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Aviarios Riscos Biologicos

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FRANCISCO CORTES FERNANDES & ANTÔNIO FURLANETO

ARTIGO

Riscos Biológicos em Aviários


Francisco Cortes Fernandes*
Antônio Furlaneto**

RESUMO
Objetivo: Os autores buscaram identificar os principais agentes biológicos a que podem estar expostos os
trabalhadores em aviários, caracterizando as informações essenciais que poderão nortear a conduta do
médico do trabalho desta área, no exercício de sua rotina diária. Metodologia: A partir da lista de doenças
profissionais relacionadas aos riscos biológicos publicada pela Previdência Social, foram avaliadas quais as
patologias que poderiam ser de risco específico aos trabalhadores de aviários. Posteriormente, analisou-se
os possíveis componentes da cama de aviário que poderiam carrear agentes biológicos de risco para a
saúde do trabalhador, portanto de risco específico e, finalmente, as doenças mais comuns em aves que
podem ser classificadas como zoonoses. As doenças foram ainda classificadas de acordo com a Legislação
da Comunidade Econômica Européia (CEE) em relação ao índice de risco de infecção, com a finalidade de
facilitar a promoção da saúde por parte do médico do trabalho. Resultados: De posse destes dados, foi
observado que pode ocorrer exposição destes trabalhadores a agentes biológicos enquadrados como grau
de risco 1, 2 e 3 de acordo com a classificação da legislação européia. Conclusão: Este estudo aponta para
a necessidade de ações importantes do ponto de vista da prática da medicina do trabalho e da segurança
do trabalho, nos aviários.

Palavras-chave: Medicina do Trabalho; Agentes Biológicos; Aviários.

INTRODUÇÃO traz, um de erisipelóide, um de hepatite e um de in-


fluenza por vírus não identificado, relacionados ao tra-
O ambiente de trabalho em aviários tem sido mo- balho. A informação, ao ser confrontada com referen-
tivo de discussões no que se refere à ocorrência de cial registrado de doenças ocupacionais por agentes
riscos biológicos, sendo pouco estudado pelos profis- biológicos do Ministério do Trabalho Espanhol2, nos
sionais que atuam no setor. O presente artigo preten- anos de 1997 e 1998, indica um registro de respecti-
de contribuir com o tema, objetivando um entendi- vamente 482 e 471 doenças nos referidos anos. Isto
mento da situação, tendo em vista que as notificações pode indicar uma subnotificação das mesmas no Bra-
de doenças relacionadas a estes riscos, no Brasil, são sil. Infere-se a necessidade de maiores estudos a res-
praticamente inexistentes. Os registros de acidentes peito do tema, abrindo uma discussão ética a respeito
do trabalho relativos à existência de zoonoses ocupa- do mesmo.
cionais registradas no Brasil foram pesquisados no anu-
ário estatístico da Previdência Social do ano de 20021, Os agentes biológicos relacionados à saúde huma-
onde foi constatado que em relação a doenças como na para Couto3 são os microorganismos, os alergenos
aspergilose, blastomicose, brucelose, candidíase, den- de origem biológica e os produtos derivados do me-
gue, dermatofitoses, leptospirose e clamidiose não tabolismo microbiano (endotoxinas e micotoxinas).
havia registros em CAT (Comunicação de Acidente do O risco biológico para a Sociedade Brasileira de
Trabalho) do referido ano. Há nove registros de an- Engenharia de Segurança (SOBES)4 é assim definido:

* Médico Especialista em Medicina do Trabalho pela ANAMT, Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Rua Fernando Machado, 533 D, apto. 302, Chapecó, SC. Tel.: (049) 3224603. E-mail: fcf@matrix.com.br.
** Médico do Trabalho.

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“Riscos biológicos podem ser capitulados como doen- as variáveis constituintes do processo saúde-doença,
ças do trabalho, desde que estabelecido nexo causal, enfatizando que esta relação pode ser vista de uma
que incluem infecções agudas e crônicas, parasitoses perspectiva individual, onde o posto de trabalho e suas
e reações alérgicas ou intoxicações provocadas por condições constituem a situação de risco específico
plantas e animais. Muitas destas doenças são zoono- ou de uma perspectiva de grupo, onde o processo de
ses, isto é, têm origem no contato com animais. Um trabalho adquire a dimensão de risco específico e uma
grande número de plantas e animais produz substân- dimensão social. O processo de trabalho significa a
cias que são irritantes, tóxicas ou alérgicas. As poeiras exposição do trabalhador às condições específicas de
advindas dos locais onde ficam plantas e animais car- seu posto de trabalho.
reiam vários tipos de materiais alergênicos, incluindo O trabalhador de aviário tem uma rotina de tarefas
ácaros, pêlos, fezes ressecadas em pó, pólen, serra- variadas, não permanecendo no ambiente do aviário
gem, esporos de fungos e outros sensibilizantes.” durante toda a jornada de trabalho. Em função disso,
A American Conference of Governmental Industrial serão descritas brevemente as atividades por eles rea-
Hygienists (ACGIH)5 observa que contaminantes de ori- lizadas, para que se tenha uma noção de tempo de
gem biológica veiculados pelo ar incluem bioaerossóis exposição aos agentes biológicos referidos.
e compostos orgânicos voláteis liberados por estes or- Existem basicamente dois tipos de aviários, com
ganismos. Os bioaerossóis incluem microorganismos atividades distintas. O aviário de reprodução e o de
e fragmentos, toxinas e resíduos particulados de seres frangos de corte.
vivos.
No aviário de reprodução, são identificadas as se-
A Occupational Safety and Health Administration guintes atividades bem como o tempo de realização
(OSHA)6 define como agentes biológicos: materiais aproximado das mesmas:
naturais ou orgânicos, tais como terra, argila; mate-
• limpeza de comedouros: trata-se de uma tarefa rea-
riais de origem vegetal (feno, palha, algodão etc.); subs-
lizada uma vez ao dia, com duração aproximada de
tâncias de origem animal (lã, pêlo etc.); alimentos; po-
30 minutos, onde é feita a higienização dos come-
eiras orgânicas (farinha, partículas de descamação e
douros das aves;
poeiras de papel); resíduos, águas residuais; sangue
e outros fluidos corporais que poderão estar expostos • limpeza de aviário: atividade realizada a cada 14
a agentes biológicos. Estes alérgenos respiratórios são meses, com duração de um dia aproximadamente,
agentes biológicos e químicos que podem induzir onde é retirada a cama do aviário e higienizada;
doenças respiratórias alérgicas nos seres humanos. • revolvimento da cama do aviário: atividade realiza-
Dentre os agentes sensibilizadores de origem animal da uma vez por semana, onde é feita uma redispo-
relacionados ao trabalho em pauta, podem estar pre- sição dos elementos da cama do aviário, com dura-
sentes proteínas urinárias e epitélios de animais, bolo- ção aproximada de quatro horas;
res, ácaros e alguns tipos de pó de madeira. • fumigação: dispor de substâncias químicas no aviá-
A saúde do homem pode ser alterada pelo contato rio, para manejo de pragas e outras utilidades, tare-
com os animais, podendo compartilhar doenças in- fa semanal com duração de duas horas;
fecciosas com os mesmos. Para Miller7, a forma de • retirada de aves mortas e doentes: tarefa diária, com
transmissão de doenças entre homem e animais pode aproximadamente dez minutos de duração;
derivar de quatro tipos de inter-relações: • carregamento de aves: realizado a cada 14 meses,
• zoonoses: enfermidades transmissíveis de vertebra- com um dia de duração;
dos ao homem e a outros animais; • coleta de ovos: tarefa diária, realizada oito vezes por
• zooantroponoses: enfermidades transmitidas dos ver- jornada de trabalho, com duração aproximada de
tebrados ao homem; 30 minutos por coleta;
• antropozoonoses: doença transmitida do homem a • colocar ração nas caçambas: realizada diariamente,
outros animais; pela manhã, para disponibilizar posteriormente a
• enfermidades transmitidas ao homem pelo meio am- ração nos comedouros;
biente (sendo os animais a fonte de contaminação • outras atividades nas áreas externas do aviário, tais
ambiental). como capinagem, seleção de ovos e limpeza.
A avaliação dos riscos biológicos de acordo com os Nos aviários de corte, as atividades são semelhan-
agentes permite identificar quais os passíveis de serem tes, entretanto realiza-se carregamento de aves a cada
risco específico ao trabalho em aviários, portanto de 45 dias além de atividade de vacinação dos animais a
interesse para o médico do trabalho. Motta8 ressalta cada lote. Os aviários têm uma estrutura ao redor de

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1.200m2 , abrigando cerca de 23 aves por m2. Tal pro- RESULTADOS E DISCUSSÃO
porção explica o tempo de permanência em algumas
A seguir, serão discutidos os riscos específicos dos
atividades.
trabalhadores de aviários em relação à lista de doen-
ças de origem biológica oficial, as doenças que pos-
METODOLOGIA sam estar veiculadas pela cama de aviário e a lista de
doenças infecciosas das aves.
Na identificação dos riscos específicos a agentes
biológicos a que estão submetidos os trabalhadores
em aviários, foram eleitas como fontes de pesquisa a 1. Lista de Doenças de Origem Biológica
legislação brasileira a respeito de riscos biológicos, da Previdência Social
a cama de aviário como fonte de riscos e as doenças No Brasil, as doenças profissionais reconhecidas por
que afetam as aves. Assim, foi obtido: lei estão estabelecidas numa lista de doenças do tipo
1. lista de doenças de origem biológica adotada pela misto, de acordo com a Portaria no 1.339 do Ministé-
Previdência Social e pelo Ministério da Saúde;9 rio da Saúde, de 18 de novembro de 1999, e com o
2. os componentes da cama de aviário, que pudes- Anexo II do Decreto no 3.048 do Instituto Nacional de
sem veicular agentes biológicos;10 Seguro Social (INSS).9 Sendo uma lista de dupla-en-
trada, pode-se optar pela pesquisa a partir do agente
3. lista de doenças infecciosas mais comuns em aves
etiológico (lista A) ou a partir das doenças (lista B).
baseada na literatura veterinária.11
Assim, foi obtida a partir da lista A, as seguintes
Obtida a lista de agentes biológicos que poderiam
doenças: dermatose pápulo-pustulosa e suas compli-
ser de risco específico em aviários, foram estudadas as
cações infecciosas e pneumonite por sensibilidade à
doenças passíveis de serem transmitidas ao homem,
poeira orgânica.
através de exposição ao ambiente de trabalho.
Na lista B, foram obtidos os seguintes agentes: tu-
Com a lista revisada, foram enquadrados os agen-
berculose, carbúnculo, brucelose, leptospirose, tétano,
tes biológicos conforme documento da Comunidade
psitacose, dengue, febre amarela, hepatites virais, do-
Européia12, que regulamenta a proteção contra os ris-
ença pelo vírus HIV, dermatofitoses, candidíase, para-
cos relacionados à exposição a agentes biológicos du-
coccidioidomicose, malária e leishmaniose cutânea.
rante o trabalho. Esta classificação é a seguinte:
Todos estes agentes e doenças foram classificados,
• agente biológico grupo 1: agente pouco provável de
em relação ao adoecimento dos trabalhadores e sua
causar doença no homem;
relação com o trabalho, de acordo com a proposta
• agente biológico grupo 2: pode causar uma doença por Schilling13, nos seguintes grupos:
no homem e pode ser um perigo para o trabalha-
• Grupo I: Doenças em que o trabalho é causa neces-
dor; é pouco provável que se propague para a cole-
sária, tipificadas pelas doenças profissionais e pelas
tividade. Existe profilaxia e tratamento eficaz;
intoxicações agudas;
• agente biológico grupo 3: pode causar uma doen-
• Grupo II: Doenças em que o trabalho pode ser um
ça grave no homem, constituindo um sério perigo
fator de risco contributivo, mas não necessário, exem-
para os trabalhadores; existe risco de se propagar
plificado por todas as doenças comuns, mais freqüen-
para a comunidade, havendo profilaxia e tratamen-
tes em determinados grupos ocupacionais, com nexo
to eficaz;
causal de natureza eminentemente epidemiológica;
• agente biológico grupo 4: pode causar doença gra- • Grupo III: Doenças em que o trabalho é um provoca-
ve no homem, constituindo um sério perigo para os dor de um distúrbio latente, ou agravador de doença
trabalhadores; há muita probabilidade de se propa- já estabelecida, ou seja, concausa, tipificada pelas
gar para a comunidade. Não existe profilaxia ou trata- doenças alérgicas de pele e respiratórias e distúrbios
mento eficaz. mentais, em determinados grupos ocupacionais.
Devido ao fato de serem extensas as informações Análise dos agentes que fazem parte da lista B e dos
reunidas, optou-se por descrever, em relação a cada agentes de dermatoses pápulo-pustulosas e sua relação
agente biológico, somente informações pertinentes ao com o trabalho em aviários, escopo do trabalho:
desempenho das atividades do médico do trabalho,
referenciando as mesmas.
1.1. Tuberculose
As doenças relacionadas com inalação de poeiras
orgânicas e contato com micotoxinas não serão ava- Os agentes etiológicos são o Mycobacterium tuber-
liadas no presente estudo. culosis e o Mycobacterium africanum (tuberculose

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humana da África Tropical), que atacam primariamente porcos). Por sua especificidade, é classificado como
os seres humanos, e o Mycobacterium bovis que aco- Schilling I em tratadores de animais, pecuaristas, tra-
mete primariamente o gado, sendo este o principal balhadores em matadouros, curtumes, moagens de
agente zoonótico. A distribuição geográfica do M. tu- ossos, tosas de ovinos e manipuladores de lã (especial-
berculosis e M. bovis é mundial, e o M. africanum ocor- mente de cabras). Não consta como doença de aves
re na África, Alemanha e Inglaterra. na bibliografia veterinária consultada, portanto não é
O reservatório do M. tuberculosis é o homem, e a risco específico de trabalhadores de aviários. Classifi-
tuberculose é classificada como Schilling II em traba- ca-se como agente biológico do grupo 3.
lhadores de hospitais que se expõem em contato dire-
to com doentes bacteriologicamente positivos bem 1.3. Brucelose
como em trabalhadores de laboratório de biologia em
contato direto com produtos contaminados. O M. bo- Os agentes etiológicos são a Brucella melitensis, B.
vis tem como reservatório o gado e ocorre em países abortus, B. suis e B. canis. Por sua raridade e especifi-
onde há o costume do tomar leite sem ferver ou não cidade, é classificada como Schilling I. Os reservatóri-
pasteurizado, estando em franca diminuição. Ocorre os são rebanhos de gado, suínos, cabras e ovelhas, além
em idosos debilitados, e a via entérica é a de transmis- de bisões, alces, renas e veados. A B.canis está relacio-
são mais freqüente e a aerógena pouco freqüente. O nada à exposição do trabalhador em canis e cães de
M. tuberculosis não é risco específico de aviários, sen- laboratórios. Não consta como doença de aves na lite-
do classificado como agente biológico do grupo 3. ratura veterinária, portanto não é risco específico de
As doenças causadas por outras micobactérias (mi- trabalhadores de aviários. Classifica-se como agente
cobacterioses ou doença micobacteriana não tuber- biológico do grupo 3.
culosa ou Mycobacterium avium complex) têm como
agente etiológico o M. Avis, patógeno importante para 1.4. Leptospirose
as aves. No homem, causa uma síndrome clínica as-
sociada à presença de imunodeficiência grave, sen- O agente etiológico é a Leptospira interrogans, clas-
do o maior fator de risco para a disseminação da sificada como Schilling II, quando relacionada a traba-
doença o nível de disfunção imune. Para Chin14, essa lhadores que exercem atividades em contato direto
infecção é um problema importante em pessoas in- com águas sujas ou em locais suscetíveis de serem su-
fectadas pelo HIV e Horsburgh15 refere tratar-se dos jos por dejetos de animais portadores de germes. O
casos mais comuns de micobacterioses não tubercu- reservatório principal é o rato, podendo ser encontra-
losas em imunodeprimidos, que as adquirem do meio da em suínos, gado, cães, guaxinins, roedores sil-
ambiente. A incidência de M. avis nas indústrias é rara, vestres, veados, esquilos, raposas, furões, doninhas,
pois ocorre em locais onde as aves ficam alojadas por leões-marinhos e sapos. A transmissão ao homem pode
muitos anos, o que não acontece na criação em escala ocorrer por contato direto com sangue, tecido, urina
industrial. A micobacteriose não é uma zoonose e sim de animais infectados ou, por via indireta, através do
uma doença comum a homens e animais, que adqui- contato com água ou solo contaminado com a urina
rem a infecção de fontes ambientais. de animais portadores. Não consta que as aves sejam
Assim, deve ser considerado como risco específico reservatório de leptospiras, entretanto devemos lem-
somente para trabalhadores de aviários com imuno- brar que os aviários são locais com grande trânsito de
deficiência, indicando-se, nestes casos, a troca de fun- roedores, podendo contaminar o solo e a água com
ção dos mesmos. A M. avis classifica-se como agente urina que contenha leptospiras, e, assim, ser de risco
biológico do grupo 2. específico de aviários. Classifica-se como agente bio-
lógico do grupo 2. Relacionado com os roedores, a
Divisão de Vigilância de Roedores e Aves de Santa Ca-
1.2. Carbúnculo tarina16 relata a incidência de 50 casos de hantavirose
O agente etiológico da doença profissional clássica no estado entre 1.999 e 2004, recomendando medi-
é o Bacillus anthracis. No Brasil13, a palavra carbúncu- das de prevenção e controle dos mesmos, podendo
lo é usado por muitos autores para designar a furun- ser a hantavirose também de risco específico de aviá-
culose multifocal devido a Staphylococcus aureus e, rios, sendo classificado como risco biológico 2.
por outros, para a infecção por B. anthracis. Tem sido
relacionado à guerra biológica, é extremamente raro, 1.5. Tétano
e ocorre em casos isolados em forma de epidemias
em áreas de terras muito contaminadas. Os reservató- Doença produzida pelo Clostridium tetani, dis-
rios são animais herbívoros (bois, ovelhas, cavalos e seminado pelas fezes de eqüinos e outros animais,

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podendo infectar o homem quando os esporos pe- 1.8. Febre amarela


netram em lesões, geralmente do tipo perfurante. A
Doença febril causada pelo Flavovirus da febre
exposição dá-se em trabalhadores que sofreram aci-
amarela transmitido por mosquito dos gêneros Hae-
dentes de trabalho típico, sendo classificado como
magogus e Aedes. Pode ocorrer em pessoas que traba-
Grupo I de Schilling. Alguns autores atribuem aos
lham ou mantêm contato com as florestas ou, ainda,
animais o papel de reservatório, mas é mais prová-
em atividades de saúde pública e em laboratórios de
vel que o agente se origine no solo e a sua presença
pesquisa. Classificação de Schilling I. Não é risco es-
no intestino seja transitória. O agente foi encontra-
pecífico de aviários.
do no intestino de eqüinos, bovinos, ovinos, cães,
ratos e aves, além do homem. Não é uma zoonose
e sim uma doença comum ao homem e animais. 1.9. Hepatite viral
Pode ser risco específico de aviários e classsifica-se
A doença tem como fonte de infecção principal o
como agente de risco biológico 2. A OMS17 observa
homem e, muito raramente, os macacos, além da con-
que, em 1998, morreram 1,6 milhão de pessoas no
taminação pela água e por alimentos contaminados.
mundo devido ao sarampo, à difteria e ao tétano,
Classificação de Schilling II. Não é risco específico de
doenças evitáveis pela vacinação, ressaltando, as-
aviários.
sim, o papel do médico do trabalho como promo-
tor da saúde do trabalhador.
1.10. Doença pelo vírus da imunodeficiência
humana
1.6. Psitacose, Ornitose, Doença dos Tratadores de
Aves Pode ocorrer em situações decorrentes de aciden-
tes pérfuro-cortantes com agulhas e outros materiais
É uma zoonose causada por exposição ocupacio-
contaminados em trabalhadores de saúde. Classifica-
nal à Chlamydia psittaci geralmente em trabalhos re-
ção de Schilling I. Não é risco específico de aviários.
alizados em criadouros de aves ou pássaros, ativida-
des de veterinária, zoológicos e laboratórios biológi-
cos. Por sua raridade, é classificada como pertencen- 1.11. Dermatofitoses
te ao Grupo I de Schilling. As clamídias causadoras Doenças causadas por espécies de fungos dos gê-
de doença humana são classificadas em três espé- neros Epidermophyton, Microsporum e Trichopyton. Do
cies: C. psittaci, C. trachomatis e C. pneumoniae, sen- ponto de vista epidemiológico, distinguem-se três gru-
do a espécie psittaci a responsável pela transmissão pos, segundo o reservatório: antropofílicos, zoofílicos
aviar. Os reservatórios principais são as caturritas, os e geofílicos. De interesse para o trabalho, as espécies
perus, os gansos, os papagaios e os periquitos; menos zoofílicas mais importantes são: Microsporum canis,
freqüentemente os pombos, os canários e os frangos. Trichophyton mentagrophytes e Trichophyton verruco-
O homem contrai a doença das aves por via aeróge- sum. De interesse restrito às aves, há o M. gallinae,
na, podendo ser, portanto, de risco específico em avi- que produz a tinha fávica das galinhas, raramente trans-
ários com aves contaminadas. Moschioni18 enfatiza a missível ao homem, sendo a dermatofitose de risco
exposição a aves como um dado importante na ana- específico encontrada nas aves, classificado como agen-
mnese, relativamente ao diagnóstico diferencial das te do grupo biológico 2. Radentz19 relata que M. canis
pneumonias comunitárias, que não respondem à an- e T. mentagrophytes são as mais comumente transmi-
tibioticoterapia convencional, onde o tratamento pre- tidas por contato com os animais.
coce é fator importante no prognóstico. A classifica-
ção de agente biológico é grupo 3.
1.12. Candidíase

1.7. Dengue Doença causada por fungos do gênero Candida.


A Candida albicans é hóspede normal do homem. A
Doença endêmica ou epidêmica causada por um candidíase aviária é esporádica em aves jovens, sen-
dos Flavovírus do dengue (família Flaviridae, antiga- do uma infecção do aparelho digestivo superior, ge-
mente denominada Togaviridae). Tem sido relaciona- ralmente assintomática. A maior parte das infecções
da ao trabalho em pessoas que exercem atividades em tem origem endógena. No homem, geralmente a can-
zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em didíase está associada a outras enfermidades (tuber-
laboratórios de pesquisa. Classificação de Schilling II. culose, sífilis, diabetes, Aids); ao tratamento prolon-
Não é risco específico de aviários. gado com citotóxicos, corticosteróides e antibióticos,

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além de exposição prolongada à umidade, como fa- A biota da cama é uma combinação de material
tores predisponentes. Pode ser de risco específico de com fezes e água (urina). A umidade da cama, inde-
trabalhadores de aviários, e é classificada como agente pendente do tipo de material, é o principal fator de-
de risco 2. terminante para o aumento da proliferação microbia-
na e aumento de temperatura com fermentação e li-
beração de gases como nitritos, nitratos, amônia e sulfa-
1.13. Paracoccidiodomicose
to de hidrogênio. O equilíbrio dinâmico dos microor-
Micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasi- ganismos aéreos depende da intensidade e taxa de
liensis. Tem sido descrita em trabalhadores agrícolas e eliminação dos mesmos, determinado pela idade e pela
florestais em zonas endêmicas (zonas tropical e sub- saúde dos animais, pelo tipo de disposição do esterco,
tropical da América do Sul, no Brasil mais precisamente pela viabilidade e infectividade dos microorganismos,
na zona Centro-oeste e Sudeste). É uma doença co- pela diluição, pela ventilação e pelo efeito da sedi-
mum a homens e animais, não se conhecendo casos mentação. Na cama de aviário, pode ser encontrado
de transmissão entre homem e animal. O reservatório o equivalente à flora bacteriana intestinal das aves,
presumível é a terra ou poeira com fungos. Não é ris- acrescido de patógenos eventuais.
co específico em trabalhadores de aviários, e tem clas- A cama deve ter uma taxa de umidade que não
sificação de agente biológico do grupo 3. gere poeira em excesso, nem fique muito úmida, com
excesso de proliferação de microorganismos. Uma
cama com 21,9% de umidade não apresenta Salmo-
1.14. Malária
nella, Escherichia coli, Listeria, Campylobacter ou Sta-
Doença causada pelo Plasmodium sp. A relação phylococcus toxigênicos.
com o trabalho tem sido descrita em trabalhadores A serragem úmida ou a presença de resíduos de
de mineração, construção e petróleo que exercem grãos (milho, amendoim e arroz) é de elevado risco
atividades em zonas endêmicas, bem como pela para a presença de esporos e conídeos de fungos pa-
transmissão acidental em material contaminado em togênicos e micotoxinas, e são praticamente impos-
pessoal da saúde. Não é risco específico de traba- síveis de ser eliminados. Ácaros, piolhos, carrapatos
lhadores de aviários, e é de classificação de risco e outros insetos podem ser veiculados por materiais
biológico do grupo 3. da cama.
Microbiologia da cama aviária: pela análise detec-
taram-se 31 gêneros distintos de bactéria na cama, com
1.15. Leishmaniose cutânea ou Leishmaniose
82% predominando bactérias gram-positivas, princi-
cutâneo-mucosa palmente Lactobacillus sp e Salinococcus sp e alguns
Zoonose relacionada ao trabalho em trabalhado- Clostridium sp, Staphylococcus sp e Bordetella sp.
res agrícolas ou florestais em zonas endêmicas e em
laboratórios de pesquisa e análises clínicas. Não é ris- 2. Os agentes a seguir foram encontrados na análi-
co específico de trabalhadores de aviários, e tem clas- se da cama do aviário:
sificação de agente biológico do grupo 3.
2.1. Mucormicoses

Doenças que podem estar vinculadas à cama A etiologia deve-se aos gêneros Mucor, Rhizopus,
de aviário Absidia, Rhizomucor e Cunnighamella. No homem,
existem formas clínicas rinocerebral, pulmonar, gas-
Para que se tenha uma visão mais nítida desta variá- trointestinal, disseminada e cutânea, ocorrendo em
vel, será realizada uma breve abordagem a respeito da pacientes debilitados. A fonte de infecção mais co-
cama de aviário. Cama de aviário é a cobertura de apro- mum é por inalação, existindo ainda infecção por ino-
ximadamente 5 cm do piso do galpão, que utiliza ma- culação e ingestão. A infecção não se transmite de in-
teriais como raspas ou serragem de pinho, eucalipto, divíduo a indivíduo, sendo adquirida pelo contato com
madeira de lei, casca de arroz, bagaço de cana, sa- o meio ambiente. Pode ser risco específico de aviá-
bugo de milho ou palha, podendo ser renovada a rios. Não se encontram na classificação de risco de
cada ciclo de produção ou reutilizada a cada quatro agentes biológicos da CEE.
a seis lotes de frango (cada lote dura aproximada-
mente 40 a 50 dias). A finalidade da mesma é absor-
2.2. Estafilococose
ver umidade, diluir matéria fecal, isolar as aves do
piso e atuar como colchão protetor. Aloja-se entre 22 O agente etiológico é a toxina produzida pelo Sta-
a 30 aves/m2 de aviário. phyococcus aureus coagulase positivo. Nas aves, o S.

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aureus pode causar de piodermites a septicemias com A yersiniose pseudotuberculosa (ou extra-intesti-
diferentes localizações iniciais (salpingite e artrite). O nal) causa uma adenite mesentérica no homem, e os
homem é o reservatório na maioria dos casos, ocasio- mamíferos silvestres, roedores e aves silvestres consti-
nalmente pode ser encontrado em úberes de vacas tuem o reservatório, ocorrendo a contaminação do tipo
infectadas, bem como nos cães. A infecção cutânea fecal-oral. Pode ser de risco específico de aviários, por
tem como modo de transmissão principal o contato ser um patógeno eventual veiculado pelo material da
pelas mãos, sendo rara a disseminação pelo ar, somente cama de aviário. Classifica-se como agente biológico
demonstrada em lactentes de berçário. A intoxicação do grupo 2.
alimentar é através da ingestão de alimentos conten-
do enterotoxina estafilocócica, principalmente alimen- 2.5. Campylobacteriose
tos sem cozimento, refrigerados inadequadamente,
presunto e salame inadequadamente curados e quei- O Campylobacter jejuni é a causa mais comum de
jos inadequadamente processados. Do ponto de vista gastroenterite no homem. O reservatório são as aves e
epidemiológico, a infecção alimentar se manifesta em os mamíferos. Entre 30% a 100% das galinhas, perus e
aves aquáticas podem apresentar infecção assintomá-
surtos acometendo várias pessoas usuárias do mesmo
tica do trato intestinal. A transmissão ocorre por via
alimento. Pode ser risco específico de trabalhadores
orofecal, pela ingestão de alimentos contaminados ou
de aviários, sendo classificada como agente biológico
pelo contato com animais infectados. É risco específi-
do grupo 2.
co de aviários, pertencente ao grupo biológico 2.

2.3. Estreptococose
2.6. Criptosporidiose
A zoonose causada pelo Streptococcus suis, soroti-
O parasita Cryptosporidium parvum é o único que
po 2, tem interesse especial, devido à comprovada
afeta o homem, sendo responsável por uma infecção
transmissão do porco ao homem, embora pouco fre-
parasitária de importância médica e veterinária. Se-
qüente. Os principais causadores de doenças no ho-
gundo o Center for Disease Control and Prevention
mem são os Streptococcus do grupo A (beta-hemolíti-
(CDC)20, o C. parvum causa uma doença diarréica de
cos), sendo o principal reservatório o homem, que pode curta duração, podendo ser adquirida pelo homem
contaminar outras pessoas através da manipulação ou pela ingestão acidental de algum alimento ou água
do contato direto. Os animais não atuam como hós- contaminada. O reservatório são os seres humanos,
pedes de manutenção do S. pyogenes, mas, às vezes, gado, eqüinos, suínos e roedores. Foi reconhecido
podem ser infectados pelo homem e retransmitir pelo como patógeno importante em pacientes imunode-
leite contaminado, no caso dos bovinos. Pode ser ris- primidos, já que, em indivíduos imunologicamente
co específico da cama de aviários, pertencente ao gru- sãos, a doença pode ser assintomática ou causar uma
po de risco biológico 2. leve diarréia. Atualmente, vem sendo reconhecido
como um dos patógenos entéricos mais comuns, cau-
2.4. Yersiniose sando diarréia e outras patologias biliares. As fontes
de infecção são outras pessoas ou bovinos infectados.
É importante diferenciar a yersiniose abaixo citada, Acha21 relata que as aves são raramente afetadas pelas
da peste bubônica, causada pela Yersinia pestis, endê- espécies que infectam os mamíferos. Pode ser, no en-
mica no Nordeste do Brasil e região andina, cujo reser- tanto, risco específico de aviários, pertencente ao gru-
vatório são roedores selvagens (especialmente esquilos), po de risco biológico 2.
coelhos, lebres e carnívoros selvagens. Existem dois ti-
pos de zoonoses causadas pela Yersinia. A yersiniose
enterocolítica (Yersinia enterocolitica) e a yersiniose pseu- 2.7. Vírus da influenza aviária
dotuberculosa (Yersinia pseudotuberculosis). É causada pelo ortomixovírus que no frango pode
A yersiniose enterocolítica tem como fonte de trans- levar desde uma laringotraqueíte a uma hemorragia
missão os porcos, sendo a faringe de suínos a fonte subcutânea; não acomete comumente humanos. Em
mais importante de infecções, causando uma gastro- janeiro de 2004, foi isolado o subtipo H5N1 no Norte
enterite e linfadenite mesentérica no homem. Outras do Vietnã, responsável pela atual epidemia sazonal. A
espécies de aves e mamíferos, particularmente roedo- influenza humana é causada por três tipos: A, B e C e
res, são fontes de disseminação. A transmissão fecal- as vacinas humanas, de acordo com o Ministério da
oral ocorre por ingestão de alimentos contaminados Saúde22, não oferecem proteção contra o FLU A/H5N1.
ou contato com pessoas ou animais infectados. A infecção dá-se a partir da inalação ou ingestão do

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vírus presente nas fezes e secreções das aves infecta- mésticas e pássaros são suscetíveis aos efeitos da toxi-
das. A doença é exótica no Brasil, não tendo sido iden- na. Os humanos podem adoecer pelo consumo de
tificada ainda no país. Não é risco específico, portan- água e comida contaminadas. O C. botulinum é co-
to, em trabalhadores de aviários no país. mum na natureza e extensamente dispersado no solo,
sendo este a fonte de infecção. A ingestão do mesmo
não é perigosa, mas torna-se quando as condições são
2.8. Bouba aviária (poxvírus)
favoráveis ao seu crescimento com a subseqüente for-
O principal vírus do grupo dos poxvírus foi o agen- mação de toxina (ambientes úmidos, com alta tempe-
te da varíola, em extinção. O Orf humano (ectima ratura e com decomposição de material orgânico). O
contagioso) é causado por um poxvírus transmitido por C. botulinum necessita de ambientes sem oxigenação
cabras e ovelhas, sem relação com o aviário. Deve-se para proliferar. O botulismo classifica-se em três tipos:
ainda distinguir da bouba humana causada pelo Tre- o alimentar (transmitido pela ingestão de alimentos
ponema pertenue, treponematose crônica não vené- contaminados); o de ferimentos (ocorre pela contami-
rea que ocorre principalmente em crianças. nação de uma ferida) e o intestinal (ou do lactente,
transmitido pela ingestão de esporos na comida ou
2.9. Listeriose poeiras). Nos EUA ocorrem ao redor de 110 casos de
botulismo ao ano, sendo 75% o do lactente e 24% o
Doença causada pelo gênero Listeria, que possui alimentar, tendo o hemisfério norte a maior freqüên-
sete espécies, destas, somente duas têm interesse hu- cia da doença. Cecchini23 relata um caso de infecção
mano e animal: a L. monocytogenes e L. ivanovii. A via conjuntival, por aerossol, em acidente laboratorial,
distribuição da bactéria é mundial, ocorrendo no solo, com evolução letal em poucas horas. O botulismo das
na vegetação e no intestino dos animais e do homem. aves ocorre em todo o mundo, principalmente nas sil-
No homem, tem baixa incidência, mas alta letalidade, vestres, podendo incidir em galinhas domésticas, sen-
ocorrendo mais em pessoas idosas e recém-nascidos, do o sorotipo aviário de tipo C. Para Acha24, o botulis-
provocando uma meningoencefalite nos adultos. Nos mo alimentar no homem deve-se aos sorotipos A, B e
animais, provoca uma septicemia com lesão cardíaca. E, não sendo confirmados por sorotipo C. Bartlett25
Acha21 relata que, com o uso de antibiótico nas ra- refere que o botulismo das feridas também ocorre pelas
ções, houve importante redução dos casos de listerio- toxinas A e B, não sendo demonstrada ainda a relação
se aviária, havendo casos indiscutíveis de transmissão epidemiológica entre botulismo animal e humano.
direta de animais ao homem e também via fecal-oral. Assim, botulismo por sorotipo C não é risco específico
É classificada como agente biológico do grupo 2. em aviários, entretanto poderia ser os do sorotipo A, B
e E. Pertencem ao grupo 2.
2.10. Escherichia coli, Chlostridium perfringens,
Pasteurella multocida, Erisiphelotrix rhusiopatie, 3.2. Colibaciloses
Salmonella sp, coronavírus, herpesvírus,
paramixovírus, Aspergillus sp e Candida sp O agente etiológico é a Escherichia coli da família
Enterobactericiae, que é um componente normal da
Também foram encontrados na cama de aviário e flora bacteriana do intestino grosso dos animais ho-
estão analisadas no texto. meotérmicos, inclusive humanos. As cepas patógenas
se agrupam em cinco categorias: (a) enterohemorrági-
3. Doenças mais freqüentes nas aves, baseada na ca, (b) enterotoxígena (diarréia dos viajantes), (c) ente-
listagem da Mississipi State University: roinvasora, (d) enteropatógena e (e) enteroagregativa.
Avaliando-se zoonoses, a enterohemorrágica é a mais
O Departamento de Ciência Aviária da Mississipi importante e a mais severa. A forma enterohemorrági-
State University, lista, por agente causador, as doenças ca ocorre pela contaminação da carne bovina e para o
mais freqüentes das aves. As mesmas foram estudadas CDC26 o sorotipo 0157:H7 é o que mais comumente
para avaliar o potencial de poder ocasionar uma zoo- causa infecção no homem, sendo o reservatório desta
nose nos trabalhadores de aviários. espécie o gado e o próprio homem. As formas entero-
toxígena e enteroinvasora têm como fonte de infec-
3.1. Botulismo ção o homem. A forma enteropatogênica tem como
fonte as fórmulas lácteas e encontra-se virtualmente
Doença causada pela ingestão de uma toxina pro- confinada a lactentes. O outro sorotipo tem como
duzida pelo Clostridium botulinum. Todas as aves do- reservatório o homem. As aves podem ter epidemias

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de colibaciloses, produzindo enfermidades sépticas, fica-se como agente biológico grupo 2, de risco espe-
salpingite e pericardite nas mesmas. Os animais com cífico de trabalhadores de aviários.
diarréia constituem a principal fonte de infecção hu-
mana, via fecal-oral. Existem várias cepas de E. coli no
3.6. Cólera aviária (pasteurelose)
intestino das aves, sendo microorganismos comuns no
meio ambiente das mesmas. Pode ser risco específico É uma doença diarréica de aves causada pela Pas-
de trabalhadores de aviários, e tem classificação de teurella multicida. Esta se apresenta comumente em
risco biológico do grupo 2. espécies domésticas e silvestres de mamíferos e aves,
podendo causar uma infecção associada à mordida
de animais, e este microorganismo é encontrado no
3.3. Enterite necrótica trato respiratório e na orofaringe de cães, gatos e ou-
É uma enterite aviária causada pelo Clostridium tros animais saudáveis. A infecção humana é usual-
mente secundária à mordida de animal (80% dos ca-
perfringens. Estes bacilos são altamente distribuídos na
sos), originando uma celulite. A doença respiratória
natureza, no solo e no trato intestinal da maioria dos
ocorre em idosos deprimidos. A cólera aviária é uma
animais, incluindo o homem. Pode ocasionar uma in-
doença em diminuição devido à melhoria de manejo
toxicação alimentar leve, de curta duração, decorren- das aves em aviários. Ocorre raramente no homem.
te da toxina elaborada pelos organismos. Existem cin- Doença de risco específico de aviários, classificada no
co tipos toxigênicos de Clostridium, nomeados de A a grupo de risco biológico 2.
E, sendo a variedade humana a do tipo A e a das aves,
do tipo C. O modo de contaminação é pela ingestão
de alimentos contaminados ou mantidos sob condi- 3.7. Tifo aviário e pullorum
ções inadequadas. Pode ocorrer ainda a infecção clos- O tifo é uma doença diarréica de aves causada pela
tridiana de feridas, provocando a gangrena gasosa, Salmonella galinarum, já o pullorum é uma doença
sendo uma infecção comum ao homem e animais e respiratória causada pela Salmonella pullorum. Estes
não uma zoonose. O Clostridium septicum é o princi- sorotipos são adaptados para as aves, e são pouco pa-
pal agente infeccioso nos animais, causando o chama- togênicos para os homens. Atualmente, existe uma
do edema maligno, que ocorre mais em bovinos, sen- nova nomenclatura para a Salmonella, baseada no
do raro em aves. Nos homens, a infecção de feridas parentesco do DNA, existindo somente duas espéci-
ocorre pelo C. perfringens, tipo A. Pode ser risco espe- es reconhecidas – Salmonella bongori e Salmonella
cífico de aves ou pode ser um patógeno eventual da enterica. Numerosos sorotipos de Salmonella são pa-
cama de aviário, grupo 2. togênicos para os homens e animais. Os patógenos
humanos seriam a S. enterica, sorovar typhi, sorovar
paratyphi A e sorovar paratyphi C, sendo o homem o
3.4. Enterite ulcerativa único reservatório natural da typhi e paratyphi. A S.
É uma infecção de aves e de perus causada pelo paratyphi pode ser encontrada, embora mais raramen-
Clostridium colinum. Não existe referência como pa- te, em outros animais, como as aves. Geralmente, as
tógeno humano. pessoas se infectam através de alimentos contamina-
dos. Entretanto, os animais também podem ter salmo-
nelose e eventualmente contaminar as pessoas, se as
3.5. Erisipela animal e erisipelóide humana mesmas não observarem os procedimentos higiênicos.
Os reservatórios animais são frangos, suínos, gado, ro-
Doença ocasionada pela Erysipelotrix rhusiopathi- edores, iguanas e tartarugas. Fiorentin27 analisa a di-
ae, uma bactéria encontrada em vários tipos de aves, minuição da S. galinarum e S. pullorum pelo manejo
incluindo frangos e patos, mas particularmente impor- adequado das aves que teria levado, por exclusão com-
tante nos perus. Nos animais, destaca-se a erisipela petitiva, a S. enterica a ocupar seu lugar. Pode ser risco
porcina, sendo baixa a incidência no Brasil. No ho- específico em trabalhadores de aviários, classificada
mem, ocasiona o erisipelóide, lesão localizada predo- com o risco biológico do grupo 2.
minantemente nas mãos e nos dedos que deve ser
diferenciado da erisipela causada pelo Streptococcus
hemolítico. O homem pode contrair a doença de aves 3.8. Coriza infecciosa
infectadas. Nas aves, causa uma síndrome septicêmi- É uma doença respiratória específica de aves cau-
ca. No homem, a infecção dá-se pelo contato direto sada pelo Haemophilus gallinarum. Não referenciada
com a carne contaminada e produtos animais. Classi- como patógeno humano.

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3.9. Micoplasma te etiológico é o paramixovírus de aves. No homem, é


uma enfermidade pouco freqüente, podendo causar
Doença respiratória aviária causada pelo Mycoplas- conjuntivite, com raras reações sistêmicas. Pode ser
ma gallisepticum, Mycoplasma meleagridis e Mycoplas- risco específico de aviários, classificação de risco bio-
ma synoviae. Koneman28 relata um caso de infecção lógico do grupo 2.
por espécie de micoplasma de origem animal (M. argi-
nini) em um paciente idoso, portador de linfoma, em
3.17. Aspergilose
uso de prednisona. No homem, 10% das pneumonias
são causadas pelo Mycoplasma pneumoniae. Doença causada pelo Aspergillus fumigatus e, oca-
sionalmente, pelo A. flavus, A. nidulans, A. niger e A.
3.10. Onfalite terreus. É transmitida por inalação dos conídeos, esta-
belecendo-se em pacientes debilitados (diabetes, cân-
Doença inflamatória do umbigo de aves causada por cer, Aids), podendo causar uma infecção respiratória,
Staphyilococcus sp ou Streptococcus sp, já estudados. ou uma aspergilose pulmonar alérgica em pacientes
atópicos. A infecção não se transmite de um indivíduo
3.11. Varicela aviária a outro, sendo o solo a fonte de infecção. Encontram-
se presentes em várias partes do meio ambiente, no
Doença viral aviária que acomete a pele das aves,
solo, em plantas em decomposição, poeiras, materiais
causada pelo Avipox sp, vírus da família Poxviridae,
de construção, plantas ornamentais, água e comida.
sem interesse humano. A patologia humana é causada
Pode ocorrer aspergilose em frangos, com acometi-
pelo varicela-zoster. mento pulmonar e lesões de pele. Pode ser risco espe-
cífico de trabalhadores de aviários e classifica-se como
3.12. Bronquite infecciosa risco biológico do grupo 2.
Doença respiratória de aves causada por um vírus
da família Coronavírus. Os tipos de interesse humano 3.18. Black Head (Histomoníase)
são o HCV sorotipo OC43 (resfriado) e o vírus entéri- É uma enterohepatite infecciosa de aves causada
co humano, HECV (diarréia). Para a Agência de Saúde pela Histomona meleagridis. Sem interesse humano.
Pública do Canadá29, o modo de transmissão da viro-
se é através da inalação de aerossóis, não havendo
3.19. Coccidiose
zoonose conhecida.
Trata-se de uma das mais importantes doenças de
3.13. Doença infecciosa da bursa (Gumboro) aves, causada por um protozoário da espécie Eimeria
que provoca uma enterite nas aves. Sem interesse
Doença respiratória viral causada pelo avibirnaví- humano.
rus, sem interesse humano.
3.20. Hexamitíase (Enterite infecciosa catarral)
3.14. Leucose linfóide
Doença causada pela Hexamita meleagridis, que
Doença virótica tumoral de aves, causada por um provoca uma diarréia que ataca principalmente perus
vírus da família Retroviridae. Na década de 1970 foram e patos. Sem interesse humano.
encontrados dois vírus causadores de linfoma linfocíti-
co em humanos, os quais foram denominados HTLV-1
3.21. Ascaridíase
e HTLV-2. Este grupo ficou famoso com a identificação
de um terceiro vírus causador da Aids em 1983. Ainda Nas aves, é causado pela Ascaridia galli, sem inte-
não foi evidenciada a infecção entre espécies. resse humano.

3.15. Doença de Marek (herpesvírus)


3.22. Capilária
Doença que causa uma bronquite infecciosa e uma
É uma verminose causada pela Capillaria annulata,
leucose visceral que afeta somente aves. Não é risco
sem interesse humano.
específico de aviários.

3.16. Doença de Newcastle 3.23. Verminose cecal

Doença viral causadora de distúrbios respiratórios É uma verminose provocada pelo Heterakis gali-
de severidade variável em frangos e perus, cujo agen- nae, sem interesse humano.

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3.24. Ácaros o desafio sanitário da região e monitoramento soroló-


gico, na competitividade das empresas. Entretanto,
O agente é a Trombiculla splendens; pode atacar o existem pequenos produtores que certamente não
homem, mas não se reproduz nele. seguem estes preceitos, estando mais sujeitos a tais
doenças.
3.25. Gapeworm Concluindo, os agentes que podem ser de risco
específico para trabalhadores em aviários são:
É uma doença respiratória da traquéia das aves, cau-
sada pela Syngamus trachea, sem interesse humano. • Constantes da Lista de Doenças Profissionais da Pre-
vidência Social: leptospirose, tétano psitacose cau-
sada pela C. psitacci, dermatofitose causada pelo T.
3.26. Piolho aviário gallinarum e a candidíase.
É causada pela Cuclogaster heterographa, Mena- • Encontrados nos componentes da cama de aviário:
canthus stramineus e Menopon gallinae, sem interesse mucormicose, S. aureus, estreptococose, yersiniose
humano. pseudotuberculosa, listeriose, campilobacteriose e
cryptosporidiose.
• Zoonoses das aves que podem afetar o homem:
3.27. Outros ácaros
colibacilose, Clostridium perfringens, Pasteurella
Provocados pelos Knemidocoptes mutans e Kne- multocida, Erisipelotrix rhusopatiae, Salmonella sp,
midocoptes levis, sem interesse humano. Doença de Newcastle e aspergilose.
Todos estes agentes são classificados como risco
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES biológico do grupo 2, exceto a C. psitacci, classificada
como agente biológico do grupo 3. Esta classificação
A probabilidade de transmissão de zoonoses é in- dos agentes biológicos permite uma melhor visão re-
fluenciada por diversos fatores, tais como: tempo em ferente à prevenção das doenças pelos riscos citados.
que o animal está infectado, tempo de incubação, es- Avaliados e identificados os riscos potenciais, tor-
tabilidade do agente ao se expor ao ambiente, densi- na-se fácil o papel do médico do trabalho que, junta-
dade da população de colônias, manejo dos animais, mente com o veterinário e zootecnologista, pode im-
virulência e via de transmissão.30 plementar medidas higiênicas para controle dos mes-
A biossegurança dos plantéis é um assunto levado mos, sempre privilegiando a fonte de contaminação,
a sério pelas grandes empresas, no controle de enfer- agregando ao Programa de Controle Médico de Saú-
midades. Ferreira31 ressalta a importância do isolamen- de Ocupacional (PCMSO) um programa de vigilância
to das instalações; cuidados de manejo sanitário, como à saúde, com procedimentos operacionais normatiza-
noções de higiene; desinfecção dos ovos para elimi- dos, treinamento dos empregados, inspeção e cum-
nação de microorganismos na casca; fumegação; tra- primento das normas de segurança, além de controles
tamento de insetos e roedores; cuidados com a água; ambientais e cuidados em relação a equipamentos de
manejo da cama do aviário; vacinação de acordo com proteção.

SUMMARY
Biological Risks in Aviaries
Objective: The authors aim to identify the biological hazards for aviary workers, in order to better prepare
the medical personnel who deal in such field. The main objective is to identify the most prevalent biological
agents, allowing preventive measures to be implemented and establishing links that could explain the etiol-
ogy of infectious diseases. By doing so, improve the worker’s safety profile. Methods: From the official Social
Security list of diseases related to biological agents, the authors analyzed each one that could cause illness in
aviary workers with specific risks. They also searched for possible components of the aviary liter that could
lead the zoonosis. Furthermore, the most common aviary diseases were studied. Results: The diseases were
classified according to their infective risk, following the European Economic Community guidelines. Conclu-
sions: From the collected information, important measures are outlined to improve daily practice for the
health care professionals and the workers in this field.”

Keywords: Occupational Health; Biological Agents; Aviary.

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