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Biggs - Alinhando o Ensino para Construir A Aprendizagem
Biggs - Alinhando o Ensino para Construir A Aprendizagem
Biggs - Alinhando o Ensino para Construir A Aprendizagem
Planejando o Currículo
Leitura para Aula 01
Alinhamento do ensino para construir a aprendizagem12
John Biggs
Resumo
O alinhamento construtivo parte do princípio de que o/a estudante constrói seu
aprendizado por meio de atividades de aprendizagem relevantes. O trabalho do/a
professor/a é criar um ambiente de aprendizagem adequado para a realização de
atividades que levem ao alcance dos objetivos de aprendizagem. O mais
importante é que todos os componentes do processo instrucional – o currículo e
seus objetivos de aprendizagem, os métodos de ensino utilizados, as tarefas
avaliativas – estejam alinhados uns com os outros. Todos devem estar focados
em atividades que direcionem para o alcance dos objetivos de aprendizagem.
Dentro desse esquema, torna-se difícil para o estudante sair de uma aula sem
aprender apropriadamente.
Biografia
John Biggs obteve seu doutoramento em 1963 pela Universidade de Londres, e
ocupa cadeiras em faculdades de Educação no Canadá, Austrália e Hong Kong.
Ele se aposentou em 1995, quanto tornou-se consultor em Educação Superior,
tendo atuado em diversas instituições na Austrália, em Hong Kong e no Reino
Unido.
Palavras-chave
Expectativas de aprendizagem, alinhamento construtivo, avaliação referenciada
a critério, ensino para aprendizagem ativa, ensino sistêmico.
Quando nós ensinamos, devemos ter uma ideia clara sobre o que
queremos que nossos estudantes aprendam. Mais especificamente, olhando
conteúdo a conteúdo, devemos ser capazes de estipular quão bem um tópico
precisa ser compreendido. Primeiramente, devemos distinguir entre
conhecimento declarativo e conhecimento funcional / procedural.
Conhecimento declarativo refere-se ao conhecimento que podemos
“declarar”: nós dizemos às pessoas sobre ele, oralmente ou por escrito.
Normalmente, trata-se de conhecimento de segunda-mão, sobre aquilo que já foi
descoberto por outrem. O conhecimento das disciplinas acadêmicas é
declarativo, e os estudantes precisam compreendê-los seletivamente. O
conhecimento declarativo, no entanto, é apenas a primeira parte da história.
Nós não adquirimos conhecimento apenas para que possamos falar sobre
ele para outras pessoas; mais especificamente, nossos estudantes não adquirem
conhecimentos para que eles possam nos contar – em suas próprias palavras,
claro – o que nós recentemente dissemos a eles/as. Os/as estudantes precisam
colocar esse conhecimento para trabalhar, transformá-lo em algum funcional. A
compreensão faz com que você veja o mundo de forma diferente e comporte-se
diferentemente com relação àquela parte específica do mundo. Esperamos que
advogados tomem boas decisões legais, que médicos façam diagnósticos
acurados, que físicos pensem e se portem como físicos. Após se formarem,
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PED BRASIL
independentemente de suas escolhas profissionais, os/as estudantes devem
olhar para a porção do mundo sobre a qual decidiram agir de forma diferente,
agir de forma diferente sobre ela, com sabedoria e expertise. Assim, apenas dizer
aos estudantes sobre um determinado aspecto do mundo, solicitar que eles/as
leiam a respeito, não fará com que a maioria deles alcance tais objetivos. Talvez
“bons estudantes” consigam transformar esse conhecimento declarativo em
conhecimento funcional/procedural, mas a maioria não irá caso não seja
requerida explicitamente a fazê-lo.
Nesse sentido, nós temos que expressar os objetivos de tal modo que eles
requeiram que os estudantes demonstrem sua compreensão, não apenas nos
dizendo a respeito dos fatos por meio de exames de checagem. O primeiro passo
no desenvolvimento dos objetivos curriculares, assim, é tornar claro quais
níveis de compreensão esperamos que os/as estudantes alcancem acerca de
cada tópico, bem como explicitar como essa compreensão será objetivada em
termos de performance.
É bastante útil pensar em termos de verbos apropriados. Genericamente,
verbos que expressam altos níveis cognitivos incluem: refletir, hipotetizar,
resolver problemas complexos, gerar novas alternativas, etc.
Verbos de baixo nível cognitivo incluem: descrever, identificar, memorizar
etc. Cada disciplina e tópico terão, evidentemente, seus verbos mais apropriados
para expressar diferentes níveis de compreensão, de modo que o conteúdo seja o
objeto sobre o qual o verbo é aplicado.
Incorporar esses verbos nos objetivos de aprendizagem nos fornece marcos
de referência para coerência do sistema. Os mesmos verbos devem guiar as
atividades de ensino e de aprendizagem, bem como as atividades avaliativas.
Eles nos mantém focados na mesma direção.
Escolhendo as atividades instrucionais e de aprendizagem
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PED BRASIL
promovem procedimentos cognitivos de alto nível. Os estudantes podem
facilmente se perder em ouvir passivamente e memorizar seletivamente.
Existem diversas outras formas de encorajar atividades de aprendizagem
apropriadas, mesmo em salas de aulas grandes, ao passo que uma série de
atividades podem ser agendadas fora da sala de aula, especialmente, mas não
apenas utilizando tecnologias educacionais.
Avaliando as aprendizagens dos estudantes
As suposições e práticas avaliativas de professores geralmente causam
mais dano ao desvirtuar o ensino do que qualquer outro fator isolado. Conforme
Ramsden (1992) propôs, a avaliação é o currículo, ao menos no que diz respeito
aos estudantes. Eles irão aprender aquilo no que acreditam que serão avaliados,
e não o que está descrito nas prescrições curriculares, ou mesmo aquilo que foi
“coberto” em sala de aula. O “segredo”, assim, é assegurar que a avaliação reflita
exatamente os objetivos de aprendizagem.