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Fama Libertatis

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Pai,

nos reaviva o senso do ridículo.


Amém!


Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e
abrir-se-vos-á.
Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca,
encontra: e, ao que bate, se abre.”

— Mt. 7:7-8

[...] solve, solve, solve [...]

Livro digitalizado, revisado e diagramado por EMeT e-books.


Solicitações de correções desta edição podem ser enviadas para
emet.ebooks@gmail.com.

o Editor digital.
(Revisão final de responsabilidade do autor)

1977

EDITORA G. HOLMAN LTDA.


Rua Coronel Figueiredo, 234
Trevo São Francisco — Pampulha
Fones 442-1400 — 442-1354
BELO HORIZONTE — MINAS GERAIS
ARNALDO XAVIER

Eis a

ROSA - CRUZ
e outras ilusões

Ou “FAMA LIBERTATIS”

Coleção:
ZÊNITE - Sec. XXI

Próximo volume:
“Mistério, Misticismo e Ocultismo” (Ed. Publica)
Edição única,
limitada, não
reeditável, de
“Circulação
restrita” e de
leitura só
Indicada a

dultos
ADVERTÊNCIA:
Ainda que simples em seu conteúdo. O lançamento
público deste livro só se justificaria à compreensão
oriunda do Século XXI; todavia, urge antecipemo-
lo àqueles que, já no “agora” vivem a consciência
daquele e dos demais séculos.

É, entretanto, uma leitura desaconselhável a quem


se encontre no “ainda”, enredado nas teias dos
condicionamentos. É um ensaio em direção à
Verdade.

DESENHOS:
Imaginação do autor.
Execução de Rama-4 e J. Kaukal.

AGRADECIMENTOS:
Marival Padilha pela cessão dos originais da revista
OP De UITKIJK. e, ao Prof. Oséas Saturnino de Almeida, pela
correspondência de H. Leene.

– vi –
A
todos quantos, amantes da
verdade, lutam sem tréguas, contra
a ignorância, a hipocrisia e o
fanatismo, e, especialmente aos ex-companheiros que firmaram
o manifesto registrado sob o n.º 197.048, em 19-06-1975, no 2.º
Registro de Títulos e Documentos de Belo Horizonte, e, àqueles
que depois vieram a seguir-nos na mesma retirada.

– vii –
LEVANTA E ACORDA!
EU DIGO ISTO PARA TEU BEM. [1]

ACORDA!
DE PÉ!
PODE HAVER SONO PARA QUEM ESTÁ DOENTE,
FERIDO PELAS FLEXAS DO SOFRIMENTO? [2]

[1] Jugat Prakash-R.S. - SHABD - I - Soami Bagh-Agra, India.


[2] Utthana Sutta.

– viii –
Esta publicação nada tem a ver
com instituições por onde estejamos
passando no momento, mas, simplesmente
com a quase totalidade daquelas
que tivemos sob nossos pés.

Quem sou eu?

Não sou mestre,


nem discípulo:
Aquele que passa!

“Queres saber quem sou? Que sou? Aonde vou?


Sou aquele que até hoje sempre fui,
E que serei por toda a vida:
Nem árvore, nem bicho, nem escravo:
Um homem tão somente!
Vou abrir passagem ao homem intrépido
Em lugares onde jamais ninguém pisou;
Ao poeta, ao pensador ardente,
Franquear o caminho; ........”

(Alexandre Radichtchev - 1749-1802)

– ix –
“Constitui grave erro não se dar publicidade a tudo
quanto se é obrigado a dizer ‘SIM’ e ‘AMÉM’ àquilo que os
outros dizem”.

J. W. JONGEDIJK [3] (Anexo XIX)

Porque está escrito:


“Nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem
oculto que não haja de saber-se, porque o que disseste na
escuridão, (ocultamente) será dito na luz (em público)”.

Mt. 10:26, Lc. 8:17 e 12: 2,3.

[3] Op De Uitkijk n.º 4 - Abril 1966 - Holand

–x–
SUMÁRIO

– xi –
VERDADE

“O
Amor é indulgente para com os erros dos homens,
para com suas fraquezas. A verdade, ao contrário, é
severa e impiedosa.
A verdade não tolera nem a ignorância, nem a fraqueza,
nem a impureza. É nisto que consiste sua perfeita beleza.
E eis por que é preciso que o fraco vá para junto do
Amor, o ignorante para perto da Sabedoria, o oprimido para
perto da Justiça e aquele que quer ser perfeito para perto da
Verdade”. [4]
Acrescentaríamos:
Os vencidos aspiram a paz, o sossego, a quietude, a
acomodação e o “deixem que as coisas corram’’; como o rebanho,
acompanham o pastor que os ordenha; enquanto os Libertos
respiram a consciência cósmica.
Concluiríamos então:
A verdade é fria e penetrante como o gume de uma
navalha; implacável e sensível como o fiel de uma balança, e reta
como o fio de um prumo.

[4] Trecho de uma poesia atribuída a um certo poeta conhecido por


“Bogomille”, e que nos veio às mãos por intermédio de um amigo.

– 12 –
POR QUE SILENCIAR?

R
amanuja, imediatamente à sua iniciação, subiu numa
plataforma e chamou todos que se encontravam ao seu
derredor.
Alguém da multidão perguntou-lhe:
— O que afinal desejas, chamando-nos?
Responde-lhe Ramanuja:
— Todo o conhecimento que recebi do meu Mestre vou
transmiti-lo a vocês!
Outro dentre eles protesta:
— Essa ação de tua parte, constitui uma falta de respeito
e desobediência às instruções dos mestres, e, por outro lado,
levar-te-á aos infernos.
Ramanuja retruca:
— Não me importa se vou ou não para os infernos,
desde que vocês, em consequência, possam ser salvos, nem que
seja apenas um. [5]

[5] The Beloved Master-Badra Senna-Ruhani Satsang Delhi - 1963

– 13 –
RAZÕES DESTA EDIÇÃO

D
esde milênios (Anexo X) o homem procura,
incansavelmente, transferir para o “após morte” sua
consciência biológica, o que o faz aderir, inconsequente
e alucinadamente, ao primeiro movimento que lhe acene com
essa possibilidade, mesmo que remota seja. De qualquer forma,
essa busca constituiu um conforto para as multidões angustiadas
de ontem e um refúgio para as alucinadas de nossos dias, que, se
não tivessem onde extravasar seus anseios de eternidade, sentir-
se-iam frustradas na razão de sua existência, transformando-se
em um potencial de consequências imprevisíveis.
Procurar desviá-las de sua ilusão seria uma tentativa,
além de infrutífera, desumana, como o se retirar à criança o leite
materno, a boneca, ou o balão colorido de seus devaneios.
Por isso, esta edição, “única, limitada, não reeditável,
e de circulação restrita”, é destinada somente àqueles a quem
devemos satisfação e a amigos escolhidos, como subsídio para
seus estudos autodidata ou academicamente de psicologia,
sociologia ou ciências afins, razão pela qual, poderão ficar os
senhores comerciantes das coisas do espírito, sossegados, porque
não queremos perturbar nem colocar em debandada os seus
rebanhos.
Mesmo porque:
Fanatismo é alucinação, um estado de loucura contido
num círculo, onde o interesse do indivíduo e as manobras de
grupos o tornam cego para a realidade da vida. Alí tornou-se

– 14 –
irreversível, e a dissuasão funcionaria, quase sempre, como um
convite ao suicídio, jamais seria aceita. Tentar destruir o circulo
que o contém, é tarefa perigosa, como a de soltar um louco a
quem não se conseguiu extirpar a ilusão.

– 15 –
O FIO DE ARIADNE

C
onta a lenda, e todos a conhecemos, que enamorada
loucamente por Teseu, deu-lhe Ariadne o fio que lhe
serviria de ajuda para libertar-se do labirinto, onde
deveria matar o minotauro que ali habitava devorando quem lá
entrasse e se perdesse.
Não seria o nosso discernimento o fio de Ariadne,
possibilitando-nos escapar dos labirintos de idéias criados pelas
arapucas espirituais e também os criados por nós mesmos, onde
o minotauro da ilusão nos pode devorar?
Quase no mesmo sentido encontramos outra lenda
sobre um certo nobre que, devido à vastidão de sua cultura e
conhecimentos, era tido por mago e, por motivos políticos veio
a ser encarcerado na torre de um “Castelo”, cuja única abertura -
uma janela - encontrava-se voltada para o lado de um rochedo.
Mesmo com possível poderes sobrenaturais (como os
profanos, simples e ingênuos, costumam atribuir a quem possui
maior sabedoria) jamais poderia ele escapar da sua prisão, pois,
se o tentasse, esborrachar-se-ia de encontro à rocha que servia de
alicerce ao “Castelo”.
Sua fiel esposa, todas as tardes, postava-se ao pé do
“Castelo” para vê-lo e também para receber os bilhetes que este
sempre lhe atirava.
Dois anos se passaram e certa manhã, apenas existia
uma grossa corda da janela ao rés-do-chão - ambos haviam
desaparecido sem deixar vestígios - ele e sua esposa.

– 16 –
Até ontem a história e o povo continuava sem meios de
esclarecer-lhe a evasão: se materializou a corda com seus poderes
sobrenaturais ou se esta lhe veio atirada por forças invisíveis.
Entretanto sua fuga foi bem simples:
Conhecia ele as peculiaridades da vida em todos seus
estados de manifestação, não desconhecendo, portanto, que
certas espécies de escaravelhos (coleópteros), além de fortes,
eram vorazmente loucos por mel. Instruiu sua esposa a tomar um
desses besouros, a retê-lo por dois dias e, em seguida amarrar-
lhe um finíssimo fio de seda numa das pernas traseiras e, no final
deste fio amarrar-lhe outro um pouco mais espesso; depois outro;
depois uma linha; no final desta um cordão fino, e sucessivamente,
sempre observando uma certa extensão, até chegar a uma corda.
Feito isso deveria untar-lhe as antenas (pequenas hastes que
possuía sobre os olhos) com mel, em seguida colocá-lo virado
para sua janela, porque este, ao pressentir o cheiro do mel, iria
velozmente procurá-lo no alto da torre, levando-lhe o fio de seda
para que pudesse puxá-lo até conseguir a corda da libertação.
Por motivos óbvios deixamos de abordar aqui as
exceções que sempre se fazem presentes em todos os setores,
campos e dimensões da vida humana e, claramente, também
no âmbito espiritual; deixando, consequentemente a cada um
os meios para encontrar, pelo confronto, análise e síntese, o fio
de Ariadne que o leve ou para fora do “Labirinto” de idéias em
que se encontra, ou lhe sirva de meio para desencarcerar-se do
“Castelo” onde veio a ser prisioneiro.

– 17 –
APRESENTAÇÃO

E
sta publicação compõe-se de uma série de respostas a
companheiros de outrora, não um trabalho de natureza
literária, que vise divulgação pública e ampla, mas
reservado a poucos.
Por isso encontramo-nos à vontade para falar, naquela
franqueza íntima de sempre, sem nos atermos a rodeios ou
pretensões estilísticas, gramaticais, ou mesmo ás amarras comuns,
ditadas e impostas por convenções ou formas estereotipadas.
Por paradoxal que pareça, todo ser, espiritualmente
(mentalmente) livre, só é escravo do testemunho devido à
humanidade, principalmente àqueles que o cercam, sem o
que, é indigno de ter existido; esse dever impele-nos a dar este
testemunho àqueles poucos que em nós creram, acompanharam-
nos em determinadas instituições, ou ali chegaram, deparando-se
com inverdades e fantasias das quais não tínhamos conhecimento,
participação ou conivência.
Daí este documentário, para que não nos vejamos,
amanhã, acusados de ser ou termos sido rosacruzes ou
partícipes de sandices outras da mesma natureza, das quais nos
desvencilhamos em plenitude de consciência. (Vide anexo I).
Procuraremos, ao máximo, fugir às nossas palavras
para documentar esta prestação de contas, recorrendo, sempre
que possível, ao testemunho de autoridades, no que se relacione
com os temas abordados, os quais versaram, obviamente, sobre
movimentos mais conhecidos daqueles a quem procuramos dar

– 18 –
satisfação; razão pela qual nos limitaremos, até certo ponto, a tais
movimentos que, na realidade, não deixam de ser paradigmas
dos demais; falamos desses, não das exceções, para que não nos
venham a tomar por proselitizadores.
Lamentavelmente tomaram-nos o tempo pregando
idiotices; em nossa boa fé os aceitamos, julgando que tais
pregações pudessem vir a se tornar realidade. Compreendendo
mais tarde que se tratava apenas de comerciantes de ilusões,
cabe-nos então dizer das idiotices em que nos levaram o tempo.
Mesmo assim, muitas coisas deixamo-las aos dizeres de
Samael Aun Weor quando assim se expressa: [6]
“Entre o incenso da oração também se esconde o delito.
Todas as escolas espiritualistas estão cheias de adultérios,
fornicações, murmurações, invejas, difamações etc.
O orgulho se veste com a túnica da humildade, e entre
a roupagem da santidade o adultério se veste de santo.
As piores maldades que eu tenho conhecido na vida
tenho-as visto nas escolas espiritualistas.
Parece incrível, mas entre o óleo da mirra e do incenso
da paz, também se esconde o delito.
Os devotos escondem seus delitos entre o sigilo de seus
templos.
Os profanos têm o mérito de não esconder o delito.
Os devotos sorriem cheios de fraternidade e cravam o
punhal da traição nas costas de seu irmão”

Ao citarmos ou referenciarmos, neste depoimento, esta


ou aquela organização ou movimento filosófico, não o fazemos
a título de adesão, participação ou apologia, mas, simplesmente,
numa busca de elementos destinados a comprovar, informar ou
subsidiar esta ou aquela exposição.

[6] Consciência - Cristo - Samael Aun Weor

– 19 –
ENGAIOLAMENTO

A
migos perguntaram-nos pelas razões que nos levaram a
limitar a tiragem desta publicação para fazê-la, ainda, em
edição única e não reeditável.
Essa interrogação fêz-nos lembrar algo que
presenciamos; muito nos deixou a pensar, e parece responder à
questão:
Todos, até certo ponto, nos revoltamos ao presenciar
alguém, sob alguma forma, maltratando os animais.
Afinal de contas onde está o irracional?
Certo amigo, espiritualista como muitos, deparando-se
com uma cena dessas, ao ver alguém trazendo confinados em
uma gaiola duas dúzias ou mais de pássaros, penalizou-se com o
mau trato dispensado àquelas aves.
Levado pelo impulso do chamado amor universal,
sentimento peculiar a todos que se dizem espiritualistas, pensou
em libertar aquelas vidas, dando-lhes aquilo que entendia por
liberdade.
O certo é que, depois de entendimentos com o vendedor,
pagou, sentiu-se plenamente feliz.
Enfim, ia dar liberdade a quem não lhe pedira.
Soltou a passarada, que se esparramou pela redondeza:
uns pelas ruas adjacentes, outros entre os canteiros, à margem,
pois nos encontrávamos em um dos jardins de Belo Horizonte.
O nosso amigo, condoído, procurando dar satisfação à
sua espiritualidade, não cogitou de levantar a origem daqueles

– 20 –
pássaros, sua condição de vida, costumes e tipo de alimentação;
principalmente em se tratando de aves criadas em gaiolas desde
sua geração. Estas, limitadas no exercício da liberdade, não
sabiam até onde poderiam exercê-la.
Não sabiam voar além de alguns metros, 10 ou pouco
mais em cada lance, não sabiam onde encontrar alimentos, nem
como procurá-los.
Resultado:
Umas foram logo aprisionadas pelos pivetes da rua e
maltratadas; outras até massacradas pelos carros que passavam, e
as demais, possivelmente devoradas pelos gatos da redondeza ou
mortas pela fome e a inexperiência ante um novo estado de vida.
Se não possuía um meio seguro de levá-las ao exercício
da plena liberdade, deixasse-as permanecer onde estavam.
Afinal não é o mundo um grande viveiro, onde se
encontram, limitados por gaiolas (psicológicas), animais de
diversas espécies (personalidades), para que não se entrechoquem
e não se devorem uns aos outros?
Alguém perguntou-nos: Então como fazer para
realmente libertá-los?
Não estamos aqui para libertar pássaros, nem para
perturbá-los em seus viveiros, mas simplesmente falando àqueles
que não desejam cair em alçapões e procuram descondicionar-
se.
Todavia, como a pergunta continuará e a toda pergunta
deverá haver, pelo menos, a nossa resposta, ponderamos:
Se fossemos tentar tal libertação, procuraríamos, antes
de tudo, colocar essas aves em um viveiro de longa dimensão.
Depois ampliaríamos ainda mais tal viveiro, onde
pudessem voar pelo menos 50 ou mais metros; transportariamos
finalmente tal “habitat” para um parque ou bosque, onde
aos poucos se ambientassem com os demais pássaros, que
naturalmente se aproximariam de tal ambiente.

– 21 –
Finalmente abriríamos as portas do cativeiro, deixando-a
aberta, para que saíssem, e voltassem, sempre que tivessem sede
ou lhes faltassem os alimentos, e enquanto não aprendessem a
viver por si mesmos, realmente livres.
Esta passagem confirma-nos o entendimento de que,
certas organizações continuam existindo, pela necessidade de
albergarem indivíduos, em determinados estágios de consciência,
que sem elas poderiam enveredar por caminhos, outros, de
consequências desastrosas.
Ora, como não pensamos em construir viveiros
especiais, nem tampouco em abrir ou destruir gaiolas alheias, ou
ainda em levar pássaros de ninguém para quem quer que seja,
muito menos para nós, resolvemos fosse esta edição feita dentro
da limitação reclamada.
Mesmo assim, sabemos que algumas verdades poderão
molestar o comodismo de “amigos” que estejam “naquelas”.
Esperamos, entretanto, saibam compreender que a descrição
de como são construídos alguns viveiros, e o falar-se da ração
que neles se dá às aves cativas, não irá absolutamente soltar a
passarada, acostumada que está a somente digerir alimentos que
adredemente lhe são preparados.
Com muito acerto lembramos Bhagwan Shree Rajneesh
ao afirmar: “ ... a fim de falar algo a respeito da Verdade, torna-se
necessário desmascarar aquelas inverdades que o homem aceitou
como se verdades fossem”.
Há uma tradição segundo a qual dissera o Senhor da
Verdade:
“Entre mil um me procurará, e dentre os mil que me
procuraram, um me encontrará”.

Não temos a pretensão de estar escrevendo para aqueles


que o encontram, mas, quem sabe, possamos ser úteis àqueles
que, como nós, o procuram?

– 22 –
Assim sendo, a limitação desta tiragem terá alcançado
seu objetivo:
“Chegar àqueles que buscam o ‘des’
(descondicionamento, desidentificação, desmistificação e demais
‘des’ até à desarquetipização), porém, sem romper com a vida,
mas, vivendo-a em sua plenitude”.
“Tive de defender-me com as pedras que me atiravam
ao caminhar. Eu as devolvia; não sei se em seu retorno,
puderam, muitas delas, ser reconhecidas ou fazer jorrar o
sangue do real conhecimento.” [7]

Não podemos, absolutamente, nos comunicar com quem


quer que seja, se não usarmos sua linguagem, os símbolos de seu
conhecimento. Sabemos inútil a tentativa de transmitir-se uma
mensagem falada à maioria dos surdos mudos; mas, podemos
fazê-lo usando a mímica, sinais ou seu alfabeto. O mesmo ocorre
em outras circunstâncias e planos do conhecimento humano. Por
isso, também aqui, torna-se-nos imperativo o uso de imagens,
referências, transcrições e citações de autores e tratadistas,
famosos ou não, que, por demais conhecidos, podem levar-nos a
uma melhor compreensão.

[7] Evangelho dos Ignotus

– 23 –
POR QUE PARA POUCOS ESTA
PUBLICAÇÃO?

V
ocê compreenderá, mais adiante, porque esta publicação
se encontra em número reduzido e destinada a poucos.
Quantos bilhões de seres não perderam a
existência porque nasceram, cresceram e viveram mergulhados
em crenças as mais absurdas; atolados, chafurdados num
verdadeiro maremagnum de tolices e crendices das quais hoje se
envergonhariam.
Religiões, movimentos, seitas e filosofias as mais
estúpidas e variadas, nasceram, floresceram; tiveram seu
esplendor na ignorância humana, decaíram e desapareceram
e algumas que persistiram até nossos dias, tiveram de ser
reestruturadas, de reformular suas bases e de se adaptarem ao
progresso do homem Real; “daqueles” a quem, em outras épocas,
chamariam de heréticos ou ateus. Na verdade, as religiões e
determinados sistemas sempre marcharam à sombra do homem;
se ele muda, elas também o fazem.
O tempo e o progresso humano, mesmo lentamente, vai
reduzindo a nada tudo que não se alicerce na verdade! Assim
como no passado, também hoje, quantas coisas aceitamos e
praticamos que serão reconhecidas como ridículas, tolices e
absurdos no futuro? ... Por isso, este documentário se destina
a poucos; àqueles que, embora vivendo hoje, queiram dar um
mergulho no futuro, cujo primeiro passo consistiria, sem dúvida,
em situarem-se, em desidentificarem-se, buscando viver plena e

– 24 –
conscientemente no eterno agora.
Por que não vivermos, já agora, transformando o porvir
em uma realidade presente? Sem nos amarrarmos a postulados
que se tornarão tolos no futuro? (vide anexo IX)
Pois, está escrito no décimo nono degrau da escada de
Jacob:
— A fé no desconhecido é patrimônio da ignorância.

– 25 –
REFORMAS E MAIS REFORMAS

C
omo sabemos, mesmo as instituições religiosas e filosófico-
rellgiosas, mais renomadas, tiveram de reformular seus
postulados, normas e filosofias, para se manterem dentro
da evolução humana; isso não se falando daquelas que sempre
viveram parasitando a ignorância das massas.
As mais tradicionais e importantes, para subsistirem,
não apenas tiveram de mudar seus sistemas, mas também de
introduzir novidades científicas e até mesmo de mudar suas
próprias denominações.
Se bem que os amigos teósofos clássicos, nos mereçam
uma especial amizade e atenção, devemos destacar que até sua
clássica instituição teve de reformular seus propósitos hermético-
místicos, adaptando-os à evolução.

– 26 –
Aqui temos seu presidente John Coats, que nos parece
dizer:
“E agora José?
Mas termina concluindo:
“A Teosofia é uma corrente pra frente”. [8]
Depois chega à conclusão de que ante um mundo
marcado pela aceleração, onde a ciência e a tecnologia
avançam e mudam a face da terra, torna-se imperativa uma
mudança também na teosofia; que cada um deve libertar-se
dos seus próprios condicionamentos, procurando um caminho
independente. [9]
Ante todas as mudanças, incertezas, inseguranças
e até mesmo picaretagens espiritualistas, se fôssemos de
multiplicar questões, era de se perguntar a todos os salvadores

[8] Manchete - 29-5-76


[9] Última Hora - 7-5-76

– 27 –
da humanidade:
Afinal quando é que vocês vão fazer a última e definitiva
reforma ou modificação?
Quando a fizerem avisem-nos; então iremos verificar se
tais adaptações merecem o nosso acatamento. Até lá continuem
a explorar os incautos.
Nós preferimos continuar aguardando, mas livres no
caminho.
Parodiando os dizeres de R.D. Laing em “Laços”,
diríamos:
“Eles estão jogando o jogo deles; mas, jogando um jogo
de não jogar um jogo.
Se dissermos que lhes conhecemos o jogo, quebraremos
a ilusão e as regras do seu jogo, fazendo-os voltarem-se contra
nós.
Resta-nos, então, entrar no jogo, e jogar o jogo de não
ver o jogo que estão jogando.
Só assim nos imunizaremos, e pensarão que somos
parceiros: naquele jogo de jogar o jogo de não jogar um jogo.
Mas nós preferimos dizer que aqueles jogos são uma
palhaçada.”

– 28 –
NÃO PERCA SEU TEMPO

E
sta publicação, absolutamente, não se destina àqueles
que dobram seus joelhos a deuses, mitos e imaginárias
fantasias; portam amuletos, badulaques, santos ou símbolos
protetores; respirem perfumes de velas ao som de melopeias
entorpecentes; não dão o primeiro passo sem ler o horóscopo
do jornal, ou revista da sua preferência, ou se encontram, sob
qualquer forma, vinculados a organizações ou sistemas místicos
de quaisquer espécies, mas àqueles que conseguem manter sua
consciência em um nível diferente do homem comum.
O problema da indumentária é uma questão individual
e de época, não havendo, é claro, nenhuma diferença entre um
paletó e uma blusa, ou entre uma gravata e qualquer outro enfeite,
desde que a estes não atribuamos maravilhas ou qualidades
protetoras.
Ao falar sobre organizações misteriosas, místicas,
exóticas e seus participantes, assim os classificou Henri Desoille:
a. Delirantes banais;
b. indivíduos que trazem personalidade propícia ao
desenvolvimento de psicopatias; e
c. pessoas normais que depois abandonam essas
idiotices. [10]
Logo, se você se encontra entre os 95%, que constituem
os dois primeiros grupos aqui mencionados, e dos quais
[10] Henri Desoille - L’Hygiène Mentale - Maio de 1930 - nº 5

– 29 –
falaremos mais adiante, precisamos ser claros: Não estamos
falando com você, e muito menos temos tempo a perder em
polêmicas que daí possam advir, através de arvorados defensores
de instituições, sistemas e filosofias obsoletas, sem consistência,
pueris e incabíveis à consciência do homem da “Era psicológica”.
Na instituição civil dos povos civilizados “O mandatário
é obrigado a apresentar o instrumento do mandato às pessoas
com quem tratar em nome do mandante” (art. 1305 - Cod.
Civil). Quando assim não acontece, tão farsante é o mandatário
quanto o mandante, por deixar que este aja em seu nome sem as
devidas credenciais. Por isso, àqueles que não apresentarem o
devido mandato, somos obrigados a relembrar o nosso sertanejo
quando diz:
“Só falo com o patrão, com ‘marra-cachorro’ eu não
falo”. (vide anexo VI)
Sim, apareçam os tais de mestres ocultos; que tomem
vergonha e responsabilidade, desencavem-se dos buracos do
Tibet, das ventiladas nuvens dos planos astrais, dos píncaros
inacessíveis dos Himalais, onde jamais foram vistos, que na
imaginação fértil ou mórbida de seus defensores ou procuradores.
Materializem-se e apareçam?!... Tomem vergonha!... ou então
documentem seus representantes, porque as representações até
agora têm sido as piores possíveis. (vide anexo XII)

– 30 –
O PORQUÊ DESTE
DOCUMENTÁRIO

“É
difícil tirar alguém do seu estado de consciência
natural”. [11]
Reconhecendo isso, não devemos perder
tempo em coisas que sempre existiram e continuarão a existir,
enquanto perdurarem no seio da humanidade a hipocrisia, a
ignorância e o fanatismo.
Não é, portanto, nosso objetivo dissuadir, demover,
retirar ou desencorajar quem quer que seja de permanecer
mourejando em suas crendices ou limitados estados de
consciência, mas, simplesmente, responder a inúmeras
perguntas que nos foram feitas por ex-companheiros, devido às
nossas atividades à frente de um movimento que se diz rosacruz,
e de outros em que ingressaram, até certo ponto, devido a
confiança que em nós depositavam. A estes, é claro, devemos
esclarecimentos e não podemos nos furtar ao cumprimento
dessa obrigação, sob pena de sermos julgados coniventes com
as farsas ali pregadas. Evidente está: não há interesse de nossa
parte em dar publicidade às fantasias, inverdades, palhaçadas,
má fé ou ingenuidades da rosacruz ou de quaisquer outros
movimentos, mas pura e simplesmente, responder àqueles que
nos acompanharam quando ali estávamos. Quanto aos demais,
em cujas mãos possivelmente virá a cair esta publicação; creiam

[11] Babuji Maharaji - Agra - India

– 31 –
ou não no aqui relatado, é problema que não nos interessa:
o discernimento, a razão e a lógica são dádivas divinas, só
admissíveis àqueles que atingiram determinados estágios, não a
todos.
Se nos preocupássemos em fazer seguidores ou em
pregar quaisquer “ismos” iríamos fazê-lo, primeiramente, entre
nossos familiares, que não são poucos, por aí, a professarem
religiões, filosofias e crendices as mais variadas e absurdas:
sairíamos, como muitos, a cantar e a pregar, chamando os
da rua, para aquilo que julgássemos fosse o caminho de tal
salvação. Calculem, se quiséssemos transformar em budistas
todos os cristãos, ou em cristãos os milhões de budistas e os
milhões de outros “ístas”, só por julgá-los fora do caminho que
entendêssemos certo?!...
Sabe-se que os seres nascem dentro de uma limitação,
até certo ponto bio-psicológica, cujas raízes, muitas vezes
transcendem à nossa percepção objetiva, e não é sem razão que a
psicologia os classifica em determinados grupos.
Se pudéssemos fazer alguma coisa, iríamos sim, solicitar
aos poderes constituídos que organizassem universidades livres,
onde houvesse uma obrigatória formação psicológica ou mesmo
simpósios, cuidados por profissionais qualificados, em cujo
currículo se extirpasse da massa, pelo menos, a ignorância e a
superstição e não se lhe metesse na cabeça novas tolices ou se
lhe trocasse umas pelas outras. Entendemos que a ignorância é a
mãe de todas as desgraças e ao mesmo tempo a lepra do espírito,
só curável através de uma reeducação, psicologicamente dirigida.

– 32 –
EM BUSCA DO MILAGROSO

H
á no homem um desejo insaciável de um estado
paradisíaco, que se manifesta por uma busca incessante,
consciente ou inconsciente, objetivando um paraíso
perdido. Desde o nascimento, procura reencontrar a segurança e
a paz em que vivera e que perdeu através da expulsão ou trauma
do nascimento. [12] A expulsão do paraíso intra-uterino gerou-
lhe a angústia fundamental que, alimentada posteriormente
pelos diversos condicionamentos, deu-lhe uma disposição
sugestionável, inclinada a aceitar, sem restrições, ou mesmo
análise racional, todas as fantasias sugeridas por terceiros,
organizações, ou ainda as criadas por sua própria imaginação,
desde que atrás de tudo isso haja uma recompensa de paz!
Não sem razão diz J. H. Schults:
“Um indivíduo será tanto mais sugestionável, em
geral ou frente a outra pessoa, quanto mais disposto esteja a
estabelecer a comunhão mistica”. [13]

O ser humano parece ser o único, pelo menos até agora


de nosso conhecimento, que procura localizar fora de si a verdade
e a felicidade, buscando para isso teses misteriosas, mestres
ocultos, dos quais muito se fala, sem jamais terem sido vistos.
Nessa busca muitos chegam até a encontrar, embora precária e
temporariamente, uma certa segurança e às vezes até um bom

[12] Otto Rank - El Trauma del Nascimiento - Ed. Paidos - B. Aires


[13] O Treinamento Autógeno - J. H. Schults

– 33 –
meio de vida. (Vide anexo X).
Nessa procura organizaram-se inúmeras sociedades
pregando a existência de Seres Cósmicos: Guardiães Celestes:
Irmandades Místicas e ocultas com as quais não se pode entrar
em contato diretamente neste mundo físico; ou então, que se
encontram ocultos em inacessíveis refúgios montanhosos: no
centro da terra, ou ainda, que trabalham em um plano superior
àquele em que vivemos. A verdade, porém, é que falam-falam,
de tudo isso, mas nunca apresentam as provas, nem tampouco,
esses tais seres dão o ar de sua graça ou existência... Tudo isso
existe, sim; na imaginação e no interesse das organizações e dos
seus dirigentes.

– 34 –
CAUSAS DA BUSCA ESPIRITUAL

A
procura do oculto, do desconhecido, por meio do
ingresso nas chamadas sociedades ou irmandades
misteriosas e secretas, nada mais significa, também, que
uma fuga à realidade, uma evasão ao cotidiano: e uma válvula
de escape às tensões e dificuldades resultantes da pressão na luta
pela vida - um ajustamento. Nessa pesquisa, sem compreender,
inconscientemente o indivíduo faz sua “terapia’’, transferindo
a seres imaginários seus problemas, suas angústias, anseios,
dificuldades e desejos insatisfeitos.
O refúgio nessas organizações, misteriosas ou ocultas,
está diretamente ligado à imaturidade psicológica do ser, porque:
“Quanto mais imatura for a personalidade, mais o
indivíduo se integra nas instituições, como se parte intrínseca
delas fosse. Se bem que as instituições tenham personalidade
jurídico-social própria, não os impede, isso, de ali projetarem
sua própria realidade, através de fantasias e de, também ali,
cristalizarem o mecanismo de defesa contra as ansiedades
psicológicas de que são portadores”. [14]
Nesses ambiente, quanto maiores as fantasias, as
promessas, ameaças, e o uso de rituais sofisticados e misteriosos,
maior a integração e subserviência.
Os rituais, quaisquer que sejam infundem um
sentimento de coletividade, porque são adredemente preparados
para uma coletividade ou grupo que sob certa forma, guarda

[14] O Treinamento Autógeno - J. H. Schults

– 35 –
uma identidade de sentimentos; portanto, impõe um sentimento
de agrupamento, e mesmo de dependência de cada indivíduo
com relação aos demais integrantes do mesmo grupo, o que nos
lembra Confúcio ao dizer:
“As cerimônias são o liame que fazem que as multidões
se unam, e se o liame é removido as multidões entram em
confusão”.

“A tendência à comunhão mística ou anímica leva o


ser a identificar-se com as organizações, sejam elas espirituais,
religiosas ou sociais; isto é um sinal para a sua identidade, uma
pergunta do quem sou eu”. [15]
“Estabelece-se, assim uma interação entre o indivíduo e
a instituição a que passa a pertencer, interação essa que o conduz,
modelado pela instituição, a se ver como agente principal da
manutenção e conservação dessa instituição”. [16]
“Nesses ambientes, são numerosas as especulações
pseudo-científicas no campo da auto-sugestão; achamo-las,
por exemplo, na antroposofia, no ‘New-Thought’ na ‘Mind-
Cure’ e em numerosos círculos místicos, todos os quais buscam
uma adaptação às tradições orientais ou tendências místico
religiosas”. [17]
Ali como nos lembra Stoll:
“Recorrem a ritos, artifícios, combustão de substâncias
aromáticas, cantos e execuções de melodias monótono-
cansativas, permanência em posições predeterminadas, etc.,
etc. para provocar estados de exceção”. [18]

[15] Psicobiogiene Institucional - Ed. Paidos 1967 - José Bleger.


[16] O. Fenichel - The Psichoanalical Theory of Neurosis - N. York -
1945.
[17] Stoll - A sugestão na Psicologia dos Povos
[18] Stoll - idem

– 36 –
O homem-rebanho ou massa, tem e sente a necessidade
de obedecer, encontra-se como que amarrado ao instinto
gregário de obediência coletiva, necessita de agrupamento. Isso
dá-lhe estabilidade; funciona como o dente de uma engrenagem,
e nesse estado, sente-se como imergido em um todo ao qual
transferiu suas tensões, angústias e, a participação em rituais
ou alocuções cansativas são como um ópio para suas dores e
limitações acomodatícias.
Afinal:
“O homem que se identificou completamente com
uma crença, não faz esforço - tal como os indivíduos
desequilibrados, os psicopatas, que também não fazem
esforço; de tal maneira se identificam esses indivíduos com
uma certa idéia, um certo conceito, que, da parte deles, não
há esforço algum; assim são porque não percebem nenhuma
contradição”. [19]

[19] A Mente Livre - Krishnamurti

– 37 –
O PORQUÊ DA IDENTIFICAÇÃO

S
abemos que tanto os bons quanto os maus costumes, podem
ser arraigados no indivíduo se, aos poucos, a estes ele se
for adaptando - esses bons ou maus hábitos podem ser de
natureza material (físicos), moral (costumes) ou espirituais
(crenças, manias, etc.).
Exemplifiquemos:
Se, aos poucos e continuamente, oferecermos, por
simples brincadeira, ou mesmo má fé, pequenos aperitivos a um
adolescente, em breve teremos um alcoólatra, um fumante ou
um toxicômano, se se tratar de entorpecentes, barbitúricos ou
alucinógenos; vícios aos quais, muitas vezes, os indivíduos são
levados, inconscientemente, quando, criminosos, exploradores
dessas drogas, os adicionam em bebidas ou equivalentes.
Depois de haver circulado pelo corpo, durante certo
tempo, determinada quantidade de morfina, heroína ou análogos,
as funções químicas deste se alteram de tal forma que não pode
funcionar, normalmente, sem a droga. Este é o fundamento
químico da necessidade física - uma realidade psicoquímica - o
vício.
Da mesma forma, tanto no plano moral, quanto no
espiritual, aos poucos os indivíduos acostumam-se a ideias e
sistemas os mais absurdos, dos quais, depois não se podem
desvencilhar, transformando-se, já agora, em uma necessidade
psico-vivente, um novo estado de consciência, moldado em
um mundo completamente intencional, irreal - é o vício da

– 38 –
imaginação - o fanatismo. Eis que da mesma forma como o
indivíduo pode cair inconscientemente, na dependência às
anfetaminas, narcóticos, entorpecentes; fumo, álcool e coisas
afins; também aos poucos e sutilmente pode ser levado ao
fanatismo.
Quem não conhece a solidariedade dos alcoólatras e
mesmo dos fumantes?! Quantos, sem nem um níquel, vivem
constantemente embriagados, apenas, devido à colaboração de
outros viciados; daqueles que não querem ficar sós com seus
vícios? O mesmo se passa nos outros planos (moral e espiritual).
A necessidade de companhia gera o proselitismo, a defesa da
instituição, seita ou religião.

– 39 –
A PROCURA DAS SOCIEDADES
SECRETAS E MISTERIOSAS - A
CAUSA

“A
multidão daqueles que sofrem por causa de um
salário insuficiente e injusto, os servidores aos quais
a necessidade submete a humilhações constantes;
daqueles cuja exaltação sentimental se vê brutal e constantemente
esmagada em cada passo que dão em sua vida, todos eles tratam
de escapar às suas dores, seja pelo embrutecimento voluntário.
seja pela resignação que lhes proporciona a religião, enfim, por
essa esperança no impossível, por essa instituição do mais ‘Além’
oculto em que crêem todos aqueles que se dão ao estudo das
chamadas ciências ocultas”. [20]
Dois caminhos, geralmente, encontram os indivíduos
que procuram fugir à pressão a que nos alude Serge: o ingresso
ou adesão à sociedades secretas e religiosas ou o embrutecimento
pelo álcool, entorpecentes e congêneres.
Tudo isso, como adverte Ludwig Kulczyck, acontece
onde o nível espiritual das grandes massas populares é baixo e
a vida econômica pouco diferenciada, aí as sociedades secretas
são também o veículo possível para as conspirações políticas. [21]
Além disso, o ingresso em uma sociedade secreta,
fraternidade oculta, seita ou movimento misterioso, dá-lhes

[20] Ref. de S. Hutin em Soc. Secretas - págs. 69-1963


[21] Ludwig Kulczyck - História da Revolução Russa

– 40 –
importância; traz-lhes conforto e a esperança de que ali, possam
dissipar suas angústias e adquirir segurança. Muitos procuram
ali realizar tudo aquilo que, por diversas causas, não conseguiram
alcançar na chamada vida profana ou social; outros, tendo
perdido a projeção ou posição de mando que tiveram na vida
pública, ali procuram readquirir a importância, através dos
chamados graus ou postos que assumem; dando, assim, sequência
a sua vaidade. Não é difícil, portanto, encontrarem-se em tais
movimentos ou atividades, todas as classes de fracassados ou
superados na vida pública, social ou mesmo familiar, tais como
aposentados, reformados, desquitados, solteirões, universitários
que fracassaram em suas atividades e outros que tais, inclusive,
egressos de nosocômios mentais.
Aliás, isso tivemos oportunidade de constatar por
diversas ocasiões, fazendo-nos lembrar, ainda, as referências de
Serge Hutin:
“A presença de psicopatas no seio de determinadas
sociedades secretas e espiritualistas é uma coisa inegável,
porque até bem pouco tempo as atividades estranhas desses
indivíduos em relação aos demais, eram consideradas como
especialmente inspiradas por forças vindas do além”. [22]

Ao estudar os participantes dessas atividades, não é


sem razão que, como dissemos, Henri Desoille os classificou, em
sua maior parte como delirantes banais; indivíduos tendentes a
psicopatias e desajustados. [23]
O problema é tão sério que Ramón Carrillo, da
Universidade de Buenos Aires, ao cuidar da psicopatologia social
e, ao traçar normas para seu tratamento, arrola esses inquietos

[22] Soc. Sec. pág. 70 - Ed. Barcelona


[23] Henri Desoille - L’Hygiène Mentale - Maio de 1930 - n.° 5

– 41 –
entre vagabundos e delinquentes. [24]
Já em 1883, ao diferenciar os delírios religiosos, místicos
e afins, em suas múltiplas manifestações, Bali e Ritti classificaram-
nos em 7 grupos, ali incluído as “Idéias místicas e afins”.
Seglas, em 1895, fê-lo classificando-os em 10 formas,
arrolando, é óbvio, as “Idéias religiosas e Místicas”.
Em muitos casos, certas manifestações delirantes
apresentam manifestações múltiplas dessas classificações, sendo
comuns nos delírios religiosos, místicos e congêneres; se bem
que camufladas, encontram-se incluídas, também: as idéias de
grandeza, de satisfação, de culpabilidade e de auto-negação ou
submissão a um castigo imaginário, desobediência adâmica,
carma, etc.
Tais manifestações podem surgir de maneira suave, sutil
e absorvente, as quais, quando manifestadas em um indivíduo
inteligente e culto, transformam-se em veículo de sedução das
massas, carregando os prosélitos, inclusive, às manifestações
coletivas, desastrosas e inconsequentes, como se tem visto pelo
mundo afora nas histórias dos desatinos místicos, religiosos e
correlatos, em busca da salvação. [25]
As instituições espirituais de fundo religioso ou não,
sob uma forma ou outra, procuram incutir na mente de seus
adeptos a necessidade de se salvarem. O que lhes acarreta,
naturalmente, inquietudes, insegurança e, sobretudo, angústia,
ante o pensamento constante de que podem morrer sem terem
alcançado a “Tal Salvação”. [26]
Encontramos, mesmo entre seres de elevada cultura, as

[24] Ramón Carrillo: Neuropsiquiatria n.° 3 e 4-4-Setiembre e


Deciembre 1950
[25] Hubert Benoit - La doctrine Supreme - Editions du Vieux
Colombier Paris - 1951.
[26] Armando Olivennes - Delírio e Realidade - Civilização Brasileira -
1975.

– 42 –
ideias, remanescentes de tradicionais ensinos familiares, segundo
as quais necessitam realizar sua salvação, e, a suposição de não
conseguí-la, assusta-os e os mantêm em pavor.
Engendrada que seja a ideia de auto-salvação, dela
nasce, fatalmente, o convencimento de que necessitam conduzir
os demais a realizarem também a sua e, sentem-se na obrigação
lógica, de saírem ensinando os outros. Pensam: A verdade que
possuo está associada ao dever de vivê-la e transmiti-la aos
semelhantes”, e, dessas ideias, nasceram em todos os tempos as
chamadas grandes e pequenas religiões. [27]
De qualquer forma, e como, em outras palavras diz C.G
Jung, mais ou menos:
— Tais organizações constituem uma fase de transição
no caminho da individuação, onde o indivíduo procura
independentizar-se, diferenciando-se dos demais, mal sabendo,
entretanto, que a adesão a essas organizações ou a aceitação de
quaisquer “ismos” dificulta-lhe o caminho porque:
“São muletas para paralíticos, couraças para medrosos;
pausas separadas para preguiçosos; asilos para irresponsáveis;
albergues para pobres e débeis; porto protetor para náufragos;
lugar para órfãos; meta sonhada e gloriosa para vagabundos,
decepcionados e peregrinos cansados; redil e recinto seguro
para ovelhas transviadas e uma mãe que significa sustento e
cuidados”. [28]

“Afirmar a cada crente que qualquer que seja sua


desgraça e sofrimentos terrenos, com eles pode conquistar a
bem-aventurança eterna, é de fato injetar-lhe a fé nesse prêmio
para seus males atuais e, portanto, dar-lhe uma base de felicidade
que, apesar de ilusória e promissora, faz-se para ele real, à medida
[27] Hubert Benoit - La doctrine Supreme - Editions du Vieux
Colombier Paris - 1951.
[28] C.G. Jung - Memories, Dreams, Reflections - Collins and Boutlege -
1963.

– 43 –
que espera. Nisso reside, afinal, a enorme força psicoterápica de
todas as religiões”. [29]
Foi aliás com base nessa fé introjetada, hipnótica, que
“os mártires cristãos viam suas carnes despedaçadas e trituradas
e apodreciam nas prisões subterrâneas com o sorriso nos lábios
e a expressão de êxtase”. [30]
Sem receio de incorrermos em erro, podemos afirmar
que, a insegurança e a consequente procura de ajustamento, são
as molas propulsoras de todas as buscas arquejantes rumo às
sociedades secretas espiritualistas, religiosas ou correlatas. Os
desajustados, vistos a grosso modo, podem ser classificados em
temporários ou permanentes; deles lançam mãos os movimentos
que se alimentam das massas, atraindo-os ao engrossamento de
suas fileiras.
Como desajustados temporários, podemos entender,
principalmente a juventude inquieta e inexperiente; os
diplomados sem emprego; os imigrantes ainda não adaptados; os
veteranos de guerra; os inativos; e todos aqueles que por qualquer
deficiência irrevogável, física ou mental, ou ainda pela falta de
adaptação, de talento, ou de possibilidades, não conseguiram
a realização dos seus ideais; os desajustados permanentes,
encontramo-los facilmente entre aqueles que só conseguem
encontrar salvação, paz, sossego e tranquilidade, através de
uma separação completa do seu “ego” já deficiente; fazendo-o
pela renúncia à sua vontade, ao seu julgamento, e à sua ambição
individual, mediante a entrega a uma direção; dedicando, ainda,
todas suas forças ao serviço de uma causa a que denominam de
eterna. Constituem-se nos mais ferozes fanáticos, por haverem
perdido a fé em seus próprios “egos”; acham-se dominados,
esmagados por seu ambiente; não pensam jamais em mudança,
por mais miserável e inferior que seja sua situação; escondem-se

[29] Myra e Lopes - Problemas Atuais de Psicologia.


[30] Idem

– 44 –
no mantra: - Humildade.
São os verdadeiros dentes de uma engrenagem, e como
tal, nunca chegarão a compreender a função que nela exercem.
A imersão em filosofias ou organizações exóticas, acena-
lhes com a possibilidade de uma vida destituída de maiores
exigências, possibilitando-lhes viver com o mínimo, sob o manto
da renúncia, ao que são levados, seja pelo aumento tremendo da
competição nos países super desenvolvidos, seja pela pressão das
necessidades nos países subdesenvolvidos, cujo refúgio está na
fuga para o mundo das possibilidades imaginárias.
Seitas e cultos estranhos mostram-nos que ali proliferam
os portadores de todas as anomalias da personalidade, entre
outros, os de constituição epilépticas, os tímidos introvertidos,
inadaptados, e os fanáticos do todas as espécies a procura
de acomodações e ajustamentos, devido à instabilidade
constitucional; isso por serem carentes de vontade, de decisão e
dispersos em seus interesses.
Há em muitos desses indivíduos um desejo inconsciente
voltado para a despersonalização; sentem-se irreais ou
desapegados do mundo que os circunda, como se estivessem
flutuando no ar; daí o desejo de se despersonalizarem, buscando
a irrealidade de si mesmos; por isso, a adesão a certos cultos,
ritos ou sistemas, é para eles, na realidade, uma tábua de salvação,
um abrigo aquém de um nosocômio mental. Quando não se
refugiam em tais domínios, transformam-se em delinquentes,
alcoólatras, vagabundos, debochados, anti sociais, toxicômanos
e alheios a toda moral.
Muitos temos visto que, depois de perambularem pela
droga e mesmo pela delinquência, ao encontrarem tais redutos a
eles se ajustam, abandonando os velhos hábitos, o que evidencia,
até certo ponto, a utilidade de alguns movimentos na contenção,
saneamento e ajustamento da massa afim com suas atividades.
De certo amigo possuidor de disritmia cerebral,

– 45 –
ouvimos, ao se referir a um ambiente onde praticava meditação
e solfejava mantras:
É!... Mas ali senti tranquilidade, paz e serenidade;
chegando a ver cores, em forma de nuvens, adejando ante meus
olhos cerrados!...
Realmente, durante as meditações, devido ao
relaxamento para tal exigido, diminuem: o ritmo do volume
cardíaco, a frequência do pulso, a pressão arterial e a respiração;
silenciando inclusive os reflexos; fenômenos, aliás, comuns
na sonoterapia e no sono natural; sendo de destacar-se que,
na meditação, o participante, até certo ponto, está consciente
daquilo que vem ocorrendo em seus sentidos.
É justamente nesses momentos, quando o indivíduo
consegue penetrar no mar da tranquilidade meditacional, que
podem ocorrer uma série de acontecimentos cujas origens no
mais das vezes emergem de lesões desconhecidas do meditante,
mas presentes desde o nascimento, como aquelas do lóbulo
temporal ou semelhantes. É quando então podem surgir
luzes fluorescentes, como que lampejantes, nuvens coloridas
desfilando ante seus olhos cerrados, como se cortinas fossem,
etc.; desconhecendo-lhes a origem, mistificam-se, tomando tais
ocorrências como se fossem uma realidade transcendental ou
divina, e aí tornam-se eternos defensores desses sistemas.
Como tais, são também comuns nessas pessoas, o
sentimento de irrealidade - despersonalização ou “jamais vu”
- ou então aquela sensação de que tudo lhe é familiar, como
se já tivesse vivido, visto ou conhecido as sensações que está
experimentando no agora - “déjà vu”.
É de se entender que entre a captação, registro e
decodificação consciente de uma mensagem, vista, ouvida ou
falada, dá-se um interregno, um enturbamento da consciência,
um vácuo, mesmo que seja de uma fração de segundo, e, quando
chega a decodificação consciente da mensagem, o indivíduo

– 46 –
tem a impressão de já conhecer aquela situação posteriormente,
é o “déjà vu”; tais ocorrências, no fundo, são manifestações
transitórias de uma condição epiléptica em estado recessivo,
como também o são certos tiques, tremores, sacudidas de
membros e hábitos ritualísticos adotados por certos indivíduos:
raramente por outras causas.
Sempre se encontram entre estes, os criadores de seitas
e religiões, dizendo-se enviados especiais de Deus para guiar a
humanidade. [31]

[31] Veja-se: Consciência Cósmica de Rosabis Camaysar e


Parapsicologia. Psiquiatria, Religião - Alberto Lyra.

– 47 –
O PORQUÊ DO PROSELITISMO

P
artícipes que sejam de uma congregação espiritual, os
indivíduos sentem-se na obrigação de construir a sua
evolução ou salvação, e as ideias de que venham a fracassar
nesse objetivo engendra-lhes terror e, em forma fatalmente
lógica, daí nasce a necessidade psicológica de ensinar os outros,
a fim de conseguirem uma relativa paz interior e também
companheiros. Não podem ficar sós. A solidão os atordoa.
Mesmo que se lhes desse o que entendem por paraíso ou terra de
eterna permanência, lá não quereríam ficar sem companhia, por
isso lançam-se ao proselitismo:
Existe a ambição espiritual que se alimenta da satisfação
de ver os outros ao redor de si, comungando dos mesmos ideais
e fantasias e, o fato de verem que estes aceitam suas ideias e
crendices, delas compartilham e vivem, dá-lhes conforto e
segurança, porque isso lhes parece como se fosse a confirmação
divina de que estão certos. A prova é que. por diversas vezes,
ouvimo-los dizer.
“Se não estivéssemos certos e com razão e, se Deus não
estivesse conosco, não teríamos o número de seguidores que
temos”

São esses seguidores que justificam o proselitismo, dão


consistência e base ao trabalho das organizações e sustentam
seus dirigentes sob várias formas, fazendo, consequentemente,
nascer os mestres, Hierofantes, Gurus e outros lanfranhudos.

– 48 –
Isso faz-nos recordar aquele quadro que em tais
organizações são simbolizadas por um “coche”: os dirigentes
pelo cocheiro, os discípulos pelo cavalo que procura alcançar
uma espiga de plástico ligada a ele mesmo, a que nunca alcança,
pois dele se distancia à medida que prossegue carregando a
organização. A espiga é de plástico por ser feita de ilusão, tem
por finalidade manter o animal preocupado na busca.

– 49 –
MESTRES

N
ão nos detenhamos na expressão mestre, presos ao
sentido semântico que, como latinos, nos deixaram as
religiões por onde passamos. Relembremos ser mestre
todo aquele que, sob alguma forma, nos possa transmitir
instrução, orientação ou conhecimento de alguma coisa. É um
homem comum.
Como no plano material e humano tudo se encontra
vinculado a uma implacável dicotomia; não é de nos espantar,
também no espiritual, a existência de duas situações.
De um lado, encontramos quem atingiu os píncaros da
sabedoria, ou dela estando próximos, tornaram-se simples em
suas atitudes; a todos atendem sem distinção, dando-lhes segundo
suas capacidades de recepção; neles não existe nem parcialidade
nem pessoalidade; não vivem em reclusão nem afastados do
mundo; são como o alento divino; podem ser encontrados em
todas as partes, desde que se tenham olhos para vê-los e sentidos
para percebê-los. Têm a característica de viverem com os recursos
do seu próprio labor e esforços; como os grandes rios: quanto
mais profundos mais silenciosos. Do outro lado perfilam-se, e
não poucos, os arvorados a mestres; dizendo-se predestinados
e amparados por Deus; por forças imaginárias a que dão nomes
impressionantes, tais como gnósticas, vibrações, irradiações, e
coisas parecidas. Procuram criar em torno de si uma auréola de
misticismo, mistério, intocabilidade e até de pavor. Para tanto
procuram rodear-se de indivíduos que, por todas as formas,

– 50 –
criam dificuldades àqueles desejosos de se aproximarem do tal
Mestre. A principal alegação é a de que não podem perturbar a
aura, a sensibilidade e a vibração do mestre.
O assunto é vibração para cá, vibração para lá.
A coisa é tão séria que, certa vez disse-me um amigo:
“Isso já não é mais vibração; já passou de vibração a trepidação;
está virando trovoada, e vou-me embora antes que vire terremoto”.
A realidade e que todos esses rodeios; todo o artifício e
dificuldades impostas e usadas, destinam-se a evitar que pessoas,
bem informadas e cultas, venham a fazer alguma pergunta a que o
Mestre não responda ou que o ponha em dificuldade e descrédito
e, além disso a distância gera mais respeito dos seguidores. (vide
anexo XII)
Somente consideram como irmãos àqueles que lhes
seguem as pregações; os demais são chamados de profanos,
homens comuns, criaturas de Deus. Eles não? Chamam-se Filhos
de Deus; coisa muito diferente!...
Eles são os escolhidos!...
Não é difícil identificá-los: seu fanatismo é percebido
pela mais simples das criaturas racionais.
Lembramo-nos de um, de cultura baixa, que, ainda em
fase de aprendizagem, após atolar-se nessa espécie de fanatismo,
quando se referia aos irmãos sanguíneos dizia:
“Falar com eles para quê. Nosso parentesco já terminou
há muito tempo. Não tenho mais nada que falar com eles. Meus
irmãos são daqui” (referindo-se a confraria a que pertencia).
Quando atingem esse estado a que chamam de
iluminação, estado gnóstico (parafrênico) ou coisa parecida,
deformam a imagem real do mundo, levando-a, como em estado
delirante, a planos subjetivos. A isso se referindo, disse Carlos
Imbassai:
“... Sabemos que as doutrinas influem em nossos atos,
na nossa vida, na nossa consciência, e mesmo na nossa

– 51 –
subconsciência; como se traduzem às vezes por verdadeiros
disparates; como elas se estratificam nas profundezas do
espirito e que graves consequências produzem”. [32]

Reafirma-o Freud ao dizer:


“... A técnica de determinadas ‘doutrinas’ consiste em
rebaixar o valor da vida e em deformar, de maneira delirante,
a imagem do mundo, num esforço e delírio coletivo para
assegurar-se, por meio de uma deformação quimérica da
realidade. E aqueles que participam de um delírio não podem
reconhecê-lo como tal”. [33]

O certo é que, atingidos pois esse estado, transferem


seus pensamentos e ações a direção de uma entidade imaginada,
corpórea ou incorpórea; a uma força invisível a que dão nomes
misteriosos e impalpáveis; como já se disse: vibração, irradiação,
força gnóstica, gnosis, graça ou coisas parecidas; porém, sempre
intencionais, incomprováveis, etéreas, do mundo simbólico ou
primitivo.
Passam a se considerar fundidos nessa força, são
manifestações dessa energia ou entidade idealizada, afinal,
dizem-se despersonalizados e sem o “Eu”, mas, na dura
realidade, o que conseguem com esse artificialismo é entrar na
faixa da irresponsabilidade e, nesse estado de ser, nesse delírio de
inconsequências vibracionais, acreditam e fazem acreditar aos que
os rodeiam e seguem, recorrendo a todos os meios possíveis, que
seus pensamentos, palavras e ações, são emanados, emergidos,
intuídos e dirigidos, por essa força estranha! Em resumo: já não
são mais eles que falam mas sim essa vibração, essa força que
ninguém percebe!... (a força da irresponsabilidade).
Esse é o fruto de todo terreno pseudo-religioso, pseudo-
cosmogônico, indevassável e propício a devaneios.

[32] Carlos Imbassai - Parapsicologia e Psicanálise.


[33] Freud - Mal Estar na Civilização.

– 52 –
Vivendo um estado de imersão, em um oceano de de
convenções e limitado nível conceitual, torna-se difícil deslocar a
massa, de forma abrupta, desses “modus vivendi”. Inútil ser-nos-
ia tentar elevá-la além de seu nível percepcional. Seria explicar a
um cego o nascer do sol ou o seu ocaso, a beleza do arco-íris, de
uma paisagem ou das ondas do mar banhadas pelo entardecer;
querer que um surdo-mudo compreendesse, de imediato, os
gestos, do regente de uma orquestra, ao qual parecería este, como
um palhaço a dar sinais desconexos, a esmo, a uma multidão de
outros palhaços, já que dos sons nenhum conhecimento possui
o surdo-mudo; seria, afinal como ensinar a uma criança, ainda
no jardim da infância, a importância dos complicados cálculos
infinitesimais.
Nesse erro incorrem todos que conseguiram emergir
da massa, mas, ainda inconscientemente à ela presos por forças
cinéticas de sua origem, perdem tempo tentando elevá-la,
rapidamente, além dos limites de sua percepção.
O máximo que poderão fazer será, serena e lentamente,
elevá-la, por etapas, qual se faz a um escafandrista ao retirá-
lo das profundezas do oceano. Aclimatada a aceitar certos
princípios, sistemas ou mestres. O mais que pode ser feito será
substituírem-se aos poucos, tais princípios, sistemas ou mestres
por outros mais modernos e, assim, gradativamente, até que
atinja a superfície do seu oceano psicológico, quando então,
não lhe será difícil compreender que somente o homem é seu
próprio mestre e os demais apenas velhos companheiros mais
experimentados no caminho da vida; mas, até lá, teremos que
levá-la, como se realmente, também nós, estivéssemos vivendo
o mesmo estado de limitação em que ela, a massa, se encontra.
Jamais lhe poderíamos dizer que, na verdade, curvar-se, ajoelhar-
se, ou prostrar-se aos pés de qualquer pessoa, tenha esta o nome
que tiver, Mestre, Hierofante, Deus ou Demônio, materializado
ou não, é, realmente, tarefa de cachorro; assim mesmo, enquanto

– 53 –
descansa, aguardando o momento de acompanhar seu amo.
Afinal, Deus ou não, aquele que se regozija, se compraz, alegra
ou se completa com a subserviência, humilhação ou servilismo
de quem quer que seja, é mais infeliz que sua vítima.

– 54 –
FÓRMULA NAPOLEÃO

A
situação traz-nos a mente o caso do delirante que
se dizia Napoleão, usava insígnias, condecorações e
demais comendas pelo peito afora. Apresentado a um
psiquiatra e psicólogo, este o recebeu com honras especiais,
como se, realmente general fosse - enfermeiros vestidos à militar,
continências, posição de sentido e demais referências de estilo.
Conduzido ao consultório, como a uma conferência,
ali depois de longa e especializada preparação, foi levado à
compreensão de que, na verdade, ele não era Napoleão, mas sim,
o seu mais íntimo amigo e lugar-tenente: o General “X”.
Novas conferências com as mesmas honras de estilo
foram marcadas, durante as quais foi ele esclarecido ser apenas
o coronel tal e, assim sucessivamente, até ser levado à condição
de um simples soldado que servira ao exército de Napoleão e
que, agora, era realmente o Sr. Fulano de tal, vivendo em pleno
século XX, portanto, muito superior a um soldado raso, pois era
portador inclusive de um título universitário.
Não foi difícil trazê-lo à realidade. Mas quem o faria
imediatamente, dizendo-lhe não ser nenhum Napoleão, mas
sim o cidadão tal? Quem lhe tiraria da mente a grandeza
napoleônica?!
Ninguém!
Da mesma forma, quando um indivíduo mete na
cabeça a ideia de que está bafejado por uma força divina soprada
por Deus; que é o queridinho do papai do céu que existe uma

– 55 –
força gnóstica em torno dele, qual um arco-íris, protegendo-o;
estamos, irremediavelmente, ante outro caso napoleônico,
nenhuma força do mundo o demoverá dessa idiotice.
Inata é no homem a ânsia de mando e de poder em
qualquer plano em que estes possam ser exercidos.
Quando perdida a razão, o equilíbrio, ou mesmo o senso
de crítica, o indivíduo é levado a enveredar-se pelos chamados
caminhos ocultos, onde iludindo-se e aos que o seguem, investe-
se de poderes imaginários, cuja assistência supõe lhe vir de fontes
inesgotáveis e inatingíveis pelos demais seres. Ultrapassando
a barreira do limiar consciente, julgam-se grandes homens,
como Napoleão, Presidente da República, reencarnações de reis,
rainhas, faraós, e importantes personagens do passado; jamais
delinquentes ou criminosos.
Alguns menos exigentes e de aspirações mais humildes,
contentam-se em ser apenas detetives, policiais e, não raras vezes,
portam-se a dirigir o trânsito das ruas de nossa cidade.
Quando tais tendências emergem de um pensador
brilhante e dotado de certa cultura, é ele capaz de desenvolver
teorias incrivelmente complexas; capaz de defendê-las em livros
de larga erudição, apropriando-se inclusive de dados da ciência
sadia. São estes os mais perigosos, devido ao fato de lançarem
mãos de artifícios, nomes pomposos e sugestivos para poderem
lançar suas ideias.
A adoção de nomes pomposos, sugestivos, adredemente
montados para imprimir respeito, veneração, auréola de poder e
até de temor, é o primeiro passo daqueles que se dedicam à arte
de manobrar massas místicas e os tendentes à conversão.
Encontramo-los em número infindável no passado
e mesmo no presente. Quem não se lembra de Saint-Germain
Cagliostro, Rasputin e outros figurões, no mundo místico e no
político?

– 56 –
DA ANÁLISE DAS COISAS

Q
uando desejamos executar um trabalho de prospecção,
não levamos para o laboratório toda uma montanha para
analisar se possui ela este ou aquele teor de determinado
metal (ferro, aço, ouro, etc). Não!... Basta-nos escavar um
pouco; selecionar determinadas partes e submetê-las ao exame
conveniente.
Da mesma forma se procede nos exames clínicos; não
se retira todo o sangue do enfermo, nem pulmões ou órgãos
internos quando se lhe quer pesquisar uma doença, mas,
simplesmente alguns milímetros ou gotas de sangue, escarro, ou
então uma simples radiografia, etc.
O mesmo se passa no campo das relações humanas, onde,
nada mais necessitamos que observar e passar pelo crivo da razão:
As omissões; os atos falhados; as incoerências; a insegurança; as
inverdades; a auto-afirmação: dissociações, intencionalidades e
demais atitudes inconsistentes, para apanharmos não apenas os
indivíduos, mas, também, as sociedades em falsas pregações.
Ora, “se no campo da verdadeira pesquisa científica,
ilusões grosseiras puderam enganar verdadeiros sábios, o que
não se daria no domínio das ‘Falsas Ciências’ em que todas
as espécies de fatores ‘impuros’ intervém para favorecer o
nascimento e a propagação do erro?”. [34]
Ante isso, devemos lembrar o Método de Descartes, ao
examinar as coisas:

[34] Jean Rostand - Science Fausse e Fausses Scieces - 1958.

– 57 –
“Primeiro jamais aceitar como exata coisa alguma que
eu não conhecesse à evidência como tal, quer dizer, em evitar,
cuidadosamente, a precipitação e a precaução, incluindo
apenas nos meus juízos aquilo que se mostrasse de modo
tão claro e distinto à minha mente que não subsistisse razão
alguma de dúvida”. [35]

Isso porque: “Em resumo, no que diz respeito às más


doutrinas, julgava já saber muito bem o que valiam para me
não achar mais exposto a ser ludibriado, seja por promessas de
um alquimista, seja pelas predições de um astrólogo, seja pelas
imposturas de um feiticeiro, seja pelos artifícios ou parlapatice
de qualquer daqueles que fazem profissão de saber mais do que
sabem”. [36]
Não podemos esperar que pessoas dotadas de certa
inteligência e adestramento venham, abertamente, se confessar
falsárias, porque, se o vírus, infra-vida, tão diminuta que não
chega a ser vida celular, mas apenas pequenas moléculas de DNA
e RNA, adaptam-se, aderem-se às células, fazendo nelas penetrar
suas próprias moléculas de RNA e DNA, para elaborarem
duplicatas de si mesmos, enfim, para subsistir a espécie; o que não
farão, então, os seres e organizações, adredemente preparados,
embora desviados da realidade, para que seus ideais e interesses
escusos possam subsistir?!...
Tudo! Daí a dificuldade em serem apanhados em suas
artimanhas e, também, a necessidade de serem analisados pelo
laboratório do espírito.
Se a polícia, para descobrir crimes de diversas naturezas,
vale-se das impressões digitais, técnicas psicológicas e análises as
mais variadas, segundo o grau de periculosidade do criminoso,
por que não nos cabe a nós, também, analisar os pregadores de
embustes?!...

[35] R. Descartes - Discurso sobre o Método.


[36] Idem

– 58 –
Em nossas pesquisas não podemos esquecer que na luta
para subsistir, indivíduos e movimentos lançam mãos de todos
os ardis a fim de darem perpetuidade às suas conveniências: “A
luta pela vida entre os homens evolui das formas violentas para
as fraudulentas: isso determina o desenvolvimento de meios de
luta fundados na fraude” e que: “As cerimônias de certos cultos,
destinados, a manter também o zelo dos crentes, consistem, por
via de regra, em simulações mais ou menos simbólicas, cuja
prática converte os sacerdotes (oficiantes) em consumados atores
de pantomimas. [37]

[37] J. Engenieros - Simulação na Luta Pela Vida.

– 59 –
NINGUÉM SE CONFESSA
FALSÁRIO

É
, às vezes, mais difícil encontrar-se o embusteiro e falsário
que localizar o vírus de uma moléstia desconhecida.

– 60 –
DA IRRESPONSABILIDADE
HUMANA

S
e alguém se propusesse a nos ensinar determinada
disciplina, ciência, arte ou algo mais, naturalmente teria
de possuir, delas, os necessários conhecimentos, sem o
que, correríamos, fatalmente, o risco de estar seguindo um
irresponsável, inconsequente ou louco.
Já pensaram em que desastre culminaríamos se
fôssemos aprender, por exemplo, pilotagem aérea, terrestre ou
marítima com quem jamais tivesse visto ou colocado às mãos
em um volante ou na direção de tais veículos?! Se fôssemos
aprender xadrez com quem nunca tivesse visto, pelo menos, um
tabuleiro de damas ou um novo idioma com alguém que nunca
tivesse ouvido a pronúncia de tal língua ou lhe desconhecesse os
significados vocabulares?!...
Quantas comparações e exemplos não poderíamos aqui
relacionar? No entanto, nas mesmas circunstâncias, qual de nós
se atreveria a cruzar um caudaloso e profundo rio a nado, sem
saber fazê-lo: atravessar o deserto ou uma densa e longa floresta,
infestada de feras e de toda a sorte de imprevistos, sem antes ter
o amparo de um guia perfeito, conhecedor da região e que de
suas travessias já tivesse acurado, seguro e pleno conhecimento
pessoal?!
Naturalmente, ninguém.
Não obstante, a maioria de nós outros, inconsequente
e impensadamente, nos entregamos à direção de missionários,

– 61 –
salvadores, guias espirituais, mestres, gurus e aventureiros de
todas as espécies, que se propõem a nos caminhar para um estado
paradisíaco, celeste ou coisa parecida, dos quais nada sabem,
além da repetição de velhas e milenares fórmulas, transmitidas
por outros que também o não sabiam. E a experiência pessoal?
Nenhuma... As provas?
Tal hipótese assemelha-se à de quem entrou em um
avião comandado por um curioso que, não sendo piloto, apertou-
lhe um botão e o fez decolar.

– 62 –
INQUIETUDE HUMANA

A
tendência ao misterioso, o pensamento mágico, a
esperança em algo sobrenatural, necessário para garantir
uma sobrevivência futura, tudo isso, faz-se cúmplice da
credulidade, e esta. como a fumaça do ópio, cerra os olhos da
compreensão e da razão para a realidade das coisas, conduzindo
o crédulo, como um espantalho, um sonâmbulo, para a cegueira
do fanatismo.
Essa tendência é inata no homem, porque resulta, é
óbvio, da total ignorância em que nasce; e a falta de conhecimento
gera inquietude e busca.
Sabendo disso, os falsos dirigentes espirituais lançam
mão, logo nos primeiros anos de vida das crianças, do temor
a Deus, como se este fosse um algoz e não suprema bondade.
Esse temor constitui a semente de todos os males, e a base onde
medrará, para o futuro, a credulidade, dependência e o fanatismo.
É a enzima: tudo mais virá depois, em forma de contos, fantasias
e coisas outras.
Contra tais precedentes, insurgiu-se Esquirol ao dizer:
“A educação do homem começa no berço; abster-se-á
de contar as crianças fábulas que abalem o cérebro, aterrorizem
a imaginação”. [38]
Os meios, teses e suposições de que lançam mãos
os traficantes do espírito, são, dentre muitos, usados junta ou
separadamente, os seguintes:

[38] E. Esquirol - Des Maladies mentales - T. I. Paris 1838.

– 63 –
[Meios]
a. incutir, ainda na infância o temor, seja sob que forma
for, em algo sobrenatural, superior, ao qual estamos
subordinados (antena psico-programadora);
b. fomentar um estado de ansiedade subjetiva
nos indivíduos, através da insinuação de coisas
misteriosas e imaginárias;
c. despertar na pessoa, a quem dizem vão salvar, o
sentimento de culpabilidade de um pecado original,
queda, imersão na matéria, ou algo parecido;
d. que, para ser salvo, precisa dedicar-se à uma
verdadeira fraternidade;
e. incutir na mente do seguidor que diversões, como
televisão, cinema, teatro, música, arte e outros
recreios são criações de uma entidade a que dão o
nome de diabo;
f. fazer-lhes crer, sutilmente, que, pelo fato de
aderirem a determinada organização, seita ou
religião, tornam-se seres diferentes e bafejados pelo
papai do céu;
g. manter seus seguidores ocupados, principalmente
em dias de suas folgas ou descanso; seja em trabalhos
da confraria, seja participando de convenções, quer
assistindo a palestras especiais, para, assim, evitar
venham a participar do mundo externo.
h. devem ser mantidos ocupados e com
responsabilidades espirituais, pelo menos uma
vez por dia, afim de que não se extraviem do novo
caminho.
i. obrigar os seguidores a se desligarem, por escrito
das instituições a que tenham pertencido, para que,
desta forma, se oficialize a separação e este tenha
mais dificuldade em voltar atrás, ficando, assim,

– 64 –
mais escravo do novo movimento.
[Teses]
j. exploração do reino do Deus de quem se dizem
representantes;
k. imortalidade da alma e reencarnação com ameaças;
l. lei do Karma como castigo;
m. atlántida e coisas parecidas;
n. mundos subterrâneos e seus esquisitos habitantes;
o. coisas astrais, irradiações gnósticas, mestres ocultos,
era de “aquários” e coisas mais, enfim todas fantasias
possíveis.
Afinal a técnica usada nessa conversão, a que chamam
adaptação, preparatoriado, aprendizado, ou equivalentes, é
sempre a de provocar nos seguidores uma crise mental ou
emocional, sem que estes a percebam, a fim de que, aos poucos,
se lhes extirpem as antigas ideias e normas de conduta e, assim,
implantem-se-lhes outras no lugar, fazendo com que se sintam
até felizes com essa modificação. É o “amaciamento”.
Estes são, dentre outros, os entorpecentes de espírito,
a chave-mestra destinada a levar incautos e desprevenidos ao
fanatismo, que segundo o entendimento de Francis Bacon:
“Foi quem forjou os ídolos do vulgo, os gênios
invisíveis, os duendes, os trasgos, as bruxas, os vampiros, etc.;
o fanatismo levantou cadafalsos, acendeu piras e fez correr
rios de sangue nas guerras de religiões”.

– 65 –
TÉCNICA DE SEDUÇÃO OU
CONVERSÃO ESPIRITUAL

N
o tópico anterior arrolamos exemplos de processos
destinados a implantar na mente desprevenida a dúvida,
e a atraí-la ao redil da conversão dogmática. Essas técnicas
consistem, exatamente em um complexo de processamentos
carismáticos, destinados ao rapto do espírito e a levar os
iniciantes, também chamados alunos preparatórios, aspirantes,
discípulos, neófitos, aprendizes, chelas, etc., a aceitarem certos
e determinados princípios, práticas, procedimentos, crenças, e
normas.
As técnicas usadas são sempre as mesmas aplicadas
pelos estelionatários e farsantes para conseguirem seus objetivos.
Há sempre uma promessa que demanda tempo a ser realizada:
deverá haver uma espera; há um estágio ou então surge um
empecilho que deve ser removido com o tempo e aprendizagem;
é imprescindível passar por esta ou aquela provação, chamada
em algumas organizações de “Ordálias”, “Endura”, “Superação”,
“Grau”, etc. É necessário passarem-se dois ou três anos em
meditações ou em leituras da instituição, para que seja tocado
pelas irradiações sutis dos mestres ocultos ou da Gnosis e, assim,
vão amaciando a vítima. O tempo vai passando e, com isso, o
discípulo deve ir perdendo a personalidade, o “Eu”, para que as
tais forças o toquem. (Anexo XVI)
A prova de que está sendo tocado pelas forças espirituais
prova-se pela docilidade, obediência, não-reação, afinal, pelo

– 66 –
“amaciamento” a que se adapta nesse tempo de provações.
Depois de alguns anos nesse estado, nessa programação
e fuga do mundo lógico, proibidos de ler ou observar coisas do
mundo externo, transformam-se em seres psicoteleguiados;
então podem subir um determinado Grau - recebem o prêmio
de sua entrega ao fanatismo.
Já agora ele sabe repetir, qual um papagaio, como
um disco, ou reproduzir qual um estêncil, tudo aquilo que lhe
imprimiram na mente; já pode passar até à direção de aprendizes,
preparando-os como novos autômatos.
Esse episódio lembra-nos a imagem de Rollo May em
sua parábola “O Homem Engaiolado”. [39]

[39] Rolo May - O Homem a Procura de Si Mesmo - Ed. Vozes - 1972.

– 67 –
O HOMEM ENGAIOLADO

A
li fala de um rei que, levado pela curiosidade de ver o
que aconteceria a um homem, mandou encerrá-lo em
uma gaiola, com toda assistência, sob observações de um
psicólogo. Descreve, circunstanciadamente, em outros termos,
as reações desse indivíduo, protestando, reclamando, dizendo-
se prejudicado em suas obrigações sociais; família; trabalho;
falando de injustiça e liberdade. Porém advertido de que estava
sendo bem tratado, tendo o futuro garantido pelo “Rei”, acabou
racionalizando encontrar-se protegido e até agradecendo o
amparo que lhe era dado.
Com o tempo acomodou-se, conseguiu aniquilar o
“Eu”. Em suas raras palestras, já não mais ousava dizer “Eu”,
estava despersonalizado. Esse exemplo refere-se a um indivíduo
que foi colocado à força em uma gaiola material e, mesmo assim,
a catequese o levou a despersonalização. aniquilamento do “Eu”
e ao “amaciamento”. Imaginem, então, a que estado poderão
ser levados aqueles que, por sua livre e espontânea vontade,
encaminham-se deixando-se encerrar, lenta e paulatinamente,
em verdadeiras gaiolas-masmorras, invisíveis, por serem
psicológicas, porém, com aparência de castelos dourados, como
o são, em quase sua totalidade, as instituições que postam nomes
inebriantes dizendo-se empresárias da salvação?

– 68 –
DEPENDÊNCIA À CREDULIDADE

Q
uanto mais próximo o homem estiver de seu estado
original, quanto mais ignorante e inculto, maior
seu campo de credulidade, sua sugestionabilidade e
tendência para o oculto.
Não é preciso ir longe, basta-nos recordar os indígenas
ainda existentes em várias partes do globo, e determinados grupos
sociais a margem da civilização, para lhes compreendermos o
estado de miserabilidade - carência de todas as coisas. Neles o
desenvolvimento parou; ali só existe o tempo, estritamente sob
seu ponto de vista cronológico, não o psicológico, estacionaram
no limite homem-animal.
Ainda há pouco, duas publicações avivaram-nos a
recordação a esse respeito e merecem ser transcritas Trata-se dos
indígenas da Nova Guiné. [40]
A necessidade de estabelecer um paralelo, demonstrar
como funcionam determinados níveis conceituais, leva-nos a
recorrer a uma retrospecção comparativa entre a vida e estado de
consciência desses indígenas e grupos que, ainda hoje, dizendo-
se civilizados, procedem, como estes, porém em faixas diferentes.
Há na Nova Guiné tribos onde o tempo, como se disse,
estacionou como que definitivamente. Ignoram absolutamente
todo e qualquer conforto humano: os homens consideram suas
companheiras - as mulheres - como se fossem filhas do demônio:
moram, portanto, em cabanas primitivas e separadas.

[40] De nossos livros de História Universal.

– 69 –
Para eles o mundo é completamente plano, um
chapadão com algumas elevações - as montanhas - mas, logo
depois continua sem fim. Seu conhecimento sobre distância
ou profundidade é nulo. Ninguém lhes consegue meter na
cabeça a ideia ou compreensão da esfericidade da terra e,
consequentemente, a existência de outros planetas.
Como fazê-lo?
Tentar trazê-los à realidade do nosso mundo, seria como
se tentássemos o confronto entre as faces de uma mesma moeda:
Um colóquio impossível. De um lado a consciência racional, do
outro o irracional, níveis conceituais diametralmente opostos,
como os há, também, entre nós.
Conseguiram manter-se fora da civilização. Sua
alimentação restringe-se, prediletamente na ingestão de um
espinafre selvagem, besouros e outros vermes terrestres. Vivem
em constantes rituais destinados aos seus antepassados mortos.
Para eles são os seus mortos que lhes prestam a ajuda, lá do além,
onde se encontram.
Procurando atraí-los à civilização, os brancos sempre
lhes lançam alimentos, roupas e utensílios: porém, aqueles alegam
que todos os bens modernos, como avião, rádio, automóvel,
etc., foram criados no CÉU por seus antepassados falecidos e
que, através de um fio ou cordão misterioso (deve ser o cordão
gnóstico ou eletromagnético de seus colegas rosacruzes), descem
os aviões e veículos, trazendo-lhes presentes e alimentação, mas,
que infelizmente os homens brancos, maldosos, descobriram o
ponto de chegada dessas coisas e agora o roubam tudo que lhes
é enviado por seus antepassados, dando-lhes, apenas algumas
coisas para engabelá-los. Dizem mais, que os brancos não
trabalham, nada fazem, vivendo da apropriação dos bens do
outro mundo, roubando aquilo que lhes mandam seus queridos
antepassados.
Profetizaram que isso não perdurará para sempre

– 70 –
porque uma revolução cósmica vai estourar e então, chegará um
navio descomunal trazendo-lhes víveres armas e tudo aquilo que
necessário for para exterminar os malditos brancos, ladrões e
malvados. Depois, então, a abundância reinará entre eles, porque
as coisas lhes virão diretamente do CÉU através de um fio.
Observem:
Não são somente os nossos idiotas que profetizam
e esperam revoluções de forças cósmicas e eletromagnéticas;
aguardam um reino de abundância e malandragem; um Céu que
seja uma mãe carinhosa, dando-lhes sombra e água fresca!
Não!
Esse sonho de boa vida tem suas origens tribais.
Líderes australianos enviaram até eles uma delegação
de outros indígenas especializados, para explicar-lhes que todos
os produtos e objetos eram realmente fabricados pelos homens
brancos que os davam como presentes, no intuito de agradá-los
e de cativar sua amizade.
Não acreditaram.
Disseram que os mensageiros estavam controlados e
comprados pelos brancos, que inventaram essas coisas.
Como explicar-lhes o funcionamento complexo de uma
indústria produzindo aparelhos como automóveis, aviões, rádios
e coisas mais, se eles não conhecem nem ao menos a mínima
ação artesanal?!
Faziam em locais visíveis aviões de palha, ou melhor,
montões de palhas imitando aviões, em torno dos quais dançavam
e cantavam, pensando, dessa forma, entrar em contato com seus
antepassados mortos para que esses, vendo-os e ouvindo-os,
mandassem aviões, carros, víveres e demais presentes.
Existem grupos sociais - verdadeiras tribos - em
pleno advento do século XXI que, como os acima focalizados,
crêem que as mesmas forças invisíveis os estão ajudando, forças
eletromagnéticas com as quais poderão entrar em contato para,

– 71 –
ao morrer, serem recebidos numa região especialmente para eles
preparada. Os indígenas afirmam que daquela região foi lançado
um fio por intermédio do qual descem as coisas; já estes, mais
evoluídos um pouco, alegam que é um cone electromagnético
pelo qual passarão até chegar ao novo paraíso; para aqueles a
ligação é descendente, faz-se por um fio, já para os outros a
ligação é ascendente, destina-se a sugá-los, levando-os para as
maravilhas gnósticas. E se esse cone entupe?!...
Se nenhuma força do mundo é capaz de remover os
indígenas de seu nível conceitual; nenhuma do universo, nenhum
guindaste psicológico removerá, de seus sósias do século atual,
a crença de que estão bafejados por irradiações celestes como
queridinhos do papai do Céu.
Isso confirma o velho rifão:
“Aquele que se crê salvo, não tem mais salvação”.
E lembra-nos:
Não fosse a batalha incessante e às vezes até implacável
a que se submete uma criança, esta cresceria no mesmo estado
dos silvícolas acima referidos.
O que se poderá, por outro lado, esperar de uma massa
completamente destituída de instrução ou que passou por uma
educação deficiente ou de baixo nível?
É lógico: nada, além de uma mórbida credulidade tribal.
Pois bem, ela constitui o grosso da humanidade e, em
alguns países, pouco se diferencia dos selvagens de que falamos;
apenas se encontra um pouco mais adaptada a um ambiente
menos hostil, onde possui melhores instrumentos de trabalho e
manuseio doméstico; um pouco mais de assistência e diversão;
porém, psicológica, intelectual ou espiritualmente, pouca
distância os separa. Poucos são os países que, como o Brasil,
criaram instituições qualificadas, como o “Mobral”, destinadas a
elevar o nível cultural das massas.
Não fora o condicionamento de experiências milenares,

– 72 –
acumuladas e transmitidas de gerações a gerações o homem
encontrar-se-ia, fatalmente, naquele estágio primitivo de que
falamos, e do qual nenhum guindaste o tiraria.
Estabelecendo-se uma análise, chega-se à conclusão
de que, mesmo nas chamadas nações civilizadas, podemos, sem
sombra de dúvidas, classificar a humanidade em 80% constituída
de analfabetos, semi-analfabetos, e de alfabetização primária e
20% de titulares de graus universitários, médios, segundo grau
e autodidatas.
Evidentemente, como comentado, pouco ou nada
se poderá esperar daqueles que se encontrem entre os 80%;
constituem-se, verdadeiramente, no celeiro onde medram as
crenças absurdas, fanatismos e toda a gama de tendências inatas
e inevitáveis a aceitarem, de primeira mão, tudo que se lhes
queira impingir em matéria de misterioso, principalmente se
nisso houver algo de promissor, neste ou em outros mundos.
Sob o ponto de vista estatístico-informativo, não de
exceções, sabemos que, às vezes, embora sem cultura superior,
alguns seres se manifestam dotados de maturidade espiritual e
que, em contrapartida, mesmo possuidores de grau universitário,
outros se portam como verdadeiras bestas, no tocante à
espiritualidade. Isso nos prova que o indivíduo pode estar
intelectualmente adestrado, sem, entretanto, possuir maturidade
espiritual.
Deixemos que as exceções de um e do outro lado se
anulem e tomemos, como base analítica, a verdade dos 80%
massa e os 20% ilustrados ou equivalentes (percentagens essas
bem camaradas).
Entendida que seja essa proporção, para fins de análise,
não é difícil ao leigo compreender que 80% dos indivíduos, no
mínimo, constituem a massa, e que essa, sem sombra de dúvidas,
é destituída de razão analítico-crítica, indutiva ou dedutiva, por
estar amarrada materialmente à necessidade primária de subsistir,

– 73 –
mal-mal lhe dando o tempo para ganhar o pão de cada dia: dir-
se-ia serem os verdadeiros descendentes de Adão, suando hoje
o pão que, dormido, terão de comer amanhã. Em sua totalidade
são almas simples, sinceras e confiantes, mas sujeitas por isso,
a todas as espécies de fraudes, seduções e às manobras dos
exploradores da credulidade: podem ser espoliadas e facilmente
dirigidas em sua boa-fé, sempre que se lhes acene com coisas
misteriosas ou fáceis promessas, sejam de ordem material, sejam
de ordem espiritual, como por exemplo algum mestre oculto.
Sobram-nos os 20% referentes aos ilustrados, eruditos,
universitários ou portadores de conhecimentos equivalentes e,
não é difícil percebe-se e mesmo comprovar-se, tomando por
base o axioma: “Nem sempre maturidade intelectual corresponde,
invariavelmente, à maturidade espiritual que, grande parte
destes se deixa levar e envolver em crendices; por conveniência
ou comodismo, quando não se metem a dirigentes espirituais;
ou então preferem ficar agarrados à tradição religioso-filosófica
de seus ancestrais, muitas vezes em piores condições que os
demais, porque nada os preocupa; preferem a tranquilidade e o
comodismo ao cadinho da auto-realização.
Está claro que a simples detenção de um grau
universitário, por si só, não significa que seu possuidor seja
credenciado, como autoridade, e ser seguido em assuntos
espirituais, simplesmente pelo fato de frequentar este ou aquele
albergue espiritual ou igreja, como infeliz e erroneamente
pensam, crêem e aceitam as pessoas simples, incultas e inocentes.
Da mesma forma como, entre 100 médicos, 100
engenheiros, 100 advogados, 100 economistas e 100 outros
que tais juntos, não encontramos 2% que seja, por exemplo:
autoridade em pilotagem, botânica ou outra atividade
especializada; da mesma forma, cotejando-os e à humanidade
em si, nela não encontramos, também, 2% que seja autoridade
em ESPIRITUALISMO comprovado.

– 74 –
Concluído está que todos nós, até certo ponto, e em
relação a uma multiplicidade de coisas, somos leigos e que, entre
os 80% massa e os 2% esclarecidos, indistinta e absolutamente,
não se encontra, na realidade, 1% que seja autoridade qualificada
em matéria de espiritualismo. Esta é a verdade; isso não se
levando em consideração que, mesmo dentro de suas próprias
habilitações profissionais, não são expoentes absolutos, porque
elas se diversificam em especializações.
Não precisamos repisar, mas relembremos que desde
milênios, por uma necessidade imperiosa de equilíbrio e
ajustamento social, a humanidade se agrupou; não poderia ser
de outra maneira; isso nos provam as velhas civilizações com
suas classes, hierarquias e escravidões, como as do Antigo Egito
e outras. A Índia dividiu como sabemos, em 5 grandes castas
básicas o seu povo - Brâmanes (sacerdotal); Xátrias (militares);
Vaicias (comerciantes e congêneres) e Sudras (trabalhadores); não
faltando os desclassificados ou Párias (do sânscrito “Parayatta”),
ou seja aqueles do mais ínfimo nível; reputados, infames, pelas
leis; vis e excluídos de todas as vantagens e regalias destinadas às
demais classes.
Não precisamos de longos esforços ou estudos
profundos para chegarmos à conclusão de que essa mesma
classificação poderá ser observada, se bem que, não legalmente,
na organização social dos países mais civilizados, onde apenas
houve mudança de denominação, de nomenclatura ou graduação
social.
Em todas as nações organizadas, seja qual for seu
sistema de governo, encontramos esse mesmo escalonamento,
mais ou menos assim distribuído:
1. Dirigentes (Chefes de Estado, instituições e
Congêneres);
2. Militares, líderes e Universitários;
3. Industriais e comerciantes;

– 75 –
4. Profissionais e trabalhadores em geral;
5. Marginalizados e miseráveis.
Não poderia faltar a 5ª casta; constituída pelos, mendigos,
miseráveis e marginalizados (párias da sociedade moderna),
fruto de uma série de causas, derivadas, possivelmente, de um
aglomerado de condições cujo estudo escapa-nos ao objetivo,
por ser de ordem médico-psico-social.
Não obstante, uma coisa é real: se em tempos idos,
era quase impossível a transposição de uma a outra casta
ou classe social, devido às barreiras impostas pelos sistemas
dominantes, hoje, as dificuldades do mundo-moderno agravam-
se, frente aos múltiplos problemas econômico-sociais e mesmo
ao conformismo; o que nos leva a dizer que: Filho de pobre
nasce com calos psicológicos - situação que se agrava ante
a acomodação psico-social; muito comum, mesmo, até nas
sociedades de animais; bastando-se exemplificar, dentre outras,
a das formigas, onde determinadas espécies, como a exemplo,
a formiga-sanguínea-escravagista (formiga sanguínea) que, após
roubar, mediante saque, os casulos das formigas do bosque, a
fim de aumentar sua população, transportam e criam os casulos
daquelas; transformando-as em escravas.
As escravas - formigas do bosque - após criadas nas
cidades das sanguíneas, ficam dotadas do signo-odorífero destas,
e não podem jamais se libertar do cativeiro, porque, mesmo que
tentassem reintegrar-se em uma cidade de sua raça, ali seriam
recebidas como elemento estranho e inimigo, devido ao odor do
seu ambiente.
Assim os indivíduos, após criados em determinadas
comunidades ou grupos, adquirem, como que um “status”, uma
personalidade condizente àquele ambiente. Enquanto a formiga
adquire o signo-odorífero, o indivíduo, o signo social, que, como
emissor de uma espécie de radiação, identifica-o ao ingressar em
ambientes diferentes.

– 76 –
Toda essa gama de dificuldades gerou o comodismo,
o desânimo, e o conformismo que, em conjunto, transformou
o homem em um autômato: suas ações são inconscientes; fala,
gesticula, come, fuma, bebe, anda, fabrica outros iguais a ele, e
tudo faz, como se impulsionado apenas por forças instintivas.
Desde criança vem, através de um condicionamento gerado
por tradições intocáveis, hábitos, convenções e preconceitos,
adormecendo sua consciência racional; crê-se desperto, mas, na
realidade, vive obnubilado, semi-desperto e, como o acordar dá
trabalho e, no mais das vezes, pode estragar-lhe os sonhos da
falsa realidade, este jamais se esforça para abrir os olhos rumo
à conscientização. Segue, como elemento de um bando, um
sonâmbulo, a marcha da massa.
É como diz J. Krishnamurti:
“[...] Cada um pois, pertence a um certo grupo, a um
certo partido político, a uma seita religiosa, etc., e daí se
deixa ficar aferrado ao passado, ao que foi: nessa rede fica
aprisionado”. [41]
“[...] Se verificardes bem profundamente, verificareis
que o homem é indolente. O caos se originou da indiferença,
da inércia do homem, do seu espírito de aceitação. Esta é
a maneira mais fácil de viver, aceitar tudo, ajustar-se ao
ambiente, às condições, à cultura em que se está vivendo;
aceitar, pura e simplesmente. Essa aceitação gera tremenda
indolência... caímos num padrão de pensamentos e ação
onde nos deixamos ficar por ser mais cômodo... desististes de
duvidar, de pensar; porque aceitais; dessa maneira vivemos
há séculos e séculos, sempre a contar que outro resolva
os nossos problemas. Seguir outra pessoa é a essência da
indolência”. [42]

[41] Carta de Notícias - nov. dez. 72 - n.° 4.


[42] 6ª palestra - Bombaim - 1966.

– 77 –
O acervo desse complexo de situações, como que
imprimindo um determinismo absoluto, impossibilita a maioria
de romper consigo mesmo e a sair de seu estado sonambúlico -
Acordar.

– 78 –
EM BUSCA DO OUTRO MUNDO

A
través dos tempos o homem compreendeu que tudo ao
seu derredor, pelo menos até onde sua consciência podia
alcançar, tinha uma existência transitória, perecível
e mesmo ilusória; nada e ninguém escapava à desintegração,
morte e mutação. [43]
Tragédia ou não, também ele, animal que era como os
demais, estava irremediavelmente tragado nesse torvelinho do
inexorável destino.
Os naturais fenômenos mesológicos, superiores que
eram à sua limitação, levaram-no a admitir que algo deveria
haver superior ao seu destino que, abarcando-o, acenava-lhe com
uma possibilidade após sua desintegração, com uma possível
continuidade em formas ou estados diferentes.
Essa possibilidade parecia-lhe evidente ao notar que,
durante o sono, sua existência permanecia sem interferência
em um plano desconhecido. Ali conseguia não só ver realizados
seus desejos, mas também vislumbrar mundos e coisas nunca
vistos. Concluiu, finalmente, que sua alma se retirava do corpo,
enquanto dormia, e que o mesmo, obviamente, sucederia após
sua morte.
Para um indivíduo psicologicamente são, pouca
ou nenhuma importância tem seus sonhos e muito menos
os dos demais, por julgá-los destituídos de substância real -

[43] Babuji Maharaji - Fala o Sat Gurú - Trad. de Lúcia Mulholland - Rio
- 1969.

– 79 –
manifestações inconscientes de problemas introjetados ou
revolvidos pelo viver cotidiano. Todavia, em muitos, o medo,
angústias, inseguranças, esperanças e demais emoções negativas
ou não, podem transformar esses sonhos em fantasias, que
transpondo a barreira do onírico, florescem na vida consciente,
no viver constante, como se realidades fossem. É o sonhar
acordado, o “daydreams”, a transposição da fantasia às plagas da
realidade, a necessidade, interna de buscar uma segurança futura
em contraposição à realidade consciente, [44] [45] ressalvando-se, é
claro, os casos da conscientização onírica.
O deslumbrante sonho de imortalidade, ou melhor, de
uma continuidade da consciência biológica, com todo o acervo
que a constitui, suscitou em muitos o desejo de promoverem os
meios necessários a que esse decantado e maravilhoso evento
se realizasse ainda aqui em suas próprias vidas. Dessa forma,
ordens e mais ordens, religiões e religiões se organizaram, a fim
de redimir a humanidade de uma suposta queda, cuja aceitação,
por si só, já se constituía no reconhecimento de um estado de
pecado ou de inferioridade espiritual, e a humanidade-massa
aceitou o jugo da salvação e da edificação de um possível paraíso
terrestre, aliás, disso nos dão testemunho, inclusive, os escritos
mais próximos: Platão, em sua República; Milton, em o Paraíso
Perdido; Campanella, em a Cidade do Sol; Bacon, em sua Nova
Atlântida; Huxley, em Admirável Mundo Novo, e quantos outros
antes e depois?
Se recorrermos à literatura especializada e ao
arquivo bibliográfico do passado, notaremos que não apenas
o sonho fisiológico alimentou a esperança do “Outro Mundo”,
mas também foi estimulado ou provocado pela ingestão de
substâncias químicas e por meios mecânicos, sob diversas
formas, a cuja prática se davam magos, Hierofantes, sacerdotes,

[44] F. P. Maionov - Ciência dos Sonhos - Edit. Fulgor -1961.


[45] J. C. Bailly e J. P. Guimard - Mandala - Civ. Brasileira 1972.

– 80 –
Derviches, Mestres e dirigentes espirituais de outrora, que, com
tal procedimento, conseguiram fantásticas visões de mundos
além das fronteiras da razão humana.
Para tanto empregaram o Haxixe, Soma, Caoba,
Cogumelos mágicos, o famoso peiote e similares, e meios
mecânicos, como danças, etc., sempre em busca de estados de
exceção mística, sendo de lembrar-se ainda o famoso sifrit,
afrodisíaco alucinógeno dos ciganos. [46] [47] [48]
O profeta máximo do masdeísmo - Zoroastro - também
conhecido por Zaratustra, foi conduzido pela ingestão do
“Haoma” ao deus Ahura-Mazda, o Senhor sábio. Tal bebida,
segundo consta, é feita com dois ramos de efedra triturados
em pilão, juntamente com um ramo de romã, a fim de formar
uma papa, que depois é prensada até formar um suco que, em
partes iguais, é ingerido com leite. De acordo com a tradição do
Masdeísmo, todos os mazdeus, logo depois dos 15 anos, tomaram
tal mistura em iniciações para, após três viagens consecutivas ao
além, feitas sob o poder dessa ingestão, conhecerem e observarem
o local que lhes está conservado, ao deixarem este mundo.
Qualquer um, segundo o masdeísmo desde que ingira o
“Haoma”, poderá fazer uma excursão até o reino de “Garotman”, a
mais elevada das três regiões do mundo governado por Ormuzd
(Deus), que é mais que uma fortaleza de indizível e maravilhoso
esplendor, com tapetes de ouro, onde o visitante é inundado pela
luz indescritível e imortal de Ormudz.
Relembremo-nos que os sufis empregavam alucinógenos
para alcançarem estados de alucinações místicas e dilatação
dos canais da percepção, e o mesmo processo era adotado nas
chamadas escolas iniciáticas egípcias, gregas e toltecas para que
os neófitos, mergulhados em sono profundo, dele emergissem

[46] Idem.
[47] Arnoldo Krumm Heller - Do Incenso à Osmoterapia.
[48] Aldous Leonard Huxley - As Portas da Percepção.

– 81 –
iluminados e clarividentes. É de recordar que dentre os
ensinamentos secretos ministrados nos Altos Templos Egípcios,
encontrava-se a ventriloquia, só permitida a Faraós e sacerdotes
de alto grau Hierofântico, para dominarem o povo, fazendo-o
crer que estava ouvindo as vozes do seu deus. Moisés, como
descendente que era da dinastia faraônica, recebe, também, nas
secretas câmaras de iniciação egípcia, o secreto ensinamento da
ventriloquia para com ela conduzir e dominar seu povo. [49] [50] [51]
A verdade é que a ingestão, sob qualquer forma, de
substâncias psicotomiméticas, levam às chamadas alucinações
visuais e auditivas, onde os místicos e determinados espiritualistas
encontram as visões celestes, proféticas, apocalípticas; recebem
mensageiros divinos, etc., principalmente quando essa ingestão é
voluntária e intencional, cujo objetivo consciente e, sem sombras
de dúvidas, é “A busca de um sentimento de evasão e de auto-
superação”. [52]
É sabido também, que certos procedimentos, sejam
de ordem física (mecânicos) ou mentais, como por exemplo a
yoga, metrificação respiratória e, principalmente, a insistente
e intensa atividade mental, levam à ideia fixa e ao desajuste no
comportamento patológico, conduzindo o praticante à visões,
alucinações e outras fantasias pueris, ridículas e absurdas.
Recursos tais eram buscados há séculos, através das danças
dervixes, nas orações incessantes, nas contemplações infindáveis,
na reclusão solitária, na aspiração do ar saturado de gás carbônico
no Santuário de Delfos, no jejum prolongado e mortificante e em
catequeses hipnóticas. [53]

[49] J. C. Bailly e J. P. Guimard - Mandala - Civ. Brasileira 1972.


[50] Arnoldo Krumm Heller - Do Incenso à Osmoterapia.
[51] Aldous Leonard Huxley - As portas da Percepção.
[52] Ph. de Felice - Poisons Sacrés, Ivresses Divines - Albin Michel -
1936.
[53] J. C. Bailly e J. P. Guimard - Mandala - Civ. Brasileira 1972.

– 82 –
É de ressaltar que o grande perigo, quando se trata da
ingestão de psicotomiméticos, reside justamente em que, ao
alterar as faculdades perceptivas, provocam no indivíduo, não
um estado de alucinação completa, de vez que este, embora com
suas percepções alteradas, ainda assim mantêm a consciência, ou
melhor, observa tudo, sente e vive como se estivesse em estado
de modorra, ou seja, entre o sonho e a vigília. Justamente aí é
que se aloja o perigo, pois o indivíduo, ao readquirir a plenitude
de sua integridade perceptiva, recorda-se de tudo, como se
tivesse vivido realmente em um mundo fora da matéria, cujas
recordações indeléveis, mais se agravam, na proporção de sua
tendência para a chamada via espiritual, milagrosa ou fantástica
e, daí, passa a falar de mundos internos, de estar incumbido de
determinada missão e coisas outras que tais. [54]
É óbvio que todos esses estados, quer decorrentes de
sonhos fisiológicos, quer dos psicoquímicos, fizeram nascer, em
todas as épocas, os “hierofantes”, “missionários”, “salvadores do
mundo”, fundadores de religiões e ordens, “anfitriões de anjos”
e de mensageiros celestes, e, também, têm enchido as ruas e
nosocômios de “Napoleões”, “Faraós”, “famosos generais”, “Reis”,
“Presidentes de Repúblicas” e outros medalhões; repleto antros
denominados de espiritualistas, de salvadores, reformadores,
reencarnações de Marias Antonietas, Joanas D’arc, Joanas sem
Arco e de outras coisas ridículas.
Sabe-se, reafirma-o a literatura especializada, que
as visões alucinatórias nem sempre decorrem do uso de
alucinógenos; podem inclusive nascer da intencionalidade;
da insistência mental em determinado sentido; da queda
da resistência física; do fanatismo ou da idéia fixa, muito
comum entre quem vive na procura constante e incessante da
salvação; atitudes que, alterando o comportamento cerebral,
podem fazer com que parte de suas células venham a produzir

[54] J. C. Bailly e J. P. Guimard - Mandala - Civ. Brasileira 1972.

– 83 –
substâncias moleculares de efeitos idênticos ou similares ao
ácido lisérgico, capazes de alterar as percepções, e mesmo os
sentimentos do indivíduo, levando-o às visões que crê serem de
origem celeste; e ninguém mais o demoverá de seus propósitos
messiânicos ou proselitizadores; [55] isso porque, nestes casos,
desconhecendo a origem de tal fenômeno, decorrente de um
metabolismo deformado e mórbido, e, sabendo não ter ingerido
absolutamente nada para tal fim, CRÊ, indemovivelmente, ter
estabelecido contato com Deus, anjos, cortes celestes, “Gnosis”;
ser mensageiro ou agente salvador e outras loucuras por nós
conhecidas em todos os tempos.
Tais substâncias alucinógenas de origem cerebral,
parece reproduzidas devido a uma insistente e obstinada decisão,
pressão mental, ou ultérrima necessidade, como nos provam
as miragens do deserto. Seria de perguntar-se: Não estará aí,
também, uma explicação para certos fenômenos que se dizem
espíritas ou parapsicológicos?
Nesse estado, agem pelo impulso das visões internas
e, semiconscientes, tentam colocar em ação suas fantasias, não
revelando capacidade de previsão ou sensatez. Esforçam-se,
pelo contrário, em distorcer e interpretar mal a realidade para
torná-la adequada a seus próprios conceitos egocêntricos. Aliás,
nesse caso, enquadram-se as pregações de um grão-mestre
rosacruz, quando, tomando amigos nossos, tentou fazê-los
passar por enviados especiais de mundos subterrâneos, como
comentaremos mais adiante.
Não podemos deixar de lembrar que o fanatismo
religioso e espiritualista é, muitas vezes, alimentado pelas drogas,
sendo o incenso litúrgico uma delas; como também o ambiente
saturado do fumo, emanante da queima de nardo, mirra, açafrão,
âmbar, cálamo, aloés, tomilho e outros ingredientes apropriados;
o cansaço, a excitação, o barulho crescente, o tam-tam rítmico

[55] Norbert R. Keppe - Medicina da Alma.

– 84 –
de tambores e os cantos monótonos extensos e maçantes, podem
levar pessoas sensíveis a esses estados de exceção e devaneios
místicos.
Recordemo-nos de que os profetas Ezequiel, Isaías
e mesmo Moisés, prescreveram o uso de essências a Salomão,
tendo dado instruções especializadas na fabricação de pivetes
para fins cultuais e médicos. [56]
“Não respiras comigo aromas?
Quão forte nos empolgam os sentidos?
Secretamente rondam pelos ares...
Rendo-me logo aos seus encantos”. [57]

Também A. Crowley, falando sobre alucinógenos, entre


outras informações, diz que o Haxixe e mescal criam imagens e
abrem as fontes ocultas do prazer e da beleza. [58]
Ainda nesse sentido corrobora Allan Watts:
“Eis aquilo pelo qual as pessoas têm lutado durante
séculos com Yoga e Za-Zen, por meio de danças de dervixes,
eremitérios e todo esse gênero de coisas”. [59]

Na realidade, o grande sonho de continuidade após a


morte, desejado e vislumbrado pelos dirigentes espirituais de
todos os tempos, passaram a constituir matéria fundamental das
religiões e filosofias exóticas, sob várias e sofisticadas formas,
destinadas, sempre, a acomodar e a satisfazerem os estados
de consciência limitada de seus seguidores, não se falando no
aspecto econômico e financeiro, em que se constituíam para seus
organizadores. E lá vão eles pregando as recompensas do “Outro
Mundo”, onde os seguidores encontrarão as principais coisas

[56] Arnoldo Krumm Heller - Do Incenso à Osmoterapia.


[57] Wagner - Lohengrin - Atto II - Cena 2ª.
[58] Aleister Crowley - Liber Aleph - Vol. III.
[59] John (L.S.D.) - Debates - Psicologia.

– 85 –
desejadas, cobiçadas, e aqui não conseguidas; onde os humildes
ficarão por cima, etc... As religiões e filosofias exóticas, desde
então, passaram a seguir o homem como se sua sombra fossem,
amoldando-se aos seus diversos estágios da evolução: sociais,
morais ou intelectuais. Já então, o paraíso ou um outro mundo
lhes oferecerá melhor acolhida que nos tempos passados; ali
haverá todas as coisas modernas, é um paraíso electromagnético
versátil, com coisas que se vão aprimorando; mas, tudo isso, se
ele - o homem - for bonzinho, obediente, seguir uma série de
preceitos predeterminados, for temeroso, subserviente aos seus
superiores espirituais, etc., etc. Afinal, é como diz Frater Parsifal:
“Todo cão obediente tem sua recompensa” [60]

Não poderíamos deixar de lembrar-lhes que a


imaginação, dirigida ou não, como acima falamos, pode libertar-
nos através do auto-encontro, a auto-realização - mas, também,
levar-nos à criação de falsas imagens ou cenários escravizadores,
sob a forma de Paraísos, Terras de promissão ou mesmo infernos
individuais ou coletivos. (vide anexo IV)
Isso nos ilustra, sobremaneira, a vasta literatura sobre
o Lamaísmo e suas práticas, portanto, se uma coletividade
religiosa ou não, procura criar, por meio de pregações, a ideia
de um “Habitat” próprio, para alí repousarem ou se agruparem
seus seguidores ao deixarem este plano terrestre; por certo,
à força de uma repetição verbal e a de constantes projeções
mentais coletivas, conseguirão criar tal “Habitat Egregórico”,
portanto, falso e escravizador - uma miragem na eternidade -
onde continuarão acorrentados, da mesma forma como aqui o
estiveram. Passaram a constituir, na realidade, uma falange de
espíritos. Tudo que é criado à força de uma repetição mental,
dessa forma, está destinado a ser escravizador, se bem que,
enquanto houver aqui um núcleo material vibrando com rituais,

[60] Frater Parsifal - Carta a um Maçon.

– 86 –
alocuções, músicas e reuniões especiais, continuará ele a enviar
força para manter a ligação entre os dois pólos: os escravos do
além e os que lhes fornecem energia através dos núcleos terrestres.
Afinal, toda a formação dessa espécie está ligada a seus criadores,
dos quais vive e se alimenta.
Qualquer agrupamento de indivíduos, imbecis ou não,
produz ondas de energia, chamadas pelos tibetanos de “Chugs”
ou “Risal”, energia essa que, segundo sua constância, intensidade,
e direção, pode manifestar-se em fenômenos psíquicos, podendo,
conforme os ensinamentos lamaicos, criar, como já se disse,
paisagens, locais, cidades e formas outras de manifestação, que
continuarão existindo, enquanto houver um núcleo irradiador
de energia mantenedora de tal situação.
Como exemplo, lembrem-se da rosacruz de que
fazíamos parte, usando esse processo ensinado pelo lamaísmo,
pregando ter criado um local a que denominava de “Vácuo de
Shambala”, para ali receber seus seguidores quando deixassem
esta esfera material. [61]
O processo para encaminhar seus membros para o
tal local imaginário, como vocês se lembram, constitui-se, da
mesma forma, de um ritual, no qual solicita-se ao defunto que
entre por um cano, via de acesso ao tal “habitat’’ imaginário,
isso para evitar que se desvie para um outro formigueiro (outro
“habitat” de vibração diferente).
Sobre essas criações mentais, egregóricas ou não,
àqueles que se interessarem, relembramos que Alexandra David
Neel, embora incrédula a princípio, resolveu colocar em prática
o método lamaico para criar um monge, o qual depois de criado
e de ter adquirido movimento e vida própria, deu-lhe trabalho
para ser dissolvido. Como falamos, o produto egregórico vive
de seus criadores, e, após criado, procura, por toda a forma,
continuar existindo, seja ele local, coisa ou situação. Toda a

[61] Reveille - pág. 115 - Prim. Ed. Haarlem - Holanda.

– 87 –
criação volta-se para o seu criador, procurando nele obter forças
para continuar existindo - lembrem-se do homem voltando-se
para Deus? [62]

[62] A. David Neel - Tibet Magia e Mistério.

– 88 –
QUALQUER DÉBIL MENTAL PODE
FUNDAR UMA RELIGIÃO

N
ão é difícil lançar uma crença, religião ou montar uma
nova filosofia, partindo-se de uma lenda ou não, desde
que se a faça retroagir o mais distante possível; assim
tem sido em muitos casos, como por exemplo o da criação do
mito Christian Rosenkreutz.
O essencial é que se retroaja sua existência, no mínimo
dois ou mais séculos; o difícil é apresentar o testemunho
histórico, sua genealogia; exibir seus escritos com autenticidade
comprovada e merecedora de fé, ou mesmo efetuar a comprovação
indireta, como as há para todos fatos históricos remontantes
mesmo ao próprio antigo Egito e anteriores.
Também não é difícil transformar em mestres ou
ou até em Santos, após dois ou mais séculos de sua existência,
oportunista, aventureiros ou espertalhões, como acontece com
Saint Germam (Aimar), Cagliosto e outros indivíduos, hoje
considerados, inclusive, dirigentes espirituais e mestres ocultos
da humanidade; é claro, dirigentes de determinada parte da
humanidade idiota, que crê nessas possibilidades. (Vide anexos
VI - XII)
Fácil é, ainda, imaginarem-se mestres com filosofias
e ensinamentos exóticos, visíveis ou invisíveis, mas ocultos
em buracos no Tibet ou nos píncaros dos Himalaias, e sair-
se por aí, pregando e difundindo todo um amontoado de
irresponsabilidades.

– 89 –
No tocante a isso, testemunha-o Myra e Lopez ao dizer:
“Qualquer débil mental, qualquer epiléptico ou
paranóico ‘iluminado’ pode obter permissão para criar uma
nova seita religiosa, um novo sistema teosófico ou uma
nova sociedade espírita; no entanto, a pessoa mais culta e
inteligente se verá impedida de conseguir um registro para
um centro político em que se difundam ideias nacionais e
que propriamente deveriam chamar-se ‘interesse dos que
estão por cima’, no vértice da pirâmide econômico-social do
país”. [63]

Continua:
“Ninguém se beneficia mais com a superstição, a
crença em ações mágicas e a dúvida, acerca das conclusões
do que poderíamos denominar Ciências Evidentes, do que os
detentores de privilégios e usurpadores de direitos”. [64]

Argumenta ainda Myra e Lopez que todas as chamadas


“Nações Cristãs” e “civilizadas” proclamam e asseguram a cada
um de seus concidadãos a liberdade de crença, cultos religiosos
ou filosóficos mas, em compensação, a reprimem no terreno
político.
Contrariamente ao que pensa o mestre Myra e Lopez, se
bem que de política nosso conhecimento não vá além da escolha
do melhor candidato, entendemos que, realmente, o registro
de uma agremiação política não deve, mesmo, ser permitido
a qualquer grupo, indiscriminadamente, e vamos mais longe
em nosso ponto de vista: achamos que, até o exercício do voto,
constituindo a manifestação de um estado consciente, deveria
ser exercido, apenas, por aqueles que possuíssem determinadas
habilitações; nível superior de conhecimentos, curso de segurança
nacional, de conscientização política e outros que a lei viesse a
[63] Temas atuais de psicologia - Vol. 75 - José Olimpio - Edit.
[64] Idem.

– 90 –
instituir, permitindo-se a quem não possuísse tais classificações,
somente o direito à votação em âmbitos de administração local.
Desnecessário se torna dizer que, proclamando
e assegurando a seus súditos a plena liberdade religiosa,
filosófica e afins, nada mais fez o Estado que, inteligentemente,
fragmentar a massa irresponsável, para, assim, mantê-la em
grupos diversificados, sob a direção de instituições próprias,
que, especializadas, transformaram-se, na realidade, em
verdadeiros auxiliares dos poderes constituídos, posto que, em
suas atividades, transmitem a seus seguidores os postulados
necessários à manutenção da paz e da ordem social, sem o que
não seria esta possível.
O sonhar ou devanear-se em religiões, filosofias
ou espiritualidades em nada afeta a vida política social de
qualquer Estado organizado, como, também, não o afetam a
participação em atividades esportivas, beneficentes, filantrópicas
ou recreativas; atividades essas, para cuja consumação não se
exigem conhecimentos ou cultura especializada, e são, acima
de tudo, apropriadas à formação do núcleo social. Em suma,
a fragmentação das massas e sua manutenção em um limite
não hostil ao progresso social, exige que o Estado estimule,
subvencione, difunda e garanta essa liberdade, posto que, assim
procedendo, distribui-lhes as forças, aplicando-as em funções
mais compatíveis com as tendências grupais, num equilíbrio
sócio-construtivo.
É de se lembrar o pensamento oposto ao de Cristo:
O reino do Estado não é do outro mundo!

Voltemos a tese do mestre Myra Lopez, segundo a qual


qualquer débil mental, epiléptico, paranoico, “iluminado” ou
fracassado, pode fundar uma nova religião, sem ser molestado
pelos poderes públicos, devido à liberdade, que lhe é assegurada,
de sonhar livremente. Aliás, isso também, sob outra forma, o

– 91 –
afirma Thoreau ao dizer:
“Se qualquer coisa dói num homem, que ele não possa
desempenhar bem suas funções, até mesmo uma dor de
barriga, faz com que ele queira imediatamente reformar o
mundo”. [65]

Se a qualquer desses se permitisse fundar, a torto e à


direito, partidos políticos, onde iríamos parar?!
Nem sempre a liberdade gera liberdade; posto que, em
virtude de terem ampla autonomia no que concerne à organização
de seus cultos religiosos, filosóficos, espiritualistas, místicos
ou parecidos, sem estarem sujeitos à fiscalização, controle ou
supervisão, tais organizações, geralmente, enveredam-se pelos
meandros da fantasia e de fraudes de todas as espécies, levando
seus seguidores ao fanatismo, acabando estes por perder o que
buscavam - a liberdade.
Afinal - toda ovelha tem seu rebanho, e todo rebanho,
seu ordenhador - O pastor - Essa é a lei!...
Nossos jornais, diariamente, vêm alertando o povo no
tocante ao surgimento de crenças e mais crenças que se vêm
propagando no Brasil, envolvendo, normalmente as multidões
dos menos dotados intelectualmente. São os exploradores da fé e
das necessidades humanas, [66] vindos de todas as partes no nosso
globo.
Para seus objetivos como organizações, recorrem a
todas às espécies de seduções, umas atingindo o plano físico,
com promessas de curas, arranjos da vida material, dinheiro,
empregos, etc.; outras no plano moral, prometendo conciliações
amorosas, regeneração e coisas várias e, piores e mais sérias
aquelas instituições que se propõem a salvar o indivíduo,

[65] Henry David Thoreau - Walden - New York, 1937 - Modern Library
- pag. 69.
[66] Diário de Minas de 13-04-76.

– 92 –
levando-o para o céu: livrando-o das futuras “reencarnações”
queimando-lhe o Karma e um milhar de promessas mais, todas
no reino da imaginação.
Toda essa pilantragem, geralmente, está aí nas barbas
das autoridades, e resulta, é claro, da permissão Constitucional
e da ignorância ainda dominante no seio da quase totalidade do
nosso povo, porque, quem não se envolve devido às necessidades
do plano físico, e levado pelas do campo moral ou então pela
insegurança do chamado plano espiritual.
Não se negue: todo o fanatismo, seja religioso, político,
científico ou filosófico, é um comportamento doente, quando
não neurótico, no qual o indivíduo procura, inconscientemente,
solucionar algum problema ou suprir uma deficiência, inclusive
sócio-econômica, recorrendo aos agentes que se dizem
representantes do outro mundo.
Não discutimos o plano espiritual, mas sim a autoridade
moral, espiritual e mesmo material e cultural, da quase totalidade
daqueles que se dão a esses expedientes.
Uma das teses do famoso antropólogo Malinowski é
a de que “o homem recorre à magia somente quando o acaso
e as circunstâncias não são plenamente controladas pelo
conhecimento”.
Realmente, se, detentores de um conjunto de regras,
pudessem conduzir suas atividades, de modo a serem sempre
favorecidos em seus desígnios ou em atingirem os fins colimados,
os homens não seriam jamais supersticiosos. [67]
Mas, frente a uma constante incerteza e mesmo
insegurança, no tocante aos problemas do porvir, são, os
homens, em sua maioria, propensos a credulidade e levados,
paulatinamente ao fanatismo.
Quando criança, o homem sempre recorreu aos
pais para resolver os problemas que lhe pareciam insolúveis

[67] Spinoza - Tractus Theológico-politicus.

– 93 –
e, já adulto, a busca de amparo na superstição, como magia,
crendices, petições a entidades protetoras, etc., nada mais é que
uma regressão àquele amparo primitivo.
Portanto, repetimos, quanto mais imaturo, ignorante,
inculto e primitivo for o ser, maior sua tendência às coisas ocultas
e à imersão nas malhas da superstição.
Como muitos, entendemos que, se a humanidade
detivesse os meios para resolver seus problemas, sempre
satisfatoriamente, estaria já num estado paradisíaco ou infernal
porque encontrar-se-ía, nada mais, nada menos, que num estado
insípido; como em um jogo de resultados definidos, sem o sabor
e as emoções da vitória ou da derrota. (Anexo X)

– 94 –
GILGAMESH E O SONHO DE
IMORTALIDADE

A
o encerrar este capítulo, é de se lembrar que o sonho de
imortalidade nasceu com o homem no momento em que
este despertou na individualidade; disso nos dão conta as
diversas lendas, inclusive as incertas nos livros religiosos; vemo-
la na do paraíso bíblico e anteriormente, bem mais distante, na
lenda de Gilgamesh, lá pelo terceiro ou quarto milênio anteriores
à nossa Era.
Ali, implicado com a morte de seu inseparável amigo,
Enkidu, lamenta Gilgamesh:
- “Enkidu, meu amigo e irmão - cumpriu-se o seu
destino.
Seis dias e seis noites o chorei.
Até o sétimo dia esperei para enterrá-lo.
O amigo que amei - virou terra.
Enkidu, meu amigo, ficou como barro.
Não terei que deitar-me também sem levantar-me
De eternidade em eternidade...?”
Sua dor levou-o em busca da imortalidade; quando
então a deusa Siduri Sabitu o interroga:
- “O Gilgamesh! Aonde vais?
A vida que procuras, não encontrarás.
Quando os deuses criaram a humanidade.
Reservaram a morte para os homens.
A vida - guardam em suas mãos...
Portanto, Gilgamesh, come e bebe.
– 95 –
Satisfeito dia e noite sê feliz!
Cada dia transforma em festa!
Volta à Uruk, tua cidade, rei e herói famoso!”
Todavia, Gilgamesh prossegue até encontrar-se com
‘O-Que-Encontrou - A Vida’, Ut-napishtim e este diz-lhe:
“— Será que construímos uma casa para sempre?
Será que o rio corre para sempre?
Ninguém conhece o rosto da morte.
Desde princípio dos tempos não existe duração.
O que dorme e o morto não se parecem?
Ambos não ostentam o signo da morte?”
E reafirma:
“— Ao nascer os deuses determinam o destino dos
homens.
Morte e vida distribuem.
Determinam a duração dos dias da vida.
Mas os dias da morte - ninguém os conta.....”

E assim prossegue Gilgamesh em busca da imortalidade,


sem jamais encontrá-la (vide texto mais completo no anexo X).
Relativamente à pedra filosofal e aos elixires da longa
vida, sonhos tão desejados em realidades pelos magos, místicos
e alquimistas, ou a eles atribuídos, nada conseguiu a macacada
que se envolveu nessas mexidas, não conseguiram sequer viver
além dos limites comuns às suas épocas, e, por vezes, até menos
que seus compatriotas, alheios a essas inquietudes.
Não se negue que muitos, direta ou indiretamente,
através de suas pesquisas, não tenham contribuído no progresso
da humanidade, mas, daí a se levantar para os os mesmos um
pedestal ou a transformá-los em deuses, grande distância vai!
Não vamos desfiar um rosário desses sonhadores da
imortalidade, mas exemplificar apenas com os mais conhecidos
entre nós, cujos limites de vida resumiram-se em:

– 96 –
Nicolas Flamel............................................. 88 anos
Bernardo de Treviso................................... 84 anos
John Dee....................................................... 81 anos
Alberto Magno............................................ 74 anos
Saint Germain............................................. 74 anos
Roger Bacon................................................ 80 anos
Aleister Crowley.......................................... 72 anos
Abu-Bakr-Muhammad.............................. 70 anos
Simon Studion............................................. 67 anos
Elifas Levi..................................................... 65 anos
Thomas More............................................... 57 anos
Cagliostro..................................................... 52 anos
Papus............................................................. 51 anos
Heinrich Cornelius Agrippa...................... 49 anos
Paracelso...................................................... 48 anos

Repitamos, não se lhes negue os frutos de suas pesquisas,


mas:
Onde a Longevidade?...

Muito mais têm conseguido os nossos bruxos modernos,


denominados bioquímicos, médicos e gerontologistas,
sem aqueles cheiros diabólicos de enxofre, a não ser para
alguns, quando têm de cumprir, para com eles, as obrigações
pecuniárias!...

– 97 –
O HOMEM CRIA DEUSES

S
entiam-se, os homens, subordinados a estranhas forças,
cujas origens lhes eram desconhecidas e às quais eram
incapazes de vencer ou mesmo controlar.
A natureza hostil, a ocorrência de tempestades,
terremotos, secas e inundações, raios e trovões, as dificuldades
e agruras do seu habitat, as epidemias e demais flagelos que os
acossavam não tinham para eles explicações além da possibilidade
de virem de um poder superior, dotado de sabedoria
Por outro lado, aturdidos e confundidos pela harmonia
celeste, o nascer do sol e seu ocaso, a trajetória da lua e suas
mutações, o maravilhoso tapete de estrelas sobre suas cabeças,
foram levados a admitir, realmente, a existência de algo
controlador de tudo isso. Nasceu assim, a ideia de um Deus para
cada um dos elementos da natureza, terra, água, fogo e ar, deuses
para a colheita, para a fertilidade, para a caça, pesca, deuses
controladores das epidemias, deuses para tudo.
Face a suposta coação desses imaginários deuses,
nasceu, consequentemente, a necessidade de agradá-los
(puxassaquismo aos deuses): os sacrifícios, oferendas, rituais,
danças, rezas, ladainhas e tudo até hoje de nosso conhecimento,
em homens que, embora vestidos de civilizados, ou assim se
dizendo, permanecem psicologicamente no estado primitivo, no
mundo mágico das criações imaginárias.
Essas ideias se arquetipizaram, seguindo o homem em

– 98 –
sua evolução. Assim é que não nos devemos assombrar, se virmos
essas práticas em religiões ou instituições, onde aparecem deuses,
mestres ocultos, santos ou guardiões, protetores de tempestade,
peste, visões e outras coisas por aí, rituais de purificação pela
água, terra, fogo e ar, uso de símbolos toscos e primitivos ou
mesmo modernizados, que nenhuma conotação têm além da de
reviver inconscientes práticas tribais ou pagãs.
Ver-se-á que, a medida que o homem se aprimora, essas
práticas se sutilizam, eterificam-se, imaginariamente já agora são
forças sutis que os ajudam, e necessita-se de processos especiais
(idiotas) para com elas entrar em contato, falam de vibração
vinda de mundos longínquos e de toda uma série de fantasias
remanescentes do inconsciente arquetípico.

– 99 –
DESEJAVAM UM MUNDO MELHOR
- UM PARAÍSO

F
lagelado, como se disse, por todas as vicissitudes:
fome, epidemias, pragas, a natureza hostil, imposições
governamentais, dificuldades da vida e a necessidade de
trabalhar, foi o homem levado a imaginar uma era em que essas
desgraças não existissem e onde reinasse eterna paz e abundância.
Inscrições babilônicas acenavam e descreviam,
minuciosamente, essa era de felicidade, salvação e paz, na qual
todas as vindimas, colheitas e produções seriam abundantes e
infinitas: as árvores ofereceriam, sem nenhum esforço, os frutos
mais maravilhosos, não haveria doenças e tudo se realizaria sem
sacrifícios.
Segundo documentos egípcios do século XV, antes
de Cristo, profetizaram eles, os egípcios, inundações, pestes,
rios de sangue, sol e lua tornando-se negros e toda uma série
de ameaças e flagelos para punir a humanidade desobediente.
É óbvio que a obediência e submissão dar-lhes-ia um prêmio:
as recompensas das terras de Amenti. Isso vemo-lo acenado
por Hermes Trismegisto – Thot – ao dizer que os poderosos de
Atlântida renovarão suas vidas nos salões de Amenti, onde o rio
da vida flui eternamente para a frente [68].
Os hebreus herdaram, portanto, das civilizações
Assíria, Babilônica e Egípcia as crenças do advento de uma
[68] Hermes Trismegisto - A Táboa das Esmeraldas - Taboa - I - Edições
Cali Colômbia.

– 100 –
era de suprema felicidade, sombra e água fresca e, também, a
mania de ameaçar o “povo” com pestes, castigos, procelas,
epidemias e outras calamidades divinas. Tais fantasias cresceram
e amadureceram no âmago do povo hebreu, a ponto de o profeta
Amós proclamar entre seu povo que no dia da redenção, no
advento da nova era, toda a natureza ofereceria o alimento à
humanidade; que cidra e leite escorreriam das montanhas, seria
um paraíso. O apocalipse de Baruch interpola a essas promessas a
de que, cada vinha duraria mil anos, cada ramo daria mil cachos,
cada cacho mil bagos e cada bago “daria uma pipa de vinho”.
Rabinos posteriores não ficaram atrás, acresceram ainda a essas
promessas a de que cada grão de trigo seria do tamanho de um
rim de boi e que cada cacho de uvas lotaria todo um navio. O
povo naquela época acreditava em tudo isso, porque era mais
idiota que os 90% de hoje. Vejam em que amontoado de besteiras
viveram no passado!...
Nota: Observem que só pensavam em beber, comer e
em não fazer coisa alguma.
O evangelho hebreu foi todo engendrado na temática
de ameaças, castigos, flagelos, promessas e recompensas que
variavam de acordo com a subserviência do povo.
João Batista, insistentemente, gritava que os tempos
eram chegados, disseminando, nos primeiros séculos da
era cristã, a mesma crença herdada de seus arquiavós. Essas
ameaças e promessas acham-se atestadas por Flávius Josephus,
Tácito e Suetônio, ao afirmarem-nas fortemente espalhadas na
população no começo do Império Romano: era um sistema de
manter o povo amedrontado, porém esperançoso e, acima de
tudo, submisso aos senhores do tempo. Ameaças, afirmações
e promessas vieram por aí a fora até nossos dias, entretanto,
sempre se amoldando as necessidades de subsistirem de acordo
com a credulidade das massas; variando, pois, em nossos dias,
ninguém mais aceita um inferno ardente, onde o fogo jamais se

– 101 –
extinga. Diz um nosso amigo que, esse local deve andar em crise,
devido ao custo elevado da matéria-prima: combustível, óleo,
eletricidade, etc... - imprescindíveis à manutenção do calor; se
bem que os defensores do inferno andam já o dizer por aí que o
Dr. Belzebut está fazendo uma remodelação em seus domínios a
fim de usar a energia atômica!...
Essas técnicas de amedrontamento lembram-nos o
sacerdote Montanus, acenando com uma catástrofe na Frigia: os
santos padres Justinos, Tertuliano e Irineu, também reafirmando
em seu tempo, a iminência de uma catástrofe cósmica - o fim
do mundo. Essa mania prossegue, ininterruptamente, através de
inúmeros pregadores, e se intensifica, à medida que se aproxima
o primeiro milênio, a ponto de levar, por toda parte, milhares
de crédulos a distribuírem seus bens terrenos, aguardando o tal
advento: o maravilhoso dia em que surgiria a Nova Jerusalém e
coisas outras prometidas pelos empresários divinos.
Pregações ameaçadoras, castigos, prêmios e recompensas
continuam e chegam até à época do Abade Citerciense - Joachim
de Célicco - Joachim de Fiore ou comumente denominado
Joachim de Flora, que, também, cria o seu “Evangelho Eterno”,
publicado em 1200. Ali divide a História Universal de acordo com
a trindade - Estado de servidão ou do pai, Estado intermediário
entre carne e espírito ou era do Filho e, finalmente, do Espírito
Santo ou da plenitude, felicidade, fartura; profetiza também,
como os demais, o advento do “Reino Espiritual” ou da salvação,
do “Evangelho Eterno”; a vinda do Espírito Santo no século XIII.
Foi ele o protótipo do mito de Andreae (Christian Rozenkreutz),
conforme se verá mais adiante.
Baseados nas teses de Joachim de Flora, é que, em 1233,
encontramos a marcha dos bandos dos “Palombelli”, “Difusores
do Espirito Santo”, conduzidos pelo mendicante, Fra. Venturino,
que, formados em pelotões de 30 homens, cada um conduzindo
na mão direita um bordão e na esquerda um rosário; vestidos de

– 102 –
branco e capa azul, levando como emblema uma pomba branca,
símbolo do Espírito Santo; marcha essa turba de Lombarda ao
Sul, arrastando, como enxurrada, novas massas que a ela se
uniam, atravessando os Apeninos até chegarem à Roma, em
uma peregrinação expiatória de seus pecados para que, assim,
pudessem melhor aguardar o anunciado novo mundo.
Quase ao mesmo tempo, lá vem Fra. Giovani de
Vicensa, convocando uma grande assembleia com o fito de
aguardar o advento do “Reino da Salvação”, à qual acorrem
príncipes, eclesiásticos, burgueses, camponeses, todos. O ano de
1233 passa a ser, afinal, o ano da Aleluia, as pregações de Fra.
Giovani, seguindo as técnicas anteriores são tais, tão incisivas e
veementes, quanto ao próximo advento do Espírito Santo, que
as autoridades lhe dão carta branca para proceder à reforma dos
seus estatutos e, burgueses e nobres, guelfos e gibelinos, inimigos
de morte, passam a trocar beijos de paz e amor, todos cantam
louvores a Deus, é o auge da consumação fanática. Finalmente,
de pregador e cordeiro, Fra. Giovani passa, finalmente, a Ditador
e Lobo, culminando por passar a espada e a descer a lenha
naqueles que lhes atravessam o caminho e não andavam de
acordo com sua cartilha.
Na Boêmia, o professor Eussita Wanieck conduz
multidões ao monte Tabor; ali lança os fundamentos da “Cidade
do senhor”, onde deveria começar segundo ele, o “Reino da
salvação”.
Na Saxônia, o tecelão Nicolau Storch prega haver
recebido a mensagem de que “A nova Igreja Apostólica nasceria
em Zwickau”.
Em 1533 o sacerdote Michel Stiefel, íntimo amigo de
Lutero, leva a tumulto toda a Saxônia, anunciando ter-lhe sido
transmitido, em suprema e divina revelação, que o Fim do
Mundo seria irremediavelmente no dia 19 de outubro daquele
ano.

– 103 –
Melchior Hoffman, na Suábia, anuncia-se o sonhado
Elias das Escrituras, redentor a quem competia reconciliar pais e
filhos e, assim, percorre toda a Alemanha fazendo das dele.
Outro maníaco salvador do mundo, encarnando a
personalidade de Rei Davi, aparece na figura de João Bockelsson,
que, como tal, é coroado Rei do Sião; saqueiam a cidade; criam
um palácio; dezenas de esposas bem lindas para o novo rei
e salvador; conselheiros, guardas, lacaios, pajens e todo um
séquito de safados e idiotas o acompanhado; nomeia 40 arautos
para anunciar ao mundo, afinal, a chegada do “Novo Reino”.
A cantilena continua. A pregação de um próximo fim do
mundo ou do advento de melhores dias e até da imortalidade é
sempre o melhor tema, principalmente quando o povo se encontra
oprimido sob algum aspecto, ou carente de conhecimento; é a
ladainha de todos os movimentos que sobrevivem à custa da
ignorância e das necessidades de ajustamento das massas.
Outros e outros seguiram a mesma técnica, e, assim,
deles chegamos a Johann Valentin Andreae, de quem falaremos
oportunamente e também a J. V. Rijckenborg, que, entre
nós, pregou em 1967, que no princípio de 1968 iria haver um
tremendo estrondo do polo Sul, transformando o Sol, dessa
forma, em um disco negro; que a luz desapareceria de sobre a
Terra, e nós, coitadinhos!... ficaríamos em trevas absolutas nesse
período e sujeitos a uma série de coisas mais. Lembram-se dessa
alocução?!
Voltemos a 1895, quando o curandeiro Joahn
Alexander Dowie, em Zion - Illinois - E.U.A., funda a “Igreja
Apostólica Cristã de Zion”; não precisamos dizer que era para
salvar também a humanidade e aguardar o fim do mundo, que
se aproximava como sempre. Após algum tempo, foi expulso
por Glenn Voliva, indivíduo truculento, mal-encarado, careca
e barrigudo, que se exibia vestido de frade. Como todos os
salvadores, diz-se impregnado de um poder divino e amparado

– 104 –
pelas forças gnósticas, cujas irradiações estavam a serviço de sua
nova Igreja em nome de Cristo.
Chamava os astrônomos de burros, ignorantes e loucos;
dizia-se enviado da “Fraternidade Invisível” especialmente para
encaminhar a humanidade por intermédio da Gnoses. Dizia:
“Posso reduzir a migalhas qualquer homem do mundo em uma
batalha mental”. “Ninguém conhece um milionésimo do que eu
conheço”. Profetizou o fim do mundo para 1923, 1927, 1930 e
1935, dizendo que o céu ir-se-ia enrolar tal qual um rolo de papel.
Da mesma forma que J. Van Rijckenborg, pregava: “Nós somos os
únicos Verdadeiros”. Voliva seguia a mesma doutrina de Dowie,
segundo a qual a terra era plana e não redonda, concepção,
aliás, inaceitável e já absurda naquela época, se bem que, Santo
Agostinho, apesar de sua sabedoria, e Martinho Lutero, presos à
interpretações literais do Velho Testamento, pregavam, também,
que não poderia haver seres humanos no lado de baixo da terra,
porque não seriam capazes de ver Cristo descer do Céu, quando
voltasse.

– 105 –
SALVADORES DO MUNDO

S
uponhamos nada soubéssemos no tocante a um país
longínquo, seu povo, costumes, religiões, filosofias, etc.
Se nos chegassem 20 ou mais embaixadores, instalando-
se nas diversas capitais do país, alegando cada um de “per-
si”, ser o único e exclusivo representante daquele Estado e os
demais não verdadeiros, e que, por outro lado, dissessem coisas
completamente divergentes e até contraditórias a respeito da
Nação de que se diziam representantes? Não se poderia, é
óbvio, dar crédito a nenhum deles, ante a impossibilidade de se
qualificar o verdadeiro representante e quem estaria falando a
verdade.
Assim procede a infinidade de salvadores que aparecem,
de quando em quando, dizendo-se enviados de Deus, com a
missão de salvar a humanidade. Todos surgem contando uma
história, quando não fantástica e absurda; complicada, confusa e
cheia de mistérios. Dizem que foram visitados especialmente por
um anjo, ou que uma voz lhes segredou aos ouvidos a missão a ser
cumprida; que encontraram alfarrábios, pergaminhos secretos
ou outras coisas, determinando-lhes fazerem isto ou aquilo em
defesa da humanidade - sempre a pobre humanidade!
Na realidade, estes merecem muito menos crédito
que os embaixadores a que nos aludimos, cuja veracidade de
ações poder-se-ia, a qualquer momento, investigar no país
de origem, enquanto estes últimos, além de não possuírem
documentação que lhes comprove a representação, cada qual

– 106 –
fala, diferentemente, sobre coisas que não podem provar! Por via
de regra, apresentam-se com uma missão de cuja autenticidade
jamais podem dar testemunho.
Uma coisa, todavia, é certa: conseguem salvar com essas
pregações a própria pele, fazendo de suas missões meios de vida
e subsistência, elaborando a indústria da salvação, tendo como
matéria-prima a pregação de uma moral eivada de misticismo,
medo, ameaças e recompensas, quando, a verdadeira e sã moral
é, irrefutavelmente, a calcada no civismo e nas inter-relações
humanas, cujo ensino deve o Estado ter sob sua guarda e
execução, como acontece em Nações de nível cultural superior e,
felizmente, no Brasil nestes últimos anos, com o estabelecimento
do ensino de moral e cívica que, oxalá seja ampliado, sob a forma
de psicologia das relações humanas, nos graus superiores.
A quase totalidade das organizações místico-religiosas
têm condicionado o “Homem’’ à compreensão de que são entes
decaídos, necessitados de redenção: “Precisam ser salvos”.
Inculcam-lhe no inconsciente que, se adquirir estas
ou aquelas qualidades, proceder desta e daquela forma, será
recompensado: receberá no Céu ou em lugar parecido a
retribuição de suas obras e procedimentos. Com isso nada
mais têm feito que transformá-lo em verdadeiro mercenário de
sentimentos e ações, porque, íntima e inconscientemente levam
o indivíduo a agir pela recompensa, quando não, acossado
pelo medo: e muitos vivem até de olhos baixos, como que,
envergonhados e criminosos fossem, por terem nascido!...
O verdadeiro “Homem” faz as coisas porque necessitam
ser feitas, age imparcial e impessoalmente, nada desejando em
retribuição por manifestado o seu “Estado de Humano”. Pratica
o bem pela essência que este em si encerra, nada mais. Tudo faz
como simples agente através do qual se manifesta a vida perfeita.
A roseira não escolhe local para manifestar sua
perfeição: A rosa.

– 107 –
Seja onde for, no mais florido jardim, ou no meio da
mais densa e impenetrável floresta, onde nenhum ser a veja,
manifesta sua plenitude e exala seu perfume. Esse é seu destino.
O do homem é a perfeição. Cabe ao Estado aprimorá-lo.
A inclinação para salvador, dirigente espiritual,
missionário, intermediário de Deus ou Grão-Mestre de alguma
coisa não é privilégio de sábios. Entre tais, em diversos graus,
encontramos eruditos, oportunistas de todas as espécies, astutos,
gente humilde, ignorante, e até os de boa-fé, cujas atividades
vão desde pregações religiosas ao curandeirismo, elaboração
de milagres, consertos de vida, orientações horoscópicas e
charlatanismos de todas as formas inimagináveis.
Acreditamos não andar longe o tempo em que a
psicologia e a psiquiatria sociais se encarreguem de exorcizar
todos esses malabarismos manipuladores das inquietudes
espirituais alheias: procedendo a uma profilaxia, não apenas
em suas pregações, mas também em toda a produção literária,
artística, cinematográfica e afins.
É de se lembrar que, já lá pelo século IV A.C., Platão
sugeria fossem as obras literárias devidamente examinadas por
homens doutos, para evitar o mal que poderiam causar aos
jovens e aos menos esclarecidos.
Poder-se-ia transportar para aqui uma galeria de
arvorados empresários divinos - sem patentes - a quem não
podemos chamar de picaretas, nem mesmo de oportunistas
ou desavergonhados, por não sabermos se agem realmente
por malandragem e descaramento, ou se, por qualquer
desajustamento ou desvio racional, só diagnosticável por um
profissional devidamente qualificado em especialidades tais
como psiquiatria ou psicologia.
Já que não podemos transpor para aqui toda essa galeria,
reportar-nos-emos apenas a alguns desses personagens, simples
ou de certa cultura, como paradigmas dos demais:

– 108 –
O MARECHAL

“Eu e os anjos somos assim...” (correio da manhã - 01/09/62.)

Começamos com este, porque tivemos, não só a


oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, mas também, a de
estabelecer com o mesmo um longo e pormenorizado diálogo,
relativamente aos seus poderes divinos, e às suas relações com
os devas, e acima de tudo, por ser ele o mais completo detentor
de poderes e qualidades de que se ufanam e arvoram seus
– 109 –
concorrentes - missionários e salvadores do mundo - de maior
ou menor cultura.
Este volume não daria para transcrever tudo que nos
relatou sobre suas sucessivas reencarnações; sua vida com os
anjos; o problema da queda das hostes celestes e demais feitos
seus na terra.
Dentre suas múltiplas funções dizia-se chefe supremo
das forças celestiais gnósticas, planetárias, cósmicas e científicas
do universo. Fora o anjo Miguel e viu a queda de Lúcifer e
seus colegas, muito embora os tivesse advertido a que não
desobedecessem.
Afirmou ter vindo à Terra inúmeras vezes, sempre
atendendo às ordens divinas quando isso se faz necessário, pois,
passou da casta dos anjos para servir a Deus no plano terráqueo.
Disse ter sido Noé, Moisés, e que agora apresentou-se como
Marechal das forças celestes e gnósticas porque, sem autoridade
ninguém respeita ninguém neste planeta.
Ao falar sobre a criação de Adão e Eva, relembrou que
Deus ao fazê-lo consultou-o a respeito de Satanás, incumbindo-o
de vigiá-lo para que este não viesse a desencaminhar Adão, mas
que devido a um descuido seu, ele fez aquilo que nós sabemos.
Afirmou, ainda, que, quando do dilúvio, ele estava reencarnado
como Noé e por isso foi incumbido de fazer a Arca e escolher
os animais para habitarem o mundo após a enchente. Garantiu
ainda ter sido Moisés com a incumbência de salvar seu povo das
garras do cativeiro.
Fez questão de esclarecer que depois dessas tarefas
voltou ao Céu, onde convive com os anjos, dos quais é amigo
como unha e carne; aliás na fotografia vemo-lo fazendo um
gesto muito comum e que sempre repete, ou seja: “Eu e os anjos
somos assim...”. Ao voltar ao Céu descansou lá uns séculos,
numa espécie de licença a prêmio pelos bons serviços aqui
executados, porém foi necessário voltar em 1863, mas tinha de

– 110 –
vir disfarçadamente. Como seus poderes lhe permitem catalisar
os Éteres e transformá-los naquilo que quiser, ele não precisou
de passar por todo aquele sistema arcaico de fabricação por
que passam os homens comuns. Nada disso. Ele manuseou os
Éteres químicos, tomou corpo e bumba - Caiu na cama da sua
mãe na Bahia, e esta, como era muito simples, achou aquilo tudo
normal. Depois, devido a ordens celestiais teve de vir para o
Rio de Janeiro para as vistorias que se faziam necessárias e para
anotar as perversões que lá existem.
Quando lhe perguntamos porque usava aquela farda,
disse que certo dia, à tarde, quando acabava de pescar as suas
gostosas cocorocas, entrou em meditação gnóstica, então lhe
apareceu um anjo maravilhoso. A princípio estranhou o visitante,
mas depois viu que se tratava de seu amigo Raphael, trazendo-
lhe a missão de inspecionar a vida mundana, e entregou-lhe um
cheque visado pelo tesoureiro da “Fraternidade Invisível” para
que comprasse aquela farda, por ser a exigida para os Cavaleiros
da Fraternidade Invisível.
Pedimos nos informasse mais sobre essa Fraternidade
Invisível e qual a sua missão. Disse que era um assunto muito
longo, que ela é dirigida por mestres invisíveis também, que
falam muito, não aparecem e não fazem nada, só querem sombra
e água fresca e foi por isso que ele preferiu vir para a Terra fazer
alguma coisa.
No tocante aos Discos Voadores, afirmou que estes
sempre lhe trazem mensagens e também o levam a passeios
pelos mundos siderais para distraí-lo dos aborrecimentos e das
contrariedades que tem aqui na Terra. Quando não são os discos
voadores, ele prefere ir para as cidades subterrâneas palestrar e
dar instruções, pois ele é um velho conselheiro de Shambala e
também orientador dos Mestres que lá se encontram ocultos.
Também vai, quando e preciso, aos Himalaias e ao Tibet para
ver o que aqueles malandros, chamados mestres da sabedoria,

– 111 –
andam fazendo lá, pois tem pelejado com eles para virem dar
um passeio até à Guanabara, mas eles não querem nada com a
dureza.
O Jornal “O Correio da Manhã”, edição de 1-9-1962
também nos apresenta uma reportagem abordando a vida e a
missão do nosso General aqui na Terra, onde ele repete, em outros
termos, quase tudo aquilo que também nos disse, inclusive sobre
sua mania de pescar “cocorocas”.
Aliás ele ficava sempre repetindo esse nome: cocoroca,
cocoroca, cocoroca...
Não sabemos se isso era um mantra destinado a fazer
que ele entrasse em estado gnóstico!...

– 112 –
UM CHEFÃO ROSACRUZ

Jan Leene, alias John Twine, alias Jan van Rijckenborgh, de door
zichzelf benoemde grootmeester.

O nosso Marechal Celeste veio diretamente das hostes


Divinas, como se viu acima.
Este não.
Viveu como comerciante a maior parte de sua vida,
vendendo panos, que já era profissão normal de seus parentes.
Passou pela igreja reformada Holandesa; pelo

– 113 –
movimento rosacruz de Max Heindel, tendo sido também
discípulo de Rudolph Steiner mas, em 1934, já ao se aproximar
dos 40 anos, descobriu que era também, como o Marechal retro
mencionado, um enviado da “Fraternidade Invisível”! (vide
anexo VI-XII e XIX).
Ante essa descoberta, misturou o protestantismo de seu
berço com o que aprendera na escola rosacruz de Max Heindel e
na antroposofia de Steiner para criar um movimento novo a que
deu nomes como Lectorium Rosicrucianum, rosacruz holandesa
e outros.
Seus seguidores imediatos passaram a pregar, para fins
proselitizadores, que ele e sua companheira de tarefa estavam
neste planeta Terra como enviados da “Fraternidade Invisível”
(quem duvidar destas afirmações poderá confirmá-las com a
reportagem feita pela Revista OP DE UITKIJK, n.º 4. de abril de
1966) (ANEXO - XIX).
Não nos esqueçamos que ao lado dos tipos simples
existem, como já falamos e como o afirma J. Alves Garcia: “há
fanáticos tranquilos, cismáticos, aristocráticos, que vivem à
margem da realidade e apaixonados pela fantasia, místicos ou
estáticos, partidários de certas seitas ou estudos”. [69]
Este, como se verá mais adiante, meteu-se com Eras de
Aquários, discos voadores, Shambalas, e mundos subterrâneos,
chegando até a afirmar que dois habitantes das cidades
subterrâneas vieram vê-lo no aeroporto de Belo Horizonte.

[69] J. Alves Garcia - Psicopatologia Forense - Pongetti - 1958.

– 114 –
SUA DIVINA GRAÇA SWAMI E MAHARÃJA PRABHUPADA
JAGAD-GURÚ.

Este apresenta-se ainda como o representante pessoal


e confidente de Sri Krishna, e também o Mestre Espiritual
do Universo, ou seja: outro que baixou aqui, vindo da tal de
“Fraternidade Invisível’’.
É mais um, não menos importante, dentre os incumbidos
de salvar a massa. Pelo menos está, até certo ponto, preparado
para conduzir seu rebanho, pois é formado em Inglês, Filosofia e
Economia pela Universidade de Calcutá - Índia. Mas explorando
não está certo!...
Antes de descobrir suas aptidões Gurudévicas, tinha
exercido o cargo de diretor em uma grande indústria química
de Calcutá, o que parece explicar a série de perfumes e varinhas
perfumadas, a “lá-oriental”, que vendem por aí.
A soma de seus conhecimentos e experiências mostrou-
lhe a disparidade econômica entre Oriente e Ocidente: Num
o subdesenvolvimento, devido a falta do poder aquisitivo e

– 115 –
consequente credulidade do seu povo, e no outro - o ocidente
-, onde, como fruto do progresso acelerado, havia a busca
espiritual, como uma compensação à série de desajustamentos
que, tanto lá, quanto cá, fizeram eclodir as multidões angustiadas
de ontem e as desvairadas de nossos dias.
Isso anteviu-lhe, naturalmente, uma das melhores
fontes de renda, conciliadora de seus interesses profissionais
de economista, com sua formação filosófica de cunho oriental,
dando-lhe a possibilidade de levar dinheiro do Ocidente e, em
contrapartida, oferecer aos ocidentais as maravilhosas ilusões
do Oriente, só conseguidas através de uma lavagem cerebral,
idêntica à que fazem os salvadores do lado de cá, porém com
outro processamento (Observem que eles - “os dirigentes” -
geralmente, são ilustrados: portadores de títulos universitários
ou de experiências autodidatas - só os seguidores é que devem
fugir à cultura para se idiotificarem).
Em resumo:
Transformou-se então em “SUA DIVINA GRAÇA
PRABHUPADA!...” (De fato ele é uma gracinha mesmo.
Observem-no e concluam!...].
Sua missão é, como a dos demais salvadores, a de
levar a macacada para KHRISHINALOKA, (não é a loca onde
krishna se esconde, como estão pensando alguns) uma espécie
de Shambala dos rosacruzes: um paraíso ou céu védico, onde se
chega cantando Hare Krishna, Hare Krishna, Hare, Hare: pelo
menos é mais acessível o caminho, não há necessidade de entrar
pela tubulação gnóstica. Sobre o assunto, sua literatura é profusa
e mais acessível: aí então as reportagens da “Última Hora” dos
dias 8 e 9 de julho de 1977.

– 116 –
KRISHNAMURTI

Sabemos que grande parte da humanidade precisa


desses artifícios, da mesma forma como o adicto necessita de
seus entorpecentes.
Cada qual se embriaga como pode, uns com drogas a
partir do álcool; outros com fantasias, poucos com a verdade.
Quando não há mestres, criam-se ou inventam-se.
Assim, tem sido em todos os tempos; assim foi com

– 117 –
Leadbearter e Annie Besant lançando Krishnamurti como o novo
Messias. Pretendiam fazê-lo um “Instrutor do Mundo” e quando
morresse, transformá-lo em mais um “Mestre Ascensionado”,
um dirigente oculto e etéreo como fizeram com Saint Germain
e outros, igualando-o àqueles que dizem encontram-se
emburacados no Tibet e nos Himalaias.
Até 1925 manteve-se Krishnamurti fiel às ordens e
determinações de seus Mestres, mas algo dizia-lhe que deveria
desvencilhar-se de toda aquela dependência e daquela saia.
Já era grande demais para se manter confinado nos
limitados espaços teosóficos de sua época. Rompeu os laços que
o prendiam às sociedades que conhecera, desvencilhou-se dos
ensinos alheios e seguiu suas próprias ideias - sua autenticidade,
sua realidade interior - por achar que o homem espiritual não
pode permanecer manietado por seitas ou mestres.
Libertou-se de todo o envolvimento em que o
mantiveram; não apenas dissolveu a organização de que o
tornaram chefe, como também, honrada, digna e honestamente,
numa atitude só vista nos grandes, restituiu aos seus doadores
tudo o que haviam doado à instituição, porque não queria
ficar com bens materiais provindos daqueles que não mais
participavam de suas ideias e novas atividades.
Enfim, renunciou ao mestrado e ao direito de viver à
custa das inquietudes humanas, mas acabou, mesmo contra sua
vontade, sendo escolhido o “Mestre” daqueles que querem dar a
impressão de que não têm mestres.

– 118 –
O GURÚ BRÔTO

Quem se der ao trabalho de consultar a literatura


oriental verá que a reencarnação de Deus em forma de Maharaji ji
é a coisa mais comum. Há reencarnações, inclusive, simultâneas;
cada qual poderá escolher o Maharaji ou o Gurú que melhor lhe
convier, todos são reencarnações divinas sobre a terra, dispostos
a salvar quem estiver com tempo e disposto a segui-los. É só
questão de gosto.
Quando morre um gurú ou um Maharaji, brotam
outros em seu lugar, com a mesma e velha história de salvar a
humanidade.
Este é o mais novo Maharaji ji e já conta com cerca de
– 119 –
sete milhões de adeptos em todo o mundo, sendo a maior parte
nos Estados Unidos.
Sua mensagem é a de sempre: não veio estabelecer uma
nova religião ou seita, mas apenas transmitir o conhecimento da
verdade!...
A pregação é a de que ele é a nova encarnação de Deus
sobre a Terra; É o perfeito Mestre; O salvador e coisas assim!...
Observem a cara dele! ...? Há muitos iguais por aí!...
Ignorância gera insegurança, e esta é, sem dúvida, a mãe
da credulidade; isso nos evidencia o extremo abuso a que chegam
os chamados salvadores modernos; seja passando o “Conto da
Salvação”, o “Conto da transfiguração” ou outros contos, como
por exemplo o “Conto do Deus Distribuidor da Grana” cujo
profeta é Clyde W. F. Jefferson, um dos mais modernos agentes
de Deus na face da Terra.
Sobre suas atividades já nos tinha escrito um ex-
companheiro de andanças na Surat Shabda Yoga; porém, o
comentário de Silvio de Vasconcellos, no Estado de Minas, em
15-6-77, avivou-nos novamente o assunto.
Ninguém desconhece ser os Estados Unidos a verdadeira
Meca dos salvadores, mas este apresenta-se com o maior dos
maiores descaramentos, inclusive por intermédio da Televisão,
como um verdadeiro distribuidor de dinheiro e “benesses”,
favores e riquezas; ou melhor, atuando como se Ministro da
Fazenda de Deus fosse.
Sua missão, como diz, já não é a de Transfigurar
ninguém, nem de levar quem quer que seja para Shambalas, para
os Céus ou para nenhum lugar paradisíaco, mas sim de fazer
com que o paraíso seja gozado aqui mesmo. Basta que o sigam e
que lhe façam algumas doações: quanto mais vultosa for, maior
será sua restituição.
O interessante é que os idiotas o seguem em multidão
e, com isso, possue ele palacetes em Nova York; Rolls Royces;

– 120 –
diversos cadillacs para seus acompanhantes e tudo o que deseje.
Não vamos nos estender mais sobre essa vigarice.
Leia, se quiser, o comentário de Silvio Vasconcellos, ou
então, se deseja realmente entrar na “Grana”, dê um pulinho até
à Terra do Tio Sam. Porém, se o seu interesse está apenas em se
salvar, ou em se transfigurar, nós lhe daremos outros endereços.
Só não se salva quem não quiser, porque há por aí
ambientes para todos; o difícil mesmo é salvar-se deles!...

– 121 –
SOCIEDADES SECRETAS

C
omo diz C.G. Jung: “Quando não há segredos, inventam-
se”. [70] O ingresso no que chamam sociedades secretas,
sempre exige dos candidatos - neófitos - uma série de
juramentos e promessas que não podem ser violados, sob pena
de execração, perda da dignidade e de ameaças, oriundas de
mundos desconhecidos.
Uma das fórmulas de aprisionar os iniciados às
instituições secretas, consiste, justamente, em submetê-los a
juramentos e em lhes proibir deixem transparecer em público o
que ali dentro se passa, cheire bem ou mal.
Isso faz-nos lembrar uma velha história, relatada por
um amigo que já se foi.
A história é longa, mas vamos resumi-la.
Contava ele:
Certa vez um rapaz simples: honesto, trabalhador,
digno, veraz e dotado de bons costumes, veio a apaixonar-se,
subitamente, por uma linda jovem.
Foi um arrebatamento. Com ela sonhava dias e noites:
habitava-lhe os desejos e os espelhos da imaginação.
Vencida uma série de dificuldades, conseguiu
aproximar-se da amada, vindo a sabê-la descendente da nobreza
faraônica, vinda através de ancestrais bíblicos; que sua família,
extremamente rigorosa, se orgulhava de preservar tradições tão

[70] C. G. Jung - Memories, Dreams, Reflections - Collins and Routlege


- 1963

– 122 –
importantes; enfim, aquele anjo de candura, aquele arminho,
não podia ser maculado pela lama ou respingos do linguajar da
rua e, nem mesmo, por seus maus pensamentos.
O amor se tornara mais e mais sólido, pelo menos por
parte dele. Nesse transcurso amoroso exigiu-lhe ela que, sob
juramento, presenciado por livros sagrados, prometesse que,
jamais ninguém saberia de suas intimidades, nem mesmo em
sonhos.
O romance prosseguia e, como o amor muitas vezes
leva a extremas intimidades, teve ele a oportunidade de chegar a
vias de realização.
Nesse momento, temeroso de que tal acontecimento
pudesse ser imaginado por alguém, procurou levá-la ao local
mais oculto possível, longe dos olhares conhecidos; foi quando
esta lhe disse: Esse local fica muito longe; o melhor mesmo é
irmos mais perto; um local ótimo é à rua tal, ou então à Avenida
X; neste ou naquela outra localidade, onde existe ar refrigerado,
televisão, etc., etc., etc...
É de se perguntar: Afinal que valor tiveram aqueles
juramentos?
Mantê-los ou respeitá-los não seria propiciar à farsante
a continuidade de seus embustes?!...
Não vamos martelar o que por demais já se conhece
e sobre o qual muito há escrito: relembremos, entretanto que,
dentro de um esquema geral, poderíamos classificar as chamadas
sociedades secretas, em dois grupos: as de caráter político e as
místicas, filosóficas ou mesmo religiosas.
As primeiras têm por objeto a vida social e política;
as demais, embora a história nos conte terem muitas vezes
participado ou se intrometido na política, têm, entretanto como
finalidade a exploração das inquietudes espirituais de seus
filiados, à custa dos quais se perpetuam.
Observemos: O simples fato de uma sociedade possuir

– 123 –
determinados segredos, senhas, sinais, símbolos ou palavras
de reconhecimento entre seus membros; só por isso não pode
ser categorizada como sociedade secreta, posto que, esses
mesmos sistemas e meios de identificação e reconhecimento são,
inclusive, adotados pelas forças armadas, corpos de investigação
e de segurança das Nações.
Sociedades Secretas, sim, são todas aquelas que,
absoluta ou relativamente, operam dentro da clandestinidade;
que, embora se tenham registrado com objetivos definidos,
subjetiva e sub-repticiamente agem de forma diferente.
Afinal, a história das chamadas sociedades secretas e
dos mistérios (falamos aqui das sociedades não políticas), fica
geralmente, circunscrita às fontes informativas dos próprios
movimentos, que a alteram, segundo suas conveniências
existenciais.
Não há registro fidedigno, cronológico ou mesmo
sistemático nos anais da História Universal, para que se lhes
possa dar a validade que a tradição impõe e merece, quando
há referências em enciclopédias, estas o fazem de forma vaga e
informal, através de elementos colhidos em fontes dos próprios
movimentos, que, como se sabe, não merecem a fé tradicional,
por contarem as coisas dentro dos padrões dos seus interesses.
Muitos desses movimentos procuram, não somente
atribuírem-se uma origem a mais remota e misteriosa possível,
como também, insinuar encontrarem-se amparadas por mestres
e seres ocultos, jamais vistos por profanos; ocultos aos olhos,
mas sentidos pelos dirigentes da sociedade! Muitas constituem-
se em câmaras, aspectos ou em graus, cuja finalidade é a de
dar maior responsabilidade a seus membros, e, sob absoluta e
incondicional obediência e juramento, proibir-lhes a divulgação
do que ali dentro é ensinado ou sugerido. Essa estrutura tem por
finalidade manietar seus seguidores e incutir-lhes na mente coisas
que, muitas vezes, não constituem verdades, estão distorcidas e,

– 124 –
devido ao “sigilum” e obediência incondicional do “grau”, não
podem ser testadas com estranhos.
Ali, no mais das vezes, tudo é incerto, inseguro, intencional
e flutuante; dentro do impossível à compreensão consciente;
como existente fora da realidade, imaginário, mandraquiano.
Quando algum membro mais esclarecido os interroga seriamente
sobre qualquer postulado ou inadmissibilidade, vem a resposta
de que sobre aquilo só deverá ser falado mais tarde, quando este
houver alcançado determinado grau, ou estado de consciência,
que geralmente lhe custará uma dezena ou mais de anos. Jogam
as explicações para o futuro; até lá o interessado já se aclimatou;
ficou “amaciado”, esqueceu-se, ou então aceita a tese de que é
realmente burro; ainda não está em condições de compreender a
sublimidade daquela paranoica fantasia.
Não sem razão, em outros termos, se expressa C. G.
Jung, dando a entender que - “A posse de um desejado segredo,
do qual o indivíduo seja depositário e defensor, é não só de vital
e decisiva importância na preservação das Sociedades, como
também, o cimento da solidariedade e a vacina contra o perder-
se na multidão dos comuns, na massa. Quando não subsistem
motivos bastante para a manutenção e justificação de segredos,
são estes inventados, forjados, arranjados e só transmitidos,
como privilégio, aos ‘Iniciados’; ‘Que assim têm sido feito pelos
Rosacruzes e outras sociedades secretas’”. [71]
É tarefa do indivíduo independentizar-se, diferenciar-se
dos demais. Procurando fazê-lo, adere a organizações, aceitando
“ismos” e similares, dificultando com isso o caminho, porque a
adesão implica em submissão, subserviência e participação, que,
quase sempre, culminam na perda da individualidade, quando
não, da personalidade, reduzindo o participante a mero dente de
uma engrenagem; como acontece, sempre, nas instituições que

[71] C. G. Jung - Memories, Dreams, Reflections - Collins and Routlege


- 1963

– 125 –
pregam e defendem a perda da personalidade, sob a promessa da
aquisição de outra: a do obediente, escravo - trapo.
Eis porque as chamadas sociedades secretas de caráter
não político, por via de regra, apresentam-se acenando com um
mundo maravilhoso e oculto, que só eles podem mostrar e mais
ninguém; dizem-se portadores de milenares segredos e outras
coisas raras.
O nome “sociedades secretas”, por si só, transmite a
quem o houve a mensagem de algo oculto, misterioso, fantástico,
só permissível àqueles que, após certas e determinadas exigências,
juramentos e cerimônias, possam a eles ter acesso.
Tais pregações constituem a cantarola de sempre nas
instituições que se dizem detentoras de segredos e, acima de
tudo, são a chave-mestra de suas atividades porque:
a. atua como um chamado indireto ou subjetivo
àqueles cuja imaginação aceita a existência de coisas
misteriosas;
b. com esse estratagema, em qualquer época, passam
a dizer que já conheciam tudo aquilo que a ciência
paulatina e seguramente vai descobrindo; que
não o falaram anteriormente devido ao fato de a
humanidade não estar preparada e em condições de
receber tais conhecimentos e,
c. assim, sucessiva e ardilosamente, passam a
incorporar em sua propaganda e paparrotice, não
apenas as descobertas e novos métodos da ciência,
mas também sua linguagem; acrescentando que
esta, a ciência, ainda não descobriu tudo o que
eles sabem; pois, assim dizendo, preparam-se para
novas incorporações de conhecimentos científicos.
Quem nunca se deparou com anúncios como este?!
“Um mundo maravilhoso está à sua espera.

– 126 –
A visão interna e psíquica do homem não conhece
barreiras nem limitações físicas, todo um mundo de
maravilhas está aguardando você aqui entre nós!...
Dentro da mente humana estão adormecidos poderes
com os quais jamais este sonharia, apenas aguardando
suas ordens... O mundo maravilhoso da consciência
cósmica está dentro de nós, etc., etc.”.

Logo depois, vem uma série de ofertas gratuitas ou não,


e, no final o candidato acaba entrando na ratoeira, lá fica 10, 20,
ou mais anos, acaba acostumando-se a esperar pelos mistérios e
até a pregar para os outros que eles existem.
Mal sabe ele, entretanto, que tais pretensos poderes e
perspectivas, sem ares de mistério, privilégios ou vestimentas
místicas, existem e podem ser desenvolvidos, indistintamente, por
qualquer indivíduo normal, dentro de determinadas disciplinas,
técnicas e estudo psicológicos, hoje já muito comuns em nações
de primeira grandeza, por exemplo: U.S.A., e o Brasil. Tudo isso,
se desenvolve através de técnicas próprias, da mesma forma que a
aprendizagem de piano, violino ou outro instrumento. Aliás, isso
o provam, em primeira mão, os precursores da psicorientologia,
os estudiosos das ondas Alfa, os estudos avançados da Psicologia
Transpessoal, Zen Budismo, disciplinas especiais do Yoga e a
parapsicologia em suas novas dimensões.
A verdade é que, à medida que a ciência caminha,
esboroam-se a ignorância e os mistérios.
Não obstante isso, ainda perduram aqueles que
procurando ocultar a luz da verdade, tentam mascarar as forças
latentes em cada um de nós, com mistificações, para, por meio
de um despotismo místico, exercerem sua prepotência salvadora.
Isso nos faz lembrar que o despotismo lança mão de
duas armas poderosas para impor obediência às massas: uma

– 127 –
ameaçando-lhe a integridade física - a espada - e a outra - a fé -
ameaçando-a com castigos e condenações após a morte; ambas,
em todos os tempos, têm conduzido civilizações ao extermínio,
à estagnação e à ruína; a primeira quando empunhada por
ditadores e a segunda ao ser manejada por fanáticos; seu domínio
vem atravessando os séculos, e perdurará enquanto constituírem
um meio de formar escravos.
Não sem razão disse Mariano Moreno:

“Qualquer déspota pode obrigar seus escravos a cantar


hinos à liberdade” (Gazeta de Buenos Aires - 8-12-
1810).

A condição de sociedade secreta, por si só, já constitui


uma garantia para que as coisas passadas na maioria de tais
organismos, permaneçam em sigilo, não transpassem o seu meio
e, consequentemente, não venham a sofrer a censura da razão
pública; por outro lado, transforma-se num escudo, atrás do
qual se podem esconder aqueles que desejam pregar os maiores
disparates. Basta que se criem graduações entre os participantes,
dizendo aos seus detentores que os “segredos” de cada grau ou
escalão devem permanecer entre os respectivos titulares, por
tratar-se de um privilégio, distinção ou coisa parecida.
Outro aspecto que geralmente não é percebido pelos
participantes de certas instituições, é que as chamadas cartas
de contato, instruções, monografias e demais ensinamentos que
lhes são enviados, nunca se apresentam assinados por ninguém,
estratégia essa que os coloca bem à vontade para negar-lhes a
origem ou autenticidade, quando muito bem lhes aprouver ou
interessar, alegando que tal literatura não foi por eles elaborada.
(Vejam as monografias, e cartas de contato e demais instruções

– 128 –
em seu poder).
Deixemos de lado as exceções mundialmente
conhecidas concernentes àquelas instituições que em todos os
tempos, pugnaram, sem descanso, pela defesa da liberdade, da
igualdade, do progresso, da elevação das dignidades humanas e
da solidariedade: secretas ou não que tenham sido ou que ainda
o sejam em nossos dias, são dignas do nosso mais profundo
respeito e gratidão.
Mas não podemos ignorar, também, a existência de
entidades, inclusive de fato, que acoitando-se no manto de
secretas, ocultas, fechadas ou religiosas, aplicam toda a gama
de malabarismos falaciosos com características herméticas
contornadas de mistérios e fantasias, e, com isso, exigem de seus
membros o compromisso de nada revelarem acerca daquilo
que tenham visto, ouvido ou tomado conhecimento em seus
ambientes. Fazem-no por medida de segurança, e para evitarem
que, pessoas criteriosas e racionais, venham a criticar suas
atitudes e colocá-los em pânico e desmoralização devido a seus
métodos de filosopança.
Se pessoas judiciosas sensatas e racionais, após se
encherem de ouvir fantasias e irrealidades resolvem abandonar
suas hostes, são então, entre eles, classificadas como traidoras
ou como Judas Modernos: tal classificação funciona dentro
da sociedade como um intermediário na sedimentação da
coletividade, porque, receosos de virem a receber tal avaliação,
seus membros ali se deixam estar. Foram essas considerações
que, em tempos idos, levaram o público a dizer que os egressos
dessas instituições seriam perseguidos e assassinados.
Ao chamarem de traidores ou Judas aqueles que os
repudiam ou abandonam, por não lhes aceitarem as idiotices,
esquecem-se que estes, quando ali ingressaram, fizeram-no
imbuídos da mais sincera boa-fé, e não prometeram nem
juraram, absolutamente, salvaguardar ou defender pregações ou

– 129 –
ensinamentos inconsistentes, tolos ou duvidosos, nem com eles
se tornarem coniventes, mas sim defender a verdade, e, mesmo
que tivessem prometido tais absurdos, teriam o direito de voltar
atrás, e isso não seria absolutamente uma traição, porque, - “In
malis promissis fidem non expedit observari” (Dir. Canon.).
Isso nos torna patente que só devem ser reconhecidos
como traidores ou judas modernos quem, sob alguma forma,
faltou à verdade, ocultou-a, ou silenciou ante o embuste; menos
quem não se curvou à impostura.
Deveriam lembrar-se, ainda, que:

“Existem naturezas intrépidas e leais, demasiado


saturadas de verdade e de franqueza para curvar-se às
exigências da vil estratégia que obriga a ser mentiroso e
hipócrita...” (S. Farure - Citação de J. Engenieros).

– 130 –
FRATERNIDADES INVISÍVEIS

D
e quando em quando lá vem a melopeia: “Fraternidade
Branca”, “Fraternidade Universal”, “Gnoses Universal” e
outras coisas fantásticas.
A existência de uma “Fraternidade Oculta”, como se
sabe, implicava, obviamente, também na existência de dirigentes
secretos, o que fez brotar, naturalmente, aquela multiplicidade
de mestres, hierofantes e sábios foragidos em locais de difícil e
até de impossível acesso e outras extravagâncias pregadas por aí.
O Tibet e os Himalaias preenchiam as condições
materiais para o esconderijo de tais seres, principalmente ante
a realidade do Lamaísmo e, mesmo, da existência de ascetas
por lá perdidos. Seu cenário permitira que lá se plantasse a
chamada “Grande Fraternidade Branca” a quem deram a missão
de governar, dirigir e promover a evolução da humanidade,
encargos que imputaram a hierofantes, Arhats, mestres e outros
seres.
Estabelecida a hierarquia, a cada um desses imaginários
seres atribuíram uma missão específica, acorde com as
peculiaridades humanas, posto que, dessa forma haveria mestres
e hierofantes para todos os gostos; agradariam, portanto, a gregos
e a troianos.
A realidade, porém, é que ninguém tem acesso a tais
seres, o que constitui afinal de contas, um frágil consolo para
as almas sedentas de conhecimento e que estejam clamando por
socorro. Quando muito, dizem-lhes que, em algum dia distante,

– 131 –
se trabalharem duramente, forem merecedores e viverem
bastante, poderá ser que se lhes conceda uma visão momentânea
de algum desses bichos chamados Mestres ocultos!...
Se um homem sente necessidade de um mestre ou
instrução agora, clamará em vão à nobre hierarquia dos nevados
penhascos ou retiros do Tibet ou dos Himalaias, porque tais
mestres, jamais aparecerão, por estarem metidos nas cavernas
mentais de seus criadores.
Quando algum estudante ansioso pergunta como
poderá encontrar um desses espécimes, lá vem a resposta de
que nenhum pecador ordinário pode aproximar-se dessas
sereníssimas altezas!...
Existe uma tal de vibração!?!...
“Em resumo, é como se disséssemos a um homem
enfermo, em estado gravíssimo, que o grande médico, cirurgião,
está por demais ocupado com estudos para salvá-lo e por isso não
pode vir vê-lo, nem tampouco a nenhum de seus semelhantes”. [72]
O que fez essa “Fraternidade” em benefício do gênero
humano de que se diz responsável?
Nada.
Se tal coisa existisse, e se seus dirigentes tivessem a
mínima inteligência dos humanos, por certo já teriam encontrado
um meio de colocar a humanidade em um caminho melhor.
Na posição em que colocaram a tal de “Fraternidade
Branca” e seus mentores, devem, eles, saber o que acontecerá ao
Mundo, e quem serão os dirigentes desta ou daquela Nação nos
tempos futuros. Portanto, nada mais fácil para ela que programar
e traçar uma evolução mais rápida, segura e eficiente para o
Mundo.
Como? Perguntariam os mais ingênuos.
Simplesmente fazendo encarnar nos corpos que iriam
dirigir os destinos das nações, em épocas oportunas, espíritos à

[72] The Path of the Masters - Julian Jonhson - M. A., B. D. Md.

– 132 –
altura de procederem à evolução desejada, pois a reencarnação,
de que tanto falam, permitir-lhes-ia procederem a esse comando
e a não deixarem que imbecis, anormais e verdadeiros monstros
viessem a governar os povos, como já se tem visto pela história
da humanidade em todos os tempos.
As demais conjecturas deixamo-las por conta da
inteligência dos companheiros que nos acompanham nesta
exposição.
Uma inteligência normal chega à conclusão lógica de
que toda essa balela é inegavelmente uma artimanha destinada
a manter parte das massas embriagada com a possibilidade de
poder, algum dia, vislumbrar um tal de Arhat ou outro bicho
parecido.
Tais fantasias ainda hoje permanecem sedimentadas na
mente do povo, muito embora já tenham sido devassados, palmo
a palmo, tanto o Tibet quanto os Himalaias e o deserto de Gobi,
sem que fossem encontradas as tais de Altezas.
Naturalmente fugiram!....
Sabe-se que nada mais bloqueia o raciocínio e o
discernimento humano que as várias formas de dogmatismo, seja
religioso, político, científico ou pseudofilosófico. Os dogmáticos
devido à estagnação do espírito analítico e crítico, já têm respostas
padronizadas e prontas para todas as questões, como uma vacina
para deixá-los permanecer estagnados, petrificados em seu sono
e, assim, procuram abafar ou desviar todo e qualquer julgamento
independente.
Neste caso, uma das costumeiras alegações, é a de que
essas excelências não podem interferir no mundo, para não
ferirem o livre arbítrio dos seres: raciocínio esse que prova mais
uma vez tratar-se de seres imaginários, habitantes das mentes
desejosas de misteriosidades e que, se existissem na realidade,
tratava-se de inúteis enfeites astrais (vide anexo - XII).
Não acham vocês que já é tempo de irem exorcizando

– 133 –
essas tolices e esses mestres inoperantes de suas mentes e
passarem a usá-la livremente?!...
Quando alguém, ao visitar os Himalaias ou mosteiros
tibetanos, solicita informações sobre a tal de “Fraternidade
Branca” e suas “altezas”, recebe a resposta de que tal coisa nada
mais é que uma invenção Ocidental. Nada sabem sobre isso.
Parece fugirem a explicações devido à generalização, e
mesmo desmoralização, a que no mundo ocidental submeteram
a chamada “Grande Fraternidade Branca”, onde, todos se dizem
por ela amparados.
Assim como qualquer vagabundo, ou débil mental
organiza uma religião, passa a dizer-se representante de Cristo
e pratica desmandos e crimes em seu nome, da mesma forma, a
maioria das organizações rotuladas de espiritualistas ou secretas,
apresentam-se porta-vozes da “Grande Fraternidade Branca”,
muitas vezes sem saberem, mesmo, a origem dessa denominação.
Essa situação merece se esclareça, imparcialmente, o
porquê da denominação “Grande Fraternidade Branca”; quando
foi permitido ao homem tomar conhecimento de que não era
um simples animal comum, pois havia uma hierarquia em cuja
escala ele se situava; e finalmente a quem foi dado falar em seu
nome, e usá-lo.

“GRANDE FRATERNIDADE BRANCA”

Segundo a tradição milenar, a Fraternidade Branca, a


divina Jerarquia de Mahatmas, Siddhas, Kumaras e Rishes, que
tem a seu cargo o governo espiritual do mundo, se bem existisse
antes da criação do homem, só se manifestou quando este
adquiriu condições suficientes para percebê-la, e isso, através
de uma organização externa denominada “Shudda Dharma
Mandalam”, no transcurso de uma época crítica por que passava
a humanidade.

– 134 –
Desde sua exteriorização por Bhagavan Shri Narayana,
por intermédio do Shudda Dharma Mandalam, na Lua Cheia
(VAISHAKA - PURNIMA) do último ano Nala, decorreram
quinhentos SANKALPAS, ou ciclos de vinte e quatro anos cada
um, até à Lua Cheia (VAISHAKA-PURNIMA) do último ano
Nala de 1916, no mês de Maio, portanto mais de 12.000 anos,
para que fosse permitido ao Shudda Dharma Mandalam dar
uma manifestação ampla da existência da “Grande Fraternidade
Branca”.
Embora conhecido por altos iniciados, o Shudda
Dharma só veio, mesmo, a ter uma manifestação pública em 1915,
quando, por determinação superior, Swami Subramanyananda
foi designado para fazê-lo, permitindo, a partir daí, o ingresso
em seu seio, a todos que se interessarem pelo caminho inicial, ou
seja, o da “Yoga Brahma Vidya” ou Ciência Sintética do Absoluto,
via de acesso à “Grande Fraternidade Branca”.
Àqueles que desejem procurar sua remota origem,
encontrá-la-ão no Maha-Bharata-Udyoga-Parva, capítulo III; no
Vanaparva, capítulos de 147 a 157; no Anusasana-Parva, capítulos
37, 41, 42, 43 e 53; no Nalyara-Pravanda em seu décimo canto; no
Tiruchendur-Purana na descrição que faz os Kshetras ou lugares
famosos; no capítulo ou Shanda 11º de Shimad Bhagavata; em
os Upanishads, como por exemplo no MANOPANISMHAD; e é
de se lembrar ainda que, no Mahabharata, são feitas abundantes
referências a Shri Krishna e Arjuna como os Avataras de
NARAYANA, o manifestador da “Grande Fraternidade Branca”
através do Shudda Darma Mandalam.
Outras informações ainda podem ser colhidas no
“SANATANA DHARMA DIPIKA”; não sendo demais lembrar
àqueles que se perdem em amores pelas SHAMBALAS, que
tal nome é tirado de uma das cinco aldeias mencionadas pelo
Shudda Dharma, denominada de SAMBALAM.
Não discutimos a existência ou não da tal de “Grande

– 135 –
Fraternidade Branca” ou “Fraternidade Invisível”, mas, ao que
se viu, coube ao Shudda Dharma a incumbência de falar em
seu nome, e não aos demais que por aí se arvoram em seus
representantes. Para nós, sendo “Invisível”, qualquer descarado e
cara de pau pode sair por aí, como vimos linhas atrás, dizendo-
se seu representante ou enviado especial; quem vai provar o
contrário?
Só existe uma condição para se tornar um enviado
especial da Grande Fraternidade Invisível:
É ter cara de pau.
Já, para se salvar, é coisa muito mais fácil, basta apenas
aderir ao primeiro movimento que se encontrar pela frente,
todos se encontram aparelhados para guiar o candidato aos
jardins floridos do paraíso.
Alongamo-nos nestas considerações, única e
simplesmente, devido à necessidade de evidenciarmos a origem,
conhecida, da denominação “Grande Fraternidade Branca”.

– 136 –
“MOBRAL ÉTICO-MORAL”

C
omentamos anteriormente que muitas instituições
acomodam-se na proteção constitucional da liberdade
religiosa e filosófica e passam, dentro de uma liberdade
absoluta e sem fiscalização, a sitiar psicológica e espiritualmente
os menos esclarecidos que destas se aproximam.
Se bem que muitas não o façam propositadamente, o
certo, porém, é que aprisionam seus membros com fórmulas
ou imagens subjetivas. Seria fastidioso arrolar-se aqui tudo de
exemplos e mais exemplos. Todavia, relembremos de que tudo
ao nos entrar pelos sentidos produz algum efeito em nosso
estado de consciência. Por exemplo, a imagem de determinado
objeto ou ação fica impressa, consciente ou inconscientemente
no plano mental daquele que viu ou passou pela experiência, e
isso, em associação com o Ego, exerce certa influência sobre a
pessoa, muito embora ela o não perceba.
Se alguém vê uma coisa com atenção e com demasiada
frequência, começa a sentir simpatia ou amor por essa coisa, e
esse amor não deixa de ter efeito na formação do caráter, na vida
atual e mesmo na próxima, como aceitam alguns.
Quem estudou hipnose sabe que se perguntarmos a
alguém o que viu em determinada situação; este se recorda de
uma ou duas coisas que disseram mais perto ao seu interesse;
entretanto, submetido à hipnose é capaz de citar tudo que
viu naquele ambiente, porque tudo estava subjacente em sua
subconsciência.

– 137 –
Da mesma forma, a constância com que um indivíduo
vê, ouve ou sente determinadas coisas, termina por fazê-lo
aceitá-las.
Por exemplo, “slogans”: Pecado original, seres decaídos,
salvação e outros semelhantes, têm construído, em todos os
tempos, as chaves do aprisionamento místico-religioso, por
terem atrás de si uma promessa velada, compensadora de algo
que é inevitável - a morte.
Portanto, todas as vezes que se vibram esses “slogans”,
soam eles como um chamado para uma permanência eterna,
uma vitória contra a morte, havendo, consequentemente uma
resposta inconsciente daqueles que os ouvem.
Sabendo dessas reações em cadeia, muitas organizações
procuram sempre colocar seus templos, mosteiros e sinais
religiosos, tais como cruzes, cruzeiros e semelhantes, em locais
altos, onde, sendo vistos forçada, diária e constantemente,
pudessem, como que de uma forma subliminar (inconsciente)
manter os indivíduos recebendo uma alimentação religiosa, pela
influência de tudo que lhes entrasse pelos sentidos.
A alimentação Subliminar, durante os longos anos de
inconsciência dos indivíduos, através da visão, audição e demais
formas de desenvolvimento de que falamos linhas atrás, mostra-
nos o porquê das conversões, do aprisionamento e das diversas
formas em que se apresenta a superstição.
Em suma, alimentados por determinados processos
de condicionamento, principalmente quando estes tiverem
início na primeira infância, ou mesmo na adolescência, o
indivíduo torna-se prisioneiro do sistema a que foi submetido,
o qual paira submerso nas camadas mais recessivas de sua
subconsciência, prontamente a explodir com maior intensidade
quando combinado com fatores congêneres. Assim é que vemos
indivíduos que, na infância ou juventude, passaram por sistemas
religiosos ou místicos, tendo-os deixado quando adultos, a eles

– 138 –
voltarem ao lhes serem apresentados com outras facetas, ou
então, o eles agarrarem-se com unhas e dentes na decrepitude;
quando o raciocínio lhes passa a falhar; quando em semicoma;
nas vascas da morte ou na moléstia insidiosa; posto que,
declinando a resistência física e o bloqueio consciente, afloram-
lhes os velhos e decantados costumes, sejam eles de natureza
religiosa, mística, ou mesmo os maus hábitos.
— Foi justamente reconhecendo esse ângulo da
fraqueza humana, próprio daqueles que não conseguiram
remover definitivamente os condicionamentos e programações
da infância e da juventude, que escolhemos os mais seguros
de si mesmos, de sua independência e de sua libertação, para
assinarem o manifesto-testemunha que se encontra registrado
sob o nº 197048 no 2º Registro de Títulos e Documentos de
Belo Horizonte, em data de 19 de junho de 1975, a disposição de
quem interessado for. Isso por saber que estes não voltariam na
forma como está dito em ll-Pedro-2-22.
Existe uma interligação entre o mundo externo e
interno; dessa forma, consciente ou inconsciente, os indivíduos
vão recebendo as influências de tudo aquilo que veem, ou melhor,
que lhes tocam os sentidos.
As primeiras coisas que se notam ao entrarmos em uma
cidade são suas elevações apinhadas de templos, torres e coisas
assim!
Tal qual a maneira de um ímã, essas imagens vão
impressionando a subconsciência dos fiéis, mantendo-os
alimentados sob o ponto de vista religioso, sem que estes o
percebam.
Reportamo-nos aqui apenas aos fenômenos de natureza
visual, sendo que os há, como sabemos, também audíveis,
como por exemplo, as ladainhas, cantos, músicas, conferências
e palestras destinadas à conversão e à manutenção das massas
em um estado de hipnose místico-religiosa, para onde são

– 139 –
chamadas, naqueles dias em que poderiam, se lá não fossem,
tomar conhecimento da liberdade (domingos, feriados, dias
santos, etc.).
Há um provérbio milenar que, segundo nos parece, diz:
“Existem males necessários. Nem tudo está errado”.
“Que mais necessita um pé doente, que um chinelo velho?”
Partindo daí, chega-se à conclusão de que, pelo simples
fato de determinadas instituições terem mantido sob seu jugo e
controle grande parte das massas, a quem o Estado não poderia,
em outros tempos, dar a necessária cultura e liberdade consciente,
prestaram indiretamente sua colaboração ao progresso humano,
sem o que, a marcha da humanidade ter-se-ia retardado ainda
mais, devido à explosão da ignorância e do fanatismo. Eis porque
muitas funcionaram, em tais condições, apenas como válvulas
retentoras ou comportas das explosões humanas; nada mais,
por terem procurado manter a massa embriagada, entorpecida
e dormindo em sua ignorância coletiva, quando poderiam, aos
poucos, desencantá-la, como algumas o têm procurado fazer.
Ora organizações sérias, isto é, que não amordaçam
psicologicamente seus membros, funcionam, no plano moral e
espiritual, da mesma forma que o “Mobral”; este visa a alfabetização
que o adulto não conseguiu em sua infância ou juventude;
aquelas o aprimoramento moral e espiritual de desajustados
que, também na infância ou juventude não tiveram a devida
orientação moral e cívica, ou ajustado no lar seu comportamento
para a vida. Necessitam, então, aprender nessas instituições as
regras do viver: honestidade, lealdade, cumprimento dos deveres,
dignidade, imparcialidade, impessoalidade e demais qualidades
que deveriam ter aprendido no lar ou na primária formação da
vida. Afinal o que são os mandamentos das religiões, que formas
de correção para adultos desajustados?

– 140 –
OS PERIGOS DE UMA AUTO-
IMAGEM-DIRIGIDA

O
uvimos muitas ponderações relativamente às causas
que levam os indivíduos a perderem praticamente a
autocrítica e a se integrarem, como que alucinadamente,
em certos movimentos políticos, religiosos, filosóficos,
espiritualistas ou afins; como por exemplo a de Ernest Becker,
ao dizer:
“Durante séculos os homens se repreenderam por sua
loucura - a de darem sua lealdade a este ou àquele, de acreditarem
tão cegamente e obedecerem tão voluntariamente.
Quando os homens escapam de um encanto que quase
os destruiu e refletem a respeito: “isso não parece fazer sentido?
Como pode um homem amadurecido ficar tão fascinado, e por
quê?” [73]
Pois bem, dentre as razões apresentadas, achamos mais
acertada a da autoimagem, por ser a que maior índice nos fornece
em tais adesões, porque, de matriz individual que realmente é,
vem a se tornar, depois de devidamente amoldada aos interesses
de uma coletividade, em uma verdadeira Autoimagem-Dirigida.
Não entraremos aqui em digressões sobre o que
é autoimagem, suas manifestações, formas e mecanismos;
recordaremos, entretanto, que ela é você, como se vê a si mesmo,
como entidade física ou mental, com suas esperanças, sonhos,

[73] A Negação da morte - Ed. Nova Fronteira S/A - Rio - 1976.

– 141 –
desejos e realizações, falsos ou verdadeiros.
O difícil, entretanto, é olhar sincera e imparcialmente
para si próprio, evitando a idealização de uma autoimagem
retorcida ou falsa; porque, quanto mais distante situar-se esta da
realidade; das próprias capacidades individuais, e do modo como
os demais a veem, mais conflitante virá a ser o mundo relacional
do indivíduo.
Os conflitos surgem quando a indivíduo tenta impor,
em seu ambiente, a aceitação de sua autoimagem e esta não é
aceita integralmente, ou então, quando tenta negar a visão que
os demais têm sobre ele.
Na formação da autoimagem, além de fatores cujas
origens não nos cabe aqui comentar, influem normalmente os do
viver cotidiano dentro do campo ambiental do indivíduo. Porém,
nem sempre tal formação decorre de uma vivência individual
espontânea; e, é justamente daí que emerge o maior dos perigos.
É nesse ponto que se encontra a chave arterial e o segredo com
que as instituições, em todos os tempos, têm conseguido amoldar
e manter, sob seu jugo e controle, as massas que as constituem e
as alimentam. Isso se explica, porque todos possuem em maior
ou menor intensidade, em si, a força dos “desejos”: almejam
poderes espirituais, contatos com divindades, salvação, e Siddhis
em geral, e, quando alguma instituição lhes acena com essas
possibilidades, a elas se agregam irreversivelmente.
É atingindo esses aspectos vulneráveis da personalidade
humana que certas instituições, agindo por métodos já
tradicionais e de efeitos muitas vezes desconhecidos de quem
os aplica, vão amoldando esses desejos e interesses básicos da
autoimagem, para transfigurá-la em um “Novo Estado de Ser”, a
que, aqui, denominamos de autoimagem-dirigida. Conseguem-
no ajustando os indivíduos às finalidades, objetivos e anseios da
organização, transformando-os, desde então, numa segurança
para a comunidade devido a esse ajustamento. Já para o indivíduo,

– 142 –
agora Unidade programada, esse “Estado Psicológico” passa a ter
uma significação mais respeitável, e muitas vezes, de imposição
transcendental, de poder, sabedoria ou de superioridade; para isso
dizem-lhe que passou a ter uma “Nova Alma”, um “Novo Estado
de Ser”, “Uma Nova Consciência”; é um “Iniciado”, está “salvo”,
ou outro qualquer ponto de afirmação. Realmente, formado que
esteja esse novo “Estado de Ser” (Autoimagem-Dirigida) – afim,
consoante e acorde com os ideais do grupo - não mais existe
para o novo membro qualquer conflito ou desarmonia entre sua
realidade interior e o novo mundo em que se integrou; haverá sim,
maior dissintonia entre o seu “Novo Estado de Ser” e o mundo
ambiente de onde proveio, caracterizando-se numa aversão
e idiossincrasia que, mais e mais, o integrará no ajustamento
fanático de seu grupo delirante. Tudo isso se concretiza porque
nesse novo ambiente tudo vibra no mesmo diapasão, e, como se
sabe, a felicidade individual está diretamente relacionada com a
harmonia existente entre o estado interior do ser e o ambiente
onde este gravita.
O prêmio dessa integração e felicidade programada
consiste nos chamados estágios, graus, aspectos, estados,
passos e demais classificações ou postos atribuídos aos mais
dedicados e laboriosos, a partir dos quais passam a se sentir mais
“Importantes”, cheios de “Poderes”, e de “Forças ocultas” (não se
sabe onde...); misteriosos, iluminados; com uma aura intocável;
afinal, passam a viver um estado a que se poderia classificar
de “Autismo-espiritual”. Nessa “Importância” alicerçam-se as
técnicas de segurança hierárquica dessas organizações, porque,
os menos graduados não podem e nem devem se dirigir aos
chamados Iluminados ou Mestres, a não ser com a autorização
do Chefete imediato, é necessária uma certa distância...
Sobre essa “distância” muito nos caberia falar, porém,
é fácil a qualquer um compreender suas razões; mas, mesmo
assim, é interessante relatarmos uma passagem curiosa, em que

– 143 –
foi protagonista, e no-la contou, uma companheira, venezuelana,
quando de suas andanças espirituais. Embevecida com o seu
Mestre, ela conhecida entre nós por Star; ele por Kut-Humi
Lal-Singh, Príncipe de Om, Kalki-Avatara da Nova era, Buda
Branco e demais títulos Gnósticos que ostentava; tudo fez para
uma entrevista pessoal com o tal de Mestre, com quem só podia
relacionar-se por correspondência, durante um largo tempo.
Insistiu na audiência, coisa bem difícil, pois, se
geralmente para se falar com os menos graduados já não é fácil,
quando mais com os chamados “Hierofantes”, “Mestres” ou
“Membros da Cabeça Vermelha”?
O fato é que a nossa amiga, mesmo sem autorização
desse cabeçorro, empreendeu viagem rumo à sua residência. Lá
chegando, este, para se tornar mais importante e misterioso, disse
não poder recebê-la porque, nesse dia, encontrava-se em alta
meditação gnóstica, nas altas esferas. Mas, como a nossa amiga
não é dessas que deixam as coisas para o dia seguinte, meteu os
peitos; ninguém a segurou; foi entrando e acabou chegando até
onde se encontrava o “Grande Cabeça Iluminada”.
Surpreendeu-o, então, dando banho nas hemorroidas,
numa grande bacia cheia de água quente!...
É de se perguntar, e os outros o que andarão fazendo
quando se dizem nas altas esferas gnósticas?
Voltando ao nosso assunto principal, é de lembrar-se
que, os desejosos em perder tempo em análises relacionadas
com os problemas da autoimagem-dirigida, poderão vê-la nas
razões que motivaram e constituíram, em todos os tempos, os
movimentos fanáticos, religiosos ou políticos, ligados à terra, à
raça ou ao sangue (“jus solis” e “jus sanguinis”), e quantos outros?

– 144 –
ALQUIMIA: MÃE FORÇADA DA
ROSACRUZ

N
ão e difícil compreender que a alquimia surgiu, na
realidade, no momento em que o homem, descobrindo
o fogo, conseguiu transformar toda a base de seus
conhecimentos partindo, em consequência, para a transformação
da matéria-prima em metais; e o transcurso de suas pesquisas
até nossos dias, levou-o à química moderna e a mais que isso,
devido às dimensões que filósofos e místicos posteriores deram
a tais estudos.
Quem for dado a divagações poderá ligar o fato a
Prometeu que, roubando o fogo do céu, foi o primeiro a usá-lo
na transformação da natureza bruta, cujo uso, depois transmitiu
ao homem.
De qualquer forma, trata-se de uma busca legendária,
vinda desde os albores da humanidade; porém, historicamente,
só se pode dela falar, com base merecedora de fé, a partir dos
gregos alexandrinos; mesmo porque, até eles, tais estudos eram
feitos de forma empírica, grosseira e charlatanescamente.
Nesses estudos, além dos curiosos, envolveram-se
depois grandes humanistas e sábios, dentre eles destacando-se
Alberto Magno, Arnaldo de Villanueva e Roger Bacon.
Atingida essa fase, tais estudos passaram a processar-se
dentro do maior sigilo possível, ante às perseguições sectárias na
época.
Furtando-se às perseguições que, sem o menor motivo,

– 145 –
levaram qualquer infeliz para um estágio dentro de uma fogueira,
procuraram os pesquisadores, alquimistas, velar suas operações
e descobertas, com um simbolismo somente ao alcance dos
versados em sua arte.
Devido a adesão de filósofos e místicos humanistas
da época - Século XII - foi este considerado o do renascimento
da alquimia, tanto assim que a sabedoria desses estudos estava
toda concentrada nos seminários, porém sigilosamente, pois
a alquimia era sinônima de bruxaria; qualquer deslize levaria
seus praticantes à fogueira, daí a razão pela qual tais pesquisas e
práticas passaram a se desenvolver em segredo, tomando ares de
mistérios e, consequentemente, o nome de ciência oculta. Oculta
é claro, devido à perseguição da ignorância organizada de então.
Dentre os merecedores de crédito nessa época,
encontram-se Nicholas Flamel, Thomas Norton, J. Van Helmont,
Alexandre Sethon, Basílio Valentin, Bernardo de Treviso, Pico
de Mirandola, Cornélio Agripa, Giovanni de Delia Porta, M.
Sendivogius e muitos outros.
É fácil aquilatar a dedicação de homens inteligentes
a tais estudos e práticas; prendia-se à busca de algo que lhes
pudesse prolongar a vida; nenhum deles caiu do céu para cuidar
da humanidade, estavam, sim, é simplesmente procurando salvar
a pele, da mesma forma como o fazemos hoje em dia, e o fazem
os cientistas - alquimistas de hoje - em busca de melhores dias
para a humanidade. O “Elixir da longa vida” sempre foi a causa
fundamental e predominante da alquimia, ou seja, o encontro
de um agente universal que tivesse o poder de dissolver todos
os corpos compostos, inclusive as enfermidades humanas e
possibilitasse a fabricação do ouro.
Prosseguindo no caminho que lhe era destinado,
a alquimia no século XV atingiu novas dimensões, quando
Paracelso declarou que seu destino não era simplesmente a busca
do ouro, mas sim, o preparo de medicamentos, o que aliás já

– 146 –
fora sustentado por Alzi-Razi (Abu-Abdallah Jabir ben Playyan)
alquimista Persa no século X.
O certo é que depois de Paracelso a alquimia tomou
novas diretrizes, principalmente devido aos esforços de
participantes melhor equipados intelectualmente, culminando
por desdobrar-se, então, em dois ramos: de um lado a pesquisa
química propriamente dita, na qual até hoje se encontram os
grandes batalhadores da química em todos seus ramos - os
alquimistas modernos - e do outro lado a chamada ciência
oculta, procurando transformar o homem, levando-o a outras
dimensões.
É interessante observarmos que até este período – século
XVI – em nenhum escrito de quem se achava envolvido nessas
pesquisas, e em nenhuma parte, havia referências a qualquer
movimento ou a nada com a denominação de rosacruz.
Viu-se que desde o século XIV, devido às perseguições,
as pesquisas alquímicas tornaram-se uma atividade oculta,
como que misteriosa, dando ensejo a que grande quantidade de
pessoas insinuasse e mesmo se vangloriasse, entre amigos, de
que possuía a “pedra filosofal”, quando, na realidade, andavam à
procura de um contato com alguém que lhes pudesse dar alguma
informação ou mesmo pista a respeito.
Essa mania de sugerir-se misterioso atingiu e até
recrudesceu no século XVI e XVII; era tanta gente a pesquisar
o assunto!?
Havia, como sempre, o desejo de prolongar a vida;
atribuíam esses conhecimentos a pretensos sábios alquimistas
que se encontravam ocultos. Mas onde?
Era, portanto, necessário descobri-los.
Mas como?
Algo deveria ser feito para localizá-los, ou mostrar-lhes
que pessoas possuidoras de conhecimentos, de responsabilidade,
e em condições intelectuais de prosseguir-lhes os trabalhos,

– 147 –
estavam prontos a receber-lhes os ensinamentos.
Urgia descobri-los, já que, segundo era dito, tais
segredos miraculosos estavam ocultos e na mão de poucos;
assim entendiam.
Porém, Johann Valentinus Andreae não pensava
assim, julgava tais pregações devaneios e loucuras de teósofos e
alquimistas desocupados, e deviam ser combatidos.
Andreae, ferrenho protestante luterano, com seus
companheiros, entendia que algo deveria ser, na realidade, feito
para combater aquelas ideias que cresciam qual cogumelos,
pondo em crise a evangelização que lhes estava afeita.
Com amigos, a partir de 1610, procurou arregimentar
nesse labor pessoas cultas, poderosas e a altura de dar cabal
cumprimento ao que pretendiam; quando então, lançou seus
manifestos, concitando os homens de bem, sábios e dispostos a
se organizarem, para procederem à reforma do mundo, criando,
em consequência, um movimento cristão que, logo depois se
transformou no rosacrucianismo.
No princípio somente admitia na sociedade quem fosse
protestante; logo depois os católicos e, isso não esperava Andreae:
todos os estudiosos fracassados de alquimia, frustrados, curiosos
e aspirantes a essas aventuras, “ansiosos que estavam por
encontrar os detentores da propalada sabedoria oculta”, acabaram
infiltrando-se na organização andreniana, pois, entendiam que
ali poderiam encontrar o elixir da longevidade.
Afinal quem não desejaria dar uma de Matusalém?
Tudo isso, como se verá mais adiante, concorreu para
que Andreae, depois, abandonasse o barco que criara.
Quem conhece a índole do protestante de nossos
dias, consciente de suas convicções, sabe-o inflexível e não
conivente com movimentos apóstatas ou que transcendam a
coisas ocultas, o que serve de base para fazer-se uma ideia da
severidade, rigidez e lealdade de Andreae aos princípios e

– 148 –
propósitos luteranos de que era expoente máximo na época,
inclusive por tradição de família; o que mostra ser o movimento,
que denominara rosacruz, puramente cristão, nada tendo a ver
com as atividades dos alquimistas, a quem os rosacruzes de hoje
dizem indistintamente, terem sido rosacruzes.
Ao lançar a Fama Fraternitatis, Andreae e seus
companheiros, nada mais faziam que dar prosseguimento ao
movimento desencadeado por M. Lutero, de quem era ferrenho
seguidor por tradição familiar; seus propósitos eram o de
proceder à Reforma Geral do Mundo, religiosa e filosófica.
Ressalta aos olhos da mais inocentes das criaturas que
ele e seus amigos não iam colocar nessa investida um nome que
os pudesse identificar como agentes diretos do sonho Luterano.
Escolheram a denominação rosacruz para melhor desorientar
o clero romano, o primeiro e principal focalizado em seus
objetivos. Provam-no o “Confessio” em um dos seus 36 artigos,
ao proibir, terminantemente, o ingresso de membros do papado
ou seguidores (católicos) na nova instituição. Isso, aliás, também
o reproduziu Sinceros Renatus no artigo 2º da “Capitulátio”,
publicada em 1710.
A característica e o objetivo principal era a destruição
da Igreja de Roma, o que não passou despercebido por diversos
historiadores da época e atuais, como por exemplo: Paul Vulliaud
- Les Rose-Croix lyonnais au XVIII Siècle - Paris 1929.
O “Confessio” deixa claramente expressa a posição
Luterana, inabalável, dos responsáveis pelo movimento quando
diz, textualmente, Cap. XIII:
“... confessamos Cristo, repudiamos o Papado”.
Em nome dos rosacruzes, conforme referencia Jean
Palou (em La Franc-Maconnerie - Payot - Paris - 1964), “foi
oferecido ao rei Carlos I uma importância de três milhões de
libras esterlinas e ensinar-lhe o meio de suprimir o Papa de
propagar a religião anglicana em toda a cristandade, e como

– 149 –
converter judeus e muçulmanos à religião de Cristo”.
Um fato interessante a ser destacado, é o de que as
ideias proclamadas na Fama Fraternitatis, nada mais eram
que uma repetição enfeitada da 77ª Secção da obra de Trajano
Boccaline, “Ragguagli de Pernasso”, publicada em Veneza em
1612, traduzida para o alemão (Allgemeine und General -
Reformation der Ganzen weiten Welt - 1614), e também para
o inglês, onde, Boccaline, ridicularizando seus contemporâneos,
propunha um modo para “Reformar o Mundo”.
Contrariando seus propósitos, como se viu, a instituição
de Andreae viu-se infestada por católicos, alquimistas e magos
que ele visava exterminar, os quais ali ingressaram, justamente,
para verem os tais de “mistérios” que nunca se encontram; isso
levou-o, e a seus companheiros protestantes, a abandonar o que
denominaram de rosacruz, porém, continuaram constituindo
novos movimentos protestantes, como por exemplo as Uniões
Cristãs, a Antilia, o Collegium Lucis e outras.
Tanto tais propósitos e desígnios eram de caráter
puramente protestante reformista que, ao escrever ao seu
protetor Príncipe Augusto, em 27-6-1642, expondo sua União
Cristã, arrolou os velhos companheiros: J. Arndt, Christophe
Schleupner, J. Gerhardt de Iena, Johann Saubert de Nuremberg,
Polycarpe Lyser de Leipzig, Erhard Wachtel de Durlach,
Wickefort d’Amsterdam, Baltas Baron de Seckendorff de Vienne,
Daniel Senert de Wittemberg, Laurentius Laelius de Hundsbach,
Daniel Hikler de Linz, Michael Teler de Vienne, Wilhelm
Bidenbach de Stuttgart, George Acatius, J.J. Heinlin de Tubingen,
Tobias Hessus Christoph Besold, Wilhelm Schickardus, Thomas
Wegelin, Mathias Bernegger, Wilhelm Wense, Tobias Adami,
Thodoricus, Theodor Haack, Hartlib, Pohemer e muitos outros,
todos protestantes.

– 150 –
JOHANN VALENTINUS ANDREAE

Inventor da rosacruz

Não se pode falar sobre esse movimento sem traçar-


se, pelo menos, um breve esboço de quem foi seu idealizador
e propagador, e as causas que o impulsionaram a isso; quem
o auxiliou nesse trabalho, e sobretudo, onde se inspirou para
criar o mito Christian Rosenkreutz, que na realidade jamais
existira, e também, mostrar a fonte de onde tirou o nome
Rosa+Cruz. Na incontestável realidade, tal movimento, que se
transformaria em rosacrucianismo e conventículos similares,
apareceu publicamente, pela primeira vez, em Cassel, no ano de

– 151 –
1614, através de um livreto intitulado “Comuna e Geral Reforma
de Todo o Vasto Mundo”, seguido da “Fama Fraternitatis”;
manifestos esses, dirigidos a “Todos os Sábios e Chefes da
Europa” [74]; muito embora tais publicações já tivessem sido feitas
reservada e manuscritamente, desde 1610, entre os amigos de
Andreae [75].

DE ONDE EMERGE A ROSACRUZ

É ela, em sua essência, fruto do calor protestante de


Andreae que, através de um ardil, buscava artificiosamente
reencaminhar para o cristianismo protestante quem, no seu
entender, se encontrasse perambulando pelo ocultismo e manias
semelhantes.
A mistificação rosacruz é o produto de um racionalismo
originário de aspirações religiosas e políticas, mascarado
com o ocultismo da época, onde, seu idealizador procura,
primeiramente, atrair seus leitores e interessados para mistérios,
enigmas e segredos ocultos; para depois, então, paulatina,
carismática e engenhosamente, ir levando-os de regresso à
religião cristã do seu magistério.
O caráter político da instituição era um dos ardis
destinados a atrair a simpatia e proteção dos poderosos de então,
tanto que a Fama Fraternitatis o declara textualmente:
“... a fraternidade servirá necessária e gloriosamente à
nossa pátria comum, a nação alemã”.
Era um rebento protestante; tanto que Gabriel Naudé
em “Instruction à Ia France sur Ia vérité da l’histoire de Frères da
Ia Rose Croix” (Paris 1623), chama o movimento de “a borrasca
rosacruciana”, e o Pe. Gaultier e outros nele viram realmente o que
era: o renascimento do “Luteranismo” com aspirações político-

[74] Fama Fraternitatis - Cassel. Wessen - Ed. 1614.


[75] Dicionario Enciclopédico de La Masoneria - Tomo I-III.

– 152 –
religiosas, em oposição aos religiosos do Oriente (Maomé) e do
Ocidente (O Papa) a quem denominavam de tirano e sedutor
Romano, como o testemunha o Confessio Fraternitatis (Cap I-V
e XI).
Que o movimento rosacruz destinava-se, através
de um conjunto de aspirações e ideias político-religiosas de
cunho protestante, a eliminar o Papa, isso não deixam dúvidas
as afirmações dos historiadores da época e modernos, dentre
os quais, mais acessível aos menos versados em outras línguas,
apontamos Bernardo Gorceix em “La Bible Des Rose-Croix”,
hoje em edição portuguesa (Ed. Pensamento).
Procuraremos resumir e coadunar o que sabemos,
vindo através de outras fontes, com as informações bibliográficas
que indicaremos, oferecendo, assim, a vocês elementos bastantes
para pesquisas, se tanto julgarem necessário sobre o assunto.
Nesse sentido, não podemos omitir a figura de John Dee
(1527-1608), que, em verdade, foi a enzima de toda a explosão
ocultista que envolveu e abalou o século XVII; ressaltando-se que
a idade de ouro do hermetismo deu-se na Inglaterra no reinado
de Frederico V e Elizabeth, onde Dee era protegido e o expoente
máximo em Magia, Cabala, Hermetismo, Alquimia e coisas afins.
Estudioso profundo do ocultismo, estabeleceu amizade em 1581
com Edward Kelly, outro apaixonado pelo assunto; juntamente
praticaram a necromancia, invocação de espíritos (espiritismo),
experiências alquímicas e demais pesquisas.
Após sua influência na corte e nos domínios ingleses,
John Dee, acompanhado de Edward Kelly, esteve em Praga em
1583, quando procurou e conseguiu interessar o Imperador
Rudolph II em seus altos estudos de magia e ocultismo, para o
qual tinha este uma especial inclinação.
Devido ao natural interesse do Imperador pela
astrologia, esoterismo, alquimia e estudos correlatos, e finalmente
à sua adesão a John Dee. Praga veio a tornar-se, por volta de

– 153 –
1612, a verdadeira Meca dos Estudos oculistas.
Uma coisa precisa ficar evidenciada:
Em nenhum dos escritos de John Dee, fez ele menção
à rosacruz, rosacrucianismo ou coisa parecida; suas principais
obras dentre as quais, “Monas Hieroglyphica”, abordam os estudos
de magia, cabala, alquimismo, matemática e misticismo, nelas
não havendo nem cruzes nem rosas; também nas obras de todos
os hermetistas anteriores a 1610, nada se encontra a respeito;
mas sim, dragões, lagartos, leões, reis e rainhas, mulheres nuas
com maçãs nas mãos e homens nas mesmas condições; sóis,
luas, símbolos astrológicos, caduceus, vacas, ovelhas, lampiões,
espadas, círculos, triângulos, castelos e vários animais, como
podem ser vistos nos livros de John Dee, Michaeles Majeri
(Michael Maier) e outros.
Tornou-se-nos preciso este ligeiro comentário, para
demonstrar que tais antecedentes, e outros que veremos depois,
criaram um ambiente propício e de misticismo, tendo uma
influência preponderante na formação do espírito jovem de
Andreae, quando ainda estudante em Tubingen, cuja imaginação
já se encontrava impressionada pela comédia e pela arte
dramática e simbólica da época, principalmente de Shakespeare,
não se falando da sua educação luterana.
Segundo a tradição, aliás também confirmada por
historiadores modernos [76], um dos episódios que mais o
impressionaram em sua mocidade, foram as cerimônias e o
impressionismo marcante e misterioso da “Ordem dos Gater”
(jarreteira), quando nela ingressou o Duque de Wurttemberg”.
Impressionou-o a pompa, o toque de mistério, a
participação de atores ingleses, a roupa colorida e resplandecente
e o simbolismo, dentre os quais se encontrava uma cruz vermelha
e rosas que, como se sabe, era o símbolo de São Jorge, patrono

[76] Frances A. Yates - The Rosicrucian Enlightenment - Routletde -


Londres - 1972.

– 154 –
da “Ordem dos Gater”, ou seja a “Red Cross of St. George”, que já
houvera inspirado Edmund Spenser a escrever “Faerie Queene
and the red Cross”, com seu cavaleiro misterioso.
Não é de se esquecer que também o trabalho de Simon
Studion - Naometria - de lances profético-apocalípticos, dedicado
ao Duque de Wurttemberg, não deixou de estabelecer uma
influência místico-operante em Andreae, levando-o a imaginar
algo que pudesse, organizando-se, modificar toda aquela procela
apocalíptica, enfim, reformar o mundo.
Todos os escritos místicos, religiosos e herméticos
daqueles séculos rebuscavam-se de formas dramáticas, simbólicas
e alegóricas: Era a maneira de se apresentarem os fatos, e
Andreae, como seus contemporâneos, seguia esse sistema, tanto
que, posteriormente, acabou confessando ser tudo aquilo, que
fizera com o nome de rosacruz, simplesmente um broma, uma
burla, um drama, mas que, já agora iria apresentar, na realidade,
algo sério. Quando então apresentou as “Uniões Cristãs”.
Quando do lançamento de seus panfletos, e primeiras
publicações em manuscrito. Andreae encontrava-se jovem, com
pouco mais de 20 anos, fato que deve ser levado em consideração,
para eximi-lo da responsabilidade de tê-lo feito sob o anonimato,
posto que, nessa idade, levado pelo furor da juventude, pelo
fanatismo religioso e pelo condicionamento místico em cujo
ambiente fora educado, não olhava os meios, mas sim os fins
colimados. Acontecendo, entretanto, que os fins não foram
atingidos, mas os meios projetaram-se.
Tudo começou, portanto, com Johann Valentin Andreae,
autor intelectual desses trabalhos, que, não tendo a hombridade
de assinar tais manifestos, lançou-os, anonimamente, para
ver que espécie de reação e impacto alcançariam no meio
ambiente tumultuado e inseguro em que viviam; era uma sonda
psicológica em busca de um campo propício à edificação de seu
ideal, que consistia em lançar um movimento cristão diferente;

– 155 –
mais consentâneo com os sentimentos da época - o misticismo
cristão.
Como todas as promessas de melhores dias sempre
atraem incautos, curiosos, desajustados e oportunistas, o
resultado não se fez esperar; foi quando apareceu o artista - John
Valentin Andreae, autor da pesquisa - para edificar sua obra de
reforma total do Mundo através de uma ação evangelizadora.
Fazia-se imperativo deitar numa base sólida a sua obra;
era preciso erigir-se; um mito como pedra angular do trabalho
a realizar-se; porém, este ser deveria ter existido em uma época
remota, ou pelo menos de difícil averiguação a seus inimigos e
aos amigos da verdade. Foi então lançado seu romance satírico
“O Casamento Alquímico de Cristão Rosacruz”, onde traçou
um relato mirabolante e fantástico de um sujeito que, segundo
sua imaginação, teria nascido 236 anos antes, ou seja, lá por
1378; época bem distante, a fim de que ninguém se dispusesse a
averiguações. Como diz Hermann Schreiber e Georg Schreiber,
“Está na tendência de todas as sociedades secretas atribuírem-se
uma origem tão remota quanto possível” [77].
Em seus comentários sugere ter sido o tal de Christian
Rosenkreutz educado em um convento, e que dali saíra para o
“Oriente” a fim de beber a sabedoria, tendo feito longas viagens,
múltiplas provas e uma série de peripécias, que Andreae
imaginou ao apropriar-se, para tanto, da vida, obra e feitos de
Joachim de Flora, Jan Van Ruysbroeck e Thomaz de Kempis,
como se demonstrará mais adiante.
Historiadores escrupulosos como por exemplo, Naudé,
censurando os anônimos redatores da “Fama Fraternitatis” e
outros escritos que culminaram na criação da rosacruz, acusa-
os de falta de imaginação e mesmo de habilidade, por não
conseguirem um nome original para a sociedade que desejavam

[77] História e Mistério das Sociedades Secretas - H. Schreiber e G.


Schreiber - Ibrasa - 1967.

– 156 –
implantar e por se terem prendido à criação de um mito a que
denominara “Christian Rosenkreutz”, nome que, como se vê
facilmente, foi especial e justamente montado para o movimento
que se propunham desencadear, como também foi montado seu
símbolo. Portanto, tal indivíduo nunca existiu, mas sobre esse
fantasma se dispunham a processar uma “Rápida reforma geral
do mundo inteiro” [78].
A fim de capturar adeptos pregavam saber as mudanças
pelas quais o mundo haveria de passar e diziam-se prontos
para, de todo coração, revelá-las aos sábios e iniciados no
conhecimento de Deus. Nossa filosofia, diziam, não é nova, mas
idêntica à que Adão recebeu após a “Queda”, a de Moisés e a de
Salomão. Que venham a nós [79].
“Deus quer que morramos todos iluminados como
seus profetas e apóstolos, adivinhos, filósofos ou Santos Magos”.
Ele quer que nos morramos como inimigos do “Diabo” e como
filhos iluminados de “Deus”. Foi para isso que ele nos enviou a
“Santa Fraternidade” (Carta de Adam Haselmayer - Catequisador
rosacruz) [80].
Colocavam, sempre no estilo do Cristianismo da época,
todas as suas pregações e mensagens de terror e as de esperança,
para fins de subserviência. Diziam-se predestinados por Deus
para salvar os homens. Que Deus havia resolvido aumentar o
número dos eleitos e que o tal de Christian Rosenkreutz tinha
recebido por intermédio dos anjos e espíritos essa mensagem de
Deus [81].
Andreae chamava seus seguidores amavelmente

[78] August Jundt - Les Amis de Dieu - XIV - Siècle - Paris - 1879.
[79] A Chymische Hochzeit Christian Rozenkreutz - Préface de
Ferdinand Maack (Coll. Geheime Wissenschaften - Tome - I - Berlim 1913).
[80] Carta de Adam Haselmayer - Após a primeira edição da Fama em
1614.
[81] Idem [79].

– 157 –
de “Meus Filhos”, mas estes não se aproximavam dele,
ordinariamente, senão com temor e tremendo, pois refletia a
austeridade que não cessava de reclamar para o mundo, que,
como pregava, estava no fim dos tempos [82]; sempre a mesma
história!...

[82] Johann Salomo Semler - Unparteiisch Samlung zur Historie der


Rosenkreuzer - (Leipzig - 1786 - 1788).

– 158 –
QUEM FOI JOHANN VALENTIN
ANDREAE

N
asceu em 1586 e faleceu em 1654. Era teólogo luterano
por tradição familiar, tendo estudado em Tuebingen.
Ansiando por uma modificação espiritual profunda em
seus contemporâneos, e mesmo no mundo, procurou instruir-se
ao máximo, viajando pelos principais centros da época, a fim de
buscar subsídios ao seu ideal, que consistia no combate ao que
denominava de sonhos dos teósofos e alquimistas, buscadores da
pedra filosofal. Estudou, vasculhou diversas filosofias, ingressou
nas sociedades livres que lhe foram possíveis, muito em voga
em seu tempo, entre estas a “Societas Solis”, a qual procurou,
inclusive, soerguer, juntamente com amigos, e na “Ordem das
Palmeiras”, onde foi admitido já aos seus sessenta anos de idade.
Possuía ele a fibra reformista dos protestantes de então,
mais ferrenhos que hoje, qualidade que herdara de seus avós.
Em consequência de seus estudos, colhidos em
fontes orientais, alcançou, naquela época de obscurantismo,
sucessivos e importantes postos honrosos; foi decano de Vayling;
superintendente em Calve; predicador na corte de Everardo II;
Duque de Wittemburgo; abade em Bebenhausen e finalmente
em Adelberg.
O duque de Wittemburgo admirava-o, extremamente,
devido aos conhecimentos religiosos que possuía e, em
consequência, protegia-o; tanto que determinou-lhe a regência
da confissão de fé em seus domínios, na forma que pregara em

– 159 –
seu livro “Idea Disciplinae Christianae”.
As concepções de Andreae foram aceitas em seu tempo,
em sua maior parte, devido às verdades temporais em que se
apoiavam e aos objetivos focalizados, qual seja, a redenção da
humanidade, salvação e outras encenações místicas. Portanto,
usando do conhecimento e da proteção que dispunha, conseguiu
lançar, oculta e sub-repticiamente, sua “Fama Fraternitatis”,
trabalho que já ensaiara anos atrás, porém, em caráter reservado.
Havia em Andreae um desejo interior de exterminar,
como protestante que era, as pretensões dos ocultistas de então,
pois achava, como era muito em voga naqueles dias, serem estes,
possessos do demônio; tanto que em sua obra “O Casamento
Alquímico de Christian Rosenkreutz”, procura de forma sutil,
para não provocar luta, ou mesmo reações, ridicularizar as
sociedades secretas, sobretudo os alquimistas e, em contraposição
a estes, propunha-se à realização de uma alquimia diferente;
não objetivando a Pedra Filosofal na forma clássica, mas algo
superior, como a abertura dos olhos do espírito, através dos
quais seus seguidores pudessem ver o mundo e seus segredos
com absoluta profundidade e alcançassem, enfim, o verdadeiro
conhecimento.

– 160 –
ONDE SE INSPIROU ANDREAE
PARA CRIAR SEU MITO E O NOME
ROSACRUZ

O
movimento inspirou-se no luterismo, procurando a
edificação de um “Novo Estado Cristão”, o mais possível,
dentro das utopias de Morus e Sto. Agostinho. Para tanto,
necessário era, encontrar-se um mito, e Andreae, para lançá-lo,
apropriou-se dos feitos de Joachim de Flora, Tomaz de Kempis
e Ruysbroeck; miscigenados com as trapaças de Merswin, e
procedimentos ritualísticos ligados aos trabalhos de magos e
alquimistas de então. [83] [84]
Se tivesse sido mais sagaz e previdente, teria dito que
o seu Christian Rosenkreutz era o nome mágico ou simbólico
com que Joachim de Flora tomava parte em suposta fraternidade
oculta, ou outras invencionices que julgas se convincentes. Pelo
menos, com isso, daria um pouquinho mais de autenticidade à
sua criação, e a realidade histórica de Joachim de Flora, Tomaz
de Kempis ou Ruysbroeck, tornaria mais consistente sua criação.
Contudo, por imprevisão ou mesmo por não querer glorificar
nenhum deles, preferiu apenas copiar-lhes a vida e os feitos,
espelhando-os em seu mito, como bem nos demonstrou Paul

[83] Carta de Adam Haselmayer - Após a primeira edição da Fama em


1614.
[84] Joachim de Flore - Expositio magni prophete abbatis - Venise-1527
e Paul Fournier - Etude sur Joachim de Flore e ses doctrines - Paris - (1909).

– 161 –
Fournier, provando que Joachim de Flora (Flore) passou a
constituir o verdadeiro protótipo do fantasma de Andreae. [85] [86]

[85] Idem [83]


[86] Idem [84]

– 162 –
JOACHIM DE FLORA

C
alabrês como Campanella, nasceu em 1132, de pais
abastados. Antes do Rosenkreutz de Andreae, ele
empreendeu, quando ainda adolescente, uma viagem ao
oriente e à Terra Santa, em busca de conhecimento e sabedoria.
Chegou a Constantinopla como rico viajante, acompanhado de
um séquito de amigos; renunciou às vaidades deste mundo e
decidiu entregar-se inteiramente a Deus. Do mesmo modo que o
tal de Rosenkreutz de Andreae, perde em Chipre um irmão que
o acompanhava e que não chegou a ver a Terra Santa, da mesma
forma, Joachim se separa dos amigos e servidores e prossegue
sozinho sua viagem de busca e conhecimento, já agora como
peregrino e monge. Não se sabe quanto tempo permaneceu na
Terra Santa. Em uma manhã de Páscoa, escreve ele, numa gruta
do Monte Tabor, teve a revelação de toda sua obra profética.
Ainda, da mesma forma que o “Rosenkreutz” de Andreae, ele viu,
naquelas terras distantes, eremitas e ascetas; com eles conviveu e
encontrou a iluminação. Também e ainda, da mesma forma do
“Rosenkreutz” de Andreae, ele volta à sua pátria, e se recolhe à
mais completa solidão (Pietralta) para meditar e compor suas
obras proféticas. Ele sobe ao mais alto coração dos “Alpes Frios”,
onde, na contemplação e no “jejum” tem as visões mais elevadas,
episódio que se encontra integralmente no mito de Andreae, no
Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz.
Ele desce depois à planície, acha que deve ter discípulos
e preparar a humanidade para as coisas que deviam vir; prega

– 163 –
às multidões, anunciando a próxima vinda do Espírito-Santo,
precedida de catástrofes apocalípticas etc., tudo da mesma
forma que Andreae procurou imputar ao seu “Rosenkreutz”,
somente que Joachim de Flora existiu, fez tudo isso, o outro só
na imaginação do seu criador. [87]

[87] Joachim de Flore - Expositio magni prophete abbatis - Venise -


1527 e Paul Fournier - Etude sur Joachim de Flore e ses doctrines - Paris -
(1909).

– 164 –
JAN VAN RUYSBROECK -
1293/1381

M
ístico, ingressa nas ordens aos 24 anos e se retira
aos 50 anos. Foi vigário de S. Gúdula em Bruxelas
até 1353. Com dois colegas funda nas florestas
brabancônicas seu eremitério de Groenendael (o Vale Verde),
aproximadamente duas léguas de Bruxelas, onde se entrega a
meditações; tem alegrias e êxtases, descreve todos os estados
de iluminação e da progressiva “morte em Deus” que a Fama
aproveita posteriormente. [88] [89] Em seu eremitério escreve suas
melhores obras, especialmente o “Ornamento das Núpcias
Espirituais”, cujo tema e título viria a transformar-se, mais tarde,
por apropriação e plágio, nas “Núpcias Alquímicas do tal de
Christian Rosenkreutz de Andreae. [90] Dividia ele a humanidade
em servidores, amigos e filhos de Deus, terminologia essa que
o manifesto de Andreae também aproveitou em parte. Em
Estrasburgo, Tauler recebe a ascendência de Ruysbroeck.
Aliás, um dos capítulos mais curiosos do místico século
XIV, e que serviu, também, às fantasias dos redatores da Fama,
foi, sem dúvida, a história do mercador estrasburguês Rulman
Merswin, que, inspirado nos ensinamentos de Ruysbroeck e de
Joachim de Flora, inventou uma trapaça dizendo que, de repente,
[88] Bernard Bahrin - Thomas von Kempen (Berlim, 1949).
[89] Melline D’Asbeck - La mystique de Ruysbroeck l’Admirable; un
écho du néoplatonisme au XIV siècle (Paris, Leroux, 1930).
[90] Idem [89].

– 165 –
entrou em estado de desdobramento da personalidade, mantendo,
então, uma troca de cartas com um misterioso “Amigo de Deus
do Alto Pais”. Merswin atribuía ao seu personagem imaginário
uma iluminação adquirida após 50 anos de esforços, depois dos
quais teria fundado um monastério laico no Alto-País. Escreve
ainda tratados sobre o êxtase de suas visões e alucinações;
entre outros, uma cópia parecida com Núpcias Espirituais de
Ruysbroeck e seus escritos e, neles inspirado, é que Merswin
arma suas trapaças e alucinações, sendo, sem dúvida, com base
nesses exemplos que fundou em 1368 na Ilha Verde, perto de
Estrasburgo, também, o seu convento misto. Ele esperava para o
ano de 1380 o “Fim do Mundo” e, como isso não aconteceu, disse
ter ocorrido um retardamento divino. [91] [92]
Os redatores dos manifestos - Fama Fraternitatis,
Conféssio e Bodas Químicas de C. Rosenkreutz - tiveram
conhecimento dos escritos de Joachim de Flora, Ruysbroeck,
das trapaças de Merswin, e de que, após a morte do místico
estrasburguês, encontraram-se, em seus armários fechados
e esconderijos, todos os tratados que escrevera, fatos esses
que inspiraram a criação do túmulo fechado e escritos de
Rosenkreutz. [93]
Não apenas Merswin, mas outros imitadores de
Ruysbroeck se lhe seguiram, que não poucos, podendo-se,
dentre estes, citar-se Geer Groote, personagem estranho,
nascido em Denver (Holanda), em 1340, descendente de
família rica. Estudara teologia, filosofia e magia em Paris. [94]
Convertido por um frade e encontrando na vida eclesiástica
um meio de viver em paz e segurança, distribuiu seus bens aos
pobres, instalou, como Ruysbroeck, um convento livre em sua

[91] August Jundt - Les Amis de Dieu - XIV - Siècle - Paris - 1879.
[92] Charles Schmidt: Maister Eckart - 1839.
[93] Idem [91].
[94] Bernard Bahrin - Thomas von Kempen (Berlim, 1949).

– 166 –
casa; [95] constituindo, também, com seus feitos, um espelho
anterior à criação de Rosenkreutz. Note-se que, relativamente
contemporâneos, nenhum destes em seus escritos fez alusão ao
tal de “Rosenkreutz”.
Como se depreende dos antecedentes apontados, a
confraria rosacruz, fundada pelos redatores do manifesto de
1614, era simplesmente um mito, inspirado na vida, feitos e
obras dos acima relatados, e nos desvarios de seus seguidores; ela
nunca existira anteriormente, nem mesmo nada que se pudesse
assemelhar ao pretendido por Andreae e seus companheiros, a
não ser o cristianismo católico e o protestantismo, senhores da
época; aliás, isso ressalta à observação do pesquisador imparcial,
uma vez que, naquele tempo e mesmo anteriormente, não
existiram sociedades clandestinas ou secretas do tipo pretendido
pelo manifesto, salvo aglomerados de alquimistas e magos a
quem visavam combater.
A maior comprovação da existência de grandes homens,
mormente reformadores, consiste em suas obras, o testemunho
histórico, o registro bibliográfico, o que edificaram, por onde
passaram e deixaram marcas, ou o que sobre eles escreveram
ou testemunharam seus contemporâneos. Nada existe, desde a
época em que Andreae disse ter existido o epônimo, que prove
sua existência, além da imaginação. Aliás, sobre ele recordo-me
de um amigo ao dizer:
“O tal de Christian Rosenkreutz era tão misterioso, tão
sabido, esperto, e hermético, que até nunca existiu”.
Aos analistas mais exigentes alertamos que Lutero usava
em seus brasões uma cruz e uma rosa - aos quais acrescentava,
insistentemente o seguinte dístico:
“O coração dos cristãos repousa sobre rosas quando
está exatamente na cruz” (“Der Christen Herz auf Rosen Geht
Wenns mitten unterm Kreuze steht”).

[95] Bernard Bahrin - Thomas von Kempen (Berlim, 1949).

– 167 –
É de se notar que na época era muito comum, em templos
católicos, o uso de rosas sobre a cruz, simbolizando Cristo, a
“Perfeição Crucificada’’, não sendo, portanto, de se estranhar
que Lutero viesse a adotar idêntico procedimento, no que, aliás,
foi seguido por Jacob Andreae - O Lutero Wurtemburguês -
avô de Valentin Andreae - que terminou adotando a “cruz de
Santo André” com uma rosa em cada um de seus ângulos, como
emblema, o que, juntamente com outras determinantes, levaram-
no a criar o nome rosacruz, como veremos mais adiante.
Relembremo-nos que em suas “Núpcias Químicas”
Valentin Andreae fala, logo no início, do “Irmão da Rosa
Vermelha” (Vom Roten Rosenkreutz), apropriando-se de uma
lenda inglesa de mais de 27 anos “anteriores à criação do seu
mito Christian Rosenkreutz”, lenda aquela, denominada (Knight
of the Red-Cross), Cavaleiro da Cruz Vermelha.
Ao criar seu mito, atribuiu-lhe, também, todas as
aventuras idênticas e exatamente iguais às da lenda inglesa,
inclusive, relativamente à casa onde foi parar o cavaleiro;
apenas transformou-a em castelo. Esses elementos e outros que
veremos, levaram, Andreae a transformar o nome Rotescreutz
em Rosenkreutz, sendo o primeiro a cognominar-se Cavaleiro
Rosacruz.
Entendemos desnecessário perder-se tempo em
comentários sobre os escritos de Andreae (Fama e Confessio)
que, embora já em curso entre seus amigos desde 1610, só vieram
à publicidade após essa data.
Como se sabe, Andreae, em sua autobiografia, confessou-
se o autor de “Núpcias Alquímicas”, livro que fora lançado em
1616 em Estrasburgo, na Casa Zetzner, sem paternidade. Aí, em
forma de parábola, conta ele como o epônimo estava procedendo
para alcançar a iluminação, inspirando-se, como falamos, não

– 168 –
apenas na lenda de Edmund Spenser, [96] mas, também em feitos
de outros. Fato digno de notar-se é que ao montarem a história
do mito, colocaram suas façanhas iniciatórias como se tivessem
sido realizadas em 1459, portanto, em uma data em que o nosso
“Herói-Fantasma estaria com 81 anos” de idade. Esqueceram-
se de que ninguém nessa idade poderia submeter-se, sem cair
no extremo ridículo, a uma viagem através de escadas e cordas,
como verdadeiro alpinista, em precipícios; nem tampouco às
provas iniciatórias das quais tentam glorificá-lo.
Para muitos críticos, sensatos e racionais, tal livro
e seu relato nada mais é que o produto de uma imaginação
desavergonhada, dizendo, inclusive, claramente, Kiesewetter
que se trata de um escrito que não merece a mínima tolerância e
consideração. [97] [98]
Nesse ponto não concordamos com Kiesewetter e
demais críticos porque, na verdade, para um ancião de 81 anos,
realmente é impossível e inadmissível a peripécia, acrobacias e
ginásticas como as imputadas ao Epônimo, mas esquecem-se
eles que o talzinho era um fantasma e que, manobrando com
as “forças gnósticas”, podia levitar-se, e, nelas montando, fazer o
diabo em matéria de movimentação!... Não acham?...
Embora ligeiramente, falemos sobre a parábola do
Cavaleiro de Edmund Spenser.

[96] The Poetical Works - I - The Faerie Queene: Edmund Spenser -


Oxford University Press - 1916.
[97] Ferdinand Katsch - Die Entstehung und der wahre Endzweck der
Freimaurerei (Berlim, 1897).
[98] Karl Kiesewetter: Histoire des Rose-Croix (Trad Ch. Barlet in
initiation, juillet 1897).

– 169 –
LENDA DO CAVALEIRO DA CRUZ
VERMELHA
(NIGHT OF THE RED-CROSS)

E
ssa curiosa parábola promana do canto X da Rainha das
Fadas de Edmund Spenser, em cujo primeiro livro diz, em
resumo, o seguinte:
“Um cavaleiro, caminhante-solitário, da cruz-vermeIha
e da Santidade, justo, digno e reto em suas palavras, mas com
uma tristeza solene encobrindo sua alegria, avança pela planície.
Ele trazia sobre seu peito uma cruz sangrante (a bloudie crosse),
como que, uma recordação de Cristo.”
A história se alonga até ao encontro do cavaleiro com
uma bela dama, descendente de um reino cuja devolução só se
daria após a derrota de um Dragão; e prossegue a lenda falando da
Serpente Error, D’Archimago, príncipe das ilusões e de uma série
de coisas mais. No final das contas, o cavaleiro atraca-se com a tal
fera em uma floresta e, como todas as histórias da carocha, acaba
matando-a e devolvendo o trono à princesa Una. Então, esta o
conduz rumo à “Casa de Santidade”, casa essa isolada, conhecida
em todo o mundo, devido a sua doutrina sagrada, vida pura e
sem mácula, e à Madre Celeste, cuja bondade e pureza aliviava
as pobres almas.
Situava-se a “Casa da Santidade” no alto de uma
colina e, ali, foi o nosso herói recebido por um velho chamado
“Humildade” que lhe mostrou o caminho escarpado a ser

– 170 –
seguido; depois é recebido por outros guias; Zelo e Referência,
que o conduzem à “Célia”, que o encaminha, sucessivamente, à
Fidélia, Esperança; e seguidamente, prossegue o nosso amigo
avançando no caminho da santidade. [99]
O nome rosacruz dado por Andreae à sua fábula estava,
portanto, relacionado, entre outras coisas, fundamentalmente,
com os apelidos de sua família, suas armas e escritos, que
representavam a “Cruz de Santo André com quatro Rosas” de
cuja fonte, como é fácil deduzir, lhe vem também o nome de
família. [100]
Obcecado em converter e salvar a humanidade, seu
sonho era o Cristianismo; sem artificialismos, rituais primitivos,
rodeios pagãos ou tribais, no que entendia sua verdadeira
essência. Para tanto pregava que:
“... a fraternidade cristã é como uma cruz cheirando a
rosas”. [101]

Queria com isso dar a entender fosse a cruz um símbolo


no qual se poderia divisar e sentir Cristo – A rosa perfumada
e sacrificada em holocausto à humanidade – manifestando-se
através do perfume do amor fraternal. Todas essas introjetadas
concepções e origens, mostram claramente ao analista, que não
precisa ser psicossemântico, a origem do nome Rosa+Cruz e
também o de seu mito, Christian Rosenkreutz (Cristo + Rosa +
Cruz). [102]
Era seu intuito arrebanhar todos os cristãos em um
só e único movimento e, também, tanto quanto possível,
[99] Edmund Spenser: The Poetical works I - The Faerie Queene Edition
préfacée annotée de J.C. Smith et E. de Selincourt - (Osford University -
1916).
[100] Dicionário Enciclopédico de La Masoneria - Tomo l-lll
[101] Johann Valentin Andreae: Chymisch Hochzeit Christiani
Rosencreutz - Strasbourg L. Zetzner Erben, 1616, e Turis Babel, Sive
Judiciorum de Fraternitate Rosaeae Cruces - 1619.
[102] Idem [101].

– 171 –
simpatizantes, o que fazia inspirado no ensino bíblico de que
“Haverá um só rebanho e um pastor” - João 10:10 - Por isso é
de se reconhecer que, até certo ponto, visava ele um fim louvável
no sentido puramente humanístico, isto é: a constituição de um
cristianismo puro e refinado, sem nenhuma das misturas que
hoje encontramos em todos os movimentos fora do verdadeiro
cristianismo (catolicismo e protestantismo originais), fora do qual
encontra-se de tudo misturado com o evangelho, bastando dizer-
se: coisas esotérico-mágicas; alquimismo material e humano;
práticas de ritos sexuais variados; cerimoniais mesclados de
coisas egípcias; teosofias, forças eletromagnéticas, astrais, tribais,
e toda a mixórdia possível junta com Cristo.
O símbolo que idealizou, e que parece, só foi dado
a publicidade em Altona em 1785, não tinha nenhuma das
maquilagens e balangandans com que hoje costumam apresentá-
lo; era simples, apenas uma cruz com uma rosa na sua parte
superior e a imagem de Cristo no seu cruzamento, que, como se
vê, nada mais era além da repetição de símbolos até então usados
pelo cristianismo dominante, ei-lo:

– 172 –
FOR THE FIRST TIME MADE PUBLIC
and
VlTH SEVERAL FIGURES OF SIMILAR CONTENT ADDED BY P

Porém, com o tempo, mandaram Cristo passear e


passaram a rosa para o centro da cruz, procurando assim
desvincular o símbolo da sua origem puramente cristã, para
dizê-lo vindo de onde lhes fosse mais conveniente, e com isso
retroagir o movimento para eras desconhecidas.
Entretanto, é de se ressalvar que, dentre as rosa-cruzes
existentes, a liderada por R. Swinburne Clymer, ao invés de
fazer como as demais, reafirma textualmente que foi Andreae o
fundador do movimento, sendo ainda o autor dos manifestos,
do casamento Químico do “Cristão Rosa-cruz” e demais escritos
(Vide: The Rosicrucian Fraternity in América - Clymer - Vol, I
and II - Beverly Hall Corporation -1955).
Suas publicações alcançaram um efeito inesperado, no
seio dos inquietos procuradores de um lugar confortável após

– 173 –
a morte. Para reforçar seu trabalho resolveu viajar, tendo dado
inúmeras conferências e entrevistas, principalmente entre os
nobres dominantes, com o fito especial de, cativando-os, arrastar
também seus subordinados; prosseguir na reforma cristã que
era seu ideal. Em consequência. de seus esforços, prontamente
se formaram nas comarcas rhinianas, conventículos rosacruzes,
que, como epidemia, proliferaram por toda a Europa, assumindo
formas as mais variadas possíveis, devido às tendências para
o alquimismo, magia, o misterioso e o fantástico. Sob sua
orientação organizaram-se inúmeras lojas, nas quais, no
princípio, somente ingressava quem fosse protestante, limitação
essa que não perdurou muito tempo porque, logo, passaram a
admitir católicos. Atraídos por suas pregações, não tardou a
invasão dos alquimistas, magos e hermetistas, o que desgostou
profundamente Andreae, levando-o a confessar que tudo aquilo
era uma farsa. [103]
Com o ingresso de cristãos-católicos e a proliferação
de lojas por toda parte, surgiu na Áustria uma, denominada
de “Irmandade de Cristo” - que, anos após, foi fechada pelo
governo, devido aos seus desvarios. Não obstante, novas e novas
lojas surgiram daqui e dali como se cogumelos fossem e, tal fora
a influência nos dias que se passavam, que o Papa resolveu, em
contrapartida, instituir uma loja de natureza puramente católica,
a que deu o nome de - ORDEM DA CRUZ AZUL - procurando,
com isso, dar combate à nova forma de propaganda protestante,
desencadeada e liderada por Andreae, que sempre exortava os
leitores de seus opúsculos a realizarem a verdadeira vida cristã,
a renunciar, a meditar, orar e prepararem-se para o advento da
vinda do Espirito Santo. [104]
A verdade é que recrudesceram tanto as chamadas

[103] Turis Babel, Sive Judiciorum de Fraternitate Rosaeae Cruces - 1619.


[104] Andreae: Invitatio ad Fraternitatem Christi. Première Partie,
Strasbourg, Zetzner, 1617 et 1629: deuxième partie - 1618.

– 174 –
comunidades rosacruzes durante o reinado do Imperador José
II, que tendo atingido politicamente os próprios círculos da
corte, levou o imperador a proibir, em seus territórios, todas as
sociedades secretas, excetuando dessa proibição a Maçonaria.
Com o fechamento da rosacruzaria por José II, a
maioria de seus adeptos, não tendo outro terreiro onde pudesse
baixar, procurou ingressar na Maçonaria, visto que o Imperador,
reconhecendo, na época, o valor edificante e libertador dessa
Ordem, deixava-a incólume e livre em sua plenitude de ação, o
que oferecia aos ex-rosacruzes uma oportunidade de segurança
e cobertura. Segundo uma das tradições ocultas, foi, também,
devido a essa admissão em massa, de egressos da rosacruz às
filiais da Maçonaria que levou esta, posteriormente, inclusive
com outros motivos, a denominar o seu grau 18, que em alguns
ritos era denominado Mestre Escocês, (como no rito Misraim
ou Egípcio) para o de Soberano Príncipe Rosacruz; Príncipe
Rosacruz ou Cavaleiro Rosacruz, devendo-se, entretanto
esclarecer que essa denominação nada tem a ver com as atividades
daqueles, nem do passado nem do presente, mas, simplesmente,
significando uma homenagem a Cristo - Rosa-sacrificada”.
Relembremos que todo o testemunho histórico e
bibliográfico, insofismavelmente, nos prova que o movimento
teve sua origem na Alemanha e o incremento na Áustria,
Inglaterra, Holanda e adjacências, devido aos esforços de Andreae
e seus contemporâneos protestantes, devendo-se destacar dentre
estes o trabalho desenvolvido por Johann George Guichtel na
Holanda, cujos membros se denominavam de - IRMÃO DO
ANJO - e pregavam que, para se atingir a pureza igual à dos anjos,
era necessário e imprescindível abandonar os deveres conjugais,
profissão, e alimentar-se apenas das dádivas voluntárias,
o que fez com que viessem a ser conhecidos pelo honroso
apelido de -”PADRES DO VENHA A NÓS” - isto é, padres de
vagabundagem, exploradores que, para se transformarem em

– 175 –
ANJOS, procuravam sombra e água fresca e o adubo alimentar
daqueles que honrada e dignamente ganhavam o pão com o suor
do próprio rosto. Se todos aderissem aos seus ensinamentos, era
de se perguntar: quem lhes daria de comer?
Eivado de anonimidade, faltava, entretanto, ao
movimento, se bem que baseado no cristianismo, a seriedade
moral e fundamental que seu idealizador objetivava, tanto que
o relato todo melodioso quanto à origem do tal de Christian
Rosenkreutz, suas fantásticas e peripeciosas viagens e pesquisas,
foi prontamente rejeitado pela mente sã do imperador Johann
Carl Von Frisau, o qual conhecia profundamente a vida de
Joachim de Flora, Tomas de Kempis e Ruysbroeck e dos outros,
em cujos feitos se baseara Andreae para criar o mito que lhe
queriam impingir e por isso, não lhes permitiu o crescimento
com sua participação.
A temática de sempre, nos meios catequizadores, era a
vinda do Espírito Santo, o advento de uma nova era; ainda não
tinham descoberto o golpe de “Era de Aquarius”, “Shambala”,
“Mundos Subterrâneos” e outros reinados sutis; Paracelso não
foi o único nem o último de espírito apocalíptico antes da Fama
Fraternitatis de Andreae, pois seu contemporâneo, Martinho
Lutero, também prenunciou as convulsões que precederiam
a iminente chegada do Reino do Espírito”, a Nova e desejada
“Jerusalém”, pregações essas que levam em 1604, o filósofo-
teólogo Simão Studion a descrever, com toda uma técnica de
arquiteto, tomada das escrituras, as maravilhas da sonhada
“Jerusalém”, até com as medidas do Templo, [105] fantasias essas
que foram absorvidas pelos manifestos rosacrucianos. É claro
que a mesma pregação continua em nosso tempo e perdurará.
Um exame minucioso e imparcial mostra que somente
a partir dos manifestos de Andreae é que surgiu a documentação
complementar, alemã, inglesa e francesa, discorrendo sobre

[105] Simon Studion - Naometria - 1604.

– 176 –
a rosacruz, e que, antes, nada existira nesse sentido; aliás, é
um fato incontestavelmente certo, confessado por Andreae e
jamais refutado por ninguém, ter sido ele o autor da estranha
aventura e do chamado livro “Bodas Químicas” do tal Christian
Rosenkreutz. [106] [107]

[106] J. Amos Comensky (Comenios); Korrespondence-Tome V-75, carta


de 27 de junho de 1642.
[107] Andreae: Invitatio ad Fraternitatem Christi. Première Partie,
Strasbourg, Zetzner, 1617 et 1629: deuxième partie - 1618.

– 177 –
TUDO AQUILO ERA UMA BROMA

Q
uais as causas que levaram Andreae a essa confissão?
Era um idealista, batalhador, e desejava, não resta
a menor dúvida, edificar um Cristianismo comunitário,
onde pudesse haver socorro e amparo aos operários, estudantes,
doentes e pobres, já que os governantes de então por eles nada
faziam. [108] Todavia, como já vimos, após a publicação da “Fama
e outros escritos”, sem cessar, os oportunistas entraram em ação,
e criou-se a mais completa confusão nas hostes da confraria,
causando o seu desmoronamento em 1620 e a confissão de
Andreae, publicamente de que era ele o criador de toda aquela
fantasia, dizendo que:

“Tudo aquilo era uma broma!... e que a farsa havia


terminado. [109] A ‘Fama’ desencadeara atrás de si, a
obstinação, a cegueira, a tolice e a impostura.’’

Em Turris Babel ele deixa claro sua intenção, quando


redigiu o manifesto rosacruz, ao dizer:

[108] Selbsbiographie Johann Valentin Andreae aus dem Manuskript,


publicado pelo prof. Seybold (Winterthur 1799).
[109] Dicionário Enciclopédico de La Masoneria - Tomo I-III

– 178 –
“Era o cristianismo que me interessava e que eu queria
fazer progredir por todos os meios, e, como eu não podia
fazê-lo por caminhos retilíneos (diretos), tentei fazê-lo
por meio de rodeios e palhaçadas; não como parecia
a alguns, com espírito de gracejo, mas recorrendo ao
método usado por pessoas piedosas, no sentido de que,
por meio do truque, de um gracejo e por uma malícia
divertida, eu conseguia um fim sério e insuflava (no
leitor) o amor do Cristianismo.” [110]

Em uma de suas cartas a seu colega e amigo Hirsch, para


quem não tinha o menor segredo, Arndt disse-lhe que Andreae
confessara-lhe que ele, com uns tantos outros, tinham sido os
autores da Fama Fraternitatis, lançada pela primeira vez em
Wurtemberg, a fim de verificarem, nos bastidores, que resultados
obteriam na Europa, e quais seriam os amadores “ocultos” da
verdadeira sabedoria, que poderiam ser encontrados aqui e
acolá, e quem se manifestaria nessa ocasião. [111]
Esclareça-se que Arndt era o mestre espiritual de
Andreae e também de seus amigos, Johann Wied (editor e livreiro
em Tubingen), Besold, Martin Hummelin, George Zimmermann
e outros. Wied era quem se incumbia de todas as publicações,
principalmente as do mestre Arndt. [112]
Como todo aprendiz de feiticeiro, que se mete a
desencadear forças, sem antes medi-las ou estar seguro de sua
procedência, Andreae viu o movimento que criara ser infestado
[110] Selbsbiographie Johann Valentin Andreae aus dem Manuskript,
publicado pelo prof. Seybold (Winterthur 1799).
[111] Gottfried Arnold: Unpartheysche Kirchen und Ketzer - Historien,
von Anfang des Neuen Testaments biss auf das Jahr - Christi (den I. Mertz
1697) (Shaffhouse 1740 e 1742, Tome II e IV).
[112] R. Kienast: Johann Valentin Andreae und die vier echten
Rosenkreuzer - Schriften - 31/32 - Leipzig -1926).

– 179 –
justamente por aqueles a quem visava destruir, catequizar e
absorver, o que o levou a levantar o véu que o ocultava como
autor de tudo aquilo. [113]
Aliás, isso o confessa também em Mitologia Cristã, ao
dizer:
“Uma pessoa disfarçada quis começar um jogo com os
sábios.”
Tanto em Turris Babel quanto em Mythologia Cristiana,
procurou ridicularizar sem piedade o movimento que criara, isso
porque o vira tomado pelos ocultistas, alquimistas e desviado
do Cristianismo original que buscava; porém, o aprendiz de
feiticeiro já não podia mais conter a avalancha que desencadeara
entre os mercenários de fantasias e a massa sedenta de devaneios.
Era tarde! O chamado movimento rosacruz tinha incrustado
suas raízes na ignorância e no fanatismo; nas necessidades de
segurança e de autoafirmação dos inquietos e, a essa altura,
nenhum escrito do mundo poderia dissolver aquela tábua de
salvação destinada à massa acomodatícia... [114]
Após a publicação dessas obras (Turris Babel e
Mythologia Cristiana), os remanescentes - continuadores da
farsa - a fim de estabelecer confusão, procuraram fazer crer
que Andreae jamais tivera qualquer ligação com a rosacruz,
insinuando, sigilosa e sub-repticiamente, entre seus seguidores,
depois de determinados graus, que o movimento viera por
intermédio de Francis Bacon, que fora um enviado (não se sabe de
onde), especialmente mandado para formar a confraria, quando
se sabe que Bacon, como todo ser inteligente e culto, foi atraído
para observá-lo, tendo concluído tratar-se de um embuste. [115]
A partir de 1617, o movimento rosacruz ficou
desacreditado, provocava riso; as pessoas sérias apressaram-se a

[113] Dicionário Enciclopédico de La Masoneria - Tomo I-III.


[114] Idem [113].
[115] Idem [113].

– 180 –
desvincular-se de uma companhia tão mal frequentada. [116]
Em Turris Babel diz sobre a rosacruz, Andreae:
“Não deveis esperar nenhuma fraternidade. A comédia
agora já foi representada”, dizendo que tudo aquilo se degenerara
em uma palhaçada, [117] enfatizando ainda, em (Menippus) que
tudo o que fizera nada mais fora que um “ludibrium curiosorum”
(gracejo de curiosos), ao qual se atraíram todos aqueles que, ao
invés de procurarem o caminho simples de Cristo, pretendiam
trilhar o caminho artificial ou cheio de fantasias. [118]
Em Mitologia Cristã - 1619 - diz ele que se retirou da
jogada porque tudo aquilo se enchera de querelas sobre opiniões;
miscigenara-se, e ele não queria meter-se, imprudentemente, em
perigo dali em diante; [119] que se afastara porque tudo aquilo
era um absurdo, um “ludibrium curiosorum” como ele próprio
classificou. Não obstante, tentou, infatigavelmente, depois, já sob
outra forma, a mesma obra de salvação: “Se deixo presentemente
a fraternidade em si, não deixarei, entretanto, nunca, a verdadeira
fraternidade cristã, que sob a cruz, cheira a rosas”, mas, que
se afastava inteiramente da sujeira, da confusão, dos erros e
horrores do mundo. [120]
P. François Garasse, que os estudou e os acompanhou
em seus albores, denominava-os “perigosos patifes chamados
Irmãos da Cruz de Rosas ou Irmãos Beberrões”. [121] assim
eram reconhecidos por não terem ainda lançado mão do
vegetarianismo e da abstinência como armas catequizadoras,

[116] Johann Valentin Andreae - Turris Babel - Setzner - 1619.


[117] Idem [116]
[118] Johann Valentin Andreae - Menippus, sive Dialogorum Satyricum
centuria, inanitum nostratium speculum (Helicone juxta Parnasso - 1617).
[119] Mythologia Christiana (Strasbourg - 1619).
[120] Idem [116]
[121] P. François Garasse - La doctrine des beaux esprits de ce Temps ou
prétendus tels (Paris, 1624).

– 181 –
tanto que em nenhuma obra daqueles tempos se veem alusões
nesse sentido.
O mesmo confirma-o Comenius, quando, em 1657,
ao citar Andreae e sua Turris Babel, fala de “Impostores da
Rosacruz, que querem ganhar dinheiro”, [122] alegação que, entre
outras, prova não ter ele participado da farsa de Andreae.
O leitor deverá ter observado que, por vezes, algumas
citações se apresentam repetidas; todavia, fizemo-lo devido
à necessidade de se arrolarem as bibliografias pertinentes e
comprovadoras desses eventos históricos.
Seria fastidioso e nos tomaria imenso tempo dissertarmos
sobre todos os intrujões do passado e mesmo do presente
relacionados com o movimento. Porém, é de se ressaltar que não
faltaram de lá até nossos dias, novos e novos “Padres do Venha
a Nós”, intrujões, oportunistas, representantes sem mandato,
aproveitadores, iludidos de boa-fé, falsários e visionários, como
por exemplo Johann Giorge Schoeffer, Candessa de Cassel,
Johann Cristoph Walmer, e outros em nosso tempo, como nos
será dado localizar mais adiante. Johann Christoph Walmer,
por exemplo, chefe do Departamento Eclesiástico do Reinado
de Frederico II, dirigia uma loja rosacruz em Berlim, onde as
sessões e rituais, como todas as outras, eram regados a bom
vinho e onde se davam as disputas políticas, distribuições de
cargos e demais patifarias, o que ocasionou, inclusive, a afamada
carta aberta de um dos membros proeminentes da Loja, Barão
Hans Heinrich Ecker und Eckhoffen, misticamente conhecido
por “Mestre Pianco”, que, sincero, leal, honesto em sua busca e
amigo incondicional da verdade, dispensou os cargos, distinções
e honrarias que forçadamente lhe queriam dar e, revoltando-se
contra as trapaças, patifarias e mentiras do movimento, publicou
em 1782, sob o título “A ROSA CRUZ EM TODA SUA NUDEZ”
(Der Rosenkreuzer in seiner Blosse), a carta aberta em questão.

[122] J. A. Comenios - Orbis pictus, cap. XIII.

– 182 –
Abalado pelas verdades de Andreae, confirmadas por
seus contemporâneos, agravado pela anonimidade de sua origem
e a falsa existência do tal Christian Rosenkreutz, o movimento
passou por sérios percalços, porém, muito dos acomodados, em
face da base cristã, decidiram continuar a obra. Mesmo assim,
numerosas cisões se desencadearam no seio das hostes, com
vários desdobramentos e ramificações no decorrer do século
XVII.
Por volta de 1760, aparece em Tolosa Martinez de
Paqualy, judeu português, onde tenta, em vão, fundar um rito
maçônico, na capital de Languedo. Não logrando sucesso,
ruma para “Bordeau” e lá cria, por volta de 1766, um grupo
denominado “Cavaleiros Eleitos Coên do Universo”, rito
maçônico, introduzindo-lhe, ou melhor, criando-lhe o grau
“RÉAUX + CROIX”, para onde foram atraídos Jean Baptista
Willermoz e Claude Saint Martin, tendo escrito então sua
principal obra: “Traité de Ia Réintégration des Êtres”. [123] Segundo
alguns tradicionalistas, essa denominação “Réaux-Croix”, os
precedentes históricos de adesões de ex-rosacruzes à Maçonaria
e ao Cristianismo, justificaram a adoção desse nome ao seu grau
18, que nada tem com o rosacrucianismo.
Os percalços por que passara fizeram com que, de
comunidade essencialmente protestante que era, se fosse
adaptando, em conformidade com as necessidades de preservar sua
existência. Assim é que, ao chegar em fins do século XVIII, época
de grande desenvolvimento e prosperidade das Lojas Maçônicas,
os chamados conventículos ou grupos clandestinos rosacruzes,
amoldaram-se a esse sistema, tomando-lhe as características.
Era necessário fazerem-se importantes, e as características de
sociedades secretas rendia-lhes a oportunidade de se propagarem
como movimento vindo de tempos imemoráveis. Para isso nada

[123] Paul Vulliaud: Les Rose-Croix lyonnais au XVIII siècle, étude sur
les origenes (Paris 1929).

– 183 –
melhor que a denominação de Sociedade Secreta e o uso de
toques, senhas e sinais para se reconhecerem, como o adotam
até hoje alguns desses movimentos.

– 184 –
O MITO CHRISTIAN
ROSENKREUTZ

É
fácil notar-se que os próprios senhores da confraria, entre
si, se contradizem ante a vulnerabilidade do fantasma
Christian Rosenkreutz e da anonimidade em que foi
lançado. Dentre as muitas confusões basta relembrar-se que
Andreae, seu criador, e seus companheiros retroagiram-no para
1378, jamais falando na existência da Ordem anteriormente a essa
data. Já Michael Mayer sustenta, sem nenhuma prova histórica,
que o epônimo foi contemporâneo dos alquimistas Albertus
Magnos, Arnoldus de Villa Nova e Raimond Lulle, [124] porém,
sabemos que a comprovação histórica da época em que viveram
estes últimos, nada consigna a respeito do fantasma Andreniano,
o que, aliás, é de fácil verificação a qualquer um.
Um novo tratado, também anônimo, como a “Fama”,
tentando, no mesmo sentido, reafirmar a Mito, é publicado e
lançado em 1624, procurando responder àqueles que, já naquela
época, afirmavam comprovadamente sua falsa origem, como
Neuhaus. [125] Na tentativa de resolver o problema que se agravava,
a publicação dizia, em outros termos:
“Se o fundador não foi Christian Rosenkreutz, os que o

[124] Michael Maier: Lesus serius quo Hermes sive Mercurius rex
mundanorum omiun sub homine existentium (Oppenheim 1616).
[125] Colloquium Rhodostauroticum trium personarum, per Famam et
Confessionem quodammodo revelaionem de Fraternitate Roseae Crucis (S.
I. 1624, à la suite de XXXI, p. 43 à 161).

– 185 –
foram eram dotados de alta sabedoria, amigos e filhos de Deus,
etc., etc...”. [126]
Também Irenée Agnostus, vendo periclitar a coisa,
vendo sem consistência o barco em que velejava, receando as
consequências das confissões de Andreae, propagava:
“Nossa ordem existiu muito tempo antes de
Rosenkreutz”; com isso buscava libertar o movimento, de um
fundador humano, para qualificá-lo remotamente, sem todavia
apontar o testemunho bibliográfico. Como Mayer, tentava fazê-
la sucessora de uma pretensa tradição imemorável, dizendo-a
herdeira dos Brâmanes, Egípcios, Magos da Pérsia, Sábios da
Arábia, etc. [127] Apoderam-se de ensinamentos alheios para
depois dizerem-se seus herdeiros e sucessores.
Vem depois, pelo mesmo caminho, M. Wittemans;
acrescentando a toda essa tradição imaginária a de que a coisa
- Rosacruz - procedia de Ammonius Saccas, Plotino, Porfírio,
Jâmblico, Procus e por aí a fora, [128] porém, sem apresentar as
provas.
Toda essa demanda, em busca de ancestralidade, visava
ofuscar a descoberta de que Christian Rosenkreutz era uma
farsa; aliás, mais uma vez afirmada nos dizeres de MacGregor
Mathers, um dos mais responsáveis ocultistas, pertencente à
Societas Rosicruciana in Anglia e à Hermetic Order of the Golden
Dawn, quando diz:
“Christian Rosenkreutz é o ‘grande mito’ em torno
do qual aglomeraram toda a romântica tradição do ocultismo
medieval; é obviamente um nome fictício escolhido para místicos

[126] Colloquium Rhodostauroticum trium personarum, per Famam et


Confessionem quodammodo revelaionem de Fraternitate Roseae Crucis (S.
I. 1624, à la suite de XXXI, p. 43 à 161).
[127] Michael Mayer: Silentium post clamores, hoc est tractatus
apologeticus (Francfort, 1617).
[128] Fr. Wittemans: Histoire des Rose-Croix (Paris, Adyar, 1925).

– 186 –
propósitos”. [129]
Outros, receosos de que pudessem vir a ser desmentidos,
acharam melhor transportar a Fraternidade para um local de
difícil ou impossível constatação, e passaram a afirmar, como o
descreve Aleister Crowley:
“Certos ‘iniciados’ segredam a seus ‘discípulos’ que
‘o local da Fraternidade Rosacruz é em Sirius’” - Pobre Sirius!
(Commentaries of AL - The Equinox - Vol. V - nº 1 - S. Weiser - N.
York - 1975).
Não nos é possível transcrever aqui todo o amontoado
de tentativas feitas para tornar realidade a existência, no passado,
de um inventor misterioso e oculto para a Rosacruz.
Muitos procuraram vincular o fantasma Christian
Rosenkreutz a Paracelso, dizendo tratar-se de uma só e única
pessoa, simplesmente porque este - Paracelso - viajou ao Oriente
e a outros países em busca de maiores conhecimentos; como o
fizeram Joaquim de Flora, Ruisbroeck, e todos que entendiam
encontrar-se, noutras plagas, o verdadeiro conhecimento;
andanças essas que, da mesma forma, procuraram atribuir ao
epônimo, para tentar-lhe uma existência histórica.
No entanto, mais sincero foi Franz Hartmann que,
reconhecendo a inconsistência dos argumentos que tentavam
em vão provar a existência de Christian Rosenkreutz, e sabendo
tratar-se realmente da montagem de um mito, procurou arquitetar
outra ideia: atribuindo genericamente o nome de rosacruz a
todos os indivíduos com tendências místicas ou teosóficas.
Assim procedendo generalizava o nome rosacruz e,
ao mesmo tempo, desligava-o do mito Christian Rosenkreutz;
só que, em nenhum escrito, anteriormente a J. V. Andreae, se
encontram referências a isso; nem tampouco, em nenhuma parte
anteriormente a 1610, os alquimistas, adeptos, reformadores,

[129] Astral Projection, Magia and Alchsmy - Macgregor Mathers and


other (Samuel Weiser - N. York - 1972).

– 187 –
magos, místicos, bruxos ou teósofos delegaram, a quem quer que
fosse, o direito de denominá-los rosacruzes, nem a estes o direito
de dizê-los seus predecessores.
Damos aqui, ligeiramente, a tradução do que diz Franz
Hartmann, nesse sentido, na obra “An Adventure Among The
Rosicrucians”:

“O nome ‘Rosicrucian Order’ ou ‘Order of the Golden


Rosy Cross’ é relativamente uma invenção moderna e
foi usado primeiramente por Johann Valentin Andreae,
que inventou aquela história das Bodas Químicas
de Christian Rosenkreutz, pelos mesmos motivos
que também Cervantes inventou o seu Don Quixote
de la Mancha; principalmente com o propósito de
ridicularizar os adeptos, magos, reformadores e
alquimistas de sua época, quando ele escreveu sua
célebre ‘Fama Fraternitatis’. Antes da aparição de
seus panfletos, o nome rosacruz não identificava uma
pessoa pertencente a uma certa sociedade organizada
com tal nome, mas sim um nome genérico aplicado a
ocultistas, adeptos, alquimistas ou a alguém que fosse
ou pertencesse a algum movimento oculto, ou dele
tivesse os conhecimentos, e quem tivesse, também, a
compreensão dos símbolos adotados pela igreja cristã,
entre os quais se encontravam a cruz e a rosa, não
inventados por ela, mas usados pelos ocultistas e outros,
centenas de anos antes da criação do cristianismo” (veja
também “The Rosicrucian Fraternity in América” - Vol.
- I - 296 a 302).

– 188 –
NOTA: É de se deixar bem claro que essa obra de
Franz Hartmann é simplesmente uma história de
ficção versando sobre uma imaginária rosacruz por ele
idealizada; portanto, não se refere a uma organização
onde realmente estivera o autor.

Nessa obra Franz Hartmann criou a denominação


de “Imperador” para o dirigente da instituição que imaginara,
denominação essa que não deixa de ser bem pomposa e, até
interessante para quem a queira adotar para o exercício da
mercancia de ilusões.
A pretensa ancestralidade firma-se como necessidade
histórica aos movimentos que se pretende impor à credulidade
das massas, aos buscadores de mistérios e àqueles que, inseguros
em sua essencialidade, procuram refúgio e apoio no mundo das
irrealidades.
Impunha-se, pois, à organização, mostrar-se o
mais remota possível, o que fez nela incluíssem uma série de
procedimentos, comemorações e mesmo rituais originários do
judaísmo, dos gnósticos, pagãos e egípcios.
Destes últimos, por exemplo, lançaram mão, dentre
muitas coisas, da comemoração do equinócio vernal (entrada
do sol em Áries); ritual ainda hoje praticado dando ensejo
à propaganda de que a Ordem já existia desde o antigo Egito,
porque lá também celebravam as festas do solstício e usavam os
mesmos rituais e coisas que estes passaram a usar atualmente.
Em suma, apropriaram-se de seus rituais; passaram a usar seus
símbolos, objetos, alfaias, indumentária e enfeites e, por isso,
transformaram essa posse na alegação de que o movimento vem
desde aqueles remotos tempos. Afinal, transformaram a causa
em efeito.
Em suma, codificaram, através dos tempos, os

– 189 –
experimentos, práticas, descobertas e os ensinamentos dos
místicos, alquimistas, teósofos, hermetistas, ocultistas, bruxos
e espiritualistas e, pelo fato de se terem apossado desses
experimentos, crendices e ensinos, passaram a chamá-los de
seus antecessores, simplesmente porque aqueles, anteriormente,
faziam, acreditavam e praticavam tudo aquilo de que se
apossaram os rosacruzes.
Tal artifício, é óbvio, leva à confusão aqueles que não se
dão ao trabalho de pesquisar a origem das coisas a que aderem,
ou não têm meios para fazê-lo.
A grande parte dos seguidores assemelha-se àqueles
que, vendo um cortejo religioso, não procuraram saber-lhe a
origem, nem de onde vem, nem para onde vai, encantam-se com
os paramentos coloridos, com a música, com os santos, com o
canto e tudo mais, e terminam por entrar no acompanhamento
da procissão, lenta e infindável...
Julgar-se com o direito de atribuir, indistintamente,
a grandes ou pequenos vultos do passado a qualidade de
rosacruzes, simplesmente por se terem dedicado, por “Hobby”
ou não, às investigações, estudos e práticas alquímicas (químicas
de então), em busca da pedra filosofal e do elixir da longa vida;
procurando ouro ou mesmo a transformação do elemento
humano, é o mesmo que pretender-se hoje, também, classificar
como rosacruz ou bruxos, todos os químicos, bioquímicos,
sacerdotes, psicólogos, educadores e cientistas que, na realidade,
cientificamente, continuam os trabalhos iniciados pelos
alquimistas de antanho.
Não é de se esquecer a indumentária com que essas
instituições se apresentam em suas celebrações ritualísticas,
dentro da maior excentricidade possível - saias amarelas,
azuis, douradas, lantejoulas, missangas, bordados prateados
ou dourados -, apetrechos pendurados por todos os lados,
encenações e tudo o mais; inegavelmente, emanados das

– 190 –
primitivas celebrações tribais, bárbaras e pagãs, onde seus
chefes, sacerdotes, pajés e dirigentes, adornavam-se, o mais
vistosamente possível para imprimir mistério, medo, pavor e
respeito; procurando, dessa forma, imporem-se como enviados
de divindades ou a seu serviço.
Com tais artifícios, fazem com que seus súditos,
seguidores ou adeptos se curvem, ajoelhem-se, obedeçam e se
arrastem para lhes rederem todas vênias, e lhes beijarem até
os pés; e, idiotices tais como a de passarem horas dirigindo o
pensamento para os chamados lugares “sagrados e gnósticos”,
chegando até ao absurdo de beberem a água usada no banho de
alguns desses palhaços, como o faziam antigamente:

“Drink His Charnámrit” - water of His ablution.


(Shabd - I Jugat Prakash - Agra - India)

Desnecessário é acrescentar-se que, imersos no


fanatismo, os discípulos são capazes não só de tomar água do
banho dos seus mestres e Grãos Mestres, como fazer ainda coisas
piores.
Não vamos, é claro, por motivos óbvios, alongarmo-nos
neste assunto, mas, na tentativa de oferecer subsídios à lembrança
de quem sabe e consegue pensar um pouco, simplesmente
mostrar aqui um exemplo dessas exibições ritualísticas, para
que, com sua experiência, cada um faça as comparações que lhe
aprouver, relembrando os ambientes onde tem visto idênticas
palhaçadas místicas:

– 191 –
Todas essas ritualísticas poderiam ter evoluído o
suficiente para se despirem desse aglomerado de fantasias e
enfeites tribais, não fossem as necessidades íntimas e o sagrado
que os manifestantes e seus seguidores veem nessas exibições, e
nos objetos, adornos e nos símbolos que criaram.
A maior parte dos indivíduos, muitas vezes, sem o
saber, encontram nessas pândegas um centro psicoterápico, onde
conseguem dissolver as tensões acumuladas na luta pela vida ou
dela esquecer os problemas; daí, até certo ponto, sua utilidade;
mas, despojadas de seus andrajos, o que restaria?
— O vazio!...
O ser humano, comum, encontra-se acossado pela
insegurança e pelo medo do desconhecido, sendo levado a
substituí-los por fórmulas, ideias, símbolos e dogmas que se
lhe fixaram como verdadeiros e definitivos. Então, tocar-lhe no
sagrado, naquilo que se lhe apresenta como razão de toda sua
existência - a tábua de salvação - será de nossa parte a maior de
todas as agressões.

– 192 –
REALIZAÇÃO OU
ESQUIZOFRENIA?

N
ão se negue que todo o mito seja fruto da imaginação ou
de suas necessidades, uma farsa, uma fábula quimera,
utopia, uma ilusão. Consequentemente, todas as
organizações que se alicercem em um mito, firmam-se em uma
irrealidade, em uma ilusão. Inegavelmente sabemos que o tal de
“Dr. Christian Rosenkreutz” é um mito criado no século XVII
(1600 a 1616); logisticamente, toda a organização que o tome por
base está fundamentada em uma ilusão, numa farsa.
O que não compreendemos é, como certas pessoas,
aparentemente inteligentes, não parem para refletir um pouco, e
perguntem-se a si mesmas:

Afinal! que provas tenho eu para me meter a salvar os


demais? Salvá-los de que?

O que tenho a dar de mim mesmo, como fruto de


realização espiritual, para insurgir-me como dirigente dos
demais, falando sobre coisas das quais não posso dar testemunho?
Porque nunca vi, nem posso dar provas.
O que entendo em mim como realização espiritual,
não serão condicionamentos, programações ou esquizofrenia?
Não será falta de vergonha eu estar pregando paraísos “habitats”

– 193 –
e outras maravilhas sem nunca tê-los visto, agindo como um
verdadeiro papagaio, simplesmente repetindo aquilo que me
meteram na cabeça?
Pergunte-se ainda:

Qual destes serei nesta figura, em que um cego, portando


um lampião, em pleno dia ensolarado, procura guiar
uma multidão de outros cegos?

MALDITO AQUELE QUE DESVIA O CEGO EM SEU


CAMINHO (DT. 27:18)

– 194 –
TÉCNICAS PARA IMPOR-SE A
CREDULIDADE

O principal é dizer e fazer crer aos de boa-fé, que a ordem


vem de tempos imemoráveis, que os maiores homens do mundo
foram da confraria, e nessa onda de ancestralidade também
embarca Spencer Lewis, Imperator Rosacruz (sempre os nomes
impressionantes como de Imperator, Grão-Mestre, Hierofante,
Gerofante, com roupas coloridas, enfeitadas etc., como já vimos
atrás) que, em 1915, solta a dele, dizendo que o movimento teve
por fundador Tutemés III, etc., etc., [130] [131] é claro, sem mostrar
as provas; somente ele descobriu isso; até então nem o fundador
tivera essa imaginação.
Esse saque, entretanto, encontra-se desmentido em
“The Rosicrucian Fraternity in América” - Vol. I e II, originário do
tradicional movimento rosacruz fundado nos EUA em 1773 que
com sua lealdade, autenticidade mais próxima do movimento
original, e a autoridade que isso impõe, não só afirma ter sido
Johan Valentin Andreae o criador da rosacruz, como também
se estende, em suas 1.422 páginas, falando sobre os movimentos
espúrios que depois advieram.
Mesmo assim, do modo que as coisas seguem, não
estamos longe de ouvi-los dizer, em breve, se já o não estão fazendo
em caráter sigiloso, que os primeiros rosacruzes terrestres foram
“Os Deuses Astronautas”, quando aqui aportaram semeando a

[130] Fr. Wittemans: Histoire des Rose-Croix (Paris, Adyar, 1925).


[131] The Channel (Los Angeles) 1915 e 1916 ns. 8 e 4.

– 195 –
terra. Pelo menos, se ainda não estão dizendo isso, deixo aqui
essa sugestão, com a qual podem remontar a “Coisa” para outros
planos e até dizer que a “Sublime Loja Mãe Rosacruz”, de onde
vêm as irradiações gnósticas, que aqui chegam para alimentá-
los, está sediada além dos confins de Cisne e Serpentarius, ou
então lá na galáxia “Absurdus”.
A verdade é que, por todos os meios ao seu alcance,
agindo subliminarmente, não poupam esforços para, solerte,
fraudulenta e sub-repticiamente insinuarem-se misteriosos e
transcendentes.
Conseguem-no principalmente onde a cultura é baixa;
no meio dos confiantes e de quem, por várias razões, não tem
possibilidade de acesso à literatura originária, cuja tradução
procuram amoldar, sempre, aos seus interesses existenciais.
Isso prova-o, mais uma vez, o artifício adotado na
tradução do livro “The Mysticism of Masonry” de R. Swinburne
Clymer, M.D. – Quakertonwn, Pa. U.S.A. 1924 –, quando ao
vertê-lo para o português, sob o título “Antiga Maçonaria Mística
Oriental” – Ed. Pensamento, 1976, o tradutor procurou, numa
forma subliminal e ardilosa, às páginas 81, 82 e 83, impingir na
mente dos leitores incautos e desprevenidos, a mensagem de que
os ESSÊNIOS eram os antigos rosacruzes, tentando, com esse
artifício, jogar, também, a “coisa” (rosacruz) para antes de Cristo.
Tal asseveração não encontra correspondência na obra
original, como se poderá constatar às suas páginas 103, 104 e
106, por estar frontalmente contrária às afirmações do autor
– Clymer, segundo o qual a rosacruz foi, mesmo, “coisa” de
Andreae. Como essas, são as demais imputações atribuídas a
personagens do passado, dizendo-os membros da rosacruz.
Não é demais lembramos que o rosacruz denominado
“Syntheticus”, maçom e também espírita praticante, embevecido
com a lenda impingida por Saint Genmain, que insinuava,
solertemente, vir existindo desde existências seculares, resolveu,

– 196 –
aproveitando o tema reencarnação, em publicações mirabolantes
numa revista Neerlandesa, implantar a lenda de que o mito,
Christian Rosenkreutz, vinha se reencarnando sucessivamente;
ideia essa que foi bem aceita e seguida por outros, no afã de
publicidade, propaganda e faturamento, redundando em
pregações de que após sua morte reencarnou como - Saint
Germain. [132]
Pena é que Saint Germain não descobrira isso quando
vivia, pois, se isso lhe tivesse passado pela “cuca”, teria, ainda
mais, explorado a credulidade de sua época.
Histórias e manias de reencarnações, embora velhas,
ainda hoje continuam exploradas, e cridas por mentes não muito
equilibradas, eivadas de fanatismo ou carentes de autocrítica,
sendo comum, como já se disse, encontrarem-se, por aí a fora,
reencarnações de Napoleão, Marias Antonietas, Joanas D’arc,
Jonas Darco, e até de Joanas Sem Arco e muita outra gente boa
do remoto passado. Por isso não é de se estranhar que o Frater
Sintheticus, interessado em propagar sua confraria, se saísse
com a das reencarnações daquilo que nunca existiu – Christian
Rosenkreutz.
Não discutimos aqui a realidade ou não das teorias
reencarnacionistas, mas sim as “manias”. Dentre elas contam que
na Rússia, por diversas vezes, Cristo apareceu e reencarnou-se
entre o povo, sendo que, na província de Wladimir, escolheu,
para reencarnar-se, o corpo de um mujik repleto de pecados,
denominado Iwan Timofejewitsh Suslow, o qual selecionou 12
apóstolos para peregrinações, sendo finalmente crucificado ao
pé do Kremlim. Ressuscitou ao terceiro dia e apareceu a seus
apóstolos. Decênios mais tarde, dizem, que o Salvador tornou
a reencarnar-se, já agora em um soldado chamado Prokopi
Lupkin, um dos revoltosos de Pedro – O grande. Este, depois de
sua morte, apossou-se do corpo de um demente errante chamado

[132] Licht en Wuaarheid, 32 année. n.° 845.

– 197 –
Andrej Petrow a cujos pés se jogavam os camponeses gritando –
“Cristo Andrjuschka, abençoa-nos e salva nossas almas”.
O interessante é que ninguém nunca se disse
reencarnação de cretinos ou imbecis do passado, só de figurões,
reis, rainhas, filósofos e medalhões.
Se fossemos de contar histórias desse jaez ou de “descer”
aos tais planos akásicos para fazer especulações, era de dizermos
que, após ali levados por mentores espirituais, montados em
forças gnósticas, que tomaram a forma de disco voador, numa
concessão toda especial, foi-nos dado conhecer que o Dr.
Christian Rosenkreutz, que, embora nunca tivesse existido, fora
anteriormente “Brutus” e que, no Brasil, reencarnou-se, pela
última vez, na figura de Antônio Virgulino – Vulgo Lampião –
vindo a reinar como grão-mestre dos cangaceiros; sendo o nome
“Lampião”, símbolo oculto da luz que vinha trazer àquele povo,
mas que, atualmente, estava incumbido da recepção dos adeptos
do outro lado do cano que liga Shambala ao reino terrestre,
recebendo os elementos de sua falange. Histórias são histórias,
podemos contá-las como entendermos.
Se a alguém cabe dizer se o filho é verdadeiro ou não,
repudiá-lo e dizê-lo espúrio, é àquele que o fabricou. Portanto, se
Andreae, pai da criança – rosacruz – qualificou-a de uma farsa,
uma burla e uma mistificação sua, destinada a atrair os sábios da
época, quem mais lhe pode dar paternidade diferente?
Se não tivesse sido ele o autor da burla, não lhe
teria assumido a paternidade e, além disso, aqueles que o
acompanhavam e que não eram poucos, como vimos linhas
atrás, tê-lo-iam desmentido!

– 198 –
ANDREAE TENTA ORGANIZAR
NOVO MOVIMENTO PURAMENTE
CRISTÃO

N
ão resta a menor dúvida de que anteriormente a Andreae
nada existira com a denominação ou característica
rosacruz e que fora ele, auxiliado por amigos, quem dera
início a essa tentativa, através da “Fama”, “Confessio” e demais
escritos, tentando a criação de um novo órgão protestante,
como hoje o são o Presbiteriano, Sabatista, Batista, Adventista,
Apóstolos dos Últimos Dias e demais ramificações, [133] no que
foi auxiliado, segundo alguns, por Julianos de Campis, Julius
Sperber e outros. Burlada sua tentativa, mas, amadurecido na
experiência, a partir de 1617, com amigos, tenta o lançamento
de três novas Uniões Cristãs, opondo-se à malfadada rosacruz
e preparando a humanidade para a vinda de Cristo (sempre a
mesma tecla), uma vez que não podia mais “insuflar o amor ao
Cristianismo por meio do ‘Ludibrium’, como o fizera através da
rosacruz”. Assim, criou as “Uniões Cristãs” completamente sem
as fantasias e misturas de antes; só admitindo como ensinamento,
já agora, apenas um Cristianismo puro, sem misturas de
ocultismo, misticismo, astralidades, irradiações misteriosas,
vibrações, hermetismo e demais fantasias ritualísticas, alfaias e
pertences que usara antes e, como até hoje usam alguns de seus
remanescentes.
[133] Christoph Stephan Karauer: Disputatio historica solennis de Rose-
Crucianis (Witemberg, 1715).

– 199 –
Nesse novo labor foi estimulado por Wilhelm Wense,
auxiliado pelos velhos amigos J. Arndt, J. Gerhardt de Iena,
Christoph Schleupner de Hof, Christophe Besold, George
Acatius Enenchel Baron de Hohenack, Michael Teler, Baltas
Baron de Seckendorff de Vienne, Chistophe Leibnitz e outros. Ao
apresentar as “Uniões Cristãs” ao príncipe Augusto, seu protetor,
respondendo-lhe a perguntas, Andreae esclarece-lhe: “que Vossa
Graça examine a ideia da Sociedade Cristã, suprimindo-a do
número das vaidades rosacruzes e dos fanáticos, o que me dá
motivos para regozijar-me com humilde gratidão”. [134] [135] [136]
Andreae confessa a Comenius que outro movimento,
agora expurgado das tolices do passado, mantido apenas o
Cristianismo em sua essência, podia contar com numeroso apoio
e que - “eles foram alguns homens de grande valor, que, depois da
palhaçada da vã Fama, se haviam reunido, e que muitos outros
esperavam reunir-se a eles”. Wense devia ser o intermediário e
esperavam tornar o príncipe Agusto patrocinador e o único chefe
dessa Sociedade, pois desejavam um trabalho, talvez, maior que
a construção do templo outrora almejado por David; assim o
confessa a Comenius.
Em 1628 Andreae não só lançou novo manifesto,
concitando à “Verdadeira União Cristã”, como também reedita
os manifestos anteriores, já agora em outro estilo, mas suas
palavras ressoaram em vão, seus esforços caíram em terreno
sáfaro; o movimento anterior deturpou-se ao cair em mãos de
oportunistas que misturaram cristianismo com hermetismo,
magia, ocultismo, ritualísticas egípcias e outras fantasias, como
até hoje perduram nos movimentos remanescentes.
Abalado, finalmente, com a morte de Gustave Adolphe,

[134] J. A. Komensky (Comenius): Korrespondence - Tomo V - bag. 75.


[135] W. Begemann: Johann Val. Andreae und die Rosenkreuzer (in
Monatsheften der Comenius gesellschaft, Band VIII, n° 5 et 6.)
[136] J. V. Andreae - Turris Babel.

– 200 –
seu protetor, ele, em carta ao seu admirador e amigo Comenius,
relata o novo fracasso, “dizendo encontrar-se fraco e já agora sem
forças para limpar as estrebarias”. [137] Era assim que se referia
ao fato de o movimento cristão, que criara, ter-se infestado
de alquimistas, magos, mistificadores, hermetistas e demais
oportunistas.
Faleceu em 24-6-1654, após uma vida de lutas,
obstáculos, injustiças, calúnias e perseguições, opressões e riscos
deploráveis. [138]
Ainda nos dias em que vivemos, muitos procuram
explorar-lhe a memória, esquecendo-se, por ignorância ou má
fé, que ele organizou a rosacruz e a repudiou da mesma forma
como Stº Agostinho o maniqueísmo que professara. Na verdade,
criou-se no Luteranismo e morreu protestante luterano.
Em 1636, Henriche Hein, antigo professor de Andreae,
a quem este dedicara Turis Babel, fez novos prosélitos ao seu
movimento cristão, para ele atraindo, também, Pohmer de
Nuremberg. [139] O trabalho protestante de Andreae prosseguia,
difundindo-se entre príncipes alemães, homens de estados
estrangeiros, suecos, dinamarqueses, pastores e patrícios, enfim,
era o labor da reforma do mundo e a formação bíblica da
“Sociedade Cristã” – sonho de Andreae – Já então seu trabalho
não se assenta em um mito; não se alicerça em anonimato nem
no falso, como o fizera ao lançar a rosacruz mas, na realização
efetiva da ‘’Cidade Cristã”, agrupando todos num ideal social
e religioso. Nesse trabalho contou, incansavelmente, com

[137] J. A. Komesky (Comenius): Opera Didactica Omnia (Amsterdam -


1657 - página 284).
[138] J. V. Andreae Selbstbiographie - Winterthur 1799 - pg. 3
[139] J. V. Andreae: Lettre de Nuremberg, 1636 em Korrespondence
Tomo V, pags. 8 e 38.

– 201 –
trabalhadores como Wense, Heins Pohmer e muitos outros [140]
[141]
(não se lhe pode negar o protótipo de ecumenista, porém,
sempre malfadado).
Como se sabe, de Andreae, para cá multiplicaram-
se os chamados grupos rosacrucianos e afins; todos, porém,
independentes entre si, sem codificação ou vínculos comuns; não
havia dependência, subordinação ou hierarquia entre eles; cada
qual agia à sua maneira e como entendesse; como aliás o fazem
ainda em nossos dias. Tinham, todavia, uma estrutura comum,
uma espinha dorsal, isto é, o fundo cristão protestante de seu
idealizador - Andreae, porém, no mais das vezes, misturado, como
ainda acontece atualmente, com as pretensas misteriosidades
egípcias, orientais, ocultistas, teosofistas, alquimismo e tudo
mais que se impusesse necessário a impressionar os possíveis
candidatos.
Falar-se detalhadamente sobre cada grupo rosacruz
seria perder tempo, como o de se falar sobre os milhares de
antros inferiores de umbanda por nós conhecidos. Entretanto,
dentre eles é de ressaltar-se o fundado por Péladam, porque
visava restabelecer a verdade cristã, tão enxovalhada pelas
mistificações dos outros movimentos. Em princípio, poder-se-
ia chamá-lo de “O reformador da farsa Andreniana” quando,
em 1890, lá pela primavera, ainda como membro do conselho
supremo da Ordem de Stanislau de Guaita, dela se separou e
fundou a “Ordem do Templo do Graal” ou “Rosacruz Católica”;
dizendo com isso, ter fundado o que, na realidade, poder-se-
ia denominar verdadeiramente de Rosacruz, porque, sendo
católica, possuía a força prístina do Salvador, podendo de fato

[140] Johann Kvaçala: Johann V. Andreae Anteil an geheimen


Gesellschaften, in Acta et Commentationes imp. universitatis jurevensius, 7
année, Jurjew 1899, cahier n.° 2.
[141] J. V. Andreae - Korrespondence - Lettre de Nuremberg - Tomo V,
pags. 65-66.

– 202 –
falar sobre Cristo. [142] Em 1893, proclama ele o ideal e o programa
da fraternidade cristã, pregando a caridade, o amor ao próximo,
a tolerância e toda aquela cantilena conhecida; criou graus como
os de Escudeiro da rosacruz, cavaleiro e comendador, com seus
uniformes, túnicas e demais paramentos. [143]
Sempre se dizem embaixadores divinos, portadores de
recadinhos de Deus, às vezes, até de ameaças do pai-barbudo, a
fim de que se tomem medidas tais e quais.
Péladam não podia furtar-se a essas manias que
interpenetram o tempo, tanto que, para justificar a nova ordem,
em sua constituição, diz que o fizera porque assim o determinara
a misericórdia divina:

“Nós, pela misericórdia Divina e consentimento de


nossos irmãos do Templo do Gral, em comunhão
católica romana de José de Arimatéia, Hugo de Payens
e Dante, etc.”

Envia então circulares sob o nome de Sâr Merodach;


excomunga aqueles que lhe desagradam, abençoa, batiza; inicia
e eleva a graus, naturalmente, aqueles que o agradam. [144]

NOTA: É de se notar que a misericórdia divina teve que


sofrer o consentimento dos irmãos do Graal, Arimatéia

[142] Joséphin Péladon: Amphithéâtre des Sciences mortes: V. L’Occulte


catholique (Paris 1899).
[143] Costitution de la Rose-Croix, le Temple et le Graal - pag. 36 -
Péladan - Paris 1893.
[144] J. Amos Comensky (Comenios); Korrespondence-Tome V-75, carta
de 27 de junho de 1642.

– 203 –
e outros!...

Como é fácil observar, todos os envolvidos nas


composições rosacrucianas foram protestantes como Andreae.
Este, ao retroagir seu mito, Christian Rosenkreutz, como se
nascido fora em 1378, esqueceu-se de que pesquisadores e
analistas, sinceros e criteriosos, poderiam examinar os escritos
dos grandes homens daqueles tempos e dos posteriores próximos,
a fim de sondar se estes fizeram, sob alguma forma, alusão a tal
existência, principalmente os espiritualistas, teósofos e piedosos
de então, e sobremaneira os teólogos, que haveriam de refutá-lo
e até condená-lo como herético, se realmente tivesse existido, já
que, em tempos tais, era a Europa o centro do mundo, e nada
teria ficado oculto, é claro.
Pois bem, essa análise constitui, além da confissão
de Andreae como o autor da farsa, mais um elemento entre as
provas irrefutáveis de que o tal de Christian Rosenkreutz jamais
existiu, a não ser na imaginação de seu criador e de seus amigos.
Confirma-o também Fulcanelli quando, em relação á
rosacruz, assim se expressa com sua autoridade:

“... a confraria mística (rosacruz) é uma fábula e nada


mais” (Les Demeures Philosophales - Fulcanelli - T.I.,
pag. 253 - Paris, 1965).

Se compulsarmos o testemunho daqueles que existiram


entre 1378, data escolhida por Andreae para dizer nela ter nascido
o seu mito – Christian Rosenkreutz – e 1610, quando começou
com seus manifestos manuscritamente, verificaremos que,
dentre eles, nenhum fez menção nem a Christian Rosenkreutz,

– 204 –
nem à existência de qualquer organização com a denominação
de rosacruz ou coisa parecida.
Dentre estes místicos, espiritualistas, teólogos, religiosos
e afins podemos lembrar-vos:

Thomas de Kempis.........................................1379
Conde Bernado de Treviso...........................1406
Henrich Kramer.............................................1430
Johann Muller.................................................1436
Raimundus Lullius.........................................1440
Johann Reuchkin............................................1455
Johannes Trithemius......................................1462
Conde Pico Della Mirandola........................1463
Giovanni Pico Della Mirandola...................1469
Thomas More..................................................1478
Heinrich Cornélius Agripa...........................1486
Kaspar Schwenkfeld.......................................1490
Juan Luiz Vives...............................................1492
Paracelso.........................................................1493
Guillaume Postel............................................1510
Michel de Nostradamus................................1513
Johann Wierus................................................1515
Moisés Ben Jacob...........................................1522
John Dee..........................................................1527
Jean Bodin.......................................................1530
Valentin Weigel..............................................1533
Reginald Scot..................................................1538
Simão Studion................................................1543
Giordano Bruno.............................................1548
Charles Boville...............................................1553
Edward Kelley.................................................1555
Heinrique Khunrat........................................1555

– 205 –
John Arndt......................................................1555
Tommaso Campanella...................................1568
Jacob Boheme.................................................1575
Jean Batiste Van Helmont.............................1577
e muitos outros.

Escusado é dizer-se que, também, anteriormente a


1378, ninguém falou sobre tal assunto e que, após 1610, isto
é, depois do lançamento do Mito de Andreae, é que diversos
autores passaram a fazer-lhe menção.
Quem quiser alongar a pesquisa a tratadistas, mestres,
místicos, teósofos, teólogos, cabalistas, alquimistas, magos e
espiritualistas renomados, anteriores à criação do Mito Christian
Rosenkreutz, poderá verificar a vida e obra de:

Johannes Tauler..............................................1300
Jan Van Ruysbroeck.......................................1293
Johannes Eckhart ..........................................1260
Raimundo Lúlio.............................................1235
Tomás de Aquino...........................................1225
Roger Bacon...................................................1214
Albertus Magnus............................................1206
Joachim de Flora............................................1132
Stº Agostinho.................................................. 354

Sabemos, por motivos óbvios, que se tal houvesse


existido anteriormente a 1600, disso nos dariam conta, não
apenas os registros bibliográficos, mas também, e acima de tudo,
a literatura religiosa contrária, que, como se sabe, procuraria
combater, principalmente naquela época, toda a espuriedade e

– 206 –
credos crapulosos.
Ultimando esta parte, não podemos omitir um breve
comento sobre Arndt, Besol e Comenius; os primeiros por terem
exercido marcante influência na formação da personalidade de
Andreae, e o último por ter sido seu particular amigo e confidente.
Acrescentamos, ainda, breves considerações acerca de
Leibnitz, Descartes e Francis Bacon, pelo fato de terem servido,
como muitos outros, em revel atitude contra suas biografias, como
chamarisco para instituições que se intitulam espiritualistas.

– 207 –
JOHANNES ARNDT

É
considerado, por autores de renomada reputação, como a
figura mais importante do mundo teológico de seu século,
e mesmo como o pai espiritual, indiretamente, de todo
aquele grupo que criara e patrocinara a rosacruz, e de quem
foram, em sua maioria discípulos espiritualistas de então.
Andreae, por exemplo, foi um discípulo entusiasta de
Arndt que o impulsionou rumo à teologia, em cujos estudos, em
1612, encontrou a amizade de Wilhelm Wense, outro discípulo
entusiasmado, como ele, por Arndt.
Arndt era um místico, teólogo profundo do luteranismo,
portanto, protestante como Andreae, de quem era particular
amigo e confidente, a ponto de Andreae dedicar-lhe sua
“Christianopolis”.
Nasceu ele, Johannes Ardnt, em 1555, falecendo em
1621. Suas doutrinas e ensinamentos alcançaram ampla difusão,
especialmente entre os Pietistas, tendo escrito sobre os místicos
de sua época, entre estes, Boheme e Weigel. Entre suas principais
obras encontramos “Zweytes Silentium Dei” (1599) e “Wahres
Christentum” (1606) que serviram de base a estudos devocionais,
tanto de protestantes quanto de católicos.
Parece-nos conveniente relembrar que Wense atirou-se
desordenadamente e sem rumo ao estudo da teologia, seguindo a
trilha de Andreae, desejoso de chegar ao chamado “Caminho da
Imitação de Cristo”, em um fanatismo alimentado pela direção
de Hafenreffer; estava impaciente por ver o reino de Deus sobre a

– 208 –
Terra, tendo, inclusive, sugerido o nome de “Cidade do Sol” para
a chamada “União Cristã” de Andreae. [145]
Ressalta aos olhos que os envolvidos nessa movimentação
rosacruciana eram protestantes, desejosos de criar algo novo e
diferente, porém fundamentado no cristianismo, amoldando-o
às suas conveniências: as misturas heréticas aparecem depois.

[145] Johann Kavaçala - Andreae - Comentários - 1899, Caderno 2,


páginas 1-50.

– 209 –
CHRISTOPH BESOLD

C
hristoph Besold, o melhor amigo e companheiro em todos
os temerários empreendimentos espirituais de Andreae.
Figura ele entre os fiéis fundadores da “União Cristã’’. [146]
Besold, nascido em Tubingen, em 1577, era 9 anos mais
velho que Andreae, pouco verboso, mas agradável, profundo
conhecedor de história, jurisconsulto e professor de direito
na faculdade; detestava todo orgulho; tinha uma prodigiosa
erudição, manejava nove línguas antigas e modernas, entre as
quais o hebreu e o árabe; versado em todos os conhecimentos
humanos e atividades do espírito; do oriente clássico, da
Babilônia, da Pérsia e da Índia. Deixou o testemunho de 90
escritos sobre vários assuntos; [147] era um helenista notável,
familiarizado com filósofos pitagóricos, platônicos, hermetitas,
tanto quanto, com os estoicos; e neoplatônicos; por isso, exercia
poderosa e profunda influência sobre Andreae, de quem era o
mais sincero e leal amigo em todos os domínios. Entendia ele
serem as tradições hebraica e egípcia a fonte primitiva da qual
os gregos tomaram seu conhecimento, e que a tradição judia
e a língua hebraica, eram os vestígios ou resquícios da riqueza
paradisíaca, e que, através do estudo da cabala, encontrar-se-ia
o oceano da sabedoria... Em 1630 converteu-se ao Catolicismo
em Heilbronn, [148] o que foi para Andreae motivo de grande

[146] R. Kienast - Johann V. Andreae - Palestra 152 - Leipzig 1926.


[147] Jen Bodin - Le Theatre de Ia Nature Universelle - Paris - 1596.
[148] Idem [146].

– 210 –
sofrimento e causa de dissensão e rotura entre os dois amigos,
o que nos mostra a irredutibilidade do espírito protestante de
Andreae.

– 211 –
LEIBNITZ

N
o tocante a Leibnitz, tudo emerge do fato de ter ele
participado de especulações alquimistas em Nuremberg
a procura da Pedra Filosofal, especulações, como se
sabe, tipicamente alquimistas, em uma sociedade filosófica que
nada tinha a ver com as continuidades rosacrucianas oriundas
de Andreae.
Para sermos concisos basta-nos transcrever o trecho de
uma de suas cartas a seu amigo COCHIANSKY em 26-03-1696,
onde, entre outras considerações sobre o rosacrucianismo, diz:

“Parece-me que os irmãos rosacruzes são uma farsa; o


que me confirmou Helmontius; trata-se, portanto, de
pura invenção de alguma pessoa engenhosa. [149]

Isso mostra, em síntese, que tinha sobre o assunto uma


posição definida, e, além de tudo, evidencia sua sagacidade, sua
grandeza e também o desprezo que devotava às vãs crendices.

[149] Johann Gottlieb Buhle: Uber den Ursprung und die vornehmsten
Schicksale ordem der Rosenkreutzer und Freymaurer (Gonttingen. 1804)

– 212 –
DESCARTES

O
que se sabe sobre Descartes em relação ao
rosacrucianismo é que, ao voltar à França, em 1623, viu-
se publicamente suspeito de se ter alistado à Confraria.
Baillet conta-nos, com detalhes, circunstâncias desse escândalo.
O certo, porém, é que Descartes ficou surpreso com essa notícia,
porquanto a “coisa” tinha pouca ou nenhuma relação com seu
caráter, dignidade, espírito, e a inclinação que sempre tivera ao
considerar os rosacruzes como impostores ou visionários. [150] [151]
Descartes não era um homem para se deixar dominar
ou levar pelo sectarismo, viesse de onde viesse. Como homem
aberto à pesquisa, tomou conhecimento do que se passava e,
sendo como era, não poderia decidir-se a condenar levianamente,
tanto que assim se manifestou:
“Se os rosacruzes forem impostores”, descreve ele no
seu estudo inacabado sobre o Bom Senso, “não é justo deixá-los
gozar de uma reputação injustamente conquistada às expensas
de uma boa-fé dos povos; se eles trouxeram para o mundo algo
de novo que valha a pena, seria desonesto querer desprezá-los”.
Isso nos mostra, claramente, que ele estava por fora
das jogadas rosacrucianas e não queria dar opinião nem a favor,
nem contra, por não haver, pessoalmente, comprovado nada
relativamente, nem tampouco perdido tempo com isso.

[150] Adrien Baillet - La vie de M. Descartes (Paris 1691).


[151] Coll. Geheime Wissenschaften - Tome I - Vier Hauptschriften der
alten Rosenkreuzer (Berlin 1913).

– 213 –
FRANCIS BACON

N
o tocante a Francis Bacon a pantomima nasceu do livro
de Wisgstone, que dando dois golpes a um só tempo,
isto é, como se diz popularmente: “matou dois coelhos
com uma só cajadada”, quando em sua obra procurou, ou melhor,
criou a imagem de que Francis Bacon era Shakespeare, e que
Shakespeare era Bacon, e que Bacon, fora Rosacruz. Com isso,
incluiu também o próprio autor de Hamlet na confraria. [152]
É de se estranhar que Francis Bacon, preocupado
sempre, com o conhecimento científico e metafísico, com
problemas de microcosmo e assuntos transcendentais, nunca
fizesse, entretanto, qualquer alusão aos visionários rosacruzes.
Robert Fludd, organizador da confraria na Inglaterra, com o
intuito de seguir as ideias de Francis Bacon, citou-o duas vezes,
a fim de atrair prosélitos, o que levou Wigstone a interpretar e
traduzir, à sua moda, que “Fludd foi poderosamente ajudado por
Bacon na propagação da rosacruz”, fazendo, dessa forma, como
se disse, Bacon rosacruz. [153]
Na verdade, Francis Bacon, como qualquer ser
inteligente, tomou conhecimento das pretensões de Andreae,
porém, não comungou com as ideias pregadas pelos rosacruzes
e seus seguidores, pois sabia estarem fundadas sobre o fantasma
– Christian Rosenkreutz –, tanto que seguiu ele caminho

[152] W. F. C. Wisgstone - Bacon, Shakespeare and the Rosicrucians


(Londres 1888).
[153] Idem [152].

– 214 –
completamente diferente. Era na realidade um investigador
sincero da verdade, a qual segundo seu entendimento, de
maçom de alto grau, devia brilhar para todos; enquanto que os
membros da rosacruz jamais apresentaram qualquer verdade
pública e radiante aos olhos da multidão, ou de quem quer que
fosse; cobriam-na com os véus da fantasia e pretensos mistérios,
porque, na realidade, nada tinham para apresentar que já não
fosse conhecido: “Tudo que sabiam era copiar de movimentos
anteriores ou coexistentes, e não poderia ser exposto”, pois, se
o fizessem, desmascarar-se-iam em público. Daí a técnica de
dizerem-se possuidores de segredos que nunca aparecem. [154]
Francis Bacon grande demais para o século em que
vivia, pensava diferentemente de seus contemporâneos e mesmo
dos de hoje; entendia, como todo ser realmente amadurecido,
que a verdade fosse qual fosse, viesse de onde viesse, emanasse
de onde emanasse, deveria ser exposta.
Daí portanto um temperamento e personalidade não
compatível com a técnica rosacruz. Desejava Bacon que através
da instrução se extinguisse a diferença que tanto afetava, na sua
época, o método exotérico e esotérico, a fim de que a ciência, em
todos seus aspectos, ficasse ao alcance de todas as compreensões,
extinguindo-se assim o charlatanismo, o fanatismo e outros
males da humanidade. Nesse objetivo escreveu:

De Augmentis Scientiarum e
Nova Atlantida.

Os rosacruzes de então é que procuraram absorver as


ideias e ensinamentos de Francis Bacon; tanto assim que, em
1645, foi posta a funcionar uma loja na Inglaterra, estabelecendo,

[154] Dicionário Enciclopédico de La Masoneria - Tomo I-III.

– 215 –
como princípio norteador de suas atividades e ensinamentos, as
ideias utópicas de Bacon contidas em seu livro - Nova Atlântida
- o que foi seguido, também, por outras lojas e movimentos
congêneres. Hoje, pelo fato de se terem valido dos ensinamentos
de Francis Bacon, pregam que este foi rosacruz!... Mais uma vez
transformaram a causa em efeito.

– 216 –
JOHANN AMOS COMENIUS
(KOMENSKY)

É
Komensky ou Comenius, o grande pedagogo e teólogo
checo, que, devido às infelicidades no curso de sua vida,
aos azares da guerra e à perseguição religiosa de então,
poderia ser considerado um mártir do livre pensamento na luta
do homem pela participação universal.
Ter-se-ia de escrever um só volume para que se
pudesse dizer, na realidade, quem foi Comenius. Nasceu ele em
uma família pertencente à Congregação dos Irmãos Moravos,
comunidade protestante fundada por Jean Huss. Ficou órfão de
pai e mãe aos 12 anos.
Poder-se-ia dizê-lo um ecumenista, pois, em sua obra
“Panergesia ou Despertar de Todos” (De Emendatione Rerum
Humanorum - 1666), dirige um apelo comovente em favor da
harmonia dos povos do Universo. “Todos os homens proclamam,
são animados pelo mesmo espírito. Todos são ‘Cidadãos do
mesmo mundo’. O que os impede de se unirem pelo conjunto
das mesmas leis pacíficas, numa ‘Res pública?’”
Leibnitz, no momento da morte de Comenius diz:
“Virá o tempo em que a multidão dos homens de bem te
honrará, e não só às tuas obras, mas às tuas esperanças e desejos”.
Ele não se interessou nem de longe pelas atividades
daqueles que, na época, agiam dizendo-se rosacrucianos.
Conheceu Andreae quando este, por ordem do Duque de
Wurtemberg, fazia uma turnê de predicações contra o Calvismo

– 217 –
em 1619. Mais tarde, aderindo ao movimento das “Uniões
Cristãs” de Andreae, sobre elas, inclusive opinou, principalmente
no tocante à chamada “A mão do Amor Cristão”.
O fato de se ter tornado amigo íntimo de Andreae,
que fora o inventor do rosacrucianismo, valeu-lhe o apodo de
também ter sido rosacruz.
Ele conhecia a origem do movimento rosacruciano,
devido ao relato que Andreae lhe fizera sobre o manifesto,
quando lhe disse:
“Nós fomos aqueles homens de grande valor que, há
cerca de oito anos, após a bobice da ‘Fama Fraternitatis’ nos
reunimos, etc., etc.” [155]
Relembre-se que em nenhuma parte ou escritos da
época encontram-se referências de atividades suas nesse setor;
pelo contrário, encontramo-las, quando ao reportar-se às
palavras de Andreae, assim se referiu:
“Os Impostores rosacruzes que querem ganhar dinheiro
etc.” [156]

Também em “O Labirinto do Mundo” ele faz referência


aos rosacruzes em tom depreciativo (O Labirinto - Cap. V - vide
Anexo XI).
Parece que isso basta para mostrar a personalidade do
homem que foi Comenius e a sua ausência das atividades em
questão.
Era um reformador cristão (o erro foi terem transformado
o sentido semântico da palavra cristão para “rosacruz e, dessa
forma, dizerem, hoje em dia, que fulano ou sicrano foi rosacruz,
por ter tido qualidades entendidas como cristãs), voltado com as
limitações impostas ao progresso humano. Procurando exprimir
toda aquela sociedade transtornada, escreveu “O LABIRINTO”,

[155] J. A. Komensky: Opera didactica Omnia (Amsterdam 1657).


[156] J. A. Komensky - Orbis pictus - Civis christianus, sive Peregrini
quondom errantis restitutiones (Strasbourg 1619).

– 218 –
drama que contém, em forma alegórica, uma crítica á sociedade
contemporânea.
Em apêndice, procuraremos dentro do possível sintetizar
uma tradução desse trabalho, onde poderão verificar que era
costume naqueles séculos, devido aos ensinamentos evangélicos,
apresentarem-se os relatos, exposições e doutrinas, sob a forma
de alegorias, símbolos, parábolas e formas herméticas.

– 219 –
MOVIMENTOS MAIS PRÓXIMOS
DO ORIGINAL

É
interessante passarmos uma pequena revista nos
movimentos mais credenciados e próximos do original.
Quanto mais próximo uma organização se
encontre da que lhe deu origem, ou de quem se deriva, ou de
onde recebeu os fundamentos, maior relação verídica tem com
os ensinamentos em que se alicerçou; mas estes se deturpam, à
medida que se distanciam no tempo, e isso nos tem mostrado a
miscigenação introduzida nas diversas rosacruzes a partir de sua
criação por Andreae que, como sabemos já em seu tempo, tais
misturas, levaram-no a abandonar sua obra.
Não obstante, daí em diante, muitas foram as instituições
rosacruzes que proliferaram. Dentre as mais conhecidas, e que
serviram de base às que ainda hoje por aí proliferaram, quer
usando o nome rosacruz, quer aplicando técnicas parecidas, são
de citar-se;

Golden Und Rosen Kreutzer, Orden Des.

Fundada em 1710 por Samuel Richter, clérigo alemão,


que também usava o nome simbólico de Sincerus Renatus. Tinha
por objetivo fundamental a alquimia, regendo-se por 52 leis
ditadas por Richter.

Rosicrucian Fraternity in America

– 220 –
Movimento originado na America em 1773, na
Filadélfia, e do qual participaram, entre outros, B. Franklin; J.
Clymer; T. Paine; Marquês de Lafayete, o escritor G. Lippard; A.
Lincoln; General E. A. Hitchcock; P. B. Randolph; R. Swinburne
Clymer e outros. Segue uma linha estritamente cristã e patriótica.

Hermetic Brotherhood of Luxor

Fundada em 1859 em Boston. Seguindo uma linha


ocultista. Consta que nela ingressaram H. P. Blavatsky e H. S.
Olcott.

Societas Rosicruciana in Anglia

Fundada em 1867 na Inglaterra, com a finalidade de


reconciliar os ensinamentos rosacruzes, a partir de Andreae,
com a filosofia maçônica. Era ainda conhecida pelo nome de
The Rosicrucian Society of England. Tinha um fundo maçônico,
tanto que só admitia como membro quem tivesse atingido a
plenitude maçônica (Grau de Mestre). Dela se derivou a Societas
Rosicruciana in Scotia, que veio a instituir várias filiais em
diversos países, como: Estados Unidos, França, Alemanha, índia
e na América do Sul.

Society of Rosicrucians Inc., ou Societas Rosicruciana in


America.

Fundada em 1879, por ex-elementos da Societas


Rosicruciana in Anglia, portanto uma continuidade daquela.

Hermetic Order of The Golden Dawn

Também fundada por elementos da Societas Rosicruciana

– 221 –
in Anglia, em 1887, ou seja, por S. L. MacGregor Mathers; W.
Woodman; W. Westcott e outros; tinha uma atividade mais
ligada à kabala, magia cerimonial e demais ciências medievais.

Ordre Kabbalistique de la Rose-Croix

Fundada em 1889, por Marie Victor Stanislas de Guaita;


seguia também a linha ocultista, cerimonial e misticismo.

Ordre de la Rose-Croix

Criada por Josephin Peladan em 1891, em consequência


de seu desligamento e separação da Ordre Kabbalistique de
la Rose-Croix. Procurou fundar uma rosacruz católica, onde
adicionou também o Santo Graal.

Não nos vamos alongar sobre os movimentos que


surgiram posteriormente a Peladan, a que poderíamos
denominar de movimentos rosacruzes modernos, porque, como
tal procuraram se organizar, apoiando-se numa síntese dos
ensinamentos de organizações anteriores, rosacruzes ou não,
com inovações ditadas pelos interesses dos seus criadores, e
pelas contingências de cada época; tanto que, cotejando-os entre
si, verificamos que a única coisa em comum é realmente Cristo,
que sempre entra em todas as organizações como “O Cristo!...”
Sobre esses movimentos modernos, nascidos depois de
Peladan, inclusive os espúrios, informações detalhadas podem
ser colhidas na obra “The Rosicrucian Fraternity in America”
que, entre outras, oferece um documentário inédito, completo
e aconselhável a todos aqueles que, realmente, queiram saber de
onde vem essa PROCISSÃO, sem recorrer a outra literatura que
não a inglesa, e saber, também, afinal, se aqueles sentados em
seus andores são na verdade santos, palhaços, ou gozadores do

– 222 –
acompanhamento em plena eubioses (sombra e água fresca).

– 223 –
MISTÉRIOS E MILAGRES

M
istérios não existem, ignorância sim; e ela tem sido a
mola mestra impulsionadora de muitos às sociedades
que se arrogam detentoras de mistérios que jamais
apareceram, por serem simples encenações e manobras
destinadas a manter unido o seu grupo social.
A própria palavra mistério, segundo Demetrius
Phalerus, era uma expressão metafórica e sinônima de ideias
de pavor que provocam a escuridão e o silêncio, às pessoas
destituídas de conhecimento.
Em todos os tempos denominavam-se de mistérios as
convenções, e demais qualidades, alegorias e valores imaginários,
atribuídos a símbolos, rituais e pertences de certas sociedades
que, por serem desconhecidos de quem a elas não pertenciam,
passaram a denominar-se: “mistérios”.
Desde Isis, estabeleceram-se os “mistérios”, com o
objetivo de representar uma série de acontecimentos históricos
do Egito; fazendo-o por meio de imagens, símbolos, alegorias
e cerimônias religiosas; complexo esse que funcionava como
uma escola de moral, onde, por tais meios, podiam os homens
recordar o estado anterior de sua civilização; obtendo, dessa
forma, exemplos, aprendizagem, consolo e proteção; porém,
com o decorrer do tempo, devido à mistificação semântica,
passaram a insinuar que tais mistérios eram inacessíveis à
inteligência comum como se viessem ou estivessem controlados
por forças ou seres ocultos, procedentes de mundos estranhos ou

– 224 –
desconhecidos.
Para elucidar esse aspecto, tomemos por base a
“Hermetic Order of The Golden Daw” que, devido às suas
origens e montagem, em seu tempo, foi a mais séria dessas
organizações, tanto assim que, desse movimento se originaram
todas as rosacruzes que depois surgiram (vejam “The Rosicrucian
Fraternity in America” - Clymer).
Onde os mistérios?
Vejamos: Aleister Crowley aos 20 anos, lá por 1898, veio
a saber da existência de uma ordem misteriosa, possuidora dos
mais indevassáveis segredos e mistérios. Sequioso de encontrar
tudo isso, custasse o que custasse, não teve dificuldades em
ingressar nessa Ordem - era a Ordem da Aurora Dourada (Golden
Dawn).
Devido à sua fértil, privilegiada e rara inteligência
não teve dificuldades em galgar a plenitude da Ordem, ou
seja, o terceiro grau; porém os dirigentes, conhecendo-lhe o
temperamento, a inteligência, ousadia, intrepidez e sinceridade
na busca, não lhe permitiram rápido acesso; pois temiam-lhe
a reação, quando descobrisse que, na verdade, ali não havia
nenhum segredo nem mistério; votaram então um regulamento
todo especial e às pressas, onde lhe proibia o acesso aos graus
superiores, antes que se passassem vários meses.
O certo, porém, é que Crowley venceu todos esses
obstáculos, chegando até a disputar a direção da Ordem com seu
chefe MacGregor Mathers e, em resumo: quando viram que não
poderiam continuar com a encenação, resolveram abrir o bico e
disseram-lhe que:
“Embora pudessem, caso desejassem, evocar os espíritos
dos mundos superiores, voar pelos ares em cabos de vassouras,
ou mandar o corpo astral pelo mundo afora; não o faziam nem
ensinavam, porque a dignidade da Ordem não o permitia!...
Com isso nada mais fizeram, senão confirmar o que já

– 225 –
se sabia: Mistérios não existem; ignorância sim.
Ante tamanha decepção e sua positividade, Crowley
passou a chamar a Ordem e seus membros de “Uma Assembleia
de Idiotas”; acrescentando que ali nada mais fizeram que fazer-lhe
prestar uma série de juramentos, e mais juramentos, e também a
decorar o Evangelho Hebraico, exigindo-lhe segredo sobre isso!?
Com essa experiência estava encerrada uma série de
suas investigações; estava resolvido a abandonar a “Assembleia
de Idiotas”, quando então, aparece-lhe o jovem Allan Bennet,
dizendo-se possuidor de todos os conhecimentos para evocar,
conversar e fazer o que desejasse com o pessoal do Outro Mundo.
Organizaram um templo todo especial para essas
necromancias e demais estudos, onde entrava, como era de se
esperar: drogas, meimendro, datura, incenso e outras espécies
de aromas fortes, inebriantes e entorpecentes, capazes de fazer
qualquer um ver até Jesus Cristo e todos os seus ancestrais e
descendentes que não teve.
O certo é que, com a amizade de Allan Bennet, Crowley
iniciou-se no uso de drogas, não tardando em transformar-se em
um viciado, abrindo, assim, um caminho, já agora, capaz de fazer
ver, tanto deuses, quanto demônios e tudo que quisesse, sempre
e quando o desejasse!
Não é difícil concluir-se que os movimentos modernos,
rosacruzes e congêneres, foram fundados por egressos ou
da “Golden Dawn” ou da O.T.O. e da A.A., ou melhor, por
companheiros de Crowley, direta ou indiretamente. (Veja
informações em The Ros. Frat. in. América and Initiates by
Clymer).
Julgamos desnecessário arrolarem-se ocorrências
idênticas à de Crowley - decepções - mas não deixa de ser
interessante falarmos sobre a de um velho amigo, depois de
ter passado mais de 35 anos em um desses movimentos. Não
nos contou diretamente suas decepções, parece-nos, por temer

– 226 –
viéssemos a colocar o assunto em público; se bem, é claro, jamais
o faríamos se no-lo contasse sob reserva. Todavia, viemos a
sabê-lo através de dois outros amigos que, sobre o assunto, não
nos solicitaram silêncio; entretanto, entendemos: somente estes
últimos, José Zálio e João Batista de Menezes poderão declinar o
nome do protagonista deste acontecimento.
Vamos ao assunto:
O nosso amigo a quem daremos o nome de “Joséto”,
depois de ter permanecido por mais de 35 anos em um desses
movimentos, recebeu uma coluna gravada (proposta) dizendo-
lhe que, como já havia galgado todos os graus da Ordem e nada
mais lhe tinham a dar, adquirira o direito de escolher o local
onde desejasse reencarnar na próxima vida; que tal privilégio
era destinado a poucos, e os escolhidos deveriam aproveitar a
oportunidade e ir desde já se preparando para um regresso
melhor, o que deveria ser feito mediante rituais especiais no
“Santuário da Alma” etc., etc..
Ora, como o sonho da maioria dos mortais,
principalmente os espiritualistas é continuar de qualquer forma
lá no chamado outro lado, sabendo que foi o Senhor fulano de tal
do lado de cá; que fez esta e aquela safadeza, besteira ou caridades,
etc, etc.; é lógico, o nosso amigo se interessou imediatamente
pela oferta; fazendo-nos lembrar até aquela história acontecida,
não há muito tempo, com estelionatários vendendo cadeiras lá
no céu.
O nosso “Joséto” escreveu aos hierofantes aceitando a
oferta, mas para reencarnar-se aqui mesmo em Belo Horizonte,
no Bairro onde residia, e no mesmo local, pois, desejava
continuar a obra filantrópica que ali iniciara. Nesta decisão nota-
se sua sinceridade de propósitos e elevados sentimentos de que
sempre foi expoente entre nós.
Era isso mesmo que os seus chefões desejavam, e,
complementando o “Negócio” da futura “Reencarnação”,

– 227 –
recebeu nova instrução dizendo-lhe que tudo estava preparado e
assentado: Ele se reencarnaria no local escolhido, mas necessitava
fazer uma doação de bens à Ordem, para com isso quebrar certos
vínculos de natureza vibratória que poderiam trazer-lhe uma
reencarnação não muito de luxo.
Foi aí que o velhote acordou, mas para tal precisou
perder mais de 35 anos na busca.
Em ocasião bem recente, toquei-lhe no assunto dizendo:
É verdade que lhe fizeram uma proposta para reencarnar-se aqui?
Ele respondeu:
— Aqui para eles.
— E deu uma bruta banana.
Esta passagem faz-nos lembrar, ainda, aquela da oração
deixada pelo vigário para as mulheres terem um parto feliz;
só que, no caso, os dirigentes diriam quando o “Joséto” tivesse
morrido:

Que partiu, partiu,


Se reencarnou ninguém viu,
Se não reencarnou,
Vá para a “Ponte que partiu”...

No tocante a esta ocorrência, devemos deixar claro que


qualquer semelhança ou coincidência com nomes conhecidos é
mero acaso.
Enfim, mistérios e milagres nada mais são além
de acontecimentos decorrentes do desencadeamento de
leis, atividades ou forças, ainda não de todo conhecidas e
controladas pela ciência; tanto que os teólogos, cautelosos em
suas manifestações, classificam os milagres em “supra naturam,
contra naturam e praeter naturam”.

– 228 –
Exemplificando os “supra naturam e contra naturam”,
apontam os acontecimentos bíblicos, de nós distantes e jamais
repetidos; e, quanto aos “praeter naturam” tecem comentários
sobre curas com aparentes explicações.
Quanto ao assunto, não é demais lembrar Santo
Agostinho ao falar:

“Temos o costume de dizer que todos os milagres são


obras contra a natureza, não é assim? Como pode
aquilo que emana da vontade de Deus, ser contra a
natureza, quando a natureza de cada coisa criada não
é precisamente outra, que a vontade desse soberano
Creador? (De Civ. Dei, 1.21, C. 8.2)

De nossa parte entendemos: Não existe milagre senão na


vontade de Deus; pois, até hoje a história não registrou nenhuma
ocorrência em que alguém a quem faltassem braços, pernas,
olhos, pés, mãos, ou quaisquer partes ou órgãos do corpo, com
estes aparecessem sem intervenções cirúrgicas.
Onde os milagres?

– 229 –
O COMÉRCIO ESPIRITUAL

A
medida que se avança no tempo, percebe-se que viver
torna-se, dia-a-dia, mais e mais difícil; onde, o problema
dinheiro e como adquiri-lo, transformou-se na sonhada
lâmpada de Aladim.
Na busca do melhor caminho para a vida fácil e
rendosa, muitos pendem para o comércio das inquietudes
espirituais alheias, ramo dos melhores, não apenas por gozar da
tranquilidade que lhe oferecem as disposições constitucionais do
país, mas também, devido à mercadoria vendida que, como se
sabe, é imaginária; o freguês nunca pode reclamar, porque, se o
faz, recebe a resposta de que se nada consegue, é por sua própria
culpa; devido à sua falta de fé; precisa desgastar primeiramente o
seu carma; é devido à sua baixa vibração; necessita purificar-se,
praticar etc., etc., e coisas mais. O freguês, depois de ouvir toda
essa cantilena, sai até agradecido e convicto de que é burro mesmo,
e muitos nem chegam a reclamar, com receio de demonstrarem o
seu pretenso atraso. E assim vão manipulando sua freguesia. Os
poucos que conseguem compreender que, realmente caíram no
“Conto da Salvação” ou semelhantes, sentem-se envergonhados;
retiram-se calados com receio de que possam ser objeto de
zombaria por parte dos amigos e conhecidos, quando não, com
receio da publicidade.
Quem não conhece casos de pessoas que, embora
ludibriadas, seduzidas, assaltadas material ou espiritualmente,
permaneceram como se nada lhes tivesse acontecido; em

– 230 –
silêncio; temerosas da mofa, da chacota ou até da desmoralização,
segundo a ocorrência?
Na verdade, tudo isso transforma-se, até certo ponto,
numa garantia, não só para que muitos continuem por aí a
fabricar igrejas e outras arapucas salvadoras, mas também aos
assaltantes, curadores e estelionatários de todas as dimensões
que, sabendo do receio e consequente silêncio das vítimas,
podem passar o “Conto do vigário”, da Quitarra, do Paco; vender
ingressos para o Paraíso; ensinar pilotagem de vassouras, e todas
as pilantragens possíveis à sua imaginação.
Tudo porque, hoje em dia, é preciso se tenha muita
coragem para dizer-se:
— Fui assaltado;
— Fui iludido;
— Fui ludibriado;
— Abusaram de minha boa-fé;
— Caí no conto do vigário, no conto da Salvação etc.,
etc.
O que nos contou o ex-companheiro Evadjou Pereira
elucida, substancialmente, essa parte.
Dizia, falando de um seu colega dos tempos de
estudante, conhecido por Luiz:

“Era uma pessoa simples, bondosa e confiante,


possivelmente devido àquela educação que recebemos
no Seminário.
Foi talvez por isso que se deixou envolver com um
oportunista.
Aquele acabou por passar-lhe o ‘Conto do Vigário’;
prometendo-lhe recompensas, neste e no outro mundo;
o certo é que com isso levou-lhe as economias e também
algumas posses, visto que a tal o obrigaram os avais que

– 231 –
lhe dera.
Como era muito conhecido na região, ficou em silêncio,
receoso de que os amigos viessem a zombar da sua
credulidade, boa-fé e inocência.
Resultado: o espertalhão progrediu na vida; enriqueceu,
adquiriu projeção social, e ainda dizia, referindo-se
àquele a quem iludira:
‘Tudo que tenho devo-o à ajuda recebida de fulano, por
isso lhe sou muito agradecido...’”

– 232 –
CRISTÃO, ROSACRUCIANOS E
ROSACRUZ

— TENDENCIOSIDADE E CONFUSÕES —

U
ma distinção não deverá ser perdida de vista, no estrito
sentido do termo: é a existente entre os homens que
alcançaram o que se poderia chamar de perfeição do
estado humano, liberação ou aperfeiçoamento - além dos limites
espaço-tempo, e aqueles que estavam procurando esse estado,
porém, aprisionados a grupos ou organizações.
Poder-se-iam arrolar entre os primeiros, à guisa
de elucidação, os grandes Santos e Mestres Orientais e, no
Ocidente, os grandes homens do passado, existentes em todas
as organizações religiosas ou não, desde que tivessem alcançado
o verdadeiro estado de Cristão, ou que, como grandes vultos da
humanidade, por ela se tivessem sacrificado, como o fizeram
Cristo e outros seres, inclusive cientistas: enfim, todos que
deixaram brotar em si, sob alguma forma, o poder “crístico-
cósmico”, que não é patrimônio de ninguém.
Ora, se passassem a chamar de cristão esse estado
de “Universalidade” estariam elevando ao mais alto nível de
conhecimentos e mesmo de espiritualidade todos que, na época,
se denominavam cristãos, simplesmente por pertencerem
ao catolicismo e às diversas hostes protestantes. Para evitar
isso, passaram a chamá-los de Rosacruzes indistintamente,

– 233 –
não importando a religião ou filosofia por eles professada, e,
consequentemente, a chamarem de rosacrucianos, já agora, quem
estivesse em busca da perfeição, mas pertencentes a movimentos
caracteristicamente rosacruzes. Daí a distinção que se impunha.
Isso mostra o porquê de muitos homens do passado,
remoto e mais presente, terem sido chamados de rosacruzes,
embora jamais tivessem pertencido a movimentos daquela
natureza ou afins.
É de se relembrar que, em face de o nome rosacruz ter
sido aplicado, generalizadamente, como sinônimo de cristão ou
liberado, foi que a maçonaria passou a adotá-lo como símbolo
do grau 18, no Rito Escocês Antigo e Aceito, com a designação
de “Cavaleiro Rosacruz”, isso em homenagem às passagens da
vida de Cristo; pelo menos essa é uma das argumentações dadas
à inclusão do nome na ordem, visto nada ter tal denominação
com os movimentos que adotam nome igual, dos quais não é a
maçonaria caudatária (vide anexo XV).
Toda essa generalidade veio criando uma tremenda e
desordenada confusão, da qual têm tirado partido e vantagens
os conventículos rosacrucianos, fazendo crer, aos menos
esclarecidos e avisados, que grandes homens pertenceram às
suas hostes e se tornaram importantes por causa disso.
Chegaram ao cúmulo de fazer propaganda dizendo
que São Tomás de Aquino foi rosacruz, dando a entender que o
Santo passou pelo Rosacrucianismo. Essa insinuação foi iniciada
na França em 1898, através de publicações sobre alquimia na
coleção de “Etudes Rosacruciennes”, onde procuraram imputar
ao Santo Tomás de Aquino a autoria de trabalhos dessa natureza.
Aliás sobre o assunto, bem o comenta Eduardo Prado Mendonça
ao dizer que tal justificativa:

“Não suporta a crítica mais elementar, pois não se sustenta

– 234 –
nos fatos históricos, mas na interpretação viciosa... Por
mais ingênua do ponto de vista científico, verificamos,
no entanto, o empenho no apelo à autoridade de Santo
Tomás, como modernamente assistimos ao apelo dos
rosacruzes com relação à Descartes” (Revista de cultura
- Vozes nº 5 / 1974 / ano 68).

É nisso justamente que reside a tendenciosidade! Aliás,


dentre outras dessas propagandas, quem se quiser dar ao trabalho,
poderá encontrar a publicada na revista Manchete, do dia 8 de
novembro de 1975, afirmando que o Santo fora Rosacruz?!...
Todos e até as crianças, sabemos quem foi o Dr.
Angélico, o que nos desobriga de falar longamente sobre o
assunto; relembrando, entretanto, ter nascido ele em 1225 ou
1226 e falecido em 1274; sendo educado, como se sabe, sob a
direção de Alberto Magno. Erigiu dois monumentos, Summa
Contra Gentiles e Summa Theologica. Nasceu, cresceu, teve seu
esplendor e morreu cristão-católico, portanto, sua inclusão como
rosacruz é feita dentro daquela tendência, tendenciosa, de iludir
os menos avisados.
É a indústria do espiritualismo!
É como no dizer de Lama Chogyam Trungpa:
“É o materialismo espiritual” (Pratique de la voie
Tibetaine - Editions du Seuil - 1975).
Para quem gosta de analisar, devemos relembrar que
entre 1225 e 1274, período de vida do Santo, ainda não havia
aparecido nada com o nome de rosacruz, e que somente 150
anos depois é que fabricaram o tal de “Christian Rosenkreutz”.
Ao encerrar este capítulo, é de se recordar que, dentre
outros, afirma o historiador Serge Hutin:
“É a confusão entre rosacruz e rosacruciano que
engendrou diversas afirmações tendenciosas” (Les noces

– 235 –
Chimiques).

– 236 –
SAINT GERMAIN

N
ão pretendemos, absolutamente, nos estender sobre
velhas raposas espiritualistas; porém, parece-nos
conveniente, pelo menos, recordar algumas delas, por
demais incensadas ainda hoje em determinados antros, entre as
quais Saint Germain e Cagliostro.
Qualquer glossário, ementário ou dicionário esotérico
fornece-nos informações a esse respeito, se bem que colhidas
sempre em ambientes interessados em preservar-lhes uma
aparência de mistério ou manipular-lhes os nomes.
Saint Germain, cujo nome real era Aymar, tinha uma
origem duvidosa; fazia-se chamar e conhecer sob o nome de
Marquês de Betmar; alguns diziam-no judeu português; outros
que era filho bastardo do rei de Portugal que, nessa condição
o educou, às ocultas, como lhe foi possível; já os criadores de
mistérios disseram-no nascido em Lentmeritz, na Boêmia, em
fins do século XVII, como filho adotivo de Comes Gabalisticus,
donde o nome ridículo de Conde Gabali, por que era também
chamado; outros, porém, sustentam ter sido ele filho de Maria
Ana de Neuburgo e do Almirante de Castela. Tudo isso afirma-
lhe uma descendência insegura e duvidosa.
A principal história que se lhe atribui, é a de que vivera
albergado à Corte Francesa, que nela tivera influência e também
em países adjacentes; que, tendo na intimidade Luís XV e
Madame de Pompadour, passava por milionário; que interviera
junto à corte de França, aconselhando seus dirigentes a evitarem

– 237 –
a tragédia que sobre ela se desenrolaria, e coisas mais. Sobre
o assunto deixaremos de discorrer, em face da existência de
inúmeras obras ocultistas badalando divagações.
A tese, porém, é sempre a de que fora um Mestre, um
iluminado; tudo sabia.
Pois bem, a admissibilidade do que chamam “Mestre
da Sabedoria” e as definições que se propagam, levam-nos a
entender que estes possam antever e conhecer acontecimentos
ainda de nós distantes. Dir-se-ia que, no agora, anteveriam fatos
distantes, como quem, munido de um binóculo, vê ao longe o
navio que se aproxima, muito embora esteja este invisível aos
olhos desaparelhados.
O mestre, segundo dizem, sabe agora o distante, conhece
afinal o que acontecerá, por vê-lo antecipadamente; se bem que,
ante a psicologia moderna, parapsicologia, psicorientologia e
estudos outros, tais possibilidades não são privilégios de mestres,
sábios ou santos, mas peculiares a certas e determinadas pessoas
em estados especiais de consciência, a que podem ser levados,
conscientemente, mediante treinamento didático.
Mesmo assim, se o tal de Saint Germain vira o que iria
acontecer aos membros da corte, apenas se adiantara no tempo,
notando o que aconteceria, em face de uma multiplicidade
de impulsos determinantes e irrevogáveis; senão não o teria
visto. Portanto, fosse realmente o Mestre a que tentam elevá-lo
saberia calar-se ante a impossibilidade de alterar acontecimentos
irremovíveis, e não bancaria o palhaço, traçando e aconselhando
medidas que, de antemão, sabia ineficazes para remover a procela
que se aproximava.
Na verdade quem lhe conhece a história, sabe que
vivia metido na Corte; nos meandros políticos, onde, usando
dos conhecimentos esotéricos que adquirira, deles desfrutava e
tirava as vantagens que podia e, como tal, sabia - é claro - de
todas as tramas que se desenrolavam nos bastidores da corte,

– 238 –
jogando, consequentemente, com esses conhecimentos e com
sua habilidade, sagacidade e perspicácia, para situar-se, fosse
qual fosse o desfecho dos tempos, principalmente devido à
situação de pertencer ativamente ao movimento maçônico
dominante. Alguns autores procuram, também, dizê-lo metido
no movimento “rosacruciano”, para fazê-lo mais misterioso aos
olhos inocentes, porém, A. E. Waite, uma das maiores autoridades
sobre tais assuntos, diz não existirem provas de sua participação
nessas atividades.
Não só na França, mas em toda a Europa, naqueles
séculos, predominava, mesmo entre os mandatários, uma
credulidade e fanatismo doentio. Quem não se lembra de
Gustavo II da Suécia, dentre os reis europeus de mente fraca e
predisposta à fantasia? Espertalhões e trapaceiros alquimistas do
naipe de Saint Germain e Cagliostro cercaram-no de fantasias,
propondo-lhe a fabricação da pedra filosofal, levando-o e aos
príncipes a jejuar e a praticarem toda uma série de palhaçadas,
que, como se sabe, não levaram a nenhum resultado. Sempre
sonhando com quimeras, descuidou-se do reinado, culminando
assassinado em um baile de máscaras. Quem não conhece ainda
as aventuras de Rasputin, as tolices da corte em que imperava e
as consequências que daí advieram?
Preparado o terreno da credulidade, arado com o
instrumento do medo e da insegurança, nele tudo se pode plantar;
medrará é claro, contando com o adubo do fanatismo. Assim
foi com Saint Germain. Vangloriava-se de ter mais de dois mil
anos; de ter tratado por tu, na intimidade, os Césares Romanos;
falava de Carlos V; de Francisco I; dizia ter confidenciado com
Jesus Cristo e até dado conselhos e orientação aos apóstolos.
Tudo isso a corte e o povo europeu engoliam e, de lá emigrando,
essas pregações e ideias culminaram, atravessando os séculos,
em elevá-lo hoje ao que chamam de “Mestre Ascensionado”,
dirigente de um determinado raio, um ser Cósmico a cujo cargo

– 239 –
está a evolução de determinado grupo humano (anexo XII).
Ressalte-se que, além disso, existem organizações
adorando-o como a um DEUS; aliás, cada crédulo tem seu Deus,
como cada animal obediente e disciplinado tem seu amo.
Dizendo-se detentor do famoso elixir da eterna
juventude e da imortalidade; jactando-se de ter conhecido
Moisés, Nabucodonosor; privado com a amizade de Jesus
Cristo e coisas mais, não encontrou, por isso, dificuldades em
ingressar na Maçonaria. Ali conseguiu vender a bom dinheiro
o seu decantado elixir milagroso da longevidade, beberagem
que, entre nós, poderia ser reconhecida como as famosas
“garrafadas”, iguais àquelas usadas pelos curandeiros de outrora
em seus pacientes; mas, a morte de muitos que haviam pago
caro pelos tais de elixires milagrosos despertou a dúvida entre os
“Filhos da Viúva” que, descobrindo-lhe as trapaças em que vivia,
apertaram-no dentro de certos preceitos, fazendo com que este
fugisse rapidamente da França rumo a Hamburgo. [157] [158]
Em decorrência de suas artimanhas, os historiadores
sérios e conhecedores da Arte Real, procuram excluí-lo das
hostes maçônicas, porque realmente lá entrara em virtude de
artifícios; não obstante, como se sabe, organizações há, espúrias,
que o enfeitam como um salvador e mestre do chamado 7° Raio
(vide anexo XII).
Foi protegido inclusive pelo príncipe Carlos Hesse,
que alegava ter Saint Germain, como princípio filosófico, um
materialismo puro, contra o qual ninguém ousava apresentar
argumentos, face a habilidade com que o expunha. Possuía
conceitos pouco favoráveis sobre Cristo; tanto que, certa feita,
Hesse dissera penalizar-se ante esses conceitos, ao que respondeu
Saint Germain:

[157] Diccionario Enciclopédico de La Masoneria - Vol.-I-II-III-


Editorial Kier, S.A. - Buenos Aires - 1962.
[158] Dicionário de Maçonaria - Nicola Aslan.

– 240 –
“Jesus Cristo não é nada, mas se vos desgosto, é alguma
coisa; por isso, prometo-vos não voltar a falar-vos d’Ele”.
Resumindo sabe-se ter sido um autodidata
extraordinário, entretanto manteve durante cerca de quinze anos
um erudito francês conhecido por Boissy, com quem obteve o
conhecimento de todas as matérias de que necessitava. Em busca
de conhecimentos diversificados, percorreu segundo consta, a
África, Ásia Menor, Egito, Índia e China.
Com seu protetor, Carlos Hesse, montou, em
Eckenfoerde, um complexo de tingidura, cuja arte aprendera em
suas andanças pela China e Índia, sendo que procurava impor-se
como um dos mais especializados conhecedores da arte de tingir.
No íntimo entretanto, sabia-se apenas praticante nesse mister e,
com a habilidade que lhe era peculiar, procurou atrair para a
nova indústria a Jean-Baptiste Willermoz, especialista não só em
tecedura como em coloração de roupas finas.
Willermoz (martinista) não menos astuto e sabido que
Saint Germain, compreendeu-lhe o intuito, não se deixando
seduzir pelas propostas oferecidas e provou, além disso, que
todas as peças tingidas por Saint Germain não possuíam a fixidez
necessária. A indústria entrou em fracasso, com que perdeu seu
protetor uma boa parte de sua fortuna.
Transcrevemos essa passagem para ressaltar que o
homem, que tudo sabia, o mestre, não conseguiu descobrir o
processo de tingir e, nem tampouco, atinar como Willermoz o
fazia, nem prever o fracasso em que iria redundar a indústria
que montara seu amigo Hesse?! Nunca conseguiu descobrir os
segredos da arte de tingir.
Onde sua sabedoria?!...
Na verdade, era um hábil curandeiro, qualidade que
lhe aumentou a fama. Usava em seus tratamentos ervas como
principal medicamento, pois era dotado de vasto conhecimento
de botânica. Vangloriava-se da manipulação de medicamentos

– 241 –
revigorantes, próprios para prolongar a vida e a saúde. Não
obstante tudo isso, foi colhido pelo reumatismo que, agravando-
se, levou-o à sepultura em 27-02-1784. Segundo consta dos
arquivos de Eckenfoerde, a porta do seu quarto foi selada até o
regresso do príncipe, que se encontrava ausente, quando fizeram
seu rápido inventário. Seu funeral foi simples e apenas civil, já
que a igreja recusara-se a qualquer cerimônia religiosa.
Passemos ao outro aventureiro e oportunista na
aplicação dos conhecimentos esotéricos.

– 242 –
CAGLIOSTRO

A
dotando o falso título de Conde de Cagliostro, Jose
Bálsano, célebre impostor italiano, conseguiu impor-se
em toda a Europa.
Seguiu pegadas de Saint Germain, como que
substituindo-o; pregava sua existência há muito tempo e coisas
mais.
Nasceu em 1743, tendo se casado com Serafina Feliciani,
marquesa de sangue, que, por desgraça da família, fora levada à
prostituição. José Bálsamo soube tirar partido de sua formosa
esposa e, sobretudo, fiel companheira.
Entre suas fanfarronadas dizia:
“Quando eu, no século I, censurei Calígula...”
ou ainda:
“Elogiei por diversas vezes Pitágoras pela maravilha de
seu teorema...”
ou mais:
“Conheci dinastias faraônicas e dei muitas iniciações a
seus príncipes sobre os mistérios do Egito...”
Os europeus de então e, principalmente os franceses,
engoliam tudo.
A corte francesa foi sobretudo, seduzida profundamente
com o que ele denominava de “Ritual da longevidade, da longa
vida ou da Imortalidade” que lhe dava, segundo dizia, o poder de
resistir ao tempo desde eras faraônicas; ritual que, aliás, temos
em mãos; que não transcrevemos aqui, não só por ser perigoso,

– 243 –
mas também, porque poderá levar os menos esclarecidos à
compreensões desastrosas; como, da mesma forma, o faria a
leitura de “Aberrações no Comportamento Sexual”, a quem
não possuísse o devido equilíbrio e conhecimento do assunto.
Assim evitamos que, vindo algum destes exemplares a cair em
mãos do público, não se transforme em veículo de confusão e
desajustamentos. Não obstante, a todos vocês, ex-companheiros,
a quem esta publicação foi dirigida, forneceremos pessoalmente
o ritual em questão.
Antes de tomar conhecimento do célebre ritual, era
necessária a passagem por uma iniciação.
Transcrevemos aqui, à guisa de informações, parte da
iniciação feminina, que, diga-se de passagem, possuía, em seu
contexto, um verdadeiro preâmbulo à sua libertação:
Cada candidata, ao penetrar no salão, era obrigada a
despir-se e a vestir uma roupa especial de gala, uma bata branca
de seda, cingida aos rins através de um cinto muito fino de uma
cor determinada. Havia trinta e seis cintos; seis pretos, seis azuis,
seis vermelhos, seis violetas, seis rosados e seis gris pérola.
Às vinte e três horas em ponto, as irmãs davam entrada
em um luxuoso salão, onde dispostos em determinada maneira,
havia trinta e seis “fauteuils” majestosos, forrados de veludo
preto.
Deslumbrantemente vestida de branco, Serafina
Feliciani, a sacerdotisa, aguardava as novas irmãs, sentada num
riquíssimo trono. Ao seu lado, como escravas, viam-se muitas
pessoas, que não se podiam identificar, se pessoas, se fantasmas,
tal a singularidade dos disfarces.
Imediatamente a sessão iniciática teve seu princípio,
com a diminuição progressiva da luz. Quando mal se distinguiam
uma candidata da outra, a “Grã Sacerdotisa” ordenou que todas
levantassem a bata e descobrissem a perna esquerda até o
nascimento da coxa. Após isso, determinou erguessem o braço

– 244 –
direito e o apoiassem às colunas que se achavam dispostas ao
lado de cada “fauteuil”. Logo a seguir, entraram no salão duas
mulheres seminuas, trazendo cada uma na mão direita uma
espada fulgurante. Estas, após receberem das mãos de Serafina
cordões de seda, ataram com eles pelas pernas e pelos braços, as
trinta e seis irmãs às colunas em que se apoiavam.
A “Grã Sacerdotisa” explicou em seguida que o estado
em que se encontravam naquele momento - amarradas de pés e
mãos - simbolizava a sua situação social: subordinação absoluta
e dependência indiscutível. Quanto ao fato de se encontrarem
apoiadas às colunas significava, segundo disse, a submissão que,
no estado atual em que se encontrava a sociedade, as mulheres
deviam aos homens.
“Deixemos-lhes as suas leis” - acrescentou - “e
respeitemos o seu império, mas, encarreguemo-nos de conquistar
e dirigir a opinião.”
Imediatamente foram desatadas as ligaduras, e
anunciadas as provas.
As neófitas foram divididas em seis grupos. Cada um
foi encerrado numa “loja” do templo. Porém, antes foi-lhes
garantido que se tivessem medo, poderiam ir-se embora, porque
nunca serviriam para nada.
Se tivessem temor, deviam imediatamente desistir,
mas, sem a menor esperança de obter novo ingresso. Além
disso, explicou a “Grã Sacerdotisa”, ser indispensável, durante a
iniciação, manter incólume a virtude.
Logo fechadas as portas da loja, nelas penetraram
vários homens, com o objetivo principal de seduzir as neófitas.
Contudo, apesar de tentadoras promessas que fizeram e das
ameaças tremendas de que lançaram mão, nada conseguiram
das candidatas, porque a curiosidade de chegarem até ao
fim, a secreta esperança de virem a dominar multidões e de
conseguirem o Ritual do Elixir Eterno, fazia com que nenhuma,

– 245 –
embora ardesse em desejo, caísse na encantadora tentação.
Logo após, as portas das lojas se abriram e as candidatas
puderam entrar no Templo, incólumes à tentação.
Um profundo silêncio penetrou o Templo. Era meia
noite, em ponto, e doze badaladas lúgubres, sinistras, ecoaram
no espaço.
No preciso momento em que se escoava a décima
segunda badalada, ouviu-se um estrondo formidável, e abriu-se a
cúpula do Templo, como se fosse atingida por um raio. Surpresas,
aterradas, todas voltaram o rosto para cima. Apareceu, nesse
momento, na cúpula uma gigantesca esfera dourada, símbolo do
mundo, sobre a qual descia lentamente um homem nu, trazendo
nas mãos uma serpente, significando o pecado, e na cabeça, uma
auréola, reveladora da divindade do homem que vinha do céu...
“Esse que tereis a felicidade de ouvir”, exclama a “Grã-
Sacerdotisa”, “é o célebre, o imortal, o divino Cagliostro, que
nasceu dos seios de Abrahão, sem que ninguém o concebesse, e
é o Supremo Depositário de tudo quanto existiu, existe e existirá
no mundo que conhecemos e nos mundos que ignoramos”.
Após momentos de silêncio, acrescentou:
“Retirai esses vestidos profanos, para ouvirdes do
Super-Homem a eterna sabedoria, a verdade macrocósmica, tal
como ela é em sua realidade”.
Num relâmpago, todas se puseram nuas e Cagliostro,
num ar de excepcionalíssima majestade e poder, fez-lhes um
estudado e profundo discurso sobre a real fraternidade dos seres.
Imediatamente após transcendente palestra, a luz voltou
a jorrar profusamente no salão, e as neófitas puderam divisar uma
mesa esplendidamente servida, onde, também, inteiramente
nus, achavam-se trinta e seis neófitos masculinos, iniciados no
dia anterior. Entre eles, a espaços regulares sentaram-se as recém
iniciadas, e em cadeiras mais altas, como presidindo aquele
banquete de mistério e sonho, tomaram lugar o “Grão-Mestre”

– 246 –
e a “Grã-Sacerdotisa”.
Findo o repasto a “Grã-Sacerdotisa” esclareceu que
o prazer é o principal objetivo da humanidade inteligente, e o
homem e a mulher que sabem pensar, devem usufrui-lo, sem
reservas, no santuário da Ordem...
Imediatamente o “Grão-Mestre” passou a esclarecer
os primeiros passos do Ritual da Longevidade, para o qual
era imprescindível a união dos opostos e, para tanto ali se
encontravam trinta e seis neófitos e trinta e seis neófitas.
Não prosseguiremos porque, se o fizéssemos, estaríamos
transcrevendo, na integra, o ritual de que falamos linhas antes.
Não se negue ter recebido ele a iniciação da Maçonaria
Egípcia e os segredos pertinentes ao grau, onde o Ritual da
Longevidade; porém seus desmandos e desvarios excluíram-no,
é claro, de maiores possibilidades.
As iniciações a que procedia tinham por escopo manter
os grandes da França em constante curiosidade e rechearem os
bolsos do majestoso Cagliostro. Poderia ter ficado milionário,
explorando a estupidez e a credulidade humana na França, mas
o fato de se terem envolvido no histórico escândalo do “Colar da
Rainha” valeu-lhe uma temporada foçada na Bastilha e posterior
desterro rumo a Itália.
Em Londres havia um respeitável concorrente de
Cagliostro, o afamado Dr. James Graham, que montou em
Londres seu famoso “Templo de Esculápio”. Era originário da
Escócia, onde nascera em 1745. Especializara-se em curas pelos
contatos elétricos, diatermia e outras malandrices, com talento
especial para intrujar e arrancar dinheiro dos nobres. Cagliostro
sabia-o, tanto que nunca se atreveu a levar suas intrujices aos
domínios ingleses, nem a enfrentar o Dr. James, porque temia-o.

– 247 –
MERCADORES DE ILUSÕES ENTRE
NÓS - EXEMPLOS -

S
eria fastidioso pontilhar aqui a infinidade de embusteiros
e mercadores de ilusões, principalmente, quando não
guardem relação com os propósitos de nossas recordações
(vide anexo VI).
De que nos valeria a exumação de verdadeiros fósseis
milenares, já que, se hoje existissem, seus conhecimentos seriam,
na realidade, idiotices?
Basta dizer que no Egito atual muitas das superstições
datam de seis mil anos, da época dos faraós. Quando essas vão
desaparecendo ou se mostrando ineficazes, outras surgem em
seu lugar.
Reportemo-nos, portanto, àqueles mais chegados às
especulações brasileiras, de nós conhecidos ou ventilados como
importantes em suas crenças, ou nas propagandas que aqui
chegam.
Entre esses não poderíamos deixar de arrolar,
principalmente, Saint Germain, Cagliostro, Sevananda e J. Van
Rijkemborg, também conhecido por outros nomes, como John
Leene e John Twine.

LEO DE MASCHEVILLE, JEHEL OU SEVANANDA

Não pretendíamos abordar o assunto Sevananda


porque, para nós, trata-se de um caso encerrado, morto, devido

– 248 –
ao seu retratamento ainda em vida, ao renegar os nomes que
para si criara.
Por que?
Imaginemos alguém que durante um período de sua
existência, pequeno ou não, enveredasse por caminhos escusos,
tornando-se não só indesejável, mas também portador de nomes
degradantes?
É óbvio que, enquanto não se libertasse de seus
envolvimentos, não poderia ser aceito no meio social mais
elevado, e seria, naturalmente, sempre recordado como mau
caráter e pessoa inconveniente.
Tanto as instituições sociais em geral, quanto as
religiosas, ao recuperarem os indivíduos, como por exemplo
a justiça, restituem-lhes a identidade e a dignidade perdidas, e
ninguém mais tem o direito de recordá-los como inconvenientes
devido àquilo de que foram despojados.
Pois bem, o mesmo aconteceu com Sevananda. Nasceu
Léo de Mascheville; mais tarde se transformou em Jehel e depois
em Sevananda, por sua alta e exclusiva deliberação, porque não
herdou tal nome de nenhuma instituição existente; foi criação
sua, como o foram a AMO PAX, Alba Lucis e o nome Sarva Yoga,
e ainda o bengalão e a batina que usava.
Nos últimos anos de sua existência retratou-se com a
vida pregressa. abandonando suas sevanandices e voltando a ser,
como ele mesmo dizia: “pura e simplesmente o cidadão Léo de
Mascheville, comerciante e exportador de flores raras.”
Lembro-me de quando, por ocasião de uma de suas
costumeiras visitas, que me fazia, por motivos que não vem ao
caso aqui revelar, disse-me, apresentando o seu cartão.
“Agora sou simplesmente o cidadão Léo de Maschevilíe
novamente, comerciante e exportador”
Acrescentando: “O passado está morto”.
Aliás, o mesmo disse-o a José Zálio e a Paulo Leônidas

– 249 –
do Nascimento, ex-companheiros de pesquisas esotéricas; tal
decisão levou-o, inclusive, a determinar não pusessem nenhum
outro nome em seu túmulo, além de “Léo de Mascheville.
Parece explicada a razão pela qual não desejávamos
falar sobre o que deixará de existir, dentro do próprio lapso de
existência de Léo de Mascheville: “Sevananda”; para nós ele se
havia reabilitado, por ter abandonado a “Albarda” que inventara
para sí. Teve a coragem de voltar atrás, ainda que isso não
recompusesse ou justificasse os embustes de que se valera, e os
expedientes de que lançara mão em sua arte de espiritualismo,
atitude que, pelo menos, não dá a ninguém o direito, segundo
nos parece, de explorar o nome a que renunciou.
Para que falar então sobre o assunto?
Simplesmente por ter ouvido diversas pessoas, por aí,
dizendo-se praticantes da Yoga ensinada por ele, porque lhes
permite fazer de tudo concomitantemente: comer carne, fumar,
beber e coisas mais que, geralmente não consoam com a Yoga
e, também para dar mais um exemplo àqueles que precisam
precaver-se contra os pregadores de ilusões.
Ainda remanesce quem promoveu sua vinda do
Uruguai no início de 1942 e quem o ouviu em suas primeiras
conferências, onde era radical pregador contra os comedores
de carne e beberrões. Disso são testemunhas muitos de vocês,
dentre os quais, José Toniolo, José Zálio, Paulo Leônidas,
Arnaldo Xavier, Sérgio Ivanenko, Claro Flores, Raphael Sanna,
entre outros.
Como diz o velho brocardo:
“Faz o que digo e não o que faço”.
Muitos são testemunhas de que no restaurante Toniolo
(B. Horizonte), ele cortava seus bons bifes e filés de peixe e, como
bom francês, não dispensava o vinho: se tiverem dúvidas, ouçam
José Toniolo e Vicente Jacob Jorge, entre outros.
Convenhamos seja a Hatha Yaga uma ginástica como

– 250 –
outra qualquer, e que não se exija uma abstinência completa ao
seu praticante, mas ensinar outros ramos da Yoga, conciliando-
os com o carnivorismo, álcool, fumo e outras extravagâncias,
se alguém passou a ensinar nesse sentido, está criando um
novo ramo da Yoga, a que poderíamos denominar de Sanghár
Yoga, possivelmente querendo conciliar situações pessoais com
inverdades.
Após seu retratamento, e sua renúncia aos nomes que
criara, entendemos não caber a ninguém o direito de evocá-lo
ou mencioná-lo como Sevananda, porque estaria violando a sua
decisão de libertar-se Karmicamente de suas invencionices, e
procurando restabelecer uma identidade que ele renegara.
A prevalecer a Lei Kármica, achamos que ninguém tem
o direito de tentar amarrá-lo àquilo de que se procurou libertar:
o nome Sevananda! Logo, o falar-se claramente no assunto; o
colocaram-se os pingos nos “is”; entendemos, ajuda-o a desligar-
se do peso das Leis Kármicas; enquanto insistir naquilo que ele
abandonou, seria reforçar os laços que tentou romper em vida!...
Julguem.
Pelo breve relato que faremos a respeito, qualquer
um compreenderá que razões lhe sobravam para abandonar o
emaranhado espiritual em que se metera, preferindo voltar ao
que realmente sempre fora: Léo de Mascheville.
Léo de Mascheville, Jehel ou Sevananda, três nomes
diferentes de uma mesma pessoa, era descendente de família
afeita às lides espirituais, com ramificações ocultistas ligadas a
Stanislau de Guaita, Papus e outros. Residia, antes de se transferir
definitivamente para o Brasil, no Uruguai, onde montara uma
academia de Yoga, disciplina em que se especializara, tornando-a
a fonte principal e honesta de sua renda, já que era um
profissional competente e merecedor de confiança na disciplina
a que se dedicara, como aliás os há entre nós, sem vestimentas ou
fantasias de nomes viscosos.

– 251 –
Era filho de Cedaior (Albert Raymond Costet de
Mascheville), sendo que, paralelamente à academia de Hatha
Yoga, dizia-se iniciador Martinista e responsável pelo movimento
na América do Sul, muito embora jamais tivesse exibido a
Patente que o autorizasse a falar em nome da “Ordem Original”.
Acreditamos tivesse sido iniciado no movimento, devido ao pai,
Cedaior; porém, o simples fato de ter sido iniciado em qualquer
Ordem maçônica ou paramaçônica, não permite a qualquer
um sair, por aí, dizendo-se iniciador ou chefe de Ordens. A sua
autoridade como chefe Martinista devia ser igual à que tinha
como Iniciador do Suddha Darma, como veremos mais adiante.
Esclareça-se aos companheiros não versados nas lides
maçônicas que a Ordem Martinista caracteriza-se por uma
estrutura tipicamente maçônica, e, como tal, possui uma direção
central que expede “Cartas Patentes” àqueles que devem falar em
seu nome, organizar Triângulos, Lojas ou Capítulos, portanto,
quem não possuir tal documentação, ao falar sobre a Ordem,
estará entrando na senda do embuste (o representante para as
Américas reside nos EUA).
Interessados que éramos no Martinismo, por conhecer-
lhe a origem e sabê-lo de natureza maçônica, procuramos
estabelecer contato com Jehel. Estabelecidos os devidos
intercâmbios, chega à Belo Horizonte o nosso amigo, hospeda-se
no hotel Gontijo, um dos melhores na época, isso em princípios
de 1942.
Sua vinda prendia-se à fundação de uma loja martinista
em Belo Horizonte em cujo trabalho nos encontrávamos,
juntamente aos companheiros José Toniolo; o inesquecível
Franklim Reis (autor de “Cristianismo Religião Cósmica
Universal”), sua senhora; Giovanini Mechtchovsk; Sérgio
Ivanenko, Claro Flores, Raphael Sanna e outros alguns já
falecidos.
Interessado por interessado foi recebido pelo Mestre

– 252 –
Jehel, em horas distintas, para a entrevista de estilo, e também,
para imprimir, naturalmente, o devido tom de mistério que o
acontecimento reclamava.
A mim coube-me encontrá-lo mais ou menos às
19h30m, sendo recebido por ele e sua nova companheira,
Louise. O assunto era, portanto: Martinismo, minhas pretensões,
inquietudes, qualificações, possibilidades e, acima de tudo, o que
poderia fazer pela Ordem em conjunto aos demais companheiros,
em número de sete e já escolhidos. A palestra foi longa, e não
vamos a esta altura recordá-la. O importante é que, lá pelas 22
horas, sua “companheira espiritual”, Louise, saiu-se com esta:
“Estou vendo umas luzinhas do lado direito, ali no alto”,
e olhou para o lado indicado, como que, curiosamente!
O “Mestre Jehel” retrucou, abrindo as mãos e voltando-
lhes as palmas para cima, como recebendo irradiações, (sempre
as malfadadas e invisíveis irradiações):
“Deve ser Súria ou Wronsk que deseja entrar em contato
conosco, pois já está chegando a hora”.
Já meio escaldado e desconfiado de espertalhões
espiritualistas; não confiando muito, como é a tônica do mineiro,
pensei lá com os meus botões:
“Isso deve ter sido feito para se mostrarem misteriosos!
Também pode ser verdade, mas, de uma coisa pelo menos eu
tenho a certeza: Está na hora de retirar-me”.
Foi o que fiz. Despedi-me para, no dia seguinte, darmos
início à organização da Loja Martinista, com os companheiros,
o que foi feito, passando esta a funcionar em um cômodo,
especialmente construído na Rua Ouro Preto, nº 30, pelo nosso
companheiro e amigo Franklim Reis; fundos de sua residência.
Uma coisa, entretanto, ficara no ar, uma dúvida
aguardava solução: Aquela história das luzinhas vistas por Louise
e confirmadas pelo “Mestre Jehel” (Sevananda do futuro), seria
aquilo verdade, embuste, encenação ou idiotice? Tais luzinhas

– 253 –
passaram a ser para mim uma pequena amostra, o material a
ser examinado dentro do tempo. Coloquei o assunto no cabide,
como procedo sempre com as coisas que, não compreendo, são
impossíveis, poderão ser verdades, sejam ridículas ou necessitem
ser levadas ao cadinho da análise.
Anos se passaram, e viemos a saber que Louise era
simplesmente uma companheira sincera, leal e apaixonada por
Jehel, nada mais que isso; nada enxergava além do chamado
plano físico.
Confirmou-se o que eu pensara:
“Tudo não passara de mera encenação, farsa e mentira
dos dois”, como as demais de que falaremos depois.
Organizada a loja Martinista, tudo passou a funcionar de
acordo com o figurino traçado por “Jehel”, porém a organização
fracassou, não sabemos os motivos, se por proibição das
autoridades competentes ou não. Porém de uma coisa sabemos:
O nosso companheiro Franklim Reis, velho e compenetrado
maçom, exigiu do Mestre Jehel a exibição da “Carta Patente”
autorizando-o a falar e a agir em nome do Martinismo; tais
credenciais jamais foram apresentadas, como também não o
foram as do Suddha Dharma Mandalam de que se dizia, ainda,
o único representante externo na América do Sul!? (vide anexo
XIII)
Encerrado o capítulo Martinismo, o nosso Jehel
não podia parar, o espiritualismo era a sua profissão. Criou a
“Associação Mística Ocidental” - AMO-PAX -, aliando-a à Hatha
Yoga e a outros movimentos dos quais se dizia iniciador, como
Maha Bodhi Sangha e Suddha Dharma Mandalam; e, como a
nova atividade exigia uma apresentação respeitosa, resolveu
cognominar-se “Sri Sevananda Swami”, possivelmente inspirado,
e para sombrear-se no nome do Mestre indú Sivananda.
Todos os movimentos acima ele os empilhou na AMO-
PAX, uma espécie de Arca de Noé de coisas espiritualistas e

– 254 –
parecidas, onde anexou, ainda, outros como o que criara com
o nome de SARVA-YOGA; a ALBA LUCIS; MARTINISMO;
ORIENTALISMO; o SUDDHA DHARMA, sem nenhuma
autoridade para tal em nenhum plano (vide ANEXO - XIII)
e também a igreja que seu pai inventara com o nome de
EXPECTANTE, da qual se dizia o continuador e Patriarca, com
o direito de fabricar párocos e representantes.
Após se intitular iniciador externo do Suddha Dharma
Mandalan, apropriou-se, e se condecorou com o título de
“ANANDA”, sendo de esclarecer-se que, dentro do verdadeiro
Suddha Dharma, essa denominação é a mais elevada, e atualmente
ninguém ousou usá-la; mas ele, não só com ela se rotulou como
a distribuiu.
Ei-lo aqui Swamizado na sua Ananda, todo risonho,
possivelmente “gozando” quem acreditava na veracidade de seu
título.

– 255 –
Vemo-lo aqui sentado em uma de suas propagandas,
feita através do seu “Instituto de Cultura Integral” – I. C. I. –, que
funcionava em Oviedo – 4518 – Montevideo. Ali lecionava Yoga,
disciplina em que realmente se especializara e que constituía sua
principal atividade econômica.
Para inspirar maior confiança em suas atividades, era
imprescindível algo que impusesse respeito e até veneração,
pois o povo sempre vai atrás de coisas excêntricas e, para isso
nada melhor que a batina e uma grossa bengala à moda dos
patriarcas bíblicos. Àqueles que nos perguntaram sobre a origem
de bengalão, lembramos ter nascido com a criação do Amo-
Pax, inspirado no Suddha Dharma Mandalan, de onde retirou
também a desinência “ananda” que, não só usou, como também,
andou aplicando em outros, desinências de “anandas”, com as
quais muitos se orgulhavam, e até hoje por aí as usam; sendo de
recordar-se que muitos, não apenas receberam “saias e anandas”,
mas também os prenomes de Swamis que usavam (temos em
– 256 –
mãos documentação através do boletim Alba Lucis); porém,
com o tempo, compreenderam que aquilo era uma palhaçada;
abandonaram as “saias e os pré-títulos de Swamis”, conservando
unicamente as “anandas”, obviamente por necessidade de
sobrevivência...
Para que possamos sentir o ridículo de certas situações,
não precisamos de com elas nos revestirmos, mas simplesmente
nos deslocarmos mentalmente, como se nelas estivéssemos;
nesse sentir interior reside a compreensão; não precisamos de
nos embriagar ou encolerizar para percebermos o cômico dessas
representações.
Da mesma forma, quando vimos o nosso amigo Jehel,
já agora se apresentando como “Sevananda”, envergando uma
enorme batina cinzenta e o bengalão, ficamos estupefatos!?...
Quê-que é isso!?
Afinal o que significava tudo aquilo?
Que palhaçada era aquela?
O nosso amigo virara “Swami”...?
E o nome?
Onde o buscara?
Quem lho dera?
Ele mesmo o inventara.
É? Estava certo...
No final das contas, que diferença existe entre recebermos
um nome como o de Jehel, ou outro, em uma iniciação martinista
ou em qualquer sociedade que, como se sabe, é sempre criado
por terceiros, ou inventarmos um para nós mesmos?
Nenhuma.
Nisso ele tinha absoluta razão. Assim o entendemos.
Enfim, qualquer um pode criar seu próprio nome;
lançando-se como astrólogo, quiromante, cantor, escritor, mestre
ou enviado das hostes divinas; propagar-se pelo rádio, jornal,
televisão ou como quiser; criar nomes como professor Mazurca,

– 257 –
Mar Escabroso, Bolinela, Balangandananda, Pecaretananda,
Lambe Sangue e Ronca, Safardananda e outros, como ainda
fabricar a religião que quiser.
Da mesma forma pode, é óbvio, vestir a roupa que
quiser; batinas, saias, tangas e semi-tangas; usar bengalões,
barbichas ou barbaças, como muitos fazem, para impressionar
os seguidores e meter-lhes mais respeito.
Dando curso ao seu trabalho, Jehel, já agora Sevananda,
resolvera, como se viu, deslocar-se do Uruguai definitivamente
para o Brasil, tendo, em consequência, após avisar-nos, chegado
a Belo Horizonte, em sua casinha rodante puxada por um jipe,
hospedando-se em Carlos Prates, no Abrigo Jesus, instituição ali
existente na época; ocasião em que foi recebido por José Toniolo,
José Zálio, Oséas Dompteur Marques, Paulo Leônidas, este vosso
companheiro, Cattoni e outros.
Esclareça-se que nessa nova tarefa não se encontrava
mais com a anterior companheira espiritual. Deixara de lado
Louise, escolhera agora outra, porque estava em nova missão e
precisava também mudar de sacerdotisa. Elegeu para essa nova
tarefa a companheira a quem deu o nome de “Sadhana” e o
apelido “Maizinha” para adocicar o empreendimento.
Devemos deixar bem claro que estamos falando das
companheiras, apenas a partir de Louise; contaram-nos de
outros romances espiritualistas anteriores, porém, só nos cabe
falar daquilo que presenciamos e sabemos, a partir de Louise,
não mais,...
Aprendera no Martinismo a pendurar nomes simbólicos
nas pessoas, o que aliás é coisa fácil; basta encontrar quem esteja
disposto a colocar mais uma albarda em suas necessidades de
afirmação, de ostentação, ou aos desejos de entrar pelo céu
adentro. Não faltam.
Com a sua nova companheira espiritual, o “SWAMI”
vivia, ou pelo menos nos pregava, uma vida espiritual e abstinente

– 258 –
dentro da casinha rodante!...
Escolhera como tema de pregação “O caminho
Espiritual”, vegetarianismo, abstinência, não violência e outras
pregações que poderão ser encontradas no seu programa “Alba
Lucis”. Isso ele o pregava em suas conferências, insistentemente,
e não se negue, era um grande expositor e exímio orador nos
assuntos esotéricos; decorados ou não, sabia expô-los com
segurança;
Ainda em Belo Horizonte, saiu-se com a chamada
“Última Oração”, uma ladainha em forma de versos, onde
clamava à humanidade para que rezasse, fizesse penitência,
senão viria uma catástrofe atômica de consequências inevitáveis
e devastadoras, isso em 1953.
É claro que o castigo não chegou e até nos fez lembrar
aquele velho samba de Carmem Miranda ao dizer, parece que
assim:

Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar,


Por causa disso minha gente lá de casa começou a rezar.
Até disseram que o sol ia nascer, antes da madrugada,
Por causa disso nessa noite lá em casa não se fez
batucada...

Dentre suas apropriações encontra-se o Sudha Dharma


Mandalam, de que se dizia, também, iniciador externo; não
obstante, temos em mãos cópia da revista dessa organização,
“The Suddha Dharma”, Vol. VIII - n.° 4, 4 th Quarter - 1952,
editada pelo responsável Sri Janardana, na Índia, onde esclarece
não possuir, o indivíduo que se denominava “Jehel”, nenhuma
autoridade para falar sobre o Sudha Dharma Mandalam,
escudando-se no nome de “Sevananda”.

– 259 –
Daremos após este resumo, a tradução da advertência
baixada pelo Suddha, bem como o texto em original, para que
os amigos possam aquilatar, até onde chegam aqueles que se
propõem encaminhar os demais, sem saber para onde...
O tempo passa, e com ele chega a urgência de ampliar-
se o movimento Amo-Pax; desloca-se Sevananda (Jehel-Leo)
para o Rio de Janeiro e, em Rezende, funda o “Monastério Amo-
Pax”, destinado a albergar seguidores que desejassem receber
“anandas”, outros nomes e vestir batinas cinzentas. Era uma
ideia...
Na época, lembramo-nos, aderiu e auxiliou a
propaganda do movimento “Jesus está chamando”, ou melhor,
à chamada “Legião da Boa Vontade”, mas, como em matéria de
espiritualismo, associações não dão certo; deixou Jesus falando
sozinho e ficou só com seu monastério. Aliás, Jesus também
se cansou de chamar, e o tal movimento ficou paralisado; mas
parece que agora está querendo sair da hibernação, através da
fundação de um Banco cujo responsável seria o “Pai do Céu”.
Verdade ou não, não discutimos, lemo-lo em diversos jornais,
entre os quais “O Estadão de 12-5-1976”, mas, de qualquer forma,
se tal vier a se concretizar, temos a certeza de que se transformará
num Super-Banco merecedor de Fé; porque o Pai Celeste não é
igual ao José Américo: Deve saber, de fato, onde está o dinheiro;
e, se não souber, terá o poder de fabricá-lo a vontade para seus
clientes. Afinal já estava faltando mais essa!... O perigo está
somente em caso de falência, porque, nessa hipótese, ninguém
vai encontrar o velhote com suas cadernetas de poupança. Mas
que a ideia é boa, é...
Voltemos ao Sevananda:
Quando apurei ser toda aquela história das luzinhas
uma mera encenação ensaiada com Louise, não mais confiei em
seus objetivos, pois via em tudo aquilo uma palhaçada; apenas
aguardava o encerramento do espetáculo; afinal toda estrada tem

– 260 –
seu fim... Sentia, em toda aquela encenação, uma comicidade, e
não sei como muitos, inclusive Vasudeva, o seguiram dentro de
uma bruta batina, embora com seu guardião interno dizendo-
lhe ser aquilo uma palhaçada (Encontro com Yoga).
Também o fato de estar constantemente mudando
de companheiras espirituais (?) para uma vida abstinente e de
renúncia, não inspirava o respeito e a confiança que deveria
merecer o nome de “Swami” que escolhera.
Mostrar-se misterioso; dar a impressão aos incautos de
que possui poderes extraordinários, constitui uma das técnicas
fundamentais para se pescar os simples e impingir-lhes confiança;
e Sevananda (Jehel) não fugia a essa regra geral:
Quando algum candidato a discípulo se lhe apresentava,
ele após ouvi-lo ficava como que bestificado, olhando-o de frente;
fitando-o encarado, como se estivesse procurando alguma coisa
no seu rosto. Era a técnica usada para impressionar o candidato,
dando-lhe uma ideia de que estava sendo lida a sua aura.
Geralmente o futuro discípulo perguntava:
- Mestre, será que eu ainda não estou preparado!?...
Com essa pergunta, é claro: esse já estava no papo.
Portanto, se você encontrar, por aí, alguém olhando-o
com cara de besta, cuidado... está usando a manobra.
A insinuação de uma existência anterior, ou desta
a lembrança, também, sempre foi um bom tema para pegar
pascácios; é por sinal, um processo muito explorado nos redutos
espiritualistas; uns o dizem claramente, como o faziam Saint
Germain e Cagliostro; outros incumbem terceiros de fazê-lo,
e alguns o insinuam, como o fazia Sevananda, quando entre
nós, intimamente, muitas vezes ao falar de Cristo, em algumas
passagens, intercalava:
“Não foi assim que eu vi; não foi assim que eu presenciei;
isso não está bem contado, etc.,”
— Não sabemos se vocês ainda se recordam daquela

– 261 –
história do “anel amuleto”, por ele diversas vezes contada, dizendo
que se rebentara, desaparecendo, porque o seu dono não estava
andando no bom caminho...!
Também entrou na dança dos Discos Voadores, isso lá
pelo ano de 1945, quando estava muito em voga (a história é
velha).
Ele não dormiu no ponto, em seu boletim aos discípulos
instruía-os a traçarem campos improvisados para atrair os
Discos, dizendo que em breve estariam descendo para estabelecer
contato conosco.
Quem acreditou continua esperando.

Clichê da inundação

– 262 –
Inundação do Rio de Janeiro:
Toda a Guanabara iria ficar coberta em consequência
de uma inundação que atingiria catastroficamente o Estado do
Rio; preservando, é claro, o local onde estava o Monastério; a
inundação iria constituir-se em uma paisagem para aqueles que
ali estivessem açoitados.
É evidente, tratava-se de uma inundação mental de
“Sevananda”.
O monastério publicava um boletim dando conhecimento
das atividades locais aos seus discípulos e assinantes e, como
se tornava necessário apresentar algo impalpável e misterioso,
sempre vinham as histórias de fadas, fadinhas, gnomos que por
lá andavam aparecendo; era uma repetição, em outra clave, do
mesmo engodo das luzinhas; simplesmente para impressionar.
Ainda em Rezende, conforme consta dos boletins da
época, um casamento espiritual foi programado entre alunos.
Havia uma imperiosa urgência de tal acontecimento, pois,
o falecido pai de “Sevananda”, estava impaciente lá em cima e
queria descer de qualquer jeito; não podia esperar mais.
O melhor meio de facilitar a aterrissagem de Cedaior,
no entendimento de “Sevananda”, seria o casamento entre dois
discípulos. Todos os interessados foram instruídos, pelo tal
boletim, para mentalizarem e meditarem na descida, afim de que
o velhote não errasse o caminho!... Acontece que errou.
Até hoje não chegou. Pelo menos não comunicou sua
chegada!...
Preferimos não nos alongar neste capítulo; deixamos
as conclusões a cargo daqueles que se lembram desses
acontecimentos.
Já estava demorando a escolha da quarta companheira
espiritual. Algo deveria ser encontrado para justificar essa nova
escolha, ou melhor, servir de base para “Sevananda” trocar de
companheira espiritual...

– 263 –
Que fez então?
Através do Boletim da Amo-Pax, e disso vocês se
lembram muito bem, isto é, quem estava em ligação com tal
movimento, todos os discípulos, interessados e correspondentes
foram informados de que “Sadhana”, a terceira e anterior esposa,
encontrava-se de câncer, prestes a falecer; parece-me que,
inclusive, foi até marcada a semana em que se daria o fatídico
acontecimento, portanto, todos deveriam mentalizar para que
sofresse o mínimo possível, etc., etc.
Até o caixão chegou a ser confeccionado para o enterro
da falecenda.
Preparado o terreno, convencida a ex-esposa de que
iria embarcar para outro lado, o “Mestre e Swami Sevananda” foi
logo designando a substituta, a “Quarta companheira espiritual”,
escolha que recaiu em uma residente conhecida pelo nome de
“Sara”, e como o Monastério era autossuficiente, ali funcionava
também a Igreja Expectante, e para que o cerimonial fosse
perfeito, quem celebrou o casamento foi a esposa anterior -
Sadhana. Tudo foi acomodado!...
Está claro que a candidata a falecimento continuou
vivinha da silva, sobrevivendo ao próprio Léo de Mascheville;
porém, o casamento estava consumado, a esposa trocada e os
objetivos do “Mestre” atendidos; só não sabemos que rumo levou
o caixão especial?!
Quando virem histórias de luzinhas, fadas, fadinhas,
gnomos e outras aparições, desconfiem: deve ser alguma
sevanandice ou coisa da mesma família.
Também materialmente o monastério passou a se
decompor, vindo a se desmoronar completamente, espalhando-
se os “anandas” por todos os lados; em consequência,
“Sevananda” rumou para Belo Horizonte, passando a residir, a
princípio, em terras gentilmente cedidas pelo companheiro Luiz
Tassine, em Betim, o qual depois o trouxe para propriedades

– 264 –
suas em Sta. Efigênia (Belo Horizonte); porém, devido a atitudes
desagradáveis do Swami, o amigo Tassine mandou-o tomar
rumo, embora constrangido.
Resumindo: as coisas continuaram a piorar, mas
mesmo assim o Swami entendeu que deveria novamente trocar
de companheira, elegendo, já a esta altura, como “Quinta esposa”
uma discípula conhecida pelo “Moto” de Sevak, que para tal união
deixou o marido que também era discípulo de Swami. Parece-
nos que devido ao desmoronamento do Monastério, por lá ficou
a Igreja Expectante e não houve a pantomina do casamento.
Logo após este último ajustamento, ele abjurou,
abandonou e repudiou o seu passado de Jehel e de “Sevananda”;
razões bastantes não lhe faltavam para corrigir os disparates que
vinha cometendo dos quais parte aqui relatamos.
Após voltar a ser o cidadão Léo de Mascheville, viveu
mais algum tempo; ultimou, todavia, seus dias juntamente com
a segunda, terceira e quinta companheiras, em Betim, pois, estas,
devido a programação por que passaram, ou melhor, devido a
desprogramação para a vida, estavam na dependência do Swami.
Em sua sepultura vê-se escrito: “LÉO DE
MASCHEVILLE”.
Isso, mais uma vez, nos prova que ninguém tem o
direito de relembrá-lo como Sevananda, nem como “Swami”,
procurando perpetuar aquilo que ele desejou destruir ainda em
vida.
Queremos lembrar que, embora se apresentasse como
instrutor externo do Suddha Dharma Mandalam, e viesse
dando iniciações e pendurando “anandas” e outros “motos” em
diversas pessoas, que ainda hoje os usam, não tinha ele nenhuma
autoridade para tal, como se vê da comunicação feita pela
autoridade competente, que abaixo transcrevemos em português
e no original (vide anexo XIII):

– 265 –
AUTORIDADE INICIÁTICA NO EXTERIOR:
SUDDHA DHARMA MANDALAM,
UMA GRAVE ADVERTÊNCIA

Aos seguidores da Suddha Dharma Mandalam e ao


público em geral.

Chegou ao meu conhecimento, através do Irmão


benjamin Gusman V. - Vajra Yogi Dasa - Presidente,
S. D. M., Vidayalaya, de Santiago do Chile, que um
elemento de nome Dr. Jehel, intitulando-se Sevananda
Swami, em uma carta a ele dirigida, da qual uma cópia
me foi enviada, vive alardeando que foi indicado como
“Iniciador” e Autoridade no Exterior pela Hierarquia.
A Suddha Dharma Mandalam não tem feito nenhuma
indicação tal como a de autoridade Iniciática no Exterior,
desde o falecimento de Pandit D. Sreenivasacharya. De
fato, essa honra foi concedida a Swami Subramanyanda
- Dr. (Sr.) S. Subramanier, durante sua vida até 1924.
Tal indicação de Autoridade Iniciática no Exterior não
parecia necessária, em vista do advento de Bhagavan Sri
Mitra Deva, nascido a 16 de Janeiro de 1919 - Pushya
Suddha Pournima e sua esperada aparição pública para
a promoção do Suddha Dharma, que é a mais antiga
distinção de Arya Dharma, que foi perdida nessa terra
de Bharata-Varsha, e agora revelada uma vez mais, a fim
de que apareça algo de novo a todos.
A “Deeksha” (ou iniciação) é um sinal distintivo muito
santo e importante nos ensinamentos da Suddha
Dharma Mandalam. O iniciador disso é Bhagavan
Sri Narayana, ele próprio, o “Adishtata” da Suddha
Dharma Mandalam. Isso porque a “Deeksha” da

– 266 –
variedade conhecida como “Artha Deeksha”, na qual
uma partícula “anu” de “Deviprakriti” é introduzida na
“Brahmaranandra” do discípulo, num ato que não pode
ser praticado por nenhum outro senão pelo Senhor
ou, sem sua sanção. Essa “Deeksha” é administrada
com a comunicação da “Yoga-Gayatri”, que consiste da
“Bija-Mantra”, da “Japa“, cuja entoação, junto a certas
práticas meditativas, é absolutamente necessária para
se consolidar a “Deeksha” e a abertura que ela gera no
discípulo. Segue-se que somente àqueles que podem
entoar bem a “Gayatri”, é dada a “Deeksha”. Exceções
se fazem, onde, se espera que o discípulo consiga
proficiência subsequentemente ao entoar a “Gayatri-
Japa”, depois da iniciação preliminar, porque uma
coisa segue a outra. Há casos em que a “Gayatri-Japa”
só é comunicada, uma vez que seu poder é tal que
ela é capaz, ela em si, de infundir certas experiências
naqueles que dela fazem uso. Pois somente a Gayatri
“bijamantra” torna os aspirantes capazes de alcançar o
mais alto. Assim pode-se reconhecer o elevado “status”
que a “Yoga-Gayatri” ocupa nas práticas do “Spiritualy
and Yoga” da Suddha Dharma Mandalam.
A administração dessa “Deeksha” se faz em uma
cerimônia, livre de atos de rituais elaborados e de
métodos fantásticos, a qual não leva mais de quinze
minutos.
Quando foi comunicada a ‘’Deeksha’’ aos membros sul
americanos, mesmo não podendo eles entoar “Gayatri”,
fez-se uma exceção, de vez que se sentiu que havia
algumas almas adiantadas no continente, que a ela
se dedicariam após a “Deeksha”. Isso a maioria deles
tem feito muito honrosamente, e, assim aumenta a
sua firmeza rumo aos grandes objetivos e práticas da

– 267 –
Suddha Dharma Mandalam e graça resultante. Pois
é a “Gayatri-Upasana” que dá o cunho e a chancela a
“Sadhaka” acompanhados da proteção a “Sadhaka”. Os
membros sul americanos que têm entrado, assim, sob
as influências dos ensinamentos do Suddha Dharma,
constituem um bloco abençoado.
Há duas outras variedades desse “Deeksha” -
nominalmente - “Dharma” e “Karma” - que dizem
respeito ao conhecimento de “Dharma” e ao modo
de agir em consonância com ele respectivamente. A
necessidade desses dois é tão imediata e urgente, de
vez que a proficiência neles habilitará o aspirante, e o
qualificará a receber a outra espécie de “Deeksha”, que é
uma prática subjetiva de uma espécie particular.
Dr. Jehel jamais recebeu qualquer “Deeksha”, quer
de Swami Subramanyananda, quer de Pandit K. T.
Sreenivasacharya, nem jamais se tornou um membro
do nosso presente trabalho para qualificar-se de algum
modo. Seu propalado conhecimento de Suddha Dharma
e da Ciência da Yoga Brahma Vidya é praticamente
nada. Ele não sabe sequer entoar os versos sânscritos
comunicados aos estudantes, nem como entoar os
Gayatri-bija-mantra.
Que ele não conhece nada acerca da Suddha Dharma
Mandalam e seu elevado objetivo, se evidencia do fato
de ele haver-se apropriado do nome de “Sevananda”, de
vez que o título “Ananda”, dado pela Mandalam, não
pertence às categorias de “anandas” prejudicadamente
associadas com os samnyasins de roupas alaranjadas,
desta terra, em visita a países ocidentais, mas, marca
o nível de elevação de uma espécie particular de
consciência. “Sevananda” em nenhuma parte se
aproxima disso. Portanto, a impunidade com que se deu

– 268 –
esse nome, e igualmente o conferiu a (outros) alguns de
seus satélites, só mostraria a extensão da blasfêmia que
ele é capaz de exibir, em nome do Mandalam, da qual
ele pretende ser um “Iniciador”.
Esse Dr. Jehel parece ter publicado um jornal de nome
“La Iniciacion” em espanhol há alguns anos. De uma
ou de duas cópias a mim remetidas pelos Irmãos
Daniel Verdugo-Nara-Yogi-Dasa e Benjamin Gusman,
pôde-se perceber que ele tem feito uma confusa
miscelânea da filosofia Suddha Dharma Mandalam
com os ensinamentos de Ramakrishna, falas de Tagore,
princípios de Gandhi e com muitas outras escolas de
pensamentos oriundos desta terra. Seu insignificante
conhecimento de Suddha Dharma Mandalam, se é
que o tinha, originou-se principalmente das várias
publicações enviadas aos nossos membros da América
do Sul; mas seu conhecimento de Yoga confinava-se
à execução de exercícios de ginástica com os nomes
“asanas” e exercícios respiratórios, que são tabus nas
elevadas práticas de Yoga da S.D.M. Não estando
informado diretamente das práticas de Yoga da Suddha
Dharma, os relatos desastradamente desnorteantes e a
incorreta publicação de “bija-mantras” nas páginas de
“La Iniciacion”, como se disso ele conhecesse muito, são
atos por demais infames. As várias práticas das quais ele
parece ter lançado mão e obscurecido, o absurdo de seus
jejuns e a ilegitimidade de seus métodos cerimoniais
não contam absolutamente com a sanção da Suddha
Dharma Mandalam. Todos esses atos seus, são algo
semelhante ao que costuma ser feito por algumas
sociedades secretas anormais em nome de “Iniciação”!
Tomei conhecimento, através de algumas cartas
recebidas de algumas pessoas de Montevidéo, de

– 269 –
que esse Dr. manteve suas atividades por algum
tempo, abandonando-as depois. Respondi-lhes que
escrevessem ao Irmão Benjamim Gusman para que ele
ficasse informado. Consequentemente é claro que esse
Dr. Jehel tem estado a planejar por alguns anos agora,
algo da natureza de intriga política.
Ficou agora duplamente evidente que a visita do
francês George Rundstein, chamado “Bhaktyananda”,
foi patrocinada por esse Dr. Jehel, a esta terra, a fim
de entrevistar-me e, essencialmente, na ordem de
espionagem, com o objetivo de descobrir as nossas
atividades aqui, para enriquecer seu folheto.
Em consequência de um movimento de espécie nociva
desse Dr. Jehel, que tem usado criminosamente o
nome da S. D. M., como suspeitei, não dei atenção
aos conteúdos de suas cartas, embora a ajuda possível
houvesse sido dada ao francês, que parece ter abusado
da hospitalidade a ele dispensada. Esse “golpe de
Estado” do Dr. Jehel proclamando-se “Iniciador” é o
resultado dos métodos de intriga de que tem ele lançado
mão todos estes anos. A carta que esse Dr. Jehel escreve
ao irmão Benjamin, uma cópia da qual ele também
remeteu à Irmã Anita Sanchez, membro da S. D. M. que
estava aqui quando o francês Rundstein aqui esteve,
mostra a maneira, extraordinariamente perversa, de
abocanhar os ensinamentos do Suddha D. Mandalam.
A maneira bajulatória com a qual ele rejeita o trabalho
que é feito aqui agora, revelando assim sua profunda
ignorância e incapacidade para entender as reveladoras
verdades da Suddha Dharma, a sua presunção em usar
o nome Suddha-Nayaka Yognanandana, cujo nome ele
sequer poderia pronunciar, como ficou patente pela
maneira com que ele publicou a “sloka”, contendo seu

– 270 –
nome em seu jornal, as suas não autorizadas práticas
cerimoniais, que não contam com a sanção da S. D.
M., seus movimentos de paz a serem realizados na
América do Sul, assemelham-se aos métodos usados
pelas tropas-de-choque de Hitler e seus satélites; a sua
arrogante comparação de si próprio com o trabalho do
Irmão Guzman, e o pretencioso toque de humildade
em se apontar como “Iniciador” são evidentemente
blasfemos para a S. D. M., cuja causa ele quer patrocinar,
absolutamente não a serviço dela, mas para satisfazer
seus íntimos anelos movido pela sua mente virulenta
e desiquilibrada. Não é próprio da S. D. M. sair
implorando para encontrar “Iniciadores” da categoria
do Dr. Jehel para realizar seus objetivos.
Não é surpreendente que tal coisa como esta tenha
acontecido agora, porque, mesmo nos dias do Avatar
Sri Krishna apareceu um impostor conhecido como
“Poundra Vasudeva”, que se apresentava como se fosse
um Avatar.
Nestas circunstâncias, é dever dos membros da S.D.M.
e do público, fixar que esse movimento do Dr. Jehel
não merece sequer ser conhecido. Vendo como esse
acontecimento está intimamente relacionado com as
torpes proezas da “Brihaspathi Sinha”, o público da
América do Sul por certo estará em guarda.
Assim esperando, deixem-me invocar as bênçãos de
Ishwara, que sabe como derrubar os inimigos da Suddha
Dharma, através dos Hierarcas apontados por Ele
para esse objetivo. A fim de fortalecer suas mãos, para
resistirem a essa imposição sobre a sua fé, e convergi-las
em direção ao Irmão Vajra, que se verá a braços com
tais situações, eu publiquei esta “Grave Advertência”.

– 271 –
Sri Janardana
Editor, Suddha Dharma,
Director, S. D. M. Association &
Expounder, Yoga Brahma Vidya

– 272 –
ROSACRUZES
CONTEMPORÂNEAS

T
odas, que não são poucas, sem exceção, como no
passado, dizem-se as únicas portadoras da verdade que
nunca aparece, como se esta pudesse ser propriedade ou
privilégio de uma meia dúzia de...?
— De que?
— Esqueci...
Sempre a mesma ladainha: nós somos os melhores,
os depositários autênticos de segredos vindos da Atlântida,
Lemúria, Egito e do diabo a quatro.
Quem duvidar dessas afirmações e estiver disposto
a ouvir mais uma dessas cantilenas; não precisa ir longe; basta
recorrer ao n.° 39 da Revista Planeta e ali verá mais uma apologia
desses movimentos, onde o interessado diz, entre outras farofadas,
que o rosacruz não alardeia nem propaga essa condição, etc., etc.;
mas, logo após procura se exibir como “Cavaleiro Rosacruz”;
como se fosse um bicho melhor que os outros que pululam por
aí.
Afinal, de que vale o indivíduo dizer-se, católico,
protestante, cavaleiro-rosacruz, vaqueiro, umbandista, espírita
ou o que quiser?
O imprescindível é servir à humanidade.
Alguém realmente muito importante disse:

– 273 –
“Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé
sem obras e eu, com as obras, te mostrarei minha fé”
(Tg. 2-18)

“Ninguém como o Homem debruçado sobre a


Matéria compreende até que ponto o Cristo, por
sua Encarnação, é interior ao mundo, enraizado no
Mundo, até ao coração do menor dos átomos”
(Science et Christ - Pierre Teilhard de Chardin). [159]

Quantos, acusados de agnósticos e mesmo materialistas,


têm dado a vida pela humanidade, sem pensar em nenhuma
recompensa, neste ou em outros mundos, crendo indiretamente
em Deus através de sua obra, a matéria, amoldando-a e
transformando-a em benefício do plano Divino?
Não obstante, outros, por aí, alardeiam-se hierofantes,
mestres, cavaleiros, vaqueiros e outros bichos pensando
exclusivamente em salvar a pele, e em preparar um lugarzinho lá
do outro lado, não se lembrando de que:

“Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á”.


(Mc. 8-35)

Não dispomos de espaço e tempo suficientes para


discorrer sobre todos os movimentos que se intitulam os únicos
e verdadeiros monopolizadores das verdades divinas; não
podendo, portanto, fazer um infindável relato acerca de seus
rituais, por vezes idiotas, primários, tolos, infantis e até estúpidos,

[159] Pierre Teilhard de Chardim: Science e Christ: Editions du Seuill -


1965.

– 274 –
que, sabemos, têm existido em todas as eras, penetrando o tempo
até nossos dias, onde chegaram com roupagens modernizadas;
uns praticados abertamente sob a capa da religiosidade, e outros
amoitados na desculpa do hermetismo e do mistério. Disso, de
quando em quando, nos dão conta as diligências policiais ao
coibirem os excessos, e também as reportagens jornalísticas ao
conseguirem algo que possa ser dito em público.
Qualquer que sejam os rituais, com suas roupas coloridas
e excêntricas, cheias de enfeites, fitas, símbolos, emblemas e
chocalhos; acompanhados de pregações mirabolantes ou não,
nada mais são que formas programadoras, onde a variação
decorre simplesmente da conjuntura social que os envolve; sendo
essa a razão pela qual não vamos perder tempo discorrendo
sobre eles, primitivos ou sofisticados que sejam.
Para quem não se encontre inteirado dos chamados
procedimentos ocultistas, com seus engodos, envolvimentos,
manobras fanáticas, rituais, e até manuseio indevido e sem
autoridade do cristianismo, naturalmente classificará os trechos
deste capítulo como futilidades infantis ou aglomerado de
superstições e fanatismo.
Devemos dar exemplos. E como buscá-los, a não ser,
principalmente, onde perdemos nosso precioso e irrestituível
tempo, e onde fizemos gastos irreparáveis, devido à nossa boa-
fé?
Como estamos falando a ex-companheiros que, como
nós, estiveram na rosacruz holandesa, também conhecida
por Rosacruz Áurea, Lectorium e outros nomes, preferimos
relembrar os seus rituais, cerimônias e pregações; principalmente
por ser ela a mais renitente e exclusivista, chegando a dizer,
peremptoriamente, que em seu nome “... numerosas falsificações
têm sido publicadas” (vide Folheto Amarelo de sua propaganda
e a 1ª carta do seu Curso por Correspondência).
Assim procedendo, confessa não serem verdadeiras as

– 275 –
demais rosacruzes, se bem que, se deixarmos de lado a questão
da inexistência do tal de “Christian Rosenkreutz”, e de se levar
em conta que um desses movimentos, pelo menos até onde o
sabemos, procura instruir bem seus seguidores.
Ante suas afirmações, não vemos como falar dos
movimentos congêneres; passando, tão somente, a relembrar-
vos uma pequena parte, dentre o amontoado de suas fantasias
e devaneios místicos não comprovados até ontem, para que não
vos esqueçais de suas características absurdas e incabíveis.
Fazemo-lo porque, embora seja ela uma reprodução das
anteriores com alguns enxertos, arroga a si o direito de dizê-las
contrafatoras; passando, ainda, a descer o “malho” em clássicos
movimentos religiosos, espiritualistas, filosóficos e afins; da
mesma forma como o macaco daquela história, onde se sentou
no rabo para falar do alheio.
É compreensível e mesmo aceitável que, no exercício
de sua liberdade de crer, descrer, aceitar, ou não aceitar,
qualquer um critique e mostre, inclusive, as infantilidades,
incoerências, primarismos e mentiras de quaisquer movimentos,
principalmente quando o faz sem aquele intuito de impingir ou
propagar a sua confraria.
O que não se justifica, entretanto, é que avoquem o
direito de insurgência contra respeitáveis movimentos, e o de
permanecerem incólumes nesses ataques nos seus sonhos, e nas
suas fantásticas pregações.
Impõe-se-nos, portanto, primeiramente, mostrar o que
ela fala das demais organizações, pelo menos em parte, e como,
e onde o faz dizendo:
a. que em seu nome numerosas falsificações foram
publicadas; condenando, dessa forma, suas coirmãs
rosacruzes (vide folheto amarelo de sua propaganda
e 1ª carta do curso por correspondência);
b. condenam as igrejas e religiões: Judaísmo, magia,

– 276 –
yoga, astrologia; (3ª, 5ª, 8ª, e 9ª cartas do curso: “A
grande Jornada”; Revista Renova n.° 2, vol. 1, fl. 6 e
Rev. Lectorium Rosicrucianum - janeiro de 1973);
c. acusam o espiritismo, dizendo-o o maior flagelo
que atormenta a humanidade (7ª carta do Curso
por correspondência e Livro Filosofia Elementar da
Rosacruz Moderna pag. 122);
d. condenam o magnetismo, o hipnotismo e as
religiões em geral (7ª Carta do Curso e “A grande
Jornada”);
e. acusam e proscrevem todas as escolas ocultas em
Geral (3ª, 7ª e 9ª carta do Curso por correspondência;
Revista Renova nº 2 Vol. 1, fl. 4 e “Ninguém Pode
Servir a dois Senhores - somente a eles - e ainda o
Livro Filosofia Elementar da Rosacruz - pags. 115
e 217);
f. condenam a Maçonaria (vide Revista Renova n. 2,
Vol. 1, Fl. 11 e as outras monografias);
g. classificam os Jesuítas de fingidos (“O Brasão de
Christian Rosenkreutz”, pag. 4);
h. condenam frontalmente o Lamaísmo e o Catolicismo,
classificando este último de plagiador daquele e
de Espírito Imundo; não perdoando, da mesma
forma, os maometanos, Hindus e os seguidores de
Confúcio (vide, entre suas publicações, Luz Sobre
o Tibet, pags. 6, 7 e 8; e O Desmascaramento, pags.
78 e 101);
i. mesmo ingressando no século XXI, ainda continuam
amedrontando os incautos com o tal de Dr. Belzebu
e outras infantilidades (veja Revista Renova - nº 64
- de Dez. de 1964, e todas as monografias relativas);
Qualquer iniciante em psicologia sabe que não é difícil
criar-se uma multidão psicológica, ou seja, homogênea em

– 277 –
manifestação, sentimentos, crença e reações; isso, em grau mais
grosseiro, mostra-nos o estado em que ficam certos animais
condicionados em viveiros, currais ou compartimentos, onde
não possuem a plena liberdade e, socialmente, o estado em
que são psicologicamente condicionadas as massas sujeitas a
padronização, como o temos visto nas diversas fases da história
da humanidade. Então, como diz Gustav Le Bon:

“... errantes nos limites da inconsciência, sofrendo todas


as sugestões; animada da violência de sentimentos,
própria dos seres que não podem apelar para influências
racionais, desprovida de espírito crítico, a multidão só
se pode mostrar excessivamente crédula. O inverossímil
não existe para ela, e cumpre não se esquecer esse ponto,
para compreender a facilidade com que surgem e se
propagam as lendas e as narrações mais extravagantes”.

Por isso os seguidores passam a acreditar em tudo que


ali lhes é ensinado.
Ante isso, e se, como sabemos, essa rosacruz tem a
coragem e o direito de “descer o malho em todos os movimentos
religiosos, espiritualistas, filosóficos e afins, em publicações
como as que temos em mãos, cabe-nos, também, ante o tempo ali
perdido, mostrar as fantasias, tolices, infantilidades e inverdades
ditas, inclusive pelo seu papa, denominado de grão-mestre.
Por exemplo:
A alegação de que em seu nome se fizeram publicações
facciosas, como o alegam em seu “Folheto Amarelo”; além de
absurda pretensão, não constitui verdade, porque tal movimento
foi engendrado, em 1934, por Jan Leene, em consequência
de uma mistura do rosacrucianismo de Max Heindel; da

– 278 –
Antroposofia de Rudolf Steiner; de ensinamentos Teosóficos
misturados com devaneios cátaros, albingenses e maniqueísmo,
onde incluíram o vegetarianismo e o cristianismo com outras
extravagâncias; quando se sabe que o movimento base primitivo,
que se autodenominara rosacruz, tivera início em 1616, sendo
exclusivamente cristão-protestante; movimento esse que não
delegou a ninguém poderes para sucedê-lo, e muito menos para
enchê-lo das coisas acima referidas.
É de se lembrar, dentre os movimentos que mais se
aproximavam do primitivo, o fundado em 1773, na cidade de
Brotherly Love, Philadelphia-Pennsylvania - Estados Unidos;
com a criação do Primeiro Conselho da Rosa Cruz na América,
e outros já anteriormente citados, inclusive de Crowley, de quem
os seus mestres Heindel e Steiner foram discípulos (Veja - The
Rosicrucian Fraternity in América - Col. I and II).
Como dito: o “descer a Lenha” em religiões mais
que seculares, como o Lamaísmo e o Cristianismo Católico e
Protestante, não se falando do Espiritismo, Maçonaria e outros
movimentos, parece-nos uma de suas maiores incoerências
porquanto, todos seus hinos, que são mais de 200, são cópias
de cantos ou católicos, ou protestantes, isso não se falando da
apropriação que fizeram no tocante aos rituais de batismo,
de casamento e de encomendação de defuntos e outros; só o
encanamento Gnóstico é criação própria e patenteada no Plano
Astral por eles.
Sobre o assunto testemunha-o, sobremaneira, toda a
chamada literatura de contato, correspondência, preparatoriado,
professo, terceiro e quarto aspectos, revistas e circulares que
tanto vocês quanto nós temos em mãos.
Ante isso relembremos.

COMO FOI CRIADA A ROSACRUZ HOLANDESA

– 279 –
Vocês, melhor que ninguém, por ali terem estado,
sabem que tudo começou em 1934, porém, para não perdermos
tempo, e para evitar, quanto possível, nossas palavras, preferimos
nos reportar às informações oriundas da própria Holanda, e que
se encontram, com maiores detalhes e pormenores, na revista
OP DE UITKIJK. nº 4 - edição de abril de 1966, cujo original
temos em mãos e da qual conheceis a tradução. Ali o repórter
J.W. Jongedijk, ao falar sobre a rosacruz, clara e textualmente,
entre outras coisas diz o seguinte:
“Constitui grave erro não se dar publicidade a tudo
quanto se é obrigado a dizer ‘SIM’ e ‘AMEM’ àquilo que os outros
dizem”. [160]
E prosseguindo sobre a rosacruz holandesa, expressa-
se, que em 1934 um indivíduo conhecido pelo nome civil de
JAN LEENE e uma mulher chamada HENNY STOK-HUISER
inventaram uma história complicada, dizendo terem sido
enviados por uma fraternidade invisível; notem bem: “Uma
Fraternidade Invisível”, e, com essa alegação, procuraram
organizar um movimento todo especial, onde pudessem, a seu
contento, dar as cartas.
Disseram-se enviados de uma “Fraternidade Invisível”
para que ninguém se desse ao trabalho de averiguar sua existência,
pois era invisível, e, assim, melhor os aceitariam, como sempre
acontece.
Queremos ressaltar que a remissão à reportagem visa
apenas demonstrar que, mesmo antes de nós, outros já ali haviam
apurado fantasias, miragens e irrealidades: nada mais que isso.
Ao terminar o curso posterior ao primário (ULO),
equivalente ao nosso ginásio ou 2º grau, ingressou ele - Jan
Lenne - no comércio de tecidos, que já era profissão de seu pai.
Estivera na igreja reformada holandesa, portanto, uma igreja
espúria e reestruturada; também na antroposofia de Rudolf

[160] OP DE UITKIJK. nº 4 - Abril, 1966 - Holand.

– 280 –
Steiner; e ainda na rosacruz de Max Heindel; onde se intoxicou
pelos éteres, forças eletromagnéticas da astrosofia e pieguices
do mestre Heindel. Como se vê, era um descontente, pulando
de galho em galho. Ela viera, simplesmente, do movimento
protestante, nada mais que isto. Ambos estavam insatisfeitos e
queriam alguma coisa diferente, mas só para eles. Ela trabalhava
em um escritório.
Ao se encontrarem, não titubearam e criaram uma nova
escola sofisticada e, para ser bem aceita, passaram a se dizer
“Enviados da ‘Fraternidade Invisível’”. Não tardou a aparecerem
interessados. Criado que foi o movimento, passaram, então,
desde 1934, estando ele com apenas 35 anos, mais ou menos, e ela
ainda mais jovem, a viver em uma luxuosa mansão, um palacete,
em Santpoort, ao qual deram o sugestivo nome de ROSENHOF
(vide anexo XIX).
Nos primeiros tempos de sua atividade, ele mudou seu
nome civil de Jan Leene para John Twine, porém, logo depois,
achando-o pouco sugestivo, tornou a mudá-lo para um nome
mais misterioso - eletromagnético; passou a chamar-se desde
então - JAN VAN RIJKENBORGH, e para sua companheira
escolheu o de Catharose de Petrí e, mais tarde, acrescentou-lhe
ainda o título de Arquidiaconisa. No Brasil mudança de nome é
pilantragem, aliás, o Código Penal o classifica como crime em
alguns casos.

É NECESSÁRIO MOSTRAREM-SE MISTERIOSOS

Os seguidores, mais próximos, cuidam de fazer a


conveniente propaganda; alegam serem os mestres pessoas
ultrassensíveis; que estão em missão especial da tal “Fraternidade
Invisível”; que são portadores de uma mensagem; não podem
ficar expostos aos olhares de curiosos; têm a aura muito sensível e
mil coisas mais. Tais justificações são reafirmadas pelo chamado

– 281 –
“Conselho dos Anciãos”, aliás, em entrevista por eles dada a
reportagem, assim se expressaram:

“Os grão-mestres contemplam infinitas e grandiosas


distâncias. Deles emana uma irradiação que nos
emociona e a todos aqueles que a ela são sensíveis. Os
grão-mestres submeteram totalmente sua natureza
terrena à espiritual, por isso, é PURA VERDADE tudo
aquilo que nos revelam”. [161]

Afinal foi um bom pulo para um vendedor de panos,


o ter passado de simples comerciante a contemplador de longas
distâncias, “miragens”, e a ela, de simples empregada de um
escritório a arquidiaconisa.
Qualquer um tem o direito de se auto intitular
representante de Fraternidades Invisíveis; enviado de mundos
sutis e distantes, e como quiser; porque, afinal das contas, as nossas
leis, pelo menos até ontem, não lhes exigiram comprovassem
suas asseverações.

O QUE FALAM OS ALUNOS QUE CONSEGUIRAM ESCAPAR

Ainda da Reportagem:

“Pensávamos que os grão-mestres nos tivessem sido


mandados do Céu e acreditávamos que era PURA
VERDADE o que nos diziam. E, quando os grão-mestres
nos diziam coisas que não entendíamos, pensávamos
que a culpa era nossa, mas que, futuramente, iriamos

[161] OP DE UITKIJK. nº 4 - Abril, 1966 - Holand.

– 282 –
compreender”.

SEGUIDORES PASSIVOS, MANSOS, OBEDIENTES E


HIPNOTIZADOS

Comenta ainda o repórter:

“Esses alunos, muito embora estudiosos e críticos,


sentiam-se como que hipnotizados e, nessas condições,
ficavam passivos, obedientes e mansos. Não tinham
coragem de criticar a palavra e as ações dos dois grão-
mestres e, além disso, sacrificavam tudo de seu, em
benefício da comunidade”.

Nada poderiam falar porque, para pertencerem ao que


chamam de “Escola da Consciência Superior”, os alunos tinham
que passar por um condicionamento especial, que consistia na
assistência obrigatória aos respectivos serviços templários; na
fidelidade absoluta e sem discussão às palavras e ensinos dos
mestres; na abstenção absoluta de crítica e de toda a leitura que
não a indicada por eles.

OBEDIÊNCIA INCONDICIONAL AOS DIRIGENTES

O aluno é obrigado a se comprometer a prestar uma


obediência incondicional à escola e à sua direção, transformando-
se em verdadeiro autômato (33 pontos, pag. 10). Aliás, como
sabemos, toda obediência incondicional imposta a uma pessoa
leva-a ao fanatismo, tornando-a, inclusive, perigosa, por
inconsequente; é o primeiro passo na formação de uma unidade

– 283 –
programada.

QUALQUER INFRAÇÃO É PECADO MORTAL

Os seguidores, em cumprimento à obediência


incondicional, são obrigados a prometer absoluto sigilo a
respeito das conferências, ensinamentos, atos e orientações
da escola, porque, se declinarem qualquer coisa que se passe
lá dentro, ou se cometerem qualquer infração nesse sentido,
estarão: “COMETENDO PECADO MORTAL”.

QUE É PECADO MORTAL EM SUA LINGUAGEM

Cometer pecado mortal, em sua linguagem gnóstica,


significa estar excluído da salvação; não poderão entrar no reino
reservado para eles; não poderão entrar pelo tubo (cano), que
os levará até ao “Plano Astral Puro”, onde irão morar todos os
seguidores da escola; não será, afinal, tocado pelos bafejos da tal
de gnoses, quem faltar à obediência.

RITUAL DE ENCOMENDAÇÃO - RITUAL DO CANO OU


GNOSEODUTO

Trata-se de uma cerimônia destinada a encaminhar


o defunto até ao destino onde estão os demais companheiros
falecidos. Afinal, uma cerimônia copiada do Lamaísmo (é
claro, com deturpações) e do Catolicismo, se bem que nestes
a encomendação constitui um ato de confirmação, em que se
ora pela alma do falecido, pedindo a Deus que lhe dê descanso
e misericórdia. Ali, entretanto, trata-se de uma encenação para
impressionar a quem ainda lá está.
Afirmam que, por meio de tal ritual, estão encaminhando
o falecido para o “Astral Puro”, onde deverão permanecer; que

– 284 –
para chegar até lá precisam passar, logicamente, pelo astral
povoado pelos mortos das outras Igrejas, religiões e movimentos.
Para passar por essas regiões e não serem aprisionados
ou molestados, imaginaram um TUBO (cano), através do qual,
conforme pregam, deverá passar o falecido até chegar à região
por eles imaginada.
Como sabemos, imaginação comporta tudo; assim como
imaginaram um CANO (tubo) poderiam ter imaginado uma
nave espacial ou um foguete gnóstico para levar o defuntinho.
Não seria melhor do que um tubo?
O ritual começa com uma cantarola a que acompanham
todos os presentes. Depois, o oficiante (despachante) evoca o
morto (cena de espiritualismo a que condenam), chamando-o
pelos apelidos, se os tiver, e terminando pelo nome completo;
pede-lhe que olhe o cano (tubo) e que entre por ele até chegar ao
reino imaginário.
Lembro-me de um de nossos amigos que, falando
sobre essa pantomima, assim se expressou, reproduzindo-lhes a
invocação seguinte:

“Fulano, fulano, olha o cano, olha o cano.


Entra no cano ... etc...”

A verdade é que ele começou a entrar pelo cano desde o


dia em que aceitou irrealidades.
Íamo-nos esquecendo de relembrar que o canto
destinado a embalar o defunto para o cano, é um hino de nº 65,
cuja música é tirada de um canto católico e também protestante,
tendo-lhe sido aplicada a seguinte letra, mais ou menos:

– 285 –
Ó cidade Santa (Shambala),
vem teu viajor,
abre-me as passagens
ao país de Gob (agora é no astral).
Luz dos candelabros, ... etc., etc., etc.

Até uma criança acha ridícula essa fúnebre manobra de


enviar um espirito através de um cano para uma determinada
região. Um espirito burilado ou em estado de pureza não
necessita entrar pela tubulação; se o está fazendo, é porque se
encontra no mesmo estado vibratório daqueles que o estão
condicionando. Uma Entidade liberada torna-se incólume aos
miasmas de qualquer região e, além disso, espírito não passa;
só as coisas materiais sim. Espírito não é coisa material que se
envie, como o petróleo e outros líquidos, por meio de um cano,
às partes mais altas e, acima de tudo, se o extinto precisa passar
por um tubo para fugir aos demais, é porque as coisas não estão
boas. É de se lhes perguntar com que autorização fizeram eles a
instalação desse tubo (gnoseoduto) nas regiões alheias? Isso é
invasão de propriedade, não acha?
Não teria sido melhor que tivessem construído uma
galeria para que fossem mais confortavelmente? Um cano?
Tenham paciência; deve ser uma travessia muito confinada.

PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO

O repórter também comenta:

“Como estava se aproximando dos seus 70 anos, o velho


LEENE resolveu, em ato público, ante cem alunos,
vindos de todas as partes, instituir seu filho Henk

– 286 –
Leene, como sucessor. Velhos pretendentes à ‘Cátedra
de Pajé’ não receberam bem a indicação, o que motivou
a manifestação da companheira nos seguintes termos:
‘Quem não aceitar a indicação de Henk Leene cometerá
pecado contra o ‘Espirito Santo’”.

Aliás, quando me chegou às mãos essa circular para


ser lida aos companheiros, achei que, além de idiotas, ainda
estavam se arvorando a “EMPRESÁRIOS” do Espírito Santo,
com autoridade para dizer e decidirem quando, ou não, alguém
passaria a ofender o “Espírito de Deus”.
Pensem nessa!
Porém, logo depois, foi ela mesma que, em seguida
ao falecimento do Pajé, resolveu, com outros, não aceitarem a
permanência do Henk. Naturalmente entraram em conchavos
com o Espírito Santo para que isso não fosse pecado. Note-se que
o Pajé, que via tudo, que sentia tudo, que era sábio e tudo mais,
não sentiu que ir iam colocar um sucessor para correr.

RITUAIS, BATIZADOS, CASAMENTOS, CONSAGRAÇÕES E


ENCOMENDAS

Apedrejam as organizações religiosas, mas, apoderaram-


se dos rituais das igrejas católicas e protestantes para, em nome
de Cristo, sem nenhuma tradição, fazerem rituais de batizados,
casamentos, encomendação de defuntos e outros; porém, com
dizeres mais sofisticados, como por exemplo:
Na cerimônia existe uma bacia para colher a água que
é derramada de um jarro, e óleo para untar o “cara” que vai ser
batizado, etc.
E, finalmente lá vem o batismo sofisticado.
Diz o oficiante:

– 287 –
“Eu te batizo em nome do pai, que está em segredo,
Em nome do filho que está na luz e,
Em nome do Espírito Santo, que é a vida mesma.”

VACINA CONTRA O TUBO OU GNOSEODUTO

Não era nossa intenção falar sobre conferências,


ensinamentos, atos ou orientações da rosacruz; porém, como
fazê-lo constitui o tal de pecado mortal, que proíbe ao infrator
o ter de entrar pelo cano, resolvemos tocar nesse assunto; não
só para ficarmos vacinados contra a entrada no tubo, como
também, para deixar claro que insurgem-se contra as religiões,
espiritismo e coisas outras, mas tem também seu mundo astral
(Rev. Voz de Ibez - nº 2 - Fl. 4 e “Os 33 Pontos”, onde falam no
Astral Puro). O dos outros é impuro, o deles não, porque só se
chega lá através de um cano, para não se sujar no caminho.
Um amigo ao gozar a história do tubo disse:
“Ora, se eu quiser ir até lá para ouvir aquelas cantiguitas,
não preciso confinar-me no cano, vou por cima dele, andando e
palestrando com quem se encontra livre do lado de fora!”

O PROBLEMA DO CÂNCER

O Câncer, por ser uma moléstia pelo menos até tempos


próximos, de causas indeterminadas, e mesmo várias, oferecia-se,
também, como um bom campo para explorações espiritualistas,
como da mesma forma, os discos voadores, Era de Aquarius,
Mundos Subterrâneos e outras excentricidades.
Não perderam tempo. Foram logo escrevendo um livro
com o título “O Problema do Câncer”.
Nessa obra, que aliás anda desaparecida, entram na
“Onda” de que, em virtude de uma irradiação intercósmica,

– 288 –
vinda não se sabe de onde, processa-se uma degeneração celular,
motivada por irradiações da força do espírito (pag. 12 dessa
obra).
Insinuam, logo após, que isso só poderá ser evitado por
outro método de vida (pag. 13 da obra); que o ser humano só
tem “Duas Opções”: ou se entrega à tal de irradiação cósmica,
aceitando-a, ou então é devorado por essa mesma irradiação.
Como não existe aparelhagem que possa localizar,
classificar e selecionar as múltiplas irradiações intercósmicas,
passam, sutilmente, a fazer o preconício de que controlam essas
irradiações; que estão envoltos nela; metem Adão, o Paraíso,
Jesus Cristo, Pã e outros nessa história; culminando por dizer
que, ou seguem o que eles dizem, ou estarão todos fritos (pag.
13 da obra) por causa da tal de irradiação degenerativa, cuja
fase final se resume em câncer (pag. 14 da obra); que, porém, o
discípulo está sem qualquer perigo ou ameaça quanto ao câncer
(pag. 23, idem).
Toda essa balela veio sendo pregada desde cerca de 30
anos, enquanto a ciência não começou a positivar que a maior
incidência cancerígena estava vinculada a “vírus” e poluentes
do ar, entre os quais: monóxido de carbono, hidrocarbonetos;
dióxido de enxofre, de nitrogênio e centenas de outros, além da
ingestão de agentes químicos direta ou indiretamente adicionados
à alimentação, não se falando nos conflitos emocionais e causas
outras.
Ressalte-se que, mesmo com todas essas ameaças,
sabemos que a maioria dos discípulos ali tem morrido, mesmo, é
de câncer, não se falando dos seus chefões.
Mas, quando isso acontece, vem a desculpa: eles
escolheram morrer assim!...
O ataque depreciativo que fazem às religiões, escolas
ocultas, espiritismo e afins, mostra-lhes a incoerência, porque
todos seus atos ritualísticos são típicos e caracteristicamente

– 289 –
místico-religiosos, e de operações idênticas às ocultistas, tais
como evocações, orações, litanias, consagrações, etc.; como
exemplo: o acender e o apagar de velas, copiado daqueles.
Ao iniciar-se qualquer ritual ou cerimônia místico-
rosacruz, é imprescindível acenderem-se as velas do candelabro
judaico, ou seja, o castiçal de sete braços, cujas velas devem ser
acesas, ritualisticamente, traçando-se um triângulo, e dizendo-
se:

Em nome do pai;
Em nome do Filho;
Em nome do Espírito Santo;
Na base da Trindade;
Na base do seu amor;
Na base da sua sabedoria; e
Na base da sua força.

Essa forma de acender o candelabro é uma adaptação


da que usavam, anteriormente, o cristianismo e movimentos
ligados ao velho testamento, porém com dizeres diferentes.
Todas essas manobras, como se pode ver, são puramente
atos de ocultismo, misticismo e religiosidade iguais aos das
organizações que atacam; como também o são as evocações;
música vai, música vem; o uso do caduceu copiado de Hermes;
a Cruz Cristã; a mesa triangular copiada da maçonaria; jarros
especiais para batizados; taças; fonte jorrando água, como
nos rituais da Golden Dawn; alfaias e apetrechos; rituais de
casamento, batizados e outros. Lembramo-nos de que, certa
ocasião, descobrimos um dos dirigentes paulistas usando um
patuá ao pescoço, constituído por um símbolo da confraria, na
forma de um círculo com um quadrado e um triângulo dentro e,

– 290 –
conversando com a gente, de quando em quando, passava a mão
no amuleto, possivelmente para receber as “misteriosas forças
gnósticas”.
Ao ver aquilo pensamos:
Depois de todo esse tempo essa gente ainda continua
amarrada a reminiscências tribais? Tal primitivismo fez-nos
lembrar Gustav Jahoda, ao dizer que certas superstições “são
mais tolas e ridículas do que a de qualquer africano selvagem
rastejando e rosnando diante de seu amuleto” (Pisicologia da
Superstição - Paz na Terra, 1970).
Cada qual tem o direito de usar o patuá que precisar;
adotar o ritual que entender; frequentar o terreiro ou religião
que quiser; é questão de necessidade, mas, esse direito não
justifica o de apedrejar organizações seculares, como o vimos
linhas atrás; por isso temos o direito de apontar suas tolices,
como um desagravo a todas aquelas instituições ou movimentos
que não tiveram a oportunidade de fazê-lo, por desconhecerem
tais ataques.

ESCOLA DA CONSCIÊNCIA SUPERIOR

Em sua reportagem J.W. Jongedijk relembrou que os


organizadores da nova rosacruz passaram a dizer que “estavam
neste planeta terra como enviados da Fraternidade Invisível”
(anexo XIX).
É fácil notar que só descobriram isso quando estavam
maduros, isto é, avançados em idade.
É bastante dizer-se que somos enviados de algo invisível
ou misterioso para que tenhamos uma turba a seguir-nos.
Sim, é claro que, como vocês, fomos na onda do tal de
transfigurismo; mas, pelo menos, tivemos a coragem de confessar
o erro e de expô-lo, pois, está escrito: “julgai todas as coisas,
retende o que é bom” (I Tes. 5-21). Nisso consiste a verdadeira

– 291 –
síntese.
Quem quer que se firme como representante de uma
“Fraternidade Invisível” ou de Deus, nunca correrá o risco de
ser desmascarado por seus representados, porque ninguém vai
encontrá-los para o desmascaramento; mas, somente aos seus
dignos representantes. Portanto, meus amigos, se qualquer um
de vocês tiver tendência para essas coisas, é bom ir aproveitando
a “chance” porque o mercado é promissor. Basta escolher algum
símbolo ou apetrecho egípcio; cruzes com rosas ou sem rosas;
badulaques; pendurá-los ou amarrá-los à cintura; vestir uma saia
colorida e terá uma multidão de interessados a acompanhá-lo.
Experimente. Nem que seja por brincadeira!
A prova disso está confirmada em constantes reportagens
de nossos jornais, como por exemplo a do Diário de Minas (13-
04-76), quando, ao falar dessas variadas formas de superstições,
lembra-nos que no Brasil está se desenvolvendo a propaganda
da exploração da fé popular, por intermédio de falsos profetas
fazendo promessas impossíveis de se concretizarem (vide anexo
VI).
J.W. Jongedijk abordou, ainda, a chamada “Escola da
Consciência Superior”. Aliás, essa escolinha interna e o chamado
4º Aspecto ou “Grupo Sacerdotal”, constituem o “Xodó” do
movimento rosacruz: tanto que o referido repórter, ao perguntar
ao Stratmam, imediato do grão-mestre, se algum aluno já havia
alcançado esse bafejado estado de Consciência Superior, este,
vendo-se encurralado, limitou-se a responder com evasivas,
terminando por concluir que “Sobre isso não se pode falar” (falar
o que?!...).
Pois bem, já que ele não quis falar, falemos nós:
A quem conhece as atividades Teosóficas, relembramos
que a chamada “Escolinha da Consciência Superior” e o 4º
Aspecto, que em última análise se completam, nada mais são que
uma imitação deturpada da “Escola Oculta da Teosofia”, de quem,

– 292 –
também, copiaram os chamados rituais de cura, com adaptações
nos moldes do ritual Martinista, dando-lhe a denominação de
Rosenhof.
No tocante a rituais, existem, para sua execução, as
chamadas “Instruções para serviços nos Templos”, onde é traçado
o seguinte roteiro para todos os trabalhos:

Um voto,
uma invocação,
um ritual,
uma alocução,
hinos,
cantarolas e
orações.

É fácil notar-se aí uma mistura de práticas ocultistas,


místicas, tribais e até invocações. Nisso se resumem, em síntese,
os trabalhos da confraria, seja para os alunos que estão entrando
na programação, chamados de preparatórios, seja para os mais
velhos de casa; apenas varia a conversa. Essas instruções, que
temos em mãos, traçam as diretrizes básicas de como proceder
com o ritual, alocuções e tudo mais, a fim de se programar,
convenientemente e com segurança, os futuros membros
do movimento. Sob a alegação de constituir um pecado
“mortalíssimo”, proíbem que se mostrem os rituais e demais
matérias da escola fora do seu ambiente, porque os profanos,
chamados por eles de dialéticos, não podem ver essas coisas, e
quem desobedecer está perdido para a tal de “Dona Gnoses”, não
poderá participar da falange rosacruz quando morrer.
Pois bem, como a rosacruz proíbe que se fale sobre as
atividades da escolinha da consciência superior, do 4º Aspecto

– 293 –
e coisas mais, proibição essa que faz parte de uma “Obediência
incondicional”, nós, que participamos dos dois grupos, vamos
relembrar àqueles que conosco lá estiveram e, também dar a
conhecer a quem lá não chegou, em que consiste toda aquela
pantomima.
Só assim provamos não estar obedientes às suas
proibições, nem tampouco temerosos de seus pecados mortais,
e, para nos vacinarmos, a fim de ficarmos livres de seus astrais
puros, nuvens ventiladas, shambalas e cantarolas gnosticadas
enchendo-nos a paciência, e mostrar o que, na verdade, são
todos os rituais que andam por aí.
É evidente que proibições dessa natureza, nada mais são
além de meios usados para evitar que suas tolices e ingenuidades
venham a cair em mãos de pessoas críticas e inteligentes.
Em resumo, a chamada “Escola da Consciência
Superior” ou “3º Aspecto”, como vocês se lembram, de superior
só tem o nome, com o intuito de impressionar os candidatos
e, também, o de mostrarem-se detentores de algo secreto e
misterioso... Na realidade, tudo não passa de simples repetição
de atos ocultistas e de misticismo vulgar, como as músicas
copiadas dos protestantes, embora com outras letras, rituais; e
uma leitura, geralmente compilada de velhos textos de teosofia,
budismo, hermetismo, etc., acompanhados de um versículo ou
mais do evangelho para se melificar o aluno.
Trata-se, pois, de uma reunião com um nome pomposo,
em que tomam parte alunos que se tenham submetido a
uma obediência total, mesmo que seja aparente; não leiam
absolutamente obras editadas pelas igrejas, seitas ou ordens
monásticas; tenham abandonado a televisão (só os chefões
podem assisti-la e ler de tudo); tenham abandonado a astrologia,
espiritismo, catolicismo, etc. Aliás, sobre esse assunto manifestou-
se, também, a reportagem da revista “OP DE UITKIJK”.
(Observem a programação e também o ridículo aos

– 294 –
olhos do homem incondicionado).
Todos, ao entrarem na sala de sessão do 3° e 4° Aspectos,
têm que exibir caras de santinhos.
- Havia cada santinho?!...
- Lembram-se?...
Tinham de entrar de mansinho; descalços, e como se
fossem receber a comunhão católica! Aliás, para quem ali estava,
era a mesma coisa; só que iam entrar na tal de gnoses, ou melhor,
a gnoses ia entrar na turma. Só que não se via por onde ela estava
entrando...
Depois que todos estivessem sentadinhos, com a
maior cara de santo do mundo, bonzinhos, comportadinhos e
silenciosos, o oficiante ou sacerdote subia ao púlpito; umas vezes
eu, outras o meu companheiro de direção, ou então o oficiante
que vinha, vez por outra, de São Paulo para fazer o trabalhinho,
dizia:
“Vamos tomar a posição Crística”?!...
Pensem bem: A posição Crística! (depois
comentaremos).
O oficiante não toma a posição crística; fica na posição
poste; de pé para celebrar a coisa. Chamo coisa ou pantomima
porque, como vocês se recordam, aquilo era uma verdadeira
palhaçada, uma introdramatização idiota, uma coisa de
desequilibrados. Pelo menos eu, pessoalmente, assim a achava,
porque a posição exigida e por eles apelidada de “CRÍSTICA”
hipocritamente, nada mais era que uma das clássicas posições
orientais de meditação; era a velha e conhecida posição Egípcia de
Horus sentado, que consiste em sentar-se ereto em uma cadeira
regular, com as mãos sobre os joelhos, tendo-as abertas com as
palmas viradas para baixo. Posição essa usada milenarmente
pelos orientais desde a Hatha-Yoga até às Yogas superiores, Krya
e Shabd Yoga; Mazdaznan e mesmo em práticas de relaxoterapia
ocidental. Portanto, desde então, eu continuava observando para

– 295 –
ver até onde culminava tudo aquilo.
Nunca lera, vira ou ouvira em toda minha vida qualquer
referência a Cristo sentado a “La Horus”, nem tampouco disso
sabiam velhos amigos e companheiros versados em Teologia;
ninguém jamais soubera de tamanho disparate! Ainda bem que
o colocaram somente sentado, poderia ter sido pior!
Voltemos à cerimônia do 3º Aspecto:
Depois de sentados, colegialmente, na tal posição
crística, ordenava-se que deixassem o corpo permanecer
descontraído, sem tensões, em paz; que se esquecessem dos
problemas da vida dialética; que a respiração fosse lenta; que
pensassem na fonte que existe no Templo, para que, dessa forma,
a força gnóstica pudesse entrar?!...
Logo depois o oficiante começava o ritual dizendo:
“Abrimos os nossos trabalhos em nome de Jan Van
Rijeckenborg e Catharose de Petri”.
Procurem relembrar-se:
Os trabalhos eram abertos sempre em nome dos donos
da confraria e não no de Cristo, em cuja posição diziam estarmos
sentadinhos (à la Hórus). Nos demais movimentos, inclusive
rosacrucianos, as aberturas se fazem em nome das divindades;
ali não, era em nome de J. Van Rijekenborgh e da madame.
Certa feita, não sei se se lembram, realizou essa
cerimônia um oficiante de fora (do interior), tendo a coragem
de dizer.
“A Era de Jesus Cristo já passou, nós agora estamos na
Era de J. Van Rijekenborgh” (o pajé).
Ao ouvir isso, possivelmente devido a minha formação
Cristã, senti repugnância e a impossibilidade de continuar
aguentando aquilo.
Porém, só agora compreendi que ele estava com razão:
Falava da Era do Anticristo.
É óbvio, quando eu manipulava o tal xarope (ritual),

– 296 –
fazia-o em nome da trindade - Pai, Filho e Espírito Santo - pelo
menos a intensão era a melhor possível, enquanto pudesse
suportar a coisa.
Desnecessário é relembrar-se que logo depois ouvia-se
uma musiquita, uma oração, uma cantarola - às vezes até mais
de uma - a leitura do ritual, a alocução e o encerramento com
novas músicas, cantos e a exortação para meditar-se em um
texto bíblico; e que todos se retirassem, silenciosamente, para
que a força eletromagnética da gnoses não viesse a sair por onde
entrara.
Não há necessidade de longos esforços para se
positivarem nessas práticas um amontoado de ações místicas,
ocultistas, e ainda uma agressão à memória de Cristo, ao
imaginarem-no sentadinho em uma posição na qual jamais
esteve, nem tampouco seus apóstolos. Procurem imaginá-lo
sentado “à la Hórus”; numa cadeira, ereto, com as mãos sobre os
joelhos, com os olhos fechados, pensativo, etc., etc.
- Que tal?
- Não é um absurdo?
- Mas que até fica engraçadinho, fica!
Quanto aos textos bíblicos usados, à guisa de recordação,
e para ficar provado, mais uma vez, que se trata de uma nova
e espúria forma de apresentarem o “protestantismo”, vamos
relembrar-lhes, entre outros, os seguintes, dados mês a mês, a
título de passos:
1º mês: Mt. 6:25-34; Mc. 13:11; 1Jo. 4:18;
2º mês: Lc. 1:45-56; Gl. 5:22-26; 1Tm. 6:17; Mt.
11:29; Rm. 12:16; 1Co. 7:6; Tg. 1:9 e 4:6;
3º mês: Mt. 7:1-5 e 2:28-32; ICo. 10:9-13; Ap. 7;
4º mês: Rm. 12:9-21; Ap. 2:1-7;
5º mês: lCo. 11:17-34; Fp. 3:8-16; Hb. 6:11 e 12:19-
20; Mt. 7:1-5, 28-32; 1Co. 5:9-13;
6º mês: 1Co. 1:13;

– 297 –
7º mês: Fp. 2:7-16; Ap. 7; e por aí a fora meses
seguidos. Não vamos continuar, para não transcrevermos a Bíblia.
Fizemo-lo apenas para mostrar as deturpações protestantes em
que atuam.
Após meses nesse estágio de programação, o aluno
está em condições de ingressar no 4º Aspecto para integrar o
chamado “Grupo Sacerdotal”, cuja função é a do amaciamento e
programação de novos membros.
Já devem ter aprendido a viver, pensar e agir, dentro dos
padrões traçados pelo movimento.
Não vemos necessidade de alongamentos quanto à
ritualística do 4º Aspecto porque, seguindo as instruções gerais,
resume-se na mesma coisa: musiquinha, cantarola, oração de
abertura, invocação, ritual, alocução e o encerramento de estilo;
apenas ficando os membros obrigados à prática de um ritual
diário, isto é, a uma adaptação idêntica à do sacerdote católico,
devendo tal trabalho ser feito, ao levantar-se, à tarde, e à noite
ao deitar-se, para que, durante o sono, o oficiante se mantenha
programado e amarrado, mais e mais no sistema a que se propõe.
Cada aluno é exortado a se adentrar na “Falange
Sacerdotal”. Falange sacerdotal é o grupo de alunos que orienta
e acompanha o agir dos iniciandos, vigiando-os nos atos da vida
diária. Se descobrem que assistem, por exemplo, a Televisão, são
suspensos ou expulsos, etc. (só os maiorais podem assistir tv,
etc.).
Cada membro recebe o ritual pessoal, sendo obrigado,
em consequência, a praticar uma série de atos tipicamente
ocultistas; ritualísticos como segue: dirigir seus pensamentos
para a fonte de Renova (técnicas ocultistas voltadas para a
sede), traçar uma “linha magnética” e de força mental para esse
centro; fazer orações; ficar em serenidade, sentadinho na posição
Crística(?)!, etc..
Aos ex-companheiros, que não chegaram a integrar o

– 298 –
tal de 4º Aspecto, e aos estudiosos do comportamento humano;
dos processos adotados para dominar e dirigir a mente alheia,
por meio de técnicas programatórias indiretas, transcrevemos os
tópicos principais desse ritual:

EXCLUSIVAMENTE PARA USO PESSOAL


RITUAL DE SERVIÇO PARA O GRUPO
SACERDOTAL

Antes de iniciardes o vosso serviço:

DIRIGI-VOS AO SANTUÁRIO DA EKKLESIA - e,


partindo desse SANTUÁRIO, traçai A LINHA DE
FORÇA MAGNÉTICA para o CENTRO DO TEMPLO
DE RENOVA - A FONTE.

ORAÇÃO:

“ÁGUA VIVA - DESÇA SOBRE NÓS,


PERMITA QUE A TUA FORÇA, PARA A VIDA
LIBERTADORA PENETRE-NOS. AMÉM.
Que possamos entrar no SILÊNCIO -
na tranquilidade DO EQUILÍBRIO DA ALMA”.

Vem depois uma série de lamentações pedindo paz e


clemência; uma série de AMÉNS e, após momentos de silêncio
(meditação), torna-se a voltar, internamente para a tal de Renova
na Holanda (misticismo), e dão a coisa por encerrada com um
novo AMÉM e mais uma musiquita para a turma sair com cara
de anjo.
Essa forma de programação deve ser feita pelos

– 299 –
discípulos em todos os momentos possíveis, a fim de mantê-los
ligados à Renova na Holanda, sendo as instruções a esse respeito
as seguintes, que acompanham o ritual pessoal:
a. conhecer o ritual e suas regras, de cor;
b. pela manhã, ao despertardes, as leiais de modo bem
concentrado;
c. que façais o mesmo à noite, antes de dormirdes;
d. que escolhais um terceiro momento no decorrer do
dia, para um semelhante exercício;
e. nas reuniões e encontro com vossos irmãos, ler e
discutir essas regras;
f. lembrar uns aos outros as obrigações dessas regras,
etc., etc..
Para quem tem o mínimo de conhecimento de psicologia
das massas e das regras para dirigir o comportamento humano,
nada mais há a acrescentar.
Quanto a mim, limitei-me, simplesmente, a tomar
conhecimento desse ritual; lê-lo e a guardá-lo, não mais. Nunca
perdi tempo em praticá-lo por achá-lo uma idiotice, e saber,
afinal, em que consiste uma programação dirigida por outros.
Os rituais dos aspectos constituem um prolongamento
dos demais, com atribuições mais ou menos idênticas às
atribuídas aos sacerdotes católicos; porém, em outro sentido.
Afinal, quem trilhou por sociedades secretas ou
semelhantes, e lhes tenha galgado os chamados altos graus, sabe
muito bem, que todos rituais, sofisticados ou não que sejam, são
processualísticas condizentes com a época e o estado daqueles
que os assistem; seja para educá-los - e alguns são até belíssimos
e edificantes em seu simbolismo - seja, como quase sempre
acontece, para condicioná-los, quando não, para cibernetizá-los.
Daí o perigo.
Podemos fazê-los como muito bem entendermos, é

– 300 –
questão pessoal de quem os elabora.

ROSENHOF

Onomatopeicamente da-nos a impressão de tratar-se de


um caso de rosetagem, mas não; trata-se de uma encenação de
cura.
Os espíritas, como sabemos, adotam diversos meios
de cura para quem indistintamente os procura; já a Teosofia
adota, para esse fim, um ritual especial; o mesmo adotam outros
movimentos religiosos e espiritualistas, ressaltando-se, por
exemplo, o Martinismo, onde existe o serviço de cura, através de
uma cadeia magnética e um ritual específico, onde são citados os
nomes dos necessitados, os males, etc., findo o que são as listas,
onde se encontram seus nomes, devidamente incineradas e as
cinzas lançadas em determinado local...
A rosacruz não fica atrás, copiou, como as demais
coisas, e adotou o seu trabalhinho de cura; e não digam que se
trata de manobra ocultista!? Nada disso! Ali quem cura é a “Dona
Gnoses”. Tal trabalho fica a cargo do Rosenhof, mas somente
para os alunos; sapo de fora não ronca.
Acontece apenas que, até hoje, não tivemos
conhecimento de ninguém que se curasse Rosenhofeado.
Quando as coisas começam a ficar pretas correm mesmo é para
os médicos a quem chamam de dialéticos, deixando a “Dona
Gnoses” de lado.
Muitos, quando viram que aquilo não funcionava,
acabaram recorrendo à macrobiótica a que condenavam. Quem
duvidar, procure o nosso companheiro Edwiges Aurichio, que
bem se lembra de que foi advertido para não fazer macrobiótica,
porque era uma coisa dialética, mas, quem o advertiu acabou
indo mesmo para a comida japonesa.
Sem nenhum intuito de propaganda ou de proselitismo,

– 301 –
é de se lembrar que existem movimentos sérios onde os indivíduos
não esperam que a morte os devore passiva e inconscientemente,
com doenças como enfartes, derrames e câncer, como tem
acontecido com os chefões de algumas organizações.
Dentre tais movimentos é de se citar aqueles a que
pertenciam Lahiri Mahasaya, Sri Giri Yukteswar, Paramahansa
Yogananda, e outros, como alguns ramos do Lamaísmo, cujos
membros, ao notarem a imprestabilidade do corpo material,
quanto ao atendimento dos objetivos do espírito, o abandonam
como à roupa usada.

– 302 –
ACONTECIMENTOS NO BRASIL -
ROSACRUZ HOLANDESA

C
omo vocês sabem, esse movimento teve ingresso no
Brasil, através do ex-companheiro, já falecido, Lamartine
Nunes Vieira, ramificando-se depois para São Paulo, e a
Minas Gerais por culpa direta do Dileto amigo Antônio Cruz,
ajudado por mim, e posteriormente por Ciro, Paulo, Reginaldo e
Senhora, seus familiares e demais amigos.
Entre nós, por diversas vezes, estiveram os holandeses,
Stratmam, Strick e Feeks, fazendo suas catequeses, todos
membros da chamada cabeça áurea, isto é, CHEFÕES, já meio
transfigurados (“velhos”), sendo de lembrar-se que o Strick, a
última vez que esteve conosco, já estava “gagá”, devido a uma
espécie de estuporação que tivera. Lembram-se da última vez
que o vimos em Águas de São Pedro?
Como tinham a mania de visitar constantemente
as Grutas da Lapinha e de Maquine, falamos-lhes de outras,
existentes no Brasil, dentre as quais se destacavam as de Goiás:
Traíras, Terra Ronca, Ouro Fino, Santa Rita; São Félix, Anicuns,
Caiapônia e outras em Mato Grosso.
Na época, inclusive, a revista “O CRUZEIRO”
publicara, pela segunda vez, uma reportagem da “Loja Teosófica
Brasileira”, onde falava de três cidades Subterrâneas; segundo a
Teosofia, encontra-se uma delas sob sua sede em São Lourenço;
cidades essas conhecidas, entre estes, como Duat, Shamballa e
Agarta. Um número dessa revista lhes foi entregue na época, e

– 303 –
transmitida à direção na Holanda.
Cansados de pregar ilusões e fantasias na Europa, e
desejosos de buscar novos suprimentos impressionantes para
incrementar o movimento, os grão-mestres viram interessante
o assunto “MUNDOS SUBTERRÂNEOS” pregados pela Loja
Teosófica, principalmente devido à literatura já existentes
sobre esse assunto e deles conhecidas. Era um tema por demais
transcendente e maravilhoso para ficar apenas nas mãos da Loja
Teosófica Brasileira; era necessário tomar posição, para que
eles, procuradores do Espírito Santo, pudessem dessa forma,
mostrarem-se, pelo menos aos seus seguidores, evidentemente
inteirados e em contato com as coisas mais secretas do mundo.

ANTECEDENTES: VIAGEM AO BRASIL

Em fins de 1967, setembro, chegam os chefes da rosacruz


ao Brasil - Rio de Janeiro, São Paulo e ultimamente em Belo
Horizonte - onde, imediatamente, uma caravana se organizou
para ver os afamados BURACOS de Minas Gerais - Grutas
da Lapinha e de Maquine. Os europeus pareciam tomados do
“complexo de tatu”. Aliás, o grão-mestre, na conferência de que
falaremos mais adiante, disse textualmente:
“A comunidade que está no interior da Terra tem, entre
outras coisas, o seu domicílio no Brasil. E esse foi o motivo, e
precisais sabê-lo, pelo qual os grão-mestres empreenderam a
viagem através do Oceano”.
Estavam programando o “investimento-tatu”, ou seja,
procurando entrar na onda dos Mundos Subterrâneos e dos
Discos Voadores”.

ACONTECIMENTOS EM BELO HORIZONTE

Aqui nada ocorreu digno de ser notado; apenas a

– 304 –
visita da caravana, composta de holandeses, alemães, franceses
e suíços, bichos iguais aos outros. Como pudemos notar, todos
elementos da classe média, mais fanáticos que os brasileiros. Se
bem que insignificante em todos os sentidos, uma ocorrência
deve ser lembrada, tendo em vista as consequências e o resultado
que dela quiseram tirar os mandatários e inventores da rosacruz
holandesa.

EI-LA:
Dois amigos meus, estudiosos de assuntos esotéricos
e de coisas afins, sabendo por nosso intermédio que
o Cacique da rosacruz vinha visitar sua tribo em Belo
Horizonte, e sabendo-me o dirigente do movimento
neste local, interessaram-se em vê-lo. Curiosidade, é
lógico! Como não havia nada de mal, e como para mim
o único mistério do mundo é a ignorância, disse-lhes
que não havia, absolutamente, nenhum inconveniente
em que fossem ao aeroporto, principalmente para
aumentar o pequeno número que éramos.
Na oportunidade foram apresentados e, como o
“cacique” se sentara em uma das poltronas, à espera de
que se retirassem as malas, os nossos amigos (para ele
seres do outro mundo) sentaram-se ao lado e fizeram-
lhe as seguintes perguntas em inglês:
— O que acha o grão-mestre da Aura do Brasil e do
futuro Espiritual do seu povo?
Aliás, essa pergunta é muito comum entre os estudantes
da Teosofia de Adyar. Imediatamente chegou o tal
Stratmam, seu lugar-tenente; desconversaram e, ao
invés de saírem pela tangente na resposta, preferiram
escapar pela secante; não deram resposta aos dois
SERES (meus amigos) que, daquela hora em diante,

– 305 –
passaram a integrar a tela mental do cacique, como dois
enviados especiais dos mundos subterrâneos; sobre o
que se falará mais adiante.

NOVOS ACONTECIMENTOS EM ÁGUAS DE SÃO PEDRO

Como recordais, nesse local realizou-se a chamada


conferência de AQUARIUS (sempre nomes sugestivos,
impressio-nantes e distantes). Alí, o assunto abordado, como não
poderia deixar de ser, foram as celebres irradiações misteriosas
vindas dos confins de “Cisne” e “Serpentarius” (duas estrelas
pertencentes, parece, à constelação de Sagitárius, nos confins da
Via Láctea). Aliás, os exploradores das inquietudes espirituais,
das quais vivem e se sustentam, sempre abor-dam estes temas:
discos voadores, mundos misteriosos, forças impalpáveis, que só
eles sentem e manobram; Eras de Aquarius, Seres Subterrâneos e
outras excentricidades.
Devemos recordar que no século XVI surgiu grande
interesse pelas novas das contelações de “Cisne” e “Serpente”
que foram em 1602 e 1604 assunto que, transpondo as barreiras
da ciência, chegou ao reduto dos místicos e fanáticos da época,
passando, por isso, a constituir um bom elemento para as
explorações rosacruzes surgidas logo após, ao dizerem que
tais estrelas e suas irradiações cons-tituíam uma das chaves da
alquimia; foi, portanto, dando um mergulho nesse passado que o
conferencista veio nova-mente com essas irradiações arcaicas, [162]
procurando amedrontar a quem o ouvia.
Atraído pelo movimento não comum no local, um
seminarista curioso procurou infiltrar-se no meio dos assistentes,
conseguindo-o; verificando, porém, que a conversa de irradiação

[162] The Brothrhood of the Rosycross - A. E. Waite - 1966 (University


Books - N. York).

– 306 –
para lá, irradiação para cá, não levava a nenhuma conclusão,
“encheu-se” e procurou retirar-se. Então foi notado como uma
ovelha não pertencente àquele rebanho. Falou-se com ele e,
posteriormente, ficou comprovado tratar-se realmente de um
seminarista curioso, atraído nor-malmente.
Esses foram, afinal, os acontecimentos que, embora sem
nenhuma importância, serviram de base e inspiração ao “Grande
Sábio” da rosacruz, o Cacique que “SÓ FALA VERDADE”, para
que neles vislumbrasse coisas do “OUTRO MUNDO”; inventasse
uma série de absurdos inimagináveis destinados a programar a
credulidade, principalmente dos segui-dores na Europa, distantes
das realidades brasileiras.

DESMASCARAMENTO DO GRÃO-MESTRE E DAS


PREGAÇÕES ROSACRUZES

Em meados de novembro de 1967, recebi uma carta do


Stratmam, imediato do grão-mestre, datada de 12 de novembro
de 1967 (vide Anexo XIV), cujo contexto era, principalmente, o
seguinte:

“O amigo se lembrará sem dúvida que a chegada


do Senhor Van Rijckenborgh ao aeroporto de Belo
Horizonte duas pessoas tentaram contatar o grão-
mestre.
Me foi dito que foram amigos do irmão. O amigo me
fará grande obséquio em informar-me:
1 — Quem foram esses senhores?
2 — Qual foi o objetivo de sua vinda?
3 — Por que desejaram contatar o grão-mestre?
4 — Em nome de quem?...
Seria grato receber do amigo respostas pormenorizadas

– 307 –
a esse respeito. Muito obrigado de antemão Amigo.
Ass. - C.G. Stratmam”

O inteiro teor dessa carta encontra-se no Anexo XIV,


em fac-símile.
Ao receber essa correspondência, inocente como até
então nos encontrávamos, quanto às razões que motivaram o
Stratmam a fazer-nos essa série de perguntas, respondemos-lhe
que tais senhores eram efetivamente nossos amigos, conhecidos
de muitos anos em pesquisas espiritualistas; pessoas simples
e inofensivas; pois, não sabendo as causas daquelas sucessivas
perguntas, julgamos os tivessem tomado por subversivos,
pistoleiros ou por alguém que quisesse tentar contra a integridade
física do “Pajé-rosacruz”.
Após minha resposta àquelas perguntas, recebi outra
carta do Sr. Stratmam, onde me agradecia as informações
prestadas, dizendo que foram importantes, porque lhe
confirmaram um ponto de vista que pessoalmente tinha, contrário
às teses que foram levantadas e defendidas pu-blicamente na
Holanda; porém, não teceu maiores comentários a respeito, nem
tampouco disse quais eram essas teses de que discordava.
Essa segunda carta, devido ao seu laconismo quanto às
tais teses, fizera-me concluir que, de fato, eles estavam pen-sando
fossem aquelas pessoas, mesmo, criaturas mal-intencionadas!...
Ante isso, julgamos estivesse o assunto completamente
encerrado e superadas as possíveis dúvidas; todavia, a charada
se nos explica, ao tomarmos o completo conhecimento de uma
palestra, feita e repetida pelos CHEFES EUROPEUS na Holanda,
denominada de “Conferência Brasileira”.
O conteúdo dessa conferência trouxe à tona toda uma
farsa e explicou, em síntese, as razões da carta do Stratmam com
toda aquela sequência de perguntas sobre os DOIS SERES nossos

– 308 –
conhecidos, que estiveram no aeroporto de Belo Horizonte e
que o chefão rosacruz inventou serem emigrantes dos outros
mundos.
É desnecessário dizer-se que os dirigentes de
organizações, principalmente as religiosas ou espiritualistas,
após visita-rem outros centros ou países, têm por costume fazer
uma palestra, relatando aos seus seguidores ou comandados
tudo o que presenciaram ou fizeram em suas andanças.
Não fugindo a esse procedimento, o chefe rosacruz
elaborou a sua prestação de contas aos holandeses, alemães e
franceses, denominando-a — Conferência Brasileira — onde
procurava dar conhecimento do que vira, e inventara ter visto
no Brasil.
Tal conferência, adredemente preparada para levar
ao extremo da curiosidade, suspense e perplexão àqueles que
a assistiram na Europa e, também, para dar início a uma “Era
de palestras sobre mundos subterrâneos e discos voado-res”,
foi proferida na Holanda nos dias 28 e 29 de outubro e 4 e 5 de
novembro de 1967 pelos GRÃO-MESTRES.
Todavia, o lugar-tenente do chefe rosacruz, notando
que tamanho disparate podia não ser verdade do chefão, resol-
veu escrever-me pedindo aquelas informações (vide ANEXO
XIV).
Realizada que foi na Europa, cópia da conferência foi
normalmente enviada a São Paulo, para tradução e divulgação
entre os brasileiros. Chegou-nos, porém, às mãos com certos
e determinados trechos riscados superficialmente, e com a
advertência de que não poderíam, sob nenhuma forma, ser
divulgados nas “igrejinhas” brasileiras.
No Brasil, essa conferência foi primeiramente
pronunciada em São Paulo, e logo após em Patos de Minas
para onde havia uma convenção programada. Lá a assistiram
diversos companheiros de Belo Horizonte, dentre estes, os

– 309 –
colegas de direção: Reginaldo e sua esposa, que, ao regressarem,
comunicaram-nos o tema principal da palestra (os “Mundos
Subterrâneos de Goiás”, discos voadores e assuntos correlatos),
mas, que alguns trechos tinham sido riscados; censu-rados, para
que não viessem a ser divulgados em público.
Conclusões:
Por que riscaram apenas superficialmente, sendo que
poderiam ter borrado totalmente os textos, tornando-os ilegí-
veis?
Resposta fácil:
Entre o recebimento da alocução no Brasil e sua
tradução, o lugar-tenente teve resposta às perguntas que me
fizera, e, inteirando-se de que tais SERES eram mortais comuns
como eles, notaram temerário dar ampla publicidade àquelas
Teses do Grão-Mestre, principalmente no meio belorizontino,
que conhecia os pretensos “Homens Subterrâneos”.
Foi nessa altura dos acontecimentos que as coisas
se tornaram plenamente claras, compreendi, não somente as
completas razões do Sr. Stratmam ao escrever a primeira carta,
mas também a segunda, quando, ao agradecer-me as informações,
falava de Teses com as quais não estava absolutamente de acordo;
foi aí que procurei ver se tais cartas ainda se encontravam entre
meus papéis, ou se já tinham sido consumidas, pois, um dever
obrigava-me a levar o assunto ao conhecimento dos demais
companheiros. Consegui encontrar a primeira carta entre os
papéis que estavam classificados como superados, atendidos ou
respondidos, e destinados ao lixo após revisão; porém a segunda
carta devo tê-la rasgado ou jogado fora, como sempre faço com a
correspondência que não depende mais de minha manifestação
ou encerra assuntos. Mas, de qualquer forma, uma coisa ficou
muito bem clara, em toda essa história:

– 310 –
“É que o Sr. Stratmam não foi o inventor daquelas
mentiras, mas sim os senhores GRÃO-MESTRES, que
não só as elaboraram como também realizaram, e isso
está confirmado na própria conferência quando inicia
dizendo:
— Conferência proferida em Renova (Holanda),
pelos GRÃOS-MESTRES, em 28-29 outubro e 4-5 de
novembro de 1967”.

Inteirados da real situação, determinaram, é lógico,


que tais afirmativas fossem riscadas e não proferidas nos meios
brasileiros, ao que imediata e prontamente obedeceram aos
dirigentes, porque existe a obediência incondicional a que estão
subordinados.
Relembremos os trechos riscados:

“— Em 16 de setembro de 1967, dia de nossa chegada ao


Brasil, saiu um anúncio que veio ao conhecimento dos
Grãos-Mestres. E em nossa chegada a Belo Horizonte,
dois senhores procuraram entrar em contato com
eles, esses dois se-nhores pertenciam aos enviados da
Fraternidade de Goya (mundo subterrâneo no Estado
de Goiás).
— Sábado à tarde, ao início da Conferência de S. Pedro,
um membro dessa Fraternidade, ou talvez mesmo um
dos enviados, procurou estar presente à conferência.
Era um tipo que estava com um traje mais ou menos
estranho, um tipo de aspecto normal, mas não quis
manifestar-se, nem identificar-se. Ele ingressou
sozinho no Recinto Templário e estava observando
o lugar de serviço. Ele folheava a Bíblia, talvez para

– 311 –
verificar o que nela existe e o que é nossa Bíblia (nunca
a tinha descoberto!...). Ele não quis dizer donde veio,
nem quis identificar-se. Entre outras coisas disse que
provinha de três regiões do interior da terra. O irmão
Ritmam viu-a pessoalmente, e também conversou
com ela. Pelo menos tentou fazê-lo. Como essa pessoa
nada quis dizer, ela foi excluída da conferência. Mas, à
noite, apareceram TRÊS discos voadores sobre o nosso
hotel, aparentemente em busca do segredo da rosacruz
e compreende-lo. Mas só puderam perceber a vibração
e as qualidades interiores dos que estavam reuni-dos
em S. Pedro. O Grupo emitiu uma certa vibração e eles
puderam, naturalmente, captá-la”.

Tudo teria saído a contento da rosacruz e do seu


planejamento, se os dois SERES não fossem nossos conhecidos há
mais de 20 anos e, se não soubéssemos, também, que o visitante
à conferência de S. Pedro fora um seminarista curio-so, como
tivemos oportunidade de apurar.
E discos voadores? (vide anexo VII)
Logo três?
Só mesmo na imaginação fértil e mágica de uma criança;
no sonho megalomaníaco e exagerado de uma propaganda; no
pesadelo de alguém que se houvesse empanturrado no suculento
e farto jantar do último dia da conferência de São Pedro, ou,
então, nos devaneios de quem perdeu o senso do ridículo e da
autocrítica, porque, nenhum de nós, nem ninguém na cidade,
viu ou ouviu falar nem mesmo em UM DISCO. Mas ele precisava
de TRÊS.
Havia, é claro, uma programação destinada a explorar
durante alguns anos o assunto “Mundo Subterrâneos e Discos
Voadores”, o que, aliás, está confessado na mesma conferência,

– 312 –
quando disseram, prosseguindo em divagações sobre os mundos
subterrâneos:

Que a Fraternidade de Goya (existente nos buracos


de Goiás) não só utiliza dos Discos Voadores, como
também possui uma cultura que está muito à frente da
nossa; sabendo governar e utilizar as forças terrestres, e
leis terrestres das quais nem sonhamos e que, “A respeito
da Fraternidade de Goya (Mundos subterrâneos)
esperamos conversar convosco em conferências futuras,
portanto mais tarde”...

É claro, pretendiam em conferências futuras continuar


explorando o assunto. Porém, como foram descobertos na
FARSA e escolheram mal os elementos que serviriam de base
ao lançamento da aventura, silenciaram; nunca mais fala-ram
em mundos subterrâneos, nem em seus enviados especiais, nem
tampouco em Fraternidade de Goya com seu Cristo subterrâneo
— Maitreia.
Alguém, tentando racionalizações acomodatícias, sem
citar nomes, chegou a sugerir, que possivelmente teria sido outra
pessoa quem redigira aquela mirabolante conferência, e que os
mandatários a leram duas vezes consecutivas aos seus seguidores,
pensando se tratasse realmente de uma verdade ditada pela tal de
Fraternidade Invisível.
Essa hipótese, além de ser uma tentativa de fazer, mais
vez, os outros de idiotas, ainda, como diz o clássico, cansado e
muito batido provérbio: “Torna pior a emenda que o soneto”,
pois ainda que verdade fosse, demonstraria a mais ino-cente
das criaturas que, realmente, além de coparticipes daquela farsa
e embuste, os chefes rosacruzes eram sem per-sonalidade, sem

– 313 –
autocrítica e “marionetes” de outro indivíduo ou de uma equipe
que, escondendo-se por detrás da vaidade ou tolices daqueles,
manobrava-os, mandando-os fazer toda uma série de tolices e
palhaçadas.
Qualquer indivíduo medianamente responsável, jamais
faria tais afirmações em nenhuma parte do Universo, se delas não
tivesse absoluta, plena e indestrutível certeza, e, um indivíduo
que se arvora a Grão-Mestre ou a dirigente espiritual de uma
classe, até por sagacidade e esperteza, jamais exporia tamanhas
baboseiras, nem mesmo como simples possibilidades; muito
menos impostas por outros.
A conivência estaria comprovada, ainda, porque todos
seus assessores, inclusive aqueles que teriam engendrado a
conferência, continuaram até sua morte e lá permanecem até
hoje.
A verdade é que, enquanto estavam no plano da
imaginação: no mundo intencional, mágico, do homem
primitivo e infantil; nas divagações etéreas, com suas irradiações
eletromagnéticas e gnósticas incomprováveis e inofensivas: só
captáveis por aparelhagens eletrônicas a serem criadas, ou só
captáveis por mentes esquizofrênicas, tudo ia muito bem; mas,
quando tentaram passar suas fantasias e criações do mundo
pré-lógico para o plano das realizações, onde a veracidade se
faz imperativa, acabaram mostrando que, na realidade, tudo
aquilo estava, como sempre, no “ludibrium”, na irrealidade e na
necessidade de iludir, quem os ouvia, em boa-fé.
Aliás, esse procedimento é muito comum em muitas
das organizações que necessitam manter seus seguidores.
É óbvio e fala a mais insignificante inteligência que, se
um indivíduo lança mão de falsas afirmações para manter sua
filosofia, pregação, seita ou religião, é porque essa e tudo em que
se baseia não tem a mínima consistência, firma-se em bases falsas
e não merece a mínima confiança. Então, é de se perguntar:

– 314 –
Quando estarão eles falando a verdade?
Será que já a disseram alguma vez?
Em todo esse mistifório, o que é verdade e o que é
mentira?
Qual a proporção?
Quando começaram a dizer a verdade?
Ao falar sobre os Discos Voadores, na conferência,
disseram que a tal fraternidade subterrânea não só os utiliza
como também possui uma ciência que está muito, muito, à
frente da nossa. Com isso, procuraram deixar claro que os discos
voadores vinham dos mundos subterrâneos de Goiás. Porém,
logo depois, na revista Lectorium Rosicrucianum – n.º 1 pags. 7
e 9, afirmam que os Discos podem deixar seu planeta e aí voltar,
e que estão vindo aqui para fazer uma limpezinha (igual à que
a mãe faz no nenenzinho) e acertar o campo eletromagnético
(ainda as tais malfadadas forças...).
Depois disso a gente fica duvidando e com receio de
praticar uma “discolagem” (viagem de disco voador), porque
não sabe se vai para outros planetas ou se acaba entrando por
buracos de tatu.
A conferência em lide deixou de ser aqui transcrita
integralmente, não apenas por medida de economia, mas
também, para evitar ficasse esta publicação mais volumosa.
Todavia, acha-se a disposição dos amigos e interessados,
devida-mente registrada no 2.º Cartório de Registro de Títulos
e Documentos de Belo Horizonte, sob os nº 197048 – Livro C-7,
nº 22256 em 19 de junho de 1975, com o devido testemunho
de 14 dos ex-companheiros que a ouviram e lhe conhecem toda
história e materialidade. Parece ser o bastante.

– 315 –
O MISTÉRIO DA LUA

O
nosso satélite sempre foi um bom inspirador, não
só de temas poéticos, como também de assuntos
espirituais e envolvimentos místicos; nisso, a beleza do
luar naturalmente exerceu sua influência. Nessa onda também
entrou o chefe rosacruz, lançando uma conferência denominada
o “Mistério da Lua”, onde abordava as influências misteriosas
do nosso satélite e outras fantasias idênticas às do seu ex-mestre
Heindel (veja anexo IX), aliás todas essas farofadas relativas à
Lua terminaram desmascaradas após o homem tê-la pisado.
Não podemos transformar nossos comentários em um
relatório de fantasias rosacruzes, mas não é demais avivar-vos
a mente para aquelas pregações catastróficas, feitas pelo chefão
rosacruz no seu livro “Desmascaramento”, lançado lá pelos idos
1964, onde afirmava que em breve, quando todos estivessem
estatelados, ouvindo seus rádios e televisões, assistindo seus
programas favoritos, teriam os aparelhos imediatamente
inaudíveis, e todos, repentinamente, depois de uma interferência,
ouviriam uma voz estranha, bela, profunda, doce e silenciosa –
amorosa mesmo –, anunciando a intromissão para dizer-vos da
“Volta do Cristo”. O grande dia do Senhor.
Que ouviriam, então, canções celestes; rostos
apareceriam nas nuvens dos céus em volta de Jesus, que também
lá estaria dando adeusinhos para a macacada cá em baixo, e toda
aquela série de figuras descritas pelo chefe rosacruz, inclusive
repetida em conferências internas, onde concluía ser tudo

– 316 –
aquilo, simplesmente, uma farsa destinada a desencaminhar os
humanos etc., etc..
Entre outras de suas pregações “à la carochinha”,
lembrem-se?! Está aquela constante de uma conferência interna,
de 1965, dizendo que em breve, e já lá se vão mais de 11 anos, muito
breve mesmo, todos passariam a ver no “Astral”: ratos, lagartos,
baratas, percevejos; sons terríveis misturados; confusões, enfim,
que ninguém se entenderia devido às intromissões astrais e o
imenso BICHAREDO que iria atormentar os humanos.
Resumindo: os mistérios da lua terminaram, e o
bicharedo e tudo mais não passou além da imaginação rosacruz.
A sugestão que lhe damos é a de que digam:
“Devido aos satélites artificiais, Cristo e as figuras
ficaram com medo de descer, e o bicharedo morreu devido à
poluição”. Não é boa saída?...
E aquela outra potoca, dizendo que em fins de 1967 ou
princípios de 1968 haveria um grande estrondo no Universo e o
mundo ficaria em trevas durante três dias, que o Sol apareceria,
então, como que um disco negro (cópia de apocalipse 6:12), e
que tal estrondo ir-se-ía dar no Polo Sul, etc., etc., lembram-se?
É claro que essas potocas não passaram da imaginação e
do intento de amedrontar os tolos; morreram com o seu criador;
porém não o critiquemos por isso, pois, bem sabemos que outros
andaram anteriormente anunciando a vida na Lua e no Planeta
Marte e até no Sol e outras tolices.

– 317 –
ERA DE AQUARIUS

A
cada 2.160 anos, no Equinócio da Primavera, o Sol está
em um novo signo do Zodíaco, como um ponteiro,
deslocando-se nas casas das horas do grande relógio de
um sistema.
Prevalecendo a relação tão discutida, entre macrocosmos
e microcosmos, seria de dizer-se que em cada giro, ao passar o
Sol pelos doze signos, marca ele uma hora, um minuto ou um
segundo de vida do seu sistema, conjectura essa que poderá levar
os estudiosos da astrofísica a lançar a provável vida do sistema
solar, correlacionando-a com a vida humana de 100 anos,
estabelecendo uma proporcionalidade.
Tudo pode ser imaginado!
Deixemos, entretanto, essas conjecturas, e voltemos ao
assunto – “Era de Aquarius”.
Von Hoerner, astrônomo alemão, relembra:

“Que os gregos da antiguidade já tinham chegado ao


postulado de que a Terra é um planeta medíocre a uma,
também, medíocre distância do sol, que, por seu lado, é
uma insignificante estrela situada a uma distância não
menos medíocre das dez estrelas mais brilhantes do
Céu”.

– 318 –
Isso nos mostra, flagrantemente, que uma constelação,
como a de Aquarius e as demais do Zodíaco, existem antes da
Terra, e que esta – a Terra – já milhares de vezes esteve, não
apenas sob a influência de “Eras de Aquarius”, mas também das
de Pisces, Touro, Gêmeos, e estará, naturalmente, após a “Era de
Aquarius” novamente, nas de Capricornius, Sagitarius e, por aí
afora.
Exemplificando:

............................................................................. 8.700 a.C.;


Era de Gêmeos.................................... 6.500 – 4.300 a.C.;
Era de Touro........................................ 4.300 – 2.100 a.C.;
Era de Aries............................................ 2.100 – 100 d.C.;
Era de Pisces............................................ 100 – 2.300 d.C.;
Era de Aquarius................................... 2.300 – 4.500 d.C.;
Era de Capricornius............................ 4.500 – 6.700 d.C.;
Era de Sagitarius.................................. 6.700 – 8.900 d.C.;
e assim sucessivamente................................................ d.C.

Portanto, essa sucessão equinocial nos diversos signos,


são comuns, como o são a sucessão dos segundos, minutos,
horas, dias, meses, etc.
Alguns entendem que, desde 1950, já entramos,
NOVAMENTE, na Era de Aquarius. Dizemos novamente porque
não é a primeira vez que isso acontece com o planetinha Terra.
Outros entendem que isto se deu desde 1913. É questão de gosto.
Quem se interessar que faça os reajustes na tabela acima.
Por outro lado, tomando-se por base a presunção de
que a terra formou-se há 4,5.109 = 4.500.000.000 de anos, não é
difícil a qualquer um, por mais leigo que seja, verificar quantas
vezes já esteve ela sob a tão falada e explorada – Era de Aquarius”.

– 319 –
Há no homem, como sabemos, o eterno sonho de uma
“Idade de Ouro”, da “Terra Prometida”, “Um Paraíso”, “A Nova
Jerusalém”, e nada melhor para essas pregações que o ingresso do
Sol em uma nova Era Zodiacal. Os exploradores das inseguranças
e inquietudes humanas não perdem tempo; sabem aproveitar-se
das ocasiões, mormente quando um tema como esse lhes oferece
nada mais nada menos que a oportunidade de se aproveitarem
de 31 gerações de 70 anos, ou seja, durante mais ou menos 2.200
anos, que é o transcurso de um signo ao outro.
Lembrem-se de que somente a partir do ano 2.200, para
uns, ou de 2.700, para outros, o sol de equinócio irá despontar
novamente em Aquarius. Até lá poderão os mercadores de ilusões
banquetear-se em pregações eletromagnéticas de Aquarius,
irradiações cósmicas e tudo o mais que quiserem, porque, terão
no mínimo 5 gerações de 65 anos até o começo dessa Era, pois
estamos em 1976.
Lembrem-se que, até 1965, a rosacruz, de que
participávamos, não havia lançado, ainda, mão da Era de
Aquarius, embora outros já o viessem fazendo. Porém, como o
assunto oferecia uma boa oportunidade, passaram a executá-lo;
não podiam ficar atrás na corrida dos mistérios.
Nada melhor para encantar a massa que o medo,
mormente através de consequências catastróficas cheirando a
castigos divinos, como o fazem parecer as pregações Aquarianas,
onde há, segundo os mercadores de ilusões: uma recompensa para
os bons e obedientes e um castigo para os maus, desobedientes
e autênticos. Sempre a mesma ladainha!... Mudam os cantores
e a reza, mas a música é sempre a mesma! Os tolos não sabem,
não compreendem ou ignoram que “Eras de Aquarius” já se
foram; outras ainda virão; mas os ludibriadores também!... Em
todas as épocas sempre se deram guerras, catástrofes, epidemias
e desgraças, elas acompanham a humanidade, sejam quais
forem as Eras em que estivermos atravessando; Pisces, Aquarius,

– 320 –
Capricornius ou a que for.
Entre as instruções do Instituto de Ritmoterapia de
Boulogne, ensinavam:

“Que seria da massa dos medíocres, se de vez em


quando não surgissem gênios capazes de dirigi-la com
um chicote de aço?”

Himmler, o Grande Mestre da SS nazista, dizia:

“Não basta anunciar ao povo o apocalipse; é preciso


convencê-lo de forma mais eficaz; é necessário
aterrorizar as pessoas com massacres, destruição e
assassinatos. Depois é facílimo dirigi-lo”. [163]

Assim como nos governos de exceção, assim nos


sistemas religiosos e filosóficos. Naqueles, às vezes, as ameaças
se transformam em exemplos físicos e morais, nestes, vão
mais profundamente, porque permanecem na sutilidade do
imaginário, no mundo espiritual.
Recordemos que o homem é um ser tríplice: material,
moral e espiritual. Portanto, há chicotes de aço para o físico e,
invisíveis, para os demais estados. Justamente estes constituem
as armas das instituições religiosas e filosófico-religiosas,
destinadas ao amordaçamento de seus seguidores.
Não se negue que quanto maior o número de cismas,
crendices, religiões, filosofias e sistemas exótico-místicos de um
povo, melhor serão os meios de administrá-lo.

[163] Serge Hutin - Governantes Invisíveis - Pag. 217 (Citação).

– 321 –
Não esqueçamos que esses sistemas e artifícios criaram
os chamados véus com que fingiam encobrir mistérios inacessíveis
à massa, para assim, mantê-la estagnada em sua ignorância,
dominada, temerosa e iludida. Mas os dias vieram (Lc. 21:6), e
não urge se rasguem esses arcaicos véus, hoje trapos, mas sim, que
se lhes ateie o fogo, abrindo passagem aos intrépidos buscadores
da verdade, e para que se lancem no abismo da desilusão quem
não pode viver sem quimeras.

– 322 –
TELEVISÃO - COISA DO DIABO

U
sando os mesmos textos e expressões, resumimos aqui a
conferência ameaçadora de 19-12-1962, que temos em
mãos, onde a Rosacruz condena a televisão; ei-los:

“Tremendos perigos nos ameaçam, ‘O Grande


Adversário’ (forças diabólicas) não deixa passar
um único meio sequer de nos prender. E o único
meio mais terrível para alcançar este objetivo, com
o mais extraordinário sucesso, - urdido cientifica e
astuciosamente - foi a televisão, quê, como muitas
dessas tramas nasceu na AMÉRICA?!...
O trabalho de sua descoberta foi executado em
esconderijos subterrâneos para ver a reação que poderia
ocasionar em milhares de pessoas. Ao encontrarem a
irradiação mais eficiente, arquitetaram um aparelho
acessível a todos e, de tal forma, que tivesse de ser usado
constante e diariamente, ou melhor, todas as horas”.

O libelo é longo e só termina com a proibição do uso


da TV aos seus membros, sob a alegação de que seu uso tira-
lhes todas as possibilidades da tal de SALVAÇÃO; que os efeitos
dos raios da televisão são, em sentido dobrado, piores que os
emitidos pelos raios “X”.

– 323 –
Após toda uma série de ameaças aos seguidores sobre
a Televisão, são estes proibidos, sob pena de expulsão, de assis-
tirem aos programas, devendo inclusive evitar a seus raios se
exporem, mesmo em ambientes públicos.
Ninguém melhor que o filho do grão-mestre da rosacruz
holandesa para falar sobre o assunto TV. como o fez em carta
que enviou aos alunos brasileiros em 24-12-1971, cujo original
temos em mãos, onde sobre o assunto assim se expres-sa:

“Não se pode mudar o próximo, pode-se apenas dar


exemplo. Se se proíbe a TV e os próprios dirigentes têm
uma TV, como poderemos atingir aqueles que ainda
não têm TV?
No Lectorium (Rosacruz Holandesa) conheço muitos
da “Cabeça Áurea” (mandões) que têm uma TV, porém,
os alunos comuns são punidos e expulsos se tiverem um
aparelho” (Carta de 24-12-1971).

Desnecessário se torna lembrar que a finalidade de tais


proibições objetiva, exclusivamente, evitar que os discípulos se
venham a interessar mais pela TV, seus programas, informações,
novelas, ensinamentos e diversões, que das novelas-rosacrucianas;
posto que, de outra, libertam-se, e libertando-se, os coitadinhos
perdem a salvação, o reino celeste, onde, como diz o alcorão:
existem todas as coisas gostosas a que tenham abdicado ou a que
não tenham tido acesso nesta existência, tais como abundantes
frutos e bebidas; palácios sob os quais correm rios silenciosos;
jardins e prazeres; esposas imaculadas, leitos fofos, onde ficarão
mirando-se uns aos outros de frente (Alcorão - Suratas - IV, 57;
X, 9; XXXVIII, 51; XXXVII, 44). Se voltassem as costas seria um
perigo?! (Vide Anexo VIII)

– 324 –
GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

T
udo o que não se conhece constitui um mistério; essa
sempre foi a atitude do homem ante coisas desconhecidas,
julgamento emanado de uma cultura místico-religiosa.
Quando o conhecimento humano não conseguia alcançar ou
descobrir as causas que envolviam algo, era este transferido
para o reino dos mistérios, encarado como milagre ou dogma,
constituindo até pecado o tentar-se descobrir-lhe as causas.
Entre esses mistérios encontravam-se, até bem pouco
tempo, as chamadas glândulas endócrinas.
Se atualmente a endocrinologia constitui uma ciência
ainda em evolução, engatinhando em seu progresso cientifico;
anteriormente, então, eram as glândulas chamadas por nomes
quase divinos, como “Guardiãs internas”. Isso levou místicos
d’outrora, ainda seguidos por organizações presentes, a aliarem-
nas aos planetas, dizendo-as dirigidas por aqueles, para daí
tirarem as conclusões e proveitos que lhes fossem peculiares.
Assim os ouvimos dizer que as suprarrenais são regidas
por Júpiter, o baço pelo Sol; timo por Vênus: tireoide por Mercúrio;
pituitária por Urano, pineal por Netuno, e depois metem nessa
confusão toda as chamadas forças eletromagnéticas destrutivas,
vindas deste ou daquele planeta, dizendo que tais efeitos só
podem ser neutralizados através de uma entrega completa à
espiritualidade, à renúncia; em suma, a uma subserviência
total, senão, a tal de força de Uranos atacará as pobrezinhas das
suprarrenais e outras glândulas e, como diz o velho gago lusitano:

– 325 –
“O coitadinho está fu... fu... fu ... fu... ful... minado!”

– 326 –
DISCOS VOADORES

N
ão discutamos aqui a existência real ou não das chamadas
naves espaciais; livros há por demais ventilando esse
assunto, mesmo porque a constituição complexa do
universo, inabarcável ao limitado conhecimento humano,
impõe-nos a aceitação de algo superior, sob alguma forma, em
outros planos ou áreas. Negar tais possibilidades seria como
se o verme de uma laranja se julgasse o único existente em um
imenso laranjal, e que em outras laranjas não pudesse existi-los.
Esquece-se o homem, de sua constituição primária
e grosseira, com todas as funções iguais às dos animais que
consome. Só isso não basta para intuir a possível existência de
algo que não possua tripas e coisas mais?
De lado essas concepções. Os falados discos voadores,
venham de onde vierem, até mesmo da imaginação humana,
perfilam-se entre os temas usados por indivíduos ou grupos que,
dizendo-se espiritualistas, apoiam-se na inexplicabilidade desses
acontecimentos, ou boatos, para usufruírem vantagens, sejam de
natureza material, sejam as nascidas da vaidade, ou ainda, para
afirmarem suas ilusões.
Lembremo-nos de que Sri Sevananda – Swami (Jehel),
lá pelos idos 1955 e 1956, anunciou, como muitos mais, a
chegada dos discos voadores; que deveríamos recebê-los de
braços abertos, como amigos; sem hostilidades, e uma série
de advertências correlatas. Instruiu seus discípulos e amigos,
inclusive, a traçarem no chão ou nos terraços de suas casas,

– 327 –
desenhos especiais destinados a atraí-los, mostrando-lhes que
eram bem-vindos. Está claro que até hoje eles não aterrissaram.
De lá para cá recrudesceram as explorações em torno das
chamadas naves espaciais.
De uma coisa podemos estar certos: Se existentes,
esses engenhos, de onde quer que procedam, – mesmo dentre
as nações conhecidas, – são construídos, naturalmente, por
inteligências de elevado conhecimento técnico, e não estão
procurando contato com fanáticos, imbecis ou a procura de
fantasias; essa é a realidade. Mas, um tema tão empolgante
como esse, absolutamente, não podia ficar fora das cogitações
catequizadoras da rosacruz; precisavam, também, mostrar
que estavam por dentro do assunto; chegando ao disparate de
dizerem que os discos voadores vieram especialmente para ver
o que eles, os rosacruzinhos estavam fazendo. Isso está descrito,
como o sabeis, na conferência que foi feita entre nós, e de que
falamos no capítulo “Acontecimentos no Brasil”.
Quando se começa a ver discos voadores ou a ser
especialmente visitado por eles, sem que os demais os vejam, é
sinal de que as coisas não vão por bom caminho.

– 328 –
MUNDOS SUBTERRÂNEOS
(ORIGENS DESSAS IDIOTICES)

C
onstitui, inegavelmente, um empolgante assunto na
atração de incautos, desprevenidos e da massa inquieta,
insegura e mal informada.
Há sobre a questão um amontoado de dissertações,
fanáticas, inverídicas, emanantes de contos de fadas e de gênios,
aliados à existência real de cavernas e subterrâneos; onde, fugindo
aos sistemas religiosos dominantes, reuniam-se os buscadores da
verdade.
Os contos de todos os povos falam às crianças e adultos
de reinos subterrâneos, submarinos e até aéreos, de onde
príncipes encantados, reis, gênios, fadas e seres imaginários
vieram, enamoram-se dos mortais humanos ou os instruíram.
Não precisamos falar sobre essas lendas, por
demais conhecidas de quem, do tempo de criança, guarda a
admissibilidade de sua existência nas cavernas do subconsciente.
Não podemos nos reportar à totalidade dessas fantasias;
lembremo-nos, entretanto, que “Os Puranas”, livro de lendas e
alegorias dévicas, faz menção a uma cidade misteriosa a que
deram o nome de Shambala, Shamballah ou Sambala, onde
deveria aparecer o Kalki Avatara (reencarnação de Vishnu
montado em um cavalo Branco). Diz a lenda que tal misteriosa
cidade se situa no mar de Gobi, onde hoje é deserto. O próprio
nome “Gobi”, já em si, traz o rastro do imaginário; pois, significa
“Rei dos Gnomos”, o que nos prova tratar-se, irrefutavelmente,

– 329 –
de um aglomerado de lendas ajustadas umas às outras.
Em toda a Ásia menor, desde remotíssimo passado, e
até no presente, perdura uma crença, fortemente enraizada no
povo, quanto à existência de uma cidade cheia de maravilhas e
mistérios, denominada shambala.
Os Edas escandinavos criam, também, numa cidade
fabulosa situada no interior da terra, na região de Asar, da qual
falava o Livro Sagrado dos Mortos; era a terra de Amenti, a
cidade das Sete Pétalas, o Paraíso Terrestre.
Quem conseguiu penetrar em determinadas iniciações
Egípcias, conhece da fala iniciática sobre a “Cidade das Pirâmides”.
Assim é que, desde a mais remota antiguidade,
determinados locais têm sido considerados pela tradição popular,
como vias de acesso a mundos misteriosos e subterrâneos. Essa
crença estava sempre presa a uma ameaça de ordem teológica,
vinculada a castigos, provações ou recompensas pela submissão.
Como tais foram considerados determinados locais na Beócia,
Corinto, Irlanda, Normandia, Bretanha, Tibete e outros países,
que possivelmente, serviram de base à imaginação de Virgílio e
Dante para seus devaneios subterrâneos em Canto VI da Eneida
e Divina Comédia.
Em suma, o conjunto lendário e a existência real de
cavernas naturais em diversas partes do globo, exacerbaram a
imaginação dos místicos, – sempre tendentes aos mistérios, –
fértil e sequiosa de novas emoções espirituais.
Dessas tradições muitos se apropriaram, seja para fins
de promoção pessoal, seja com o intuito de montar alguma
armadilha, sob o ponto de vista espiritual, que, acima de tudo,
sempre oferece alguma retribuição.
Em 1692, o astrônomo inglês Edmund Halley, deu a
publicidade um ensaio onde expunha uma teoria segundo a qual
a terra possuía, em seu interior, uma cápsula de mais ou menos
uns 800 quilômetros.

– 330 –
Com base nessa concepção foi Contton Mather levado a
escrever uma obra sob o título “The Christian Philosopher”, tese
que, posteriormente, em 1818, viria a ser exposta e defendida
com unhas e dentes por Clever Symmens.
Inspirado, naturalmente, em todos esses antecedentes,
Symmens, capitão do exército americano, após condecorado por
ato de bravura militar, deixa o exército, passando, a partir de 1818,
a difundir a tese segundo a qual a terra seria oca, possuindo em
seu interior, além de vida, abundante vegetação e seres. Durante
mais ou menos 10 anos, dedicou-se à defesa desse entendimento,
pedindo, inclusive, ao Congresso Americano subsídio e ajuda
direta para explorações que se fizessem necessárias nos polos,
no que não conseguiu atendimento, muito embora encontrasse,
dentro do congresso, interessados em ajudá-lo. Em 1829, abalado
pela intensidade de seus esforços em sucessivas e exaustivas
conferências, veio a falecer. Sobre o trabalho, em 1826, James
McBride escreveu “Symmes - Theory of Concentric Spheres”,
onde expõe toda a teoria de John Clever Symmes.
Como não poderia deixar de ocorrer, o assunto, por
ser lenda, tornou-se objeto de burlas e sátiras, já que toda lenda,
em realidade, constitui-se em uma burla àqueles que, sob algum
aspecto, necessitam, ainda, ser mantidos em algum estágio
da evolução. Às crianças contam-se histórias da carochinha;
aos adultos não amadurecidos, de mundos subterrâneos e
outras similares. Eis que, nesse sentido, em 1820, sob o nome
Cap. Seaborn, um escritor anônimo, jocosamente, lança um
livro falando sobre a Terra oca com habitantes desfrutando
de uma vida sobremaneira alegre, divertida e fácil. Nessa
obra, burlescamente, descreve uma viagem marítima, rumo à
abertura do polo sul, visando alcançar o mundo subterrâneo.
Após discorrer sobre uma série de peripécias, engenhosamente
montadas, conclui ter sido seu navio arrastado por violenta
corrente marítima até ao interior do côncavo terrestre, onde se

– 331 –
deparou com um continente maravilhoso a que deu o nome de
SYMSONIA (deboche ao nome Symmes). Ali habitava uma raça
que, segundo sua imaginação, vivia uma utopia socialista; falava
uma língua doce e musical, irradiava paz, harmonia e sabedoria;
um verdadeiro deleite paradisíaco.
Júlio Verne, ao que parece, motivado também pelo
assunto, escreveu “Viagem ao Interior da Terra”; porém, não o
fez na forma de seus antecessores; nem debochando; mas, de
uma forma instrutiva, e, até certo ponto, científica, em face às
informações ali sugeridas; inspirado, segundo alguns, nas teorias
de Symmes.
Cada um tem o direito de expor suas crenças e
convicções, como aliás diz o matuto: “Cada qual tem o direito de
vender o seu peixe”. Assim é que, em 1870, o escritor Cyrus Reed
Teed saiu-se com a teoria de que vivemos no interior da Terra,
sendo esta idêntica a um ovo, dentro do qual se encontram não
apenas o sol e a lua, mas também as estrelas e tudo o mais que
se vê acima; dizendo que a grande distância não nos deixa ver
a parte superior da terra sobre nós. Em sua obra “The Cellular
Cosmogony”, apresenta uma série de considerações, tão idiotas
quanto às dos demais pregadores dos mundos subterrâneos. Se
for verdade tal teoria, é de estarrecer pensar-se no bicho que
expeliu tamanho ovo!...
Em 1871, seguindo a mesma trilha, Edward Bulwer
Lytton escreveu “The Corning Race”, literatura de ficção, onde
aponta um imaginário povo, terrível, de origem subterrânea, que
possuindo completo domínio das forças cósmicas, viria subjugar
os habitantes da face terrestre. Aliás, não há muito tempo,
explorando as mesmas fantasias, um filme foi levado ao público,
se não me engano, sob o nome de “A máquina do tempo”.
Em fins do século XIX, como se pode verificar no livro
de Sevananda, “O Mestre Philippe de Lion”, pags. 98, 99 e 160, lá
vem o Maitre Philippe (Nizier Anthelme Philippe), dizendo que

– 332 –
há raças habitando as entranhas da Terra, e que Cristo foi até lá
para libertá-los; e que há também habitantes no Sol e gente na
Lua com focinho de cachorro!...
Em 1910, Saint Yves D’AIveydre surge, apropriando-se
do velho tema – mundos subterrâneos – e apresenta sua obra
“La Mission des L’Inde”. Reveste seu relato com um manto de
misticismo, mistério, fantasia e também ameaças; para tanto
envolveu a Índia, que, por si só, cheira a tudo isso: misticismo,
fantasia, fanatismo, ignorância, subserviência e comodismo
fanático.
Não é difícil divisarem-se as razões do misticismo
Oriental, vasado praticamente em uma fuga às limitações
impostas pelo subdesenvolvimento em que sempre viveu seu
povo, e a intransponibilidade das classes ainda ali predominantes,
onde o sonho máximo de cada um é ser um Guru. Partindo
do artifício, aliado à crença já por outros defendida, não foi
difícil a este imaginar cidades subterrâneas, Aghartas e outros
caminhos; até mesmo ao ponto de se autoconvencer de que todas
suas compilações eram realmente verdade. É preciso lançar o
misterioso; algo que amedronte, porque isso constitui a chave
mestra da pregação; da catequese e do domínio da massa inculta.
Fala de Agartha, cidade contida no subterrâneo de
sua mente; dizendo-a habitada por seres possuidores dos mais
terríveis poderes; incólume a qualquer ataque, ou mesmo
localização pelos homens da face da terra, devido a estar
protegida por barreiras invisíveis e intransponíveis, formadas
por irradiações eletromagnéticas?!...
Não poucos, com razão, o acusaram de mistificador e
compilador de fantasias arcaicas em sua obra, que, já no século
passado, com suas previsões apocalípticas, provocara o ceticismo,
ironia e deboche às pessoas esclarecidas.
A coisa continua. Em 1913 lá vem Marshal B. Gardener
com sua publicação – “Journey to the Earths Interior” – onde

– 333 –
defende o ponto de vista de que a Terra é realmente “Oca”;
aliás, preposição aceitável, até certo ponto, se tal depressão ou
concavidade se desse, como diz, nos polos; porém, nada disso
ficou provado nem mesmo como possibilidade.
Raymond Palmer, conhecido como responsável por
uma série de mistificações e publicações de ficção científica, em
1945, entre suas inúmeras publicações, descreveu uma raça de
anões, completamente degenerados, denominados por ele de
“deros”, dizendo que vivem em mundos subterrâneos, no subsolo
terrestre, sendo os responsáveis por toda a série de perturbações
que se processam sobre a face da terra. Seriam uma espécie
dos diabos dos religiosos. Segundo ele, através da telepatia e de
irradiações eletromagnética secretas, sobre as quais possuem
absoluto domínio e controle, são os “deros” os responsáveis
e desencadeadores de todas as desgraças terrestres, tais como:
incêndios, guerras, furações, catástrofes, epidemias, etc. É
claro, trata-se de mais uma publicação destinada a controlar e a
dominar os incautos.
Um dos precursores dessa lenda, pelo menos quem
a disseminou mais intensamente, foi Ossendowski, em sua
obra “Betes, Hommes et Dieux”, escrita em 1924; trabalho esse
fundamentado nas fantasias de seus antecessores e nas lendas
mongóis. Segundo confessa o próprio Ossendowski, a nudez
das montanhas, as imensas planícies cobertas de ossadas de seus
antepassados, as tempestades e demais manifestações da natureza,
deram ao povo mongol a consciência do mistério, o misticismo
lamaico e a crença em coisas fantásticas e sobrenaturais.
Procurando fundamentar seu mundo subterrâneo, alega que os
mongóis lhe contaram uma “lenda antiga”, segundo a qual uma
tribo mongol, fugindo às exigências de Gengis Khâ, escondera-
se em um país subterrâneo. Desse ponto não lhe foi difícil partir
para a Agartha decantada de Saint Ives D’AIveydre e demais
buracos subterrâneos, reafirmando que ali residiam povos

– 334 –
misteriosos, detentores de poderes ocultos e terríveis.
Para quem sabe pensar imparcialmente, chamamos a
atenção para as edições originais de “Betes, Hommes et Dieux”,
inclusive a edição espanhola, onde se lê, na parte do título, “A
profecia do Rei do Mundo em 1890”, o seguinte: [164]

“... dentro de 50 anos os homens esquecerão mais e mais


suas almas; reinará a maior corrupção sobre a terra; os
homens tornar-se-ão selvagens e sedentos de sangue de
seus irmãos.
A meia lua desaparecerá.
Haverá uma terrível guerra entre os povos, os oceanos
ficarão vermelhos, os povos inteiros morrerão pela
fome, doenças e crimes jamais vistos pelas leis. A terra
toda ficará vazia, Deus se afastará dela; haverá nuvens
de tempestades. Apenas um homem sobreviverá a cada
10.000, porém louco, sem forças e não saberá construir
um abrigo e nem procurar alimentação.

Continua mais ou menos assim, (relatando) o mais


tétrico dos quadros que “Dante” não conseguiu imaginar em seu
inferno.
Depois termina dizendo que em seguida haverá uma
guerra de destruição que durará 18 anos.
Seria de perguntar-se:
Guerra de quem contra quem, se, de acordo com a
descrição acima, não ficou ninguém para contar o caso?
Respaldando o quadro hipermultidantesco, acrescentou
que então, os tais de povos, habitantes das cavernas subterrâneas

[164] Dioses Hombres e Bestas - Ossendowski (4ª. Edição Aquilar 1964


pag. 412).

– 335 –
de Agharta, aparecerão sobre a Terra.
— Será que vêm comer o restinho que sobrou?
Pois bem, vamos ao que interessa:
Tudo isso deveria ter acontecido dentro de 50 anos a
partir de 1890, ou seja, até 1940, mas não aconteceu.
Como o tema “Mundos Subterrâneos” integra um dos
ramos da exploração da credulidade humana, urgia se reparasse
essa omissão, para que o comércio continuasse: o que foi feito na
tradução para o português, pois vemos às fls. 255 o seguinte, ao
falar da profecia do Rei do Mundo:

“... ele fez uma profecia que dizia respeito aos séculos
futuros”. [165]

Como vedes, transformaram os 50 anos em séculos


futuros. Agora poderão continuar matracando o assunto...
A mania continua. Em 1956, Harold T. Wilkim,
arqueólogo inglês, dedicado às pesquisas, escreveu “Cidades
Secretas da América do Sul”, onde conjectura sobre a existência
de cidades e civilizações ocultas no coração de Brasil - obra
essa que, como as demais que a antecederam, levaram J. Van
Rickemborgh, também conhecido por John Leene e John Twene,
sequioso por sensacionalismo, ao extremo de escrever uma
série de disparates, numa conferência que fizera na Holanda e
só divulgada em parte no Brasil. Ao cavalgar a tese de Harold T.
Wilkim, percebeu que, tanto este, quanto seus antecessores, nunca
afirmaram terem visto ou entrado em contato com os habitantes
do subsolo terrestre. Como tal evento representasse uma grande
arma nas pregações rosacruzes, mostrando possuírem, mesmo,
a posse de segredos e mistérios, não perdeu tempo e, naquela

[165] Bestas, Homens e Deuses - Ossendowski (Ed. Hemus - 1972).

– 336 –
conferência, afirmaram terem vindo ao Brasil, especialmente
por causa dos mundos subterrâneos; que estes estavam sediados,
principalmente no interior de Goiás; que os habitantes de tais
mundos tinham sob seu controle os discos voadores; e, para
coroamento de toda essa patranha, afirmou que, à sua chegada
ao aeroporto de Belo Horizonte, dois indivíduos, vindos desses
mundos subterrâneos, procuram estabelecer contato com ele e,
que também em São Paulo, em uma das conferências, lá estava
outro bicho dos mundos subterrâneos, observando o que estava
acontecendo.
Infelizmente, a trapaça não foi bem equacionada porque,
para cúmulo do peso de suas alegações, os dois estranhos que
estiveram no aeroporto de Belo Horizonte, à sua chegada, nada
mais, nada menos eram, que dois amigos, que ali compareceram
a nosso convite, pessoas comuns, que jamais haviam sonhado
com o pesadelo de serem tomados por habitantes de mundos
subterrâneos, invisíveis ou misteriosos. O outro que estivera em
São Paulo, numa das conferências, conforme nos foi dado apurar,
era um simples e curioso seminarista atraído pelo movimento
não usual do hotel.
Isso serve para que estudiosos, compreendamos até
onde vai a irresponsabilidade e o atrevimento dos estelionatários
do espírito, e o abuso daqueles que, dizendo-se mestres de
qualquer idiotice, lançam mãos de subsídios emocionantes e
fantásticos, para manter o estado animístico de seus seguidores.
Quanto aos chamados mundos subterrâneos, é de se
lembrar que esses devaneios contrariam frontalmente a razão
natural e científica, que afirma e prova, serem tais conclusões
impossíveis, ante a temperatura do interior terrestre. Além disso,
nada permanece oculto aos olhos perscrutadores de mecanismos
especiais, vigilantes em satélites especiais, que prospectam
jazidas minerais e outras riquezas mantidas no subsolo, coisa
que, obviamente, é do conhecimento de qualquer estudante de

– 337 –
segundo grau.
Naturalmente, levamos ao conhecimento dos nossos
amigos o acontecido; que foram tomados por seres misteriosos,
enviados especialmente dos Mundos Subterrâneos de Goiás.
É claro:
Riram-se a valer e ainda por cima chamaram-nos de
tolos, seguindo um louco, porque tais alegações só poderiam
partir de alguém que não estivesse com os miolos em paz ou
quisesse fazer os demais de idiotas.
Já que foram tomados por animais subterrâneos
e não iguais a nós outros da flor da terra, insistimos com um
deles, o químico Márcio Queiroz Cattoni, para deixar-nos uma
recordação fotográfica, marcando como recebeu a notícia de
ser um membro dos mundos subterrâneos. Na figura seguinte
encontramo-lo “gozando” o acontecimento.
Encerrando este capítulo, relembramos que os
propagandistas dos mundos subterrâneos procuram todos
subsídios, e até ardis, para provar a existência de suas
extravagâncias.
Um destes, usando seu nome invertido em uma
publicação com o título Shamballah, feita pela Gráfica Olímpia
Editora Ltda., Rio - 1974, que se encontra no livreiro Laissue –
Sem a mínima cerimônia ou autoridade – afirmou que os Maçons
estavam de posse de conhecimentos a respeito de Agartha, bem
como os Templários e outros.
Está certo que ele continue suas pregações
Shambalísticas, dizendo que os Rosacruzes e seus familiares
andam às voltas com mundos subterrâneos, Shamballas, Duats,
Agarthas e lagartas; discos voadores e outras excentricidades,
mas meter a Maçonaria nessas picaretagens é que não está certo,
e cabe-nos refutar.
É preciso se esclareça, principalmente àqueles que pouca
ou nenhuma informação têm sobre a Maçonaria, que esta jamais

– 338 –
afirmou ou falou em nenhum de seus graus, desde o de Aprendiz
ao de Grande Inspetor (Grau 33), sobre a existência de mundos
subterrâneos ou miragens similares. Afirmações contrárias só
podem partir de quem não conhece o lema da Ordem e seus
objetivos, entre os quais encontra-se: o combate sem tréguas à
ignorância, à hipocrisia e ao fanatismo; e a defesa da verdade.
Nenhuma Ordem de responsabilidade, entre as quais
a Maçonaria e o Catolicismo Romano, prega algo sem que,
antes, tenha em seu poder provas materiais e científicas de
suas afirmações. Nisso reside a fé que merece a tradição dessas
organizações que, embora aparentemente divorciadas em um
passado recente, têm por objeto, indistintamente, a libertação do
homem no seu tríplice aspecto: material, moral e espiritual.

– 339 –
UM DOS HOMENS VINDOS DOS MUNDOS SUBTERRÂNEOS

Com esse sorriso enigmático, seria de dizer-se que o


homem dos mundos submersos está zombando de todos nós,
infelizes mortais da sobre-face-terrestre, sujeitos à vida e à
morte; que estaria rindo das nossas ilusões, vãs filosofias e do
nosso progresso que, ante o seu mundo, seriam como simples
bolhas de sabão, inconsistentes ao menor sopro do tempo.
Uma análise do seu sorriso, mostra-nos,
insofismavelmente, a distância que o separa de nossos sonhos;
parece dizer-nos que lá, em seu mundo, a morte não faz morada,

– 340 –
por serem imortais naquele corpo que, embora nos pareça igual
ao nosso, é, entretanto, de uma matéria sutil, indestrutível,
constituída por éteres cósmico-gnósticos; apenas revestido com
uma camada mais densa de éteres químicos para que o possamos
ver, já que, em seu verdadeiro corpo sutil, seria invisível à
percepção dos homens comuns, se bem que muitos animais,
por nós chamados de irracionais, os possam ver em seus corpos
naturais; o homem não, porque não pode captar os impulsos do
seu estado sutil, a menos que se apresentem revestidos com uma
camada mais densa de éteres químicos.
Essa seria a interpretação gnostificada que a rosacruz
daria, se realmente o nosso amigo, aqui espelhado, fosse mesmo
um emigrante dos sonhados e pretensos mundos cavernosos;
mas, em realidade, ele, indivíduo de carne e ossos, apenas está
saboreando uma rica, gostosa, aberta e estrondosa gargalhada,
gozando o fato de os grão-mestres da rosacruz e seus mentores
o terem taxado, e a mais outro, de enviados dos mundos
subterrâneos de Goiás.
Depois de se ter divertido a valer com essa pilhéria,
manifestou-se-nos, dizendo que a ideia até não seria de
todo má; só assim poderia “curtir”, aqui, uma de “Cidadão
subterrâneo”, usando um nome pomposo como, por exemplo,
o de Shambalananda, e montar uma agência de turismo para
quem pretendesse, após umas preparações gnósticas, dar umas
voltinhas até às tais cidades subterrâneas de Goiás.
Disse-nos, conforme carta em nosso poder, que gostaria
de receber dos grão-mestres da rosacruz o endereço da “Boca” do
mundo subterrâneo (só da boca; o outro lado da saída não!...),
pois, só dessa forma poderia escapar daqui de fora, porque a
barra, deste lado, anda pesada, com poluições, custo de vida,
epidemias, conjuntura econômica internacional, etc..
Após divertir-se com essas infantilidades rosacruzes,
disse que era lamentável a existência, neste início do século

– 341 –
XXI, de homens levantando teses loucas e idiotas como essas,
assessorados por outros que ainda não acordaram para a
realidade dessas pregações esquizofrênicas.

– 342 –
UNIDADES PROGRAMADAS

– 343 –
– 344 –

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