Monografia Mulheres
Monografia Mulheres
Monografia Mulheres
ATIBAIA
2008
ROBERTO MOUZINHO FERREIRA
ATIBAIA
2008
SUMÁRIO
SUMÁRIO ........................................................................................................................... 1
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 4
2 A MULHER ..................................................................................................................... 6
2.1 CONCEITOS PRELIMINARES ..................................................................................... 6
2.2 A MULHER NA SOCIEDADE GRECO-ROMANA ...................................................... 7
2.3 A MULHER NA SOCIEDADE JUDAICA ..................................................................... 7
3 JESUS E AS MULHERES ............................................................................................ 10
3.1 MULHERES ANÔNIMAS ........................................................................................... 10
3.1.1 A sogra de Pedro (Mt 8.14,15; Mc 1.29-31; Lc 4.38,39) ......................................... 10
3.1.2 A cananéia (Mt 15.21-28; Mc 7.24-30) .................................................................... 11
3.1.3 A viúva pobre (Mc 12.41-44; Lc 21.1-4) .................................................................. 12
3.2 MULHERES NOMEADAS .......................................................................................... 13
3.2.1 Salomé (Mt 20.20-28) ................................................................................................ 13
3.2.2 Maria (Mt 26.6-13; Mc 14.3-9; Jo 12.1-8) ............................................................... 14
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 18
4
1 INTRODUÇÃO
vimento da história são notáveis, sendo raros os fatos ao longo do texto sagrado onde o pa-
pel feminino não surge diretamente ou mesmo de forma coadjuvante. A queda e a redenção
humana passaram, por assim dizer, pelas mãos femininas: desde o fruto tomado por Eva ao
bendito fruto do ventre de Maria, e também posteriormente, elas atuaram, sob a Soberania
Num contexto histórico onde a mulher tinha pouca importância como agente sócio-
cultural, elas surgem, embora aparentemente desprovidas de relevância, sendo usadas sutil
Assim é que, ao olharmos para os Evangelhos, podemos tirar lições preciosas da vida
dele ajuda, exortação, alívio, consolo ou repreensão amorosa, conforme nos ensina Douglas:
desses encontros de Cristo com as mulheres podem nos trazer, destacaremos aqui a atit ude
de adoração de algumas delas para com o Filho de Deus, e a resposta que obtiveram dEle.
Para isso, precisamos entender o contexto histórico, sócio-cultural e religioso onde esses
eventos se deram e o significado de cada um deles à luz desse contexto, o que faremos atra-
1
Mulher.In: DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2005. p.1076.
5
cípios que possam ser aplicados ao contexto da Igreja hoje, especialmente no Brasil, no que
diz respeito ao papel da mulher na igreja cristã enquanto adoradora, levando o leitor a refle-
tir, apresentando uma proposta que se harmonize com as Escrituras Sagradas e seja relevan-
te para a Igreja contemporânea na prática da adoração. Todavia, cremos que não há como
esgotar o assunto, por isso a idéia aqui é a de trazer uma contribuição, e não uma palavra
2 A MULHER
Nosso pressuposto básico com relação à mulher é que ela foi criada por Deus, con-
forme afirma a Bíblia Sagrada. A primeira mulher foi formada a partir de uma costela do
primeiro homem, que fora criado por Deus. É a fêmea da raça adam, o nome genérico, sem
distinção de sexo, dado pela Bíblia ao homem: “No hebraico, ishshah, o feminino de ish.
(...) No Novo Testamento grego, gynē.”2 É importante essa postulação inicial, pois, sendo
Deus o criador da raça humana, toda instrução voltada para a vida humana deve ser forneci-
da por Ele.
Como ser criado à imagem de Deus, a mulher participa dessa imagem refletida no gê-
nero humano e seu papel “ímpar e distintivo (...) deriva-se da participação dela na imago
Dei”.3 E seu papel como auxiliadora à altura do homem não pode ser esquecido.
Com relação à queda do gênero humano, a Bíblia tem sido acusada de promover uma
relato no livro de Gênesis. Eis uma dessas opiniões: “A exemplo, o livro sagrado dos cris-
tãos, afirma o mito que explicita o „Pecado Original‟, a fim de justificar e, ao mesmo tempo
do homem como raça, representado em Adão e, portanto, é tão errado usar o momento da
queda como justificativa para uma atitude hostil ou de menosprezo à mulher quanto acusar a
2
Mulher. In: CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. v. 4. São Paulo: Hag-
nos, 1991. p. 394.
3
Idem, p.397.
4
JESUS, Sérgio Nunes de. http://www.partes.com.br/ed31/emquestao.asp
7
lugar, sua posição era, via de regra, inferior à do homem. As mulheres viviam praticamente
para procriar, sempre em aposentos separados, raramente eram vistas em público e sua ins-
trução, quando muito, limitava-se à música, dança e jogos sociais. Platão reconhecia que
havia dons naturais inerentes aos dois sexos e que, “pelo menos em teoria, deveria ser per-
mitido que as mulheres seguissem suas inclinações da mesma forma que os homens”. 5 Um
exemplo do avanço desse pensamento é que, a partir das conquistas de Alexandre, as mulhe-
res passaram a participar mais das atividades de caráter cívico, político, militar, embora isso
não fosse a regra geral, persistindo as diferenças de cultura entre os dois sexos.
nina era um pouco melhor do que na Grécia. Alguns direitos e oportunidades eram conferi-
dos à mulher, ocorrendo que, durante o início da era cristã, sua posição era em muitos as-
nos evangelhos, Morris afirma: “Aquele mundo era um mundo de homens, e, apesar das di-
ferenças entre uma época e outra e entre um lugar e outro, em termos gerais se acredita que
5
LIGHTFOOT, Neil R. O papel da mulher: perspectivas no Novo Testamento. São Paulo: Vida Cristã, 1979.
p.11-12.
6
Idem. Ibidem.
7
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2003. p.242.
8
as mulheres eram vistas como inferiores aos homens”.8 Desde pequenas, as meninas eram
preparadas apenas para a vida de esposa e mãe, sendo este seu papel mais importante. 9 Ten-
ney diz que as moças “não eram geralmente educadas nas escolas da sinagoga. Eram ensi-
nadas em casa nas artes domésticas, que eram uma preparação para o casamento”.10
Esta visão a respeito da mulher tinha implicações em todas as áreas da vida. “A mu-
lher era considerada menos importante que o homem” 11, declara de forma simples a Jewish
ensinarem – que elas não tinham alma.12 Num tribunal, “mesmo que as mulheres estejam
Socialmente, seu isso era evidente: “Um homem não deve entabular conversa alguma
com uma mulher, na rua, nem mesmo com a própria esposa; e, muito menos ainda, com
qualquer outra mulher, para que os homens não venham a murmurar”.14 Champlin afirma
que essa atitude era estimulada pelos rabinos não apenas para “meramente evitar as murmu-
rações, mas também alicerçava-se na pouca importância que em que as mulheres eram uni-
eles comiam à mesa. Nas ruas e nos átrio do templo, mantinham distância deles e viviam
recolhidas em casa – e, dentro de casa, em seus aposentos. Aos olhos da lei era considerada
irresponsável. Devia sujeição aos pais e irmãos e, posteriormente, ao marido. Embora ne-
nhum texto sagrado expressasse claramente que o marido tivesse direitos legais sobre a es-
8
MORRIS, Leon. Op.cit. p.242.
9
CHAMPLIN, Russell Norman. Op.cit. p.394.
10
TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento: sua origem e análise. São Paulo: Shedd, 2008. p.109.
11
The Jewish encyclopedia. Apud MORRIS, Leon. Op. cit. p.242.
12
CHAMPLIN, Russell Norman. Op.cit. p.394.
13
Talmude, Yebamoth, 115a. Apud MORRIS, Leon. Op. cit. p.243.
14
STRACK. BILEERBEK. Kommentar zum N. T. aus Talmud und Midrasch. II.438. Apud CHAMPLIN, Rus-
sell Norman. Op. cit. p.403
15
CHAMPLIN. Russell Norman. Op.cit. p.403
9
posa, a interpretação conveniente (aos homens) de algumas passagens da Torá dava ao ho-
Religiosamente, elas também eram tidas como inferiores. Sem alma, como alguns ra-
binos as caracterizavam, como elas podiam ter uma vida espiritual digna de consideração?
Era preferível queimar a Lei a ensiná-la a uma mulher, diziam eles. Uma mulher tomar parte
ativa no culto, falando ou orando em voz alta na sinagoga, “seria considerado como uma
nunciar a bênção nas refeições.18 Elas não precisavam cumprir os mandamentos como os
As mulheres, “às vezes se viam em companhia estranha, quando, por exemplo, eram
excluídas dos que podiam impor as mãos a um animal que seria oferecido em sacrifício e
colocadas junto com surdos, mudos, débeis mentais, menores de idade, cegos gentios e es-
cravos”.19 No templo, elas eram colocadas à parte: “Na extremidade leste estava o átrio das
mulheres e, na extremidade oeste, o átrio dos israelitas, de onde as mulheres estavam exclu-
ídas”.20 Essa hierarquia de proximidade espiritual expressa pela arquitetura do templo indica
que as mulheres eram o degrau mais baixo, na visão judaica, acima apenas dos gentios.21
(...) Ninguém esperava que uma mulher entendesse as coisas de Deus; o mundo religioso era
para o homem”.22 É com esse pano de fundo histórico, social e religioso que passaremos a
16
DANIEL-ROPS. Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2008. p .146-147.
17
CHAMPLIN. Russell Norman. Op.cit. p.394
18
BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento.São Paulo: Vida Nova. p.219.
19
MORRIS, Leon. Op.cit. p.243.
20
TENNEY, Merrill C. Op.cit. p.101.
21
YANCEY, Philip. O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Vida, 2001. p.165-166.
22
LACHLER, Margaret Elise. Mulheres ontem e hoje. São Paulo: ABU, 1987. p.31.
10
3 JESUS E AS MULHERES
Na vida social, poucas mulheres podiam conversar com os homens fora do ambi-
ente familiar, e uma mulher não podia tocar em nenhum homem além do seu es-
poso. Mas Jesus associava-se livremente com as mulheres e ensinava a algumas
como a seus discípulos. Com uma mulher samaritana que tivera cinco maridos,
Jesus travou conhecimento para dar início a um reavivamento espiritual (nota-
velmente, começou a conversa pedindo ajuda a ela). A unção de uma prostituta,
ele aceitou com gratidão. As mulheres viajavam com seu bando de discípulos,
sem dúvida incitando muitos comentários. As mulheres povoaram as parábolas e
as ilustrações de Jesus, e ele muitas vezes fez milagres em benefício delas. De
acordo com o biblicista Walter Wink, Jesus transgrediu os hábitos do seu tempo
em cada simples encontro com mulheres registrado nos quatro evangelhos.23
Há, certamente, muito que se aprender e apreender dos encontros de Jesus com mulhe-
res, mas com vistas ao escopo do presente trabalho, ater-nos-emos aos encontros específicos
onde os evangelistas narram alguma atitude de adoração dessas mulheres para com Ele.
Algumas mulheres que tiveram encontros com Jesus tiveram seus nomes omitidos pe-
los evangelistas. Mas a coisa mais importante sobre elas não é o nome. As lições que suas
Os três evangelhos sinóticos nos dão o relato do encontro de Jesus com a sogra de Pe-
dro. Ele entra em sua casa, a vê doente e a cura instantaneamente. E, tão rápido quanto a
cura, ela passa a servi-lo. Os três relatos são curtos e projetam a dinâmica dos fatos em nos-
sas mentes com facilidade. Uma mulher é tocada pelo Senhor, tem sua grande (talvez a
maior) necessidade suprida e, como conseqüência, passa a servi-lo. Simples assim. Ela não
lhe pede mais nada, mesmo sabendo que Ele tem poder para lhe dar tudo! Pelo contrário, a
23
YANCEY, Philip. Op.cit. p.166-167.
11
gratidão leva a servir. Agora, e de agora em diante, é ela quem quer dar algo a Ele. “Sua re-
sidência veio a ser uma espécie de quartel-general para o Senhor e Seus discípulos”.24 Como
mulher de sua época, ela colocou à disposição dEle o que tinha e o que sabia fazer de m e-
lhor – abrir a casa para que a obra do Mestre tivesse um ponto de apoio e sustento.
Que lição esta mulher, a primeira cuja cura é relatada nos evangelhos, tem para ofere-
cer aos que foram tocados pelo Senhor! Sobre a prática contemporânea da Igreja, Gomes
nos relembra que Cristo muitas vezes é apresentado como “solução de todos os problemas”,
com ênfase em que “um encontro com Ele traz prosperidade e saúde. Entretanto (...) não
somos salvos para prosperar, mas para servir”.25 Cremos que esta é uma das grandes verda-
des a respeito da adoração a serem resgatadas hoje: servir a Deus envolve mais colocar-se à
disposição dEle do que esperar mais bênçãos do que as já recebidas pela Sua graça. E, no
caso específico da mulher, servir através daquelas coisas que refletem seu papel peculiar
Jesus em total humildade, adorando-o por reconhecer nele o único que podia resolver o pro-
blema que mais afligia sua vida. E sua atitude de adoração é acompanhada de um profundo
“Esta mulher, cujo nome não conhecemos, reconhecia quem era Jesus e prestou-
lhe a devida adoração. Admitia que não merecia privilégios divinos e que era al-
vo do desprezo do povo de Deus. Sabia também que na mesa do Senhor o pão
não era tirado dos filhos para alimentar os animais, mas era dado àqueles que se
achegassem (e ela desejava esse pão vivo, ainda que em migalhas)”.26
24
GOMES, Elizabeth. Mulheres no espelho. Venda Nova: Betânia, 1995. p.35
25
Idem. p.36.
26
Idem. p.70
12
Ela sabe que não merece, mas cai de joelhos. E, embora tivesse as ovelhas perdidas de
Israel como prioridade de seu ministério, o Senhor não rejeita a adoração dela. Ele continua
testando-a, ao citar a comparação com os cachorrinhos, para que todos conheçam o tipo de
fé que ela possui. Sua declaração de fé está diretamente ligada ao reconhecimento de sua
indignidade: se Jesus for o Senhor da casa, ela se contenta em se alimentar das migalhas que
caírem da mesa dele, pois elas são suficientes para satisfazer suas necessidades. Ele elogia
sua fé, além de atender seu pedido: sua filha está liberta.
Eis a lição preciosa que essa mulher – gentia e anônima – nos oferece: mesmo uma
pessoa à qual os religiosos e mais espirituais não dão valor, mesmo alguém afastado daquilo
confiança e dependência absolutas diante do Único que tem poder para socorrer-lhe.
Esta mulher nem foi percebida pelos discípulos – nem por ninguém, a não ser pelo
próprio Jesus, que chamou a atenção dos discípulos para o fato de que uma viúva pobre ha-
via dado a maior oferta de todas. “Aos olhos do Senhor, essa viúva pobre deu mais que to-
dos os outros juntos, embora a oferta dela fosse a menor de todas. O valor de uma oferta não
é determinado pela sua importância, e sim pelo espírito em que é dada.”27 Vale lembrar que
ser viúva e pobre naquela sociedade não era, de forma alguma, sinônimo de abastança. Ela
deveria ser sustentada, socorrida – e não se esperava que ela contribuísse com algo.
Ela é tão extravagante em sua oferta quanto Maria com seu perfume (veremos isso
adiante). Em ambas as situações, as mulheres são elogiadas por ele. Mas, ao contrário de
27
A Palavra aplicada: o evangelho de Marcos na vida prática. São Paulo: Mundo Cristão, 1989. p.49
28
Digno de nota é o fato de que os evangelhos que relatam o episódio não foram escritos pelos discípulos.
13
Quantas mulheres há em nosso tempo que servem a Deus com tudo o que têm, pas-
sando despercebidas por todos à sua volta, mas reconhecidas e valorizadas pelo Senhor que
tudo vê! Que grande lição para aquelas (e aqueles!) que só conseguem se ver adorando em
espírito e em verdade quando são reconhecidos pela platéia ou em meio a grandes celebra-
ções congregacionais.
Salomé adorou ao Senhor antes de fazer um pedido atrevido. Queria que seus dois fi-
lhos viessem a ser os ministros mais importantes do Reino do Messias. Afinal, eles não ti-
nham aberto mão de tanta coisa pra seguir a Jesus? Ela não hesitou em pedir isso a Jesus
após um ato de adoração. “Entretanto, sua motivação estava errada. „Os meus meninos me-
recem mais como discípulos do que os outros, e tenho de ajudá-los a garantir sua posi-
ção‟”.29
Jesus repreende a ela e aos filhos, mostrando que esse tipo de coisa não deve ser pedi-
do, muito menos usando a adoração como pretexto ou instrumento de troca ou manipulação.
Só o Pai pode conceder honras no Reino, e isso a quem Ele quiser. Se nos aproximarmos do
“Você acha ousada a mulher de Zebedeu? Por vezes eu e você não somos em nada melho-
res que ela. (...) Hoje, não vivemos mais em busca de posição, para nós ou para os nossos,
e nem de poder, porque dele é o poder e a glória. É em servi-lo com integridade que en-
contramos realização pessoal, valor total e satisfação por estarmos nele.30
29
GOMES, Elizabeth. Op. cit. p.64.
30
Idem. p.68.
14
Ao ungir Jesus em Betânia, Maria provocou a reação dos discípulos, pelo fato de ter
gasto tanto de um perfume caríssimo para ungir os pés do Mestre. O ato de devoção explíci-
ta foi tratado como uma extravagância desnecessária e inoportuna. Não havia pessoas po-
bres precisando mais de ajuda financeira do que o Senhor de perfume? Jesus repreendeu os
discípulos, recebendo e exaltando a adoração simbolizada pelo ato e pelo valor da oferta e
Falando sobre a pessoa de Maria no livro de João, Pinto afirma que ela não se impor-
tou com reputação, posição social ou glória ao praticar esse ato de adoração. “Maria aparece
como uma mulher de devoção. (...) O papel de Maria no Evangelho de João é demonstrar
mas completa: “Contudo, teve de aprender com Maria o que seria adoração genuína, numa
Esta mulher é um exemplo de devoção intensa e generosa, que coloca o mais caro à
disposição de Jesus, sem esperar receber em troca, simplesmente pela alegria de servir e a-
dorar ao Senhor.
31
YANCEY, Philip. Op. cit. p.93.
32
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. O papel da mulher no Evangelho de João. In: Vox Scripturae: Revista Teo-
lógica Brasileira, vol.3, nº.2 (setembro 1993). São Paulo: Vida Nova. p.209-210.
33
GOMES, Elizabeth. Op. cit. p.81.
15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
mencionadas neste trabalho, a partir dos Evangelhos, podemos afirmar que uma prática de
devoção e adoração bíblicas deve levar em conta e conter alguns aspectos revelados nessa
interação.
Um desses aspectos é que Cristo valoriza a mulher muito acima dos padrões impostos
pela sociedade contemporânea e aceita a adoração por parte da mulher como integrante do
Seu povo.
Talvez não seja tão admirável assim que as mulheres estivessem primeiro no
Berço e por último na Cruz. Elas jamais conheceram um homem como esse Ho-
mem – nunca houve outro igual. Um profeta e mestre que jamais as aborreceu,
que jamais as adulou, nem as importunou, nem as tratou com desdém; que jamais
fez as costumeiras brincadeiras acerca delas, jamais as tratou com atitude de
„Mulheres, Deus nos livre!‟ ou „Senhoras, Deus as abençoe!‟; que repreendia sem
lamúrias e elogiava sem ares de superioridade; que levava a sério suas perguntas
e seus argumentos, que jamais estabelecia limites para elas, que nunca insistia em
que fossem femininas nem zombava delas por serem mulheres; que não tinha ne-
nhum interesse pessoal nelas e nenhuma dignidade masculina incômoda para de-
fender; que as aceitava como eram e permanecia completamente desinibido.34
Outros aspectos interessantes podem ser vistos nas atitudes dessas mulheres, em ter-
mos de convenções sociais e limites. Nenhuma delas chegou diante de Jesus pedindo que as
regras com relação a elas fossem mudadas, para que elas O pudessem adorar dignamente. É
um grande desafio para a nossa época, onde o feminismo reclama mudanças no seio da Igre-
ja, para que as mulheres possam servir a Deus com todo seu potencial. A sogra de Pedro
simplesmente pôs tudo o que tinha e sabia fazer à disposição de Cristo, servindo-O como
mulher, sem se sentir diminuída por ter que se dedicar às tarefas tidas como femininas.
como adoradoras. Mesmo convivendo com Cristo, elas se submetiam às regras da sinagoga.
34
SAYERS, Dorothy. Apud: YANCEY, Philip. Op. cit. p.302.
16
Não usavam da liberdade que Ele lhes dava para provocar problemas. Por outro lado, não
permitiam que as regras as impedissem de demonstrar sua devoção e adoração a Deus. Isto é
também um grande desafio à Igreja contemporânea, onde a alegação de liberdade para cul-
tuar é um pretexto para a insubmissão e a quebra de limites por parte das mulheres.
A motivação para a adoração é outro aspecto importante a ser apontado, porque revela
a qualidade da atitude quem adora. A sogra de Pedro adorou a Jesus com seu serviço, por ter
recebido a cura física; a mulher cananéia adorou-O como reconhecimento de que Ele era o
único que poderia socorrê-la – e ambos os atos de adoração foram aceitos por Ele. Maria
extravasou sua devoção publicamente, e a viúva fez a mesma coisa em segredo, e Jesus a-
ceitou, elogiou e imortalizou as duas. Salomé foi repreendida, por ter usado a adoração co-
Igreja em adoração, sendo exemplos para nós de como nos aproximarmos do Senhor.
que diz respeito a atitudes individuais; houve, entre as mulheres estudadas, quem viesse p u-
blicamente diante de Jesus, em rompantes de devoção explícita, como também aquelas cuja
adoração foi tão discreta que passou despercebida aos homens, embora qualitativamente
e da adoração por parte da mulher, o que pode ser objeto de estudo em um futuro trabalho.
Entretanto, pode-se concluir que aqueles que destacamos aqui já se constituem num ponto
do papel da mulher no Evangelho de João, resume bem o assunto, de forma aplicável a to-
dos os evangelhos:
Na medida em que os que desejam ver as mulheres cumprirem todo seu tremendo
potencial não extrapolem testemunho em apostolado, capacidade de organização
em posição de liderança e discernimento espiritual em responsabilidade de ensino
para o corpo reunido, os retratos femininos no Evangelho de João [e nos outros]
permanecerão como um desafio vital não apenas para mulheres cristãs, mas para
toda a Igreja, na qual não há nem macho nem fêmea, mas Cristo é tudo em todos
(Gl 3.28).35
35
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Op. cit. p.213
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TEXTOS BÍBLICOS
BÍBLIA. Português. A Bíblia anotada expandida/Charles C. Ryrie. Tradução de João Ferreira
de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2007. Edição revista e atualizada no
Brasil. 1504p.
OBRAS ENCICLOPÉDICAS
BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento.São Paulo: Vida
Nova.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. v. 4. São Paulo:
Hagnos, 1991.
GERAL
A Palavra aplicada: o evangelho de Marcos na vida prática. São Paulo: Mundo Cristão,
1989.
DANIEL-ROPS. Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. São Paulo: Vida Nova, 2008
DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2005.
GOMES, Elizabeth. Mulheres no espelho. Venda Nova: Betânia, 1995.
LACHLER, Margaret Elise. Mulheres ontem e hoje. São Paulo: ABU, 1987.
LIGHTFOOT, Neil R. O papel da mulher: perspectivas no Novo Testamento. São Paulo: Vi-
da Cristã, 1979.
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2003.
TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento: sua origem e análise. São Paulo: Shedd, 2008.
YANCEY, Philip. O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Vida, 2001.
PERIÓDICOS
Vox Scripturae: Revista Teológica Brasileira, vol.3, nº.2 (setembro 1993). São Paulo: Vida
Nova.
SITES
JESUS, Sérgio Nunes de. http://www.partes.com.br/ed31/emquestao.asp