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A Historiografia Brasileira e o Sindicalismo Revolucionário Completo
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CDD: 901
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................05
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DA DÉCADA DE 1980 E O SINDI-
CALISMO REVOLUCIONÁRIO.........................11
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DAS ÚLTIMAS DÉCADAS (1990-2010).........33
3
4
INTRODUÇÃO
5
dentro do parlamento, o movimento operário deveria se forta-
lecer na base, proclamando as greves parciais e a greve geral
insurrecional como formas de ação política prioritária.
Para Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), o prin-
cipal articulador desta perspectiva de associação e luta dos tra-
balhadores – que foi denominada de sindicalismo revolucio-
nário posteriormente2 –, as greves parciais teriam uma função
educativa, uma preparação para a greve geral, que na teoria ba-
kuninista é sinônimo de insurreição, uma greve que destruiria
simultaneamente a propriedade privada e o Estado, através de
uma forte organização proletária local, nacional e internacio-
nal, para a construção da federação livre das comunas (SILVA,
2017). Para o revolucionário russo:
6
Ao invés de um partido político, há uma organização se-
creta que atua no interior da classe trabalhadora, de forma a
impulsionar seus anseios3, como era a Aliança Internacional
da Democracia Socialista, fundada por ele e demais compa-
nheiros em 1868. Seus partidários ficaram conhecidos como
“aliancistas”. Ao invés da disputa eleitoral, há a luta direta da
classe trabalhadora contra o patronato e o Estado, visando a
revolução social a longo prazo, que destruiria os dois simulta-
neamente, estabelecendo uma sociedade federativa comunal
socialista. Desta forma, para resumir, os coletivistas (e aqui
encontram-se os bakuninistas/aliancistas) defenderam duran-
te sua participação na AIT:
7
A partir daí o sindicalismo revolucionário expandiu-se
mundo afora, na África, Américas, Europa e na Ásia (WALT,
2016). Sua diferença para o anarcossindicalismo4, que teve suas
maiores expressões na Confederação Nacional do Trabalho
(CNT) espanhola e na Federação Obrera Regional Argentina
(FORA), é a defesa da neutralidade doutrinária dos sindicatos
(BONOMO, 2016), ou seja, a recusa em estabelecer uma ideolo-
gia oficial para a associação de base dos trabalhadores.
No Brasil, a Confederação Operária Brasileira (COB), fun-
dada no Primeiro Congresso Operário Brasileiro de 19065, foi
uma organização que adotou o sindicalismo revolucionário e
não o anarcossindicalismo, como grande parte da historiogra-
fia brasileira defendeu. No primeiro número do jornal confe-
deral A Voz do Trabalhador, de 1 de Julho de 1908, Ano I, nº
1 (CENTRO DE MEMÓRIA SINDICAL, 1985), em sua coluna
8
inicial na qual consta seu programa, está escrito o seguinte ob-
jetivo e o respectivo método organizativo para alcançá-lo:
9
Mas, mantendo-se sindicalista revolucionário, o Congresso
aprovou que os trabalhadores deveriam repelir a “influência
dissolvente da política, dedicar-se à obra da organização ope-
rária sindicalista”, mas deveriam permitir “em seu seio uma
ampla exposição e discussão de todas as idéias” (ANDRADE,
op. cit., p. 35).
10
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DA DÉCADA DE 1980
11
talvez só tenha crescido devido justamente à estas ligas. Outra
visão da historiografia, também desmentida pela autora, é a de
que nenhuma corrente sindical – sindicalismo revolucionário,
reformistas ou amarelos – teria colocado em xeque o sistema
capitalista, algo facilmente desmentido pelas pesquisas.
Apesar de serem levados em conta diversos fatores que in-
fluenciaram no descenso do movimento operário da Primeira
República, tais como a repressão, a composição e tamanho da
classe e a estrutura industrial brasileira, parte da historiografia
deu peso à liderança sindicalista revolucionária como um fator
importante devido à “fragilidade” teórica, tática e estratégica
do anarquismo e do sindicalismo revolucionário, tais como
Sheldon Leslie Maram e Boris Fausto (Trabalho urbano e Con-
flito Social (1890-1920), de 1976). Para a autora, essa análise é
uma clara forma de julgamento, feita a décadas de distância,
que tenta rebaixar determinadas formas de ação política para
justificar e legitimar outras.
Forçosamente, a historiografia também tentou estabelecer
relações entre trabalhadores da indústria privada e o anarquis-
mo, formados principalmente por estrangeiros; e trabalhadores
em transportes estatais e reformismo ou amarelismo com pre-
dominância de nacionais. Na realidade, os nacionais predomi-
navam em quase todas as profissões existentes no Rio de Ja-
neiro, com exceção do comércio onde a maioria era de origem
portuguesa. Também é importante notar que entre os operários
de transportes terrestres e aéreos, com maioria de estrangeiros,
preponderava um sindicato basicamente reformista. Assim, se-
gundo a autora, no estudo das orientações sindicais ficou nítido
que “o reformismo nem é típico do trabalhador de origem nacio-
nal e nem de um setor econômico determinado” (Ibid., p. 160).
Ligia Silva, em Movimento Sindical Operário na Primeira Re-
pública (1977), por exemplo, ao analisar o reformismo presente
entre os marítimos, busca o porquê do anarcossindicalismo dos
operários do setor industrial privado. Para ela o radicalismo era
12
propício devido à fraqueza da burguesia industrial em dirigir
a sociedade, ao contrário do Estado que assumiu a “questão
operária” e investiu em uma política reformista. Para Campos,
esse discurso tem como pano de fundo a ideia de que apenas as
classes dominantes e o Estado são agentes históricos. Na ver-
dade, por mais que o Lloyd Brasileiro (empresa estatal do Rio
de Janeiro transformada em sociedade anônima) possuísse for-
mas sofisticadas de controle do movimento operário, exercendo
grande influência no setor portuário, isso também é verdade
para os industriais do CIFT (Centro dos Industriais em Fiação
e Tecelagem), assim como para a América Fabril que criava as-
sociações amarelas para desmobilizar o setor radical e a Bangu
que utilizava-se do gerenciamento científico da vida e até do
lazer operário.
Por outro lado, a autora percebe na historiografia recente
(lembrando que se tratava de meados da década de 80) uma su-
peração dos limites do discurso oficial – que divulgava a ideia
de um Estado “doador e mesmo antecipador da legislação tra-
balhista” (Ibid., p. 66) –, trazendo à tona os sinais de protesto
dos operários. A atualidade do movimento operário brasileiro,
ou seja, sua conexão com os acontecimentos ao redor do mun-
do, também foi negada por muitos historiadores para defender
uma suposta fragilidade na capacidade de organização do anar-
quismo e do sindicalismo revolucionário, o que não é verdade.
Enfim, são muitas as contribuições trazidas pela autora no
âmbito da análise historiográfica, da teoria e da reflexão histó-
rica. Interpretar o período de forma a se esforçar em realmente
conhecer o que se passava entre aquelas trabalhadoras e traba-
lhadores, levando em conta a complexidade das diversas ques-
tões econômicas, sociais, políticas e culturais, foi certamente
uma valiosa contribuição para a historiografia do movimento
operário na Primeira República. Ainda assim, a autora cometeu
alguns equívocos histórico-conceituais.
13
Dentro do que a autora considera como “libertários”, esta-
riam o anarquismo e o sindicalismo revolucionário. Os anar-
quistas organizavam-se “em ligas, comitês, alianças, grupos
teatrais, grupos editoriais, escolas, jornais etc., tendo a pro-
paganda, a palavra, como instrumentos”; já os sindicalistas
revolucionários tinham como organização o sindicato e sua
estrutura federativa. Os anarquistas, desta forma, atuavam
nos diversos grupos e organizações que não compreendiam a
organização sindical por local de trabalho, ou seja, era uma
atuação extra-sindical, que se constituía fora do sindicato mas
que, dependendo da corrente, poderia nele estar inserida com
o objetivo de realizar a propaganda ideológica. Assim, a autora
enfatiza que na prática “há grupos que adotam elementos das
duas tradições segundo suas necessidades e com certa indife-
rença às distinções que prevaleciam em vários outros países na
época” (Ibid., p. 15).
A conceitualização da autora parte da perspectiva de que o
sindicalismo revolucionário e o anarquismo são ideologias re-
volucionárias que almejam o mesmo fim, a Anarquia, mas com
meios diferentes, lutando “lado a lado, se mesclando, unindo
esforços, confundindo o olhar do historiador” (Ibid., p. 42). A
organização por local de moradia – como as Ligas de bairro –,
por exemplo, é situada pela autora como estando entre o anar-
quismo e o sindicalismo revolucionário, absorvendo caracterís-
ticas das duas “ideologias”6.
O sindicalismo revolucionário é representado pela autora de
quatro formas (como sinônimos): o termo propriamente dito,
que é o mais utilizado; o anarcossindicalismo; o sindicalismo
libertário; e o sindicalismo de linha radical. Mesmo que utili-
zássemos os conceitos sindicalismo revolucionário, sindicalis-
mo libertário e sindicalismo de linha radical como sinônimos,
14
excluindo-se o uso do anarcossindicalismo, ainda seria neces-
sário fazer algumas pontuações, pois cada categoria agrupa no-
ções distintas, por mais que estejam interligadas. Por exemplo,
o termo sindicalismo libertário poderia agrupar tanto o sindi-
calismo revolucionário como o anarcossindicalismo por serem
duas formas de organização sindical “anti-autoritárias”; aqui
já encontramos um problema, que é o ponto de partida desta
reflexão: igualar o sindicalismo revolucionário ao anarcossin-
dicalismo, não respeitando o surgimento e o contexto histórico
de cada um, seus usos conceituais e suas consequências práti-
cas. Também o sindicalismo de linha radical é muito impreciso:
um sindicato comunista poderia ser considerado um sindicato
de linha radical, porém seria totalmente diferente de uma con-
cepção sindicalista revolucionária.
Ainda que as palavras “sindicalismo” e “revolucionário”
também tenham um caráter genérico envolvendo qualquer sin-
dicato que se assuma revolucionário, podendo ser anarquista
ou comunista, o conceito sindicalismo revolucionário caracte-
riza uma corrente bastante específica do movimento interna-
cional dos trabalhadores, trazendo em si um sentido global que
difere das duas palavras isoladas, cada uma guardando um sig-
nificado; se torna uma forma de visão de mundo, de organiza-
ção sindical de baixo para cima, dotada de princípios e métodos
que persistem durante toda a sua história, através dos diversos
períodos históricos, sempre remetidos ao período de seu surgi-
mento, a AIT do século XIX e/ou remetidos à CGT francesa do
início do século XX, de forma implícita ou explícita.
Ainda assim o termo anarcossindicalismo possui um res-
paldo mínimo no movimento operário da Primeira República,
como é elucidativo o exemplo da Federação Operária Local de
Santos. Mas a generalização do termo como característica he-
gemônica do período e seu uso como sinônimo ao sindicalismo
revolucionário são equívocos que não condizem com a reali-
dade brasileira. Ao descrever o combate dos “mais radicais”
15
contra a “despolitização” sindical, a autora não demonstra cla-
ramente quais eram as perspectivas de atuação dos anarquistas
ao nível sindical sendo estas reduzidas ao anarcossindicalismo,
tido como sinônimo de sindicalismo revolucionário. A única
divisão feita é entre anarquistas e anarcossindicalistas, divisão
ainda muito vaga e sem precisão teórico-histórica das diver-
sas correntes anarquistas e suas respectivas estratégias para a
emancipação social.
Mas, em uma passagem da obra, a autora diz que o sindi-
calismo revolucionário é uma ramificação do anarquismo. Do
ponto de vista teórico e histórico, observando-se as concepções
e a atuação dos coletivistas na Internacional, pode-se dizer que
não há problemas com esta afirmação. Mas essa afirmação pos-
sui uma ambiguidade: o sindicalismo revolucionário seria uma
ramificação no sentido de ser um ramo do anarquismo ou de
ter surgido a partir dele, ou seja, ter sido proposto e elaborado
pelo anarquismo? Quanto à primeira questão sabemos que a
resposta é negativa, o sindicalismo revolucionário possui certa
independência da ideologia anarquista, abarcando ideologias
distintas e diversas, por mais que seja bastante caro aos anar-
quistas e à sua atuação a nível de massas, sendo sua proposta
estratégica; além disso, esta perspectiva dá respaldo para a uti-
lização do sindicalismo revolucionário e do anarcossindicalis-
mo como sinônimos. Já em relação à segunda questão pode-se
perceber, como já foi demonstrado, que sim, o sindicalismo re-
volucionário é um modelo de organização sindical elaborado a
partir das experiências coletivistas e da teorização de Mikhail
Bakunin e dos aliancistas no seio da Internacional.
Carlos Augusto Addor, ao falar sobre a Insurreição Anar-
quista de 19187, considera que esta vem merecendo pouca aten-
16
ção dos historiadores e demais estudiosos do tema “movimento
operário na Primeira República”, tratando-a de forma secun-
dária. Outros tratam o anarquismo de forma preconceituosa.
O autor mostra que Moniz Bandeira em O Ano Vermelho: a re-
volução russa e seus reflexos no Brasil, de 1967, faz uma crítica
ao anarquismo como uma liderança “limitada” do movimento
operário e atribui, para além da repressão e da traição, o fra-
casso do levante à própria doutrina anarquista. Já Edgar Rodri-
gues em Nacionalismo e cultura social (1913-1922), de 1972, não
considera, ao contrário de Moniz Bandeira, que o fracasso da
revolta foi devido à supostas “limitações inerentes à doutrina
anarquista”, mas sim “à delação e à violenta e eficaz repressão
desencadeada em seguida, malgrado a corajosa e solidária re-
sistência dos trabalhadores” (ADDOR, 1986, p. 9).
Addor aponta que Sheldon Leslie Maram, em sua obra Anar-
quistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890-1920),
escrita antes de 1976 e publicada no Brasil em 1979, considera
a insurreição como um putsch anarquista (apud ADDOR, 1986,
p. 10) no qual os militantes libertários teriam superestimado
sua própria força, afirmando que eles deveriam ter fortalecido
o movimento operário e ter desenvolvido “laços com elemen-
tos simpatizantes oriundos da classe média”. Em relação à estas
afirmações, Addor (Ibid., p. 11) considera que “nem os anarquis-
tas foram os responsáveis pela repressão, nem os operários gre-
vistas perderam a simpatia da opinião pública”, considerando
17
que Maram “esquece, por um lado, o clima de euforia revolucio-
nária vivido naqueles dias na Europa e no Brasil” e, “por outro
lado, esquece também – ou pelo menos não revela o suficiente
– o intenso trabalho de mobilização e organização sindical de-
senvolvido pela UOFT” anterior ao 18 de novembro.
Mas Maram tem uma importante contribuição:
18
Francisco Foot Hardman em Anarquistas e anarco-sindica-
lismo no Brasil (1979) omite a Insurreição de 1918 e em outra
obra em coautoria com Victor Leonardi, História da indústria e
do trabalho no Brasil (1982), afirma que a insurreição não “pos-
suía nenhum respaldo por parte das massas populares”. Addor
o rebate, dizendo:
19
Paulo Sérgio Pinheiro também não cita a insurreição em
suas obras. Mas Addor discorda de uma afirmação de Pinhei-
ro em Política e trabalho no Brasil (1975), quando este diz que
o anarquismo tinha dificuldade em penetrar na massa operá-
ria; Addor (op. cit., pp. 16-17). aponta que “das três principais
correntes ideológicas e organizatórias do movimento operário
brasileiro, nas três primeiras décadas da República, a que mais
atinge ou penetra a massa operária é precisamente a anarquis-
ta, especialmente a vertente anarco-sindicalista”.
Por fim, o autor acredita que a historiografia assumiu a
mesma posição dos “políticos situacionistas e oposicionistas,
conservadores e liberais, ‘socialistas e reformadores’, nas ins-
tâncias federal e municipal, industriais organizados em seu sin-
dicato patronal, jornais da grande imprensa, e mesmo jornais
‘operários e socialistas’, todos condenando com veemência a
insurreição de 18 de novembro e o anarquismo” (Ibid., p. 194),
sendo que a insurreição foi “borrada praticamente da memória
social” (Ibid., p. 204).
A insurreição de novembro de 1918 apresentada pelo autor
seguiu a tradição sindicalista revolucionária da Internacional,
tendo como seus maiores exemplos a Comuna de Paris em 1871
e a Insurreição Espanhola de 1873. Em linhas gerais, Addor
(1986, p. 165) caracteriza esta insurreição:
20
anarcossindicalismo, mas é preciso deixar claro que a União dos
Operários em Fábricas de Tecidos (UOFT) era uma organização
sindicalista revolucionária, uma das maiores entidades da Amé-
rica Latina, sendo ela que liderou a greve geral do dia 18 de no-
vembro à qual somaram-se os metalúrgicos e os trabalhadores
da construção civil, também sindicalistas revolucionários.
O autor afirma que “até o começo da década de 20, a maioria
dos sindicatos no México, na Argentina, no Brasil, no Chile
e no Peru seguiam uma orientação anarco-sindicalista”, o que
está, novamente, parcialmente correto. De acordo com Walt
(2016), na Argentina consolidou-se uma organização anarcos-
sindicalista – a FORA-V8 – que influenciou a Federação Ope-
rária de Santos. Mas, no contexto brasileiro, a COB e a maioria
dos sindicatos seguiam a orientação e a forma organizativa do
sindicalismo revolucionário. Sobre o anarcossindicalismo, o
autor diz que este:
21
volucionário francês”. Da mesma forma, o autor considera os
congressos operários brasileiros e suas teses e resoluções como
sendo “claramente a posição anarquista em relação ao movi-
mento sindical”, tendo “um claro conteúdo anarco-sindicalista”
(Ibid., pp. 92-93). E, logo em seguida, o autor repete exatamente
os temas e resoluções do Primeiro Congresso de 1906, que o
contradizem. Sobre este congresso o autor diz que:
22
te anarco-sindicalista”, mas, no Tema 1 – “Sendo as aspirações
das organizações operárias tendentes à transformação econô-
mica e social, quais devem ser os princípios da nova sociedade:
os da propriedade privada e da autoridade ou os do socialismo
anarquista?”, por mais que a pergunta seja bastante tenden-
ciosa, como observou-se anteriormente, a resposta é que “re-
pelindo a influência dissolvente da política” os trabalhadores
devem dedicar-se “à obra de organização operária sindicalista,
que, considerada dentro da ação operária, é o meio mais eficaz
e mais poderoso para a conquista de melhoras imediatas de que
necessita e para o fortalecimento da luta para a sua completa
emancipação” (Ibid., pp. 108-109).
Mais à frente, referindo-se à uma das discussões do Segundo
Congresso, o autor cita o tema “Sobre a atitude dos sindicatos
revolucionários em face da organização operária iniciada e au-
xiliada pelo clero católico (tema 19)” (ADDOR, 1986, p. 112),
sendo a segunda vez em que aparece o termo “sindicato revolu-
cionário”, neste caso algo dado pela própria fonte histórica, os
temas e resoluções do congresso. Desta forma, o uso do termo
anarcossindicalismo pelo autor está equivocado.
Finalmente, para Magnani (1982, p. 13), o estudo do movi-
mento operário brasileiro e do anarquismo havia sido esque-
cido pelos intelectuais, principalmente os alinhados à linha
interpretativa oficial e conservadora, “que não admitia a exis-
tência de conflitos sociais profundos no país (ou procurava mi-
nimizá-los) e não admitia a possibilidade de interferência da
classe operária no desenvolvimento histórico da nação”. Os au-
tores vinculados ao trabalhismo oficial analisaram o governo
Vargas e suas medidas, a partir de 1930, ressaltando seu caráter
inovador e o alcance social da legislação, negando a existência
das lutas sociais e tentando apagar a memória política das clas-
ses trabalhadoras, ignorando o período da Primeira República.
Estes historiadores oficiais (ou oficializantes) dedicaram
pouca ou nenhuma atenção para os problemas sociais, dedi-
23
cando-se a escrever crônicas dos acontecimentos políticos, tais
como José Maria Bello e Pedro Calmon9. Assim, a história do
movimento operário foi durante bastante tempo ausente das
preocupações dos estudiosos do Brasil e coube aos militantes
operários ou autores próximos à classe fazer os estudos iniciais
da história do movimento operário.
Nas décadas de 1950 e 1960, militantes produziram obras
para debater de forma ampla os problemas enfrentados pelo
movimento operário, a nível partidário e sindical. Segundo
Magnani (Ibid., p. 19) os principais autores foram Jover Telles,
Astrojildo Pereira, Hermínio Linhares e Hércules Corrêa dos
Reis10, que possuem posições semelhantes em relação ao anar-
quismo: uma ideologia pequeno-burguesa, incapaz de organi-
zar e mobilizar permanentemente o proletariado que possuía
uma origem camponesa e artesanal, em um país semi-feudal,
no qual a presença de um socialismo reformista frouxo favo-
recia a ação anarquista. Para a autora, esta análise superou a
análise conservadora da “planta exótica” e do reducionismo
da análise dos conflitos de classe através das ciências jurídicas
(regulamentação legal), trazendo visibilidade para a história
da classe trabalhadora através de uma perspectiva política e
social. Mas também apresentou generalizações e esquematiza-
ções “em virtude de o anarquismo não se constituir em foco
principal de suas preocupações, como também de haver escas-
sa documentação então disponível (aliás foram eles que divul-
garam, pela primeira vez, documentos do período)”. Assim, a
autora diz que:
24
operário, o “curso histórico normal”, onde o anarquismo
surge como um desvio (ou um erro sectário), embora não
se constituísse em um fato inexplicável; o desvio (erro)
seria superado em 1922, com a fundação do PC, fruto do
amadurecimento político da classe trabalhadora, no de-
correr dos anos 1917/1921 e da influência da Revolução
Russa vitoriosa (MAGNANI, 1982 p. 20).
25
rizados pela debilidade e desorganização, Rodrigues considera
que, na verdade, o anarquismo foi fundamental na organização
da classe, sobretudo na formação dos sindicatos, tendo a lide-
rança anarquista forte presença na classe operária.
Após esta primeira linha interpretativa que tinha a relação
imigração-anarquismo como ponto central, uma segunda linha
interpretativa buscou romper com essa exclusividade, trazen-
do o fator político-econômico (política restritiva e repressiva
do Estado, economia agroexportadora e industrialização inci-
piente) como importante para a compreensão do anarquismo
no Brasil, como fizeram Azis Simão e Octávio Ianni14. Também
fez-se uma relação entre indústria dispersa e de pequeno porte
ao anarquismo e seu modelo sindical descentralizado e plura-
lista (MAGNANI, 1982).
Outra vertente historiográfica foram os brasilianistas, con-
forme aponta Magnani (1982 pp. 29-30), como John Dulles,
para quem o anarquismo, “em última análise, reduzir-se-ia a
um acontecimento insólito e curioso, somente inteligível se
atribuído ao desejo, ao sonho pessoal dos bravos militantes”,
e Sheldon Leslie Maram e Michael Hall15, que deram ênfase na
relação imigração-anarquismo, analisando-a em conjunto com
a perspectiva política oligárquica repressiva da Primeira Repú-
blica, fator importante, segundo estes autores, para a debilida-
de do movimento operário, que não possuía canais oficiais de
atuação e portanto seria liderado pelo anarquismo – conside-
rado igualmente débil.
Em trabalhos mais recentes à autora, que escreve no início
da década de 1980, procurou-se aprofundar as reflexões sobre
o movimento operário da Primeira República, integrando-o à
26
história geral do período16. Superando a historiografia oficial e
a interpretação estadonovista, reconheceram a existência dos
conflitos sociais e colocaram a classe trabalhadora como su-
jeito dos processos históricos. Mas, mesmo assim, buscaram
apontar, como outros autores também apontaram – incluindo
Magnani –, a debilidade do movimento operário liderado pelo
anarquismo. Paulo Sérgio Pinheiro, Lígia Silva e Boris Fausto17
“relacionaram a introdução da ideologia anarquista no Brasil à
origem sul-europeia do operariado” – sua origem estrangeira,
portanto –, ao estágio incipiente de industrialização “que per-
mitia a presença de um grande número de pequenas oficinas” e
ao padrão oligárquico brasileiro que influenciou na debilidade
do movimento operário, além do próprio anarquismo, débil por
natureza (Ibid., pp. 32-34).
Assim, mesmo avançando em alguns aspectos, como por
exemplo criticando a visão de que o anarquismo seria próprio
da pequena-burguesia ou de “artesãos transmutados em ven-
dedores de força de trabalho” (Ibid., pp. 51-52) e de que o anar-
quismo era uma ideologia própria de estrangeiros, Magnani
ainda ecoa certos preconceitos referentes ao anarquismo.
A autora utiliza a noção de “anarquismo-libertário” para
caracterizar a “doutrina formulada a partir de meados do sécu-
lo XIX, que se insere no conjunto das ideias socialistas que se
originaram das contradições inerentes à sociedade capitalis-
ta” (Ibid., p. 56), que dividiu-se em duas tendências básicas: “o
anarco-comunismo e o anarco-sindicalismo (ou sindicalismo
revolucionário)” (Ibid., p. 58)18. Nota-se que a autora utiliza
27
o termo sindicalismo revolucionário como sinônimo de anar-
cossindicalismo, assim como Cristina Hebling Campos, embo-
ra não com a mesma frequência.
As designações de “sindicato revolucionário”, “sindicato de
resistência” e sindicalismo revolucionário apontam que a auto-
ra utilizou-se de conceitos corretos, ainda que como sinônimos
de anarcossindicalismo, principal termo utilizado em sua obra.
O sindicalismo revolucionário é apontado como um sindicalis-
mo de minorias militantes (Ibid., pp. 24 e 108), em referência à
“vanguarda” anarquista atuante dentro dos sindicatos, as “mi-
norias conscientes” (Ibid., p. 58), percepção correta em relação
à atuação anarquista nos sindicatos através da minoria ativa no
sindicalismo revolucionário, mas ao mesmo tempo uma con-
cepção que dá a impressão de que o sindicato era formado por
apenas minorias militantes, excluindo-se as massas que deles
participavam, portanto um termo que pode causar enganos.
Mesmo após citar a resolução do 1º Congresso Operário Bra-
sileiro, que dizia que os operários deveriam “pôr fora do sindi-
cato a luta política especial de um partido e as rivalidades que
resultariam da adoção pela associação de resistência de uma
doutrina política ou religiosa, ou de programa eleitoral” a au-
tora ainda os considera anarcossindicalistas (Ibid., p. 98) e ainda
considera que este foi o marco inicial do predomínio do anar-
cossindicalismo no Brasil. Esta corrente teve seu pensamento,
segundo a autora, veiculado por diversos jornais (a maioria com
28
pequena duração), “entre eles o semanário A Terra Livre (TL),
publicado em São Paulo e Rio, entre 1906 e 1911” (Ibid., p. 87). O
jornal A Voz do Trabalhador não foi utilizado pela autora, jornal
que pode ser considerado o maior periódico sindicalista revolu-
cionário da época, por ser órgão oficial da COB.
Para a autora, o “anarcossindicalismo” tinha um caráter
utópico por privilegiar o fator da consciência, o voluntarismo,
para se alcançar a revolução emancipadora, além de não reco-
nhecer a luta política – entendida como disputa parlamentar.
O “anarquismo libertário” seria marcado pela “impaciência re-
volucionária”, baseando-se apenas na consciência coletiva da
classe e não nas condições objetivas e múltiplas determinações
do contexto histórico e desenvolvimento do capitalismo (Ibid.,
p. 108). De fato, algumas correntes poderiam se encaixar nes-
ta categorização; mas outras correntes anarquistas e sindicais
provavelmente não. Portanto faltou à autora distinguir cada
corrente e suas respectivas atuações sindicais, para que não
fosse cometida esta generalização. Ela diz que:
29
operário, para a autora, foi fruto de seu isolamento político no
período, ou seja, na sua perspectiva o anarquismo só poderia
ser adotado logicamente como ideologia-guia do movimento
dos trabalhadores quando o Estado fosse altamente excludente,
sem dar margem à qualquer participação dos operários na po-
lítica institucional. Nesta visão há a noção de que as ações do
Estado e do Capital determinam, de certa forma, o movimento
político, cultural e social dos trabalhadores, não tendo em vista
que a presença de determinada ideologia dentro da classe tra-
balhadora é fruto de uma disputa ideológica nesta classe, que
claro, leva em consideração o Estado, o Capital e os diversos
fatores que atuam na realidade social, mas que não é determi-
nado por apenas um destes fatores. Se fosse o caso, não exis-
tiria anarquismo em sociedades ditas “democráticas” na qual
existem inúmeros partidos “dos trabalhadores”.
Além disso, algumas afirmações carecem de qualquer tipo
de verificação histórico-científica da realidade, como por exem-
plo a afirmação de que:
30
Nesta perspectiva, o anarcossindicalismo seria hipócrita
pois, apesar de sua “fraseologia” de combate à política institu-
cional, combatia o Estado “apenas” quando este agia em favor
dos capitalistas (ou seja, em se tratando da Primeira República,
quase sempre), ou quando este atacava e destruía suas orga-
nizações de classe, ocasiões nas quais, em defesa destas, eram
invocados os princípios de livre associação, palavra e reunião.
Desta forma, por exigir garantias de direitos que seriam im-
portantes para o desenvolvimento da luta sindical e revolucio-
nária, o “anarcossindicalismo” teria aberto um espaço para a
política de conciliação de classes e para a organização sindical
burocrática, não obstante os embates dos sindicalistas revolu-
cionários da época com os sindicatos reformistas, as coopera-
tivas, os sindicatos amarelos, além da mobilização de greves
parciais e gerais, sabotagens e até uma tentativa de insurreição.
A questão dos sindicatos amarelos é colocada em posição se-
cundária em relação à afirmação dada, como se o anarcossindi-
calismo (novamente, leia-se sindicalismo revolucionário) fosse
o maior culpado pelo sindicalismo varguista.
Por fim, o anarquismo, apesar do exposto acima, teria sido
útil aos trabalhadores, com a ênfase dada nas condições políti-
cas e sociais da Primeira República:
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A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA DAS
ÚLTIMAS DÉCADAS (1990-2010)
33
Brasil como anarcossindicalismo.
Portanto,
34
Christina Roquette Lopreato24 e Edilene Toledo25 rompem
com esta historiografia. Lopreato preferiu utilizar o termo
“anarquistas sindicalistas” para poder caracterizar os anarquis-
tas partidários da ação sindical como meio para se alcançar a
revolução social, justificando-a pela “necessidade de se proce-
der a uma pesquisa mais acurada para se determinar correção
da utilização ou não da expressão anarco-sindicalismo” (apud
BONOMO, 2016, p. 101). Toledo faz um caminho inverso, busca
inserir no sindicalismo revolucionário uma determinada tradi-
ção marxista, “procedendo-se a uma suposta contraposição en-
tre o anarquista em teoria, mas sindicalista revolucionário na
prática” (Ibid., p. 102). Desta forma tenta separar o sindicalismo
revolucionário da história do anarquismo.
João Carlos Marques (2013), citando Felipe Corrêa, aponta
que para este autor o “sindicalismo revolucionário não é uma
corrente autônoma, mas uma estratégia do anarquismo”, e que
a confusão elaborada pela historiografia brasileira seria causa-
da pela atuação do próprio movimento operário brasileiro, que
tinha “divergências sobre o caminho a percorrer e os meios
para colocar em prática as teorias libertárias”. O autor aponta
que, na perspectiva de Edilene Toledo, os congressos operários
seriam “mais sindicalistas do que propriamente anarquistas”,
sendo que do “anarquismo não se encontra nada”, posição de-
fendida também por Pinheiro e Hall (Ibid., p. 62), que pode ser
encontrada na coleção fac-similar de A Voz do Trabalhador, no
prefácio (CENTRO DE MEMÓRIA SINDICAL, 1985) e em sua
obra conjunta (PINHEIRO; HALL, 2013).
Por ter como referência uma concepção restrita de anar-
quismo, a autora acaba afirmando que enquanto os anarquistas
queriam construir uma “federação de indivíduos”, os sindica-
listas revolucionários buscavam uma “federação de sindicatos”
35
e que enquanto os anarquistas viam no sindicato um refor-
mismo nocivo, para os sindicalistas revolucionários “as van-
tagens obtidas pelos trabalhadores eram a preparação da sua
emancipação” (apud MARQUES, op. cit., p. 64). Novamente,
ao resgatar a história do anarquismo bakuninista na AIT e do
anarco-comunismo malatestiano, pode-se perceber que, se esta
caracterização de anarquismo aplica-se à algumas correntes,
ela é rechaçada por outras, não servindo como base para que
se possa emitir esta afirmação generalizante. Cláudio Batalha
concorda com Edilene Toledo, apresentando o sindicalismo re-
volucionário como uma ideologia independente do anarquis-
mo, apontando que o primeiro possuía elementos do marxismo
como a luta de classes. Mas tanto o coletivismo quanto o anar-
co-comunismo malatestiano (muito presente no Brasil) eram
fundamentados na luta de classes, portanto esta afirmação
também está equivocada.
O sindicalismo revolucionário é autônomo em relação ao
anarquismo? Sim. É uma estratégia anarquista da revolução?
Também. Essas afirmações não são conflitantes, são comple-
mentares. O primeiro é uma das linhas de massas de atuação
do segundo, sua forma de inserção na realidade da classe tra-
balhadora para fazê-la avançar rumo à revolução social. Mas
Edilene Toledo e Cláudio Batalha buscavam distanciar o sindi-
calismo revolucionário do anarquismo, devido à historiografia
ter unido os dois em uma coisa só: o anarcossindicalismo.
Esta distinção é importante para que o sindicalismo revolu-
cionário não seja compreendido enquanto uma ideologia, mas
sim enquanto um movimento de massas que ocupa uma po-
sição estratégica no anarquismo para a concretização de seus
objetivos. Foi essa “mistura” que confundiu os autores, que não
conseguiram – ou não tentaram – fazer esta distinção26.
36
A tentativa foi importante para que houvesse um outro olhar
sobre a questão, mas cometeu equívocos. A autora chega a afir-
mar que o sindicalismo revolucionário teria sido mais influen-
ciado “pela teoria de Marx, segundo as quais a luta pelo poder e
a unidade da classe operária são decisivos nos conflitos de clas-
ses” (apud MARQUES, 2013, p. 71), quando na verdade, obser-
vando a história da AIT, o sindicalismo revolucionário (quando
ainda não era reconhecido por este termo) é combatido justa-
mente pelo próprio Karl Marx (1818-1883), que considerava de
fundamental importância a formação do partido político operá-
rio ao qual estariam submetidos os sindicatos (SILVA, op. cit.).
Ainda sobre a autora Edilene Toledo, Felipe Corrêa (2010)
faz uma análise geral de sua obra Anarquismo e Sindicalis-
mo Revolucionário: trabalhadores e militantes em São Paulo
na Primeira República, publicada em 2004. Para isso, utiliza-
-se de três autores, Michael Schmidt, Lucien van der Walt e
Alexandre Samis, reunidos em duas obras, Black Flame: the
revoluctionary class politics of anarchism and syndicalism dos
dois primeiros autores e Minha Pátria é o Mundo inteiro: Neno
Vasco, o anarquismo e o sindicalismo revolucionário em dois
mundos do terceiro autor, ambas de 2009. Para Corrêa, a uti-
lização destes autores se faz necessária pois “eles não buscam
encaixar a história em uma concepção ideológica própria;
prática relativamente comum no campo da esquerda” (COR-
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RÊA, 2010, op. cit., p. 2). Apresentando as posições tomadas
por Toledo, Corrêa diz que:
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O problema do anarquismo, para o autor, foi a falta de orga-
nização para além dos sindicatos, como fez o PCB em 1922, ou
seja, a falta de uma organização específica anarquista que pu-
desse atuar clandestinamente no período de repressão (COR-
RÊA, 2010). Portanto, ele diz:
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Em suas considerações finais, Marques (2013) acaba come-
tendo um equívoco quando afirma que:
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Esta perspectiva, como verifica-se, é equivocada, baseada
na falsa oposição entre sindicalismo revolucionário e anar-
quismo. Na realidade, os anarquistas historicamente defendem
a atuação anarquista no sindicato revolucionário como forma
de se alcançar a revolução social, como fizeram os aliancistas
na AIT e tentaram fazer os anarquistas no Brasil com seus di-
versos grupos políticos. A autora reverbera a oposição entre
sindicalismo revolucionário e anarco-comunismo, sendo que
o modelo tido como anarco-comunismo é o modelo defendido
pelo jornal La Battaglia, baseado na liberdade total do indiví-
duo, que não deveria obedecer regras nem inserir-se em orga-
nizações que cobrem algum grau de responsabilidade coletiva
(SANTOS, 1999), com muitas críticas em relação ao movimento
sindical e às greves. Mas esta corrente não era a única, tampou-
co a mais expressiva.
Estes foram alguns apontamentos finais sobre debates pre-
sentes na historiografia brasileira mais recente sobre o tema.
Muita coisa pode ter sido deixada de lado, mas também impor-
tantes debates encontram-se presentes aqui. De qualquer for-
ma, vemos que a historiografia recente, em comparação com a
historiografia da década de 1980, está mais esclarecida sobre os
conceitos sindicalismo revolucionário e anarcossindicalismo,
bem como sobre o anarquismo, embora os debates históricos e
conceituais ainda persistam – e devam persistir. O importante
é que posições equivocadas sejam superadas, posições acerta-
das sejam reiteradas e novas perspectivas e descobertas sejam
expostas.
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BIBLIOGRAFIA
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resistência anarquista no Rio de Janeiro (1908-1915). Londrina:
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