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Jurema Sagradapdf

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O Catimbó da Jurema

Um pouco da história-Estudos etno-históricos-por Marcelo Bolshaw


Gomes

...Dentre os estudos da antropologia brasileira, a Jurema ocupa um


lugar singular. O próprio termo comporta denotações múltiplas, que
são associadas em um simbolismo complexo. Além do sentido botânico,
a palavra Jurema designa ainda pelos menos três outros significados:

·... Preparado líquido à base de elementos do vegetal, de uso


medicinal ou místico, externo e interno, como a bebida
sagrada, "vinho da Jurema";

·... Cerimônia mágico-religiosa, liderada por pajés, xamãs,


curandeiros, rezadeiras, pais-de-santo, mestras ou mestres
juremeiros que preparam e bebem este "vinho" e/ou dão a beber a
iniciados ou a clientes;

·... Jurema sendo igualmente uma entidade espiritual, uma "cabocla",


ou divindade evocada tanto por indígenas, como remanescentes,
herdeiros diretos em cerimônias do Catimbó, de cultos afro-
brasileiros e mais recentemente na Umbanda.

...Para o professor José Maria Tavares de Andrade, esse "complexo


semiótico" chamado Jurema, representa até hoje, na polissemia deste
termo, um ponto de vista e uma resistência étnica dos nordestinos
autóctones, "um fio condutor de um traço cultural, distintivo do
componente indígena da cultura popular, regional e nacional."

...Numa primeira fase da colonização, a resistência dos povos


indígenas no Nordeste, não permitiu que a Jurema, enquanto árvore
sagrada, fosse conhecida, em seus usos e significados, não sendo
assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros.

...Numa segunda fase histórica a Jurema representa um elemento


ritual ligado à própria resistência armada dos povos indígenas ou à
guerra empreendida contra inimigos inclusive em suas alianças. Ainda
nesta fase na qual a Jurema começa a ser documentada, seu
significado ainda não é entendido mas seu uso já é motivo de
repressão, prisão e morte de índios.
...Na medida em que avança o rolo compressor da colonização,
processo de genocídio ou tentativa de dominação, não só política e
econômica como também cultural, aparece uma nova forma de
resistência: a Jurema assume um lugar central na religiosidade
popular, não só indígena regional - Catimbó. Diante do componente
negro a Jurema garante seu reconhecimento, como entidade (espírito,
divindade, cabocla) autóctone, "dona da terra". A Jurema é absorvida
pelos cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusive
os "Candomblés de Caboclos".

....Nas últimas décadas é no contexto da Umbanda, religião nascente


e em pleno processo de sistematização e de expansão nacional, que a
Jurema é integrada na cosmologia sagrada, no panteão da religião
nacional. Constatamos em vários estados nordestinos as "Linhas da
Jurema", dentre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda.
Nesses últimos anos, e paralelo ao movimento religioso propriamente
brasileiro, a Jurema continua como "núcleo duro", segredo, bandeira
ou símbolo, para os remanescentes indígenas, em pleno "movimento
étnico", num contexto de defesa de seus direitos humanos, de suas
áreas de reservas e de sua autonomia e reconhecimento no pluralismo
da sociedade e das culturas brasileiras.

...(cf: Ribeiro,1991) A presença do Zé Pelintra e da cachaça são


essenciais no catimbó, onde, inclusive, "não há Mestre abstêmio".

...Em Alhambra, pequeno município situado ao sul de João Pessoa, na


Paraíba, está situada a cidade sagrada da Jurema. Lá estão
sepultados quarenta e dois mestres principais dentre eles Mestre Zé
Pelintra. Único espírito que não é da tradição do índio que pode
aparecer nos rituais, pois ele, segundo dizem, "baixa em qualquer
tipo de serviço"

...A Jurema é uma árvore que floresce no agreste e na caatinga


nordestina, tendo duas qualidades: a jurema-branca e a jurema-preta.
Os pajés (sacerdotes tupis) usavam a bebida da jurema-branca que
faziam com que as pessoas tivessem sonhos. Os feiticeiros,
babalorixás pernambucanos, os mestres de Catimbó, os pais-de-
terreiro dos candomblés da Bahia usam muito a jurema.

...Sangirardi Jr. (1983) afirma que o termo jurema designa várias


espécies dos gêneros Mimosa, Acácia e Pithecelobium. Jonathan Ott,
em seu 'The Angels' Dictionary (1995), também aponta no seu verbete
sobre o "Vinho da Jurema" que, além da Mimosa hostilis Benth.,
outras espécies de leguminosas, tais como Mimosa Verrucosa Benth.,
Acacia piauhyensis Benth., e várias espécies Pithecellobium podem
ser designadas pelo mesmo nome.

...Sangirardi Jr. aponta que a Jurema "estudos sob o aspecto


ritual", de onde emergem manifestações diversas de experimentação
religiosa:

·...-jurema era usada ritualmente por tribos de dois grandes grupos


indígenas que habitaram o Nordeste: Jê, os tapuias dos antigos
escritores, e Karirí. Perderam-se, no entanto, para sempre, os
detalhes das cerimônias em que a erva era ingerida por esses índios,
cerimônias essas não registradas por nenhum escritor da época"
(Sangirardi Jr., 1983:193). Além disso, vale sugerir que a jurema
foi combatida durante a catequese indígena, quando os aborígines da
região Nordeste eram aldeados em missões; e combate ideológico este
que parece ter se estendido a juremeiros de uma maneira geral até a
primeira metade deste século, pois, como informa Sangirardi Jr.,

·...- as reuniões de culto em que bebiam jurema era chamada


antigamente de adjunto da jurema e designava prática supersticiosa,
c/ artes do demônio e, como tal, os seus adeptos estavam sujeitos às
penas da lei.

...Mas se não existem relatos sobre usos rituais da jurema antes do


contato dos índios com a agência colonizadora, pode-se encontrar, em
contrapartida, descrições de rituais sincréticos nos quais se
consome jurema. De fato, a jurema faz parte não apenas de ritos
indígenas, mas sua utilização ritual acha-se também difundida entre
diversos sistemas de cultos (em áreas rurais e urbanas) tais como
catimbós, xangôs, candomblé, etc. Segundo Sangirardi Jr., "os pajés
indígenas ensinaram aos brancos e mestiços os mistérios da
pajelança. Esta influiu no catimbó. Uma e outra receberam a mescla
do espiritismo, da feitiçaria européia e, nas orações e imagens de
santos, do catolicismo. Depois, completando o ciclo, o pajé
indígena recebe de volta, sincretizado, tudo aquilo que ensinara. E
passa, inclusive, a trabalhar com os encantados ..." (Sangirardi
Jr.,1983:194).

...Até o século XX, beber jurema era sinônimo de feitiçaria ou


prática de magia. Da casca de seu tronco e de suas raízes se faz uma
bebida que é considerada mágico-sagrada. Sendo também Jurema o local
sagrado onde vivem os Mestres do Catimbó, religião forte do
Nordeste.

...Este culto se difundiu dos Sertões e Agrestes nordestino em


direção às grandes cidades do litoral, as constantes ondas
migratórias entre o interior e o litoral devem ter influenciado
nestes intercâmbios de elementos simbólicos no culto. Espalhando-se
em algumas cidades nordestinas, como Recife, Paraíba, Maceió, Natal,
chegando ao sudeste e sul do Brasil. Desse modo, o símbolo da árvore
que liga o mundo terreno ao além e, embora amargo, dá sapiência aos
que dela se alimentam.

Mesas de Jurema

...Chama-se Mesa o altar junto ao qual são consultados os espíritos


e onde são oferecidas as obrigações. Com imagens de santos católicos
e de espíritos afro-ameríndios, maracás e cachimbos. Duas categorias
de entidades espirituais tem seus assentamentos nas mesas de Jurema,
os Caboclos e os Mestres.

...Os Mestres são descritos como espíritos curadores de descendência


escrava ou mestiça (índio com negro ou branco com uma das duas
outras raças). No panteão juremista, existem vários mestres e
mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos
diversos campos da existência humana. Nas mesas, as representações
das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas,
geralmente possuindo o estado completo e a "jurema plantada"; em
especial a do "mestre da casa", aquele que incorpora no juremeiro,
faz as consultas e iniciam os afilhados nos segredos do culto. Por
tudo isso esse mestre é carinhosamente chamado de "meu padrinho".

...A Pajelança e o Catimbó, cultos basicamente indígenas mas já


miscigenados com elementos cristãos e católicos, que entrou o Negro
ou o seu descendente, especialmente no Nordeste os citados cultos e
cerimônias até certo ponto bem análogas às de seus antepassados
africanos.

...Em continuidade no tempo, foi da fusão destes novos cultos de


Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados da
religiosidade dos negros, quase sempre escravos fugitivos que
encontraram guarida e proteção na Pajelança e no culto dos
Encantados, que esboçou-se o Culto do Catimbó.

...Exemplificando a mudança de tais funções, ouça-se o triste


depoimento de um velho Pajé, de nome Tarcuáa, que assim se lamentou
com um pesquisador : –" Hoje não há mais Pajés; somos todos
Curandeiros"– (Roger Bastide, "apud" Câmara Cascudo, em "Novos
Estudos sobre o Catimbó", Brasiliensis, pg. 89).
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Ramificações da Jurema

A palavra Jurema apresenta diversos significados, os quais não se


resumem a usos distintos do seu emprego, na medida em que podem
aparecer interligados. Poderia supor-se ter havido um significado
inicial, progressivamente encoberto pela perda de memória e por uma
mentalidade popular confusa.

Seria igualmente possível retalhar a Jurema em vários significados,


mais ou menos arbitrariamente ligados à mesma palavra.

Ao se examinar mais de perto essas possibilidades, há de se convir


que meramente reiteram uma pré-concepção de objeto e de palavra,
insistindo em deixar no limbo a sutileza e a riqueza da
interdependência entre todas as suas acepções.

Proceder dessa forma é, também, descartar ou menosprezar a


enunciação popular e deixar passar uma oportunidade única de seguir
traços da memória social brasileira e de acompanhar as suas
deambulações. Na contramão dessa tendência, experimente-se dar
ouvidos às enunciações da Jurema, nas diversas acepções em que ela
se revela:

Jurema é uma árvore, mas não exatamente. É uma e outras. A sua


identificação botânica permanece relativamente indefinida.5 O nome
pode se referir (principalmente) a espécies dos gêneros Mimosa,
Acácia e Pithecellobium (Sangirardi Jr, 1983, citado por Grünewald,
1999a), que não espelham as denominações populares de várias árvores
como Jurema (Preta, Branca, Vermelha, etc.), as quais por sua vez
admitem variação regional.6

Jurema é uma bebida. A partir de partes daquelas plantas, nem sempre


as mesmas (as mais referidas são a Mimosa tenuiflora e a Mimosa
verrucosa), obtém-se um líquido de uso religioso e medicinal. As
fórmulas do seu preparo, os tecidos vegetais utilizados e as
dosagens, assim como a combinação com outros ingredientes, são
variáveis.

Jurema é uma cerimônia religiosa (diversamente celebrada por índios


ou caboclos) no âmbito da qual aquela bebida é comungada. Às vezes
distinguida como uma religião específica no complexo cenário da
espiritualidade brasileira, mais comumente o culto da Jurema
apresenta-se difuso em práticas religiosas nas quais pode ter um
papel mais ou menos central: pajelança, toré, catimbó, umbanda,
candomblé de caboclo etc.

Jurema é uma "entidade" espiritual que se manifesta no transe de


adeptos dessas religiões (Anthony, 2001). Ou uma classe, um tipo
de "entidades", havendo muitas Juremas. A Jurema que se manifesta
nesses cultos pode caracterizar-se de maneira bastante variada em
diferentes práticas e em diversos núcleos da mesma religião. Às
vezes, a sua caracterização pode ser diversa no mesmo núcleo, ou até
mesmo Juremas diversas podem incorporar na mesma médium.

Jurema também pode ser o local de culto e oração: a mesa da Jurema


ou o "congá" umbandista.

Jurema é o "mundo espiritual" de onde provêm os encantados que se


manifestam nas sessões.

Jurema é o "plano espiritual" dos espíritos cultuados na


difusa "espiritualidade brasileira", que se apresentam como índios.

Jurema é uma índia metafísica. Atende pelo nome de Jurema uma


apresentação antropomórfica do sagrado florestal. Em rituais,
convivem a bebida e a "cabocla" do mesmo nome (Assunção, 2001). Una
ou duas?

Jurema pode ser uma "linha". A "linha" das "caboclas de Oxossi"


(antropomorfoses femininas de epifanias florestais, "encantos da
mata"). É uma e múltiplas.

A linha da Jurema pode não se restringir à "falange" de "espíritos


da mata femininos". Há "espíritos masculinos" que são juremeiros.

Não obstante sertaneja e planta, a Jurema é hoje associada a


caboclas da água e especialmente do mar (conforme o som "juremar" e
a significância da cor comum ao oceano e à mata).

Jurema é um objeto. Pintura ou estatueta de uma índia, com traços


que podem variar - as suas apresentações icônicas estão longe de
serem tratadas como meras representações - na prática ritual,
podendo receber a atenção, cuidado e respeito devidos à
própria "realidade".
Mas a sua imagem não necessariamente se corporifica em objeto
material. Pode ser aparição objetivamente percebida por "videntes",
com a mesma qualidade da percepção de uma pessoa comum, como pode
igualmente surgir como uma "imagem mental" parecida com as cenas
oníricas, dela se distinguindo por acontecer em vigília e por outros
sinais que variam bastante de informante para informante (eventos
concomitantes como cantos de pássaros ou vôos de borboletas, nitidez
da imagem, "avisos" e "confirmações" etc.).

Jurema é uma cidade. A cidade da Jurema, uma cidade do Além. Mas


muito concretamente a cidade da Jurema pode consistir numa coleção
de copos e taças com diversas bebidas que, com fins rituais, se
assentam na "mesa da Jurema"; bem como pode ser uma juremeira
(árvore) ou um juremal.

Jurema é a mata. A cidade da Jurema pode alargar-se do juremal à


totalidade e variedade da floresta, no seu conjunto.

Jurema é um tronco (de juremeira). Um galho que ritualmente marca um


ponto de sacralidade no lugar do culto. Mas o tronco do juremal
também é o lugar de onde vêm os caboclos e mestres do seu culto, o
que é literalmente verdadeiro: mais do que uma figura de linguagem,
a Jurema ingerida comumente é preparada a partir da casca do tronco
(ou da casca da raiz).

Nos pontos, reitera-se assiduamente que a Jurema é um "lugar" de


onde se vem ou para onde se vai. Vários pontos cantados o expressam,
preservando uma ambigüidade significativa do outro como eu: Eu venho
de longe, do tronco do juremal. Quem vem? O caboclo índio étnico? O
praticante do culto que realiza o ritual? O "guia" que "incorpora"?
O Outro ou eu? Como a Jurema poderia representar-se, se se
indetermina o sujeito relativamente ao qual ela se objetivaria?

Essas árvores, troncos e espiritualidade também são um sinal


diacrítico da identidade étnica indígena. A Jurema é um traço
significante que delimita o "ser" índio. No século XX, a perpetuação
do seu culto (depois de meio milênio de perseguições) passou a ser
um modo de reconhecer a etnia e processos de aculturação se
inverteram em processos de etnogênese. Não apenas o Serviço de
Proteção ao Índio (antecessor da FUNAI) o adotou como critério de
reconhecimento de comunidades indígenas (o que paradoxalmente
incentivou a preservação ou reinvenção do uso, a fabricação de
tradições), como remanescentes de tribos indígenas competem entre si
para se demarcar do culto caboclo e para preservar o segredo e
afiançar a fidelidade dos seus ritos à origem, assegurando-se
uma "pureza" étnica (Grünewald, 1999b).

De qualquer modo, cumpre sublinhar que este diacrítico apenas


aparentemente se consubstancia num fato botânico. A concepção
contemporânea de planta obviamente não é a mesma do universo
indígena (haja vista a "imprecisão" taxonômica), embora raízes desta
talvez aflorem na remissão da árvore a uma figura de mulher.

Quimicamente, a Jurema (Mimosa tenuiflora) apresenta um alcalóide da


família dos alucinógenos indólicos (Carlini & Masur, 1989; Graeff,
1984). Mas a dimensão de sacralidade do seu consumo passa ao largo
da descrição bioquímica dos seus efeitos e ambas são incompatíveis e
verdadeiras à sua maneira. Por um lado, nem sempre as dosagens e os
modos de consumo ritual que "abrem os encantos" seriam capazes de
explicar as alterações de consciência por eles provocados. Por
outro, quando se examina a Jurema por uma perspectiva estritamente
simbólica, descobre-se que os pretensos símbolos universais nela
envolvidos são realmente significáveis a partir de procedimentos
muito particulares e de ações rituais, neurofisiologicamente
eficientes.

Além disso, qualquer tentativa de reduzir a Jurema a uma superstição


a ser esclarecida pela ciência moderna, ou como remetendo a uma
tradição indígena degradada, pressuporia uma concepção linear do
tempo, não autorizada pelos dados. O modo arcaico do seu consumo se
mantém como núcleo de identidade e de resistência étnica indígena,
garantia de reconstituição e continuidade, mas a Jurema também se
internacionaliza como enteógeno (Grünewald, 1999a) e freqüentemente
estas diversas dimensões convivem entre si, ao mesmo tempo e, às
vezes, nas mesmas pessoas.

Antiga e contemporânea, na Jurema enraízam-se memórias sociais


inconscientes. O seu arcaísmo e reflorescimento permitiriam
transportar significâncias e revelar processos de conservação de
tempos aparentemente perdidos, pela falta de documentos escritos e
pela extinção física de povos?

Historicamente, o uso indígena da Jurema não foi meramente ritual e


religioso. Perseguida pela piedade romana enquanto meio de cura, a
Jurema foi tolerada quando ingerida em ocasiões de guerra (Andrade &
Anthony, 1998). Os juremeiros são também guerreiros, histórica e
miticamente falando e, certamente, não é à toa que, na sua versão
antropomórfica, a Jurema possa se fazer acompanhar de flecha e
bodoque.
Resistente, desde há muito cultivou-se além do território simbólico
brasileiro estritamente indígena. Ramifica-se especialmente na
memória e nas epopéias do homem nordestino, sendo celebrada por um
cancioneiro popular que, às vezes, descreve o seu uso ritual e
medicinal, sem por isso deixar de ser metafórico e simbólico. É
principalmente (mas não exclusivamente) nesse âmbito que a Jurema é
apreciada como comunhão com o sagrado cristão.

Mesmo entre as comunidades indígenas que a empregam diacriticamente


como seu distintivo, a "pureza" étnica professada manifesta-se
sincreticamente. A palavra anjucá significaria "anjo cá" e o vinho
da Jurema seria o verdadeiro sangue de Cristo, pois quando foi
derramado teria sido guardado junto a um pé de Jurema (Grünewald,
1999a).

Bastide (1945/2001) relata que os poderes associados à Jurema e que


a distinguem das outras árvores são atribuídos pelos catimbozeiros
ao fato de a Virgem, na fuga para o Egito, ter escondido o menino
Jesus numa juremeira. A árvore "guarda" a Sagrada Família (Brandão &
Rios, 2001) e, entre as mais importantes "falanges de espíritos" que
a acompanham, incluem-se os caboclos do Rei Salomão (Carlini, 1993).

Em suma, em vez de proporcionar uma "sua" representação, a Jurema é


multiplicadora de representações. Não é uma única planta, abrange a
(polissemia da) mata inteira. Os seus pés são cidades. Afigura-se
mulher, cabocla, morena, linda, índia... Poderosa, não obstante
fruto de uma cultura oral, enraíza-se em letras: os "seus" índios
ora se revelam seres espirituais assemelhados a construções
literárias românticas ou a imagens de comemorações cívicas (Santos,
1995), ora, quando efetivamente pessoas e comunidades indígenas,
pelo menos em parte, estas receberam tal identidade a partir de
critérios disponíveis na literatura antropológica.

Porta-voz de um recalcado coletivo e significante do seu retorno, a


Jurema guarda saberes sociais e memórias coletivas incompatíveis com
a delimitação representativa. Fitomorfose humana, freqüentemente
guarda sentidos corporais e espelha existências, aquém e além da
estrita determinação de significados e da sua abstração em símbolo.

Cancioneiro da Jurema

Portentoso festival de deslocamentos, literalmente botânicos,


condensados com aspectos cultuais que metonimicamente também podem
denominar-se "Jurema", não adianta persegui-la para encontrar
um "umbigo" botânico ou etnográfico que lhe ache uma realidade
final, a qual seja a origem das suas representações e permita
objetivá-la total e coerentemente. Real e sujeito, é Outro
misterioso e antropomórfico. Conta-se, em parte, e as folhas das
suas escrituras podem ser escutadas recorrendo-se aos poemas
cantados que a celebram.

A música ritual relativa ao seu culto permite-lhe mostrar-se tal


como se revela aos olhos da cultura dita popular. A Jurema é planta.
Tem raiz, tronco, sementes, folhas, flores, perfume..., que não se
resumem a figuras de linguagem, nem se achatam à mera botânica. A
Jurema é algo mais: humana, mulher, morena, linda, consciência,
líquido, sagrado. O seu perfume e as suas folhas comportam
um "clima" que a consubstancia. Transportam caboclos. Os seus pés
são cidades. Misteriosa, "reside" no centro da mata virgem. Lá
nascem (polissêmicas) flores. É funda a raiz da Jurema e a comunhão
da sua casca desperta consciência e transporta memória.

Muito profunda, irrecalcável retorno de raízes étnicas indígenas nos


corpos sujeitos brasileiros, a Jurema retorna em mil e uma facetas
que, longe de a objetivarem, refletem o ponto de vista dos seus
interlocutores, sem prejuízo da sua sacralidade.

Muitos dos seus "pontos" dramatizam performances rituais e memórias


sociais.8 As folhas da Jurema podem ser maceradas, mas a sua
colheita também pode ser o transe como orientação para a vida dos
médiuns e para a comunidade dos fiéis, humanas folhas desgarradas da
árvore mãe, caboclos desenraizados que "incorporam" os do "Além" e
com eles filialmente se aconselham.

Levar essa literatura a sério é tomar a letra ao pé do corpo. A


Jurema se revela como uma espécie de poesia imanente ao imaginário
brasileiro, cuja decifração implica um enredamento na nervura sutil
das folhas e em contato com espinhos. Pouco importa a inconsciência
de uma representação total dessa epifania por parte dos sujeitos
populares atingidos pelo seu "tombo" (iniciação). Eles são mais do
que sabem, pois a Jurema transborda a consciência.

Segue-se uma seleção de trechos e comentários de letras de músicas


rituais de domínio (ou pelo menos de uso) público - na sua quase
totalidade gravadas em terreiros umbandistas da Grande São Paulo -
que não se pretende nem poderia ser exaustiva.
O método seguido consiste em tomar literalmente a sério o que se
enuncia pelo multifacetado repertório musical ritualmente eficaz.
Não se leva em conta os significados conscientemente atribuídos
pelos participantes aos seus ritos, mas tão somente o que as letras
implicitamente deixam às claras, seja por eles explicitado ou não
(isto é, dá-se ouvidos ao Outro, escuta-se o inconsciente).

Cada cantiga ecoa frases de uma narrativa do Outro, reveladora de


memórias sociais, expectativas históricas e principalmente de
processos coletivos de cognição, não redutíveis a representações nem
totalizáveis por sujeitos individuais.

O ponto fulcral é que a luminosidade da Jurema (inclusive a


alucinose que suscita) afirma-se não ser da ordem da ilusão. Para os
que a cultuam, impõe-se a tarefa de ter coragem para ouvir a sua
verdade e se aprofundar no próprio ser: A Jurema não engana ninguém.

A declaração, mais do que descreve, firma e confirma o seu valor e


seu uso ritual. O estatuto dos enunciados que a revelam apresenta-se
mais propriamente performativo do que descritivo. Em conformidade
com esse modo de acontecer do fenômeno religioso, juízos de
realidade extemporâneos não podem pôr entre parênteses as
implicações hermenêuticas, éticas e metodológicas da decisão de dar
crédito ou não à sua narrativa.

O acesso aos recônditos da Jurema depende de um trabalho de


interpretação: Oh! Jurema Preta, senhora rainha. Dona da cidade, mas
a chave é minha: há "chaves" para conhecer os seus segredos. O seu
culto apela a um empenho e competência hermenêuticos, ritualmente
reafirmados. Alteridade enunciante, é senhora dos seus domínios. O
segredo guarda-se e narra-se a quem quer.

Mas os seus desígnios não são arbitrários. Afirmam-se obedientes


ao "superior": Na sua aldeia,lá na Jurema, não se faz nada sem ordem
suprema. O seu culto ordena-se pelo mais elevado. É profundo: Tempo
disse, Tempo dirá, que é funda a raiz da Jurema.

O tempo, sacralizado, afirma-se como perene, garante o culto de


abissais raízes de árvores genealógicas indígenas e de estados
alterados de consciência.

Comungá-la implica em procedimentos precisos e rigorosos,


tanto "técnica" como eticamente: Oi lá nas matas, lá na Jurema, é
uma lei severa, é uma lei sem pena.
Selva, a Jurema é uma lei sem pena, inflexível. Mas, paradoxalmente,
piedosa. É uma cabocla de pena, o que permite sublinhar um traço
notável da significância inconsciente, social e psíquica: os
elementos significantes compõem cenas, presenças, mas não objetivam
conteúdos. Podem ter usos que, do ponto de vista da ficção
representativa, parecem contraditórios.

A Jurema é um clube para caboclos, uma ordem para os que se vestem


de pena (se recobrem de misericórdia, conforme o implícito contexto
significante da língua portuguesa, independentemente da consciência
dos informantes poder ou não resgatá-lo). A Jurema convida e
preside: Se ele é caboclo e se veste de pena, venha ver as forças
que tem a Jurema.

Ao vestir-se de pena, a Jurema (também) é alada (elevada) e colorida


(luminosa). Note-se o cunho sensorial e imediato das metáforas,
imagens para levar ao pé do corpo, sem distinção entre coisas e
significância. São quase tácteis e veiculam valores. Oferecem-se
literalmente ao "olhar".

Os caboclos, físicos ou metafísicos, acodem performativamente ao


chamado para "ver" - implícita alusão à "luminosidade" (alucinose)
da Jurema. Ao contemplá-la, Outro sujeito, são capturados pela sua
luz, vivenciada como olhar: como é brilhante o seu olhar.

A sua associação a rios é uma constante - Jurema sentada na beira de


um rio - e os pontos insistem na temática do "ver": Eu vi a Cabocla
Jurema se banhando na cachoeira. Mostra-se nas águas. Revela-se em
águas que vêm do alto.

Como essa linguagem não é representativa, apenas ilusoriamente se


poderia confundir esse tipo de "altura" com uma localização espacial
(vide Corbin, 1971) ou um acidente geográfico: Eu venho das águas
claras, eu venho do alto mar. Eu venho de muito longe, do tronco do
juremal. A Jurema é grandiosa. Acima de qualquer realismo, a sua
raiz sertaneja implanta-se em alto mar. As águas claras, do
longínquo alto mar, circulam pelo tronco do juremal.

Além de rios e cachoeiras, literalmente, há mar no juremar: A marola


lá do mar, aí vem rolando, e a cabocla Jurema é quem vem chegando. A
par da sonoridade, também a cor das matas pode ligar a cabocla ao
mar: O seu penacho é verde, é da cor do mar. Longe de qualquer
veleidade de representação objetiva, pura significância ao pé do ver.

No caminho da significância, a liquidez da Jurema é múltipla, não se


resumindo à seiva e a seus preparados. Tentar explicá-lo apenas por
a planta manter-se viçosa no meio da seca é perseverar na linguagem
do erro e do acerto representativo. Não há realismo. A moça linda,
índia, pode ser sereia: Cabocla da juremeira, sereia em alto mar.

Na mesma linha, a luminosidade marítima pode literalmente


consubstanciar-se em estrelas ...: Sou a Cabocla Jurema, sou a
Estrela do Mar. A polissemia da expressão navega por todas as
combinações de sentidos, do animal de mesmo nome até à estrela que
orna a cabeça da mais comum imagem umbandista de Iemanjá.

O brilho estelar em pauta espraia-se pelo firmamento: O seu manto é


de estrelas, ó Jurema, sete estrelas "lhe" alumiam, ó Jurema.9 A
Jurema reveste-se de luz e reverbera entre "alto" e "mar": No céu
tem estrelas, no mar também tem, salve a estrela do céu, salve a
Estrela do Mar.

Mais uma vez, goram-se as expectativas de encontrar qualquer laivo


de realismo. A estrela não se prende ao firmamento e reside Lá no
juremal, onde canta o rouxinol, onde mora a estrela guia, onde tem
raiar do sol.

É impossível reduzi-la. Alcança-se em imagens, mas em realidade não


se captura. Está além da imaginação: Ela vem de longe, de longe sem
imaginar. No capacete três penas, no braço uma cobra coral. Ela é
Jurema, cabocla primeira, rainha do meu jacutá.

Posto que é impossível representá-la, há liberdade para imaginá-la


em forma humana, o que permite que a pluralidade dos seus sentidos
se dirija a todos os sentidos humanos. Configura-se feminina e bela.
Enuncia-se mulher, não obstante planta: Que moça linda é a cabocla
Jurema. A sua atração é envolvente e (quase) sensorial. Mostra-se
humana e sedutora.Assenhoreia-se dos fiéis prendendo o olhar. Chama
a atenção. Cativa.

A antropomorfose permite atingir múltiplas facetas do praticante. O


encanto pelo espírito pode ser também sensual. Desta forma, o muito
estranho, Outro longínquo, mostra-se à medida humana. Os diversos
modos como a sua ação possa se sentir vão tender a se configurar em
vestes e enfeites de mulher: A Jurema é muito linda, com seu
capacete de pena.

Como o significante "pena" é comumente utilizado como metonímia de


caboclo, um capacete de penas também significa que a Jurema carrega
na sua cabeça muitos índios (as suas "luzes", os
seus "falangeiros"), o que faz sentido na organização do ritual, já
que a ela é atribuído o papel de aconselhar e orientar "entidades"
indígenas que incorporam nos terreiros.

Mas não é apenas na cabeça que a cabocla, linda, se veste de penas.


A roupa que revela o seu corpo de mulher tem a mesma consistência
plumária e luminosa: Mas como é linda a Cabocla Jurema, com seu
saiote de pena. No âmbito dessa linguagem, tão superlativamente
significativa para além de abstrações, não é possível separar beleza
de moralidade e de sensualidade. A sedução da Jurema encanta todas
as esferas da sensibilidade.

O seu conhecimento formula-se em muitos sentidos. Compõe-se de


palavras e de luz, de cantos e de imagens. A "ciência" da Jurema é
inerentemente bela. Dessa forma, reforça-se o seu poder de atração
sobre o humano. Superlativamente atraente, é a própria soberania
sobre o belo: É rainha da beleza.

Imagens como "penas" presentificam-na metonimicamente e instam


ao "ver", ao imaginar, ao concentrar-se na sua "luminosidade". Tal
contato e possessão estabelecem-se (fora da esfera intelectual e
proposicional) como uma comoção emocional e estética, inefável, que,
na linguagem do culto, é aludida na forma de profusas referências à
beleza da Jurema: Eu tive um sonho lá nas matas da Jurema, nunca vi
tanta beleza, cidade do juremal.

A Jurema é beleza e consciência atraentes. Interpela por meio de


significâncias sinestésico-sensoriais. Luz em forma de planta (o que
alude à materialidade do seu potencial alucinógeno), a sua cabeça é
comparada ao Sol: Que lindo capacete de pena, que tem a Cabocla
Jurema. Ele é tão lindo como a luz do Sol. É interpretada como
manifestação vegetal da luminosidade solar: A coroa dela é um
girassol.

O Outro é outra planta. A coroa da rainha é um girassol. A sensível


alusão à superlativa e unificante luminosidade solar é patente. É
sentida como sol em forma de planta, sem nenhuma necessidade de
esgotar o sentido de sol numa coleção de significados.

A proliferação das suas fitofanias pode ampliar-se conforme a


necessidade ritual e a liberdade poética: Jurema vem e traz as
rosas, Jandira é quem traz o jasmim. As duas na umbanda são irmãs,
minhas caboclas tenham pena de mim.

Pode igualmente dizer-se "ao lado" de uma outra importante presença


do sagrado em forma de planta na cultura religiosa brasileira: Ela é
Jurema, Aroeira, ela vem das matas, Aroeira, ela desce o rio,
Aroeira, e sua flecha mata, Aroeira.

Associa-se a outras plantas sagradas, escorre no rio, é certeira. A


sua polifonia imaginal pode expressar-se numa rica e multifacetada
evocação da sua presença. A objetividade representativa dissolve-se
em composição alusiva a algo absolutamente insubstantivo.

Inúmeras vezes, de planta específica, alarga-se ao conjunto da mata,


floresta, pois, na linguagem dos "encantados", os lugares de
encantamento, as suas "moradas", participam do seu ser, e Ela mora
na floresta.

Na linguagem do culto, floresta (ou mata, ou macaia) opõe-se à


aldeia. E aldeia tanto pode significar a comunidade dos caboclos, o
lugar espiritual dessas "entidades", como referir-se à comunidade do
terreiro. Portanto, é cabível interpretar floresta como alteridade
relativamente ao propriamente humano, apresente-se este física ou
metafisicamente ("médium" ou "entidade"). A Jurema é Outro,
longínquo e misterioso. É a própria mata virgem - Estrela d'Alva é
minha guia, alumeia sem parar (ou corre o mundo sem parar, uma
variante). Ilumine a mata virgem, cidade do juremal (ou cidade do
ajucá, segundo outra variante) - e a floresta é uma cidade de seres
espirituais.

Não há dificuldade em assimilar a mata aos mistérios e desafios do


não familiar, não humanizado, até porque a mitologia dos orixás
também ritualmente permite essas aproximações. Mas, o culto da
Jurema, celebrado com o corpo inteiro, não permite a redução da mata
a uma alegoria do desconhecido e da inconsciência: No centro da mata
virgem eu plantei raiz. Nasceu flores. O praticante, ao implantar-se
no centro da mata virgem (no âmago da Jurema), fazendo-se outro,
índio, colhe flores: O perfume da flor da Juremeira se espalha por
todo o juremal. A benção dos caboclos de Aruanda, prá salvar filhos
de Umbanda, é a mandado de Oxalá.10 Atendendo à ordem divina, o
perfume da juremeira se espalha por todo o juremal. É a bênção dos
caboclos de Aruanda. Os caboclos que se incorporam, portanto,
depreendem-se da flor da juremeira. Acontecem em imagens poéticas
que se presentificam sensorialmente e perfumam a consciência. Vêm da
mata: Ê ê ê boca da mata, deixa esses caboclos passar, boca da mata.

Todas as cenas performáticas do transe podem apresentar-se


antropomorficamente. Os portões da mata são a sua boca. A boca de
uma mulher que profere sentidos enunciáveis por caboclos: Quando o
caboclo bate a folha da jurema e preto velho traz arruda e guiné,
eles vêm trabalhar na lei de umbanda.11

Trabalhar na lei de umbanda, para um caboclo, é bater folha da


Jurema. Aprofundar essa estrofe implicaria num mergulho nos
significados rituais associados ao uso ritual do vegetal. Limitando-
nos ao esclarecimento das ressonâncias antropomórficas de "folha",
cumpre dizer que, no âmbito dessa "leitura" presentificante, é
importante não esquecer que cultualmente a Jurema é uma "árvore de
ciência" e que as suas folhas podem ser lidas como páginas de um
livro.

As folhas também podem ser os médiuns, que os caboclos vão apanhando


no chão: O vento está soprando na mata, jogando as folhas da Jurema
no chão. O vento está soprando, as folhas estão caindo, caboclos vão
apanhando, é lá no chão. Assumida como mãe, é da Jurema que se
desprendem as vidas humanas, jogadas na terra, mas recolhidas e
cuidadas pelos caboclos que, para tanto, dependem de autorização
superior: Ele é caboclo em qualquer lugar, ele não apanha a folha da
Jurema sem ordem suprema de Pai Oxalá. A par de uma referência ao
ser caboclo como obediente a Deus, nesse ponto percebe-se claramente
a fusão entre o metafórico e o literal na linguagem do transe, pois
as folhas vegetais são efetivamente colhidas segundo prescrições
religiosas.

Numa outra versão fica claro que as folhas (também) são os médiuns.
A Jurema aparece como origem e os caboclos surgem como mediadores de
re-ligação: As folhas da Jurema o vento vai levando, o vento vai
levando, e os caboclos vão apanhando. A incorporação é significada
como tempestade, sopro (o que permite dar uma imagem dos movimentos
convulsivos que habitualmente acompanham a entrada e saída do
transe). Os movimentos corporais, os balanços da incorporação,
parecem o sacudimento de uma árvore pela ventania. Mais uma vez, não
importam os sentidos inscritos na ordem objetiva do mundo, mas o
limiar de sentido inscrito na junção entre corpo e imaginação.

Não obstante a total falta de realismo (e talvez por isso mesmo),


cenas descritoras da vinda do Outro em direção ao "eu" possuem uma
notável eficácia imaginal enquanto fatores indutores do transe.Em
vez de concentração e invocação por parte dos cultuantes, é como se
o Outro se concentrasse no local e tempo do ritual: Sua flecha caiu
serena ó Jurema, dentro deste congá. Essa inversão especular é um
traço bastante característico dessa linguagem.

A flecha da Jurema pode ser uma metonímia da sua presença. Como


todos os adereços das "entidades", alude a uma parte da
funcionalidade do ser Jurema que, mais do que representá-la, permite
compreender estético-sensorialmente as ações e interpelações do
Outro, personificado em floresta e mulher. "Serve" para defesa e
para a caça. Com ela, a "índia" protege e alimenta os seus filhos.
Também "caça" os seus fiéis. Mas a sua flecha cai serena. A
Jurema "é" paz. Comporta serenidade.2

Como sói acontecer com muitos pontos, este admite variações: Sua
flecha caiu certeira, Jurema, dentro desse congá. Nessa estrofe
sublinha-se a precisão da Jurema e reitera-se o seu acerto.
Performativamente, a invocação inclui um apelo, um desejo de
eficiência e a determinação de uma resolução eficaz. Outra variante
multiplica o número de flechas: Suas flechas caíram serenas, morena,
dentro deste congá.

Em todos os casos, sucede-se uma narrativa incompatível com o


achatamento proposicional. Encontra-se, mais do que uma
representação falsa de um estado de coisas (preconceito que
implicaria em reduzir o discurso do transe à ilusão), um apelo
performático a uma alteridade alusiva ao próprio ser e proposta como
sujeito enunciante de uma narrativa.

A serenidade que se supõe às flechas que atingem o espaço ritual


significa muito mais um apelo a uma incorporação tranqüila - uma vez
que a flecha é metonímia da ação que é ser Jurema enquanto toca aos
circunstantes - do que propriamente descreve o momento de entrada em
transe, freqüentemente quase convulsivo - o que se simboliza e se
reconhece em pontos como A Cabocla Jurema quando vem na aldeia faz a
mata balançar.

Pontos que, a par de explicitarem o espelhamento antropomórfico da


mata no corpo, abrem caminho à integração significativa desses
polissêmicos balanços, por vezes veementes, para não
dizer "violentos": Olha o tombo da Jurema, no balanço que ela dá.

A Jurema sacode o corpo e balança existências, qual "mãe" que


prepara os filhos para a vida: Nas matas que ela domina, não deixa
os filhos tombar. Aqueles que a obedecem aprendem a não cair.
Permanecem atentos. Concentrados: No centro da mata virgem, uma
linda cabocla eu vi. Com seu saiote de penas, é a Jurema filha de
Tupi.

A "índia" filia-se ao ancestral oprimido. Reabilita-o e dá-lhe


feição metafísica. Institui-o como antepassado. A letra mostra-a
como forma de reconhecimento e admissão do Outro aborígene, bem como
de filiação a Outro ameríndio.

O transe é uma forma de aproximação ao distante e de encontro com o


estranho familiar: Os portões da mata eu já mandei abrir. Quem tem
sangue de caboclo, está na hora de sair. Como cidade, a mata tem
portões. A saída dos caboclos, a abertura dos portões, significa a
permissão para a entrada na consciência dos médiuns (ou dito de
outro modo, a autorização para a alteração da sua consciência). É
preciso ter sangue de caboclo, ser seu "filho".

No final de uma gira, na hora da desincorporação, o eu retoma do


outro o seu lugar, a consciência volta ao normal: Caboclo vai
embora, prá cidade da Jurema. Os caboclos retornam para o "lugar" de
onde vieram e esse pode ser um momento de reafirmar a ambigüidade
entre "eu" e "outro", que se tem evidenciado nuclear no processo do
transe - Vou prá Jurema, quem vai embora sou eu - e que é típica de
pontos de incorporação.

Eu venho de muito longe, do tronco do juremal. Quem vem? Um caboclo


ou "eu"? Outro, ou o sujeito "dissociado"?

A lonjura do tronco igualmente ecoa memórias sociais inconscientes


vinculadas à vastidão de raízes indígenas, donde brotam e onde se
implicam os ancestrais "falangeiros da Jurema". Afirma-se uma
filiação a um tronco genealógico, presente e atual, uma
identificação que também é uma adoção pelo Outro, bem como um
compromisso em escutar as raízes: Ele jurou e tornou a jurar, de
ouvir os conselhos que a Jurema lhe dá. Não apenas ontem, mas
sempre: Ele jurou e sempre jurará, pelos conselhos que a Jurema vai
lhe dar.

Consciência alterada, abissal, a Jurema é conselheira. Ela fornece


instruções aos que com ela operam. Para isso a comungam nos rituais
mais próximos das raízes, ou lhe prestam atenção, mesmo sem o
recurso à bebida. Ela transgride os limites das várias imagens que a
tentam conter. Na verdade é ela que, conforme o conceito que dela se
tenha, revela quem são os que a "representam": bioquímicos, índios,
catimbozeiros, missionários, botânicos, umbandistas, sociólogos,
psiquiatras etc.

A sua docilidade às variadas formas de interpretá-la evidencia que


escorre por entre conceituações e escapa às tentativas de
objetivação. Acontece como Outro enunciante que, ao depor-se, situa
os seus interlocutores. Narra-se de maneira complexa e furtiva a
tentativas de definição. Renunciando-se ao viés psicologista da
Psicanálise, a Jurema pode e deve ser tratada como Outro
interpelante.

Dar ouvidos ao Outro não significa afiançá-lo existente, nem tomar


partido contrário à sua existência. Aliás, tranqüilamente não
realistas, as suas enunciações mostram-na despreocupada quanto a
decisões metafísicas sobre o estatuto objetivo da sua realidade.

Presentifica-se poeticamente, certeira e serenamente, conforme


razões não domesticáveis cognitivamente.

O simbolismo da planta deriva dos galhos vegetais para significados


na língua. A Jurema, árvore e mulher, promove um estranhamento do
humano e uma humanizante natureza. As suas folhas, flores, troncos e
raízes deslizam polissemicamente, irrealizam-se, e culminam em
processos no âmbito dos quais a planta pode ser signo de um símbolo
e o símbolo presentificar verdadeiramente a planta. Não faz sentido
a dicotomia entre coisa e signo.

Autor: José Francisco Miguel Henriques Bairrão - Faculdade de


Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP

MISTÉRIOS DO CATIMBÓ

O QUE SIGNIFICA "CATIMBÓ"

Não existe presente sem passado.

E como uma ponte, me sinto unindo tempos, agregando conhecimentos,


descortinando mistérios, germinando adormecidas sementes,
reverenciando memórias, reencontrando antepassados, redescobrindo
os "saberes" de nossos ancestrais, vislumbrando assim um sentimento
íntegro, numa caminhada que não esconde suas raízes, nem renega suas
origens.

Hoje sou um grito de alerta, num sussurro incessante para que na


busca do novo, na conquista da maturidade espiritual, na renovação
dos conceitos e na extinção dos pré conceitos, o "velho" na sua
sabedoria plena, na quietude de quem faz da temperança uma bandeira
divina, não perca seu valor, não seja usurpado em suas lembranças de
consciências passadas e reforce que é no nosso passado que estão os
nossos primeiros passos, os nossos primeiros sonhos e nossas
primeiras realizações amparados por nossos amados, abnegados e
amorosos Guias e Mentores de sempre.

Que na pureza dessa força nativa, possamos fazer resplandecer a


magnitude da Tradição de Jurema, firmada nos caminhos do Catimbó,
que por definição, mais popular que culta recebe conforme a região
um significado diferente.

E será sobre o significado da palavra CATIMBÓ que hoje nos deteremos.

Não existem expressões etimologicamente que definam o que


seja "CATIMBÓ", no entanto, encontramos entre as várias referências
a palavra CATIMBAU registrada por Rodolfo Garcia, que diz
ser: "Prática de feitiçaria ou espiritismo grosseiro"; no moderno
Houaiss encontramos a referência de um vocábulo datado de 1727 –
CATIMBAO – provavelmente de origem hispano-americana que significa -
homem ridiculamente vestido – o que confirma notas anteriores no
Dicionário de Chilenismos: neste mesmo dicionário se faz menção de
ser uma palavra de origem banto, vinda nos navios negreiros.
Encontramos ainda sobre o vocábulo CATIMBAO como sendo uma expressão
de cáatin-imbai, que quer dizer folha, mato, catinga ruim, ou ainda
cachimbo de tubo comprido.

.No Dicionário Português e Brasiliense (1975) há uma alusão tendo


como acepção da palavra o mesmo que "sarro" (resíduo de fumo que
adere aos tubos dos cachimbos e piteiras)

Porém é em Pernambuco que vamos encontrar mais precisamente e aí


entra o que chamamos de regionalismos, ou seja, expressões usadas em
determinadas áreas regionais de nosso país, a exposição e
significação deste vocábulo, que irá de PIRA CATIMBAÒ, peixe de água
doce à CATIMBAU-CATIMBÒ, prática de feitiçaria, lugar onde se
pratica a feitiçaria, mandinga.É também de Pernambuco a referência
do CATIMBÓ como sendo uma à dança folclórica com ritmo semelhante
ao Coco Nordestino. E finalmente a acepção indígena que nos diz: KA
A = folhagem, erva, mato e TIMBO (Ó) = vegetal com propriedades
entorpecentes, utilizada para prostrar os peixes tornando assim mais
fácil a pesca..

Em verdade, o Catimbó, sendo o cachimbo ou a erva que entorpece e


todos os seus mais diversos significados, fazem sentido quando nos
colocamos como observadores do Culto e vemos que sem Erva Sagrada,
sem cachimbo, não há Catimbó, e que sem a fumaçada e sem o Grande
Espírito da Jurema Preta não há Culto.

Assim sendo, hoje ao tentarmos definir o que seja o CATIMBÓ, neste


momento histórico de nossa caminhada, devemos sempre nos reportar ao
Culto, cuja prática abriga elementos não oficiais, não ritualísticos
das religiões negras, americanas e européias, onde a utilização da
bebida sagrada (erva mãe), a marca (cachimbo), as rezas fortes, os
linhos e os m'baracás são instrumentos de poder, tanto para a benção
como para a maldição, tanto para a peste como para a cura, tanto
para o bem como para o mal.

A escolha a fazer dentro deste caminho, ao nosso bom senso, ao nosso


caráter, à nossa ética, ao nosso coração pertence.

Não definamos o Catimbó como sendo uma prática para o mal, para a
destruição ou a negatividade infinita. Em tudo, para haver o
equilíbrio há dualidade e no Catimbó não é diferente, porém quando o
amor sobrepuja todas as iniqüidades, podemos reconhecer nos
mistérios da Tradição de Jurema a força e poder que cura, que eleva,
que ilumina, que promove a ascensão individual ou coletiva.

Que possamos aprender para não denegrir.

Que possamos compreender para não julgar.

Que possamos conviver para melhor sentir.

Que Mãe Jurema cubra-nos de Graças e Bênçãos!!!

Catimbó - Rezas e Orações

Catimbó

Rezas e Orações
Assim como o Catimbó agrega magias e conhecimentos de várias raças,
esta página também tem a função de reunir Rezas, Orações, Preces e
Mantras das mais diversas etnias, das mais diferentes religiões,
pois acreditamos que uma oração ou uma reza de onde se origina a
benzedura, um mantra ou uma prece ser uma fonte de magia poderosa.
Simples em sua realização, e célere em suas respostas.

Que todos sejam bem vindos à este universo maravilhoso, onde cada
frase é uma BENÇÃO, cada oração é uma GRAÇA!

Ação de Graças

Prece

Cristo Amigo

Invocação ao Espírito Santo

Mensagem da Paz

Nada te Perturbe

Oração de São Francisco

Prece ao Mestre Malunguinho


Oração para as Horas Abertas

Oração - Salmo 103

Prece de Silvia

Prece de Caritas

Prece ao Beato Antônio de Categeró


Prece ao Criador

Prece de Ismael

Pai Nosso Aramaico

AÇÃO DE GRAÇAS

Obrigado Senhor, graça da clareza.


Que este privilégio gere em nós a vontade crescente de partilhar a
própria vida!
Dar mesmo sem receber,
Perdoar mesmo sem ser perdoado,
Amar mesmo sem ser amado,
Compreender mesmo sem ser compreendido.
Pois Tu, Pai de Amor, És a fonte.
Alimentas e supres todas as nossas necessidades.
E nos capacitas ao trabalho que há de ser feito.
Dá-nos este espírito de generosidade!
Que possamos perceber a necessidade e a ação curativa do Amor.
Que sintamos Seu Amor e sua Orientação,
A fim de nos sentirmos acompanhados e amados.
Que em nossos corações não haja dúvida,
Mas confiança em Ti e o desejo de enxergar
E ouvir TUDO de Ti oculto nas situações e nas pessoas.
Amém.

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PRECE

BENDITA SEJA A LUZ DO DIA

BENDITA SEJA A GUIA

BENDITO SEJA O FILHO DE DEUS E A VIRGEM MARIA,

ASSIM COMO DEUS SEPAROU A NOITE DO DIA

SEPARE A MINHA ALMA DA MÁ COMPANHIA

E O MEU CORPO DA FEITIÇARIA

PELO PODER DE DEUS E DA VIRGEM MARIA.

AMÉM !!!

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CRISTO AMIGO
A você amigo
Que caminhas por vezes solitário
Julgando-se perdido,
Saiba que estou contigo.
A você amigo,
Que muitas vezes vagas sem rumo
Saiba, Estou te seguindo !
A você alma, já liberta das ganâncias de um mundo
Pressionado pelas trevas,
E que sonhas em transformá-lo em paraíso,
Trabalha para isso. Sou o Teu guia !
Quando despertares e desejares a Luz que te dará Paz,
Creia em Mim, Eu te conduzirei !
Ao saíres dos momentos de meditação
Creia, Eu estou do seu lado !
Eu que te sondo, auscultando os teus anseios mais íntimos.
Dando-te a certeza da Minha Presença,
Ergue-te sempre meu amigo !
Levanta a tua fronte. Não esmoreças.
Ofereça-te ao Pai !
Busca o lenitivo que certamente chegará,
Aceita o cálice que por vezes sorves.
É o resgate a que te sujeitastes
Estarei sempre a teu lado; ajudar-te-ei
Coragem irmão
Conte comigo
Eu Sou, o teu amigo de todas as horas.

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Invocação ao Espírito Santo

Espírito Santo, que rezas silenciosamente no profundo do meu ser,


toma-me transparente e pequeno, para ser capaz de entrar no silêncio
de tua oração.
Espírito Santo, que pairas silenciosamente sobre as águas desde o
início da criação, purifica-me na força da água do meu batismo, para
que eu seja capaz de viver no silêncio da paz.

Espírito Santo, que falas silenciosamente na harmonia do Universo,


dá-me a capacidade de acolher meu irmão, em meu silêncio interior.

Espírito Santo, presente na sabedoria silenciosa das estrelas, abre


meu coração à contemplação, para que possa eu, comungar os apelos de
Deus.

Espírito Santo, tu em quem o amor é presente, vem traduzir em meu


coração, o teu amor pela oração. Dá-me a coragem de interromper
minhas atividades, para trazê-las a ti na oração.

Ensina-me a rezar, a dialogar com o Senhor, ou a parar diante dele,


silenciosamente.

Sustenta em minha prece o movimento do espírito e do coração,


arrastando-me para Deus.

Na impossibilidade de rezar, ajuda-me a manter a oferenda da minha


pobreza.

Ensina-me a sair de mim e a rezar pelos outros, pela humanidade


inteira..

Espírito Santo, tu que transformas tantas personalidades, vem,


converte-me para Deus.

Amém.

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MENSAGEM DE PAZ
JOÃO PAULO II

Dialogar é descobrir.

Quanto mais avançarmos na descoberta dos outros, tanto mais


substituiremos as tensões por laços de paz.

Pelo diálogo, aprenderemos a respeitar a pessoa humana, seus


valores, sua cultura, sua autonomia legítima, sua autodeterminação.

Olhar para além de nós mesmos, a fim de compreender e apoiar o que


há de bom nos outros; contribuir para o desenvolvimento e
crescimento justo; transformar a solidariedade e o diálogo em
características permanentes do mundo em que vivemos.

A paz é um valor sem fronteiras!

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NADA TE PERTURBE

Nada te perturbe

Nada te espante

Tudo passa,

Só Deus não muda.

A paciência
Tudo alcança

Quem tem a Deus,

Nada lhe falta.

Só Deus basta.

Teresa de Ávila (1515 - 1582)

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Oração de São Francisco

Senhor fazei-me instrumento de vossa paz

Onde houver ódio que eu leve o amor

Onde houver ofensa que eu leve o perdão

Onde houver discórdia que eu leve a união

Onde houver dúvida que eu leve a fé

Onde houver erro que eu leve a verdade

Onde houver desespero que eu leve a esperança

Onde houver tristeza que eu leve a alegria

Onde houver trevas que eu leve a luz

Oh! Mestre, fazei com que eu procure mais consolar do que ser
consolado, compreender do que ser compreendido, amar do que ser
amado, pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e
é morrendo que se vive para a vida eterna.

Amém.

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PRECE AO MESTRE MALUNGUINHO

Mestre Malunguinho,

Tu que és o dono da chave que abre os caminhos

e os portais do reino,

eu te peço :

abra meus caminhos, ajuda-me a caminhar .

Eu te darei uma vela de cera, pedindo a Deus que o ajude também em


sua caminhada.

Amém.

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ORAÇÕES PARA AS HORAS ABERTAS

Para o meio-dia

Ó Virgem dos céus sagrados


Mãe do nosso Redentor
Que entre as mulheres tens a palma,
Trazei alegria à minha alma
Que geme cheia de dor;
E vem depor nos meus lábios
Palavras de puro amor.
Em nome de Deus dos mundos
E, também do Filho amado
Onde existe o sumo bem,
Seja para sempre louvado
nesta hora bendita.
Amém.

Para as Trindades

A Santíssima Trindade
Me acompanhe toda a vida,
sempre ela me dê guarida,
De mim tenha piedade;
O Pai eterno me ajude,
O filho a bênção me lance,
O Espírito Santo me alcance
Proteção, honra e virtude;
Nunca a soberba me inveje,
Em vez do mal faça o bem,
A Santíssima Trindade,
Me acompanhe sempre.
Amém.

Para a meia-noite

Ó anjo da minha guarda,


Nesta hora de terror,
Me livre das más visões
Do diabo aterrador;
Deus me ponha a alma em guarda
dos perigos da tentação,
De mim aparte os maus sonhos
E opressões do coração:
Ó anjo da minha guarda,
Por mim pede à Virgem-Mãe
Que me preserve dos perigos
Enquanto eu for vivo.
Amém.

topo

10

Oração

SALMO 103

"Bendize, o minha alma, o Senhor!

Senhor meu Deus, vós sois imensamente grande!


De majestade e esplendor vos revestis.

Fundastes a terra em bases sólidas

Que são eternamente inabaláveis.

Vós a cobristes com o manto do oceano,

As águas ultrapassavam as montanhas.

Mas à vossa ameaça elas se afastaram,

Ao estrondo de vosso trovão estremeceram.

Elevaram-se as montanhas, sulcaram-se os vales

Nos lugares que vós lhes destinastes.

Estabelecestes os limites, que não hão do ultrapassar,

Para que não mais tornem a cobrir a terra.

Mandastes as fontes correrem em riachos,

Que serpeiam por entre os montes.

Ó Senhor, quão variadas são as vossas obras!

Feitas, todas, com sabedoria,

A terra está cheia de vossas criaturas.

Ao Senhor, glória eterna.

Alegre-se o Senhor em suas obras! "

(Salmo 103,1.5-10.24.31)
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PRECE DE SILVIA

Jesus, essência que fortalece os fracos,

Fortalecei todos nós.

Sois o astro rutilante de promissão que guia todos os seres.

Derrama sobre nós a aura do teu amor divinizado,

Para que sejamos fortes em toda a caminhada de nossa vida.

Insufla em nossos corações o respeito que te devemos.

Ilumina com tua sabedoria augusta, os nossos passos vacilantes na


vereda do bem, do juízo e da justiça.

Livrai-nos daqueles que nos possam induzir ao erro, ao vício e a


perdição.

Dá-nos força Jesus para seguirmos os teus preceitos divinos.

Unge os nossos espíritos divino amigo, com o bálsamo do teu afeto, e


derrama sobre o mundo, transformado em eflúvios siderais a tua
bondade bendita dos céus.

Guarda na Urna de Marfim de Excelcitude Máxima , as nossas


prerrogativas.

Livra os nossos lares das misérias terrenas, e, derrama em tantos


cérebros escusos todo manancial dessa prece.

Amém
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PRECE DE CÁRITAS

Deus, nosso Pai, que sois todo poder e bondade, dai a força aquele
que passa pela provação, dai a luz aquele que procura a verdade,
ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.

Deus! Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao


doente o repouso.

Pai! Daí ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade, à


criança o guia, ao órfão o pai.

Senhor! Que vossa bondade se estenda sobre tudo que criastes.

Piedade Senhor, para aqueles que vos não conhecem, esperança para
aqueles que sofrem.

Que vossa bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por


toda a parte a paz, a esperança e a fé.

Deus! Um raio, uma faísca de vosso amor pode abrasar a Terra, deixai-
nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita, e todas as
lágrimas secarão, todas as dores acalmar-se-ão.

Um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de


reconhecimento e de amor.

Como Moisés sobre a montanha, nós vos esperamos com os braços


abertos, ó bondade, ó beleza, ó perfeição!

E queremos de alguma sorte forçar vossa misericórdia.

Deus! Daí-nos a força de ajudar o progresso, afim de subirmos até


vós, daí-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde
se deve refletir a vossa imagem.
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Prece ao Beato Antônio de Categeró - (14 de março)


Oh, milagroso Santo Antônio de Categeró,
Valei-me nesta hora de aflição,
Preciso da Vossa ajuda para vencer as lutas do dia a dia e as forças
malignas que procuram tirar-me a paz.
Libertai-me das doenças e de todas as bactérias infecciosas que
querem contaminar o meu corpo colocando-me enfermidades.
Oh, Santo Antônio de Categeró, Estendei as Vossas mãos agora mesmo
sobre mim, livrando-me dos desastres, da inveja e todas as obras
malignas.
Oh, Santo Antônio de categeró, Iluminai os meus passos, a fim de
que, onde quer que eu vá, não encontre empecilhos,
E guiado pela Vossa luz me desvie de todas as armadilhas preparadas
pelos inimigos.
Oh, Santo Antônio de Categeró, Abençoai a minha família, o meu pão e
a minha casa, cobrindo-nos com o véu da prosperidade, do amor, da
saúde e da felicidade.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo, Amém.

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PRECE AO CRIADOR

Meu Deus, permiti que os bons espíritos me assistam, me auxiliem nas


aflições da vida e me arranquem da dúvida.

Fazei, Senhor que, por Vossa Misericórdia, eles me inspirem a fé, o


amor e a caridade; que sejam para mim um apoio, uma esperança e uma
prova de Vossa paternal solicitude.

Permite, enfim que eu encontre sempre junto deles, salutares


confortos e a necessária luz para que as forças não me faltem nas
provas da vida e, resistindo às sugestões do mal, meus passos se
firmem na prática do bem e da caridade e assim eu possa e saiba amar-
vos e ao próximo como a mim mesmo. Amém
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PRECE DE ISMAEL

Jesus, bom e amado mestre,

Sustenta teus humildes filhos pecadores na luta deste mundo.

Anjo bendito do Senhor, abre sobre nós tuas brancas asas e abriga-
nos do mal, eleva os nossos espíritos a majestade do teu reino.
Infunde em nossos corações a luta de teu imenso amor.

Jesus pelas tua sagrada paixão, por teus mistérios na cruz, dá


aquele que se acha preso ao fardo pesado da matéria, a orientação
perfeita, única no caminho da virtude pela qual podemos te encontrar.

Dai paz e misericórdia aos nossos inimigos, e, recebe a prece do


último dos teus servos.

Jesus abençoada estrela, farol das imortais falanges, lava-nos de


todas as culpas, leva-nos para junto de teu seio, santuário bendito
de todos os amores.

Se o mundo com seus erros, paixões e ódios, alastram os nossos


horizontes com as trevas do pecado, rebrilha mais Jesus divino, para
que apoiados no teu santo evangelho, possamos vencer as
escabrosidades do carreiro e chegar as moradas de teu reino.

Jesus, estrela farol dos pecadores e dos justos, recebe a nossa


prece pela humanidade inteira e por todos nós aqui reunidos.

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PAI - NOSSO ARAMAICO

(Está escrita em aramaico, numa pedra branca de mármore,


em Jerusalém, Palestina, no Monte das Oliveiras, na forma que era
invocada pelo Mestre Jesus..)

Pai-Mãe, respiração da Vida,


Fonte do som, Ação sem palavras, Criador do Cosmos!
Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós
Para que possamos torná-la útil.

Ajude-nos a seguir nosso caminho


Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor.
Nosso EU, no mesmo passo, possa estar com o Seu,
para que caminhemos com todas as outras criaturas.

Que o Seu e o nosso desejo, sejam um só, em toda a Luz,


assim como em todas as formas, em toda existência individual,
assim como em todas as comunidades.

Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós,


pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não permita que a superficialidade e a
aparência das coisas do mundo nos iluda,
E nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento.

Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento


de que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
a Canção que se renova de tempos em tempos
e que a tudo embeleza.
Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.

Zé Pelintra - Rei da noite e da malandragem

Autor desconhecido
Falemos dessa entidade que tem um dos comportamentos mais
interessantes que já conheci .

Antes de começar a discorrer sobre esse malandro incorrigível,


mulheren go, birrento, arruaceiro, mas de um coração enorme, é
preciso entender, toda entidade, tem uma história, uma cultura, pois
foi tão humano quanto nos quando encarnada, após o desencarne e a
conseqüente espiritualização, poderá ocorrer que sua manifestação
venha a se dar em outros centros regionais, diferentes do que consta
em sua biografia humana e assim quando manifestada, poderá ressaltar
outras culturas, não as de sua procedência humana .

Isso quer dizer que a mesma entidade poderá manifestar-se em lugares


diferentes, sem que isso implique em mistificação . Tal fato
acontece porque, pela necessidade do ingresso nas falanges
espirituais, a fim de prestar seu trabalho nesta nova roupagem, os
espíritos, a gora desencarnados, aproximam-se desta ou daquela
falange, por simpatia ou determinação superior, mas guardam
características bastante marcantes de suas existências materiais .

Zé Pelintra, tem como característica principal, a malandragem, o


amor pela noite . Tem uma grande atração pelas mulheres,
principalmente pelas prostitutas, mulheres da noite, além de outras
características que marcam a figura do malandro . Isso quer dizer
que em vários lugares de culturas e características regionais
completamente diferentes, sempre haverá um malandro .

O malandro de Pernambuco dança côco, xaxado, passa a noite inteira


no forró - no Rio de Janeiro ele vive na Lapa, gosta de samba e
passa suas noites na gafieira . Atitudes regionais bem diferentes,
mas que marcam exatamente a figura do malandro .

Seu Zé

José Gomes da Silva, nascido no interior de Pernambuco, era um negro


forte e ágil, grande jogador e bebedor, mulheren go e brigão .
Manejava uma faca como ninguém, e enfrentá-lo numa briga era o mesmo
que assinar o atestado de óbito .

Os policiais já sabiam do peri go que ele representava .


Dificilmente encaravam-no sozinhos, sempre em grupo e mesmo assim
não tinham a certeza de não saírem bastante prejudicados das
pendengas em que se envolviam .

Não era mal de coração, muito pelo contrário, era bom,


principalmente com as mulheres, as quais tratava como rainhas .

Sua vida era à noite, sua alegria as cartas, os dadinhos a bebida, a


farra, as mulheres e por que não, as brigas . Jogava para ganhar,
mas não gostava de enganar os incautos, estes sempre dispensava,
mandava-os embora, mesmo que precisasse dar uns cascudos neles .

Mas ao contrário, aos falsos espertos, os que se achavam mais


capazes no manuseio das cartas e dos dados, a estes enganava o
quanto podia e os considerava os verdadeiros otários .

Incentivava-os ao jo go, perdendo de propósito quando as apostas


ainda eram baixas e os limpando completamente ao final das
partidas . Isso bebendo Aguardente, Cerveja, Vermouth, e outros
alcoólicos que aparecessem .

Esta entidade andou pelo mundo, suas manifestações apresentam-se em


todos os cantos da terra .

No Rio de Janeiro aproximou-se do arquétipo do anti go malandro da


Lapa, contado em histórias, músicas e peças de teatro . Alguns
quando se manifestam se vestem a caráter . Terno e gravata brancos .
Mas a maioria gosta mesmo é de roupas leves, camisas de seda, e
justificam o gosto lembrando que a seda, a navalha não corta .

Bebem de tudo, da Cachaça ao Whisky, fumam na maioria das vezes


cigarros, mas utilizam também o charuto . São cordiais, alegres,
dançam a maior parte do tempo quando se apresentam, usam chapéus ao
estilo Panamá .

Podem se envolver com qualquer tipo de assunto e têm capacidade


espiritual bastante elevada para resolvê-los, podem curar,
desamarrar, desmanchar, como podem proteger e abrir caminhos . Têm
sempre grandes ami gos entre os que os vão visitar em suas sessões
ou festas .

Existem também as manifestações femininas da malandragem: Maria


Navalha é um bom exemplo . Manifesta-se como características
semelhantes aos malandros, dança, samba, bebe e fuma da mesma
maneira . Apesar do aspecto rude, demonstram sempre muita
feminilidade, são vaidosas, gostam de presentes bonitos, de flores,
principalmente as rosas vermelhas e vestem-se sempre muito bem .

Ainda que tratado muitas vezes como Exu, Zé Pelintra não é Exu .
Essa idéia existe porque quando não são homenageados em festas ou
sessões particulares, manifestam-se tranqüilamente nas sessões de
Exu e se parecem com eles . Há um ponto inclusive que lembra muito
essa amizade entre Exus e Zé Pelintras .

Tranca Ruas e Zé Pelintra, são dois grandes companheiros,

Tranca Ruas na Encruza e Zé Pelintra no Terreiro .

No Nordeste do Pais, mas precisamente em Recife, ainda que nas


vestes de um malandrão, a figura de Zé Pelintra, tem uma conotação
completamente diferente . Lá, ele é doutor, é curador . É Mestre e é
muito respeitado . Em poucas reuniões não aparece seu Zé .

Lá vem Zé, lá vem Zé, Lá vem Zé, lá da Jurema .

Lá vem Zé, Lá vem Zé, Lá vem Zé do Juremá .

A Jurema aqui cantada, é o local sagrado onde vivem os Mestres do


Catimbó, religião forte do Nordeste, muito aproximada da Umbanda,
mas que mantém suas características bem independentes .

Na Jurema, Seu Zé, não tem a menor conotação de Exu, a não ser
quando a reunião é de esquerda, por que o Mestre tem essa
capacidade, tanto pode vir na direita quanto na esquerda .

Quando vem na esquerda, não é que venha para praticar o mal, é


justamente o contrário, vem revestido desse tipo de energia para
poder cortá-la com mais propriedade e assim ajudar mais facilmente
aos que dele necessitam .

No Catimbó, Seu Zé usa bengala, que pode ser qualquer cajado, fuma
cachimbo e bebe cachaça . Dança Côco, Baião e Xaxado, sorri para as
mulheres, abençoa a todos, que de maneira carinhosa e respeitosa o
abraçam, chamando-o de "Meu Padrinho" .

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