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SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo Biografias

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO


DISCIPLINA JORNALISMO TEMÁTICO

FICHAMENTO

GIL ACIOLLY DANTAS JACINTO


estudante

SCHMIDT, Benito Bisso. Construindo biografias... Historiadores e jornalistas:


aproximações e afastamentos. Revista Estudos Históricos, v. 10, n. 19, p. 3-22, 1997.

Referência no Brasil para historiadores, no campo da biografia, Benito Bisso Schmidt teve toda
a sua formação na área de história (licenciatura, bacharelado, mestrado, doutorado e pós-
doutorado). Sua área revela seu lugar de fala, algo facilmente constatado no ensaio
“Construindo biografias... Historiadores e jornalistas: aproximações e afastamentos”,
trabalho que é referência para outros 152 artigos acadêmicos, de acordo com as
citações indexadas pelo Google. Suas reflexões são realizadas, portanto, no campo da
história. Essa demarcação é fundamental, uma vez que o autor compara o fazer
biográfico do jornalista com o do historiador.

Schmidt (1997) esclarece que não tem intenção de fazer reserva de mercado, reivindicando a
realização de biografias pelos historiadores. Entretanto seu objetivo, explicitado no artigo, é
demonstrar que “há minúcias que só historiador vê”, parafraseando, ironicamente, o jornalista
Fernando Morais, que teria defendido o olhar jornalístico na construção de biografias.

O autor aponta como uma das causas do sucesso das biografias no campo da história a crise do
paradigma estruturalista, focada mais nas relações que no indivíduo. Os historiadores atuais
“quiseram restaurar o papel dos indivíduos na construção dos laços sociais” (CHARTIER, 1994,
p.102 apud SCHMIDT, 1997, p. 5). No âmbito do jornalismo, a indicação é do impacto do new
jorunalism, por meio de nomes como Truman Capote, Tom Wolfe e Norman Mailer. A
literatura é observada como ponto em comum entre os campos do jornalismo e da história.

Ao analisar o campo da história, ele afirma que houve um distanciamento da literatura,


consolidado numa negativa a narratividade, que em certo momento foi vista pelos
historiadores como um modo inapropriado da exposição da história. Entretanto, historiadores
narrativos reaproximaram literatura e história por meio de biografias realizadas. Esses
profissionais, mesmo focados nos indivíduos, levavam em conta uma análise historicamente
contextualizada em suas obras.

Ao ser elo tanto para o jornalismo quanto para a história, a literatura implica,
necessariamente, o elemento ficcional “ a adoção de determinados estilos e técnicas
narrativas” (p.8). Citando Jorge Caldeira, o autor explica que a biografia é um gênero híbrido
que exige tanto fontes documentais como interpretação e ficção.
Descrição de traços físicos e psicológicos, flashback, fluxo de consciência ou a reprodução do
pensamento do personagem são alguns elementos da literatura utilizados nas biografias que
Schmidt examinou para elaboração de seu ensaio, tanto escritas por historiadores quanto por

Schmidt (1997) estabelece diferenças formais e epistemológicas nas biografias realizados nos
dois campos, enfatizando um maior comprometimento ético e formal nas obras escritas por
historiadores. O tratamento da informação, segundo o autor, é uma das principais diferenças
entre a biografia realizada pelo jornalista e pelo historiador. Para este último, haveria um rigor
metodológico, dentro da tradição crítica. Outra diferença estaria num maior conteúdo
ficcional nos trabalhos dos primeiros. Dentro da história, portanto, a margem de invenção
seria menos dilatada (p.12).

Na historiografia, há a presença de advérbios como talvez e provavelmente, quando cenas são


reconstruídas. Um cuidado que os historiadores tomam na hora de passar para o papel suas
impressões. Também é percebida uma grande quantidade de notas que justificam os
posicionamentos dos autores. Já no jornalismo, as notas são retiradas para dar fluidez ao
texto. O autor identifica trechos de biografias escritas por jornalistas que seriam ficcionais e
ainda afirma que os jornalistas preferem os famosos para biografar, enquanto historiadores
dão vida a personagens comuns para retratar a história. Também critica uma postura
considerada sensacionalista por parte dos profissionais da imprensa, ao levar para as
biografias circunstâncias íntimas dos personagens.

Após defender, mesmo que implicitamente, a biografia como uma “ferramenta” de trabalho
mais adequada ao historiador que ao jornalista, o autor defende a importância desse gênero
para a história, uma vez que poderia comprovar e refutar tese. Ele justifica que os recursos
literários não são fins, mas revelam novas dimensões, ligando indivíduos aos seus contextos.
Por fim, sugere um meio termo com a devida distância entre o individualismo exacerbado e a
determinação estrutural estrita. Para ele o gênero biográfico tem o papel de “recuperar a
tensão, e não a oposição, entre o individual e o social” (p. 16). Conclui, referenciando a ética,
na busca por um respeito à memória dos entrevistados.

CITAÇÕES

“Ou seja, assim como o romancista, o historiador pode utilizar-se da imaginação, desde que
esta seja explicitada ao leitor enquanto tal e balizada pelas fontes disponíveis. Estes
procedimentos nem sempre são seguidos pelos jornalistas-biógrafos que, pelo menos nos
casos mencionados, preferem tramar em seus textos o "verdadeiro" e o "verossímil", as
"provas" e as "possibilidades". (SCHMIDT, 1997, p. 14)

“Contudo, para além desta saborosa recriação dos incidentes do dia-adia, não percebo, nas
biografias escritas por jornalistas, uma preocupação em discutir, implícita ou explicitamente,
as articulações entre vida pública e vida privada, entre cotidiano e nào-cotidiano, entre atos
racionais e motivações irracionais etc.” (SCHMIDT, 1997, p. 17)

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