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Araújo (2013)
Araújo (2013)
Araújo (2013)
Tese
Pelotas, 2013
JAIR JONKO ARAUJO
PELOTAS, 2013
FICHA CATALOGRÁFICA
CDD 375
Catalogação na publicação:
Bibliotecária Glória Acosta Santos CRB 10/1859
IFSUL - Campus Pelotas
Banca Examinadora:
Este trabalho discute novos sentidos que estão sendo produzidos nas políticas
curriculares para a educação profissional no Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), a partir de sua transformação institucional
em 2008. Tendo por referência a necessidade de considerar políticas educacionais
de forma complexa, conforme proposto por Stephan Ball, e utilizando os aportes
teóricos da Teoria do Discurso de Ernesto Laclau, busca-se compreender estes
sentidos por meio de documentos oficiais do MEC e do IFSul e também por meio de
entrevistas com gestores e docentes da Instituição. Os diferentes documentos foram
organizados em grupos e analisados com auxílio da ferramenta WordSmith. Ao
adotar o conceito de currículo/política curricular como prática discursiva, conforme
propõem Alice Lopes e Elizabeth Macedo, buscou-se trazer para a análise diferentes
elementos que compõem o campo da discursividade da Educação Profissional e
Tecnológica em nível nacional e local, destacando embates históricos e aspectos
estruturais, culturais e discursivos os quais induzem limites e possibilidades para as
políticas curriculares no IFSul. No processo de análise, opta-se por identificar, em
diferentes contextos, sentidos e deslocamentos ao redor dos significantes ensino,
pesquisa, extensão e articulação. Inicialmente verifica-se que há priorização
institucional para a dimensão ensino, constata-se diferentes formas de acolhimento
para os discursos da integração e da verticalização e conclui-se que há um mito de
que o ensino está consolidado na rede federal e na instituição. Conclui-se também
que há dificuldades de fixação de sentidos para pesquisa e extensão e que há o
acolhimento de sentidos para estas dimensões na mesma perspectiva do contexto
universitário, que entendo não ser condizente com uma instituição que atua
predominantemente na EP de nível médio. Ainda que haja avanços na estrutura
administrativa e no financiamento para pesquisa e extensão, a expectativa principal
é que os servidores sejam capazes de institucionalizar estas dimensões,
observando-se sensações de intensificação em parte dos docentes que passam a
ter que dar conta da sobreposição de trabalho das três dimensões, num contexto
institucional que valoriza formalmente apenas tempo dedicado ao ensino. Por fim, o
significante articulação foi identificado como sobreterminado de sentidos, com
capacidade de tornar-se um significante vazio para construção de políticas
curriculares hegemônicas na Instituição.
Palavras Chaves: currículo, política curricular, teoria do discurso, educação
profissional e tecnológica, institutos federais.
ABSTRACT
This work discusses new meanings that are being produced in the curriculum policies
for professional education at the Sul-rio-grandense Federal Institute of Education,
Science and Technology (IFSul) during its institutional transformation in 2008.
Considering educational policies in a complex way, as proposed by Stephan Ball and
using the theoretical framework of Ernesto Laclau’s Discourse Theory, we seek to
identify some senses through official documents from the Ministry of Education
(MEC), IFSul, as well as from interviews with IFSul’s administrators and faculty.
Different documents were organized into groups and analyzed with WordSmith Tools.
By adopting the concept of curriculum/curricular policies as a discursive practice, as
proposed by Lopes and Alice Elizabeth Macedo, we aim to analyze the different
elements that compose the field of discursivity in Technological and Vocational
Education, at local and national level, emphasizing historical conflicts and structural,
cultural and discursive aspects which induce limits and possibilities for curricular
policies at IFSul. In the process of analysis, we chose to identify, in different contexts,
meanings and displacements around the significant teaching, research, extension
and articulation. First it is verified that there is institutional priority for the teaching
dimension, we find different forms of acceptance for discourses of integration and
verticalization and we identify the myth that teaching is consolidated in the federal
vocational education system and in this school. It is concluded that there are
difficulties in fixing senses for research and extension and there is an acceptance of
meanings for these dimensions similar to them in the university context, which does
not seem to be consistent with an institution that acts predominantly on vocational
education at high school level. Although there are advances in the administrative
structure and research funding, the main expectation is that workers are able to
institutionalize research and extension, although we found sensations of
intensification on the part of teachers that now have to cope with the overlapping of
work of the three dimensions in an institutional context that values formally only the
time for teaching. The signifier articulation was identified as overdetermined of
meanings, with the capacity to become an empty signifier for construction of
hegemonic curriculum policies in the institution.
CT Curso Técnico
EM Ensino Médio
IC Iniciação Científica
LC Linguística de Corpus
PL Projeto de Lei
TD Teoria do Discurso
WS Programa WordSmith
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 20
De onde fala o autor? ................................................................................................ 20
Como se origina esta pesquisa: o objeto do estudo .................................................. 22
Objetivos ................................................................................................................... 27
Metodologia da pesquisa .......................................................................................... 28
Organização do texto ................................................................................................ 39
1 CONSTRUÇÕES TEÓRICAS: CICLO DE POLÍTICAS, TEORIA DO
DISCURSO E POLÍTICA CURRICULAR PARA EPT......................................... 43
1.1 A opção pela complexidade na análise de políticas ...................................... 43
1.2 Ciclo de políticas: uma metodologia para pesquisas com abordagem na
trajetória política ............................................................................................ 47
1.3 Teoria do Discurso de Ernesto Laclau .......................................................... 57
1.4 Política curricular para a Educação Profissional e Tecnológica .................... 67
1.4.1 O que é currículo? ......................................................................................... 68
1.4.2 A política curricular para EPT na rede federal ............................................... 71
1.4.3 Um estudo de caso para reflexão.................................................................. 82
1.5 Considerações sobre opções conceituais ..................................................... 85
2 OS DIFERENTES CONTEXTOS DO CAMPO DA PESQUISA .......................... 88
2.1 A organização do Estado .............................................................................. 89
2.1.1 A proposta de reforma gerencial do Brasil da década de 90 ......................... 94
2.1.1.1 Os principais princípios da reforma ............................................................ 94
2.1.1.2 A reforma em ação ..................................................................................... 99
2.2 A Rede Federal de Educação Profissional no Brasil ................................... 105
2.3 Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia ........................ 110
2.3.1 Comparação dos Institutos Federais com os Centros Federais de
Educação Tecnológica ................................................................................ 114
2.4 O Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) .............................................. 124
2.4.1 O orçamento institucional ............................................................................ 126
2.4.2 A estrutura administrativa ............................................................................ 130
2.4.3 O corpo de servidores da instituição ........................................................... 133
2.4.4 A oferta educativa ....................................................................................... 140
2.4.5 A pesquisa e a Extensão com a transformação em Instituto. ...................... 144
2.5 O recorte do estudo de campo .................................................................... 156
2.5.1 O Campus Camaquã ................................................................................... 157
2.5.2 A área de Design do Campus Pelotas ........................................................ 159
3 A CONSTRUÇÃO DAS POLÍTICAS CURRICULARES PARA EPT ................ 163
3.1 A metodologia de análise dos documentos da pesquisa ............................. 164
3.2 Os sentidos em construção para ensino, pesquisa e extensão................... 177
3.2.1 Sentidos inferidos dos documentos oficiais do MEC ................................... 180
3.2.2 Sentidos projetados pelos documentos do IFSul ........................................ 188
3.2.3 A redução da pesquisa e da extensão nos documentos dos campi ............ 196
3.2.4 Sentidos acolhidos e induzidos pelos gestores da Reitoria ......................... 198
3.2.5 Acolhimentos de sentidos pela gestão dos campi ....................................... 211
3.2.6 Campus Camaquã: sentidos construídos por novos professores ............... 220
3.2.7 Área de Design do Campus Pelotas: a construção coletiva de sentidos ..... 227
3.2.8 Sentidos e deslocamentos em torno de ensino, pesquisa e extensão ........ 240
3.3 Sentidos construídos em torno do significante articulação .......................... 259
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 269
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 278
APÊNDICES ........................................................................................................... 292
ANEXOS ................................................................................................................. 304
INTRODUÇÃO
___________
3
A escolha do Campus Pelotas neste exemplo deve-se à minha lotação como professor neste
campus e, principalmente, por eu ter vivenciado, como professor e gestor, os diversos movimentos de
reforma ocorridos desde minha admissão, em 1988.
4
Atualmente LDBEN define as seguintes formas para articulação entre ensino médio e educação
profissional: integrada, oferecida a quem já tenha concluído o ensino fundamental, sendo o curso
planejado de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio; concomitante,
na qual a complementaridade entre a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio
pressupõe a existência de matrículas distintas para cada curso; e subsequente, oferecida somente a
quem já tenha concluído o ensino médio.
24
___________
5
As diferentes áreas profissionais definidas no anexo da resolução citada tinham definições de
cargas horárias mínimas diferentes entre si.
25
___________
6
Neste trabalho adota-se conceito de identidade conforme Teoria do Discurso, a qual será
apresentada no próximo capítulo.
26
Objetivos
A questão de pesquisa que orienta esta tese é: que novos sentidos são
construídos na política curricular do IFSul com a transformação em Instituto Federal?
Por conseguinte, o objetivo deste trabalho é investigar sentidos que estão sendo
construídos na política curricular do Instituto Federal Sul-rio-grandense a partir do
processo de reorganização da rede federal de educação profissional com a criação
dos institutos federais, representado por um rápido processo de expansão
institucional.
Busca-se destacar que sentidos estão sendo construídos em nível
institucional, tomando-se como referência a gestão do IFSul – materializada pela
reitoria e pela gestão dos campi – e quais são produzidos no contexto local –
tomando-se como referência grupos de professores em atividade nos campi.
Trata-se, como propõe Moreira (2000), de estudar o currículo com a “visão
de currículo que abrange praticamente todo e qualquer fenômeno educacional” (p.
74), buscando capturar a “trajetória da política”, como proposto por Stephan Ball.
___________
7
“Arranjos produtivos locais (APLs) caracterizam-se como aglomerações territoriais de agentes
econômicos, políticos e sociais, que têm foco em um conjunto específico de atividades econômicas e
que apresentam vínculos entre si. Este conceito vem ganhando importância crescente como objeto de
estudo acadêmico e de políticas públicas. Parte dessa atenção deriva da hipótese que essas
aglomerações possibilitam ganhos de eficiência que os agentes que as compõem não podem atingir
individualmente – ou seja, que nelas está presente uma "eficiência coletiva" que confere às
aglomerações uma vantagem competitiva específica”. (ERBER, 2008)
28
Metodologia da pesquisa
Este estudo envolve a análise das políticas curriculares propostas pelo MEC
para o IFs e a construção destas políticas curriculares no IFSul. Conforme discutido
adiante no Capítulo 1, a “análise política necessita ser acompanhada por cuidadosa
pesquisa regional, local e organizacional se nos propusermos a entender o grau de
‘aplicação’ e de ‘espaço de manobra’, envolvido na tradução das políticas nas
práticas” (BALL, 2006, p.16).
A coleta de dados de campo buscou reunir dados empíricos em diferentes
contextos, em diferentes escalas: para investigar-se as propostas do MEC toma-se
por referências publicações oficiais assinadas pelo Ministério e para compreender os
movimentos institucionais, investigou-se diferentes ambientes institucionais do IFSul:
a reitoria – agente na construção das políticas no IFSul –; a direção geral do campus
– agente na construção das políticas no âmbito do campus e coletivos de docentes –
agentes nas construções curriculares no âmbito de um ou mais cursos.
As investigações ocorrem a partir de documentos institucionais e da
interação com diferentes atores sociais que estão vivenciando o ambiente social em
estudo em diferentes contextos. Assim, as questões estarão sujeitas à subjetividade
dos sujeitos envolvidos na pesquisa, os quais atribuem sentido ao mundo, exigindo
uma postura interpretativa do pesquisador, caracterizando-se, portanto, como uma
pesquisa qualitativa (FLICK, 2009a; FLICK, 2009b).
29
9
Documento Descrição Arquivo
Lei 11892/2008 Institui a rede federal e cria os IFs L11892
EM Interministerial Exposição de motivos de encaminhamento do PL
EM11892
00118/ 2008/MP/MEC que resultou na Lei 11892/2008.
Estabelece diretrizes para o processo de
integração de instituições federais de educação
Decreto 6095/2007 tecnológica, para fins de constituição dos IFETs, D6095
no âmbito da Rede Federal de Educação
Tecnológica.
Chamada Pública para a análise e seleção de
Chamada pública de
propostas de constituição de IFETs, o qual
propostas para IFETS_chamada
apresenta uma proposta da Lei de criação dos IFs
constituição dos IFETs
como anexo.
Lei 11892/2008 Produção da equipe diretiva da SETEC que
L11892_coment
comentada interpreta detalhadamente a Lei 11892/2008.
Apresenta fundamentos dos IFs. Produção da
Concepções e diretrizes
SETEC, com 23 páginas, publicado em julho de IFS_conc_diret
dos IFs
2008.
Apresenta os eixos norteadores do trabalho da
SETEC/MEC: Bases
SETEC/MEC. É um documento com 14 páginas,
para uma Política Bases_EPT
escrito pelo secretário da SETEC, publicado em
Nacional de EPT
2008.
Texto de apresentação dos IFs escrito pelo
Os IFETs e o projeto
secretário da SETEC durante o processo de IFETS_nacional
nacional
construção dos IFs (5 páginas).
Os Institutos Federais:
uma revolução na Cartilha de divulgação dos IFs, assinada pelo
IFS_revolucao
Educação Profissional e secretário da SETEC (26 páginas).
Tecnológica
A produção de ciência e Artigo de Wilson Conciani e Luis Carlos de
tecnologia nos Institutos Figueiredo publicado Revista Brasileira de
IFs_revEPT_v2
Federais, 100 anos de Educação Profissional, - n.2, 2009 (15 páginas),
aprendizagem editada pelo MEC .
Artigo do CONCEFET publicado Revista
IFET – Construção da
Brasileira de Educação Profissional, - n.1, 2008 (4 IFET_revEPT_v1
identidade
páginas), editada pelo MEC.
Educação profissional Material produzido para o programa Salto para o
em sintonia com a Futuro da TV Escola (Boletim 08/2007 – 51 EP_salto_futuro
realidade local páginas).
___________
10
O fato de o documento formal permanecer o mesmo não permite inferir que não houve alteração no
currículo: em geral o processo educacional supera o que está registrado no documento oficial.
34
___________
11
Durante este processo de aproximação houve troca do Diretor-geral o qual passou a ocupar outro
cargo na gestão, o que exigiu que se aguardasse que o Campus entrasse em regime de estabilidade
administrativa para realização do trabalho com os professores.
38
O grupo Docentes DSG é integrado por seis entrevistas com docentes que
têm ou tiveram envolvimentos na gestão de cursos da área de Design e foram
realizadas nos meses de novembro e dezembro de 2012. Este processo de
negociações, reuniões, agendamento e realização de entrevistas gerou um vínculo
mais efetivo com a área e passei a frequentar a coordenadoria com periodicidade
semanal, durante praticamente todo segundo semestre de 201212, conversando com
os professores e tomando parte em atividades dos cursos, assistindo inclusive, a
apresentação dos projetos finais dos estudantes dos cursos técnicos.
A fim de preservar a identidade dos sujeitos da pesquisa, adotou-se um
padrão de designação dos sujeitos e dos arquivos que, ao facilitar a análise, não
possibilite qualquer forma de identificação das entrevistadas. A Tabela 4 apresenta o
formato de identificação dos entrevistados, o qual foi mantido para identificação dos
arquivos.
Tabela 4 – Formato de identificação dos entrevistados.
___________
12
Esta maior aproximação foi parcialmente facilitada pelo pesquisador ser professor do Campus e ser
conhecido de alguns professores da área e também por ações realizadas durante as atividades na
gestão da PROEN.
13
Documento neste contexto representa todos os dados da pesquisa (FLICK, 2009a)
39
Organização do texto
motivada pelo desafio de incluir no discurso sobre política curricular para EPT, os
limites e as possibilidades presentes a partir aspectos
estruturais/culturais/discursivos da Instituição e também do Estado.
Ele parte da discussão sobre a (constante) (re)organização que vem
ocorrendo no estado brasileiro, tomando como ponto de partida a reforma gerencial
da década de 1990, por entender que são princípios colocados em construção a
partir daquela ampla reforma gerencial que continuam orientando, num complexo
processo hegemônico, as políticas e as tomadas de decisão em escala nacional e
local. Na sequência apresentam-se a rede federal de educação profissional e os IFs,
buscando-se destacar elementos que induzem/permitem novas possibilidades para a
construção local de políticas curriculares, destacando aspectos contraditórios que
produzem espaços vazios onde os sujeitos envolvidos na construção destas políticas
podem produzir ações inesperadas.
Por fim, apresentam-se dados de diferentes origens sobre o IFSul, e, em
recorte, do Campus Camaquã e da área de Design do Campus Pelotas, escolhidos
para aprofundar os sentidos dos professores sobre os processos em andamento na
Instituição. São apresentados e discutidos dados institucionais sobre orçamento,
organização administrativa, corpo de servidores, oferta educacional e pesquisa e
extensão. Como integrantes dos discursos curriculares que circulam no IFSul, estes
elementos institucionais complexificam as análises realizadas no trabalho,
potencializando diferentes olhares sobre as políticas curriculares em construção.
O capítulo 3 analisa o conjunto de documentos especificados anteriormente,
buscando compreender a construção dos processos educacionais e os
deslocamentos da política curricular com a criação do IFSul, a partir do CEFET-RS.
A primeira seção apresenta a metodologia que foi desenvolvida para análise dos
documentos, destacando as contribuições que alguns conceitos da Linguística de
Corpus, base conceitual da construção da ferramenta WordSmith, fundamental neste
processo de diálogo com os documentos oficiais do MEC e do IFSul e com os
arquivos de transcrição das entrevista. É realizada a discussão de sentidos
evidenciados/interpretados/enunciados em torno dos significantes articulação,
ensino, extensão e pesquisa, considerados privilegiados na organização e na
produção de sentidos para as políticas curriculares para EPT no Instituto. Com esta
41
Este capítulo tem por objetivo apresentar o campo conceitual sobre o qual
este trabalho está construído. Inicialmente justifica-se a opção de não simplificação
das análises políticas discutindo, posteriormente, com os aportes teóricos que o ciclo
de políticas de Stephan Ball e a Teoria do Discurso de Ernesto Laclau, a complexa
construção política de sentidos sociais. Na sequência o capítulo irá abordar as
políticas curriculares para EPT. Neste processo, começa refletindo sobre os
deslocamentos de sentidos para currículo, assumindo, com Alice Lopes e Elizabeth
Macedo, a perspectiva de currículo e política curricular como prática discursiva, no
campo de lutas por produção de sentidos para o social. Posteriormente, ao examinar
políticas curriculares para EP na rede federal tendo por base a legislação, destaca
os embates que vem ocorrendo em torno deste campo educacional, concluindo-o
como ainda não hegemonizado, não estabilizado e, portanto, ainda suscetível a
constantes deslocamentos, aparentemente contraditórios. Esta seção termina com a
apresentação de um estudo de caso que demonstra a complexidade de um
processo de construção curricular, atravessado por múltiplas produções de sentidos,
de diferentes origens. Ao final do capítulo destacam-se as opções conceituais que
orientam as análises realizadas nesta tese.
___________
14
Comunidades disciplinares são constituídas por atores sociais envolvidos na constituição de cada
disciplina - professores da educação básica, pesquisadores e especialistas de disciplinas específicas
(GOODSON,1997)
47
Ball construiu este método tendo por princípio que as políticas são
construídas em contextos (BOWE; BALL; GOLD, 1992; BALL, 1994). O autor define,
então, três contextos principais de construção de políticas: o de influências (política
como discurso), o de produção do texto (política como texto) e o da prática. Estes
contextos estão inter-relacionados – não como etapas lineares, não apresentando
relação sequencial, nem temporal –, envolvendo arenas, lugares e grupos de
interesse, disputas, embates e não há sentido simples de fluxo de informação entre
eles, conforme representa a Figura 3.
Figura 3 – Contexto de formulação de uma política (adaptado de BOWE; BALL; GOLD, 1992).
vem sendo realizadas e conclui apresentando questões importantes que devem ser
levadas em consideração no uso desta metodologia15.
Em setembro de 2007, em conjunto com Maria Inês Marcondes, Mainardes
realiza uma entrevista com Ball (MAINARDES; MARCONDES, 2009). Nesta
entrevista Ball destaca que o ciclo de políticas é um método, uma maneira de
pesquisar e teorizar sobre e acerca de políticas e não de explicá-las ou descrevê-las,
rejeitando a concepção de implementação que conduz à ideia de linearidade em
direção à prática. Para ele políticas são encenadas: a efetivação da política na
prática e por meio da prática envolve a atuação dos atores das políticas, “investida
de valores locais e pessoais e, como tal, envolve a resolução de, ou luta com,
expectativas e requisitos contraditórios – acordos e ajustes secundários fazem-se
necessários” (MAINARDES; MARCONDES, 2009, p.305)
Uma questão interessante tratada neste texto é o aninhamento de contextos:
Os contextos (...) podem ser “aninhados” uns dentro dos outros. Assim,
dentro do contexto de prática, você poderia ter um contexto de influência e
um contexto de produção de texto, de tal forma que o contexto de influência
dentro do contexto da prática estaria em relação à versão privilegiada das
políticas ou da versão privilegiada da atuação. Assim, podem existir
disputas ou versões em competição dentro do contexto da prática, em
diferentes interpretações de interpretações. E, ainda, pode haver um
contexto de produção de texto dentro do contexto de prática, na medida em
que materiais práticos são produzidos para utilização dentro da atuação.
(MAINARDES; MARCONDES, 2009, p.307)
___________
15
Contribuindo neste debate, em 2009, Mainardes publica o trabalho “Análise de políticas
educacionais: breves considerações teórico-metodológicas” onde apresenta “algumas considerações
teórico-metodológicas sobre a análise de políticas educacionais. (...) [demonstrando] que o debate
acerca dessas questões, apesar de relevante e necessário, é ainda escasso no contexto brasileiro.”
(MAINARDES, 2009, p.4)
51
___________
16
Adiante neste texto, ficará claro a opção pelo termo “social” e não “sociedade”.
58
Neste trabalho opto por realizar esta aproximação a partir de uma citação de
Hegemonia y Estrategía Socialista (HES), marco inicial da Teoria do Discurso
[...] chamaremos articulação qualquer prática que estabeleça uma relação
entre elementos, tal que suas identidades sejam modificadas com resultado
da prática articulatória. A totalidade estruturada, resultante da prática
articulatória chamaremos de discurso. Chamaremos momentos, as posições
diferenciais, na medida em que elas apareçam articuladas num discurso.
Por contraste, chamaremos elemento qualquer diferença que não esteja
discursivamente articulada. (MOUFFE; LACLAU, 1987, p.176-177, tradução
nossa)
construir quanto às relações que podem ser estabelecidas entre os objetos – estará
sendo significado por outras práticas discursivas. São estas outras práticas, ao
mesmo tempo, a possibilidade da existência daquela prática discursiva e a sua
impossibilidade de estabilização, e que, por fim, levarão à sua desestabilização, ao
seu deslocamento.
O exterior é constituído por outros discursos. É a natureza discursiva deste
exterior que cria as condições de vulnerabilidade de todo o discurso, e nada
o protege da deformação e desestabilização de seu sistema de diferenças
por outras articulações discursivas que agem de fora dele. (MOUFFE e
(LACLAU, 1985, p.188, tradução nossa)
Como o discurso é aberto, não existe fixação das posições de sujeito num
sistema fechado de diferenças, estas posições também são contingentes,
provisórias e estarão sobredeterminadas umas pelas outras. Os indivíduos estão
saturados por múltiplas posições de sujeito que os colocam frente a situações
políticas bem distintas, “o indivíduo é multifacetado, formado a partir de posições de
sujeito” (MENDONÇA, 2008, p.64).
Oliver Marchart (2008) destaca que em HES os autores adotavam um
modelo estruturalista de posições de sujeito, o qual posteriormente vai ser deslocado
pela noção lacaniana de sujeito como falta: “esse sujeito é sem qualquer substância
e emerge precisamente nos espaços e fissuras da textura social aberta pelos efeitos
dislocatórios do antagonismo”. (MARCHART, 2008, p.12)
É impossibilidade de fechamento da estrutura, do discurso, que só existe por
que foi estruturada a partir de um exterior constitutivo, que faz com que ela seja
marcada por uma falta original
por uma indecidibilidade radical que demande uma constante superação por
meio de atos de decisão. São estes atos, precisamente o que constituem o
sujeito, o qual só pode existir como uma vontade transcendente à estrutura.
(LACLAU, 2011, p.140)
articulações contingentes. Isso abre espaço para que outras articulações, também
contingentes, entrem na luta para colocar seus sentidos nestas categorias. E penso
que esta seja uma das grandes contribuições teóricas da teoria do discurso de
Laclau.
[...] não uma ruptura radical, mas uma nova modulação de seus temas; não
o abandono de seus princípios básicos, mas sua hegemonização a partir de
uma perspectiva diferente [...] um alargamento do campo da indecidibilidade
estrutural que abre caminho para um aumento do campo da decisão
política. (LACLAU, 2011, p.134)
___________
19
DOMINGUES, J. L. O Cotidiano da escola de 1º grau: o sonho e a realidade. 1985. Tese
(Doutorado). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.
71
___________
20
“Em função da implantação das indústrias de bens duráveis exigir altos investimentos, a
implantação de um parque industrial deste tipo foi viabilizado com o estímulo a implantação de
empresas internacionais. As forças de esquerda vão levantar bandeiras do tipo nacionalização das
empresas estrangeiras, controle da remessa de lucros, dividendos e royalties e reformas de base -
tributária, financeira, bancária, agrária, educacional, etc.” (SAVIANI, 2008)
73
___________
21
“Com base no pressuposto da neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade,
eficiência e produtividade, a pedagogia tecnicista advoga a reordenação do processo educativo de
maneira que o torne objetivo e operacional. De modo semelhante ao que ocorreu no trabalho fabril,
pretende-se a objetivação do trabalho pedagógico. [...] Para a pedagogia tecnicista o que importa é
aprender a fazer.” (SAVIANI, 2008, p.381-383)
74
do Parecer 45/72, que estruturou a Educação Profissional até 1998, quando foi
aprovado um novo ordenamento legal.
A Resolução do CFE 8/71 definiu que o núcleo comum abrangeria as
matérias de Comunicação e Expressão, Estudos Sociais e Ciências. Em
Comunicação e Expressão, a Língua Portuguesa foi definida como conteúdo
obrigatório e recomendava-se a inclusão de uma Língua Estrangeira Moderna; em
Estudos Sociais foram definidos como obrigatórios conteúdos de Geografia, História
e Organização Social da Política Brasileira e em Ciências Matemática, Ciências
Físicas e Biológicas. Estes conteúdos deviam ser organizados preferencialmente na
forma de disciplinas, dosadas segundo as habilitações profissionais.
Por sua vez, a Resolução 2/72, anexa ao Parecer 45/72, fixou os mínimos a
serem exigidos para cada habilitação profissional. O anexo C desta Resolução
definia as habilitações, as matérias obrigatórias para cada Habilitação – 52
habilitações de nível técnico – e as cargas horárias das matérias de cada
habilitação. A Tabela 5 apresenta um exemplo de currículo mínimo para um
determinado curso e apresenta a distribuição de carga horária entre as matérias do
núcleo comum.
Tabela 5 – Distribuição de matérias e cargas horárias de um curso técnico.
Figura 4 – Distribuição de Carga Horária do núcleo comum definida pelo Parecer CFE 45/72.
___________
22
Cunha, estudando o processo de implantação desta reforma, identifica a função contenedora do
ensino de 2° grau com terminalidade: mesmo sem conhecimento da real demanda por técnicos de
nível médio, os administradores educacionais da época “acreditavam que ela fosse grande o
suficiente para canalizar a frustração dos concluintes do ensino médio que não ingressassem no
ensino superior”. (CUNHA, 2000, p.188)
77
___________
23
Neste trabalho não se discutirá os debates e as contradições envolvidas na construção da nova
LDBEN e sua regulamentação.
24
SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. 5 ed. Campinas
(SP): Autores Associados, 1999.
25
A expressão “conjuntamente” foi utilizada para referenciar esta forma de organização daquele
contexto uma vez que a expressão “integrado” irá aparecer na documentação legal apenas na
legislação atual, para caracterizar a forma de organização curricular em que o curso será “planejado
de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio, na mesma instituição de
ensino, efetuando-se matrícula única para cada aluno” (Lei 9394/96, Art. 36-C, Inciso I). Evita-se
desta forma o uso corrente das expressões “integrado antigo” para referir-se a cursos regidos pelo
parecer CFE 45/72 e “integrado novo” para cursos regidos pela atual LDBEN.
78
___________
26
Estes cursos eram definidos no decreto como “educação profissional de nível técnico”.
27
. Para um aprofundamento na discussão sobre competências profissionais e o modelo de
competência adotado pela reforma ver “A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação?”,
de Marise Nogueira Ramos. (RAMOS, 2001)
79
Para cada uma das áreas foram construídas matrizes de referência em que
eram identificadas as competências, as habilidades e as bases tecnológicas para
cada subárea. As citações a seguir, do referencial da área indústria possibilitam
inferir que o mercado de trabalho foi o referente preponderante para a proposta:
Como subsídios para este estudo, buscou-se informações com a
Confederação Nacional da Indústria - CNI, com a Pesquisa da Atividade
Econômica Regional - PAER, e em outras publicações especializadas.
(MEC, 2000, p.7)
Mediante a pesquisa de campo realizada nos diversos setores industriais,
por meio da identificação dos seus processos produtivos e constatação
também das atividades desenvolvidas pelos técnicos de nível médio
informadas pelas empresas, procedeu-se, para efeito de classificação, a um
agrupamento destas funções básicas e também das subfunções realizadas
pelos mesmos. (MEC, 2000, p.15)
___________
28
Para compreender os movimentos contraditórios desta “contrarreforma” na construção de uma
nova hegemonia para EPT, ver Ensino médio integrado: concepções e contradições, organizado por
Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (FRIGOTTO; CIAVATTA; RAMOS, 2005).
81
___________
29
Segundo Parecer CNE/CEB Nº 11/2008 “aproximadamente 2.700 denominações distintas para os
7.940 cursos técnicos de nível médio em oferta em 2005, de acordo com o Censo Escolar
MEC/INEP.”
82
___________
30
O mesmo conselheiro, vinculado profissionalmente ao Sistema S, vem relatando os principais
pareceres sobre educação profissional desde a década de 90.
83
___________
31
Um maior detalhamento deste caso encontra-se no texto intitulado “A Cultura Escolar e as
Comunidades disciplinares nas Propostas Curriculares: a Construção do Currículo de um Curso
Técnico Integrado ao Ensino Médio” (ARAUJO; HYPOLITO, 2012).
32
Embora existam diferenças entre as cargas horárias dos diversos cursos integrados, as cargas das
disciplinas são bastante similares.
84
construídas. Creio que este último aspecto seja uma das grandes contribuições da
TD na construção da alternativa para superação dos universais da modernidade,
campo de crítica às teorias pós-modernas. Compreender estes universais como um
lugar de luta por produção de sentidos é socialmente/politicamente bastante
produtivo.
Considerando a relação escorregadia entre significante e significado não
aprofundada neste texto, tomando por referência as discussões realizadas com Ball
sobre os sentidos escorregadios dos textos e o controle dos sentidos da leitura pelo
leitor, entendo que sentidos são interpretados dos textos e nesta linha procuro
considerar as análises de sentidos realizadas a partir de documentos oficiais e
entrevistas: são interpretações que estou realizando, fixando determinados sentidos
a partir de um campo de diferentes possibilidades de fixação. Assim, a partir destas
concepções, para me referir a sentidos ao longo do texto utilizarei indistintamente
expressões interpretar, construir, evidenciar, enunciar, projetar entre outras,
conforme contexto.
Por fim, assumo a precariedade de qualquer fechamento ao realizar minhas
análises, na certeza que os fechamentos que realizei e os sentidos que eles
produzem serão brevemente confrontados por outras análises e outras produções
de sentidos, no contínuo processo de construção do social.
2 OS DIFERENTES CONTEXTOS DO CAMPO DA PESQUISA
quais produzem espaços vazios que permitem aos sujeitos envolvidos na construção
destas políticas produzirem ações inesperadas.
Posteriormente, apresentam-se dados de diferentes origens sobre o Instituto
Federal Sul-rio-grandense, e, em recorte, do Campus Camaquã e da área de Design
do Campus Pelotas, escolhidos para aprofundar os sentidos dos professores sobre
os processos em andamento na Instituição: são apresentados dados gerais sobre o
orçamento, sobre a organização administrativa, sobre o corpo de servidores e sobre
ensino, pesquisa e extensão. O recorte representado por este conjunto de dados é
parte integrante dos discursos institucionais, em geral, e curriculares, em particular,
circulantes no IFSul. A intenção é complexificar as análises realizadas no trabalho,
potencializando diferentes olhares sobre as políticas curriculares em construção na
instituição.
De antemão rejeita-se a análise descontextualizada de qualquer indicador e,
como em qualquer processo de particularização, assume-se o recorte interessado de
dados: os detalhamentos presentes neste capítulo foram realizados num processo
dialógico, simultaneamente, com as análises estruturadas no próximo capítulo.
___________
33
Para Weber eficiência é a adequação dos meios aos fins visados (CHIAVENATO, 2005).
91
sistema deverá ser atualizado constantemente pelas Instituições para que o MEC
tenha acesso aos planejamentos e ações executadas em cada IF e a partir dele
analise se tais ações estão indo ao encontro do cumprimento do TAM.
Em relação a estes processos, assim se manifesta um gestor da SETEC:
quando constrói o TAM e vincula o orçamento ao TAM "endoida" o pessoal
do meio – “agora eu não posso ter evasão” – tem até dinheiro para
assistência estudantil então as pessoas começam a discutir em função
desses dois fatores (estudantes - termo de metas) ... muitas visões
diferentes. Tem que ter o Termo de Metas porque força as pessoas a
adaptarem o currículo: se não pode ter evasão grande, se tem recursos
então o currículo não está adaptado ao público [...] São estas pressões
(necessárias) que tiram da zona de conforto. Não tem que manter as metas
mas tem que refletir, avaliar, justificar. Vai ser monitorado. Daqui a um ano o
governo vai ter dados colhidos pelo módulo de indicadores do SISTEC.
Matriz orçamentária vai estar cada vez mais vinculada as estas ferramentas.
[...] Vai ter que evoluir na captura dos dados, compartilhar e compreender os
casos, fazer excepcionalidades entendendo/com base no que está
acontecendo. A escola é conservadora se não tiver estes mecanismos não
muda. O TAM é um elemento de gestão fundamental. (MEC_Gestão)
___________
34
Encontra-se (junho de 2013) em apreciação pelo plenário da Câmara dos Deputados.
106
___________
35
Algumas instituições federais tais como a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio da
Fundação Oswaldo Cruz, vinculada ao Ministério da Saúde e a Escola Nacional de Administração
Pública, vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão seguem, além das diretrizes
das instituições ligadas ao MEC, normas específicas estabelecidas pelo órgão a que estão
vinculadas. Os colégios e academias militares, vinculados ao Ministério da Defesa, são regidos por
normas próprias, admitida a equivalência de estudos, conforme normas fixadas pelos sistemas de
ensino.
36
A Lei 11.741/2008 alterou a LDBEN incluindo uma seção no capítulo da educação básica para
tratar da educação profissional técnica de nível médio e alterou o capítulo da educação profissional,
passando a denominá-lo “Da Educação Profissional e Tecnológica”.
107
___________
37
Lei Orgânica do Ensino Industrial – Decreto Lei nº 4.073; de 30 de janeiro de 1942; Lei Orgânica do
Ensino Comercial – Decreto Lei nº 6.141, de 28 de dezembro de 1943; Lei Orgânica do Ensino
Agrícola – Decreto Lei nº 9.613, de 28 de agosto de 1946; Lei Orgânica do Normal – Decreto Lei
nº8530, de 2 de janeiro de 1946.
38
Os recursos são originários de contribuições compulsórias sobre a folha de pagamento (com
diferentes percentuais de alocação conforme o “S”), arrecadas pelos INSS e repassada diretamente
ao departamento regional em que se localiza a empresa contribuinte (uma parcela bem menor é
encaminhada ao departamento nacional, à confederação e a federação nacional do respectivo “S”).
Silvia Manfredi chama atenção para a importância sobre o debate sobre a ambiguidade dessas
Instituições: “sistemas que tem gestão privada prestando serviços de natureza pública, com recursos
também de natureza pública” (MANFREDI, 2002, p.188).
39
Silvia Manfredi avaliando o processo de precarização do ensino médio e a desestruturação do
ensino técnico oferecidos pelas redes estaduais provocados pela Lei 5692/71, escreve:
“desestruturação da qual só escaparam as escolas técnicas federais, provavelmente em razão da
relativa autonomia com que contavam desde 1959” (Manfredi, 2002, p.107).
108
olhar, como de empate entre as forças conservadoras e as que lutam pela escola
pública e pela educação dos trabalhadores de qualidade (CIAVATTA; FRIGOTTO;
RAMOS, 2005).
Certamente os dois fechamentos marcantes deste embate são os decretos
2208/97 e 5154/2004 citados anteriormente: embora o primeiro tenha sido revogado
pelo segundo, cujos princípios foram incorporados na LDBEN, ambos continuam
sendo frequentemente citados como significantes de modelos de educação
profissional. Considerando o equilíbrio neste embate, pode-se estimar que estes
movimentos de interesses antagônicos, os quais têm produzido constantes
deslocamentos do discurso do projeto/concepção de educação profissional no país,
ainda produzirão muitos deslocamentos nas políticas educacionais.
___________
40
Este texto tem por base argumentos apresentados em Araujo e Hypolito (2010).
115
ensino superior, uma vez que anteriormente era utilizada a expressão “diversos
níveis de ensino”.
Em ambos os dispositivos as Instituições são classificadas como autarquias
"detentoras de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica
e disciplinar". Conquanto a Lei 11892 omita a expressão "autarquias federais,
vinculadas ao MEC", explícita no Decreto 5224, no seu primeiro artigo define que os
IFs, a UTFPR, o CEFET-RF e CEFET-MG e as ETUFs fazem parte da “Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, vinculada ao Ministério
da Educação”.
Em relação à criação e extinção de cursos, os Institutos são menos limitados
que os CEFETs, que detinham autonomia para a criação de cursos técnicos, cursos
superiores de graduação e pós-graduação e de formação pedagógica "quando
voltados [...] à área tecnológica" ou “visando a atualização, ao aperfeiçoamento e a
especialização de profissionais na área tecnológica”. A expressão “área tecnológica”
funcionava como um significante flutuante e foi utilizada pelo MEC para delimitar os
tipos de cursos que podiam ser criados pelos CEFETs.
Embora a autonomia tenha sido ampliada para os institutos e tenha sido
previsto que a proposta orçamentária anual deva ser identificada por campus, o que,
a princípio, garante condições materiais – recursos financeiros – de administração
para o diretor geral, foram estabelecidos dois importantes mecanismos de restrição
desta autonomia: a especificação de atendimento de um percentual de vagas de, no
mínimo, 50% (cinquenta por cento) para atender educação profissional técnica de
nível médio e 20% (vinte por cento) para atender aos cursos de licenciatura e
programas especiais de formação pedagógica.
É importante ressaltar, entretanto, que embora os gestores tenham,
aparentemente, maior liberdade de ação quanto ao uso dos recursos financeiros,
nas atividades político-pedagógicas, relacionamento com os professores e nas
tomadas de decisões, o Estado está utilizando estratégias de controle cada vez mais
sofisticadas. Como a performatividade e o gerencialismo estão cada vez mais
presentes na gerência do estado nas escolas, principalmente por meio de
indicadores que buscam comparar e medir as realizações de cada escola (BALL,
2005), os reitores dos IFs e os diretores-gerais dos campi, bem como toda a
116
___________
41
Esta articulação se materializa por meio da proposição de um estatuto padrão ao CONIF e no
mecanismo de pressão durante aprovação do estatuto de cada IF pela SETEC. Para maiores
detalhes ver Araujo, Otte e Hypolito (2011).
117
Embora a Lei 81.192 esteja vigente desde o final de 2008, ao longo deste
processo de implantação, observam-se várias negociações entre as diferentes
entidades envolvidas e o governo, o que demonstra que ao mesmo tempo em que
122
uma política está sendo construída pode estar sendo contestada e alterada como
resultado das múltiplas influências que envolvem intenções e negociação no interior
do Estado e intrínseca ao próprio processo de formulação.
E como as políticas são produtos de acordos, de múltiplas influências, em
vários estágios, o projeto de educação tecnológica aqui abordado pode apresentar
avanços, pode ser conservador em uns aspectos e omisso em outros. Ao longo do
processo de sua construção, os textos geraram debates acalorados entre
defensores e opositores dos projetos que fazem e faziam diferentes interpretações
da política proposta, em consonância com o que se discutiu em seção anterior com
relação às múltiplas interpretações possíveis a partir do texto da política, o que cria
espaço para articulações e construção de hegemonias.
Embora tenha havido uma ampliação da autonomia, não há garantia que isto
resulte efetivamente na construção de práticas inovadoras, conforme proposto nas
finalidades dos IFs. A conformação histórica de uma Instituição pode gerar reações
internas, num processo de resignificação local conservadora, o qual pode tornar
inócua mesmo uma legislação pretensamente progressista. Por exemplo, a
autonomia possibilita que a instituição torne adequada a oferta de cursos em
determinada região de acordo com os anseios das comunidades locais, no entanto
isso poderia não ocorrer em virtude da reação conservadora da comunidade
acadêmica em relação à participação da sociedade na definição do currículo da
Escola.
No presente caso, observando-se que os objetivos operacionais continuam
praticamente os mesmos dos CEFETs – num exemplo de que os textos das políticas
não são, necessariamente, internamente coerentes e claros – o “espaço de
manobra” fica bastante ampliado, permitindo produção de sentidos bastantes
diversos.
Minha atividade de gestão do IFSul me possibilitou uma certa mobilidade
institucional e em relação ao MEC, permitindo-me contato com servidores e gestores
de diferentes IFs. Neste contato pude observar que as diferentes instituições têm
incorporado as mudanças de forma muito diversas, o que reforça a ideia de que as
políticas, em geral, não dizem tudo o que deve ser feito, mas tentam restringir,
123
___________
43
Este campus foi criado no âmbito de um projeto de escolas de fronteira. Possui cursos em formato
binacional (com estudantes brasileiros e uruguaios matriculados na mesma turma), organizados a
partir de iniciativas institucionais do IFSul e o CETP-UTU (Conselho de Educação Técnico
Profissional - Universidade do Trabalho do Uruguai).
44
As UEPs funcionam como um campus, entretanto são unidades de menor porte, planejadas para
receber inicialmente dez professores e seis técnicos-administrativos.
127
___________
45
Os valores estão expressos em reais (R$). Ao longo do texto deste item, para facilitar a leitura, foi
feito arredondamento para valores aproximados.
128
___________
46
“Os valores dos contratos de terceirização de mão-de-obra que se referem à substituição de
servidores e empregados públicos serão contabilizados como ‘Outras Despesas de Pessoal’". (Lei
o
Complementar 101/2000, Artigo 18, § 1 )
47
Segundo coletado informalmente, o recurso para construção do prédio da Reitoria foi remanejado,
em acordo com o MEC, do montante previsto para obras dos campi da fase 3, as quais não puderam
ser licitadas em 2013 em virtude do atraso da formalização de doação dos terrenos à União pelos
munícipios onde estes campi serão instalados.
129
___________
48
Os recursos para EAD constantes na LOA não estão registrado no Relatório de Gestão 2012.
130
fontes, diminuindo ainda mais este espaço de autonomia financeira, uma vez que o
acesso a estes recursos exige determinadas contrapartidas institucionais – uma
estratégia gerencialista do governo –, conforme pode ser interpretado no texto a
seguir, extraído do Relatório de Gestão 2012:
Em 2012 o IFSul enfrentou situação singular no que tange à
descentralização de recursos por meio de Termos de Cooperação. A
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica - SETEC passou a
adotar a utilização de editais que estabeleciam regras quanto às
descentralizações de recursos, impondo condições de participação às
Instituições. (IFSul: Relatório de Gestão 2012, p.112, grifo nosso)
___________
49
Com a posse do novo reitor em abril de 2013, ocorreram alterações na estrutura administrativa. A
Resolução CONSUP 15/2013, de 24/05/2013 aprovou alteração do Estatuto, transformando a
Diretoria de Gestão de Pessoas em Pró-reitoria, em substituição à PRDI e a Resolução CONSUP
16/2013, de 24/05/2013 aprovou alteração do Regimento Geral: foi mantida a Diretoria Executiva da
Reitoria e criada as Diretorias de Desenvolvimento Institucional (transformação a partir da PRDI) e de
Projetos e Obras. A DIGAE foi transformada em departamento e incorporada na PROEN e a DIRAI foi
transformada em coordenadoria e incorporada na PROEX.
133
Titulo
Campus Ensino Total
Doutor Mestre Especialista Graduado Fundamental
Médio
Bagé 2 15 5 7 29
Camaquã 2 23 8 8 41
Charqueadas 27 13 18 58
Passo Fundo 4 23 9 10 46
Pelotas 57 132 85 107 3 384
Pelotas – Visconde
37 47 29 35 148
da Graça
Reitoria 4 9 12 25
Santana do
7 5 3 15
Livramento
Sapucaia do Sul 15 35 11 24 85
Venâncio Aires 2 16 4 11 1 34
Total (Absoluto) 123 334 181 223 4 865
Total (%) 14,2% 38,6% 20,9% 25,8% 0,5%
Acumulado (%) 14,2% 52,8% 73,8% 99,5% 100,0%
Fonte: Relatório Institucional - dados de setembro de 2012 (docentes efetivos, substitutos e temporários).
Titulo
Campus Ensino Total
Doutor Mestre Especialista Graduado Fundamental
Médio
Bagé 19
Camaquã 20
Charqueadas 34
Passo Fundo 32
Pelotas 203
Pelotas – Visconde 69
da Graça
Reitoria 151
Santana do 6
Livramento
Sapucaia do Sul 39
Venâncio Aires 21
Total (Absoluto) 198 187 167 15 594
Total (%) 4,5% 33,3% 31,5% 28,1% 2,5%
Acumulado (%) 4,5% 37,9% 69,4% 97,5% 100,0%
Fonte: Relatório Institucional - dados de setembro de 2012.
135
Figura 16 – Titulação dos docentes no IFSul. Figura 17 – Titulação dos TAEs no IFSul.
Outra questão que deve ser destacada é que, mesmo sem a exigência da
titulação de pós-graduação nos concursos públicos de docentes para os campi da
fase 2, é expressivo o número de mestres que ingressaram no corpo docente destes
campi.
Como se pode visualizar melhor na Figura 18 e na Figura 19 (dados da
Tabela 10), há concentração de doutores, tanto em termos absolutos quanto
relativos, nos campi Pelotas (46%), Pelotas – Visconde da Graça (30%) e Sapucaia
do Sul (12%), totalizando 109 doutores, 88% do total de doutores do Instituto. Se
acrescentarmos os mestres estes percentuais, em relação ao total doutores e
mestres do IFSul, passam respectivamente, para 42%, 19% e 11%, totalizando 323
mestres e doutores, 72% do total da instituição.
136
Estes dados apontam que são estes campi, no quadro atual, que
concentram o potencial para desenvolvimento da pós-graduação e da pesquisa (com
os sentidos da pesquisa universitária) na Instituição. Considerando ainda que
praticamente todos os docentes lotados na reitoria são do Campus Pelotas, este
quadro fica ainda mais reforçado.
Tabela 12 – Ano de ingresso dos docentes do IFSul.
Ano de ingresso
Campus Total
2012 2010-2011 2008-2009 2003-2007 1998-2002 1993-1997 Ant. 1993
Bagé 29
Camaquã 41
Charqueadas 58
Passo Fundo 46
Pelotas 384
Pelotas – Visconde 148
da Graça
Reitoria 25
Santana do 15
Livramento
Sapucaia do Sul 85
Venâncio Aires 34
Total (Absoluto) 133 310 70 102 38 96 116 865
Total (%) 15,4% 35,8% 8,1% 11,8% 4,4% 11,1% 13,4%
Acumulado (%) 15,4% 51,2% 59,3% 71,1% 75,5% 86,6% 100,0%
Fonte: Relatório Institucional - dados de setembro de 2012 (docentes efetivos, substitutos e temporários).
137
Ano de ingresso
Campus Total
2012 2010-2011 2008-2009 2003-2007 1998-2002 1993-1997 Ant. 1993
Bagé 19
Camaquã 20
Charqueadas 34
Passo Fundo 32
Pelotas 203
Pelotas – Visconde 69
da Graça
Reitoria 151
Santana do 6
Livramento
Sapucaia do Sul 39
Venâncio Aires 21
Total (Absoluto) 29 224 76 61 4 104 96 594
Total (%) 4,9% 37,7% 12,8% 10,3% 0,7% 17,5% 16,2%
Acumulado (%) 4,9% 42,6% 55,4% 65,7% 66,3% 83,8% 100,0%
Fonte: Relatório Institucional - dados de setembro de 2012.
___________
50
No texto A expansão da rede federal de educação profissional: como sustentar uma demanda no
campo educacional em um rápido processo de expansão? (ARAUJO; GRISCHKE, 2012) ensaiam-se
algumas dificuldades inerentes a este rápido processo de renovação na rede federal de educação
profissional.
138
___________
51
Camaquã foi escolhido como exemplo por ser um dos campi de aprofundamento da pesquisa e
Charqueadas por ter sido o primeiro dos campi da fase 1 a entrar em funcionamento.
139
___________
52
Em maio de 2013 tomou posse o novo Reitor, eleito para o período 2013-2017. Embora tenha
havido alterações nos responsáveis pelas funções e cargos de direção, considerando que a maioria
dos servidores foi mantida na gestão (ainda que em funções diferentes), estima-se que este quadro
não deva ter sofrido alteração significativa.
140
As tabelas desta seção tem por objetivo apresentar uma visão geral sobre a
oferta educacional do IFSul: na Tabela 14 pode ser observado o número de cursos
ofertados em cada campus em funcionamento, organizados por nível de ensino e
por modalidade de oferta enquanto a Tabela 15, organizada da mesma forma,
apresenta o número de alunos matriculados. Para construção destas tabelas foram
utilizadas informações disponíveis no sitio da instituição, no relatório de gestão 2012
e num relatório interno de quantitativo de matrículas de novembro de 201253, o qual
apresenta as matrículas consolidadas em outubro de 2012.
É importante destacar que os campi implantados a partir da expansão ainda
não atingiram o regime pleno de funcionamento, seja pelo quadro de servidores
incompleto ou por falta de condições plenas de estrutura (laboratórios, salas de aula,
etc.).
___________
53
Este é o último relatório que apresenta a condição de matrícula estável, pois em função de
movimento de greve dos trabalhadores ao longo do ano de 2012, o calendário letivo encontra-se
atrasado em alguns campi: durante o primeiro semestre de 2013 os novos estudantes já estavam
matriculados, porém os estudantes concluintes ainda estavam em curso.
141
___________
54
O PROFUNCIONÁRIO tem por objetivo promover, por meio da EAD, a formação profissional
técnica em nível médio de funcionários que atuam nos sistemas de ensino da educação básica, de
acordo com a Portaria MEC 1.547/2011. O IFSul oferta, em convênio com o Instituto Federal do
Paraná, em todos os campi - com exceção de Santana do Livramento - os cursos técnicos em
Alimentação Escolar, Infraestrutura Escolar (não ofertado no campus Venâncio Aires), Multimeios
Didáticos e Secretaria Escolar, totalizando 1655 estudantes matriculados.
143
Figura 30 – Matriculas Ensino Superior no IFSul. Figura 31 – Matrículas em cursos para formação
de professores no IFSul.
___________
55
Toma-se como referência este relatório por ser o mais antigo disponível em versão eletrônica no
sitio do IFSul. Os relatórios estão disponíveis em: <http://www.ifsul.edu.br/index.php?option=
com_docman&Itemid=4>. Acesso: abr. 2013
145
Em relação à DIREC deve-se destacar que a maioria das ações deste setor,
tradicionalmente, eram direcionadas ao estreitamente das relações com as
empresas, com o mercado de trabalho, como pode ser percebido no objetivo da
DIREC “promover a integração com as empresas e entidades em geral, a fim de
divulgar os eventos, cursos, serviços, pesquisas (Rel_Gestão_2000, p.14).
No relatório de 2001 aparece explicitamente como meta, pela primeira vez:
“expandir pesquisa aplicada, consultoria e prestação de serviço” (Rel_Gestão_2001,
p.52). No relatório de 2002 observa-se uma série de ações que apontam para uma
reestruturação em direção a institucionalização da pesquisa e da extensão:
a) a estrutura da DIREC foi alterada passando a ser integrada por:
Coordenação de Integração Escola-Empresa; Coordenação de
Extensão; Núcleo de Pesquisas; Núcleo de Relações Internacionais;
Convênios; e Sondagens e Pesquisas de Mercado.
___________
56
Partindo do princípio que ensino, pesquisa e extensão são dimensões da política curricular e do
processo educacional do IFs, neste texto se adotará a expressão “dimensão” como referência
genérica.
57
O PIIEx foi mantido: cada campus define o valor que vai aportar para financiamento de bolsas e a
PROEXT seleciona as propostas.
58
Os Editais não são submetidos à aprovação do CONSUP.
59
A criação da câmara já foi discutida pelo CODIR mas ainda não foi formalmente aprovada pelo
CONSUP.
147
Estudantes
Campus TAEs Docentes Total
Voluntário Bolsista
Bagé 1 4 5
Camaquã 1 19 6 26
Charqueadas 9 5 1 2 17
Passo Fundo 4 6 5 5 20
Pelotas 5 19 6 7 37
Pelotas – Visconde da Graça 3 37 3 14 57
Reitoria 1 2 3
Santana do Livramento 2 7 1 1 11
Sapucaia do Sul 2 1 1 4
Venâncio Aires 10 27 13 24 74
Total de pessoas 38 127 29 60
Fonte: Amostra de 59 projetos disponível em relatório interno PROEX.
1
Este total de pessoas envolvidas - desconsidera a participação em mais de um projeto.
apenas seis (3%) destinam 20h ou mais, o que destaca ainda mais a relevância do
tempo de trabalho dos estudantes.
Tabela 21 – Distribuição de servidores conforme
carga horária.
___________
60
Valor não formalizado no Relatório de Gestão: foi calculado considerando o valor e o número de
bolsas e estimando-se prazo de concessão de 12 meses.
152
Bolsas
Programa Estudantes
2010 2011 2012
1
BIC / BIC TA Ensino médio / graduação 24 / 5 30 47 / 14
1
Edital interno Ensino médio / graduação 26
1
Proj. Brasil-França Ensino médio / graduação 04
2
PIBITI / PIBIC Ensino de graduação 20 / 3 20 / 6 19 / 3
2
PIBIC EM Ensino médio 24
3
PROBIC / ROBITI Ensino de graduação 5 20 / 10 20 / 10
Total 57 86 167
Fonte: Relatórios de Gestão IFSul; Bolsa IFSul: R$ 360,00; demais bolsas: R$ 400,00.
1
Programa Institucional IFSul.
2
Programa Institucional de bolsas do CNPq.
3
Programa Institucional de bolsas do FAPERGS.
Estudantes
Campus Projetos Pesquisadores
Voluntários Bolsistas
Bagé 4 4 4
Camaquã 3 3 1 2
Charqueadas 3 2 1 2
Passo Fundo 1 1 1
Pelotas 38 29 8 30
Pelotas - Visconde da Graça 29 20 6 23
Santana do Livramento 2 2 1 1
Sapucaia do Sul 4 4 4
Venâncio Aires 5 4 1 4
Total 89 69 18 71
Fonte: relatório interno PROPESP - base: março de 2013 (projetos vigentes).
Observação: não estavam disponíveis informações sobre financiamento dos projetos de pesquisa.
___________
61
Não foram acessados documentos com informações sobre financiamento dos projetos.
153
TAEs Extensão
Campus
IFSul TAEs % TAEs
Bagé 19 1 5%
Camaquã 20 1 5%
Charqueadas 34 9 26%
Passo Fundo 32 4 13%
Pelotas 203 5 2%
Pelotas – Visconde da Graça 69 3 4%
Reitoria 151 1 1%
Santana do Livramento 6 2 33%
Sapucaia do Sul 39 2 5%
Venâncio Aires 21 10 48%
Total 594 38 6%
Ainda em relação aos indicadores, destaca-se mais uma vez que muitos
foram obtidos a partir de relatórios internos parciais, sendo passíveis de imprecisão
em relação a valores absolutos. Entretanto, a observação empírica da instituição
aponta no sentido que eles sejam relacionalmente representativos do contexto
institucional. É necessário destacar, também, que o indicador institucional do
trabalho dos professores é o número de aulas em sala de aula, uma vez que as
discussões sobre regulamentação da carga horária docente ainda não se efetivaram
como norma institucional. Assim, é bastante provável que existam muitas atividades
em andamento que seriam categorizadas como atividades de pesquisa e extensão e
que não estão cadastradas oficialmente e, portanto, não foram consideradas nos
indicadores apresentados nesta seção.
Por fim, considerando as questões orçamentárias discutidas em seção
anterior, parece pouco provável que a lógica de financiamento seja alterada em um
curto prazo sem que haja grande esforço institucional para criação de novos
processos discursivos hegemônicos que justifiquem o deslocamento de mais
recursos institucionais para financiamento destas dimensões, o que envolveria, em
especial, um aumento significativo dos estudantes bolsistas.
___________
62
Horário reservado para os cursos técnicos na forma integrada.
161
___________
63
Vários docentes da área são estudantes em programas de doutorado e de mestrado, o que aponta
para um aumento geral da titulação geral do corpo docente em breve.
163
___________
64
Cinco entrevistas foram transcritas pela bolsista de IC Renata Hilal e, posteriormente, revisadas e
formatadas pelo pesquisador.
65
Desenvolvida por Mike Scott, em 1996, está atualmente na sexta versão. Disponível em:
<http://www.lexically.net/wordsmith/version6/index.html>. Acesso em: 01 mar. 2012
167
___________
66
O corpus foi criado pelo projeto Processamento Computacional do Português, o qual deu origem a
Linguateca. Os textos das 365 edições da Folha de São Paulo do ano de 1994 foram compilados pelo
Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional (NILC). Disponível em
<http://www.linguateca.pt/cetempublico/>. Acesso: jan. 2013
172
___________
67
No âmbito do WS, adotando a terminologia da LC, utiliza-se a expressão palavra de busca ou
nódulo para representar uma palavra ou expressão que será investigada em um corpus. Na análise
dos sentidos que são atribuídos a esta palavra ou expressão, em consonância com a terminologia da
TD, o trabalho adota a expressão significante.
177
tabelas (uma cada subcorpus) onde constavam todas as sentença que continham o
significante e algumas informações adicionais.
Ao se analisar as concordâncias, percebeu-se uma grande ocorrência dos
significantes “ensino”, “pesquisa” e “extensão” em conjunto, total ou parcialmente,
nas sentenças. Assim, para facilitar a análise, optou-se por reorganizar as
sentenças, isolando-se àquelas em que “ensino”, “extensão” e “pesquisa”
apareceram juntos e mantendo-se nas tabelas iniciais, somente sentenças em que
estes significantes apareciam isoladamente. Ao final, o material para análise dos
significantes “ensino”, “extensão” e “pesquisa” resultou em 4 arquivos no ME e 28
tabelas com sentenças em que estes significantes aparecem em conjunto (1 arquivo)
ou isoladamente (3 arquivos). A Figura 43 apresenta um exemplo de como ficaram
organizados as tabelas nos arquivos.
___________
68
Com a planilha aberta no ME e o arquivo correspondente aberto no Concord, basta clicar na linha
N no Concord para abrir o arquivo fonte e analisar o contexto da sentença que contém o significante
em análise. Este processo foi realizado durante a organização das tabelas para manter avaliar o
contexto das sentenças nos documentos fonte.
179
entrevistado; abaixo existe uma imagem da aba “Plot” do Concord, a qual mostra a
distribuição da palavra de busca no arquivo, e algumas anotações úteis à análise.
Durante o processo de escrita da análise constatou-se que esta etapa poderia de
sido evitada, entretanto, ainda que trabalhosa, ela foi muito importante para
compreensão em conjunto dos diferentes subcorpora.
Em cada subcorpus, para cada tabela, as sentenças foram reagrupadas /
reorganizadas conforme a temática que estava sendo tratada em torno do
significante destacado. Ao final, reuniram-se as sentenças que tratavam “ensino”,
“extensão” e “pesquisa” (incluindo aquelas que apresentavam os significantes em
conjunto) em cada subcorpus, procurando-se destacar as aproximações e os
afastamentos. Neste processo, a fim de evitar interpretações descontextualizadas,
os documentos fontes foram revisitados diversas vezes.
Algumas sentenças aparecem diversas vezes, em diversos documentos,
entretanto a contagem não foi critério objetivo adotado para determinar a relevância
de determinados sentidos, contudo, por questão de transparência de dados
importantes no contexto da LC, opta-se por apresentar algumas informações
quantitativas sobre determinados significantes ao longo do texto.
A seguir, apresenta-se separado o resultado da analise destes significantes
em cada subcorpus. A ordem dos subcorpora corresponde àquela em que as
análises foram realizadas, basicamente resultado da opção de analisarem-se os
materiais mais diversos e volumosos primeiro, não representando hierarquia de
importância dos discursos.
No início de cada analise será apresentada uma figura obtida por meio da
aba Plot que permite visualizar a distribuição destes significantes nos diferentes
arquivos do subcorpus. Nos arquivos do WS com o significante “extensão” foram
mantidas as ocorrências com os colocados “ensino” e “pesquisa”. Para os
significantes “pesquisa” e “ensino” as sentenças em que apareciam em conjunto os
demais significantes foram removidas a fim de evitar que a mesma sentença fosse
tratada várias vezes em arquivos diferentes. Por este motivo as figuras extraídas do
WS com o nódulo “extensão” incluem os colocados “pesquisa” e “ensino”, o que não
ocorre com os significantes “pesquisa” e “ensino”.
180
69
a) Extensão (inclui pesquisa e ensino)
___________
69
Nos arquivos do WS com o significante “extensão” foram mantidas as ocorrências com os
colocados “ensino” e “pesquisa”; para os demais significantes estas construções já foram removidas,
ou seja, as figuras com o significante extensão incluem colocados pesquisa e ensino.
181
___________
70
“As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
(Constituição Federal do Brasil, Art. 207)
182
apresentado na seção 2.4.2, na maioria dos campi existe um setor que administra
em conjunto as três dimensões, o qual é, em geral, subdividido em um setor que
coordena a pesquisa (associado a pós-graduação, desenvolvimento tecnológico e
inovação) e a extensão.
Assim, com estrutura administrativa e modo de gestão bastante similar, as
atribuições se repetem em diversos regimentos. O processo de construção conjunta
dos regimentos internos dos campi, conforme apresentado na seção 2.4.2, também
favoreceu este tipo de escrita, originando regimentos internos bastante similares
entre os diversos campi 71.
Mesmo definindo que “o Campus [...] tem por objetivo desenvolver o ensino,
a pesquisa e a extensão”, os textos são pouco propositivos, interpretação possível
pela grande ocorrência dos verbos acompanhar, coordenar, incentivar, divulgar,
entre outros, conforme se pode observar na Tabela 34.
Tabela 34 – Extratos de sentenças dos regimentos Internos dos campi.
___________
71
Considerando que os textos se repetem em vários documentos, na análise deste subcorpus,
diferentemente dos demais, por facilidade de leitura, opta-se por fazer poucas referências aos
documentos do subcorpus.
198
investigar, diagnosticar e avaliar o currículo em integração com outros profissionais da gestão do ensino e com
os integrantes da comunidade; e propor a criação de novos cursos e a readequação dos já existentes
implantar gerenciar, coordenar e manter a estrutura (física) do ensino: equipamentos, ambientes, materiais,
horários dos professores, projetos de capacitação, registro acadêmico, etc.; e fornecer mediação tecnológica a
projetos de ensino, de pesquisa e de extensão
___________
72
Opta-se por manter esta sentença no campo das possibilidades a fim de não identificar os
entrevistados.
200
___________
75
Assim considerado porque as atividades de extensão não são computadas nos indicadores de
trabalho docente.
210
com as bolsas que foram criadas (com recursos próprios dos campi), com a
quantidade de trabalhos apresentados – e os campi estão dispostos a
financiar mais projetos – os resultados vão começar a aparecer daqui
alguns anos. (Reitoria_Gestão_7).
___________
76
Visitas técnicas e estágios (presente em outro local no menu da PROEX) eram ações relevantes da
DIREC. PRONATEC contempla atualmente, no IFSul, a oferta de cursos de qualificação.
211
como é que eu entendo que tem que tem que ser uma pró-reitoria? Uma
pró-reitoria tem que tratar de política institucional. A pró-reitoria de ensino
tem que tratar de quais são as políticas que a instituto quer pro seu ensino...
E isso é a mesma coisa para a extensão, para a pesquisa, a mesma coisa
pra PRDI. [...] E quem aplica essas políticas, são os campi.
(Campi_Gestão_8)
Gostaria que ela [a extensão] fosse tratada no mesmo nível que a pesquisa
e que o ensino são tratados. (Campi_Gestão_8)
O ensino está funcionando... Vamos dizer, hoje, é o mais importante! A
extensão e a pesquisa são importantes também, mas hoje tão jogadas de
lado! (Campi_Gestão_7)
O Instituto foi feito pra quê? Pra trabalhar ensino, pesquisa e extensão! E só
tem Ensino... [...] fazer uma carga horária e não pensar só em Ensino, tu
pensar que vai ter uma Pesquisa. [...] continuamos com 80% Ensino e divide
os outros [pesquisa e extensão] em 20%. (Campi_Gestão_5)
qual é a medida que a pesquisa vai para o ensino? Porque nós vamos ter
responsabilidade com o ensino, sim! (Campi_Gestão_4)
sem deixar de fazer ensino de qualidade, tem que fazer pesquisa e
extensão. (Campi_Gestão_1)
___________
77
Conforme discutido em outras seções, atualmente o indicador de trabalho docente é a carga
horária em sala de aula.
217
___________
78
Em relação à criação da PROEXT, conforme discutido em item anterior, deve-se destacar que ela é
herdeira da DIREC e poderia se interpretar também que não representa uma inovação na estrutura.
219
Gestão Reitoria. Como estes gestores apresentam perfil profissional79 muito similar
àqueles, em especial em relação à formação e a tempo de serviço na instituição, e
ainda compartilham espaços de gestão tais como reuniões administrativas, CODIR e
também CONSUP, é possível que estes fatores contribuam para esta
homogeneização/complementariedade de sentidos.
___________
79
Os gestores dos campi entrevistados possuem um perfil de tempo de serviço similar ao indicado na
Figura 22 e também possuem perfil de titulação similar aos gestores da reitoria (ver seção 2.4.3).
221
[...] não vejo interação com outros campi. Os campi são muito isolados. Não
sei os cursos dos outros campi. [...] Poderia ser mais incentivado pela
reitoria a criação de projetos [no sentido de pesquisa e extensão] intercampi
(cita exemplo). (CMQ_Docente_5)
Existe boa vontade. Não existe mecanismo/ambiente formal, é a partir do
contato dos professores. [...] Professor não sabe o que dá para fazer, não
conhece todos os campi. (CMQ_Docente_4)
___________
80
Não foi objetivo deste trabalho categorizar os projetos de pesquisa e extensão em andamento.
223
tempo que não se fazia assim. Há 7/8/10 anos atrás era isolado, cada um
em sua disciplina. Uma disciplina [...] começou a fazer isoladamente defesa
de trabalhos, os alunos apresentavam para turma. Teve dificuldade de
avaliar e começou a convidar professores de outras disciplinas para ajudar.
[...] Ela teve dificuldade quando os próprios estudantes, usando o
conhecimento de outras disciplinas começaram a construir os projetos
multidisciplinares. Não conseguiu avaliar, extrapolou as disciplinas. [...] Ela
convidou os professores, começaram a gostar e usar suas disciplinas
apontando para aquele projeto. Começaram a fazer reuniões para
estabelecer objetivos, começou aos poucos, hoje está constituído. [...]
Quando o processo ficou solidificado o curso de móveis ficou mais criativo
nas defesas, na interdisciplinaridade, na forma de apresentar o projeto –
conhecimento, forma de falar, postura, aspecto, o argumento.
(DSG_Docente_2)
os projetos interdisciplinares já existiam quando cheguei: foi acontecendo
por observações dos professores que faziam coisas isoladas e resolveram
juntar, interdisciplinar. [...] é um a experiência muito, muito legal! Para a
gente e para os alunos, que percebem que estão fazendo uma coisa maior,
a relação das disciplinas ... Une sete disciplinas. (DSG_Docente_1)
seu cotidiano de trabalho. Esta contradição pode indicar que estes discursos
trabalham com diferentes sentidos para as dimensões pesquisa e extensão, os quais
induziriam os docentes interpretar que elas não fazem parte de seu cotidiano de
trabalho, apontando, indiretamente, para as questões “o que é pesquisa?” e o “que é
extensão?” presentes em outros subcorpora.
Um docente aponta que existem discursos no campus que os professores
só querem saber de pesquisa e extensão e não querem mais dar aula, [que]
o mote é o ensino técnico e isto está sendo deixado de lado. Talvez sejam
discursos isolados. Parece que nas reuniões [referindo-se a regulamentação
da carga horária docente] vão sempre os mesmos; estamos no período de
transição, turbilhão de mudanças, está em completa transição, IF recém
começou. (DSG_Docente_5)
___________
82
As discussões de revisão ocorrem ao longo do segundo semestre, sendo o processo consolidado
em um documento formal, posteriormente aprovado pelo CONSUP, ao final do ano.
232
Primeiro o curso tem que ter qualidade. Daí partiu tudo: a possibilidade de
fazer o curso superior, tinha corpo docente, os alunos queriam ficar, iam
para UFPel e voltavam destacando a qualidade do curso técnico. O estudo
para o curso superior que tivesse qualidade, que não fosse igual ao técnico,
mais conceitual, mais teórico. [...] Desde a época do DIN (um curso muito
amplo, muito forte)... (DSG_Docente_4 – grifo nosso)
Em 2008 entraram cinco professores novos e foi um "boom". [...] Com este
grupo novo e a nova estrutura do IF começaram a pensar coisa. O IF
favoreceu curso superior – um desejo antigo da coordenadoria. [...] Quando
Desenho Industrial (DIN) foi transformado em dois novos cursos [referindo-
se a reforma da EP dos finais dos anos 90] o pessoal sentiu muito, o desejo
não era este, sensação era de perda de conteúdo, sentimento de que
aquele curso era um curso superior. (DSG_Docente_3 – grifo nosso)
Lá por 2005 descobrimos que outros CEFETs haviam feito diferente. Numa
semana de palestras trouxeram uma professora do curso superior de SC e
ela apresentou praticamente o nosso DIN (exagerando). Aquilo tocou o
grupo, já tinha se pensado antes ... Por duas vezes nos reunimos e
discutimos um curso superior: algumas vezes ficamos presos na titulação,
outras dúvidas, outras vezes porque acreditávamos nos nossos cursos
técnicos. Quando foi feita o primeiro PDI (apareceu para nós um 5 anos
83
atrás?) colocou-se um curso superior na área do design . (DSG_Docente_2
– grifo nosso)
Ainda em 2009 comecei a perguntar se com tanto tempo de design, e agora
com a mudança da instituição, não tinham pensado em abrir curso superior
na área de design. A resposta foi que sim, em várias vezes tinha sido
pensado, já tinham discutido, foi engavetado, não deu, não aconteceu, teve
intenção ... ‘Agora que a instituição mudou [...] quem sabe não leva isto
adiante?’ Ficamos conversando, já tinham feito coisas antes, o pessoal
começou a procurar o que se tinha, que curso se queria, como seria este
curso, conversamos em muitas reuniões. (DSG_Docente_1 – grifo nosso)
Um conjunto de coisas favorece a criação do curso: entrada de cinco
professores novos com diferentes formações, com vontade de fazer coisas,
de alguns de fazer curso superior; uma força muito grande na transformação
de CEFET para IF: se tinha algo que ainda estava bloqueando o surgimento
do curso superior, acabou aí. A primeira vez que li sobre verticalização
pensei ‘está escrito aqui que eles querem isto, se a gente quer fazer isto
eles não vão poder dizer que a gente não pode fazer isto’.
(DSG_Docente_1 – grifo nosso)
___________
83
Nos PDIs de 2007 e 2009 não foi encontrado a proposta de curso superior na área do design.
233
___________
84
É importante destacar que uma outra parte do grupo integrava a comissão nacional que construiu
as diretrizes curriculares da reforma para a área.
234
A gente sempre fala das coisas boas, mas o curso [no sentido "dos cursos",
da área do design] tem muita coisa negativa como qualquer curso, mas tem
tantos movimentos positivos que eles se sobressaem. Penso que tudo
começa pela possibilidade das pessoas se encontrarem e conversarem. [...]
Aqui tem um fluxo – as reuniões de quarta são uma loucura – que permite
se comunicar, conversar o que esta acontecendo na sala de aula,
problemas com alunos, conversar sobre projetos paralelos, sobre o
currículo; o espaço permanência, de convivência ajuda muito. [...] Sem a
convivência movimentos seriam mais lentos, talvez até inexistentes. Nas
reuniões de quarta-feira se resolve coisa, fala coisas, coloca problemas,
vislumbra solução. Às vezes com todo mundo não rende, aí vai formando
grupos, o NDE ajuda muito, se faz muito isto, resolve as coisas juntos.
(DSG_Docente_1)
Interlocução com o grande grupo nas reuniões de quarta funciona muito
bem. A reunião é momento de avaliação. A comissão organiza o material e
leva ao grupo [...] A comissão avalia e traz à reunião. [...] O espaço da
reunião é compartilhado pelos coordenadores, se organiza, a coisa funciona
bem: o que acontece aqui é que o pessoal se divide bem.
(DSG_Docente_4)
___________
85
Escola de educação especial Louis Braille, voltada para o atendimento a deficientes visuais
(cegueira ou baixa visão), situada na cidade de Pelotas-RS.
236
___________
86
Estes sentidos não estiveram presentes nos docentes de Camaquã, os quais não estão imersos
nesta cultura escolar.
87
Este docente é professor em apenas um dos CT dá área por isto fala sempre no singular.
238
A integração vem com novos desafios, mas é recebida com motivação pelos
professores da área:
A interdisciplinaridade [...] faz parte da metodologia de trabalho, é uma
prática. A disposição de trabalhar integrado é muito bem recebida no grupo.
Desafio de integrar com a formação geral é pertinente, se tem experiência.
[...] Existe separação do ensino médio com educação profissional,
provocada pela reforma. Muito isolamento. Os alunos do concomitante
reclamavam da falta de diálogo em o ensino médio e a educação
profissional da mesma instituição. Separação era muito forte, muita
marcante. [...] Percebo nas reuniões que os professores da formação geral
tem vontade [...] de fazer integração, de dialogar com a formação específica.
(DSG_Docente_4)
Subcorpus Sentidos
Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. Indissociabilidade é
associada com necessidade de atuação, nivelamento, vinculação, coexistência.
Ensino, pesquisa e extensão na mesma hierarquia, em todos os níveis de ensino.
Documentos MEC
Fatores facilitadores: integração entre ciência, tecnologia e cultura; foco na
profissionalização; e a tecnologia como elemento transversal.
Permite articulação com as forças sociais.
Documentos IFSul No Estatuto: preservar a unidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Documentos
Preponderância da dimensão ensino.
Campi
Subcorpus Sentidos
Documentos MEC Ensino consolidado, necessidade de institucionalização da pesquisa e da extensão.
Não existem ocorrências de pesquisa isoladamente: está sempre associada à
extensão, a inovação, ensino ou a pós-graduação (está tem menos ocorrências).
Documentos Campi
Associações: pesquisa, iniciação científica, pós-graduação, desenvolvimento
tecnológico, inovação e extensão.
Insipiente na RFEP.
A estruturação interna não vai ao encontro do que espera para os IFs.
Movimentam mais a instituição; tem papel fundamental na criação de processos
Gestão Reitoria que gerem renda.
Estão na mesma situação versus a pesquisa começou antes e está mais bem
estruturada (referência à bolsas de IC com recursos próprios).
Alinhamento com a definição de extensão utilizada pelas universidades.
Se institucionalizando.
Gestão Campi
Falta de consenso institucional.
Boa construção local: é um campus novo e a maioria dos professores tem pós-
graduação.
Naturalização: professor que estuda gosta de trabalhar com pesquisa e extensão,
vem com professores (cultura /formação universitária).
Funciona a custa de sacrifícios dos professores (não institucional) e apenas com
Docentes CMQ base no gosto dos professores vai se tornar insustentável.
Vai reduzir com avanço na implantação dos cursos; a regulamentação da carga
horária docente é a esperança.
Projetos pouco tecnológicos, os regramentos são academicistas, tem que ser
diferente da universidade (mais tecnológicos).
Não há o discurso da pesquisa e da extensão para não dar aula.
É uma necessidade institucional, a instituição mudou e “tem o dever de”.
Está engatinhando no campus; há tendência de modificar a estrutura vigente.
Com a demanda da regulamentação da carga horária docente, vem muito forte a
Docentes DSG
preocupação com pesquisa e extensão e a coordenadoria não tem esta cultura.
Existe discurso no campus que o envolvimento em pesquisa e extensão é para não
dar aula.
O pessoal não tem a cultura ainda que pesquisa e extensão fazem parte do
processo.
com base no gosto dos professores vai se tornar insustentável com avanço na
implantação dos cursos. Deste modo, sustentam a demanda que este trabalho seja
considerado nos indicadores de esforço docente que atualmente consideram apenas
o tempo de trabalho em atividades de ensino (tempo em sala de aula, preparação e
reuniões pedagógicas).
Os professores do Design assumem estas dimensões como obrigação – é
uma necessidade institucional, a instituição mudou e “tem o dever de”, é uma
necessidade em função do curso superior – e pensam que elas estejam
engatinhando no campus, embora haja a tendência de modificar a estrutura vigente,
ainda que no campus não haja, em geral, cultura que pesquisa e extensão fazem
parte do processo; entendem que a coordenadoria não tem esta cultura, o que já foi
problematizado anteriormente nesta seção. Pensam também que com a
regulamentação da carga horária docente haverá potencialização das demandas
destas dimensões. Externando o conflito ensino versus pesquisa e extensão, há
referência que existe entre os professores do Campus Pelotas o discurso de que o
envolvimento em pesquisa e extensão é para não dar aula, o que não foi constatado
nas entrevistas dos docentes do Campus Camaquã.
A seguir, a Tabela 38 destaca alguns sentidos para a categoria extensão,
interpretados em torno dos significantes analisados.
Tabela 38 – Extensão.
Subcorpus Sentidos
Possibilidade de diálogo efetivo e permanente com a sociedade.
Documentos MEC
Associações: divulgação científica, acesso ao conhecimento, oportunidades
educativas.
Silenciamento sobre FIC.
Documentos Campi
Subcorpus Sentidos
Conceituação pactuada pelo FORPROEX (processo educativo, cultural e científico
que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável para viabilizar uma
relação transformadora entre o IFSul e a sociedade).
Apoiar o desenvolvimento social, local e regional – oferta de cursos e
desenvolvimento de projetos educacionais.
O significante sociedade flutua referindo-se à: segmentos sociais, comunidade
Documentos IFSul
externa, comunidade em geral, mundo do trabalho, IFSul-empresa-sociedade,
empresas e relações comunitárias (herança CEFET).
Extensão é associada com divulgação científica, tecnológica e humanística.
Não há uma política de extensão aprovada no CONSUP, ainda que o regimento
destaque a participação dos campi.
Ênfase no controle burocrático.
Em processo inicial: há avanço na estrutura administrativa e no fomento versus há
pouco avanço (falta olhar institucional, não tem estrutura, está jogado de lado).
Vai mudar instituição porque fortalece sua vinculação com as necessidades da
sociedade, da comunidade.
Gestão Campi
Não está ainda na cultura na Instituição, mas não é a mesma coisa que a extensão
na universidade.
Responsabilidade pessoal: algo que está na cultura da pessoa, que já vem com a
pessoa.
É o ponto forte do campus, o campus que mais aprova projetos, é um campus
Docentes CMQ extensionista.
Como pode ter prazo para terminar?
O curso sempre fez extensão e nunca formalizou.
Docentes DSG O financiamento foi oportunidade consolidação de antigos desejos.
Falta de compreensão de como a extensão vai afetar o trabalho cotidiano.
consenso institucional sobre esta dimensão, não há ainda uma política de extensão
aprovada no CONSUP, o que concentra as atividades da gestão no controle
burocrático.
Os discursos dos gestores apontam para a falta de compreensão sobre o
que seja extensão, embora destaquem que não deva ser a mesma coisa que a
extensão na universidade. A institucionalização desta dimensão está processo inicial
e existem discursos que há avanço na estrutura administrativa e no fomento
enquanto outros que argumentam que há pouco avanço, pois falta olhar institucional,
não tem estrutura e está jogado de lado. Entretanto, há o acolhimento que esta
dimensão vai mudar instituição porque fortalece sua vinculação com as
necessidades da sociedade, da comunidade, embora não esteja ainda na cultura
institucional. Ao mesmo tempo em que assume o financiamento (referindo-se ao
PIIEX) como um indicativo de superação do voluntarismo, responsabiliza os
professores pelo estabelecimento desta dimensão. Isto é representado por meio de
discursos que argumentam que extensão é algo que está na cultura da pessoa, que
já vem com a pessoa, referindo-se ao processo de formação universitária, em
aproximação, novamente, com os sentidos da extensão universitária que, em outros
discursos, busca afastamento.
Os docentes de Camaquã entendem que extensão é o ponto forte,
identificando-se como um campus extensionista, por ser o que mais aprova projetos
deste tipo. Entretanto, externando contradições locais, questiona um docente,
referindo-se ao formato da extensão: que extensão é esta quem tem prazo para
terminar?
No Design, contrapondo o discurso interno na própria área da falta de cultura
em extensão, há o sentimento que a área sempre fez extensão e nunca formalizou,
preocupação mais recente motivada pela nova condição do instituto. A possibilidade
de ter projetos financiados é uma oportunidade de consolidação de antigos desejos.
Ainda assim, demonstrando a flutuação de sentidos sobre o que seja extensão, não
sabem como ela vai afetar o trabalho cotidiano.
A seguir, na Tabela 39, pode-se observar alguns sentidos para o significante
pesquisa representados nos diferentes subcorpora.
247
Tabela 39 – Pesquisa.
Subcorpus Sentidos
Processo fundamental para desenvolvimento local.
Associações: inovação, problemas concretos, necessidades, democratização do
conhecimento, compromisso com a humanidade.
Documentos MEC Tipos de pesquisa: princípio científico, princípio educativo, produção de
conhecimento, pesquisa aplicada.
Pesquisa aplicada: melhoria das condições de vida, melhoria das atividades
produtivas locais, ensino contextualizado, superação ciência x tecnologia – teoria x
prática.
A pesquisa deve estabelecer a interação do IFSul com diferentes segmentos da
sociedade, estender seus benefícios à comunidade
Objetivos da pesquisa: a investigação, a produção e a difusão de conhecimentos, o
desenvolvimento científico-tecnológico e de inovação, contribuir na construção do
conhecimento, estimular as aprendizagens e o desenvolvimento de soluções
humanísticas, técnicas e tecnológicas.
Tipos de Pesquisa: pesquisa acadêmica, pesquisa científica e tecnológica,
Documentos IFSul
pesquisa como principio educativo, pesquisa como processo educativo para
investigação e produção de conhecimento.
Não acolhe “pesquisa aplicada”, mesmo na reprodução dos textos da legislação
nos documentos oficiais.
Pesquisa em todos os níveis de ensino.
Está sempre associada à inovação e a pós-graduação.
Não existem normas e regulamentos aprovados pelo CONSUP.
Verbos utilizados são pouco propositivos.
Documentos Campi Não há ocorrência isolada.
Pós-graduação do corpo docente favorece consolidação da pesquisa (docentes dão
continuidade das pesquisas, mantém vinculação com grupos de origem)
Os grupos de pesquisa importantes para consolidação da pesquisa e da PG.
Gestão Reitoria
Existem muitos grupos cadastrados porém poucos consolidados
Grupos de pesquisa formados por interesse de formação e não institucional.
Pesquisa aplicada: um acolhimentos e uma oposição.
Movimentos de pesquisa já ocorriam enquanto CEFET. Atualmente existem grupos
de pesquisas, projetos de pesquisas e bolsas de pesquisa.
Há necessidade de criação de políticas de pesquisa para que não ocorra apenas
Gestão Campi
por motivação dos servidores.
Existem ações de pesquisas nos cursos técnicos de nível médio.
Há dificuldade de consolidação dos grupos de pesquisa.
Docentes CMQ
Docentes DSG
Dificuldades na sua estruturação.
Desconhecimento de como colocar o processo de pesquisa em andamento
Esperança nos novos professores (que vêm com a cultura acadêmica da
Universidade)
248
Subcorpus Sentidos
Ensino está consolidado na RFEP.
Ênfase na importância da forma integrada.
Documentos MEC Ensino superior: ênfase na formação de professores.
EP no Ensino médio: universalização, solução para os problemas, ampliação do
acesso e permanência dos estudantes, possibilita ensino contextualizado e
significativo.
250
Subcorpus Sentidos
Produção e democratização do conhecimento.
Formar cidadãos capazes de tomar decisões responsáveis.
Processo interno de construção.
Deve se integrar à pesquisa e a extensão.
Documentos IFSul
Licenciaturas: acolhe o texto legal.
Engenharias: prioridade na prática em Pelotas e Sapucaia do Sul.
Ofertar EAD (apenas com fomento externo).
Cotas para escola pública é um processo interno (parcial – somente acesso).
Documentos Campi Prevalências do ensino
Igual ao CEFET. Naturalização da prioridade do ensino.
Predominância discursiva da EP de nível médio.
Embate novas possibilidades educacionais versus determinada cultura institucional.
Gestão Reitoria Campi novos é mais fácil de inovar.
As pessoas se envolvem na discussão do ensino.
Ensino de qualidade versus não acompanha mercado.
Silenciamento sobre PROEJA, FIC e pós-graduação.
O ensino vem andando, funciona naturalmente.
Campus normal está associada apenas às atividades de ensino, de sala de aula.
O ensino tem prioridade em detrimento da pesquisa e da extensão.
O ensino já estava em movimento.
Há uma nova cultura de ensino.
Os cursos estão incorporando questões locais e os profissionais formados estão
Gestão Campi mais identificados com as questões regionais.
Acolhimento do discurso oficial da profissionalização como solução para o ensino
médio.
A qualidade do ensino não pode ser associada apenas a recursos e a indicadores
(números), tem que mexer na sala de aula
Pensava-se mais nas metodologias de ensino quando era ETF / CEFET do que
agora.
O ensino (associado a sala de aula ) é priorizado institucionalmente.
Preocupação constante com a qualidade do processo educacional.
Esforço para interdisciplinaridade.
Docentes CMQ
O processo educacional é mais qualificado por envolver pesquisa e extensão.
Os estudantes têm grandes dificuldades em ciências e os professores não sabem o
que fazer para melhorar o rendimento.
DIN referente de um processo educacional de qualidade.
Docentes DSG DIN motiva a implantação do curso superior e a reestruturação de todo o processo
educacional da área.
Subcorpus Sentidos
A verticalização e a integração entre diferentes níveis e modalidades de ensino são
vetores muito importantes na nova política educacional.
Documentos MEC Possibilitam: singularidade na arquitetura curricular, docentes atuarem em
diferentes níveis de ensino, docentes associarem teoria e prática, discentes
compartilharem os espaços de aprendizagem.
Integração: não assume explicitamente a integração no EM.
Documentos IFSul Verticalização: uma única ocorrência no subcorpus – quando o documento
institucional acolhe o texto legal.
Documentos Campi
253
Subcorpus Sentidos
Verticalização: há lugar para os diversos níveis, tem que descobrir lugar dos níveis,
pessoas vão ter que trabalhar em diversos níveis, diminui as tensões internas.
Gestão Reitoria
TAM exige verticalização.
Integrado: silenciamento.
Acolhimento de discursos relativos à verticalização.
Gestão Campi O conceito de verticalização está reduzindo a competição entre os diferentes níveis
de ensino.
Docentes CMQ
descobrir lugar dos níveis, pessoas vão ter que trabalhar em diversos níveis, diminui
as tensões internas, está reduzindo a competição entre os diferentes níveis de
ensino, é uma exigência do TAM para atingir o indicador de 20 estudantes por
professor, entre outros. Entretanto, ainda que seja evidente a expansão da forma
integrada na oferta educacional, há um silenciamento em torno do significante
integrado.
Entre os docentes do Campus Camaquã não houve a presença destes
significantes. Em relação ao integrado é possível que isto tenha ocorrido porque esta
é a forma de oferta predominante no campus, fazendo parte do cotidiano e não
merecendo destaque. Quanto à verticalização, embora se saiba que a implantação
do ensino superior seja um processo presente nas discussões do campus, é
provável que ele ainda seja menos relevante que outras demandas que afligem os
professores no estágio atual de construção do processo educacional do campus.
No Design, a verticalização e o grande processo de restruturação curricular
é resultado de um processo coletivo interno, que começa anteriormente à
transformação em IF. Há adesão / acolhimento do discurso da verticalização
presente nos discursos para os institutos, primeiro para empoderamento de um
pequeno grupo interno na coordenadoria e posteriormente toda área a fim de
colocar em andamento suas demandas, ou seja, o discurso da verticalização é
acolhido para criação de um processo hegemônico interno com objetivo de sustentar
a reestruturação curricular da área. A integração também foi um movimento interno e
os professores estão motivados com esta forma de organização dos cursos técnicos
pois entendem que possuem experiência acumulada em processos de integração
curricular. O sentimento é que a renovação do corpo docente foi um fator
fundamental para impulsionar o processo de restruturação curricular que estava
latente há vários anos.
A seguir, na Tabela 42, pode-se observar sentidos em torno do trabalho
docentes.
255
Subcorpus Sentidos
A carreira tem que dar conta das peculiaridades do EM.
Existem novas demandas para o trabalho docente e dos TAEs e novas posições de
sujeito aos docentes.
As pessoas vão ter que trabalhar em diversos níveis de ensino.
Gestão Reitoria
Pesquisa e extensão são oportunidades de trabalho e não intensificação.
Pesquisa e extensão são voluntários (não computados na carga horária).
Professor não quer dar aula – cada vez mais pesquisa e extensão.
Professor só quer dar aula e ir embora.
A gestão espera que os servidores deem conta do novo processo de trabalho.
A motivação é o modo de operação da gestão para envolver os professores.
Gestão Campi A responsabilização dos professores é usada como estratégia para dar conta das
demandas da pesquisa e extensão.
Pesquisa e a extensão devem ser levadas em consideração; pesquisa (e extensão)
somente para reduzir carga horária; professores não querem mais dar aula.
Pressionados pelo discurso do TAM.
Docentes CMQ Se sentem intensificados (falta de tempo).
A feira/mostra contribuem na sensação de intensificação.
Não se sentem intensificados.
Docentes DSG Se sentem fortalecidos pelo trabalho coletivo.
Não conhecem o TAM
e disputas e que este coletivo, um pouco menor que o coletivo de docentes daquele
campus, tem formalizado apenas um projeto de pesquisa e um de extensão.
Em relação à gestão, na Tabela 43, pode-se observar alguns sentidos que
se destacaram em torno dos significantes estudados.
Tabela 43 – Gestão.
Subcorpus Sentidos
Documentos Campi
Os textos são pouco propositivos: grande ocorrência dos verbos acompanhar,
coordenar, incentivar, divulgar.
Ausência de órgãos colegiados, decisões centradas na gestão.
Gestão Reitoria
Centralidade na condução de processos de discussão a partir da reitoria.
Dificuldade de estabelecer políticas hegemônicas para pesquisa e extensão.
Insuficiência das políticas vigentes (em especial para pesquisa e extensão).
Foco da gestão no controle na administração da burocracia.
Gestão Campi
Responsabilização dos professores como estratégia para dar conta das demandas
da pesquisa e extensão.
Reitoria: deve definir políticas para que os campi apliquem versus valorização dos
espaços coletivos.
Docentes CMQ
Pouca interação com outros campi: não tem mecanismo, é informal, professor não
conhece.
Relevância do trabalho coletivo e a importância de espaços e tempos de
convivência e troca.
Compartilhar os mesmos espaços (sala da coordenadoria) e se encontrarem todos
os dias como fatores importantes para manutenção deste espírito de colaboração.
Documentos institucionais representam apenas uma parcela do discurso
Docentes DSG
institucional.
Várias atividades formais estimulam a integração entre os estudantes dos cursos
técnicos e do curso superior (incluindo cursos da UFPel).
Instituição (gestão do campus / reitoria) fora do curso (o Outro) – processo de
criação de identidade
depoimentos que argumentam a insuficiência das políticas vigentes. Por conta disto
a gestão foca em controle e administração da burocracia, adotando a
responsabilização dos professores como estratégia para dar conta das demandas
destas dimensões. Existem discursos que as pessoas participam cada vez mais nas
discussões, em especial as relativas à dimensão ensino, o que é apontado
positivamente em muitos depoimentos; todavia, há sentidos que indicam expectativa
que a reitoria defina as políticas para que os campi apliquem.
Em geral, os docentes de Camaquã apontam que existe pouca interação
com outros campi, a qual ocorre informalmente e não pela existência de
mecanismos formais regulares; a participação em feiras e reuniões sistêmicas são
apontadas situações que facilitam a interação com outros colegas, a qual poderá até
resultar, posteriormente, em alguma ação multicampi.
No Design se destacou a relevância do trabalho coletivo e a importância de
espaços e tempos de convivência e troca. Os docentes apontam em seus
depoimentos que compartilhar os mesmos espaços e se encontrarem todos os dias
são fatores fundamentais para manutenção do espírito de colaboração. Do mesmo
modo, várias atividades formais estimulam a integração entre os estudantes dos
cursos técnicos e do curso superior e também com os estudantes das áreas de
design na UFPel.
A partir dos relatos dos docentes sobre o processo de reestruturação
curricular da área, evidencia-se que os documentos institucionais, ainda que
construídos coletivamente e revisados periodicamente, representam apenas uma
parcela dos sentidos que circulam na instituição, aquela que foi possível estabilizar
durante o processo de construção destes documentos.
Existem construções discursivas que deslocam a instituição – metaforizando
a gestão do campus ou reitoria – para fora do curso, transformando-a no Outro, na
construção do processo de identidade da área. Ainda que não tenha sido destacado
no material apresentado anteriormente, esta estratégia também é adotada,
mutualmente, para construção de identidade na reitoria e nos campi: os campi
operando como o Outro para a reitoria e a reitoria operando como o Outro para os
campi.
259
___________
89
Por simplificação, por tratar-se dos mesmos subcorpus utilizado na seção anterior, opta-se por não
se indicar exaustivamente as fontes das citações apresentadas como exemplo dos diferentes tipos de
representações.
90
Em seção anterior já se discutiu o deslizamento de sentidos do significante sociedade: mundo da
produção, mundo do trabalho, setor produtivo, arranjo produtivo, segmento social, etc.
261
articulação entre reitores dos IFs é difícil as pessoas são muito diferentes.
(Reitoria_Gestão_4)
discussões interessantes realizadas pelo fórum são abandonadas na
câmara de [removido para identificar o sujeito] do CONIF se politicamente
não agrada [...] não é espaço efetivo de articulação da rede.
(Reitoria_Gestão_7)
CODIR tem que estar articulado, não pode se reunir somente para tomar
decisões. [...] é um belo espaço de formação, de articulação.
(Campi_Gestão_1)
[O setor] faz articulação com professores, com servidores, com
administrativos. E faz essa articulação para que a extensão ocorra.
(Campi_Gestão_8)
Falta de articulação dos estudantes que não usam este canal garantido por
lei (grêmio estudantil) para se organizar. (CMQ_Docente_1)
Não se comunica com nenhum outro campus ... falta de tempo [...] Se tiver
que recuperar aulas, não quer. (CMQ_Docente_2)
Não tem espaço comum de convivência dos professores, professores ficam
em salas distintas, encontram-se menos, difícil de construir coletivamente.
Reuniões de quarta-feira (espaços institucionais) tem sido mais
administrativas e informativas, professores tem reivindicados este espaço
para discussão política. (CMQ_Docente_3)
Articulação deveria ser bem melhor, teria que ter integração melhor entre os
cursos dos campi. [...]. Os campi são muito isolados (não sabe os cursos
dos outros campi). Poderia ser mais incentivado pela reitoria a criação de
projetos [de pesquisa e extensão] intercampi (cita exemplo). Não tenho
266
rede sai de 140 para 580 escolas ao final do governo Dilma, não tem como
todas as escolas se conhecerem: a SETEC vai trabalhar na articulação das
subredes. (MEC_Gestão)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
introdução, quando evidencio o lugar de onde falo, nas análises, indicando as fontes
e apontando as limitações das interpretações, e também tomando extremo cuidado
em preservar a identidade dos diferentes sujeitos que contribuíram nesta pesquisa.
Ao assumir a complexidade como premissa para discussão política, em
especial da política curricular, dialogando com Ball passei a compreender os
movimentos supostamente incoerentes que ocorrem em diferentes contextos, os
quais produzem textos, de diversos tipos, inseridos um nos outros num processo de
bricolagem muitas vezes aparentemente sem lógica. Entretanto, com Laclau entendi
que esta aparente incoerência é o próprio processo de luta política de produção de
sentidos, de significação, de acolhimento de demandas de diferentes grupos sociais.
E, a partir disto, busquei transitar por diferentes contextos, por diferentes
espaços, buscando identificar sentidos que estão sendo propostos, acolhidos,
rejeitados, enfim, tentando identificar a luta por significação na política curricular do
IFSul, uma instituição escolar em pleno processo de expansão e reestruturação.
Obviamente esta discussão só tem sentido neste trabalho por que se assume o
currículo e a política curricular, em diálogo com Lopes e Macedo, como produtores
de sentidos, local de luta por significação, ou seja, como discursos na perspectiva da
Teoria do Discurso de Ernesto Laclau, cujos conceitos orientaram o processo de
análise realizado na pesquisa.
Entretanto, assumir, na perspectiva da TD, o conceito de discurso como toda
e qualquer prática de significação, as quais incluem as ações e seus efeitos, coloca
o pesquisador diante de enormes desafios para realizar processos de análise que já
não podem mais ficar confinados apenas ao que está sendo falado e ao que está
escrito. Foi na tentativa de compreensão das ações e seus efeitos que os embates
históricos, em nível nacional e institucional, que envolvem a educação profissional e
a organização de seu currículo foram trazidos ao texto. Foi também com esta
motivação que se realizou comparações entre políticas – para Ball as políticas
sempre operam umas sobre as outras – em nível nacional e local, e se analisou
desde os contextos mais amplos de organização do estado brasileiro, da educação e
da rede federal de educação profissional até chegar-se ao Instituto Federal Sul-rio-
grandense.
271
ser tão visível quanto no caso da área que foi objeto de estudo no trabalho.
Entretanto, a conformação histórica da Instituição – muito bem representada numa
gestão formada essencialmente por servidores antigos, com presença ainda pouco
significativa de decisões colegiadas – pode favorecer ressignificações
conservadoras, bem como, a comunidade acadêmica pode reagir à participação
social na definição do currículo escolar.
O marco regulatório que cria os IFs impulsiona as instituições para o ensino
superior, equivalendo-as, para fins de controle e regulação, às universidades
federais. Em relação a dimensão ensino, já se destacou a centralidade dos discursos
no ensino médio e foco dos discursos do MEC na oferta de licenciaturas, ambos
amarrados a indicadores a serem obedecidos na oferta de vagas. Entretanto, a
previsão de indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão, promove relevância
discursiva – o empoderamento pela presença no texto legal91 – para as dimensões
pesquisa e extensão na política curricular dos IFs, o que justifica suas presenças
como significantes privilegiados na análise de sentidos para a política curricular no
IFSul.
Interpreta-se que estas dimensões estão buscando construir sentidos de
forma bastante similares: ainda que existam construções de cadeias de equivalência
entre as dimensões ensino, pesquisa e extensão, o que se observa, em geral, são
construção de cadeias de equivalência entre pesquisa e extensão a fim de
reivindicar avanços em suas demandas, muitas vezes utilizando a dimensão ensino
como o Outro que impede a consolidação de suas identidades.
Pesquisa e extensão são percebidas institucionalmente como em
movimento, em processo de consolidação institucional, o qual é justificado, ainda
que com restrições, pela existência de estruturas administrativas para pesquisa e
extensão, pela existência de financiamento institucional a estas atividades, pelo
aumento do número de projetos de pesquisa e extensão e do número de grupos de
___________
91
Como já discutido, não compreendo esta presença como um ato de imposição, pois assumo a
legislação como fechamento de um processo hegemônico, o que aponta para a probabilidade de que
diferentes grupos sociais tenham se mobilizados para incorporar esta demanda no texto legal.
275
BALL, Stephan; BOWE, Richard; GOLD, Anne. Reforming education & changing
schools: case studies in policy sociology. London: Routledge, 1992.
CLARKE, John and NEWMAN, Janet. The Managerial State. Sage Publications
Ltd. 1997. 192p.
FLICK, Uwe. Desenho da pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009. 164p.
SÁCRISTAN, J. Cimeno. O currículo: uma reflexão sobre a prática. 3ª. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2000. 352p.
________________________________ _______________________________
Prof. Dr. Álvaro Moreira Hypolito Prof. Msc. Jair Jonko Araujo
_______________________________________
Entrevistador:
Após ter sido devidamente informado(a) de todos os aspectos desta pesquisa, seus
propósitos, procedimentos, garantias de confidencialidade e ter esclarecido todas minhas
dúvidas, eu, ________________________________, concordo voluntariamente em
participar deste estudo e autorizo a realização de entrevista sobre a temática proposta.
____________________________________________________
Assinatura e CI do entrevistado(a)
________________________________ _______________________________
Prof. Dr. Álvaro Moreira Hypolito Prof. Msc. Jair Jonko Araujo
_______________________________________
Entrevistador:
Fala inicial explicando o projeto e os conceitos de política e currículo com o qual o projeto
trabalha, a importância das entrevistas no contexto da pesquisa e ratificar a garantia de
confidencialidade
Questões motivadoras:
1. Inicialmente eu gostaria que você destacasse coisas que você considera que são
importantes na sua vida e que contribuem para o exercício do seu função.
(experiências, vivências, formação, etc.)
3. Agora eu gostaria de saber como foi (ou como está sendo) o processo de implantação
do Instituto e como isto afetou (se afetou) a vida profissional e pessoal das pessoas da
Instituição. (gestores – professores – técnicos administrativos – estudantes –
sociedade)
9. Para finalizar, o que você gostaria que a Instituição fosse que ela não é hoje? Se você
pudesse, sem todas as limitações existentes, modificar o IFSul o que você faria de
diferente? (Por que não é possível fazer isto?)
10. Você gostaria de fazer alguma consideração que considere importante e que não foi
contemplada nas questões apresentadas até aqui?
297
Fala inicial explicando o projeto e os conceitos de política e currículo com o qual o projeto
trabalha, a importância das entrevistas no contexto da pesquisa e ratificar a garantia de
confidencialidade
Questões motivadoras:
Questões motivadoras:
1. Como você pensa que deve ser o processo educacional do Campus / Curso?
Como está sendo o processo de construção curricular do Campus / Curso?
Como isto afeta sua vida profissional e pessoal.
2. Como está a atuação do Campus / Curso nas áreas de ensino, pesquisa e extensão?
(pedir para citar exemplos).
Qual a avaliação do processo de implantação do Campus / Curso (no âmbito do
Instituto) até o momento.
4. Que valores, experiências, vivências você considera que são importantes e que fazem
você pensar/agir da forma como você atua nos processos do Campus / Curso?
5. Eu gostaria que você fizesse uma pequena reflexão sobre esta entrevista, o tema da
pesquisa, as questões propostas, etc. e fizesse uma fala de encerramento.
299
soluções técnicas e tecnológicas, estendendo seus benefícios à III - ministrar ensino médio, observada a demanda local e
comunidade; regional e as estratégias de articulação com a educação
profissional técnica de nível médio;
IV - desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios
e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação IV - ministrar educação profissional técnica de nível
com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, e com ênfase na médio, de forma articulada com o ensino médio, destinada
produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e a proporcionar habilitação profissional para os diferentes
tecnológicos; setores da economia;
básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a desenvolvimento de soluções tecnológicas de forma
educação profissional; criativa e estendendo seus benefícios à comunidade;
Para efeito da incidência das disposições que regem a regulação, Educação Superior, no caso das licenciaturas e das demais
avaliação e supervisão das instituições e dos cursos de educação graduações.
superior, os Institutos Federais são equiparados às universidades O credenciamento e o recredenciamento dos CEFET,
federais. assim como a aprovação dos respectivos estatutos e suas
alterações, serão efetivados pelo Ministério da Educação,
por intermédio da Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica, por prazos limitados, sendo renovados,
periodicamente, após processo regular de avaliação
inserido no Sistema Nacional de Avaliação de Ensino
Superior.
Define eleição paritária (com peso de 1/3 para docentes, 1/3 para Não define processo eleitoral, o qual foi regulado pelo
Critérios para
técnicos administrativos e 1/3 para discentes) como processo de Decreto Lei 4.877/2003: eleição paritária (com peso de
escolha do Reitor e Diretores Gerais, 2/3 para servidores e 1/3 para discente)
Requisito para o cargo de Reitor: 5 anos no quadro ativo de algum
campi do IF, ser doutor ou estar posicionado a apartir da classe DIV-
S na carreira
303
.
306