John Piper - Alegrem-Se Os Povos
John Piper - Alegrem-Se Os Povos
John Piper - Alegrem-Se Os Povos
OS POVOS
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES
JOHN PIPER
Alegrem-se os Povos © 2000, Editora Cultura Cristã. © 1993, John Piper. Originalmente
publicado em inglês com o título Let the Nations Be Glad pela Baker Books, uma divisão
da Baker Book House Company, Grand Rapids, Michigan, 49516, USA. Todos os direitos
são reservados.
Ia edição 2 0 0 2 - 3.000 exemplares
2a edição 2 0 1 2 - 3.000 exemplares
Conselho Editorial
Ageu Cirilo de Magalhães Jr.
Cláudio Marra (Presidente)
Fabiano de Almeida Oliveira
Francisco Solano Portela Neto
Heber Carlos de Campos Jr.
Mauro Fernando Meister Produção Editorial
Tarcízio José de Freitas Carvalho Tradução
Valdeci da Silva Santos Rubens Castilho
Vagner Barbosa
Revisão
Vagner Barbosa
Sandra Couto
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Editoração
Rissato
Capa
Osiris Carezzato Rangel Rodrigues
Imagem da capa: Matej Hudovemik © 123RF
CDU 2-167
G
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Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas
Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
A
Tom Steller
C onclusão................................................................................................. 230
Epilogo: a supremacia de Deus em ir e enviar - Tom Steller........... 234
N o ta s ......................................................................................................... 239
índice de textos bíblicos.......................................................................... 261
índice de pessoas..................................................................................... 268
índice de assuntos.................................................................................... 270
Prefácio à terceira edição
Ele faz essa declaração ao analisar Romanos 1.5. Ali, o apóstolo Paulo
resume seu chamado como missionário: “Viemos a receber graça e apostolado
p o r amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios”.
Observe: “Por amor do seu nome”. Stott exulta novamente nesta grande
paixão de Paulo:
E
Jesus Cristo.
comigo a visão de espalhar a paixão pela supremacia de Deus
em todas as coisas para a alegria de todos os povos por meio de
Esta terceira edição não teria sido possível sem o pronto auxílio e
encorajamento de meu assistente executivo pastoral, David Mathis. Obrigado,
David, por me manter estimulado e atender às demandas sempre urgentes.
Agradeço a Bethlehem Baptist Church, que, sob a liderança de presbíteros
visionários, de mentalidade global e teocêntricos, me dá liberdade para
escrever.
Obrigado, Carol Steinbach, amiga e companheira de batalha pela alegria,
por tom ar o livro mais acessível e útil com os índices de textos bíblicos e
de pessoas.
Obrigado, Noél e Talitha, por fortalecerem minhas mãos para a Grande
Obra e aceitarem meus esforços imperfeitos para amá-los como marido e pai.
Obrigado, acima de todos, querido Jesus, por ter dado a ordem de ensinar
os discípulos a “guardar todas as coisas que vos tenho ordenado”, com a
dupla promessa: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” e “eis que
estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt 28.18-20).
Introdução à terceira edição
Novas realidades no mundo cristão e
doze apelos aos pregadores da prosperidade
Mark Noll tem um modo ainda mais impactante de chamar nossa atenção
para as novas realidades do Sul do globo.
Em uma palavra, diz Noll, “a igreja cristã tem sofrido uma redistribuição
geográfica nos últimos cinqüenta anos maior que em qualquer período
comparável da História, com exceção dos primeiros anos da história da igreja”.13
Isso significa que eles tinham motivo para se espantar. Um camelo não
pode passar pelo buraco de uma agulha. Isto não é uma metáfora para algo
que requer grande esforço ou um sacrifício humilde. Isso simplesmente não
pode ser feito. Sabemos disso porque Jesus disse que é impossível. Esta é
uma palavra dele, não nossa. “Para os homens, é impossível.” O ponto é que
a mudança de coração exigida é algo que o ser humano não pode fazer por
si mesmo. Deus precisa fazer isso. “Para Deus tudo é possível.”
Não conseguimos parar de ajuntar dinheiro acima de Cristo. Mas Deus
pode. Esta é a boa-nova. E isso deveria ser parte da mensagem que os
pregadores da prosperidade anunciam antes de instigar as pessoas a serem
como camelos. Por que um pregador pregaria um evangelho que encoraja as
pessoas a desejarem ser ricas e, assim, confirmá-las em sua inaptidão natu
ral para o reino de Deus?
Essas são palavras muito sérias, mas não parecem encontrar eco na
pregação do evangelho da prosperidade. Não é errado os pobres quererem
prosperidade para que tenham o que precisam e possam ser generosos e
dedicar tempo e energia a tarefas que exaltam a Cristo além de lutar pela
subsistência. Não é errado pedir a Cristo ajuda nesta busca. Ele cuida de
nossas necessidades (Mt 6.33).
No entanto, todos nós - pobres e ricos - corremos constantemente
perigo de colocar nossas afeições (lJo 2.15-16) e nossa esperança (lT m
6.17) nas riquezas, em vez de em Cristo. Esse “desejo de ser rico” é tão
forte e tão suicida que Paulo usa a mais forte linguagem para nos alertar.
Meu apelo é que os pregadores da prosperidade façam o mesmo.
3. Não preguem um evangelho que encoraje a vulnerabilidade à
traça e à ferrugem .
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e
a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para
vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde
ladrões não escavam, nem roubam (Mt 6.19-20).
Sim, todos nós guardamos alguma coisa. Jesus admite isso. Ele não
espera, exceto em casos extremos, que nossa doação signifique que não
seremos mais capazes de doar. Pode haver um tempo em que daremos nossa
vida para alguém e, assim, não poderemos dar mais nada. Mas, ordinariamente,
Jesus espera que vivamos de um modo que haja um padrão permanente de
trabalho e ganho e vida simples e doação continua.
Entretanto, considerando a tendência embutida em direção à cobiça
em todos nós, Jesus sente a necessidade de advertir contra “ajuntar tesouros
na terra”. Isso parece ganho, mas conduz à perda (“traça e ferrugem corroem
e ladrões escavam e roubam”). Meu apelo é que a advertência de Jesus
encontre forte eco na boca dos pregadores da prosperidade.
Conseguir riqueza não é algo pelo que devamos nos empenhar. Paulo
disse que não devemos roubar. A alternativa é trabalhar duro com nossas
próprias mãos. No entanto, o propósito principal não era meramente amontoar
ou mesmo ter. O propósito era “ter para dar”,
“Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as
próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado”
(Ef 4.28). Isso não é uma justificativa para ser rico para dar mais. É um
chamado para fazer mais e guardar menos para poder dar mais. Não há
razão pela qual uma pessoa que prospera mais e mais em seus negócios
deva aumentar indefinidamente a prodigalidade de seu estilo de vida. Paulo
diria: “Cubra suas despesas e dê o resto”.
Não posso determinar sua “cobertura” . No entanto, em todos os textos
que estamos examinando neste capítulo, há um impulso em direção à
simplicidade e à generosidade abundante, não aposses abundantes. Quando
Jesus disse: “Vendei os vossos bens e dai esmola” (Lc 12.33), ele pareceu
implicar não que os discípulos fossem ricos e dessem o que lhes sobra. Parece
que eles tinham tão poucos recursos financeiros que teriam que vender alguma
coisa para ter algo para dar.
Por que os pregadores querem encorajar as pessoas a pensar que devem
possuir bens para serem doadoras generosas? Por que não encorajá-las a
ter uma vida mais simples e serem doadoras ainda mais generosas? Isso não
INTRODUÇÃO À TERCEIRA EDIÇÃO 23
A razão pela qual o autor de Hebreus nos diz para nos contentarmos
com o que temos é que o oposto implica menos fé nas promessas de Deus.
Ele diz: “Seja vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que
tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te
abandonarei. Assim, afirmaremos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio,
não temerei; que me poderá fazer o homem?” (Hb 13.5-6).
Por um lado, podemos confiar no Senhor como nosso ajudador. Ele
proverá e protegerá. E, nesse sentido, há uma medida de prosperidade que
ele nos dará. “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mt 6.32).
Mas, por outro lado, quando ele diz “seja vossa vida sem avareza "porque
as promessas de Deus nunca nos deixarão, isso significa que podemos
facilmente nos m over da confiança em Deus no suprimento de nossas
necessidades para usar Deus para o que quisermos.
A linha entre “Deus me ajuda” e “Deus me toma rico” é real e o autor
de Hebreus não quer que a cruzemos. Os pregadores devem ajudar seus
ouvintes a se lembrarem e reconhecerem esta linha, em vez de falarem
como se ela não existisse. .
Jesus nos adverte que a Palavra de Deus, que tem o objetivo de nos
dar vida, pode ser sufocada até a morte pelas riquezas. Ele diz que a Palavra
de Deus é como uma semente que cresce entre espinhos: “A que caiu entre
espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com
os cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a
amadurecer” (Lc 8.14).
Os pregadores da prosperidade devem advertir seus ouvintes de que
há um tipo de prosperidade financeira que pode sufocá-los até a morte. Por
que quereríamos encorajar as pessoas a buscar exatamente aquilo que Jesus
adverte que pode tomá-las infrutíferas?
O que dizer sobre cristãos que são o sal da terra e a luz do mundo? Isso
não é riqueza. O desejo de riqueza e a busca da riqueza são coisas do mundo.
24 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Desejar ser ricos nos tom a como o mundo, não diferentes. No exato ponto
em que devíamos ser diferentes, temos a mesma cobiça agradável que o
mundo tem. Nesse caso, não oferecemos ao mundo nada diferente daquilo
em que ele já crê.
A grande tragédia da pregação da prosperidade é que a pessoa não
tem que ser espiritualmente reavivada para abraçá-la. Basta ser gananciosa.
Enriquecer em nome de Jesus não é ser o sal da terra e a luz do mundo.
Nisso, o mundo vê simplesmente um reflexo de si mesmo. E, se as pessoas
forem “convertidas” a isso, elas não terão sido verdadeiramente convertidas,
apenas terão colocado um nome novo em uma vida velha.
O contexto da declaração de Jesus nos mostra que são o sal da terra
e a luz do mundo. São a prontidão jubilosa de sofrer por Cristo. Eis o que
ele disse:
O que fará o mundo provar o sal e ver a luz de Cristo em nós não é o
fato de amarmos a riqueza como o mundo a ama, em vez disso, será a
prontidão e a habilidade de os cristãos amarem os outros por meio do
sofrimento, ao mesmo tempo em que se alegram porque sua recompensa
está no céu com Jesus. “Regozijai-vos e exultai [na adversidade]... Vós
sois o sal da terra.” A capacidade de salgar é o sabor da alegria na adversidade.
Esta é uma vida incomum que o mundo pode experimentar como diferente.
Esta vida é inexplicável em termos humanos. É sobrenatural. No entanto,
atrair pessoas com promessas de prosperidade é algo simplesmente natural.
Esta não é a mensagem de Jesus. Ele não morreu para alcançar isso.
O Novo Testam ento não apenas deixa claro que o sofrim ento é
necessário aos seguidores de Cristo, mas também se esforça para explicar
26 A L E G R E M - S E OS P O V O S
por que isso acontece e quais são os propósitos de Deus nisso. É crucial que
os crentes conheçam esses propósitos. Deus os revelou para nos ajudar a
entender por que sofremos e para nos restaurar como o ouro é restaurado
pelo fogo.
Mais adiante, no capítulo sobre sofrimento, revelarei estes propósitos.27
Por isso, aqui, apenas os citarei e direi aos pregadores da prosperidade:
Incluam os grandes ensinos bíblicos em suas mensagens. Os novos
convertidos precisam saber por que Deus ordena que eles sofram.
Salomão levou sete anos para construir a casa do Senhor. Depois, levou
mais treze anos para construir sua própria casa (lR s 6.38-7.1). Ela também
era cheia de ouro de pedras de grande valor (lR s 7, 10).
Então, quando tudo estava edificado, o ponto máximo de sua opulência
é visto em IReis 10, quando a rainha de Sabá, representando as nações
gentias, vem ver a glória da casa do Senhor e de Salomão. Quando a viu,
“ficou como fora de si” (lR s 10.9).
Em outras palavras, o padrão, no Antigo Testamento, é uma religião
venha e veja. Há um centro geográfico do povo de Deus. Há um templo
físico, um rei terreno, um regime político, uma identidade étnica, um exército
para travar as batalhas terrenas de Deus e um grupo de sacerdotes para
fazer sacrifícios de animais pelos pecados.
Com a vinda de Cristo, tudo isso mudou. Não há centro geográfico
para o Cristianismo (Jo 4.20-24); Jesus substituiu o templo, os sacerdotes e
os sacrifícios (Jo 2.19; Hb 9.25-26); Não há um regime político cristão porque
o reino de Cristo não é deste mundo (Jo 18.36); e não travamos batalhas
terrenas com carruagens e cavalos ou bombas e balas, mas batalhas espirituais,
com a Palavra e o Espírito (Ef 6.12-18; 2Co 10.3-5).
Tudo isso dá suporte à grande mudança em missões. O Novo Testa
mento não apresenta uma religião venha e veja, mas uma religião vá e fale.
28 A L E G R E M - S E OS P O V O S
O apóstolo Paulo nos dá o exemplo de quanto ele era vigilante para não
dar a impressão de que estava no ministério por dinheiro. Ele disse que os
ministros da Palavra tinham o direito de viver do ministério, mas, depois,
mostra-nos o perigo pelo qual se recusa a usar plenamente esse direito.
Na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca ao boi, quando pisa
o trigo. Acaso, é com bois que Deus se preocupa? Ou é, seguramente,
por nós que ele o diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que
lavra cumpre fazê-lo com esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança
de receber a parte que lhe é devida. Se nós vos semeamos as coisas
espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros
participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida?
Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não
criarmos obstáculo ao evangelho de Cristo (ICo 9.9-12).
De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; vós mesmos sabeis
que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que
estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim,
é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor
Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber (At 20.33-35).
RECONHECENDO QUE
DEUS É SUPREMO
NAS MISSÕES
PROPÓSITO, PODER E PREÇO
A supremacia de Deus
nas missões por meio da adoração
A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? diz o Santo.
Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas coisas? Aquele que
faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele
chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma
só vem a faltar (Is 40.25-26).
Cada uma dos bilhões de estrelas no universo está lá por uma determinação
específica de Deus. Ele sabe o seu número e, o mais assombroso, as conhece
todas pelo nome. Elas cumprem suas ordens como agentes exclusivas.
Quando sentirmos o peso dessa imensidão nos céus, teremos apenas tocado
a bainha de suas vestes. “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos!
Que leve sussurro temos ouvido dele” (Jó 26.14). Eis por que clamamos: “Sê
exaltado, ó Deus, acima dos céus” (SI 57.5). Deus é a realidade absoluta
com quem todos no universo devem harmonizar-se. Tudo depende inteiramente
da sua vontade. Todas as outras realidades comparadas a ele são como uma
gota de chuva no oceano ou como um formigueiro diante do monte Everest.
Ignorá-lo ou diminuí-lo é uma insensatez absurda e suicida. Como pode ser
um emissário do grande Deus aquele que não tremeu diante dele com
assombro jubiloso?
38 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Carey e milhares como ele têm sido movidos pela visão de um Deus
grande e triunfante. Essa visão deve vir em primeiro lugar, devendo o
m issionário experimentá-la na adoração antes de difundi-la nas missões.
Isso se resum e em avançar em direção a um grande alvo: a adoração
inflamada a Deus e a seu Filho por todos os povos da terra. As missões
não são esse objetivo, são os meios e, por essa razão, são a segunda prin
cipal atividade no mundo.
Uma das coisas que Deus usa para fazer essa verdade se apoderar de
uma pessoa e de uma igreja é a surpreendente constatação de que isso
também é verdadeiro para ele. As missões não são a meta suprema de Deus,
a adoração, sim. Quando isso penetra no coração de um a pessoa, tudo muda.
O mundo está frequentemente mudando seu curso e tudo parece diferente -
inclusive o empreendimento missionário.
O princípio fundamental para a nossa paixão de ver Deus glorificado é
sua própria paixão de ser glorificado. Deus é único e supremo em suas próprias
afeições. Não há quaisquer rivais para a supremacia da glória de Deus em
seu próprio coração. Deus não é um idólatra. Ele não desobedece o primeiro
e grande mandamento. Com todo o seu coração, alma, força e mente, ele se
deleita na glória das suas múltiplas perfeições.32 O coração mais apaixonado
por Deus em todo o universo é o seu próprio coração.
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DA ADORAÇÃO 39
Ela flui inevitavelmente de dúzias de textos bíblicos, que mostram Deus, da criação
do mundo à consumação do século, na busca incansável de louvor e honra.
Provavelmente, nenhum texto bíblico revela a paixão de Deus por sua
própria glória de maneira mais clara do que Isaías 48.9-11, no qual Deus diz:
P o r a m or do m eu nom e, retardarei a minha ira e p o r causa da m inha
honra me conterei para contigo, para que te não venha exterminar. Eis
que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da
aflição. P o r am or de mim, p o r am or d e m im , é que faço isto; porque
com o seria profa n a d o o m eu nom e? A m inha glória, não a dou a outrem.
Textos bíblicos que mostram o zelo de Deus por sua própria glória
Deus escolheu seu povo para sua glória:
[Ele] nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele,
para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito
de sua vontade, p a r a lo u v o r da g ló ria d e su a g ra ç a , que ele nos
concedeu gratuitamente no Amado (Ef 1.4-6; cf. v. 12 e 14).
Acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para
a glória de Deus (Rm 15.7).
Quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo
para a glória de Deus (ICo 10.31; cf. 6.20).
Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou
com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a
fim de que tam bém desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos
de misericórdia, que para glória preparou de antemão (Rm 9.22-23).
Porque dele e por meio dele e para ele são todas as coisas. A ele, pois,
a glória eternam ente. Amém (Rm 11.36).
A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade,
pois a glória de D eus a ilum inou, e o Cordeiro é a sua lâmpada (Ap 21.23).
em que grau [uma pessoa] ama sua própria felicidade, mas colocar
sua felicidade onde não deveria e limitar e restringir seu amor. Alguns,
embora amem sua própria felicidade, não colocam essa felicidade em seu
próprio bem restringido, ou naquele bem que é limitado a elas mesmas,
mas no bem comum - naquilo que é bom para os outros ou no bem a ser
desfrutado em e por outros. ... E quando se diz que a caridade não
procura seu próprio interesse, devemos entender como seu interesse
particular - o bem limitado a si mesma.37
Portanto, o caminho está aberto, talvez, para Deus “procurar seu próprio
interesse” e ainda ser amoroso. Mas eu disse que há dois meios de vermos
harmonia entre a paixão de Deus por sua própria glória e a afirmação de
Paulo: “O amor não procura os seus interesses”. Acabamos de ver um motivo,
isto é, que Paulo não está sendo contrário a que “alguém procure seus próprios
interesses”, se “esses próprios interesses” são realmente o bem dos outros.
Agora, outro meio de ver essa harmonia é dizer que Deus é único e a
afirmação de Paulo não se aplica a ele da mesma maneira que a nós. Isso é
verdade. Coisas são proibidas a nós que não são proibidas a Deus, precisamente
porque não somos Deus e ele é. A razão pela qual não devemos exaltar
nossa própria glória, mas a de Deus, é pelo fato de ele ser Deus e nós, não.
Para Deus, ser fiel a esse mesmo princípio significa que ele não exaltaria a
nossa glória, mas a dele. O princípio unificador não é: exalte sua própria
glória. O princípio unificador é: exalte a glória daquele que é infinitamente
glorioso. Para nós, isso quer dizer exaltar a Deus e, para ele, exaltar a si
mesmo. Para nós, significa não buscarmos nossa própria glória. Para Deus,
significa buscar sua própria glória.
Isso pode ser muito ardiloso. Satanás percebeu isso e usou no jardim
do Éden. Ele veio com a tentação para Adão e Eva: se vocês comerem da
árvore proibida, “como Deus, [serão] conhecedores do bem e do mal” (Gn
3.5). Ora, Adão e Eva deveriam ter dito: “Já somos como Deus. Fomos
criados à sua imagem” (Gn 1.27). Mas, em vez de terem usado a verdade
de Deus contra a tentação de Satanás, permitiram que a verdade de fazer o
que era errado parecesse plausível: “Se somos a imagem de Deus, então não
pode ser errado querer ser como ele. Portanto, a sugestão da serpente de
sermos como Deus não pode ser ruim”. Por isso, comeram do fruto proibido.
Mas o problema é que não é correto os seres humanos tentarem ser
como Deus em todos os aspectos. A divindade de Deus permite que algumas
coisas sejam permitidas somente a ele. No caso de Adão e Eva, é direito de
Deus decidir o que era bom e mau, proveitoso ou prejudicial. Eles eram limitados
e não dispunham da sabedoria para conhecer todos os fatores que deveriam
ser levados em conta para terem uma vida feliz. Somente Deus conhece tudo
quanto precisa ser conhecido. Portanto, os humanos não têm o direito de serem
independentes dele. O julgamento independente acerca do que é útil e prejudi
cial é insensatez e rebelião. Isso foi a tentação e o âmago da sua desobediência.
O objetivo é simplesmente ilustrar que, embora tenhamos sido criados
à imagem de Deus e, em alguns aspectos, devamos ser “imitadores de Deus”
(E f 5.1), é um equívoco pensar que Deus não possui certos direitos que
48 A L E G R E M - S E OS P O V O S
também não temos. Um pai deseja que o filho imite suas maneiras, cortesias
e integridade, mas não quer que ele imite sua autoridade, seja para com seus
pais ou para com seus irmãos e irmãs.
Assim, concluo que é justo que Deus faça algumas coisas que somos
proibidos de fazer. E uma dessas coisas é exaltar a sua própria glória. Ele
seria injusto se não fizesse isso, uma vez que não estaria apreciando o que é
infinitamente valioso. Seria, na realidade, um idólatra, se estimasse como seu
tesouro infinito algo menos precioso que sua própria glória.
Mas exaltar a sua própria glória representa amor por parte de Deus?
Sim. E há vários meios para constatarmos essa verdade. Um dos meios é
ponderar esta afirmação: Deus è mais glorificado em nós quanto mais nos
satisfazemos nele. Essa talvez seja a afirmação mais importante em minha
teologia.38 Se isso é verdadeiro, então se toma evidente por que Deus se apraz
quando procura enaltecer sua glória em minha vida, pois isso significa que ele
procura maximizar minha satisfação nele, já que é mais glorificado em mim à
medida que mais me satisfaço nele. Consequentemente, a busca de Deus por
sua própria glória não está em descompasso com minha alegria, o que significa
que não é insensibilidade, impiedade ou desamor da parte dele buscar sua
glória. Na realidade, isso significa que, quanto mais apaixonado Deus está por
sua própria glória, mais apaixonado ele está por minha satisfação nessa glória.
Assim, o “teocentrismo” de Deus e o seu amor elevam-se juntamente.
Para ilustrar a verdade de que Deus é mais glorificado em nós quando
mais nos satisfazemos nele, consideremos o que posso dizer em uma visita
pastoral, quando entro em um quarto de hospital onde se encontra um membro
de minha igreja. Ele olha de sua cama com um sorriso e diz: “Ah!, pastor
John, que bom que o senhor veio me visitar. Que ânimo o senhor me traz!”
Suponhamos que eu levante minha mão, como se me desviasse das palavras,
e diga sem demonstrar sensibilidade: “Imagine. É meu dever como pastor”.
O que está errado aqui? Por que nos sentimos diminuídos com tal afirmação
pastoral impensada? É meu dever. O dever é uma boa coisa. Assim, por que
essa afirmação causa tanto dano?
Ela é danosa porque não honra a pessoa doente. Por quê? Porque o
deleite confere mais honra que o dever. Fazer uma visita em um hospital por
mera obrigação honra o dever. Fazer isso por deleite honra o paciente. E ele
sente isso. A resposta correta do pastor à saudação do paciente deveria ter
sido: “É um prazer estar aqui. Estou contente de poder vir”. Você vê aqui o
paradoxo? Aquelas duas sentenças mostrariam que estou “buscando meu
interesse”. “É um prazer [eu] estar aqui. Estou contente de poder vir.” No
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DA ADORAÇÃO 49
entanto, a razão dessas afirmações não é egoísta, pois elas conferem honra
ao paciente, não ao pastor. Quando alguém se deleita com você, você se
sente honrado. Quando alguém está feliz por estar com você, você se sente
valorizado, apreciado, glorificado. É uma atitude amorosa visitar um doente,
porque isso faz que você se sinta satisfeito de estar ali.
Então, essa é a resposta por que Deus não está sendo egoísta em
magnifícar sua glória. Deus é glorificado precisamente quando nos satisfazemos
nele - quando nos deleitamos em sua presença, gostamos de estar perto dele
ou valorizamos sua companhia. Essa é uma descoberta que transforma
completamente a nossa vida. Ela nos liberta para buscarmos nossa alegria
em Deus e ele, sua glória em nós, porque estas não são buscas diferentes.
Deus é mais glorificado em nós quando mais nos satisfazemos nele.
Há outro meio de ver como a paixão de Deus por sua própria glória
significa amor. A conexão entre missões e a supremacia de Deus são encontradas
nesta afirmação: A glória que Deus busca magnificar é supremamente a
glória da sua misericórdia. O texto-chave é Romanos 15.8-9:
mais apaixonado Deus está por sua glória, mais se apaixona por satisfazer
nossas necessidades como pecadores. A graça é a nossa única esperança
e a única esperança das nações. Portanto, quanto mais zeloso Deus é por
sua graça de ser glorificado, mais esperança há de que as missões sejam
bem-sucedidas.
Isaías diz que um Deus assim não foi visto nem ouvido em quaisquer
lugares do mundo. “Desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se
percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti.” O que Isaías vê por
toda parte são deuses que devem ser servidos, em lugar de servir. Por
exemplo, os deuses babilônios Bel e Nebo:
Quando Jesus dispensou o jovem rico porque ele não estava disposto a
deixar a riqueza para segui-lo, disse o Senhor: “Em verdade vos digo que um
rico dificilmente entrará no reino dos céus” (Mt 19.23). Os apóstolos ficaram
surpresos e disseram: “Sendo assim, quem pode ser salvo?” (v. 25). Jesus
respondeu: “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”
(v. 26). Então Pedro, falando como um tipo de missionário que deixou seu lar
e sua vida para seguir Jesus, disse: “Eis que nós tudo deixamos e te seguimos:
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DA ADORAÇÃO 55
que será, pois, de nós?” (v. 27). Jesus respondeu com uma censura branda à
noção de sacrifício de Pedro: “Todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos,
ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos, p o r causa do
meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna” (v. 29).
Aqui o ponto central que devemos focalizar é a frase, “por causa do
meu nome”. A razão a qual Jesus virtualmente toma por certa quando um
missionário deixa lar, família e bens materiais é p o r causa do amor ao seu
nome. Isso acontece por causa da reputação de Jesus. O objetivo de Deus é
que o nome de seu Filho seja exaltado e honrado entre todos os povos do
mundo, pois, quando o Filho é honrado, o Pai é honrado (Mc 9.37). Quando
todo joelho se dobrar perante o nome de Jesus, isso será feito “para glória de
Deus Pai” (Fp 2.10-11). Assim, as missões teocêntricas existem por causa
do nome de Jesus.
Paulo toma evidente, em Romanos 1.5, que sua missão e chamado são
por amor do nome de Cristo entre todas as nações: “Por intermédio de quem
viem os a receber graça e apostolado p o r amor do seu nome, para a
obediência p o r fé, entre todos os gentios”.
O apóstolo João expôs da mesma maneira a razão dos primeiros missionários.
Ele escreveu a uma de suas igrejas para dizer que ela deveria enviar irmãos
cristãos por “modo digno de Deus”. E a razão que ele apresenta é que “por
causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentios” (3Jo 6-7).
John Stott comenta esses dois textos (Rm 1.5; 3Jo 7): “Eles sabiam
que D eus tinha superexaltado Jesus, entronizando-o à sua destra e
conferindo-lhe a mais alta distinção, para que toda língua confessasse o
seu senhorio. Eles ansiavam que Jesus recebesse a honra devida ao seu
nom e”.42 Essa ânsia não era um sonho, mas uma certeza. No fundo de
toda a nossa esperança, quando tudo desmoronar, permaneceremos firmes
nesta grande realidade: o Deus sempitem o e todo suficiente é infinita,
inamovível e eternamente dedicado à glória do seu grande e santo nome.
Ele agirá entre as nações por amor do seu nome. Seu nome jam ais será
profanado. A missão da igreja será vitoriosa. Ele sustentará seu povo e sua
causa em toda a terra.
O zelo da igreja pela glória do seu Rei não vai aumentar até que os
pastores, líderes de missões e professores de seminário façam muito mais
pelo Rei. Quando a glória do próprio Deus saturar nossas pregações,
ensinamentos, palestras e literatura e quando ele predominar sobre nossa
discussão de métodos e estratégias, palavras psicológicas furtivas e tendências
culturais, então o povo poderá começar a sentir que ele é a realidade central
de suas vidas e que a expansão da sua glória é mais importante do que suas
posses materiais e todos os seus planos.
O milagre do amor
O chamado de Deus
Deus está nos chamando, acima de tudo, para sermos o tipo de pessoa
cujo tema e paixão é a supremacia de Deus em toda a vida. Ninguém será
capaz de elevar-se à magnificência da causa missionária se não sentir a
magnificência de Cristo. Não haverá nenhuma grande visão universal sem
um grande Deus. Não haverá nenhuma paixão para atrair outros à adoração
se não houver nenhuma paixão pela adoração.
Deus está buscando com paixão onipotente um propósito universal de
reunir seus adoradores jubilosos de todas as tribos, línguas, povos e nações.
Ele tem um entusiasmo inesgotável pela supremacia do seu nome entre as
nações. Por isso, alinhemos nossas afeições com as dele e, por amor do seu
nome, renunciemos à busca de confortos mundanos e abracemos o seu propósito
global. Assim fazendo, o compromisso onipotente de Deus para com o seu
nome estará sobre nós como um estandarte e não nos perderemos, apesar
das muitas tribulações (At 9.16; Rm 8.35-39). As missões não são o alvo
supremo da igreja. A adoração é. As missões existem porque não há adoração.
A Grande Comissão é, primeiramente, “agrada-te do S e n h o r ” (S I 37.4), e,
depois, declarar: “Alegrem-se e exultem as gentes” (S I 67.4). Desse modo,
D eus será glorificado do com eço ao fim e a adoração fortalecerá o
empreendimento missionário até a vinda do Senhor.
A supremacia de Deus
nas missões por meio da oraçao
I M ■ | M
Não podemos saber para que serve a oração até sabermos que
a vida é uma guerra
Quando Paulo chegou ao fim da sua vida, ele disse, em 2Timóteo 4.7:
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” . Em 1Timóteo
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DA ORAÇÃO 61
6.12, ele diz a Timóteo: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da
vida etema, para a qual também foste chamado”. Para Paulo, toda a vida
era uma guerra. Sim, ele usou outras imagens, tais como - agricultura,
atletismo, família, construção, pastoreio e outras. E sim, ele era um homem
que amava a paz. Mas a difusão da guerra é vista precisamente no fato de
que uma das armas de guerra é o evangelho da paz (Ef 6.15)! Sim, ele foi um
homem de intensa alegria. Mas essa alegria era geralmente “regozijo nas
tribulações” da sua missão sob o fogo da batalha (Rm 5.3; 12.12; 2Co 6.10;
Fp 2.17; Cl 1.24; cf. lPe 1.6; 4.13).
A vida é uma guerra porque, para manter a nossa fé e nos apoderarmos
da v id a e te rn a, estam o s em co n sta n te lu ta. P aulo e v id e n c ia , em
ITessalonicenses 3.5, que Satanás coloca nossa fé como alvo da destruição.
“Mandei indagar o estado da vossa fé , temendo que o tentador vos provasse,
e se tornasse inútil o nosso labor.” O ataque de Satanás em Tessalônica
era contra a fé dos cristãos. Seu objetivo era tomar o trabalho de Paulo ali
“vão” - vazio e destruído.
É verdade que Paulo acreditava na segurança etema dos eleitos (“... e
aos que [Deus] justificou, a esses também glorificou” [Rm 8.30]). Mas as
únicas pessoas que estão eternamente seguras são aquelas que “ [confirmam]
a [sua] vocação e eleição”, [combatendo] o bom combate da fé e [tomando]
posse da vida etema (2Pe 1.10; lT m 6.12). Jesus disse: “ ... aquele, porém,
que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mc 13.13). E Satanás está em
constante guerra para destruir a nossa fé e levar-nos à ruína.
A palavra “com bater”, de 1Timóteo (agonizesthai, da qual temos
“esforçar-se dolorosamente”), é usada repetidamente na descrição da vida
cristã. Disse Jesus: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos
digo que muitos procurarão entrar e não poderão” (Lc 13.24). Hebreus 4.11
afirma: “Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que
ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência”. Paulo compara
a vida cristã a uma corrida e diz: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles
para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível” (IC o 9.25).
Ele descreve seu ministério de proclamação e ensinamento do seguinte modo:
“Para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível,
segundo a sua eficácia que operara eficientemente em mim” (Cl 1.29). E ele
diz que a oração é parte dessa luta: “Saúda-vos Epafras, que é, dentre vós,
servo de Cristo Jesus, o qual se esforça sobremaneira, continuamente, por
vós, nas orações” (Cl 4.12). “ [Rogo-vos]... que luteis juntamente comigo
nas orações a Deus a meu favor” (Rm 15.30). É a mesma palavra todas as
vezes: “luta”.
Paulo é ainda mais ilustrativo com outra linguagem referente a luta.
Em relação à sua própria vida, ele disse: “Assim corro também eu, não sem
62 A L E G R E M - S E OS P O V O S
meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu
corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não
venha eu mesmo a ser desqualificado” (IC o 9.26-27). Ele participa de uma
corrida, luta como um pugilista e se esforça contra as forças de seu próprio
corpo. Com referência ao seu ministério, ele afirmou: “Embora andando na
carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia
não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas; anulando
nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus,
levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.3-5).
Paulo incentivou Timóteo a ver todo o seu ministério como uma guerra:
“Este é o dever de que te encarrego, ó filho Timóteo, segundo as profecias de
que antecipadamente foste objeto: Combate, firmado nelas, o bom combate ”
(lT m 1.18). “Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta
vida” (2Tm 2.4). Em outras palavras, missões e ministério são uma guerra.
Provavelmente, a passagem mais familiar sobre a guerra que vivemos
diariamente é a de Efésios 6.12-18, na qual Paulo relaciona os elementos
que compõem “a armadura de Deus”. Não podemos deixar de ver aqui o
óbvio: o simples pressuposto dessa conhecida passagem é que a vida é uma
guerra. Paulo simplesmente reconhece isso e, então, mostra-nos que espécie
de guerra é essa: “Não é contra o sangue e a carne, e sim contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai
toda a armadura de Deus” (v. 12-13).
Então todas as preciosas bênçãos da vida que podem ser concebidas
em contextos diferentes deste contexto de guerra são recrutadas para a
batalha. Se conhecemos a verdade, ela é um cinto na armadura. Se temos
justiça, devemos usá-la como um a couraça. Se estimamos o evangelho da
paz, ele se tom a o calçado de um soldado. Se apreciamos descansar nas
promessas de Deus, esta fé deve ser colocada em nosso braço esquerdo,
como um escudo contra as flechas inflamadas. Se nos deleitamos em nossa
salvação, devemos usá-la seguramente em nossa cabeça, como um capacete.
Se amamos a Palavra de Deus, mais doce que o mel, devemos fazer da
doçura uma espada. N a realidade, cada bênção “civil” na vida cristã é
convocada para a guerra. Não há parte guerreira e não guerreira: a vida é
uma guerra.49
A ausência de austeridade
Até que sintamos a força disso, não oraremos como devemos. Nem
sequer saberemos o que é oração. Em Efésios 6.17-18, Paulo faz a conexão
entre a vida de guerra e a obra da oração: “Tomai também o capacete da
salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração
e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com
toda perseverança e súplica p o r todos os santos”.
No original grego, o versículo 18 não começa uma nova sentença. Ele
está ligado ao versículo 17 deste modo: “Tomai a espada do Espírito, que é a
palavra de Deus, orando com toda oração e súplica em todo tempo” . Tomar
a espada... orando! Eis como devemos controlar a palavra - pela oração.
64 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Essa associação entre oração e missões pode ser vista em João 15.16,
uma passagem que não usa termos de guerra, mas trata da mesma realidade.
Disse Jesus:
Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos
escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis fruto, e o
vosso fruto permaneça; afim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu
nome, ele vo-lo conceda.
A lógica desta sentença é decisiva. Por que o Pai dará aos discípulos o
que eles pedirem em nome de Jesus? Resposta: porque eles foram enviados
para produzir frutos. A razão de o Pai dar aos discípulos o instrumento da
oração é porque Jesus havia lhes dado uma missão. Na realidade, a gramática
de João 15.16 implica que a razão de Jesus ter dado a eles uma missão é
para que estivessem habilitados a usar o poder da oração. “Eu vos escolhi...
para que vades e deis fruto... a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em
meu nome, ele vo-lo conceda.” Essa é apenas outra maneira de dizer que a
oração é um aparelho comunicador no campo de batalha. Deus o projetou e
o entregou a nós para o usarmos em uma missão. Você pode dizer que a
missão é “dar fruto” ou “libertar cativos”. O objetivo permanece o mesmo: a
oração é designada para estender o reino em território inimigo infrutífero.
Mas o que milhões de cristãos têm feito? Temos deixado de crer que
estamos em uma guerra. Não há urgência, atenção e vigilância. Nenhum
plano estratégico. Apenas uma paz cômoda e prosperidade. E o que fazemos
com os comunicadores? Tentamos instalá-los em nossas residências, casas
de campo ou praia, barcos e carros, para servirem como comunicadores
internos - não para serem usados como poder de fogo para o conflito contra
um inimigo mortal, mas para obter mais conforto em nosso aconchego.
perseverança dos santos. Ele sabe que a verdadeira batalha, como Paulo
diz, não é contra a carne e o sangue. Por isso, quanto mais guerras, conflitos
e revoluções de “carne e sangue” Satanás puder começar, m elhor será
para ele.
Portanto, quando Paulo nos diz para orar pela paz precisamente porque
Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento
da verdade, ele não está im aginando a oração como um a espécie de
comunicador doméstico inofensivo, para aumentar nosso conforto civil. Ele
a está imaginando como um apelo estratégico ao quartel, para pedir que o
inimigo não consiga ganhar poder de fogo nos conflitos de carne e sangue,
que ele usa como armadilha.
Eis por que Paulo diz que tudo na vida é guerra - o tempo todo. Antes
de p o d e r nos e n g ajar na m issão da ig reja, tem os de lu ta r contra “a
fascinação da riqueza” e “as demais ambições”. Devemos lutar por estimar
o reino acima de todas “as outras coisas” - essa é a nossa primeira e mais
constante batalha. Essa é a “luta da fé”. Então, quando adquirirmos alguma
experiência nessa batalha básica, tomaremos parte na luta para apresentar,
testemunhar e recomendar o reino a todas as nações.
Ora, nesta guerra, Deus persevera para o triunfo de sua causa. Ele
faz isso de maneira inconfundível para que a vitória resulte em sua glória.
Seu propósito em toda a História é manter e demonstrar sua glória para a
alegria de seu povo redimido de todas as nações. Assim, Deus se engaja à
batalha de modo que os triunfos sejam manifestamente seus. Como vimos
no capítulo 1, o fim supremo de Deus é glorificar-se e desfrutar de sua
excelência para sempre. É isso que garante a vitória de sua causa. Para
engrandecer sua glória ele m anifestará seu poder soberano e completará a
missão que ordenara.
“Prostra-se toda a terra perante ti, canta salmos a ti; salmodia o teu nome”
(SI 66.4). “A ele obedecerão os povos” (Gn 49.10).53
Essa tremenda confiança de que Cristo um dia conquistaria corações
em cada nação e seria glorificado por todos os povos da terra fez nascer o
primeiro esforço missionário protestante no mundo de língua inglesa e
aconteceu 150 anos antes de o movimento missionário moderno se iniciar
com William Carey, em 1793.
Entre 1627 e 1640, 15 mil pessoas emigraram da Inglaterra para a
América, a maioria delas puritanas, levando sua grande confiança no reino
universal de Cristo. De fato, o brasão dos colonizadores da Baía de Massa-
chusetts tinha sobre ele um índio norte-americano com estas palavras saindo
de sua boca: “Passa à M acedônia e ajuda-nos”, extraídas de Atos 16.9.
O que isso mostra é que, em geral, os puritanos viram sua emigração para a
América como parte da estratégia missionária de Deus para estender seu
reino entre as nações.
É ainda mais importante ver como Deus triunfa para sua própria glória
na Escritura do que na fé dos grandes missionários. O Novo Testamento deixa
claro que Deus não abandonou sua Grande Comissão às incertezas da vontade
humana. O Senhor disse desde o início: “Edificarei a minha igreja” (Mt 16.18).
As missões mundiais são supremamente a obra do Senhor Jesus ressurreto.
luta com a dureza do coração humano, asseguro que nunca poderia ser um
missionário, a menos que eu acreditasse na doutrina da predestinação”.59
Ela dá esperança de que Cristo muito certamente tem “outras ovelhas” en
tre as nações.60
Quando Jesus diz: “A mim me convém conduzi-las”, ele não está dizendo
que vai fazer isso sem os missionários. E evidente o fato de que a salvação
vem por meio da fé (Jo 1.12; 3.16; 6.35) e a fé vem pela palavra pregada
pelos discípulos (Jo 17.20). Jesus atrai seu rebanho ao aprisco pela pregação
daqueles que ele envia, assim como o Pai o enviou (Jo 20.21). Isso é verdadeiro
hoje assim como foi naquela época: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz;
eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27). No evangelho, é Cristo quem
chama. Nas missões do mundo, Cristo ajunta suas ovelhas. Eis por que há
uma perfeita segurança de que elas virão.
Como, então, Paulo fala de seus próprios labores? Ele disse: “Mas,
pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não
se tomou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu,
mas a graça de Deus comigo” (IC o 15.10). Paulo trabalhou. Ele combateu
o combate e correu a corrida. Mas fez isso, como disse em Filipenses 2.13,
porque Deus operava com poder, dentro e sobre ele, “tanto o querer como o
realizar, segundo a sua boa vontade”. Usando a imagem de uma fazenda,
Paulo assim se expressou: “Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimento veio
de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega,
mas Deus, que dá o crescimento” (IC o 3.6-7). Paulo era zeloso em de
fender a supremacia de Deus na missão da igreja.
Esse zelo pela glória de Deus na missão da igreja incentivou os apóstolos
a ministrarem de um modo que magnifícasse sempre a Deus e não a si
mesmos. Por exemplo, Pedro ensinou às jovens igrejas: “Se alguém serve,
faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus
glorificado, p o r meio de Jesus Cristo” (1 Pe 4.11; cf. Hb 13.20-21). Aquele
que concede a força recebe a glória. Assim, Pedro insistiu na absoluta
necessidade de servir na força que é dada por Deus e não por nossas
forças. Se Deus não edifícasse sua igreja, ele não teria glória e tudo seria
em vão, não importando quanto a obra pudesse parecer “bem -sucedida”
para o mundo.
Eis por que Deus ordenou que a prática da oração tivesse um lugar
tão essencial na missão da igreja. O propósito da oração é esclarecer a
todos os participantes dessa guerra que a vitória pertence ao Senhor. Ele
determinou que a oração fosse o meio para trazer graça a nós e glória a si
mesmo. Isso é evidente no Salmo 50.15. Disse o Senhor: “Invoca-me no dia
da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificaràs”. Charles Spurgeon tomou
essa questão inevitável:
Jesus ensinou isso aos discípulos antes de partir. Ele lhes disse: “Tudo
quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado
no Filho” (Jo 14.13). Em outras palavras, o propósito supremo da oração é
que o Pai seja glorificado. O outro lado aparece em João 16.24. Jesus diz:
“Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que
a vossa alegria seja completa”. O propósito da oração é que nossa alegria
seja completa. A união dessas duas metas - a glória de Deus e a alegria de
seu povo - é preservada no ato de orar.
O zelo que os apóstolos tinham na exaltação da suprema influência de
Deus, em toda a sua obra missionária, foi edificado sobre eles por Jesus. Em
João 15.5, Jesus diz: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DA ORAÇÃO 73
mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fa zer”.
Portanto, somos real e totalmente ineficazes como missionários por nós
mesmos. Podemos ter muitas estratégias, planos e esforços, mas o efeito
espiritual para a glória de Cristo será nulo. De acordo com João 15.5, Deus
não pretende que sejamos infrutíferos, mas que produzamos “muitos frutos” .
Por isso, ele promete fazer por nós e por nosso intermédio aquilo que não
podemos fazer por nós mesmos.
Como, então, o glorifícamos? Jesus dá a resposta em João 15.7; “Se
permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós,pedireis
o que quiserdes, e vos será feito” . Oramos e pedimos a Deus que faça por
nós, por intermédio de Cristo, o que não podemos fazer por nós mesmos -
frutificar. Então o versículo 8 mostra o resultado: “Nisto é glorificado meu
Pai, em que deis muito fruto”. Então como Deus é glorificado pela oração?
A oração é o reconhecimento franco de que, sem Cristo, nada podemos
fazer. Ela é o desvio de nós próprios para Deus na confiança de que ele
proverá a ajuda de que necessitamos. A oração nos humilha como necessitados
e exalta Deus como todo-suficiente.
Eis por que o empreendimento m issionário avança por meio da oração.
A finalidade principal de Deus é glorificar-se. Ele fará isso no triunfo soberano
do seu propósito missionário de que as nações o adorem. Ele garantirá esse
triunfo entrando na batalha e tomando-se o principal combatente. E ele fará
esse compromisso evidente, p o r meio da oração, a todos os participantes,
porque a oração mostra que o poder é do Senhor. A abrangência de seu
compromisso poderoso na batalha das missões toma-se evidente pela série
de coisas pelas quais a igreja ora em seu empreendimento missionário.
Consideremos o espantoso alcance da oração na vibrante vida missionária
da igreja primitiva. Quão grandemente Deus foi glorificado na amplitude da
sua provisão!
Eles invocaram a Deus para exaltar seu nome no mundo: “Vós orareis
assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome”
(Mt 6.9).
Eles invocaram a Deus para estender seu reino no mundo: “Venha o
teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu”
(M t 6.10).
Eles invocaram a Deus para que o evangelho progredisse e triunfasse:
“Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se
propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre
vós” (2Ts 3.1).
A L E G R E M - S E OS P O V O S
Eles invocaram a Deus para que ele realizasse os seus propósitos: “Por
isso, também não cessamos de orar por vós, para que o nosso Deus
vos tome dignos da sua vocação e cumpra com poder todo propósito
de bondade e obra de fé” (2Ts 1.11).
Eles invocaram a Deus para que pudessem fazer boas obras: “[Não
cessamos de orar por vós] a fim de viverdes de modo digno do Senhor,
para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra” (Cl 1.9-10).
Eles invocaram a Deus pelo perdão de seus pecados: “Perdoa-nos as
nossas dívidas, assim com o nós tem os perdoado aos nossos
devedores” (Mt 6.12).
Eles invocaram a Deus para serem protegidos contra o maligno: “Livra-
nos do mal” (Mt 6.13).
Uma vez que o Doador recebe a glória, o que todas essas invocações
demonstram é que a igreja primitiva pretendia tomar Deus supremo na missão
da igreja. Ela não é sustentada por sua própria força, sabedoria ou fé. Ela
viveria sob a supremacia divina. Seria Deus quem lhe daria o poder, a sabedoria
e a fé e, consequentemente, receberia a glória.
Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém,
invocarão aquele em que não creram? E como crerão naquele de quem
nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem preguei... A fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.13-14,17).
Mas sequer o poder que vem do Espírito Santo pela oração é, em algum
sentido, o único poder da própria Palavra de Deus: “ [O evangelho]... é o
poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16). Talvez devamos falar da oração
como instrumento de Deus para liberar o poder do evangelho, pois é claro
que a Palavra de Deus é o instrumento regenerador imediato do Espírito:
“Fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível,
mediante a palavra de Deus” (lP e 1.23). “ [Deus] nos gerou pela palavra
da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”
(Tg 1.18).
A promessa central das missões mundiais no ensino de Jesus diz respeito
à propagação da Palavra'. “E será pregado este evangelho do reino por
todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim ”.
(M t 24.14). Na parábola do semeador, disse Jesus: “A semente é a palavra
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DA ORAÇÃO 79
de Deus” (Lc 8.11). Quando ele orou pela futura missão de seus discípulos,
disse: “Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a
crer em m im , p o r intermédio da sua p a la vra ” (Jo 17.20). Após sua
ressurreição, em seu senhorio ressurreto sobre a missão de sua igreja, ele
continuou a exaltar a Palavra: “[O] Senhor... confirmava a palavra da sua
graça, concedendo que, por mão deles [apóstolos], se fizessem sinais e
prodígios” (At 14.3).
Q uando o m ovim ento cristão esp alh o u -se, L ucas m en cionou
repetidamente seu crescimento como o desenvolvimento da Palavra de Deus.
“Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos
discípulos” (At 6.7). “A palavra do Senhor crescia e se m ultiplicava”
(At 12.24). “E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região”
(At 13.49). “Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente”
(At 19.20).
Eis por que sou zeloso em dizer que a proclamação do evangelho é “a
obra das missões”. Essa é a arma que Deus designou para ser usada na
invasão do reino das trevas e no ajuntamento dos filhos da luz de todas as
nações (At 26.16-18). Todo o seu plano redentor para o universo depende do
sucesso da sua Palavra. Se a proclamação da Palavra malograr, os propósitos
de Deus fracassarão.
Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não
tomam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar,
para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra
que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me
apraz e prosperará naquilo para que a designei (Is 55.10-11).
frustrado” (Jó 42.1). Sempre que Deus desejar, sua Palavra vigorará e
ninguém poderá deter sua mão.63
Parecia que Cristo tinha sido derrotado. Pelo menos foi o que pareceu
na sexta-feira da paixão. Ele p erm itiu -se ser difam ado, m olestado,
desprezado, empurrado para todos os lados e sacrificado. Mas ele estava no
controle de tudo. “Ninguém a tira [a vida] de mim ” (Jo 10.18). E assim será
para sem pre. Se a C hina esteve fechada por quarenta anos para os
missionários ocidentais, não foi como se Jesus tivesse escorregado e caído
acidentalmente no túmulo. Ele entrou lá. E quando a tumba foi lacrada, ele
salvou cinqüenta milhões de chineses de lá de dentro - sem missionários do
Ocidente. E quando chegou o momento, ele removeu a pedra para que
pudéssemos ver o que ele fizera.64
Quando parecia que estava enterrado para sempre, Jesus estava fazendo
algo surpreendente no escuro. “O reino de Deus é assim como se um homem
lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de
dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como” (Mc 4.26
27). O mundo pensa que Jesus acabou - está fora do caminho. Pensa que
sua Palavra foi sepultada e seus planos fracassaram.
Porém, Jesus está em atividade nos lugares escuros: “Se o grão de
trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito
fruto” (Jo 12.24). Ele consente ser enterrado e levantar-se com poder quando
e onde lhe apraz. E suas mãos estão cheias de frutos produzidos no escuro.
“Deus ressuscitou [Jesus], rompendo os grilhões da morte; porquanto não era
possível fosse ele retido por ela” (At 2.24). Jesus empreende seu invencível
plano missionário “segundo o poder de vida indissolúver (Hb 7.16).
Durante vinte séculos, o mundo fez o máximo possível para contê-lo.
Mas ele não pode ser enterrado, contido, silenciado ou limitado. Jesus está
vivo e completamente livre para ir e vir conforme lhe aprouver. “Toda
autoridade no céu” é dele. Todas as coisas foram feitas por meio dele e para
ele, e ele é absolutamente supremo sobre todos os outros poderes (Cl 1.16-17).
Ele sustenta todo o universo pela palavra do seu poder (Hb 1.3). E a pregação
da sua Palavra é a obra das missões que não pode fracassar.
de Jim Elliot: “Não é tolo aquele que dá o que não pode reter para ganhar o
que não pode perder”. Porém, não muitos de nós conheceram a atmosfera
de oração da qual brotaram as paixões missionárias em fins de 1940 e 1950.
David Howard, o diretor-geral da Associação Evangélica Mundial, esteve
naquela atmosfera e relata parte da história do que Deus fez para sua glória
por intermédio das orações dos estudantes daqueles dias.
“Alcancei meus maiores anseios, mas fiquei surpreso ao descobrir que o que
havia conquistado era uma sombra.” O tesouro do mundo enferrujou-se em
suas mãos. A morte de seu pai, as orações de sua irmã, o conselho de um
pastor e o diário de David Brainerd levaram-no a dobrar os joelhos em
submissão a Deus. Em 1802, resolveu abandonar uma vida de prestígio
acadêmico e comodidade, tomando-se um missionário. Aquela foi a primeira
medição do valor do reino em sua vida.
Tomou-se assistente de Charles Simeon, o grande pregador evangélico
da Igreja da Trindade, em Cambridge, até sua partida para a índia, em 17 de
julho de 1805. Seu ministério seria como capelão da Companhia das índias
Orientais. Chegou a Calcutá em 16 de maio de 1806 e, no primeiro dia em
terra firme, encontrou-se com William Carey.
Martyn era um evangélico anglicano; Carey era batista. Havia, por
isso, alguma tensão entre eles sobre o uso da liturgia. Mas Carey escreveu
naquele ano: “Um jovem clérigo, Sr. Martyn, que chegou recentemente, possui
um verdadeiro espírito missionário... Tivemos troca de ideias amistosas e
vamos à casa de Deus como amigos”.
Entre os seus deveres de capelão, o trabalho mais importante de Martyn
era tradução. No período de dois anos, em março de 1808, havia traduzido
parte do Book ó f Common Prayer, um comentário sobre as parábolas e
todo o Novo Testamento para a língua hindustani. Foi, então, designado
para supervisionar a versão persa do Novo Testamento. Esta versão não
foi tão bem recebida como a outra e sua saúde com eçou a declinar du
rante o trabalho. Por isso, decidiu retom ar à Inglaterra para tratam ento,
viajando por terra através da Pérsia, na esperança de revisar sua tradução
no caminho.
Entretanto, ficou tão doente que mal pôde continuar. M orreu entre
estranhos, na cidade de Tocat, na Turquia Asiática, em 16 de outubro de
1812. Ele estava com 31 anos.
O que você não pode ver nesse breve panorama da vida de Martyn são
os seus voos e mergulhos íntimos no espírito, que tomaram suas realizações
tão úteis para pessoas reais. Estou convencido de que a razão pela qual Life
and Diary, de David Brainerd, e Journal and Letters, de Henry Martin,
têm um profundo e permanente poder para a causa da missão é que eles
retratam a vida do missionário como uma constante guerra na alma, não uma
vida de calma ininterrupta. O sofrimento e a luta levam-nos a sentir a
supremacia de Deus em suas vidas.
Ouça-o no barco a caminho da índia:
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DO SOFRIMENTO 87
Martyn não voltou a vê-la novamente neste mundo. Porém, ele não
temia a morte, nem nunca mais ver Lydia, o que tanto desejou. Sua paixão
era fazer conhecida a supremacia de Cristo por toda a vida. Perto do final,
ele escreveu: “Quer eu viva ou morra, possa Cristo ser magnificado em
mim! Se ele tiver trabalho para mim, não posso morrer”. A missão de Cristo
para Martyn havia sido cumprida e ele a fizera muito bem. Suas perdas e dor
fizeram a supremacia de Deus poderosa por toda a sua vida.68
vida, somos capazes de assumir riscos, sofrer a dor e até mesmo a morte,
sem desespero, mas cheios de esperança.
Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o
suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois
igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus.
Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo
sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus
passos (lPe 2.20-21).
Então, para tomar o chamado ainda mais claro, Pedro diz posteriormente:
“Tendo C risto sofrido na carne, arm ai-vos tam bém vós do m esm o
pensamento” (lP e 4.1). O sofrimento de Cristo é um chamado para certa
pré-disposição ao sofrimento, ou seja, isso é normal e o caminho do amor e
das missões frequentemente o requer. Assim, Pedro afirma: “Amados, não
estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-nos,
como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (lP e 4.12).
Sofrer com Cristo não é algo estranho; é o seu chamado, sua vocação.
“Sofrimentos iguais aos vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade
espalhada pelo mundo” (lP e 5.9). Esse é o “pensamento” que precisamos
vestir como armadura, para que não sejamos vulneráveis ao sofrimento como
alguma coisa estranha.
pela manhã, não a uma igreja, mas ao zoológico. Diante da jaula dos
leões, disse-lhes: “Seus antigos pais na fé foram atirados a estas feras
selvagens por causa de sua fé. Saibam que vocês também sofrerão. Vocês
não serão lançados aos leões, mas terão de ser entregues a homens que
são muito piores que os leões. Decidam aqui e agora se desejam prometer
fidelidade a Cristo”. Eles tinham lágrimas nos olhos quando disseram “sim”.
Temos de nos preparar agora, antes de sermos aprisionados. Na prisão
você perde todas as coisas. Suas roupas são tiradas e substituídas por
um uniforme de prisioneiro. Nunca mais haverá belos móveis, tapetes ou
cortinas. Você não terá mais uma esposa ou marido e seus filhos. Você
não terá a sua biblioteca e nunca mais verá uma flor. Nada do que faz a
vida agradável restará. Ninguém resistirá se já não tiver renunciado, antes,
aos prazeres da vida.72
Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio
sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando
o seu vitupério. Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas
buscamos a que há de vir (Hb 13.12-14).
Porque Jesus morreu para nós dessa maneira, saiamos, pois, a ele fora do
arraial, levando o seu vitupério. O escritor não diz: uma vez que ele sofreu
por nós, podemos, pois, ter uma vida fácil, livre de sofrimento, insulto e perigo,
mas exatamente o oposto. O sofrimento de Jesus é a base para caminharmos
com ele e sofrermos a mesma ofensa que ele suportou.
Este é, acima de tudo, um texto missionário. Fora do arraial significa
fora dos limites de segurança e conforto. Fora do arraial estão as “outras
ovelhas” que não são deste rebanho. Fora do arraial estão as nações não
alcançadas pelo evangelho. Fora do arraial estão os lugares e pessoas que
dificilmente são alcançados e requerem muito sacrifício. Mas para isso somos
chamados: “Saiamos, levando o seu vitupério”. E a nossa vocação.
Por mais horrível que seja isso, Pedro disse que, quando a provação
feroz vier, não deveremos ficar surpresos como se algo estranho estivesse
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DO SOFRIMENTO 95
acontecendo conosco. Vivemos com tal facilidade que esse pensamento nos
parece incompreensível. Mas creio que Deus está nos chamando para nos
armarmos com esse pensamento: Cristo sofreu fora da porta brutalmente e
sem justiça, deixando-nos um exemplo para que sigamos seus passos.
Para que não passemos muito depressa por esse relato, sem que nosso
fôlego seja tirado de nós, imagine o que significa receber “quarenta açoites
menos um ”. Significa que ele foi desnudado e amarrado a algum tipo de
poste, para não fugir ou cair. Então, uma pessoa treinada em açoitamento
tomou um chicote, talvez com ou sem fragmentos pontiagudos presos nas
tiras de couro, e fustigou as costas de Paulo 39 vezes. Na metade, ou mesmo
antes, a pele estaria provavelmente começando a se abrir e sangrar. No
final, deveria haver partes do dorso de Paulo que tinham a aparência de
geleia. As lacerações não eram limpas, como se feitas com a lâmina de
uma navalha. A pele ficava dilacerada, o que fazia que a cicatrização fosse
lenta e, provavelmente, complicada por uma infecção. Naquela época, nada
se sabia sobre esterilização, nem havia antissépticos. Levaria meses até
que algum a peça de roupa pudesse ser usada sobre suas costas sem
causar dor.
Agora, com essa visão, imagine que isso acontecesse uma segunda
vez no m esm o dorso, abrindo todas as cicatrizes. Na segunda vez, a
cicatrização foi ainda mais demorada. Então, considere que, alguns meses
depois, acontecesse pela terceira vez. Imagine qual seria a aparência de
suas costas. E então ocorresse de novo. E, finalmente, acontecesse pela
quinta vez. E esse seria apenas um dos sofrimentos de Paulo.
98 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Por que Deus permite isso? Não, essa não é bem a pergunta certa.
Devemos perguntar: Por que Deus determina isso? Essas coisas fazem
parte do plano de Deus para o seu povo, assim como o sofrimento e morte de
Jesus foram parte do plano de salvação de Deus (At 4.27-28; Is 53.10).
É verdade que Satanás pode ser o agente mais imediato do sofrimento, embora
ele nada possa fazer sem a permissão de Deus.75
Paulo menciona o sofrimento como uma dádiva de Deus: “Foi concedida
[a vós] a graça de padecerdes p o r Cristo e não somente de crerdes nele”
(Fp 1.29). Duas vezes Pedro falou do sofrimento como sendo a vontade de
Deus: “Se fo r da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o
que é bom do que praticando o mal... Os que sofrem segundo a vontade de
Deus encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (lP e
3.17; 4.19).76
Tiago colocou toda a sua vida, incluindo os obstáculos aparentemente
acidentais aos nossos planos, sob a vontade soberana de Deus: “Atendei
agora, vós que dizeis: ‘Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá
passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros’. [...] Em vez disso,
devíeis dizer: ‘Se o Senhor quiser, não só viverem os, como tam bém
faremos isto ou aquilo’” (Tg 4.13, 15). Pneus furados, acidentes de carro,
rodovia em obras - seja o que for que o impeça de realizar seus planos -
são da vontade de Deus. “Se Deus quiser, você vai viver e fazer isto
ou aquilo.”
O escritor de Hebreus coloca todo o nosso sofrimento sob o estandarte
da disciplina amorosa de Deus. Não é um acidente que ele permite; é um
plano para a nossa santidade.
Portanto, nossa pergunta é: por quê? Por que Deus designou Paulo
para sofrer tanto como o protótipo do missionário de fronteiras? Deus é
soberano. Como toda criança sabe, ele poderia lançar Satanás no abismo
hoje, se assim desejasse, e todo o seu terrorismo sobre a igreja acabaria.
Mas Deus quer que a missão da igreja avance através da tempestade e do
sofrimento. Quais são as razões? Mencionarei seis.
Paulo não atribui seu sofrimento às mãos de Satanás, porém diz que
Deus o ordenou para o crescim ento da sua fé. Deus rem oveu a força
impulsionadora de vida do coração de Paulo, de modo que ele não teria
escolha senão recorrer a Deus e confiar sua esperança na promessa da
ressurreição. Esse é o primeiro propósito do sofrimento missionário: afastar-nos
do mundo e pôr toda a nossa esperança somente em Deus (cf. Rm 5.3-4).
Uma vez que a liberdade do amor flui dessa espécie de esperança radical
(Cl 1.4-5), o sofrimento é um meio primário de edificação da compaixão nas
vidas dos servos de Deus.
Ao longo dos séculos, milhares de missionários descobriram que os
sofrimentos da vida têm sido a escola de Cristo, na qual são ensinadas lições
de fé que não podem ser aprendidas em nenhum outro lugar. Por exemplo,
100 A L E G R E M - S E OS P O V O S
palavras de Paulo aqui. Ele não está meramente dizendo que tem uma grande
esperança no céu que o capacita a suportar o sofrimento. Isso é verdade.
Mas aqui ele diz que o sofrimento tem um efeito sobre o peso de glória. Aí
parece haver uma conexão entre o sofrimento suportado e o grau de glória
desfrutado. Certamente a glória ultrapassa infinitamente o sofrimento, como
Paulo afirma em Romanos 8.18: “Para mim tenho por certo que os sofrimentos
do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada
em nós”. Entretanto, o peso dessa glória ou a experiência dessa glória parece
ser maior ou menor, dependendo, em parte, da aflição que suportamos aqui
com fé paciente.
Jesus apontou para a mesma direção quando disse: “Bem-aventurados
sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo,
disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o
vosso galardão nos céus” (Mt 5.11-12). Isso proporciona o maior dos
incentivos para nos alegrarmos, uma vez que Jesus afirma que, quanto mais
suportarm os o sofrim ento em d ecorrência da fé, m aior será nossa
recompensa. Se um cristão que sofreu muito por Jesus e outro que não
sofreu muito experimentarem a glória final de Deus exatamente do mesmo
modo e grau, parecerá estranho dizer ao cristão sofredor para regozijar-se e
alegrar-se (naquele mesmo dia, cf. Lc 6.23) porque ele receberá a mesma
recompensa que receberia se não tivesse sofrido. A recompensa prometida
parece ser em resposta ao sofrimento e um prêmio específico por ele. Se
isso não é explícito e certo aqui, parece ser subentendido em outras passagens
do Novo Testamento. Perm itirei que Jonathan Edwards as apresente,
enquanto lemos uma das mais profundas reflexões que já li sobre esse
problema. Aqui Edwards trata, de modo surpreendente, da questão de como
pode haver graus de felicidade em um mundo de perfeita alegria.
C in c o e s p o s a s in s p ir a d o r a s
A p l ic a ç ã o d u p l a e m s u a m o r t e
suficiência expiatória. Elas estão faltando naquelas que não foram conhecidas
nem sentidas pelas pessoas que não estiveram na cruz. Paulo dedicou-se
não somente a levar a mensagem daqueles sofrimentos às nações, mas
também a sofrer com Cristo e por Cristo, de tal maneira que o que as pessoas
veem são “os sofrimentos de Cristo”. Desse modo, ele segue o modelo de
Cristo, entregando sua vida pela vida da igreja. “Tudo suporto por causa dos
eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus,
com eterna glória” (2Tm 2.10).
“Q u a n d o v im o s s e u s p é s c h e io s d e b o l h a s ”
C omo J o s e p h S t a l in s e r v iu à c a u s a
S e g u in d o a d i a n t e p o r t e r s id o p r e s o
Frank começou a falar aos outros sobre Cristo quando os presos tinham
um tempo livre da cela e ficavam algum tempo no pátio. Um muçulmano
chamado Satawa confessou a Cristo na primeira semana e convidou Frank
para responder a perguntas com um grupo de quinze outros muçulmanos.
Em duas semanas, Frank finalmente foi capaz de conseguir um advogado.
Ele também pediu uma caixa de Bíblias. No domingo seguinte, 45 homens se
reuniram no pátio para ouvir Frank pregar. Ele falou sobre como era difícil
para ele estar longe de sua família e sobre quanto Deus amava seu Filho e,
mesmo assim, o havia dado pelos pecadores, para que pudéssemos crer e
viver. Trinta daqueles homens ficaram para orar e pedir ao Senhor para
guiá-los e perdoá-los. Frank foi logo libertado e deportado para os Estados
Unidos, mas agora ele conhece em primeira mão o sentido das palavras de
Jesus: “Isso vos acontecerá para que deis testemunho”.
M il a g r e s e m M o ç a m b iq u e
D e u s f o i m a is b e m se r v id o n a p r isã o
A l e g r e m e n t e m e o r g u l h a r e i n a f r a q u e z a e n a c a l a m id a d e
A l e g r e m e n t e v o c ê a c e it o u o e s p ó l io d a s u a p r o p r ie d a d e
O am or de D e u s é m e l h o r q u e a v id a
O s o f r i m e n t o a l e g r e b r i l h a m a i s q u e a g r a t id ã o
coisas, se o amor assim exigir. Não há regras fáceis para nos dizer se o
chamado de nossas vidas é como o do jovem rico, para darmos tudo o que
possuímos, ou o de Zaqueu, para darmos a metade do que possuímos. O que
está claro no Novo Testamento é que, enquanto vivermos na terra, o sofrimento
com alegria, não a gratidão pela opulência, é o modo como o valor de Jesus
resplandece com mais brilho.
Quem pode duvidar que a supremacia do valor de Cristo brilha mais
intensamente em uma vida como esta:
Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de
Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da
sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por amor
do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar
a Cristo (Fp 3.7-8).
Você não pode mostrar a preciosidade de uma pessoa sendo feliz com
seus dons. A ingratidão certamente provará que o doador não é amado, mas
a gratidão pelos dons não prova que o doador é precioso. O que prova que
o doador é precioso é o coração contente pré-disposto a deixar todos os seus
dons para estar com ele. Eis por que o sofrimento é tão essencial na missão
da igreja. O alvo da nossa missão é que as pessoas de todas as nações
adorem ao verdadeiro Deus. Mas adorar significa usufruir a preciosidade de
Deus acima de tudo, incluindo a própria vida. Será muito difícil levar as
nações a amarem a Deus a partir de um padrão de vida que transmite o
amor pelas coisas materiais. Portanto, Deus determina, nas vidas dos seus
mensageiros, que o sofrimento rompa nossa submissão ao mundo. Quando a
alegria e o amor sobrevivem a essa ruptura, estamos aptos a dizer às nações
com autenticidade e poder: esperem em Deus.
C om o a esper an ç a em D e u s se t o r n a v is ív e l ?
Hades (Lc 16.23). Paulo afirmou que o desejo de ser rico afunda os homens
em ruína e destruição (lT m 6.9).
O propósito de Deus ao nos falar dessas tragédias não é fazer que
odiemos o dinheiro, mas que amemos o Senhor acima de tudo. A severidade
da punição por am or ao dinheiro é um sinal da suprem acia divina.
Desprezamos o valor infinito de Deus quando cobiçamos os bens terrenos.
Eis por que Paulo chama a cobiça de idolatria e diz que a ira de Deus se
voltará contra ela (Cl 3.5-6).
Lull estava com 80 anos quando deu sua vida pelos muçulmanos do
Norte da África. Como suspira a corça pelas correntes das águas - e suspira
ainda mais quando o riacho se aproxima, seu aroma se toma mais agradável e
a sede aumenta - assim suspira a alma do santo para ver Cristo e glorificá-lo
em sua morte (cf. Jo 21.19). Está além da compreensão que os soldados da
cruz estejam satisfeitos em retirar-se da batalha antes que a trombeta anuncie
a vitória - ou um pouco antes de se apresentarem à cerimônia da coroação.
A SUPREMACIA DE DEUS NAS MISSÕES POR MEIO DO SOFRIMENTO 119
Desde o mais jovem ao mais idoso, Cristo está chamando sua igreja
para um comprom isso radical de luta nas m issões m undiais. Ele está
esclarecendo que isso não acontecerá sem dor. Por isso não deve haver
nenhum cristão com pena de si mesmo ou com aquela história de derradeira
abnegação. É simplesmente espantoso quão consistentes são os testemunhos
de missionários que sofreram pelo evangelho. Virtualmente, todos eles têm
testem unhado alegria abundante e as mais importantes compensações.
120 A L E G R E M - S E OS P O V O S
RECONHECENDO QUE
DEUS É SUPREMO
NAS MISSÕES
NECESSIDADE E NATUREZA DA TAREFA
4
A supremacia de Cristo como
foco da fé salvadora
Fazendo a pergunta
diriam que todos serão salvos, quer tenham, em suas vidas, ouvido ou não a
respeito de Cristo. Por exemplo, embora tenha morrido em 1905, o pregador
e romancista George MacDonald continua tendo suas obras publicadas e
lidas como nunca na América, estendendo a influência de sua tendência
universalista. Ele faz do inferno um meio extenso de autorredenção e
santificação. No inferno, a justiça de Deus irá, consequentemente, destruir
todos os pecados de suas criaturas. Dessa maneira, Deus levará todos à
glória." Todos serão salvos. O inferno não é eterno.
Outros diriam que, mesmo que nem todos sejam salvos, não há, ainda,
punição eterna e consciente, porque o fogo do julgamento aniquila aqueles
que rejeitam Cristo. Assim, eles deixam de existir e não experimentam o
castigo consciente. O inferno não é um lugar de castigo eterno, mas um
evento de aniquilação. Essa é a direção que Clark Pinnock, John Stott,
Edward Fudge e outros decidiram seguir.100
Por conseguinte, a pergunta que devemos fazer inclui esta: o castigo
eterno está em jogo? Ou seja, alguém será eternamente cortado da presença
de Cristo e provará o tormento eterno consciente sob a ira de Deus?
Um nervo de urgência
A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá
o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível.
Mateus 3.12 (Lc 3.17)
Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei,
antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
Mateus 10.28 (Lc 12.4-5)
O Filho do homem vai, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele
por intermédio de quem o Filho do homem está sendo traído! Melhor lhe
fora não haver nascido!
Mateus 26.24
Aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para
sempre, visto que é réu de pecado eterno.
Marcos 3.29
A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm
descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da
sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome.
Apocalipse 14.11
Não há, no grego, uma expressão mais forte para eternidade que esta:
“pelos séculos dos séculos” (eis aionas aionon).
profeta, que “não são pessoas individuais, mas símbolos do mundo em sua
variada hostilidade a Deus. Nesse caso, eles não podem sofrer dor”.111
Mas Stott deixa de mencionar Apocalipse 20.15, no qual é dito que “se
o nome de alguém (não somente da besta e do falso profeta) não foi achado
inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”. De
igual modo, Apocalipse 21.8 diz que são pecadores individuais aqueles
cuja “parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber,
a segunda morte” . E o que dura “para sempre e sempre”, em Apocalipse
14.10, é precisamente o tormento das pessoas “com fogo e enxofre” - isto é,
o tormento do “lago que arde com fogo e enxofre” (21.8). Em outras palavras,
o “lago de fogo” está em vista não somente, como sugere Stott, quando a
besta, o falso profeta, a morte e o Hades (20.13) forem lançados ali, mas
também quando indivíduos incrédulos forem finalmente condenados (14.10
11; 20.15; 21.8) e isso mostra definitivamente que as pessoas incrédulas,
individualmente, provarão o consciente tormento eterno.112
O inferno é uma realidade horrível. Falar disso com leviandade prova
que não compreendemos seu horror. Não sei de alguém que tenha exagerado
os terrores do inferno. Provavelmente não podemos exceder as hórridas
imagens que Jesus usou. Tendemos a estremecer.
Por quê? Porque os horrores infinitos do inferno foram planejados por
Deus para serem uma demonstração vivida do valor infinito da sua glória, a
qual os pecadores têm subestimado. A admissão bíblica da justiça do in
ferno113 é o testemunho mais claro da imensidão do pecado do fracasso de
glorificar a Deus. Todos nós falhamos. Todas as nações falharam. Portanto,
o peso da culpa infinita permanece sobre a cabeça de todos os humanos, por
causa da nossa falha em nos deleitarmos em Deus mais do que em nossa
própria autossuficiência.
A visão de Deus nas Escrituras é de um Deus majestoso e soberano
que faz todas as coisas para magnificar a grandiosidade da sua glória para a
satisfação eterna do seu povo. E a visão do homem nas Escrituras é que ele
suprime essa verdade e encontra mais alegria em sua própria glória do que
na de Deus.
Quando Clark Pinnock114 e John Stott115 repetem a objeção centenária
de que a punição eterna é desproporcional à vida finita de pecado, eles
desconsideram o ponto essencial que Jonathan Edwards viu tão claramente:
os graus de culpabilidade não dependem de quanto tempo você ofende a
dignidade, mas de quão elevada é a dignidade que você ofende.
Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a
ressurreição dos mortos. Porque assim como em Adão todos morrem, assim
também todos serão vivificados em Cristo. Cada um, porém, por sua própria
ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda.
ICoríntios 15.21-23
Todo o livro de Apocalipse retrata Cristo como Rei dos reis e Senhor dos
senhores (17.14; 19.16)- o governador universal sobre todos os povos e poderes.
Apocalipse 5.9 mostra que ele comprou para si um povo de todas as tribos e
línguas do mundo. Sua redenção é o meio pelo qual homens e mulheres de
todas as culturas tomam-se parte do seu reino. (Veja Jo 11.51-52)
E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não
existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa
que sejamos salvos.
Atos 4.12
A SUPREMACIA DE CRISTO COMO FOCO DA FÉ SALVADORA 13 3
A questão que nos diz respeito aqui é se algumas (talvez apenas umas
poucas) pessoas são avivadas pelo Espírito Santo e salvas pela graça mediante
a fé em um Criador misericordioso, embora nunca tenham ouvido falar de
Jesus nesta vida. Em outras palavras, há pessoas piedosas em outras religiões,
as quais confiam humildemente na graça de Deus que conhecem por meio
da natureza (Rm 1.19-21) e, assim, recebem a salvação eterna?120
Algo de imensa importância histórica aconteceu com a vinda do Filho
de Deus ao mundo. Tão grande foi a importância desse evento que o foco da
fé salvadora foi, daí em diante, colocado apenas em Jesus. Tão completamente
134 A L E G R E M - S E OS P O V O S
O “mistério de Cristo”
Havia uma verdade que não foi plena e claramente revelada antes da
vinda de Cristo. Essa verdade, agora revelada, é chamada de “mistério de
C risto” . E a verdade pela qual pessoas de todas as nações do mundo
seriam plenos e completos participantes com o povo escolhido de Deus
(Ef 3.6). Chama-se “mistério de Cristo” porque se realizou “por meio do
evangelho” (3.6) que é sobre ele.
Portanto, o evangelho não é a revelação de que as nações já pertencem
a Deus. O evangelho é o instrumento para levar as nações à igualdade de
condições para a salvação. O mistério de Cristo (atraindo as nações à herança
de Abraão) está acontecendo por meio da pregação do evangelho. Paulo vê
sua própria vocação apostólica como o meio usado graciosamente por Deus
para declarar as riquezas do Messias para as nações (3.8).
Assim, uma mudança colossal ocorreu na história da salvação. Antes
da vinda de Cristo, uma verdade não tinha sido revelada plenamente - isto é,
A SUPREMACIA DE CRISTO COMO FOCO DA FÉ SALVADORA 13 5
(25a) Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar (25b) segundo o
meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, (25c) conforme a revelação
do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos, (26a) e que, agora,
se tomou manifesto (26b) e foi dado a conhecer por meio das Escrituras
proféticas, (26c) segundo o mandamento do Deus eterno, (26d) para a
obediência por fé, (26e) entre todas as nações, (27) ao Deus único e
sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos
séculos. Amém!
Romanos 16.25-27
Em outras palavras, o que Paulo prega não está fora de sincronia com os
propósitos de Deus. A pregação “se harmoniza” com tais propósitos. Ela
expressa e se conforma a eles. Sua pregação é parte do plano de Deus que
está sendo revelado agora na História.
Como ele está sendo revelado? Ele está sendo desvendado por meio
dos escritos proféticos (26c). Isso significa que o m istério não estava
totalmente encoberto nos tempos passados. Havia indicadores nos textos
proféticos. Tanto assim que, agora, esses escritos do Antigo Testamento são
usados para fazer conhecido o mistério (veja, por exemplo, como Paulo faz
isso em Romanos 15.9-13).
O que é, então, o mistério? O versículo 26c-26e diz que esse mistério
será conhecido segundo “o mandamento do Deus etemo para a obediência
por fé entre todas as nações” . O modo mais natural de interpretar isso é
dizer que o mistério é o propósito de Deus para ordenar todas as nações a
obedecerem a ele pela fé.
Mas o que faz disso um mistério é que a ordem às nações para a
obediência pela fé é especificamente uma ordem para terem fé em Jesus, o
Messias de Israel, e, assim, tomarem-se parte do povo de Deus e herdeiros
de Abraão (Ef 2.19-3.6). Em Romanos 1.5, Paulo relata seu chamado para
as nações com estas palavras: “Viemos a receber graça e apostolado por
amor do seu nome [de Cristo], para a obediência por fé, entre todos os
gentios” . Aqui ele deixa claro que o termo “obediência por fé”, em Romanos
16.26d, é um chamado por amor do nome de Cristo. E, consequentemente,
um chamado para reconhecimento, confiança e obediência a Cristo. Esse é
o mistério escondido por séculos - que todas as nações seriam conduzidas a
confiar no Messias de Israel e seriam salvas por meio dele.
A palavra “agora”, em 26a, é fundamental. Ela se refere à plenitude do
tempo na história redentora, quando Deus pôs Cristo à frente no palco da
História. De “agora” em diante, as coisas são diferentes. Chegou o tempo
de o mistério ser revelado, de ordenar a todas as nações que obedeçam a
Deus pela fé em Jesus, o Messias.
Deus está, “agora”, fazendo uma coisa nova. Com a vinda de Cristo,
Deus não mais permitirá “que todos os povos [andem] nos seus próprios
caminhos” (At 14.16, veja mais adiante). Chegou o tempo para que todas as
nações sejam chamadas ao arrependimento e para que o m istério seja
completamente revelado: por intermédio da fé em Cristo, as nações “são
co-herdeir[as], membros do mesmo corpo e copartícipantes da promessa
em Cristo Jesus p o r meio do evangelho” (Ef 3.6). Não sem o evangelho!
Mas p o r meio do evangelho. Isso ficará cada vez mais evidente e funda
mental à medida que prosseguirmos.
A SUPREMACIA DE CRISTO COMO FOCO DA FÉ SALVADORA 137
ao seu caminho... A ignorância esteve no mundo pelo tempo que ele decidiu
não ter conhecimento dela.” 122
Isso não significa que, no Antigo Testamento, não houvesse mandamentos
e instruções para Israel dar testemunho às nações da graça de Deus e
convidá-las a participar dela (por exemplo, SI 67; Gn 12.2-3). Significa, em
vez disso, que, por gerações, Deus não interveio para purificar, capacitar e
comissionar seu povo, com a encarnação, a crucificação, a Grande Comissão
e o derramamento do poder do Espírito para enchê-lo. Em vez disso, por
seus sábios propósitos, “permitiu que todos os povos andassem nos seus
próprios caminhos” - e permitiu que sua própria nação tivesse grandes falhas
em reverência, santidade e amor para que outras nações enxergassem a
necessidade completa de um Redentor da corrupção do pecado e da maldição
da lei e das limitações da antiga aliança para a evangelização do mundo.
Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos. Mesmo hoje vivemos
em um tempo semelhante de “endurecimento” - só que agora as posições
estão invertidas e é Israel que é ignorado por um tempo.
Não quero, irmãos [gentios], que ignoreis este mistério, para que não
sejais presumidos em vós mesmos, que veio endurecimento em parte a
Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o
Israel será salvo.
Romanos 11.25-26
Ele diz que foi a sabedoria de Deus que determinou que os homens não
o conhecessem por sua sabedoria. Em outras palavras, este texto é um
exemplo e uma ilustração de como Deus não levou em conta (isto é, deu
apenas uma olhada por cima) os tempos de ignorância e permitiu aos homens
seguirem seus próprios caminhos.
A SUPREMACIA DE CRISTO COMO FOCO DA FÉ SALVADORA 13 9
Por quê? Para deixar bem claro que os homens, por sua própria vontade,
por sua própria sabedoria (religião!) nunca conheceriam a Deus verdadeiramente.
Uma obra extraordinária de Deus seria necessária para levar as pessoas ao
verdadeiro e salvador conhecimento de Deus, a saber, a pregação de Cristo
crucificado: “Aprouve a Deus salvar aos que creem, pela loucura da
pregação”. Isso foi o que Paulo quis dizer em Efésios 3.6, quando afirmou
que o mistério de Cristo é que as nações se tomem participantes da promessa
“pelo evangelho”. Assim, ICoríntios 1.21 e Efésios 3.6 apresentam ideias
paralelas e totalmente cruciais para que seja visto que neste “agora” da
história redentora, conhecer o evangelho é o único meio de se tomar um
herdeiro da promessa.
Toda jactância é excluída quando Deus mostra que a própria sabedoria
humana em todas as nações - as religiões que criou - não leva o ser humano
até ele. Em vez disso, Deus salva, agora, por meio da pregação, que é “Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os
que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de
Deus e sabedoria de Deus” (IC o 1.23-24). Dessa maneira, toda jactância é
excluída. Porque, entregue a si mesmo, o homem não chega a Deus.
Em seu livro inspirador// Visionfo r Missions, Tom Wells conta a história
de como William Carey ilustra essa convicção em sua própria pregação. Carey
era um missionário batista inglês, que foi para a índia em 1793. Ele nunca
voltou ao seu lar, mas perseverou por quarenta anos no ministério evangélico.
Certa vez, em 1797, ele estava conversando com um brâm ane.
O brâmane estava defendendo a adoração de ídolos e Carey citou Atos
14.16 e 17.30. Antigamente, Deus “permitiu que todos os povos andassem
nos seus próprios caminhos”, disse Carey, “agora, porém, notifica aos homens
que todos em toda parte se arrependam” . “De fato”, disse o nativo, “acho
que Deus deve arrepender-se por não enviar-nos o Evangelho mais cedo”.
Carey não ficou sem resposta. Ele disse:
Suponha que um reino tenha sido dominado, por muito tempo, pelos
inimigos do seu verdadeiro rei e ele, embora possuísse poder suficiente
para conquistá-los, suportou que prevalecessem e se estabelecessem da
forma que desejassem. Não teria sido a coragem e a sabedoria daquele rei
mais evidente se ele os tivesse exterminado do que se tivesse resistido a
eles no começo, impedindo-os de invadir o país? Assim, pela difusão da
luz do Evangelho, a sabedoria, poder e graça de Deus serão mais evidentes
ao dominar tais idolatrias enraizadas e ao destruir todas as trevas e
vícios que prevaleceram universalmente neste país do que se eles não
tivessem sofrido por andarem em seus próprios caminhos durante tantos
anos no passado.123
140 A L E G R E M - S E OS P O V O S
salvadora de Deus. E, portanto, de acordo com esse propósito, daí por diante,
Cristo é o único e necessário foco da fé salvadora. Sem conhecimento dele,
ninguém que tenha a capacidade física de conhecê-lo será salvo.124
Essa virada tremendamente importante na história redentora dos “tem
pos de ignorância” e da ocultação do “mistério de Cristo” não é levada
suficientemente a sério por aqueles que dizem que as pessoas podem ser
salvas hoje sem conhecer a Cristo, porque pessoas que não conheceram a
Cristo foram salvas no Antigo Testamento. Por exemplo, Millard Erickson
raciocina dessa maneira, porém não reconhece com suficiente seriedade a
extraordinária importância que o Novo Testamento vê no momento histórico
decisivo da encarnação, que encerra os “tempos de ignorância” e manifesta
o “mistério de Cristo”.
Assim, Atos 10.35 provavelmente não indica que Comélio já está salvo
quando diz que as pessoas em grupos étnicos não alcançados que temem a
Deus e fazem o que é certo são aceitas por ele. Comélio tinha de ouvir a
mensagem do evangelho para ser salvo.
2. Pedro chega a esse ponto no fim de seu sermão em 10.43. Ele
apresenta o fechamento da mensagem com estas palavras: “Dele [isto é,
Cristo] todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome,
todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” . O perdão dos
pecados é essencial para a salvação. Ninguém, cujos pecados contra Deus
não sejam perdoados por ele, é salvo. E Pedro diz que o perdão vem pela
crença em Cristo e a fé em Cristo vem por meio do seu nome.
Ele não afirma: “Estou aqui para anunciar-lhes que aqueles dentre vocês
que temem a Deus e agem retamente já estão perdoados” . Ele diz: “Estou
aqui para que possam ouvir o evangelho e receber perdão em nome de Cristo
por meio da fé nele” . Portanto, novamente, é improvável que o versículo 35
signifique que Comélio e sua família já estavam perdoados dos seus pecados
antes de ouvirem a mensagem de Cristo.
3. Em qualquer outra parte do livro de Atos, mesmo aqueles que são os
mais éticos e tementes a Deus, a saber, os judeus, são instruídos a se
arrependerem e crerem, a fim de serem salvos. Os judeus, no Pentecostes,
foram chamados de “homens piedosos” (2.5), assim como Comélio foi
chamado de homem piedoso (em 10.2). Mas Pedro encerrou sua mensagem
em Atos 2, chamando mesmo os judeus piedosos a se arrependerem e serem
batizados em nome de Jesus para o perdão de seus pecados (2.38). O mesmo
ocorre em Atos 3.19 e 13.38-39.
Portanto, Lucas não está tentando nos dizer nesse livro que pessoas
piedosas, tementes a Deus e que praticam o que é justo, da melhor maneira
que podem, já estão salvas e não têm qualquer necessidade do evangelho.
O evangelho teve seu início entre as pessoas mais piedosas do mundo, isto é,
os judeus. Eles tinham mais vantagens no conhecimento de Deus que
quaisquer outras pessoas da terra. Não obstante, foram inform ados
repetidamente: a piedade, as obras de justiça e a sinceridade religiosa não
resolvem o problema do pecado. A única esperança é crer em Jesus.
4. A quarta razão para afirmar que o versículo 35 não quer dizer que
Comélio e outros como ele já estão salvos é encontrada em Atos 11.18.
Quando as pessoas ouviram Pedro contar a história de Comélio, suas dúvidas
iniciais foram silenciadas. Lucas relata: “ ... e glorificaram a Deus, dizendo:
Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para
v id a ”. Em o u tra s p a la v ra s , e les a in d a não tin h a m a v id a e te rn a.
O arrependimento conduz à vida etema (literalmente, é “para a vida eterna”).
144 A L E G R E M - S E OS P O V O S
C omo C o r n é l io foi “ a c e it á v e l ” a D eu s?
Um Cornélio moderno
C om élio não teria sido salvo se alguém não levasse o evangelho a ele.
E ninguém que possa apreender a revelação (veja a nota 27) será salvo hoje
sem o evangelho.
Consequentemente, Comélio não representa pessoas que são salvas
sem ouvir e crer no evangelho. Antes, ele ilustra a intenção de Deus de
escolher um povo para o seu nome de “qualquer nação” (At 10.35), por meio
do envio de mensageiros do evangelho, apesar das diferenças culturais que
já serviram de impedimento.
Devemos aprender com a igreja dos judeus em Jerusalém que “aos
gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (11.18). Mas
devemos estar seguros de que aprendemos isso do mesmo jeito que eles.
Eles inferiram isso do fato de os gentios acreditarem no evangelho que
Pedro pregou e receberem o Espírito Santo. Eles não deduziram que a
aceitação dos gentios foi por temor de Deus e bons atos.
Parece, portanto, que a intenção de Lucas ao registrar a história de
Comélio é mostrar que os gentios podem se tomar parte do povo escolhido
de Deus pela fé em Cristo, a despeito de sua “impureza” cerimonial. O fato
não é que os gentios já são parte do povo escolhido de Deus porque eles
temem a Deus e praticam bons atos. O versículo-chave é Atos 1 1 .1 4 - “ele
[Pedro] te dirá palavras mediante as quais serás salvo”.
A razão pela qual essa mensagem salva é que ela proclama o nome
que salva - o de Jesus. Pedro disse que Deus visitou os gentios “a fim de
construir dentre eles um povo para o seu nome” (At 15.14). E evidente,
pois, que a proclamação pela qual Deus escolhe um povo para o seu nome
seria a mensagem que depende do nome do seu Filho Jesus. Isso é, na verdade,
o que vimos na pregação de Pedro na casa de Comélio. O sermão atinge seu
clímax com estas palavras sobre Jesus: “Por meio de seu nome, todo aquele
que nele crê recebe remissão de pecados” (At 10.43).
A necessidade implícita de ouvir e aceitar o nome de Jesus que vemos
na história de Comélio se tom a explícita em Atos 4.12, no clímax de outro
sermão de Pedro, desta vez perante os líderes judeus em Jerusalém:
multidão e Pedro pregou. Sua mensagem tomou evidente que o que estava
em jogo aqui não era meramente um fenômeno religioso. Aquilo dizia respeito
a qualquer um no mundo.
Então, de acordo com Atos 4.1, os sacerdotes, o capitão do templo e os
saduceus vieram e prenderam Pedro e João, colocando-os em um cárcere
até o dia seguinte. Na manhã seguinte, as autoridades, os anciãos e os escribas
se reuniram e interrogaram Pedro e João. No curso do interrogatório, Pedro
expôs a implicação do senhorio universal de Jesus: “Não há salvação em
nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado
entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (4.12).
Precisamos sentir a força dessa alegação universal atentando para as
várias expressões muito seriamente. A razão de não haver salvação em
nenhum outro é que “abaixo do céu não existe nenhum outro nome (não
apenas nenhum outro nome em Israel, mas nenhum outro nome abaixo do
céu, incluindo o céu sobre a Grécia, Roma, Espanha, etc.), dado entre os
homens (não apenas entre os judeus, mas entre todos os humanos de todos
os lugares), pelo qual importa que sejamos salvos”. Estas duas frases, “abaixo
do céu” e “entre os homens”, reforçam a alegação da universalidade em sua
extensão mais plena.
Porém, há, ainda, aqui, mais coisas que precisamos ver. Geralmente a
interpretação dos comentaristas de Atos 4.12 é que, sem a crença em Jesus,
uma pessoa não pode ser salva. Em outras palavras, Atos 4.12 é visto como
um texto essencial para responder a indagação de que aqueles que nunca
ouviram o evangelho de Jesus podem ser salvos. M as Clark Pinnock
representa outros, que dizem que
Atos 4.12 não diz coisa alguma sobre [essa questão]... ele não faz
nenhuma observação sobre o destino dos pagãos. Embora essa seja uma
questão de grande importância para nós, não há ninguém a respeito de
quem Atos 4.12 expresse um julgamento, quer positivo ou negativo.128
Em vez disso, o que Atos 4.12 diz é que “a salvação, em sua plenitude,
está disponível à humanidade somente porque Deus, na pessoa de seu Filho
Jesus, proveu-a”.129 Em outras palavras, o versículo afirma que a salvação
vem somente por meio da obra de Jesus e não apenas pela fé em Jesus. Sua
obra pode beneficiar aqueles que se relacionam adequadamente com Deus
sem ele, por exemplo, com fundamento na revelação geral na natureza.
O problema com a interpretação de Pinnock é que ela não considera o
verdadeiro significado da focalização de Pedro sobre o “nome” de Jesus.
“Abaixo do céu não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos
salvos.” Pedro está dizendo alguma coisa a mais do que não haver outra
A SUPREMACIA DE CRISTO COMO FOCO DA FÉ SALVADORA 149
fonte de poder salvador e que você pode ser salvo por algum outro nome.
O fato de dizer que “não existe nenhum outro nome” significa que somos
salvos por invocar o nome do Senhor Jesus. Invocar seu nome é a nossa
entrada na comunhão com Deus. Se alguém é salvo por Jesus incógnito, não
se pode dizer que tenha sido salvo por seu nome.
Observamos, anteriormente, que Pedro afirmou, em Atos 10.43: “P o r
meio de seu nome, todo o que nele crê recebe rem issão de pecados” .
O nome de Jesus é o foco da fé e do arrependimento. A fim de crer em Jesus
para obter o perdão dos pecados, você deve crer em seu nome, o que significa
que você precisa ouvir a respeito dele e saber que ele é um homem especial
que fez uma obra salvadora específica e levantou-se dentre os mortos.
O ponto de Atos 4.12 para as missões se toma explícito pelo modo
como Paulo colocou a questão do “nome do Senhor” Jesus em Romanos
10.13-15. Esta passagem mostra que as missões são essenciais porque “todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram?
E como ouvirão, se não há quem pregue?”
cumprindo as exigências da lei de Deus, mas Israel falhando com sua própria
lei em alcançar o direito com Deus - é que “o fim da lei é Cristo, para justiça
de todo aquele que crê” (Rm 10.4). Israel perdeu a essência de sua própria
lei, a saber, apontar para Cristo e o caminho da justificação pela fé como a
única esperança de cumprimento da lei (9.32). E, então, quando Cristo
apareceu, Israel, “desconhecendo ajustiça de Deus e procurando estabelecer
a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (10.3). Os gentios,
porém , abraçaram a prom essa de que “aquele que nela crê não será
confundido” (9.33).
Paulo faz a tradução para seu próprio evangelho e o cenário missionário
de sua vida em Romanos 10.8, em que diz que a mensagem da lei do Antigo
Testamento, apontando para Cristo, o Redentor, é “a palavra da fé que
proclamamos”. Então ele diz explicitamente que esse Redentor é Jesus e
que toda salvação agora é obtida confessando o seu nome - assim como a
salvação, no Antigo Testamento, era obtida pela aceitação dos indícios de
sua vinda, confiando na graça de Deus, que a oferecia. Assim, o verso 9 diz:
“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”.
Paulo salienta que a salvação pela fé e pela confissão de Jesus como
Senhor era a esperança do Antigo Testamento. Ele faz isso citando Isaías
28.16 em Romanos 10.11: “Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele
crê não será confundido”, e citando Joel 2.32 em Romanos 10.13: “Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Portanto, quando Romanos
10.11 cita Isaías 28.16, “todo aquele que nele crê não será confundido”, a
referência é claramente a Jesus, a pedra de esquina prenunciada. E quando
10.13 cita Joel 2.32, “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”,
Jesus é o “Senhor” a quem ele se refere, muito embora, em Joel 2.32, o
Senhor mencionado seja Yahweh. A razão é que 10.9 diz: “Se, com a tua
boca, confessares Jesus como Senhor... serás salvo”.
Paulo está esclarecendo que, nessa nova era da história redentora,
Jesus é o alvo e o clímax do ensino do Antigo Testamento e, portanto, agora
figura como Mediador entre o homem e Yahweh, como objeto da fé salvadora.
O fluxo do pensam ento de R om anos 10.14-21 não é fácil de
compreender. A seqüência de perguntas nos versículos 14 e 15 é muito fa
miliar, e estes versos são muito citados em relação à obra missionária:
Até então, a questão principal dos versículos 14-16 seria que, embora
Deus tivesse providenciado os pré-requisitos para a invocação do Senhor,
muitos, todavia, não obedeceram.
M as o que está em vista aqui, quando Paulo diz que eles não
obedeceram? A resposta a essa pergunta conduz a dois modos diferentes de
se entender o raciocínio de Paulo em toda a passagem. John Murray e Charles
Hodge apresentam essas duas linhas.
Murray diz: “No versículo 16, o apóstolo retorna àquele assunto que
permeia esta parte da epístola, a descrença de Israel.”131 De igual modo,
Murray afirma que o foco sobre a descrença de Israel continua até o final do
parágrafo. Assim, por exemplo, o versículo 18 também se refere a Israel:
“Mas pergunto: Porventura, não ouviram? Sim, por certo: ‘Por toda a terra
se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos confins do m undo’.” Ele
menciona que a citação do salmo 19.4 (que originalmente se referia às obras
da natureza declarando a glória de Deus) é usada por Paulo para descrever
a proclamação do evangelho de Jesus por todo o mundo. E o fato é que, se o
evangelho está sendo anunciado a todo o mundo, “não se pode, portanto,
alegar que Israel não tenha ouvido”.132 Assim, o foco permanece sobre Is
rael. A essência do pensamento de Paulo ao longo de Romanos 10 é que
Israel conhece o evangelho e está, apesar disso, rejeitando-o e, portanto, é
responsável por isso.
152 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Paulo não lhes diz que mesmo os melhores entre eles já estão perdoados
graças à obediência à lei. Ele lhes oferece perdão por meio de Cristo. E ele
coloca como condição para a “libertação” (“justificação”) do pecado a crença
em Cristo. Quando a sinagoga, mais tarde, se opõe a esta mensagem, Paulo
afirma, em Atos 13.46-48:
por Deus, para que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no
sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta
deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito Santo. Tenho, pois,
motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas concernentes a Deus.
Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas
que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência,
por palavra e por obras.
Romanos 15.15-18
Um novo dia veio com Jesus Cristo. O povo de Deus está sendo edificado
de tal modo que não virá mais a falhar em sua tarefa de alcançar as nações.
Nesse novo dia, Deus não permitirá que o seu povo negligencie sua missão e
que as nações sigam seu próprio caminho. Ele está estabelecendo uma igreja
“para que os demais homens busquem o Senhor”.
E ele agora congraçará todos aqueles entre as nações que são chamados
pelo seu nome! É a sua nova obra! Todos aqueles que foram predestinados
serão chamados (Rm 8.30). Todos os que foram pré-determinados para a
vida etema crerão (At 13.48). Todos os que foram resgatados serão reunidos
dentre todos os povos sob o céu (Ap 5.9). O próprio Deus é o principal
agente desse novo movimento e ele tomará um povo para o seu nome entre
as nações (At 15.14).
A SUPREMACIA DE CRISTO COMO FOCO DA FÉ SALVADORA 157
Os escritos de João
Os “filhos de Deus dispersos” (11.52) são “as outras ovelhas que não
são deste aprisco” (10.16). E quando observamos a descrição de João da
consumação da causa missionária no Apocalipse, verificamos que essas
“ovelhas” e “filhos” são verdadeiramente de todas as nações.
Conclusão
1. Citando Atos 18.10 (“tenho muito povo nesta cidade”), ele diz que
“o conhecimento de que o Espírito Santo tem operado nos corações
das pessoas antes de ouvirem as boas-novas deve nos encorajar”.139
Concordo. Mas essa não é a questão. Operar no coração de alguém
para prepará-lo para aceitar o evangelho é m uito diferente de
operar no coração de modo que a pessoa seja salva sem o evangelho.
O prim eiro incentiva a missão, o segundo, não.
2. Ininteligivelmente, ele argumenta que “porque a grande maioria não
tem reagido favoravelm ente à revelação geral, ela precisa ser
confrontada pelas reivindicações de Jesus”.140 Isso significa dizer
que, se você crê que alguns são salvos sem ouvir as reivindicações
de Cristo, você será mais motivado a compartilhar essas reivindicações
porque muitos não são salvos dessa maneira. Mas isso não é um
argumento em favor da posição de que alguns podem ser salvos sem
o evangelho “ aum enta” nossa m otivação para evangelizar os
perdidos. Pelo contrário, é um argumento em favor de que, quanto
mais necessárias são as reivindicações de Cristo, maior é a motivação
para compartilhá-las.
160 A L E G R E M - S E OS P O V O S
3. Terceiro, ele sustenta que acreditar que alguns são salvos sem a
pregação do evangelho “am plia nossa com preensão de todo o
evangelho”.141 Em outras palavras, se ainda prosseguirmos de modo
entusiasmado com as missões, precisamos fazer isso por razões mais
amplas do que simplesmente proporcionar o livramento do inferno
(que alguns já têm antes de chegar lá). Precisamos desejar trazer as
bênçãos da salvação para esta vida. Suponho que isso seja verdade.
Mas por que devemos presumir que a igreja será mais motivada a
levar essas bênçãos ao povo do que ele em levar a bênção da vida
eterna? O risco que estou disposto a assumir para salvar uma pessoa
de uma execução não é intensificado por me dizerem - “ele não está
mais no corredor da morte, mas seguramente você desejará sentir
toda a mesma urgência de ajudá-lo a levar uma boa vida”.
4. Finalmente, Ellenberger argumenta que acreditar que alguns estão
salvos sem a pregação do evangelho “reafirm a o am or como
motivação primária”.142 Novamente, isso é ininteligível para mim,
um a vez que parece admitir que a urgência de missões, movida pelo
desejo de livrar as pessoas do tormento eterno, não é amor. Como
dizer que alguém é salvo sem o evangelho faz um apelo m aior
ao amor?
amor (de nossa perspectiva humana limitada) pode não ver a obra missionária
da mesma maneira que Deus.
Deus pode ter em mente que o alvo da operação de resgate deve reunir
pecadores salvos de todos os povos do mundo (de ambos os transatlânticos),
mesmo se alguns dos salva-vidas bem-sucedidos tivessem de deixar um fértil
povo alcançado (o primeiro transatlântico) a fim de laborar por um (possivel
mente menos frutífero) povo não alcançado (o segundo transatlântico).
Em outras palavras, a tarefa das missões pode não ser meramente
ganhar145 o maior número possível de indivíduos entre os grupos de pessoas
mais receptivos do mundo, mas, em vez disso, ganhar indivíduos de todos os
grupos de pessoas do mundo. Pode não ser suficiente definir as missões
como o ato de deixar o litoral seguro da nossa própria cultura para realizar
operações de resgate em mares estranhos de outras línguas e culturas. Algo
que possa nos impulsionar a deixar uma operação de resgate e assumir outra
precisa ser acrescentado a essa definição.
O que veremos neste capítulo é que o chamado de Deus para missões
nas Escrituras não pode ser definido em termos de intercâmbio cultural
para maximizar o número total de indivíduos salvos. Pelo contrário, o desejo
de Deus para as missões é que todos os grupos de pessoas sejam alcançados
com o testemunho de Cristo e que um povo dentre todas as nações invoque
o seu nom e.146
Creio que essa definição de missões resulte, de fato, no maior número
possível de adoradores inflamados do Filho de Deus. Mas isso fica a cargo
de Deus. Nossa responsabilidade é definir as missões do seu modo e, então,
obedecer. Isso significa que devemos realizar uma investigação cuidadosa
de como o Novo Testamento retrata a especial tarefa missionária da igreja.
Mais especificamente, significa que devemos constatar biblicamente a am
plitude do conceito de “povos não alcançados” como sendo o foco da
atividade missionária.
Por que esse fato não é mais amplamente conhecido? Receio que toda a
nossa exultação pelo fato de todos os países terem sido penetrados permitiu
que muitos supusessem que todas as culturas também tenham sido
alcançadas. Esse mal entendido é uma doença tão disseminada que merece
um nome especial. Vamos chamá-la “cegueira dos povos”, isto é, cegueira
para a existência de povos separados dentro de países - uma cegueira,
posso acrescentar, que parece mais predominante nos Estados Unidos e
entre os missionários norte-americanos do que em qualquer outro lugar.148
Precisamos, também, deixar claro, de início, que não vou usar o termo
“grupo de pessoas” de maneira sociológica precisa como distinto de “povo”.
Concordo com aqueles que dizem que o conceito bíblico de “povos” ou
“nações” não pode ser estendido para incluir indivíduos agrupados sobre
uma base de coisas como ocupação, residência ou deficiências. Esses são
grupos sociológicos muito relevantes para a estratégia evangelística, mas
não figuram na definição do significado bíblico de “povos” ou “nações”.
Harley Schreck e David Barrett propuseram a distinção entre a categoria
sociológica “grupo de pessoas” da categoria etnológica “povos”.152Concordo
com a distinção de categoria, mas considerei a terminologia uma camisa de
força lingüística que não posso vestir. O singular “povo”, na língua inglesa,
não significa claramente um agrupamento distinto. Portanto, quando uso “grupo
de pessoas”, estou somente chamando a atenção para o conceito de grupo
em lugar de indivíduos. O contexto tomará clara a natureza do agrupamento.
Ela não foi dada unicamente aos apóstolos para o seu ministério, mas também
à igreja para o seu ministério até o final dos tempos.
A base para se afirmar isso vem do próprio texto. A promessa do
versículo 20 diz: “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação
do século”. As pessoas a quem Jesus se refere ao usar a palavra “convosco”
não podem ser limitadas aos apóstolos, uma vez que eles fizeram parte de
uma geração que já morreu. A promessa estende-se “até à consumação do
século”, isto é, até o dia do juízo na segunda vinda de Cristo (cf. M t 13.39-40,
49). Jesus está falando aos apóstolos como representantes da igreja, a qual
existirá até o fim dos séculos. Ele está assegurando à igreja sua presença
permanente e ajuda até o fim. Isso é significativo porque a promessa do
versículo 20 foi dada para sustentar e incentivar o mandamento de fazer
discípulos de todas as nações. Por conseguinte, se a promessa sustentada
foi expressa em termos que perduram até o fim dos séculos, podemos
corretamente admitir que a ordem de fazer discípulos também dura até o
fim dos séculos. Ela não foi atribuída somente aos apóstolos. Eles receberam
o mandamento como representantes da igreja, que permanece até o fim
dos tempos.
Concluo, portanto, que a Grande Comissão foi conferida não apenas
aos apóstolos, mas também à igreja, que perdurará até à consumação dos
séculos. Isso também é sustentado pela autoridade que Jesus reivindica no
versículo 18: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”. Isso o
habilita a fazer o que havia anteriormente prometido em Mateus 16.18, quando
disse: “Edificarei a minha igreja”. Portanto, a validade permanente da Grande
Comissão depende da autoridade contínua de Cristo sobre todas as coisas
(Mt 28.18), do propósito de Cristo de edificar sua igreja (Mt 16.18) e da sua
promessa de estar presente e ajudar na missão da igreja até à consumação
dos séculos (Mt 28.20).
Desse modo, essas palavras do Senhor são fundamentais para se decidir
qual deve ser, hoje, a tarefa missionária da igreja. Especificamente as palavras
“fazei discípulos de todas as nações” devem ser examinadas a fundo. Elas
contêm a importantíssima frase “todas as nações”, que é frequentemente
referida na forma grega panta ta ethne (panía = todas; la = as; ethne =
nações). A razão de esta ser uma frase tão importante é que ethne, quando
traduzida como “nações”, soa como um agrupamento político ou geográfico.
Esse é o seu uso mais comum no inglês, mas veremos que não é o que
significa em grego. Nem sempre a palavra em inglês quer significar
realmente isso. Por exemplo, dizemos a Nação Cherokee ou a Nação Sioux.
Isso significa algo como: povo com um a identidade étnica unificadora. De
fato, a palavra “étnica” vem da palavra grega ethnos (singular de ethne).
A SUPREMACIA DE DEUS ENTRE “TODAS AS NAÇÕES” 167
Nossa inclinação deve ser, pois, assum ir a forma panta ta ethne como
uma referência a “todos os grupos étnicos”. “Ide, portanto, fazei discípulos
de todos os grupos étnicos.”
Entretanto, isso precisamente é o que precisa ser verificado por uma
investigação cuidadosa do contexto bíblico mais amplo e especialmente pelo
uso de ethnos no Novo Testamento e seu contexto no Antigo Testamento.
O que vimos, então, é que o plural ethne pode significar indivíduos gentios
que podem não ser parte de um grupo único de pessoas ou pode significar
(como sempre ocorre no singular) um grupo de pessoas com identidade étnica.
Isso quer dizer que não podemos, ainda, estar certos de qual significado é
pretendido em Mateus 28.19. Não podemos responder ainda a questão sobre
se a tarefa das missões é meramente alcançar tantos indivíduos quanto for
possível ou alcançar todos os grupos de pessoas do mundo.
Contudo, o fato de, no Novo Testamento, o singular ethnos nunca se
referir a um indivíduo, mas sempre a um grupo de pessoas, deve nos levar,
provavelmente, ao significado de grupo de pessoas, a menos que o contexto
nos fizer pensar de outra maneira. Essa ideia ficará mais clara quando pusermos
diante de nós o contexto do Antigo Testamento e o impacto que ele exerceu
nos escritos de João e Paulo. Primeiro, porém, devemos examinar o uso que
o Novo Testamento faz da frase decisivapanta ta ethne (todas as nações).
Mateus 24.9 - “Sereis odiados de panton ton ethnon por causa do meu nome.”
Mateus 24.14 (= Mc 13.10) - “E será pregado este evangelho do reino por
todo o mundo, para testemunho apasin tois ethnesin. Então, virá o fim.”
Mateus 25.32 - “E panta ta ethne serão reunidas em sua presença, e ele
separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas.”
(Esse contexto parece requerer o significado “indivíduos gentios”, não
grupos de pessoas, porque ele diz que Jesus “separará uns dos outros,
como o pastor separa dos cabritos as ovelhas”. Essa é uma referência a
indivíduos que estão sendo julgados como “malditos” e “justos” e que
entrarão no inferno ou na vida eterna. Cf. versículos 41,46.)
Mateus 28.19 - “Fazei discípulos de panta ta ethne.”
Marcos 1 1.17 - “A minha casa será chamada casa de oração parapasin tois
ethnesin” (esta é uma citação de Isaías 56.7. A frase hebraica por trás de
170 A L E G R E M - S E OS P O V O S
É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para
justiça. Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo
a Escritura previsto que Deus justificaria pelo fé os gentios (ta ethne),
pré-anunciou o evangelho a Abraão: “Em ti, serão abençoados todos os
povos [nações] (panta ta ethne)”.
A frase “todas as famílias das nações é pasai hai patriai ton ethnon.
Portanto, a esperança em vista é que não apenas “todas as nações” {panta
ta ethne) correspondam à verdade e adorem a Deus, mas também os grupos
menores, “todas as famílias das nações”. “Fam ília” não possui o nosso
significado moderno de família nuclear, mas de algo parecido com um clã.161
Isso será confirm ado quando observarm os a esperança expressa em
Apocalipse 5.9, em que os adoradores foram redimidos não somente de toda
“nação” (ethnous), mas também de toda “tribo” (phyles).
“A n u n c ia i e n t r e a s n a ç õ e s a s u a g l ó r ia !”
“O D e u s, lo u v e m -te o s po vo s t o d o s!”
E Jonas se aproximou
do seu assento sombreado
e esperou que Deus
concordasse
com seu modo de pensar.
E Deus ainda espera por multidões de Jonas
em suas casas confortáveis
que concordem
com seu modo de amar.163
Portanto, o meio pelo qual Abraão se tom a pai de muitas nações é pelo
fato de aquelas nações virem a participar da sua fé e estarem unidas à
mesma fonte de bênção que flui por meio da aliança que Deus fez com ele.
Por isso, Paulo diz, em Romanos 4.16-17: “Essa é a razão por que provém da
fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para
toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei [isto é, judeus],
mas também ao que é da fé que teve Abraão [isto é, as nações não judaicas]
(porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: ‘Por pai de muitas
nações te constitui)” ’.
Quando Paulo leu que Abraão seria feito “o pai de muitas nações”, ele
ouviu a Grande Comissão. Essas nações somente viriam à sua filiação e
desfrutariam a bênção de Abraão se os missionários as alcançassem com o
evangelho da salvação pela fé em Jesus Cristo. Não é de surpreender, pois,
encontrar Paulo apoiando seu próprio chamado m issionário em outras
promessas do Antigo Testamento que profetizaram o alcance das nações
com a luz e a salvação de Deus.
... mas, posto que a rejeitais [a palavra de Deus] e a vós mesmos vos
julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios.
Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos
gentios (ethnon, nações), a fim de que sejas para salvação até aos confins
da terra.
Atos 13.46-47
O que é tão notável sobre essa série de textos que Paulo encadeia aqui
é que ou ele os havia memorizado ou teve o trabalho de procurá-los no
Antigo Testamento - sem uma concordância! O que é mostrado, por qualquer
dos meios, foi que ele pretendeu ver em seu chamado missionário, à luz da
esperança do Antigo Testamento, que todas as nações seriam alcançadas
com o evangelho. A focalização do grupo de pessoas desses textos é,
indubitavelmente, do contexto do Antigo Testamento.
Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas
que Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios [ethnon,
nações] à obediência, por palavra e por obras, por força de sinais e
prodígios, pelo poder do Espírito Santo; de maneira que, desde Jerusalém
e circunvizinhanças, até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de
Cristo, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde
Cristo já fora anunciado, para não edifícar sobre fundamento alheio;
antes, como está escrito: “Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia
dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito”.
intermédio da sua palavra”. Esse versículo faz um paralelo com João 11.52,
no qual se diz que Jesus não morreu somente pela nação, mas para congregar
em um só corpo os filhos de Deus que estão dispersos. O poder salvador da
sua morte se estenderá às pessoas de todas as nações do mundo, mas isso
acontecerá somente pelo anúncio das palavras daqueles que ele enviar.
Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia
enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do
trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas
nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: “Ao nosso Deus, que se
assenta no trono, e ao Cordeiro, pertencem a salvação!”
Apocalipse 7.9-10
Essa comissão sugere que atingir todas as áreas não alcançadas (se não
explicitamente grupos de pessoas) é a tarefa específica das missões. Há uma
pressão para continuar movendo-se não apenas em direção aos indivíduos não
190 A L E G R E M - S E OS P O V O S
convertidos da vizinhança, mas para lugares além, mesmo até o fim do mundo.
Não apenas isso, a expressão “confins da terra” está, algumas vezes, no
Antigo Testamento, intimamente associada com todos os povos da terra.
Por exemplo, salmo 22.27:
Lembrar-se-ão do S en h o r e a ele se converterão os confins da terra;
perante ele se prostrarão todas as famílias das nações.
Esse paralelo mostra que “confins da terra”, algumas vezes, trazia
implícita a associação de pessoas distantes.169 Os apóstolos provavelmente
não ouviram a comissão de Atos 1.8 como significativamente diferente da
comissão de Lucas 24.47.
Com base nisso, podemos dizer, por exemplo, que pelo menos todo
grupo lingüístico (língua, Ap 5.9) deve ser alcançado na tarefa missionária.
Mas quando um dialeto se toma tão diferente que passa a ser uma língua
distinta? Questões como essa mostram por que há tanta dificuldade e discórdia
sobre o que é um grupo de pessoas. Durante anos, Ralph Winter chegou ao
número de 24 mil como sendo o número total de grupos de pessoas no mundo.
Porém, Patrick Johnstone observa, na edição de 2001 de Operation World:
Im plicações
um grupo de pessoas (uma agência de missões) que veja sua tarefa especial
e fundamental de não meramente ganhar tantos indivíduos para Cristo quanto
possível, mas ganhar alguns indivíduos (ou seja, plantar uma igreja) entre
todos os povos não alcançados da terra?
R E C O N H E C E N D O QUE DEUS
É SUPREMO
NAS M I S S Õ E S
O T R A B A L H O P R Á T I C O DE C O M P A I X Ã O E A D O R A Ç Ã O
A supremacia de Deus e a
compaixão pela alma humana
Jonathan Edwards sobre a unidade
de motivos para missões mundiais
Pode-se ouvir sua influência nas questões por trás da primeira sentença:
Qual é o fim principal do homem? Qual é o fím principal da redenção, da
história e da criação? Edwards estava sempre perguntando sobre o fim prin
cipal das coisas porque, uma vez que descobrirmos e aceitarmos a razão
final e mais elevada pela qual nós, a igreja e as nações existimos, todo o
nosso pensamento, todo o nosso sentimento e toda a nossa ação serão
governados por este objetivo. Fico continuamente surpreso com o pequeno
número de pessoas que pergunta e responde com convicção e paixão as
perguntas mais importantes - as perguntas principais.
M as foi com isso que Edw ards m ais se preocupou. Ele estava
absolutamente seguro sobre a questão principal, a saber, por que todas as
coisas existem, inclusive você, eu, a igreja universal, todas as nações e a
História. Ele estava absolutamente seguro sobre isso porque Deus estava
absolutam ente seguro sobre isso. Edwards escreveu um livro chamado
O motivo pelo qual Deus criou o mundo.'92 Em minha opinião, este é o
texto mais importante que ele escreveu. Uma vez que entendamos o que ele
escreveu ali, tudo - absolutamente tudo - mudará. Sua resposta à pergunta:
“Qual é o fím principal da criação, da História, da redenção, de sua vida e de
tudo o mais?” é: “Tudo o que é dito na Escritura sobre o fím principal das
obras de Deus está incluído nesta única frase: a glória de Deus”.193
Edwards está seguro disso porque a Bíblia é clara sobre isso. Por quase
setenta páginas194 Edwards amontoa texto sobre texto das Escrituras para
mostrar o show radical da teocentricidade de Deus. Ele diz assim:
Deus tem apreço por si mesmo como seu fím principal, nesta obra
[de criação] porque ele é digno em si mesmo para isso, sendo
infinitamente o maior e melhor dos seres. Tudo o mais, com relação a
dignidade, importância e excelência é perfeitamente como nada em
comparação a ele.195
Ele cita Romanos 11.36: “Porque dele, por ele e para ele são todas as
coisas. A ele, pois, a glória eternamente”. E Colossenses 1.16: “Tudo foi
criado por meio dele e para ele”. E Hebreus 2.10: “Convinha que aquele,
por cuja causa e por meio de quem todas as coisas existem, conduzindo
muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da
salvação deles”. E Provérbios 16.4: “O Senhor fez todas as coisas para si
m esm o” (K JV ).196
A SUPREMACIA DE DEUS E A COMPAIXÃO PELA ALMA HUMANA 207
Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha
honra me conterei para contigo, para que te não venha a exterminar. Eis
que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da
aflição. Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como
seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outem.
Toda a criação, toda a redenção, toda a História foi projetada por Deus
para exibir Deus. Este é o objetivo principal da igreja.
Mas não foi isso o que eu disse na primeira sentença deste livro sobre
m issões. Eu disse: “As m issões não são o alvo fundam ental da igreja.
A adoração é.” Por que substituí “glória de Deus” por “adoração”? Por
que não dizer: “As missões não são o alvo fundamental da igreja. A glória de
Deus é”? A razão para isso é que as missões não são necessárias por causa
de uma falha de Deus em mostrar sua glória, mas por uma falha humana em
saborear a glória. A criação está narrando a glória de Deus, mas as pessoas
não a estão valorizando.
mundo. Quando Paulo levou esta acusação contra seu próprio povo ao
clímax, em Romanos 2.24, ele disse: “O nome de Deus é blasfemado entre
os gentios por vossa causa” . Este é o principal problema do mundo. Esta é
a principal ofensa.
tomam visíveis em ações corretas que refletem Deus. Esses três estágios da
adoração da essência interior para a manifestação exterior podem ser vistos
em três textos:
Observe que eu disse “povos”, não “povo”. O objetivo das missões (em
distinção ao evangelismo local, no qual a igreja já existe) é que exista uma
igreja que adore a Deus por meio de Jesus Cristo em todos os povos, tribos,
línguas e grupos étnicos do mundo. Vemos este objetivo muito claramente no
resultado das missões, em Apocalipse 5.9. O cântico entoado a Cristo no céu
será: “Digno és de tomar o livro e abrir-lhe os selos, porque foste morto e com
o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo
e nação”. Jesus Cristo, o Filho de Deus, morreu para redimir um povo adorador
210 A L E G R E M - S E OS P O V O S
para seu Pai, proveniente de todos os povos, tribos, línguas e nações. As missões
existem para plantar comunidades adoradoras de redimidos comprados por
Cristo e que exaltam a Deus em todos os povos do mundo.
A paixão de um missionário - em distinção à de um evangelista - é
plantar uma comunidade adoradora de cristãos em um povo que não tem
acesso ao evangelho por causa da língua ou de barreiras culturais. Paulo foi
um desses missionários transculturais: “Esforçando-me, deste modo, por
pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado... Mas, agora, não
tendo já campo de atividade nestas regiões e desejando há muito visitar-vos,
penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha” (Rm 15.20, 23-24).
A primeira grande paixão das missões, portanto, é honrar a glória de
Deus restaurando o correto lugar de Deus no coração de pessoas que,
presentemente, pensam, sentem e agem de modos que desonram a Deus
todos os dias e, em particular, fazer isso criando uma comunidade adoradora
entre todos os povos não alcançados do mundo. Se você ama a glória de
Deus, não pode ser indiferente às missões. Esta é a principal razão pela qual
Jesus Cristo veio ao mundo. Romanos 15.8-9 diz: “Cristo foi constituído
ministro da circuncisão... para que os gentios glorifiquem a Deus p o r
causa da sua misericórdia”. Cristo veio para obter glória para seu Pai
entre as nações. Se você ama o que Jesus veio realizar, você ama as missões.
Mas agora vem a principal pergunta que este capítulo objetiva responder:
“Como o motivo da compaixão pelas pessoas se relaciona com este motivo
prim ário de um a paixão pela glória de D eus?” A m aior parte de nós
concordaria que Jesus veio não apenas para reivindicar a ju stiç a de Deus
e sustentar a glória de Deus, mas tam bém para resgatar pecadores da
m iséria eterna.
Ao lado da verdade de que somos culpados de traição e desonramos
nosso Rei, devemos, agora, colocar a verdade de que somos, portanto,
merecedores de execução e punição etema. Com o motim vem a desgraça.
A incredulidade não apenas desonra a Deus, mas também destrói a alma.
Tudo o que nos faz duvidar de Deus causa dano ao ser humano. Todo ataque
contra a santidade de Deus é um ataque contra a felicidade humana. Todo
sentimento, pensamento ou ação que faz Deus parecer errado ou irrelevante
aumenta a m ina humana. Tudo o que diminui a boa fama de Deus aumenta
nosso sofrimento.
Por isso, as missões são orientadas por um a paixão não somente por
restaurar a glória de Deus ao seu devido lugar na alma adoradora, mas
também por resgatar pecadores da dor etema. Se há algo que quase todas
A SUPREMACIA DE DEUS E A COMPAIXÃO PELA ALMA HUMANA 211
a Deus. O prazer que você tem em Deus é a medida do tesouro que você
encontra nele. Você tem muita estima por ele e mostra que ele é grandioso
quando encontra sua alegria nele, especialmente quando o gosto e a atração
desta alegria o capacitam a deixar os confortos e arriscar a vida na causa
das missões. Aqui está a citação-chave de Edwards:
Quando fez um chicote e expulsou os cambistas, ele disse que fez isso
não tanto em favor da realização de sacrifícios adequados, mas por causa da
oração - de fato, oração para todas as nações. “A minha casa será chamada
casa de oração para todas as nações” (Mc 11.17). Em outras palavras, ele
desviou a atenção dos atos externos dos sacrifícios judaicos para o ato pessoal
de comunhão com Deus para todos os povos.
Depois ele disse duas outras coisas sobre o templo que apontavam
para uma opinião radicalmente alterada da adoração. Ele disse: “Aqui está
quem é maior que o templo” (Mt 12.6) e “Destruí este santuário, e em três
dias o reconstruirei” (Jo 2.19). Esta atitude em relação ao templo fez que
não apenas ele fosse m orto (Mc 14.58; 15.29), m as tam bém Estêvão
(At 6.14). Isso mostra sua importância.
Jesus se identificou como o verdadeiro templo. “Aqui está quem é maior
que o templo.” Em si mesmo ele cumpriu tudo o que o templo representava,
especialmente o “lugar” onde os crentes se encontram com Deus. Ele desviou
a atenção da adoração como uma atividade localizada com formas externas
para uma atitude pessoal, espiritual com ele mesmo no centro. A adoração
não tem a ver com um edifício, um sacerdócio e um sistema sacrifícial. Ela
tem a ver com o Jesus ressurreto.
Jesus desprendeu a adoração de lugar e forma
O que Jesus fez à adoração no modo como se relacionou com o templo
se toma explícito em João 4.20-24. Aqui ele usa a palavra proskyneo - a
principal palavra do Antigo Testamento para adoração - e mostra que ela
está carregada com um significado extemo e localizado. Então ele a transforma
em um conceito que é principalm ente interno, em vez de externo, e
principalmente universal, em vez de localizado.
A mulher junto ao poço disse:
Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em
Jerusalém é que se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, poder crer-me
que vem a hora, e já chegou, quando nem neste monte, nem em Jerusalém
adorareis o Pai.
João 4.20-21
Aqui Jesus desprende a adoração de suas conotações externas e
localizadas. O lugar não é o problema: “Nem neste monte, nem em Jerusalém”.
Ele prossegue:
Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai
procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus
adoradores o adorem em espírito e em verdade.
João 4.23-24
218 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Aqui está a frase principal: a verdadeira adoração, que foi prevista para
a era vindoura, havia chegado. “ Vem a hora [na era vindoura] e já chegou
[em mim].” O que caracteriza esta verdadeira adoração futura, que veio da
gloriosa era vindoura e entrou no presente, é que ela não é presa por lugares
específicos ou formas externas. Em vez de ser realizada neste monte ou em
Jerusalém, ela é feita “em espírito e em verdade”.212
Jesus despoja proskyneo de seus últimos vestígios de conotações
localizadas e externas.213 Não é errado que a adoração seja realizada em um
lugar ou use formas externas, mas ele deixa claro e central que isso não é o
que faz que a adoração seja adoração. O que faz que a adoração seja
adoração é o que acontece “em espírito e verdade” - com ou sem um local
e com ou sem formas externas.
O que significam estas duas cláusulas: “em espírito” e “em verdade”?
Entendo que “em espírito” significa que esta verdadeira adoração é
continuada pelo Espírito Santo e acontece, principalmente, em um evento
interno, espiritual, não em um evento externo e físico. E entendo que “em
verdade” significa que esta verdadeira adoração é uma resposta às
verdadeiras compreensões de Deus e é formada e orientada por verdadeiras
compreensões de Deus.214
Aqui está a frase principal: a verdadeira adoração, que foi prevista para
a era vindoura, havia chegado. “Vem a hora [na era vindoura] e já chegou
[em mim].” O que caracteriza esta verdadeira adoração futura, que veio da
gloriosa era vindoura e entrou no presente, é que ela não é presa por lugares
específicos ou formas externas. Em vez de ser realizada neste monte ou em
Jerusalém, ela é feita “em espírito e em verdade”.212
Jesus despoja proskyneo de seus últimos vestígios de conotações
localizadas e externas.213 Não é errado que a adoração seja realizada em um
lugar ou use formas externas, mas ele deixa claro e central que isso não é o
que faz que a adoração seja adoração. O que faz que a adoração seja
adoração é o que acontece “em espírito e verdade” - com ou sem um local
e com ou sem formas externas.
O que significam estas duas cláusulas: “em espírito” e “em verdade”?
Entendo que “em espírito” significa que esta verdadeira adoração é
continuada pelo Espírito Santo e acontece, principalmente, em um evento
intemo, espiritual, não em um evento externo e físico. E entendo que “em
verdade” significa que esta verdadeira adoração é uma resposta às
verdadeiras compreensões de Deus e é formada e orientada por verdadeiras
compreensões de Deus.214
veja também Fp 2.17). Ele chega a chamar até mesmo o dinheiro que as
igrejas lhe enviam de “aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a
Deus” (Fp 4.18). E sua própria morte por causa de Cristo ele chama de
“libação” a Deus (2Tm 4.6).216
Tornando a adoração radicalmente interna, de modo que permeie
toda a vida externamente
No Novo Testamento, a adoração é significativamente desinstitu-
cionalizada, deslocalizada e desextemalizada. Toda a confiança é tirada das
cerimônias, das estações, dos lugares e formas e colocada naquilo que está
acontecendo no coração - não apenas no domingo, mas todos os dias e em
toda a vida.
Isso é o que está em foco quando lemos textos como “quer comais,
quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”
(IC o 10.31) e “tudo que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em
nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3.17). Esta é a
essência da adoração: agir de um modo que a estima da glória de Deus no
coração seja refletida. O N ovo Testam ento usa as m ais im portantes
declarações sobre adoração sem qualquer referência aos cultos. Elas
descrevem a vida.
Até mesmo quando Paulo nos chama a “enchei-vos do Espírito, falando
entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos
e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5.18-20), ele não faz referência a
um tempo ou a um lugar ou a um culto. De fato, as palavras-chave são
“sempre” e “tudo” - “dando sempre graças por tudo” (cf. Cl 3.16). De fato,
isso pode ser o que devemos fazer em um culto, mas não é a ideia principal
que Paulo quer nos comunicar. Sua ideia principal é requerer uma autenticidade
radical e interna para a adoração e um alcance totalmente abrangente da
adoração em toda a vida. Lugar e forma não pertencem à essência. O espírito
e a verdade é que são fundamentalmente importantes.
O impulso puritano e reformado
Isso foi o que fascinou e formou a tradição reformada, especialmente
os puritanos e seus herdeiros. A adoração é radicalmente orientada para a
experiência do coração e liberta de formas e lugares. João Calvino expressa
a liberdade da adoração da forma tradicional do seguinte modo:
[O Mestre] não desejou prescrever, detalhadamente, disciplinas
externas e cerimônias pelas quais devêssemos fazer isso (porque ele
anteviu que isso dependeria das épocas e não considerou uma forma
adequada para todas as épocas)... Por não ter ensinado nada especificamente
A SIMPLICIDADE INTERNA E A LIBERDADE EXTERNA DA ADORAÇÃO 2 21
problema, precisamos perguntar: Por que é amoroso Deus ser tão autoexaltador
e por que, se chegarmos a compartilhar de sua satisfação em si mesmo, essa
é a essência e o coração da adoração?
A resposta à prim eira questão - por que é amoroso Deus ser tão
autoexaltador a ponto de fazer tudo o que faz para sua própria glória? - veio
a mim com a ajuda de C. S. Lewis. Quando estava refletindo sobre o fato de
que, em Efésios 1.6, 12, 14, Paulo diz que Deus realiza todos os atos de
redenção de modo que possamos louvar sua glória, descobri que, em seus
primeiros dias como cristão, Lewis ficou incomodado com os mandamentos
de Deus para que sua glória fosse louvada. Eles pareciam inúteis.
Mas, então, ele descobriu por que eles não eram inúteis, mas profundamente
amorosos da parte de Deus. Aqui está seu discernimento importantíssimo:
louvá-lo, ele não estaria nos ordenando que ficássemos tão satisfeitos quanto
podemos e isso não seria amoroso.
Assim, o que emerge desta reflexão é que a autoexaltação de Deus -
o fato de ele fazer tudo para revelar sua glória e receber nosso louvor - não
é desamoroso, é o único modo como um Deus infinitamente glorioso pode
amar. Seu m aior dom de am or é nos dar um a participação na própria
satisfação que ele tem em si mesmo e, então, chamar essa satisfação à sua
plena consumação na expressão de louvor.
O amor de Deus é expresso pelos repetidos mandamentos bíblicos para
que nos alegremos no Senhor (Fp 4.4), que tenhamos prazer em nós mesmos
no Senhor (SI 37.4), que sirvamos ao Senhor com alegria (SI 100.2), que nos
alegremos no Senhor (SI 32.11) e pela múltipla promessa de que “na tua presença
há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (SI 16.11).
Im plicações
É a isso que estou me referindo quando digo que “as missões não são o
alvo fundamental da igreja. A adoração é”. Nosso objetivo é ver que essa
experiência acontece entre todos os povos do mundo. Que o poder do
evangelho desperte os mortos, traga-os das trevas para a luz e do poder de
Satanás para Deus, para que o vejam e o saboreiem com todo o coração.
E que eles fiquem tão radicalmente satisfeitos nele que fiquem livres dos
temores e dos prazeres deste mundo e sigam Jesus no caminho de amor do
calvário. Então outros verão suas boas obras e glorificarão ao seu Pai no céu
- e a Palavra seguirá de glória em glória.
Conclusão
Adoração
Oração
Isso quer dizer que Deus é absolutamente supremo nas missões. Ele é
o princípio e o fim. Ele é, também, aquele que sustenta e confere poder a
todo o processo. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as
coisas. A ele, pois a glória eternamente” (Rm 11.36). O sustento de Deus a
todo o instante para o movimento cristão preserva a sua supremacia, porque
aquele que outorga o poder recebe a glória. “Se alguém serve, faça-o na
força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado”
(lP e 4.11).
Eis por que Deus determinou que a oração tivesse um lugar tão essencial
na missão da igreja. O propósito da oração é tomar claro a todos os participantes
das missões que a vitória pertence ao S e n h o r . “O cavalo prepara-se para o dia
da batalha, mas a vitória vem do S e n h o r ” (Pv 21.31). A oração é o meio
indicado por Deus para trazer graça ao mundo e glória a ele. “Invoca-me no
dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (S I 50.15). “E tudo
quanto pedirdes em meu nome, isso farei, afim de que o Pai seja glorificado
no Filho” (Jo 14.13).
A oração coloca Deus no lugar do Benfeitor todo-suficiente e nos coloca
no lugar dos beneficiários necessitados. Assim, quando a missão da igreja
avança pela oração, a supremacia de Deus é manifestada e as necessidades
dos missionários cristãos são supridas. Em oração, ele é glorificado e nós
somos satisfeitos. “Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e
recebereis,/>ara que a vossa alegria seja completa” (Jo 16.24). O propósito
da oração é a fama do Pai e a plenitude dos santos.
Sofrimento
Assim, Deus ordena que a missão da sua igreja avance não somente
pelo combustível da adoração e pelo poder da oração, mas à custa de
sofrimento. “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua
cruz e siga-me” (Mc 8.34). “Não é o servo maior do que seu senhor. Se me
perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros” (Jo 15.20). “Se
chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos?”
(Mt 10.25). “Era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas”
(Mc 8.31). “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20.21).
“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Mt 10.16). “Eu
lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16).
Uma vez que o preço é tão alto, alguém pode perguntar: é realmente
necessário? Se a meta de Deus na História é manter e manifestar sua glória
para o contentamento dos redimidos, pode ocorrer que ele redima pessoas
sem as missões? Podem as pessoas vir a louvar ao Deus verdadeiro, de
coração, pela fé salvadora, se ainda são ignorantes a respeito de Jesus e sua
obra salvadora? Pode a natureza ou outras religiões conduzir as pessoas à
vida eterna e à alegria com Deus?
A resposta bíblica que vimos é não. É uma sólida verdade no Novo
Testamento que, desde a encarnação do Filho de Deus, toda fé salvadora
deve, a partir dali, fixar-se nele. Isso nem sempre foi verdade. Antes de
Cristo, o povo de Israel focalizava a fé nas promessas de Deus (Rm 4.20)
que apontavam para a vinda de um Redentor. E às nações foi permitido
andar em seus próprios caminhos (At 14.16). Mas aqueles tempos foram
chamados de “tempos de ignorância”. Agora, porém, desde a vinda do Filho
de Deus ao mundo, Cristo tomou-se o centro consciente da missão da igreja.
O propósito das missões é “por amor do seu nome,221 [levar] a obediência
por fé, entre todos os gentios” (Rm 1.5). A vontade de Deus é ser glorificado
em seu Filho, fazendo dele o centro de toda a proclam ação m issionária.
A supremacia de Deus nas missões é afirmada biblicamente pela confirmação
da supremacia de seu Filho como o foco de toda a fé salvadora.
Povo ou povos?
A supremacia de Deus
em ir e enviar
T o m S te ller
Vale a pena notar bem o que faz feliz um ancião piedoso. O apóstolo
João, que se refere a si mesmo simplesmente como “o presbítero”, está cheio
de alegria e satisfação. Ele acaba de receber notícias de que Gaio, um de seus
filhos espirituais, está andando na verdade. Não há maior alegria que essa!
Que evidência compele esse velho apóstolo a ser convencido de que a
alma de Gaio está prosperando? Em que verdade Gaio está andando?
Aparentemente, alguns evangelistas/missionários itinerantes, os quais João
conhecia, tinham visitado Gaio e sido por ele acolhidos com um tipo de amor
especial. Eles retomaram à igreja da qual João fazia parte e testificaram que
Gaio os tratara bem, embora fossem estranhos para ele. Isso sensibilizou
João de tal modo que o levou a escrever uma carta a Gaio para incentivá-lo
a andar na verdade e agir fielmente. Ele desejou estimular Gaio a continuar
agindo assim. “Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno
de Deus.”
Gaio foi lembrado pelo apóstolo de que era um “enviador” . Essa
expressão “encaminhar alguém em sua jornada” ocorre nove vezes no Novo
Testamento, sempre em um contexto m issionário.229 O versículo mais
descritivo encontra-se em Tito 3.13. Nesse versículo, Paulo escreve a Tito:
“Encaminha com diligência a Zenas, o intérprete da Lei, e Apoio, a fim de
que não lhes falte coisa alguma”. Desse versículo podemos aprender que
enviar é alguma coisa a ser feita diligentemente e incluindo tudo - “a fim de
que não lhes falte coisa alguma” .
Em 3João, essa diligência e eficácia são percebidas na frase “por modo
digno de Deus” (v. 6). Isso eleva mais do que se possa imaginar a importância
do envio. É um m andam ento de D eus (observe o “devem os” do v. 8).
A razão pela qual devemos enviá-los de modo digno a Deus é que eles saíram
por causa do Nome. O nome de Deus está em jogo no modo como tratamos
nossos missionários. Deus é glorificado quando os mantemos substancialmente
com nossas orações, nosso dinheiro, nosso tempo e com miríades de outros
meios práticos (note o “naquilo” do versículo 5). Deus não é glorificado
quando os nossos missionários são simplesmente um nome na última página
do boletim da igreja ou um item do orçamento.
Não é de importância secundária envolver-se nesse ministério de enviar.
Trata-se de um chamado muito valioso. É estar andando na verdade. E a
manifestação de uma alma saudável e próspera. Os que enviam missionários
são trabalhadores companheiros da verdade. Enviar do modo digno de Deus
é um chamado à excelência no apoio dos missionários. É uma participação
direta no propósito de Deus. A m agnificência do envio não pode ser
exagerada. Mas isso não deve ser feito de uma maneira inferior e sim do
“modo digno de Deus”.230 Há uma enorme diferença entre uma igreja “ter”
Epílogo
A supremacia de Deus
em ir e enviar
T o m St e lle r
Vale a pena notar bem o que faz feliz um ancião piedoso. O apóstolo
João, que se refere a si mesmo simplesmente como “o presbítero”, está cheio
de alegria e satisfação. Ele acaba de receber notícias de que Gaio, um de seus
filhos espirituais, está andando na verdade. Não há maior alegria que essa!
Que evidência compele esse velho apóstolo a ser convencido de que a
alma de Gaio está prosperando? Em que verdade Gaio está andando?
Aparentemente, alguns evangelistas/missionários itinerantes, os quais João
conhecia, tinham visitado Gaio e sido por ele acolhidos com um tipo de amor
especial. Eles retomaram à igreja da qual João fazia parte e testificaram que
Gaio os tratara bem, embora fossem estranhos para ele. Isso sensibilizou
João de tal modo que o levou a escrever uma carta a Gaio para incentivá-lo
a andar na verdade e agir fielmente. Ele desejou estimular Gaio a continuar
agindo assim. “Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno
de Deus.”
Gaio foi lembrado pelo apóstolo de que era um “enviador” . Essa
expressão “encaminhar alguém em sua jornada” ocorre nove vezes no Novo
Testamento, sempre em um contexto m issionário.229 O versículo mais
descritivo encontra-se em Tito 3.13. Nesse versículo, Paulo escreve a Tito:
“Encaminha com diligência a Zenas, o intérprete da Lei, e Apoio, a fim de
que não lhes falte coisa alguma”. Desse versículo podemos aprender que
enviar é alguma coisa a ser feita diligentemente e incluindo tudo - “a fim de
que não lhes falte coisa alguma”.
Em 3João, essa diligência e eficácia são percebidas na frase “por modo
digno de Deus” (v. 6). Isso eleva mais do que se possa imaginar a importância
do envio. É um m andam ento de D eus (observe o “ devem os” do v. 8).
A razão pela qual devemos enviá-los de modo digno a Deus é que eles saíram
por causa do Nome. O nome de Deus está em jogo no modo como tratamos
nossos missionários. Deus é glorificado quando os mantemos substancialmente
com nossas orações, nosso dinheiro, nosso tempo e com miríades de outros
meios práticos (note o “naquilo” do versículo 5). Deus não é glorificado
quando os nossos missionários são simplesmente um nome na última página
do boletim da igreja ou um item do orçamento.
Não é de importância secundária envolver-se nesse ministério de enviar.
Trata-se de um chamado muito valioso. E estar andando na verdade. E a
manifestação de uma alma saudável e próspera. Os que enviam missionários
são trabalhadores companheiros da verdade. Enviar do modo digno de Deus
é um chamado à excelência no apoio dos missionários. E uma participação
direta no propósito de Deus. A m agnificência do envio não pode ser
exagerada. Mas isso não deve ser feito de uma maneira inferior e sim do
“modo digno de Deus” .230 Há uma enorme diferença entre uma igreja “ter”
236 A L E G R E M - S E OS P O V O S
1 John Piper, What Jesus Demands from the World (Wheaton, 111: Crossway Books,
2006).
2 John Stott, Romans: God s Good News fo r the World (Downers Grove, 111: Inter
Varsity, 1994), 53.
3Ibid.
4 Lamin Sanneh, Disciples o f Ali Nations: Pillars o f World Christianity (Oxford:
Oxford University Press, 2008), xix.
5Danna Robert, “Shifting Southward: Global Christianity Since 1945”, International
Bulletin o f Missionary Research 24, n. 2 (abril de 2000):50.
6 Philip Jenkins, “Believing in the Global South”, First Things 168 (dezembro de
2006): 13
7 Ibid, 12.
8Ibid.
9 Robert, “Shifting Southward”, 53.
10 Mark Noll, The New Shape o f World Christianity: How American Experience
Reflects Global Faith (Downers Grove, 111.: InterVarsity Press, 2009), 10.
11 Ibid.. 20.
n Ibid„ 21.
13 Ibid.
14 Veja o capítulo 5 para uma discussão extensiva sobre o entendimento bíblico de
“povos não alcançados”.
15 Michael Horton, Christless Christianity: The Altem ative Gospel o f the American
Church. (Grand Rapids: Baker Academic, 2008, 45).
16 Citação de Bonnie Dolan, fundador e diretor do Centro de Missões Cristãs de
Zâmbia. IBID., 45.
17 Isaac Phiri e Joe Maxwell, “Gospel Riches”, Christianity Today 51, n. 7 (julho de
2007):23.
18 Ibid.
19 Ibid., 24.
20 Ibid.
21 Ibid., 25.
22Arlene Sanchez Walsh, “First Church o f Prosperidad”, Christianity Today 51, n. 7
(julho de 2007):26-27; Ondina E. Gonzalez, Christianity in Latin America; A History (Nova
York: Cambridge University Press, 2008).
240 A L E G R E M - S E OS P O V O S
23 Por exemplo, veja o capítulo sobre “Money: The Currency of Christian Hedenism”,
em John Piper, Desiring God: Meditations ofa Christian Hedonist (Sisters, Ore.: Multnomah,
2003); e o capítulo sobre “Vivendo para provar que ele é mais precioso que a vida”, em John
Piper, Não jogue sua vida fora (São Paulo: Cultura Cristã, 2005).
24 Phiri e Maxwell, “Gospel Riches”, 27.
25 Por exemplo, Wayne Grudem desenvolveu uma série de palestras chamadas “50
fatores dentro das nações que determinam sua prosperidade ou pobreza”. O ponto central
destas palestras é que a fidelidade bíblica conduz uma cultura, em geral, para longe da
pobreza e para perto da prosperidade, http://www.christianessen-tialssbc.com/messages.
26 Veja adiante, Seis razões pelas quais Deus designa sofrimento aos seus servos.
21 Veja adiante, Seis razões pelas quais Deus designa sofrimento aos seus servos.
28 Na edição de 2003 deste livro, acrescentei um capítulo para esclarecer, mais
detalhadamente e com aplicações, o que quero dizer com “adoração” e como isso se relaciona
com os “cultos de adoração” e a adoração de obediência prática (Rm 12.1-2). Ele recebeu o
título de “A simplicidade interna e a liberdade externa da adoração em todo o mundo”. A tese
é que o Novo Testamento é surpreendentemente silente sobre formas externas de adoração
e focaliza radicalmente a experiência interior de estimar a Deus porque este é um livro que
focaliza missões em todas as culturas, não um manual litúrgico que ensina como “adorar” em
nossa cultura.
29 Citado em First Things 18 (dezembro de 1991): 63 (ênfase acrescentada).
30 Citado em Tom Wells, A Vision fo r Missions (Carslile, PA.: Banner of Truth Trust,
1985).
31 Citado por Iain Murray em The Puritan Hope (Edimburgo: Banner of Truth Trust,
1971), p. 140.
32 Tentei expor essa verdade maravilhosa do regozijo do Pai em si mesmo, isto é, seu
Filho, em The Pleasures o f God: Meditation on G od’s Delight on Being God (Portland:
Multnomah Press, 1991) Capítulo 1, “The Pleasures of God in His Son”.
33Veja especialmente “Appendix One: The Goal of God in Redemptive History”, em
Desiring God: Meditations o f a Christian Hedonist (Portland: Multnomah Press, 1986),
p. 227-238; e por inteiro em The Pleasures o f God.
34 Para uma introdução à vida de Edwards, as implicações de sua teologia para o
evangelicalismo e o texto completo de The E ndfor Which God Created the World, veja John
Piper, A paixão de Deus por sua glória (São Paulo: Cultura Cristã, 2011).
35 Ibid., 246.
36 Em defesa da realidade do consciente tormento eterno no inferno para aqueles que
rejeitam a verdade de Deus, veja o Capítulo 4.
37 Jonathan Edwards, Charity and Its Fruits (Edimburgo: Banner of Truth Trust,
1969, originalmente de 1852), p. 164.
38 Para uma elaboração extensa desta tese, veja Piper, Desiring God, e sua versão
abreviada, The Dangerous Duty o f Delight: The Glorified God and the Satisfied Soul (Sisters,
ore.: Multnomah, 2001). Veja também Sam Storms, Pleasures Evermore: The Life-Changing
Power ofEnjoying God (Colorado Springs: NavPress, 2000).
39 Para ampliar o tratamento de como o “teocentrismo” de Deus é a razão de sua
misericórdia, leia The Pleasures o f God, p. 107-112.
40 Estou ciente de que a Bíblia está repleta de exemplos do povo de Deus servindo-lhe.
Discuti, com alguns detalhes, a maneira como o serviço pode ser concebido biblicamente, de
modo a não colocar Deus na categoria de um empregador que depende dos funcionários. Veja
Desiring God: Meditations o f a Christian Hedonist, p. 144-49.
41 Veja uma extensa lista desses textos no Capítulo 5.
NOTAS 241
amilenarista, minha posição continua sendo a mesma. A esperança pelo sucesso incessante
da missão de Cristo (quer você a veja como uma era de ouro do evangelho governando a terra,
quer como um ajuntamento dos eleitos de cada grupo de pessoas da terra) é um elemento
crucial na motivação e no poder para as missões. O livro de Iain Murray, The Puritan Hope
(Edimburgo: The Banner of Truth Trust, 1971), é um relato inspirador e atrativo dessa verdade.
Sua tese é: “Cremos que pode ser mostrado, conclusivamente, que a inspiração que fez surgir
as primeiras sociedades missionárias da era modema não foi outra senão a doutrina e a perspectiva
que, revitalizadas pelo reavivamento do século 18, vieram dos Puritanos” (p. 135).
58Apresentei uma extensa defesa bíblica dessa verdade em “The Pleasure of God in
Election”, em: The Pleasures o f God (Portland: Multnomah Press, 1991), p. 121-155.
59 Esta é uma paráfrase de uma sentença que está enaltecida em minha memória em
razão do efeito que, na ocasião, teve em minha vida.
60 Foi precisamente essa verdade que estimulou o apóstolo Paulo, quando estava
abatido em Corinto. “Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe disse: ‘Não
temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará
fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade"' (At 18.9-10). Em outras palavras, há
ovelhas neste lugar, Jesus as chamará por seu intermédio e elas virão. Não esmoreça.
61 Charles Spurgeon, Twelve Sermons on Prayer (Grand Rapids: Baker Book House,
1971), p. 105.
62 Isso é o que defendo no capítulo 4.
63 Procurei argumentar extensivamente sobre a soberania de Deus em sua irresistível
percepção em “The Pleasure o f God in Ali He Does”, em The Pleasures o f God, p. 47-75.
64 “O crescimento da igreja na China desde 1977 não tem paralelo na História... Mao
Zedong, inadvertidamente, tomou-se o maior evangelista da História... Ele tentou destruir
toda ‘superstição’ religiosa, mas, no processo, retirou obstáculos espirituais para o avanço
do Cristianismo. Deng [Xiaoping] reverteu os horrores infligidos por Mao e, ao abrir a
economia, deu mais liberdade aos cristãos... [Hoje] a igreja do Senhor Jesus é maior que o
Partido Comunista da China.” Patrick Johnstone e Jason Mandryk, Operation World: When
We Pray God Works (Carlisle: Patemoster, 2001), 161. A segunda frase é da edição de 1993
de Operation World, 164.
65 A.T. Pierson, The New Acts o f the Apostles (Nova York, 1894), p. 352ss.
66David Howard, “The Road to Urbana and Beyond”, EvangelicalMission Quarterly,
21/1, janeiro, 1985, p. 115-116.
67George Mueller, Autobiography, compilado por G. Fred Bergin (Londres: J. Nisbet
& Co. Ltd., 1906), p. 296.
68 Todas as citações desse relato foram extraídas de Journal and Letters o f Henry
Martyn, Henry Martyn (Nova York: Protestant Episcopal Society for the Promotion of
Evangelical Rnowledge, 1851).
69 Dietrich Bonhoeffer, The Cost o f Discipleship (Nova York: Macmillan, 1963), 99.
70 David Barret, “Annual Statistical Table on Global Mission: 2002”, International
Bulletin o f Missionary Research 26, n. 1 (janeiro de 2002), 23.
71 David Barret, George T. Kurian e Todd M. Johnson, World Christian Encyclopedia:
A Comparative Survey o f Churches and Religions - AD 30 to 2200, vol. 1 (Oxford: Oxford
University Press, 2001), 11. Para não pensarmos que os cristãos são os únicos que sofrem
martírio em grandes quantidades, Barret compara o Islã ao Cristianismo: 80 milhões de
mártires islâmicos e 70 milhões de mártires cristãos ao longo da história de ambas as religiões.
Ele observa que há 210 países que têm longas histórias de martírio e que agora estão plenamente
evangelizados (11).
72Richard Wurmbrand, “Preparing the Underground Church”, Epiphany Journal 5,
n. 4 (outubro de 1985): 46-48.
NOTAS 243
81 Para conhecer sua notável história, consulte as seguintes fontes: Elisabeth Elliot,
Through Gates ofSplendor, ed. de 40° ano (Wheaton: Tyndale, 1986); Elisabeth Elliot,
Shadow o f the Almighty: The Life and Testament ofJim Elliot (San Francisco: Harper San
Francisco, 1989); Elisabeth Elliot, The Savage My Kinsmen, ed. de 40° ano (AnnHarbor:
Servant, 1996); Steve Saint, “Did They Have to Die?” Christianity Today 40, n. 10 (16 de
setembro de 1996): 20-27; e Russel T. Hitt, Jungle Pilot: The Gripping Story o f the Life
and Witness o fN a te Saint, Martyred Missionary to Ecuador (Grand Rapids: Discovery
House, 1997).
82 Este é o nome da tribo antigamente conhecida como “Auca” [“savage”], pelos
estranhos.
83 Citado em Elisabeth Elliot, Through Gates o f Splendor (Nova York: Harper and
Row Publishers, 1957), p. 235-236.
84 Steve Estes, Called to Die (Grand Rapids: Zondervan, 1986), 252.
85 Veja a nota 25 sobre o desenvolvimento do Finishers Project, dedicado a ajudar as
pessoas que estão prestes a se aposentar a darem sua energia, habilidades e coração à causa
de Cristo. Parte de sua declaração de visão diz: “Podemos entregá-los a Jesus para ajuntar
um tesouro no céu ou perdê-los”.
86Michael Card, “Wounded in the House ofFriends”, Vinue (março/abril de 1991):28-29.
87 O Minneapolis Star Tribune publicou um artigo em 3 de maio de 1991, do qual esses
dados foram extraídos.
88 Bill e Amy Stearns, Catch the Vision 2000 (Mineápolis: Bethany, 1991), 12-13.
89Phyllis Thompson, Life outofDeath in MOzambique(Londres: Hodder& Stoughton,
1989), p. 111.
90 Herbert Schlossberg, Called to Suffer, Called to Triumph (Portland: Multnomah
Press, 1990), p. 230
91 Norm Lewis, Priority One: What God Wants (Orange: Promise Publishing, 1988),
p. 120.
92 Desde a primeira edição deste livro, em 1993, um dos importantes avanços na
estratégia missionária cristã foi o surgimento de ministros focados em mobilizar pessoas de
meia idade para a causa do cumprimento da Grande Comissão. As palavras de Paulo em Atos
20.24 ganharam vida para milhares de pessoas quando elas contemplaram um modo melhor
de terminar suas vidas terrenas do que lançarem-se à pesca ou ao golfe no sonho antibíblico
de vidas desperdiçadas chamado “aposentadoria”. Paulo disse: “Em nada considero a vida
preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi
do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus”. Para mais informação
sobre este movimento, veja o site de Finishers Project: w w w .fm ishers.gospelcom .net.
O Finishers Project é um serviço destinado que fornecer informações a cristãos maduros e
desafiá-los a descobrir oportunidades de ministério nos empreendimentos missionários -
trabalhos de curto prazo, de tempo parcial ou uma segunda carreira. A declaração de visão
diz (2004): “O Finishers Project é um movimento que fornece informação, desafios e caminhos
para as pessoas se unirem a Deus em sua paixão por sua glória entre as nações. A geração que
nasceu no pós-guerra é e será a geração mais saudável e educada de provedores de ninhos
vazios que já houve. Esta geração é habilidosa e provida de uma multidão de talentos.
Podemos dá-los a Jesus para ajuntar tesouro no céu ou perdê-los”.
93 Ralph D. Winter, “The Retirement Booby Trap”, Missions Frontiers 7 (julho de
1985):25.
94 Handley C. G. Moule, Charles Simeon (Londres: The InterVarsity Fellowship,
1948, original de 1892), p. 125. Para um esquema biográfico da vida de Simeon, veja “Charles
Simeon: The Ballast o f Humiliation and the Sails o f Adoration”, in John Piper, The Roots o f
NOTAS 245
Endurance: Invincible Perseverance in the Lives o f John Newton, Charles Simeon and
William Wilberforce (Wheaton: Crossway, 2002).
95 Samuel Zwemer, Raymond Lull: First Missionary to the Moslems (Nova York:
Fleming H. Revell Company, 1902), p. 132-145.
96 Paton, John G. Paton, p. 56.
97 Veja John Piper, “The Battle Cry o f Christian Hedonism”, em Desiring God
(Portland: Multnomah Press, 1996), p. 189-211.
98 Para uma avaliação completa dos recentes desvios da crença histórica no inferno
como o tormento consciente eterno dos ímpios, veja Ajith Fernando, Crucial Questions
about Hell (Wheaton: Crossway, 1994); Robert A. Peterson, Hell on Trial: The Case fo r
Eternal Punishment (Phillipsbourg: Presbyterian & Reformed, 1995); D. A. Carson, The
Gagging o f God: Christianity Confronts Pluralism (Grand Rapids: Zonderva, 1996), 515
536; Larry Dixon, The Other Side o f the Good News: Confronting the Contemporary
Challenges o f Jesus ’ Teaching on Hell (Ross-shire, Escócia: Christian Focus Publications,
2003); Robert A. Peterson e Edward William Fudge, Two Views on Hell: A Biblical and
Theological Dialogue (Downers Grove: Inter Varsity, 2000); e Robert Peterson e Chris
Morgan (orgs.), Hell under Fire: Modern Scholarship Reinvents Eternal Punishment (Grand
Rapids: Zondervan, 2004).
99Veja, por exemplo, seu sermão sobre “Justiça”, em Creation in Christ (org.) Rolland
Hein (Wheaton: Harold Shaw Publishers, 1976), p. 63-81, no qual ele argumenta vigorosamente
que o “castigo é para correção e redenção. Deus é compelido por seu amor a punir o pecado,
a fím de livrar suas criaturas: ele é compelido por sua justiça a destruir o pecado de sua
criação” (p. 72). Apresentei uma extensa critica à visão da justiça divina, autorredenção e
universalismo de MacDonald em The Pleasures o f God (Portland: Multnomah, 2000),
p. 168-174.
100 Clark Pinnock e Delwin Brown, Theological Crossfire: An Evangelical/Liberal
Dialogue (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990), p. 226-227. “Fui levado à
questão da crença tradicional no consciente tormento eterno por causa da reviravolta moral
e de considerações teológicas mais amplas, não em razão das premissas das Escrituras. Não
faz qualquer sentido dizer que um Deus de amor torturará pessoas pela eternidade por
pecados cometidos no contexto de uma vida finita... É tempo de os evangélicos se manifestarem
e dizerem que a doutrina bíblica e moralmente apropriada do inferno é o aniquilamento, não
o tormento eterno.” Cf. Clark Pinnock, “The Conditional View”, in William Crockett (org.),
Four Views on Hell (Grand Rapids: Zondervan, 1996), p. 135-136.
David Edwards, Evangelical Essentials, with a Response from John Stott (Downers
Grove: InterVarsity Press, 1988), p. 314-320. “Emocionalmente, acho o conceito [de tormento
eterno consciente] intolerável e não compreendo como as pessoas podem viver com isso sem
cauterizar seus sentimentos ou esmagá-los sob a tensão.” Ele apresenta quatro argumentos
que diz sugerir: “As Escrituras apontam em direção ao aniquilamento e esse ‘consciente
tormento eterno’ é uma tradição que tem de se submeter à suprema autoridade das Escrituras...
Eu não dogmatizo sobre a posição à qual cheguei. Mantenho-a experimentalmente. Porém,
pleiteio um diálogo franco entre os evangélicos tomando como base as Escrituras. Acredito
também que o aniquilamento final dos ímpios deve, ao menos, ser aceito como uma alternativa
legítima e biblicamente fundamentada ao seu tormento eterno consciente.”
Edward William Fudge, The Fire that Consumes: The Biblical Case fo r Conditional
Immortality, edição revisada (Carlisle: Patemoster, 1994).
101 John Hick, “W hatever Path Men Choose Is M ine”, em John Hick e Brian
Hebblethwaite (orgs.), Christianity and other Religions, (Filadélfia: Fortress Press, 1980),
p. 188. Hick termina com uma citação do Bhagavad Gita, iv, 11: “Como quer que o homem
246 A L E G R E M - S E OS P O V O S
possa se aproximar de mim, assim mesmo o aceito; porque, de todos os lados, qualquer
caminho que ele possa escolher é meu”.
Para um panorama dos pensamentos de Hick, e também para uma resposta crítica,
veja Harold Netland, Dissonant Voices: Religious Pluralism and the Question o f Truth
(1991; reimpressão, Vancouver: Regent Publishers, 1998); Harold Netland, Encountering
Religious Pluralism: The Challenge to Christian Faith and Mission (Downers Grove:
InterVarsity, 2001). De modo semelhante, John Parry, da Secretaria de Outras Crenças do
Departamento da Igreja e Missão Mundiais, da Igreja Reformada Unida, em Londres, escreveu,
em 1985: “É à fé de Jesus Cristo que somos chamados. A mudança de preposição de em para
de é significativa. É uma fé mostrada na confiança de alguém em Deus, entregando-se aos
propósitos de Deus, dando-se a si mesmo. Tal resposta de fé testemunhei entre meus amigos
de outras crenças. Não posso crer que eles estejam longe do reino do céu, e mais, como o
Dr. Starkey escreve as pessoas não serão julgadas por crenças doutrinárias corretas, mas por
sua fé. Aqueles que entrarão no reino no dia do juízo serão aqueles que, com fé, corresponderam
ao amor de Deus amando os outros’”. (“Exploring the Ways of God With Peoples of Faith”,
em International Review ofMissions, vol. lxxiv, nQ296, outubro, 1985, p. 512.)
102David Edwards, Evangelical Essentials, with a Responsefrom John Stott (Downers
Grove: InterVarsity Press, 1988), p. 327. Por exemplo, John Stott diz: “Creio que a posição
de muitos cristãos é permanecer agnóstica sobre essa questão... O fato é que Deus, ao longo
de muitas advertências solenes sobre nossa responsabilidade de nos sujeitarmos ao evangelho,
não revelou como irá lidar com aqueles que nunca o ouviram”. Em William V. Crockett e
James G. Sigountos (orgs.), Through no Fault o f Their Own (Grand Rapids: Baker Book
House, 1991); Timothy Phillips, Aida Besançon Spencer e Tite Tienou “preferem deixar o
assunto nas mãos de Deus” (p. 259, nota 3).
103 William V. Crockett e James G. Sigountos (orgs.) Through no Fault o f Their Own
(Grand Rapids: Baker Book House, 1991), incluem alguns ensaios de evangélicos que adotaram
o ponto de vista de que aqueles que nunca ouviram [o evangelho] são, de fato, levados à
salvação por meio da revelação geral. Sua conclusão é: “Aqueles que ouvem e rejeitam o
evangelho estão perdidos. E aqueles que aceitam a luz da revelação geral devem ficar desejosos
de renegar seus ídolos mortos e servir ao Deus vivo (lTs 1.9). Arevelação geral, então, cria
neles um desejo de rejeitar a sua religião pagã; ela não os ajuda a ver a significância salvadora
por si mesmos” (p. 260). Veja uma boa resposta a isso em Ajith Fernando, Sharing the Truth
in Love: How to Relate to People o f Other Faiths (Grand Rapids: Discovery House, 2001),
211-233.
104Erickson argumenta com base na revelação disponível na natureza, de acordo com
Romanos 1 - 2 e 10.18. Os elementos essenciais da “mensagem do evangelho” na natureza
são: “ 1) A crença em um Deus bom e poderoso. 2) A crença que ele (o homem) deve a esse
Deus perfeita obediência à sua lei. 3) A consciência dele não cumpre esse padrão e, portanto,
é culpado e condenado. 4) A compreensão de que nada que possa oferecer a Deus pode
compensá-lo (ou redimi-lo) por seu pecado e culpa. 5) A crença de que Deus é misericordioso
e que perdoará e aceitará aqueles que se entregarem à sua misericórdia. Pode ocorrer que uma
pessoa que crê e age com base neste conjunto de princípios não esteja redentivamente ligada
a Deus e receba os benefícios da morte de Cristo, quer conheça e entenda conscientemente os
detalhes desta provisão ou não? Presumivelmente, esse foi o caso dos crentes do Antigo
Testamento... Se isso é possível, se os hebreus possuíram a salvação na época do Antigo
Testamento simplesmente pela virtude de terem a forma do evangelho cristão sem seu
conteúdo, esse princípio pode ser estendido? Pode ser que aqueles que desde o tempo de
Cristo não tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho como é apresentado por meio da
revelação especial, participem da salvação sobre esse mesmo fundamento? Sobre qual outro
NOTAS 247
fundamento eles poderiam ser justamente responsáveis por terem ou não a salvação (pela
fé)?” Mas aqui ele é muito experimental, pois continua dizendo: “O que Paulo está dizendo
no restante de Romanos é que muito poucos, se algum houver, realmente chegarão a tal
conhecimento da salvação de Deus com base unicamente na revelação natural”. (Millard
Erickson, “Hope for Those Who Haven’t Heard? Yes, But...”, Evangelical Missions Quarterly
11, n 2, (abril de 1975), p. 124-125). Ele está seguindo, aqui, A. H. Strong: “Quem quer que,
entre os pagãos, seja salvo deve, da mesma forma [isto é, como os patriarcas do Antigo
Testamento], ser salvo lançando-se como pecador desesperado sobre o plano de misericórdia
de Deus, vagamente representado na natureza e providência”. Systematic Theology
(Westwood, Nova Jersey: Revell, 1907), p. 842. Esta interpretação é diferente da interpretação
do teólogo reformado mais antigo, Charles Hodge, que argumenta que somente pela Palavra
de Deus ouvida ou lida o chamado efetivo à salvação se manifesta. Systematic Theology,
vol. 2 (Grand Rapids: Eerdmans Publishing Co., 1952), p. 646.
105 Crokett e Sigountos, Through No Fault o f Their Own, 260.
106 Clark Pinnock, do McMaster Divinity College, argumenta que “o ‘fogo’ do
julgamento de Deus consome o perdido... Deus não desperta os ímpios para torturá-los
conscientemente para sempre, mas para declarar seu julgamento sobre eles e condená-los à
extinção, que é a segunda morte”. “Fire, Then Nothing”, Christianity Today, 44, n. 10 (20 de
março de 1987), p. 49.
107 Edwards, Evangelical essenciais, 317.
108 Scot McKnight dedica um tratamento extenso a Mateus 25.46 em vista de recentes
esforços (como o de John Stott) de ver o aniquilamento como conseqüência etema da
iniqüidade. Sua conclusão é consistente: “Os termos para eterno em Mateus 25.46 pertencem
à era final e uma característica distinta dela, em contraste com a atual, é que ela é etema,
infindável e temporalmente ilimitada. Logo, o significado mais provável de Mateus 25.46 é
que, assim como a vida com Deus é temporalmente ilimitada para o justo, assim também a
punição pelo pecado e pela rejeição a Cristo é temporalmente ilimitada... o estado final do
ímpio é tormento eterno consciente”. “Etemal Consequences or Etemal Conciousness”, in
William V. Crockett e James G. Sigountos (orgs.) Through no Fault o f Their Own (Grand
Rapids: Baker Book House, 1991), p. 157.
109Leon Morris, “The Dresdful Harvest”, Christianity Today 35 n. 6 (27 de março de
1991): 36.
110 Em David Edwards, Evangelical Essentials, with a Response from John Stott, p.
314, John Stott tenta honrar esse texto dizendo: “Temos seguramente de dizer que o banimento
de Deus será real, terrível (de modo que ‘melhor lhe fora não haver nascido’, Mc 14.21) e
eterno”. Mas ele não nos oferece nenhuma ideia do motivo pelo qual, para um homem que
come, bebe e tem uma vida feliz por 70 anos e depois deixa de ter qualquer tipo de consciência
teria sido melhor não ter existido.
111 Ibid., 318.
112 John Stott tem sido bastante gentil em corresponder pessoalmente comigo sobre
esta questão do destino etemo dos perdidos. Para ser justo com alguém que considero um
irmão e meu mentor teológico e pastoral por mais de 30 anos, desejo dar sua perspectiva
sobre o que escrevi em uma carta pessoal datada de 10 de março de 1993. Ele escreve: “Não
posso, honestamente, dizer que acho que você fez justiça sobre o que escrevi em Evangelical
Essentials... Por exemplo, ratifico vigorosamente os versículos ‘etemo’ e ‘inextinguível’ que
você cita e acredito em ‘punição etem a’. Não é a eternidade, mas a natureza da punição que
está em discussão. Você não esclareceu isso. Creio, também, em tormento no estado
intermediário (como mostra a história do rico e de Lázaro) e que será terrível ‘com choro e
ranger de dentes ’, quando o perdido tiver ciência do seu destino. Penso e creio tão fortemente
248 A L E G R E M - S E OS P O V O S
como você que ‘é algo terrível cair nas mãos do Deus vivo’. O que me perturba é o modo
como você tende a citar textos de comprovação como argumentos decisivos, quando eles
permitem interpretações alternativas. Eu apenas acho você superdogmático, como escrevi
em minha carta anterior, não deixando espaço para o agnosticismo humilde que admite que
Deus não tenha revelado tudo tão claramente como você entendeu”. Mencionei ao Dr. Stott,
em uma carta anterior, que minha atitude mais negativa que positiva em relação ao
“agnosticismo” e “experimentabilidade” é, provavelmente, influenciada pelo mar de
relativismo sobre o qual estou tentando navegar, tanto dentro como fora da igreja. Não
desejo comunicar uma repugnância ao aprendizado ou à mudança quando nova luz emerge
das Escrituras. Porém, meu diagnóstico da doença dos nossos tempos me inclina menos para
o “agnosticismo humilde” e mais (espero) à humilde afirmação. Se mudei da garantida e bem
assentada firmeza de convicção para o dogmatismo pobremente argumentado e sem garantia,
deixo para outros julgarem.
113 Uma pessoa que tem tido muitos problemas com a justiça do inferno e tem se
movido para uma posição muito incomum sobre o aniquilacionismo e a posição tradicional
do sofrimento eterno consciente é Greg Boyd, que representa a posição chamada “teologia
relacionai”. Em sua obra Satan and the Problem o f Evil (Downers Grove: Inter Varsity,
2001), Boyd tenta manusear os textos usados para argumentar em favor do tormento eterno
consciente no inferno e os textos usados para argumentar em favor do aniquilacionismo,
“afirmando que as duas opiniões são essencialmente corretas” (336). Por um lado, diz ele,
“quando toda a evidência bíblica é vista em conjunto, deve-se admitir que a posição do
aniquilacionismo é muito forte” (336). Porém, por outro lado, ele vê alguns textos que
simplesmente não se encaixam na posição aniquilacionista (ele menciona Ap 14.10; 20.10;
Mt 25.34,41; 2Ts 1.6-9 [336]). Ele pergunta: “Para onde isso nos leva? Quanto a mim, isso
me leva a um enigma. Não creio que a posição tradicional ou a dos aniquilacionistas faça
justiça adequadamente à evidência bíblica citada em apoio à posição de cada lado. Apesar
disso, não creio que a Escritura possa contradizer a si mesma (Jo 10.35). Isso levanta a
questão: Há um modo logicamente consistente que afirma que as duas posições estão corretas”
(336-337). Sua resposta é “sim”. “Tentarei ir além do impasse das compreensões tradicional
e aniquilacionista sobre a punição eterna e construir um modelo de inferno que nos permita
afirmar a essência de ambas as perspectivas” (339). Ele tenta mostrar que “o inferno é o
sofrimento eterno de agentes que foram aniquilados” (356). Ele afirma uma premissa essencial:
“Não pode haver uma realidade compartilhada entre aqueles que dizem sim a Deus e aqueles
que dizem não, assim como não pode haver realidade compartilhada entre a realidade que
Deus afirma e as possibilidades que Deus renega” (347). Eis aqui a conclusão que segue:
“O amor trata de relacionamentos e os relacionamentos tratam de realidade compartilhada.
Portanto, quando, no eschaton, a realidade é exaustivamente definida pelo amor de Deus, a
“realidade” de qualquer agente que se oponha ao amor não pode ser compartilhada por mais
ninguém e, assim, não pode ser real para mais ninguém. Ela é experimentada como real a
partir de dentro daquele que a sustenta desejando-a ativamente. Mas a todos que participam
da realidade - isto é, que estão abertos para Deus e uns aos outros por meio do amor de Deus
- isso é nada. E o nada desejado eternamente” (350). “O inferno é real somente a partir de
dentro” (348). Por isso, “podemos afirmar que, em certo sentido, os habitantes do inferno
são aniquilados, embora sofram eternamente. Pela perspectiva de todos que participam da
realidade no eschaton, os condenados não existem mais (Ob 16). Eles existem apenas como
uma completa negação... Continuam a sofrer tormento, mas um tormento causado por sua
própria escola patética de uma realidade ilusória de sua própria imaginação condenada”
(350). “Como diz a Escritura, estão extintos, reduzidos a cinzas, esquecidos para sempre...
Mas também podemos aceitar o ensino escriturístico a respeito da eternidade do tormento
NOTAS 249
dos réprobos... Apartir de dentro da realidade rebelde, o nada que desejaram é experimentado
como um algo. Para todos os outros, é nada” (353). Não estou convencido de que o complexo
e paradoxal “modelo” de Boyd possa sobreviver a exame minucioso. Uma extensa crítica
desta posição excede os limites deste livro, mas escrevi uma resposta parcial intitulada
“Greg Boyd on ‘The Etemal Suffering of Agents Who Have Been Annihilated’”, disponível
em www.desiringgod.org.
1,4 “Simplesmente não faz sentido dizer que um Deus de amor torturará pessoas para
sempre por pecados cometidos no contexto de uma vida finita” (Clark Pinnock e Delwin
Brown, Theological Crossfire: An Evangelical/Liberal Dialogue [Grand Rapids: Zondervan
Publishing House, 1990], p. 226).
115 “Não haveria uma séria desproporção entre pecados cometidos conscientemente
por um tempo e o tormento experimentado conscientemente ao longo da eternidade?” (David
Edwards, EvangelicalEssentials, with a Response from John Stott.)
1,6 Jonathan Edwards, “The Justice of God and the Damnation o f Sinners”, in The
Works o f Jonathan Edwards, vol. 1 (Edimburgo: Banner of Truth Trust, 1974), 669. Para
exposições da posição de Edwards sobre o inferno, veja John Gerstner, Jonathan Edwards
on Heaven and Hell (Morgan: Soli Deo Gloria Publishers, 1999); e Chris Morgan, Hell and
Jonathan Edwards: Toward a God-Centered Theology on Hell (Ross-shire, Escócia: Christian
Focus Publications, 2003).
117Veja a citação de Pinnock e a de Stott na nota 3. Veja também minha crítica ao modo
como Pinnock segue o mesmo procedimento em relação à onisciência de Deus em meu livro
The Pleasures o f God, p. 57-59, nota 6. Outra coisa omitida é que, no inferno, os pecados
dos impenitentes continuam para toda a eternidade. Eles não se tomam justos no inferno.
Eles não abandonam a corrupção de sua natureza, de modo que continuam se rebelando e
merecendo a punição eterna para sempre. Esse último discernimento foi sugerido a mim por
meu companheiro Tom Steller.
118 Observe que seria uma leitura superficial e incorreta desse texto, bem como de
Romanos 5.17-19, admitir que é mostrado o universalismo, insinuando que todos os seres
humanos serão salvos. “Todos” os que são absolvidos em Romanos 5 são definidos em
Romanos 5.17 como sendo “os que recebem a abundância da graça”. E “todos” os que serão
vivificados em ICoríntios 15.22 são definidos como “os que são de Cristo” (v. 23). O termo
“justificação que dá vida”, em Romanos 5.18, não significa que cada ser humano que está em
Adão será justificado, de modo que ninguém perecerá e não há algo como punição eterna para
ninguém. Digo isso por várias razões: ( 1 )0 verso 17 fala de “recebimento” do dom da graça,
como se alguns o recebessem e outros não. Verso 17: “Se, pela ofensa de um e por meio de
um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça
reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo”. Isso não soa como se todos
recebessem esse dom; (2) A “justificação que dá vida” a todos os homens, em Romanos 5.18,
não significa que todos os seres humanos sejam justificados porque Paulo ensina, nesta
mesma carta, que há uma punição eterna e que nem todos os seres humanos são justificados.
Por exemplo, em Romanos 2.5, ele diz: “Segundo a tua dureza e coração impenitente,
acumulas contra ti mesmo ira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus”. Depois,
nos versos 7 e 8, ele contrasta essa ira com a “vida eterna” e, assim, mostra que esta ira é
eterna, não temporária. Portanto, haverá alguns que não serão justificados, mas ficarão sob
a ira de Deus para sempre, e haverá outros que terão a vida eterna; (3) A “justificação que dá
vida” a todos os seres humanos, em Romanos 5.18, não significa que todos os seres humanos
sejam justificados em toda a carta de Romanos, até este ponto, a justificação não é automática,
como se cada ser humano a recebesse, mas é “pela fé”. Romanos 5.1: “Justificados, pois,
mediante a fé...". Romanos 3.28: “O homem é justificado pelafé , independente das obras da
250 A L E G R E M - S E OS P O V O S
lei”. Além disso, uma leitura universalista das afirmações de Paulo em que ele se refere a
“todos” causa em Paulo uma dor intensa (Rm 9.3) - a ponto de ele desejar, se pudesse,
perecer por todos eles - ininteligível.
119 Para um estudo mais extenso da importância da morte de Cristo, reflita sobre os
seguintes textos: Marcos 10.45; Mateus 26.28; João 1.29; 6.51; Romanos 4.25 - 5.1; 5.6, 8
- 10; ICoríntios 15.3; 2Coríntios 5.18-21; Gálatas 1.4; 4.4; Efésios 1.7; 2.1-5, 13, 16, 18;
5.2, 25; Colossenses 1.20; ITessalonicenses 5.9; Tito 2.14; ITimóteo 4.10; Hebreus 1.3;
9.12, 22, 26; 10.14; 12.24; 13.12; lPedro 1.19; 2.24; 3.18; 1João 2.2; Apocalipse 1.5.
120 Veja as notas 6 e 7 sobre os representantes desta posição. Clark Pinnock adota a
ideia de que as pessoas de outras religiões serão salvas sem conhecerem Cristo. “Não
precisamos pensar na igreja como a arca da salvação, deixando todos os outros no inferno;
podemos, antes, pensar nela como uma testemunha escolhida para a plenitude da salvação
que veio ao mundo por meio de Jesus” (ênfase acrescentada). Clark Pinnock, “Acts 4.12 -
No Other Name Under Heaven”, in William V. Crockett e James G. Sigountos (orgs.),
Through No Fault o f Their Own, p. 113. Veja também Clark Pinnock, A Wilderness in God s
Mercy: The Finality o f Jesus Christ in a World o f Religions (Grand Rapids: Zondervan,
1992); e Clark Pinnock, “An Inclusivist View”, in Dennis L. Okholm e Timothy R.
Phillips (orgs.), More Than One Way? Four Visions on Salvation in a Pluralistic World,
(Grand Rapids: Zondervan, 1995), 95-113. Ele está seguindo outros com semelhantes
visões: Charles Kraft, Christianity in Culture (Maryknoll: Orbis, 1979), p. 253-257;
James N. D. Anderson, Christianity and World Religions (Downers Grove: InterVarsity
Press, 1984), Capítulo 5; e John E. Sanders, “Is Belief in Christ Necessary for Salvation?”
Evangelical Quarterly, 60 (1988); p. 241-259. Para um breve panorama de representantes
de ambos os lados da questão, veja Malcolm J. McVeigh, “The Fate o f Those W ho’ve
Never Heard? It Depends”, Evangelical Quarterly, 21, ns 4 (out. de 1985), p. 370-379.
Para livros com as múltiplas posições apresentadas, veja Gabriel Fackre, Ronald H. Nash
e John Sanders, What About Those Who Never Had Heard? Three Views on the Destiny o f
the Unevangelized (Grand Rapids: Zondervan, 1995); e Ockholm e Phillips, More Than
One Way? Para críticas ao inclusivismo, veja Carson, The Gagging o f God, 279-314; Dick
Dowsett, God, Thats Not Fair! (Sevenoaks: OMF Books, 1982); Ronald H. Nash, Is
Jesus the Only Savior? (Grand Rapids: Zondervan, 1994); Ramesh Richard, The Population
o f Heaven (Chicago: Moody, 1984); Paul R. House e Gregory A. Thombury (orgs.), Who
Will Be Saved? Defending the Biblical Understanding o f God, Salvation and Evangelism
(W heaton: Crossway, 2000), 111-160; e os colaboradores de R. D ouglas G eivett e
W. Gary Phillips, in More Than One Way?
121 Há uma continuidade entre o caminho para a salvação nos tempos do Antigo
Testamento e o caminho pela fé em Jesus Cristo nos tempos do Novo Testamento. Mesmo
antes de Cristo, as pessoas não eram salvas à parte da revelação especial dada por Deus. Veja
Fernando, Sharing the Truth in Love, 224-233. Não é como se a revelação geral por meio da
natureza fosse eficaz em produzir fé antes de Cristo, mas tivesse deixado de ser eficaz
depois de Cristo. De acordo com Romanos 1.18-23, a revelação geral por meio da natureza
sempre foi suficiente para tomar as pessoas responsáveis por glorificar a Deus e dar-lhe
graças, mas não era eficaz para a salvação. A razão dada para isso é que as pessoas, em sua
condição natural, suprimem a verdade. Veja a nota 40. Portanto, a revelação especial sempre
foi o caminho para a salvação e essa revelação especial era centrada em Israel, na promessa
de um Redentor e nas pré-figurações desta salvação no sistema sacrificial do Antigo
Testamento. Jesus é, agora, o clímax e o cumprimento desta revelação especial, de modo que
a fé salvadora, que sempre foi focalizada na revelação especial, agora é focalizada nele.
122 João Calvino, The Acts o f the Apostles, 14-28, trad. John W. Fraser (Grand Rapids:
Wm. B. Eerdmans Pub. Co., 1973), p. 123.
NOTAS 251
123 Tom Wells, A Vision for Missions (Edimburgo: The Banner of Truth Trust, 1985),
p. 12-13.
124 Expus isso dessa maneira para manter aberta a salvação de crianças e deficientes
mentais, que não têm capacidade física sequer para apreender que há alguma revelação
disponível. O princípio da responsabilidade em Romanos 1.20 (Deus toma o conhecimento
disponível, sendo “ [os] homens p o r isso indesculpáveis”) é a base para essa convicção.
A Bíblia não trata desse caso especial em detalhes e somos levados a especular que a
adequação da conexão entre a fé em Cristo e a salvação será preservada por meio da vinda à
fé das crianças, quando Deus as trouxer à maturidade no céu ou atingirem a maturidade na
terra. Para uma defesa desta posição, veja Ronald H. Nash, When a Baby Dies: Answers to
Comfort Grieving Parents (Grand Rapids: Zondervan, 1999); e Albert Mohler, “The
Salvation ofthe ‘Little Ones’: Do InfantsW ho D ieGo toH eavenT ' Fidelitas: Commentary
on Theology and Culture (http://www.sbts.edu/mohler/fidelitas/littleones.html). Mohler
destaca que John Newton, Charles Spurgeon, Charles Hodge e B. B. Warfield sustentavam
essa posição. Todos eles criam fortemente no pecado original, assim como eu, mas também
criam que Deus provê um justo caminho para a salvação de crianças sem comprometer essa
doutrina ou a doutrina da eleição incondicional.
125 Millard Erickson, “Hope for Those Who Haven’t Heard? Yes, but...”, Evangelical
Missions Quarterly, vol. 11, nB2 (abril de 1975), p. 124-125.
126Don Richardson, Eternity in Their Hearts (Ventura, Califórnia: Regai Books, 1981),
p. 56-58.
127 W. Harold Fuller, Run While the Sun is Hot (Londres: Hazell Watson and Viney
Ltd., s/d), p. 183-184.
128Clark Pinnock, “Acts 4.12 - No Other Name Under Heaven”, 110. Pinnock admite
que os comentaristas (como Bruce, Haenchen, Longenecker e Conzelmann) consideram
Atos 4.12 como um suporte para o “paradigma exclusivista”.
™ Ibid., 109.
130 O verbo grego para “ouvir” (akouo) seguido por uma pessoa no caso genitivo
significa ouvir a pessoa, não apenas ouvir sobre ela. Muitos comentaristas concordam com
isso (e.g., Murray, Cranfield e Moo).
131 John Murray, The Epistle to the Romans, vol. 2 (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans
Publishing Co., 1965), p. 60.
132 Ibid., 62.
133Charles Hodge, Commentary the Epistle to the Romans (Nova York: A. C. Armstrong
and Son: 1893), p. 548.
134 Veja a nota 7.
135 LXX é uma abreviatura para a tradução grega do Antigo Testamento chamada
Septuaginta. Ela vem da tradição de que a tradução foi feita por 70 (LXX) estudiosos.
136 Ele encontra apoio para essa conclusão também em Romanos 1.18-21. Mas o
problema com isso é que, embora esses versículos ensinem a realidade da revelação geral, são
suficientes para manter a humanidade responsável por glorificar a Deus (v. 21), entretanto
eles também ensinam que os homens suprimem essa verdade em sua iniqüidade (v. 18), não
dão graças a Deus ou o honram como deveriam (v. 21) e são, portanto, indesculpáveis (v. 20).
A revelação geral é suficiente para manter todos os homens responsáveis por adorar a Deus,
porém não é eficaz para produzir a fé que salva. Eis por que o evangelho deve ser pregado a
todas as pessoas. Deus honrará seu Filho acompanhando a pregação de seu nome com poder
do coração reavivado.
137John Murray, The Epistle to the Romans, vol. 2, p. 61. “Uma vez que a proclamação
do evangelho não é para todos sem distinção, é apropriado ver o paralelo entre a universalidade
252 A L E G R E M - S E OS P O V O S
a igreja de Cristo (Rm 10.14-15; 15.20), mas a verdadeira evangelização não depende de
uma resposta de fé (Hb 4.6). Para um estudo histórico notavelmente abrangente do conceito,
veja David B. Barrett, Evangelize! A Historical Survey o f the Concept (Birmingham: New
Hope, 1987).
148 Ralph Winter, “The New Macedonia: A Revolutionary New Era in Mission
Begins”, in Ralph Winter e Steven Hawthome (orgs.), Perspectives on the World Missions
Movement (Pasadena: William Carey Library, 1999), p. 346.
149 Ralph Winter, “Unreached Peoples: Recent Developments in the Concept”,
Missions Frontiers, (agosto/setembro de 1989), p. 18.
150 Ibid., 12.
151 Veja a nota 38 sobre esta diferença de perspectiva e seus efeitos.
152 Harley Schreck e David Barrett (orgs.), Unreached Peoples: Clarifying the Task
(Monrovia: Março, 1987), p. 6-7.
153Veja adiante, neste capítulo, para uma discussão do que significa não alcançado.
154Gálatas 2.14 parece ser uma exceção no texto inglês (“ Sendo tu judeu, vives como
gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?”). Mas a
palavra grega aqui não é ethnos, mas o advérbio ethnikos, que significa ter os padrões de vida
dos gentios.
155A seguir estão todos os usos no singular no Novo Testamento: Mateus 21.43; 24.7
(Mc 13.8; Lc21.10); Lucas 7.5; 23.2 (ambas referências à nação judaica); Atos 2.5 (“judeus...
de todas as nações”); 7.7; 8.9; 10.22 (“de toda a nação judaica”), 35; 17.26; 24.2, 10, 17;
26.4; 28.19 (as cinco últimas referências são à nação judaica); João 11.48, 50, 51, 52; 18.35
(todas em referência à nação judaica); Apocalipse 5.9; 13.7; 14.6; lPedro2.9. Paulo nunca
usa o singular.
156 Por exemplo, Mateus 6.32; 10.5; 12.21; 20.25; Lucas 2.32; 21.24; Atos 9.15;
13.46-47; 15.7, 14, 23; 18.6; 21.11; 22.21; Romanos 3.29; 9.24; 15.9, 10-12, 16; 16.26;
Gálatas 2.9; 3.14; 2Timóteo 4.17; Apocalipse 14.18; 16.19; 19.15; 20.8; 21.24. Quando uso
a expressão “indivíduos gentios”, neste capítulo, não quero focalizar uma atenção indevida
sobre pessoas específicas. Ao contrário, quero dizer não judeus de uma forma abrangente,
sem referência a seus agrupamentos étnicos.
157De acordo com Dibelius, isso é sugerido por F. F. Bruce, Commentary on the Book
ofActs (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1954), p. 358. Porém, Lenski está
certo de que a próxima oração de Atos 17.26 se levanta contra tal tradução: "... havendo
determinado a divisão das eras e dos limites de suas habitações”. Isso se refere, como afirma
também John Stott, a vários grupos étnicos com “as épocas de sua história e os limites de
seu território”. R. C. H. Lenski, The Interpretation o f the Acts o f the Apostles (Mineápolis:
Augsburg Publishing House, 1934), p. 729; John Stott, The Spirit, the Church and the World
(Downers Grove: InterVarsity Press, 1990), p. 286. O objetivo deste versículo é tirar o
vento das velas do orgulho étnico em Atenas. Todos os outros ethne descenderam do mesmo
“um” que os gregos, e não apenas isso, seja qual for a era e o território que um povo possua,
é obra soberana de Deus e não há nada do que se vangloriar. “Tanto a história como a
geografia de cada nação estão definitivamente sob o controle [de Deus]” (Stott).
158 Minha pesquisa foi feita procurando por todas as variantes de panta ta ethne no
plural. Os textos seguintes são referentes a versículos e divisões de capítulos do Antigo
Testamento grego (LXX) que, ocasionalmente, não correspondem às versões para o hebraico
e para o inglês. Gênesis 18.18; 22.18; 26.4; Êxodo 19.5; 23.22,27; 33.16; Levítico 20.24,26;
Deuteronômio 2.25; 4.6,19,27; 7.6,7,14; 10.15; 11.23; 14.2; 26.19; 28.1,10, 37,64; 29.23;
30.1,3; Josué 4.24; 23.3, 4, 17, 18; ISamuel 8.20; lCrônicas 14.17; 18.11; 2Crônicas 7.20;
32.23; 33.9; Neemias 6.16; Ester 3.8; salmos 9.8; 46.2; 48.2; 58.6, 9; 71.11, 17; 81.8; 85.9;
254 A L E G R E M - S E OS P O V O S
112.4; 116.1; 117.10; Isaías 2.2; 14.12,26; 25.7; 29.8; 34.2; 36.20; 40.15, 17; 43.9; 52.10;
56.7; 61.11; 66.18, 20; Jeremias 3.17; 9.25; 25.9; 32.13, 15; 33.6; 35.11, 14; 43.2; 51.8;
Ezequiel25.8; 38.16; 39.21; Daniel 3.2, 7; 7.14; Jo e l4 .2 ,11,12; Amós 9.12; Obadias 15,16;
Habacuque 2.5; Ageu 2.7; Zacarias 7.14; 12.3,9; 14.2, 16, 18, 19; Malaquias 2.9; 3.12.
159 Karl Ludwig Schmidt argumenta que as mishpehot são “pequenas sociedades
assemelhadas a um clã dentro de um grupo principal ou nação”. Gerhard Kittel, traduzido
por Geoffrey Bromiley, Theological Dictionary o f the New Testament, vol. 2, (org.) (Grand
Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1964), p. 365.
160 Paulo pode ter escolhido usar panta ta ethne, porque foi desse modo que o Antigo
Testamento grego traduziu a promessa de Deus a Abraão em três de suas cinco ocorrências
(Gn 18.18; 22.18 e 26.4; porém em 12.3 e 28.14, que a traduzem como pasai haiphulai).
Contudo, as palavras de Paulo não correspondem exatamente a nenhum desses cinco textos.
Assim, ele pode muito bem ter dado sua própria composição para a tradução do hebraico.
161 A evidência para isso seria, por exemplo, o uso repetido, no Antigo Testamento
grego, da expressão “casas (ou lares) de famílias”, que apresenta “família” (pátria) como um
agrupamento maior do que um lar. Cf. Êxodo 6.17; Números 1.44; 3.24; 18.1; 25.14-15;
Josué 22.14; lCrônicas 23.11; 24.6; 2Crônicas 35.5; Esdras 2.59. Veja adiante “Quão pequena
é uma família?”.
162 Este é um salmo para o rei e se refere, em sua aplicação conclusiva, a Cristo, o
Messias, como é mostrado pelo uso do versículo 7 em Hebreus 1.9.
163 Citado em Johannes Verkuyl, “The Biblical Foundation o f the Worldwide Mission
Mandate”, in Ralph Winter e Steven Hawthome (orgs.), Perspectives on the World Christian
Movement, p. 44.
164 A essas reflexões poderiam ser acrescentadas as palavras incisivas de Paulo em
Romanos 10.14-15 referentes à necessidade de pessoas serem enviadas para pregar, a fim de
que outras ouçam, creiam, invoquem o Senhor e sejam realmente salvas. Veja a discussão
sobre esses versículos no capítulo 4.
165 O que pode ajudar aqui é o sentido dado por João, para que víssemos a grande
reversão da idolatria tão predominante na terra, expressa, por exemplo, em Daniel 3.7.
Nabucodonosor tinha erigido um ídolo e conclamou todos a adorá-lo. As palavras usadas
para indicar a extensão daquela adoração são quase idênticas às palavras que João usa em
Apocalipse 5.9, ao mostrar a extensão da verdadeira adoração a Deus: "... se prostraram os
povos, nações e homens de todas as línguas e adoraram a imagem de ouro que o rei
Nabucodonosor tinha levantado”.
166 Salmo 85.9 (LXX). Veja as considerações sobre esse texto mais atrás neste capítulo.
167 The Bible Societies Greek New Testament (3S ed.) e o Nestle-Aland Greek New
Testament (26a ed.) escolhem laoi como original. Na versão revista e atualizada, lê-se “povos”,
como nos comentários feitos por Heinrich Kraft, Leon Morris e Robert Mounce.
168 De todos os usos de panta ta ethne no Antigo Testamento aos quais Jesus pode estar
se referindo, pelo menos estes se relacionam à visão missionária do povo de Deus: Gênesis
18.18; 22.18; 26.4; Salmo 48.2; 71.11, 17; 81.8; 85.9; 116.1; Isaías 2.2; 25.7; 52.10; 56.7;
61.11; 66.18-20 (todas as referências são das divisões dos versículos e capítulos da LXX).
169Associações semelhantes são encontradas em salmo 2.8; 67.5-7; 98.2-3; Isaías 52.10;
Jeremias 16.19; Zacarias 9.10. Entretanto, quatro diferentes expressões gregas são usadas
nesses textos, das quais apenas uma (Jr 16.19) é a palavra exata da expressão em Atos 1.8.
170 O Antigo Testamento grego traduz o hebraico mishpehot (famílias ou clãs) por
phylai, que é traduzida por “tribos”, em Apocalipse 5.9. Assim, pode parecer que essa não
é uma categoria diferente de grupo. Mas, de fato, phylai é traduzido para o hebraico shebet
e o hebraico mishpehot geralmente como suggeneia. Portanto, devemos considerar seriamente
NOTAS 255
a diferença entre mishpehot e “tribo”, já que se trata nitidamente de uma unidade menor, de
acordo com Êxodo 6.14s.
171 Patrick Johstone e Jason Mandryk, Operation World: When We Pray God Works
(Carlisle: Patemoster, 2001), 15.
172David Barret, George T. Kurian e Todd M. Johnson, World Christian Encyclopedia:
A Comparative Survey o f Churches and Religions - A D 30 to 2200, vol. 2 (Oxford: Oxford
University Press, 2001), 27-28.
173 Ibid., 16.
174 Ralph D. Winter, “Unreached Peoples: What, Where and Why?”, p. 154.
175 Veja a nota 24.
176 Kittel, Theological Dictionary o f the New Testament, vol. 2, 369.
177 Tratarei, aqui, de dois problemas apenas de modo breve, porque eles não fazem
parte da revelação bíblica e não parecem ter muita relevância na tarefa missionária. (1) Um é
se todas as pessoas serão representadas perante o trono de Deus mesmo sem as missões,
porque as crianças em cada um desses povos morreram e presumivelmente irão para o céu e
atingirão a maturidade para o louvor de Deus; (2) Outro problema é se todos os clãs e tribos
serão, de fato, representados diante do trono de Deus, uma vez que muitos clãs e tribos, sem
dúvida, morreram antes de ser evangelizados. Com relação ao primeiro problema, acredito
que as crianças que morrem estarão no reino. Baseio isso no princípio de que somos julgados
de acordo com o conhecimento disponível a nós (Rm 1.19-20) e as crianças não têm nenhum
conhecimento disponível, uma vez que a capacidade de discernimento delas ainda não está
desenvolvida. Entretanto, Deus jamais menciona ou relaciona isso de nenhum modo ao
empreendimento missionário ou à promessa de que todas as famílias da terra serão abençoadas.
Em vez disso, parece ser seu propósito ser glorificado por meio da conversão de pessoas que
reconhecem sua beleza e grandeza e venham a amá-lo acima de todas os deuses. Deus não
seria honrado tão grandiosamente se o único meio de ele contar com os adoradores de todas
as nações fosse pela mortalidade natural de suas crianças. Com respeito ao outro problema,
pode ser verdade que alguns clãs e tribos desapareceram da História sem que nenhum de seus
membros tenha sido salvo. A Bíblia não reflete sobre essa questão. Estaríamos especulando
além da garantia das Escrituras se disséssemos que deveria haver outro meio de salvação para
tais tribos além de ouvir e crer no evangelho de Jesus (veja embasamento para isso no
capítulo 4). Em vez disso, deveríamos assumir, na ausência de revelação específica, que o
significado da promessa e o ordenamento relativo às nações é que “todas as nações” refere-
se a todos aqueles que existirão na consumação dos séculos. Quando chegar o fim, não haverá
nenhum grupo de pessoas existente que será deixado fora da bênção.
178 Ralph Winter, “Unreached Peoples: Recent Developments in the Concept”, p. 12.
179 “What Does Reached Mean? An EMQ Survey”, Evangelical Missions Quarterly,
vol. 26, n° 3 (julho, 1990), p. 316.
180A tradução da versão da Bíblia que estamos usando diz: “Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura”. Porém, “a toda criação” seria mais plausível. O paralelo
mais próximo desta expressão grega (pase te ktisi) é encontrado em Romanos 8.22: “Sabemos
que toda a criação [pasa he ktisis], a um só tempo, geme e suporta angústias até agora”. As
palavras e a sua colocação são idênticas; somente o caso gramatical é diferente, dativo em
Marcos 16 e nominativo em Romanos 8. Para os meus propósitos aqui, não precisamos
determinar se Marcos 16.9ss. é uma adição antiga ao Evangelho de Marcos. O versículo 15
representa um meio bíblico de expressar a Grande Comissão.
181 “Fazei discípulos de todas as nações” pode ser entendido como significando:
transformem todas as nações em discípulos. No entanto, as palavras dos versículos 19 e 20
apontam para outra direção. A palavra “nações” (ethne) é neutra em grego. Mas a palavra
para “os” nas orações seguintes é masculina: “batizando-os [autous\ em nome do Pai, e do
256 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os [autous] a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado”. Isso sugere que o discipulado em questão é a conquista de discípulos individuais
das nações, em lugar de tratar a nação como um todo como o objeto de conversão e discipulado.
Isso foi afirmado vigorosamente por Karl Barth, que lamentou que a interpretação que
tomou ethne, com o sentido de discipulado, “tenha infestado o pensamento missionário e se
conectado às fantasias dolorosas dos cristãos alemães. Isso é inútil”. Karl Barth, “An Exegetical
Study of Matthew 28.16-20”, in Francis M. DuBose (org.), Classics o f Christian Missions
(Nashville: Broadman Press, 1979), p. 46.
182 Esse problema, evidentemente, não existe por definição para Ralph Winter e
outros estudiosos de missões, que definem um grupo de pessoas como “o grupo mais amplo
dentro do qual o evangelho pode espalhar-se, como um movimento de formação de uma
igreja, sem encontrar barreiras de compreensão ou aceitação” (Ralph Winter, “Unreached
Peoples: Recent Developments in the Concept”, p. 12). Em outras palavras, se uma “família”
não evangelizada é culturalmente próxima de outra “família” evangelizada, o evangelho pode
mover-se sem barreiras significativas. Então, por definição, essa família não evangelizada, de
acordo com o Dr. Winter, não é “um grupo de pessoas não alcançadas”. E simplesmente parte
de um grupo alcançado que precisa evangelizar seus membros. A diferença entre a posição do
Dr. Winter e a minha é que estou simplesmente tentando chegar a um acordo com o sentido
bíblico de “famílias”, em Gênesis 12.3, ao passo que ele está definindo grupos de pessoas em
termos do que é necessário nos esforços missionários. As duas abordagens não são discordantes.
Mas a diferença pode resultar em eu chamar uma “família” ou clã de um grupo de pessoas não
alcançadas nos termos bíblicos (um dos panta ta ethne a serem discipulados) e o Dr. Winter
dizer que são “alcançadas” para os propósitos especificamente missionários.
183 Esses termos não são tão freqüentes na literatura como eram quando a primeira
edição deste livro foi publicada, em 1993, mas algumas igrejas (inclusive a igreja onde sirvo)
e organizações ainda os utilizam como guias táticos úteis. O “E” significa evangelizar: E-l -
pessoas basicamente “como nós”; E-2 - pessoas que não são como nós, mas falam a mesma
língua e são significativamente envolvidas na mesma cultura (e . g uma igreja branca suburbana
em relação a um centro urbano negro); E-3 - pessoas que falam uma língua diferente e têm
uma cultura muito diferente (independente de viverem perto ou longe de nós).
184 Biblicam ente, alcançar cada clã em uma região é uma tarefa m issionária
independentemente da sua proximidade cultural de outros clãs alcançados. Porém,
missiologicamente, esse esforço pode não ser visto como parte da tarefa missionária. O que
é necessário, talvez, são distinções mais esmeradas em nossa língua. Paulo certamente viu
sua obra missionária como encerrada antes de cada clã, na Ásia, ter sido evangelizado.
Entretanto, se a Grande Comissão de Mateus 28.19 inclui “todas as famílias da terra” em
panta ta ethne, então a tarefa missionária naquele sentido não está completa até que todos os
clãs estejam representados no reino. Na prática, é provavelmente mais sensato enfatizar a
estratégia paulina como a essência das missões.
185 “Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios” (At 22.21).
186 Empenhei-me em demonstrar isso nas Escrituras, no capítulo 1, e em Desiring
God: Meditations o f a Christian Hedonist (Sisters: Multnomah Press, 1996), p. 255-266; e
The Pleasures o f God: Meditations on God s Delight in Being God (Sisters: Multnomah
Press, 2000), p. 97-119.
187 A história da torre de Babel, em Gênesis 11, não significa que Deus desaprova a
diversidade de línguas do mundo. Não nos foi dito que, se não fosse pela torre de Babel, Deus
não teria criado diferentes línguas no mundo. Bloquear um ato de orgulho (Gn 11.4) foi a
ocasião em que Deus iniciou a diversidade de línguas no mundo. Porém, isso não significa
que a diversidade de línguas foi uma maldição que precisaria ser revertida na era vindoura.
NOTAS 257
213 Estou consciente de que Jesus pode não ter falado em grego com esta mulher junto
ao poço e, por isso, pode não ter, de fato, usado a palavra proskyneo. Mas entendo que a
tradução feita por João da intenção de Jesus é precisa e que o uso que João faz de proskyneo
captura fielmente o que Jesus quis comunicar sobre o significado de adoração comunicado
por esta palavra.
214 Veja John Piper, Desiring God: Meditations o f a Christian Hedonist (Sisters:
Multinomah, 1996), 73-95, para uma discussão mais completa do contexto de João 4 e sua
relação com a adoração em espírito e em verdade.
215 O substantivo deste verbo é latreia e é usado para traduzir o substantivo ‘abodah
cinco vezes no Antigo Testamento grego. Paulo a usa duas vezes, uma para designar a
adoração no Antigo Testamento (Rm 9.4) e uma para designar a vida cristã (Rm 12.1).
216A mesma confiança é vista no imaginário do povo de Deus (corpo de Cristo) sobre
o “templo” do Novo Testamento em que os sacrifícios espirituais são oferecidos (lP e 2.5),
onde Deus habita com seu Espírito (Ef 2.21-22) e onde todas as pessoas são vistas como
sacerdócio santo (lP e 2.5, 9). Segunda Coríntios 6.16 mostra que a esperança da Nova
Aliança da presença de Deus está sendo cumprida neste momento na igreja como povo, não
em um culto específico: “Nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse:
Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo”.
217 Calvino, Institutos, IV.x.30.
218 Citado em Ewald M. Plass (org.), WhatLuther Says, vol. 3 (St. Louis: Concordia,
1959), 1546.
2,9 Citado em Leland Ryken, Worldly Saints: The Puritans as They Really Were
(Grand Rapids: Zondervan, 1986), 116.
220 Veja a nota 6.
221 John Piper, The Purifying Power o f Living by Faith in Future Grace (Sisters:
Multinomah, 1995).
222 John Piper, The Pleasures o f God: Meditations on G ods Delight in Being God
(Sisters: Multinomah, 2000).
223 John Piper, God's Passion fo r His Glory: Living the Visiono f Jonathan Edwards
(Wheaton: Crossway, 1998).
224 C. S. Lewis, Reflections on the Psalms (Nova York: Hartcourt Brace and World,
1958), 93-95.
225 Não pense que quero dizer que o cristão verdadeiro nunca luta com períodos
estéreis de afeições espirituais baixas e quase mortas. Nós lutamos. Veja especialmente a
discussão crucial de três níveis ou estágios de adoração em Piper, Desiring God, 85-87. Há
leves ecos da dignidade de Cristo que brilham mesmo quando estamos suspensos sobre a
esperança nele pelos dedos do pé. Ele é honrado pela mulher moribunda que engasga com seu
próprio vômito (falo de minha experiência pastoral) e não amaldiçoa Deus, mas se submete,
mesmo com gritos, e espera contra a esperança que esse horror não seja ira, mas o último
terror demoníaco antes da alvorada etema.
226 Estou muito consciente das críticas de que a busca da alegria desviando o olhar do
Apreciado é mortal. Não estou recomendando que você vá ao Grand Canyon da grandeza de
Deus e se sente na beirada com o dedo no pulso e sua mente em sua condição interior. Isso
cancelaria o Canyon. Entregue-se ao Canyon. Contemple-o. Divirta-se nele. Absorva-o. Reflita
sobre ele. Esse é o tipo de busca que tenho em mente. A glória totalmente satisfatória de Deus
não é experimentada quando focalizamos a experiência, mas quando focalizamos a glória.
227 O contexto deixa claro como cristal que “seu” se refere a Jesus Cristo: “Foi
designado Filho de Deus em poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos
mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor, por intermédio de quem viemos a receber
260 A L E G R E M - S E OS P O V O S
graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé, entre todos os gentios”
(Rm 1.4-5).
228David Doran, em seu livro For the Sake o f His Name: Challenging a New Generation
fo r World Missions (Allen Park: Student Global Impact, 2002), 131-154, escreveu um
capítulo chamado “The Territory of the Great Comission”. Nele, Doran faz uma correção a
uma ênfase assimétrica no foco sobre o grupo de pessoas em missões, às expensas do foco
geográfico. Apesar de nossa interação, não penso que seja necessário mudar algo que escrevi.
No entanto, alerto o leitor para o fato de que Doran interage comigo neste livro e, assim,
pode fornecer uma perspectiva que eu esteja negligenciando.
229 Veja especialmente os usos de propempo emAtos 15.3;Romanos 15.24; ICoríntios
16.6, 11; 2Coríntios 1.16 e Tito 3.15.
230 John Stott, comentando o v. 6, diz: “Eles não devem apenas ser recebidos quando
chegam, mas ter lugar para descansar e provisões (sem dúvida, suprimentos de comida e
dinheiro) para serem enviados do modo digno de Deus... Tal envio cuidadoso dos missionários
em sua jornada não é apenas uma ‘coisa leal’ (v. 5). mas uma coisa ‘bonita’ (v. 6, kalos
poieseis, bem fareis)”. The Letters ofJohn: An Introduction and Commentary (Grand Rapids:
William B. Eerdmans Publishing Co., 1989), p. 225.
231 David Bryant ajudou a definir e popularizar a noção de “cristão global” em seu
livro In the Gap: What It Means to Be a World Christian (Downers Grove: InterVarsity
Press, 1979).
índice de textos bíblicos
G ênesis N úm eros 2S am uel
1.5, 10, 56, 123, 136, 159, 10.9, 150 1.24, 159
170, 171, 185, 198, 232, 10.1 0 -1 3 , 151 2 .14-16, 154
236 10.11, 150 3.6-7, 71
1.16, 78, 154 10.11-21, 152 3 .6 -1 0 , 196
1.18, 39, 137 10.13, 149, 152 4.13, 102
1.18, 23, 44, 240 10.13-15, 149 5.5, 129
1.18-21, 251 10.13-14, 17, 78 6.20, 43
1.18-23, 250 10.14, 150, 152, 157 9.1 9 -2 2 , 252
1.19-20, 255 10.14-15, 150, 151, 253, 9.22, 138
1.19-21, 133 254 9.25, 61
1.20, 251 10.14-16, 151 9.2 6 -2 7 , 62
1.20,21, 207 10.14-21, 150 10.31, 43, 220, 236
1.22-23, 43 10.15, 150 12.2, 168
2.6-8, 128 10.16, 151 12.22, 102
2.7, 101 10.18, 151, 152, 246 13.3, 46
2.12, 137 10.19, 152 13.5, 45, 46
3 .9-1 9, 154 11-21, 152 15.2, 154
3 .9-2 0, 133 11.14, 138 15.3, 250
3.23, 43, 44 11.25-26, 138 15.10, 71
3.23 -25 , 133 11.36, 44, 206, 231 15.21-23, 132
3.25-26, 42, 222 12.12, 61 15.22, 249
3.28, 249 15, 155, 182 15.41, 101
3.29, 253 15.7, 43 16.6, 11, 260
4.11, 180 15.8-9, 49, 50, 182, 210,
4.16 -17 , 181 222 2 C o rín tio s
4.17, 168 15.9, 51, 182, 198, 253
4.20, 232 15.9-12, 184 1.5-6, 104
4.2 5 -5 .1, 250 15.9-12, 16, 253 1.8-9, 99
5, 249 15.9-13, 136 1.9, 112
5.2, 113 15.10, 182 1.11, 81
5.3, 61, 112 15.11, 182, 184, 192, 200 1.16, 260
5.3-4, 99, 112 15.12, 183 1.20, 140
5.6, 8-10, 250 15.15-18, 156 2.17, 29
5.17, 249 15.18, 200 3.6, 71
5.17-19, 131, 249 15.18-19, 70 4.17, 113
6.6, 89 15.18-21, 183 4 .1 7 -1 8 , 100
8.3, 91 15.19, 195 5.1 8 -2 1 , 250
8.7-8, 154 15.20, 184, 210, 253 6.4 -1 0 , 97
8.18, 101 15.21, 184 6.10, 61
8.22, 255 15.23, 183, 195, 210 7.10, 258
8.30, 61, 156, 159 15.24, 183, 210, 260 9.6, 101
8.31, 35-39, 91 15.24, 28, 196 10.3-5, 27, 62
8.35 -39 , 59 15.30, 61 11.23-28, 97
9.17, 41 15.30-31, 75 12.9-10, 111, 112
9.22 -23 , 44 16.25, 137
9.24, 253 16.25-27, 135 G á la ta s
9.30-10.21, 149 16.26, 185, 253
9.32, 150 1.4, 250
9.33, 150 IC o r ín t io s 2.9, 253
10, 151, 153 2.14, 253
10.1, 74 1.21, 138, 139, 154 2.19, 30
10.3, 150 1.23-24, 139 2.1 9 -2 0 , 89
266 A L E G R E M - S E OS P O V O S
Tito lP e d ro A p o calip se
M issões/V id a cristã /
Espiritualidade