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Revista Ano 29 Numero 5

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pentagrama Lectorium Rosicrucianum

Aqui minha vida começa de fato

Criar espaço, ampliar a visão

Da escola da natureza à escola

O extraordinário mundo da criança


de Deus

Manter vivo o sonho

OUTUBRO 2007 NÚMERO 5


Redação REVISTA BIMESTRAL DA
C. Bode, A.H.v.d. Brul, I.W. v.d. Brul,
A. Gerrits, H.P. Knevel, G.P. Olsthoorn, ESCOLA INTERNACIONAL DA ROSACRUZ ÁUREA
A. Stockman-Griever, G. Uljée,
P. Huijs (editor responsável)
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
Endereço da Redação
Pentagram,
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A revista Pentagrama propõe-se a atrair a atenção de
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seus leitores para a nova era que já se iniciou para o
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do homem renascido, do novo homem. Ele é também
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o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio


Editado nos seguintes idiomas
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do qual o plano de Deus se manifesta. Entretanto,
Espanhol, Francês, Grego*, Húngaro*,
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um símbolo somente tem valor
Russo*, Sueco*
A revista é editada 6 vezes por ano
(*Editada 4 vezes por ano)
quando se torna realidade. O homem que realiza

Lectorium Rosicrucianum
o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio
Sede no Brasil
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A revista Pentagrama convida o leitor a operar
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essa revolução espiritual em seu próprio interior.
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Proibida qualquer reprodução sem
autorização prévia por escrito

ISSN 1677-2253

52
pentagrama Ano 29 nº 5 Outubro 2007

“o homem, ó Asclépio, Sumário


é um grande milagre!”
Hermes é famoso por haver dito: “O homem, chamado à magnificência 2
ó Asclépio, é um grande milagre!” Mas, por quê? – que a vinha floresça! 6
pergunta Pico della Mirandola. E ele conclui: criar espaço, ampliar a visão 10
“Deus depositou no homem, no momento de sua aqui minha vida começa de fato 13
criação, as sementes de todas as possibilidades e manter vivo o sonho 14
gêneros de vida. Sejam quais forem as sementes a bandeira de Noverosa 22
que o homem semeie e cultive, elas germinarão e a alma e as forças da natureza 24
produzirão frutos nele. Se forem vegetais, o homem o criador move o Universo 29
se tornará uma planta; se forem de sensualidade, a casa de meu pai 30
ele se tornará um animal; se racionais, ele se elevará tempo para viver 34
ao celeste; se intelectuais, será anjo e filho de Deus; a escola da natureza e a escola
e se, insatisfeito com todas essas criaturas, ele se de Deus 38
voltar ao centro de sua própria unidade, tornado
espírito uno com Deus, na solitária escuridão do Pai,
aquele que foi posto acima de todas as coisas estará
sobre todas as coisas. Quem, pois, não
admirará esse camaleão?”

Giovanni Pico della Mirandola,


Discurso sobre a dignidade do homem.
chamado à magnificência
Homem! Denominação dada aos seres da nossa espécie
que povoam a terra. Esse gênero de seres compreende
bilhões de indivíduos e, contudo, não existe nada tão único
quanto ele. Para cada homem, para cada um de nós, são
válidas as palavras: assim como é, ele é único. Podemos, com
justiça, considerar o homem “um grande milagre”. Também
é dito que ele é capaz de “fazer grandes coisas”.

C
om efeito, de tempos em tempos ele realiza Ainda não foi maculado pelas paixões do corpo e está,
feitos grandiosos, sobre-humanos. Mas a ainda, em grande medida, ligado à alma do mundo.
expressão “ele é capaz de” indica que ele é Quando, porém, o corpo se torna adulto, e a alma é
capaz, mas que não o faz, ainda não. Entretanto, com atraída para baixo nos fardos do corpo, a separação do
justa razão é isso que particularmente se espera dele. ser superior torna-se completa, e a alma mergulha no
Sabemos o que se espera de nós. Quando olhamos esquecimento.”3
para uma criança ou um jovem, quantas vezes não nos
perguntamos: o que será dele, em que ele se tornará? A ALMA DO MUNDO Antes que a alma caísse no
E não buscamos dentro de nós mesmos algo que, no esquecimento, e como que adormecida, em estado
fundo, já há muito tempo esperamos? De qualquer latente, se ocultasse em nós, ela ainda estava ligada à
modo, existe sempre a suposição de que o homem Alma do Mundo.A alma do mundo é a vibração
pode ser muito mais do que parece. superior que engloba o cosmo inteiro e tudo impreg-
A esse respeito Pimandro explica a Hermes:“É por na com luz e vida. Essa vibração que irradia através de
isso que, dentre todas as criaturas da natureza, só o tudo emana do reino de Deus. O ser humano, nascido
homem é dual, isto é, mortal segundo o corpo e num corpo de natureza terrestre e ligado ao próprio
imortal segundo o homem verdadeiro”.1 Sabemos que coração da pura alma original, enquanto criança, escu-
nascemos num corpo mortal no mundo dos sentidos, ta o cântico da alma do mundo. Ele o ouve porque
onde impera a morte. Quanto ao homem essencial, sua personalidade não está ainda desenvolvida. Seu eu,
imortal, é necessário que o descubramos em nós. sua própria consciência ainda não está formada.
Trata-se do reconhecimento da luz e da vida de onde Durante aproximadamente os três primeiros anos de
proviemos, do “Pai de todas as coisas, que é luz e sua vida, ele pode permanecer em contato com essa
vida”. E Pimandro acrescenta:“Portanto, se sabes que alma sublime, ser um portador dela, experimentá-la.
nasceste da vida e da luz e que és composto desses Se essa alma, em colaboração com as forças formado-
elementos, então retornarás à vida”.2 ras da alma do mundo, estruturar o desenvolvimento
E aqui surge o problema. Duvida-se de tudo, mas não bem como o pensamento e a palavra do homem
se sabe nada.Ainda não. Contudo, esse saber está den- material, sua vida em seu processo evolutivo dará um
tro do homem; como descobri-lo? Ele possuía esse passo a mais e a alma pessoal tenderá à perfeição.
conhecimento quando criança. No Novo Testamento Porém um homem ainda não é um homem se não
é dito:“Sede como crianças”, e Hermes igualmente adquirir autoconsciência. Ele deve ter a capacidade
aponta para a condição infantil:“Pensa um pouco na de expressar-se em seu meio. Por isso, a radiação de
alma de uma criança. Caso a separação de seu verda- sabedoria da alma do mundo nele deve desaparecer
deiro ser ainda não seja completa, e o corpo seja ainda para que ele possa perceber o mundo sensorial à sua
pequeno e não tenha atingido plenamente seu estado volta e seu eu nele. Quanto a esse eu, pode-se dizer
adulto, como é belo aos olhos, em todos os aspectos! que os signos zodiacais, o carma, o destino, a herança

2 pentagrama 5/2007
chamado à magnificência 3
sanguínea que influencia Vrijheid (O medo à liberda-
a família, o povo ou a de)4:“O homem moderno
raça, representam um vive na ilusão de que sabe o
papel importante. que quer, embora ele não
Contudo, é o eu que, queira o que considera neces-
dependendo da esfera de sário querer”. É a verificação
vida que o cerca, detém desconcertante de uma paró-
o poder de dar uma dia de liberdade, pois as coisas
forma ao ser humano, que ele acredita ter necessida-
pois ele possui, como de e o modo de vida que
ponto de partida, por deveria ser o seu lhe são
ocasião do nascimento, a impostos de todos os lados.
capacidade de se tornar Exatamente como acontece
naquilo que deseja ser. Tempo para as crianças? com as crianças. Hoje elas dis-
põem de mais dinheiro que
O QUE NOS INSPIRA? Com relação a isso, antigamente, porém acham que devem comprar as
Giovanni Pico della Mirandola nos encoraja, dizendo: mais novas bugigangas ou o que é ditado pela moda.
“Que em nosso coração uma santa ambição nos
anime, a fim de que, desdenhando a mediocridade, INDIFERENÇA É aqui que começam os problemas.
desejemos a mais alta perfeição e façamos todos os Uma conseqüência da personalidade escravizada é a
esforços para alcançá-la. E nós o podemos se assim o indiferença. Os numerosos problemas sociais que sur-
quisermos. Como um artista, deveríamos dar forma ao gem são o resultado da indiferença dos seres humanos
nosso ser”. Pico della Mirandola era um artista da para consigo mesmos. Essa indiferença significa negli-
palavra.Artista é quem consegue exteriorizar o que genciar a própria pessoa e não ter consciência de seu
arde em seu íntimo. Um artista que está cego e surdo próprio valor intrínseco.A arte de se exercitar para
a tudo que lhe prescreve a ordem estabelecida man- “ser um homem verdadeiro” requer amor pela criatu-
tém seu olhar voltado para sua vida interior e segue a ra maravilhosa que somos. Ela demanda tempo, aten-
voz que ali se faz ouvir. ção, perseverança, paciência e devotamento. Mas, não
O que objetivamos, em realidade? O que nos inspira? estamos em vias de perder essas características? A indi-
Porventura, teremos nós, ocidentais, perdido a noção ferença a si próprio significa igualmente a perda da
da vida como arte? A sociedade ocidental composta idéia de que o homem não está só, que nele vive
de homens livres e de uma vida cheia de confortos alguma coisa que continuamente dá testemunho de
mantém este mesmo homem firmemente sob controle. que ele pode elevar-se muito acima de si mesmo; o
É o tipo de sociedade que segundo o filósofo Erich pensamento de que nele vive um ser divino que ele
Fromm produz escravos em matéria de personalida- pode aprender a conhecer e do qual ele poderá dizer:
des. Ele afirma, em sua importante obra De angst voor tenho em mim meu guia. Não teria sido assim, há

4 pentagrama 5/2007
muito tempo, quando nos primeiros anos de vida ele um verdadeiro homem” ela sentirá, mais que nunca, a
estava estreitamente ligado à alma do mundo? necessidade de tais faculdades.
O tempo propício é agora. O momento em que vive-
BALIZAS LUMINOSAS Eis porque ressoam no mos é o momento certo. Podemos encontrar a possi-
Evangelho de Mateus as seguintes palavras:“Sede bilidade de ser o que queremos ser.Agora que o
como crianças”. Retornai ao estado mental receptivo poder de mistificação do mundo sensorial alcança seu
da criança, ao nível em que vedes e ouvis aquilo que ponto culminante, o poder que nos deve libertar não
está dentro de vós e experimentais conscientemente a será bem maior? É no presente que o ser humano
radiação da alma do mundo. deve encontrar Cristo dentro de si, a força crística em
Nada no mundo é mais importante que a criança, e forma de energia vibratória. Essa é a finalidade das
afirmamos isso com toda tranqüilidade. Se uma crian- conferências da mocidade. Hermes nos ensina que ali,
ça é bem orientada no caminho para a vida adulta, “quem escuta tem de ser uno em consciência com

A arte de se exercitar para “ser um homem verdadeiro”


requer amor pela criatura maravilhosa que somos.
nela aparecem, em determinados momentos, sinais aquele que a ele fala e segui-lo em seus pensamentos.
luminosos, balizas luminosas que podem esclarecê-la Seu ouvido deve ser mesmo mais apurado e mais
durante a vida. Esses momentos especiais elas também rápido do que a voz daquele que fala”.4
podem vivenciar, por exemplo, nas conferências para a Não há nada mais importante que uma criança. Ela
mocidade do Lectorium Rosicrucianum.A participa- merece toda nossa atenção, pois mais do que qualquer
ção no Trabalho da Mocidade é, acreditamos, de um, ela está mais próxima do princípio bem como do
importância incalculável.A partir dos seis anos, uma objetivo do desenvolvimento da alma humana. Esta
criança pode assistir a uma conferência própria para edição da revista Pentagrama novamente chama nossa
ela, pois nesse período o “Outro” nela está ainda bas- atenção para isso 
tante próximo. É possível que esse ouvir o “Outro”
nela seja sua primeira experiência espiritual. Depois
disso, ao crescer, ela não apenas voltará seu pensamen- 1 Rijckenborgh, J. v., A Gnosis original egípcia, tomo 1, 2 ed.
to para isso, mas penetrará essa irradiação extrema- Jarinu, Editora Rosacruz, 2006, cap. IV, p. 38.
mente sutil da alma do mundo, conferida pela gnosis, 2 Idem, p. 56.
como também conservará essas características e parti- 3 Ibid., cap. XVII, p. 46-7.
cularidades durante toda a vida. Ela aprende a concen- 4 Fromm, E., O medo à liberdade. 12 ed. Rio de Janeiro:
trar sua atenção e se exercita na perseverança, na Zahar, 1980.
paciência e no devotamento.Ao praticar a arte de “ser 5 Ibid. 3, p. 50.

chamado à magnificência 5
que a vinha floresça!
É admirável a sabedoria de vida que uma criança pode ter, embora a
achemos muito jovem para compreender certas coisas, e também
são admiráveis suas observações e perguntas sobre a vida, que
tocam diretamente o coração. Os obreiros do Trabalho da Mocidade
dão grande importância a elas. Numa criança, o núcleo ígneo pode
freqüentemente expressar-se sem impedimentos, porque nela a alma
original ainda não se encontra encapsulada pelos mecanismos da
autoconservação e por tantos outros aspectos da vida.

ensinamento gnóstico revela que o homem fada a certeza de que esse país, onde o mal não existe

O é parte de um microcosmo cujo centro é


formado por um elemento ígneo, espiritual
e divino. Nesse modo de ver, ele é um habitante tem-
e ao qual sinceramente aspiram, é real. Essa aspiração é
denominada, segundo a moderna filosofia do
Lectorium Rosicrucianum, reminiscência do coração.
porário de uma entidade eterna, que é o microcosmo. À medida que cresce e descobre as coisas do mundo
Uma criança, portanto, é ligada a um “pequeno vem-lhe o desejo de aí seguir seu caminho. Então ela
mundo”, também chamado de microcosmo. Uma pode se deixar atrair cada vez mais pela matéria, como
criança ainda não tem nenhum preconceito, está aber- sucede com muitos adultos, cair em armadilhas e
ta a todas as influências do meio que a cerca e é fre- esquecer sua missão! É importante que a criança rece-
qüentemente bastante religiosa. Ela pode ainda pensar ba na escola uma educação que lhe permita mais tarde
livremente e falar daquilo que sente no seu íntimo. encontrar seu lugar na sociedade, pois ela deve cons-
Muitas crianças vêm ao mundo com uma maturidade truir sua existência neste mundo. Mas também é pre-
adquirida no decorrer de diferentes vidas anteriores ciso que ela prepare um lugar para o Outro nela, para
no microcosmo. Elas nascem com a possibilidade de se o núcleo ígneo, que deve crescer em vibração!
libertar deste mundo e de se tornar conscientes do Toda pessoa sã de espírito e dotada de razão sabe
mundo original e divino. Diz-se que elas nasceram muito bem o que pode tolher e embrutecer uma
para “fazer florescer a vinha”. criança.Vivemos numa época em que há uma ampla
Elas nascem de pais capazes de ajudá-las e compreen- escala de produtos eletrônicos que podem privar e
dê-las, com base na lei que diz que cada novo habi- facilmente fazer a criança perder sua autonomia de
tante de um microcosmo encontra-se, devido a seu pensamento. Pais e educadores deverão preocupar-se
passado cármico, nas condições em que melhor pode, com o impacto disso sobre as crianças também a
nesta vida, dar um passo adiante. Esse desenvolvimen- longo prazo, pois cada uma delas é filha de sua época,
to, conseqüência das experiências que, desse modo, e certamente as mais velhas deverão fazer uso dessas
acompanham a criança, causa uma consciência onírica mídias. O que importa é que a criança a nós confiada
temporária, freqüentemente acompanhada de uma tenha oportunidades e permaneça receptiva às suges-
clara noção:“Eu não sou daqui.Talvez eu tenha nasci- tões provenientes do núcleo da alma e trabalhe com
do no mundo errado. Eu venho de outro lugar, de um elas.Afinal, o objetivo da existência é tornar-se um
país longínquo para onde devo voltar”. Desse modo, homem-alma.
as crianças são capazes de ouvir durante horas os con- A tudo se aplica: tentar manter aberto o desenvolvi-
tos de fadas, que conseguem facilmente imaginar, con- mento da própria consciência.
tos que falam do bem e do mal, do príncipe que No Cântico dos Cânticos, há uma exortação:
liberta a princesa e a conduz a seu país através de “Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos
montanhas, onde viverão “felizes para sempre”. se florescem as vides”. Levantar cedo significa começar
Freqüentemente as crianças extraem dos contos de desde a infância. É preciso, desde o início, atrair a

6 pentagrama 5/2007
Confiante, a menina olha o arco formado. © Pentagrama

atenção da criança para o essencial: o florescer da um fluido.


vinha. O cepo da vinha simboliza as forças que circu- Não consideramos a nova alma um elemento material,
lam ao redor da medula espinal e da medula alongada, porém um fluido vital de dimensão totalmente dife-
que formam a flama da consciência. No ensinamento rente, cuja estrutura é sétupla. Nosso mundo tem dois
esotérico isso é denominado “fogo serpentino”. Do aspectos: um material, visível, que conhecemos como
núcleo espiritual inflamado, a nova alma emana como planeta terra, e um imaterial, invisível, mas que, entre-

que a vinha floresça! 7


A árvore da vida, desenho sobre pedra da época celta. Newgrange, Irlanda. © Pentagrama

tanto, possui as mesmas propriedades e, por essa razão, deste mundo. Ele vivencia isso como um ciclo infinito
é parte absoluta deste mundo. Esse é o domínio onde, de nascimento, crescimento, desabrochar, declínio e
após a morte material, o microcosmo permanece a morte. Nós já percorremos esse ciclo muitas vezes;
fim de se preparar para sua próxima encarnação. Nele não como homens, devemos reafirmar, mas como
somente permanecem o núcleo divino e o registro microcosmos, pois como personalidades só vivemos
das experiências das personalidades precedentes, até uma vez.
que, novamente, possam ser ligados a uma criança que Aceitamos essa situação sem questionar porque não
nascerá neste mundo. poderíamos agir de outra forma, porque isso faz parte
Juntos, esses dois domínios formam o mundo que de nossa educação. Mas é justamente a vida cotidiana
conhecemos, ou seja, o mundo bipolar onde tudo se que tanto nos esforçamos para manter que constitui o
manifesta em pares de opostos: bem e mal, preto e principal entrave à libertação do núcleo da alma. E
branco, belo e feio, doença e saúde, vida e morte, corremos o enorme risco de não perceber isso antes
tangível e intangível. Uma característica importante é do fim de nossa vida. Devemos, portanto, tudo fazer,
a transitoriedade das coisas. Este mundo é também como dissemos há pouco, para “levantar cedo”. Então,
freqüentemente qualificado de “dialético”. Um micro- toda experiência já registrada no microcosmo poderá
cosmo viaja de um lado a outro nas duas metades exprimir-se o mais cedo possível. O que antes falava

8 pentagrama 5/2007
A tudo se aplica: tentar manter aberto
o desenvolvimento da própria consciência

em nós de forma inconsciente, quando éramos crian- Holanda, está gravado:“Quem O busca cedo, O
ças, é agora percebido de forma consciente.Assim, encontrará”. Essa referência à força crística universal
reconhecemos o ciclo ininterrupto das reencarnações constitui uma feliz promessa para cada criança. É com
e buscamos uma solução. a finalidade de ir ao encontro dessa promessa que o
É sempre o princípio ígneo que incita o homem a Lectorium Rosicrucianum mantém esse Centro de
buscar a verdade que está além desta vida. O mistério Conferências, fazendo dele um oásis de luz e de calma
da vida presente no centro do homem aguarda pela onde as crianças se encontram umas com as outras
possibilidade de desabrochar. Quando essa consciência numa atmosfera de amizade. Elas vêm de toda a
desperta na existência de um ser humano, ele é capaz Europa e, às vezes, de muito mais longe, para brincar,
de se libertar da roda secular de nascimento, crescimen- para instruir-se e trocar idéias a respeito de suas vidas.
to, declínio e morte, pois uma nova alma nasceu nele. Noverosa é um lugar único no mundo.
Quando o desejo de uma vida diferente cresce no O Lectorium Rosicrucianum não tenciona oferecer
homem imediatamente surge a luz que sem dúvida o um tratado para a educação, porém oferece à criança
levará a encontrar ajuda. Quando o homem tem à sua um espaço no qual ela pode evoluir com segurança e
disposição a pura energia luminosa, que provém de de maneira autônoma.Tudo isso é feito com base
um campo etérico puro, ele pode de fato construir, numa cooperação com os pais que, conscientes e
em vida, uma nova alma.A Escola Espiritual da cheios de alegria, têm uma relação plena de amor
Rosacruz Áurea possui um dinâmico e entusiástico com seus filhos.A criança necessita de proteção, e por
Trabalho da Mocidade onde tudo é feito para preser- assim dizer, de um refúgio onde ela e seu núcleo-alma
var a abertura do coração da criança, com a finalidade possam expandir-se. Numa atmosfera amistosa de
de prevenir sua cristalização. auxílio e mútua estima, nós orientamos nossas crianças
O Trabalho da Mocidade apela à inteligência do cora- no caminho do desenvolvimento de sua consciência:
ção, onde o mistério da vida espera receber espaço e estou neste mundo e encontro-me a caminho para
alimento.Além disso, há também a compreensão pelo descobrir seu verdadeiro sentido.
desenvolvimento da consciência do eu natural da Jan van Rijckenborgh disse a esse respeito:“Temos
criança. O eu não é encorajado a se inflar nem a se de cuidar para que a vinha floresça. Não deixeis que
reprimir. Crianças e adolescentes reúnem-se regular- vossos filhos sejam despojados de sua humanidade
mente nos diferentes núcleos e se encontram nas con- verdadeira por todo tipo de forças antagônicas.Atentai
ferências da mocidade. Nas crianças, a pré-memória é para que a base-alma permaneça receptiva e não seja
estimulada pelos contos e estórias cativantes. violada, para que uma vida não seja aniquilada. Se vós
Quanto aos mais velhos, a doutrina universal que se mesmos não vos levantais bem cedinho para regar a
encontra na base da filosofia da Rosacruz Áurea lhes é vinha e protegê-la, como podereis proteger os jovens
transmitida durante conversações. Na Holanda exis- ramos que são vossos filhos? Vossos filhos necessitam
tem duas escolas de ensino fundamental da Rosacruz de vós, e o melhor serviço que podeis prestar a eles é
Áurea, em Heiloo e em Hilversum, onde o ensina- viver assim” 
mento é transmitido com o programa educacional. O
importante é não perder de vista a orientação, o
conhecimento e a relação do homem com seu micro-
cosmo.
Na base da primeira pedra do Templo de Noverosa, o
Centro Internacional do Trabalho da Mocidade na

que a vinha floresça! 9


criar espaço, ampliar a visão
Quem quiser representar algo para a criança, no que se
refere à luz deverá fazer da busca o ponto central de sua
vida, pois não há respostas prontas, e sempre há perguntas
sobre o que é a vida, o crescimento e o desenvolvimento.
Porém pais e educadores certamente encontrarão respos-
tas no caminho que trilham com a criança se guiarem suas
conversas em atitude alerta, amorosa e observadora.

I
maginai as possibilidades do jovem que se desen- em seu sangue. Essa transformação interior amplia sua
volve junto com pessoas que verdadeiramente visão e cria espaço para a inspiração. O impulso para
buscam a liberdade. No mesmo instante em que ser bem sucedido, por exemplo, não é em si mesmo
ele dá um passo nessa direção – o primeiro passo menor, porém o estresse diminuirá, pois ele saberá
numa série de fases – acontece uma mudança, e um direcionar esse impulso de maneira natural. E o temor
novo elemento progressivamente encontra expressão do insucesso neste mundo, no trabalho ou na família,
certamente desaparecerá.
Uma casa espaçosa. O Universo Essa nova inspiração, que freqüentemente denomina-
mos “rosa-do-coração”, exige que se dê um novo pas-
so. Podemos considerar esse novo passo como a fase
de ligação: pouco a pouco o comportamento se har-
moniza com o que soa no mais íntimo do ser interior.

O OLHAR Caso esse desenvolvimento se demonstre


efetivamente, a palavra adquire uma nova força de
expressão. Isso é o que Catharose de Petri entendia
por Verbo Vivente. Para muitos jovens, algumas simples
palavras significam muito mais que grandes teorias,
pois aquilo que podemos verdadeiramente oferecer a
eles, ou seja, trazer para mais perto deles os valores da
vida interior, somente poderá ser ofertado se nós mes-
mos tivermos em nós esses valores. Estejamos sempre
atentos para o fato de que longas discussões a respeito
de algo que não se manifesta em nós mesmos não
produzem nenhum efeito sobre os jovens, e eles
certamente se afastarão.
Um olhar voltado para o interior mostra-nos que toda
criança, todo jovem, é um buscador, e que podemos
estimular essa atitude sendo autênticos, abordáveis,
sim, até mostrando nossa vulnerabilidade. Isso torna
instantaneamente tudo possível.
Um olhar voltado para o exterior é categórico e
reduz qualquer possibilidade. Devemos sempre con-
centrar-nos nas possibilidades de uma criança, e não
criar espaço, ampliar a visão 11
em suas limitações. Uma visão demasiado exterior
tolhe o indivíduo. Uma correta atitude aberta e atenta
evitará que os pais constranjam seus filhos a seguir
numa certa direção como se eles devessem seguir o
mesmo caminho filosófico ou social que o deles.

O RESULTADO EM ALGUNS DIAS Dai livre


curso ao desenvolvimento das crianças, saboreai a ale-
gria de uma troca livre e vivente com seus pensamen-
tos, com sua intuição pura. Não atulheis sua cabeça
com teorias, deixai-as descobrir por si mesmas a bele-
za da vida, com todas as suas oportunidades e dificul-
dades. Permanecei ao seu lado, oferecei vosso amparo
e vosso conselho, caso seja necessário, e se o pedirem.
Dessa maneira elas desenvolverão sua própria força e
se abrirão até aceitar a ajuda. É unicamente desse
modo que o caminho se abre para elas, e que elas des-
cobrem por si mesmas as grandes possibilidades da
vida e o porquê de Hermes dizer:“O homem, ó
Asclépios, é uma grande maravilha!”
Não devemos subestimar a tarefa dos pais e dos edu-
cadores no início desta era aquariana.Vemos agora
precisamente até que ponto a orientação de sua vida
interior, seu engajamento e comportamento são dire-
tamente influenciados pelo nível e pela qualidade da
família, pois existe um enorme contraste entre as
influências externas que as crianças recebem e a força,
o devotamento e o envolvimento dos pais. Pode-se
dizer que “o mundo assalta a vida das crianças com
grande violência”. Neste mundo usa-se e abusa-se de
todos os sentidos da criança, e como se isso ainda não
bastasse, acrescente-se a isso a radiação eletromagnética
desses pequenos e sedutores aparelhos, que por assim
dizer, facilitam a nossa vida. Por isso a escolha é tão
importante.
Uma escolha clara feita por um dos educadores ou
um dos pais, ou por ambos, no sentido de se dirigir
para uma transformação da vida mediante as forças
superiores da alma, mediante os valores profundos da
Gnosis, uma escolha que permita desligar-se de qual-
quer situação material ou psicológica, pode mudar
tudo para uma criança. Em apenas alguns dias essas
influências provarão ser benéficas.
O correto comportamento dos pais e dos educadores
oferece-lhes um contrapeso. Por meio de uma ligação
direta com a Gnosis semelhante comportamento per-
mite manter uma porta, uma via aberta para os jovens.
E as forças que suscitam essa ligação, as forças univer-
sais que proporcionam paz e clareza, tornam-se o
fator construtivo de sua vida 

12 pentagrama 5/2007
aqui minha vida começa de fato
A
s crianças que crescem ao lado de pais que são alunos do Lectorium Rosicrucia-
num freqüentam as reuniões do Trabalho da Mocidade e assistem às suas pró-
prias conferências. No início deste ano, os jovens entre doze e dezessete anos
responderam à seguinte pergunta: O que o Trabalho da Mocidade significa para você?
– Quando éramos crianças, ouvíamos histórias que eram contadas no templo. Eram his-
tórias às vezes apaixonantes, às vezes divertidas, mas sempre bonitas. E sabíamos que cer-
tamente eram verdadeiras, e nos reconhecíamos perfeitamente nessas histórias de crian-
ças buscadoras. Ainda não nos perguntávamos com o que se parecia exatamente o botão
de rosa no coração e como ele havia surgido, mas não levaria muito tempo para que
perguntássemos precisamente sobre o como e o por que, e começássemos a descobrir
o que é a vida neste mundo. Passariam ainda alguns anos antes de sabermos o que sabe-
mos agora: que existe ainda muito a ser descoberto, e que temos cada vez menos tempo
para fazer essa viagem de descoberta, pois a vida sempre exige mais de nós e o mundo
reclama toda a nossa atenção.
– Trata-se agora de não esquecer que você sabe qual é o ponto crucial em torno do qual
gira a vida, pois antes mesmo de perceber, você já foi absorvido pela vida diária. Estar
cônscio de que em realidade é preciso preparar toda a jornada, que os pensamentos e
julgamentos em relação aos outros e a si próprio
são tão-somente um excesso de ramos e folha-
gens que impedem a visão e o avançar. A Escola
Espiritual torna você consciente de todos esses
ramos e folhagens supérfluos, e desse modo você
começa a podá-los. Aqui em Noverosa, no Centro
de Conferências da Mocidade, na Holanda, há algo
de especial no ar, algo que você poderia chamar
de silêncio. Aqui você pode, tanto em sentido real
quanto figurado, relaxar todo o fim de semana, e é
uma pena que tudo isso acabe assim tão depressa,
e você tenha em seguida de ajustar-se de novo à
vida diária.
– Quando estou em Noverosa, nada mais existe
além de Noverosa. Nada mais tem importância. O
colégio já não existe, e até eu mesmo pareço ter
desaparecido do globo terrestre. Preocupações ali
não existem! O passado e o futuro não importam.
Eu vivo no agora, e sinto que agora minha vida
começa de fato.
– Naturalmente, viemos até aqui para encontrar
os amigos, pela atmosfera tranqüila, e também
para nos divertir. Entre nós, podemos falar de
tudo. Aqui não é preciso tentar explicar o que é
verdadeiro ou o que não é.
– Nós mesmos escolhemos isso! Aqui temos os
mesmos pensamentos e o mesmo objetivo. Aqui
sentimos que somos um só 

aqui minha vida começa de fato 13


manter vivo o sonho

Em cada um de nós vive um sonho. Sonhos são


ilusões, diz o dito popular, e isso é verdadeiro com
relação a nossos sonhos noturnos. Mas existem
sonhos – geralmente em segundo plano – que não
o são. Um sonho, às vezes, dá uma cor inexprimível
à vida. É como se essa cor tivesse em si mesma
ação moderadora e música, uma consonância quase
inaudível e ritmo próprio.

ais sonhos guardam ainda a inocência da ou aquele parceiro.

T infância, eles permanecem como lembranças


de momentos felizes que não voltam mais –
poder-se-ia dizer: carregados pelo tempo. O tempo é
Esses sonhos apenas perturbam nosso sonho primordial,
que é muito mais profundo, mais ardente e íntimo.
Esse sonho tem algo de perfeitamente inocente, ele
um rio impetuoso que tudo arrasta consigo.Todos os não está de modo algum carregado de preocupações,
dias somos levados à força pelas banalidades e pelos nós não o podemos definir. Esse sonho, essa esperança
acontecimentos que tomam todo o nosso tempo, não profunda e oculta, independe do tempo. E, contudo,
nos restando nenhum momento para nos deter, para de uma maneira ou de outra, a causa desse sonho é
nos liberar um pouco e voltar a nós mesmos. tudo o que nos acontece no tempo, o que vivencia-
Contudo, como que perdidos numa nuvem, sonhamos mos, algo ou alguém que encontramos, uma cor, um
sutilmente por trás das cortinas da existência. Não se sentimento, a vida. Quando já não o experimentamos,
trata de um sonho relativo ao nosso futuro, do sonho resta-nos apenas o tempo, o escoamento inexorável da
de possuir uma casa, de ter este ou aquele carro, este torrente que tudo arrasta consigo, indiferente ao que é

14 pentagrama 5/2007
Seis bilhões de seres humanos. Seis bilhões de sonhadores. © NASA

incomum. O tempo passa, ele tudo nivela e transforma dente, aparentemente não terreno, esse desejo nostál-
em “tempo passado”.Assim, através dos séculos, ele é gico e indefinível que habita o coração de cada um de
representado por um homem armado de uma foice; nós? Não teria isso algo a ver com o fato de verdadei-
ele não é a morte, mas, sim, o ceifador do que morreu ramente ninguém se sentir em casa no tempo? Que o
no tempo. Ele é também simbolizado pela ampulheta “eu” original e verdadeiro está fora do tempo, que ele
que é virada ininterruptamente, com a areia que escoa é bem superior a uma realidade, por assim dizer,
sem parar, ininterruptamente, em repetições perpétuas mecânica, que cresce, evolui e finalmente envelhece e
e o sempiterno ir e vir. desaparece?
Poder-se-ia dizer que o tempo corre cada vez mais
depressa. Como suportamos isso, essa busca por um LIBERTAR-SE DO RELATIVO Mas quem é esse
pouco mais de espaço e de felicidade para, em segui- “Outro”, esse homem “verdadeiro” que, como num
da, desaparecermos na corrente cruel e indiferente do sonho, talvez conheçamos inconscientemente? Cada
tempo? Terá isso algo a ver com esse sonho surpreen- segundo, cada hora, a inteira corrente do tempo é

manter vivo o sonho 15


penetrada pela radiação do atemporal, da eternidade, mesmo e não fora, onde reina o que é relativo. Esse
que é força, espírito e luz! Essa luz da eternidade nos reconhecimento não está ligado ao tempo, e pode
toca no ponto de todos os grandes encontros: o cora- acontecer a qualquer momento, a cada etapa da vida.
ção. Esse é o ponto crucial onde a eternidade derrama Esse é nosso ponto de partida para uma exploração
seus dons na torrente do tempo. E se o homem se consistente das diferentes fases da existência do ser
torna consciente dela – pois ele mesmo é o ponto de humano. Queremos fazer isso a fim de localizar em
semelhante encontro – então ele é subitamente “ilu- nós mesmos nossos aspectos ocultos, pois é aí que
minado”, sua consciência se torna mais clara, ele per- entramos em contato com as grandiosas possibilidades
cebe, como que pelo olhar interior, as imensas pers- espirituais que a eternidade oferece ao coração, ou
pectivas, vê, poderíamos dizer, além e acima dos limi- seja, à rosa que floresce no coração da cruz, lá onde o
tes do mundo material. Então ele percebe que a glória tempo e a eternidade se tocam, se cruzam, e onde a
da eternidade toca o coração de todas as coisas, que rosa se torna consciente.
esse encontro com a eternidade tem lugar em tudo e Afirmamos que tudo isso não acontece na agitação do
em todos. Não existe nada que não seja tocado ou mundo relativo, mas na calma, no silêncio e na paz de
que fique de fora.Tudo que vive está em relação direta um coração iluminado, em harmonia com a energia à
com a eternidade. Se tudo, exteriormente, é relativo e qual ele se abre.Ao mesmo tempo compreendemos
dependente, interiormente tudo se defronta com a que cada etapa desse caminho desvela perspectivas e
eternidade como uma única e grande questão, e é a oportunidades especiais, e envia forças espirituais que
eternidade que responde! visam trabalhar para o nosso desenvolvimento interior
O homem verdadeiramente tocado busca libertar-se e para o desenvolvimento de nossos semelhantes; por-
do relativo. Sua relação será de outra natureza, ela tanto, para o desenvolvimento de cada um de nós, ini-
seguirá outro modelo. No centro de seu comprometi- ciante ou discípulo, desde que nos mostremos receptí-
mento estará Cristo, o coração que irradia o amor de veis à radiação da eternidade. Cada etapa é adaptada à
Deus. O ser humano reconhece esse centro em si busca desse objetivo.

16 pentagrama 5/2007
Mas quem é esse “Outro”,
esse homem “verdadeiro”
que, como num sonho,
talvez conheçamos
inconscientemente?

Os jovens alunos – alunos iniciantes – aprendem mudança em sua vida. Em seguida, ele poderá educar
como a eternidade traça uma linha no tempo e, a criança e ajudá-la a desenvolver a força interior com
espontaneamente, adaptam-se resolutamente a isso. a qual poderá manter-se no mundo bastante confuso
Como eles o fazem? J. van Rijckenborgh responde: que está tanto dentro quanto fora dela.
“Conscientizando-se das leis que governam a imensa
criação de Deus! O conhecimento do modo como O CRESCIMENTO INTERIOR Durante o primeiro
tudo cresce, inclusive a criança. O conhecimento da período, do nascimento aos sete anos aproximadamen-
ligação da criança com os mundos superiores, e tam- te, dizemos que a criança ainda é pouco consciente do
bém o conhecimento de toda a humanidade, e de si mundo material que a cerca. Nesse período é impor-
mesmo.A educação e a auto-educação seguem, por- tante não forçá-la a ser aquilo que desejamos que ela
tanto, de mãos dadas. O ponto de partida será a edu- seja, segundo um modelo.A compreensão não forçada
cação das crianças pelos pais [...] e pelos estabeleci- que os pais devem ter das grandes possibilidades da
mentos de ensino dentro das condições traçadas em relação entre o microcosmo – o aspecto humano eter-
linhas gerais. Isso, certamente, sem uma obediência no – e a jovem personalidade é fundamental, assim
forçada, por exemplo, porém guiando a criança a partir como é fundamental preservá-la. Essa é a tarefa crucial
do interior, mediante nosso próprio exemplo, tanto dos educadores. Com preservá-la subentende-se: con-
interna quanto externamente.” servar pura a atmosfera em que a criança se desenvol-
Se ignorarmos as leis ou o plano subjacentes à exis- ve, pura e isenta de influências negativas sobre seu sis-
tência, então é normal que as forças espirituais latentes tema em desenvolvimento. Nesse sentido, fazemos notar
e ocultas da criança sejam desviadas e freadas, e que o que as relações sociais não são favoráveis nessa fase...
desabrochar de seu ser interior seja gravemente amea- Com efeito, nessa fase, o desenvolvimento da criança,
çado. determinado pelas forças formadoras da lua, fundamen-
Quem quer que deseje ser um verdadeiro educador ta-se, em grande parte, na “imitação”, o que explica a
deverá começar necessariamente por projetar uma extrema importância do comportamento dos pais. Por

manter vivo o sonho 17


outro lado, as amizades são muito importantes; elas messa, o reino eterno, a alegria e a glória da criação
formam o exemplo, tanto exterior quanto interior- divina, contudo isso ainda se encontra intimamente
mente. Mas o que é decisivo para o desenvolvimento oculto.
das crianças é sua atitude, sua orientação, e o centro de
gravidade de sua vida. Está viva nelas essa relação com A SEGUNDA FASE, O CRESCIMENTO O nasci-
o “misterioso”, com o “oculto”, elas estão voltadas mento é um verdadeiro milagre, e com ele também se
para o eterno nelas, para o campo de vida original, apresenta a eternidade. Nos primeiros anos se mostra
para a realização de si mesmas nesse sentido? Elas o que poderíamos compreender pela noção “Pai”, o
mantêm vivo o “sonho”? Se o órgão interno – a alma criador, a fonte de onde tudo provém, que tudo sus-
– que percebe o plano e que determina o curso de tenta e nutre. Nesse primeiro período da nova vida, da
sua vida está desperto, a primeira fase do desenvolvi- vida recém-nascida, é importante que os educadores
mento de sua infância está garantida em grande parte. reconheçam essa realidade, pois então o desenvolvi-
As qualidades de alma não são libertadoras em si mes- mento que busca se manifestar na criança pode ser
mas, mas se forem associadas a uma consciência supe- fortemente sustentado e favorecido. Quantos erros e
rior, ao entendimento superior – o que denominamos que profunda ignorância existem em relação a tudo isso!
sonho – é certo que surgirão os primeiros princípios Dos sete aos quatorze anos a ênfase é dada ao desen-
do poder criador. A criança traz tudo em si: a pro- volvimento do corpo etérico. No decorrer dos pri-
meiros anos trata-se, sobretudo, do crescimento físico e
“Quase tudo”. Lobo da fixação genética do plano, da idéia, das linhas de
evolução do homem futuro.A criança tem então
pouca consciência de si mesma. Na segunda fase, o
sangue é dinamizado em virtude da ligação entre a
matéria e os éteres, o que faz desenvolver os pulmões
e o coração, órgãos estes pelos quais atua o sangue
bem como o sistema nervoso simpático – o sistema
que não é regido pela vontade.Agora, é principalmen-
te o sangue que é necessário ser mantido puro. O san-
gue é o veículo de todos os aspectos da alma; sim, é a
alma, poder-se-ia dizer, onde o aspecto Pai que se
encontra latente é estimulado e começa a se delinear.
Devemos aqui fazer uma observação a respeito do
“aspecto Pai” e em seguida sobre a “fase Filho”. Não
devemos considerar essas expressões como represen-
tando poderes individuais.Trata-se de forças formado-
ras cuja característica é essencialmente não terrena,
evidentemente. São forças que fazem do homem,
nesta vida e sobre a terra, um exilado, de quem, con-
tudo, não devemos negar a origem celeste e sublime.
O desenvolvimento da criança também exige isso. É
notável que, justamente neste período, ela se interesse
pelas estórias plenas de alma onde aparecem cavaleiros
e princesas, e cujos heróis realizam grandes feitos.
Trata-se do início do crescimento da alma, que ainda
não passa de um princípio. Essa é a fase “Filho”: os
primeiros elementos da verdade e da doação de si
mesmo surgem como forças formadoras para a nova
alma do jovem. Como já foi dito, a criança ainda não vai de um lado para outro como um dançarino sobre
realiza um trabalho consciente sobre si mesma, mas ela patins.
registra tudo o que lhe é dado do exterior. Eis por que a Escola da Rosacruz Áurea oferece a
Sublinhamos ainda mais uma vez a importância parti- seus jovens membros um campo de vida protegido,
cular dos exemplos que lhe são apresentados, ou por um Trabalho da Mocidade com aspectos diversos.
outras palavras, a orientação e o comportamento dos Num ambiente equilibrado e radiante, os jovens
pais e instrutores. podem nele passar momentos bastante significativos
para seu desenvolvimento.Ali eles encontram pessoas
O RAIO DE AÇÃO SE EXPANDE A partir dos que se esforçam em viver de acordo com aquilo que
quatorze anos – isso pode variar de um jovem para reconhecem como o verdadeiro caminho de desen-
outro – o jovem experimenta sempre mais fortemente volvimento interior e que, ao mesmo tempo, sabem e
a necessidade de fazer algo por si mesmo.A parte do compreendem tudo o que os jovens vivem e experi-
sistema nervoso suscetível de ser dirigida pela vontade mentam, pois elas próprias passaram por isso. Para J.
se desenvolve. O jovem é fortemente levado a agir e é van Rijckenborgh a arte e a expressão como a dança
nesse momento que ele se liberta da influência dos e o teatro podem ser verdadeiramente positivos.A esse
pais.Agora os pais podem desempenhar um papel respeito, os educadores têm a oportunidade de canali-
extremamente determinante na qualidade de amigos, zar as forças divergentes que lutam pela primazia no
mantendo-se vigilantes. No jovem que cresce com interior dos jovens e que com freqüência criam con-

A arte de se exercitar para “ser um homem verdadeiro”


requer amor pela criatura maravilhosa que somos.
boa saúde pode-se ver com freqüência que ele é fusão. Desse modo é possível evitar-se o aparecimento
impulsionado pela necessidade assombrosa de adquirir de vários complexos, de maneira que no futuro não
conhecimento, de aprender e de saber. Se tudo estiver reste qualquer sinal deles.
bem, esse desejo corresponde ao impulso vital que o Naturalmente, esses jovens se interessam pelo sexo
incita a conhecer as coisas e suas relações mútuas. oposto. Esse é um assunto dos mais importantes com
Mas será que tudo está sempre bem? Justamente nesse o qual temos de nos ocupar. Não nos limitemos a
momento vemos, com freqüência, tudo malograr. O falar apenas das atividades hormonais. Nos ensinamen-
jovem quer atuar com o auxílio de forças que ainda tos das leis ocultas essa atração para o sexo oposto é
não desenvolveu, e ele avança fazendo experimenta- vista de forma mais abrangente e uma outra impor-
ções. Não há outra maneira. O poder de compreen- tância lhe é dada. Na maioria dos casos a criança
são, o corpo mental, ainda não está amadurecido, e ele sente, inconscientemente, que o conhecimento real
pressiona e desvirtua o jovem. Ele tem os mais belos não pode provir apenas de uma única direção.
sonhos, e suas perspectivas sobre o futuro são extrema- Somente a colaboração das atividades inversas de
mente claras, puras! O autocontrole, a vontade e a ambos os sexos pode suscitar uma força dinâmica – e
intuição são, sem dúvida, faculdades potencialmente somente após atualizarmos essa força na vida é que
presentes nele, porém, ainda explosivas e impulsivas, na alcançamos o domínio do verdadeiro saber, da vida
maioria dos casos. Justamente por isso, o jovem neces- em sua total coerência.
sita ter ao seu lado os pais, os educadores e os amigos, O crescimento ulterior do jovem é caracterizado pela
pois nesse exato momento ele deve enfrentar a vio- interação entre o saber, o conhecimento e a propensão
lência do mundo do comércio, das forças vitais desen- a fazer algo da própria vida. Em sentido positivo,
freadas e tudo o que se encontra por trás disso. E vemos isso se expressar nos jovens através de uma
como ainda não tem nenhum equilíbrio nem tranqüi- busca pessoal, da busca de uma percepção maior de
lidade próprios, e sim o incoercível desejo de viver, ele seu meio, da sociedade e dos impulsos vitais; os jovens

manter vivo o sonho 19


assumem sua independência e se põem a pensar de
modo autônomo.
Porém, permanece a pergunta: Sobre que fundamento?
Sobre qual base de vida? Nos jovens essa base é o
tenaz interesse que eles dão a seu “eu”. Mas eles podem
também escapar disso e dar prioridade à atenção e ao
alimento que sua alma reclama. Isso lhes dará então
condições de novamente experimentar a sensação de
vida antes existente, quando as forças puras ainda eram
atuantes neles!

O PERÍODO SOLAR O período seguinte decorre


entre os vinte e um e vinte e oito anos. Essa é sem
dúvida a fase mais decisiva: a formação do veículo
mental. Fica claro que agora o jovem tornou-se inde-
pendente e que os educadores fizeram o seu papel.
Mas, considerando o que precede, pode-se dizer que o
ser humano ainda não está maduro.Trata-se, antes de
tudo, de saber se a consciência da alma vai poder
começar a se expandir, ou então se o poder mental e a
inteligência vão evoluir segundo as linhas da sociedade
comum.
A Doutrina Universal nos ensina que essa fase é forte- consciência da alma. Quando o jovem faz a escolha
mente determinada pelo aspecto planetário do sol. positiva, dá-se a ligação consciente com as vibrações
Nesse período os jovens adultos são particularmente do campo universal do Espírito, o domínio original da
trabalhados pelas forças solares, pelo sol espiritual. E vida da alma.Apesar de todas as preocupações da vida
agora que eles dispõem de seus próprios veículos, em sociedade, delineia-se nele, pouco a pouco, no
chega o momento em que deverão decidir-se: deixar- silêncio interior, os contornos da alma-espírito viven-
se inspirar pelas forças superiores da alma e trabalhar te.A partir daí, o jovem tem a capacidade de progredir
com essas forças que querem ligá-los à sua origem até a sétima fase, a fase do Espírito.
espiritual, a esfera solar – ou consagrar-se totalmente Todas essas fases se apresentam, portanto, diante de
às forças sociais terrestres que em grande parte irão nossos olhos, tal como devem ser, se provierem dos
determinar sua consciência. Com efeito, é possível ver verdadeiros impulsos de Cristo. Nesse sentido, a Escola
aqui, em pequena escala, uma repetição da simbólica Espiritual pode ser um auxílio importante aos que
“queda do paraíso”. Em cada uma de suas vidas, o dela participam. No primeiro período ela protege, cir-
homem deve fazer uma escolha. Somente após essa cunda e provê os alimentos espirituais necessários. Na
escolha ter sido feita, tendo o quarto veículo adquiri- fase crucial, entre os vinte e trinta anos, no momento
do a possibilidade de atuar, na medida do possível, na da escolha, ela esclarece a consciência por meio de
atual fase, é que se pode dizer que a personalidade todas as explicações que ela dá por meio das alocuções
quádrupla está completa, podendo dar início a uma e rituais inspirados, realizados nos Centros de
vida terrestre consciente. Se a balança pender para Conferências. E nos períodos seguintes, até os quaren-
uma vida orientada para o crescimento interior, todas ta e nove anos, ela sustenta a formação do ser interior
as fases seguintes igualmente se patentearão como pas- e o desenvolvimento da alma original.
sos em direção à realização.
Após as diferentes etapas de que acabamos de falar, A SEGUNDA METADE DA VIDA As fases seguin-
segue-se como quinta fase o desenvolvimento da tes de sete anos são, cada qual, uma repetição das sete

20 pentagrama 5/2007
Concentração e alegria. Crianças brincando na Conferência
da Mocidade em Noverosa. © pentagrama

primeiras, porém em sentido inverso.As primeiras sete Oferecemos às nossas crianças uma boa oportunidade
fases tratam, evidentemente, de um crescimento com de crescerem de maneira certa quando podemos ligá-
relação ao exterior, enquanto os últimos concernem las aos impulsos da luz do campo de vida original que
ao crescimento interior. No antigo Egito, acreditava-se nos envolve e nos penetra. Então, o desenvolvimento
que o coração, além de sua ação motora, era o centro da criança, que acabamos de esboçar, pode seguir seu
da formação dos pensamentos, aumentando em força curso segundo uma luminosa transmutação alquímica.
e volume até os cinqüenta anos, para em seguida, Tudo depende de nós. Cada jovem tem seu próprio
diminuir. caminho, seu próprio sonho, seu próprio mistério de
Com efeito, podemos ver como a pessoa entre os cin- luz. É preciso conservar vivente em nós uma visão
qüenta e os sessenta anos – em condições ideais – correta e positiva da vida, aureolada de luz, e oferecer
chega ao ápice de sua vida social e em seguida se reti- ao jovem a oportunidade de aprender tudo o que
ra progressivamente. Caso tenha desenvolvido uma concerne às forças, experiências e conhecimentos.
vida interior, chega o momento em que, devido a Então ele já não precisará fazer, pela enésima vez, um
todas as reflexões e serviços prestados, ela acumulou novo giro na roda do nascimento e da morte. Ele tem
uma grande sabedoria, sendo nisso auxiliada pelas for- todas as possibilidades de ressuscitar no seio de um
ças-luz que penetraram sua vida íntima graças aos novo ambiente mental e espiritual. É certo que “algo
desejos conscientes de vida interior e unidade. novo surgirá do antigo”; e um jovem que se beneficia
Certeza, benevolência e compreensão formam nessas de tais condições de vida crescerá de modo a ser uma
diversas fases uma base segura para os sentimentos de bênção para o seu meio. Ele se manterá na tradição
amizade e uma relativa felicidade proveniente de uma vivente da Rosacruz universal, pois essa é a única
vida verdadeiramente realizada.Amargura, devido à meta de sua vida 
falta de oportunidades, e injustiças passadas, preocupa-
ção e medo da morte acompanham os últimos anos
dos que não atingiram esse estágio.

manter vivo o sonho 21


a bandeira de Noverosa
Há muito tempo a bandeira da Mocidade ornada com
esse símbolo flutua ao vento, carregando sua história ao
redor do mundo em todos os Centros de Conferências
do Lectorium Rosicrucianum que trabalham para a
Mocidade.

Q
ue significa esse símbolo? Vemos uma rosa
vermelha no centro de uma estrela áurea
dentro de um coração branco, todos sobre
um céu azul. É o símbolo da grande oportunidade
que nosso tempo oferece: a possibilidade de se enga-
jar no caminho da verdadeira evolução do ser huma-
no. A brancura do coração indica a pureza. Se o cora-
ção estiver dominado por vivas agitações emocionais
e passionais, não haverá nele lugar para a luz do
Espírito, ele será incapaz de ouvir seu doce murmú-
rio. O coração humano é um órgão extraordinário.
Ele não é apenas o motor da vida; tudo que se refere
à existência cotidiana ressoa nele. Ele é, portanto, o
lugar no qual abundam sentimentos, desejos, emo-
ções.
Mas o coração é também o lugar onde a centelha-
do-espírito religa o homem a seu microcosmo, o
lugar onde a alma aguarda despertar para renascer –
como a princesa dos contos de fada. Essa alma é
amor e só reconhece o amor. para o mundo e a humanidade. No curso de tal evo-
Quando o coração é tocado pela radiação do amor e lução, o eu termina por passar totalmente para segun-
pela luz da Gnosis e a personalidade se volta para elas, do plano. O vermelho é, assim, a cor do sangue. À
ele compreende o que o amor busca, o que ele quer medida que progredimos no caminho, o microcosmo
lhe ensinar; ele se purifica aos poucos e adquire a cor se cerca de um brilho dourado e revela o homem-
branca. espírito imortal.
Na Rosacruz Áurea consideramos a rosa o símbolo A veste áurea de núpcias. É esse o sentido que damos
da revivificação do microcosmo, o pequeno mundo à estrela áurea. Se ficarmos de pé, braços e pernas
que cada um de nós é. Na bandeira, ela é vermelha, abertos, formamos uma estrela de cinco pontas. A
embora muitas vezes seja representada pela cor dou- estrela será áurea se a veste áurea das núpcias alquími-
rada.Vermelha, ela nos mostra o passo a dar no curso cas tiver sido tecida, ou seja, a marca de uma alma em
da formação do verdadeiro homem; ela é a imagem pleno desenvolvimento espiritual. Essa pessoa irradia
da nova alma que ocupa cada vez mais lugar no cora- como uma estrela e toca os corações abertos dos que
ção. E à medida que cresce a força dessa nova alma, a buscam a verdade. Ela é capaz de mostrar o caminho
personalidade se consagra cada vez mais ao serviço a seus irmãos.

22 pentagrama 5/2007
Pendão de Noverosa que tremule!

Nosso brasão revele assim:

aberto coração, a rosa,

estrela áurea que é o fim.

O vento faz nossa bandeira ondear,

sua mensagem leva a todo ser.

Milagre escutai, palavra silenciosa

sussurre para quem a queira ouvir.

Pendão de Noverosa que tremule,

O coração puro e branco, a rosa vermelha e a estrela leve a nossa saudação!


áurea estão estreitamente ligados sobre um fundo azul
que representa a nova vida. O azul é a cor dos tem- Transmita nossa alegria
pos vindouros nos quais tal desenvolvimento é possí-
vel. Essa bandeira flutua sempre onde estão os jovens a quem o seu brasão olhar.
que têm a intenção de concluir o caminho.
O vento leva consigo a mensagem para os quatro Assim queremos, nós da Mocidade,
cantos da terra. Essa imagem que simboliza o
Trabalho Internacional da Mocidade foi recentemen- com todos que ouvem o chamado seu,
te registrada, portanto está protegida mundialmente
como símbolo do Trabalho da Mocidade da com eles partilhar Tesouro ofertado,
Fundação Religiosa Internacional do Lectorium
Rosicrucianum  na roda de amigos sempre estar!

a bandeira de Noverosa 23
a alma e as forças
da natureza
Se existe algo de que o mundo necessita ao início desta nova era
é exatamente de homens e mulheres que testemunhem de uma
verdadeira vida espiritual, ou por outras palavras, de uma vida animada
pelo Espírito. Às vezes é possível perceber algo disso de maneira
sutil no modo como as pessoas resolvem os problemas ou em seu
modo de falar e agir.

S
e perguntarmos a uma pessoa como ela vê o
futuro da humanidade e do planeta, freqüente-
mente ela responderá dizendo que estamos nos
precipitando a grande velocidade para uma total auto-
destruição. Esse sentimento é bastante evidente sobre-
tudo nos países industrializados. Muitos se revoltam
contra o que parece inelutável; muitos, contudo, acei-
tam e se conformam.
Há também pessoas que, de todas as maneiras possí-
veis, buscam uma mudança. Fala-se de “re-harmoniza-
ção das correntes energéticas da terra”, de “correntes
de oração”, de “expansão da consciência” e da impor-
tância do “conhecimento esotérico”. Do ponto de
vista dessas pessoas, se o pensamento for transformado,
se o campo mental do planeta se modificar – e essa é
a idéia – a humanidade poderá abrir caminhos para
um novo modo de vida.
Torna-se cada vez mais evidente que chegamos a um
ponto crucial no desenvolvimento da humanidade,
num ponto em que devemos fazer escolhas muito
conscientes.Trata-se de um ponto no ciclo do mundo
em que se vê delinear interiormente o verdadeiro
homem. Nessa luz é possível seguir um novo caminho
de desenvolvimento numa espiral vibratória superior.
Simultaneamente, abre-se um caminho que conduz a
um nível que já não comporta nenhuma cultura par-
Isis, escultura copta, século 4
ticular, algo como um caminho “não-cultural”, se

24 pentagrama 5/2007
assim podemos nos expressar, o retorno a um estado ULTRAPASSANDO OS LIMITES DA CONSCIÊNCIA
em que tudo deverá começar novamente. O que não se faz hoje em dia para penetrar a consci-
ência com o objetivo de dirigir nossa vida! Vemos
OS DOIS CAMINHOS Nesta encruzilhada, nesta difundir-se, por exemplo:
virada dos tempos, tomamos parte numa luta secular, • tecnologia barata, presente em todo lugar, que
denominada pelos antigos “a batalha da luz contra as fragmenta a consciência e a dirige continuamente
trevas” e que gostaríamos de chamar de “a escolha para fora de nós mesmos;
entre o caminho da alma e o caminho dos éons”. • a atitude de achar que “tudo é normal”, que “tudo
O primeiro, o caminho da alma, confere uma força é possível”, como por exemplo, a banalização das
que é um imenso suporte, um poder espiritual arreba- chamadas “drogas leves”, que entretanto danificam
tador que nos liga ao mundo do Espírito. Muitas pes- grandemente nossa capacidade e o livre arbítrio;
soas estão abertas a esse caminho. Ele oferece inúmeras • a depreciação do conceito “esforço pessoal” que,
possibilidades e perspectivas.Trata-se da recriação de sobretudo nos países industrializados, torna a pes-
um ser humano que verdadeiramente pode falar de soa inativa e dependente.
liberdade, justiça e fraternidade. Antigamente podia-se dizer que os conflitos sempre
O segundo caminho reúne e reagrupa todas as forças, aconteciam devido à expansão das próprias fronteiras
visões e idéias do domínio do espaço-tempo. Esse às expensas de outros; atualmente luta-se para expan-
caminho conserva a maioria dos seres humanos na dir as fronteiras da consciência. Quem souber con-
evolução natural ao orientar-lhes a atenção, os desejos quistar um lugar na consciência das crianças garantirá
e a força vital continuamente para si mesmos. Por isso, uma porta de acesso a elas por muitos anos.As conse-
os jovens são suas primeiras vítimas. Às vezes é dito qüências são bastante evidentes. De início, é possível
que “a juventude é o futuro”, mas se desde a mais que o poder de concentração e de decisão, dois ele-
tenra infância a atenção da criança é atraída para o mentos de grande importância nas reações interiores
caminho da natureza, é bem possível que ela não con- aos impulsos espirituais, sejam minados.
siga reagir aos suaves impulsos da luz, pois ela nada lhe Eis por que é preciso que determinemos o que quere-
diz. Isso significa que as gerações futuras estarão domi- mos admitir em nós mesmos, em nosso lar, em nossa
nadas. alma e na alma de nossas crianças. E isso não é tudo.

a alma e as forças da natureza 25


Como podemos
trabalhar para as
futuras gerações?

Enigma.

Representamos conscientemente um papel na vida atualmente por uma atividade sexual super desenvol-
social e temos responsabilidades. E ainda mais: como vida. O desemprego e a exaltação da busca pelo prazer
seres conscientes, quais são as idéias, as energias, objeti- do indivíduo, da consciência, da própria família e da
vos, alimentos e informações a que damos ou não orientação religiosa limitam os horizontes. Um dos
guarida em vós? E isso decorre inteiramente de uma mais importantes elementos de negação (as forças
única questão: qual a orientação de nossa vida? Em eônicas) do longo caminho para uma vida humana
que direção conduzimos? Que lugar damos ao pro- mais elevada é a cultura de massa, degradada, nivelada
fundo anseio pelo Bem Único em nossa vida? pelo ponto mais baixo.Aqui a “multiplicidade” opõe-
Certamente, não é de se admirar que muitos achem se à “qualidade”.
que viver a serviço da alma, a serviço do homem uni- Ninguém precisa privar-se de nada; tudo pode ser
versal, leve a um conflito com o desenvolvimento no vivido virtualmente, e cada um pode, portanto, fazer
atual meio sócio-cultural. Mas isso jamais será possível, as mesmas experiências de todos. Por outro lado, o
pois tudo o que uma pessoa diz ou faz tem conse- homem luta por novos valores éticos, ou para usar os
qüências e continua a atuar de uma forma ou de antigos e bem conhecidos valores. Muitas pessoas se
outra. Se tivermos a coragem de manter nossa decisão chocam com o comportamento geral. Muitos temem
interior, então as circunstâncias se modificarão. Não o aquecimento global, as catástrofes e o quadro forne-
pode ser de outro modo. cido pela Organização Mundial de Saúde. Eles rea-
Quem, como adulto, está determinado a viver segun- gem, dizendo que “é preciso fazer alguma coisa pelo
do critérios superiores, oferece a seus filhos um planeta”.
ambiente favorável e uma elevada base de vida que Depois do Iluminismo e da tecnocracia a serviço da
permitem à personalidade da criança e à sua alma tão economia, o novo credo é a ecologia humanitária.
receptível desabrochar em total liberdade. Será ainda possível deter, ou pelo menos frear, o dese-
quilíbrio da natureza (conseqüência do desequilíbrio
DESSOCIALIZAÇÃO O Ocidente caracteriza-se dos objetivos perseguidos pelo homem e os interesses
pelo excesso de consumismo de bens e serviços, e a eles ligados) e a marcha da humanidade? Estaria aí o

26 pentagrama 5/2007
caminho da alma? Nossa aspiração ao que é eterno no eônica, que se expressa abertamente no mundo,
microcosmo, o desejo de ligar-nos novamente a Deus, podem caminhar juntas no puro campo de força da
não oferece uma opção significativa? E o que fazemos Escola Espiritual.A criança que cresce nesse contexto
com relação a isso para as gerações futuras? aprende rapidamente o significado da “educação pes-
soal”, que atualmente é a primeira exigência.
O desenvolvimento da criança ocorrerá, em primeiro Desde muito pequena a criança é confrontada com
lugar, segundo a expectativa dos pais e com base em situações complexas, e a necessidade de fazer escolhas
seus impulsos interiores. Sua polarização, sua com- em total independência far-se-á sentir muito cedo.
preensão do essencial e suas ações formam o funda- Em tal momento, é importante que ela compreenda a
mento sobre o qual a vida da criança se desenvolve situação e a domine. Os modelos educativos dados
(antes mesmo do nascimento). O acompanhamento pelos pais e pela sociedade, ainda que necessários, são
diário, tanto no campo biológico quanto no psicoló- muito limitados. Em nossa sociedade moderna esses
gico, é de importância fundamental para o amadureci- limites aparecem rapidamente. Eis por que a criança
mento da criança. Por isso, é do maior interesse que deve ter a capacidade de realizar sua “educação pes-
tanto os pais quanto os que acompanham a criança soal”. Se houver interiormente um desejo ardente de
vibrem conscientemente com a grande mudança que acercar-se do bem e seguir a voz da alma, a faculdade
transfigura todos os átomos de sua vida. de “auto-educação” será para ela muito preciosa e
atuará como uma proteção contra a influência das for-
A CAPACIDADE DE EDUCAÇÃO PESSOAL ças da natureza.
Que portas nós fechamos, que portas deixamos aber-
tas e quais são as conseqüências disso? Um constante A AMIZADE É O MELHOR AUXÍLIO A autorida-
auto-exame e uma prática inspirada devem ser parte de exterior pesa cada vez menos na balança, e com o
de nossa vida diária. O meio ambiente pode formar tempo pode até mesmo tornar-se contraproducente.
uma esfera que se torna um verdadeiro oásis para nos- Atualmente o indivíduo é sagrado. Por conseguinte,
sos filhos, um lugar onde podem se ajustar a uma vida regras e regulamentos não têm muito significado. Por
alegre e inteligente orientada para a alma, onde isso é muito importante que a criança mesma possua a
podem respirar livremente, encontrar uma calma isen- faculdade de julgamento e de discernimento, pois isso
ta das tensões nervosas e do ritmo febril do mundo a ajudará a determinar o que lhe parece aceitável ou
exterior; onde podem ter uma compreensão clara e não, e com quem se ligar ou não. Isso é aprendido
uma visão ampla dos acontecimentos e receber o sobretudo se nesse sentido os pais e os que se ocupam
apoio pleno de amor nos momentos difíceis pelos com a criança se esforçam para mostrar-lhe os fatos,
quais, sem dúvida alguma, terão de passar.Acima de com os altos e baixos, aberta e amigavelmente. Esse
tudo, eles se beneficiarão de uma atmosfera em que poderá tornar-se o fundamento de uma nova educa-
uma conseqüente atitude de vida é sempre mantida. ção e influenciar fortemente a vida social do homem
O lar, então, poderá ser o lugar em que a criança irá como um todo 
aprender como a vida do homem aspirante e a força

Serpente mítica da Austrália

a alma e as forças da natureza 27


Somos pó –
poeira de estrelas.
© M. Chagall.

o criador move o Universo


A
o contemplar o mundo continuamente em mutação, o homem racional acaba
por concluir que existe uma relação eterna e indefectível com a divindade, rela-
ção essa que assegura a coesão universal. Se vemos no mundo material um
processo de desintegração ou de transformação, vemos também que o permanente
reside em meio ao efêmero. Podemos reconhecê-lo. Por isso é preciso indagar-nos. O
que é permanente em nós é a luz interior da alma, comparável à luz exterior que torna
tudo visível.
Contudo, o ser humano não reconhecerá que a alma é luz enquanto ele não nascer de
Deus, ou seja, enquanto ainda olhar as coisas com seu próprio espírito e com o espírito
da natureza, e não com o espírito divino. Se começa a ver Deus em seu espírito, então
compreende que Deus está fora do espaço, do tempo, dos lugares e do movimento, e,
no entanto, que deve haver em Deus algo comparável ao movimento, que ordena o
espaço, o tempo, os lugares e tudo o que existe. Esse algo é o verbo, a sabedoria e a
glória de Deus. E esse verbo não é uma entidade abstrata, mas algo tangível por meio
do qual o divino influencia o ser humano em sua mais pura forma, o supra-sensorial
influencia o sensorial e o espiritual influencia o corporal; algo que influencia
• a receptividade do homem ao divino,
• o poder do homem exterior de se sublimar até o supra-sensorial, e
• o poder da matéria de elevar-se até a glória do espiritual 

o criador move o Universo 29


a casa de meu pai

Vista do jardim de ervas aromáticas do Centro de Conferências Renova

30 pentagrama 5/2007
Final de tarde no Templo de Noverosa

V
eja em que me tornei. Veja como neste instante a escuridão me envolve por
todos os lados. No país de meu pai, onde ele é rei, todos os dias eu vagava
sozinho ou em companhia de meu irmão gêmeo, no palácio ou no pátio. O
palácio é grande e possui quatro torres, uma em cada canto. Do alto dessas torres
pode-se avistar jardins repletos de rosas e a muralha que nos cerca. Nessa muralha há
doze portas, cada qual decorada com uma taça de vidro que contém uma pérola.
Doze pérolas cintilam à luz do sol. Além da muralha de doze portas e doze pérolas
vê-se o mar. De todos os lados. O palácio de meu pai foi construído numa grande ilha.
Sim, é ali que se encontra o palácio de meu pai, que é o rei.
Quase me esqueço de dizer que na frente do palácio há um leão. Quando criança, eu
estava convencido de que ele sabia tudo, que conhecia cada segredo do mundo, que
permanecia acordado à noite e contemplava o mundo além do jardim e do parque ao
redor do palácio do meu pai, que é o rei, e o mundo do outro lado do mar. Durante o
dia, o leão feito de bronze guarda o palácio e não diz uma palavra. Ele jamais me con-
fiou os segredos do mundo e nunca me falou da imensidão do deserto, da altura das
montanhas, da violência dos cursos d’água, da fúria sinistra do trovão e dos raios sobre
as planícies, das tempestades sobre as longas ervas das estepes, das tempestades nos
oceanos de profundezas insondáveis onde é impossível ancorar.
Li tudo isso nos livros da biblioteca de nosso palácio. É um labirinto constituído de
estruturas imensas, contra as quais elevam-se escadas que me possibilitam alcançar as
prateleiras mais altas. Livros repletos de histórias, maravilhosas histórias. Livros repletos
de lugares, estranhos lugares. Livros que narram coisas tão diferentes sobre o mundo,
tão variadas, tão desconhecidas, que despertaram em mim um desejo. Eu desejava
esses lugares distantes e desconhecidos, desejava saber o que acontecia além da mura-
lha, do outro lado do mar. Eu desejava viajar. E, por pensar que ninguém acharia que
minha idéia era boa, uma noite, fui-me embora sem dizer nada. Não olhei para ver se
o leão estava lá, porque isso era uma fantasia do meu tempo de criança.
Fugi como um ladrão na noite. Deslizei da cama sem despertar meu irmão gêmeo, saí
silenciosamente e deixei o jardim pela torre leste. À porta, peguei com cuidado a
pérola da taça de vidro, envolvi-a num pedaço de seda e guardei-a no bolso de meu
casaco. A pérola sempre me faria lembrar de minha casa, pensei. Afinal, quanto tempo
duraria minha viagem? Eu partia sem um objetivo preciso.
Depois de muito navegar, desembarquei numa praia e continuei meu caminho rumo a
esses lugares distantes e desconhecidos.

a casa de meu pai 31


Isso foi há muito tempo. No co-
meço eu contava os dias e as noi-
tes passados desde minha partida.
Incontáveis foram os dias em que
eu sentia falta de meu pai e de
minha mãe, e também os dias
durante os quais eu me esquecia
de meu irmão gêmeo, e as noites
nas quais eu me sentia só e suspi-
rava pela casa de meu pai, que
continua sendo rei. Passei por
regiões plenas de tranqüilidade,
beleza, sim, tão belas que eu seria incapaz de descrever.Também passei por lugares bastante
inóspitos e excessivamente frios para que eu pudesse permanecer muito tempo. Eu desejava
cada vez mais retornar ao palácio de meu pai.
Você vai pensar: volte para aquele palácio, que é o seu lar. Se você voltar, será acolhido como o
filho pródigo. Como nos contos: um jovem príncipe parte em viagem, ele se esquece da terra de
seu pai, vive muitas aventuras, enfrenta momentos de desespero, recorda-se de sua casa e decide
retornar. O rei, seu pai, o espera e o recebe de braços abertos. O irmão, provavelmente, está
muito aborrecido pois uma grande festa está prevista para comemorar o retorno do irmão per-
dido que retornou. Para ele, o irmão virtuoso, nada de celebrações. A ele é explicado que o
outro devia fazer experiências, viajar, para verdadeiramente retornar ao lar.

Sim, é verdade, eu também li esta estória. Mas o meu irmão gêmeo não é assim. Não fui embo-
ra para abandonar meu irmão, e sim por espírito de aventura, admito. Mas que sabia eu a respei-
to de aventuras? Eu pensei: você vai viajar, mas sempre poderá retornar ao lar.Você vive tantas
aventuras e nem tudo se passa da maneira como você pensava, às vezes as coisas acabam mal.
Mas quem é sincero não tem nada a temer. A pérola sempre mostra o caminho.
Tenho certeza de que agora você pensa: “Calma, calma.Você vai voltar para casa, ao país da luz
que um dia abandonou”. Espero que sim. Espero que você tenha razão, pois sinto que me perdi.
À noite, divago e penso ouvir, ao longe, o rugido de um leão, nosso leão. Durante o dia, espero
que ele venha me salvar, me tirar daqui. Quando coloco minha mão no bolso, sinto a maciez da
seda que envolve a pérola, então acredito na história que fala do país da luz, minha ilha de luz. O
país que eu deixei.
Já não ouso tirar a pérola de meu bolso. Há algum tempo, quase a perdi, e isso teria sido péssi-
mo. Mas o que me preocupa e é mais terrível é que a pérola já não está límpida, brilhante. A
última vez que a vi, ela estava embaçada, e eu sei o que isso significa (já disse que conheço essas
estórias): começo a esquecer meu país. Na minha memória, sua claridade dourada está embaça-
da, as taças de vidro se romperam, tenho medo de já não reconhecer meu irmão gêmeo.Tantas
coisas se passaram, tantas experiências se sucederam. Já não posso suportar. E não enxergo
nada, estou mergulhado na escuridão. Fui encarcerado e jogado no fundo de um calabouço,
posso gritar o que quiser, é como se eu gritasse no deserto. Minha cela possui dois metros de
comprimento e um metro e trinta de altura. Eu não minto, mas não posso verificar, eu não vejo
nada. Aqui tudo é negro, escuro e úmido. Dois metros de comprimento. Posso engatinhar e às
vezes dou pequenos saltos para manter-me em movimento. Um metro e trinta de altura.Tenho
dezessete anos, portanto você deve compreender que é impossível ficar de pé.

32 pentagrama 5/2007
À noite, divago e penso ouvir, ao longe,
o rugido de um leão, nosso leão
É um mal-entendido, asseguro. Como foi que cheguei aqui? Eu não roubei nada, não menti. De
repente uma briga irrompeu no mercado. Eu procurava qualquer coisa para comer. Não tinha
mais dinheiro, havia sido roubado outra vez. Eu sempre cuido muito bem das minhas coisas, mas
minhas roupas estão muito gastas e minhas calças perderam seus ornamentos dourados, meus
sapatos estão surrados, meu casaco está todo desfiado. Assim, tornei-me alguém de quem se
deve desconfiar, vigiar, um vagabundo, um ladrão, alguém perigoso. Os homens são desconfiados,
aprendi enquanto viajava. Eles são assim pois sabem que neles também não se pode confiar. Eles
não cumprem suas promessas, caluniam, mentem, enganam. Basta!
Mas veja o que me tornei. Caí tão baixo. Não quero pensar nos outros, não sou melhor do que
ninguém. Por isso, desconfie de minha história, não creia no que digo. Mas lembre-se de que
estou numa cela de dois metros de comprimento por um metro e trinta de altura.Você não
ficaria louco? Estou aqui por ter estado no lugar errado no momento errado. As laranjas caíram
da carroça, alguém tropeçou e caiu, no exato instante em que o sultão se aproximava. Eu parei e
olhei. Ah, ah! Ih, ih!, diz a canção. Mas eu não ri por muito tempo. Vim parar nesta cela.
É assim que freqüentemente as coisas acontecem na vida. Num instante eu era observador, e
então, sem tempo de compreender, já estava envolvido. Chamaram-me de ingênuo.Você acha
que sou ingênuo? Talvez tenha razão. Eu não sabia nada. Sabia apenas as histórias sobre o
mundo, conhecia o mundo pelas fotografias nos livros que eu havia lido. Eu conhecia o mundo
visto da minha torre, segundo o que eu havia ouvido dizer, mas eu mesmo não o havia experi-
mentado. Agora eu sei o que é a vida, sei o que se encontra além das torres.Vivi muitas coisas
boas e agradáveis, e só de pensar começo a chorar no fundo da minha cela.
Ainda assim, devo utilizar melhor minha energia. Então começo a raspar o muro com a fivela do
meu cinto, hora após hora. O buraco que fiz tem o diâmetro do meu dedinho. Admitindo que
eu consiga passar por ali, quem poderá me dizer onde chegarei, quem poderá me garantir que
escapei deste sepulcro onde me sinto enterrado vivo?
Será que eu contei tudo? Que sou mantido vivo com pão velho e água suja? Todos os dias as
grades se abrem e um pequeno recipiente é empurrado para dentro. Não sei por quem. Talvez
eu esteja enlouquecendo, mas dificilmente sinto falta de boa comida.Tampouco sinto falta dos
homens. Nem minha voz me faz falta. Eu sinto falta de luz. A luz está totalmente ausente e tenho
a impressão de estar cego. Por isso, tento fazer um buraco para deixar penetrar um pouco de
luz. Este é meu maior desejo.
E agora, agora penso que não posso afundar ainda mais, mas sinto brilhar uma pequena luz de
esperança, e meu coração se ilumina. Sim, a esperança brilha, pois não perdi a coragem. Tenho
um plano: deixar entrar a luz. Eu não perdi minha fé, minha confiança. E me sinto repleto de júbilo.
Ao som de minha voz, as paredes de argamassa parecem tremer, a terra parece vibrar; mas não
foi minha voz. Eu não divago, tenho certeza, não se trata de fantasia infantil: com certeza é um leão.
Com a unha do meu dedinho, continuo a raspar, e então, todos os meus dedos, minha mão e
meu braço desaparecem no buraco da parede. Alguns detritos caem. Eu vejo uma estrela, bem
longe, brilhando no céu. A alegria aquece meu corpo gelado. Se meu irmão gêmeo estiver olhan-
do pela janela, ele verá a mesma estrela. Agora eu sei: ele sempre esteve perto de mim.
Cautelosamente retiro a pérola do bolso de meu casaco e imediatamente uma luz cintilante e
ofuscante preenche o pequeno espaço. Uma imensa felicidade me percorre, a felicidade de ver
uma estrela. Ela me mostrará o caminho para casa, ao palácio do meu pai, que é o rei.
Minha cela desaba, todavia sem me soterrar. Reergo-me com dificuldade, estiro meus músculos
enrijecidos e sinto-me renascer. Eu sei: meu reino não é deste mundo. E assim, ponho-me nova-
mente a caminho 

a casa de meu pai 33


tempo para viver
O desejo de aprender, olhar adiante, investigar em profundidade e conhecer verdadeiramen-
te é uma das principais características do ser humano. Cada descoberta e cada progresso
são devidos a esse desejo presente neles. Quer nós o denominemos curiosidade, sede de
conhecimentos, vontade de descobrir algo novo, de realizar algo sem precedentes, é isso
que faz de nós o que somos, até que descubramos que essa busca deve ser reorientada e
que o grande desconhecido se encontra em nosso próprio ser interior.

A
tualmente, já não temos tempo para procurar.
Queremos conhecimento servido em peque-
nas porções prontas para degustação, soluções
prontas para uso imediato. Entretanto, o autoconheci-
mento requer espaço e tempo.
Nestes últimos cem anos, ocorreram mais descobertas
do que durante os últimos dois mil anos.Agimos mais
depressa, e parece que pensamos e até falamos mais de-
pressa também. Nunca em épocas anteriores tantos
desenvolvimentos se realizaram. Num curto espaço de
tempo, a humanidade criou uma sociedade totalmente
nova que abrange o mundo inteiro.A globalização é
um fato novo, reconhecido em 99% do planeta.
Uma vez que não podemos assimilar uma infinidade
de informações, muito do que aprendemos, vimos e
ouvimos é apagado de nossa memória. Não nos recor-
damos ou não atribuímos muita importância ao que
aprendemos. Controlamos nossas emoções para nos
proteger da miséria que nos circunda. Por instinto de
autoconservação, muitas vezes decidimos rejeitar a
realidade para não ter de encarar o que está diante de
nossos olhos.

UM POUCO DE CONFORTO, POR FAVOR! O


homem ocidental busca acima de tudo por bem estar.
Quem negará que luxo e conforto são atualmente as
principais motivações da vida diária? O objetivo da vi-
da parece ser uma existência tranqüila, uma vida feita
de investigações superficiais por meio de “desenvolvi-
mento pessoal” e de um toque de bem-estar, que pelo
menos gratifique o próprio espírito. Muitos assimilam
conhecimentos apenas sob a forma de bocados. Nesta
época, quem quiser prosseguir não necessita conhecer
o caminho, apenas o acesso a ele.

34 pentagrama 5/2007
E o que pensar da tecnologia que mantém o homem sioneiro de uma rede mundial. Na luta para ganhar
moderno sob seu jugo quase absoluto? O mundo tor- tempo, quem vence é o tempo. Nunca tivemos tantas
nou-se transparente e já não existem muitos segredos. horas vagas e nunca estivemos tão ocupados que não
Voluntariamente abandonamos nossa liberdade e nossa sabemos para onde ir. Interior e exteriormente somos
própria proteção. Deixamo-nos conduzir por sistemas tão dominados por um sentimento de urgência que
sem nos preocupar com o fato de que somos comple- realmente já não temos tempo para nada.
tamente dirigidos.Tudo é registrado: pagamentos ele- Movemo-nos levados pela correnteza. Os meios de
trônicos, e-mails, chamadas via telefone celular. Cada comunicação nos dizem quais livros devemos ler, os
e-mail, cada um, é preservado durante vinte e cinco críticos dizem quais filmes devemos assistir, os guias
anos em determinados bancos de dados. E o ser huma- determinam quais lugares visitar, o que comer, as nor-
no que tanto busca a total liberdade encontra-se pri- mas e os valores nos quais devemos acreditar.
Transformamo-nos numa sociedade onde os “dez
melhores” detêm o poder, composta de indivíduos
voltados unicamente para si mesmos, que nada dese-
jam fazer pelos outros, que vivem na busca constante
de novos grupos, apegando-se a ídolos para se distin-
guirem da massa e não se sentirem perdidos.

O MEDO É UMA ESCOLHA Estamos nos enterran-


do como toupeiras em nossa procura por ar e luz. Nós
cavamos na direção errada, para o centro da terra, rumo
à bola de fogo que não traz a luz, mas nos queima e nos
consome. Como Ícaros modernos, voamos demasiado
próximos do sol, e como resultado a cera de nossas asas,
que nós mesmos construímos, derreterá, fazendo-nos
estatelar na terra. Desiludidos, desesperados, muitos
buscam por certezas, por antigas religiões; eles se incli-
nam ao fundamentalismo, praticam meditação transcen-
dental, ingressam em grupos de oração, flertam com
grupos exóticos. Uma estatueta de Buda é colocada ao
lado de uma imagem de Maria aos prantos, na sala de
estar. Mas não se sabe o que significam Páscoa e Natal.
Uma fita vermelha é amarrada em torno do pulso sem
que se examine o que a Cabala realmente significa.
Com o filme Uma verdade inconveniente, Al Gore causou
grande agitação. Não somente os partidos políticos se
apropriaram da idéia, mas também os fabricantes de
eletrodomésticos, de lâmpadas, de automóveis, de com-
putadores e até de jeans conseguem lucrar com o tema.
Obviamente o mundo ocidental precisa de um assun-
to de alcance mundial ainda mais terrível do que a
luta contra o terrorismo.Todavia,Al Gore ignorou um
fato fundamental: os seres humanos adoram notícias
ruins. Eles se agarram a tudo o que lhes causa aperto
na garganta e que os faz sentirem-se impotentes, pois
o medo é uma condição psicológica que o ser huma-

tempo para viver 35


no teve de aceitar desde o princípio. COM LICENÇA, POSSO SER CRIANÇA? Há
Trata-se de uma escolha à qual quase ninguém é capaz crianças que crescem com a idéia de que a vida e o
de resistir. O medo pode adquirir proporções descomu- mundo lhes pertencem. E como cresceram livres e
nais e deveríamos, tanto quanto possível, manter as autoconfiantes, elas também serão rapidamente confron-
crianças afastadas dele. tadas com suas deficiências. Numa sociedade onde
tudo é permitido, cada desapontamento é sinônimo
EXPERIMENTAR SEM LIMITES Desde cedo a crian- de insucesso. Os jovens lutam com as escolhas que de-
ça comprova que nada é simples. Por volta dos doze vem fazer e terminam por sentir-se prisioneiros em
anos, ela começa a compreender como o mundo fun- meio a possibilidades ilimitadas.
ciona. Então principiam dúvidas sobre tudo, desde Eles percebem que as escolhas feitas por seus pais não
coisas insignificantes até os grandes problemas da vida. são escolhas definitivas, pois eles trocam de cônjuge,
Questões inesperadas vêm à tona. O jovem começa a de residência, de filosofia de vida, como se fossem
fazer coisas que jamais imaginara. Ele duvida de tudo bens de consumo. Protelar as escolhas é um traço
que até então havia considerado verdadeiro. E começa marcante neste início do século 21. Paradoxalmente, as
a perceber que cada um deve buscar seu próprio ca- crianças começam a ser testadas cada vez mais cedo.
minho, seja ele jovem ou velho, rico ou pobre. Em crianças de dois anos já se tenta determinar como
Aos quinze anos o jovem já tem uma certa experiên- ocorrem os desenvolvimentos cognitivo e sócio-emo-
cia. Ele é capaz de se afirmar, ele sabe o que se espera cional. Desse modo, a criança adquire um perfil que se
dele e aprende a evitar eventuais armadilhas. torna cada vez mais rígido.
Infelizmente isso não significa que tudo se torna mais E como é difícil libertar-se de tal estigma! Na escola,
fácil. O jovem está cada vez mais consciente de que os conselhos pedagógicos determinam a direção que
nada neste mundo é definitivo, que tudo muda conti- deve ser seguida pelos alunos.A criança fica com a
nuamente, que nada permanece igual. impressão de que estudo e formação são absolutamen-
Uma geração cresceu considerando a forma mais im- te determinantes para seu futuro.A idéia de uma exis-
portante que o conteúdo, talvez até mesmo a única tência infinita, de real liberdade e possibilidades infini-
coisa a ser reconhecida. Os pais sabem o que o mundo tas começa a esmorecer com as experiências na cre-
pode oferecer; eles próprios realizaram todo tipo de che. Ninguém deveria se surpreender ao ver crianças
experiências e estão convencidos de que elas são neces- adiando decisões na esperança de poder livrar-se de
sárias ao conhecimento de si mesmo e do mundo cir- rótulos tão prematuramente recebidos.Aumenta pro-
cundante. Pertencem a uma geração que nunca neces- gressivamente a ocorrência de crianças sofrendo de
sitou lutar contra restrições. Seus filhos tampouco, pois perturbações que antigamente não existiam.A criança
crescem com um número infinito de possibilidades de já não pode ser criança. Enquanto isso, os pais bem
escolha. Essas crianças podem ser livres. Será que isso é que gostariam de permanecer adolescentes.
realmente desejável? Por que, então, existem cada vez O paradoxo atinge seu ponto culminante já na puber-
mais problemas? dade. Revoltar-se contra os pais tornou-se desnecessá-

O pioneiro do século XXI


No século XXI, pioneiro é alguém cada coisa que encontrarmos um significa o verdadeiro conhecimento.
que começa a procurar, numa época componente do plano divino. Diferenciem o verdadeiro do falso, a
em que aparentemente nada de novo Devemos ver o todo em tudo. Sem ilusão da realidade. Façam da verdade
resta a ser encontrado. É alguém que julgamentos, com amizade. a base de sua existência. Mediante
deseja descobrir algo realmente novo, Contemplem a maravilha que é a vida, sentimentos, pensamentos e ações
alguém que não se submete a uma com suas incontáveis possibilidades e tirados dessa força, ajam como pionei-
vida medíocre. Quem possui virtudes oportunidades. Contemplem a beleza ros. Possa a coragem ser seu guia.
tais como coragem, companheirismo, que está na base de tudo, da qual (Adaptado de uma conferência para
pureza, conhecimento e verdade, e tudo se iniciou. Guardem a pureza. jovens de 12 a 17 anos, realizada em
realmente utiliza seus talentos pode Penetrem a intenção de tudo. É março de 2007, em Noverosa, Centro
ser chamado de pioneiro. conhecendo a vocês mesmos que de Conferências do Lectorium
Devemos ver em cada ser vivo e em compreenderão a vida. Saibam o que Rosicrucianum)

36 pentagrama 5/2007
rio, pois já não há autoridade. Os jovens têm vida relembrar a nossas crianças sua origem divina. Porque,
sexual precoce, corpos amadurecidos antes do tempo, durante mais de 150 anos vivemos acreditando que
consomem drogas e álcool cada vez mais cedo. Eles somos descendente dos macacos e que não há nada
sabem melhor que seus pais o que se passa no mundo: além.Assim, é lógico que nos contentemos de nossa
a Internet lhes dá acesso irrestrito a tudo. Interessante vida animal e não tentemos nos elevar. Se não pode-
notar que, mesmo tendo já vivido tantas experiências, mos ser nada além de animais, nada do que façamos
os jovens permanecem por muito tempo na casa de poderá mudar nossa condição. Moolenburgh lamenta
seus pais. Eles adiam tanto quanto possível o momento nossa ignorância quanto ao fato de sermos homens-
em que deverão fazer escolhas para uma vida adulta. deuses. Para ele, se percebêssemos o milagre da vida,
seríamos mais cuidadosos e não esmagaríamos a vida
TODOS FELIZES Uma pesquisa realizada pelo de nossos filhos sob o peso da busca pelo nosso pró-
UNICEF revela que os jovens de hoje são relativa- prio conforto.
mente felizes.A família, a escola e o ambiente garan- No final do século passado, cada um descobriu sua
tem um sentimento de segurança. Uma sondagem da própria verdade.A idéia básica do pós-modernismo
empresa de pesquisas Eurobarômetro atribui as por- era que a verdade não existe.A esperança foi afastada.
centagens menos expressivas à Grã-Bretanha,Alemanha O cientista George Steiner diz que a esperança morre
e França, talvez por causa da alta competitividade. Por quando a fé desaparece. E observa que, nos
outro lado, 97% dos jovens dinamarqueses, holandeses, Evangelhos, Jesus sempre se exprime no tempo futuro.
irlandeses e suecos são felizes. O que não impede que Quem crê no futuro traz a esperança. No fim do
o alcoolismo entre os jovens estudantes holandeses seja século XIX foi declarado que Deus – e com ele a fé –
terrivelmente elevado. Como explicar essa contradi- estava morto, e hoje, no século XXI, o amor corre o
ção, essa divergência? Nossos jovens são felizes mas risco de tornar-se uma palavra vazia, sem sentido.
temem não ser aceitos. Ou será que eles consideram Os jovens tendem a ver a existência de forma limita-
que ser feliz é uma tarefa árdua? Afinal, parecer feliz da. Eles tendem ao fatalismo e a aceitar que o ser
tornou-se uma obrigação! humano seja decaído e que o mundo seja finito. O
O jovem começa a perceber que o homem já não está cinismo parece ser a única saída, mas ele nos torna
livre, mas é mantido sob controle. Com a telefonia pessoas solitárias e sem coragem de fazer escolhas. Há
celular, os encontros mudam de horário a cada instante; uma monumental perda de originalidade e autentici-
o trabalho e o controle social continuam durante as fé- dade. Que possamos oferecer a nossos filhos o tempo
rias.Todos podem ser sempre contatados na prisão das e o espaço necessários à descoberta do mundo, que
competições e expectativas sociais.A vida diária torna- possamos dar fundamento à forma, sendo nós mesmos
se fragmentada e dispersa. E há ainda também a vida um exemplo para eles. Uma criança rumo à idade
virtual. Composta de ecos da vida do mundo tempo- adulta se indaga: para onde segue este mundo caótico,
ral, é quase como um outro mundo dentro do mundo. superpovoado, poluído, repleto de guerras e outras
Dessa forma, aprendemos que a liberdade é feita de atrocidades? Ela vê em torno de si o que os adultos
imposições. Não há tempo para refletir, para buscar fizeram do mundo: eles receberam um lugar para
interiormente a verdadeira liberdade, para reconhecer viver e aprender, mas transformaram-no em um ninho
impraticáveis limitações.A procura ocorre dentro de poluído e não têm intenção alguma de limpá-lo. Um
limites estabelecidos. Um sentimento de irrealidade se jovem ainda não se esqueceu de que cada um é, na
instala. Nós nos ameaçamos com limites sem prece- verdade, um buscador. Em cada um vibra uma pré-
dentes.Talvez isso explique por que certas empresas reminiscência, às vezes profundamente escondida, às
organizam visitas aos zoológicos para estudar o com- vezes quase aniquilada. Cada um de nós nasceu para
portamento dos macacos, compreender como sua levar seu microcosmo mais adiante, para ajudá-lo a se
sociedade é organizada e como os primatas escolhem elevar ao novo campo de vida. Para que haja fé, espe-
seus líderes. rança e amor, a coragem é essencial.A vida pede
homens corajosos 
“SE SOUBÉSSEMOS QUE SOMOS DEUSES...”
Fontes:
Existe ainda um outro lado a ser considerado. Em seu Steiner, G., Gramáticas da criação. São Paulo: Globo, 2005.
livro Op je gezondheid! (À sua saúde!), o homeopata Moolenburgh, H.C., Op je gezondheid! Deventer:
holandês H. C. Moolenburgh escreve que devemos Ankh-Hermes, 2005.

tempo para viver 37


A eternidade tem todo o tempo. Mas os seres humanos não
podem se dar ao luxo de “deixar para mais tarde”, pois uma
a escola da
pressão pesa sobre eles:“Seja feliz agora”,“Paz na terra já”,
“Desabroche neste instante”,“Viva o momento presente” – é
dito freqüentemente. Entretanto, é evidente que falta algo ao ser
humano para que ele crie sua própria felicidade ou “um mundo
melhor”, embora ele questione a necessidade de tudo isso. O
mundo não necessita de melhoras, ele é eterno, conforme diz
Hermes. Mas, quanto tempo os seres humanos ainda têm?

A
compreensão comporta diferentes níveis, ondas, e também pode, com sua força, estar a serviço
diferentes camadas.As perguntas provêm de de outros.
um primeiro nível de compreensão ativa. E que instrumentos podemos utilizar? O mais impor-
Compreender não significa ser capaz de julgar como tante é ajudar os outros a encontrar a felicidade.
o espírito opera em nós ou nos outros.Tampouco se Entretanto é mais fácil falar que fazer. Então, como
trata de marcar o máximo de pontos num teste psico- agir? Os outros realmente desejam essa ajuda?
lógico que diz quão confiante você é, nem de fazer Isso pede dedicação, pede nosso comprometimento
um inventário de fraquezas e qualidades. Inútil desejar agora, onde quer que nos encontremos. Na Escola
conhecer todas as teorias da conspiração. Não que isso Espiritual existe uma solidariedade que cria um
não seja importante, mas há divergências e, portanto, campo de compreensão, uma “unidade de alma”, que
não há unidade de compreensão. Somente a com- ela propaga para o mundo inteiro. Devemos ajudar os
preensão é capaz de nos fazer ver de modo claro o outros – sempre que possível – e sobretudo mostrar
que podemos de fato realizar em nossa vida presente. como cada um pode ajudar a si mesmo. Não se trata
de fazer o papel do herói que salva o mundo, mas
SONDAR O CORAÇÃO O mundo é como é: estar onde o auxílio é necessário. Muitas vezes não é
duradouro, sempre em transformação, nunca estático. preciso ir muito longe.A isso podemos chamar de
Ele sempre reage ao sol, que lhe dá vida, e também às segundo nível de compreensão ativa.
vibrações e radiações cósmicas, que nos trazem grande
compreensão sobre a harmonia e a coesão do Universo. ALEGRIA DE APRENDER Os instrumentos de que
Também os seres humanos mudam continuamente necessitamos não incluem tecnologias mais sofisticadas
em busca de auto-realização e auto-afirmação. ou sistemas financeiros mais justos. Devemos buscá-los
Nenhuma objeção a ser feita, quando se trata da auto- no ser humano, pois o que realmente necessitamos é
realização baseada no grandioso plano do sol interior, de um coração amoroso, um poder mental claro e um
estimulada pela gloriosa vida solar. corpo saudável, mediante os quais e nos quais a nova
Mas com que freqüência não nos mantemos medio- alma nasce. Nosso trabalho é abri-los. Podemos fazer
cremente às custas de outros? E quantas vezes não nos de nossa vida uma vida consciente.
colocamos em situações de competição, de luta contra Podemos nos perguntar: trata-se de uma tarefa fatigan-
outros, em benefício próprio, e raramente sustentamos te, um caminho difícil que nos entristece e oprime,
alguém? fazendo-nos parecer mais velhos do que somos?
Quem age com compreensão de acordo com as exi- Quem pensa desse modo deveria observar uma criança
gências da nova era e mantém permanentemente seu que alegremente dá seus primeiros passos ou aprende
coração voltado para o que é certo, justo e imutável – suas primeiras palavras. Quanta felicidade e satisfação!
para o espírito – pode superar todas as turbulências e Quando um ser humano aprende algo de essencial,
tempestades, qual um pedaço de cortiça levado pelas quando sua alma pode dar um passo adiante, ele irra-

38 pentagrama 5/2007
natureza e a escola de deus

dia do interior. Quem aprende o essencial encontra-se Onde podemos aprender isso tudo? Na escola da vida.
em desenvolvimento. E quem se desenvolve geral- Há uma antiga oração rosacruz que diz num esplêndi-
mente é saudável. Esses conceitos, experiências e sen- do verso:
timentos autênticos constituem o terceiro nível de “Senhor, toda a benção e toda a graça emanam do teu
compreensão. ser! Com o teu dedo traçaste os sinais da natureza e

a escola da Natureza e a escola de Deus 39


A natureza é uma infinita escola de aprendizado.
E também é divina!
ninguém é capaz de decifrá-los sem antes ter aprendi- regue o peso do mundo sobre seu ombros, ele perma-
do em tua escola”. nece na luz.
Quem alcança esse quinto nível de compreensão ale-
A ESCOLA DA NATUREZA E A ESCOLA DE DEUS gra-se a cada passo e não se preocupa com os (relati-
A natureza está sempre em movimento, mudança, vamente) pequenos dissabores, pois sabe que dessa
expansão. Com ela aprendemos o significado de maneira alivia o sofrimento da humanidade.
saúde. Na escola de Deus, aprendemos que a alma é o É assim que transpomos as barreiras do sangue. Como
aspecto poderoso e pleno de luz do nosso ser, plena fazemos isso? Gravando essas compreensões em nosso
de alegria – como uma flor de cerejeira na primavera sangue. O sangue, portador da consciência, circula em
– quando desabrocha em harmonia com o plano ori- nosso interior, provendo todos os órgãos com vida. Se
ginal de Deus.Aprendemos que a alma supera tudo o o sangue muda, passando a conter um elemento novo,
que se encontra na natureza. Ela também pode refletir libertador, o ser humano inteiro tornar-se receptivo a
a natureza e refletir o que de mais vil um homem uma vibração mais elevada.
pode imaginar. Mas pode também elevar a natureza,
conduzindo-a a uma brilhante realização, se ela COMO NOS TORNAMOS CONSCIENTES DO
“aprender na escola de Deus”. “OUTRO EM NÓS”? J. van Rijckenborgh diz:“Este
Conduzir a natureza à realização, ser um habitante da tornar-se consciente sobrevém no silêncio interior, na
fronteira e, com o ser interior, transpor os limites da paz do coração, longe da algazarra cotidiana. O aluno
natureza é algo possível, é a meta que nos leva ao torna-se consciente num lugar sereno, nos puros éte-
quarto nível de compreensão, ou seja, o conhecimento res. Unicamente num campo etérico puro estareis em
de que o mundo, a natureza, é uma escola sem fim, do condição de conscientemente experimentar o ‘outro
mesmo modo que a natureza divina. em vós’. Respirareis, então, na sua força, que flui atra-
Esse plano de desenvolvimento está dentro de cada ser vés de vosso ser-alma. O ‘outro em vós’ envolver-vos-
humano, assim como cada flor da cerejeira tem a pos- á com sua áurea luz que, como um redemoinho, gira-
sibilidade de tornar-se uma cereja madura. Esse plano rá em torno de vós. Percebereis sua existência através
preenche de coragem os buscadores, revelando neles o de vossa consciência. Se vos aproximardes dele, então,
desejo de salvação e levando-os a cooperar em auto- vos aproximareis do fogo.
entrega com esse plano. Ele se mostra como uma pro- Abandonai os sentidos de vossa figura corpórea e
messa eterna de paz e segurança. entrai na casa de vosso Senhor!
Trata-se de um plano, diz Jan van Rijckenborgh, de Então, o ‘outro em vós’, em vossa nova morada, ensi-
execução absolutamente garantida: conosco, se a ele nar-vos-á a trabalhar com as novas forças da alma, já
dissermos “sim”; sem nós, se o recusarmos, entretanto que chegais ao “outro” sem a abundância de conheci-
realizando-se para nós. mentos do campo ilusório, sem o perecível.” 
Mas isso não é simples demais? As pessoas não devem
morrer com grande sofrimento? Não devo percorrer Trecho extraído de: Rijckenborgh, J. v. e Petri, C. de,
o caminho da libertação da alma e anular meu ser Réveille (Desperta!), 2ed. São Paulo:
aural ou eu superior? Meu eu não deve perecer e a Lectorium Rosicrucianum, 1983, p. 26.
vida nada é senão sofrimento, como Buda disse?
Tudo ocorrerá segundo as diretrizes e os impulsos
previstos para as diferentes etapas da evolução da vida
universal, que serão sempre concedidos pela
Fraternidade.
Todavia, é incorreto supor que esse seja um caminho
de sofrimento. Se o ser humano sabe que não se trata
dele, mas sim do “outro nele”, todas as dificuldades
desaparecem. Ou melhor dizendo: ainda que ele car-

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Não há respostas prontas para as questões relativas a vida, crescimento
e desenvolvimento. Quem deseja significar algo para a criança segundo a
Luz deve colocar a busca no centro da própria vida. Pelo próprio fato de
ser um “buscador”, cria-se a ligação com a criança, que é sempre curiosa
e deseja aprender. É certo que pais e educadores sempre encontrarão
respostas no caminho que trilham com a criança se sua atitude sempre
for, antes de tudo, plena de atenção, amor e esperança.
Se existe algo que a criança e o jovem necessitam neste mundo, é de
homens e mulheres que lhes sirvam de exemplo, pessoas cuja vida
interior, palavras, atos e gestos sejam animados e inspirados pelo espírito.
Tanto o mundo e a natureza como a vida interior e o mundo divino
são escolas cujo ensinamento não conhece fim. Porém o homem interior
deve ultrapassar as fronteiras. A verdadeira tarefa dos educadores é
transmitir essa noção aos jovens, tarefa esta que é também a da
Rosacruz Áurea.

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