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Módulo III - Fundamentos Da Igreja

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FUNDAMENTOS

DA VIDA CRISTÃ
Módulo III - Fundamentos da Igreja
2 | Fundamentos Da Vida Cristã

Índice

Módulo III
Fundamentos da Igreja

03 Introdução
03 I. Natureza da igreja
08 II. Metáforas Acerca da Igreja
14 III. Organização e Governo da Igreja
18 IV. A Missão da Igreja
21 Conclusão
22 Questões para estudo
3 | Fundamentos da Igreja

INTRODUÇÃO
Este assunto no âmbito da teologia sistemática se inclui na disciplina
denominada eclesiologia. O tema é vasto, portanto, vamos ressaltar apenas
aspectos essenciais a nossa compreensão da natureza da igreja e sua
expressão no mundo. Sabemos doutra sorte, que a igreja se apostatou de sua
condição inicial apostólica e a reforma a partir do século XVI está cuidando
disso.
Destarte, não é a igreja em seu estágio atual, dividida em denominações,
organizações para-eclesiásticas, ministérios isolados e outras distorções, o
objeto deste estudo, mas a igreja que se originou com os apóstolos: orgânica,
relacional, funcional, dinâmica que expressa o Senhorio de Jesus Cristo, no
poder do Espírito Santo. Uma igreja que vivia em unidade para cumprir o
eterno propósito de Deus de ter uma família de muitos filhos iguais a Jesus
Cristo: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou
para serem conforme a imagem de seu filho, a fim de ele seja o primogênito
entre muitos irmãos” (Rm 8.29). Este é o tema que percorre todas as
escrituras, o propósito de Deus de ter um povo para si mesmo, separado do
mundo, para lhe pertencer com exclusividade e que desse testemunho de Sua
glória “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que
vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1ª Pe 2.9).

I. NATUREZA DA IGREJA
A expressão igreja, aparece pela primeira vez no Novo Testamento em Mt
16.18, através de uma revelação que o Pai faz a Pedro, quando ele responde
acerca da identidade de Jesus (Cf. Mt 16.17-18). Interessante notar que temos
três revelações progressivas do mistério de Deus no Capitulo 16, a saber:

Cristo: Mt 16.16

Igreja: Mt 16.18

Reino: Mt 16.19

É, portanto de suma importância que Cristo Sua igreja e Seu reino sejam
plenamente revelados como se encontram registrados nas escrituras, para que
Deus receba toda a glória que lhe é devida em Cristo Jesus e na igreja (Ef 3.21).
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É, portanto de suma importância que Cristo Sua igreja e Seu reino sejam
plenamente revelados como se encontram registrados nas escrituras, para que
Deus receba toda a glória que lhe é devida em Cristo Jesus e na igreja (Ef 3.21).
1. Etimologia da Palavra
Os dicionários comuns dão dois significados ao termo grego /
ekklesia: 1) ajuntamento popular 2) igreja, sendo o primeiro profano e o
segundo eclesiástico. No Velho Testamento a palavra hebraica é gahal,
significando uma convocação do povo de Israel para uma assembléia solene.
No grego clássico a palavra /ekklesia indicava uma assembléia de
cidadãos convocados por um arauto para decidirem os destinos de uma cidade
(sistema de democracia direta dos gregos). É também uma palavra composta:
/ek-kaléo =  / ek: para fora e /kaleo: chamar ou convocar.
Todos estes sentidos definem no Velho Testamento como Deus chamou seu
povo para fora do Egito e o conduziu para a terra prometida para ali formar
uma teocracia. No Novo Testamento Deus chama as pessoas para fora do
sistema do mundo, do império de satanás para ingressarem no seu reino
celestial (Cf. Cl 1.13).

2. Características Essenciais da Igreja


a) Universalidade
Embora sua expressão se dê em localidades geográficas ela é constituída por
crentes de todos os lugares e de todas as épocas, tanto judeus como gentios.
Neste sentido, a igreja local representa a igreja universal porque possui o DNA
desta. A universalidade da igreja é também transcendente, tanto em seu
sentido bíblico teológico e também teleológico (Cf. Hb 12.1 e Hb 12.22-23).
b) Apostolocidade
A igreja é apostólica em sua origem, porquanto iniciada com os apóstolos,
como também é firmada nos fundamentos e ensinos apostólicos (Cf. Mt 28.19;
At 2.42 e Ef 2.20). Sua vocação, chamamento e missão da parte de Deus
refletem seu caráter apostólico.
c) Santidade
A igreja é chamada para uma vida santa (separada do mundo e do pecado para
5 | Fundamentos da Igreja

servir a Deus: 1ª Pe 1.15-16). É nesta condição que será recebida pelo Noivo
Jesus Cristo (Ef 5.27) e apresentada perante o Deus Pai (Ef 1.4). Esta é a razão
do trabalho atual do Espírito Santo (1ª Ts 5.23).
d) Unidade
Refere-se à indivisibilidade da igreja. É fator essencial ao crescimento e
testemunho da igreja (Cf. Jo 17.21-23).

3. A Igreja como povo de Deus e Comunidade do Espírito Santo


O Velho Testamento destaca o propósito de Deus para com Israel (Ex 6.6 e Ex
19.3-6). Esta lhe seria uma nação peculiar e exclusiva entre as nações da terra.
O Novo Testamento faz também esta referência com respeito à igreja
composta de judeus e gentios (1ª Pe 2.9 e Gl 3.28). Doutra sorte, após a
descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, a igreja espalhada em
comunidades locais se tornou uma comunidade do Espírito Santo. Foi assim
que ela nasceu e se expandiu como relatado no livro de Atos; um livro
inacabado e incompleto também no sentido histórico porque não relata os
mistérios de todos os apóstolos e nem toda a historia da igreja.
Mas ali temos os princípios para a vida e ação da igreja. Como povo de Deus a
igreja dá testemunho universal de sua natureza e vocação. Como comunidade
do Espírito dividida em localidades ela dá testemunho local. Isto nos faz pensar
em uma estrutura biblicamente valida para expressão da igreja. Em seu
sentido amplo ela é o povo de Deus (1ª Pe 2.9). A ênfase neste caso recai
sobre a universalidade da igreja. Em sentido mais restrito quando a igreja
espalhada em localidades é a comunidade do Espírito. A ênfase está nos
relacionamentos práticos que destacam a localidade. A igreja em sua vida
comunitária intensa, com seus relacionamentos práticos e definidos, é a
comunidade do Espírito Santo. Desta forma, a vida e ministério da igreja
devem ser construídos sobre estruturas viáveis de grupo grande (povo de
Deus) e grupo pequeno (comunidade do Espírito Santo). Talvez, o Espírito
Santo quisesse dar esta dupla ênfase, quando na transição do judaísmo para o
cristianismo a igreja se reunia tanto no templo como de casa em casa (At
5.42).
6 | Fundamentos Da Vida Cristã

Vide o gráfico abaixo:

GRUPO
GRANDE POVO DE DEUS

ESTRUTURA
VIDA DA TESTEMUNHO
IGREJA

GRUPO COMUNIDADE DO
PEQUENO ESPÍRITO SANTO

4. Cinco Aspectos da Igreja em sua Identidade e Missão


 VIDA — O que a igreja é: A igreja é uma comunidade que tem a vida divina
transmitida em função da morte e ressurreição de Jesus Cristo, o que a
diferencia das demais instituições meramente humanas (Jo 11.25-26 e
3.16,36). Ela é constituída por aqueles que foram comprados para Deus
por Jesus Cristo com seu próprio sangue (Ef 2.12-22; 1ª Co 6.19-20 e Ap
5.9) e que confessaram o Senhorio de Jesus Cristo sobre suas vidas, bens
e ideais (Rm 10.9-11). A Igreja se distingue do mundo por ser chamada
para fora deste sistema para servir a Deus com exclusividade (1ª Pe 2.9 e
1ª Jo 2.15-17);
 PROPÓSITO DA VIDA — O que a igreja faz: O propósito eterno de Deus é ter
uma família de muitos filhos iguais a Jesus (Rm 8.28-30). Neste sentido, a
vida que recebemos em Cristo, à medida que ela cresce dentro de nós
nos tornamos mais parecidos com Ele. Este processo chamamos de
transformação, o qual se realiza no contexto de corpo (Ef 4.11-16 e Rm
12.1-18);
 COMUNICAÇÃO DA VIDA — Como a igreja edifica: A edificação ocorre
através do discipulado (Mt 28.18-20). Jesus escolheu doze homens para
estarem com Ele (Mc 3.14). Lucas 6.40 dá-nos uma compreensão desta
escolha; “Todo aquele que for bem treinado será como seu mestre.” A
Palavra bem treinado no original grego ( / katertismenos)
não é alguém que aprendeu técnicas e habilidades, sim alguém que
aprende a ser maduro, familiarizado com o ensino de seu mestre através
de relacionamento intenso;
7 | Fundamentos da Igreja

 DINÂMICA DA VIDA — Relacionamento familiar da igreja: A expressão


máxima desse relacionamento é o amor fraternal. Daí a ordem de Jesus a
seus discípulos “... assim como eu vos amei, que também vos ameis uns
aos outros” (Jo 13.34). O Amor dentro do corpo de Cristo é a marca do
relacionamento familiar. 1ª Pe 1.22 ensina que a purificação de nossas
almas através da obediência à verdade, tem como objetivo o amor
fraternal sem hipocrisia com cordialidade ardorosa. A evidência que
pertencemos à família de Deus é o amor fraternal (1ª Jo 3.14); e,

 TRANSMISSÃO DA VIDA — A igreja evangelizando: Reprodução é um dos


aspectos de qualquer espécie de vida. Entender a igreja como um
organismo que cresce e se edifica em amor (Ef 4.16) e que tem uma
missão de fazer discípulos (Mt 28.19), implica também em evangelização.
Isto esta meridianamente claro nas escrituras que igreja é o veículo, o
instrumento de evangelização dos povos (Mc 11.17). Doutra sorte, sendo
o evangelho, o poder de Deus para salvação daquele que crê (Rm 1.16-
17), a igreja deve assumir a tarefa e pregar o evangelho a toda criatura e
desta maneira tornar manifesto o amor de Deus ao mundo demonstrado
pelo fato de enviar seu Filho ao mundo (Mc 16.15 e Jo 3.16).

5. Organizações Para-Eclesiásticas
Por não ser a igreja propriamente dita as organizações para-eclesiásticas
podem nos ajudar a entender a natureza essencial da igreja exatamente por
que elas atuam com estruturas paralelas. É necessário, portanto, diferenciá-
las. Aqui, cabe ressaltar que as denominações em sua natureza institucional se
incluem entre as organizações para-eclesiásticas, embora nas suas atividades
elas se identifiquem mais com a igreja. Todavia, por ignorar o corpo de Cristo,
promover ministérios pessoais e ou corporativistas, defenderem doutrinas
como sua identidade, valorizar mais a organização que o organismo entre
outros motivos, não podem ser vistas como igreja essencialmente falando. É
necessário portanto, fazer a diferenciação.
8 | Fundamentos Da Vida Cristã

Vide o quadro demonstrativo abaixo:

A Igreja Organizações Para-Eclesiásticas

1- Criação de Deus 1- Criação do homem

2- Fato Espiritual 2- Fato Sociológico (cultural)

3- Valor Transcultural 3- Limitadas culturalmente

4- Entendida e avaliada sob o aspecto bíblico 4- Entendida e avaliada sob o aspecto


sociológico

5- Validade determinada por qualidades 5- Validade determinada por sua função em


espirituais relação da missão da igreja

6- Agentes de Deus na evangelização e 6- Agentes do homem para evangelismo e


reconciliação serviço

7- Essencial 7- Dispensável

8- Eterna 8- Secular e Temporal

9- Dada por revelação divina 9- Dada por tradição humana

10- Propósito: Glorificar à Deus 10- Propósito: servir a Denominação e a


instituição

II. METÁFORAS ACERCA DA IGREJA


Metáforas são coisas naturais que explicam e ilustram verdades espirituais.
Cada uma das várias usadas em relação à igreja acrescenta algo à nossa
compreensão acerca dos propósitos de Deus para ela. As mais importantes
são:

1. A Igreja como Corpo de Cristo


A igreja é um corpo espiritual que tem Jesus Cristo como cabeça. A metáfora
do corpo é uma estrutura onde as funções dão aspecto prático aos
relacionamentos e edificação.
9 | Fundamentos da Igreja

Estas funções (dons e ministérios) possuem 3 (três) características


fundamentais:
a) Unidade
A primeira característica básica na figura da igreja como corpo de Cristo (1ª Co
12.12-13). A metáfora corpo fala de unidade orgânica na qual os crentes não
somente pertencem a Cristo e uns aos outros, mas também têm vida Nele e
permanecem Nele. A oração sacerdotal de Jesus em Jo 17.21-23, inclui o Pai
como parte desta unidade: “A fim de que todos sejam um; como és tu, o Pai
em mim e eu em ti, também sejam um em nós”. O Espírito Santo é o elo desta
unidade: “Porque, por Ele, ambos (judeus e gentios) temos acesso a Deus Pai
em um Espírito” (Ef 2.18). Desta maneira a unidade inclui a trindade e os
cristãos.

b) Objetivos da unidade
 Impactar o mundo pela expressão da vida comunitária onde o amor, a
partilha, a mutualidade são praticadas (Jo 17.21; At 2.42-47; At 4.32-35
e Rm 12.9-21)
 Aperfeiçoamento dos cristãos (Jo 17.23 e Ef 4.11-16).
 Expressar a reconciliação universal onde os redimidos formam um só
corpo tem acesso ao Pai mediante o Espírito e integram a família de
Deus (Ef 2.13-19) , e são o santuário do Espírito de Deus (Ef 2.20-22).

c) Três aspectos da unidade


 Relacional
 Funcional
 Proposital
Em Jo 13.34-35, temos o relacional: “...que vos ameis uns aos outros...” e o
proposital: “Nisto conhecerão todos que são meus discípulos...” O que se
ressalta aqui é o testemunho que advém do relacionamento. No texto de Ef
4.7-16 temos o aspecto funcional de como aperfeiçoar os santos; o relacional
dentro desta funcionalidade e o proposital dos versículos 13 a 16: maturidade
e crescimento. Já Ef 1.10 e 21-23 sem prescindir dos outros aspectos porque
eles sempre se relacionam entre si, destaca mais o proposital: reunir todas a
coisas nos céus e na terra debaixo de um só cabeça, Cristo, através da igreja
seu corpo e plenitude.
10 | Fundamentos Da Vida Cristã

d) Três faces interdependentes da unidade


 Unidade espiritual Ef 4.13 - Esta unidade é um fato espiritual realizado
por Jesus Cristo na cruz (Ef 2.13-18). Nossa responsabilidade é preservá-la
no vinculo da paz. Através do Espírito Santo ela se realiza e se plenifica;
 Unidade da fé Ef 4.13 - Este é um alvo a ser alcançado pela ação dos
ministérios e dos santos na edificação da igreja. Unidade de fé não é
teológica ou doutrinária, embora nas questões de espiritualidade e
pratica elas estejam incluídas. Unidade de fé consiste nas verdades de fé
que produzem em nós pleno conhecimento do filho de Deus. O objetivo
da fé é conhecer a Deus que se revela em Cristo (Jo 17.1-3; 1ª Pe 1.3 e 2ª
Pe 3.18); e,
 Unidade orgânica Ef 4.15-16 - São os relacionamentos de comunhão e
discipulado que produzem edificação e crescimento do corpo.
e) Fundamentos da unidade (Ef 4.1-16)
O texto acima define os fundamentos que viabilizam a unidade em todos seus
aspectos. Assim temos cinco virtudes do andar cristão:
 Humildade: dependência (Mt 5.1-3), mentalidade humilde (Rm 12.3,16 e
Mt 11.29) e reconhecer a dignidade alheia (Rm 12.10);
 Mansidão: suavidade no trato, docilidade, ser controlável, ensinável e
sujeito a disciplina (Tg 1.21, Hb 12.11 e Mt 11.29);
 Longanimidade: paciência que excede fundamentada na esperança,
coração que não trama vingança ou retaliação, capacidade de perdoar
sempre e ser compassivo (Tg 5.7-8; 1ª Pe 3.8 e 2ª Tm 4.2);
 Tolerância amorosa: Ser compassivo, suportar as fraquezas alheias,
amparar os débeis na fé e ser clemente (Rm 14.1; 15.1-2; Gl 6.1 e Ef 4.32) e,
 Esforço diligente: ser zeloso, constante e perseverante sem abdicar do
fervor espiritual (Rm 12.11; 2ª Co 11.2; Cl 1.9-11; Gl 4.2; 2ª Ts 3.5 e 1ª Ts
5.12-22).
f) Provisão para a unidade (Ef 4.4-6)
Os aspectos relacionais e provisionais se relacionam interdependentemente. O
Andar digno da vocação (Ef 4.1-3) deve ocorrer em função dos sete aspectos
provisionais da unidade:
 Um só corpo: a igreja (Ef 2.16; 1ª Co 12.12 e Rm 12.4-5);
 Um só Espírito: o Espírito Santo (1ª Co 12.13 e Ef 2.18);
 Uma só esperança: razão do chamado (Ef 1.11-14; Rm 8.15-23 e Rm 8.28-30);
 Um só Senhor: Jesus Cristo (Fp 2.5-11; Rm 14.9 e Lc 6.46-49);
 Uma só fé: objeto de nossa confiança (At 3.16; Rm 10.17; At 20.21; Jd 3 e
Ef 4.13);
11 | Fundamentos da Igreja

 Um só batismo: batismo em Cristo (Gl 3.27; Mc 10.38-39; At 2.38 e Rm


6.3-6); e,
 Um só Deus e Pai: Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (2ª Co 1.3).
g) Os Ministérios fundamentais (Ef 4.7-11)
A estratégia funcional da igreja, isto é, o modus-operandi para edificação e
crescimento só é possível pela graça que foi concedida pelo Senhor Jesus
Cristo exaltado (Ef 4.7-10). Ele concede dons aos homens: Apóstolos, profetas,
evangelistas, pastores e mestres (Ef 4.11). Ele concede dons aos homens ou
homens ministerialmente dotados à igreja (Cf. Sl 68.18). Segue um resumo das
características principais dos dons ministeriais:
 Apóstolos: oriundo do grego / apostolous - Significa enviar. O
apóstolo aparece como o primeiro na lista de 1ª Co 12.28, por sua
condição de procuradores diretos do Messias, por sua autoridade
espiritual e por sua função de fundamentar, confirmar e consolidar a fé e
a doutrina para edificação e expansão da igreja (Ef 2.20). Aqui, há que se
acrescentar que os doze ocupam uma posição irrepetível, mas depois
deles e junto com eles, Deus deu à igreja, depois da ascensão de Cristo
outros apóstolos (Ef 4.11-15; 1ª Co 12.28) dos quais Paulo é um exemplo.
Com seu ministério e sua reivindicação do apostolado ele demonstrou e
convalidou histórica e teologicamente a continuidade do ministério
apostólico na igreja. Doutra sorte ainda, a igreja de Éfeso ao provar a não
autenticidade de apóstolos que se declaravam como tal, prova a
existência de outros apóstolos naquele tempo (Ap 2.2);
 Profetas: oriundo do grego / profetas - Significa predizer e
declarar a vontade de Deus na unção especifica deste ministério.
Aparecem em segundo lugar na lista de 1ª Co 12.28 e Ef 2.20. Não
obstante, forma com os apóstolos o fundamento da igreja, Os profetas
têm a visão de Deus para a igreja em quase sempre se dirigem a uma
situação presente, concreta e histórica, relacionando-a com o futuro,
advertindo, consolando, exortando, conclamando as eventuais mudanças
ou permanência no caminho e as eventuais conseqüências resultantes. Os
profetas sob a influência do Espírito Santo podem predizer eventos
futuros (At 11.28 e 21.10-11). O ministério profético tem uma unção
especial de trazer uma palavra viva de fortalecimento espiritual, de
chamar para perto, de conclamar ao arrependimento, de declarar a
vontade e propósito de Deus na vida de um individuo, igreja, grupo ou
nação;
12 | Fundamentos Da Vida Cristã

 Evangelistas: oriundo do grego /euaggelistas - Termo


usado para aquele que proclama o evangelho. Esta palavra é encontrada
nos seguintes textos do Novo Testamento: At 21.8, referindo-se a Filipe
(Comparar com At 8.5, a função proclamadora do evangelista). Ef 4.11
(uma função ministerial junto com os demais ministérios fundamentais) e
2ª Tm 4.5, referindo-se a função de Timóteo. O oficio não se encontra na
relação de 1ª Co 12.28, embora diversos dons espirituais ali aludidos
sejam necessários à evangelização eficaz (Comparar com At 8.4-6, onde a
ação evangelizadora de Filipe era acompanhada de sinais, curas e
expulsão de demônios). Mui provavelmente esta função não estava ainda
bem delineada na mente de Paulo quando escreveu a primeira carta aos
Coríntios. Mas trata-se de um ministério com características translocais,
um braço do ministério apostólico. Tinham funções apostólicas mas não
eram apóstolos e debaixo de autoridade apostólica faziam a obra
missionária estabelecendo igrejas, ordenando presbitérios, e ajudando na
supervisão do trabalho, como membros das equipes apostólicas (Cf. At
3.12-13; 8.6; 12.16-18, 23; Tt 1.5-9, comparar com 2ª Tm 1.6); e,
 Pastores e mestres: Muitos acreditam serem ministérios distintos, mas no
original aparece apenas um pronome para os dois. Podemos pensar que
se trata de dois ministérios para a mesma pessoa ou se trata de
ministérios específicos. O Pastor (Gr. /poimenas) significa cuidar,
nutrir, guiar, apascentar, alimentar e unir o rebanho. Nessa condição deve
ser um mestre também (Gr. /didaskalous). Esta idéia esta
subjacente em 1ª Tm 3.2 onde o bispo deve ser apto para ensinar.
2. Mutualidade
“uns aos outros” traduz o grego /alleloys, significa mutualidade. Ele
aparece 102 vezes no Novo Testamento, 51 vezes referindo-se à reciprocidade
cristã. As raízes procedem do mandamento de Jesus a seus discípulos amai-vos
uns aos outros (Jo 13.34-35). Seguem textos que falam de mutualidade:
a) Mandamentos que expressam inter-relacionamentos
 Amai uns aos outros (Jo 13.34-35);
 Acolhei-vos uns aos outros (Rm 15.7);
 Saudai-vos uns aos outros (Rm 16.16; 2ª Co 13.12 e 1ª Pe 5.14).
 Tende igual cuidado uns pelos outros (1ª Co 12.24-25);
 Sujeitai-vos uns aos outros (Ef 5.21);
 Suportai-vos uns aos outros (Ef 4.1-3 e Cl 3.12-14);
 Confessai os vossos pecados uns aos outros (Tg 5.16); e,
13 | Fundamentos da Igreja

 Perdoai-vos uns aos outros (Ef 4.32).


b) Mandamentos de ação negativa
 Não julguei uns aos outros (Rm 14.13);
 Não falar mal uns dos outros (Tg 4.11-12);
 Não queixeis uns dos outros (Tg 5.9);
 Não os mordais e devorai-vos uns aos outros (Gl 5.15);
 Não vos provoqueis uns aos outros (Gl 5.26);
 Não tenhais inveja uns dos outros (Gl 5.26); e,
 Não mintais uns aos outros (Cl 3.9-10).
c) Mandamentos de edificação mutua
 Edificai-vos uns ao outros (1ª Ts 5.11 e Rm 14.19);
 Instrui-vos uns aos outros (Cl 3.16);
 Exortai-vos uns aos outros (1ª Ts 5.14 e Hb 3.13);
 Admoestai-vos uns aos outros (Cl 3.16); e,
 Falai-vos uns aos outros com salmos hinos e cânticos espirituais (Ef
5.18-20 e Cl 3.16).
d) Mandamentos que apelam para o serviço mútuo
 Sede servos uns dos outros (Gl 5.13-14 e 1ª Pe 4.10);
 Levai as cargas uns dos outros (Gl 6.2);
 Sede mutuamente hospitaleiros (1ª Pe 4.9);
 Sede benignos uns para com os outros (Ef 4.32); e,
 Orai uns pelos outros (Tg 5.16).
Como podemos ver a mutualidade se insere no contexto do discipulado em
comunidade onde “Uns aos outros” vai promover o crescimento do corpo até
que este alcance a maturidade em Cristo.
3. Diversidade
A segunda característica básica na figura da igreja como corpo de Cristo (1ª Co
12.14-20). Somos um só corpo, porém composto de muitos membros, com
diferentes dons e ministérios. O Espírito Santo harmoniza esta característica
distribuindo os dons e ministério como lhe apraz.
a) A Igreja como Família de Deus
A Igreja como família destaca a paternidade de Deus, a primogenitura do Filho
e a dádiva do Espírito Santo como garantia e certeza de nossa adoção como
filhos (Ef 1.18-20; Rm 8.29; Gl 4.6-7 e Rm 8.15-16). A Igreja como família
14 | Fundamentos Da Vida Cristã

destaca também a fraternidade entre os cristãos. Por isso somos irmãos em


Cristo. Esta família de muitos filhos iguais a Jesus constitui o eterno propósito
de Deus (Rm 8.28-30 e Hb 2.9-11).
b) A Igreja como Templo do Espírito Santo
O destaque aqui fica na pessoa do Espírito Santo e como Ele se relaciona com
a igreja. O verdadeiro edifício para habitação de Deus através do Espírito
Santo. Este edifício é Cristocêntrico (Ef 2.20-22). Neste edifício, Jesus Cristo é a
Pedra angular. O Templo do Velho Testamento era uma figura do verdadeiro
templo inaugurado com a morte e ressurreição de Jesus Cristo: “... Destruí este
santuário e em três dias o reconstruirei” (Jo 2.19). João explicou que a
promessa de levantamento do templo se referia ao corpo ressurreto de Jesus
(Jo 2.21). Este templo e também aquele a quem Jesus se referiu como casa de
meu Pai (Jo 14.2), onde estão as muitas moradas que Jesus prometeu preparar
para seus discípulos (Jo 14.2-3). Esta casa, este santuário existe na terra em
forma de igreja universal e local e no céu como Jerusalém Celestial (Hb 12.22-
24).
c) A Igreja como Noiva e Esposa de Cristo
No Velho Testamento a igreja é retratada como esposa do Senhor (Ezequiel 16
e o livro de Oséias ilustram este fato). Esta metáfora se fundamenta na aliança
que Deus inaugurou com a nação israelita para garantir o amor e o
compromisso. O Novo Testamento apresenta a Igreja como noiva de Jesus
Cristo (Ef 5.26-27), com igual objetivo. O conceito de noivado no Velho
Testamento havia comunhão de bens e a herança do noivo passava a
pertencer a noiva no caso de falecimento antes do casamento. O Noivado só
poderia ser dissolvido pelo divórcio, e a infidelidade era tratada como
adultério e não simples fornicação. No estágio atual a igreja é noiva, mas
quando Jesus Cristo voltar à igreja assume sua condição de esposa (Ap 19.7 e
21.2).

III. ORGANIZAÇÃO E GOVERNO DA IGREJA


1. A Igreja e a Organização
Não podemos desprezar a organização como necessária à igreja. Ela se torna
um problema quando supera sua natureza orgânica ou se torna um fim em si
mesma. Quando criou os céus e terra Deus estabeleceu ordem onde não havia
forma (Gn 1.1-2). Da mesma maneira a igreja precisa ter forma, estrutura para
expressar sua identidade e missão. Agora, a igreja não é uma estrutura, nem
tampouco uma estrutura constitui a igreja. As escrituras é que determinam à
15 | Fundamentos da Igreja

essência da igreja, mesmo quanto à sua organização e governo, sem desprezar


aqui aspectos culturais e históricos. No que se refere organização as escrituras
não prescrevem uma estrutura universal, pois se assim o fizesse exaltaria sua
organização externa em detrimento da ação do Espírito Santo e correria o risco
de não ser suficientemente flexível para adaptar-se às diversas maneiras de se
expressar em culturas diferentes. No primeiro século a igreja se reunia nas
casas e era governada por uma pluralidade de anciãos (presbíteros) que eram
auxiliados por diáconos.

2. A Liderança da Igreja no Novo Testamento


a) Igreja universal
Quando os cristãos começaram a executar a grande comissão e a fazer
discípulos, a única Bíblia que tinham era o Velho Testamento, o qual era
utilizado basicamente para convencer as pessoas de que Jesus Cristo era o
Messias prometido. Mesmo depois do pentecostes levaram aproximadamente
15 a 20 anos para que a literatura do Novo Testamento, como conhecemos
hoje começasse a surgir. À medida que as igrejas eram estabelecidas a
literatura neotestamentária começou a tomar forma. As cartas paulinas foram
escritas na década de 50 d.C. e inicio da década de 60 d. C. e as epistolas de
João em algum período da década de 80 d. C. na realidade todo o Novo
Testamento, incluindo os evangelhos e Apocalipse foi escrito entre 50 d.C. a
100 d.C. Por ai, podemos ver a complexidade como foram sendo organizadas
as igrejas locais, pois sem um corpo literário não poderia existir um conjunto
sistemático de doutrinas. Mas Deus tinha um propósito em tudo isso. Em
Efésios 4.4-16 e 1ª Co 12.18-31, vemos que Deus estabeleceu os melhores
dons para edificar sua igreja universal, estabelecidas em localidades. Existem
semelhanças entre Efésios e 1ª Coríntios, com o acréscimo de evangelistas em
Efésios e o dom de pastor é combinado com o dom de mestre. Desta forma,
surgiram primeiramente os ministérios para edificar a igreja universal
(Apóstolos, profetas, evangelistas e pastores e mestres).

b) Igreja local
Como pudemos ver os líderes nos primórdios da igreja no primeiro século
enfrentaram problemas por não possuírem escritos inspirados para extraírem
doutrinas, exceto os escritos do Velho Testamento. É até possível que mesmo
no final do primeiro século nem todos os cristãos tenham tido com todos os
16 | Fundamentos Da Vida Cristã

evangelhos, as cartas de Paulo e outras epistolas. E ainda, durante quase todo


o primeiro século o evangelho de João, suas epistolas e o Apocalipse não eram
conhecidos porque foram escritos todos depois da década de 80 d.C.
Entretanto Deus permitiu que os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os
pastores e mestres equipassem seus santos para desempenho de seu serviço.
Ele outorgou a esses homens capacidades e habilidades sobrenaturais para
permitir que edificassem a igreja (Ef 4.7-12). Assim a igreja surge orgânica,
relacional e fundamentada por este tipo de liderança. Entretanto, à medida
que as igrejas iam sendo fundadas e confirmadas na fé, surge à necessidade de
um novo plano para a liderança da igreja, agora mais relacionado com a
localidade. O livro de Atos mostra que os apóstolos, profetas, evangelistas e
pastores e mestres, tinham um ministério mais abrangente: Faziam discípulos,
fundavam igrejas, e exerciam um ministério itinerante de uma igreja para
outra, ajudando-as a permanecerem na fé. A responsabilidade de um pastor
do primeiro século era ajudar a nova igreja a organizar-se como tal e crescer
espiritualmente. Temos como exemplo Timóteo que além de evangelista era
um pastor e mestre (Cf. 1ª Co 4.17; Fp 2.19,20; 1ª Tm 1.3; At 17.14 e 1ª Ts 3.1-
2).

c) Os presbíteros ou bispos
Estes líderes da igreja local são identificados nas escrituras por dois títulos
básicos (Cf. At 20.17: /presbyteroys, que é a palavra para ancião
no grego). Nos dias dos juízes, durante a monarquia, no cativeiro e sob
domínio romano os presbíteros aparecem como integrantes do corpo
governamental da nação judaica. Um conselho de presbíteros presidia cada
sinagoga judaica. A igreja do primeiro século adotou organização semelhante,
modificada de acordo com as circunstâncias. Desta forma a palavra que era
familiar sob a antiga dispensação foi mantida sob a nova. A palavra presbítero
aparece com maior freqüência no Novo Testamento do que a palavra bispo,
especialmente no livro de Atos.
A referência aos bispos aparece apenas uma vez em At 20.28. No restante das
vezes ela aparece nas epistolas paulinas como sinônima de presbítero.
Parece existir uma explicação para os dois termos serem usados
intercambiavelmente. Se Paulo exerceu um ministério especial junto aos
gentios empregou o termo bispo mais do qualquer outro escritor do Novo
Testamento. Ele o fez para ter uma comunicação mais eficaz com judeus e
gentios na igreja neotestamentaria. Επίσκοπος “Episkopos” que é a palavra
para bispo, na língua ateniense era uma palavra usada para designar
17 | Fundamentos da Igreja

comissários para governar novas colônias ou conquistas. Basicamente significa


supervisor. Estes lideres (presbíteros ou bispos) tinham duas
responsabilidades: Governar a igreja (Cf. 1ª Tm 3.4-5) e pastorear o rebanho
com todas as implicações que isto representa (At 20.27-28; 1ª Pe 5.1-3; Tg 5.14
e Tt 1.9). Ainda, a respeito desses líderes o Novo Testamento nos assegura
acerca da multiplicidade ou pluralidade de presbíteros. As igrejas locais
incluíam fiéis que se reuniam em determinada área geográfica. Por exemplo:
“Igreja em Jerusalém” (At 8.1). Não havia prédios e lugar normal das reuniões
eras as casas (At 2.46). O processo utilizado pelos apóstolos era nomear
presbíteros em cada cidade (Cf. Tt 1.5). Sendo as igrejas-lares a norma, os
presbíteros eram ordenados para governar estas igrejas em cada cidade.
d) Diáconos
Provavelmente, sua origem está na escolha dos sete em At 6.1-7. A palavra
/diakonos é traduzida por ministro ou servo. Os diáconos são,
portanto, ministros da igreja local, auxiliares dos presbíteros nas questões
espirituais, pastoreamento, cuidado e socorro e nas questões de natureza
cultural, ou seja, as necessidades naturais dos irmãos.

3. Qualificações da liderança da Igreja local no Novo Testamento


Existiam qualificações prévias na escolha de presbíteros e também para os
diáconos, conforme os textos de 1ª Tm 3.1-13 e Tt 1.5-9; contém apenas as
qualificações dos presbíteros. Estas qualificações eram de natureza espiritual,
moral e domésticas. Seguem as qualificações:
a) Presbíteros (1ª Tm 3.1-7 e Tt 1.5-9)
 Qualidades espirituais: Ser irrepreensível, temperante, sóbrio, modesto,
hospitaleiro, amigo do bem, justo, piedoso, despenseiro de Deus,
apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina e apto para ensinar, com
poder para exortar e convencer os que contradizem;
 Qualidades morais: Não dado ao vinho, não violento, cordato, inimigo de
contendas, ou irascível, que tenha domínio próprio, não arrogante, não
avarento ou ganancioso e que tenha bom testemunho dos de fora da
igreja; e,
 Qualidades domésticas: Esposo de uma só mulher, governo da própria
casa, criando seus filhos com disciplina e respeito, portanto filhos crentes,
não acusados dissolutos ou insubordinados.
18 | Fundamentos Da Vida Cristã

b) Diáconos
As qualificações dos diáconos não diferenciavam muito daquelas exigidas dos
presbíteros, senão vejamos:
 Respeitáveis;
 De uma só palavra;
 Não inclinados a muito vinho;
 Não cobiçosos de sórdida ganância;
 Conservando o ministério da fé com a consciência limpa;
 Irrepreensíveis, maridos de uma só mulher; e,
 Que governe bem a sua própria casa.

IV. A MISSÃO DA IGREJA


1. O que é Missão?
A palavra missão vem do latim missio, com sentido de enviar, mandar,
autorizar, delegar, dar procuração, tarefa, trabalho, ação, atribuição, ordem,
mandato, procuração etc. A palavra grega correspondente é αποστολή
(apostole: palavra composta de apô + stole, significando a origem, procedência
do envio vindo da parte de alguém e o envio propriamente dito). Como a
igreja é apostólica, nesta condição ela é enviada, comissionada a evangelizar
(Mc 16.15-16; Lc 24.47-49), fazer discípulos (Mt 28.19-20), implantar e formar
novas igrejas como agências do Reino de Deus em cada localidade, expressar o
testemunho de Jesus no poder do Espírito Santo (At 1.8), anunciar as virtudes
de Deus como povo de Deus (1ª Pe 2.9). Mas de fato há uma missão mais
transcendente ainda: A Glória de Deus (Ef 3.9-10;21). A Igreja em todas suas
tarefas tem um objetivo principal glorificar a Deus.
2. Aspectos diferenciados da Missão
Às vezes temos uma visão reducionista de missão quando enfocamos um só
aspecto dela. Corremos também o risco de expandir demais e ai tudo se torna
missão, embora toda atividade cristã possa ser inserida nela. Portanto, vamos
compreendê-la em seus aspectos diferenciados:
 Missão teológica: A Glória de Deus - aqui se trata do objetivo principal de
toda atividade missionária;
 Missão Litúrgica: Cultuar a Deus - serviço público, onde Deus é louvado e
adorado pelos fiéis;
 Missão social interna da igreja - fraternidade, comunhão e solidariedade
entre os cristãos;
19 | Fundamentos da Igreja

 Missão biológica - edificação, amadurecimento e multiplicação dos


crentes e das igrejas; e,
 Missão social externa - o serviço à sociedade em geral.

3. Natureza da incumbência missionária


Em principio, todos os cristãos são missionários, quer trabalhem em suas
localidades, ou fora dela quando enviados para outras localidades e ou países.
Todavia, é preciso distinguir as incumbências de acordo com a natureza do
envio, dom ministério ou serviço. Assim, para efeito didático temos três
categorias:
a. Obra missionária
Atividade exercida por ministérios dotados e qualificados para esse fim
(Apóstolos, profetas, evangelistas e pastores mestres), com a finalidade de
fazer discípulos, estabelecer e formar novas igrejas e eleger e ordenar
presbíteros;
b. Função missionária
Alguma atividade de natureza espiritual para edificar e fortalecer igrejas já
existentes, através de ministério, dom e graça necessários exercendo um
trabalho itinerante de visitação contínua;
c. Tarefa missionária
Através de alguma tarefa especifica que inclua inclusive a profissão, além das
qualidades espirituais requeridas. Exemplo: Um médico cristão, que atuando
nesta profissão, evangeliza, dá testemunho, e nesta condição sirva a sociedade
da localidade ou pais para o qual foi enviado. Pode ser também um trabalho
especifico de natureza espiritual, como evangelizar e cuidar de crianças,
alguma atividade com jovens, na área de música e louvor, etc.

4. Aspectos da Grande Comissão


Basicamente a grande comissão se encontra registrada de forma diversificada
nos quatros evangelhos como mandamentos diretos de Jesus Cristo. At 1.8
também se insere de uma maneira especial, destacando a necessidade dos
discípulos receberem o Espírito Santo para realizarem a obra de testemunho
20 | Fundamentos Da Vida Cristã

que teria inicio em Jerusalém e se estenderia até aos confins da terra. Aqui,
vamos nos limitar aos quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
 Mateus 28.18-20: Aspectos totalizantes no mandamento de Jesus Cristo:
Toda autoridade (vs 18); todas as nações (vs 19); todas as coisas (vs 19) e
todos os dias (vs 20). Precisamos prestar atenção a estes aspectos porque
podemos minimizá-los ou relativizá-los e ai, perdemos todo sentido
teológico e prático da comissão. O tema da grande comissão em Mateus
é “... fazei discípulos de todas as nações...” e para isto não faltaria
autoridade (vs 18) e presença contínua de Jesus Cristo (vs 20);

 Marcos 16.15-18: O tema é “... pregai o evangelho a toda criatura...” O


destaque está na necessidade de conversão individual “Quem crer e for
batizado será salvo...”. É a única grande comissão que insere os milagres
como parte da ação evangelizadora (Mc 16.17-18);

 Lucas 24.46-49: A grande comissão em Lucas é descritiva da obra vicária


de Jesus Cristo (vs 46), da necessidade de se pregar o arrependimento a
todas as nações para remissão dos pecados e que os discípulos eram
testemunhas destas coisas (vs. 47). O mandamento é para os discípulos
aguardarem em Jerusalém até serem revestidos de poder do alto (uma
referência ao Espírito Santo), para se cumprir a promessa do Pai,
renovada por Jesus em At 1.8 e de fato ocorrida no dia de pentecostes (At
2.1-4); e,

 João 20.21-23: Jesus destaca aqui a natureza do envio “... Assim como o
Pai me enviou, eu também vos envio”. A Igreja recebe a mesma comissão
que Jesus recebeu do Pai, com o poder de perdoar e reter os pecados em
função da aceitação ou não do evangelho. O Espírito Santo é quem daria
esta capacitação e poder “... Recebei o Espírito Santo” (vs 22), uma
antecipação profética do pentecostes.
21 | Fundamentos da Igreja

CONCLUSÃO

Como destacamos na introdução o assunto é muito vasto e por isso muito


coisa ainda poderia ser dito acerca da igreja. Entretanto a finalidade deste
estudo foi estabelecer os fundamentos: Compreensão da natureza da igreja
nos dois primeiros capítulos, organização e liderança no terceiro e missão da
igreja nos terceiros e quarto capítulos. Para concluir, resta-nos importante falar
sobre o futuro da igreja. Com todas as falhas históricas e atuais ela marcha
rumo à plenitude. Jesus prometeu: “Edificarei minha igreja” (Mt 16.18). O
Livro de Apocalipse retrata a batalha cósmica entre o bem o mal, entre Jesus
Cristo e as forças satânicas do mal dentro do processo histórico, entre a Igreja
Verdadeira e a Babilônia, para finalmente mostrar a vitória final do bem, do
Senhor Jesus Cristo e de Sua Igreja. Portanto, é nesta perspectiva de vitória
final garantida hoje é que caminhamos para o futuro, pois certamente,
recebemos um Reino Inabalável (Hb 12.28). Na batalha final, o Senhor Jesus
Cristo, seguido pelos exércitos do céu vencerá e Cristo consumará seu Reino
Eterno. A Igreja unida a Cristo (Ap 19.7), reinará com Ele (Ap 20.4) A Nova
Jerusalém (Igreja) será lugar de habitação de Deus para sempre (Ap 21).
À Deus toda a Glória!
22 | Fundamentos Da Vida Cristã

Questões para estudo:


1. Qual é a etimologia da palavra Igreja?

2. Explique as características essenciais da Igreja.

3. Cite e explique os cinco aspectos da Igreja e sua missão.

4. Quais as diferenças entre Igreja e Organizações Para-Eclesiásticas.


23 | Fundamentos da Igreja

5. Quais as metáforas mais importantes usadas em relação da igreja.

6. Explique o que você entendo por unidade, quais seus objetivos e


aspectos principais e faces interdependentes.

7. Explique as características, os fundamentos e provisões divinas da


unidade.
24 | Fundamentos Da Vida Cristã

8. Quais são os ministérios fundamentais da igreja e como funcionam?

9. Quais são os dois ofícios básicos de governo da igreja, explique-os.

10. Quais são os aspectos diferenciados de missão da igreja. Explique


resumidamente:

a) Natureza da incumbência missionária:


25 | Fundamentos Da Vida Cristã

b) Aspectos da grande comissão:

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