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Kubrick - Vida e Obra

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Kubrick:

vida e obra
Prof. Dr. Alisson Gutemberg
@cinema.com.teoria
OBJETIVOS
1. Entender quem foi Stanley Kubrick: discutir aspectos de sua vida e
apontar alguns atributos de sua personalidade profissional;

2. Apresentar um panorama de sua filmografia e apontar algumas


características – passando por aspectos formalísticos e temáticos - de
sua obra
REFERÊNCIAS
1. Conversas com Kubrick (Ciment);

2. De macaco selvagem a anjo espacial: a visão de Stanley Kubrick sobre


a Guerra Fria e a manifestação do sublime em 2001 (Dissertação.
Paloma Marcela Castilho);

3. Labirintos da razão: mise-en-scène e discurso no primeiro cinema de


Stanley Kubrick (Tese, Rafael Nunes);

4. As principais teorias do cinema: uma introdução (Dudley Andrew)


Stanley Kubrick:
- Nasceu em 26 de julho de 1928 na cidade
de Nova Iorque e faleceu no dia 7 de
março de 1999 em sua casa no interior da
Inglaterra;

- É comumente apontado como um dos


maiores cineastas de todos os tempos.
Inclusive, em 2002, foi eleito o sexto
maior diretor da história do cinema pelo
Instituto Britânico de Cinema;
Stanley Kubrick:

- Filho de um médico e uma dona de casa, os pais


de Kubrick eram judeus. Apesar disso, nunca
professou a religião;

- Herdou de seu pai três de suas grandes paixões:


o xadrez, o jazz e a fotografia.
Stanley Kubrick:
- Ao concluir o período escolar, com uma
média geral, mais ou menos, de 6,7, Kubrick
não conseguiu ingressar na faculdade. E foi
por conta disso que decidiu se dedicar, logo
após concluir o período escolar, aos 17 anos,
à fotografia;

- Nesse período, vendeu a sua primeira foto


para a Revista Look. E assinou o seu primeiro
contrato como fotógrafo. Trabalhando na
Revista até 1953, ano de lançamento de seu
primeiro longa: Morte e Desejo;
.
Stanley Kubrick:
- A partir de 1949, Kubrick passou a
frequentar ativamente as sessões de
cinema no Museu de Arte Moderna de
Nova Iorque. E foi a partir disso que a
vontade de se tornar cineasta começou a
florescer;

- Assim, por volta de 1950, Kubrick decidiu


seguir o caminho do cinema. E em 1951,
dirigiu o seu primeiro curta: Dia de Luta
Quem foi o cineasta
Stanley Kubrick ?
.
Quem foi Stanley Kubrick?
.

1° Um contrabandista entre dois mundos;

2° Um homem da imagem;

3° Um perfeccionista
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- O Último Voo do Flamingo (Mia Couto): a
narrativa se passa após a guerra de
independência de Moçambique;

- Há uma série de acontecimentos misteriosos:


os soldados da ONU, que se encontram em
Moçambique, explodem sem nenhuma
explicação aparente;

- Um italiano é chamado para investigar o caso. E


o narrador da obra é designado para
acompanha -lo como tradutor. Mia Couto se
refere a essa figura como um “contrabandista
entre dois mundos”. Alguém que transita por
dois universos, dois mundos
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- De acordo com Andrew, no âmbito das
teorias do cinema há duas grandes tradições:
1) uma realista; 2) outra formalista;

- A primeira tem nos trabalhos de André Bazin a sua


principal defesa; a segunda, por sua vez, encontra
em Eisenstein o seu principal expoente;
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- Para Bazin, o cinema deveria caminhar pela
busca ontológica. E o próprio
desenvolvimento técnico do meio
demonstrava isso: sons e cores, por exemplo,
aproximavam a linguagem do real. Por isso,
as intervenções, por meio da montagem,
deveriam se evitadas ao máximo. Assim,
recursos como o plano-sequência e a
profundidade de campo foram defendidos
por Bazin;
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- Por outro lado, Eisenstein acreditava que a
potencialidade do cinema estava justamente
na montagem. A montagem como
responsável por produzir sentidos,
significados, e, com isso, manipular a própria
realidade. Sem falar na sua capacidade em
operar as passagens de tempo e espaço, e,
também, cadenciar ou acelerar o ritmo das
ações;
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- De modo geral, essa dicotomia remonta às diferenças
entre os Lumière e Méliès

- Orson Welles e Rossellini são exemplos que se


enquadram dentro da matriz bazaniana; e nomes como
Godard e Glauber Rocha – além do próprio Eisenstein,
evidentemente – exemplos eisensteiniano;

- Na matriz realista a preocupação é que o cinema se


aproxime cada vez mais da forma como a visão capta o
mundo; a formalística, por sua vez, se preocupa em extrair
as potencialidades da linguagem, e, por isso, muitas vezes,
se afasta de um caráter ontológico
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- De modo geral, essa dicotomia remonta às diferenças
entre os Lumière e Méliès

- Orson Welles e Rossellini são exemplos que se


enquadram dentro da matriz bazaniana; e nomes como
Godard e Glauber Rocha – além do próprio Eisenstein,
evidentemente – exemplos eisensteiniano;

- Na matriz realista a preocupação é que o cinema se


aproxime cada vez mais da forma como a visão capta o
mundo; a formalística, por sua vez, se preocupa em extrair
as potencialidades da linguagem, e, por isso, muitas vezes,
se afasta de um caráter ontológico
1. Um contrabandista
entre dois mundos:

- Kubrick, por sua vez, transita entre as duas


tradições: o mesmo Kubrick que usa a
profundidade de campo – que aproxima a
imagem da forma como o olho humano capta o
mundo -; faz uso também das potencialidades
da linguagem para acelerar cenas de modo
inverossímil
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- No primeiro exemplo, um trecho do filme O
Grande Golpe, observamos o policial no primeiro
plano, e, ao fundo, a cidade em seu cotidiano.
Pessoas, carros, passam pelas ruas e a
profundidade de campo permite que
observemos aquela rotina com nitidez. Tudo isso
confere um caráter de autenticidade à cena,
além, evidentemente, de nos oferecer um
universo tridimensional similar à forma como o
nosso olho capta o mundo
1. Um contrabandista
entre dois mundos:
- Já no segundo exemplo, um trecho de Laranja
Mecânica, não há uma preocupação em
aproximar as ações, o espaço, ou qualquer outra
coisa, da forma como a nossa visão capta o
mundo. Temos ações aceleradas, em um ritmo
fora do normal, de um modo que, ali, o cinema
se mostra enquanto técnica. Retira o véu da
verossimilhança e se apresenta como
linguagem.
Quem foi Stanley Kubrick?
.

1° Um contrabandista entre dois mundos;

2° Um homem da imagem;

3° Um perfeccionista
2. Um homem da
imagem:
- Desde o princípio da carreira, Kubrick buscou
se apropriar da linguagem e das técnicas
cinematográficas. A sua busca, assim,
sempre foi, desenvolver um discurso
essencialmente cinematográfico;

- Para Kubrick, no cinema, sempre que


possível, deve haver uma prevalência das
imagens sobre as palavras. É preciso se
comunicar de modo cinematográfico, de
modo não-verbal.
2. Um homem da
imagem:

“A linguagem, quando a utilizamos, deve ser, claro, a mais


inteligente e imaginativa possível, mas eu ficaria bem
interessado em fazer um filme sem nenhuma palavra, se
pudesse achar um meio de fazê-lo. Poderíamos imaginar um
filme no qual as imagens e a música seriam utilizadas de
maneira poética ou musical, no qual se faria uma série de
enunciados visuais implícitos em vez de declarações verbais
explícitas [...] acho que se fosse feito, o cinema seria utilizado ao
máximo. Ele seria então totalmente diferente de qualquer outra
forma de arte, do teatro, do romance ou até mesmo da poesia”
(Trecho de uma entrevista no livro Conversar com Kubrick)
2. Um homem da
imagem:
- No livro homônimo, que deu origem ao filme
de Kubrick, o dono da casa é apresentado
como um escritor. Está lá. Está escrito;

- No filme Kubrick também faz isso, Mas não


faz por meio de diálogos e nem através de
menções escritas. Então, como ele faz?
2. Um homem da
imagem:
- E o melhor exemplo, sem dúvida, que irá
ilustrar essa busca por uma comunicação
cinematográfica, que tanto atravessa a obra
da Kubrick, está em 2001;

- Precisamente no trecho em que Kubrick


narra milhares de anos, na passagem da pré -
história para a conquista da lua, sem
mencionar uma palavra
Quem foi Stanley Kubrick?
.

1° Um contrabandista entre dois mundos;

2° Um homem da imagem;

3° Um perfeccionista
3. Um perfeccionista:

- As primeiras experiências de Kubrick no


cinema, inclusive o seu primeiro longa Medo
e Desejo, foram produções totalmente
independentes. Nelas, Kubrick, além de
diretor, foi produtor, roteirista, montador,
diretor de fotografia etc.;

- E essas experiências fizeram com que ele


desenvolvesse uma compreensão ampla da
produção cinematográfica. Além disso, lhe
tornou um diretor determinado em controlar
toda a cadeia de produção
3. Um perfeccionista:

- Para se ter ideia dessa busca pelo controle


absoluto, que, inevitavelmente, acabava
culminando em um nível altíssimo de
perfeccionismo, Kubrick chegou a determinar
que Milena Canonero, figurinista de Barry
Lyndon, passasse anos frequentando leilões
de roupas do século XVIII – ele queria filmar
Barry Lyndon com roupas verdadeiras. E
nada o convenceu do contrário. Isso,
evidentemente, atrasou as filmagens;
3. Um perfeccionista:

- Vale destacar que Milena Canonero se


tornou uma das maiores especialistas do
mundo em figurinos do século XVIII. Anos
depois, quando venceu o Oscar pelo figurino
do filme Maria Antonieta (2006), uma obra
que se passa na mesma época de Barry
Lyndon, ela agradeceu a Kubrick;
3. Um perfeccionista:

- Como consequência desse nível alto de


perfeccionismo, Kubrick, ao longo dos seus 48
anos de carreira, dirigiu apenas 16 filmes. Sendo
3 curtas e 13 longas. Uma média de um filme a
cada 3 anos;

- Para se ter ideia, Godard, que tem 67 anos de


carreira (seu primeiro curta é de 1954), e ntre
curtas, longas, filmes ensaísticos, experimentais etc.
realizou, até os dias de hoje, 129 obras. Uma média de
quase 2 filmes por ano;

- Isso atesta dois modelos distintos de produção:


de um lado um diretor que busca a perfeição,
que quer controlar todo o processo de produção,
e do outro um realizador que se rende ao
improviso
O cinema de Stanley
Kubrick
.
O cinema de Stanley
Kubrick:

Curtas:

- Dia de Luta (1951);

- Padre Voador (1951);

- Os Marinheiros (1953)
O cinema de Stanley
Kubrick:

Longas:

- Medo e Desejo (1953);

- A Morte Passou por Perto (1955);

- O Grande Golpe (1956);

- Glória Feita de Sangue (1957);

- Spartacus (1960)
O cinema de Stanley
Kubrick:

Longas:

- Lolita (1962);

- Dr. Fantástico (1964);

- 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968);

- Laranja Mecânica (1971);

- Barry Lyndon (1975)


O cinema de Stanley
Kubrick:

Longas:

- O Iluminado (1980)

- Nascido para Matar (1987);

- De Olhos Bem Fechados (1999)


O cinema de Stanley
Kubrick:
- Já em seu primeiro trabalho, Dia de Luta (1951), é possível
observar uma característica fundamental do cinema de
Kubrick: o uso de um narrador;

- A ideia para o filme surgiu de um ensaio fotográfico que


Kubrick fez, sobre o lutador Walter Cartier, para a revista
Look. E o resultado foi um documentário em que há a
presença de um narrador que conduz o espectador
durante toda a narrativa. Uma técnica bastante comum
em documentários;

- Acontece que Kubrick utilizou essa mesma técnica em


boa parte dos seus longas de ficção. De um total de 13
filmes, em 9 Kubrick fez uso. Por isso, trata-se de uma
característica marcante de seu cinema. O uso de narrador
é um traço significativo do cinema de Kubrick
O cinema de Stanley
Kubrick:
- Outro aspecto importante, para ressaltar, é o uso
da música. Primeiro, a presença da música
clássica. Algo muito marcante no cinema de
Kubrick;

- E, além disso, há também um outro uso da


música. Uma abordagem em que a trilha
assume um caráter de anticlímax. Nesse caso,
imagens de violência são imbricadas a canções
que destoam. Criando, assim, um certo tom
burlesco, caricatural
O cinema de Stanley
Kubrick:
- Uma outra característica marcante do cinema de Kubrick
diz respeito ao enquadramento dos seus filmes. Uma
herança, nessa caso, da fotografia;

- Kubrick é comumente citado pela composição


rigorosamente simétrica de suas cenas

- E essa é uma técnica que encontra na pintura


Renascentista a sua herança
.
O cinema de Stanley
Kubrick:
- Uma outra característica marcante do cinema de Kubrick
diz respeito ao enquadramento dos seus filmes. Uma
herança, nessa caso, da fotografia;

- Kubrick é comumente citado pela composição


rigorosamente simétrica de suas cenas

- E essa é uma técnica que encontra a sua base na pintura


Renascentista. O objetivo, nesse caso, é centralizar o
ponto de fuga, uma maneira de controlar a atenção do
espectador, em algo de importante que está para
acontecer, e, assim, colocá-lo na cena. Aguçando as mais
diversas sensações.
O cinema de Stanley
Kubrick:
- E essa unidade, que aparece nas escolhas formalísticas do
cinema de Kubrick, será vista também do ponto de vista
temático. Há, em sua obra, uma unidade que transparece
uma desconfiança na crença no progresso e no
desenvolvimento humano prometidos pela racionalidade
moderna.;

- Há também uma descrença no Estado e na sua


capacidade de gerir as civilizações. Uma descrença que,
nesse caso, perpassa por personagens como: Coronel Dax
(Glória Feita de Sangue, 1957), Alex De Large (Laranja
Mecânica, 1971), Soldado Pyle (Nascido para Matar, 1987),
entre outros. Para Kubrick, o Estado pode suprimir o
indivíduo (Nascido para Matar, Laranja Mecânica) e
promover destruições (Glória Feita de Sangue, Nascido
para Matar e Doutor Fantástico).

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