Poetry">
20 Poemas de Cecília Meireles para Crianças
20 Poemas de Cecília Meireles para Crianças
20 Poemas de Cecília Meireles para Crianças
Cecília Meireles (1901 – 1964) foi uma célebre autora brasileira. Em parte, o seu trabalho literário
ficou conhecido pela genialidade da sua poesia infantil.
Com uma linguagem acessível e temas do cotidiano, suas composições recorrem aos jogos de
palavras e também ao humor, estimulando nas crianças a paixão pela leitura.
Além de exercitarem a imaginação, seus versos também são adequados para a educação infantil,
cheios de ensinamentos e mensagens de sabedoria que nos fazem refletir.
1. As meninas
Arabela
abria a janela.
Carolina
erguia a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”
Arabela
Carolina,
E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”
“Bom dia!”
Em As meninas, Cecília Meireles fala de três garotas que eram vizinhas e costumavam se ver
através da janela. Com um tom humorístico, o poema vai sendo composto por rimas com os
mesmos sons que os nomes delas: Arabela, Carolina e Maria.
Enquanto as primeiras duas surgem fazendo pequenas ações, como abrir a janela ou erguer a
cortina, a terceira só as cumprimenta. Arabela é louvada pela sua beleza e Carolina pela sua
sabedoria, mas apenas sabemos que Maria as saúda pelas manhãs: "Bom dia".
Nos versos finais, o eu-lírico que testemunhava tudo isso fica lembrando de cada uma das garotas.
Apesar dos elogios que tece às outras meninas, Maria é a que deixa mais saudades, pela sua
simpatia e doçura.
2. Ou isto ou aquilo
Ou se tem chuva e não se tem sol
Não é por acaso que Ou isto ou aquilo é um dos poemas infantis mais famosos da nossa literatura.
Na composição, através de exemplos cotidianos, Cecília Meireles transmite aos seus leitores uma
lição essencial: estamos sempre fazendo escolhas.
Precisamos constantemente de nos posicionar e optar, mesmo que isso implique perdermos
algumas coisas. O sujeito, ainda numa fase de formação, está aprendendo a lidar com as suas
decisões e consequências.
Ele compreende, então, que não podemos ter tudo ao mesmo tempo; a vida é feita de escolhas e
estaremos sempre abrindo mão de algo, ainda que isso possa gerar sentimentos de dúvida ou
incompletude.
Leia uma análise completa no artigo Análise do poema Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles.
3. A bailarina
Esta menina
tão pequenina
Esta menina
tão pequenina
O singelo poema é também muito famoso no panorama literário brasileiro. Através dele, o eu-lírico
descreve uma criança que quer ser bailarina. Pequena, a menina dança e rodopia, mas não conhece
nenhuma das notas musicais que o sujeito vai enumerando.
Consegue, no entanto, ficar na ponta do pé e girar sem ficar tonta ou perder o equilíbrio.
Percebemos, assim, que apesar da sua idade, a menina sente a música, dança quase por instinto,
ainda que nem conheça as notas.
Apesar disso, ela continua sendo uma criança. No final de tanta dança, ela está cansada e quer
dormir. Aí, esquece momentaneamente os seus planos para o futuro, já que ainda tem muito tempo
pela frente.
4. O mosquito escreve
O mosquito pernilongo
faz um S.
faz um Q,
faz um U, e faz um I.
Este mosquito
esquisito
E aí,
mais bonito.
Oh!
Já não é analfabeto,
esse inseto,
não é, criança?
O poema presta atenção a algo que normalmente ignoramos no cotidiano: um mosquito. O sujeito
poético descreve o voo do inseto, as formas que ele faz no ar, desenhando letras com o corpo. Com
cada manobra, o mosquito vai soletrando o próprio nome.
É curioso que, aqui, o inseto não surge como uma espécie de vilão: ele tem que picar alguém só
porque está faminto, depois de ter voado (e estudado) demais.
5. Para ir à Lua
Enquanto não têm foguetes
para ir à Lua
de longas asas!
Para ir à Lua é um poema maravilhoso sobre a força e o poder da imaginação. Nele, o eu-lírico
descreve um grupo de meninos que estão brincando nas ruas, fingindo que estão viajando pelo
espaço. Andando de patinete em grande velocidade (como se fossem foguetes), eles estão muito
felizes.
Tanto que nem se importam com os riscos que correm durante a brincadeira. A autora ilustra,
assim, a infância como uma época sem preocupações, de liberdade e aventura. Mesmo que não
consigam voar, porque não são anjos, os garotos brincam e se divertem do seu jeito.
6. Sonhos da menina
A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?
Sonho
risonho:
O vento sozinho
no seu carrinho.
De que tamanho
seria o rebanho?
A vizinha
apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .
Na lua há um ninho
de passarinho.
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?
O poema apresenta a noite como um tempo fantástico, onde a realidade e o sonho se misturam.
Enquanto dorme, a menina perde a distinção entre as duas coisas: os seus sonhos combinam
elementos do cotidiano com elementos ficcionais, impossíveis de acontecer na vida real.
Estamos, então, diante do processo através do qual a sua imaginação transforma o banal no
onírico. No final da composição, os dois mundos se fundem por completo: o sonho passa a ser de
linho e a fronha passa a ter uma lua.
7. O menino azul
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
pode escrever
Mais uma vez, enquanto professora e poeta, Cecília Meireles chama a atenção para a importância
da alfabetização. O poema fala de um menino azul que procura um burrinho para ser seu amigo.
Podemos assumir que a cor azul do menino simboliza os sonhos e a imaginação da infância, ou
mesmo uma certa tristeza e melancolia. E o menino quer o burrinho para quê? Para conversar,
aprender os nomes das coisas, escutar histórias e partir com ele pelo mundo, numa grande aventura.
Nos versos finais da composição, entendemos o motivo: o menino não sabia ler. Por isso, ele
precisa de um companheiro; através da leitura, no entanto, ele poderia realizar os seus sonhos
sozinho.
8. O último andar
No último andar é mais bonito:
Os passarinhos lá se escondem,
no último andar.
no último andar.
Neste poema, o eu-lírico parece ser uma criança que sonha viver no topo de um edifício, com uma
vista bonita.
Mesmo ciente de que o último andar fica longe e é difícil chegar lá, esse é o seu objetivo. O sujeito
acredita que lá estará mais perto do céu, da lua e dos passarinhos.
O último andar se torna, deste modo, um lugar idílico, com o qual o sujeito sonha. Podemos
assumir que nestes versos, Cecília Meireles mostra que uma criança também pode ter ambições.
Embora tenha consciência de que existem dificuldades, o eu-lírico quer lutar pelo seu objetivo.
9. Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
da colina.
O colar de Carolina
do colar de Carolina,
Colar de Carolina é uma composição extremamente musical, com jogos de palavras e aliterações
(repetição das consoantes C, R, L e N). Por isso, os versos se tornam numa espécie de trava-
línguas.
A beleza da garota parece inspirar a beleza da natureza e vice-versa. No poema, o sujeito exprime o
modo como a menina parece se misturar com os elementos naturais que a rodeiam.
loura e comprida
seus movimentos.
desde a madrugada!
de crina dourada!
Mais uma vez, os comportamentos dos animais são humanizados na poesia de Cecília Meireles. No
poema em análise, há uma clara proximidade entre os comportamentos dos humanos e dos
animais.
Aqui, o sujeito conta que o cavalo branco passou o dia inteiro trabalhando e por isso está cansado.
Deste modo, o eu-lírico explica ao leitor que o cavalo mereceu o seu período de descanso.
Com a sensação de dever cumprido, depois de fazer tudo o que precisava, o bicho pode então
descansar. Nestes versos, a autora destaca que precisamos ser produtivos mas também aprender a
relaxar e aproveitar a vida.
lavadeiras e passarinhos,
Nesta composição, o sujeito poético parece ser uma criança que brinca, leiloando tudo o que está
à sua volta. Os versos revelam um olhar atento, que vai descrevendo e enumerando os vários
elementos da natureza que enxerga diante de si.
Na visão de um adulto, talvez todas essas coisas sejam banais, insignificantes até, mas aqui são
apresentadas como verdadeiras riquezas. Percebemos, assim, que o eu-lírico encara cada
pedacinho da natureza como se fosse uma obra de arte valiosa.
12. O Eco
O menino pergunta ao eco
ou inimigo.
O Eco é um poema muito engraçado que explica a relação de uma criança com o curioso fenômeno
acústico.
Sem entender como a repetição dos sons funciona, o menino fica confuso e fascinado. É como se,
do outro, lado existisse uma voz igual à sua que apenas repete o final das suas frases.
A composição ilustra a infância como um tempo em que o mundo parece cheio de magia, um
processo de descoberta no qual elementos cotidianos podem parecer misteriosos ou fantásticos.
o que se procura
nunca se acha!
e logo se machuca
o que se procura
nunca se acha.
e um cachorrinho coxo
Outro poema que brinca com as palavras e suas sonoridades, Na chácara do Chico Bolacha fala
sobre um lugar onde tudo é meio esquisito.
Além das rimas, a composição também conquista os pequenos porque chama atenção para a
existência de palavras semelhantes com significados diferentes (por exemplo, "enxada" e
"inchada").
verde e amarela.
e a escada de pedra.
depressa, depressa
caída na pedra.
assustada e esperta:
intimidado e alerta,
Cuidadoso e curioso,
o lagarto observa.
intimidado e alerta,
Neste poema infantil, Cecília Meireles se foca novamente na natureza, desta vez em um lagarto.
Observando o seu comportamento e sua própria fisiologia, o sujeito poético reflete acerca da
capacidade de camuflagem que o bicho usa para se proteger.
O eu-lírico acha que o animal é medroso porque teima em se esconder, apesar de todos gostarem
dele. Esta parece ser uma metáfora importante para todos nós: não podemos viver com medo do
mundo.
(Sentou-se na ponte,
muito desatenta…
E agora se espanta:
A ponte aponta
e se desaponta.
A tontinha tenta
limpar a tinta,
Este é um daqueles poemas da autora que ganham vida quando são lidos em voz alta. Repleto de
rimas e aliterações (com a repetição das consoantes "t" e "p"), Tanta tinta vira uma espécie de
trava-línguas que estimula o lado lúdico da poesia.
pela rama
lima rima
pelo aroma.
É da lima o aroma
a aromar?
É da lima-lima
lima da limeira
do auro da lima
o aroma de ouro
do ar!
Como a poesia pode ser inspirada por qualquer coisa, desta vez o mote foi um vendedor de limas e
o seu pregão.
Como se o sujeito poético fosse o próprio vendedor, ele começa a rimar acerca dos frutos, criando
jogos de palavras.
é de três babados,
todos bordados.
O primeiro, todinho,
todinho de flores
de muitas cores.
No segundo, apenas
borboletas voando,
O terceiro, estrelas,
estrelas de renda
– talvez de lenda…
O vestido de Laura
borboletas, flores
acabou-se o vestido
Depois de descrever e elogiar a roupa de Laura, que parece mágica (composta por borboletas e
estrelas), o sujeito convida os leitores a observá-la.
Ele nos alerta que tudo, mesmo o que é belo, é efêmero e precisamos aproveitá-lo enquanto
podemos.
fina e branca,
a flor da pimenta.
das estrelas.
Frutinhas de fogo.
muito ardentes.
Uns coraçõezinhos.
jazem longe.
As pequenas flores…
tão pungentes!
Mudaram-se em farpas.
Novas se abrirão,
leves,
brancas,
puras,
deste fogo,
muitas estrelinhas…
Esta é um composição singela que se foca numa coisa aparentemente banal: uma flor de pimenta.
Os versos descrevem a flor, falando do seu formato e da sua coloração.
vive só.
Na casa da avó
o galo liró
faz "cocorocó!"
E anda um vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó
vive só.
O poema fala sobre a família, mais concretamente a relação entre um garoto e a sua avó. O
sujeito poético repete que a velhinha vive só e tem a sua rotina, mas se alegra com as visitas do
neto.
É interessante reparar que todos os versos acabam em "ó", com a última letra acentuada, como se
ecoassem o canto do galo.
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
da casa da vizinha,
e todos aprenderam
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Mais uma vez, Cecília Meireles usa um poema infantil para falar da solidão das pessoas mais
idosas. A velhinha vivia se lamentando por estar solitária, como se falasse sua própria linguagem.
Aos poucos, os animais da vizinhança começaram a se aproximar, passando a ficar do seu lado. A
composição sublinha o modo como os bichinhos nos fazem companhia e parecem entender o que
falamos.
Uma das vertentes mais fortes e reconhecidas do seu fazer poético é a sua literatura infantil. Em
1924, Cecília Meireles lançou a sua primeira obra dirigida ao público mais jovem, Criança, Meu
Amor, em prosa poética.
Retrato de Cecília Meireles.
Enquanto educadora, Meireles estava próxima do universo das crianças e sabia como se relacionar
com elas e estimular a sua imaginação.
O resultado foi uma produção muito rica de poemas infantis, entre os quais se destacam clássicos
da literatura nacional como Ou isto ou aquilo, A bailarina e As meninas, entre outros.
O corpo literário da autora é diverso e multifacetado, não se limitando à poesia infantil. Quer
conhecer? Explore a poesia de Cecília Meireles.
Conheça também