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Introdução Ao Antigo Testamento

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INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO

A OBRA LITERÁRIA.

Todas as coisas que são produzidas pelo ser humano recebem o nome de obra. Essa obra
literária pode tratar-se apenas de um produto intelectual (a letra de uma música, um poema,
um livro) ou de um objeto materializado (um prédio, um automóvel).

A palavra literatura surge do latim litterarius, se referindo a tudo aquilo que está relacionado à
literatura, ou seja, se trata da união de uma diversidade de conhecimentos que possibilitam a
leitura mais aproximada da intenção original de seus autores/criadores.

A Bíblia é uma grande obra literária composta por vários livros. Não existe uma linearidade
histórica na composição dos livros. Os seus autores/redatores não estavam preocupados em
narrar factos reais exatamente como aconteceram, mas, de registrar uma mensagem que fez
muito sentido na história de vida do povo de Israel e de todos os povos que ao longo da
história iriam aderindo as suas propostas e/ou ensinamentos.

Descobrindo o Antigo Testamento

Ao longo da história da humanidade a Bíblia, como bem você sabe, foi se tornando um livro
diferente de todos os outros livros que você já teve conhecimento até hoje, isso ocorre por
que não se trata de um livro isolado, mas de uma compilação de pequenos livros (livretos,
cartilhas). A Palavra Bíblia se origina do grego, que significa, literalmente, “livrinhos”, “rolo”
pois indica o plural da palavra biblion, que é o diminutivo de “biblos”. Já no hebraico "berith"
literalmente significa aliança, pacto, contrato.

Os livros bíblicos foram escritos em três línguas diferentes, no entanto, a maior parte dela foi
escrita em Hebraico, outra parte em grego e a menor delas em aramaico. Os livros bíblicos,
você pode chamá-los assim, foram escritos em muitos lugares diferentes, grande parte deles
na Palestina, e outras partes menores na Babilônia, no Egito, na Ásia menor, em Roma, ou
mesmo em muitas outras localidades, difíceis de serem atestadas. (KONINGS, 1998, p.11s).

A literatura bíblica foi redigida, provavelmente, a partir do ano 1.000 a.C. e só foi finalizada
por volta do ano 200 d.C.,1 ou seja, mais ou menos 1.200 anos foram necessários até alcançar
a forma que você a encontra hoje – incluindo nessa contagem os livros do Novo Testamento.
Foram muitos os autores responsáveis pela escrita dessa coleção, não se tem uma quantidade
exata, mas foram mais de uma centena (KONINGS, 1998, p.11s).

Para ilustrar a forma como o AT foi crescendo ao longo dos séculos, o Teólogo Carlos Mesters
(2012, p.13-19) compara os seus registros à história de uma casa, que começou pequenina,
sem luxos, com poucos cômodos, mas aos longos dos anos foi passando por reformas,
recebendo acréscimos, novos cômodos, até tornar-se um enorme casarão.

Essa data 200 d.C está se referindo a canonicidade do livro, o período em que se tem
reconhecimento das narrativas como sendo Palavra de Deus, bem como da redação final de
muitas passagens do NT comprovadas por estudos arqueológicos recentes

Existem atitudes que podem levar a uma falsa ideia de Deus e da sua encarnação: considerar
como verdade absoluta tudo o que está escrito literariamente e desconsiderar os
condicionamentos humanos e literários do texto.
Contudo, é importante saber, você que é interessado em avançar nos estudos bíblicos, que a
Palavra de Deus é o reflexo daquilo que as pessoas sabiam, sentiam e viviam naquela época,
porém limitados a visão de mundo a que estavam imersos. Isso não significa que eram
inferiores ao mundo de hoje, mas eram avançados dentro do regulamento próprio do período
em que estavam situados. Um exemplo pode ajudar você a entender esse argumento: No livro
de Levítico, o morcego – que é mamífero – é classificado como uma ave; na visão do povo da
Bíblia, a terra era o centro e o sol é que girava em volta do planeta. Nesse sentido, ninguém é
obrigado a discutir com os cientistas, só porque essas coisas estão escritas na Bíblia. Isso leva
você a compreender que o Deus de Israel permitiu que o seu povo se expressasse de acordo
com as teorias do momento histórico em que viviam. Deus nunca permitiu que o seu povo
desse um passo maior do que as próprias pernas.

Existem situações que seriam aceitas em determinadas épocas, mas que hoje não se aplicam
mais. Por exemplo, no tempo da Bíblia (cf. Ex 22, 18-26) não se contestava a escravidão, no
máximo se recomendava um tratamento mais humano. A sociedade atual não aceita mais a
escravidão. E ainda assim é necessário compreender que o significado da escravidão há três
mil anos atrás, é bem diferente do modelo de escravidão atual.

Até aqui, você aprendeu que o ambiente, a compreensão de mundo que se tinha quando os
escritos bíblicos foram redigidos é muito diferente do atual, afinal já se passaram um período
de mais ou menos 4.000 anos e foram redigidos em etapas diferentes e distantes uma da
outra. Um exemplo: Se você olhar os costumes, a moral, a sociedade do tempo dos seus avós,
verá que questões que eram fundamentais no tempo da juventude deles, hoje já não fazem
mais tanta diferença, ou mesmo inexistem. E olha que estamos falando de um mesmo país,
estado e cidade. Imagine você, essa realidade num país do Oriente Antigo, com uma religião,
cultura totalmente diferente da sua e um período de 4.000 anos que os separa.

A organização do Antigo Testamento

Leis

Poesias

Profecias

Filosofias

Histórias

Contos

Todos esses escritos em forma de literatura, conforme os autores Finkelstein e Silbernan


(2018, p. 16s) foram escritos quase que inteiramente na língua hebraica, com exceção de
alguns escritos na variante de um dialeto semítico chamado Aramaico, que posteriormente, lá
pelos anos 600 a.C. se tornou a língua franca do Oriente Médio. Conforme veremos na tabela
abaixo, se trata de:

BÍBLIA HEBRAICA 39 livros

ANTIGO TESTAMENTO (VERSÃO CATÓLICA) 46 livros


A divisão dos Judeus é um pouco diferente, é canônico para eles apenas 24 livros, por que não
consideram livros distintos, por exemplo: 1 e 2 Reis; 1 e 2 Crônicas e outros livros creditados
canônicos apenas pelos cristãos, com exceção dos protestantes que seguem a versão hebraica.

O Antigo Testamento também é conhecido como Tanakh (acrônimo), pois leva-se em conta a
divisão da Bíblia Hebraica: Torah (lei); Nevi’im (profetas); Ketuvim (escritos). Por outro lado, os
cristãos dividem a Bíblia Hebraica: pentateuco (lei); os livros históricos; os profetas, e os
sapienciais.

O próprio uso do termo Antigo Testamento é muito discutido entre os estudiosos, isso por que
os judeus acreditam que esse termo é pejorativo, pois pode ser interpretado como inferior em
comparação ao Novo Testamento, considerado sagrado apenas pelos cristãos. O termo Bíblia
Hebraica é usado por muito estudiosos, justamente para evitar qualquer tipo de sectarismo.
Nesse sentido a Bíblia Hebraica ou Antigo Testamento, apresenta uma grande obra literária do
antigo povo hebreu. Esses registros são acreditados por Judeus e cristãos como sendo a
Palavra de Deus.

Antes do nascimento de Jesus, considerado Messias pelos cristãos, os judeus mantinham os


seus escribas, sacerdotes, profetas, reis e poetas como marca de sua história, atenuando a sua
identidade monoteísta, ou seja, a crença única em Javé. Todos os registros que foram
compilando essa crença sagrada eram muito importantes para suas vidas e por isso foram
sendo copiados, e repassados de geração em geração. Com o tempo, esses registros foram
sendo organizados e tornou a ser: lei, profetas e escritos. Esse conjunto de livros pode ter
tido sua finalização lá pelo Concílio rabínico de Jammia que aconteceu possivelmente no ano
95 d.C. Veja na tabela abaixo um pouco da organização da Bíblia Hebraica:

LEI: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio: Narram a história do povo de Israel,
a criação do mundo, o dilúvio, passando pela história dos patriarcas, até o êxodo do Egito, as
migrações no deserto e a promulgação da Lei no Sinai. A Torá é concluída com o Adeus de
Moisés ao povo de Israel

PROFETAS ANTERIORES Josué, Juízes, Samuel e Reis (este último também é dividido em duas
partes na Bíblia Cristã Católica): Nesses relatos estão registrados o período em que o povo de
Israel atravessou o rio Jordão e a conquista de Canaã, esses registros passaram desde a
ascensão e queda dos reinos Israelitas até sua derrota e seu exílio nas mãos dos assírios e
babilônios.

PROFETAS POSTERIORES Isaías, jeremias, Ezequiel e os doze profetas menores: Com relação
a esses profetas abrange desde os oráculos, ensinamentos sociais, amargas condenações e
expectativas messiânicas de um grupo diversificado de indivíduos inspirados cobrindo um
período de aproximadamente 150 anos, por volta da metade do séc. VIII a.C. até o final do séc.
V d.C.

ESCRITOS SAPIENCIAIS Sapienciais: Salmos, Provérbios, Jó, Ester, Cântico dos Cânticos, Rute,
Lamentação e Eclesiastes: Finalmente, os escritos são compostos por uma coletânea de
homilias, poemas, orações, provérbios, e salmos que representam as expressões memoráveis
e poderosas de devoção dos israelitas comuns, em tempos de alegria, crises, culto, reflexões
pessoais.

ESCRITOS HISTÓRICOS Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas (este último também é
dividido em duas partes na Bíblia Cristã Católica).
O material mais antigo dessa coletânea são os livros dos Salmos e Lamentações que podem ter
sido reunidos na época tardia da Monarquia ou logo após a destruição de Jerusalém em 586
a.C, no entanto a maioria dos escritos foram compostos, aparentemente, muito mais tarde,
entre os sec. V e II a.C. nos períodos Persa e Helenista.

SAIBA MAIS O objetivo do Concílio de Jamnia, teve como proposta articular um novo
direcionamento para o Judaísmo com o intuito de combater qualquer tipo de heresia que
tivesse como intuito adentrar ao judaísmo, e isso se deu logo após a destruição do Templo de
Jerusalém, provavelmente no ano 95 d.C. e também após o surgimento do movimento de
Jesus, porque os textos compostos pelos seguidores das primeiras comunidades cristãs
estavam sendo divulgados como Escrituras Sagradas. Pois então, com esse Concílio de cunho
regional os escribas decidiram pelos textos canônicos do judaísmo. E para a escolha desses
textos o critério foi o de ter sido escrito originalmente na língua hebraica, sendo que a sua
localização fosse dentro do espaço da Terra Santa e, que ao menos, fosse do período do
Profeta Esdras. É claro que automaticamente esses critérios deixariam de fora os textos
escritos pelo movimento das comunidades cristãs, pois, não eram datadas do período de
Esdras, não foram escritos na língua hebraica e muitos textos foram escritos fora dos muros de
Jerusalém. No entanto, a crítica moderna constatou que muitos livros da Bíblia Hebraica
tiveram a sua redação escrita após o período de Esdras, por exemplo: Os livros de Daniel,
Crônicas, Cantares, Eclesiastes. E isso é por uma questão que os fariseus não detinham de um
método científico para datar ou atribuir uma obra. Interessante notar que os Judeus
alexandrinos, hoje podem ser representados pelo judaísmo etíope, e judaísmo egípcio,
reconhecem a septuaginta como sendo inspirada e também os livros deuterocanônicos da
Igreja Católica. Contudo, há uma preponderância do cânon de Jâmnia no judaísmo moderno e
isso ocorreu pelo fato dos Judeus europeus, que são maioria em Israel, continuarem essa
tradição na não aceitação da tradução Alexandrina.

A Bíblia e a arqueologia

A pesquisa arqueológica ao longo da história tem se concentrado em um pequeno território,


cercado de um lado pelo deserto e de outro pelo Mediterrâneo,

que por milhares de anos foi sendo perseguido por secas e guerras recorrentes. E

ainda: as cidades e populações israelitas eram bem pequenas comparadas aos vizinhos Egito e
Mesopotâmia, sem contar que a sua cultura material era pobre em

relação a estes. Mas, não sobra dúvidas que esse território e lugar foi palco/berço

de uma obra prima literária que exerceu um impacto extraordinário na civilização

mundial, tanto para a comunidade religiosa (sagrada) como para história em geral

das civilizações.

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