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A Historiografia Brasileira e o Sindicalismo Revolucionário Completo

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1

Editora Terra sem Amos. 2020

Thales Alves Martins Fernandes

Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC


BY-SA 4.0) Esta licença permite que outros remixem,
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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

F363 FERNANDES, Thales Alves Martins.


A historiografia brasileira e o sindicalismo
revolucionário. Editora Terra Sem Amos: Brasil,
2020.
44p.
ISBN: 978-65-990958-0-1
1. Historiografia brasileira 2. Sindicalismo
Revolucionário. I. Thales Fernandes. II.
Título.

CDD: 901

2
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................05

A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DA DÉCADA DE 1980 E O SINDI-
CALISMO REVOLUCIONÁRIO.........................11

A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DAS ÚLTIMAS DÉCADAS (1990-2010).........33

3
4
INTRODUÇÃO

Antes de analisarmos a produção historiográfica brasilei-


ra e a representação do sindicalismo revolucionário ao longo
de sua história, faz-se necessário apresentar o tema de forma
introdutória, para em seguida desenvolvermos as reflexões
histórico-conceituais das obras relacionadas ao movimento
operário, sobretudo durante a Primeira República (1889-1930),
único período no qual o sindicalismo revolucionário foi hege-
mônico no Brasil.
Quando ocorre o “racha” da Associação Internacional dos
Trabalhadores (AIT) em 1872, no Congresso de Haia – seu
quinto congresso –, duas perspectivas de organização dos tra-
balhadores entram em confronto: uma, buscando fortalecer os
poderes do Conselho Geral e vincular as organizações operá-
rias à partidos políticos e à disputa eleitoral, como defendiam
os comunistas e social-democratas; e outra, buscando assegu-
rar a independência das organizações dos trabalhadores, ba-
seadas no federalismo, de baixo para cima, como defendiam
os mutualistas (coletivistas) e anarquistas1. Ao invés de atuar

1 O mutualismo aqui apresentado surgiu a partir do pensamento de


Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), sendo que existiram mutualistas
coletivistas que não se reivindicaram anarquistas, como o belga César De
Paepe (1841-1890). Porém, o anarquismo era mutualista coletivista, pois
partilhava da ideia de que a produção deveria ser propriedade coletiva dos
trabalhadores, bem como defendiam o apoio mútuo como uma forma de
solidariedade revolucionária para combater o sistema capitalista.

5
dentro do parlamento, o movimento operário deveria se forta-
lecer na base, proclamando as greves parciais e a greve geral
insurrecional como formas de ação política prioritária.
Para Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), o prin-
cipal articulador desta perspectiva de associação e luta dos tra-
balhadores – que foi denominada de sindicalismo revolucio-
nário posteriormente2 –, as greves parciais teriam uma função
educativa, uma preparação para a greve geral, que na teoria ba-
kuninista é sinônimo de insurreição, uma greve que destruiria
simultaneamente a propriedade privada e o Estado, através de
uma forte organização proletária local, nacional e internacio-
nal, para a construção da federação livre das comunas (SILVA,
2017). Para o revolucionário russo:

Essa solidariedade [das massas na luta econômica] já mos-


trou, até o momento, resultados imensos. Primeiro, ela
aprofunda um abismo entre a burguesia e o proletariado,
e, ao mesmo tempo, empurra o proletariado à revolução.
Em segundo lugar, ela dá ao proletariado, pela prática da
ação e da luta coletiva, o sentimento, o pensamento e a
força, uma educação e uma instrução socialista, não des-
pejada sobre ele em pequenas doses e desde cima, mas se
desenvolvendo espontânea e amplamente, no próprio seio
das massas, iluminadas pela paixão e pelo pensamento co-
letivos... Ela desenvolve-se por uma prática cotidiana, o
pensamento da justiça, da igualdade, e da grande liberdade
popular, incompatível com a autoridade de alguns tuto-
res e doutores de qualquer natureza. Eis o que faz nossa
grande Associação – ela prepara o terreno para a revolu-
ção internacional e social. (BAKUNIN, 2015[c], p. 14 apud
CORRÊA, 2019, pp. 434-435).

2 Esta denominação surgiu com a Confederação Geral do Trabalho (CGT)


francesa, que publicou um dos mais importantes documentos do sindical-
ismo revolucionário, a Carta de Amiens, em 1906.

6
Ao invés de um partido político, há uma organização se-
creta que atua no interior da classe trabalhadora, de forma a
impulsionar seus anseios3, como era a Aliança Internacional
da Democracia Socialista, fundada por ele e demais compa-
nheiros em 1868. Seus partidários ficaram conhecidos como
“aliancistas”. Ao invés da disputa eleitoral, há a luta direta da
classe trabalhadora contra o patronato e o Estado, visando a
revolução social a longo prazo, que destruiria os dois simulta-
neamente, estabelecendo uma sociedade federativa comunal
socialista. Desta forma, para resumir, os coletivistas (e aqui
encontram-se os bakuninistas/aliancistas) defenderam duran-
te sua participação na AIT:

1) a supressão do regime de assalariamento, com a im-


plantação de relações mutuais e de reciprocidades entre
as associações e cooperativas operárias; 2) a abolição da
propriedade privada e do direito de herança, como condi-
ção necessária para a destruição dos privilégios das classes
dominantes; 3) a greve geral como estratégia prioritária
de luta; 4) o programa da sociedade socialista com a livre
federação das organizações operárias e camponesas; e, por
último, 5) eram contrários à estratégia da organização de
partidos operários para a disputa das eleições burguesas
(SILVA, 2017, p. 276).

3 Inicialmente, Mikhail Bakunin desenvolve suas ações políticas na orga-


nização secreta fundada em 1864, conhecida como Fraternidade Inter-
nacional. Em 1868 foi fundada a Aliança Internacional da Democracia
Socialista, da qual faziam parte os chamados aliancistas, dividindo-se em
uma Aliança secreta e uma pública. Posteriormente seu nome torna-se
Aliança dos Socialistas Revolucionários devido aos termos “democracia
socialista” serem referências à socialdemocracia alemã (SILVA, 2017). Mas
o mais importante aqui é compreender o papel de uma organização es-
pecífica anarquista, com caráter de “minoria ativa”, atuante no interior do
movimento sindicalista revolucionário de massas.

7
A partir daí o sindicalismo revolucionário expandiu-se
mundo afora, na África, Américas, Europa e na Ásia (WALT,
2016). Sua diferença para o anarcossindicalismo4, que teve suas
maiores expressões na Confederação Nacional do Trabalho
(CNT) espanhola e na Federação Obrera Regional Argentina
(FORA), é a defesa da neutralidade doutrinária dos sindicatos
(BONOMO, 2016), ou seja, a recusa em estabelecer uma ideolo-
gia oficial para a associação de base dos trabalhadores.
No Brasil, a Confederação Operária Brasileira (COB), fun-
dada no Primeiro Congresso Operário Brasileiro de 19065, foi
uma organização que adotou o sindicalismo revolucionário e
não o anarcossindicalismo, como grande parte da historiogra-
fia brasileira defendeu. No primeiro número do jornal confe-
deral A Voz do Trabalhador, de 1 de Julho de 1908, Ano I, nº
1 (CENTRO DE MEMÓRIA SINDICAL, 1985), em sua coluna

4 Giuseppe Fanelli (1827-1877), um dos membros da Aliança, é conhe-


cido como o impulsionador do anarcossindicalismo na Espanha. Quando
entra em contato com os espanhóis para a criação de uma seção da AIT e
a expansão da Aliança, a Seção de Madri acaba sendo fundada tendo como
base o programa da Aliança, causando uma fusão entre a organização de
massas e a organização anarquista (SILVA, 2017, p. 192). Em relação à esta
questão, Corrêa (2019, p. 431) diz que: “Discutindo o caso concretamente
e justificando os riscos de dar à Internacional o programa da Aliança,
Bakunin (72015[c], p. 10) escreve que impor ‘o programa da Aliança à
Internacional’ significaria que a ‘Internacional não contará em seu seio,
em toda Europa, com mais de 2 ou 3 mil membros’. Tais membros seriam,
sem dúvida, ‘homens preciosos, os mais desenvolvidos, os mais enérgicos e
sinceros revolucionários socialistas da Europa’, mas que, frente à ‘potência
coligada das classes ricas e do Estado’, conformariam nada mais que ‘uma
absoluta impotência’. Sabe-se, por Nettlau (1977, pp. 30-31), que Bakunin
repreendeu G. Fanelli – o membro da Aliança destacado para a criação
da Internacional espanhola – por este ter se equivocado ao propor e fazer
aprovar, entre os militantes que iniciavam a Internacional na Espanha,
o programa da Aliança. Ao fazer isso, Fanelli, mesmo que sem saber,
contribuiu para a criação daquilo que hoje se poderia chamar de primeira
expressão do anarcossindicalismo no mundo.”
5 Foram realizados mais dois congressos durante sua existência: o Segun-
do em 1913 e o Terceiro em 1920.

8
inicial na qual consta seu programa, está escrito o seguinte ob-
jetivo e o respectivo método organizativo para alcançá-lo:

O que desejamos, e havemos de conseguir, custe o que


custar – é a emancipação dos trabalhadores da tirania e es-
ploração capitalista, transformando o atual rejime econo-
mico do salariato e do patronato num rejime que permita
o desenvolvimento de organizações de produtores-consu-
midores, cuja celula inicial está no actual sindicato de re-
sistencia ao patronato. Como meio pratico, como metodo
de luta para alcançar tal desideratum, adotará e usará o
sindicalismo revolucionário.

O debate ocorrido durante o Segundo Congresso Operário


é elucidativo sobre a questão. A Federação Operária de Santos
(anarcossindicalista), colocou o Tema 1 para discussão da se-
guinte maneira:

Tema 1 – Sendo as aspirações das organizações operárias


tendentes à transformação econômica e social, quais de-
vem ser os princípios da nova sociedade: os da proprieda-
de privada e da autoridade ou os do socialismo anarquis-
ta? (PINHEIRO; HALL, 1979, pp. 188-189)

E a proposta de resolução, não aprovada, encaminhada tam-


bém pela Federação Operária de Santos através de seus dele-
gados João Crispim e Rafael Serrato Muñoz, foi alinhada com
a diretriz do tema:

Considerando que a política é a arte de governar os povos


e que o governo é a antiteze da liberdade econômica, social
e intelectual dos trabalhadores, este Congresso aconselha
a propaganda do anarquismo nas sociedades operarias,
como meio para alcançar a emancipação dos trabalhado-
res (A VOZ DO TRABALHADOR, Ano VI, nº 39-40, p. 3,
apud CENTRO DE MEMÓRIA SINDICAL, 1985).

9
Mas, mantendo-se sindicalista revolucionário, o Congresso
aprovou que os trabalhadores deveriam repelir a “influência
dissolvente da política, dedicar-se à obra da organização ope-
rária sindicalista”, mas deveriam permitir “em seu seio uma
ampla exposição e discussão de todas as idéias” (ANDRADE,
op. cit., p. 35).

10
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DA DÉCADA DE 1980

Analisaremos três obras brasileiras da década de 1980, O


sonhar libertário (1988) de Cristina Hebling Campos, A Insur-
reição Anarquista no Rio de Janeiro (1986) de Carlos Augusto
Addor e O Movimento Anarquista em São Paulo (1982) de Silvia
Ingrid Lang Magnani. Seguiremos na ordem apresentada. Para
Campos, para poder entender classe no seu sentido histórico e
não como “algo dado a partir de alguma determinação objeti-
va” (CAMPOS, 1988 p. 178), deve-se analisar cada contexto de
forma específica sem pressupostos – leia-se preconceitos – já
elaborados de antemão. Deve-se quebrar com a ideia de ho-
mogeneidade e fracasso presentes na historiografia, analisando
o que nos restou das diversas marcas dos sonhos e intenções
destes trabalhadores.
Parte da historiografia não levou em conta que, por trás da
ideia de “classe operária” existe uma variedade de percepções
de mundo e da exploração, devido ao fato de que existiram e
ainda existem inúmeras formas de relação entre o Capital e o
Trabalho. De acordo com a autora, Sheldon Leslie Maram, em
Anarquistas, Imigrantes e Movimento operário, de 1978, chega
a dizer que a criação das Ligas Operárias de Bairro deu-se de-
vido à inabilidade dos militantes em organizarem sindicatos,
o que é refutado pela autora, que considera que o movimento

11
talvez só tenha crescido devido justamente à estas ligas. Outra
visão da historiografia, também desmentida pela autora, é a de
que nenhuma corrente sindical – sindicalismo revolucionário,
reformistas ou amarelos – teria colocado em xeque o sistema
capitalista, algo facilmente desmentido pelas pesquisas.
Apesar de serem levados em conta diversos fatores que in-
fluenciaram no descenso do movimento operário da Primeira
República, tais como a repressão, a composição e tamanho da
classe e a estrutura industrial brasileira, parte da historiografia
deu peso à liderança sindicalista revolucionária como um fator
importante devido à “fragilidade” teórica, tática e estratégica
do anarquismo e do sindicalismo revolucionário, tais como
Sheldon Leslie Maram e Boris Fausto (Trabalho urbano e Con-
flito Social (1890-1920), de 1976). Para a autora, essa análise é
uma clara forma de julgamento, feita a décadas de distância,
que tenta rebaixar determinadas formas de ação política para
justificar e legitimar outras.
Forçosamente, a historiografia também tentou estabelecer
relações entre trabalhadores da indústria privada e o anarquis-
mo, formados principalmente por estrangeiros; e trabalhadores
em transportes estatais e reformismo ou amarelismo com pre-
dominância de nacionais. Na realidade, os nacionais predomi-
navam em quase todas as profissões existentes no Rio de Ja-
neiro, com exceção do comércio onde a maioria era de origem
portuguesa. Também é importante notar que entre os operários
de transportes terrestres e aéreos, com maioria de estrangeiros,
preponderava um sindicato basicamente reformista. Assim, se-
gundo a autora, no estudo das orientações sindicais ficou nítido
que “o reformismo nem é típico do trabalhador de origem nacio-
nal e nem de um setor econômico determinado” (Ibid., p. 160).
Ligia Silva, em Movimento Sindical Operário na Primeira Re-
pública (1977), por exemplo, ao analisar o reformismo presente
entre os marítimos, busca o porquê do anarcossindicalismo dos
operários do setor industrial privado. Para ela o radicalismo era

12
propício devido à fraqueza da burguesia industrial em dirigir
a sociedade, ao contrário do Estado que assumiu a “questão
operária” e investiu em uma política reformista. Para Campos,
esse discurso tem como pano de fundo a ideia de que apenas as
classes dominantes e o Estado são agentes históricos. Na ver-
dade, por mais que o Lloyd Brasileiro (empresa estatal do Rio
de Janeiro transformada em sociedade anônima) possuísse for-
mas sofisticadas de controle do movimento operário, exercendo
grande influência no setor portuário, isso também é verdade
para os industriais do CIFT (Centro dos Industriais em Fiação
e Tecelagem), assim como para a América Fabril que criava as-
sociações amarelas para desmobilizar o setor radical e a Bangu
que utilizava-se do gerenciamento científico da vida e até do
lazer operário.
Por outro lado, a autora percebe na historiografia recente
(lembrando que se tratava de meados da década de 80) uma su-
peração dos limites do discurso oficial – que divulgava a ideia
de um Estado “doador e mesmo antecipador da legislação tra-
balhista” (Ibid., p. 66) –, trazendo à tona os sinais de protesto
dos operários. A atualidade do movimento operário brasileiro,
ou seja, sua conexão com os acontecimentos ao redor do mun-
do, também foi negada por muitos historiadores para defender
uma suposta fragilidade na capacidade de organização do anar-
quismo e do sindicalismo revolucionário, o que não é verdade.
Enfim, são muitas as contribuições trazidas pela autora no
âmbito da análise historiográfica, da teoria e da reflexão histó-
rica. Interpretar o período de forma a se esforçar em realmente
conhecer o que se passava entre aquelas trabalhadoras e traba-
lhadores, levando em conta a complexidade das diversas ques-
tões econômicas, sociais, políticas e culturais, foi certamente
uma valiosa contribuição para a historiografia do movimento
operário na Primeira República. Ainda assim, a autora cometeu
alguns equívocos histórico-conceituais.

13
Dentro do que a autora considera como “libertários”, esta-
riam o anarquismo e o sindicalismo revolucionário. Os anar-
quistas organizavam-se “em ligas, comitês, alianças, grupos
teatrais, grupos editoriais, escolas, jornais etc., tendo a pro-
paganda, a palavra, como instrumentos”; já os sindicalistas
revolucionários tinham como organização o sindicato e sua
estrutura federativa. Os anarquistas, desta forma, atuavam
nos diversos grupos e organizações que não compreendiam a
organização sindical por local de trabalho, ou seja, era uma
atuação extra-sindical, que se constituía fora do sindicato mas
que, dependendo da corrente, poderia nele estar inserida com
o objetivo de realizar a propaganda ideológica. Assim, a autora
enfatiza que na prática “há grupos que adotam elementos das
duas tradições segundo suas necessidades e com certa indife-
rença às distinções que prevaleciam em vários outros países na
época” (Ibid., p. 15).
A conceitualização da autora parte da perspectiva de que o
sindicalismo revolucionário e o anarquismo são ideologias re-
volucionárias que almejam o mesmo fim, a Anarquia, mas com
meios diferentes, lutando “lado a lado, se mesclando, unindo
esforços, confundindo o olhar do historiador” (Ibid., p. 42). A
organização por local de moradia – como as Ligas de bairro –,
por exemplo, é situada pela autora como estando entre o anar-
quismo e o sindicalismo revolucionário, absorvendo caracterís-
ticas das duas “ideologias”6.
O sindicalismo revolucionário é representado pela autora de
quatro formas (como sinônimos): o termo propriamente dito,
que é o mais utilizado; o anarcossindicalismo; o sindicalismo
libertário; e o sindicalismo de linha radical. Mesmo que utili-
zássemos os conceitos sindicalismo revolucionário, sindicalis-
mo libertário e sindicalismo de linha radical como sinônimos,

6 Esta “confusão” deve-se muito ao fato de que, no Brasil, existiram diver-


sos grupos anarquistas, assim como diversas propostas de atuação, existin-
do até mesmo grupos que não defendiam a atuação sindical.

14
excluindo-se o uso do anarcossindicalismo, ainda seria neces-
sário fazer algumas pontuações, pois cada categoria agrupa no-
ções distintas, por mais que estejam interligadas. Por exemplo,
o termo sindicalismo libertário poderia agrupar tanto o sindi-
calismo revolucionário como o anarcossindicalismo por serem
duas formas de organização sindical “anti-autoritárias”; aqui
já encontramos um problema, que é o ponto de partida desta
reflexão: igualar o sindicalismo revolucionário ao anarcossin-
dicalismo, não respeitando o surgimento e o contexto histórico
de cada um, seus usos conceituais e suas consequências práti-
cas. Também o sindicalismo de linha radical é muito impreciso:
um sindicato comunista poderia ser considerado um sindicato
de linha radical, porém seria totalmente diferente de uma con-
cepção sindicalista revolucionária.
Ainda que as palavras “sindicalismo” e “revolucionário”
também tenham um caráter genérico envolvendo qualquer sin-
dicato que se assuma revolucionário, podendo ser anarquista
ou comunista, o conceito sindicalismo revolucionário caracte-
riza uma corrente bastante específica do movimento interna-
cional dos trabalhadores, trazendo em si um sentido global que
difere das duas palavras isoladas, cada uma guardando um sig-
nificado; se torna uma forma de visão de mundo, de organiza-
ção sindical de baixo para cima, dotada de princípios e métodos
que persistem durante toda a sua história, através dos diversos
períodos históricos, sempre remetidos ao período de seu surgi-
mento, a AIT do século XIX e/ou remetidos à CGT francesa do
início do século XX, de forma implícita ou explícita.
Ainda assim o termo anarcossindicalismo possui um res-
paldo mínimo no movimento operário da Primeira República,
como é elucidativo o exemplo da Federação Operária Local de
Santos. Mas a generalização do termo como característica he-
gemônica do período e seu uso como sinônimo ao sindicalismo
revolucionário são equívocos que não condizem com a reali-
dade brasileira. Ao descrever o combate dos “mais radicais”

15
contra a “despolitização” sindical, a autora não demonstra cla-
ramente quais eram as perspectivas de atuação dos anarquistas
ao nível sindical sendo estas reduzidas ao anarcossindicalismo,
tido como sinônimo de sindicalismo revolucionário. A única
divisão feita é entre anarquistas e anarcossindicalistas, divisão
ainda muito vaga e sem precisão teórico-histórica das diver-
sas correntes anarquistas e suas respectivas estratégias para a
emancipação social.
Mas, em uma passagem da obra, a autora diz que o sindi-
calismo revolucionário é uma ramificação do anarquismo. Do
ponto de vista teórico e histórico, observando-se as concepções
e a atuação dos coletivistas na Internacional, pode-se dizer que
não há problemas com esta afirmação. Mas essa afirmação pos-
sui uma ambiguidade: o sindicalismo revolucionário seria uma
ramificação no sentido de ser um ramo do anarquismo ou de
ter surgido a partir dele, ou seja, ter sido proposto e elaborado
pelo anarquismo? Quanto à primeira questão sabemos que a
resposta é negativa, o sindicalismo revolucionário possui certa
independência da ideologia anarquista, abarcando ideologias
distintas e diversas, por mais que seja bastante caro aos anar-
quistas e à sua atuação a nível de massas, sendo sua proposta
estratégica; além disso, esta perspectiva dá respaldo para a uti-
lização do sindicalismo revolucionário e do anarcossindicalis-
mo como sinônimos. Já em relação à segunda questão pode-se
perceber, como já foi demonstrado, que sim, o sindicalismo re-
volucionário é um modelo de organização sindical elaborado a
partir das experiências coletivistas e da teorização de Mikhail
Bakunin e dos aliancistas no seio da Internacional.
Carlos Augusto Addor, ao falar sobre a Insurreição Anar-
quista de 19187, considera que esta vem merecendo pouca aten-

7 Em 18 de novembro de 1918 os trabalhadores têxteis pararam simul-


taneamente o trabalho, somando-se à eles os trabalhadores metalúrgicos e
da construção civil. A intenção era reunir-se no Campo de São Cristóvão
no Rio de Janeiro, tomar a Intendência de Guerra, o Palácio da Polícia

16
ção dos historiadores e demais estudiosos do tema “movimento
operário na Primeira República”, tratando-a de forma secun-
dária. Outros tratam o anarquismo de forma preconceituosa.
O autor mostra que Moniz Bandeira em O Ano Vermelho: a re-
volução russa e seus reflexos no Brasil, de 1967, faz uma crítica
ao anarquismo como uma liderança “limitada” do movimento
operário e atribui, para além da repressão e da traição, o fra-
casso do levante à própria doutrina anarquista. Já Edgar Rodri-
gues em Nacionalismo e cultura social (1913-1922), de 1972, não
considera, ao contrário de Moniz Bandeira, que o fracasso da
revolta foi devido à supostas “limitações inerentes à doutrina
anarquista”, mas sim “à delação e à violenta e eficaz repressão
desencadeada em seguida, malgrado a corajosa e solidária re-
sistência dos trabalhadores” (ADDOR, 1986, p. 9).
Addor aponta que Sheldon Leslie Maram, em sua obra Anar-
quistas, imigrantes e o movimento operário brasileiro (1890-1920),
escrita antes de 1976 e publicada no Brasil em 1979, considera
a insurreição como um putsch anarquista (apud ADDOR, 1986,
p. 10) no qual os militantes libertários teriam superestimado
sua própria força, afirmando que eles deveriam ter fortalecido
o movimento operário e ter desenvolvido “laços com elemen-
tos simpatizantes oriundos da classe média”. Em relação à estas
afirmações, Addor (Ibid., p. 11) considera que “nem os anarquis-
tas foram os responsáveis pela repressão, nem os operários gre-
vistas perderam a simpatia da opinião pública”, considerando

e o Quartel-General da Brigada Policial, atacando o Palácio do Catete, a


Câmara dos Deputados e a Prefeitura. A tentativa foi frustrada pelo se-
gundo-tenente do exército Jorge Elias Ajus, que infiltrou-se no movimento
dizendo ser também um anarquista, “chegando mesmo a ficar responsável
pela elaboração da estratégia militar do levante” (ADDOR, 1986 p. 167).
A participação do militar reflete o clima vivido após a Revolução Russa
de 1917, na qual os conselhos de operários e soldados tiveram papel
fundamental. Os anarquistas José Oiticica (1882-1957), Agripino Nazaré,
Álvaro Palmeira e Astrojildo Pereira (1890-1965), este último posterior-
mente fundador do Partido Comunista Brasileiro em 1922, foram alguns
dos principais organizadores da insurreição.

17
que Maram “esquece, por um lado, o clima de euforia revolucio-
nária vivido naqueles dias na Europa e no Brasil” e, “por outro
lado, esquece também – ou pelo menos não revela o suficiente
– o intenso trabalho de mobilização e organização sindical de-
senvolvido pela UOFT” anterior ao 18 de novembro.
Mas Maram tem uma importante contribuição:

Maram critica também a associação entre o grau de desen-


volvimento do capitalismo e a maior ou menor influência
do anarquismo, lembrando por exemplo a importância e
a força do movimento anarquista entre o proletariado in-
dustrial de Barcelona, assim como o fato de que no Bra-
sil são os militantes libertários os principais responsáveis
pela organização dos trabalhadores das fábricas de tecidos
– e a empresa têxtil constituía, na época, a forma mais
acabada de produção fabril, a típica unidade de produção
capitalista existente no Brasil” (ADDOR, 1986 pp. 89-90).

As obras de Leôncio Basbaum, História sincera da Repúbli-


ca, II vol. (1976); Nelson Werneck Sodré, História da imprensa
no Brasil (1977); e Eulália Maria Lahmeyer Lobo, História do
Rio de Janeiro (1978), são obras que não foram escritas sobre o
movimento operário, mas fizeram referências à Insurreição de
1918. Mas autores que escreveram especificamente sobre o mo-
vimento operário também citam apenas de passagem a insur-
reição: Herminio Linhares em Contribuição à história das lutas
operárias no Brasil (1977); Everardo Dias em História das lutas
sociais no Brasil (1977); Octávio Brandão em Combates e bata-
lhas (1978); e Maria Nazaré Ferreira em A Imprensa operária no
Brasil (1880-1920) de 1978. Relatos sobre a Insurreição também
podem ser encontrados em autores que se dedicaram ao estudo
das ideias socialistas no Brasil, tais como Vamireh Chacon em
História das idéias socialistas no Brasil (1965) e Gisálio Cerqueira
Filho em A Influência das ideias socialistas no pensamento políti-
co brasileiro (1890-1922) de 1978 (ADDOR, 1986).

18
Francisco Foot Hardman em Anarquistas e anarco-sindica-
lismo no Brasil (1979) omite a Insurreição de 1918 e em outra
obra em coautoria com Victor Leonardi, História da indústria e
do trabalho no Brasil (1982), afirma que a insurreição não “pos-
suía nenhum respaldo por parte das massas populares”. Addor
o rebate, dizendo:

Ora, o que não nos parece apropriado é afirmar que um


movimento insurrecional articulado a uma greve que pa-
ralisa simultaneamente dezenas de fábricas e milhares de
operários (têxteis, metalúrgicos e setores da construção
civil) na Cidade do Rio de Janeiro e também em cidades
circunvizinhas não tenha nenhum respaldo por parte
das massas populares. Ao mesmo tempo, na medida em
que essa articulação se realizou através de vários conta-
tos entre as lideranças intelectuais do movimento – José
Oiticica, Astrojildo Pereira, Manuel Campos e Agripino
Nazaré, entre outros – e a diretoria da União dos Operá-
rios em Fábricas de Tecidos (Manuel Castro, presidente, e
Joaquim Moraes, secretário), desempenhando o sindicato
têxtil um papel estratégico e relevante na deflagração do
movimento, não nos parece também apropriado carac-
terizar a ação insurrecional de novembro de 1918 como
tendo sido promovida por outra corrente do movimento
anarquista, além dos anarco-sindicalistas; pelo contrário,
ela nos parece uma ação característica do anarco-sindica-
lismo (ADDOR, 1986 p. 14-15).

Assim como Maram caracteriza a insurreição com um puts-


ch, Edgar Carone em A República Velha de 1970, caracteriza-a
como um “golpe” e em Movimento operário no Brasil (1877-1944)
publicado em 1979 não há referência à insurreição. Esta catego-
rização da insurreição é um exemplo de como diversos autores
quiseram apagar ou desqualificar o levante, assumindo inclusi-
ve posturas reacionárias como Maram e Carone, ao considerar
um levante popular enquanto “golpe” ou “putsch” como se fos-
se um movimento apartado das massas trabalhadoras.

19
Paulo Sérgio Pinheiro também não cita a insurreição em
suas obras. Mas Addor discorda de uma afirmação de Pinhei-
ro em Política e trabalho no Brasil (1975), quando este diz que
o anarquismo tinha dificuldade em penetrar na massa operá-
ria; Addor (op. cit., pp. 16-17). aponta que “das três principais
correntes ideológicas e organizatórias do movimento operário
brasileiro, nas três primeiras décadas da República, a que mais
atinge ou penetra a massa operária é precisamente a anarquis-
ta, especialmente a vertente anarco-sindicalista”.
Por fim, o autor acredita que a historiografia assumiu a
mesma posição dos “políticos situacionistas e oposicionistas,
conservadores e liberais, ‘socialistas e reformadores’, nas ins-
tâncias federal e municipal, industriais organizados em seu sin-
dicato patronal, jornais da grande imprensa, e mesmo jornais
‘operários e socialistas’, todos condenando com veemência a
insurreição de 18 de novembro e o anarquismo” (Ibid., p. 194),
sendo que a insurreição foi “borrada praticamente da memória
social” (Ibid., p. 204).
A insurreição de novembro de 1918 apresentada pelo autor
seguiu a tradição sindicalista revolucionária da Internacional,
tendo como seus maiores exemplos a Comuna de Paris em 1871
e a Insurreição Espanhola de 1873. Em linhas gerais, Addor
(1986, p. 165) caracteriza esta insurreição:

Na verdade, seu objetivo mais amplo era concretizar a uto-


pia libertária, tornar realidade a desejada revolução social.
Com base numa greve geral, pretendiam pela força das ar-
mas derrubar o governo constituído e, a exemplo da Rússia
Soviética, formar uma junta de operários e soldados, abrin-
do caminho dessa forma à construção de uma sociedade
sem classes e sem exploração, sem Estado e sem dominação.

O autor considera a insurreição como típica do anarcossindi-


calismo. De fato, esta insurreição poderia ser sim liderada pelo

20
anarcossindicalismo, mas é preciso deixar claro que a União dos
Operários em Fábricas de Tecidos (UOFT) era uma organização
sindicalista revolucionária, uma das maiores entidades da Amé-
rica Latina, sendo ela que liderou a greve geral do dia 18 de no-
vembro à qual somaram-se os metalúrgicos e os trabalhadores
da construção civil, também sindicalistas revolucionários.
O autor afirma que “até o começo da década de 20, a maioria
dos sindicatos no México, na Argentina, no Brasil, no Chile
e no Peru seguiam uma orientação anarco-sindicalista”, o que
está, novamente, parcialmente correto. De acordo com Walt
(2016), na Argentina consolidou-se uma organização anarcos-
sindicalista – a FORA-V8 – que influenciou a Federação Ope-
rária de Santos. Mas, no contexto brasileiro, a COB e a maioria
dos sindicatos seguiam a orientação e a forma organizativa do
sindicalismo revolucionário. Sobre o anarcossindicalismo, o
autor diz que este:

[...] partilhando dos pressupostos e princípios gerais do


pensamento anarquista, elege o sindicato não só como ins-
trumento prioritário de luta, mas também o concebe como
uma espécie de prefiguração da sociedade futura, na qual
existiriam basicamente relações livres entre indivíduos so-
beranos; o anarco-sindicalismo brasileiro é predominante-
mente influenciado pelo sindicato revolucionário francês,
que em 1895 transforma a Fédération Nationale des Syn-
dicats na forte Confédération Générale du Travail (CGT)
(Ibid., pp. 126-127, nota nº 18).

Já pudemos perceber que, na realidade, a CGT é a grande in-


fluência do sindicalismo revolucionário e que a grande influên-
cia do anarcossindicalismo no Brasil é a FORA-V da Argentina.
Esta é a primeira vez em que a obra faz referência direta ao
sindicalismo revolucionário, utilizando o termo “sindicato re-

8 O termo FORA-V, refere-se à FORA após seu quinto congresso, no qual


foi aprovado o anarquismo como ideologia oficial da federação.

21
volucionário francês”. Da mesma forma, o autor considera os
congressos operários brasileiros e suas teses e resoluções como
sendo “claramente a posição anarquista em relação ao movi-
mento sindical”, tendo “um claro conteúdo anarco-sindicalista”
(Ibid., pp. 92-93). E, logo em seguida, o autor repete exatamente
os temas e resoluções do Primeiro Congresso de 1906, que o
contradizem. Sobre este congresso o autor diz que:

Apesar de “a destruição do Estado e a construção da socie-


dade do futuro” realmente não terem sido discutidas nas
resoluções do Primeiro Congresso Operário Brasileiro,
discordamos da afirmação de Paulo Sérgio Pinheiro e Mi-
chael M. Hall de que “dificilmente se encontra algum traço
do anarquismo nas resoluções do Congresso”, que seriam
“muito mais sindicalistas que revolucionárias”. Parece-nos
claro o caráter anarco-sindicalista das mais importantes
resoluções aprovadas pelo Congresso: a recusa à ação po-
lítica e consequente recusa à possibilidade de formação
de um partido operário, a ênfase na ação direta, na luta
econômica e na luta ideológica, a criação da Confedera-
ção Operária Brasileira, constituída em março de 1908, os
princípios da soberania individual, da autonomia local e
da federação informando a visão de militância e a própria
organização sindical” (Ibid., p. 105).

Afirmamos que o congresso foi e ao mesmo tempo não foi


anarquista; foi sindicalista revolucionário e por isso influencia-
do pelo anarquismo, mas não estabeleceu o anarquismo como
critério para ingresso na COB e sim a luta no terreno econô-
mico e material pelo proletariado organizado de baixo para
cima. Ao buscar se contrapor aos autores citados, Addor (1986)
caiu no pólo oposto: ao negar a afirmação de que não houve
nenhum traço do anarquismo nos congressos, o autor acaba
defendendo que sim, não só tinha traços do anarquismo como
era de fato dominado por ele, através do anarcossindicalismo.
Analisando o Segundo Congresso, de 1913, Addor considera
que o “teor geral das resoluções aprovadas é mais explicitamen-

22
te anarco-sindicalista”, mas, no Tema 1 – “Sendo as aspirações
das organizações operárias tendentes à transformação econô-
mica e social, quais devem ser os princípios da nova sociedade:
os da propriedade privada e da autoridade ou os do socialismo
anarquista?”, por mais que a pergunta seja bastante tenden-
ciosa, como observou-se anteriormente, a resposta é que “re-
pelindo a influência dissolvente da política” os trabalhadores
devem dedicar-se “à obra de organização operária sindicalista,
que, considerada dentro da ação operária, é o meio mais eficaz
e mais poderoso para a conquista de melhoras imediatas de que
necessita e para o fortalecimento da luta para a sua completa
emancipação” (Ibid., pp. 108-109).
Mais à frente, referindo-se à uma das discussões do Segundo
Congresso, o autor cita o tema “Sobre a atitude dos sindicatos
revolucionários em face da organização operária iniciada e au-
xiliada pelo clero católico (tema 19)” (ADDOR, 1986, p. 112),
sendo a segunda vez em que aparece o termo “sindicato revolu-
cionário”, neste caso algo dado pela própria fonte histórica, os
temas e resoluções do congresso. Desta forma, o uso do termo
anarcossindicalismo pelo autor está equivocado.
Finalmente, para Magnani (1982, p. 13), o estudo do movi-
mento operário brasileiro e do anarquismo havia sido esque-
cido pelos intelectuais, principalmente os alinhados à linha
interpretativa oficial e conservadora, “que não admitia a exis-
tência de conflitos sociais profundos no país (ou procurava mi-
nimizá-los) e não admitia a possibilidade de interferência da
classe operária no desenvolvimento histórico da nação”. Os au-
tores vinculados ao trabalhismo oficial analisaram o governo
Vargas e suas medidas, a partir de 1930, ressaltando seu caráter
inovador e o alcance social da legislação, negando a existência
das lutas sociais e tentando apagar a memória política das clas-
ses trabalhadoras, ignorando o período da Primeira República.
Estes historiadores oficiais (ou oficializantes) dedicaram
pouca ou nenhuma atenção para os problemas sociais, dedi-

23
cando-se a escrever crônicas dos acontecimentos políticos, tais
como José Maria Bello e Pedro Calmon9. Assim, a história do
movimento operário foi durante bastante tempo ausente das
preocupações dos estudiosos do Brasil e coube aos militantes
operários ou autores próximos à classe fazer os estudos iniciais
da história do movimento operário.
Nas décadas de 1950 e 1960, militantes produziram obras
para debater de forma ampla os problemas enfrentados pelo
movimento operário, a nível partidário e sindical. Segundo
Magnani (Ibid., p. 19) os principais autores foram Jover Telles,
Astrojildo Pereira, Hermínio Linhares e Hércules Corrêa dos
Reis10, que possuem posições semelhantes em relação ao anar-
quismo: uma ideologia pequeno-burguesa, incapaz de organi-
zar e mobilizar permanentemente o proletariado que possuía
uma origem camponesa e artesanal, em um país semi-feudal,
no qual a presença de um socialismo reformista frouxo favo-
recia a ação anarquista. Para a autora, esta análise superou a
análise conservadora da “planta exótica” e do reducionismo
da análise dos conflitos de classe através das ciências jurídicas
(regulamentação legal), trazendo visibilidade para a história
da classe trabalhadora através de uma perspectiva política e
social. Mas também apresentou generalizações e esquematiza-
ções “em virtude de o anarquismo não se constituir em foco
principal de suas preocupações, como também de haver escas-
sa documentação então disponível (aliás foram eles que divul-
garam, pela primeira vez, documentos do período)”. Assim, a
autora diz que:

Portanto, estas análises adotaram (por vezes implicita-


mente) um modelo de desenvolvimento do movimento

9 Respectivamente História da República (1969) e História do Brasil: A


República (1956).
10 Respectivamente O Movimento Sindical no Brasil (1962), A Formação
do PCB – 1922-1928 (1962), Contribuição à História das Lutas Sociais
no Brasil (1977) e Fatos do Movimento Operário Brasileiro (1961).

24
operário, o “curso histórico normal”, onde o anarquismo
surge como um desvio (ou um erro sectário), embora não
se constituísse em um fato inexplicável; o desvio (erro)
seria superado em 1922, com a fundação do PC, fruto do
amadurecimento político da classe trabalhadora, no de-
correr dos anos 1917/1921 e da influência da Revolução
Russa vitoriosa (MAGNANI, 1982 p. 20).

Pode-se perceber que estes militantes exerceram alguma


influência na historiografia das décadas seguintes. Mas, con-
trapondo-se à estes autores, antigos militantes libertários ain-
da anarquistas publicaram suas memórias, também na década
de 1960, como Edgard Leuenroth e Edgar Rodrigues11. Estes
autores “vêem as primeiras lutas operárias contra o capital
como a fase áurea da história do movimento operário, dada a
influência do anarquismo, a única ideologia verdadeiramente
operária, já que traduziria fielmente os reais anseios de todos
os oprimidos” (Ibid., p. 21).
Os estudos acadêmicos relacionados ao sindicalismo e, se-
cundariamente, ao anarquismo, começaram a ser elaborados
na mesma década, tendo como ponto de partida para a análise
e como marco histórico a Era Vargas para diferenciar o período
anterior e pós-1930 – como fez Leôncio Martins Rodrigues12 –,
bem como associar o anarquismo com o movimento imigrató-
rio de fins do século XIX e meados do século XX, como fizeram
Fernando Henrique Cardoso e José Albertino Rodrigues13. Mas,
enquanto Cardoso aponta que o anarquismo foi restrito a pe-
quenos grupos de operários, que tentaram introjetar mecanica-
mente uma ideologia europeia no contexto brasileiro, caracte-

11 Respectivamente Anarquismo – Roteiro da Libertação Social (1963) e


Socialismo e Sindicalismo no Brasil – 1675-1913 (1969), Nacionalismo e
Cultura social (1972), Trabalho e Conflito. Pesquisa (1906-1937) (sem data).
12 Sindicalismo e Sociedade (1968).
13 Respectivamente Situação e Comportamento Social do Proletariado
(1972) e Sindicato e Desenvolvimento no Brasil (1968).

25
rizados pela debilidade e desorganização, Rodrigues considera
que, na verdade, o anarquismo foi fundamental na organização
da classe, sobretudo na formação dos sindicatos, tendo a lide-
rança anarquista forte presença na classe operária.
Após esta primeira linha interpretativa que tinha a relação
imigração-anarquismo como ponto central, uma segunda linha
interpretativa buscou romper com essa exclusividade, trazen-
do o fator político-econômico (política restritiva e repressiva
do Estado, economia agroexportadora e industrialização inci-
piente) como importante para a compreensão do anarquismo
no Brasil, como fizeram Azis Simão e Octávio Ianni14. Também
fez-se uma relação entre indústria dispersa e de pequeno porte
ao anarquismo e seu modelo sindical descentralizado e plura-
lista (MAGNANI, 1982).
Outra vertente historiográfica foram os brasilianistas, con-
forme aponta Magnani (1982 pp. 29-30), como John Dulles,
para quem o anarquismo, “em última análise, reduzir-se-ia a
um acontecimento insólito e curioso, somente inteligível se
atribuído ao desejo, ao sonho pessoal dos bravos militantes”,
e Sheldon Leslie Maram e Michael Hall15, que deram ênfase na
relação imigração-anarquismo, analisando-a em conjunto com
a perspectiva política oligárquica repressiva da Primeira Repú-
blica, fator importante, segundo estes autores, para a debilida-
de do movimento operário, que não possuía canais oficiais de
atuação e portanto seria liderado pelo anarquismo – conside-
rado igualmente débil.
Em trabalhos mais recentes à autora, que escreve no início
da década de 1980, procurou-se aprofundar as reflexões sobre
o movimento operário da Primeira República, integrando-o à

14 Respectivamente Sindicato e Estado (1966) e Condições Constitucio-


nais do Comportamento Político Operário (1962).
15 Respectivamente Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1935
(1973), Anarchists, Immigrants and the Brazilian Labor Mouvement 1890-
1920 (1974) e Imigração e Classe Operária em São Paulo (sem data).

26
história geral do período16. Superando a historiografia oficial e
a interpretação estadonovista, reconheceram a existência dos
conflitos sociais e colocaram a classe trabalhadora como su-
jeito dos processos históricos. Mas, mesmo assim, buscaram
apontar, como outros autores também apontaram – incluindo
Magnani –, a debilidade do movimento operário liderado pelo
anarquismo. Paulo Sérgio Pinheiro, Lígia Silva e Boris Fausto17
“relacionaram a introdução da ideologia anarquista no Brasil à
origem sul-europeia do operariado” – sua origem estrangeira,
portanto –, ao estágio incipiente de industrialização “que per-
mitia a presença de um grande número de pequenas oficinas” e
ao padrão oligárquico brasileiro que influenciou na debilidade
do movimento operário, além do próprio anarquismo, débil por
natureza (Ibid., pp. 32-34).
Assim, mesmo avançando em alguns aspectos, como por
exemplo criticando a visão de que o anarquismo seria próprio
da pequena-burguesia ou de “artesãos transmutados em ven-
dedores de força de trabalho” (Ibid., pp. 51-52) e de que o anar-
quismo era uma ideologia própria de estrangeiros, Magnani
ainda ecoa certos preconceitos referentes ao anarquismo.
A autora utiliza a noção de “anarquismo-libertário” para
caracterizar a “doutrina formulada a partir de meados do sécu-
lo XIX, que se insere no conjunto das ideias socialistas que se
originaram das contradições inerentes à sociedade capitalis-
ta” (Ibid., p. 56), que dividiu-se em duas tendências básicas: “o
anarco-comunismo e o anarco-sindicalismo (ou sindicalismo
revolucionário)” (Ibid., p. 58)18. Nota-se que a autora utiliza

16 Como fez Edgar Carone em A Primeira República – 1889-1930 (Texto


e Contexto) (1973).
17 Respectivamente: La fin de la Première Republique au Brésil: Crise
Politique et Revolution (1971), Movimento Sindical Operário na Primeira
República (1977) e Trabalho Urbano e Conflito Social (1976).
18 O anarco-comunismo não será tratado de forma aprofundada nesta
obra, mas cabe dizer que ele surge após a AIT. Segundo Neno Vasco (1878-

27
o termo sindicalismo revolucionário como sinônimo de anar-
cossindicalismo, assim como Cristina Hebling Campos, embo-
ra não com a mesma frequência.
As designações de “sindicato revolucionário”, “sindicato de
resistência” e sindicalismo revolucionário apontam que a auto-
ra utilizou-se de conceitos corretos, ainda que como sinônimos
de anarcossindicalismo, principal termo utilizado em sua obra.
O sindicalismo revolucionário é apontado como um sindicalis-
mo de minorias militantes (Ibid., pp. 24 e 108), em referência à
“vanguarda” anarquista atuante dentro dos sindicatos, as “mi-
norias conscientes” (Ibid., p. 58), percepção correta em relação
à atuação anarquista nos sindicatos através da minoria ativa no
sindicalismo revolucionário, mas ao mesmo tempo uma con-
cepção que dá a impressão de que o sindicato era formado por
apenas minorias militantes, excluindo-se as massas que deles
participavam, portanto um termo que pode causar enganos.
Mesmo após citar a resolução do 1º Congresso Operário Bra-
sileiro, que dizia que os operários deveriam “pôr fora do sindi-
cato a luta política especial de um partido e as rivalidades que
resultariam da adoção pela associação de resistência de uma
doutrina política ou religiosa, ou de programa eleitoral” a au-
tora ainda os considera anarcossindicalistas (Ibid., p. 98) e ainda
considera que este foi o marco inicial do predomínio do anar-
cossindicalismo no Brasil. Esta corrente teve seu pensamento,
segundo a autora, veiculado por diversos jornais (a maioria com

1920) (2008, p. 202), importante anarquista sindicalista revolucionário


em Portugal e no Brasil, anarquistas italianos como Cafiero, Errico Malat-
esta (1853-1932), Covelli, Costa e posteriormente Piotr Kropotkin (1842-
1921), consideraram a fórmula coletivista “a cada um o produto do seu
trabalho” como insuficiente, in­serindo a perspectiva comunista de que a
distribuição da produção seria feita “de cada um segundo as suas forças; a
cada um conforme as suas ne­cessidades”. Esta é a divisão básica, através de
uma perspectiva conceitual da produção após a revolução, embora hajam
diferenças entre os próprios anarco-comunistas em relação à concepção de
revolução, sociedade, sin­dicato, produção e etc.

28
pequena duração), “entre eles o semanário A Terra Livre (TL),
publicado em São Paulo e Rio, entre 1906 e 1911” (Ibid., p. 87). O
jornal A Voz do Trabalhador não foi utilizado pela autora, jornal
que pode ser considerado o maior periódico sindicalista revolu-
cionário da época, por ser órgão oficial da COB.
Para a autora, o “anarcossindicalismo” tinha um caráter
utópico por privilegiar o fator da consciência, o voluntarismo,
para se alcançar a revolução emancipadora, além de não reco-
nhecer a luta política – entendida como disputa parlamentar.
O “anarquismo libertário” seria marcado pela “impaciência re-
volucionária”, baseando-se apenas na consciência coletiva da
classe e não nas condições objetivas e múltiplas determinações
do contexto histórico e desenvolvimento do capitalismo (Ibid.,
p. 108). De fato, algumas correntes poderiam se encaixar nes-
ta categorização; mas outras correntes anarquistas e sindicais
provavelmente não. Portanto faltou à autora distinguir cada
corrente e suas respectivas atuações sindicais, para que não
fosse cometida esta generalização. Ela diz que:

Portanto, a utopia anarquista não foi o desejo de volta ao


passado comunal, mas a crença de que a revolução está
prestes a eclodir, a crença de que a sociedade libertária
será instalada tão logo seja abolida a propriedade privada
e destruído o Estado, eliminando-se como que num passe
de mágica todos os conflitos sociais e todas as resistências
e oposições dos elementos ligados ao regime capitalista
(MAGNANI, 1982, p. 109).

Além disso, o fato de o anarquismo não buscar inserir-se


nas instituições do Estado burguês e sua recusa em fazer alian-
ças com outras classes sociais (como a pequena-burguesia) são
fatores de debilidade desta ideologia para a autora, que seria
superada pela organização e fundação do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) em 1922, liderada pelo ex-militante libertário
Astrojildo Pereira. A adoção do anarquismo pelo movimento

29
operário, para a autora, foi fruto de seu isolamento político no
período, ou seja, na sua perspectiva o anarquismo só poderia
ser adotado logicamente como ideologia-guia do movimento
dos trabalhadores quando o Estado fosse altamente excludente,
sem dar margem à qualquer participação dos operários na po-
lítica institucional. Nesta visão há a noção de que as ações do
Estado e do Capital determinam, de certa forma, o movimento
político, cultural e social dos trabalhadores, não tendo em vista
que a presença de determinada ideologia dentro da classe tra-
balhadora é fruto de uma disputa ideológica nesta classe, que
claro, leva em consideração o Estado, o Capital e os diversos
fatores que atuam na realidade social, mas que não é determi-
nado por apenas um destes fatores. Se fosse o caso, não exis-
tiria anarquismo em sociedades ditas “democráticas” na qual
existem inúmeros partidos “dos trabalhadores”.
Além disso, algumas afirmações carecem de qualquer tipo
de verificação histórico-científica da realidade, como por exem-
plo a afirmação de que:

A luta política não se desenrolaria diuturnamente, mas


somente nos momentos de aberta intervenção do Estado
a favor dos interesses do capital, ou no momento em que
o Estado impedisse o livre funcionamento das associações
profissionais, como recomendava o Congresso de 1906,
“luta pelos direitos políticos da associação econômica”,
que são os direitos constitucionais de livre associação, pa-
lavra e reunião, estabelecidos através do Estado e por ele
garantidos: assim, não obstante a intensa fraseologia de
repúdio à política, a luta política (no sentido de luta dos in-
teresses do operariado através ou perante canais estatais)
se infiltrava sorrateiramente, de maneira quase espúria,
no discurso anarco-sindicalista, abrindo um espaço para
o posterior relacionamento do sindicato e do Estado, que
ocorreu a partir de 1930 (também a atuação dos sindicatos
amarelos foi um precedente da política sindical da era de
Vargas) (MAGNANI, 1982, pp. 99-100).

30
Nesta perspectiva, o anarcossindicalismo seria hipócrita
pois, apesar de sua “fraseologia” de combate à política institu-
cional, combatia o Estado “apenas” quando este agia em favor
dos capitalistas (ou seja, em se tratando da Primeira República,
quase sempre), ou quando este atacava e destruía suas orga-
nizações de classe, ocasiões nas quais, em defesa destas, eram
invocados os princípios de livre associação, palavra e reunião.
Desta forma, por exigir garantias de direitos que seriam im-
portantes para o desenvolvimento da luta sindical e revolucio-
nária, o “anarcossindicalismo” teria aberto um espaço para a
política de conciliação de classes e para a organização sindical
burocrática, não obstante os embates dos sindicalistas revolu-
cionários da época com os sindicatos reformistas, as coopera-
tivas, os sindicatos amarelos, além da mobilização de greves
parciais e gerais, sabotagens e até uma tentativa de insurreição.
A questão dos sindicatos amarelos é colocada em posição se-
cundária em relação à afirmação dada, como se o anarcossindi-
calismo (novamente, leia-se sindicalismo revolucionário) fosse
o maior culpado pelo sindicalismo varguista.
Por fim, o anarquismo, apesar do exposto acima, teria sido
útil aos trabalhadores, com a ênfase dada nas condições políti-
cas e sociais da Primeira República:

A direção da batalha em prol da extensão (ou obtenção)


dos direitos individuais, civis e sociais ao operário foi, sem
dúvida, a principal contribuição dos anarquistas ao movi-
mento operário brasileiro e à história da Primeira Repú-
blica. E a necessidade de empreender estas batalhas não
foi indicada por um ideário político alienígena (importado
mecanicamente), mas antes foi determinada pelas condi-
ções sócio-políticas vigentes nas primeiras décadas do sé-
culo (MAGNANI, 1982, p. 185).

31
32
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA DAS
ÚLTIMAS DÉCADAS (1990-2010)

Para encerrar, cabe analisar as últimas produções historio-


gráficas sobre o sindicalismo revolucionário no Brasil. O autor
Alex Buzeli Bonomo (2016) fez um apanhado geral da histo-
riografia brasileira do movimento operário na Primeira Repú-
blica até 2007 – data da finalização de sua dissertação de mes-
trado19. Para ele, Giuseppina Sferra20 fez algo similar à Silvia
Magnani, quando analisou os jornais La Battaglia e A Terra
Livre, representantes dos anarco-comunistas e anarcossindi-
calistas, respectivamente, não utilizando o termo sindicalismo
revolucionário. Lucia Silva Parra fez o mesmo que Magnani e
Campos, equiparando os dois termos, utilizando-os como sinô-
nimos21. Rogério Nascimento, Ricardo Antunes, Boris Fausto,
Edgar Rodrigues, Carlos Augusto Addor, Paulo Alves e Raquel
de Azevedo22 caracterizaram a atuação sindical anarquista no

19 Segundo o autor, “de lá pra cá a produção aumentou e novos estudos


com melhor embasamento foram realizados” (BONOMO, op. cit., p. 139,
nota de rodapé nº 220).
20 Anarquismo e Anarcossindicalismo (1987).
21 Combates pela Liberdade – O movimento anarquista sob a vigilância
do DEOPS/SP (1924-1945) (2003).
22 Respectivamente: Florentino de Carvalho – Pensamento Social de Um
Anarquista (2000); Classe Operária, Sindicatos e Partido no Brasil – Da
Revolução de 30 até a Aliança Nacional Libertadora (1982); Trabalho Ur-
bano e Conflito Social (1977), já citado; Os Libertários (1993), já citado; A

33
Brasil como anarcossindicalismo.
Portanto,

Essa amostra já nos possibilita perceber o quase consenso


existente na historiografia brasileira sobre o termo utili-
zado para a caracterização dos anarquistas que atuavam
nos sindicatos. Podemos acrescentar, sumariamente, uma
lista que ainda que incompleta nos fornece uma dimen-
são mais clara do problema. Os autores que se referem ao
anarco-sindicalismo, entre outros e os já citados, são: Car-
los Bauer, Edgar Carone, Osvaldo Coggiola, Jaime Cubero,
Maria Aparecida Guzzo De Decca, Everardo Dias, Pedro
Roberto Ferreira, Francisco Foot Hardman, Victor Leonar-
di, Yara Maria Aun Khoury, Hermínio Linhares, Silvia In-
grid Lang Magnani, Sheldon Leslie Maram, Oscar Farinha
Neto, Paulo Sérgio Pinheiro, Leôncio Martins Rodrigues,
Zélia Lopes da Silva, Azis Simão, Michel Zaidan entre ou-
tros23 (BONOMO, 2016 p. 100).

Insurreição Anarquista no Rio de Janeiro (2002), analisada neste trabalho


na sua primeira edição de 1986; Anarquismo, Movimento Operário e O
Estado: Suas Relações No Contexto Capitalista Da Primeira República
(1906-1922) (1981); e A Resistência Anarquista: Uma questão de identi-
dade (1927-1937) (2002).
23 Alguns destes autores já foram citados nesta obra pelas obras analisadas
da década de 1980. Portanto colocaremos aqui as obras dos autores não
citados e apresentados por Bonomo: BAUER, Contribuição para a História
dos Trabalhadores Brasileiros: O Despertar Libertário (1994); COGGIOLA,
Historiografia do Movimento Operário Latino-Americano (1995); CUBERO,
El Movimiento Obrero y las Ideas Libertarias (1988); DECCA. A Vida Operá-
ria fora das Fábricas: cotidiano operário em São Paulo (1920-1934) (1987);
FERREIRA, O conceito de Revolução da esquerda brasileira (1993); KHOURY,
Edgard Leuenroth: uma Voz Libertária (1988); FARINHA NETO, Atuação
Libertária no Brasil – A Federação Anarco-sindicalista (2001); SILVA, A Do-
mesticação dos Trabalhadores nos Anos 30 (1990); VIANNA, Liberalismo e
Sindicato no Brasil (1976) e ZAIDAN, Origens do Sindicalismo Burocrático no
Brasil: 1923-1926 (1984).

34
Christina Roquette Lopreato24 e Edilene Toledo25 rompem
com esta historiografia. Lopreato preferiu utilizar o termo
“anarquistas sindicalistas” para poder caracterizar os anarquis-
tas partidários da ação sindical como meio para se alcançar a
revolução social, justificando-a pela “necessidade de se proce-
der a uma pesquisa mais acurada para se determinar correção
da utilização ou não da expressão anarco-sindicalismo” (apud
BONOMO, 2016, p. 101). Toledo faz um caminho inverso, busca
inserir no sindicalismo revolucionário uma determinada tradi-
ção marxista, “procedendo-se a uma suposta contraposição en-
tre o anarquista em teoria, mas sindicalista revolucionário na
prática” (Ibid., p. 102). Desta forma tenta separar o sindicalismo
revolucionário da história do anarquismo.
João Carlos Marques (2013), citando Felipe Corrêa, aponta
que para este autor o “sindicalismo revolucionário não é uma
corrente autônoma, mas uma estratégia do anarquismo”, e que
a confusão elaborada pela historiografia brasileira seria causa-
da pela atuação do próprio movimento operário brasileiro, que
tinha “divergências sobre o caminho a percorrer e os meios
para colocar em prática as teorias libertárias”. O autor aponta
que, na perspectiva de Edilene Toledo, os congressos operários
seriam “mais sindicalistas do que propriamente anarquistas”,
sendo que do “anarquismo não se encontra nada”, posição de-
fendida também por Pinheiro e Hall (Ibid., p. 62), que pode ser
encontrada na coleção fac-similar de A Voz do Trabalhador, no
prefácio (CENTRO DE MEMÓRIA SINDICAL, 1985) e em sua
obra conjunta (PINHEIRO; HALL, 2013).
Por ter como referência uma concepção restrita de anar-
quismo, a autora acaba afirmando que enquanto os anarquistas
queriam construir uma “federação de indivíduos”, os sindica-
listas revolucionários buscavam uma “federação de sindicatos”

24 O Espírito da Revolta: a Greve Geral Anarquista de 1917 (2000).


25 Travessias Revolucionárias (2004).

35
e que enquanto os anarquistas viam no sindicato um refor-
mismo nocivo, para os sindicalistas revolucionários “as van-
tagens obtidas pelos trabalhadores eram a preparação da sua
emancipação” (apud MARQUES, op. cit., p. 64). Novamente,
ao resgatar a história do anarquismo bakuninista na AIT e do
anarco-comunismo malatestiano, pode-se perceber que, se esta
caracterização de anarquismo aplica-se à algumas correntes,
ela é rechaçada por outras, não servindo como base para que
se possa emitir esta afirmação generalizante. Cláudio Batalha
concorda com Edilene Toledo, apresentando o sindicalismo re-
volucionário como uma ideologia independente do anarquis-
mo, apontando que o primeiro possuía elementos do marxismo
como a luta de classes. Mas tanto o coletivismo quanto o anar-
co-comunismo malatestiano (muito presente no Brasil) eram
fundamentados na luta de classes, portanto esta afirmação
também está equivocada.
O sindicalismo revolucionário é autônomo em relação ao
anarquismo? Sim. É uma estratégia anarquista da revolução?
Também. Essas afirmações não são conflitantes, são comple-
mentares. O primeiro é uma das linhas de massas de atuação
do segundo, sua forma de inserção na realidade da classe tra-
balhadora para fazê-la avançar rumo à revolução social. Mas
Edilene Toledo e Cláudio Batalha buscavam distanciar o sindi-
calismo revolucionário do anarquismo, devido à historiografia
ter unido os dois em uma coisa só: o anarcossindicalismo.
Esta distinção é importante para que o sindicalismo revolu-
cionário não seja compreendido enquanto uma ideologia, mas
sim enquanto um movimento de massas que ocupa uma po-
sição estratégica no anarquismo para a concretização de seus
objetivos. Foi essa “mistura” que confundiu os autores, que não
conseguiram – ou não tentaram – fazer esta distinção26.

26 Um debate fundamental que deve ser feito aqui é em relação à fal-


ta de concepção teórica presente nas obras em relação aos conceitos de
ideologia e estratégia. Pudemos perceber que diversos autores falham em

36
A tentativa foi importante para que houvesse um outro olhar
sobre a questão, mas cometeu equívocos. A autora chega a afir-
mar que o sindicalismo revolucionário teria sido mais influen-
ciado “pela teoria de Marx, segundo as quais a luta pelo poder e
a unidade da classe operária são decisivos nos conflitos de clas-
ses” (apud MARQUES, 2013, p. 71), quando na verdade, obser-
vando a história da AIT, o sindicalismo revolucionário (quando
ainda não era reconhecido por este termo) é combatido justa-
mente pelo próprio Karl Marx (1818-1883), que considerava de
fundamental importância a formação do partido político operá-
rio ao qual estariam submetidos os sindicatos (SILVA, op. cit.).
Ainda sobre a autora Edilene Toledo, Felipe Corrêa (2010)
faz uma análise geral de sua obra Anarquismo e Sindicalis-
mo Revolucionário: trabalhadores e militantes em São Paulo
na Primeira República, publicada em 2004. Para isso, utiliza-
-se de três autores, Michael Schmidt, Lucien van der Walt e
Alexandre Samis, reunidos em duas obras, Black Flame: the
revoluctionary class politics of anarchism and syndicalism dos
dois primeiros autores e Minha Pátria é o Mundo inteiro: Neno
Vasco, o anarquismo e o sindicalismo revolucionário em dois
mundos do terceiro autor, ambas de 2009. Para Corrêa, a uti-
lização destes autores se faz necessária pois “eles não buscam
encaixar a história em uma concepção ideológica própria;
prática relativamente comum no campo da esquerda” (COR-

compreender a diferença entre estes conceitos, ou melhor, não realizam


este debate: “Por muitas vezes não fazer esta distinção entre o que con-
stitui a ideologia – conjunto de idéias e valores expressos em princípios
político-ideológicos – e a estratégia – a escolha dos meios mais adequados
para se atingir determinados fins – acreditamos que muitos autores ter-
minaram misturando anarquismo, sindicalismo e se perdendo na hora de
tentar entender e analisar ambos (CORRÊA, 2010 p. 2).” Esta distinção é
importante para que o sindicalismo revolucionário não seja compreendido
enquanto uma ideologia, mas sim enquanto um movimento de massas
que ocupa uma posição estratégica no anarquismo para a concretização
de seus objetivos. Foi essa “mistura” que confundiu os autores, que não
conseguiram – ou não tentaram – fazer esta distinção.

37
RÊA, 2010, op. cit., p. 2). Apresentando as posições tomadas
por Toledo, Corrêa diz que:

Com estas declarações poderíamos começar a discutir


alguns argumentos de Edilene Toledo. Nestas próprias
citações, é possível notar que havia anarquistas que não
queriam somente combater o sindicato e utilizá-lo para
propagandear seu ideal, como ela mesma colocou em
sua comparação. Havia aqueles que viam “no sindicato
seu principal e mais eficiente espaço de atuação”. Se ha-
via aqueles que consideravam os sindicatos o “principal e
mais eficiente espaço” e se havia aqueles que defendiam o
sindicalismo revolucionário como um “anarquismo operá-
rio”, então decorre disso que nem todos eram contra a luta
de classes, as reformas e que muitos anarquistas estavam
bem ancorados na prática e não só no trabalho teórico.
Isso porque o sindicalismo revolucionário estava funda-
mentado na luta de classes entre trabalhadores e patrões,
na luta por conquistas de curto prazo – como a redução
de jornada de trabalho e aumentos salariais – e na prática
sindical, que ia muito além da teoria (CORRÊA, 2010 p. 22).

Já Santos (2017, p. 57) comete um equívoco parcial ao afirmar


que “não existiu anarcossindicalismo no Brasil e sim o sindica-
lismo revolucionário”. Como verificou-se mais acima, algumas
organizações operárias eram abertamente anarquistas. Mas, no
geral, o movimento operário no Brasil era predominantemente
sindicalista revolucionário. Em relação à grande parte da his-
toriografia brasileira e estrangeira, Santos discorda da perspec-
tiva de que o marxismo no Brasil surge naturalmente como
uma necessidade histórica após o declínio do anarquismo. Na
verdade, o autor aponta que os marxistas tiveram que atuar nas
organizações sindicalistas revolucionárias para fazer a disputa
política após 1922, sendo que os anarquistas e sindicalistas re-
volucionários ainda dirigiam a Federação Operária do Rio de
Janeiro (FORJ), refundada em 1923, por exemplo.

38
O problema do anarquismo, para o autor, foi a falta de orga-
nização para além dos sindicatos, como fez o PCB em 1922, ou
seja, a falta de uma organização específica anarquista que pu-
desse atuar clandestinamente no período de repressão (COR-
RÊA, 2010). Portanto, ele diz:

Não concordo com a afirmação de Astrojildo Pereira que


no Brasil o anarquismo estava fadado a declinar e conse-
quentemente a ascensão do marxismo no Brasil seria uma
necessidade histórica. O anarquismo não havia deixado de
mobilizar os trabalhadores quando o Partido Comunista
do Brasil foi fundado. Ambas as ideologias conviveram
durante alguns anos dentro do movimento operário de
maneira conflituosa. Porém o surgimento do Partido Co-
munista do Brasil aconteceu justamente em um período de
intensa repressão ao movimento anarquista, que o desarti-
culou, levando-o ao declínio. [...] O anarquismo não estava
enfraquecido enquanto ideologia organizadora da causa
operária. Pelo contrário. Devido a sua grande penetração
entre os trabalhadores, uma violenta repressão burguesa
foi necessária (SANTOS, 2017, p. 218).

João Gabriel da F. Mateus (2012, p. 6) afirma que o Segundo


Congresso Operário Brasileiro “aprovou um vínculo direto da
organização com o anarquismo (anarco-sindicalismo, portan-
to)”, o que de fato não ocorreu. Acontece que, como vimos, a
Federação Operária de Santos tentou tendenciar, quando apre-
sentou o Tema 1 do Congresso, para que fosse aprovado este
vínculo. A resolução foi pelo caminho contrário, reforçando
as decisões do Primeiro Congresso. Talvez, pelas relações es-
tabelecidas com a FORA e a Federação Obrera Regional Uru-
guaia (FORU), houvesse uma proximidade mais explícita com
o anarquismo, mas isto se dava em função destas organizações
– operárias acima de tudo –, possuírem o anarquismo como
doutrina oficial, sendo que a COB não aprovou nenhuma reso-
lução neste mesmo sentido.

39
Em suas considerações finais, Marques (2013) acaba come-
tendo um equívoco quando afirma que:

Os militantes anarquistas exerceram forte influência no


movimento operário desse período com duas correntes
fundamentais que conduziram o movimento operário: a
anarco-sindicalista e a anarco-comunista. Na primeira,
militantes anarquistas adeptos do sindicalismo; na segun-
da, militantes que eram contra organizações operárias au-
tônomas defendiam que o critério para pertencer ao sindi-
cato era ser anarquista (MARQUES, 2013, p. 109).

Esta afirmação vai contra a perspectiva que o autor apre-


senta durante o trabalho, quando demonstra que o sindicalis-
mo revolucionário era a perspectiva de atuação sindical he-
gemônica no movimento operário brasileiro. Além do mais,
existiam anarco-comunistas sindicalistas revolucionários, tais
como Neno Vasco, baseados na concepção de atuação sindi-
cal de Malatesta. Ao considerar o anarcossindicalismo como
“atuação dos anarquistas no sindicato”, o autor acaba come-
tendo um deslize conceitual, pois na realidade o primeiro ter-
mo está relacionado à explicação dada ao segundo, sendo um
modelo que defende a existência do critério ideológico para
o ingresso no sindicato. O melhor termo a ser utilizado seria
“anarquistas sindicalistas” como faz Christina Roquette Lo-
preato ou então “anarquistas partidários da atuação sindical”
como faz Bonomo (2016, p. 139).
Sônia Santos (1999) considera que a fórmula do sindicalis-
mo revolucionário é que “o sindicalismo se basta a si mesmo”.
Nas palavras da autora:

A célebre frase: “o sindicalismo se basta a si mesmo”, pro-


ferida pelos sindicalistas revolucionários no “Congresso
de Amiens” (França), em 1906, permitiu, segundo as pró-
prias palavras de Neno Vasco, a formação do “nó vital do
sindicalismo revolucionário” (SANTOS, 1999, p. 21).

40
Esta perspectiva, como verifica-se, é equivocada, baseada
na falsa oposição entre sindicalismo revolucionário e anar-
quismo. Na realidade, os anarquistas historicamente defendem
a atuação anarquista no sindicato revolucionário como forma
de se alcançar a revolução social, como fizeram os aliancistas
na AIT e tentaram fazer os anarquistas no Brasil com seus di-
versos grupos políticos. A autora reverbera a oposição entre
sindicalismo revolucionário e anarco-comunismo, sendo que
o modelo tido como anarco-comunismo é o modelo defendido
pelo jornal La Battaglia, baseado na liberdade total do indiví-
duo, que não deveria obedecer regras nem inserir-se em orga-
nizações que cobrem algum grau de responsabilidade coletiva
(SANTOS, 1999), com muitas críticas em relação ao movimento
sindical e às greves. Mas esta corrente não era a única, tampou-
co a mais expressiva.
Estes foram alguns apontamentos finais sobre debates pre-
sentes na historiografia brasileira mais recente sobre o tema.
Muita coisa pode ter sido deixada de lado, mas também impor-
tantes debates encontram-se presentes aqui. De qualquer for-
ma, vemos que a historiografia recente, em comparação com a
historiografia da década de 1980, está mais esclarecida sobre os
conceitos sindicalismo revolucionário e anarcossindicalismo,
bem como sobre o anarquismo, embora os debates históricos e
conceituais ainda persistam – e devam persistir. O importante
é que posições equivocadas sejam superadas, posições acerta-
das sejam reiteradas e novas perspectivas e descobertas sejam
expostas.

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