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Neurociência e Ciências Sociais
Neurociência e Ciências Sociais
Neurociência e Ciências Sociais
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a ciência e a tecnologia têm influenciado o estilo de vida da
sociedade, sendo a tecnologia o aspecto que tem modificado mais substancialmente as
atividades humanas, tais como comunicação, mobilidade, saúde, entre outros.
Segundo Acevedo (1998), a tecnologia é uma das características mais relevantes dos
tempos atuais e é inquestionável sua importância em todos os âmbitos sociais. O autor
considera a tecnologia como um fator essencial no logro de metas de caráter social,
cultural, econômico e político. A ciência e a tecnologia se relacionam mutuamente,
essa conexão de conhecimentos tanto teóricos como práticos se aplica na
interpretação e transformação do entorno e solução de problemas (ACEVEDO, 1998).
No que se refere às disciplinas do design, os avanços tecnológicos e científicos
têm propiciado a incorporação de novas ferramentas e saberes que contribuem para a
geração de novos cenários de ação (HERRERA, 2012).
Para Herrera (2012) os avanços tecnológicos e científicos têm modificado os
meios e as ferramentas na prática do design, transformando alguns planejamentos
teóricos e metodológicos da disciplina. Dessa forma, o design se encontra em evolução
constante, cada vez mais sustentado na ciência e nos conhecimentos dos avanços
tecnológicos para o desenvolvimento de novos produtos.
Na busca pela compreensão do comportamento, condições e interesses do
usuário frente a diversas situações, espaços ou produtos, Herrera (2012) afirma que
algumas disciplinas das ciências sociais têm se sustentado na neurociência, uma vez
que esta abre novas possibilidades de compreensão da natureza da cognição e da
conduta humana, brindando com uma aproximação cientifica à pessoa. Segundo o
autor, cabe aos pesquisadores e profissionais das diferentes disciplinas da área das
ciências sociais – design, economia, entre outros - incorporar os avanços
neurocientíficos na prática.
O presente estudo tem como objetivo analisar e compreender a aplicação da
neurociência em algumas disciplinas - marketing, ergonomia e design, bem como
estabelecer uma reflexão preliminar sobre a incorporação da neurociência no design
nos âmbitos acadêmico e profissional por meio de uma revisão teórica pautada na
compreensão da aplicabilidade da neurociência no desenvolvimento de projetos de
produtos e sistemas
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2. GENERALIDADES DA NEUROCIÊNCIA
linguagem. O termo foi utilizado pela primeira vez em um curso desenvolvido pelos
cientistas Gazzaniga e Miller no instituto Cornell Medical College, em 1976, sobre as
bases biológicas da cognição humana, as quais eram consideradas uma aproximação
pertinente para estudar sujeitos com técnicas das ciências do cérebro de acordo com
os métodos das ciências cognitivas (Escera, 2004. p. 2). Segundo Escera (2004) a
neurociência cognitiva não é muito diferente das neurociências entendidas do modo
mais amplo. Fuster (2000) afirma que toda neurociência é cognitiva, enquanto Escera
(2004) declara que a “neurociência cognitiva constitui uma forma de entender as
relações cérebro-cognição com a identidade pragmática própria, diferenciada da
neurociência em geral e das disciplinas psicológicas e psicobiológicas em particular[...]
e seu antecedente mais próximo foi a Psicologia Fisiológica que se havia estabelecido
como uma disciplina consolidada”.
No transcurso do tempo temos visto em alguns estudos (PEREIRA & LAGO,
2015; GIRAUDET, ET AL., 2015; ALEXIOU, ET AL.,2009) que a neurociência cognitiva tem
aumentado os campos de atuação como a atenção, a visão, a memória, entre outras.
Segundo Escera (2004) são quatro os âmbitos onde a neurociência cognitiva está
avançando. Atualmente o mundo tecnológico está evoluindo constantemente,
portanto uma das primeiras necessidades é a de combinar métodos de alta precisão
espacial (ressonância magnética funcional) que permitem visualizar as zonas cerebrais
que se ativam enquanto a pessoa está realizando alguma tarefa cognitiva (VENDRELL,
ET AL., 1995); e maior resolução temporal (magnetoencefalografía), que permite
registrar os campos magnéticos gerados pelo fluxo de uma corrente elétrica que
permite explorar o funcionamento cerebral (CAPILLA, ET AL., 2004). Posteriormente, a
área da psiquiatria e os estudos sobre transtornos de desenvolvimento e alterações da
percepção são outros dois âmbitos nos quais a neurociência cognitiva está se
desenvolvendo atualmente.
Finalmente, para Escera (2004. p. 14) o outro âmbito ao qual se refere à
chamada neurociência cognitivo-social, campo de pesquisa que visa busca entender os
fenômenos comportamentais em três perspectivas: social, a partir dos fatores
motivacionais e sociais que influenciam o comportamento e a experiência; o cognitivo,
que se interessa pelos mecanismos de processamento de informação; e o grau
neurológico, que aborda os mecanismos cerebrais relacionados ao processo cognitivo.
Maureira (2010) afirma que a neurociência permite entender os conhecimentos
da economia, educação e a sociologia a partir dos novos pontos de vista. Esses pontos
de vista têm dado lugar a diferentes áreas do conhecimento que associam diversas
disciplinas como, por exemplo, o Neuromarketing, a Neuroergonomía e o Neurodesign.
2.2 Neuromarketing
A economia foi uma das primeiras áreas das ciências sociais a introduzir a
metodologia da neurociência em suas pesquisas, o que permitiu entender o
comportamento do consumidor e os conceitos relacionados à tomada de decisões,
confiança e memória (LEE, et al., 2007). Da integração entre a economia e os
conhecimentos da neurociência surge o neuromarketing, disciplina considerada por
Lee, et al. (2007) como uma subárea da economia. O neuromarketing tem como
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2.3 Neuroergonomia
A neuroergonomia é definida como o estudo do cérebro humano e sua relação
com o desempenho no trabalho e nas atividades cotidianas. Através da integração de
teorias e princípios da ergonomia e da neurociência, provê informação valiosa sobre a
função cerebral e comportamentos em entornos naturais (PARASURAMAN, 2003).
Segundo Correa (2008), o psicólogo israelita Daniel Kahneman (1973) estabeleceu as
bases da neuroergonomia através dos estudos sobre a dilatação da pupila como índice
de sobrecarga mental enquanto o sujeito realiza uma tarefa cognitiva complexa. De
acordo com Correa (2008), a neuroergonomia utiliza os conhecimentos sobre o
cérebro para a melhora da interação do sistema de trabalho, além de predizer o estado
físico do trabalhador (sudorese, frequência cardíaca e respiratória, atividade muscular
e cerebral) e estados cognitivos (fatiga mental, sonolência, entre outras).
A neuroergonomia estuda a estrutura e a função do cérebro além das tarefas
básicas usadas pela psicologia cognitiva e a neurociência. Uma melhor compressão do
cérebro pode proporcionar diretrizes para o fortalecimento da apresentação da
informação e design de tarefas, otimização de alertas e sinais, entre outras
(PARASURAMAN & WILSON, 2008). Os estudos de neuroergonomia baseiam-se em
técnicas de neuroimagens que permitem entender a estrutura, os mecanismos e as
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2.4 Neurodesign
A O design é uma atividade projetiva que tem como objetivo responder às
necessidades, limitações e interesses do usuário por meio do desenvolvimento de
produtos, espaços e serviços. Na maioria dos projetos de design se parte do enfoque,
Design centrado no usuário, que visa melhorar a condição social e individual do ser
humano através da incorporação dos avanços da ciência e a tecnologia (HERRERA,
2012. p. 5).
Nos últimos anos se tem experimentado diversas mudanças (sociais,
tecnológicas, culturais, entre outras) as quais tem orientado a teoria do design. Esta
disciplina se encontra em estado de evolução constante, junto com as exigências dos
usuários, o que tem permitido a geração de mudanças e o surgimento de novas
teorias. Uma das novas teorias e práticas do design é o uso dos conhecimentos e
técnicas da neurociência para o desenvolvimento de produtos (GUTIERREZ, et al.,
2011).
Para Gutiérrez, et al. (2011) a neurociência no design requer um esforço para
integrar conhecimentos no processo de design de forma a favorecer o
desenvolvimento de produtos mais sustentáveis nos aspectos psicológicos, sociais e
culturais. Para os autores, o neurodesign articula o conhecimento da neurociência
cognitiva e do design para a criação de produtos que satisfaçam as necessidades do
usuário, adotando uma postura que integre o cérebro, o comportamento e a cultura
que constituem o indivíduo e o processo de uso de um produto em um dado contexto.
Herrera (2012), propõe três campos de ação para o neurodesign, tendo em
conta que o objeto final do design é o usuário e que a experiência determina pelos
processos neurais dele: a aplicação de conhecimentos de neurociência que são úteis
para melhorar a prática do design; a utilização de ferramentas de pesquisa em
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