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No Reino Dos Sentidos Uma Introducao
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Cristina Meneguello
University of Campinas
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All content following this page was uploaded by Cristina Meneguello on 30 October 2017.
ii
Martin Jay
1
Fredric Jameson, The Political Unconscious: Narrative as a Socially Symbolic Act (Ithaca,
N.Y., 1981), 229. Nos Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844, Marx argumentou que os
sentidos eram alienados no capitalismo – assim como a propriedade, eles eram “posses” dos
indivíduos e não compartilhados comunalmente – e seriam emancipados com o fim do
capitalismo. Para uma análise crítica recente da posição de Marx, ver David Howes,
“HYPERESTHESIA, or, The Sensual Logic of Late Capitalism,” em Howes, ed. The Empire of
the Senses: The Sensual Culture Reader (Oxford, 2005), 281-303. Esta coletânea traz uma
bibliografia útil dos trabalhos recentes na área de estudos culturais dos sentidos e faz parte
da série da Berg Press intitulada “Sensory Formations”, também editada por Howes, com
coletâneas sobre os cinco sentidos assim como sobre o “sexto sentido”.
2
O mesmo vale para a língua portuguesa, em que a palavra “sentido” equivale à percepção
sensória do mundo; à direção ou orientação; e ao significado de um termo ou palavra. NT.
4
3
Para a história do termo, ver John D. Schaeffer, Sensus Communis: Vico, Rethoric, and the
Limits of Relativism (Durham, N.C., 1990). Para um estudo recente da origem do termo em
Aristóteles, ver Pavel Gregoric, Aristotle on the Common Sense (Oxford, 2007).
4
Para uma análise sóbria destas dificuldades, por um dos mais completos estudiosos da
história dos sentidos, ver Alain Corbin, “Charting the Cultural History of the Senses”, in
Howes, The Empire of the Senses, 128-139.
5
A relevância da “virada linguística” para o novo interesse pelos sentidos pode parecer
menos óbvia que as outras duas. Entretanto, foi ela que abriu a questão para as metáforas
sensoriais incrustradas na linguagem, que nos alertou para a importância dos vetores
materiais e sensórios para convir os significados e que explorou as questões da
tradutibilidade – ou de sua impossibilidade – entre as linguagens convencionais, faladas ou
escritas e as “linguagens” das imagens, dos sons, dos odores, dos sabores e dos toques. O
desenvolvimento histórico dos sotaques, com todas as suas poderosas implicações culturais,
mostra a importância do som na compreensão da linguagem. Ver, por exemplo, os ensaios
em Talking and Listening in the Age of Modernity: Essays in the History of Sound, Joy
Damousi e Desley Deacon (eds), (Canberra, 2007). Certamente houve resistência a assimilar
os sentidos a um modelo linguístico. Por exemplo, Michel Serres, The Five Senses: a
Philosophy of Mingled Bodies, trad. Margaret Sankey e Peter Cowley (New York, 2009).
6
Ver, por exemplo, o periódico The Senses and Society, lançado em 2006. A
institucionalização dos estudos de cultura visual, os mais avançados se comparados aos
estudos voltados aos outros sentidos, é traçada por Margaret Dikovitskaya em Visual
Culture: the Study of the Visual after the Cultural Turn (Cambridge, Mass., 2005). Observe-
se que dentre as 17 entrevistas que ela realiza com as figuras centrais naquela área, anexas
ao livro, apenas um dos entrevistados ensina em um departamento de história.
7
Ver, por exemplo, os ensaios de Jan Goldstein, ed. Foucault and the Writing of History
(Cambridge, Mass, 1994). O agora familiar argumento de Foucault sobre as relações entre o
poder e o olhar exemplificados pelo Panóptico de Jeremy Bentham já foi, porém, desafiado.
Ver Chris Otter, The Victorian Eye: A Political History of Light and Vision in Britains, 1800-
1910 (Chicago, 2008). Para uma seleção de reações a Elias, ver Steven Loyal and Sthephen
Quilley, The Sociology of Norbert Elias (Cambridge, 2004).
8
A questão da relação entre “Arte” e as artes é explorada por Jean-Luc Nancy, The Muses,
trad. Peggy Kamuf (Stanford, Calif., 1996). Ele nos relembra que “a arte leva o sentido a
tocar a si próprio, a ser o sentido em si. Mas, desta maneira, ela não se torna simplesmente
o que chamamos de ‘um sentido’, por exemplo, a visão ou a audição: ao deixar para trás a
integração do ‘vivido’, ela se transforma em algo diverso, em outra instância de unidade, e
expõe outro mundo: não um mundo ‘visual’ ou ‘sonoro’, mas um mundo ‘pictórico’ ou
‘musical’” (21).
9
Jacques Derrida, Glas (Paris, 1974), 69.
10
Ver, por exemplo, Birgit Meyer, ed., Aesthetic Formations: Media, Religion, and the Senses
(Basingstoke, 2009).
11
Nossa língua captura de forma rica a ambivalência da agência e da passividade nos duplos
sentidos dos verbos “cheirar” [to smell], “olhar”[to look], “saborear” [to taste] e “sentir” [to
feel]. Nosso ouvir não tem um verbo assim, ao mesmo tempo ativo e passivo. Pelo contrário,
ele tem“eu ouço” [I hear] e “eu escuto” [I listen] e“eu sôo” [I sound].
12
O que o autor observa aqui são os verbos na língua inglesa que ao mesmo tempo indicam
agência e passividade. Por exemplo, na língua portuguesa seria o caso do verbo cheirar: ao
mesmo tempo uma fruta passivamente “cheira” (tem aroma) e uma pessoa cheira a fruta
(agência). NT.
13
Tertium comparationis: a presença de ao menos uma qualidade em comum entre duas
coisas que estão sendo comparadas. NT.
14
Robert Rivlin and Karen Gravelle, Deciphering the Senses: The Expanding World of Human
Perception (New York, 1984). Os exemplos incluem a localização por eco dos morcegos, a
orientação bussolar dos pássaros em migração e os impulsos elétricos dos tubarões.
15
Inner Touch é o sentido interno, diferente dos outros cinco sentidos e que, segundo
Aristóteles (Tratado Da Alma), permite a um ser sentir que ele está sentindo. NT.
16
Para uma sugestiva tentativa de um filósofo de traçar este percurso, ver Daniel Heller-
Roazen, The Inner Touch: Archaelogy of a Sensation (New York, 2009).
17
A audição é sempre a alternativa escolhida. Ver, por exemplo, os papers do 9º Colóquio
Blankensee sobre a história moderna da audição: “Hearing Modern History: Auditory Cultures
in the 19th and 20th Century,” http://www.geschkult.fu-
berlin.de/e/fmi/arbeitsbereiche/ab_nolte/dokumente/Morat/blankensee.html
foram afetados mais que outros por estas extensões tecnológicas de forma
a permitir, por exemplo, uma distinção mais explícita entre natureza e
cultura, tal como a indicada pelo conhecido contraste entre “visão e
visualidade”?18 E o que dizer daquelas técnicas e invenções voltadas a
embotar os sentidos, ou até mesmo a suspender temporariamente seus
efeitos, desde as práticas ascéticas dos faquires que podem andar sobre
carvões em brasa até os milagres da moderna anestesia médica? É possível
desassociar os dados de sentido do universo sensório humano real,
conduzindo a um reino de experiência sensória impessoal, recentemente
chamado de “cultura do diagrama?”.19
18
Esta distinção tornou-se conhecida com a publicação de Hal Foster (ed.), Vision and
Visuality (Seattle, 1988), mas pode ser recuada até Thomas Carlyle em 1841. Ver Nicholas
Mirzoeff, “On Visuality,” Journal of Visual Culture 5, n.1 (April, 2006): 53-79.
19
John Bender e Michael Marrinan, The Culture of Diagram (Stanford, Calif., 2010). Eles
argumentam que os diagramas são “dados visuais” que transcendem a experiência dos olhos
reais olhando para o mundo ou representando o mundo em termos miméticos. Iniciando no
século XVIII, com a Encyclopédie Francesa, os autores mostram que os diagramas trilharam
um caminho próprio em relação a diferentes práticas modernas, tanto científicas e artísticas
quanto tecnológicas.
20
David Lodge, Deaf Sentence (London, 2008), 13.
21
Para uma exploração da relação entre os estudos de deficiência e a visualidade, ver
Disability and Visuality, Special Issue, Journal of Visual Culture 5, n.2 (Agosto 2006)
22
Helen Keller era admirada por sua extrema sensibilidade olfativa; ela sabia que uma
tempestade se aproximava pela alteração nos aromas. Ver Diane Ackermann, A Natural
History of the Senses (New York, 1991), 44.
23
Para vários exemplos, ver as publicações da Gallaudet University Press, como Deaf History
Unveiled: Interpretations from the New Scholarship de John Vickrey Van Cleve (ed.),
(Washington, D.C. 1999); The Deaf History Reader, Van Cleve (ed.) (Washington. D.C,
2007); e de Benjamin Fraser (ed.) Deaf History and Culture on Spain: a Reader of Primary
Sources (Wasington, D.C., 2010).
24
Theodor W. Adorno, “On the Fetish-Character in Music and the Regression of Listening”
[Fetichismo na Música e Regressão da Audição]. Adorno, Essays on Music, seleção, com
introdução, comentários e notas de Richard Leppert, Susal H. Gillespie (trad.) (Berkeley,
Calif., 2002), 288-317.
25
O termo “regime escópico” foi introduzido pelo crítico de cinema francês Christian Metz e
utilizado de forma mais ampla por Martin Jay em “Scopic Regimes of Modernity”, pela
primeira vez publicado em Foster, Vision and Visuality, 3-27. Seu equivalente para a audição
é desenvolvido por Peter Szendy em Listen: a History of Our Ears, Charlotte Mandel (trad.),
(New York, 2008).
26
Martin Jay utiliza a expressão “regime escópico” que retira de O Significante Imaginário –
Psicanálise e Cinema de Christian Metz, cuja obra apontou, ao distinguir o cinema do teatro,
uma espécie de contexto cultural para a visão, ou seja, a existência de tecnologias do olhar
segundo momentos históricos particulares. Para Jay, na modernidade há três subculturas
visuais dentro do regime escópico: a perspectiva cartesiana – nos moldes do Renascimento
italiano; a Arte da Descrição – que associa, assim como Svetlana Alpers, à pintura
setecentista dos Países Baixos; e o Barroco. NT.
i
Somos gratos à The University of Chicago Press (Chicago Journals) e à American Historical
Association que nos autorizaram a traduzir e publicar este texto de Martin Jay, originalmente
publicado na The American Historical Review, vol 116. N. 2, abril de 2011, cujo tema foi Os
Sentidos na História (The Senses in History). Optamos por traduzir a parte do texto em que
Martin Jay analisa de forma geral a “história da história dos sentidos”, lançando uma série de
questões ao leitor. A parte final do texto não foi aqui incluída, pois é a breve apresentação
de cada um dos artigos que compõe o volume da The American Historical Review
mencionado, e só faz sentido naquele contexto.
27
Sigmund Freud, Civilization and Its Discontents, James Strachey (trad. e ed.) (New York,
1961). 46-47. Para um exemplo da afirmação de que a modernidade significou o triunfo do
visual, ver Lucian Febvre, The Problem of Unbelief in the Sixteenth Century: The Religion of
Rabelais [O problema da incredulidade no século XVI – a religião de Rabelais], trad. Beatrice
Gottlieb (Cambridge, Mass., 1982), 432.
28
Aclkermann, A Natural History of the Senses; Robert Jütte, A History of the Senses: from
Antiquity to Cyberspace (Malden, Mass., 2005).
ii
Martin Jay (1944), especialista em história intelectual e em teoria crítica, é professor de
história da Universidade da California, Berkeley (cátedra Sidney Hellman Ehrman). Dentre
seus trabalhos destacamos Imaginação Dialética (publicada originalmente em inglês em
1973 e publicada no Brasil pela Editora Contraponto em 2008); Marxism and Totality
(University of California Press, 1984); Adorno (Harvard University Press, 1984); Permanent
Exiles (Columbia University Press, 1985); Fin-de-Siècle Socialism (Routledge, 1989); Force
Fields (Routledge, 1993); Downcast Eyes (University of Califormia Press, 1993); Cultural
Semantics (University of Massachusetts Press, 1998); Refractions of Violence (Routledge,
2003); Songs of Experience (University of California Press, 2004); The Virtues of Mendacity
(University of Virginia Press, 2010); Essays from the Edge (University of Virginia Press,
2011).