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Texto - Fascà Culo - Da Saãºde à Saãºde Mental - Enquadramento Conceptual
Texto - Fascà Culo - Da Saãºde à Saãºde Mental - Enquadramento Conceptual
Texto - Fascà Culo - Da Saãºde à Saãºde Mental - Enquadramento Conceptual
PSIQUIÁTRICA
Título:
EVIDÊNCIAS EM SAÚDE MENTAL: DA CONCEÇÃO À AÇÃO
Organização:
Ana Querido | ORCID https://orcid.org/0000-0002-5021-773X
Catarina Tomás | ORCID https://orcid.org/0000-0003-3713-3352
Carlos Laranjeira | ORCID https://orcid.org/0000-0003-1080-9535
Daniel Carvalho | ORCID https://orcid.org/0000-0002-5058-525X
José Carlos Gomes| ORCID https://orcid.org/0000-0002-4089-1034
Olga Valentim | ORCID https://orcid.org/0000-0002-2900-3972
1ª Edição de 2019
ISBN: *****(e-book)
DOI: https://doi.org/10.25766/bgaj-cv50
Reservados todos os direitos
Escola Superior de Saúde de Leiria
Departamento de Ciências de Enfermagem | Enfermagem de Saúde Mental e
Psiquiátrica
Instituto Politécnico de Leiria
2019
DA SAÚDE À SAÚDE MENTAL: ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL
Objetivos educacionais
Pretende-se que no final deste capítulo o estudante seja capaz de:
- Debater o conceito de saúde mental à luz do modelo tridimensional da saúde
- Distinguir saúde mental e doença mental
- Identificar características inerentes à pessoa com saúde mental / perturbação mental
- Identificar influências culturais na doença mental
Nesta ótica, é expectável a existência de uma saúde negativa e uma saúde positiva, esta
última associada ao bem-estar, sendo possível a coexistência da situação de doença com
a saúde o que torna o conceito complexo e de difícil operacionalização. Em
consequência também o conceito de saúde mental é amplo, e por isso é consensual
entre os autores que nem sempre é fácil a sua definição, nem a identificação dos fatores
que a determinam2. Não obstante é assumido que a saúde mental se refere a algo mais
do que a ausência de perturbação mental, e é cada vez mais entendida como o produto
de múltiplas e complexas interações envolvendo fatores biológicos, económicos e
sociais que são determinantes para a saúde mental3.
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normal da vida, trabalha de forma produtiva e frutífera, e é capaz de dar um contributo
para a sua comunidade4. Esta perspetiva fundamenta-se no princípio de que a saúde
mental não significa apenas a ausência de doença mental, como incluiu também
características psicossociais positivas no individuo que lhe permitem proteger-se
perante as adversidades da vida5.
É axiomático afirmar-se que não é possível existir saúde sem saúde mental6-8. De uma
forma geral, pode dizer-se haver saúde quando se verifica o desenvolvimento ótimo do
indivíduo no contexto em que se insere, tendo em consideração as seguintes variáveis:
biológica, psicológica, social, cultural e ecológica. Esta perspetiva é integrada na visão
do Plano Nacional de Saúde português que visa maximizar os ganhos em saúde através
da integração de esforços sustentados em todos os setores da sociedade, e da utilização
de estratégias assentes na cidadania, na equidade e acesso, na qualidade e nas políticas
saudáveis9.
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De forma específica, pode dizer-se que a saúde mental é a capacidade que a pessoa tem
para:
A este propósito, Galdersi et al.12 propõem uma nova definição de saúde mental, de
acordo com a qual esta representa um estado dinâmico de equilíbrio interno que permite
aos indivíduos usar as suas competências em harmonia com os valores universais da
sociedade, [designadamente]: - competências cognitivas e sociais, habilidade para
reconhecer, expressar, modelar as próprias emoções, assim como empatizar com os
outros; - flexibilidade e habilidade para lidar com eventos de vida adversos e com as
funções associadas com os seus papeis sociais; e, - uma relação harmoniosa entre corpo
e mente representam componentes importantes da saúde mental que contribuem, em
vários graus para o estado de equilíbrio interno (p.232).
Jahoda (1958, citado por Townsend7) identificou seis indicadores sugestivos de saúde
mental num indivíduo:
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- Atitude positiva para consigo próprio - visão objetiva de si próprio, com
conhecimento e aceitação das suas forças e limitações, ocorrendo um forte sentido de
identidade pessoal e segurança dentro do seu ambiente;
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experimentar uma saúde mental positiva14. A este propósito, Gomes15 vai mais longe e
sugere uma visão tridimensional da saúde, que acresce o conceito de bem-estar, num
processo contínuo ao longo de todo o ciclo vital (constituído por uma sequência de
diferentes períodos em que o anterior afeta sempre os que se seguem).
Nesta visão tridimensional - bem-estar, saúde e ciclo vital, Gomes15 refere-se a duas
dimensões distintas de saúde mental:
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- Saúde mental negativa – perturbações mentais e de comportamento, relacionada
com os transtornos mentais, sintomas e os problemas de saúde mental.
Com base nesta representação, a saúde mental é um recurso individual que contribui
para a qualidade de vida do indivíduo e pode ser aumentada ou diminuída pelas ações
da sociedade. Um aspeto da boa saúde mental é a capacidade de relacionamentos
mutuamente satisfatórios e duradouros atingível através do equilíbrio e da harmonia
entre as diferentes dimensões do individuo. Trata-se de um percurso dinâmico entre
indivíduo e o ambiente, isto é, constrói-se desde os primeiros anos de vida16, sendo
influenciada pelas diferentes dimensões da pessoa, pelas condições em que se vive e
cresce, e pelo estadio de desenvolvimento em que se encontra.
O normal e patológico
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- Sofrimento pessoal ou “mal-estar subjetivo” - umas das características mais
notórias nesta dualidade conceptual, obrigando o indivíduo que está ou se sente doente
a pedir ajuda;
O mesmo autor refere, ainda, que para se definir anormalidade nenhum destes
elementos é necessário existir de forma concreta ou isolada, não existindo assim
nenhum elemento que isoladamente seja suficiente para definir uma conduta anormal,
mesmo perante comportamentos agressivos e/ou autodestrutivos. A anormalidade de
uma conduta é definida por uma combinação de critérios, sendo um conceito
multifatorial. Para além disso, nenhuma conduta pode ser considerada por si só
anormal, devendo a mesma ser contextualizada.
A Perturbação Mental
Com base nos dados epidemiológicos recolhidos na última década, é hoje evidente que
as perturbações psiquiátricas e os problemas relacionados com a saúde mental se
tornaram a principal causa de incapacidade e uma das principais causas de morbilidade
e morte prematura, principalmente nos países ocidentais industrializados. Uma parte
importante das pessoas com doença mental grave permanecem sem acesso a cuidados
de saúde mental, e muitos dos que têm acesso continuam a não beneficiar dos modelos
de intervenção (programas de tratamento e de reabilitação psicossocial), hoje
considerados essenciais.
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O termo psicopatologia deriva do grego psiché (alma e patologia), significando
“patologia do espírito”. Segundo Sims18, corresponde ao estudo sistemático das
vivências, cognições e comportamentos que são produto de uma mente perturbada (p.
2). É um ramo teórico da psiquiatria, que se ocupa dos fenómenos patológicos do
psiquismo, tendo por objeto de estudo a atividade psíquica anómala, procurando
compreender as disfunções mentais e explicar a operatividade patológica10.
Segundo Horwitz (2002, citado por Townsend7), apesar da influência cultural associada
a este conceito, existem elementos associados à perceção do doente mental,
nomeadamente a incompreensibilidade (incapacidade de perceber a motivação que
leva ao comportamento) e a relatividade cultural.
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expressões comportamentais em categorias e ainda organiza a resposta a estas
expressões.
De acordo com Horowitz (2002, citado por Towsend7), estes são alguns dos aspetos
culturais que influenciam as atitudes face à doença mental que importam ser
consideradas pelo enfermeiro na sua prática, especificamente no âmbito da
enfermagem de saúde mental e psiquiátrica:
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- Os indivíduos de classe social mais baixa tendem a demonstrar maior quantidade
de sintomas de doença mental, são mais tolerantes no que respeita aos
comportamentos desviantes, e é menos provável que os considerem como doença
mental. O rótulo de doença mental é frequentemente aplicado pelos profissionais de
psiquiatria;
Podemos assumir que neste contexto, a saúde mental será a resposta adaptativa aos
agentes stressores de ambiente externo ou interno, manifestada por sentimentos,
pensamentos e comportamentos congruentes com as normas locais e culturais do
indivíduo, de modo a permitir-lhe um funcionamento físico, social, ocupacional e
espiritual capaz de lhe trazer bem-estar.
Todavia, é importante que a LSM seja específica ao contexto (por exemplo, desenvolvida
e aplicada em situações da vida quotidiana), adequada ao desenvolvimento (por
exemplo, adaptada ao estadio do ciclo vital de cada individuo) e efetivamente integrada
nas estruturas sociais e organizacionais existentes (como escolas e organizações
comunitárias)19.
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No que concerne aos programas de LSM a investigação atual começa a relevar a
importância do incremento das novas tecnologias nestes programas com recurso à
internet como fonte de informação e de promoção. Os benefícios associados ao uso das
novas tecnologias de informação e comunicação incluem a facilidade de acesso,
potencial de suporte pelos pares, a inclusão de indivíduos que residam em áreas isoladas
e a adequação à situação22. As intervenções e-mental health1 e as redes sociais online
são meios promissores e acessíveis para manter a saúde mental demonstrando eficácia
social e económica24. Adicionalmente permitem capacitar os cidadãos proporcionando-
lhes oportunidades e ambientes para desenvolverem as suas capacidades, confiança e
conhecimento, por forma a tornarem-se parceiros ativos no cuidado à sua saúde25.
QUESTÕES DE REVISÃO
- Será possível ter doença mental e saúde mental em simultâneo? E apresentar ausência
de doença mental e saúde mental? Justifique as respostas.
1
E-mental health corresponde aos serviços de saúde mental e informações disponibilizadas e aprimoradas
com recurso à internet e às novas tecnologias relacionadas23.
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Situação clínica:
O Sr. João, de 74 anos é viúvo há 15 anos. Um ano depois da esposa falecer, a filha deu-
lhe um cão chamado Fiel. Tratava-se de um cão rafeiro, divertido, e que desafiava o
dono para brincar. O Sr. João e o Fiel tornaram-se inseparáveis. Fiel viveu sempre ao
lado do dono e morreu nos seus braços há 2 anos.
A filha do Sr. João procurou o enfermeiro de saúde mental por causa do pai. Afirmou
que ele não quer saber dela, passa o tempo entre a igreja e a campa do Fiel. Reza pelo
cão e nas conversas que tem com ela e com os vizinhos só fala dele. Desde há dois dias
que diz não ter fome e só bebe líquidos.
- Indique três motivos pelos quais a filha do Sr. João possa ter pedido ajuda (considere
as questões culturais para responder à questão).
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