Revista Ano 29 Numero 5
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Edição Brasileira
seus leitores para a nova era que já se iniciou para o
Editora Rosacruz
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desenvolvimento da humanidade.
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13240-000 – Jarinu – SP O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símbolo
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do homem renascido, do novo homem. Ele é também
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Lectorium Rosicrucianum
o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio
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Rua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, SP pequeno mundo, está no caminho
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A revista Pentagrama convida o leitor a operar
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essa revolução espiritual em seu próprio interior.
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ISSN 1677-2253
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pentagrama Ano 29 nº 5 Outubro 2007
C
om efeito, de tempos em tempos ele realiza Ainda não foi maculado pelas paixões do corpo e está,
feitos grandiosos, sobre-humanos. Mas a ainda, em grande medida, ligado à alma do mundo.
expressão “ele é capaz de” indica que ele é Quando, porém, o corpo se torna adulto, e a alma é
capaz, mas que não o faz, ainda não. Entretanto, com atraída para baixo nos fardos do corpo, a separação do
justa razão é isso que particularmente se espera dele. ser superior torna-se completa, e a alma mergulha no
Sabemos o que se espera de nós. Quando olhamos esquecimento.”3
para uma criança ou um jovem, quantas vezes não nos
perguntamos: o que será dele, em que ele se tornará? A ALMA DO MUNDO Antes que a alma caísse no
E não buscamos dentro de nós mesmos algo que, no esquecimento, e como que adormecida, em estado
fundo, já há muito tempo esperamos? De qualquer latente, se ocultasse em nós, ela ainda estava ligada à
modo, existe sempre a suposição de que o homem Alma do Mundo.A alma do mundo é a vibração
pode ser muito mais do que parece. superior que engloba o cosmo inteiro e tudo impreg-
A esse respeito Pimandro explica a Hermes:“É por na com luz e vida. Essa vibração que irradia através de
isso que, dentre todas as criaturas da natureza, só o tudo emana do reino de Deus. O ser humano, nascido
homem é dual, isto é, mortal segundo o corpo e num corpo de natureza terrestre e ligado ao próprio
imortal segundo o homem verdadeiro”.1 Sabemos que coração da pura alma original, enquanto criança, escu-
nascemos num corpo mortal no mundo dos sentidos, ta o cântico da alma do mundo. Ele o ouve porque
onde impera a morte. Quanto ao homem essencial, sua personalidade não está ainda desenvolvida. Seu eu,
imortal, é necessário que o descubramos em nós. sua própria consciência ainda não está formada.
Trata-se do reconhecimento da luz e da vida de onde Durante aproximadamente os três primeiros anos de
proviemos, do “Pai de todas as coisas, que é luz e sua vida, ele pode permanecer em contato com essa
vida”. E Pimandro acrescenta:“Portanto, se sabes que alma sublime, ser um portador dela, experimentá-la.
nasceste da vida e da luz e que és composto desses Se essa alma, em colaboração com as forças formado-
elementos, então retornarás à vida”.2 ras da alma do mundo, estruturar o desenvolvimento
E aqui surge o problema. Duvida-se de tudo, mas não bem como o pensamento e a palavra do homem
se sabe nada.Ainda não. Contudo, esse saber está den- material, sua vida em seu processo evolutivo dará um
tro do homem; como descobri-lo? Ele possuía esse passo a mais e a alma pessoal tenderá à perfeição.
conhecimento quando criança. No Novo Testamento Porém um homem ainda não é um homem se não
é dito:“Sede como crianças”, e Hermes igualmente adquirir autoconsciência. Ele deve ter a capacidade
aponta para a condição infantil:“Pensa um pouco na de expressar-se em seu meio. Por isso, a radiação de
alma de uma criança. Caso a separação de seu verda- sabedoria da alma do mundo nele deve desaparecer
deiro ser ainda não seja completa, e o corpo seja ainda para que ele possa perceber o mundo sensorial à sua
pequeno e não tenha atingido plenamente seu estado volta e seu eu nele. Quanto a esse eu, pode-se dizer
adulto, como é belo aos olhos, em todos os aspectos! que os signos zodiacais, o carma, o destino, a herança
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chamado à magnificência 3
sanguínea que influencia Vrijheid (O medo à liberda-
a família, o povo ou a de)4:“O homem moderno
raça, representam um vive na ilusão de que sabe o
papel importante. que quer, embora ele não
Contudo, é o eu que, queira o que considera neces-
dependendo da esfera de sário querer”. É a verificação
vida que o cerca, detém desconcertante de uma paró-
o poder de dar uma dia de liberdade, pois as coisas
forma ao ser humano, que ele acredita ter necessida-
pois ele possui, como de e o modo de vida que
ponto de partida, por deveria ser o seu lhe são
ocasião do nascimento, a impostos de todos os lados.
capacidade de se tornar Exatamente como acontece
naquilo que deseja ser. Tempo para as crianças? com as crianças. Hoje elas dis-
põem de mais dinheiro que
O QUE NOS INSPIRA? Com relação a isso, antigamente, porém acham que devem comprar as
Giovanni Pico della Mirandola nos encoraja, dizendo: mais novas bugigangas ou o que é ditado pela moda.
“Que em nosso coração uma santa ambição nos
anime, a fim de que, desdenhando a mediocridade, INDIFERENÇA É aqui que começam os problemas.
desejemos a mais alta perfeição e façamos todos os Uma conseqüência da personalidade escravizada é a
esforços para alcançá-la. E nós o podemos se assim o indiferença. Os numerosos problemas sociais que sur-
quisermos. Como um artista, deveríamos dar forma ao gem são o resultado da indiferença dos seres humanos
nosso ser”. Pico della Mirandola era um artista da para consigo mesmos. Essa indiferença significa negli-
palavra.Artista é quem consegue exteriorizar o que genciar a própria pessoa e não ter consciência de seu
arde em seu íntimo. Um artista que está cego e surdo próprio valor intrínseco.A arte de se exercitar para
a tudo que lhe prescreve a ordem estabelecida man- “ser um homem verdadeiro” requer amor pela criatu-
tém seu olhar voltado para sua vida interior e segue a ra maravilhosa que somos. Ela demanda tempo, aten-
voz que ali se faz ouvir. ção, perseverança, paciência e devotamento. Mas, não
O que objetivamos, em realidade? O que nos inspira? estamos em vias de perder essas características? A indi-
Porventura, teremos nós, ocidentais, perdido a noção ferença a si próprio significa igualmente a perda da
da vida como arte? A sociedade ocidental composta idéia de que o homem não está só, que nele vive
de homens livres e de uma vida cheia de confortos alguma coisa que continuamente dá testemunho de
mantém este mesmo homem firmemente sob controle. que ele pode elevar-se muito acima de si mesmo; o
É o tipo de sociedade que segundo o filósofo Erich pensamento de que nele vive um ser divino que ele
Fromm produz escravos em matéria de personalida- pode aprender a conhecer e do qual ele poderá dizer:
des. Ele afirma, em sua importante obra De angst voor tenho em mim meu guia. Não teria sido assim, há
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muito tempo, quando nos primeiros anos de vida ele um verdadeiro homem” ela sentirá, mais que nunca, a
estava estreitamente ligado à alma do mundo? necessidade de tais faculdades.
O tempo propício é agora. O momento em que vive-
BALIZAS LUMINOSAS Eis porque ressoam no mos é o momento certo. Podemos encontrar a possi-
Evangelho de Mateus as seguintes palavras:“Sede bilidade de ser o que queremos ser.Agora que o
como crianças”. Retornai ao estado mental receptivo poder de mistificação do mundo sensorial alcança seu
da criança, ao nível em que vedes e ouvis aquilo que ponto culminante, o poder que nos deve libertar não
está dentro de vós e experimentais conscientemente a será bem maior? É no presente que o ser humano
radiação da alma do mundo. deve encontrar Cristo dentro de si, a força crística em
Nada no mundo é mais importante que a criança, e forma de energia vibratória. Essa é a finalidade das
afirmamos isso com toda tranqüilidade. Se uma crian- conferências da mocidade. Hermes nos ensina que ali,
ça é bem orientada no caminho para a vida adulta, “quem escuta tem de ser uno em consciência com
chamado à magnificência 5
que a vinha floresça!
É admirável a sabedoria de vida que uma criança pode ter, embora a
achemos muito jovem para compreender certas coisas, e também
são admiráveis suas observações e perguntas sobre a vida, que
tocam diretamente o coração. Os obreiros do Trabalho da Mocidade
dão grande importância a elas. Numa criança, o núcleo ígneo pode
freqüentemente expressar-se sem impedimentos, porque nela a alma
original ainda não se encontra encapsulada pelos mecanismos da
autoconservação e por tantos outros aspectos da vida.
ensinamento gnóstico revela que o homem fada a certeza de que esse país, onde o mal não existe
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Confiante, a menina olha o arco formado. © Pentagrama
tanto, possui as mesmas propriedades e, por essa razão, deste mundo. Ele vivencia isso como um ciclo infinito
é parte absoluta deste mundo. Esse é o domínio onde, de nascimento, crescimento, desabrochar, declínio e
após a morte material, o microcosmo permanece a morte. Nós já percorremos esse ciclo muitas vezes;
fim de se preparar para sua próxima encarnação. Nele não como homens, devemos reafirmar, mas como
somente permanecem o núcleo divino e o registro microcosmos, pois como personalidades só vivemos
das experiências das personalidades precedentes, até uma vez.
que, novamente, possam ser ligados a uma criança que Aceitamos essa situação sem questionar porque não
nascerá neste mundo. poderíamos agir de outra forma, porque isso faz parte
Juntos, esses dois domínios formam o mundo que de nossa educação. Mas é justamente a vida cotidiana
conhecemos, ou seja, o mundo bipolar onde tudo se que tanto nos esforçamos para manter que constitui o
manifesta em pares de opostos: bem e mal, preto e principal entrave à libertação do núcleo da alma. E
branco, belo e feio, doença e saúde, vida e morte, corremos o enorme risco de não perceber isso antes
tangível e intangível. Uma característica importante é do fim de nossa vida. Devemos, portanto, tudo fazer,
a transitoriedade das coisas. Este mundo é também como dissemos há pouco, para “levantar cedo”. Então,
freqüentemente qualificado de “dialético”. Um micro- toda experiência já registrada no microcosmo poderá
cosmo viaja de um lado a outro nas duas metades exprimir-se o mais cedo possível. O que antes falava
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A tudo se aplica: tentar manter aberto
o desenvolvimento da própria consciência
em nós de forma inconsciente, quando éramos crian- Holanda, está gravado:“Quem O busca cedo, O
ças, é agora percebido de forma consciente.Assim, encontrará”. Essa referência à força crística universal
reconhecemos o ciclo ininterrupto das reencarnações constitui uma feliz promessa para cada criança. É com
e buscamos uma solução. a finalidade de ir ao encontro dessa promessa que o
É sempre o princípio ígneo que incita o homem a Lectorium Rosicrucianum mantém esse Centro de
buscar a verdade que está além desta vida. O mistério Conferências, fazendo dele um oásis de luz e de calma
da vida presente no centro do homem aguarda pela onde as crianças se encontram umas com as outras
possibilidade de desabrochar. Quando essa consciência numa atmosfera de amizade. Elas vêm de toda a
desperta na existência de um ser humano, ele é capaz Europa e, às vezes, de muito mais longe, para brincar,
de se libertar da roda secular de nascimento, crescimen- para instruir-se e trocar idéias a respeito de suas vidas.
to, declínio e morte, pois uma nova alma nasceu nele. Noverosa é um lugar único no mundo.
Quando o desejo de uma vida diferente cresce no O Lectorium Rosicrucianum não tenciona oferecer
homem imediatamente surge a luz que sem dúvida o um tratado para a educação, porém oferece à criança
levará a encontrar ajuda. Quando o homem tem à sua um espaço no qual ela pode evoluir com segurança e
disposição a pura energia luminosa, que provém de de maneira autônoma.Tudo isso é feito com base
um campo etérico puro, ele pode de fato construir, numa cooperação com os pais que, conscientes e
em vida, uma nova alma.A Escola Espiritual da cheios de alegria, têm uma relação plena de amor
Rosacruz Áurea possui um dinâmico e entusiástico com seus filhos.A criança necessita de proteção, e por
Trabalho da Mocidade onde tudo é feito para preser- assim dizer, de um refúgio onde ela e seu núcleo-alma
var a abertura do coração da criança, com a finalidade possam expandir-se. Numa atmosfera amistosa de
de prevenir sua cristalização. auxílio e mútua estima, nós orientamos nossas crianças
O Trabalho da Mocidade apela à inteligência do cora- no caminho do desenvolvimento de sua consciência:
ção, onde o mistério da vida espera receber espaço e estou neste mundo e encontro-me a caminho para
alimento.Além disso, há também a compreensão pelo descobrir seu verdadeiro sentido.
desenvolvimento da consciência do eu natural da Jan van Rijckenborgh disse a esse respeito:“Temos
criança. O eu não é encorajado a se inflar nem a se de cuidar para que a vinha floresça. Não deixeis que
reprimir. Crianças e adolescentes reúnem-se regular- vossos filhos sejam despojados de sua humanidade
mente nos diferentes núcleos e se encontram nas con- verdadeira por todo tipo de forças antagônicas.Atentai
ferências da mocidade. Nas crianças, a pré-memória é para que a base-alma permaneça receptiva e não seja
estimulada pelos contos e estórias cativantes. violada, para que uma vida não seja aniquilada. Se vós
Quanto aos mais velhos, a doutrina universal que se mesmos não vos levantais bem cedinho para regar a
encontra na base da filosofia da Rosacruz Áurea lhes é vinha e protegê-la, como podereis proteger os jovens
transmitida durante conversações. Na Holanda exis- ramos que são vossos filhos? Vossos filhos necessitam
tem duas escolas de ensino fundamental da Rosacruz de vós, e o melhor serviço que podeis prestar a eles é
Áurea, em Heiloo e em Hilversum, onde o ensina- viver assim”
mento é transmitido com o programa educacional. O
importante é não perder de vista a orientação, o
conhecimento e a relação do homem com seu micro-
cosmo.
Na base da primeira pedra do Templo de Noverosa, o
Centro Internacional do Trabalho da Mocidade na
I
maginai as possibilidades do jovem que se desen- em seu sangue. Essa transformação interior amplia sua
volve junto com pessoas que verdadeiramente visão e cria espaço para a inspiração. O impulso para
buscam a liberdade. No mesmo instante em que ser bem sucedido, por exemplo, não é em si mesmo
ele dá um passo nessa direção – o primeiro passo menor, porém o estresse diminuirá, pois ele saberá
numa série de fases – acontece uma mudança, e um direcionar esse impulso de maneira natural. E o temor
novo elemento progressivamente encontra expressão do insucesso neste mundo, no trabalho ou na família,
certamente desaparecerá.
Uma casa espaçosa. O Universo Essa nova inspiração, que freqüentemente denomina-
mos “rosa-do-coração”, exige que se dê um novo pas-
so. Podemos considerar esse novo passo como a fase
de ligação: pouco a pouco o comportamento se har-
moniza com o que soa no mais íntimo do ser interior.
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aqui minha vida começa de fato
A
s crianças que crescem ao lado de pais que são alunos do Lectorium Rosicrucia-
num freqüentam as reuniões do Trabalho da Mocidade e assistem às suas pró-
prias conferências. No início deste ano, os jovens entre doze e dezessete anos
responderam à seguinte pergunta: O que o Trabalho da Mocidade significa para você?
– Quando éramos crianças, ouvíamos histórias que eram contadas no templo. Eram his-
tórias às vezes apaixonantes, às vezes divertidas, mas sempre bonitas. E sabíamos que cer-
tamente eram verdadeiras, e nos reconhecíamos perfeitamente nessas histórias de crian-
ças buscadoras. Ainda não nos perguntávamos com o que se parecia exatamente o botão
de rosa no coração e como ele havia surgido, mas não levaria muito tempo para que
perguntássemos precisamente sobre o como e o por que, e começássemos a descobrir
o que é a vida neste mundo. Passariam ainda alguns anos antes de sabermos o que sabe-
mos agora: que existe ainda muito a ser descoberto, e que temos cada vez menos tempo
para fazer essa viagem de descoberta, pois a vida sempre exige mais de nós e o mundo
reclama toda a nossa atenção.
– Trata-se agora de não esquecer que você sabe qual é o ponto crucial em torno do qual
gira a vida, pois antes mesmo de perceber, você já foi absorvido pela vida diária. Estar
cônscio de que em realidade é preciso preparar toda a jornada, que os pensamentos e
julgamentos em relação aos outros e a si próprio
são tão-somente um excesso de ramos e folha-
gens que impedem a visão e o avançar. A Escola
Espiritual torna você consciente de todos esses
ramos e folhagens supérfluos, e desse modo você
começa a podá-los. Aqui em Noverosa, no Centro
de Conferências da Mocidade, na Holanda, há algo
de especial no ar, algo que você poderia chamar
de silêncio. Aqui você pode, tanto em sentido real
quanto figurado, relaxar todo o fim de semana, e é
uma pena que tudo isso acabe assim tão depressa,
e você tenha em seguida de ajustar-se de novo à
vida diária.
– Quando estou em Noverosa, nada mais existe
além de Noverosa. Nada mais tem importância. O
colégio já não existe, e até eu mesmo pareço ter
desaparecido do globo terrestre. Preocupações ali
não existem! O passado e o futuro não importam.
Eu vivo no agora, e sinto que agora minha vida
começa de fato.
– Naturalmente, viemos até aqui para encontrar
os amigos, pela atmosfera tranqüila, e também
para nos divertir. Entre nós, podemos falar de
tudo. Aqui não é preciso tentar explicar o que é
verdadeiro ou o que não é.
– Nós mesmos escolhemos isso! Aqui temos os
mesmos pensamentos e o mesmo objetivo. Aqui
sentimos que somos um só
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Seis bilhões de seres humanos. Seis bilhões de sonhadores. © NASA
incomum. O tempo passa, ele tudo nivela e transforma dente, aparentemente não terreno, esse desejo nostál-
em “tempo passado”.Assim, através dos séculos, ele é gico e indefinível que habita o coração de cada um de
representado por um homem armado de uma foice; nós? Não teria isso algo a ver com o fato de verdadei-
ele não é a morte, mas, sim, o ceifador do que morreu ramente ninguém se sentir em casa no tempo? Que o
no tempo. Ele é também simbolizado pela ampulheta “eu” original e verdadeiro está fora do tempo, que ele
que é virada ininterruptamente, com a areia que escoa é bem superior a uma realidade, por assim dizer,
sem parar, ininterruptamente, em repetições perpétuas mecânica, que cresce, evolui e finalmente envelhece e
e o sempiterno ir e vir. desaparece?
Poder-se-ia dizer que o tempo corre cada vez mais
depressa. Como suportamos isso, essa busca por um LIBERTAR-SE DO RELATIVO Mas quem é esse
pouco mais de espaço e de felicidade para, em segui- “Outro”, esse homem “verdadeiro” que, como num
da, desaparecermos na corrente cruel e indiferente do sonho, talvez conheçamos inconscientemente? Cada
tempo? Terá isso algo a ver com esse sonho surpreen- segundo, cada hora, a inteira corrente do tempo é
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Mas quem é esse “Outro”,
esse homem “verdadeiro”
que, como num sonho,
talvez conheçamos
inconscientemente?
Os jovens alunos – alunos iniciantes – aprendem mudança em sua vida. Em seguida, ele poderá educar
como a eternidade traça uma linha no tempo e, a criança e ajudá-la a desenvolver a força interior com
espontaneamente, adaptam-se resolutamente a isso. a qual poderá manter-se no mundo bastante confuso
Como eles o fazem? J. van Rijckenborgh responde: que está tanto dentro quanto fora dela.
“Conscientizando-se das leis que governam a imensa
criação de Deus! O conhecimento do modo como O CRESCIMENTO INTERIOR Durante o primeiro
tudo cresce, inclusive a criança. O conhecimento da período, do nascimento aos sete anos aproximadamen-
ligação da criança com os mundos superiores, e tam- te, dizemos que a criança ainda é pouco consciente do
bém o conhecimento de toda a humanidade, e de si mundo material que a cerca. Nesse período é impor-
mesmo.A educação e a auto-educação seguem, por- tante não forçá-la a ser aquilo que desejamos que ela
tanto, de mãos dadas. O ponto de partida será a edu- seja, segundo um modelo.A compreensão não forçada
cação das crianças pelos pais [...] e pelos estabeleci- que os pais devem ter das grandes possibilidades da
mentos de ensino dentro das condições traçadas em relação entre o microcosmo – o aspecto humano eter-
linhas gerais. Isso, certamente, sem uma obediência no – e a jovem personalidade é fundamental, assim
forçada, por exemplo, porém guiando a criança a partir como é fundamental preservá-la. Essa é a tarefa crucial
do interior, mediante nosso próprio exemplo, tanto dos educadores. Com preservá-la subentende-se: con-
interna quanto externamente.” servar pura a atmosfera em que a criança se desenvol-
Se ignorarmos as leis ou o plano subjacentes à exis- ve, pura e isenta de influências negativas sobre seu sis-
tência, então é normal que as forças espirituais latentes tema em desenvolvimento. Nesse sentido, fazemos notar
e ocultas da criança sejam desviadas e freadas, e que o que as relações sociais não são favoráveis nessa fase...
desabrochar de seu ser interior seja gravemente amea- Com efeito, nessa fase, o desenvolvimento da criança,
çado. determinado pelas forças formadoras da lua, fundamen-
Quem quer que deseje ser um verdadeiro educador ta-se, em grande parte, na “imitação”, o que explica a
deverá começar necessariamente por projetar uma extrema importância do comportamento dos pais. Por
20 pentagrama 5/2007
Concentração e alegria. Crianças brincando na Conferência
da Mocidade em Noverosa. © pentagrama
primeiras, porém em sentido inverso.As primeiras sete Oferecemos às nossas crianças uma boa oportunidade
fases tratam, evidentemente, de um crescimento com de crescerem de maneira certa quando podemos ligá-
relação ao exterior, enquanto os últimos concernem las aos impulsos da luz do campo de vida original que
ao crescimento interior. No antigo Egito, acreditava-se nos envolve e nos penetra. Então, o desenvolvimento
que o coração, além de sua ação motora, era o centro da criança, que acabamos de esboçar, pode seguir seu
da formação dos pensamentos, aumentando em força curso segundo uma luminosa transmutação alquímica.
e volume até os cinqüenta anos, para em seguida, Tudo depende de nós. Cada jovem tem seu próprio
diminuir. caminho, seu próprio sonho, seu próprio mistério de
Com efeito, podemos ver como a pessoa entre os cin- luz. É preciso conservar vivente em nós uma visão
qüenta e os sessenta anos – em condições ideais – correta e positiva da vida, aureolada de luz, e oferecer
chega ao ápice de sua vida social e em seguida se reti- ao jovem a oportunidade de aprender tudo o que
ra progressivamente. Caso tenha desenvolvido uma concerne às forças, experiências e conhecimentos.
vida interior, chega o momento em que, devido a Então ele já não precisará fazer, pela enésima vez, um
todas as reflexões e serviços prestados, ela acumulou novo giro na roda do nascimento e da morte. Ele tem
uma grande sabedoria, sendo nisso auxiliada pelas for- todas as possibilidades de ressuscitar no seio de um
ças-luz que penetraram sua vida íntima graças aos novo ambiente mental e espiritual. É certo que “algo
desejos conscientes de vida interior e unidade. novo surgirá do antigo”; e um jovem que se beneficia
Certeza, benevolência e compreensão formam nessas de tais condições de vida crescerá de modo a ser uma
diversas fases uma base segura para os sentimentos de bênção para o seu meio. Ele se manterá na tradição
amizade e uma relativa felicidade proveniente de uma vivente da Rosacruz universal, pois essa é a única
vida verdadeiramente realizada.Amargura, devido à meta de sua vida
falta de oportunidades, e injustiças passadas, preocupa-
ção e medo da morte acompanham os últimos anos
dos que não atingiram esse estágio.
Q
ue significa esse símbolo? Vemos uma rosa
vermelha no centro de uma estrela áurea
dentro de um coração branco, todos sobre
um céu azul. É o símbolo da grande oportunidade
que nosso tempo oferece: a possibilidade de se enga-
jar no caminho da verdadeira evolução do ser huma-
no. A brancura do coração indica a pureza. Se o cora-
ção estiver dominado por vivas agitações emocionais
e passionais, não haverá nele lugar para a luz do
Espírito, ele será incapaz de ouvir seu doce murmú-
rio. O coração humano é um órgão extraordinário.
Ele não é apenas o motor da vida; tudo que se refere
à existência cotidiana ressoa nele. Ele é, portanto, o
lugar no qual abundam sentimentos, desejos, emo-
ções.
Mas o coração é também o lugar onde a centelha-
do-espírito religa o homem a seu microcosmo, o
lugar onde a alma aguarda despertar para renascer –
como a princesa dos contos de fada. Essa alma é
amor e só reconhece o amor. para o mundo e a humanidade. No curso de tal evo-
Quando o coração é tocado pela radiação do amor e lução, o eu termina por passar totalmente para segun-
pela luz da Gnosis e a personalidade se volta para elas, do plano. O vermelho é, assim, a cor do sangue. À
ele compreende o que o amor busca, o que ele quer medida que progredimos no caminho, o microcosmo
lhe ensinar; ele se purifica aos poucos e adquire a cor se cerca de um brilho dourado e revela o homem-
branca. espírito imortal.
Na Rosacruz Áurea consideramos a rosa o símbolo A veste áurea de núpcias. É esse o sentido que damos
da revivificação do microcosmo, o pequeno mundo à estrela áurea. Se ficarmos de pé, braços e pernas
que cada um de nós é. Na bandeira, ela é vermelha, abertos, formamos uma estrela de cinco pontas. A
embora muitas vezes seja representada pela cor dou- estrela será áurea se a veste áurea das núpcias alquími-
rada.Vermelha, ela nos mostra o passo a dar no curso cas tiver sido tecida, ou seja, a marca de uma alma em
da formação do verdadeiro homem; ela é a imagem pleno desenvolvimento espiritual. Essa pessoa irradia
da nova alma que ocupa cada vez mais lugar no cora- como uma estrela e toca os corações abertos dos que
ção. E à medida que cresce a força dessa nova alma, a buscam a verdade. Ela é capaz de mostrar o caminho
personalidade se consagra cada vez mais ao serviço a seus irmãos.
22 pentagrama 5/2007
Pendão de Noverosa que tremule!
a bandeira de Noverosa 23
a alma e as forças
da natureza
Se existe algo de que o mundo necessita ao início desta nova era
é exatamente de homens e mulheres que testemunhem de uma
verdadeira vida espiritual, ou por outras palavras, de uma vida animada
pelo Espírito. Às vezes é possível perceber algo disso de maneira
sutil no modo como as pessoas resolvem os problemas ou em seu
modo de falar e agir.
S
e perguntarmos a uma pessoa como ela vê o
futuro da humanidade e do planeta, freqüente-
mente ela responderá dizendo que estamos nos
precipitando a grande velocidade para uma total auto-
destruição. Esse sentimento é bastante evidente sobre-
tudo nos países industrializados. Muitos se revoltam
contra o que parece inelutável; muitos, contudo, acei-
tam e se conformam.
Há também pessoas que, de todas as maneiras possí-
veis, buscam uma mudança. Fala-se de “re-harmoniza-
ção das correntes energéticas da terra”, de “correntes
de oração”, de “expansão da consciência” e da impor-
tância do “conhecimento esotérico”. Do ponto de
vista dessas pessoas, se o pensamento for transformado,
se o campo mental do planeta se modificar – e essa é
a idéia – a humanidade poderá abrir caminhos para
um novo modo de vida.
Torna-se cada vez mais evidente que chegamos a um
ponto crucial no desenvolvimento da humanidade,
num ponto em que devemos fazer escolhas muito
conscientes.Trata-se de um ponto no ciclo do mundo
em que se vê delinear interiormente o verdadeiro
homem. Nessa luz é possível seguir um novo caminho
de desenvolvimento numa espiral vibratória superior.
Simultaneamente, abre-se um caminho que conduz a
um nível que já não comporta nenhuma cultura par-
Isis, escultura copta, século 4
ticular, algo como um caminho “não-cultural”, se
24 pentagrama 5/2007
assim podemos nos expressar, o retorno a um estado ULTRAPASSANDO OS LIMITES DA CONSCIÊNCIA
em que tudo deverá começar novamente. O que não se faz hoje em dia para penetrar a consci-
ência com o objetivo de dirigir nossa vida! Vemos
OS DOIS CAMINHOS Nesta encruzilhada, nesta difundir-se, por exemplo:
virada dos tempos, tomamos parte numa luta secular, • tecnologia barata, presente em todo lugar, que
denominada pelos antigos “a batalha da luz contra as fragmenta a consciência e a dirige continuamente
trevas” e que gostaríamos de chamar de “a escolha para fora de nós mesmos;
entre o caminho da alma e o caminho dos éons”. • a atitude de achar que “tudo é normal”, que “tudo
O primeiro, o caminho da alma, confere uma força é possível”, como por exemplo, a banalização das
que é um imenso suporte, um poder espiritual arreba- chamadas “drogas leves”, que entretanto danificam
tador que nos liga ao mundo do Espírito. Muitas pes- grandemente nossa capacidade e o livre arbítrio;
soas estão abertas a esse caminho. Ele oferece inúmeras • a depreciação do conceito “esforço pessoal” que,
possibilidades e perspectivas.Trata-se da recriação de sobretudo nos países industrializados, torna a pes-
um ser humano que verdadeiramente pode falar de soa inativa e dependente.
liberdade, justiça e fraternidade. Antigamente podia-se dizer que os conflitos sempre
O segundo caminho reúne e reagrupa todas as forças, aconteciam devido à expansão das próprias fronteiras
visões e idéias do domínio do espaço-tempo. Esse às expensas de outros; atualmente luta-se para expan-
caminho conserva a maioria dos seres humanos na dir as fronteiras da consciência. Quem souber con-
evolução natural ao orientar-lhes a atenção, os desejos quistar um lugar na consciência das crianças garantirá
e a força vital continuamente para si mesmos. Por isso, uma porta de acesso a elas por muitos anos.As conse-
os jovens são suas primeiras vítimas. Às vezes é dito qüências são bastante evidentes. De início, é possível
que “a juventude é o futuro”, mas se desde a mais que o poder de concentração e de decisão, dois ele-
tenra infância a atenção da criança é atraída para o mentos de grande importância nas reações interiores
caminho da natureza, é bem possível que ela não con- aos impulsos espirituais, sejam minados.
siga reagir aos suaves impulsos da luz, pois ela nada lhe Eis por que é preciso que determinemos o que quere-
diz. Isso significa que as gerações futuras estarão domi- mos admitir em nós mesmos, em nosso lar, em nossa
nadas. alma e na alma de nossas crianças. E isso não é tudo.
Enigma.
Representamos conscientemente um papel na vida atualmente por uma atividade sexual super desenvol-
social e temos responsabilidades. E ainda mais: como vida. O desemprego e a exaltação da busca pelo prazer
seres conscientes, quais são as idéias, as energias, objeti- do indivíduo, da consciência, da própria família e da
vos, alimentos e informações a que damos ou não orientação religiosa limitam os horizontes. Um dos
guarida em vós? E isso decorre inteiramente de uma mais importantes elementos de negação (as forças
única questão: qual a orientação de nossa vida? Em eônicas) do longo caminho para uma vida humana
que direção conduzimos? Que lugar damos ao pro- mais elevada é a cultura de massa, degradada, nivelada
fundo anseio pelo Bem Único em nossa vida? pelo ponto mais baixo.Aqui a “multiplicidade” opõe-
Certamente, não é de se admirar que muitos achem se à “qualidade”.
que viver a serviço da alma, a serviço do homem uni- Ninguém precisa privar-se de nada; tudo pode ser
versal, leve a um conflito com o desenvolvimento no vivido virtualmente, e cada um pode, portanto, fazer
atual meio sócio-cultural. Mas isso jamais será possível, as mesmas experiências de todos. Por outro lado, o
pois tudo o que uma pessoa diz ou faz tem conse- homem luta por novos valores éticos, ou para usar os
qüências e continua a atuar de uma forma ou de antigos e bem conhecidos valores. Muitas pessoas se
outra. Se tivermos a coragem de manter nossa decisão chocam com o comportamento geral. Muitos temem
interior, então as circunstâncias se modificarão. Não o aquecimento global, as catástrofes e o quadro forne-
pode ser de outro modo. cido pela Organização Mundial de Saúde. Eles rea-
Quem, como adulto, está determinado a viver segun- gem, dizendo que “é preciso fazer alguma coisa pelo
do critérios superiores, oferece a seus filhos um planeta”.
ambiente favorável e uma elevada base de vida que Depois do Iluminismo e da tecnocracia a serviço da
permitem à personalidade da criança e à sua alma tão economia, o novo credo é a ecologia humanitária.
receptível desabrochar em total liberdade. Será ainda possível deter, ou pelo menos frear, o dese-
quilíbrio da natureza (conseqüência do desequilíbrio
DESSOCIALIZAÇÃO O Ocidente caracteriza-se dos objetivos perseguidos pelo homem e os interesses
pelo excesso de consumismo de bens e serviços, e a eles ligados) e a marcha da humanidade? Estaria aí o
26 pentagrama 5/2007
caminho da alma? Nossa aspiração ao que é eterno no eônica, que se expressa abertamente no mundo,
microcosmo, o desejo de ligar-nos novamente a Deus, podem caminhar juntas no puro campo de força da
não oferece uma opção significativa? E o que fazemos Escola Espiritual.A criança que cresce nesse contexto
com relação a isso para as gerações futuras? aprende rapidamente o significado da “educação pes-
soal”, que atualmente é a primeira exigência.
O desenvolvimento da criança ocorrerá, em primeiro Desde muito pequena a criança é confrontada com
lugar, segundo a expectativa dos pais e com base em situações complexas, e a necessidade de fazer escolhas
seus impulsos interiores. Sua polarização, sua com- em total independência far-se-á sentir muito cedo.
preensão do essencial e suas ações formam o funda- Em tal momento, é importante que ela compreenda a
mento sobre o qual a vida da criança se desenvolve situação e a domine. Os modelos educativos dados
(antes mesmo do nascimento). O acompanhamento pelos pais e pela sociedade, ainda que necessários, são
diário, tanto no campo biológico quanto no psicoló- muito limitados. Em nossa sociedade moderna esses
gico, é de importância fundamental para o amadureci- limites aparecem rapidamente. Eis por que a criança
mento da criança. Por isso, é do maior interesse que deve ter a capacidade de realizar sua “educação pes-
tanto os pais quanto os que acompanham a criança soal”. Se houver interiormente um desejo ardente de
vibrem conscientemente com a grande mudança que acercar-se do bem e seguir a voz da alma, a faculdade
transfigura todos os átomos de sua vida. de “auto-educação” será para ela muito preciosa e
atuará como uma proteção contra a influência das for-
A CAPACIDADE DE EDUCAÇÃO PESSOAL ças da natureza.
Que portas nós fechamos, que portas deixamos aber-
tas e quais são as conseqüências disso? Um constante A AMIZADE É O MELHOR AUXÍLIO A autorida-
auto-exame e uma prática inspirada devem ser parte de exterior pesa cada vez menos na balança, e com o
de nossa vida diária. O meio ambiente pode formar tempo pode até mesmo tornar-se contraproducente.
uma esfera que se torna um verdadeiro oásis para nos- Atualmente o indivíduo é sagrado. Por conseguinte,
sos filhos, um lugar onde podem se ajustar a uma vida regras e regulamentos não têm muito significado. Por
alegre e inteligente orientada para a alma, onde isso é muito importante que a criança mesma possua a
podem respirar livremente, encontrar uma calma isen- faculdade de julgamento e de discernimento, pois isso
ta das tensões nervosas e do ritmo febril do mundo a ajudará a determinar o que lhe parece aceitável ou
exterior; onde podem ter uma compreensão clara e não, e com quem se ligar ou não. Isso é aprendido
uma visão ampla dos acontecimentos e receber o sobretudo se nesse sentido os pais e os que se ocupam
apoio pleno de amor nos momentos difíceis pelos com a criança se esforçam para mostrar-lhe os fatos,
quais, sem dúvida alguma, terão de passar.Acima de com os altos e baixos, aberta e amigavelmente. Esse
tudo, eles se beneficiarão de uma atmosfera em que poderá tornar-se o fundamento de uma nova educa-
uma conseqüente atitude de vida é sempre mantida. ção e influenciar fortemente a vida social do homem
O lar, então, poderá ser o lugar em que a criança irá como um todo
aprender como a vida do homem aspirante e a força
30 pentagrama 5/2007
Final de tarde no Templo de Noverosa
V
eja em que me tornei. Veja como neste instante a escuridão me envolve por
todos os lados. No país de meu pai, onde ele é rei, todos os dias eu vagava
sozinho ou em companhia de meu irmão gêmeo, no palácio ou no pátio. O
palácio é grande e possui quatro torres, uma em cada canto. Do alto dessas torres
pode-se avistar jardins repletos de rosas e a muralha que nos cerca. Nessa muralha há
doze portas, cada qual decorada com uma taça de vidro que contém uma pérola.
Doze pérolas cintilam à luz do sol. Além da muralha de doze portas e doze pérolas
vê-se o mar. De todos os lados. O palácio de meu pai foi construído numa grande ilha.
Sim, é ali que se encontra o palácio de meu pai, que é o rei.
Quase me esqueço de dizer que na frente do palácio há um leão. Quando criança, eu
estava convencido de que ele sabia tudo, que conhecia cada segredo do mundo, que
permanecia acordado à noite e contemplava o mundo além do jardim e do parque ao
redor do palácio do meu pai, que é o rei, e o mundo do outro lado do mar. Durante o
dia, o leão feito de bronze guarda o palácio e não diz uma palavra. Ele jamais me con-
fiou os segredos do mundo e nunca me falou da imensidão do deserto, da altura das
montanhas, da violência dos cursos d’água, da fúria sinistra do trovão e dos raios sobre
as planícies, das tempestades sobre as longas ervas das estepes, das tempestades nos
oceanos de profundezas insondáveis onde é impossível ancorar.
Li tudo isso nos livros da biblioteca de nosso palácio. É um labirinto constituído de
estruturas imensas, contra as quais elevam-se escadas que me possibilitam alcançar as
prateleiras mais altas. Livros repletos de histórias, maravilhosas histórias. Livros repletos
de lugares, estranhos lugares. Livros que narram coisas tão diferentes sobre o mundo,
tão variadas, tão desconhecidas, que despertaram em mim um desejo. Eu desejava
esses lugares distantes e desconhecidos, desejava saber o que acontecia além da mura-
lha, do outro lado do mar. Eu desejava viajar. E, por pensar que ninguém acharia que
minha idéia era boa, uma noite, fui-me embora sem dizer nada. Não olhei para ver se
o leão estava lá, porque isso era uma fantasia do meu tempo de criança.
Fugi como um ladrão na noite. Deslizei da cama sem despertar meu irmão gêmeo, saí
silenciosamente e deixei o jardim pela torre leste. À porta, peguei com cuidado a
pérola da taça de vidro, envolvi-a num pedaço de seda e guardei-a no bolso de meu
casaco. A pérola sempre me faria lembrar de minha casa, pensei. Afinal, quanto tempo
duraria minha viagem? Eu partia sem um objetivo preciso.
Depois de muito navegar, desembarquei numa praia e continuei meu caminho rumo a
esses lugares distantes e desconhecidos.
Sim, é verdade, eu também li esta estória. Mas o meu irmão gêmeo não é assim. Não fui embo-
ra para abandonar meu irmão, e sim por espírito de aventura, admito. Mas que sabia eu a respei-
to de aventuras? Eu pensei: você vai viajar, mas sempre poderá retornar ao lar.Você vive tantas
aventuras e nem tudo se passa da maneira como você pensava, às vezes as coisas acabam mal.
Mas quem é sincero não tem nada a temer. A pérola sempre mostra o caminho.
Tenho certeza de que agora você pensa: “Calma, calma.Você vai voltar para casa, ao país da luz
que um dia abandonou”. Espero que sim. Espero que você tenha razão, pois sinto que me perdi.
À noite, divago e penso ouvir, ao longe, o rugido de um leão, nosso leão. Durante o dia, espero
que ele venha me salvar, me tirar daqui. Quando coloco minha mão no bolso, sinto a maciez da
seda que envolve a pérola, então acredito na história que fala do país da luz, minha ilha de luz. O
país que eu deixei.
Já não ouso tirar a pérola de meu bolso. Há algum tempo, quase a perdi, e isso teria sido péssi-
mo. Mas o que me preocupa e é mais terrível é que a pérola já não está límpida, brilhante. A
última vez que a vi, ela estava embaçada, e eu sei o que isso significa (já disse que conheço essas
estórias): começo a esquecer meu país. Na minha memória, sua claridade dourada está embaça-
da, as taças de vidro se romperam, tenho medo de já não reconhecer meu irmão gêmeo.Tantas
coisas se passaram, tantas experiências se sucederam. Já não posso suportar. E não enxergo
nada, estou mergulhado na escuridão. Fui encarcerado e jogado no fundo de um calabouço,
posso gritar o que quiser, é como se eu gritasse no deserto. Minha cela possui dois metros de
comprimento e um metro e trinta de altura. Eu não minto, mas não posso verificar, eu não vejo
nada. Aqui tudo é negro, escuro e úmido. Dois metros de comprimento. Posso engatinhar e às
vezes dou pequenos saltos para manter-me em movimento. Um metro e trinta de altura.Tenho
dezessete anos, portanto você deve compreender que é impossível ficar de pé.
32 pentagrama 5/2007
À noite, divago e penso ouvir, ao longe,
o rugido de um leão, nosso leão
É um mal-entendido, asseguro. Como foi que cheguei aqui? Eu não roubei nada, não menti. De
repente uma briga irrompeu no mercado. Eu procurava qualquer coisa para comer. Não tinha
mais dinheiro, havia sido roubado outra vez. Eu sempre cuido muito bem das minhas coisas, mas
minhas roupas estão muito gastas e minhas calças perderam seus ornamentos dourados, meus
sapatos estão surrados, meu casaco está todo desfiado. Assim, tornei-me alguém de quem se
deve desconfiar, vigiar, um vagabundo, um ladrão, alguém perigoso. Os homens são desconfiados,
aprendi enquanto viajava. Eles são assim pois sabem que neles também não se pode confiar. Eles
não cumprem suas promessas, caluniam, mentem, enganam. Basta!
Mas veja o que me tornei. Caí tão baixo. Não quero pensar nos outros, não sou melhor do que
ninguém. Por isso, desconfie de minha história, não creia no que digo. Mas lembre-se de que
estou numa cela de dois metros de comprimento por um metro e trinta de altura.Você não
ficaria louco? Estou aqui por ter estado no lugar errado no momento errado. As laranjas caíram
da carroça, alguém tropeçou e caiu, no exato instante em que o sultão se aproximava. Eu parei e
olhei. Ah, ah! Ih, ih!, diz a canção. Mas eu não ri por muito tempo. Vim parar nesta cela.
É assim que freqüentemente as coisas acontecem na vida. Num instante eu era observador, e
então, sem tempo de compreender, já estava envolvido. Chamaram-me de ingênuo.Você acha
que sou ingênuo? Talvez tenha razão. Eu não sabia nada. Sabia apenas as histórias sobre o
mundo, conhecia o mundo pelas fotografias nos livros que eu havia lido. Eu conhecia o mundo
visto da minha torre, segundo o que eu havia ouvido dizer, mas eu mesmo não o havia experi-
mentado. Agora eu sei o que é a vida, sei o que se encontra além das torres.Vivi muitas coisas
boas e agradáveis, e só de pensar começo a chorar no fundo da minha cela.
Ainda assim, devo utilizar melhor minha energia. Então começo a raspar o muro com a fivela do
meu cinto, hora após hora. O buraco que fiz tem o diâmetro do meu dedinho. Admitindo que
eu consiga passar por ali, quem poderá me dizer onde chegarei, quem poderá me garantir que
escapei deste sepulcro onde me sinto enterrado vivo?
Será que eu contei tudo? Que sou mantido vivo com pão velho e água suja? Todos os dias as
grades se abrem e um pequeno recipiente é empurrado para dentro. Não sei por quem. Talvez
eu esteja enlouquecendo, mas dificilmente sinto falta de boa comida.Tampouco sinto falta dos
homens. Nem minha voz me faz falta. Eu sinto falta de luz. A luz está totalmente ausente e tenho
a impressão de estar cego. Por isso, tento fazer um buraco para deixar penetrar um pouco de
luz. Este é meu maior desejo.
E agora, agora penso que não posso afundar ainda mais, mas sinto brilhar uma pequena luz de
esperança, e meu coração se ilumina. Sim, a esperança brilha, pois não perdi a coragem. Tenho
um plano: deixar entrar a luz. Eu não perdi minha fé, minha confiança. E me sinto repleto de júbilo.
Ao som de minha voz, as paredes de argamassa parecem tremer, a terra parece vibrar; mas não
foi minha voz. Eu não divago, tenho certeza, não se trata de fantasia infantil: com certeza é um leão.
Com a unha do meu dedinho, continuo a raspar, e então, todos os meus dedos, minha mão e
meu braço desaparecem no buraco da parede. Alguns detritos caem. Eu vejo uma estrela, bem
longe, brilhando no céu. A alegria aquece meu corpo gelado. Se meu irmão gêmeo estiver olhan-
do pela janela, ele verá a mesma estrela. Agora eu sei: ele sempre esteve perto de mim.
Cautelosamente retiro a pérola do bolso de meu casaco e imediatamente uma luz cintilante e
ofuscante preenche o pequeno espaço. Uma imensa felicidade me percorre, a felicidade de ver
uma estrela. Ela me mostrará o caminho para casa, ao palácio do meu pai, que é o rei.
Minha cela desaba, todavia sem me soterrar. Reergo-me com dificuldade, estiro meus músculos
enrijecidos e sinto-me renascer. Eu sei: meu reino não é deste mundo. E assim, ponho-me nova-
mente a caminho
A
tualmente, já não temos tempo para procurar.
Queremos conhecimento servido em peque-
nas porções prontas para degustação, soluções
prontas para uso imediato. Entretanto, o autoconheci-
mento requer espaço e tempo.
Nestes últimos cem anos, ocorreram mais descobertas
do que durante os últimos dois mil anos.Agimos mais
depressa, e parece que pensamos e até falamos mais de-
pressa também. Nunca em épocas anteriores tantos
desenvolvimentos se realizaram. Num curto espaço de
tempo, a humanidade criou uma sociedade totalmente
nova que abrange o mundo inteiro.A globalização é
um fato novo, reconhecido em 99% do planeta.
Uma vez que não podemos assimilar uma infinidade
de informações, muito do que aprendemos, vimos e
ouvimos é apagado de nossa memória. Não nos recor-
damos ou não atribuímos muita importância ao que
aprendemos. Controlamos nossas emoções para nos
proteger da miséria que nos circunda. Por instinto de
autoconservação, muitas vezes decidimos rejeitar a
realidade para não ter de encarar o que está diante de
nossos olhos.
34 pentagrama 5/2007
E o que pensar da tecnologia que mantém o homem sioneiro de uma rede mundial. Na luta para ganhar
moderno sob seu jugo quase absoluto? O mundo tor- tempo, quem vence é o tempo. Nunca tivemos tantas
nou-se transparente e já não existem muitos segredos. horas vagas e nunca estivemos tão ocupados que não
Voluntariamente abandonamos nossa liberdade e nossa sabemos para onde ir. Interior e exteriormente somos
própria proteção. Deixamo-nos conduzir por sistemas tão dominados por um sentimento de urgência que
sem nos preocupar com o fato de que somos comple- realmente já não temos tempo para nada.
tamente dirigidos.Tudo é registrado: pagamentos ele- Movemo-nos levados pela correnteza. Os meios de
trônicos, e-mails, chamadas via telefone celular. Cada comunicação nos dizem quais livros devemos ler, os
e-mail, cada um, é preservado durante vinte e cinco críticos dizem quais filmes devemos assistir, os guias
anos em determinados bancos de dados. E o ser huma- determinam quais lugares visitar, o que comer, as nor-
no que tanto busca a total liberdade encontra-se pri- mas e os valores nos quais devemos acreditar.
Transformamo-nos numa sociedade onde os “dez
melhores” detêm o poder, composta de indivíduos
voltados unicamente para si mesmos, que nada dese-
jam fazer pelos outros, que vivem na busca constante
de novos grupos, apegando-se a ídolos para se distin-
guirem da massa e não se sentirem perdidos.
36 pentagrama 5/2007
rio, pois já não há autoridade. Os jovens têm vida relembrar a nossas crianças sua origem divina. Porque,
sexual precoce, corpos amadurecidos antes do tempo, durante mais de 150 anos vivemos acreditando que
consomem drogas e álcool cada vez mais cedo. Eles somos descendente dos macacos e que não há nada
sabem melhor que seus pais o que se passa no mundo: além.Assim, é lógico que nos contentemos de nossa
a Internet lhes dá acesso irrestrito a tudo. Interessante vida animal e não tentemos nos elevar. Se não pode-
notar que, mesmo tendo já vivido tantas experiências, mos ser nada além de animais, nada do que façamos
os jovens permanecem por muito tempo na casa de poderá mudar nossa condição. Moolenburgh lamenta
seus pais. Eles adiam tanto quanto possível o momento nossa ignorância quanto ao fato de sermos homens-
em que deverão fazer escolhas para uma vida adulta. deuses. Para ele, se percebêssemos o milagre da vida,
seríamos mais cuidadosos e não esmagaríamos a vida
TODOS FELIZES Uma pesquisa realizada pelo de nossos filhos sob o peso da busca pelo nosso pró-
UNICEF revela que os jovens de hoje são relativa- prio conforto.
mente felizes.A família, a escola e o ambiente garan- No final do século passado, cada um descobriu sua
tem um sentimento de segurança. Uma sondagem da própria verdade.A idéia básica do pós-modernismo
empresa de pesquisas Eurobarômetro atribui as por- era que a verdade não existe.A esperança foi afastada.
centagens menos expressivas à Grã-Bretanha,Alemanha O cientista George Steiner diz que a esperança morre
e França, talvez por causa da alta competitividade. Por quando a fé desaparece. E observa que, nos
outro lado, 97% dos jovens dinamarqueses, holandeses, Evangelhos, Jesus sempre se exprime no tempo futuro.
irlandeses e suecos são felizes. O que não impede que Quem crê no futuro traz a esperança. No fim do
o alcoolismo entre os jovens estudantes holandeses seja século XIX foi declarado que Deus – e com ele a fé –
terrivelmente elevado. Como explicar essa contradi- estava morto, e hoje, no século XXI, o amor corre o
ção, essa divergência? Nossos jovens são felizes mas risco de tornar-se uma palavra vazia, sem sentido.
temem não ser aceitos. Ou será que eles consideram Os jovens tendem a ver a existência de forma limita-
que ser feliz é uma tarefa árdua? Afinal, parecer feliz da. Eles tendem ao fatalismo e a aceitar que o ser
tornou-se uma obrigação! humano seja decaído e que o mundo seja finito. O
O jovem começa a perceber que o homem já não está cinismo parece ser a única saída, mas ele nos torna
livre, mas é mantido sob controle. Com a telefonia pessoas solitárias e sem coragem de fazer escolhas. Há
celular, os encontros mudam de horário a cada instante; uma monumental perda de originalidade e autentici-
o trabalho e o controle social continuam durante as fé- dade. Que possamos oferecer a nossos filhos o tempo
rias.Todos podem ser sempre contatados na prisão das e o espaço necessários à descoberta do mundo, que
competições e expectativas sociais.A vida diária torna- possamos dar fundamento à forma, sendo nós mesmos
se fragmentada e dispersa. E há ainda também a vida um exemplo para eles. Uma criança rumo à idade
virtual. Composta de ecos da vida do mundo tempo- adulta se indaga: para onde segue este mundo caótico,
ral, é quase como um outro mundo dentro do mundo. superpovoado, poluído, repleto de guerras e outras
Dessa forma, aprendemos que a liberdade é feita de atrocidades? Ela vê em torno de si o que os adultos
imposições. Não há tempo para refletir, para buscar fizeram do mundo: eles receberam um lugar para
interiormente a verdadeira liberdade, para reconhecer viver e aprender, mas transformaram-no em um ninho
impraticáveis limitações.A procura ocorre dentro de poluído e não têm intenção alguma de limpá-lo. Um
limites estabelecidos. Um sentimento de irrealidade se jovem ainda não se esqueceu de que cada um é, na
instala. Nós nos ameaçamos com limites sem prece- verdade, um buscador. Em cada um vibra uma pré-
dentes.Talvez isso explique por que certas empresas reminiscência, às vezes profundamente escondida, às
organizam visitas aos zoológicos para estudar o com- vezes quase aniquilada. Cada um de nós nasceu para
portamento dos macacos, compreender como sua levar seu microcosmo mais adiante, para ajudá-lo a se
sociedade é organizada e como os primatas escolhem elevar ao novo campo de vida. Para que haja fé, espe-
seus líderes. rança e amor, a coragem é essencial.A vida pede
homens corajosos
“SE SOUBÉSSEMOS QUE SOMOS DEUSES...”
Fontes:
Existe ainda um outro lado a ser considerado. Em seu Steiner, G., Gramáticas da criação. São Paulo: Globo, 2005.
livro Op je gezondheid! (À sua saúde!), o homeopata Moolenburgh, H.C., Op je gezondheid! Deventer:
holandês H. C. Moolenburgh escreve que devemos Ankh-Hermes, 2005.
A
compreensão comporta diferentes níveis, ondas, e também pode, com sua força, estar a serviço
diferentes camadas.As perguntas provêm de de outros.
um primeiro nível de compreensão ativa. E que instrumentos podemos utilizar? O mais impor-
Compreender não significa ser capaz de julgar como tante é ajudar os outros a encontrar a felicidade.
o espírito opera em nós ou nos outros.Tampouco se Entretanto é mais fácil falar que fazer. Então, como
trata de marcar o máximo de pontos num teste psico- agir? Os outros realmente desejam essa ajuda?
lógico que diz quão confiante você é, nem de fazer Isso pede dedicação, pede nosso comprometimento
um inventário de fraquezas e qualidades. Inútil desejar agora, onde quer que nos encontremos. Na Escola
conhecer todas as teorias da conspiração. Não que isso Espiritual existe uma solidariedade que cria um
não seja importante, mas há divergências e, portanto, campo de compreensão, uma “unidade de alma”, que
não há unidade de compreensão. Somente a com- ela propaga para o mundo inteiro. Devemos ajudar os
preensão é capaz de nos fazer ver de modo claro o outros – sempre que possível – e sobretudo mostrar
que podemos de fato realizar em nossa vida presente. como cada um pode ajudar a si mesmo. Não se trata
de fazer o papel do herói que salva o mundo, mas
SONDAR O CORAÇÃO O mundo é como é: estar onde o auxílio é necessário. Muitas vezes não é
duradouro, sempre em transformação, nunca estático. preciso ir muito longe.A isso podemos chamar de
Ele sempre reage ao sol, que lhe dá vida, e também às segundo nível de compreensão ativa.
vibrações e radiações cósmicas, que nos trazem grande
compreensão sobre a harmonia e a coesão do Universo. ALEGRIA DE APRENDER Os instrumentos de que
Também os seres humanos mudam continuamente necessitamos não incluem tecnologias mais sofisticadas
em busca de auto-realização e auto-afirmação. ou sistemas financeiros mais justos. Devemos buscá-los
Nenhuma objeção a ser feita, quando se trata da auto- no ser humano, pois o que realmente necessitamos é
realização baseada no grandioso plano do sol interior, de um coração amoroso, um poder mental claro e um
estimulada pela gloriosa vida solar. corpo saudável, mediante os quais e nos quais a nova
Mas com que freqüência não nos mantemos medio- alma nasce. Nosso trabalho é abri-los. Podemos fazer
cremente às custas de outros? E quantas vezes não nos de nossa vida uma vida consciente.
colocamos em situações de competição, de luta contra Podemos nos perguntar: trata-se de uma tarefa fatigan-
outros, em benefício próprio, e raramente sustentamos te, um caminho difícil que nos entristece e oprime,
alguém? fazendo-nos parecer mais velhos do que somos?
Quem age com compreensão de acordo com as exi- Quem pensa desse modo deveria observar uma criança
gências da nova era e mantém permanentemente seu que alegremente dá seus primeiros passos ou aprende
coração voltado para o que é certo, justo e imutável – suas primeiras palavras. Quanta felicidade e satisfação!
para o espírito – pode superar todas as turbulências e Quando um ser humano aprende algo de essencial,
tempestades, qual um pedaço de cortiça levado pelas quando sua alma pode dar um passo adiante, ele irra-
38 pentagrama 5/2007
natureza e a escola de deus
dia do interior. Quem aprende o essencial encontra-se Onde podemos aprender isso tudo? Na escola da vida.
em desenvolvimento. E quem se desenvolve geral- Há uma antiga oração rosacruz que diz num esplêndi-
mente é saudável. Esses conceitos, experiências e sen- do verso:
timentos autênticos constituem o terceiro nível de “Senhor, toda a benção e toda a graça emanam do teu
compreensão. ser! Com o teu dedo traçaste os sinais da natureza e
40 pentagrama 5/2007
Não há respostas prontas para as questões relativas a vida, crescimento
e desenvolvimento. Quem deseja significar algo para a criança segundo a
Luz deve colocar a busca no centro da própria vida. Pelo próprio fato de
ser um “buscador”, cria-se a ligação com a criança, que é sempre curiosa
e deseja aprender. É certo que pais e educadores sempre encontrarão
respostas no caminho que trilham com a criança se sua atitude sempre
for, antes de tudo, plena de atenção, amor e esperança.
Se existe algo que a criança e o jovem necessitam neste mundo, é de
homens e mulheres que lhes sirvam de exemplo, pessoas cuja vida
interior, palavras, atos e gestos sejam animados e inspirados pelo espírito.
Tanto o mundo e a natureza como a vida interior e o mundo divino
são escolas cujo ensinamento não conhece fim. Porém o homem interior
deve ultrapassar as fronteiras. A verdadeira tarefa dos educadores é
transmitir essa noção aos jovens, tarefa esta que é também a da
Rosacruz Áurea.