EA Mauro Guimarães
EA Mauro Guimarães
EA Mauro Guimarães
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Mauro Guimarães
Editora UNIGRANRIO
2000
Volume 1
“Aprendi, com a natureza a me deixar cortar e voltar sempre inteira”
(Cecília Meireles)
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SUMÁRIO
V- BIBLIOGRAFIA CITADA_________________________________________ 26
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I- EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Atualmente pela crise ambiental que “se produz neste período histórico, onde o poder das
forças desencadeadas num lugar ultrapassa a capacidade local de controlá-las, nas condições
atuais de mundialidade e de suas repercussões nacionais.”(Santos, 1997:202), gerando graves
problemas ambientais locais e globais, justifica-se a inserção da dimensão ambiental na Educação.
- Ser um processo contínuo e permanente, iniciando a nível pré-escolar e estendendo-se por todas
as etapas da educação formal ou informal;
- Examinar as principais questões relativas ao ambiente tanto do ponto de vista local como
nacional, regional e internacional, para que os educandos tomem conhecimento das condições
ambientais de outras regiões;
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- Fazer com que os alunos participem da organização de suas próprias experiências de
aprendizagem e tenham a oportunidade de tomar decisões e de aceitar as conseqüências.
- Utilizar diversos meios educativos e uma ampla gama de métodos para transmitir e receber
conhecimentos sobre o ambiente, enfatizando de modo adequado as atividades práticas e as
experiências pessoais.
Em 1992 no Rio de Janeiro, realiza-se a Conferência das Nações Unidas sobre ,Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), em que entre os vários documentos produzidos, destaca-se a
Agenda 21 que consagra o Capítulo 38 “a promoção da educação, da consciência política e do
treinamento” e apresenta um plano de ação para o desenvolvimento sustentável”.
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oportunidade reafirmou-se, como em Moscou (1987), que “A Educação Ambiental deve ser
implementada de acordo com as orientações de Tbilisi e de sua evolução a partir das questões
globais tratadas na Agenda 21 e nas grandes Conferências da ONU, que também abordaram a
educação para sustentabilidade”.
Percebe-se que a Educação Ambiental já é uma realidade, que políticas públicas estão sendo
traçadas para essa questão, sem contudo, que esta institucionalização esteja sendo acompanhada por
um devido aprofundamento crítico nas discussões por parte dos educadores e da sociedade em
geral. Portanto; Educação Ambiental: uma reflexão necessária. (Anexo I)
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II- POR UMA EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA
Algumas destas propostas trabalham com a intenção de reformar o atual modelo via
soluções tecnológicas, sem contudo alterar sua racionalidade econômica que o informa. Outras
trabalham com a perspectiva de mudanças de valores, hábitos e atitudes, de uma nova ética
substanciada em diferentes paradigmas. Busca-se a transformação social e a construção de um novo
modelo de sociedade.
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Um projeto conservador de Educação baseado em uma visão liberal de mundo, acredita que
a transformação da sociedade é conseqüência da transformação de cada indivíduo. Desta forma, a
Educação por si só é capaz de resolver todos os problemas da sociedade, basta ensinar o que é certo
para cada um, tornando-se assim uma Educação teórica, transmissora de informações. Nesta
concepção as relações sociais são secundarizadas no trabalho pedagógico, enfocando o indivíduo.
Sendo assim, poderíamos exemplificar: em um trabalho de Educação Ambiental em uma industria
poluidora, todos os seus operários passaram por treinamento de conscientização ambiental. Mesmo
que todos estes operários estivessem informados e conscientes dos riscos ambientais, isto bastaria
para que a industria deixasse de poluir ? Resolveria o problema da insustentabilidade do atual
modelo econômico ?
Em uma proposta crítica de Educação Ambiental trabalha-se com uma visão sistêmica de
meio ambiente, compreendido em sua totalidade como um conjunto em que seus elementos
interdependentes se interrelacionam em um equilíbrio dinâmico. Este meio ambiente veio
historicamente sendo apropriado pelas sociedades humanas, transformando-o em um espaço
socialmente produzido. A apropriação da natureza se deu sobre o jugo das relações de dominação
das sociedades humanas sobre o meio ambiente, em consonância com as relações de poder que
perpassam as relações sociais. Tais relações se substanciam pela postura antropocêntrica que a
humanidade exacerbou nos últimos séculos, colocando-se como o personagem principal da história
planetária, justificando a exploração do meio ambiente a seu favor. Da mesma forma, a primazia do
privado, do particular, do individual sobre o coletivo que se consolidou nas idades moderna e
contemporânea, justifica a exploração do coletivo social, assim como o coletivo meio ambiente
(conjunto em inter-relações) em favor de interesses particulares.
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Esta forma desarmônica como as sociedades contemporâneas se relacionam com o meio
ambiente, vem produzindo uma série de impactos ambientais que atinge cada vez mais a capacidade
que o ambiente tem de suportar estas intervenções. Este fato vem gerando problemas ambientais
locais, assim como pela magnitude da capacidade produtiva e por extensão do consumo de recursos
naturais, bem como da não priorização da preservação das relações em equilíbrio do meio ambiente,
acentua-se os problemas ambientais em escala global.
A gravidade dos problemas ambientais que aponta até para a extinção da vida planetária
e/ou humana (Hipótese Gaia), denota uma crise ecológica sem precedentes na história do Planeta
Terra, o que vem levar a um questionamento do modelo de desenvolvimento das sociedades
urbanas-industriais. Como conseqüência deste questionamento surge o tão propalado
desenvolvimento sustentável, como um desenvolvimento econômico preocupado com a preservação
ambiental para garantir a sobrevivência das gerações futuras. Vem sendo tratado genericamente
como um “guarda chuva” que abriga desde os desamparados, vítimas das violências sócio-
ambientais do atual modelo desenvolvimentista, até os setores dominantes das sociedades que tem
fortes interesses (econômicos) atrelados a manutenção do status quo. Mas será este
desenvolvimento sustentável um novo modelo que supera o antropocentrismo? Será que propõe
alterar as relações de poder que subjuga Homens e a natureza? Será que prioriza o meio ambiente
como um bem coletivo frente a atual primazia do privado? A problematização de tais propostas é
uma prática de cidadania que se faz pelo exercício crítico na produção social do espaço. (Anexo IV
e V)
Mas afinal, o que os educadores ambientais entendem por cidadania? Esta categoria vem
sendo discutida por estes educadores? A noção de cidadania é consensual na sociedade?
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A Professora Maria de Lourdes M. Covre , em seu conciso trabalho “O Que é
Cidadania”(1991), apresenta a origem da atual noção de cidadania atrelada a ascensão da burguesia,
de sua cultura e sua visão de mundo que tornou-se hegemônica a partir do século XVIII.
“A concepção de que todos os homens podem ser iguais pelo trabalho e pela
capacidade que têm – eis aí a visão de mundo burguesa, que preza o
individualismo e um tipo de cidadania.”
(Covre, 1991:23)
Sendo assim, para que Cidadania seja uma categoria estratégica para a construção de um
novo modelo de sociedade ambientalmente sustentável, dentro de uma perspectiva mais crítica para
um projeto educacional, é preciso superar a compreensão dominante no senso comum, e
propositiva pela visão de mundo (liberal) hegemônica, que cidadão é o indivíduo passivo que
respeita e pratica os direitos e deveres estabelecidos por esta sociedade, refletido nestes direitos e
deveres as relações sociais desiguais.
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direitos. Em vez de meros receptores, são acima de tudo sujeitos daquilo que
podem conquistar. ... cidadania é o próprio direito à vida no sentido pleno.
Trata-se de um direito que precisa ser construído coletivamente, não só em
termos de atendimento às necessidades básicas, mas de acesso a todos os
níveis de existência, incluindo o mais abrangente, o papel do(s) homem(s) no
Universo.”
(Covre, 1991:10/11)
A questão ética se afirma como fundamental nas ações sociais de educadores ambientais e
demais agentes sociais, em que no exercício desta cidadania , como uma prática solidária, esteja
impregnada da valorização da participação, da igualdade, da diferença, da comunhão.
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. A diferença : deve ser respeitada e acolhida como manifestação das potencialidades
das pessoas e das culturas e como riqueza nas formas de participação . São as
diferenças que revelam a riqueza da mesma e única humanidade.
. A comunhão : o ser humano possui subjetividade, capacidade de comunicação com
sua interioridade e com a subjetividade dos outros; é capaz de valores, de compaixão e
solidariedade com os mais fracos e de diálogo com a natureza e com a divindade. Eis a
espiritualidade.”
(Souza apud Boff, 1994:72)
Essa Cidadania é que pode vir a ser um instrumento, resultado de uma Educação Ambiental
crítica, atuante no processo de transformação para um novo mundo justo e equilibrado; ou seja,
ambientalmente sustentável.
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O meio ambiente como um tema transversal no currículo escolar (proposto no PCN),
tratado de forma articulada entre as diversas áreas do conhecimento, de forma a impregnar toda a
prática educativa é um indicativo natural do tratamento interdisciplinar que deve ser dado a questão
ambiental. Entendendo que o conhecimento científico é supervalorizado na sociedade ocidental
moderna e este, como já foi dito, é por si fragmentado. Esta interpretação da realidade formula uma
realidade escolar cristalizada em diferentes áreas de conhecimento. A cultura da separação das
áreas de conhecimento, em que cada uma tem seu conteúdo específico sem nenhuma ou quase
nenhuma integração entre elas, e mais, a desconsideração de outras formas de conhecimento da
realidade (filosófico, religioso, artístico, popular), produz um descolamento, uma grande alienação
entre o que se ensina na escola e a realidade na qual ela está inserida, ou pelo menos deveria estar.
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principalmente porque o desenvolvimento tecnológico atual é de ordem tão
variada que fica impossível processar-se com a velocidade adequada, a
esperada sistematização que a escola requer.”
(Fazenda, 1993:16)
É preciso nos apropriarmos deste conceito em sua integralidade para não cairmos em
visões reducionistas já presentes em diferentes discursos que privilegiam a racionalidade
econômica.
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recriadas, instituem a trama das relações sociais, a dialética indivíduo e
sociedade, um implicando o outro, ambos constituindo-se reciprocamente
todo o tempo. E quando a sociedade se torna global, ele nada ganha em
refugiar-se no eu, em si, identidade, mesmidade. Ao contrário, adquire outras
possibilidades de realizar-se, emancipar-se, precisamente no âmbito da
sociedade, da trama das relações sociais. O mesmo contexto no qual o
indivíduo se constitui é o contexto no qual ele se forma e transforma. E se a
sociedade é global, além de nacional, pode-se imaginar que aí ele adquire
outra figura: transfigura.”
(Ianni, 1992:123)
Nas reflexões a cerca da Educação Ambiental, uma das questões centrais que têm sido
bastante discutida em todo o mundo como causa da destruição da natureza, é a atual postura
antropocêntrica da humanidade.
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Tal postura construída historicamente nas civilizações ocidentais, consolida-se na história
moderna, tendo suas nuances mais refinadas na sociedade contemporânea urbano-industrial.
“... postura que cada vez mais se fortaleceu e se tornou dominante e vigente
até atingir, talvez sua forma mais extremada, mais elaborada, mais
sofisticada e mais poderosa na modernidade; postura mediante a qual o
homem entende sua humanidade na razão direta de sua capacidade de
dominar e de manipular a natureza. É essa postura de tiranização da vida que
me parece um dos eixos da crítica do pensamento ecológico atual. Essa
crítica aponta muito das vezes para o que já foi chamado de “humanismo
antropocêntrico”.”
(Unger, 1992: 19)
Para o ser humano dominar e manipular a natureza foi necessário sentir-se diferente e, do
diferente para o desigual, foi um passo. A desigualdade se dá pela relação de dominação de um que
se considera superior sobre outro considerado inferior. O ser humano calcando-se na razão (animal
racional) justifica a sua diferença e estabelece uma hierarquia de superioridade por sua capacidade
(poder) racional de dominar a natureza. Esta postura coloca-nos pretensiosamente como centro da
história planetária, produzindo historicamente uma dualidade dicotomizada entre o ser humano em
sociedade e a natureza.
“Para Unger (1991), tal dicotomia prevaleceu como uma opção na nossa
história, vigorando até os dias de hoje, não como um acaso do destino, mas
sim porque “ela serve aos interesses de dominação”. Portanto tais princípios
dicotômicos encontram-se tão arraigados nos hábitos de nossa civilização
ocidental que são confundidos com a própria realidade. Dessa forma, a
naturalização desses princípios dificulta a sua percepção como construção
históricas.”
(Serrão, 1996: 1/2)
O sentimento de separação e dominação das sociedades humanas para com a natureza, está
refletido também na exacerbação do individualismo em nossa sociedade.
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“Com o passar do tempo a humanidade vai afirmando uma consciência
individual. Paralelamente, cada vez mais vai deixando de se sentir integrada
com o todo e assumindo a noção de parte da natureza. Nas sociedades atuais
o ser humano afasta-se da natureza. A individualização chegou ao extremo
do individualismo. O ser humano, totalmente desintegrado do todo, não
percebe mais as relações de equilíbrio da natureza. Age de forma totalmente
desarmônica sobre o ambiente, causando grandes desequilíbrios
ambientais;...”
(Guimarães, 1995: 12)
Estas características, sinteticamente citadas acima, consolidaram-se nestes últimos 500 anos
e tornaram-se pilares da formação da atual sociedade urbano-industrial, hoje hegemônica em
praticamente todo o mundo.
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contraponham; já que, na lógico do colonizador, as sociedades indígenas originais foram
“eficientemente” eliminadas de nossa história.
A História Ambiental brasileira, brilhantemente relatada por Warren Dean em seu livro “A
ferro e fogo”, desvela com clareza que a formação da sociedade brasileira, desde o nascedouro,
deu-se as custas de uma intensa destruição da natureza (biótica e abiótica) com suas populações
(humanas e não humanas) originais.
A ocupação do território brasileiro deu-se pela ótica da colonização mercantilista, que o via
com um espaço a ser dominado para atender a seus interesses de acumulação material de riquezas.
Tal visão de mundo contrastava grandemente com a dos Tupis aqui residentes no primeiro século de
ocupação e praticamente exterminados nos séculos seguintes. Tal fato percebe-se no relato
“registrado pelo feitor francês Jean de Léry: “Vocês franceses são uns grandes idiotas; precisam
sofrer tanto para cruzar o mar, no qual (como você nos contou) suportam tantas privações, apenas
para ajuntar riquezas para seus filhos ou para aqueles que vão sucedê-los? A terra que alimenta
vocês não será suficiente para alimentá-los?” (Dean, 1998: 65/66).
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solos muito pobres, os homens puderam destruir, desarranjar e desequilibrar
em espaço de dezenas de anos apenas.”
(Holanda, 1972: 66)
Não se criou aqui um sentimento de apego a terra. A natureza era um “recurso transitório” a
ser explorada; quando este se esgotava, facilitada pela abundância de terras, avançava-se para outras
áreas atrás de novos recursos. Essa dinâmica de fronteiras abertas perdurou até o século atual,
espalhando devastação por todo o território brasileiro. “Quando, após uma série de plantios e
abandonos, um campo não mais rebrotava como floresta secundária mas gerava apenas capim,
carriços e felos, era abandonado ao pastoreio.” (Dean, 1998: 209) e novas terras eram
conquistadas para a lavoura. Em tal dinâmica não se colocava a necessidade de conservação da
natureza.
A razão instrumental imediatista que informa essa visão de mundo foi muito bem
sintetizada por Dean (1998) na epígrafe de seu livro: “Quem vier depois que se arrume” (velho
provérbio brasileiro). Este provérbio, assim como o que foi citado pelo autor em sua conclusão: “o
valor da terra nua tornou-se o padrão do banqueiro para o cálculo da calção. “Uma agressão
etimológica contra a natureza”, como o chamou um ambientalista.” (p.380), são bons indicativos
do imaginário construído historicamente associando natureza e destruição na constituição da
sociedade brasileira.
Segundo Pádua (1992), havia dois tipos de olhar, não necessariamente antagônicos, sobre o
Brasil e, particularmente, sobre a natureza no início da colonização. Um olhar humanista da cultura
renascentista, louvando a diferença e exuberância da natureza brasileira. Outro olhar dos
mercadores interessados em explorar novas riquezas. Ambos criaram uma imagem atraente do
Brasil através de sua natureza, de acordo com cada ótica.
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Isto nos leva a crer, que mesmo quando havia uma associação positiva à imagem da
natureza, essa imagem, estava atrelada a uma “tradição da retórica laudatória e acrítica” (idem:
22), portanto não resultando na prática um freio a destruição ambiental.
Estes autores críticos da destruição ambiental no Brasil, seguem uma racionalidade em que
“...é possível identificar uma certa identidade conceitual subjacente. Esta identidade vai estar
ligada ao processo de reflexão acumulada que, de forma direta ou indireta, constituiu uma tradição
de pensamento ecológico-político no Brasil dos séculos XVIII e XIX. Entre os elementos comuns
que a caracterizam encontra-se a forte presença de uma postura antropocêntrica, cientificista e
progressista. Em nenhum dos autores brasileiros que criticaram a destruição ambiental naquele
período, até onde eu tenha podido investigar, apareceu uma defesa da conservação do meio natural
e da vida selvagem a partir do seu direito autônomo à existência e do seu valor intrínseco, seja
biológico, espiritual ou estético. A idéia de conservação estava sempre calcada no valor
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instrumental da natureza para a sociedade e o país. A questão não estava em isolar o meio natural
da ação humana, mas sim em promover o seu uso inteligente e cuidadoso, buscando conciliar o
aumento da produção econômica com a continuidade dos recursos naturais.” (Pádua, 1998:158).
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Até a década de 70 estes discursos eram hegemônicos, até pela força já que vivíamos em
um regime político totalitário, e era comum ouvir-se nas esferas dominantes da sociedade brasileira,
discursos recheados com: “Que venha a poluição, desde que as fábricas venham com ela.” ou “A
pior forma de poluição é a pobreza.” (Dean,1998:307). Com esta retórica, vieram vários
programas de desenvolvimento, como por exemplo os grandes projetos hidrelétricos. Como
resultado prático tivemos um crescimento econômico às custas de um tremendo sacrifício do meio
ambiente.
A sociedade brasileira, até pelas conquistas democráticas, começa a reagir a este estado de
coisas lá pelo final dos anos setenta. Não por acaso, é nesse período que também floresce a
Educação Ambiental de forma mais consistente no Brasil.
O meio urbano caracteriza-se por um ambiente bastante alterado, com pouca presença de
elementos naturais. “Para aqueles de nós que moram em cidades, é fácil esquecer as fontes
naturais de nossa subsistência: elas chegam até nós vindas dos armazéns ou através de fios e de
canos. É fácil esquecer para onde vão nossos resíduos: desaparecem nos canos de esgoto ou os
lixeiros os levam embora.” (Sheldrake, 1993: 209). O modo de vida moderna que traz subjacente
uma artificialização da vida, a reverência ao virtual, potencializa o sentimento de afastamento dos
seres humanos para com a natureza.
“A relação com a realidade concreta, com seus cheiros, cores, frios, calores,
pesos, resistências e contradições é mediada pela imagem virtual que é
somente imagem. O pé não sente mais o macio da grama verde. A mão não
pega mais um punhado de terra escura. O mundo virtual criou um novo
habitat para o ser humano, caracterizado pelo encapsulamento sobre si
mesmo e pela falta de toque, do tato e do contato humano.”
(Boff,1999: 11)
22
A crise ambiental planetária é uma das dimensões que denotam estarmos vivenciando uma
crise civilizacional.
23
Não seria mantermo-nos numa dicotomia interna entre a razão e a emoção, negando-nos como seres
integrais na relação com o mundo ? Tais reflexões precisam fundamentar as práticas de Educação
ambiental.
Acreditamos juntamente com Sheldrake (1993: 70) que “quanto maior for o senso de
separação da natureza, maior será a necessidade de retornar”; assim torna-se fundamental aos
educadores ambientais trabalharem em suas ações educativas, a perspectiva da sensibilização
através da reaproximação com o natural, do emocionar-se com a natureza, do sentimento de
pertencimento à vida planetária; e como nos diz Boff (1999: 22) “que saiba organizar a
convivência humana sob a inspiração da lei mais fundamental do universo: a sinergia, a
cooperação de todos com todos e a solidariedade.”.
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Construir uma nova postura, significa superarmos a dicotomia presente na racionalidade
materialista do cientificismo mecanicista, o que contribui para transcendermos a nossa
separação/dominação da natureza. Desta forma, buscaremos um “novo paradigma de re-ligação, de
re-encantamento pela natureza e de com-paixão pelos que sofrem; inaugura-se uma nova ternura
para com a vida e um sentimento autêntico de pertença amorosa à Mãe-Terra.” (Boff,1999:
25/26).
Santa Teresa
Do alto do morro,
Meu quarto de monge,
Parece que é o centro
de todo o viver.
Do alto do morro,
O mundo tão longe
E o longe tão dentro
Que chega a doer...
Do alto do morro,
Eu fico cismado
Que é bem mais intenso
O mundo sem som.
Do alto do morro,
25
Eu fico calado...
E eu quase nem penso,
De tanto que é bom.
Spencer Mendes1
Somente a vivência integral e integrada, que une na razão a emoção, como numa síntese
poética, nos possibilitará a desconstrução de um imaginário tão enraizado que associa natureza e
destruição no homem moderno e, em particular no brasileiro, por sua história de intensa exploração
ambiental. Esta poderá ser uma importante contribuição da Educação Ambiental.
V – BIBLIOGRAFIA CITADA
ACSERLRAD, H. Ecologia: Direito do Cidadão. Rio de Janeiro: Gráfica JB, 1993.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis:
Vozes, 1999.
BRANDÃO, Zaia. (org.) A crise dos paradigmas e a Educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez,
1995.
DIAS, Genebaldo F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 2ª ed. São Paulo: Gaia,
1993.
1
Poesia inédita de Spencer Luiz Marques Porto Mendes
26
DRUMMOND, J.A. “A história ambiental: temas, fontes e linhas de pesquisa”. In Estudos
Históricos. Rio de Janeiro, vol. 4, n.8, 1991, p. 177-197.
HOLANDA, S.B. História geral da civilização brasileira. 4ª ed. São Paulo: Difusão
Européia do Livro, Tomo I, 1º vol. 1972.
PÁDUA, J.A. “Cultura esgotadora: agricultura e destruição ambiental nas últimas décadas
do Brasil império”. In Estudos Sociedade e Agricultura. n.11, Out/1998, p.134-163.
27
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo – Razão e Emoção. 2ª ed. São
Paulo: HUCITEC, 1997.
28
- ANEXO I
29
- ANEXO II
CONSENSOS ATUAIS
OS EMBATES
! MODELO DE DESENVOLVIMENTO
$ Alguns acreditam na possibilidade de reforma desse modelo.
$ Outros acreditam na inviabilidade deste modelo e apontam para
transformações que gerariam um novo modelo.
! CRISE AMBIENTAL
$ Descuido do sistema produtivo, mas com soluções tecnológicas dentro da
lógica atual.
$ Reflete a crise civilizatória no nível ambiental; no nível social, precisa excluir
para se manter.
30
- ANEXO III
31
ANEXO IV
CONCEITOS BÁSICOS
MEIO AMBIENTE:
“O conjunto de todos os fatores físicos, químicos, biológicos e sócio-econômicos que
atuam sobre um indivíduo, uma população ou uma comunidade.”
(FEEMA/Interim Mekong Committee. Vocabulário Básico do Meio Ambiente, 1992.)
IMPACTO AMBIENTAL:
“Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetem: (I) a saúde, a segurança e o bem estar da população; (II) as
atividades sociais e econômicas; (III) a biota; (IV) as condições estéticas e sanitárias do
meio ambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais."
(FEEMA/Resolução do CONAMA. Vocabulário Básico do Meio Ambiente, 1992.)
PROBLEMAS AMBIENTAIS:
“São manifestações dos conflitos entre interesses privados e o bem coletivo (que pertence a
todos).”
(Acserlrad, H. Ecologia: Direito do Cidadão, 1993.)
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
“O ecodesenvolvimento se define como um processo de transformação do meio com a
ajuda de técnicas ecologicamente prudentes, concebidas em função das potencialidades
deste meio, impedindo desperdícios inconsiderado dos recursos, e cuidando para que estes
sejam empregados na satisfação das necessidades de todos os membros da sociedade, dada
a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais.”
(FEEMA/ Sachs, I. Vocabulário Básico do Meio Ambiente, 1992.)
CIDADANIA:
“Direitos e deveres (conteúdo do exercício de cidadania) é algo possível mas dependente do
enfrentamento político adotado por quem tem pouco poder. Só existe cidadania se houver a
prática da reivindicação, da apropriação de espaços, da pugna para fazer valer os direitos do
cidadão. Neste sentido, a prática da cidadania pode ser estratégica, por excelência, para a
construção de uma sociedade melhor.”
(Covre, M. de I.M. O Que é Cidadania. 1991.)
32
ANEXO V
ARTICULAÇÃO CONCEITUAL
MEIO AMBIENTE
Conjunto em inter-relação
&
APROPRIAÇÃO
Espaço socialmente produzido
&
RELAÇÕES DE DOMINAÇÃO
Homem – Natureza / Homem – Homem
' (
antropocentrismo primazia do privado
&
IMPACTO AMBIENTAL
Secundariza o coletivo / o conjunto em equilíbrio
&
PROBLEMAS AMBIENTAIS
' (
locais globais
&
novo modelo? Altera relações de poder?
) *
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
' (
supera antropocentrismo? Prioriza o bem coletivo?
&
CIDADANIA
Exercício crítico na produção social do espaço
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ANEXO VI
TRANSVERSALIDADE:
“É o tema meio ambiente tratado de forma articulada entre as diversas áreas do
conhecimento, de forma a impregnar toda a prática educativa e, ao mesmo tempo,
criando uma visão global e abrangente da questão ambiental.”
(PCN – versão preliminar – nov./1995)
# 1º PASSO É A VONTADE
ANEXO VII
34
EXECUÇÃO
PLANO DE AÇÃO
Práxis Práxis
em EA em EA
DIAGNÓSTICO
REALIDADE
REALIDADE LOCAL
GLOBAL
35