Mechanical Engineering">
De Combustão Interna: Jorge Martins
De Combustão Interna: Jorge Martins
De Combustão Interna: Jorge Martins
de Combustão Interna
Jorge Martins
QUINTA EDIÇÃO
Revista e aumentada
V
Prefácio
Este livro é a primeira obra extensa em língua portuguesa sobre motores de combustão
interna, nomeadamente os de tração automóvel. Embora tenha sido escrito como um ele-
mento de estudo para alunos universitários de engenharia mecânica, pretende também
ser uma obra de referência para mecânicos, engenheiros ou aficionados por automóveis
e/ou motores.
Está dividido em 11 capítulos, incluindo a descrição de motores e a história da sua evolução até
aos nossos dias. Contém aspetos mais teóricos como a análise de ciclos e mais práticos, como
o teste de motores. Nele, o interessado poderá analisar o desempenho dos motores, prever as
suas características e obter a informação necessária para os modelar e projetar. Por exemplo,
o Capítulo 10 inclui as equações necessárias para projetar um escape “de rendimento” para
motores a 2 tempos.
Esta obra integra assuntos não habituais em livros deste género. Nela pode encontrar-se
uma descrição aprofundada sobre combustíveis, incluindo os usados pelos “dragsters top
fuel” (nitro metano), o “aumentador de potência” N2O (que não é um combustível mas sim
um oxidante), combustíveis menos correntes como o hidrogénio, os álcoois e os éteres.
Nesse capítulo referem-se ainda os conhecidos biodiesel (ésteres) e a forma como são
produzidos, além de se descreverem os óleos lubrificantes, incluindo os sintéticos. Ou-
tros assuntos pouco frequentes neste tipo de obras passam pela descrição e projeto de
salas de teste de motores, análise da variabilidade da combustão, descrição dos sistemas
OBD, estudo minucioso do motor analisando o seu funcionamento por não menos que oito
diferentes rendimentos, não incluindo as cinco relações (eficiências e rendimentos)
apresentadas para estudar a lavagem dos motores a 2 tempos. Para além da parte emi-
nentemente teórica desta obra (que inclui a avaliação dos ciclos em carga parcial) ,
sobressai o Capítulo 5 (com uma centena de páginas) dedicado à descrição exaustiva dos
VI MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
Um dos aspetos importantes nos motores atuais é a sua potencialidade de produzir poucos
poluentes, podendo-se afirmar que esta é uma das suas características mais importantes. Por
esta razão, há um capítulo somente dedicado à produção e eliminação de poluentes nos motores.
Para se conseguirem os baixíssimos níveis de emissão de poluentes, os motores necessitam de
ser controlados por sofisticados sistemas eletrónicos, funcionamento que é descrito no texto.
Atualmente assiste-se a uma grande evolução nos motores, da qual os novos sistemas de
“common-rail” nos motores Diesel e de injeção direta nos a gasolina são o resultado visível. Po-
rém, outros progressos mais radicais estão a ser desenvolvidos, provavelmente levando a tipos
de motores de combustão “híbrida” entre os que consomem gasolina e gasóleo. Estes tipos de
combustão têm várias denominações, mas são geralmente conhecidos por CAI (Controlled Auto
Ignition) e por HCCI (Homogeneous Charge Compression Ignition), assunto exposto no Cap.8,
e que se prevê seja determinante no futuro dos motores.
Os motores de combustão interna são máquinas intensamente usadas no mundo, sendo, simul-
taneamente, uma fonte de satisfação mas também de problemas como os ambientais. Assim,
espera-se que a leitura desta obra possa levar ao melhor conhecimento e utilização destas má-
quinas admiráveis.
Guimarães, 2004.10.02
IX
No seguimento de uma melhoria contínua deste livro, o autor apresenta a 5ª edição com as atu-
alizações necessárias e com melhorias ao texto e aos conteúdos.
Dado que a grande maioria dos motores atuais usa o turbo-compressor, decidiu-se que seria
importante dedicar mais espaço a este importante dispositivo, tal como à injeção direta a gaso-
lina, pela mesma razão. Foram feitas também atualizações de dados e características por toda a
obra, nomeadamente aos motores de competição que recentemente tiveram melhorias impres-
sionantes, nomeadamente os de F1 ao nível do seu rendimento, sendo agora dos motores mais
eficientes que alguma vez existiram, mas também se explica como os motores mais potentes
(dos dragsters) conseguem chegar a essas potências inacreditáveis.
A parte relativa à emissão de poluentes foi também atualizada, como foi a descrição relativa
aos testes de emissões, nomeadamente os relativos a testes em comportamento real de estrada.
Novos tipos de ignição estão a ser desenvolvidos, com promessas de enormes melhorias em
termos de eficiência.
Espera-se que a introdução destes novos temas e o melhoramento dos restantes adaptem da
melhor forma este livro aos interesses dos leitores.
Guimarães, 2016.07.15
XI
Índice
ÍNDICE
Prefácio.......................................................................................................................................................................... V
Agradecimentos......................................................................................................................................................... VII
Prefácio à 5a Edição..................................................................................................................................................... IX
Índice............................................................................................................................................................................. XI
Glossário de Símbolos e Termos...........................................................................................................................XXIII
2.2.1.4. Cilindrada.......................................................................................................................................................29
2.2.1.5. Preparação da mistura ar-gasolina...............................................................................................29
2.2.1.6. Outras áreas de evolução....................................................................................................................30
2.2.1.7. Desenvolvimento dos Range Extenders.....................................................................................30
2.2.2. Motor Diesel.......................................................................................................................................................................32
2.2.2.1. Câmaras de combustão........................................................................................................................32
2.2.2.2. Sistemas de injeção.................................................................................................................................33
2.2.2.3. Catalisadores e filtros de partículas.............................................................................................33
2.2.2.4. Eliminação dos NOx.................................................................................................................................33
2.2.2.5. Outras áreas de evolução....................................................................................................................34
Bibliografia.................................................................................................................................................................481
Índice Remissivo........................................................................................................................................................491
Capítulo 1 › MOTORES – CLASSIFICAÇÃO E PRINCÍPIOS DE FUNCIONAMENTO 11
3º Tempo – Expansão
Idealmente, a combustão dever-se-ia desenrolar a volume constante, no PMS, sendo seguida
pela expansão dos gases a elevada pressão. Na prática, isto não acontece, pois a ignição e a
combustão não são instantâneas. Assim, é necessário fornecer a faísca à vela antes do PMS. O
avanço à ignição (AI) serve para que a combustão da mistura se dê de modo a que a pressão
máxima do ciclo ocorra depois do PMS, de maneira a aumentar a componente de pressão útil (a
pressão exercida sobre o pistão no seu movimento ascendente é contraproducente, pois trava-o).
Interessa também que a combustão se complete o mais rapidamente possível.
4º Tempo – Escape
A abertura da válvula de escape dá-se muito antes do pistão chegar ao PMI. Este avanço à
abertura do escape (AAE) tem a função de permitir que grande parte dos gases queimados se
escapem do cilindro o mais cedo possível, fazendo com que o pistão não encontre muita resistência
durante o curso ascendente de escape e assim não incorra em muitas perdas por bombagem. A
válvula fecha já depois do PMS (atraso ao fecho do escape – RFE), para permitir o lavar completo
da câmara de combustão. Como já foi dito, na altura do fecho da válvula de escape é importante
haver um pico negativo de pressões junto a ela, o que facilita a entrada à mistura.
Os efeitos dinâmicos das colunas gasosas são variáveis com a velocidade do motor, pois as ondas
de pressão viajam a uma velocidade aproximadamente constante (velocidade do som nesse meio),
qualquer que seja a velocidade do motor. As ondas de pressão são originadas pelas aberturas
das válvulas dos diferentes cilindros, movem-se ao longo das condutas com uma certa veloci-
dade, dependente das características do gás, e são refletidas por quaisquer descontinuidades
que existam na conduta, nomeadamente em junções de tubos. Se a velocidade do motor variar,
a fase da onda que chega a determinada válvula também variará.
O rotor tem uma cavidade circular internamente dentada que roda sobre uma roda dentada (RD)
fixa à carcaça, enquanto que o veio de saída (V) apresenta uma excentricidade de modo a que o
movimento do rotor lhe seja transmitido. A geometria é tal que o rotor está sempre engrenado
na roda dentada e os seus 3 vértices estão sempre sobre a carcaça.
O funcionamento deste motor pode ser visto na Fig.1.14. Vamos seguir somente uma das 3 faces
do rotor. Na posição da Fig.1.14-a, o volume (a cinza) entre o rotor e a carcaça aumenta, estando a
janela de admissão aberta, pelo que estamos em presença da fase de admissão. Seguidamente, a
janela é fechada pelo rotor e o volume começa a diminuir na fase de compressão (Fig.1.14-b). Esta
fase dura até que o espaço livre seja o mínimo (equivalente ao PMS num motor alternativo) e,
nessa altura, dá-se a faísca das velas (geralmente não simultâneas) seguida pela fase de expansão
(Fig.1.14-c, -c1). No final da expansão abre-se a janela de escape, por onde os gases queimados
são descarregados durante a fase de escape (Fig.1.14-d).
Enquanto um dos lóbulos do motor faz estas 4 fases, os restantes fazem-nas também (com desfa-
samento), pelo que temos 3 fases motoras para cada rotação do rotor. Reparemos também que,
para cada rotação do rotor, o eixo de saída realiza 3 rotações (o rotor sobe e desce 3 vezes), pelo
que haverá uma fase motora para cada rotação do veio, o que torna este motor semelhante ao
motor a 2 tempos. Na verdade, o motor Wankel é muito suave e isento de vibrações, pois fun-
ciona como um a 2 tempos e não apresenta movimentos alternativos. A sua subida de rotação
é muito rápida, pela razão anterior e porque as peças em movimento têm pouca inércia. Outras
vantagens são a elevada potência (dobro dos motores convencionais com a mesma cilindrada),
elevada velocidade máxima de funcionamento e baixo volume e peso.
– é difícil vedar‑se a câmara de combustão, pois o rotor necessita de segmentos nos seus
vértices e ao longo da periferia dos lóbulos, o que significa 9 zonas de vedação (cada zona
poderá ter um ou mais segmentos);
– as perdas por atrito são elevadas graças ao elevado número de segmentos (embora não
tenha sistema de distribuição);
– existe uma altura em que ambas as janelas estão abertas, o que pode ocasionar um “curto-
circuito” da mistura diretamente para o escape;
– a câmara de combustão não é compacta (é extremamente longa), o que leva a problemas de
combustão (estabilidade de chama, que obriga ao uso de 2 ou mesmo 3 velas) e a grandes
perdas de calor, reduzindo o rendimento;
Capítulo 2 › HISTÓRIA DAS MÁQUINAS TÉRMICAS 23
Tab.2.1 – Comparação entre motor atmosférico (Otto & Langen) e de compressão prévia (Otto)
Beau de Rochas apresentou (em França, em 1862) uma proposta de patente (que não pagou, pelo
que foi invalidada no ano seguinte) onde sugeria 4 pontos para o desenvolvimento do “seu” motor:
Antes da suspensão da patente de Otto, vários construtores adotaram o ciclo de 2 tempos com
compressão prévia, como Dugald Clerk (Escócia), James Robson (Inglaterra) e Karl Benz (Alema-
nha) e mesmo o de 6 tempos, para fugirem aos direitos. Em 1882, Daimler, ligado a Maybach,
cria a sua própria companhia (atualmente a mais antiga na produção de motores), produzindo
motores a 4 tempos extremamente leves para a época, que foram utilizados em motos, automó-
veis, barcos, locomotivas e aviões. Estes motores foram fabricados sob licença em França por
Panhard e Levassor, marcando o início da produção de veículos nesse país.
Porém, o motor anterior mais parecido com o de Otto foi o desenvolvido por Barnett em 1838,
que já possuía compressão prévia, embora fosse de 2 tempos, compreendendo meios-tempos de
admissão, compressão, expansão e escape.
O ciclo dever-se-ia fechar (4-1) por uma retiragem de calor isobárica a pressão atmosférica, mas,
na realidade, o que acontece é a substituição dos gases queimados por ar fresco à mesma pres-
são. Para a realização prática deste ciclo (Fig.3.30) usa-se um compressor (1-2), uma câmara de
combustão (2-3) e uma turbina (3-4).
(3.23)
em que γ é a razão das capacidades calorí- Fig.3.31 – Rendimento do ciclo de turbinas de gás
ficas do gás. (com e sem regeneração)
Capítulo 4 › PARÂMETROS DE FUNCIONAMENTO 75
Num motor real, as maiores perdas são as resultantes dos atritos mecânicos e hidráulicos (bomba-
gem de fluidos, com exceção da admissão). O rendimento mecânico relaciona o trabalho produzido
no interior dos cilindros (calculado pelo diagrama indicado) com o disponível no veio motor.
É possível calcular-se o rendimento mecânico pela medição das perdas por atrito. Tal pode ser
feito diretamente, medindo a potência necessária para rodar um motor a uma dada velocidade,
se dispusermos de um freio dinamométrico elétrico (ver Cap.11.2.3). Uma outra maneira consiste
na inoperação de um cilindro (retirando-se a corrente ao injetor ou à vela�*) e medir-se a diferença
de potência para a mesma velocidade, mantendo-se a posição do acelerador. Ambos os métodos
não são totalmente corretos, pois o atrito pistão-cilindro é maior quando existe combustão, dado
que a pressão sobre o pistão resulta em forças tangenciais derivadas da obliquidade da biela.
Uma metodologia mais correta consiste no cálculo do trabalho do ciclo indicado (inerente menos
bombagem) e na sua comparação com o binário do motor (ver Cap.10.1.7.6).
O produto de todos os rendimentos referidos dá-nos a relação entre o trabalho produzido pelo
motor e a energia do combustível que nele é queimado.
* Em motores dotados de catalisador dever-se-á cortar a injeção, pois quando se corta a ignição a mistura ar-gasolina entra em
reação no catalisador, destruindo-o.
78 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
Para aumentar o binário de um motor dever-se-á aumentar a sua cilindrada ou operar os 4 últimos
pontos apresentados para o aumento de potência. Motores a gasolina sem sobrealimentação com
ηt =0.35 evol =1 e λ=1 conseguirão 100 Nm/Lcil, enquanto que Diesels atmosféricos não passarão dos
70 Nm/Lcil, pois a eficiência volumétrica é mais baixa e trabalham com mais de 25% de excesso
de ar. Mas, nos novos motores Diesel com elevada pressão de admissão e melhores eficiências
volumétricas (4 val/cil), o ρar pode ser cerca de 3 vezes mais elevado, pelo que são possíveis biná-
rios superiores a 200 Nm/ Lcil.
Atualmente é possível desenhar-se o ciclo indicado (mesmo que as velocidades dos motores
sejam muito elevadas) pelo recurso a sensores de pressão colocados no interior do cilindro e de
posição da cambota. Os sinais podem ser apresentados num osciloscópio ou analisados num
computador, no formato apresentado na Fig.4.7. Manuseando-se a informação obtida num ou
em vários ciclos, é possível obterem-se valores que possibilitam a análise do comportamento
do motor, como a seguir se explicará. O diagrama da Fig.4.6 pode ser convertido no da Fig.4.7
por uma simples transformação de coordenadas, conhecendo-se o comprimento da biela (L) e o
raio da cambota (R=D/2), como se pode ver na Fig.4.8.
Fig.4.11 – Curvas características do motor com carburador Fig.4.12 – Curvas características do motor Diesel
Os motores a gasolina de injeção, como não são restringidos pelo “venturi” do carburador,
apresentam o mesmo problema, sendo dotados de limitador de regime, cortando a injeção de
combustível. Um motor a carburador apresenta as características da Fig.4.11, nos quais, não
havendo carga resistente, o motor não excede o ponto D. Isto acontece quando se pressiona
completamente o acelerador em ponto morto (sem binário resistente). Esta situação é, no entanto,
de evitar, pois o ponto de velocidade máxima permitido ao motor (C) foi excedido.
Como a potência é dada pelo produto do binário pela velocidade, a sua forma advirá da do
binário. Durante a fase em que o binário aumenta com as rotações, a curva da potência cresce
rapidamente até ao ponto de binário máximo. A partir daí o seu aumento é originado somente
pelo aumento da velocidade, visto que o binário baixa, atingindo um ponto de máximo. À direi-
84 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
elevadas velocidades de rotação. As elevadas velocidades aumentam as perdas por atrito, limi-
tam o desenvolvimento eficiente da combustão e obrigam a aberturas prematuras da válvula de
escape, reduzindo o curso útil de expansão.
Um destes motores bastante eficientes foi o M119 HL montado num Mercedes-Benz de gru-
po C, que venceu as 24 Horas de Le Mans de 1990 (Fig.4.17). Em qualificação (mistura es-
tequiométrica), o motor debitava 680 kW (912 Cv) às 7 000 rpm, enquanto que em corrida
(mistura pobre), este valor caía para 530 kW (710 Cv), mas com um consumo específico de
260 g/kW·h nessas condições (H ieret et al., 1992)
O desenho do escape (ver Cap.5.4.3.4 e 10.1.8.3) destes motores é fundamental para o seu bom
funcionamento, pois permite que parte dos gases frescos expulsos pelo escape sejam “devolvidos”
ao cilindro, conseguindo-se, nalguns casos, aprisionar mais mistura do que a que teoricamente
lá caberia.
– geométrica
A existência destas duas relações dá motivo a dificuldades na comparação entre motores dife-
rentes, pois os construtores poderão apontar uma ou outra como a “taxa de compressão” do seu
motor. Por esta razão, vemos especificações de taxas de compressão para motores a 2 tempos de
ignição comandada, variando de 6:1 (retida) até 15:1 (geométrica).
O motor a 2 tempos é de análise mais complexa do que o motor a 4 tempos, pois não existe
segregação entre os vários processos do ciclo. Assim, enquanto que no motor a 4 tempos geral-
mente é suficiente apresentar a eficiência volumétrica como medida da eficácia do processo de
lavagem (retiragem dos gases de escape e fornecimento de gases frescos), no motor a 2 tempos
são necessários vários parâmetros (ver na Fig.4.21 o significado da simbologia) (Blair, 1996):
Embora haja muitas variáveis em jogo, ao longo dos anos tem-se visto que a potência dos motores
tem sido proporcional à sua velocidade de rotação (Fig.4.27), ou seja, o produto dos 3 rendimen-
tos pela eficiência volumétrica manteve-se constante. De notar que o motor Mercedes W196
(Fig.4.28), embora usasse combustível sofisticado (uma mistura de álcoois e outros produtos), cai
sobre a linha, mostrando que a sua sofisticação em termos de desenho (provavelmente câmara
de combustão) era inferior à dos motores mais modernos. No entanto, o nitrometano usado no
Vanwall de 1957 fê-lo passar essa linha.
Como se pode verificar, o aumento da velocidade dos motores até 2006 foi quase exponencial, mas
a partir desse ano houve uma limitação de velocidade máxima dos motores, de modo a travar o
escalar dos custos relacionados com o seu desenvolvimento.
Fig.4.28 – Motor do Mercedes W196 Fig.4.29 – Velocidade máxima dos motores ao longo dos anos
Em 30 anos a rotação máxima mais do que duplicou. De notar que as forças de inércia nos
diferentes componentes internos (pistões, bielas, válvulas, etc.) aumentam com o quadrado da
velocidade do motor, pelo que este aumento teve de ser, em parte, conseguido à custa da redução
da massa dos componentes e da amplitude do seu movimento.
Como também se pode ver na mesma tabela, a massa do volante de inércia necessária para que
a velocidade instantânea da cambota não sofra alterações superiores a 10% (ao “ralenti”), pode ser
grandemente reduzida pelo uso de vários cilindros. Um motor a 2 tempos comporta-se como um
de 4 tempos com o dobro dos cilindros, em virtude de ter o dobro dos tempos motores. Por razões
de natureza mecânica (cargas nos apoios), os motores multicilíndricos (com mais de 3 cilindros)
não têm as explosões dos seus cilindros seguidas (1-2-3-...), mas desencontradas. No caso de um
motor de 4 cilindros em linha, a ordem de explosões pode ser 1-3-4-2 (Fig.5.42) ou 1-2-4-3 (pouco
usada), em que os algarismos se referem aos cilindros, sendo o cilindro nº 1 o da frente do motor.
Vistos da frente, praticamente todos os motores rodam no sentido dos ponteiros do relógio. Os
motores de 4 cilindros não podem ser perfeitamente equilibrados, a não ser que os cilindros sejam
opostos. Nos motores de 4 cilindros em linha, embora o movimento dos pistões esteja perfeitamente
balanceado, os movimentos laterais das bielas não. Assim, este tipo de motor necessita de 2 veios
de equilibragem que rodam ao dobro da velocidade da cambota, para ficarem perfeitamente equi-
librados. Motores de 6 cilindros em linha apresentam uma equilibragem perfeita, pelo que são
muito suaves e são escolhidos por construtores de carros de luxo. Se os 6 cilindros se dispuserem
em V (de 60, 90 ou de 120o), apresentam a vantagem do motor ser significativamente mais curto
(podendo-se mesmo colocar transversalmente), mas não podem ser perfeitamente equilibrados e
necessitam de um veio de equilibragem que roda à velocidade da cambota. Os motores de 8 cilindros
em V (com o ângulo entre as 2 linhas de cilindros de 90o) são quase perfeitamente equilibrados (se
a cambota for de 2 planos – Fig.5.43), o que, aliado ao elevado número de cilindros, os torna extre-
mamente suaves, somente ultrapassados em suavidade pelos motores V12 (os Rolls-Royce atuais
usam motores com esta configuração). Correntemente, várias marcas oferecem motores V12 nos
seus topos de gama, tais como Rolls-Royce, Daimler-Chrysler, BMW, Ferrari e Lamborghini. Estes
dois últimos construtores usam-nos, não tanto para garantir suavidade, mas para aproveitarem a
maior potência resultante de um maior número de cilindros (maior área de pistões).
132 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
temperatura da culassa. Este é o único controlo possível neste tipo de arrefecimento, sendo a
temperatura de funcionamento dependente da carga do motor e da temperatura ambiente. Como
a capacidade de transferência de calor é reduzida (bastante inferior à da água), estes motores
trabalham, geralmente, a temperaturas mais elevadas do que os arrefecidos a líquido.
Fig.5.81 – Alhetas num motor arrefecido a ar Fig.5.82 – Corte de motor Porsche arrefecido a ar
Todos os construtores estão a desenvolver (ou já têm) motores de injeção direta, embora o dese-
nho (do pistão, da admissão e da posição do injetor) e funcionamento sejam diferentes de marca
para marca. Um dos problemas é a interação entre o “spray”, as paredes e o fluxo de ar dentro
do motor (como o exposto na Fig.5.128). Alguns construtores optaram por introduzir gases de
escape queimados (em vez de ar) no modo de estratificação, de forma a manter a estequiometria
da mistura em carga parcial e, assim, poderem usar catalisadores de triplo efeito.
Relativamente ao desenho da câmara e localização do injetor, a mistura pode ser “guiada” pelas
paredes do pistão para perto da vela (Fig.5.129) ou usando o fluxo de ar com o mesmo efeito
(Fig.5.130). Na Fig.5.130 usa-se o “tumble” (ver Cap.8.2.1) para direcionar o “spray” para junto da
vela. Num terceiro caso (Fig.5.131), o injetor pode ser orientado de modo a que o “spray” esteja
diretamente direcionado para o local da faísca da vela. Esta poderá ter os polos estendidos para
o centro da câmara de combustão, tal como acontece na figura.
são mais altos e as suas prestações são muitíssimo mais elevadas pelo uso de altas pressões de
admissão (turbo-compressor).
Os grandes motores Diesel (> 500 kW) podem-se dividir em lentos, semi-rápidos e rápidos, de
acordo com as seguintes características:
Estes motores estão também a ter uma evolução significativa em termos de desenho e, princi-
palmente, de sistema de injeção. Tal como nos motores mais pequenos, também nas aplicações
Capítulo 5 › DESCRIÇÃO DOS MOTORES 181
Nas lavagens descritas anteriormente, a entrada e saída dos gases são feitas aproximadamente
à mesma altura, embora a janela de escape tenha sempre de abrir antes da de admissão. Assim,
durante a lavagem, os gases frescos viajam da base para o topo do cilindro, deslocando os quei-
mados para a janela de escape.
Este tipo de lavagem tem a vantagem de permitir lavagens mais eficientes que as anteriores,
principalmente em cilindros altos e estreitos, pois se não houver mistura entre os gases quei-
mados e frescos, a remoção pode ser quase perfeita. Na maioria das vezes, as condutas e janelas
de admissão têm uma inclinação de modo a proporcionarem rotacionalidade, o que, além de au-
mentar a turbulência, melhora a lavagem. A lavagem unidirecional usa-se na quase generalidade
em motores diesel a 2 tempos lentos, apresentando grandes rendimentos térmicos. A lavagem é
conseguida através de compressores exteriores ao motor ou usando turbo-compressores.
Estes motores são diferentes dos existentes nos veículos híbridos, pois nestes o motor é o
elemento que proporciona a tração, sendo o motor/gerador elétrico usado na regeneração de
travagem e para aumentar as prestações do veículo em aceleração.
Os “range extenders” são somente uma parte do veículo elétrico, não estando ligados dire-
tamente às rodas do carro. A sua função é somente produzir eletricidade quando a carga da
bateria estiver abaixo de um valor estipulado. No geral, funcionam a velocidade constante,
pelo que não estão ligados ao acelerador e o seu funcionamento é gerido pelo controlador do
veículo e não pelo condutor.
a) o carro elétrico deverá ser o mais parecido com o carro “normal”, pelo que o “range ex-
tender” deverá ser um motor “normal”, só que ligado a um gerador elétrico;
b) dado que o veículo elétrico é uma viatura extremamente eficiente, então o “range extender”
é desenhado para ser o mais eficiente possível;
c) uma vez que o “range extender” vai trabalhar por períodos curtos e muito poucas vezes,
então a prioridade será dada ao seu peso e compacidade para ser facilmente integrável
no veículo.
A primeira filosofia foi a usada pela GM no seu carro elétrico (o Chevrolet Volt e Opel Ampe-
ra), que se assemelha o mais possível a um carro com tração de motor de combustão interna. O
“range extender” é um motor convencional da GM, com 4 cilindros e 1.4 L, e a sua atuação é em
velocidade e carga variável, função das necessidades de potência do carro. Existe, inclusivamente,
uma ligação “mecânica” entre o “range extender” e as rodas através de um sistema epicicloidal
que liga o motor elétrico ao gerador (do motor de combustão) e às próprias rodas.
No caso b), devem-se usar motores de combustão de ciclo eficiente, tais como motores de ciclo
sobre-expandido ou ciclo de Diesel. Estes motores, dado que trabalharão somente num deter-
minado ponto de velocidade e carga, têm o seu desenho otimizado para essa situação, pelo que
poderão ser mais eficientes que os motores convencionais que funcionam em todo o espetro de
velocidade e carga. Um dos problemas dos motores sobre-expandidos é terem uma potência no-
minal significativamente (1/3) inferior à potência máxima de um motor de igual cilindrada. Este
Capítulo 5 › DESCRIÇÃO DOS MOTORES 219
Tab. 5.3 – Exemplo de valores de emissão de poluentes para motores “fora de estrada”
CO HC NOx HC+NOx PM
(g/kW.h) (g/kW.h) (g/kW.h) (g/kW.h) (g/kW.h)
Cilindrada >225cm 3
519 13.4
Cilindrada <225cm 3
610 10.0
Estados Unidos
nota: Usaram-se dados das Diretivas 2002/88/EC e 2004/26/EC e 40 CFR part 89 (EUA), como simples exemplos. A lista total
encheria folhas de tabelas e texto e pode ser encontrada nas referências CFR (2012) e EC (2002)
O objetivo deste livro é o estudo dos motores alternativos de pistão. No entanto, dado que as
turbinas (de gás) estão a ser usadas em inúmeras aplicações e com eficiências cada vez mais
elevadas, faz-se aqui uma apresentação geral desse tipo de motores de combustão interna.
Como será discutido mais à frente, existem diversos desenhos de turbinas e foguetes. Enquanto
que as turbinas (de gás) podem ser usadas aproveitando a energia mecânica (rotação do veio)
ou usando o seu impulso para locomoção, no caso dos foguetes somente o impulso pode ser
aproveitado. É necessário apresentar aqui uma nota relativamente à nomenclatura. Por foguete
considera-se a máquina motora que não usa o ar ambiente para a sua combustão, pelo que terá de
ter combustível+comburente. As restantes máquinas (usando o ar ambiente para a combustão)
são aqui denominadas turbinas. No entanto, a turbina é um componente da “turbina de gás”,
pois, como se verá mais à frente, tem outros componentes como um compressor e uma câmara
de combustão.
222 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
Os valores de impulso específico têm como unidade o segundo e têm significado físico. Se o
impulso do motor for o do peso do seu combustível, o motor funcionará durante esse valor do
Impulso Específico em segundos. O gráfico da Fig.5.249 refere-se a combustível de jato (“jet
fuel” ou querosene). Outros combustíveis resultarão noutro gráfico.
Como atrás se disse, a energia fornecida pelas turbinas pode ser aproveitada como energia mecâ-
nica de rotação do seu veio, o que não é possível nos foguetes. As turbinas com veio de potência
usam-se na aeronáutica (aviões e helicópteros) e na produção de eletricidade, mas cada vez mais
se usam mini e microturbinas noutras aplicações, tais como em sistemas de cogeração. No
caso destas turbinas (não de reação), o uso de regeneração é bastante eficaz, pois o rendimento
aumenta significativamente. Na regeneração, parte da entalpia dos gases de escape é fornecida
aos gases de entrada após a sua compressão, reduzindo a quantidade de calor fornecida.
As turbinas de gás podem ser de reação (a jato) ou de produção de potência, através de um veio.
Na sua aplicação, podem ser aeronáuticas ou turbo-geradores, as primeiras para propulsão de
aviões (a jato ou por hélice, incluindo helicópteros) e as últimas para produção de eletricidade
ou, eventualmente, para locomoção (navios, comboios e mesmo carros). A Fig.5.250 representa
uma turbina a jato. Nesta pode-se ver o compressor (com 6 andares de compressão), a câmara
de combustão, a turbina (com 2 andares de expansão e a tubeira de descarga com injeção de
combustível para pós-combustão (“afterburner”). Os vários andares de compressão e expan-
são são formados por pares de pás fixas (ligadas ao estator) e móveis (ligadas ao veio que liga o
compressor à turbina).
Capítulo 5 › DESCRIÇÃO DOS MOTORES 225
Fig .5.254 – Relação potência mecânica/térmica Fig.5.255 – Turbina Siemens, com 17 andares
para diferentes tipos de cogeração de compressão e 4 de expansão. Por baixo,
podem-se ver as pás fixas do estator.
A turbina poderá ser usada somente para produzir a potência necessária para o compressor, o
que é o caso das turbinas de reação. Nos outros casos, a turbina terá também de produzir po-
tência para uso exterior a ela. As turbinas (tanto as de produção de potência como as de reação)
podem ter 1, 2 ou mais eixos. No caso de 1 eixo (Fig.5.250), o compressor e a turbina rodam à
mesma velocidade. Havendo 2 eixos, parte da turbina é usada para fazer funcionar o compressor
(um eixo) e a parte restante da turbina está montada noutro eixo de onde se pode tirar potência
para fora (Fig.5.256). Podem também haver turbinas de vários eixos que ligam vários andares de
compressão e de expansão, obviamente rodando a velocidades diferentes (Fig.5.257). Neste caso,
os andares de alta pressão do compressor e da turbina estão ligados por um veio coaxial ao veio
que liga os andares de baixa pressão de ambos os dispositivos. Os andares de alta pressão, dado
serem de menor diâmetro, rodam a maior velocidade. Em casos extremos, poderá haver 3 veios
coaxiais ligando os andares de alta, média e baixa pressão. Deste modo, consegue-se otimizar
a velocidade dos gases através das pás nos diferentes andares do compressor e da turbina. O
número de andares de uma turbina é função da sua sofisticação. Turbinas recentes de aviões
podem ter mais de 16 andares de compressão e mais de 6 de expansão (Fig.5.255). As turbinas
de vapor poderão ter até 40 andares.
“By-passes” elevados implicam que o impulso dado pela “fan” é maior que o dado pelos gases de
combustão, o que é mais eficiente na descolagem e à velocidade de cruzeiro dos aviões comerciais.
A “fan” não é mais do que uma hélice carenada.
Os foguetes podem ser de combustível líquido ou sólido (eventualmente gasoso, mas a densidade
energética dos gases é muito baixa), necessitando também de comburente. Nos propulsores
sólidos, o combustível está misturado ao comburente, mas usando combustíveis líquidos, há um
reservatório para o combustível (H 2, N2H4, álcoois ou hidrocarbonetos) e outro para o oxidante
(O2, H 2O2, N2O, N2O4, HNO3, HClO4). No caso dos combustíveis sólidos, a pólvora era um com-
bustível antigo e ainda usado em foguetes de fogo de artifício, mas o mais usado parece ser o
NH4CLO4 (PerClorato de Amónia), juntamente com alumínio (os foguetes do vaivém tinham
este combustível). Em termos de massa, o par mais energético é O2/H 2, mas os combustíveis
sólidos têm maior densidade volumétrica (energia/volume). Uma vantagem dos combustíveis
líquidos é o potencial de controlo de caudal, incluindo poder-se desligar a combustão, cortando-se
o fornecimento do combustível. Tal não é possível com combustível sólido. A grande desvantagem
do uso de oxigénio e hidrogénio líquidos é serem substâncias criogénicas, necessitando de
baixíssimas temperaturas (-183 e -253 ºC, respetivamente) para se conservarem líquidos.
Além dos foguetes com combustível líquido e sólido, há ainda os foguetes híbridos (combus-
tível sólido e líquido) e, em fase experimental, os foguetes nucleares (onde uma reação nuclear
Capítulo 8 › COMBUSTÃO NOS MOTORES 311
Segundo os técnicos da Yamaha (Aoi, 1986), câmaras com 5 válvulas maximizam a área útil
das válvulas (Fig.8.33). Desde os anos 80 que esta tecnologia é utilizada em motores de motos
e, mais atualmente, em motores de competição (Formula 1, embora pelo regulamento atual
sejam proibidas). Este tipo de câmara é de construção cara e a sua compacidade é inferior à de
4 válvulas. A razão assenta no uso de duas árvores de cames, uma das quais aciona as 3 válvulas.
Como se mostra na Fig.8.34, a válvula de admissão central origina que a parede da câmara seja
levemente convexa (Fig.8.35). Poder-se-ão usar 3 árvores de cames, mas o custo, complexidade
e perdas mecânicas serão elevados. Um bom compromisso consiste em atuar a 5ª válvula com
um balanceiro.
Fig.8.33 – Área de passagem dos gases função Fig.8.34 – Câmara Fig.8.35 – Câmara
do número de válvulas de 5 válvulas de 5 válvulas
322 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
fabricado pela Waukesha Engine Division of Dresser Industries, em Waukesha, Wisconsin, EUA.
As especificações para os testes dos combustíveis podem ser vistas na Tab.8.1.
Tab.8.1 – Descrição das condições de teste para determinação do MON e RON (motor CRF)
ASTM D2700-92(104) ASTM D2699-92(105)
Método
MON RON
Velocidade 900 rpm 600 rpm
variável com a pressão
Temperatura da admissão 38 C o
(19.4 oC a 88kPa; 52.2 oC a 101.6 kPa)
Humidade do ar de admissão 3.56 – 7.12 gH2O/kgar 3.56 – 7.12 gH2O/kgar
Temperatura da mistura 149 oC não especificado
Temp. água de arrefecimento 100 oC
Temperatura do óleo 57 oC 57 oC
variável com TC
Avanço da ignição 13 oC
(entre 14 e 26 oC)
variável com a altitude:
“Venturi” do carburador 14.3 mm 14.3 mm para 0-500m
15.1 mm para 500-1000 m
Existe o mito que a naftalina (naftaleno) aumenta o IO das gasolinas. Na verdade, o naftaleno
tem um IO (de mistura) de 90, pelo que adicioná-lo a gasolina com maior IO irá reduzi-lo. No
período do entre guerras, quando o IO das gasolinas andava perto dos 60, a naftalina aumentava
o seu IO, mas atualmente tal não corresponde à verdade.
O IO da gasolina afeta a taxa de compressão que o motor pode ter, sem incorrer em “knock”
(Tab.8.2). Esta tabela refere-se a motores de carburador, com aquecimento da mistura, apresenta
os valores de taxa de compressão e de rendimento, função do IO do combustível que queimam.
Nos motores de carga estratificada (motores de ignição comandada), uma mistura rica adja-
cente à vela permite um início de combustão rápida, estável e eficiente (Fig.8.67). Deste modo,
a propagação da frente de chama pode ser feita para a mistura pobre ou extrapobre que enche
o resto do cilindro. Com esta combustão consegue-se obter um rendimento elevado (seme-
lhante ao do Diesel) e uma baixa produção de poluentes (NOx e CO) em condições de baixa
carga. Embora seja um motor de ignição por faísca, o que o torna diferente é o uso de uma
mistura heterogénea queimando misturas muito pobres, impossível num motor convencional
(de mistura homogénea).
Este tipo de motores foi idealizado por Sir Harry Ricardo na década de 30, mas foi nos finais
da década de 70 que surgiram alguns motores com esta tecnologia, tais como o Texaco TCCS,
Porsche SKS e o Ford PROCO. Porém, o único motor com esta filosofia a ser comercializado foi
o Honda CVCC (Cap.8.8.1.1) no Civic para o mercado americano.
Este tipo de motores é muito mais complexo que o habitual motor de mistura homogénea e o
aparecimento dos catalisadores de triplo efeito (que obrigavam ao uso de misturas estequio-
métricas) levou ao seu desinteresse. Atualmente, os motores de injeção direta a gasolina usam
este princípio, conseguindo reduzir significativamente os consumos em carga parcial. Recentes
motores usando gás natural (para cogeração), utilizam carga estratificada de modo a queimarem
misturas pobres e assim obterem elevado rendimento (G oto, 1990).
376 MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
Teoricamente, este tipo de motor viria a dar solução ao difícil problema proposto aos construto-
res, mas o desenvolvimento (nos anos 80) foi muito difícil. Houve várias tentativas de produção
deste tipo de conceito, mas somente uma chegou à fase de comercialização: o Honda Civic CVCC
(Fig.9.22).
Geralmente, para se promover a estratificação da carga era necessário haver dupla câmara de
combustão (Fig.9.23), uma abastecida por mistura rica (onde se dava a ignição) e a outra com
mistura pobre. Houve várias soluções, mas quase todas eram baseadas na utilização de dois
sistemas de preparação de mistura (uma pobre e outra rica) por carburadores ou injeção de
combustível e duas válvulas de admissão por cilindro, uma para cada câmara. A combustão
era iniciada na câmara auxiliar (de pequenas dimensões) com mistura rica, sendo a combustão
propagada para a câmara principal (no topo do cilindro), onde a mistura pobre arderia com
elevado rendimento. A carga seria regulada, não pela utilização de uma válvula restritora do
ar, mas pela quantidade de combustível a fornecer à câmara principal. Na condição limite, não
haveria necessidade de válvula de acelerador.
As principais razões de falha deste tipo de sistema nos anos 80 assentaram na impossibilidade
de regulação de carga efetiva pela injeção de mais ou menos combustível, pela dificuldade de
criação de uma mistura verdadeiramente estratificada e ainda pela elevada transferência de calor
dos gases para as câmaras de combustão, especialmente no orifício de passagem entre uma e
outra. Outros problemas de não menos importância relacionaram-se com a impossibilidade de
manter o mesmo nível de estratificação a vários regimes e a várias cargas. O motor funcionaria
bem a um dado regime, mas não para velocidades ou cargas diferentes. Embora as emissões
de NOx e de CO fossem extremamente baixas, a produção de HC era sempre superior a motores
convencionais, em virtude de ineficiências de combustão. Por estas razões, este tipo de motor
foi preterido em relação ao tipo convencional dotado de catalisador de triplo efeito. Atualmente
continua a ser desenvolvido uma vez que alguns motores de injeção direta a gasolina assentam
no seu princípio.
Capítulo 10 › CARACTERÍSTICAS DE FUNCIONAMENTO E CÁLCULO 429
O mesmo efeito pode ser conseguido mantendo o eixo do cilindro a passar pelo da cambota,
descentrando o cavilhão do pistão. Porém, este procedimento alterará o equilíbrio do pistão
durante as acelerações.
Vulgarmente, os cilindros são em ferro fundido nodular, pois é um material mais poroso que o
aço, o que permite uma melhor lubrificação mas, em muitos casos, usa-se o aço vazado.
A pressão média de atrito resultante do atrito da saia do pistão-cilindro pode ser descrita
por (Sandoval, 2003)
Jorge Martins
Sobre o livro
Este livro tem 11 capítulos integralmente dedicados aos motores de combustão interna, incluindo a
sua descrição e a história da sua evolução até aos nossos dias. Nele, o interessado poderá analisar o
desempenho dos motores, prever as suas características e obter a informação necessária para os mo-
delar e projetar. A obra inclui assuntos não habituais em livros deste género, tais como uma descrição
aprofundada sobre combustíveis e a forma como são produzidos. Para além da parte eminentemente
teórica desta obra sobressai uma descrição exaustiva dos motores e dos seus vários componentes. Um
subcapítulo é vocacionado aos motores de Formula 1 e corridas de arranque (dragsters).
Atualmente, assiste-se a uma grande evolução nos motores, da qual os sistemas de “common-rail” (nos
motores Diesel) e de injeção direta (nos a gasolina) são o resultado visível, com a maioria dos motores
atuais a usarem algum sistema de sobrealimentação. Porém, outros progressos mais radicais estão a ser
desenvolvidos, tais como os geralmente conhecidos por CAI e por HCCI, conceitos que se prevê sejam
determinantes no futuro dos motores.
Os motores de combustão interna são máquinas intensamente usadas no mundo, sendo, simultane-
amente, uma fonte de satisfação, mas também de problemas (como os ambientais). Assim, espera-se
que a leitura desta obra possa levar ao melhor conhecimento e à utilização destas máquinas admiráveis.
Sobre o autor
ISBN: 978-989-723-190-2
www.engebook.com