Jogos Cooperativosnas Organizaes Fbio Brotto
Jogos Cooperativosnas Organizaes Fbio Brotto
Jogos Cooperativosnas Organizaes Fbio Brotto
(*) Texto extraído do livro “Jogos Cooperativos nas Organizações”, organizado por Fábio Otuzi
Brotto e publicado pelo Projeto Cooperação em parceria com o Sesc-SP, em 2001.
1. A Visão dos Jogos Cooperativos.
Todo Jogo tem uma intenção que ultrapassa os limites do campo e da quadra,
tocando vários outros espaços da vida humana. Assim, é importante reconhecer o
propósito, as intenções, as ações, conseqüências e resultados dos diferentes tipos de
Jogo que são oferecidos e praticados no cotidiano das organizações onde
convivemos.
O objetivo deste breve ensaio é focalizar a proposta dos Jogos Cooperativos 1 como
um caminho para o desenvolvimento de pessoas e grupos em diferentes ambientes
organizacionais.
O passo-a-passo nesse caminho é sempre um com-passo construído no jogo de
relacionamentos interpessoais e grupais pois, tanto no Jogo como na Vida
estamos permanentemente sendo desafiados a solucionar problemas,
harmonizar conflitos e a realizar objetivos.
O desafio assumido pelos Jogos Cooperativos é ajudar a compreender que não
existem problemas ruins, conflitos a serem evitados ou objetivos impossíveis. Quando
ousamos compartilhar o Jogo da Vida de uma maneira Cooperativa, somos capazes
de perceber os problemas, conflitos e objetivos impossíveis, como oportunidades
para descobrir nosso Jeito de Ser e InterSer2 no mundo.
Consideremos alguns dos desafios atuais, tais como:
1
Para mais detalhes sobre os Jogos Cooperativos, ver na bibliografia recomendada, os trabalhos de Orlick (1989),
Brown (1994) e Brotto (1995 e 1999).
2
“InterSer” é um termo proposto por Thich Nhat Hanh (ver na bibliografia) para indicar a necessidade de nos
considerarmos interdependentemente conectados a todos e a tudo.
3
Frase inscrita em camisetas durante a ECO 92, realizada no Rio de Janeiro.
responsabilidade e co-evolução com todas as formas de vida.
Estes desafios representam uma nova ordem de necessidades. Pode ser verdade
que não sejam inéditos, porém apresentam um grau de complexidade 4 muito mais
expandido do que aquele tido em outras épocas.
Inegavelmente, estamos diante de um contexto que nos desafia a buscar
coletivamente, cada um fazendo sua parte, soluções criativas e cooperativas para
gerar bem-estar para todos, como nos inspira Guilherme Peirão Leal, sócio da
Natura:
ninguém joga ou vive sozinho. Bem como, ninguém joga ou vive tão bem, em
oposição e competição contra outros, como se jogasse ou vivesse em sinergia
e cooperação com todos.
4
O sentido dado à palavra complexidade, deriva do latim “complexus” que significa “juntos”. Assim, o
entendimento da complexidade implica na compreensão dos relacionamentos existentes entre os diferentes nexos
de uma mesma totalidade.
5
“Empresa Ética não é sonho”. Artigo publicado na Revista Exame (21/10/1998), p.142.
JEITOS DE VER-E-VIVER O JOGO DA VIDA
até este momento a maioria das pessoas tem sentido que elas
nunca tiveram escolha sobre o próprio jeito de viver suas
vidas. Elas têm tido somente uma alternativa – ir e vencer, e
quanto mais pessoas perder, melhor. (...) “Você não precisa
viver desse jeito, você tem realmente escolhas na sua vida.
Pegue o espírito cooperativo o qual tentamos criar aqui, e faça
isso acontecer em sua vida todos os dias!”
Jogos onde todos podem VenSer, deixou de ser uma alternativa, uma novidade, uma
tendência e uma utopia, para constituir-se em uma real necessidade destes novos
tempos de maior complexidade.
Nos mais distintos setores da sociedade destilam-se teorias, ensaiam-se práticas e
despertam consciências, centradas no propósito comum de “construir um Mundo
onde todos podem ganhar”.7
Este Jogo Renovado está acontecendo em muitos lugares simultaneamente: no país
em que estamos, no local onde trabalhamos, nas ruas onde transitamos, nos lares
onde convivemos e dentro de nós mesmos, onde somos e inter-existimos como um
todo que abraça e é abraçado por tudo ao redor. Fazemos parte do Jogo.
6
Como referência a esse desenvolvimento, apenas através do “Projeto Cooperação”, entre os anos de 1991 a
2000, foram realizadas 350 atividades/programas, abordando os Jogos Cooperativos e/ou a Consciência da
Cooperação, envolvendo aproximadamente 17.000 pessoas de praticamente todos os estados brasileiros. (fonte:
“Projeto Cooperação”)
7
Hazel HENDERSON, 1998.
Somos o próprio Jogo jogando a si mesmo
Sendo co-participantes desse Jogo-Vida temos basicamente, uma escolha a ser feita.
Podemos escolher entre:
Escolher é sempre uma atitude pessoal e uma ação interpessoal. Toda escolha
tomada no presente é influenciada pela reflexão das escolhas anteriores - as próprias
e de outros - que afetará as que serão feitas no futuro... desde que exista um futuro,
é claro.
Escolher é compartilhar uma decisão que afeta a convivência de todos, de um jeito ou
de outro.
Decidir é um pacto de co-responsabilidade,
gerador de um im-pacto de eco-evolutividade.
Este Jogo redimensionado e ampliado pelo NÓS, permite praticar jogadas para nos
conduzir ao aperfeiçoamento para além das habilidades técnicas, dos planejamentos
estratégicos, dos índices de competitividade no mercado, do sucesso profissional e
do crescimento organizacional. Jogar Cooperativamente nos ajuda a realizar algo
maior que o Jogo e para além das Organizações.
Podemos aprender a rever nossas experiências e reciclar pensamentos, sentimentos
e atitudes. Podemos reconhecer e valorizar nosso próprio jeito de jogar e respeitar os
outros em seus diferentes jeitos de enxergar e atuar.
8
“Tao significa o Absoluto, o Infinito, a Essência, a Suprema Realidade, a Divindade, a Inteligência Cósmica, a
Vida Universal, a Consciência Cósmica, a Vida Universal, a Consciência Invisível, o Insondável, etc” (Lao-Tsé,
1988, p.12).
E ainda, podemos descobrir que jogando uns com os outros somos capazes de
alcançar objetivos que jamais, qualquer um de nós, isolado ou contra os
outros, poderia alcançar.
Creio que o grande Jogo a ser jogado nos próximos tempos, será um Jogo muito
mais interno do que externo e, paradoxalmente, cada vez mais compartilhado. Será
um Jogo a ser praticado nos campos do cotidiano de um novo dia, com o poder de
nos oferecer, mais uma vez, a chance de expandir a Consciência pessoal e Trans-
Formar a realidade social.
Do meu ponto de vista e da vista do ponto em que me encontro aqui-e-agora9, sei que
Jogos Cooperativos é um trampolim capaz de nos auxiliar a saltar das
Corporações Globalizadas - onde apenas alguns poucos ganham - para as
Organizações de Comum-Unidade, onde todos podem VenSer... Juntos!
Faça Com-Tato!!!
9
Inspirado por Leonardo BOFF, em “O despertar da Águia”, ed. Vozes, 1998.