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Estudos Pré-Saussurianos

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Carlos Alberto Faraco, em Estudos Pré-Saussurianos, afirma

que Saussure é o pai da linguística moderna, entendo tal por estudos


sincrônicos praticados no século XX, em contraste com os estudos
históricos predominantes nos séculos anteriores. Faraco lembra que o
impacto do Curso, livro escrito por Saussure e publicado postumamente
em 1916, deu-se no fim da década de 1920, com a realização de fóruns de
grande porte, e que, até a segunda guerra mundial, a linguística
continuou a ser uma disciplina fundamentalmente histórica.

O texto explica que Saussure realizou um grande corte nos estudos


linguísticos do século XIX. Suas concepções condicionaram, além da
construção de uma ciência sincrônica da linguagem, a edificação de uma
ciência autônoma para tratar exclusivamente da língua, instaurando a
possibilidade da imanência, ou seja, a língua como um sistema de signos
independentes.

O gesto de Suassure, considerado uma ruptura, é também, segundo


Faraco, uma continuidade da antiga intuição de que as línguas humanas
são Totalidades Organizadas. Essa intuição percorreu todo o século que
antecedeu o corte saussuriano. Teve uma formulação naturalista em A.
Schleicher (1821-1867), botânico e adepto do pensamento evolucionista,
que denominou a língua como um Organismo Vivo e recebeu de W.
Whitney (1827-1894) a ideia da língua como uma instituição social. Com
essas citações, Faraco esclarece que a elaboração da ideia de Saussure, a
língua como um sistema de signos independente, é resultante do senso
de sistemas e dos trabalhos empíricos realizados por estudiosos desde
1786.

Essa data é o marco simbólico do início da linguagem como ciência,


quando, opondo-se a tradição anterior que estudava a língua
relacionando-a com outros interesses, como a poética, a lógica e o bom
uso, surge a linguística comparativa e histórica. A linguagem pela
primeira vez será estudada em si mesma e por si mesma. Assim, Faraco,
em seu Estudo Pré-Saussuriano, passa a nos apresentar alguns desses
estudiosos que antecederam Saussure e as suas contribuições para a
evolução dos estudos linguísticos.

No capítulo titulado Os pioneiros, Faraco ensina que a linguística se


constituiu como ciência quando o juiz William Jones (1746-1794),
observando a semelhança entre o sânscrito, o grego e o latim, concluiu
que essas línguas tinham uma origem comum. Essa percepção
desencadeou, então, o movimento dos estudos linguísticos
comparativos e históricos e, a esse movimento investigativo,
incorporou-se, de modo sistemático, o pensamento de que as línguas
mudam no tempo.

F. Schlegel, em 1808, publicou o texto considerado ponto de partida dos


estudos comparativos germânicos, no qual, entre outras coisas, reforçou
a tese de W. Jones sobre o parentesco das línguas que estudou e
acrescentou que o parentesco se evidenciava principalmente pelos
elementos gramaticais (fonológicos e morfológicos). Em 1816, F.
Bopp realizou uma comparação detalhada da morfologia verbal das
línguas sânscrita, grega, latina, persa e germânica, fortificando também
o parentesco das línguas. Estava criado assim o método comparativo, que
é o procedimento básico dos estudos de linguística histórica.

Faraco segue sua narrativa registrando que o estudo propriamente


histórico foi estabelecido por Jacob Grimm (1785-1863), que
interpretou, em 1822, a existência sistemática entre as línguas como
resultado de mutações regulares no tempo. A partir dos estudos de
Grimm, ficou claro que a sistematicidade das correspondências entre as
línguas tinha a ver com o fluxo histórico e com a regularidade dos
processos de mudanças linguísticas. Ampliou-se a pesquisa comparativa
e criou-se áreas para o estudo específico de cada subgrupo das línguas
indo-europeias, destacando-se a filologia românica.

Prosseguindo, Faraco descreve a importância do linguista e


botânico Schleicher, que formulou a concepção que tomava a língua
como um organismo vivo, com existência própria, independente de seus
falantes, sendo sua história vista como uma “história natural”. Propôs
uma tipologia das línguas e uma árvore genealógica das línguas indo-
europeias e realizou o primeiro estudo de uma língua feito a partir da fala
e não de textos, passo importante no desenvolvimento dos estudos
linguísticos em geral.

Chegando nas décadas finais do século XIX, o autor fala dos


neogramáticos que se caracterizaram pelo questionamento da prática da
linguística histórico-comparativa e seu descritivismo.

Angela Francisca Mendez de Oliveira

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