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2014, O Curso de Licenciatura em Ciências Naturais e A Organização de Seus Estágios Supervisionados
2014, O Curso de Licenciatura em Ciências Naturais e A Organização de Seus Estágios Supervisionados
2014, O Curso de Licenciatura em Ciências Naturais e A Organização de Seus Estágios Supervisionados
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Resumo: Este artigo discute a necessária formação de Licenciados em Ciências Naturais para atuar em
toda a Educação Básica, e a estruturação dos Estágios Supervisionados do referido curso. Profissionais
diversos têm ocupado o cargo de professores de Ciências sem, no entanto, ter formação específica para
tal. Este fato pode ser responsável pelo baixo rendimento evidenciado na área, repercutindo em toda a
vida escolar do educando. Nesse cenário, o estágio supervisionado pode ser um forte eixo articulador na
melhoria da formação inicial dos docentes, sobretudo no que tange ao rompimento da dicotomia entre
a teoria e a prática e na constituição do estágio como espaço de pesquisa para a elaboração de projetos
coletivos de formação do educador.
Palavras-chave: Ensino Superior. Ciências naturais. Formação de professores. Estágio supervisionado.
Abstract: This article discusses the necessary training of graduates in natural sciences to work in all of
Basic Education and the structuring of supervised internships in that course. Many professionals have
held the position of science teachers without, however, having specific training to do so. This fact may
account for the low yield evidenced in the area, reverberating throughout the school life of the stu-
dent. In this scenario the supervised internship can be a strong coordinating focus on improving initial
teacher training, especially when it comes to breaking the dichotomy between theory and practice and
the constitution of the stage as a space for research projects for developing collective educator training.
Keywords: Higher Education. Natural sciences. Teacher education. Supervised internships.
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Universidade de Brasília (UnB), CEP 73061-000, Planaltina, DF, Brasil. E-mail: <renatarazuck@unb.br>
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Introdução
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A Secretaria de Educação do Distrito Federal adotou o Programa Ciência em Foco para as aulas de Ciências do
Ensino Fundamental no período de 2008 a 2010. Este material foi idealizado pelo Instituto Sangari com o nome
inicial “CTC Ciência e Tecnologia com Criatividade” e, ao ser adotado na rede pública do DF, recebeu o nome de
“Ciência em Foco”. Este programa atendeu a mais de trezentos mil alunos e cerca de sete mil professores em 532
escolas.
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O Programa Xadrez nas Escolas é um projeto educacional do governo brasileiro por meio de parcerias entre o
Ministério do Esporte, Ministério da Educação e as Secretarias de Estado de Esporte e Educação. Tal programa
visa o estudo e a prática do xadrez como auxiliar no desenvolvimento do aluno.
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Como proposta para suprir essa falta de profissionais para atuarem na Educação Bá-
sica, o MEC tem se preocupado com a formação de novos professores para atender a área de
Ciências (Química - Física - Biologia). Em 2009, o MEC implantou o Programa Emergencial
de Segunda Licenciatura para Professores em exercício na Educação Básica Pública. De acordo
com Costa (2010, p. 24), o governo tem implantado diversas medidas que demonstram preo-
cupação com a formação de professores, tais como: “o Edital CT-INFRA/FINEP-01/2003;
a Chamada Pública MEC/SEED-001/2004; e o Programa Pró-Licenciatura Resolução CD/
FNDE n° 34, de 9 de agosto de 2005 [...]”.
Visando superar os problemas da formação inicial de professores, muitas universidades
estão se reestruturando e realizando reformas curriculares, de tal forma que possam garantir
uma melhoria na formação dos docentes. O surgimento de novos cursos de Licenciaturas em
Ciências Naturais em todo o país é relatado por Imbernon et al. (2011), sendo que dez univer-
sidades já ofertam esse curso.
As reformas curriculares estão sendo realizadas, em âmbito mundial, desde a década
de 1980, e consideram a formação do professor como elemento-chave da reforma educacional.
De acordo com Villani, Pacca e Freitas (2002), a formação inicial dos professores de ciências
no Brasil, nos últimos cinquenta anos, foi fortemente influenciada por fatos educacionais,
sociais e políticos que ocorreram no exterior. Na década de 1970, Portugal iniciou reformas
para a melhoria da formação inicial de professores; porém, no Brasil, tais reformas só foram
iniciadas na primeira década do século XXI, sendo basicamente impulsionadas pela carência
de professores de Ciências na Educação Básica e devido às orientações das novas normativas
legais como a LDB de 1996 e as Diretrizes Curriculares (ECHEVERRÍA, 2004).
Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996
(BRASIL, 1996), compete ao Conselho Nacional de Educação (CNE) definir as diretrizes cur-
riculares para todos os cursos de graduação no País. No entanto, o curso de Licenciatura em
Ciências Naturais não possui, até o momento, diretrizes curriculares que orientem a formação
desse docente.
Desta forma, as universidades têm contribuído com muitas propostas, tanto no sentido
de melhorar a formação inicial dos professores, quanto para atender as exigências das Diretrizes
Curriculares Nacionais. Entre estas propostas, podemos destacar as contribuições dos pesquisa-
dores da área de ensino em química, que, de acordo com Schnetzler (2002), são basicamente: a
criação de núcleos de pesquisa em educação química nos departamentos e institutos de química
das universidades e a tríade de interação profissional entre os licenciandos, professores universi-
tários e professores do Ensino Médio, que também visa atender a atual legislação que determina
quatrocentas horas de prática de ensino vivenciadas desde o início do curso de licenciatura e
quatrocentas horas de estágio supervisionado ao final do mesmo. Além disso, Maldaner (2000)
discute os problemas enfrentados na formação inicial dos professores e as possibilidades de
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formação do professor reflexivo e pesquisador de sua própria prática. De acordo com Schnetzler
(2002), existe uma deficiência de propostas, pelas universidades, que incentivem a pesquisa no
ensino e sobre o ensino, para que a produção de conhecimentos acadêmicos possa auxiliar na
formação da identidade do professor. Barcelos e Villani (2006) relatam, especificamente nos
casos dos estágios supervisionados, que apesar de haver experiências positivas de escolas que
acompanham a atuação dos estagiários, contribuindo, realmente, para a formação inicial desses,
ainda faltam projetos que aproximem as instituições de Ensino Básico e Superior
Portanto, como já sinalizado, depreende-se a necessidade, cada vez maior, de se imple-
mentarem cursos de Licenciaturas em Ciências que formem um professor com uma consciência
crítica e com visão ética e social. Para que ocorra a formação de um docente pesquisador reflexivo
de sua prática docente (MALDANER, 2000), é necessária a criação de um ambiente favorável.
Neste âmbito, Pimenta e Lima (2004), e Silva (2004) discutem a importância do estágio no pro-
cesso de formação do professor, pois este deve ser um campo onde ocorra análise, investigação
e interpretação crítica, a partir dos nexos com as disciplinas do curso (interdisciplinaridades) e
servindo, assim, como uma busca para responder às situações que desafiam o aluno estagiário
na educação, e auxiliando o professor a reconhecer-se ou não na profissão. Pois o professor de
Ciências Naturais que irá atuar nas séries finais do Ensino Fundamental (EF), será reflexo das
suas concepções sobre o que é ensinar e como se aprende. Portanto, acredita-se na importância
de um curso de formação inicial capaz de propiciar a base científica e pedagógica adequada para
a formação de um docente capaz de atuar de forma coerente com as necessidades educacionais
de um estudante do EF que tem um perfil cognitivo diferente do aluno do Ensino Médio (EM).
Desta forma, como o estágio pode emergir como um campo de integração entre teoria
(ensino) e prática (realidade de trabalho), e conduzir a uma aproximação entre a realidade da
escola e as disciplinas do curso de formação, além de fornecer um ambiente favorável para a
formação do professor reflexivo/pesquisador? Para Fazenda (2001), alguns cursos de formação
de professores consideram o estágio como o “salvador da pátria”, e se esquecem ou não possuem
consciência das dificuldades com que se defrontaram para implantar um estágio que atenda as
expectativas explicitadas anteriormente, pois a tradição em pesquisa é algo que não se adquire
do dia para a noite. Sendo assim, qual deve ser a metodologia dos professores orientadores de
estágio, junto com os seus pares e alunos, para analisarem e questionarem, criticamente, à luz
das teorias, as realidades observadas no cotidiano escolar? Como elaborar projetos de pesquisa/
intervenção que sejam reflexos destas observações? Buscar responder a essas questões visando
uma possibilidade de efetivar uma maior integração entre a escola e universidade, almejando a
melhoria da Educação é realmente um grande desafio...
Sabe-se que a Universidade de Brasília tem, hoje, uma política clara de extensão, que
permite não só a vasta produção de conhecimento nos projetos de extensão, desenvolvidos como
projetos de pesquisa, como, também, a participação dos estudantes nestas atividades. Acredita-
se que a extensão é um importante eixo norteador das atividades que devem ser desenvolvidas
dentro do âmbito universitário. Rotta et al. (2012) e Porto et al. (2011) relatam a importância das
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Nesse contexto, com o intuito de cumprir seu papel social formando educadores que
possam suprir a carência de professores de Ciências em nosso país, a Universidade de Brasília
(UnB) criou, em 2005, o curso de Licenciatura em Ciências Naturais na Faculdade UnB Pla-
naltina, que tem como objetivo central a formação de um licenciado em Ciências Naturais para
atuar na Educação Básica.
Nesse curso, a Ciência não é vista apenas como um meio de compreender os produtos
tecnológicos, mas, sobretudo, como um processo de pensar o mundo em busca de soluções
equilibradas, o que confere caráter interdisciplinar e muito contribui não só para a formação
intelectual, mas, também, moral de nossos educandos e futuros professores.
Segundo o Projeto Político Pedagógico do curso:
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Buscando atender a proposta do projeto político pedagógico do curso, que visa for-
mar um licenciado em Ciências Naturais que possa atuar no Ensino de Ciências na Educação
Básica, as duas primeiras disciplinas de estágio dois são realizadas nos anos finais do Ensino
Fundamental. A partir das ementas dessas disciplinas, pode-se observar a preocupação para que
o licenciando vivencie situações concretas do processo de ensino e aprendizagem por meio da
observação do ambiente escolar e regência. Na disciplina ESECN 1, é o momento de familia-
rização com o cotidiano escolar, onde o licenciando poderá vivenciar a rotina do professor, e
dos demais atores que compõem a comunidade escolar, tais como: a Coordenação Pedagógica,
Direção Escolar e os alunos. Esse também é o momento de análise e discussão do projeto
político pedagógico da escola, suas relações com o currículo e com a avaliação.
A disciplina ESECN 2 prevê a elaboração, aplicação e avaliação de projetos de ensino
adequado à realidade de cada escola nas séries finais do Ensino Fundamental, sendo tais projetos
amplamente discutidos com o professor responsável pela disciplina previamente a sua aplica-
ção. A elaboração desses projetos de intervenção podem surgir de pesquisas realizadas pelos
estagiários na disciplina (ou em outras disciplinas ao longo do curso), como, também, podem
estar associadas às demandas da escola. Em ambas as situações, o licenciando precisa pesquisar
para poder elaborar um projeto que possa atender as situações- problemas. De acordo com
Pimenta e Lima (2004), a pesquisa no estágio é muito importante, pois, de um lado, ocorre a
realização de pesquisas que permitam um melhor entendimento e análise dos contextos onde
está se realizando o estágio; por outro, o estagiário pode desenvolver postura e habilidade de
pesquisador a partir das situações observadas e elaborar projetos que viabilizem, ao mesmo
tempo, compreender e problematizar as situações que os cercam, exercitando a sua criatividade
e cidadania.
Assim, o estágio pode ser o eixo articulador para melhorar a formação inicial dos do-
centes, sobretudo no que consiste no rompimento da dicotomia entre a teoria e a prática e na
constituição do estágio como pesquisa para a elaboração de projetos coletivos de formação do
educador (Carvalho 2001; Pimenta; Lima, 2004; Schnetzler, 2002; Silva, 2004).
As disciplinas ESECN 3 e 4 apresentam ementas semelhantes às mencionadas anterior-
mente, com exceção do fato de serem desenvolvidas no Ensino Médio. No entanto, a disciplina
ESECN 4 prevê, também, a realização do estágio supervisionado em ambientes informais de
ensino de ciências e em escolas com ensino diferenciado, tais como Educação de Jovens e Adul-
tos (EJA). Dessa forma, visa-se oferecer, aos futuros docentes, uma visão mais ampla acerca da
atuação dos professores nos diferentes segmentos da Educação Básica.
As quatro disciplinas têm como base, para avaliação dos estagiários, os portfólios, que
contêm os relatos e reflexões dos momentos de estágio. Sobre esta nova luz, os estágios pos-
sibilitaram a veiculação das contribuições sobre a concepção do professor como profissional
reflexivo e capaz de produzir conhecimento (SCHÖN, 1992). Esta compreensão leva a um
direcionamento do estágio para um novo foco de análise das relações entre as teorias existentes
e a realidade apresentada nas escolas, o que possibilitará, aos licenciandos, uma compreensão da
complexidade das práticas institucionais e das ações ali praticadas por seus profissionais, aproxi-
mando-os da realidade e visando uma melhoria na prática docente (PIMENTA; LIMA, 2004).
Além disso, estudos apontam que o Estágio Supervisionado propicia a formação
do professor pesquisador, já que pressupõe a pesquisa como prática e pode, também, ser um
indutor de formação continuada para o professor da Educação Básica que recebe o estagiário
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(PIMENTA; LIMA, 2010). Nesse sentido, podemos dizer que o estágio supervisionado é de
fundamental importância para a constituição da área de ensino de Ciências, pois propicia a
aproximação da pesquisa acadêmica à prática da sala de aula, possibilitando que licenciando e
licenciado se apropriem das recentes pesquisas em Didática da Ciência.
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