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Apostila de Homilética

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Seminário Teológico Batista em São Luís

Avenida João Pessoa, 214-B. Bairro do João Paulo. CEP: 65040-001 São Luís-MA.
Telefone: (98) 98831-9247. E-Mail: stbslteologia@gmail.com. Site: stbsl.org

APOSTILA DE HOMILÉTICA

UNIDADE I – A ELABORAÇÃO DO DISCURSO E DO SERMÃO

São Luís, 2022


1
CAPÍTULO I

O PREGADOR E O MINISTÉRIO DA PREGAÇÃO

1. Introdução
Os principais fins do ministério acham na pregação um dos mais importantes meios de
regeneração e edificação espiritual dos pecadores. Tanto Jesus como os apóstolos foram grandes
pregadores. Em épocas posteriores ao período apostólico, os períodos mais luminosos da história da
igreja têm sido aqueles em que o púlpito tem ocupado o lugar de primazia que lhe corresponde. A
vitalidade da igreja tem sido consequência da qualidade e do poder da pregação.
Em nosso tempo, como tem ensinado o teólogo suíço Emil Brunner, “onde há verdadeira
pregação; onde, em obediência de fé, é proclamada a Palavra, ali, apesar das aparências em
contrário, se produz o acontecimento mais importante que pode ter lugar na terra”. Se a pregação
ultimamente tem decaído em muitas partes do mundo, isto não se deve a um fenômeno de
anacronismo, mas ao fato de que muitos pregadores têm perdido de vista a verdadeira natureza e as
características essenciais de sua função.

2. Conceito e Conteúdo da Pregação


“A pregação é aquele processo único pelo qual Deus, mediante seu mensageiro escolhido, se
introduz na família humana e coloca pessoas perante si, face a face. Sem esta confrontação não é
pregação verdadeira” (Charles W. Koller). James D. Crane, em “O Sermão Eficaz”, cita os seguintes
conceitos de pregação:
a) “Pregação é a comunicação da verdade por um homem aos homens”;
b) “Pregação é a verdade divina através da personalidade para a vida eterna”;
c) Pregação significa “a verdade divina comunicada através da personalidade, ou seja, a
verdade de Deus proclamada por uma personalidade escolhida com o fim de satisfazer às
necessidades humanas”;
d) “Pregação é a comunicação verbal da verdade divina com o fim de persuadir”.
Segundo José M. Martinez, “pregação é a comunicação, em forma de discurso oral, da
mensagem divina gravada na Escritura Sagrada, com o poder do Espírito Santo e através de uma
pessoa idônea, a fim de suprir as necessidades espirituais de um auditório”.
Haddon W. Robinson define pregação como sendo “a comunicação de um conceito bíblico,
derivado de e transmitido através de um estudo histórico, gramatical e literário de uma passagem no
seu contexto, que o Espírito Santo primeiramente aplica à personalidade e experiência do pregador, e
depois, através dele, aos seus ouvintes”.
Citando Bernard Manning, Robson Marinho conceitua pregação como “a manifestação do
Verbo encarnado, a partir do verbo escrito, por meio do verbo falado. E acrescenta: “A pregação é,
acima de tudo, o testemunho do Deus que fala, do Filho que salva e do Espírito que ilumina”. 1
Uma definição poético-filosófica de pregação foi dada por Charles Dickson, ex-professor de
Homilética do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil (Recife-PE). Ele define sermão nos
seguintes termos: “Pregar é confortar o perturbado e perturbar o confortado”.
No que concerne ao conteúdo da pregação, é vital que todo pregador tenha uma ideia clara do
que na de constituir a substância dos seus sermões. O pregador cristão está na linha de sucessão dos
antigos profetas. Por traz de todas as suas afirmações há de estar o “Assim diz o Senhor”. Portanto, o
conteúdo da pregação é a Palavra de Deus. Isto não significa tão somente que a pregação há de girar
em torno de um determinado texto das Escrituras, mas há de estar impregnada da totalidade de seus
ensinos.
1 Robson M. MARINHO. A arte de pregar: a comunicação na homilética, p. 125.
2
3. O Espírito Santo e a Pregação
Qualquer forma de testemunho cristão exige o poder do Espírito Santo (At 1.8); quanto mais a
pregação! O primeiro sermão ouvido na primeira igreja cristã foi resultado da ação do Espírito Santo
no dia de Pentecoste. A força irresistível dos discursos de Estevão devia-se ao mesmo poder (At 6.8-
10; 7.55). Paulo reconhece que a intervenção do Espírito Santo era o segredo da eficácia de sua
pregação (1Co 2.4; 2Co 3.3; 1Ts 1.5).
Um pregador divorciado do Espírito Santo é “metal que soa e címbalo que tine”. Não basta
conhecer a fundo a Bíblia e expô-la com escrupulosa lealdade. Se o Espírito Santo não operar nas
mentes e nos corações dos ouvintes os resultados serão nulos. Rudolf Bohren disse: “O melhor
fundamento teológico da pregação não auxilia ao pregador se o Espírito Santo é recusado”.
O sentimento de entusiasmo produzido em um auditório por uma eloquência arrebatadora
pode confundir-se com uma adesão sincera à mensagem do evangelho. A adesão fácil lograda por uma
forte pressão psicológica pode ser confundida com a conversão e a entrega a Cristo e, como resultado,
teremos crentes que conhecem sobre Deus, mas não o amam nem têm compromisso com ele;
conhecem intelectualmente a Bíblia, mas suas vidas não são transformadas por ela.

4. As Necessidades Humanas e o Propósito da Pregação


O pregador é um intermediário entre Deus e os ouvintes. Por esta razão, deve conhecer a Deus
e viver o mais perto dele que for possível. Ele há de ser fiel ao seu Senhor e, por amor a ele, amar a
quem o escuta com uma preocupação sincera com sua situação e seu estado espiritual.

4.1. A pregação e as necessidades humanas


O pregador tem diante de si homens e mulheres com suas inquietudes, suas dúvidas, seus
desejos nobres, suas debilidades, suas lutas, seus avanços espirituais, seus pecados, suas alegrias e
seus temores. De alguma maneira, o pregador tem de penetrar nesse mundo interior de cada ouvinte e
iluminá-lo e purificá-lo e fortalecê-lo com a Palavra de Deus. Ao pensar no homem, temos de pensar
na totalidade de seu ser e de “sua circunstância”. É necessário desterrar falsos espiritualismos e, desde
o púlpito, encarar os ouvintes como seres de carne e osso.
Por meio da pregação, o atribulado há de receber consolo; o que se acha em escuridão, luz; o
rebelde, admoestação; o penitente, promessas de perdão; o caído, perspectiva de levantamento e
restauração; o fatigado, descanso e novas forças; frustrado, esperança; o inconverso, a palavra
cativadora de Cristo; o santo, a mensagem para crescer em santificação. Resumindo, o púlpito há de
ser a porta da grande despensa divina da qual são tiradas as provisões necessárias para suprir as
necessidades espirituais dos ouvintes.

4.2. O propósito da pregação


Todo sermão deve ter um objetivo concreto. Deve levar o ouvinte a um confronto com Deus.
O conteúdo da mensagem não só tem de iluminar e agitar os sentimentos; há de mover a vontade.
Toda pregação deverá levar o ouvinte a tomar algum tipo de decisão. Esta pode ser a conversão, a
confissão íntima a Deus de um pecado, a renúncia a alguma prática indigna de um cristão, uma entrega
plena à vontade de Deus, a resolução de reconciliar-se com um irmão, a determinação de dedicar mais
tempo à leitura da Bíblia e à oração, a oferecer-se a algum tipo de serviço cristão, a de evangelizar
com maior zelo, etc.
É verdade que, nem em todos os casos, a pregação, embora esteja direcionada por um
propósito concreto, logra sua finalidade. Sempre há ouvidos e corações invulneráveis à Palavra.
Também é verdade que o Espírito Santo pode alcançar fins aos quais o pregador não se propunha.
Sem uma meta precisa para cada mensagem, todo o esmero na exegese, toda a habilidade e
todos os recursos de oratória serão pouco menos que inúteis. Um sermão jamais deve ser uma mera
obra de arte. Não há de chegar aos ouvidos do auditório como uma bela sinfonia, mas como se espera

3
que seja: a voz de Deus que fala aos homens e os insta às decisões mais transcendentais. “A pregação
sempre é um caso de vida ou morte”.

5. A Pessoa do Pregador
Pelo conceito que vimos de pregação, podemos formar uma ideia do que seja a figura de um
pregador. Segundo as Escrituras, há diversos tipos de pregadores e, portanto, apresentaremos diversos
conceitos, de acordo com o tipo de ministério que cada um exerce. O ministério da pregação é
essencialmente profético. O pregador é um mensageiro de Deus cujo coração está inflamado com a
mensagem que haverá de anunciar aos seus ouvintes. Como disse Roy Allan Anderson, “o pregador
não apenas possui uma mensagem, mas é possuído pela mensagem”. 2

5.1. Tipos de pregadores


Os tipos de pregadores, de acordo com a Palavra de Deus, são definidos pela diversidade de
ministérios, os quais necessitam do uso das Escrituras. Segundo o Novo Testamento, há cinco tipos de
ministros essenciais ao crescimento numérico e espiritual da igreja: Apóstolos, Profetas, Evangelistas,
Pastores e Mestres. Embora tenham objetivos diferentes, todos têm um ponto em comum: a
ministração da Palavra de Deus.
a) Apóstolos - Literalmente, um apóstolo é um “enviado”. Ele é um homem vocacionado e
comissionado pelo Espírito Santo (At 13.2). Seu campo de trabalho é o mundo, sua missão
é plantar igrejas, sua tarefa é fazer discípulos e ensiná-los e seu instrumento de trabalho é
a Bíblia. Sua atividade de rotina é anunciar a salvação aos perdidos e doutrinar os
neoconversos para a edificação da igreja. Isto requer conhecimento profundo e habilidade
na exposição da Palavra de Deus.
b) Profetas - Profeta é um homem vocacionado a quem Deus revela seus intentos e através do
qual fala com seu povo (Am 3.7). Ele é o porta-voz oficial de Deus. Ele fala em nome de
Deus a todo o povo de Deus e seu campo de ministério estende-se para além da igreja
local. Ao falar, ele o faz com o propósito de edificar, exortar e consolar (1Co 14.3, 31; At
15.32). Ele tem o discernimento não só da necessidade espiritual dos seus ouvintes como
também de qual a mensagem que suprirá tal necessidade. Seu instrumento de trabalho é a
Bíblia, o registro da revelação de Deus.
c) Evangelistas - O melhor exemplo bíblico deste tipo de ministro de Deus é Filipe (At 8). O
evangelista é o anunciador das boas novas do reino e seu assunto não é outro, senão, Jesus.
Ele é um ganhador de almas, cujo ministério estende-se para além de uma simples
testemunha. Em seu ministério, ele efetua grandes “colheitas de almas”. Sua maior
característica é a paixão pelos perdidos. Ele também necessita de profundos
conhecimentos e grande habilidade na arte de expor a Palavra de Deus.
d) Pastores - Estes são ministros da igreja local. Sua função consiste em apascentar as
ovelhas de Cristo. Em seu ministério, utilizando a Palavra de Deus, ele desempenha as
seguintes tarefas:
· GUIAR, apontando a direção para a qual Deus quer que seu povo seja conduzido;
· ALIMENTAR, suprindo as necessidades espirituais individuais e coletivamente do
rebanho;
· PROTEGER, combatendo as falsas doutrinas através do ensino apologético para evitar
o desvio doutrinário do povo de Deus;
· CURAR, aplicando a Palavra de Deus em situações específicas de cada pessoa,
visando tratá-las dos males que arruínam a vida espiritual.
e) Mestres - Os mestres são os instrutores do rebanho. Através da ministração da Palavra de
Deus, eles ensinam o rebanho, visando o seu progresso espiritual tanto individual quanto

2 Robson M. MARINHO. Op. cit. p. 157.


4
coletivo. A meta final do ministério dos mestres é a edificação espiritual dos crentes, até
que todos cheguem “à medida da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita
varonilidade, à estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13).

5.2. Requisitos de um ministro da Palavra


O ministério cristão requer de seus ministros que estejam qualificados tanto espiritual como
moralmente. A vida e a conduta de cada ministro devem falar mais alto do que suas próprias palavras.
Há, portanto, dois tipos de requisitos exigidos da pessoa do pregador: requisitos espirituais e requisitos
morais.

5.2.1.Requisitos espirituais
a) O pregador espiritualmente capaz é um homem regenerado. Sua regeneração é
comprovada pelos frutos de uma nova vida. As testemunhas de sua vida pública
comprovam sua transformação. Sua ordem de valores e interesses prioriza
visivelmente o reino de Deus.
b) O pregador espiritualmente credenciado há de ser também um homem vocacionado.
Ele não só ouviu e obedeceu à voz de Deus que o chamou, mas por todos que o
conhecem é reconhecido e aprovado como homem escolhido por Deus. Sua vocação é
comprovada pela sua dedicação e por sua vida consagrada. Sua lealdade e obediência
a Deus estão acima de tudo e de todos. Seu senso de responsabilidade e compromisso
leva-o ao sacrifício de sua própria vida. Seus planos são os planos de Deus e sua
vontade maior é a vontade soberana de Deus.
c) O terceiro requisito é sua vida de santidade. Ele é um obreiro cuja pureza de vida
demonstra sua integridade de caráter. Ele é um homem cheio do Espírito Santo. O
fruto do Espírito (Gl 5.22-23) flui de seu caráter através de suas ações.
Sua autoridade e poder na pregação não estão no volume de sua voz nem mesmo em seu estilo
de linguagem, mas na unção divina que resulta de uma vida íntima de devoção e comunhão com Deus.
Quando ele prega, seus ouvintes tornam-se convictos de que, antes de trazer sua mensagem, ele esteve
com Deus. Mas lamentavelmente há pregadores que não são dignos da tribuna sagrada. Como disse
Spurgeon: “Se alguns pregadores fossem condenados a ouvir seus próprios sermões, diriam como
Caim: ‘Meu castigo é maior do que posso suportar’.” 3

5.2.2.Requisitos morais
As exigências morais que Deus requer de seus ministros foram um padrão tão elevado que o
mesmo torna-se modelo a ser seguido pelos demais filhos de Deus (Fp 3.17; 1Ts 1.6, 7). Segundo o
apóstolo Paulo, o ministro de Deus deve ser modelo nas seguintes virtudes:
a) Conduta ilibada (Tt 1.6);
b) Pai exemplar e esposo fiel e dedicado (Tt 1.6; 1Tm 3.4, 5);
c) Emocionalmente equilibrado (Tt 1.7);
d) Integridade de caráter (Tt 1.8);
e) Maturidade (1Tm 3.6).

3 Robson M. MARINHO. Op. cit. p. 170.


5
CAPÍTULO II

O SERMÃO, SUAS CARACTERÍSTICAS E SUAS PARTES

1. Conceito e Características de um Sermão


Até aqui temos estudado sobre a pregação, o pregador e afirmamos que a mensagem bíblica
por ele proclamada em forma de um discurso chamamos de sermão. Mas quais os elementos que
transformam um discurso em sermão? Como podemos distingui-lo de um discurso comum?

1.1. O sermão é um discurso bíblico


A primeira característica de um sermão que o identifica como tal e o distingue de um discurso
qualquer é o fato de que a mensagem do sermão é extraída das Escrituras Sagradas. O sermão, embora
sendo produzido pelo homem, sua fonte é a revelação divina. O assunto e o conteúdo do sermão são
definidos pelo pregador, mas ele o faz com o discernimento e a direção do Espírito Santo, o verdadeiro
autor da mensagem.
O pregador, como homem de Deus, há de falar em nome de Deus e sua mensagem soa aos
ouvidos do auditório como a voz de Deus. Portanto, a substância do sermão tem como fonte a Bíblia
Sagrada. Se o discurso de um pregador não é bíblico, o mesmo continua sendo discurso, mas nunca
um sermão. O sermão é produto da sabedoria de Deus, o discurso é fruto da sabedoria do homem.

1.2. O sermão alimenta a alma


A segunda característica que identifica um sermão, diferenciando-o de um discurso é que o
sermão alimenta a alma, fortalece o espírito e produz vida, enquanto que o discurso apenas enriquece e
convence o intelecto, levando o ouvinte a concordar e até a agir segundo as intenções do orador, mas
sua vida não será mudada.
O sermão produz quebrantamento, arrependimento e submissão a Deus; o discurso, ainda que
emocione, não muda a vida do ouvinte. O sermão glorifica a Deus, o discurso exalta o orador. Através
do sermão o pregador maneja as Escrituras e orienta os ouvintes para a vida; através do discurso o
orador manipula tanto as palavras como os seus ouvintes.

1.3. O sermão direciona a vida


A terceira característica que define um sermão e o distingue do discurso é que o sermão
direciona a vida, apontando as alternativas divinas propostas ao homem na sua trajetória rumo ao seu
destino. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra; e luz para o meu caminho” (Sl 119.105). O
sermão leva o homem na direção de Deus, o discurso leva o homem na direção de outro homem. O
sermão muda a vida, o discurso a distorce.
Um exemplo claro disso, encontra-se no livro do profeta Jeremias: “Eis que eu sou contra os
que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e com as suas mentiras e leviandades
fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum
trouxeram a este povo, diz o Senhor” (Jr 23.32). Por tais características, podemos definir um sermão
assim: “Sermão é um discurso bíblico que alimenta a alma e direciona a vida”.

2. A Necessidade de um Modelo de Exposição das Escrituras


Duas são as razões que justificam a necessidade de um modelo de exposição das Escrituras. A
primeira é que a mensagem precisa ser compreendida e o ouvinte persuadido. A segunda é que a
variedade de assuntos de que tratam as Escrituras exige formas adequadas para expô-los. Uma
mensagem de bom conteúdo pode ser prejudicada por um modelo inadequado de exposição. A
mensagem bíblica visa saciar a alma carente. A mensagem que alimenta depende de dois requisitos:
1) Que o orador domine o assunto. Não devemos falar em público sobre um assunto do qual
não temos conhecimento. A exposição de um tema em público requer conhecimento
6
profundo do mesmo. O orador bem sucedido é o que convence e persuade; e isto ninguém
consegue com superficialidade. Quem não conhece O QUE vai dizer não sabe COMO
dizer.
Para “dizer bem” é preciso “conhecer bem”. Falar sem saber é precipitação tola e o melhor
discurso do tolo é o silêncio. Salomão declara: “Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio, e o que
cerra os lábios, por entendido” (Pv 17.28). Isto implica em dizer que, se você não sabe, não fale, pois
quem não sabe o que vai dizer, estando calado, é mais útil. Dionísio disse: “Seja sua fala melhor do
que o silêncio, ou então fique calado”.4
2) Que o assunto seja pertinente. Qualquer que seja seu tema, ainda que seja rica de
conteúdo bíblico, a mensagem que interessa ao ouvinte é aquela que é pertinente. Um
tema interessante merece um bom modelo de exposição do mesmo.
Uma das regras para um bom discurso é esta: você fala somente o que interessa ao auditório,
porque você está interessado nele. Qualquer pregador, em cujo coração arde pelos seus ouvintes a
mesma paixão que tinha Jesus pelas almas dos homens, falará com certeza somente aquilo que pode
satisfazer à fome e sede espiritual dos seus ouvintes. Toda pregação bíblica visa saciar espiritualmente
o homem.
Para cada necessidade espiritual humana há nas Escrituras o alimento certo que há de ser uma
mensagem que trate de um assunto pertinente; que se adeque à expectativa e à necessidade do
auditório e seja exposto de forma adequada.

3. Como Escolher o Modelo de Exposição Adequado


3.1. Respondendo a duas perguntas-chave
Há três perguntas importantes que devem ser respondidas antes da escolha do modelo certo de
exposição das Escrituras: A primeira é “ONDE vou falar?”; a segunda é “QUEM vai me ouvir?”; a
terceira é: QUAL o propósito da mensagem?. O onde se refere ao ambiente; o quem diz respeito ao
tipo de pessoas que ouvirão a mensagem; e o qual a necessidade define o objetivo a ser alcançado pelo
sermão.
A resposta à primeira pergunta poderá ser: no rádio, na televisão, em praça pública, no templo
da igreja, no auditório de um hotel, numa escola, no quartel militar, numa residência familiar, etc. O
ambiente pode definir quantas e quais pessoas estarão ouvindo. Mas QUEM especificamente? O
orador, ao tomar conhecimento do ambiente, precisa também saber que tipo de pessoas estará lhe
ouvindo.
O orador, ao perguntar sobre quem estará lhe ouvindo, poderá ter como resposta: estudantes
universitários, adolescentes, idosos, empresários, pastores e líderes eclesiásticos, profissionais liberais,
policiais, políticos, trabalhadores de uma fábrica, uma igreja, etc. Para cada tipo de ambiente e público
é necessário um modelo adequado de exposição.

3.2. Definindo qual a intenção


O pregador, antes de elaborar sua mensagem, precisa definir o que deseja conseguir de seus
ouvintes; e só, então, poderá perguntar-se: Qual a melhor forma de expor tal assunto, a fim de que eu
possa convencer e persuadir meus ouvintes a tomar tal decisão?
Os sermões de Jesus tiveram formas variadas de exposição. O estilo do “sermão do monte” foi
bem diferente do estilo da mensagem sobre o “reino dos céus” pregada às multidões, à margem do
Mar da Galileia. A mensagem a Nicodemos teve um estilo diferente da mensagem aos doze discípulos
pregada por Jesus após a “Santa Ceia”. Jesus teve formas diferentes, mas adequadas aos tipos de
ambiente e de pessoas e às suas intenções para com as pessoas que lhe ouviram.

4 Robson M. MARINHO. Op. cit. p. 20.


7
4. Tipos de Sermão
O sermão tem não só diversas características que o distinguem de um simples discurso, como
também possui diversas categorias. Classificamos o sermão de diversas formas, mas as mais principais
são as que passaremos a descrever agora:

4.1. De acordo com o propósito


Como todo sermão inevitavelmente tem um propósito, podemos classificá-lo da seguinte
forma: evangelístico, doutrinário, consagratório, devocional, ético e exortativo.
a) Evangelístico – o sermão evangelístico é aquele cuja mensagem se destina às pessoas que
não tiveram ainda uma experiência de conversão. Esse tipo de sermão tem por finalidade a
de produzir fé e arrependimento no ouvinte, resultando em sua conversão.
b) Doutrinário – o sermão doutrinário é assim denominado, porque visa instruir o crente nas
doutrinas fundamentais da fé cristã, para produzir em seu coração convicção e mantê-lo
perseverante, resguardando-o do risco de apostasia.
c) Consagratório – este tipo de sermão caracteriza-se pela finalidade que tem de desafiar o
ouvinte a consagrar sua vida ao serviço no reino de Deus. O sermão consagratório visa
despertar no crente a vocação divina para a qual o Espírito Santo o habilita com dons.
d) Devocional – o sermão devocional é aquele que inspira fé, amor e gratidão a Deus,
conduzindo a alma do ouvinte ao altar da adoração reverente e sincera; a buscar a Deus de
uma forma contrita através da oração perseverante e a praticar a leitura e meditação na
Palavra de Deus como fonte de alimento espiritual. Este tipo de sermão motiva o ouvinte a
viver em comunhão com Deus.
e) Ético – o sermão ético tem por finalidade a formação do caráter cristão, o aperfeiçoamento
moral do crente, para habilitá-lo a desenvolver seu papel social, fazendo uso responsável
de sua liberdade através de uma conduta ilibada. O sermão ético edifica os santos,
revelando os padrões divinos que definem a forma adequada dos filhos de Deus
relacionarem-se com a família e a sociedade no contexto em que vivem.
f) Exortativo – este tipo de sermão propõe-se a fortalecer, animar e consolar a alma
angustiada e deprimida, inspirando-lhe fé e esperança no poder e na providência de Deus
para a solução dos problemas da vida nas horas de crise.

4.2. De acordo com o momento


O momento histórico ou uma situação específica classificam o sermão como:
a) Cerimonial – estes sermões são destinados a solenidades especiais tais como: casamentos,
formaturas, assembleias convencionais, inaugurações, Ceia do Senhor, aniversários,
cerimônias fúnebres, etc.
b) Comemorativo – estes são sermões especiais para festas e comemorações em dias
especiais, tais como: aniversários, dia das mães ou dos pais, dia do professor, dia do
trabalhador, dia internacional da mulher, natal, ano novo, etc.
c) Cívico – estes são sermões apropriados para ocasiões relacionadas a eventos cívicos em
geral, tais como: dia da bandeira, dia da proclamação da república, dia da independência,
dia do soldado; ou ainda, quando ocorre posse de autoridades em cargos públicos
(prefeitos, governadores, etc.), quando se trata de uma manifestação popular em defesa
dos direitos humanos.

8
4.3. De acordo com o conteúdo do texto
De acordo com o conteúdo do texto bíblico, o sermão pode ser classificado em:
a) Biográfico – sermão biográfico é aquele, cujo conteúdo é extraído da vida de um
personagem da Bíblia.
b) Profético – um sermão é profético quando o conteúdo do mesmo nasce de algum tema da
profecia ou quando sua mensagem interpreta a vontade de Deus em uma situação especial
que se aplica à realidade dos ouvintes.
c) Doutrinário – o sermão doutrinário sempre tem um tema de cunho teológico como, por
exemplo: expiação, predestinação, santificação, ressurreição, reino de Deus, segunda
vinda de Cristo, os dons do Espírito Santo, etc.
d) Histórico – o conteúdo deste tipo de sermão é tirado dos fatos e episódios da história do
povo de Deus, onde a ação de Deus foi registrada. Tal sermão visa direcionar não o
indivíduo, mas a igreja como um todo, revelando princípios e diretrizes divinas para a
jornada da igreja na história da salvação.
e) Apologético – é uma modalidade de sermão muito parecido com o doutrinário, com a
diferença que este propugna a defesa da sã doutrina e o combate explícito às heresias.

4.4. De acordo com o modelo de exposição bíblica


4.4.1.Temático
Todo sermão tem um tema, mas a diferença que este faz é que o mesmo não tem um único
texto como referência. Seu texto é a Bíblia. Normalmente o sermão temático é doutrinário ou
apologético. Embora não haja um texto bíblico em que o sermão se fundamente, podemos utilizar uma
expressão bíblica que sugere um tema. Veja na página seguinte exemplos de sermões temáticos.

VEJA EXEMPLOS NA PÁGINA SEGUINTE

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EXEMPLO 1:

FAZENDO DIFERENÇA

Texto: “Não vos conformeis com este mundo” (Rm 12.2)


Como podemos fazer diferença em um mundo onde todos são iguais?
I. Compreendendo a visão que Deus tem do mundo
1) O homem natural vê o mundo com os olhos de sua cultura; o crente o vê sob a ótica de
Deus. Mas como Deus vê o mundo?
2) Mundo é o reino da impiedade dominado pelas forças do mal - “o mundo jaz no
maligno” (1Jo 5.19; cf. Ef 6.12).
3) Mudo é um sistema de valores perverso e hostil a Deus (1Jo 2.15-17; Tg 4.4).

Compreendendo o que somos em relação ao mundo


1) Temos uma identidade que nos diferencia do mundo e nos assemelha a Deus: Filhos
de Deus (Gl 3.26; Ef 5.1); Filhos da luz (Ef 5.8; 1Ts 5.5); Luzeiros do mundo (Fp
2.15).
2) Estamos separados do sistema que impera no mundo (Cl 1.13).

II. Compreendendo nossa razão de estarmos no mundo


1) Assumirmos nossa função de “embaixadores de Cristo” (2Co 5.20) e de “sacerdotes
de Deus” (1Pe 2.5, 9; Ap 5.10; 20.6).
2) Exercermos no mundo um mandato missionário (Jo 17.18; 20.21)

EXEMPLO 2:
O PECADO NA VIDA DO CRENTE

Texto: este é um exemplo de sermão sem texto básico


I. Sua Realidade
1) Confirmada pelas Escrituras (1Jo 1.8-10)
2) Confirmada pela experiência (Rm 7.14-24)
II. Sua Origem
1) A queda de Adão (Rm 5.12; cf. 1Co 15.22)
2) A velha natureza do crente (Gl 5.16-17; Tg 1.14-15)
III. Seu Remédio
1) Propiciação (1Jo 2.1-2)
2) Santificação (Rm 6.11-14)
3) Andar no Espírito (Gl 5.16)

Observações quanto ao sermão temático:


a) O sermão temático pode servir como instrumento de manipulação da Bíblia por parte de
um pregador mal intencionado.
b) Pode estimular a prolixidade e o exibicionismo de um pregador vaidoso.
c) Pode ser uma forma de tornar a Bíblia mais compreendida, quando o pregador é
habilidoso e tem conhecimento profundo das Escrituras.
d) É a forma mais adequada para a exposição teológica.

4.4.2.Textual
Como o próprio nome indica, o sermão textual é aquele que se concentra no texto do qual seu
tema é extraído. O texto bíblico é o miolo da mensagem, embora textos paralelos possam ser utilizados
para confirmar e clarear os pontos principais da estrutura do sermão. O sermão textual é
10
essencialmente exegético. Uma característica forte de um sermão textual é que os pontos principais
são frases ou parte de frases que estão no próprio texto. Vejamos alguns exemplos:

EXEMPLO 1
TEXTO: Mq 6:8 – Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de
ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu
Deus.

TEMA: O QUE DEUS PEDE DO HOMEM


I. Que pratique a justiça – “... que pratiques a justiça...”
II. Que seja misericordioso – “... ames a misericórdia...”
III. Que se humilhe perante Deus – “... andes humildemente com o teu Deus”.

EXEMPLO 2
TEXTO: 1Pedro 2.9 – Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;

TEMA: A NATUREZA VOCACIONAL DA IGREJA


Quatro aspectos da igreja definem sua natureza missionária:
I. UNIDADE II – A APRESENTAÇÃO DO SERMÃOComunidade dos escolhidos de
Deus – “... raça eleita...”
II. Comunidade dos resgatados por Deus – “... povo de propriedade exclusiva de
Deus...”
III. Comunidade dos santificados por Deus – “... nação santa...”
IV. Comunidade dos vocacionados por Deus – “... a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a luz”.

EXEMPLO 3
TEXTO: Atos 10.38 – “como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com
poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos
do diabo, porque Deus era com ele”;

TEMA: A MISSÃO DE JESUS


Primeira Opção:
Cinco características marcaram a missão de Jesus:
I. Fundamentada na autoridade divina – “... Deus ungiu a Jesus...”
II. Realizada no poder do Espírito – “... com o Espírito Santo e com poder...”.
III. Foi uma obra sem fronteiras – “... andou por toda parte...”.
IV. Teve propósito libertador – “... curando todos os oprimidos do diabo...”.
V. Foi direcionada pelo Pai – “... porque Deus era com ele”.
Segunda Opção:
A missão de Jesus pode ser compreendida a partir dos seguintes elementos:
I. O fundamento de sua missão: a autoridade do Pai – “... Deus ungiu a Jesus de
Nazaré...”.
II. Os recursos para a sua missão: o poder do Espírito – “... com o Espírito Santo e com
poder...”.
III. A abrangência de sua missão: sem fronteiras – “... por toda parte...”.
IV. O propósito de sua missão: a libertação do homem – “... curando todos os oprimidos
do diabo...”.
V. O segredo do seu sucesso: a direção de Deus – “... porque Deus era com ele”.

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Observações quanto ao sermão textual:
a) Exige esforço do pregador em explicar cada ponto, uma vez que, quase sempre, a estrutura
do sermão não contém subpontos.
b) Apresenta um tema estreito e muito específico.
c) A mensagem é direta, isto é, não vaga por caminhos paralelos nem se perde em rodeios.
d) Sua elaboração exige do pregador uma investigação mais intensa de um texto menos
extenso em comparação com o sermão expositivo.

4.4.3.Expositivo
Este modelo de sermão não é bem definido pelo seu próprio nome, pois tanto o sermão
temático quanto o textual são bíblicos e expositivos. Diante disso, o sermão expositivo não significa
nem se limita a uma simples exposição de um texto bíblico, versículo por versículo. Uma leitura do
texto, uma explicação exegética de cada um dos versículos ou de cada uma de suas frases, alguma
ilustração e, por fim, uma aplicação prática, não constituem um sermão expositivo.
Um sermão expositivo é, por regra geral, bastante mais difícil de ser preparado que qualquer
outra classe de sermões, pois nem sempre é fácil ordenar os elementos do texto: atos, pensamentos,
preceitos, exortações, etc., de modo que se obtenha um esboço aceitável. Um sermão expositivo obriga
o pregador a usar todo o material importante da passagem bíblica, mas com o devido ordenamento, de
modo que tanto o tema como seus pontos principais apareçam com claridade e com a necessária
lógica.
Há duas diferenças entre o sermão textual e o sermão expositivo. A primeira é que o textual
tem um texto menor que o do expositivo. Normalmente um pequeno parágrafo ou uma simples
declaração contida em um ou dois versículos, enquanto que o texto do sermão expositivo é bem maior,
às vezes, mais que um capítulo. A segunda é que o sermão expositivo é hermenêutico e o textual é
essencialmente exegético.

VANTAGENS DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA


a) A primeira vantagem é que poderemos estar mais confiantes de estar pregando a vontade
de Deus. A exposição verdadeira aumenta esta confiança e a sensação de autoridade que
emerge dela. “Assim diz o Senhor” é a afirmação tradicional e muitas vezes trovejante. É
melhor que ela seja acompanhada pela apresentação fiel do que o Senhor realmente disse.
Na pregação expositiva ficamos limitados à verdade bíblica. O subjetivismo fica
minimizado.
b) A segunda vantagem é que, à medida que pregamos através das Escrituras, nós
proclamamos “todo o conselho de Deus” e não somente nossos assuntos preferidos.
c) Em terceiro lugar, geralmente o contexto da passagem inclui sua própria aplicação. Se
deixarmos que a passagem tenha hoje em dia a mesma função que teve na situação
original, podemos evitar uma disjunção desapropriada entre o corpo do sermão e a
conclusão.
d) Uma quarta vantagem é que frequentemente a Bíblia fornece uma estrutura literária que
pode servir de base para o esboço do sermão.
e) A prática mais ou menos habitual da pregação expositiva favorece ao pregador com o
aumento de seus conhecimentos das Escrituras.
f) A pregação expositiva conta com uma fonte inesgotável de material tão variado como
proveitoso. Isto livra o pregador da preocupação de encontrar novos temas para seus
sermões.

12
g) As passagens bíblicas sobre as quais o orador pregue fará com que ele encontre pontos
relativos a questões delicadas que talvez nunca chegaria a tratar se houvesse de expô-las
diretamente como tema de um sermão.
h) A congregação se beneficia grandemente da pregação expositiva, pois através dela abrem-
se perspectivas muito mais amplas da verdade bíblica, estimulando seu interesse pela
leitura da Palavra de Deus.

A IMPORTÂNCIA DO SERMÃO EXPOSITIVO


O aspecto mais importante do sermão expositivo é que ele combina a revelação de Deus com a
sua vontade. Considerando a subjetividade do pregador, as limitações da mente humana e os danos
que o subjetivismo está causando à teologia moderna, é mais provável que um sermão tenha algum
erro do que não o tenha. Por esta razão, quanto mais perto nos ativermos à Palavra revelada de Deus,
menos suscetíveis seremos ao erro.
Outro aspecto importante da pregação expositiva é que ela ensina a Palavra de Deus no
contexto escolhido pelo Espírito Santo. Todo estudioso da Bíblia sabe que o contexto é importante. O
Espírito que inspirou o texto original, sabendo, portanto, sua própria intenção, tinha meios de evitar
que os autores bíblicos o usassem mal. Nós, entretanto, não contamos com a mesma inspiração e
proteção de erros humanos, razão pela qual precisamos tomar muito cuidado para detectar a linha de
pensamento expressa no seu contexto.
Um terceiro aspecto importante do sermão expositivo é que ele dirige a atenção do ouvinte
para as Escrituras. O propósito do pregador não deveria ser meramente suprir uma necessidade da
congregação, mas equipá-la para enfrentar necessidades durante toda a semana. Ele não deveria
colocar a si mesmo no lugar de autoridade e fonte de recursos, mas dirigir os corações e as mentes
para o Senhor. A própria Palavra de Deus deve ser esta autoridade e fonte de recursos.

13
CAPÍTULO IV

O PLANEJAMENTO DO SERMÃO

1. Introdução
Como vimos anteriormente, o ministério da pregação é algo de extrema importância e do mais
alto grau de responsabilidade, pois o pregador lida com vidas que são preciosas para Deus. Diante
disso, o sermão, como mensagem de Deus anunciada ao homem por meio de outro homem, requer um
conteúdo do mais alto teor espiritual que atenda às necessidades espirituais dos ouvintes. Para tanto, o
sermão necessita de um preparo adequado, isto é, de um planejamento eficaz.

2. Os Sete Passos Para a Elaboração do Sermão


Aprendemos que o sermão é um discurso bíblico que alimenta a alma e direciona a vida. Por
ser um discurso ele tem partes: proposição ou tese, corpo e conclusão. Proposição ou tese é a ideia
mãe, o cerne do sermão, que é mencionada na introdução e da qual o tema procede. A tese, para ser
apresentada de forma clara e compreensível através da exposição, precisa ser subdividida em tópicos
(itens ou subtítulos) dispostos de forma ordenada numa sequência lógica por meio de um esboço
didático, que é o corpo do sermão. A conclusão, também chamada de peroração, é o final do sermão
composto de duas partes: epílogo (fechamento ou recapitulação) e apelo ou exortação.
A elaboração do sermão exige do pregador um plano básico composto de cinco dados
imprescindíveis: tema, texto, objetivo básico, objetivo específico e uma tese ou proposição. Por falta
de qualquer destes elementos não há plano básico e, consequentemente, não haverá sermão. O
processo de elaboração de um sermão obedece a sete passos:
1) Identificar a necessidade premente a ser atendida.
2) Definir um objetivo básico (evangelístico, doutrinário, consagratório, devocional, ético ou
exortativo).
3) Escolher um texto bíblico adequado.
4) Analisar o texto, utilizando os recursos da hermenêutica e da exegese.
5) Identificar a ideia central e definir uma tese e um título.
6) Dividir o tema em partes (ideias mais simples e específicas), ordenando didaticamente os
pontos principais numa estrutura que facilite a exposição do assunto.
7) Elaborar uma conclusão de impacto e uma introdução que desperte o interesse e prenda a
atenção do ouvinte.

3. Aspectos Gerais do Planejamento do Sermão


O planejamento do sermão garante uma unidade à mensagem. No planejamento do sermão,
cada parte do processo procede de outra e obedece a uma sequência lógica. Eis alguns aspectos de
cada parte do plano geral do sermão.
a) O texto bíblico é interpretado de acordo com os princípios sólidos da hermenêutica a fim
de determinar a sua lição central (ideia central do texto).
b) A ideia central é a resposta clara e precisa das seguintes perguntas: Que disse o escritor
bíblico através deste texto aos primeiros receptores? Qual foi a ideia original do autor? Há
certas coisas que caracterizam o estilo de uma ICT. Ela deve ser sucinta, isto é, deve ser
redigida com até 25 palavras. Os verbos principais que a expressam deverão estar no

14
tempo passado. Ela será tão específica a ponto de servir somente para o texto em pauta.
Suas palavras devem formar um só período.
c) A tese da mensagem é tirada diretamente da ICT. Ela é a resposta clara e precisa das
seguintes perguntas: Que diz o texto a nós hoje? Qual é a aplicação da lição do texto? A
mensagem da tese é a mesma da ICT e, consequentemente, a mesma do texto bíblico. Ela
apresenta as seguintes características: é sucinta, isto é, deve ter no máximo entre 13 a 15
palavras. Se ela contiver 16 palavras, corte uma. O seu verbo principal deverá estar no
tempo presente. Ela deverá expressar uma mensagem que se aplique a mais que um lugar
na Bíblia. Deve ser uma verdade universal que se aplica a qualquer circunstância, tempo
ou local.
d) O objetivo básico identificará o tipo de sermão a ser pregado e será definido por uma
necessidade da congregação a ser atendida pela mensagem que a tese apresenta.
e) O objetivo específico, por sua vez, caracteriza o resultado que o orador deseja alcançar.
Ele conduzirá os ouvintes numa determinada direção e o levará a tomar uma decisão
coerente com a vontade de Deus.
f) Enquanto o objetivo básico é definido pelas necessidades dos ouvintes, o objetivo
específico é definido pelas intenções do orador, sob a direção do Espírito de Deus.
g) O objetivo específico é obtido como resposta à seguinte pergunta: O que Deus pretende
alcançar dos meus ouvintes por meio desta mensagem que eu vou pregar?
h) O tema ou título do sermão é uma derivação direta da tese; é a substância do sermão
expressa de forma atrativa e impressionante através de uma expressão que contenha no
máximo sete palavras. O tema deverá conter a essência da mensagem que o texto
apresenta.

4. O Plano Básico do Sermão


O melhor sermão é aquele que alcança o propósito de Deus, produzindo no ouvinte os
resultados para os quais a mensagem se destina. Portanto, para que isto aconteça, o sermão deverá
passar por quatro etapas imprescindíveis: preparação, revisão, memorização e exposição. Uma boa
exposição depende diretamente de um preparo adequado. Vejamos como devemos executar cada passo
ou etapa da elaboração do sermão.

4.1. A escolha de uma necessidade


Como ministro de Deus, o pregador desempenha quatro tarefas pastorais básicas: guiar,
alimentar, curar e proteger. Tais atividades são definidas por quatro necessidades espirituais básicas
que todo ser humano manifesta: direção para a vida, alimento espiritual, alívio para a alma no
sofrimento e segurança eterna. Por isso, todo ser humano busca ansiosamente:
a) O caminho certo que o conduza ao destino desejado;
b) O alimento adequado que fortaleça seu espírito;
c) A solução eficaz para os males que o atormentam;
d) O refúgio seguro que o resguarde dos perigos e temores.
No que diz respeito às necessidades específicas, elas podem ser classificadas em pessoais e
coletivas. As necessidades pessoais manifestam-se geralmente através dos seguintes sintomas:
ansiedade, solidão, tristeza, depressão, vazio espiritual, indecisão, etc.
As necessidades coletivas manifestam-se através de: situações sociais e éticas momentâneas,
crises públicas (eleições, atentados, problemas internacionais, desastres, etc.). As necessidades
específicas definirão o objetivo básico do sermão, mas, para detectá-las, o pregador depende de três

15
fatores: do conhecimento da situação dos seus ouvintes, de sua capacidade espiritual de discernimento
e de sua sensibilidade e obediência à voz do Espírito de Deus.
Como eleger uma necessidade:
a) Através de um diagnóstico da congregação;
b) Através da prioridade do momento histórico;
c) Através da exigência de uma situação emergente;
d) Através da ênfase às datas comemorativas.

4.1.1.O diagnóstico da igreja (Pv 27.23)


Um diagnóstico é uma análise técnica detalhada que o ministro de Deus, juntamente com sua
liderança, faz da situação atual em que vive a igreja local com o objetivo de obter os seguintes
resultados: a) detectar as debilidades e suas causas; b) descobrir os impedimentos e ameaças que
obstaculizam o desenvolvimento da igreja; c) encontrar as alternativas viáveis que as Escrituras
propõem, segundo a vontade de Deus, para o cumprimento da missão e o exercício do seu ministério.

4.1.2.A prioridade do momento histórico (Rm 13.11-14)


Cada povo e cada país têm sua história e suas peculiaridades. Portanto, o ministro de Deus,
como profeta, precisa discernir sua época e o tempo de Deus. “Há tempo para todo propósito debaixo
do céu” (Ec 3.1) e o profeta do Senhor sabe qual a sua hora de falar e o que deve falar. Jesus discerniu
bem seu tempo e sua mensagem: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo;
arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15).

4.1.3.A prioridade de uma situação emergente (Ne 2.17; Ag 1.4)


Calamidades, crises e ameaças sobrevêm não só a um país, mas também a uma igreja local.
Em tais situações é urgente que o ministro de Deus leve ao seu povo a mensagem que se adeque à
situação vivida no momento. Deus tem uma solução para cada problema e um propósito em cada
situação, por mais difícil que seja.

4.1.4.As datas comemorativas (Jo 7.37-38)


Épocas especiais exigem mensagens especiais e específicas. Assim, portanto, urge que o
ministro de Deus seja coerente em suas mensagens com as datas mais importantes do calendário
cristão. Seria absurdo que, na noite do natal, o ministro pregasse uma mensagem sobre finanças e
conclamasse seus ouvintes a tornarem-se fiéis dizimistas.

4.2. A definição de um objetivo


A eficácia de um sermão só pode ser medido pelo seu objetivo. Pregador sem objetivo é como
viajante sem destino. Sêneca disse: “Quando um homem não sabe a que porto quer chegar, nenhum
vento é o vento certo”.5 Um sermão bem elaborado possui dois objetivos: um geral e outro específico.
O fator que determina qual deve ser o propósito do sermão é a necessidade humana. O sermão tem
apenas um dos seis objetivos básicos a seguir: evangelístico, doutrinário, consagratório, devocional,
ético e exortativo.
O objetivo específico trata da aplicação prática da mensagem à mais premente necessidade
espiritual da congregação no momento. Ele é a substância do apelo pronunciado no final e, portanto,
precisa ser claro e preciso. Por esta razão, ele só pode ser definido depois da análise do texto e da tese.
Uma vez definida qual a mensagem que será apresentada, o orador definirá seu objetivo específico.
Tal objetivo deverá ser uma resposta clara e precisa à seguinte pergunta: O que Deus pretende
conseguir dos meus ouvintes com esta mensagem que vou pregar?
5 Robson M. MARINHO. Op. cit. p. 58.
16
4.3. A escolha do texto adequado
Uma vez identificada a necessidade mais premente da congregação e definido o objetivo
básico, o pregador parte para a escolha do texto bíblico certo. A escolha do melhor texto deverá
obedecer aos seguintes critérios:
a) O texto deve contribuir para satisfazer à necessidade da congregação;
b) O texto deve ser abrangente, dando a ideia de que é completo;
c) Deve haver preferência por um texto que dê ênfase aos aspectos positivos da vida cristã;
d) Textos obscuros e raros devem ser evitados;
e) Deve ser escolhido apenas um só texto para o sermão.

4.4. A análise do texto


A análise do texto requer do pregador conhecimentos teóricos sobre Exegese e Hermenêutica
que facilitarão o processo de interpretação do texto e a identificação das verdades mais relevantes que
irão compor a substância do sermão. A análise deve produzir, como resultado, os elementos sem os
quais o sermão não poderá ser elaborado. Estes elementos são: a ideia central, uma tese ou
proposição, um título e as divisões principais. Os instrumentos utilizados numa análise eficaz do texto
são os seguintes: Bíblia em, pelo menos, três versões diferentes, concordância bíblica, vários
comentários, um dicionário bíblico e outro de português. Nos casos em que uma análise exegética se
torna indispensável, devem ser acrescentados uma versão bíblica e um dicionário editados na língua
original do autor.

4.5. Formulação de uma tese ou proposição


Sem uma tese não há sermão. A tese expõe em uma curta sentença a ideia central do texto e
constitui-se no cerne do sermão. Uma boa estrutura e uma exposição eficaz dependem de uma
proposição bem definida. Portanto, é de fundamental importância que se descreva com a maior
precisão possível a ICT, pois é ela que produz a tese do sermão.

4.5.1.Critérios para a formulação de uma boa tese


a) Ela deve indicar o curso da discussão que há de se seguir. É uma promessa que o discurso
deve cumprir fielmente; deve ser, portanto, formulada com escrupulosa exatidão.
b) Ela deve ser uma generalização que transmita uma verdade universal e intemporal
enunciada sem quaisquer enfeites e sem exagero.
c) Ela deve ser perfeitamente clara e isenta de qualquer ambiguidade. Também deve
abranger todo o pensamento do sermão. Ela é a substância do sermão numa sentença.

4.5.2.Passos para a elaboração de uma boa tese


a) Após a análise do texto, identifique a ideia central; é nela que deve estar contido o assunto
abordado pelo autor. Redija-a em um curto período, contendo no máximo 25 palavras.
b) Transforme o período em uma sentença curta (15 palavras no máximo). Esta sentença é a
tese. Deve ser enunciada SEMPRE com o verbo principal no tempo presente.

EXEMPLOS:
a) O salário do pecado é a morte (Rm 6.23);
b) Pela graça sois salvos por meio da fé (Ef 2.8);
c) Quem crê tem a vida eterna (Jo 6.47);
17
d) Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino (1Jo 3.15);

4.6. Tema do sermão


O tema é o título. Ele nasce da tese, contém a síntese do texto e identifica a essência do
sermão. O tema identifica e incorpora toda a substância da mensagem. Para definirmos um bom tema
para um sermão, precisamos obedecer a alguns critérios:
a) Deve ser breve – a brevidade tende a centralizar a atenção, ao passo que títulos compridos
tendem a dispersar o pensamento. O tema considerado breve é aquele que, no máximo,
contém sete palavras.
b) Deve ser atraente – o anúncio do tema deve despertar interesse e expectativa no ouvinte;
pois, às vezes, o título do sermão pode ser decisivo para alguém quanto à sua permanência
no auditório.
c) Deve indicar o conteúdo do sermão – embora o tema leve consigo apenas uma insinuação
quanto a substância do sermão, o que ele revela deve harmonizar-se completamente com o
material a ser apresentado.
d) Deve estar relacionado com os interesses e as necessidades dos ouvintes – cada pessoa no
auditório é o centro de um universo no qual o pregador deve conseguir entrar com a
verdade divina. Talvez não estejam preocupados com o que houve com os heteus e os
jebuseus; eles querem saber: “O que será de nós?” Eles vêm ao culto por três motivos: por
causa de Cristo, por causa de outros e por sua própria causa. Este último é o motivo da
presença da maioria dos ouvintes.
e) Deve ser vital – deve versar sobre algumas verdades da fé cristã. Temas espetaculares que
versam sobre a sabedoria humana não alimentam o espírito.

EXEMPLO:
Texto: Jo 11.25-26
Tema Inadequado: A FÉ QUE TRANSPÕE OS LIMITES DO PODER DESTRUIDOR DA
MORTE
Tema Adequado: A FÉ QUE TRANSCENDE A MORTE

18
CAPÍTULO V

A PRÁTICA DA ELABORAÇÃO DE UM SERMÃO

Partindo do pressuposto de que os passos que antecedem à escolha do texto


já tenham sido dados, vejamos como se deve proceder nos passos seguintes:

TEXTO: Deuteronômio 6.1-25

ETAPA 1 – ANÁLISE DO CONTEXTO


(Folha de Trabalho)

1) Gênero literário
Narrativa do Velho Testamento.

2) Autor
O autor do texto é Moisés (5.1), um profeta (34.10), homem instruído em todas as ciências do
Egito (At 7.22). Estava com 120 anos de idade quando escreveu o conteúdo que originou o livro
de Deuteronômio, nas proximidades da fronteira de Canaã. Liderou Israel durante a peregrinação
no deserto por 40 anos (29.5).

3) Destinatários
Todo o Israel (5.1; 6.3-4) – somente os que tinham menos de 20 anos em Cades (Nm 14.29).

4) Data
1.451 a.C. (Moisés nasceu aproximadamente em 1.571 a.C.; foi chamado por Deus
aproximadamente em 1.491 a.C; cf. Êxodo, capítulo 3).

5) Lugar
“Vale defronte de Bete-Peor” – 3.29; 4.46; 34.6, nas “campinas de Moabe” (34.1), na fronteira de
Canaã. Bete-Peor é uma cidade de Moabe, perto do Monte Peor, a leste do Jordão, defronte de
Jericó – 6 a 7km a noroeste do Monte Nebo, na Cordilheira de Pisga, onde Moisés morreu. Bete-
Peor, literalmente, significa: “Casa da Abertura”.

6) Ocasião
Fim dos 40 anos de peregrinação no deserto, pouco antes da morte de Moisés e antes da entrada de
Israel em Canaã (Dt 4.22).

7) Objetivo
Instituir Israel, como mandamento para todas as gerações, a obrigação individual de conhecer,
amar, temer e obedecer a Deus.

8) Assunto
Instruções para a dedicação total da vida a Deus.

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ETAPA 2 – ANÁLISE DO TEXTO

MÉTODO DA DIVISÃO EM PARÁGRAFOS


(Folha de Trabalho)

TEXTO: Dt 6.1-25
Assunto: Instruções para a dedicação total da vida a Deus
vv. 1-3: Importância destas instruções:
a) são dadas por Deus (v. 1);
b) são destinadas a assegurar o favor de Deus na terra prometida.
Propósito:
a) “para que temas o Senhor, teu Deus”;
b) “e guardes todos os seus estatutos e mandamentos”.
A quem se destinam:
a) “tu”;
b) “teu filho”;
c) “e o filho de teu filho”.
O tempo certo: “todos os dias de tua vida”.
Consequências benéficas:
a) “que teus dias sejam prolongados”;
b) “para que bem te suceda”;
c) “muito te multipliques”;
d) Ver também os versículos 24 e 25.

vv. 4-5: Amor a Deus:


a) Como único e supremo Senhor (v. 4);
b) Com todos os poderes do corpo, mente e espírito (v. 5).

vv. 6-9: O ensino da Palavra:


a) Primeiramente, guardando-a “no teu coração” (v. 6);
b) Em segundo lugar, ensinando-a “aos teus filhos” (v. 7);
c) Em terceiro lugar, divulgando-a aos de fora – “E as escreverás nos umbrais da tua casa
e nas tuas portas” (v. 9).

vv. 10-12: Quando lembrar-se de Deus:


a) Quando eles já tivessem sido introduzidos na terra prometida (v. 10);
b) Quando tivessem tomado posse das riquezas dos cananeus (vv. 11-12).

vv. 13-19: Servir a Deus:


a) Adorando-o com exclusividade (vv. 13-16);
b) Vivendo diligentemente em obediência (vv. 17-19).

vv. 20-25: A vontade de Deus:


a) Ser conhecido por todas as gerações perpetuamente (vv. 20-23);
b) Abençoar seu povo:
· “para nosso perpétuo bem” (v. 24);
· “para nos guardar em vida” (v. 24);
· “será por nós justiça” (v. 25).

20
ETAPA 3 – PLANO BÁSICO

ICT: Moisés ensinou aos filhos de Israel que por meio da dedicação de suas vidas ao Senhor
haveriam de usufruir das bênçãos prometidas por Deus.
TESE: Aquele que se dedica totalmente a Deus tem garantia de uma vida feliz.
TEMA: A DEDICAÇÃO DA VIDA A DEUS
OE: Pretendo persuadir os meus ouvintes a consagrarem suas vidas a Deus.
OB: Consagratório.

ETAPA 4 – ESBOÇO DIDÁTICO – CORPO DO SERMÃO

Podemos dedicar nossa vida a Deus de três maneiras:


1) Amando ao Senhor (vv. 4-5)
2) Proclamando sua Palavra (vv. 6-9)
3) Obedecendo à sua Palavra (vv. 1-3)

21
CAPÍTULO VI

MÉTODOS DE ANÁLISE DE TEXTOS

MÉTODO I – MÉTODO DA DIAGRAMAÇÃO DO TEXTO

Sugestões práticas para uma análise detalhada e eficaz:


a) Identifique o gênero literário do texto. Os principais são: narrativa, saga, poesia (salmos e
cânticos), sapiencial, parábola, epístola e apocalíptico.
b) Escolha o método de interpretação adequado. O método de interpretação deve ser coerente
com o gênero literário do texto. Os métodos mais usados são o da diagramação do texto
(método universal) e o da abordagem múltipla aplicado em narrativas, cuja diagramação é
difícil, isto é, quando o texto não sugere um “esboço didático”.
c) Descrever o “pano de fundo”, o cenário do texto no seu contexto histórico, literário, filosófico
e, se for o caso, contexto geográfico.
d) A leitura do texto que começa antes da análise e continua durante a mesma será feita repetidas
vezes até a saturação da mente, comparando as versões diferentes, visando adquirir uma visão
geral e clara do teor da mensagem que o texto registra e captar a ideia central que definirá a
tese do sermão.
e) Caso seja utilizado o método da diagramação, o texto deve ser esquematizado, sendo
dividindo em parágrafos, para visualização dos detalhes e das verdades básicas que o texto
contém. A junção das ideias básicas contidas nos parágrafos formulará a ideia central do texto
(ICT).
f) Limite a análise ao conteúdo real da passagem bíblica e mantenha a sequência do material
como vem no texto.
g) Defina sentenças temáticas para cada parágrafo.
h) Seja conciso, “não perca de vista a floresta por causa das árvores”.

ANÁLISE DE TEXTO POR DIAGRAMAÇÃO

MODELO I – DIVISÃO EM PARÁGRAFOS

OPÇÃO 1 – ESBOÇO TEMÁTICO


(Folha de Trabalho)

TEXTO: Ef 4.7-16
vv. 7-8: Jesus, o doador dos dons à igreja
a) Doação imerecida – “e a graça foi concedida a cada um” (v. 7)
b) Doação garantida pela exaltação de Cristo (v. 9)

vv. 9-10: Cristo exaltado por sua vitória sobre a morte


a) Morte vencida (v. 9)
b) Cristo soberano sobre o “hades” e os céus (v. 10)
c) Abrangência universal do seu poder – “para encher todas as coisas” (v. 10)

vv. 11-12: Ministérios específicos para o crescimento da igreja


a) Designados por Jesus – “Ele mesmo concedeu uns...” (v. 11)
b) Diversidade de ministérios – “apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres” (v.
11)
c) Crescimento individual e coletivo (v. 12)
22
vv. 13-14: Um alvo coletivo para todos
a) Unidade e perfeição – “... até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, a medida da estatura da
plenitude de Cristo” (v. 13);
b) Firmeza e segurança – “... para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado
para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens,
pela astúcia com que induzem ao erro” (v. 14).

vv. 15-16: Crescimento global e unificado da igreja


a) Harmonia – “todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta...” (v.
16)
b) Ações conjuntas – “segundo a justa cooperação de cada parte” (v. 16)

Assunto: Dons de liderança para o crescimento da igreja


ICT:Paulo revelou aos cristãos de Éfeso que os dons ministeriais foram providenciados por Cristo
para a edificação e o crescimento da igreja.
TESE: A igreja cresce por meio dos ministérios que a edificam.
OE: Pretendo conscientizar a igreja da necessidade urgente da implementação de equipes
de ministério segundo o modelo apostólico.
OB: Doutrinário.
TÍTULO: MINISTÉRIOS QUE EDIFICAM A IGREJA

23
ANÁLISE DE TEXTO POR DIAGRAMAÇÃO

MODELO I – DIVISÃO EM PARÁGRAFOS

OPÇÃO 2 – ESTRUTURA TABULAR

TEXTO: Fp 3.12-16

PARÁGRAFO I SENTENÇA TEMÁTICA


v. 12 – “Não que eu o tenha já recebido ou tenha
já obtido a perfeição; mas prossigo para
A Conquista do alvo de vida
conquistar aquilo para o que também fui
conquistado por Cristo Jesus”
Divisão do Parágrafo Interpretação
“Não que eu o tenha já recebido ou tenha já
Motivos para conquistar o alvo:
obtido a perfeição”
a) O conhecimento de suas limitações.
“mas prossigo para conquistar aquilo para o que
b) A consciência de sua vocação.
também fui conquistado por Cristo Jesus”
PARÁGRAFO II SENTENÇA TEMÁTICA
vv. 13-14: “Irmãos, quanto a mim, não julgo
havê-lo alcançado; mas uma coisa faço:
esquecendo-me das coisas que para trás ficam e Uma decisão irrevogável
avançando para as que diante de mim estão, (“... mas uma coisa faço:...”)
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Divisão do Parágrafo Interpretação
“... esquecendo-me das coisas que para trás
ficam...” A conquista do alvo depende de três atitudes:
“... e avançando para as que diante de mim a) Sepultar as lembranças do passado.
estão...” b) Enfrentar os desafios do presente.
“... prossigo para o alvo, para o prêmio da c) Marchar em direção do alvo divino.
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
PARÁGRAFO III SENTENÇA TEMÁTICA
vv. 15-16: “Todos, pois, que somos perfeitos,
tenhamos este sentimento; e, se, porventura,
pensais doutro modo, também isto Deus vos Exortação à perseverança
esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o
que já alcançamos”.
Divisão do Parágrafo Interpretação
“... tenhamos este sentimento...” Perseverança sob duas formas:
“... andemos de acordo com o que já a) Mantendo acesa a chama da vocação.
alcançamos” b) Impulsionado pelos alvos já alcançados.

24
MODELO II – DIVISÃO EM SENTENÇAS

1º Passo: Divida cada oração em, pelo menos, três partes: personagens, ações e complementos.
Os complementos devem ser subdivididos, para distinguir as ideias associadas a lugar, tempo,
recursos, meios, etc. Veja a seguir dois exemplos.

EXEMPLO I
TEXTO: Cl 3.1-7

PERSONAGE
AÇÕES COMPLEMENTOS I COMPLEMENTOS II
NS
... se fostes
... juntamente com Cristo
ressuscitados
... onde Cristo vive,
... buscai ... as coisas lá do alto, ... assentado à destra do
... vós
Pai.
... pensai ... nas coisas ... lá do alto,
... não (pensai) ... nas (coisas) ... que são aqui da terra;
... porque morrestes, ... e a
... juntamente com Cristo,
... vossa vida ... está oculta
... em Deus.
... que é ... a vossa vida
... Cristo,
... se manifestar,
... com ele,
... vós... ... sereis manifestados
... em glória
... prostituição,
impureza,
Vós ... fazei morrer ... a vossa natureza terrena paixão lasciva,
desejo maligno
e a avareza,
... que (a
... é ... idolatria;
avareza)
... sobre os filhos da
... estas coisas ... é que vem ... a ira de Deus
desobediência
... andastes ... noutro tempo, ...
... vós
... quando vivíeis ... nelas.

2º Passo: Depois de esquematizado o texto, em seus mínimos detalhes, identifique as


expressões repetidas, pois elas se constituem em ênfases do texto. No texto acima, percebemos as
seguintes repetições: Vós, coisas, alto, terra, vida, Cristo e Deus. As ideias principais giram em torno
destas palavras.
3º Passo: Compare as expressões que designam ideias negativas ou depreciativas com aquelas
de sentidos opostos (lícito x ilícito, aprovado x reprovado, permitido x proibido, virtudes x defeitos,
etc).
Expressões negativas (pecados): prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno,
avareza, idolatria.
Expressões de sentidos opostos: coisas lá do alto x as que (coisas) são aqui da terra; em
glória x terrena; vossa vida está oculta... com Cristo, em Deus x vossa natureza terrena.
4º Passo: Identifique as expressões que denotam instruções, exortações, admoestações,
mandamentos, exigências, recomendações, consequências, resultados, etc., alistando-as à parte. Elas
são a matéria-prima, isto é, os ingredientes do seu sermão, estudo, palestra ou aula.
25
Exortações: buscai...; pensai...; fazei morrer...
Consequências: ... então vós sereis manifestados; ... vem a ira de Deus sobre os filhos da
desobediência.
5º Passo: havendo expressões sinônimas, ignore as que são comuns e centralize sua atenção
naquelas que são relevantes. Preste Atenção! Não se trata de substituição, mas de ênfase. Focalize a
expressão mais impactante contida no texto.
Exemplo: preferir a expressão desejo maligno em lugar de paixão lasciva.
6º Passo: Distinga os atos ou atributos divinos dos atos e atributos humanos e aliste-os
separadamente, à parte.
Atributo de Deus: ira de Deus.
Atributos humanos: desobediência (filhos da desobediência); imoralidade (prostituição,
paixão lasciva, desejo maligno...).
7º Passo: Identifique as palavras-chave e descubra outros textos onde elas aparecem, para que
você tenha clareza de entendimento quanto ao sentido das mesmas.
Palavras-chave: pensai, buscai, fazei morrer, coisas (lá do alto), coisas (aqui da terra), vossa
vida, vossa natureza.
8º Passo: A partir das palavras-chave, identifique e aliste as frases mais importantes,
atribuindo uma sentença temática a cada uma delas.
Exemplos:
v. 1 – “Se fostes ressuscitados com Cristo,...” – nascidos de novo, regenerados.
v. 1 – “... buscai as coisas lá do alto...” – priorização dos valores espirituais.
v. 2 – “... pensai nas coisas lá do alto...” – mente ocupada com os projetos de Deus.
v. 5 – “Fazei morrer a vossa natureza terrena” – mortificação da carne.

PLANO BÁSICO DO SERMÃO


ICT: Paulo exortou os colossenses a manifestarem em seu caráter e forma de vida os sinais
que os identificariam como crentes regenerados.
TESE: O verdadeiro cristão manifesta em seu caráter os sinais de sua regeneração.
TÍTULO: AS CREDENCIAIS DE UM REGENERADO
O. B.: Exortativo
O. E.: Pretendo motivar meus ouvintes a viverem segundo os padrões de uma vida cristã
autêntica.

ESBOÇO DIDÁTICO – CORPO DO SERMÃO

AS CREDENCIAIS DE UM REGENERADO

O verdadeiro cristão é identificado por três sinais:


1. Os valores espirituais são sua prioridade absoluta – “buscai as coisas lá do alto” (v. 1).
2. Sua mente é ocupada pelas coisas que ocupam a mente de Deus – “pensai nas coisas lá do
alto e não nas que são aqui da terra” (v. 2).
3. Sua natureza terrena está sob o controle do Espírito – “fazei morrer a vossa natureza
terrena” (v. 5).

26
EXEMPLO II
TEXTO: Filipenses 3.12-16

ETAPA I – ANÁLISE DO CONTEXTO

1. Gênero Literário – Epístola


2. O Autor do Texto
a) O autor é Paulo (seu nome em hebraico é Saul) nascido em Tarso da Cilícia, uma
província da Ásia Menor, mas criado em Jerusalém, onde estudou na escola de rabinos (At
22.3) sob a liderança de Gamaliel. Embora judeu da tribo de Benjamin, tinha cidadania
romana (At 22.25-28). Como fariseu, era um zeloso conhecedor da lei e rigoroso defensor
de sua fé judaica. Por esta razão, tornou-se um cruel perseguidor da igreja.
b) Convertido do judaísmo ao cristianismo, foi vocacionado e designado como apóstolo entre
os gentios (At 26.12-18). Era um homem de fortes convicções, determinação e lealdade
suprema a Cristo (At 20.24-21.13; Gl 6.14; 2Tm 1.12; Fp 1.21).

3. Os Destinatários
a) Filipos era uma cidade pequena que antes era chamada de Crenides e, em 350 a.C., seu
nome foi mudado para Filipos, em homenagem a Filipe da Macedônia, pai de Alexandre,
o Grande. Tornou-se colônia romana, um posto militar. Filipos foi a primeira conquista
missionária de Paulo na Europa, tendo sido o “berço do cristianismo europeu”.
b) A igreja foi fundada por Paulo em sua segunda viagem missionária, em meio a muitas
perseguições (At 16). Os membros era, em sua maioria, gregos e, possivelmente, alguns
romanos. As mulheres tinham um lugar de merecida honra (At 16.13-14).
c) A igreja mantinha com Paulo um relacionamento íntimo e cordial. Ajudou Paulo
financeiramente em suas necessidades pessoais (Fp 4.14-16).

4. A Ocasião
a) Paulo estava preso em Roma. A igreja enviou Epafrodito com uma oferta para o
suprimento de suas necessidades pessoais. Ao chegar em Roma, Epafrodito adoeceu
mortalmente, mas foi recuperado (Fp 2.27).
b) Depois de sua recuperação, Paulo o enviou de volta a Filipos com a presente carta (Fp
2.28-30).

5. Objetivo (Intenções do Autor)


a) Expressar sua gratidão pela ajuda financeira que recebeu da igreja (4.14-19).
b) Exortar a igreja quanto a alguns problemas tais como: rivalidades causadas por duas mulheres,
Evódia e Síntique; e ambições (2.3-4; 4.2), ensino dos judaizantes (3.1-3) e a influência de
libertinos (3.18-19).
6. Características da carta
a) Paulo ressalta a vitória e o gozo na oração (1.4), no evangelho (1.18), na comunhão (2.1-2),
nos sacrifícios pela causa (2.17-18), no Senhor (3.1) e no cuidado pela igreja (4.10).

27
b) A mensagem central é Jesus Cristo como razão e modelo para nosso crescimento espiritual e
nossa dedicação ao ministério, no cumprimento da vocação.

ETAPA 2 – ANÁLISE DO TEXTO

ANÁLISE DE TEXTO POR DIAGRAMAÇÃO

MODELO I – DIVISÃO EM PARÁGRAFOS

OPÇÃO 2 – FORMA TABULAR

TEXTO: Fp 3.12-16

PARÁGRAFO I SENTENÇA TEMÁTICA


v. 12 – “Não que eu o tenha já recebido ou tenha
já obtido a perfeição; mas prossigo para
A Conquista do alvo de vida
conquistar aquilo para o que também fui
conquistado por Cristo Jesus”
Divisão do Parágrafo Interpretação
“Não que eu o tenha já recebido ou tenha já
obtido a perfeição” Motivos para conquistar o alvo:
“mas prossigo para conquistar aquilo para o a) O conhecimento de suas limitações.
que também fui conquistado por Cristo b) A consciência de sua vocação.
Jesus”
PARÁGRAFO II SENTENÇA TEMÁTICA
vv. 13-14: “Irmãos, quanto a mim, não julgo
havê-lo alcançado; mas uma coisa faço:
esquecendo-me das coisas que para trás ficam e Uma decisão irrevogável
avançando para as que diante de mim estão, (“... mas uma coisa faço:...”)
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Divisão do Parágrafo Interpretação
“... esquecendo-me das coisas que para trás
A conquista do alvo depende de três
ficam...”
atitudes:
“... e avançando para as que diante de mim
a) Sepultar as lembranças do passado.
estão...”
b) Enfrentar os desafios do presente.
“... prossigo para o alvo, para o prêmio da
c) Marchar em direção do alvo divino.
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
PARÁGRAFO III SENTENÇA TEMÁTICA
vv. 15-16: “Todos, pois, que somos perfeitos,
tenhamos este sentimento; e, se, porventura,
pensais doutro modo, também isto Deus vos Exortação à perseverança
esclarecerá. Todavia, andemos de acordo com o
que já alcançamos”.
Divisão do Parágrafo Interpretação
“... tenhamos este sentimento...” Perseverança sob duas formas:
“... andemos de acordo com o que já a) Mantendo acesa a chama da vocação.
alcançamos” b) Impulsionado pelos alvos já alcançados.

28
ETAPA 3 – PLANO BÁSICO DO SERMÃO

Neste texto, o apóstolo Paulo ensinou aos filipenses que o verdadeiro sentido de
ICT
suas vidas consistia no alcance do propósito de Deus.
TESE A vida cristã só faz sentido quando é direcionada por um propósito divino.
TÍTULO A CONQUISTA DO ALVO DIVINO
OB Exortativo
Quero incentivar os meus ouvintes a lutarem com perseverança pela conquista do
OE
alvo de Deus para as suas vidas.

ETAPA 4 – ESBOÇO DIDÁTICO – CORPO DO SERMÃO

A CONQUISTA DO ALVO DIVINO

A conquista do alvo de Deus depende de três fatores:

1. Depende de um espírito motivado (v. 12)


a) Pelo conhecimento de suas limitações – “Não que eu ... tenha obtido a perfeição”.
b) Pela convicção de sua vocação – “... prossigo para conquistar aquilo para o que
também fui conquistado”.

2. Depende de uma decisão irrevogável (vv. 13-14)


a) Sepultar as lembranças do passado – “esquecendo-me das coisa que para trás ficam”.
b) Enfrentar os desafios do presente – “... e avançando para as que diante de mim
estão...”.
c) Marchar em direção do alvo divino – “... prossigo para o alvo, pelo prêmio a
soberana vocação de Deus...”

3. Depende de um coração perseverante (vv. 15-16)


a) Que mantenha acesa a chama da vocação – “... tenhamos este sentimento...” (v. 15).
b) Que seja impulsionado pelos alvos já conquistados “... andemos de acordo com o que
já alcançamos” (v. 16).

29
EXEMPLO III
Texto: Mc 9.14-29

MÉTODO DA DIAGRAMAÇÃO DO TEXTO

MODELO II – DIVISÃO DO TEXTO EM SENTENÇAS

PERSONAGENS AÇÕES COMP. I COMP. II INTERPRETAÇÃO


-Uma vítima indefesa
“possesso de um dominada
espírito mudo...” violentamente pelo
vv. 17-18
“trouxe-te” “meu filho” diabo.
Um pai
“Este... lança-o por - No mundo há almas
terra” oprimidas carentes de
libertação.
- Discípulos de Jesus
espiritualmente
incapazes.
- A frustração aflige o
“que o expelissem,
vv. 17-18 pai.
“roguei” “a teus discípulos” mas eles não
Um pai - A confiança nos
puderam”
homens desaponta.
- Os poderes do mal
superam a força dos
homens.
- Incredulidade é causa
“... até quando
de fracasso espiritual.
v. 19 “ó geração estarei convosco?
“lhes disse:” - Jesus é a esperança do
Jesus incrédula...” Até quando vos
homem que perdeu a
suportarei?”
esperança nos homens”.
“... o espírito... o - Violência brutal é um
v. 20
“Quando... viu...” “... Jesus” agitou com reflexo da natureza
O possesso
violência...” maligna do diabo.
- O diabo não respeita
idades.
v. 21 “Perguntou ao “Há quanto “Desde a
- Os indefesos são
Jesus pai” tempo...? infância...”
vítimas fáceis das ações
de Satanás.
- O diabo sempre
tortura suas vítimas
v. 22 “... muitas vezes “... no fogo e na antes de matá-las.
“... para o matar”.
O demônio o tem lançado...” água...” - Demônios são agentes
da destruição e sua
missão é matar.
-Possibilidades só
existem para os que
“... tem compaixão ainda têm esperança.
v. 22 “Se tu podes
(disse) de nós e ajuda- - Jesus é a esperança de
O pai alguma coisa...”
nos”. solução dos problemas
para os quais o homem
não tem solução.
v. 23 “respondeu” “Se podes!...” “... Tudo é possível - Jesus é o agente eficaz
Jesus ao que crê!” da onipotência divina.
- Embora a
incredulidade não
restrinja o poder divino,
somente a fé permite

30
que ele se manifeste.

- A grandeza de nossos
problemas reduzem a
nossa capacidade de
v. 24 “exclamou com “Eu creio! Ajuda- “... na minha falta
crer.
O pai lágrimas...” me...” de fé!”
- A grandeza de nossa
fé reside na nossa
dependência de Deus.
- A necessidade maior
v. 25 “... que
“vendo...” “... a multidão...” de um incrédulo é ver
Jesus concorria...”
para crer.
- Imundo é todo
v. 25
“...repreendeu...” “... o espírito...” “... imundo...” espírito que não é
Jesus
santo.
- Uma ordem de Jesus
tem a força de uma
sentença divina.
- Principados e
“Sai deste jovem e
v. 25 potestades estão sob o
“dizendo-lhe:” “... eu te ordeno:” nunca mais tornes
Jesus domínio de Jesus.
a ele”.
- A libertação de uma
alma cativa sempre
resulta de uma ação
direta de Deus.
“... saiu deixando- - Não há poderes hostis
v. 26 “clamando e
o como se que resistam à voz de
O demônio agitando-o...”
estivesse morto...” Jesus.
- Os atos de Deus
sempre haverão de se
realizar de forma
v. 27 “tomando-o... o “... e ele se completa.
Jesus ergueu...” levantou”. - A redenção é uma
obra pela qual Jesus
liberta os cativos e
levanta os caídos.

PLANO BÁSICO

Este acontecimento revelou Jesus como o agente divino por meio do qual Deus
ICT
estava libertando os prisioneiros das forças espirituais do mal.
TESE Jesus é a única esperança de libertação para os cativos.
TÍTULO O LIBERTADOR DOS CATIVOS
OB Evangelístico
OE Pretendo persuadir meus ouvintes a render sua alma a Jesus.

CORPO DO SERMÃO

TRANSIÇÃO: Temos três motivos para crermos em Jesus como o libertador dos cativos:
I. Jesus é o detentor da autoridade sobre as forças que escravizam o homem (v. 17-18).
II. Jesus é o mediador perante Deus das demandas espirituais do homem (v. 22).
III. Jesus é o agente eficaz da onipotência divina (v. 25).
31
MÉTODO II - A TÉCNICA DA ABORDAGEM MÚLTIPLA
(Adaptado do livro Pregação Expositiva Sem Anotações de Charles W. Koller, pp. 52 a 58).

Quando o texto não pode ser facilmente esquematizado, isto é, não apresenta nenhuma
estrutura didática própria como as epístolas no Novo Testamento, ou não sugere nenhuma ideia clara
que facilite a interpretação, podemos usar de um artifício que permitirá a exploração exaustiva do
texto. Trata-se da abordagem múltipla. Embora possa ser também usado em outros estilos literários,
este método é apropriado para as narrativas.
Em algumas passagens do gênero narrativo como, por exemplo, em Dt 6.1-9 ou Cl 1.15-20, o
elemento “didático” é proeminente. Mas no texto onde não houver “verdades intemporais” explícitas
procure as que estiverem inconfundivelmente implícitas.

1. Procedimentos para a análise segundo a abordagem múltipla


A análise por meio da abordagem múltipla, para que seja eficaz, deve seguir um roteiro. É
indispensável que o intérprete compreenda que tal método não se enquadra a todos os tipos de texto.
Esse método é apropriado para os textos longos cujo estilo seja a narrativa. Tal método segue o roteiro
que passaremos a mostrar em seguida.

2. Identificação dos personagens


a) Depois de uma leitura pausada do texto, em uma “folha de trabalho”, anote em primeiro lugar
os personagens. Personagens são os sujeitos da narrativa que se relacionam e são autores dos
fatos importantes a respeito dos quais o escritor fala.
b) Faça distinção entre personagens, separando o principal dos secundários. O mesmo
procedimento deve ser adotado com respeito aos demais elementos, tais como: objetos,
lugares e fatos. Considere os fatos. Estes são a essência da mensagem.
Observação: A mensagem deverá ser extraída do personagem ou elemento significativo
(principalmente um fato) selecionado pelo intérprete.

EXEMPLO

TEXTO: Atos 8.26-40


PERSONAGENS: O anjo, Filipe, o eunuco e o Espírito Santo
OBJETOS: Carro e livro do profeta Isaías (Escrituras Sagradas)
FATOS: Chamada de Filipe, seu testemunho e a conversão do eunuco.

3. Investigação através de questões de natureza relevante


As perguntas levantadas deverão ser dirigidas diretamente aos personagens e elementos
significativos. Perguntas, cujas respostas não forem fornecidas pelo texto, deverão ser anuladas, pois
todas as informações a serem utilizadas deverão estar no texto. Os dados obtidos como respostas das
questões levantadas poderão fornecer a estrutura do sermão, mas antes servirão para a identificação da
ideia central do texto e para a formação da tese ou proposição.
Veja um exemplo na página seguinte.

32
ANÁLISE DOS PERSONAGENS E ELEMENTOS SIGNIFICATIVOS
(At. 8.26-40)

FILIPE
Quem era Filipe?
a) Não era apóstolo (At 8.1; 21.8)
b) Foi eleito e ordenado como diácono em Jerusalém (At 6.3-6)
c) Homem de “boa reputação, cheio do Espírito Santo e de sabedoria” (At 6.3)
d) Era evangelista (At 21.8)

O que aconteceu com ele?


a) Ouviu uma chamada de Deus por meio de um anjo (v. 26)
b) Obedeceu sem discutir – “Ele se levantou e foi” (v. 26)
c) Ouviu e obedeceu à voz do Espírito Santo (v. 29)
d) Foi arrebatado pelo Espírito Santo (vv. 31-40).

O que ele fez?


a) Acompanhou o carro correndo (v. 30)
b) Dialogou com o eunuco (vv. 30-31)
c) Interpretou as Escrituras para o eunuco (v. 35)
d) Falou de Jesus para o eunuco (v. 35)
e) Ouviu a declaração de fé do eunuco (v. 37)
f) Batizou o eunuco (v. 38)

O que ele conseguiu?


a) Conquistou a confiança do eunuco (v. 31)
b) Conseguiu persuadir o eunuco (v. 36, 38)

ESPÍRITO SANTO
O que fez o Espírito Santo?
a) Direcionou Filipe:
A um local apropriado (vv. 26 e 29)
A um homem sedento de salvação (vv. 29, 30)
A uma passagem bíblica apropriada (v. 35)
A um feliz resultado (v. 38)
b) Arrebatou Filipe (v. 39)

Qual o seu papel nesta história?


a) Guia de Filipe (vv. 29-35)
b) Provedor de salvação para o eunuco (vv. 29-35)
c) Agente divino para a garantia do cumprimento da missão.

O EUNUCO
Quem era ele?
a) Era um africano, habitante da Etiópia – “etíope” (v. 27).
b) Era escravo inicialmente – “eunuco” (v. 27)
c) Superintendente do tesouro da rainha (v. 27)
d) Religioso – “que viera adorar em Jerusalém” (v. 27)

Que características ele revela?


a) Era interessado na leitura das Escrituras (v. 28)

33
b) Ignorante quanto ao conhecimento das Escrituras (v. 31)
c) Necessitado e sedento de salvação (vv. 31-35)

O que ocorreu com ele?


a) Foi abordado por Filipe (v. 30)
b) Ouviu o testemunho de Filipe (vv. 31-35)
c) Converteu-se a Cristo (v. 37)
d) Foi batizado por Filipe (v. 38)

AS ESCRITURAS
O que são as Escrituras?
a) Registro da revelação divina – “livro do profeta Isaías” (v. 29)
b) Fonte de sabedoria para o ignorante (v. 31)

Para que servem as Escrituras?


a) Instrumento manuseado pelos pregadores vocacionados (v. 35)
b) Guia de salvação para os perdidos (vv. 32-35)

O TESTEMUNHO DE FILIPE
Por que Filipe testemunhou para o eunuco?
a) Por que recebeu uma ordem de Deus (vv. 26 e 29)
b) Por que o eunuco precisava entender o texto que lia (vv. 30-31)

Por que o testemunho de Filipe foi eficaz?


a) Porque foi direcionado pelo Espírito Santo (v. 29)
b) Porque Filipe usou com habilidade as Escrituras (vv. 30-34)
c) Porque a mensagem foi centralizada em Jesus (v. 35)

A CONVERSÃO DO EUNUCO
Como ele se converteu?
a) Pelo exame das Escrituras (v. 30)
b) Pela pregação de um homem enviado por Deus (v. 35)
c) Por sua confissão de fé na pessoa de Jesus (v. 37)

O que e quem contribuiu para a sua conversão?


a) Dois fatores:
 A providência de Deus (vv. 26 e 29)
 Sua sede de salvação (vv. 28 e 31)

b) Auxílios/Recursos:
 O Espírito Santo (v. 29)
 As Escrituras Sagradas (vv. 28-33)
 Um pregador competente (vv. 30, 35, 37, 38).

NOTA: Cada personagem ou elemento destacado pode ser fonte de um sermão. Neste caso,
poderíamos obter os seguintes esboços:

ESBOÇO 1: Do ponto de vista de Filipe


As Credenciais de Uma Testemunha Fiel:
I. Uma pessoa vocacionada por Deus (v. 26)
II. Uma pessoa conduzida pelo Espírito Santo (v. 29)
III. Um intérprete competente das Escrituras (v. 35)

34
ESBOÇO 2: Do ponto de vista do Espírito Santo
Direções do Espírito:
I. Conduz o mensageiro a um local e momento adequados (vv. 26, 39-40)
II. Conduz o mensageiro a uma pessoa carente de salvação (v. 29)
III. Conduz o mensageiro a uma passagem bíblica apropriada (v. 35)

ESBOÇO 3: Do ponto de vista do eunuco


Necessidades de Quem Busca a Salvação
I. Sede espiritual de Deus (v. 28)
II. Conhecer o evangelho de Jesus (vv. 31-35)
III. Crer verdadeiramente em Jesus (vv. 36-38)

ESBOÇO 4: Do ponto de vista das Escrituras


A Importância das Escrituras
I. Registro da revelação divina (v. 29)
II. Fonte de sabedoria para os ignorantes (vv. 30-31)
III. Guia de salvação para os perdidos (v. 35)

ESBOÇO 5: Do ponto de vista do testemunho de Filipe


Condições Para Um Testemunho Eficaz
I. Direção do Espírito Santo (vv. 29-30)
II. Conhecimento profundo das Escrituras (v. 35)
III. Mensagem centralizada em Jesus (v. 35)

ESBOÇO 6: Do ponto de vista da conversão do eunuco


Recursos Divinos Para a Salvação
I. O Espírito Santo (v. 29)
II. As Escrituras Sagradas (vv. 28-33)
III. Um mensageiro do evangelho (vv. 30, 35, 37, 38)

35
CAPÍTULO VII
O CORPO DO SERMÃO

1. Conceito
Um sermão completo compõe-se de quatro partes: tema, introdução, corpo e conclusão. Com
respeito à introdução e à conclusão falaremos posteriormente. No que concerne ao corpo, estamos nos
referindo à divisão do tema e à ordem e organização dos tópicos principais e suas subdivisões.
O corpo do sermão consiste no esboço didático onde as ideias principais (tópicos oriundos da
divisão do tema em partes) são ordenadas numa sequência lógica para facilitar a exposição por parte
do orador e a compreensão por parte do ouvinte.

2. A Forma do corpo do sermão


Além de classificar o sermão pelo conteúdo (autoridade bíblica) e pelo objetivo básico,
podemos também classificá-lo de acordo com a forma do corpo. Em alguns casos, a forma será
simples; em outros, será estruturada.

2.1. A forma simples (homilia)


Dos hebreus recebemos a forma do corpo do sermão muito simples. Podemos dizer que é uma
homilia, isto é, “conversação”. O pregador vai conversando com seus ouvintes sem preocupar-se com
a organização formal dos seus pensamentos. Geralmente a homilia consiste num comentário, versículo
por versículo, estudando as palavras e frases encontradas, e adicionando algumas ilustrações e
aplicações.
Todavia, enquanto a apresentação é feita num estilo livre e informal, isto não quer dizer que é
superficial. Ao contrário, tem de ser bem profunda e bem pensada. Não exige menos estudo e
possivelmente exige mais conhecimento do texto. Às vezes, a homilia é tão simples, quanto à sua
forma, que não possui nem introdução e conclusão, mas pode também incluir essas outras duas partes
se o pregador achar conveniente. Entretanto, nos dois casos, a forma do coro é a menos complicada
possível.

2.2. A forma estruturada (corpo)


Em contraste com a homilia, temos o corpo do sermão que segue a forma mais complicada,
mas, por outro lado, a mais bem estruturada. Sua ênfase está na unidade e coerência de pensamento e
isso herdamos dos gregos e dos romanos. Existem duas formas de estruturar o sermão: o sistema dos
elementos funcionais e o sistema das divisões. Os elementos funcionais são três: explanação,
ilustração e aplicação.

2.2.1.O sistema dos elementos funcionais


Neste sistema, os elementos funcionais são utilizados numa sequência que não pode ser
alterada. Primeiro, a explanação que consiste numa argumentação detalhada e na apresentação das
provas que comprovam a veracidade do que está sendo dito. Em segundo lugar, utiliza-se uma
ilustração para facilitar o entendimento e a memorização da ideia comunicada. Em terceiro lugar, faz-
se uma aplicação à vida prática.
Quando usamos os elementos funcionais, o corpo (esqueleto, esboço didático) fica reduzido ao
mínimo, consistindo apenas daquilo que será discutido. Esse “esqueleto” será preenchido com tantos
parágrafos de explicação e/ou aplicação quantos forem necessários à compreensão da mensagem. As
anotações levadas para o púlpito podem consistir das palavras-chave ou frases mais ou menos
completas para ajudar relembrar os parágrafos de explicação ou aplicação.
Nesta forma de esboçar, a explanação poderá ser feita utilizando-se os seguintes recursos: pela
exposição (comentário detalhado do texto); pela narração; pela descrição; pela argumentação; pela

36
ilustração; pela comparação; pelo contraste; pelo uso de referências bíblicas paralelas. A aplicação
poderá ser feita desta forma:
a) Por afirmar e/ou mostrar a relevância da matéria;
b) Por argumentar, justificando a aplicação a ser feita;
c) Desafiando o ouvinte em relação à verdade anunciada;
d) Por exortar, indicando a conveniência ou urgência da aplicação;
e) Por fazer o apelo, explicando o que o ouvinte deve fazer e quando.
Não há limite à explanação nem à aplicação. Em geral, há um pouco mais de explanação numa
mensagem do que aplicação, mas sempre neste sistema ambos os elementos serão utilizados. No
sistema dos elementos funcionais a explanação e a aplicação são indispensáveis. Veja um exemplo na
página 55 dos anexos.

2.2.2.O sistema das divisões


Neste sistema, o corpo do sermão é dividido e subdividido para facilitar a apresentação das
suas ideias. Se ao assunto (título, tópico) fosse discutido englobadamente, não seria bem
compreendido por ser prejudicado com a perda da maioria dos seus detalhes. Mas, quando é discutido
ponto por ponto, gradativa e progressivamente, o ouvinte será devidamente esclarecido. As seguintes
normas ajudarão o pregador a estruturar o corpo do seu sermão, obtendo uma unidade que é lógica e
fácil de lembrar.

OS DEZ MANDAMENTOS DO BEM ESBOÇAR

1. O assunto deve ser um resumo da tese. A tese vem da ICT e a ICT vem do texto. Portanto, as três
ou mais palavras que compuserem o tema definirá bem a mensagem a ser pregada.
2. As divisões vêm do assunto . O assunto é como um alicerce sobre o qual é erguida a estrutura
necessária ao desenvolvimento da mensagem. O assunto todo geralmente não é repetido em cada
divisão, mas caso seja, tem que dar sentido lógico e inteligente.
3. Nenhuma divisão deve ser igual em pensamento ou expressão à outra . Assim, a repetição
desnecessária será eliminada.
4. Cada ponto ou subponto, quando dividido, tem que ter duas ou mais partes . É impossível dividir
alguma coisa, mesmo um pensamento, sem resultar em, pelo menos, duas partes.
5. Nenhum ponto ou subponto deve conter mais que uma concepção ou ideia . Basta uma ideia por
ponto. Havendo mais que uma, é melhor abrir outro ponto ou desconsiderá-la, caso não seja
relevante.
6. Cada subponto deve explicar o ponto de que é divisão. Cada subponto tem de estar subordinado a
ponto de que é dividido, tendo um elo de ligação com o referido ponto.
7. O conjunto das divisões deve completar o assunto em pauta . Mesmo que as divisões não
conseguem esgotar totalmente um assunto, pelo menos, o assunto deve ser satisfatoriamente
apresentado por elas.
8. Nenhuma divisão deve ser proporcionalmente bem maior que as outras . As divisões não podem e
nem devem ser exatamente iguais quanto ao tamanho, mas uma não deve ser tão grande que as
demais fiquem prejudicadas.
9. As divisões devem ser expressas numa forma simétrica . Os pontos principais devem ter uma
maneira uniforme ou paralela de expressão; isto é, todos podem ser sentenças completas, ou
apenas frases, ou ainda, uma só palavra. Essa regra se aplica também a cada grupo de subdivisões,

37
entretanto, não exclui uma variedade de expressão de um grupo para outro. A simetria facilita a
memorização das divisões, mas não deve ser usada de forma forçada ou artificialmente.
10. A ordem das divisões deve ser de interesse crescente para os ouvintes . Em geral, o
desenvolvimento deve ser do negativo para o positivo, do menor para o maior, do inferior para o
superior, do passado para o presente e futuro, do problema à solução, etc..

2.3. Como dividir o tema?


A divisão do tema é obtida através de uma palavra-chave. Tal palavra, com certeza, haverá de
extrair, dentre os dados da análise, as principais divisões do tema. Esta palavra-chave deverá ser
inserida numa sentença que a denominamos de sentença de transição formada pelas últimas palavras
pronunciadas pelo pregador no final da introdução. Esta sentença liga a tese ao corpo do sermão.
Para encontrarmos a palavra-chave é necessário que o texto tenha sido analisado, uma tese
(proposição) esteja elaborada e o tema (título) tenha sido definido. A palavra chave é encontrada
através de uma pergunta, que está implícita na tese. É a pergunta que o ouvinte faria ao pregador, mas
como não poderá fazê-la publicamente, aguarda com grande expectativa uma resposta clara. Vejamos
a seguir um exemplo.

Texto: Dt 6.1-9
Tema: A DEDICAÇÃO DA VIDA A DEUS
Tese: Aquele que se dedica totalmente a Deus tem garantia de uma vida feliz.
Pergunta implícita: Como posso dedicar-me a Deus?
A resposta vem em forma de uma sentença de transição, na qual a palavra-chave está incluída:
Podemos dedicar nossa vida a Deus de três MANEIRAS:

1 Amando ao Senhor (vv. 4-5)


a) Como único e verdadeiro Deus (v. 4)
b) Com todos os poderes do nosso corpo, mente e espírito (v. 5)

2 Proclamando sua palavra (vv. 6-9)


a) A si mesmo (v. 6)
b) À família (v. 7)
c) Ao mundo (v. 9)

3 Obedecendo à sua palavra (vv. 1-3)


a) Obediência que se estenda a todas as gerações – “tu, teu filho e o filho de teu filho” (v. 2)
b) Obediência que dure por toda a existência – “todos os dias de tua vida” (v. 2)
c) Obediência que produz resultados benéficos:
 Longevidade – “que teus dias sejam prolongados”;
 Êxito na vida – “para que bem te suceda”;
 Prosperidade – “muito te multipliques”.

38
CAPÍTULO VIII
INTRODUÇÃO, CONCLUSÃO E ILUSTRAÇÕES

1. A Conclusão do Sermão
A conclusão é o clímax da mensagem. Nos últimos momentos da apresentação da mensagem
trava-se no coração do ouvinte a batalha final e decisiva e, por esta razão, todo o sucesso da mensagem
depende da conclusão. As palavras finais são o último passo do pregador, durante a trajetória do
sermão com o propósito de ajudar o ouvinte a tomar uma decisão sábia perante Deus. O sermão só é
eficaz quando, do ponto de vista humano, o ouvinte descobre o caminho que Deus lhe propôs durante
a mensagem e sua vontade e decisão estão coerentes com a verdade e o propósito de Deus.

1.1. O conteúdo da conclusão


A mensagem de Deus através do sermão, para alcançar o coração do ouvinte e persuadi-lo a
posicionar-se em consonância com a vontade divina, necessita de três elementos importantes: um
resumo dos pontos principais e uma aplicação direta da mensagem e um apelo explícito aos ouvintes.

1.1.1.Um resumo condensado e claro dos pontos principais


Este resumo recapitula todo o conteúdo essencial do sermão. Ele capacita o ouvinte a assimilar
as verdades divinas e suas deduções práticas. Tal resumo não deve ser confundido com uma simples
repetição. Repetição é prolixidade irritante que elimina o poder de persuasão e afugenta o ouvinte,
distanciando-o de Deus ainda mais. O resumo deve ser uma síntese da essência do sermão cujas
palavras devem soar como a voz de Deus, produzindo um impacto que quebrante o coração.

1.1.2.Uma aplicação direta da mensagem


Tal aplicação refere-se aos atos, verdades, mandamentos, etc. que aparecem nas partes
anteriores da mensagem ou se desprendem delas. Ela é global, deve ser convincente e deve ter
utilidade prática. Se a mensagem não se aplica à vida, correspondendo à expectativa do ouvinte e
suprindo sua necessidade espiritual imediata, é inútil, é uma ficção. Ficção é uma fantasia e fantasia é
uma mentira. A aplicação é a resposta clara e precisa à pergunta que o ouvinte, no final da mensagem,
formula, mas não expressa: “E agora? Que devo fazer?” (At 2.37-39). Mais precisamente, o conteúdo
da aplicação consiste no objetivo que deve ser expresso de forma clara e precisa.

1.1.3.Um apelo explícito e contundente dirigido à mente e ao coração do ouvinte


A mente e o coração humano são campos onde o diabo já trabalhou durante toda a vida. O
pecado cega a mente e endurece o coração. Por esta razão, toda mensagem divina visa levar o homem
a uma reflexão séria e deve tocar em seus sentimentos e emoções. O apelo é uma chamada ao ouvinte
a que se submeta à vontade e ao propósito de Deus para com cada pessoa. O apelo não consiste em
uma simples declaração ou enunciado do objetivo específico do sermão, mas ele deve estar coerente
com o mesmo.

1.2. Características essenciais da conclusão


A primeira característica é a relação com o resto do sermão. Ainda que este requisito pareça
óbvio, nem sempre é cumprido. Alguns sermões adoecem deste grande defeito e seu final é um
simples apêndice anexado ao corpo do sermão, mas não uma conclusão. Por esta razão, na conclusão
deve-se evitar acréscimo de conteúdo e mudança de assunto.
A segunda característica é a concreção e clareza. Se, como temos dito, a conclusão encarna o
esforço mais intenso para mover os ouvintes a algum tipo de decisão, o conteúdo das frases deve estar
desprovido de abstrações e ambiguidades. O ouvinte há de saber bem aonde deve ir, o que tem que

39
fazer e como fazer. Se a conclusão não responde a esta necessidade, o conjunto da mensagem pode
perder a maior parte de sua eficácia.
A terceira característica é a solenidade. As notas humorísticas bem dosadas podem caber na
introdução, no desenvolvimento dos pontos principais do sermão, mas NUNCA NA CONCLUSÃO.
Um sermão não é um discurso profano para divertir; é a VOZ DE DEUS FALANDO AO HOMEM o
qual deve produzir REVERÊNCIA, TEMOR e TREMOR.
A quarta característica é a brevidade. Uma conclusão demasiado longa pode malograr o
conteúdo de uma mensagem. A força de uma conclusão não está radicada na sua extensão, mas na sua
INTENSIDADE. Intensidade, por sua vez, não se faz notar por meio de uma voz estridente. Algumas
frases pronunciadas em tom suave, com serenidade profunda, podem ser mais densas e
impressionantes que uma “catarata retórica”.

2. A Introdução do Sermão
A introdução, embora seja a primeira parte do sermão a ser apresentada pelo pregador, deverá
ser a última etapa do processo de elaboração. Por que razão? Pelo simples fato de que é ela que
definirá se o ouvinte irá escutá-lo ou não. A importância de uma boa introdução nunca deve ser
subestimada. Ela deverá, portanto, causar uma boa impressão nos ouvintes do sermão. Duane Litfin
disse: “Você nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira impressão!” 6
O erro de uma introdução improvisada ou mal elaborada pode custar o desperdício de uma boa
mensagem que por ser rejeitada, pode custar a perda irreparável de uma alma. A finalidade da
introdução é dupla. Por um lado, ela visa despertar a atenção de quem escuta; por outro lado, prepará-
lo para compreender e receber o conteúdo do sermão.

2.1. O conteúdo da introdução


O conteúdo da introdução está diretamente ligado à sua forma. Mas, independente da forma, a
introdução do sermão deve conter três elementos indispensáveis: citação do tema, enunciação da tese e
finalização com uma oração de transição na qual deverá estar inserida a palavra-chave que liga o título
com o corpo do sermão.

2.2. As formas de introdução


No que diz respeito às formas de introdução, não é possível enumerá-las. A imaginação do
pregador descobrirá sempre novas possibilidades. Mesmo assim, sugerimos algumas:
a) Explicação do fundo histórico sobre o que se vai pregar e sobre as circunstâncias que
motivaram o orador.
b) Indicação da importância do tema.
c) A alusão à ocasião especial do sermão, se esse for o caso.
d) Menção de algum sucesso (música, reportagem, etc.) da atualidade relacionado com o
tema.
e) Citação de uma frase célebre.
f) Uma pergunta ou série de perguntas intrigantes.
g) Uma declaração surpreendente.
h) A simples citação do tema e as razões de sua escolha.
i) A narração de um fato impressionante que se aplica ao tema.

2.3. As características da introdução

6 Robson M. MARINHO. Op. cit. p. 67.


40
a) Deve ter forma apropriada ao tema.
b) Deve ser interessante.
c) Deve ser breve.
d) Deve ser cuidadosamente preparada.

3. As Ilustrações do Sermão
Ilustrar quer dizer colocar luz sobre um assunto ou ideia. A ilustração é qualquer dispositivo
que consegue esse propósito. As ilustrações são como as janelas da casa, iluminando as passagens que
doutra maneira ficariam obscuras. Elas são meios de visualização que podem salvar o sermão da
mediocridade.
Usar ilustrações é seguir o exemplo de Jesus, o professor por excelência. As suas mensagens
foram repletas de todos os tipos de ilustrações. Havia parábolas, metáforas, símiles e outras figuras de
linguagem. Havia histórias e referências tiradas da vida cotidiana do povo. Ele falou da mulher
fazendo pão ou varrendo a casa. Falou do semeador no campo e mostrou-se familiarizado com os
provérbios populares. Descreveu as crianças brincando no mercado e chamou atenção às flores do
campo e aos pássaros. A receptividade por parte do povo às palavras de Jesus se explica em grande
parte pela clareza dos seus argumentos.

3.1. A necessidade de ilustrações


As ilustrações são imprescindíveis aos sermões. Sem elas dificilmente o pregador prenderá a
atenção dos ouvintes. O cinema e a televisão têm acostumado a geração moderna a pensar em quadros.
O nosso povo tem mente cinematográfica. É por isso que ele não é treinado a acompanhar argumentos
longos e profundos. Antes, o ouvinte requer do pregador cenas claras e atraentes, pintadas em cores
vivas. As ilustrações têm as seguintes utilidades:
a) As ilustrações são indispensáveis no sermão para clarear as verdades apresentadas.
Citando exemplos, é uma das melhores maneiras de esclarecer uma verdade abstrata.
b) As ilustrações também servem para gravar a verdade no coração de forma mais
permanente. Podem ser esquecidos os outros aspectos do sermão, mas não as ilustrações.
c) As ilustrações são usadas para provar um ponto no raciocínio do pregador. Analogias
podem reforçar a verdade em pauta.
d) As ilustrações são usadas para atrair ou despertar a atenção do ouvinte. No início da
mensagem a ilustração pode ganhar a atenção e, no decorrer do sermão, ela pode servir
para prender a atenção vacilante. O povo ouve as ilustrações mesmo quando não ouve
mais nada.
e) As ilustrações têm uma capacidade peculiar de tocar intimamente no coração. Há lugar no
sermão para um apelo às emoções, mas sempre deve ser feito de bom gosto.

3.2. Tipos de ilustrações


As ilustrações assumem várias formas, desde uma só palavra ou frase pitoresca até a narrativa
mais comprida. Vejamos alguns modelos:
a) Metáfora – é uma figura de linguagem pela qual uma palavra ou frase com um sentido é
aplicada à outra para sugerir uma semelhança entre as duas. Exemplos: “Vós sois o sal da
terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.13-14); “Eu sou a porta das ovelhas...” (Jo 10.7);
“Eu sou a videira verdadeira e vós, os ramos...” (Jo 15.1), etc.
b) Símile – é a figura em que uma coisa é comparada à outra. Exemplos: “O reino dos céus é
semelhante a um grão de mostarda”; “Também o reino dos céus é semelhante a um
tesouro escondido num campo...”, (Mt 13.44); “Outrossim, o reino dos céus é semelhante
41
ao homem, negociante, que busca boas pérolas” (Mt 13.45); “... pois que sois
semelhantes aos sepulcros caiados...” (Mt 23.27).
c) Hipérbole – é a figura retórica pela qual se engrandece ou diminui exageradamente com o
propósito de dar ênfase. Exemplos: “As cidades são grandes e fortificadas até os céus”
(Dt 1.28); “Também vimos ali gigantes, filhos de Enaque, descendentes dos gigantes; e
éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus
olhos” (Nm 13.33); “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um
rico entrar no reino de Deus” (Mt 19.23); “... creio que nem ainda no mundo inteiro
caberiam os livros que se escrevessem” (Jo 21.25).
d) Experiência da vida – narrativas, fatos, reportagens impressionantes, contos, parábolas,
incidente biográfico, cenas dramáticas, poemas, hinos, música popular, etc.

3.3. As fontes de ilustração


a) As ilustrações podem ser encontradas na literatura: biografias, livros de história e ciência,
ficção, drama, poesia, sermões escritos, revistas, jornais, música popular, etc.
b) Podem ser tiradas da experiência pessoal do pregador.
c) As ilustrações podem ser invenções da imaginação do pregador, como, por exemplo, no
caso de parábolas. Mas ele deve deixar bem claro ao povo que são exemplos fictícios. Ele
pode dizer: “Suponhamos...”; “Vamos imaginar...”, etc.

3.4. Sugestões quanto ao uso de ilustrações


a) Não devemos usar ilustração que não seja pertinente, nem tampouco uma que não seja
plausível. Cada ilustração deve ser bem aplicável à ideia que ela está esclarecendo.
b) O pregador não deve usar um número excessivo de ilustrações, isto é, do tipo “relato”. A
força do pensamento fica diluída demasiadamente quando o número de ilustrações for
exagerado. Alguém tem sugerido que o ideal é usar uma ilustração para cada ponto, e
mais uma para a introdução ou para a conclusão.
c) O pregador deve fazer três coisas em cada ponto do sermão: explicá-lo, ilustrá-lo e
aplicá-lo.
d) Para alcançarmos o efeito desejado, as ilustrações devem ser cuidadosamente
selecionadas e preparadas de antemão. As ilustrações que surgem dum impulso do
momento podem ter implicações que não desejamos.
e) As ilustrações devem ser sempre variadas quanto ao tipo e quanto às fontes.
f) Não é aconselhável usar as ilustrações que aparecem em livros de ilustrações. Entre as
suas desvantagens, algumas são as seguintes: conhecidas e consequentemente muito
usadas; a sua veracidade é impossível de ser comprovada; e, até certo ponto,
desestimulam a nossa própria procura de material ilustrativo.

42
Seminário Teológico Batista em São Luís
Avenida João Pessoa, 214-B. Bairro do João Paulo. CEP: 65040-001 São Luís-MA.
Telefone: (98) 98831-9247. E-Mail: stbslteologia@gmail.com. Site: stbsl.org

APOSTILA DE HOMILÉTICA
UNIDADE II – A APRESENTAÇÃO DO SERMÃO

São Luís, 2022


43
CAPÍTULO I

A ELABORAÇÃO DE SERMÕES ESPECIAIS

1. O SERMÃO BIOGRÁFICO
Sermão biográfico é aquele cujo conteúdo é extraído da vida de um personagem da Bíblia.
Embora as regras básicas para a elaboração de qualquer sermão devam ser utilizadas na elaboração do
sermão biográfico, este requer uma atenção especial. As Escrituras estão repletas de biografias que
constituem excelente fonte de material sermônico, um grande acervo para o pregador.

1.1. A importância do sermão biográfico


Normalmente, os sermões biográficos são de conteúdo ético. No entanto, de acordo com o
contexto ou as intenções do orador, os sermões biográficos poderão ser de conteúdo exortativo ou
consagratório. São de alto teor inspirativo. Devem ser aplicados ao caráter ou ministério cristão. Sua
mensagem deve proceder do relacionamento entre o personagem e Deus.
Uma das principais razões para a pregação de sermões biográficos é que “a história de uma
vida fala de um modo todo especial. Sempre que lemos ou ouvimos sobre uma personagem,
recebemos o impacto das peculiaridades daquela vida. Quer positivas quer negativas, as qualidades de
uma personagem nos falam sempre. Eis a razão que faz do sermão biográfico a forma mais aceita
pelos ouvintes”.7

1.2. Estilos de sermão biográfico


As melhores opções que dispomos para apresentar sermões biográficos são:
a) Biográfico expositivo – a fonte do sermão é uma passagem bíblica, donde tudo que há de
ser dito na exposição do sermão tem sua procedência.
b) Biográfico narrativo – trata-se de uma abordagem biográfica que, embora tenha como
base um texto bíblico, a estrutura do sermão não contém tópicos. Passagens paralelas
serão usadas para uma abrangência maior do perfil e da vida do personagem.
c) Biográfico em forma de monólogo – o pregador se expressa na primeira pessoa do singular
como se o próprio personagem estivesse no púlpito falando. De preferência, o sermão
deverá ser lido e não falado. Como exemplo, um sermão deste tipo teria como tema:
“Epístola de João à Primeira Igreja Batista...”; ou ainda, “Epístola de Paulo à Ordem dos
Pastores Batistas do Brasil”, etc.

1.3. Motivos para pregarmos sermões biográficos 8


a) Porque é uma forma atraente de apresentarmos a Palavra de Deus.
b) Porque, estudando as personagens bíblicas, aprendemos grande temas da fé.
c) Porque o biográfico serve de base para o uso de outras formas sermônicas.
d) Porque as biografias têm capacidade de penetrar corações.
e) Porque torna o pastor um estudioso das Escrituras.
f) Porque contribui para o fortalecimento da igreja.

7 MORAES, Jilton. Homilética do púlpito ao ouvinte. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 190.

8 MORAES, Jilton. Op. Cit. p. 218-220.


44
1.4. Procedimentos práticos
Tal como todos os demais modelos de sermão, o biográfico também segue o processo dos sete
passos. Mas, além destes sete passos, é de fundamental importância que aquele que se aventura a
apresentar um sermão deste modelo adote também os seguintes procedimentos na análise do
personagem e da passagem bíblica:
a) Escolher o personagem de acordo com a verdade a ser ensinada e que esteja relacionada
ao contexto ou situação dos ouvintes.
b) Identificar a passagem bíblica que melhor descreve o caráter e as obras do personagem.
c) Alistar os fatos, as declarações feitas sobre o personagem bem como suas atitudes
marcantes.
d) Destacar expressões tais como: orações, confissões, emoções, sentimentos, etc.
e) Identificar a obra realizada por Deus através do personagem.
f) Descrever com detalhes o relacionamento do personagem com Deus.

OBSERVAÇÕES:
a) Jamais esquecer que o sermão, por ser biográfico, jamais deve ser apresentado como se
tivesse teor doutrinário.
b) O sermão biográfico jamais deverá ser apresentado em aspecto e/ou conteúdo preceptivo,
mas enunciará princípios a serem aplicados na vida cotidiana dos ouvintes.
c) O sermão biográfico é educativo, isto é, propõe valores éticos extraídos das Sagradas
Escrituras.
d) Todo sermão biográfico deverá ser contextualizado, isto é, aplicado à realidade em que
vivemos atualmente.

EXEMPLO
PLANO BÁSICO:
1) Personagem: Apóstolo Paulo
2) Texto: 2Tm 4.6-8
3) ICT: O apóstolo Paulo foi para seu discípulo Timóteo um exemplo de vida cujo
caráter e ministério glorificaram a Deus.
4) TESE: Vidas que marcam são aquelas cujo caráter e ministério glorificam a Deus.
5) TÍTULO: VIDAS QUE MARCAM
6) OB: Exortativo
7) OE: Pretendo motivar cada ouvinte a exercer com dignidade o ministério para o qual
foram vocacionados.
Veja o sermão completo na página seguinte.

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VIDAS QUE MARCAM

(2Tm 4.6-8)

Introdução
O apóstolo Paulo foi um homem que fez de Jesus o seu referencial de vida e ministério. Por
esta razão foi um homem que marcou a história do Cristianismo. A igreja de Jesus precisa de homens
que, a exemplo de Paulo, deixem marcas que sinalizem a caminhada de uma vida que glorifica a Deus.
Vidas que marcam são aquelas, cujo caráter e ministério glorificam a Deus. A exemplo do apóstolo
Paulo, crentes que glorificam a Deus deixam no final da vida quatro marcas:

1) Triunfam nas batalhas da vida – “... combati o bom combate...” (v. 7).
O triunfo de Paulo deve-se ao fato de que ele foi um soldado de Cristo audaz; e que, nas
batalhas da vida, fez uso das armas espirituais e, assim, alcançou a vitória. Da mesma forma, à
semelhança de Paulo, vidas que marcam triunfam nas batalhas da vida, quando seguem as mesmas
diretrizes:
a) Triunfam quando lutam no poder do Espírito (2Tm 1.7).
b) Triunfam quando lutam com as armas espirituais (2Co 10.4; Ef 6.10-12).
Não dando importância às circunstâncias que os cercam, crentes, cujas vidas deixam marcas,
jamais se dão por vencidos; enfrentam as situações adversas e até adversários ameaçadores, movidos
pela ousadia do Espírito, pela audácia e ânimo que os impulsionam. Coragem é a força que nos move a
cumprir o dever, mesmo quando morremos de medo.

2) Cumprem fielmente a missão – “... completei a carreira...” (v. 7).


Ao dizer “completei a carreira”, o apóstolo Paulo estava testemunhando de sua perseverança e
sua lealdade a Cristo que o designou para o apostolado. Em outras palavras, Paulo estava dizendo:
“Não fui um desertor”, “Não fui um covarde”, “Eu fiz o que deveria ter feito; agora dou por encerrada
minha carreira com a consciência do dever cumprido”.
a) Testemunhando a tempo e fora de tempo (2Tm 4.2).
b) Revelando aos homens o eterno desígnio de Deus (At 20.27).
Grande parte dos crentes desta geração, até mesmo alguns ministros de Deus, seguem nas
fileiras dos desertores; desertaram da fé e abandonaram o ministério, por causa de suas frustrações,
não tendo encontrado na igreja ou no ministério aquilo que buscavam. Um dos hinos do Cantor
Cristão, número 164, tem uma estrofe que diz: “Quantos que corriam bem já não mais contigo vão;
outros seguem, mas também frios sem amor estão”. Vidas que marcam cumprem fielmente a missão.

3) São guardiães fiéis da doutrina de Cristo – “... guardei a fé...” (v. 7).
Ao dizer: “guardei a fé”, Paulo testificou de sua lealdade ao evangelho que recebeu
diretamente de Cristo, o mesmo que pregou durante toda a sua vida e do qual jamais se desviou, sendo
fiel aos seus valores e princípios, durante toda a sua vida. Crentes, cujas vidas marcam, tal como
Paulo, manifestam duas características:
a) Os guardiães da fé acreditam nas promessas de Deus (2Tm 1.12).
b) Os guardiães da fé perseveram na sã doutrina por amor a Jesus (Jo 15.21-23).
Oh! Quão triste é ver hoje pessoas que, algum tempo atrás, eram defensores árduos da sã
doutrina, adoravam a Deus, participavam até de projetos missionários, mas agora estão vivendo
novamente como escravos do pecado, moralmente desqualificados. Nunca esqueçamos as palavras de
Jesus, no seu sermão escatológico: “... mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt
10.22).

4) Conquistam com dignidade a recompensa divina – “... a coroa da justiça me está guardada...”
(v. 8).

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Paulo encerrou seu ministério com um testemunho brilhante. À semelhança dos atletas que
correm no estádio disputando uma coroa de louros, ele, no exercício do ministério, havia conquistado
algo melhor: a “coroa da justiça”. Ele acreditava que a justiça era a fonte da coroa ou que a coroa era a
natureza da justiça. Ele tinha a convicção de que a recompensa pelo serviço prestado a Cristo era uma
promessa que haveria de cumprir-se brevemente. Nada haveria de demovê-lo da esperança do galardão
a receber no Dia do Senhor. Ele compreendia que haveria de subir ao pódio para receber diretamente
de Cristo sua recompensa em glória. Com o exemplo de Paulo aprendemos que:
a) O mérito da recompensa é conquistado por quem vive a serviço de Cristo (Jo 12,26).
b) O mérito da recompensa é imputado somente aos que servem com amor (1Co 9.17-18).

Conclusão
A glória divina é o destino dos crentes fiéis que fazem de sua vida um meio pelo qual Deus
realiza sua obra e concretiza os seus eternos desígnios. Quão honrosa e digna do reconhecimento
humano é a vida daqueles que abrem mão de privilégios para servir a Cristo! Seu exemplo de vida
deixa marcas como legado para as gerações posteriores. O triunfo nas batalhas da vida, o cumprimento
fiel da missão e a perseverança na sã doutrina são as credenciais que tornam um cristão digno da honra
e da recompensa divina. Este é o desafio de Deus para todos nós. Sejamos crentes triunfantes, fiéis
cumpridores da missão, guardiães da sã doutrina e aguardemos a recompensa da coroa celestial
destinada àqueles que glorificam a Deus com suas vidas. Deus seja louvado.

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2. SERMÃO HISTÓRICO
O conteúdo deste tipo de sermão é tirado dos fatos e episódios da história do povo de Deus,
onde a ação de Deus foi registrada. Tal sermão visa direcionar não só a igreja como um todo, mas
também o indivíduo, revelando princípios e diretrizes divinas para a jornada dos santos no percurso da
história da salvação.

2.1. Concepção geral


Normalmente, os sermões históricos são de conteúdo exortativo, isto é, buscam inspirar
confiança e obediência a Deus. São de alto teor inspirativo. Devem ser aplicados ao relacionamento
dos ouvintes com Deus. Sua mensagem deve enfatizar os atos redentores de Deus ou a atitude de
obediência e lealdade do povo de Deus. Também é possível enfatizar os atos pecaminosos do povo de
Deus desde que se apresente como Deus agiu em tais situações.

2.2. Procedimentos práticos


Os procedimentos abaixo discriminados não isentam o pregador de seguir todos os passos
homiléticos do processo de elaboração de um sermão. Portanto, no processo de elaboração de um
sermão histórico, inclua os seguintes procedimentos:
a) Escolher um episódio da história de Israel ou da igreja que esteja diretamente relacionado
com a vida atual dos ouvintes.
b) Identificar os fatos, as ações de Deus e as atitudes do seu povo.
c) Comparar a narrativa bíblica com a realidade dos ouvintes e descobrir os pontos em
comum.
d) Centralizar a mensagem no fato mais importante da passagem bíblica.

2.3. Exemplo
1) Episódio: A saída dos hebreus do Egito e sua peregrinação no deserto.
2) Texto: Ex 13.17-22
3) ICT: Deus manifestou sua presença de forma providencial e soberana ao ter conduzido
Israel em sua jornada à terra da promessa.
4) TESE: Na jornada de nossa existência, somos bem sucedidos quando andamos com
Deus.
5) TÍTULO: NOSSA JORNADA COM DEUS
6) OB: Exortativo
7) OE: Pretendo encorajar meus ouvintes a se submeterem com fé à direção de Deus.

OBSERVAÇÃO: VEJA O SERMÃO COMPLETO NA PÁGINA SEGUINTE

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NOSSA JORNADA COM DEUS
(Ex 13.17-22)

Introdução
Todos nós vivemos em função de um sonho a realizar e de uma vida melhor no futuro. Mas
um grande problema se depara diante de nós: Qual o caminho que nos conduzirá até lá? Assim
aconteceu com Israel. No cativeiro do Egito, os hebreus sonharam com sua liberdade e uma vida
melhor na terra da promessa. Mas a grande questão era: Como haveriam de chegar lá? A solução veio
de Deus. Deus manifestou sua presença de forma providencial e soberana, conduzindo Israel em sua
jornada à terra da promessa. Da mesma forma, na jornada de nossa existência, somos bem sucedidos
quando andamos com Deus. Este episódio da história de Israel nos faz crer que, quando andamos com
Deus, três coisas acontecem:

1. Deus escolhe para nós o melhor caminho (v. 17).


1.1. Às vezes, Deus nos desaponta, conduzindo nossa vida por caminhos que não desejamos (v.
17; At 16.6-10).
1.2. As escolhas de Deus nem sempre correspondem à nossas expectativas, mas sempre haverá de
ser nossa melhor opção (Is 55.8-13).

2. Deus vai à frente de nossa peregrinação (v. 21)


2.1. Para abrir espaço e remover os obstáculos.
2.2. Para garantir que cheguemos ao final de nossa jornada.

3. Deus permanece em nossa companhia (v. 22).


3.1. Para nos inspirar fé e coragem (Js 1.9).
3.2. Para nos encorajar nas horas de dor e desânimo (Is 41.10, 13 e 14; Is 43.1-2).

Conclusão
Na busca da concretização dos desígnios de Deus, a coisa mais importante não é o caminho
que percorremos, mas a experiência da companhia divina. Quando andamos com Deus, ele escolhe
para nós o melhor caminho, vai à frente de nossa peregrinação e permanece em nossa companhia;
jamais nos abandonará. Sem a direção de Deus, todo homem se perde na jornada da vida. Portanto,
como disse o salmista, “entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele e o mais ele fará”.

49
3. O SERMÃO FÚNEBRE
Fúnebre não é um termo apropriado para qualificar um sermão, porque fúnebre é o tipo de
cerimônia na qual o sermão é pregado. Por ser imprevisível, a cerimônia fúnebre tem caráter
emergencial e, pela urgência do momento, o oficiante não dispõe de tempo suficiente para elaborar
um sermão, seguindo todos os passos previstos, de acordo com as regras homiléticas. Portanto, o
sermão fúnebre foge ao modelo do sermão clássico e tradicional. Ocasiões de funerais são as mais
difíceis, não só para a família enlutada como também para o pastor que tem a responsabilidade de
confortar os que choram. Nestes casos, como o pregador deve proceder?

3.1. Recomendações
a) Evitar caminhos ilegais – nada de buscar sermões já pré-elaborados e publicados em
livros ou postagens da internet. O pregador precisa ter vida com Deus e manejar bem
Palavra da Verdade.
b) Não fugir da responsabilidade – convidar pregadores de fora em situações de emergência
é antiético e expressa atitude de irresponsabilidade.
c) Proceder de forma correta – aceite o desafio da situação, encarando as circunstâncias de
fronte erguida, na dependência do Espírito Santo.

3.2. Elaboração do sermão fúnebre


1) Definição do tema – antes da escolha do texto bíblico do qual fluirá a mensagem, é
necessário que se saiba antes se a pessoa falecida era crente ou não crente. No caso em
que o falecido é um crente em Jesus, é recomendável que se escolha passagens bíblicas
cujos temas respectivos sejam: esperança, segurança eterna, ressurreição, etc. Ao se
tratar de funerais de pessoas não crentes, uma mensagem evangelística é mais apropriada.
2) A escolha do texto – dar preferência aos discursos ou declarações de Jesus. Outras boas
opções são: Salmos, Epístolas e Apocalipse. Qualquer que seja a passagem bíblica, o
texto deve ser didático, isto é, o próprio texto já fornece a estrutura (corpo) do sermão.
3) O tipo de sermão – o sermão expositivo é a opção mais indicada. Para tanto, a escolha de
textos paralelos trará mais conteúdo enriquecedor para o sermão.
4) O foco do sermão – independente de quem seja a pessoa falecida, o sermão fúnebre
precisa apontar para Cristo, não para a vida do morto. O foco do sermão fúnebre não é a
morte, mas a vida; não a tragédia, mas a esperança. Portanto, Cristo sempre haverá de ser
o centro do sermão fúnebre.

3.3. A exposição do sermão fúnebre 9


O que jamais deverá ser esquecido:
a) Sem lugar para gracejos – embora seja óbvio, mas todo humor deve ser evitado; até
mesmo o falso sorriso.
b) Evitar a exposição teológica – a necessidade dos ouvintes é conforto espiritual, ânimo, fé
e esperança. Ainda que o tema seja contextualizado, exposições doutrinárias jamais
deverão ter lugar no culto fúnebre.
c) Informalidade – evitar as formalidades dos sermões com títulos e tópicos. A mensagem
fúnebre deve ser apresentada em forma de homília.

9 MORAES, Jilton. Op. Cit. pp. 304-305.


50
d) Olhando os ouvintes – o sermão fúnebre jamais deve ser lido. A comunicação visual é
importante em todas as ocasiões; durante um funeral é imprescindível que o pregador
encare com amor e segurança seus ouvintes.
e) Brevidade – a prolixidade está definitivamente descartada; o sermão fúnebre é o mais
breve de todos os sermões. Ele sempre haverá de ser curto, direto e confortador.

4. CERIMÔNIAS ESPECIAIS
Há ocasiões em que o pregador é requisitado como orador oficial para falar em cerimônias
especiais, tais como cerimônias de formatura (paraninfo), casamento (celebrante), cerimônias cívicas
em geral (comemorações, inaugurações, posse de autoridades, etc). Em tais casos, os sermões
tradicionais que normalmente são pregados nos cultos dominicais estão descartados. Nestas ocasiões,
com exceção das cerimônias de casamento, os discursos formais são apropriados. Nas solenidades de
matrimônio, o celebrante pronuncia uma mensagem do tipo homília, deixando de lado os sermões e os
discursos.
Apesar das formalidades estabelecidas pelo rito das respectivas cerimônias, o discurso haverá
de ter base bíblica, isto é, um texto das Escrituras servirá como fonte da mensagem a ser apresentada
na ocasião. Os procedimentos a serem seguidos durante a elaboração do discurso são os mesmos
adotados para um sermão comum, sendo que o discurso será escrito e lido por inteiro. Este deverá
conter: título, texto bíblico, introdução, corpo e conclusão. É imprescindível que a aplicação da
mensagem focalize as pessoas às quais se presta a cerimônia, levando em conta os seguintes critérios:
a) Carreira profissional – em caso de formandos;
b) Cargos e/ou funções – em caso de posse de autoridades;
c) Responsabilidade social – instituições governamentais.
Convém ressaltar que o orador seja prudente, nunca dirigindo-se a pessoas, individualmente.
Sua mensagem, sem sombra de dúvida, haverá de expor com clareza e entendimento a vontade
soberana de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. A opinião pessoal do orador não interessa a
ninguém e não terá outra utilidade, senão, a de gerar constrangimentos e preconceitos que, além de
comprometerem a imagem e a reputação do orador, construirão inimigos gratuitos. O discurso do
orador deverá sensibilizar os corações dos ouvintes, propondo-lhes o direcionamento divino para suas
ações. Ao terminar seu discurso, o orador deverá ter deixado na alma dos ouvintes a vontade de ser
ouvido outra vez.

51
CAPÍTULO II

A EXPOSIÇÃO DO SERMÃO

1. O preparo do orador
Todo sermão deve passar por quatro etapas: preparação, revisão, memorização e exposição.
Uma vez preparado, o sermão, antes de ser apresentado verbalmente, necessita de uma revisão e, em
seguida, deve ser memorizado.

1.1. A revisão do sermão


A revisão do sermão consiste num exame minucioso do manuscrito inicial no qual o pregador
deverá investigar todas as possíveis falhas que porventura terão passado despercebidas durante a etapa
da elaboração. Para tanto, algumas questões deverão ser formuladas e as principais são as seguintes:

1.1.1.Com referência ao título


a) Este título indica claramente o assunto do texto escolhido?
b) O assunto ao qual o título se refere atenderá realmente às necessidades atuais dos
meus ouvintes?
c) Não seria esse título, em vez de interessante, exótico e extravagante?

1.1.2.Com referência à tese


a) Esta tese está realmente enunciada de forma clara e precisa?
b) Esta tese é realmente a essência da mensagem que o texto fornece?
c) Esta tese está realmente coerente com o tema?
d) Esta tese é uma verdade universal e intemporal?

1.1.3.Com relação às divisões do tema


a) Cada ponto está relacionado direta e claramente ao tema e à tese? Prove isso.
b) Cada ponto está enunciado de forma precisa? Existe alguma palavra indevida no
enunciado deste ponto?
c) As subdivisões deste ponto explicam e comprovam biblicamente a verdade divina
que este ponto cita?
d) Será que esta subdivisão não está tratando de um assunto diferente do tema do
sermão?

1.1.4.Com relação à conclusão


a) Esta conclusão é um resumo ou uma mera repetição literal do conteúdo?
b) Esta conclusão propõe algo útil à minha própria vida? Existe nesta conclusão, pelo
menos, uma frase que define uma aplicação (utilização da mensagem à vida
prática) e um objetivo específico (resultado que quero obter) de forma clara que se
destina à vida dos meus ouvintes?
c) Esta conclusão, do jeito que está escrita, declara com precisão a vontade de Deus
para com os ouvintes?

52
d) Esta conclusão, da forma como está escrita, lança um desafio aos ouvintes?
Persuadirá os ouvintes a uma decisão coerente com a vontade de Deus? Qual a
sentença que prova isso?

1.2. A memorização do sermão


Uma das “leis” do aprendizado e do ensino é a seguinte: nós gravamos aquilo que nos
interessa. Isto se aplica ao sermão. Por esta razão, antes que o sermão seja apresentado no púlpito,
deve passar pelo processo da memorização. O sermão de fácil memorização por parte do pregador será
lembrado por aqueles que o ouvirem.

1.2.1.Qualidades do sermão inesquecível


a) Antes de “arder” nos corações dos ouvintes ele já incendiou o coração do
pregador.
b) Antes de alimentar os ouvintes, ele já despertou no pregador o seu “apetite
devorador”.

Antes de levar os ouvintes ao altar de Deus, ele já quebrantou o coração do pregador.


Pregação é a voz de Deus pela boca de um homem. O sermão é a palavra de Deus como “espada de
dois gumes” que, antes de penetrar na alma de quem o ouve, traspassa a alma de quem o prega.

1.2.2.Os caminhos da memorização


Não existe fórmula mágica para memorizar-se um sermão. Mas, por outro lado, podemos
adotar medidas que nos permitam evitar um “blackout” de memória. Algumas pessoas têm uma mente
fértil, uma memória “fotográfica”, que lhes proporciona a facilidade de gravarem o que leem num só
golpe de vista. Outras, pelo contrário, necessitam empregar um esforço sobre-humano para reter na
mente alguma coisa. Por esta razão, diante de tais circunstâncias, propomos os seguintes
procedimentos:
a) O número de divisões do tema não deve exceder a quatro. Três seria o ideal.
b) Após o esboço ter sido revisado, leia-o todo pausadamente, ouvindo sua própria vós e
“bebendo com avidez” seu conteúdo.
c) ENTENDA o sentido e capte a ideia da tese e de cada ponto principal, utilizando-se do
recurso de “pensar em voz alta”, dizendo para seus próprios botões: “Em outras palavras,
Deus está nos ensinando que...”
d) SATURE sua mente com a tese e os pontos principais, lendo com o espírito o sentido das
palavras que você lê com os olhos.

2. O preparo dos ouvintes


A primeira situação que ocorre como pregador, logo ao assomar ao púlpito, é a que ele estará
frente a frente com um auditório, onde todos os olhares estarão fixos nele na expectativa de que uma
mensagem alentadora e de conteúdo profundo será ouvida. No entanto, há o grande risco de que uma
grande decepção venha frustrar as pessoas antes mesmo da exposição da mensagem.
O maior interessado no fracasso do pregador é o diabo e ele descarregará contra o mensageiro
de Deus “munição de grosso calibre” com maior intensidade em dois momentos: na introdução e na
conclusão do sermão. Na introdução, ele pode bloquear a mente das pessoas; na conclusão, ele pode
arrebatar tudo que foi semeado pelo pregador no coração dos ouvintes. Na exposição da mensagem
divina, o pregador tem uma tríplice tarefa:
a) Garantir a atenção dos seus ouvintes na introdução;
53
b) Garantir a atenção dos seus ouvintes durante a exposição dos pontos principais;
c) Garantir a atenção dos seus ouvintes durante a conclusão da mensagem.

Para que isso aconteça, o pregador precisa fazer algumas coisas e evitar outras. Então, surge a
pergunta: O que deve ser feito e o que deve ser evitado? O segredo de manter a atenção dos ouvintes
até o final do sermão é: despertar neles o interesse pela mensagem logo no início. Isto requer do
pregador uma forma adequada de dirigir aos seus ouvintes suas primeiras palavras.

2.1. Vocativo
Todo célebre discurso começa com um vocativo. Vocare em latim quer dizer chamamento. Há
muitos vocábulos em nossa língua com o radical “voc”: vocação (é o chamado interior, é a voz da
tendência do homem), invocação (dá-se quando o homem chama um ser superior), etc. Portanto,
vocativo é a parte do discurso em que chamamos, interpelamos o auditório. A Bíblia nos apresenta
vários exemplos de grandes oradores que a história registrou:
a) Moisés: “Ouvi, ó Israel, os estatutos e os juízos que hoje vos falo...” (Dt 5.1); “Ouve,
Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6.4).
b) Amós: “Ouvi esta palavra que levanto como lamentação sobre vós, ó casa de Israel:...”
(Am 5.1).
c) Miqueias: “Ouvi, agora, vós, cabeças de Jacó, e vós, chefes da casa de Israel:...” (Mq
3.1).
d) Pedro: “Varões judeus e todos os habitantes de Jerusalém, tomai conhecimento disto e
atentai nas minhas palavras...” (At 2.14).
e) Estevão: “Varões irmãos e pais, ouvi...” (At 7.2).
f) Paulo: “Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos...” At 17.22).

O vocativo não é obrigatório em todos os discursos, havendo situações em que é bom suprimi-
lo. Às vezes, você será convidado a falar em fóruns, congressos, convenções, encontros de
homenagem, etc. e, nestas circunstâncias, o vocativo é uma ótima forma de se principiar as principais
palavras do discurso ou sermão.

CONSELHOS PARA UM BOM VOCATIVO

Maurício Góis faz as seguintes recomendações:


a) Não cometa a “gafe” de citar alguns nomes e omitir ou esquecer outros. Agir assim em
muitos casos é ter inimigos gratuitos sem saber porque. Em último caso, se você não
lembrar o nome de todos, generalize sua saudação, dizendo: “Senhor presidente e demais
membros da mesa diretora, senhoras e senhores...”.
b) Na saudação aos componentes da mesa, seguimos a ordem hierárquica descendente, isto é,
começamos primeiro pela pessoa mais importante. Exemplo: “Digníssimo senhor Prefeito
de...” E, como a ordem é descendente, você deve terminar o vocativo dizendo: “... minhas
senhoras e meus senhores...”.
c) Para seguir a ordem hierárquica, quem você saúda primeiro: a autoridade religiosa ou a
militar? Depende da situação – é a resposta. O bom senso nos leva a honrar em primeiro
lugar os convidados e, somente depois, os de casa.
d) Em se tratando de vocativo, tenha em mente uma coisa: ou você segue a Ética ou a
Etiqueta (pequena ética, ética menor). Ética atende às normas da vida, etiqueta atende às
54
convenções da vida. Desgraçadamente, o homem, quanto mais fútil fica, dá mais valor à
etiqueta e menos valor à ética. Se você é um orador consciente e está convencido de que é
ético e tem uma personalidade social e moral forte, viva a espontaneidade de sua ética e
deixe, com bom senso e criatividade, a etiqueta de lado.

2.2. Princípios retóricos para uma boa introdução


Segundo o Professor Maurício Góis, em retórica, a introdução de um discurso chama-se
exórdio. O exórdio é o que prepara o ambiente para o orador, daí a sua magistral importância. Ele é o
cartão de visita do orador. Dizem por aí que a primeira impressão é a que fica.

Em termos retóricos, entretanto, é diferente: a última impressão é a que fica, mas a primeira é
que atrai. É por isso que em oratória:
a) O início deve atrair;
b) O meio deve emocionar;
c) O fim deve impressionar.

Nem sempre o auditório está disposto a ouvir conferencistas com seus discursos intermináveis.
Necessário se faz que comecemos nosso discurso despertando o desejo de sermos ouvidos. Para isso,
usamos o Exórdio.

É nos seus dois minutos de exórdio que o orador determina como será o
comportamento do seu auditório nos próximos vinte minutos.

Antes de explicarmos como manter a assistência ligada em você, daremos algumas


informações sobre o Exórdio. Maurício Góis diz o seguinte:
a) O Exórdio é de tamanha importância no discurso, que é a primeira coisa a ser dita, mas
deve ser a última coisa a ser feita pelo orador. Aliás, disse um cínico: “Prefácio é uma
coisa que se coloca antes, escreve-se depois e não se lê nem antes e nem depois”. Bem
diferente é o destino do Exórdio. Ele é falado antes dos argumentos (corpo), escrito depois
de tudo no discurso estar feito, escutado antes e lembrado depois.
b) O Exórdio é um tipo de discurso isolado, independente, cujo objetivo é preparar o ânimo
da audiência para o discurso propriamente dito.
c) Imagine que o Exórdio é a entrada de sua residência. Logo, como entrada, ele não pode
nem ser maior nem ridiculamente menor em relação à casa. Pelo contrário, deve
acompanhar a harmonia, o estilo, a cor, etc., e ser o retrato da personalidade da casa, assim
como a casa é o retrato da personalidade de seu dono. Um Exórdio enorme ou muito bom,
num discurso pequeno e ruim, é tão fora de lugar como um portão de ouro que dá entrada
para uma favela caindo aos pedaços. Da mesma maneira, um discurso imponente com um
exórdio medíocre é tão ridículo como uma mansão em Bervely Hills (Hollywood), cuja
entrada fosse chão sujo de barro com cerca de arame barato.
d) No Exórdio, você deve começar seu discurso devagar. A voz deve ser pausada, com pouco
volume, dando tempo para você mesmo se adaptar ao ambiente, se controlar
emocionalmente, ouvir seu próprio som e graduá-lo de acordo com a acústica do lugar.
Além do mais, se você inicia em seu tom médio, sempre que elevar sua voz poderá trazê-
la a este tom médio ideal, ao passo que se começar acima dele, em voz alta, sempre que
voltar, estará parecendo ao auditório que está inseguro ou é ineficaz.
55
2.3. Recursos retóricos para um bom exórdio.
Um dos maiores problemas dos oradores modernos se resume em como chamar a atenção do
auditório. Em oratória só comunicamos quando atingimos a atenção espontânea de nosso ouvinte. Para
isso, use a lei da variedade. A variedade é o tempero da vida, é o segredo maior, o “pulo do gato” dos
grandes oradores. Mas variar como? Quais são as formas de variedade? Os recursos a seguir podem
ser usados em qualquer parte do discurso, mas principalmente na introdução. Veja como isso é
possível:
a) Utilize-se dos recursos visuais. Exemplo: “Eu tenho aqui uma moeda real do tempo de
Cristo. Eu a emprestei de um amigo colecionador... Ele, com razão tem tanto ciúmes dela
que veio aqui assistir minha tese científica. Foi com uma dessas moedas que Judas traiu a
Cristo... Eu hoje tenho só uma, mas Judas tinha trinta... E vocês querem saber quanto
custaria hoje, com a inflação brasileira e tudo, a traição de Jesus...? Bem hoje para trair
Jesus você não precisa mais desta moeda... Há muitas maneiras de traí-lo. Eu vou
apresentar 5 maneiras... Uma delas é...”
b) Use ilustrações inéditas e breves. O método de ensinar por ilustrações continua atual
desde a fundação do mundo. Os grandes oradores usam-nas com frequência. E você
também pode fazê-lo com sucesso e eficácia.
c) Use os acontecimentos quentes das reportagens dos jornais. Exemplo: “Ontem eu li nos
jornais que um grupo de pessoas resolveu se suicidar coletivamente em protesto ao que
eles acreditavam ser uma iminente guerra nuclear... Por que as pessoas andam com tanto
medo? Por que estão tão inseguras...?”
d) Particularize os fatos de sua informação. Exemplo: “Eu, antes de começar minha palestra,
quero externar os meus efusivos pêsames pela morte da colegial recentemente assassinada
pelos ônibus endoidecidos desta cidade. Foi realmente uma cena chocante. Para quem
esteve lá e viu parecia que a morte escrevera seu poema triste no asfalto quente da
avenida. Por isso, em nome da delegação que está conosco eu apresento as minhas
condolências aos familiares da jovem estraçalhada pelo desequilíbrio dos motoristas sem
freios de amor próprio... Meus amigos, por que a ideia de uma colegial estraçalhada pelos
pneus derrapantes de um ônibus provoca tanto impacto a ponto de prender a respiração de
uma plateia como esta? Por que não há o mesmo espanto com a história de um Brasil com
25 milhões de menores abandonados, 14 milhões de portadores de esquistossomose, 10
milhões com doença de chagas? Por acaso a ideia de 600 mil trombadinhas só em São
Paulo-capital é menor do que uma colegial debaixo das rodas de um auto? Será que
estamos petrificados com os reais valores sociais de nossa década?”
e) Comece seu discurso com a força milagrosa do elogio. Saber elogiar é uma arte que
poucos oradores sabem e usam. Para conquistar o auditório e até transformar sua atenção
espontânea em interesse ativo, a maior regra é você começar falando do próprio auditório.
A melhor maneira de conquistar o outro é falando do outro, e não de si mesmo.
Imagine que você vai fazer uma conferência e comece assim:
“Em 1976, eu passei por esta cidade. Estava sozinho. Tinha no coração a esperança, na cara a
coragem e no bolso 20 centavos. Esta cidade me deu ânimo e oportunidade de uma nova vida; e, por
isso, sou grato a ela. Hoje, mais velho, sou um homem internamente novo e agradeço a vocês, que
estão sentados aqui, por isto...”

56
O então: “Esta cidade é a noiva que todo homem gostaria de ter. Sabem por que? (Todos a
essa altura terão parado de respirar e estarão perguntando: ‘O que de nossa cidade o deixou tão
impressionado?’) Porque é bela, limpa, atraente e atenciosa com os que vêm de fora”.
Cuidado, entretanto, para não provocar desconfiança no auditório, para não cair no ridículo,
para não ser demagogo, insincero. O elogio deve ser real, verdadeiro, autêntico. O falso elogio,
quando notado, soa como bajulação e, em vez da simpatia e atenção, o orador só conseguirá a antipatia
e até mesmo o desprezo do auditório, por causa de sua hipocrisia.
f) Comece o discurso com uma indagação impactual. Isto é simples. Imagine que você
começa seu discurso fazendo uma pergunta ao auditório. Esta pergunta terá que ser
“fisgadora” da atenção. Isto quer dizer que o auditório não terá, de súbito, nenhuma
resposta para ela.

EXEMPLO 1:
“Meus amigos, em 1969, nós conquistamos a lua. No final da década atual, uma máquina
sozinha viajou por todo o nosso sistema solar, enviando à terra informações que antes nós não
tínhamos. Será que nas próximas décadas poderemos viajar entre as galáxias? Será que a ficção poderá
se tornar realidade? O que vocês acham? (A esta altura o auditório achado não acha nada, ele quer é
saber o que é que você, orador, acha).

EXEMPLO 2:
“... Senhoras e senhores, eu peço que vocês se olhem uns aos outros neste momento, que vocês
olhem para a pessoa que está sentada à sua direita e esquerda neste recinto... (enquanto as pessoas se
olham)... Pois quem poderá negar que estes que se olharam neste momento não estarão amanhã
esticados numa campa mortuária vítimas das desgraças do mundo?” (Em seguida, anuncia seu tema:
violência, má alimentação, etc.).
Mas ATENÇÃO! Nunca faça uma pergunta INDISCRETA como, por exemplo, “Quantos de
vocês aqui tomam pílulas?” O constrangimento é fatal; mata rapidamente o interesse do auditório.

g) Comece com uma afirmação surpreendentemente arrepiadora. O orador começa seu


discurso surpreendendo a assistência com uma afirmação impactual e séria. O auditório
fica surpreso esperando saber o que você vai dizer depois, o que virá depois de sua
afirmação e, enquanto espera, fica atenta, presa na sequência que virá. Como fazer isso?

É fácil. Imagine que você vai fazer uma palestra sobre os problemas socioeconômicos do
mundo e comece assim: “Acontecem no mundo inteiro dois crimes por segundo. Quando eu terminar
de contar 1, 2, 3, seis pessoas terão morrido assassinadas na terra...” (Maurício Góis, 1989).
Veja o exemplo a seguir e sinta como a afirmação é surpreendente: “Nestes últimos dois anos,
as doenças venéreas aumentaram em 5.000% em relação a...” Note que, enquanto o auditório fica
atento e surpreso, amarrado à sua afirmação, foi motivado (Maurício Góis, 1989). Uma afirmação
pode vir em forma de uma promessa. Fazer uma promessa ao auditório é um bom recurso para um
bom início. Veja esse exemplo:
“Se me ouvirem até o fim, eu vou lhes mostrar nesta hora que no Cristianismo há apenas dois
tipos de pessoas: aquelas que fazem de Deus a esperança de suas vidas e aquelas cujas vidas são a
esperança de Deus” (Pr. José Vidigal Queirós). Observe que este último exemplo soa como uma
promessa. Portanto, se um discurso começa com uma promessa deve terminar cumprindo-a fielmente
e comprovando a veracidade das afirmações que o orador fez durante a exposição.
57
h)Comece com uma citação impressionante. Uma citação impressionante é um ótimo
recurso de exórdio. Mas, para ser impressionante é preciso que tal citação surpreenda o
auditório. Deve ser algo emocionante e toque a alma do ouvinte. Veja alguns exemplos:
“Amigos, há muitos séculos, Pitágoras disse: Educai a criança e não será preciso punir o
homem...”. (Maurício Góis). “Cada criança ao nascer nos vem com a esperança de que Deus ainda
não perdeu a esperança no homem...” (Maurício Góis).
“Semeai um pensamento e colhereis um ato. Semeai um ato e colhereis um hábito. Semeai um
hábito e colhereis um caráter. Semeai um caráter e colhereis um destino”. (Émerson, em Tesouro de
Ilustrações).

i) Comece com uma ilustração empolgante. Todos nós gostamos de ouvir histórias. Elas são
as mais emocionantes fisgadoras de atenção inicial. Os oradores modernos utilizam muito
a ilustração para embelezar o discurso, fortalecer os argumentos, explicar pontos difíceis,
tornar claro o que parece obscuro, etc..

Uma ilustração precisa seguir algumas regras:


· Deve ter uma completa relação de sentido e adequação ao tema. Caso contrário, não será
ilustração, mas embromação.
· Você não deve contar muitas ilustrações. Quem conta muitas ilustrações termina
transformando o meio num fim.
· Toda ilustração termina em uma comparação, aplicação ou moral conclusiva. A ilustração
não existe isoladamente. Seu sentido formal está no eficaz entrelaçamento com o tema.
· A melhor ilustração é aquela que trata de sua experiência pessoal. A razão disso é que os
fatos particulares interessam mais que os gerais.

EXEMPLO
“Eu estava vindo aqui para o sindicato quando a polícia parou o meu carro”. (Atenção geral no
auditório: O que a polícia queria? Como foi que ele se saiu? Por que seu carro foi parado?) E o orador
continua: “Eles me pediram para parar no acostamento e foram logo pedindo meus documentos,
mandando-me sair do carro e me revistaram da cabeça aos pés... Depois eu soube que eles estavam
procurando um assaltante que, por sinal, havia roubado um carro igual ao meu... E eu me dirigi para
cá, pensando: Como é terrível ser confundido com uma pessoa má... Quão triste deve ser o ato de
sermos revistados por nossa consciência e achados em falta... A honestidade nos pede que paremos no
acostamento da Verdade, para que sejam examinados os nossos atos e avaliado o nosso caráter...”
(Maurício Góis, 1989). O orador, então, prosseguirá seu discurso cujo tema certamente tem caráter
ético.

2.4. Erros que você nunca deve cometer na introdução


No exórdio, jamais cometa os erros dos oradores medíocres:
a) Contar piadas – o culto não é um espetáculo, a tribuna sagrada não é o picadeiro de um
circo nem o pregador, um palhaço.
b) Pedir desculpas ao auditório – seja qual for o motivo, nunca peça desculpas ao auditório.
c) Tomar partido sobre assuntos polêmicos ou controvertidos – você não é o dono da
verdade, nem juiz da consciência alheia; portanto, sua opinião pessoal dividirá o
auditório e, tenha certeza, conquistará inimigos gratuitos.

58
d) Começar com palavras inconsistentes – seja sempre pertinente, conheça a conjuntura a
que o tema de seu discurso dissertará.
e) Mostrar-se muito humilde diante de ouvintes muito importantes – deixe de ser medíocre e
não faça papel ridículo com sua falsa modéstia. Se você aceitou falar em público é porque
tem algo muito importante a dizer. Importante é todo aquele que tem algo importante a
comunicar.
f) Explicar que o tempo é insuficiente para transmitir a mensagem – se, ao assomar ao
púlpito, você constatar que o horário está avançado, fale somente o que for absolutamente
necessário. Não suscite culpa a terceiros.

2.5. Cuidados a serem tomados ao encerrar o discurso


Reinaldo Polito sugere o seguinte:
a) Evite um dos erros mais graves e mais comuns na conclusão: “Era isso o que eu tinha
para dizer. Muito obrigado”. Esse tipo de mensagem não possui nenhuma consistência e
em nada contribui para valorizar a apresentação ou envolver os ouvintes. Também devem
ser afastadas as palavras hesitantes e qualquer outra frase sem significado.
b) Não fique parado na frente do púlpito esperando que os aplausos cessem. Saia enquanto
as pessoas ainda estiverem aplaudindo.
c) Sua atitude, ao sair da tribuna, poderá ser importante no julgamento da plateia. Portanto,
mesmo que não tenha ido muito bem ou não tenha gostado do que falou, não revele o seu
descontentamento fazendo comentários autodepreciativos ou balançando negativamente a
cabeça. Saia da tribuna com a postura e fisionomia de quem fez uma grande
apresentação.
d) Ao encerrar, não fique parado na frente do público sem saber o que fazer. Antes do início
da apresentação, programe a sua saída, procurando saber se irá se sentar à mesa ou em
algum lugar da plateia, se permanecerá em pé ou deverá optar por outra atitude. Uma
pequena dica: se, ao terminar, ainda não tiver descoberto o que fazer, dirija-se de
maneira firme em direção ao presidente do evento ou à pessoa encarregada daquele
encontro e cumprimente-a.

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CAPÍTULO III

NOÇÕES DE RETÓRICA

Conteúdo extraído da obra de Maurício Góis intitulada


Curso Prático de Expressão Verbal, publicado pela
Editora Bolsa Nacional do Livro. Curitiba, 1989.

1. Como falar bonito e não dizer nada

Falar bonito sem dizer nada é muito fácil. Os oradores medíocres gostam muito disso, pois,
como são pobres de ideias, nada lhes resta a não ser exibir sua vaidade e passar vergonha depois.
Observe a tabela abaixo e faça o seguinte exercício. Escolha uma palavra qualquer da primeira coluna,
digamos, flexibilidade. A seguir escolha outra qualquer na segunda coluna. Suponhamos que você
escolha a 6, direcional. Agora é só pegar outra qualquer da terceira coluna, por exemplo, a 8,
estabilizada e você estará PRONTINHO para ser o orador do tipo que fala, fala e NÃO DIZ NADA.

01 Programação Funcional Sistemática


02 Estratégia Operacional Integrada
03 Mobilidade Dimensional Equilibrada
04 Planificação Transacional Totalizada
05 Dinâmica Estrutural Insumida
06 Flexibilidade Global Balanceada
07 Implementação Direcional Coordenada
08 Instrumentação Opcional Combinada
09 Retroação Central Estabilizada
10 Projeção Logística Paralela

Agora é só unir as palavras e você terá uma frase bonitinha do tipo: “Senhoras e Senhores, nós
precisamos urgentemente conquistar uma FLEXIBILIDADE DIRECIONAL ESTABILIZADA sem a
qual não conseguiremos atingir nossos objetivos aqui nesta empresa...”
É claro que falando assim as pessoas vão dizer ao ouvi-lo: “Puxa, como ele fala bonito! Já viu
que grande orador ele é? A única coisa que pode acontecer é que se alguém perguntar: “Mas o que foi
mesmo que ele falou?”, a resposta, por certo, virá: “Bem, o que ele falou eu não sei, mas que fala
bonito, isto fala!”

2. O decálogo do orador de sucesso


1) Ouça pessoalmente a Oratória dos grandes oradores da atualidade, goste de assistir
conferências, veja vídeos analisando os grandes tribunos e comunicadores de nosso tempo,
leia as obras clássicas que são verdadeiras peças oratórias mas, por favor, seja você mesmo.
Não imite os outros. Há sempre alguma coisa que cai melhor em você que em qualquer outra
pessoa. Cabe a você descobrir que coisa é esta.
2) Fale sobre um tema tirado de sua vivência e experiência pessoal ou das pesquisas que fez.
Permita que o auditório veja em você uma autoridade no assunto.

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3) Fale sobre o tema que lhe empolga. Libere para o auditório a ideia de que você está
entusiasmado pelo que diz. Deixe que o assunto coloque fogo em você e peça aos auditórios
da vida que venham ver você “ardendo”.
4) Goste de gente, goste de públicos, goste de multidões e fique ansioso por jogar-lhe mensagens
de sua própria convicção.
5) Não use palavras difíceis e complicadas, mas não seja superficial. Seja simples na
profundidade e profundo na simplicidade.
6) Jamais decore o texto de seu discurso. Coloque as ideias, inicialmente, num papel e em ordem
de valor e “decore” apenas aquelas palavras que façam explodir na memória o texto todo.
7) Não queira dizer muitos argumentos de uma vez. Não seja o orador de mil ideias num discurso
só. Tenha uma ideia-galáxia em volta dela, faça orbitar as provas, os testemunhos, as
estatísticas, os fatos e os símbolos.
8) Treine seu discurso com amigos ou familiares, ouça sua voz no gravador e, se possível, filme-
se falando num aparelho de vídeo.
9) Use recursos de oratória que não deixem você se perder na fala, na exposição dos argumentos
e no próprio medo de falar. Entre estes recursos estão os retroprojetores e os data shows.
10) Comece sempre em primeira marcha (falando devagar, arrumando lentamente os papéis na
mesa, sorrindo levemente, etc.) para ir se adaptando ao ambiente e eliminando o medo de
falar. Não afogue seu motor psicológico começando explosivamente. Trabalhe com a energia
do auditório, usando ilustrações que tenham muita ligação com seu tema, contando
experiências de sua própria vida e termine com uma apreciação viva e sincera sobre o
auditório.

3. Comunicação eficaz

Todo comportamento é comunicativo. Neste sentido, comunicação, é sinônimo de vida. Logo


todos comunicam. A pergunta que um orador eficaz deva fazer a si mesmo, não é se ele comunica. A
pergunta correta deve ser: “O que é que eu ando comunicando por aí?” Se você pendurar uma
melancia no pescoço, por certo, será um grande comunicador, vai chamar a atenção de todos na
assistência, mas não terá o interesse de ninguém para aquilo que você diz. Você pode ser ótimo para
chamar a atenção, mas péssimo em transformar atenção em interesse.
O correto é você se comunicar usando o método AIDA. Este não é o nome de uma mulher, é
um acróstico que contém as etapas do processo de comunicação oratória: A de atenção, I de interesse,
D de desejo e A de ação física e mental. É preciso chamar a atenção do auditório para provocar
interesse e este só tem sentido se for transformado em desejo e o orador só se torna persuasivo se faz o
auditório agir a seu favor, isto é, se transforma desejo em ação física e mental.
Tudo no bom orador comunica eficazmente. Você quando fala deve se comunicar com os
olhos, com o semblante, com as entonações e inflexões vocais, com as pausas significativas que são
valores na “musicalidade” oratória, com a gesticulação apropriada. Todo o organismo do orador eficaz
comunica sua Mensagem. E até no seu mais profundo silêncio deve residir a sua mais solene forma de
comunicação. (Não se esqueça que um dos mais importantes discursos de Cristo ele o fez de boca
fechada, diante de Anás e Caifás, quando julgado).
O orador eficaz é aquele que se preocupa em encurtar distâncias psicológicas. Camegie fazia a
distinção entre oradores que falam para nós e oradores que falam conosco. O falar para nós pressupõe
uma separação. O orador lá, em seu pedestal e eu como plateia aqui, bem distante dele. O falar
conosco já admite uma identificação viva e presente entre o que fala e os que escutam.
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4. Os ruídos da comunicação que podem acabar com sua oratória

1) Má articulação das palavras, a plateia não pode entender o que você não verbaliza de forma
inteligível.
2) Ambiguidade, isto é, duplo sentido. Quando você diz: “O policial prendeu o ladrão em sua
casa...” a plateia fica pensando: “Em que casa: do ladrão ou do policial?”
3) Desconhecimento da norma gramatical, isto é, fazer Camões pular os ossos na sepultura de
tanta vergonha pelo que os oradores dizem erradamente (fonética, morfológica e
sintaticamente).
4) Desconhecimento do vocábulo exato, adequado, próprio.
5) Inibição, nervosismo, insegurança.
6) Falta de concisão ou excesso de concisão – aqui aparecem dois tipos de oradores: O primeiro
é aquele que é prolixo, fala muito e pouco diz, ou nada diz, usa excesso de sinônimos e
analogismos e passa o tempo todo de seu discurso a dar volta no vômito de seu escapismo
psicológico. O segundo tem tanta raiva do primeiro que peca por excesso de concisão,
tornando-se confuso e inexpressivo, pois choca o auditório por dizer pouco e também, como o
primeiro, não dizer nada.
O importante na comunicação verbal coletiva não é dizer muito ou pouco – é dizer CERTO.
7) Exagero de expressões desconhecidas e de palavras difíceis. É o caso do orador que conhece
tantas palavras e expressões técnicas que simplesmente torna-se antipático e não consegue se
comunicar. O excessivo conhecimento não pautado pelo bom senso é exemplo de
comunicação por excesso que leva ao fracasso.
8) Discurso decorado de forma mecanizada.
9) Velocidade vocal lenta ou exageradamente rápida.
10) Exagero de citações e ilustrações, fazendo do discurso uma casa com muitas janelas e poucas
portas.
11) Muito movimento do corpo ao falar.
12) Atitude de poste sem luz.
13) Repetição constante de um mesmo gesto.
14) Falar num tom de voz só, sem variedade vocal.
15) Desconhecimento das técnicas de uso do microfone.
16) Falar demasiadamente sobre si mesmo.
17) Pose de general orgulhoso.

5. O que não se deve dizer

a) “... Eu não estou preparado para falar hoje e...”.


Em primeiro lugar, nunca diga que não está preparado para falar. Quem afirma isto predispõe
o auditório contra si. Os ouvintes pensarão: “... se ele não está preparado, então, não fale, ora bolas...”
Não diga: “Eu estava escalado para falar, mas estou doente e...” Lembre-se sempre de uma
coisa: o auditório não está interessado em sua doença, em sua dor de barriga e muito menos em sua

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timidez. Também não diga que foi apanhado de surpresa, que está substituindo um orador que não
veio e, por isso, falará de improviso. Em outras palavras: NÃO PEÇA DESCULPAS.
Carlos Lacerda disse uma vez que há três tipos de oradores: os que pedem desculpas, os
indesculpáveis e aqueles a quem a plateia deveria pedir desculpas. E você já pensou? Ser tão bom
orador a ponto de o auditório sentir vontade de pedir desculpas por escutá-lo? É “pecaminoso”
pretender chegar a tanto, mas também é pecaminoso pedir desculpas aos ouvintes, querer “livrar a sua
barra”, desrespeitando quem tem todo o direito de ouvir o melhor: a audiência.

b) Cuidado com as ideias de quantidade e dimensão


Se você disser que na Lua existem crateras tão grandes e profundas de cinquenta mil milhas
quadradas ninguém poderá calcular-lhe o tamanho. No entanto, se você disser que na Lua existem
crateras do tamanho do Estado de Minas Gerais, todos entenderão. Vejamos por outro exemplo:
Você chega para o povão e esnoba:
“Meus amigos, o Sol tem um diâmetro médio de 1.390.600 quilômetros, sendo 109,1 vezes
maior que a terra. A distância que o separa de nossa esfera é de 149.450.000 km, e seu volume é 1.300
vezes maior que o da Terra. A massa do Sol é na ordem de 1,982 x 10 toneladas, isto é, 331.950 vezes
a da Terra e sua densidade é de 1/4, isto é, 0,25 da Terra...”
Quem terá ideia de todos esses números? Quem poderá calcular por esses dados o tamanho do
sol apenas “ouvindo” de um orador? Ninguém, e nem mesmo você quem fala. Entretanto, se você
disser que o Sol é tão grande, tão grande que não passaria no espaço vazio existente entre a Lua e a
Terra todos saberão que o Sol é mesmo grande e ficarão surpresos com este tamanho, embora os seus
dados signifiquem muito mais que isto. Lembre-se de uma coisa: a oratória é uma arte para os
ouvidos, mas você pode transformar os ouvidos de seu auditório em olhos.

c) Eu sou eu? Ou sou você? Ou sou nós?


Há oradores que não sabem se usam o pronome pessoal “eu” ou usam o “nós”. Eles acham que
o “nós” é o pronome afetivo, que é sinal de humildade, etc. Ora, se você vai contar uma história
ocorrida com você, não diga: “Nós estávamos indo por uma rua quando...” diga a verdade, diga: “Eu
estava indo por uma rua quando...”. Não é o pronome “eu” que é pedante ou exibicionista; é o tom, a
maneira de você falar que o torna pedante ou “aparecido”.
Também não use o “vós”. O “vós” é o pronome da não-comunicação. Talvez você diga: eu
não concordo. Basta você ler a Bíblia que você verá o “vós” em todas as suas páginas... Sim, você tem
razão. O próprio Cristo usou o “vós”, mas ele também não usava paletó e gravata e nem sapato de
cromo alemão. Ele falava a linguagem de seu tempo, embora o conteúdo de sua mensagem fosse para
todos os tempos.
Retórica é uma luta entre a alma do orador e a alma coletiva de seu publico. O “você” desfaz
barreiras, é íntimo e aproxima o orador do público. Portanto, nunca use “vós”, mas “você”.

d) Não use os chavões de retórica


Ou você é criativo ou, então, usa chavões... Chavão é a repetição padronizada e batida de
certas expressões e/ou frases como: “É para mim um motivo de grande satisfação me encontrar aqui,
para juntos estudarmos este tema e...” Ou ainda: “É com a voz embargada pela emoção que eu...”, etc.
O chavão deve ser evitado porque ele é usado por todos os oradores não criativos e o auditório já não
aguenta mais ouvir frases surradas, malhadas, gastas e suadas.

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6. Será que todos podem ser oradores?

Claro que podem! Todo ser falante pode ser um orador. O problema é que ele não sabe disso.
Raciocine comigo: a paixão, a ira que temos, nossa sensibilidade equilibrada ou abalada, o ódio que
nos ataca sem que o queiramos e todas as intensas e variadas gamas de emoções de nosso espírito –
caso sejam controladas – pelo treinamento dirigido, pela técnica e pelo trabalho, poderão ser
transformadas em ardor retórico, em expressão de pensamento e sentimento.
Então, se isto é verdade, é só canalizar todas estas coisas maravilhosas que dormem em estado
latente dentro de nós para a alocução do grandioso, do sublime, do verdadeiro, ou do meramente
informativo coloquial. Por exemplo: Suponhamos que um orador sacro vá descrever a morte de Cristo
na cruz. E, então, ele diz assim:

“... aquelas mãos que tantas e tantas vezes se movimentaram para fazer o bem, salvar
da morte e da doença, libertar os cativos e riscar o espaço o gesto da paz, agora estão
cheias de sangue, estendidas brutalmente no madeiro frio...”

Se fosse você, como você diria esta frase? Ou melhor, como você deixaria as riquezas de sua
comunicação interpretarem esta frase? Você diria a frase com ira? Com ódio? Com paixão? Apenas
racionalmente? Você diria esta frase sorrindo para se tornar simpático ao auditório?
Claro que não! Você deve dizê-la da mesma maneira como ela se passa dentro de você. Você é
a tela da cena e sua oratória é a tela de seus ouvintes. Você tem emoção, então é só revesti-la de
expressão. Você deve dizer a frase com solenidade porque a frase é solene; triste, porque a cena é
triste. Os ouvintes têm que ouvir o que você vê. Se você de fato é sensível e seus sentimentos afloram
quando fala, então, que tal canalizar tudo isso para a Oratória? Mas, cuidado, seja controlado e não
permita que o momento e a cena de sua oratória se transformem num drama barato de teatralidade
hipócrita.

7. Dicas sobre como falar pelo rádio

a) Leia como se estivesse falando, mas jamais fale como se estivesse lendo.
b) Não imite nenhum locutor.
c) Não fique procurando as palavras. Procurar palavras é sinal de vazio intelectual, de completa
ausência de objetividade. Não prolongue sua expressão pescando vocábulos em seu cérebro. A
única maneira rápida e eficiente de melhorar isto é ler muito; e, quando você achar que já leu
muito, leia mais ainda.
d) Pronuncie as postônicas. Não engula os finais de palavras. Pronuncie todos os fonemas
corretamente.
e) Faça referências aos ouvintes. Por exemplo: se entre seu público-alvo estiverem os motoristas
de táxi, diga: “Você, motorista de táxi que está me ouvindo, que está ganhando o seu pão
difícil de cada dia...”
f) Não assopre o microfone nem bata o dedo nele para ver se está funcionando.
g) Ensaie num gravador. “Veja” sua voz pelo gravador, ouça as ideias e suas entonações
adequadas.
h) Evite tom de discurso.
i) Fale sobre um tema da área municipal.
j) Escolha uma música apropriada de fundo.

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8. Dicas sobre como falar bem num auditório

8.1. O que deve ser evitado


a) Elimine definitivamente todo e qualquer vício de linguagem.
b) Elimine, de vez por todas, todos os seus cacoetes.
c) Evite a impostação da voz. Sua voz natural é o melhor instrumento de comunicação dos
seus sentimentos sinceros.
d) Nunca fixe seu olhar em uma mesma direção.
e) Evite a repetição de frases ou palavras. Repetições desgastam a imagem do orador e
enfadam o auditório.

8.2. O que você jamais deve esquecer enquanto fala


a) Use a linguagem do povo, mas não desça às raias da mediocridade.
b) Seja impecável na gramática, mas não suba ao píncaro da ostentação e da vaidade.
c) Varie a entonação de sua voz.
d) Varra com os olhos todo o auditório enquanto você fala.
e) Seja moderado e espontâneo na gesticulação.
f) Fale com entusiasmo sobre os assuntos que lhe entusiasmam.
g) Fale com paixão e compaixão pelas pessoas que lhe ouvem.
h) Mantenha postura ereta e respire sem ruído.
i) Transpire por todos os seus poros AMOR pelas pessoas que lhe ouvem.

9. Você e sua gesticulação

Um orador eficaz trabalha com três instrumentalidades: IDEIAS, VOZ e GESTOS. A ideia
está em um plano psíquico, interior, enquanto a voz e os gestos estão em um plano material,
representativo, exterior. Voz e gestos são os canais das ideias. Muitas vezes, um orador impressiona
mais pela sua voz e gestos do que pela pujança de suas ideias. Um auditório pode não captar as ideias,
mas jamais deixará de perceber esses elementos exteriores. Há oradores que falam com as mãos nos
bolsos ou coladas atrás como se quisessem prendê-las, como se elas fossem testemunhas
denunciadoras de seu fracasso oratório.
O homem precisa controlar-se POR DENTRO para parecer espontâneo POR FORA. Por mais
que você disfarce, seu mundo interior orbita para fora de você e transparece publicamente em seu
rosto. O gesto ACOMPANHA a palavra, interpreta-a, sem cair nas representações cênicas, pois orador
não é ator. O ator gesticula como o seu personagem o faria, o ator vive o outro na mensagem, o orador
vive-se a si mesmo na mensagem.
Gestos, em termos oratórios, não significam movimento de braços e mãos tão somente, em
sentido restrito. O seu organismo gesticula, a sua personalidade gesticula, o seu silêncio é um gesto,
logo, o seu silêncio gesticula. O gesto serve para completar a palavra, mas não exagerá-la. Existe
orador que faz um só tipo de gesto: abre e fecha os braços levanta-os, ou os conserva descidos ou
inclinados.
É necessário que todo o ser gesticule. A imobilidade física tem muito a ver com a imobilidade
das ideias. Neste sentido, é provável que quem é parado fisicamente ao falar, é parado na
exteriorização das ideias. Por outro lado, quanto mais você se movimenta, mais suas ideias também se
movimentam, se sacodem pela química dos gestos e afloram mais vívidas e expressivas.
Assim sendo, o orador não pode se movimentar excessivamente, para não deixar transparecer
que está representando. Movimente-se naturalmente e naturalmente as ideias nascerão mais
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significativas. O importante não é que os gestos sejam espontâneos, o importante é que eles
comuniquem espontaneidade. E mais do que isto: o importante é que eles comuniquem as palavras
que, por sua vez, comunicam ideias. E para que eles comuniquem as palavras é importante que o
auditório perceba nos gestos o significado das ideias.

9.1. Vejamos alguns gestos recomendáveis:


a) Comunicando força ou poder – Quando a ideia a ser expressada é de grande poder, as
mãos rigidamente fechadas com o polegar sobre o médio comunicam mais. Se a ideia é
apenas de energia e força o peito deve ficar ereto numa postura quase militar: “Eu nunca
deixarei o meu dever no abandono da irresponsabilidade”.
b) Comunicando indignação – Mantendo sempre o braço direito dobrado próximo ao peito e
o punho cerrado, faça movimentos bruscos e vigorosos, enquanto fala com muita paixão e
vigor. Exemplo: “... Em nome da verdade e da justiça, brademos unânimes, fazendo ecoar
a voz de nosso repúdio contra o descalabro da autoridade que avilta os céus e arruína
nossa nação...”. Mas preste muita atenção: Cuidado com a hipocrisia! Se você não estiver
realmente indignado, não seja ridículo!
c) Referindo-se ao tempo (passado, presente ou futuro) – Sempre que você se referir ao
passado use a mão esquerda, mas falar do presente ou do futuro a mão direita comunica
mais. Para mostrar um fato passado a mão fica fechada e o dedo polegar indica para trás:
“O mundo de ontem foi o alicerce do mundo de hoje”. Já para mostrar um fato presente a
mão fica fechada, o braço em horizontal e o dedo indicador aponta para baixo: “Nesse dia
tudo será resolvido...” Mas se o fato a mostrar se refere ao futuro a mão fica fechada, o
braço direito estendido em diagonal apontando para um ponto distante do teto e o
indicador em riste comanda: “Amanhã poderá acontecer nossa morte. O amanhã poderá
ser a somatização do hoje...”
d) Comunicando ideias de súplica ou invocação – Suponhamos que você queira comunicar
uma emoção interior. Ou uma frase do tipo: “Oh! Presidente, todos nós precisamos deste
decreto...” Como você a dirá? Com as mãos se espalmando mais ou menos na altura dos
ombros? Não! Neste caso, dirija o olhar ao presidente e, para não expressar agressividade,
baixe o tom de voz e fale pausadamente com suavidade, mansidão e firmeza: “Senhor
presidente, por favor, todos nós precisamos deste decreto...”
e) Comunicando congraçamento, união ou aliança – Feche as mãos, uma na outra, palma e
dedo e o efeito expressivo será maior.

9.2. Gestos que nunca deverão ser feitos


· Subir na tribuna de forma precipitada e desordenada, batendo os pés ou jogando de
imediato um sorriso forçado.
· Cuidado para não se tornar um contorcionista.
· Esmurrar a tribuna querendo comunicar a ideia de vigor, veemência ou poder.
· Arrumar constantemente o nó da gravata.
· Colocar a mão repetidas vezes no bolso das calças ou do paletó.
· Falar com as mãos nas costas.
· Ficar mexendo nos óculos.
· Olhar constantemente para o relógio.
· Ficar constantemente passando a mão sobre o cabelo para repenteá-lo.
· Introduzir o dedo mínimo no ouvido (atodactilomania).
· Ajeitar constantemente as calças que parecem cair.
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· Colocar constantemente as mãos nos quadris.
· Balançar constantemente o corpo como um orador dançante.
· Expressão gestual aparentando orgulho ou arrogância.
· Escorar-se na tribuna ou apoiar-se apenas em uma das pernas.
· Esperar para abotoar o paletó exatamente quando estiver em pé diante do auditório.
· Fazer o gesto e só depois falar.

Não se esqueça: o gesto é a projeção exata e fisiológica da palavra. Dizemos fisiológica


porque deve ser instintivo, surgindo quase inconscientemente para reproduzir com exatidão as ideias.

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ANEXOS

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CURSO DE BACHAREL EM TEOLOGIA

SOLENIDADE DE FORMATURA

DISCURSO DO PARANINFO
Pr. José Vidigal Queirós

Discurso pronunciado na cerimônia de formatura


dos alunos do Seminário Teológico Batista em São
Luís, em dezembro de 1997.

Dezembro, 1997.
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HOMENS DE GRANDES REALIZAÇÕES

Pr. José Vidigal Queirós

Magnífico Reitor em exercício, Pr. Nivaldair Cardoso Ribeiro; Digníssimo Deão Acadêmico,
Pr. Adailton Oiveira de Araújo; Preclaros Diretores, Colendo Corpo Docente, Eminente Patrono da
turma de concluintes, Pr. Enoc Vieira; Caríssima Oradora Acadêmica, bacharelanda Andréa Moura;
meus diletos concluintes, nobres pastores e líderes eclesiásticos aqui presentes, amada igreja, minhas
senhoras e meus senhores:
É uma honra para mim ter assento em vosso meio para, nesta magna solenidade, poder
assomar a esta tribuna sagrada e dirigir-vos a palavra. É por demais considerável a seriedade deste
momento, quando uma nova equipe de líderes, preparada por este seminário, sai da vida acadêmica,
para engajar-se no exercício do ministério cristão. Com a intenção de incentivá-los a prosseguir,
perseguindo o alvo maior de suas vidas e seus ministérios, proponho neste momento tão significativo,
a título de reflexão, o seguinte tema: HOMENS DE GRANDES REALIZAÇÕES.
Evoco, solene e reverentemente, dentre as reminiscências da profecia, as palavras do profeta
Isaías registradas no capítulo 32, versículo 8 do seu precioso livro: “O nobre projeta coisas nobres e
na sua nobreza perseverará”.
Projetar é planejar e planejar é um modo de pensar no futuro antes que ele aconteça. “Planejar
é mover-se do agora para o então, daquilo que as coisas são para aquilo que queremos que elas sejam”,
disse Edward Dayton, em seu livro COMO APROVEITAR AO MÁXIMO O SEU TEMPO E
POTENCIAL. Planejamento é o instrumento mais eficaz que nos dá o poder de transformar um sonho
em realidade e elevar nosso senso de otimismo.
Planejar é definir hoje o caminho que nos conduzirá ao amanhã.
Embora Deus seja o Senhor da História, do tempo e da eternidade, ele nos permite fazer
planos. O sábio Salomão escreveu no seu livro de Provérbios: “O coração do homem pode fazer
planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”.
Deus não nos fez autômatos, mas seres inteligentes, criativos, com capacidade para pensar e
decidir. A grandeza e a nobreza de nosso ministério dependem respectivamente da grandeza e da
nobreza dos nossos planos. Significa também dizer que as realizações em nosso ministério vão
depender diretamente de nossos planos. Ministro sem planos realiza ministério sem frutos. Quando o
profeta Isaías disse que “o nobre projeta coisas nobres...” ele definiu para nós três grandes princípios
que nos nortearão na vida e no ministério:

1. AS GRANDES REALIZAÇÕES NASCEM DE HOMENS QUE TÊM GRANDES IDEIAS

1.1. Ideias são sonhos que emergem da vontade de criar

O homem que não pensa não é competente para produzir; e o homem que não produz é inútil
para Deus. Somos chamados a pensar, não em qualquer coisa, mas “nas coisas que são de cima”.
Somos chamados para produzir frutos, “frutos que permaneçam para sempre”. Deus precisa de
homens que estejam dispostos a agir, mas que antes estejam também dispostos a pensar. Um homem
sem ideias é um homem que não cria.

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1.2. Ideias são as imagens da razão que retratam o futuro

O homem que não tem uma visão do futuro não pode ter alvos de fé; e se não tem alvos de fé,
caminha em direção do nada. O grande teólogo Agostinho disse: “Fé é crer naquilo que não se vê; e a
recompensa dessa fé é ver o que se crê”.
Segundo o que diz a Epístola aos Hebreus, podemos afirmar com segurança que fé é a
capacidade que temos de ver o futuro na certeza de tomarmos posse do esperado. O homem só espera
enquanto crê e só crê enquanto pensa; pois o homem sem ideias não crê em nada. O apóstolo Tomé é o
maior exemplo disso. Ele não esperou, porque não creu; e não creu, porque não pensou. Por esta razão,
é que ele não estava habilitado ainda para o exercício do ministério apostólico. O homem sem ideias é
um homem vazio, sem rumo certo, sem fruto, e o seu destino é o mergulho no abismo do
esquecimento.

1.3. Ideias são os poderes criativos do espírito que definem os caminhos do homem

Eis a maior razão para termos, como disse o apóstolo Paulo, a “mente de Cristo” e da
necessidade de pensarmos “nas coisas que são de cima e não nas que são daqui da terra”. Foi por
esta razão também que disse o sábio Salomão: “Todos os caminhos do homem são puros aos seus
próprios olhos, mas o Senhor pesa os motivos”. E, em seguida, recomendou: “Confia ao Senhor as
tuas obras (fruto das ideias) e os teus planos serão estabelecidos”. E concluiu, dizendo o seguinte: “O
coração do homem propõe o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.2, 3, 9). As
grandes realizações nascem de homens que têm grandes ideias, ideias tais que são oriundas de uma
comunhão com o Pai, de uma obediência ao Filho e de uma submissão plena ao Espírito Santo.
O segundo grande princípio que o profeta Isaías nos revela é o seguinte:

2. AS GRANDES IDEIAS NASCEM DE HOMENS QUE TÊM GRANDES IDEAIS

Ter ideias sem ter ideais é como possuir sementes sem ter onde plantá-las. Ideias sem ideais
são inúteis; elas, como as sementes, secam, apodrecem e se perdem no tempo. A respeito dos ideais,
quero dizer-lhes três coisas importantes:

2.1. O homem de grandes ideais não se perde na mediocridade do efêmero, mas se transporta
para a imensidão do eterno.

Quando Deus vocaciona um homem, Ele lhe propõe os ideais de seu ministério. Todos os seus
ideais estão definidos numa perspectiva escatológica que contempla a eternidade. Precisamos ter
ideias, mas elas só devem ser produzidas quando tivermos conhecimento claro dos ideais propostos
por Deus. Deus tem um propósito e um plano e nos chama para executá-lo. O sucesso deste plano está
condicionado à concretização dos ideais do nosso ministério. A vocação de um homem que não
conhece os ideais do seu ministério é suspeita e digna de questionamento.
Aquele que desenvolve seu ministério numa perspectiva do efêmero e limitado pelo trivial é
incompetente para promover o reino de Deus. Nosso Mestre que disse: “Vinde após mim e eu vos farei
pescadores de homens”, também disse: “buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas as
outras coisas vos serão acrescentadas”.

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2.2. O homem de grandes ideais não se prende à realização do imediato, mas se empenha na
construção do futuro.

Viver em função do agora é morrer para o amanhã. Não devemos nos esquecer que todo futuro
será um hoje e o hoje será passado. Vivemos na dimensão do tempo, mas somos filhos do Pai da
Eternidade, que habita num perpétuo agora e que vê o nosso futuro já consumado.
Ideal é o futuro projetado. Ter um ideal é ter um destino. O ideal é o horizonte de quem
caminha na direção do amanhã. Aqueles que se limitam a gastar sua existência na contemplação do
agora eternizam sua inutilidade. Somos chamados por Deus a plantar hoje em função de um colheita
no amanhã. O que é urgente e imediato para Deus é a nossa ação; os resultados e a recompensa virão
depois: “Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna”
(Jo 6.27), disse Jesus.

2.3. O homem de grandes ideais não se fecha no casulo do ego, mas entrega-se ao sacrifício no
altar do altruísmo.

Chega de mercenários, de pastores que promovem seu próprio reino, tendo como pretexto o
reino de Deus. Dizendo-se chamados por Deus, buscam a glória de homens. “Estes são manchas em
vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que se
apascentam a si mesmos. São nuvens sem água, levadas pelos ventos; árvores em plena estação dos
frutos, destes desprovidas e desarraigadas, duplamente mortas. São ondas furiosas do mar,
espumando suas próprias sujidades; estrelas errantes para as quais têm sido reservada a negridão
das trevas, para sempre” (Judas 12-13).

Não somos chamados por Deus par a glória de homens; tampouco,


somos chamados por homens para a glória de Deus. Assim sendo, a
glória de nosso ministério não está naquilo que fazemos com a
participação de Deus, mas naquilo que Deus faz com a nossa
participação.

Nossa participação no projeto de Deus nos honra, mas exige de nós renúncia, sacrifício e
altruísmo. Nosso ministério é serviço prestado a Deus em favor dos homens. Somos ministros de
Deus, mas também, benfeitores da humanidade. Morremos para nós mesmos, a fim de que outros
vivam e vivam eternamente.
“Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele
só; mas, se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem, neste mundo,
aborrece a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna” (Jo 12.24-25).
Portanto, as grandes ideias nascem de homens que têm grandes ideais.
O terceiro grande princípio que o profeta Isaías nos ensina é este:

3. O HOMEM QUE TEM GRANDES IDEAIS É UM HOMEM DE GRANDE VISÃO

O homem vocacionado por Deus tem um caminho e um propósito de vida. Ele sabe para onde
vai, porque tem grandes ideais e uma grande visão. Sonhos e visões são a linguagem do Espírito Santo
para o nosso tempo: “E acontecerá, nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito
sobre toda a carne. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões e os
vossos velhos sonharão sonhos” (At 2.17).
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3.1. Todo grande ministério é realizado por homens que têm visão.

O homem que Deus chama precisa ter três visões: primeiro, uma visão clara de quem o chama.
Segundo, uma visão clara do propósito de sua chamada. Terceiro, uma visão do serviço ao qual deverá
dedicar-se. O exemplo mais concreto disto é o apóstolo Paulo. Ele teve uma visão clara de quem o
chamara: “Eu sou Jesus a quem tu persegues”, foi o que ele ouviu quando foi chamado para o
ministério. O propósito de sua chamada ficou claro para ele quando Jesus lhe disse: “Eu te apareci por
isso, para te fazer ministro e testemunha...” Ele conheceu com clareza o que ia fazer e onde fazer, pois
Jesus lhe declarou: “Eu te livrarei deste povo e dos gentios aos quais te envio, para lhes abrir os olhos
e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás a Deus” (At 26.15-18). Todo obreiro sem
visão torna-se um ativista infrutífero que desenvolve um ministério medíocre, cujo fracasso é marcado
normalmente pela esterilidade ou pela deserção.
Caros concluintes, se alguém dentre vós é homem ou mulher sem visão, a hora de desertar é
antes de começar. “Quereis vós também retirar-vos?” foi a pergunta de Jesus aos doze escolhidos
diante da desistência dos milhares sem visão.

3.2. Todo ministério bem sucedido é fruto da perseverança de homens que têm visão.

Sem visão do futuro não há fé; sem fé não há esperança e sem esperança não há perseverança.
A glória é o troféu dos vencedores e a vitória é a recompensa dos que perseveram.
Quando Paulo chegou ao final do seu ministério fez um apelo a Timóteo: “Lembra-se de Jesus
Cristo, ressuscitado dentre os mortos...” (2Tm 2.8). Em outras palavras, o velho soldado de Cristo
pede: “Timóteo, sob hipótese nenhuma, não perca Jesus de vista”. Muitos companheiros de Paulo já
haviam desertado e o fizeram por terem perdido a visão ou por não havê-la concebido. Entre estes ele
menciona Himeneu, Alexandre, Fileto e Demas.
Ao testemunhar diante do rei Agripa sobre sua experiência de conversão e chamada para o
ministério, Paulo, no final de sua narrativa, concluiu dizendo: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui
desobediente à visão celestial” (At 26.19). Paulo havia descoberto que o segredo para o sucesso no
ministério era não perder a visão.
Qual o segredo da perseverança? O que fazer para não perdermos a visão? Em Fp 3.13-14,
Paulo dá a resposta: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço:
esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo
para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”.
Com base nestas palavras de Paulo, podemos afirmar que há três condições para que se
mantenha a visão do ministério:
1ª condição: Sepultar as lembranças do passado. Devemos esquecer o passado, primeiro,
porque os que se lembram do que devem esquecer sempre se esquecem do que devem lembrar;
segundo, porque os que vivem de recordações não planejam seu futuro.
2ª condição: Enfrentar no presente os grandes desafios. Os que fogem dos desafios eternizam
seu fracasso e perdem seu galardão. O Pr. Oliveira de Araújo disse: “As nossas dificuldades não são
maiores do que as possibilidades de Deus”.
3ª condição: Marchar na direção do alvo de Deus, porque os projetos humanos se acabam, mas
o de Deus é eterno.
Homens que têm grandes ideais são homens que têm grande visão.

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Conclusão
Diletos concluintes, atentem para as palavras de Isaías: “O nobre projeta coisas nobres e na
sua nobreza perseverará”. Os homens de grandes realizações são homens que têm grandes ideias. Os
homens que têm grandes ideias têm também grandes ideais. Os homens que têm grandes ideais têm
também uma grande visão; e os homens que têm uma grande visão são capazes de chegar ao seu porto
destino, para receberem de Deus o seu precioso galardão. Que assim seja. A graça e a paz de nosso
Senhor Jesus Cristo sejam com todos vocês. Amém.

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A PALHA NO PÚLPITO
(Jr 23.23-32)

INTRODUÇÃO
Jeremias foi um homem extraordinário. Foi um dos poucos na sua época que seguiu com
fidelidade a vontade de Deus. A maioria daqueles que pregavam era dum grupo moralmente corrupto,
sem escrúpulos e longe de ser digno da vocação que fingiam ter recebido de Deus. Neste texto, Deus
denunciou os falsos profetas, comparando o conteúdo das suas mensagens à palha que não alimentava
ninguém.
A linguagem é forte e serve para mostrar a revolta que Deus tinha, e ainda tem, contra aqueles
que pregavam mentiras como se fossem verdades. Esses falsos profetas pretendiam saciar a fome
espiritual do povo com fabricações da sua própria imaginação. Mas a palha da imaginação humana
não pode saciar a fome em lugar da verdadeira comida espiritual. Mesmo não chegando ao extremo
dos falsos profetas, creio que, de uma forma ou de outra, há ainda muita palha nos púlpitos dos nossos
dias.

1. A Palha do Plágio – “que furtam as minhas palavras” (v. 30)


1.1. Resultado de não ter um recado de Deus
1.1.1. Por falta de vocação
1.1.2. Por preguiça de estudar
1.1.3. Por esquecer da tarefa prioritária

1.2. Resultado de não ter conhecimento do Senhor


1.2.1. Pensando que ele não os estava ouvindo (vv. 23-25)
1.2.2. Pensando que os seus sonhos podiam fazer tanto quanto o recado de Deus (vv. 28-29)

2. A Palha da Profanação – “e afirmam: Ele disse” (v. 31)


2.1. Fizeram de Deus o autor de suas mentiras
2.2. Fizeram do púlpito palco para planos interesseiros
2.2.1. O púlpito não é lugar para exibição pessoal
2.2.2. O púlpito não é lugar para vinganças pessoais

3. A Palha da Perversidade – “fazem errar o meu povo” (v. 32)


3.1. Os ouvintes foram vítimas inocentes
3.2. Os enganadores responderão a Deus (vv. 26-27)

CONCLUSÃO

A alimentação que os nossos rebanhos devem receber é aquela que é buscada exclusivamente
na Palavra de Deus. O resto é palha. Pode ser poético e dramático, popular e agradável aos ouvintes,
mas, sem base bíblica, é palha que não é digna da tribuna sagrada.
Dizem que dois terços da população do mundo hoje vive desnutrida. Há falta de proteínas na
dieta. Mas, há alguns anos atrás, foi descoberta uma farinha que contém a quantidade de proteínas

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necessárias à saúde normal, e o seu preço é baratíssimo. É feita de peixe, mas só presta se incluir todo
o peixe: cabeça e ossos.
Espiritualmente falando, há muita gente também no mundo que vive desnutrida. A solução
está na Bíblia. Mas o que é necessário não é apenas uma dose da Bíblia diluída com alguma
imaginação humana, mas, antes, a Bíblia completa em toda a sua beleza.
Paulo assim disse, em 2Tm 3.16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino,
para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
Seguindo esta sábia orientação, meus irmãos pregadores, os nossos ouvintes receberão o trigo
que alimenta a alma: uma substanciosa mensagem de Deus. Que Deus nos ajude a pregar tais
mensagens quando ocuparmos a tribuna sagrada.

Sermão da autoria de Charles Dickson, ex-professor de Homilética do


Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil, em Recife. Este sermão foi
usado como ÚLTIMA AULA aos alunos do 2º ano do curso de Bacharel em
Teologia, em novembro de 1977.

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