Mensagem - Fernando Pessoa
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Mensagem - Fernando Pessoa
MENSAGEM Fernando Pessoa
PROF. JORGE ALBERTO
1. CONTEXTO DO MODERNISMO PORTUGUÊS
O Modernismo português deve ser compreendido a partir do final do século XIX, que traz a marca da
crise da monarquia, o avanço do pensamento republicano, a crise econômica e, principalmente, o Ultimato
Inglês (1890). Portugal enfrentava ainda sérios problemas para manter suas colônias. Em fevereiro de 1908,
o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram assassinados por um popular. Assumiu D. Manuel II,
que permaneceu no poder até 1910, quando foi proclamada a República. Nos dez primeiros anos, a jovem
República enfrentou sucessivas crises, agravadas por problemas com as colônias africanas. No plano
externo, temos uma nova situação mundial como a I Guerra (19141918), a Revolução Russa (1917) e a
afirmação dos Estados Unidos da América no cenário internacional. Em 1926, uma facção da extrema
direita, formada por integralistas, tomou o poder através de um golpe militar. Dois anos mais tarde (1928),
teve início a ditadura fascista de Antônio de Oliveira Salazar (o Salazarismo), que se prolongou até 25 de
abril de 1974, com a chamada Revolução dos Cravos.
1.1. CONTEXTO LITERÁRIO DO MODERNISMO ( 1915 – 200? )
O Modernismo português nasce num contexto de renovação política e do ressurgimento do
nacionalismo lusitano, gerando duas correntes: os saudosistas e os integralistas de mentalidade
fascista. Pregavase uma volta ao passado, invocandose o Império, o Sebastianismo, as glórias de Os
Lusíadas e as Grandes Navegações. A literatura modernista dá sua contribuição procurando atualizar o país
em relação às renovações artísticas que surgem em toda a Europa.
O marco inicial do Modernismo português foi a publicação da revista ORPHEU, em 1915, antenada
com as vanguardas européias, tendo como responsáveis Fernando Pessoa, Mário de SáCarneiro, Almada
Negreiros, Luís de Montalvor, o brasileiro Ronald de Carvalho e outros. Cronologicamente, a poesia de
Florbela Espanca filiase à Primeira Geração.
Nos dias atuais, o interesse despertado pela obra de Fernando Pessoa domina a Geração da
Revista Orpheu (o Orphismo), a Primeira Geração (19151927), mas também merecem destaque Mário
de SáCarneiro e Almada Negreiros.
A Segunda Geração: Revista Presença (o Presencismo 19271940) de autores como: José Régio,
Branquinho da Fonseca, Antônio Boto, Miguel Torga...
A Terceira Geração é chamada de NeoRealismo, um movimento literário que combate o fascismo e
propõe uma literatura social, documental, combativa e reformadora. O NeoRealismo situase
aproximadamente entre 1936 e 1950. Ferreira de Castro é o grande precursor com o seu romance A Selva.
A influência de Ferreira de Castro, as teorias marxistas, o romance social norteamericano e de escritores
regionalistas brasileiras, sugerem aos escritores portugueses os traços mais definidores. Em 1940 é
publicado o romance “Gaibéus”, de Alves Redol, que oficializa o NeoRealismo em Portugal. Outros autores
ligados aos ideais neorealistas: Manuel da Fonseca, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Namora, Carlos de
Oliveira, Joaquim Paços D´Arco...
Há muitas divergências na delimitação do NeoRealismo, alguns apontam o fim do movimento em
1968; outros, em 1974, quando finda a ditadura salazarista, e, há alguns que reconhecem traços neo
realistas em autores contemporâneos. Nesse período foram surgindo novas formas e correntes literárias
apoiadas no Surrealismo (tardio), no Existencialismo, no Concretismo, no nouveau roman, nas linguagens do
cinema e da pintura, realismo fantástico ou realismo mágico, enfim, todas as técnicas da arte
contemporânea. Autores mais representativos da Literatura Portuguesa Contemporânea: Agustina Bessa
Luís, Herberto Helder, José Cardoso Pires, Eugênio de Andrade, Vergílio Ferreira, Antônio Lobo Antunes,
Lídia Jorge, Ernesto Mello e Castro, David MourãoFerreira, Alexandre O´Neill, Jorge de Sena, Sofia de
Mello Breyner Andresen, Fernanda Botelho, e, enfim, o mais destacado autor contemporâneo, Prêmio Nobel
de Literatura de 1998, JOSÉ SARAMAGO.
2. RESUMO BIOGRÁFICO
FERNANDO ANTÔNIO NOGUEIRA PESSOA nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888 (dia de
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Santo Antônio, padroeiro da cidade). Faleceu na mesma cidade em 30 de novembro de 1935. Filho de
Joaquim de Seabra Pessoa, modesto funcionário público, homem culto e crítico de música e teatro. Perdeu o
pai quando contava cinco anos de idade, em 1893; dois anos depois, a mãe, Maria Magdalena Pinheiro
Nogueira, uma senhora cultíssima, casouse com o comandante João Miguel Rosa, que logo é designado
para cônsul em Durban, África do Sul.
Na África do Sul, Fernando Pessoa recebeu formação escolar segundo os padrões britânicos: aos 10
anos, ingressou na escola de West Street e obteve a equivalência de cinco anos letivos em apenas três
meses; dois anos depois, estava na Durban High School. Foi nesse período que começou a escrever
poesias na língua inglesa. Ganhou o prêmio Rainha Vitória. Em 1902, cursou a Commercial School para
prestar os exames da Universidade do Cabo da Boa Esperança, onde cursou por dois anos.
Foi em Durban que Pessoa adquiriu a base de sua cultua literária: Milton, Shelley, Keats,
Shakespeare, Tennyson, Pope e outros, além de uma sólida base em cultura clássica, já que o Latim e o
Grego eram matérias obrigatórias do currículo, com o mesmo peso das línguas modernas. Foi aí também, e
em língua inglesa, naturalmente, que escreveu os primeiros poemas e criou seus primeiros esboços de
heterônimos.
Foi ainda em Durban que Pessoa percebeu a realidade palpável de um grande e poderoso império, o
British Empire. Isso é decisivo para o futuro autor de Mensagem. Mais tarde o poeta perceberá que não
pertencia a esse domínio e se dará conta de que essa gloriosa imagem de um império “onde o sol jamais se
põe” um dia fora de Portugal, mas hoje... “Ó Portugal, hoje és nevoeiro”.
Em 1905, com 17 anos, Fernando Pessoa retornou sozinho a Lisboa e matriculouse no Curso
Superior de Letras, que abandonou depois de um ano (por conta própria estudava os filósofos gregos e
alemães). Pessoa redescobre sua cultura e sua literatura. Nessa época, passou a ler exaustivamente os
clássicos portugueses: Cesário Verde, Antônio Nobre, Antero de Quental, Camilo Pessanha e, claro, acima
de todos, Camões. Escreveu em língua inglesa ainda por algum tempo; começou a produção na língua
pátria e tornouse correspondente estrangeiro, profissão que seguiu até o fim da vida.
A partir de 1909, Pessoa iniciou uma produção poética em francês, sob a influência dos simbolistas;
fez traduções e colaborou em revistas literárias e atuou como crítico em A Águia (19101932), órgão de
expressão e propaganda dos poetas do movimento chamado Renascença Portuguesa, dirigida por Teixeira
de Pascoais, sob influência de quem, provavelmente, embuiuse do espírito nacionalista e visionário
presente em muitos de seus textos, chegou a mencionar, em 1912, o surgimento de um “supraCamões”,
isto é, um superpoeta. Segundo Pessoa, a poesia do supraCamões será metafísica e religiosa, mas sua
religiosidade não seria tradicional, isto é, a católica de Camões, mas uma religiosidade nova. Fundou, com
outros escritores, a revista Orpheu (1915, somente dois números circularam, o terceiro ficou no prelo). A
partir daí, teve intensa vida boêmia (grande conversador de bar), homem de vida irregular, cortês, elegante,
solitário, trocando experiências artísticas e intelectuais com amigos e cultivando uma cirrose que mais tarde
o mataria.
Em março de 1920, Fernando Pessoa conheceu, no escritório em que era correspondente, a
datilógrafa Ophélia Queirós, a única namorada do escritor de que se tem notícia. O namoro foi breve, durou
até novembro, mas houve uma intensa troca de correspondência. Nesse mesmo ano, Pessoa sofreu grave
crise depressiva e internouse em uma casa de saúde.
Alguns anos depois, fundou a Editora Olisipo e a revista Athena; reatou o namoro com Ophélia, dessa
vez por dois anos; e voltou a sofrer várias crises depressivas.
Em 28 de novembro de 1935, foi internado no Hospital de São Luís dos Franceses, onde veio a
falecer dois dias depois, às oito e meia da noite. Suas últimas palavras foram escritas em inglês num pedaço
de papel: “ I know not what tomorrow will bring” (Eu não sei o que o amanhã me reservará).
2.1 FERNANDO PESSOA – HETERONÍMIA: DRAMA EM GENTE
Fernando Pessoa é o mais importante poeta do Modernismo português e um dos três maiores poetas
da língua portuguesa (Camões e Carlos Drummond de Andrade). Um dos mais extraordinários poetas do
Ocidente, apesar de parte de sua produção ter permanecido inédita, guardada numa arca que só foi aberta
em 1985 (50 anos depois de sua morte, como era da vontade do escritor), o que até agora foi publicado é
mais do que suficiente para avaliar a grandeza de seu gênio.
Fernando Pessoa, confessandose “histeroneurastênico, com uma tendência orgânica constante para
despersonalização e simulação”, não foi apenas um genial e raro poeta, mas vários: um verdadeiro
caleidoscópio poético. Seu projeto de arte era tão vasto que, despojandose do eu pessoal, criou várias
entidades poéticas; várias personas (personalidades) poéticas, com biografia, traços físicos, formação
cultural, profissão, ideologia e estilo próprio. Ao todo foram mais de setenta os heterônimos desenvolvidos,
semidesenvolvidos ou apenas esboçados, desde o primeiro Chevalier de Pas, personagem inventado aos
quatro anos de idade; depois Alexander Search e Robert Anon, da fase adolescente. É importante não
confundir heterônimo com pseudônimo. Pseudônimo é outro nome, um nome falso para a mesma
personalidade, um disfarce, sob o qual alguém se esconde.
Os três mais destacados heterônimos foram: Alberto Caeiro – a poesia da sensação (“pensa” com
os sentidos) e do objetivismo absoluto; menos culto e o mais simples, criado no campo (pastor pagão),
antiintelectualista, morreu tuberculoso em 1915. É tido pelos outros como mestre. Ricardo Reis – discípulo
de Caeiro, é considerado um neoclássico;(“pensa” com a razão) representa o viés clássico da obra de
Fernando Pessoa. Reis era monarquista e médico, educado em colégio de jesuítas, amante das culturas
grega e latina. Exilouse no Brasil. Álvaro de Campos – engenheiro naval formado em Glasgow (Escócia), é
o mais antenado com a tendência modernista, principalmente o Futurismo; de espírito cosmopolita e inquieto
(“pensa” com a emoção), dinâmico, de temperamento tenso e explosivo.
2.2. FERNANDO PESSOA: O POETA ORTÔNIMO OU “ ELEMESMO”
Costumamos estudar a obra assinada por Fernando Pessoa elemesmo – ou Fernando Pessoa
ortônimo – escrita em língua portuguesa em duas linhas: a poesia saudosistanacionalista e poesia
lírica.
A poesia lírica, reunida até o presente, está nos volumes Cancioneiro e Quadras ao gosto popular os
mais conhecidos. O poeta retoma vários temas, ritmos e formas tradicionais e populares do lirismo
português. A produção ortônima apresentase multifacetada (o poeta “pensa” com a imaginação): reflexões
sobre a própria arte poética e sobre o papel do artista; o mistério da existência, o eterno desconforto de
uma alma em desamparo, solidão e tédio; o destino cósmico do ser humano, ânsia de infinito, de absoluto;
remessa a uma outra realidade, oculta, invisível; análise de emoções em poemas breves, sutis e
complexos; falta de impulsos afetivos por nada esperar da vida; a natureza e a realidade do EU.
A poesia saudosistanacionalista tem seu ponto máximo no livro Mensagem, publicado em 1934,
única obra em língua portuguesa organizada e publicada pelo poeta, com poemas datados a partir de 1913.
Um livro de 44 poemas, formando um só poema, sobre o tema da pátria, misturando elementos épicos e
líricos, em linguagem propositalmente arcaizante. Dos 44 poemas, 22 são formados por estrofes
uniformes, constituídas por versos que têm o mesmo número de sílabas; na outra metade, as estrofes
alternam, regularmente, versos de dez e versos de seis sílabas, ou versos de oito e de quatro. Em sua
quase totalidade, os versos de Mensagem são rimados e o predomínio absoluto é para as rimas
alternadas. O livro é uma verdadeira polifonia multifacetada, em face do andamento uniforme da epopéia
camoniana.
No Classicismo (séc.XVI), Camões publica Os Lusíadas que contém o passado nacional como algo
irreversível, como definitivo cumprimento das possibilidades históricas de Portugal. É um poema narrativo
que conta a História de Portugal de maneira ordenada e de estrutura uniforme. Mensagem não é uma obra
narrativa, não conta passagens da História portuguesa. O poeta faz referências a fatos e personagens
históricos, às vezes de forma indireta e metafórica, às vezes só nos títulos dos poemas. A obra sugere uma
releitura da História de Portugal em três fases: ascensão, apogeu, declínio.
Mensagem é a plena reabsorção da História de Portugal pelo mito, portanto, um poema nacionalista
místico que faz uma releitura de Portugal. Mais do que um livro de caráter nacionalista, a obra ganha
dimensões universais ao sondar o enigma da condição humana. O livro une os extremos: o particular, a
história de Portugal, e o universal. Os fatos grandiosos e os atos heróicos não passam de indícios de uma
vontade maior. O herói é um agente involuntário da história. Os fatos grandiosos e os atos heróicos não
passam de indícios de uma vontade maior, muitas vezes designada pela palavra Deus – uma metáfora da
autosuperação humana, o impulso que move o homem para a ascensão espiritual.
Mensagem é uma concepção metafísica da História, que sublinha a pequenez, as limitações e a
inconsciência do ser humano. O herói aparece como um indivíduo que age às cegas, mero instrumento de
uma vontade superior: “Deus é o agente”, que o homem não alcança e não compreende. A complexidade
dessa obra enigmática é o homem e suas potencialidades.
Mensagem é a retomada da epopéia nacional à luz da modernidade. É uma revisitação de Os
Lusíadas, mas pelo elemento hermético, paradoxal, esotérico, ocultista, mítico, espiritualista, místico,
cosmopolita, nacionalistasaudosista, principalmente, o messianismosebastianista.
O livro se chamava Portugal e concorre a um prêmio instituído pelo governo com o nome
Mensagem. Foi inscrito no concurso “Antero de Quental”, instituído pelo Secretariado de Propaganda
Nacional em 1934, (Estado Novo salazarista), recebeu o “o prêmio de segunda categoria”, preterido por
uma tal Romaria, de Vasco Reis, que o tempo jogou na lixeira.
3. MENSAGEM
3.1 A ESTRUTURA DO LIVRO
A obra possui 44 poemas agrupados em 3 partes:
PARTE POEMAS
Os castelos
I. Os Campos
O das quinas
1) Ulisses
2) Viriato
3) O conde D. Henrique
4) D. Tareja
II. Os Castelos
5) D. Afonso Henriques
6) D. Dinis
1. BRASÃO 7 a) D. João, o primeiro
7 b) D. Filipa de Lencastre
D. Duarte, rei de Portugal
D. Fernando, infante de Portugal
III. As Quinas D. Pedro, regente de Portugal
D. João, infante de Portugal
D. Sebastião, rei de Portugal
IV. A Coroa Nunálvares Pereira
A cabeça do grifo / O infante D. Henrique
V. O Timbre
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Uma asa do grifo / D. João, o segundo
A outra asa do grifo / Afonso de Albuquerque
O infante
Horizonte
Padrão
O monstrengo
Epitáfio de Bartolomeu Dias
2. MAR PORTUGUEZ Os colombos
Ocidente
Fernão de Magalhães
Ascensão de Vasco da Gama
Mar Portuguez
A última nau
Prece
I. Os Símbolos D. Sebastião
O Quinto Império
O Desejado
As Ilhas Afortunadas
O Encoberto
O Bandarra
II. Os Avisos
3. O ENCOBERTO Antônio Vieira
Terceiro
Noite
III. OS TEMPOS Tormenta
Calma
Antemanhã
Nevoeiro
O autor toma como referencial o brasão real português e evoca as origens e a formação de Portugal
até o início da expansão marítima mar afora. Portanto, é a fase da definição da nacionalidade.
2ª PARTE: MAR PORTUGUÊS “Possessio maris” (posse dos mares)
O poeta volta o leitor para o tempo das Grandes Navegações: o apogeu da história lusitana, e a
amplidão marítima.
3ª PARTE: O ENCOBERTO “Pax in excelsis” (paz nas alturas)
O poeta evoca D. Sebastião, o mito sebastianista e a crença no Quinto Império. A visão sebastianista
é de tudo aquilo que o jovem rei representou: os sonhos de grandeza, de expansão do cristianismo e,
sobretudo, as conquistas ultramarinas.
Cada poema parece criar um clima de magia em torno de presságios e adivinhações. O vate se volta para
as indagações e as visões proféticas do que está por vir. Daí o tom enigmático por conta do desencanto e
expectativas da atualidade.
3.2 TEXTOS PARA COMENTÁRIOS
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
PRIMEIRA PARTE: BRASÃO
(Bellum sine bello: guerra sem guerra) Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
I. OS CAMPOS Sagroute, e foste desvendando a espuma,
PRIMEIRO / O DOS CASTELOS
E a orla branca foi de ilha em continente,
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando, Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E toldamIhe românticos cabelos E viuse a terra inteira, de repente,
Olhos gregos, lembrando.
Surgir, redonda, do azul profundo.
O cotovelo esquerdo e recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado; Quem te sagrou crioute português.
Este diz Inglaterra onde, afastado,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
A mão sustenta, em que se apóia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal, Cumpriuse a Mar, e o Império se desfez.
O Ocidente, futuro do passado.
Senhor, falta cumprirse Portugal!
O rosto com que fita e Portugal.
PADRAO
III. AS QUINAS
QUINTA / D. SEBASTIAO, REI DE PORTUGAL O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Louco, sim, louco, porque quis grandeza Este padrão ao pé do areal moreno
Qual a Sorte a não dá. E para diante naveguei.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está A alma é divina e a obra é imperfeita.
Ficou meu ser que houve, não o que há. Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
Minha loucura, outros que me a tomem O porfazer é s6 com Deus.
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem E ao imenso e possível oceano
Mais que a besta sadia, Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Cadáver adiado que procria? Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
SEGUNDA PARTE: MAR PORTUGUEZ
(Possessio maris: a posse do mar)
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
O INFANTE
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
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COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UESPI
O porto sempre por achar. Jazas, remoto, sentete sonhado,
E erguete do fundo de nãoseres
MAR PORTUGUEZ Para teu novo fado!
Ó mar salgado, quanto do teu sal Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,
São lágrimas de Portugal! Mas já no auge da suprema prova,
Por te cruzarmos, quantas mães choraram A alma penitente do teu povo
Quantos filhos em vão rezaram! À Eucaristia Nova.
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar! Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,
Excalibur do Fim, em jeito tal
Valeu a pena? Tudo vale a pena Que sua Luz ao mundo dividido
Se a alma não e pequena. Revele o Santo Gral!
Quem quer passar alem do Bojador
Tem que passar alem da dor. III – OS TEMPOS
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
QUINTO / NEVOEIRO
Mas nelle e que espelhou o céu.
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
TERCEIRA PARTE: O ENCOBERTO Este fulgor baço da terra
(Pax in Excelsis: paz nas alturas) Que é Portugal a entristecer
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogofátuo encerra.
I – OS SÍMBOLOS
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
PRIMEIRO / D. SEBASTIÃO
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Esperai! Caí no areal e na hora adversa Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa É a Hora!
Va/ete, Fratres.
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
TERCEIRO / O DESEJADO
Onde quer que, entre sombras e dizeres,