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Apresentação
 A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada
ainda neste sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi
arrancado d e s u a t e r r a e v e n d i d o c o m o u m a m e r c a d o r i a ,
e s c r a v i z a d o . A q u i e l e c h e g o u escravo, objeto; de sua terra ele
partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade,
representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas
vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram
um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente
povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia -
exigia ser e x p r e s s o . S u r g i r a m o s c u l t o s ( o n i l é - c o n f u n d i d o s
mais tarde com o culto
doC a b o c l o ,   u m a   d a s   p r i m e i r a s   v e r s õ e s   d o   s i n c r e t i s
m o ) ,   s u r g i u   a   r a i v a   e   a necessidade de ser livre. Apareceram os
feitiços (ebós), os quilombos.Os trezentos anos da história da escravidão
do negro no Brasil,
atestam,a c i m a   d e   t u d o ,   a   r e s i s t ê n c i a ,   a   o r g a n i z a ç ã o   d o s   n e g r o
s. A cultura africanas s o b r e v i v e u p a r a o n e g r o a t r a v é s d e
s u a c r e n ç a , d e s u a r e l i g i ã o . O q u e s e acredita, se deseja,
é m a i s f o r t e d o q u e o q u e s e v i v e , s e m p r e q u e h á u m a situação
limite. A religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito
jás e   e s c r e v e u ,   a   r e s i s t ê n c i a   n e g r a .   R e s i s t i u - s e   p o r  
h a v e r   o r g a n i z a ç ã o .   A organização consigo mesmo. Cada negro
tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá
protetor.N o   m e i o   d o s   o b j e t o s   t r a f i c a d o s   ( o s   e s c r a v o s )   h a v i a m   j ó i
a s   r a r a s : Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas
suas crenças, criaram
a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível d
eser entendida se pensarmos no que é a iniciação, todo processo que
implica ee s t a b e l e c e . A c a n a d e a ç ú c a r d o S e n h o r d e E n g e n h o
e r a p l a n t a d a p o r I a ô s recém saídos das camarinhas, dos
roncós.Enfocaremos neste trabalho o início das nações no Brasil, os
Orixás, amúsica ritualística, as indagações religiosas dos céticos,
explicação de algunscultos, algumas lendas (Itans) e uma entrevista com
uma adepta iniciada no cultoCandomblecista, a fim de que o Candomblé
possa ser esmiuçado em forma denão deixar dúvidas.
 
Delimitação do Objeto de Investigação
 Antes de mais nada, o trabalho será focado exclusivamente para o cultoaos
ancestrais (Candomblé), com ramificações limitadas às principais
nações(guetos) relacionados à ele, que são: Jeje, o Ketu e a Angola. Estas
três naçõessão as mais difundidas, visto que são as que têm o maior
número de
adeptos.C a d a   n a ç ã o   é   d i s t i n t a ,   t ê m   s e u s   d e u s e s   p r ó p r i o s ,  
que muitos insistem emassemelha-los à outros deuses
de outras nações. Mas não há como
haver associação, visto que todas vieram o início de seu
s   c u l t o s   e m   d i f e r e n t e s localizações do continente Africano. Será
discursado aqui o início da religião noBrasil, já que na África o culto
ao Candomblé não existe da mesma forma comov e m o s n o B r a s i l ,
mas sim um único e exclusivo culto aos antepassados, com
muitas de suas raízes perdidas com o tempo, com a
c o l o n i z a ç ã o e c o m a s invasões de tribos rivais.Cada tribo tem o seu
Deus (o seu ancestral), que é cultuado por toda a tribo exclusivamente.
Cada um tem uma função dentro do gueto, e todos servem s e m p r e a o
mesmo orixá. Quando há a perda do culto àquele Orixá,
a
t r i b o invadida que perdeu a guerra fica automaticamente fazen
d o   p a r t e   d a   t r i b o vencedora, o que a faz perder sua originalidade e sua
cultura.No decorrer do texto será narrada a trajetória do candomblé na sua
forma de agir, de pensar, no dia a dia de um terreiro, nas festas e nas
reclusões. Nos momentos de felicidade e de dor. Da adoração e fé de seus
seguidores.
 
Histórico
 A cultura africana muito contribuiu para a construção da alma brasileira e o
candomblé (palavra de origem yorubana que significa festa e que com
o passar d o t e m p o a c a b o u p o r d e s i g n a r o c o n j u n t o d e c r e n ç a s
r e l i g i o s a s d a s d i v e r s a s etnias africanas reunidas no Brasil) é uma de
suas manifestações demonstrando a sua sobrevivência através de
crenças e de sua religião desde que foi trazido para o Brasil pelos
negros quando aqui vieram na condição de
escravos. Apesar de terem a sua própria religião, sua prática lhes era proibida, 
por i s s o   s e c r e t a m e n t e   c u l t i v a v a m   s e u s   r i t u a i s .   V e z   p
o r   o u t r a   q u a n d o   e r a m surpreendidos pelos seus senhor
e s   d i z i a m   e r a   e s t a r   c u l t u a n d o   o s   s a n t o s c a t ó l i c o s   e   d e s t a 
p r á t i c a   n a s c e u   o   s i n c r e t i s m o   -   h e r a n ç a   d o   p r o c e s s o   d e co
lonização -.Conforme a região a que pertença o candomblé possui várias
subdivisões,na Bahia a predominante é o Keto, sendo que suas casas mais
conhecidas são oTerreiro Do Gantois, Casa Branca e Ilê Opô Afonjá e a língua
religiosa oficial é oIorubá.O candomblé possui rituais sagrados e secretos e
vem tentando manter-sefiel à sua origem, podendo assim, preservar sua
essência.O o b j e t i v o d a s o b r i g a ç õ e s n o c a n d o m b l é é a o b t e n ç ã o
d e f o r ç a o u a x é ( f o r ç a q u e e m a n a d o s orixáse q u e p r e c i s a s e r
r e n o v a d a ) . O s a n g u e e o s sacrifícios presentes nas oferendas são o
princípio gerador da
vida. Além da vida, o candomblé também exalta as forças da natureza. Asfolha
s, rios, mares e minerais são muito importantes.Todo candomblé é dirigido por
uma Ialorixá ou por um Babalorixá que sãoa a u t o r i d a d e m á x i m a ,
c o n d u z i n d o a v i d a e s p i r i t u a l , a d m i n i s t r a t i v a e p o d e n d o interferir
também na vida pessoal dos seus fiéis. A linha de Ifá - a parte mágica
docandomblé - se refere à adivinhação do futuro e aos trabalhos para
a feitura dobem e do mal. Os Babalaô são o pai do segredo , e os
Oluô , jogam búzios e oDilogum - jogo de adivinhação.
 
Hierarquia
 A hierarquia no candomblé é extremamente rígida. A hierarquia civil é
composta por doze Obás, que são ministros de Xangô,e que se dividem em
Otum Obá - executivos com direito a voz e voto e os OssiObá -
conselheiros -. A seguir temos os Ogãs, sócios da comunidade civil,
comobrigações civis e religiosas e dentre eles os Pegigan encarregados da
matançados animais e os Ogâ Alabê encarregados dos atabaques.O espaço
aonde se realizam as principais cerimônias é o terreiro. Espaçog e r a l m e n t e
amplo, formado por várias casinhas, cada uma pertencente a
umo r i x á   q u e   p o r   s u a   v e z   t e m   u m   t o q u e   ú n i c o ,   d a
n ç a s   p r ó p r i a s   e   r o u p a s especiais.No terreiro, o pai ou a mãe de
santo conduzem as cerimônias aonde assuas filhas de santo cantam e dançam
ao som
dos atabaques. A construção do barracão geralmente é retangular, coberta de 
palmas. Acima da porta principal há um chifre de boi e uma cruz. Em seu interi
or encontra-se o altar, o espaço de destaque reservados aos
tocadores, cadeiraspara pessoas de destaque e bancos de madeira
para os demais, sendo que emalguns terreiros homens e mulheres sentam-
se
separados. As festas no candomblé tem início com a matança (sacrifício de ani
maispara os orixás) sendo que neste ritual apenas participam os
fiéis do candomblé.Cantam-se sete pontos para cada orixá a fim de chamá-
los. Uma Ialorixá traz namão um adjá (espécie de sino) e o sacode para
cada um que entra em transemediúnico. Após todos os orixás terem
incorporado são levados ao Roncó (quartode santo) aonde são vestidos de
acordo pelas ekedes ou pelos Ogãs, com
trajest í p i c o s   d o   r e s p e c t i v o   s a n t o .   D e p o i s   d e   p r o n t o s ,   a   I a l o x i r á  
i n i c i a   u m   c â n t i c o convidando-os a entrarem no barracão e dançarem.
Todos os assistentes ficamde pé enquanto os santos fazem sua entrada
triunfal. Assim, após esta entrada,cada santo abençoará as pessoas.
 
 A Nação Jeje
A nação Jeje-mahín, do estado da Bahia, e a Jeje-mina, do
Maranhão,d e r i v a r a m s u a s t r a d i ç õ e s e l í n g u a r i t u a l d o e w ê - f o n ,
o u j ê j e s , c o m o j á e r a m chamados pelos nagôs, e suas divindades
centrais são os Voduns. As
tradiçõesr i t u a i s   J e j e   f o r a m   m u i t o   i m p o r t a n t e s   n a   f o r m a
ç ã o   d o s   c a n d o m b l é s   c o m predominância Iorubá. AS TRADIÇÕES
E RITUAIS JEJEORIGEM DA PALAVRA JEJÊORIGEM DA PALAVRA
DAOMÉDIALETOS FALADOSOS PRIMEIROS NO
BRASILVODUNSFUNDADORESOGANSMINA
JEJÊCURIOSIDADESORIGEM DA PALAVRA JEJEA palavra JEJE vem do
yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro.Portanto, não existe e nunca
existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos (ouseja, como uma nação
politicamente organizada, um país). O que é chamado denação Jeje é o
candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomée pelos
povos mahins. Jeje era o nome dado de forma pejorativa pelos
yorubáspara as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins
eram uma tribo dolado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O
termo Saluvá ou Savalu,na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde
se cultuava Nanã. Nanã, umadas origens das quais seria Bariba, uma
antiga dinastia originária de um filho deOduduá, que é o fundador de Savê
(tendo neste caso a ver com os povos fons).O Abomei ficava no oeste,
enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essastribos eram de povos
Jeje.
 
ORIGEM DA PALVRA DAHOMÉ
A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com
umcerto Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de
Dan. Daíficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da
Serpente.Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por
serpentes de
cobrec u j a s   c a b e ç a s   f o r m a v a m   o s   p é s   q u e   i a m   a t é   a   t
e r r a .   E s s e   s e r i a   u m   d o s significados encontrados: Dan =
"serpente sagrada" e Homé = "a terra de Dan",ou seja, Dahomé = "a
terra da serpente sagrada". Acredita-se ainda que o culto àDan é oriundo do
antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, ondeo s
Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra.
E n c o n t r a m o s também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em
platina, prata, ouro
em u i t o s   o u t r o s   a d o r n o s   f e m i n i n o s .   E n t ã o ,   p o s s o   d i z e r   q u
e   e s t e   c u l t o   v e i o descendo do Egito até Dahomé.
DIALETOS FALADOS
Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como:
Axantis,Gans, Agonis, Popós, Crus etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas
para umatribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis
da lingüística- muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os
mesmos
Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis, Pop
ós quefalavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande
confusão comessa língua.
OS PRIMEIROS NO BRASIL
Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís
doMaranhão e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de lá para
Cachoeirade São Félix. Também ali, há uma grande concentração de povos
Jeje. Além deSão Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira de São Félix (Bahia),
o Amazonas ebem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde
encontram-se evidênciasdesta cultura.
 
VODUNS
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, os cultos
dessesVoduns só cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não
se fundiramcom os orixás nagôs e desapareceram totalmente. O culto da
serpente Dãng-bi éu m   e x e m p l o ,   p o i s   e l e   n a s c e u   e m
A j u d á ,   f o i   p a r a   o   D a h o m é ,   a t r a v e s s o u   o  Atlântico e foi até
as Antilhas.Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje
Mahin tem-s e a c l a s s i f i c a ç ã o d o p o v o d a t e r r a , o u o s V o d u n s
C a v i u n o s , q u e s e r i a m o s Voduns Azanssu, Nanã e Bessem. Temos,
também, o Vodun chamado Ayzain(pronuncia-se Aizãn) que vem da nata
da terra. Este é um Vodun que nasce emcima da terra. É o Vodun protetor
da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", emJeje. Achamos em outro
dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zeninou Azeni ou
Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os Voduns da terra
encontramosL o k o . E l e a p e s a r d e e s t a r l i g a d o t a m b é m a o s
a s t r o s e a f a m í l i a d e H e v i o s s o , também está na família Caviuno,
porque Loko é árvore sagrada; é a gameleirab r a n c a , q u e é u m a
árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos
s ã o chamados de Lokossis. Agué, Azaká é também um vodun
Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho 
deSogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás.
Sogbôtambém tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda
com o filhomais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é
filho de Ague e irmãode Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da
família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobossys que viriam a ser as Yabás dos
Yorubás, achamos assim AziriT o b o s s y . E s t o u f a l a n d o d o J e j e d e u m
m o d o g e r a l , n ã o e s p e c i f i c a m e n t e d o Mahín, mas das famílias que
englobam o Mahín e também outras famílias Jeje.Como foi relatado, Jeje
era um apelido dado pelos yorubás.
Na verdade,e s t a   f a m í l i a ,   o u   s e j a ,   o s   q u e   p e r t e n c e
m o s   a   e s t a   n a ç ã o   d e v e r i a m   s e r   classificados de
povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a
n o s s a verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos
Fons. Então, sefôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós
iríamos nos chamar,ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente
assim estaríamos
fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, ma
s assimf i c a m o s   p a r a   t o d a s   a s   n o s s a s   g e r a ç õ e s   c l a s s i f i c a d
o s   c o m o   p o v o   J e j e ,   e m respeito aos nossos
antepassados.C o n t i n u a n d o   c o m   a l g u m a s   n o m e n c l a t u r a s   d a   p
a l a v r a   E w e - F o n ,   p o r   exemplo, a casa de candomblé da nação
Jeje chama-se Kwe = "casa". A casamatricial em Cachoeira de São
Félix chama-se Kwe Ceja Undê. Toda casa Jejetem que ser situada
afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaçocom árvores
sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende deanimais,
porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até
cultoscom os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e
elefante quesão identificados com os Voduns. Então, este espaço sagrado,
este grande sítio,e s t a g r a n d e f a z e n d a o n d e f i c a o K w e c h a m a - s e
Runpayme, que quer dizer 
 
"fazenda" na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local
ondef i c a   s i t u a d o   o   c a n d o m b l é ,   R u n p a y m e .   N o   M a r a n h ã o   p
r e d o m i n a   o   c u l t o   à s divindades como Azoanador e Tobosses e vários
Voduns onde a "sacerdotisa" échamada Noche ou Doné e o cargo masculino, Toí
Voduno ou ainda Doté.
FUNDADORES
Voltando a falar sobre "Kwe Ceja Undê", esta casa como é chamada
emC a c h o e i r a d e S ã o F é l i x d e " R o ç a d e B a i x o " f o i f u n d a d a p o r
escravos
comoM a n o e l   V e n t u r a ,   T i x e r e m ,   Z é   d o  
B r e c h ó   e   L u d o v i n a   P e s s o a . Ludovina Pessoa
era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o donod a t e r r a . E l e s
eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja
U n d ê . Essa Kwe ainda seria chamada de Posehen (pronuncia-se
Pozerren), que vemde Kipó, "pantera".Darei um pequeno relatório dos
criadores do Posehen Tixarene que seria
op r i m e i r o   P e j i g ã n   d a   r o ç a ;   e   L u d o v i n a ,   p e s s o a   q u e
s e r i a   a   p r i m e i r a   G a i a c ú .  A roça de cima que também é em Cachoeira é
oriunda do Jeje Dahomé, ou seja,uma outra forma de Jeje. Estou falando do
Mahin, que era comandada por SinháRomana que vinha a ser "Irmã de
santo" de Ludovina Pessoa (esta última maistarde assumiria o cargo
de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordemtemos Manoel
Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase,
SinháB a l l e   e   a t u a l m e n t e   G a m o   L o k o s s i .   O   K w e   C e
j a   U n d ê   e n c o n t r a - s e   e m controvérsia, ou seja, Gamo
Lokossi é escolhida por Sinhá Pararase para ser averdadeira herdeira
do trono e Gaiacú Aguéssi, que seria Elisa Gonçalves deSouza, vem a
ser a dona da terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves,os donos da
terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undê.Aqui, no Rio de Janeiro,
saindo de Cachoeira de São Félix, Tata Fomutinhodeu obrigação com Maria
Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi (angola), ou Ahum Simi Simi
(Jeje), como querem outros. Uma das curiosidades encontradasdurante minha
pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que na verdadev e m d o
termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer
" t r a n s m i s s ã o d e segredo". Esse ritual é feito quando uma Gaiacú
passa os segredos da naçãoJeje para futura Gaiacú pois, na nação
Jeje não se tem notícias, que possa
ter h a v i d o   " P a i   d e   s a n t o " .   O   c a r g o   d e   s a c e r d o t i s
a   o u   " M ã e   d e   s a n t o "   e r a exclusivamente das mulheres. Só as
mulheres poderiam ser Gaiacús.
 
OGAN
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é
oprimeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer "Senhor que zela
peloaltar sagrado", porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O
segundo é oRuntó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os
atabaques Run,Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são
chamados de Ilú. Há tambémoutros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó,
Arrow, Arrontodé, etc.Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em
suas propriedades. Éuma nação que vive de forma independente em seus
cultos e tradições de raízesprofundas em solo africano e trazida de forma fiel
pelos negros ao Brasil. 
JEJE MINA
Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros
fonsvindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei
anteriormente, atualRepública Popular de Benin.A família real Fon trouxe
consigo o culto de suas divindades
ancestrais,c h a m a d o s   V o d u n s   e , p r i n c i p a l m e n t e ,   o   c u l t o   à   D
a n   o u   o   c u l t o   d a   S e r p e n t e Sagrada.U m a g r a n d e N o c h e o u
S a c e r d o t i s a , p o s t e r i o r m e n t e , f o i M ã e A n d r e s a , ú l t i m a princesa
de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954,
com104 anos de vida. Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns:*Ayzan -
Vodun da nata da terra*Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviossô*Aguê -
Vodun da folhagem*Loko - Vodun do tempo
 
CURIOSIDADES
*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha
desanto foi D.Adelaide Santos*Ekede - termo Jeje*Doné - cargo feminino na
casa Jeje, similar à Yalorixá*Doté - cargo ilustre do filho de SogbôOs Vodunsis
da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que daf a m í l i a d e
Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e
d o s e x o feminino, de Doné.Os cumprimentos ou pedidos de bençãos
entre os iniciados da família deDan seria "Megitó Benoí?" Resposta:
"Benoí"; e aos iniciados da família Kaviuno,ou seja, Doté e Doné seria "Doté
Ao?" Resposta: "Aótin".O termo usado "Kolofé", cuja resposta é "Kolofé,
Olorun Kolofé" vem dafusão das Nações de Jeje e de Ketu.
 
 A Nação Ketu 
..."Várias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Ketu,
antigasescravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da Boa
Morte
daI g r e j a   d a   B a r r o q u i n h a ,   t e r i a m   t o m a d o   a   i n i c i a t i v a   d e   c r
i a r   u m   t e r r e i r o   d e candomblé chamado Iya Omi Axé Airá Intilé,
numa casa situada na Ladeira
doB e r q u ó ,   h o j e   r u a   V i s c o n d e   d e   I t a p a r i c a ,   p r ó x i m a   à   I g r e j a   d a  
Barroquinha.... . . O s   n o m e s   d e s t a s   m u l h e r e s   s ã o   e l e s   m e s
m o s   c o n t r o v e r s o s .   D u a s   d e l a s chamadas Iyalussô Danadana e
Iyanassô Akalá, segundo alguns, auxiliadas por u m c e r t o B a b á A s s i k á ,
saudado como Essá Assiká no Padê, teriam sido
asfundadoras do terreiro Axé
A i r á   I n t i l é .   I y a l u s s o   D a n a d a n a ,   s e g u n d o   c o n s t a , regressou à
Africa e lá morreu. Iyanassô teria, pelo seu lado, viajado para
Ketu,acompanhada de Marcelina da Silva. Não se sabe, exatamente, se esta
era suafilha de sangue, ou filha espiritual - quer dizer, iniciada por ela no culto
dos Orixás- o u , a i n d a , s e t r a t a v a d e u m a p r i m a s u a . A s
o p i n i õ e s s o b r e o a s s u n t o s ã o divergentes e tornam-se objeto de
eruditas discussões, estando, porém, todos deacordo em declarar que seu
nome de iniciada era Obatossí.M a r c e l i n a - O b a t o s s í   f e z -
s e   a c o m p a n h a r   n e s t a   v i a g e m   p o r   s u a   f i l h a Madalena. Após sete
anos de permanência em Kétu, o pequeno grupo voltouacrescido de
duas crianças que Madalena tinha tido na África e grávida de
umat e r c e i r a , C l a u d i a n a , q u e s e r á , p o r s u a v e z , m ã e d e M a r i a
B i b i a n a d o E s p í r i t o Santo, Mãe Senhora, Oxunmiwá......O terreiro fundado
por trás da Barroquinha mudou-se por diversas vezese , a p ó s h a v e r
passado pelo Calabar, Baixa de São Lázaro, instalou-se sob
o nome de Ile Iyanassô, no local onde ainda hoje se encontra, sendo
familiarmentec h a m a d o   d e   C a s a   B r a n c a   d o   E n g e n h o   V e l h o ,   n o   q u
a l   M a r c e l i n a -   O b a t o s s í tornou-se Mãe de Santo, após a morte de
Iyanassô” (Vide Notas Sobre Cultos deOrixás e Voduns da Bahia – Verger, Pierre
Fatumbi)Pelo descrito pelos babalorixás e Yalorixás ancestrais, teria
sido esta aprimeira casa de candomblé de Kétu estabelecida no
Brasil, tendo dela surgidooutras como o Iya Omi Axé Iya-Massê
(Gantois) e Centro Cruz Santa do Axé deOpô Afonjá.
 
 A Nação Angola
Pelo sul do domínio kongoles, entre o curso do Dande (rio), e as águas
doL o n g a ( r i o ) , e a p a r t i r d a c o s t a a t é o r i o K u a n g o , e s t e n d i a m -
s e o s A m b u n d u . Incluem os povos que formaram o antigo reino de
Angola, concentrando-se nasterras da Matamba onde tomaram o nome de
Ambundu, que quer dizer
vencedor. Angola foi descoberta em 1486, pelo navegador português Diogo Cã
o, e estásituada na costa ocidental da África.O conquistador de Ndongo,
nome do primeiro reino, chamava-se NgolaNzinga ia Nku. Um chefe
vassalo do Kongo e descendente em terceira geraçãodo Mani Kongo
(rei), Nimi ia Lukeni. O qual conquistou a região, erigiu em
reinodando-lhe o seu nome ou título, que é documentado em português já no
início doséc. XVI.Destas invasões ambundu do vale Kambo, alcançando
Matamba, o chefeJaga Ngola Nzinga ia Nku, conquistou terras de Ndongo, que
vieram a constituir o Reino de Angola, onde mais tarde, a rainha Tumba
ia Ngola, casou-se com ogrande guerreiro e autoridade divina
Ngola Kiluanji Kiá Samba, cujo nome édado ao País até hoje.O grupo
Ambundu hoje denominado Kimbundu, é em realidade, um grupolingüístico
constituído por Dembo, Ngola Mahungo, Njinga, Holo, Bondo, Bangala,Songo,
kisama, Libolo, Muako, Musende, Xinji, Kavungo e Minungu, sendo estasduas
ultimas tribos, originárias do velho grupo Luanda-Kioko. A
língua Kikongo, prolonga-se até o noroeste da Luanda junto a Kuango,na tribo
Musuku, parente dos Kongoleses no sangue e na cultura, existindo
umaafinidade muito forte com o Kimbundu. (A Matamba era chamada
de Kitamba,que quer dizer braseiro. Como os que cultuavam a divindade
guerreira, Kitamba,viviam em uma terra de muitas guerras, passaram a
chama-la de Matamba, ouseja este nome foi originado de Kitamba)
Situação Geográfica
Candomblés das nações Jeje e Ketu presenciados para a pesquisa:Jeje –
Visita ao Kwe Ceja Undelemin – Madureira - RJ – Cerimônia de Saída deYawo
do VodunAziri Tobossy.Ketu – Visita ao Ilê Axé Tòná – Carobinha, Campo Grande –
RJ – Cerimônia desaída de Yawo do Orixá Oxaguian.Entrevista com a Yalorixá
Juliana de Azawane, em seu Kwe Ceja Undèláyè, nobairro de Jardim
Guanabara, Ilha do Governador – RJ.
 
Iniciação no candomblé Kétu
O sacerdócio e organização dos ritos para o culto d
o s   O r i x á s   s ã o complexos, com todo um aprendizado que
administra os padrões culturais detranse, pelo qual os deuses se
manifestam no corpo de seus iniciados durante ascerimônias para serem
admirados, louvados, cultuados. Os iniciados, filhos ef i l h a s - d e -
santo (yawo, em linguagem ritual), também são pop
u l a r m e n t e denominados "cavalos dos deuses" uma vez que o transe
consiste basicamenteem mecanismo pelo qual cada filho ou filha se deixa
cavalgar pela divindade, quese apropria do corpo e da mente do iniciado, num
modelo de transe inconscienteb e m d i f e r e n t e d a q u e l e d o k a r d e c i s m o ,
em que o médium, mesmo em transe,deve sempre permanecer
a t e n t o à p r e s e n ç a d o e s p í r i t o . O p r o c e s s o d e s e transformar
num "cavalo" é uma estrada longa, difícil e cara, cujos estágios
na"nação" Ketu podem ser assim sumariados: Para começar, a mãe-de-santo
devedeterminar, através do jogo de búzios, qual é o Orixá dono da
cabeça daqueleindivíduo (Braga, 1988). Ele ou ela recebe então um
fio de contas sacralizado,cujas cores simbolizam o seu Orixá, dando-se
início a um longo aprendizado queacompanhará o mesmo por toda a vida.
A primeira cerimônia privada a que anoviça (abiãn) é submetida
consiste num sacrifício votivo à sua própria cabeça(borí), para que a
cabeça possa se fortalecer e estar preparada para algum diareceber o
Orixá no transe de possessão.Para se iniciar como cavalo dos deuses, a
abiãn precisa juntar dinheirosuficiente para cobrir os gastos com as
oferendas (animais e ampla variedade dealimentos e objetos), roupas
cerimoniais, utensílios e adornos rituais e demaisd e s p e s a s s u a s , d a
família-de-santo, e eventualmente de sua própria
famíliadurante o período de reclusão iniciática em que não
e s t a r á , e v i d e n t e m e n t e , disponível para o trabalho no mundo
profano.Como parte da iniciação, a noviça permanece em reclusão no terreiro
por um número em torno de 21 dias. Na fase final da reclusão, uma
representaçãom a t e r i a l d o O r i x á d o i n i c i a d o ( a s s e n t a m e n t o o u
i g b á - O r i x á ) é l a v a d a c o m u m preparado de folhas sagradas
trituradas (abô). A cabeça da noviça é raspada ep i n t a d a , a s s i m
preparada para receber o Orixá no curso do sacrifício
e n t ã o oferecido (orô). Dependendo do Orixá, alguns
dos animais seguintes podem ser oferecidos: cabritos, ovelhas,
pombas, galinhas, galos, caramujos. O sangue éderramado sobre a
cabeça da noviça, no assentamento do Orixá e no chão doterreiro,
criando este sacrifício um laço sagrado entre a noviça, o seu Orixá e
acomunidade de culto, da qual a mãe-de-santo é a cabeça. Durante a
etapa
dasc e r i m ô n i a s   i n i c i á t i c a s   e m   q u e   a   n o v i ç a   é   a p r e s e n t a d a  
p e l a   p r i m e i r a   v e z   à comunidade, seu Orixá grita seu nome, fazendo-se
assim reconhecer por todos,completando-se a iniciação como Yawo
(iniciada jovem que "recebe" Orixá). OO r i x á e s t á p r o n t o p a r a s e r
f e s t e j a d o e p a r a i s s o é v e s t i d o e p a r a m e n t a d o , e levado para
junto dos atabaques, para dançar, dançar e dançar.No candomblé sempre
estão presentes o ritmo dos tambores, os cantos, a dançae a c o m i d a
(Motta, 1991). Uma festa de louvor aos Orixá (toque) sempre
seencerra com um grande banquete comunitário (ajeum, que si
gnifica "vamos
 
comer"), preparado com carne dos animais sacrificados. O novo filho ou filha-
de-s a n t o   d e v e r á   o f e r e c e r   s a c r i f í c i o s   e   c e r i m ô n i a s   f e s t i v a s   a o  
f i n a l   d o   p r i m e i r o , terceiro e sétimo ano de sua iniciação. No sétimo
aniversário, recebe o grau desenioridade (Ûgbïnmi, que significa "meu
irmão mais velho"), estando ritualmenteautorizado a abrir sua própria casa de
culto. Cerimônias sacrificiais são tambémoferecidas em outras etapas da
vida, como no vigésimo primeiro aniversário deiniciação. Quando o
Ûgïnmi morre, rituais fúnebres (axêxê) são realizados
pelac o m u n i d a d e p a r a q u e o O r i x á f i x a d o n a c a b e ç a d u r a n t e a
p r i m e i r a f a s e d a iniciação possa desligar-se do corpo e retornar ao
mundo paralelo dos deuses(Îrun) e para que o espírito da pessoa morta
(egún) liberte-se daquele corpo, pararenascer um dia e poder de novo gozar
dos prazeres deste mundo.
Ritual e ética
O candomblé opera em um contexto ético no qual a noção judáico-
cristãd e   p e c a d o   n ã o   f a z   s e n t i d o .   A   d i f e r e n ç a   e n t r
e   o   b e m   e   o   m a l   d e p e n d e basicamente da relação entre o
seguidor e seu deus pessoal, o Orixá. Não há umsistema de moralidade
referido ao bem-estar da coletividade humana, pautando-se o que é certo ou
errado na relação entre cada indivíduo e seu Orixá particular. A ênfase do
candomblé está no rito e na iniciação, que, como se viu brevemente,é quase
interminável, gradual e secreta. O culto demanda sacrifício de
sangueanimal, oferta de alimentos e vários ingredientes. A carne dos
animais
abatidosn o s   s a c r i f í c i o s   v o t i v o s   é   c o m i d a   p e l o s   m e m b r o s   d
a   c o m u n i d a d e   r e l i g i o s a , enquanto o sangue e certas partes dos
animais, como patas e cabeça, órgãosinternos e costelas,
são oferecidas aos Orixás. Somente iniciados têm acesso aestas
cerimônias, conduzidas em espaços privativos denominados quartos-
de-santo. Uma vez que o aprendizado religioso sempre se dá longe
dos olhos dopúblico, a religião acaba por se recobrir de uma aura de
sombras e mistérios,embora todas as danças, que são o ponto alto das
celebrações, ocorram sempreno barracão, que é o espaço aberto ao público.
 
A Música
 As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência ded a n ç a
s, em que, um por um, são honrados todos os Orixá
s ,   c a d a   u m   s e manifestando no corpo de seus filhos e filhas,
sendo vestidos com roupas decores específicas, usando nas mãos
ferramentas e objetos particulares a cadaum deles, expressando-se em
gestos e passos que reproduzem simbolicamentecenas de suas biografias
míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre aosom dos tambores
(chamados rum, rumpí e lê) é designada xirê, que em yorubásignifica "vamos
dançar". O lado público do candomblé é sempre festivo, bonito,esplendoroso,
esteticamente exagerado para os padrões europeus e
extrovertido.P a r a   o   g r a n d e   p ú b l i c o ,   d e s a t e n t o   p a r a   o   d i f í c i l   l
a d o   d a   i n i c i a ç ã o ,   o candomblé é visto como um grande palco em que se
reproduzem tradições afro-brasileiras igualmente presentes, em menor
grau, em outras esferas da cultura,como a música e a escola de samba.
Para o não iniciado, dificilmente se concebeq u e a c e r i m ô n i a d e
c e l e b r a ç ã o n o c a n d o m b l é s e j a a l g o m a i s q u e u m e t e r n o dançar
dos deuses africanos.
 
 
Seguidores e clientes
O   c a n d o m b l é   a t e n d e   a   u m a   g r a n d e   d e m a n d a   p o r   s e r v i ç o s 
mágico-religiosos de uma larga clientela que não 
n e c e s s a r i a m e n t e   t o m a   p a r t e   e m qualquer aspecto das atividades
do culto. Os clientes procuram a mãe ou pai-de-santo para o jogo de búzios, o
oráculo do candomblé, através do qual problemassão desvendados e
oferendas são prescritas para sua solução. O cliente
pagap e l o   j o g o   d e   b ú z i o s   e   p e l o   s a c r i f í c i o   p r o p i c i a t ó r
i o   ( e b ó )   e v e n t u a l m e n t e recomendado. O cliente em geral
f i c a s a b e n d o q u a l é o O r i x á d o n o d e s u a cabeça e pode mesmo
comparecer às festas em que se faz a celebração de
seuO r i x á ,   p o d e n d o   c o l a b o r a r   c o m   a l g u m   d i n h e i r o   n o   p r e p a r o   d a
s festividades,embora não sele nenhum compromisso com a
r e l i g i ã o . O c l i e n t e s a b e q u a s e nada sobre o processo iniciático e
nunca toma parte nele. Entretanto, ele temuma dupla importância:
Antes de mais nada, sua demanda por serviços ajuda alegitimar o
terreiro e o grupo religioso em termos sociais. Segundo, é da
clientelaq u e   p r o v é m ,   n a   m a i o r i a   d o s   t e r r e i r o s ,   u m a   s u b s t a n
c i a l   p a r t e   d o s   f u n d o s necessários para as despesas com as 
a t i v i d a d e s   s a c r i f i c i a i s .   C o m u m e n t e , sacerdotes e sacerdotisas do
candomblé que adquirem alto grau de prestígio nasociedade inclusiva
gostam de nomear, entre seus clientes, figuras importantesdos mais
diversos segmentos da sociedade.D e v o t o s   d a s   r e l i g i õ e s   a f r o -
b r a s i l e i r a s   p o d e m   c u l t u a r   t a m b é m   o u t r a s entidades que não
os Orixás africanos, como os caboclos (espíritos de índiosbrasileiros) e
encantados (humanos que teriam vivido em outras épocas e outrospaíses).
Durante o transe ritual, os caboclos conversam com seus seguidores
eamigos, oferecendo conselhos e fórmulas mágicas para o tratamento de todos
ostipos de problemas. A organização dos panteões de divindades
africanas nost e r r e i r o s v a r i a d e a c o r d o c o m c a d a n a ç ã o d e
c a n d o m b l é ( S a n t o s , 1 9 9 2 ; M . Ferretti, 1993). Caboclos e pretos-velhos
(espíritos de escravos) são centrais naumbanda, em que estas entidades
têm papel mais importante no cotidiano dareligião do que os próprios
Òrìñà.
 
 
III: Comportamento humano como herança dos Orixás
Segundo o candomblé, cada pessoa pertence a um deus determinado, queé o
senhor de sua cabeça e mente e de quem herda características
físicas e depersonalidade. É prerrogativa religiosa do pai ou mãe-de-
santo descobrir estaorigem mítica através do jogo de búzios. Esse
conhecimento é absolutamenteimperativo no processo de iniciação de
novos devotos e mesmo para se fazeremprevisões do futuro para os clientes e
resolver seus problemas. Embora na
Áfricah a j a   r e g i s t r o   d e   c u l t o   a   c e r c a   d e   4 0 0   O r i x á s ,   a p e n a s  
d u a s   d e z e n a s   d e l e s sobreviveram no Brasil. A cada um
d e s t e s c a b e o p a p e l d e r e g e r e c o n t r o l a r   forças da natureza e
aspectos do mundo, da sociedade e da pessoa humana.Cada um tem
suas próprias características, elementos naturais, cores simbólicas,vestuário,
músicas, alimentos, bebidas, além de se caracterizar por ênfase
emc e r t o s t r a ç o s d e p e r s o n a l i d a d e , d e s e j o s , d e f e i t o s , e t c .
N e n h u m O r i x á é n e m inteiramente bom, nem inteiramente mau. Noções
ocidentais de bem e mal estãoausentes da religião dos Orixás no Brasil. E os
devotos acreditam que os homense m u l h e r e s h e r d a m m u i t o s d o s
atributos de personalidade de seus Orixá, demodo que em
muitas situações a conduta de alguém pode ser espelhada
empassagens míticas que relatam as aventuras dos Orixás.
I s t o e v i d e n t e m e n t e legitima, aos olhos da comunidade
de culto, tanto as realizações como as faltasde cada um.
 
Os Orixás
Vejamos abreviadamente algumas das características de
personalidademais usualmente atribuídas aos Orixás por seus seguidores:
Èxú
- Deus mensageiro, divindade
trickster 
, otrapaceiro. Em qualquer cerimônia é sempre o primeiro as e r
homenageado, para se evitar que se enraiveça
e a t r a p a l h e   o   r i t u a l .   G u a r d i ã o   d a s   e n c r u z i l h a d a s   e   d a s portas da
rua. Sincretizado com o Diabo católico. Seussímbolos são um porrete
fálico e tridentes de ferro.
Oss e g u i d o r e s   a c r e d i t a m   q u e   a s   p e s s o a s   c o n s a g r a d a s   a Exú são
inteligentes, sexy, rápidas, carnais,
licenciosas,q u e n t e s ,   e r ó t i c a s   e   s u j a s .   F i l h o s   d e   E x ú   g o s t a m  
d e comer e beber em demasia. Não se deve confiar nuncanum filho
ou numa filha de Exú. Eles são os melhores,mas eles decidem quando o
querem ser. Não são dadosa o c a s a m e n t o , g o s t a m d e a n d a r
sozinhos pelas
ruas,b e b e n d o   e   o b s e r v a n d o   o s   o u t r o s   p a r a   a p a n h á -
l o s desprevenidos. Deve-se pagar a Exú com 
d i n h e i r o , comida, atenção sempre que se precise de um favor dele.
Como o pai, filhos deE x u n u n c a f a z e m n a d a s e m p a g a . A
saudação a Exu é
Cobalarô Exu, Laroyê Amojubá
!
Orin fún Èsú
 
ESÙ fi ire bò wá o.ÈLA fi ire bò wà yà yà.ESÙ gbè ire ajè kò wá o.ÈLA fi ire bò
wà yà yà.IYA-MÒGÚN fi ire bò wà o.ÈLA fi ire bò wá yà yà.ESU, faça nossas vidas
plenas de coisas boas.ÈLA, ponha muita sorte em nossas vidas.ESU, ponha
sorte e progresso em nossas vidas.ÈLA, ponha muita sorte em nossas
vidas.IYA MOGUN, faça nossas vidas plenas de coisas boas.ÈLA, ponha muita
sorte em nossas vidas.
 
Oríkì ti Èsú
 Èsù òta òrìsà.Osétùrá ni oruko bàbá mò ó. Alágogo Ìjà ni orúko ìyá npè é,Èsù
Òdàrà, omokùnrin Ìdólófin,O lé sónsó sí orí esè elésèKò je, kò jé kí eni nje gbé
mì, A kìì lówó láì mú ti Èsù kúrò, A kìì lóyò láì mú ti Èsù kúrò, Asòntún se òsì láì
ní ítijú,Èsù àpáta sómo olómo lénu,O fi okúta dípò iyò.Lóògemo òrun, a nla
kálù,Pàápa-wàrá, a túká máse sà,Èsù máse mí, omo elòmíràn ni o se. 
Tradução
 Exú, o inimigo dos orixás.Osétùrá é o nome pelo qual você é chamado por seu
pai. Alágogo Ìjà é o nome pelo qual você é chamado por sua mãe.Exú Òdàrà, o
homem forte de ìdólófin,Exú, que senta no pé dos outros.Que não come e não
permite a quem está comendo que engula o alimento.Quem tem dinheiro,
reserva para Exú a sua parte,Quem tem felicidade, reserva para Exú a sua
parte.Exú, que joga nos dois times sem constrangimento.Exú, que faz uma
pessoa falar coisas que não deseja.Exú, que usa pedra em vez de sal.Exú, o
indulgente filho de Deus, cuja grandeza se manifesta em toda parte.Exú,
apressado, inesperado, que quebra em fragmentos que nãose poderá juntar
novamente,Exú, não me manipule, manipule outra pessoa.
 
Lenda de como Esú torna-se o amigo predileto de Orunmilá
Como se explica a grande amizade entre Orunmilá e Exú, visto que
elessão opostos em grandes aspectos?O r u n m i l á , f i l h o m a i s v e l h o d e
O l o r ú n , f o i q u e m t r o u x e a o s h u m a n o s o conhecimento do destino
pelos búzios. Exu, pelo contrario, sempre se esforçoup a r a   c r i a r   m a l -
e n t e n d i d o s   e   r u p t u r a s ,   t a n t o   a o s   h u m a n o s   c o m o   a o s   O r i x á s . Or
unmilá era calmo e Exu, quente como o fogo.Mediante o uso de conchas
adivinhas, Orunmilá revelava aos homens
asi n t e n ç õ e s   d o   s u p r e m o   d e u s   O l o r ú n   e   o s   s i g n i f i c a d o s   d
o destino. Orunmiláaplainava os caminhos para os huma
n o s ,   e n q u a n t o   E x u   o s   e m b o s c a v a   n a estrada e fazia incertas
todas as coisas. O caráter de Orunmilá era o destino, ode Exu, era o
acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.Uma vez, Orunmilá viajou com
alguns acompanhantes. Os homens de seuséqüito não levavam nada, mas
Orunmilá portava uma sacola na qual guardava ot a b u l e i r o e o s O b i s q u e
usava para ler o futuro. Mas na comitiva de
Orunmilám u i t o s   t i n h a m   i n v e j a   d e l e   e   d e s e j a v a m   a p o d
e r a r - s e   d e   s u a   s a c o l a   d e adivinhação. Um deles mostrando-
se muito gentil, ofereceu-se para carregar
as a c o l a   d e   O r u n m i l á .   U m   o u t r o   t a m b é m   s e   d i s p ô s   à  
m e s m a   t a r e f a   e   e l e s discutiram sobre quem deveria carregar a tal
sacola. Até que Orunmilá encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado.
Eumesmo carrego a sacola". Quando Orunmilá chegou em casa,
refletiu sobre oincidente e quis saber quem realmente agira como um
amigo de fato. Pensoue n t ã o n u m p l a n o p a r a d e s c o b r i r o s f a l s o s
a m i g o s . E n v i o u m e n s a g e n s c o m a notícia de que havia morrido e
escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orunmilá
esperou.D e p o i s d e u m t e m p o , u m d e s e u s a c o m p a n h a n t e s v e i o
e x p r e s s a r s e u pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter
sido um grande amigo deO r u n m i l á e q u e m u i t a s v e z e s o a j u d a r a
c o m d i n h e i r o . D i s s e a i n d a q u e , p o r   gratidão, Orunmilá lhe teria
deixado seus instrumentos de adivinhar. A esposa deOrunmilá pareceu
compreende-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. Eo homem foi
embora frustrado.O u t r o h o m e m v e i o c h o r a n d o , c o m a r t i m a n h a
p e d i u a m e s m a c o i s a e também foi embora
d e s a p o n t a d o .   E   a s s i m , t o d o s   o s q u e   v i e r a m f i z e r a m   o mesmo
pedido. Até que Exu chegou.Exu também lamentou profundamente a
morte do suposto amigo. Masdisse que a tristeza maior seria da esposa,
que não teria mais pra quem cozinhar.Ela concordou e perguntou se Orunmilá
não lhe devia nada. Exu disse que não. Aesposa de Orunmilá persistiu,
perguntando se Exu não queria a parafernália deadivinhação. Exu negou
outra vez. Aí Orunmilá entrou na sala, dizendo: "Exu, tués sim meu verdadeiro
amigo!". Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tãoíntimos como Exu e
Orunmilá.
 
Ògún
-
Deus da guerra, do ferro, da metalurgia e
dat e c n o l o g i a .   S i n c r e t i z a d o   c o m   S a n t o   A n t ô n i o   e   S ã o Jorge.
É o Òrìñà que tem o poder de abrir os
caminhos,f a c i l i t a n d o   v i a g e n s   e   p r o g r e s s o s   n a   v i
d a .   O s estereótipos mostram os filhos de Ògún como
teimosos,apaixonados e com certa frieza racional. Eles são
muitotrabalhadores, especialmente moldados para o
trabalhom a n u a l   e   p a r a   a s   a t i v i d a d e s   t é c n i c a s .   E m b o r a   e l e s u s u a l
m e n t e f a ç a m q u a l q u e r c o i s a p o r u m a m i g o , o s filhos e filhas de
Ògún não sabem amar sem
machucar:d e s p e d a ç a m   c o r a ç õ e s .   A c r e d i t a - s e   q u e   s e j a m  
m u i t o b e m d o t a d o s s e x u a l m e n t e , t a n t o q u a n t o o s f i l h o s d e Èñù,
irmão de Ògún. Embora eles possam ter
muitosi n t e r e s s e s ,   o s   f i l h o s   d e   Ò g ú n   p r e f e r e m   a s   c o i s
a s práticas, detestando qualquer trabalho intelectual.
Elesd ã o   b o n s   g u e r r e i r o s ,   p o l i c i a i s ,   s o l d a d o s ,   m e c â n i c o s , técnicos
. Saudação:
Ògún è
!
Lenda que Ogum dá ao homem o segredo do ferro
Na Terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os sere
s   h u m a n o s trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e
plantavam usando frágeisinstrumentos feitos de madeira, pedra ou metal
mole. Por isso o trabalho exigiagrande esforço. Com o aumento da
população de Ifé, a comida andava escassa.Era necessário plantar uma
área maior.O s o r i x á s e n t ã o s e r e u n i r a m p a r a d e c i d i r c o m o f a r i a m
p a r a r e m o v e r a s árvores do terreno e aumentar a área de lavoura.
Ossain, o orixá da medicina,dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas
seu facão era de metal mole e elen ã o f o i b e m s u c e d i d o . D o m e s m o
m o d o q u e O s s a i n , t o d o s o s o u t r o s O r i x á s tentaram, um por um, e
fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.Ogun, que conhecia
o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quandotodos os
outros Orixás tinham fracassado, Ogun pegou seu facão, de ferro,
foiaté a mata e limpou o terreno. Os Orixás, admirados, perguntaram
a Ogun deque material era feito tão resistente facão. Ogun respondeu
que era o ferro, umsegredo recebido de Orunmilá. Os Orixás invejaram
Ogun pelos benefícios que oferro trazia, não só à agricultura, como à caça e
até mesmo à guerra.Por muito tempo os Orixás importunaram Ogun para saber
do segredo
dof e r r o ,   m a s   e l e   m a n t i n h a   o   s e g r e d o   s ó   p a r a   s i .   O s   O r i x á
s   d e c i d i r a m   e n t ã o oferecer-lhe o reinado em troca do que ele
l h e s e n s i n a s s e t u d o s o b r e a q u e l e metal tão resistente. Ogun
aceitou a proposta. Os humanos também vieram aOgun pedir-lhe o
conhecimento do ferro. E Ogun lhes deu o conhecimento daforja, até
o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram sua ança de
ferro.Mas, apesar de Ogun ter aceitado o comendo dos Orixás, antes
de mais nada,ele era um caçador. Certa ocasião, saiu para caçar e
passou muitos dias fora

 
numa difícil temporada. Quando voltou da mata, estava sujo e
maltrapilho. OsO r i x á s n ã o g o s t a r a m d e v e r s e u l í d e r n a q u e l e
estado. Eles o desprezaram edecidiram destituí-lo do reinado.
O g u n s e d e c e p c i o n o u c o m o s O r i x á s , p o i s , quando precisaram dele
para o segredo da forja, eles o fizeram rei e agora dizemque não era digno de
governá-los. Então Ogun banhou-se, vestiu-se com folhasde palmeira
desfiadas, pegou suas armas e partiu. Num lugar distante chamadoI r ê ,
construiu uma casa embaixo da arvore de Acocô e lá
p e r m a n e c e u . O s humanos que receberam de Ogun o segredo do
ferro não o esqueceram. Todomês de dezembro, celebravam a festa
de Uidê Ogun. Caçadores, guerreiros,f e r r e i r o s e   m u i t o s
o u t r o s   f a z e m s a c r i f í c i o s e m   m e m ó r i a   d e O g u n .   O g u n   é   o senhor
do ferro para sempre.
ÀDÚRÀ FÚN ÒGÚN
(Súplica)
Ògún aláká ayé.
Ògún, Senhor de todo o universo.
Osìn imólè.
Líder dos espíritos.
O ní omi sílé fi èjè,
Tem água em casa mas toma banho com sangue,
Má fi èjè mi wè.
não se banhe com meu sangue.
Ògún aláká ayé má je a ri o,
Ògún Senhor de todo o universo, livra-nos de experimentar sua furia
Nígbà to sòro.
nos momentos de dificuldade.
Kí kú paramó.
Que a morte,
Kí àrùn paradà.

 
que a doença,
Nílé wa o.
desapareçam de nossa casa.
 Àse, àse, àse.

 
Oxóssi
- Deus da caça. Sincretizado com SãoJorge e São Sebastião.
O r i x á d a f a r t u r a . S e u s filhos são elegantes, graciosos, xeretas,
curiosose   s o l i t á r i o s .   E m b o r a   d ê e m   b o n s   p a i s   e   b o a s mã
es, têm sempre dificuldade com o ser
amado.S ã o   a m i g á v e i s ,   p a c i e n t e s   e   m u i t a s   v e z e s i n
g ê n u o s .   O s   f i l h o s   d e   O x ó s s i   t ê m   a p a r ê n c i a  jovial e parece qu
e estão sempre à procura dea l g u m a   c o i s a .   N ã o   c
o n s e g u e m   s e r   monogâmicos. Têm de caçar noite e dia.
Por issosão considerados irresponsáveis. De fato, eles
ses e n t e m   l i v r e s   p a r a   q u e b r a r   q u a l q u e
r   compromisso que não lhes agrade mais.Di
f i c i l m e n t e   e l e s   s e   s e n t e m   o b r i g a d o s   a compar
ecer a um encontro marcado, quandoo u t r a   c o i s a   m a i s  
i n t e r e s s a n t e   c r u z a   o   s e u caminho.
Okè arò Arole
!
Lenda de Oxóssi
Há muitos anos, uma preta, sentada num toco de árvore,
c o n t a v a q u e todos os dias, pela manhã, Oxossi conduzia o gado para
o pasto. A caminho dopasto, deslocando-se por uma estrada
poeirenta, passavam obrigatoriamente,pela porta do cemitério. Ao
chegarem ao pasto, Oxossi contava o gado, e
por d u a s   v e z e s   d e u   f a l t a   d e   u m a   c a b e ç a .   O x o s s i   p r o c u r o
u   s a b e r   o   q u e   h a v i a acontecido, sem, no entanto, descobrir como se
dera o desaparecimento dos doisanimais.Naquele dia, ele vinha cansado,
e o gado também, e, por isso, resolveuparar no cemitério. Meteu a mão
numa tina, encheu de água e, defronta à porta,viu uns Babá Egungun, todos
em cima do muro, tentando atacar o gado. Só aí éque percebeu a causa da
falta dos animais. Ao mesmo tempo, também, verificouque à medida que o
gado acabava de beber a água, punha a língua para fora,mugia e
balançava o rabo, e que, com isso, os animais faziam medo aos
BàbáEgungun, pois eles corriam todas as vezes que os rabos balançavam e a
línguaera posta para fora.Oxossi passou, daí em diante, a trazer sempre na
mão um eruexim, que é,nada mais, nada menos, que um rabo de boi,
para espantar Egungun. Logo ems e g u i d a , h o u v e u m a f e s t a , n a
qual os orixás trocaram prendas e oferendas,quando Oxossi
deu o eruexim a Oyá, porque ela era uma das pessoas
q u e cuidavam dos Bàbá Egungun. E até hoje, nos terreiros, o eruexim é
consideradou m   e s p a n t a   E g u n g u n ,   e   c o m o   t a l   f a z   p a r t e   d
a s   f e r r a m e n t a s   d e   O y á ,   e   é ferramenta de Oxossi, que foi que
descobriu.
Odé, Òrìsà da Caça e da Fartura

 
Em tempos distantes, Odùdùwa, Oba de Ifé, diante do seu
PalácioReal, chefiava o seu povo na festa da colheita dos inhames. Naquele
ano ac o l h e i t a h a v i a s i d o f a r t a , e t o d o s e m h o m e n a g e m , d e r a m
u m a g r a n d e f e s t a comemorando o acontecido, comendo inhame e
bebendo vinho de palma emgrande fartura.De repente, um grande pássaro,
(èlèye), pousou sobre o Palácio, lançandoos seus gritos malignos, e lançando
fardas de fogo, com intenção de destruir tudoque por ali existia, pelo fato de
não terem oferecido uma parte da colheita as Àjès(feiticeira, portadoras do
pássaro), personificando seus poderes atravez de
Ìyamì Òsóróngà.
Todos se encheram de pavor, prevendo desgraças e catástrofes.
OObá então mandou buscar 
Osotadotá
, o caçador das 50 flechas, em Ilarê, que,arrogante e cheio de si,
errou todas as suas investidas, desperdiçando suas
50flechas.C h a m o u d e s t a v e z , d a s t e r r a s d e M o r é ,
Osotogi 
, c o m s u a s 4 0 f l e c h a s . Embriagado, o guerreiro também
desperdiçou todas suas investidas contra ogrande
pássaro. Ainda foi, convidado para grande façanha de matar o pássaro, dasdis
tantes terras de Idô,
Osotogum
, o guardião das 20 flechas. Fanfarão, apesar d a s u a g r a n d e f a m a
e destreza, atirou em vão 20 flechas, contra o
p á s s a r o encantado e nada aconteceu.Por fim, já com todos sem
esperança, resolveram convocar da cidade deIreman,
Òsotokànsosó
, caçador de apenas uma flecha. Sua mãe Yemonjá sabiaque as èlèye
viviam em cólera, e nada poderia ser feito para apaziguar sua fúriaa
não ser uma oferenda, vez que três dos melhores caçadores falharam em
suastentativas. Yemonjá foi consultar Ifá para Òsotokànsosó.Foi consultar os
Bàbálàwo. Eles diseram que faça oferendas. Eles dizemque Yemonjá
prepare ekùjébú (grão muito duro) naquele dia. Eles dizem quetenha
também um frango òpìpì (frango com as plumas crespas). Eles dizem quetenha
èkó (massa de milho envolta em folhas de bananeira).E l e s d i z e m q u e
Yemonjá tenha seis kauris. Yemonjá faz então
assim,p e d i r a m   a i n d a   q u e ,   o f e r e c e s s e   c o l o c a n d o   s o b r
e   o   p e i t o   d e   u m   p á s s a r o sacrificado em intenção. Eles dizem
que ofereça em uma estrada, dizem querecite o seguinte: "Que o peito da
ave receba esta oferenda".Neste exato momento, o seu filho disparava
sua única flecha em direçãoao pássaro, esse abria sua guarda recebendo a
oferenda ofertada por Yemonjá,recebendo também a flecha serteira e mortal de
Òsotokànsosó.T o d o s a p ó s t a l a t o , c o m e ç a r a m a d a n ç a r e g r i t a r
de alegria: "òsóòsì!
òsóòsì!" (caçador do povo). A partir desse dia todos con
h e c e r a m   o   m a i o r   guerreiro de todas as terras, foi referenciado com
honras e carrega seu título atéhoje. òsóòsì.
 
Obaluaiye
 
ou
Omolú
- Deus da varíola,das pragas e doenças. É relacionado
c o m t o d o   o   t i p o   d e   m a l   f í s i c o   e   s u a s   c u r a s .  Associa
do aos cemitérios, solos e subsolos.Sincretizado com São Lázaro e São
Roque.S e u s   f i l h o s   a p a r e n t a m   u m   a s p e c t o
deprimido. São negativos, pessimistas,insp ira ndo  
pena. Eles parecem poucoa m i g o s ,   m a s   é   p o r
q u e   s ã o   t í m i d o s   e envergonhados. Seja amigo de um
deles
ev o c ê   d e s c o b r i r á   q u e   t u d o   o   q u e   e l e s precisam
para ser as melhores pessoas dom u n d o é d e u m p o u c o d e
a t e n ç ã o e u m a pitada de amor. Quando envelhecem, algunsse tornam
sábios, outros parecem completosidiotas. É que apenas querem ficar sozinhos.
 Atôtô Ajuberu
!
Oríkì fún Obàlúwàiyé
Òrìsà jìngbìnì
Orixa forte
 Abàtà, arú bí ewé ajó.
 Abàtà que floresce como as folhas de ajó.
Òrìsà tí nmú omo mú ìyá
Orixa que pune a mãe junto com o filho
Bí Obàlúwàiyé bá mú won tán
Depois que Obàlúwàiyé acabar de pegá-los
O tún lè sáré lo mú bàbá
Poderá ir pegar o pai 
Òrìsà bí ajé
Orixa igual feiticeiro
Obàlúwàiyé mo ilé osó, o mo ilé àjé
Obàlúwàiyé conhece tanto a casa do feiticeiro, quanto a casa da bruxa
O gbá osó l'ójú
Desafiou o feiticeiro
Osó kún fínrínfínrín.
E este correu desesperado.
O pa àjé ku ìkan soso
 
Matou todas as bruxas e só permitiu que uma sobrevivesse
Òrìsà jìngbìnì
Orixa forte,
Obàlúwàiyé a mú ni toùn toùn
Obàlúwàiyé que faz as pessoas perderem a voz 
Obàlúwàiyé sí odù re hàn mí
Obàlúwàiyé abras seu odù para mim
Kí ndi olówó
Para que eu seja uma pessoa próspera
Kí ndi olomo.
Para que eu seja uma pessoa fértil.
 Àse, àse, àse. (
 Assim seja).
OMULU GANHA AS PÉROLAS DE IEMANJÁ
 
Omulu foi salvo por Iemanjá quando sua mãe, Nanã Burucu, ao vê-lo
doente,coberto de chagas, purulento, abandonou-o numa gruta perto da praia.
Iemanjárecolheu Omulu e o lavou com a água do mar. O sal da água secou
suas feridas.Omulu tornou homem vigoroso, mas ainda carregava as
cicatrizes, as marcasfeias da varíola. Iemanjá confeccionou para ele uma roupa
toda de ráfia.E com ele escondia as marcas de suas doenças.Ele era um
homem poderoso. Andava pelas aldeias e por onde passava, deixava um rastro
ora de cura, ora desaúde, ora de doenças. Mas continuava sendo um homem
pobre.Iemanjá não se conformava com a pobreza do filho adotivo.Ela
pensou:"Se dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja sempre um
homempobre." Ficou imaginando quais riquezas poderia dar a ele.Iemanjá era
a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, asconchas, os
corais.Tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe, Olocum e ela
deratudo a Iemanjá. Iemanjá resolveu então ver suas jóias.Tinha algumas, mas
enfeitava-se mesmo era com algas.Ela enfeitava-se com a água do mar, vestia-
se de espuma.Ela adornava-se com o reflexo de Oxu, a Lua.Mas Iemanjá tinha
uma grande riqueza, e essas riquezas eram as pérolas,que as ostras
fabricavam para ela.Iemanjá, muito contente com sua lembrança, chamou
Omulu e lhe disse:"De hoje em diante, és tú quem cuidas das pérolas do
mar.Serás assim chamado de Jeholu, o Senhor das Pérolas".Por isso as
pérolas pertencem a Omulu.Por baixo de sua roupa de ráfia, enfeitando seu
corpo marcado de chagas,Omulu ostenta colares e mais colares de pérolas,
belíssimos colares."

 
ITAN TI OBÀLUÀIYÉ
 
Certo dia de festa, todos os orixás estavam dançando, Omolu ficara
timidamenteparado na porta. Ogun, então, perguntou a Nanan:“Meu irmão está
lá fora, não vem dançar. Porquê?”Nanan explicou que tinha medo de aparecer
em publico por causa das pústulas.Ogun, então resolveu o problema, intimou
Omolu a acompanha-lo até a floresta,o n d e   t e c e u   p a r a   e l e
u m a   r o u p a   p a r a   q u e O m o l u ,   a s s i m   d i s f a r ç a d o ,   t i v e s s e coragem
para entrar na sala sem medo de ser automaticamente rejeitado.O
estratagema, porém não foi tão bem sucedido. Muita gente tinha visto
Oguns a i r p a r a i r a t é O m o l u a n t e s d e s e a p r o x i m a r t r a z e n d o
uma figura misteriosa.Temiam dançar com a figura, pois ela
e s t a r i a c a r r e g a d a d e p e s t e s , p o d e r i a contamina-los, talvez. O Senhor
da varíola era uma espécie de pária.Tinham nojo. Somente Oyá, a deusa dos
ventos altiva e corajosa, concordou emacompanha-lo. Dançou com Omolu
e junto com eles, turbilhão de ventos. E osventos levantaram as vestes
dele.Todos presentes, com espanto, puderam verificar então que,
abaixo do filá, seescondia o rosto e o corpo de um homem belíssimo, sem
defeito algum.Oxum está despeitada até hoje. E, em recompensa pelo seu
gesto, Oyá recebeude Omolu o poder de reinar sobre os mortos.Mas Omolu
dança sozinho doravante.
 
Xangô
- Deus do trovão e da justiça. Sincretizadoc o m S ã o J e r ô n i m o . S e u s
filhos se dão bem
e m a t i v i d a d e s   e   a s s u n t o s   q u e   e n v o l v e m   j u s t i ç a , negócio
s e burocracia. Sentem que nasceram paras e r r e i s e r a i n h a s , m a s
usualmente acabam
s e c o m p o r t a n d o   c o m o   p l e b e u s .   S ã o   t e i m o s o s , r e s o l u t o s 
e   g l u t õ e s ;   g a n a n c i o s o s   p o r   d i n h e i r o , comida e poder. Uma pessoa
de Xangô gosta
des e   m o s t r a r   c o m   m u i t o s   a m a n t e s ,   e m b o r a   n ã o s e j a m   r e c o
n h e c i d o s   c o m o   p e s s o a s   c a p a z e s   d e grandes proezas sexuais.
Vivem para lutar e paraenvolver as pessoas que o cercam na sua
própriae   i n t e r m i n á v e l   g u e r r a   p e s s o a l .   G o s t a m   d e   c r i a r   suas
famílias, protegendo seus rebentos além
dou s u a l .   P o r   i s s o   s ã o   m u i t o   b o n s   a m i g o s  
e excelentes pais.
Obanixé Kaô kabiesile
!
Lenda de Xangô
Odùdùa, um guerreiro que vinha de uma cidade do Leste, invadiu com
seuexército a capital do povo chamado Ifé. Esta cidade depois se
chamou Ilê-Ifé,quando Odùdùa se tornou seu governante.Odùdùa tinha um
filho chamado Acambi e Acambi teve sete filhos e seusfilhos ou netos
foram reis de cidades importantes. A primeira filha deu-lhe um neto que
governou Egbá, a segunda foi mãe do Alaketo, o rei de Keto, o terceiro filho foi
coroado rei da cidade de Benim, o quartofoi Orungã, que veio a ser rei de
Ilê-Ifé, o quinto filho foi soberano de Xabes, osexto, rei de Popôs, e
o sétimo foi Oraniã, que foi rei de Oyó.Esses príncipes eram vassalos do rei de
Ilê-Ifé, que então se transformou nocentro de um grande império, cujo
nome era Oyó. Odùdùa era o grande rei
deO y ó .   E l e   u n i f i c o u   a s   m a i s   i m p o r t a n t e s   c i d a d e s   d a q u e l a 
r e g i ã o ,   m a i s   t a r d e conhecida como sendo a terra dos yorubás.Em cada
cidade ele pôs no trono um parente seu. Ele foi o grande
soberanod o s   r e i n o s   y o r u b á s .   E l e   f o i   c h a m a d o   o   p r i m e i
r o   A l a f i m ,   o   r e i   d e   O y ó . Quando Odùdùa morreu, os príncipes
fizeram a partilha dos bens do reientre si e Acambi ficou como regente do
império até sua morte, nunca tendo sido,c o n t u d o , c o r o a d o r e i d o
i m p é r i o . N u n c a l h e f o i a t r i b u í d o o t í t u l o d e A l a f i m . Com a morte
de Acambi, foi feito rei Oraniãn, o mais jovem dos príncipes doimpério, que
tinha se tornado um homem rico e poderoso. A ancestral Ilé-Ifé era a
 
capital dessa vasta região conhecida como Oyó. O Alafim Oraniãn foi um
grandeconquistador e solidificou o poderio de Oyó.Um dia Oraniãn levou
seus exércitos para combater o povo que habitavauma região a leste
de seu império. Era uma guerra muito difícil, mas, antes deganhar a
guerra, o oráculo o aconselhou a estacionar com os seus homens, poisali ele
haveria de muito prosperar.Assim foi feito e aquele acampamento a leste de
Ilé-Ifé tornou-se uma cidadepoderosa. Essa próspera povoação foi
chamada cidade de Oyó e veio a ser agrande capital do império fundado
por Odùdùa.Com a morte de Oraniãn, seu filho Ajaká foi coroado terceiro
Alafim de
Oyó. Ajaká, que tinha o apelido de Dadá por causa de seu cabelo encaracolad
o, erau m   h o m e m   p a c a t o   e   s e n s í v e l ,   c o m   p o u c a   h a b i l i d a d e  
e   n e n h u m   t i n o   p a r a governar.Dadá-Ajaká tinha um irmão que fora
criado na terra dos nupes, um povov i z i n h o d o s y o r u b á s , f i l h o d e
O r a n i ã n c o m a p r i n c e s a I a m a s s ê , e m b o r a h a j a quem diga que a
mãe dele foi Torossi, filha de Elempê, o rei dos nupês, tambémchamados
tapas. Esse filho de Oraniãn era Sàngó, grande guerreiro, que
fundarau m a   p e q u e n a   c i d a d e   c h a m a d a   K o s s ô ,   n a s   c
e r c a n i a s   d a   c a p i t a l   O y ó . Xangô, que era o rei de
C o s s ô , u m a c i d a d e t r i b u t á r i a d e O y ó , u m d i a destronou o
irmão Ajaká-Dadá, e o exilou como rei de uma pequena cidade, ondeusava
uma pequena coroa de búzios, chamada coroa de Baiani. Xangô foi
assimcoroado o quarto Alafim de Oyó, governando o império de
Odùdùa e Oraniã por sete anos.Q u a n d o X a n g ô m o r r e u , e d i z e m
q u e f o i o b r i g a d o a s e e n f o r c a r n u m momento de crise de seu
império, seus ministros procuraram seu corpo e
nãoe n c o n t r a r a m .   C o m p r e e n d e r a m   e n t ã o   q u e   e l e   t i n h a   e n t
r a d o   p a r a   o   O r u n   e instituíram seu culto. Xangô havia se transformado
em Orìxá.
 
Oxum
- D e u s a d a á g u a d o c e , d o o u r o , d a fertilidade e do amor. Sincretizada
com NossaSenhora das Candeias. Senhora da vaidade,ela foi a esposa
favorita de Xangô. Os filhos
ef i l h a s   d e   O x u m   s ã o   p e s s o a s   a t r a t i v a s , s e d u t o r a s , 
m a n h o s a s   e   i n s i n u a n t e s .   E l a s sabem como manobrar os seus
amores; sãob o a s n a f e i t i ç a r i a e n a p r e v i s ã o d o
f u t u r o .  Adoram adivinhar segredos e mistérios. Sãoo r g u l h o s a s   d a   b e l
e z a   q u e   p e n s a m   t e r   p o r   direito natural. Podem ser muito vai
dosas,a t r e v i d a s   e   a r r o g a n t e s .   D i z e m   q u e   s a b e m tudo do
a m o r , d o n a m o r o e d o c a s a m e n t o , mas têm muita dificuldade em criar
seus
filhosa d e q u a d a m e n t e ,   m u i t a s   v e z e s   a t é   s e esquec
endo que eles existem. Não gostam dap o b r e z a e n e m d a s o l i d ã o .
Saudação:
Orayèyè ò Fiderioman
!
Oriki de Oxum
Òsun mo pé ó o!Oxum eu te chamoN ò pé o s'ikú eni kankanNão te chamo por
causa da mortebéni n ó s'árùn enì kankan,Não te chamo por causa da doença
de alguém.mo pé ó sí níní owo.Eu te chamo para que tenhamos dinheiro.Mo pé
ó sí níní omo.Eu te chamo para que tenhamos filhos.Mo pé ó sí níní àláfià.Eu te
chamo para que tenhamos saúde.Mo pé ó si òrò.Eu te chamo para que
tenhamos uma vida serena.Kí àwa má ríjà omi o,

 
Para que não sejamos vitimados pela ira da águas.Odoodún ní a nri
orógbó.Dizem que anualmente há orobos novos na feira.Odoodún ní a nrí omo
obi lórí àte o.Dizem que anualmente há obis novos na feira.Odoodún ni kí wón
ma rí wá o!Que as pessoas nos vejam todo o ano.Bí a se, èyí tó jù báyi lo, ní
àmódún.Do mesmo modo que fizemos tua festa, façamos outra, ainda maior,
no próximoano.Òsun só wá, kí ó máà sí wàhálà lárin àwa omo ré.Oxum, nos
proteja, para que não haja problemas entre nós, teus filhos.Kí ilé má jò wá.Para
que sempre haja paz em nosso lar.Kí ònà má nà wá o.Que nossos objetivos
não se voltem contra nós.Pèsè àse fún wá o.Dá-nos axé!Enì nse àmódi ara, A
quem estiver doente,Fún ní àláfià o.dá saúde!Okó oba, àdá oba, kí ó ma sá wa
lésè o.Que a lei dos homens não sejam infringidas por nós.Kí àwa má ri Ogun
idilé.Que não haja problemas em nossa família.
 
Lenda de Oxum
Oxum era muito bonita, dengosa e vaidosa. Como o são, geralmente,
asbelas mulheres. Ela gostava de panos vistosos, marrafas de
tartaruga e
tinha,s o b r e t u d o ,   u m a   g r a n d e   p a i x ã o   p e l a s   j ó i a s   d e   c o b r e .  
E s t e   m e t a l   e r a   m u i t o precioso, antigamente, na terra dos iorubás.
Se uma mulher elegante
possuía jóias de cobre pesadas. Oxum era cliente dos comerciantes de cobre. 
Omirowanran wanran wanran omi ro! "A água corre fazendo o ruído dos
braceletes deOxum!" Oxum lavava suas jóias, antes mesmo de
lavar suas crianças. Mas tem,entretanto, a reputação de ser uma boa mãe
e atende às súplicas das
mulheresq u e   d e s e j a m   t e r   f i l h o s .   O x u m   f o i   a   s e g u n d a   m u l h e
r de Xangô. A primeirachamava-se Oiá-Iansã e a 
t e r c e i r a   O b á .   O x u m   t e m   o   h u m o r   c a p r i c h o s o   e mutável.
Alguns dias, suas águas correm aprazíveis e calmas, elas deslizam
comg r a ç a ,   f r e s c a s   e   l í m p i d a s ,   e n t r e   m a r g e n s   c o b e r t a s   d e   b r i l h
ante vegetação.Numerosos vãos permitem atravessar de um
l a d o a o u t r o . O u t r a s v e z e s s u a s águas, tumultuadas, passam
estrondando, cheias de correntezas e torvelinhos,transbordando e
inundando campos e florestas. Ninguém poderia atravessar deuma margem à
outra, pois ponte nenhuma as ligava. Oxum não toleraria uma talousadia!
Quando ela está em fúria, ela leva para longe e destrói as canoas
quetentam atravessar o rio.O l o w u , o r e i d e O w u , s e g u i d o d e s e u
e x é r c i t o , i a p a r a a g e r r a . P o r   infelicidade, tinha que atravessar o
rio num dia em que este estava
encolerizado.O l o w u   f e z   a   O x u m   u m a   p r o m e s s a   s o l e n e ,   e n t r e
t a n t o ,   m a l   f o r m u l a d a .   E l e declarou: " Se voce baixar o nível de suas
águas, para que eu possa atravessar eseguir para a guerra, e se eu voltar
vencedor, prometo a você nkan rere", isto é,boas coias. Oxum compreendeu
que ele falava de sua mulher, Nkan, filha do reid e I b a d a n . E l a B a i x o u o
n í v e l d a s á g u a s e O l o w u c o n t i n u o u s u a e x p e d i ç ã o . Quando ele
voltou, algum tempo depois, vitorioso e com um espólio
considerável,novamente encontrou Oxum com o humor perturbado. O
rio estava turbulento ecom suas águas agitadas. Olowu mandou jogar
sobre as vagas toda sorte deboas coisas, as nkan rere prometidas: tecidos,
búzios, bois, galinhas e escravos.M e l d e a b e l h a s e p r a t o s d e
m u l u k u n , i g u a r i a o n d e s u a v e m e n t e m i s t u r a m - s e cebolas, feijão
fradinho, sal e camarões. Mas Oxum devolveu todas estas coisasboas sobre as
margens. Era Nkan, a mulher de Olowu, que ela exigia. Olowu foiobrigado a
submeter-se e jogar nas águas a sua mulher. Nkan estava grávida e acriança
nasceu no fundo do rio.Oxum, escrupulosamente, devolveu o recém-
nascido dizendo: "É Nkanque me foi solenemente prometida e não a
criança. Tome-a!". As águas baixarame O l o w u v o l t o u t r i s t e m e n t e p a r a
sua terra. O rei de Ibadan, sabendo do fimt r á g i c o d e s u a
filha, indignado declarou: "Não foi para que ela servisse
d e oferenda a um rio que eu a dei em casamento a Olowu!" Ele
g u e r r e o u c o m o genro e o expulsou do país. O Rio Oxum passa em
um lugar onde suas águassão sempre abundantes. Por esta razão é que
Larô, o primeiro rei deste lugar, aíinstalou-se e fez um pacto de aliança com
Oxum. Na época em que chegou, umade suas filhas fôra se banhar. O rio
a engoliu sob as águas. Ela só saiu no diaseguinte, soberbamente
vestida, e declarou que Oxum a havia bem acolhido no
 
fundo do rio. Larô, para mostrar sua gratidão, veio traze
r-lhe oferendas.Numerosos peixes, mensageiros da 
d i v i n d a d e ,   v i e r a m   c o m e r ,   e m   s i n a l   d e aceitação, os alimentos
jogados nas águas. Um grande peixe chegou nadandon a s
proximidades do lugar onde estava Larô. O peixe cuspiu água,
q u e L a r ô recolheu numa cabaça e bebeu, fazendo, assim, um pacto com o
rio. Em seguidaele estendeu suas mãos sobre a água e o grande peixe
saltou sobre ela. Isto édito em iorubá: Atewo gba ejá. O que deu origem a
Ataojá, título dos reis do lugar. Ataojá declarou então: "Oxum
gbô!" "Oxum esta em estado de maturidade, suaságuas são abundantes."
Dando origem ao nome da cidade de Oxogbô.Todos os anos faz-se, aí,
grandes festas em comemoração a todos estesacontecimentos.
 
 Yansã
 
ou
 
Oyá
- D e u s a d o s r a i o s , d o s ventos e das tempestades. É a
esposa deXangô que o acompanha na guerra. Orixág u e r r e i r a
que leva a alma dos mortos
aoo u t r o   m u n d o .   S i n c r e t i z a d a   c o m   S a n t a B á r b a r a .  
S e u s   f i l h o s   e   f i l h a s   s ã o   m a i s dotados para a prática do sexo
do que parao cultivo do amor. Deusa do erotismo, ela
éu m a   e s p é c i e   d e   e n t i d a d e   f e m i n i s t a .   A s p e s s o a s  
d e   Y a n s ã   s ã o   b r i l h a n t e s , conversadoras, espalhaf
atosas, bocudas ec o r a j o s a s .   D e t e s t a m   f a z e r   p e q u e n o
s serviços em favor dos outros, pois
s e n t e m q u e   i s s o   c o n t r a r i a   s u a   m a j e s t a d e .   E l a s podem
dar a vida pela pessoa amada, mas jamais perdoam uma traição.
Èpahei Oyá
!
Oriki de Oyá
“ORI o! ORI OYA,mo gbe de. OYA mesan, mesan, mesan.OYA oriri, o, o, o.OYA mesan, A
ji loda orisa.ORI oORI ol' OYA,mo gbe de.ORI mi! ORI OYA , mo gbe de." 
Tradução
"O ORI do iniciado,

 
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.OYA , que se desdobra em nove
partes.OYA , a grande mulher, charmosa e elegante.OYA , que se desdobra em nove
partes.ORISA que usa a espada ao acordar.O ORI do iniciado,O ORI daquele que é
iniciado em OYA está aqui.Meu ORI.O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui."
 
OYÁ GANHA SEUS ATRIBUTOS DE SEUS AMANTES
Oya usava seus encantos e sedução para adquirir poder.Por isso entregou-se
a vários homens, deles recebendo sempre algum presente.Com Ogum,
casou-se e teve nove filhos, adquirindo o direito de usar a espadaem
sua defesa e dos demais.Com Oxaguiã, adquiriu o direito de usar o escudo,
para proteger-se dos inimigos.Com Exu, adquiriu os direitos de usar o
poder do fogo e da magia, para realizar os seus desejos e os de seus
protegidos.Com Oxossi, adquiriu o saber da caça, para suprir-se de
carne e a seus
filhos. Aprimorou os ensinamentos que ganhou de Exu e usou sua magia para
transformar-se em búfalo, quando ia em defesa de seus filhos.C o m L o g u m
Edé, adquiriu o direito de pescar e tirar dos rios e cachoeiras
o s frutos d'água para sobrevivência sua e de seus filhos.Com Obaluaê, Oya
tentou insinuar-se em vão, porém, dele ganhou o poder sobreos
mortos. Ao final de suas conquistas e aquisições, Oya partiu para o reino de Xa
ngô,envolvendo-o, apaixonando-se e vivendo com ele para toda a vida.Com
Xangô, adquiriu o poder do encantamento, o posto da justiça e o
domíniodos raios.
 
 Yemanjá
- Deusa dos grandes rios, dos mares,d o s o c e a n o s . C u l t u a d a n o
B r a s i l c o m o m ã e d e muitos Orixá. Sincretizada com Nossa Senhora
daConceição. Freqüentemente representada por umasereia, sua estátua pode
ser vista em quase todasa s c i d a d e s a o l o n g o d a c o s t a b r a s i l e i r a .
E l a é a grande mãe, dos Orixá e do Brasil, a quem protegecomo padroeira,
sendo igualmente Nossa
Senhorad a   C o n c e i ç ã o   A p a r e c i d a .   O s   f i l h o s   e   f i l h a s   d e Y e m
anjá tornam-se bons pais e boas mães.Protegem 
s e u s   f i l h o s   c o m o   l e õ e s .   S e u   m a i o r   defeito é falar demais;
são incapazes de
guardar u m   s e g r e d o .   G o s t a m   m u i t o   d o   t r a b a l h o   e   d e d e
r r o t a r   a   p o b r e z a .   F i s i c a m e n t e   s ã o   p e s s o a s pouco atraentes,
mulheres de bustos exagerados,e s u a p r e s e n ç a e n t r e o u t r a s p e s s o a s
é s e m p r e pálida. Saudação:
Odoyá
!
Odofiaba! Eruya! 
Oriki de Yemanjá
Jogún-osóJogún-osó.Iyemoja lòkun.Iemanjá, senhora do mar.Iyá mi ni nje eran
etù.É minha mãe, que se alimenta de etù.Iyá mi na ni nje eran pépéye.É minha
mãe, que se alimenta de pato.Jogún-osó Iyemoja lòkun.Jogún-osó, Iemanjá
no mar.Olómú agu-isi. A que possui seios fartos.
 
Solá-gbadé ìyá mi a fi omo.Solá-gbadé, minha mãe que tem filhosTéré lójú
omi.Na superfície das águas.Ìyá mi losun,Minha mãe, que se enfeita com
osùn.Ìyá mi la kèsán,Minha mãe, mãe elegante,Omo olókò nílé ìseri.que possui
um barco em Iseri.Iwájú olókò a ma sowó,Diante da casa da senhora dos
barcos brota a prosperidade.Eyìnkùlé olókò a ma so jìngbà ìlèkè.No quinta da
senhora dos barcos brotam pérolas.Omo alagbo dudu gbolojo wo inu odo.Dona
do carneiro preto que, oferecido no meio das águas,O de di funfun.lá
chegando, sob sua força tornou-se branco. A lómo lésè odò. A que tem filhos à
beira do rio.Omo ayílu omi. A que faz as águas se misturarem.Ìyá mi nse owó
léjéléjé nínú omi.Minha mãe está erguendo as mãos, suavemente, dentro das
águas.

 
Oxalá
-   D e u s   d a   c r i a ç ã o . Sincretizado com Jesus Cristo.S e u s
seguidores vestem-se deb r a n c o   à s   s e x t a s -
f e i r a s .   É s e m p r e o ú l t i m o a s e r l o u v a d o durante as cerimônias
religiosasafro-brasileiras; é reverenciadop e l o s   d e m a i s  
Orixá. Comoc r i a d o r ,   e l e   m o d e l o u   o s p
r i m e i r o s   s e r e s   h u m a n o s . Quando se revela no 
t r a n s e , apresenta-se de duas formas:
ov e l h o   O x a l u f a n ,   c a n s a d o   e e n c u r v a d o ,   m o
v e n d o - s e vagarosamente, quase incapazd e d a n ç a r ; o j o v e m
Oxaguian,d a n ç a n d o   r á p i d o   c o m o   o g u e r r e i r o .  
Por ter inventado opilão para preparar o inhamec o m o  
s e u   p r a t o   f a v o r i t o , Oxaguian é consider
a d o   o c r i a d o r   d a   c u l t u r a   m a t e r i a l .   A o invés de sacrifício de sangue
deanimais quentes, Oxalá
prefereo   s a n g u e   f r i o   d o s   c a r a c ó i s ( i g b i n ) .   O s   f i
l h o s   d e   O x a l á g o s t a m   d o   p o d e r ,   d o   t r a b a l h o criativo,
apreciam ser bem tratados e mostram-se mandões e determinados
narelação com os outros. São melhores no amor do que no sexo, gostam muito
deaprender e de ensinar, mas nunca ensinam a lição completamente. São
caladose chatos. Gostam de desafios, são muito bons amigos e muito
bons adversáriosaos que se atrevem a se opor a eles. Povo de Oxalá
nunca desiste.
ShewepaBàbá
! "Tal pai, tal filho." Assim, cada Orixá tem um 
t i p o   m í t i c o   q u e   é religiosamente atribuído aos seus
descendentes, seus filhos e filhas. Através demitos, a religião fornece
padrões de comportamento que modelam, reforçam elegitimam o
comportamento dos fiéis. De fato, o seguidor do candomblé
podesimplesmente tomar os atributos do seu Orixá como se fossem os seus
própriose tentar se parecer com ele, ou reconhecer através dos
atributos da divindadeb a s e s q u e j u s t i f i c a m s u a c o n d u t a . O s
p a d r õ e s a p r e s e n t a d o s p e l o s m i t o s d o s Orixá podem assim ser
usados como modelo a ser seguido, ou como validaçãosocial para um
modo de conduta já presente. Um iniciado pode, ao familiarizar-
sec o m   s e u s   e s t e r e ó t i p o s   m í t i c o s ,   i d e n t i f i c a r - s e   c o m  
e l e s   e   r e f o r ç a r   c e r t o s comportamento, ou simplesmente
chamar a atenção dos demais para este ouaquele traço que sela sua
identidade mítica. Mudar ou não o comportamento nãoé i m p o r t a n t e ; o q u e
c o n t a é s e n t i r - s e p r ó x i m o d o m o d e l o d i v i n o . A l é m d e s e u Orixá
dono da cabeça, acredita-se que cada pessoa tem um segundoOrixá, queatua
como uma divindade associada (juntó) que complementa o primeiro. Diz-
se,p o r e x e m p l o : " s o u f i l h o d e O x a l á e Y e m a n j á " .
Geralmente, se o primeiro é
 
masculino, o segundo é feminino, e vice-versa, como se cada um
tivesse pai emãe. A segunda divindade tem papel importante na definição do
comportamento,permitindo operar-se com combinações muito
ricas. Como cada Orixá particular da pessoa deriva de uma qualidade
do Oxalá geral, que pode ser o Orixá emidade jovem ou já idoso, ou o
Orixá em tempo de paz ou de guerra, como rei
ouc o m o   s ú d i t o   e t c .   e t c . ,   a   v a r i a ç õ e s   q u e   s e r v e m   c o m o   m
o d e l o s   s ã o   q u a s e inesgotáveis. Às vezes, quando certas
características incontestes de um Orixánão se ajustam a uma pessoa tida
como seu filho, não é incomum nos meios docandomblé duvidar-se daquela
filiação, suspeitando-se que aquele iniciado
estác o m   o   " s a n t o   e r r a d o " ,   o u   s e j a ,   m a l   i d e n t i f i c a d o   p e l a  
mãe ou pai-de-santor e s p o n s á v e l   p e l a   i n i c i a ç ã o .  
N e s t e   c a s o ,   o   v e r d a d e i r o   O r i x á   t e m   q u e   s e r   descobert
o e o processo de iniciação reordenado. Pode acontecer também
asuspeita de que o santo está certo, mas que certas passagens
míticas de
suab i o g r a f i a ,   q u e   e x p l i c a r i a m   a q u e l e s   c o m p o r t a m e n t o s ,   e
s t ã o   p e r d i d a s .   N o candomblé sempre se tem a idéia de que parte do
conhecimento mítico e ritual foiperdido na transposição da África para o
Brasil, e de que em algum lugar existeuma verdade perdida, um
conhecimento esquecido, uma revelação escondida.P o d e - s e m u d a r
de santo, ou encetar interminável busca deste
c o n h e c i m e n t o "faltante", busca que vai de terreiro em terreiro, de cidade em
cidade, na rota finalpara Salvador - reconhecidamente o grande centro do
conhecimento sacerdotal,d o à ñ ë - , e à s v e z e s a t é a Á f r i c a e
n ã o r a r o à m e r a e t n o g r a f i a a c a d ê m i c a . Reconhece-se que falta
alguma coisa que precisa ser recuperada, completada.
 
ORÍKÌ - OXAGUIAN
Osagiyan ogiri (o)ba Ejigbo(Osagiyan poderoso, Rei de Ejigbo)Okunrin yio bi
ewe egbesi(Homen belo como a folha de egbesi) As(e) o nikan
ti nfi omi ado we(Somente ele se lava com a água da cabaça)Osagiyan kò ni
(i)ka (i)nu(Orisa Ogiyan não é mau)Elemoso a so (o)lowo abi omo(Elemoso da
Riquezas e Filhos)O fun eni ni o gba fun eni ti kò ni(Ele tira de quem tem e
da para quem nada tem)Jagun o fi (i)rugbon se pepe (e)nu(Guerreiro cuja
barba embeleza a boca)O bo sokoto já l(i) Ejigbo(Ele usa calça e briga em
Ejigbo)Baba Osagiyan Oba Tapa(Pai Osagiyan , Rei Tapa) Akan
(i)lê má ni ipekun(Sua atividade na terra não tem limites)Osagiyan Alagbara
Alaiye(Poderoso Osagiyan , Senhor do Mundo) Ajaguna wá gba mi o Ajaguna(
Ajaguna , venha socorrer-me , Ajaguna)
 
O FILHO DE OXALÁ QUE SE CHAMAVA DINHEIRO
Há muitos anos passados, Oxalá teve um filho por nome Dinheiro,
muitopresunçoso e arrogante, a ponto de dizer a Oxalá, seu pai e rei, na
presença devárias pessoas, que era tão poderoso quanto ele, pois era
acostumado a andar com a Morte e levá-la para qualquer lugar.Para dar
prova disto, um dia ele saiu pensando como poderia trazer presade qualquer
forma a Morte, conforme tinha dito a Oxalá, na presença de todos
doreinado.Nisto, ocorreu-lhe a idéia de deitar-se em uma encruzilhada. Dito e
feito,l o g o   q u e   e n c o n t r o u   u m a ,   d e i t o u - s e   n e l a ,   f i c a n d o   q u i e t o ,  
a g u a r d a n d o   o   q u e poderia acontecer. As pessoas que passavam pela estrada
e se deparavam com ele deitadoali na encruzilhada, diziam:--Chi! Como
está aquele homem deitado ali, com acabeça para a casa da Morte, os
pés para a porta da Moléstia e os lados para olugar da Desavença.Depois de
ditas estas palavras pelas pessoas que por ali passavam, e queele se achou
sozinho, levantou-se e disse: -- Então "de ironia" já sei tudo o queera
preciso saber e conhecer; estou com os meus planos já feitos. -- E lá
se foiele direitinho para a casa da Morte.Chegando na chácara dela, começou
a bater nos tambores funestos deque a Morte fazia uso, quando queria matar
as pessoas indicadas. Assim ele, que já estava de posse de uma rede
que tinha conseguido nocaminho, ficou preparado, aguardando que a
morte viesse a ele para reclamar.Dito e feito, a Morte, ouvindo os sons
dos tambores, chegou bastanteapressada a fim de saber quem estava
tocando.O h o m e m D i n h e i r o e n v o l v e u - a n a r e d e e l e v o u - a a o
m a i o r a l O x a l á , dizendo-lhe estas palavras: -- Aqui está a Morte que prometi
trazer em pessoa àvossa presença.Oxalá respondeu: -- Vai-te embora
com a Morte e tudo de melhor quepossa levar do mundo, pois tu és o
causador de tudo de bem e de mal. Suma-sedaqui! Leve-a e pode passar a
conquistar todo o universo.Por este motivo é que, por causa do dinheiro, todas
as qualidades de crimes têmsido e continuam a ser praticadas.
 
IV: Religiões éticas e religiões mágicas
O candomblé é uma religião basicamente ritual e a ética que - talvez
por isso mesmo - veio a se constituir como uma alternativa sacral
importante paradiferentes segmentos sociais que vivem numa sociedade
como a nossa, em queética, código moral e normas de comportamento estritas
podem valer pouco, oucomportar valores muito diferentes. Nas religiões
éticas, a mística extática,
ae x p e r i ê n c i a   r e l i g i o s a   d o   t r a n s e   ( q u e   é   o   c a s o   d o   c a n d o
m b l é ) ,   d á   l u g a r   a o experimentar a idéia de dever, retribuição e piedade
para com o próximo, que é ofundamento religioso - e da religião - do modo de
vida, a razão de existência e
om e i o   d e   s a l v a ç ã o .   A   t r a n s g r e s s ã o   d e i x a   d e   e s t
a r   r e l a c i o n a d a   c o m   a impropriedade ritual para ser a
transgressão de um princípio, ético, normativo.Nesse tipo, a religião é
fonte e guardiã da moralidade entre os homens, já quedeus é a
potência ética plena e em si. Nas religiões mágicas, ao contrário, não háa
idéia de salvação, a de busca necessária de um outro
mundo em que
a corrupção está superada, mas sim a procura de interferência 
n e s t e   m u n d o presente através do uso de forças sagradas que vêm, elas sim,
do outro mundo.Nesta classe de religiões mágicas e rituais podemos
perfeitamente enxergar oc a n d o m b l é : " S e u s d e u s e s s ã o f o r t e s ,
com paixões análogas às dos homens,alternadamente valentes
o u p é r f i d o s , a m i g o s e i n i m i g o s e n t r e s i e c o n t r a o s homens, mas
em todo caso inteiramente desprovidos de moralidade, e, tantoquanto
os homens, passíveis de suborno, mediante o sacrifício, e coagidos
por procedimentos mágicos que fazem com que os homens venham a se
tornar, peloconhecimento que estes acabam tendo dos deuses todos, mais
fortes do que ospróprios deuses" (Weber, 1969, v.2: 909). Esses deuses, que
são tantos, e nemmesmo se conhecem entre si, mas que são conhecidos pelo
sacerdote-feiticeiro,que pode, inclusive, jogar um contra o outro para obter
favores para os homens,esses deuses nunca chegam a ser potências éticas
que exigem e
recompensamo   b e m   e   c a s t i g a m   o   m a l ;   e l e s   e s t ã o   p r e
o c u p a d o s   c o m   a   s u a   p r ó p r i a sobrevivência e, para isso,
com o cuidado de seus adeptos particulares. Daí asreligiões mágicas
não se caracterizarem pela existência de um pacto geral de lutado bem contra
o mal. Nelas, o sacerdócio e o cumprimento de prescrições rituaist ê m
finalidade meramente utilitária de manipulação do mundo
n a t u r a l e n ã o natural, de exercício de poder sobre forças e entidades
sobrenaturais maléficas edemoníacas, de ataque e defesa em relação à ação
do outro, que é sempre uminimigo potencial, um oponente. Não há uma
teodicéia capaz de nuclear a religiãoe nem desenvolver especulações éticas
sobre a ordem cósmica, mesmo porquea r e l i g i ã o - n o c a s o d o
c a n d o m b l é - j á s e d e s e n v o l v e u c o m o u m a c o l c h a d e retalhos,
fragmentos cuja unidade vem sendo ainda buscada por alguns de seusadeptos
que se põem esta questão da explicação da ordem cósmica, ainda quenum
plano que precede o encontro de um fim transcendente, e que se
amparan u m a   e t n o g r a f i a   q u e   r e l a t i v i s t a   a s   c u l t u r a s   e   l
e g i t i m a   c o m o   i g u a l m e n t e uniorganizadoras do cosmo as diferentes
formas de religião. Por exemplo, Juanados Santos, em
Os nagô e a morte
(1986), parte de uma base empírica oferecidapor suas pesquisas no Brasil e na
África, e com uma re-interpretação apoiada naetnografia, cria, no papel, uma
religião que não se pode encontrar nem no Brasil
 
nem na África, propondo para cada dimensão ritual da religião que ela
reconstituis i g n i f i c a d o s q u e p r o c u r a m d a r à s p a r t e s o s e n t i d o d e
u m t o d o , d a n d o - s e à religião uma forma acabada que ela não tem. Creio
não ser difícil imaginar que ocandomblé, de fato, comporta elementos
desses dois grandes tipos de religião,m a s n o c o n j u n t o s e a p r o x i m a
mais das religiões mágicas e rituais, e, comoreligião de
serviço, chega praticamente a se colar no tipo estrito de
r e l i g i ã o mágica. O próprio movimento recente de abandono do sincretismo
católico leva aum certo esvaziamento axiológico, esvaziamento de uma ética,
ainda que tênue,partilhada em comunidades de candomblé antigas,
emprestada do catolicismo,ou imposta por ele, uma vez que as
questões de moralidade foram um terrenoque o catolicismo dominador
reservou para si e para seu controle no curso
daf o r m a ç ã o   d a s   r e l i g i õ e s   n e g r a s   n o   B r a s i l .   N e s t e   m o v i m
ento, entretanto, ocandomblé não pode mais voltar à
t r i b o o r i g i n a l n e m a o m o d e l o d e j u s t i ç a tradicional do
ancestral, o egungun, para regrar a conduta na vida cotidiana. Enem
precisa disto, pois não é mais no grupo fechado que está hoje sua
força esua importância como religião. De todo modo, foi exatamente o
desprendimentodo candomblé de suas amarras étnicas originais que o
transformou numa religiãopara todos, ainda que sendo (ou talvez
porque) uma religião aética, permitindotambém a oferta de
serviços mágicos para uma população fora do grupo de culto,q u e
está habituada a compor, com
b a s e   e m   m u i t o s   f r a g m e n t o s   d e   o r i g e n s diferentes, formas privadas,
às vezes até pessoais, de interpretação do mundo
ed e   i n t e r v e n ç ã o   n e l e   p o r   m e i o s   o b j e t i v o s   e   s u b j e t i v o s   e  
c u j o   a c e s s o   e s t á codificado numa relação de troca, numa
r e l a ç ã o c o m e r c i a l p a r a u m t i p o d e consumo imediato, diversificado e
particularizável que é contraposto ao
consumom a s s i f i c a d o   q u e   a   s o c i e d a d e   p r e s s u p õ e   e   o b r
i g a .   E s t o u   m e   r e f e r i n d o especialmente a indivíduos de classe
média que usam experimentar códigos comos quais não mantêm vínculos
e compromissos duradouros, e que o fazem por sua livre escolha,
podendo contar com um repertório tanto mais variado quantopossível.
 
 
V: Uma religião para os excluídos
Os cultos dos Orixás no Brasil, dos quais excluo em
grande parte au m b a n d a ,   p e l a   d i m e n s ã o   k a r d e c i s t a -
c a t ó l i c a   q u e   c o m p õ e   s e u   p l a n o   d e moralidade, mas nos
quais incluo as formas do candomblé baiano, do
x a n g ô pernambucano, batuque gaúcho, tambor-de-mina do Nordeste ocidental
etc., têmsido, pelo menos desde os anos 30, e ininterruptamente,
verdadeiros redutoshomossexuais, de homossexuais de classe social
inferior. Com exceção de RuthL a n d e s , e m s e u e s c r i t o d e 1 9 4 0
( L a n d e s , 1 9 6 7 ) , a t é b e m p o u c o t e m p o o s pesquisadores
que erigiram a literatura científica sobre o candomblé
s e m p r e esconderam este fato, ou ao menos o relevaram como traço
de algum terreiro"culturalmente decadente". Ora, o homossexualismo
está presente mesmo
nasc a s a s   m a i s   t r a d i c i o n a i s   d o   p a í s ,   n ã o   v i u   q u e m   n ã
o   q u i s   ( s o b r e   e s t u d o s contemporâneos, ver bibliografia em Teixeira,
1987). O homossexual, sobretudo oh o m e m , s e m p r e f o i o b r i g a d o a
publicar a sua intimidade como único meio
dee n c o n t r a r   p a r c e r i a   s e x u a l ,   e ,   a o   p u b l i c a r   s u a   i n t i
m i d a d e ,   o b r i g a v a - s e   a desempenhar um papel social 
q u e   n ã o   p u s e s s e   e m   r i s c o   a   s u a   b u s c a   d e parceiro, isto é,
que não pusesse em risco o parceiro potencial, um papel que
omostrava como o de fora, o diferente, o não incluído, mas que ainda
assim nãochegava a oferecer qualquer risco de "contaminação" do parceiro,
que para efeitopúblico não chegava nunca a mudar de papel sexual.
Sua diferença o obrigou
ad e s e n v o l v e r   p a d r õ e s   d e   c o n d u t a   q u e   o   i d e n t i f i c a s s e   f a c
i l m e n t e :   p a r a   s e r   homossexual era preciso mostrar-se 
h o m o s s e x u a l .   P o i s   n e n h u m a   i n s t i t u i ç ã o social no Brasil, afora o
candomblé, jamais aceitou o homossexual como umacategoria que
não precisa necessariamente esconder-se, anulando-o enquantotal.
Só com os movimentos gay de origem norte-americana, a partir dos anos 60,é
que se buscou quebrar a idéia de que o homossexual tinha
que "parecer"diferente, num jogo que
v a l o r i z o u   a   s e m e l h a n ç a   e   q u e ,   t a l v e z , t e n h a d a d o suporte para a
guetificação e "formação demográfica" dos hoje denominados"grupos
de risco" da AIDS. Esta aceitação de um grupo tão problemático
parao u t r a s i n s t i t u i ç õ e s , r e l i g i o s a s o u n ã o , t a m b é m d e m o n s t r a
a a c e i t a ç ã o q u e o candomblé tem deste mundo, mesmo quando, no
extremo, trata-se do mundo
dar u a ,   d o   c a i s   d o   p o r t o ,   d o s   m e r e t r í c i o s   e   p o r t a s   d e   c a d
e i a .   G r a n d í s s i m a   e exemplar é a capacidade do candomblé de
juntar os santos aos pecadores,
om a c u l a d o   a o   l i m p o ,   o   f e i o   a o   b o n i t o .   S e   c o n c o r d a r
m o s   q u e   a s   m a i o r e s concentrações relativas de homossexuais e
bissexuais ocorrem nas grandescidades, onde podem refugiar-se no
anonimato e na indiferença que os grandescentros oferecem (além de
oferecerem locais e instituições de publicação, que nacidade grande podem
funcionar como espaços fechados, isto é, públicos porémprivatizados),
encontramos uma razão a mais para o sucesso do candomblé emSão Paulo -
a possibilidade de fazer parte de um grupo religioso, isto é,
voltadop a r a o e x e r c í c i o d a f é , m a s q u e a o m e s m o t e m p o é
l ú d i c o , r e f o r ç a d o r d a personalidade, capaz de aproveitar os
talentos estéticos individuais e, por quenão?, um nada desprezível meio
de mobilidade social e acumulação de prestígio,coisas muito pouco ou nada
acessíveis aos homossexuais em nossa sociedade.
 
 Ainda mais quando se é pobre, pardo, migrante, pouco escolarizado. Ocando
mblé é assim, de fato, uma religião apetrechada para oferecer estratégiasde
vida que as ciências sociais jamais imaginaram. Esta relação entre sacerdócioe
homossexualidade não é prerrogativa nem do candomblé e
n e m d e n o s s a civilização. Mas o que faz do candomblé uma religião tão
singular é o fato de quet o d o s o s s e u s a d e p t o s d e v e m e x e r c e r
n e c e s s a r i a m e n t e a l g u m t i p o d e c a r g o sacerdotal. E qualquer que
seja o cargo sacerdotal ocupado, ninguém precisaesconder ou
disfarçar suas preferências sexuais. Ao contrário, pode até usar
ocargo para legitimar a preferência, como se usa o Orixá para explicar a
diferença.Para melhor entendermos isso tudo, entretanto, teríamos também
que não deixar esquecido o fato de contarmos inclusive com variantes
de uma
sociabilidade, jeitos de ser e de viver, vivenciadas por grande parte da popula
ção brasileiram a i s   p o b r e   ( q u e   d e   t o d o   l u g a r   d o   p a í s  
v a i   s e   j u n t a n d o   n a s   p e r i f e r i a s metropolitanas), hoje não
importando muito mais sua origem de cor, mas que éresultante
também do nosso recente passado escravista, que amputava
normasde conduta, suprimia instituições familiares e aleijava até mesmo as
religiões daspopulações escravas. Donde fica evidentíssimo ser o
candomblé uma religiãobrasileira muito mais que a simples
reprodução de cultos africanos aos Orixáscomo existiram e como existem
além-mar. Considero bastante significativo o fatode o culto aos Orixás, no
Brasil, ter se "descolado" do culto dos antepassados, ose g u n g u n s a q u e j á
me referi (os quais aqui ganharam um culto à parte
n o s candomblés de egungun). Na África, eles não eram apenas partes de um
mesmouniverso religioso: O Orixá era cultuado para zelar pela família e pelo
indivíduo,
oa n t e p a s s a d o   e r a   c u l t u a d o   p a r a   c u i d a r   d a   c o m u n i d a d e   c
o m o   u m   t o d o .   O antepassado garantia a regra, o Orixá garantia a
força sagrada agindo sobre anatureza. Mas se o candomblé libera o
indivíduo, ele libera também o mundo. Elenão tem uma mensagem para o
mundo, não saberia o que fazer com ele se
lhef o s s e   d a d o   t r a n s f o r m á - l o ,   n ã o   é   u m a   r e l i g i ã o  
d a   p a l a v r a ,   n u n c a   s e r á salvacionista. É sem dúvida uma
religião para a metrópole, mas somente parauma parte dela, como é
destino das outras religiões hoje. O candomblé pode ser a religião ou a
magia daquele que já se fartou da transcendência
despedaçadap e l o   c o n s u m o   d a   r a z ã o ,   d a   c i ê n c i a   e   d a   t
e c n o l o g i a   e   q u e   s e   e n c o n t r o u desacreditado do sentid
o   d e   u m   m u n d o   i n t e i r a m e n t e   d e s e n c a n t a d o   -   e   o candombl
é será aí uma religião aética para uma sociedade pós-ética. 
Mast a m b é m   p o d e   s e r   a   r e l i g i ã o   e   a   m a g i a   d a q u e
l e   q u e   s e q u e r   c h e g o u   a experimentar a superação da
s   c o n d i ç õ e s   d e   v i d a   c a l ç a d a s   p o r   u m a   c e r t a sociabilidade do
salve-se quem puder, onde o outro não conta e, quando
conta,c o n t a   o u   c o m o   o p r e s s o r   o u   c o m o   v í t i m a   p o t e n c i
a l ,   c o m o   i n i m i g o ,   c o m o indesejável, como o que torna
demasiado pesado o fardo de viver num mundoque parece ser por
demais desordenado - e o candomblé poderá ser então umareligião aética para
uma sociedade pré-ética.
 
 
VI: Sacerdotes e feiticeiros
No candomblé, a iniciação significa fazer parte dos quadros
sacerdotais,que são basicamente de duas naturezas (dos que entram
em transe e dos quenão), organizados hierarquicamente e que pressupõem
um tipo de mobilidade
ex opere operato
. Toda Yawo que passar por suas obrigações pode chegar a pai-de-
santo ou mãe-de-santo, independentemente de seu 
c o m p o r t a m e n t o   n a   v i d a cotidiana, isto é, fora dos limites impostos pelas
obrigações rituais do devoto paracom seu deus e alheio aos deveres de
lealdade para com o seu iniciador, o qual,entretanto, pode ser substituído
por outro através de adoção ritual, sempre queo c o r r e r , p o r u m
motivo ou outro, quebra pública desta relação de lealdade
e dependência. Ser pai ou mãe-de-santo não é aspiração de todos os
iniciados,nem jamais pode ser em se tratando da categoria dos Olóye não
rodantes
(Ekédie   O g a n ) .   E n t r e t a n t o ,   é   p e r s p e c t i v a   m u i t o   i m p o r t a n t e  
p a r a   b o a   p a r c e l a   d o s adeptos. Provenientes, em geral, de classes
sociais baixas (e agora não importamais se são brancos ou se negros) vir a ser
um pai-de-santo representa para osiniciados a possibilidade de exercer uma
profissão que, nascida como ocupaçãov o l t a d a p a r a o s e s t r a t o s b a i x o s
e d e o r i g e m n e g r a , p a s s o u r e c e n t e m e n t e , a o compor os quadros
dos serviços de oferta generalizada a todos os seguimentossociais, a
reivindicar o
status
de uma profissão de classe média, como já ocorreucom outras atividades
profissionais e em outros contextos sociais
(Hobsbawn,1 9 8 4 :   2 9 9 ) .   O   p a i - d e - s a n t o   n ã o   é   m a i s   a  
f i g u r a   e s c o n d i d a ,   p e r s e g u i d a , desprezada. Ele tem visibilidade
na sociedade e transita o tempo todo nos meiosde classe média, que o
buscam em seu terreiro e, assim fazendo, tiram-no doanonimato. Ao
mostrar-se em público, o pai-de-santo vê-se obrigado a
ostentar símbolos que expressem a sua profissão. Não contando com cabedal
intelectualadquirido na escola - o que é decisivo na identidade de classe média
da maioriadas profissões não proletárias, ainda que simbolicamente - o
pai e a mãe-de-santo fazem-se perceber por um estilo de vestuário e
um excesso de jóias ououtros enfeites levados no pescoço, na cabeça, na
cintura e nos pulsos, que dãoa impressão de serem originalmente
africanos ou de origem africana, mas cuja"tradição" não tem mais que
meio século. Ele e ela fazem-se diferentes e, quantomais diferentes, melhor.
Um outro "sinal" de prestígio amealhado com freqüênciap o r s a c e r d o t e s d o
candomblé, bem como da umbanda, são as medalhas
e comendas concedidas por inúmeras sociedades medalhísticas de finalidade
auto-promocional, e que servem para substituir, às vezes com vantagens, os
diplomase graus universitários. Tudo isto faz parte de um processo de
mobilidade socialq u e e s t á a o a l c a n c e d e p e s s o a s q u e , p o r s u a s
o r i g e n s s o c i a i s , d i f i c i l m e n t e encontrariam outro canal de ascensão
social. A mobilidade e a visibilidade socialque sua profissão agora pressupõe
são importantes para conferir ao pai-de-santouma presença voltada para fora
do terreiro, que lhe garanta um fluxo de
clientesc u j o   p a g a m e n t o   p o r   s e r v i ç o s   m á g i c o s   p e r m i t e   a   c o
n s t i t u i ç ã o   d e   u m   f u n d o econômico que facilita, no mínimo
materialmente, a sua realização como líder religioso de seu grupo de
adeptos, numa religião em que o dispêndio material émuito grande e
decididamente muito significativo. Este pai-de-santo e esta mãe-
 
de-santo são sacerdotes de uma religião em que as tensões
e n t r e m a g i a e prática religiosa estão descartadas. Pode-se finalmente ser,
ao mesmo tempo, osacerdote e o feiticeiro, numa situação social em
que cada um destes papéisreforçará o outro. E numa sociedade em
que cada um deles estará orientado,preferencialmente, para grupos,
e até mesmo classes sociais diferentes. Ao serealizar como instituição
legitimada de prática mágica, o candomblé na metrópolefaz parte publicamente
do jogo de múltiplos aspectos através do qual cada grupoo u c a d a p e s s o a ,
individualmente, é capaz de construir sua própria fonte
d e explicação, de transcendência e de intervenção no mundo. A
capacidade de
sem a n t e r   c o m o   r e l i g i ã o   a é t i c a ,   q u e   o   c a n d o m b l é   d e m o n s t
r a   t e r ,   p e r m i t e - l h e vantajosa flexibilidade em relação às outras religiões
éticas e a abertura para ummercado religioso de consumo
ad hoc 
, por parte dos clientes não religiosos, queas religiões de conversão em geral
não têm. A racionalização do jogo de búzios edo ëbï (ao se apresentarem
como menos sacralizados do que na verdade o
são),o   a t e n d i m e n t o   p r i v a t i v o   e   c o m   h o r a   m a r c a d a ,   o  
a n o n i m a t o   d o   s e r v i ç o ,   a explicitação do pagamento monetário na
relação de troca, a presença do pai-de-
santo num mercado público regido por regras de eficiênc
i a   e   c o m p e t ê n c i a profissional, bem como suas próprias regras aéticas no
plano do grupo religioso,fazem desta religião tribal de deuses africanos
uma religião para a metrópole,onde o indivíduo é cada vez mais um
bricoleur 
. Nesta sociedade metropolitana -no rastro das transformações sociais de
âmbito mundial dos últimos cinqüentaa n o s - a c o n s t r u ç ã o d e
sistemas de significados depende cada vez mais
dav o n t a d e   d e   g r u p o s   e   i n d i v í d u o s .   N e s t e   m o v i m e n t o
, os temas religiososrelevantes, como afirma Luckm
a n n ,   p o d e m   s e r   s e l e c i o n a d o s   a   p a r t i r   d e diferentes
preferências particulares. No limite, cada indivíduo pode ter o
s e u particular e pessoal modelo de religiosidade independente dos grandes
sistemasreligiosos totalizadores que marcaram, até bem pouco, a história da
humanidade.Os deuses tribais africanos adotados na metrópole não
são mais os deuses datribo. São deuses de uma civilização em que o
sentido da religião e da magiap a s s o u a d e p e n d e r , s o b r e t u d o , d o
e s t i l o d e s u b j e t i v i d a d e q u e o h o m e m , e m grupo ou solitariamente,
escolhe para si.
 
 
VII: A religião dos Orixás na sociedade contemporânea
O candomblé, tal como existe hoje nos grandes centros urbanos do Brasil,é
capaz de oferecer a seus seguidores algo diferente daquilo que a
religião
dosO r i x á s ,   e m   t e m p o s   m a i s   a n t i g o s ,   p o d i a   c e r t a m e n t e   p r
o p i c i a r ,   q u a n d o   s u a presença significava para o escravo a ligação
afetiva e mágica ao mundo africanodo qual fora arrancado pela
escravidão. Quando o candomblé se organizou
noN o r d e s t e ,   n o   s é c u l o   X I X ,   e l e   p e r m i t i a   a o   i n i c i a d o   a   r e c o n s t r
u ç ã o   s i m b ó l i c a , através do terreiro, da sua comunidade tribal
africana perdida. Primeiro ele é oelo com o mundo original. Ele
representava, assim, o mecanismo através do
qualo   n e g r o   a f r i c a n o   e   b r a s i l e i r o   p o d i a   d i s t a n c i a r - s e  
c u l t u r a l m e n t e   d o   m u n d o dominado pelo opressor branco. O negro
podia contar com um mundo negro,f o n t e d e u m a Á f r i c a s i m b ó l i c a ,
m a n t i d o v i v o p e l a v i d a r e l i g i o s a d o s t e r r e i r o s , como meio de
resistência ao mundo branco, que era o mundo do trabalho,
dosofrimento, da escravidão, da miséria. Bastide mostrou como a
habilidade donegro, durante o período colonial, de viver em dois diferentes
mundos ao mesmotempo era importante para evitar tensões e resolver conflitos
difíceis de suportar s o b a c o n d i ç ã o e s c r a v a . L o g o , o m e s m o n e g r o
q u e r e c o n s t r u i u a Á f r i c a n o s candomblés, reconheceu a necessidade de
ser, sentir-se e se mostrar brasileiro,como única possibilidade de
sobrevivência, e percebeu que para ser brasileiroe r a a b s o l u t a m e n t e
imperativo ser católico, mesmo que se fosse também
deO r i x á .   O   s i n c r e t i s m o   s e   f u n d a   n e s t e   j o g o   d e   c o n s t r u ç ã
o   d e   i d e n t i d a d e .   O candomblé nasce católico quando o negro precisa
ser também brasileiro. Quandoo candomblé, a partir dos anos 1960,
deslancha a caminho de se tornar religiãouniversal, afrouxa-se seu foco
nas diferenças raciais e ele vai deixando para trásseu significado essencial de
mecanismo de resistência cultural, embora continuea prover esse mecanismo a
muitas populações negras que vivem de certo modoeconômica e
culturalmente isoladas em regiões tradicionais do Brasil. As
novasc o n d i ç õ e s   d e   v i d a   n a   s o c i e d a d e   b r a s i l e i r a   i n d u
s t r i a l i z a d a   f a z e m   m u d a r   radicalmente o sentido sociológico do
candomblé. Se até poucas décadas atrásele significava uma reação à
segregação racial numa sociedade tradicional, emque as estruturas
sociais tinham mais o aspecto de estamentos que de classes,agora
ele tem o sentido de escolha pessoal, livre, intencional: alguém adere
aocandomblé não pelo fato de ser negro, mas porque sente que o candomblé
podef a z e r s u a v i d a m a i s f á c i l d e s e r v i v i d a , p o r q u e e n t ã o
t a l v e z s e p o s s a s e r m a i s feliz, não importa se é branco ou negro.
Evidentemente, embora o processo deescolha religiosa possa ter
conseqüências sociais significativas para a sociedadecomo um todo - na
medida que com a escolha certas religiões podem ser maisreforçadas e
neste sentido ter aumentado sua influência na sociedade - qualquer eficácia da
religião no que diz respeito à esfera íntima só pode ser avaliada peloindivíduo
que a ela se converte. O desatar de laços étnicos que, no curso
dasúltimas três décadas, tem transformado o candomblé numa
religião para
todos,t a m b é m   p r o p i c i o u   u m   n a d a   d e s p r e z í v e l   a l a r g a m e n t o  
da oferta de serviçosmágicos para a população exterior 
a o s   g r u p o s   d e   c u l t o .   U m a   c l i e n t e l a   j á acostumada a
compor visões de mundo particulares a partir de fragmentos
 
originários de diferentes métodos e fontes de interpretação da vida. O
candombléoferece símbolos e sentidos hoje muito valorizados pela música,
literatura, artesem geral, os quais podem ser fartamente usados pela
clientela na composiçãodessa visão de mundo caleidoscópica, sem
nenhum compromisso religioso. Ocliente de classe média que vai aos
candomblés para jogar búzios e fazer ebós éo
bricoleur 
que também tem procurado muitas outras fontes não racionais
des e n t i d o p a r a a v i d a e d e c u r a p a r a m a l e s d e t o d a
n a t u r e z a . C e r t a m e n t e o candomblé deste cliente é bem diferente do
candomblé do iniciado, mas nenhumd e l e s c o n t r a d i z o s e n t i d o d o
o u t r o . O c a n d o m b l é é u m a r e l i g i ã o q u e t e m n o centro o rito, as
fórmulas de repetição, pouco importando as diferenças entre obem e
o mal no sentido cristão. O candomblé administra a relação entre
cadaO r i x á e o s e r h u m a n o q u e d e l e d e s c e n d e , e v i t a n d o ,
a t r a v é s d a o f e r e n d a , o s desequilíbrios desta relação que podem
provocar a doença, a morte, as perdasmateriais, o abandono afetivo, os
sofrimentos do corpo e da alma e toda sorte deconflito que leva à
infelicidade. Como religião em que não existe a palavra nosentido
ético, nem a conseqüente pregação moral, o candomblé (juntamente coma
umbanda, que, contudo tem seu aspecto de religião aética
atenuado
pelaincorporação de virtudes teologais do kardecismo, como a 
caridade) é semdúvida uma alternativa religiosa importante
t a m b é m p a r a g r u p o s s o c i a i s q u e vivem numa sociedade como a
nossa, em que a ética, os códigos morais e osp a d r õ e s d e
comportamento estritos podem ter pouco, variado e até
m e s m o nenhum valor. O candomblé é uma religião que afirma o mundo,
reorganiza
seusv a l o r e s   e   t a m b é m   r e v e s t e   d e   e s t i m a   m u i t a s   d a s   c o i s a 
q u e   o u t r a s   r e l i g i õ e s consideram más: por exemplo, o dinheiro, os
prazeres (inclusive os da carne), os u c e s s o , a d o m i n a ç ã o e o p o d e r . O
i n i c i a d o n ã o t e m q u e i n t e r n a l i z a r v a l o r e s diferentes daqueles do
mundo em que ele vive. Ele aprende os ritos que tornam avida neste mundo
mais fácil e segura, mundo pleno de possibilidades de bem-
estar e prazer. O seguidor do candomblé propicia os deu
s e s   n a   c o n s t a n t e procura do melhor equilíbrio possível (ainda que
temporário) entre aquilo que eleé e tem e aquilo que ele gostaria de ser e ter.
Nessa procura, é fundamental queo i n i c i a d o c o n f i e c e g a m e n t e e m s u a
m ã e - d e - s a n t o . G u i a d o p o r e l a , e s t e f i e l aprende, ano após ano, a
repetir cada uma das fórmulas iniciáticas necessárias
àm a n i p u l a ç ã o   d a   f o r ç a   s a g r a d a   d a   n a t u r e z a ,   o   A x é .  
N ã o   s e   p o d e   s e r   d o candomblé sem constantemente refazer o rito,
como não se pode ser evangélicos e m c o n s t a n t e m e n t e e x a m i n a r a
p r ó p r i a c o n s c i ê n c i a à p r o c u r a d a c u l p a q u e delata a presença das
paixões que precisam ser exorcizadas. O bom
evangélico,p a r a   s e   s a l v a r   d a   d a n a ç ã o   e t e r n a ,   p r e c i s a   a
n i q u i l a r   s e u s   d e s e j o s   m a i s escondidos; o bom filho-de-santo
precisa realizar todos os seus desejos para queo Axé, a força sagrada de seu
Orixá, de quem é continuidade, possa se expandir e s e t o r n a r m a i s f o r t e .
Aceitando o mundo como ele é, o candomblé aceita
a humanidade, situando-a no centro do universo, apresentando-se
como religiãoespecialmente dotada para a sociedade narcisista e
egoísta em que
vivemos.P o r q u e   o   c a n d o m b l é   n ã o   d i s t i n g u e   e n t r e   o   b e
m   e   o   m a l   d o   m o d o   c o m o aprendemos com o cristianis
m o ,   e l e   t e n d e   a   a t r a i r   t a m b é m   t o d a   s o r t e   d e indivíduos qu
e têm sido socialmente marcados e marginalizados por outrasi
nstituições religiosas e não religiosas. Isto mostra como o candomblé
aceita om u n d o , m e s m o q u a n d o e l e é o m u n d o d a r u a , d a
p r o s t i t u i ç ã o , d o s q u e j á cruzaram as portas da prisão. O candomblé
não discrimina o bandido, a adúltera,o travesti e todo tipo de rejeitado
social. Mas se o candomblé libera o indivíduo,
 
ele também libera o mundo: não tem para este nenh
u m a   m e n s a g e m   d e mudança; não deseja transformá-lo em 
o u t r a   c o i s a ,   c o m o   s e   p r o p õ e m ,   p o r   exemplo, os católicos que seguem
a Teologia da Libertação, sempre
interessadose m   s u b s t i t u i r   e s t e   m u n d o   p o r   o u t r o   m a i s   j u s t o .  
O   c a n d o m b l é   s e   p r e o c u p a , sobretudo com aspectos muito
concretos da vida: doença, dor,
desemprego,deslealdade, falta de dinheiro, comida e abrigo - 
m a s   s e m p r e   t r a t a n d o   d o s problemas caso a caso, indivíduo a
indivíduo, pois não se trabalha aqui com
an o ç ã o   d e   i n t e r e s s e s   c o l e t i v o s ,   m a s   s e m p r e   c o m   a   d e   d e
s t i n o   i n d i v i d u a l .   O candomblé também pode ser a religião ou a magia
daquele que já se fartou dossentidos dados pela razão, ciência e
tecnologia, e que deixou de acreditar nosentido de um mundo
totalmente desencantado, que deixou para trás a magia,e m n o m e d a
eficácia do secular pensamento moderno. Talvez o
c a n d o m b l é possa ser a religião daquele que não consegue atinar com
o senso de justiçasocial suficiente para resolver muitos dos problemas que
cada indivíduo enfrentano curso de sua vida pelo mundo desencantado. O
candomblé também oferece aseus iniciados e simpatizantes uma particular
possibilidade de prazeres estéticos,que se esparrama pelas mais diferentes
esferas da arte e da diversão, da músicaà cozinha, do artesanato à escola de
samba, além da fascinação do próprio jogode búzios, o portão de entrada para
o riquíssimo universo cultural dos Orixás. Ocandomblé ensina, sobretudo, que
antes de se louvarem os deuses, é imperativolouvar a própria cabeça; ninguém
terá um deus forte se não estiver bem consigomesmo, como ensina o dito
tantas vezes repetidos nos candomblés: "Orí burukukosi Òrìñà", ou "Cabeça
ruim não tem Orixá". Para os que se convertem, isso
fazu m a   g r a n d e   d i f e r e n ç a   e m   t e r m o s   d e   a u t o - e s t i m a .   N a   n o s s a  
sociedade dasgrandes metrópoles, se a construção de
s e n t i d o s d e p e n d e c a d a v e z m a i s d o desejo de grupos e indivíduos
que podem escolher esta ou aquela religião,
ouf r a g m e n t o s   d e l a s ,   a   r e l e v â n c i a   d o s   t e m a s   r e l i g i o s o s   i g
u a l m e n t e   p o d e   s e r   atribuída de acordo com preferências
privadas. A religião é agora matéria depreferência, de tal
sorte que até mesmo escolher não ter religião alguma
é inteiramente aceitável socialmente. Assim, os deuses africanos apropriados
pelasmetrópoles da América do Sul não são mais deuses da tribo,
impostos aos quenela nascem. Eles são deuses numa civilização em
que os indivíduos são livrespara escolhê-los ou não, continuar
fielmente nos seus cultos ou simplesmenteabandoná-los. O candomblé
pode também significar a possibilidade daquele queé pobre e socialmente
marginalizado ter o seu deus pessoal que ele alimenta,veste e ao
qual dá vida para que possa ser honrado e homenageado por
todauma comunidade de culto. Quando a filha-de-santo se deixa
cavalgar pelo seuOrixá, a ela se abre como no palco em um barracão
em festa, para o que talvezseja a única possibilidade na sua pobre vida de
experimentar uma apresentaçãosolo, de estar no centro das atenções,
quando
seuO r i x á ,   p a r a m e n t a d o   c o m   a s   m e l h o r e s   r o u p a s   e f e r r a m
e n t a s   d e   f a n t a s i a ,   h á   d e   s e r   a d m i r a d o   e aclamado por
todos os presentes, quiçá invejado por muitos. E por toda a noite o cavalo dos
deuses há ded a n ç a r , d a n ç a r e d a n ç a r . N i n g u é m j a m a i s v i u
u m Orixá tão bonito como o seu.
Y a w o i n i c i a d o p a r a o O r i x á O x o s s i – O C a ç a d o r , senhor da fartura.

 
Cantigas de XirêExú
Saudação: LaróièCantigasaji qui barabô é mo jubá auá cô xêaji qui
barabô é mojuba ê omóde có é có qui barabô mo jubá élebara exú
lónã********** 
 
Bará ô bébé tirirí lónã exú tirirí Bará ô bébé tirirí lónã exú
tirirí ********** 
 
Inã inã mo jubá ê é mo jubá 
 
Inã inã mo jubá ê agô mo jubá 
 
OGUN
Saudação: Ogun yèCantigasE PÁ MI OGUN, OGUN PÁ MÊJE E MÊJE
MIOXÊ 
********** 
 A PE LEJA PE LEJAOGUN ONIRE ********** E ALADE LODE KORO UN
BÉLÉ  A KORO Ô OGUN JÁ KORO UN BÉLÉ ********** OGUN ONIRE
O AKORO ONIRE ORE GUE DE  ALARE OGUN ONIRE ORE GUE
DE ********** OGUN XÊ KORÊ NDÊ XÊ KÔRÊ OGUN XÊ KORÊ NDÊ
XÊ KÔRÊ ********** KATAKATAOGUNMÊJE OGUN MÊJE ÓNÃ
BOBO ********** E PÁ NIN OBÉ, OGUN PÁ NIN OBÉ E PÁ NIN OBÉ,
OGUN PÁ NIN OBÉ 
 
 
Omolu
Saudação: AtotôCantigas
 
E KERE RUNBE KERE E KERE RUNBE KERE ********** E AGO OMOLU
JÁ ÉLÉ NINHA BERÊ KO ÉLÉ NINHA MOLU JÁ ÉLE NINHA BERE
KO ********** LA OPERE IN SODAN ELO E ZO ELO **********  A
BAINÃN IN MORA E JAM BA TOLA BARE AUA********** OMOLU BEVARA
E OMOLU BEVARAO OMOLU BEVARA E OMOLU BEVARA GÔ
GÔ ********** E AGA KE BAIA AGA KE BAIAE AGA KE BAIA AGA KE BAIAE
KOLE KOLE XAORO, E KOLE KOLE XAORO ********** E JAN BÉLE
KE AJÔ O FARAJO NI KO JO 
 
Oxóssi
Saudação: Okê ArôCantigas
 
E ODÉ ÓRAE ODÉ PARA KADÊ ODÉ ÓRAE ODÉ PARA KADÊ *********** E
AUA AUA AUA ODÉ NILE AUAODÉ KI TIPO *********** E AKOLÊ É MALA
KO E AKOLÊ É MALA KOLÊ *********** OMÓRODÉ LONI OMÓRODÉ
LUAIE *********** ODÉ BAILA JÁ MIRO ODÉ BAILA JÁ
MIRO *********** ODÉ NITA FARODÉ BAILA ODÉ NITA
FARAO *********** E ZIN GUELÊ AROLÊ NU ZINGUÊLE KOKE 
 
Ossain
Saudação: Ewé ô - Ewe assá Cantigas
 
 A FITÁ BURÚ  A FITÁ BURÚ, ATINDOLA A FITÁ BURÚ  A LOGUN, A D
´OGUN
ONÃN ************ PEREGUN ALÁ ÓTITUN PEREGUN ALÁ ÓTITUN BA
BÁ DANA DO ALÁ O MERÉM PEREGUN ALÁ OTITUN ************ Ó
BORÓ A TINÃN PEREGUN ALÁ XÓ TITUN ************ ERÓ IROKO IZÔ
ERÓ ERÓ IROKO IZÔ ************ ORE JEJE ORE JEJE OYA KAXA
NIMASSA D´BABALAO OGUN AKORO ORE JEJE ************ E AGUE
MARE AGUE MARE BARA KI SODAN ************ KI TIPO ALÉ
RIKO BARA KI SODAN KI TIPO 
 
 
Oxumarê
Saudação: Àrobô bô yi Cantigas
 
OXUMARÊ LOQUERE LOQUERE E
LOQUERE ************** OXUMARÊ NI FERUN DA DAN NI FERUN
DAN ************** E JANA DOIA BESEN NADE TORUN
BABA**************  A KORO LE IN MINHO  ALÁ KORO LE IN
MINHO ALÁ**************  A GALA GALA GULE
GALEJÔ **************  A GARA GARA SORO SORO BESSEN
SORO ************** SAVA LU KE MADI E AE AE SAVA LUKE MEDIE 
 
Nanã
Saudação: Salú bá NanãCantigas
 
O NITORODO KE ALÉ OMO NILÊ KORAJO NANÃN INSURE OMO NILÊ
KORAJO, KORAJO KORAJO  A FULÉ LÉ KORAJO *************** Ó IA
LARAUE AIN KOTO LOXE Ó IA LARAUE ***************  ABIAUA
NAKUNA PÁ ODE O RIKO KO DE *************** OBI NANÃN IÓ
LÓBÓ NANÃN IÓ OBI NANÃN IO LÓBÓ NANÃN IÓ *************** E
NANÃN OLUAIE E PÁ E PÁE NANÃN OLUAIE E PÁ E
PÁ*************** NANÃN EUA IN NANÃN EUAE IN NANÃN EUA IN
NANÃN EUA*************** OBI XAXARÁ LEBÉ OBI XAXARÁOBI
NANÑ IÓ NANÃN IO OLUODO XE XE 
 
 
Oxum
Saudação: Rorá Yeye óCantigas IA MINIBU O MIRO DO ORIXÁ OLÊ
LÊ ********* MABOIA IABÔ IA MABOIA IABÔ IAOMIN JE JE OMI NIBU
MABOIA IA BOIA********* KEN KE OXUM OMI XORO DO  A INA INA
KEN KE OXUM OMI XORODO A INA INA********* E FIBÔ E FIBÔ
LOIAÓ LÓ XUN ********* OXUM KARE OXUM OXUM KARE
UO ********* OLUDE AKIN INJO KARE PO PO KARE OLULE KARE
OLULE KARE *********  XÁ OLUDÉ OMIRODO OMI RUNDÉ A KAIA
 
Obá
Saudação: Obá xirêCantigas
 
OBÁ ELEKO AJÁ OSI OBÁ ELEKO AJA OSI OROÔ OBÁ SAMO OBÁSABA
ELEKO AJÁ OSI ************** TIGI UERE O FAUERE E IGI UERE O
FAUERE EU ************** E LELUÔ OBÁ MELEJE OBÁ SABA UO, OBÁ
OGUN TÔDE BARI EKÓ OGUN TÔDE BARI EKÓ ************** IRU
OJÁ PARA MAN OBÁ LOJÁ LÁ OJÊ 
 
************** MARRUN MARRUN OBÁ ODÉ NITA FAMARRUN MARRUN 
 
 
Ewá
Saudação:
Rinrró
Cantigas
 
EWÁ EWÁ MAJÔ, EWÁ EWÁE ORÓ OIO ORUN LESÉ EWÁ EWÁ MAJÔ,
EWÁ EWÁEWÁ NIFA TUT|Ô LOBÊ UAE OMI
UAE OBÁ SÁ OBA SÁ A MURERE UO OBÁ SÁ É UM OBÁ SÁ
AMURERE  XEKUE XEGAN EWÁ EWÁ AINHA UO IZO KE SO BOISA TIN
DAN TIN DAN ADAN NADAN 
 
 
Oyá
Saudação: Eeparipaa OyaCantigas
 
 A UN DE JEKETE A UNDE JEKETE ********** OYA MUXE
MIXOYAJEKETE ********** E BAGAN É BAGAN FÉIE UM
KÉ ********** KE KE IN AGAN MARIÔ KE KE IN AGAN
MARIÔ ********** BIRI BIRI BA AGAN LOJU OBÉ RIKOMAN
MARIÔ ********** BIRI BIRI BIRIO IGAN IGAN IROKO BIRI BIRI
XAURO ********** JAMBÊ LÊ JAMBÊ LÁ MUXAXE 
 
Iemanjá
Saudação: Erú iyá Cantigas
 
E A OYÔ ÔBÉ WO IEMANJÁ MIRERÊ 
 
********** 
 
IEMANJÁ OTÔ MANJARÊ 
 
IEMANJÁ OTÔ MANJARÊ WO 
 
********** 
 
E LOKO FIO OLU ODO YA KE KERE 
 
E MABALÁ IEMANJÁ IA KEKERE 
 
********** 
 
ODO RILÉ IEMANJÁ
 
ODO RILÉ A OYÔ 
 
********* 
 
IYA ONI RUNBA
 
ORIXÁ LEROJO WE 
 
********* 
 
IEMANJÁ SOBÁ SOBÁ MIRERE 
 
SOBA MIRERE WA OYÔ SOBA MIRERE WO 
 
********** 
 
 A SABA INHA LEBÊ 
 
ORIXÁ INHA INHA
 
 
Sangô
Saudação: kawô, ká biye sí CantigasONIÊ AWA DODE ERUN JÉJÉ 
 
IBONA ROKO OSA FONJÁ AWA DODE 
 
ERUN JÉJÉ OLORIPÊ 
 
*********** 
 
OSI É DA BA IRÁ
 
 A IRÁ LOSIN BÉ LO KÔ 
 
*********** 
 
 A IRÁ DABA KEN KÉ XORO Ô OLUA MIN SAN MI MÃ SELÉ 
 
ORIXÁ KE LI SEBE WA A IRÁ A IRÁ Ê 
 
*********** 
 
 A IRÁ Ô LÊ LÊ A IRÁ Ô LÊ LÊ 
 
*********** 
 
OMONILE A IRÁ MONILE 
 
 A IRÁ A IRÁ OMONILE A IRÁ MONILE 
 
*********** 
 
FIRIMàFIRIMÃ, FIRIMàBAISÔ 
 
 A IRÁ A IRÁ FIRIMÃ BAISÔ 
 
*********** 
 
E BARA OKE BARA OKE BARA OKE BAISO 
 
 
Oxalá
Saudação: Eepaá babá CantigasE AINA KO MODA AGUÉ MARÊ 
 
OLOFI MODA GUÉ AIWA KOLOJÁ
 
 AGUÉ MARÊ AINA KO 
 
************ 
 
O PERE KETÊ OPERE KETE UN ALÁ
 
IBI ALÁ LA DO INGENA OPEREKETÊ BABA
 
************ 
 
E AXÓ TUTU GOIA FIN ALÁ FUN FUN 
 
D´ORIXALÁ AÊ AJALEÔ ALÁ FUN FUN 
 
D´ORIXALÁ
 
************ 
 
 AJAGUNÃ BABA WÔ AJAGUNÃ
 
ELEMÁXÓ BABA OLOROGUN AJAGUNA BABA WÔ 
 
*********** 
 
E E Ê BABA KÓBA JÓBA KOLÊ OXOGUIÃ IBI OXALÁ KEJÁ
 
*********** 
 
E AJAGUNA BITI OLÊ AJAGUNA BITI Ô 
 
********** 
 
E ORIXÁ DANKÔ , PARA MIN DANKÔ 
 
 
Entrevista
Entrevista com a Yalorixá Juliana de Azawane, em seu Kwe Ceja
Undèláyè, nobairro de Jardim Guanabara, Ilha do Governador – RJ.
Mãe Juliana também éEconomista formada pela PUC – RJ, e exerce sua
profissão até os dias de hoje.Liguei primeiramente para Mãe Juliana, pois uma
amiga de longa data é filha desanto de mãe Juliana. Ela marcou comigo
às 14 horas no seu terreiro, que
ses i t u a   n o   b a i r r o   d e   J a r d i m   G u a n a b a r a ,   á r e a   n o b r e   d a   I l
ha do Governador.Chegando lá, vi pela porta de vidro
q u e m ã e J u l i a n a e s t a v a e m u m q u a r t o pequeno, de uns 10
metros quadrados, sentada em uma mesa, jogando búziospara um
cliente. Quem abriu a porta para mim foi uma Ekede, cargo de confiançadentro
do terreiro exercido somente por mulheres, que segundo mãe Juliana
meexplicou, ela não incorpora orixás, a sua única função é vesti-los nas
cerimônias,desvirá-los depois e cooperar com os afazeres do terreiro. Sentei
na área abertad o t e r r e i r o – D e v i a t e r u n s 1 5 0 m ² . H a v i a m v á r i a s
p o r t i n h a s , c o m o s e f o s s e m casinhas, umas do lado das outras, que ao
perguntar a ekede do que se tratava,ela me respondeu: São o quarto dos
Orixás. Perguntei: Posso fotografá–los? Elad i s s e : N ã o . . . S o m e n t e
p e s s o a s i n i c i a d a s p o d e m e n t r a r a l i . L o g o a p ó s e l a m e dizer isto,
a ekede se dirigiu até a porta de vidro aonde estava mãe Juliana,
bateudevagar e colocou a só a cabeça pro lado de dentro, com
certeza para avisá-lade que eu já havia chegado. Logo após isso, me
ofereceu café fresco e água.Cerca de 30 minutos depois, eis que surge
Mãe Juliana de Azawane em minhadireção com simpático sorriso, pedindo
desculpas pela demora. Argumentou: EmJogo de búzios nós nunca podemos
prever exatamente a hora que vai terminar...Uns terminam antes, outros
depois...Juro que minha impressão era completamente oposta à que vi.
Achei que fosseencontrar uma senhora de seus 50 anos, acima do
peso, de pele negra e
coma q u e l a s   r o u p a s   d e   b a i a n a s   q u e   v e n d e m   a c a r a j é .   M a s  
a   v i s ã o   q u e   t i v e   f o i contrária: Uma mulher bonita, aparentando 35 anos,
de estrutura corporal normale pele parda. Sem baiana, sem guias no pescoço,
sem nada. Somente uma saiacomprida e larga de cor branca de pano simples
(parecia algodão), uma camisetabranca Hering e um turbante na cabeça.Logo
após uma breve conversa, ela gentilmente me convidou a ir até o salão
dot e r r e i r o , a o n d e s ã o f e i t a s a s c e r i m ô n i a s f e s t i v a s a o s O r i x á s .
D o l a d o d i r e i t o haviam três atabaques, um grande, um médio e um
pequeno. Haviam bancos demadeira em volta de todo o salão. Ela se sentou
em uma cadeira de vime grande,coberta com um pano rendado branco,
enquanto eu me sentei ao seu lado, emuma cadeira de vime, menor que a
dela, também com um pano branco em cima.E aí começamos a nossa
entrevista...Roberta: Boa tarde, Mãe Juliana...Mãe Juliana: Boa tarde, minha
filha...
 
R: Bem, mãe Juliana, vamos começar sabendo um pouco de sua história.
Comoa senhora entrou no culto aos Orixás?M J : B e m , t u d o c o m e ç o u
h á 2 0 a n o s a t r á s , q u a n d o t i v e q u e s e r i n i c i a d a à s pressas
para o Orixá Obaluaye. Estava com sérios problemas de saúde
e o s médicos tinham me desenganado aos meus pais...R: Mas o que a
senhora tinha?MJ: Tinha muitas dores de cabeça, tonturas e desmaios. Os
médicos detectaramum aneurisma. Naquela época a medicina não
estava tão avançada, então eupedi à minha mãe que me levasse para
casa, já que era pra sofrer, que sofressea o l a d o d e p e s s o a s q u e m e
a m a v a m . E a s s i m e l a f e z . E u u r r a v a d e d o r e s d e cabeça, meus
pais já não sabiam mais o que fazer... Aí um belo dia a minha tia-avó,
a Tia Maricota, que era mãe de santo e morava em Salvador, ficou sabendodo
meu estado de saúde. Meus pais sempre foram católicos, e embora eu
fosseadolescente na época, nunca tive afeição à religião alguma. Só
acreditava emDeus e ponto final. E quando meus pais falavam muito
nos meus ouvidos eu íano domingo pela manhã até a igreja... Mas voltando
ao assunto da Tia Maricota,e l a d i s s e à m i n h a m ã e q u e i r i a
c o n s u l t a r o s b ú z i o s p a r a v e r o q u e e s t a v a acontecendo, pois
ela estava achando esta doença muito esquisita. Em 6 meseseu definhei.
Não falava coisa com coisa. Assim que ela obteve o resultado
dosbúzios, ligou correndo pra minha mãe dizendo que era pra que me
levasse atéSalvador o mais rápido possível. Como não tínhamos condições
financeiras paraa r c a r c o m a v i a g e m , p o i s t e r i a q u e s e r d e a v i ã o ,
senão eu não suportaria ae s t r a d a , e s t a v a i n v i á v e l . A l é m d o
m a i s a m i n h a m ã e n ã o a c r e d i t a v a e n ã o gostava disso. Aí,
minha tia, vendo que não havia solução, pegou um ônibus delá de Salvador e
veio pra cá...R: E aí? Ela lhe curou?MJ: Esse processo foi muito difícil, tanto
pra mim quanto pra minha família. Minham ã e n ã o a c e i t a v a d e f o r m a
a l g u m a , m e u p a i m u i t o m e n o s . . . M a s c h e g o u u m ponto em que eles
me viram em um estado tão crítico que foram obrigados à dar o braço a torcer.R:
E como ocorreu a sua iniciação?MJ: Foi no barracão de um filho de santo da
minha tia, o Pedrinho de Oxalá, queminha tia me raspou. Não tínhamos
condições pra nada, nada... Minha tia veiopraticamente com o dinheiro da
passagem de volta e mais alguns trocados. Meuspais, como eu disse, não
tinham condições. A minha sorte é que os Orixás nãonos desamparam
nessas horas e fizeram tudo aparecer pra minha feitura.R: Aparecer? Como
assim?MJ: Nessas horas, sempre aparecem pessoas do meio dispostas a
ajudar. Um dáum quilo de canjica, o outro dá dois quilos de pipoca, outro dá o
tecido da roupa,outro dá uma galinha... E por aí vai...
 
R: E depois de conseguir o material necessário, a senhora finalmente
conseguiuse iniciar?MJ: Sim, consegui. E foi tudo maravilhoso. Se
precisasse, faria tudo de novo.Não me arrependo de nada.R: E após ter
se iniciado, a sua saúde melhorou?MJ: Quando eu estava recolhida,
achava que iria morrer no início. Mas com opassar dos dias fui
conhecendo o meu Orixá, vendo do que ele é capaz... E logoapós os 1 ano de
clausura, fui fazer outro exame, já me sentindo 100% melhor. Eo médico quase
desmaiou quando disse: Meu Deus, eu quero outro exame! Nãopode ser
possível! Aí eu lhe disse: Tudo é possível diante do meu pai Obaluaie...(risos).
Aí fizemos mais exames, e nada. Fiquei curada.R: Impressionante... Até eu
estou pasma! Mas e a questão de ficar careca, tendoque andar de roupas
brancas pelas ruas... Isto não deixou a senhora indecisa?Pela questão
da feminilidade, da vaidade...M J : O l h a , p r a s e r s i n c e r a , n o i n í c i o e u
a t é m e p r e o c u p e i u m p o u c o s i m . M a s depois que me vi piorando a
cada dia, ficar careca era lucro perto do estado queeu estava.R: E quanto à
matança de animais... O que a senhora me diz disto? É realmentenecessário?
MJ: É necessário sim... Pois através da imolação dos animais, você
transmite àeles todos os seus problemas e energias negativas. E também faz
seus pedidos.R: Mas, os orixás não podem ouvir seus seguidores de outra
forma?MJ: Podem, mas isto é uma oferenda para o orixá, é um presente...R:
Mas o que os orixás realmente se aproveitam na morte dos animais?MJ: Minha
filha, você não precisa comer para ter energia em seu corpo, e sendoassim,
poder cuidar da sua vida, trabalhar, estudar, enfim, correr atrás de
seuso b j e t i v o s ? E n t ã o , c o m o o r i x á é a m e s m a c o i s a . S ó q u e a s
p e s s o a s t ê m u m a idéia errônea da religião, acham que saímos por aí
metendo a faca no pescoçode qualquer bicho que vermos por aí... E não é
assim. Toda a carne dos animaisdepois é consumida pela comunidade.R: Mas
então, com que os orixás ficam? Só com o sangue?MJ: Com o sangue, os
miúdos, os pés e as pontas, além da cabeça. O restante,como falei,
a comunidade come. Nada é desperdiçado.R: E quanto ao culto aos orixás nas
festas... É permitido fotografar?
 
MJ: Em algumas casas ainda não é permitido fotografar ou filmar, mas na
minhacasa não vejo problema. Pôxa, é um momento especial na vida do yawo,
ele quer guardar uma recordação daquilo. Tudo bem, existem coisas
que não se podebater foto ou filmar, mas na festa, não há problema.R : E a
senhora vê hoje em dia o candomblé menos
m a r g i n a l i z a d o d o q u e antigamente?MJ: Nossa! A coisa hoje em dia
mudou muito de figura... Na minha época, vocêmal falava que era de
candomblé, era um preconceito danado... Se bobeasse, iaaté preso! Mas hoje
em dia é moda ser do santo, andar com fio de conta do ladode fora da roupa,
se consultar com exu, caboclo, vir jogar búzios...R: Então a coisa melhorou
100%?M J :   M e l h o r o u   p o r   u m   l a d o ,   m a s   p i o r o u   p o r  
o u t r o .   A s s i m   c o m o   h á   m u i t a divulgação, muita informação
n a p r a ç a e m l i v r o s , r e v i s t a s , t e l e v i s ã o e a t é n a Internet, existem
muitas pessoas inescrupulosas que se aproveitam disto e
sedenominam pseudo-babalorixás. E também existem os que nem
uma água debatata receberam na cabeça e já querem ficar dando
aulas pros mais velhos. Éuma falta de respeito só... É menina indo pra
candomblé de minissaia, barriga defora, calça jeans justíssima, com um
decote quase no umbigo, e ainda por cimase acha no direito de entrar na
roda... Eu aviso logo: Na minha casa, não! Pode ir vestida assim pra um baile
funk, pra uma boate... mas isto não é roupa
adequadap r a   s e   i r   à   u m   c a n d o m b l é .   E s s a s   m e n i n a s   q u
e   v ê m   a s s i m ,   p o d e m   e s t a r   acompanhadas de quem for, voltam
do portão mesmo.R: ...Ô mãe Juliana, o que é “água de batata”? É a
água de batata literalmenteutilizada nos cultos do candomblé?MJ:
(risos)... Não, minha filha... Quando dizemos “água de batata”, quer
dizer uma obrigação mínima, alguma coisa já feita na cabeça da
pessoa para o seuorixá... Entende?R: (risos)... Entendi... Mas mãe Juliana, e
quanto à elitização do candomblé comoforma de cultura, qual o seu ponto de
vista?MJ: Bem, acho ótimo como forma de difundir a nossa religião,
mostrar que nãoexistem mais ignorantes como antigamente... Hoje o
índice de analfabetismodentro do candomblé é mínimo. Há um índice
maior de analfabetismo entre osevangélicos do que entre os
candomblecistas, segundo o último censo. A médiados seguidores do
candomblé têm no mínimo o segundo grau. Contando quehoje em dia,
quem consegue concluir seus estudos é um felizardo...R : P o r f a l a r e m
estudos, Mãe Juliana, a senhora é formada em
e c o n o m i a , correto? A sua filha de santo Marlene que me contou...MJ: Pois
é, sou economista formada pela PUC e com pós-graduação na
mesmauniversidade. Agora estou pensando em um MBA pela FGV...
 
R: Mas dá pra conciliar o sacerdócio com os estudos e o trabalho?MJ: Se
você for organizada e tiver metas em sua vida, tudo é possível. Eu
sout o t a l m e n t e e s q u e m a t i z a d a . T u d o p r a m i m t e m d a t a e h o r a .
T a n t o q u e e u j á planejei fazer o MBA só no fim do ano, pois estarei
recolhendo um yawo daqui háduas semanas e depois vou ajudar no
terreiro de um filho de santo, que estarápara tirar o seu primeiro barco de
yawo, e logo após este, tem uma obrigação de7 anos de iniciado em um
filho de Ogun que precisarei dar. Ou seja, só vou ter tempo mesmo no
fim do
ano...R :   O l h a ,   m ã e   J u l i a n a ,   f o i   u m a   g r a n d e   h o n r a   p o d e r   e
n t r e v i s t a r   a   s e n h o r a , aprender um pouco sobre o culto aos
o r i x á s e p o d e r c o n t a r c o m a s u a a j u d a neste trabalho.MJ: O prazer
foi todo meu, e não deixe de ir na festa da saída de yawo do meufilho
de santo, para poder tirar as tais fotos que você precisa para seu trabalho.
 
Conclusão
 
 A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade
sob a formad o s   t e r r e i r o s   d e   c a n d o m b l é   ( r e l i g i ã o   d e   n e g r o s  
y o r u b á   c o m o   é   d e f i n i d o   n o Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa
de negros, portanto escusa, ignorante,desprezível e rapidamente traduzida
como coisa ruim, coisa do diabo, bem e mal,certo e errado, branco e preto.
Antagonismos opressores, sem possibilidadesalternativas. O negro
resolveu tentar agir como se fora branco, para ser aceito.Ele dizia:-
meu Senhor, a gente tá tocando para Senhor do Bonfim, seu Santo, nhô! Não
épara Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai Nosso, é o mesmo que Senhor do
Bomfim.S i n c r e t i s m o . F o r m a d e r e s i s t ê n c i a q u e c r i o u g r a n d e
o n u s , s e v e r a s c i c a t r i z e s desfiguradoras. O processo social, a dinâmica é
implacável. A imobilidade não sem a n t é m . O f i l h o d o a f r i c a n o j á d i z i a
q u e n ã o c o n f i a v a e m n e g r o b r a s i l e i r o ( o sìgìdì, por exemplo, um
encantamento de invisibilidade e criação de elemental,n ã o f o i
ensinado). Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a
p e q u e n o s torrões, o candomblé era eficaz; o Senhor procurava a negra velha
para fazer umfeitiço, para que lhe desse um banho de folha, lhe desse
um patuá. Proliferaçãode terreiros. Massificação, turismo, folclore.Mas os
grandes iniciados, iguais àqueles criadores da terra africana noBrasil,
ainda existem. Odé Kayode - Mãe Stella de Oxossi, em 1983, dizia: "Iansãnão
é Santa Bárbara", e explicava. Mostrou que candomblé não era uma
seita,era uma religião independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas
pessoasfalavam: "- sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da
iniciação,era na Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém
morre, não podemudar isso". Era a tradição alienada versus a
revolução coerente, era a quebrad o ú l t i m o g r i l h ã o . A r e p r e s a f o i
q u e b r a d a e a s á g u a s f e r t i l i z a r a m o s c a m p o s quase estéreis da
sobrevivência. O negro é livre.Veio da África, tem uma história, tem uma
religião igual à qualquer outra eainda, não é politeista, é monoteista: acima de
todos os Orixás está Olorum.Nina Rodrigues conta que uma vez perguntou a
um Babalorixá porque elen ã o r e c e b i a O l o r u m , j á q u e e s t e e x i s t i a .
O u v i n d o a s e g u i n t e r e s p o s t a : " - M e u Doutor, se eu recebesse, eu
explodia".Agora um novo limite, uma nova configuração se instala. Neste fim de
séculoc o m a c o r r o s ã o d a s i n s t i t u i ç õ e s r e l i g i o s a s t r a d i c i o n a i s ,
c o m o s u r g i m e n t o d e novas religiões, com as doutrinas esotéricas
alternativas, o candomblé,
agorac o n s i d e r a d o   r e l i g i ã o ,   é   v i s t o   t a m b é m   c o m o   u m a   a g ê n c i a  
e f i c i e n t e :   R e s o l v e problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os
brancos querem ser negros, ján ã o s e o u v e " o n e g r o d e a l m a b r a n c a " ,
a g o r a o p r i v i l é g i o é s e r u m b r a n c o d e alma negra, ter
ancestralidade, "ter enredo, história com o Santo". Mais do
quen u n c a   a s   I y a l o r i x á s   e   B a b a l o r i x á s   s e   q u e s t i o n a m .   A s   a r m a d
ilhas, os "caça-fugitivos" estão instalados. São os congressos,
a TV - é a mídia - os livros, a'web', em certo sentido. Tudo
isto é transformado, por nós, em pinças para
 
separar o joio do trigo, por isso estamos aqui. Dizendo o que
s o m o s , d a m o s condição para que se perceba o que está posto e se entenda
o suposto, o opostoe o aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é
religião, não é seita.As Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de
organização do ori éawo (segredo). O candomblé é uma religião que
trabalha com o segredo, o ladomudo do ser, o que a Olorum pertence. O
candomblé organiza o fragmentado,abrindo canais de expressão para o
ser humano.

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