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Marcello de Oliveira Pinto (UERJ)
Marcello de Oliveira Pinto (UERJ)
Marcello de Oliveira Pinto (UERJ)
O PREFÁCIO DE UM RETRATO
Marcello de Oliveira Pinto (UERJ)
e como ele não pode ser entendida como uma polaridade. A alma, a
parte imaterial do ser humano, é identificada no retrato e sofre as
marcas das ações do tempo e das maldades de Dorian, enquanto o
jovem mantém o frescor juvenil e perde a capacidade de sentir emo-
ções verdadeiras, como o amor.
Outra curiosidade construída na trama por Wilde é o fato de o
retrato ter sido criado para ser escondido e não exibido, graças a sua
capacidade de revelar a alma e as mudanças ocorridas através das
ações e do tempo. É curioso que a sua única capacidade é a de refle-
tir as marcas das ações de Dorian, que, como uma máscara, nunca
muda.
A DIVERGÊNCIA DE OPINIÕES
SOBRE UMA OBRA DE ARTE
INDICA QUE A OBRA É NOVA, COMPLEXA E VITAL
Esta vertigem onírica finisecular inaugura uma nova repre-
sentação do real, uma instauração de novos conceitos de realidade,
como acima disse, e o despertar deste sono é a personagem Dorian
Gray. Ele é construído pelas manifestações da arte, tanto como "ser",
pela pintura e pela influência do discurso, como pelo próprio discur-
so stricto sensu, pois é personagem da literatura. Dorian/retrato é,
então, discurso e a sua duplicidade é o discursar sobre o discurso.
A duplicidade revela a postura de ator e espectador ao mesmo
tempo e ele é consciente desta ambigüidade. Produto do discurso ao
mesmo tempo constrói através dele a sua realidade. E Dorian vai a-
lém deste homem. Ele encontra prazer em ver que as suas ações não
se mostram em si (é o quadro que revela suas ações): a questão da
moral e da hipocrisia na sociedade e a concepção dos papéis sociais
surgem no obra de Wilde.
PREFÁCIO
O artista é o criador de coisas belas. Revelar a arte e ocultar o
artista é a finalidade da arte.
O crítico é aquele que pode traduzir de um modo diferente ou
por um novo processo, a sua impressão das coisas belas. A mais ele-
vada, como a mais baixa das formas de crítica é uma espécie de au-
tobiografia.
Os que encontram significações feias em coisas belas são cor-
ruptos sem serem encantadores. Isto é um defeito. Os que encontram
belas significações em coisa belas são cultos. Para estes há esperan-
ça. Existem os eleitos para os quais as coisas belas significam uni-
camente Beleza.
Um livro não é, de modo algum, moral ou imoral. Os livros
são bem ou mal escritos. Eis tudo.
A aversão do século XIX ao Realismo é a cólera de Calibã
por ver o seu próprio rosto num espelho. A aversão do século XIX ao
Romantismo é a cólera de Calibã por não ver o seu próprio rosto
num espelho.
A vida moral do homem faz parte do tema para o artista, mas
a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito.
O artista nada deseja provar. Até as coisas verdadeiras podem
ser provadas. Nenhum artista tem simpatias éticas. A simpatia ética
num artista constitui um maneirismo de estilo imperdoável.
O artista jamais é mórbido. O artista tudo pode exprimir.
Pensamento e linguagem são para o artista instrumentos de
uma arte.
Vício e virtude são para o artista materiais para uma arte. Do
ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a do músico.
Do ponto de vista do sentimento é a profissão do ator.
Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo.
Os que buscam sob a superfície fazem-no por seu próprio risco.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRETAS, C. The Importance of the Masks in the works of
J.M.Whistler and Oscar Wilde. University of Reading, 1992.
DELEUZE, Gilles. Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 1974.
ELLMANN, Richard. Oscar Wilde. London: Faber & Faber, 1961.
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PATER, Walter. The Renaissance: Studies in Art and Poetry. Lon-
don: Macmillan, 1912.
WILDE, Oscar. Complete Works of Oscar Wilde. Ed. by J.B. Fore-
man. 10th ed. London: Collins, 1966.
––––––. Selected Letters of Oscar Wilde. Ed. by Rupert Hart-Davies.
London: 1979.
––––––. Pen, Pencil and Poison in Complete Works of Oscar Wilde.
ed. by J.B. Foreman. 10th ed. London: Collins, 1966.