Japan">
Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

121526-Texto Do Artigo-226753-1-10-20161004

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 5

- 270 -

. Quando, em 1580, a corôa portuguêsa foi unida à da Espanha,


a situação comercial de Macau tornou-se ainda mais cômoda, pois
os espanhóis não tiveram dificuldade em reconhecer àquêle pôrto o
monopólio do comércio com o arquipélago japonês; afastava-se, des-
ta forma, a possibilidade de concorrerem êles como os lusos, o que
poderia ser feito com base em Manila, nas Filipinas. A concorrên-
cia surgiu, todavia, quando inglêses e holandeses fixaram-se em Hi-
redo, no Japão. Em 1622, os últimos chegaram a tentar a tomada de
Macau; malogrando, voltaram-se para as ilhas Pescadores e para
Formosa, com o objetivo de criar entrepostos rivais de Macau e Ma-
nila. Bem logo os chineses também passaram a participar direta-
mente do comércio com o Japão, favorecidos que foram pela poli-
ti -a do shogun Tokugawa Ieyasu, orientada no sentido de extirpa-
ção da pirataria.
Além da prata, outras produtos eram buscados pelos portuguê-
ses nas ilhas japonesas, inclusive o cobre, utilizado na fundição de
Manuel Tavares Bocarro, em Macau, Rua do Chunambeiro, donde
saíam canhões famosos em todo o Oriente. A viagem ao Japão fa-
zia-se de ano em ano, sob a chefia de um capitão-mor designado di-
retamente pelo rei ou, então, pelo vice-rei com sede em Goa; cabia-
lhe, ainda, funcionar como governador de Macau, durante sua es-
trda na cidade, à espera da monção para dar início à jornada. No
Japão, gozavam os portuguêses, pràticamente, de um regime de ex-
tra-territorialidade, mesmo após a proibição do cristianismo (1614),
com a única exceção de pesada penalidade imposta aos marinheiros
ou comerciantes que introduzissem missionários no país.
Com o tempo, diversas foram as modificações sofridas pelo co-
mércio de Macau com o Japão. Entre elas, figura o papel cada vez
maior desempenhado pelos ricos comerciantes indianos e chineses,
bem como japoneses, que acabaram por fazer dos portuguêses seus
meros agentes; nesta situação encontravam-se êstes em 1640, quando
se interromperam as viagens anuais. A enorme fortuna acumulada
pelo japonês Ito Kozaemon, por exemplo, deve-se a êste comércio,
causa, também, da excepcional prosperidade de Macau e de Naga-
saki. Quanto à extinção destas atividades, tão proveitosas para tôdas
as partes nelas envolvidas, determinou-a, ainda, a questão dos jesuí-
tas, considerados como responsáveis pela rebelião de Shimabara (1637-
1638) e que continuavam a penetrar no Japão, como clandestinos. Daí
a decisão nipônica de romper os contactos com os estrangeiros, en-
trando o Japão na fase de isolamento, que duraria até o século XIX.
Enriquecem o volume diversos documentos nele reproduzidos e
que estão reunidos na segunda parte (págs. 173-333).
PEDRO MOACYR CAMPOS

* * *
JORDÃO (M. F.) . — O Embú na História de São Paulo (Publicação
patrocinada pela Prefeitura Municipal de Embú) . São Paulo,
1960. 212 pp. 15 ilustrações. Bibliografia e apêndices.
- 271 -

O livro escrito pelo pesquisador M. F. Jordão e patrocinado pela


Prefeitura Municipal de Embú, para assinalar o segundo aniversário
do vizinho município, representa uma meritória contribução para
a historiografia paulista e muito particularmente para a aldeia seis-
centista de Mboy.
Com entusiasmo e honestidade coloca e apresenta o Autor so-
luções para alguns problemas e incursiona pelo passado histórico de
P•rdtininga. Ao regressar, toma posição que se compreende, mas que
exige argumentos mais positivos, principalmente ao localizar a anti-
ga povoação indígena de Embú como plataforma avançada do Impé-
rio Teocrático criado pelos jesuítas à margem do primitivo caminho
do sertão,
"porta aberta para entrar nas gerações guaranis e justificando.
lhe a importância chega a reivindicar em sentido oposto ao que é
geralmente aceito, uma curiosa conseqüência... nasceu o estabele-
cimento de Piratininga".

Essa tese talvez possa conduzir a uma tomada de posição diante


de problema da origem desta nossa grande Metrópole, mas por ora
nos parece um tanto apressada, assim como a inconclusividade de al-
guns capítulos. Inconclusividade que poderia haver sido motivada
pela impaciência do editor ou dos patrocinadores da obra, porquan-
t sente-se que os capítulos não se entrosam tão harmoniosamente
c mo seria de se desejar. Assim apresentam-se êles isolados como
contas de um mesmo colar. Mais ainda, nota-se uma invisível indi-
Ln.nça pela cronologia. Exemplificando esta observação, temos o ca-
pítulo XVIII (Educação e cultura jesuíticas — conseqüência de sua
expulsão) em que depois de remontar ao ano de 1572, comenta as
conseqüências da expulsão, logo em seguida, à página 134 — com o
sul–título Extensão territorial — e transcreve os limites atuais do Mu-
nicípio de Embú (p.p. 135 e 136). Interpolação desnecessária e que
sP justificaria no apêndice II, intitulado Subsídios para a História
de Embú. Dentre os assuntos esparsos abre todo um capítulo (o XII,
pp. 87-93) ao Governador das Esmeraldas, pelo fato de haver sido
da 3a. geração de Fernão Dias-o-Velho (o mesmo que foi beneficiado
com a Carta de Sesmaria de 22 de novembro de 1607) com prejuízo
ck. Pe. Belchior de Pontes, o padre missionário que apesar de haver
prestado reais serviços ao próprio Embú, antes de falecer em Ara-
çariguama em 28 de setembro de 1769, apenas mereceu um sub-tí-
tudo, algumas linhas nas páginas 116-117 e mesmo assim no capí-
tulo referente ao Convento jesuítico de Embú (pp. 108-120) .
Não se ignora que ao realizar a sua obra o Autor tem a liber-
dade de equacionar a própria disposição da matéria em capítulos,
mas dada a linha de um estudo histórico em bases idôneas, julgar-
se-ia ponderável deslocar o item que trata do Traslado de 22 de no-
vembro de 1607 e seus beneficiados, para o primeiro plano, correla-
cionando os demais capítulos em função dêste, que é, incontestà-
velmente, uma fonte autêntica, cujo documento original existe, au-
tenticado e até publicado pelo Departamento do Arquivo do Estado
— 272 —

de São Paulo, em volume específico — aliás citado com ênfase pelo


próprio autor do Embú na História de São Paulo, pois o sr. M. F.
Jordão impressiona pela intimidade das fontes manuscritas e impres-
sas onde se abeberou e as quais menciona com uma acuidade cien-
tífica que muito o recomenda. Esta preocupação é, a nosso ver, um
dos pontos mais positivos dêste seu trabalho, que êle próprio quali-
fica "modesto ensaio de estreante", e mais adiante, ao esclarecer os
motivos que o levaram a escrevê-lo:
"...desperta-me curiosidade a indagação de um monumento de tais
dimensões e ancianidade, como já se referiu Taunay, em paragem tão
afastada do núcleo de Piratininga".

Ora, a curiosidade é um dos traços da inteligência. Assim, no


calor do entusiasmo, coube-lhe sedimentar construções pessoais de
pensamento, que fazem do capítulo III (— A presumível origem da
aldeia de Mboy), juntamente com os comentários sôbre o Traslado
de 1607, a parte mais feliz e positiva de todo o volume.
A título de cooperação, julgamos oportuno sugerir ao Autor a
possibilidade de sistematizar o seu valioso estudo em linhas mestras
e versão bilíngüe, tomando por modêlo o roteiro de Paulo Floren-
çano, publicação amplamente divulgada a respeito da Casa do Ban-
deirante sob os auspícios do 4.0 Distrito da DPHAN e da Preefitura
Municipal de São Paulo.
Nestas condições, em se tratando de um folheto de objetivo tu-
rístico, os mesmos belos clichês poderiam ser aproveitados, com le-
gendas mais elucidativas, capazes de despertar a sensibilicláde do
eventual visitante, acostumado ao esplendor de outros monumentos
históricos. Chamamos a atenção principalmente para a citação de
Taunay (p. 155):
..Quatro séculos na nossa América correspondem a pelo menos
doze no Velho Mundo. Os vestígios quinhentistas e seiscentistas, pou-
cos que possuimos devemos guardá-los com o desvêlo que reclamam
um Castelo de Santo Ângelo e uma Santa Sofia.
...Guardemos pois com o maior cuidado o pouco que nos resta...
...Em tôrno de São Paulo duas verdadeiras preciosidades subsis-
tem: são dois dos mais velhos vestígios da civilização no nosso pla
nalto: São Miguel e MBoy".

Para outra referência, aliás, das mais oportunas, recorreu o Au-


tor a um dos livros de Paulo Duarte — Contra o Vandalismo e o
Extermínio — em que, com as credenciais que o individualizam, aquê-
le intelectual retratou o abandôno da antiga residência dos jesuítas
que êle visitou em companhia de Mário de Andrade em 1937, antes
portanto da devida restauração pela Diretoria do Patrimônio Histó-
rico e Artístico Nacional. Lamentàvelmente não a completou, pois à
p. 158, após transcrever o valioso depoimento de Paulo Duarte, ape-
nas comenta: "Isso, foi antes da restauração".
Nesse período seriam de utilidade alguns dados concretos que,
apesar de conhecidos de um pequeno grupo de estudiosos — inclu-
sive do Autor que, com fidalguia reconhece a ajuda do 4.0 Distrito
do DPHAN na coleta de dados sôbre a obra concluída o ano pas-
— 273 —

sado, — merecem ser divulgados em linhas gerais, mais ou menos


assim: A Igreja de Nossa Senhora do Rosário e residência jesuítica
anexa (do Embú), constituem monumentos históricos tombados pela
DPHAN a 21 de outubro de 1938. Os trabalhos de restauração pelo
4.° Distrito DPHAN tiveram início em agôsto de 1939-1940, retoma-
dos e concluídos definitivamente em 1958.
Uma última observação: Embú na História de São Paulo é inte-
ressante ensaio que reflete paciente e honesta capacidade do Autor.
Tem subtilezas, coloca e resolve alguns problemas, faz pensar. Ainda
mais, sugere medidas que merecem encontrar seguidores.
Especificamente, no apêndice II, ao apresentar Subsídios, embre-
nha-se numa trilha ainda virgem, inexistente ao que sabemos, nos pro-
gramas da secção de História das nossas Faculdades e uma constante
nas congêneres dos centros culturais mais expressivos da Europa: a
História Local ou Regional.
Cumpre assinalar, com a devida ênfase, que a coleta de dados e
conseqüente concretização de uma pesquisa que sabemos exaustiva,
sôn- ente se realizou graças à positiva receptividade da Prefeitura
Municipal de Embú na pessoa do seu alcaide, sr. Annis Neme Bas-
si th. que com o apôio unânime dos vereadores e demais autoridades
municipais, decidiu assinalar o segundo aniversário da instituição do
Município, patrocinando e não poupando esforços para a merecida
divulgação do livro de um de seus munícipes: o Embú na História
dt: São Paulo.
Dir-se-ia que tal sensibilidade a problemas culturais, especial-
n,onte relacionado com a história de um dos mais jovens municípios
paulistas, merece provocar uma posição a ser tomada pelas Prefei-
turas isoladamente e, talvez, dentro de um planejamento da própria
Associação Paulista dos Municípios que eventualmente poderia con-
tribuir e muito para o arrolamento necessário das fontes primárias
locais ou regionais, em bases científicas, a maneira do vizinho mu-
nicípio de Embú e dentro de um roteiro específico. Caso seja posi-
tivo o pronunciamento dessa entidade de classe, ou mesmo daquelas
ecilidades isoladas, recomendar-se-ia, na falta de outro conhecido,
o roteiro já sugerido nesta mesma Revista de História (n.o 8, vol.
III, p. 443) .
Confirmando a nossa profunda admiração pelas qualidades de
inteligência e sensibilidade do Autor de o Embú na História de São
Paulo, encerramos estas notas transcrevendo a preocupação, velada-
mente didáticaí que se revela no seguinte trecho (p. 113):
"Cumpre-nos esclarecer que existem nas proximidades da Capital
de São Paulo, três localidades com a palavra Embú nas suas deno•
minações, o que tem levado muita gente a confundi-las. Daí a neces-
sidade do presente esclarecimento. Destacam-se, pois Embu —
nicípio cuja história acabamos de focalizar. Subordinou-se desde 1880
ao Município de Itapecerlca da Serra, de que desmembrou por fórça
da Lei 5.285, de 18-2-1959; Embú•Guaçú — distrito pertencente ao Mu-
nicípio de Tapecerica da Serra, servido por ramal da Estrada de
- 274 -

Ferro Sorocabana; e finalmente, Embú-Mirim, localidade situada nas


proximidades de Santo Amaro, nas imediações da Reprèsa de Gua-
rapiranga".
MARIA REGINA DA CUNHA RODRIGUES
* * *
MACHADO (Lourival Gomes) e AYROSA (Eduardo). — Reconquista
de Congonhas. Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro
1960, 108 págs.
Há um toque de lenda nas origens do santuário do Senhor Bom
Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo. O analfabeto Felicia-
no Mendes, estabelecendo-se como eremita na colina situada ao sul
do vilarejo, recolhendo as esmolas destinadas à edificação da igreja;
seus êmulos, a começar por Custório de Vasconcelos, guardando fide-
lidade ao sonho de Feliciano e levando a têrmo a construção do mo-
numento — tudo isto não nos lembra uma atmosfera de Idade Média,
perdida no interior de Minas Gerais, em pleno século XVIII? Não se
acentua ainda esta impressão, quando as esculturas que lá se encon-
tram parecem ter sido feitas, menos por mãos humanas, do que por
anjos em peregrinação pela terra?
Bem sabemos serem outras plfgas ricas em testemunhos capazes
de despertar idéias dêste tipo. Mas não é êste o nosso caso, e isto
atribui um especial significado aos trabalhos de restauração da igreja
de Congonhas, decididos pela Diretoria do SPHAN, em princípios de
1157. O mesmo Serviço do Patrimônio Artístico, por intermédio de Ro-
drigo M. F. de Andrade e Sílvio de Vasconcelos, proporcionou a Lou-
rival Gomes Machado e a Eduardo Ayrosa tôdas as facilidades, a fim
de poderem acompanhar de perto o desempênho da missão progra-
mada. E os leitores do Suplemento Literário do jornal "O Estado de
São Paulo" lembram-se da série de artigos daí resultante, bem como
das admiráveis fotografias que os acompanhavam. Tais artigos foram
reunidos em volume, publicado agora pelo Ministério da Educação,
com textos em português, inglês e francês.
Da Introdução, destacamos as palavras finais: "...em v.?.rdade
cronista e fotógrafo desejam deixar bem claro que, se jamais tiveram
algum valor seu relato e as suas gravuras, primeiro destinados à fugaz
mas sempre estimulante divulgação jornalística, e agora preservados
em livro, devem-no todo ao fato que inicialmente atraiu sua atenção
e despertou sua curiosidade: a autêntica e admirável reconquista de
Congonhas". Ninguém poderá negar terem os autores respeitado es-
ciupulosamente o propósito de tornar público o trabalho em que se
empenharam os encarregados da restauração. E" com carinho que se
faz a descrição da delicada e exigente faina, diante do material cor-
rompido pelo tempo, pelo cupim e pelo fungo, deformado, ainda, pe-
las "acrescentações desfiguradoras", pois "o século XIX obstinou-se
em repintar periodicamente o interior das igrejas, cobrindo com pig-
mentos e óleo a talha dos altares, as obras construtivas de madeira, e
muitas vêzes atingindo até elementos de pedra".
Assim procedendo, certamente contribuiram os autores para di-
vulgar um melhor conhecimento não só da capacidade de trabalho do

Você também pode gostar