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Neurociência e Ciências Sociais

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NEUROCIÊNCIA E CIÊNCIAS SOCIAIS: UMA REVISÃO DOS CONCEITOS DO

NEUROMARKETING, DA NEUROERGONOMIA E DO NEURODESIGN

Melissa Marin Vasquez Paula Da Cruz Landim


UNESP – FAAC UNESP – FAAC
melissamava@gmail.com
Luis Carlos Paschoarelli
Liara Mucio De Mattos UNESP – FAAC
UNESP – FAAC paschoarelli@faac.unesp.br
liaramattos@gmail.com
Fausto Orsi Medola
Guilherme Da Silva Bertolaccini UNESP – FAAC
UNESP – FAAC fausto.medola@faac.unesp.b
guilhermebertolaccini@gmail.com

sustenta na ciência e nos conhecimentos adquiridos com os avanços


tecnológicos, visando o desenvolvimento de novos produtos e uma melhor
compreensão de seus usuários. Uma das importantes áreas que o Design
se aliou é a neurociência. Esta foi capaz de revelar novas possibilidades
para conhecer e compreender melhor a natureza da cognição e da conduta
humana. Deste modo, a neurociência proporciona uma alternativa
cientifica para explicar o comportamento das pessoas durante o uso de
produtos e sistemas. Este estudo tem como objetivo compreender a
aplicação da neurociência nas disciplinas de marketing, ergonomia e
design, além de estabelecer uma reflexão introdutória a respeito da
incorporação da neurociência no design nas esferas acadêmica e
profissional, além de estabelecer uma reflexão introdutória a respeito da
incorporação da neurociência no design nas esferas acadêmica e
profissional.

Palavras-chave: Ergonomia, Cognição, Neuromarketing, Neuroergonomia,


Neurodesign.

Abstract: The design is in of constantly evolution, increasingly supporting by


science and the knowledge gained with technological advances in the
development of new products and a better understanding of its members.
One of the important areas that q Design is allied neuroscience. This was
able to reveal new possibilities to know and better understand the nature of
cognition and human behavior. Thus is providing a scientific approach to
the person and better understand the behavior, conditions and user
interests against many situations, spaces or products. This study aims to
understand the application of neuroscience in marketing disciplines,
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ergonomics and design, as well as establishing an introductory reflection on


the neuroscience of incorporation into the design in academic and
professional spheres, through a literature review and that will serve as a
basis for understanding of the applicability of neuroscience in the
development of design projects.

Keywords: Ergonomics, Cognition, Neuromarketing, Neuroergonomia and


Neurodesign

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a ciência e a tecnologia têm influenciado o estilo de vida da
sociedade, sendo a tecnologia o aspecto que tem modificado mais substancialmente as
atividades humanas, tais como comunicação, mobilidade, saúde, entre outros.
Segundo Acevedo (1998), a tecnologia é uma das características mais relevantes dos
tempos atuais e é inquestionável sua importância em todos os âmbitos sociais. O autor
considera a tecnologia como um fator essencial no logro de metas de caráter social,
cultural, econômico e político. A ciência e a tecnologia se relacionam mutuamente,
essa conexão de conhecimentos tanto teóricos como práticos se aplica na
interpretação e transformação do entorno e solução de problemas (ACEVEDO, 1998).
No que se refere às disciplinas do design, os avanços tecnológicos e científicos
têm propiciado a incorporação de novas ferramentas e saberes que contribuem para a
geração de novos cenários de ação (HERRERA, 2012).
Para Herrera (2012) os avanços tecnológicos e científicos têm modificado os
meios e as ferramentas na prática do design, transformando alguns planejamentos
teóricos e metodológicos da disciplina. Dessa forma, o design se encontra em evolução
constante, cada vez mais sustentado na ciência e nos conhecimentos dos avanços
tecnológicos para o desenvolvimento de novos produtos.
Na busca pela compreensão do comportamento, condições e interesses do
usuário frente a diversas situações, espaços ou produtos, Herrera (2012) afirma que
algumas disciplinas das ciências sociais têm se sustentado na neurociência, uma vez
que esta abre novas possibilidades de compreensão da natureza da cognição e da
conduta humana, brindando com uma aproximação cientifica à pessoa. Segundo o
autor, cabe aos pesquisadores e profissionais das diferentes disciplinas da área das
ciências sociais – design, economia, entre outros - incorporar os avanços
neurocientíficos na prática.
O presente estudo tem como objetivo analisar e compreender a aplicação da
neurociência em algumas disciplinas - marketing, ergonomia e design, bem como
estabelecer uma reflexão preliminar sobre a incorporação da neurociência no design
nos âmbitos acadêmico e profissional por meio de uma revisão teórica pautada na
compreensão da aplicabilidade da neurociência no desenvolvimento de projetos de
produtos e sistemas
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2. GENERALIDADES DA NEUROCIÊNCIA

As neurociências são universos de conhecimentos sobre o sistema nervoso e


estabelecem um campo de confluência para as diversas perspectivas que se têm
aproveitado no seu estudo (CORSI e CABRERA, 2004). Segundo Corsi e Cabrera (2004),
o objeto de estudo das neurociências é o sistema nervoso que é o coordenador de
todas as funções do organismo desde as funções automáticas até as funções mais
complexas (como o pensamento, a linguagem e o comportamento). Esses autores
afirmam que através do processamento de toda informação que vem do exterior –
ambiente, outros seres vivos, etc-, o sistema nervoso toma decisões e executa ações
que por sua vez afetam seu entorno.
Para Jessel et al. (1997), o objetivo central das neurociências é tentar explicar
como atuam milhões de células nervosas individuais no encéfalo para produzir o
comportamento e como estas células são influenciadas pelo meio ambiente e outros
indivíduos. Segundo Gimenez e Murillo (2007) as neurociências têm se diferenciado
pelo enfoque sintético e integrador das ciências que se dedicam ao estudo do sistema
nervoso, o qual integra estímulos internos e externos à pessoa e, através da
experiência cognitiva, emocional e motivação acumulada, dá lugar a uma resposta
dentro e fora do organismo que pode ser influenciada por processos psíquicos de
caráter cognitivo ou afetivo, de acordo com a experiência do indivíduo.
Correa (2008) define a neurociência como uma disciplina que faz uso do
conhecimento da estrutura e funcionamento do cérebro para a solução de problemas
práticos. O autor enfatiza os diferentes conhecimentos que nutrem a neurociência tais
como: psicologia clínica, reabilitação neuropsicológica e a ergonomia, destacando seu
forte caráter multidisciplinar, o que facilita o surgimento de novos campos de
aplicação dos conhecimentos do cérebro a outros ramos relacionados com tomada de
decisões, aprendizagem, trabalho, entre outros.
Squire et al. (2012) descreve a neurociência como uma coleção de ciências
multidisciplinares que analisam o sistema nervoso para entender a base biológica do
comportamento. Os autores afirmam que hoje a neurociência se expande para um
amplo ramo de pesquisa que vai desde a biologia molecular das células nervosas até a
base biológica do comportamento, emoção e cognição, e suas alterações.
Os estudos correspondentes à área das neurociências vêm crescendo de
maneira rápida, em grande parte devido à pluralidade de disciplinas. Esta pluralidade
tem estimulado a origem de diversos enfoques, sendo um exemplo a disciplina da
psicologia que, através dos conhecimentos da biologia e da neurociência, tem definido
tópicos de estudo – neurociência cognitiva- que são aplicáveis ao desenvolvimento de
tecnologia, tais como o uso de computadores (SQUIRE, et al. 2012. p. 10). Do mesmo
modo, da neurociência cognitiva surgem outros enfoques tais como Neuromarketing, a
Neuroergonomía e o Neurodesign, os quais serão expostos a seguir.

2.1 Neurociência Cognitiva


A neurociência cognitiva é descrita por Escera (2004) como a disciplina que
busca entender a função cerebral em suas atividades mentais: percepção; memória e
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linguagem. O termo foi utilizado pela primeira vez em um curso desenvolvido pelos
cientistas Gazzaniga e Miller no instituto Cornell Medical College, em 1976, sobre as
bases biológicas da cognição humana, as quais eram consideradas uma aproximação
pertinente para estudar sujeitos com técnicas das ciências do cérebro de acordo com
os métodos das ciências cognitivas (Escera, 2004. p. 2). Segundo Escera (2004) a
neurociência cognitiva não é muito diferente das neurociências entendidas do modo
mais amplo. Fuster (2000) afirma que toda neurociência é cognitiva, enquanto Escera
(2004) declara que a “neurociência cognitiva constitui uma forma de entender as
relações cérebro-cognição com a identidade pragmática própria, diferenciada da
neurociência em geral e das disciplinas psicológicas e psicobiológicas em particular[...]
e seu antecedente mais próximo foi a Psicologia Fisiológica que se havia estabelecido
como uma disciplina consolidada”.
No transcurso do tempo temos visto em alguns estudos (PEREIRA & LAGO,
2015; GIRAUDET, ET AL., 2015; ALEXIOU, ET AL.,2009) que a neurociência cognitiva tem
aumentado os campos de atuação como a atenção, a visão, a memória, entre outras.
Segundo Escera (2004) são quatro os âmbitos onde a neurociência cognitiva está
avançando. Atualmente o mundo tecnológico está evoluindo constantemente,
portanto uma das primeiras necessidades é a de combinar métodos de alta precisão
espacial (ressonância magnética funcional) que permitem visualizar as zonas cerebrais
que se ativam enquanto a pessoa está realizando alguma tarefa cognitiva (VENDRELL,
ET AL., 1995); e maior resolução temporal (magnetoencefalografía), que permite
registrar os campos magnéticos gerados pelo fluxo de uma corrente elétrica que
permite explorar o funcionamento cerebral (CAPILLA, ET AL., 2004). Posteriormente, a
área da psiquiatria e os estudos sobre transtornos de desenvolvimento e alterações da
percepção são outros dois âmbitos nos quais a neurociência cognitiva está se
desenvolvendo atualmente.
Finalmente, para Escera (2004. p. 14) o outro âmbito ao qual se refere à
chamada neurociência cognitivo-social, campo de pesquisa que visa busca entender os
fenômenos comportamentais em três perspectivas: social, a partir dos fatores
motivacionais e sociais que influenciam o comportamento e a experiência; o cognitivo,
que se interessa pelos mecanismos de processamento de informação; e o grau
neurológico, que aborda os mecanismos cerebrais relacionados ao processo cognitivo.
Maureira (2010) afirma que a neurociência permite entender os conhecimentos
da economia, educação e a sociologia a partir dos novos pontos de vista. Esses pontos
de vista têm dado lugar a diferentes áreas do conhecimento que associam diversas
disciplinas como, por exemplo, o Neuromarketing, a Neuroergonomía e o Neurodesign.

2.2 Neuromarketing
A economia foi uma das primeiras áreas das ciências sociais a introduzir a
metodologia da neurociência em suas pesquisas, o que permitiu entender o
comportamento do consumidor e os conceitos relacionados à tomada de decisões,
confiança e memória (LEE, et al., 2007). Da integração entre a economia e os
conhecimentos da neurociência surge o neuromarketing, disciplina considerada por
Lee, et al. (2007) como uma subárea da economia. O neuromarketing tem como
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objetivo estudar o comportamento humano nos mercados, através da informação


clínica e os mecanismos cerebrais (FUGATE, 2007). Para o neuromarketing, o equilíbrio
da comercialização está mudando a favor do consumidor, o acesso às ferramentas de
registro (ou análise) de sinais nervosos permite fazer um analise do que
verdadeiramente quer o consumidor. Segundo Walton (2004), já se encerraram os
estudos de mercado nos quais as pessoas diziam o que as empresas “queriam escutar”,
o que evita o problema de depender dos auto-relatos. Além disso, é difícil entender as
razões preferenciais dos consumidores e suas decisões de consumo (FUGATE, 2007. p.
386). O potencial do neuromarketing é reduzir os fracassos do marketing através de
imagens cerebrais do consumidor que permitam conhecer como atender expectativas
e ativar sensações positivas.
Dentre os métodos de análise do neuromarketing se encontram as técnicas
como a eletromiografia, a magneto encefalograma e tomografia que geram imagens
neurológicas que permitem evidenciar o processamento da informação relacionado às
decisões de compra. Convencionalmente, são utilizadas estratégias como o focus
group e entrevistas para investigação de satisfação do consumidor. Fugate (2007. p.
387) afirma que os sujeitos podem utilizar um dispositivo de imagem cerebral
enquanto estão assistindo imagens ou videoclipes de uma nova campanha
promocional. Segundo o autor, dependendo de qual área cerebral é ativada, podem
ser reconhecidos padrões de pensamento do sujeito. Através do uso destas
ferramentas de imagens neurais e dos conhecimentos da neurociência cognitiva, os
anúncios publicitários podem ser adaptados com o objetivo de estimular as regiões
cerebrais responsáveis pelas emoções –paixão, entusiasmo, alegria- que a agência de
marketing está buscando. Assim, os profissionais podem adequá-los de forma que
afinem as mensagens dos anúncios para estimular a compra (MCCONNON; STEAD,
2007).

2.3 Neuroergonomia
A neuroergonomia é definida como o estudo do cérebro humano e sua relação
com o desempenho no trabalho e nas atividades cotidianas. Através da integração de
teorias e princípios da ergonomia e da neurociência, provê informação valiosa sobre a
função cerebral e comportamentos em entornos naturais (PARASURAMAN, 2003).
Segundo Correa (2008), o psicólogo israelita Daniel Kahneman (1973) estabeleceu as
bases da neuroergonomia através dos estudos sobre a dilatação da pupila como índice
de sobrecarga mental enquanto o sujeito realiza uma tarefa cognitiva complexa. De
acordo com Correa (2008), a neuroergonomia utiliza os conhecimentos sobre o
cérebro para a melhora da interação do sistema de trabalho, além de predizer o estado
físico do trabalhador (sudorese, frequência cardíaca e respiratória, atividade muscular
e cerebral) e estados cognitivos (fatiga mental, sonolência, entre outras).
A neuroergonomia estuda a estrutura e a função do cérebro além das tarefas
básicas usadas pela psicologia cognitiva e a neurociência. Uma melhor compressão do
cérebro pode proporcionar diretrizes para o fortalecimento da apresentação da
informação e design de tarefas, otimização de alertas e sinais, entre outras
(PARASURAMAN & WILSON, 2008). Os estudos de neuroergonomia baseiam-se em
técnicas de neuroimagens que permitem entender a estrutura, os mecanismos e as
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funções cerebrais durante o trabalho (MEHTA & PARASURAMAN, 2013). As técnicas


aplicáveis na neuroergonomia são divididas em duas categorias: o EEG
(eletroencefalograma), que indica a atividade cerebral; e a técnica de EPRs
(EventRelated Potentials), que provê uma medida objetiva para o seguimento de
progressão ou respostas a terapias (TOMSAK, 2005. p 226-227). O EEG representa a
atividade elétrica dos neurônios que respondem aos estímulos cognitivos mostrando
uma excelente resolução temporal em milissegundos das mudanças cerebrais
eletromagnéticas (MEHTA & PARASURAMAN, 2013. p. 1).
Uma área importante dentro da neuroergonomia é a realidade virtual, que
consiste em gerar diferentes cenários virtuais com múltiplas aplicações científicas,
como por exemplo o comportamento de um trabalhador em situações de perigo ou
facilitar o treinamento em tarefas complexas (CORREA, 2008). Em síntese, a ergonomia
evoluiu de uma disciplina que visa melhorar a eficiência no trabalho a uma que
objetiva melhorar o bem-estar das pessoas. A aplicação da neurociência cognitiva
permite entender como as pessoas interagem com os diferentes sistemas de trabalho,
abordando bases no conhecimento neural relacionadas com o rendimento físico e
cognitivo que as avaliações ergonômicas clássicas não podem captar (MEHTA &
PARASURAMAN, 2013. p. 8).

2.4 Neurodesign
A O design é uma atividade projetiva que tem como objetivo responder às
necessidades, limitações e interesses do usuário por meio do desenvolvimento de
produtos, espaços e serviços. Na maioria dos projetos de design se parte do enfoque,
Design centrado no usuário, que visa melhorar a condição social e individual do ser
humano através da incorporação dos avanços da ciência e a tecnologia (HERRERA,
2012. p. 5).
Nos últimos anos se tem experimentado diversas mudanças (sociais,
tecnológicas, culturais, entre outras) as quais tem orientado a teoria do design. Esta
disciplina se encontra em estado de evolução constante, junto com as exigências dos
usuários, o que tem permitido a geração de mudanças e o surgimento de novas
teorias. Uma das novas teorias e práticas do design é o uso dos conhecimentos e
técnicas da neurociência para o desenvolvimento de produtos (GUTIERREZ, et al.,
2011).
Para Gutiérrez, et al. (2011) a neurociência no design requer um esforço para
integrar conhecimentos no processo de design de forma a favorecer o
desenvolvimento de produtos mais sustentáveis nos aspectos psicológicos, sociais e
culturais. Para os autores, o neurodesign articula o conhecimento da neurociência
cognitiva e do design para a criação de produtos que satisfaçam as necessidades do
usuário, adotando uma postura que integre o cérebro, o comportamento e a cultura
que constituem o indivíduo e o processo de uso de um produto em um dado contexto.
Herrera (2012), propõe três campos de ação para o neurodesign, tendo em
conta que o objeto final do design é o usuário e que a experiência determina pelos
processos neurais dele: a aplicação de conhecimentos de neurociência que são úteis
para melhorar a prática do design; a utilização de ferramentas de pesquisa em
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neurociência de forma a contribuir para o desenvolvimento e avalição de produtos de


design; e o desenvolvimento de novos produtos a partir de dispositivos desenvolvidos
com teorias fundamentadas na neurociência.
As ferramentas utilizadas para a pesquisa do neurodesign são baseadas em
métodos não invasivos tais como a tomografia computorizada, a ressonância
magnética funcional e a eletroencefalografia, as quais permitem ter informação
objetiva com respeito à experiência do usuário na interação do design. Portanto, a
neurociência abre novas possibilidades para o estudo e conhecimento do
comportamento, emoções e cognição dos usuários e suas interações com produtos,
ambientes e sistemas no processo de uso.

3 DISCUSSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A neurociência e seus recentes avanços contribuem de forma importante para


as áreas das ciências sociais que buscam alternativas para melhorar as exigências
humanas. É importante destacar que a evolução tecnológica tem possibilitado o uso de
ferramentas que são capazes de estudar e registrar o que acontece no cérebro
humano em diferentes contextos. Estas ferramentas nos permitem verificar mudanças
na atividade cognitiva tais como a atenção, estados de alerta, emoções, entre outros,
que podem ser uteis no estudo e avaliação de campanhas publicitárias, postos de
trabalho ou interfaces gráficas (HERRERA, 2012).
Há um constante interesse em conhecer os processos mentais que envolvem a
percepção, cognição e as experiências das pessoas em diferentes situações, o que tem
permitido que diferentes disciplinas das ciências sociais adotem conhecimento das
neurociências na tentativa de melhor entender o comportamento humano. As
disciplinas aqui expostas –marketing, ergonomia e design- tem incorporado os
conhecimentos da neurociência para analisar as atitudes dos indivíduos frente a
algumas situações e no entanto as finalidades de cada uma se diferenciam. Uma
síntese das três abordagens e suas relações com o Design é apresentada na Tabela 1.
Embora os três conceitos utilizem as mesmas ferramentas para a análise do
indivíduo, eles possuem objetivos, aplicações e analises diferentes. Em primeiro lugar o
marketing analisa o sujeito como um consumidor e, desta forma, o neuromarketing
utiliza os conhecimentos das neurociências para compreender o comportamento,
orientar ou adotar uma conduta especifica na decisão de compra (GLIMCHER &
RUSTICHINI, 2004). Por sua vez, a Neuroergonomia e o Neurodesign buscam melhorar
o bem-estar das pessoas, não obstante os dois buscam entender o indivíduo de jeito
diferentes. A neuroergonomia visa examinar e estudar como o cérebro se comporta
durante a realização de uma atividade na vida cotidiana e em diferentes ambientes,
estudando aspectos como tempo de atenção, carga mental, processo motor entre
outros (PARASURAMAN & RIZZO, 2006). Já o neurodesign busca entender o indivíduo
como um usuário que percebe diferentes estímulos quando interage com um produto
e as experiências que geram, e assim, utilizar os resultados dessas análises no design
formal dos produtos (GUTIERREZ, et al., 2011).
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Quadro 1 - Comparação entre Neuromarketing, Neuroergonomia e Neurodesign

NEUROMARKETING NEUROERGONOMIA NEURODESIGN


Pessoa Consumidor Trabalhador Usuário

Objetivo Melhora de estratégias Examinar e estudar como Entender como o usuário


de marketing e promoção o cérebro realiza uma percebe os diferentes
de vendas tarefa na sua vida estímulos e cria as
cotidiana e em diferentes experiências que tem
ambientes. quando entra em contato
com os objetos.
Aplicações Testar a efetividade de Avaliação de processos Desenvolvimento de
uma publicidade. de automatização, novos produtos.
Seleção de logos/marcas. engenheira neural para Desenvolvimento de
pessoas com deficiência, interfaces gráficas.
Seleção de tipos de desenvolvimento de
médios de divulgação. métodos de seleção e
formação de novos
postos de trabalho.
Ferramentas Tomografia Tomografia Tomografia
utilizadas computorizada; computorizada; computorizada;
Ressonância magnética Ressonância magnética Ressonância magnética
funcional; funcional; funcional;
Eletroencefalografia Eletroencefalografia Eletroencefalografia

Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada

Considerando a neurociência aplicada às ciências sociais aqui expostas, é


importante perguntar se cada nova proposta conceitual é necessária. Segundo
Pasaraman (2003. p. 469), os leitores têm direito a ser céticos sempre que leem
“neuro” como prefixo dado que pode desaparecer no futuro. O autor considera que,
futuramente, os pesquisadores considerarão os conhecimentos da neurociência sem
referir-se necessariamente a neuromarketing, neuroergonomia ou neurodesign. No
entanto, é importante considerar os conhecimentos das neurociências nestas
disciplinas como uma nova forma de estudar e compreender os diferentes fatores
físicos e cognitivos do ser humano em função de suas diversas necessidades, bem
como o mercado e as mudanças sociais que acontecem no decorrer do tempo.
Por fim, destaca-se que são poucos os estudos que incluem as bases teóricas
da neurociência, nesse sentido, pesquisadores e profissionais das áreas das ciências
sociais - em especial – devem buscar vincular os avanços tecnológicos e conhecimentos
científicos nas aplicações práticas.
5291

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