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Guacira Os Estudos Feministas, Os Estudos Gays e Lésbicos e A Teoria Queercomo Políticas de Conhe
Guacira Os Estudos Feministas, Os Estudos Gays e Lésbicos e A Teoria Queercomo Políticas de Conhe
Guacira Os Estudos Feministas, Os Estudos Gays e Lésbicos e A Teoria Queercomo Políticas de Conhe
Como estudiosa e pesquisadora venho me aproximando desses campos numa ótica pós-
estruturalista, o que tem feito com que minha atenção se volte mais para os discursos e práticas
constituidores dos sujeitos e para as disputas por representação que são empreendidas pelos vários
grupos culturais. Tal perspectiva leva-me a assumir o caráter construído e incompleto, a
provisoriedade e a instabilidade de todas identidades sexuais e de gênero. Passo a duvidar que
alguma instância ou algum grupo seja o portador da “Verdade”, e admito que podem coexistir (e se
confrontar) muitas “verdades”.
Desconfio das grandes generalizações e, então, aprendo a lidar melhor com o local e o
particular. Não me proponho a responder questões “fundamentais”, como as que indagam sobre as
origens da opressão feminina ou sobre as causas da homossexualidade; mas me vejo atraída, sim, a
conhecer e a questionar as formas como uma sociedade (esta em que vivemos, particularmente)
trata as mulheres e os grupos homossexuais; quero descrever as relações de poder que aí circulam e
as resistências que são exercidas; por onde passam essas relações, que sutilezas e disfarces
assumem, como se expressam. Tento escapar do raciocínio que obriga a decidir se algo (ou
alguém) é isto ou aquilo para pensar que algo (ou alguém) pode ser, ao mesmo tempo, isso e
aquilo. Procuro desmanchar dicotomias, desconstruir binarismos, incluindo aqui as oposições,
supostamente sólidas, entre masculino/ feminino, heterossexual /homossexual.
Os estudos feministas, os estudos gays e lésbicos e a teoria queer como políticas de conhecimento – Guacira Louro
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Entendo que os estudos feministas, os estudos gays e lésbicos e a teoria queer são
campos teóricos e políticos que vêm promovendo novas políticas de conhecimento cultural. Não
são apenas novos temas ou novas questões que têm sido levantadas. É muito mais do que isso. Há
algumas décadas, os movimentos e grupos ligados a esses campos vêm provocando importantes
transformações que dizem respeito a quem está autorizado a conhecer, ao que pode ser conhecido e
às formas de se chegar ao conhecimento. Desafiando o monopólio masculino, heterossexual e
branco da Ciência, das Artes, ou da Lei, as chamadas “minorias” se afirmam e se autorizam a falar
sobre sexualidade, gênero, cultura. Novas questões são colocadas; noções consagradas de ética e de
estética são perturbadas.
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seus propósitos. Essa dinâmica foi provocando mudanças nas teorias e, ao mesmo tempo, foi sendo
alimentada por elas.
Localizo alguns dos pontos de tensão nesse processo. Algumas estratégias da política de
identidade, que podem ser centrais para a afirmação feminista, gay e lésbica, são problematizadas
pelos teóricos e teóricas queer. Para esses últimos, uma política de identidade pode se tornar
cúmplice do sistema contra o qual ela pretende se insurgir na medida em que ela mantém como
referência para construção de suas demandas ou de suas lutas a “norma”, isto é, o sujeito masculino
heterossexual. Para teóricos e teóricas queer, seria necessário pensar, agora, numa política e numa
teoria pós-identitária, que se voltasse não propriamente para as condições de vida de homens e
mulheres homossexuais, mas que tivesse como alvo, fundamentalmente, a crítica da oposição
heterossexual/ homossexual onipresente na sociedade; a oposição que, segundo suas análises,
organiza as práticas sociais, as instituições, o conhecimento, as relações entre os sujeitos
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Já se disse, muitas vezes, que sem a sexualidade não haveria curiosidade e sem
curiosidade o ser humano não seria capaz de aprender. Tudo isso me leva a apostar que teorias e
políticas voltadas, inicialmente, para a multiplicidade da sexualidade, dos gêneros e dos corpos
possam contribuir para transformar nossos modos de pensar e de aprender, de conhecer e de estar
no mundo em processos mais prazerosos, mais efetivos e mais intensos.
Referências:
BRITZMANN, Deborah. O que é essa coisa chamada amor. Identidade homossexual, educação e
currículo. Educação e Realidade. Vol.21(1), jan/jul.1996: 71-96.
LOURO, Guacira. Um corpo estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
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