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Revista Instituto Geografico Bahia - 10

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Pt'r-êrrl!
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RE VIS TA DO

NSTITUTO GENEALOGICO
DA BAHIA

ANO X N.º 1 O

OS DESCENDENTES COLHERÃO OS TEUS FRUTOS

1 9 5 8
T I P O G R A F I A M A N ú E D I T ô R A L T D A.
SU MÁ RI O

NOSS O ANIV ERSÁ RIO -


A Reda ção . . . . . . . . . . . . . . . 1
AFON SO COST A 1885- 1956 -
A Reda ção . . . . . . . . . . . . . . . 1
-
D . Edith Mend es da Gama e
Abre u . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
- Pedro Calm on . . . . . . . . . . . . 20
- Notas Bio_B liblio grafic as . . 24
FAM ILIAS BAH IANA S - Ant onio de Arau jo de Ara-
gão Bulcã o Sobri nho .....
- XIV BETH ENCO URT . . . 29
- XV BERE NGU ER . . . . . . . 57
- ADIT .Aiv1ENTOS . . . . . . . . . . 167
A DEVO ÇÃO DE N. S. DO ROSA RIO NA
CIDA DE DO SALV ADO R - Luís Mont eiro da Costa
. . . . 95
O POVO AME NTO DA
BAH IA NO SÉCU LO XVII - Carlo s Ott . . . . . .... . .. .. .. 119
ORIG EM DE OFIC IAIS MEC ANIC OS
DOM ICILI ADO S NA BAH IA - Carlo s Ott ..... ..... . ..... 140
A FAM ILIA
RIBE IRO DA ROC HA - Danta s Jun:o r .... . ... ·, · · 151
A FAM ILIA CERQ UEIR A
L IMA DA B A H IA - A Reda ção ..... ... · · · · · · · 173
ASCE NDEN CIA DA FAM ILIA CERQ UEIR A
LIMA ATÉ MEM DE SA - H. Nees er . ...... · · ·
··· ···
177
HERÁ LDIC A PORT UGU ÊSA - F. P . de Alme ida Langh ans 179
BRAZ ONA RIO BAH IANO - A Reda ção . . ... · · · · · · · · · · 189
BRA ZõES NOV OS - Irmão Paulo Lache nmay er
O. S. B . 183
. ... .. · · · ·· · · ·
SINO PSE DOS TRAB ALHO S DO INST ITUT O GENE ALOG
ICO
DA BAH IA ... . ... ... ..... . . . . . . ..... ..... · ·· · · · · · · · 135
· · · ···
RELA ÇAO DOS SOCI OS - A Redaç ão .. . .... · · · · · · · · 189

.
A revist a ,:;olicita perm uta e agrad ece a oferta de pu bl icaço·es - On
d eman de l'écha nge - We ask for excha nge - Man
bittet um
Austa usch - Si. richie de lo scamb io - Piede canje .
Toda corre spond ência deve ser ender eçada ao Dr• Mário · Torre s
Rua Barão de Sergi , 37 - Bahia - Brasi l
INSTITUTO GENEALÓGICO DA BAHIA
Funda<lo em 14 de Abril de 1945, em substituiçã o a Secção da Bahia do Ins-
titulo Genealógico Brasileiro, instala do em Salvador a 10 de Julho de 1941.
Reconhecido de utllldade publica pelo De c. n .o 13427, de 26 de Fevereiro de 1946.
Registrado no Conselho Nacional de Serviço
Social sob n .o 3501 em 29 de Agosto de 1952.

DIRETORIA - BIENIO 1954-1956

Presidente - João da Costa Pinto Dantas Junior


Vice-Prusidente - Affonso Ruy de Souza
Tesoureiro - Hermano Neeser
Secretário Geral - Maria Torres
Bibl. Arquivista - Cid Teixeira

Comissão de Redação

Affonso Ruy de Souza


Mario Torres
Hermano Neeser
Francisco Conceição Menc: es

Comissão de História

Fredl' rico Edelweiss


\.Valdemar Mattos
José Calasans Brandão Silva

Comissão de Genealogia

Anfrisia Santiago
Francisco Gomes de Oliveira Neto
Octavio Torres

Sindicancias e Finanças

Arnold Wildbcrger
Jayme da Cunha Gama e Abreu
J. J. Nascimento Junqueira

O INSTITUTO GENEALóGICO DA BAHIA faz parte da FUNDAÇÃO


DOS INSTITUTOS GENEALÓGICOS LA'fINOS - Séde em S Paulo e
tem ali o ,seu delegado - Dr. Da~o Machado de Oliveira 16_10-52. =
NOSSO AN IVE RS AR IO

Cum pre-n os regis trar o 10.º aniv ersár io da Re-


vista Gene alóg ica da Bahi a. Insta lado em 10 de julh o
de 1941 como Secç ão do Insti tuto Gene alóg ico Bras i-
leiro e decla rado autô nom o em 14 de abril de 1945, o
Insti tuto Genealógico da Bahi a, edita va, em 1948, a
·s ua Revi sta. Associação fech ada, por f ôrç-ª de seus
próp rios traba lhos de inve stiga ção e pesq uisa, sem
funç ão espe culat iva, pôde, nesse s treze anos de ativi -
dade cultu ral, graç as aos esforços de seus agre mia-
dos e à extre ma dedic ação do Dr. João da Cost a Pint o
Dan tas Juni or, seu incan sáve l presi dent e, altea r-se
entre os Insti tutos que se dedi cam à resta uraç ão da
histó ria social brasi leira , exigi ndo a publ icaçã o de seu
docu ment ário. o que não tardo u, com a edito raçã o
cuid ados a de um hone sto repo sitór io onde se regis -
trou, daí por dian te não só a colab oraçã o dos filiad os
ao Insti tuto, mas a publ icaçã o de tudo que fôsse con-
sider ado conv enien te e se relac ionas se com a herá ldi-
ca, com a gene alogi a e com a histó ria social· brasi leira .
Plan tada com tanto carin ho, a seme nte germ i-
nou, se fêz árvore, oferecendo somb ra amig a aos que
estud am o Bras il e a sua gente .
Hoje comp leta a Revi sta do Insti tuto Genealógico
da Bahi a o seu dece nário .
Para nós é mais uma etap a vencida, mais uma vi-
tória alcan çada . .
AFONSO COSTA - 1885 - 1956
1885 - 1956

AFONSO COSTA

Perda irrepa ravel para as letras pátria s, especi almen te


para a Genea logia e a Histor ia da Bahia , foi o falecim ento, ás
20 horas do dia 31 de Dezem bro de 1955, no Rio de Janeir o do
nosso patríc io e consóc io Afons o Costa, sepult ado no dia 1º. de
de Janeir o de 1956, no Cemit ério de S . João Batist a.
Viu a luz do dia aos 2 de Agosto de 1885, em Palme irinha s,
de Jacuip e, munic ípio de Jacobi na, filho de Manoe l Gonça lves
da Costa e D . Dionis ia de Almei da Costa, ambos humil des ser-
tanejo s. Em Jacob ina sua terra amada , recebe u as prime iras
11:zes das letras , alca~ç ando, pelo esfôrç o própri o, intelig ência
lucida , invulg ar ilustra ção. Muito moço, <:_om maiore s aspira -
ções chego u a Bahia , entreg ando-s e ao jornali smo, entran do
para centro s cultur ais, procur ando pesqui zar os arquiv os e bi-
bliotec as, com incans avel ativida de. Modes to funcio nário do
Minist ério de Agricu ltura, termin ada a tarefa costum eira, ao
lado de Berna rdino de Souza , entreg ava-se às buscas da Histó-
ria da Bahia, produz indo trabal hos notáve is, alcanç ando conhe-
cimen tos invulg ares. Os seus inúme ros trabalh os nos jornai s,
revista s, congre ssos e Acade mias tinham um cunho indivi dual,
fosse n'A Tarde onde foi destim ido colabo rador, fosse no Ins-
tituto Geogr áfic~ e Histór ico da Bahia, no Institu to Genea lógi-
co da Bahia, no Institu to Histór ico e Geogr áfico Brasile iro, na
Acade mia de Letras da Bahia ou na Acade mia Carioc a de Le-
1
tras, onde foi Presiden te dos mais notaveis . Tinha tempera-
mento especial para o trabalho , sem aspirar lucros materiais.
Alguem dele disse "tem a mania de trabalho e não póde ver
ninguem inativo" . Dispunh a de agudesa de percepçã o, era
virtuoso no julgame nto dos fatos histórico s, severo na critica,
muitas vezes irônico, sem transigi r, porém, com a consciência.
Dizia desassom bradoram ente o que sentia. Sua franquez a rude
criou muitas vezes desafeto s. Na Academ ia de Letras da Bahia
ocupou a cadeira de Manoel Vitorino Pereira, na Carioca a de
0
Quintino Bocaiuv a. Era membro vitalício e 1. Secretár io da
Revista das Academ ias de Letras do Brasil. Fundado r e Se-
cretário da Federaç ão das Academ ias de Letras do Brasil, ali
era Delegad o da Academ ia Bahiana de Letras e responsavel
pela sua Revista.
A sua presença imortal ficará sempre na nossa recordação
como preito de maior saudade .
Em seguida, transcre vemos a sua biografi a estampa da no
J onal do Comérci o do Rio de Janeiro, em cujas páginas pu-
blicou vários dos seus ótimos estudos - Publicam os ainda a
lista de seus trabalho s nos vários setores por cmae periusu-ou.

PRODU ÇÕES DE AFONS O COSTA

Ocupant e da Cadeira de MANOE L VITORI NO na Aca-


demia de Letras da Bahia - publicad o na Revista.
Escorço Biolitera rio de Volume Pagina
Patrono s e Academ icos 11 150
Augusto de Mendon ça 111 208
Gregorio de Matos Vlll 220
A poesia de Carlos
Benjami m Viveiros vx 142
Manoel Fulgenc io de Figueire do IX 227
Os poetas mentem muito XVI 111

°
N Instituto Geograf ico e Historic o da Bahia do qual era
destacad o consocio, publicou na sua revista:
pagina
Volume
~omonim ia Geograf ica suas 33
inconven iencias 42
233 .
Discurso de recepção 47 277
Jacobina 200 anos depois 48
2
Poetis as Bahia nas 53 447
1928 Dicion ário de lntele ctuaes
Bahia nos 54 261
Jonath as Abott 55 474
Perfil Viscon de de Pedra Branc a 59 379
Acheg as Genea lógica s 61 69
A restau ração de Portug al e o
Marqu ês de Monta lvão 67 185
Rodrig o de Argolo a luz dos do-
cumen tos 72 273
Desce ndente de Diogo Alvare s 73 175
O prime iro Barbu da na Bahia
Colon ial 74 183
Ferrei ra Franç a at_ravés da Politi-
ca e da Anedo ta 75 55
Sebast ião da Rocha Pita visto
a olho nú 76 3
Nome s que dignif icam (a Histor ia
de Jacobi na 79 159

Na revista do Institu to Genea lógico da Bahia


Volum e Pagin a
Desce ndente s de Oiogo Alvares 2 72
O Prime iro Barbu da na Bahia Colon ial 3 97
Seara Genea lógica 4 61
Frei Jaboat ão e sua obra Genea logica 5 5
As Orfãs da Rainh a Base de formaç ão
da famili a Brasil eira 6 93
O Morga do de Santa Barba ra 7 9
Seara Genea logica - Os Dias, Cezare s,
Morai s e outros de Jacobi na 7 9
Seara Genea logica - Licenc iado
Pinhei ro de Lemos 8 15

Na Acade mia Carioc a de Letras , entre outros :


Em torno de Grego rio de
Matos 19 37
O elogio no fim de 1600
Grego rio de Matos 27 281
No Institu to Histor ico e Geogr afico Brasil eiro.
Ferrei ra Franç a - atravé s da polític a e da anedo ta
Cente nário da morte do Dr. Anton io Ferrei ra Franç a - Re-
vista n. 199 - (1950)
3
A F O N SO C O S T A (*)

Edith Mendes da Gama e Abreu


(Da Academia de Letras da Bahia)

Por entre conceitos de grandes pensadores ocorríveis ao


exame biográfico de um homem ilustre, ressalta-me o de
Gustavo le Bon: "O valor da vida não depende do número de
dias que se vive, mas da obra nêles realizada".
Qual será, então, o da de Afonso Costa naquêles 70 anos
de contínuas e benéficas realizações?
Em matéria de valor, realizar muito em pouco tempo é
altamente meritório; maior mérito, entretanto, constitui rea-
lizar muito em muito tempo. Porque houve lugar para a fa-
diga e ela nos conseguiu tomá-lo; porque houve ensejo para
as decepções e foi-lhes transformado o travo em sabor de
altruísmo.
Certamente não se contam os desenganos pelos dias da
existência; não se mede a felicidade ou a desventura pelo
tamanho da vida. Uma ou outra podem conter-se de tal sorte
em algumas horas em que elas passam a valer séculos. Toda-
via, o normal é que num longo rumo pela terra o Destino
exija do ser humano pesados tributos de dor.
Afonso Costa pagou-lhos, porém garbosamente . Ao fim
da sua extensa caminhada tinha trêmulas as mãos, mas ainda
, firme o espírito . Não se lhe nu 1-)lat"am as alturas para o arro-
jo dos sonhos nem se lhes restringiu o horizonte para a l~-
gueza da atuação. A morte surpreendeu-lhe a mente cheia
de planos, predestinado que era ao perene "Caminha" em
busca do maior, do melhor, sob o "leít-motif" - engrande-
cimento do Brasil pela união das fôrcas da inteligência culta ·
Esta homenagem que está a ;ender-lhe a "Federação
das Academias de Letras do Brasil" é de justiça. E a base
~a justiça é a verdade. Não há plenitude de nobr_ez~ nurn
Julgamento que não se condicione à fidelidade obJetiva · ,
Vamos, pois, trazer Afonso Costa ao tribunal que os pos-
teros levantam para julgar os que não se perderam na con-
(•) N a so1emdade · promovida pela Federação das Aca de mias de
Letras d O B ra·s1·1, em homenagem póstuma, inaugurando-1h 0 retrato
e
em sua sede.

4
fusão estéril dos anônimos e conquistaram o direito de so-
brevivência com os tesouros ajuntados a serviço da Pátria,
da civilização, da humanidade . .
Nascendo nas distantes paragens sertanejas de Ja_c~b1na,
ao noroeste da Bahia, na modesta aldeia de Palme1r1nhas ,
sucedeu-lhe o que tem sucedido a inúme~os gr~nd_es homens:
serem filhos de pequenas cidades. Naquele p~opno es~ado o
supremo cantor das Américas, o bardo genial de Vozes
d'Africa" veio à luz numa poética fazenda, debruada de
montanhas, naquelas serras azuis que màgicamente retra-
tam seus imortais poemas.
Muito mais que honrar-se com o lugar em que se nasceu
é saber honrá-lo . Afonso Costa, que honra a sua aldeiazi-
nha. não teve ali, a alcatifar-lhe o berço, nem sedas nem ar-
. um so, intensos
minhos·' ou a acender-lhe a aspiração de cultura,
esplen-
raios de ciência e arte . O lar paterno posswa
dor; o da virtude de seus Pais - Manuel Gonçalves da Costa
e Dionisia de Almeida Costa, varão e dama dígnos à velha
moda .
O Capitão Manuel Gonçalves, como o chamavam seus
conterrâneos, conferindo-lh e essa patente simbólica por acha-
rem-na adequada, em similitude com a Guarda Nacional,
·então no auge do prestígio, chegou a assentar-se na Câmara
de seu município, como conselheiro. Guardava, porém, a con-
vicção de que cumpria ao homem observar a longíqua sen-
tença divina no paraiso perdido: "Amassarás o pão com
o suor de teu rosto" . E nesta escola de trabalho educava os
filhos, com lições vivas de exemplo, levando-os, sem privá-
los da outra escola - a da instrução, ao mourejar penoso em
semeaduras e colheitas contra as sarças inclementes.
Afonso, entretanto, fôra liberado dessas rudes tarefas
pelos mimos da avó paterna, em cujo regaço adormecia to-
das as noites, embalado a doces acalentos que a veneranda
matrona revocava de ·tempos idos. Talvez por seus estímulos
e sugestões é que se comprouvesse em auxiliar o devotado
pároco, em mistéres litúrgicos, na branca ermida onde o ritual
sagrado tinha a compensar-lh e a singeleza das alfaias e dos
paramentos o fervor e a sinceridade das preces.
E nos brinquedos com a travessa meninada cabia-lhe sem-
pre um pôsto de realce - o presbítero que batizava ou ca-
sava as bonecas, o galã dos teatrinhos familiares . .•
Mas os jogos infantís eram-lhe apenas derivativos do
cansaço pelos aferrados estudos, que a professora Gertrudes

5

Morais dirigia e cuja prematura conclusão anunciou ao p 1.


ª
de Afonso, com surpresa e espant o para t o d os. ''Estava pron-
A

to O aluno", dissera a preceptora . Ensinara-lhe tudo O que


sabia.
Entre as ,atividades profissionais do Capitão Gonçalves
destacava-se a direção de um estabelecimento comercial. E 0
diplomado no curso primário pela palavra da Mestra foi
transferido para a lida mercantil.
Êle aprendera a estudar.
É o essencial para quem tem talento e argúcia.
Agarrado a novos livros, maravilhando-se pelo que 1a
conhecendo a mais no mundo das letras. iniciava a sua car-
reira de auto-didata ...
Há, às vêzes, certo perigo nêsse método de atividade
cultural voluntária. A sistematização dos conhecimentos con-
fiada a guias docentes abalizados é o mais aconselhável, por•
que mais seguro. Contudo, o auto-didatismo tem-nos dado
autênticas notabilidades, bastando lembrar a culminante en-
tre elas - Machado de Assis.
Já não havia para o moço jacobinense interêsse real se-
não na leitura. Lia em todas as horas vagas ou subtraidas
ao encargo de caixeiro, termo substituido por comerciário . ..
Lia a saborear pedras de açucar, num símbolo profético de seu
destino - diluir em doçuras de resignação compreensiva
amargores inevitáveis.
Mudando-se o Pai para a região do Morro do Chapéu,
onde o carbonato e o diamante, em minas então descoberta~,
seduziam os sequiosos de melhor situação financeira, conti-
nuou Afonso como seu auxiliar na casa de negócio•
A êsse tempo tinham começado a revoar-lhe pela men~e
idéias sugeridas pelas páginas perlustradas e com as qµ~s
ia plasmando um mundo que não cabia na r~a_!idade daquele
meio.
Êle mesmo confessa; "Com a pobreza, com a matufice'
com a ignorância, a educação provinda dessas fontes m_e atre:
lou na modéstia, na humanidade, na solidão, que a
cidade gera. Aí aspiração coartada. Os anelos restringidos
~c~Jª
à condicional da possibilidade de obtenção ... " "Ao passar eº~
tempos me veio às mãos à leitura da carta de Pedro Vas ded zªa
m·in h a, primeiro
· · monumento que se construiu · d a . gran e
. . dois
do Brasil· Depois, e por necessidades da vida, v~aJeI que
terços ~u três quartos da Bahia, partindo d~ . aldeia ~~oral.
nasci disposto a versatilidade. Caminha dizia do
6
\
Minhas viagens apanhavam a terra na maravilha de suas ex-
tensões, dos taboleiros, dos rios, das matas, do verde das
caatingas, do céu amplo, dos campos rescendentes. Maravi-
lhei-me ante o Brasil que o escriba da armada portuguesa me
revelara primeiro".
.
Foi ' assim, ao civismo e ao -pendor para a História, que
lhe estremeceu veementemente o espírito e se lhe refizeram
as energias para o vôo em certa fase sentido impassível. -
"Nem lances para altitudes, para amplidões, porque adiante
. . ,,
ou acima era o vas10 . .
Bendito engano, felizmente por êle mesmo reconhecido
naquela carta íntima a um irmão, e que surdiu agora da
secreta intimidade por direito de devassa dos segredos dos
mortos quando o intuito é exaltar-lhes a memória: "Nunca
passei dias tão grandes na minha vida, presidindo, na Ca-
pital da República; sessão para doutos e sábios, eu, filho, de
Palmeirinhas . Se meu Pai visse isso, choraria".
Mas voltemos ao Afonso de 16 anos, idade assinalada
pelo atear de dois lumes: o do amor e o do espírito associa-
tivo. A solidão da alma bastara-lhe para vislumbrar a beleza
da vida através da ciência e da arte; carecia agora de enri-
quecer o cérebro pela permuta de idéias e o coração pela
troca de enlevos.
O grupo foi sempre o refúgio dos idealistas cônscios da
fragilidade do indivíduo e da fortaleza das energias con-
jugadas.
No Ventura, arraial do município de Morro do Chapéu,
encontrou Afonso Costa os primeiros companheiros de men-
talidade semelhante - Minervino Porto, Miguel Ribeiro -
Aloisio Pinto. . . e com êles formou o que se poderia ~ha-
mar sua primeira associação cultural, numa expansão de
concepções, de pontos de vista acêrca de assuntos literários
de projetos intelectuais . . . Com êles entretinha-se a compôr e'
decifrar charadas, sua distração predileta até a velhice,
quando ainda se deleitava com boa música, detestando a tele-
visão pela trivialidade da mór parte dos programas.
Também no Ventura, e por aquela mesma época, co-
nheceu uma linda morena, que no profundo mistério dos
olhos negros, logo lhe tangeu nalma a corda sonora do emo-
tivo, despertando-lhe a primeira paixão.
Primeiro amor. . . primeiros versos .
Sendo a poesia a mais eloquente expressão das emoções,
não poderia deixar de ser a mais bela linguagem do amor.
7
Todos os sentim entos huma no~ teem ~brad o em forma
poe't·1ca.• de um arrulh o a uma unpre • caçao ; de máguas a
revolt as ;de uma queix a a uma vinga nça; d e um gemido a
um desespêro . ..
E todos nós, ao menos na fase dos transb ordam entos
emocionais temos sido poeta s ...
Os ho~en s de mais rígida auster idade deixa ram atrás
de si algum lampe jo dêsses . Muita s vêzes , porém , ~ão o 9ue-
rem revivi do ante alheio s olhos por um pudor irrazoavel,
pois não é a sabed oria por si só que distin gue o ser humano
do irracio nal, mas a sensib ilidad e estétic a, criado ra ou con-
templa tiva. e a capac idade amoro sa por que se chega a uma
como infânc ia espiri tual, no sentid o da simpl icidad e e da
sincer idade. Ruy, por exemp lo, que não admit ia se lhe des-
velassem os poema s da juven tude, não fêz mais do que trans-
ferir para prosa poétic a os encan tos e ternu ras para com a
sua Maria Augus ta, a quem sempr e consa grou amor sem
vacilações ao longo de quare nta anos .
Não é realm ente um canto de poesia , apena s 1)-ão metri-
ficada, aquêle ato de ação de graça s ao Senho r, em que a
chama de_ "Vida da minha vida, alma de minha alma, flor
sempr e viva de vossa bonda de em meu lar"?
_Entre~ant~ os versos de Afons o Costa , os prime iros dos
quais os 1nsp1rou Presc iliana Silva Reis sua amad a sua es-
pôs~. _contando êle 17 anos, ningu ém os' encon trou. Nem sua
fami~ia, nem os amigo s. Até o livrin ho "Strad ivariu s'' que
contin ha muito s dêles, refug iu a reiter adas busca s. E foi
exat~m ente aquêle prime iro trato com as Musa s que lhe
enseJou ª prime ira corres pondê ncia com um literat o notá-
Tno v·ietra,
· a quem consu ltava sôbre
vel -.f. Dama sce
metr1 1caçao -
a b, - regras de
creveu numa· ditm emf nao -
foram encon trados os que es-
blicados n A1m asa e usao, ao nascim ento de sua filha pu-
0
N- • anaque Popul ar Bahia no.
timo tªeºn.hse1 que algum outro roman ce ou al-um drama in-
a marca
sidade e, de . d0 .ª ':1·dª. ~e Afons o Costa . b Há uma curio- •

que dos ho~~ ! · il. 1nd1scriça ?, acêrc a dêsses assunt os, por-
sentim entais USt res subsis te o encan tamen to de lances
requin tes d~ ~xl-re ~o pelos povos civiliz ados e sensív eis ern
novado dia pore ~~a eza · Assim aquêl e ramo de violeta s re-
da "Pere La Cha{:e,~a campa de Musse t, no sombr io r~ai:ito
de Abela rdo e H .' aqu;la s dosas fresca s atirad os ao Jazigo
que exsurg e o me_1o1sa, seculo s após a tragéd ia medie val de
mulhe r. aior amor a que já fremi u um coraçã o da
8
O e~lace conjugal de Afonso Costa deu-lhe três filhos,
dos quais, como a veneranda consorte, lhe sobrevivem dois.
Corresponder am-lhe às previsões de bom educador, enchen-
do:lhe o coração de felicidades e o espírito de orgulho. E tão
'-:aidosos de ~~m nome, que o adotaram por inteiro como ape-
lido .de familia: Aurora de Afonso Costa, professora e dire-
tora da Escola de Enfermagem_ de Niterói, por ela reogani-
zada~ com a têmpera de serena energia, eficiência realizadora
e tenaz idealismo, preciosa herança paterna; Dr. Flamma-
rion de Afonso Costa, talentoso médico, de merecimento qÚe
os govêrnos brasileiros teem reconhecido, confiando-lhe pos-
tos de direção como o atual - do Departamento Nacional
da Criança, no Ministério da Saúde. Casado com a distinta
Edith Melo Afonso Costa, era em seu lar que fruia o estre-
mecido Pai as encantadoras alegrias de avô.
Com estas notas, além de cumprir um dever de atenção
para com a digníssima Família do nosso homêiiàgeado , obe-
deço-lhe à advertência: "Quem quer que faça ou escreva
biografia, não olvide jamais essa contribuição" (a influência
do lar) "e mnndam gratidão e justiça que a tais estudos se
levem os nomes dos consortes e dos filhos maiores, com a
soma de influência que exerceram, tanto quanto se procede
com os pais dos biografados".
Ao tempo de seu casamento, residia êle em Morro do
~apéu, de onde, mal contidos os desejos de mais largo am-
biente para seus objetivos, já bem delineados, se transportou
para a Capital bahiana.
O de concorrer continuament e para a elevação cultural
do Brasil pela revivescência do passado e união de fôrças
mentai; no presente, levou-o ao Instituto. Geográfico e. His-
tórico da Bahia, primeiro abrigo dos seus ~tento~ e proJetos,
primeira arena para suas lutas, que constituem deveras re-
~hidas lutas as controvérsias históricas. .
A história do Brasil, tão pobre ainda e~ sua quadr~-
existência ante a riqueza dos arquivos em mui-
centena,ria - · da de erros que
tos pontos quase inexplorados, e tao. eiv~lteração de fatos,
exibem os historiadores numa sucessiva . .. , d
alguns dos quais tão gravadosgr~~~;
escolar que custa a quem os
:~:i:t~~~~
-
~~ pril~~t:,
assou' a ser sua mais constante preocupaçao. ~
P "'b li crônicas documentos,
E debruçou-s~ logo so re. . ros, historiógrafo com "As
:ze
0
iniciando a carrerraR dbe' J?es:Ó~~!ªà 1 da Crítica Hodierna".
Minas de Prata de O erio
9
Depois de lida aquela monografia no Instituto Histórico,
apresentou-se ao 4.° Congresso de Geografia, reunido no
Recife em 1914, aproveitando a multidão de congressistas para
lançar a sua semente, a sua maravilhosa semente de con-
gregação das fôrças intelectuais para engrandecimento pátrio.
Os bons fados pareciam tanger Afonso Costa para o
viso de suas aspirações . Aquela ânsia de tornar conhecidos
os nossos valores culturais quer a.e antepassados quer de
contemporâneos, satisfê-la em parte a Editora Maucci, ao
encarregá-lo de reunir em livro por suas produções mais im-
portantes, cem poetas nacionais.
E surgiu o seu Parnaso Brasileiro.
Haveria a imprensa de forçosamente atraí-lo, voz mais
alta de seus clamores e apélos, mostruário mais amplo de
preciosos achados ao constante manuseio de arquivos.
Escreveu certa feita, com ênfase perdoável à mocidade:
"O Jornal é o facho que se põe nos mastaréus subidos para
que se não perca nos baixios e nos arrecifes a frota onde na-
vegam os destinos humanos" .
E não só neles colaborou até os dias extremos, como em
certa época fundou e dirigiu órgãos de imprensa, tais A
BANDEIRA, na cidade do Salvador o COMÉRCIO, em
Ilhéus; a REVISTA NACIONAL, no Rio de Janeiro, onde
também, logo aq chegar, começou a escrever no Jornal do
Comércio, no que prosseguiu até a morte.
Asseverou que "a atuacão evidente e maior da intelec-
tualidade. bahiana se manifesta principalmente por três ra-
mos; partidos como os demais da árvore feliz a cuja sombra
nós colocamos para orgulho de nós mesmos: o jornalismo,
a poesia, as ciências" .
,
. De f~ito, se pensarmos que tivemos lá vultos insupera-
veis de Jornalistas como Satiro Dias Belarmino Barret?,
C ~r.1os R1·b e1ro,
· '
Aurelino Leal, Severino Vieira, Almaq ' u10
Diniz · · ·; poetas como Castro Alves Pethion de Vilar, castr0
Rebelo Junior, Junqueira Freire Carlos Chiacchio, Arth~r
de Sales · · ·; cientistas
· · ' Freire Gonçalo Moniz '
como Oscar
Moniz Sodré, Theodoro Sampaio Teixeir~ de FreitaS, RuY
Barbosa ... ' concordaremos com êle. .
N- h mi-
" . ªº se avendo alteado quanto os colegas daquela. e de
~:ncia: !eve, no · entanto, uma bela e fecunda operosida _
J _rnah s tica, sob princípios que aconselhava com" em preg8
Çao apostolar· "N- .., ·m· na
· . ao compreendo o jornalista senao ass1 . · a
def~a do oprimido, na contribuição da obra marav1lh0S
10
que é a grandeza da sociedade, no levantamento de quantos
decadentes por aí em fora andam à mingua de quem lhes
atire a corda para a salvação".
É, com efeito, um excelente e útil trabalho seu "O Jor-
nalismo e a Missão SÓcial". Pudesse ser escutado e se-
guido sempre o seu apêlo: "Não vos deixeis embair nem vos
mistureis com os mercadores"! ...
Vinha-lhe da adolescência o gôsto pela literatura e tor-
nara-se-lhe permanente o anseio de soerguimento social pela
confraternização dos homens de letras.
Convencera-se de que a ninguém é dado fazer tudo numa
grande obra, além do mais, porque êsse tudo tem plastici-
dade interminável até para as gerações. Quando elas pen-
sam ir atingí-lo, êle se alarga, mostrando-se inacabado, pela
própria característica essencial da perfeição, a que se vai. ..
por um caminho infinito.
Não pusera ainda e não poria nunca Afonso Costa o
alvo de suas aspirações num mandato político, numa cadeira
parlamentar, de desvanescetites posições ou despreocupan-
tes proventos para atender à sua subsistência e à da família.
Como profissão remunerada pleiteara tão somente um cargo
de funcionário público, a princípio na Secretaria de Agri-
cultura, da Bahia, depois no Ministério da Agricultura, de
onde passou para o da Educação, aposentand·o-se como Che-
fe da Contabilidade.
O mandato e a cadeira que o atraiam eram ambos das
letras.
Já se ia impondo à admiração como historiador e jorna-
lista, através do que se lhe manifestavam os dotes literários.
A Academia de Letras da Bahia, onde oficiavam pontífices
da cultura, empolgou-o. Não estava no lema da portentosa
agremiação, a sua divisa também, a síntese de suas ambições
idealistas, "Servir à Pátria honrando as letras?"
E ali ingressou, sucedendo ao sábio Pacífico ~er~ira, pa-
trocinado pelo insígne irmão deste: . Man'!el_ Vitorino, em
cujas solenes comemorações centenarias foi hdo o seu pre-
cioso estudo bio-bibliográfico, última colabo~ação sua na Re-
0
vista daquela Associação, onde ~!nha.. escre':'e~do ,d~sde o 2.
número. Para ela organizou o Escorço Biohter~r~o de Pa-
tronos e Acadêmicos", entre os quais o de Gr~gorio de Ma-
tos o famoso satírico 1 o temível "Boca do Inferno", que,
qu~se ao agonizar, postos os olhos num crucifixo, entoou o
11
seu can to de cis né na qu ele cél eb
re son eto , com ov ida expres-
são da con ver são de um ím pio :

"M eu De us, qu e est ais pe nd en te


de um ma dei ro,
Em cu ja fé pro tes to de viv er;
E em cu ja san ta lei he i de mo rre
r.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...
. ... ... ... ... .. .
Ao jui zo crí tic o do seu pat roc ina
fila va fel e ba ba no jen ta, com o dil do aca dêm ico , êle "des-
uia bál sam os suavizadores
e ma gn ífic as do çur as, qu e for am
a con f~m açã o eloquente
de sua gra nd eza mo ral e de su a
ins pir açã o adm irá vel . Em
Gr ego rio est ava a arm a im pie do sa
do sag itá rio , como o liris-
mo cri sta lin o e del ici oso " .
En tra ra Af ons o Co sta na fas e int
vas to dom íni o da Hi stó ria , po r êle en sa de pes qui sas no
art e qu e, ten do as sua s bas es no con sid era da "ci ênc ia ou
pas sad o, rea liz a o grandioso
bb jet ivo de pre pa rar o fut uro ".
De
ção aos ens aio s bio grá fic os e gen dic ou -se aí com predile-
eal
dis far çàv elm ent e, à evo caç ão da qu óg ico s, pre ten den do i.B-
ela s vir tud es vir ís de emi-
ne nte s bra sile iro s, con sum ar ob
Plu tar co . ra ed uc ati va à mo da de
E não . se lhe de tev e ma is, nu nc
a ma is, a fai na investi-
gad ora em bib lio tec as, arq uiv os,
alf arr abi os; em inquéritos
a tes tem un has sob rev ive nte s a fat
os ma l ide nti fic ado s, ou
des con hec ido s, tão con víc to da pri
mo rdi al con diç ão de ho-
nes tid ade , qu ão seq uio so de de sve
cob ert as. nd ar dú vid as e faz er des-
,. Po r ma~ _seg ura con cep ção pe cu
md ole enf at1 ca, dep ara m- se- lhe s lia r a cer tos jovens d~
pec adi lho s gon gór ico s, emr
prê go de arc ais mo s arr og ant es, qu
e em tod o o caso irritam
me no s qu e os neo log ism os gro sse iro
s ou rid ícu los .
Af ons o Co sta pec ou seu tan to ou
com aqu ela s "di stâ nci as azi nit ais '' qu an to nês se ponto
ou aqu êle s "m eus senho-
res,_ qu e me faz eis a gra ça da ou vid
mu ito a per cep ção do est ilo ade qu a" .. . Ma s não lhe ta rt;
ado aos seu s gên ero s d
tos · Ali ás, me sm o ao iní cio da
car
en co ntr ar ne le tre cho s be m bo rei ra de esc rito r, pode-se
nu ga s. nit os, dep ura do s daquelas
Eis um dêl es: "V enh o de lon ge, sen
ourela_s alt ero sas dos est irõ es líq ho res de lá do nde as
ve rde , d d uid os se 'en gri nal dal ll de
on e a esp ess ura art íst ica me nte
abr e, po r ma io, as caç ou las pu rif urd ida d as catingas
ica do ras de seu s mágicos
12
. · t e
perf ume s· don de o buc o1ism o 1nocen e . são dos, tabadréus
patr icio s tem a alm a da filosofia dos feliz es;
de la, ,. don e 0
avanco de novos feitos vai pen etra ndo com o um
rebo o que 0
éco ;e enca rreg asse de repe tir" .
A forma, o "Vaso de ouro " de. Ana tol~ , que "pre serv a o
pen sam ento e lhe leva a essê ncia a _posteridade insp irou a
,
algu ém essa lind a e pon dero sa asse rtiv a:

"La forme, oh gran d scul pteu r, c'es t tout et ce


,?'~ st rien ;
C'est tout avec l'esp rit; et ce n'es t rien sans 11d
ee.
. A de Afonso Costa, se mui· tas veze" s nao
- f 01·
o "vas o de
·ouro", em tôdas elas conteve o ouro da idéi a.
Um de seus prim eiro s trab alho s, sôbr e um
tem ~ que
tant o hav ia fertilizado a imaginação pop ular
e sug erid o a
escritores afirmações desbordantes como a daq uêle
que acre -
dita va "ser em os tesouros de .Bel chio t tão gran
des, mag ni-
ficos e inexauriveis como as min as de Salo mão
", apre sent a-
do ao 4.º Congresso de Geografia reun ido em
Pern amb uco ,
obteve honroso pare cer de uma das comissões,
a 12.0 , lend o-
se-lhe, por mostra: "Sem embargo do prof erid o,
(lev es re-
paros à "linguagem castigada e um tant o imp rópr
ia de cer-
tos tópicos) a memória do Sr. Afonso Cos ta mer
ece ser estu -
dad a - "As Minas de Pra ta de Roberio Dia s à
Luz da Crí-
tica Hodierna", tão límpida e pate nte surd e a
verd ade do
fato nela documentado , tão maj esto sam ente se
reve la a in-
defessa atividade do jovem bele trist a".
Referiu-se-lhe tam bém Rocha Pombo em têrm os
de lou-
vor, de que destacamos: "As investigações do meu
con frad e
e amigo Sr• Afonso Costa, feitas agor a com tant
o esfôrço e
paciência, seguro critério e verd adei ro tale nto; veem
pôr em
plena luz as minas de prat a de Roberio Dia s".
E
ante: "Mas êsse esfôrço do Sr. Afonso Costa, por mai s ade-
mai s va--
lioso que seja o de todos os que o prec eder am, que
r
me que é decisivo, pois não deixa mais dúv ida algu pare cer-
à existência e os feitos do lengendário sert anej
ma qua nto.
o".
Ess_a ânsi~ de averiguação de fatos ~ valoriza
mens, impuls10nadora da capacidade de trab alho ção de ho-
· que não
lhe esmoreceu nunca, abrira-lhe as port as do Inst
ituto Geo-
gráf~co_ e Hi~tór_ico da ~ahia, suntuoso relicário
de
brasileiras, viveiro de sabios, a cuja fren te pair trad içõe s
a
e?'celsa de Theodoro Sampaio. E mais tard e, por a figu ra
tico augusto do Inst ituto· Histórico e Geográfico sob o pór-
Brasileiro,

13
ali ingressou com o direito do_ real v?~mento, julgado ~r
duas comissões - a de admissao de soc10s e a de Geografia.
Aí vai o término do longo parecer desta última, com justifi-
cativas da razão preferencial na escolha entre os vários can-
didatos: " ... Aceitando atualmente a Revista trabalhos que
corroborem para a sua notoriedade, aquêle que apresenta o
Sr. Afonso Costa está no caso de indicá-lo para preencher
uma das vagas existentes de sócio efetivo" (Assinados -
- Basílio de Magalhães, Leopoldo Antonio Feijó Bittencourth,
Herbert Canabarro Reichard).
Aquêle tempo já o dicionário bio-bibliográfico de J. F.
Velho Sobrinho o havia incluído entre os autores de obras
valiosas.
Quase tão importante quanto fazer grandes cousas é di-
vulgá-las . Os artistas, os cientistas, não ficariam imortali-
zados sem o desvêlo dos que lhes conservasse as obras primas
ou lhes revivesse as teorias, mesmo readaptadas ou substi-
tuidas, mas em sua época preciosas, ao menos como passos da
progressiva alteração da ciência humana.
Afonso Costa, enaltecendo a outrem, enaltecia-se a si
mesmo. É bem farto o cabedal que amealhou para o renome
de tantos brasileiros. E com êle conquistou seu próprio
renome.
Além das produções citadas, deixou: "A sombra da Arte
e à Luz da História", "As Orfãs da Rainha" "O Morgado de
Santa Bárbara", "Minha Terra (Jacobina de Antanho e de
agora)", "Almachio Diniz em seu decênio Literário", "Ferrei-
ra França, Através da Política e da Anedota" «Bahianos
de Antanho", "O Catálogo de J aboatão" "Poet~s de Outro
Sexo" ... ,
Inverti propositadamente a ordem cronológica de sua
entrada no Instituto Histórico Brasileiro e na Academia Ca-
rioca de ~~tras, pa,r~ assinalar-lhe a magnitude da atuação
neste egreg10 sodalic10, a que hoje tanto me honro de per-
tencer como sócia correspondente.
Beirava-lhe, por certo, Afonso Costa uma das poltronas
desd~ quE: se tornara frequentador daquelas sessões públicas,
seguidas a trans~ormação por que passara . (Era anterior-
men~e a A<:,aderrua Pedro II) . Abertas as inscrições para a
cadeira entao sob o patrocínio de Gregório de Matos, ins-
creveu-se e elegeram-no. ·
Estava recente a publicação de "Poetas de Outro Sexo''
de tanto êxito. Não se lhe menospreze O cuidado criterioso
14
que lhe redoirava o mer~imento de historiador, genealo-
gista, crítico, por não esquecer, ao exaltar brilhantes figuras
intelectuais masculinas, as da outra metade humana, até
então despretigiada pelos homens sem superioridade jul-
gadora, afeitos a uma esgarçada venda de Themis. :tles não
reconheciam valor feminino senão nas virtudes domésticas
ou nos encantos da beleza, cujo cetro o tempo arrebata,
pressuroso e inexorável, indiferente a galanteios primorosos,
mesuras cavalheirescas, madrigais envaidecedones. . . Com
êles, e sem os homens de talento, caráter e justiça, a mulher
continuaria nos harens e gineceus.
Pertencia Afonso Costa a essa nobre grei. Na sua deli-
ciosa tortura de rebuscar valores mentais, pouco lhe impor-
tava a indumentária; importava-lhe o espírito.
No estudo dos vultos dignificantes do seu torrão natal
não olvidou aquela professora, cujos pais, numa excêntrica
vaidade, não permitiram o acréscimo do nome de família ao
de batismo - Maria da Glória . Dela disse Afonso Costa:
"A glória que tivera no nome de batismo é a mesma que
através do século lhe aureola a fama e lhe consagra a me-
mória como o espírito feminino de mais luz da Jacobina" .
Em "Bahianos de Antanho" estão Catharina Alvares e
Francisca de Sande. No "Parnaso Brasileiro", - Francisca
Julia, Ibrantina Cardona, Gilka Machado ... ; e em "Poetas
do Outro Sexo", poetisas bahianas, desde a primeira mulher
que compôs e publicou versos na província - Ildefonsa
Laura Cesar, e Adelia Fonseca, a "Safo brasileira", na ex-
pressão de Gonçalves Dias, até Hildeth Favila, a mais nova .
ao tempo em que lhes enfeixou os nomes e os poemas em
alentado volume.
Sua entrada na Academia Carioca, fê-la com a mono-
grafia sôbre Gregório de Matos. Mas ao resolverem ali, com
a reorganização, du a tôdas as cadeiras patronos guanaba-
renses escolheu para a sua Quintino Bocayuva, cuja vida
pôs n~ merecido relêvo em um dos seus melhores ensaios.
Não se lhe resumiria a essas páginas a colaboração de-
votada à ·nova atividade intelectual. Eleito tesoureiro em
1934 substituindo o renunciante po cargo:, acadêmico Ja-
ques Raimundo, tais lhe foram os efeitos da inquietud~ rea-
lizadora, da insatisfação com o que ia obten~o, a~pu-ando
gradativamente a mais, a melhor, como todo .º idealista ~ue
corre deveras para a perfeição, sempre arredia, sempre ina-
tingível. .. que logo em 1935 seus eminentes pares o levaram
15
à presidencia. Ouçamos Modesto de Abreu, ~om autoridade
incontestável, além de tudo mais, por haver sido confrade de
Afonso Costa: "Não era dos que gostavam de travar debates
ou realizar palestras ou conferências, . mas estava sempr~
atento ao registro dos grandes acontecimentos_ da vida lit:rá-
rin e apresentava sempre concisas mas preciosas ~of?,un1ca-
ções, projetos ou indicações, oralmente ou por escrito .
Mal se empossou apareceu o primeiro número das "Pu-
bltcações" que organizara na presidência Modesto. de Abreu.
E depois veio a série de "Cadernos", onde se publicavam as
atividades acadêmicas e orações dos recibos em solenidades.
Elevou o quadro social efetivo, dos 30 membros que o cons-
tituiam, para os 40 da generalidade de tais grêmios. E naque-
la insaciável sêde de expansão e confraternização intelectual,
aquêle anseio congênito, invencível, inarredável, de gregaris-
mo universal no mundo das letras, digamo-lo assim. levaram-
no a uma inexcedível operosidade eficiente, estabelecendo in
tercâmbio entre academias estaduais, espalhando sócios cor-
respqndentes por todo o país e pelo estranjeiro, distendendo
enfim, o conhecimento da Academia Carioca no continente
sul-americano.
Ia o século XX em sua segunda década e iá êle aclamava
com a alma incande~id~ de sua aspiração maior, apoiada a
palavra em sua convicçao mais firme: "Esse desconhecimento
de n~s mesmos se acabe; a distância da separação de nossas
relaçoes se encurte e ~e anule com o intercâmbio dos literatos
e int_electuais que hão de ~er a base e a fôrça do nosso pro-
gr~dimento moral e da nossa grandeza na sociedade brasi-
leira".
~nda: "O modêlo da f;deração da inteligência. senão
par~icul~rmente _?as letras,. e a propria federação política do
r~g1me, a qual nao deve..m ~r as cousas que se atiram qo des-
virtuamento de sua essencia, de sua substância".
Passavam os anos; encanecia-lhe a fronte· h -
se-lhe as dificuldades. , superpun am
E era-lhe a mesma voz oracular.
Enfim! ...
Reune-se o "1°. Congresso de Academi·a d L t I •
· ., · f
te1ectu.a1s , CUJO austo e utilidade proclam
s e ' e ras'd e ·n
· d · am, a evi enc1a,
seus an,a~s em ois grossos volumes, com a fôrca invencível
das legitimas provas documentárias. ~
Uma das teses de Afonso Costa A Fed - d A a
demias de Letras do Brasil. - eraçao as e -
16
Claro que aprova da pelo memor ável conclav e . ..
E com um grupo de acadêm icos, num pequen o mas con-
digno apartam ento do Edifici o Rex, à Cinelan dia, instala a
associa ção de sua remota idéia, de seu longo sonho, de seu
nobre ideal.
Não fôra um visioná rio; fôra um vidente . Não tivera fa-
natismo ; tivera fé.
E a fé salvou- o ...
Sem vaidad e, embria gado pela ventur a da realizaç ão, re-
cusa a presidê ncia do grêmio insígne , preferi ndo-lhe a secre-
taria geral, no d2sfgn.:o de atuação mais intensa e desejo de
vitória s mais rápidas .
Vieram elas.
Aqui está a nossa FEDERAÇÃO, garbos a nos seus qua-
tro lustros de labor contínu o, de subseq uentes lutas e digni-
ficante s troféus , porque obtidos pelas únicas armas irrestri -
tament e dígnas - as da inteligê ncia guiada pela consciê ncia.
Agrupa mento cultura l mais interes sante •e mais benefi-
ciente do Brasil, hão de multipl icar-se -lhe êsses vinte anos
de esplend or.
Bendito pouso onde os intelec tuais do país, vindos de
qualqu er banda, das impone ntes ·selvas amazôn icas ou das
suaves cochilh as sul-riog randen ses, do li~oral ou do centro
de s1;1ntuosos ou modest os templo s do saber, encoJ?.tram, numa
soh~1.ta e cordial acolhid a, a satisfaç ão ao pendor gregári o do
esp~1to inexist ente apenas na estulta indepe11-dência dos
ego1stas ou na triste miséria dos insensí veis.
Aqui não se disting uem raças nem classes; não se inda-
ga?1. crenças religios as, partido s político s, ideolog ias sociais
exigind o-se apenas que ningue m com qualqu er dêles pertur-
be a observ ância dos princíp ios de Moral e de Direito que
assegu ram a dignida de dos grupos human os.
Aqui recolhe m-se e distribu em-se tesouro s cultura is; tro-
ca~-se sugestõ es; aperfei çoam-s e planos; cultua- se o passado ;
e sbmula- se o present e; e, além de tudo, permut am-se afetos.
Na modést ia dêste recinto há galas maravi lhantes à bei-
ra do seu f0go sagrado , a razão de honros amente , desva-
necente mente chamar em-me a oficiar neste rito de saudad e
e consagr ação'.
A Bahia, de que guarda m todos os brasilei ros ao menos
~a gota de sangue e uma faúlha de espírito , estando preso,
P~1~, por essa gênese biológi ca e psíquic a, o Brasil à Bahia,
nao chora aquêle morto; dele se orgulha .
17
Daquele grande morto. . . b t d
- , , ter grandes valores, mas, so re u o,
~er gr~n-~e n~s ev!fores dá-os Deus ao homem; os mé-
~an e~ mer1 ohs. do q~e Deus lhe dá.
ritos tira-os o ornem , ·t
'Afonso Cost a t·irou dos valores recebidos
, tantos , li dos
meri
. , melhor se aplicaria a parabola evange ca o
qu: adn1nguet~da· "tão pequenino cresceu e se fêz árvore
grao e mos a • ' mos"
a ponto de as aves do céu aninharem-se em s~us ra .
Sem um atestado de curso secundário, seq~er,.. co_m os
parcos recursos de uma instrução elementar na 1!1-fancia, ~~­
nejou sózinho os dons da inteligência para com eles adquirir
cultura, e com a cultura tanto enaltecer seu povo.
Filho de Jacobina, título que não admitia lhe esqueces-
sem,, atingiu a presidência de uma dou~a Acade~a . de Le-
tras - a Academia Carioca - na metropole brasileira, que
acaba de ajustar-lhe o nome a uma de suas ruas. Após ter
vindo de outro esplêndido sodalício - a Academia de Letras
da Bahia - foi seu secretário geral, por obstinar-se em não
ser presidente, também. desta majestosa Federação das Aca-
demias a~ Letras do Brasil, que fundara. Foi ainda membro
efetivo da Sociedade Brasileira de Geografia; da "Societé
Academique d'Histoire Internationale" (Paris); do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, do Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, da Sociedade de Genealogia da Bahia e
membro correspondente do Instituto Histórico de Sergipe.
As últimas horas do ano de 1955 desceu as pálpebras,
para não mais erguê-las, ancião de perene juventude espiri-
tual.
P~ecia desafiar o tempo em seu poder destruidor de
ene~gias. Me~mo ~ºT ~ corpo já ,um ta~to pendido ao rigor
da idade e a res1stenc1a da molestia, teimosamente manteve
o seu velho hábito de ir êle mesmo manhã cedo ainda, até
quando O sol não lograva atravessar' as brumas da invernia,
aconchegado em agazalhos contra O frio e contra a chuva,
comprar _os jornais, cuja leitura não. dispensava. Eram vãs as
ob~ervaçoes em contrário, e recusados os préstimos de quem
qu1zesse de tal modo servir-lhe.
Quanto mais lhe avançava a ancianidade mais corria
para os ~oços, fazendo-lhes preleções e apêlos, ' sendo de mui-
tos ag~a:1ado com o título de professor.
D1sc1pulos ...
Ensin~va-lhes, em verdade, o segredo da perseverança
nos bons intentos e da ventura nos bons triunfos ...
18
-
Seu próxim o trabalh o seria sôbre os suicida s célebre s
cujos nomes e dados andava a colecio nar, já havend o escrito
o comen tário que o preced eria.
A vida, afinal de contas, não vale senão para encher- mo-la
de atos que possam dar direito à .hmortalidade. Curtos ou
longos, os dias do homem na terra teem fim. E o que finda
não tem valime nto senão pela ressonâ ncia que deixa.
Daí a sobrex celênci a da memór ia.
Que import a ronde a morte no seu perman ente ofício de
relemb rar-nos a lúgubr e advertê ncia:"M emento homo quia
pulvis es" se a recorda ção opera milagre s de continu o ressurg i-
mento? ·
Como asserto u Maeter linck: "Os mortos são vivos que
não vemos mais".
A Afonso Costa não veremo s mais, realme nte; mas es-
tará vivo sempre para nós, não apenas no simbolismo da pre-
sença por sua fotografia, como a que aqui se inaugu ra hoje,
senão, e sobretu do, pelas dádivas preciosíssimas de seu espí-
rito e de seu coração aos brasilei ros, entre as quais há de
subsist ir gloriosa, magníf ica, soberan a. a FEDERAÇÃO DAS
ACAD EMIAS DE LETRAS DO BRASIL.

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