer a imagem no momento
presente em que se apresenta, sem reverenciar psicologismos ou maneiras de racionalizar o
que está sendo proposto. Como nas citadas obras de Bachelard, existe a tentativa de olhar a
intimidade pela casa, desencadeando memórias e afetividades (BACHELARD, 1993). Como
centro de memórias, devaneios e relatos não só de seu avô materno, mas de outros portadores
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Referência bibliográfica
ANDRADE, Fabio. Samuel Beckett: O Silêncio Possível. São Paulo: Ateliê, 2001.
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IN: NÓS – BUSCA PELO CORPO QUE É MEMÓRIA ARQUETIPÍCA DE SI, VIA
GROTOWSKI E JUNG.
Erick Santos
Palavras-Chave
Grotowski, Jung, Performer
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apresenta através das mídias e do entretenimento. Atingir um nível tal que, por meio do canto,
dos gestos simbólicos e das estruturas que estão sendo formadas, os arquétipos possam se
manifestar, podendo ser decodificados de várias maneiras por quem está presente, como
espectador: esse é uns dos objetivos centrais desta pesquisa contínua. Primeiro busco a
alteração do meu próprio estado interno para um estado extracotidiano, começando pela
ressonância dos balbucios que provoco em meu corpo, que se originaram do fazer e das
experimentações, a partir da qual eu levo a atenção às qualidades vibratórias que ela pode
provocar em meu corpo e no ambiente que estou. Para me alterar e chegar a esse estado,
estruturo formas corporais nesse estágio da pesquisa, concretizando-as, para só depois me
jogar no que ela pode se transformar a cada vez que é executada. Estou nesta etapa da
pesquisa, o de incluir junto às ações e gestos simbólicos um estado alterado de mim
primeiramente, e que chegue até quem está presente no ambiente de uma maneira mais
profunda que a da análise racional, a partir daquilo que se apresenta no meu corpo-voz e nas
minhas ações. Nos mergulhos teóricos me inspiro, além do diretor polonês Grotowski, no
psicanalista suíço Carl G. Jung; nas leituras acerca do xamanismo com o mitólogo Mircea
Eliade; no artista francês Antonin Artaud. Apoios que me lançam inquietações e a vontade de
experienciar no laboratório e levar esta experimentação a tocar sensivelmente quem está
comigo. Alcancei a colocação da voz com trabalhos experimentais sobre os vibradores, nas
práticas realizadas no projeto ao qual me vinculo. Corporeidades e sonoridades do animal
lobo, inserção do poema de Fernando Pessoa; aspiro, com o tempo e com o desenrolar dessa
pesquisa, anexar a essa trabalho palavras originadas das potências que as estruturas em si
permitem. A pesquisa aqui apresentada tem caráter contínuo: leio os autores citados e, dentro
da sala de trabalho, vou por meio dos estímulos realizando o trabalho formal até então
encontrado, e as imagens geradas dele, me aquecendo no fazer, para depois experimentar o
próximo passo. A demonstração técnica será iniciada por um canto advindo desse trabalho
experimental, já com movimentos corpóreos desenvolvidos até então; insiro uma pequena
explicação verbal do que busco, tocando no conceito de arquétipos; construo gradativamente
o corpo e a ação instintiva de um lobo; passeio pelo espaço em movimentos circulares até ir
me direcionando para o centro do círculo em que estou; realizo mordidas em meus braços
junto com o cuspir a própria pele; parto em seguida para a próxima forma, que consiste em
um acocorar-me com os braços à frente do corpo; desloco minha visão para cima,
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direcionando o foco do meu olhar para o centro da minha própria testa; emito em seguida uma
vocalização com sonoridade parecida à do início; com as repetições da vocalização, subo para
o plano alto e inicio uma corrida no sentido anti-horário, durante a qual, ao passar por alguns
pontos no círculo, blablações são emitidas espontaneamente; depois de algumas voltas,
retorno novamente ao ponto central arrastando a mão esquerda no chão; executo a atividade
de puxar algo de lá e subir até o plano alto, disparando em conjunto o poema O Quinto
Império, de Fernando Pessoa; refaço o mesmo movimento e texto com o braço direito,
também elevando-o; rotaciono meu corpo para a lateralidade; desloco meu tronco para trás até
o limite, para enfim, no final da última estrofe, ceder caindo ao chão; passo para a próxima
forma, que é a de um recolhimento oval, inspirado em fetos de animais; levanto-me até o
plano médio e intervenho uma estrofe de minha autoria; cedo ao chão e emito grunhidos
similares ao choro de um recém-nascido; com a aceleração e sonoridade da respiração, me
elevo até o plano alto e me encaminho para a saída, cantando a mesma melodia com qual
inicio, junto com a ação de puxar os dedos, as mãos, os cabelos, a máscara facial, até me
retirar totalmente da cena, me arrastando no plano baixo.
Referências bibliográficas
JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
FLASZEN, Ludwik. Grotowski & companhia: origens e legado. São Paulo: É Realizações,
2015.
Grotowski, Jerzy. Performer [1987]. ePerfomatus, v.14, a.3, jul 2015. Disponível em:
<https://performatus.net/traducoes/performer/ >. Acesso em: 29 de jul. de 2015.
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Palavras-Chave
Beckett, Craig, criação vocal, teatro, Zumthor
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mostra-se importante para sua estética teatral, pois desafia o ator e a atriz em suas funções de
intérpretes (KALB, 1999) e deixa entrever paralelismos entre a atuação proposta por ele e o
conceito do Über-marionette desenvolvido por Gordon Craig, para quem os atores deveriam
ser substituídos por marionetes, pois estes não estão sujeitos às vicissitudes humanas
(CRAIG, 2009, 2016). Ao propor uma via negativa da atuação, que teria como inspiração o
objeto sem vida, a marionete e a Morte, Craig sugere um novo campo de investigação para o
trabalho atoral desapegado dos princípios naturalistas e realistas de imitação da vida,
exigindo-lhe um domínio técnico refinado e uma profunda entrega de si mesmo ao ofício,
num trabalho de auto-investigação contínuo. Sua formulação pressupõe um ator ideal, um
virtuose que detenha o controle total de suas técnicas de atuação, e ao sugerir que um Über-
marionette substitua os atores, desafia-os a substituir a vaidade por disciplina como meio de
elevar sua arte ao sublime (RIBEIRO, 2016). É dentro deste contexto de trabalho atoral, onde
os elementos que compõem o acontecimento teatral são entendidos como não hierarquizados,
que esta pesquisa se desenvolve. Zumthor, ao conceituar poesia vocal e performance,
contribui para o entendimento de uma vocalidade indissociável do corpo, como expansão
dessa corporeidade e definida como acontecimento. (ZUMTHOR, 2007). Ao afirmar que a
Poesia Sonora se realiza em performance (ZUMTHOR, 1992), o autor oferece reflexões e
provocações que servem como disparadoras de estratégias que podem afetar o trabalho de
criação vocal no contexto descrito, possibilitando novas abordagens quanto ao treino corporal/
vocal, pesquisa de sonoridades, relação com o texto escrito, construção de presença etc., o que
auxilia a aprofundar o entendimento dos cinco tópicos anteriormente citados. É este o lastro
da pesquisa prática a ser realizada em quatro etapas: 1ª treinamento; 2ª exploração/
experimentação; 3ª criação/composição; e 4ª performance. Formulação inspirada pelas dez
etapas da performance de Schechner (SCHECHNER, 2002). Três artistas com formação em
teatro, que já atuem profissionalmente há pelo menos dois anos, colaboram na investigação
prática. Os registros das etapas têm sido realizados por gravação de áudio, vídeo e através de
diários de bordo, material a ser utilizado na análise dos resultados. Investigar na prática as
orientações encontradas nos “cadernos de encenação” de Beckett parece abrir um campo de
trabalho investigativo bastante excitante sobre os elementos que constituem a atuação neste
tipo de teatro, sobretudo pelos links com o pensamento de Craig e Zumthor. A interação entre
estes autores ajuda a entender a performance vocal no teatro beckettiano e a pavimentar uma
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Referências bibliográficas
______. The complete dramatic works. London: Faber and Faber, 2006.
______. The theatrical notebooks of Samuel Beckett: The shorter plays: with revised
texts for Footfalls, Come and Go and What Where. Edited by S. E. Gontarski. General
Editor James Knowlson. London: Faber and Faber, Grove Press, 1999.
______. On the art of the theatre. Edited by Franc Chamberlain. New York: Routledge,
2009.
KALB, J. Beckett in performance. Cambridge, New York, Port Chester, Melbourne, Sydney:
Cambridge University, 2000.
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______. “Poesia do espaço: novos territórios para uma nova oralidade”. Tradução:
Philadelpho Menezes. 138-144. In: Poesia Sonora: Poéticas Experimentais da Voz no Século
XX. São Paulo: Educ, 1992.
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Palavras-Chave
formação docente, leitura dramática, literatura dramática
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Notava-se que essas dúvidas recorrentes estavam sempre relacionadas com a preocupação de
uma dramaturgia para ser encenada, como se o texto servisse somente como roteiro da cena, e
não como uma obra completa e possível de ser apreciada pela leitura. O diretor não
complementa ou estende o texto teatral, mas sim cria a sua proposta estética, constituindo
deste modo duas obras independentes. Ler uma peça é um ato que se basta por si, não
necessitando de uma representação (RYNGAERT, 1996). A partir disso, questiona-se: como
estimular ou despertar o interesse por descobrir novas literaturas dramáticas em um estudante
de licenciatura em teatro? Quais os meios de tornar o apreço por dramaturgias mais acessível
a este público em formação? Essas são algumas perguntas que instigam a pesquisa. Até o
presente momento, o grupo realizou a leitura de obras de seis dramaturgos, brasileiros e
estrangeiros, em doze sessões na universidade e fora dela, sempre com a prática de diálogo
com o público ao final. Percebe-se notoriamente a melhora de compreensão dos aspectos
dramáticos por parte daqueles que colaboram com a pesquisa, incluindo-se aí o autor deste
resumo. Entre os alunos espectadores ouvintes o interesse por dramaturgia também é
crescente, com aumento considerável de espectadores a cada sessão. Dessa forma, a pesquisa
contribui diretamente ao curso ao qual está vinculada. Logo, os grupos de estudos voltados à
literatura dramática desempenham papéis fundamentais no sentido de oportunizar a
aproximação do estudante com os textos. Para o discente que desenvolve esta reflexão, a
participação no projeto tem sido de grande importância, pois incita à leitura e apreciação de
dramaturgias, dilatando seu entendimento e horizontes de possibilidades do texto teatral, bem
como aponta caminhos possíveis para se trabalhar uma peça de teatro, aumentando o
repertório de práticas de docência do futuro professor.
Referências bibliográficas
RYNGAERT, Jean-Pierre. Introdução à análise do teatro. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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Palavras-Chave
clown, imagem arquetípica, palhaço, psicologia analítica, transformação de si
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desdobramentos em suas vidas pessoais. Concluiu que o clown também pode ser
compreendido como uma imagem arquetípica que emerge de uma dimensão psíquica muito
profunda denominada por Jung de inconsciente coletivo, se manifestando nas diversas
culturas humanas com diferentes nomes e roupagens, mas que pertence à dimensão coletiva
da psique. No processo de elaboração artística do clown o atuante pode, além de acessar os
conteúdos da dimensão consciente e do inconsciente pessoal, acessar também do inconsciente
coletivo. À medida, que foi percebendo esse possível acesso do atuante a uma realidade
arquetípica na figura do clown, se interessou em aprofundar os estudos na abordagem
junguiana. Uma das percepções foi a relação entre o aspecto arquetípico do clown e a
possibilidade integrativa que tal vivência pode promover; o atuante pode estabelecer, através
desta técnica, mais diálogo entre consciente e inconsciente, expandindo suas capacidades,
relativizando e aceitando melhor seus próprios erros, defeitos e problemas.
Referências bibliográficas
BURNIER, Luís Otávio. A arte de ator: da técnica à representação. Campinas, SP: Editora
da Unicamp, 2001.
FERRACINI, Renato. A arte de não interpretar como poesia corpórea do ator. Campinas,
SP: Editora da Unicamp, Imprensa Oficial do Estado S.A. – IMESP; 2001
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Campinas, Multimeios, Campinas, SP, 2004.
GODARD, Hubert. "Olhar cego. Entrevista com Hubert Godard, por Suely Rolnik". In:
ROLNIK, Suely. (Org.). Lygia Clark, da obra ao acontecimento. Somos o molde. A você cabe
o sopro. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2006. p. 73-80.
GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: o homem criativo. São Paulo: FTD, 2003.
JUNG, Carl Gustav. O espírito na arte e na ciência. Vol. XV das Obras Completas.
Petrópolis, RJ, 1987.
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FO, Dario. Manual mínimo do ator. São Paulo: Ed. Senac, 2004.
SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora,
2011.
SPOLI, VIOLA. Improvisação para o teatro. Trad. Ingrid Dormien Koudela e Eduardo José
de Almeida Amos. São Paulo: Perspectiva, 1998.
STEIN, Murray. Jung: o mapa da alma: uma introdução. 5. ed. Tradução: Álvaro Cabral.
São Paulo: Cultrix, 2006.
VOLPATO, Renata Domingos. Diário de bordo das aulas de clown com Silvia Leblon na
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001. Não publicado.
______. Diário de bordo do curso “How to be a stupid” com Angela de Castro. Londres,
2014. Não publicado.
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______. Diário de bordo do curso “Jogos” com Philippe Gaulier no SESC Santana. São
Paulo, 2016. Não publicado.
WUO, Ana Elvira. Clown: “Desforma”, rito de iniciação e passagem. Tese (doutorado) -
Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, Campinas, SP, 2016.
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Palavras-Chave
arte africana, cultura nyungwe, modos de transmissão, polifonia na cena, resistência cultural
O nyanga é uma dança e prática musical do povo Nyungwe, presente nas províncias de
Tete, Manica e Sofala, na região central de Moçambique. Nela são utilizadas várias dezenas
de flautas, chamadas também de nyanga, construídas com tubos de bambu ou de plástico
(PVC), que estão fechados em seu extremo inferior . Nos grupos de nyanga todos os
participantes, que podem chegar até mais de cinquenta, realizam as tarefas de tocar os
instrumentos, cantar e dançar, tudo ao mesmo tempo, dentro de uma estrutura musical e
cênica polifônica e polirítmica, extremamente organizada. A interpretação dos instrumentos
inclui uma sofisticada técnica, com a qual os músicos conseguem emitir sons vocais afinados,
entre os ataques das notas musicais nas suas flautas. Igualmente, os integrantes do nyanga têm
chocalhos metálicos amarrados nas pernas, que lhes permite criar, enquanto realizam seus
movimentos dentro de uma complexa dança circular, um acompanhamento percussivo de uma
das formas mais requintadas na utilização de flautas de pã na África. (MALAMUSI, 1992;
TRACEY, 1971, 1992). Na composição cênica-musical do nyanga é possível notar, portanto,
múltiplas possibilidades de perspectivas, a justaposição, a coexistência de contrários, a junção
de planos plena de diversidade, de polifonia (SANTOS, 2002), dentro de uma estrutura que
está em contínuo deslocamento. Para os “espectadores”, inclusive, a participação não se limita
só à observação exterior do acontecimento (PAVIS, 1999), mas, pelo contrário, eles também
estão inseridos em uma estrutura cênica capaz de relacionar realidades contrárias e
dessemelhantes (SANTOS, 2002). Este projeto de pesquisa pretende estudar e analisar os
processos composicionais e os modos de transmissão do nyanga, na sua complexidade, isto é,
entendendo a música como um modo de pensamento e de ação social (BLACKING, 2007;
SEEGER, 2008; KUBIK, 1979), assim como a base de uma composição cênica fortemente
estilizada e organizada (MEYERHOLD, 1971, 2012; PICON-VALLIN, 1981; SANTOS,
2002). Focamos, portanto, nesta pesquisa, nos elementos estéticos, assim como filosóficos,
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Referências bibliográficas
CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Cultura com aspas e outros ensaios. São Paulo: Cosac
& Naify, 2009.
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HAMPÂTÉ BÂ, Amadou. A tradição viva. Em: Ki-Zerbo, Joseph. (Ed.) História Geral da
África I: Metodologia e pré-história da África. Cap. 8. Brasília: UNESCO, 2010.
______. A educação tradicional na África. Trad. de Daniela Moreau. Revista THOT n. 64,
1997.
SANTOS, Maria. O encenador como pedagogo. Sa~o Paulo, 2002. 159 f., il. Tese
(Doutorado em Artes) Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
SEEGER, Anthony. Etnografia da música. Trad. Giovanni Cirino. In: Cadernos de campo,
São Paulo, n. 17, p. 237-260, 2008.
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TRACEY, Andrew. The Nyanga panpipe dance. In: African music. vol. 5, n° 1, 1971.
______. Some Dance Steps for The Nyanga Panpipe Dance. In: African Music. Vol. 7, No. 2
(1992), pp. 108-118.
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Palavras-Chave
feminismo, Ofélia, processo de criação
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Referências bibliográficas
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(FILME) ELENA. Direção: Petra Costa. Brasil: Busca Vida Filmes e Espaço Filmes, 2012.
110 minutos.
KOLTÈS, Bernard-Marie. Roberto Zucco. In: Teatro de Bernard-Marie Koltès. Trad. Letícia
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(FILME) MELANCHOLIA. Direção: Lars Von Trier. Dinamarca: Louise Vesth e California
Filmes, 2011. 136 minutos
MÜLLER, Heiner. Hamlet-máquina. Trad. de Reinaldo Mestrinel. In: Quatro textos para
teatro: Mauser; Hamlet-máquina; A missão; Quarteto. São Paulo: Hucitec, 1987.
SHAKESPEARE, William. Hamlet. Trad. de Millôr Fernandes. São Paulo: Peixoto Neto,
2004.
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Palavras-Chave
espacialidades, instalação, objetos coreográficos
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espelhos sugere a retomada reflexiva ampliando o que se viu. Hoje, torna-se importante
destacar a proposta do contato com obras de dança não restritas aos espaços e tempos em que
foram realizadas. Dessa forma, pesquisar amplia possibilidades de experienciar dança
detonando ações e práticas. Embora a metodologia utilizada tenha se concentrado em
referências teóricas articuladas a ideias e conceitos, as reflexões tecidas constituem um campo
de atuação expandido nas possibilidades de vivenciar a dança artisticamente e
pedagogicamente. Assim, o retorno a esta pesquisa já concluída proporciona reverberações
em tempo presente atualizando conhecimentos, metodologia e práticas em dança
contemporânea. No quadro teórico a principal ideia trabalhada foi a noção de espacialidade
(FERRARA, 2008) colocada como discussão principal de compreensão do espaço mais do
que suporte para corpos dançantes. As espacialidades, segundo a autora citada, são as próprias
dinâmicas constituintes do espaço que, no caso do objeto coreográfico aqui escolhido se
apresentaram na mobilidade e no deslocamento propostos ao público como instalação. Outro
aspecto importante das espacialidades é que junto com as visualidades e comunicabilidades
elas se tornam categorias do espaço, o que proporciona tratá-las como qualidades corporais
vivenciais. Então enquanto qualidades corporais, as espacialidades ampliam abordagens
coreográficas no campo de conhecimentos em dança contemporânea, propondo diferentes
tratamentos coreográficos aos espaços em que acontecerão. Com o objetivo de expandir
entendimentos acerca de corpos dançantes e a posição dos espectadores em obras de dança,
percebeu-se que as materialidades criadas pelo objeto coreográfico de William Forsythe, que
no caso desta obra escolhida foram espelhos, interferiram diretamente na composição dos
movimentos de deslocamento do público. Assim, houve o deslocamento da dança para a
vivência de espacialidades do objeto coreográfico, que possibilitou compreender que as
espacialidades transformam a dança como experiência e mobilidade, e a coreografia como
caminho a ser experienciado e não apenas visto. Este foi o objetivo, que de maneira geral
explorou e problematizou relações entre dança e coreografia, corpo e espaço no âmbito das
artes contemporâneas. Os principais resultados alcançados com esta pesquisa suscitam a
importância de compreender a dança a partir de espacialidades geradas por objetos e suas
materialidades que deslocam noções fixas de corpo e espaço, bem como, colocam o
espectador como leitor ativo dos processos de percepção da coreografia. Isto traz a
possibilidade de pensar que práticas coreográficas geram modos de organização não restritos,
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
Ator popular, Teatro brasileiro, Traje de cena.
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as raízes desta árvore, como base para as artes cênicas contemporâneas, entendendo que a
cultura erudita está entrelaçada pela experiência popular. A importância deste estudo de caso é
destacar as principais relações entre figurino teatral e cultura popular, uma vez que José
Maciel é filho de feirantes, e participou de muitas manifestações da cultura popular na
Paraíba, como quadrilha junina, escola de samba e outros. O interesse dele pelas artes cênicas
surge desta interação com o universo popular, que o faz buscar por profissionalização como
ator. Não é possível apagar as marcas das experiências vividas por ele, ou dissociá-las do
processo criativo artístico. Os espetáculos que ele participou sempre trouxeram, de alguma
forma, detalhes culturais do nordeste brasileiro, na literatura dramática, na encenação, etc. Na
maior parte das montagens, essa característica regional estava clara na estética cênica, que
envolve o figurino. Ao abranger o traje de cena do teatro popular brasileiro, uma temática
específica pouco difundida, verifica-se o potencial para divulgação desta cultura, alcançando
o âmbito acadêmico e artístico, nacional e internacional. Com isto, espera-se contribuir com
novas interseções entre a cultura popular e o teatro, principalmente auxiliando os figurinistas
e atores neste processo de reflexão sobre a construção criativa. Do ponto de vista
metodológico, essa pesquisa parte de um estudo teórico sobre o traje de cena e de folguedo,
seguido por estudo de caso. A experiência de vida dos participantes é o foco desta pesquisa.
De acordo com Miriam Goldemberg (2004), a pesquisa qualitativa tem como base a
interpretação das experiências dentro do contexto em que foram realizadas, com isso a
compreensão da perspectiva dos sujeitos é de fundamental importância, a partir da expressão
espontânea de cada um deles. Para isso, vem sendo utilizado o método da história oral, além
da pesquisa bibliográfica e do acervo documental do ator José Maciel e da Cia Oxente, que
integram o estudo de caso. A análise dos dados acontece a partir do entrelaçamento dos
referenciais teóricos estudados e dos dados coletados durante as entrevistas. Com base na
hipótese deste trabalho, busca-se alcançar uma reflexão teórica diretamente relacionada a
prática teatral, colaborando para construção do saber científico aliado à ação. A escolha pela
história oral se deu principalmente pela possibilidade de estar em contato com o sujeito dessa
pesquisa, e poder ouví-lo diretamente. Zeila Demartini (2005) afirma que a história oral é uma
abordagem metodológica utilizada como fonte complementar aos documentos disponíveis em
outras fontes, e se faz necessário o envolvimento entre pesquisador e objeto/sujeito de estudo.
É exatamente sobre essa perspectiva que esse estudo tem se desenvolvido, contando com a
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abertura e disponibilidade de José Maciel e da Cia Oxente para refletir sobre essas relações
através das experiências deles. Compreende-se a importância do estudo do traje de cena e de
folguedo, quando volta-se para uma afirmativa que Néstor Garcia Canclini (2003) fez sobre
culturas híbridas, quando afirmou que na atualidade o tradicional tem se aproximado do
moderno, ainda que de forma mecânica. Nesse aspecto, esta pesquisa mostra sua
originalidade, ao traçar as interações entre os trajes de forma fluída, tendo como base o
trabalho do ator.
Referências bibliográficas
ANDRADE, Mário de. Danças dramáticas do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982.
DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. Relatos orais, documentos escritos e imagens: Fontes
complementares na pesquisa sobre imigração. In: ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz;
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Abordagens metodológicas. Portugal: Celta Editora, 2005.
DEWEY, John. A arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
VIANA, Fausto; BASSI, Carolina (orgs.). Traje de cena, traje de folguedo. São Paulo:
Estação das Letras e Cores Editora, 2014.
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Palavras-Chave
dramaturgismo, dramaturgia contemporânea, montagem teatral
Este resumo tem como objetivo apresentar o projeto de pesquisa Poética, concepção e
composição da escrita dramática no “Laboratório de Dramaturgismo e Direção Rotativa”,
coordenado pela Prof.ª Dra. Fernanda Vieira Fernandes, na Universidade Federal de Pelotas,
vinculado ao Grupo de Estudos do CNPq “Teatro: Histórias e Dramaturgias”, na linha de
pesquisa “Dramaturgismo e suas relações com o teatro contemporâneo”. O projeto teve início
em março de 2016 e encontra-se em andamento, com previsão de desenvolvimento até agosto
de 2018. O Laboratório surgiu a partir da parceria da autora com a Prof.ª Ma. Maria Amélia
Gimmler Netto, ambas docentes do curso de Teatro-Licenciatura da UFPel. Cada uma delas
dedicou-se a um enfoque de pesquisa, que se complementavam na prática teatral. Netto
vinculou-se às questões de encenação, processo colaborativo e criação de cenas,
desenvolvendo uma possibilidade metodológica para a pedagogia da cena contemporânea,
baseada na experimentação da direção rotativa de cenas (NETTO, 2016). Fernandes, por sua
vez, dentro do projeto mencionado na abertura deste resumo, concentrou-se nas proposições
relativas aos caminhos de concepção e composição da literatura dramática contemporânea e
suas especificidades para o trabalho de teatro em grupo, com estímulo à escrita por parte dos
colaboradores e à criação cênica a partir de textos dramáticos ou não (FERNANDES, 2016).
Assim sendo, o Laboratório nasceu da aliança entre estudos práticos e teóricos. As
possibilidades de encenação e seus possíveis desdobramentos, na experiência coletiva,
serviram como meios à composição da escrita dramática, sendo do mesmo modo instigados
por ela. Além das professoras mencionadas, que também compuseram o elenco, o laboratório
contou em 2016 com a colaboração de três estudantes egressos e quatro em formação no
referido curso. Fernandes, a partir de propostas lançadas tanto no âmbito de textos,
depoimentos, peças, vídeos, áudios, reportagens jornalísticas, canções, entre outros, como no
âmbito da experimentação cênica proporcionada por Netto (jogos, improvisações e criação de
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cenas), coletou o material para que pudesse executar o que se denomina “dramaturgismo”. Ou
seja, o foco da pesquisa esteve na presença e papel da professora-pesquisadora dramaturgista,
acompanhando e estimulando a prática teatral. A figura do dramaturgista surge no teatro
ocidental do século XVIII, na Alemanha, com Lessing, designado dramaturg, diferenciando-
se daquela figura que apenas escreve a peça, o dramatiker, ou dramaturgo, em língua
portuguesa. Em Dramaturgia de Hamburgo, ele compila vários de seus textos e reflexões a
partir de práticas cênicas, que originam este novo papel dentro de uma companhia. Seria então
um tipo de conselheiro literário e teatral, que se agrega a uma trupe, a um encenador ou ao
responsável pela preparação de uma produção teatral (PAVIS, 2003). O ponto de partida
textual para estímulo cênico escolhido por Fernandes foi a peça "Combate de negro e de
cães", de Bernard-Marie Koltès, dramaturgo estudado pela pesquisadora no mestrado e
doutorado. A opção se deu em função dos aspectos temáticos selecionados pelas professoras
para a montagem, que versavam sobre o machismo e o racismo presentes nas relações da
sociedade contemporânea. A outra referência literária direta trazida ao grupo foram poesias de
Angélica Freitas, do livro "Um útero é do tamanho de um punho". Somaram-se a estes alguns
dados estatísticos em relação à violência contra mulheres e negros, informações históricas
(em especial relativas ao Rio Grande do Sul e a Pelotas) e reportagens jornalísticas da
atualidade sobre o mesmo assunto. Além dos recursos textuais, algumas canções, filmes e
pontos de umbanda foram incorporadas aos estímulos e, posteriormente, à composição
dramática. Cumpre ressaltar que não apenas Fernandes apresentava as ideias, já que todos os
membros podiam agregar propostas ao processo. Por tratarem-se de temas que habitam o
cotidiano dos participantes da pesquisa e pensando na ideia de construção de uma visão crítica
e pessoal, a dramaturgista incentivou a escrita dos colaboradores, através de memórias e
relatos. A primeira pergunta, lançada nos primórdios dos ensaios, foi: “O que te traz conforto?
E o que te desconforta?”. Num outro momento, cada um teve espaço para trazer ao grupo uma
história de racismo ou machismo vivenciada consigo ou perto de si. Estes instantes foram de
extrema importância, aproximação e sensibilização dos artistas-criadores, já que se
identificavam nas opressões sofridas ou, ao menos, podiam conhecer melhor aquelas pelas
quais passaram ou passam seus colegas. Todas as proposições serviram como base para a
criação de cerca de dezoito cenas, pensadas e experimentadas coletivamente. Após, seguiu-se
o momento das professoras fazerem a seleção e estabelecerem um roteiro que seria a estrutura
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Referências bibliográficas
FREITAS, Angélica. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. Tradução sob a direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia
Pereira. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.
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Palavras-Chave
arqueogenealogia, corpo, formação
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Referência bibliográficas
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Palavras-Chave
artes cênicas, antropologia, metodologia
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heterogêneos. Sob essa perspectiva, qualquer coisa que transforme determinada situação de
maneira perceptível é um ator, ou, se ainda não possuir figuração, um actante. A figuração é,
nesse caso, uma operação que atribui forma a um ator no contexto de sua atuação. Um ator-
rede, por fim, não é o disparador solitário de um ato e, sim, o ponto de confluência de um
conjunto de outros atores que, no momento estudado, enxameiam em sua direção. Em outras
palavras, suas ações nunca são somente suas. Pelo contrário, são resultado de um conjunto de
funções enoveladas e atualizadas que, para serem compreendidas, precisam ser
desemaranhadas. E é justamente esse o trabalho do analista: reconstruir, por meio de
procedimentos interpretativos, as diversas associações implícitas e explícitas que constituem
uma dada situação (LATOUR, 2012). Nesse processo, a utilização de técnicas oriundas da
semiótica, inclusive de suas vertentes literárias, é fundamental. Com isso, é possível o
acompanhamento dos diversos atores, o entendimentos dos significados veiculados por eles e,
então, o estabelecimento de uma narrativa que compreenda suas ações. A interpretação é,
nesse sentido, uma maneira de entender o que está visível para, então, dar forma ao que não
está. Latour, afinal, enfatiza a todo o tempo a não separação entre os efeitos reais, coletivos e
discursivos derivados de cada ação. Tais efeitos, porém, muitas vezes não são declarados e
precisam ser explicitados por meio de ferramentas analíticas específicas. Daí a importância de
uma abordagem interpretativa capaz de identificar, contextualizar e significar os muitos atores
e ações (LATOUR, 1994 e 2012) Volto, então, à cena inicial de Barafonda, por considerá-la
uma potente metonímia do desenrolar da obra. Com isso, esclareço também, a metodologia
proposta, por meio de um breve exemplo de sua aplicação. Como dito, o que a princípio se vê
é um ator acorrentado ao Elevado Rapidamente, percebe-se que esse ator está representando
Prometeu, figura central da mitologia grega e, por consequência, personagem relevante do
imaginário ocidental. Esse conjunto já complexo de significados, partilhado ou não pelos
espectadores em sua totalidade, é, porém, apenas um ponto de partida. O que acontece, e o
que de fato importa, é a emergência de outros sentidos, inéditos, decorrentes da justaposição
radical de símbolos pertencentes a regimes muito distintos. Ou, para ser mais específico, é a
explicitação dos processos semânticos, coletivos e materiais subjacentes a cada um dos
muitos elementos. O Minhocão passa a ser visto como uma construção que não é feita
somente de pedra, mas também de trabalho e de dinheiro. Prometeu admite ser mito, além de
titã. Os artistas, os transeuntes e os espectadores reconhecem-se como o que são no momento
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Referências bibliográficas
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos. São Paulo: Editora 34, 1994.
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Palavras-Chave
história do teatro brasileiro, Primeira República, dramaturgia, função dramaturgo
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criações românticas de Gonçalves de Magalhães voltadas para o teatro, pode-se falar ainda de
uma vinculação indireta com o campo social, pois é fato que o autor almejava um alcance
simbólico na imaginação da sociedade recém-independente. Talvez o mesmo se possa dizer da
comédia realista de José de Alencar. Mas essas aproximações com o campo social e o campo
de poder se davam mais pelo caráter estético do movimento que militavam do que
necessariamente por meio de uma ação que desejasse se relacionar objetivamente com a
prática teatral em si. Avançando para o meio do XIX, veremos que quando se trata dos
homens de letras que escreviam peças teatrais, as suas criações não transcendiam o âmbito
literário de uma dramaturgia. Mesmo que muitos deles tenham escrito poderosas críticas
sobre o teatro e a sociedade, seus argumentos não invadem a materialidade cênica
propriamente dita, aspecto necessário para compor o conjunto de ações da função dramaturgo.
Ou seja, as intenções destes homens de letras quando escreviam para e sobre o teatro era a de
intervir no gosto literário, em instâncias que dizem respeito ao juízo de valor de uma obra
literária – e não se pode pautar isso em juízo do autor, pois estavam em harmonia com o seu
tempo. Sendo assim, pouco ou quase nada se detinham na especificidade da cena, da dinâmica
teatral propriamente dita. Caminhando para as décadas finais do XIX, verifica-se uma guinada
do escritor literário para a materialidade cênica. As experiências que compunham o repertório
que ficou conhecido como teatro ligeiro certamente tinham relações intrínsecas com o avanço
do texto sobre o palco. Apesar de todo esse envolvimento notável dos escritores ligeiros com
a prática teatral, arrisco dizer que suas ações não se vinculam ainda àquelas que compõem um
conjunto maior de ações pautadas em relações de ordem objetiva com o campo social, político
e artístico do momento. É certo que essas criações são, em sua maioria, uma crônica e retrato
fiéis de uma época, abarcando uma grande maioria de eventos, situações e episódios da vida
nacional. Porém, em que medida se pode dizer que tais criações se relacionavam num âmbito
de objetividade com a vida social, política e artística daquele momento, intervindo assim na
discussão sobre o teatro e a sociedade? Por outro lado, como se dava a participação de alguns
outros homens de letras que escreviam para o teatro na Primeira República? Estaria ali a
gênese da função dramaturgo tal como a compreendemos hoje? Nosso foco incide sobre as
posturas e as tomadas de decisão que esses autores estabeleceram diante da posição que
ocupavam no campo literário, a partir dos possíveis que lhes foram apresentados. Esses
aspectos serão fundamentais para definir o que denomino como função dramaturgo.
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Chegando ao ponto central da pesquisa, observa-se que no início do século XX houve uma
movimentação intelectual e artística que confrontou as ideias e a hegemonia dicotômica que
vinha sendo desempenhada de um lado pelo teatro ligeiro, e no outro pelo repertório clássico
das companhias estrangeiras. Marcado por uma forte tendência idealístico-simbolista, esse
teatro da Primeira República foi sentenciado pela tradição como um teatro da decadência.
Esse veredicto, entretanto, sustenta-se em uma percepção intelectualmente equivocada,
baseada em pressupostos de análise comparativa que por sua vez não se pautam em nenhum
momento sobre o caso específico do teatro brasileiro. Estimulados pela máxima da renovação,
da originalidade e da atualização estética, esses críticos e historiadores buscaram na cena
nacional experiências equivalentes às que se desenvolviam simultaneamente na Europa. Não
se atentaram em perceber, estimular e analisar de maneira singular uma vertente teatral
atuante na cena nacional, que produzia textos e representações, e que se apresentava enquanto
alternativa ao teatro ligeiro e ao teatro de repertório clássico das companhias estrangeiras.
Assim, durante décadas negligenciaram-se experiências que posteriormente se mostrariam
fundamentais para consolidação da prática teatral moderna no Brasil. De fato, o objetivo mais
pulsante dessas obras era o de renovar a cena nacional pelo viés do teatro dito “sério”. Se à
época lhe foram imputadas um olhar de soberania em relação ao gênero ligeiro somente pelo
simples fato de serem “sérias”, isso mais as prejudicou do que as ajudou, pois uma vez
consideradas “sérias”, o que significava dizer “literárias”, a crítica observava-as estritamente
pelo aspecto literário, negligenciando com isso as suas potencialidades cênicas. Portanto, a
nossa justificativa se estrutura a partir da necessidade de reelaboração crítica e histórica das
contribuições de alguns dramaturgos brasileiros que escreveram para a cena nas três primeiras
décadas do século XX. Mais especificamente, aqueles que se opunham ao teatro cômico-
musicado e desejavam uma ampliação do horizonte teatral. A intenção, todavia, não vai de
encontro ao desejo de consagração desses autores, mas sim na tentativa de reavaliar suas
produções, a fim de reconsiderar o papel que atualmente ocupam na história do teatro
brasileiro.
Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
ensino, formação do ator, jogo
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Neste dilema, o filósofo aponta que o momento mais próximo desta totalidade está presente
no jogo, pois nele se lida ao mesmo tempo com as duas tendências, submetendo os próprios
instintos a regras livremente consentidas. Esta cooperação harmoniosa entre as duas
tendências carrega a possibilidade de gerar respostas e avanços inovadores para os desafios
postos em jogo. Este potencial para descobertas também é apontado por Huizinga (2010)
quando este fala sobre o “rasgo de intuição”. Para ele, o jogador descobre a solução para o
problema apresentado nas relações que estabelece durante o ato de jogar. A questão não é
sanada através de um encadeamento racional de informações, mas no ato, nas relações
estabelecidas com os parceiros no momento do jogo. Estes caminhos iniciais parecem apontar
os indícios para uma apropriação do termo pela prática cênica. Em jogo, supõe-se que o
jogador deva estar inteiro, receptivo e “poroso” para os eventuais desafios que possam surgir.
Traçando um paralelo com a ação performativa, pode-se entrever situação semelhante. Ora, na
dinâmica que o desafio gera para o artista, rapidamente ele deve criar uma solução com seus
parceiros de jogo – outros atores e eventuais espectadores – para responder a demanda
apresentada, quer esta seja desde uma reação a uma simples fala de um texto ou, até mesmo,
um imprevisto na situação cênica. A medida em que ele está aberto e receptivo para o que
ocorre, frequentemente diz-se que ele “tem jogo” e, em oposição, quando este artista está
fortemente agarrado a um roteiro previamente traçado e ignora as situações que surgem na
cena, comumente se afirma que ele “não joga”. Aqui o vocábulo jogo poderia então ser
traduzido em palavras como atenção, ação/reação, presença, e uma miríade de informações
que visam apontar um ator que esteja em relação direta com a cena. Não obstante, cada vez
mais estratégias presentes em ações cênicas contemporâneas tendem a romper com a
centralização em torno de uma fábula e buscam um rompimento com um cosmos fictício
fechado e unívoco. Em tais ações, a evidenciação da teatralidade da cena parece apresentar
características que em muito se aproximam de um jogo, pois, como aponta Josette Féral
(2004), estes encaminhamentos da prática cênica convidam o espectador para um duplo
processo, visto que ele não deve mais só receber a obra, mas construí-la conjuntamente com
os artistas, jogar com as regras que a dimensão estética lhe apresenta para significar e criar
um sentido próprio para aquilo que vê. As aproximações do vocábulo “jogo” não se detêm no
ato cênico, mas também permeiam o processo pedagógico no teatro. Se o jogo carrega o
potencial de trazer descobertas pessoais, “rasgos de intuição” para aqueles que dele
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participam, estas são características que passaram a ser buscadas cada vez mais na formação
de atores. Ora, como aponta Odette Aslan (1994), durante muito tempo a formação do artista
se baseava em copiar as ações e formas de um ator-professor considerado como mestre,
porém, os processos pedagógicos, principalmente os disparados por encenadores-pedagogos
como Stanislavski, Grotowski e Eugenio Barba, passaram a considerar cada vez mais a
subjetividade e descobertas pessoais dos participantes através de exercícios diversos. É
possível entrever tal processo até mesmo em uma perspectiva mais voltada diretamente para o
ensino, a exemplo, os jogos teatrais de Viola Spolin (2005). Neles se busca fazer com que os
participantes apreendam a linguagem teatral jogando, descobrindo respostas pessoais no
próprio corpo para os desafios que são lançados. Tais aproximações são apenas alguns dos
indícios, trilhas da presença do termo jogo no pensamento em teatro. No atual estágio da
pesquisa não busco traçar um mapeamento completo do conceito, mas, a partir das trilhas
apontadas, aprofundar a discussão e os impactos da presença do vocábulo na formação de
atores.
Referências bibliográficas
DUFLO, Colas. O jogo: de Pascal a Schiller. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
FÉRAL, Josette. Teatro, teoría y práctica: más allá de las fronteras. Buenos Aires:
Galerna, 2004.
HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo:
Perspectiva, 2010.
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Palavras-Chave
escrita cênica, romance em cena, teatro brasileiro
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Referências bibliográficas
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teatro, crítica e estética. V.8. Nº 1. 2016, p.149-171.
BRECHT, B. Estudos sobre teatro. 2ed. Trad. Fiama Paes Brandão. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2005.
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COSTA, F.S. O objeto e o teatro contemporâneo. In: Móin-Móin: Revista de estudos sobre
teatro de formas animadas. Ano 3, v.4, 2007.ISSN 1809-1385.Járaguá do Sul: SCAR/UDESC.
DIEGUES, I. [conversa sobre os romances que levou para o palco]. Entrevista de Aderbal
Freire-Filho ao Jornal Plástico Bolha em novembro de 2006.
FÉRAL, J. Além dos Limites: teoria e prática do teatro. Trad. J. Guinsburg [et.al.]. São
Paulo: Editora Perspectiva, 2015.
GUÈNOUN, D. A exibição das palavras: uma ideia (política) do teatro. Trad. Fátima
Saadi. Rio de Janeiro: Teatro do Pequeno Gesto, 2003.
______. Dicionário de Teatro. Trad. sob a direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira.
São Paulo: Editora Perspectiva, 1999.
______. A Análise dos Espetáculos: teatro, música, dança, dança-teatro, cinema. 2 ed.
Trad. Sérgio Sálvia Coelho. São Paulo: Editora Perspectiva, 2015.
SARRAZAC, J.P. O Futuro do Drama .1 ed. Porto: Campo das Letras, 2012.
MACHADO, D. O que diz Molero. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2004.
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Palavras-Chave
cartografia, corpo e subjetividade, pensamento contemporâneo, práticas formativas/criativas
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compõe com uma série de reflexões produzidas, nesta parceria, sobre práticas de comunidade,
testemunho e criação.
Referências bibliográficas
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: Por uma literatura menor. Belo Horizonte:
Autêntica, 2014.
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Dulcina, 2013.
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce homo: como alguém se torna o que é. São Paulo: Companhia
das Letras, 2008.
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Palavras-Chave
imagem, memória, morte
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leis da vida, é significativo se atentar a este subterrâneo em que as coisas não se resolvem por
um passe de mágica, onde, por mais que evitemos, nos vemos convivendo com o indigesto,
com algo que dói. A morte de algo instaura um convívio extremamente vivo com a mesma,
um processo de transformação evidente e profundo. Se ao invés do corpo em decomposição
pensarmos nas folhas de uma árvore, basta se sentar em um quintal para observar a riqueza
desta transformação: convivem no mesmo chão, uma folha verde, outra já amarelada, a
marrom e aquela que já é apenas a estrutura. Tatsumi Hijikata criou o Butoh. O Butoh é sobre
capturar os espíritos no intervalo Ma. O corpo morto escuta a si e ao universo a sua volta. É
um instrumento atento, perceptivo. Uma caixa de ressonância: recebe “informação” como
uma “antena” e a devolve em forma de movimento e imagem. Os processos e imagens
nascidas nas células do corpo lhe interessam, assim como os espíritos que se expressam
através dele. Grande parte da tradição teatral japonesa, da qual o Butoh é um desdobramento,
se baseia em espíritos que encontram um corpo para contar e entender suas histórias. Como
acessar e selecionar este material autobiográfico e transpô-lo a materialidade da cena torna-se
uma pergunta fundamental a esta pesquisa. Investigo duas possibilidade, em uma busco, a
partir do meu corpo, criar imagens e colocar as imagens que me habitam no espaço em um
constante fluxo de afetar e se deixar ser afetado por elas e para isso busco dialogar com
Hijikata, com o universo da dança, dos espíritos e do Butoh. Na outra vejo corpos com
elementos de rigidez que se aproximam do tipo, do universo cômico e observo como Tadeusz
Kantor coloca o seu imaginário no espaço, orientando os atores para que eles façam as coisas
de acordo com suas lógicas: cada um deles age e se comporta conforme suas próprias
experiências pessoais. Jacques Copeau diz que para o ator, doar-se é tudo. E para doar-se, é
preciso antes possuir-se. O ator ganha potência quando confia na particularidade de suas
ações, quando estas fazem sentido para ele. Neste diálogo com a morte inspiro-me na festa
que os mexicanos fazem no Dia dos Mortos, em suas caveiras enfeitadas e coloridas, no fato
deles irem ao cemitério conversar com seus entes queridos, levarem comidas e colocarem
músicas de forma prazenteira. Vejo também o alerta que os Krahô (CUNHA: 1978) me dão ao
dizer, tome cuidado com a conversa que você estabelece com seus mortos, pois eles podem
estar querendo te levar com eles. A partir disto estou buscando não evitar algo que me dilacera
e transforma, pois acredito que só dialogando com a morte eu posso estar viva, porém quero
desvendar quais os meios e caminhos pelos quais eu posso travar este contato e criar a partir
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dele. Durante todo o processo prático como teórico, buscarei ir registrando esta trajetória
através da escrita bem como desenhos, fotos, vídeos, documentando todo este processo de
investigação, assim, a análise dos resultados será feita a partir da sistematização de toda a
experiência. Viso com isto compreender e melhorar a prática, extrair seus ensinamentos e
compartilhá-los. A partir deste conhecimentos e reflexões pretende-se arriscar procedimentos
a serem utilizados na formação do ator que aliem princípios técnicos com o imaginário
relacionado ao tema. Gostaria de construir um lugar onde o ator possa refletir sobre seu
trabalho, sobre as possibilidades de evidenciar o imaginário no corpo e pensar como (e se) a
temática da morte pode interferir nos seus processos de criação.
Referências bibliográficas
KOBIALKA, M. A journey through other spaces. Essays and manifestos, 1944- 1990 –
Tadeusz Kantor. Los Angeles: University of California Press, Ltd. 1993.
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Palavras-Chave
experiência, formação do ator, pedagogia do teatro
A experiência teatral “A mulher-alvo” foi realizada com crianças de quatro a oito anos
da Escola Municipal Monsenhor João Castilho Barbosa e atores, atrizes e performers da
cidade de Ouro Preto (MG). Inspirada no texto A mulher-alvo e seus dez amantes de Matéi
Visniec, a experiência foi desenvolvida como parte do projeto “Teatro contemporâneo e
infância”. O projeto está inserido no âmbito da pesquisa de pós-doutorado “Pedagogia do ator,
teatro contemporâneo e infância: a prática como produtora de conhecimento”, desenvolvida
no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto, e
tem como foco a proposição da prática artística como pesquisa em uma série de experimentos
cênicos que estimulam parcerias entre atrizes, atores, performers e crianças. O objetivo
central destes experimentos é a articulação de diferentes esferas do fazer teatral: a formação
do ator, a pedagogia do teatro e a criação artística. As ações artísticas realizadas no projeto
operam como processos de investigação e formação para atores, atrizes e performers e, ao
mesmo tempo, proporcionam às crianças experiências nas quais elas podem se apropriar da
linguagem teatral por meio da interação direta com contextos ficcionais que têm ressonância
com suas próprias realidades sócio-étnico-culturais. Os experimentos são criados pelos
artistas como estruturas em potencial que se concretizam com a participação ativa das
crianças. As crianças são iniciadas na arte teatral por meio da vivência direta da cena, da
ritualização e do jogo. As convenções do teatro são apreendidas na interação com os seres
ficcionais, nas tomadas de decisões em situações e desafios dados pelo contexto da ficção e na
atuação de papeis. Os modos de ser, de estar e de agir da criança, a capacidade de “entrar no
jogo”, de perceber o mundo com os todos os sentidos da percepção, de transitar naturalmente
entre a ficção e o real, servem de guia para as ações de performes. O caráter pedagógico das
ações se dá, tanto para adultos quanto para crianças, na (e pela) experiência do próprio fazer
teatral. Apoiada em avaliações das experiências anteriores, o processo de “A mulher-alvo”, a
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terceira ação do projeto, partiu de algumas diretrizes. Da mesma forma que nas primeiras duas
ações, o experimento cênico se deu em quatro encontros que foram precedidos por um
processo de duas semanas de preparação de uma estrutura (em potencial) pelos adultos a
partir do texto de referência A mulher-alvo e seus dez amantes. O processo de “A mulher-
alvo”, porém, envolveu também encontros laboratoriais para a prática de técnicas da mimesis
corpórea e da arte da bufonaria com o objetivo de potencializar a investigação dos atores e das
atrizes. Os laboratórios permitiram que os atores explorassem as pistas dadas pela
dramaturgia para a composição de seres ficcionais que, posteriormente, foram corporificados
de forma fluida e gradual na interação com as crianças. Outra decisão tomada a partir de
olhares críticos às experiências anteriores, foi a busca por extrapolar o território da Escola
Municipal Monsenhor João Castilho Barbosa, que é a instituição sede do projeto, para ocupar
espaços que pertencem ao cotidiano das crianças, como o bairro da escola, e outros espaços
que, por questões socio-econômicas e culturais, são pouco acessíveis às crianças, como o
Teatro Municipal Casa da Ópera, a Tenda do Circo da Estação e o Centro de Artes e
Convenções da UFOP. A interação com tais espaços ampliou e aprofundou as camadas de
significação da experiência na medida em que gerou tensões entre os sentidos dados pelos
estímulos dramatúrgicos articulados no contexto ficcional e a materialidade dos lugares, das
pessoas e das situações do cotidiano da cidade. A escolha de um texto dramatúrgico
contemporâneo que não foi escrito para o público infantil também foi uma decisão baseada
nas experiências anteriores e partiu da necessidade de que o processo estivesse mais focado na
exploração das possibilidades cênicas e performativas do que na narrativa e nos conteúdos
(didáticos e moralizantes) da fábula. O projeto busca explorar diferentes perspectivas da
criação artística, da formação do ator e da pedagogia do teatro e busca positivar os
conhecimentos e os modos de produção de cultura que as crianças trazem para as relações de
parceria que se estabelecem entre elas e os adultos. Por ter um caráter de pesquisa em
andamento, cada ação artística provoca uma série de reflexões a respeito das concepções de
infância que emergem das formas de ensinar e de fazer arte com crianças. Como grande parte
dos atores, atrizes e performers envolvidos nas ações também são professores e professoras de
teatro, o projeto busca estimular reflexões crítica sobre questões artísticas e pedagógicas que
surgem da própria prática, como as metodologias do ensino das artes cênicas, as formas de
atuar com e para a criança e os automatismos resultantes de visões adultocêntricas de arte e de
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infância que acabam se manifestando na relação com as crianças. Desde 2015, o projeto
envolveu cerca de cinquenta crianças de quatro a oito anos, professoras, estagiários e
funcionários da escola e mais de vinte performers da cidade de Ouro Preto. Como forma de
aprofundamento do trabalho e impacto na vida das crianças e dos performers, optou-se por
manter as ações com as mesmas crianças por todo o período do projeto. Já é possível afirmar,
porém, que a presença marcante dos artistas na escola, impacta toda a comunidade escolar. As
cenas, performances e dramatizações, que ocorrem em vários espaços da instituição,
estimulam reflexões quem tocam em questões sociais, raciais e de gênero. As ações também
abrem na escola um importante espaço de reflexão sobre as formas de fazer e de ensinar arte
para crianças.
Referências bibliográficas
DESGRANGES, Flávio. A arte como experiência da arte. In: Lamparina. Revista de Ensino
de Teatro – EBA/UFMG. Belo Horizonte, v.1, n. 1, p. 50-56, 2010.
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Disponível em: < http://www.doppiozero.com/materiali/scene/il-metodo-errante-di-chiara-
guidi> Acesso em: 03 abr. 2014.
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Palavras-Chave
processo criativo em dança, gravidade, estados corporais
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mesmos e com os parceiros, por meio da qual estados de ressonância são gerados
impulsionando as improvisações. Os resultados alcançados dizem respeito a uma metodologia
de trabalho criativo ainda em processo e discussões e reflexões teórico-práticas em vias de
sistematização. Este processo prevê ainda resultados performados, que será primeiramente em
um formato de instalação.
Referências bibliográficas
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Physiology of Wholeness. Structural Integration: The Journal of the Rolf Institute. 40(1):
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Pensar a Imagem. Belo Horizonte: Autêntica, 2015, p. 191-201.
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Palavras-Chave
Teatro; Formação; Egito; Sagrado; História; processos de transmissão.
Este trabalho pretende investigar a relação entre o teatro e o sagrado através da cultura
do Antigo Egito e seus processos de transmissão, como mitos, danças dramáticas, cerimônias,
inscrições, literatura. A pesquisa tem como objetivo refletir sobre a perda de referências de
outras culturas, como a egípcia, a partir da demarcação da origem do teatro do ocidente na
Grécia Antiga. Autores como Baty e Chavance (1932) em “Vie de l'art théatral des origines a
nos jours” trazem relato de papiros com textos dramatúrgicos do Antigo Egito com uma
estrutura muito similar a encontrada em textos posteriores de autores gregos. Com a ajuda
destes autores e também de Araújo (2000), que traz uma análise da literatura do Egito
faraônico com vários exemplos de textos de representações teatrais, e também de diretores/
pensadores do Teatro como Brook (1970), com o auxílio de Campbell (2015), Eliade
(1995/2010/2016) e Clark (2004) iremos traçar um caminho de busca de respostas e
aprofundamento, em que outros autores estão sendo chamados para dialogar conosco.
Sabemos que a história é construída através de documentação, mas não podemos esquecer de
que tudo passa pelo filtro humano, que interpreta os registros encontrados. Será que os
documentos históricos relativos ao Antigo Egito não foram compreendidos à luz da
modernidade? Encontramos em Araújo (2000, p.22) que o desconhecimento da língua, com
uma grafia feita de “desenhos” abriu a possibilidade para a elaboração de uma imagem
idealizada daquela civilização "e aqui se começou a reinventar o Egito; além disso, utilizaram
as fontes disponíveis, exposta naquela escrita de desenhos realistas, numa direção que
privilegiava na verdade uma interpretação livre, altamente alegórica, dos signos isolados ou
em pequenos conjuntos, sempre de acordo com os termos abstratos de sua própria filosofia."
Se focamos especificamente na área do teatro, talvez haja dificuldade em olhar para uma
cultura que, ao ser “reinventada”, tenha sido “esquecida” dentro dos círculos das teorias
teatrais, talvez pela complexidade que esse processo representa, pois não distingue entre os
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mistérios e as formas de produção artística. A partir da “origem grega”, uma ideia universal de
teatro foi se construindo e “apagando” outras culturas que não partilhavam da mesma noção
de arte, ou não possuíam termos equivalentes aos que são utilizados na tradição ocidental. É
importante ressaltar que a busca que pretendo empreender neste trabalho não é a configuração
de um modelo egípcio para o teatro, mas estudar as relações entre o teatro e o sagrado nessa
cultura. E buscar “estímulos” para o artista teatral em seu ofício, tocando em fios invisíveis
que formam, a todos nós, sem distinção. Há um ditado antigo, egípcio, que afirma que "quem
bebe da água do Nilo, nunca o deixa, nunca o esquece, nunca o abandona". Creio que carrego
esse ditado. Nos 20 anos em que tenho contato com a cultura do Antigo Egito como busca
pessoal, noto que há muito a ser descoberto e compreendido. Mas a intenção de ter como
objeto de estudo de doutorado a relação entre o teatro e o sagrado no Antigo Egito, ultrapassa
- e bastante - o sentido pessoal. A dedicação nos últimos anos à formação do professor teatral,
através do curso de Licenciatura em Teatro na Universidade Federal da Paraíba e a
participação no Grupo de Pesquisa de Teatro na Educação, traz, a todo instante, o pensamento
sobre o ofício do teatro e, mais especificamente, o do artista teatral. O teatro como área de
conhecimento e o artista que busca realizar seu ofício da melhor forma tornam-se impulsos
para reflexões mais profundas sobre a dimensão humana. Por um lado, há a vontade de
resgatar uma cultura tão rica que pode trazer elementos importantes para as discussões das
teorias teatrais na atualidade, não como um modelo teatral, mas como possibilidades que a
demarcação do teatro grego como modelo ocidental pode ter dissipado no caminhar da
história. Em relação ao artista contemporâneo, há tentativas frequentes de retomada de
relações primordiais do teatro e creio que encontrar outras referências sempre mostra sentidos
na busca do fazer teatral. A sabedoria do Antigo Egito pode trazer elementos que auxiliem no
processo de criação do artista teatral da atualidade? Acredito que a resposta é afirmativa, mas
faz-se necessária uma discussão aprofundada e uma pesquisa cuidadosa para responder a
essas questões com argumentos reconhecidos pelo pensamento contemporâneo. Ou trazer
elementos que possam ser incluídos nesse pensamento. A mística presente no modo de vida
do Antigo Egito e, consequentemente, em todas as áreas daquela sociedade, pode ser
compreendida e ressignificada na arte teatral em nossos dias? Esta é uma pergunta de difícil
resposta, mas que traz a chama, a provocação necessária para impulsionar uma busca. A
riqueza da cultura egípcia é muito grande. E foi uma civilização extremamente organizada,
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que durou mais de 5000 anos. Em 1932, Baty & Chavance (p. 28) escreveram: "Durante
muito tempo ignorou-se o teatro egípcio e foi apenas há alguns anos que foram revelados,
graças sobretudo às descobertas do abade Driotton, os primeiros textos de literatura
dramática. Eles ressuscitam em número cada vez maior, sem que até agora se tenha
inventariado toda a sua riqueza. Hoje podemos acompanhar, no vale do Nilo, uma evolução
semelhante àquela que encontramos em todo o Extremo-Oriente; pode-se mesmo afirmar que
nunca foi tão sólido o laço entre a religião e as formas dramáticas; podemos enfim restituir ao
Egito a honra de descobertas que a jactância grega ostentava para sua própria glória." A
revelação destas descobertas e, consequentemente, a transmissão da cultura egípcia para os
dias de hoje, talvez fiquem ainda circunscritas às áreas de história e arqueologia de uma forma
mais contundente. E há também a literatura, já que, passados 84 anos, conseguimos encontrar
alguns livros que mencionam formas dramáticas, inclusive de festivais que aconteciam no
Antigo Egito, como o Festival de Raker, no qual durante 8 (oito) dias era encenada a Paixão
de Osíris, em uma estrutura narrativa que nos remete à Paixão de Cristo. (Carvalho, 1997, p.
03 e Clark, 2004, p.121) Mas há ainda poucos registros. É preciso tempo e dedicação para
encontrar material e organizá-lo, para empreender a tarefa de tornar possível a inserção do
Egito nas discussões das teorias teatrais e nas origens do teatro em nossa história. Referências
Referências bibliográficas
BATY, G. e CHAVANCE, R. Vie de l'art théatral des origines a nos jours. Paris: Ed.
Librairie Plon, 1932.
CARVALHO, Tania. Paixão de Osíris. Curso de Egito Místico. João Pessoa: AD’OR, 1997.
CLARK, Rundle. Símbolos e Mitos do Antigo Egito. Deuses, Mitos e Cultos. São Paulo:
Hemus, 2004.
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ELIADE, Mircea. História das crenças e das ideias religiosas – I. Da Idade da pedra aos
Mistérios de Elêusis. Rio de Janeiro: Zahar, 2010.
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Palavras-Chave
lúdico; series iniciais; teatro; teatro educação;
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história, sem intervenções, elas se posicionavam com os olhos vidrados e prontas para
qualquer instrução. Outra experiência no campo da recepção foi a apresentação da bailarina
Tainara Machado, também dentro do Instituto. Iniciou quando percebemos, a partir de alguns
jogos teatrais o interesse das meninas pelo tema “ballet”. Introduzimos uma história: “A
boneca bailarina”, que conta sobre uma boneca, Isadora, que sonhava em ser uma bailarina,
mas não conseguia pois não tinha estrutura física, por conta disso desejava se tornar humana.
As aulas levaram ao surgimento do “padrinho mágico” (personagem representado pelo
monitor Rafael Bueno), capaz de tornar Isadora em bailarina de verdade. Assim, convidamos
a bailarina Tainara, acadêmica do curso de Teatro, para participar da brincadeira. Dessa
maneira, numa dramatização em que todos, monitores e alunas, participaram, a Isadora
transformou-se na esperada bailarina, que dançou e ensinou alguns movimentos do ballet às
meninas. Essas experiências enquanto espectadoras faz com que penetrem em outro espaço-
tempo efêmero, atravesse a imaginação daquelas espectadoras mirins e torne vulnerável a
nossa identidade, como é explanado por Taís Ferreira. Assim, o trabalho da convenção palco/
plateia a partir dos jogos teatrais, a contação da história “Joãos e Marias” e a participação da
bailarina Tainara na dramatização de “A boneca bailarina” constituem-se como três ações que
iniciaram o processo de formação de espectadoras das meninas do Instituto Conceição.
Concomitantemente a este processo, abordam-se temas transversais, como núcleo familiar
plural e questões étnico raciais, trazidas por elas e pela assistente social do Instituto. Notas ¹O
jogo inicia com uma pessoa propondo um gesto e um som, ao analisar a imagem, outra pessoa
encaixa outro movimento e outro som, de maneira que consolide uma máquina, envolvendo
velocidade (rápido, normal e devagar) até essa engrenagem quebrar ²Mencionado por Viola
Spolin, consiste em duas pessoas se olharem olho no olho e se movimentarem de forma
conexa, sem a ideia de imitação, mas movimentação simultânea.
Referências bibliográficas
FERREIRA, Tais. A escola no teatro e o teatro na escola. Porto Alegre: Mediação, 2006.
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Palavras-Chave
dança, jogo, rua
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percepção que o interesse pelo jogo está na relação entre intérprete e espectador. O ponto de
partida para a escrita do Projeto RINHA foi a presença do jogo na cena. O desejo de trabalhar
com esse elemento surgiu da experiência de montagem da encenação Rinha, ocorrente dentro
da disciplina de Prática de Direção Teatral, no curso de Bacharelado e Licenciatura em Teatro
da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Naquele momento utilizei o jogo
para compor cenas e construir relações entre os jogadores. Ao testar o jogo na rua me deparei
com uma quantidade de outros jogos: o jogo de atravessar antes de abrir o sinal, o jogo de
chegar primeiro, o jogo de entrar antes no ônibus para poder sentar, o jogo de falar mais alto
para poder vender, o jogo dos comerciantes ilegais com a polícia e muitos outros jogos
arraigados na rotina urbana. Por que inserir mais um jogo no meio de tantos outros, tão fortes,
capazes de engolir o nosso? Cheguei a conclusão que, uma maneira possível de colocar em
crise este interminável jogo de esfera macropolítica, seria evidenciá-lo. A partir daí busquei
usar o jogo como recurso para, através da relação intérprete-transeunte, revelar, e não apenas
reforçar, o combate diário e infinito da urbe. Portanto, a partir da experiência na rua, passei a
enxergar o jogo como dispositivo de partilha e relação com o espectador e não somente como
meio de composição prévia de cenas. No entanto, quais os limites de defender e construir um
trabalho que se firma no jogo? Até que ponto seguimos jogando? Este é uma questão
recorrente no dia a dia do grupo. Apesar de em todo ensaio eu incentivar e cobrar que eles
estejam cada vez mais abertos ao jogo “natural” da rua, alguns obstáculos por ventura
aparecem durante a execução da ação RINHA. Durante uma das apresentações da temporada
de estreia, em dezembro de 2016, o centro estava lotado de pessoas querendo comprar seus
presentes de natal, um fluxo intenso de transeuntes com pressa de chegar a algum lugar. Em
meio a ação, eis que surge, por detrás da multidão uma banda com cerca de 10 homens
vestidos de papai, todos de vermelho e barba. Assistindo, de longe, eu me perguntava: como
jogar com isso? Como será que os performers iriam jogar? Já que se tratava de um
acontecimento tão forte que não poderia ser ignorado. Imagino que muitas pessoas que
assistiam se questionavam como proceder naquele momento, inclusive os membros da banda
de papai Noel. Um dos intérpretes sorriu, ameaçou dançar a música Jingle Bell, clássica
canção de natal. Muitas pessoas paravam para observar e tentar identificar do se tratava
aquilo. Seis pessoas caiam no chão incessantemente enquanto uma banda tocava músicas de
natal. Em resumo, os performers não arriscaram ações em relação a banda, penso que agiram
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timidamente em questão de jogo. Contudo, a tensão que se construiu por duas coisas com
energias tão diferentes se encontrarem, já construiu certa potência de acontecimento. Sentia o
público que acompanhava apreensivo em relação aquilo. Já no dia vinte e oito de abril de
2017, dia de greve geral, meio dia, o ato da manifestação em apoio a greve se encontrou com
a nossa cena. As atrizes optaram por abrir e deixar o ato passar, e fico me questionando se
haveria possibilidade de jogar sem correr o risco de cair num confronto, visto que, os ânimos
dos últimos atos - contra as reformas da previdência, trabalhista e contra o presidente gospista
Michel Temer – tem sido aflorados, não há espaço para discordar sem ser recebido com
agressividade. Muitas pessoas, durante as apresentações vieram questionar do que se tratava a
ação. Faziam perguntas como: Pra que serve? Qual o intuito da ação? É em prol de alguma
causa? Manifestação de direita ou esquerda? E logo em seguida eu me como responder a isso
de uma forma não conclusiva? Alguns até sugeriram que eu identificasse o trabalho, colocasse
faixas e cartazes pra avisar do que se trata. Uma angústia por entender toma conta das
pessoas. A falta de texto naquela dança descontrola aqueles que passam e não podem parar em
busca de entender. Porque a dança, para aquelas pessoas, precisa de identificação? Porque a
dança, para aquelas pessoas, precisa de explicação? Espero, ao final desta pesquisa, poder
responder estas perguntas (possivelmente com outras perguntas). Quais as regras do jogo?
Quem comanda esse jogo? O jogo pelo jogo é suficiente para manter o espectador ativo?
Tendo em vista que a característica primordial do jogo é sua capacidade de fascinação/
engajamento, pode ser então o jogo um meio de acesso e compartilhamento com o público?
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Palavras-Chave
Matrilinear, Memória, Performance
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catalogou e reinterpretou ao compor a Hipótese Kurgan . Para a terceira rota desta pesquisa,
me baseio na produção teórica, experimental e investigativa em pedagogia e performance de
Mara Leal, da Universidade Federal de Uberlândia. Leal tem como um dos eixos de seu
trabalho as relações entre arte contemporânea e memória, além de procedimentos artísticos-
pedágogicos que trabalham a montagem e a reperformance. A articulação entre Ana Mendieta
e as antigas civilizações matrilineares conjugam duas questões muito caras à
contemporaneidade: o gênero feminino em suas diversas camadas existenciais e a relação
humana com a “terra/Terra” numa discussão vital para as gerações presentes e as que virão.
Quanto a performance, este estudo pretende reafirmar seu imenso potencial criativo, que se
constitui num território circular e ritualístico, origem de todo o teatro ocidental. Espaço caro
ao corpo sem órgãos, visto que as estratificações são móveis e voláteis. Uma pergunta que
ecoa: a performance pode ser um campo de exercício artístico propício para a aparição de
memórias ancestrais exiladas que ocasionaria uma afetação nas mentalidades vigentes?
Referências bibliográficas
GIMBUTAS, Marija. The Living Goddesses. Berkeley, EUA: University of Califórnia Press,
1999.
VISO, Olga. Ana Mendieta earth body. Germany: Hatje Cantz Publishers, 2004.
RAMIREZ, Juan Antonio. Corpus Solus: para um mapa del corpo em el arte
contemporâneo. Madrid: Siruela, 2003.
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Palavras-Chave
espectador, toque, contágio
Essa breve reflexão compõe uma das meditações centrais da pesquisa de doutorado
(em andamento) intitulada Liminaridade, Comunidade e Participação: Perspectivas para a
Experiência do Choque na Cena Contemporânea. Opera-se, aqui, um exercício reflexivo sobre
a experiência pessoal da presente autora enquanto espectadora da peça Sobre O Conceito da
Face no Filho de Deus, do coletivo italiano Socìetas Raffaello Sanzio, e busca-se em dois
acontecimentos performativo-sociais – (i) o cuspe do Deputado Jean Wyllys no Deputado Jair
Bolsonaro e (ii) a performance Máfia, do Desvio Coletivo, concebida e performada a partir
daquela situação – modos de reflexão sobre as noções de toque, contágio e dys-appearance
(LEDER, 1990) na espectaçao de materialidades abjetas em cena. Nessa incursão, a
fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty (2011) emoldura a abordagem metodológica
adotada e evidencia a exaltação do corpo na confrontação com o abjeto. Sobre O Conceito da
Face no Filho de Deus apresenta uma situação familiar na qual um filho dá assistência ao seu
pai incontinente sob o olhar de uma pintura da face de Jesus Cristo. No palco, pai e filho se
encontram enredados num ciclo de repetição de episódios de incontinência fecal, no qual uma
substância que se assemelha a excremento humano escapa das fraldas geriátricas do pai para
manchar o ambiente impecável que os contém, demandando a constante limpeza do ambiente,
e do pai, por parte do filho. No auditório, tal recorrência eleva gradualmente a intensidade do
cheiro que se assemelha ao odor de fezes, espessando o ar e fomentando desconforto físico,
ofensa, náusea, e a intensificação da presença dessa espectadora. A materialidade fecal
utilizada naquela obra se espalhava pelo palco, através da ação desenvolvida pelos atores, e
parecia, igualmente, avançar sobre a audiência: movendo-se sobre a espectadora, arrebatando-
a na totalidade da sua pele e tocando-a com uma pressão que a comprimia e imobilizava. Esse
toque, invasivo e desconfortável, instaurava, na experiência em questão, a insurgência de um
corpo espectatorial que despontava de forma disfuncional. Essa disfuncionalidade manifesta-
se através do conceito de dys-appearance, concebido por Drew Leder em The Absent Body
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Referências bibliográficas
LEDER, Drew. The absent body. Chicago e Londres: The University of Chicago Press,
1990.
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Palavras-Chave
corpo, objeto, teatro
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passível de montagem. Vínculo do ser no mundo, o corpo é tido como objeto segundo
Merleau-Ponty (1999) se comparada aos outros objetos. Nada obstante, o corpo é agente de
sensações duplas, neste caso, ele pode ser apresentado enquanto objeto, para os outros, e para
mim mesmo. Enquanto que o objeto é só considerado em si, o corpo se considera para si.
Entretanto, não se enquadra apenas nisso uma função estética ao corpo. Segundo Mikel
Dufrenne (2004), o objeto estético está intimamente ligado a intencionalidade. Essa intenção
artística concebe o momento de sublimação de um corpo como objeto, o corpo se torna objeto
de apreciação estética. Já Henri-Pierre Jeudy (2002) acrescenta o elemento da recepção desse
objeto (corpo) como elemento final do fenômeno. O corpo como objeto se conclui na
percepção, na triangulação entre artista, objeto e público. Em contrapartida, é necessário
também repensar como o corpo está sujeito a objetificação sem a menor intenção. É nesse
sentido que a reificação do corpo assume um papel mais voltado aos instrumentos de
dominação na conjectura atual. É em Adorno (2002), Debord (1995) e Jameson (1995) que
um contraponto é levantado. A objetificação corporal tem resquícios únicos de dominação e
alienação, enquanto que a presentificação de um corpo como objeto de apreciação estética
encaminha a um momento de transcendência artística, de simbiose entre o objeto e o corpo. É
nesse momento de atividade contemporânea mais institucionalizada, se percebe pontos de
convergência entre Arte e Indústria Cultural. Principalmente ao se observar em trabalhos de
artistas (em sua maioria mulheres) com propostas performáticas. Paradoxalmente dando ao
status do corpo, um bom exemplo de corpo como objeto. Ao pensar o corpo como objeto,
convenientemente remete-se a pensar em uma representação visual artística, como uma
pintura ou escultura. Nas Artes Visuais, por exemplo, as complexidades em entender o corpo
como um objeto de Arte diferem em comparação ao teatro. Afinal, o corpo sempre foi objeto
de representação visual, enquanto que no teatro o valor do corpo enquanto matéria variou
conforme a história. Contudo, é no século XX que uma premência na produção teatral, nos
discursos e treinamentos reivindicam uma teatralidade para o teatro. Nesse momento que
pensadores/criadores do teatro como Craig, Meierhold, Tadeusz Kantor apresentam
posicionamentos estéticos enquadrando o corpo como elemento equivalente aos objetos
teatrais. Influenciados também por Heinrich Von Kleist, (1777-1811), o qual, escreveu um
ensaio intitulado Sobre o Teatro das Marionetes. Inicia-se uma procura da substituição do ator
por um outro corpo mais eficaz, não no sentido literal, mas se viu na cena teatral um resgate
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Referências bibliográficas
ADORNO, Theodor W. Indústria Cultural e Sociedade. Trad. Julia Elizabeth Levy [et al].
5ª Ed. São Paulo: Paz e Terra 2002.
DEBORD, Guy. A sociedade dos espetáculos. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro:
Contraponto, 1997.
DUFRENNE, Mikel. Estética e filosofia. 3ª.ed. Trad. Roberto Figurelli. São Paulo:
Perspectiva, 2004.
JEUDY, Henri-Pierre. O corpo como objeto de arte. Trad. Tereza Lourenço. São Paulo:
Estação Liberdade, 2002.
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Palavras-Chave
composição, dança, gesto
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no mundo. Gesto que exprime uma grafia própria, um modo de mover-se particular, que se dá
por sua relação percepção/realidade. Pretende-se elaborar um entendimento sobre o gesto
humano ancorado nas pesquisas do neurologista António Damásio (2000), para investigar
como o gesto se constitui na integração mente-corpo, articulado ao estudo de seu papel na
relação corpo-mundo. A partir da Teoria Corpomídia (KATZ&GREINER,2008), é possível
entender o corpo como trânsito permanente entre natureza e cultura, que organiza e atualiza
constantemente sua relação com o mundo e é mídia de seus processos de transformação. Essa
compreensão, a de que o corpo é um corpomídia do seu estado de existência, rompe as
barreiras que separam em instâncias estanques natureza e cultura, corpo e ambiente, dentro e
fora. O que se vê em um corpo é justamente uma coleção de informações selecionadas
naquele momento pelas suas condições de existência (KATZ, 2005). Sendo assim, quanto
maior o contato com determinada informação, maior é sua presença no corpo. Considerando a
dança contemporânea como um processo contínuo e constantemente atualizado dessa relação
entre o corpo e o mundo, propõe-se abordar o campo de gestos específicos de um corpo,
construídos pela recorrência de informações com as quais entra em contato, como material de
composição coreográfica, o que chamamos de gestografias. O modo como estes gestos criam
coreografia e comunicam um modo de estar no mundo. A comunicação oral desta
apresentação no SPA será acompanhada de demonstração técnica, que pretende compartilhar a
etapa inicial do processo em que a pesquisa se encontra. Será exposta a pesquisa prática
coreográfica que deu início a este estudo – deslocada do contexto do espetáculo - que consiste
em uma investigação de um modo de coreografar o gesto pelo manuseio de tensão. Este modo
de compor aborda o gesto a partir do reconhecimento de suas tensões musculares e provoca o
trânsito – gera coreografia – através de uma lógica de organização que não parte de uma
ordenação linear dos gestos, mas de um ponto de partida comum entre eles. Identifica-se o
uso de tensão como o elemento comum a todo gesto e passa-se a trabalhar uma lógica
coreográfica gerada pelo manuseio de tensão. Este termo e prática, desenvolvido e
experimentado em práticas laboratoriais, gerou a criação de um espetáculo cênico e continua
em processo de pesquisa prático e reflexivo nessa dissertação, através de aprofundamento
teórico e investigações no Laboratório de Manuseio do Gesto. Como se traça o gesto de
dança? Como gesto vira dança? Como se dá o trânsito entre a gesto, memória e imaginação na
composição do movimento dançado? Em suma, pretende-se desenvolver reflexões acerca do
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estudo do gesto no corpo e das relações entre corpo e mundo, percepção e realidade,
implicados nos processos de composição nas artes do corpo e, especificamente, na dança
contemporânea.
Referências bibliográficas
FÉRAL, Josette. Além dos limites: teoria e prática do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2015.
GREINER, Christine. O Corpo: pistas para estudos indisciplinares 3. Ed. São Paulo:
Annablume, 2008.
KATZ, Helena. 1,2,3, A Dança é o Pensamento do Corpo. Belo Horizonte: FID Editorial,
2005.
SENNETT, Richard. O Artífice. Tradução de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2009.
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Palavras-Chave
identidade, alteridade, encontrar o Outro, diferença, lado-a-lado, vozes silenciadas.
Os temas que envolvem esta pesquisa costumavam movimentar o pensamento nos dias
em que eu saía de casa para realizar o trabalho de assessoria técnica, junto aos moradores do
Quilombo Dom João, comunidade cuja sede é a cidade de São Francisco do Conde, no
Recôncavo Baiano. Saía de minha casa e percorria, até o ponto de ônibus, já um caminho que
raramente utilizava. Pegava no Aquidabã um ônibus até a cidade de Candeias, uma cidade que
jamais eu frequentaria se não fosse nesta situação de trabalho, e então uma van até São
Francisco do Conde. Neste caminho, realizado aproximadamente duas vezes por mês durante
o ano de 2016, ganhava densidade a consciência do lugar que se ocupa neste mundo grande.
Digo como branca, classe media, intelectual, artista e etc.. Também a percepção de que este
deslocamento não é pessoal ou individual. Há tempos, ao menos desde o início do século
XIX, antropólogos, cineastas, artistas, arquitetos/urbanistas, dançarinos, fotógrafos,
sociólogos, entre outros profissionais, realizam deslocamentos físicos para entrar em contato
com uma etnia diferente, uma comunidade, uma religião. Todavia, percebemos que esta
qualidade de movimentação “sair para encontrar o Outro” como prática transdisciplinar vem
ganhando mais frequência. Ou seja, envolvendo o interesse investigativo de vários campos de
conhecimento, todavia com uma qualidade de vibração peculiar, que envolve todos estes
deslocamentos, mas que não limita-se a uma ou outra disciplina. Esta pesquisa de doutorado
nasce de um processo vivido pela autora e uma equipe de assessoria técnica em formação, no
âmbito da Especialização em Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social
(PPGAU-UFBA), em 2015-2016, onde foi realizado um trabalho juntamente com os
moradores do Quilombo Dom João, uma comunidade quilombola cujos moradores são
pescadores e marisqueiras que vem sofrendo constantes intervenções da Prefeitura para
desapropriação e tomada das terras que ocupam. Tendo por finalizado, ou melhor,
temporariamente em suspensão, o trabalho efetivo de assessoria técnica com estes moradores,
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esta pesquisa sugere um outro caminho investigativo, olhando para as texturas deste
movimento de deslocamento para o “encontro com” buscando também perceber as demandas
de um contexto ampliado. Demandas do contexto atual, que há algumas décadas vem
consolidando a ideia de mundo globalizado, mundialização do conhecimento, cidades-
mundiais caracterizadas pela homogeneização e apaziguamento das diferenças; mas que, ao
mesmo tempo que vem lentamente se movimentando em direção ao reconhecimento de
algumas das diversas volumetrias de manifestações, da amplitude de formas de vida que
existem nas entranhas, nos descaminhos, nas fissuras e que são abafados pelo ainda atual
processo de Colonização. Desta maneira, a experiência vivida no processo de trabalho com os
moradores do quilombo Dom João foi uma possibilidade, da autora e sua equipe, experienciar
uma qualidade de encontro que se busca investigar mais profundamente nesta pesquisa.
Olhando para o lugar de quem se desloca (quem tem o lugar da fala dentro da Academia,
quem tem o titulo de especialista) e buscando problematizar o encontro desde o lugar da troca,
do dar e receber, da abertura para o aprendizado. Também em prol de um interesse que é
comum - a luta pelo reconhecimento e efetivação dos direitos quilombolas, sua terra, seu
sustento garantido; através do encontro de diferentes expectativas, desejos, conhecimentos,
formas de fazer, etc.. Agregando e transformando. Diferentemente de se experienciar o
encontro desde um lugar de técnico especialista cujas intervenções desconsideram com as
características e as formas de fazer locais através de planos arrasantes e tábulas-rasas, ou
então de um agente externo que, em contato com diferentes formas de fazer, exotizam-a,
congelam este conhecimento vivo para trazer como “bibelôs” em museus étnicos. Neste
sentido, esta pesquisa de doutorado, ainda no segundo ano de investigação, vem adensando
sua questão e insiste um tempo em algumas perguntas: Qual a densidade de vibração das
demandas, em um contexto ampliado, faz despertar cada vez mais frequente este interesse
pelo encontro com o “Outro”? É um desejo que permeia a subjetividade hegemônica ou
continua fazendo parte de uma micropolítica do encontro? Qual a qualidade de encontro
estamos buscando investigar? Tem sido também mais frequente, ainda que muito pouco,
discursos, leituras que percebem o quão fortemente os impactos da colonização e a visão
“eurocêntrica” (incluindo América do Norte) é real e presente também dentro da Academia.
Por exemplo Suely Rolnik (2015), em sua fala sobre o saber-corpo em uma apresentação na
Casa do Povo (SP): “Com a noção de Inconsciente colonial-capitalístico pretende-se
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descrever a política de desejo dominante na cultura moderna ocidental, cuja origem, como
sabemos, é indissociável da economia capitalista e da empresa de colonização.”
Complementando com a fala de Boaventura de Souza Santos (2014) “O que eu só quero é que
a conversa do mundo seja mais ampla e que a gente integre mais gente e que não fiquem
apenas eles a ocupar o espaço. É muito importante trazer estas outras experiências para que
podemos capitar a riqueza extraordinária do mundo que não cabe na visão ocidental.” As
perguntas ainda ressoam. Qual a qualidade de encontro estamos buscando investigar? Para já,
clareamos que certamente não é o encontro “pretensioso”, encontro “parasita” ou quaisquer
outros nomes que podemos emprestar para falar sobre deslocamentos que desconhecem, de
imediato, o não saber. Desconhecem que a densidade, as formas comuns que costumam fazer
e olhar e pisar no mundo são somente mais uma forma de fazer. Deslocamentos que trazem a
visão paralisada do Outro como o diferente e, sendo diferente, nada tem a ver comigo, e, por
isso, não me abalo. Avançando pé-ente-pé nas investigações, trazemos ao final - para a
continuidade das reflexões, a provocação realizada por James Baldwin no filme-documentário
“I am Not Your Negro” é uma importante provocação: “I am not a negro. A am a man. But
you think I am a negro, means you need it. And ou haven’t found out why”.
Referências bibliográficas
(FILME): I AM NOT YOUR NEGRO. Direção: Raoul Peck. Com Samuel L. Jackson,
James Baldwin, Dick Cavett. Gênero: documentário. EUA, 2016, Cores, 93 min.
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Palavras-Chave
acidente vascular cerebral; sistema Laban/Bartenieff; somático-expressivo;
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Caminho esse que se aproxima do que Laban afirmava como dança, ou seja, o poema do
esforço pelo qual cada pessoa não cessa de inventar o seu próprio corpo (SUQUET, 2008).
Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
dança japonesa, dança na cidade, Butoh
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Referências bibliográficas
KWON , Miwon One Place After another – Notes on Site Specific. (1997) in Theory in
Contemporary Art since 1985 LEUNG,Simon KOCUR, Zoya (organização), 2009
MELLO, Paulo Cezar Barbosa. Site Specificity na arte contemporânea: Inhotim. Tese de
Doutorado. Universidade de São Paulo., 2015
SCHECHNER, Richard. Eviromental Theater (an expanded new edition) Applause, 1994.
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Palavras-Chave
dialética, dramaturgia, teatro político,
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Referências bibliográficas
ALMADA, Isaías. Teatro de Arena. Uma Estética de Resistência. Editora Boitempo. São
Paulo. 2004.
BETTI, Maria Silvia. Oduvaldo Vianna Filho. Edusp. São Paulo. 1997.
______. Técnicas Latino-Americanas de Teatro Popular. Editora Hucitec. São Paulo. 1979
CAMPOS, Cláudia Arruda. Zumbi, Tiradentes. Editora Perspectiva. São Paulo. 1988.
MOSTAÇO, Edélcio. Teatro e Política: Arena, Oficina, Opinião. SP, Proposta Editorial
PEIXOTO, Fernando (org.) Vianinha: Teatro, Televisão, Política. Org.. Editora Brasiliense.
São Paulo. 1983.
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DRAMATURGIA DE SI
Juliano Ricci Jacopini
Palavras-Chave
dramaturgia, ficção, memória
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acontecimento artístico, revivendo-se. Colocar a própria vida como material para criação
desponta cada vez com maior intensidade, ou ainda, com maior necessidade nas artes da cena.
Mas por que falar de si? O ser humano carrega em si traços constituintes de seu vivido, estes
que constroem sua identidade. Ao falar de si, o artista expressa sua voz via camadas
ficcionais, não relatando o que de fato aconteceu, mas sim aquilo que possivelmente pode ser
dito. Existem graus de ficcionalização em todo relato, mesmo sendo ele documental, ou
autobiográfico, e, talvez, trazer o si próprio para o jogo das relações criativas – as memórias,
os eventos vividos, as histórias pessoais – é uma necessidade de transformação, como se se
pudesse “recontar” a própria história no mundo, construindo um “era uma vez” de uma outra
história, essa outra a mesma, esse outro, o outro de si mesmo. A teoria da pulsão de ficção,
cunhada por Suzi Sperber (2009), trata sobre a necessidade inata do ser humano de criar, o
que pressupõe a existência de universais/ saberes básicos. Seriam eles: simbolização,
efabulação e imaginário que possibilitam a comunicação. Partindo do desenvolvimento da
linguagem na criança, a teoria toma por base a expressão do ser humano como necessidade
para comunicar algo no mundo, e isso se dá via elaboração de emoções profundas e eventos
vividos que se expressam por meio do imaginário e utilização de simbologia. Seria uma força
criativa que cada indivíduo tem em si, como maneira própria de produzir conhecimento por
meio do vivido, da experiência – e também matéria fundamental para a recepção. Sperber
ainda postula que a pulsão de ficção está à disposição, mas precisa ser estimulada, pois é o
estímulo que desperta circunstâncias do vivido (familiar, histórico, cultural, social) muitas
vezes caladas e oprimidas, para recuperação da própria voz, ou seja, da autoria para o
indivíduo. “Ame!” parte das memórias vividas pela atriz que, em confluência com quadros do
artista plástico Amedeo Modigliani (1884-1920) suscitaram uma relação. Esse fora o jogo
inicial proposto: que Mabê relacionasse obras do pintor a pessoas de sua vida, estas que
tivessem em sua trajetória (constituição) uma relação de amor, o universal que inicialmente,
sem termos clareza, selecionamos para o trabalho. Ocorreu que foram selecionadas obras de
Modigliani e relacionadas às seguintes pessoas de sua vida: “A Cigana (1918)” – mãe
biológica; “Retrato de Lunia Czechovska (1919)” – mãe adotiva; “Retrato de Jean Cocteau
(1916)” – dois professores de teatro; “Rapariga Ruiva em Camisa (1918) – ela mesma, mais
jovem; “Autorretrato (1919)” – namorado; “Beatrice Hastings (1915)” – ex-namorada;
“Retrato de Leopold Zborovski (1918)” – pai adotivo; “Retrato de Jeanne Hébuterne (1919)”
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Referências bibliográficas
SPERBER, S. Ficção e Razão: uma retomada das formas simples. São Paulo: Aderaldo &
Rothschild: Fapesp, 2009.
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Palavras-Chave
Presença; Dispositivo; Intensidade; Cena “contemporânea”.
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qualquer outra presença humana ou não, que pode ser reconfigurada ou rearticulada de modo
a provocar reações desejadas, mesmo que empiricamente pelo encenador. O termo dispositivo
é observado a partir do conceito pensado por Michel Foucault (1926-1984) e ampliado por
teóricos como Giorgio Agamben (1942-) e Gilles Deleuze (1925-1995). Foucault parece
trazer as práticas não discursivas para dentro da sua ideia de dispositivo, ou seja, de como as
subjetividades são produzidas não só pelo dizer, mas também pelo fazer, uma vez que o
dispositivo está sempre inserido em um jogo de poder, onde os saberes por ele produzidos
também o nutrem e o mantém. A ideia de “intensificação” de um dispositivo é pensada a
partir do conceito de intensidade de Henri Bergson (1859-1941), abordado em sua obra
“Ensaio sobre os dados imediatos da consciência” (1927). Ele utiliza a intensidade para falar
sobre como o tempo e a duração se manifesta na consciência. Para Bergson, a intensidade
carrega um caráter fortemente subjetivo, por isso não pode ser medida por um caráter
quantitativo. Pensando a intensidade à maneira de Bergson, a intensificação seria, para o
dispositivo cênico, um aumento na qualidade de percepção, a partir da intensidade das
sensações e na capacidade de afetar que pode ter uma cena intensificada. Desse modo, os
dispositivos de intensificação da cena – operando com uma intensidade qualitativa na
experiência estética do espectador – poderiam levar ao “salto” descrito por Heidegger, ou
seja, conduziriam o Dasein à autenticidade. Para Heidegger o ente que se diferencia de todos
os outros entes, exatamente porque se pergunta sobre o seu próprio ser, é o Dasein – um termo
decisivo para a compreensão de seu livro “Ser e Tempo” (Sein und Zeit), publicado em 1927.
Mas, os seres humanos se diferenciam na maneira como atuam no mundo, alguns apenas
vivem de maneira automática e cotidiana, e são assim, considerados por Heidegger como
inautênticos. Outros, por algum fato que lhes acontece, tornam-se conscientes de sua
existência, tornam-se autênticos. Essa mudança pode se dar de modos variados: desde um
simples tropeçar ou a morte de um ente querido. No primeiro momento o Dasein se angustia -
é a angústia de perceber-se como Dasein. E é nesse angustiar-se que, segundo Heidegger,
existe a possibilidade de uma abertura privilegiada para a autenticidade, já que a angústia
singulariza o Dasein e o retira de sua cotidianidade, revela sua autenticidade e inautenticidade
como possibilidade. Mas como a arte pode ser um instrumento de abertura para o autêntico?
No livro “A origem da obra de arte” (1950), Heidegger defende que é próprio da arte a
manifestação da verdade do ser. A arte põe em suspensão o olhar cotidiano, costumeiro, e
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proporciona a entrada num novo domínio de abertura no qual nossas crenças são suspensas,
como uma revelação. A obra de arte abre a clareira onde a verdade do ser da obra aparece, por
isso o desvelamento não é um estado fixo, é um acontecimento. E isso permite supor que
talvez a obra de arte possa ser um instrumento provocador do salto para um Dasein autêntico,
ao pensar a arte como esse “pôr-se-em-obra da verdade”, descrito por Heidegger.
(HEIDEGGER, 2010) Mas o que seria um acontecimento cênico intensificado a partir dessa
hipótese da obra de arte como desvelamento? Uma das características do Dasein autêntico é a
consciência da sua própria morte. E saber-se finito libera o Dasein para uma vida de liberdade
de escolha – uma liberdade pela morte. Supõe-se então, que quando espetáculos abordam esse
tema de maneira direta ou indireta talvez se dê uma intensificação do acontecimento cênico
operando, assim, na produção da angústia capaz de promover essa abertura, e
consequentemente o “salto”. E não por acaso, os espetáculos que serão analisados tratam
exatamente de temas ligados à violência e ao risco, ou mesmo a vulnerabilidade do humano.
O grau de afetação que estes espetáculos parecem provocar pode atuar, justamente, nessas
questões que o Dasein cotidiano se mantém alheio. Se através da intensificação da experiência
estética a “clareira” se abrir, essa abertura talvez possa significar uma possibilidade de
mudança de estado do Dasein: ele tomaria sua vida nas mãos através da abertura que arte
pode promover. Aí estaria a dimensão política que perpassa a pesquisa: a liberdade pela
autenticidade. A consciência de saber-se como possibilidade aberta no abismo da decisão
permanente.
Referências bibliográficas
BERGSON, Henri. Ensaio sobre Os Dados Imediatos da Consciência. Lisboa: Edições 70,
1988.
______. Ser e Tempo. Tradução e organização Fausto Castilho. São Paulo: Editora da
Unicamp, 2014.
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Palavras-Chave
aprendizado, iluminação cênica, processo criativo, teatro
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títulos que se propõe a analisar o conceito de luz e seus processos de criação. Isso me levou a
constatar que o modelo de formação que eu havia experienciado, ainda era o principal modelo
de aprendizagem na formação de profissionais dedicados a trabalhar com a luz na cena
brasileira. Compreendo, que para esse estudo, refiro-me à educação não-formal, tendo em
vista que apesar da ausência de um método pedagógico específico e inerente às instituições de
ensino no que diz respeito ao aprendizado da iluminação cênica, no Rio de Janeiro, existe,
contudo, a possibilidade de formação de conhecimento através da vivência prática mediada
pela informalidade das relações entre mestre e aprendiz. Considerando a afirmação de Jacques
Rancière que "a grande tarefa do mestre, é transmitir seus conhecimentos aos alunos, para
eleva- los gradativamente à sua própria ciência, para que os mesmos imprimam no domínio
da técnica, traços de sua própria personalidade" ( RANCIÈRE, 2015, p.19), observa-se que
apesar do convívio com o mestre iluminador, cada discípulo vem a desenvolver suas próprias
características estéticas na criação de luz, pois isso está diretamente ligado a conceitos
artísticos particulares. Verifica-se ainda, que o mestre é capaz transmitir conhecimentos
técnicos, enquanto as noções estéticas ficam a cargo do próprio aprendiz e seus referenciais de
vida. Assim, o exercício que farei, nesta pesquisa, consiste em pensar a luz e suas
possibilidades de transformação cênica a partir de um conjunto de fatores relevantes à
formação de profissionais que, a cada geração, propõe ao campo da iluminação novos
sentidos de leitura e compreensão artística. Para levantar hipóteses norteadoras e pontos
capitais de discussão, o caminho metodológico da pesquisa consistiu em entrevistas com três
diferentes iluminadores cariocas consagrados, que tiveram suas trajetórias marcadas por meio
da prática e do acompanhamento dos mais experientes, em diferentes gerações e,
consequentemente, aprenderam empiricamente uns com os outros. Os profissionais são:
Jorginho de Carvalho, primeiro iluminador reconhecidamente profissional da cena brasileira,
representante da primeira geração de mestres iluminadores; seguido de Aurélio de Simoni,
discípulo de Carvalho e aclamado iluminador carioca; por fim, Renato Machado,
representante da terceira geração de iluminadores formados empiricamente, discípulo de
Simoni e premiado iluminador reconhecido internacionalmente. Devo ressaltar que a escolha
dos iluminadores investigados nessa pesquisa se deu pelo fato de os três terem sido mestres e
aprendizes uns dos outros. A partir do contato investigativo com esses iluminadores, este
trabalho pretende verificar como acontece a transmissão oral de saber e o desenvolvimento de
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
Heiner Müller, história, tempo
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alemão que pode ser traduzido para o português como “refuncionalização”, pode ser uma via
de compreensão da violência como elemento estruturante da escrita de Müller. Walter
Benjamin, em seu ensaio O autor como produtor, aborda o conceito de “refuncionalização” de
Brecht associando-o à capacidade de transformar as formas e instrumentos de produção
artística. Escreve Benjamin: Brecht criou o conceito de “refuncionalização” para caracterizar
a transformação de formas e instrumentos de produção por uma inteligência progressista e,
portanto, interessada na liberação dos meios de produção, a serviço da luta de classes. Brecht
foi o primeiro a confrontar o intelectual com a exigência fundamental: não abastecer o
aparelho de produção, sem o modificar, na medida do possível, num sentido socialista
(BENJAMIN, 1994, p.127). Ao escrever Macbeth e Mauser, Müller modifica suas estruturas
originais, produz novas montagens e novos arranjos com falas, personagens, temas e situações
presentes nas peças que foram reescritas. E isso se dá, justamente, a partir dos confrontos
históricos e artísticos envolvidos em seu processo de escrita, confrontos estes foram
trabalhados ao longo da dissertação. No primeiro capítulo, recortou-se uma das facetas do
trabalho dramatúrgico de Heiner Müller, tomando como ponto de partida uma operação
recorrente em sua vasta produção: a reescritura. Para tanto, buscou-se trabalhar algumas
noções fundamentais para a compreensão da dramaturgia de Heiner Müller, tais como:
tradição e tradução, que implicam também a de traição. Na sequência, foram realizadas duas
análises comparativas. Na primeira – cujos objetos de estudo foram os Macbeth(s) de Müller
e Shakespeare –, procurou-se demonstrar algumas tensões temporais presentes em ambas as
peças, seja no falar dobrado das bruxas que prenunciam, por meio de suas profecias, o tempo
que ainda não há, o futuro, seja na própria figura de Macbeth, situado no limiar entre
fantasmas e profecias. A escrita de Müller “monta” relações temporais em que passado,
presente e futuro são sobrepostos. É dentro desta singular temporalidade que se dá a
fantasmagoria presente nos Macbeth(s), seja pelo fantasmagórico punhal que Macbeth
empunha, seja pela presença do fantasma de Banquo, assinalando um tempo descontínuo. A
análise seguinte se dá entre Mauser e A Decisão. De início, é abordado o possível confronto
entre Müller e Brecht no que diz respeito à questão do coro e das personagens
individualizadas, confronto este em que a própria noção de personagem é problematizada.
Novamente, na peça de Müller, tempos distintos se sobrepõem, livres de qualquer
enquadramento. Tempo e história foram ainda pensados a partir do tema da revolução, central
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em ambas as peças. A peça de Müller opera uma crítica ao modo como Brecht formula, em A
Decisão, o processo revolucionário, compreendido aí não como uma interrupção do contínuo
da história, mas como um processo teleológico, com um fim quase que inevitável a ser
atingido. No último capítulo, onde são tecidas as considerações finais, foi estabelecido um
confronto entre as duas peças de Müller, sob a perspectiva de dois elementos: a figura do
homem-máquina, que age a partir da supressão do tempo intervalar – seja entre o agir e o
pensar, no caso de Macbeth, seja entre o dedo e o gatilho, no caso de A. Há, de certo modo,
algo de inumano em algumas personagens que compõem as peças de Müller, “inumanidade”
esta decorrente, talvez, da violência da qual essas personagens emergem e a partir da qual elas
se configuram. É intrigante pensar hoje, em tempos também tão violentos – e, em parte,
sombrios –, a dramaturgia de Heiner Müller. Uma escrita que, de certo modo, responde aos
impasses políticos e artísticos de seu tempo ouvindo os ecos, ou fazendo ressoar os impasses,
sofrimentos e violências de outros tempos e de outros textos – mais recentes – como os de
Brecht – ou mais remotos – como os de Shakespeare. É também a partir deste confronto que
Müller constrói sua concepção de teatro, constituído no dilaceramento e no diálogo com os
mortos. De algum modo, a dissertação também se lançou na tarefa de dialogar com os mortos,
pois, como disse Jean Jourdheuil: “Aqueles que se interessam pelo teatro de Heiner Müller
tomarão a peito fazer dele, de agora em diante, um espectro. Ele próprio preparou
minuciosamente o terreno”.
Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas: magia e técnica, arte e política. Vol. I. Trad. Sérgio
Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
JOURDHEUIL, Jean. A arte de fazer os mortos falarem. Trad. José Marcos Macedo. Folha
de São Paulo, São Paulo, 28 jan. 1996.
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Palavras-Chave
dança, performance, gambiarra, modo operativo
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realmente esses limites na vida e na arte e no trânsito entre vida e arte. Performar é apenas
estar em cena? Performar faz parte de como sobrevivemos, de como nos relacionamos no
ambiente de trabalho, família? Na linha de pensamento da Performance Studies adotada por
Richard Schechner, tudo é considerado performance, inclusive uma catástrofe como o
ocorrido em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, quando as torres gêmeas foram
derrubadas e quase três mil pessoas morreram. Em linhas menos radicais, muito tem se
discutido acerca dos limiares, de como o corpo transita entre performance e não performance,
por exemplo. Nos apropriamos dessas conversas que tivemos sobre o que a própria
provocação feita pelos organizadores do evento nos suscitou e inserimos em áudio no vídeo-
performance. Num primeiro momento da performance estamos em nossas casas, cada uma
com uma câmera no peito registrando cada passo, realizado antes de irmos até a latoaria para
a execução da performance, há nesta experiência, uma dimensão performativa da vida, que
brinca com a questão: Onde começa o corpo na performance? Depois disso é o encontro,
quando nos deparamos uma com a outra para a ação da performance (que já era antes
performance) e então: Há fim por vir?
Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
Charles Sanders Peirce, crítica de dança, jornalismo cultural
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esse novo comportamento produz outro tipo de leitor, outro tipo de produção textual e,
obviamente, modifica o entendimento de crítica. Segundo Katz (2014), na lógica do software,
a questão central é o funcionamento dos aplicativos e não mais as informações e/ou o modo
como aparecem no mundo. Considerações sobre o conceito de crítica Serão convocados
alguns conceitos e, principalmente, o movimento do pensamento de Charles Sanders Peirce
para elucidar possibilidades sobre o entendimento de crítica: Na arquitetura do pensamento de
Peirce, a crítica está configurada nas ciências normativas (estética, ética e lógica) como um
dos ramos da lógica. As ciências normativas se co-determinam, uma vez que, a estética, a
ciência dos ideais – admirável sem razão prévia –, colabora com a ética – ciência da conduta
auto-deliberada, auto-controlada e aceitável – na determinação do summum bonum. E
respectivamente a lógica – ciência do pensamento auto-controlado e deliberado – depende do
estabelecimento dos princípios éticos para tornar possível o pensamento, do ponto de vista de
sua aceitabilidade. Os três ramos da lógica apontados na filosofia peirceana são: a Gramática
Especulativa, a Crítica e a Metodêutica/Retórica Especulativa. Sendo a Gramática
Especulativa compreendida como o estudo da classificação dos signos, a Crítica como o
estudo das inferências, ou seja, da relação de representação entre signo e objeto (operações
argumentativas) e a Metodêutica como discurso com um fim ou da análise da condição de
inteligibilidade de um signo. A complementariedade entre os três ramos sustentam uma
operação de ordem lógica. Com os estudos comunicacionais realizados sobre a produção de
discurso das novas redes um traço surge com muita força: o discurso auto-referenciado. Ou
seja, o objeto do discurso - função de análise da crítica - está no próprio discurso, que é
orientado por um fim. A operação denominada crítica, neste caso, se torna uma metodêutica, a
finalidade do discurso que prevê a condição de inteligibilidade como único critério,
impedindo uma separação necessária aos discursos críticos entre o que se diz sobre o objeto e
o objeto existente no mundo. Aqui está uma cisão importante de ser observada e pensar o
impacto dela nos novos projetos de crítica que surgem no campo das Artes Cênicas no
contextos das redes digitais. Ainda com Peirce, é possível convocar o conceito de
razoabilidade concreta, que é a razão em processo de crescimento, para compreender o
continuum do pensamento, que não está na ‘cabeça’, mas no mundo. O pensamento está no
mundo. A crítica está atada à razoabilidade concreta. O termo ‘concreta’ enfatiza a
necessidade do esforço dos interpretantes para a concretização de sua continuidade. Peirce
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Referências bibliográficas
DAPIEVE, Arthur. A renovada crise do jornalismo cultural. Revista Alceu 27: Rio de
Janeiro, 2013.
DARDOT e LAVAL, Pierre e Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade
neoliberal. Boitempo Editorial, 2016.
PEIRCE, C. S. (1931-58). Collected Papers. Vols. 1-6 ed. Hartshorne and Weiss; vols. 7-8
ed. Burks. Cambridge, Mass.: Harvard. University Press.
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TOCA NA PRISÃO
Mateus Gonçalves
Palavras-Chave
Direitos humanos, prisão, Teatro do Oprimido
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unidade prisional, uma vez por semana ao longo de um mês. Os encontros tiveram duração de
três horas cada e diferentes reflexões foram suscitadas a partir deles. De modo a facilitar o
entendimento sobre as possibilidades pedagógicas/artísticas do método, foi apresentada à
equipe de educadores do Projovem a Árvore do Teatro do Oprimido, e explicada a
metodologia de trabalho a partir dela. Uma vez que o Projovem Urbano Prisional trabalha
com a metodologia integrada por Temas Integradores, escolhidos coletivamente a cada
quinzena, foi proposta a inserção nesse planejamento, de modo a trabalhar com o Teatro do
Oprimido na perspectiva da educação em Direitos Humanos, no que tange à dimensão do
pensamento livre, da livre expressão e opinião, conforme o que é expressado pela
Organização das Nações Unidas – ONU. Os resultados esperados com as oficinas de teatro
junto aos internos, foram nos aspectos de ampliação da socialização, da expressão artístico-
teatral, do reconhecimento crítico de suas realidades e da motivação para aprendizagens tanto
na área teatral, como do Projovem Urbano Prisional como um todo, uma vez que os internos
tinham com esse programa, aulas em diferentes áreas do conhecimento. Foi importante
salientar que todas as ações que seriam desenvolvidas pelo TOCA, estariam em acordo com
as normativas da instituição, sendo responsabilidade das partes, estabelecer esse diálogo
sistematicamente, de modo a evitar transtornos e/ou prejuízos ao trabalho. Como forma de
melhor desenvolver as oficinas teatrais, a realização dos encontros se deu sempre com uma
dupla de curingas – facilitadores das oficinas de Teatro do Oprimido. Ao longo dos encontros,
diferentes aspectos observados em práticas teatrais em instituições prisionais ao longo de
nossa história recente, foram observados. Por meio de estudos relacionados à prática na
prisão, em especial aqueles realizados por Vicente Concílio (CONCÍLIO, 2008) e Natalia
Fiche no projeto “Teatro na prisão” (FICHE, 2009), percebemos que a pressão desencadeada
pelo trabalho no interior de uma instituição prisional não foi algo exclusivo de nossa
experiência. Os relatos de experiências em presídios desde a década de 70, dão conta de que
por seu caráter eminentemente transgressor e emancipatório, o trabalho com teatro e em
especial com o Teatro do Oprimido, tende a sofrer com a falta de continuidade e a repressão
da própria instituição. No trabalho desenvolvido na penitenciária em Juazeiro do Norte,
verificou-se essa questão, bem como outros limites advindos do próprio Projovem, como a
falta de uma frequência regular por parte dos internos, motivada de um lado pela intervenção
de agentes penitenciários, que muitas vezes dificultavam o acesso da equipe aos internos, mas
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também pela não compreensão das possibilidades de desdobramento do trabalho com teatro
em outras ações do próprio programa. O mesmo que se percebe em instituições de ensino,
quando o teatro é visto como produtor de encenações para eventos específicos, foi explicitado
como desejo por parte da equipe de educadores. Esperavam uma apresentação ao final do
projeto, sem perceberem que apenas quatro encontros seriam muito insuficientes para
quaisquer resultados cênicos passíveis de apresentação externa. Um dos aspectos interessantes
que pôde ser desenvolvido e percebido pelos internos foi o fato de terem nas oficinas de
teatro, um espaço de real liberdade de ação e posicionamento crítico sobre a realidade que
vivem em seu cotidiano. Importante citar as improvisações realizadas demonstram claramente
a realidade do sistema prisional, e mais, as complexas engrenagens do sistema jurídico
brasileiro que acaba, em última instância, penalizando e criminalizando práticas e ações de
sujeitos que poderiam ser evitadas, se existissem políticas efetivas de acesso à educação,
assistência e outros bens sociais que deveriam ser para todos os cidadãos. No momento o
grupo encontra-se na reflexão crítica sobre a prática desenvolvida, pensando nas
possibilidades de retorno à Penitenciária Industrial Regional do Cariri para a continuidade do
trabalho realizado, por entender que ainda existe muito a ser descoberto, refletido,
investigado, acionado junto aos internos que participaram desse momento inicial. A pesquisa
ainda é bastante recente, e o TOCA tem a pretensão de não somente continuar o trabalho
nessa unidade prisional, como ampliar sua ação em outras instituições que atuam com pessoas
em conflito com a lei.
Referências bibliográficas
CONCÍLIO, Vicente. Teatro e prisão: dilemas da liberdade artística. São Paulo: Hucitec,
2008.
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Palavras-Chave
Barqueiro, Ensaio, Solo Físico Narrativo
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neste compartilhamento é revelar este limite entre o cais e o mar, uma metáfora para se buscar
o limite entre sala de ensaio e o espetáculo, revelando alguns conceitos e traços norteadores
do processo, tal como a maneira do ator tecer a relação entre um personagem e outro,
alicerçando-se no gênero solo físico narrativo e afastando-se do monólogo, que nada mais é
um único relato para o espectador. Esse diálogo entre o ator/narrador e interlocutores/
personagens da peça apresenta-se por um emaranhado de diálogos e se cria um universo
pulsante que instiga o público a ver o que não está visto. No espetáculo solo se produz uma
sobreposição de dois aspectos muito importantes e aparentemente contraditórios. Ele é
interpretado por apenas um ator, mas muitas vezes aparecem várias personagens, situação na
qual o conceito mesmo de personagem é colocado em xeque. Num mesmo relato cênico é
possível apreciar o próprio corpo de o ator mudar em várias personagens. Isso parece ser um
aspecto característico, mas não se apresenta como um elogio à esquizofrenia, pois uma das
personagens pode assumir o papel de narrador, ou seja, daquele que cria a trama unificadora e
produz a coesão dos fragmentos. (DIP, 2005, p. 38). Essa interpretação requer do ator
imaginação, corpo ativo e relação direta com o público. A peça é inspirada na composição
cênica do espetáculo “A Descoberta das Américas” criando uma relação intima com o espaço
cênico e o público e trabalhando a exploração do corpo cênico, a triangulação e do uso da voz
também como elemento sonoro, todos esses elementos ajuda o público a formar as imagens
pelo narrador e personagens construída. A demonstração artística é dividida em dois
momentos: O primeiro intitula-se “força”, que é o que surge em primeiro lugar no processo de
ensaio, o espaço e os estímulos. O ator que ensaia sozinho, determina-se em utilizar o tempo
para executar tarefas que são por ele impostas, a criação sem o diretor esbarra-se na
dificuldade do auto controle, e do compromisso com a criação. Por isso é preciso criar meios
para imergir na criação, atalhos que podem facilitar a conexão do artista com sua pesquisa. O
segundo momento, intitulado “imensidão”, é a busca poética pela imagem, como exemplo um
vento calmo levando uma folha que se solta de uma grande árvore, produzindo os silêncios e,
a partir dele, o jogo com o texto e suas intenções. Assim, na beira do cais, o barqueiro olha o
espelho d’água e enxerga o reflexo do seu processo como um todo e se questiona sobre aquilo
que vê. Porque para Sam personagem do espetáculo e para Saramago ,autor inspirador desta
obra, os viajantes sempre acabam, mas a viagem não acaba nunca. Etapas em tópicos da
apresentação: 1 – Força 1.1 – Espaço: O corpo que emerge no espaço 1.2 – Estímulo Inicial:
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
experiência, liminaridade, memória, processo criativo, ritos de passagem
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por meio de suas experiências, e sua posição enquanto indivíduo social e singular como
elemento constituinte para conduzir sua criação artística. São nessas condições que o corpo
vai além das estruturas impostas pela sociedade, e dão lugar para um sujeito singular e cheio
de movimentos e vontades. Os atores participantes do processo, da cidade de Porto Alegre no
estado do Rio Grande do Sul, buscam a partir de seus processos pessoais refletir e explorar as
potencialidades e subjetividades em relação as experiências que os atravessaram, provocando
um espaço liminar individual e coletivo de encontro, experiência, troca e transformação. O
processo criativo se desenvolve por encontros na qual busca-se a integridade e solidariedade
nas relações construídas, afim de prevalecer o respeito e valorização dos processos pessoais
trabalhados. Muitos dos materiais de composição de cena escolhidos pelos atores trazem
particularidades intensas e íntimas, que são reveladas a partir da carga de experiência e
transformação que os acompanham. Por este caminho, levo em consideração alicerçado pelo
pensamento de Richard Schechner e Mara Lúcia Leal, um processo de criação que caminhe
na ideia da performance. Visto que, é uma maneira de ativar possibilidades de perceber novos
atravessamentos de sentidos para imagens simbólicas do sujeito sobre sua própria experiência.
O rito de passagem é compreendido nesta pesquisa, por um olhar contemporâneo e contexto
histórico atual, enfatizando a estrutura do mesmo para a investigação no processo criativo do
ator. O foco não está nos ritos de passagem propriamente ditos e sim na estrutura que permite
a condição de liminaridade e transformação que o acompanha como elementos. Também
buscando refletir como o sujeito da atualidade vivencia e compreende os ritos de passagem
diante de uma sociedade demarcada pela fugacidade dos acontecimentos e da efemeridade das
relações, onde a valorização está no acúmulo de informações ao invés das experiências
vividas e compartilhadas. E o sujeito contemporâneo está envolto a uma anistia na qual o
contato tangível com o mundo é atenuado em detrimento de um bombardeamento de sentido,
demandas, necessidades impostas pela mídia e entre outros. Como considera Gennep, os ritos
de passagem é uma maneira de reflexão sobre o universo das relações sociais formalizadas
entre os homens, os grupos, os espaços e as posições fixas. Ressaltando que sem os ritos de
passagem a sociedade humana não existiria como algo consciente. Deste modo, busco refletir
o rito de passagem que atravessa o corpo no seu estado liminar no contexto atual pela
perspectiva performativa. E neste encontro de corpos afetados por seus ritos de passagem,
deixar ser envolvido pela liminaridade que transforma e possibilita novos encontros, afetos e
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
dança contemporânea, espectador, museu
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pudesse conhecer o todo por partes sobrepostas ao longo da jornada de trabalho. Otília
Arantes (1993), em texto sobre os novos museus, pontua que tais espaços acabaram se
parecendo com casas de cultura ou shopping center da cultura devido a oferta de estímulos e
modos de consumo da arte. A autora aponta, ainda, que a arquitetura é uma característica
marcante no projeto dos novos museus e que estes são executados como “monumentos que
sirvam de suporte e lugar de criação da cultura e reanimação da vida pública” (p.164). Para
isso, estratégias são criadas para incorporar tal construção no caminho da cidade, assim, a
arquitetura acaba sendo protagonista nessa nova configuração transformando o mundo
exterior num mundo estético e num “grande cenário vivo” (p.168). Será que expor a dança
pode convidar o publico, usual ou amante das artes da cena, a vivenciar outras experiências
num espaço já saturado de ofertas? Ou será que expor a dança só reafirma que nesses espaços
podemos encontrar ‘todas as manifestações artísticas’ para consumo imediato, indo ao
encontro de Baudrillard (1991) quando declara o Beaubourg como “um hipermercado da
cultura”(p.166), ao atacar duramente tal projeto como um efeito das políticas culturais
francesas? A exposição de Rosas foi apresentada na Galerie Sud do Beaubourg, uma grande
sala branca e isolada, um espaço que não compete com outras obras de arte e parece ser um
refúgio solitário no meio da imensidão do museu, pois não se conecta nem com a galeria de
acervo ou exposições permanentes, nem com o hall de entrada e seus frenéticos neons do
café, livraria, lojinha de souvenir, bilheteria entre outros. Percebe-se uma relação entre a
arquitetura e o espaço de exposição pelas grandes janelas transparentes que rondam o local
produzindo um recorte da cidade enquanto os artistas dançam, algo se faz visível entre o
publico que contempla os artistas e os transeuntes que por vezes aproximam-se para espiar.
Certamente a paisagem que vemos não produz um cenário magnífico, talvez caminhe no
sentido oposto, pois a visão que temos é do largo que rodeia o museu, com seus restaurantes e
cafés parisienses construindo imagens e imaginários do cotidiano daquela região da cidade.
Ainda, essa transparência permite uma relação direta com a incidência da luz do dia que vai
produzindo coloração variada ao longo da jornada de trabalho da dança. Com isso, o dentro e
o fora acabam se sobrepondo e o dançarino pode ser vistos como uma ramificação da cidade
comum e urbana ou como objetos moventes dentro da sala do museu que é exibida à cidade.
Sobre a relação com o publico, observa-se, cada vez mais, estratégias estéticas e
procedimentos que repensam o lugar do espectador nas artes cênicas. A interação entre
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Referências bibliográficas
ARANTES, Otília. Os novos museus. In: O lugar da arquitetura depois dos modernos.
São Paulo, Edusp, 1993. p. 161-169.
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Palavras-Chave
lei de fomento, teatralidade contemporânea, transgressões simbólicas
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partir daquela movimentação de artistas, até elucidar o processo que lhes permitiu impor as
categorias de percepção e apreciação teatral legítimas através de um programa elaborado na
contramão das políticas culturais em voga orientadas pelo patrocínio empresarial por via dos
incentivos fiscais. Admitindo a dupla natureza dos bens simbólicos (BOURDIEU, 2005) a Lei
de Fomento pode ser tomada na ordem das transgressões simbólicas. Tendo analisado essas
lutas, o próximo passo consiste em investigar os matizes desse movimento de renovação
teatral recente, apreendendo a ordem de convenções e inovações que ele mobiliza e seus
impactos sobre a cena local. Importa ressaltar que não pretendemos tecer julgamentos quanto
a qualidade artística das peças fomentadas mas, antes, analisar as condições sociais de sua
produção e recepção. Nesse sentido, destacam-se as contribuições da sociologia histórico-
analítica das formas de teatro desenvolvidas por WILLIAMS (2010), para quem as
transformações formais devem ser analisadas a luz dos enfrentamentos sociais e expressivos
que as desencadearam e dos problemas que eles acarretaram para a esfera da criação. A partir
da noção de “estrutura de sentimentos”, o autor irá dedicar-se à compreensão dos modos de
sentir de determinada época, expressando-se no plano da cultura e em obras concretas. Assim,
é na ideia de uma experiência compartilhada com certo texto dramático, com sua encenação e
a consequente recepção, que se define a estrutura de sentimento. No caso da pesquisa em
pauta, além da análise da programação no período proposto, vislumbramos a realização de
entrevistas com espectadores para acessar, ao menos em partes, a estrutura de sentimentos da
época atual. Poderemos proceder, também, à análise mais detalhada de um espetáculo em
particular, enquanto amostra representativa do conjunto (PAVIS, 2015). A análise se baseará
principalmente (mas não exclusivamente) em quatro tipos de fontes documentais, dos quais 1)
materiais do Fomento ao Teatro, disponíveis no arquivo da Secretaria Municipal de Cultura de
São Paulo; 2) material crítico acerca dessa programação, veiculado tanto pelo jornalismo
cultural quanto pela crítica especializada; 3) programa das peça que compõem a programação,
quanto houver; 4) levantamento e balanço bibliográfico, buscando dialogar com o que já se
produziu sobre o assunto, bem como revisão da bibliografia sobre teoria e história do teatro,
sociologia da cultura, teoria teatral e demais estudos que se revelem capazes de fornecer
aportes às análises em curso. Dessa forma, pretendemos realizar um trabalho de investigação
empírica orientado pela reflexão teórica. Além das fontes escritas vislumbra-se a realização de
entrevistas com espectadores e com criadores. No caso dos primeiros, ainda que os
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espetáculos não estejam mais em cartaz, em alguns casos pode ser possível chegar à pessoas
que tenham assistido ao espetáculo quando o mesmo foi a público, podendo-se nesse caso
acessar a memória do espectador através da entrevista aberta ou, ainda, entrevistar
frequentadores atuais das mesmas salas ou teatros em que aquela programação circulou. Já no
caso dos criadores, prevemos a entrevista semi-diretiva com ao menos um artista de cada
núcleo fomentado, buscando apreender os aspectos que balizaram os procedimentos criativos
em discussão. Em ambos os casos, acreditamos que a entrevista figura enquanto um
instrumento que permite acessar informações e nuances que não estão, e muitas vezes nem
poderiam estar, formalmente documentados. Ainda, a partir do quadro geral dos grupos
fomentados no período que a pesquisa abrange, será realizado um estudo de campo a fim de
conhecer (ou de reconhecer) suas principais características, além de produzir uma pequena
etnografia dos espaços teatrais por onde a programação circulou. Assim, cotejando a um só
tempo fontes e métodos teóricos e empíricos, acreditamos adquirir os meios adequados de
observação.
Referências bibliográficas
PAVIS, Patrice. Análise dos espetáculos: teatro, mímica, dança, teatro, cinema. São Paulo:
Perspectiva, 2015
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“DIZ QUE SIM & DIZ QUE NÃO” E “A CONDIÇÃO HUMANA”: REFLEXÕES
SOBRE CONTRADIÇÃO
Thereza Junqueira
Palavras-Chave
contradição, dramaturgia, política
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afirmação em lugar de um princípio da identidade, pode ser percebida, como uma questão
profunda, metaforizada pela trajetória do menino. A personagem menino, ao dizer “não”,
representa o homem que rejeita uma atuação lógica, através da qual, uma vez aclaradas as
premissas, seguiriam sem esforço as deduções. O menino prefere uma atitude prática, que
revê as teorias e regras à medida em que os problemas se apresentam. É a mesma sequência
de ações que leva o menino ao despenhadeiro e, na segunda peça, de volta a sua cidade, o que
destaca sua variabilidade, e a possibilidade de reconstrução. Ao contrário da infalibilidade do
destino trágico, a peça destaca a construção que a ação pode empreender. O propósito de “A
condição humana”, segundo Hannah Arendt, é refletir sobre “o que estamos fazendo”. A
autora mostra as consequências do elogio da técnica que fora promovido pela ciência
moderna. A discussão e a palavra perderam seu lugar, ante ao knowhow, ante à importância
conferida ao “saber fazer”. As máquinas não refletem sobre o que fazem, e elas apenas
precisam ser operadas. E, o homem, satisfeito por saber construir máquinas, perdeu-se nos
mecanismos engenhosos de suas engrenagens. Pretende-se estabelecer um diálogo entre essa
constatação e o percurso do menino de “Diz-que-sim & Diz-que-não”, de Bertolt Brecht. A
personagem é tomada como um contraponto para se pensar a vida política. O objetivo dessa
abordagem é oferecer uma alternativa para subsidiar o debate em torno da situação política
contemporânea, que embora pareça já ter superado um momento moderno de cegueira política
ante o elogio da técnica, enfrenta cotidianamente a violência, a corrupção, a intolerância, a
desigual distribuição de renda, a miséria. Será que discutimos suficientemente o que estamos
a fazer? Ou ainda estamos presos nas engrenagens das máquinas modernas? Theresa Calvet
de Magalhães (2006) pontua que a política, segundo Hannah Arendt, refere-se ao nosso “viver
juntos no mundo” e à habilidade de “falar dele com os outros”, o que supõe o fato de sermos
iguais (ante a possibilidade de nos comunicar via linguagem); e diferentes/ plurais (por termos
diferentes pontos de vista). Assim, estudar a política requer a compreensão da condição
humana da pluralidade, que é o motor da ação. E a ação, ou a capacidade de agir é, para
Arendt, a categoria central do pensamento político. A “ação” consiste na “atividade que se
exerce entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria”; isso porque “os homens, e
não o Homem, habitam o mundo” (Arendt, 2009). É o fato de estarmos entre seres diferentes
que requer a ação, se os homens fossem iguais ela não seria cogitada. Ao dizer “não”, o
menino propõe uma leitura da história pautada pela contradição. E o faz nos dois sentidos
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apontados para a contradição, incorporando uma “atitude prática”, em oposição ao que seria
uma “atitude lógica”; bem como decompondo o que seria um conflito dramático. Não existe
somente um bem em questão, o remédio almejado para curar a doença e sua mãe, mas a vida
do próprio menino. O conflito dramático seria reproduzido se a escolha se orientasse em torno
somente do bem-remédio. O menino se afirma pela contradição, ao mostrar dois gestos
aparentemente díspares que o movem, o sim à expedição (e ao remédio para sua mãe) e o
“não” à sua morte, que implica um não a seu sim anterior, mas que não deve ser entendido
como um não ao remédio. Com seu “não”, o menino se afirma, em contradição. Agiria
logicamente pautado pela identidade se orientasse sua ação pela premissa levantada
anteriormente, afirmar-se pela identidade significaria sua morte, e a reprodução de uma
tradição. Sua palavra-gesto interrompe o fluxo da tradição e promove a regressão ao passado,
ele recupera sua história, o que o levou àquela expedição, o contexto da fala em que desejou
tomar parte e o contexto que o fez recuar.
Referências bibliográficas
ARENDT, Hannah. A condição humana, 10ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2009.
BRECHT, Bertolt. Diz que sim & Diz que não. Teatro Completo. Tradução de Fernando
Peixoto, Renato Borghi e Wolfgang Bader. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1991.
______. Pequeno Organon para o Teatro. Estudos sobre Teatro. Tradução de Fiama Pais
Brandão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
MAGALHÃES, Theresa Calvet de. Ação, Linguagem e Poder: Uma releitura do Capítulo
V [Action] da obra The HumanCondition. In CORREIA, Adriano (Org.). Hannah Arendt e
a condição humana. Salvador: Quarteto Editora, 2006.
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Palavras-Chave
estética performativa, processo de criação em site-specific, treinamento de ator
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capazes de levá-lo a formas e energias diferentes, não importa quantas vezes o treinamento for
repetido. O inventor desse treinamento nada mais é do que o próprio ator, que de início ainda
se dá o direito de cuidar do seu interior e, aos poucos, se reconhece e se respeita para ampliar
o seu estado de presença para o espaço, o contato com o grupo que está treinando e aquele
que está observando, este que também pode decidir entrar ou não na ação. Então, seguindo os
pensamentos até aqui, elencamos estágios do treinamento possíveis de ser visto: do corpo
comum, o ator-dançarino é convocado e provocado por si mesmo para despertar em seu
próprio corpo uma presença diferente do seu corpo cotidiano. Ao se observar, o ator-
dançarino identifica como o seu corpo está naquele momento e quais são as necessidades dele
e o que ele pretende provocar em seus espectadores. Esta questão pode ser de fato pensada
antes do fazer e o objetivo vem á tona durante a prática. Como meus pés tocam o chão? Como
o chão toca o meu pé? Será que o outro percebe como eu toco o chão e como o chão toca o
meu pé? Quando eu pulo e levanto a poeira do chão, a poeira é a resposta ao pulo ou é o chão
correspondendo a minha ação? Se eu pulo sem flexionar os meus joelhos antes de retornar ao
chão, eu machuco apenas a extensão do meu corpo com esse choque brusco com o chão, ou
eu também provoco choques no chão, choques em quem me observa? Essas perguntas
desenham o que seria um inventário de sensações, que, por conseguinte, influenciam não
apenas o corpo carne do ator-dançarino, porque todo o espaço de trabalho é considerado uma
extensão do seu corpo. Essa relação ganha visibilidade através das formas geradas a cada
exercício e na relação espaço-tempo daquilo que se mostra enquanto se treina. O treinamento
performativo do ator-dançarino também pode agregar temas de trabalho, o que diretamente
afeta a que parte do corpo o ator-dançarino vai dar mais atenção, ou melhor, em como ele vai
agir para ampliar as sensações de seu corpo em relação ao ambiente e aos observadores da
prática. Por exemplo: além de ter como objetivo a imagem de abraçar e ser abraçado (por
mim mesma, pelo espaço e pelo outro, que treina ou apenas observa), tem-se a proposta de
trabalhar determinadas musculaturas com o objetivo de atingir tônus específicos em meu
corpo. Então, se “o tônus é responsável por toda atitude e toda postura que o corpo pode
assumir em movimento ou descanso” (idem, 2008, p.65), as imagens corporais e sensações
caminham juntos com o fazer e podem, concomitantemente, serem evidenciadas durante o
treinamento performativo. Se o tônus tem total ligação e interação com o ambiente e essa
relação modifica o tônus, então o ato de treinar fora da sala de ensaio – em lugares abertos –
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propiciam diferentes variações de tônus que compõem um treinamento de ator. Quanto maior
for à abertura que o ator-dançarino se proporciona e se permite para treinar e apresentar,
maior será a naturalidade de sua expressividade. Dessa forma, não apenas será exibido o
processo do fazer e o resultado dessa ação, mas, também, um estado de presença em
“condição de inteireza”. Um treino que permite ao ator descobrir o seu próprio corpo, suas
sensações, seus bloqueios, dificuldades, superações, a sabedoria de ser feito carne e osso, e
energia, e desenhar as intenções de cada movimento no espaço. Movimentar-se determina
uma estética corporal e, uma estética corporal evidencia uma qualidade de presença.
Lembrando que presença aqui abordada nasce da relação corpo e espaço: o meu corpo
instaura a performatividade a partir de uma presença que é produzida perante experiências
potencializadoras em um determinado espaço. Nesse ponto, a cada espaço em que se executa
o treinamento, novas perspectivas e particularidades ganham vida por meio de um processo
criativo em site-specific.
Referências bibliográficas
DASCAL, Miriam. Eutonia: o saber do corpo. Editora Senac, São Paulo, 2008.
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Palavras-Chave
autoficção, subjetivação, solos, teatro feminista
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Referências bibliográficas
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Trad. Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2008.
ROPA, Eugenia Casini. O Solo de dança no século XX: entre proposta ideológica e
estratégia de sobrevivência. Trad. Adriana A. S. Andrade. In: Urdimento. Revista do
Programa de Pós-graduação em Teatro da UDESC. n. 12. Março, 2009.
SIBILIA, Paula. La intimidad como espectáculo. Trad. Paula Sibilia e Rodrigo Fernández
Labriola. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2013.
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Palavras-Chave
espaço biográfico, processo de criação teatral, teatro performativo
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novo. Desde os rituais gregos, o instante da representação possuía uma conexão direta com a
vida. Como em um espiral, atualmente, trabalhos que transitam nas fronteiras entre o “real” e
o ficcional têm tornado à cena. Extrapolar essas raias, ou tencioná-las, tem sido um
imperativo na arte teatral contemporânea. São diversas as práticas que pretendem o real como
parte da sua construção. Para colaborar com os problemas teóricos levantados pela pesquisa,
tem-se tomado de empréstimo os seguintes suportes: a ideia de “teatro performativo”, de
Josette Féral (2008), que se encontra citada no projeto de encenação do espetáculo “nenhuma
carta”, um dos objetos de análise da pesquisa, e que responde à demanda inicial da peça: ser
performativa. O argumento principal do projeto de encenação gira em torno da ideia de que a
fratura que o real pode causar na representação seria o único correspondente possível ao
suicídio do seu amigo. Como se diante de uma circunstância que se renova a cada
“presentação” pública, metáfora alguma pudesse superar, só a entrega real de um pedaço da
vida da atriz em cena pudesse ser legítima. É sempre a memória de novo. Desse modo, as
noções de “teatralidades do real” levantadas por Silvia Fernandes (2009), tem sido aportes
necessários para a pesquisa não no sentido de localizá-la no eixo dos estudos do teatro do real,
mas no sentido de problematizar e confrontar as ideias de teatralidade e performatividade em
“nenhuma carta”. A noção de “espaço biográfico”, inicialmente cunhada por Philipe Lejeune
(2014), sob a ótica da leitura de Leonor Arfuch (2010) é um empréstimo feito da teoria
literária. A autora amplia a metáfora de “espaço biográfico” no sentido de projetar um
horizonte analítico sobre um “fenômeno de época” que envolve, dentre outras questões, a
perda da dimensão entre o público e o privado/íntimo, investindo-se de novos sentidos e
valorações referentes às subjetividades contemporâneas. Arfuch aponta ainda o
atravessamento das formas autobiográficas nos diversos gêneros discursivos em profundo
crescimento desde o século XVIII, tendo sua legitimação no século XX em formas canônicas
e, inclusive, nas ciências sociais. Desta autora, apropria-se também da discussão do conceito
de “polifonia” em Bakhtin, para refletir as dissipações dos limites que ocorrem na encenação
e que deslizam para a pesquisa confundindo sujeito e objeto, pesquisadora e objeto de
pesquisa, tornando a observação uma atividade desafiadora: colocar-se diante de anotações,
reflexões, de diários interrompidos, de projetos de encenação abortados, de filmagens do
espetáculo, de textos rabiscos, do corpo machucado pela estrutura de ferro que compõe a
cenografia do espetáculo e pela ausência presente constante do amigo. Como errar tão à beira
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da perda, da morte e de meus traumas sem correr o risco de incorrer num ensimesmamento?
Como lidar com a ficcionalização de si distanciando somente o suficiente para a condução
necessária por essa travessia? Questiona-se a encenadora-atriz-pesquisadora. A cada nova
apresentação de “nenhuma carta”, novas percepções emergem: todas as vezes em que a atriz-
encenadora-pesquisadora volta ao encontro com a experiência de lidar com as memórias no
ato da “presentação”, surpreende-se com a falta de memória. Ou melhor, constata a invenção
que se propõe a fazer cada vez que precisa incursionar nesse “espaço biográfico” para se
encontrar com o público de “nenhuma carta”. Desse modo, pretende-se como comunicação
final desta pesquisa, a produção de uma espécie de ensaio de percurso do seu processo de
criação que não tem fim.
Referências bibliográficas
BARTHES, Roland. O efeito de real. In: O rumor da língua. 2ª Ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
FÉRAL, Josette. Por uma Poética da Performatividade: o teatro performativo. Sala Preta,
Revista de Artes Cênicas: São Paulo, n. 8, 2008. p. 191-210.
______. Teatralidades do Real. Revista Subtexto, Belo Horizonte, n.06, dez. 2009.
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Palavras-Chave
feminismo, mulheres, teatro
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escolas e centros e formação em Artes Cênicas estudamos e encenamos autores – são eles os
grandes nomes entre os teóricos, dramaturgos, críticos, atores, encenadores (quase todos
europeus e, mais recentemente, estadunidenses) até, pelo menos, a segunda metade do século
XX. Kathleen Gough, ao listar as características do poder masculino em sociedades arcaicas e
contemporâneas declara que, entre outras formas, o estabelecimento desse poder se dá ao
restringir a criatividade das mulheres ou quando as retiram de amplas áreas de conhecimento
e de realizações culturais da sociedade (GOUGH, 1975). O panorama de hoje não é mais
absolutamente masculino, é certo, são inúmeras as artistas, autoras, dramaturgas e teóricas
que assinam seus nomes no campo das artes e na Academia. Ainda assim, é escassa a
literatura sobre a produção de mulheres no teatro e sobre articulações entre teatro e
feminismo, principalmente em português. Portanto, o quadro teórico desta pesquisa se situa
entre os estudos de gênero (autoras como Adrienne Rich, Joan Scott, Lilian Faderman) que
tratam da invisibilidade das produções e das relações entre mulheres, pesquisadoras do campo
das artes cênicas que tentam olhar para figuras e criações femininas (Ângela Reis que estuda
vida e obra de atrizes do século XIX, Elza Cunha Vicenzo, que pesquisa dramaturgia escrita
por mulheres), teóricas norte-americanas que tratam de teatro feminista (Elaine Aston e
Charlotte Canning) e, finalmente, autoras brasileiras contemporâneas que tratam das
aproximações entre feminismo e arte (Roberta Barros, “Como Falar de Feminismo à
Brasileira”) e, mais especificamente, da experiência entre feminismo e teatro (Lígia Tourinho
e Luciana Mitkiewicz, “Bonecas Quebradas”). Ainda integram esse quadro, Ileana Diéguez,
pesquisadora mexicana que estuda principalmente teatralidades e performatividades latino
americanas que se inscrevem como ações políticas e Teresa Ralli, atriz do grupo peruano
Yuyachkani, em seu relato de experiência sobre um trabalho realizado ao longo de anos com
as mulheres de seu grupo. O trabalho aqui apresentado tem como principais objetivos, traçar
um panorama de criadoras, tanto de mulheres atuantes no cenário teatral soteropolitano, como
de outras artistas referenciadas por estas primeiras. Esse levantamento visa mapear, visibilizar
e documentar o teatro feito por mulheres na cidade, criando referências para futuros trabalhos.
A perspectiva cartográfica será utilizada para conduzir o supracitado panorama através de
uma lógica não-linear: ao invés de um recorte temporal, a pesquisa está sendo guiada por
relatos e citações. Ao entrevistar determinada atriz, por exemplo, a pesquisadora elenca outras
criadoras citadas por esta como suas principais referências e as busca para uma nova
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entrevista, tecendo assim uma rede de memórias, afetos e ‘genealogias teatrais’. As atuais
perguntas norteadoras são: na atual cena teatral soteropolitana, que mulheres artistas são
referências para outras mulheres criadoras? Essas referências femininas existem? Que
criadoras se identificam com o termo ‘teatro feminista’ ou referenciariam sua criação como
feminista? Como resultados parciais, o projeto desenhou uma retrospectiva, ao longo dos
últimos três anos, das produções teatrais em Salvador assinadas por mulheres. Além de um
cenário de obras e autoras, foi feita uma descrição das distintas formas de agenciamento entre
as equipes criadoras e de organização da autoria das obras, por exemplo, se as propostas
partem de grupos, da convocação de uma diretora, se são experiências solo etc. Outro ponto
observado são as questões centrais - corpo, sexualidade, atravessamentos entre gênero e raça
etc - levadas para a cena nestes espetáculos. Os resultados esperados incluem uma revisão
bibliográfica acerca de teatro feminista e a produção dessa cartografia de memórias, que toma
a experiência, as recordações e referências de mulheres que estão criando na cena teatral
soteropolitana.
Referências bibliográficas
GOUGH, Kathleen. The Origin of the Family. In: REITER, Ranya (Ed.). Toward an
Anthropology of Women. New York: Monthly Review Press, 1975.
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Palavras-Chave
arte da performance, cartografia, mobilidade urbana
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gestos e ações da performatividade urbana. Com essa afirmação, posso referir-me não só aos
artistas da performance, mas também àqueles que agem no meio urbano a partir da criação de
outras linhas e engajamentos possíveis para a construção e realização de desejos. Ciclistas,
skatistas, trabalhadores de carga , ambulantes, religiosos, pedintes e artistas de rua são corpos
que agem desviando a lógica espetacular das cenografias do cotidiano (JACQUES, 2008).
Inscrevem um engajamento maior de seus corpos aos espaços, adaptando-os às suas diversas e
específicas necessidades de circulação e sobrevivência e exercitando uma possível autonomia
que nega e evidencia, simultaneamente, as disposições coreográficas que controlam a
movimentação na cidade (LEPECKI, 2011). Quanto aos artistas da performance, acredito que
podem atuar como o cartógrafo, engajando-se de corpo e língua no espaço urbano, pois o
cartógrafo “vive de expropriar, se apropriar, devorar e desovar, transvalorado” (ROLNIK,
1989). Um performer que atua na urbanidade pode expropriar-se dos seus trajetos cotidianos,
apropriando-se de caminhos desconhecidos, de corpos desconhecidos, dos espaços e dos
materiais da cidade, devorando as linhas que inscreve nas rotas urbanas, desovando, por fim,
toda essa experiência em práticas de transvaloração. O artista da performance pode mudar o
valor das coisas (FABIÃO, 2015), transvalorando a cidade em movimento, ao praticar novas
maneiras de socialização que são motorizadas pelos programas que expandem a vibratilidade
do seu corpo. Um programa performativo é um “motor de experimentação psicofísica e
política” porque sua prática cria corpo e relações entre corpos; deflagra negociações de
pertencimento; ativa circulações afetivas impensáveis (FABIÃO, 2013). Um programa
performativo, assim, é o planejamento que dispara a dramaturgia do imprevisível operada
pelas ações performativas e, por isso mesmo, constitui o “enunciado que possibilita, norteia e
move a experimentação”, (FABIÃO, 2013). Todo esse movimento gerado pelos programas
promove iniciativas que desenham perpendiculares curvilíneas de encontro e deslocamento na
padronização retilínea da cidade, alimentando a vibratilidade do corpo do performer no
desencadeamento de encontros. Ancorado no conceito de programa performativo, que tem
norteado minha prática como performer em espaços públicos da cidade, sugiro que os planos
de mobilidade urbana funcionam como anti-programas performativos. Compostos por
enunciados (verbais, pictóricos, arquitetônicos), os anti-programas controlam o trânsito
urbano, estipulam preceitos comportamentais e, muitas vezes, inculcam noções de
pertencimento e cuidado para camuflar os cerceamentos que esgotam o agir social. Ao
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Referências bibliográficas
JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. In: Revista Arquitextos, v. 093.7, ano
08, 2008.
KAPP, Silke. Alienação via mobilidade. Campinas: Oculum Ensaios. V. 15, 2012. p. 30-41.
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Palavras-Chave
Jean-Jacques Lemêtre, Théâtre Du Soleil, música do teatro, trilha sonora, macro-harmonia,
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também, se não a escutamos, tem alguém na frente, Ariene, que nos diz "Escute a música!
Você não está na música, você não a aproveita a sustentação!" Isso te força a fazer, de saída,
um esforço. Maior, menor, isso depende do ouvido mais ou menos musical de cada um dentre
nós. Mas isso não quer dizer que um músico forçosamente iria melhor. Não se trata desta
música. MA - A escuta é diferente! DB - A Escuta é diferente. MA - Essa escuta... como
podemos falar dela? Porque para o músico, ele escuta e "ok, terça maior, acorde menor...".
Mas com o ator, como isso funciona no palco? DB - Tem-se que escutar como um sopro que
"te sopra", que "te dá uma emoção". Evidentemente, existe um ritmo, mas não é "um, dois,
três, quatro". Existe um batimento. É preciso escutar o batimento do corpo dessa música. Isso
te entrega se "é um céu laranja", se... Estes são os estado que essa música te fornece. Não são
as notas musicais, não é a melodia. Mas o que este conjunto de notas, de sons... o que isso te
fornece. Estes são nossos apoios, nossa sustentação. Esta vem a ser a matéria da inspiração. É
o mundo. Não falamos 'bidê', ou 'eu tenho uma ideia de fazer assim', não... Eu tenho uma
visão! Estas são as visões". A partir dessa vivência com o músico francês desde 2011, pude
observar que os JOGOS MÚSICO-TEATRAIS são atividades imbuídas de um pensamento no
qual a música está integrada de forma indissociável à realização teatral. Isso significa que, ao
transcrever e organiza-los com a colaboração direta do músico e dos atores da companhia em
nossa pesquisa, estamos registrando fielmente, e pela primeira vez, uma prática que ocorre
desde 1978, que permaneceu até agora restrita aos membros da companhia e aos eventuais
participantes de suas oficinas.
Referências bibliográficas
(OUTRAS FONTES) Registros pessoais inéditos em vídeo: 48hs Oficinas/ 22hs entrevistas.
Brasil / França. (não publicados)
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Palavras-Chave
aromas, criação, individuação
A individuação é uma busca constante que pode ser alcançada com um estado de alerta
reflexivo perante os estados emocionais experienciados num processo criativo junto a seus
resultados simbólicos explícitos na criação. Tal processo traz diálogo entre a consciência e o
inconsciente, e é mediado pelo universo simbólico de cada um que pode adquirir significados
múltiplos e mutáveis, tornando as possibilidades de imagem algo transitório e imerso no
movimento de criar. Se para a psicologia junguiana a individuação é um caminho para a
pessoa “tornar-se o que ela é”, a criatividade pode ser um catalisador da nossa individuação e
nos coloca em contato direto com quem somos como seres singulares, com peculiaridades. No
que tange o processo de individuação, uma atitude artística ativa no aprofundamento com a
nossa poética revela o nosso processo criativo perante todas as facetas da vida, nos colocando
em contato direto com a (re)organização das nossas imagens e significados de experiências e
vivências, potencializando uma maioridade. Maioridade aqui expressa não como maturidade
relacionada a fatos da vida de forma linear, mas uma maturação perante seu próprio repertório
arquetípico, expondo, propositalmente, nosso repertório simbólico a outros contextos e, em
consequência, a variantes de criação. Se “a individuação é um processo de diferenciação: a
especificidade de uma pessoa deve se manifestar, é a sua singularidade” (KAST, 1997); a
criação é um caminho, uma possibilidade de jornada, pois intensifica tudo que a pessoa é e o
que ela quer ser; e mais ainda, o que ela ainda não imagina poder ser – ela se reinventa, para
irromper na dinamização de sua personalidade e na infinita possibilidade que é uma obra
multiplicando significados, fazendo do outro uma presença de si, aumentando o contato com
o self, sem cerimônias, tornando o artista mediador da sua própria energia de forma autônoma
e irradiante. IMPROVISAR COM AROMAS: UM OBJETIVO METODOLÓGICO
Improvisar é um ato de coragem. É necessário encontrar-se num mínimo estado de dilatação
energética, disposição emocional e entrega espiritual quando nos disponibilizamos a
improvisar. É preciso criar sendo, ser por estados de diluição e, ao mesmo tempo,
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Referências bibliográficas
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Palavras-Chave
cidade, cor, intervenção, luz, site-specific
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iluminação, que orientou a escolha dos artistas que serão investigados. Alguns dos
movimentos que emergem na década de sessenta, no campo das artes plásticas, são
precursores em problematizar as questões que surgem na relação de determinados espaços e a
paisagem; a luz assume papel de grande relevância para o trabalho de alguns artistas, como é
o caso de Turrel e Irwin. E a partir da década de setenta a idéia de trabalhos site-specific ira
incorporar cada vez mais aspectos políticos e geográficos em suas proposições artísticas, e
esse conceito irá se dissolver em uma gama diversificada de trabalhos. Nesse sentido o
trabalho dos artistas brasileiros selecionados são particularmente interessantes e muito
potentes no que toca essas questões. A análise das obras parte também de uma abordagem
fenomenológica, que se baseia na idéia romântica de que a luz se estabelece numa relação
entre o olho e o espaço. Nesse sentido o tratado de Goethe sobre as cores se configura como
um interessante ponto de partida, e todo o contexto do romantismo oferece uma perspectiva
rica para o entendimento do tipo de trabalho que será desenvolvido em iluminação ao longo
do séc. XX. E é a partir da premissa, de que existe uma área comum nas pesquisas em
iluminação e nas relações que são estabelecidas com a paisagem através da visão e da
experiência corporal, que se busca uma aproximação entre a produção dos artistas que operam
nas artes plásticas e no campo teatral. Finalmente, existe a intenção de que o trabalho de
pesquisa possa estimular a atualização do meu fazer artístico, e é nesse contexto que faço a
opção de revisitar e refletir sobre algumas instalações urbanas por mim realizadas entre 2005
e 2008, e que dialogam com a obra dos artistas e os assuntos investigados. De forma que,
paralelamente à pesquisa teórica, o projeto se propõe também a incluir uma dimensão prática
que poderá culminar na criação de novos trabalhos ao longo desses dois anos.
Referências bibliográficas
BARROS, Anna. A arte da percepção: um namoro entre a luz e o espaço. São Paulo:
Annablumme; Fapesp. 1999.
FABIÃO, Eleonora. Ações: Eleonora Fabião; org. Eleonora Fabião , Andre Lepecki. Rio de
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Palavras-Chave
artivismo, gênero, teatro feminista
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conhecia uma sala de teatro, operamos com a estética que pareceu mais justa para o momento,
além das já citadas, praticamos Augusto Boal, um mestre rejeitado pela academia, embora
seja um dos poucos compositores de um método substancioso pautado pelo anti-aristotelismo,
na segunda fase veio a Poética de Brecht e na terceira o épico-performativo, ainda em
construção. Com o tempo fomos descobrindo que a perspectiva feminista no teatro requer
alguns elementos fundamentais como o protagonismo das mulheres em todos os sentidos,
autoral e atoral, a desmistificação da representação e a criação sem limites. Somos sujeitas das
nossas obras, afinal, foram séculos de interdição, não faz sentido espetacularizar as nossas
dores, as “pequenas mortes” cotidianas, alimentar o Pathos Trágico, a aparência de eternidade,
nossa perspectiva é libertária. Nós Mal-Amadas Somos as Mulheres que Não deram certo,
para eles, é claro, os Patriarcas!
Referências bibliográficas
LAQUEUR, Thomas. Inventando o Sexo: Corpo e Gênero dos gregos a Freud. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2001
MEDEIROS, Maria Beatriz. Arte, Performance e Rua. Ouro Preto: in Revista Artefilosofia
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PERROT, Michelle. Minha História das Mulheres. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
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Palavras-Chave
Dramaturgia; montagem cinematográfica; escritor-rapsodo
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um indício: o termo rapsodo, que vem do grego antigo, rhaptein que significa ‘costurar’. O
montador junta pedaços de filmes, alterna tomadas (os takes), edita o filme levando em conta
um sem-número de fatores – luz, ação, cor, continuidade, sons etc. Antigamente, o filmes era
montados de maneira bem artesanal, por meio de uma moviola, que nada mais era do que dois
rolos operados por uma manivela. A película era inserida nesse aparelho e, o montador, vendo
as tomadas pelo monitor, selecionava os pontos, cortava e colava os pedaços de filmes. Dessa
forma, juntar pedaços, fazer recortes, criar relações em fragmentos, colar, rasgar, tecer,
costurar, amarrar são ações que encontro na minha prática enquanto dramaturgo e que fazem
parte do universo de composição dos montadores. Os procedimentos levados em conta pela
montagem cinematográfica ultrapassam a mera colagem de uma tomada com outra. Nessa
junção e agenciamento de planos são postos em questão elementos como: a continuidade ou a
não continuidade da ação dentro do quadro, as camadas dentro um plano, o ritmo e tempo
entre cada tomada, as possibilidades de fusão entre planos etc. (XAVIER, 1977). Cada
escolha, cada elemento escolhido em detrimento de outro, cada parte posta em relevo (ou não)
revela uma operação criativa e uma estratégia de composição do filme que pode influir na
textura de uma sequência, no andamento linear ou não linear do enredo, na aproximação ou
no afastamento emotivo do espectador entre outros fatores. De um lado, o drama moderno e
contemporâneo, de ‘pulsão rapsódica’ que rompe com o drama tradicional, de outro, a
Montagem Cinematográfica e suas rupturas com a decupagem tradicional. Todavia, diferente
do Cinema, os estudos sobre dramaturgia de textos ainda é carente de obras que versem sobre
a carpintaria do texto propriamente dita. Sobretudo quando o texto não figura mais como o
centro da criação e as três unidades aristotélicas são dinamitadas. A noção de dramaturgia se
expande e sai do campo do texto para abranger outros elementos do espetáculo, havendo a
dramaturgia do corpo, da cenografia, do figurino, da luz, da direção e, nesse ínterim, a
dramaturgia do texto, agora não regida apenas pelo conflito, mas por uma gama de
possibilidades de composições (DANAN, 2010). Para a comunicação oral no Seminário de
Pesquisa em Andamento da ECA, apresento primeiramente a montagem cinematográfica
desvinculada do desenvolvimento lógico-causal do enredo. Tal montagem não implica em
reconstituir um todo provindo de um fragmento da realidade. Ela possui uma inteligência
própria e joga com os buracos, os espaços vazios, a desconstrução do tempo, do espaço da
ação. Os cortes a, as elipses, a descontinuidade da ação, os planos não servem apenas para
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contar um enredo, mas, também, para “montar” uma ideia, uma sensação, uma ideologia etc.
A partir daí, teço relações com o drama moderno e contemporâneo que também assumiu, em
sua composição, os buracos, os vazios, os quadros, a interrupção da ação dramática, os micro-
conflitos etc. No estágio estou na pesquisa, tais paralelos abriram o campo de visão da
dramaturgia do texto, não tão associada desenvolvimento do enredo e do conflito. A
montagem no seio do texto se dá tanto em seu aspecto amplo, fragmentação do texto em
quadros; tanto em seu aspecto mínimo – no campo das réplicas, no qual os diálogos, embora
estejam na mesma cena, possuem enunciações diferentes. Sendo assim, o pesquisador
apresenta no Seminário de Pesquisa em Andamento alguns dos cruzamentos resultantes da
revisão bibliográfica sobre o drama moderno e contemporâneo com alguns pressupostos da
montagem cinematográfica. Essa junção dos campos é parte do chão harmônica teórico da
pesquisa de doutorado que prevê, durante seu curso, a realização de ateliês de dramaturgia
com peças de formato curso no estado de São Paulo e do Maranhão.
Referências bibliográficas
ARISTÓTELES. Arte Poética. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2003.
EISENSTEIN, Sergei. A Forma do Filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990a.
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______. Ler o teatro contemporâneo. Tradução Andréia Stahel M. da Silva. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2013.
SARRAZAC, Jean-Pierre (org.); Catherine Naugrette... [et al]. Léxico do Drama moderno e
contemporâneo. Trad. Adré Telles. São Paulo: CasacNaify, 2012.
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AGRADECIMENTOS
CAC ECA/USP
Prof. Dr. Marcelo Denny de Toledo Leite (Chefe do Departamento); Prof. Dr. Sérgio Ricardo
Departamento de Ensino); Alê Vaz Machado; Eloisa Salles; Idalvo Silva dos Santos
EAD / USP
Profª. Me. Sandra Regina Sproesser (Diretoria); Profº. Dr. José Fernando Peixoto de Azevedo
(Vice-diretoria) Carlos Alves da Costa (Secretário); Bertha S. Heller; Carlos Alves da Costa
(Croata); Denílson Marques de Oliveira; Mário de Castro; Nilton Ruiz Dias; Paulo Sérgio
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