Nothing Special   »   [go: up one dir, main page]

Resumos Baschet e Le Goff

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Jérôme Baschet – A dinâmica do sistema feudal

 No fim do século XI e início do século XII, o Ocidente cristão inicia um


desenvolvimento comercial mais vigoroso com intensa circulação de produtos, sendo a
tecelagem e a metalurgia os dois suportes principais do comércio;
 A reafirmação do fenômeno urbano na Idade Média Central está associada ao
desenvolvimento das atividades artesanais e comerciais, mas a função militar e a
presença de uma autoridade são igualmente decisivas, pois suscitam a manutenção de
uma corte numerosa e criam um efeito de atração;
 O desenvolvimento das cidades dá lugar a um fenômeno no decorrer do século XII: a
formação das comunas (constituição das populações urbanas em comunidades), que são
fruto de uma conivência entre a aristocracia cavaleiresca e a elite dos mestres de ofícios.
 As famílias aristocráticas detêm a posição de destaque na cidade, mas embora residindo
na cidade, permanecem ligados ao mundo rural pelos seus bens fundiários;
 Ao menos nos séculos XII e XIII, os mercadores e os artesãos não formam um grupo à
parte, eles estão amplamente misturados e se fundem, ao menos parcialmente, no seio
de uma elite urbana;
 Quanto às atividades especificamente urbanas, a exigência de qualidade permanece
mais importante que o aumento da produção, a relação salarial estabelecida entre
mestres e companheiros conserva traços muito diferentes daqueles que serão impostos
pelo aparecimento do capitalismo. Trata-se ainda de uma relação muito personalizada,
que não se estabelece segundo as regras de um “mercado de trabalho” e leva bastante
em conta as pessoas e suas relações interpessoais;
 Existia a concepção de que, a revolução burguesa iniciada no século XI, constituía na
justaposição de dois sistemas econômicos e culturais distintos: um tendendo ao
imobilismo de uma ordem tradicional enraizada nos campos e dominada pela
aristocracia, o outro caracterizado pelo dinamismo do mundo urbano e o gosto da
novidade próprio à mentalidade burguesa;
 No entanto, hoje a tendência é fazer prevalecer outra concepção: o desenvolvimento das
trocas e das cidades é produzido pela dinâmica do próprio feudalismo, o
desenvolvimento urbano é suscitado pelo dinamismo da zona rural, especialmente pela
produção de excedentes que camponeses e senhores vendem na cidade.
 O sistema feudal tinha necessidade de um desenvolvimento das trocas, mas é preciso
enfatizar que isso se realiza sob a condição de manter esses grupos em posição de
dominada e a atitude da própria “burguesia” manifesta essa subordinação, pois tinham
apenas um desejo: fixar-se na zona rural, adquirir feudos e serem consagrados
cavaleiros, ou seja, durante os séculos medievais, o surgimento dos mercadores e das
cidades permanece integrado à lógica do feudalismo;
Jacques Le Goff – A “Bela” Europa das cidades e das universidades, século XIII

 O séc. XIII é considerado como o apogeu do Ocidente medieval, o momento em que se


impõe um modelo que pode ser chamado de europeu;
 O êxito aparece em quatro campos principais: crescimento urbano, renovação do
comércio e promoção dos mercadores, o saber, e a criação de novos religiosos que
residem na cidade e são ativos sobretudo no meio urbano;
 Viu-se na cidade medieval uma ferramenta que hostilizava a feudalidade, mas as
cidades medievais não só concordavam com as estruturas feudais gerais, como faziam
parte dela;
 O “governo dos cidadãos” deixou dois traços profundos nas cidades: recurso a juristas e
o imposto (principalmente as talhas), que, se antes eram imposições propriamente
feudais, passam a ser cobrados pelas monarquias que estão se constituindo em estados
modernos;
 O sistema de valores dos ofícios evoluiu de maneira significativa e a desigualdade
dentro da sociedade urbana parece sobretudo no campo dos ofícios;
 A origem da fortuna das cidades medievais não esteve no comércio, mas na indústria da
tecelagem. Uma Europa do têxtil gerou uma Europa de mercadores;
 Desigualdade social: elite dominante que institui a justiça, sobretudo no domínio fiscal,
e que esmaga uma massa, sem cessar crescente, de pobres;
 O mercador europeu medieval é um mercador itinerante, prejudicado pelo mau estado
das estradas, falta de meio de transportes, insegurança, etc., O único progresso desse
comércio terrestre é a construção de numerosas pontes sobre os rios. Mas as vias
comerciais preferidas foram as vias aquáticas, fluviais e marítimas. Nasce na Idade
Média uma Europa do mar;
 O século XIII sofreu também a ação de religiosos de um tipo novo: as ordens
mendicantes: cristianismo novo em que os interesses pelos leigos era maior e onde a
preocupação de adaptar os clérigos como os leigos. Prática da humildade e da pobreza.
 As ordens mendicantes ensinam também às populações novas práticas religiosas graças
a uma intensa pregação. Com eles nasce uma Europa da palavra, do sermão;
 Ordens mendicantes: uma ordem masculina, uma feminina e uma terceira ordem, onde
agrupam leigos de diversas condições que continuam a exercer a sua profissão e levam
uma vida tão próxima quanto possível da vida dos frades;
 Os homens e as mulheres do século XIII, os clérigos e os leigos, invadiram o domínio
de Deus. O instrumental intelectual e mental das pessoas evolui, fazendo progredir o
domínio dos homens pelo desenvolvimento dos instrumentos do saber. O livro se torna
um manual, a escrita invade o mundo dos mercadores e dos juristas;
Jérôme Baschet – A lógica da salvação

 O além é parte integrante do universo do homem medieval, lhe conferindo seu


verdadeiro sentido e traçando sua verdadeira perspectiva. O medo do inferno e a
esperança do paraíso devem guiar o comportamento de cada um;
 Para a cristandade medieval, o além é o lugar onde se realiza a justiça divina, onde se
revela a verdade do mundo.
 Dualidade moral que estrutura o pensamento cristão a partir do modelo de duas cidades:
a cidade de Deus (justos) e a cidade do Diabo (atormentados pelo pecado); Pecado
passível da danação x virtude merecedora da beatitude do céu. O conjunto dessas
dualidades morais concorre para ativar a exigência fundamental em nome da qual a
Igreja pretende governar a sociedade cristã: prover a sua salvação (liberar os homens do
pecado protegê-los do mal e mantê-los no correto caminho que leva à salvação);
 A oposição entre o bem e o mal é essencial no cristianismo medieval. A Igreja se
esforça para assegurar os fundamentos teológicos a toda realidade;
 Para Agostinho, o pecado original é transmitido a cada homem, que, então, nasce
pecador antes mesmo de ter realizado algo, demonstrando que o homem não pode se
salvar sozinho e que tem necessidade da Igreja, que a partir da mediação lhe permite
atrair sobre ele a graça divina e evitar as emboscadas que semeiam o caminho da
salvação;
 Tratar dos pecados (septenário) significa sustentar um discurso sobre a boa ordem da
sociedade. O discurso sobre pecados (séc. XIII) ecoa as transformações sociais,
principalmente, o desenvolvimento das cidades, visando aguçar a culpabilidade dos fiéis
e valorizar os meios de salvação oferecidos pelos clérigos;
 O mundo é o teatro do afrontamento permanente e dramático entre o Criador e Satã. Ao
longo da Idade Média, a importância da figura do Maligno é constantemente reforçada.
O fiel dispõe de práticas, de gestos e de ritos para se proteger do Inimigo (sacramentos,
preces e bênçãos, objetos sagrados e o sinal da cruz: gesto simples e familiar que salva
de todos os perigos satânicos);
 Os poderes eclesiásticos e monárquicos (século XV) desencadeiam vasta perseguição
contra aqueles que consideram seus inimigos mortais (supostos membros de seitas
diabólicas);
 Crença em um além dual, que divide a humanidade em dois destinos radicalmente
opostos: a glória celeste do paraíso para uns, o castigo eterno do inferno para outros. A
ideia de um tempo de provação e de purgação após a morte, permitindo a salvação da
alma e ajudado pelo sufrágio dos vivos é realmente a esperança, mas é um lugar
provisório que deixará de existir no momento do Juízo Final, quando o universo se
fixará em sua eterna dualidade;
 A pena principal do inferno é a privação de Deus (danação);
 As representações do paraíso ao longo da idade média deslocam-se de uma sociedade
celeste igualitária para uma corte em que a beatitude comum não exclui a legitimação
das hierarquias terrestres;
Jacques Le Goff – Outono da Idade Média ou primavera de tempos novos?

 O período dos séculos XIV-XV, tradicionalmente considerado como o fim da Idade


Média, de crise da relativa estabilidade e da relativa prosperidade que se instalaram na
Europa no século XIII;
 A fome foi particularmente terrível, devido a um longo resfriamento e as grandes ondas
de chuvas repetidas, o resultado foi uma queda bruta das colheitas de cereais;
 No século XIV houve uma volta quase geral da guerra, aparecimento do canhão e da
pólvora para canhão, da artilharia e instalação de um novo complexo militar. A
militarização da Europa foi completada pela profunda evolução do serviço militar;
 Em meados do século XIV ocorreu um dos acontecimentos mais catastróficos da
Europa Medieval: a peste negra, principalmente pelo caráter fulminante da doença. As
conseqüências da epidemia eram particularmente espetaculares por causa do contágio
nos grupos humanos que viviam em comunidade e que foi corroída e destruída pela
epidemia. Os médicos do século XIV eram incapazes de encontrar as causas naturais da
epidemia e a interpretação mais freqüente era a da explicação pela ira divina. Houve,
todavia, observações precisas e eficazes, como a luta contra o contágio. A medida mais
eficaz foi o refúgio, essa forma de luta contra a peste evidentemente só estava ao
alcance das elites;
 Além disso, outros acontecimentos e outras evoluções fizeram nascer na Europa dos
séculos XIV e XV conflitos e violências;
 Surgiu um novo tipo de comportamento delituoso: o crime. E a repressão da
criminalidade multiplica os documentos, os arquivos e podem dar-nos a impressão de
que elas aumentaram, ao passo que é a repressão e a documentação que fizeram
progressos;
 A Europa do final da Idade Média é uma Europa que expulsa seus judeus e o argumento
não é religioso e sim racista “limpeza do sangue”; Repressão da bruxaria que passou
para o primeiro lugar da representação inquisitorial e será vítima de numerosas
fogueiras;
 Distinguiram-se também as revoltas dos trabalhadores, em sua maioria camponeses
privilegiados, ameaçados de seus privilégios. O movimento se manifestou
essencialmente pela pilhagem e pelo incêndio de castelos, mas não produziu eco nas
cidades, nem produziu chefes, sendo reprimido pelos senhores com atrocidade;
 A concentração artesanal e a dominação dos mestres das corporações atiçaram as
revoltas dos artesãos e dos pobres. E as revoltas das cidades encontraram chefes;

Você também pode gostar