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Os Métodos Ativos em Educação Musical: Diálogos Entre A Formação e Atuação

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OS​ ​MÉTODOS​ ​ATIVOS​ ​EM​ ​EDUCAÇÃO​ ​MUSICAL:​ ​DIÁLOGOS​ ​ENTRE​ ​A

FORMAÇÃO​ ​E​ ​ATUAÇÃO

1.​ ​INTRODUÇÃO

A valorização do ensino de música nas escolas está sendo um processo


gradativo, onde através de resultados positivos e atitudes tomadas pelos
professores de música, podemos dar um passo de cada vez para mostrar a
importância da música nesse âmbito de ensino. Através do uso dos métodos ativos
em educação musical, é possível oferecer uma educação integral para o aluno, e
ensinar de acordo com as diversas capacidades cognitivas. Segundo Figueiredo
(2012) os métodos apresentados na primeira metade do século XX, também
denominados métodos ativos, “propõem uma nova abordagem em que todos os
indivíduos seriam capazes de se desenvolver musicalmente a partir de metodologias
adequadas” (p.87). Nesse sentido, Maura Penna na sua introdução ao livro
Pedagogias​ ​em​ ​Educação​ ​Musical,​ ​escreve​ ​que:

“...é através do modo de ensinar que podemos selecionar e organizar


os conteúdos de acordo com a capacidade cognitiva e os interesses
de nossos alunos; planejar atividades que motivem a turma e, ao
mesmo tempo, permitam o desenvolvimento de suas
habilidades/capacidades; empregar os recursos disponíveis, mesmo
que limitados, em função do processo educativo etc.” (MATEIRO;
ILARI,​ ​2012,​ ​p.​ ​14)

A partir dessas reflexões me motivei a escrever, enquanto discente do curso


de licenciatura em música da UNIPAMPA, como o conhecimento adquirido nas aulas
do componente curricular de ​Pedagogias em Educação Musical​, dialogam com as
práticas que vivencio como monitor em um projeto de música. Tais atividades são
realizadas na Escola Estadual de Ensino Médio Professor Leopoldo Maieron - CAIC,
localizada na cidade de Bagé/RS, em um projeto de uma orquestra idealizada pela
professora Neiva Martínez. O voluntariado, sem fins lucrativos, teve início no
segundo semestre do ano de 2016, com o objetivo de fazer uso dos instrumentos
adquiridos pela escola, que estavam sem profissionais com capacitação para
trabalhar com os diversos instrumentos. Neste contexto considero importante a
realização desta escrita, pela necessidade de registrar e refletir teoricamente o
projeto​ ​de​ ​música​ ​realizado​ ​na​ ​escola.

2.​ ​METODOLOGIA

Este trabalho tem como base a escrita de um diário de aula. O diário foi
escrito no dia 28/08/2017 quando fui encarregado de ensaiar e ensinar algumas
músicas com os alunos mais avançados da orquestra, diferentemente dos outros
dias em que eu tinha apenas a função de monitor. A escrita de diários de aula se
insere numa perspectiva em educação musical que "procura estudar os
fenômenos relacionados a aprender e ensinar música a partir de relatos orais ou da
escrita de diários de aula" (RECK, LOURO, RAPOSO, 2014, p.125). Nesse sentido,
de​ ​acordo​ ​com​ ​Louro,​ ​Teixeira​ ​e​ ​Rapôso:

os diários de aula são alternativas de reflexão na formação e


na atuação profissional de professores na construção p de
caminhos de subjetivação e no encaminhamento de dilemas
musicais e pedagógico-musicais, nos seus mais diversos
meios de atuação. Além disso, representam um meio de
compartilhamento de angústias e alegrias, sucessos e insucessos
das​ ​práticas​ ​docentes​ ​mais​ ​variadas.​ ​(2014,​ ​p.27)

A partir da escrita de um diário, pude refletir sobre as metodologias usadas


nos ensaios da orquestra, e como as ideias discutidas no componente curricular de
Pedagogias em Educação Musical dialogam com as práticas desenvolvidas no
projeto

3.​ ​RESULTADOS​ ​e​ ​DISCUSSÃO

Um dos principais conceitos encontrado nos métodos ativos em música, na


primeira e segunda geração, é que a prática se dá antes da teoria (MATEIRO, ILARI,
2012). Para Figueiredo (2012, p.85), nessa perspectiva “evita-se o foco na teoria
musical e nos exercícios descontextualizados, que muitas vezes, desestimulam a
aprendizagem musical exatamente porque não são reconhecidos como experiências
musicais​ ​válidas”.
Assim ocorreu também no aprendizado das crianças que tocaram na flauta
doce a música ​Smile1, e no dia do ensaio não tive preocupação com as crianças que
tocavam flauta, pois já sabiam tocar a música e também ler suas partituras, caso
esquecessem​ ​das​ ​notas.​ ​Como​ ​relato​ ​no​ ​diário:

“Logo chegaram duas crianças para tocar as flautas, e fazer a


melodia principal da música. Elas já tocam a música desde do ano
passado,​ ​então​ ​já​ ​chegaram​ ​tocando...”​ ​(Diário​ ​de​ ​Aula,​ ​28/08/2017)

Assim como em outras práticas do projeto, o ensino se dá primeiro com o


solfejo das notas (com as notas escritas no quadro), de acordo com a proposta do
educador musical húngaro Zoltán Kodály (1882-1967) que começava o ensino de
música pela voz, usando o solfejo. Em seguida os alunos aprendem o valor das
figuras musicais usando o corpo, dividido em quatro partes (dois braços e duas
pernas), assim como na proposta metodológica de Émile Jacques-Dalcroze
(1865-1950),​ ​que​ ​usa​ ​a​ ​eurítmica​ ​em​ ​seu​ ​trabalho​ ​(MATEIRO,​ ​ILARI,​ ​2012).

“... e a neiva observava e interagia com as crianças, através de


movimentos, chegou a puxar uma aluna para dançar, pois é
importante sentir a música no corpo, como a metodologia de

1
​ ​a​ ​música​ ​Smile,​ ​que​ ​compõe​ ​a​ ​trilha​ ​sonora​ ​do​ ​filme​ ​Tempos​ ​Modernos,​ ​de​ ​Charlie​ ​Chaplin,​ ​foi​ ​escolhida​ ​para
o​ ​repertório​ ​da​ ​apresentação,​ ​pois​ ​já​ ​havia​ ​sido​ ​tocada​ ​com​ ​a​ ​orquestra,​ ​e​ ​as​ ​crianças​ ​que​ ​tocavam​ ​flauta​ ​já
tinham​ ​memorizado​ ​as​ ​notas.
Dalcroze. Sempre foi um dos pilares dos métodos de ensino da
Neiva, a importância de sentir a nota no corpo como as durações,
alturas​ ​e​ ​intensidades”​ ​(diário​ ​de​ ​aula,​ ​28/08/2017).

Depois de internalizar as notas no corpo, o aluno vai para a partitura, que


contém o gráfico da digitação abaixo de cada nota (fig.1). Esse método para ensinar
flauta foi usado pela Professora Neiva Martínez na musicalização, a partir de seus
estudos como educadora musical. Também podemos observar o uso da notação
com digitação no método Suzuki2, que indica a digitação em cima das notas, através
de​ ​números​ ​que​ ​simbolizam​ ​os​ ​dedos​ ​da​ ​mão​ ​esquerda​ ​do​ ​violino.

​​
​ ​Figura​ ​1:​ ​Partitura​ ​contendo​ ​a​ ​digitação​ ​utilizada​ ​para​ ​cada​ ​nota​ ​da​ ​música.

Após o ensaio da música ​Smile os alunos de flauta doce saíram da aula,


ficando dois violonistas para a atividade de improvisação, como consta no diário:
“Então as crianças vão embora eufóricas, todas aparentando estar felizes. Assim
começamos​ ​a​ ​atividade​ ​de​ ​improvisação”​ ​(diário​ ​de​ ​aula,​ ​28/08/2017).
A próxima música foi um improviso (atividade que eu propus para realizar),
que seria criado tendo princípios nas propostas do educador alemão Carl Orff
(1895-1982). Fonterrada (2008), ao falar da abordagem de Orff sobre a
improvisação, diz que a “improvisação tem um papel importante na proposta
pedagógica e está presente desde os primeiros estágios, até chegar à sua forma
madura” (p.161). Antes de começar a improvisação foi proposto que dois acordes
(Lá​ ​menor​ ​e​ ​Dó​ ​maior)​ ​iriam​ ​alternar​ ​entre​ ​si​ ​durante​ ​toda​ ​música.

“Partindo novamente do conhecimento do aluno, peço para o mesmo


que dedilhava, fazer um dedilhado variando notas dentro do acordes
Lá menor e Dó maior. O tom foi escolhido por mim, pois facilitava
para aplicar ideias da metodologia de Orff, então passei a escala
pentatônica para o outro aluno improvisar no violão” (diário de aula,
28/08/2017).

Tendo a base de acordes definida, mostrei a escala pentatônica para o outro


aluno fazer o solo. Essa escala foi utilizada no método de Orff por ter um caráter
circular, diferente do modelo diatônico que é direcional e pode representar
dificuldades​ ​na​ ​improvisação​ ​(FONTERRADA,​ ​2008).

2
​ ​Método​ ​desenvolvido​ ​pelo​ ​educador​ ​musical​ ​japonês​ ​Shinichi​ ​Suzuki​ ​(1898-1998).
Dessa forma dialogando com os métodos ativos em educação musical
durante as práticas e desafios que encontrei em sala de aula, obtive os resultados
esperados para um dia de ensaio. No entanto, os métodos ativos não podem ser
considerados como “receitas prontas”, como afirma Figueiredo (2012), porém suas
ideias e propostas podem ser adaptadas de acordo com as diferentes necessidades
encontradas​ ​no​ ​aprendizado​ ​musical​ ​do​ ​alunos.

4.​ ​CONSIDERAÇÕES​ ​FINAIS

Através das metodologias em educação musical apresentadas no curso de


licenciatura em música na UNIPAMPA, me sinto mais preparado para interagir e
trabalhar com alunos de diferentes idades e realidade sociais. Notei como a
influência direta e indireta dos pioneiros da educação musical, têm sido essenciais
para os resultados obtidos nas aulas de música do projeto. Percebo também através
da leitura do diário escrito, como minha formação enquanto professor de música,
dialoga com a realidade que encontro no projeto de música que sou monitor,
favorecendo​ ​a​ ​valorização​ ​da​ ​prática​ ​músico-pedagógica​ ​nesse​ ​espaço.

5.​ ​REFERÊNCIAS

FIGUEIREDO, S. L. F. A educação musical do século XX: os métodos tradicionais,


In: JORDAO, G. ALLUCCI, R. Terahata, A. M (coord) Música nas escolas. Ministério
da Cultura e Vale, São Paulo, 2012, p.85-87. [acesso em 27 set 2017]. Disponível
em​ ​http://www.amusicanaescola.com.br/pdf/AMUSICANAESCOLA.pdf

FONTERRADA, M. T. O., De tramas e fios: Um ensaio sobre música e educação. 2


ed.​ ​São​ ​Paulo,​ ​Editora​ ​UNESP,​ ​2008.

LOURO, A. L.; TEIXEIRA, Z.; RAPÔSO, M. (Org) Aulas de música: narrativas de


professores​ ​ ​numa​ ​perspectiva​ ​(auto)biográfica.​ ​Curitiba:​ ​CRV,​ ​2014.

MATEIRO, T. ILARI, B. Pedagogias em educação musical. Curitiba, InterSaberes -


Série​ ​Educação​ ​Musical,​ ​2012.

RECK, A. M. ; LOURO, A. L. ; RAPÔSO, M. M. Práticas de educação musical em


contextos religiosos: narrativas de licenciandos a partir de diários de aula. Revista da
Associação​ ​Brasileira​ ​de​ ​Educação​ ​Musical,​ ​Londrina,​ ​v.22,​ ​n.33,​ ​p.​ ​121-136,​ ​2014.

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